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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO
DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA
Heveline Becker de Moura
A expressão diferencial da telomerase e do fator de
crescimento vascular endotelial pode contribuir para o
comportamento mais agressivo dos carcinomas
mamários p63 positivos.
Ribeirão Preto
2008
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Livros Grátis
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Milhares de livros grátis para download.
Heveline Becker de Moura
A expressão diferencial da telomerase e do fator de
crescimento vascular endotelial pode contribuir para o
comportamento mais agressivo dos carcinomas mamários p63
positivos.
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Departamento de Patologia da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto da Universidade
de São Paulo para obtenção do título de
Mestre em Patologia Humana
Orientador: Prof. Dr. Alfredo Ribeiro-Silva
Ribeirão Preto
2008
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FICHA CATALOGRÁFICA
Moura, Heveline Becker de
A expressão diferencial da telomerase e do pode contribuir para
o comportamento mais agressivo dos carcinomas mamários
p63 positivos.
115 p.: il.; 30 cm
Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo. Área de
Concentração: Patologia.
Orientadora: Prof. Dr. Afredo Ribeiro-Silva
1. p63 2. carcimoma mamário 3. imuno-histoquímica
4. Telomerase 5. fator de crescimento vascular endotelial
"Grandes realizações não são feitas por impulso, mas por uma soma de
pequenas realizações."
Vincent Van Gogh
Dedicatórias
À minha mãe, Ana Cândida Becker Campos, pelo apoio e amor
incondicional para com os filhos, que possibilitaram o meu
desenvolvimento profissional.
A meu pai, Estevido José Moura, pelos bons momentos da minha infância.
A meu irmão, Newton Célio Becker de Moura, pela amizade e carinho
constantes.
Ao Doug e Juca, pela alegria que sempre trazem a minha vida.
À minha prima e madrinha, Jaqueline, pela iniciação no mundo das artes.
Às minhas Tias, que sempre acompanharam meus passos com carinho,
amor e atenção.
À minhas primas e aos meus primos, pela amizade.
Aos meus avós e avôs, pelas lembranças encantadoras da vida;
A toda minha família, que apesar da distância, sempre prezou pelo
sentimento de união.
Aos amigos de Ribeirão Preto, Fernanda, Gyl, Raquel, Luciana, Vinicius,
Isabel, Igor e Guilherme, pelos bons momentos vividos nesta saudosa
cidade.
À Dra Catarina Schaletich, pelo acolhimento, pelos ensinamentos
de patologia e pela amizade que tornaram inesquecíveis os momentos que
morei em Ribeirão Preto;
Ao meu amigo e companheiro, Régis Eric Maia Barros, pelo amor,
paciência e a vida que construímos juntos.
Agradecimentos
Agradeço a todos que contribuíram
para a realização deste trabalho
Agradeço ao meu Orientador, Prof. Dr. Alfredo Ribeiro-Silva, por ter
acreditado no meu potencial;
Agradeço a Deisy Mara da Silva pelo apoio técnico na realização dos
exames de imuno-histoquímica;
Agradeço aos Residentes e Médicos Assistentes do Serviço de Patologia os
quais e aos docentes do Departamento de Patologia da FMRP/USP, através do
convívio diário, transformaram a rotina do trabalho em algo especial, estimulante e
prazeroso;
Agradeço ao Prof. Dr. Sérgio Zucoloto, Chefe do Departamento de Patologia
da FMRP/USP, ao Prof. Dr. Roberto Silva Costa, Coordenador do Serviço de
Patologia do HCFMRP/USP, e ao Dr. Daniel Ferracioli Brandão, Diretor Técnico
do Serviço de Patologia do HCFMRP/USP, por terem fornecido as condições
necessárias para a realização do projeto;
Agradeço à histotécnica Deisy Mara da Silva pelo suporte técnico na
realização do método imuno-histoquímico;
Agradeço aos arquivistas do Serviço de Patologia do HCFMRP/USP, Décio
Antônio Barrionovo Filho e César Alberto Brigato Júnior, pela presteza em
separar dos arquivos as lâminas e blocos de parafina utilizados no projeto;
Agradeço ao Prof. Dr. Sérgio Britto Garcia, coordenador do Programa de
pós-graduação do Departamento de Patologia da FMRP/USP, pelo apoio em todas as
atividades acadêmicas relacionadas à pós-graduação;
Agradeço às secretárias, aos técnicos do laboratório e da sala de necropsia do
Serviço de Patologia da FMRP/USP que contribuíram que os estudos da residência
de patologia cirúrgica continuassem na pós-graduação;
Agradeço à saudosa Edna Pio, pelo apoio em todas as atividades da
residência de patologia da FMRP/USP e da pós-graduação;
Agradeço às secretárias do Departamento de Patologia da FMRP/USP, Neide
Terezinha Gonçalves e Rosângela Mazzucoto Castania de Paiva, pela solicitude.
Este trabalho contou com apoio financeiro da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP- Processo 2003/02532-8)
Este trabalho resultou na seguinte publicação
The differential regulation of human telomerase reverse
transcriptase and vascular endothelial growth factor may contribute
to the clinically more aggressive behavior of p63-positive breast
carcinomas
The International Journal of Biological Markers 2005; 20: 1-8.
Sumário
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE ABREVIATURAS
RESUMO
SUMMARY
1. INTRODUÇÃO......................................................................................................1
2. REVISÃO DA LITERATURA............................................................................. 3
2.1 A família do gene p53 ................................................................................... 3
2.1.1 A estrutura dos membros da família p53............................................ 4
2.1.2 As isoformas da família p53: funções e vias metabólicas ................. 5
2.1.3 A família p53 e a carcinogênese......................................................... 6
2.2 O gene p63..................................................................................................... 8
2.2.1 Estrutura do gene p63......................................................................... 8
2.2.2 Função do gene p63............................................................................ 9
2.2.2.1 O gene p63 como fator de transcrição ................................ 9
2.2.2.2 O gene p63 na regulação do ciclo celular e apoptose ....... 10
2.2.2.3 p63: Oncogene ou gene supressor tumoral? ..................... 11
2.2.3 A relação do gene p63 com o desenvolvimento embrionário e
com os tecidos epiteliais ........................................................................... 13
2.2.4 Expressão da proteína p63 em tecidos normais ............................... 14
2.2.5 O p63 em síndromes humanas ......................................................... 18
2.2.6 O p63 e neoplasias de células escamosas ........................................ 19
2.2.7 O p63 em neoplasia de cabeça e pescoço ........................................ 20
2.2.8 O p63 em neoplasias uroepiteliais ................................................... 23
2.2.9 O p63 em neoplasias ginecológicas ................................................. 24
2.2.10 O p63 e outras neoplasias .............................................................. 26
2.2.11 O p63 em patologia mamária.......................................................... 27
2.3 A biologia molecular do câncer ................................................................... 32
2.3.1 O Ciclo celular e genes que regulam o ciclo celular ........................ 32
2.4. Alterações essenciais para a transformação maligna.................................. 35
2.5. Transformação maligna na mama............................................................... 38
2.5.1 Auto-suficiência nos sinais de crescimento ..................................... 38
2.5.2 Insensibilidade aos sinais inibidores ................................................ 41
2.5.3 Potencial infinito de replicação: Telomerase.................................... 45
2.5.4 Angiogênese ..................................................................................... 46
2.5.5 Invasão tecidual e Metástase ............................................................ 48
2.6 Fatores prognósticos em câncer de mama ................................................... 52
2.6.1 Fatores clínico-patológicos e prognósticos utilizados na rotina de
patologia mamária ..................................................................................... 53
2.6.2 Marcadores imuno-histoquímicos não definidos quanto ao seu
papel ou com papel secundário na rotina de patologia mamária............... 58
3. JUSTIFICATIVA................................................................................................. 62
4. OBJETIVOS.........................................................................................................66
5. METODOLOGIA................................................................................................67
5.1 Sujeito .......................................................................................................... 67
5.2 Imuno-histoquímica..................................................................................... 69
5.3 Controles da imuno-histoquímica................................................................ 72
5.4 Interpretação das reações de imuno-histoquímica ....................................... 72
5.5 Análise estatística......................................................................................... 81
6. RESULTADOS.....................................................................................................82
7. DISCUSSÃO......................................................................................................... 91
8. CONCLUSÕES.................................................................................................. 101
9. BIBLIOGRAFIA................................................................................................102
Lista de tabelas
Tab. 1
Distribuição da proteína p63 em tecidos adultos normais..................... 17
Tab. 2
Concentrações, clones, diluições e fabricantes dos anticorpos
utilizados................................................................................................ 71
Tab. 3
Interpretação da positividade dos anticorpos utilizados no estudo........ 75
Tab. 4
Padrão de imunomarcação e escores utilizados para a avaliação de
expressão do c-erbB-2 ........................................................................... 76
Tab. 5
Interpretação imuno-histoquímica do ki-67 .......................................... 77
Tab.6
Padrão de imunomarcação e escores utilizados para a avaliação de
expressão do EMMPRIN, MMP1, MMP2, PAI, TIMP1 e TIMP2....... 78
Tab. 7
Estudo imuno-histoquímico dos fatores clínico-patológicos e
prognósticos utilizados na rotina de patologia mamária........................ 83
Tab. 8
Relação da expressão da proteína p63 nos carcinoma ductais
invasores com fatores clínico-patológicos............................................. 85
Tab. 9
Positividade da reação de imuno-histoquímica para as proteínas que
atuam como reguladores do ciclo celular nos carcinomas ductais
invasores. ............................................................................................... 86
Tab. 10
Relação entre a expressão de fatores reguladores do ciclo celular e a
expressão da proteína p63 nos carcinoma ductais invasores................. 87
Tab. 11
Positividade da reação de imuno-histoquímica para as proteínas que
atuam como reguladores da apoptose nos carcinomas ductais
invasores. ............................................................................................... 88
Tab.12
Relação entre a expressão imuno-histoquímica de fatores
reguladores da apoptose e a expressão da proteína p63 nos
carcinoma ductais invasores .................................................................. 88
Tab.13
Positividade da reação de imuno-histoquímica para as proteínas que
atuam no processo de invasão e metástase nos carcinomas ductais
invasores ................................................................................................ 89
Tab.14
Relação da proteína p63 com o VEGF e com outras proteínas
envolvidas no processo de invasão e metástase nos carcinomas
ductais invasores ................................................................................... 90
Lista de ilustrações
Figura 1
Marcação nuclear da proteína p63............................................. 79
Figura 2
Exemplo de marcação nuclear................................................... 79
Figura 3
Exemplo de marcação citoplasmática........................................ 80
Figura 4
Exemplo de marcação de membrana ......................................... 80
Lista de abreviaturas
Akt: proteína da família serina/treonina quinase;
APAF-1: protease apoptótica ativadora do fator 1 (“apoptotic protease
activating factor 1”);
APO-1: proteína indutora de apoptose 1(“apoptosis inducing protein 1”);
ATP: adenosina tri-fosfato;
Bad: proteína que está ligada à membrana mitocondrial de membros anti-
apoptóticos da família Bcl-2;
Bag-1: proteína anti-apoptótica da família bcl-2. O gene que codifica esta
proteína está em itálico (Bag-1);
Bax: proteína pró-apoptótica da família bcl-2 (bcl-2 associated X protein
antibody). O gene que codifica esta proteína está em itálico (Bax);
Bcl-2: gene que está localizado na membrana mitocondrial interna de
numerosos tipos celulares. Considerado um proto-oncogene;
Bcl-2: proteína codificada pelo gene bcl-2 e promove a sobrevivência
celular, inibindo a ocorrência de apoptose;
BRCA-1: gene “breast cancer 1” responsável pela reparação do DNA;
BRCA-2: gene “breast cancer 2” responsável pela reparação do DNA;
CDK: quinases ciclina-dependentes;
C-erbB-2: produto do oncogene HER-2/neu(c-erbB-2);
Chk-2: proteína responsável pela parada do ciclo celular ou apoptose quando
o DNA celular sofre danos;
Cip/Kip: inibidores de quinases ciclina-dependentes. A família Cip/Kip é
constituída pelas proteínas p21, p27 e p57;
COOH-terminal: carboxiterminal;
CpG: são citosinas que são seguidas imediatamente por uma guanina
(dinucleotídeos CpG).
DAB: diamino-benzidina;
DBD: domínio de ligação ao DNA (“Domain Binding DNA”);
DNA: ácido desoxirribonucléico;
E2F: proteína E2F regula a expressão de vários genes promotores de
crescimento
EGFR: Receptor do fator de crescimento epitelial.
EMMPRIN: Indutor das metaloproteinases da matriz extracelular ;
FAK: quinase de adesão focal intracitoplasmática;
FAS: proteína codificada pelo gene Fas e é um membro da família dos
receptores TNF;
FMRP: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto;
G1: fase pré-sintética do ciclo celular;
G2: fase pré-mitótica do ciclo celular;
HCFMRP: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto;
HER-1, HER-2, HER-3, HER-4: são membros da família de receptores HER
(factor de crescimento epidérmico humano-
EGFR);
hTERT: sub-unidade catalítica com atividade transcriptase reversa da
telomerase; hTP: sub-unidade da telomerase que desempenha papel
estrutural;
hTR: sub-unidade de RNA da telomerase;
INK4a/ARF: gene que codifica proteínas inibidoras da quinase ciclina-
dependentes;
Ki-67: indicador de proliferação celular;
LOH: perda da heterozigosidade;
M: fase mitótica do ciclo celular;
MDM2: proteína importante na via de degradação da p53. Abreviação de
“Mouse double minute 2”;
MMP: metaloproteinases;
NH
2
-terminal: aminoterminal;
NOXA: gene pró-apoptótico depedente do p53;
NOS: sem outra especificação (“nother otherwise specified”);
OD: domínio de oligomerização (“oligomerization domain”);
OPN: osteopontina;
PAI: Inibidor do ativador do plasminogênio;
PBS: solução salina fosfatada e tamponada;
PCR: reação de polimerase em cadeia;
PERP: gene pró-apoptótico depedente do p53;
PI-3 quinase: fosfatidil-inositol-3-quinase. Importante na regulação da mitogênese;
PIK3CA: enzima fosfoinositídeo 3-quinase;
P14ARF: proteína reguladora do ciclo celular e produzida no locus INK4A;
P16INK4a: proteína reguladora do ciclo celular e produzida no locus CDKN2A
(INK4A);
p21, p27, p57: proteínas reguladoras do ciclo celular. Atuam como inibidoras das
quinases ciclina-dependentes;
P53: gene supressor tumoral. Codifica a proteína p53;
p53
-
/
-
: célula sem alelos p53;
p63: gene da família p53. Codifica a proteína p63;
p63
-
/
-
: célula sem alelos p63;
p73: gene da família p53. Codifica a proteína p73;
Rb: proteína de susceptibilidade ao retinoblastoma que atua na regulação
do ciclo celular;
RE: Receptor de estrógeno;
RET: proto-oncogene. Abreviação de "rearranged during transfection”;
RNA: Ácido ribonucléico;
RP: Receptor de progesterona;
RT-PCR: reverso da transcrição da reação em cadeia de polimerase;
S-100: proteína utilizada em reações de imuno-hsitoquímica;
SAM: domínio de interação proteína-proteína conhecido como “sterile
alpha motive” das proteínas p63
α
(TAp63 e Np63);
Síndrome ADULT: “acro-dermato-ungual–lacrimal–tooth syndrome”;
Síndrome AEC: “ankyloblepharon-ectodermal dysplasia-clefting syndrome”;
Síndrome EEC: “ectodermal dysplasia, ectrodactyly and clefting syndrome”;
Síndrome LMS: “limb-mammary syndrome”;
Síndrome SHFM: “split hand/split foot malformation syndrome”;
SV40/H-ras: oncogene. Abreviação de “simian virus 40” e “harvey rat sarcoma
viral oncogene homolog”, respectivamente;
TAD (TA): domínio de transativação (“transactivation domain”) ;
TAp63α, TAp63β, TAp63γ: proteínas que codificam o domínio de transativação
(TA) do p63;
TIMP-1: Inibidor da metaloproteinase tipo 1;
TIMP-2: Inibidor da metaloproteinase tipo 2;
tPA: ativador de plasminogênio do tipo tecidual;
TNF: Fator de necrose tumoral;
TNM: sistema usado para o estadiamento de neoplasias;
TRAP: protocolo da amplificação repetida da telomerase;
USP: Universidade de São Paulo;
uPA: ativador de plasminogênio do tipo uroquinase;
VEGF: Fator de crescimento endotelial vascular;
VEGFR: Receptor do fator de crescimento endotelial vascular.
Np63α, Np63β, Np63γ: proteínas que não apresentam o domínio de
transativação (N) do p63;
34βE12: citoqueratina de baixo peso molecular.
Resumo
O p63, homólogo do p53, é marcador de células mioepiteliais nas glândulas
mamárias normais e pode ser encontrada em cerca de 11% dos carcinomas mamários
invasivos. O objetivo deste trabalho é estudar a relação entre a expressão da p63,
fatores clínico-patológicos e marcadores utilizados em patologia mamária, incluindo
reguladores do ciclo celular, oncogenes, proteínas relacionadas a apoptose,
metaloproteinases e inibidores das metaloproteinases. Foi realizado estudo imuno-
histoquímico com 27 anticorpos primários em 100 casos de carcinomas ductais
invasores. Células p63 positivas foram encontradas em 16% dos carcinomas. Os
carcinomas p63-positivos são pouco diferenciados, negativos para receptores
hormonais e apresentam índice de proliferação elevado. Estes carcinomas também
apresentam correlação com estadiamento patológico avançado, tamanho tumoral e
expressão de hTERT, TIMP1 e VEGF. A expressão de TIMP1 sugere que o estímulo
antiproteolítico pode estar presente nos carcinomas p63 positivos. A atividade do
hTERT está associada com metástase para linfonodos e proliferação celular. O
VEGF regula a angiogênese que é um evento fundamental para o processo de
crescimento tumoral e disseminação metastática. Portanto a expressão do hTERT e
do VEGF nos carcinomas p63 positivos pode contribuir para o comportamento
clínico mais agressivo destes carcinomas
Summary
p63, a p53 homologue, is a myoepithelial cell marker in the normal mammary
gland but p63-positive neoplastic cells may be found in up to 11% of invasive breast
carcinomas. This study aims to verify the relationship between p63 expression and
several clinicopathological features and tumor markers of clinical significance in
breast pathology including key regulators of the cell cycle, oncogenes, apoptosis-
related proteins, metalloproteinases and their inhibitors. Immunohistochemistry with
27 primary antibodies was performed in 100 formalin-fixed paraffin-embedded
samples of invasive ductal carcinomas. p63-positive cells were found in 16% of
carcinomas. p63-positive carcinomas were poorly differentiated, hormone receptor-
negative neoplasms with a high proliferation rate. p63 also correlated with advanced
pathological stage, tumor size, and the expression of human telomerase reverse
transcriptase (hTERT), tissue inhibitor of matrix metalloproteinase 1 (TIMP1) and
vascular endothelial growth factor (VEGF). The expression of TIMP1 suggests that
the anti-proteolytic stimuli may be preponderant in p63-positive carcinomas. hTERT
activity is associated with nodal metastases and cellular proliferation. VEGF
regulates angiogenesis, which is also a fundamental event in the process of tumor
growth and metastatic dissemination. Thus, the differential regulation of hTERT and
VEGF in p63-positive breast carcinomas may contribute to the clinically more
aggressive behavior of these neoplasms.
Introdução 1
1. INTRODUÇÃO
O p63 é um homólogo do gene p53 localizado no cromossomo 3q27-29 (Osada
et al., 1998; Yang et al., 1998). Ele faz parte da família do gene p53, mas codifica
proteínas com propriedades distintas dos outros genes de sua família. O p53 é
considerado como gene supressor tumoral, no entanto o p63 apresenta atividade
biológica diversa, complexa e pouco definida (Moll; Slade, 2004; Westfall; Pietenpol,
2004). Em condições normais, a proteína p63 é expressa nos tecidos embrionários e no
núcleo de células basais de muitos tecidos epiteliais em adultos como a epiderme, o
epitélio glandular mamário, o epitélio oral, o epitélio glandular prostático e o urotélio
(Di Como et al., 2002; Signoretti et al., 2000; Westfall; Pietenpol, 2004). O gene p63
está envolvido no desenvolvimento de órgãos que contêm tecidos epiteliais, membros,
estruturas crânio-faciais e anexos. De fato, camundongos deficientes em p63
apresentam anomalias no desenvolvimento embrionário, como ausência de folículos
pilosos, dentes, glândulas mamárias, salivares e lacrimais (Mills et al., 1999; Yang et
al., 1999).
Em patologia mamária, a proteína p63 é considerada um marcador com alta
especificidade e sensibilidade para células mioepiteliais, tanto em cortes histológicos
como em estudos citológicos (Barbareschi et al., 2001; Batistatou et al., 2003). Através
de estudos imuno-histoquímicos, a proteína p63 é expressa por um padrão de marcação
contínua nas células mioepiteliais do tecido glandular mamário normal. Na hiperplasia
ductal florida e no carcinoma ductal in situ são observadas raras células p63-positivas.
Os carcinomas ductais invasivos geralmente são negativos para a proteína p63. Estes
dados sugerem associação entre a perda da expressão da proteína p63 com a progressão
do carcinoma ductal (Ribeiro-Silva et al., 2003; Stefanou et al., 2004; Wang et al.,
Introdução 2
2002). Entretanto, uma positividade de até 11% é observada em células neoplásicas de
carcinomas mamários (Barbareschi et al., 2001; Ribeiro-Silva et al., 2003; Stefanou et
al., 2004).
O papel da proteína p63 na regulação do ciclo celular, na apoptose, em
síndromes genéticas e na carcinogênese ainda é pouco conhecido. Este estudo tem por
finalidade investigar, em carcinomas ductais invasores, a relação entre a expressão da
proteína p63, fatores clínico-patológicos e prognósticos utilizados na rotina de patologia
mamária e proteínas envolvidas na progressão tumoral, incluindo proteínas reguladoras
do ciclo celular, da apoptose, da angiogênese, da metástase e invasão tumoral, além de
produtos de oncogenes.
Revisão da Literatura 3
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 A família do gene p53
O gene p53 está localizado no braço curto do cromossomo 17 e codifica a
proteína nuclear 53-kd. Este gene exerce função de supressor tumoral em mamíferos.
Ele pode se apresentar na forma selvagem e na forma mutada. O tipo selvagem
encontra-se no núcleo de todas as células dos mamíferos. Está envolvido na regulação
do ciclo celular e na indução da apoptose quando há agressão ao DNA celular. A forma
mutada ou a inativação do gene p53 estão relacionadas com eventos que resultam no
desenvolvimento e progressão tumoral (Moll; Slade, 2004;Yang et al., 1998).
Em 1997 e 1998 foram identificados genes homólogos ao p53 denominados p63
e p73 (Osada et al., 1998; Yang et al., 1998). O p63 e o p73 apresentam estrutura
semelhante a do p53, funções relacionadas com as do p53 e funções diferentes das
exercidas pelo p53. As funções relacionadas ao p53 ainda podem ser sinérgicas ou de
interferência (Moll; Slade, 2004). Por exemplo, camundongos deficientes em p73
apresentam taxas de apoptose aumentadas, sugerindo que em condições normais o p73
tem uma atividade anti-apoptose, contrapondo-se ao efeito pró-apoptose do p53. Esta
seria a função de inteferência relacionadas ao p53 (Moll; Slade, 2004; Ribeiro-Silva;
Zucoloto, 2003). Entretanto, de maneira similar ao p53, o p73 e o p63 podem bloquear o
ciclo celular e desencadear apoptose quando há lesão ao DNA, exemplificando a função
sinérgica relacionadas ao p53 (Moll; Slade, 2004; Ribeiro-Silva; Zucoloto, 2003).
Revisão da Literatura 4
2.1.1 A estrutura dos membros da família p53
Os membros da família p53 apresentam homologia estrutural. Todos possuem
um domínio de transativação (TAD–“transactivation domain”) próximo ao
aminoterminal (NH
2
-terminal), um domínio de ligação ao DNA (DBD–“DNA binding
domain”) e um domínio de oligomerização (OD–“oligomerization domain”) próximo ao
carboxiterminal (COOH-terminal). O mais alto grau de homologia entre os genes da
família p53 é verificado no DBD (63% da seqüência de aminoácidos são idênticos entre
o p53 e o p73 e 60% são idênticos entre o p53 e o p63) (Di Como et al., 2001; Moll;
Slade, 2004; Yang et al., 1998; Westfall; Pietenpol, 2004).
As proteínas codificadas pelos genes podem possuir ou não o domínio de
transativação. As proteínas que codificam o domínio de transativação são denominadas
TA (TAp53, TAp63 e TAp73). As proteínas que não apresentam o domínio de
transativação são denominadas N (Np53, Np63 e Np73) (Di Como et al., 2001;
Yang et al., 1998; Westfall; Pietenpol, 2004). Segundo Moll e Slade (2004), as
proteínas com o domínio TA simulam as funções do p53 em culturas de células,
incluindo a ativação de genes alvo do p53 e a indução da apoptose. As proteínas
denominadas N atuam como inibidores de membros da família p53 (Moll; Slade,
2004).
As proteínas derivadas dos genes p63 e p73 podem acrescentar emendas no
COOH-terminal e dar origem a diferentes produtos conhecidos como isoformas destes
genes. O p73, por exemplo, pode formar isoformas produzindo pelo menos seis
proteínas diferentes que foram identificadas com letras gregas de α a ζ . As proteínas
codificadas pelo p73 podem apresentar o domínio de transativação: TAp73α a TAp63ζ.
As proteínas que não apresentam o domínio de transativação são denominadas de
Revisão da Literatura 5
Np73α a Np73ζ (Di Como et al., 2001; Ribeiro-Silva; Zucoloto, 2003; Yang et al.,
1998; Westfall; Pietenpol, 2004).
O p63 e o p73 exibem estrutura mais complexa do que a do p53. Eles possuem
no COOH-terminal um domínio denominado “sterile alpha motif” (SAM) que não está
presente nos produtos derivados do p53. Foi descrito que este domínio está envolvido
no processo de desenvolvimento embrionário, de apoptose e na ativação de transcrição
(Westfall; Pietenpol, 2004). O p63 e o p73 ainda possuem um domínio inibidor nas
isoformas “α” e dois promotores. O promotor P1 produz isoformas TA que possuem
atividade transcricional e o promotor P2 produz isoformas N que possuem atividade
de dominante negativo (Moll; Slade, 2004).
2.1.2 As isoformas da família p53: funções e vias metabólicas
A depender da isoforma atuante, os produtos dos genes da família p53 podem
exercer funções diferentes. Por exemplo, estruturalmente as isoformas “γ” dos genes
p63 e p73 são as que mais se assemelham ao gene p53. A isoforma TAp63γ possui
atividade de transcrição e de indução da apoptose tão potente quanto ao do p53. No
entanto, a isoforma TAp73γ exerce as mesmas atividades da TAp63γ de forma menos
intensa. Já a isoforma TAp73α exerce as atividade de transcrição e de indução da
apoptose de forma mais intensa que a da TAp63α (Moll; Slade, 2004).
As isoformas da família p53 exercem atividades diversificadas, pois atuam sobre
proteínas-alvo e vias metabólicas diferentes que serão pormenorizados no decorrer do
texto (Moll; Slade, 2004). Por exemplo, o p53 age em diferentes vias. Entre elas
encontram-se as que envolvem as proteínas p21, bax, bcl-2 e ChK2. Atuando como
reparador do DNA, o p53 induz a proteína p21. Esta promove parada do ciclo celular
Revisão da Literatura 6
para que o DNA possa ser reparado. Quando ocorre dano grave ao DNA e este não pode
ser reparado, o p53 induz a apoptose, regulando positivamente o bax e negativamente o
bcl-2(Rieger, 2004). A proteína ChK2, também conhecida como quinase de estresse,
ativa o p53 quando ocorre ação dano ao DNA celular (Ahn et al., 2004; Moll; Slade,
2004). O p53 ainda exerce ação inibitória sobre o VEGF (fator de crescimento
endotelial vascular) (Hanahan; Weinberg, 2000; Moll; Slade, 2004; Rieger, 2004).
Outras vias como a da proteína p14ARF aumenta os níveis da proteína p53 através da
inibição da atividade da MDM2 (“mouse double minute 2”), proteína que promove a
degradação do p53 (Hanahan; Weinberg, 2000; Rieger, 2004).
O p73 age na via das proteínas p21, 14-3-3σ e p16. Esta última exerce sua atividade
sobre membros anti-apoptótico da família bcl-2. O p73 a induz a formação do MDM2. Ao
estimular a formação do MDM2, o p73 deve exercer o que Moll e Slade (2004)
denominaram de função de interferência relacionada ao p53. Portanto, o p73 deve exercer
algum tipo de efeito inibitório sobre o p53 (Ribeiro-Silva; Zucoloto, 2003; Moll; Slade,
2004). Moll e Slade (2004) descreveram que alguns oncogenes, como o c-Myc, podem
induzir isoformas do p73. Este gene ainda inibe o VEGF e interage com várias ciclinas e
quinases ciclina-dependentes (Garcia et al., 2004; Ishimoto et al., 2002; Moll; Slade, 2004).
Em relação à embriogênese, o p63 parece ser essencial ao desenvolvimento e à
diferenciação de determinados tecidos epiteliais. Já o p73 está envolvido no
desenvolvimento de estruturas e células do sistema nervoso (Moll; Slade, 2004, Yang et al.,
1998).
2.1.3 A família p53 e a carcinogênese
Em relação à carcinogênese, o supressor tumoral p53, é um dos genes mais
freqüentemente mutado em todos os cânceres humanos. Neoplasias de cólon, mama,
Revisão da Literatura 7
cérebro e pulmão mostram mutação de sentido trocado (“missense”) do p53. Outras
neoplasias malignas, como os sarcomas, não apresentam alterações no p53, mas
apresentam superexpressão da proteína MDM2 (“mouse double minute 2”), que
promove a degradação da proteína p53 (Yang et al., 1998).
O p73 foi mapeado no cromossomo 1p36, uma região em que a perda da
heterozigosidade é freqüentemente observada em tumores humanos, como câncer de
mama, cólon, neuroblastomas, oligodendrogliomas e melanoma (Moll; Slade, 2004;
Ribeiro-Silva; Zucoloto, 2003). A perda de alelos no braço 1p é observada em 13% a
75% dos carcinomas mamários, conforme o intervalo gênico estudado. Tumores
mamários com estas perdas apresentam pior prognóstico, apresentando alto grau
histológico, invasão angiolinfática peritumoral e ausência de receptores hormonais
(Ribeiro-Silva; Zucoloto, 2003). A superexpressão do gene p73 é encontrada em
leucemia linfóide crônica de células B, meningiomas, neuroblastomas, câncer de mama,
de pulmão, de esôfago e em diversos outros tumores (Moll; Slade, 2004).
Estudos de mutação realizados em diferentes tumores humanos detectaram raras
mutações do p73 aparentemente sem significado. Vários tumores expressam altos níveis
da proteína p73 quando comparados com o tecido normal que os origina, sugerindo que,
na realidade, possa ocorrer uma expressão alterada do p73, e não a perda de sua função,
como ocorre com o p53 (Ribeiro-Silva; Zucoloto, 2003).
Nos carcinomas de células escamosas de cabeça e pescoço, tanto o p53 como as
isoformas do p63 e do p73 são expressas, sugerindo que tanto o p63 quanto o p73
tenham participação importante na carcinogênese dos tumores escamosos da cabeça e
pescoço, atuando como oncogenes (Gwosdz et al., 2005).
Apesar de estar presente em diversos tumores, a função do p73 na carcinogênese
não é bem definida. Alguns estudos denominam o p73 e, por vezes, o p63 como
Revisão da Literatura 8
oncogenes. Outros estudos descrevem estes genes como supressores tumorais (Ishimoto
et al., 2002; Moll; Slade, 2004). Pesquisas adicionais são necessárias para melhor
compreensão das funções, interações, identificação das proteínas-alvo e das vias
metabólicas dos membros da família p53 (Moll; Slade, 2004).
2.2 O gene p63
O p63, clonado em 1998, é alvo de várias pesquisas que tentam elucidar as
complexas interações entre os membros da família p53 (Osada et al., 1998; Trink et al.,
1998; Yang et al., 1998). Clonado por vários grupos de forma independente, o gene p63
apresenta nomenclatura diversa, a depender da isoforma expressa: KET, p51A, p51B,
p40 e p73L (Westfall; Pientepol, 2004).
Apesar de ser considerado o membro mais novo da família p53, estudos
filogenéticos demonstram que o p63 é predecessor do p53 e do p73 e a sua organização
genômica está altamente conservada entre as diferentes espécies (Yang et al., 1998).
Como já foi dito, os três membros da família p53 apresentam alto grau de homologia
entre si. No entanto as proteínas codificadas pelos genes desta família são similares,
mas não idênticas. Os produtos do gene p63 compartilham algumas funções, mas o
papel fisiológico nas células parece ser diferente (Yang et al., 1998).
2.2.1 Estrutura do gene p63
O gene p63 está localizado no braço longo do cromossomo 3, no locus 3q27-29
(Osada et al., 1998; Trink et al. 1998; Yang et al., 1998). Como todos os membros da
família p53, possui um domínio de transativação (TAD), um domínio de ligação ao
Revisão da Literatura 9
DNA (DBD), um domínio de oligomerização (OD), um domínio SAM, um domínio
inibidor nas suas isoformas “α” e dois promotores (P1 e P2) (Di Como et al., 2001;
Moll; Slade, 2004; Yang et al., 1998; Westfall; Pietenpol, 2004).
As proteínas derivadas do gene p63 podem acrescentar emendas no COOH-terminal e
dar origem a pelo menos diferentes seis proteínas diferentes: TAp63α, TAp63β,
TAp63γ, Np63α, Np63β e Np63γ (Di Como et al., 2001; Yang et al., 1998;
Westfall; Pietenpol, 2004). As isoformas com o domínio TA do p63(TAp63α, TAp63β,
TAp63γ) possuem a habilidade de ativar o gene p53 e, com isso, induzir apoptose e
bloquear o ciclo celular. Entretanto os outros três isotipos (Np63α, Np63β e
Np63γ), agem como dominante negativo à ação supressora tanto do p53 (Di Como et
al., 2001; Moll; Slade, 2004; Yang et al., 1998; Westfall; Pietenpol, 2004).
2.2.2 Função do gene p63
2.2.2.1 O gene p63 como fator de transcrição
O gene p63 exerce função de transativação que atua de forma diferente a depender
da isoforma expressa. As isoformas com o domínio TA do p63 (TAp63α, TAp63β,
TAp63γ) possuem a habilidade de transativação sobre o gene p53 ou sobre proteínas-alvo
do p53, com isso, podem induzir apoptose e bloquear o ciclo celular (Moll; Slade, 2004;
Ribeiro-Silva; Zucoloto, 2003). Entretanto, existem variações da atividade de transativação
entre as isoformas TA. Por exemplo, a isoforma TAp63γ estimula a transcrição de outros
genes de forma semelhante à do gene p53. Porém, a isoforma TAp63α mostra pouca ou
nenhuma atividade de transativação sobre suas proteínas-alvo (Reis-Filho; Schmitt, 2001;
Ribeiro-Silva; Zucoloto, 2003; Yang et al., 1998; Westfall; Pietenpol, 2004).
Revisão da Literatura 10
As isoformas sem o domínio TA, principalmente as isoformas Np63α e
Np63γ, agem como dominante negativo, inibindo a transativação do p53, proteínas-
alvo do gene p53 e outras isoformas TAp63, principalmente a TAp63γ. A variante
Np63α mostra uma atividade supressora da transativação mais intensa que a variante
Np63γ (Yang et al., 1998).
Estudos identificaram um domínio de inibição da transativação que é
responsável pela atividade das isoformas “α” da p63. Sugere-se que este domínio de
inibição interaja com as formas TA do p63 em uma região homóloga ao sítio do MDM2
do p53. Este sítio impede a formação de proteínas co-ativadoras, não havendo, portanto,
a transativação (Westfall; Pietenpol, 2004). Outra hipótese é que as isoformas Np63α
e Np63γ competem com sítios do p53 responsáveis pela transativação, inibindo este
processo por competição inibitória (Yang et al., 1998).
2.2.2.2 O gene p63 na regulação do ciclo celular e apoptose
As isoformas TA, principalmente a TAp63γ,
e a isoforma Np63γ podem
induzir parada do ciclo celular e apoptose. Corroborando com estes dados, foram
descritas variantes TA e Np63γ em células p53
-
/
-
causando parada do ciclo celular e
apoptose através da regulação (“up-regulation”) de proteínas-alvo do gene p53.
Entretanto, a porcentagem de células que entram em apoptose induzidas pela isoforma
Np63γ é menor que as induzidas pelas isoformas TA (Yang et al., 1998; Westfall;
Pietenpol, 2004).
Westfall e Pietenpol (2004) demonstraram que a perda da expressão do p63 resulta
no impedimento da célula entrar em apoptose após dano do DNA, mesmo em células
contendo o gene p53. Foi descrito que células p63
-
/
-
encontram-se alteradas em relação à
Revisão da Literatura 11
indução dos genes bax, NOXA e PERP, que são responsáveis pelo processo de apoptose
dependente do p53. Isto sugere que de alguma forma o p53 é afetado pela perda do p63 e os
genes responsáveis pela apoptose são regulados através de interações entre os membros da
família p53 (Moll; Slade, 2004; Westfall; Pietenpol, 2004). Por outro lado, Reis-Filho e
Schmitt (2001) descreveram, em seus estudos, ratos p63
-
/
-
que apresentavam p53 normal e
possuiam resposta adequada ao processo de apoptose, seja este induzido ou espontâneo. Por
outro lado, as células que apresentavam mutação do p53 entravam em apoptose em pequena
porcentagem após lesão do DNA (Yang et al., 1998).
Estudos adicionais das variantes TA e Np63γ são necessários para melhor
entendimento da função do gene p63 no ciclo celular, na apoptose e na interação com os
outros membros da família p53 (Westfall; Pietenpol, 2004).
2.2.2.3 p63: Oncogene ou gene supressor tumoral?
De forma semelhante ao gene p73, as diversas propriedades das isoformas do
p63 mostram sua complexidade e não definem claramente o papel deste gene. Estudos
descrevem o p63 ora como oncogene, ora como gene supressor tumoral, a depender da
isoforma atuante.
A isoforma TAp63γ pode causar parada do ciclo celular e induzir apoptose. Este
processo é semelhante à função exercida pelo gene p53 no ciclo celular, que o classifica
como gene supressor tumoral (Yang et al., 1998). Por outro lado, o p63 também possui
várias propriedades que poderiam classificá-lo como oncogene. Por exemplo, as isoformas
da p63 (Np63α e Np63γ) podem inibir a função de transativação do p53 e de outras
isoformas da p63. Esta atividade inibitória sugere que, de alguma forma, as isoformas
Np63α e Np63γ podem induzir a proliferação celular contínua. Outra propriedade
oncogênica estaria relacionada às isoformas Np63 que estariam amplificadas nos
Revisão da Literatura 12
carcinomas de células escamosas do colo uterino, de cabeça e pescoço, do pulmão e,
conseqüentemente, envolvidas na carcinogênese (Yang et al., 1998). Estes dados, segundo
Westfall e Pietenpol (2004), sugerem que o p63 não funciona como um gene supressor
tumoral, mas como um oncogene (Westfall; Pietenpol, 2004). Por outro lado, Osada e
colaboradores (1998) estudaram a seqüência do gene p63 de vários tumores humanos e
descreveram que este gene é raramente expresso nos tumores analisados.
Reforçando o papel de oncogene do p63, Burstein e colaboradores (2004)
propuseram um modelo que envolve o p63 na carcinogênese dos carcinomas papilíferos
da tireóide. O modelo sugere que os remanescentes embrionários p63-positivos
contribuem de forma mais significativa na origem dos carcinomas papilíferos da
tireóide do que as células epiteliais foliculares maduras alteradas pelo gene RET
(Burstein et al., 2004).
O gene p53 está associado à perda da heterozigosidade (LOH) em tumores
humanos. O gene p63, em humanos, encontra-se no locus 3q27-9. Em camundongos,
encontra-se o locus denominado loh2. O loh2 está associado à perda de heterozigosidade de
modo semelhante ao que ocorre em tumores humanos que possuem esta alteração
relacionada ao p53 LOH. As semelhanças estruturais e funcionais dos genes p53 e p63 em
humanos e camundongos sugerem que o p63 possa contribuir de alguma forma com a
carcinogênese (Yang et al., 1998). No entanto, mutações no p63 são raras e seu papel na
carcinogênese ainda necessita ser mais bem explorado (Ribeiro-Silva; Zucoloto, 2003).
Diversas funções são descritas como pertinentes ao p63, porém devido à
complexidade deste gene e a sua interação com os outros membros da família p53,
estudos complementares são necessários para sua melhor compreensão e definição do
seu papel na biologia celular (Ribeiro-Silva; Zucoloto, 2003).
Revisão da Literatura 13
2.2.3 A relação do gene p63 com o desenvolvimento embrionário e com os tecidos
epiteliais
O desenvolvimento epitelial em humanos é um processo complexo, no qual
muitas etapas biológicas ainda não foram elucidadas. Estudos com camundongos
sugerem que a proteína p63 exerça papel importante no desenvolvimento dos tecidos
epiteliais (Westfall; Pietenpol, 2004). Enquanto camundongos p53
-
/
-
apresentam
desenvolvimento embrionário normal, os camundongos p63
-
/
-
apresentam anomalias
severas no seu desenvolvimento embrionário (Osada et al., 1998; Trink et al., 1998;
Yang et al., 1998). Os camundongos p63
-
/
-
mostram defeitos no desenvolvimento dos
membros e tecidos epiteliais como a epiderme, o epitélio glandular prostático, o epitélio
glandular mamário, o urotélio, o epitélio da mucosa lingual e o epitélio da mucosa
gástrica (Reis-Filho; Schmitt, 2001; Westfall; Pietenpol, 2004).
Várias estruturas embrionárias relacionadas ao desenvolvimento epitelial
expressam a proteína p63. Em estágios iniciais da embriogênese, a p63 é expressa no
ectoderma dos folhetos embrionários, na crista ectodérmica apical e na superfície
ectodérmica que envolve os arcos branquiais. A integridade da crista ectodérmica apical
possibilita o desenvolvimento dos membros. Os arcos branquiais são responsáveis pelo
desenvolvimento crânio-facial e por vários tecidos de partes moles (Reis-Filho; Schmitt,
2001; Westfall; Pietenpol, 2004).
A isoforma TAp63 parece ser necessária para a iniciação do programa de
estratificação epitelial, e a isoforma Np63, principalmente a variante Np63α,
promove a manutenção da epiderme madura. As células epidérmicas de embriões de
camundongos, que apresentam a função das variantes Np63 bloqueada, mostram
falhas na proliferação de tecidos epiteliais (Westfall; Pietenpol, 2004).
Revisão da Literatura 14
Estudos imuno-histoquímicos mostram a proteína p63 em células basais/
progenitoras de muitos tecidos epiteliais como a epiderme, folículos pilosos, glândulas
sudoríparas, ectocérvice, língua, esôfago, glândulas mamárias, próstata e urotélio. Nestes
tecidos epiteliais, a expressão da isoforma Np63α é predominante. Portanto o gene p63 é
responsável tanto pelo desenvolvimento como pela manutenção da população de células-
tronco (“stem cells”) de vários tecidos epiteliais. (Reis-Filho; Schmitt, 2001; Ribeiro-Silva;
Zucoloto, 2003; Yang et al.,1998; Westfall; Pietenpol, 2004).
2.2.4 Expressão da proteína p63 em tecidos normais
A proteína p63 é expressa em tecidos humanos e murinos normais,
particularmente no núcleo das células basais ou mioepiteliais dos tecidos epiteliais
(Barbareschi et al., 2001; Batistatou et al., 2003; Reis-Filho; Schmitt, 2001). As células
mioepiteliais expressam o fenótipo epitelial e miogênico (Barbareschi et al., 2001; Reis-
Filho et al., 2003). Elas constituem a camada basal de vários tecidos epiteliais normais,
principalmente nos lóbulos e nos ductos do tecido mamário. A identificação destas
células é utilizada em patologia mamária para diferenciar neoplasias benignas de
malignas invasoras, já que estas últimas não apresentam células mioepiteliais
(Barbareschi et al., 2001; Batistatou et al., 2003; Reis-Filho; Schmitt, 2001).
Os anticorpos S-100, actina de músculo liso, actina músculo-específica, calponina,
citoqueratinas 5/6, citoqueratina 14 e 34βE12 são marcadores de células mioepiteliais. O S-
100 apresenta alta sensibilidade, porém baixa especificidade para as células mioepiteliais. A
maioria dos anticorpos relacionados com diferenciação de músculo liso, sobretudo a actina
músculo-específica e a calponina, apresenta baixa especificidade, pois pode marcar células
estromais e miofibroblastos. As citoqueratinas apresentam baixa sensibilidade para as
Revisão da Literatura 15
células mioepitelias, principalmente as localizadas nos lóbulos mamários, pois, neste local,
podem marcar as células epiteliais, secretórias e neoplásicas de vários carcinomas
(Barbareschi et al., 2001; Reis-Filho et al., 2003; Stefanou et al., 2004).
A proteína p63 é o primeiro marcador nuclear de células mioepiteliais, sendo
considerado um marcador com sensibilidade de 100% e especificidade de 95% na
identificação destas células (Barbareschi et al., 2001). A expressão nuclear da p63
facilita identificar a presença das células mioepiteliais em relação a outros marcadores
que, na sua maioria, marcam o citoplasma (Barbareschi et al., 2001; Reis-Filho et al.,
2003; Yang et al., 1998). Entretanto, Bratthauer e colaboradores (2005) demonstraram
uma forte expressão citoplasmática da proteína p63 em células com alterações
secretórias e carcinomas secretores da mama. Estes últimos apresentam alterações no
cromossomo 3q, onde se encontra o gene p63 (Bratthauer et al., 2005).
Além de marcar células mioepiteliais, a p63 apresenta expressão imuno-
histoquímica variável em tecidos normais de mamíferos adultos. Quatro diferentes
anticorpos anti-p63 foram desenvolvidos: 4A4, p6302, H137 e PC424. Os anticorpos
4A4, P6302 e H137 reconhecem todas as diferentes isoformas do p63. O PC424
reconhece as isoformas Np63. O anticorpo monoclonal 4A4, além de abranger todas
as isoformas da p63, mostra uma marcação imuno-histoquímica mais intensa em relação
aos outros clones (Reis-Filho; Schmitt, 2001).
Os epitélios estratificados pavimentosos escamosos, queratinizados ou não, são
organizados em várias camadas de células escamosas e uma camada de células basais. As
células tornam-se maduras à medida que se distanciam das células basais. Di Como e
colaboradores (2002) demonstraram através de estudos imuno-histoquímicos que todos os
epitélios estratificados pavimentosos escamosos, incluindo o epitélio da pele, das tonsilas,
do esôfago e da ectocérvice, apresentam positividade nuclear de moderada a intensa para a
Revisão da Literatura 16
p63 nas células basais e uma positividade nuclear que diminui gradativamente nas células
escamosas à medida que elas vão se diferenciando. Portanto, as células que se diferenciam
perdem a expressão da p63 (Burstein et al., 2004). As células dos epitélios transicionais
encontrados nos cálices renais, ureteres, bexiga e uretra apresentam intensa expressão
nuclear da p63, com exceção das “umbrella cells” (Di Como et al., 2002).
O epitélio prostático normal apresenta três tipos de células: as basais, as
secretórias e as neuroendócrinas. Os ácinos e ductos da próstata expressam em suas
células basais marcação nuclear de moderada a intensa da p63, principalmente da
isoforma Np63α. Este dado sugere que o gene p63 pode exercer papel importante no
desenvolvimento prostático e manutenção da população de células-tronco. As células
secretórias e neuroendócrinas não apresentam reatividade para a proteína p63
(Signoretti et al., 2000). Expressão semelhante à da próstata é observada nas células
basais de glândulas sebáceas e sudoríparas da pele (Ivan et al., 2005).
Na mama, as células mioepiteliais dos lóbulos e ductos mostram intensa expressão da
p63 no núcleo, porém as células luminais não apresentam reatividade para esta proteína (Reis-
Filho; Schmitt, 2001). A proteína p63 não é detectável em estruturas de origem mesenquimal,
como células endoteliais, células de músculo liso e fibroblastos. Entretanto, Di Como e
colaboradores (2002) demonstraram, através de reação em cadeia de polimerase (PCR), que
células do músculo esquelético expressam um dos isotipos da p63. Osada e colaboradores
(1998) também demonstraram expressão da p63 em células do músculo esquelético. Células
neuronais, gliais e neuroendócrinas de tecidos normais não expressam a p63 (Di como et al.,
2002). A tabela 1 mostra a expressão da p63 nos tecidos normais de adultos.
Revisão da Literatura 17
Tabela 1 - Distribuição da proteína p63 em tecidos adultos normais.
Órgão Escore*
Componente positivo
Sistema Nervoso Central
Córtex
Trato Digestivo
Esôfago
Estômago
Intestino Delgado
Cólon
(-)
(++)
(-)
(-)
(-)
Epitélio escamoso
Glândulas do trato digestivo
Pâncreas
Fígado
(-)
(-)
Sistema Endócrino
Adrenal
Tireóide
(-)
(-)
Sistema Linfóide
Linfonodos
Baço
Tonsilas
(+/-)
(-)
(++)
Células do centro germinativo
Células epiteliais escamosas
Tecido Muscular
Músculo estriado esquelético
Sistema reprodutivo feminino
Mama
(-)
(++)
Epitélio basal
Endocérvice
Endométrio
Ovário
Placenta
Cordão umbilical
(++)
(-)
(-)
(+)
(-)
Epitélio escamoso
Citotrofoblasto
Sistema reprodutivo masculino
Próstata
Testículo
(++)
(+/-)
Epitélio basal
Células do túbulo seminífero
Sistema respiratório
Laringe
Pulmão
(++)
(++)
Mucosa e epitélio glandular
Epitélio bronquiolar
Pele
Epiderme
Folículos Pilosos
Glândulas sudoríparas
Sistema urinário
Bexiga
Rim
(++)
(++)
(++)
(++)
(+/-)
Epitélio transicional
Células epiteliais da cápsula de Bownman
*- indetectável; +/- ocasional; + moderado; ++ forte.
Adaptado de Di Como et al: p63 expression profiles in Human Normal and Tumor Tissue, 2002. Clinical Cancer
Research 495: 8, 2003.
Revisão da Literatura 18
2.2.5 O p63 em síndromes humanas
As mutações do p53 podem ser encontradas tanto em células germinativas
quanto em células somáticas (Di Como et al., 2002). As mutações do gene p53 em
células da linhagem germinativa estão associadas com a síndrome de Li Fraumeni. Esta
síndrome tem como característica principal a alta prevalência de sarcomas de partes
moles, linfomas, tumores do sistema nervoso central e carcinomas mamários (Reis-
Filho; Schmitt, 2001).
Mutações do gene p63 em células somáticas são raras (Di Como et al., 2002).
Em seres humanos, foram descritas mutações do p63 em células de linhagens
germinativas que estão relacionadas a anormalidades congênitas. Estas são
caracterizadas por desenvolvimento anormal de extremidades e displasia ectodérmica
(Westfall; Pietenpol, 2004). Diferente do p53, segundo Reis-Filho e Schmitt (2001) as
mutações do p63 que ocorrem nas células de linhagem germinativa não apresentam
predisposição à formação de neoplasias (Reis-Filho; Schmitt, 2001).
Mutação do gene p63 foi encontrada na síndrome EEC-“ectrodactyly-ectodermal
dysplasia”. A mutação da EEC foi identificada no locus do cromossomo 3q27,
coincidindo com a localização do p63 (Westfall; Pietenpol, 2004). Outras desordens
relacionadas ao desenvolvimento envolvem o p63, como a síndrome de AEC-
“ankyloblepharon ectodermal dysplasia and clefting”- ou Síndrome de Hay-Wells; a
síndrome ADULT-“acro-dermato-ungueal-lacrimal-tooth”; a LMS-“limb-mammary
syndrome”- e a síndrome SHFM-“split hand/split foot malformation” (Reis-Filho;
Schimitt, 2001; Westfall; Pietenpol, 2004).
As síndromes EEC e ADULT estão relacionadas à mutação pontual no domínio
de transativação do gene p63 (Di Como et al., 2002; Westfall; Pietenpol, 2004). A
Revisão da Literatura 19
síndrome AEC e a LMS estão relacionadas à mutação pontual no domínio SAM. A
SHFM é encontrada quando o gene p63 é mutado por completo. Estes dados sugerem
que existam diversos mecanismos que provocam alteração do gene p63 (Westfall;
Pietenpol, 2004).
2.2.6 O p63 e neoplasias de células escamosas
Como citado anteriormente, a proteína p63 está expressa em grande parte dos
epitélios estratificados pavimentosos escamosos, incluindo a epiderme, o epitélio das
tonsilas, do esôfago e da ectocérvice. Eles apresentam positividade nuclear de moderada
a intensa para a p63 nas células basais e uma positividade nuclear que diminui
gradativamente nas células escamosas à medida que elas vão se diferenciando. Como no
epitélio normal, os carcinomas de células escamosas localizados em cabeça e pescoço,
esôfago, pulmão e pele expressam de forma consistente a p63. Em adenocarcinomas de
esôfago, próstata e mama, a p63 é negativa ou apresenta expressão mínima (Hara et al.,
2004; Reis-Filho et al., 2003; Reis-Filho; Schmitt, 2001).
O gene p63 foi mapeado no cromossomo 3q27-28, um região frequentemente
amplificada em carcinomas escamosos, carcinomas cervicais, carcinomas prostáticos e
neoplasias pulmonares (Hara et al., 2004; Moll; Slade, 2004; Reis-Filho et al., 2003;
Westfall; Pietenpol, 2004). A Np63α é a isoforma que está expressa em muitos
carcinomas escamosos, como, por exemplo, nos orais e nos carcinomas do trato
respiratório superior (Reis-Filho; Schmitt, 2001; Yang et al., 1998). A região do
cromossomo 3q27-28, onde o p63 está localizado, contém também o gene PIK3CA, que
é um regulador positivo da via phosphoinositide-3-quinase. A isoforma Np63α é
regulada por esta via, explicando a superexpressão da isoforma Np63α nos carcinomas
Revisão da Literatura 20
de células escamosas (Westfall; Pietenpol, 2004). As isoformas Np63, segundo Moll e
Slade, fazem com que as células permaneçam com o fenótipo de células tronco,
promovendo proliferação celular intensa e contribuindo para o crescimento tumoral.
Segundo estudos realizados por Hara e colaboradores (2004), a expressão da p63
nos carcinomas escamosos não pode ser utilizada como fator prognóstico, pois não
apresenta relação com características clinico-patológicas. No entanto, pesquisas de
Uramoto e colaboradores (2006), envolvendo membros da família p53, descrevem a
relação destes genes com variáveis clínicas e prognósticas em câncer de pulmão. Dentre
estes carcinomas a forma Np63 encontrava-se expressa nos carcinomas escamosos de
pulmão (Uramoto et al., 2006). Lo Muzio e colaboradores (2007) relataram que a
expressão do anticorpo p63 em carcinomas escamosos orais é um indicador de grau
histológico e marcador de mau prognóstico. Outros estudos envolvendo a p63 com
carcinomas escamosos e sua relação com fatores prognósticos são descritos na literatura
(de Oliveira et al., 2007; Takahashi et al., 2006).
2.2.7 O p63 em neoplasia de cabeça e pescoço
O modelo de oncogênese clássico proposto para o carcinoma papilífero da
tireóide sugere que a origem desta neoplasia estaria relacionada à alteração do gene RET
nas células tireoidianas epiteliais foliculares maduras. Burstein e colaboradores (2003)
propuseram outro modelo que envolve o p63 na carcinogênese dos carcinomas
papilíferos da tireóide. O modelo propõe que os remanescentes embrionários p63-
positivos contribuam de forma mais significativa que as células epiteliais foliculares
maduras para a origem dos carcinomas papilíferos da tireóide (Burstein et al., 2003).
Revisão da Literatura 21
Dentre os remanescentes embrionários, estão os ninhos sólidos celulares/grupos
sólidos celulares (“solid cell nest”), que são estruturas celulares não foliculares
encontradas em 61% a 89% das tireóides. Considerados remanescentes embrionários
relacionados ao corpo ultimobranquial, os ninhos sólidos celulares podem apresentar
células com diferenciação escamosa, glandular, microcística e ciliada, além de outras
linhagens de diferenciação celular. Durante o desenvolvimento embrionário o corpo
ultimobranquial contribui para formação de grande parte dos lobos laterais da tireóide e
das células que se encontram nestes lobos (células epiteliais foliculares e células C).
Outro remanescente embrionário é o ducto tireoglosso. Ele é derivado do divertículo
tireoidiano e responsável pela formação do istmo (Burstein et al., 2003).
Burstein e colaboradores (2003) observaram em seu estudo morfológico da
tireóide a presença de ninhos celulares não foliculares em pacientes com tireoidite de
Hashimoto, com carcinoma papilífero e em pacientes com a associação destas duas
patologias. Estes ninhos expressavam a proteína p63 e eram morfologicamente
compatíveis com ninhos sólidos celulares (remanescentes embrionários). Segundo
Burstein e colaboradores (2003), a proteína p63 é um marcador sensível para detectar os
ninhos sólidos celulares.
O modelo de carcingênese proposto por estes autores considera estes ninhos
sólidos celulares p63-positivos como células pluripotentes, e a expressão da p63 nestas
células seria responsável pela manutenção desta população celular indiferenciada
(Burstein et al., 2003; Reis-Filho; Schmitt, 2001; Yang et al.,1998; Westfall; Pietenpol,
2004). As células pluripotentes podem seguir caminhos diferentes. Elas poderiam
permanecer indiferenciadas ou poderiam sofrer diferenciação celular (diferenciação
escamosa ou diferenciação para células epiteliais foliculares da tireóide). Entretanto, a
persistência destas células pluripotentes, consideradas células lábeis e mais susceptíveis
Revisão da Literatura 22
às alterações do conteúdo genômico, dariam origem aos carcinomas papilíferos da
tireóide (Burstein et al., 2003).
Segundo o novo modelo carcinogênico, a razão do carcinoma papilífero da
tireóide ser multifocal não está associada a metástases intra-tireoideanas, mas à
transformação carcinogênica de remanescentes embrionários p63-positivos. Sugere-se
também que os focos de diferenciação escamosa, freqüentes na tireoidite de Hashimoto,
no carcinoma papilífero e nos ninhos sólidos celulares, ocorram devido à presença de
remanescentes embrionários contendo células pluripotentes p63-positivas que se
diferenciam em células de linhagem escamosa. A existência de células pluripotentes
embrionárias residuais na tireóide pode ser a base biológica que explicaria a
predisposição de pacientes com tireoidite de Hashimoto para desenvolver carcinoma
papilífero (Burstein et al., 2003).
Burstein e colaboradores (2003) também descrevem que o carcinoma muco-
epidermóide da tireóide tem sua origem nos ninhos sólidos celulares, já que estes
últimos podem apresentar mucina e diferenciação escamosa. Entretanto o carcinoma
muco-epidermóide surge geralmente no istmo, local onde os ninhos sólidos celulares
não são detectados. O corpo ultimobranquial só contribui para a formação dos ninhos
nas porções laterais dos lobos da tireóide e não no istmo (Burstein et al., 2003). Na
pesquisa, porém, os autores detectaram a presença de células p63-positivas no istmo, em
estruturas sólidas (ninhos sólidos símile) e císticas da parede do ducto tireoglosso. O
modelo destes autores propõe que, a partir das estruturas embrionárias remanescentes
(células progenitoras pluripotentes do corpo ultimobranquial e do divertículo
tireoideano), surjam os carcinomas papilíferos, escamosos e muco-epidermóides da
tireóide (Burstein et al., 2003).
Revisão da Literatura 23
Nos carcinomas de células escamosas de cabeça e pescoço, tanto o p53 como as
isoformas do p63 e do p73 são expressas, sugerindo que tanto o p63 quanto o p73
tenham participação importante na carcinogênese dos tumores escamosos da cabeça e
pescoço, atuando como oncogenes (de Oliveira et al., 2007; Gwosdz et al., 2005; Lo
Muzio et al., 2007). É observada também a expressão da p63 em tumores mioepiteliais
de glândulas salivares (Reis-Filho; Schmitt, 2001).
2.2.8 O p63 em neoplasias uroepiteliais
Na próstata, o produto do gene p63 marca as células basais do tecido epitelial
glandular normal, da hiperplasia prostática e das neoplasias intra-epiteliais de baixo e
alto grau. Nos carcinomas, sua expressão só é verificada em menos de 1% dos
espécimes provenientes de prostatectomia radical (Signoretti et al., 2000; Reis-Filho;
Schmitt, 2001).
A maioria dos carcinomas de próstata expressa marcadores de células
secretórias, como o receptor de androgênio e o antígeno prostático específico, sugerindo
que o câncer de próstata é resultado da transformação maligna de células secretórias
(Signoretti et al., 2000). Na glândula prostática, a proteína p63 é expressa nas células
basais do epitélio glandular e não apresenta reatividade nas células de fenótipo secretor
(Signoretti et al., 2000).
Os carcinomas de próstata são caracterizados pela ausência de células basais e
pela presença de alterações arquiteturais das glândulas. Como nos carcinomas invasores
da mama, a expressão da p63 nas células basais das glândulas prostáticas pode ser
utilizada na diferenciação entre lesões benignas e malignas (Signoretti et al., 2000;
Reis-Filho; Schmitt, 2001).
Revisão da Literatura 24
Quanto aos tumores de urotélio, estudos indicam que os genes da família p53,
incluindo o p63 estão relacionados com a carcinogênese de neoplasias uroteliais,
principalmente com os localizados na bexiga (Compérat et al., 2007; Mhawech-
Fauceglia et al., 2006). Segundo Zigeuner e colaboradores (2004), a p63 é expressa no
tanto no urotélio normal, como nos carcinomas invasivos de células transisionais. No
entanto as isoformas expressas nestes dois locais são diferentes e, em alguns carcinomas
invasivos de células transicionais da bexiga, observa-se perda da expressão da p63. O
urotélio normal da bexiga expressa as isoformas TAp63. No entanto, os carcinomas de
bexiga apresentam diminuição da expressão das isoformas TAp63 e começam a
apresentar a expressão das isoformas Np63 (Reis-Filho; Schmitt, 2001; Zigeuner et al.,
2004). Zigeuner e colaboradores (2004) demonstraram que a diminuição da reatividade
da p63 e a superexpressão da p53 nos carcinomas de células transicionais da bexiga
estão associadas com estágio tumoral avançado e pior prognóstico (Zigeuner et al.,
2004).
2.2.9 O p63 em neoplasias ginecológicas
Estudos demonstraram que a p63 é expressa nas células basais/progenitoras do
epitélio escamoso e do epitélio colunar da zona de transformação do colo uterino, como
também nas células escamosas imaturas do epitélio cervical. O gene p63 foi mapeado
no cromossomo 3q27-29, região que se encontra alterada nas neoplasias de colo uterino
(Hara et al., 2004; Westfall; Pietenpol, 2004).
No colo uterino, a p63 é expressa em carcinomas de células escamosas, mas não
em adenocarcinomas (Di Como et al., 2002; Reis-Filho; Schmitt, 2001). Carcinomas
adenoescamosos do colo uterino apresentam expressão da p63 no componente
Revisão da Literatura 25
escamoso. Considerado variante do carcinoma de células escamosas, o carcinoma
linfoepitelioma-símile do colo uterino também expressa p63. Segundo Reis-Filho e
Schmitt (2001), os carcinomas indiferenciados do colo uterino não expressam a proteína
p63 (Reis-Filho; Schmitt, 2001). A isoforma Np63 é considerada, nos carcinomas de
colo uterino, marcadora de diferenciação escamosa, sendo utilizada na exclusão de
diferenciação glandular e neuroendócrina (Linz et al., 2006). Portanto, a p63 tem sido
utilizada em patologia ginecológica para identificar neoplasias epiteliais do colo uterino
cuja presença de diferenciação escamosa é duvidosa (Reis-Filho; Schmitt, 2001).
A associação entre infecções virais e a expressão da proteína p63 em neoplasias
ainda necessita ser mais investigado. Dados experimentais mostram que existe uma
forte correlação entre infecção pelo papilomavírus humano (HPV) do tipo 16 e
expressão do produto do gene p63 no carcinoma escamoso invasor do colo uterino.
Nestes, o locus do p63 encontra-se amplificado (Westfall; Pietenpol, 2004). Em relação
ao p53, as proteínas E6 do gene HPV podem interromper o processo de morte celular ao
se ligarem à proteína p53. Após esta ligação, a E6 induz rápida degradação da p53 por
meio de proteólise dependente de ubiquitina. Estes dados sugerem a existência de dois
eventos que contribuem para a carcinogênese dos carcinomas cervicais. Um deles seria
a perda da função da p53 pela degradação mediada pela O outro seria o aumento da
atividade oncogênica do p63, devido à sua superexpressão (Westfall; Pietenpol, 2004).
No entanto, Moll e Slade (2004), descrevem que nenhuma interação entre a p63 e a via
da proteína E6 foi encontrada.
A região do cromossomo 3q27-29, onde se encontra o p63, também está alterada
nas neoplasias do ovário (Hara et al., 2004; Westfall; Pietenpol, 2004). Liao e
colaboradores (2007) descrevem que a p63 encontra-se expressa em tumores de Brenner
benignos e boderlines do ovário. Nos tumores de células transicionais do ovário a p63
Revisão da Literatura 26
não é expressa. A p63 pode ser utilizada para auxiliar no diagnóstico diferencial destes
tumores (Liao et al., 2007). O p63 é expresso em 25% e 12,9% dos carcinomas
endometrióides e serosos do ovário, respectivamente (Reis-Filho et al., 2003).
Segundo Reis-Filho e Schmitt, o produto do gene p63 não é expresso em
carcinomas endometriais, mas está presente na metaplasia escamosa do tecido
endometrial. Stefansson e colaboradores (2006) não encontraram expressão da p63 em
carcinomas endometrióides do endométrio. Contradizendo a informação de que a p63
não é expressa em carcinomas do endométrio, a expressão desta proteína foi descrita em
carcinoma de células escamosas papilar do endométrio com diferenciação de células
transicionais (Ribeiro-Silva, 2007). A expressão da p63 também foi descritas em focos
de endometriose, adenomiose e pólipos endometriais (Nogueira et al., 2006; Poli Neto
et al., 2007).
2.2.10 O p63 e outras neoplasias
Na pele, a p63 é expresso intensamente em 65% e moderadamente em 35% dos
tumores de anexo benignos. Todos os carcinomas cutâneos primários, incluindo os
adenocarcinomas, expressam a proteína p63. Em contraste, nenhum adenocarcinoma
metastático localizado na pele apresenta a expressão da p63. Portanto, a presença desta
proteína pode auxiliar na diferenciação entre adenocarcinomas primários e metastáticos
da pele (Ivan et al., 2005).
Em relação às neoplasias de linhagem hematológica, os linfomas não Hodgkin
de células B, assim como o linfoma folicular, expressam a p63. Porém, linfomas de
Hodgkin são negativos para esta proteína (Di Como et al., 2002). Os timomas
expressam p63 principalmente no componente neoplásico epitelial (Di Como et al.,
Revisão da Literatura 27
2002; Dotto et al., 2007). Mutações no gene p63 geralmente ocorrem entre os códons
151-170 e estão associados à crise blástica na leucemia mielóide crônica (Yang et al.,
1998).
Apesar da proteína p63 não estar expressa na maioria dos tecidos mesenquimais,
Di Como e colaboradores (2002) demonstraram positividade da p63 em 2 de 31
rabdomiossarcomas (Di Como et al., 2002). Reis-Filho e colaboradores (2003)
descreveram positividade da p63 em 10% dos melanomas e 12% dos glioblastomas
(Reis-Filho et al., 2003). Todas estas informações sugerem que o p63 esteja associado a
vários tipos de tumores, além dos carcinomas de células escamosas (Reis-Filho et al.,
2003).
2.2.11 O p63 em patologia mamária
No Brasil, o câncer de mama é considerado uma das neoplasias malignas mais
incidentes em mulheres. Quando diagnosticado precocemente, o câncer de mama pode
ser potencialmente curável. Ele está associado a vários fatores de risco para seu
desenvolvimento. Os principais são os hormonais e os genéticos. O carcinoma é a
neoplasia maligna mais freqüente da mama e pode ser dividido em esporádicos,
possivelmente relacionados com a exposição hormonal, e casos hereditários, associados
às mutações da linhagem germinativa (Abreu; Koifman, 2002; Esteva; Hortobagyi,
2004).
A mutação do gene p53 é um evento comum, encontrado em 15 a 50% dos
carcinomas mamários. A expressão da proteína p53 nestes carcinomas pode ser
observada através de estudos imuno-histoquímicos e está associada a prognóstico
reservado (Ribeiro-Silva et al., 2003).
Revisão da Literatura 28
A identificação de células mioepiteliais nas glândulas mamárias é um recurso
diagnóstico valioso em patologia cirúrgica. As células mioepiteliais estão presentes na
camada basal do epitélio glandular normal, nas lesões benignas e nos carcinomas in situ
da mama. No entanto, estão ausentes nos carcinomas invasores (Barbareschi et al.,
2001; Harton et al., 2007; Reis-Filho; Schmitt, 2001; Stefanou et al., 2004). Nos cortes
histológicos corados por hematoxilina e eosina, a identificação das células mioepiteliais
pode ser difícil devido à presença de desmoplasia estromal e de infiltrado inflamatório
periglandular (Ribeiro-Silva et al., 2003). Nos estudos citológicos, as células
mioepiteliais podem ser confundidas com células apoptóticas, macrófagos e células
estromais. Desse modo, com base no fenótipo epitelial e miogênico das células
mioepiteliais, vários marcadores imuno-histoquímicos foram desenvolvidos, a maioria
com expressão citoplasmática (Barbareschi et al., 2001; Reis-Filho et al., 2003).
Através de estudos imuno-histoquímicos, a expressão da proteína p63 pode ser
observada no núcleo de células mioepiteliais/ basais de vários tecidos epiteliais
(Barbareschi et al., 2001; Batistatou et al., 2003; Reis-Filho; Schmitt, 2001). A
localização e a morfologia das células p63-positivas na mama normal são
correspondentes às das células mioepiteliais. Através da dupla marcação imuno-
histoquímica, experimentos mostram que células com expressão nuclear da p63
apresentam co-expressão com marcadores imuno-histoquímicos citoplasmáticos nas
células mioepiteliais. Menos de 1% das células mioepiteliais expressaram a p63 na
ausência de marcadores mioepiteliais citoplasmáticos (Barbareschi et al., 2001; Reis-
Filho; Schmitt, 2001; Stefanou et al., 2004).
A proteína p63 é um marcador nuclear de células mioepiteliais, com
sensibilidade de 100% e especificidade de 95% na identificação destas células
(Barbareschi et al., 2001). A expressão nuclear da p63 facilita identificar a presença das
Revisão da Literatura 29
células mioepiteliais em relação a outros marcadores que, na sua maioria, marcam o
citoplasma (Barbareschi et al., 2001; Reis-Filho et al., 2003; Yang et al., 1998).
Entretanto, Bratthauer e colaboradores (2005) demonstraram uma forte expressão
citoplasmática da proteína p63 em células com alterações secretórias e carcinomas
secretores da mama. Estes últimos apresentam alterações no cromossomo 3q, onde se
encontra o gene p63 (Bratthauer et al., 2005).
Barbareschi e colaboradores (2001) descreveram que na camada basal do tecido
epitelial glandular mamário, além das células mioepiteliais, encontram-se células
progenitoras responsáveis pela manutenção epitelial (Barbareschi et al., 2001). A
proteína p63 é considerada um marcador de células mioepiteliais e de células
progenitoras (Osada et al.,1998; Trink et al.,1998; Yang et al., 1998). A isoforma
Np63, proteína responsável pela manutenção das células progenitoras, é expressa nas
células mioepiteliais dos tecidos mamários normais, sugerindo que exista correlação
entre as células mioepiteliais e células progenitoras (Barbareschi et al., 2001; Reis-
Filho; Schmitt, 2001). Barbareschi e colaboradores (2001), no entanto, questionaram
como a proteína p63 pode ser considerada marcadora de células progenitoras e, ao
mesmo tempo, ser considerada marcadora de células mioepiteliais, que são células bem
diferenciadas e especializadas (Barbareschi et al., 2001).
No tecido mamário normal e nas lesões benignas, a p63 mostra positividade
contínua nas células basais dos ductos e ácinos. Nas células estromais, incluindo os
miofibroblastos, a proteína p63 é negativa. Raras células epiteliais luminais da
hiperplasia ductal florida expressam a p63. Nos carcinomas, a expressão da p63 é
controversa. Carcinomas ductais e lobulares in situ apresentam positividade contínua ou
focalmente descontínua da p63 em suas células mioepiteliais. As células luminais destes
carcinomas são negativas (Barbareschi et al., 2001; Reis-Filho et al., 2003; Stefanou et
Revisão da Literatura 30
al., 2004). No entanto, Reis-Filho e colaboradores (2003) descreveram células p63-
positivas em carcinomas ductais in situ em estudos imuno-histoquímicos de citologias.
Carcinomas ductais invasivos são geralmente p63-negativos (Ribeiro-Silva et al., 2003,
Stefanou et al., 2004; Wang et al., 2002). Porém, Barbareschi e colaboradores (2001)
descreveram que 4,6% a 11% dos carcinomas mamários expressaram, por meio de
estudos imuno-histoquímicos, a proteína p63 em cerca de 5% a 15% das células
neoplásicas (Barbareschi et al., 2001). Através de pesquisa semelhante, Reis-Filho e
colaboradores (2003) demonstraram em estudos citológicos que 23% dos carcinomas
mamários expressaram a proteína p63 em cerca de 1% a 5% das células neoplásicas. Em
13% dos carcinomas mamários, as células neoplásicas eram positivas em mais de 5%
das células (Reis-Filho et al., 2003). Nos carcinomas mamários invasores grau III da
graduação de Nottingham, as neoplasias com contagem de mitose elevada, menor
formação tubular e atipias celulares acentuadas apresentam mais células p63-positivas
que as neoplasias de contagem menos elevadas (Ribeiro-Silva et al., 2003).
Ribeiro-Silva e colaboradores (2003) descreveram que a positividade da p63 em
células de carcinomas mamários está relacionada com vários fatores de mau
prognóstico, incluindo tamanho tumoral, estadiamento patológico, grau histológico,
metástases para linfonodos e negatividade para receptores de estrógeno. Estes autores
demonstraram que em 10 casos de carcinomas ductais mamários positivos para a p63,
apenas um dos casos expressou a proteína p53. Segundo Ribeiro-Silva e colaboradores
(2003), estes resultados são contraditórios, pois a p63 geralmente é expressa em
carcinomas ductais pouco diferenciados, nos quais a expressão da p53 é freqüente. Os
autores sugeriram que o p63 poderia exercer indiretamente função de oncogene inibindo
o p53. Estes dados poderiam explicar a correlação da expressão da proteína p63 com
indicadores de mau prognóstico (Ribeiro-Silva et al., 2003).
Revisão da Literatura 31
A proteína p63, p-caderina e CK5, marcadores de diferenciação basal e
mioepitelial, encontram-se expressos em câncer de mama com história familiar (Dufloth
et al., 2007). Mais de 18% dos carcinomas ductais invasores mamários de alto grau
expressam diferenciação basal-símile ou mioepitelial-símile. Este dado é constatado
pela positividade que as células neoplásicas expressam para marcadores mioepiteliais
(actina de músculo liso, citoceratina 14, proteína S100 e calponina) em estudos imuno-
histoquímicos (Reis-Filho; Schmitt, 2001; Reis-Filho et al., 2003). Pesquisas
propuseram a hipótese de que a presença das células neoplásicas p63-positivas seria
explicada pela expressão aberrante de diferenciação basal-símile ou mioepitelial-símile
durante a expressão clonal (Reis-Filho et al., 2003; Stefanou et al., 2004). Outra
hipótese seria que as células neoplásicas p63-positivas fossem originadas de células
progenitoras, que pudessem expressar fenótipo miogênico (Ribeiro-Silva et al., 2003).
A maioria das células dos carcinomas adenóide-císticos, dos mioepiteliomas e
dos tumores mistos, que são neoplasias de diferenciação mioepitelial, expressa a
proteína p63 (Barbareschi et al., 2001; Reis-Filho; Schmitt, 2001). Ela também é
expressa em neoplasias com morfologia papilar (papilomas e carcinomas papilíferos),
sugerindo que elas apresentem diferenciação mioepitelial (Stefanou et al., 2004). A p63
pode ser utilizada no diagnóstico diferencial das lesões papilares da mama (Troxell et
al., 2007; Tse et al., 2007).
Carcinomas metaplásicos apresentam positividade da proteína p63 no
componente neoplásico escamoso (Barbareschi et al., 2001). A p63 é um marcador
sensível e específico para os carcinomas metaplásicos da mama, principalmente aqueles
constituídos de células fusiformes e com áreas escamosas. Esta proteína pode ser
utilizada em painel imuno-histoquímico para diferenciar carcinomas metaplásicos de
lesões com componente mesenquimal como tumor filóide, o osteossarcoma primário da
Revisão da Literatura 32
mama e a fibromatose (Koker; Kleer, 2004; Tse et al., 2006). A proteína p63 é negativa
nas células neoplásicas dos carcinomas tubulares e medulares (Ribeiro-Silva et al.,
2003).
Em relação ao tratamento dos carcinomas mamários, estudos de Leong e
colaboradores (2007) relatam que as vias dos genes p63/p73 estão relacionadas à
sensibilidade a cisplatina nos carcinomas mamários associados ao BRCA-1 e negativos
para RE, RP e c-erbB-2. Estes autores ainda descrevem que a isoforma Np63 se liga a
TAp73, promovendo a sobrevivência das células neoplásicas nos carcinomas mamários
através da inibição da atividade pró-apoptótica da TAp73 (Leong et al., 2007).
2.3 A biologia molecular do câncer
2.3.1 O Ciclo celular e genes que regulam o ciclo celular
Diferenças estruturais e bioquímicas foram estabelecidas entre células normais e
cancerosas. As células normais mantêm a integridade do seu DNA através de vias que
regulam o ciclo celular. O ciclo celular é dividido em fases: G
1
(pré-sintética), S
(sintética), G
2
(pré-mitótica) e M (mitótica). A progressão ordenada das células através
das fases do ciclo celular é controlada pelas ciclinas, quinases ciclina-dependentes
(CDK) e seus inibidores (Rieger, 2004).
As ciclinas são responsáveis pela fosforilação de proteínas-alvo que permitem a
progressão das fases do ciclo celular. A ciclina D é a primeira a entrar no ciclo celular e
as ciclinas E, A e B aparecem seqüencialmente durante as fases subseqüentes. As
proteínas-alvo são as CDK, que, junto com as ciclinas, formam complexos moleculares
permitindo à célula atravessar os pontos de verificação do ciclo celular. Nos pontos de
Revisão da Literatura 33
verificação, os genes percebem e reparam a lesão causada ao DNA celular (Rieger,
2004). Um defeito nos componentes destes pontos causa instabilidade genômica,
favorecendo proliferação celular descontrolada, um dos princípios fundamentais da
fisiologia celular para a carcinogênese (Rieger, 2004). Existem dois principais pontos de
verificação, um na transição de G
1
/S e outro em G
2
/M. Resumindo, os pontos de
verificação checam possíveis danos ao DNA celular e decidem se a célula pode
prosseguir no ciclo celular (Hanahan; Weinberg, 2000; Rieger, 2004).
Durante a fase G
1,
a ciclina D se liga e ativa a quinase cliclina-dependente 4
(CDK4), formando um complexo ciclina D-CDK4. Este complexo tem papel importante
no ciclo celular, pois promove a fosforilação da proteína de susceptibilidade ao
retinoblastoma (Rb), eliminando a principal barreira do ciclo celular. A proteína Rb é
ligada a um complexo de proteínas que contêm o fator de transcrição E2F. A
fosforilação da Rb dissocia esse complexo, ativando a transcrição dos genes-alvo de
E2F. A atividade da E2F promove a transcrição da ciclina E, da ciclina A e de outras
proteínas, tornando possível a passagem do ponto de restrição no final de G
1.
As
ciclinas A e B regulam alguns eventos críticos na transição G
2
/M. Em estado
hipofosforilado, a Rb impede a replicação celular ao formar um complexo inativo com o
fator de transcrição E2F. Após ultrapassar as etapas do ciclo celular, as células recém
divididas podem retornar a G
1
ou entrarem em período de latência (Hanahan; Weinberg,
2000; Rieger, 2004).
A atividade dos complexos de ciclina e CDK é regulada também por inibidores
de CDK. Estes inibidores apresentam duas classes de genes: as famílias Cip/Kip e
INK4a/ARF. A família Cip/Kip tem três componentes: p21, p27 e p57. Estas proteínas
se ligam às CDKs e as inativam. A p21, componente da família Cip/Kip, tem sua
atividade sob controle do gene p53. Quando ocorre lesão no DNA celular, a proteína
Revisão da Literatura 34
p53 pode seguir por duas vias. A primeira via promove parada do ciclo celular através
do inibidor p21 para que o DNA possa ser reparado. A p21 inibe a ligação das ciclinas
da fase G1 com as CDKs, bloqueando a continuação do ciclo celular. Caso a p53 não
promova a ação da p21 e se a célula com lesões no DNA continuar a proliferar
desordenadamente, podem originar células neoplásicas. Na segunda via, ocorre dano
grave ao DNA e este não pode ser reparado. Portanto, a proteína p53 induz apoptose
através da indução da transcrição de genes pró-apoptóticos como o bax. No G
2
/S a
parada do ciclo celular envolve mecanismos tanto dependentes como independentes do
gene p53 (Rieger, 2004).
O gene INK4a/ARF codifica duas proteínas: p16INK4a e p14ARF. A p16INK4a
compete com a ciclina D na ligação com CDK4 e inibe o complexo ciclina D-CDK4 de
fosforilar Rb, causando uma parada celular no final de G
1.
A p16INK4a pode sofrer
mutação e hipermetilação nos tumores humanos. A p14ARF aumenta os níveis de p53
através da inibição da atividade da MDM2, proteína que promove a degradação do p53
(Hanahan; Weinberg, 2000; Rieger, 2004).
Os principais alvos de lesão genética são os genes que estão relacionados com a
regulação do ciclo celular. Dentre estes genes, encontram-se os proto-oncogenes, os
supressores do tumor, os que regulam a morte celular (apoptose) e os genes envolvidos
no reparo do DNA (Rieger, 2004).
Proto-oncogenes são genes celulares normais que participam do controle das
funções celulares vitais como proliferação, diferenciação, migração e morte celular
(apoptose). Quando estes genes se encontram mutados ou sua expressão encontra-se
descontrolada por alguns dos mecanismos de lesão gênica (amplificação gênica,
mutação pontual e rearranjo gênico), diz-se que estão ativados, e passam a receber o
nome de oncogenes (Hanahan; Weinberg, 2000; Rieger, 2004).
Revisão da Literatura 35
Genes supressores de tumores codificam proteínas com funções específicas que
atuam impedindo o acúmulo de mutações no genoma da célula, garantindo sua
integridade. Entre os supressores tumorais estão: o produto do gene p53, que controla a
progressão da célula ao longo das fases do ciclo celular, o produto do gene Rb e os
inibidores das quinases ciclina-dependentes. Alguns genes supressores de tumor são
conhecidos como guardiões (“gatekeeper”). Eles regulam a entrada das células nas vias
carcinogênicas inibindo a proliferação ou promovendo a apoptose. O Rb e aqueles
envolvidos na síndrome de Von Hippel-Lindau são considerados genes guardiões. As
mutações que ocorrem nos genes supressores do tumor causam perda de função ou
inativação. A transformação neoplásica que envolve estes genes pode se originar devido
metilação ou perda de uma grande porção da seqüência genética (Rieger, 2004).
Em relação aos genes que regulam a apoptose e reparam o DNA, podemos citar
o p53. Este é um dos genes que, quando existe lesão no DNA, pode provocar em G
1
parada do ciclo celular ou indução da apoptose. Em G2/M o p53 pode induz os genes
envolvidos no reparo do DNA. Muitas neoplasias, portanto, possuem alteração no p53
(Rieger, 2004).
2.4. Alterações essenciais para a transformação maligna
O desenvolvimento do câncer é considerado um processo multifatorial. Os
efeitos cumulativos de alterações genéticas, juntamente com as alterações ocorridas em
conseqüência do estilo de vida e dos efeitos do meio ambiente, proporcionam uma
transição gradual de tecido normal para tecido neoplásico (Rieger, 2004).
As alterações genéticas podem ser adquiridas através de mutações. Estas podem
ser divididas em duas categorias: as mutações pontuais e alterações cromossomiais. As
Revisão da Literatura 36
mutações pontuais são alterações que causam substituição de um único nucleotídeo,
podendo alterar a seqüência de trinucleotídeos. Esta mutação pode levar a produção de
um produto gênico com alterações físico-químicas ou a interrupção da produção do
produto. As alterações cromossomiais podem envolver segmentos ou cromossomos
inteiros e podem ser detectadas em exame de cariótipo. As translocações e inversões
cromossomiais são exemplos destas alterações (Rieger, 2004).
A amplificação gênica e as alterações epigenéticas são consideradas alterações
cromossomiais. A amplificação
gênica é mecanismo que leva produção de múltiplas
cópias de um gene.
O aumento do número de cópias de um alelo pode levar ao aumento
da proteína expressa por esse gene. A depender da função da proteína que se encontra
aumentada, a célula pode desregular o ciclo celular e entrar no processo de
carcinogênese. Esta alteração pode ocorrer em adenocarcinomas de mama, onde o gene
c-erbB-2 encontra-se amplificado (Rieger, 2004).
As alterações epigenéticas são definidas como modificações na regulação da
expressão gênica. Estas alterações podem persistir por uma ou mais gerações. Não são
consideradas como mutação, pois não causam mudança na seqüência de DNA. Tem
como principais exemplos a metilação do DNA e a acetilação das histonas. A metilação
do DNA é a alteração epigenética mais estudada e corresponde à adição de um grupo
metil ao carbono na posição 5 da citosina. Ela modifica o fenótipo celular, pois provoca
inibição de funções gênicas, mas sem produzir alteração na seqüência do DNA (Rieger,
2004). A metilação pode fazer parte do processo de carcinogênese quando provoca a
metilação de ilhas CpG no DNA. Estas ilhas constituem pequenas porções de DNA que
normalmente não são metiladas. Elas são constituídas por dinucleotídeos formados por
citosinas seguidas por uma guanina (Rieger, 2004).
Revisão da Literatura 37
A maioria das alterações genéticas é adquirida através de mutações das células
somáticas. Os tumores que apresentam estas mutações são conhecidos como
esporádicos (Rieger, 2004). As mutações que ocorrem nas células germinativas são
conhecidas como hereditárias e estão associadas às diversas síndromes humanas. As
mutações hereditárias estão presentes em cerca de 5% a 10% dos tumores sólidos
humanos (Rieger, 2004).
Em 1971, a hipótese da oncogênese em “duas etapas” de Kunudson foi proposta
para explicar a ocorrência esporádica e hereditária de um tumor: o retinoblastoma. O
desenvolvimento deste é possível pela inativação de ambos os alelos normais no locus
Rb. A hipótese sugere que, nos casos hereditários, uma alteração genética é herdada de
um dos pais afetados e está presente em todas as células somáticas do corpo. Esta seria
a primeira etapa. Portanto, a criança é portadora de um alelo mutante Rb em todas as
células somáticas e apresenta fenótipo normal. A heterozigosidade para o gene Rb não
afeta o comportamento celular. A segunda etapa seria a ocorrência de uma segunda
mutação numa das muitas células da retina, que já são portadores da primeira mutação.
O câncer se desenvolve quando a célula perde a heterozigosidade, uma condição
conhecida como LOH. Nos casos esporádicos, as duas etapas ocorreriam dentro de uma
única célula somática da retina, cuja proliferação formaria o tumor (Rieger, 2004).
Um tumor, então, é o resultado de diversos ciclos de replicação celular, acúmulo
de mutações e expansão clonal (Rieger, 2004). De acordo com o conceito proposto por
Hanahan e Weinberg (2000), com as alterações gênicas acumuladas ao longo do tempo
no processo de carcinogênese, as células tumorais adquirem progressivamente
habilidades que as distinguem das células normais. Estas habilidades adquiridas,
comuns a todas as neoplasias, são enumeradas como: auto-suficiência de sinais de
crescimento, insensibilidade a sinais inibitórios, escape dos mecanismos de apoptose,
Revisão da Literatura 38
potencial de replicação ilimitado, angiogênese sustentada, capacidade de invasão e
metástases. A ordem temporal pelas quais essas habilidades são adquiridas é variável. O
repertório de alterações capazes de fazer a célula adquirir tais habilidades são múltiplos
e o conhecimento acerca destes está se acumulando rapidamente na literatura
oncológica, principalmente através de estudos que avaliam a expressão gênica
(Hanahan; Weinberg, 2000; Rieger 2004)
2.5. Transformação maligna na mama
2.5.1 Auto-suficiência nos sinais de crescimento
As células neoplásicas são resultantes de proliferação desordenada pelas quais as
células adquirem novas habilidades e acumulam alterações no seu DNA. Uma destas
habilidades é a auto-suficiência de crescimento. No câncer de mama as células
desenvolvem auto-suficiência do crescimento adquirindo a capacidade de sintetizar
fatores de crescimento e seus receptores, além de outros sinalizadores mitogênicos
como proteínas transdutoras de sinal, fatores de transcrição, ciclinas e quinases ciclina-
dependentes. Estas substâncias podem interagir entre si formando uma rede de
sinalizações que levam as células a entrar no ciclo celular e proliferar
desordenadamente, formando clones de células neoplásicas (Hanahan; Weinberg, 2000;
Rieger 2004).
A auto-suficiência do câncer de mama é resultado da produção pelas células
neoplásicas de receptores de estrógeno (RE), receptores de progesterona (RP), membros
da família do receptor de fator de crescimento epidérmico (EGFR) e reguladores do
Revisão da Literatura 39
ciclo celular como a ciclina D1, a p21, a p16, a p27 e a “Checkpoint Kinase 2” (Chk 2)
(Hanahan; Weinberg, 2000; Rieger 2004).
As células neoplásicas que expressam RE agem como reguladores
transcricionais hormônio-dependentes. Existem dois tipos de RE: o REα e REβ. A
pesquisa do REα tem valor prognóstico estabelecido na terapia hormonal, porém o REβ
não tem valor prognóstico definido no câncer de mama (Esteva; Hortobagyi, 2004).
Estudos mostram que o REα e REβ estão associados a diferentes variáveis clínico-
patológicas, mas estudos adicionais precisam ser realizados para verificar as funções
destes receptores. O RP tem um papel funcional, pois indica a integridade da via
estrogênica nas células neoplásicas (Esteva; Hortobagyi, 2004).
O receptor do fator de crescimento epitelial (EGFR) é um membro da família de
fatores de crescimento EGFR ou família do receptor tirosino-quinase do tipo I. Esta
família é constituída pelo HER1, HER2, HER3 e HER4. É descrito que esta família está
envolvida no desenvolvimento e progressão dos carcinomas mamários. O EGFR,
também conhecido como c-erbB-1, ErbB-1 e HER-1, está relacionado com pior
prognóstico nos carcinomas mamários e a sua expressão indica menor sobrevida, maior
potencial metastático e negatividade para receptor de estrógeno. O HER2, também
conhecido como c-erbB-2, HER2/neu e ErbB-2, é o produto do do oncogene HER2 que
está relacionado com menor sobrevida e alto grau histológico. A literatura é pouco
informativa quanto à relação entre os carcinomas mamários e o HER-3 e o HER-4
(Srinivasan et al., 2000). É descrito que o estudo dos quatros membros da família EGFR
oferece informações mais precisas sobre o comportamento tumoral do que apenas o
estudo isolado de cada componente (El-Rehim et al., 2004; Lebeau et al., 2003).
A ciclina D1 é um regulador do ponto de restrição em G1. A superexpressão da
ciclina D1 torna o crescimento das células menos dependente dos fatores de
Revisão da Literatura 40
crescimento usuais e aceleram a passagem de G1 no ciclo celular. Ela é considerada, por
alguns autores, um oncogene em potencial (Umekita et al., 2002).
Estudos relataram que a ciclina D1 contribui para a carcinogênese mamária. Ela
é expressa em 40% a 60% dos carcinomas mamários, porém o valor prognóstico da
ciclina D1 em relação a estas neoplasias ainda é incerto. É proposto pela literatura que a
expressão da ciclina D1 em neoplasias é induzida por estrógenos. Corroborando com
estes dados, vários trabalhos descreveram que tumores com superexpressão de ciclina
D1 são mais propensos a apresentarem RE positivos (Lebeau et al., 2003; Umekita et
al., 2002).
A proteína p21 é considerada inibidora das quinases ciclina-dependentes e
reguladora da transição da fase G1 para S (Lebeau et al., 2003). Esta proteína liga-se às
ciclinas D e E, inibindo as quinases dependentes destas ciclinas (CDK 2 e CDK 4)
necessárias para a progressão do ciclo celular (Hanahan; Weinberg, 2000; Rieger 2004).
Lebeau e colaboradores (2003). Em carcinomas de mama a expressão da p21 é
relacionada às neoplasias que apresentam alto grau histológico (Lebeau et al., 2003).
Sobre os carcinomas de mama, estes autores ainda escreveram que a regulação da p21 é
complexa e não apenas regulada pela p53, mas por outras vias independentes desta
proteína (Lebeau et al., 2003).
A proteína p16
atua inibindo as quinases dependentes de ciclina. Ela se liga a
CDK 4, inibe sua ação e provoca parada do ciclo celular na fase G1. É considerada
como proteína, cuja função é inibir a proliferação celular (Hanahan; Weinberg, 2000). O
gene p16 pertence à família INK4a e está localizado no cromossomo 9p21, uma região
que sofre deleções freqüentes em cânceres humanos, inclusive nos carcinomas
mamários. Está ligada a fatores clínicos associados com pior prognóstico (Milde-
Langosch et al., 2000).
Revisão da Literatura 41
A p27 é também um regulador do ciclo celular que atua inibindo as quinases
ciclina-dependentes, provocando parada do ciclo celular em G1. A expressão do p27
confere um comportamento mais agressivo aos tumores (Milde-Langosch et al., 2000).
A Chk 2 é uma proteína responsável pela parada do ciclo celular ou apoptose
quando o DNA celular sofre danos, envolvendo mecanismos que promovem a
fosforilação do p53. Mutações no Chk 2 estão presentes em pacientes com síndrome de
Li-Fraumeni, sugerindo que este gene esteja relacionado com a inativação do p53. Ahn
e colaboradores (2004) descreveram que mutações no Chk 2 são responsáveis pelo
aumento do risco de adquirir câncer de mama, independente da presença de mutação do
gene BRCA-1 e BRCA-2 (Ahn et al., 2004). O Chk2 é denominado por alguns autores
como supressor tumoral, mas na tumorigênese do câncer mamário sua função ainda não
é bem compreendida (Ahn et al., 2004).
2.5.2 Insensibilidade aos sinais inibidores
Apoptose é um mecanismo de morte celular programada, que participa de várias
situações fisiológicas tais como o colapso endometrial durante a menstruação e a
deleção de células durante a embriogênese. A apoptose atua na manutenção da
homeostase tecidual, controlando o equilíbrio entre a proliferação e a morte celular.
Este processo é importante em certas condições patológicas como o câncer (Sirvent et
al., 2004).
A apoptose é controlada por vários genes que determinam a sobrevida da célula.
Alguns destes genes são: bcl-2, bax, survivin, p53, bag-1. Eles induzem a ativação de
enzimas que degradam o DNA e as proteínas citoplasmáticas (Sirvent et al., 2004).
Revisão da Literatura 42
Para apoptose iniciar é necessária a presença de estímulos externos ou internos.
Todos os estímulos levam a uma cascata de eventos moleculares que termina na
ativação de enzimas chamadas caspases. As caspases são proteases de cisteína
aspartato-específicas. O nome caspase origina-se de “c” de caspase e “asp” de ácido
aspártico mais o terminal “ase”(c + asp-ase = caspases) (Schimmer, 2004; Zhang et al.,
2004).
As caspases estão presentes nas células em sua forma inativa e precisam que o
programa de morte seja iniciado para serem ativadas. Existem dois tipos de caspases:
caspases iniciadoras e caspases efetoras. As caspases iniciadoras (caspase-8 e caspase-
9) clivam formas inativas das caspases tornando-as ativas. As caspases ativadas são
chamadas de efetoras (caspase-3 e caspase-7). Estas clivam outros substratos protéicos
da célula resultando no processo apoptótico (Schimmer, 2004; Zhang et al., 2004).
A ativação das caspases pode ser deflagrada através de uma via intrínseca ou
extrínseca. A via extrínseca é iniciada por receptores de morte celular, como o fator de
necrose tumoral (TNF) e o FAS, também conhecido por “apoptosis inducing protein 1”
(APO-1). Esta via permite a liberação das pró-caspases, que, após sofrerem auto-
ativação, desencadeiam a liberação de caspases efetoras (Rieger, 2004; Schimmer,
2004; Sirvent et al., 2004).
A via intrínseca é iniciada pela privação de fatores de crescimento e de
hormônios e envolve a ativação da pró-caspase 9. Esta é ativada por eventos de
transição da permeabilidade mitocondrial e culmina com liberação de citocromo c para
o meio intracitoplasmático. Esta via culmina com a ativação da pró-caspase-9, levando
à liberação em cadeia de caspases efetoras. Uma vez ativada, a caspase 9 ativa uma
série de outras pró-caspases (caspase 3, 6 e 7), resultando numa amplificação do sinal
de morte (Rieger, 2004; Schimmer, 2004; Sirvent et al., 2004).
Revisão da Literatura 43
As proteínas intracelulares que regulam diretamente o processo de ativação das
caspases constituem a denominada família bcl-2. Os membros desta família podem ser
divididos em moléculas pró-apoptóticas e antiapoptóticas (Rieger, 2004).
O equilíbrio relativo entre as diferentes proteínas da família bcl-2 define a via de
atuação anti-apoptótica ou pró-apoptótica do mecanismo de morte celular programada
(Rieger, 2004). Este mecanismo é complexo. A proteína bad está acoplada a membrana
mitocondrial e a membros anti-apoptóticos da família bcl-2, inibindo a atividade destes
últimos. A proteína bad fosforilada se liga à proteína 14-3-3σ e vai para o citoplasma
celular, deixando livres os membros anti-apoptótico da família bcl-2 para exercer sua
atividade. Quando ativadas, as proteínas anti-apoptóticas inibem a bax, evitando que o
citocromo c seja liberado para o meio intracitoplasmático e impedem a ativação das
caspases. Do contrário, quando os membros anti-apoptóticos estão ligados a bad, não há
inibição da bax. Esta libera o citocromo c para o meio intracitoplasmático e ativa a via
das caspases (Würtz et al., 2005).
O gene bcl-2 foi clonado em 1985 e sua proteína está localizada na membrana
mitocondrial interna de numerosos tipos celulares. Este gene é considerado um proto-
oncogene e foi descrito pela primeira vez na translocação cromossômica t(14;18), que
ocorre no linfoma folicular de células B. O produto deste gene promove a
sobrevivência, inibindo a ocorrência de apoptose (Sirvent et al., 2004; Zhang et al.,
2004).
A bag-1, também conhecida como RAP46, é uma proteína multifuncional. Uma
de suas funções é proteger a célula da apoptose e permitir a proliferação celular. A
superexpressão da bag-1 é descrita no processo de carcinogênese em várias neoplasias
humanas, entre eles o câncer de mama (Townsend et al., 2005).
Revisão da Literatura 44
Entre as proteínas pró-apoptóticas, a mais conhecida é a bax, que está
relacionado com a bcl-2, com quem pode produzir heterodímeros. Pode também
produzir homodímeros consigo mesma. Ao que parece, a bcl-2 suprime a morte celular
quando heterodimerizada com a bax (bcl-2/bax). Por outro lado, o homodímero bax/bax
promove a morte celular programada (Sirvent et al., 2004; Zhang et al., 2004).
A p53 exibe um mecanismo complexo em relação a apoptose. Quando ocorre
lesão no DNA celular, o gene p53 pode seguir dois caminhos diferentes. Ele pode
promover a parada do ciclo celular em G1 para que o DNA celular possa ser reparado
ou induzir a apoptose, se o dano celular for irreversível. Para que ocorra a apoptose, a
expressão do p53 regula positivamente o bax e negativamente o bcl-2, estimulando a
apoptose. Tumores invasivos de mama mostram positividade imuno-histoquímica para a
p53. Esta positividade reflete a presença do p53 mutado, que é incapaz de induzir a
expressão do bax, não permitindo as células neoplásicas de entrar em apoptose (Sirvent
et al., 2004; Zhang et al., 2004).
O processo de apoptose é controlado por um família de proteínas inibidoras da
apoptose. Estas são proteínas anti-apoptóticas que se ligam às caspases 3, 7 e 9,
inativando-as e impedindo a progressão da cascata de morte celular. A proteína survivin
é um membro das proteínas inibidoras da apoptose. Ela é expressa normalmente em
tecidos fetais, mas não em tecidos adultos. É descrita sua superexpressão em
adenocarcinomas de pulmão, pâncreas, cólon, próstata e mama. A proteína survivin está
sendo investigada como marcador de transformação maligna precoce, já que não é
expresso nas células adultas normais (Schimmer, 2004).
A presença de distúrbios no mecanismo de apoptose é um dos fatores essenciais
para a carcinogênese, pois podem levar a proliferação celular descontrolada (Schimmer,
2004; Sirvent et al., 2004).
Revisão da Literatura 45
2.5.3 Potencial infinito de replicação: Telomerase
Os telômeros são estruturas complexas e especializadas encontrados nas
extremidades dos cromossomos. Eles são formados por repetições de seis nucleotídeos
– TTAGGG – que compreendem até dezenas de quilobases (Bièche et al., 2000;
Kirkpatrick et al., 2004; Mokbel et al., 1999). Os telômeros estabilizam os
cromossomos, protegendo-os da degradação por nucleases. A cada ciclo de replicação
celular, os telômeros progressivamente se encurtam. Ao atingirem um comprimento
criticamente curto de telômero, a célula interrompe a divisão e envelhece. Criou-se a
hipótese de que o telômero funcionaria como um relógio celular e seria um dos fatores
responsáveis pela senescência (Bièche et al., 2000; Kirkpatrick et al., 2004; Mokbel et
al., 1999).
A enzima telomerase é uma ribonucleoproteína que reconhece os terminais dos
telômeros e acrescenta repetições adicionais aos cromossomos (Bièche et al., 2000;
Mokbel et al., 1999). Observou-se que esta enzima é inativa ou inibida na maioria das
células somáticas (Bièche et al., 2000). Nas células germinativas (espermatozóides,
óvulos e em algumas células tronco), a telomerase é uma enzima normalmente ativa.
Esta enzima apresenta atividade bioquímica aumentada em 80 a 90% das neoplasias
(Kirkpatrick et al., 2004). As células neoplásicas que possuem a telomerase ativa podem
replicar-se sem limite. A este processo é dado o nome de imortalização (Ikeda et al.,
2003; Mokbel et al., 1999).
A telomerase possui uma subunidade catalítica com atividade transcriptase
reversa denominada de hTERT-“human telomerase reverse transcriptase”- e uma
subunidade de RNA, denominada de hTR-“human telomerase RNA”. Possui também
um componente hTP-“telomerase associated protein”, que desempenha papel estrutural
Revisão da Literatura 46
(Bièche et al., 2000; Kirkpatrick et al., 2004, Poremba et al., 2002). A hTERT é a
proteína responsável pela atividade da telomerase. A detecção dessa proteína pode ser
realizada através do protocolo da amplificação repetida da telomerase (TRAP-
telomerase repeat amplification protocol”), reverso da transcrição da reação em cadeia
de polimerase (RT-PCR-“reverse transcription polymerase chain reaction”) e de estudos
imuno-histoquímicos (Bièche et al., 2000). A TRAP e a RT-PCR são métodos
complexos, que exigem maior tempo e não estão associados com parâmetros
morfométricos. A imuno-histoquímica, além de utilizar parâmetros morfológicos, é um
método utilizado na rotina de patologia cirúrgica (Ikeda et al, 2003; Poremba et al.,
2002).
A telomerase tem sido foco de muitas pesquisas, havendo um interesse crescente
no estudo de seu papel na carcinogênese. Em várias publicações, é descrito que a
presença da telomerase está associada com aumento da proliferação celular em cânceres
humanos. O aumento da proliferação celular pode ser mensurado através da detecção
imuno-histoquímica da proteína Ki-67 (Ikeda et al., 2003; Morkbel et al., 1999). Foi
observada correlação entre telomerase e Ki-67 no câncer colo-retal, carcinomas de
pequenas células do pulmão e carcinoma papilífero da tireóide (Ikeda et al., 2003).
2.5.4 Angiogênese
A angiogênese é um mecanismo dinâmico que consiste no desenvolvimento e
crescimento de vasos sanguíneos a partir de outros preexistentes. Este processo
acompanha o indivíduo desde o período embrionário até a vida pós-natal. A
angiogênese pode ser fisiológica ou patológica (angiogênese tumoral) e ambas são
compostas por diversas etapas (Hicklin; Ellis, 2006).
Revisão da Literatura 47
A angiogênese tumoral é semelhante à fisiológica, porém os novos vasos
formados têm algumas particularidades. Eles não possuem pericitos e as paredes
constituídas por células endoteliais são finas, tortuosas, dilatadas e muito permeáveis
devido à presença de diversos poros e à inexistência de membrana basal (Hicklin; Ellis,
2006).
Para que as etapas da angiogênese se processem normalmente, é necessário um
equilíbrio entre os fatores estimuladores e inibidores. Dentre os fatores estimuladores,
detacam-se a família VEGF (factor de crescimento vascular endotelial) e seus
receptores. No processo de inibição, destacam-se as interleucinas e os inibidores
tecidulais das metaloproteinases (TIMP) (Hicklin; Ellis, 2006).
O VEGF também é conhecido como “fator de permeabilidade vascular (VPF)”,
uma vez que permite que os fluidos e as proteínas do plasma extravasem. Muitos
tecidos produzem pequenas concentrações deste fator. Porém, durante a angiogênese,
este fator aumenta consideravelmente. O VEGF tem seis isoformas: VEGF-A, VEGF-B,
VEGF-C, VEGF-D, VEGF-F e o fator de crescimento plaquetário 1 e 2. Possui três
receptores de tirosina quinase: VEGFR-1, VEGFR-2 e VEGFR-3. O VEGFR-1 e o
VEGFR-2 estão relacionados com os processo de angiogênese e vasculogênese. O
VEGFR-3 atua na linfangiogênese e é produzido por células endoteliais linfáticas
(Hicklin; Ellis, 2006).
O VEGF interfere em passos essenciais da angiogênese e exerce diversos efeitos
nas células endoteliais. Além do aumento da permeabilidade, ele promove ativação,
aumento da ação mitogênica e inibição da apoptose nas células endoteliais. O VEGF
ainda pode induzir a ativação das metaloproteinases de matriz extracelular (MMP),
facilitando o processo de angiogênese (Hicklin; Ellis, 2006).
Revisão da Literatura 48
A expressão do VEGF pode ser regulada por vários fatores como a hipóxia, as
cicloxigenases, oncogenes e genes supressores tumorais. Nestes dois últimos grupos,
destacam-se o c-erBb 2 e o p53. O c-erbB-2 induz a angiogênese, estimulando a
produção do VEGF. O p53 previne a expressão do VEGF em células do câncer de
mama (Hicklin; Ellis, 2006).
Inibir a angiogênese tumoral através do bloqueio do VEGF é uma estratégia
terapêutica que vem sendo pesquisada, uma vez que este fator pode estar relacionado ao
crescimento, proliferação e resistência ao tratamento tumoral.
2.5.5 Invasão tecidual e Metástase
Durante o processo de tumorigênese, algumas células adquirem fenótipo
agressivo tornando-se capazes de invadir e formar metástases à distância. As células
metastáticas freqüentemente apresentam a expressão de moléculas identificadas como
marcadores de progressão tumoral. Estas moléculas estão sendo utilizadas em estudos
que envolvem a fisiopatologia da disseminação metastática e na descoberta de novos
fatores prognósticos (Baker et al., 2002; Noel et al., 2006).
A metástase é um processo complexo resultante da interação entre as células
tumorais e o tecido onde estas células se encontram. Na disseminação tumoral, as
células neoplásicas devem adquirir habilidades para se soltar do tumor primário, invadir
a matriz extracelular, migrar pelo estroma intersticial, induzir angiogênese, atravessar a
membrana basal e o endotélio dos vasos, alcançar a corrente sanguínea e linfática,
sobreviver na corrente sanguínea, ligar-se ao endotélio vascular, sofrer extravasamento,
e proliferar no parênquima do órgão-alvo (Baker et al., 2002; Noel et al., 2006; Tang et
al., 2005).
Revisão da Literatura 49
Entre as etapas de progressão do processo metastático, destaca-se a degradação
da matriz extracelular. As moléculas efetoras desta etapa são enzimas pertencentes às
metaloproteinases de matriz extracelular (MMP). Estas proteínas pertencem a uma
família de endopeptídeos zinco-dependente que contém mais de 20 membros. Elas
podem estar superexpressas nas células do estroma tumoral em vários tipos de câncer.
Entre as células que expressam o MMP, estão as células endoteliais, fibroblastos e
células mioepiteliais (Baker et al., 2002; Tang et al., 2005).
As MMP são encontradas em sua forma inativa. São ativadas pela plasmina,
principal ativador das MMP. A plasmina resulta da conversão do plasminogênio pelos
membros do sistema ativador do plasminogênio (uPA - Ativador de plasminogênio do
tipo uroquinase; tPA - ativador de plasminogênio do tipo tecidual). Além disso, a
plasmina é regulada pelo inibidor da ativação do plasminogênio (PAI) (Baker et al.,
2002).
As MMP ativadas degradam a matriz extracelular e a membrana basal nas fases
iniciais do processo de carcinogênese e, nas fases tardias deste processo, promovem o
crescimento sustentado, a angiogênese, invasão local e metástase à distância (Tange et
al, 2005). Noel e colaboradores (2006) relataram a associação entre a expressão das
MMP com a invasão tecidual, o crescimento tumoral e o aumento da vascularização
(Noel et al., 2006).
A degradação da matriz extracelular também é regulada pelo equilíbrio entre
moléculas inibidoras e estimuladoras. As moléculas estimuladoras são conhecidas como
indutoras da metaloproteinase da matriz extracelular (EMMPRIN). Estas são membros
da família de imunoglobulinas e estão presentes na superfície de várias células tumorais.
As EMMPRIN estimulam a expressão das MMP nos fibroblastos, nas células
Revisão da Literatura 50
endoteliais e nas células tumorais, por um mecanismo envolvendo interação entre
moléculas de EMMPRIN (Tang et al., 2005).
Além de exercer papel proteolítico, alguns membros da família das MMP
exercem papel importante na regulação da angiogênese. Com a ação proteolítica, as
MMP preparam a matriz extracelular para receber os fatores angiogênicos. Algumas
MMP podem participar da mobilização destes fatores. A MMP-9 pode promover a
mobilização do VEGF de moléculas presentes na matriz extracelular estimulando a
neovascularização. Por outro lado, outras MMP induzem fatores anti-angiogênicos
como a angiostatina e endostatina (Tang et al., 2005).
Dentre os inibidores, destaca-se a família dos inibidores de metaloproteinases
teciduais (TIMP). A família é composta de quatro componentes: TIMP-1, TIMP-2,
TIMP-3 e TIMP-4. Elas estão expressas no estroma peritumoral, em células como
fibroblastos e endotélio vascular (Würtz et al., 2005). Além de inibir as MMP, as TIMP
estimulam o crescimento de vários tipos celulares e modulam negativamente o processo
de angiogênese (Baker et al., 2002). No entanto, Noel e colaboradores (2006)
escreveram que as TIMP são proteínas multifatorias e podem estar relacionadas tanto
aos fatores inibidores quanto aos estimuladores da carcinogênese (Noel et al., 2006).
Segundo estes autores, as TIMP podem induzir proliferação de alguns tipos celulares,
promover angiogênese e ação anti-apoptótica às células tumorais (Noel et al., 2006).
A angiogênse promovida pelas TIMP está relacionada ao fato de que algumas
MMP estimulam fatores anti-angiogênicos (endostatina e angiostatina). As TIMP, sendo
inibidoras da MMP, impediriam a estimulação destes fatores (Würtz et al., 2005). Würtz
e colaboradores (2005) ainda relatam relação das TIMP com a expressão VEGF em
células de carcinomas mamários humanos (Würtz et al., 2005).
Revisão da Literatura 51
A ação anti-apoptótica relacionada às TIMPs envolvem mecanismo dependente
e indepentente das MMP. Würtz e colaboradores (2005) relataram que a integridade da
matriz extracelular e as interações celulares da matriz suprimem a apoptose. Quando
ocorre degradação da matriz pelas MMP, fatores pró-apoptóticas são liberados e
induzem a ativação das caspases. Este seria o mecanismo dependente das MMP, pois
com a TIMP inibindo-as não haveria degradação da matriz extracelular (Würtz et al.,
2005). O mecanismo independente das MMP ainda não é bem estabelecido. Würtz e
colaboradores (2005) sugerem que este último mecanismo seja decorrente da
fosforilação pelas TIMP da quinase de adesão focal (FAK) intracitoplasmática,
iniciando a via PI-3/Akt/bad/bcl-2 (Würtz et al., 2005).
Muitas pesquisas vêm investigando marcadores biológicos que possam
determinar a predisposição metastática tumoral. Entendendo melhor este processo, os
cientistas poderiam descobrir uma forma de controlar a disseminação metastática ou, até
mesmo, erradicá-la (Wang-Rodrigues et al., 2003). A linhagem de células M-4A4
secreta uma proteína chamada osteopontina (OPN). Esta é uma glicoproteína que está
envolvida no desenvolvimento ósseo e na regulação do sistema imune. A OPN é
expressa normalmente em alguns tipos celulares, incluindo leucócitos e células de
linhagem epitelial (Wang-Rodrigues et al., 2003).
De acordo com os estudos preliminares, a OPN parecia se comportar como um
clássico marcador biológico preditor de metástase. No entanto, níveis elevados de OPN
foram detectados em macrófagos e linfócitos localizados no estroma perilesional e
também em condições fisiológicas, como gravidez e amamentação. Dados mais recentes
sugerem que aumento nos níveis de OPN em pacientes com carcinoma primário é uma
etapa necessária, mas não suficiente para a disseminação metastática. Portanto, a
expressão aumentada de OPN pode ser utilizada na diferenciação de lesões benignas e
Revisão da Literatura 52
malignas, mas o seu papel como preditor de metástase ainda não está bem esclarecido
(Wang-Rodrigues et al., 2003).
Os eventos relacionados à invasão tecidual e à metástase são alvos de várias
pesquisas. Estas se propõem a desvendar novos marcadores tumorais que possibilitem
detectar precocemente a tendência dos tumores na produção de metástases.
2.6 Fatores prognósticos em câncer de mama
A história natural do câncer de mama indica que o curso clínico da doença e a
sobrevida variam de paciente para paciente (Abreu; Koifman, 2002). Esta variação é
determinada por uma série de variáveis clínico-patológicas e prognósticas ainda não
completamente compreendidas e que podem estar relacionadas com a condição
imunológica, hormonal, nutricional e genética do paciente. Estes fatores estão sendo
estudados para predizer o prognóstico de pacientes com câncer, incluindo o carcinoma
mamário (Elston; Ellis, 1991; Fitzgibbons et al., 1999).
O termo “fator prognóstico” pode ser definido como um parâmetro possível de
ser mensurado, em um paciente com câncer, no momento do diagnóstico e que servirá
como preditor da sobrevida ou do tempo livre de doença. O aprimoramento do
conhecimento sobre fatores prognósticos é constante. Estudos científicos continuam
publicando novos fatores prognósticos para pacientes com câncer, dos quais muitos são
considerados promissores (Abreu; Koifman, 2002).
Nos tumores mamários, a conduta terapêutica a ser escolhida não é baseada
apenas na avaliação dos fatores prognósticos. A combinação e o conhecimento das
variáveis clínico-patológicas e prognósticas permitem a escolha da terapêutica mais
benéfica e individualizada, com intensidade e efetividade adequadas ao paciente, maior
Revisão da Literatura 53
seletividade na aplicação dos tratamentos adjuvantes, além de reduzir o sofrimento
oriundo dos efeitos colaterais das drogas utilizadas no tratamento do câncer (Abreu;
Koifman, 2002; Elston; Ellis, 1991; Esteva; Hortobagyi, 2004; Fitzgibbons et al., 1999).
2.6.1 Fatores clínico-patológicos e prognósticos utilizados na rotina de patologia
mamária
Estes são fatores clínico-patológicos definidos como de importância prognóstica
em patologia mamária e utilizados no manejo clínico dos pacientes. Alguns fatores
prognósticos clínico-patológicos, como grau e subtipo histológico do tumor, tamanho
tumoral e envolvimento dos linfonodos axilares são fatores prognósticos bem
estabelecidos (Fitzgibbons et al., 1999).
Além dos fatores prognósticos e clínico-patológico, existem marcadores
moleculares detectados por imuno-histoquímica que são considerados importantes para
a avaliação do paciente com câncer. Alguns destes marcadores estão relacionados ao
prognóstico, outros, à resposta terapêutica ou a ambos (Esteva; Hortobagyi, 2004).
Receptores hormonais (RE e RP), c-erbB-2, p53 e ki-67 são marcadores imuno-
histoquímicos utilizados na rotina de patologia mamária. Estes marcadores, embora
apresentem valor prognóstico bem estabelecido em patologia mamária, freqüentemente
estão participando de estudos que tentam verificar as interações com outras variáveis
clínicas, patológicas e terapêuticas (Esteva; Hortobagyi, 2004).
A influência da idade na determinação da sobrevida no câncer de mama
permanece controversa. Esta informação pode ser resultado do pequeno número de
pacientes envolvidos nos estudos realizados, das diferentes formas de estratificação das
idades e da falta de correlação dos óbitos ocorridos por outras causas diferentes do
Revisão da Literatura 54
câncer de mama. Estudos relatam que pacientes com câncer de mama pertencentes a
quarta e quinta décadas de vida apresentam melhor prognóstico. Por outro lado, um pior
prognóstico estaria relacionado ao grupo de mulheres mais jovens (idade igual ou
inferior a 35 anos) e àquelas cujo diagnóstico do câncer venha a ser estabelecido a partir
dos 75 anos de idade (Abreu; Koifman, 2002).
O tamanho tumoral e a condição dos linfonodos axilares são os dois mais
importantes indicadores prognósticos para câncer de mama, tanto que constituem a base
do estadiamento TNM (Abreu; Koifman, 2002). O tamanho tumoral é um importante
preditor do comportamento tumoral (Fitzgibbons et al., 1999). Ele está relacionado ao
desenvolvimento de metástase, recidiva e a indicação do tratamento no momento do
diagnóstico. Na ausência de comprometimento metastático dos linfonodos axilares, o
tamanho do tumor torna-se o melhor preditor da recidiva tumoral (Abreu; Koifman,
2002). Quanto maior o tamanho tumoral, maiores são as chances de comprometimento
metastático dos linfonodos loco-regionais. Os tumores de menor tamanho estão
relacionados a um melhor prognóstico tanto para sobrevida quanto para o tempo livre de
doença (Abreu; Koifman, 2002; Elston; Ellis, 1991; Fitzgibbons et al., 1999).
O estudo do envolvimento axilar e do número de linfonodos comprometidos são
informações prognósticas importantes. Os tumores de até 1,0 cm de diâmetro
apresentam de 20% a 30% de chance de apresentarem linfonodos envolvidos pela
doença e os tumores ductais com grau histológico elevado podem até dobrar este
percentual em relação ao comprometimento dos linfonodos (Abreu; Koifman, 2002).
Estudos demonstram que o tamanho tumoral, a sobrevida das pacientes e a recorrência
da doença estão diretamente relacionados ao número de linfonodos comprometidos
(Abreu; Koifman, 2002, Fitzgibbons et al., 1999). Pacientes com linfonodos axilares
negativos apresentam 20% a 30% recorrência, enquanto pacientes com linfonodos
Revisão da Literatura 55
positivos apresentam 70% de recorrência. Pacientes com quatro ou mais linfonodos
acometidos apresentam pior prognóstico (Fitzgibbons et al., 1999).
O prognóstico está relacionado com o subtipo histológico do tumor. O
carcinoma ductal e o carcinoma lobular invasor, na sua apresentação pura ou em
combinação com outros tipos, são as formas mais comuns de carcinoma mamário.
Quando dois ou mais diferentes tipos de tumores estão presentes, a classificação é feita
de acordo com o tipo de tumor que exibe o maior percentual de células neoplásicas
(Abreu; Koifman, 2002). O carcinoma ductal invasor é considerado a neoplasia
mamária maligna de pior prognóstico e com maior envolvimento linfático. De maneira
simplificada e tendo o carcinoma ductal invasor como referencial, o carcinoma tubular
puro, o carcinoma mucinoso e o carcinoma cribiforme invasivo apresentam melhor
prognóstico. O carcinoma lobular e o carcinoma medular apresentam prognóstico
intermediário em relação aos carcinomas ductais invasores (Abreu; Koifman, 2002;
Elston; Ellis, 2001).
O grau histológico reflete o potencial de malignidade do tumor indicando a sua
maior ou menor capacidade de metastatizar, sobrevida, tempo livre de doença, além de
permitir a estratificação de risco e a formulação do estadiamento tumoral para cada
paciente (Abreu; Koifman, 2002; Elston & Ellis, 2001; Fitzgibbons et al., 1999). Porém,
o emprego do grau histológico na determinação prognóstica do câncer da mama
apresenta controvérsias. Isto se deve à dificuldade na reprodutibilidade do diagnóstico
histológico entre diferentes patologistas e entre diferentes serviços, visto a natureza
subjetiva de sua determinação (Abreu; Koifman, 2002; Elston & Ellis, 2001). Esta
variável se tornou mais reprodutível após a graduação de Nottinghan (Esteva;
Hortobagyi, 2004).
Revisão da Literatura 56
A condição do RE e do RP teve sua significância prognóstica estabelecida na
segunda metade dos anos 70 (Abreu; Koifman, 2002; Elston; Ellis, 1991; Esteva;
Hortobagyi, 2004; Fitzgibbons et al., 1999). A partir da introdução do método imuno-
histoquímico, que possibilitou a utilização do tecido fixado em formalina, o estudo dos
receptores hormonais por biópsia tornou-se prático e de custo reduzido. O RE, quando
positivo, está associado com a idade, baixo grau histológico, grau nuclear menor, baixo
índice de proliferação celular e a paciente pode ser beneficiada com a terapia hormonal
adjuvante. Por outro lado, a negatividade do RE está associada com baixa diferenciação
tumoral, alta taxa de proliferação celular e outras variáveis que desfavorecem o
prognóstico das pacientes com câncer de mama (Abreu; Koifman, 2002; Esteva;
Hortobagyi, 2004). Com relação à sobrevida, as pacientes com tumores RE positivos
tendem a ter uma sobrevida maior, e melhor resposta à terapia hormonal do que aquelas
com RE negativos (Abreu; Koifman, 2002; Elston; Ellis, 1991; Esteva; Hortobagyi,
2004; Fitzgibbons et al., 1999).
Estudos demonstram que o bom prognóstico conferido pela positividade do RE
não é sustentável a longo prazo. Trabalhos citados no artigo de Abreu e Koifman (2002)
descrevem que o valor preditivo da condição do RE no tumor primário decresce
aproximadamente 20% ao ano. Outros autores descrevem que a significância estatística
desaparece com 10 anos de seguimento. Se por um lado o RE não se apresenta como um
preditor competente da sobrevida a longo prazo, por outro ele é um forte preditor de
resposta para a terapia endócrina adjuvante (Abreu; Koifman, 2002).
O RP tem sido apresentado, na maioria dos estudos, como portador de um papel
secundário, indicando a integridade da via estrogênica nas células neoplásicas. No
entanto, algumas pesquisas relatam que as pacientes mais idosas com metástase e RP
Revisão da Literatura 57
positivo apresentam maior tempo de intervalo livre de progressão da doença (Abreu;
Koifman, 2002; Esteva; Hortobagyi, 2004).
C-erbB-2 é um oncogene cuja amplificação gênica ou superexpressão são
importantes na patogênese do câncer de mama (Elston; Ellis, 1991; Esteva; Hortobagyi,
2004). Ele está presente em cerca de 20% a 30% dos carcinomas mamários invasores e a
expressão aumentada desta proteína é considerada como indicador de mau prognóstico.
As pacientes com acometimento neoplásico dos linfonodos axilares, que
expressam c-erbB-2, apresentam um alto risco de recidiva precoce, menor sobrevida,
menor tempo livre de doença e alto grau histológico (Abreu; Koifman, 2002; Elston;
Ellis, 1991; Fitzgibbons et al., 1999). Variáveis como sobrevida e tempo livre de doença
estariam relacionadas ao mau prognóstico em carcinomas mamários positivos para c-
erbB-2 devido ao aumento da atividade metastática apresentado pelas células tumorais
que expressam esta proteína (Abreu; Koifman, 2002).
Em relação ao tratamento, existem vários trabalhos com resultados conflitantes.
Um destes relatos descreve pacientes com a expressão aumentada da c-erbB-2
apresentando maior resistência às drogas quimioterápicas (Abreu; Koifman, 2002). No
entanto, é descrito que pacientes com c-erbB-2 positivo apresentam melhor resposta a
alguns quimioterápicos, como a doxorubicina, e pacientes com carcinoma de mama
metastático com c-erbB-2 positivo são fortes candidatos a terapia com anticorpo
monoclonal Trastuzumab (Herceptin ®). Em relação à terapia hormonal, a presença do
c-erbB-2 é controversa (Esteva; Hortobagyi, 2004).
O gene supressor tumoral p53 e suas mutações estão relacionados com um
comportamento mais agressivo do tumor, negatividade para receptores de estrógeno, alto
grau histológico e um prognóstico desfavorável. Outros estudos correlacionaram a
expressão aumentada da p53 em carcinomas de mama com agressividade do tumor, recidiva
Revisão da Literatura 58
ou metástase precoce e menor sobrevida em pacientes com linfonodo axilares negativos
(Abreu; Koifman, 2002; Esteva; Hortobagyi, 2004; Fitzgibbons et al., 1999). As mutações
do p53 em células germinativas, como na síndrome de Li-Fraumeni, aumentam a incidência
para o carcinoma mamário. Nos carcinomas mamários hereditários, é descrito uma
correlação entre o p53 e o BRCA-1 e BRCA-2. As associações verificadas entre os estudos
imuno-histoquímicos e os resultados clínicos em relação à proteína p53 são promissores,
porém muito ainda necessita ser aprendido sobre a função do p53 e suas interações com
seus produtos e outros genes, principalmente com os genes da família p53 (Abreu;
Koifman, 2002; Fitzgibbons et al., 1999).
O Ki-67 é uma proteína nuclear lábil que identifica células nas fases G1, S, G2 e
M, mas não na fase G0. É um importante marcador imuno-histoquímico na detecção de
proliferação celular. Quanto maior a expressão do ki-67 em células neoplásicas, pior é o
prognóstico. Pacientes portadores de carcinoma mamário com mais de 50% das células
neoplásicas positivas para ki-67 apresentam alto risco de desenvolver recorrência
(Esteva; Hortobagyi, 2004; Fitzgibbons et al., 1999). Mokbel e colaboradores (1999)
descreveram que quanto maior a percentagem de células neoplásicas nos carcinomas
mamários, mais indiferenciado é o tumor (Mokbel et al., 1999). Estudos mostram
associação do ki-67 com grau nuclear, idade, contagem mitótica e metástase para
linfonodos (Esteva; Hortobagyi, 2004; Mokbel et al., 1999).
2.6.2 Marcadores imuno-histoquímicos não definidos quanto ao seu papel ou com
papel secundário na rotina de patologia mamária
São marcadores imuno-histoquímicos que não apresentam estudos suficientes
para defini-los como de uso freqüente na rotina de patologia mamária. Entre eles estão o
Revisão da Literatura 59
bcl-2, c-erbB-3, EGFR, VEGF, MMP, EMMPRIN, TIMP, PAI, telomerase,
osteopontina (OPN) e a p63.
Em relação à morte celular, quando as células neoplásicas apresentam baixo
índice apoptótico, espera-se que o tumor tenha um comportamento mais agressivo.
Paradoxalmente, apesar da proteína bcl-2 apresentar função anti-apoptótica, sua
superexpressão está associada ao maior tempo livre de doença. Estudos mostram que
este dado controverso é decorrente da associação da bcl-2 com a presença de RE nos
carcinomas de mama. A presença de RE confere melhor resposta ao tamoxifeno,
explicando a relação da proteína bcl-2 com maior tempo livre de doença. Ela também
está relacionada com a resposta dos tumores ao tratamento quimioterápico. Os tumores
bcl-2 negativos respondem melhor à quimioterapia, enquanto os tumores bcl-2 positivos
geralmente não apresentam boa resposta quimioterápica (Elston; Ellis, 1991).
Srinivasan e colaboradores descrevem que a marcação imuno-histoquímica
nuclear do anticorpo c-erbB-4 está associado a melhor fenótipo dos carcinomas
mamários. Estes autores também relatam a expressão do c-erbB-3 em algumas
neoplasia malignas. O c-erbB-3 encontra-se superexpresso em 20% dos carcinomas
mamários invasores (Srinivasan et al., 2000). No entanto, a literatura é pouco
informativa quanto à relação entre os carcinomas mamários e o HER-3 e o HER-4
(Srinivasan et al., 2000).
O EGFR, quando expresso em carcinomas de mama, tem sido correlacionado
com a negatividade para RE, má resposta ao tratamento com tamoxifeno e tumores com
grau histológico elevado (Elston; Ellis, 1991).
Além da função proteolítica, estudos descrevem que os membros da família das
MMP também participam da angiogênese através da estimulação do VEGF (Würtz at
al., 2005). Com relação à progressão tumoral, a expressão das MMP está aumentada em
Revisão da Literatura 60
várias neoplasias humanas, inclusive em carcinomas mamários, quando comparada à
expressão desta proteína em tecido normal. As neoplasias que apresentam expressão da
MMP aumentada estão relacionadas a um pior prognóstico (Baker et al., 2002).
Paradoxalmente, as TIMP, que são inibidoras das MMP, estão relacionadas a um
pior prognóstico (Baker et al., 2002; Würtz et al., 2005). Para explicar este dado, Würtz
e colaboradores (2005) propuseram que as TIMP estimulariam a proliferação celular
através de mecanismo de receptor de superfície celular ainda não conhecido. Este
mecanismo promoveria a angiogênese e exerceriam função anti-apoptótica, por um
processo dependente e outro independente das MMP (Würtz e al., 2005).
O PAI-1 e uPA, componentes do sistema de ativação do plasminogênio, estão
relacionados com prognóstico desfavorável, menor sobrevida livre de doença e menor
sobrevida global (Baker et al, 2002). Por ser um inibidor do ativador das MMP, a
proteína PAI deveria estar relacionada a bom prognóstico. No entanto, Würtz e
colaboradores (2005) descreveram efeitos anti-apoptóticos e pró-angiogênicos
relacionados a PAI, o que explicaria a sua relação com o prognóstico desfavorável
(Würtz et al., 2005).
O principal estímulo para a angiogênese é a interação entre o VEGF e seus
receptores (Ferrara, 1999). Estudos relatam que a expressão do VEGF se correlaciona
com pior prognóstico, pois em alguns tumores o VEGF estimula o crescimento tumoral,
comportamento mais agressivo, recorrência e metástase, além de estar relacionado à
menor sobrevida (Ferrara, 1999; Linderholm et al., 2001). Devido à importância do
VEGF na angiogênese e na progressão tumoral, a sua inibição é um importante alvo nas
terapias de cânceres experimentais (Weigand et al., 2005).
Estudos relatam correlação entre a expressão da telomerase e maior
agressividade tumoral. Esta agressividade é descrita nos neuroblastomas e nos cânceres
Revisão da Literatura 61
gástricos. Em relação ao prognóstico, a associação entre a telomerase e os carcinomas
mamários é controversa (Poremba et al, 2002). Autores relatam que altos níveis de
telomerase estão associados com a presença de metástase para linfonodos axilares,
recorrência tumoral e aumento da proliferação celular mensurada pelo ki-67 (Ikeda et
al., 2003; Morkbel et al., 1999; Poremba et al., 2002). Outros estudos sugerem que a
telomerase pode ser utilizada como marcador prognóstico, marcador para quimioterapia
anti-câncer e marcador biológico para detecção do câncer, mas estudos adicionais são
necessários para validar essas hipóteses (Mokbel et al., 1999; Poremba et al., 2002).
Através de estudos imuno-histoquímicos e de RT-PCR, foi detectada expressão
aumentada de OPN em tumores primários de mama. Em pacientes com câncer mamário
metastático, níveis elevados da OPN foram detectados no plasma (Wang-Rodrigues et
al., 2003). Porém, como já foi dito, a expressão aumentada de OPN pode ser utilizada
na diferenciação de lesões benignas e malignas, mas o seu papel como preditor de
metástase ainda não está bem esclarecido (Wang-Rodrigues et al., 2003).
Justificativa 62
3. JUSTIFICATIVA
Os três genes da família p53 apresentam alto grau de homologia entre si. No
entanto, apesar da semelhança estrutural e, em parte, funcional entre os genes da família
p53, estudos descrevem funções diversificadas para estes genes a depender da isoforma
e das circunstâncias atuantes.
Os genes da família p53 atuam sobre proteínas-alvo em vias metabólicas
diferentes. Com isso, várias interações entre proteínas-alvo, vias metabólicas e membros
da família p53 podem ser possíveis. Por exemplo, a proteína p21 é alvo de dois
membros da família p53 (o p53 e o p73) e atuam sobre a mesma via metabólica
promovendo parada do ciclo celular para que o DNA celular possa ser reparado. Além
de atuarem em diversas vias metabólicas, algumas das isoformas dos genes da família
p53 também apresentam papel de cooperação e de dependência entre si para poder
exercer suas funções. O conhecimento das proteínas-alvo, das vias biológicas e das
interações entre os membros da família é um desafio, mas que vem progredindo em
diversas pesquisas (Moll; Slade, 2004).
Como o p63 faz parte da família p53, as informações obtidas sobre ele não são
diferentes das demais. Ele apresenta atividade biológica diversa, complexa, pouco
definida, nas quais muitas de suas proteínas-alvo são desconhecidas (Moll; Slade, 2004;
Westfall; Pietenpol, 2004). Algumas destas proteínas-alvo podem ser expressas nas
células e detectadas pela reação de imuno-histoquímica. Como as alterações do p53
estão relacionadas à carcinogênese de vários tumores, seria interessante verificar se o
p63, como membro da família p53, apresentaria também relação com vias ligadas à
progressão tumoral. Utilizamos casos de carcinoma ductal mamário invasor, pois estes
são carcinomas encontrados em grande número no serviço de Patologia do Hospital das
Justificativa 63
Clínicas de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo, facilitando a obtenção do “N”e
de informações clínicas completas e padronizadas para o estudo. Além disso, a literatura
descreve que alguns carcinomas ductais invasores expressaram a proteína p63
(Barbareschi et al., 2001; Reis-Filho et al., 2003; Ribeiro-Silva et al., 2003). Para tentar
verificar a relação da p63 com os carcinomas ductais invasores e possíveis proteínas-
alvo, selecionamos vários anticorpos que agem em vias metabólicas diferentes, nas
quais muitos estão relacionados à carcinogênese. Além dos anticorpos, foram inclusos
no estudo, variáveis clínico-patológicas e prognósticas consideradas importantes em
patologia mamária, nas quais a relação com a expressão da proteína p63 não é bem
esclarecida.
Agrupamos os anticorpos em diferentes grupos: anticorpos com importância
clínica-patológica e prognóstica em patologia mamária (RE, RP, p53, c-erbB-2, ki-67),
reguladores do ciclo celular (c-erbB-3, ChK2, ciclina D1, EGFR, p16, p21, p27,
telomerase), reguladores da apoptose (bag-1, bax, bcl-2, caspase-8, p53, survivin) e
proteínas que atuam no processo de invasão e metástase (EMMPRIN, MMP1, MMP2,
OPN, PAI, TIMP1, TIMP2, VEGF). Muitos destes anticorpos são descritos como alvos
do p53 e do p73, mas não do p63. No entanto, devido às interações de funções entre os
genes da família p53, procuramos verificar se haveria relação entre as proteínas-alvo de
vias metabólicas diferentes e a expressão da proteína p63.
Alguns dos anticorpos com importância clínica-patológica em patologia
mamária (RE, RP, p53, c-erbB-2, ki-67) apresentam relação com pelo menos um dos
membros da família p53 e, por esta razão, foram inclusos nos estudo. Outros anticorpos
deste grupo não apresentam interação esclarecida com os membros da família p53 e
para verificar esta relação também foram inclusos no estudo. Por exemplo, a literatura
descreve que presença de RE negativo está relacionada com mutações no p53 (Abreu;
Justificativa 64
Koifman, 2002; Esteva; Hortobagyi, 2004; Fitzgibbons et al., 1999). Portanto, o RE foi
adicionado no estudo. No entanto, o RP, o c-erbB-2 e o ki-67 são anticorpos também
utilizados na rotina de patologia mamária e cuja relação com a p63 é pouco conhecida.
A proteína p53 não poderia ficar fora do estudo, pois é um membro da família p53.
Como os anticorpos com importância clínica-patológica em patologia mamária,
muitos dos anticorpos relacionados à regulação do ciclo celular apresentam interação
com pelo menos um membro da família p53. A p16, p21, ChK2 e algumas ciclinas são
proteínas-alvo do p73 (Garcia et al., 2004; Ishimoto et al., 2002; Moll; Slade, 2004).
Como a literatura é pouco informativa quanto à relação entre os carcinomas mamários e
o c-erbB-3, esta proteína foi incluída no estudo para verificar se havia alguma
correlação com os carcinomas mamários que expressam a p63 (El-Rehim et al., 2004;
Lebeau et al., 2003). O EGFR, a telomerase e a expressão da p27 estão relacionados
com pior prognóstico nos carcinomas mamários e seria importante saber sua relação
com membros da família p53 (Lebeau et al., 2003; Milde-Langosch et al., 2000;
Poremba et al., 2002). No trabalho de Lewis e colaboradores (2006), células sobre a
ação ectópica da telomerase expressaram a proteína p63.
Os três genes da família p53 atuam na regulação da apoptose (Moll; Slade,
2004). Portanto proteínas anti-apoptóticas, como a bag-1, e proteínas pró-apoptóticas,
como a bax, foram adicionadas a este estudo (Sirvent et al., 2004; Townsend et al.,
2005; Zhang et al., 2004).
Em relação às proteínas que atuam no processo de invasão e metástase,
incluímos as MMP por estas estarem expressas nas células mioepiteliais, células onde a
p63 também é expressa (Baker et al., 2002; Tang et al., 2005). Como as proteínas
EMMPRIN, PAI, TIMP1 e TIMP2 estão relacionadas à regulação das MMP também
foram adicionadas ao estudo. Os membros p73 e p53 atuam de forma inibitória no
Justificativa 65
VEGF (Moll; Slade, 2004). Portanto, como o VEGF apresenta interação com membros
da famíla p53, foi acrescentado ao estudo para varificar sua relação com carcinomas
mamários p63-positivos. A OPN, além de estar relacionada a estudos do potencial
metastático, é expressa em células da linhagem epitelial (Wang-Rodrigues et al., 2003).
Como a p63 é expressa em alguns tecidos epiteliais, a OPN foi incluída no estudo para
varificar sua relação com carcinomas mamários p63-positivos.
Entendemos que o número de variáveis do estudo é grande, por isso dividimos
em grupos com área de atuação semelhante. Com estas variáveis tentamos, pelo menos,
compreender quais as possíveis proteínas-alvo e vias metabólicas que poderiam
apresentar relação com a expressão da proteína p63 e com a progressão tumoral dos
carcinomas ductais mamários invasores p63-positivos.
Objetivos 66
4. OBJETIVOS
Verificar a relação entre a expressão imuno-histoquímica da proteína p63 em
carcinomas mamários com fatores clínico-patológicos de importância
prognóstica;
Verificar a relação da expressão imuno-histoquímica da proteína p63 em
carcinomas mamários com reguladores do ciclo celular, oncogenes, proteínas
relacionadas a apoptose e a angiogênese tumoral, metaloproteinases e inibidores
das metaloproteinases.
Metodologia 67
5. METODOLOGIA
5.1 Sujeito
Dos arquivos do Serviço de Patologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP/USP) foram selecionados aleatoriamente laudos
anátomo-patológicos de casos de carcinoma de mama diagnosticados entre 1992 e 1995.
O critério para a inclusão destes laudos no estudo foi baseado no diagnóstico
histopatológico. Os carcinomas mamários deveriam estar laudados como carcinoma
ductal invasor sem outra especificação (“not otherwise specified – NOS”) e apresentar a
graduação histológica segundo a graduação de Nottinghan (Bloom; Richardson, 1957;
Elston; Ellis, 1991; Fitzgibbons et al., 2000).
A partir dos laudos selecionados, foram requisitados os prontuários dos
pacientes. Para inclusão dos pacientes nas pesquisas, eles tinham de preencher os
seguintes requisitos: ser do sexo feminino e apresentar biópsia de carcinoma mamário
com os critérios histológicos citados acima, sem ter sido submetido a qualquer esquema
de tratamento hormonal ou quimioterápico prévios no momento da biópsia. Foi dada
preferência às biópsias excisionais. Caso a paciente não tivesse sido submetida à
exérese da lesão, as biópsias incisionais eram inseridas no estudo se estivessem dentro
dos critérios de inclusão já estabelecidos.
Selecionados os laudos e os prontuários, segundo os critérios de inclusão, os
blocos de parafina e lâminas foram examinados. Os blocos de parafina deveriam
apresentar amostra de tecido com tamanho de pelo menos 1,0 cm no maior eixo. As
lâminas selecionadas deveriam apresentar tecido mamário com células neoplásicas
ocupando, pelo menos, 50% da amostra representada.
Metodologia 68
As informações clínicas foram coletadas dos prontuários médicos do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP. Os dados clínicos
considerados importantes para o prognóstico foram coletados para o estudo. Estes dados
foram: idade, “status menopausal”, presença de metástase para linfonodos e
estadiamento patológico. Quando os dados clínicos do prontuário estavam incompletos,
a paciente era excluída do estudo.
Após a exclusão de pacientes que não se enquadravam nos critérios citados
acima, as lâminas dos laudos histopatológicos inclusos no trabalho foram revisadas
pelos autores deste trabalho, confirmando o tipo e grau histológico. Para determinar
o tipo histológico foi utilizado os critérios da Organização Mundial de Saúde – OMS
(Ellis et al., 2003). O grau histológico foi determinado de acordo com a graduação
de Nottinghan (Bloom; Richardson, 1957; Elston; Ellis, 1991).
A graduação de Nottinghan baseia-se nas características arquiteturais do
tumor (formação de túbulos), do núcleo (grau nuclear) e na contagem mitótica. As
características arquiteturais são baseadas na formação de túbulos. Se a neoplasia
mostrava formação de túbulos em mais de 50% da amostra, concedeu-se 1 ponto. Se
a formação de túbulos for entre 10% a 50%, concedeu-se 2 pontos. Se as células
mostravam formação de túbulos em menos de 10% da neoplasia, concedeu-se 3
pontos. O grau nuclear foi avaliado da seguinte forma: um ponto foi concedido se os
núcleos mostravam satisfatória uniformidade no tamanho, forma e coloração. Dois
pontos, se estas variações fossem moderadas. Quando a neoplasia apresentava
marcado grau de pleomorfismo ganhava três pontos. Para determinar a contagem
mitótica, as mitoses foram contadas em dez campos de grande aumento – CGA (x
40) com um microscópio da marca Nikkon - Labophot, com diâmetro de campo de
0,44 mm e área do campo de 0,152 mm. Conferiu-se um ponto aos tumores com até
Metodologia 69
10 figuras de mitoses por dez CGA, dois pontos àqueles com 11 a 20 e três pontos
quando mais de 20 foram observadas. Os pontos da formação tubular, grau nuclear e
contagem mitótica foram somados e classificados como: de 3 a 5 pontos seria igual
ao grau I (bem diferenciado); de 6 a 7 pontos seria igual ao grau II (moderadamente
diferenciado); de 8 a 9 pontos seria igual ao grau III (pouco diferenciado) (Bloom;
Richardson, 1957; Elston; Ellis, 1991).
Realizada a revisão das lâminas, foram selecionadas 100 pacientes com carcinoma
ductal invasor sem outra especificação (“not otherwise specified – NOS”). Dentre
estes, 32 eram carcinoma ductal invasor de grau I (bem diferenciado), 39 carcinoma
ductal invasor de grau II (moderadamente diferenciado) e 29 carcinoma ductal invasor
de grau III (pouco diferenciado).
5.2 Imuno-histoquímica
A partir dos blocos de parafina, representativos de cada lesão, foram feitos
cortes histológicos de 3 µm (micrótomo Spencer, modelo 820, série n° 17.797) e
colocados em lâminas de vidro. Estas ficaram expostas à temperatura ambiente por 30
minutos e foram colocadas na estufa para desparafinização, por 2 horas, à temperatura
de 70°C. Saindo da estufa, as lâminas foram desidratadas em xilol e reidratadas em
bateria de álcool de diferentes graduações. A imuno-histoquímica foi realizada
segundo o método do complexo avidina biotina-peroxidase (Novostain Super ABC
kit, Novocastra, Newcastle upon Tyne, UK). Primeiramente, as lâminas foram
colocadas em solução de tampão citrato na concentração de 10mM e pH 6,0
submetidas à recuperação antigênica por quarenta minutos em panela a vapor. As
lâminas foram resfriadas até temperatura ambiente e lavadas com solução salina de
Metodologia 70
tampão-Tris. Após este processo, os cortes histológicos foram tratados com peróxido
de hidrogênio a 3% (H
2
O
2
) em metanol por 5 minutos para eliminar a atividade
endógena da peroxidase. O soro normal do Novostain Super ABC kit (Novocastra)
foi colocado nas lâminas por 30 minutos para bloquear as ligações não específicas. Os
anticorpos primários foram incubados durante 12 horas (“overnight”) em temperatura
ambiente. As concentrações e diluições dos anticorpos utilizados são mostrados na
tabela 2. Em seguida as lâminas foram lavadas em solução salina fosfatada e
tamponada (PBS) e o anticorpo secundário biotinilado (Novostain Super ABC kit,
Novocastra) foi adicionado, sendo incubado em temperatura ambiente por 30 minutos.
Em seguida, os cortes foram lavados duas vezes com água destilada e tratados com o
reagente do complexo avidina-biotina (Novostain Super ABC kit, Novocastra) por
trinta minutos. Seguindo-se nova lavagem com PBS, os cortes histológicos foram
incubados com diamino-benzidina (DAB) com pH 7,5 e contendo 0,036% de peróxido
de hidrogênio, por 5 minutos. O DAB é aplicado para se obter a visualização do
cromógeno, que indica a positividade da imunomarcação nos cortes histológicos. A
hematoxilina de Mayer foi aplicada como contra-corante. Após a reação, as lâminas
foram cobertas por lamínula, com auxílio de Permount (Fischer
®
).
Metodologia 71
Tabela 2. Concentrações, clones, diluições e fabricantes dos anticorpos utilizados.
Anticorpo Clone Fabricante Diluição
Bag-1 5C5 Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:50
Bax
Polyclonal
Dako, carpinteria, CA
1:100
Bcl-2
Bcl-
2/100/D5
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:50
Caspase 8 11B6
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:50
c-erbB-2 CB11
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:300
c-erbB-3 RTJ1
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:100
Checkpoint kinase 2 (Chk2) DCS 270.1
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:50
Cyclin D1 P2D11F11
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:50
Epidermal growth factor receptor (EGFR) EGFR.113
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:50
Extracellular matrix metalloproteinase inducer
(EMMPRIN)
8D6
Santa Cruz, Palo Alto, CA
1:50
Estrogen receptor (ER) 6F11
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:100
Human telomerase reverse transcriptase
(hTERT)
44F12
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:100
Ki67 MM1
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:150
Matrix metalloproteinase 1 (MMP1) 3B6
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:50
Matrix metalloproteinase 2 ( MMP2)
8B4
Santa Cruz, Palo Alto, CA
1:50
Osteopontin (OPN)
AKm2A1
Santa Cruz, Palo Alto, CA
1:100
p16 6H12
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:50
p21 4D10
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:50
p27 1B4
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:50
p53 DO-7
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:100
p63
4A4
Santa Cruz, Palo Alto, CA
1:100
Plasminogen activator inhibitor (PAI) TJA6
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:50
Progesterone receptor 1A6
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:150
Survivin FL-142
Santa Cruz, Palo Alto, CA
1:100
Tissue inhibitor of matrix metalloproteinase 1
(TIMP1)
6F6a
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:100
Tissue inhibitor of matrix metalloproteinase 2
(TIMP2)
3A4
Novocastra, Newcastle upon
Tyne, UK
1:100
Vascular endothelial growth factor (VEGF) A-20
Santa Cruz, Palo Alto, CA
1:200
Metodologia 72
5.3 Controles da imuno-histoquímica
As amostras utilizadas como controle das reações de imuno-histoquímica foram
selecionadas dos arquivos do serviço de patologia cirúrgica do HCFMRP/USP. Casos
de carcinoma ductal invasivo sabidamente positivo para c-erbB-2, ciclina D1, RE, p16,
p21, p53, PAI, RP e VEGF foram usados como controle positivo para estes anticorpos.
Pele normal foi usada como controle para p63 e EGFR. Tonsilas foram usadas como
controle positivo para bag-1, bax, bcl-2, Ki67 e h-TERT. Amostras de tecido normal de
rim, de intestino grosso e de osso foram usadas como controle positivo para Chk2,
TIMP1 e OPN, respectivamente. Amostras de testículo normal foram usadas como
controle positivo de Caspase 8 e survivin. Amostras de adenocarcinoma colônico foram
usadas como controle positivo para EMMPRIM, MMP1, MMP2 e TIMP2. Como
controles negativos, foram utilizadas as lâminas dos casos de carcinoma mamário
selecionados, sem o anticorpo primário.
5.4 Interpretação das reações de imuno-histoquímica
A interpretação das reações de imuno-histoquímica foi feita através de análise
semiquantitativa e visual por dois observadores. Foi utilizado microscópico de luz
convencional (microscópio da marca Nikkon - Labophot, com diâmetro de campo de
0,44 mm e área do campo de 0,152 mm). No aumento de 100x foi selecionada a área de
maior expressão dos anticorpos no espécime e, com aumento final de 400x, foram
contados as células positivas para a reação de imuno-histoquímica. Para a interpretação
imuno-histoquímica dos anticorpos descritos na tabela 3 foi considerado um valor de
corte representado em porcentagem de células neoplásicas positivas. Os valores de corte
Metodologia 73
de vários anticorpos, como o RE, RP e p53, são padronizados na literatura e na rotina de
patologia mamária (Fitzgibbons et al., 2000; Lebeau et al., 2003). Já outros anticorpos
da tabela 3 não mostram padronização consensual quanto o valor de corte para sua
positividade. Para estes últimos anticorpos, utilizamos os valores de corte descritos na
literatura deste trabalho (Bodey et al., 2004; Chow et al., 2001; El-Rehim et al., 2004;
Gasparini et al., 2000; Ikeda et al., 2003; Lebeau et al., 2003; Mokbel et al., 1999;
Ribeiro-Silva et al., 2006; Shariat et al., 2007; Singh et al., Sirvent et al., 2004; 2004;
Sonh et al., 2006; Srinivasan et al., 2000; Stefanou et al., 2004; Wang-Rodriguez et al.,
2003; Zloblec et al., 2006). Citamos alguns exemplos destes anticorpos cujo valor de
corte não é padronizado. Um deles é a proteína p63. Sobre esta proteína p63, não existe
um valor de corte padronizado em relação ao número ou porcentagem de células que
precisam expressar esta proteína para o resultado da reação de imuno-histoquímica ser
considerado positivo. Nos estudos de Stefanou e colaboradores (2004) e Koker e Kleer
(2004), a reação de imuno-histoquímica a p63 apresentou positividade entre 5% a 10%
nas células epiteliais e luminais, excluindo as células mioepitelias, nas lesões benignas e
malignas da mama. Portanto, utilizou-se o valor de corte de 5% para que a expressão da
p63 fosse considerada positiva. Em várias publicações, é descrito que a presença da
telomerase está associada com aumento da proliferação celular em cânceres humanos. O
aumento da proliferação celular pode ser mensurado através da detecção imuno-
histoquímica da proteína Ki-67 (Ikeda et al., 2003; Morkbel et al., 1999). Como os
valores de corte para a telomerase (hTERT) não são padronizados, utilizamos o valor de
corte de 10%, o mesmo que foi utilizado para o ki-67. Adotamos este valor de corte
porque Mokbel e colaboradores (1999) e Lebeau e colaboradores (2004) consideram
que a expressão do ki-67 indica índice de proliferação celular aumentado quando cerca
de 10% das células são positivas. Os anticorpos caspase-8, p16, survivin apresentaram
Metodologia 74
duas possibilidades de interpretação quanto à positividade da reação imuno-
histoquímica. Foi considerado resultado positivo quando se observou dupla marcação
nas células neoplásicas, isto é, no citoplasma e no núcleo simultaneamente. A outra
possibilidade era a presença de positividade apenas no citoplasma ou apenas no núcleo
(Shariat et al., 2007; Singh et al., 2004; Sonh et al., 2006). O anticorpo EGFR foi
interpretado de maneira semelhante, mas com marcação na membrana citoplasmática e
no citoplasma (Bodey et al., 2004; Chow et al., 2001; El-Rehim et al., 2004; Gasparini
et al., 2000; Ikeda et al., 2003; Lebeau et al., 2003; Mokbel et al., 1999; Ribeiro-Silva et
al., 2006; Shariat et al., 2007; Singh et al., Sirvent et al., 2004; 2004; Sonh et al., 2006;
Srinivasan et al., 2000; Stefanou et al., 2004; Wang-Rodriguez et al., 2003; Zloblec et
al., 2006).
A interpretação da intensidade das reações de imuno-histoquímica é subjetiva,
portanto padronizamos os anticorpos da tabela 3 da seguinte forma: quando a
intensidade da reação se apresentava muito fraca e focal, não atingindo o percentual de
células positivas para o valor de corte do anticorpo (tabela 3), o resultado para a
expressão do anticorpo era considerado negativo. Quando a intensidade do anticorpo era
fraca, independente de se apresentar com distribuição focal ou difusa, se ela atingisse o
percentual de células positivas para o valor de corte dos anticorpos, a reação era
considerada positiva. Quando a intensidade era moderada ou intensa, atingindo o
percentual de células positivas para o valor de corte dos anticorpos, a reação também
era considerada positiva.
Metodologia 75
Tabela 3. Interpretação da positividade dos anticorpos utilizados no estudo.
Anticorpo Marcação celular Padrão de imunomarcação das células neoplásicas
p63 nuclear Pelo menos 5% das células neoplásicas
Bag-1 citoplasmática Pelo menos 10% das células neoplásicas
Bax citoplasmática Pelo menos 10% das células neoplásicas
Bcl-2 citoplasmática Pelo menos 10% das células neoplásicas
Caspase 8 Citoplasmática e/ou nuclear Pelo menos 10% das células neoplásicas
c-erbB-3 citoplasmática Pelo menos 5% das células neoplásicas
ChK2 nuclear Pelo menos 60% das células neoplásicas
Ciclina D1 nuclear Qualquer marcação nas células neoplásicas
independente da porcentagem
EGFR Membrana e/ou citoplasma Pelo menos 5% das células neoplásicas
Osteopontina citoplasmática Pelo menos 50% das células neoplásicas
p16 Citoplasmática e/ou nuclear Pelo menos 5% das células neoplásicas
p21 nuclear Pelo menos 10% das células neoplásicas
p53 nuclear Pelo menos 10% das células neoplásicas
RE nuclear Pelo menos 10% das células neoplásicas
RP nuclear Pelo menos 10% das células neoplásicas
Telomerase nuclear Pelo menos 10% das células neoplásicas
Survivin Citoplasmática e/ou nuclear Pelo menos 10% das células neoplásicas
VEGF citoplasmática Pelo menos 1% das células neoplásicas
Os critérios aplicados para a interpretação imuno-histoquímica da proteína c-
erbB-2 foram baseados no método de escores do HercepTest®. A positividade ou a
negatividade das reações foi evidenciada pela presença ou não de coloração marrom
escura com padrão de membrana citoplasmática, delineando toda a circunferência dos
limites celulares (Barrett et al., 2007; Jacobs et al., 1999; Sales et al., 2004). Os critérios
para a interpretação imuno-histoquímica da c-erbB-2 estão descrito na tabela 4.
Metodologia 76
Tabela 4. Padrão de imunomarcação e escores utilizados para a avaliação de expressão
da proteína c-erbB-2.
Escore Expressão da proteína Padrão de imunomarcação das células neoplásicas
0 Negativa Marcação ausente ou presente em menos de 10% das
células neoplásicas
1+ Negativa Marcação de membrana fraca e parcial em mais de 10%
das células
2+ Positiva
Marcação completa da membrana, fraca ou moderada em
mais de 10% das células
3+ Positiva
Marcação completa e forte da membrana em mais de 10%
das células
Anteriormente, o uso do Ki-67 era restrito aos tecidos frescos, pois o epítope não
resistia à fixação histológica de rotina em formaldeído. O clone utilizado no estudo foi o
MM1, um anticorpo anti-Ki-67 que pode ser empregado em tecidos fixados em
formalina e parafinizados. Para a análise da expressão da proteína Ki-67 foi usado um
método semiquantitativo e visual, utilizando-se um índice de positividade (IP). Foram
consideradas positivas as células cujos núcleos exibiram coloração acastanhada,
independente da intensidade da coloração. No microscópio de luz convencional, em
aumento de 100x foi selecionada a área de maior expressão do Ki-67 no espécime e,
com aumento final de 400x, foram contados os núcleos positivos e negativos. O IP foi
então calculado através da relação do número de células Ki-67 positivas por 1000
células contadas em cada caso estudado, e os valores foram expressos em porcentagem,
segundo a fórmula: IP (%) = número de células imunopositivas/número total de células
contadas (1000) x 100 (adaptado de Spyratos et al., 2002). Segundo Spyratos e
colaboradores (2002) não existe um consenso em relação ao valor de corte para a
interpretação imuno-histoquímica do ki-67, como existe para o c-erbB-2 ou para os
receptores hormonais. No estudo destes autores, foram utilizados seis valores de corte
Metodologia 77
diferentes ( 10; 11-20; 21-30; 31-40; 41-50; 50), expressos em porcentagem, que
foram relacionados com variáveis clínicas. A depender da variável clínica utilizada, os
valores de corte mudavam (Spyratos et al., 2002). Outros trabalhos consideram que a
expressão do ki-67 indica índice de proliferação celular aumentado quando cerca de
10% das células são positivas (Mokbel et al., 1999; Lebeau et al., 2004). Para a
interpretação imuno-histoquímica do ki-67 neste trabalho, foi feita uma adaptação dos
valores de corte utilizados por Spyratos e colaboradores (2002), dos utilizados por
Mokbel e colaboradores (1999) e dos utilizados por Lebeau e colaboradores (2004). No
lugar de seis valores de corte, utilizamos apenas três, como descrito na tabela 5. Outros
estudos, como o de Lyzogubov e colaboradores (2005), também utilizam três valores de
corte para o ki-67, porém com valores diferentes dos utilizados neste trabalho.
Tabela 5. Interpretação imuno-histoquímica do ki-67.
Porcentagem de células positivas para o ki-67
Índice de positividade
<10%
baixo
10-50% intermediário
>50%
alto
Para avaliação do número de células p27 positivas, foram contadas 1.000 células
em diferentes áreas selecionadas de acordo com a maior positividade. Este índice foi
definido como a porcentagem de células tumorais com imunomarcação nuclear positiva
por 1.000 células tumorais contadas (número de células tumorais positivas / 1.000
células tumorais). A quantificação foi feita em microscópio de luz convencional, em
aumento de 100x foi selecionada a área de maior expressão do p27 no espécime e, com
aumento final de 400x, foram contados os núcleos positivos e negativos. Cada célula
Metodologia 78
corada foi considerada positiva quando havia qualquer imunomarcação nuclear
independente da intensidade (Lima et al., 2000).
Os marcadores EMMPRIN, MMP1, MMP2, PAI, TIMP1 e TIMP2 foram
interpretados segundo sistema de graduação proposto na literatura. No microscópio de
luz convencional, em aumento de 100x foi selecionada a área de maior expressão dos
anticorpos da tabela 6 no espécime e, com aumento final de 400x. Foram consideradas
positivas as células cujo citoplasma exibia coloração acastanhada, independente da
intensidade da coloração (Baker et al, 2002; Noel et al., 2006; Tang et al., 2005; Würtz
el al., 2005). Este sistema está descrito na tabela 6.
Tabela 6. Padrão de imunomarcação e escores utilizados para a avaliação de expressão
de EMMPRIN, MMP1, MMP2, PAI, TIMP1 e TIMP2.
Expressão da proteína Padrão de imunomarcação das células neoplásicas
Negativa Marcação ausente nas células neoplásicas
Positiva Menos que 20% de células neoplásicas com marcação
citoplasmática.
Positiva
20% a 50% de células neoplásicas com marcação
citoplasmática
Positiva
Mais de 50% de células neoplásicas com marcação
citoplasmática
Metodologia 79
Figura 1. Marcação nuclear imuno-histoquímica da proteína p63. Os núcleos das
células com a coloração marrom mostram a marcação positiva da reação imuno-
histoquímica para a proteína p63 nas células neoplásicas do carcinoma ductal invasor
grau II, segundo a graduação de Nottinghan .400x
Figura 2. Exemplo de marcação nuclear. Os núcleos das células com a coloração
marrom mostram a marcação positiva da reação imuno-histoquímica para o receptor de
estrógeno em pelo menos 10% das células neoplásicas do carcinoma ductal invasor grau
II segundo a graduação de Nottinghan. 400x
Metodologia 80
Figura 3. Exemplo de marcação citoplasmática. O citoplasma das células com a
coloração marrom mostram a marcação positiva da reação imuno-histoquímica para a
proteína Bcl-2 em pelo menos 10% das células neoplásicas do carcinoma ductal invasor
grau II segundo a graduação de Nottinghan. 400x
Figura 4. Exemplo de marcação de membrana. A membrana das células neoplásicas
com a coloração marrom mostram marcação positiva, completa e forte da membrana em
mais de 10% das células da reação imuno-histoquímica para a proteína c-erbB-2 em
carcinoma ductal invasor grau III segundo a graduação de Nottinghan. 400x
Metodologia 81
5.5 Análise estatística
Os resultados foram submetidos à análise estatística utilizando o software Graph
Pad Prism v.4 (San Diego, CA). Para verificar a associação entre o p63 e as outras
variáveis, foi utilizado o teste exato de Fisher para dois grupos. Na presença de três ou
mais grupos o teste χ2 foi utilizado. As análises estatísticas foram consideradas
significantes para p<0.05 (α=5%).
Resultados 82
6. RESULTADOS
A tabela 7 mostra os resultados referentes aos fatores clínico-patológicos bem
estabelecidos, como idade, período menopausal, tamanho tumoral, graduação de
Nottinghan, condição dos linfonodos axilares, estadiamento tumoral, o estudo imuno-
histoquímico dos receptores de estrógeno e progesterona, da proteína c-erbB-2, da
proteína p53 e do índice de proliferação celular (ki-67). A média de idade das mulheres
(n=100) neste estudo foi de 54,2 anos (25 a 85 anos). Em relação ao status menopausal,
34 pacientes estavam no período de pré-menopausa, 64 estavam na menopausa e 2
pacientes eram histerectomizadas. O tamanho médio dos tumores era de 4,1cm no maior
eixo (0,5 cm a 14 cm). Dezenove mulheres apresentavam tumores que mediam menos
que 2 cm no maior eixo, enquanto 81 mulheres tinham tumores que mediam mais que 2
cm.
Em relação aos linfonodos axilares, 29 mulheres apresentaram linfonodos
negativos e 71 mulheres, linfonodos positivos. Os resultados do estadiamento tumoral e
da classificação histológica segundo a graduação de Nottinghan estão descritos na
tabela 7. O estudo imuno-histoquímico evidenciou positividade nas células neoplásicas
para receptores de estrógeno em 52 carcinomas, para receptor de progesterona em 46
carcinomas e para p53 em 35 carcinomas. A graduação da reação imuno-histoquímica
para c-erbB-2 e Ki-67 nos carcinomas mamários está descrita na tabela 4 e na tabela 5,
respectivamente.
Resultados 83
Tabela 7. Estudo imuno-histoquímico dos fatores clínico-patológicos e prognósticos
utilizados na rotina de patologia mamária.
Fatores clínico-patológicos e prognósticos resultado
Idade (anos)
<30
30-50
50 -70
>70
Status menopausal
3
30
48
19
Pré-menopausa
Menopausa
Histerectomizadas
34
64
2
Tamanho tumoral (cm)
< 2cm
> 2cm
19
81
Graduacão de
Nottinghan
I
II
III
32
39
29
Estado dos linfonodos axilares
Linfonodos negativos
1-3 linfonodos positivos
> 3 linfonodos positivos
29
28
43
Estadiamento tumoral
I
II
III
IV
8
44
41
7
Receptores de estrógeno
Negativo
Positivo
48
52
Receptores de progesterona
Negativo
Positivo
54
46
p53
Negativo
Positivo
65
35
c-erbB-2
0
+1
+2
+3
56
17
8
19
Ki-67
<10%
10-50%
>50%
53
30
17
Total
100
Resultados 84
A proteína p63 foi positiva em 16 dos 100 carcinomas mamários deste estudo.
No tecido mamário adjacente à neoplasia, a p63 marcou o núcleo das células
mioepiteliais das glândulas mamárias normais. A tabela 8 relaciona a p63 com os
fatores prognósticos. A proteína p63 apresentou relação com o tamanho tumoral (p=
0,0368), com a graduação a graduação de Nottinghan (p= 0,0002) e com o estadiamento
tumoral (p= 0,0003). Não houve relação da p63 com a idade, status menopausal e o
estado dos linfonodos axilares.
Resultados 85
Tabela 8. Relação da expressão da proteína p63 nos carcinoma ductais invasores com
fatores clínico-patológicos.
Fatores clínico-patológicos
P63- P63+ Valor de p
Idade (anos)
<30
30-50
50 -70
>70
2
25
40
17
1
5
8
2
0,7723
Status menopausal
Pré-menopausa
Menopausa
Histerectomizadas
28
54
2
6
10
0
0,7817
Tamanho tumoral (cm)
< 2cm
> 2cm
19
65
0
16
0,0368
Graduação tumoral (Bloom & Richardson)
I
II
III
32
34
18
0
5
11
0,0002
Estado dos linfonodos axilares
Linfonodos negativos
1-3 linfonodos positivos
> 3 linfonodos positivos
27
24
33
2
4
10
0,1709
Estadiamento tumoral
I
II
III
IV
8
40
34
2
0
4
7
5
0,0003
Receptores de estrógeno
Negativo
Positivo
36
48
12
4
0,0279
Receptores de progesterona
Negativo
Positivo
40
44
14
2
0,0053
p53
Negativo
Positivo
57
27
8
8
0,1631
c-erbB-2
0
+1
+2
+3
48
13
6
17
8
4
2
2
0,6269
Ki-67
<10%
10-50%
>50%
52
25
9
3
5
8
0,0002
Total
84 16
-
Resultados 86
O número de carcinomas ductais invasores positivos para as proteínas
reguladoras do ciclo celular está descrito na tabela 9. Na tabela 10 pode–se verificar que
apenas a telomerase mostrou relação com a proteína p63 (p= 0,0060). A positividade
para a proteína p27 e sua relação com a proteína p63 está descrita na tabela 10.
Tabela 9. Positividade da reação de imuno-histoquímica para as proteínas que atuam
como reguladores do ciclo celular nos carcinomas ductais invasores.
Proteínas que atuam como
reguladores do ciclo celular
Número de carcinomas ductais invasores
positivos para o anticorpo em estudo (N=100)
c-erbB-3
60
ChK2
77
ciclina D1
41
EGFR
31
p16
44
p21
25
telomerase
49
Resultados 87
Tabela 10. Relação entre a expressão de fatores reguladores do ciclo celular e a
expressão da proteína p63 nos carcinoma ductais invasores.
Reguladores do ciclo celular
P63- P63+ Valor de p
c-erbB-3
Negativo
Positivo
36
48
4
12
0,2664
ChK2
Negativo
Positivo
21
63
2
14
0,3494
Ciclina D1
Negativo
Positivo
50
34
9
7
1,0000
EGFR
Negativo
Positivo
56
28
13
3
0,3776
p16
Negativo
Positivo
50
34
6
10
0,1682
p21
Negativo
Positivo
62
22
13
3
0,7559
p27
0-25%
26-50%
51-75%
76-100%
21
20
23
20
6
5
5
0
0,2277
Telomerase
Negativo
Positivo
48
36
3
13
0,0060
Total
84 16
-
O número de carcinomas ductais invasores positivos para as proteínas
relacionadas à apoptose no estudo imuno-histoquímico está demonstrado na tabela 11.
Não houve relação entre a expressão das proteínas reguladores da apoptose e a
expressão da p63 (tabela 12).
Resultados 88
Tabela 11. Positividade da reação de imuno-histoquímica para as proteínas que atuam
como reguladores da apoptose nos carcinomas ductais invasores.
Proteínas que atuam como
reguladores da apoptose
Número de carcinomas ductais invasores positivos
para o anticorpo em estudo (N=100)
Bag-1
55
Bax
89
Bcl-2
45
Caspase 8
52
Survivin
72
Tabela 12. Relação entre a expressão imuno-histoquímica de fatores reguladores da
apoptose e a expressão da proteína p63 nos carcinoma ductais invasores.
Reguladores da apoptose
P63- P63+ Valor de p
Bag-1
Negativo
Positivo
39
45
6
10
0,906
Bax
Negativo
Positivo
11
73
0
16
0,2038
Bcl-2
Negativo
Positivo
48
36
7
9
0,4136
Caspase 8
Negativo
Positivo
41
43
7
9
0,7890
Survivin
Negativo
Positivo
26
58
2
14
0,2229
Total
84 16 -
O número de carcinomas ductais invasores positivos para as proteínas
relacionadas ao processo de invasão e metástase no estudo imuno-histoquímico está
demonstrado na tabela 13. O VEGF apresentou positividade em 54 dos carcinomas
mamários. O VEGF e a TIMP1 apresentaram relação com a expressão da proteína p63.
A relação entre a p63, o VEGF e as outras proteínas envolvidas no processo de invasão
e metástase está demonstrada na tabela 14.
Resultados 89
Tabela 13. Positividade da reação de imuno-histoquímica para as proteínas que atuam
no processo de invasão e metástase nos carcinomas ductais invasores.
Proteínas que atuam no processo
de invasão e metástase
Número de carcinomas ductais invasores
positivos para o anticorpo em estudo (N=100)
EMMPRIN
2
MMP1
11
MMP2
4
ONP
65
PAI 7
TIMP1
64
TIMP2
44
VEGF
54
Resultados 90
Tabela 14. Relação da proteína p63 com o VEGF e com outras proteínas envolvidas no
processo de invasão e metástase nos carcinomas ductais invasores.
Proteínas relacionadas ao processo metastático P63- P63+ Valor de p
EMMPRIN
0
<20%
20–50%
>50%
76
7
1
0
14
1
1
0
1
MMP1
0
<20%
20–50%
>50%
47
29
6
2
7
6
2
1
0,6691
MMP2
0
<20%
20–50%
>50%
70
10
3
1
12
4
0
0
0,4713
Osteopontina
Negativo
Positivo
32
52
3
13
0,1635
PAI
0
<20%
20–50%
>50%
70
7
5
2
15
1
0
0
0,6644
TIMP1
0
<20%
20–50%
>50%
22
10
12
40
0
4
6
6
0,0173
TIMP2
0
<20%
20–50%
>50%
37
10
14
23
6
3
4
3
0,6772
VEGF
Negativo
Positivo
45
39
15
1
0,0006
Total
84 16
-
Discussão 91
7. DISCUSSÃO
Os dados disponíveis até o momento sugerem que, apesar de possuírem
características estruturais similares, os membros da família p53 compartilham menos
funções entre si do que seria esperado. O p53 possui como principal função responder
às agressões ao DNA. O p73 participa da diferenciação de tecidos do sistema nervoso e
da resposta ao dano do DNA, por mecanismo paralelo e independente ao do p53. O p63
parece ser essencial ao desenvolvimento e diferenciação de determinados tecidos
epiteliais (Moll; Slade, 2004; Ribeiro-Silva; Zucoloto, 2003).
Vários relatos na literatura sugerem que o p63 possa de alguma forma, estar
realcionado à carcinogênese. O p63 está localizado no cromossomo 3q27-29 (Osada et
al., 1998; Yang et al., 1998). Esta região cromossômica encontra-se alterada em várias
neoplasias como carcinomas escamosos, carcinomas cervicais, carcinomas prostáticos e
neoplasias pulmonares (Hara et al., 2004; Moll; Slade, 2004; Reis-Filho et al., 2003;
Westfall; Pietenpol, 2004). Pela expressão da proteína p63 e o seu possível
envolvimento na manutenção nas células progenitoras de vários tecidos, surgiu a
hipótese de que o p63 poderia estar envolvido na manutenção de fenótipo
indiferenciado das células, tornando-as mais susceptíveis às alterações gênicas (Moll;
Slade, 2004). Como as alterações do p53 estão relacionadas à carcinogênese de vários
tumores, seria interessante verificar se o p63, como membro da família p53,
apresentaria também relação com vias ligadas à progressão tumoral. Entretanto, assim
como no p73, mutações no p63 são raras e seu papel na carcinogênese ainda necessita
ser mais bem explorado. (Moll; Slade, 2004; Ribeiro-Silva; Zucoloto, 2003).
Para tentar verificar a relação da expressão da proteína p63 com os carcinomas
ductais invasores, variáveis clínico-patológicas e prognósticas consideradas importantes
Discussão 92
em patologia mamária e possíveis proteínas-alvo, selecionamos vários anticorpos que
agem em vias metabólicas diferentes, nas quais muitos estão relacionados à
carcinogênese.
A expressão da p63 em células de carcinomas mamários correlaciona-se com
vários fatores de mau prognóstico, incluindo tamanho tumoral, estadiamento patológico,
grau histológico e negatividade para receptores de estrógeno (Ribeiro-Silva et al, 2003).
No presente trabalho, a expressão da proteína p63 correlacionou-se com algumas
variáveis relacionadas a pior prognóstico, como: tamanho tumoral, estadiamento
patológico avançado, grau histológico elevado, negatividade para receptores hormonais
(estrogênio e progesterona) e índice de proliferação celular elevado.
Dentre as 16 pacientes com carcinoma mamário p63-positivo, uma apresentava
idade menor que 30 anos, 13 tinham idade entre 30 e 70 anos e duas apresentavam idade
maior que 70 anos. A média de idade das mulheres (n=100) foi de 54,2 anos (25 a 85
anos). A idade, como fator prognóstico no momento do diagnóstico do câncer de mama,
permanece ainda controversa. Segundo estudos, pacientes pertencentes a quarta e a
quinta décadas da vida apresentam melhor prognóstico. O pior prognóstico estaria
relacionado ao grupo de mulheres jovens (idade igual ou inferior a 35 anos) e àquelas
em que o diagnóstico é estabelecido a partir dos 75 anos de idade (Abreu; Koifman,
2002). Neste trabalho, os carcinomas mamários p63-positivos não apresentaram
correlação estatística significativa com a idade.
Na tabela 7 observa-se relação da expressão da p63 com vários fatores que
predizem um comportamento tumoral mais agressivo. Dentre eles, encontra-se o
tamanho tumoral. O tamanho tumoral e o acometimento dos linfonodos axilares
constituem a base do estadiamento TNM e são importantes indicadores prognósticos
para câncer de mama (Fitzgibbons et al., 1999). Os resultados descritos na tabela 6
Discussão 93
evidenciaram que 100% dos carcinomas ductais invasores p63-positivo apresentaram
tamanho tumoral maior que 2 cm. Segundo Abreu e Koifman (2002), o tamanho
tumoral está relacionado com o desenvolvimento de metástases e recidivas tumorais
(Abreu; Koifman, 2002).
Em relação à graduação de Nottinghan, a p63 foi expressa nos carcinomas
mamários menos diferenciados, de grau II e III. Nenhum carcinoma mamário com grau
histológico I foi positivo para p63. Esses dados estão de acordo com Ribeiro-Silva e
colaboradores (2003), que verificaram resultados semelhantes. Estes autores também
relataram que carcinomas menos diferenciados apresentam mais células p63-positivas
que as neoplasias de contagem menos elevadas na graduação de Nottinghan (Ribeiro-
Silva et al., 2003). Segundo alguns autores, o grau histológico está relacionado à maior
ou menor capacidade de metastatização, sobrevida e tempo livre de doença (Abreu;
Koifman, 2002, Elston; Ellis, 2001, Fitzgibbons et al., 1999).
Das pacientes com tumores p63-positivo, 75% (12/16) e 87,5% (14/16)
apresentaram negatividade para RE e RP, respectivamente. A negatividade para o RE
está associada com baixa diferenciação tumoral, alta taxa de proliferação celular e
outras variáveis desfavoráveis ao prognóstico das pacientes com câncer de mama. Além
destes fatores de mau prognóstico, as pacientes não se beneficiam com o tratamento
hormonal adjuvante (Esteva; Hortobagyi 2004, Fitzgibbons et al., 1999).
Quanto ao índice de proliferação celular, os resultados mostraram que 50%
(8/16) dos carcinomas p63-positivos apresentaram mais de 50% de células neoplásicas
positivas para ki-67. No estudo de Esteva e Hortobagyi (2004), a positividade do ki-67
em mais de 50% das células tumorais estava relacionada ao alto risco de recorrência
tumoral. Este dado fortalece mais a hipótese de que os carcinomas p63-positivos
apresentam comportamento agressivo.
Discussão 94
A amplificação do c-erbB-2 presente nos carcinomas mamários pode ser
detectada por reação imuno-histoquímica ou por hibridização in situ por fluorescência
(FISH). Segundo estudos que comparam a amplificação do c-erbB-2 detectados pela
reação de imuno-histoquímica e a de FISH nos carcinomas mamários, constatou-se que
muitos carcinomas com escore 2+ no HercepTest® não apresentavam a amplificação do
c-erbB-2 no método de FISH. Para evitar resultados falso-negativos na expressão da
proteína c-erbB-2 para o escore 2+ no HercepTest®, a “American Society of Clinical
Oncology/College of American Pathologists” (ASCO-CAP) recomenda verificar a
presença da amplificação desta proteína pelo FISH (Barrett et al., 2007, Wolff et al.,
2007). O presente trabalho foi realizado antes de 2007, ano que a ASCO-CAP publicou
suas recomendações. Portanto este trabalho apresenta padronização diferente das
recomendações sugeridas pela ASCO-CAP em 2007. Por exemplo, o valor de corte para
o c-erbB-2 foi de 10% (Jacobs et al., 1999; Sales et al., 2004).. Em 2007, o valor de
corte recomendado pela ASCO-CAP para o c-erbB-2 é de 30%. Além disso, o trabalho
não utilizou o método de FISH para verificar a presença da amplificação do c-erbB-2
nos carcinomas ductais invasores com escore 2+ no HercepTest® (Barrett et al., 2007,
Wolff et al., 2007). Neste trabalho, porém, apesar da proteína c-erbB-2 correlacionar-se
com vários fatores de mau prognóstico, os carcinomas ductais invasores p63-positivos
não apresentaram relação com esta proteína.
Quanto à proteína p53, existem vários relatos na literatura que descrevem a
interação desta proteína com os membros da sua família (Osada et al., 1998; Trink et
al.,1998; Yang et al., 1998; Westfall; Pietenpol, 2004). No entanto, não foi evidenciada
a relação entre a p53 e a p63 neste trabalho. Estes dados estão de acordo com os
achados de Ribeiro-Silva e colaboradores (2003) que, em uma casuística de 10 casos de
carcinomas ductais mamários positivos para a p63, apenas um expressou a proteína p53.
Discussão 95
Os autores sugeriram que o p63 poderia exercer indiretamente função de oncogene
inibindo o p53. Esta teoria poderia explicar, pelo menos em parte, a relação da
expressão da proteína p63 com indicadores de mau prognóstico.
O comportamento tumoral e as características moleculares dos carcinomas p63-
positivos são pouco compreendidos. Além de estudar a relação da p63 com os fatores
clínico-patológicos e prognósticos discutidos, este trabalho se propôs a investigar a
interação da proteína p63 com marcadores moleculares cujos produtos participam das
etapas da transformação maligna mamária. Dentre estes fatores, estão os reguladores do
ciclo celular, os oncogenes, os genes supressores tumorais, as proteínas relacionadas
com a apoptose, a invasão tecidual, a metástase e a angiogênese.
O p63 é um gene complexo e possui isoformas com propriedades diversas. De
acordo com a literatura, as isoformas que possuem o domínio TA, como a TAp63γ,
podem induzir parada do ciclo celular e apoptose através de mecanismo envolvendo a
p53 (Yang et al., 1998; Westfall; Pietenpol, 2004). Já as isoformas que não possuem o
domínio TA, como a Np63γ, possuem ação anti-apoptótica (Maisse et al., 2003; Yang
et al., 1998). Neste estudo usamos o clone A4 que reconhece todas as isoformas da p63.
Os genes responsáveis pela apoptose são regulados através de interações entre os
membros da família p53. No processo de apoptose, Westfall e Pietenpol (2004)
demonstraram que os mecanismos de apoptose desencadeados pelo p53 são afetados
pela perda do p63 (Westfall; Pietenpol, 2004). Por outro lado, Reis-filho e Schmitt
(2001) descrevem ratos p63
-
/
-
que apresentam p53 normal e possuem resposta normal ao
processo de apoptose, seja este induzido ou espontâneo. Os resultados do presente
trabalho não evidenciaram relação entre as proteínas reguladoras de apoptose e a
expressão da p63, sugerindo que a apoptose possa não ter um papel importante na
carcinogênese dos carcinomas mamários p63-positivos.
Discussão 96
Pesquisas descreveram diversas funções pertinentes ao p63, dentre elas a de
oncogene e de gene supressor tumoral. Porém o p63 é um gene com várias isoformas e
cada isoforma interage com os outros membros da família p53 de maneira diferente,
reforçando a complexidade das funções do p63 (Yang et al., 1998; Westfall; Pietenpol,
2004). No presente trabalho, não houve relação estatística da p63 com a maioria das
proteínas reguladoras do ciclo celular, principalmente as que agem como oncogenes ou
genes supressores tumorais. A expressão da p63 apresentou relação estatística apenas
com a telomerase.
No processo de transformação maligna, a telomerase tem papel fundamental na
etapa de potencial infinito de replicação. A telomerase é uma ribonucleoproteína que
reconhece os terminais dos telômeros e acrescenta repetições adicionais aos
cromossomos (Bièche et al., 2000). Esta enzima é inativa ou inibida na maioria das
células somáticas. Ela apresenta-se aumentada em 80% a 90% das neoplasias, dando
origem a um processo chamado de imortalização (Bièche et al., 2000; Ikeda et al., 2003;
Mokbel et al., 1999; Kirkpatrick et al., 2004). A atividade da enzima é conferida pela
subunidade catalítica hTERT, que pode ser detectada através de estudos imuno-
histoquímicos, do protocolo da TRAP e RT-PCR. A imuno-histoquímica é o método
utilizado de rotina na patologia cirúrgica. Os dois últimos métodos citados são
complexos, exigindo maior tempo para serem realizados, além de não estarem
associados com parâmetros morfométricos (Bièche et al., 2000; Ikeda et al., 2003;
Kirkpatrick et al., 2004; Poremba et al., 2002).
A telomerase está associada com comportamento clínico agressivo em vários
tumores humanos, incluindo o câncer de mama, onde se correlaciona com metástase
para linfonodos e recorrência tumoral (Poremba et al., 2002). A telomerase também
apresenta relação com o aumento da proliferação celular em cânceres humanos, que
Discussão 97
pode ser mensurada através da expressão do Ki-67 (Ikeda et al., 2003; Morkbel et al.,
1999). Diante desses dados, pode-se sugerir que a expressão diferencial da telomerase e
do Ki67 possa contribuir para o comportamento clínico mais agressivo dos carcinomas
mamários p63-positivos.
No processo de transformação maligna, a etapa de invasão tecidual e metástase
determinam a agressividade do comportamento tumoral. A metástase ocorre como
conseqüência de várias etapas do processo de transformação maligna e depende do
estabelecimento de uma interação entre o tumor e o organismo hospedeiro. Esta
interação envolve várias substâncias que atuam na degradação da matriz extracelular e
na angiogênese tumoral. Dentre estas substâncias, destacam-se: EMMPRIN, MMP1,
MMP2, PAI, TIMP1 e TIMP2 e VGFR (Baker et al., 2002; Noel et al., 2006; Tang et
al., 2005).
A degradação da matriz extracelular é uma etapa importante para a progressão
do processo metastático. As proteínas que degradam a matriz são enzimas denominadas
metaloproteinases de matriz extracelular (MMP). Células endoteliais, fibroblastos,
células mioepiteliais do estroma tumoral podem expressar esta proteína em diversos
tipos de câncer (Baker et al., 2002; Tang et al., 2005).
A atividade das MMP depende da regulação exercida por fatores estimuladores,
ativadores, inibidores e do equilíbrio entre estas substâncias. O principal ativador das
MMP é a plasmina, que é regulada pelos membros do sistema ativador do
plasminogênio (uPA - Ativador de plasminogênio do tipo uroquinase; tPA – ativador de
plasminogênio do tipo tecidual) e pelo inibidor da ativação do plasminogênio (PAI)
(Baker et al, 2002). As moléculas estimuladoras são conhecidas como indutoras da
metaloproteinase da matriz extracelular (EMMPRIN). A EMMPRIN estimula a
expressão das MMP nos fibroblastos, nas células endoteliais e nas células tumorais
Discussão 98
(Tange et al., 2005). Além de exercer papel proteolítico, alguns membros da família das
MMP exercem papel importante na regulação da angiogênese. Com a ação proteolítica
as MMP preparam a matriz extracelular para receber os fatores angiogênicos. Um dos
componentes da família das MMP pode promover a mobilização do VEGF de
moléculas presentes na matriz extracelular estimulando a neovascularização (Baker et
al., 2002; Tang et al., 2005). Nos resultados do nosso estudo, não verificamos relação
entre a as MMP, o EMMPRIN e o p63.
Dentre os inibidores das MMP destaca-se a família dos inibidores de
metaloproteinases tecidual (TIMP), que é composta de quatro componentes: TIMP-1,
TIMP-2, TIMP-3 e TIMP-4. Elas estão expressas no estroma peritumoral em células
como fibroblastos e células do endotélio vascular (Würtz et al., 2005). Além de inibir as
MMPs, as TIMP induzem mudança na morfologia da célula, estimulam o crescimento
de vários tipos celulares e modulam negativamente o processo de angiogênese (Baker et
al, 2002). Noel e colaboradores (2006) descreveram que as TIMP são proteínas
multifatoriais que podem estar relacionadas tanto aos fatores inibidores quanto
estimuladores da carcinogênese. Segundo estes autores, as TIMP tanto podem induzir
proliferação de alguns tipos celulares, quanto podem promover angiogênese e ação anti-
apoptótica às células tumorais (Baker et al., 2002).
A angiogênese promovida pelas TIMP está relacionada ao fato de que algumas
MMP estimulam fatores anti-angiogênicos (endostatina e angiostatina). As TIMP, sendo
inibidoras das MMP, impediriam a produção destes fatores anti-angiogênicos (Würtz et
al., 2005). Würtz e colaboradores (2005) ainda relatam relação das TIMP com a
expressão do VEGF em células de carcinomas mamários humanos (Würtz et al., 2005).
No presente trabalho, a p63 correlacionou-se com a expressão da proteína
TIMP-1. Este dado parece ser um aparente paradoxo, pois os carcinomas p63 positivos
Discussão 99
são reconhecidos pela sua agressividade e as TIMP são inibidores das MMP, proteínas
que favorecem a progressão do processo metastático. Na literatura, porém, está descrito
que as TIMP são proteínas multifatoriais e que podem estar relacionadas tanto aos
fatores inibidores ou estimuladores da carcinogênese (Baker et al., 2002; Würtz el al.,
2005).
Para complementar as etapas de crescimento, invasão e metástase tumoral, é
necessário que ocorra a angiogênese. Neste processo, as células neoplásicas liberam
moléculas sinalizadoras que ativam genes presentes nos vasos sangüíneos normais. Os
genes ativados são estimulados a produzir proteínas cuja função está relacionada ao
estímulo para a produção de tecido vascular a partir de vasos preexistentes (Hicklin;
Ellis, 2006).
A angiogênese é composta por várias etapas que são reguladas pelo equilíbrio
entre moléculas inibidoras e estimuladoras. Dentre os fatores estimuladores, detacam-se
a família do VEGF (fator de crescimento vascular endotelial) e seus receptores. No
processo de inibição da angiogênese, destacam-se as interleucinas e os inibidores
teciduais das metaloproteinases (TIMP) (Hicklin; Ellis, 2006).
O VEGF participa da angiogênese agindo sobre as células endoteliais. Ele
exerce, nas células endoteliais, aumento da permeabilidade, promove ativação, aumento
da ação mitogênica, da migração, da diferenciação, além de inibir a apoptose. O VEGF
ainda induz activação das metaloproteinases que permite a remodelação da matriz
extracelular (Hicklin; Elis, 2006).
Além dos fatores etimuladores e inibidores, a expressão do VEGF pode ser
regulada por vários fatores, como a hipóxia, as cicloxigenases, oncogenes e genes
supressores tumorais. Dentre estes, destacam-se o c-erbB-2 e o p53. É descrito que o c-
erbB-2 promove a angiogênese, estimulando a produção do VEGF. Já eventos
Discussão 100
moleculares envolvendo o p53 previne a expressão do VEGF em células do câncer de
mama (Hicklin; Elis, 2006).
Estudos relatam que em neoplasias, incluindo o carcinoma de mama, a expressão
do VEGF se correlaciona com o pior prognóstico (Linderholm et al., 2001). Em muitos
tipos de tumores o VEGF estimula o crescimento tumoral, comportamento agressivo,
recorrência e metástase tumoral, além de estar relacionado com menor sobrevida
(Ferrara, 1999). Nos resultados do presente trabalho, os carcinomas mamários p63
positivos apresentaram relação com o VEGF, fato que também pode contribuir para o
comportamento mais agressivo desses tumores.
Não houve relação estatística do p63 com a osteopontina (OPN). Níveis
aumentados desta proteína são expressos em carcinomas mamários primários e
metastáticos. A OPN tem sido considerada como marcador biológico preditor de
metástase em tumores humanos, portanto vem sendo estudada com a finalidade de
esclarecer melhor o comportamento biológico das neoplasias (Wang-Rodrigues et al.,
2003).
Conclusões 101
8. CONCLUSÕES
O p63 foi expresso em 16% nos carcinomas mamários ductais infiltrantes e sua
expressão relacionou-se com vários fatores de mau prognóstico, incluindo
tamanho tumoral, alto grau histológico, estadiamento avançado, negatividade
para receptores hormonais e elevada expressão de Ki67.
Entre os fatores reguladores do ciclo celular e progressão tumoral avaliados
neste estudo, a expressão do p63 relacionou-se apenas com a expressão da
telomerase e do VEGF. A expressão diferencial desses marcadores (telomerase e
VEGF) pode contribuir na fisiopatogênese e no comportamento clínico mais
agressivo dos carcinomas mamários p63-positivos.
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