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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO-UNIRIO
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE-CCBS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO
Maria Luiza Figueiredo Nogueira
AFASTAMENTOS POR ADOECIMENTO DE TRABALHADORES DE
ENFERMAGEM EM ONCOLOGIA
Rio de Janeiro
2007
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2
Maria Luiza Figueiredo Nogueira
Afastamentos por adoecimento de trabalhadores de enfermagem em oncologia
Dissertação apresentada ao programa de Pós-
Graduação, Mestrado em Enfermagem da
Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro-UNIRIO, como parte dos requisitos para
obtenção do título de Mestre.
Linha de pesquisa: Cuidado em enfermagem-o
cotidiano da prática de cuidar e ser cuidado.
Orientadora: Profª. Dra. Enedina Soares
Rio de Janeiro
2007
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3
MARIA LUIZA FIGUEIREDO NOGUEIRA
Afastamentos por adoecimento de trabalhadores de enfermagem em oncologia
Dissertação apresentada ao programa de Pós-
Graduação, Mestrado em Enfermagem da
Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro-UNIRIO, como parte dos requisitos para
obtenção do título de Mestre.
Aprovada em:
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Enedina Soares
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO
Profa. Dra. Maria Yvone Chaves Mauro
Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ
Profa. Dra. Leila Rangel da Silva
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO
Profa. Dra. Silvia Teresa Carvalho de Araújo
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
Profa. Dra. Teresa Tonini
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO
4
Agradeço a Deus, pela maneira maravilhosa com que tem guiado a minha vida.
5
A Marcio pelo amor compreensão ajuda
companheirismo e por tudo que compartilhamos
durante todos esses anos e sempre me estimulou
confiando em mim e apoiando para alcançar mais
este objetivo.
Ao meu filho Calac por tudo de mais belo que
representa sendo fonte de renovação e continuidade.
Aos meus pais Zélia e Antonio Nogueira por serem
responsáveis por eu ter chegado até aqui, exemplo
de luta e perseverança diante das dificuldades da
vida e pelos sólidos valores que me foram passados.
6
Agradeço especialmente a Prof. Dra. Enedina
Soares, que sem me conhecer aceitou ser minha
orientadora conduzindo-me com liberdade em todas
as necessidades decorrentes do desenvolvimento
deste estudo.
7
AGRADECIMENTOS
Ao programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UNIRIO que me acolheu.
A todos os professores do mestrado, pois cada um deles contribuiu de alguma forma para o meu
conhecimento.
Aos colegas do Curso de Mestrado, e em especial a Célia Helena, com os quais pude
compartilhar momentos de alegria, conhecimento e angústias.
A Maria Teresa dos Santos Guedes pelo incentivo, estímulo e companheirismo em todos os
momentos.
A Rosana Thode que me substituiu na gerência do ambulatório com dedicação e competência.
A minha equipe do ambulatório que se esforçou para que tudo desse certo durante a minha
ausência.
A Valdete de Oliveira Santos que como chefe imediata me incentivou e apoiou integralmente.
A Ailse Bittencourt chefe da Divisão de Enfermagem do HCI pelo apoio.
Ao Instituto Nacional de Câncer que me permitiu desenvolver a pesquisa.
Aos trabalhadores de enfermagem do ambulatório em especial, aos adoecidos, muitas vezes
submetidos a uma experiência amarga da incompreensão e a falta de solidariedade, em relação à
limitação apresentada.
8
“Penso que só há um caminho para a ciência ou
para a filosofia: encontrar um problema, ver a sua
beleza e apaixonarmo-nos por ele: casar e viver feliz
com ele até que a morte nos separe – a não ser que
encontremos um outro problema ainda mais
fascinante, ou, evidentemente, a não ser que
obtenhamos uma solução”.
Karl Popper
9
RESUMO
Trata-se de um estudo sobre causas de afastamentos do trabalho por adoecimento do profissional
de enfermagem do ambulatório de uma instituição oncológica, objetivando investigar as causas
do afastamento, levantar freqüência e tempo de absenteísmo referido pelos componentes da
equipe de enfermagem, delinear o perfil do trabalhador e discutir os reflexos destes afastamentos.
A investigação foi de natureza descritiva com abordagem quantitativa. O estudo realizou-se com
uma amostra de 135 componentes da equipe de enfermagem. Foram utilizados 2 formulários para
delineamento do perfil do trabalhador e para levantamento dos problemas de saúde-doença e
licenças médicas. Os dados foram analisados com o auxílio do programa Microsoft Excel Office
XP e tratados por meio de estatística descritiva. Os resultados evidenciaram ser a maioria do sexo
feminino, com idade entre 40 e 49 anos, com média de 21 anos trabalhados na instituição e 8.47
anos de trabalho no ambulatório. Do total dos profissionais, 60.0% são plantonistas, 82.2%
cumprem 40 horas semanais, 77.0% são estatutários, 55.6% têm outro vínculo empregatício e
51.8% levam mais de 2 horas no deslocamento de casa para o trabalho. Cada trabalhador
entrevistado apresentou, pelo menos, um problema de saúde, 81.5% acreditam que as doenças
referidas estão associadas ao trabalho ou agravadas pelo seu desempenho profissional. Destes,
73.9% fazem algum tratamento de saúde, 80.0% por doenças do sistema músculo esquelético,
68.1% por doenças cardiovasculares, 48.9% por transtornos mentais e comportamentais.
Verificou-se que 47.4% das licenças médicas referidas pelos trabalhadores foram de longa
duração, sinalizando a ocorrência de maior incidência de doenças de solução lenta. Também, a
maioria relata chegar bem disposta mentalmente e fisicamente ao trabalho, mas saem indispostos
mental (69.6%) e fisicamente (65.9%). A associação entre carga horária e sensação ao final da
jornada de trabalho nos apontou que os profissionais com 20 horas semanais não se sentem
indispostos (X
2
=5.98%). Considerou-se que o adoecimento do trabalhador poderia ser reduzido
com adoção de políticas preventivas que melhorassem as condições de saúde e trabalho nesta
instituição. O índice de absenteísmo por doenças elevado indicou a necessidade de elaborar
programa para melhoria das condições de trabalho e sugere também a criação de banco de dados
para otimizar o registro das faltas, facilitando seu controle e possibilitando futuras pesquisas.
Alcançada a finalidade que era contribuir para tornar mais visíveis os problemas de saúde que
atingem os trabalhadores deste estudo, auxiliando na instrumentalização dos futuros membros
desta categoria profissional para a prevenção de seus desgastes e construção de uma vida mais
saudável, livre das doenças e acidentes do trabalho, conclui-se que muito ainda está por se fazer
como vencer as dificuldades no estabelecimento do nexo entre o adoecimento e trabalho,
reestruturando os sistemas de informação em saúde, envolvendo vigilância epidemiológica,
desenvolvimento de ações inter-institucionais e multidisciplinares em saúde e trabalho, superar a
concepção biologicista que ainda predomina na análise do processo saúde-doença e estabalecer
relação entre o trabalho e esse processo para que os acidentes e as doenças decorrentes do
trabalho deixem de ser tratados como algo normal ou natural.
Descritores: Saúde do trabalhador. Oncologia. Enfermagem.
10
ABSTRACT
Study on the causes for work leave due to sickness of nursing professionals of the ward of an
oncology hospital. It aims at investigating the causes for leave, measuring frequency and time of
absence referred by the members of the nursing team, delineating the profile of workers, and
discussing the implications for the leave. The investigation was a descriptive one with a
quantitative approach. The study was developed with a sample of 135 subjects of the nursing
team. Two forms were used to delineate the profile of workers and to inquire the health-sickness
problems and medical leave. The data were analysed with the instrumental help of Microsoft
Excel Office XP and dealt with through descriptive statistics. Results indicated that the majority is
of female, aged 40 to 49 years, with an average of 21 years of work at the institution and 8.47
years of work at the ward. From the total number of professionals, 60.0% are night nurses, 82,2%
work 40 hours per week, 77.0% are civil servants, 55.6% have other work links, and 51.8% take
more than two hours in their journey to work. Each interviewed worker presented at least one
health problem, 80% believe that the referred deseases are either associated to or aggravated by
their professional activity. Among these workers, 73.9% go under some health treatment, 80.0%
due to the skeleton muscle system, 68.1% due to heart condition, 48.9% due to mental ilness and
behavior disorder. It was observed that 47.4% of work leave were of long duration, indicating a
larger incidence of deseases of long term treatment solution. Also, the majority report to arrive
mentally and physically well at work but leave work mentally weak (69.6) and physically
indisposed. The relationship between work hours and sensation at the end of the work day
indicated that professionals who work 20 hours per week do not feel indisposed (X
2
=5.98%). It
was considered that illnesses of the workers could be reduced if preventive policies were adopted
in order to improve the health and work conditions in this institution. The high rate of absence
due to deseases indicated the need to implement programs meant to improve work conditions and
suggests the foundation of a database aiming at improving the register of absences, facillitanting
its control and allowing the development of future researches. The research contributes to make
more visible the health problems that affect the workers involved in this study, helping in the
capacitation of future members of this professional category to prevent their weariness and
construct a healthier life, free from deseases and work accidents. As a conclusion, we can say that
there is much to be done to advance our knowledge about the relationship between desease and
work. Therefore, it is advisable to improve the information system now available, involving
epidemiological vigilance, development of interisntitutional and multidisciplinar actions in health
and work. This will help overcom the biologycist notion that still prevails on the relationship
between health-desease and work.
Descriptors: Worker’s health. Oncology. Nursing.
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Distribuição de freqüências simples e percentuais quanto ao sexo....................... 54
Tabela 2 Distribuição de freqüências simples e percentuais quanto à faixa etária.............. 56
Tabela 3 Associação entre faixa etária e doenças osteomusculares..................................... 57
Tabela 4 Associação entre faixa etária e transtornos mentais.............................................. 57
Tabela 5 Distribuição freqüências simples e percentuais quanto categoria profissional..... 58
Tabela 6 Distribuição de freqüências simples e percentuais quanto ao setor atual de
trabalho..................................................................................................................
60
Tabela 7 Medidas de tendência central e variação do tempo de trabalho na instituição e
tempo de trabalho no ambulatório........................................................................
61
Tabela 8
Associação entre tempo de trabalho na instituição e licença médica.................... 62
Tabela 9 Distribuição de freqüências simples e percentuais relacionada ao trabalho......... 63
Tabela 10 Distribuição de freqüências simples e percentuais quanto à realização de exame
periódico de saúde e se faz algum tratamento de saúde........................................
70
Tabela 11 Distribuição de freqüências simples e percentuais quanto a alguma vez ter
necessitado de licença médica...............................................................................
71
Tabela 12 Distribuição de freqüência simples quanto ao tempo de afastamento por licença
médica referido pelos trabalhadores......................................................................
71
Tabela 13 Distribuição de freqüências simples e percentuais quanto ao motivo de licença
médica referido pelo trabalhador...........................................................................
74
Tabela 14 Associação entre tempo de trabalho na instituição e transtornos mentais............. 85
12
Tabela 15 Distribuição de freqüências simples e percentuais de acordo com as condições
físicas e mentais dos respondentes no início e final da jornada de trabalho ........
99
Tabela 16 Associação entre carga horária e sensação mental ao final da jornada de
trabalho.................................................................................................................
102
Tabela 17 Associação entre sexo e sensação física do trabalhador ao chegar ao trabalho.... 102
Tabela 18 Associação entre sexo e sensação mental do trabalhador ao chegar ao trabalho.. 103
Tabela 19 Associação entre sexo e sensação física ao final da jornada de trabalho.............. 103
Tabela 20 Associação entre sexo e sensação mental ao final da jornada de trabalho............ 103
13
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Distribuição de freqüências percentuais quanto ao sexo..................................... 54
Gráfico 2 Distribuição de freqüências percentuais quanto à escolaridade.......................... 59
Gráfico 3 Distribuição de freqüências percentuais quanto ao tempo de deslocamento para
chegar ao trabalho........................................................................................
64
Gráfico 4 Distribuição de freqüências percentuais quanto a ter referido algum problema
de saúde adquirido após o ingresso na instituição...............................................
68
Gráfico 5 Distribuição de freqüências percentuais quanto a esses problemas terem
surgido após ingresso na instituição....................................................................
69
Gráfico 6 Distribuição de freqüências percentuais quanto a problemas terem relação com
seu trabalho..................................................................................................
69
Gráfico 7 Distribuição de freqüências percentuais quanto ao tempo de afastamento por
licença médica referido pelos trabalhadores........................................................
72
Gráfico 8 Distribuição de freqüências percentuais quanto aos motivos de licenças
médicas referidos pelos trabalhadores.................................................................
75
14
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIDS
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
AT
Acidente de Trabalho
CEP
Conselho de Ética em Pesquisa
CID
Código Internacional de Doenças
CID-10
Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – 10ª
versão
CLT
Consolidação das Leis do Trabalho
CNS
Conselho Nacional de Saúde
CNST
Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador
DCV
Doença cardiovascular
DISAT
Divisão de Saúde do Trabalhador
DORT
Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho
DST
Doença Sexualmente Transmissível
EPC
Equipamento de Proteção Coletiva
EPI
Equipamento de Proteção Individual
IEA
International Ergonomics Association
INCA
Instituto Nacional de Câncer
LER
Lesão por Esforço Repetitivo
MS
Ministério da Saúde
MTb
Ministério do Trabalho e Emprego
NOST
Norma Operacional de Saúde do Trabalhador
NR
Norma Regulamentadora
OIT
Organização Internacional do Trabalho
OMS
Organização Mundial de Saúde
RENAST
Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador
RJU
Regime Jurídico Único
SUS
Sistema Único de Saúde
SGA
Síndrome Geral de Adaptação
X
2
Qui-quadrado
15
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................ 16
Objetivos............................................................................................................................. 22
REFERENCIAL TEÓRICO........................................................................................... 23
Breve histórico................................................................................................................... 23
Processo de trabalho........................................................................................................... 27
Doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho........................................................... 29
O estresse e suas características......................................................................................... 32
Absenteísmo X Afastamento............................................................................................ 36
Riscos ocupacionais em enfermagem................................................................................. 38
O trabalho da enfermagem em oncologia........................................................................... 45
METODOLOGIA............................................................................................................. 48
Tipo de estudo e técnicas de abordagem............................................................................ 48
Campo do estudo................................................................................................................ 48
População........................................................................................................................... 48
Critérios de inclusão........................................................................................................... 50
Critérios de exclusão.......................................................................................................... 50
Coleta de dados................................................................................................................... 50
Método de análise estatística.............................................................................................. 51
Aspectos éticos da pesquisa................................................................................................ 52
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.......................................... 53
CONCLUSÃO................................................................................................................... 105
REFERÊNCIAS............................................................................................................... 110
APÊNDICES
Formulário de coleta de dados 1ª parte – Delineamento do perfil do trabalhador de
enfermagem do ambulatório...............................................................................................
120
Formulário de coleta de dados 2ª parte – Levantamento dos problemas saúde-doença do
trabalhador de enfermagem do ambulatório.......................................................................
121
Termo de consentimento livre e esclarecido......................................................................
Tabela de distribuição de freqüência simples quanto a faixa etária e gênero...................
123
125
Tabela de distribuição de freqüência simples e percentual quanto a ter referido algum
16
problema de saúde adquirido após o ingresso na instituição............................................
126
Tabela de distribuição de freqüências simples e percentuais quanto aos problemas
terem aparecido após ingresso na instituição e se relacionam com o trabalho..................
127
Gráfico de distribuição de freqüências percentuais quanto a fazer algum tratamento de
saúde...................................................................................................................................
128
Tabela de doenças referidas pelos trabalhadores entrevistados........................................ 129
ANEXOS
ANEXO A - Autorização do Comitê de Ética em Pesquisa/ INCA................................. 132
17
INTRODUÇÃO
A experiência profissional como enfermeira atuante em uma instituição especializada em
oncologia mostra que o enfrentamento de uma doença como o câncer revela o paradoxo da
existência humana, pois contém, dialeticamente, expressões de vida e de morte, já que é uma
doença degenerativa, crônica e de caráter evolutivo insidioso, e, quando em estágio avançado,
tem poucas possibilidades de cura. Nas palavras de Campos (2005, p.24), o diagnóstico de câncer
“é um divisor de águas na vida do indivíduo e sua família”, uma nova realidade que, para ser
vivida, necessita de mudanças na rotina familiar, períodos de adaptação e redefinições para o
enfrentamento de novas situações.
Como doença de tratamento longo, o câncer conduz a um contato estreito e prolongado
entre o portador, seus familiares e os profissionais de enfermagem. Esse contato proporciona
relacionamento interpessoal intenso, gera laços de amizade, exige que se tenha um
comportamento empático e, até, cada vez mais comprometido com o paciente. Como nossa
graduação pressupõe participar da recuperação da saúde do indivíduo acometido por doença,
torna-se frustrante e desgastante para os profissionais cuidar de pacientes oncológicos, pois a cura
nem sempre ocorre com portadores de câncer (SPINDOLA; MACEDO, 1994; POPIM, 2001;
CAMPOS, 2005).
O Instituto Nacional de Câncer (INCA), através de dados estatísticos, estimou que esta
doença acometeria cerca de 472.050 indivíduos em 2006, sendo 234.570 para o sexo masculino e
237.480 para o sexo feminino (BRASIL, 2007). Ainda de acordo com o INCA, o número de
casos de câncer no Brasil e no mundo tem crescido, acompanhando o aumento da expectativa de
vida e, conseqüentemente, do envelhecimento populacional. Este fato resulta dos avanços
científicos e tecnológicos na área das ciências da saúde, da urbanização acelerada e dos novos
estilos de vida e trabalho, além de novos padrões de consumo. Tal situação levou a União
Internacional Contra o Câncer, em 2005, a divulgar uma estimativa de 15 milhões de casos novos
e 12 milhões de mortes para 2020 (BRASIL, 2007).
Este panorama, e considerando que o ambiente de trabalho do enfermeiro oncologista é a
18
instituição hospitalar, remete ao estudo de Pitta (1994) acerca das causas de absenteísmo num
hospital, que aponta, como principal motivo, o sofrimento psíquico apresentado pelos
profissionais.
Parece que a vivência profissional no cuidar implica uma tensão emocional constante,
atenção e grandes responsabilidades a cada gesto no trabalho. Assim é a natureza do trabalho em
saúde, porque resulta em lidar com a dor, com o sofrimento e com a morte de pacientes, o que
afeta os trabalhadores de instituições hospitalares, propiciando o surgimento da síndrome de
Burn-out. O termo burn-out é usado para definir o desgaste do profissional com o trabalho e foi
empregado, primeiramente, em 1974, por Freudenberger, para o sentimento de fracasso e
exaustão causados por um excessivo desgaste de energia e de recursos entre profissionais que
trabalhavam diretamente com pacientes dependentes de substâncias químicas. Surge como uma
reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato excessivo com outros seres humanos
(CAMPOS, 2005; MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005).
As condições de trabalho da equipe de enfermagem nos hospitais há muito tempo têm
sido consideradas inadequadas devido às especificidades do ambiente e das atividades insalubres
executadas. Também, sabe-se que as instituições hospitalares são organizações altamente
complexas, tanto pelos serviços prestados como pela diversidade de trabalhadores. Ainda, os
usuários destas instituições passam por dramáticas situações para a resolução de problemas
ligados ao processo saúde-doença, como é o caso dos pacientes oncológicos (MOURA, 1992;
MARZIALE, 2001; BARBOZA; SOLER, 2003).
Quanto ao exercício profissional em hospitais, Rocha, Marziale e Robazzi (2004) referem
que as condições de trabalho dos trabalhadores de enfermagem ocasionam agravos à saúde
produzidos pelo ambiente de trabalho, forma de organização e atividades insalubres que
executam. Para estas autoras, agentes físicos, químicos e biológicos, além de fatores ergonômicos
e psicossociais geram os riscos ocupacionais que atingem os trabalhadores de enfermagem.
Haag, Lopes e Schuck (2001) também apontam o cenário hospitalar como desgastante e
frustrante devido ao tipo de trabalho com forte carga emocional pelo enfrentamento constante do
limite entre a vida e a morte.
Lunardi Filho (2000) menciona que, no ambiente hospitalar, cabe à enfermagem a
responsabilidade primordial de cuidar continuamente dos doentes, implementando-lhes cuidados
19
e ações terapêuticas. Por este motivo, são esses os profissionais que mais se aproximam dos
pacientes. Apesar desta responsabilidade, Popim (2001) refere que o hospital é o local onde o
enfermeiro tem menos autonomia quando se discute a vida e morte de um doente. A autora
explica que os enfermeiros estão conscientes dessa falta de autonomia, com a qual nem sempre
estão de acordo. Isto gera sofrimento psíquico no trabalhador de enfermagem, especialmente em
oncologia.
De acordo com Pizzoli (2004), uma instituição hospitalar pode ser comparada a qualquer
outra organização empresarial em termos de gerência administrativa e os resultados de seu
desempenho podem ser influenciados por fatores externos ou internos à organização. Implica em
atuações profissionais diretamente ligadas aos princípios de manutenção e recuperação da saúde
ou o sustento da própria existência.
Em oncologia, esses princípios nem sempre podem ser atendidos. A morte é freqüente, o
que é frustrante para esses profissionais. Por isso, a enfermagem é submetida a situações geradas
pelas atividades inerentes à função, a qual envolve inúmeros elementos negativos proporcionados
pelo ambiente caracterizado pela doença estigmatizada como fatal, e que, às vezes, é mesmo
fatal. Esta realidade torna-se mais chocante nos hospitais onde profissionais, que procuram
auxiliar na cura, vivem o paradoxo de estarem sujeitos às mesmas enfermidades que os pacientes
entregues aos seus cuidados (BARROS et al, 2003; CAMPOS, 2005).
Apesar da crença de que a atuação da enfermagem no espaço ambulatorial constitui-se de
ações simples, burocráticas ou destituídas de complexidade, não é o que se observa em relação à
equipe de enfermagem que atua com portadores de câncer em um hospital especializado do qual
fazemos parte. A área ambulatorial compreende os setores de diagnóstico, tratamento oncológico
clínico e cirúrgico, além de reabilitação. Neste ambulatório, são atendidos, em média mensal, no
período de 12 horas diurnas, 11.700 (onze mil e setecentos) clientes, em fase de triagem (pré-
matrícula), avaliação da extensão da doença (estadiamento) ou tratamento oncológico.
Os clientes atendidos são submetidos aos mais diversificados procedimentos invasivos,
como biópsias, cirurgias endoscópicas de pequeno a médio porte, exéreses de pequenos tumores,
traqueostomias, toracocenteses, paracenteses, exames radiológicos contrastados, colocação de
cateteres, dilatações (uretra, estomas), desbridamentos de tecidos necrosados em feridas,
curativos de feridas tumorais, além dos procedimentos terapêuticos, como hemoterapia,
20
imunoterapia, quimioterapia, radioterapia e outros procedimentos de risco, como o manuseio de
cateteres venosos de longa permanência, totalmente implantados ou semi-implantados, e
estomaterapia. Também, são realizados procedimentos de menor complexidade, como curativos
cirúrgicos não infectados, retirada de pontos, preparo para exames, administração de
medicamentos por via oral e parenteral, punção de vasos periféricos e coleta de material para
exames.
Sabe-se que o número de casos de câncer está em elevação (INCA, 2007) devido ao
aumento da longevidade do brasileiro. De um modo geral para ambos os sexos a esperança de
vida ao nascer passa de 62,7 anos para 68,9 anos segundo o IBGE. A expectativa de vida para
daqui a cinco anos é de 72,9 anos para o sexo feminino e 65,1 anos para o masculino (IBGE,
2005). As implicações disso são que a demanda assistencial leva ao aumento da carga de
trabalho e do grau de complexidade das ações de enfermagem em oncologia, o que
proporcionalmente pode gerar maior desgaste físico e emocional deste trabalhador.
Considerando que o maior contingente de uma instituição hospitalar é de profissionais de
enfermagem devido à tarefa primeira de cuidar diretamente do doente, conforme afirma Lunardi
Filho (2000), e que estes profissionais permanecem, por muitas horas, dentro do ambiente no qual
predomina a doença, é natural a exposição a elevados níveis estressores como, por exemplo,
carga horária extensa, falta de autonomia e principalmente o trabalho direcionado ao indivíduo
portador de câncer que, por vezes, não tem remissão com o tratamento ou que apresenta recidiva
da doença, gerando frustração e desesperança nos profissionais.
Tratando-se de ambiente hospitalar e da comunidade de enfermagem, é possível adotar a
concepção ecológica de saúde-doença. Nesta concepção são entendidos como fenômenos
ecológicos aqueles que envolvem o ambiente dos indivíduos e que trazem os conceitos de
equilíbrio e adaptação. Assim, o desequilíbrio (ou desadaptação) leva à enfermidade e as
condições de adaptabilidade significam saúde. O conceito ecológico de saúde-doença amplia os
espaços de suas determinações, que passam a ser de caráter multicausal (AROUCA, 2003).
De acordo com a definição de Arouca (2003) e com nossa vivência profissional, percebe-
se que a determinação multicausal pode ser representada pela exposição aos riscos de ordem
biológica, física, química, ergonômica, mecânica, psicológica e social. Também, Barboza e Soler
(2003) corroboram este pensar e acrescentam que vários estudos indicam que os serviços de
21
saúde, geralmente, oferecem as piores condições de trabalho para a enfermagem, quando
comparada a outros serviços, mesmo que se tenha em conta que esta equipe representa a maior
força de trabalho dentro dos hospitais.
Neste contexto, torna-se difícil ter satisfação no trabalho. Ao que parece, ela favorece o
envolvimento, que é fundamental, juntamente com a motivação, gerando aumento de produção,
qualidade no trabalho e aprimoramento pessoal e profissional. Se os profissionais não se sentem
reconhecidos e estimulados, pode ocorrer um processo de desvalorização de si mesmo. Este
processo pode ser somado ao desconforto de um ambiente, nem sempre favorável quanto aos
aspectos ergonômicos, no qual o dimensionamento quantitativo e qualitativo insuficiente de
pessoal é uma constante associada, gerando ou proporcionando sofrimento e angústia
(MOURA,
1992).
Observa-se, no dia-a-dia de nossa vivência técnica nesses serviços, que todos os
procedimentos relacionados ao diagnóstico, tratamento e assistência a situações emergenciais
decorrentes da doença ou da terapêutica são desenvolvidos numa clientela muito espoliada pela
doença de natureza crônica e degenerativa. A enfermagem cuida desses clientes em diferentes
faixas etárias, desde crianças até idosos, durante sua permanência no ambulatório, algumas vezes
por todo o período diurno, ouvindo queixas ou observando sinais como a dor, a fadiga, o estresse,
náuseas, vômitos, febre, episódios de sangramento, lipotímias, dentre outros. Alguns aspectos
socioeconômicos também estão presentes, como a fome, a falta de dinheiro para o transporte, os
conflitos familiares e, por vezes, o abandono (BRASIL, 2001).
Estudos de Silva, Kurcgnant e Queiroz (1998) denotam que esse modo de produção pode
gerar processos de adaptação destrutivos da integridade biopsíquica, com perda da capacidade
efetiva, temporária ou definitiva. De acordo com as autoras, os processos de adaptação
destrutivos somados às cargas de trabalho configuram o processo de desgaste dos indivíduos. O
desgaste, por sua vez, combinado ao modo de produção e aos processos de adaptação, determina
certas doenças no grupo de enfermagem, o que se denomina perfil patológico.
Também, sabe-se que o estresse produz deficiência imunológica que somada a outros
fatores como tabagismo, etilismo e doenças degenerativas como diabetes, hipertensão arterial ou
doenças vasculares, pode levar a equipe a desenvolver neoplasia maligna. Por isso, a saúde
ocupacional e bem-estar no trabalho interferem, positiva ou negativamente, na vida social e
22
familiar dos profissionais de enfermagem e na qualidade da assistência prestada aos clientes
(LINO, 1999; STACCIARINI; TRÓCCOLI, 2001).
O desgaste natural decorrente das situações de trabalho, aliado ao desgaste psíquico do
conviver constante com o sofrimento alheio, é motivo suficiente para justificar a necessidade de
maior atenção à satisfação no trabalho de indivíduos que atuam em hospitais e ao clima
organizacional desse tipo de empresa prestadora de serviços de saúde.
Acreditando que a assistência aos pacientes em muito depende do indivíduo que a
executa, entende-se que estudos acerca da saúde do trabalhador de hospitais tornam-se
imprescindíveis para a Enfermagem. O estudo poderá contribuir tanto para a prática e o
conhecimento da enfermagem quanto para a prevenção de agravos à saúde do trabalhador. Com
relação à prática, a oferta de cuidados de enfermagem exige que o trabalhador esteja bem consigo
mesmo para cuidar do cliente e, também, o bem-estar favorece o desenvolvimento das
potencialidades profissionais, o que garante, de forma efetiva, a qualidade da assistência prestada
a uma clientela tão fragilizada e a satisfação no trabalho.
Com relação aos trabalhadores, o conhecimento dos motivos que os levam ao
adoecimento possibilita maior compreensão deles mesmos e de sua realidade, contribuindo para a
prática do cuidar de si e do desenvolvimento da cidadania, considerando a enfermagem como
promotora, mantenedora e recuperadora da saúde e bem-estar da população.
Quanto ao corpo de conhecimentos, o estudo pode proporcionar o entendimento dos
fatores que produzem agravos à saúde dos trabalhadores de enfermagem, o que aumentará os
subsídios para as gerências, favorecendo o planejamento e adequação de recursos humanos de
acordo com a complexidade do trabalho em oncologia, além de possibilitar a implementação de
ações para prevenir ou minimizar esses agravos.
Considerando a idade, o tempo de serviço dedicado ao funcionalismo público e à natureza
da doença oncológica, talvez outros fatores possam predispor ao desgaste destes trabalhadores
como, por exemplo, a rígida estrutura hierárquica pertinente a uma instituição onde impera o
modelo biomédico, que historicamente lega o poder ao médico, levando os profissionais de
Enfermagem à submissão através do processo de não-pensar e não-questionar (KOLLER;
MACHADO, 1992).
Diante desta problemática e da nossa trajetória como supervisora de Enfermagem do
23
ambulatório de um hospital de referência em Oncologia, desde 1997, impôs-se o desejo de
conhecer os fatores que interferem na freqüência ao trabalho da equipe de enfermagem, o que nos
levou a desenvolver este estudo, que tem como objeto:
As causas de afastamentos por adoecimento do trabalhador de enfermagem do
ambulatório de uma instituição oncológica.
De acordo com o objeto do estudo, pressupõe-se que:
As causas de afastamento dos trabalhadores de enfermagem atuantes em ambulatório
especializado em oncologia podem estar relacionadas ao tipo de trabalho que
desempenham.
Nesta trajetória, nossa proposição foi a de desenvolver este estudo com a finalidade
precípua de adquirir subsídios que possam contribuir para a elaboração de estudos com a
consecução de novos paradigmas e conceitos no que se refere ao afastamento por adoecimento do
trabalhador de enfermagem em ambulatório de referência em oncologia, tendo como objetivos:
1. Investigar as causas de afastamentos entre os trabalhadores de enfermagem que atuam em
um ambulatório de referência em oncologia.
2. Levantar a freqüência e tempo de afastamento referido pelos componentes da equipe de
enfermagem.
3. Delinear o perfil do trabalhador de enfermagem do ambulatório de uma instituição de
referência em oncologia.
4. Discutir os motivos dos afastamentos.
24
REFERENCIAL TEÓRICO
Breve histórico
É oportuno lembrar alguns fatores históricos acerca dos agravos e de medidas de proteção
à saúde do trabalhador.
O trabalho é tão antigo como o primeiro ser humano, mas as relações entre as atividades
laborativas e a doença permaneceram praticamente ignoradas até há 250 anos. Desde os
primórdios da era cristã, a bibliografia refere fatores nocivos ao trabalho. Pode-se citar, por
exemplo, a obra conhecida de Hipócrates “Ar, Água e Lugares”, na qual discorre sobre o
saturnismo, e, também, a obra de Plínio – o velho (23 d.C.) descreve o aspecto dos trabalhadores
de minas de mercúrio e chumbo e aconselha o uso de máscaras (HAAG; LOPES; SCHUCK,
2001).
Já no século XVI, algumas observações esparsas surgiram, evidenciando a possibilidade
de o trabalho estar relacionado ao adoecimento. Farias Júnior (1999) aborda que, em 1556, Georg
Bauer publicava o livro De Remetallica, em que eram estudados os diversos problemas
relacionados à extração de minerais e a fundição de prata e de ouro. Este autor discutiu, em um
capítulo específico dessa obra, os acidentes do trabalho e as doenças mais comuns entre os
mineiros, provocadas por poeiras, mencionando a chamada ‘asma dos mineiros’. Pela descrição
dos sintomas e pela rápida evolução da doença, sugere, à luz dos novos conhecimentos, casos de
silicose – pneumoconiose causada pela sílica livre.
Apesar de sua importância, estes trabalhos permaneceram praticamente ignorados por
mais de um século. Em 1700, foi publicado, na Itália, o livro De Morbis Artificum Diatriba, (As
Doenças do Trabalho) do médico Bernardini Ramazzini (1633 - 1714),que descreve uma série de
doenças relacionadas a cerca de 50 profissões diversas. Por este motivo, o autor foi justamente
cognominado o “pai da medicina do trabalho”. Foi o primeiro a estudar com afinco as doenças
profissionais, descrevendo os riscos específicos para cada uma delas. Destacou os danos causados
à saúde do trabalhador pela falta de ventilação e pelo desconforto térmico. Reconheceu a
25
importância das pausas, exercícios e postura para a prevenção da fadiga. Ramazzini acrescenta na
anamnese hipocrática da época, uma nova pergunta: “Qual é a sua ocupação?” (FRIAS JUNIOR,
1999; HAAG; LOPES; SCHUCK, 2001; MENDES, 2005).
Após a Revolução Industrial, movimento que ocorreu na Inglaterra entre 1760 e 1830, foi
criada uma comissão de inquérito para avaliar as condições de trabalho nas fábricas e elaborada
uma lei que regulava as jornadas de trabalho, que eram em torno de 16 horas por dia. Com um
processo acelerado e desumano de produção, aumentou o número de acidentes e adoecimento
entre funcionários, e, por este motivo, tiveram que intervir, colocando um médico dentro da
fábrica na indústria têxtil. Foi aí, na primeira metade do século XIX, que surgiu a Medicina do
Trabalho, dirigida por pessoas da confiança do empresário, centrado na figura do médico, para
prevenção dos danos à saúde resultante dos riscos. Rapidamente, este modelo foi expandido para
países industrializados (FRIAS JÚNIOR, 1999).
As duas últimas guerras mundiais deram um grande impulso no que diz respeito ao
cuidado com a saúde do trabalhador, que passou a ser um fator de grande importância para a
economia nacional. As fábricas tinham que manter o ritmo da época e era vital que o trabalhador
fosse mantido em bom estado de saúde (FRIAS JÚNIOR, 1999).
A OIT, criada em 1919, vem atuando, ao longo dos anos, em colaboração com a
Organização Mundial de Saúde (OMS) com o objetivo de garantir melhores condições de vida,
trabalho e emprego para os trabalhadores, incluindo os integrantes da equipe de enfermagem
(FARIAS, 1999; SÊCCO, 2006).
No Brasil, a República Velha (1889-1930) havia criado um emaranhado de leis que,
contradizendo umas às outras, pouco garantiam aos trabalhadores quanto ao direito de assistência
médica e indenização em dinheiro por enfermidade ou por acidente de trabalho. Os operários
acidentados ou com a saúde abalada eram orientados a procurar socorro nos hospitais
filantrópicos. A Constituição de 1934 incorporou algumas garantias ao operariado, tais como a
assistência médica, a licença remunerada à gestante trabalhadora e a jornada de trabalho de oito
horas diárias. Após o golpe de 1937, a política do presidente Getúlio Dornelles Vargas, com o
intuito de obter apoio social e político e conferir alguma legitimidade ao Estado Novo ditatorial,
voltou-se para a população urbana empregada nos setores industrial e comercial, incluindo-se
também o setor de atenção à saúde, criando uma legislação social que garantia maiores direitos
26
aos trabalhadores urbanos (BERTOLI FILHO, 1996).
Neste período, foram organizadas as caixas de aposentadoria e pensões e os institutos de
previdência que garantiram assistência médica a uma vasta parcela da população urbana.
Entretanto, as caixas apresentavam irregularidades, e os doentes mais graves tinham pouca
cobertura. Como exemplo, os operários tuberculosos enfrentavam muita dificuldade para receber
assistência, pois o tratamento era longo e exigia que os doentes ficassem internados em sanatórios
localizados nas regiões montanhosas, obrigando-os a ficar longe do trabalho e da família. Por
isso, foi elaborada uma legislação própria para os trabalhadores acometidos por tuberculose, em
que o doente deveria optar por receber uma parte do salário e tratar da saúde por conta própria ou
submeter-se ao isolamento sanatorial, abrindo mão de qualquer ajuda econômica. Nenhuma das
alternativas garantia o apoio necessário a estes trabalhadores (BERTOLI FILHO, 1996).
Somente na década de 40 é que os problemas causados pelo trabalho começaram a ser
estudados. A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) entrou em vigor em 1943, sendo um
importante marco de proteção legal aos trabalhadores, pois tornavam-se definitivamente
obrigatórios o pagamento do salário mínimo, a indenização aos aposentados, o tratamento médico
aos doentes, o pagamento de horas extras, as férias remuneradas, entre outros benefícios, a todos
os operários portadores de carteira de trabalho. Em 1945, surgiu a Organização Mundial de Saúde
(OMS) que é uma organização de proteção à saúde (HAAG; LOPES; SCHUCK, 2001).
No final da década de 40, a movimentação dos sindicatos forçou o governo a rever a
legislação previdenciária, ampliando-se o número de trabalhadores e seus dependentes com
direito a tratamento de saúde financiado pelos institutos e caixas. Aumentaram, ainda, os salários
e as pensões pagas aos indivíduos afastados temporariamente do trabalho por motivo de doença.
É dessa época que data a fundação da Associação de Prevenção de Acidentes de Trabalho
(HAAG; LOPES; SCHUCK, 2001).
Somente em 1972, o Ministério do Trabalho (MTb), por meio do Plano Nacional de
Valorização do Trabalhador, homologou a Portaria MTb nº 3.236, criando, assim, o serviço de
saúde ocupacional nas empresas, formado por engenheiro do trabalho, médico do trabalho e
técnico de segurança do trabalho. Posteriormente, a Portaria MTb nº 3.237/72, tornou
obrigatórios, nas empresas com mais de 100 empregados, os serviços de saúde ocupacional,
incluindo o auxiliar de enfermagem do trabalho na equipe. A Portaria 3.442, de 1974, do
27
Ministério do Trabalho, estabeleceu a criação de cursos de especialização na área da enfermagem
do trabalho. Destaca-se que em 1975 o enfermeiro foi obrigatoriamente incluído na equipe de
saúde ocupacional pela Portaria MTb nº3.260. Em 08 de junho de 1978, o Ministério do
Trabalho, através da Portaria 3.214, estabeleceu vinte e oito Normas Regulamentadoras (NR)
relativas à segurança e medicina do trabalho - hoje são trinta e três - que orientam as obrigações
das empresas em relação ao trabalho e preconizam o dimensionamento de enfermeiros e
auxiliares de enfermagem do trabalho por empresa, de acordo com o grau de riscos e o número de
empregados de cada empresa ( BRASIL, 1978; ABRANCHES, 2005).
Na década de 80, os índices de acidentes e doenças do trabalho eram inaceitáveis, a ponto
de organismos internacionais, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT),
pressionarem o governo para providências a curto prazo. Neste período surge o Movimento de
Reforma Sanitária, propondo uma nova concepção de Saúde Pública, incluindo a Saúde do
Trabalhador.
Até o ano de 1988, a saúde no Brasil era um benefício previdenciário (restrito aos
contribuintes). Foi neste ano que o povo brasileiro conquistou o direito universal de saúde,
disposto na Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo 196, como um direito
de todos e um dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. No artigo 200 da referida constituição,
está definido que ao Sistema Único de Saúde (SUS) compete executar as ações de saúde do
trabalhador e colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. O
trabalho, como um fator determinante da saúde, tem sido amplamente estudado e discutido nos
últimos anos, mas as ações em Saúde do Trabalhador, tal como prevê o SUS, têm-se
desenvolvido apenas em alguns estados e municípios de forma isolada e fragmentada das demais
ações de saúde no âmbito nacional (BRASIL, 1988).
Em 19 de setembro de 2002, através da Portaria 1679 do Ministério da Saúde, foi criada a
Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST) para atender a
necessidade premente de garantir atenção à saúde dos trabalhadores, de acordo com os preceitos
constitucionais e das Leis Orgânicas de Saúde, objetivando assegurar a assistência integral aos
trabalhadores do setor formal e informal com problemas de saúde relacionados ao trabalho
urbano e rural, incluindo ações de vigilância em saúde, conforme o estabelecido na Norma
28
Operacional de Saúde do Trabalhador (NOST-SUS) que é de articular ações de promoção,
proteção, recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores acidentados ou com doenças do
trabalho (BRASIL, 3ª CNST 2005).
Os complexos aspectos técnicos que envolvem a vida dos trabalhadores, como cidadãos
inseridos em um ambiente de trabalho, participando da produção da riqueza nacional,
modificando o ambiente, produzindo bens e serviços e desgastando-se física e psicologicamente,
durante o tempo em que se dedica ao processo de trabalho, obrigam o tratamento diferenciado
das questões de saúde, sociais e econômicas relacionadas aos problemas de saúde delas
decorrentes (BRASIL, 3ª CNST 2005).
A NR32 foi instituída pela Portaria nº 485, de 11 de novembro de 2005, e estabelece os
requisitos mínimos e as diretrizes básicas para a implementar as medidas de proteção à segurança
e à saúde dos trabalhadores em estabelecimentos de assistência à saúde, bem como daqueles que
exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral. Abrange trabalhadores de
hospitais, clínicas, laboratórios, ambulatórios e serviços médicos existentes dentro de empresas.
Alcança também profissionais que laboram nas atividades de promoção e recuperação de saúde,
ensino e pesquisa em saúde em qualquer nível de complexidade (BRASIL, 2005). Esta NR é
considerada de extrema importância no cenário brasileiro, pois, até a sua publicação, não existia
legislação específica que tratasse das questões de segurança e saúde no trabalho no setor da saúde
e, as normatizações existentes encontravam-se esparsas e reunidas em outras NRs ou resoluções
que não foram construídas especificamente para tal finalidade. Do modo como são prescritas as
medidas preventivas, essas que mudanças benéficas poderão ser alcançadas, uma vez que
procedimentos e medidas protetoras deverão ser realizados com vistas a promover segurança no
trabalho e prevenção de acidentes e doenças ocupacionais entre os trabalhadores da área de
saúde.
Processo de trabalho
A saúde e a doença do trabalhador são determinadas pelos processos de trabalho que
envolvem complexas relações econômicas, sociais e tecnológicas, que determinam a exposição a
fatores de risco (BELLUSCI, 2005).
29
O processo de trabalho é a relação entre o homem e a natureza, através do qual o homem
utiliza sua energia, força, para transformar, manter ou produzir bens necessários à sua
sobrevivência. A relação que o homem estabelece com a natureza, a forma como dela se apropria
e a transforma, resulta também no processo saúde-doença. O homem, ao transformá-la, também
se modifica, desenvolvendo suas potencialidades e ampliando seu universo social. Para
compreender o processo de trabalho, é preciso conhecer os elementos que o compõem, ou seja, o
objeto de trabalho, os instrumentos e o próprio trabalho, e, ainda, identificar a relação entre estes
elementos (OLIVEIRA, 2001).
Conforme observa Laurell & Noriega (1989), é preciso analisar além das características
físicas, químicas e mecânicas para um entendimento mais amplo dos fatores relacionados ao
processo de trabalho e que repercutem na saúde ou no corpo dos trabalhadores. São propostas
duas categorias de análise importantes: cargas de trabalho e desgaste. As cargas de trabalho são
elementos do processo de trabalho que interatuam dinamicamente entre si e com a corporeidade
humana, ou seja, com o corpo do trabalhador, gerando processos de adaptação que se traduzem
em desgaste.
As cargas podem ser divididas em dois grupos: aquelas que têm materialidade externa ao
corpo do trabalhador, como as cargas físicas, químicas, biológicas e mecânicas, e as que só
adquirem materialidade no corpo humano, ou seja, as cargas fisiológicas e psíquicas. A
intensidade das cargas depende da forma de produzir, da organização e divisão do trabalho
(OLIVEIRA, 2001).
Para compreender os impactos sobre a saúde/doença dos trabalhadores, é necessário
entender como as cargas interatuam entre si, acarretando adoecimentos diversos no processo de
trabalho. Considera-se que houve desgaste na realização da atividade laborativa quando ocorrem
processos de adaptação destruidores da integridade corporal, denominados como cargas de
trabalho (FELLI; KURCGANT, 2000).
O processo de trabalho no setor de saúde apresenta algumas especificidades que se
distinguem do trabalho de outros setores da economia, já que o seu produto final é um serviço
resultante da ação compartilhada de vários profissionais e centra-se nas relações interpessoais
entre beneficiários e executores. Reúne um conjunto de atividades programadas e normatizadas
que se realizam sob a base da cooperação em um cenário dinâmico e instável (PINHO;
30
ABRAHÃO; FERREIRA, 2003).
O trabalho em enfermagem, apreendido como processo, pode ser compreendido como:
objeto/meio/instrumento e o trabalho em si. Na enfermagem, o objeto de trabalho a ser
transformado é o corpo humano, individual ou coletivo, em suas demandas no processo saúde-
doença. Os meios e os instrumentos são o saber e os equipamentos de diagnóstico e de
terapêutica. O trabalho em si inclui as formas de organização, divisão e relação de trabalho que
garantem a força laborativa obtida pelos agentes – enfermeiros, técnicos de enfermagem e
auxiliares de enfermagem. O processo saúde-doença é gerado em dois momentos: o momento
produtivo e o momento de consumo. O primeiro refere-se ao processo de trabalho que gera, por
um lado, tensão, mas, por outro, satisfação. O segundo refere-se à vida social, cultural e aos
valores do indivíduo (ROCHA; FELLI, 2004).
Os processos de desgaste do trabalhador de enfermagem são oriundos da diversidade,
intensidade e simultaneidade de exposição a estas cargas, pois, cabe à equipe de enfermagem o
acompanhamento dos pacientes em tempo integral, levando a uma maior exposição aos riscos.
Esses processos são explicitados pelos danos biopsíquicos, em suas diferentes formas de
expressão (RADUNZ, 1999).
Laurel e Noriega (1989) analisaram o processo de trabalho e sua relação com a saúde e
destacaram que há grande desgaste por parte dos operários, citando que as doenças causadas pelo
trabalho podem ser somáticas, psicossomáticas e psíquicas. Estas doenças são originárias das
diversas cargas de trabalho a que ficam expostas, sejam elas de natureza física, química, por
tensão nervosa, ritmo do trabalho ou por repetitividade das tarefas.
No que tange ao processo de trabalho no setor de serviços, especialmente no setor saúde,
a NR 32 vem complementar a proteção a saúde do trabalhador em relação aos riscos biológicos
tão comuns no cotidiano do trabalho de enfermagem.
Doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho
As mudanças ocorridas com a utilização das novas tecnologias através da automação e
informatização nos processos de trabalho, que aparentemente representam melhoria das
31
condições de trabalho, na verdade induziram novos riscos à saúde. Estes acabaram gerando
doenças de difícil medicalização, tais como as doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho
(DORT), doença esta intrinsecamente relacionada à organização do trabalho. As LER/DORT, por
definição, são um fenômeno relacionado ao trabalho, caracterizado pela ocorrência de vários
sintomas, concomitantes ou não, tais como, dor, parestesia, sensação de peso, fadiga, e de
aparecimento insidioso geralmente nos membros superiores e inferiores, região lombar, cervical e
torácica. Freqüentemente são causa de incapacidade laboral temporária ou permanente. São
resultado da superutilização das estruturas anatômicas do sistema músculo-esquelético sem o
devido tempo para a sua recuperação (OLIVEIRA, 2001).
A primeira doença descrita na literatura associada às atividades repetitivas foi a
tenossinovite, caracterizando-se pela restrição ao livre movimento de um tendão devido a uma
inflamação deste ou de sua bainha. Em 1891, Fritz De Quervain descreveu a doença como
entorse das lavadeiras, devido ao fato de ter encontrado mulheres que lavavam roupa, que
apresentavam desgaste sobre os tendões e os músculos adutor longo e extensor curto do polegar
ARAÚJO; LIMA; LIMA, 1998).
Em março de 1993 o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) elaborou a Norma
Técnica que dispõe sobre procedimentos de avaliação de incapacidade de trabalhadores afastados
do trabalho, para orientação a médicos e peritos. Posteriormente, ocorreu uma revisão e em 19 de
agosto de 1998 foi publicada no Diário Oficial da União a Nova Norma Técnica de Avaliação de
Incapacidade para fins de Benefícios Previdenciários, substituindo o termo LER por DORT. A
Norma Técnica incluiu novos diagnósticos, como a síndrome miofascial e as fibromialgias,
porém, apresenta dificuldades para o diagnóstico precoce dificultando a caracterização do nexo
causal (BRASIL, 2000).
Para a ocorrência das DORTs, não existe causa única e determinada, pois são vários os
fatores existentes no trabalho que podem estar relacionado à sua gênese como por exemplo a
repetitividade de movimentos, manutenção de posturas inadequadas por tempo prolongado,
esforço físico, invariabilidade de tarefas, pressão mecânica sobre determinadas partes do corpo,
mais precisamente os membros superiores, trabalho estático, frio, fatores organizacionais e
psicossociais (BRASIL, 2000).
32
Neste sentido estas doenças podem manifestar diferentes quadros clínicos, com diferentes
sinais e sintomas apresentados conforme a atividade desempenhada. Algumas manifestações mais
comuns são as tenossinovite, tendinite, epicondilite, bursite, síndrome do túnel do carpo. Existem
outras manifestações de DORT cujo fator desencadeante é o estresse emocional que pode ser
causado pelo trabalho ou mesmo pelo afastamento do trabalho como a Síndrome Álgica
Miofascial, que é decorrente de uma prática de atividades extenuantes ou como subproduto de
tensão psicológica, angústia ou ansiedade. Nas Distrofias Simpático-Reflexas a dor sentida é
contínua e se exacerba com o estresse emocional (OLIVEIRA, 2001). A autora salienta que as
queixas, sinais e sintomas mais comuns entre os trabalhadores com DORT, são a dor localizada,
irradiada ou generalizada, desconforto, fadiga, sensação de peso, formigamento, parestesia,
sensação de diminuição de força, edema, enrijecimento articular, choque, falta de firmeza nas
mãos, sudorese excessiva, alodínea (sensação de dor como resposta a estímulos não nocivos em
pele normal). As queixas geralmente se apresentam em diferentes graus de severidade, podendo
ser caracterizadas em relação ao tempo de duração, localização, intensidade, entre outros
aspectos.
Inicialmente os sintomas se apresentam de forma insidiosa nos momentos de picos de
produção ou ao final da jornada de trabalho. Com o decorrer do tempo, se tornam mais
freqüentes, inclusive no início da jornada de trabalho e em atividades extra laborativas do
trabalhador. Neste momento, as pessoas procuram atendimento médico devido às implicações no
desempenho de suas capacidades funcionais. É constante nestes casos, o tratamento baseado em
antiinflamatórios e sessões de fisioterapia, que somente vão dissimular os sintomas, sem atingir
os seus fatores desencadeantes, ocasionando a progressão do quadro clínico com crises de dor
intensa, geralmente desencadeadas por movimentos bruscos, pequenos esforços físicos,
alternância de temperatura, insatisfação e tensão (OLIVEIRA, 2001).
Faz-se necessário uma abordagem mais aprofundada com equipe multidisciplinar e, como
em qualquer caso clínico, outros sintomas ou doenças devem ser investigados, tendo em vista a
possibilidade de terem influência na determinação ou agravamento do caso. Traumas, diabetes
mellitus, artrite reumatóide, gravidez podem causar ou agravar sintomas do sistema músculo-
esquelético e do sistema nervosa periférico. Na anamnese ocupacional, além de ser elaborada a
história clínica, é imprescindível saber onde e como o trabalhador desenvolve seu trabalho, rotina
de atividades, duração e jornada de trabalho, existência de pausa, execução e freqüência de
33
movimentos repetitivos, sobrecarga estática, forma de pressão das chefias, mudanças no ritmo,
insatisfação, ruído excessivo, mobiliário inadequado, desconforto térmico, enfim, vários fatores
predisponentes para o surgimento das DORTs (FRIAS JUNIOR, 1999).
Não existem evidências na literatura acerca da relevância das tarefas domésticas como uso
de computador em casa, ato de dirigir, tricotar, carregamento de sacolas entre outras como
desencadeantes de quadros de DORT, porém existem estudos que associam a ocorrência de
doenças músculo-esqueléticas com a exposição de fatores de risco no trabalho (OLIVEIRA,
2001).
O estresse e suas características
Atualmente, o termo estresse tem sido amplamente utilizado, não apenas em pesquisas
científicas, mas, também, pelos diferentes meios de comunicação e tem ocupado lugar de
destaque pela sua importância na vida das pessoas, principalmente quando está associado a algum
desconforto físico e psicológico.
Estresse tem origem na física para designar forças que atuam sobre determinada
resistência, representando a carga que um material pode suportar antes de romper-se. A palavra
estresse vem do inglês, stress. Na área da saúde passou a ser utilizado no início do século XX,
sendo o primeiro pesquisador em estresse o médico austríaco Hans Selye, considerado o líder
nesta linha de pesquisa nas décadas de 20 e 30. Em sua primeira publicação, empregou a palavra
estresse como forma de caracterizar as reações do corpo, sugerindo a designação de reação de
alarme às respostas iniciais do organismo. Em 1956, publicou o livro The stress of life, que
explicava o mecanismo bioquímico do estresse (GUIDO, 2003).
Considerado o primeiro pesquisador que demonstrou as etapas do estresse biológico,
Selye exprime um significado para o estresse como esforço de adaptação do organismo para
enfrentar situações que considera ameaçadoras a sua vida e ao seu equilíbrio. Descreveu a
síndrome geral de adaptação (SGA) ou do estresse biológico como um conjunto de sintomas que
o indivíduo apresenta quando é submetido a situações que exijam uma importante adaptação do
organismo para enfrentá-las, podendo ocorrer através de estímulos internos ou psicoemocionais e
estímulos externos ou meio socioeconômico, inclusive o trabalho. O estresse é um processo de
34
adaptação normal do indivíduo, entretanto, quando a resposta é patológica, registra-se uma
disfunção que leva aos distúrbios transitórios ou doenças graves, ou ainda ao agravamento
daquelas já existentes (GUIDO, 2003; BRITTO, 2006).
Estudos demonstram que o estresse possui três fases, uma inicial, que é a chamada de
reação de alarme, a segunda, da resistência e a terceira, da exaustão. Todas são comandadas pelo
sistema nervoso autônomo, via sistema límbico e pelo sistema nervoso central, via hipotálamo (
CHRISTOPHORO; WAIDMAN, 2002; ALMEIDA, 2005).
A fase de alarme corresponde à resposta inicial do organismo ante um estressor e ocorre
quando o organismo se prepara para as reações de luta ou fuga, ou seja, no momento em que o
estressor é percebido pela pessoa. Nesta fase, tanto pode ocorrer a eliminação do estressor quanto
a adaptação do organismo a ele. A reação de alarme representa para o indivíduo um desgaste e,
conseqüentemente, uma alteração da capacidade de manter constância no bem-estar e equilíbrio
do organismo, o que pode ser recuperado pela eliminação do estressor ou com a adaptação do
organismo a ele. Os principais sintomas que caracterizam a reação de alarme são a taquicardia,
sudorese, cefaléia, alterações da pressão arterial, irritabilidade, fadiga, tensão muscular, sensação
de esgotamento e alterações gastrointestinais (GUIDO, 2003; CHRISTOPHORO; WAIDMAN,
2002; ALMEIDA, 2005).
A segunda fase é a de resistência, ou seja, o estresse continua presente por períodos
prolongados ou quando a sua dimensão é muito grande e é aí que predomina o desgaste, porque a
pessoa tenta instintivamente se adaptar ao que está passando através de reservas de energia
adaptativa que possui. As repercussões mais evidentes estão nos sistemas fisiológicos,
psicológico e social, que fazem com que o indivíduo se mantenha em estado de alerta. Pela
resistência ao estressor, torna-se difícil o retorno da homeostase, ou seja, a capacidade de o
indivíduo manter constância de bem-estar e equilíbrio do organismo. Alguns dos sintomas que
caracterizam a fase de resistência são a ansiedade, o nervosismo, o medo, a impotência sexual, a
falta ou excesso de apetite e o isolamento social. (GUIDO, 2003; CHRISTOPHORO;
WAIDMAN, 2002; ALMEIDA, 2005).
A terceira é a exaustão, quando o organismo chega a seu limite, ao esgotamento e está
associada a uma série de doenças. Ocorre quando há continuidade do estressor e não acontece
mais a adaptação do organismo. Este apresenta sinais de deterioração, há uma queda na
35
imunidade e é quando surgem doenças, tais como as cardíacas, respiratórias, gastrointestinais,
perda dos dentes, envelhecimento, depressão, desequilíbrio total do indivíduo, podendo culminar
com a sua morte. Estas fases não ocorrem de forma delimitada, visto que a simultaneidade e a
rapidez evolutiva são suas características. (GUIDO, 2003; CHRISTOPHORO; WAIDMAN,
2002; ALMEIDA, 2005).
Em 1975, Selye publicou outro livro denominado ”Stress without distress“, no qual
reconhece a importância da avaliação psicológica no mecanismo de regulação orgânica, diante da
multiplicidade de fatores a que o organismo está exposto. Introduziu na literatura os termos
eutress e distress, para estabelecer a diferença entre o estresse bom ou benéfico (eutress) e o
ruim, que causa reações adversas físicas e emocionais (distress) (ALMEIDA, 2005; GUIDO,
2003 ).
O eutress tem efeito positivo que se pode demonstrar quando se está em alerta, a
concentração é melhor, os reflexos são mais rápidos, pensa-se mais depressa e, dependendo das
condições do ambiente, pode-se ser mais criativo e produtivo. O distress tem efeito negativo,
processa-se quando se reage por um tempo prolongado ao agente estressor, sentindo, quando
esgotado, a capacidade de atenção e a concentração diminuídas, havendo um esforço maior para
manter a produtividade. Se o agente estressor continuar agindo e a situação não for resolvida, o
corpo, ainda que cansado, continua reagindo e consumindo energia, ocasionando as doenças.
Estressse é, portanto, a conseqüência natural das experiências vivenciadas, tanto agradáveis,
quanto desagradáveis (ALMEIDA, 2005; GUIDO, 2003 ).
Acredita-se que, nos seres humanos, o grande determinante do potencial nocivo do
estresse é um estado interior de insatisfação consigo mesmo e com a vida. O estresse pode
provocar uma reação nos denominados orgãos de choque, como os intestinos, o estômago, as
artérias e o coração. Com a repetição das situações estressantes ao longo da vida, a pessoa poderá
apresentar gastrites, úlceras, mal funcionamento do intestino, hipertensão e infarto do miocárdio
(BECK; STEKEL; GONZALEZ; DONADUZZI, 2006).
Outro fator importante a ressaltar é que existem duas fontes de estresse: as fontes internas
e as fontes externas. As fontes internas compreendem agentes estressores que vêm do interior,
como pensamentos, crenças, valores, características pessoais, comportamento, ansiedade,
vulnerabilidade e modo de ver o mundo. As fontes externas vêm de fora do indivíduo, como os
36
acontecimentos da vida, nascer e morrer, sonho realizado, ou qualquer situação que possa
interferir no seu corpo e na sua mente (GUIDO, 2003).
A preocupação em estabelecer a articulação entre estresse e trabalho data da Revolução
Industrial, e o foco concentrava-se na atribuição de causas de doenças à exposição do organismo
aos agentes físicos, químicos ou biológicos. Para Dejours (1992), o sofrimento dos trabalhadores
pode ser expresso através da insatisfação e da ansiedade. A satisfação ou insatisfação do
trabalhador podem estar vinculadas às condições de trabalho, ambiente físico, químico e
biológico, condições de higiene e de segurança e a organização do trabalho, divisão do trabalho,
das tarefas, as relações de poder, as questões de responsabilidade, a habilidade para cuidar de
pacientes graves e o relacionamento entre pessoas.
Atualmente, estresse é empregado como sinônimo de cansaço, dificuldade, frustração,
ansiedade, desamparo, desmotivação. Tornou-se o responsável pela maioria dos males que nos
afligem, principalmente os relacionados ao estilo de vida urbano atual. Com a disseminação
progressiva do conceito de estresse no discurso popular, ele passou a ser utilizado como uma
ação resultante de uma força invisível e difusa que agiria como intermediária entre o indivíduo e
o meio ambiente em que vive e trabalha (MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005).
Para Stacciarini e Tróccoli (2001), a palavra estresse tem sido associada às sensações de
desconforto, sendo cada vez maior o número de pessoas que se definem como estressadas ou a
relacionam a outros indivíduos na mesma situação. O estresse é quase sempre visualizado como
algo negativo que ocasiona prejuízo no desempenho global do indivíduo. Estressor é uma
situação ou experiência que gera sentimentos de tensão, ansiedade, medo, ou ameaça que pode
ser de origem interna ou externa.
O Health Education Authority classifica a enfermagem como a quarta profissão mais
estressante que tenta afirmar-se profissionalmente de forma a alcançar maior reconhecimento
social (MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005; STACCIARINI; TRÓCCOLI, 2001).
A enfermagem é uma profissão estressante devido à sobrecarga de trabalho, necessidade
de contato intenso próximo ao paciente e conflitos do trabalho, porém, os fatores estressantes
mais freqüentes são o contato constante com o sofrimento humano, a proximidade da morte,
procedimentos com os familiares, grandes responsabilidades e conflitos interpessoais. Cabe ao
profissional de enfermagem cuidar de indivíduos adoecidos e promover o seu bem-estar geral.
37
Neste contexto, o envolvimento acaba sendo muito intenso a ponto de os profissionais não
identificarem suas próprias vulnerabilidades, ou quando o fazem, deixam-nas de lado, tornando-
se, com isso, mais expostos aos efeitos negativos do estresse. O trabalho com paciente
oncológico gera inúmeras emoções e, diante delas, o trabalhador de enfermagem recorre a
algumas estratégias para se proteger da ansiedade que essas emoções suscitam (POPIM, 2001;
BRITTO, 2006).
No atendimento ao paciente com câncer, há a necessidade de cuidados especiais, pois
exige intervenções mais complexas, levando os profissionais de enfermagem a um processo de
trabalho diferenciado diante de situações inesperadas e críticas que fazem parte do dia-a-dia,
causando, nos trabalhadores, manifestações de ansiedade e estresse (MEIRELLES; ZEITOUNE,
2003).
Absenteísmo X Afastamento
O absenteísmo tem-se tornado problema crucial tanto para as organizações como para os
administradores. Suas causas estão ligadas a múltiplos fatores, tornando-o complexo e de difícil
gerenciamento. Absenteísmo laboral é o termo utilizado na literatura para, genericamente, indicar
o não comparecimento inesperado ao trabalho quando se espera que ele estivesse presente, em
especial, aquele de caráter repetitivo. Para Miguez e Bomami (1988), além da ausência física, o
termo absenteísmo contempla um conjunto de comportamentos de ausência. Isto porque o
trabalhador pode estar presente no posto de trabalho, mas improdutivo, ou ainda que presente no
ambiente de trabalho, não estar em seu posto de trabalho.
Também, Midorikawa (2000) aponta esses dois tipos de absenteísmo, aquele decorrente
da falta ao trabalho e aquele de corpo presente, em que algum problema de saúde não permite que
o trabalhador apresente um melhor desempenho e seja produtivo. Pela ótica administrativa, o
comparecimento ao trabalho é condição imprescindível para a eficácia de uma organização.
As faltas imprevistas fazem com que as empresas se ressintam da carência de mão-de-
obra suficiente para manter a produção ou o serviço e, muitas vezes, se vêem obrigadas a
contornar a situação, substituindo o ausente por outro funcionário não necessariamente preparado
para desempenhar aquela função, resultando no decréscimo da produtividade, na queda de
38
qualidade, além de exercer um efeito negativo sobre os demais trabalhadores por gerar
sobrecarga de trabalho (SOUZA, 2002).
Para Graça (2000), pior para a produtividade que o absenteísmo é o presentismo. Pessoas
que embora estejam no trabalho, têm problemas de saúde ou outros problemas que não lhes
permitem ser completamente funcionais. Como sabemos, pior do que não fazer é fazer mal.
O presentismo é um conceito utilizado para explicar o fato das pessoas estarem presentes
no local de trabalho, mas, devido a problemas de ordem física ou psicológica, não conseguirem
cumprir na totalidade as suas funções (MARTINEZ et al, 2007). Os autores alertam para a
possibilidade de poder haver uma evolução gradual das doenças para processos de presentismo
que inibem o desempenho organizacional associado à perda de produtividade que afetam o
rendimento global das empresas e acarretam implicações econômicas negativas. São várias as
profissões abrangidas pelo presentismo, sendo que as taxas mais elevadas parecem residir em
setores relacionados com a saúde e educação. O presentismo também é determinado pela cultura
organizacional, em especial no que diz respeito ao papel simbólico da presença no local de
trabalho.
Entre as principais causas geradoras do presentismo, estão os problemas psicológicos, as
doenças músculo-esqueléticas e a utilização de fármacos como anti-histaminicos e
benzodiazepinas que tem impacto na produtividade laboral tanto em termos quantitativos de
trabalho, quando a produção não corresponde àquilo que é esperado, como também em termos de
qualidade do trabalho produzido, refletindo-se, essencialmente, em erros e omissões nos
procedimentos. A quebra da produtividade traduz-se assim na incapacidade de desempenhar as
tarefas de rotina podendo resultar em elevadas taxas de abandono por doença (MARTINEZ et al,
2007).
Segundo Chiavenatto (1989), as principais causas de absenteísmo são as doenças
efetivamente comprovadas, as doenças não comprovadas, as razões diversas de caráter familiar e
as faltas voluntárias por motivos pessoais.
Na enfermagem, esse fenômeno vem preocupando os gerentes, uma vez que faltas
freqüentes ao trabalho repercutem no quantitativo de recursos humanos, refletindo na qualidade
da assistência prestada à clientela. Além disso, o absenteísmo constitui-se em variável relevante
quando se trata de dimensionar quadro de pessoal para os serviços. As razões que acarretam o
39
absenteísmo em larga escala são as longas jornadas de trabalho, as condições de insalubridade do
ambiente de trabalho, a baixa remuneração, o duplo emprego e a tensão emocional
(NASCIMENTO, 2003).
O estado fisiológico e psicológico dos trabalhadores é importante não somente em termos
de responsabilidade social das organizações, mas também em termos da sua competitividade,
pois, o absenteísmo laboral decorrente de problemas de saúde acarreta conseqüências econômicas
e sociais, pois além do ônus econômico-administrativo direto absorvido pela empresa e pelo
empregado, incrementa os gastos do sistema de previdência social, que responde pelo pagamento
dos benefícios pela incapacidade temporária por doença ou acidente de trabalho. Compreende-se
absenteísmo por motivo de saúde e absenteísmo-doença como episódios distintos. Absenteísmo
por motivo de saúde seriam as ausências por problemas de saúde próprios ou de dependentes –
como a procura pelo diagnóstico, assistência, terapia e acompanhamento – e, como tal,
caracterizariam uma condição potencialmente questionável no tocante à necessidade de
interromper o exercício laboral. No caso do absenteísmo-doença, a ausência seria devido à falta
de capacidade para exercer as atividades de trabalho em razão de doença ou lesão acidental,
configurando uma condição justa e necessária e, portanto, inquestionável (CASTEJÓN, 2002).
Riscos ocupacionais em Enfermagem
Riscos ocupacionais são certos fatores que podem estar presentes nos componentes de um
processo de trabalho (materiais, instalações, espaço físico, operações, máquinas, ferramentas,
métodos de trabalho) e/ou na forma de organização do trabalho (espacial, temporal) capazes de
gerar acidentes, doenças e outros agravos à saúde do trabalhador (MATTOS, 1997).
Trabalhadores de hospitais estão submetidos a diversas situações de risco e,
conseqüentemente, podem adoecer ou acidentar-se em decorrência das condições em que esse
trabalho ocorre e da sua maior ou menor aproximação aos agentes propiciadores de tais riscos.
No setor saúde existem ambientes físicos e emocionais inadequados. O ambiente de trabalho
hospitalar tem sido considerado insalubre, por agrupar pacientes portadores de diversas
enfermidades infectocontagiosas e viabilizar muitos procedimentos que oferecem riscos de
40
acidentes e doenças para os trabalhadores de saúde (PORTO; FREITAS, 1997; REIS et al,
2003).
Considera-se acidente de trabalho quando existe uma colisão repentina e involuntária
entre pessoa e objeto, a qual ocasiona danos corporais (lesões, morte) e/ou danos materiais. Por
ser repentino, o acidente se diferencia da doença ocupacional adquirida em longo prazo
(NISHIDE; BENATTI; ALEXANDRE, 2004).
Algumas dificuldades de compreensão acerca dos riscos ocupacionais, como também a
dificuldade de aceitação em cumprir certas medidas de segurança, permanecem marcantes, ainda
hoje, nos trabalhadores de enfermagem, possivelmente devido à falta de formação e
conhecimentos sobre tais riscos, bem como uma questão ideológica de que o importante é cuidar
do outro com o máximo de competência e dedicação, procurar salvar-lhe a vida, minimizar-lhe as
dores, ouvir suas queixas, confortá-lo, não sendo dada muita importância ao aumento da carga
horária laboral, ao cansaço, às condições inapropriadas para se trabalhar, a falta de horário para
alimentação, sono/repouso, lazer, entre outros problemas (REZENDE, 2003).
Em estudo realizado por Oliveira (2001) para verificar o conhecimento dos trabalhadores
de saúde hospitalar no desenvolvimento de suas atividades, constatou-se que eles conhecem os
riscos de forma genérica e que esse conhecimento não se transforma numa ação segura de
prevenção de acidentes e doenças ocupacionais, apontando para a necessidade de uma ação que
venha modificar essa situação.
Haag, Lopes e Schuck (2001) referem que, atualmente, apesar de os trabalhadores estarem
mais conscientes dos prejuízos a sua saúde ocasionados pelas más condições de trabalho, a
política de transformação do fator nocivo em complemento salarial, como a insalubridade e
periculosidade, ainda freia as reivindicações e a efetividade das medidas de proteção.
Lopes, Espíndola e Martins (1996) afirmam que a equipe de enfermagem deve modificar
sua atitude frente ao trabalho, conscientizando-se acerca dos riscos ocupacionais nos locais onde
exercem atividades, em especial nos estabelecimentos de saúde, pois existe um descaso com a
saúde do trabalhador de enfermagem nos mesmos locais que prezam o bem-estar mental e físico
do paciente.
A equipe de enfermagem é uma das principais categorias ocupacionais sujeitas à
exposição aos riscos ocupacionais. Esse número elevado relaciona-se ao fato de os trabalhadores
41
da saúde terem contato direto na assistência aos pacientes e, também, ao tipo e à freqüência de
procedimentos realizados. No ambiente hospitalar, as enfermidades causadas por agentes
biológicos são prevalentes, seguidas pelas provenientes de causas ergonômicas que atingem mais
os trabalhadores ligados diretamente ao paciente, como a equipe de enfermagem (LOPES;
MOROMIZATO; VEIGA, 1999).
A palavra risco vem do latim riscus, significando perigo, inconveniente, dano eventual
provável e até previsível. No final do século IX, Ramazzini estabeleceu a relação de doença-
trabalho em mais de cem profissões, destacando que, no ambiente de trabalho, o risco pode ser ou
estar oculto, por desconhecimento ou falta de informação do trabalhador, ou latente, só se
manifestando e causando danos em situação de emergência ou estresse; o trabalhador sabe que
está correndo riscos, mas as condições de trabalho o forçam a isso. Também, o risco pode ser
real, conhecido de todos, mas sem possibilidade de controle, quer por inexistência de solução
para tal, quer pelos altos custos exigidos, quer, ainda, por falta de vontade política (BULHÕES,
1998).
Facchini (1994) definiu risco como o grau de probabilidade de ocorrência de um
determinado evento. Este conceito de risco diz respeito à identificação dos possíveis agentes
capazes de interferir na saúde da população, numa abordagem probabilística. O conceito de carga
de trabalho estrutura-se para estudar os impactos dos elementos que constituem o processo de
trabalho, sob a ótica do objeto, da tecnologia, da sua organização e divisão, consumindo a força
de trabalho e as capacidades vitais do trabalhador.
Laurell e Noriega (1989), ao sistematizarem a relação trabalho-saúde, conceituam as
cargas de trabalho, entendendo que estas abarcam os riscos ocupacionais, segundo a
materialidade que assumem em relação ao corpo do trabalhador. Assim, as cargas podem ser de
materialidade externa, quando independem do corpo do trabalhador, ou de materialidade interna,
quando só podem ser identificadas através do corpo do trabalhador. As autoras discorreram que
as cargas são mediações entre o processo de trabalho e o desgaste operário e podem ser
classificadas em físicas, químicas, orgânicas, mecânicas, fisiológicas e psíquicas.
Sendo assim, risco ocupacional é toda a situação encontrada no ambiente de trabalho, que
representa perigo à integridade física e/ou mental dos trabalhadores, ou seja, todos os fatores
ambientais que podem ocasionar lesão, doença ou inaptidão ou afetar o bem-estar dos
42
trabalhadores. Alguns autores chamam de “agentes que dão origem às doenças no trabalho”.
Dessa forma, as substâncias químicas tóxicas, as poeiras, o ruído, a vibração, o calor ou o frio
excessivo, as radiações, os microorganismos, as posturas viciosas do trabalho, a tensão, os
movimentos repetitivos e a monotonia que acontece em decorrência do trabalho são considerados
riscos ocupacionais (BULHÕES, 1998; BURGUESS, 1997).
Destacando-se a evolução histórica da concepção de riscos ocupacionais, a Organização
Mundial de Saúde (OMS) (1977) classificou-os em biológicos, físicos, químicos, ergonômicos e
psicossociais.
A Norma Regulamentadora 15 (NR 15), elaborada e divulgada pelo Ministério do
Trabalho e Emprego, estabelece que esses riscos constituem-se em todas as situações que podem
trazer ou ocasionar danos à saúde do trabalhador no ambiente de trabalho, podendo trazer
conseqüências em curto, médio e longo prazo, isto é, provocarem vários tipos de seqüelas, desde
as imediatas, denominadas agudas, até as tardias, chamadas de crônicas (BRASIL, 1978).
Segundo Stacciarini e Tróccoli (2001), os fatores nocivos do ambiente são as condições
físicas, organizacionais, administrativas ou técnicas existentes nos locais de trabalho, que
propiciam a ocorrência de acidentes do trabalho e adoecimento do trabalhador. A exposição aos
agentes pode ser adequadamente controlada, porém muitas vezes é considerada supérflua, pois
implica gastos. Para efeito da NR-9, consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos
e biológicos existentes nos ambientes de trabalho e capazes de causar danos à saúde do
trabalhador em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição,
conforme descrito no quadro 1.
Tipos de risco Fatores causais
Físico Ruídos, vibração, iluminação, umidade, radiações ionizantes e não
ionizantes, temperaturas anormais, pressões anormais.
Químico Névoas, neblina, poeiras, fumos, gases , vapores.
Biológico Bactérias, fungos, helmintos, protozoários, vírus, bacilos.
Quadro 1. Fatores ambientais de risco à saúde do trabalhador.
Fonte: Portaria Mtb-NR-9
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Consideram-se, ainda, como riscos ambientais, para efeito das NR, os agentes mecânicos
e outras condições de insegurança existentes nos locais de trabalho, capazes de provocar lesões à
integridade física do trabalhador (BRASIL, 1978).
De acordo com Laurel e Noriega (1989), este tipo de classificação limita-se a duas
vertentes que são a da atenção médica e a dos riscos de trabalho, hoje conhecido como Modelo
Médico, que coloca a doença como o resultado da ação de agentes específicos, os riscos, e sua
solução na ação curativa. Como resultado, esta visão vela o complexo entendimento da relação
entre processo de trabalho e saúde, pois uma parte é colocada fora do trabalho, como doença
geral ou natural. A outra, reconhecida como do trabalho, se restringe aos riscos físicos, químicos,
biológicos e mecânicos.
As enfermidades causadas por agentes biológicos podem ser evitadas, desde que sejam
seguidas as normas de precaução e de isolamento. Porém, os fatores nocivos ergonômicos são
mais difíceis de serem evitados devido às condições de trabalho, tanto ambientais como
relacionais, as quais são submetidas à equipe de enfermagem que trabalha sempre com uma
escala quantitativa mínima de pessoal. A redução do quadro de pessoal aumenta o nível de
estresse dos profissionais de enfermagem, impossibilitados de prestarem um bom atendimento
aos pacientes (STACCIARINI; TRÓCCOLI, 2001).
A palavra ergonomia é oriunda do grego, significando ergon = trabalho e nomos = lei,
regra. O termo Ergonomia foi adotado nos principais países europeus - em 1959, em Oxford,
fundou-se a Associação Internacional de Ergonomia (IEA – International Ergonomics
Association) - e foi, em 1961, que esta associação realizou o seu primeiro congresso em
Estocolmo, na Suécia. Nos Estados Unidos, foi criada a Human Factors Society, em 1957, e, até
hoje, o termo mais freqüente naquele país continua a ser Human Factors (Fatores Humanos),
embora ergonomia já seja aceita como sinônimo. Ergonomia é compreendida como a adaptação
do trabalho ao homem, em particular no que concerne à concepção de postos de trabalho, assim
como as escolhas de equipamentos e métodos de execução de tarefas, em especial quando
monótonas e cadenciais, para reduzir o efeito nocivo na saúde (FARIAS, 1999; IEA, 2006).
No Brasil, a NR-17 trata especificamente da Ergonomia como instrumento de controle
das condições de trabalho, tendo como principal objetivo o estabelecimento de parâmetros que
permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos
44
trabalhadores, proporcionando um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.
Essas condições incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de
materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho, e a
própria organização do trabalho (BRASIL, 1978).
A responsabilidade da equipe de enfermagem por cuidados integrais e o número reduzido
de profissionais aumentam a carga física, psíquica e emocional, num ambiente em que a
convivência com o sofrimento e a finitude é constante. Podemos citar ainda os deslocamentos, as
freqüentes idas e vindas na execução de procedimentos, manuseios de materiais pesados
causando danos ao sistema músculo esquelético, longos períodos em posturas incorretas pela
inadequação do mobiliário que, geralmente, não corresponde às medidas antropométricas dos
trabalhadores, a organização do trabalho caracterizado por freqüentes interrupções para a busca e
procura de material ou de informações, a implementação freqüente de novas tecnologias sem o
devido treinamento, causando ansiedade e inadaptações, acrescidos e agravados por fatores
externos como a crescente problemática do trajeto do profissional entre a residência e o local de
trabalho (CARVÃO; MAURO; VIDAL; MAURO , 2006).
Mauro (1991) destaca que os riscos ocupacionais devem ser controlados, caso contrário,
geram as doenças profissionais e os acidentes de trabalho, referindo, como principais pré-
requisitos do controle desses riscos, a promoção de um meio ambiente de trabalho adequado,
conhecimento dos trabalhadores dos riscos à saúde, observação constante dos postos de trabalho,
dentre outros. Menciona a atuação do Ministério do Trabalho e o fomento das Normas
Regulamentadoras (NR), que visam ao controle dos riscos ocupacionais.
É importante ressaltar que os acidentes de trabalho decorrentes da exposição a materiais
biológicos, tão freqüentes no cotidiano das unidades hospitalares, constituem preocupação de
todos os profissionais expostos aos fatores de risco decorrentes do contato direto ou indireto com
sangue e outros fluidos corporais. A NR6 regulamenta o uso dos Equipamentos de Proteção
Individual (EPIs), destinados a proteger a saúde e a integridade física do trabalhador no local de
trabalho (BRASIL, 1978; MAURO, 1991).
Muitos pesquisadores têm enfatizado o sofrimento psíquico advindo do trabalho
hospitalar. Entre eles está Pitta (1994), destacando que os hospitais têm sido espaços de
concentração de trabalhadores de diversas áreas, desde médicos, enfermeiros, auxiliares de
45
enfermagem, operadores de máquinas, entre muitos outros, que se inter-relacionam com os
usuários dos serviços, num ambiente permeado de dor e sofrimento.
Conceitos acerca da concepção de saúde, discutidos na 8ª Conferência Nacional de Saúde,
realizada em Brasília, entre 17 e 21 de março de 1986, ajudaram a definir que saúde é resultante
das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte,
emprego, lazer/liberdade, acesso/posse de terra e acesso aos serviços de saúde. É assim, antes de
tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar
desigualdades nos níveis de vida (BRASIL, 1986).
A preocupação com as condições ocupacionais na enfermagem é descrita por vários
autores que pesquisam trabalho e fatores que influenciam a saúde do trabalhador. Mauro et al
(1976), pioneiras no Brasil em utilizar princípios ergonômicos para estudar o trabalho de
enfermagem, ao pesquisarem os aspectos ergonômicos que influenciam o estabelecimento de
fadiga em enfermeiros, analisaram pontos relacionados à carga de trabalho tais como o acúmulo
de atividades, condições inadequadas de trabalho, falta de higiene mental, dentre outros. Marziale
e Carvalho (1998) corroboram com Mauro et al (1976), quando referem que as condições de
trabalho e os riscos ocupacionais podem ser estudados por diferentes abordagens, dentre elas a
ergonomia.
A ergonomia deve promover uma abordagem holística do trabalho, considerando aspectos
de origem física, cognitiva, social, organizacional e ambiental. Assim, o conselho da
International Ergonomics Association (IEA, 2006) a definiu como uma disciplina científica que
trata da compreensão das interações entre os seres humanos e os outros elementos de um sistema,
estabelecendo os domínios da área como ergonomia física, cognitiva e organizacional.
Ergonomia física aplica-se às características da anatomia humana, antropometria,
fisiologia e biomecânica em relação à atividade física, incluindo-se como tópicos relevantes a
postura laboral, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, distúrbios músculo-esqueléticos
em relação ao trabalho, projetos de postos de trabalho, segurança e saúde (IEA, 2006).
Ergonomia cognitiva relaciona-se aos processos mentais, como percepção, memória,
raciocínio, resposta motora, e os tópicos relevantes incluem carga mental de trabalho, tomada de
decisão, interação homem-máquina, estresse e treinamento, conforme esses se relacionam aos
projetos que envolvem seres humanos e sistemas (IEA, 2006).
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Ergonomia organizacional refere-se à otimização dos sistemas sociotécnicos, incluindo
suas estruturas organizacionais, políticas e processos. Os tópicos relevantes incluem
comunicação, gerenciamento de recursos, projeto de trabalho, organização temporal, trabalho em
grupo, projeto participativo, ergonomia comunitária e trabalho cooperativo, novos paradigmas do
trabalho, cultura organizacional, organização em rede (IEA, 2006).
O objetivo da ergonomia é assegurar satisfação, segurança e bem-estar dos trabalhadores
em relação ao trabalho, tarefa, equipamento, meio ambiente e comportamento entre
trabalhadores. O princípio geral da ergonomia diz que as máquinas e o ambiente de trabalho
devem ser adaptados e, devido às grandes diferenças existentes entre as pessoas, elas podem ser
adequadamente selecionadas, possibilitando modificações pelo treinamento (ROYAS;
MARZIALE , 2001).
O trabalho da enfermagem em oncologia
A enfermagem é uma das profissões da área da saúde cuja essência e especificidade é o
cuidado ao ser humano, individualmente, na família ou na comunidade, desenvolvendo atividades
de prevenção de doenças, promoção, recuperação e reabilitação da saúde, atuando em equipes.
Portanto, a enfermagem é considerada responsável pelo cuidado, pelo conforto, acolhimento e
bem-estar dos pacientes, seja prestando o cuidado, seja coordenando outros setores para a
prestação da assistência e promovendo a autonomia dos pacientes através da educação em saúde
(ROCHA; ALMEIDA, 2000).
Cuidar do ser humano, procurando encontrar caminhos e desenvolvendo potenciais para
que este ser humano funcione nos seus papéis e/ou possa abdicar dos seus papéis entregando-se
por livre escolha ou por força das circunstâncias ao controle de outrem, temporária ou
definitivamente, com dignidade e respeito, levando-o a sentir-se estimado e respeitado durante
todo o processo de viver, tudo isto é enfermagem (RADÜNZ, 1999).
Acredita-se que as dificuldades dos profissionais da área hospitalar na lida diária com o
sofrimento humano, se superlativam quando transportadas para os serviços de atendimento a
pacientes críticos ou com doença crônico-degenerativa que os obrigam a longos períodos de
internação ou a vários retornos ao ambulatório, como é o caso de pacientes oncológicos. Os
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profissionais que trabalham com esses pacientes estão expostos no cotidiano de seu trabalho a
situações geradoras de conflitos, a freqüentes perdas por morte, a pressões impostas pelo modelo
médico tradicional de responsabilidade em relação à cura e à longevidade, ao constante convívio
com doentes graves e com a tristeza dos familiares (FERREIRA,1996).
Popim (2001) lembra que, vivenciando a enfermagem em oncologia, por inúmeras vezes
sente-se absolutamente sem forças físicas, com a mente exausta, percebendo um estreitamento no
seu horizonte de possibilidades. Este sentimento leva a um grau de angústia existencial e como
pessoas que somos, nós, profissionais, também temos nossas crenças, nossos medos, nossas
experiências, nosso mundo – a vida, enfim; e o que de nós é requerido pelas pessoas doentes no
ato de cuidar é a disposição pessoal, num movimento de doação que vai para além de nosso
conhecimento técnico e científico. A autora diz, ainda, que gosta do que faz, trabalha em
condições favoráveis (ambientais e materiais), acredita no trabalho da enfermeira oncologista
junto ao doente, como membro efetivo da equipe, porém questiona-se sobre seu mal-estar,
perguntando-se porque, então, se sente assim. O que há de errado? O que está oculto, velado,
nesse cotidiano de trabalho?
No trabalho em si, o sofrimento está presente por ser um trabalho hospitalar e, na maioria
das vezes, desenvolve-se frente a situações críticas pelas quais passa o ser humano, como doença,
sofrimento e morte. Porém, por outro lado, ele é percebido como extremamente prazeroso quando
permite, durante o ato de cuidar, o contato direto com o doente, expressando-se numa relação de
ajuda para com os semelhantes. O prazer em ajudar tem suas origens na concepção da
enfermagem como uma profissão sublime, grandiosa e nobre (BARBOZA ; SOLER, 2003).
Quanto à organização do trabalho em enfermagem, Lunardi Filho (2000) afirma que essa
organização já se encontra determinada, prescrita, restando ao trabalhador realizar tarefas, o que
pode provocar sentimentos de apreensão, medo, angústia, raiva e impotência, que são elementos
do sofrimento no trabalho.
Pensa-se que o cliente oncológico é uma pessoa capaz, com seus valores, crenças e estilo
de vida, com potencialidade para desenvolver o autocuidado e retornar à vida produtiva,
independentemente de seus níveis socioeconômico e cultural, com direito à assistência de
qualidade e reabilitação, que devem ser oferecidas desde o momento da sua admissão na
instituição, além de envolver sua família e ter como meta sua independência.
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Radünz (1999) define o cliente oncológico e a enfermagem da seguinte forma: o cliente
oncológico é um ser humano com diagnóstico de câncer e que vem ao serviço de saúde por se
encontrar em uma das fases da trajetória da doença, para iniciar tratamento quimioterápico,
seguimento do protocolo de drogas, controle quando em remissão da doença, reinício do
protocolo de drogas, em caso de recidiva, aparecimento de metástases ou quando do diagnóstico
de outro câncer primário e acompanhamento final de vida. Quanto à enfermeira oncologista,
descreve a autora: é um ser humano possuidor de feeling especial para com os outros e com ela
mesma, com competência na área de enfermagem em oncologia, que cuida de si mesma e
profissionalmente dos outros, que procura despertar nos outros e nela mesma a capacidade que o
indivíduo tem para desempenhar os seus papéis e que desenvolve empatia ao interagir
terapeuticamente. Algumas exigências são feitas às enfermeiras que cuidam de clientes com
câncer, como conhecimento teórico sobre a doença e tratamento, habilidade prática e experiência
no cuidado a clientes com câncer, empatia e autoconhecimento.
Na concepção de Guedes e Nogueira (2004), a enfermeira oncologista é um membro da
equipe que reconhece a importância da abordagem integrada e holística no tratamento,
recuperação da saúde, prevenção de seqüelas e reabilitação dos portadores de câncer, de forma a
lhes proporcionar qualidade de vida e cumprir os preceitos do artigo 196 da Constituição Federal
e dos artigos 2º e 3º da Lei n
o
. 8080, que determinam a saúde como direito fundamental e
inalienável dos seres humanos, promovendo atendimento das necessidades dos portadores de
câncer, bem como de seus familiares, respeitando as características individuais, sociais e
culturais.
49
METODOLOGIA
Tipo de estudo
Trata-se de um estudo descritivo com abordagem quantitativa das causas de afastamentos
do trabalho por adoecimento em ambulatório de referência em oncologia. Polit, Beck e Hungler
(2004) referem que os estudos descritivos têm como finalidade observar, descrever e documentar
os aspectos de certa situação, que, neste estudo, tem como objeto a causa de afastamento do
trabalho motivada por doença. Também, referem que o interesse maior do investigador é a
descrição do fenômeno sem estabelecer uma conexão causal, mas buscando identificar sua
relação com as variáveis objetivas.
Os estudos descritivos são caracterizados pela necessidade de se explorar uma situação
não conhecida ou pouco elucidada, da qual se exige maiores informações quanto às
características, sua regularidade ou modos de mudança (LEOPARDI, 2002).
Campo do estudo
O estudo foi desenvolvido no serviço ambulatorial de uma instituição pública federal, de
referência em oncologia, localizada na região metropolitana do Rio de Janeiro, cuja clientela se
constitui de portadores de câncer. O serviço ambulatorial estudado fica distribuído entre o andar
térreo, isto é, no primeiro piso, segundo e sétimo andar do hospital e, também, em outro prédio
localizado nas suas proximidades. Abrange as especialidades de quimioterapia, radioterapia,
hemoterapia, medicina nuclear, radiodiagnóstico, endoscopia, biópsia, eletrocardiograma, clínica
médica, oncologia clínica, hematologia e as seções cirúrgicas de abdômen, urologia, tórax,
plástica reparadora, cabeça e pescoço, tecido ósseo conectivo, dermatologia, neurocirurgia,
clínica da dor, estomaterapia e odontologia.
População
A população-alvo do estudo constou dos trabalhadores de enfermagem que compõem a
equipe de saúde do espaço ambulatorial, campo deste estudo, cuja equipe de enfermagem é
composta por 64 (setenta e quatro) enfermeiros, 65 (sessenta e cinco) técnicos, 30 (trinta)
50
auxiliares de enfermagem e 04 (quatro) auxiliares operacionais de serviços diversos, constituindo
uma equipe de 163 (cento e sessenta e três) componentes.
Estes trabalhadores estão subordinados à Divisão de Enfermagem do Hospital do Câncer I
(organograma 1), criada pela Portaria Ministerial n
o
. 1.179 de 30/06/95 – MS e está diretamente
subordinada ao diretor deste hospital e tem como missão assegurar a assistência de enfermagem
para o controle do câncer e, também, planejar, coordenar e supervisionar os serviços de
enfermagem e os recursos materiais e equipamentos necessários à assistência ao cliente
oncológico.
Chefia da
Divisão de Enferm agem do HC I
Divio de Enfermagem do HC I
Área de Enferm agem em Educação Continuada
Área de Enferm agem em Supervisão G eral
Serviço de Enf. em Procedim entos Externos
Serviço de Enferm agem Hospitalar
Serv o de Enf. em C entro C irgico
Área de Enf. em C.M.E.
Á re a de E nf. em Centro C irúrgico
Am bulatorial (Biópsia/Endosc.)
Á re a de E nf. Am bulatorial Cirú rgica
A tiv id ad e E n f. em U ro lo g ia
Ativ. Enf. Em Abdomino-Pélvica
A tiv . E n f. e m T óra x
Ativ. Enf. em Neurocirurgia
Ativ. Enf. em C abeça e P escoço
Ativ. Enf. Em Plástica
Ativ. Enf. em TO C e Derm atologia
Ativ. E nf.Esto m a to,O do nto e P tese
Área de Enf. Amb. Clin/Diagnóstico
Atividade Enf. em H ematologia
Ativ. Enf. em O nc ologia
Ativ. Enf. em Am bulatório de Cateter
A tiv . E n f. e m C lín ic a M éd ica
Ativ. Enf. em R adiologia
Ativ. Enf. em M edicina Nuclear
Ativ. Enf. em H em oterapia
Área d e Enf. em Q uim ioterapia
Área d e Enf. em P ronto Atend. Intern o
Á re a de E nf. Clínic a
Ativ. Enf. em Hematologia Adulto
A tiv. E n f. em O nc o log ia C línica
A tiv . E n f. e m T O C
Área de Enf. Cirgica
A tiv. En f. em U rologia-Pstica
Ativ. Enf. em A bdom ino-P élvica
Ativ. Enf. em Tórax-Neurocirurgia
Ativ. Enf. em C ab a e Pesc o
Área de Enf. em Pediatria
Ativ. Enf. em Pediatria Clin.-C irúrgica
Ativ. Enf. em C TI P edtric o
Ativ. Enf. em H em atologia Infan til
Ativ. Enf. em Pediatria Am bulatorial
Área d e Enf. em R adioterapia
Área d e Enf. em T erapia Inten siva
Ativ. de Enf. em Cont.Infecção
Área de Enf. em Unidade Pós O peratória
Ativ. Enf. em Curativo
Organograma 1. Organograma da Divisão de Enfermagem do Hospital do Câncer I.
Fonte:Divisão de Enfermagem HCI/INCA
. Rio de Janeiro, 1995.
51
Critérios de inclusão
Para inclusão no estudo foi adotado, como critério de seleção, os funcionários que
prestam cuidados aos clientes adultos oncológicos no ambulatório, que estavam em plena
atividade no período da coleta de dados e que aceitassem participar da pesquisa, de forma
voluntária.
Critérios de exclusão
Os critérios de exclusão abrangeram os que estavam em gozo de férias ou licença premio,
em licença médica para tratamento de saúde, licença-maternidade, ou aqueles que se recusaram a
participar da pesquisa.
Coleta de dados
Os dados foram coletados durante o primeiro semestre de 2007, por meio de entrevistas
previamente agendadas, conforme conveniência de cada trabalhador e após consentimento livre e
pós-esclarecido. Assim, o trabalhador foi informado de como se conduziria a entrevista, qual a
melhor forma de conciliar suas atividades no ambulatório e a atenção dispensada ao entrevistador
no momento da entrevista. Para a realização das entrevistas, foram treinados dois estudantes de
enfermagem estranhos aos sujeitos da pesquisa. O segundo momento aconteceu conforme o
agendamento sugerido pelo trabalhador.
Para a coleta de dados foram utilizados dois instrumentos previamente elaborados:
Formulário 1 - para delineamento do perfil do trabalhador de Enfermagem (Apêndice 1),
contendo os seguintes dados: sexo, idade, categoria profissional, grau de escolaridade, tempo de
trabalho na instituição, tempo de trabalho no ambulatório, setor atual de trabalho, carga horária
semanal, jornada de trabalho, vínculo empregatício (estatutário, contrato pela Consolidação das
Leis do Trabalho), outros vínculos empregatícios em outras instituições, tempo gasto no
deslocamento para chegar ao local de trabalho.
Formulário 2 - para levantamento dos problemas de saúde-doença (Apêndice 2) – através deste
52
instrumento foram coletados os dados referentes à situação de saúde-doença do trabalhador:
doença manifestada após o ingresso na instituição, tratamentos de saúde realizados, realização de
exames periódicos de saúde, necessidade de licença médica por motivo de doença, tempo de
afastamento por licença médica, motivo do afastamento, se no entendimento do trabalhador o
problema de saúde tem relação com o trabalho que desenvolve, como se sente ao vir para o
trabalho (mental e fisicamente), como se sente ao final do expediente (mental e fisicamente), se
algo no setor de trabalho causa desconforto no trabalhador.
Método de análise estatística
A fim de permitir ao pesquisador descrever e resumir os dados a proporções controláveis,
a análise estatística descritiva foi empregada no estudo. As técnicas estatísticas empregam
medidas de tendência central como média e mediana, que descrevem o elemento médio, medidas
de variabilidade como o desvio-padrão, que medem quanta dispersão está na amostra e algumas
técnicas de associação como o teste qui-quadrado, que medem até que ponto as variáveis estão
associadas (RODRIGUES, 2002).
Os dados coletados foram organizados por meio dos recursos do programa Microsoft
Excel Office XP, de acordo com codificações pré-determinadas, visando facilitar o processamento
e cálculo estatístico.
A metodologia utilizada determinou como variáveis:
Variáveis dicotômicas – sexo, jornada de trabalho, duplicidade de vínculo empregatício,
menção a problemas de saúde surgidos após o ingresso na instituição, relação da doença com o
tipo de trabalho executado, realização de exame periódico de saúde, realização de tratamentos de
saúde, necessidade de licença médica durante o tempo trabalhado na instituição, sensação do
trabalhador ao chegar ao trabalho e ao final da jornada de trabalho..
Variável de atributo – setor atual de trabalho no ambulatório, categoria profissional, grau de
escolaridade, carga horária semanal, vínculo empregatício, tipos de problemas de saúde segundo
o sistema orgânico afetado nos últimos anos, motivos das licenças médicas.
Variáveis contínuas – idade, tempo de trabalho na instituição, tempo de trabalho no
53
ambulatório, tempo de deslocamento domicílio-trabalho, número de dias de licenças médicas.
A freqüência simples e percentual foi calculada nos dados referentes às variáveis: sexo,
faixa etária, categoria profissional, grau de escolaridade, distribuição dos trabalhadores por setor
ambulatorial, jornada de trabalho, carga horária semanal, vínculo empregatício, duplicidade de
vínculo empregatício, tempo de deslocamento domicílio-trabalho, tipos de problemas de saúde
segundo o sistema orgânico afetado nos últimos anos, menção a problemas de saúde surgidos
após o ingresso na instituição, distribuição segundo a relação da doença com o tipo de trabalho
executado, realização de exame periódico de saúde, realização de tratamentos de saúde,
necessidade de licença médica durante o tempo trabalhado na instituição, número de dias de
licenças médicas, motivos das licenças médicas, sensação do trabalhador ao chegar ao trabalho e
ao final da jornada de trabalho.
Nos dados referentes a tempo de trabalho na instituição e tempo de trabalho no espaço
ambulatorial foram realizados os cálculos de média aritmética, mediana, desvio-padrão,
freqüência mínima, freqüência máxima.
Para verificar a associação entre variáveis, foi aplicado o teste não paramétrico de qui-
quadrado (X
2
), adotando-se para tal o nível de significância de 5% de probabilidade (P < 0,5%).
Aspectos éticos da pesquisa
Atendendo aos princípios éticos da resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) n
o
.
196/96 (BRASIL, 1996), que visa assegurar os direitos e deveres da comunidade científica e dos
sujeitos da pesquisa, respeitando-se os princípios de justiça, eqüidade e segurança, foi
encaminhado o projeto ao Conselho de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição onde foi realizada
a pesquisa para análise e aprovação (Anexo 1) .
Também, em observância à legislação em pesquisa envolvendo seres humanos, foi
assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice 3) para que os participantes
do estudo fossem informados da nossa proposta de pesquisa, da sua participação voluntária, do
direito ao anonimato e sigilo dos dados informados, além do direito de abandonar a pesquisa em
qualquer etapa, se assim o desejassem.
54
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A apresentação dos resultados é iniciada pelo perfil da amostra estudada, características
biográficas - formulário 1, sexo, faixa etária, categoria profissional, grau de escolaridade,
características profissionais como o tempo de trabalho na instituição, tempo de trabalho no
ambulatório, setor atual de trabalho, jornada de trabalho habitual, carga horária semanal, vínculo
empregatício, duplo vínculo e tempo de deslocamento para chegar ao local de trabalho. São
também apresentados os resultados relacionados aos problemas saúde-doença - formulário 2, se
teve algum problema de saúde nos últimos anos e qual o problema, se relaciona estes problemas
com o trabalho, se necessitou de licenças médicas, qual o motivo e por quanto tempo e a sensação
física e mental ao chegar ao trabalho e ao final da jornada.
Foram realizadas 135 entrevistas do total de 163 profissionais de enfermagem que atuam
na área ambulatorial descrita no campo do estudo até maio de 2007. Vinte e oito profissionais não
participaram do estudo por encontrarem-se de licença médica (n=15), férias (n=5), por não
quererem responder ao questionário (n=4), por impossibilidade de sair do setor para dar atenção
ao entrevistador (n=3) e licença-maternidade (n=1).
Os profissionais que não quiseram participar da pesquisa (n=4) referiram descrença em
qualquer projeto oriundo da instituição, dizendo-se cansados e desmotivados. No entanto, a
maioria dos sujeitos estudados, incluindo-se outros profissionais que não atendiam aos critérios
de inclusão no estudo, procuraram o entrevistador referindo o desejo de participar da pesquisa por
considerar o assunto relevante para a enfermagem e para a instituição e que o considerava uma
tentativa de se fazer alguma coisa para melhorar a sua qualidade de vida no trabalho.
Perfil do trabalhador.
Ao analisar os dados expostos na tabela 1 e no gráfico 1, percebe-se que 88,1% (n = 119)
dos respondentes eram trabalhadores do sexo feminino e 11,9% (n = 16), do sexo masculino.
55
Tabela 1: Distribuição de freqüências simples e percentuais
quanto ao sexo.
SEXO n %
Feminino 119 88.1
Masculino 16 11.9
TOTAL 135 100.0
Fonte: O autor (2007).
SEXO
88,1%
11,9%
Feminino
Masculino
Gráfico 1. Distribuição de freqüências percentuais quanto
ao sexo.
Fonte: O autor (2007).
A predominância do gênero feminino no resultado reflete o fato histórico de que a força
de trabalho da enfermagem tem-se configurado eminentemente feminina. A literatura confirma
que a profissão de enfermagem é predominantemente exercida por mulheres.
Tal predominância é histórica e se dá pelo fato de que o cuidado é social e culturalmente
atribuído às mulheres, como o cuidado de doentes, velhos, crianças e parturientes. Assim, os
encargos profissionais contribuem para a sobrecarga de responsabilidades com tarefas
domésticas, dentro das quais, por vezes, a mulher passa a ser figura nuclear, assumindo a função
de provedora e coordenadora das questões familiares. O excesso de atividades para as mulheres
limita o tempo de estar com a família. A dificuldade de conciliar as férias do trabalho com as
escolares das crianças provoca sofrimento por antecipação e medo de não desempenhar o papel
de mãe corretamente. Estes fatores, associados à desvalorização do trabalho feminino, apesar de
todo avanço dos movimentos feministas, são considerados importantes fatores desencadeantes do
desgaste físico e mental (REIS et al, 2003; MUROFUSE, 2004).
A condição feminina expõe as trabalhadoras à situação de cumprimento de sua função
biológica como reprodutoras e responsáveis pelos filhos, o que as leva ao afastamento do seu
trabalho profissional, sobretudo aquelas na faixa etária de maior comprometimento com os papéis
56
de dona de casa e da maternidade. Estas percorrem o chamado “trilho duplo” porque cuidam do
lar, dos filhos e de empregos (STEAGALL-GOMES e MENDES, 1995).
Pitta (1994) refere que a predominância feminina na força de trabalho na área de saúde
tem sido observada por muitos estudiosos e acrescenta que, historicamente, as atividades de
cuidar de enfermos têm sido delegadas às mulheres. A participação e a predominância feminina
no trabalho de enfermagem, destacada por Bulhões (1998), talvez se justifiquem por um contexto
de submissão histórica no processo de trabalho.
O trabalho de enfermagem, desenvolvido nos hospitais ingleses, tinha má reputação e foi
por muito tempo considerado caritativo e sem prestígio, muito semelhante ao trabalho doméstico
desempenhado pelas mulheres, pois não exigia nenhum conhecimento ou treinamento técnico, até
que, nos idos de 1850, Florence Nightingale profissionalizou a Enfermagem. Na estruturação da
enfermagem “nightingaleana”, um dos critérios de ingresso na nova profissão era ser do sexo
feminino e a freqüência em um curso com a duração de um ano, em regime de internato, sob
disciplina rigorosa, para desenvolver nas alunas os traços de caráter considerados de melhor
qualidade para aquela sociedade, como, por exemplo, sobriedade, honestidade, lealdade,
pontualidade, serenidade, espírito de organização, correção e elegância. A realidade mostra que o
trabalho de enfermagem é gerador de tensões, possui carga excessiva de trabalho e é mal
remunerado (PIRES, 1989; MUROFUSE, 2004; BORGES, 2006).
Dados da literatura revelam que a mulher não é mais suscetível a agravos da saúde nas
ações profissionais, mas, sim, possui alterações fisiológicas e morfológicas que geralmente não
são consideradas no planejamento do seu trabalho (BARBOZA; SOLER, 2003).
A faixa etária (tabela 2), dos sujeitos do estudo apresenta idades que variam de 27 anos, o
mais jovem, até 69 anos, o mais idoso. Apenas quatro profissionais encontram-se na faixa entre
27 e 29 anos. A maior concentração, com 66 profissionais com idade entre 40 e 49 anos,
representando 48,8% do total. Com idade entre 50 e 59 anos encontram-se 36 profissionais, o que
representa 26.6 % da amostra estudada. Ainda, tem-se 11,1% dos profissionais (n = 15) na faixa
dos 60 a 69 anos. Guimarães (2005) lembra que, com o aumento da idade, ocorre um aumento da
freqüência de doenças crônicas, o que gera um maior número de licenças médicas.
57
Tabela 2: Distribuição de freqüência simples
e percentuais quanto à faixa etária.
Idade n %
27 a 29 anos 04 3.7%
30 a 39 anos 14 10.3%
40 a 49 anos 66 48.8%
50 a 59 anos 36 26.6%
60 a 69 anos 15 11,1%
TOTAL 135 100
Fonte: O autor (2007).
A média aritmética das idades dos trabalhadores do ambulatório é de 48 anos. Sendo de
36 anos para homens e 48 anos para mulheres. Avaliando as associações entre faixa etária e
motivos de maior freqüência para licença médica deste estudo, verifica-se que as doenças
osteomusculares estão associadas ao nível de 5% para faixa etária (X
2
= 4.69; P = 0.030), ou seja,
quanto maior a idade, maior é o número de licenças médicas por problemas osteomusculares,
conforme mostra a tabela 3. Outros pesquisadores mencionam que a média elevada de idade é um
fator importante para o desenvolvimento de transtornos mentais devido à diminuição da
capacidade de adaptação às condições de estresse no trabalho. Estudos mostram que o índice de
capacidade para o trabalho é bastante afetado pela idade (ROQUAYROL, 1994; FARIA;
BARBOZA; DOMINGOS, 2005; POHJONEN, 2001). Em contraponto, este estudo nos aponta
que a faixa etária elevada parece não estar associada a transtornos mentais
1
(tabela 4), pois foram
observados em qualquer idade no grupo estudado.
1
O transtorno mental, constatado no estudo, se refere a doença com diagnóstico, tratamento e acompanhamento
médico. Sendo as mais citadas a depressão, síndrome do pânico, transtorno bipolar, ansiedade e transtorno
obsessivo compulsivo.
58
Tabela 3: Associação faixa etária e doenças osteomusculares.
Faixa etária Sim Não Total
0 – 48 anos
55 20 75
>_ 49 anos
53 7 60
Total 108 27 135
X
2
= 4.69 (P=0.030) Significativo ao nível de 5%
Fonte: O autor (2007).
Tabela 4: Associação faixa etária e transtornos mentais.
Faixa etária Sim Não Total
0 – 48 anos
33 42 75
>_ 49 anos
33 27 60
Total 108 27 135
X
2
= 1.61 (P=0.263) Não significativo
Fonte: O autor (2007).
Pesquisa realizada por Borges (2006) acerca da análise da capacidade para o trabalho e o
envelhecimento funcional precoce em trabalhadores de enfermagem, encontrou maior
prevalência de capacidade inadequada para o trabalho num grupo de trabalhadores jovens, com
idade abaixo de 35 anos. O autor conclui que é necessária uma abordagem multidimensional na
implementação de programas para manutenção da saúde física e mental dos trabalhadores da
saúde, incluindo intervenções organizacionais no ambiente de trabalho.
Vale ressaltar que, neste estudo, verificou-se um contingente significativo dos
respondentes em idade avançada. A idade máxima dos homens foi de 55 anos e das mulheres 69
anos e vinte e três mulheres acima de 55 anos (apêndice 4), o que nos permite inferir que o
trabalhador vem adiando a sua aposentadoria, possivelmente diante da conjuntura
socioeconômica vigente no país, que não permite poder aquisitivo condizente com o tempo
trabalhado, pois inseridos no mercado de trabalho, a sua renda contribui mais significativamente
para o orçamento familiar (FARIAS, 1999).
59
Um dado importante relacionado ao tempo de contribuição no trabalho, para alguns
estudiosos, é de que a vida útil de trabalho de um enfermeiro é de cerca de 20 anos, ou seja, quase
que a metade da vida útil da força de trabalho em geral. Estudos realizados com profissionais de
enfermagem concluem que, a partir do seu ingresso, a enfermeira tem aproximadamente 10 anos
de tempo como força de trabalho economicamente ativa devido a insalubridade desse labor. (
STEAGALL-GOMES; MENDES, 1995).
É importante mencionar que, a partir de 49 anos, existe uma involução progressiva e
gradual do organismo humano e que dos 35 em diante, as funções cardiovasculares, pulmonares e
biomecânicas não se encontram mais no ápice de suas respectivas capacidades, ocorrendo uma
menor adaptação ao esforço físico, ao estresse e às agressões. A população deste estudo encontra-
se na faixa etária que já sofreu modificações/alterações generalizadas do organismo, necessitando
de maior atenção e acompanhamento médico para prevenção de doenças e promoção de sua
saúde (FARIAS, 1999).
Quanto à categoria profissional dos trabalhadores (tabela 5), verificou-se a predominância
do nível fundamental e médio de educação, com 47.4% de técnicos e 11.9% de auxiliares, dando
um total de 59.3% do contingente entrevistado. Outros 40.7% dos trabalhadores possuem nível
superior e pós-graduação, com predominância do Lato sensu. Dos 55 enfermeiros entrevistados,
51 possuem curso de especialização e 06 enfermeiros possuem mestrado (gráfico 2),
demonstrando a necessidade de pessoal capacitado para o trabalho em um ambulatório de alta
complexidade.
Tabela 5: Distribuição de freqüências simples e percentuais quanto
à categoria profissional.
Categoria profissional Freqüências simples Percentual
Enfermeiro
55 40.7
Técnico
64 47.4
Auxiliar
16 11.9
TOTAL 135 100.0
Fonte: O autor (2007).
O grau de escolaridade dominante sugere um nível de conhecimento científico alto,
necessário para o trabalho em uma instituição de referência em oncologia que exige
conhecimento técnico-científico dos trabalhadores para a realização das tarefas. Cabe esclarecer
60
que a instituição deste estudo proporciona e incentiva o aperfeiçoamento destes profissionais.
7.4%
37.0%
13.3%
37.8%
4.4%
0
50
100
Fundamental Médio Superior Superior -
Lato sensu
Superior -
Stricto sensu
Gráfico 2: Distribuição de freqüências percentuais quanto à escolaridade.
Fonte: O autor (2007).
Bulhões (1998) adverte que é preciso investir na capacitação do trabalhador, ou seja, no
desenvolvimento do seu conhecimento, para conseguir a eficácia de atuação sobre normas,
duração e ritmo de trabalho. Conhecendo o processo de trabalho, os profissionais devem buscar a
cooperação e o diálogo permanente com especialistas das diversas áreas afins, como a ergonomia,
higiene e segurança, no intuito de obter medidas capazes de garantir-lhes condições de trabalho
favoráveis à saúde.
Os achados (tabela 5) mostram um quantitativo relativamente alto de enfermeiros (40,7%)
no ambulatório. Neste ambulatório são realizados procedimentos de alta complexidade e,
portanto, necessita-se de um grande contingente de profissionais qualificados, apesar da crença
de que a atuação da enfermagem no espaço ambulatorial se constitui de ações simples,
burocráticas ou destituídas de complexidade. Não é o que se observa em relação à equipe de
enfermagem atuante com indivíduos portadores de câncer neste ambulatório especializado. O
setor de quimioterapia, por exemplo, é composto, na sua maioria, por enfermeiros, contando
apenas com um técnico de enfermagem e um auxiliar de enfermagem para realizar serviços
burocráticos.
O ambulatório destaca-se pela sua função, pois, mesmo inserido no subsistema curativo, é
nele que é possível atender todos os clientes externos que necessitam de cuidados, tratamento,
61
recuperação da saúde, prevenção de seqüelas, reabilitação do indivíduo, e também pela sua
função educativa ao cliente, à família e à comunidade. Sua função social é, assim, claramente
demonstrada. É também chamado de hospital-dia porque, em muitas situações, o paciente recebe
os cuidados necessários no período diurno, podendo ser liberado para a sua residência e convívio
familiar. Numa instituição especializada em oncologia, onde os procedimentos ambulatoriais
tendem a ser mais complexos, é necessário o preparo bio-psico-técnico dos profissionais, porque
o período de internação é cada vez menor e é no ambulatório que estes procedimentos são
realizados atualmente.
Nos setores de maior complexidade está concentrado o maior número de profissionais ,
por exemplo, a quimioterapia, com 27 trabalhadores de enfermagem lotados no setor, sendo 26
profissionais de nível superior (Tabela 6).
Tabela 6: Distribuição de freqüências simples e percentuais
quanto ao setor atual de trabalho.
Setor atual de trabalho Freqüências
simples
Percentual
Quimioterapia 27 20.0
Onco/Hemato 7 5.2
Radiodiagnóstico 21 15.6
Radioterapia 7 5.2
Hemoterapia 9 6.7
Eletrocardiograma 7 5.2
Endoscopia 8 5.9
Biópsia 2 1.5
Abdômen 9 6.7
Cabeça e Pescoço 9 6.7
Urologia 2 1.5
Tórax 5 3.7
Plástica 6 4.4
TOC/Dermato 2 1.5
Neuro/Dor 5 3.7
Odonto 3 2.2
Medicina Nuclear 6 4.4
TOTAL 135 100.0
Fonte: O autor (2007).
62
A Tabela 7 mostra que, entre os respondentes, a média de tempo de trabalho na instituição
é de 18,93 anos e que a média de tempo de trabalho no ambulatório está em torno de 8,47 anos, o
que representa 44,74% do tempo total de trabalho no instituto, mesmo considerando que dois dos
trabalhadores possuem apenas 1 ano de prestação de trabalho na instituição, o que diminui a
média de tempo trabalhado nesta amostra. Considere-se, ainda, que os trabalhadores em idade
avançada referem que, após alguns anos de contribuição na área de pacientes internados e com
alguma restrição física e ou psíquica, foram readaptados para contribuir no setor ambulatorial.
Tabela 7: Medidas de tendência central e variação do tempo de trabalho na instituição
e tempo de trabalho no ambulatório.
TEMPO DE TRABALHO NA INSTITUIÇÃO TEMPO DE TRABALHO NO AMBULATÓRIO
Medidas Valores Medidas Valores
Média aritmética 18.93 Média aritmética 8.47
Desvio-padrão 7.87 Desvio-padrão 6.80
Mediana 21.00 Mediana 7.00
Mínimo 1.00 Mínimo 1.00
Máximo 28.00 Máximo 26.00
Fonte: O autor (2007).
No que se refere ao tempo de trabalho na instituição, o estudo revelou que a maioria dos
respondentes tem quase vinte anos de serviço. Neste sentido, pode-se afirmar que a maioria dos
trabalhadores do estudo tem considerável experiência profissional. Quanto ao tempo de trabalho
no ambulatório, verifica-se que o tempo máximo é de 26 anos e o tempo mínimo, de 01 ano.
Estes resultados encontrados indicam que não há grande rotatividade no ambulatório, fazendo-se
crer numa grande bagagem de vivências no trabalho desenvolvido devido ao íntimo e contínuo
contato com as atividades cotidianas.
A tabela 8 mostra que quanto mais tempo de trabalho na instituição, maior é o número de
licenças médicas, de acordo com a tabela 11 (p. 71), o que permite inferir que este é um fator
adverso à saúde do trabalhador, pois, licenças são dadas a quem tem problema de saúde. O tempo
de trabalho para o desenvolvimento de doenças é um entre os vários componentes que
desencadeiam o adoecimento. Este tempo pode ser maior ou menor, dependendo da natureza e
dos componentes do trabalho (OLIVEIRA, 2001).
63
Tabela 8: Associação entre tempo de trabalho na instituição
e licença médica.
Tempo de trabalho na instituição Sim Não Total
1 a 21 anos 64 7 71
>_ 22 anos 63 1 64
Total 127 8 135
X
2
= 4.16 (P=0.041) Significativo ao nível de 5%
Fonte: O autor (2007).
No que concerne à jornada de trabalho, a maioria dos trabalhadores é plantonista (n = 81;
60%), isto é, trabalha um turno de 12 horas ininterruptas. Setenta e cinco dos trabalhadores
(55.6%) referiram outro emprego, chegando a trabalhar um total de 72 ou, até, 80 horas semanais.
Anteriormente, o ambulatório funcionava de 08 às 16 horas e todos os trabalhadores eram
diaristas. Porém, com a alta demanda de pacientes matriculados, consequentemente de pacientes
agendados para consultas, tratamentos e exames no ambulatório, se impôs a necessidade de
ampliar o período de atendimento até as 19 horas fazendo com que fosse necessário o sistema de
plantão. O baixo nível sócio econômico da clientela atendida no instituto faz com que os exames,
as consultas e os tratamentos sejam concentrados num único dia evitando que o paciente retorne
várias vezes ao hospital. Outro aspecto é que os pacientes geralmente se encontram muito
debilitados e na tentativa de evitar que fiquem hospitalizados, muitos procedimentos invasivos e
terapêuticos são executados no ambulatório o que exige um período prolongado de observação a
fim de liberá-lo com segurança para o domicílio.
A maioria dos respondentes, 82.2% (n = 111), trabalha 40 horas semanais, o que resulta
em 8 horas por dia, com acréscimo de uma hora para o almoço. Os demais (n = 24; 17,8%) estão
lotados em áreas como radiodiagnóstico e radioterapia e trabalham 24 horas semanais porque
estão protegidos pela Portaria do MS nº 453 de 1º de junho de 1998 (BRASIL, 1998), que
estabelece as diretrizes básicas de proteção radiológica em radiodiagnóstico médico e
odontológico, tendo em vista as disposições constitucionais e a Lei 8.080, de 19 de outubro de
1990, que tratam das condições para a promoção e recuperação da saúde como direito
fundamental do ser humano (Tabela 9).
Com relação ao tipo de vínculo empregatício na instituição do estudo, observa-se que a
maioria dos trabalhadores (n = 104) é funcionário público estatutário, representando 77 % da
64
amostra estudada. Outros 24 trabalhadores, (17,8%), são regidos pela Consolidação das Leis
Trabalhistas, contratados pela Fundação Ary Frauzino. Apenas 7 indivíduos, (5,2%), são
funcionários contratados temporariamente, pelo período de 2 anos, pelo Ministério da Saúde.
Tabela 9: Distribuição de freqüências simples e percentuais relacionadas ao
trabalho.
Jornada de trabalho Freqüências simples Percentual
Diarista 54 40.0
Plantonista 81 60.0
Total 135 100.0
Carga horária semanal Freqüências simples Percentual
24 horas 24 17.8
40 horas 111 82.2
Total 135 100.0
Vínculo Empregatício Freqüências simples Percentual
Estatutário 104 77.0
CLT - FAF 24 17.8
MS - Temporário 7 5.2
Total 135 100.0
Duplo vínculo Freqüências simples Percentual
Sim 75 55.6
Não 60 44.4
Total 135 100.0
Fonte: O autor (2007).
A carga horária intensa leva os funcionários a manterem um nível de produção que, às
vezes, excede a sua potencialidade fisiológica, gerando, com isto, agravos sérios à saúde da
pessoa. De acordo com diferentes estudos, os trabalhadores de enfermagem estão sujeitos à
excessiva carga horária de trabalho relativamente crônica e, na enfermagem e nas instituições de
saúde, o trabalhador se depara, a cada momento, com a dor humana, condições de trabalho
desfavoráveis e expectativa de produtividade com qualidade por parte dos dirigentes (ALVES,
1996; STEAGALL-GOMES; MENDES, 1995; NASCIMENTO, 2003).
No ambulatório estudado, os trabalhadores cumprem a carga horária de 40 horas no
período diurno porque o ambulatório desta instituição funciona de segunda a sexta-feira, das 07
às 19 horas. Então, na maioria das vezes, o segundo e o terceiro vínculo são realizados no período
noturno em outras instituições. As pessoas que trabalham no período noturno ou que têm
65
mudança em seus turnos, em função da necessidade de garantir a continuidade da assistência,
sofrem interferências na suas vidas familiar e social, que produzem desgastes importantes na
qualidade de vida do trabalhador, pois são afetados os horários de contato familiar e sua
participação em outras atividades no âmbito social. Além disso, o trabalho em turnos provoca
alterações fisiológicas que podem se tornar prejudiciais à saúde, tais como os distúrbios do sono,
do apetite e da alimentação, que originam diversos outros problemas. As alterações das funções
fisiológicas e psicológicas podem, também, ocasionar fadiga, alteração de humor e distúrbios
gastrintestinais (SOUZA, 1999; VERAS, 2003).
No Gráfico 3, apresenta-se a distribuição de freqüências simples e percentuais quanto ao
tempo de deslocamento para chegar ao local de trabalho. Verifica-se que 65 (48.1%) dos 135
trabalhadores despendem cerca de uma hora para chegar ao trabalho; outros 59 (43.7%)
trabalhadores gastam cerca de 2 horas e apenas 11 (8.1%) deles levam em torno de 3 horas.
48.1%
43.7%
8.1%
> 1 HORA
> 2 HORAS
> 3 HORAS
Gráfico 3. Distribuição de freqüências percentuais quanto ao tempo
de deslocamento para chegar ao local de trabalho.
Fonte: O autor (2007).
No estudo das relações entre saúde/doença/trabalho na área de enfermagem, os prejuízos à
saúde física e mental decorrem das atividades realizadas em extensas jornadas de trabalho, tempo
decorrido nos transportes de casa à instituição (Gráfico 3), do ritmo acelerado da produção
desencadeado por excesso de tarefas, elevação do estresse, realização de ações repetitivas e baixa
remuneração que resulta, não raro, em desestímulo e alterações físicas e emocionais que podem
levar à ausência no trabalho (NASCIMENTO, 2003; GODOY et al, 2006).
A característica do trabalho ininterrupto, realizado em turnos, possibilita ao trabalhador da
66
enfermagem ter mais de um vínculo de trabalho. O fato de o profissional possuir múltiplos
empregos, realidade que persiste na enfermagem, pode intensificar o problema do absenteísmo.
Os profissionais dessa área se vêem pressionados a ter, por vezes, duplo ou triplo vínculo
empregatício devido aos salários baixos e aviltantes, incompatíveis com a dignidade de suas
atividades, fatos esses que vêm piorando a qualidade de vida destes trabalhadores, levando-os a
assumirem mais de um emprego para aumentar a renda familiar, o que implica em extensas
jornadas de trabalho, estresse e pouco tempo para o lazer e para a família (ALVES, 1996;
NASCIMENTO, 2003; MUROFUSE, 2004).
O segundo emprego ocorre tanto entre os enfermeiros quanto entre os técnicos e
auxiliares de enfermagem, que têm como principais motivações as necessidades econômicas
familiares e a ampliação do patrimônio familiar como, por exemplo, a aquisição da casa própria,
de um terreno, de um carro, ou mesmo de eletrodomésticos. Pitta (1994), Bulhões (1998), e
Rezende (2003) consideram que o fato de muitos trabalhadores de enfermagem terem mais de um
emprego faz com que passem grande parte do tempo de suas vidas produtivas expostos aos riscos
existentes no ambiente hospitalar.
Os resultados mostram que 55,6% dos profissionais possuem outro emprego, enquanto
44,4%, não (tabela 9). Estes achados são de grande importância para o estudo, considerando que
a multiplicidade de empregos influi diretamente na saúde do profissional, exaurindo este
indivíduo, que tem comprometidas suas horas de repouso diário, semanal e anual.
As duplas jornadas podem gerar conflitos nas relações de trabalho porque estes
funcionários, quando estão cansados, geralmente acabam priorizando uma parte do serviço em
detrimento de outras atividades também essenciais, ocasionando atrito nas relações com os
colegas ou com outros profissionais. Além disso, as duplas jornadas de trabalho podem fazer com
que muitos fiquem estressados, doentes e acabem faltando ao serviço. Veras (2003) e Murofuse
(2004) advertem que mesmo que a falta seja justificada por atestado médico, ela acaba se
tornando incômoda para os enfermeiros supervisores em função do número limitado de
funcionários existentes nas instituições hospitalares, assim como para os colegas de serviço que
são ainda mais sobrecarregados em suas atividades.
Nascimento (2003) relata a freqüência dos profissionais de enfermagem em assumirem
67
mais de um emprego e estes duplos encargos não se constituírem em busca de realização
profissional ou opção pessoal, mas numa necessidade relacionada à manutenção das condições de
sobrevivência deles próprios e da família. No entanto, esta situação é difícil, pois o trabalho é
desgastante fisicamente, além de representar a certeza de estar quase sempre ausente de casa.
Também, na concepção de Veras (2003), o aumento da jornada de trabalho, através do emprego
múltiplo e horas extras como forma de superação da pauperização crescente, rouba-lhe o tempo
livre que deveria estar à disposição do descanso necessário para a recuperação das energias
físicas, para o lazer, para a convivência familiar, de forma mais harmônica e menos conflituosa.
Sabe-se que a capacidade de trabalho está relacionada com a saúde do trabalhador,
podendo sofrer alterações diante das condições do ambiente a ele oferecido. O trabalhador,
portanto, deve ser protegido dos danos à sua saúde no momento em que executa as suas tarefas.
Ter mais de um emprego, ter filhos e ser o único responsável pela renda familiar podem gerar
perda de capacidade. Para os enfermeiros (n = 55) deste estudo, a sobrecarga de atividades devido
à falta de pessoal acarreta fadiga; eles também referiram que o cansaço ou acúmulo de serviço é
motivo de preocupação, pois existe a interferência destes fatores na prestação da assistência do
paciente. Essa preocupação não é restrita aos enfermeiros brasileiros. Os enfermeiros de hospitais
dos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Inglaterra e Escócia também manifestaram a
preocupação com a deterioração da qualidade da assistência prestada em função da falta de
pessoal, o que gera desgaste emocional e insatisfação para com o trabalho (GUIMARÃES, 2005;
MARZIALE, 2001).
A OMS admitiu que há um déficit de enfermeiros em todo o mundo. Em alguns países, o
aumento da demanda por este profissional ocorre devido ao pequeno número de pessoas que
optam pela profissão, assim como do envelhecimento dos enfermeiros que se encontram na ativa.
Por isso, alertou os governos, empresas de planos de saúde, administradores e líderes do sistema
para que reconheçam a importância do enfermeiro para o sistema de saúde e modifiquem as
condições insatisfatórias presentes no ambiente de trabalho, com vistas a estabelecer e manter a
sua integridade e viabilidade profissional (BOTTH, 2002).
As diferenças em função do vínculo empregatício e a grande diferença de idade podem ser
explicadas pela política governamental imposta em não realizar concurso público para inclusão
68
no quadro de funcionários estatutários desde 1994. Conseqüentemente, a média de idade do
estatutário é muito maior que a do empregado contratado por regime celetista. Neste ítem,
também, podem estar implícitos o aumento dos índices de afastamento do trabalho por parte dos
estatutários, pois mais da metade dos trabalhadores (77.0%) têm vínculo de trabalho regido pelo
Regime Jurídico Único (RJU) e 17.8% são regidos pelo regime celetista, contratados por uma
fundação. Outros 5.2% foram contratados por prazo pré-determinado através de concurso pelo
MS, o que os deixa na condição de trabalhadores temporários, sem garantias, precarizados
(FARIAS,1999; REIS et al, 2003).
As diferenças no regime de contratação adotado pelas instituições de saúde levam a
distintas formas de afastamentos. No caso de contrato pela CLT, o funcionário não dispõe de
afastamento por motivo de doença em pessoa da família, enquanto o trabalhador estatutário de
setor público goza deste direito. Sobre este assunto, Nascimento (2003) comenta que, no serviço
público, no qual vigora o estatuto da estabilidade no emprego, o nível de absenteísmo atinge altas
taxas.
No Brasil, o trabalhador, de acordo com o vínculo empregatício, poderá gozar da licença
para tratamento de saúde por um período determinado pelo médico, após passar por uma
avaliação no Serviço Especializado em Engenharia e Medicina do Trabalho (SESMT). Para o
servidor público estatutário da União, a concessão destas licenças passa por determinações legais,
instituídas pela Lei 8112/90 – Regime Jurídico Único dos Servidores Civis da União,
compreendendo a aposentadoria, auxilio natalidade, salário-família e a licença para tratamento de
saúde, dentre outros. Em relação aos trabalhadores regidos pela CLT, concede-se ao segurado,
durante os primeiros 15 dias consecutivos de afastamento da atividade por motivo de doença,
salário integral pago pela empresa. Se o afastamento ultrapassar 15 dias consecutivos, o segurado
deverá ser encaminhado à perícia médica do INSS, fazendo jus aos direitos previdenciários
(BRASIL, 1999).
Problemas de saúde
Os trabalhadores entrevistados (N = 135) referiram ter adquirido alguma forma de
69
adoecimento após o ingresso na instituição (gráfico 4 e apêndice 5). Mais da metade dos
trabalhadores (n = 108), representando 80.0% da amostra, referiu ter adquirido doenças do
sistema músculo-esquelético, seguidos de 68.1%, com doenças do coração e aparelho circulatório
(n = 92), e 48.9%, com transtornos mentais e comportamentais (n = 66).
68.1%
48.9%
45.9%
30.4%
27.4%
35.6%
28.9%
80.0%
26.7%
25.9%
14.1%
14.1%
5.2%
4.4%
0 50 100
Sistemasculo esquelético
Coração e aparelho respiratório
Transtornos mentais e comportamentais
Alergias
Sistema digestivo
Outros problemas de saúde
Sistema nervoso central
Doenças endócrinas
Aparelho respiratório
Aparelho geniturinário
Doea dos olhos
Dependência química
Ne oplas ias
DST ou AIDS
PROBLEMAS DE SAÚDE NOS ÚLTIMOS ANOS
Gráfico 4. Distribuição de freqüências percentuais, quanto a ter referido algum problema
de saúde adquirido após o ingresso na instituição.
Fonte: O autor (2007).
70
Informações dadas pelo trabalhador se relaciona sua doença com o trabalho na instituição
do estudo, demonstradas nos gráficos 5 e 6 ( apêndice 6 ), sugerem que, dos 135 trabalhadores
estudados, 110 deles (81.5%) acreditam que as doenças referidas estão associadas ao trabalho ou
agravadas pelo seu desempenho profissional, caracterizando um índice alto. Os demais, (18.5%),
não sabem dizer se a doença tem relação com o trabalho ou afirmam que não vêem esta relação.
94.1%
5.9%
0
50
100
SIM NÃO
Gráfico 5: Distribuição de freqüências percentuais quanto a esses problemas
terem surgido após ingresso na instituição.
Fonte: O autor (2007).
81.5%
18.5%
0
50
100
SIM NÃO
Gráfico 6: Distribuição de freqüências percentuais quanto aos problemas terem
relação com seu trabalho.
Fonte: O autor (2007).
71
Verifica-se que 36.3% dos participantes afirmam não realizarem exames periódicos de
saúde (tabela 10), mas 73.9% informam fazer algum tratamento de saúde.
Tabela 10: Distribuição de freqüências simples e percentuais quanto à realização
de exame periódico de saúde e tratamento de saúde.
Realiza exame periódico de
saúde
Faz algum tratamento de
saúde
N % N %
Sim 86 63.7 99 73.9
Não 49 36.3 36 26.1
Total 135 100.0 135 100.0
Fonte: O autor (2007).
Levando-se em consideração que a grande maioria é de mulheres, e que estas deveriam
realizar os exames preventivos ginecológicos, pode-se deduzir que um número significativo de
mulheres não realiza o preventivo anual tão difundido nos dias atuais. Este resultado é
considerado preocupante, porque demonstra que os profissionais da área de saúde não estão se
preocupando com a própria saúde e, considerando-se que são profissionais de uma instituição
oncológica, sabedores dos fatores de risco e da necessidade de prevenção, este fato se agrava.
Contudo, 73.9% realizam algum tratamento de saúde (apêndice 7), o que expressa que estes
indivíduos procuram fazer algum tratamento quando algo os está incomodando. No que abrange a
esse aspecto, é oportuno lembrar que os profissionais da instituição estudada possuem plano de
saúde privado.
Os profissionais de enfermagem vivenciam situações de risco cotidianamente, deixando
de se proteger, de se cuidar, como se fosse uma atitude “natural”, essencial para o exercício da
profissão cujo objeto é a prática do cuidar. A atenção da equipe no ambiente de trabalho se
concentra no cuidar, porém, no cuidar, apenas, dos “outros” (CAVALCANTE et al, 2006).
72
Licenças médicas
A grande maioria dos trabalhadores (n = 127; 94.1%) refere que alguma vez já necessitou
de licença médica, conforme mostra a tabela 11.
Tabela 11: Distribuição de freqüências simples e percentuais quanto a alguma
vez ter necessitado de licença médica.
Alguma vez necessitou de
licença médica
Freqüências simples Percentual
Sim 127 94.1
Não 8 5.9
Total 135 100.0
Fonte: O autor (2007).
No presente estudo, as licenças médicas referidas pelos trabalhadores foram analisadas
segundo o período de afastamento e agrupadas em pequenos afastamentos (até 1 mês), médios
afastamentos (de 1 a 6 meses) e longos afastamentos (mais que 6 meses). Observa-se, na tabela
12 e gráfico 7, que a maior concentração de licenças médicas está nos afastamentos de longa
duração (47.4%), ou seja, 64 respondentes, indicando a ocorrência de maior incidência de
doenças de solução lenta, que dependem de perícia médica, condizente com os achados na tabela
13 e gráfico 8, que apontam as doenças osteomusculares e os transtornos mentais como um dos
principais motivos para licença médica. Vinte e sete pessoas se afastaram por um período de 1 até
30 dias. Apenas 8 trabalhadores nunca necessitaram de licença médica. Estas 8 pessoas estão
entre os trabalhadores que possuem menos que 2 anos de trabalho na instituição e têm vínculo
CLT.
Tabela 12: Distribuição de freqüências simples quanto ao
tempo de afastamento por licença médica
referido pelos trabalhadores.
Tempo referido Freqüências simples
Até 1 mês 27
De 01 a 06 meses 36
Maior que 6 meses 64
Nunca necessitou de licença
médica
8
Total 135
Fonte: O autor (2007).
73
Usualmente, a ausência do trabalho é denominada absenteísmo, apesar de, por definição,
absenteísmo significar “ausência habitual do emprego, falta de assiduidade”; o absenteísta é
aquele que vive ou está, via de regra, ausente e a palavra “ausência” é definida como
“afastamento, falta de comparecimento”. Então, neste estudo, os dois termos foram usados com
significado similar (FERREIRA, s/d).
20.0%
Até 1 mês
26.6%
de1 a 6 meses
47.4%
Mais de 6 meses
5.9%
Nunca necessitou
Gráfico 7: Distribuição de freqüências percentuais quanto ao tempo de afastamento
por licença médica referido pelos trabalhadores.
Fonte: O autor (2007).
As licenças de curta duração podem estar indicando um processo de desgaste bio-psíquico
do trabalhador, quando se tornam um instrumento importante para repor as energias e a força de
trabalho. Muitas vezes, as condições de trabalho e as do ambiente podem contribuir para este
quadro, não sendo, entretanto, os únicos fatores determinantes do processo de desgaste, embora o
trabalho possa ser considerado um fator importante. Estudos realizados com diversas categorias
profissionais da área hospitalar têm evidenciado que o afastamento do trabalho por licenças de
curta duração ou de longa duração pode conduzir a uma necessidade de se fazer uma associação
entre a ocorrência de distúrbios psíquicos e aspectos como jornadas prolongadas, intensidade de
ritmo de trabalho, insuficiência de pausas, tipo de paciente assistido, demanda de atendimento
(MAZZILLI, 2004; GODOY et al, 2006).
As causas de absenteísmo-doença, segundo a Classificação Internacional de Doenças –
74
versão 10 (CID 10, 1987), mostram-se diferenciadas para licenças de curta, média e longa
duração. As licenças médicas de longa duração estão relacionadas a processos de adoecimento
mais complexos, cujos tratamentos e recuperação são mais demorados e, em grande parte, estão
associados a doenças crônicas. As licenças de média duração têm perfil semelhante e podem estar
indicando desgaste do trabalhador. Já as licenças de curta duração indicam doenças menos
graves, cujo tratamento e retorno ao trabalho é mais rápido (GODOY, 2001).
As ausências de curta duração, por acontecerem de maneira súbita, embora justificadas
por avaliação médica, dificultam o planejamento e não oferecem prazo suficiente para que seja
feita a substituição do trabalhador, gerando graves prejuízos para o setor de trabalho,
trabalhadores e pacientes, pois, desorganizam o trabalho da equipe afetando a qualidade da
assistência prestada. Os trabalhadores presentes ficam sobrecarregados, aumentando o cansaço
físico e mental, que pode acarretar um processo de somatização, gerando um ciclo vicioso de
sobrecarga e ausências em forma de rodízio (GUIMARÃES, 2005).
O absenteísmo-doença é pouco conhecido nas organizações hospitalares, não tem um
tratamento sistematizado e, freqüentemente, sua responsabilidade recai sobre o trabalhador,
evidenciando a pouca valorização dos profissionais encarregados de cuidar de clientes internos
(REIS et al, 2003; GODOY et al, 2006).
Os acometimentos à saúde referidos pelos trabalhadores e que motivaram as licenças
médicas estão demonstrados em freqüência simples e percentual através da tabela 13 e o gráfico
8. Pode-se notar freqüência alta de doenças osteomusculares (n = 66; 48.9%) e, em segundo
lugar, os transtornos mentais e comportamentais (n = 30; 22,2%).
75
Tabela 13: Distribuição de freqüências simples e percentuais, quanto ao motivo
da licença médica referido pelo trabalhador
MOTIVO DE LICENÇA MÉDICA f %
Doenças do sistema músculo-esquelético 66 48.9
Transtornos mentais e comportamentais 30 22.2
Doenças do aparelho geniturinário 26 19.3
Doenças do coração e aparelho circulatório 20 14.8
Doenças do aparelho respiratório 15 11.1
Doenças endócrinas 7 5.2
Doenças dos olhos 6 4.4
Doenças do sistema digestivo 5 3.7
Neoplasias 4 3.0
Alergias 3 2.2
Dependência química 3 2.2
Doenças do sistema nervoso central 2 1.5
DST ou AIDS 1 0.7
Fonte: O autor (2007).
76
48,9
22,2
19,3
14,8
11,1
5,2
4,4
3,7
3
2,2
2,2
1,5
0,7
050
Sistema músculo esquelético
Transtornos mentais e comportamentais
Aparelho geniturinário
Coração e aparelho circulatório
Aparelho respiratório
Doenças endócrinas
Doenças dos olhos
Sistema digestivo
Neoplasias
Alergias
Dependência química
Sistema nervoso central
DST ou AIDS
MOTIVO PARA LICENÇA MÉDICA
100
Gráfico 8. Distribuição de freqüências percentuais, quanto ao motivo da licença médica referido pelo
trabalhador.
Fonte: O autor (2007).
Dentre os 135 trabalhadores participantes desta pesquisa, foram identificados 104
problemas de saúde (apêndice 8), categorizados conforme aparelhos e os sistemas
comprometidos. Cabe destacar que cada problema de saúde foi computado uma única vez por
trabalhador e cada trabalhador apresentou, pelo menos, um problema de saúde. Godoy et al,
(2006) referem que os estudos sobre motivos e dimensões de licenças médicas e seus reflexos na
organização hospitalar e nos indivíduos são escassos, assim como a relação destas com as
doenças ocupacionais.
No Brasil, apesar dos altos índices de absenteísmo-doença em hospitais, somente nas
últimas décadas ocorreram esforços, ainda isolados, visando responder às questões relacionadas a
esses índices, às categorias afetadas, a patologias mais freqüentes e a diferenças entre as diversas
unidades de trabalho. Torna-se importante ressaltar que o absenteísmo-doença deve ser
77
relacionado às características das diferentes organizações hospitalares, pois seu comportamento
parece depender dos modelos de gestão, porte e estrutura da organização, coesão de grupos,
locais de trabalho, categorias profissionais e outros fatores como a natureza da doença tratada
pela instituição (MAZZILLI, 2004; GODOY et al, 2006).
Nas organizações contemporâneas, as pressões sobre o empregado provocam situações de
risco físico e psíquico que comprometem a qualidade de vida no trabalho e, freqüentemente,
levam a ausências justificadas por atestados médicos. Essas ausências, além dos custos
financeiros para os empregadores, trazem dificuldades para o trabalho em equipe, decorrentes da
sobrecarga dos presentes e prejuízo para os clientes, principalmente quando se trata de
organizações hospitalares (MAZZILLI, 2004; GODOY et al, 2006).
Na literatura que trata desta temática, o principal tipo de absenteísmo está relacionado à
incapacidade por doença e acidente de trabalho, abrangendo 75% ou a totalidade das ausências na
indústria, sendo justificado por atestados médicos de acordo com as normas legais da seguridade
social, embora nem sempre se refira à doença efetivamente comprovada. Absenteísmo-doença,
geralmente, está associado a algum tipo de risco, seja ele do ambiente de trabalho ou próprio do
indivíduo (GOGOY et al, 2006), o que também vem corroborar com a amostra estudada, pois o
motivo mais freqüente para o absenteísmo está entre as doenças como acidentes de trabalho,
viroses, obesidade, entre outros (49.6%; n = 67), na categoria denominada “outros fatores
adversos à saúde”.
As instituições de saúde são mais propensas a exporem seus profissionais a problemas de
saúde pelo tipo de trabalho desenvolvido, pelas características do ambiente de trabalho e pelas
atividades insalubres executadas (NASCIMENTO, 2003). Verifica-se, especificamente no
atendimento realizado no ambulatório da instituição oncológica estudada, que os profissionais
sofrem ansiedade e angústia geradas pela demanda, tanto pela sua quantidade quanto pelo seu
conteúdo, ou seja, pelo tipo de paciente e familiar atendido com queixas de dores, fraqueza,
desespero, estresse, queixas de demora para ser atendido, procedimentos não realizados, o que
muitas vezes gera agressões verbais. Os trabalhadores de enfermagem estão constantemente
expostos aos riscos existentes neste ambiente, como a exposição às drogas citostáticas, aos
materiais perfurocortantes, à radiação ionizante, ao levantamento excessivo de peso e outros. Os
78
sujeitos deste estudo, por estarem na faixa etária que já sofreu modificações ou alterações
generalizadas no organismo, necessitam de acompanhamento médico na tentativa de prevenção e
promoção de sua saúde. As variáveis descritas no gráfico 8 indicam os percentuais de causas de
afastamentos por adoecimento dos trabalhadores de enfermagem do ambulatório objeto deste
estudo.
Outros problemas de saúde
A variável “outros problemas de saúde” se encontra em primeiro lugar (49,6%), logo após
aparecem as doenças do sistema músculo-esquelético (48.9%) e, em terceiro lugar, os transtornos
mentais e comportamentais (22.2%), seguidas das doenças do aparelho geniturinário (19.3%), das
doenças do coração e aparelho circulatório (14.8%), aparelho respiratório (11.1%), doenças
endócrinas (5.2%), doenças dos olhos (4.4%), sistema digestivo (3.7%), neoplasias (3.0%),
alergias (2.2%), dependência química (2,2%), sistema nervoso central (1,5%) e DST-AIDS
(0.7%).
Dentre os fatores adversos à saúde na amostra estudada, estão os acidentes com
perfurocortantes, queimaduras, quedas no local de trabalho, acidentes no trajeto de casa/ trabalho
e trabalho/casa, acidentes incluindo transporte de macas e cadeiras de rodas, viroses, obesidade e
cirurgias eletivas. Murofuse (2004) admite que acidente de trabalho (AT) é o que ocorre pelo
exercício do trabalho, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a
perda e/ou redução permanente ou temporária da capacidade para o trabalho. Os AT são
acontecimentos que se impõem de modo violento aos trabalhadores; são frutos de uma construção
que tem relação com o processo de trabalho, ou seja, os procedimentos e técnicas pelos quais os
bens são produzidos.
Os acidentes com instrumentos perfurocortantes estão entre as primeiras causas de AT
entre trabalhadores da saúde em nosso país. Além destes, outros tipos de acidentes atingem esta
categoria profissional, dentre eles as quedas, acidentes de trânsito, carregamento de peso
excessivo, esforço físico, postura não-ergonômica, contato com soluções químicas, impacto
contra objetos, agressão de paciente, contato com quimioterápicos, impacto por queda de objeto,
79
queda por desnivelamento de piso (buraco), contato com material em látex e com objeto quente
(MUROFUSE, 2004).
Ferreira, (1996) e Nascimento (2003) relatam que as condições de trabalho na
enfermagem repercutem no grau de absenteísmo: as longas jornadas, os turnos desgastantes, o
elevado esforço físico, a multiplicidade de funções, o ritmo excessivo de trabalho, o
desenvolvimento de tarefas desagradáveis, repulsivas e aterradoras, a incerteza no
restabelecimento do paciente, o cuidar de pacientes com doenças incuráveis, o confronto com a
realidade do sofrimento e da morte podem elevar as tensões emocionais que, acrescidas à baixa
remuneração e ao duplo vínculo empregatício, acabam gerando danos à saúde e favorecendo a
ocorrência de acidentes ou, até mesmo, a morte prematura dos trabalhadores de enfermagem.
Na enfermagem, os níveis de estresse e sobrecarga de trabalho decorrentes da introdução
de novas tecnologias, do crescimento do setor de serviços relacionados à saúde, da introdução de
novos processos de produção e gestão do trabalho com a permanência da carga horária de 40
horas semanais e o constante déficit de pessoal, apesar do crescimento da demanda assistencial,
levaram ao aumento das doenças laborativas, principalmente os Distúrbios Osteomusculares
Relacionados ao Trabalho (DORT), problemas cardíacos, gástricos e psiquiátricos.
Conseqüentemente, o índice de absenteísmo por agravos à saúde tem sido um fator predisponente
de doenças para aqueles que continuam em atividade (GUEDES; NASCIMENTO,2003).
Doenças do sistema músculo-esquelético
Ao referirem problema de saúde adquirido após o ingresso na instituição, 108
respondentes apontam as doenças do sistema músculo-esquelético como sendo a mais freqüente
(80.0%). Os trabalhadores referem hérnias de disco (43.0%), seguidas de artrose, escoliose,
lordose, artrite, tendinite, epicondilite, tenossinovite, bursite, síndrome do túnel do carpo,
fibromialgia, esporão de calcâneo
2
, rompimento de menisco e cervicodorsolombalgias sem
diagnóstico (apêndice 7). Apesar destes 108 trabalhadores apontarem esta doença, apenas 66
2 Formação óssea reativa em forma de esporão localizada na face plantar do calcâneo, que acomete cerca de 50%
das pessoas portadoras de fascite plantar (ALVES, 2004).
80
trabalhadores (48,9%) referiram ter tido necessidade de licença médica por este motivo, como
mostra a tabela 12 e o gráfico 8.
Estudo realizado por Bellusci et al (1999), em um hospital filantrópico na cidade de São
Paulo, demonstra que as doenças com diagnóstico médico mais referidas pelos trabalhadores da
área de enfermagem, foram as músculo-esqueléticas, o que corrobora com os achados do presente
estudo.
Em outro estudo realizado por Godoy et al (2006), as instituições hospitalares que
apresentaram maiores índices de absenteísmo-doença tiveram como causa as doenças
osteomusculares, seguidas de doenças do aparelho respiratório e outros fatores adversos a saúde.
Bulhões (1998) confirma essa versão, pois, dentre os principais motivos de ausências da
equipe de enfermagem, estão os problemas de coluna, mas, no entanto, as lombalgias não são
reconhecidas como doença ocupacional.
É preciso rever os dispositivos legais que buscam prevenir e preservar a saúde do
trabalhador, a garantia de seus direitos, pois, na prática, os trabalhadores esbarram em
dificuldades relacionadas ao estabelecimento de nexo de causalidade entre a lesão, a doença, o
problema de saúde e o trabalho executado. Portanto, as doenças osteomusculares que podem
resultar de um acidente específico ou se desenvolver lentamente com o decorrer do tempo, podem
ter dificultado o reconhecimento de sua relação com o trabalho. A predominância desses efeitos
tardios impede ou dificulta a relação causa-efeito e muitos são atribuídos à idade e a fatores
individuais ou hereditários (ARAÚJO; LIMA; LIMA, 1998).
Adoecer ou morrer em decorrência do trabalho pode ocorrer em função de uma doença
profissional ou de uma doença relacionada ao trabalho. De acordo com a Lei 8.213/91, que
dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social, a doença profissional é aquela
produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade,
constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e Emprego e o da
Previdência Social, e a doença relacionada ao trabalho é entendida como doença adquirida ou
desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se
relacione diretamente (BRASIL, 1991).
81
Ainda segundo a Lei 8.213, não são consideradas, como doença do trabalho, a doença
degenerativa, a inerente a grupo etário, a que não produza incapacidade laborativa, a doença
endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo com
comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do
trabalho. Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na relação prevista
resultou das condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona
diretamente, a Previdência Social deve considerá-la acidente de trabalho.
Para Dejours, 1992, saúde não é algo que vem do exterior, não é assunto dos demais, de
uma instância ou instituição, do Estado ou dos médicos. Não é retirada a obrigação do Estado em
fornecer os meios adequados de manutenção e de assistencia à saúde dos cidadãos, mas é
destacado que somente o indivíduo é capaz de saber se tem saúde ou não, ou seja, apenas ele é
capaz de estabalecer os limites entre o normal e o patológico, uma vez que é ele quem sofre e
reconhece suas dificuldades para enfrentar as demandas que o meio lhe impõe. Portanto, quem
pede atenção, quem precisa ser escutado é aquele que sabe e se sente doente.
A enfermagem é um grupo que constitui um segmento significativo de trabalhadores na
área da saúde e, devido às especificidades de sua prática assistencial, é freqüentemente exposto a
diversos fatores de risco e a agravos à saúde presentes no ambiente de trabalho. A enfermagem
tem por finalidade produzir cuidados que visam à recuperação do corpo doente e tem, no hospital,
seu maior mercado de trabalho. As condições de trabalho oferecidas pelos hospitais aos
trabalhadores de enfermagem são consideradas inadequadas e responsáveis por desequilíbrios na
saúde daquele grupo de trabalhadores, desde a década de 1950. Desde então, vem crescendo a
produção do conhecimento acerca da saúde desses trabalhadores, mas permanece o desafio para
efetivar medidas preventivas capazes de evitar os acidentes e as doenças que os acometem
(MUROFUSE, 2004).
Buscando garantir a saúde e a segurança dos trabalhadores em geral, o Ministério do
Trabalho criou as Normas Regulamentadoras (NRs) através da Portaria nº3.214 de 08 de junho de
1978, que vêm sendo continuamente atualizadas. Mas, somente em 2005, a criação da última
norma regulamentadora NR32 demonstra uma preocupação com os trabalhadores da área de
saúde, tendo por finalidade estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de medidas de
proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores em estabelecimentos de assistência à saúde,
82
bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência a saúde em geral . As NR
S
(Normas Regulamentadoras) têm a finalidade de garantir o direito fundamental e social à redução
dos riscos inerentes ao trabalho, como prevê o inciso XXII do artigo 7º da Carta Magna
(BRASIL, 1978; BRASIL, 2005).
A NR6 regulamenta o uso de EPIs, destinados a proteger a saúde e a integridade física do
trabalhador no local de trabalho. A NR7 dispõe sobre a obrigatoriedade e a implementação do
Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), com o objetivo de promover e
preservar a saúde do conjunto dos seus trabalhadores. A NR9 estabelece a obrigatoriedade da
elaboração de um programa de prevenção de riscos ambientais do trabalho, considerando a
proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. Indica adoção de equipamentos de proteção
coletiva (EPC) bem como, quando necessário, em caráter complementar, a utilização de EPI. A
NR17 diz respeito à ergonomia e visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das
condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a
proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente (BRASIL, 1978).
Da esfera da saúde destaca-se a Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8080 de 19 /09/1990) que
dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde. As competências
do SUS na área da saúde do trabalhador estão estabelecidas em seu artigo 6º, que contempla
diversas medidas que visam à promoção, coordenação e execução das ações, para garantir a
assistência adequada ao trabalhador, vítima de acidente de trabalho ou portador de doença
profissional e do trabalho; à realização de estudos, pesquisa, avaliação e controle de riscos e
agravos potenciais à saúde, existentes no processo de trabalho; à normatização, no âmbito de
competência do SUS, da fiscalização e controle das condições de produção, extração,
armazenamento e transporte, distribuição e manuseio de substâncias, de produtos, de máquinas e
equipamentos que apresentem riscos à saúde do trabalhador; à avaliação do impacto da
introdução de novas tecnologias sobre a saúde; à informação a trabalhadores e empregados sobre
os riscos para a saúde presentes nos processos de trabalho, incluindo a divulgação de resultados
de estudos, avaliações e fiscalização, realizadas em locais de trabalho (MUROFUSE, 2004).
Godoy et al (2006) recomendam correlacionar com o trabalho os fatores de risco, como o
manuseio de cargas, posturas adotadas pelo trabalhador durante a execução da atividade e
83
posturas inadequadas por longos períodos, presentes nas situações cotidianas de trabalho,
considerando, também, os fatores individuais como idade, sexo, peso, altura, capacidade da força
muscular, presença de outras patologias. Na enfermagem, é apontado, com freqüência, a má
postura corporal dos trabalhadores e a inadequação do espaço físico e mobiliário, como
predisponentes à ocorrência de problemas osteomusculares. Neste sentido, é imprescindível a
compreensão dos fatores de risco, pois permite ampliar o campo de análise que envolve
trabalhador / ambiente de trabalho / organização de trabalho, tendo em vista que as afecções
osteomusculares podem ser desencadeadas em função das condições em que o trabalho é
realizado ou podem ter origem extra-ocupacional ou mista.
A preocupação com as lesões do sistema osteomuscular, especialmente aquelas
relacionadas com as cervicodorsolombalgias em trabalhadores de enfermagem, motivou a
realização de diversos estudos, por serem esses eventos considerados como uma das mais
importantes causas de morbidade e incapacidade em adulto. As regiões lombar e cervical são as
mais atingidas entre as doenças que comprometem a coluna vertebral dos trabalhadores de
enfermagem.
Os estudos sobre as condições de trabalho hospitalar apontam sobrecargas físicas
importantes no trabalho da enfermagem que podem culminar em problemas osteoarticulares.
Alguns aspectos podem interferir na saúde dos trabalhadores, como as posturas penosas adotadas
pela enfermagem, em que predominam a postura em pé ou as flexões de coluna no preparo de
medicações, execução de diferentes procedimentos técnicos e na movimentação e transporte de
pacientes, a falta de equipamentos especiais para a movimentação de pacientes, pessoal em
número insuficiente para realizar transferências de pacientes, a falta de treinamentos e outras
condições como tensão emocional e trauma direto, como segurar pacientes que estão caindo,
quedas e choque entre pessoas. Geralmente, os mobiliários e os equipamentos disponíveis são
inadequados e não atendem a normas e padrões ergonômicos. Estes, dentre outros fatores,
contribuem para a ocorrência de adoecimento, causando impactos econômicos e psicossociais,
principalmente pelo absenteísmo e seqüelas das lesões (PARADA; ALEXANDRE; BENATTI,
2002; BORGES, 2006).
No trabalho da enfermagem, as principais causas que podem levar a LER/DORT, que são
84
a repetitividade de movimentos, manutenção de posturas inadequadas por tempo prolongado,
esforço físico, invariabilidade de tarefas, pressão mecânica sobre determinados segmentos
corpóreos, trabalho muscular excessivo, choques e impactos músculo-esqueléticos, frio e fatores
organizacionais. Sobre estes fatores, para serem considerados de risco para a ocorrência destes
distúrbios, as autoras afirmam que é importante que se observe a intensidade, a duração e a
freqüência (GUEDES; NASCIMENTO, 2003).
Murofuse e Marziale (2005), em estudo realizado numa fundação hospitalar do estado de
Minas Gerais, tiveram por objetivo analisar os problemas de saúde relacionados ao sistema
osteomuscular encontrados nos trabalhadores de enfermagem de 23 instituições de saúde,
atendidos pela divisão de Assistência à Saúde do Trabalhador, em 2002. Assinalaram que entre
os 6.070 atendimentos realizados, 11,83% (718) apresentaram diagnósticos de problemas
relacionados ao sistema osteomuscular, envolvendo diversas estruturas corporais como a coluna
vertebral, membros superiores e inferiores. As doenças legalmente consideradas como doenças
do trabalho, relacionadas ao sistema músculo-esquelético, foram identificadas em 255 (35%)
atendimentos, destacando-se as dorsalgias (20%), as sinovites e tenossinovites (13,7%),
agrupadas como LER-DORT. Conclui-se que maior atenção deva ser direcionada às posturas
adotadas pelos trabalhadores na execução das atividades laborais e às condições dos mobiliários,
e, assim, se faz necessário dispor de instrumentos e equipamentos ergonomicamente planejados,
visando à redução da incidência dos problemas osteomusculares.
Sabe-se que as doenças da coluna vertebral têm fundo eminentemente psíquico e merecem
especial destaque pelo que encerram de simbólico e pelo que influenciam na vida e no bem-estar
das pessoas. A região lombar desempenha papel importante nas atividades básicas da vida, por
exemplo, esquivar-se, manter-se, ou ao contrário, curvar-se, ceder, sujeitar-se. A impossibilidade
de erguer adequadamente a coluna agride o amor próprio da pessoa, implicando na idéia
simbólica, evidentemente, de que está abandonando a dignidade humana. A postura do indivíduo
pode refletir o estado do seu psiquismo, expressando o que se poderia chamar de linguagem
corporal (BECK et al, 2006). Possivelmente, estes aspectos podem ter interferido na amostra de
trabalhadores estudados, já que 69.6% (n = 94) referiram sentir-se indispostos mentalmente ao
final de suas jornadas de trabalho (Tabela 15).
85
Transtornos mentais e comportamentais
No que se refere a transtornos mentais e comportamentais, verificamos que dos 135
respondentes, 66 trabalhadores (48,9%) referiram ter adquirido algum tipo de adoecimento
mental após seu ingresso na instituição. Contudo, apenas 30 dos respondentes (22,2%) referiram
ter apresentado licença médica, representando a terceira causa de motivos de afastamentos
(tabela 12 e gráfico 8). Entre as doenças citadas, as mais comuns foram a depressão, síndrome do
pânico, transtorno bipolar, ansiedade e transtorno obsessivo compulsivo (TOC).
Cruz (2006) revive que, apesar de percebidos pelos trabalhadores, alguns desgastes e
queixas dos profissionais não são valorizados pelas chefias. Com isso, muitas vezes o trabalhador
omite seus sintomas e sentimentos, com receio de ser “taxado” de aquele que “não corresponde
às expectativas da instituição” ou aquele que “não quer nada”, “preguiçoso”. Em decorrência
deste fato, muitos profissionais trabalham “meio doentes”, ou preferem se ausentar do trabalho,
mas não “pegam atestados” principalmente nos casos de transtornos mentais e comportamentais,
quando o funcionário diz que fica “marcado como psiquiátrico ou desequilibrado”.
O transtorno mental, constatado no estudo como um acometimento que leva à licença
médica de longa duração em 30 trabalhadores (22.2%), pode estar indicando uma exposição do
trabalhador a um ambiente que traz, pela sua própria peculiaridade, um desgaste emocional para
o trabalhador. Pode-se acrescentar, também, uma correlação deste adoecimento com a sobrecarga
emocional, tarefas repetitivas e monótonas, volume de atividades burocráticas, contribuindo para
a fadiga e o esgotamento (BIANCHI, 2000).
Corroborando com a presente pesquisa, um estudo sobre adoecimento de trabalhadores de
saúde em uma rede hospitalar constatou que os transtornos mentais se apresentaram também
como a terceira causa de licenças médicas, reconhecendo as repercussões negativas decorrentes
do trabalho. Um fato que pode contribuir para a gênese de doenças psíquicas é a forma de
organização do trabalho, que pode desencadear clima de tensão e conflitos diante da implantação
de mudanças no ambiente laboral sem envolvimento prévio do trabalhador (GODOY et al, 2006).
O sofrimento psíquico no trabalho tem-se constituído na segunda causa de afastamento do
trabalho nos Estados Unidos, provocando controvérsias e discussões sobre a possibilidade de
86
existir ou não uma relação com o trabalho. São fatos como estes que demonstram como ainda
estão distantes a efetivação da saúde e o trabalho como direito de todos os trabalhadores
(JACQUES; CODO, 2002).
Verifica-se, na tabela 14, que quanto maior o tempo de trabalho na instituição maior a
ocorrência de transtornos mentais e comportamentais. De acordo com Dejours (1992),
contrariamente ao que se poderia imaginar, a exploração do sofrimento pela organização do
trabalho não cria doenças mentais específicas e, até o momento, não foi possível provar a
existência de uma patologia mental decorrente do trabalho. O autor aponta que as
descompensações psicóticas e neuróticas dependem, em última instância, da estrutura das
personalidades, adquirida muito antes do engajamento na produção, porém, este fato não é
suficiente para explicar o momento escolhido para que estas descompensações se revelem. Deve-
se levar em consideração três componentes da relação homem-organização do trabalho: a fadiga,
que faz com que o aparelho mental perca sua versatilidade, o sistema frustração-agressividade
reativa, que deixa sem saída uma parte importante da energia pulsional e, por fim, a organização
do trabalho, como correia de transmissão de uma vontade externa que se opõe aos investimentos
das pulsões e às sublimações. A organização do trabalho talvez inscreva seus efeitos mais na
possibilidade de tratamento de uma doença mental do que em seu determinismo.
Tabela 14. Associação tempo de trabalho na instituição e transtornos mentais.
Tempo de trabalho na
instituição (anos)
Sim Não Total %
0 – 10 05 19 24 20,8
11 - 20 18 13 31 58,1
21 - 30 43 37 80 53,8
X
2
= 9, 36 (P=0.009) - Significativo Fonte: O autor
De uma maneira geral, o fato de ter como objeto de trabalho o corpo do indivíduo doente,
que sofre, que sente dor e morre, envolve os trabalhadores de enfermagem numa situação
causadora de ansiedade, tensão e sofrimento, potencializando as cargas psíquicas decorrentes do
ambiente hospitalar, da falta de autonomia, da divisão do trabalho por categoria e por tarefa, da
supervisão constante, do ritmo intensivo de trabalho (FERREIRA, 1996; SILVA; KURCGANT ;
87
QUEIROZ, 1998).
O trabalho da equipe de enfermagem, geralmente, é desenvolvido em ambiente com
situações geradoras de tensão, ao que se soma a convivência com o sofrimento do outro, com a
angústia dos doentes e seus familiares, com a morte que, muitas vezes, origina sentimentos de
frustração e de fracasso da assistência. No caso do trabalho com pacientes portadores de câncer, a
permanência é contínua neste tipo de ambiente e pode tornar-se fonte de risco profissional, em
especial, do estresse, que pode levar a sérios acidentes e a doenças ocupacionais.
Estes sentimentos, muitas vezes, acometem os trabalhadores de enfermagem na área
oncológica, porque, possivelmente pela impossibilidade de alcançar resultados positivos e
sentindo-se incapazes de modificar a realidade do paciente com câncer, sentem-se derrotados. É
uma resposta do organismo a um estado de estresse prolongado, crônico instalado, quando
situações de enfrentamento não foram utilizadas, falharam ou não foram suficientes, e se
caracteriza por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade
em relação a quase tudo (como defesa emocional). Esta síndrome se refere a um tipo de estresse
ocupacional com predileção para profissionais que mantêm uma relação constante e direta com
outras pessoas, principalmente quando esta atividade é considerada de ajuda, como é o caso dos
trabalhadores de enfermagem (CAMPOS, 2005; MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO,
2005).
Entre os fatores estressores vinculados ao trabalho estão aqueles relacionados às
exigências para a realização das tarefas com sobrecarga qualitativa e quantitativa, trabalho
repetitivo ou fragmentado, os problemas referentes à carreira sem perspectiva de melhoria, os
critérios de promoção obscuros, os horários inconvenientes de trabalho, a limitação dos contatos
interpessoais, os riscos químicos e físicos e os problemas na interface trabalho / lar. As mulheres
apresentam maior incidência de depressão do que os homens e, ao longo da vida, a incidência de
depressão em mulheres é duas vezes maior do que entre os homens (NIEVAS, 2005).
A repercussão de fatores do ambiente de trabalho na saúde mental das pessoas também é
descrita por Dejours (1992). Segundo este autor, a organização moderna do trabalho, o ritmo, a
tecnologia, o medo, a ansiedade, a pressão da chefia, dentre outros, causam um sofrimento
escondido, de natureza psíquica.
88
A depressão é uma doença registrada desde a Antiguidade. Na história da medicina,
Hipócrates a descreve com o termo “melancolia”. A palavra depressão pode designar um estado
afetivo anormal, um sintoma, uma síndrome ou uma doença. No CID-10, a depressão é descrita
como rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição da atividade, e os principais
sintomas são a diminuição da capacidade de concentração, fadiga após esforço mínimo,
diminuição da auto-estima e da autoconfiança, idéias de culpabilidade e/ou indignidade, além de
sintomas como, despertar precoce, agravamento matinal da depressão, lentidão psicomotora,
perda do apetite, perda de peso, perda da libido.
O número e a gravidade dos sintomas permitem determinar três graus de um episódio
depressivo: leve, moderado e grave. No episódio leve, geralmente estão presentes, ao menos, dois
ou três dos sintomas citados anteriormente. O paciente, usualmente, sofre com a presença destes
sintomas, mas, provavelmente, será capaz de desempenhar a maior parte das atividades. No
episódio depressivo moderado, geralmente estão presentes quatro ou mais dos sintomas citados
anteriormente e o paciente tem muita dificuldade para continuar a desempenhar as atividades de
rotina. Nos episódios depressivos graves, vários dos sintomas são marcantes e angustiantes,
tipicamente a perda da auto-estima e idéias de desvalia ou culpa (NIEVAS, 2005).
Poucos estudos relacionados aos transtornos mentais foram encontrados na área
oncológica. Pesquisas realizadas com trabalhadores de enfermagem indicam que eles avaliam
suas condições de trabalho como difíceis, precárias, estressantes e geradoras de muita
insatisfação, devido aos conflitos existentes entre os diferentes grupos profissionais e entre a
própria equipe. Numa instituição especializada em oncologia, os trabalhadores referiram que o
convívio com o paciente oncológico é muito difícil. A dor, o sofrimento e a morte sempre
presentes tornam as condições de trabalho ainda mais difíceis. (STACCIARINI; TRÓCCOLI,
2001).
Campos (2005) comenta que o câncer tem o poder de modificar as pessoas, tanto os
pacientes com seus familiares como os profissionais, e que a convivência diária com esta situação
nos fragiliza, pois também nos toca. Refere, ainda, que enfermeiros oncologistas estão expostos
ao grande risco de desenvolver a síndrome de Burnout devido à natureza estressante e exigente
do seu trabalho com pessoas que, na maioria das vezes, estão sofrendo, estão incertos de seu
89
futuro, experimentando medo da morte ou de estar próximo de morrer.
Em estudo das emoções na enfermagem oncológica, realizado por Ferreira (1996),
observa-se que no enfrentamento das situações consideradas difíceis, os trabalhadores lançam
mão de algumas técnicas de defesa, principalmente as de refreamento do envolvimento excessivo
com o paciente e a procura por manter sua independência profissional. Como mecanismos
individuais de defesa foram mencionados a religião ou alguma forma de ajuda espiritual e
inúmeros passatempos, como passeios, execução de trabalhos manuais, leitura e meditação. Foi
pouco citada a ajuda de outro profissional. A maioria mencionou o choro como válvula de
escape.
Lunardi Filho (2000) refere que, ainda que o trabalho seja uma fonte de prazer, de bem-
estar e de saúde, quando existem condições favoráveis à livre utilização das habilidades e o seu
controle pelos trabalhadores, por outro lado, ele, o trabalho, pode ser fonte de sofrimento
psíquico quando desprovido de sentido, sem suporte social, não reconhecido ou em situações que
se constitui em fonte de ameaça à integridade física e/ou psíquica. Tal observação corrobora com
os achados deste estudo, quando alguns respondentes relatam que o trabalho é muito importante e
gratificante, expressando orgulho na execução de suas tarefas e, sobretudo, de trabalhar num
hospital de referência em oncologia, mas, também, difícil devido ao conviver com o sofrimento e
a morte constantemente. Referidos, por eles mesmos, como profissionais diferenciados, suas
falas são recheadas de um mix de sofrimento e orgulho, o que provavelmente ajuda a minimizar
as dificuldades enfrentadas cotidianamente por essa categoria.
Skaba (1997), analisando o serviço de emergência de um hospital municipal do Rio de
Janeiro, refere que, no contraponto do sofrimento contido no processo de trabalho, o pessoal de
enfermagem é a categoria que mais expressa o orgulho na execução das suas tarefas, assim como
os vários trabalhadores participantes desta pesquisa, que também referiram orgulho por trabalhar
em uma instituição de referência em oncologia e que, apesar do aparecimento de doenças
relacionadas à sobrecarga emocional, não havia manifestação de desejo de troca de local de
trabalho por parte deles.
Destaca-se que o trabalho em uma instituição especializada e complexa, como é o caso
desta que é o nosso campo de estudo, pode conferir status quo ao trabalhador, a partir do
90
reconhecimento de suas habilidades técnicas, o que pode reforçar o sentimento de orgulho e a
resistência de troca de local de trabalho, conforme também mencionado por Beck et al (2006).
Já no que se refere a transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de substâncias
psicoativas nos profissionais de enfermagem do ambulatório, o estudo identificou 19 dos
respondentes (14.1%) que referiram dependência ao álcool, tabaco e substâncias psicotrópicas. A
Classificação Internacional de Doenças – CID 10 (1987) inclui a dependência química como
transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas, causando
desordem biocomportamental caracterizada pela perda do controle sobre o consumo, aumento da
tolerância aos seus efeitos, sintomas de abstinência e uso persistente, apesar de problemas sociais
ou de saúde. A OMS (1997) define a dependência química como um estado psíquico e físico que
sempre inclui uma compulsão de modo contínuo ou periódico, podendo causar várias doenças
crônicas físico-psíquicas, com sérios distúrbios de comportamento. Pode, também, ser resultado
de fatores biológicos, genéticos, psicossociais, ambientais e culturais.
Os transtornos mentais e de comportamento causado pelo uso prejudicial do álcool
incluem problemas sociais e interpessoais. O CID-10 apresenta em seus relatórios, inúmeros
prejuízos à saúde mental do dependente químico de álcool, tais como agressividade, depressão,
doença de ansiedade e crises psicóticas, causando conflitos nos relacionamentos familiares e no
ambiente de trabalho. Esses prejuízos levam o indivíduo a elevar os números das licenças saúde,
faltas e atrasos. Nesse caso as licenças têm duração prolongada, o que mostra o grau de
comprometimento de sua saúde, baixa produtividade e sobrecarga dos colegas de trabalho.
Parte destes trabalhadores reconhece a doença e já se encontra em tratamento, o qual é
patrocinado pela própria instituição, através de convênio com clínica de desintoxicação e
acompanhamento pela Divisão de Saúde do Trabalhador (DISAT). Vale ressaltar que apenas 3
trabalhadores (2.2%) referiram licença médica por este motivo. A dependência química ainda é
muito estigmatizada. Fica claro o quanto é difícil à pessoa que está com problema de dependência
química admitir a gravidade da situação e sua impotência para interromper ou diminuir o uso
(MORAIS, 2005).
A dependência química é considerada hoje como um problema de saúde pública, pois
atinge toda a sociedade, desde as classes sociais mais elevadas às mais baixas. O uso de drogas
91
lícitas e ilícitas é um grande problema da sociedade moderna. A droga está cada vez mais
presente na vida cotidiana das pessoas. O Brasil vem enfrentando graves problemas em relação
ao seu consumo, principalmente no ambiente de trabalho, onde se observam elevados índices de
absenteísmo, ônus financeiro para a instituição, problemas de relacionamento e dificuldades na
administração (CARRILLO; MAURO, 2003; MORAIS, 2005).
Os problemas sociais acentuados em época de crise de produção, com o desemprego em
alta, repercutem no ambiente de trabalho e, desta maneira, a insatisfação profissional, a
sobrecarga de trabalho e a falta de integração podem ser porta de entrada para o vício, como, por
exemplo, o álcool. O alcoolismo, encontrado em 6 trabalhadores deste estudo (apêndice 7), é uma
doença caracterizada pela presença de compulsão, perda de controle, dependência física e
tolerância. A compulsão ao álcool é uma necessidade tão forte quanto a sede ou a fome, que faz
com que a maioria dos dependentes precise de ajuda para se recuperar dessa doença. Embora seja
uma doença controlável, ainda não há cura e pode trazer sérios problemas à saúde, à família, aos
amigos e aos colegas de trabalho, além de ser um risco à vida (MUROFUSE (2004).
Na OMS, a síndrome de dependência alcoólica é conceituada como um dos problemas
relacionados ao trabalho, sendo considerado o próprio trabalho como um dos fatores
psicossociais de risco para o alcoolismo crônico, já que o consumo coletivo de bebidas alcoólicas
associado a situações laborais pode ser decorrente de prática defensiva, como meio de garantir a
inclusão, no grupo, bem como uma forma de viabilizar o próprio trabalho, em função de seus
efeitos como calmante, euforizante, relaxante, estimulante, indutor do sono anestésico e anti-
séptico (BRASIL, 2001).
Segundo Carrillo e Mauro (2003), o estresse gerado pela organização do trabalho e o
relacionamento com colegas são possíveis fatores de vulnerabilidade no ambiente de trabalho,
que, de alguma maneira, podem estar influenciando no consumo de álcool e outras drogas.
Outro fator importante a ser considerado é a interação do fumo com a manipulação de
drogas citostáticas, que pode causar desde a troca de cromátides irmãs
3
até câncer de pulmão. O
3 Na duplicação de cromossomos durante a fase S do ciclo celular há a duplicação do DNA e cada cromossomo
passa a ser constituído por duas cromátides ligadas pela região do centômero. Elas possuem alelos idênticos
(SOARES, PINTO e ROCHA, 2005).
92
tabagismo foi encontrado em 10 trabalhadores deste estudo. ( XELEGATI; ROBAZZI, 2003).
As doenças crônicas e distúrbios mentais provocados pelo uso abusivo de drogas são
causas de grandes prejuízos nas relações familiares, sociais e profissionais com diminuição da
produtividade, elevação da taxa de acidentes, internações, licenças médicas, faltas e atrasos
(MORAIS, 2005).
Doenças do sistema geniturinário
Com relação aos problemas do sistema geniturinário e ginecológico, (n = 35; 25.9%)
manifestaram-se através de infecção urinária, cálculo renal, mioma uterino, endometriose, aborto
espontâneo, menopausa precoce e cisto no ovário, que acometeram 35 trabalhadores. Destes,
19.3% necessitaram de licença médica por este motivo.
Doenças do sistema geniturinário em trabalhadores hospitalares, especialmente da
enfermagem, podem estar associadas a fatores como ritmo circadiano (trabalho por turnos),
ambientes com temperaturas elevadas, exposição a gases e a substâncias químicas, assim como
ao excesso de atividades. Esses fatores podem ser agravados por descuido na atenção às
necessidades básicas de alimentação / eliminação / hidratação e pela anatomia feminina, inerente
ao sexo predominante na enfermagem (PITTA, 1994; BARBOZA; SOLER, 2003; SILVA ;
MARZIALE, 2003).
A incidência de licença médica por problemas ginecológicos pode ser atribuída ao fato de
a profissão ser predominantemente feminina (n = 119; 88,1%). Estudos sobre a exposição a riscos
ocupacionais em trabalhadoras têm detectado alterações do ciclo menstrual, menopausa precoce,
abortos espontâneos, partos prematuros e nascimentos com baixo peso. A exposição de gestantes
a gases anestésicos e a alguns medicamentos, como citostáticos, pode ocasionar graves efeitos
reprodutivos. Tais problemas podem estar relacionados às características individuais dos
trabalhadores, assim como a fatores relativos às condições do trabalho (PITTA, 1994; SILVA;
MARZIALE, 2003).
93
Doenças do aparelho circulatório
Analisando as doenças do coração e do aparelho circulatório referidas pelos respondentes
desta pesquisa, observa-se um fato curioso quando 92 profissionais (68.1%) disseram sofrer
algum tipo de doença. Entretanto, somente 20 deles (14.8%) necessitaram de licença médica por
este motivo. Dentre as doenças, foram registradas hipertensão arterial, varizes de membros
inferiores, doença cardíaca hipertensiva, angina pectoris, infarto agudo do miocárdio, acidente
vascular cerebral, trombose arterial, flebite, tromboflebite e hemorróidas (apêndice 7).
As doenças cardiovasculares (DCV) responsáveis pela maior taxa de morbidade e
mortalidade na maioria dos países e também verificadas na maior parte da amostra estudada, têm
sido alvo de vários estudos e despertado interesse especial por atingirem grandes contingentes
populacionais, além de representar elevados custos sociais e econômicos. No Brasil, tais doenças
são responsáveis por grande número de mortalidade prematura em adultos e, mesmo quando não
são mortais, levam com freqüência à invalidez parcial ou total do indivíduo, com graves
repercussões para a pessoa acometida, sua família e a sociedade (SIMÃO et al, 2002).
Embora seja freqüente a valorização dos problemas pessoais como sedentarismo,
tabagismo e hábitos alimentares na gênese das doenças cardiovasculares, não é dada a devida
atenção aos fatores de risco presentes na atividade ocupacional dos trabalhadores.
Para considerar, por exemplo, a hipertensão arterial como doença relacionada ao trabalho,
é necessária a comprovação da exposição aos fatores de risco de natureza ocupacional,
associados às evidências biográficas e epidemiológicas de aumento da prevalência da doença em
determinados grupos de trabalhadores e excluídas as causas mais comuns, de natureza não-
ocupacional. A elevação da pressão arterial pode ser causada por vários agentes de natureza
química, física e psíquica presentes no ambiente de trabalho (MUROFUSE, 2004).
As varizes dos membros inferiores, citadas por 70 trabalhadores (apêndice 7), constituem
uma das doenças mais comuns de todas as alterações vasculares. Estima-se que, em cada cinco
mulheres, uma possui varizes. E, em cada 15 homens, um é portador dessa afecção que, além de
deformidade estética, pode ser incapacitante, com complicações e seqüelas graves (SANTOS,
2003).
94
Dentre os fatores de risco para doenças cardiovasculares descritos por diversos autores,
encontram-se hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemias, fatores genéticos, agentes
químicos e físicos do ambiente, especialmente o ruído. O estresse, a fadiga, a tensão emocional e
o sobrepeso são sintomas presentes no cotidiano dos trabalhadores de enfermagem, acrescidos
dos hábitos nocivos, como tabagismo, uso de bebidas alcoólicas e calmantes autoprescritos
(SILVA ; MARZIALE, 2003).
No grupo estudado, em uma jornada de trabalho, longas distâncias são percorridas devido
à necessidade de deslocamentos freqüentes como, por exemplo, à central de material de
esterilização (CME), localizada no 10º andar, distante do ambulatório, e, também, os
procedimentos realizados que exige do trabalhador a permanência em pé por longos períodos.
Esta carga, após horas de trabalho, pode agravar o cansaço dos trabalhadores, acarretando
vertigens, câimbras e facilitando o aparecimento de varizes e dores nas pernas.
Doenças do aparelho respiratório
As doenças do aparelho respiratório foram mencionadas por 36 trabalhadores, o que
representa 26.7% da amostra. Sabe-se que há, no ambiente hospitalar, agentes contaminantes e
alérgenos que podem causar irritações no trato respiratório do trabalhador, causando várias
doenças e conseqüentes ausências.
Os agravos à saúde do sistema respiratório podem estar relacionados a infecções
hospitalares, por meio de contaminação, ambientes fechados e pouco ventilados, baixa imunidade
e estresse. Todos são fatores de risco presentes no cotidiano do trabalho da enfermagem e têm,
como principal causa, a intensa exposição desta população a uma vasta gama de agentes
infecciosos. A interação orgânica do trabalhador com o ambiente hospitalar ocorre,
principalmente, através do sistema respiratório, por meio do ar e seus constituintes. Poluição
deste ar, que contém medicamentos, substâncias químicas, gases, vapores, névoas, poeiras, dentre
outros, aliada às características próprias do indivíduo e mecanismos de proteção adotados podem
influenciar nos efeitos desta exposição (SILVA; MARZIALE, 2003; MUROFUSE, 2004;
GODOY et al, 2006).
95
Todos os trabalhadores que referiram problemas do aparelho respiratório mencionaram as
infecções respiratórias como as principais doenças, com predominância das afecções das vias
respiratórias superiores, seguidas de asma brônquica, orofaringites e pneumonias. Tais problemas
geraram 11.1% das ausências. Estes resultados diferem de estudo realizado por Reis et al (2003),
que investigaram os motivos do absenteísmo entre os trabalhadores da enfermagem em ambiente
hospitalar, em que as doenças respiratórias foram classificadas em primeiro lugar.
É importante ressaltar que foram registrados 12 relatos de tuberculose. A tuberculose é
um problema de saúde pública que também pode ser decorrente de exposição ocupacional aos
produtos contaminados ou a doentes bacilíferos. Um estudo que enfocou os trabalhadores de
enfermagem, realizado por Barboza e Soler (2003), evidenciou a ocorrência de doenças
infecciosas e parasitárias, entre elas, a tuberculose adquirida no trabalho em membros da equipe
de enfermagem.
As infecções respiratórias têm sido pouco valorizadas pelos trabalhadores e suas chefias,
talvez por considerarem afecções passageiras, uma vez que demandam poucos dias de
absenteísmo. Muitas vezes, alegam alterações climáticas ou baixa resistência como responsáveis,
não as relacionando à sobrecarga de trabalho, à má alimentação e às condições inadequadas de
trabalho, acrescidas dos fatores de risco. Vale lembrar que os agentes químicos podem causar
comprometimentos respiratórios e a ocorrência de asma ocupacional pode estar relacionada com
látex ou os novos produtos químicos utilizados na indústria e unidades hospitalares (SILVA ;
MARZIALE, 2003; MUROFUSE, 2004).
Doenças endócrinas
No que concerne a doenças endócrinas, 27.4% da amostra, ou seja, 37 trabalhadores,
referiram tais enfermidades. Do total de respondentes, 22 pessoas (16.3%) adquiriram diabetes e
os demais relataram nódulos na tireóide, hipertireoidismo e hipotireoidismo.
O diabetes mellitus é uma condição crônica que modifica a qualidade e a expectativa de
vida, podendo levar à incapacidade física permanente por cegueira e amputação de membros
96
inferiores. Além disso, é causa de mortes prematuras por insuficiência renal, doenças cardíacas e
cerebrovasculares, entre outras, causando impacto econômico pelos custos elevados envolvidos
no seu controle e tratamento das complicações como, também, pela redução da produtividade e
dos anos de vida e trabalho perdidos (SANTOS, et al. 2001).
Doenças dos olhos
Dentre as doenças dos olhos, gráfico 4 e apêndice 4, pode-se observar que 19
respondentes (14,1%) referiram ter tido algum problema nos últimos anos. Destes, 6 pessoas
(4,4%) necessitaram de licença médica por este motivo. A doença mais citada foi a catarata (8),
glaucoma (4), retinopatia diabética (2), uveíte (1) e trombose (1).
O aparelho visual é vulnerável à ação de múltiplos fatores de risco para a saúde presentes
no trabalho, como os agentes mecânicos, físicos, químicos, biológicos e ao esforço excessivo que
leva à astenopia (fraqueza ou cansaço fácil dos olhos, ocorrendo desconforto, dor, e
vermelhidão). A astenopia pode ser induzida por algumas atividades de monitoramento visual
que exigem precisão e esforço (MUROFUSE, 2004).
Entre as doenças dos olhos relacionadas ao trabalho, a conjuntivite aparece como a
principal causa de afastamentos na pesquisa de Morofuse (2004) sobre o adoecimento dos
trabalhadores de enfermagem da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais, não
corroborando com os achados do presente estudo, cuja doença mais citada foi a catarata.
Doenças do sistema digestivo
Nas doenças do sistema digestivo, encontradas em 35.6% dos respondentes (n = 48),
destacam-se as gastrites e úlceras, que são enfermidades provocadas ou desencadeadas pelo
estresse proveniente do estado de alerta permanente, da sobrecarga emocional, bem como dos
eventos situacionais esperados ou não, podendo ser denominados cargas psicossociais. Estes
problemas também podem ser agravados em pessoas que possuem dois ou mais empregos, fato
97
comum entre os trabalhadores da área de saúde, incluindo-se os profissionais de enfermagem
(MUROFUSE, 2004; BECK et al, 2006; BORGES, 2006).
Os principais fatores para a ocorrência das doenças digestivas relacionadas ao trabalho
são os agentes físicos (radiações ionizantes, vibração, ruído, temperaturas extremas, queimaduras
(se extensas podem provocar úlcera gástrica e lesão hepática), substâncias tóxicas e fatores de
organização do trabalho, como estresse, exigências de produtividade, controle excessivo,
situações de conflito, tensão, trabalho em turnos, fadiga, posturas forçadas, horários e condições
inadequadas para alimentação (BRASIL, 2001).
Problemas digestivos, como gastrite nervosa, podem ser conseqüência do ambiente
estressante relacionado à dor, ao sofrimento e à morte. A exposição às drogas citostáticas pode
desencadear problemas no sistema digestivo, provocando danos hepáticos em trabalhadores que
as manipulam. A adaptação ao trabalho em turnos propicia tendências a perturbações
gastrointestinais, como úlceras pépticas e duodenais, gastroduodenites, anorexia e obstipação
intestinal (PITTA, 1994; SILVA; MARZIALE, 2003) .
Neoplasias
Neste estudo, as neoplasias foram classificadas em décimo terceiro lugar em freqüência,
demonstradas no gráfico 4. As doenças referidas foram câncer de colo de útero, tireóide,
endométrio, mama e palato.
O câncer é um importante problema de saúde pública, sendo responsável por mais de seis
milhões de óbitos a cada ano no mundo. O processo global de industrialização, ocorrido
principalmente no século passado, conduziu a uma crescente integração das economias e das
sociedades de vários países, desencadeando, a redefinição de padrões de vida com uniformização
das condições de trabalho, nutrição e consumo, determinando grande modificação nos padrões de
saúde-doença, com diminuição de doenças infecciosas e aumento concomitante da taxa de
doenças crônico-degenerativas, especialmente as cardiovasculares e o câncer (GUERRA;
GALLO; MENDONÇA, 2005).
98
O aparecimento de um câncer pode estar relacionado à exposição aos agentes
carcinogênicos presentes no ambiente onde se vive e se trabalha, em decorrência do estilo de vida
e de fatores ambientais produzidos ou alterados pela atividade humana (MUROFUSE, 2004).
A idéia de que estados psicológicos podem afetar o desenvolvimento de doenças é muito
antigo. Desde 200 D.C., o grego Galeno afirmava que mulheres melancólicas eram mais
susceptíveis a problemas de mama do que mulheres otimistas (REICHE; NUNES; MORIMOTO,
2005).
As células Natural Killer (NK) desenvolvem um importante papel na resistência imune
contra viroses e células tumorais. Tem sido observado que sua atividade pode ser inibida pelo
estresse, provavelmente por mecanismos neuroendócrinos. Portanto, estresse está associado à
diminuição da atividade das células NK. Emoções fortes descontrolam um número de sintomas
físicos, como alteração da pressão arterial, batimentos cardíacos, cefaléias, vômitos, problemas
gástricos e diminuição da resposta imune. Quando o estresse está associado ao consumo de
tabaco, bebidas alcoólicas ou maus hábitos alimentares podem levar ao desenvolvimento de uma
neoplasia maligna (LINO, 1999; ARMANDOLA, 2004; REICHE; NUNES; MORIMOTO,
2005).
Alergias
Dentre as alergias, gráfico 4, pode-se observar que 62 respondentes (45.9%) referiram ter
adquirido algum problema nos últimos anos. A doença mais citada foi a alergia respiratória (19),
medicamentos (12), substâncias químicas (12), talco de luva (8), látex (7), esparadrapo (2),
alimento (2) (anexo 4).
Alergia é a intolerância do organismo para com determinados produtos físicos, químicos
ou biológicos, aos quais reage de forma exagerada. Portanto, trata-se de uma reação anormal a
uma ou mais substâncias aparentemente inocentes que, quando apreendidas pelo organismo,
inalados, ingeridos ou por contato com a pele, causam irritabilidade. Trata-se a alergia, na
realidade, de uma intolerância do organismo a alguma circunstância externamente determinada.
99
Isto pode perfeitamente servir de analogia, em psiquiatria, com nossas Reações Vivenciais
Anormais, diante das vivências consideradas traumáticas. Durante as últimas décadas, a
prevalência das doenças alérgicas tem aumentado, especialmente nos países mais industrializados
do mundo. Fatores hereditários e ambientais são reconhecidamente importantes para o
aparecimento desta doença e o nível de exposição aos alérgenos é um dos fatores de risco. No
ambiente de trabalho, o aumento das doenças alérgicas pode estar relacionado ao aumento da
exposição alergênica (BALLONE, 2003).
As doenças alérgicas cutâneas ou respiratórias têm sido consideradas como um dos
principais problemas ocupacionais entre os trabalhadores da área de saúde, onde a principal fonte
de exposição alergênica tem sido o uso de luvas de látex com pó e a sensibilidade causada pela
presença de proteínas hidrossolúveis. Até o final da década de 80, o uso de luvas de látex era
considerado inócuo, mas atualmente, vem-se revelando como sensibilizador. O látex é cada vez
mais usado na medicina. A alergia ao látex é uma hipersensibilidade que afeta os trabalhadores
na área da saúde, assim como, o aparecimento de reações alérgicas causadas pelo uso de
glutaraldeído já foi confirmado. Um dos estudos relatou o caso de enfermeiras e médicos de uma
unidade de endoscopia, que passaram a apresentar manifestações clínicas, como lacrimejamento
nos olhos, rinites, dermatites, dificuldades respiratórias, náuseas e dor de cabeça após a exposição
ao glutaraldeído a 2%. O contato da pele com desinfetantes, como os formaldeídos, também
pode causar alergias. (XELEGATI; ROBAZZI, 2003).
Doenças do sistema nervoso central
Ainda analisando o gráfico 4, observa-se que as doenças do sistema nervoso central
ocupam o sétimo lugar, com 28.9% dos respondentes mencionando algum problema de saúde
adquirido nos últimos anos, e décimo terceiro lugar em frequência como motivo para licença
médica, com 1,5% dos respondentes referindo enxaqueca, cefaléia, insônia, mal de Parkinson e
neurofibromatose. De acordo com a literatura, podem estar relacionados ao estresse e à síndrome
de Burnout (SILVA; MARZIALE, 2003).
As enxaquecas, doenças do SNC mais referidas neste estudo (n=23), são crises de dor de
100
cabeça de intensidade moderada/grave, geralmente unilaterais, latejantes e habitualmente
acompanhada de náuseas, vômitos, intolerância a claridade, barulho e cheiro. Apresenta uma
prevalência em 16% das mulheres e 6% dos homens. As crises podem ou não ter fatores
desencadeantes tais como dormir pouco ou fora do horário, cheiros fortes, determinados
alimentos, ciclo menstrual e estresse emocional dentre outros. São uma das causas mais
importantes na diminuição da qualidade de vida das pessoas, podendo afastá-las do convívio
social, profissional e até familiar. Sabe-se hoje que os portadores de enxaqueca chegam a se
ausentar do trabalho cerca de 20 dias ou mais por ano, com implicações de custo social para as
instituições (MONZILLO, 2007)
Condições físicas e mentais no início e final da jornada de trabalho
Destaca-se, na tabela 15, que 65.2% dos respondentes chegam no início da jornada bem
dispostos fisicamente e 34.8%, indispostos. Ao final da jornada, 65.9% encontram-se indispostos
fisicamente. Com relação a como se sente mentalmente ao chegar e ao sair do trabalho, 70.4%
dos trabalhadores referem chegar mentalmente bem dispostos e 69.6% referem indisposição
mental ao final da jornada.
Tabela 15: Distribuição de freqüências simples e percentuais de acordo com as
condições físicas e mentais dos sujeitos do estudo no início e ao final
da jornada de trabalho no ambulatório
Respostas f %
Condição física no início da jornada Bem disposto
Indisposto
88
47
65.2
34.8
Condição física no final da jornada Bem disposto
Indisposto
46
89
34.1
65.9
Condição mental no início da jornada Bem disposto
Indisposto
95
40
70.4
29.6
Condição mental no final da jornada Bem disposto
Indisposto
41
94
30.4
69.6
Fonte: O autor (2007).
Os dados da tabela 15 podem evidenciar que, com relação ao aspecto físico, a maioria dos
101
profissionais encontra-se bem disposta no início da jornada de trabalho. Contudo, existe um
percentual que já chega ao trabalho indisposto. Os motivos citados foram a vinda de outro
trabalho, ou por não dormir durante a noite, devido a um familiar doente. Mas, a grande maioria
refere que já acorda sentindo dor. Ao final da jornada, existe uma mudança daqueles que estão
bem dispostos para indispostos, indicando uma queda do estado de bem-estar, o que também é
esperado depois de um dia de trabalho. No entanto, o índice dos que referem estar fisicamente
indispostos ao chegar ao trabalho é de 34.8%, ou seja, 47 trabalhadores.
Percebe-se um sofrimento associado a dor física, mas não só a ela. Para além dos aspectos
fisiopatológicos da doença, nota-se que existe uma complexa relação que vincula a dor às
vivências subjetivas e à identidade social. Concorda-se com Merlo et al (2003) quando fazem a
apologia da dor. Afirmam que a dor é também a dor de perder a saúde, da decepção ao ser
excluido do ambiente de trabalho, do não reconhecimento, da humilhação no lócus da perícia
médica, de precisar provar aquilo que o aflige. Enfim, dói porque dói e dói porque tem que
provar que dói.
Vários fatores podem influenciar fisicamente o trabalhador após uma longa jornada de
trabalho como, por exemplo, a arquitetura, o mobiliário, a organização do trabalho, distância
percorrida, deslocamentos, excesso de atribuições, posturas adotadas, a atividade efetiva
realizada pelo profissional, o tipo de paciente, a temperatura ambiente, umidade, luminosidade,
ruído, dentre outros (BULHÕES, 1998; FARIAS, 1999).
As queixas dos respondentes se coadunam com os estudos acerca de sintomas físicos na
equipe de enfermagem, que verificam a presença de sensação de fadiga, dor de cabeça,
enxaqueca, dor muscular, sensação de desânimo, dificuldade em conciliar o sono, tendência a
sudorese e taquicardia, dor no estômago, tremores musculares, dispnéia, redução do apetite, entre
outros. Estes sintomas interferem negativamente na vida do funcionário e no seu trabalho,
gerando freqüentes absenteísmos, que se transformam em círculos viciosos, pois os trabalhadores
presentes se sentem sobrecarregados pela ausência dos colegas, levando-os também a não
comparecer ao trabalho (FERREIRA, 1996; NASCIMENTO, 2003).
Cruz (2006), em estudo sobre a problemática de saúde dos trabalhadores de enfermagem,
diz que os trabalhadores referem que a exposição às cargas de trabalho é responsável por um
102
amplo quadro de problemas de saúde gerados no trabalho, que se expressam não somente por
problemas físicos, mas também por aqueles que comprometem a saúde mental, não sendo a
maioria deles identificada pela instituição e, muito menos, relacionada ao trabalho.
Às exigências da organização do trabalho taylorista/fordista somam-se novas exigências e
outro sofrimento, que advêm do medo de não ser capaz de manter uma performance adequada no
trabalho nas novas formas de gestão reestruturadas. Tais exigências incluem os aspectos de
tempo, cadência, rapidez, formação, informação, aprendizagem, adaptação à cultura ou a
ideologia das empresas, às exigências do mercado. O medo está presente em todos os tipos de
ocupação profissional. Os riscos que atingem o corpo do trabalhador são geralmente inerentes ao
trabalho e, via de regra, coletivos, comuns àqueles que exercem as mesmas tarefas (DEJOURS,
1992).
Com relação ao aspecto mental, observa-se que, no início da jornada, a maioria dos
respondentes (n = 95) chega mentalmente bem disposta, contudo, um número considerável já
chega mentalmente indisposto (n = 40; 29.6%). Ao final da jornada, 69.6% referiram
indisposição mental (n = 94). Como fatores responsáveis por este quadro, foram citados o lidar
com o sofrimento do doente oncológico, suas repetidas internações, a impotência diante da
doença, a revolta pela sua morte, a falta de conhecimento e de tempo para desempenhar bem as
atividades, a sobrecarga de trabalho, a falta de funcionários qualificados e a carga horária
excessiva (FERREIRA, 1996; POPIM,2001).
Quando se faz a associação da carga horária com a sensação do trabalhador ao final da
jornada de trabalho, verifica-se a significância a nível de 5%. Os profissionais com carga horária
de 20 horas semanais não se sentem indispostos porque sabem que terão tempo de descanso
suficiente para repor as suas energias.
Tabela 16: carga horária x como se sente mentalmente ao
final da jornada de trabalho
Mentalmente
Carga horária Bem disposto Indisposto Total
20 horas 12 12 24
40 horas 29 82 111
Total 41 94 135
X
2
= 5.98 (P=0.050) Significativo ao nível de 5%
Fonte: O autor (2007).
103
Funcionários insatisfeitos e desmotivados são propensos a apresentarem falhas na
realização de suas tarefas e maior incidência de agravos à saúde, apresentando maior número de
absenteísmo. O trabalho deveria ser considerado uma atividade criativa e prazerosa na vida dos
indivíduos, que poderia favorecer o desenvolvimento das habilidades físicas e mentais, além de
melhorar a qualidade de vida com base em uma remuneração adequada (NASCIMENTO, 2003;
GODOY et al, 2006).
Para verificar a existência de associação entre o gênero dos sujeitos da pesquisa com as
sensações física e mental ao chegar ao trabalho, observa-se que é significativa a sensação de
indisposição física para as mulheres (X
2
= 3.98, P = 0.045), porém não é significativa para elas a
indisposição mental (tabela 17 e 18).
Tabela 17: Associação entre sexo e sensação física do trabalhador
ao chegar ao trabalho.
Sexo Bem disposto Indisposto Total
Feminino 74 45 119
Masculino 14 2 16
Total 88 47 135
X
2
= 3.98 (P=0.045) Significativo ao nível de 5%
Fonte: O autor (2007).
Tabela 18: Associação entre sexo e sensação mental do trabalhador
ao chegar ao trabalho.
Sexo Bem disposto Indisposto Total
Feminino 81 38 119
Masculino 14 2 16
Total 95 40 135
X
2
= 2.55 (P=0.109) Não Significativo
Fonte: O autor (2007).
Aparentemente, os homens chegam e saem do trabalho mais bem dispostos fisicamente
que as mulheres (tabela 17 e 19). Mentalmente, o grau de satisfação é o mesmo para homens e
mulheres (tabela 18 e 20).
104
Tabela 19: Associação entre sexo e sensação física do trabalhador
ao final da jornada de trabalho.
Sexo Bem disposto Indisposto Total
Feminino 36 83 119
Masculino 10 6 16
Total 46 89 135
X
2
= 6.53 (P=0.010) Significativo ao nível de 1%
Fonte: O autor (2007).
Tabela 20: Associação entre sexo e sensação mental do trabalhador
ao final da jornada de trabalho.
Sexo Bem disposto Indisposto Total
Feminino 34 85 119
Masculino 7 9 16
Total 41 94 135
X
2
= 1.54 (P=0.215) Não Significativo
Fonte: O autor (2007).
Robazzi e Marziale (1999) advertem que os profissionais de enfermagem estão sujeitos a
trabalhar em condições geralmente penosas e desagradáveis, muitas vezes em condições
angustiantes, causando perturbações em seu ritmo biológico e em sua saúde. Ressaltam os
salários aviltantes, incompatíveis com a dignidade de suas atividades, obrigando diversas vezes
os trabalhadores de enfermagem a terem duplo ou triplo emprego. Estes trabalhadores,
freqüentemente, vêem-se com os dilemas e dores alheias, com o sofrimento e com os demais
problemas do setor de trabalho, demonstrando uma postura profissional controlada, em relação ao
outro que recebe seus cuidados.
As mudanças no cenário do trabalho da enfermagem, tão necessárias em muitas
realidades, surgirão em conseqüência das novas posturas dos seus profissionais, pessoais, sociais
e políticas, que, certamente, repercutirão na cultura e na história do grupo social, no seu próprio
entendimento, nas suas formas de articulação em busca de melhores condições de trabalho e de
vida, na construção, não da doença, mas da saúde do trabalhador de enfermagem. E preciso
destacar que quando predomina a doença no indivíduo, ele fica impedido de exercer plenamente a
105
sua capacidade de decidir e agir, o que interfere em sua liberdade e em sua qualidade de vida.
De uma maneira geral, as licenças médicas para tratamento de saúde, temporárias ou
definitivas, impedem o trabalhador de usufruir de vida social e economicamente ativa, traz
diminuição ou perda da capacidade para desempenho profissional, subtrai recursos do orçamento
familiar e interfere no atendimento de suas necessidades básicas. O ônus destas licenças não recai
apenas sobre o trabalhador, mas implica também em sobrecarga de trabalho aos colegas de
trabalho e em pagamento de salários de substituição do trabalhador (MUROFUSE, 2004).
Ferreira (1996) lembra que o trabalho em hospitais, que normalmente se caracteriza pelo
contato com situações estressantes e atemorizadoras altamente impregnadas de afetos e emoções,
parece ser exacerbado tanto nos profissionais como nos pacientes com doenças com poucas
possibilidades de cura, como o câncer. Para os pacientes, as emoções são acirradas pela
conotação de doença incurável, pelas formas agressivas de tratamento que levam, muitas vezes, a
mutilações físicas e pelo afastamento dos familiares e amigos. Para os profissionais da área de
saúde, elas são marcadas pelo estresse a que se vêem submetidos, ao atenderem esses pacientes
que os expõem ao contato constante com situações de dor, sofrimento e morte. Vê-se, então, que
cada vez mais o trabalhador de enfermagem deve estar preparado para enfrentar a problemática
do doente portador de câncer, uma vez que este o coloca face a face com as frustrações de um
trabalho com poucos retornos gratificantes.
106
CONCLUSÕES
Este estudo buscou a compreensão do processo saúde / doença vivenciado pelos
trabalhadores de enfermagem no desempenho de suas funções. Para tanto, reproduziu a
construcão teórico-metodológica operacional validada por Laurel e Noriega (1989), visando
evidenciar as particularidades da relação de determinação trabalho-saúde que se expressam,
especificamente, nos trabalhadores de enfermagem no ambulatório de um hospital público de
referência em oncologia.
Este estudo procurou mostrar uma preocupação há muito sentida, relacionada à
identificação das causas de afastamento entre os trabalhadores de enfermagem que atuam em um
ambulatório de referência em oncologia e ao levantamento da freqüência e tempo de
absenteísmo, referidos pelos componentes da equipe de enfermagem.
Os dados coletados por meio de entrevistas sugerem que a força de trabalho da
enfermagem do ambulatório da instituição estudada está sendo consumida por problemas de
saúde que os afetam, tanto física quanto mentalmente, em decorrência de enfermidades
possivelmente causadas ou aceleradas pelo trabalho em ambiente anti-ergonômico, como os
problemas osteomusculares, também conhecidos como LER/DORT, os quais foram apontados
por 80.0% da população estudada. Somando-se a isto, encontra-se a depressão, a síndrome do
pânico, a hipertensão arterial, o estresse e a dependência química, dentre outros. Neste estudo,
infelizmente, por problemas administrativos, não foi possível confrontar as informações acerca
das licenças médicas nos prontuários dos funcionários. E, também, como há o reconhecimento de
que a simples mensuração da morbidade tem permitido discreto conhecimento do seu impacto na
qualidade de vida e no bem-estar das populações, sugere-se a continuidade desta pesquisa a fim
de nosso aprofundamento, de forma apropriada, do tema.
Concluiu-se que há um alto índice de afastamentos por adoecimento, cujas causas poderão
ser prevenidas, como também o tempo de afastamento muito freqüente e de longa duração
poderia ser minimizado, através de um programa de políticas de prevenção.
Portanto, no grupo estudado, o trabalho com portadores de câncer foi qualificado como
desafiador e insalubre, pois a convivência diária com a angústia de um prognóstico desfavorável
107
para a doença dos pacientes, dor, tratamento prolongado ou morte, provoca sofrimento no
trabalhador de saúde, em particular na enfermagem, que permanece por maior tempo junto a esta
clientela. Na NR 15, são consideradas atividades ou operações insalubres de grau médio, as que
se desenvolvem em contato permanente com pacientes e com material infecto contagiante em
hospitais, ambulatórios, postos de vacinação e outros estabelecimentos destinados aos cuidados
da saúde humana.
Diante desses resultados, da ausência de estudos sistemáticos, da importância do tema, e
para preservar a saúde, é necessário que o trabalhador esteja inserido não somente no universo
do seu trabalho, mas também no mundo exterior do lazer e da família. Isso o beneficia
interiormente, visto que estes fatores complementam-se para que ele permaneça em equilíbrio e
obtenha satisfação no seu cotidiano.
Este estudo revelou a necessidade de realização de intervenções em relação aos
trabalhadores deste ambulatório, por se tratar de ambiente que implica exigências em todos os
aspectos, sejam eles físicos (desgaste no atendimento), mentais (estado de alerta permanente),
sociais (carência dos pacientes ou dos próprios trabalhadores) e espirituais (convívio continuado
com o sofrimento, com a dor e com a morte). Os resultados levam a crença de que o
conhecimento da extensão das doenças, sua prevalência e sua incidência nesta população,
constituem imprescindível instrumento contributivo para a sua prevenção.
Ainda que exista legislação prevendo a proteção à saúde do trabalhador através de um
ambiente de trabalho seguro, percebe-se, pelo estudo, que existe uma distância a ser percorrida
até que elas se concretizem em medidas efetivas e tornem o trabalho mais saudável e seguro. Na
teoria, os critérios recomendados pelo MS, por meio de NRs, devem ser obedecidos. Entretanto,
constata-se que na prática, estas recomendações não fazem parte do cotidiano do trabalhador de
enfermagem, porque, muitos destes trabalhadores desconhecem as normas de proteção. Nesse
ambiente laboral, a saúde e a segurança dos trabalhadores podem ser ameaçadas, o que favorece o
aparecimento de doenças ou ocorrência de acidentes com reflexo no índice de absenteísmo, pois
condições de trabalho inadequadas expõem os trabalhadores de enfermagem a uma
multiplicidade de agentes de risco.
Também foi observado que as condições de trabalho, as cargas de trabalho da própria
108
atividade de enfermagem, o grau de autonomia, as relações com colegas, as políticas
organizacionais e o estilo de liderança usado nas instituições de saúde, representam fatores para a
insatisfação no trabalho, os quais foram citados como desmotivadores pelo trabalhador e, por
conseqüência, podem incitar o absenteísmo. Concorda-se com Mauro et al (1976), ao referir que
a enfermagem, como uma das profissões que contribuem para preservar a vida e a saúde do
homem, ainda não conseguiu resolver os problemas relativos à sua própria saúde. Estes fatos
podem ser entendidos porque, durante muitos anos, a enfermagem foi considerada uma ocupação
por vocação, sem preocupação com os ambientes laborais.
Considera-se imprescindível refletir e desenvolver estudos a respeito dessa temática para
melhor compreender o processo de trabalho da enfermagem em oncologia e contribuir para a
mudança das práticas institucionais e pessoais e para a melhoria da atenção à saúde ocupacional
deste profissional. A meta ideal é trabalhar sem necessariamente adoecer ou morrer em
decorrência do trabalho. Isto é mais que uma crença, é uma possibilidade concreta, no mundo
atual em rápida transformação, a partir dos avanços do conhecimento e das tecnologias.
Ainda que a realização da presente investigação tenha alcançado a finalidade que era
contribuir para tornar mais visíveis os problemas de saúde que atingem os trabalhadores da
equipe de enfermagem do ambulatório de uma instituição especializada em oncologia e, assim,
auxiliar na instrumentalização dos futuros membros dessa categoria profissional para a prevenção
de seus desgastes, para a construção de uma vida mais saudável, livre das doenças e acidentes do
trabalho, muito ainda está por se fazer, como vencer as dificuldades no estabelecimento do nexo
entre o acidente/adoecimento e a situação de trabalho. Esta condição é necessária para melhorar
os sistemas de informação em saúde e o sistema de vigilância epidemiológica, desenvolvendo
ações inter-institucionais e multidisciplinares em saúde e trabalho, superar a concepção
biologicista que ainda predomina na análise do processo saúde / doença e estabelecer relação
entre o trabalho e o processo de adoecimento e acidentes decorrentes do trabalho, para que
deixem de ser tratados como algo normal ou natural.
Sabe-se, portanto, que não é uma tarefa fácil de ser desenvolvida, mas pode ocorrer, desde
que haja vontade, entre todos os profissionais, indistintamente, de tentarem melhorar este
processo de trabalho, podendo-se, desta forma, contribuir para a melhoria na qualidade de vida e
saúde destes trabalhadores e, portanto, melhoria na qualidade da assistência prestada aos
109
pacientes. Enquanto não se processa essa transformação, cabe a todos os profissionais de
enfermagem iniciar já, de imediato, pelo menos, a reflexão de como e quanto é importante e
imprescindível, para a saúde física e mental, trabalhar com qualidade e prazer.
A necessidade de implementação de medidas efetivas, capazes de prevenir ou minimizar
os danos à saúde dos trabalhadores da enfermagem, fica evidente com o resultado que indicou um
alto índice de afastamentos do trabalho por adoecimento (94,1%) e com maior concentração nos
afastamentos de longa duração (47,4%), indicando a ocorrência de maior incidência de doenças
de solução lenta como as músculo-esqueléticas e transtornos mentais e comportamentais. O
absenteísmo doença é um importante indicador de avaliação não apenas da saúde dos
trabalhadores, mas, também das políticas de recursos humanos, da divisão de saúde do
trabalhador e das condições em que o trabalho é realizado na instituição.
Os resultados obtidos neste estudo podem fornecer subsídios a administradores e a
gerência de enfermagem para que estes possam promover a avaliação da organização e dos
serviços existentes, de forma a definir ações de gestão da atenção à saúde dirigidas a promoção,
proteção e recuperação da saúde dos trabalhadores.
Considerando o que dispõe a Constituição Federal Brasileira (1988), no seu Artigo 7º,
Item XXII, que afirma que são direitos dos trabalhadores a redução de riscos inerentes ao
trabalho através de normas de saúde, higiene e segurança, as conclusões emergentes desse estudo
sobre o absenteísmo por adoecimento dos trabalhadores de enfermagem em oncologia sugerem:
Realização de estudos multidisciplinares dos postos de trabalho visando eliminação dos fatores
de risco para adoecimento.
Criação de grupos de discussão periódica com temáticas escolhidas pelo trabalhador acerca de
prevenção de agravos e de manutenção da saúde do trabalhador adotando as sugestões de
melhoria que sejam de consenso do grupo.
Desenvolvimento de um programa de educação em serviço dos trabalhadores levando em
consideração as atividades desenvolvidas, as condições ambientais e ergonômicas dos setores
visando à prevenção dos riscos e o cumprimento das medidas preventivas possíveis, incluindo as
obrigações da NR 32.
Criação de um programa de ginástica laboral dos funcionários com suas adequações pertinentes
ao processo de trabalho de enfermagem.
110
Melhoria do sistema de registro dos problemas de saúde e das licenças médicas de forma a
agilizar pesquisas e análises do absenteísmo doença.
Criar um canal para vasão (ouvidoria) das tensões ou para satisfação das necessidades dos
trabalhadores onde fosse realizada uma escuta ativa das queixas e reivindicações dos
funcionários.
Pretende-se que este estudo evolua com aprofundamento teórico e grupos de reflexão para
o acompanhamento de ações programáticas visando a melhoria das condições de trabalho de
enfermagem do setor estudado.
111
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121
APÊNDICE 1
FORMULÁRIO DE COLETA DE DADOS n
o
._________
1
a
. parte – Delineamento do perfil do trabalhador de enfermagem do ambulatório.
Gênero
1.( ) Feminino 2.( ) Masculino
Faixa etária
1.( ) 20 a 29
2.( ) 30 a 39
3.( ) 40 a 49
4.( ) 50 a 59
5.( ) 60 a 69
Categoria profissional
1.( ) Enfermeiro
3.( ) Auxiliar
2.( ) Técnico
4.( ) AOSD
Grau de escolaridade
1.( ) Fundamental
2.( ) Médio
3.( ) Superior
4.( ) Superior–Lato sensu
5.( ) Superior-Stricto
sensu
Tempo de trabalho na instituição
Tempo de trabalho no
ambulatório
Setor atual de trabalho
1. ( ) Quimioterapia
2. ( ) Onco/hemato
3. ( ) Radiodiagnóst
4. ( ) Radioterapia
5. ( ) Hemoterapia
6. ( ) ECG
7. ( ) Endoscopia
8. ( ) Biópsia
9. Onco cirúrgica:
9.a ( ) Abdomem
9.b ( ) Cab. Pesc.
9.c ( ) Urologia
9.d ( ) Tórax
9.e ( ) Plástica
9.f ( ) TOC/Dermato
9.g ( ) Neuro /Dor
9.h ( ) Odonto
10 ( ) Med. nuclear
Jornada de trabalho
1. ( ) Diarista 2. ( ) Plantonista
Carga horária semanal
1.( ) 24 horas
2.( ) 40 horas
Vínculo empregatício
1.( ) Estatutário
2.( ) CLT - FAF
3.( ) MS/temporário
Tem outro emprego?
1. ( ) Sim 2. ( ) Não
Tempo de deslocamento
para chegar ao local de trabalho
1. ( ) >1 hora
2. ( ) >2 horas
3. ( ) > 3 horas
4. ( ) > 4 horas
122
APÊNDICE 2
FORMULÁRIO DE COLETA DE DADOS n
o
._________
2
a
. parte – Levantamento dos problemas de saúde-doença do trabalhador de enfermagem
do ambulatório.
1. Nos últimos anos você foi acometido por algum problema de saúde referente a:
1. ( ) Doenças do coração e aparelho circulatório
2. ( ) Doenças do aparelho respiratório
3. ( ) Doenças do sistema digestivo
4. ( ) Doenças do sistema músculo esquelético
5. ( ) Doenças do aparelho geniturinário
6. ( ) Doenças endócrinas
7. ( ) Doenças do sistema nervoso central
8. ( ) Doenças dos olhos
9. ( ) Transtornos mentais e comportamentais
10. ( ) Neoplasias
11. ( ) Alergias
12. ( ) DST e AIDS
13. ( ) Dependência química
14. ( ) Outros
2. Caso tenha respondido sim à questão anterior, responda:
a – Esse (s) problema (s) surgiu (ram) após seu ingresso na instituição? 1.( ) Sim ( ) Não
Quais? ______________________________________________________________________________
b – No seu entendimento, o (s) problema (s) tem relação com seu trabalho? 1.( ) sim 2. ( )Não.
Quais? ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Porquê?________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
3. Você realiza exame periódico de saúde? 1.a ( ) Particular 1.b ( )DISAT 2. ( ) Não.
4. Faz algum tratamento de saúde? 1. ( ) Sim 2. ( )Não.
Qual(is)?_________________________________________________________________
123
5. Alguma vez necessitou de licença médica? 1. ( ) Sim 2. ( ) Não.
6. Se necessitou de licença médica, qual o total em dias? 1. ( ) >1 mês
2. ( ) de 01 a 06 meses
3. ( ) mais que 06 meses
4. ( ) nunca necessitou de lic. med.
1. Se necessitou de licença médica, qual o motivo?
1. ( ) Doenças do coração e aparelho circulatório
2.( ) Doenças do aparelho respiratório
3.( ) Doenças do sistema digestivo
4.( ) Doenças do sistema músculo esquelético
5. ( ) Doenças do aparelho geniturinário
6. ( ) Doenças endócrinas
7. ( ) Doenças do sistema nervoso central
8. ( ) Doenças dos olhos
9. ( ) Transtornos mentais e comportamentais
10. ( ) Neoplasias
11. ( ) Alergias
12. ( ) DST e AIDS
13. ( ) Dependência química
14. ( ) Outros _____________________________________________________________________
8. Como você chega ao trabalho?
a. Fisicamente: 1. ( ) Bem disposto 2.( ) Indisposto
b.Mentalmente: 1.( ) Bem disposto 2.( ) Indisposto
9. Ao final da sua jornada de trabalho, como você está?
a.Fisicamente: 1.( ) Bem disposto 2. ( ) Indisposto
b.Mentalmente: 1.( ) Bem disposto 2. ( ) Indisposto
124
APÊNDICE 3
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TÍTULO DO PROJETO:
Afastamentos por adoecimento do trabalhador de enfermagem do ambulatório de uma
instituição oncológica
Pesquisador: Maria Luiza Figueiredo Nogueira
Orientador: Enedina Soares
Eu, _______________________________________, RG n
o
._______________,
fui esclarecida (o), de forma clara e objetiva, livre de qualquer constrangimento ou coerção, que a
pesquisa “Afastamentos por adoecimento do trabalhador de enfermagem do ambulatório de
uma instituição oncológica” de autoria de Maria Luiza Figueiredo Nogueira, tem como objetivos
identificar as causas de afastamento entre os trabalhadores de enfermagem que atuam em um
ambulatório de referência em oncologia e levantar a freqüência e tempo de absenteísmo referidos
pelos componentes da equipe de enfermagem.
Entendi que a justificativa para a realização do estudo reside no conhecimento de
que o desgaste natural decorrente das situações de trabalho, aliado ao desgaste psíquico do
conviver constante com o sofrimento alheio são motivos suficientes para justificar a necessidade
de maior atenção à satisfação no trabalho em indivíduos que atuam em hospitais. Considerando
que o maior contingente de uma instituição hospitalar é de profissionais de enfermagem devido à
tarefa primeira de cuidar diretamente do doente, e que estes permanecem por muitas horas dentro
do ambiente de trabalho onde predomina a doença é natural a exposição a um elevado nível de
estressores.
Estou ciente que a obtenção de dados dar-se-á através de entrevistas a serem
realizadas individualmente, sendo utilizados para tal dois instrumentos, aplicados em dois
diferentes momentos: 1
a
. parte – Delineamento do perfil do trabalhador de enfermagem do
ambulatório e 2
a
. parte – Levantamento dos problemas de saúde-doença do trabalhador de
enfermagem do ambulatório e que os dados coletados, depois de organizados e analisados,
poderão ser divulgados e publicados, ficando a autora comprometida com a apresentação do
relatório final de pesquisa para a instituição na qual será realizado o trabalho, tornando público o
125
resultado da pesquisa.
A participação voluntária e não remunerada foi enfatizada pela pesquisadora e foram
garantidos os esclarecimentos a quaisquer dúvidas, em qualquer momento. Foi destacada a
liberdade, enquanto sujeito de pesquisa, de participar ou não do estudo e/ou deixar de participar a
qualquer momento, sem qualquer prejuízo ou constrangimentos e sem sofrer nenhum tipo de
represália. Foram assegurados a garantia do anonimato e o caráter sigiloso das informações
fornecidas exclusivamente para o estudo. Compreendi que não serão aplicados tratamentos ou
realizadas intervenções de qualquer espécie e que serão respeitados os princípios de justiça,
eqüidade e segurança da resolução do Conselho Nacional de Saúde n
o
. 196/96.
Rio de Janeiro, ____de_________________de 2007.
________________________________ __________________________
Nome e assinatura do participante Assinatura do pesquisador
_____________________
O presente documento, baseado nos artigos IV.1 à IV.3, do Conselho Nacional de Saúde, será assinado em duas vias, de igual teor, ficando uma
via em poder do sujeito pesquisado e outra com o pesquisador.
126
APÊNDICE 4
Tabela 10: Distribuição de freqüências simples quanto a faixa etária
e gênero.
IDADE (anos) Feminino Masculino Total
27 a 29 4 1 5
30 a 34 6 1 7
35 a 39 6 1 7
40 a 44 29 3 32
45 a 49 28 6 34
50 a 54 23 3 26
55 a 59 8 1 9
60 a 64 9 - 9
65 a 69 6 - 6
TOTAL 119 16 135
Fonte: O autor (2007)
127
APÊNDICE 5
Tabela 11: Distribuição de freqüências simples e percentuais, quanto a ter referido
algum problema de saúde adquirido após o ingresso na instituição.
DOENÇAS
f %
Doenças do sistema músculo esquelético 108 80.0
Doenças do coração e aparelho circulatório 92 68.1
Transtornos mentais e comportamentais 66 48.9
Alergias 62 45.9
Doenças do sistema digestivo 48 35.6
Outros fatores adversos à saúde 41 30.4
Doenças do sistema nervoso central 39 28.9
Doenças endócrinas 37 27.4
Doenças do aparelho respiratório 36 26.7
Doenças do aparelho geniturinário 35 25.9
Dependência química 19 14.1
Doenças dos olhos 19 14.1
Neoplasias 7 5.2
DST ou AIDS 6 4.4
Fonte: O autor (2007)
128
APÊNDICE 6
Tabela 12: Distribuição de freqüências simples e percentuais quanto aos problemas terem
aparecido após ingresso na instituição e se relacionam com o trabalho.
Problemas surgiram após ingresso na
instituição
Problemas terem relação com seu trabalho
N % N %
Sim 127 94,1 Sim 110 81.5
Não 8 5,9 Não 25 18.5
Total 135 100,0 Total 135 100.0
Fonte: O autor (2007).
129
APÊNDICE 7
73.9%
26.1%
0
50
100
SIM NÃO
FAZ ALGUM TRATAMENTO DE SDE
SIM NÃO
Gráfico 7: Distribuição de freqüências percentuais quanto a fazer algum
tratamento de saúde.
Fonte: O autor (2007).
130
APÊNDICE 8
Doenças referidas pelos trabalhadores
PROBLEMAS DOEN
Ç
AS REFERIDAS N
Hérnia de Disco 57
Tendinite 28
Artrose 16
Escoliose 13
Es
p
orão 7
Síndrome do Car
p
o8
Cervicolombalgias 5
Rom
p
imento de menisco 5
Bursite 4
Osteo
p
orose 4
Fibromial
g
ia 3
Lordose 3
Artrite 1
Síndrome da
p
edrada na
p
erna 1
Cisto 4
Heman
g
ioma 1
APARELHO MÚSCULO ESQUELÉTICO
Bico de Papagaio 1
Varizes 70
Hi
p
er
t
ensão arterial 45
Cardio
p
atias 16
AVC 1
CORAÇÃO E APARELHO CIRCULATÓRIO
Infarto Agudo do Miocárdio 2
De
p
ressão 61
Síndrome do Pânico 9
Ansiedade 10
TOC 1
TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS
Transtorno Bipolar 1
Res
p
iratória
Rinite alér
g
ica 19
Medicamentos 12
Látex 7
Alimento 2
Picada de inseto 2
Talco de luva 8
Substâncias
q
uímicas 12
ALERGIAS
Esparadrapo 2
131
Gastrite 36
H. Pilori 8
Úlcera 4
Hérnia de hiato 4
Vesícula 4
Refluxo 3
He
p
atite 3
Esofa
g
ite 2
Colite 1
Diverticulite 1
Duodenite 1
Infec
ç
ão intestinal 1
DOENÇAS DO SISTEMA DIGESTIVO
Obstrução intestinal 1
Acidente com
p
érfurocortante 17
Acidente no local de trabalho 14
Acidente no
p
ercurso 13
Obesidade 7
Q
ueimadura 4
Colesterol alto 3
Den
g
ue 8
Anemia acrômica 2
OUTROS PROBLEMAS DE SAÚDE
Esclerodermia 1
Enxa
q
ueca 23
Insônia 7
Cefaléia 8
Neurofibromatose 1
SISTEMA NERVOSO CENTRAL
Doença de Parkinson 1
Diabetes 21
Hi
p
ertireoidismo 8
Hi
p
otireoidismo 6
DOENÇAS ENDÓCRINAS
Nódulos na tireóide 7
Tuberculose 11
Asma 10
Sinusite 9
Farin
g
ite 3
Bron
q
uite 5
Pneumonia 4
DOENÇAS DO APARELHO RESPIRATÓRIO
Nódulo de pregas vocais 1
Mioma uterino 10
Endometriose 5
Cálculo renal 4
Infec
ç
ão uriná
r
ia 8
SISTEMA GENITURINÁRIO E GINECOLÓGICO
Aborto es
p
ontâneo 3
132
Menopausa precoce 4
Cisto no ovário 3
Tabaco 10
Álcool 6
DEPENDÊNCIA QUÍMICA
Psicotrópico 3
Catarata 8
Glaucoma 4
Retino
p
atia diabética 2
Trombose 1
DOENÇAS DOS OLHOS
Uveite 1
Colo de útero 2
Ti
r
eóide 2
Mama 1
Endométrio 1
NEOPLASIAS
Palato 1
Her
p
es 6
HPV 3
DST / AIDS
HIV 1
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