121
no campo em larga escala, são fundamentais. As indústrias já fazem o que é possível nesses
dois aspectos e são elas, em parte, as responsáveis pela melhoria do leite que vem
acontecendo e o aumento da produção leiteira, dos últimos anos. Porém, há um limite nesses
investimentos, pois trabalham com margens apertadas de lucro, pressionadas pelos
consumidores sem recursos e até pressão dos distribuidores.
Uma solução efetiva, seria o Governo estudar uma forma de incentivo para a indústria
láctea, que poderia ser na forma de redução de impostos, e os valores obtidos, repassados aos
produtores em forma de ensinamentos técnicos - o que vem sendo feito em certa escala - e
financiamentos de equipamentos de ordenha e refrigeração.
Isto porque, já se comprovou que a iniciativa privada que atua no setor, está mais apta,
melhor preparada a prestar esses serviços e mesmo porque sabemos como funcionam as
Sudan, Sudene e outras siglas.
As indústrias, com seus departamentos de campo, sabem como estruturar essa
assistência técnica, repassando os ensinamentos que as instituições de pesquisa elaboram e em
estreita colaboração. E estão em contato direto com quem produz. É ela, portanto, quem
melhor pode oferecer esse serviço. Só necessita, de recursos.
Argumentos para o proposto não faltam, bastando conhecer, por exemplo, os gastos
com a reforma agrária, que tenta fixar o homem no campo, a maioria deles sem conhecimento
de seu ofício. Apesar dessa ação ter seus méritos e ser necessária, muito mais lógico e fácil é
manter o pequeno e médio produtor, já inseridos no sistema. Para esses, faltam alguns
ensinamentos e poucos recursos, para viabilizar economicamente o seu negócio. Caso
contrário, acabarão sendo um "sem terra" e quem sabe, engrossando a legião de miseráveis
das grandes cidades, em busca de sub-empregos.
Outro forte argumento, é quando sabemos que a aplicação de recursos no campo
possibilita maior número de empregos, em comparação a qualquer outro segmento
econômico. E não é o momento de desperdiçar empregos.
Além disso, em relação aos demais setores, as indústrias lácteas são tributadas de
maneira desproporcional, já que seu faturamento corresponde a 1,3% do total da economia e
sua contribuição corresponde a 4% do total arrecadado com ICMS.
Poderia ser também via Imposto de Renda, que tantos incentivos já ofereceu e oferece,
a maioria mal gerenciados pelo poder público.
A iniciativa privada do setor está muito mais apta para repassar recursos, não só pela
capilaridade, por estar mais próximo ao produtor mas, principalmente, porque sabe qual o
investimento que é necessário fazer. Isto acontecendo, rapidamente o setor se expandirá e os
recursos acabarão voltando ao Governo na forma de impostos e maior circulação de dinheiro
nas regiões interioranas.
As fábricas e o comércio de insumos, máquinas e equipamentos estarão vendendo
mais e em cascata, atingindo outros setores da economia. E mais que isso, pequenos e médios
produtores, que são a maioria no país, estarão atendendo as exigências do PNQL, produzindo
um leite com alto teor de sólidos e baixa contagem de células somáticas e viabilizados em
seus negócios.
O país então terá um setor moderno e forte, capaz de no futuro, ser um exportador de
lácteos. O consumidor satisfeito, por consumir um produto puro e saudável e quem sabe, até
aumentar o consumo per capita de 138 litros/ano, que ainda é baixa.
Fonte: GLÓRIA RURAL, ano IV, nº 53, dezembro de 2001, p. 12-13.