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Francisco de Paula Cândido
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, reforça, ao mesmo tempo, a importância desta fonte para a
compreensão das relações desenvolvidas entre o Estado imperial e a categoria profissional
médica, representada por eles.
Propomos, assim, compreender como os debates incitados no poder legislativo
por representantes da elite médica, influenciaram no estabelecimento de medidas de saúde
pública pelo Estado, na primeira epidemia de febre amarela, e de que forma eles
direcionaram as providências do poder público, consolidadas com a formação da Junta
Central de Higiene Pública, em 1851.
Dentre os 110 deputados da 8º legislatura (1849-1850), apenas quatro eram
médicos
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, e as discussões sobre a epidemia de febre amarela que começavam a agitar o
ambiente legislativo, no início de janeiro de 1850, já demonstravam a importância de uma
intervenção do Estado na esfera da saúde pública. Sendo assim, a presença de Cruz Jobim
e Paula Cândido na Câmara dos Deputados fez deste recinto um palco de intensas
discussões de caráter científico sobre matérias referentes à epidemia e às suas possíveis
formas de combate, como também se tornou um meio de legitimação legal da medicina
sucessivamente em listas tríplices, e escolhido pelo governo até o ano de 1854, em que pela nova organização
teve a nomeação definitiva do mesmo cargo, que ainda agora exerce; Médico da Câmara Imperial desde
1831; Membro da Academia Imperial de Medicina do Rio de Janeiro, Sócio correspondente da Academia
Real das Ciências de Lisboa, da de Nápoles, e de varias outras sociedades e corporações científicas e
literárias do Brasil e da Europa etc, nasceu na cidade de Rio Pardo, província do Rio Grande do Sul, em 26
de Fevereiro de 1802, filho do tenente José Martins da Cruz (natural da freguesia de Santa Cruz de Jobim, no
bispado do Porto em Portugal), e de D. Eugenia Fortes, oriunda dos Açores. Fez os estudos preparatórios no
Seminário episcopal do Rio de Janeiro, e os de Medicina em Paris, aonde se doutorou em 1828. Voltando
depois para o Brasil, aí tem prestado muitos e importantes serviços á sua pátria, no desempenho de comissões
e trabalhos científicos, e tomado, por vezes, parte notável e enérgica na política do país, na qualidade de
membro das Câmaras legislativas”. In: Dicionário Bibliográfico Português. Volume V (letras J-M), tomo
XIII. p. 62.
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Paula Cândido, pertencente ao “Conselho de S. M. I., Comendador da Ordem da Rosa, Doutor em
Medicina pela Faculdade de Paris, e Lente da Escola de Medicina do Rio de Janeiro, onde exerceu o
magistério por mais de trinta anos; Medico da Câmara Imperial; Presidente da Junta Central de Higiene
Pública; Deputado da Assembléia legislativa em quatro legislaturas consecutivas; Membro titular, e três
vezes eleito Presidente da Academia Imperial de Medicina do Rio de Janeiro, etc., etc. – Nasceu na província
de Minas Gerais em 1806, e morreu em Paris em 5 de Abril de 1864”. In: Dicionário Bibliográfico
Português. Volume IX (letras C-G). p. 354.
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Além dos dois já citados compunham a assembléia legislativa os médicos José Agostinho Vieira de Mattos
e Antônio Gabriel de Paula Fonseca. Na 8º legislatura, que se iniciara naquele ano, Góis Siqueira, outro
médico alopata, passou a fazer parte da Câmara dos Deputados e em 1851 Cruz Jobim sairia da Câmara
devido à sua nomeação para o Senado do Império.