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DIVERSIFICAÇÃO DA AGRICULTURA
FAMILIAR NO SUL DE MINAS GERAIS: UMA
ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DE
PROFESSORES E PESQUISADORES
ANA CAROLINA SANTANA
2008
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ANA CAROLINA SANTANA
DIVERSIFICAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO SUL DE
MINAS GERAIS: UMA ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DE
PROFESSORES E PESQUISADORES
Dissertação apresentada à Universidade Federal de
Lavras como parte das exigências do Curso de
Mestrado em Administração, área de concentração
em Gestão Social, Ambiente e Desenvolvimento,
para a obtenção do título de “Mestre”.
Orientador
Prof. Dr. Edgard Alencar
LAVRAS
MINAS GERAIS - BRASIL
2008
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Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos da
Biblioteca Central da UFLA
Santana, Ana Carolina.
Diversificação da agricultura familiar no sul de Minas Gerais: uma
análise da percepção de professores e pesquisadores / Ana Carolina
Santana. – Lavras : UFLA, 2008.
118 p. : il.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Lavras, 2008.
Orientador: Edgard Alencar.
Bibliografia.
1. Diversificação. 2. Agricultura familiar. 3. Desenvolvimento. 4. Sul
de Minas Gerais. I. Universidade Federal de Lavras. II. Títul
o.
CDD – 306.349
ANA CAROLINA SANTANA
DIVERSIFICAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO SUL DE
MINAS GERAIS: UMA ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DE
PROFESSORES E PESQUISADORES
Dissertação apresentada à Universidade Federal de
Lavras como parte das exigências do Curso de
Mestrado em Administração, área de concentração
em Gestão Social, Ambiente e Desenvolvimento,
para a obtenção do título de “Mestre”.
APROVADA em 25 de fevereiro de 2008.
Prof. Dr. Fernando Pacheco Cortez UFSJ
Prof. Dr. Robson Amâncio UFLA
Prof. Dr. Edgard Alencar
UFLA
(Orientador)
LAVRAS
MINAS GERAIS – BRASIL
AGRADECIMENTOS
“Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, porque cada pessoa é única
e nenhuma substitui a outra. Cada um que passa em nossa vida passa sozinho,
mas não vai só, nem nos deixa só, leva um pouco de nós, deixa um pouco de si
mesmo. os que levaram muito, mas não os que deixaram nada. Essa é a
maior responsabilidade de nossas vidas. E a certeza de que as pessoas não se
encontram por acaso” (Charles Chaplin).
Por esta razão... Meus agradecimentos...
- A Deus, amigo querido de todos os momentos;
- Aos meus pais, José Maria e Nerileida pela vida, pelo exemplo de luta,
perseverança e amor dedicados a mim e aos meus irmãos;
- Aos meus irmãos, Andressa e Júnior pelo companheirismo e amizade;
- A meu amor Heitor pela confiança, amor, carinho, e por sempre ter estado ao
meu lado, apesar da distância;
- Aos meus familiares que torcem por mim desde a infância;
- Aos meus amigos e colegas, Danielle, Lélis, Mirella, Vanessa que se tornaram
essenciais nessa minha caminhada, em especial a Patrícia, pela ajuda
proporcionada durante esta pesquisa.
- Ao meu orientador, Prof. Edgard, pelo profissionalismo, dedicação e apoio a
mim conferidos durante a realização deste trabalho;
- Aos professores e funcionários do DAE pela contribuição na construção do
conhecimento;
- Aos pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
(EPAMIG) e aos professores da UFLA que contribuíram para a realização desta
pesquisa.
SUMÁRIO
Página
LISTA DE SIGLAS...............................................................................................i
LISTA DE QUADROS ........................................................................................ii
LISTA DE FIGURAS......................................................................................... iii
RESUMO.............................................................................................................iv
ABSTRACT .........................................................................................................v
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................1
1.1 Objetivos.........................................................................................................4
1.1.1 Objetivo geral ..............................................................................................5
1.1.2 Objetivos específicos...................................................................................5
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.....................................................................6
2.1 A integração rural-urbana e a agricultura familiar..........................................6
2.2 Diversificação...............................................................................................13
2.3 Desenvolvimento rural e os mecanismos de intervenção .............................19
2.4 Teoria da ação social.....................................................................................24
3 METODOLOGIA............................................................................................34
3.1 Seleção das organizações e dos entrevistados ..............................................34
3.2 Método de coleta de informações .................................................................36
3.3 Análise das informações...............................................................................37
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES...................................................................40
4.1. Diversificação..............................................................................................40
4.1.1. Diversificação Agrícola............................................................................44
4.1.2 Diversificação Rural ..................................................................................58
4.2 Objetos de orientação ponderados na avaliação da diversificação como
estratégia de desenvolvimento, para propriedades familiares na RSMG....66
4.3 A tradição e sua influência na diversificação das propriedades familiares...81
4.4 Emigração dos filhos e sua influência na diversificação das propriedades
familiares......................................................................................................86
4.5 A atuação dos técnicos junto aos agricultores familiares da RSMG ............88
4.6 Análise de convergência ou divergência de opiniões dos diferentes atores
sociais, sobre a diversificação da agricultura familiar na RSMG.................98
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................108
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................112
i
LISTA DE SIGLAS
RSMG Região Sul de Minas Gerais
PU Professor universitário
PE Pesquisador
EMATER-MG Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas
Gerais
EPAMIG Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
UFLA Universidade Federal de Lavras
FAPEMIG Fundação de Apoio à Pesquisa e à Extensão de Minas
Gerais
ii
LISTA DE QUADROS
Página
QUADRO 1 Categoria de atores sociais e número de entrevistados por
categoria, 2007............................................................................... 36
QUADRO 2 Atividades propícias à diversificação agrícola na RSMG, na
opinião de pesquisadores e professores universitários, 2007......... 46
QUADRO 3 Atividades propícias à diversificação rural na RSMG, na opinião
de pesquisadores e professores universitários, 2007...................... 58
QUADRO 4 Fatores edafoclimáticos favoráveis à diversificação na opinião de
pesquisadores e professores universitários, 2007........................... 66
QUADRO 5 Fatores infra-estruturais e de localização favoráveis à
diversificação na opinião de pesquisadores e professores
universitários, 2007........................................................................70
QUADRO 6 Fatores limitantes que podem reduzir os impactos positivos dos
fatores favoráveis de natureza edafoclimática, infra-estruturais e
de localização sobre a diversificação das unidades de produção
familiares sul-mineira, segundo pesquisadores e professores
universitários, 2007........................................................................ 73
QUADRO 7 Mecanismos de intervenção utilizados pelos técnicos na atuação
junto aos produtores familiares da RSMG, na opinião de
pesquisadores e professores universitários, 2007........................... 92
iii
LISTA DE FIGURAS
Página
FIGURA 1 Elementos articulados ao conceito de significad
o...........................
27
FIGURA 2 Esquema dos componentes da ação..
...............................................
28
FIGURA 3 Processo de orientação....................................................................
30
FIGURA 4 Esquema geral de interpretação empregado no estudo...................
31
FIGURA 5 Esquema geral para a construção de redes de significação
.............
33
FIGURA 6 Esquema de manifestações dos entrevistados sobre um ou mais
objetos de orientação......................................................................
39
FIGURA 7 Avaliação da diversificação como fator de desenvolvimento da
agricultura familiar na perspectiva de pesquisadores e
professores: uma primeira aproximação, 2007.
..............................
45
FIGURA 8 Produtos mais adequados para a diversificação agrícola,
articulação entre fatores favoráveis e fatores limitantes na
perspectiva de professores universitários e pesquisadores
entrevistados, 2007.........................................................................
57
FIGURA 9 Atividades mais adequadas para a diversificação rural,
articulação entre fatores favoráveis e fatores limitantes na
perspectiva de professores universitários e pesquisadores
entrevistados, 2007.........................................................................
65
FIGURA 10 Fatores favoráveis de natureza edafoclimáticos, infra-
estruturais
e de localização e fatores limitantes ponderados por
pesquisadores e professores universitários na avaliação da
diversificação como possível estratégia de desenvolvimento da
agricultura familiar sul-mineira, 2007
............................................
80
iv
FIGURA 11 Diversificação como fator favorável ao desenvolvimento da
agricultura familiar da RSMG, na opinião dos atores sociais dos
estudos anteriores, dos pesquisadores e professores
universitários…………………......................................................
100
FIGURA 12 Alternativas para diversificação agrícola, na concepção dos
pesquisadores, dos professores universitários e dos atores s
ociais
dos estudos anteriores.................
....................................................
101
FIGURA 13 Alternativas para diversificação rural, na concepção dos
pesquisadores, dos professores universitários e dos atores so
ciais
dos estudos anteriores........................................
.............................
103
FIGURA 14 Diversificação como fator limitante ao desenvolvimento da
agricultura familiar da RSMG, na opinião dos atores sociais dos
estudos anteriores, dos pesquisadores e professores
universitários..................................................................................
104
FIGURA 15 Atuação dos técnicos, na opinião dos atores sociais dos estudos
anteriores, dos pesquisadores e professores universitários.
............
107
v
RESUMO
SANTANA, Ana Carolina. Diversificação da agricultura familiar no sul de
Minas Gerais: uma análise da percepção de professores e pesquisadores.
2008. 115 p. Dissertação (Mestrado em Administração) Universidade Federal
de Lavras, Lavras, Minas Gerais.
*
O objetivo desta pesquisa foi identificar e descrever a percepção que
pesquisadores e professores universitários possuem da diversificação como um meio
para promover o desenvolvimento da agropecuária familiar sul-mineira e confrontar
a percepção desses profissionais com a percepção dos diferentes atores sociais
identificadas nos estudos anteriores, os produtores familiares, técnicos e
representantes do governo local. Com relação à coleta de dados, utilizou-se a técnica
“focused interview”. Os entrevistados foram selecionados pelo método não-
probabilístico de amostragem por julgamento, sendo seis professores universitários e
três pesquisadores. As duas categorias de entrevistados desse estudo tendem
perceber a diversificação como favorável ao desenvolvimento da agropecuária
familiar sul-mineira, por representar uma alternativa de renda e reduzir riscos
econômicos, evitando dessa forma, o êxodo rural. Os principais objetos de
orientação que influenciaram a percepção dos atores, levando-os a considerar a
diversificação como favorável, foram os fatores edafoclimáticos (clima, solo e
recursos hídricos), os fatores infra-estruturais (estrutura viária, rede de escolas,
assistência técnica e pesquisa ligada à agropecuária) e de localização, isto é,
proximidade de grandes áreas metropolitanas. Apenas um dos pesquisadores
entrevistados atribuiu à diversificação o caráter limitante por considerar que “uma
diversificação muito grande” pode gerar dificuldades na comercialização e pelo fato
de avaliar que o aumento de renda não seria significativo. Percebe-se que a
diversificação agrícola é mais utilizada na região, tendo como principal alternativa a
fruticultura com destaque para o figo e goiaba, e entre as atividades que envolvem a
diversificação rural foram citadas a “agroindústria do produtor” e o turismo rural,
sendo, no entanto, pouco exploradas na região. Pode-se perceber que nem sempre o
que é considerado melhor para os produtores, na opinião dos próprios produtores, é
visto da mesma forma pelos técnicos representantes do governo local, professores
universitários e pesquisadores. Isso pode ser explicado pelo fato desses atores
possuírem experiências, valores e crenças diferenciadas e situarem-se em diferentes
contextos guiados por diferentes objetos de orientação para formação de sua
percepção. Essa constatação sugere a necessidade de os formuladores de projetos de
desenvolvimento levarem em conta as opiniões de diferentes atores sociais,
adotando uma postura mais participativa.
*
Orientador: Edgard Alencar
vi
ABSTRACT
SANTANA, Ana Carolina. Diversification of the family agriculture in
southern Minas Gerais: an analysis of the university lectures and
researchers' perception. 2008. 115 p. Dissertation (Master in Administration)
Universidade Federal de Lavras, Lavras, Minas Gerais. Brazil.
*
The objective of this research was to identify and to describe the perception
that researchers and university lectures possess of the diversification as a middle to
promote the development of the family farming in the southern Minas Gerais and to
confront those professionals' perception with the different social actors' perception
identified in the previous studies, family farmers' leaderships, agricultural
technicians who advise them and local governments' representatives. With relation
to data collection, the technique ‘focused interview was used. The interviewee
were selected by the non- probabilistic method of sampling by judgment, where six
professors and three researchers. The two categories of interviewees this research
tend to see the diversification as a favorable development means while its
represents for family farmers an income alternative and to reduce economical risks,
avoiding in that way, the rural exodus. The main orientation objects that guided the
actors' perceptions to consider the diversification as favorable means were the
natural resources (climate, soil, hydric resources), infra-structural (structure of road
, net of schools, technical attendance and researches related to the agricultural) and
location factors, that is, proximities of great metropolitan areas. One of the
researchers interviewees just attributed to the diversification the character of
limiting factor for considering that "a very big" diversification can generate
difficulties in the commercialization and for the fact of evaluating that the increase
of income would not be significant. It is noticed that the agricultural diversification
is more used in the study area, and its main activities involves horticulture, with
prominence for the fig and guava, and among the activities that involve the rural
diversification the “agroindustry of the producer” and the rural tourism they were
mentioned, being, however, little explored in the area. It was observed that not
always what producers considered to be better for themselves was seen in the same
way by the technicians, the local government's representatives, researches and
professors. These distinct visions may be explained by social characteristics that
differentiate an actor from another, such as different experiences, values and
background. These social factors may also conduct actors to have different
interpretation and situational orientation. That verification suggests the agents' of
development projects need they take into account the different social actors'
opinions, adopting a posture more participant.
*
Adviser: Edgard Alencar
Co-adviser: Robson Amâncio
1
1 INTRODUÇÃO
A agricultura familiar é no Brasil o maior segmento em número de
estabelecimentos agrícolas, pessoas ocupadas e tem significativa importância
econômica em diferentes cadeias produtivas. Entre as várias regiões mineiras,
destaca-se nesse cenário a região Sul de Minas Gerais (RSMG), que possui uma
estrutura agrária formada por um grande número de pequenas e médias
propriedades. Dados do Censo Agropecuário de 1995-1996 indicam que
existiam nessa região, em 1995, 96.521 estabelecimentos rurais (19,40% do total
de Minas Gerais), sendo que 91,30% deles apresentavam área inferior a 100ha
(43,30% com área inferior a 10ha e 48,00% entre 10 a menos de 100ha).
A região possui uma localização privilegiada, estando próxima das
maiores áreas metropolitanas do Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo
Horizonte) e conta com uma rede de escritórios da Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER), centros e
estações experimentais da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
(EPAMIG), instituições de ensino técnico e superior em ciências agrárias. Uma
característica marcante da região é a cafeicultura e a produção de leite. Esses
produtos são comercializados ou processados por meio de cooperativas
agropecuárias, bem como por um grande número de pequenas e médias
agroindústrias.
Atualmente, têm-se feito esforços na região para a criação de formas
alternativas de trabalho e sobrevivência, diminuindo os riscos inerentes de uma
agricultura muito especializada. Portanto, diversificação constitui uma das
opções estratégicas na política de desenvolvimento rural, em particular dos
territórios rurais mais afetados pelo declínio de determinadas atividades ou
flutuações cíclicas de preços. Todavia, segundo alguns autores, a busca de novas
alternativas devem ser frutos de um processo de desenvolvimento em que os
2
agricultores tenham uma participação ativa na sua formulação
. Os mecanismos
de intervenção utilizados por técnicos ou agentes de desenvolvimento, a atuação
dos representantes dos governos locais em modelos representativos ou
participativos de gestão e o nível de conscientização e organização dos
produtores podem ser importantes instrumentos que conduzem ao
desenvolvimento. Nesse sentido, torna-se relevante conhecer como diferentes
atores sociais ligados à agropecuária da RSMG, interpretam o ambiente em que
atuam, identificando possíveis fatores favoráveis e/ou limitantes ao
desenvolvimento da agropecuária regional. Não se procura estabelecer se tais
interpretações são ou não corretas, mas, simplesmente, identificar como
diferentes atores vêem o mundo que os cerca e se existem assentimentos ou
dissensões em suas visões. Considera-se fundamental para que haja intervenções
participativas a identificação das concepções dos distintos atores acerca da
realidade em que estão envolvidos e dos objetos situacionais em que tais
concepções se assentam. Assumem-se, nesse trabalho, que assentimento e
dissensões são fatores que devem ser identificados nos diagnósticos que
antecedem a formulação de estratégias de intervenção por confrontar diferentes
percepções, as quais, certamente, são fatores relevantes para as análises e para a
subseqüente formulação de planos de ação.
Essa dissertação pretende dar continuidade a uma pesquisa iniciada em
1996 e que procurou descrever os fatores favoráveis e limitantes ao
desenvolvimento da agropecuária no Sul de Minas Gerais, bem como identificar
possíveis deficiências no aproveitamento dos fatores favoráveis e o potencial
restritivo dos fatores limitantes. Na primeira fase da pesquisa (1996-1998),
foram entrevistadas 10 lideranças de produtores empresários e 11 profissionais
de ciências agrárias (três extensionistas da EMATER MG, três pesquisadores da
Por exemplo, (Brose, 2002), Oakley e Garforth (1985), Oakley (1991), Rahman (1993) e
Chambers (1993), (Oliveira, 2005), (Amâncio, 2006).
3
EPAMIG e cinco professores universitários) selecionados pelo método não-
probabilístico de amostragem por julgamento
. Na segunda fase (2003-2005),
foram entrevistados 12 lideranças de produtores familiares, 10 técnicos que
trabalhavam com agricultura familiar, também selecionados pelo método de
amostragem por julgamento, bem como 13 autoridades municipais (prefeitos,
secretários de agricultura ou responsáveis diretos pelo setor agropecuário
municipal) das cidades onde residiam os produtores entrevistados (Alencar et al.,
2001; Espírito Santo, 2000; Simão, 2005; Ferreira, 2007). As análises,
conduzidas nas duas fases da pesquisa, classificaram os fatores favoráveis como
culturais, sociais, edafoclimáticos (solo, clima e potencial hídrico), infra-
estruturais (rede de cooperativas, instituições de ensino pesquisa e extensão,
estrutura viária e sistema de comunicação) e localização (proximidade das áreas
metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte). Os fatores infra-
estruturais, de localização e edafoclimáticos constituíram-se na visão dos
entrevistados, o grande diferencial da RSMG em comparação com outras regiões
mineiras e brasileiras. Contudo, o potencial de desenvolvimento desses fatores
era, na perspectiva dos entrevistados, restringido pelo desconhecimento de suas
potencialidades, gestão ineficiente das cooperativas, integração deficiente entre
extensão, pesquisa, universidade e produtores. Os fatores limitantes foram
agrupados em categorias que retratavam o nível em que se encontravam, se o
nível do produtor, se na região ou fora da região. Os fatores localizados fora da
região foram citados com mais freqüência e se referiam a objetos de orientação
de natureza macroeconômica, tais como pequeno volume de recursos destinados
ao crédito rural, elevadas taxas de juros e relação desfavorável entre preços
pagos e recebidos. O potencial restritivo desses fatores foi associado à
Nesse método, as pessoas são escolhidas por preencherem critérios previamente definidos e
relacionados com a relevância das informações que podem fornecer. Os entrevistados foram
identificados partindo de indicações efetuadas por organizações públicas e privadas, que atuam na
área de estudo.
4
insegurança para planejar, descapitalização das atividades agropecuárias, baixo
nível tecnológico, desestímulo para a diversificação da produção e
aproveitamento dos fatores de natureza edafoclimáticas, infra-estruturais e de
localização.
Concluindo, ao procurar identificar e descrever como lideranças de
produtores rurais e demais atores sociais interpretam o ambiente em que atuam,
identificando possíveis fatores favoráveis ou limitantes ao desenvolvimento da
região sul de Minas Gerais, esses estudos mostraram que o processo de
orientação não é linear, uma vez que os atores entrevistados estabeleceram
múltiplas conexões entre objetos situacionais de diferentes naturezas. Ao revelar
tais conexões, colocou-se também em evidência que o aproveitamento de fatores
favoráveis e a neutralização ou redução dos impactos dos fatores limitantes ou
restritivos subentendem a noção de interdisciplinaridade, uma vez que tais
fatores representam dimensões que envolvem diferentes áreas do conhecimento.
Esses resultados conduziram à terceira fase da pesquisa que constitui esse estudo
e tem como alvo a percepção de pesquisadores da Empresa de Pesquisa
Agropecuária do estado de Minas Gerais e pesquisadores/professores da
Universidade Federal de Lavras (UFLA). A inclusão desse atores decorre do fato
de trabalharem na geração de tecnologias agropecuárias, consideradas pelos
entrevistados dos estudos anteriores como uma atividade básica para o
desenvolvimento econômico regional, mas, em certas circunstâncias, ainda
distante da realidade da agricultura familiar. Tais considerações conduziram à
formulação dos objetivos dessa pesquisa.
1.1 Objetivos
Fundamentando-se nos estudos anteriormente realizados, foram
estabelecidos os objetivos gerais e específicos dessa pesquisa.
5
1.1.1 Objetivo geral
Identificar e descrever a percepção que pesquisadores e professores
universitários possuem da diversificação como um meio para promover o
desenvolvimento da agropecuária familiar sul-mineira e confrontar a percepção
desses profissionais com a percepção dos diferentes atores sociais identificada
nos estudos anteriores.
1.1.2 Objetivos específicos
a) Identificar e descrever os fatores favoráveis e limitantes da diversificação na
percepção de pesquisadores e professores.
b) Identificar e descrever a percepção dos pesquisadores sobre as alternativas
de diversificação e os motivos que sustentam a seleção de possíveis
alternativas.
c) Identificar e descrever quais seriam, na perspectiva de pesquisadores e
professores universitários, as estratégias ou combinações de estratégias de
intervenção mais adequadas para promover o desenvolvimento sustentável
na RSMG e os motivos que validam as possíveis escolhas.
d) Tendo como referência os objetivos específicos a, b e c, montar redes de
significados comparando-se a percepção de pesquisadores e professores
universitários com a percepção dos atores sociais estudados nas pesquisas
anteriores.
6
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Os fundamentos teóricos desta pesquisa assentam-se na revisão de
literatura sobre a integração rural-urbana, agricultura familiar, diversificação,
desenvolvimento rural e mecanismos de intervenção. As dimensões
consideradas relevantes nessa revisão constituirão elementos centrais para a
caracterização do macroambiente em que os diferentes atores sociais
pesquisados atuam sendo, portanto, o pano de fundo para a compreensão de suas
percepções. O marco geral de interpretação foi elaborado partindo da teoria da
ação social e desenvolvido, paulatinamente, nos estudos que antecederam essa
dissertação, referenciados no capítulo introdução.
2.1 A integração rural-urbana e a agricultura familiar
Nas últimas décadas, ocorreram profundas transformações na agricultura
brasileira, onde o setor primário passou a ser uma atividade integrada dos setores
industriais e de serviços, e não somente um provedor de alimentos in natura e
consumidor de seus próprios produtos.
Foi a partir da segunda metade da década de 1960, que se intensificou o
processo de capitalização da agricultura brasileira, culminando com a
constituição do complexo agroindustrial brasileiro (CAI) ou, como muitos
autores preferem, dos sistemas agroindustriais. Embora suas bases tenham sido
implantadas na década de 1950, com a expansão das indústrias de bens de
produção, foi no final dos anos 1960 que o Estado formulou políticas voltadas
para a industrialização da agricultura, visando atender à demanda interna e ao
crescimento das exportações
§
.
A expansão dos CAIs
**
constituiu as novas bases
§
Entre essas políticas, destacam-se os investimentos públicos em infra-estrutura (estrada,
comunicação, comercialização, etc.), estabelecimentos de projetos especiais e programas regionais
(renovação da cafeicultura e cacauicultura, expansão da triticultura e da sojicultura,
7
sobre as quais se estabelecem no presente, a integração rural-urbana no Brasil,
passando os produtores rurais a conviver com as novas situações de mercado que
os envolvem em uma complexa rede de interesses.
Nesse novo padrão de articulação rural-urbano, a agricultura se integra
com outros ramos de produção denominados de setores “a montante” e “a
jusante”
††
. Para produzir, observam Kageyama et al. (1990), a agricultura
depende dos insumos que recebe de determinadas indústrias e não produz mais
apenas bens de consumo final, mas basicamente bens intermediários ou matérias
–primas para outras indústrias de transformação. Por meio dessa integração são
definidos modelos, os quais implicam certa divisão de tarefas entre os membros
do CAI e entre esses e o seu ambiente, a definição de regras de condutas,
produtos a valorizar em função de uma finalidade, processos técnicos a serem
utilizados e, até mesmo, atores a serem incluídos ou excluídos por razões
estritamente econômicas. Todavia, em um complexo não coexistem apenas
agricultores, as firmas, os comerciantes, mas também forças intelectuais como,
por exemplo, pesquisa e desenvolvimento, assistência técnica, serviços
desenvolvimento do cerrado, aproveitamento de várzeas, entre outros), incentivos aos
investimentos privados em reflorestamento e à abertura de grandes fazendas nas regiões centro-
oeste e amazônica, desenvolvimento das indústrias de insumos, máquinas e equipamentos para a
agricultura, reestruturação da pesquisa agropecuária e da extensão rural, incremento do crédito
rural, geralmente a taxas de juros negativas (isto é, inferiores a taxas de inflação) e subsídios para
aquisição de insumos e máquinas (Alencar, 2000).
**
Complexo agroindustrial é definido por Muller (1989, p.25) como um conjunto de processos
técnico-econômicos ligados à produção agrícola, ao beneficiamento de sua produção, à produção
de bens industriais para a agricultura e aos serviços financeiros e comerciais correspondentes.
Embora o processo de capitalização da agricultura tenha sido predominante nas últimas décadas,
não significa a homogeneização das formas de produzir na agricultura e nem a integração
intersetorial completa em todos os tipos de atividades (Kageyama et al., 1990).
††
Os componentes do complexo agroindustrial podem ser classificados como setores “a
montante” e a “jusante” à agricultura (Delgado, 1985). O setor “a montante” refere-se ao conjunto
de indústrias que fornecem ao setor agrícola insumos, máquinas e equipamentos, bem como os das
demais empresas prestadoras de serviços, que são classificados como “inputs” ao processo de
produção agropecuário (por exemplo: pesquisa, assistência técnica, crédito para custeio e
investimento). O setor “a jusante refere-se ao conjunto de indústrias que têm a agropecuária como
fonte de serviços relacionados à comercialização de produtos agrícolas, armazenagem, entre outros
(Alencar & Amâncio, 1993).
8
bancários, marketing, transporte, bolsas de mercadorias entre outros (Silva,
1996; Alencar et al., 2001). A interação desses diferentes atores sociais se dá em
um contexto marcado por alto grau de concentração de capital e concorrência
oligopólica, o que pode reduzir o poder de influência dos produtores rurais.
O surgimento dos complexos agroindustriais articula, assim, novos
interesses. Segundo Delgado (1985), um novo bloco de interesses rurais, em
que sobressai a participação do grande capital industrial, do Estado, e dos
grandes e médios proprietários rurais. Para Silva (1996), o Estado não é apenas o
“lócus” onde essas diferentes forças se confrontam e se aliam, mas também um
ator mais ou menos forte na configuração e na polarização dos interesses que se
organizam. Para Lamounier (1994), um modelo de análise de decisões políticas
deve começar discriminando os atores sociais envolvidos, sua posição estrutural
em termos de capacidade de influir (tanto no momento presente quanto como
tendência temporal) e os recursos de poder (positivos ou negativos) à disposição
de cada um.
Partindo desses três fatores, Lamounier (1994) agrupa os atores
envolvidos na definição das políticas destinadas à agricultura em um “conjunto
de atores efetivamente significativos” e em um “conjunto de atores que pouco
influem no processo decisório”. O conjunto de atores “efetivamente
significativos” é constituído por: atores governamentais, Congresso Nacional,
médios e grandes produtores, agroindústria. O conjunto de atores que “pouco
influem” é formado por: a) pequenos produtores, b) trabalhadores rurais, e, c)
consumidores. Para Alencar (1997), os comentários ressaltando a diversidade
social no campo, a situação de mercado e os recursos e limites do poder dos
diferentes atores sociais, mostram que o novo padrão agrícola envolve o setor
rural numa complexa rede de relações de interesses.
Porém, apesar de Lamounier (1994) enfatizar que pequenos produtores e
trabalhadores rurais são atores que ocupam uma posição marginal na decisão das
9
políticas agrícolas, por exemplo, percebe-se que se têm expandido os
movimentos sociais no campo reivindicando o acesso à terra e a efetivação de
ações do Estado, no sentido de proporcionar à agricultura familiar meios que
favoreçam o seu desenvolvimento. A mobilização dos trabalhadores sem-terra, a
partir da segunda metade da década de 1990, é um exemplo da expansão desses
movimentos. Cresce também a presença das organizações não-governamentais,
propondo formas de intervenção na realidade rural, fundamentadas na
participação cidadã e no associativismo (Alencar et al., 2001).
Portanto, as transformações em curso no processo de integração rural-
urbana demandam, especialmente por parte dos produtores familiares, a
formulação de estratégias que visem a negociação de interesses no âmbito do
Estado quanto dos atores sociais localizados nos setores a montante e a jusante,
como também a formulação de estratégias relacionadas com o processo
produtivo no nível de suas propriedades. Apesar de ser caracterizada dentro da
agricultura moderna como um segmento, “sem voz”, não é possível negar a
importância que a agricultura familiar possui na economia do país, sendo por
isso relevante estudá-la.
Para compreender o termo agricultura familiar é necessário distinguir os
diferentes conceitos que lhe são atribuídos. Expressões como pequena produção,
agricultura de subsistência, agricultura camponesa, produção de baixa renda,
etc., são empregadas para designar formas de produção e organização social
familiares. Aparentemente, tais denominações procuram explicar um mesmo
fenômeno, qual seja o de uma forma de produção baseada no trabalho familiar,
que possui diferentes níveis de integração com o mercado. Contudo, um exame
mais atento revela que se diferenciam em função da ênfase que se coloca em
uma ou mais variáveis, utilizadas com fins de definição.
10
Quando se fala em pequena produção, a ênfase recai sobre o tamanho
das unidades produtivas. Quando se trata de agricultura de
subsistência, destaca-se a ausência de geração de excedentes, enquanto
na produção de baixa renda é ressaltada a precariedade dos
rendimentos obtidos (Peixoto, 2006).
Por sua vez, o conceito de campesinato, objeto de inúmeras
divergências, abrange quatro aspectos básicos, segundo Peixoto (2006): 1) a roça
da família camponesa como a unidade multidimensional básica da organização
social; 2) o trato da terra como principal meio de vida; 3) padrões culturais
específicos ligados ao modo de vida de uma pequena comunidade/vizinhança
rural; e a posição de "subalterno" - o domínio do campesinato por elementos de
fora.
Esse autor entende as dificuldades de se definir agricultura familiar, no
entanto, salienta que é possível formular um conceito de agricultura familiar
articulando os seguintes elementos: uso predominante da força de trabalho
familiar; a relevância do grupo familiar para os papéis produtivos (divisão do
trabalho) e gerenciais; e reprodução social do grupo familiar como elemento de
racionalidade predominante.
O agricultor familiar pode se apresentar sob uma enorme diversidade de
situações e por condicionantes históricos, tornando-se importante caracterizar ou
conceituar esse seguimento social. Das distinções existentes, vale destacar a
apresentada por Lamarche (1993) que define a agricultura familiar como aquela
em que o trabalho, a terra, o capital e a gestão da propriedade o
predominantemente familiares. O agricultor que possui um pedaço de terra e
nele produz com seu próprio trabalho e de sua família e com capital proveniente
desse trabalho é caracterizado como familiar. Enquanto a exploração camponesa
é definida pelo autor a partir dos seguintes princípios: a produção é voltada para
o consumo e os seus objetivos são de produção de valor de uso e não de troca; o
11
trabalho é familiar e não como mensurá-lo, criando-se certa autonomia em
relação ao conjunto da sociedade.
Alencar (2000) também distingue a agricultura familiar do campesinato.
Para esse autor, a unidade familiar pode ser caracterizada sob duas principais
perspectivas: a empresa familiar e a unidade camponesa. As empresas familiares
são caracterizadas por possuírem uma área modular onde se predomina a força
de trabalho da família e que apresenta alta composição de capital de exploração
e alto grau de comercialização da produção. Entretanto, a predominância do
trabalho da família, não na gestão do empreendimento, mas, sobretudo nas
atividades relacionadas com o trabalho direto com criações ou lavouras. Na
unidade camponesa, também há a predominância do trabalho familiar, ela possui
baixo nível de capitalização e comercialização e é uma unidade policultora e
minifundiária. Nos dois casos, a produção é destinada ao autoconsumo e
comercialização, porém, especialmente na agricultura camponesa, em que as
rendas líquidas são baixas, o produtor primeiramente garante sua sobrevivência,
e somente o restante da produção é comercializado. Por isso, no primeiro caso, o
nível de exploração e comercialização dos produtos é maior. Mas, apesar das
peculiaridades existentes entre essas unidades de produção, elas possuem em
comum a utilização de força de trabalho, que é caracterizada pelo predomínio da
mão-de-obra familiar.
Entre as duas categorias consideradas pelo autor – a empresa familiar e a
unidade camponesa existem tipos híbridos que devem ser considerados na
discussão sobre a agricultura familiar. Esses tipos híbridos são unidades que
possuem características que oscilam entre as duas principais perspectivas
apresentadas. Ou seja, para Alencar (2000), há diferentes racionalidades a serem
consideradas para a compreensão da agricultura familiar. Para Simão (2005), a
racionalidade nesse contexto pode ser entendida como a forma com que os
produtores compreendem e realizam seu trabalho e sua conseqüente finalidade e
12
importância. Dessa forma, pode-se perceber tanto a presença de uma
racionalidade instrumental, na medida em que uma preocupação voltada à
comercialização desses produtos, quanto de uma racionalidade substantiva, uma
vez que também uma preocupação com a produção para a sobrevivência
familiar.
Segundo Santos (1999), o agricultor familiar é o sujeito que produz, com
a força da mão-de-obra de sua família, contratando trabalhadores externos de
forma esporádica e pouco significante. O negócio está sempre presente, assim
como as relações vicinais e de parentesco, desde produtos de subsistência até
bens que significam acumulação, de irmãos a compadres. A venda e a aquisição
são constantes e obedecem a uma lógica peculiar.
De acordo com Chayanov (1974), na agricultura camponesa o camponês
utiliza sua força de trabalho e de sua família para a produção, que é direcionada
para consumo familiar. O excedente é visto como uma retribuição do seu
próprio trabalho e não como lucro, ou seja, o principal objetivo da produção
camponesa e das eventuais vendas dos produtos é a subsistência da família e não
a obtenção de lucro. Porém, às vezes são criadas situações em que o camponês é
obrigado a submeter a sua própria força de trabalho ao capital. Vale ressaltar
que, aparentemente, esse autor não difere a agricultura familiar da camponesa,
pois acredita que a lógica de trabalho e exploração é a mesma para os dois.
O que é possível identificar como ponto comum entre os diversos
conceitos apresentados é que esse tipo de agricultor pode ser identificado pela
presença predominante do trabalho da família, na produção. A fim de alcançar o
consenso, apresenta-se o conceito exposto por Denardi (2007) e Schuch (2004)
de que os empreendimentos familiares têm duas características principais: eles
são administrados pela própria família e, neles, a família trabalha diretamente,
com ou sem o auxílio de terceiros. A gestão e o trabalho são predominantemente
13
familiares e ao mesmo tempo, uma unidade de produção, de consumo e de
reprodução social.
Para fins desse trabalho, será utilizado esse último conceito, de maneira
que a agricultura familiar será aqui caracterizada como sendo a unidade na qual
a mão-de-obra e a gestão são predominantemente familiares, indiferente das
formas de aquisição de capital e do destino dado à produção, podendo estar
presente tanto em unidades modulares quanto em submodulares, desde que a
mão-de-obra e a gestão sejam da família.
2.2 Diversificação
A importância da agricultura familiar no cenário brasileiro é
indiscutível. Apesar do modelo concentrador das políticas de modernização da
agricultura nas últimas décadas do século passado, a agricultura familiar
responde pela produção de, aproximadamente, 40% da riqueza gerada no meio
rural brasileiro. É, além disso, responsável por significativa parcela dos rebanhos
e também do cultivo de todos os tipos de alimentos presentes na mesa dos
brasileiros (Ortega & Só, 2006).
Apreende-se dessa informação a importância dos estabelecimentos
familiares na geração e manutenção do emprego no campo, sendo significativa
sua participação na riqueza gerada no meio agropecuário, tendo-se em vista a
área por ela ocupada. Como observa Schuch (2004), a agricultura familiar é um
setor estratégico para a manutenção e recuperação do emprego, para a
redistribuição da renda, para a garantia da soberania alimentar do país e para a
construção do desenvolvimento sustentável.
Mesmo diante de sua importância, a agricultura familiar não chegou a
fazer parte de uma alternativa viável de desenvolvimento. Nas últimas quatro
décadas, as políticas públicas criadas para a agricultura contemplaram,
14
principalmente, a política agrícola, sendo que a política agrária
‡‡
sempre ocupou
uma posição marginal ou inexistente. Por conseguinte, poucas foram e ainda são
as políticas voltadas para o fortalecimento e desenvolvimento dos produtores
familiares devido ao fato de que os agricultores familiares nunca tiveram
organização e força a ponto de influenciar as instituições governamentais que
tomam as principais decisões de política agrícola (Denardi, 2007).
Todavia, percebe-se que esse comportamento dos produtores familiares
vem se modificando. Por meio dos movimentos sociais e sindicais de
trabalhadores rurais foi possível, em 28 de junho de 1996, mediante o decreto
n°. 1.946, a criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar (PRONAF), a primeira política pública diferenciada em favor dos
agricultores familiares brasileiros. Conforme Delgado (2001), as políticas
diferenciadas buscam formas democráticas de integração da agricultura familiar
ao desenvolvimento econômico, político e social do país, sendo necessariamente
descentralizadas e participativas, além de possuírem uma política fundiária
claramente delimitada.
Segundo Ferreira et al. (2001), a valorização da agricultura familiar no
âmbito das políticas públicas possibilitou o surgimento do PRONAF, como
‡‡
Política agrícola e política agrária estão associadas às noções de “questão agrícola” e “questão
agrária”. Questão agrícola, segundo Silva (1982, p.11), “diz respeito aos aspectos ligados às
mudanças na produção em si mesma: o que se produz, onde se produz e quanto se produz. a
questão agrária está ligada às transformações nas relações de produção: como se produz, de que
forma se produz. No equacionamento da questão agrícola as variáveis importantes são as
quantidades e os preços dos bens produzidos. Os principais indicadores da questão agrária são
outros: a maneira como se organizam o trabalho e a produção; o nível de renda e emprego dos
trabalhadores rurais; a produtividade das pessoas ocupadas no campo, etc”. Para Delgado (2001, p.
23-25), a política agrícola visa afetar o comportamento de curto prazo dos agricultores e dos
mercados agropecuários, como fatores estruturais (tecnologia, uso da terra,etc) que determinam
seu comportamento de logo prazo, ou seja, regulariza as relações de preços de produtos e de
fatores, as condições de comercialização e de financiamento, entre outras. Já a política agrária para
esse autor, tem como objetivo intervir na estrutura da propriedade e da posse da terra prevalecente
no meio rural. Quanto ao relacionamento entre essas duas políticas, há duas observações: a política
agrícola traz sempre implícita uma política agrária determinada; e a tendência tem sido até
recentemente, a de estabelecer uma polarização excludente entre esses dois tipos de políticas,
progressista e conservadora. Ver também Veiga (1998, p. 27-31).
15
mecanismo específico para o fomento dessas unidades produtivas. Até então, o
financiamento do pequeno produtor restringia-se quase exclusivamente aos
recursos administrados pelo Programa de Crédito Especial de Reforma Agrária
(PROCERA) que tinha destinação específica e limitada. Para os autores, o
entendimento de que o desenvolvimento do país passa necessariamente pela
agricultura familiar abriu espaço para ela tornar-se merecedora de políticas
específicas com vistas ao seu fortalecimento.
Deve-se ressaltar também a importância do fortalecimento da agricultura
familiar para a manutenção da população rural:
De acordo com estudos do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises
Sociais e Econômicas)
§§
, as operações de crédito do Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), em 2003,
mantiveram 3,3 milhões de agricultores em seus postos de trabalho e
geraram 650 mil novos empregos no campo. Tais números não são de
desprezar, sobretudo, porque o mesmo volume de recursos, se
concedido às atividades urbanas, geraria parcelas menores desse
volume de postos de trabalho (Ortega & Só, 2006).
Todavia, autores consideram que nem todos os segmentos da
administração pública percebem esse potencial dinâmico que é atribuído à
agricultura familiar. Essa dissensão fica mais evidente quando discutem o
significado que atribuem a programas voltados para esses agricultores. O
PRONAF, por exemplo, é visto sob duas diferentes esferas no âmbito do
governo federal. Segundo Denardi (2007), os ministérios da Fazenda e da
Agricultura vêem o PRONAF apenas como uma política social compensatória,
isto é, como mero paliativo para minorar os efeitos da "inevitável"
marginalização e exclusão dos pequenos agricultores sem condições reais de
integração e competição nos mercados globalizados. O Ministério do
Desenvolvimento Agrário, respaldado por setores do Banco Nacional de
§§
Disponível em: <http://www.ibase.br>.
16
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Instituto de Pesquisa em
Economia Agrícola (IPEA), atribuem ao PRONAF a importância e amplitude de
uma efetiva política de desenvolvimento rural. As políticas de desenvolvimento
rural representam, em princípio, tentativas de integração da política agrícola e da
política agrária, procurando atender às particularidades de cada região (Delgado,
2001).
O PRONAF tem socializado o financiamento de custeio de produtos,
sistemas e pacotes tecnológicos tradicionais. Todavia, falta crédito para
investimentos e, principalmente, para financiar mudanças nos sistemas de
produção, reconversão produtiva e para atividades não-agrícolas no meio rural.
Os bancos comerciais dificilmente financiam sistemas de produção
diversificados e sustentáveis ou produtos orgânicos e diferenciados (Denardi,
2007).
Nesse contexto, seja ou não como medida paliativa, buscam-se
alternativas que possibilitem ao agricultor familiar maior garantia de
sobrevivência e maior acesso a melhores rendas em um ambiente de constantes
mudanças e adaptações. A diversificação é considerada uma das formas para
diminuir os riscos de se ter apenas uma atividade como principal fonte de renda
e manutenção familiar. Vista como um ato coletivo pertencente a um processo
de revitalização social, econômica, política e ambiental, a diversificação
constitui uma das opções estratégicas na política do desenvolvimento rural e, em
particular, dos territórios rurais mais afetados pelo declínio de determinadas
atividades. A diversificação se destina não a ampliar o leque de produtos
comercializáveis, mas, igualmente, a assegurar o autoconsumo e a agregação de
valor, garantindo maior rentabilidade aos produtores familiares (Simão, 2005).
O termo diversificação pode ser empregado de duas maneiras: quando
aplicado à atividade agrícola exercida pelos agricultores nas suas explorações ou
sempre que associado a uma comunidade rural, essencialmente dependente da
17
atividade agrícola (IDRHa, 2004)
***
. No âmbito desse estudo, somente a
primeira denominação de diversificação será utilizada, devido a sua importância
constatada nas pesquisas anteriores. Por conseguinte, o conceito de
diversificação empregado nessa pesquisa está associado à multifuncionalidade e
significa o exercício simultâneo e, ou sucessivo, por uma mesma pessoa, de
várias atividades de caráter agrícola e não-agrícola, no sentido de tornar mais
competitivas as explorações, por meio de alternativas que se complementem
(IDRHa, 2004).
Quando se fala em diversificação, é preciso que se compreenda a
diferença existente entre diversificação agrícola e diversificação rural. A
diversificação agrícola refere-se à implantação de duas ou mais atividades
agropecuárias em uma propriedade rural; por exemplo, uma propriedade que
produza café, milho, leite e crie suínos é considerada uma propriedade
“agricolamente” diversificada. Porém, conforme defende Silva (2001),
diversificar apenas a produção agrícola de uma região não é o suficiente, pois
traz poucas melhorias na renda das famílias agrícolas pobres que dependem dos
mercados locais de trabalho. Dessa forma, torna-se importante o
desenvolvimento simultâneo da diversificação rural.
A diversificação rural refere-se à implantação simultânea de atividades
agrícolas e não-agrícolas em uma propriedade, configurando-se por meio de um
mercado relativamente indiferenciado que combina desde a prestação de
serviços manuais até o emprego temporário nas indústrias tradicionais
(agroindústria, têxtil, etc.) ou pela da combinação de atividades urbanas do setor
terciário com o conjunto das atividades agropecuárias.
A diversificação rural pode, então, ser caracterizada como pluriatividade
que, de acordo com Silva (2001), representa a nova base da agricultura moderna,
uma vez que considera fundamental a criação de um novo conjunto de políticas
***
Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidráulica (IDRHa).
18
não-agrícolas para impulsionar o desenvolvimento das áreas rurais,
proporcionando condições para que se possa alcançar a cidadania no meio rural
sem a necessidade de migrações para as cidades.
A pluriatividade pode ser entendida, segundo Schneider (2001), como
uma estratégia de reprodução social da qual se utilizam as unidades agrícolas
que operam, fundamentalmente, com base no trabalho da família, em contextos
onde sua integração à divisão social do trabalho não decorre exclusivamente dos
resultados da produção agrícola, mas, sobretudo, através do recurso às atividades
não-agrícolas e mediante a articulação com o mercado de trabalho. Nesse
sentido, o autor argumenta que, embora integradas ao ordenamento social e
econômico, essas unidades familiares encontram espaços e mecanismos não
apenas para subsistir, mas para se afirmar como uma forma social de
organização do trabalho e da produção de características multivariadas.
Desse modo, autores enfatizam que a agricultura familiar possui um
caráter pluriativo por ter a capacidade de combinar atividades agrícolas e com
outras não-agrícolas, além de poder buscar algum rendimento fora do
estabelecimento produtivo, numa atividade de comércio ou prestação de serviços
(Perondi & Ribeiro, 2000). Essa integração de atividades pode ser responsável
por impulsionar o desenvolvimento regional.
Nesse sentido, acredita-se que, por meio de um enfoque integrador das
atividades agrícolas e não-agrícolas, seja possível promover um modelo de
desenvolvimento rural que permita aos seus habitantes melhorarem suas
condições de emprego, renda e qualidade de vida. Esse modelo busca tanto a
diversificação agrícola quanto a rural implicando assim, na elaboração de
políticas definidas como “agri-rurais”. Ou seja, busca-se a promoção do
desenvolvimento das atividades agrícolas para o produtor, por meio da liberação
de créditos ou subsídios, por exemplo, e, simultaneamente, procura-se elevar a
renda do produtor pela criação de empregos não-agrícolas (Balsadi, 2001). Mas
19
a discussão desse tema não pode prescindir de uma revisão sobre as distintas
concepções de desenvolvimento e intervenção na realidade rural.
2.3 Desenvolvimento rural e os mecanismos de intervenção
Desenvolvimento compreende um processo que permeia a história de
uma dada sociedade, envolvendo todo o tipo de avanços, retrocessos, conflitos,
pactos entre os atores envolvidos e que, gradualmente, permite um incremento
na qualidade de vida de dada população (Brose, 2002). O tema do
desenvolvimento local vem sendo, nos últimos anos, objeto de intensos debates
entre especialistas, militantes de movimentos e organizações sociais e entre
responsáveis pelas políticas públicas dirigidas à agricultura e ao meio rural
(Wanderley, 2000). Para alguns autores, o adjetivo “local” faz parte do novo
discurso das agências de desenvolvimento, públicas e privadas, no intuito de
captar recursos financeiros. Para outros, representa uma eficaz alternativa de
melhoramento das condições de vida das comunidades, através de processos que
buscam dotá-las de maior capacidade de gestão e de administração de seus
próprios recursos e potencialidades.
Considerando a segunda vertente do que significaria “local”, Ortega &
(2006) enfatizam que na base do desenvolvimento local, está a identificação
ou criação de uma cultura cooperativa na comunidade, que defende uma
perspectiva de desenvolvimento alicerçada em capacidades e recursos existentes
em nível local, no aproveitamento de recursos humanos, na mobilização de
atitudes e valores, com o objetivo de criar uma trajetória de desenvolvimento
autônoma.
Oakley & Garforh (1985) identificam três dimensões que consideram
fundamentais no processo de desenvolvimento de uma região ou país: a
econômica, a social e a humana. A econômica refere-se à capacidade produtiva
do país ou localidade. A dimensão social refere-se à possibilidade de os
membros de uma sociedade terem acesso aos benefícios institucionais como
20
educação, saúde, lazer, moradia, segurança, etc. E a dimensão humana refere-se
ao fato das pessoas se transformarem de sujeitos passivos em sujeitos ativos, ou
seja, tornarem-se pessoas conscientes de seu papel na sociedade enquanto
cidadãs. Para esses dois atores, não basta considerar desenvolvimento somente
sobre a perspectiva do crescimento econômico, é fundamental que se considere
sobre o seu aspecto social e humano.
Desse modo, o desenvolvimento local pode ser definido numa
perspectiva do desenvolvimento como liberdade, conforme salienta Dowbor
(1996) e Sen (2000). Para esses autores, o desenvolvimento local precisa ser
conceituado sob uma roupagem que não se subordine aos agregados
macroeconômicos ou à eficiência das unidades de produção. Torna-se necessária
uma visão de desenvolvimento que coloque o ser humano e os interesses
coletivos como ponto central, convergindo para a possibilidade de
potencialização das capacidades de todos os indivíduos. Essa missão do
processo de desenvolvimento não permite que seus defensores desconsiderem
outros fatores como qualidade de vida, socialização do poder, distribuição da
renda, acesso aos serviços públicos e aos benefícios da tecnologia.
Segundo Oliveira (2005), as estratégias voltadas para o desenvolvimento
sustentável são partes primordiais para qualquer política pública nos dias de
hoje. Apesar das considerações de Giddens (1999) de que a definição de
desenvolvimento sustentável é imprecisa pois, se relaciona com a manutenção
de recursos, para o atendimento de necessidades sobre as quais não sabemos
quais serão, Oliveira (2005) defende que é preciso satisfazer as necessidades da
geração atual sem, no entanto, comprometer a possibilidade das gerações futuras
serem capazes de satisfazer as suas necessidades vindouras.
Esse modo de entender o desenvolvimento propõe discussões sobre as
estratégias de intervenção e o papel que diferentes atores sociais podem
desempenhar nessas estratégias. Tendo como referência o trabalho comunitário,
21
Alencar (1995) define intervenção como uma ação ou um conjunto de ações
praticadas por pessoas que não pertencem à localidade onde as ões se
desenvolvem. Ela pode assumir um caráter tutorial ou educativo. Na intervenção
tutorial, observa Alencar (1990), a ação é orientada no sentido de introduzir
idéias que, pré-estabelecidas pelos agentes de desenvolvimento e as pessoas
“alvos”, se responsabilizarão apenas pela execução das decisões previamente
estabelecidas. O caráter educativo caracteriza a intervenção em que os agentes
de desenvolvimento são responsáveis por orientar a população sobre como
realizar o diagnóstico, definir os objetivos e os meios para alcançá-los,
posteriormente avaliá-los e propor possíveis ajustes para seu aperfeiçoamento.
Abramovay (2003) identificou numa pesquisa realizada no sul do país
que, para alguns extensionistas rurais dessa região, os principais obstáculos para
que as suas ações se transformem em parte de um processo de desenvolvimento
seriam: a falta de confiança dos produtores na própria capacidade; a dependência
dos produtores com relação às autoridades municipais; a falta de preparo dos
próprios cnicos; a baixa participação da sociedade civil local nas associações;
a baixa informação dos produtores; a participação exclusivamente dos homens,
com a exclusão de mulheres e jovens. Visando a superação desses limites,
Cassaroto Filho & Pires (1998) salientam que é necessário um consenso em
torno do projeto de desenvolvimento que eles denominam de “Pacto
Territorial” - respeitando as seguintes condições: a) mobilizar os atores em torno
de uma “idéia guia”; b) contar com o apoio destes atores não apenas na
execução, mas na própria elaboração do projeto; c) definir um projeto que seja
orientado ao desenvolvimento das atividades de um território; d) realizar um
projeto definido; e) criar uma identidade gerenciadora que expresse a unidade
(sempre conflituosa, é claro) entre os protagonistas do pacto territorial.
Complementando essa visão, Abramovay (2003) cita sete desafios para
o desenvolvimento rural: 1) a mudança do ambiente educacional existente no
22
meio rural, isto é, modificar o conjunto do ambiente que se refere ao uso do
conhecimento no meio rural; 2) os projetos de desenvolvimento devem
extrapolar um único setor profissional para que possam ter mais chances de
sucesso; 3) a ação extramunicipal deve ser um dos trunfos a que as organizações
e os técnicos devem recorrer para que se possa ampliar o raio das relações; 4)
torna-se fundamental a organização de iniciativas que comecem a materializar a
existência da dinâmica territorial (ex. feiras de produtores rurais); 5) criar novos
mercados que coloquem em destaque capacidades regionais “territorializadas”
(ex. valorização do artesanato local); 6) valorização das faculdades existentes no
interior do país e das universidades, pois podem exercer um papel decisivo na
formação das redes territoriais de desenvolvimento; 7) construir uma nova visão
- inclusive sob o ângulo estatístico - do que significa meio rural, ou seja, é
essencial formular procedimentos estatísticos que não separem as cidades das
regiões rurais em que estão inseridas, permitindo uma visão territorial sobre o
processo de desenvolvimento.
Diante das estratégias de intervenção, pode-se enfatizar que a
participação e a conscientização dos envolvidos no processo são de suma
importância para que o projeto de desenvolvimento possa ser concretizado.
Oakley & Garforth (1985), analisando projetos de desenvolvimento,
identificaram diferentes significados atribuídos ao termo participação: a)
envolvimento voluntário dos indivíduos nos programas, sem, contudo,
participarem da sua elaboração; b) sensibilização dos indivíduos, aumentando-
lhes a responsabilidade para responderem às propostas de programas de
desenvolvimento e encorajando iniciativas locais; c) envolvimento dos
indivíduos no processo de tomada de decisão, na implementação dos programas,
na divisão dos benefícios e na avaliação das decisões tomadas; d) associação do
conceito de participação com a iniciativa de pessoas e grupos, visando à solução
de seus problemas e à busca de autonomia; e) organização de esforços de
23
pessoas excluídas para que elas aumentem o controle sobre recursos necessários
ao desenvolvimento e sobre as instituições que regulam a distribuição desses
recursos; f) associação do conceito de participação com o direito e o dever dos
indivíduos participarem na solução dos seus problemas, terem responsabilidade
de assegurar a satisfação de suas necessidades básicas, mobilizarem recursos
locais e sugerirem novas soluções, bem como de criarem e manterem as
organizações locais.
Para Bordenave (1992), a participação é inerente à natureza social do
homem, seja por uma base afetiva participar pelo “prazer em fazer coisas com
outros”, seja por uma base instrumental participar porque “é mais eficaz e
eficiente fazer coisas com outros do que fazê-las sozinhos”. Desse modo, o autor
indica que é possível fazer parte sem tomar parte, o que lhe permite diferenciar a
participação ativa da participação passiva como sendo “a distância entre o
cidadão engajado e o cidadão inerte“ (Bordenave, 1992, p.22).
Visando proporcionar a participação ativa dos cidadãos, torna-se
fundamental a ampliação de espaços para processos de gestão democráticos no
intuito de que a sociedade civil seja capaz de contribuir para a geração de
políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável (Oliveira, 2005).
No entanto, é importante identificar a real participação dos indivíduos, pois
muitas propostas acabam sendo uma maneira de disfarçar, encobrir o poder com
a capa da participação. Portanto, o poder deve ser encarado de frente para que a
participação possa ser efetivamente realizada nos projetos de desenvolvimento
(Demo, 1996). Contudo, observa-se que participação é um processo
multidimensional e varia de situação para situação em respostas a circunstâncias
particulares. Não existe um único modo de compreender esse processo e a sua
interpretação es mais em função da perspectiva de análise empregada
(Alencar, 1997).
24
A diversidade de interpretações relacionadas com os temas “integração
rural-urbana”, “agricultura familiar”, “desenvolvimento”, “intervenção” e
“diversificação”, evidenciada pela revisão de literatura, orientou a busca por um
referencial teórico que permite trabalhar com diferentes perspectivas. Nesse
estudo, foi escolhida a teoria da ação social.
2.4 Teoria da ação social
Apesar de possuir diferentes vertentes, como observa Craib (1992), a
teoria da ação social tem seu foco principal na interpretação que o ser humano
faz do mundo como elemento central de sua conduta. Nesse sentido, Bandura
(2001) observa que as pessoas constroem respostas explicativas partindo da
observação das relações entre acontecimentos no mundo que as envolve. Na
sociologia compreensiva, que possui em Max Weber seu principal expoente, o
comportamento humano é explicado como um produto de escolhas e intenções
dos atores sociais
††
. Essa postura epistemológica é também assumida pelo
interaciocinismo simbólico, pela fenomenologia, pela etnometodologia (Layder,
1994) e pela teoria social cognitiva (social cognitive theory), segundo Bandura
(2001).
Tais abordagens são conhecidas também como “microteorias” por
centrarem suas análises nas ações dos atores sociais e não na macroestrutura da
sociedade (Layder, 1994). Todavia, são também conhecidos os esforços no
sentido de aproximação ou superação do dualismo entre “indivíduo e sociedade
(macro e microanálise) conduzidos, entre outros, por Jürgen Habermas (“ação
comunicativa”), Michel Foucault (“poder e conhecimento”) e Pierre Bourdieu
(“prática social”), Alain Touraine (“sistema de ação política”), Georg Lukács
†††
Ver, por exemplo, “Conceitos sociológicos fundamentais”, o primeiro capítulo do livro
“Economia e sociedade” (Weber, 1969).
25
(“historia e consciência de classe”), Anthony Giddens (Teoria da
estruturação”)
‡‡‡
.
Dentro dessa perspectiva, por exemplo, Giddens (1979) enfatiza que o
conceito central da teoria da estruturação é denominado de “dualidade da
estrutura”. Esse conceito permite, por um lado, o estudo analítico da ação
desenvolvida por atores individuais e, por outro lado, o exame dos impactos da
estrutura sobre aqueles mesmos agentes, destacando-se que as estruturas tanto
restringem como facilitam a própria ão, permitindo, assim, a possibilidade de
que os atores possam alterar comportamentos, tornando-se plausível um
processo contínuo de mudança social. Em outras palavras, os atores não estão
passivos ao determinismo das regras sociais.
Desse modo, como assinala Watson (1994), a ação humana é definida a
partir de um processo de construção social que ocorre ao longo do tempo e do
espaço, constituindo-se num conjunto de práticas complexas e distintas que
depende, entre outros fatores, da maneira particular como cada ator apreende
papéis a ele designados, da relação com outras pessoas, bem como dos contextos
culturais nos quais estão inseridos. Por conseguinte, a ação humana não é
simplesmente restringida pelas circunstâncias nas quais ela ocorre. Ou seja, tanto
as estruturas quanto as circunstâncias às quais os seres humanos estão
submetidos condicionam parcialmente o que eles pensam e fazem, que eles
podem, por outro lado, apoiando-se ainda nessas mesmas estruturas e
circunstâncias, reinventá-las por meio da ação (Rouleau & Junquilho, 1998;
Watson, 1994).
As seções iniciais desse capítulo contêm dimensões macro-estruturais
que caracterizam o contexto social da agricultura familiar brasileira na
atualidade, os quais, certamente, condicionam suas ações. Formam, como foi
‡‡‡
As contribuições desses autores na superação do dualismo entre “micro e macroanálise” nas
ciências sociais são discutidas por Layder (1994), Seoane C. (2000), Weisshaupt (1993) e Zizek
(2003).
26
observado, o pano de fundo para compreensão das interpretações. Mesmo
considerando que o ponto central dessa pesquisa é identificar e confrontar as
percepções de diferentes atores sociais sobre a realidade dos agricultores
familiares do Sul de Minas, os fatores estruturais não estão ausentes desse
trabalho.
A pesquisa fundamenta-se na análise interpretativa partindo de um
construto que foi sendo, paulatinamente, elaborado nos estudos anteriores
§§§
.
Procurou-se fazer uma articulação entre o conceito de significado apresentado
por Taylor (1979) com os conceitos de objetos situacionais de natureza cultural,
social e física que podem ser interpretados pelos atores entrevistados como fins,
meios ou condições da ação, tendo como referência Parsons & Shils (1968). No
plano analítico, para trabalhar as diferentes interpretações apoiou-se nas idéias
de rede de significação de Bicudo (2000), métodos de análise de Silverman
(1994), Strauss & Corbin (1990). Tal articulação será descrita a seguir.
Quando se fala de significado, segundo Taylor (1979), esse usando
um conceito que possui a seguinte articulação: significado existe para um
indivíduo e é de alguma coisa (objeto de orientação) que se encontra em um
contexto (Figura 1).
§§§
Grande parte das colocações efetuadas nesse capítulo foi retirada dos relatórios de pesquisa
(Alencar 2000) e de dissertações realizadas com dados dessas pesquisas (Espírito Santo, 2000;
Andrade, 2001; Simão, 2005, Ferreira, 2007
).
27
FIGURA 1 Elementos articulados ao conceito de significado
Fonte: Alencar et al. (2001, p.15).
A articulação esquematizada na Figura 1 representa que, em primeiro
lugar, o significado de qualquer coisa (objeto de orientação) não existe no vácuo,
mas para um indivíduo específico ou grupo de indivíduos em um dado contexto
(situação). Em segundo lugar, admite-se que, tratando-se de outros indivíduos e
de outros contextos, o mesmo objeto podeter diferentes significados. Isso não
quer dizer que o objeto de orientação e o seu significado sejam fisicamente
separáveis, mas que o objeto tem duas descrições, em uma das quais ele é
caracterizado em termos do que representa para o indivíduo
****
. Portanto, as
relações entre as duas descrições não são simétricas, fazendo com que a
descrição, em termos de significado, seja orientada para a busca de seus
diferentes substratos (essências). Em terceiro lugar, os objetos somente possuem
significados em um contexto (situação), ou seja, em relação aos significados de
outros objetos também presentes no contexto. Isso quer dizer que um dado
objeto não pode ser visto de forma singular, isolado, não relacionado com outros
objetos significantes
††††
.
****
Alencar (2000, p.34) proporciona um exemplo simples para exemplificar essa colocação. “(...)
temos uma noção bem precisa para que serve a carteira que usamos na sala de aula. Em qualquer
lugar que a encontrarmos, saberemos que ela é uma carteira e qual é o seu significado. No entanto,
se subirmos nela para trocar uma lâmpada, naquele momento, a carteira assume o significado,
digamos, de uma escada. Se a colocarmos escorando uma porta, o seu significado seria de tranca.
Nos dois exemplos, o móvel não deixou de ter o significado que lhe é intrínseco, mas assumiu
outros significados”.
††††
Retornando ao exemplo da nota anterior, “para que a carteira assuma o significado de escada,
muitos elementos contextuais estão presentes. uma pessoa sobre uma carteira, o gesto que tal
pessoa manifesta segurando uma lâmpada, a existência de um bocal, etc. Todos esses elementos
compõem o contexto no qual a carteira assume o significado de escada que, em última instância,
seria um meio que viabiliza a troca de lâmpada” (Alencar, 2007, p.33).
Contexto Indivíduo
Objeto de orientação
28
Partindo-se das colocações de Taylor (1979), assume-se, nesse estudo,
que significado corresponde às qualidades que o ator social (individual ou
coletivo) percebe nos objetos que compõem a situação em que atua e que podem
assumir as características de objetivos, meios ou condições de sua ação.
Conseqüentemente, a utilização desse conceito na análise interpretativa implica
na definição do que se entende por “ação”, ator social”, “fins” (metas ou
objetivos), “meios”, “condições” e “situação”, também denominada ambiente ou
contexto.
O comportamento humano pode ser interpretado como uma ação que
possui as seguintes características: a) é orientada para a obtenção de fins, metas
ou objetivos; b) tem lugar em uma situação (ambiente ou contexto); c) é
normativamente regulada; e d) implica em gasto de energia (esforço) e
motivação. Os componentes da ação, para fins analíticos, estão esquematizados
na Figura 2.
   

   
      
                             
         
            
FIGURA 2 Esquema dos componentes da ação
Fonte: Alencar et al. (2001, p.16).
Ator social é o agente que desenvolve a ação e pode ser um indivíduo ou
uma coletividade (ator coletivo). Fins (metas ou objetivos) são estados futuros
que o ator ou atores querem atingir e, por isso, desenvolvem a ação. Meios são
componentes da situação sobre os quais o ator julga ter controle e que ele pode
29
utilizar (ou desejar utilizar) para alcançar o seu objetivo. Condições (obstáculos)
são elementos da situação que impedem, limitam ou condicionam a consecução
do objetivo da ação.
A situação é a parte do mundo onde o ator atua e é formada de objetos
de orientação que podem ser de natureza social, física ou cultural. Os objetos de
natureza social são os outros atores (individuais ou coletivos), cujas ões e
atitudes são significativas para o ator tomado como ponto de referência para a
análise. Objetos culturais são os componentes do ambiente que são criações dos
seres humanos e podem ser classificados em componentes materiais e não
materiais da cultura. Componentes materiais são objetossicos da cultura,
instrumentos, equipamentos, construções, etc. Os conhecimentos requeridos para
que esses objetos possam ser usados são classificados como componentes não
materiais da cultura. Os componentes o materiais constituem a parte do
ambiente que o tem uma estrutura física (conhecimentos, valores, ideologias,
normas, etc.) No entanto, fornecem ao ator padrões de referência para: a)
escolher os objetivos (fins ou metas); b) eliminar ou contornar os efeitos das
condições (obstáculos) sobre a ação; c) selecionar os meios adequados para
atingir os fins propostos. Objetos físicos são os elementos de natureza (por
exemplo, solo, clima, topografia, recursos dricos, distância, etc.) e os
componentes materiais da cultura (máquinas, adubos, sementes melhoradas, etc).
A orientação da ação (Figura 3), ou seja, o estabelecimento dos fins, a
seleção dos meios para atingi-los e a neutralização das condições, implica na
possibilidade de escolha, o que se denomina processo de orientação. Esse
processo envolve:
a) conhecimento da situação em que a ação se desenvolve, incluindo:
1. o lugar de um objeto de orientação (um potencial objetivo, meio ou
condição) entre os demais objetos de orientação (outros possíveis
objetivos, meio ou condições);
30
2. a determinação das propriedades atuais e potenciais dos objetos de
orientação, tendo em vista a consecução dos objetivos estabelecidos pelo
ator.
b) ponderação, avaliação e seleção dos objetos que comporão o plano de ação.
FIGURA 3 Processo de orientação
Fonte: Alencar (2000, p. 37)
Considerando que é no processo de orientação que o ator social atribui a
um dado objeto a qualidade de fim”, “meio” ou “condição” de sua ação, esses
conceitos podem ser articulados com as considerações de Taylor (1979) sobre
significado, dando origem ao esquema geral de interpretação empregado nesse
estudo (Figura 4), fundamental para a montagem de redes de significação
‡‡‡‡
.
A Figura 4 ilustra a possibilidade de os atores sociais, envolvidos em
uma mesma situação, serem diferentes, uma vez que (a) possuem histórias de
vida, experiências e habilitações que o diferenciam ou aproximam de outros
atores, (b) estão inseridos em uma estrutura social, (c) são partes de uma cultura
e (c) têm interesses que podem ser conflitantes ou não com os de outros atores.
‡‡‡‡
Rede de significação enfatiza a generalização na forma de descrições de dados combinados,
advindos de dados verbais trabalhados durante a análise, construindo um sistema geral de
combinações dos significados (Kluth, 2000, p.107).
Processo de orientação
Situação
Sociais
Físicos
Culturais
F
C
S
C
F
C
S
C
F
Fins
Meios
Condições
Estratégia de
ação
Objetos de orientação
Percepção da
situação
Ponderação
avaliação
Seleção
31
Por conseguinte, vários fatores podem influenciar o modo como um ator
específico ou categorias de atores sociais interpretam a realidade em que vivem.
Além de explicar a possibilidade de uma situação apresentar diferentes
interpretações, tais fatores constituem os elementos que, muitas vezes, colocam
em confronto a abordagem interpretativa e as abordagens estruturais. Embora
reconhecendo a importância teórica do debate que esse confronto tem gerado, a
sua discussão escapa dos limites desse trabalho.
Objetos sociais
Ator social
Objeto de
orientação
Outros
objetos de
orientação
Significado
Objetos culturais
Objetos físicos
Objetos sociais
Objetos culturais
Objetos físicos
A interpretação que o ator faz de um dado objeto de orientação
Classe, ocupação
Valores, ideologia
Interesses, experiências,
etc
.
FIGURA 4 Esquema geral de interpretação empregado no estudo
Fonte: adaptado de Alencar et al. (2001, p.18).
Todavia, a inclusão na Figura 4 de características, como “classe”,
“ocupação”, “valores”, “ideologias”, interesses” e “experiências”, que
acompanham o ator social, reflete a preocupação em expor que as interpretações
dos atores entrevistados sobre o ambiente em que vivem podem apresentar
32
múltiplos significados e que os diferentes significados podem também ser
influenciados pela estrutura social, embora tal influência não seja um ato que
transcenda a reflexão humana, como assinala Giddens (1989). Essa última
dimensão analítica destaca a possibilidade de as configurações assumidas pelas
estruturas econômicas sociais e políticas brasileiras, bem como as internacionais,
se transformarem em fatores estruturantes da ação de diferentes atores,
fundamentando a interpretação que fazem da situação em que atuam.
A noção de significado aqui empregada enfatiza a necessidade da análise
ser conduzida partindo da perspectiva (ponto de vista) do ator da ação e não do
observador, substituindo o método hipotético-dedutivo pelo método
interpretativo. Portanto, esse estudo não visa ao estabelecimento de relações
entre variáveis pela formulação prévia de hipóteses. Busca compreender como
os pesquisadores e professores universitários interpretam o ambiente onde
atuam, extraindo dele informações que consideram significantes para o
estabelecimento de estratégias de ação, com as quais poderiam influir nesse
ambiente. Posteriormente, suas percepções serão confrontadas com as dos
seguintes atores sociais: “liderança de produtores familiares”, “assessores” e
“representantes dos governos municipais”, presentes nos estudos anteriores.
Propõe-se, pois, o uso do método indutivo, no qual as categorias e modelos
originam-se da análise do discurso ou da ação dos atores. Os esquemas 1, 2 e 3
que compõem a Figura 5, esquematizam o construto teórico que orientou a
condução dessa pesquisa e servem de fundamentos para a elaboração das redes
de significação. Para melhor compreensão pelos entrevistados, a palavra “meio”
foi substituída pela expressão “fator favorável” e condição” por “fator
limitante”.
33
F
IGURA 5 Esquema geral para a construção de redes de significação.
Fonte: Alencar et al (2001, p.7)
33
34
3 METODOLOGIA
A pesquisa adota, como se observou no segundo capítulo, a abordagem
qualitativa, o que, de acordo com Bogdan & Biklen (1994), exige do
pesquisador atenção aos elementos presentes na subjetividade humana. Serão
apresentados nesse capítulo os procedimentos metodológicos empregados para
“tentar controlar” possíveis vieses. A discussão abordará temas relacionados
com a escolha dos entrevistados, métodos de coleta e análise de dados.
3.1 Seleção das organizações e dos entrevistados
A Universidade Federal de Lavras (UFLA) e a Empresa Agropecuária
do Estado de Minas Gerais (EPAMIG) foram destacadas nos depoimentos dos
entrevistados como potenciais fatores de desenvolvimento regional, tendo em
vista as suas atribuições de pesquisar, de gerar novas tecnologias e de realizar
eventos voltados para a difusão de novos conhecimentos, para a formação de
recursos humanos por meio de cursos, encontros, palestras, etc. Todavia, o
potencial de desenvolvimento dessas organizações era, na visão dos
entrevistados, restringido pelo relacionamento distante com os produtores e pela
geração de tecnologias que nem sempre contemplam as necessidades dos
agricultores familiares. Por conseguinte, consideravam que a UFLA e a
FAPEMIG poderiam contribuir mais, potencializando os fatores favoráveis da
região como localização, solo, clima, recursos, bem como viabilizando a
diversificação (Simão, 2005; Ferreira, 2007).
Constatações como essas motivaram a realização dessa pesquisa e a
seleção dessas organizações. No entanto, não se procurou identificar como
professores e pesquisadores reagiriam frente ao modo como os entrevistados
percebiam as suas organizações. Optou-se por conduzir um estudo nos moldes
35
das pesquisas anteriores, tentando compreender como tais profissionais
percebiam a realidade da agropecuária sul-mineira, suas potencialidades e
limitações, empregando o método de “entrevista focalizada” conduzida com o
auxílio de um roteiro similar aos anteriormente usados.
A seleção dos entrevistados foi feita pelo processo de amostragem não-
probabilística por julgamento durante os meses de abril e maio de 2007. No
caso da UFLA, encaminhou-se uma carta a Pró-Reitoria de Extensão e uma carta
a Pró-Reitoria de Pesquisa expondo os objetivos da pesquisa e solicitando que
indicassem, respectivamente, dez professores que mais se destacaram nas
atividades de extensão rural e dez professores que mais se destacaram nas
atividades de pesquisa no Sul de Minas, nos últimos três anos. A escolha dos
professores universitários foi efetuada a partir das duas listas preparadas pelas
pró-reitorias, sendo selecionados aqueles que figuravam, simultaneamente, nas
duas listas. No entanto, somente um professor universitário estava presente em
ambas as listas, o que implicou recorrer a outro meio complementar para
selecionar o restante dos entrevistados. A alternativa encontrada foi avaliar o
currículo lattes de cada um dos demais indicados, procurando identificar aqueles
que trabalham ou já trabalharam com agricultura familiar na região, ou mesmo
aqueles que pesquisam sobre as atividades desenvolvidas por esse segmento,
como o leite, o café, o milho, etc. Diante dessa opção, foi possível então
selecionar seis professores universitários da UFLA, incluindo extensionistas e
pesquisadores. Posteriormente, foram agendadas as entrevistas de acordo com a
disponibilidade de tempo de cada um desses atores sociais.
Para a seleção dos pesquisadores da EPAMIG, também foi encaminhada
uma carta à Direção do Centro Tecnológico do Sul de Minas (CTSM), com sede
em Lavras, MG, descrevendo os objetivos da pesquisa e pedindo a indicação de
três pesquisadores, com três ou mais anos de atuação na região. Após a
indicação de três pesquisadores, pela instituição de pesquisa, entrou-se em
36
contato com cada um dos selecionados para que as entrevistas fossem
agendadas.
Portanto, a amostra deste estudo apresentou a seguinte composição,
conforme constata-se no Quadro 1 :
QUADRO 1 Categorias de atores sociais e número de entrevistados por
categoria, 2007.
Fonte: Dados da pesquisa
3.2 Método de coleta de informações
Procurando atender aos propósitos da pesquisa, foi utilizado o método
conhecido como “entrevista focalizada” (focused-interview) para a coleta de
informações. Esse método possui as seguintes características: a) está centrado
em tópicos dispostos em um roteiro que serão abordados durante a entrevista; b)
esses tópicos não assumem a forma de questões estruturadas; c) não há nenhuma
restrição ao aprofundamento dos tópicos por meio de questões que emergem
durante a realização da entrevista (Alencar & Gomes, 1998, p.110). A
elaboração do roteiro seguiu, em linhas gerais, os seguintes passos: a) procurou-
se, inicialmente, detectar os fatores que os entrevistados identificam como
favoráveis (possíveis meios) ou limitantes (possíveis condições) ao
desenvolvimento da agricultura familiar no Sul de Minas e por que os
Categoria de atores
sociais
N
º
entrevistados
% entrevistados
Pesquisadores -
EPAMIG
3 33,3
Professores
universitários - UFLA
6 66,7
TOTAL 9 100
37
consideravam como favoráveis ou limitantes; b) identificar como eles
relacionavam tais fatores com os demais objetos de orientação que compõem o
ambiente (objetos sociais, culturais e físicos). A relação dos fatores favoráveis,
como os demais objetos de orientação, deu-se pela descrição que os
entrevistados fizeram (a) das potencialidades desses fatores, (b) do modo pelo
qual poderiam ser manipulados na formulação de possíveis estratégias de ação e
(c) dos objetos de orientação percebidos como elementos que reduzem as
potencialidades de tais fatores. A relação entre fatores limitantes com os demais
objetos de orientação seguiu um procedimento semelhante, procurando, no
entanto, conhecer como tais fatores poderiam ser contornados ou neutralizados.
As entrevistas foram gravadas e tiveram duração média de uma hora,
sendo realizadas entre os meses de junho e agosto de 2007. Os intervalos entre
uma entrevista e outra decorreram da dificuldade de agendar um horário com os
entrevistados, especialmente os professores universitários.
3.3 Análise das informações
Coletadas as informações, a primeira tarefa é prepará-las para a
construção de redes de significação e a análise de conteúdo é uma ferramenta
relevante nesse processo. Segundo Lamine & Dionne (1999), essa técnica de
análise não consiste em um método rígido. O primeiro passo é organizar os
depoimentos de forma a dar maior significação aos seus conteúdos para que não
sejam perdidos detalhes, como a qualidade e a riqueza da subjetividade dos
entrevistados, isto é, o seu modo de interpretar a realidade.
A análise de conteúdo, para Vergara (2005), compreende três etapas: a
pré-análise - seleção do material e a definição dos procedimentos a serem
seguidos; exploração do material implementação dos procedimentos definidos
na pré-análise; tratamento de dados e interpretação geração de inferências e
dos resultados da investigação, onde as suposições serão ou não confirmadas. O
procedimento básico da análise de conteúdo, segundo essa autora, refere-se à
38
definição de categorias que são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo
de elementos sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão de
caracteres comuns desses elementos. As categorias podem ser: exaustivas –
inclusão de praticamente todos os elementos; mutuamente exclusivas cada
elemento poderá ser incluído em uma única categoria; objetivas definidas de
maneira precisa para evitar dúvidas de distribuição dos elementos; pertinentes
adequadas ao objetivo da pesquisa.
Desse modo, a análise do conteúdo pode ser considerada um dos
procedimentos clássicos para analisar o material textual, não importando qual a
origem desse material, seja de produtos da mídia ou dados de entrevista. O
procedimento metodológico inclui basicamente três cnicas: a abreviação da
análise do conteúdo, onde trechos e paráfrases menos relevantes que possuam
significados iguais são omitidos, e paráfrases semelhantes são condensadas e
resumidas; a análise explicativa do conteúdo trabalha esclarecendo trechos
difusos, ambíguos ou contraditórios; e a análise estruturadora do conteúdo que
busca por tipos ou estruturas formais no material coletado.
Tais colocações estão também presentes nos trabalhos Strauss & Corbin
(1990), Silverman (1994) e Bicudo (2000) e, em linhas gerais, a análise desse
estudo seguiu os seguintes passos: a) transcrição das fitas e organização dos
documentos coletados; b) leitura sistemática de todas as entrevistas e
documentos; c) identificação de dimensões (o que existe ou o em comum na
fala dos entrevistados e nos documentos produzidos); d) codificação das
diferentes dimensões estabelecendo códigos para identificá-las; e) organização
das dimensões codificadas em categorias de objetos significantes.
Posteriormente, foram montadas redes de significação que consistem na
construção de um sistema geral de combinações de significados. Tais redes
poderão ser montadas por organização, categoria de entrevistados, etc. O papel
39
principal das redes é permitir a identificação de pontos comuns nas
interpretações de distintos atores, bem como dimensões que os distinguem.
As redes de significação também permitem observar se ocorrem
assentimentos e dissensões de interpretação entre atores de uma mesma
categoria e entre diferentes categorias. As combinações apresentadas na Figura 6
ilustram que as manifestações dos entrevistados sobre um ou mais objetos de
orientação podem ser separadas por estarem presentes nas declarações de uma
única categoria de ator ou por serem partilhadas por diferentes categorias de
atores. Esquemas como esse facilitam o desenvolvimento da análise
interpretativa, ao revelarem novas dimensões contidas nos discursos e na busca
de fatores que nutrem tanto as manifestações que expressam assentimentos
quanto dissensões.
FIGURA 6 Esquema geral para a exposição de assentimentos e dissensões
entre categorias de entrevistados.
Fonte: adaptado de Simão (2005, p.124).
40
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados e discussões desta dissertação estão dispostos em seis
seções. Na primeira seção, serão apresentadas as opiniões dos atores
entrevistados sobre a diversificação agrícola e a diversificação rural ser uma
alternativa favorável ou limitante ao desenvolvimento da agricultura familiar na
RSMG, bem como as atividades propícias a serem implantadas. Na segunda
seção, são expostos os objetos de orientação ponderados na avaliação da
diversificação. Na terceira seção, será discutido o tradicionalismo e sua
influência na diversificação das propriedades familiares. Na quarta seção, será
abordada a influência da emigração dos filhos na diversificação. Na quinta
seção, serão apresentadas as visões dos atores sociais desse estudo, com relação
à atuação dos técnicos junto aos agricultores familiares. A sexta e última seção,
será composta de uma análise das percepções entre professores universitários e
pesquisadores, e os atores sociais entrevistados nos estudos anteriores, ou seja,
produtores, técnicos e representantes do governo municipal.
4.1. Diversificação
A diversificação foi percebida, nos estudos anteriores, de modo geral,
como favorável pelos produtores familiares, cnicos, e representantes do
governo local, por representar uma redução de risco e proporcionar alternativa
de renda para o produtor familiar. Os produtores afirmaram que a diversificação
poderá proporcionar rendas mensais ou semanais, garantindo a sobrevivência
familiar. Os técnicos acreditam que a diversificação pode significar alternativa
de mercado e os representantes do governo local apontaram a agregação de valor
aos produtos que a diversificação rural pode trazer e a conseqüente geração de
emprego como favoráveis.
41
Os técnicos e agricultores familiares acreditam que a diversificação seja
uma forma de garantir a sustentação de outras atividades que possam estar
passando por crises. Representantes do governo e técnicos concordam que o fato
dos produtores se manterem no campo, evitando, dessa forma, o êxodo rural, é
também um fator que caracteriza a diversificação como favorável. A
diversificação pode ser vista como uma forma de criar emprego e renda para os
produtores, além de lhes trazer liberdade de escolha e melhoria da qualidade de
vida.
No presente estudo, a diversificação foi apontada também, pela maioria
dos pesquisadores e professores universitários entrevistados, como um fator
favorável ao desenvolvimento da agricultura familiar na RSMG. Apenas um dos
pesquisadores percebe a diversificação como um fator limitante por considerar
que “uma diversificação muito grande” pode gerar dificuldades na
comercialização e pelo fato de avaliar que o aumento de renda seria pequeno.
Para esse pesquisador, o aumento de renda deveria ser resultado de agregação de
valor e busca de “mercado de qualidade”:
(...) Uma impressão que eu tenho é de que se uma diversificação
muito grande há uma perda no poder de ...até de comercialização
desses produtos, sabe? Ajuda por um lado talvez a vencer alguma
dificuldade,não fica assim muito concentrado num produto só, mas eu
acho que por outro lado deve haver é uma especialização mesmo (...)
Aumenta a renda, mas é coisa pequena. Eu acho que o aumento de
renda tem que ser por agregação de valor, sabe? Pra pessoa conquistar
mercado de qualidade. Então se você diversifica, eu acredito que seja
mais difícil (S., pesquisador).
Os demais atores sociais entrevistados nesse estudo percebem a
diversificação como favorável considerando-a como uma estratégia adotada por
agricultores familiares no sentido de diminuir os riscos da monocultura como
principal fonte de renda e manutenção familiar. Enfatizam que, a diversificação
tende a proporcionar vantagens ao agricultor familiar como, por exemplo, a
42
segurança, resguardando-o das oscilações de preço de um único produto.
Consideraram também que a diversificação torna a mão-de-obra empregada,
tanto na própria propriedade quanto nos trabalhos realizados na propriedade de
vizinhos, menos ociosa; e proporciona ao agricultor entradas de renda, em
diferentes períodos do ano.
Eu acho que a diversificação, ela é fonte de renda. É adicional para o
produtor(...)Então quer dizer, a gente tem observado essa
diversificação, tanto com outras culturas, como também com criações,
pecuária, criação de pequenos animais. Tudo isso vem complementar.
Hoje a gente que a renda tem caído, e a nossa, de forma geral. Então
eles têm mão-de-obra ociosa. Ele aproveita essa mão de obra ociosa
dele, muitas vezes, ele aproveita o dia dele fazendo o serviço no vizinho
ou em uma propriedade grande, ele vai e trabalha. Ele recebe uma
remuneração ou em forma de mão- de- obra (R
1
.,pesquisador).
Eu acho que diversificar é importante para dar segurança, tem quer ter
segurança. Mas quanto mais diversificado for, menos especialista em
cada uma das atividades ele vai ser. Eu acho que ele teria que tentar
identificar aquelas atividades em que ele tem maior chance de
sucesso(...) (M., professor universitário).
Eu acho que o fato deles ter em uma diversidade na produção ajuda ele
a trabalhar com períodos durante o ano. De diferentes...períodos de
produto pronto pro mercado,né, eu acho que realmente... pra pequena
produção, pra produção familiar eu acho importante sim (S.,professor
universitário).
Apesar das vantagens que a diversificação possa oferecer ao agricultor
familiar, professores e pesquisadores observam que existem limitações inerentes
à adoção de uma nova cultura ou a de um novo empreendimento. Por isso,
consideram fundamental que os agricultores tenham conhecimentos sobre a
tecnologia de produção dos novos produtos, sobre o processo de
comercialização e, também, sobre a viabilidade econômico-social da atividade
para que se possa desenvolvê-la de modo sustentável, em suas propriedades. Os
43
entrevistados estabelecem, pois, uma conexão entre diversificar e o ambiente
macrosocial, como ilustram as declarações a seguir.
Ele vai diversificar, será que ele vai ter volume pra comercializar, ou
seja, teria que ter um maior número de produtores que produz a mesma
coisa pra comercializar. Como que ele vai se inserir no mercado? Será
que ele vai ser competitivo? Então a grande dificuldade é essa, é a
sustentabilidade da atividade pro produtor. A gente não pode
recomendar uma coisa em que ele não vá buscar sua subsistência
(R
2
.,pesquisador).
(...) A diversificação tem vantagens do ponto de vista econômico, do
ponto de vista social(...). Logicamente que o desdobramento disso aí vai
impacta o desenvolvimento(...) Então, a gente quando fala assim de
desenvolvimento econômico, não é só a questão do dinheiro, da renda...
Do social, num é a ocupação (...). Essa diversificação, ela não pode
ser desvinculada de uma série de ações, ali no contexto daquele local
(E., professor universitário).
De modo geral, professores e pesquisadores avaliaram positivamente a
diversificação como um fator que pode ser aproveitado nas estratégias que visam
criar oportunidades de desenvolvimento para agricultores familiares, da região
Sul de Minas. Elementos extraídos dos seus depoimentos permitem elaborar a
primeira rede de significação (Figura 7). Embora ainda bastante elementar, essa
rede incorpora fatores favoráveis e fatores limitantes cuja explicação requer o
aprofundamento das conexões que esse atores sociais fazem dos objetos de
orientação, que identificam como relevantes para a leitura da situação em que se
inserem. Todavia, o esquema da Figura 7 ilustra que mesmo os entrevistados que
avaliam a diversificação como possível meio apontaram alguns fatores que
podem restringir o seu potencial de desenvolvimento. Tratam-se, nesse caso, de
dificuldades relacionadas com o processo de comercialização, desconhecimento
de possíveis atividades alternativas que poderiam ser implantadas, bem como
sobre a tecnologia e a viabilidade econômica das novas atividades. Também o
entrevistado que não considera a diversificação como um possível vetor de
44
desenvolvimento da agricultura familiar ressaltou as dificuldades relacionadas
com a comercialização tendo em vista o pequeno volume de produção que, além
de não proporcionar um aumento de renda significante, leva o agricultor a perder
poder de negociação. Nesse caso, ele sugere que as ações que visam o
desenvolvimento da agricultura familiar devem buscar agregar valor às
atividades agrícolas já existentes e buscar mercado de qualidade. Tais
considerações serão retomadas mais adiante.
Como um passo à frente na recomposição da percepção dos
entrevistados, nas próximas seções será discutido como esses atores sociais
percebem e valorizam as diferentes formas de diversificação, isto é,
diversificação agrícola e diversificação rural, como possíveis elementos a serem
considerados nas estratégias de desenvolvimento.
4.1.1. Diversificação Agrícola
Entre as atividades agrícolas mais propícias à diversificação agrícola na
RSMG, segundo os pesquisadores e professores universitários (Quadro 2),
destacaram-se, entre outras atividades, a fruticultura, o feijão, o milho, a
olericultura / horticultura, a pecuária e a criação de frangos, tanto para a venda
de pintinhos quanto para a utilização do esterco.
45
FIGURA 7 Avaliação da diversificação como fator de desenvolvimento da agricultura familiar, na perspectiva de
pesquisadores e professores: uma primeira aproximação, 2007.
Diversificação não seria estratégia adequada
Agregação de valor às atividades existentes - Busca de mercado de qualidade
Dificuldades para comercialização - Pequeno volume de produção - Pequeno
aumento de renda - Perda de poder de negociação
Pouco conhecimento sobre novas culturas ou atividades - Pouco domínio
tecnológico - Pouco conhecimento sobre a comercialização de n
ovos produtos
- Viabilidade econômica da atividade
Diminui os riscos da monocultura - Resguarda os agricultores das oscilações
de mercado de um único produto - Ocupação da mão-de-obra familiar -
Entradas em diferentes períodos do ano - Fonte de renda adicional
Fatores favoráveis
P
otencial de desenvolvimento
Potencial restritivo
Possível meio
Redução do potencial de desenvolvimento
Fatores limitantes
Potencial restritivo
Possível alternativa
Diversificação
45
46
QUADRO 2 Atividades propícias à diversificação agrícola na RSMG, na opinião de
pesquisadores e professores universitários, 2007.
Fonte: Dados da pesquisa
n = número de vezes que a atividade foi citada.
PE = Pesquisador/PU = Professor universitário
Atores
Sociais
Atividades Justificativa
PE (n 1) Apicultura (n 1)
- Complementação de renda
PU ( n 3) Milho (n 3)
- Comercialização/mercado
- Região de clima propício
- Agregação de valor
PU (n 5)
Olericultura (n 2) e Horticultura (n
3)
- Complementação de renda
-Clima e tamanho das propriedades
-Agregação de valor
PU (n 1) Eucalipto (n 1)
- Comercialização/mercado
PU (n 1) Piscicultura (n 1)
- Comercialização /mercado
- Pelo fato da região possuir hidrelétricas
PU (n 1) Soja (n 1)
- Agregação de valor
- Auxilia rotação de culturas
PU (n 1) Mamona (n 1)
- Agregação de valor
PE (n 1)
PU (n 1)
Floricultura (n 2)
- Comercialização/mercado
-Complementação de renda
PE (n 1)
PU (n 1)
Pecuária (n 2)
- Complementação de renda.
PE (n 1)
PU (n 3)
Feijão (n 4)
- Complementação de renda.
PE (n 1) Arroz (n 1)
- Complementação de renda
PE (n 1)
PU (n 1)
Criação de Frangos (n 2)
- Complementação da renda
PE (n 2)
PU (n 3)
Fruticultura - todos os tipos
(n 5)
- Comercialização/mercado
- Região de clima propício
- Agregação de valor
PE (n 2) Figo (n 2)
- Comercialização /mercado
- Agregação de valor
PE (n 2) Goiaba (n 2)
- Comercialização /mercado
- Agregação de valor
PE (n 1) Pêssego ( n 1)
- Comercialização /mercado
- Agregação de valor
PE (n 1) Uva ( n 1)
- Comercialização /mercado
- Agregação de valor
PE (n 1) Maracujá (n 1)
- Comercialização /mercado
- Agregação de valor
PU (n 1)
Citrus (n 1)
- Comercialização/mercado
- Por ser menos perecível
47
A percepção do feijão como uma alternativa decorreu da articulação de
diferentes fatores: é uma cultura anual praticada pelos agricultores familiares,
visa complementação na renda familiar, é produzido juntamente com outras
culturas, principalmente o café, e existe possibilidade de se obter bons preços,
em decorrência de queda na oferta.
(...) mas a gente acredita também como uma alternativa para o pequeno
essa produção. Porque existe uma produção significativa de feijão na
região. Então esse pequeno produtor vai estar produzindo esses cereais.
E a gente acredita também até em uma valorização devido à pequena
oferta que isso pode gerar no mercado daqui pra frente, o que pode
impactar até na cesta básica. Então a gente nesse sentido também
(R
1
., pesquisador).
(...) o feijão é uma cultura que já existe na região, é cultivado em
várias regiões mas poderia também em algumas situações também
entrar como uma boa opção. (R., professor universitário).
A cultura do milho é caracterizada pelo plantio direto, que é anual, e
necessita de um sistema sustentável de rotação de culturas para dar suporte à
produção. Conforme a opinião de um dos professores entrevistados, nos últimos
anos, ocorreu na região uma redução na área de plantio direto do milho
decorrente da falta dessa sustentabilidade. Contudo, esse ator social percebe que
atualmente houve mudanças nesse cenário. O milho, além de ser hoje importante
pelos seus subprodutos, que se destinam principalmente à alimentação de
animais, vem sendo valorizado no mercado pelo seu potencial na produção de
energia.
Mas a gente está vendo que as coisas estão mudando de uns anos para
o milho entrando dentro dessa possibilidade aí do setor de, de
energia, é na produção de energia via do etanol. É, a procura por milho
e a demanda por milho não no mercado é ... Principalmente no
mercado internacional tem gerado uma pressão muito grande pra
aquisição de milho (R., professor universitário).
48
A horticultura, também conhecida como olericultura, é cultura que, na
opinião dos professores universitários, visa também complementar a renda do
produtor familiar lhe oferecendo uma variedade de produtos durante todo o ano.
Consideram que o plantio dessas culturas é favorecido pelo clima da região e
também pela área cultivável das propriedades familiares, sendo de fundamental
importância a agregação de valor a esses produtos para que sejam mais
competitivos no mercado.
Eu acho que a horticultura. Acho que a produção de verduras e legumes
seria uma alternativa interessante (...) porque você também tem
produtos (...) para diferentes épocas do ano. (...) O clima é favorável
(...) (S., professor universitário).
Na área de olericultura, você tem que agregar valor, você tem que se
organizar, porque você vai ter uma pequena produção (R
2
.,
pesquisador).
Com relação à criação de frangos, observaram que ela é uma atividade
que se destacou na década de 80, período em que a mão-de-obra familiar, em
especial a mão-de-obra feminina, era muito demandada para os cuidados com as
criações. Assim, nessa época, a produção de frangos foi uma boa alternativa para
o produtor familiar que encontrou nessa atividade uma complementação de
renda. Porém, a avicultura não prosperou, pois surgiram crises no setor aviário
que atingiu diretamente o trabalho desenvolvido pelo agricultor familiar e
conseqüentemente sua renda
§§§§
.
A atividade aqui que eu estou lembrando, mas que gerou uma
alternativa muito boa para o pequeno produtor, foi aquela integração
que tinha com a produção de frango. Então a indústria fornecia o
pintinho de um dia, a ração e depois comprava o frango depois do
§§§§
Os estudos de Sorj (1980), Müller (1982), por exemplo, conduzidos no final dos anos 70 e 80,
se confrontam com a visão do entrevistado. Muitos desses trabalhos mostraram que os contratos
não eram nem um pouco favoráveis aos agricultores, o que levou alguns autores a cunharem
expressões como “trabalhadores a domicílio” e “neo-camponeses”.
49
período de engorda. Eu lembro isso bem na década de 80 (...)
quantidade de granjas que envolvia muito o pequeno produtor, porque
aproveitava a mão-de-obra dele no trato das criações. Geralmente eram
também as esposas que participavam no cuidado com as criações. (...)
Infelizmente as crises que ocorreram nesse setor acabaram
desestimulando (R
1
., pesquisador).
Segundo um pesquisador e um professor, o produtor familiar sentiu a
necessidade de buscar novas alternativas tanto fora quanto dentro da atividade
de criação de frangos, para que pudesse se manter no campo. Uma alternativa,
que os dois entrevistados avaliaram como “interessante”, foi vender o esterco
dos frangos ou de outros animais que criavam, como adubo, auxiliando desse
modo a produção de culturas como o café. Além disso, ponderaram que o
produtor poderia optar por utilizar esse esterco na própria propriedade familiar
visando complementar as culturas ali existentes, como por exemplo, a
fruticultura, o que proporciona uma redução nos custos da produção.
O que a gente observa e seria interessante, logicamente, se ele tem
animais, é ele utilizar resíduos dos animais (...), por exemplo, na
cafeicultura, ou mesmo, eu imagino, na fruticultura (...) .O esterco (...),
então, é uma complementação (T., professor universitário).
(...) Ele tira uma renda adicional que é a cama de frango, ele vende o
esterco. Isso é uma alternativa interessante de renda pra ele (R
1
.,
pesquisador).
A fruticultura foi citada pelos entrevistados como a principal atividade
na região para a diversificação agrícola das pequenas propriedades rurais,
principalmente com o cultivo do figo e da goiaba. A escolha do cultivo dessas
frutas se deve à presença, na região, de agroindústrias especializadas no
processamento de doces e poupas, como é o caso da Frutilavras que está
localizada entre os municípios de Lavras e Itumirim.
50
Outra diversificação que a gente tem, isso também eu falo dependendo
da região, é a fruticultura que está entrando. Vou citar São Sebastião do
Paraíso. começou com uma comunidade, são todos pequenos
produtores. Criaram uma associação e montaram uma indústria, onde
eles fazem o pré-processamento de frutas. Começaram a produzir e
viram a necessidade de fazer, vamos dizer assim,(...) o beneficiamento
no produto que estão colhendo. Então, por exemplo, podemos citar, a
cultura do figo, a cultura da goiaba. A gente está vendo a figueira
sendo cultivada, a goiabeira (...). Então na área de frutíferas, (...) a
gente tem observado e está tendo demanda (R
1
., pesquisador).
(...) Pelo que me parece já existe aqui uma agroindústria de fruticultura,
Frutilavras, que é inclusive formada por pequenos produtores(...) (P.,
professor universitário).
Durante as entrevistas, foram mencionadas as pesquisas e demais ões
desenvolvidas pela EPAMIG na RSMG com o intuito de incentivar os
produtores familiares a diversificar a produção tendo como principal opção a
fruticultura. Segundo entrevistados, o trabalho dessa empresa envolve entre
outras atividades: a avaliação da região, ou seja, identificar os pontos fortes e
fracos para que a fruta escolhida seja adaptável à área a ser plantada; o apoio a
esses produtores dando-lhes capacitação; análise do mercado consumidor para o
qual a fruta será destinada. Para um dos pesquisadores da EPAMIG, os tipos de
frutas que possuem maior viabilidade de exploração na RSMG, considerando
todas as avaliações realizadas pela empresa, são o figo e a goiaba.
Então quando se pensa em diversificação o que que se pensa?
Fruticultura. Principalmente voltada para a fruticultura mais
temperada aqui para a região, para as condições da nossa região. (...)
Tem trabalhado. A EPAMIG tem efetivado o custeio como o próprio
figo. A EPAMIG trabalha com uva na região de Caldas, também uma
diversificação interessante. Goiaba é interessante também. Então,
fruticultura seria interessante (R
2
., pesquisador).
Percebe-se que um ponto crítico quando se fala em fruticultura é o
processo de comercialização. Por se tratar de frutas, um produto perecível, os
51
preparos envolvendo cultivo, colheita e pós-colheita são fundamentais para que
o produtor familiar obtenha produtos de qualidade e, dessa forma, se torne
competitivo na atividade. Dentro do processo que envolve a comercialização,
um dos maiores gargalos da fruticultura é a armazenagem. O estoque de uma
determinada fruta por um período de tempo pode acarretar grandes prejuízos ao
agricultor. Por isso, professores e pesquisadores consideram que informações e
conhecimento sobre o mercado é essencial para que a produção chegue o mais
rápido possível ao local de destino, evitando possíveis perdas para o fruticultor.
Desse modo, os entrevistados enfatizaram que planejar a venda da produção,
negociando, antecipadamente, com um determinado comprador, fechar preço,
data e tempo de entrega, bem como a escolha de um meio eficiente para escoar
as frutas transformam-se em elementos básicos da estratégia que visa
proporcionar ao agricultor familiar segurança e melhores rendimentos.
A comercialização da fruticultura eu acho que é mais (...) não sei talvez
um pouco de dificuldade de comercialização, mas eu acho que depende
muito (S., professor universitário).
A definição do tipo de fruta que você vai produzir e como vai ser essa
comercialização também é importante, às vezes isso pode limitar, você
vai muito pelos aspectos técnicos de viabilidade de exploração mas na
hora que você vai fazer a comercialização, como frutas e outros o
produtos perecíveis, muitas vezes você pode esbarrar aí em um
problema de comercialização (R., professor universitário).
Outra atividade listada no Quadro 2 e considerada como viável para
diversificação no âmbito da agricultura familiar foi a floricultura. Pesquisadores
da EPAMIG apontaram que essa atividade está despontando entre os
agricultores familiares da região de São João Del Rei e que ela também pode ser
uma alternativa para produtores do Sul de Minas. Observaram que, para uma
maior difusão da atividade nos municípios vizinhos, a EPAMIG contratou
52
pesquisadores com experiência na área para estudar a viabilidade da floricultura,
nas propriedades familiares, como uma nova alternativa de renda.
Uma outra linha que a EPAMIG tem trabalhado demais (...) na região
de São João Del Rei é a Floricultura. Inclusive a EPAMIG tem
contratado alguns pesquisadores nessa linha que até então não tinha
ninguém trabalhando. Então hoje nós temos três pesquisadores
dotados em São João Del Rei trabalhando com a floricultura, também
seria interessante para diversificação (R
2
., pesquisador).
A floricultura foi avaliada positivamente por se adaptar às características
edafoclimáticas da região e por empregar tanto a mão-de-obra feminina quanto a
masculina, sendo assim, na visão dos pesquisadores, uma atividade importante
para a geração de trabalho nas propriedades familiares. Todavia, ponderam que a
escala de produção de flores é pequena e, desse modo, os produtores devem se
organizar, isto é, se unirem em associações, cooperativas com o intuito de
obterem um maior volume de produção e conseguirem bons preços no mercado.
Citaram, como exemplo, a produção da flor copo-de-leite em Pratápolis,
cidade próxima a São João Del Rei. De acordo com os pesquisadores, alguns
produtores de Pratápolis diversificaram a produção com a floricultura, se
organizaram em associações e vêm, atualmente, se destacando no mercado local
com a produção de copos-de-leite, alcançando bons resultados financeiros.
em São João Del Rei, tem uma cidade lá [perto] que
chama...Pratápolis. Eu acho que é. Estão produzindo copo-de- leite,
sabe? Muito bom e com um preço muito bom. (...) Na época eles
estavam vendendo a 50 centavos o copo-de-leite (R
2
., pesquisador).
Não é uma coisa assim de falar que é uma coisa pra mulher. Homem
também pode produzir copo-de-leite, por quê não? (...) [Em Pratápolis]
tem uma organização hoje de pequenos produtores, uma associação.
Então eles conseguem ter volume e colocar esse copo-de-leite (R
1
.,
pesquisador).
53
Observa-se que, de modo geral, na opinião dos entrevistados, todas as
atividades indicadas como adequadas à diversificação agrícolas (Quadro 2) estão
sendo exploradas na RSMG ou o seu uso está sendo estimulado nas
propriedades familiares por órgãos de pesquisa, principalmente a EPAMIG.
Todavia, um professor universitário entrevistado chamou a atenção para o
trabalho desenvolvido pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do
Estado de Minas Gerais (EMATER-MG). Para ele, esses órgãos m o objetivo
de levantar os potenciais regionais visando incentivar a prática de atividades
consideradas sustentáveis e viáveis para as propriedades familiares.
Ela tem sido estimulada, não é? Então os órgãos de extensão, diferentes
órgãos, principalmente os estaduais, essa atividade tem sido estimulada.
Pelo menos pra ver o real potencial para essa atividade, nunca
esquecendo que ela tem que ser sustentável (P., professor universitário).
Todavia, a opinião de outro professor universitário diverge dos
depoimentos apresentado acima. Para o entrevistado em questão, a
diversificação agrícola não vem sendo explorada adequadamente na RSMG, pois
os órgãos de extensão rural são pouco ativos no sentido de estar atendendo às
demandas dos produtores familiares. O problema é ainda agravado pelo baixo
número de extensionistas atuantes por microregião. Assim, na visão do professor
entrevistado, esses órgãos precisam se conscientizar da importância do trabalho
de extensão rural para os agricultores familiares. Devem promover iniciativas no
intuito de se realizar o que denominou de “uma extensão mais efetiva”, isto é,
capacitando, treinando, acompanhando os produtores e orientando-os desde o
processo de adoção de novas culturas até o escoamento da produção para o
mercado.
Eu acho que essa, que essa diversificação é muito pouco explorada.
Pelo menos aqui na nossa região de Lavras, eu acho que é. A gente sabe
que pessoas que têm produção, que trazem para a feira e tudo, mas
54
eu acho que é um número muito pequeno, muito concentrado(...).Eu
acho que é falta de assistência, falta de informação. De treinamento (S.,
professor universitário).
Em contrapartida, as análises conduzidas em outros estudos (Simão,
2005; Ferreira, 2007) mostram que também os representantes de órgãos de
assistência técnica e extensão rural avaliam as ações da universidade e da
pesquisa como distantes da realidade da agricultura familiar regional. Ponderam
que tal distância impede que essas organizações contribuam de modo mais
efetivo para potenciar fatores favoráveis da RSMG, como solo, clima,
proximidades das áreas metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo
Horizonte, bem como a malha rodoviária existente e a proximidade de portos, o
que tornaria os produtores sul-mineiros mais competitivos. Críticas com
semelhante teor foram também efetuadas por algumas lideranças de agricultores
familiares. Vale ressaltar que, esse tema será discutido em outra seção.
Apicultura, plantio de eucalipto, piscicultura, sojicultura, produção de
mamona e arroz foram também indicados como possíveis alternativas para a
diversificação agrícola nas unidades de produção familiares, recebendo, no
entanto, somente uma indicação (Quadro 2). A viabilidade da apicultura e
rizicultura, apontadas por um pesquisador, foi associada à complementação de
renda. Todavia, estudos mostram que a produção empresarial de arroz
inviabilizou o cultivo desse produto nas unidades familiares, uma vez que fez
cair o preço do produto no mercado nacional. Em decorrência, agricultores
familiares substituíram áreas e trabalho destinados ao cultivo de arroz por outras
atividades mais rentáveis
*****
. Já a apicultura é uma atividade bastante difundida
na região. Segundo a Emater (2008), o estado de Minas Gerais é responsável por
cerca de 10% da produção nacional de mel e ainda muito espaço no mercado
*****
Por exemplo, Jesus (1993) estudando a trajetória de decisões, em unidades de produção
agropecuárias, transcreve depoimentos nos quais o produtor declarava ter substituído a produção
de arroz por outra atividade que considerava mais rentável, pois a sua produção era pequena, o
produto era acessível ao seu padrão de renda o que não inviabilizava a sua compra.
55
para avançar, visto as potencialidades como clima favorável, florada durante
todo o ano e um mercado amplo e pouco explorado. um forte potencial de
geração de mão-de-obra da atividade, que ocupa atualmente cerca de 3,5 mil
agricultores familiares no Estado
††††
.
A produção de mamona, indicada por um professor, foi associada à
agregação de valor em decorrência do programa de biocombustível. Outro
professor universitário associou sojicultura, como uma alternativa de
diversificação, por existir a possibilidade de agregação de valor e auxiliar na
rotação de culturas. Todavia, esses entrevistados não explicaram em que
dimensões tais produtos agregariam valores. O reflorestamento com eucalipto de
áreas impróprias para pastagem e cultivo foi percebida por um professor como
uma alternativa de diversificação, uma vez que a madeira obtida é facilmente
comercializada e o preço é compensador. Em decorrência dos recursos hídricos
do Sul de Minas, representados pelas hidroelétricas, bem como da existência de
mercado consumidor, a piscicultura foi identificada como uma alternativa viável
de diversificação (Quadro 2).
Em síntese, de acordo com as opiniões dos pesquisadores e dos
professores universitários a atividade mais propícia para a diversificação
agrícola nas propriedades familiares da RSMG é a fruticultura. Essa percepção
é sustentada pela articulação que os entrevistados fizeram entre fruticultura e os
seguintes objetos situacionais: área demandada compatível com o tamanho das
unidades familiares, ocupação da mão-de-obra feminina, fatores edafoclimáticos
favoráveis e proximidade de indústrias de processamento. Avaliaram que a
organização de produtores em associações e cooperativas é muito importante
para que obtenham escala, adquiram poder de negociação e coloquem a
produção no mercado consumidor. Portanto, apesar da forte tradição sul-mineira
nas atividades cafeeira e leiteira, percebe-se que, para a maioria dos professores
†††††
Disponível em: <http://www.emater.mg.gov.br>.
56
universitários e pesquisadores entrevistados existem alternativas para a
diversificação que garantam ingressos diferenciais durante o ano e que sejam
compatíveis com a área e o ecossistema regional. Avaliam, também que o
produtor familiar tem procurado alternativas agrícolas que complementem a sua
renda visando proporcionar-lhe melhorias na vida no campo.
Os produtos citados com mais freqüência pelos pesquisadores e
professores como possíveis alternativas de diversificação agrícola, as
características favoráveis associadas a esses produtos, os fatores que podem
reduzir o potencial de desenvolvimento que lhes foram atribuídos, bem como
ações percebidas como capazes de neutralizar a influências dos fatores limitantes
apresentam-se na Figura 8. Na seção seguinte, serão discutidas as possíveis
alternativas de diversificação rural.
57
Principais
produtos
Fatores favoráveis
Objetivo
Fatores que podem
reduzir o potencial de
desenvolvimento dos
fatores favoráveis
Ações visando neutralizar
a influência dos fatores
limitantes
Feijão
Atividade bastante conhecida na região
Cultura anual cultivada em consórcio com o café
Queda na oferta e possibilidade de bons preços
Milho
Atividade anual e adequada à rotação de cultura
Plantio direto
Valorização do produto como alternativa para
produção de energia
Diagnóstico de realidade
Horticultura
Clima favorável
Disponibilidade de mão-de-obra
Entrada de recursos financeiros durante todo o ano
Deficiência no processo
de comercialização
Pesquisa gerando novas
tecnologias
Avicultura e
pecuária de
modo geral
Complementaridade com atividades agrícolas
(adubação)
Disponibilidade de mão-de-obra
Existência de mercado
Venda de esterco
Complemento
de renda
Pouca informação sobre
mercado e novas
alternativas tecnológicas
Elevação do número de
extensionistas
Incentivo ao associativismo
Fruticultura
Clima favorável
Disponibilidade de mão-de-obra
Mercado
Pesquisas na região
Proximidade de agroindústrias
Número insuficiente de
extensionistas
Difusão de informações de
mercado e tecnológicas
Floricultura
Clima favorável
Disponibilidade de mão-de-obra
Pesquisa na região
FIGURA 8
Produtos mais adequados para a diversificação agrícola, articulação entre fatores favoráveis e fatores
limitantes na perspectiva de professores universitários e pesquisadores entrevistados, 2007
.
57
58
4.1.2 Diversificação rural
“Turismo rural” e “agroindústrias do produtor” foram as atividades
avaliadas como mais favoráveis à diversificação rural na RSMG, pelos
pesquisadores e professores universitários (Quadro 3). No caso da agroindústria
do produtor, isto é, da agroindústria familiar ou comunitária e gerida pelos
próprios agricultores, essa opção foi justificada por considerarem que ela
poderia aumentar o poder de barganha, complementar a renda familiar, além de
ser uma alternativa de agregação de valor à propriedade e aos produtos ali
produzidos. Já a opção turismo rural foi justificada por considerá-la geradora de
novos postos de trabalho e de novas oportunidades para a complementação de
renda.
Com certeza[agroindústria do produtor e turismo rural ]são atividades
que vêm incrementando a renda, gerando negócios, e lógico, quando se
pensa na a questão da ocupação,[essas atividades]geram oportunidades
de empregos (E., professor universitário).
QUADRO 3 Atividades mais propícias à diversificação rural na RSMG, na
opinião de pesquisadores e professores universitários, 2007.
Atores Sociais Atividade Justificativa
PE (n 2)
PU (n 4)
Turismo Rural
(n 6)
- Complementação de renda
-Geração de trabalho/ oportunidades
PE (n 2)
PU (n 5)
“Agroindústria do
Produtor”
(n 7)
- Agregação de valor
- Unir os produtores
- Aumentar o poder de barganha
PE (n 1)
“Grande
Agroindústria” (n 1)
- Garantia de compra dos produtos dos
Produtores
PU (n 1)
Artesanato
(n 1)
- Complementação de renda
Fonte: Dados da pesquisa
n = número de vezes em que a atividade foi citada.
PE = Pesquisador/PU = Professor universitário
As atividades “grande agroindústria” e “artesanato” foram mencionadas
como propícias para a diversificação rural na RSMG apenas uma única vez, nos
59
depoimentos dos entrevistados (Quadro 3). O artesanato foi citado como uma
atividade que tem um potencial para se desenvolver na região e proporcionar um
aumento no poder de barganha e uma complementação na renda aos produtores
familiares. Mas, para que isso aconteça, o professor que a indicou ponderou ser,
primeiramente, necessário organizá-los em associações de artesãos.
Poços de Caldas (...) então ali naquela região se você tiver um roteiro
ali de artesanato (...) eu acho que tem um potencial (S.,professor
universitário).
O associativismo foi, novamente, percebido como um meio para
aumentar o poder de negociação dos produtores frente a outros atores sociais,
presentes no mercado. Aliás, um pesquisador descartou a possibilidade do
artesanato ser uma opção para a diversificação rural justamente por considerá-lo
uma atividade sujeita à interferência do atravessador.
(...) a questão do artesanato também tem muito problema com
atravessador(...). Então é organização, é onde colocar esse artesanato
(R
2
., pesquisador).
a implantação de grande agroindústria, ou seja, as grandes empresas
de processamento de matéria-prima agrícola, seria, na visão deste mesmo
pesquisador, um empreendimento que garantiria a compra dos produtos
cultivados nas propriedades familiares. Todavia, esse entrevistado reconhece
que, muitas vezes, as grandes empresas oferecem ao produtor um baixo valor
pela venda de seus produtos.
A grande agroindústria é um bem, como diz o outro, é um mal
necessário por que muitas vezes ela explora o pequeno produtor, isso
acontece (R
2
., pesquisador).
Observou-se que os entrevistados, quando falam em agroindústria
referem-se a duas categorias: a “grande agroindústria” e a agroindústria do
60
produtor”. A “grande agroindústria”, reforçando o que foi referido acima, é vista
por um dos pesquisadores entrevistados como um meio de exploração, uma vez
que ela proporciona ao agricultor familiar uma pequena margem de lucro sobre a
venda de seus produtos. Por outro lado, esse mesmo entrevistado relata que
apesar das desvantagens que a grande agroindústria possa proporcionar, ela não
deixa de ser uma garantia que os pequenos produtores possuem de escoamento
de seus produtos.
Amarra contratos com preços muito baixos, o produtor fica na mão
dele. Por outro lado, ele tem uma agroindústria onde ele não tem uma
margem de lucro tão boa, mas ele tem a garantia de compra, que é o
que eu falei pra você, um dificultador pro pequeno produtor porque o
ideal...o que é o ideal para o pequeno produtor? Ele vender pra
produzir. O que é vender pra produzir? É você ter um contrato de
venda, e produzir pra atender aquele contrato. E seria o ideal da
agricultura, mas na prática isso não funciona! (R
1
., pesquisador).
A “agroindústria do produtor”, além de ter sido apontada como uma das
atividades mais propícias para a diversificação rural na RSMG, foi retratada
pelos entrevistados como associações e cooperativas de produtores. Então,
ressalta-se que, quando se fala em “agroindústria do produtor”, os pesquisadores
e professores universitários entrevistados visualizam as organizações de
produtores. Nessas organizações, vários fatores são valorizados, como a
cooperação, a mão-de-obra familiar feminina, entre outros. Por conseguinte,
observaram que a união é o meio que os produtores familiares dispõem para
aumentar o volume de produtos, processá-los, agregando-lhes valor, e
colocando-os no mercado.
(...)quando você pensa no pequeno e pequena agroindústria, tem que
haver organização tipo cooperativas, pequenas cooperativa,s pequenas
associações que possam processar e agregar valor (R
2
., pesquisador).
61
Eu acho interessante essa idéia de agroindústria, de agregar valor ao
produto. O produtor tem que se organizar mais via associações, via
cooperativas, principalmente associações porque ele tem como se
organizar melhor e ter condições de formatar melhor, de condições de
ter um produto bem adequado, dentro dos padrões exigidos de
qualidade para a comercialização etc, e até mesmo de uma força maior,
uma mecanismo melhor: a comercialização junto ao mercado
consumidor aos clientes (R., professor universitário).
É interessante na indústria, vocêque são as mulheres dos produtores
que estão, vamos dizer assim, em todas as etapas. Eles perceberam que
trabalhando em conjunto, tinham uma forma melhor de colocarem o
produto deles no mercado. Então, existem essas associações (R
1
.,
pesquisador).
Apesar das vantagens que a agroindústria do produtor possa trazer aos
pequenos agricultores, os entrevistados consideraram ser fundamental o apoio de
órgãos públicos federais, estaduais e municipais, bem como da iniciativa privada
para que o processamento dos seus produtos possa ser realizado com êxito.
Desse modo, observaram que a necessidade de treinamentos para que sejam
repassados aos produtores, por intermédio de cursos de capacitação,
conhecimentos sobre o processo de industrialização.
(...) a industrialização pelo próprio produtor depende de muito apoio
é...do governo nos diferentes níveis, municipal, estadual, federal, tudo,
porque ele não tem treinamento pra fazer, não tem estrutura. Então, o
risco, se for uma coisa sozinha, individual, o risco de não dar certo é
enorme, enorme, enorme! (S., professor universitário).
Outro fator limitante relacionado com a agroindustrialização do tipo
comunitária e abordado por professores e pesquisadores, durante as entrevistas,
foi a questão gerencial. Observaram que muitas dessas agroindústrias foram
constituídas na região, todavia poucas conseguiram sobreviver por um longo
período. Esse insucesso foi atribuído à falta de experiência e de preparo do
produtor para assumir cargo de gerência em empreendimentos dessa natureza.
62
Novamente a capacitação foi percebida como um fator importante para que os
produtores estejam seguros e possam trabalhar na agroindústria aderindo a uma
lógica participativa e um modelo “de baixo pra cima”.
Nós temos um problema sério gerencial,[isto é,] você conseguir pessoas
boas para administrar. Então a gente percebe que tem havido algumas
iniciativas nesse sentido, mas que muitas vezes não vai pra frente por
falta de questão gerencial, é sério!(...) muitas vezes falha por falta de
pessoal treinado, nessa parte gerencial que possa ajudar nessa pequena
agroindústria (R
2
., pesquisador).
O turismo rural foi considerado pela maioria dos entrevistados uma
atividade favorável à diversificação rural na RSMG (Quadro 3), em decorrência
da beleza cênica da região, favorecida pela presença de muitas cachoeiras e
serras, o que também propicia a prática de esportes radicais, entre outros. Porém,
é uma atividade que, na visão dos entrevistados, exige do agricultor familiar
capacitação e competência. Para pesquisadores e professores, o produtor deve
estar consciente de que para se obter sucesso nesse novo empreendimento é
necessário adquirir conhecimentos profundos sobre ele. Desse modo, o turismo
rural exige que o agricultor familiar centre a sua preocupação nas informações
sobre o mercado, nos clientes potenciais, na localização e no meio ambiente.
Avaliam que, somente com esse envolvimento, ele poderá gerir a atividade com
eficiência.
É uma possibilidade assim, muito favorável, muito importante, porque o
cenário é propício pra isso. Então, é preciso que haja capacitação,
competência dos gestores dessas atividades. Então tem que ter uma...
é onde vem a participação (E., professor universitário).
A gente tem visto várias regiões explorando isso [turismo rural] e
de uma forma bastante intensiva, quer dizer é uma forma de agregar
mais valor à terra, à exploração (R., professor universitário).
63
De acordo com as opiniões dos entrevistados, as alternativas favoráveis
à diversificação rural na RSMG, de modo geral, mostram-se pouco exploradas
pelos produtores familiares da região. Eles argumentaram que o interesse em
desenvolver atividades como o turismo rural e a agroindústria do produtor
requer, primeiramente, dos agricultores, uma análise do local, com o
levantamento dos pontos positivos e negativos, ou seja, para que a diversificação
rural possa ser implementada é fundamental identificar as potencialidades
regionais: cachoeiras, serras, no caso do turismo rural; o mercado, a
organização, e o cultivo de determinadas frutas, no caso da agroindústria do
produtor. Os entrevistados avaliam que somente assim o empreendimento
poderá se consolidar. Nesse sentido, eles ponderam que não basta apenas o
agricultor familiar “querer” diversificar, ele precisa avaliar a viabilidade da
atividade, sendo de grande importância a presença e o acompanhamento dos
extensionistas em todo esse processo de adesão.
Ainda por enquanto não tem assim, é uma coisa [diversificação rural]
bem incipiente (...). Eles não têm idéia do potencial turístico que
nessas regiõe,s em termos de cachoeiras, esses esportes que hoje
existem e que podem ser explorados. Tudo isso está nesse bojo do
turismo, isso está sendo muito pouco explorado (R
1
., pesquisador).
(...) o que a gente no Sul de Minas é que os agricultores (...)
trabalham de uma forma muito isolada eles são pouco conectados. Não,
lógico, existem boas cooperativas, mas(...) eu acho extremamente
interessante para isso funcionar, ele trabalhar via associação (R.,
professor universitário).
Eu acho que tem que haver é uma análise de quais, qual a verdadeira
aptidão da região a qual esinserida. Você não pode forçar assim...
que isso aconteça em função de modismo. Então realmente é importante
você eleger qual é o potencial e produzir em cima desse
potencial(...)Tem que haver um anseio por parte do pequeno produtor
senão isso não funciona ( P., professor universitário).
64
Em resumo, com base nas análises das opiniões dos entrevistados sobre
as atividades mais favoráveis à diversificação rural na RSMG, percebe-se que a
agroindústria do produtor foi a mais indicada entre as quatro opções
mencionadas. Pesquisadores e professores expuseram que, para essa atividade se
desenvolver, é fundamental a organização e a associação dos produtores em
torno de um objetivo comum e de uma participação ativa nos processos de
decisão. Desse modo, tais iniciativas tendem a contribuir para que esse
empreendimento se forme, cresça e possa beneficiar os produtores familiares
com o aumento do poder de barganha e da qualidade dos produtos e/ou dos
serviços oferecidos. Pesquisadores e professores sugeriram ainda que sejam
oferecidos aos agricultores capacitação em novas tecnologias de produção e
processamento agroindustrial, bem como em gestão de associações. As
atividades percebidas como mais adequadas para a diversificação rural e as
articulações entre fatores favoráveis e fatores limitantes estão esquematizadas na
Figura 9.
Na avaliação de atividades mais adequadas para a diversificação
agrícola e para a diversificação rural, os entrevistados tomaram como referência
objetos de orientação de natureza social, cultural e física, localizados tanto no
nível local como macroestrutural. As articulações envolvendo esses diferentes
objetos serão discutidas na próxima seção.
65
Atividade
Potencialidade
Fatores que podem reduzir o
potencial de desenvolvimento dos
fatores favoráveis
Ações visando neutralizar a
influência dos fatores limitantes
Agroindústria
do produtor
Aumentar o poder de barganha do agricultor
Agregar valor à produção
Complementação de renda
Turismo
rural
Criar novas oportunidades de emprego e renda
Complementação de renda
Beleza cênica da região (cachoeiras e montanhas)
Propícia à prática de turismo de aventura
Pouco conhecimento sobre gestão de
associações e agroindústrias
Pouca informação sobre novas
tecnológicas
Pouco conhecimento sobre turismo
Cursos de capacitação apoiados
por organizações públicas e
privadas
Diagnóstico de realidade
Artesanato
Complementação de renda
Pouca organização dos produtores
Interferência de intermediários na
comercialização artesanal
Organizar associações de artesãos
Incentivo ao associativismo
Grande
agroindústria
Garantia de mercado para produtos agrícola
Margem de lucro pequena para o
agricultor
-
FIGURA 9 Atividades mais adequadas para a diversificação rural, articulação entre fatores favoráveis e fatores
limitantes, na perspectiva de professores universitários e pesquisadores entrevistados, 2007.
65
66
4.2 Objetos de orientação ponderados na avaliação da diversificação como
estratégia de desenvolvimento, para propriedades familiares na
RSMG
Professores universitários e pesquisadores apontaram, em seus
depoimentos, objetos físicos de natureza edafoclimáticos como fatores
favoráveis ao desenvolvimento da diversificação, nas propriedades familiares na
RSMG (Quadro 4).
QUADRO 4 Fatores edafoclimáticos favoráveis à diversificação, na opinião de
pesquisadores e professores universitários, 2007.
Atores Sociais Edafoclimáticos favoráveis Justificativa
PE (n 3)
PU ( n 5)
Clima (n 8)
- Favorável a diversas culturas
PE (n 1)
PU (n 3)
Solo (n 4)
- São férteis
- Favorável a diversas culturas
PE (n 1) Serras e cachoeiras (n 1)
- Potencial e riqueza da região
- Favorece o turismo rural
PE (n 1)
PU ( n 1)
Altitude (n 2)
- Potencial da região
- Favorece o plantio do café
PU (n 2)
Água (n 2) - Potência por ser abundante
- Favorece à irrigação
-Permite a piscicultura
- Favorece o turismo rural
PU (n 3)
Relevo (n 3)
- Favorece o plantio de café
- Fundamental para as florestas
- Favorece o turismo rural
PU (n 1)
Paisagem (1)
- Favorece o turismo rural
Fonte: Dados da pesquisa
n = número de vezes em que o fator “edafoclimático” foi citado.
PE = Pesquisador/PU = Professor universitário
67
De acordo com os depoimentos dos entrevistados, os principais fatores
favoráveis, caracterizados quanto à “natureza edafoclimática”, são clima, solo,
altitude, disponibilidade de água e relevo. Todos esses fatores se destacam por
serem apontados como “riquezas regionais”, favorecendo o plantio de diferentes
culturas, além de proporcionar a prática de atividades como o turismo rural
(Quadro 4).
Os fatores serras e cachoeiras e paisagem, apesar de serem considerados
uma riqueza da região e favorecer o turismo no meio rural, foram pouco
mencionados pelos entrevistados. Além disso, como será discutido
posteriormente, alguns desses fatores aparecem em outras articulações como
fatores limitantes.
(...)paisagens, se prestam pra, atividades, no caso de turismo, no caso
da agricultura (E., professor universitário).
(...) principalmente, igual eu falei o turismo. Eu acho que é um potencial
muito grande pelas belezas naturais que a gente tem nessas regiões.
Serras, cachoeiras (R
1
., pesquisador).
O clima da RSMG, fator apontado com maior freqüência, foi descrito
como “bem definido” e favorável para o plantio de diversas culturas, entre as
quais fruticultura e soja. Em outras palavras, na visão de pesquisadores e
professores, o fator climático da região favorece a adaptação de diversas
espécies e é adequado para a criação de gado de linhagem leiteira, o que
proporciona ao produtor escolher os produtos para diversificação, que considera
mais adequado ao contexto de sua propriedade.
Olha o Sul de Minas é bom pra tudo (...). Um clima em termos de
temperatura e estação suficiente, bom para a maioria das espécies
cultivares (M., professor universitário).
68
Nós temos diversificações interessantes em termos de clima aqui (...) A
questão do gado de leite, o clima é ideal pro nosso gado puro.(R
2
.,
pesquisador).
Hoje a gente tem um leque de opções muito grande e um clima muito
favorável. E várias culturas são adaptadas aqui para a nossa
região(...)A gente tem algumas espécies frutíferas que vão bem na
região, as próprias culturas anuais (R
1
., pesquisador).
(...) nós estamos em uma região que tem clima favorável, tem condições
favoráveis para plantar, fator climático a gente tem, o clima bem
definido, que pode favorecer, por exemplo, cultivo de soja. Soja pra
produzir aqui tranquilamente, não tem problema. Outras culturas
também dão (R., professor universitário).
Solo, um fator essencial para agropecuária, foi também bastante
valorizado. Para os pesquisadores e professores o solo da região pode ser
caracterizado como “muito fértil”, o que favorece o plantio de diversas culturas,
nas diferentes estações do ano. Desse modo, o potencial atribuído ao solo é de
grande valia para o pequeno produtor que tende a encontrar nele componentes
necessários para diversificar e produzir com eficiência.
Os solos são férteis e tudo (M., professor universitário).
Eu acho que de modo geral a gente tem uma condição ambiental como
um todo, em termo de potencial de solo (...) que pra atender bem a
essa diversificação da produção (S., professor universitário).
Assim como o solo e o clima, a água é fundamental para o
desenvolvimento de diferentes atividades no campo. Na região, a água é
reconhecida pelos entrevistados como abundante, trazendo assim muitos
benefícios para as propriedades familiares. Uma de suas utilidades na lavoura é
proporcionar um sistema de irrigação, viabilizando a possibilidade de cultivo de
diferentes produtos ao longo do ano, assegurando a produtividade e qualidade
dos produtos.
69
Tem água em abundância com sistema de irrigação (M., professor
universitário).
Tanto a altitude quanto o relevo são também fatores determinantes da
adesão ou não a uma cultura. Esses fatores, em certo sentido, estão associados e
podem figurar, em datas circunstâncias, como meios e, em outras, como
condições, limitando a possibilidade de escolha do agricultor. Para alguns
plantios na RSMG, a altitude é favorável, como é o caso do café, por exemplo,
mas para outras pode não ser tão favorável assim. Por isso, o aproveitamento
desses dois fatores no plantio irá depender muito da escolha da atividade a ser
cultivada na propriedade.
Então eu acho que o relevo é um dos fatores determinantes de... produto
(S., professor universitário).
A região que eu comentei com você de Pouso Alegre, nós temos cidades
com um potencial fantástico em termos de altitude. O município que eu
comentei com você de Senador Amaral está 1600m de altitude (...).
Então quando se pensar em diversificar tem que ficar atento a isso:
olhar as exigências daquela cultura, as condições, onde ela vai ser
plantada, de altitude (...) (R
2
., pesquisador).
A infra-estrutura regional, caracterizada nos depoimentos pela presença
de organizações educacionais e de pesquisa, pela existência de uma extensa
malha viária, pela presença de uma rede bancária abrangendo quase todos os
municípios, de um sistema de comunicação e de uma rede de energia elétrica
cobrindo toda a região, foram outros objetos de orientação ponderados pelos
entrevistados, ao avaliarem as potencialidades de desenvolvimento da
agricultura familiar sul-mineira (Quadro 5). Em conjunto com esses fatores,
professores e pesquisadores destacaram a localização da RSMG, próxima dos
grandes centros consumidores do país, como um fator privilegiado (Quadro 5).
70
QUADRO 5 Fatores infra-estruturais e de localização favoráveis à
diversificação, na opinião de pesquisadores e professores
universitários, 2007.
Atores sociais Fatores infra-estruturais e
de localização favoráveis
Justificativa
PE (n 1)
Presença de organizações
educacionais e de pesquisa (n
1)
- Organizações como UFLA,
EPAMIG
- Apoio para diversificar com
eficiência
PU (n 2) Estrutura viária (n 2)
- Fácil acesso às estradas
- Facilita o escoamento da
produção
PE (n 1)
PU (n 6)
Localização (n 7)
- Proximidade de grandes
centros consumidores.
- Proximidade de portos
PE ( n 1) Rede bancária (n 1)
- Fundamental para manter a
diversificação
PU (n 1)
Sistema de comunicação (n
1)
- Acesso à informação
- Entretenimento
PU (n 1) Energia elétrica (n 1)
- Conforto
- Uso de equipamentos
Fonte: Dados da pesquisa
n = número de vezes em que o fator de “localização” ou “infra-estrutural” foi citado.
PE = Pesquisador/PU = Professor universitário
A existência, na região, de organizações educacionais e de pesquisa é
um fator favorável, tendo em vista a possibilidade de apoiar os produtores
familiares na iniciativa de diversificar suas atividades no campo, gerando
pesquisa, novas tecnologias, promovendo cursos, encontros e palestras. O
sistema bancário, formado por bancos públicos e privados, bem como por
cooperativas de crédito, representa a possibilidade de acesso à recursos
financeiros que seriam fundamentais para a manutenção da diversificação, nas
propriedades familiares.
É, eu acho que a proximidade dos centros de conhecimento, linhas de
crédito, sabe? Apoio no sentido de possibilitar ao produtor atingir essas
atividades, essa diversificação com eficiência (S., pesquisador).
71
O sistema de comunicação e a rede de energia elétrica, identificados
como fatores favoráveis, estão associados às suas funções usuais de,
respectivamente, proporcionarem informações, entretenimento, conforto e
utilização de equipamentos elétricos.
Para os atores sociais entrevistados, a localização da RSMG é
estratégica, pois se encontra perto de grandes áreas metropolitanas como Belo
Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, considerados os maiores centros
consumidores do país. A localização também se destaca quando se pensa no
transporte marítimo, pois a região está próxima dos grandes portos como o de
Vitória, do Rio de Janeiro e de Santos. Desse modo, consideram que a
localização da RSMG é privilegiada, pois possibilita facilmente o escoamento da
produção aos mercados consumidores, sendo assim um fator positivo para a
diversificação das propriedades familiares.
É lógico, é estratégico, nós estamos entre São Paulo, Rio e Belo
Horizonte, quer dizer, nos estamos na realidade no centro dos três
principais los consumidores do Sudeste e do país eu diria também.
Então eu acho que a localização nossa é, de certa forma, privilegiada
(S., professor universitário).
Então nós estamos a mais ou menos 400 quilômetros dos grandes portos
e dos grandes mercados consumidores. Nós estamos a mais ou menos
400 quilômetros de Vitória, 400 do Rio de Janeiro e 400 de Santos.
Então isso faz com que o deslocamento dessa produção seja mais fácil,
o escoamento seja mais fácil de ocorrer (P., professor universitário).
Grande parte da população brasileira está localizada nessa região
nossa aqui, se você pegar eixo Minas Belo Horizonte, São Paulo e Rio.
Então eu acho que a grande vantagem nossa é a localização geográfica
próximo a mercado consumidor (R., professor universitário).
A localização é ainda potencializada pela estrutura viária regional,
favorecendo o deslocamento de pessoas, mercadorias e produtos, sendo
importantíssima sua manutenção e conservação para a economia do país. É
72
através dos meios de transportes, especificamente dos caminhões, que boa parte
de toda a produção agrícola é destinada aos centros consumidores. Nesse
sentido, as estradas possuem um papel fundamental permitindo o escoamento da
produção vinda do campo e promovendo, conseqüentemente, o desenvolvimento
de regiões, como a RSMG.
Questão de estradas então, como se diz, um conjunto de fatores aí
positivos, que se tem como escoa rapidamente a produção, o [fácil]
acesso (E., professor universitário).
Nós temos meios de transporte, de acesso, rodovias e etc. que de
qualquer região do Sul de Minas é fácil você escoar a produção pra
esses centros consumidores (...) (R., professor universitário).
Percebe-se, por meio das potencialidades regionais mencionadas pelos
entrevistados, que a RSMG apresenta vantagens para o desenvolvimento da
diversificação nas propriedades familiares. Porém, algumas limitações também
foram identificadas, reduzindo o potencial de desenvolvimento dos fatores
edafoclimáticos, infra-estruturais e de localização (Quadro 6). Destacam-se entre
os fatores mencionados pelos pesquisadores e professores, objetos que
anteriormente foram considerados favoráveis, como a falta de apoio dos órgãos
de extensão com os produtores familiares; a estrutura viária da região que
impossibilita o escoamento da produção com eficiência; o clima, que por ser
bem definido pode restringir a diversificação para algumas culturas; e o relevo
que se mostra limitante para determinadas atividades desenvolvidas na RSMG
(Quadro 6).
73
QUADRO 6 Fatores limitantes que podem reduzir os impactos positivos dos
fatores favoráveis de natureza edafoclimática, infra-estruturais e
de localização sobre a diversificação das unidades de produção
familiares sul-mineira, segundo pesquisadores e professores
universitários entrevistados, 2007.
Atores sociais Fatores limitantes Justificativa
PE (n 1)
PU (n 2)
- Falta de apoio (n 3)
- Falta assistência
- Falta conhecimento
PE (n 1)
PU (n 2)
- Estrutura viária (n 3)
- Difícil acesso
- Limita o escoamento da
produção
-Limita a exploração do
turismo rural
PE (n 1) - energia elétrica (n 1)
- Custo de implantação
em propriedades mais
afastadas
PE (n 1)
PU ( n 1)
- Clima (n 2)
- Geada
- Restringe o plantio de
grãos a somente uma
época do ano
PU (n 5) - Relevo (n 5)
- Dificulta o plantio de
certos produtos
PU (n 1) -Tamanho da propriedade (n 1)
-Limita a diversificação
de algumas atividades
PU (n 1) -Solo (n 1)
- Pode trazer gastos ao
produtor
Fonte: Dados da pesquisa
n = número de vezes em que o fator limitante foi citado.
PE = Pesquisador/PU = Professor universitário
Os demais fatores referidos pelos entrevistados foram pouco
representativos, ou seja, indicaram que são apenas pequenas limitações para a
ocorrência e desenvolvimento da diversificação na região. Com relação à
energia, percebe-se que apesar dela ser um recurso presente em várias
localidades nos dias de hoje, um dos pesquisadores alega que lugares no
74
campo em que a energia ainda o chegou. Diante disso, os produtores
familiares enfrentam dificuldades que poderiam ser contornadas se os custos de
implantação de energia elétrica fossem mais baixos.
Dependendo da demanda de energia que você tem numa região que é
mais afastada dessa oferta de energia, muitas vezes, isso é um fator
limitante pelo custo que gera a implementação. É limitante dependendo
da região (R
1
., pesquisador).
O relevo foi percebido por dois professores universitários, como
limitante para determinadas culturas a serem implementadas pelos agricultores
familiares, como a soja, por exemplo. Mas, como foi comentado anteriormente,
ressaltam que esse fator é relevante para o plantio de outras atividades, como o
café. Portanto, pode-se enfatizar que, o relevo não é um fator tão limitante
assim, mas que se trata de uma questão de adaptação da atividade ao local onde
será cultivada.
Você tem limitações, limitações em função de relevo. Apesar de não
privilegiar algumas atividades o relevo acaba privilegiando outras
atividades mais adequadas (S., professor universitário).
Para exploração de soja, como eu disse, pode ser um fator limitante
mais não intransponível. Você tem áreas aqui no Sul de Minas que têm
um relevo bom para explorações e você tem áreas em que realmente fica
difícil a exploração. Mas é questão de adequação (R., professor
universitário).
O solo também foi apontado como limitante à diversificação na RSMG,
na opinião de um professor universitário. Segundo ele, o solo requer análise e
preparo, acarretando ao agricultor familiar gastos adicionais que influenciará
diretamente nos custos de produção e conseqüentemente na competitividade do
seu produto no mercado.
75
O próprio solo ele é limitante. Porque talvez tenha que gastar mais (T.,
professor universitário).
Este mesmo entrevistado considera que o tamanho da propriedade
familiar é um entrave para a expansão das atividades, ou seja, não espaço
suficiente para a prática de determinadas culturas, especialmente as que
demandam uma grande área plantada e um volume maior de produção para
comercialização.
[Outra limitação]Eu penso aqui fisicamente, é o tamanho da área das
propriedades, sendo tamanho pequeno, que ele vai ter que dar uma
sacudida mesmo, em termos de diversificação (...) (T, professor
universitário).
Apesar da estrutura viária da RSMG ter sido apontada como um fator
favorável, ela é considerada por outros atores sociais entrevistados, como um
fator limitante à diversificação. Por causa da falta de manutenção tanto das
rodovias como das estradas vicinais, o acesso às propriedades pelos turistas e o
escoamento da produção muitas vezes é prejudicado, principalmente nos
períodos chuvosos. Esse problema pode limitar o turismo rural, elevar o custo de
transporte para o produtor, além acarretar perda de muitos dos produtos
transportados, aumentado os preços deles para os consumidores.
A gente tem áreas em que o acesso é muito difícil, isso contribui com
essa limitação. Tanto para o escoamento da produção para o produtor,
como a exploração de outras atividades como o Turismo. Então a gente
vê que a infra-estrutura das estradas é precária (R
1
., pesquisador).
(...)a gente tem problema no período, na época de chuva [pois]você tem
problema com a estrada, carro atolado e etc. No caso de acesso ao
produtor, se não for estrada asfaltada a tendência é de ter problemas no
período chuvoso. (...)Aumenta o custo para o produtor (S., professor
universitário).
76
A estrada, como em todo o Brasil, ela tem problema sim. Inclusive tem
um projeto que o pessoal está querendo fazer na região de Itumirim,
Itutinga, na região ali que é de gado de leite, que um dos motivos é
melhorar as estradas (T., professor universitário).
O clima também foi mencionado anteriormente como um fator favorável
à diversificação na RSMG. Todavia, dois entrevistados o avaliam como
limitante, por apresentar estações bem definidas e restringir assim o cultivo de
determinados grãos a somente uma época do ano. Outra justificativa pelo fator
ser um obstáculo à diversificação é a possibilidade de ocorrência de geadas,
durante o inverno na região.
Nós temos baixadas que têm problemas com o frio. Então, algumas
culturas têm problemas com geada (R
2
., pesquisador).
(...) problema de clima que é a estação de chuva bem definida que
começa normalmente em setembro, outubro e vai até o período de
março, abril então isso dificulta até mesmo a diversificação, porque fica
restrito ao cultivo de grãos, por exemplo, a essa época do ano (R.,
professor universitário).
Um pesquisador e dois professores apontaram a falta de apoio dos
órgãos de extensão, do governo e mesmo da iniciativa privada ao produtor
familiar como um entrave ao desenvolvimento da diversificação, nas
propriedades da RSMG. Ponderaram que a assistência técnica é um trabalho
importante de apoio ao produtor e tem por objetivo orientá-los e informá-los
sobre assuntos relacionados ao mercado consumidor, processo de
comercialização como recebimento e armazenagem de produtos, entre outros.
Desse modo, os extensionistas devem tentar promover “dias de campo”, oferecer
cursos de capacitação a fim de repassarem aos produtores informações de que
precisam para realizar suas atividades diversificadas da melhor forma possível.
77
Falta interesse no trabalho de extensão. Os agricultores familiares são
relegados a segundo plano. Mais do governo, da iniciativa privada
também. Você não uma representatividade do setor assim. (S.,
pesquisador).
O que eu vejo principalmente é a falta de conhecimento do produtor e
essa questão do mercado consumidor, uma ajuda pra colocar o produto
no mercado. Eu acho que aí a gente volta de novo pra questão da
assistência, do apoio ao produtor (S., professor universitário).
(...) recebimento, armazenamento. Eu acho que algumas
informações, por exemplo, técnicas que apesar de existirem elas têm que
ser adaptadas para as nossas condições de cultivo (R., professor
universitário).
Outros fatores foram mencionados por um pesquisador, que se reportam
à esfera de ação do Estado e, por isso, não foram incluídos no Quadro6: a falta
de recursos e a ausência de políticas públicas que atendam às reais necessidades
dos produtores familiares. O pesquisador avaliou a falta de recursos como um
fator grave que tende a inibir a diversificação, assim como inviabilizar
iniciativas voltadas para a criação de atividades que permitam ao produtor
melhorar sua condição econômico-social no próprio meio rural. Observou que
essa limitação é a grande impulsionadora do êxodo rural. Para o entrevistado,
essa situação poderia ser amenizada com a elaboração de políticas públicas mais
efetivas direcionadas a esse segmento tão importante para o país.
Justamente devido à pobreza e à falta de alternativas de outras
atividades que pudessem envolver e ao mesmo tempo melhorar a
situação econômica, social e mesmo psicológica dessas famílias (S.,
pesquisador).
A ausência de políticas públicas que atendam às necessidades dos
agricultores familiares reflete, segundo o pesquisador, o “isolamento” assumido
pelo Estado, quando se tratam dos problemas desses produtores. Na sua
78
perspectiva, rever essa postura é um dos maiores desafios a serem superados
pelas autoridades, no sentido de manterem a agricultura familiar ativa na
sociedade.
Não tanto distância física, mas...talvez uma falta de uma política mais
direcionada pra esse... Talvez a gente despertar pra...atenção pro
número de propriedades de pequenos, pra importância desses pequenos
produtores (S., pesquisador).
Em resumo, segundo os entrevistados, os principais fatores sicos
favoráveis a diversificação como estratégia de desenvolvimento da agricultura
familiar sul-mineira seriam o clima, o solo, que são percebidos como
potencialidades da região. Também entre esses fatores, destacou-se a localização
da RSMG, considerada um fator estratégico por estar próxima aos grandes
centros consumidores do país e de portos.
O relevo foi caracterizado como adequado ao plantio de certos produtos,
mas limitante para outras atividades, o que também ocorreu com o clima, na
declaração de alguns entrevistados. Todavia, não são fatores que inviabilizam a
diversificação como estratégia de desenvolvimento, mas direcionam a busca de
atividades que lhes são compatíveis, as quais, como foram expostas nas seções
anteriores, não são poucas. O tamanho das unidades de produção familiar foi
também percebido como um fator que limita a escolha de possíveis alternativas
de diversificação.
Os fatores limitantes apontados com maior freqüência reportam à esfera
de ação do Estado, como a sua omissão frente à agricultura familiar, e à
insuficiência de recursos liberados para atender às necessidades dessa categoria
de produtores. Embora a estrutura viária tenha sido apontada como um fator
favorável por ligar a região com os portos e grandes centros consumidores,
potencializando os aspectos favoráveis edafoclimáticos e de localização, a falta
79
de manutenção das estradas reduz o potencial de desenvolvimento desses fatores
ao elevar os custos de transporte e provocar a perda de produtos. Como a
manutenção das rodovias e estradas na região é uma função do Estado, a
deficiência desse fator foi atribuída aos governos federal, estadual e municipal.
O esquema contido na Figura 10 apresenta a orientação dos
entrevistados, ao ponderarem os fatores favoráveis de natureza edafoclimáticos,
infra-estruturais e de localização com fatores limitantes na avaliação da
diversificação como possível estratégia de desenvolvimento da agricultura
familiar sul-mineira. Nessa figura, os fatores limitantes foram agrupados em
duas categorias que retratam a “especificidade do fator” ou o seu “caráter geral”.
Todavia, a especificidade de um fator limitante não deve ser interpretada como
tendo uma influência restritiva somente sobre um dado fator positivo, mas que o
seu aproveitamento é deficiente. Por exemplo, a rede viária” foi identificada
como positiva, no entanto, a sua má conservação, além de limitar o seu potencial
de desenvolvimento, pode ter conseqüências negativas para o aproveitamento de
outros fatores positivos. O “caráter geral” reúne os fatores limitantes de natureza
mais ampla (por exemplo, ação ineficiente de órgãos de extensão, insuficiência
de recursos governamentais para atender às necessidades da agricultura
familiar), não estando circunscrito ao aproveitamento inadequado de um fator
específico.
Em síntese, ao retratar as articulações que os entrevistados fazem entre
diferentes objetos de orientação para avaliar a diversificação como possível
estratégia de desenvolvimento, as Figuras 8, 9 e 10 revelam a presença de
objetos de orientação de diferente natureza, o que indica o caráter
interdisciplinar do processo de desenvolvimento ou a sua dimensão
multiprofissional. Todavia, dois fatores limitantes classificados como “caráter
geral”, ou seja, “tradição” e “emigração dos filhos” (Figura 10) ainda não foram
discutidos e serão os temas das próximas seções.
80
Fatores Potencialidade Limitação
Especifica a um dado fator De caráter geral
Clima
- Propício à diferentes
atividades agropecuárias
- Turismo
- Susceptível à geada
- Restringe o plantio de grãos a
somente uma época do ano
Solo - Fértil - Gastos com manejo
Edafo-
climático
Topografia - Propício à diferentes
atividades agropecuárias
- Dificulta a implantação de certas
atividades
- Ação ineficiente de órgãos de
extensão públicos e privados
Serra/cachoeira - Turismo - Insuficiência de recursos
Paisagem - Turismo governamentais para atender à
Água - Irrigação – turismo agricultura familiar
- Omissão do Estado frente à
Proximidade de - Mercado agricultura familiar
Localização grandes centros e portos - Exportação - Tamanho da propriedade
limita o desenvolvimento de
Organizações de - Geração de tecnologia certas atividades
ensino e pesquisa - Realização de cursos... - Tradição/segurança proporciona-
Infra- Estrutura viária - Acesso aos mercados - Má conservação da pelas atividades tradicionais
estruturais Rede bancária - Acesso ao crédito - Emigração dos filhos
Sistema de comunicação - Informações – recreação
Energia elétrica - Conforto/equipamentos - Custo de implantação
FIGURA 10 Fatores favoráveis de natureza edafoclimáticos, infra-estruturais e de localização e fatores limitantes
ponderados por pesquisadores e professores universitários, na avaliação da diversificação como possível
estratégia de desenvolvimento da agricultura familiar sul-mineira, 2007.
80
81
4.3 A tradição e sua influência na diversificação das propriedades
familiares
A tradição foi apontada como um fator cultural de natureza limitante à
diversificação. Todavia, antes de discutir o potencial restritivo desse fator, deve-
se levar em conta o significado que os entrevistados atribuem a esse termo e,
para isso, é necessário identificar as conexões que estabelecem com outros
objetos de orientação, quando empregam a palavra tradição.
Todos os pesquisadores e professores entrevistados associam a produção
de leite e de café na RSMG, com tradição ou vocação. Nos seus discursos, essas
duas palavras são usadas como sinônimos e significam atividades praticadas
mais de um culo, envolvendo conhecimentos que são repassados de geração
para geração: “veio de avô, veio de pai pra filho”. Para os entrevistados, essa
característica tende, muitas vezes, a limitar a adoção de novas atividades, pelo
fato dos produtores acreditarem que a atividade que cultivam, ou mesmo a
técnica que implantam é a correta.
Isso tem um peso muito grande. A parte social, a tradição é
interessante. É uma coisa que veio de pai, veio de avô, de pai para
filho.(...)Vamos supor assim, se entra uma cultura diferente que vai
diversificar, acrescentar renda, ele [produtor familiar] adota. Mas,
esbarra naquele que é tradicionalista, que não quer abrir mão daquela
atividade. Existe esse tradicionalismo de anos. Vamos dizer assim, é
uma coisa que tem que ser trabalhada (R
1
., pesquisador.)
(...) hoje ainda quem detém a economia no setor agropecuário do Sul de
Minas é o café e o leite (...) Então quando se pensa em propor uma
diversificação pra ele, pensa em mudar muita coisa que ele vem fazendo
do avô, do pai, tudo. Então, ele é muito costumado, o mineiro é muito
disso, de tradição, de produção do café com leite. Então não é fácil (R
2
.,
pesquisador).
82
Todavia, a tradição na produção de leite e de café, vista como obstáculo
à diversificação, está também associada a investimentos em benfeitorias
existentes nas propriedades e na estrutura de comercialização regional. Por
exemplo, o café é uma atividade perene que exige do produtor familiar toda uma
infra-estrutura como máquinas e equipamentos, que lhe dão suporte desde o
plantio, colheita, até o beneficiamento dos grãos que, posteriormente, serão
destinados ao mercado. Diante de todo um processo de produção e
comercialização já definido, o produtor de café, muitas vezes, se sente inseguro
para abandonar ou mesmo complementar a renda gerada por essa cultura com
outra atividade. Como ilustram os depoimentos a seguir, professores e
pesquisadores também identificam a infra-estrutura existente como um fator que
pode pesar na decisão sobre a diversificação nas propriedades cafeeiras.
(...) o fato da própria atividade cafeeira, ela exige uma pequena
estrutura para entrar nessa cultura, como implementos, máquinas e
equipamentos, infra-estrutura para a parte de colheita, pós-colheita, o
benefício do café. Essa estrutura que existe, quer dizer, prende mais
ainda o produtor nessa atividade. E a gente percebe que essa
resistência, principalmente, quando entra uma outra cultura (R
1
.,
pesquisador).
(...) o café, normalmente ele já tem uma estrutura de secadores, de
trabalhar com aquele café e onde entregar aquele café (R
2
.,
pesquisador).
(...) o produtor de café, por exemplo, ele é muito avesso à diversificação
porque está acostumado naquela (...)Aquele produtor tradicional não
vai sair do café. Porque é uma cultura perene ele sabe da bi-
anualidade do café, etc (R., professor universitário).
Apesar das possíveis restrições descritas, entrevistados observaram que
alguns produtores de café da região estão diversificando suas propriedades,
aderindo à produção de milho, como uma alternativa para complementação de
83
renda. Conforme ilustra a declaração de um professor, a cultura do milho oferece
vantagens ao produtor como o baixo risco na sua exploração, além do curto
período de plantio.
(...) tem produtores de café hoje que diversificaram e que tem milho
porque o milho acaba dando, o milho a gente sabe que é uma cultura
que apesar de não ter uma rentabilidade tão grande e etc, mas é uma
cultura cujo risco é pequeno de exploração, não é uma cultura de risco
tão grande que te levar a prejuízos. E é um cultivo relativamente
rápido então muitos produtores que diversificaram e produziram,
entraram para a produção de milho ou até mesmo outras atividades pra
tentar equilibrar um pouco a atividade agrícola, equilibrar um pouco as
finanças dentro do setor (R., professor universitário).
Outros fatores, além da tradição, foram também ponderados na
avaliação de possíveis limitações para a diversificação nas unidades familiares
que se dedicam à pecuária leiteira. Entrevistados observaram que, apesar da
pequena produção e do baixo preço pago pelo leite, os produtores não
abandonam a atividade pela facilidade de comercialização e porque ela é uma
garantia diária de renda para eles.
(...) O leite dele, mesmo sendo pouquinho, o caminhão vai lá na porta
dele e busca, então aquilo pelo menos é garantido pra ele (S., professor
universitário).
O leite, a gente fala assim, (...) “ele está trocando cebola”. Mas ele
tem um bezerrinho que ele vende, ele tem aquele dinheirinho que muito
ou pouco ele é certo, o leite é certo não sei se é mensal ou quinzenal,
mas é certo.Então é mais difícil ele partir pra uma atividade que ele vai
ter um rendimento a cada 6 meses ou por ano (R
2
., pesquisador).
Todavia, um dos professores universitários apontou que é difícil, nos
dias de hoje, imaginar um produtor de leite que não diversifique, mesmo que a
diversificação seja uma atividade complementar à pecuária leiteira com a
84
finalidade de reduzir custos com a alimentação dos animais e,
conseqüentemente, garantir a sobrevivência dos agricultores familiares no
campo.
No caso específico do leite, o leite já é um tipo de cultivo, um tipo de
exploração que, naturalmente, ele exige uma diversificação, por
exemplo, não tem como pensar, não há como a gente imaginar um
produtor de leite que não tem uma produção de milho, uma produção de
uma outra cultura na propriedade para atender à essas necessidades do
animal.(...) Quando eu falo de diversificação eu não estou falando de
diversificação assim, as vezes outra atividade completamente diferente
do leite, pode ser uma atividade complementar ou agregar mais valor
aquilo(...)produzindo um leite A, B etc (R., professor universitário).
De modo geral, observou-se que os entrevistados, ao falarem do
tradicionalismo como fator limitante para diversificação nas propriedades
cafeeiras e leiteiras, referem-se ao fato de a longevidade no uso dessas
atividades ter proporcionado a implantação de uma infra-estrutura nas unidades
de produção e na região, o que ao produtor segurança. Por conseguinte, para
os agricultores avaliarem se é oportuno ou não diversificar, tal segurança é
sempre comparada com possíveis riscos que as novas atividades possam lhes
trazer. Nesse caso, ao empregarem a palavra tradição os entrevistados não estão
se referindo a um conjunto de valores e normas que impedem a mudança ou, se
tal interpretação existe, outros fatores lhe foram associadas. Por conseguinte, se
existe uma resistência à mudança é por que existe uma estrutura de produção e
comercialização conhecida e que transmite aos agricultores segurança. Contudo,
na opinião de alguns entrevistados, a “desconfiança” dos agricultores familiares
com relação à adoção de novas culturas poderia ser amenizada com a presença
mais efetiva dos órgãos de extensão junto a esses produtores. A iniciativa teria
como propósito levar “porteira adentro” informações e treinamentos essenciais
ao produtor a fim de capacitá-lo para cultivo de outras atividades.
85
Ah, essa resistência eu acho que não...eu acho que um pouco vem do
tradicionalismo, mas é porque é...ele não conhece o outro lado, ele não
conhece as outras culturas (...).Então eu acho que não necessariamente
o tradicionalismo, mas eu acho que o desconhecimento das vantagens
das outras culturas e de uma estrutura realmente de apoio (S., professor
universitário).
O cara, dependendo da atividade que você vai colocar aqui, ele tem
dificuldade de agir sobre aquele...ele não tem treinamento sobre aquilo.
Mas isso é coisa que supera, é tudo treinamento, cultural e
econômico também. Você tem que analisar isso(...) você pode alterar
isso (T., professor universitário).
Essa presença mais efetiva ou apoio aos produtores familiares
representa, para alguns entrevistados, o desenvolvimento de ações de natureza
educativa que possam despertar neles a vontade de mudar, bem como
proporcionar-lhe maior segurança para desenvolver outras atividades. Dessa
forma, a educação seria um fator fundamental na tentativa de conscientizar o
produtor sobre a importância de novas tecnologias, de novos cultivos, de novas
soluções para problemas sanitários e fitossanitários, etc. Assim, na concepção de
professores e pesquisadores, a educação visa provocar uma mudança na postura
tradicionalista frente à diversificação nas propriedades familiares da região.
Ele pode passar a ter menos medo de entrar em uma outra área porque
ele conheceu aquela outra área, pelo menos teoricamente. Agora,
enquanto ele não conhece, ele não sai do que ele faz de jeito nenhum, se
ele não conhece...ele vai sair, do que ele tem ali a vida inteira e vai
partir pra uma coisa que ele não conhece? (S., professor universitário).
(...) o educacional muda tudo, ele muda o mundo, isso é indiscutível.(...)
Então a boa tradição tem que ser mantida, mas a cultura muda, a
educação muda muita coisa (T., professor universitário).
(...)uma ação educativa é (...) despertar o setor para o conhecimento
dessa área, motivar. Eu acho que pode desenvolver (S., pesquisador).
86
Também foram apontadas transformações que vêm ocorrendo no seio
das famílias rurais e que, na visão dos entrevistados, têm provocado, nos últimos
anos, problemas de disponibilidade mão-de-obra nas unidades de produção
familiar, o que será abordado na próxima seção.
4.4 Emigração dos filhos e sua influência na diversificação das propriedades
familiares
Professores e pesquisadores observaram que, no passado, os filhos
acompanhavam e ajudavam seus pais nas plantações, sendo assim uma mão-de-
obra muito importante para a agricultura familiar. Porém, consideram que, hoje,
os filhos estão cada vez mais interessados em estudar, aperfeiçoar e ter um
trabalho urbano. Por isso, eles vão estudar nas cidades e dificilmente voltam
para a propriedade rural. Esse fato agrava a situação de trabalho nas
propriedades familiares, pois sem a presença dos filhos a força de trabalho
diminui e os agricultores sentem-se ainda mais inseguros para diversificar as
suas unidades de produção. Além disso, na ausência de uma política que
disponibilizasse recursos para que os agricultores familiares tivessem acesso a
equipamentos e novas tecnologias, como foi observado, a escassez de braços
aliada a outros fatores, obriga muitos dos agricultores a abandonarem suas
origens e migrarem para as cidades.
(...) e normalmente os filhos o pra fora, ficam os pais que não têm
muita cultura e a resistência ainda é maior, que eu comentei com
você, porque esse pessoal vai ter dificuldade de cultura, vai ter
dificuldade até de leitura. Então muitas vezes eles tem dificuldade com
coisas novas (R
2
., pesquisador).
(...)o filho desse pequeno produtor que está estudando na cidade, ele
está indo realmente para ficar, ele está se fixando na cidade.
Dificilmente ele vai retornar. Porque na medida que ele vai tendo uma
certa qualificação, ele vai encontrando, o mercado vai absorvendo ele
na cidade, ele não volta mais(...)Então a gente tem percebido essas
87
modificações que estão ocorrendo. A família diminuiu. Aquele
agricultor de economia familiar, ele contava com a mão-de-obra dos
filhos. Os filhos eram criados até uma certa idade e ajudavam no
campo. Esse produtor hoje não está tendo essa mão-de-obra.(R
1
.,
pesquisador).
Se a diversificação foi percebida pela maioria dos entrevistados, como
estratégia viável para o desenvolvimento da agricultura familiar sul-mineira,
tendo em vista a sua localização favorável, suas características edafoclimáticas e
infra-estruturais positivas, a implementação dessa estratégia escondicionada
por uma série de fatores, entre quais: aproveitamento inadequado de suas
potencialidades; ação ineficiente dos órgãos de extensão; recursos
governamentais insuficientes para atender às necessidades do agricultor;
omissão do Estado; tradição ou apego à cafeicultura e à pecuária de leite pela
segurança que essas atividades lhes proporcionam; escassez de mão-de-obra
provocada pela emigração dos jovens na busca de educação e melhores
oportunidade de trabalho nos centros urbanos.
A fim de aproveitar os fatores favoráveis bem como minimizar a ação
dos fatores limitantes, são propostas pelos órgãos de extensão, estratégias ou
combinações de estratégias de intervenção para estimular o desenvolvimento
sustentável na RSMG. A assistência técnica figura como um meio que
proporciona a geração e difusão de tecnologias, formas de apoio ao produtor
rural, representada por assessorias e consultorias. A análise da atuação dessa
instituição junto aos agricultores familiares, de acordo com a perspectiva de
pesquisadores e professores universitários, merece destaque devido à influência
que tais órgãos exercem no desenvolvimento da agricultura familiar na região,
sendo esse um assunto analisado a seguir.
88
4.5 A atuação dos técnicos junto aos agricultores familiares da RSMG
A extensão rural tem sua importância na agricultura familiar
reconhecida pelos entrevistados, visto que auxilia os produtores familiares na
adesão de novas atividades; na implantação de novas tecnologias, de modernas
técnicas de plantio, etc. Dessa forma, um dos professores acredita que os
extensionistas são atores sociais que apóiam os agricultores colaborando para a
manutenção de suas atividades e conseqüentemente para sua permanência no
campo.
A EMATER, ela tem uma participação, tem uma certa penetração sabe,
assim.. aqui na região muito forte, entendeu? Então a EMATER, ela
apoio, assistência técnica, aqui pra esses produtores (E., professor
universitário).
A maioria dos entrevistados aponta que os técnicos, apesar de estarem
desenvolvendo trabalhos de extensão na RSMG, eles poderiam estar atuando de
uma forma mais efetiva junto aos produtores familiares. Um dos motivos que
justifica essa opinião, segundo os entrevistados, é o baixo número de
extensionistas contratados por município, o que torna inviável o atendimento a
um grande número de propriedades familiares. Dessa forma, o trabalho da
extensão rural tende a ficar comprometido visto que as informações não poderão
ser repassadas na mesma amplitude para todos os agricultores pertencentes ao
município, como pode ser observado nos depoimentos abaixo:
O ideal seria ter mais extensionistas, porque o universo é muito grande.
Você pega um município que tem uma grande quantidade de
propriedades, é imensa. Um extensionista para atender, às vezes, dois
ou três municípios ou mesmo um município só, ele dificilmente vai ter
acesso a todas. Precisava de um sistema mais agressivo de difusão. (...)
eu ainda acho que a agricultura familiar precisava de mais assistência
técnica do que tem (M., professor universitário).
89
Eu acho que, muitas vezes, a gente esbarra na infra-estrutura, falta de
pessoas para estarem ali, divulgando, levando informações para o
produtor (R
1
., pesquisador).
Todavia, um dos professores universitários diverge da visão acima
referida, pois acredita que o número de extensionistas que atuam por município
é suficiente para atender às demandas do produtor familiar. Na percepção desse
ator social, não é possível o técnico se dirigir a todas as propriedades rurais. As
ações dos extensionistas devem se concentrar no deslocamento e na reunião dos
produtores familiares em um determinado local para que assim as informações
possam ser difundidas entre todos ali presentes. O professor pondera que,
posteriormente, essas informações tendem a se disseminar entre outros
agricultores do município, num processo que contribui para que o trabalho de
extensão seja satisfatório.
Eu sou da opinião...eu acredito que sim, que seja suficiente o número de
técnicos da EMATER, porque cada cidadezinha tá tendo o seu escritório
da EMATER. Agora não adianta também esses caras da EMATER
quererem resolver todos, pegar todos os produtores, isso é um trabalho
de fermento, ele tem que montar um trabalho de fermento, ele tem que
chamar alguém, os produtores pra um determinado local pra se unirem,
ele não tem como ir em todas as fazendas (T., professor universitário).
Outro fator que colabora para a ineficiência da extensão rural na RSMG,
segundo um dos pesquisadores, é a burocracia presente na estrutura dos órgãos
de extensão. Para esse entrevistado, entre as atividades designadas aos cnicos,
destaca-se o exercício do trabalho de assistência junto aos agricultores
familiares, além de serem responsáveis pela freqüente elaboração de relatórios.
Assim sendo, a estrutura burocrática se mostra inadequada diante do número de
técnicos habilitados para atuar no município e do volume de atividades a serem
desempenhadas pela sua função, como nos mostra o relato a seguir:
90
se pega o técnico da EMATER, preso a uma burocracia, tem que
fazer relatório, tem que fazer isso, tem que fazer aquilo. E a assistência
técnica?Entendeu? Ele tinha um dia pra fazer assistência técnica e um
dia pra preencher relatório, entendeu? Muito burocrático (R
2
.,
pesquisador).
Além desse fato, um professor universitário declara que o trabalho dos
extensionistas vem sendo criticado, por apresentar uma forma de ação
assistencialista junto aos produtores familiares. Ou seja, o trabalho dos técnicos
é considerado, por esse entrevistado apenas como um favor oferecido aos
agricultores - principalmente quando se trata de facilitar o acesso ao crédito -
visando apenas resolver problemas a curto prazo, não conferindo aos projetos
desenvolvidos a continuidade necessária para o alcance do desenvolvimento
regional.
(...) EMATER faz um trabalho, mas um trabalho mais assistencialista. E
eu acho que esse trabalho, essa política do governo de agricultura é
muito mais assistencialista do que qualquer outra coisa. É dar dinheiro
para o produtor rural, botar dinheiro pra ele e muitas vezes esse
produtor rural nem pega esse dinheiro, ele tem medo de pegar (...)(R.,
professor universitário).
Diante dos depoimentos da maioria dos entrevistados, com a falta de um
trabalho de extensão mais ativo por parte dos técnicos na região, surgem outros
atores sociais a fim de proporcionar uma “assistência” aos agricultores
familiares, aproveitando um espaço não ocupado pelos extensionistas. Nesse
contexto, os chamados “atravessadores” buscam oportunidades de trabalho
tendo a prática comercial de agrotóxicos, equipamentos de irrigação, etc como
mercadorias. Para dois pesquisadores, as empresas que atuam no setor, em
grande parte, estão focadas no lucro, se esquecendo muitas vezes dos princípios
éticos que regem a sociedade, não orientando o produtor sobre os cuidados
91
essenciais com ele mesmo e com o meio ambiente. Essa exploração sofrida
pelos agricultores familiares, segundo esses entrevistados, é preocupante, pois
pode lhe acarretar problemas de saúde, além de altos custos de produção,
inviabilizando a sustentabilidade de suas atividades.
Existe também um mercado grande de agroquímicos que a gente
percebe, vamos dizer assim, o interesse é muito comercial. (...)Como se
diz, venda de agroquímicos por várias empresas, que vamos dizer
assim, que tem como fonte de renda a venda de agroquímicos. Existem
também pessoas idôneas, empresas idôneas, extensionistas idôneos. Mas
a gente tem visto, de certa forma, uma exploração, se a gente colocar
dessa forma, com relação ao pequeno produtor, que fica muitas vezes à
mercê de pessoas que vão e batme na porta da propriedade vendendo
agroquímico. Muitas vezes, a gente que grande parte de
recomendações desnecessárias abusivas e sem cuidado nenhum com
ambiente, com a saúde do trabalhador, gerando um custo a mais na
atividade desse produtor (R
1
., pesquisador).
O pessoal da banana e do morango na região de Pouso Alegre (...)
quem toma conta deles é vendedor, vendedor de insumo, vendedor de
veneno, vendedor de equipamento de irrigação, porque é irrigado
(...). Quem que assistência pra eles? É o vendedor de equipamento
irrigação, é o vendedor de veneno, é o vendedor de adubo, é quem
assistência pra eles (R
2
., pesquisador).
Portanto, diante dessa problemática percebida pelos pesquisadores e
professores universitários, sobre a extensão rural na RSMG, torna-se necessário
identificar como vêm sendo os mecanismos de intervenção utilizados pelos
extensionistas para atuar junto aos agricultores familiares a fim de promover o
desenvolvimento local, na percepção dos entrevistados desse estudo.
Analisando as opiniões dos entrevistados quanto às estratégias de
intervenção utilizadas pelos técnicos, nota-se que os mecanismos de intervenção
têm um caráter mais participativo do que convencional (Quadro 7).
92
QUADRO 7 Os mecanismos de intervenção utilizados pelos técnicos na
atuação junto aos produtores familiares da RSMG, na opinião de
pesquisadores e professores universitários, 2007.
Atores Sociais
Forma de
Intervenção
Convencional
Forma de
Intervenção
Participativa
Justificativas
PE (n 3)
PU (n 2)
-
X (n 5)
- ouvir os produtores;
- procurar levantar as
demandas dos
produtores familiares.
PU (n 4)
X (n 4)
-
-facilidade de ação
-sempre funcionou,
funciona até hoje e dá
certo.
Fonte: Dados da pesquisa
n = número atores sociais que opinaram sobre as formas de intervenção
convencional ou participativa.
PE = Pesquisador/PU = Professor universitário
Na percepção de todos os pesquisadores entrevistados, o papel dos
técnicos junto aos agricultores familiares é educacional, ou seja, os técnicos
procuram ouvi-los e orientá-los nas soluções de problemas. Para dois
pesquisadores, há um interesse dos extensionistas em estar participando de
eventos, de estar levantando as demandas dos produtores a fim de atender às
suas reais necessidades. Desse modo, uma das iniciativas dos agentes é analisar
o local, contribuindo, por exemplo, para a implantação de melhorias no processo
de produção; redução de custo de produção; análise de solo, controle
fitossanitário, entre outros, conforme os depoimentos abaixo:
(...)a gente procura estar sempre em contato tanto com a extensão como
com o produtor, no sentido também de estar levantando demandas. A
gente procura em encontros, eventos que a gente está participando (...)
estar sempre atento às demandas que passam a existir. Eu vejo assim,
hoje a extensão é muito saudável (R
1
., pesquisador).
93
É, é uma análise, o que eles [produtores familiares] fazem, como eles
fazem, e como tentar melhorar aquilo ali pra que ele possa reduzir o
custo e aumentar o seu lucro. Atingir determinados mercados, uma
análise de solo se faz ou se não faz, um acompanhamento, um controle
fitossanitário, o uso de equipamentos de proteção, uma
regulagem...(R
2
., pesquisador).
Esse ponto de vista é reforçado por dois dos professores universitários
entrevistados, pois acreditam que os extensionistas têm se preocupado em
organizar os produtores em torno de associações e cooperativas de produtores,
indicando para os agricultores familiares que somente com a união eles
conseguirão melhorias significativas tanto para a compra de insumos, quanto
para a venda do produto ao mercado.
(...) eles [extensionistas] tão tentando juntar as comunidades,
tentando fazer um trabalho nesse sentido (T., professor universitário).
(...) pelo que a gente e pela experiência que a gente teve eu acho
que principalmente nesse tipo de produtor que é a agricultura familiar,
pequeno produtor, baixo investimento, eu acho que o foco desses órgãos
de assistência cnica m sido interessante. (...)Um pouco mais
participativo (R., professor universitário).
As organizações de produtores são percebidas pelos entrevistados, como
instrumentos importantes capazes de contornar problemas que emergem nas
novas relações campo-cidade; de satisfazer necessidades de recursos; e elevar o
poder de negociação dos produtores rurais. Para os entrevistados, a união dos
agricultores familiares em torno de um objetivo comum seja por meio de
cooperativas ou de associações tende a proporcionar melhorias tanto na infra-
estrutura do produtor, na qualidade dos produtos diversificados, quanto no
volume da produção.
94
Organizar é tudo(...) Eles [produtores familiares] se unem em torno da
solução de um problema em comum (M., professor universitário).
Eu não tenho dúvida que o caminho pro pequeno produtor,
principalmente quando se pensa em diversificação, é organização.
(...)Ele não tem volume, ele não tem recurso pra investir no marketing,
pra conquistar um mercado (...) Então você tem que agregar valor,
você tem que organizar, porque você vai ter uma pequena produção
(R
2
., pesquisador).
Segundo a opinião de dois professores, esses benefícios somados com o
aumento do poder de barganha do produtor familiar, que diversifica sua
propriedade, fazem com que eles encontrem nas organizações de produtores uma
maior facilidade de comercialização, o que s garante competitividade e maior
segurança com relação à venda de sua produção. Nesse sentido, esses
entrevistados acreditam que o ingresso dos agricultores familiares em alguma
dessas organizações existentes se torna determinante para a manutenção da
agricultura familiar nos dias atuais.
(...)um processo de diversificação (...) acaba você tendo, formando uma
escala de produção que vai, atende a um determinado nicho, a um
determinado mercado. Aí, é importante a associação dos produtores, ou
uma organização a que a estrutura esteja vinculada, para estar fazendo
essa ponte, andando nesse sentido (E., professor universitário).
Não tem saída pro pequeno produtor, é essa ou não tem outra, não tem
outra saída. Se eles não se unirem na forma de cooperativa, em forma
de associação, não sei, eles não vão pra frente porque não ninguém
que vai querer discutir com o produtor que produz 15, 20, 30 litros de
leite. Agora, se eles estão produzindo 3000 litros de leite, o olho cresce,
o poder de barganha aumenta (T., professor universitário).
Com relação à atuação dos extensionistas, os demais professores
universitários entrevistados, a apontam como convencional, sendo essa postura
95
caracterizada tanto como positiva quanto negativa pelos mesmos. O papel
tutorial dos extensionistas é positivo, na percepção dos professores, no sentido
de que a intervenção participativa requer uma habilidade maior desses agentes,
sendo mais indicada, por essa razão, a intervenção convencional. Nessa forma de
ação, os professores ponderam que os técnicos procuram adequar as informações
consideradas essenciais, à realidade dos agricultores familiares, o que independe
da análise das características intrínsecas de uma determinada comunidade. Mas,
mesmo diante desse fato, o mecanismo de intervenção convencional é o mais
comum e vem dando resultados, conforme o depoimento abaixo:
A pesquisa participativa, eu acho difícil. Eu já tentei algumas vezes, não
deu certo. Ela é muito complicada. Eu acho que o sistema que está aí,
no meu modo de ver, é o mais correto, ou seja, nós geramos a
informação e tentamos adaptar a informação pra eles. Na verdade,
quem vai adaptar são eles mesmos, eles vão pegar aquele conjunto de
informação e ver daquele conjunto de informação o que é mais útil pra
eles[produtores familiares]. (...)Funcionou assim no passado e funciona
até hoje (M., professor universitário).
o ponto de vista negativo com relação à intervenção convencional, é
enfatizado pelos professores universitários como o sendo o melhor método
para se promover o desenvolvimento regional. De acordo com a visão dos
professores, os extensionistas, intervindo de modo mais participativo, realizando
um diagnóstico regional, teriam a possibilidade de identificar problemas e suas
causas e agir sobre eles juntamente com os agricultores familiares. Dessa forma,
os professores acreditam que, os profissionais de extensão estariam atendendo às
demandas levantadas pelos produtores, bem como, contribuindo para que
mudanças fossem implementadas com sucesso.
Contudo, na opinião de um dos professores universitários, os técnicos,
de uma maneira geral, não estão capacitados para exercer um papel educacional
96
dentro das comunidades. Assim, esse professor considera importante habilitá-los
para que possam elaborar projetos e estratégias que visem, por exemplo,
incentivar a diversificação na agricultura familiar, propondo alternativas viáveis
à realidade de cada propriedade.
Eu acho que poderia ser mais participativa, mas talvez... eu acho que a
estrutura teria que mudar um pouco(...) Eu sei que os técnicos da
EMATER fazem treinamento disso, fazem treinamento daquilo, mas eu
não sei se eles fazem treinamento para administrar essa questão de
diversificar a produção na agricultura familiar. É isso! E,quer dizer,
não sei se eles próprios estão capacitados a elaborar um programa
muito bem feito pra cada produtor. Eu acho que os próprios técnicos
deveriam ser mais treinados é(...) eu acho que as vezes não é muito só a
parte técnica da cultura, etc. É uma questão da administração da
propriedade, de conjugar, culturas que tenham tempos diferentes...(S.,
professor universitário).
Nesse sentido, um dos pesquisadores declara que a EPAMIG tem uma
proposta interessante de fazer uma parceria com a EMATER, com o objetivo de
treinar e capacitar os técnicos para que a transferência de tecnologia, por
exemplo, seja mais bem repassada aos produtores familiares. Essa iniciativa,
segundo esse pesquisador, é chamada de “treino, visita, treino” e vem se
desenvolvendo no estado do Paraná, sendo uma experiência válida para as
demais regiões do país. Esse programa de capacitação técnica pretende formar
especialistas em determinadas áreas, culturas, no intuito de atender às demandas
regionais dos agricultores e minimizar as dificuldades enfrentadas pela extensão,
conforme a percepção do entrevistado:
Então nós estamos com a proposta e queremos fazer junto com a
EMATER. No Paraná está funcionando bem, então temos essa
experiência (...). Então, nós vamos fazer o seguinte: nós vamos fazer
o programa de capacitação desse técnico da EMATER, certo?Então
esse técnico da EMATER, esse ou esse, uns três ou quatro, eles vão ser
capacitados. Então, de tempo em tempo, um técnico nosso, um
97
pesquisador da área de solos, um da irrigação, um do controle de
pragas, vai lá e vai capacitando eles. Então treina, visita e treina. Aí ele
vai...Então você vai ter lá um extensionista da EMATER especialista em
morango. Então quando tiver problema lá, ele vai estar no dia a dia
vai resolver. Então é um treino e visita. Então eu acho que o caminho é
mais ou menos esse!(R
2
., pesquisador).
Portanto, diante dos depoimentos sobre a atuação do trabalho dos
técnicos, compreende-se que a EMATER, como órgão de extensão, vem
desempenhando seu papel, porém, de uma forma mais lenta, devido à sua
estrutura burocrática e ao reduzido quadro de pessoal pertencente à instituição.
O caráter assistencialista da extensão vem reforçar a falta de um órgão dinâmico
para atender às necessidades atuais dos produtores familiares.
Algumas dessas deficiências encontradas no processo de assistência
rural poderiam se minimizadas com programas de capacitação voltados à
habilitar os agentes de extensão para atuarem juntamente com os agricultores,
nas soluções de problemas, bem como na implantação de novas atividades, de
tecnologias, etc.
Por conseguinte, os técnicos devem empregar mecanismos de
intervenção mais participativos, a fim de estimularem a organização, a
participação, e o envolvimento dos agricultores familiares, fazendo com que se
tornem “sujeitos” e não apenas “objetos” na promoção do desenvolvimento
regional.
Após toda uma discussão sobre a diversificação da agricultura familiar
no Sul de Minas, que envolveu os fatores favoráveis e os fatores limitantes; a
influência do “tradicionalismo” e da “emigração dos filhospara a implantação
das estratégias de diversificação; e a atuação dos técnicos junto aos agricultores,
o próximo passo será a análise de convergência ou divergência de opiniões entre
os pesquisadores, professores universitários e a percepção dos atores sociais
estudados nas pesquisas anteriores.
98
4.6 Análise de convergência ou divergência de opiniões dos diferentes atores
sociais, sobre a diversificação da agricultura familiar na RSMG
Nesta seção serão apresentadas as percepções comuns e contrárias entre
pesquisadores, e os atores sociais dos estudos anteriores
‡‡‡‡‡
, que são as
lideranças de produtores familiares, técnicos e representantes do governo local.
A aplicação desse tipo de análise se justifica por ser fundamental o
conhecimento das diferentes percepções para a elaboração de estratégias e ações
que realmente beneficiem os produtores familiares. Dessa forma, torna-se
importante o conhecimento da opinião de todos os atores sociais envolvidos nos
estudos que abordaram a diversificação como uma alternativa para o
desenvolvimento da agricultura familiar na RSMG, a fim de se estabelecer um
consenso e superar o discenso existente entre eles.
Inicialmente, serão analisadas as divergências e convergências com
relação às percepções a respeito da diversificação como fator favorável ou
limitante. Posteriormente, serão apresentadas as principais atividades
desenvolvidas e as melhores alternativas para a diversificação. A atuação dos
técnicos na região finalizará a seção.
De modo geral, a diversificação é vista como favorável pelos produtores
familiares, técnicos, representantes do governo local, pesquisadores e
professores universitários por proporcionar alternativas de renda para o produtor
familiar (Figura 11). Os professores e os atores sociais, dos estudos anteriores,
concordam que a diversificação representa uma estratégia para diminuir os
riscos da monocultura como principal fonte de renda do agricultor familiar, lhe
proporcionando segurança quanto às oscilações de preço de um único produto.
Pesquisadores e os atores dos estudos anteriores acreditam que a diversificação
pode ser vista uma forma de gerar emprego e renda para os produtores que, por
sua vez, passarão a ter acesso a recursos de que antes não dispunham. Os
‡‡‡‡
Ver Simão (2005) e Ferreira (2007).
99
pesquisadores e professores universitários concordam que criar oportunidades de
desenvolvimento para os produtores se manterem no campo, evitando, dessa
forma, o êxodo rural, é também um fator que caracteriza a diversificação como
favorável. Isso porque o desenvolvimento não deve ser visto apenas pelo seu
aspecto de crescimento econômico, mas também considerando os aspectos
sociais e políticos.
Os professores universitários afirmam ainda que a diversificação tende a
proporcionar ao agricultor entradas de renda em diferentes períodos do ano,
garantindo a sobrevivência familiar. Os pesquisadores consideram que a
diversificação é uma forma de empregar a mão-de-obra ociosa do campo. Os
atores sociais dos estudos anteriores acreditam que a diversificação poderá trazer
liberdade de escolha aos produtores e melhoria da qualidade de vida.
Entre as principais alternativas para a diversificação agrícola na região, a
fruticultura foi a mais indicada consensualmente (Figura 12). A pecuária, o
feijão e a floricultura surgiram nos discursos dos professores universitários e
pesquisadores. Os pesquisadores consideram a apicultura e o arroz como boas
alternativas e os professores universitários consideram a horticultura e o milho.
Os atores sociais dos estudos anteriores indicaram a piscicultura como uma
atividade possível, sendo a melhor alternativa para a diversificação da região
(Figura 12).
100
FIGURA 11 Diversificação como fator favorável ao desenvolvimento da agricultura familiar da RSMG, na opinião dos
atores sociais dos estudos anteriores, dos pesquisadores e professores universitários.
Professor Universitário
-
Permite trabalhar
com diferentes
períodos do ano
-Melhoria na
qualidade de vida
Atores dos estudos anteriores
-Torna a mão-de-obra
menos ociosa
Pesquisador
-
Alternativa de
renda
- Segurança
-Redução de
riscos
-Cria
oportunidades
desenvolvimento
-Geração de
empregos
100
101
FIGURA 12 Alternativas para diversificação agrícola, na concepção dos pesquisadores, dos professores universitários e
dos atores sociais dos estudos anteriores.
Professor universitário
Pesquisador
Atores dos estudos anteriores
-Horticultura
- Milho
-Fruticultura
-Piscicultura
-Pecuária
-Feijão
-Floricultura
-Apicultura
-Arroz
101
102
O turismo rural foi entre as principais alternativas para a diversificação
rural na região, a mais apontada pelos entrevistados desse estudo como dos
estudos anteriores (Figura 13). Professores e pesquisadores consideram a
“agroindústria do produtor” como a atividade mais indicada. A “grande
agroindústria” foi mencionada nos depoimentos dos pesquisadores, e o
artesanato na visão dos professores universitários.
As cinco categorias de entrevistados avaliaram a diversificação como
uma estratégia favorável ao desenvolvimento da agricultura familiar do Sul de
Minas, como foi realçado nas discussões anteriores. Todavia, essa convergência,
não impediu que, professores e pesquisadores identificassem fatores que podem
reduzir a eficácia dessa estratégia (Figura 14). Nesse caso, a interpretação dessas
duas categorias de atores sociais convergem ao indicar a “falta de apoio” dos
órgãos de extensão, do governo e mesmo da iniciativa privada ao produtor
familiar, “a falta de conhecimento”, o “tradicionalismo”, “emigração dos filhos”,
“a estrutura viária” e o “clima” como fatores limitantes. Mas divergem entre si
quando os pesquisadores apontam a “dificuldade de comercialização devido ao
pequeno volume de produção”, o “aumento de renda insignificante” e o custo de
implantação de “energia elétrica” nas propriedades familiares como fatores que
limitam a diversificação, e os professores universitários ponderam o “relevo”
como um fato limitante (Figura 15). Os atores sociais dos estudos anteriores não
tiveram uma opinião consensual com relação aos fatores que limitam a
diversificação, na região. A interpretação dos técnicos e produtores familiares
convergiu ao indicar a “ineficiência produtiva” que a diversificação pode
ocasionar pela implantação simultânea de várias atividades, como um fator
limitante. Os representantes do governo local não apontaram um fator que
pudesse limitar a diversificação (Figura 15).
103
FIGURA 13 Alternativas para diversificação rural, na concepção dos pesquisadores, dos professores universitários e dos
atores sociais dos estudos anteriores.
Professor universitário
Pesquisador
Atores dos estudos anteriores
-Artesanato
-“Grande
Agroindústria”
-“Agroindústria
do produtor”
-Turismo rural
103
104
FIGURA 14 Diversificação como fator limitante ao desenvolvimento da agricultura familiar da RSMG, na opinião dos
atores sociais dos estudos anteriores, dos pesquisadores e professores universitários.
Professor universitário
Pesquisador
Atores dos estudos anteriores
-Ineficiência produtiva
-Dificuldade de
comercialização
- Aumento de renda
insignificante
-Energia elétrica
-Clima
-Falta de apoio e
conhecimento
-Tradicionalismo
-Estrutura viária
Emigração dos filhos
-Relevo
104
105
Quanto à forma como atuam os técnicos na RSMG, foi possível perceber
por meio das análises, a falta de um consenso existente entre as opiniões dos
entrevistados (Figura 15). Os pesquisadores acreditam que o trabalho dos
técnicos é fundamentado em uma “intervenção participativa”, havendo uma
preocupação em saber ouvir os produtores, bem como em atender suas
necessidades e interesses. Pesquisadores e atores dos estudos anteriores
concordam que os extensionistas procuram “orientar os produtores na busca de
novas atividades, de tecnologias, de recursos”, etc. Os atores sociais dos estudos
anteriores ainda apontam que o trabalho da extensão vem sendo realizado com a
“prestação de assessorias nas lavouras “e com a “oferta de cursos de
capacitação” aos produtores (Figura 15).
Professores e os atores sociais dos estudos anteriores percebem o
trabalho dos técnicos como tutorial, ou seja, o modo de intervenção utilizado
para atuar junto aos produtores familiares é “convencional”. Não foi possível
nos discursos desses entrevistados, identificar uma preocupação dos técnicos
sobre a importância da participação dos produtores durante a realização de um
diagnóstico que apresente as limitações e potencialidades regionais, nem na
definição de estratégias a fim de eliminar ou minimizar os obstáculos e melhor
aproveitar as potencialidades e no processo de controle e avaliação das
atividades. Para os professores, o trabalho dos cnicos é visto como
“assistencialista”, ou seja, é caracterizado por apenas resolver problemas a curto
prazo, não conferindo aos projetos desenvolvidos a sustentabilidade necessária
para o alcance do desenvolvimento regional. Pesquisadores e professores
concordam que a atuação dos técnicos na região é “fraca” devido ao pequeno
número de extensionistas habilitados por município e à burocracia existente na
estrutura dos órgãos de extensão (Figura 15).
Pode-se perceber que a forma como os atores sociais envolvidos no
presente estudo e nos estudos anteriores interpretam a realidade em que vivem,
106
assume significados distintos, em virtude dos diferentes valores, crenças,
experiências e interesses desses atores. No planejamento de estratégias de
intervenção, essa diferença de percepção deveria ser levada em consideração.
107
FIGURA 15 Atuação dos técnicos, na opinião dos atores sociais dos estudos anteriores, dos pesquisadores e professores
universitários.
Professor universitário
Pesquisador
Atores dos estudos anteriores
-Intervenção convencional
-
-Intervenção
participativa
-caráter assistencialista
-Orientam
a busca de
recursos,tecnologias,
novas atividades
-Prestam assessorias nas lavouras
- Oferecem cursos de capacitação
-Fraca atuação na
região
107
108
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De maneira geral, a diversificação é percebida, tanto pelos atores sociais
envolvidos neste estudo, quanto pelos atores dos estudos anteriores, como
favorável ao desenvolvimento da agricultura familiar na RSMG. A
diversificação é caracterizada por proporcionar aos agricultores familiares
alternativas de renda, dando-lhes segurança em relação às oscilações de um
único mercado, minimizando os seus riscos, e garantindo sua permanência no
campo, evitando dessa forma, o êxodo rural.
A diversificação agrícola foi caracterizada como um fator favorável, de
forma consensual entre os entrevistados. De acordo com as opiniões dos atores,
foi possível identificar a fruticultura como a atividade mais propícia à
diversificação agrícola nas propriedades familiares, devido à presença na região,
de agroindústrias especializadas no processamento de doces e polpas, como é o
caso da Frutilavras, podendo assim agregar valor ao produto, além de ser uma
atividade adaptável ao clima da região. Entre as frutas mais mencionadas, sendo
apontadas pelos pesquisadores, destaca-se o figo e a goiaba por possuírem maior
viabilidade de exploração na região.
A diversificação rural foi ponderada pelos entrevistados como favorável,
porém ainda pouco explorada na região, pela falta de conhecimento e
capacitação dos produtores. A “agroindústria do produtor” foi mencionada pelos
pesquisadores e professores, como a principal atividade para a diversificação
rural. A análise dos discursos dos atores desse estudo e dos estudos anteriores
permitiu identificar uma convergência de percepções apontando também o
turismo rural como uma possível alternativa para a diversificação rural das
propriedades familiares.
109
Com relação às melhores alternativas indicadas para a diversificação
pode-se perceber que nem sempre o que é considerado melhor para os
produtores na opinião dos próprios produtores é visto da mesma forma pelos
técnicos, representantes do governo local, pesquisadores e professores
universitários. Isso pode ser explicado pelo fato de esses atores possuírem
experiências, valores e crenças diferenciadas e situarem-se em diferentes
contextos guiados por diferentes objetos de orientação para a formação de sua
percepção.
Os objetos de orientação ponderados na avaliação da diversificação
como favoráveis, foram classificados em edafoclimáticos, infra-estruturais e de
localização. O clima, o solo e o relevo, foram mencionados pelos pesquisadores
e professores como os principais fatores edafoclimáticos presentes na região. Já
entre os fatores infra-estruturais e de localização, os entrevistados desse estudo
destacaram a localização, pelo fato da RSMG estar próxima dos portos e dos
grandes centros consumidores do país, e a estrutura viária, que por ser de fácil
acesso, possibilita o escoamento da produção.
Todavia, algumas limitações também foram identificadas pelos
professores e pesquisadores, reduzindo assim o potencial de desenvolvimento
dos fatores edafoclimáticos, infra-estruturais e de localização. Os depoimentos
apontaram a falta de apoio dos órgãos de extensão; o relevo por dificultar o
plantio de certos produtos; a estrutura viária, sendo um entrave ao escoamento
da produção diante da infra-estrutura precária das estradas, e o clima, por
restringir o cultivo de determinados grãos a somente uma época do ano, como
fatores limitantes à diversificação na região. No entanto, esses dois últimos
fatores limitantes também foram interpretados por outros atores, como foi
referido acima, como fatores favoráveis à diversificação.
Além desses fatores limitantes, o tradicionalismo e a emigração dos
filhos, foram ponderados também como fatores que possuem um potencial para
110
restringir o desenvolvimento da diversificação na região. O tradicionalismo é um
fator cultural intrínseco nas relações sociais da agricultura familiar na RSMG, no
qual as práticas de cafeicultura e de pecuária leiteira são repassadas de geração a
geração. O predomínio de atividades tradicionais, como ca e leite, torna os
produtores familiares resistentes à diversificação, devido às benfeitorias
existentes nas propriedades, a infra-estrutura regional para o beneficiamento e a
comercialização dos dois produtos, inibindo de certa forma à adoção de
inovações tecnológicas. A emigração dos filhos foi percebida como limitante
pelos pesquisadores e professores pelo fato de que hoje, os filhos estão cada vez
mais interessados em estudar, aperfeiçoar e ter um trabalho urbano, diferente do
que ocorria no passado, onde os filhos, uma mão-de-obra muito importante na
agricultura familiar, acompanhavam e ajudavam seus pais nas plantações.
Com relação ao trabalho dos extensionistas, observou-se que a maioria
dos entrevistados considera a atuação dos técnicos convencional, ou seja, os
técnicos exercem um papel tutorial, não se preocupando com a participação dos
produtores, no processo de tomada de decisão, que vai desde o diagnóstico
regional até a avaliação e controle de todo o processo. Nessa modalidade de
intervenção as idéias o impostas aos produtores de “cima pra baixo”. Somente
os pesquisadores acreditam que o papel dos técnicos é participativo-educativo,
onde os extensionistas procuram ouvir, levantar as necessidades, bem como
orientar os agricultores nas soluções de problemas.
Diante dos resultados apresentados nesse trabalho, pode-se inferir que a
organização dos produtores, em torno de associações ou cooperativas, torna-se
necessária diante no cenário que os agricultores familiares estão inseridos. A
conscientização da importância do trabalho cooperativo e da participação é
fundamental para que possam exercer a cidadania, adquirindo maior poder de
reivindicação e negociação, que podebeneficiá-los na implantação de novas
atividades conforme seus interesses e necessidades. Nesse sentido, os técnicos
111
devem procurar desenvolver metodologias mais participativas de intervenção,
como o diagnóstico participativo, pois na maioria das vezes, são os
extensionistas que atuam promovendo essa conscientização dos produtores.
Pode-se concluir que, a interpretação dos entrevistados em relação à
diversificação como uma estratégia de desenvolvimento da agricultura familiar
na RSMG, justifica o uso da teoria da ação social nesse trabalho, visto que esses
fatores são determinados tanto pela estrutura como também pelos fatores
subjetivos que regem as ações dos produtores familiares.
Uma possível sugestão para novos estudos seria desenvolver um
trabalho que envolvesse professores de diferentes instituições de ensino e
pesquisadores de instituições de pesquisa situadas em outras localidades, visto
que a RSMG é considerada uma região com características diversas e peculiares
devido à sua extensão. Nesse estudo, por causa das questões relativas ao tempo e
recursos, não foi possível trabalhar com diferentes instituições e municípios.
112
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