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E: Sim filha de santo, raspada, na Umbanda eu, como, né, recebia os orixás, agora no Candomblé agente já fala
virar no santo, entendeu, eu virei no santo no Candomblé, na Umbanda eu recebia mesmo também, mas
nenhuma das duas, quando eu precisava de alguma coisa não me atendia, então era só pros outros, então já que é
pra fazer só pros outros eu não quero, quero uma coisa que eu possa me ajudar. É que nem seu eu pedir pra
Deus, ai senhor ajude a minha amiga, mas me ajude também, ele vai ajudar minha amiga e vai me ajudar
também. Agora não eu quero que o senhor ajude minha amiga, tá, quando eu peço pra ajudar a mim, não vai me
ajudar, não então essa parte... Aí eu fui desencantando, achando que... eu não desacredito entendeu.....
P: Permanece acreditando......
E: Que o espiritismo existe sim, que no Candomblé a pessoa virá no santo sim, que na Umbanda a pessoa recebe
um orixá sim, eu acredito sim, entendeu, eu acredito porque eu recebia, entendeu, então eu sei, mas pra mim ir
nem passa mais pela minha cabeça.
P: E essa idéia, vamos dizer que as vezes as igrejas evangélicas, neopentecostais passam de que a Umbanda e o
Candomblé é do diabo, é uma coisa ruim. Isso passaram pra você, tentaram passar em algum momento, ou não.
E: Na igreja?
P: É, ou mesmo sua família, irmã, seu cunhado que participavam.
E: Não, eu vou te falar pra você a minha família, a respeito a mim com respeito a religião deles e a minha
maneira de ser é uma coisa assim extraordinária, porque eles não me forçam a nada, eles não me obrigam a
nada. A minha irmã faz o quê, meu cunhado faz o quê? Oh! Vai na igreja! Eu falo tá. Somente! Não de ficar o
CR posso abrir uma campanha na sua casa, de culto. Pode abrir uma campanha na minha casa. Mas se eu falar
não. Ocha, mas deixa eu quero! Ou vir me buscar, dizendo você vai pra igreja! E eu tenho que ir pra igreja. Não
nunca teve isso. Entendeu. Que nem eu realmente na rua a um tempo atrás antes deu ir presa eu mexia com
trafico, como eu já fui presa outra vez. Entendeu? E eles mesmo eles sendo evangélicos eles nunca me
censuraram a respeito de nada. Nunca foram contra mim, entendeu. Chegar em mim e me recriminaram, não!
Eles não acham certo, mas eles também não me recriminam. Por que eles já sabem eu tô pagando pra justiça e só
Deus que sabe o que a gente já sofre aqui dentro, entendeu? Então eles não me recriminam em nada e não tem
esse negócio de querer me obrigar a ir na igreja, não! Que nem as vezes numa vez foi um grupo de pagode na
igreja que meu cunhado é pastor, né, e inclusive a mulher do cara que era um dos pagodeiros, agente era amiga
de salão de baile, de fumar baseado junto, e foi ela , foi o marido dela, e eu falei nossa que firmeza Edna você é
evangélica, né . Ela disse você também? Eu falei, não, eu vim aqui porque minha irmã me chamou. E Ela já tinha
se convertido, entendeu. Ai eu falei. Então eu quero, eu quero me entregar a Deus assim, eu quero corpo, alma,
espírito e coração, por completo. Enquanto não for por completo eu não quero. Eu não quero! Mas eu quero que
seja num lugar assim, que eu possa dançar, que eu possa cantar, que seja em ritmo de pagode. Não interessa
como você louva a Deus, o importante é que você está louvando e você orar do jeito que você souber orar, eu
acho que Deus escuta, se é que você está falando com ele, ele te escuta, entendeu? Não precisa tá com uma saia
no pé ou com um véu na cabeça e como tem muitas que fazem isso, mas elas tão ali só de enfeite, entendeu? Ela
tão ali só de enfeite. E Deus sabe quando ela tão ali só de enfeite, então é assim que eu penso, eles nunca me
obrigaram a nada.
P: Você já pensou na possibilidade de ter a Umbanda aqui dentro, ou um grupo do Candomblé, como tem dos
outros grupos religiosos. Fala um pouco disso pra mim.
E: Eu pensar em ter aqui, eu nunca pensei, entendeu? De eu entrar, por que eu tenho certeza que deve ter sim,
mulheres presas aqui que são da religião Espírita, Umbanda ou Candomblé.
P: Tá, mas vir o grupo, fazer atividade
E: Não, não tem. Isso não tem.
P: Você já ouviu alguém comentando que gostaria que tivesse essas religiões aqui dentro?
E: Não isso eu nunca ouvi ninguém comentando.
P: E você pensa o que sobre isso, de nunca ninguém ter pensado nisso. Ninguém gosta, tem gente que é, mas
também não liga de pedir pra vir fazer a visita.
E: Eu acho que eles num vem, não é por causa das presas não pedirem, eu acho que é por que eles não querem.
Porque eu acho que se eles conseguissem viessem aqui falassem com a diretoria que queria um espaço, como
tem pra evangélico, tem pra católico, eles queriam um espaço pro espiritismo, que tem gente que é dessa
religião, que segue. Umbanda, Candomblé, eu acho que aconteceria, poderia, porque como eu falei pra você da
outra vez na casa de detenção tinha, entendeu! Aqui não é. E as presas também não. Sei lá.
P: Nunca teve ninguém pedindo.
E: Nunca vi tocar no assunto que queria, nem nada, mas se no caso. Que nem no meu caso se quando eu viesse
presa tivesse ainda nessa religião eu faria um jeito, inventava um jeito inventava uma moda de poder continuar
seguindo a minha religião aqui dentro. Por que cada um faz a sua.
P: Você está no pavilhão dois , né?
E: Três.
P: É, Lá nesse pavilhão você conhece algumas colegas que sejam da Umbanda ou do Candomblé. Não precisa
falar nomes, só falar se conhece ou não.