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Leonardo Vasconcelos Renault
A ciência da informação e sua configuração
epistemológica: análise com base nas linhas de pesquisa
da área
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Leonardo Vasconcelos Renault
A ciência da informação e sua configuração
epistemológica: análise com base nas linhas de pesquisa
da área
Dissertação de mestrado, elaborada
por Leonardo Vasconcelos Renault
sob orientação da Profª Drª Ana
Maria Rezende Cabral.
Belo Horizonte
Escola de Ciência da Informação da UFMG
Junho de 2007
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus. Agradeço também aos meus pais, minha
esposa, nosso (a) filho (a) que está chegando e a todos os meus familiares. Em
especial, agradeço à minha Tia Dade pela inspiração, apesar de não ter
seguido exatamente os seus passos, posto que, em decorrência da inspiração
segue sempre a expiração, que é particular, subjetiva e circunstanciada. À
minha orientadora vai um agradecimento especial, primeiro por me aceitar
como seu orientando no meio do caminho, e como no meio do caminho havia
uma pedra, obrigado por me ajudar a superá-la. Toda a minha banca de
qualificação, que será a mesma da defesa, merece carinho e gratidão também
especiais. Obrigado, professora Isis, pela disponibilidade, carinho, seriedade e
exigência com que você se dispôs a participar de discussões em torno desta
pesquisa. À professora Alcenir meu muito obrigado, sobretudo, por
compartilhar comigo um pouco de seus ideais e projetos no ano de 2006. Pela
inspiração, principalmente quando era minha professora na graduação,
amizade e disponibilidade, agradeço à professora Lídia, com quem adoro
conversar e divagar pelos meandros da ciência da informação. Ao professor
“Casal” com quem tive afinidade desde o momento em que conheci, obrigado.
Professora Guiomar, que bons momentos tivemos nas aulas de epistemologia
do professor Ivan Domingues, não acha? Muito obrigado pelas dicas que você
me deu no início do projeto. De forma especial, ofereço também, minha
gratidão aos professores do “Grupo de Estudos em Biblioteca Escolar”, no qual
tive meu primeiro contato com a pesquisa científica. Agradeço, enfim, a todos
os professores da Escola de Ciência da Informação da UFMG, a qual eu amo
tanto. Minha amiga Andréia, pela força de sempre e pela revisão do abstract
desta pesquisa, receba minha gratidão. Ao amigo de fé, Amílcar, pela revisão
gramatical, meu muito obrigado. Meu caro amigo Ivo de tantas jornadas,
obrigado por estar comigo em mais esta empreitada. Aos amigos e colegas do
mestrado, em especial a André, Joéfisson, Ludmila, Ana Paula, Luciene,
Adélio, Cláudia, Ronaldo, Fabrício, Marcel e aos “botequeiros do doutorado”
(estou incluindo aqui a turma inteira do doutorado). Um agradecimento especial
ao Anderson pela gentileza e presteza com que me atendeu, quando precisei
visualizar o conhecimento através da tela. Ao pessoal da nova turma do
mestrado, que conheço pouco, exceto o Marcos, pois trabalhamos juntos,
gostaria também de explicitar minha gratidão, pelo que virá talvez. Saindo um
pouco da esfera acadêmica, gostaria de agradecer ao pessoal do Movimento
Mundial Mokiti Okada, especialmente ao Reverendo Dario, Ministra Vera,
Ministro Santana, Ministra Wera e demais ministros. Agradeço também aos
amigos do Johvem 3, aos membros e freqüentadores do Johrei Center Carlos
Prates e a todos os membros dessa grande família que tem por objetivo
participar ativamente da criação de um mundo melhor, do qual todos nós
necessitamos tanto.
“Só sabemos com exatidão quando sabemos pouco; à medida
que vamos adquirindo conhecimentos, instala-se a dúvida”.
Goethe
RESUMO
Discute os fundamentos da área de ciência da informação com base nas linhas
de pesquisa da área. Primeiramente empreende-se uma revisão histórica
acerca dos fundamentos da ciência da informação. Em seguida, é feita outra
revisão histórica acerca da constituição das linhas de pesquisa dos cursos de
pós-graduação brasileiros em ciência da informação. Nesse último, aproveita-
se para problematizar a figura do sujeito construtor do conhecimento,
vislumbrado no pesquisador da área de ciência da informação. No próximo
tópico ganha relevância a discussão acerca da adequabilidade do uso, como
referência organizadora para se empreender uma investigação epistemológica,
dos paradigmas e modelos. Nesse primeiro momento, os paradigmas e
modelos são vistos em âmbito geral acerca de sua adequabilidade e validade
nas ciências de modo geral, em especial nas ciências humanas. Sendo esses
tópicos introdutórios e mais abrangentes, partimos para a exposição dos
passos a serem seguidos na análise dos paradigmas e modelos na área de
ciência da informação, explicitando o método a ser seguido. Adiante, identifica-
se paradigmas e modelos na área de ciência da informação tendo as linhas de
pesquisa dos cursos de pós-graduação brasileiros como núcleo de discussão,
comparados e confrontados com a literatura em CI num segundo e terceiro
momentos. Por fim, abre-se espaço para algumas questões e considerações
finais, levantado-se algumas possibilidades e caminhos de pesquisa em torno
do instigante tema de epistemologia da ciência da informação, abrangendo de
modo geral, aspectos teóricos e metodológicos promissores para a área.
Palavras-chave: Ciência da informação; Epistemologia; Linhas de Pesquisa.
ABSTRACT
The fundaments of the information science are discussed based on its trends of
research. Firstly, a historical revision concerning the fundaments of the
information science is undertaken. Secondly, a historical revision on the
constitution of the research trends of the Brazilian post-graduation courses on
information science is done. In the latter, the subject who builds knowledge,
which is perceived in the science information researcher, takes dimension. In
the following topic, the discussion about the suitability of the use of paradigms
and models, as an organizing reference to undertake an epistemological
investigation. In this first moment, the paradigms and models are seen overall
concerning their suitability and validation in the sciences as a whole, especially
the human sciences. As these topics are introductory and broader, we start the
exposition of the steps to be followed in the analysis of the paradigms and
models of the area of the information science, clarifying the methods to be
applied. Later on, paradigms and models of the area of information science are
identified, having the research trends of the Brazilian post-graduation courses
as the nucleus of the discussion, compared and confronted with the literature on
the information science in the second and third moments. Lastly, opportunity is
given for some questions and final considerations, raising some research
possibilities and paths around the instigating subject of the information science
epistemology, comprehending overall, promising theoretical and methodological
aspects for the area.
Keywords: Information Science; Epistemology; Research Trends.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Paradigmas e modelos.....................................................................41
Figura 2 – Objetos paradigmáticos para a ciência da informação...................136
Gráfico 1 – Abordagens em ciência da informação...........................................89
LISTA DE TABELAS
QUADRO 1 – Artigos publicados no Arist sobre história e fundamentos da
ciência da informação........................................................................................73
QUADRO 2 – Linhas de pesquisa (primeira análise)........................................86
QUADRO 3 – Linhas de pesquisa : paradigmas e modelos............................114
QUADRO 4 – Análise da literatura (Capurro) – paradigmas e modelos..........120
QUADRO 5 – Métodos fundamentais de classificação...................................126
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................03
2 ORIGEM E OBJETO DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO................................09
2.1 Epistemologia histórica............................................................................09
2.2 A mesma história.......................................................................................11
2.3 Outras histórias.........................................................................................18
2.4 Quem conta a história: o papel do “demiurgo do conhecimento”.......21
2.5 O fim da história?......................................................................................22
3 AS LINHAS DE PESQUISA DOS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO
BRASILEIROS EM CI.......................................................................................23
3.1 O sujeito na produção do conhecimento: as linhas de pesquisa da
área....................................................................................................................24
3.2 Políticas de construção do conhecimento..............................................28
3.3 O que é a ciência da informação: uma análise a partir de nós
mesmos............................................................................................................33
4 PARADIGMAS E MODELOS.........................................................................37
4.1 Sobre o caráter científico da CI................................................................43
4.2 Paradigmas e modelos tradicionais em CI..............................................47
4.3 Novas possibilidades: paradigmas em transição..................................48
4.4 Considerações preliminares.....................................................................51
5 METODOLOGIA.............................................................................................53
5.1 Sobre Weber...............................................................................................53
5.2 Abordagem metodológica.........................................................................57
5.3 Procedimentos...........................................................................................72
6 PARADIGMAS E MODELOS EM CI..............................................................77
6.1 Análise das linhas de pesquisa................................................................78
6.1.1 Análise das abordagens...........................................................................91
6.1.2 Relações entre as abordagens.................................................................99
6.1.3 Organização da informação....................................................................103
6.1.4 Gestão da informação.............................................................................106
6.1.5 Informação e seu contexto sociocultural.................................................108
6.1.6 Fluxos de informação.............................................................................111
6.2 Análise da literatura (centrado nos paradigmas de Capurro).............115
6.3 Confronto das análises...........................................................................121
7 OUTROS OLHARES SOBRE A QUESTÃO................................................123
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................131
9 REFERÊNCIAS............................................................................................138
ANEXOS..........................................................................................................148
Anexo 1...........................................................................................................148
Anexo 2...........................................................................................................153
3
1 INTRODUÇÃO
A ciência da informação pode ser considerada uma disciplina jovem, um campo
do conhecimento ainda em estruturação. Em princípio, podemos dizer que a
premência pelo desenvolvimento de soluções técnicas impulsionou o
crescimento da CI (ciência da informação). O contexto que envolve o seu
surgimento, que é de pós-guerra (II Guerra Mundial) explica, em parte, esse
desenvolvimento de ferramentas para se lidar com o conhecimento. Sobretudo,
porque foi nesse ambiente que surgiu a tão propalada “explosão da
informação”. Em virtude da ênfase no desenvolvimento de técnicas, a
discussão teórica ficou, inicialmente, relegada a segundo plano. Contudo, a
retomada dessas questões se fez evidente e necessária, resultando no
aumento de trabalhos que abordam o tema.
No entanto, após cadas de seu surgimento e desenvolvimento, a ciência da
informação se diante de alguns dilemas. O principal deles, sem dúvida, é o
estatuto científico da área, ou seja, sua cientificidade. Um problema e uma
questão difíceis de se responderem, que, de fato, possibilitariam mais de uma
resposta.
Na verdade, algumas respostas estão sendo formuladas na tentativa de discutir
essa crucial questão colocada de maneira mais contundente, pode-se dizer,
nos últimos anos do século XX, em especial da cada de 90 em diante.
Institucionalmente, a CI vem ganhando maior espaço, com a criação de alguns
4
cursos de graduação e pós-graduação no cenário brasileiro. Diante disso os
pesquisadores são levados a refletir sobre a especificidade da área e suas
fronteiras com outras disciplinas que também têm a informação como objeto de
análise, resultando em cursos como o de Sistemas de Informação espalhados
pelo país, assim como os de Gestão da Informação e ainda outros como
Engenharia de Produção (com ênfase em Gestão da Informação). Isso sem
falar em disciplinas historicamente relacionadas ao campo de CI como a
biblioteconomia, documentação, comunicação social, computação, lingüística,
administração e outras. Acrescente-se, é claro, o que foi tratado no presente
trabalho que refere-se à ciência da informação como disciplina científica
possuindo campo epistemológico autônomo, embora mantenha conexões com
todas as áreas citadas.
Nesse contexto, a presente proposta visou à discussão dos fundamentos
epistemológicos da ciência da informação através dos elementos observáveis,
que as linhas de pesquisa dos cursos de pós-graduação brasileiros nos
fornecem. Esta proposta se sustenta, quanto à escolha dos cursos de pós-
graduação, no fato de que a CI tenha se desenvolvido no Brasil quase que
exclusivamente nesse nível de ensino, e conseqüente prática de pesquisa.
Muito embora os cursos de biblioteconomia abriguem também pesquisadores
da área de CI, são os cursos de pós-graduação os grandes responsáveis pela
produção de conhecimento voltada para a discussão sobre os fundamentos da
área. Dessa forma, pretende-se contribuir para os estudos empreendidos na
direção da construção de uma epistemologia para a ciência da informação que
5
desse conta de suas especificidades e características fundamentais, em
relação a si mesma e às disciplinas que guardam relação com o seu objeto de
estudo. Assim, a pesquisa teve por objetivo principal discutir os fundamentos
da área de CI, tendo como base a argumentação epistemológica,
considerando-se as linhas de pesquisa dos cursos de pós-graduação
brasileiros em ciência da informação. Além desse, podem ser enumerados, de
forma mais específica os seguintes objetivos:
Identificar paradigmas e modelos que estejam presentes nas linhas de
pesquisa dos programas de pós-graduação brasileiros em ciência da
informação.
Discutir as principais abordagens teóricas da área em analogia à categorização
(representação) de suas linhas de pesquisa.
Dialogar com outros estudos feitos sobre o tema: “epistemologia da ciência da
informação”, com o intuito de contribuir para o avanço nas discussões acerca
desse tópico.
Investigar as linhas de pesquisa que integram os programas de pós-graduação
em ciência da informação no Brasil, constituiu uma tentativa de visualizar a
configuração da área como disciplina científica, escrutinando sua constituição
histórica e os paradigmas e modelos que sustentam as subdivisões da área. A
partir do pressuposto de que seria possível avançar na compreensão da
6
ciência da informação é que se propôs essa discussão epistemológica sobre os
paradigmas e modelos que se refletem nas linhas de pesquisa da área de CI
no Brasil. Segue-se em diante, um caminho diferenciado dos estudos de
sociologia e/ou antropologia do conhecimento, visando à abstração dessa
representação, aproximando-se do plano teórico e, portanto, dos estudos
epistemológicos. Assim, as questões que nortearam esta pesquisa foram: o
campo epistemológico da ciência da informação se encontra bem delineado
pelas linhas de pesquisas da área no contexto brasileiro? paradigmas e
modelos bem estruturados na área a ponto de poderem ser identificados como
tais? As linhas de pesquisa, constitutivas da pós-graduação brasileira em CI,
possuem um núcleo comum de estudos que assegure o seu pertencimento à
mesma área científica?
Na procura de respostas à essas questões fez-se necessário o encadeamento
e a organização dos temas a serem discutidos na dissertação. Assim, iniciamos
o trabalho com uma visão sobre a constituição histórica da ciência da
informação, pautada pelos artigos de revisão do ARIST (Annual Review of
Information Science and Technology)
1
citados por PINHEIRO (1997;2005). Em
seguida, no capítulo três, uma abordagem sobre a constituição histórica das
linhas de pesquisa dos cursos de pós-graduação brasileiros em ciência da
informação. Tendo os temas históricos delineados, partiu-se para a discussão
dos paradigmas e modelos nas ciências em geral no capítulo 4. Dessa forma,
1
Importante periódico de revisão de literatura da área de ciência da informação.
7
pretendeu-se concentrar nesses três primeiros capítulos os aspectos teóricos
e introdutórios que envolvem a pesquisa.
Tendo discutido os aspectos de formação histórica da área de ciência da
informação, bem como de suas linhas de pesquisa, acrescidos da justificativa
teórica acerca da identificação de paradigmas e modelos nas ciências sociais,
o capítulo 5 tratou do método a ser utilizado na presente pesquisa. Em se
tratando de um trabalho teórico, a metodologia empregada se desenvolveu
tendo como aporte a teoria. O capítulo explicitou então a abordagem teórica
utilizada no trabalho, a justificativa de utilização de teorias e autores (em
especial Max Weber) e os procedimentos para análise da literatura e linhas de
pesquisa dos cursos brasileiros de pós-graduação em ciência da informação.
O capítulo 6 tratou do horizonte empírico, ou como preferimos entender, a
possível interseção com o real (em se tratando de um trabalho teórico). A
análise dividiu-se em três momentos: a) análise das linhas de pesquisa, b)
análise da literatura da ciência da informação; e, por fim, c) confronto entre
essas duas perspectivas.
Em seguida, no capítulo 7, foram analisadas outras contribuições e
possibilidades de se abordar o tema de epistemologia da ciência da
informação, pois, dessa forma, pudemos contemplar autores e textos que não
haviam ainda, sido discutidos nesta pesquisa.
8
Por fim, no capítulo final foram apresentadas as considerações finais,
ressaltando as contribuições e limitações da pesquisa.
9
2 ORIGEM E OBJETO DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
2.1 Epistemologia histórica
Abordar o tema epistemologia, de forma geral, ou de maneira específica na
tentativa de enquadrá-la em uma discussão regional com o intuito de discutir
uma disciplina científica em específico, não é tarefa das mais fáceis. Os
estudos em epistemologia são considerados interdisciplinares pela amplitude
de suas discussões que perpassam diversos aspectos, quando da construção
do conhecimento, entre eles os aspectos sociológicos e políticos de delimitação
dos campos científicos. Essa proximidade com outras áreas do conhecimento é
questão com que a epistemologia lida, admitindo o caráter interdisciplinar de
suas pesquisas, pois:
Seu papel é o de estudar a gênese e a estrutura dos
conhecimentos científicos. Mais precisamente, o de tentar
pesquisar as leis reais de produção desses conhecimentos. E
ela procura estudar esta produção dos acontecimentos, tanto
do ponto de vista lógico, quanto dos pontos de vista lingüístico,
sociológico, ideológico, etc. Daí seu caráter interdisciplinar.
(JAPIASSU, 1979, p.38-39)
De qualquer forma, podem existir e de fato existem diversas abordagens sobre
as definições e limites da epistemologia. Uma definição interessante que
mostra a transitoriedade das respostas cientificas e, portanto, da própria
epistemologia, é encontrada no dicionário de filosofia de Japiassu e
Marcondes:
(...) Por isso, podemos defini-la como a disciplina que toma por
objeto não mais a ciência verdadeira de que deveríamos
estabelecer as condições de possibilidade ou os títulos de
legitimidade, mas as ciências em via de se fazerem, em seu
processo de gênese, de formação e de estruturação
progressiva. (JAPIASSU; MARCONDES, 1996, p.85)
10
Os estudos empreendidos pela epistemologia organizam-se, classicamente,
nas seguintes áreas: epistemologia genética, de J. Piaget; epistemologia
histórica, de G. Bachelard; epistemologia racionalista-crítica, de K. Popper e
epistemologia arqueológica, de M. Foucault. A fim de apontar uma direção para
as discussões deste trabalho, cabe dizer que a epistemologia histórica foi um
dos caminhos trilhados para a construção de um quadro conceitual para a
ciência da informação, ainda que provisório. A característica histórica
fundamental é o olhar de novo para fatos descritos pelo conjunto de cinco
artigos do ARIST que se ocuparam de traçar as origens e desenvolvimento da
ciência da informação. Contudo, o trabalho não encerra sua visão na
epistemologia histórica, tal qual Bachelard propõe. Antes congrega discussões
que possuem uma característica ou direcionamento histórico, através dos
artigos do ARIST, que por sua vez foram mapeados por PINHEIRO (2005).
Como o próprio Bachelard dizia, o filósofo não pode ficar preso a uma
doutrina, portanto, encontramos nele apenas o aporte para compreender a
ciência da informação na perspectiva de sua constituição histórica, pois “em
outros termos: uma disciplina que toma o conhecimento científico como objeto
de investigação deve levar em conta a historicidade desse objeto” (Japiassu,
1979, p. 71).
O viés histórico de construção do conhecimento pode ser localizado ainda,
cronologicamente, em relação a outros dois grandes momentos de discussão
científica. Em verdade, estamos falando de três estratégias discursivas
11
advindas da modernidade: essencialista (século XVII); fenomenista (século
XVIII) e historicista (século XIX).
Com o intuito de resolver o problema do conhecimento assim
entendido (problema da fundamentação da verdade), a ciência
moderna mobilizou três estratégias discursivas diferentes
quanto ao seu espírito e aos seus desígnios: 1) uma, mais
atenta ao modus essendi dos objetos, de tipo essencialista,
que toma a verdade como essência a des-velar (alétheia); 2)
outra, que se atém ao modus operandi dos fenômenos
enquanto notas de observação e da experiência, isto é, não
como essências a desvelar, mas fatos a descrever (veritas); 3)
outra, por fim, mais afeta ao modus faciendi das coisas, de tipo
historicista, que faz do conhecimento práxis e da verdade devir
filha do tempo e da obra do homem. (DOMINGUES, 1991,
p.47)
A distinção e justificativa da opção pela epistemologia histórica se
fundamentam na concepção do conhecimento como uma construção coletiva
passível de modificação. Assim, o conhecimento pode ser localizado e revisto
historicamente através de seus sujeitos e contextos, em relações de
reciprocidade e interação constantes. Noutro momento acrescentamos à
concepção histórica do conhecimento o papel do sujeito como criador do
conhecimento, dando espaço para a formulação de uma epistemologia
construtivista.
2.2 A mesma história
Contar a mesma história de constituição da ciência da informação é algo que
nos enfadonha de pensar. Evidentemente, que contá-la de novo denota o
indício que se possa trazer algo de novo. Da perspectiva do sujeito que
interpreta ou narra a história, não vida de que a narrativa sofrerá
12
modificações. Contudo, em relação aos fatos pode-se dizer que são os
mesmos, salvo algum que tenha se perdido e o pesquisador de posse dessa
“boa nova” comunique aos demais a sua descoberta. Precisamente, seria difícil
definir em qual dos casos essa revisão se enquadra. De fato, o leitor é que
ficaria com a tarefa de julgar esse mérito. Adiante então vejamos a seqüência
de constituição histórica para a qual esta pesquisa aponta.
Em trabalho recente, PINHEIRO (2005) cita cinco artigos publicados no ARIST
que voltaram a atenção para a história e epistemologia da ciência da
informação. A partir desses artigos e de suas referências, a autora constrói um
delineamento histórico da área, dividindo-a em 3 fases: a) de 1961/62 a 1969
Fase conceitual e de conhecimento interdisciplinar; b) de 1970 a 1989 Fase
de delimitação do terreno epistemológico: princípios, metodologia e teorias
próprios e influência das novas tecnologias e c) o período de 1991 a 1995
Fase de consolidação da denominação e de alguns princípios, métodos e
teorias, além do aprofundamento da discussão sobre interdisciplinaridade com
outras áreas.
Dois grandes eventos na área de ciência da informação foram fundamentais
para o desenvolvimento das discussões teóricas do campo, no primeiro
momento a segunda reunião do Geórgia Institute of Technology em 1961/62 e
noutra circunstância a reunião realizada em Tampere, na Finlândia em 1991,
sobre a qual, Pinheiro (2005) salienta que,
13
Podemos afirmar que os trabalhos desta reunião equivalem,
nos anos 90, aos da reunião da FID que seria realizada em
Moscou - publicados e analisados no início deste artigo, tanto
pela temática quanto pela presença de alguns dos mais
renomados professores, pesquisadores e especialistas da
Ciência da Informação, além de mais de 100 participantes de
17 países. (PINHEIRO, 2005, p. 9)
Quanto à segunda conferência de Georgia, esta se tornou referência na
área, pois formulou a primeira definição clássica do que seja a ciência da
informação. Apesar de haver controvérsias quanto ao seu pioneirismo, alguns
indícios revelam que essa definição influenciou as demais em anos
subseqüentes.
Diversamente muitos autores citam Borko (1968), adjetivando
de clássica a definição que ele apresenta de ciência da
informação. Porém no artigo em que conceitua ciência da
informação ele afirma que faz uma síntese das definições de
Taylor (1966), publicada no Annual Review of Information
Science and Technology (ARIST). Este, por sua vez, credita a
definição ao Georgia Tech. Novamente um estudo acurado aos
registros dessa história pode dissipar dúvidas existentes.
(GARCIA, 2002, p.2)
Resta, contudo, pequena ressalva quanto à possível transição da
biblioteconomia para documentação e dessa para a ciência da informação. De
fato, não se tem certeza dessa relação de continuidade linear expressa entre
essas disciplinas. Contudo, o pensamento de Paul Otlet, que é considerado um
dos pioneiros da documentação, vem sendo retomado por muitos autores da
área de ciência da informação. Além disso, a área de tratamento da
informação, oriunda da biblioteconomia, permanece nos estudos em ciência da
informação, sejam em suportes convencionais (físicos) ou eletrônicos.
14
No primeiro artigo citado por PINHEIRO (2005), SHERA & CLEVELAND (1977)
traçam um quadro histórico evolutivo da ciência da informação em relação aos
seus suportes. Começam relatando as origens da documentação, ressaltando
a importância da tecnologia dos microfilmes para a viabilização dos ideais da
documentação, sejam difundir e mapear o conjunto de conhecimentos
produzidos pelo homem em escala mundial. Inclusive os conhecimentos
técnicos, dos quais as bibliotecas muito se valeram para trocar informações e
procedimentos entre elas a fim de criarem grandes redes de informação. H.G.
Wells chegou a propor a idéia de um “cérebro mundial” (World Brain), onde
estaria disponível em microfilme um índice para o conhecimento científico de
todo o mundo. Adiante SHERA & CLEVELAND (1977) pontuam inovações
tecnológicas como o lançamento do Sputnik e a chegada da terceira geração
de computadores, com componentes miniatuarizados (antes disso os
computadores eram enormes), tendo sua capacidade de processamento
aumentada. Ou seja, o aspecto tecnológico inauguraria a partir de então, a “era
da informação”. Contudo, seria interessante notar uma das definições sobre o
que seja a ciência da informação citadas nesse artigo (que é de autoria do
próprio Shera), no qual sugere que a ciência da informação seja um aspecto do
processo de comunicação e o processo de comunicação seja um fenômeno
social (SHERA, 1971).
O segundo trabalho de ZUNDE & GEHL (1979) identificou uma série de
problemas nucleares para a ciência da informação, tida pelos autores como
ciência empírica. Os problemas identificados foram os seguintes:
15
A dificuldade de agregação da informação – ou seja, o crescimento
exponencial de informação em diferentes suportes e conteúdos.
A deterioração da informação ligada a obsolescência da informação
gerada pela contínua necessidade de conversão da informação aos
diferentes formatos e suportes tecnológicos.
Extensões da teoria da informação de Shannon o problema aqui é a
transposição dos conceitos formulados por sua teoria (que possui
dimensão essencialmente técnica) para a ciência da informação, que é
da ordem das ciências sociais.
Desenvolvimento de novos modelos necessidade de proposição de
novos modelos de pesquisa, essencialmente ligados, nesse caso, à
questão de estrutura de termos, visando a uma melhor recuperação da
informação.
Desenvolvimento de medidas de informação e critérios de desempenho
relacionado à necessidade de se obterem medidas de qualidade e
utilidade da informação.
Relação entre a semiótica e o conteúdo da informação trata-se de
avançar no estudo do termo em seus aspectos sintáticos e caminhar na
elucidação dos aspectos de conteúdo que envolvam a informação sob o
prisma da semiótica.
O problema da relação informação e conhecimento – nesse caso o autor
enfatiza a visão cognitivista de Brookes e Belkin, sobretudo a equação
fundamental da ciência da informação de Brookes.
16
Processos de informação e mecanismos de cognição e aprendizado a
exemplo do tópico anterior, Zunde & Gehl trabalham dentro de uma
perspectiva cognitivista, entendendo o rebro como processador da
informação e preocupado com a relação homem-máquina em suas
possibilidades de representação e simulação coincidentes ou
aproximadas.
Conceber a ciência da informação como ciência essencialmente empírica,
talvez seja uma tentativa de tornar concreto ou factível algo que em essência é
subjetivo e imaterial como a informação. De fato, “a preocupação fundamental
do empirismo consistia em reduzir todo o conteúdo do conhecimento a
determinações observáveis” (JAPIASSU, 1979, p.87). O esforço em identificar
problemas de informação talvez tenha sido uma das primeiras tentativas de
legitimação e instauração da CI como disciplina científica. Talvez o grande
problema dessa concepção seja de que a ausência de teorias, ou até mesmo
boas elaborações conceituais, tenha feito com que houvesse, como ainda há,
dificuldade em se delimitar a essência da ciência da informação e sustentá-la
como ciência de fato, com objeto e metodologias próprias.
O terceiro artigo, pela ordem cronológica, que tratou da história e epistemologia
da ciência da informação, foi o de BOYCE; KRAFT (1985). Nesse artigo os
autores contestam o caráter essencialmente empírico da ciência da informação
proposto pelos autores ZUNDE; GEHL (1979) e retomam a discussão da
importância da teoria para a ciência da informação. Os autores utilizam como
17
apoio à retomada dessas questões autores como Carnap e Popper, não por
acaso, filósofos que pertencem a escolas que privilegiam aspectos
racionalistas do conhecimento. Carnap está ligado à escola dos neopositivistas,
e é um empirista, enquanto que Popper se considera um racionalista crítico.
Apesar de os autores divergirem, ambos atestam a importância da teoria ao
lado da observação dos dados empíricos. Contudo, para Popper, quem tem a
primazia da discussão é a teoria, que deve ser sempre submetida à refutação,
ou melhor, ser verificada. Em suma a divergência entre Popper e Carnap,
Não se trata de um desacordo quanto ao mecanismo da
invenção das hipóteses e das teorias científicas, Carnap
achando que a lógica indutiva poderia explicá-las
satisfatoriamente, e Popper negando radicalmente essa
possibilidade. (JAPIASSU, 1979, p. 101)
Não deixa de ser curiosa a adoção desses autores para justificar a inserção da
discussão teórica para a ciência da informação. De fato, talvez a idéia seja
complementar a articulação entre teoria e prática considerada pelos autores,
sob diferentes prismas. No referido artigo, entretanto, não se faz alusão à essa
diversidade de pensamentos e nem ao porquê da adoção desses autores.
Interessante notar também que a retomada da teoria pelos autores BOYCE &
KRAFT (1985) se refere à teoria matemática da informação em seus
desdobramentos e avanços; além disso os autores ressaltam a importância
para a ciência da informação da temática “recuperação da informação” como a
pergunta fundamental da área. Na mesma linha, no quarto artigo citado por
PINHEIRO (2005), HEILPRIN (1989) reafirma a ciência da informação como a
ciência preocupada em resolver problemas. O autor retoma a questão da teoria
da informação e estende a sua argumentação e revisão de conceitos para os
18
sistemas de informação na perspectiva da ciência da informação. O processo
de comunicação da informação é abordado; contudo o seu enfoque é
essencialmente matemático, influenciado pela teoria matemática da informação
de Shannon e Weaver.
Por fim, o quinto trabalho que aborda o tema de história e epistemologia da
ciência da informação foi escrito por BUCKLAND & LIU (1995). Esse trabalho
é, essencialmente, uma grande compilação de possibilidades para se estudar a
ciência da informação. O texto é essencialmente descritivo, mas sua
organização em tópicos amplia o escopo de temas considerados, até então,
por outros autores, incluindo, por exemplo, o aspecto social da informação.
Outro ponto importante é o apontamento de teóricos importantes para a área,
dentre os quais destacam-se: Vannevar Bush; Paul Otlet; S.R. Ranganathan;
Pierce Butler e Jesse Shera.
2.3 Outras histórias
Em todos os textos estudados, o que parece definir e instituir a ciência da
informação é o advento da tecnologia, sobretudo após a Segunda Guerra
Mundial. Entretanto, poderíamos contar outras histórias, ou melhor, lançar
outros olhares sobre a mesma questão.
Um dos pontos, talvez o mais controverso, refere-se ao fato de a ciência da
informação decorrer da documentação, que por sua vez teria suas raízes na
biblioteconomia. Essa idéia não é tão absurda assim, pois muitos autores têm
19
retomado com insistência as idéias de Paul Otlet como um dos pioneiros da
ciência da informação. Dias (2000), por exemplo, considera que os argumentos
em favor da distinção dos problemas abordados pela ciência da informação e
biblioteconomia sejam fracos. Mostra, ainda, a intrínseca relação entre a
biblioteconomia e ciência da informação nas principais universidades do
mundo, onde a expressão LIS (Library and Information Science or Studies) é
freqüentemente adotada. Essa consideração regressiva da fundação da ciência
da informação não se sustentaria pela aparição do termo (ciência da
informação) e sim por estudos que envolveram a informação, sobretudo na
circunstância da biblioteconomia e das bibliotecas. Só para citar um exemplo, a
área da computação localiza na matemática e na construção do ábaco os
primórdios de sua existência, não ficando presa à construção do computador
como princípio ordenador do seu discurso.
Outra possibilidade seria considerar a ciência da informação como um advento
da pós-modernidade, ou ciência pós-moderna, tal qual WERSIG (1993) propõe.
Nesse caso, o corte com o passado ficaria evidente e a ciência da informação
surgiria, então, dentro de um novo paradigma científico. Contudo, até agora
não ficou evidente o surgimento de uma nova disciplina oriunda da pós-
modernidade; antes, os autores que tratam do tema parecem direcionar a sua
crítica a disciplinas mais bem estabelecidas como a física e matemática. Outro
ponto é o de que em área incipiente como a ciência da informação, que ainda
procura por seus fundamentos, história e objeto, essa proposição parece
20
esvaziar e resolver a questão da cientificidade da área, o que não deixa de ser
uma resposta fácil ou reducionista para o problema.
Uma terceira história também poderia ser contada, a partir da idéia da ciência
da informação como ciência social. Essa idéia, apesar de aparentemente
simples, ainda é muito discutida na área de ciência da informação. Pelo fato de
apresentar um corpo de conhecimentos voltados à técnica, e como
conseqüência produzir pouca reflexão acerca do papel social que a informação
cumpre, a CI poderia não estar apropriadamente inserida nas questões sociais.
No entanto, SHERA (1977) deixou grande contribuição à área, quando
formulou o conceito de Epistemologia Social e se referiu a esse conceito para
apontar os fundamentos sociais da biblioteconomia, documentação e ciência
da informação. Após, anos de estudo, verifica-se que a ciência da informação,
no que CAPURRO (2003) chamou de paradigma social, vem encontrando cada
vez mais os seus fundamentos sociais. Segundo, PINHEIRO (1999, p.155):
Durante vinte anos de estudos de Ciência da Informação,
nossa percepção é de que a Ciência da Informação tem seu
próprio estatuto científico, como ciência social que é, portanto,
interdisciplinar por natureza, e apresenta interfaces com a
Biblioteconomia, Ciência da Computação, Ciência Cognitiva,
Sociologia da Ciência e Comunicação, entre outras áreas, e
suas raízes, em princípio, vêm da bifurcação da
Documentação/Bibliografia e da Recuperação da Informação.
Contudo, aceitar essa proposição nos levaria a outro lugar, onde a informação
em sua dimensão social esteve presente na vida do homem desde sua
estruturação em sociedades rudimentares e ampliaria o escopo dos nossos
estudos, remontando à antigüidade. De fato, Aristóteles, pensador grego, é
considerado como um dos percursores dos sistemas de classificação do
21
conhecimento, utilizado pela biblioteconomia. Estaria o elo perdido entre a
biblioteconomia e ciência da informação?
2.4 Quem conta a história: o papel do “demiurgo do conhecimento”
A idéia de um demiurgo do conhecimento está associada à formulação do
argumento do conhecimento do criador. O demiurgo é aquele que cria, talha o
conhecimento pela suas próprias mãos. Evidentemente que se trata de
metáfora para dizer do conhecimento como construto social, de se considerar
no processo de conhecer o sujeito epistemológico, que não interfere no seu
objeto como também o cria, molda e adequa ao seu olhar.
O papel das instituições para a criação do que hoje se considera ciência da
informação foi central e decisivo. Muitos autores se ocuparam de apontar a
criação de grandes indústrias da informação para apoiar o que hoje são os
estudos em ciência da informação. Alguns autores como GONZÁLEZ DE
GOMEZ (2000; 2001; 2002; 2005), mostram o campo de forças e o forte
propósito financeiro, ideológico em que a ciência da informação está
mergulhada.
Adiante, podemos inferir que muito do que nos é contado como sendo a
história da ciência da informação seja na verdade mediado por grandes
instituições e atores, que talharam com esmero as bases de construção de
uma sociedade voltada, sobretudo, para o consumo da informação.
22
2.5 O fim da história?
Chegamos ao final da narrativa, esperando que não seja o “fim de todas as
grandes narrativas”, pois precisamos delas. Um pouco de utopia poderia
conduzir-nos, por exemplo, a uma história da ciência da informação,
essencialmente voltada às questões sociais, inspirada que foi pelos ideais de
Jesse Shera. Ou ainda, fundada nas reflexões dos grandes bibliotecários
filósofos como Ortega Y Gasset e por que não do próprio Aristóteles que se
preocupou em dividir e organizar o conhecimento.
Ao final de uma história, o que se espera é que possam surgir outras,
inspiradas por essa ou, pelo contrário, incitadas em desmentir as “verdades”
contadas aqui. Por fim, percebendo a transitoriedade do conhecimento, ficamos
a priori com essa história, na espera de outras. Antes, convém dizer de uma
das características da informação social, apontada por CARDOSO (1994), a
fim de que possamos entender melhor a nossa história, ou seja,
a historicidade dos sujeitos cognoscentes e dos objetos
cognoscíveis (lembrando que nas ciências do homem são
também sujeitos, por definição) que os coloca em uma relação
culturalmente determinada; em uma interação de produção de
sentidos. Ora toda ação e relação são produtos de agentes ou
atores (do latim actio) e, portanto podem ser modificadas...
(CARDOSO, 1994, p.111)
CARDOSO (1994), complementa, dizendo que ao “pensarmos sobre o
fenômeno ‘informação’, precisaremos rastreá-lo ao longo do tempo”. Ora,
talvez seja, justamente no encalço desse rastro que iremos encontrar parte de
nossa história; resta saber como contá-la...
23
3 AS LINHAS DE PESQUISA DOS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO
BRASILEIROS EM CI
No decorrer do percurso de argumentação acerca da contribuição de se
observar paradigmas e modelos provenientes dos cursos de pós-graduação
brasileiros em CI, algumas questões se fazem presentes, embora não sejam o
cerne da pesquisa. A primeira diz respeito à constituição da ciência da
informação como campo científico, sobre o qual lançamos olhar no capítulo
anterior. A outra questão é atinente ao sujeito criador do conhecimento, que
neste trabalho, no qual se estuda as linhas de pesquisa da área, são os
próprios cientistas da informação. Quem são esses sujeitos construtores do
conhecimento? Como foi o processo de constituição das linhas de pesquisa
dos cursos de pós-graduação brasileiros em CI? Essas são algumas das
questões de que este capítulo se ocupa, lançando talvez além desses, outros
questionamentos. Além disso, o tema permite recuperar a importante
contribuição de uma pesquisadora da ciência da informação na área de
epistemologia, que é a Maria Nélida González de Goméz (1990; 2000; 2002;
2005; 2006). Isso porque sua abordagem do tema traz uma grande
contribuição para se entender os meandros das relações institucionais entre
ciência, política e sociedade, em especial no que diz respeito à ciência da
informação.
24
3.1 O sujeito na produção do conhecimento: as linhas de pesquisa da
área
Na tentativa de lidar melhor com os problemas de delimitação do campo de
ciência da informação, têm sido feitas muitas pesquisas sobre as origens e
evolução da CI, tanto no que diz respeito ao seu marco teórico, quanto em
nível institucional. Conquanto, para elucidar a constituição das linhas de
pesquisa dos cursos de pós-graduação na área, torna-se, evidentemente, mais
apropriado elucidar os aspectos institucionais da conformação histórica do
campo. Destes valem a pena destacar os seguintes marcos históricos:
Em 1954, no âmbito do CNPq, surge o IBBD Instituto
Brasileiro de Bibliografia e Documentação, que criou o primeiro
curso em nível de pós-graduação em Documentação Científica
(Especialização), tendo o mestrado em CI surgido em 1970.
(CABRAL; RENAULT, 2005).
Após o surgimento do primeiro curso de pós-graduação na área, observou-se
um desenvolvimento a passos firmes, pois até então não existia curso algum
sob a denominação de ciência da informação no Brasil. Sucedeu-se, assim, na
década de 1970, a criação de outros cursos de mestrado e mais tarde dos
cursos de doutorado nas décadas subsequentes, totalizando 09 programas de
pós-graduação em ciência da informação em funcionamento atualmente.
Outro marco institucional importante foi a criação da ANCIB (Associação
Nacional de Pesquisa e s-Graduação em Ciência da Informação) em 1989.
Trata-se de sociedade científica cuja,
25
(...) finalidade é acompanhar e estimular as atividades de
ensino de pós-graduação e de pesquisa em Ciência da
Informação no Brasil. Desde sua criação, tem se projetado, no
país e fora dele, como uma instância de representação
científica e política importante para o debate das questões
pertinentes à área de informação (ANCIB,2005).
Assim, no ano de 2006 contávamos com oito programas de pós-graduação em
ciência da informação, que foram acrescidos da retomada do programa de pós-
graduação da UFPB, totalizando nove programas brasileiros em ciência da
informação. A constituição histórica desses programas se deu no contexto de
uma proposta desenvolvimentista e de uma “ingênua” política social que
vigorava em pleno período de ditadura militar no Brasil, no qual os países do
chamado “terceiro mundo” precisavam urgentemente reverter aspectos como o
analfabetismo e a desigualdade social:
Criado o curso na década de 70, sob o ideário
desenvolvimentista, seu projeto inicial fundamenta-se na
crença ingênua de que as bibliotecas se constituiriam na
solução para indivíduos e países do Terceiro Mundo, na luta
destes contra a pobreza, o analfabetismo e a dominação.
(VIEIRA, 1990, p.75)
A autora se refere à criação da pós-graduação em ciência da informação da
UFMG, que de início se chamava CPG/EB (Curso de Pós-Graduação em
Biblioteconomia). Acreditamos que essa observação, no que concerne ao
projeto desenvolvimentista do Brasil, pode ser estendida a todos os outros
programas de pós-graduação da época em questão. Contudo, a ênfase desse
curso nas bibliotecas, apesar de ser muito forte, não encontrou ressonância em
termos nacionais, visto que o curso do IBICT, por exemplo, iniciou como
mestrado ciência da informação em 1970. No caso da UFMG, VIEIRA (1990)
26
quis chamar a atenção para a necessidade de se acompanhar a mudança do
cenário mundial, seja político ou social, e também de se abrir espaço para a
diversidade e a pluralidade de pensamentos. Pode-se considerar ainda hoje o
pensamento de VIEIRA (1990), apesar de sua crítica conter elementos
circunscritos a uma realidade muito específica, uma reflexão importante e atual
para os programas de pós-graduação da área.
Analisar o histórico de construção dos cursos de pós-graduação brasileiros em
ciência da informação, nos convida a suscitar o questionamento acerca dos
rumos tomados pela ciência da informação atualmente. Isso porque na criação
dos cursos, havia certamente uma expectativa grande a se cumprir,
circunscritos que eram em um contexto específico de discussões, é claro.
Uma expectativa interessante de se rememorar é apontada por VIEIRA (1977),
quando mostra a fragilidade dos cursos brasileiros de biblioteconomia em nível
de graduação. Nesse artigo a autora discorre sobre o descompasso entre os
anseios da sociedade e a formação do bibliotecário. A grade curricular em
biblioteconomia estaria contemplando aspectos tecnicistas em detrimento de
formação humanística voltada ao relevante papel do bibliotecário no contexto
brasileiro. Assim a “formação avançada de bibliotecário” deveria contemplar em
nível de pós-graduação estudos nas seguintes linhas de pesquisa:
27
usuário: estudos de comportamento de usuários, serviços a serem
prestados a indivíduos e grupos, bem como sua educação no uso daqueles
serviços;
bibliografia geral e especializada, com predominância da bibliografia
brasileira;
informação: teoria e técnicas de tratamento;
planejamento de bibliotecas.
A respeito dessas linhas de pesquisa ressaltamos dois aspectos: o primeiro diz
respeito à justa preocupação de Vieira com a necessária relação entre
graduação e s-graduação; o segundo diz respeito à lucidez e à antevisão da
autora sobre os temas tratados, que em sua maioria ainda são atuais.
Podemos dizer que os estudos de usuário ainda são recorrentes na área,
assim como os aspectos teóricos da informação e a evolução das técnicas de
tratamento. Em relação ao estudo de bibliografias e ao planejamento de
bibliotecas, se transpusermos a nomenclatura da época para a atualidade,
teremos estudos de fontes de informação (bibliografias eram as principais
fontes de informação de que se dispunha na época) e o planejamento, que
poderíamos dizer, corresponde hoje, à gestão de serviços de informação.
Evidentemente que houve evolução muito grande nos problemas de pesquisa
considerados pela ciência da informação, contudo, é interessante notar que,
embora seja muito vezes negada e reprimida, houve influência da
biblioteconomia para a consolidação da ciência da informação no Brasil,
28
inclusive na criação dos cursos de pós-graduação. Outro ponto relevante a
observar é o atual distanciamento da graduação em biblioteconomia e a pós-
graduação em ciência da informação, o que nos leva a ponderar sobre quais
conteúdos poderiam ser mudados na formação dos graduandos em
consonância com os estudos empreendidos em nível da pós-graduação. O
contrário também poderia ocorrer? Deixo tais questões em suspenso, por não
serem objeto do presente trabalho à espera de outro momento mais oportuno
para a discussão.
No histórico de constituição das linhas de pesquisa, houve grande movimento
de expansão dos cursos de pós-graduação em ciência da informação e,
paralelamente, a ampliação do escopo e abrangência dos mesmos. Assim,
observa-se que a configuração do campo no Brasil, constituiu-se apenas nos
cursos de s-graduação, enquanto que a biblioteconomia continuou restrita à
graduação.
3.2 Políticas de construção do conhecimento
O pressuposto acerca da idéia de que o conhecimento seja um construto, nos
coloca diante de questões relacionadas ao poder e das condições sociais de
sua produção. Não podemos ignorar o fato de que todo o conhecimento
científico seja permeado ou tangenciado pelos valores dos cientistas que o
produzem. Essa constatação nos leva a rememorar aquilo que o próprio
conhecimento científico admite, o caráter indissociável ou complementar que
permeia a relação sujeito–objeto.
29
Para abordar a questão de forma mais apropriada, somos convidados a
explorar uma importante autora da área de epistemologia de ciência da
informação, Maria Nélida González de Goméz. Alguns conceitos importantes
foram criados pela autora, sobretudo no que diz respeito ao aspecto político de
construção, distribuição e uso do conhecimento. Sua contribuição fornece
elementos para identificar na ciência da informação respostas ou novas
perguntas sobre o movimento científico contemporâneo.
Em instigante artigo, GONZÁLEZ DE GOMÉZ (2005) traça um quadro histórico
de desenvolvimento do discurso científico. Começa com o conceito de
“especialidade” abordando a relação entre o particular e o aproximado, ou entre
a disciplinaridade e a interdisciplinaridade:
A história das disciplinas teria, porém, duas versões: a oficial e
a não-oficial, onde acontecem trocas, movimentos de
importação e exportação de conceitos, procedimentos,
informações. Se uma disciplina diferencia-se das outras pelo
ponto de vista diferencial, pelo qual vai configurar seu objeto
como algo “extraído ou construído por processos específicos”,
deverá manter-se atenta ao campo de visão, espaço ideal de
reconstrução das relações que religam seu objeto a outros
saberes disciplinares e a outros domínios de objetos, que
mantêm sempre vital e atualizada a agenda disciplinar. A
suspensão desse duplo movimento de fechamento e abertura
da disciplina levaria à “coisificação” de seu objeto e à sua
estagnação. (GONZÁLEZ DE GOMÉZ, 2005, p.16)
Essa primeira idéia de conformação ou desenho do desenvolvimento do
conhecimento científico, nos permite a primeira distinção acerca da relação de
construção específica e plural. O conhecimento científico estaria assim afeito a
30
essas duas perspectivas não-excludentes entre o disciplinar e o interdisciplinar
em relação dialógica.
Evidentemente que essas relações não se dão de forma “tranqüila”. Existem
forças que permeiam, e por vezes determinam o agrupamento de
conhecimentos, temas e disciplinas. Dentre essas forças, temos em especial as
agências de financiamento e avaliação, o que nos permite falar de
“epistemologias institucionais” (GONZÁLEZ DE GOMÉZ, 2000). A informação
desempenharia papel extremamente importante nessa relação de controle e
avaliação, mediada ou potencializada pela tecnologia. Desse cenário,
(...) podem distinguir-se dois processos complementares. Um
deles, a gestão da ciência, consolida um plano de observação
e de “segundo grau” que tem como objeto a própria ciência
mas num olhar que transcende e independe da consciência de
seus produtores e requer mecanismos exteriorizados de
mapeamento e monitoramento de sua produtividade. Num
processo indiretamente complementar, os estudos sociais da
ciência, à diferença das epistemologias racionalistas,
desenvolverão metodologias de cunho “externalista”,
“observacionais” e quantitativas, que permitirão estabelecer e
operacionalizar indicadores mensuráveis de produção
científica. (GONZÁLEZ DE GOMÉZ, 2005, p.23)
Pode-se pensar em muitas das técnicas, oriundas em sua maioria da
biblioteconomia, que a ciência da informação disponibiliza para a gestão e
controle da produção científica, como a bibliometria, cientometria, infometria,
rede de citações, etc.
Outra importante relação a ser desvelada ou discutida, diz respeito à relação
entre o Estado e a Ciência, vistos sob a perspectiva de suas articulações
políticas e epistêmicas.
31
O deslocamento do conhecimento rumo à especialidade e à segmentação nos
levou, mais tarde, à busca por vinculações, integração dos saberes. A
articulação do conhecimento é de tal ordem complexa que aperceber-se desse
processo de conformação político-epistêmica é algo de difícil apreensão, o que
leva muitos autores a entender ou apresentar esse emaranhado de conexões
como uma estrutura que se desenvolve em redes. GONZÁLEZ DE GOMÉZ
(2003) resume essas vinculações e rupturas da seguinte forma:
Trabalhamos assim com algumas poucas linhas de
organização da argumentação: a) a análise de alguns dos mais
notáveis processos de divisão dos conhecimentos que
gerariam problemas de reunião; b) a reflexão sobre o papel dos
grupos de pesquisa e os processos de identificação cultural
secundária que lhe são atribuíveis, como peça significativa nos
processos de socialização regulada dos conhecimentos; c) a
recolocação da metáfora do "contrato social" para dar
visibilidade a um princípio de equivalência, implícito e por
vezes sobredeterminado na historia da ciência e da pesquisa
em ocidente, e para buscar sua reformulação - aspirando a
uma maior reciprocidade e a uma pluralização em redes
daquela operação equivalência, despregada e singularizada
nos contextos paradigmático, setorial e territorial. (GONZALÉZ
DE GOMÉZ, 2003)
No cenário político de fomento e gestão do conhecimento temos a pluralização
dos espaços administrativos divididos nas esferas públicas de atuação.
Evidentemente que tal segmentação enreda ou corrobora a estruturação de um
conhecimento que se apresenta em redes, pois,
As políticas setorizadas, ao mesmo tempo, se desdobram em
todos os "estratos espaciais" do Estado: Federação, Estados,
Municípios. Se estes desdobramentos fortalecem a rede de
pesquisa pública, ao mesmo tempo, surgem outros problemas
decorrentes da abordagem corporativa e da pluralização dos
espaços administrativos, requerendo outras ações intersetorias
e transversais que permitam o mapeamento articulado das
redes e os estratos. (GONZALÉZ DE GOMÉZ, 2003)
32
Tem-se assim, o quadro no qual a distribuição das atividades de pesquisa
ratifica a fragmentação do conhecimento. As instituições, cada qual com suas
formas de avaliação e controle, acarretam orientações na forma como se
produz o conhecimento. De maneira análoga, o especialista cerceia a sua
produção científica de cuidados e critérios que confiram legitimidade e
delimitação de espaços para a pesquisa que desenvolve.
A perspectiva de se ter conhecimento como um construto, por outro lado, não
dirime essas tensões acerca dos meandros de conformação política e
ideológica a que a ciência está exposta. Antes, observa e discute os construtos
produzidos pelo embate de idéias e posições do estado, ciência, sociedade e
sobretudo do sujeito, sob a perspectiva da transitoriedade do conhecimento
que se submete inevitavelmente à ação corrosiva do tempo.
A informação, segundo GONZÁLEZ DE GOMÉZ (2005), pode atuar como
elemento de religação face à fragmentação do conhecimento, na medida em
que fornece insumos para avaliação, controle e gestão da ciência.
Apropriadamente, a proposta de discussão da ciência da informação, tendo
como cerne o conhecimento produzido pelos seus pesquisadores, é um bom
ponto de partida para se entender melhor essa “jovem” disciplina científica. Isso
porque o seu objeto de pesquisa representa para outros sujeitos
(pesquisadores de outras áreas do conhecimento) uma maneira de se entender
melhor aquilo que fazem. É claro que esse instrumento (a informação) tem sido
mais usado para se moldar, manter, gerir e controlar o andamento da ciência.
33
No caso, antes de ser a informação (como instrumento) que determina a ação,
são os atores (pesquisadores) que lhe conferem sentido, quando fazem da
ação de informar objeto de conexão e molde do processo científico. Assim, a
discussão epistemológica da ciência da informação, tendo como aporte o
conhecimento produzido pelo seus pesquisadores, acarreta todas essas
questões. A opção deste trabalho, no entanto, foi avançar na discussão de
seus fundamentos epistemológicos, na identificação de teorias e argumentos
que forneçam elementos para a compreensão da ciência da informação, tendo
em mente a parcialidade e transitoriedade daquilo que é mostrado, percebido
pelo cientista.
3.3 O que é a ciência da informação: uma análise a partir de nós mesmos
Toda essa discussão acerca da papel do sujeito construtor do conhecimento
nos leva inevitavelmente a uma reflexão acerca da ressonância de nossos
atos. Evidentemente que cada um dos sujeitos tem representatividade distintas
na hierarquia acadêmica. Sabendo disso, preferimos levar a discussão a um
patamar mais geral para continuarmos trilhando o caminho da argumentação e
da reflexão, suscitando mais perguntas do que respostas.
A figura que se apresenta é do demiurgo, o construtor do conhecimento, que
pode assumir diversas formas. Na tradição do pensamento ocidental
basicamente pode incorporar as manifestações do bem ou do mal. O bem
entendido como compromisso ético e o mal como realização máxima da
potencialidade tecnológica não importando o fim a que se destina. Nessa busca
34
pela potência máxima da tecnologia, o homem se transforma em Fausto, e se
justifica como Prometeu. Temos assim,
Em oposição à tradição “prometéica”, que pensa a tecnologia
como a possibilidade de estender e potencializar
gradativamente as capacidades do corpo humano, a corrente
fáustica” enxerga na tecnociência a possibilidade de
transcender a própria condição humana. (SIBILIA, 2001).
A biotecnologia através das possibilidades de recriação do humano, talvez seja
a área onde a discussão ética se torne mais evidente. À luz da promessa da
cura de doenças (prometeu) existe a possibilidade de recriar o humano e
vislumbrar-se a imortalidade (fausto), a transcendência dos limites do ser
humano.
Nesse modelo de superação, ganha força o hibridismo, sobretudo a cisão entre
o homem e a máquina. Junção que poderia contribuir para a superação da
condição humana, mediante o pacto com a tecnociência, surge a figura do
cyborg que,
(...) seria, então seu próprio demiurgo: o agente da sua própria
“evolução pós-orgânica”. Entregue às novas cadências da
tecnociência, o corpo humano parece ter perdido sua definição
clássica, tornando-se permeável, manipulável, projetável.
(SIBILIA, 2001).
O outro caminho, onde a tecnociência ganha contornos éticos, sem perder as
suas potencialidades de superação de técnicas, nos parece, a princípio, menos
atraente. Estamos diante de questões difíceis e que exigem mais vagar no
mundo da simultaneidade e velocidade a todo custo.
35
Negar a tecnologia é uma resposta igualmente simplista e reducionista. A
pergunta agora ganha novos elementos e desdobramentos que nos levam a
reposicionar a filosofia, sobretudo na discussão ética, como interlocutora da
ciência.
Ao adentrar o campo da ética, aproximamos um pouco mais do demiurgo
vislumbrado na figura do pesquisador e abrimos campo para indagações
acerca de seu posicionamento mediante a ciência e o fazer científico. WEBER
(1989) nos fala da neutralidade axiológica, posição que o pesquisador deveria
ter como ideal a ser alcançado. Segundo WEBER (1989) o único
posicionamento que o pesquisador/professor universitário deveria tentar
inculcar nos seus alunos (ou seguidores) é a “integridade intelectual”. Essa
idéia é interessante na medida em que nos fornece elementos para que não
sejamos tentados a nos posicionar, mesmo quando do trabalho científico, de
maneira parcializada e movido apenas por nossas paixões. Isso porque:
Contudo, resta o fato de que a dedicação apaixonada, sozinha,
por mais intensa que seja, e por mais incondicional que seja a
outros respeitos, não produz resultados científicos da mais alta
qualidade. Seguramente, é um pré-requisito da “inspiração”,
que é decisiva. Hoje em dia, existe em determinados rculos
de geração mais jovem uma idéia muito difundida de que a
ciência se tornou um problema de aritmética que se realiza em
laboratórios ou em gabinetes de estatística, não pela “pessoa
total”, mas por uma razão fria e calculista, “como algo
produzido numa fábrica”. Idéias como essas revelam não existir
a mais leve compreensão nem do que ocorre numa fábrica,
nem do que ocorre num laboratório. (WEBER, 1989, p. 144)
Aqui temos uma noção bem interessante desse equilíbrio entre a rigorosidade
do discurso científico e a força da paixão que motiva a inspiração e que
36
também contribui de forma decisiva para a produção de bons trabalhos
científicos. Adiante, Weber esclarece a nós, demiurgos, a relação entre
criatividade e trabalho, na qual,
Uma idéia imaginosa não substitui o trabalho. Por outro lado, o
trabalho não substitui uma intuição imaginosa; o trabalho
perseverante, tanto quanto a dedicação apaixonada, é capaz
de estimular a intuição. (WEBER, 1989, p.145)
Que figura então surgiria desse demiurgo que se preocupa com a ressonância
de suas ações, com os critérios de sua pesquisa e, ainda consegue olhar para
si mesmo e enxergar um ser humano (nos moldes tradicionais) movido também
por suas paixões? Certamente o molde tecnológico continuaria presente devido
à temporalidade da observação, ou seja, as condições atuais de produção do
conhecimento. Porém, outros elementos teriam de ser acrescentados, um certo
heroísmo para combater aquilo que é injusto e desigual, que acarretaria uma
certa incompreensão, loucura e solidão. A figura aqui é a do “cavaleiro da triste
figura”, o nosso Dom Quixote. Donde o demiurgo é tomado de certa dose de
poesia e poder de estabelecer conexões entre os fatos, ainda que virtuais.
Aliás, o viés tecnológico de Dom Quixote se justamente em seus supostos
devaneios, que em verdade são projeções virtuais nas quais combatia contra
os opressores e monstros de sua época.
Por fim, cabe atestar que esse novo demiurgo “quixotiano”, sonhador, idealista
e perseverante possui claras limitações físicas, nas quais certamente seria
sempre vencido, mas, o importante é que, em se tratando da esfera do
pensamento ele é imbatível.
37
4 PARADIGMAS E MODELOS
A necessidade de se identificarem paradigmas e modelos em determinada área
do conhecimento pode parecer um trabalho redundante e de fácil apreensão.
Ao contrário, no entanto, esse tipo de discussão pode trazer grandes
contribuições para a referida área do conhecimento, sobretudo porque a
proposta traz consigo implicitamente a possibilidade de releitura da disciplina
em questão.
Convém dizer que a origem da palavra paradigma vem do grego paradeigma e
significa modelo, porém no caso da interpretação de DOMINGUES (2004),
paradigmas e modelos são coisas distintas. O paradigma está ao lado da teoria
e o modelo mais ligado ao método. Como a ciência tem uma dimensão teórica
e outra metodológica, considerou-se que os paradigmas e modelos seriam
boas referências para se discutir a área da ciência da informação.
Platão foi quem primeiro utilizou a noção de paradigma e o sentido empregado
até hoje da palavra guarda muito do que o autor entendeu como paradigmático.
Ser paradigmático seria então, “ser exemplar e modelar, ser norma das
chamadas “realidades”, que o tais enquanto se aproximam do seu modelo”
(FERRATER MORA, 2004, p. 2199). Talvez por isso, muitos autores tomem
paradigmas e modelos como semelhantes, diante da raiz da palavra e de sua
utilização primeira por Platão.
38
Em sua obra, Político, fica claro, no entanto, que o sentido que Platão quis dar
ao conceito de paradigma está relacionado ao ver algo em analogia ao outro.
Ou seja, o paradigma pode estabelecer comparações e distinções acerca da
realidade com o intuito de melhor compreendê-la, ou de se chegar ao
conhecimento dito “verdadeiro” ou legítimo. No diálogo entre o jovem Sócrates
e o Estrangeiro, Platão explicita que o paradigma serve à distinção entre
conceitos, e que, uma vez isolados podem ser comparados em analogia uns
com os outros. Vejamos o exemplo em trecho do Estrangeiro:
(...) Mostrar-lhes primeiramente os grupos em que
interpretaram essas letras corretamente e depois colocá-las
frente aos grupos que ainda não conhecem, fazendo-as
comparar uns com os outros a fim de ver o que de igual em
ambas estas combinações; até que à força de mostrar-lhes, ao
lado dos grupos que as confundem, aqueles que interpretam
com exatidão, estes assim mostrados paralelamente se
tornam, para elas, paradigmas que as auxiliarão, seja pela letra
que for, e em qualquer sílaba, a soletrar diferentemente o que
for diverso, e sempre de uma mesma e invariável maneira, o
que for idêntico. (PLATÃO, Pol. 278 B-C). ( grifo nosso).
A noção de comparação seentão o que de mais proveitoso fomos tomar da
obra de Platão em relação ao conceito de paradigma.
Retomando a discussão acerca da relevância em se identificarem paradigmas
e modelos nas ciências de modo geral, temos que, no caso da ciência da
informação, na qual pairam ainda algumas dúvidas sobre sua cientificidade, o
questionamento sobre a relevância deste trabalho são ainda maiores.
Sobretudo, por conta da confusão criada pela apropriação da definição de
Thomas Kuhn sobre paradigmas na CI, na qual o viés sociológico, ou ainda, o
consenso entre cientistas é que orienta o estabelecimento de paradigmas.
39
Nesse caso o paradigma se torna algo que, uma vez estabelecido, deveria,
após esgotada sua influência, ser quebrado, sob pena de obstruir o avanço da
ciência. Essa visão, embora seja muito valiosa e reconhecidamente grande
contribuição para as ciências de modo geral, difere da abordagem utilizada
nesta pesquisa.
De fato, a noção de paradigma foi amplamente difundida pela obra de Thomas
Kuhn, A estrutura das revoluções científicas na década de 70, que, em síntese,
afirmava que o paradigma se encontrava no seio da chamada “ciência normal”
e os pesquisadores operavam sob ele, conscientemente ou não. Essa
hegemonia perduraria até que as chamadas “anomalias” (quando em excesso)
colocassem em vida, e por fim ocasionasse uma ruptura com o paradigma
vigente, abrindo espaço para a constituição de um novo paradigma.
Sobre modelos, em visão mais geral, podemos dizer que pode ser empregado
sob diversos aspectos: epistemológicos, metafísicos, éticos e estéticos.
Interessou-nos, contudo, o seu significado epistemológico, o qual pudemos
apreender como um modo de explicação ou representação da realidade. Ou
ainda, numa outra forma de se entender modelo, dentro do aspecto
epistemológico e com um significado possivelmente mais adequado para se
utilizar neste trabalho, temos:
Outro modo de entender ‘modelo’ é tomar como tal um sistema
do qual se trate de apresentar uma teoria. O modelo é então a
realidade efetiva ou suposta que a teoria procura explicar.
Pode haver várias teorias para um modelo e discutir-se que
teoria explica mais satisfatoriamente o modelo. Pode haver de
igual maneira uma teoria para a qual se busque um modelo,
assim como uma teoria que, tendo-se mostrado satisfatória na
40
explicação de um modelo, seja capaz de aplicar-se a outros
modelos. (FERRRATER MORA, 2004, p. 1989). ( grifo nosso).
Vejamos adiante que caminho tomar para a distinção entre paradigmas e
modelos no presente trabalho. Em primeiro lugar, gostaria de deixar claro que o
conceito de paradigma aqui utilizado está instaurado ao lado da teoria e sua
função é servir de guarda-chuva, onde várias teorias possam ser abrigadas.
Por exemplo, o paradigma cognitivista na área de CI, abrigaria as teorias de
Belkin e Brookes; o paradigma social as teorias de Wersig e Capurro e assim
por diante.
Quanto aos modelos, muito embora pressuponham a teoria, poderíamos dizer
que estariam mais próximos do método, do “como fazer”, por exemplo:
O modelo de comunicação decorrente da Teoria Matemática da
Comunicação, na qual se pressupõe uma relação linear de transmissão da
informação entre o emissor e o receptor;
O modelo de classificação por aspectos produzido pela Teoria da
Classificação Facetada de Ranganathan;
O modelo de atuação social produzido pela Teoria da Epistemologia Social
de Shera.
Assim como no paradigma uma teoria poderia abrigar vários modelos, como na
seguinte figura:
41
Figura 1 – Paradigmas e modelos
Fonte: Desenvolvido pelo próprio autor
Decorre daí que o mesmo paradigma pode abrigar várias teorias, como
também uma teoria pode abrigar vários modelos. O objetivo deste trabalho foi
traçar um quadro conceitual da área de CI através dessa forma de organizar o
pensamento, que é da ordem da epistemologia e está calcada no trabalho do
filósofo Ivan Domingues. Assim, vejamos o que o autor entende por paradigma
e modelos:
Ora, num tal quadro ou estado de coisas, o paradigma
aparecerá do lado da teoria e consistirá: 1) seja naquele
segmento do real que aloja o princípio das coisas ou o ente tido
como a realidade por excelência que, enquanto tal, a chave
do mundo dos homens e das coisas assim que se fala do
paradigma cosmológico, do paradigma teológico, do paradigma
da natureza ou do mundo-máquina, do paradigma da história
etc., em que o Cosmo, Deus, a Natureza, a História aparecem
respectivamente como princípio unificador e ordenador); 2) seja
naquela disciplina que, por ser mais bem fundada e mais bem-
sucedida em seu esforço por conhecer o real (portanto mais
científica), funciona como arquétipo ou exemplo a ser seguido
pelas outras, tidas como mais atrasadas em relação a ela
assim que se fala do paradigma da cosmologia, da teologia, da
geometria, da física, da biologia, da história, da lingüística etc.,
sendo o paradigma, no caso, menos o objeto a que se
reportam do que a teoria que instalam) [...]
PARADIGMA
TEORIA 2
TEORIA 1 TEORIA 3
TEORIA
MODELO 1
MODELO 2
MODELO 3
Plano
teórico
Plano
metodológico
42
Já o termo “modelo”:
significa três coisas, ainda que intercambiáveis e não
exclusivas: 1) o arquétipo de alguma coisa, o protótipo de uma
série, o original de uma espécie qualquer; 2) a simulação , a
abreviação, a simplificação, o resumo da própria realidade; 3) a
construção ou a criação de algo pelo espírito que serve de
instrumento para conhecer alguma coisa ou conduzir uma
pesquisa, sem necessariamente referir-se à realidade ou a
algum de seus aspectos.
(DOMINGUES, 2004, p.52-53)
Em relação ao modelo cabe acrescentar que o autor identifica a natureza do
mesmo conforme sua construção e formulação, decorrentes dos paradigmas
analisados. Por exemplo, nas obras de Marx, Weber e Lévi-Strauss o autor
considera os seus modelos como “construções do espírito que existem na
teoria e que têm por função, não descrever o real empírico, mas justificar (dar
razão) o que se pensa dele ou sobre ele (teoria)”. (Domingues, 2004, p.59).
Assim, considerou-se que coube exclusivamente a Durkheim o uso dos outros
tipos de modelo, ou seja, modelo-decalque ou modelo-arquétipo. O autor
confere, pois, a Durhkeim o título de positivista e, por isso, os seus modelos
são concebidos como cópias ou simulações do real. Contudo, fica claro que o
modelo com que o autor quer trabalhar é o modelo que pressupõe as
“construções do espírito” e decorrem da teoria, visto que o mesmo questiona se
é possível falar de modelos na obra de Durkheim. Dessa forma a nossa opção
também se firmou na idéia de modelo como “construção do espírito”
decorrente da teoria, assim como exposto na FIG 1.
43
4.1 Sobre o caráter científico da CI
Classicamente, paradigmas e modelos são identificados em ciências maduras
e estabelecidas, mais freqüentemente nas ciências naturais. No entanto, têm
sido produzidos bons trabalhos nesse sentido, identificando aspectos
importantes das ciências sociais que teriam influência e relevância até mesmo
fora do escopo das ciências da cultura (para usar um termo weberiano).
No recente trabalho de Ivan Domingues Epistemologia das ciências
humanas (2004), o filósofo discute justamente a formulação de paradigmas e
modelos nas ciências humanas, valendo- se de quatro grandes autores: Max
Weber, Durkheim, Karl Marx e Lévi-Strauss. Se fizéssemos um paralelo com a
ciência da informação, talvez fosse difícil identificar autores desse porte.
Entretanto, a sua formulação epistemológica nos oferece outra possibilidade,
encontrada na epistemologia weberiana, que é o construtivismo
epistemológico, no qual o conhecimento é concebido como uma construção
dos sujeitos. Se considerarmos o surgimento da ciência da informação no pós-
guerra, teremos pelo menos 50 anos de construção (publicações, encontros,
etc.) dessa disciplina. No Brasil, após a criação do curso de pós-graduação do
IBICT em 1970, podemos considerar também uma relativa maturidade no fazer
científico da área no contexto brasileiro.
LAKATOS (1979) formulou a idéia de cleo duro para a ciência e da criação
de um cinturão de proteção que protegeria esse núcleo. A maturidade científica
estaria ligada ao fortalecimento dos programas de pesquisa, pois,
44
A ciência madura consiste em programas de pesquisa em que
se antecipam não fatos novos mas também, num sentido
importante, novas teorias auxiliares; a ciência madura à
diferença do ensaio-e-erro corriqueiro tem “força heurística”.
Não nos esqueçamos que na heurística positiva de um
programa poderoso, desde o começo, há um esquema geral de
cintos protetores: essa força heurística gera a autonomia da
ciência teórica. (LAKATOS, 1979, p. 217)
A título de esclarecimento Lakatos distingue dois tipos de heurística:
A heurística negativa especifica o “núcleo” do programa, que é
“irrefutável” por decisão metodológica dos seus protagonistas;
a heurística positiva consiste num conjunto parcialmente
articulado de sugestões ou palpites sobre como mudar e
desenvolver as “variantes refutáveis” do programa de pesquisa,
e sobre como modificar e sofisticar o cinto de proteção
“refutável”. (LAKATOS, 1979, p.165)
O que nos interessou reter desses conceitos foi que a idéia de núcleo duro tem
muito a ver com o conceito de paradigma, conforme DOMINGUES (2004)
também admite. E que o fortalecimento da ciência estaria ligado aos seus
programas de pesquisa. Idéia essa que veio ao encontro da proposta da
presente pesquisa na análise das linhas de pesquisa brasileiras dos cursos de
pós-graduação em ciência da informação. A respeito dos tipos de heurística
não nos estendemos, pois ficou muito a depender do conflito de teorias entre
Popper e Kuhn e da idéia de refutação (defendida por Popper) para o avanço
da ciência. Além disso, existem interpretações da idéia de Lakatos que a
aproximam de Kuhn (EPSTEIN, 1990) e outras que a afastam completamente.
Contudo, gostaria de registrar a idéia de heurística positiva na qual os
pesquisadores acabariam por cooperar e sofisticar o cinto de proteção em
torno de seu núcleo duro de pesquisa; pareceu-nos ser um horizonte promissor
e fecundo para as disciplinas científicas de modo geral.
45
Para nós, das ciências sociais, restou saber se possuímos essa tão almejada
maturidade científica. PAIVA (1997) propõe o debate Weber e Popper e um dos
temas que discute em sua obra é a especificidade das ciências sociais. Nesse
debate Popper defenderia a aproximação entre as ciências naturais e sociais,
chegando a propor a “unidade metodológica”, bem como enxergaria tanto para
as ciências naturais quanto para as sociais dificuldades para se formularem
sistemas teóricos gerais. Ambas as ciências estariam “entre nuvens e relógios”,
isto é, a meio caminho entre sistemas altamente instáveis e impredizíveis
(como uma nuvem de pernilongos) e sistemas altamente estáveis, regulares e
predizíveis (como o sistema solar) (PAIVA, 1997, p.104). Regularidade essa,
que pode ser questionada nos dias de hoje, sobretudo, quando a configuração
dos planetas do sistema solar passa a ser questionada a partir dos critérios de
definição do que seja um planeta.
Weber, assinala o autor, fez questão de distinguir as ciências naturais das
ciências sociais, sobretudo em relação ao método. Diferentemente de Popper,
Weber preferiria delegar às ciências sociais um modelo diferente do chamado
hard science das ciências naturais. Segundo PAIVA (1997), Weber estaria,
Sem a menor pretensão de resolver a questão, acredito que,
diante desse fato, Weber parece estar mais a vontade, com
sua idéia de que as ciências da cultura, na verdade desfrutam
sua “eterna juventude”. Ou penam por ela. (PAIVA, 1997,
p.108)
Poderíamos complementar essa idéia de “eterna juventude” com a metáfora de
Oscar Wilde em sua obra O retrato de Dorian Gray, na qual, na exaltação da
46
juventude e da beleza de Dorian Gray, Lorde Henry
2
nos brinda com o mordaz
comentário: “só o medíocre não julga pelas aparências”.
Os encantos das ciências sociais talvez não sejam tão sedutores quanto a
jovialidade de Dorian Gray. Muito embora algumas das disciplinas, que
compõem o seu escopo de discussão, estejam na “crista da onda” e desfrutem
de algum prestígio social. Entre elas a ciência da informação aparenta estar
sendo contemplada com esse status acadêmico. Restou-nos olhar no espelho
e verificar a nossa aparência e ver se guardamos a sedutora beleza da
juventude.
Sob esse prisma e, traçando um paralelo com a distinção entre paradigmas e
modelos, talvez pudéssemos fazer de ambos uma espécie de espelho para
delinear melhor a nossa “aparência”, mediante as reflexões epistemológicas
elaboradas neste trabalho.
Contudo, também o devemos menosprezar tudo aquilo que foi feito e
discutido nas últimas décadas. A opção de usar paradigmas e modelos para
discutir os fundamentos da área, trouxe, sem dúvida, à tona questões
interessantes para o seu reconhecimento como unidade científica, assim como
para com aquilo que circunda a área (interdisciplinaridade).
2
Personagem do livro: O retrato de Dorian Gray
47
4.2 Paradigmas e modelos tradicionais em CI
Apesar das justificativas quanto ao uso dos paradigmas e modelos para discutir
os fundamentos da área, tal uso não é novidade para a ciência da informação.
Talvez o uso mais marcante tenha sido a distinção entre o paradigma do
sistema e o paradigma do usuário. Essa que foi conhecida como a virada
cognitivista, pois deslocou o foco da área das “coisas” para os sujeitos, e na
qual supostamente tenha havido uma humanização da área. Mais tarde, vários
autores, entre eles Frohmann, apontaram a fragilidade desse paradigma, e a
necessidade de superação do mesmo, rumo a uma concepção
verdadeiramente social, indo além do individualismo cognitivista e pressupondo
as relações e contextos sociais.
Talvez por isso Capurro tenha formulado os três paradigmas fundamentais
para a ciência da informação: Físico, Cognitivo e Social. Apesar das críticas
dirigidas ao seu trabalho, julgamos a sua organização da área muito útil e que
não deixa de ser uma contribuição relevante, ainda que não definitiva para a
epistemologia da ciência da informação.
É interessante notar que, apesar de os paradigmas darem a idéia de superação
das teorias existentes, em verdade isso não acontece. Refiro-me, aqui ao
conceito de paradigma formulado por Ivan Domingues, e, portanto diferente do
trabalho de Thomas Kuhn. Essa necessidade de demarcação de conceitos se
deve à ampla utilização do conceito de paradigma de Thomas Kuhn na
48
literatura de ciência da informação. Assim vejamos o paradigma físico ou
fisicalista, centrado nos sistemas, ou melhor, nas “coisas”, continua vigorando
em certos contextos; quando se trata de organizar a informação, por exemplo,
está implícita a idéia de objetivação da informação, de tomá-la como ente ou
coisa para que se possa atribuir-lhe significado. Por outro lado, o chamado
paradigma cognitivista produziu novas teorias e não se pode dizer que,
atualmente, não considera o contexto dos indivíduos. Tem surgido, inclusive,
abordagens que congregam o paradigma cognitivista com o social, como por
exemplo, a análise de domínio de Hjorland.
4.3 Novas possibilidades: paradigmas em transição
Além dos considerados paradigmas tradicionais da área de ciência da
informação podemos dizer, ou questionar se não existiriam outros, que
pudessem ser identificados como tal. De fato, para validar esse argumento
teríamos que expor as condições de identificação de um paradigma ou que
requisitos seriam necessários para que pudéssemos considerá-lo dessa forma.
Segundo DOMINGUES (2004), o paradigma distingue-se em três níveis: o
paradigma-objeto trata-se do objeto de análise do paradigma em questão; o
paradigma-disciplina trata-se da disciplina considerada paradigmática na
formulação do paradigma e o paradigma-teoria donde se tem a teoria ou o
conjunto delas que estruturam e/ou fundamentam o paradigma. Assim o
paradigma deve fornecer o objeto de análise em seus múltiplos aspectos; o
princípio ordenador do discurso (teoria) e por fim o todo de análise e as
categorias com que operar.
49
A possibilidade de analisar as linhas de pesquisa da área de CI como aporte
para a discussão acerca dos paradigmas e modelos forneceu, pelo menos,
duas contribuições: a) Na identificação do paradigma-objeto e paradigma-teoria
ficou resguardado aquilo que dizia respeito à ciência da informação strictu
sensu e com isso tivemos um bom quadro daquilo que nos é peculiar e
essencial; b) na identificação do paradigma-disciplina estivemos nos
aproximando da discussão sobre interdisciplinaridade na ciência da
informação.
Para essa discussão talvez seja interessante retomar outra boa contribuição
sobre os parâmetros de definição de paradigma encontrada em Platão. Em sua
obra, Político, o autor no desenvolvimento do “paradigma da tecedura” nos
fornece alguns parâmetros para a identificação de um paradigma. A primeira
delas é a distinção entre “causa própria” e “causa auxiliar”. A causa própria
seria a “coisa propriamente dita” e a causa auxiliar, os instrumentos
indispensáveis à produção da coisa. Ou seja, o objeto e os instrumentos de
auxílio à construção do mesmo. Isso nos move a estabelecer paralelo entre a
distinção sobre paradigma-objeto e paradigma-teoria de DOMINGUES (2004).
Ou ainda, entre o fundamental ou o que fundamenta o paradigma e as teorias
que o sustentam ou auxiliam o seu estabelecimento.
A segunda distinção proposta por Platão ocorre entre a “medida relativa” e a
“justa medida”. A medida relativa é a comparação entre as “coisas”, ou melhor,
de uma coisa em relação à outra, estabelecendo analogias de tamanho,
50
amplitude, etc. O outro parâmetro dessa distinção é a justa medida, que é
estabelecida tendo como base as “necessidades essenciais do devir”. Trata-se
daquilo que é essencial ou ideal para se ter como parâmetro de medida, no
nosso caso, poderíamos dizer do grau de cientificidade de uma disciplina.
Assim, adaptando os conceitos para o presente trabalho (ou nos moldes de
uma discussão mais “atualizada”), teríamos a comparação entre paradigmas
e/ou teorias a fim de estabelecer o mais adequado para o assunto em questão.
Teríamos ainda, um horizonte a mensurar, que, no nosso caso, poderia ser a
“força”, em relação aos parâmetros científicos (assim tomados como ideais ou
essenciais), do paradigma ou da teoria em questão.
A terceira distinção trata de estabelecer a síntese ou a análise mais
aprofundada sobre o paradigma. Nesta distinção, que Platão chamou de “a
norma verdadeira ou a síntese dialética”, o autor chega à generalização ou à
extrapolação do “paradigma da tecedura”, rumo à distinção de sete gêneros
que compreenderiam todas as artes. Para o caso desta pesquisa, podemos
tomar essa distinção como a possibilidade de estabelecimento, através da
comparação entre os paradigmas, da constituição de uma disciplina científica,
mais especificamente a ciência da informação.
Assim, a partir desta discussão acerca dos paradigmas e modelos, adiante, o
trabalho toma a direção de congregar essas diferentes abordagens da área de
CI, como legítimas e não excludentes. Ou seja, não se tem a pretensão de
diluir a interdisciplinaridade da ciência da informação, nem tampouco apontar o
51
futuro de suas pesquisas. Assim, acenamos para a possibilidade de distinção
de outros paradigmas (diferentes dos até aqui apontados pela área), seja na
análise das linhas de pesquisa da área (do conhecimento construído pelos
pesquisadores brasileiros no campo da CI), ou na apreensão das discussões
sobre o tema na literatura da área (não se limitando apenas aos autores
brasileiros, mas incluindo determinados autores de outros países também).
Surge, ainda, a possibilidade para o confronto entre essas duas visões.
Lembrando sempre que o objetivo aqui é realizar uma boa discussão sobre a
epistemologia da ciência da informação abrindo espaço para o questionamento
e para a dúvida.
4.4 Considerações preliminares
O tema, “paradigmas e modelos” poderia ser ampliado e estendido ao longo,
até mesmo de um trabalho de pesquisa inteiro, ou talvez até mais de um.
Porém, o nosso intuito foi fazer breves considerações acerca da possibilidade
de sua aplicação às ciências de modo geral e às ciências sociais de modo
particular. Evidentemente, que a pretensão foi de chegar a um nível ainda mais
específico de discussão e confrontar a ciência da informação com o tema.
Estamos cientes de que, para muitos pesquisadores da área, a ciência da
informação ainda estaria em fase embrionária, o que dificultaria essa distinção.
De fato, estão certos, sobretudo se tomarem como ponto de partida a obra de
Thomas Kuhn, na qual as ciências sociais em seu conjunto seriam ciências
pré-paradigmáticas. Contudo, localizamos essa distinção no âmbito das
52
ciências humanas (aqui entendidas como humanas e sociais) na obra de Ivan
Domingues. Ficaríamos, portanto, com a dúvida somente quanto à
adequabilidade do uso dos paradigmas e modelos para a ciência da
informação, uma vez que este uso nas ciências humanas possui notória
referência.
Para a ciência da informação restaria então a opção de se incluir,
definitivamente, no escopo das ciências humano-sociais e se valer da abertura
encontrada na obra de DOMINGUES (2004) ou esquivar-se mais uma vez do
debate e declarar-se incapaz de acompanhar esse passo. O tempo talvez seja
o argumento mais forte para dizer da falta de teorias e métodos consistentes.
Estamos diante de um fato inexorável, no entanto, podemos e talvez
devêssemos avaliar o que foi construído e que se possa dizer assim
considerado paradigma, ainda que parcial ou modelo, como “construção do
espírito”, ainda que a direção mude ou nosso espírito se eleve.
53
5 METODOLOGIA
Este capítulo foi dedicado à metodologia com o intuito de apresentar a
concepção metodológica do trabalho como decorrente da teoria. Após ter
discorrido sobre a ciência da informação, sua cientificidade, linhas de pesquisa
e sobretudo, acerca da utilização dos paradigmas e modelos, tornou-se
evidente a necessidade em se explicitar os caminhos seguidos para a
concepção do trabalho como um todo.
Assim, o capítulo se subdividiu em três blocos, o primeiro dedicado a Max
Weber, o segundo à abordagem metodológica e o terceiro aos procedimentos
operacionais da pesquisa.
Max Weber foi um grande expoente das ciências sociais e embora esta
pesquisa não o tenha como tema central, a utilização de sua teoria merece a
devida justificativa e consideração. O segundo tópico abordou a concepção
metodológica, que em se tratando de um trabalho de epistemologia ganhou
contornos mais teóricos. Por fim, os procedimentos de pesquisa que trataram
das questões de operacionalização do presente trabalho.
5.1 Sobre Weber
Antes de nos aprofundarmos nos meandros da metodologia, tornou-se
necessário elucidar a utilização, ainda que de maneira quase tangencial, do
54
pensamento weberiano para abordar a epistemologia da ciência da informação.
Em princípio, essa tarefa nos pareceria inglória, e deslocada da discussão
central do trabalho, não fosse o direcionamento encontrado na discussão do
que alguns autores chamam de epistemologia weberiana e que Ivan
Domingues enxergou como uma das vertentes da epistemologia construtivista.
Nessa direção, o quadro que se apresentou foi o de elucidação de alguns
conceitos chave: ação, tipo-ideal, compreensão e objetividade do
conhecimento.
Para Weber, o principal objetivo das ciências sociais seria interpretar ou
compreender o sentido da ação social:
A ação social”, portanto, é uma ação na qual o sentido
sugerido pelo sujeito ou sujeitos refere-se ao comportamento
de outros e se orienta nela no que diz respeito ao seu
desenvolvimento. (WEBER, 1992, p.400)
E, ainda, a “ação social”,
(...) como toda ação, pode ser: 1) racional com relação a fins:
determinada por expectativas no comportamento tanto de
objetos do mundo exterior como de outros homens, e,
utilizando essas expectativas, como “condições” ou “meios”
para o alcance de fins próprios racionalmente avaliados e
perseguidos. 2) racional com relação a valores: determinada
pela crença consciente no valor – interpretável como ético,
estético, religioso ou de qualquer outra forma próprio e
absoluto de um determinado comportamento, considerado
como tal, sem levar em consideração as possibilidades de
êxito. 3) afetiva, especialmente emotiva, determinada por
afetos e estados sentimentais atuais; e 4) tradicional:
determinada por costumes arraigados. (WEBER, 1992, p.417)
55
Não competiu ao trabalho aprofundar na análise de cada uma das razões que
definem a ação social. Interessou-nos saber que é a partir da ação social que
Weber constrói seus “tipos ideais”. Pois,
Na esfera da ação social podem ser observadas regularidades,
de fato, isto é, a presença de uma ação social repetida pelos
mesmos agentes sociais ou por muitos agentes (em muitos
casos constata-se as duas coisas ao mesmo tempo), cujo
sentido imaginado é tipicamente idêntico. (WEBER, 1992,
p.421)
O tipo ideal, surgiria então como forma de compreender o sentido da ação
social, permeada sempre pela subjetividade do cientista ao selecionar o seu
objeto de pesquisa, e de ordem da teoria, das construções do pensamento
como forma de se apreender o real.
Obtêm-se um tipo ideal”, escreve Weber, “mediante a
acentuação unilateral de um ou de vários pontos de vista e
mediante o encadeamento de grande quantidade de
fenômenos isoladamente dados, difusos e discretos, que se
podem dar em maior ou menor número ou mesmo faltar por
completo, e que se ordenam segundo os pontos de vista
unilateralmente acentuados, a fim de formarem um quadro
homogêneo de pensamento. (DOMINGUES, 2004, p.62)
Em relação à compreensão, nos moldes em que Weber a apresenta, podemos
dizer que estamos diante, embora o autor não explicite isto em sua obra, de
uma formulação hermenêutica
3
. Essencialmente, Weber considerava a ação
racional com relação a fins como aquela que seria compreensível por
excelência. Assim, poderíamos traçar um quadro ordenador dos conceitos
weberianos no qual, partindo da ação racional com relação a fins, formulam-se
tipos ideais com o objetivo de compreender a realidade. Adiante iremos
3
Para Domingues (2004) a categoria de compreensão de Weber aproxima sua obra da hermenêutica,
entendida como a disciplina que busca compreender/interpretar o sentido das ações.
56
estender o entendimento sobre a conceito de “compreensão” na obra de Weber
e a sua aproximação, formulada por Ivan Domingues, com a epistemologia
construtivista permeada pela hermenêutica.
Convém, a título de breve introdução ao pensamento weberiano, esclarecer
mais um ponto, ou conceito: a objetividade do conhecimento. Inicialmente,
julgamos ser importante afirmar que Weber não trabalhava com leis e sua
definição de causalidade estava calcada na probabilidade; dalguns autores
questionarem a pretensão objetiva do conhecimento formulada pelo autor.
Contudo, Weber foi cuidadoso na formulação de sua teoria e, encontramos na
obra de Paiva (1997), um resumo dos seus critérios de validade para se
conceber um conhecimento objetivo nas ciências sociais:
1. A realidade (natural ou social) é inesgotável e infinita;
2. todo conhecimento opera uma seleção do material
empírico;
3. influem nessa seleção valores do cientista o que
implicaria relativismo e subjetivismo;
4. para que se tenha objetividade, deve-se julgar qualquer
conhecimento proposto através (a) dos critérios formais,
como o rigor e clareza dos conceitos, (b) da
“demonstrabilidade” ou eficácia dos conceitos e (c) da
adequação desse conhecimento aos fatos empíricos
conhecidos: passando por estas “provas”, um
conhecimento é declarado “objetivo”, até o surgimento de
evidência contrária. (PAIVA, 1997, p. 33)
Em síntese, percebemos na obra de Weber o cuidado com a formulação de
conceitos, ao mesmo tempo em que o reconhecimento da parcialidade e da
transitoriedade do conhecimento são ressaltados. Constatamos assim, que o
papel que Weber delega ao sujeito na construção do conhecimento permite
identificar a sua epistemologia como “epistemologia construtivista” que, ao
57
perguntar pelo sentido da ação, passa a caminhar também na direção da
construção de uma hermenêutica.
5.2 Abordagem metodológica
A metodologia empregada nesta pesquisa desenvolveu-se em duas linhas
complementares: a primeira que priorizou a teoria, na discussão sobre a
epistemologia da ciência da informação, constituiu o cerne desta pesquisa,
acompanhada da segunda etapa metodológica que se desenvolveu segundo
os procedimentos necessários para empreender a pesquisa e esclarecer os
passos seguidos, quais sejam o horizonte empírico e o fazer científico pari
passu.
A discussão epistemológica não foi empreendida de forma aleatória; antes,
pelo contrário, se circunscreveu na apreensão de paradigmas e modelos,
identificados na literatura de ciência da informação, sobretudo nos autores que
discutem strictu sensu os fundamentos da área. E, no segundo instante, ao se
dirigirmos o olhar para as linhas de pesquisa dos cursos de pós-graduação da
área, na proposta de argumentação centrada na epistemologia construtivista,
identificamos outros paradigmas e modelos, que desta vez, mostraram poder
ser considerados como construtos dos pesquisadores da área de CI.
Ao abordar a constituição epistemológica da ciência da informação, convém
esclarecer com que idéia de epistemologia se pretendeu trabalhar. Dessa
58
forma, caminhou-se para o estabelecimento da metodologia de análise da
ciência da informação como disciplina científica.
O argumento inaugural desse constructo foi a idéia, presente na obra de
DOMINGUES (2004, p.34), acerca do conhecimento do criador, “... para o
qual não em verdade uma fórmula canônica, mas um conjunto de idéias e
proposições mais ou menos implícitas , do real podemos conhecer
efetivamente aquilo que nós mesmos criamos”.
Na mesma perspectiva, SOUZA FILHO (1999), afirmou que se observam
quatro variantes do argumento do conhecimento do criador. Em primeiro lugar
o sentido religioso, no qual só Deus pode conhecer a natureza porque Deus
é seu criador. Em segundo, o sentido técnico no qual o homem pode conhecer
aquilo que cria, tornando-se assim um imitador Dei, para o qual haveria um
conhecimento operacional ligado às técnicas e não às essências. Em terceiro,
um sentido humanista segundo o qual:
O homem deve dedicar-se à investigação do mundo humano,
daquilo que cria, a realidade social e política, a história e a
linguagem, porque estas são criações humanas e portanto
podem ser conhecidas, e não ao mundo natural. A verdadeira
ciência é a ciência da realidade humana, desde a retórica e a
filologia, até a política e a moral. (SOUZA FILHO, 1999, p.21)
Esse sentido parece ser o que DOMINGUES (2004) incorporou em sua obra,
pois um dos representantes dessa abordagem, Giambattista Vico, foi para o
autor, quem melhor formulou o argumento do conhecimento do criador. A
quarta variante seria então o sentido epistêmico, segundo o qual “o homem não
59
conhece diretamente a realidade natural porque não a cria e, portanto não tem
acesso à sua essência, à sua natureza última, mas a conhece através de suas
idéias ou representações que são produções suas.” (SOUZA FILHO, 1999,
p.22). DOMINGUES (2004) operou uma espécie de junção dessas duas
últimas abordagens, preferindo a formulação de Vico e, portanto, ficando mais
atrelado ao sentido humanista do argumento, até porque o seu horizonte de
análise foram as ciências humanas (englobando as sociais também). Muito
embora, pode-se observar que as duas últimas abordagens, em suma, afirmam
que o homem pode conhecer aquilo que efetivamente cria, seja através de
idéias e representações, seja naquilo que cria objetivamente.
À guisa de explicação e complemento, podemos ainda classificar as ciências
em três grandes concepções: uma racionalista cujo modelo de objetividade é a
matemática, outra empirista baseada na observação e uma terceira que é a
concepção construtivista:
A concepção construtivista iniciada em nosso século
considera a ciência uma construção de modelos explicativos
para a realidade e não uma representação da própria
realidade. O cientista combina dois procedimentos um, vindo
do racionalismo, e outro, vindo do empirismo e a eles
acrescenta um terceiro, vindo da idéia de conhecimento
aproximativo e corrigível.
(CHAUÍ, 1999, p. 252)
Apesar de a formulação de DOMINGUES (2004) acerca do conhecimento do
criador dar conta de explicar a utilização do conceito de construtivismo
epistemológico, a classificação mais geral de CHAUÍ (1999) nos deu a noção
de método, congregando o viés racionalista com o empirista e acrescentando a
60
idéia de conhecimento aproximado. Abordagem essa que ratificou o método
empregado no presente trabalho, pois o mesmo trabalha com a teoria
associada a um horizonte empírico e não postula respostas; ao contrário,
considerou-se o conhecimento como sempre aproximativo, pois é da ordem da
construção e está sempre em vias de se fazer.
Em decorrência da formulação desta idéia, Domingues (2004) propôs cinco
modalidades variantes desse argumento nas ciências humanas: a)o realismo
epistemológico; b) o construtivismo, c) o instrumentalismo, d) o
operacionalismo e e) o pragmatismo. Dessas variantes tomou-se para o
presente trabalho a idéia de construtivismo epistemológico, da qual, segundo o
autor, Weber seria um dos representantes.
O construtivismo epistemológico distingue o conhecimento da realidade, e
pensa o conhecimento como construção. Contudo, foi na obra de Weber que
se incorporou o sujeito epistemológico ao processo de conhecimento, ou seja,
o conhecimento depende do sujeito e do ponto de vista do sujeito
(DOMINGUES, 2004, p.46).
Assim, é a teoria que assume o papel central para a apreensão do
conhecimento, em detrimento da prova lógica e da prova empírica, visto que
ela instala uma relação de circularidade com o real.
61
Feitas essas observações acerca da epistemologia construtivista e de sua
adequação para se indagar da ciência da informação e seus fundamentos,
procedeu-se, então, à operacionalização do conceito frente ao problema
proposto neste trabalho.
No Brasil temos nove programas de pós-graduação em ciência da informação
em vigência, dos quais foram analisadas as linhas de pesquisa constituintes
4
através de uma análise comparativa dos enunciados e suas respectivas
ementas.
Utilizou-se também, para este trabalho, breve histórico sobre a constituição
dessas linhas de pesquisa e sobre os primeiros cursos de pós-graduação
brasileiros em ciência da informação. Ou seja, feita a abstração das linhas de
pesquisa brasileiras em CI, pretendeu-se alcançar as linhas mais
representativas no âmbito da ciência da informação, para então inserir ali a
discussão epistemológica acerca dos paradigmas e modelos da área. Ressalte-
se, mais uma vez, que as linhas de pesquisa foram aqui utilizadas como
parâmetros para a discussão epistemológica na área de ciência da informação.
Dessa forma, apesar de estarmos cientes do campo de “forças” a que a ciência
da informação está afeita (em se tratando de seus pesquisadores e linhas de
pesquisas), iremos nos ater, neste presente trabalho, à problemática de sua
fundamentação teórica.
4
Ver anexo 1.
62
Recapitulando, os pilares em que esta proposta de abordagem da ciência da
informação, na perspectiva da epistemologia construtivista centrada em Weber,
refere-se primordialmente à idéia de construtos mentais como forma de se
apreender o real (que é construído pelos sujeitos concretos); donde
considerou-se que a teoria tem a primazia na construção científica. Em
segundo lugar, no conceito de “compreensão” no sentido de que é preciso
compreender o real, através da interpretação das atividades ou fenômenos
com a ajuda das proposições contrafactuais, ou da causalidade probabilística
(como se).
Entretanto, resta ainda, esclarecer mais detalhadamente o todo empregado
nesta dissertação. Dentro da proposta da epistemologia construtivista,
baseamo-nos na justificativa em nos utilizarmos das linhas de pesquisa dos
cursos de pós-graduação brasileiros em CI como base descritiva para o
trabalho. Mas foi na idéia de “compreensão” que encontramos a ferramenta
para operacionalizar a análise dessas linhas.
De acordo com DOMINGUES (2004), para empreender a análise científica dos
fenômenos humano-sociais dentro da perspectiva epistemológica, pode-se
lançar mão do chamado “tripé metodológico”: descrição, explicação e
interpretação (compreensão), sendo que, a interpretação (compreensão) se
ocupa da busca pelo sentido. Evidentemente que essas três etapas
metodológicas se confundem no processo de pesquisa e pode-se dizer que
não existe uma separação temporal entre elas. Contudo, interessava-nos,
63
quando se tratava de explicitar o método adotado, seguir uma linha lógica de
pensamento, que pudesse conduzir o pesquisador (leitor) a uma viagem
“segura” pelo percurso de construção da dissertação.
Existem vários autores, que trabalham esse tripé de diferentes formas e
abordagens. No entanto, como adotamos a obra de Domingues (2004) e sua
formulação da teoria de Weber, estávamos diante de uma hermenêutica que
preferia a compreensão em detrimento da interpretação. Ou melhor, era a
compreensão a categoria abarcante do tripé metodológico.
No caso da compreensão como categoria abarcante, seu
privilégio é devido à sua própria abrangência no plano da teoria
e, também, do método. Esse privilégio prende-se ao fato de
Weber enxergar em suas operações e postulações a
capacidade de ir além do modelo nomológico-dedutivo do
paradigma fisicalista. Precisamente, a capacidade de capturar
o indivíduo em sua especificidade, com suas intenções,
motivações e inquietações internas, em vez de apreendê-lo
como representante do universal numa relação de inclusão da
parte no todo, ou de subsumí-lo diretamente num conjunto ou
numa lei geral, como na relação de subsunção do caso à regra.
(DOMINGUES, 2004, p.519)
O outro argumento era que a compreensão seria o que distingue as ciências
humanas das naturais, posto que a categoria de compreensão relaciona-se
com a pergunta pelo sentido.
A ciência da informação, na mesma corrente, tem buscado alternativas
metodológicas na hermenêutica para dizer de seu objeto, dentre as quais
podemos destacar os seguintes autores:
64
a) O ponto de vista da hermenêutica e da retórica, bem como
ilustrado por Rafael Capurro (1985;1992); b) o ponto de vista
de uma teoria da ação e informação, introduzido por Gernot
Wersig (1985); c) o ponto de vista da Filosofia da linguagem,
incorporado aos novos estudos da organização do
conhecimento e a representação da informação como os de
Blair, Frohmann (1990); d) o ponto de vista que enfatiza as
mediações, a partir da teoria ator-rede (FROHMANN, 1999;
STAR; 1998) e da teoria da atividade (HJORLAND e a ‘análise
de domínio’, 1995); também com alguma influência na teoria
dos ‘espaços de tratamento de problemas’, em Wersig.
(GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2002, p.31).
Para FERNANDES (2004) existem quatro abordagens preponderantes na área
de CI: documentalista, matemática, cognitivista e hermenêutica, sendo que a
abordagem hermenêutica se distinguiria das demais, porque,
A abordagem hermenêutica busca um terceiro elemento que
coloque o objeto e sujeito ao menos num diálogo, que não
existe informação se não for informação para um sujeito, nem
sujeito de informação sem informação.(FERNANDES, 2004,
p.257)
Parecia-nos oportuno, diante desse novo quadro hermenêutico para a ciência
da informação, valer-nos de Weber e seus esquemas compreensivos que
fazem de sua epistemologia construtivista uma epistemologia vazada em
hermenêutica.
Adotou-se, esse método porque, de fato, acrescentaria à ciência da informação
uma perspectiva nova, rumo à preponderância das ciências humano-sociais
sobre as naturais, o que ainda não é consenso dentro da área. O fato de
DOMINGUES (2004) trabalhar em Weber uma hermenêutica compreensiva
ampliaria o leque de discussões da área, centradas na interpretação, sobretudo
de ordem prática e operacional (resultante do trabalho de interpretar), para uma
65
categoria mais abrangente, interessada na compreensão dos fenômenos de
informação.
Acerca do tripé metodológico, vejamos uma interpretação (compreensão) do
modelo proposto por DOMINGUES (2004) por um interlocutor da área de
ciências sociais, segundo o qual o tripé pode ser assim traduzido:
Descrição, explicação e interpretação se confundem,
desafiando as tentativas de distinção e separação e gerando a
necessidade de articulá-las e correlacioná-las (p. 129). Para
Domingues, o elemento interpretativo, entendido como o
esforço de elucidação do sentido, é o que teria maiores
chances de desempenhar um papel preponderante no método.
(MASSELA, 2005, p.192)
De maneira mais clara temos a descrição como algo que se ateria ao “quê” dos
fenômenos observados (descritos); a explicação relacionada ao “como” esses
fenômenos se comportam, à luz de uma origem, de uma estrutura ou de um fim
(teleologia) e a interpretação (compreensão) que embora em muitas ocasiões
seja difícil distingui-la da explicação
5
, se caracterizaria pelo envolvimento da
significação (sentido) dos fatos ou fenômenos. (Domingues, 2004)
Passemos agora então a analisar cada uma das etapas de pesquisa que
compõem o tripé metodológico, de forma mais detalhada, lembrando que a
compreensão seria a categoria abarcante que perpassa todas as outras três,
pois a etapa de descrição seria, tão somente,
5
Segundo Domingues (2004) uma vez descrito e explicado o fenômeno, muitos o tomam como
interpretados e, portanto compreendidos.
66
(...) o registro, com base na observação, de caracteres de
indivíduos e processos, guiado pela compreensão e voltado
para a captação do sentido, o qual não pode ser descrito, mas
explicado e interpretado com a ajuda da base descritiva
empírica (DOMINGUES, 2004, p.525).
Ou seja, tratar-se-ia da base empírica de observação, da qual todo
empreendimento científico, deveria valer-se, mesmo em se tratando de
trabalho teórico.
Por sua vez, a compreensão, como categoria abrangente, estaria presente na
descrição sob a forma de pressupostos teóricos; donde todo recorte do real
traria consigo uma visão da realidade, uma interpretação donde se tenha
partido, ou melhor, uma compreensão prévia do fenômeno pesquisado.
Entretanto, a descrição, que segundo Weber seria impossível de ser completa,
tanto da totalidade do real quanto de um fragmento dele, seria por vezes
lacunar deixando brechas que dificultariam ou invalidariam o trabalho científico,
ora excessivo e, portanto redundante, tornando necessário o emprego de
métodos de seleção e recorte do objeto de estudo.
A base descritiva do presente trabalho se sustentou nas linhas de pesquisa dos
cursos de pós-graduação brasileiros em ciência da informação. Sem vida
que, em se tratando de discutir, a epistemologia da ciência da informação
poderia ser considerada base lacunar; contudo tais lacunas puderam ser
preenchidas com a literatura da área de CI que, por sua vez, foi circunscrita ou
reservada apenas aos textos que discutiam os fundamentos da área, tendo
67
como apoio a fundamentação oriunda da filosofia, mais especificamente a
epistemologia
6
e suas interseções com outras áreas do conhecimento.
Tendo a base descritiva conceituada, passemos à etapa da explicação. Esta,
de acordo com Domingues (2004), poderia ser de vários tipos:
Seu tipo não pode ser mais variado: causal, genético,
funcional, teleológico. Seus perigos, imensos. Não bastasse o
risco de confundir a mera sucessão temporal das coisas com a
relação de causa e efeito, outros perigos com tantos outros
riscos, em razão de certos males que atingem as diferentes
formas de explicação: o mal da causalidade é a regressão ao
infinito; o mal da explicação genética é o mesmo da
causalidade, pois de tanto recuar de filiação em filiação, em
busca da origem absoluta, termina por refugiar-se num tempo
imemorial, do qual não sabemos nada do que se passa nele e
sobre o qual não temos o menor controle; o mal da explicação
funcional, ao definir o órgão pela função, é o risco de não
explicar nada e tomar o efeito (descarga da lis) pela causa
(fígado). (DOMINGUES, 2004, p.528)
Weber trabalhou com a causalidade, ou explicação causal; contudo sua opção
se centrava na “causalidade probabilística”, na qual o que é deve ser avaliado
pelo que poderia ser. A compreensão surgiu aqui como o amparo sob o qual o
cientista poderia formular o seu juízo, sem se prender somente ao nível
descritivo da análise; assim:
“Explicar”, portanto significa, desta maneira, para a ciência que
se ocupa com o sentido da ação, algo que pode ser formulado
do seguinte modo: apreensão da conexão de sentido em que
está incluída uma ação que já é compreendida de maneira
atual, no que se refere ao seu sentido “subjetivamente
imaginado.(WEBER, 1992, p.404)
6
A epistemologia também é considerada uma ciência interdisciplinar, tendo seu repouso na filosofia, mas
guardando relações com outras áreas do conhecimento, como por exemplo a sociologia.
68
Essa busca pelo sentido da ação foi uma das características fundamentais da
obra de Weber, da qual Domingues extraiu os conceitos que fundariam sua
epistemologia construtivista vazada em hermenêutica. Entretanto, o mesmo
fato histórico (constituído) pode ter diferentes esquemas causais, sendo que a
causalidade seria sempre da ordem da possibilidade (ainda que objetiva) e
pergunta pelo sentido do fato (por exemplo, a constituição histórica da ciência
da informação), visando sempre a obter uma compreensão da realidade.
Dessa forma, a análise feita no presente trabalho se concentrou na apreensão
do que seja a ciência da informação a partir de sua constituição histórica, sem
tomar os fatos como verdadeiros ou falsos e muito menos prender-se numa
exaustiva revisão sobre sua constituição institucional. Ao contrário, utilizou-se
de uma base descritiva, que nos forneceu o produto da intervenção dos
pesquisadores da área (demiurgos), aliada a fatores históricos que permearam
a constituição da área, com a discussão epistemológica, a fim de “explicar”
para melhor compreender os paradigmas e modelos vigentes na ciência da
informação. Convém lembrar que a relação causal foi da ordem da
probabilidade, portanto, as linhas de pesquisa dos cursos de pós-graduação
brasileiros da área de ciência da informação não resultariam ou estabeleceriam
os paradigmas e modelos absolutos ou únicos para a CI, assim como a análise
da literatura, em si incompleta, não pôde também preencher em sua totalidade
as lacunas deixadas pela análise das linhas de pesquisa da área. Coube-nos
interpretar/compreender o que a produção científica dessas linhas de pesquisa
69
representariam para a ciência da informação, seja no contexto brasileiro, seja
para a área como um todo.
Por fim, chegamos à última instância do tripé metodológico proposto para este
trabalho: a interpretação. Categoria de difícil apreensão visto que nos conduz à
fundamentação de todo o método aqui proposto. Ao falar de interpretação nos
colocamos diante da hermenêutica e da busca pelo sentido e, é aqui que a
compreensão alcança o ápice de sua sustentação. Tendo a base descritiva e
fazendo dela um aporte para tentar explicar esta realidade através da análise
dos paradigmas e modelos vigentes na área de CI, passamos à tentativa de
compreensão sobre o real empírico.
A possibilidade de trabalhar com a idéia de compreensão abriu para as
ciências humano-sociais e, neste trabalho específico para a ciência da
informação, um horizonte promissor para os sujeitos construtores do
conhecimento. “O compreensível é, pois, a sua referência à ação humana, seja
como ‘meio’, seja como ‘fim’ imaginado pelo agente ou pelos agentes que
orientam a sua ação” (WEBER, 1992, p.402).
Foi justamente com a compreensão, categoria abarcante no nosso tripé
metodológico, que a interpretação ou a hermenêutica como método se
viabilizaria na obra de Weber e, adiante, neste trabalho de pesquisa.
Tal teoria será justamente a teoria da compreensão, que, antes
de ser uma lógica (método) e se ocupar da verdade ou da
validade dos enunciados, é uma hermenêutica cujo objeto é o
sentido e cujo objetivo é sua decifração, antes mesmo de
70
perguntar por sua verdade e indagar de sua validação.
(DOMINGUES, 2004, p.535-536)
Evidentemente que essa distinção acerca da categoria de compreensão, assim
como das outras que compuseram o tripé, possuía interpretações distintas por
diversos autores, sobretudo aqueles que estavam ligados ao pensamento
hermenêutico, entre os quais Dilthey, Gadamer e Heidegger. No entanto, neste
trabalho preferiu-se o aprofundamento na obra de Ivan Domingues, em
específico neste caso nas categorias do tripé por ele formuladas. Tal restrição
não nos impediu de submeter a outros olhos a idéia de compreensão, entre
eles o de Ricoeur (19--), segundo o qual,
Estritamente falando, a explicação é metódica. A
compreensão é, antes, o momento não metódico que, nas
ciências da interpretação, se forma com o momento metódico
da explicação. Este momento precede, acompanha, limita e
também envolve a explicação. Em contrapartida, a explicação
desenvolve, analiticamente, a compreensão. (RICOEUR, 19--,
p.182)
Paul RICOEUR (19--), conduziu seu raciocínio mostrando que as ciências da
interpretação (ligadas a fenômenos humanos e sociais), sobretudo a filosofia,
se preocupavam com a compreensão, ao passo que para as ciências naturais
a explicação na maioria das vezes bastava. Contudo, sua formulação pareceu-
nos dar a idéia de que a compreensão assumisse também o status de
categoria abarcante das demais. Fato esse que nos deixou mais seguros na
condução da compreensão como categoria abarcante de nosso tripé
metodológico e, em seguida da preferência do termo compreensão em
detrimento da interpretação, sobretudo na abordagem da hermenêutica
(conforme observado na obra de Weber) utilizada nesta pesquisa.
71
Essa categoria mais abrangente, muito embora as etapas por vezes se
sobrepusessem, teve a pretensão de tentar compreender o objeto em questão.
Por outro lado, a compreensão não precisa ser da ordem da conclusão; antes,
porém, situa-se na categoria de intelecção que abarca a lógica e a heurística
(do grego heuriskein = descobrir, achar ou encontrar o sentido no caso).
Assim abriu-se espaço para a interpretação, baseada menos na descrição da
realidade (empírica) e mais na discussão teórica, o que nesta pesquisa se deu
através da análise dos paradigmas e modelos da área de CI, rumo à
compreensão desse estado de coisas.
As linhas de pesquisa dos cursos de pós-graduação brasileiros em CI aliadas à
literatura acerca dos fundamentos da área, nos possibilitaram então
compreender melhor a área. De forma detalhada temos a descrição que é de
natureza demiúrgica, talhada pelos pesquisadores da área de CI no Brasil,
aliada ou confrontada com a literatura geral da área, que por sua vez foi
delimitada por seu conteúdo. A partir daí, estabeleceram-se relações causais
probabilísticas quanto à sua representatividade para indagar da ciência da
informação os seus fundamentos. Abriu-se assim, espaço para a interpretação
(compreensão) do fenômeno, que em sua origem foi a própria ciência da
informação (linhas de pesquisa+literatura da área), operando na distinção de
seus paradigmas e modelos. Assim, seguimos no horizonte da busca do
sentido que orientou grande parte das ciências humano-sociais (ciências
compreensivas) e se estendeu para as ciências naturais através da ética
72
incorporada ao fazer científico, diante do “temível” por que das coisas e com
uma resposta, sempre parcial para as nossas inquietações.
5.3 Procedimentos
O trabalho se desenvolveu em duas vertentes: a abordagem teórica, que tomou
como prioridade as discussões epistemológicas organizadas em torno da
epistemologia construtivista, tal qual elaborada por Ivan Domingues (2004); a
outra vertente foi a base empírica do trabalho constituída pelas linhas de
pesquisa dos cursos de pós-graduação brasileiros em CI.
A discussão epistemológica foi empreendida, tendo-se em conta os
paradigmas e modelos vigentes na literatura da área de ciência da informação.
Para tanto, foi elaborada uma revisão de literatura a partir dos textos que
discutem os fundamentos, bem como o desenvolvimento histórico da ciência da
informação no Brasil (cap.3 e 4), forma essa que nos permitiu avançar na
identificação dos paradigmas e modelos da área. A fim de estabelecer
parâmetros para a escolha destes textos, tomou-se como referência o trabalho
de PINHEIRO (1997)
7
, que apresentou pesquisa feita no ARIST (importante
periódico da área) e localizou os autores que publicaram artigos de revisão de
literatura relacionados com os fundamentos e história da ciência da informação,
abrangendo o período de 1977 a 1995 e, incluindo um total de 741 documentos
revistos, conforme quadro apresentado a seguir:
7
Uma abordagem histórica inicial foi empreendida no capítulo 2. Na análise dos paradigmas e modelos
utilizamos novamente algumas dessas referências, aproveitando, sobretudo, os artigos citados nesses
trabalhos de revisão histórica da área de ciência da informação.
73
QUADRO 1
Artigos publicados no Arist sobre história e fundamentos da ciência da
informação
Autores Ano de publicação Nº documentos
revistos
Período de cobertura
1. Shera e Cleveland 1977 121 1933-1976
2. Zunde e Ghel 1979 161 1950-1979
3. Boyce e Kraft 1985 198 1963-1985
4. Heilprin 1989 36 1879-1989
5. Buckland e Liu 1995 225 1945-1995
Total 741
Fonte: PINHEIRO, Lena Vania R. A Ciência da Informação entre sombra e luz: domínio epistemológico e
campo interdisciplinar (1997)
Em recente artigo, PINHEIRO (2005) retomou e atualizou esses dados,
verificando também o surgimento de outros aspectos (metodológicos, por
exemplo) no campo da ciência da informação, trabalho este que também foi
tomado como parâmetro para a seleção dos autores que discutiram os
fundamentos da área. Evidentemente que outros textos, principalmente no
âmbito brasileiro, surgiram como incremento à esta discussão, sobretudo na
distinção dos paradigmas e modelos da CI.
Contudo, faltava à discussão teórica um direcionamento no sentido de se ter
para onde olhar. Assim, as linhas de pesquisa dos cursos de pós-graduação da
área, mais especificamente os seus enunciados (ementas dos programas)
constituíram o universo de pesquisa empírica, por representarem a visão do
74
que seja a ciência da informação pelos seus próprios
construtores/pesquisadores. Essa abordagem evidentemente revelou-se
coerente com a proposta teórica em que se sustentou o presente trabalho, uma
vez que a epistemologia construtivista propõe o conhecimento como
construção dos sujeitos.
Foram feitas então comparações entre os enunciados dessas linhas de
pesquisa, a fim de determinarem as convergências e discrepâncias entre elas,
levando-nos ao agrupamento dos enunciados similares em temáticas mais
gerais, o que permitiu empreender a discussão dos paradigmas e modelos da
área de CI. Esse procedimento operacionalizou-se em relação às linhas de
pesquisa dos cursos brasileiros de pós-graduação em CI, da seguinte forma
8
:
Construção de um quadro da área (Quadro 2, p.87, construído em
ordem alfabética por enunciado), que nos permitiu destacar algumas
palavras-chave (pelo processo de indexação) que apareceram com
maior incidência em determinadas linhas de pesquisa. Isso possibilitou-
nos observar as questões que, de fato, tinham sido objeto de
preocupação/interesse (representatividade) no conhecimento construído
pelos pesquisadores da área no cenário nacional;
8
Como incremento à distinção das linhas de pesquisa utilizou-se de alguns princípios oriundos da
classificação facetada.
75
Agrupamento das palavras-chave que guardavam relação de
semelhança. Ex: Gestão da informação com Gestão da informação e
conhecimento;
Por fim procedeu-se, através dos agrupamentos temáticos (que deram
forma às abordagens) construídos a partir da indexação (atribuição de
palavras-chave) das ementas das linhas de pesquisa da área
(enunciados), à distinção de seus paradigmas e modelos.
A escolha dos enunciados (e suas respectivas ementas) das linhas de
pesquisa da área para uma discussão epistemológica, deixando de lado as
questões concernentes à constituição e aprimoramento das mesmas, deveu-se
ao fato de o trabalho se ater às questões teóricas do campo e não dos
movimentos sociais, culturais e políticos que motivam a luta interna da ciência
em demarcar os seus campos científicos. Bastava para nós, de acordo com os
objetivos da pesquisa, saber que os enunciados dessas linhas representariam
uma visão da área pelos seus próprios construtores (pesquisadores) e sob que
ótica seria possível traçar questões epistemológicas que pudessem servir para
o crescimento do campo como um todo.
Tendo-se então procedido à análise da literatura da ciência da informação, nos
parâmetros aqui explicitados, e à distinção geral dos paradigmas e modelos da
área, levando-se em conta o contexto de argumentação epistemológica que
não prevê resultados determinísticos ou exaustivos, acrescidos da análise, nos
mesmos moldes, das linhas de pesquisa dos cursos brasileiros de pós-
76
graduação em CI, restava-nos o embate entre essas duas perspectivas. Dessa
forma, pudemos contemplar de forma mais ampla a discussão sobre a ciência
da informação, através do conhecimento construído pelos pesquisadores da
área no Brasil, em seu aspecto nacional, bem como outro de âmbito
internacional através da literatura de outros países também. Assim, emergiu
então uma terceira análise, resultante do confronto das idéias constituídas local
e globalmente, o que possibilitou ao presente trabalho enriquecimento e
maturidade científicas, necessárias à ampliação do alcance de suas
discussões.
A opção por tomar como corpus de pesquisa os enunciados dessas linhas de
pesquisa, não nos eximiu de dedicar um capítulo ao histórico da ciência da
informação no Brasil, sobretudo dos seus cursos de pós-graduação
9
.
Constatou-se, ainda, a necessidade de dedicarmos parte do estudo à origem e
à constituição da ciência da informação, sobretudo em torno das discussões
atinentes à constituição de seu objeto e ao desenvolvimento de suas questões
teóricas. Deste modo, os estudos da literatura resultaram em revisão pertinente
a esses dois temas.
9
Ver Cap.3.
77
6 PARADIGMAS E MODELOS EM CI
Tendo discutido a relevância da identificação dos paradigmas e modelos nas
ciências de modo geral, e perpassado a questão da ciência da informação bem
como das linhas de pesquisa da área em seu viés historicista, partiremos agora
para uma análise mais detalhada. O recorte irá se concentrar na identificação
de paradigmas e modelos nas linhas de pesquisa da área, num primeiro
momento. Em seguida analisaremos paradigmas e modelos na literatura da
área, delimitados por textos que abordam ou indicam caminhos para
identificação dos mesmos. Por fim estabeleceremos um confronto das análises
para que possamos ter uma visão mais ampla e madura, do ponto de vista
científico, dos paradigmas e modelos que supostamente compõem a ciência da
informação.
Convém lembrar novamente as etapas do tripé metodológico explicitadas no
capítulo anterior, em cujas bases ter-se-á, num primeiro momento, a descrição
das linhas de pesquisa a fim de constituir um universo de pesquisa em que
posteriormente serão identificados paradigmas e modelos. Em seguida, após
ter descrito o universo a trabalhar, passamos à etapa da explicação que não é
causal, ao contrário, é da ordem da probabilidade. Sabendo que toda descrição
possui lacunas e excessos, optou-se por complementá-la com a análise do
corpus extraído do universo da literatura da área, que possibilitará argumentar
sobre o agrupamento das abordagens. O estudo da literatura propiciou,
também, uma análise em específico de seus paradigmas e modelos, o que
78
permitiu-nos inclui-lo na etapa de compreensão (categoria abarcante das
demais). Nesta etapa, temos ainda a própria identificação dos paradigmas e
modelos extraídos das linhas de pesquisa dos cursos brasileiros em ciência da
informação. Finalmente, ainda nesta mesma etapa, o confronto das análises
obtidas das linhas de pesquisa (que se utilizam também da literatura da área
na etapa de explicação) com a literatura da área, propiciou discussão,
direcionada exclusivamente para os paradigmas e modelos.
6.1 Análise das linhas de pesquisa
Para empreender uma análise das linhas de pesquisa com um critério coerente
com a área de estudo em questão (ciência da informação), julgamos
apropriado nos valer, nesta etapa, da técnica de classificação por assuntos. Em
verdade esse procedimento não é considerado como uma metodologia
científica, antes, trata-se de uma técnica empregada, sobretudo na
biblioteconomia, para classificar e indexar documentos.
Para o caso do trabalho em questão, como pretendíamos empreender um
agrupamento das palavras-chave determinadas a partir do exame dos
enunciados das linhas de pesquisa, acrescidos das definições de suas
ementas, a classificação por assunto nos pareceu muito adequada.
Historicamente, as classificações passaram de um nível mais abstrato e teórico
para uma conotação mais concreta e pragmática. Desde a proposta de Platão
para se organizar o conhecimento, passando por Aristóteles (de todos o mais
79
influente) culminando nos grandes compêndios de classificação propostos para
a biblioteconomia por Dewey (CDD) e os belgas Henri La Fontaine e Paul Otlet
(CDU), muita coisa mudou. No âmbito da ciência a diversidade de assuntos
cresceu, devido à segmentação e especialização do conhecimento. As
classificações, sobretudo as bibliográficas, tentaram acompanhar esse
desenvolvimento e transformaram-se em exaustivos volumes que se renovam
constantemente.
Apesar de existir certa idéia de superação entre as classificações, não poderia
deixar de enaltecer a belíssima síntese aristotélica acerca da divisão do
conhecimento, que compreende: “o Teórico, que visa ao conhecimento em si; o
Prático que busca o conhecimento como um guia de conduta, e o Produtivo
que tem por objetivo fazer coisas úteis ou belas.” (VICKERY, 1980, p. 189). A
crítica à classificação de Aristóteles se deve mais ao agrupamento de
disciplinas que compreende cada um dos tópicos do que a sua divisão
fundamental do conhecimento. Mais tarde, por exemplo, a divisão mais aceita
nesses moldes foi a distinção entre ciências puras e aplicadas e entre naturais
e humanas. Em relação à divisão aristótelica seria possível tentar interpretá-la,
nos moldes atuais, como ciências essenciais ou teóricas (Teórico); ciências
aplicadas ou tecnológicas (Prático) e as artes (Produtivo). Sem nos estender
muito acerca da aplicabilidade da divisão aristótelica na atualidade, passemos
à classificação das linhas de pesquisa em ciência da informação.
80
Poderíamos neste momento utilizar diversas categorizações, esquemas,
teorias classificatórias. Contudo, interessa-nos operacionalizar, num primeiro
momento, a distinção e agrupamento das linhas de pesquisa que guardem
relação temática umas com as outras.
A nossa opção se concentrou então na proposta de “estrutura classificatória”
de Ranganathan. Shiyali Ramamrita Ranganathan, bibliotecário, matemático e
filósofo indiano, criou na década de 30, a teoria da classificação facetada que
se caracteriza pelo sistema onde “as facetas e suas seqüências são
predeterminadas para todos os assuntos e acompanham uma classe sica”.
(RANGANATHAN, 1967, p. 107 apud CAMPOS, 2001, p. 37).
A intenção de Ranganathan era possibilitar a incorporação de novos assuntos,
o que até então não era possível nos outros esquemas de classificação
bibliográfica. Tomando resumidamente o seu esquema, a fim de poder aplicá-lo
nesta dissertação, iremos nos ater a apenas alguns conceitos aplicáveis no
universo das linhas de pesquisa dos cursos de pós-graduação brasileiros em
ciência da informação.
A primeira escolha a fazer seria, então, entre as classes de conhecimento mais
abrangentes que compõem o nosso esquema. Ranganathan define essas
classes como “assuntos básicos” que representam as classes mais
abrangentes do conhecimento, a matemática, por exemplo. A segunda diz
respeito à complementação do “assunto básico” para identificar as ramificações
81
do conhecimento, por assim dizer. Surge então o conceito de “idéia isolada”
que é “alguma idéia ou complexo de idéias ajustadas para formar um
componente de um assunto mas, em si mesma, ela não é considerada um
assunto” (RANGANATHAN, 1967, p.83 apud CAMPOS, 2001, p. 49). Tomando
o exemplo da matemática como assunto básico, poderíamos acrescentar a
idéia isolada “aplicada”, assim teríamos “matemática aplicada”, como um
assunto composto (junção de um assunto básico com uma idéia isolada). Ainda
dentro do “assunto composto” a possibilidade de se combinar duas idéias
isoladas, como por exemplo réguas e compassos. Além dessas, é possível
uma outra forma de combinação que se denomina “assunto complexo” que é a
junção de dois assuntos básicos, por exemplo Matemática para físicos.
Em nosso caso, essa distinção foi importante quando da definição das
palavras-chave descritoras das linhas de pesquisa, que por sua vez facilitou o
agrupamento das mesmas em abordagens.
Evidentemente que o pensamento e a teoria de Ranganathan são muito mais
complexos do que o exposto, deixamos de fora os conceitos de renque e
cadeia, além do conhecido PMEST (categorias fundamentais). Nosso intuito
entretanto, é apenas tangenciar esse conhecimento para servir como aporte e
enriquecimento teórico para operacionalização da classificação e arranjo das
linhas de pesquisa.
82
Consideramos, para esta pesquisa, um arranjo inicial dos enunciados
acrescidos de suas respectivas ementas, dispostos em ordem alfabética. Para
chegar às classes mais abrangentes (abordagens), no entanto, tornou-se
necessário empregar palavras-chave a cada uma dessas linhas, tendo como
base as suas respectivas ementas pelo método da indexação. Inicialmente,
“cabe, entretanto, ressaltar que a atividade de indexação é um processo
subjetivo”. (STREHL, 1998, p.329). De qualquer forma, na tentativa de suprir as
lacunas deixadas pela subjetividade do indexador (ou classificador), iremos,
além de nos ater aos preceitos gerais da teoria de Ranganathan, nos valer de
alguns critérios norteadores para o emprego dessas palavras-chave. No que
diz respeito às etapas da indexação (no nosso caso, nos referimos a atribuição
de palavras-chave), temos que:
A indexação de assuntos envolve duas etapas principais: a
análise conceitual e a tradução. A análise conceitual é a
atividade de definição dos assuntos que são tratados no
documento, e a tradução corresponde à atividade de conversão
dos conceitos identificados na análise para uma linguagem de
indexação. (LANCASTER, 1993 apud STREHL, 1998, p.330).
Na primeira etapa de análise conceitual, iremos através da avaliação das
ementas das linhas de pesquisa, tentar extrair as palavras-chave que melhor
representam (representatividade) cada uma delas. Em seguida iremos verificar
a existência do termo em um vocabulário controlado, como forma de garantir
uma objetividade, embora relativa à nossa análise. Pois o vocabulário
controlado, representa:
Neste contexto, o vocabulário controlado torna-se o ponto de
convergência entre as linguagens utilizadas por autores,
indexadores e pesquisadores premissa fundamental para
comunicação de informações dentro de um sistema. (STREHL,
1998, p.331).
83
Embora, não existam critérios objetivos de indexação, pois os termos podem
ser considerados mais pertinentes, mais informativos, mais relevantes etc.
(PINHEIRO, 1978, p.109). Em nossa análise, por outro lado, tomou-se o
cuidado em conferir a possível imparcialidade à análise das linhas de pesquisa.
Dessa forma, o “vocabulário controlado” escolhido para aferir as palavras-
chave de maneira mais imparcial e objetiva foi o “Tesauro em Ciência da
Informação
10
”.
Apenas, para situar-nos diante das etapas do tripé metodológico, estamos
empreendo aqui a etapa da “compreensão” que possui, de fato, elementos
subjetivos. A objetividade do conhecimento em ciências sociais, segundo
Weber, é possível, porém a argumentação e a teoria são consideradas
estratégias válidas, até que se tenha “evidência contrária”. De qualquer forma,
vale lembrar que partimos do conhecimento construído pelos sujeitos através
das linhas de pesquisa dos cursos de pós-graduação brasileiros em ciência da
informação para que, então, nos permitíssemos compreender e identificar
aquilo que é, de fato, mais representativo para a área no contexto do nosso
país.
Em seguida, tendo atribuído palavras-chave a todas as linhas de pesquisa,
procedemos à análise das mesmas. Agrupamos as palavras-chave que se
repetiram, a fim de chegarmos a abordagens mais representativas para a
ciência da informação.
10
Ver
http://www.inf.pucminas.br/ci/tci/
84
Contudo, para chegar a abordagens ainda mais representativas, nos valeremos
novamente da teoria da classificação facetada, na qual, segundo Araújo (2006),
de forma resumida, seriam os seguintes passos a serem considerados na
elaboração de um sistema facetado:
a) De formação de conceitos: escolha do conceito, coleta dos
enunciados verdadeiros sobre ele, seleção dos enunciados
redundantes ou que estão contidos nos outros, determinação
dos enunciados essenciais e acidentais e determinação dos
tipos de enunciados;
b) Relações entre os conceitos: determinação dos tipos de
conceitos, determinação das relações entre eles; análise de
intensão e extensão dos conceitos; observação dos princípios
lógicos de classificação (completude, irredutibilidade e
exclusividade mútua).
c) Organização do esquema facetado: definição do assunto e
das fronteiras; levantamento de facetas; levantamento das
subfacetas; decisão da ordem de citação das facetas e
subfacetas; agrupamento das subfacetas.
(ARÁUJO, 2006, p. 133)
Destas etapas nos interessam apenas as duas primeiras. Em relação à
formação dos conceitos, temos, além do capítulo dedicado às linhas de
pesquisa da área, a representação de cada uma dessas linhas através de suas
palavras-chave. Quanto a segunda etapa, procuramos estabelecer relações
entre abordagens afins que guardem algum tipo de relação lógica:
Identidade (as características são as mesmas); Implicação (o
conceito A está contido no conceito B); Intersecção (os dois
conceitos coincidem em algum elemento); Disjunção (nenhuma
característica em comum); e Negação (o conceito A possui
características cuja negação está no conceito B). (DALBERG,
1978, p. 104-105 apud ARAUJO, 2006, p. 131)
85
Nossa intenção, no entanto não foi comprovar, nem tampouco estender o
estudo da classificação facetada para essas linhas de pesquisa. Trata-se de
uma pequena incursão ao assunto, o que é pertinente nessas condições.
Enfim, reiteramos que a teoria de Ranganathan foi aqui adaptada para os
propósitos do trabalho, ficando assim resumida e simplificada. Além disso, a
análise que será feita não terá como base os princípios classificatórios e sim a
discussão e argumentação teórica pertinentes ao tema da pesquisa. Dessa
forma, o papel da teoria de Ranganathan para esta pesquisa é de apenas dar
subsídios para orientar os passos de agrupamento das linhas de pesquisa. No
entanto, é importante que se diga da genialidade do filósofo indiano
Ranganathan, que apresentou de maneira contundente, fundamentação teórica
para a classificação bibliográfica.
Nessa primeira etapa passamos então a atribuir palavras-chave a cada uma
das linhas para que possamos agrupá-las em abordagens, num segundo
momento:
86
QUADRO 2
Linhas de pesquisa (primeira análise)
Enunciado Ementa Palavras-chave
Fluxo de
informação
Sociologia da
informação
Acesso à
informação
Acesso à
Informação
Estudos teóricos e metodológicos nos aspectos relacionados
à produção, organização para transferência e uso, visando o
acesso e a apropriação da informação. A abordagem desses
conteúdos tem como princípio a observação dos modos de
produção da sociedade contemporânea, os contextos sócio-
culturais e econômicos de difusão e divulgação da
informação, a diversidade de públicos e, em última análise, a
função social da informação.
Usuário
Tecnologia da
informação
Arquitetura da
informação
Estudos teóricos e práticos sobre a análise da informação,
indexação, estruturas informacionais, representação do
conhecimento e recuperação da informação.
Organização da
Informação
Fluxo de
informação
Usuário
Comunicação da
informação
Modelos e processos da comunicação da informação
científica, tecnológica, comunitária, arquivística,
Organizacional e para negócios. Suporte informacionais
Tradicionais e eletrônicos. Direito autoral. Influência dos
contextos acadêmico, industrial, empresarial, organizacional
e social no comportamento informacional.
Tecnologia da
informação
Gerência de
recursos
informacionais
Sociologia da
informação
Ética, Gestão e
Políticas de
Informação
A linha de pesquisa: ética, gestão e políticas de informação
incluem estudos sobre: ética e informação, inclusão social,
gestão do conhecimento, gestão de unidade, de serviços e
produtos de informação, políticas de informação: cultural,
científica e tecnológica.
Política de
informação
Fluxo da
Informação
Estudar os canais de produção, distribuição e circulação da
informação, os processos e suportes informacionais e a
apropriação da informação nas unidades de informação,
visando construir suportes teóricos para a compreensão do
funcionamento das unidades de informação e para o
entendimento da dinâmica dos fluxos de informação na
sociedade contemporânea.
Fluxo de
informação
Gerência de
recursos
informacionais
Política de
informação
Gestão da
informação e do
conhecimento 1
As atividades de investigação científica nesta linha
concentram-se em temáticas relacionadas à gestão da
informação e do conhecimento em contextos
organizacionais. Tais temas focalizam as seguintes
questões: Políticas de informação (nacionais e
transnacionais) para a infoinclusão, cognição em
organizações, fontes e serviços de informação para
negócios, tecnologias para gestão do conhecimento e
avaliação de sistemas de informações organizacionais.
Tecnologia da
informação
87
Gerência de
recursos
informacionais
Fluxo de
informação
Profissional de
informação
Gestão da
Informação e do
Conhecimento 2
Estudos teóricos, metodológicos e práticos sobre gestão da
informação e do conhecimento em sistemas de informação,
bibliotecas, arquivos e demais unidades de informação e
sobre a formação e mercado de trabalho dos profissionais
da informação. Análise das necessidades e dos
comportamentos dos indivíduos e das comunidades na
busca e no uso da informação.
Usuário
Gestão da
informação
Investigação dos processos, procedimentos, teorias e
técnicas necessários para a concepção, implementação e
operacionalização dos serviços de informação nas
organizações.
Gerência de
recursos
informacionais
Gerência de
recursos
informacionais
Informação e
Conhecimento em
Ambientes
Organizacionais
Compreende estudos: da relação informação e
conhecimento; informação e tecnologias de informação e
comunicação; informação e processo cognitivo; da
inteligência organizacional, abrangendo gestão da
informação e gestão do conhecimento. Inclui a
compreensão: do desenvolvimento do conhecimento na
Sociedade; e da definição da Ciência da informação e sua
relação com a epistemologia.
Fundamentos e
teorias da
informação
Gerência de
recursos
informacionais
Economia da
informação
Informação e
Contextos sócio-
econômicos
Compreende estudos: da história e das relações da
informação com a economia, com os processos políticos,
com a inclusão social e digital, com a vida social e cultural, e
com a identidade nacional. Abrange a compreensão do
Estado, das empresas e da sociedade civil na organização,
gestão e regulação nacional e internacional da informação.
Política de
informação
Tecnologia da
informação
Informação e
Tecnologia
Abrange estudos e pesquisas relacionados à geração,
transferência, utilização e preservação da informação e de
documentos nos ambientes científico, tecnológicos,
empresariais e da sociedade em geral, associados a
métodos e instrumentos proporcionados pelas tecnologias
da informação e comunicação.
Organização da
Informação
Sociologia da
informação
Política de
informação
Fluxo de
informação
Informação,
conhecimento e
sociedade
Configurações sócio-culturais, tecno-econômicas e político-
institucionais da informação e do conhecimento,
contemplando as especificidades da sociedade brasileira.
Informação e conhecimento como expressões e construções
sócio-culturais. Ciclos e fluxos informacionais no âmbito das
organizações, comunidades e redes. Informação e
conhecimento na produção material e imaterial, nos
processos de transformação social e na tomada de decisão
estratégica.
Gerência de
recursos
informacionais
Sociologia da
informação
Política de
informação
Informação, Cultura
e Sociedade
A linha de ICS tem abordado temáticas variadas, tendo,
entretanto, como elementos comuns a preocupação em
discutir problemas relativos a democratização do acesso à
informação, bem como ao exercício das atividades
informacionais, procurando evidenciar as contradições, os
limites e alternativas que se apresentam no âmbito da
sociedade da informação. Além disso, contempla as
seguintes temáticas: Ciência da Informação e campo
epistemológico; Informação, Estado e sociedade civil;
Informação, espaço e práticas sociais; e Informação, cultura
e tecnologia
Fundamentos e
teorias da
informação
88
Sociologia da
informação
Mediação e Ação
Cultural
Baseada nos estudos de Política Cultural entendida como
ciência da organização dos sistemas culturais esta linha
apresenta-se como um campo de natureza processual,
situacional e relacional que se propõe não apenas a
construir teoricamente um conhecimento do mundo da
cultura tal como ele se revela nos constructos informacionais
formalizados (biblioteca, museu, sistemas virtuais etc) como
nele intervir com instrumentos determinados visando o apoio
à produção, distribuição, acesso e uso dos bens culturais,
promovendo a socialização do conhecimento e da
informação correspondente. Mais especificamente, a ação
cultural é entendida como processo de criação ou
organização das condições necessárias para que as
pessoas e grupos inventem seus próprios fins no universo
da cultura institucionalizada, e a mediação cultural é
entendida como o domínio das ações que visam fazer a
ponte entre a obra de cultura, seu produtor e seu blico a
partir das instituições formais e de modo a permitir que os
sentidos de uma e outro, além dos objetivos do terceiro,
possam convergir para um ponto comum.
Política de
informação
Organização da
Informação
Memória,
Organização e Uso
da Informação
A linha de pesquisa: memória, organização, produção e uso
da informação incorpora: preservação da memória,
representação de informação e de conhecimento, web
semântica, usos e impactos da informação.
Tecnologia da
informação
Organização da
Informação
Tecnologia da
informação
Fundamentos e
teorias da
informação
Organização da
informação
Considera a organização da informação como elemento para
garantia de qualidade na recuperação, destacando-se o
desenvolvimento de referenciais teóricos e metodológicos
interdisciplinares acerca dos procedimentos de análise,
síntese, condensação, representação e recuperação do
conteúdo informacional, bem como dos produtos
documentários deles decorrentes. Ressalta-se, como
dimensão teórica, a reflexão sobre organização do
conhecimento e seus desdobramentos epistemológicos e
instrumentais; e, como dimensões aplicadas, a produção
científica na área e a formação profissional, suas práticas e
determinações institucionais em Unidades de Informação
enquanto elementos subjacentes à organização do
conhecimento .
Profissional de
informação
Organização da
Informação
Fluxo de
informação
Tecnologia da
informação
Organização e Uso
da Informação
A linha “Organização e Uso da Informação” preocupa-se
com estudos de duas das funções básicas de bibliotecas: os
sistemas de recuperação da informação e a organização e o
uso de informação. Foi estruturada com base no
pressuposto de que o estudo e a reflexão sobre qualquer
das duas funções são potencializados a partir da
interação/inter-relação existente entre as duas, procurando
explorar as teorias correspondentes, de forma a consolidar
núcleos teóricos relevantes para as áreas envolvidas. Entre
os grandes temas da linha destacam-se: Representação da
informação (classificação, descrição e modelagem) em
contextos digitais, análise de assunto, Bibliometria, estudos
de usos e usuários de sistemas de informação.
Usuário
89
Fluxo de
informação
Produção e
Disseminação da
Informação
Investigação dos processos, procedimentos, teorias e
técnicas necessárias para a concepção de produtos e
serviços de informação nas organizações, tendo como
referencial as formas de consumo.
Usuário
Profissionais da
Informação
Estudar as necessidades de busca e uso de informação da
sociedade, em diferentes setores, que determinam a
configuração das atividades dos gestores da informação,
visando construir metodologias que permitam avaliar as
condições de oferta de educação e capacitação profissional
nas áreas que compõem o campo de atuação dos
profissionais de ciência da informação.
Profissional de
Informação
Tecnologia da
informação
Organização da
Informação
Fluxo de
informação
Representação,
gestão e tecnologia
da informação
Estudo das diferentes formas de mediação dos processos
cognitivos, comunicacionais e sociais, considerando a
informação como objeto de uma ão de intervenção.
Investigação dos fluxos, processamento e gestão da
informação em contextos distintos. Estudos de necessidades
e usos da informação em seus diferentes contextos. Ênfase
na organização de domínios de conhecimento, na
representação da informação e nas tecnologias de
informação e comunicação.
Usuário
Teoria,
epistemologia,
interdisciplinaridade
e ciência da
informação
Estudos orientados à reconstrução crítica das estratégias e
premissas epistemológicas constituídas no campo da
Ciência da Informação e sua interdisciplinaridade, assim
como ao desenvolvimento de conceitos, metodologias,
modelos e teorias dos fenômenos, processos e construtos
de informação.
Fundamentos e
teorias da
informação
Fonte: Desenvolvido pelo próprio autor
Uma vez estabelecidas ou propostas as palavras-chave, passemos ao possível
agrupamento das mesmas. Foram encontradas, então, 11 palavras-chave
provenientes das ementas das 21 linhas de pesquisa da área (num total de 55
ocorrências). Dessas obtivemos os seguintes percentuais:
GRÁFICO 1 – Abordagens em ciência da informação
FONTE – Desenvolvido pelo próprio autor.
Abordagens em CI
2%2%
14%
7%
13%
11%
11%
5%
9%
15%
11%
Acesso à informão
Economia da informão
Fluxo de informão
Fundamentos e teorias da
informação
Gerência de recursos
informacionais
Organização da Informão
Política de informão
Profissional de informão
Sociologia da informão
Tecnologia da informão
Abordagens em CI
2%2%
14%
7%
13%
11%
11%
5%
9%
15%
11%
Acesso à informão
Economia da informão
Fluxo de informão
Fundamentos e teorias da
informão
Gerência de recursos
informacionais
Organizão da Informação
Política de informão
Profissional de informão
Sociologia da informão
Tecnologia da informão
Usuário
90
Evidentemente que dessas cinqüenta e cinco ocorrências de palavras-chave
encontradas a maioria delas se repetiu, exceto “Acesso à informação e
“Economia da informação” que apareceram apenas uma vez. As restantes
tiveram a incidência indicada no gráfico acima através do percentual indicado
no mesmo.
Obtivemos assim, onze abordagens representativas para a ciência da
informação no contexto de suas linhas de pesquisa brasileiras. Poderíamos nos
dar por satisfeitos e eleger todas elas como o que de mais representativo
para a ciência da informação. Contudo, é necessário aprofundar um pouco
mais esta análise e, tendo como base a argumentação, que por sua vez é da
ordem da compreensão (categoria do tripé metodológico), verificar a
possibilidade de eleger aquelas que seriam então as abordagens mais
representativas para a ciência da informação no contexto dos pesquisadores
brasileiros.
91
6.1.1 Análise das abordagens
A partir de agora passaremos a analisar cada uma das onze abordagens
obtidas através das palavras-chave, que por sua vez foram construídas com
base nas linhas de pesquisa dos cursos de pós-graduação brasileiros em
ciência da informação. É importante ressaltar que essa primeira análise das
abordagens trata de aspectos mais descritivos do que compreensivos. Em
seguida trataremos das relações entre as abordagens que são de caráter mais
explicativo e, por fim dos paradigmas e modelos que guardam características
da ordem da compreensão. Repetiremos portanto, as etapas que compõem o
tripé metodológico
11
.
Acesso à informação
Na definição de Borko (1968) a ciência da informação se ocuparia da
investigação das propriedades e usos da informação, assim como de todo o
fluxo da informação, aonde estariam contemplados todos os momentos de
passagem da informação, desde a origem até o seu uso e acesso pelo usuário
final. Dessa forma, torna-se claro para nós a relação entre o fluxo de
informações e o seu eventual uso e acesso por parte do usuário como parte de
uma mesma abordagem dentro da área de ciência da informação. Adiante,
quando tratarmos das relações entre as linhas de pesquisa estudadas, iremos
nos ocupar desta questão com maior detalhamento. Entretanto, fica nítido para
nós o papel relevante que se quer dar àquele que confere maior sentido e
11
Não existe uma ordem linear entre as etapas do tripé metodológico e o mesmo se repete ao longo do
trabalho de pesquisa. Neste caso achamos melhor identificar essa etapa para que fique claro os critérios de
argumentação exposto neste tópico.
92
relevância à informação que é o usuário. Sentido esse, observado quando a
ênfase é colocada no acesso à informação em detrimento de outros aspectos
como a origem e organização da informação, apesar de serem esses também,
aspectos extremamente relevantes para a área.
Economia da Informação:
Tomando a idéia possível da mensuração da informação como valor
econômico e político, surge a concepção de uma economia centrada na
informação. Muitas são as possibilidades de argumentação de uma economia
que tem como epicentro a informação, poderíamos, por exemplo, desdobrá-la
em seus impactos sociais, culturais e políticos. A economia de modo geral tem
relação direta com toda a sociedade. Talvez uma relação forte demais em
alguns casos. Entretanto, para a área de ciência da informação quem melhor
desenvolveu e legitimou a idéia de informação como algo que propicia ganho,
vantagem competitiva e lucro é a abordagem de “Gerência de Recursos
Informacionais”, como veremos nos próximos tópicos.
Fluxo de informação:
Essa abordagem poderia ser associada a qualquer uma das outras
apresentadas neste trabalho, entretanto possui objeto próprio, fundado que
está na especificidade dos complexos caminhos que a informação segue em
nosso modelo atual de sociedade. Esses fluxos podem ser vistos tanto sob a
ótica da economia, quanto pelo olhar social. Ambos com especificidades e
peculiaridades completamente distintas. Além destes, podemos dizer que os
93
fluxos de informação podem ser analisados como parte ou conseqüência da
organização da informação, ao instituírem um fluxo que existe em função de
um sistema “organizado” de informações. Surpreendentemente este campo
que a princípio surgiu da necessidade de se incluir o usuário como elemento
central que impulsionava o processo de organização de informações, adquire
corpo próprio, uma vez que sua existência o está mais vinculada a nenhum
contexto específico, podendo até mesmo ser visto apenas pela ótica da
tecnologia (fluxo de informações entre computadores, interação entre máquinas
de modo geral).
Fundamentos e teorias da informação:
Estudos relativos aos fundamentos de uma área devem sempre ser
contemplados, em qualquer campo do saber, como condição essencial para o
desenvolvimento daquela ciência. Contudo, podemos dizer que antes de ser
parte do que hoje é a ciência da informação, essa abordagem representa a
própria discussão sobre o que seja ciência da informação, portanto, abarca
todas as outras abordagens não podendo ser analisada como parte da CI.
Ressalta-se, entretanto, que sua instituição como linha de pesquisa é muito
importante para o desenvolvimento das discussões na área de ciência da
informação.
Gerência de recursos informacionais:
Essa abordagem, sem dúvida, é muito presente no que hoje se concebe como
ciência da informação. Sua inserção na área se deu com os estudos
94
inicialmente intitulados como GRI (Gerência de Recursos Informacionais) na
década de 90. Evidentemente que existia a preocupação com a temática de
Administração de bibliotecas nos cursos de pós-graduação em Biblioteconomia
do país. Cursos esses que optaram pela mudança de nome, na década de 90,
para ciência da informação (ANDRADE; OLIVEIRA, 2005, p.54). Qualquer
estudo que contemple a ciência da informação em sua totalidade deveria incluir
essa abordagem como constituinte do complexo emaranhado que constitui a
área de CI. Segundo Barbosa & Paim (2003) a GRI pode ser considerada como
precursora da Gestão do conhecimento. Apesar do termo encontrado no
“Tesauro em ciência da informação” ser GRI, quando nos deparamos com a
literatura atual da área sobre o tema, vemos que a discussão se encontra sob
a designação de “Gestão da informação”, “Gestão do conhecimento” ou ainda
Gestão da informação e do conhecimento. No entanto, apesar de não ser um
termo atual a “GRI” não deixa de ser um termo interessante, pois redime
algumas confusões quando se diz, por exemplo, “Gestão da informação” ou
“Gestão do conhecimento”, porque deixa claro que se trata dos recursos de
informação, o que confere maior objetividade ao tema. De qualquer forma, a
nossa opção será por designar os estudos desta abordagem como empregou-
se mais usualmente, ou seja, “Gestão da informação”, excluindo-se o termo
“Gestão do conhecimento” por questões conceituais. A gestão da informação
englobaria então, os estudos designados por alguns autores como gestão do
conhecimento (evidentemente também englobam os estudos anteriormente
designados como GRI). Essa opção se deve à dificuldade em se mensurar a
relação entre informação e conhecimento, sobretudo em seus aspectos
95
gerenciais. Trata-se de tema controverso que será analisado posteriormente
quando da discussão dos paradigmas e modelos atinentes à abordagem.
Organização da informação:
O tema, ou as linhas de pesquisa que tratam do assunto “organização da
informação” vêm recuperando o seu espaço no âmbito da ciência da
informação, sobretudo pela incorporação de novas discussões, ventiladas pela
inserção da tecnologia da informação. Organizar a informação passou a
representar “um leque” bem maior de possibilidades de suportes e meios onde
se pode visualizar conteúdos informacionais. Não resta dúvida de que seja um
tema importantíssimo, sendo inclusive para muitos autores o que caracterizaria
o cerne ou o núcleo duro da ciência da informação.
Política de informação:
Dizer que a informação possui uma política própria, implica caracterizar
sociedade, estado e economia centradas em informação. Apesar da proposta
ser ambiciosa, podemos identificar alguns traços de nossa sociedade que se
enquadrariam nela. Uma questão estritamente ligada à abordagem seria a
relação entre informação e democracia e nessa relação os considerados novos
espaços de deliberação pública, como a Internet por exemplo. Vista sob essa
ótica a “Política de informação” estaria mais atrelada ao aspecto social da
informação, assim como a “Economia da informação” estaria mais ligada aos
aspectos gerenciais da informação.
96
Profissional de Informação:
Os estudos que abordam a questão do profissional da informação vêm
crescendo nos últimos anos. Na medida em que surgem novos mercados e
habilidades ligadas à informação, o estudo do aproveitamento e primazia dos
espaços reais e potenciais desse profissional ganham fôlego. Quando
abordamos o tema estamos diante, de fato, de uma questão que tem uma
dimensão científica, política e social. Por isso a opção por designar a
abordagem como “Mercado de trabalho do Profissional da Informação”, pois o
grande debate se concentra na legitimidade, capacidade e preenchimento de
espaços ligados ao trabalho.
Sociologia da informação:
Apesar do termo encontrado no “Tesauro em Ciência da Informação” (PUC
Minas) não condizer com os que são recorrentes na literatura atual da área,
não deixa de ser um termo bem representativo. De imediato, sentimos a falta
da “cultura” como um dos aspectos a serem destacados na abordagem.
Contudo, Weber ao se referir às ciências sociais, por muitas vezes, as
designou como ciências da cultura. Dessa forma, poderíamos dizer que uma
sociologia da informação engloba também aspectos culturais, visto que, a
cultura se desenvolve nas relações sociais. Por outro lado, como existem
outros grandes autores da área da sociologia que se utilizam de outros termos
para designar as ciências sociais, e como de fato, a antropologia também
“reclama” seu espaço em relação à “cultura”, somos levados a buscar outro
termo para esta abordagem. Diante da amplitude tomada pela discussão de
97
uma emergente “sociedade da informação” somos levados a considerar
aspectos sociais e culturais em igual proporção, portanto a abordagem será
tomada como: “Informação e seu contexto sociocultural”.
Tecnologia da informação:
A inserção da tecnologia na ciência da informação remonta aos seus
primórdios, sendo possível inclusive dizer que nasceu em decorrência do
avanço tecnológico. Contudo, outras dimensões foram sendo criadas no
contexto da informação em âmbito mundial. Inegavelmente, a tecnologia ainda
representa papel crucial para a ciência da informação, sobretudo no avanço
das possibilidades técnicas. Como a ciência da informação é tida por alguns
autores como voltada à resolução de problemas, a possibilidade tecnológica
ganha ainda mais força. Interessante notar que existe um forte entrelaçamento
entre a possibilidade de se organizar a informação e a força da tecnologia para
oferecer respostas ao dilema da recuperação da informação. Fato esse que
possibilitará o agrupamento dessas duas abordagens, como veremos adiante.
Por agora fica o termo: “Tecnologia da informação”, ressaltando-se, entretanto
que informação e tecnologia são tomadas como coisas distintas, posto que a
tecnologia nesse contexto representa apenas uma ferramenta, um meio e não
um fim em si mesma.
98
Usuário:
Assim como, argumentamos em relação à abordagem “Acesso à informação”,
o tema usuário também estaria inscrito sob a denominação de “fluxo de
informação”. Isso porque trata de um dos momentos do fluxo de informações,
que é sem dúvida muito importante, pois refere-se ao uso que se faz da
informação, porém ganhou maior contorno, quando do estudo das formas em
que se produz o conhecimento, como é organizado, de que forma é distribuído
e, por fim como é compreendido pelo usuário final, que é sem dúvida quem
confere sentido ao fluxo de maneira geral.
99
6.1.2 Relações entre as abordagens
Após a análise de cada uma das abordagens, o próximo passo é estabelecer
as relações possíveis entre cada uma delas. Começando pela junção da
“Gestão da informação” com a “Economia da informação”. O aspecto de
interseção (os dois conceitos coincidem em algum elemento) aqui é a idéia de
“informação valor” ou “valor-informação”. Idéia que justifica a utilização de
instrumentos de gestão para monitorar e organizar a informação das empresas
com vistas a melhorar o desempenho das mesmas no mercado global
altamente competitivo da atualidade. A economia da informação seria então um
importante estudo de viabilidade num ambiente macro das ações das
empresas que se utilizam da informação como recurso estratégico.
Evidentemente que uma possível economia centrada na informação traria
consigo questões de ordem social. Neste primeiro momento, no entanto seu
alcance parece ser o escopo das empresas, alternando um pouco para os
órgãos governamentais e outros setores da economia.
Os fundamentos de uma área são, sem dúvida, o cerne de qualquer campo do
conhecimento. Entretanto, não podemos dizer que possa se constituir como
uma das características essências da ciência da informação, pois o seu estudo
perpassa todo e qualquer campo do conhecimento. Os estudos empreendidos
nessa temática servirão de aporte para toda a área, e se ocupam justamente
da pergunta sobre o que é a ciência da informação. É nesse tópico, por
exemplo que trabalhos como estes estarão inseridos, mas as suas respostas
100
ou novas perguntas ultrapassam o escopo da abordagem, pois o seu horizonte
é o todo.
Como adiantamos na análise das abordagens, outra relação observada foi
entre as abordagens de “Organização da informação” com “Tecnologia da
informação”. Optou-se por fazer esse agrupamento de conceitos tendo como
base a “implicação” (o conceito A está contido no conceito B). Dessa forma a
tecnologia da informação estaria a serviço dos processos de organização da
informação. Temos assim, o processo de organização da informação associado
com a “informação tecnológica” como potencializadora da capacidade de
organização da informação, vista como processo que englobaria todo o tipo de
estruturação da informação por homens ou máquinas. A tecnologia tem um
impacto fortíssimo nessa abordagem em específico, bem como para a ciência
da informação como um todo. É através dos avanços tecnológicos que os
processos de organização e uso da informação adquirem uma possibilidade
mais ampla de aplicação na sociedade. Enfim para designar o agrupamento
das duas abordagens, optamos por nomeá-la: “Organização da Informação”.
Outra relação identificada, na seqüência concerne às abordagens: “Mercado de
trabalho do Profissional da Informação”, “Política de informação” e “Informação
e seu contexto sociocultural”. De fato, estamos diante de um tema de difícil
compreensão e consenso em relação à inserção do aspecto profissional no
escopo das reflexões sociais e culturais na área de ciência da informação.
Quanto ao aspecto político parece estar mais clara a relação com os aspectos
101
sociais da informação. Contudo, o argumento é que ambas estão circunscritas
numa relação de implicação (o conceito A está contido no conceito B). O
estudo do trabalho e do comportamento dos profissionais de uma determinada
área pertence a uma esfera maior de influências que é a sociedade como um
todo. Em verdade essa abordagem tem como foco a Informação e seu contexto
social, pois trata-se de um conceito a princípio bem abrangente. Contudo a
inserção da abordagem: “Mercado de trabalho do Profissional da Informação”,
cumpre um duplo papel neste trabalho. O primeiro é engendrar uma
abordagem que seja mais significativa para ciência da informação, inserindo a
discussão sobre o campo de trabalho do profissional da informação num
contexto social mais amplo onde a informação adquire uma centralidade na
discussão, ao menos na área de CI. O segundo é fazer nota de que quando
tratamos da informação e seu contexto social, estamos também diante de um
questão complexa que é a inserção de outros profissionais que estão lidando
diretamente com a informação, numa sociedade que ganhou o status de
“sociedade da informação”. Ou seja, de certa forma, a sociedade como um
todo passou a trabalhar com a informação, pois a amplitude deste conceito
passou a ser muito grande. Apesar desses argumentos, poderíamos também
dirigir nossas reflexões noutro caminho, onde o estudo ou mapeamento das
competências dos profissionais da informação não caracterizariam a área de
ciência da informação em específico. Seriam estudos que permeiam qualquer
campo científico na sua interface com o mercado de trabalho. De qualquer
forma, mediante as transformações promovidas pelo advento da “sociedade da
informação”, foram produzidas alterações na estrutura do trabalho, sejam na
102
modificação das ocupações existentes ou na criação de novas demandas de
produtos e serviços. Quanto aos aspectos políticos da informação, também
estão inscritos num contexto maior que é da sociedade e da cultura de forma
geral. Com esse aspecto a abordagem ganha contornos mais amplos que
dizem respeito, por exemplo às relações entre informação e democracia, que
ganham cada vez mais visibilidade sobretudo com a solidificação das formas
de participação pública através da rede mundial de computadores. Feitas
enfim, essas considerações, passaremos a reunir essas 3 abordagens de
forma mais abrangente sob a designação de: “Informação e seu contexto
sociocultural”.
Por fim, restou-nos as abordagens “Fluxos de informação”, “Acesso à
informação” e “Usuário” . Como adiantamos na análise das abordagens,
consideramos que as duas últimas estão contidas nos processos que
compreendem os fluxos de informação. Trata-se, portanto, mais uma vez, de
uma relação de ”implicação”. Abordagem essa, muito importante porque
dimensiona a questão do usuário em todos os “momentos de passagem” da
informação, vista enquanto fluxo. Dessa forma, a reunião das 3 abordagens
será designada como: “Fluxos de informação”.
Feito o embate dos conceitos, através da análise de suas relações, após as
fusões realizadas/estabelecidas, chegamos às seguintes abordagens:
“Organização da informação”; “Gestão da Informação”; “Informação e seu
contexto sociocultural” e “Fluxos de informação”. Situação essa, que não se
103
presta ao papel de definir quais as linhas melhor elaboradas e que deveriam
ser as eleitas por todos os cursos de pós-graduação brasileiros. Muito pelo
contrário, o objetivo é discutir as idéias presentes nessas linhas de pesquisa
como uma etapa ou estágio para proporcionar uma discussão mais
aprofundada, rumo ao estudo da epistemologia da ciência da informação.
Evidentemente, que estes agrupamentos poderiam ser refeitos sob outra
perspectiva, a depender do sujeito (pesquisador) que vier a lançar luz sobre a
questão. Trata-se, portanto de uma visão, ou uma tentativa de esclarecer
alguns pontos, que em nossa análise merecem atenção.
Assim, a fim de avançar um pouco mais na discussão, vejamos, adiante,
alguns dos paradigmas e modelos da ciência da informação na perspectiva de
uma epistemologia construtivista situadas nas quatro abordagens da ciência da
informação, por nós agrupadas e definidas.
12
6.1.3 Organização da informação
Primeiramente, é importante reafirmar que a discussão sobre paradigmas e
modelos da CI está alicerçada na abordagem que Domingues (2004) elabora
sobre o tema, escolhendo em seu trabalho quatro autores: Durkheim, Weber,
Marx e Lévi-Strauss. Neste trabalho restringir-nos-emos a quatro aspectos da
ciência da informação, a começar pela abordagem “Organização da
informação”. Passaremos então, a exemplo do que o autor faz em sua obra, a
12
Existem, atualmente, nove cursos de pós-graduação brasileiros de Ciência da Informação em
funcionamento.
104
determinar o paradigma-objeto, paradigma-teoria e paradigma-disciplina de
cada uma das linhas de pesquisa eleitas como representantes do
conhecimento (construídos pelos sujeitos) edificado na CI.
Para a abordagem de “Organização da informação”, pensemos então qual
seria o seu paradigma-objeto. Em primeiro lugar cabe dizer que essa linha é a
que tem mais produzido ferramentas que sirvam à prática profissional em
ciência da informação. Seu objeto, portanto, é a informação como artefato que
uma vez organizada deve servir a uma aplicação na sociedade.
Embora existam muitos conceitos de informação, nossa
escolha procurou contemplar um a partir do qual pudéssemos
sustentar que a informação não é algo que exista a priori e que
pode, então, ser encontrada. O que existe a priori, sem o que
não haveria informação nem usuário, são artefatos
informacionais e a compreensão local, que abrangem um
conjunto de significações e sentidos que possibilitam que se
acolha algo como sendo informação. (FERNANDES, 2004,
p.262)
Apesar de a autora não se enquadrar nessa linha de pesquisa, tanto no que diz
respeito à pratica de pesquisa, quanto à produção teórica, é interessante notar
que a tangibilidade da informação vista como artefato é o que realmente parece
ser mais aceitável e visível para a ciência da informação. Talvez por isso, esta
abordagem, seja considerada por muitos como núcleo duro da área de CI, uma
vez que se ocupa, justamente, da informação como artefato que pode ser
talhada, adequada para determinado tipo de público ou usuário, conquanto, a
“compreensão local” (citada pela autora) se situa em uma esfera que
ultrapassa a discussão empreendida neste contexto.
105
De fato, nessa abordagem se encontram técnicas que transitam entre o homem
e a máquina, importando prioritariamente a sua adequabilidade finalística. O
paradigma-teoria é difícil de ser apontado, pois estariam imbricados em três
grandes teorias: Classificação facetada (Ranganathan), Teoria do conceito
(Dahlberg) e a Teoria da Terminologia (Wüester), sendo que o conceito
estruturante destas teorias é o estudo do termo. Contudo, a abordagem
adotada é onomasiológica, ao contrário da abordagem semasiológica, da área
da lexicografia, que toma como ponto de partida a palavra, com seus vários
significados, incorporando o referente representado pelo termo (CAMPOS,
2001, p.117). Dos autores citados, Ranganathan é de longe o mais influente
para a área de ciência da informação. Sua teoria da classificação facetada
possui inúmeras possibilidades de aplicação e interpretação. Uma delas
inclusive utilizada neste trabalho de pesquisa. Interessante observar que
Ranganathan, tinha convicções bem firmes e chegou a postular leis para a
biblioteconomia. Além disso, postulou um modelo de desenvolvimento em
espiral do conhecimento e dos assuntos, no que chamou de “universo do
conhecimento e universo dos assuntos”, respectivamente. Em se tratando de
modelos, poderíamos enumerar muitos, mas o modelo de classificação
facetada de Ranganathan, além de decorrer de uma teoria bem fundamentada
e articulada, tem se mostrado muito atual e promissor para os estudos da área
de classificação em geral. Finalmente a disciplina paradigmática e estruturante
desta linha é a biblioteconomia. Donde, se deve fazer nota de seus
desdobramentos na documentação e o advento da tecnologia como forte motor
de propulsão dos estudos empreendidos nessa área. Haja vista que os
106
modelos arquitetados nessa linha servem ao desenvolvimento de princípios de
busca, classificação e indexação de documentos (em sentido estrito) e
informação (em sentido lato).
6.1.4 Gestão da informação
Tendo sido a informação estruturada e organizada, cabe inserí-la no âmbito da
sociedade. Com o advento da modernidade, a informação passa a ter função
de controle, sobretudo após a formulação da teoria matemática da informação
de Shannon e Weaver, em que a informação passou a ser quantificável. Muitas
foram as aplicações dessa teoria, das quais não iremos nos ocupar. Interessa
somente determinar as bases pelas quais a informação, mais tarde, vai passar
a ter um valor. Vejamos:
Neste sentido, a informação, enquanto objeto produzido
socialmente, e hoje sujeito às determinações de mercado
possui aspectos tanto de objeto técnico (formatação,
tratamento e recuperação automáticos), quanto objeto cultural
(conhecimento). (MARTELETO, 1987, p.179).
Nesse sentido temos que a Gestão da Informação e, possivelmente, do
conhecimento
13
, seja potencializada pelas transformações ocorridas na
sociedade; sobretudo, podemos agora dizer, pela globalização da economia e
pela possibilidade de comunicação gerada pela tecnologia.
13
Muitos autores discutem essa relação entre informação e conhecimento. Recomendamos a leitura da
seguinte referência: NEHMY, Rosa Maria Quadros; PAIM, Isis. Gestão do conhecimento, “doce
barbárie”. In: PAIM, Isis (org.). A gestão da informação e do conhecimento. Belo Horizonte: ECI/UFMG,
2003. p. 267-306.
107
Ressalta-se, que estudos nesta linha são essenciais para a viabilidade da
ciência da informação no modelo atual de sociedade, uma vez que a
administração ocupa papel estratégico na condução e condição urbana
14
.
Adiante, vejamos qual seria o objeto paradigmático para esta abordagem.
Poder-se-ia naturalmente dizer que o objeto é a gestão da informação, contudo
não diríamos muito com esta afirmação. O argumento seria então que o objeto
paradigmático desta linha seja o conceito de “valor-informação”, ou melhor, a
informação percebida como valor econômico, pois é partir dessa constatação
que a informação começa ter lugar nas empresas. Constatação essa aferida
pelo trabalho de Porter (1985) que, segundo CRONIN e DAVENPORT (1991),
foi quem introduziu essa temática nas empresas. A teoria paradigmática
poderia ser a teoria da “cadeia de valor” de Porter, contudo seu
desenvolvimento teórico não é muito consistente. Ou ainda, a teoria do
esquema de produção de Marx, aonde chegaríamos ao conceito de “mais-
valia” e visualizaríamos a idéia de valor, mas a informação não se sustentaria
sob essas bases. Quem pode de fato, sustentar a informação como algo que
tem valor e que acaba por viabilizar essa idéia são os estudos provenientes da
chamada “economia da informação”. Creditar esse conjunto de estudos a um
único autor seria de fato, difícil e talvez não seja o ideal. Temos, entretanto
algumas referências, com o trabalho de Machlup (1962). Segundo Webster
(1994) os autores que fundamentam o surgimento de uma sociedade da
informação baseada em critérios econômicos são Machlup (1962), Drucker
14
Tal parêntese se faz para que não se incorra no risco do juízo de valor, o que extrapolaria os propósitos
do trabalho.
108
(1969) e Porat (1977); além desses não podemos deixar de citar o trabalho de
Daniel Bell (1977), que utiliza a expressão “sociedade pós-industrial” para
designar as mudanças ocorridas na sociedade, nos seus aspectos econômicos,
sociais e políticos. Quanto à disciplina paradigmática não resta dúvida de que
seja a administração, pois o conhecimento empreendido nesta linha é
estruturado com base nas ciências administrativas (suas teorias, metodologias,
etc.). Em relação aos modelos, talvez o mais poderoso deles, seja a
formulação da sociedade da informação; dessa forma, através da introdução da
informação no âmbito das empresas e, sobretudo na esfera econômica,
construiu-se um novo modelo de sociedade, que estaria centrada agora na
informação, ou ainda no conhecimento:
O movimento da gestão do conhecimento elege a versão de
Drucker (1994) da sociedade do conhecimento, como principal
referência para a contextualização de seu programa, por
fornecer o trampolim de passagem dos macro-discursos sobre
a nova sociedade para o nível micro da administração da
empresa, assumindo a posição de que o conhecimento se
transformara, na “nova” sociedade, em um novo recurso
econômico, mais importante do que o capital, a mão de obra ou
a terra. (NEHMY; PAIM, 2003, p. 268).
6.1.5 Informação e seu contexto sociocultural
Uma vez, discutidas as bases de organização e gerenciamento da informação
passemos a refletir sobre questões de cunho ético e moral. “A terceira via”
apesar de, aparentemente, não apresentar resultados em curto prazo se faz
necessária a partir de então. Todavia, não perde os princípios conformados nas
abordagens anteriores, ou seja, o seu objeto não é a informação pura e sim
aquela que já foi talhada pelas mãos demiúrgicas de profissionais que atribuem
109
valor à informação. Contudo, pode-se questionar: até que ponto? Em relação a
quem? Em que contexto? Melhor dizendo, abordam-se questões que escapam
à técnica (techné) e à interioridade do indivíduo (em sentido estrito), em suma,
falamos de aspectos socioculturais da informação.
Temos então um objeto paradigmático que é da ordem das relações sociais.
Esta abordagem trabalha então, com a informação como processo. Sua teoria
paradigmática é também de difícil apreensão uma vez que o próprio título da
abordagem propõe a união de três campos: informação, cultura e sociedade.
Podemos dizer que o enlace seja dado pela informação enquanto um processo
social que envolve aspectos culturais e históricos:
Nesta perspectiva, o que parece distinguir as pesquisas da
área de Informação, Cultura e Sociedade é o modo particular
como os pesquisadores tentam observar os processos
informacionais, que considera a informação como um produto
cultural, gerado pelos sujeitos no lugar social específico que
ocupam na sociedade de classes. (CABRAL; RENAULT, 2005).
Outra característica da área de Informação, Cultura e
Sociedade é a posição ideológica que assume de privilegiar a
observação e a análise do fenômeno informacional sob um
enfoque histórico e totalizante, que permite levar em conta não
apenas os aspectos quantitativos da produção da informação,
mas, também, aspectos do contexto de acesso e uso da
informação, bem como da construção de sentido pelos
usuários.(CABRAL; RENAULT, 2005).
Entretanto, porque não fazer justiça a um grande teórico da área, senão o
maior, que é Jesse Shera. Ficaríamos então com a Teoria da Epistemologia
Social, que tem como foco a produção, fluxo, integração e consumo do
pensamento comunicado através do tecido social. (SHERA, 1972, p. 112). Em
recente trabalho, ZANDONADE (2003) mostra a importância e relevância
110
dessa teoria, cuja influência têm sido reconhecida em outros campos do
conhecimento como a sociologia e a filosofia.
O problema da cognição - como o homem sabe. O problema da
cognição social - as maneiras com as quais a sociedade sabe e
a natureza do sistema psicológico social por meio do qual o
conhecimento pessoal se transforma em conhecimento social.
O problema da história e filosofia do conhecimento, como tem
evoluído o saber através do tempo e das diversas culturas. E,
por fim, o problema de mecanismos e sistemas bibliográficos
existentes e a extensão desses com a congruência das
realidades dos processos de comunicação e as descobertas
das formulações epistemológicas. (SHERA, 1972, p. 114).
(tradução nossa).
Evidentemente a contribuição específica da epistemologia social seria o último
tópico, no qual SHERA (1972) amplia o trabalho, as técnicas empregadas no
processo de catalogação, organização e indexação da informação com sua
repercussão social, com todo o processo de comunicação da informação enfim.
Além disso, sua preocupação com as conexões da informação e do
conhecimento com as formulações epistemológicas, pois trata-se de entender
as interações do homem com o conhecimento organizado e/ou disponível.
Evidentemente que, em se tratando da proposta de uma epistemologia social,
haveria o propósito de interferir, ou no mínimo provocar reflexões acerca do
processo de interação do homem com o conhecimento, através dos sistemas
de informação (para usar uma expressão mais atual), com vistas a estender as
possibilidades do conhecimento a um maior número de pessoas possível.
Por fim, as disciplinas paradigmáticas, tendo-se que ser fazer uma concessão
quanto à unicidade do paradigmática-disciplina, empregada nas análises
anteriores, são em igual proporção: a sociologia e a antropologia, donde se
111
vêm buscando “massa reflexiva” para discutir o fenômeno da informação nos
contextos específicos da sociedade e da cultura. Quanto aos modelos, pode-se
dizer que o mais importante deles é a idéia de informação social
15
, que
marcaria a partir de então um lugar específico para esta abordagem e
possibilitaria uma leitura voltada especificamente para as questões
socioculturais que a informação implica. Contudo, não podemos deixar de
ressaltar a importância da “Epistemologia Social” de Jesse Shera, como outro
importante modelo para esta abordagem, posto que reconduziu a discussão
sobre a informação para os indivíduos, como sujeitos do processo de
apreensão e troca de informações e conhecimento:
O foco desta nova disciplina seria sobre a produção, fluxo,
integração, e consumo de todas as formas de pensamento
comunicado através de todo o modelo social. De tal disciplina
poderia emergir um novo corpo de conhecimento e uma nova
síntese da interação entre conhecimento e atividade social.
(SHERA, 1977, p.11)
6.1.6 Fluxos de informação
Essa abordagem é o que se pode chamar de exceção à regra, pois a sua
solidez conceitual é muito pequena e de fato, não está presente na maioria das
cursos de s-graduação brasileiros em CI. Contudo, antes de ser uma
tragédia ou um invalidador dos argumentos até aqui expostos, trata-se de
grande contribuição para a idéia de um conhecimento construído pelos sujeitos,
estando, portanto sempre a se refazer.
15
CARDOSO, Ana Maria Cardoso. Retomando possibilidades conceituais: uma contribuição à
sistematização do campo da informação social. Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG, v.23,
n.2, p.107-114, jul./dez. 1994.
112
Ciência da Informação é a disciplina que investiga as
propriedades e o comportamento da informação, as forças que
governam o fluxo da informação e o significado do
processamento da informação para um uso e acesso ótimos.
Refere-se ao corpo de conhecimentos relativos à origem,
coleta, organização, armazenagem, recuperação,
interpretação, transmissão e uso da informação. (BORKO,
1968).
Passemos adiante à análise dos paradigmas e modelos circunscritos nesta
abordagem. De imediato, temos que seus paradigmas são de difícil apreensão,
pois os fluxos de informação estão presentes em quase todos os contextos em
que a informação seja o objeto. Entretanto, podemos dizer que o objeto
paradigmático é a informação vista como algo voltado à resolução de
problemas, uma informação teleológica. Isso complica mais ainda a sua
apreensão; contudo é uma abordagem que de fato nos deparamos na área de
CI. Sua estruturação está ancorada em pensamentos como o de LUHN (1968),
que criou o “Sistema de Disseminação Seletiva da Informação” (Selective
Dissemination of Information).
A “Disseminação Seletiva da Informação" é o serviço dentro da
organização que canaliza novos itens de informação, através
de qualquer meio, para os locais dentro da organização onde a
probabilidade de utilidade, em relação ao trabalho ou aos
interesses atuais, é elevada. (LUHN, 1968, p. 247). (tradução
nossa).
Estamos diante de uma informação que percorre os locais, mas não se ancora
em nada. Dessa forma, potencializada pela tecnologia a informação descreve
caminhos, gera fluxos de interação entre pessoas e objetos, homens e
máquinas.
113
Suas teorias paradigmáticas, no entanto, estão presentes nos estudos pós-
modernos, no que é chamado de “paradigma emergente”, que prevê uma
aproximação da ciência com o senso comum, migração de conceitos entre
disciplinas, uma aproximação do conhecimento científico com o conhecimento
social, entre outros. Visto que não se prende a construções teóricas bem
elaboradas, interessando mais a capacidade finalística da informação, seja
para atender ao usuário, comunidades ou empresas. Sua disciplina
paradigmática é a Comunicação Social, posto que lhe interessa as formas
como a informação é comunicada, para quem se destina, quem se apropria e
com que interesses.
Resta-nos então, identificar o modelo com o qual se trabalha nesta linha de
pesquisa. Pinheiro (1997) lança mão da idéia de uma informação tecnológica
que diz respeito à uma racionalização do conhecimento, fazendo inclusive uma
aproximação com Wersig e o seu modelo de ciência pós-moderna para a CI. A
partir daí, identifica três condições para esse tipo de conhecimento: ser gerado
empiricamente, ser representado de forma a ser provado e, ser de tal natureza
que todo mundo possa acompanhar esse conhecimento. Ora, o que nos parece
razoável mediante essas condições é entender que o modelo que nos
buscamos aqui é a rede. Uma rede de interconexões de conceitos, tal qual
Wersig (1993), mas também uma rede tecnológica e operacional, assim como
uma rede filosófica de construtos para possibilitarem os fluxos de informação,
quer seja operada por máquinas, quer por pessoas, contudo tendo a tecnologia
como possibilitadora de ambos os processos.
114
Assim, em relação à análise das linhas de pesquisa, podemos observar os
seguintes objetos paradigmáticos:
QUADRO 3
Linhas de pesquisa : paradigmas e modelos
Abordagens
(Paradigmas)
Paradigma objeto Paradigma teoria Paradigma disciplina Modelo
Organização
da informação
informação como
artefato
Classificação facetada
(Ranganathan), Teoria
do conceito (Dahlberg)
e a Teoria da
Terminologia
(Wüester)
Biblioteconomia Classificação
por aspectos
de
Ranganathan,
entre outros.
Gestão da
informação
informação-valor
(informação
percebida como
valor econômico)
Teoria de uma
economia orientada
pela informação
Administração Sociedade da
informação
Informação e
seu contexto
sociocultural
informação como
processo
Teoria da
Epistemologia Social
de Shera, dentre
outras.
Sociologia e
Antropologia
Atuação social
da informação
Fluxos de
informação
informação
teleológica
Teorias decorrentes
do “paradigma
emergente”
Comunicação social Organização
em redes
Fonte: Desenvolvido pelo próprio autor
À guisa de explicação faz-se necessária mais uma ressalva, pois muito longe
de ter conseguido dar respostas aos problemas da ciência da informação, esse
trabalho se coloca em outro terreno, seja das formulações probabilísticas,
pertencentes ao reino das discussões epistemológicas. Como afirma Weber
(1993),
115
Utilizando os termos de Friedrich Theodor Vischer,
concluiremos que, em nossa disciplina, também existem
cientistas que “cultivam a matéria” e outros que “cultivam o
espírito”. O apetite dos primeiros, ávidos dos fatos, apenas se
sacia com grandes volumes de documentos, com tabelas
estatísticas e sondagens, mas revela-se insensível aos
delicados manjares da idéia nova. O requinte gustativo dos
segundos chega a perder o sabor dos fatos através de
constantes destilações de novos pensamentos (...). (WEBER,
1993, p.153).
A disciplina a que Weber se refere são as ciências sociais, contudo parece-nos
familiar sua distinção entre aqueles que “cultivam a matéria” e os que “cultivam
o espírito”, podendo ser comparados, dentro da Ciência da informação, aos
que se dividem entre o desenvolvimento da prática (matéria) e da teoria
(espírito). Entretanto, as discussões de fundo político-social não ocupam aqui o
papel central dos argumentos expostos. Evidentemente, que o conhecimento é
dotado de juízo de valor, de percepções, quiçá de intuições. O importante é
destacar a importância para este trabalho da argumentação teórica e da
relação probabilística na exposição dos argumentos que, antes de concluir ou
encerrar alguma visão, preferem a retomada do pensamento weberiano que se
instaura no reino do ‘como se’...
6.2 Alise da literatura (centrado nos paradigmas de Capurro)
Após a análise das linhas de pesquisa, procedemos a uma segunda análise
voltada para a literatura em ciência da informação de modo geral. Apesar de
conteúdos da literatura da área estarem presentes na análise das linhas,
observou-se a necessidade de pontuar isoladamente alguns textos que tratam
116
especificamente da composição da ciência da informação, sobretudo em
paradigmas.
Nesse sentido, CAPURRO (2003) traz uma contribuição muito boa, pois
organiza a ciência da informação em três paradigmas:
Paradigma físico: em essência esse paradigma postula que algo, um
objeto físico, que um emissor transmite a um receptor
Paradigma Cognitivo: Essa teoria parte da premissa de que a busca de
informação tem sua origem na necessidade ("need") que surge quando
existe o mencionado estado cognitivo anômalo, no qual o conhecimento ao
alcance do usuário, para resolver o problema, não é suficiente.
Paradigma Social: Uma conseqüência prática desse paradigma é o
abandono da busca de uma linguagem ideal para representar o
conhecimento ou de um algoritmo ideal para modelar a recuperação da
informação a que aspiram o paradigma físico e o cognitivo, visto que todo
sistema de informação está destinado a sustentar a produção, coleta,
organização, interpretação, armazenamento, recuperação, disseminação,
transformação e uso de conhecimentos e deveria ser concebido no marco
de um grupo social concreto e para áreas determinadas.
Uma breve análise desses paradigmas nos coloca diante de outras teorias e
modelos para a ciência da informação. A começar pelo paradigma físico, onde
a informação é um objeto, ou uma coisa (BUCKLAND, 1991), a teoria
117
paradigmática seria então a teoria matemática da informação de Shannon e
Weaver. Teoria essa da qual decorre um modelo de transmissão da
informação, amplamente usado na recuperação de informações, que é ainda
hoje muito influente na área de ciência da informação. Tamanha influência
pode ser observada nas abordagens realizadas sobre a história e
epistemologia da ciência da informação nos artigos de revisão do ARIST que
abordamos no capítulo 2. Nesses a teoria da informação é tomada como ponto
de partida para a ciência da informação em diversos momentos. Em relação à
disciplina paradigmática ficaremos com a ciência da computação, pela
facilidade em abrigar conceitos vindos da cibernética e da teoria da informação.
O segundo paradigma proposto por Capurro é o paradigma cognitivo. A partir
desse paradigma a ciência da informação passa a conceber o sujeito como um
fator importante dentro de processo de busca e apreensão de informações. Os
meios sob os quais o sujeito interage com a informação passam a ser
considerados relevantes, inclusive para atestar o que é realmente informação e
potencialmente conhecimento. CAPURRO (2003) relação entre a ontologia
e a epistemologia de Karl Popper e o paradigma cognitivo proposto por B. C.
Brookes (1977, 1980), influência essa reconhecida e ressaltada pelo mesmo.
Outro autor influente nesse paradigma é BELKIN (1980) que formulou os
“estados anômalos do conhecimento”. A idéia de necessidade e falta de
informação decorre inicialmente desse paradigma. Outra contribuição é a
relação entre informação e conhecimento, donde a informação quando
processada modifica o estado de conhecimento do sujeito. Evidentemente que
118
essa abordagem, apesar de muito influente ainda, produziu outras visões,
sobretudo nos estudos sobre cognição situada, biologia do conhecer, entre
outros. Nesses estudos a relação entre informação e conhecimento passa a ser
questionada e relativizada. Além disso, o sujeito é concebido de forma integral
e a superação da relação dicotômica entre mente e corpo e entre sujeito e
objeto. Distinção é bom lembrar, que a filosofia discute desde a época de
Platão.
Para definir o objeto desse paradigma sob o prisma da informação, deveremos
considerar esses dois aspectos, ou momentos da influência cognitiva na
ciência da informação. De qualquer forma, informação aqui não é um objeto,
um artefato, pelo menos de forma isolada. Apesar de também não ser algo
exclusivamente da ordem da mente de forma isolada, ao contrário, é a partir
dela que se constrói todo o raciocínio empreendido neste paradigma. O seu
objeto paradigmático se situa então na anterioridade da informação
materializada como coisa, ou seja na esfera do pensamento, da cognição e da
metafísica. Acerca das teorias, se observamos a influência na área de ciência
da informação, ficaríamos entre a equação fundamental de Brookes e os
estados anômalos do conhecimento de Belkin. Entretanto, o alcance das novas
proposições, sobretudo nos estudos da cognição situada e das concepções de
desenvolvimento das relações entre seres vivos em redes de coexistência,
credenciam uma mudança nesse quadro. Desde a formulação da Teoria de
Sistemas de Bertalanffy na década de 30, o quadro dos estudos cognitivos se
modificou bastante. Em verdade teríamos de remontar um histórico, que vai
119
desde as “Conferências Macy
16
até os dias atuais. Contudo para apontar uma
teoria paradigmática para a ciência da informação no escopo dos estudos
cognitivos não precisaríamos discorrer de forma detalhada acerca do tema.
Ficamos, pois com a Teoria de Sistemas. Quanto aos modelos, o próprio modo
de se conceber o conhecimento e a vida em redes, a interdependência dos
sujeitos e das coisas para coexistirem enquanto seres biologicamente únicos e
em relação com o todo. Assim, sobre a disciplina paradigmática apontaremos a
biologia
17
por sua abrangência, centralidade e importância no contexto mundial
contemporâneo.
O paradigma social praticamente se repete ou coincide com a análise feita da
abordagem “informação e seu contexto sociocultural”, ressaltando-se aqui a
relevância do tema. Contudo o apontamento de CAPURRO (2003) para a
construção de uma hermenêutica para a ciência da informação merece
destaque. Solução essa que também é defendida por FERNANDES (2004),
que distingue na área de CI três abordagens: Documentalista e Matemática
(Objetivista) e Cognitivista (Subjetivista). Abordagens que coincidem com as de
CAPURRO (2003), exceto sobre a inserção da documentação no aspecto
objetivista da ciência da informação. Para Capurro a documentação estaria
mais ligada ao aspecto cognitivista e portanto subjetivista da informação. Para
16
Conferências realizadas entre 1946 e 1953, num total de dez, sob os auspícios da fundação filantrópica
americana Josiah Macy Jr, que tiveram como tema o estudo da mente humana.
17
A biologia, sobretudo nos estudos em neurociência, vem ganhando grande espaço no escopo das
ciências de modo geral. Evidentemente que as ciências cognitivas são interdisciplinares e abrangem
outras áreas do conhecimento como a pedagogia, ciência da computação, letras, ciência da informação,
etc.
120
além dessas três abordagens FERNANDES (2004), propõe então, na mesma
linha de Capurro, a construção de uma hermenêutica para a ciência da
informação. A distinção é de que Capurro a construção hermêutica para a
ciência da informação como decorrência do paradigma social. Já FERNANDES
(2004) não faz alusão à uma abordagem social em ciência da informação, mas
propõe a hermenêutica como uma possibilidade de colocar em relação de
interação o aspecto objetivista (objeto) com o subjetivista (sujeito).
Em síntese, quando da análise da literatura, orientada pelo texto de CAPURRO
(2003), podemos traçar, em relação aos objetos paradigmáticos para a ciência
da informação, o seguinte quadro:
QUADRO 4
Análise da literatura (Capurro) – paradigmas e modelos
Paradigmas
(Capurro)
Paradigma objeto Paradigma teoria Paradigma disciplina Modelo
Paradigma
físico
informação como
objeto
Teoria matemática da
informação
Ciência da
computação
Modelo de
transmissão
linear da
informação
Paradigma
cognitivo
informação
subjetivista
Teoria de Sistemas de
Bertalanffy.
Biologia Concepção
sistêmica
(redes) da vida
Paradigma
social
informação
compreensiva
Teoria da
Epistemologia Social
de Shera
Sociologia e
Antropologia
Atuação social
da informação
Fonte: Desenvolvido pelo próprio autor
121
6.3 Confronto das análises
Tomando os objetos apresentados até aqui como paradigmáticos temos na
primeira análise: a informação como artefato, informação-valor, informação
como processo e a informação teleológica. Na segunda análise: informação
como objeto, informação subjetivista e informação compreensiva.
Considerando “informação como artefato” e “informação como objeto” como
conceitos próximos, teríamos mais quatro aspectos como resultado do embate
das duas análises: “informação-valor”, “informação como um processo de
compreensão da realidade social”, “informação teleológica e “informação
subjetivista
18
”.
Quando se diz que o objeto da ciência da informação é a própria informação,
parece tratar-se de um conceito meio vago. Contudo, esses momentos de
passagem da informação, vistos de forma um pouco mais detalhada parecem
fazer mais sentido para nós. Outro ponto a ser ressaltado é sobre a validade de
diferentes abordagens ou paradigmas dentro da ciência da informação. Parece
haver em alguns momentos a tentativa da supremacia de uma abordagem
sobre outra, talvez pela tentativa de aplicação do conceito de paradigma de
Thomas Khun. Evidentemente que, para serem consideradas todas elas como
parte da ciência da informação deveriam guardar alguma relação entre si. Essa
relação pelo que vimos é a informação vista em suas possibilidades de
18
Retomaremos esta análise nas considerações finais.
122
organização, arranjos, fluxos, sejam por parte dos sujeitos (indivíduo visto de
forma isolada), organizações, empresas ou coletividades.
Outra contribuição importante e que merece ser analisada é acerca das
disciplinas paradigmáticas encontradas nas duas análises. Na primeira temos:
a biblioteconomia; administração; sociologia e antropologia, e comunicação
social. Na segunda análise: a ciência da computação, biologia e igualmente a
sociologia e antropologia. Em relação às disciplinas que guardam forte relação
de interdisciplinaridade com a ciência da informação temos então: a
biblioteconomia, administração, sociologia, antropologia, comunicação social,
ciência da computação e biologia. No caso da biologia, mais especificamente
os estudos relacionados com o homem e suas capacidades biológicas de
entender e interagir com o mundo.
Por fim, esclarecemos que a opção por usar o termo abordagem ao invés de
paradigma, quando da análise das linhas de pesquisa, tratou apenas de um
recurso para facilitar a distinção e agrupamento das mesmas. Dessa forma,
distinguimos adiante, dentro de cada uma das abordagens das linhas, os
paradigmas concernentes à ciência da informação. De acordo com o conceito
de paradigma que utilizamos, bem como da metodologia proposta para o
presente trabalho, não intencionamos dar respostas definitivas sobre a
constituição da ciência da informação. Talvez tenhamos aberto, ao contrário, a
possibilidade de se fazer mais perguntas sobre essa jovem, instigante e
sedutora ciência da informação.
123
7 OUTROS OLHARES SOBRE A QUESTÃO
Após a análise dos paradigmas e modelos empreendida no capítulo anterior,
surgem questionamentos acerca das lacunas surgidas quando da análise do
tema. Especialmente quando propomos a análise da literatura centrada em
único autor, no caso Capurro (2003). Dessa forma, procuramos ressaltar outras
possibilidades de análise e argumentação sobre os fundamentos da ciência da
informação, apontando algumas questões e possíveis caminhos de estudos e
pesquisa. Ressaltamos, no entanto, que a centralidade da discussão da
literatura está na análise dos paradigmas de Capurro (2003), sendo este
capítulo um adendo para a discussão empreendida no presente trabalho.
Uma questão relevante, talvez a mais debatida e propalada diz respeito à
constituição interdisciplinar da ciência da informação. Dificuldade essa, cuja
literatura a impressão de estarmos em disciplinas completamente diferentes
ao nos depararmos com determinados textos e argumentos. Mostafa (1986)
resume esse embate em dois grandes blocos, um ligado à dimensão social da
informação e outro fisicista, ligado aos aspetos técnicos e em sua extensão
tecnológicos da informação e do conhecimento.
O fato é que nos humanistas somos uma disciplina que liga
as outras disciplinas. Aqui nós cientificistas somos meta-
ciência, uma ciência que conta da estrutura comunicativa
das outras ciências. Filigramas à parte, o certo é que somos
nas duas visões o centro do saber. (MOSTAFA, 1986, p.175)
O nosso projeto enquanto ciência, de fato, sempre foi muito ambicioso, quer
seja na visão dos “documentalistas” quando do sonho de se reunir todo o
124
conhecimento humano, ou na pretensão dos compêndios de classificação de
mensurar, igualmente, tudo aquilo que conhecemos. Sem nos deter sobre essa
vocação da ciência da informação para “super-homem”, no sentido de
Nietzsche é claro, procederemos a uma análise mais detalhada sobre o que
MOSTAFA (1986) chama de unidade de métodos dentro da ciência da
informação.
A organização que a autora faz das possibilidades de olhares metodológicos do
objeto informação, que, por sua vez, decorrem da teoria, assemelha-se à
análise de paradigmas realizada no presente trabalho. A autora distingue
quatro grandes paradigmas (esse termo não é utilizado por ela) que, em sua
visão, pretendem estabelecer unicidade dentro da área de ciência da
informação. São eles:
Neopositivismo
Os teóricos da biblioteconomia quando tematizam as questões
metodológicas repetem a velha história da teoria da ciência
sobre a dificuldade de se obter o mesmo rigor nas ciências
sociais daquele obtido pelas ciências físicas. Todos eles vão
dizer que, apesar das dificuldades, as ciências sociais
dispõem de meios para viabilizar aquele rigor. O modelo da
física permanece no horizonte. A unificação do métodos se
pelo lado das ciências físicas, como propõe o neopositivismo
(MOSTAFA, 1986, p.189-190).
Sistemismo no qual aponta uma contradição entre a abordagem
neopositivista, que privilegiaria conceitos oriundos da física (visão atomista
por exemplo), com a biologia.
Por outro lado é curioso que a unificação dos métodos pelo
lado do biologismo sistêmico tal qual nos propõe Ludwig Von
Bertalanffy é altamente aceita na biblioteconomia (MOSTAFA,
1986, p.190).
125
Neokantismo e Neohegelianismo Não haveria neste paradigma a idéia de
unicidade de métodos. Considera as duas escolas como historicistas.
Marxismo – A dimensão marxista aparece aqui, pelo o que nos faz entender
a autora, para mostrar a relevância do pensamento crítico e o atrelamento
do labor do cientista de informações com a realidade social que o circunda.
Além disso Marx, inegavelmente tem uma contribuição importante para as
ciências, mostrando sobretudo que o percurso científico é sempre um
percurso histórico e relacional, estabelecido num jogo de forças em que a
elite determina ou mantêm as condições de produção e circulação da
cultura de modo geral.
É imutável quando mostra-se insensível às elites culturais,
construindo a sua ciência de forma a perpetuar as elites das
ciências. De intelectual orgânico das elites culturais, o cientista
de informações precisa vislumbrar o seu papel de organizador
da nova cultura, onde as elites desaparecem para que a
grande massa de simplórios ascenda a uma filosofia de vida
superior, porque organizada, coerente, crítica. Tarefa para
muitas gerações (MOSTAFA, 1986, p.196).
Essa multiciplidade de olhares é ao mesmo tempo um complicador e um
instigante desafio para a ciência da informação. Em análise semelhante
HJORLAND (1998) faz uma analogia com as abordagens epistemológicas da
ciência da informação com os esquemas de classificação científica e as
correspondentes classificações bibliográficas. Para o autor a ciência da
informação comportaria: o empiricismo, racionalismo, historicismo,
pragmatismo e ceticismo. Parece que o faltou nenhuma escola do
pensamento científico em suas colocações, e esse fato denota que a ciência da
informação estaria mais uma vez afeita a todo tipo de influência. De qualquer
modo, algumas das abordagens (paradigmas) nos pareceu um pouco
126
inadequadas. O historicismo, por exemplo, está associado às classificações
baseadas em taxinomias, talvez pela dinâmica do pensamento científico,
entretanto, acreditamos, ficaria melhor uma associação com classificações
construídas socialmente, que estão sempre em vias de se refazer. Por outro
lado, a abordagem racionalista parece estar bem delineada como
classificações baseadas em divisões lógicas e, em correspondência com as
classificações bibliográficas, por exemplo, a classificação facetada de
Ranganathan.
QUADRO 5
Métodos fundamentais de classificação
Objetos de pesquisa
(Classificação científica)
Documentos
(Classificação bibliográfica)
Empiricismo Classificação obtida pela análise
estatística (tal como a análise de fator)
baseada na semelhança. . Exemplos:
Classificação da doença mental na
Psiquiatria ou os tipos de inteligência na
Psicologia baseado na análise estatística
de contagens de teste.
Os originais aglomeraram-se na base
por algum tipo de similaridade, por
exemplo: termos comuns ou
acoplamentos bibiográficos.
Exemplos: o atlas da ciência e da
pesquisa em SCI”; algoritmos para a
recuperação de informação.
Racionalismo Classificação baseada em divisões
lógicas, por exemplo classificação dos
povos por grupos de idade. Exemplos:
Sistemas baseados em estruturas na
Inteligência Artificial; Análise de Chomsky
da estrutura profunda da ngua; modelos
cognitivos da mente na Psicologia.
Análise de facetas construídas em
divisões lógicas e/ou “categorias eternas
e invariáveis”.
Exemplos: Ranganathan, Henry Bliss e
Langridge; redes semânticas.
Historicismo Classificação baseada no
desenvolvimento natural.
Exemplos: A Teoria da Evolução:
Taxonomias biológicas.
Sistemas baseados no desenvolvimento
de “comunidades produtoras de
conhecimento” (a divisão do trabalho
científico).
Exemplo: A apresentação do “DDC” que
distribui assuntos por disciplina.
Pragmatismo Classificação baseada na análise de
objetivos e conseqüências (classificação
crítica).
Sistemas construídos na análise crítica
do desenvolvimento e do estado do
conhecimento. Exemplos: Francis
Bacon, os Enciclopedistas francêses,
Henry Bliss, os marxistas etc..
Ceticismo
(incluindo
pós-modernismo)
Classificações “Ad hoc
Recursos da Internet “não-estruturados” como um modelo
Fonte: HJORLAND, Birger. Theory and metatheory of information science: a new interpretation.
Journal of Documentation, v.54, n.5, 1998. p.612.
127
Outra referência que vem tendo repercussão na área, diz respeito à filosofia da
informação proposta por Floridi, sendo que,
Na realidade, sua proposta de pensar filosoficamente a
informação parte de uma lógica informática e computacional
onde teorias semântica, matemática e comunicacional
apresentam-se como fundamentos para sua análise
(FRANCELIN; PELLEGATTI, 2004, p. 125).
Essa pode ser uma tendência para a ciência da informação, incorporar
definitivamente os conceitos oriundos da tecnologia, inclusive como forma de
fundamentação de seu campo. Tendência que, como muitas outras, sobretudo
em se tratando de tecnologia, pode ser tanto apenas uma leve brisa passageira
como uma tempestade que modifica as bases de sustentação de nossos
conceitos. Evidentemente que o grau de modificação fica a cargo dos sujeitos,
dentro das contradições da sociedade, afeitos às lutas e/ou passividade dos
cidadãos.
Uma reflexão final, que permeia todo o trabalho, é acerca da relevância de se
pensar paradigmas em ciência da informação, e, ainda de não chegar a
estabelecer um único paradigma, questão tida como central para a área.
Entretanto,
Talvez haja realmente a necessidade de um encontro
paradigmático em informação. Mas, como fazer para localizar
essa referência? Sabe-se que a informação é um rico objeto de
estudo, não podendo, por outro lado, ser reduzida a um único
paradigma (FRANCELIN; PELLEGATTI, 2004, p. 128).
Essas dificuldades, muito faziam parte de nossos pressupostos acerca da
multiplicidade de olhares possíveis para a ciência da informação. Haja vista
que, tanto o seu percurso histórico, quanto seu objeto de pesquisa estão
128
afeitos a mudanças e a novas construções. Isso, pode ser estendido também
às ciências de modo geral e, em particular à ciência da informação dada à
peculiaridade de sua juventude e particular escassez de estudos teóricos. Essa
têm sido, inclusive, a tônica dos estudos em ciência da informação, a partir
sobretudo, da década de 90, devido a uma forte preocupação em pensar os
fundamentos teóricos da disciplina. Portanto,
Pensar a informação para a geração de conhecimento sobre a
própria informação. Pensar as suas relações. Pensar a
informação em seus múltiplos e paradoxais modos de
apresentação. Pensar a informação que não se apresenta, que
parece estar na obscuridade, que parece estar perdida, que
parece que não é informação. Pensar o que é, o que não é e o
que pode ou não ser informação. Pensar o por que é e o por
que não é informação, o por que pode ou não pode ser
informação e assim por diante. Enfim, pensar a informação,
não importando, paradoxalmente, em que contexto e em qual
situação ela se encontre (FRANCELIN; PELLEGATTI, 2004, p.
131).
O caminho que optamos por percorrer nesta dissertação pode ainda, abrir
novos horizontes de pesquisa, sobretudo no que diz respeito à possibilidade de
construção de uma epistemologia centrada no conhecimento construído pelos
sujeitos, muito embora esses “demiurgos” possam se mostrar fragilizados pela
própria condição humana:
Nas cosmogonias gnósticas, os demiurgos amassam um
vermelho Adão que não consegue pôr-se de ; tão inábil e
rude e elementar como esse Adão de era o Adão de sonho
que as noites de mago tinha fabricado. (BORGES, 2001, p. 69)
Interessante que esse conto de Borges trata justamente da circularidade do
conhecimento e de sua interseção com a fantasia, o pensamento. Uma mistura
de realidade, sonho, virtualidade, possibilidades. Possibilidades essas que se
apresentam de forma circular, assim como o apontado “círculo hermenêutico”
129
de onde iremos extrair uma última possibilidade de continuidade de estudos
para a ciência da informação.
A interseção da ciência da informação com a hermenêutica, foi tangenciada
durante todo o trabalho de dissertação. O fato de Domingues perceber em
Weber um hermeneuta aliado às recentes proposições de relações entre a
hermenêutica com a ciência da informação são de fato bons aportes para a
construção dessa idéia. Quando nos ocupamos do tripé metodológico
igualmente mostramos alguns autores brasileiros que trabalham ou admitem o
conceito. Um caminho para construção dessa hermenêutica pode ter como
ponto de partida a contribuição de Capurro.
a hermenêutica de Capurro traz além da proposta em si, ou
seja, de apresentar a ciência da informação como uma
disciplina com implicações hermenêuticas, uma contribuição
interessante que sinaliza na direção de uma hermenêutica
compreensiva (RENAULT; MARTINS, 2007, p. 144-145).
Existem alguns pontos que merecem ser aprofundados, quando da construção
de uma hermenêutica para a ciência da informação, posto que,
Em muitos momentos o autor tenta vincular as reflexões
hermenêuticas com aspectos práticos dos serviços de
informação, o que de fato reduz o alcance de suas
argumentações. É notório, entretanto, o seu avanço na
compreensão das relações humanas com a informação,
sobretudo na concepção do “ser no mundo em relação aos
outros”, pressupondo uma relação dialógica de interação social
(RENAULT; MARTINS, 2007, p. 141).
O horizonte parece-nos promissor e fecundo para que se estabeleça uma
relação entre a ciência da informação e hermenêutica. Um interlocutor que
130
poderia acrescentar boas contribuições, sobretudo na superação do círculo
hermenêutico seria Paul Ricoeur, pois,
Além do ziguezague, há outra figura geométrica compatível
com a hermenêutica, a saber: a figura do arco, ao modo da
abóbada, do arco-íris ou do arco-e-flecha, considerados tipos
de semicírculo. È dela que se serve Ricoeur ao propor o arco
hermenêutico, como que sugerindo que o círculo não pode ser
percorrido, e que portanto o complemento do arco deverá ser
figurado como projeção virtual. (DOMINGUES, 2004, p.542)
Dessa forma, deixando a formulação hermenêutica como possibilidade para a
ciência da informação, esperamos deixar bons caminhos para que se criem
novos arranjos e formulações acerca do conhecimento empreendido na área.
De modo geral, essas reflexões e apontamentos que extrapolam a análise da
literatura proposta nesta pesquisa, revelaram-se como boas referências
complementares acerca da discussão empreendida no presente trabalho.
Evidentemente que a discussão alcança outros autores e referências além dos
tratados aqui. Dessa forma, os “olhares” com os quais flertamos neste capítulo
são apenas algumas das contribuições que julgamos, por ora, que sejam
importantes recuperar para a discussão dos fundamentos da área de ciência da
informação.
Esperamos assim que, como Lewis Carroll propõe no seu texto “Paradoxo
Lógico
19
” não estejamos incorrendo na utilização dos princípios da “Reductio ad
Absurdum” e que possamos ter apresentado bons argumentos e inspiração (da
qual necessitamos tanto) para que se estabeleçam novas construções.
19
Ver anexo 2
131
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final de qualquer trabalho torna-se relevante ressaltar os limites, avanços e
horizontes promissores de novas pesquisas acerca do tema estudado. Um
tema dessa natureza, ou seja, tentar refazer ou reunir em uma base descritiva
os fundamentos de determinada área de estudos é antes de mais nada uma
tarefa hercúlea. Dessa forma, chegamos ao término da pesquisa, cientes de
que, houveram, assim como pressupúnhamos, inúmeras lacunas. Por outro
lado, certos de que, inúmeras são as possibilidades abertas de continuidade
dos estudos aqui empreendidos.
Dentro de um encadeamento lógico, o presente trabalho, ao perguntar pelo
sujeito construtor do conhecimento, procurou elucidar o contexto em que o
mesmo surge no cenário da ciência da informação. Quando discutimos a
constituição histórica da ciência da informação, através dos periódicos do
ARIST, estávamos começando a descortinar este cenário. Ficou nítido para
nós que, a influência da teoria da informação de Shannon e Weaver foi e ainda
é, muito forte, para a área. Além disso, as tentativas de constituição dos
fundamentos da área estão, em muitos casos, ligadas ao desenvolvimento de
técnicas para se lidar com a informação, de modo geral. Por outro lado, existe
uma preocupação crescente em contar essa história com maior rigor científico
e formular conceitos e teorias adequadas ao objeto informação.
Quando da análise histórica dos cursos de pós-graduação brasileiros,
observamos, embora seja tema controverso, a influência da biblioteconomia
132
para a constituição da ciência da informação em âmbito nacional. Outro ponto,
interessante que abordamos foram as características, ou a pergunta por quem
é, o “sujeito construtor do conhecimento”? Nesse sentido, introduzimos
reflexões acerca do hibridismo entre ciência e tecnologia e destas com
questões éticas, com as quais o cientista se depara, infalivelmente.
Consideramos ser essa, uma reflexão muito importante para a ciência da
informação, uma vez que se propõe a conjugar avanços tecnológicos dentro de
uma perspectiva ou amplitude social. O nosso sujeito incorporaria, a partir de
então, consciência, contexto, conflito e mente sonhadora, no âmbito do seu
exercício enquanto construtor do conhecimento.
A pergunta seguinte, dentro do encadeamento da pesquisa, foi acerca da
adequabilidade do uso de paradigmas e modelos para as ciências de modo
geral, e para a ciência da informação de forma específica. Para tratar da
questão, buscamos referência em Platão para mostrar a longevidade do tema,
pois, ao contrário do que possamos pensar, o termo paradigma não é recente.
Desenvolvemos também, a abordagem de Ivan Domingues que é central para
esta pesquisa. Acerca da objetividade das ciências sociais, discutimos as
possíveis medidas de mensuração e parâmetros de equiparação com as
ciências naturais. Pois, a ciência da informação, de modo particular, é
considerada ciência “jovem” (embora sedutora) e sua cientificidade é colocada
em questão quando se trata de discutir os seus fundamentos. No entanto, para
nós, na medida em que se afirma como ciência social e, portanto, amplia a
133
dimensão da produção e uso de suas técnicas, a ciência da informação se
aproxima mais de uma consolidação científica.
Em seguida, quando nos ocupamos da metodologia da pesquisa,
desenvolvemos um tripé: descrição, explicação e compreensão (DOMINGUES,
2004). Esse, por sua vez, corroborou o argumento inicial acerca do sujeito
construtor do conhecimento e sobre a adequabilidade dos paradigmas e
modelos para a ciência da informação. A formulação da metodologia, que tem
como núcleo a teoria de Ivan Domingues, conduziu também, à possibilidade de
interseção da ciência da informação com a hermenêutica. Possibilidade com a
qual trabalhamos numa relação de implicação, qual seja que a ciência da
informação seria uma ciência com implicações hermenêuticas.
Quando, de fato, realizamos a análise das linhas de pesquisa, bem como da
literatura (recortada) da área de ciência da informação, as possibilidades se
multiplicaram. A ciência da informação se mostrou afeita a inúmeros
paradigmas e abordagens localizadas em diversas linhas e autores. A
pretensão “totalizadora” se mostrou mais uma vez inviável, pois, a
multiplicidade de conceitos e teorias inviabilizaria e corroboraria a natureza
interdisciplinar da ciência da informação. Entretanto, os “paradigmas-objeto”
por nós encontrados na análise das linhas de pesquisa, assim como na análise
do texto de Capurro (2003), tiveram o cuidado de preservar a relação
disciplinar necessária para se dizer que uma ciência possui determinado
objeto.
134
Dessa forma, como aporte final, para a discussão realizada, iremos retomar
criticamente os “objetos” encontrados (construídos) nesta pesquisa. Na análise
das linhas de pesquisa obtivemos: a) “Informação como artefato”; b)
“Informação percebida como valor econômico”; c) “Informação como processo”
e d) “Informação teleológica”. Enquanto, na segunda análise, baseada no texto
de Capurro (2003), encontramos os seguintes “paradigmas-objeto”: a)
“Informação como coisa”; b) “Informação subjetivista”; e c) “Informação
compreensiva”. O conceito de “Informação como artefato” é semelhante ao de
“informação como coisa”, posto que, estamos diante de um objeto que é da
ordem da materialidade. Interessa, nesse contexto, a informação enquanto algo
externo ao sujeito e que possa por ele ser manipulado, organizado e referido.
Outra relação observada diz respeito às seguintes abordagens: “Informação
como processo” e “Informação compreensiva”. No entanto, a relação aqui é de
implicação, isto porque a informação vista como processo e, portanto, de
ordem social implicaria numa tentativa de compreensão para que se possa
obter o sentido da ação. Em suma, como dito anteriormente, a ciência da
informação como uma disciplina social, com implicações hermenêuticas.
Alguns “objetos”, entretanto, aparecem de maneira isolada, sem nenhum tipo
de relação com os outros encontrados (construídos). Entre esses temos a
“Informação teleológica” ou finalística que é aquela voltada para a resolução de
problemas, a qual importa a finalidade a que informação se destina, sendo,
portanto necessária a visualização do fluxo que percorreu para atingir
determinado resultado ou fim. Outro “objeto possível para a ciência da
135
informação seria a “Informação subjetivista”, também independente das outras.
A informação assume nestes termos caráter cognitivo em que o sujeito tem a
primazia do processo. As formas com que entende, apreende, troca e
comunica informações, a partir das possibilidades biológicas estruturais do seu
ser, seriam então o epicentro (objeto) para a ciência da informação.
Enfim, quando a idéia de uma “Informação percebida como valor econômico”
passa a ser difundida amplamente, passamos a dar ensejo ou edificar os
pilares de uma sociedade centrada na informação. Dessa forma, a informação
modificaria toda a estrutura social, desde a produção de bens (que poderiam
agora ser intangíveis) até às mais altas esferas de poder decisório ( que
estariam mais suscetíveis à influência da informação).
Como reflexão final, os “objetos” encontrados, nesta pesquisa, para a ciência
da informação, podem ser visualizados na seguinte seqüência: num primeiro
momento, na esfera do pensamento, como idéia ou potência. Idéia que se
materializa ou se “coisifica” em esquemas organizados, com a finalidade de
obter valor ou reconhecimento. Porém, esse processo, desenhado em seu
aspecto “micro”, está circunscrito em uma realidade maior que confere sentido
e singularidade à ciência da informação, que é da ordem das relações sociais.
Ou seja, numa analogia com o tripé metodológico apresentado no trabalho, a
informação vista como processo de compreensão da realidade, seria o objeto
abarcante dos demais identificados, posto que, definiria em escala “macro” a
136
Informação como um processo de compreensão da realidade
social
natureza disciplinar da ciência da informação (Veja FIG 2). Como diria Weber,
“até que se apresente evidência contrária”...
Figura 2 – Objetos paradigmáticos para a ciência da informação
Fonte: Desenvolvido pelo próprio autor
Finalmente, gostaríamos de ressaltar que, o tripé metodológico apresentado
nesta pesquisa, mostrou-se ser bom instrumento de análise para a ciência da
informação, sobretudo, em trabalhos que enfocam os fundamentos da área.
Além disso, o tripé metodológico sinaliza na direção de uma perspectiva
hermenêutica (compreensiva) do objeto informação, que pode ser melhor
explorado por pesquisa futuras.
Por outro lado, o objeto de análise da pesquisa, ou seja, as linhas de pesquisa
dos cursos de pós-graduação brasileiros em ciência da informação, podem ser
considerados bases lacunares para a apreensão do objeto informação.
Informação subjetivista
Informação como artefato
Informação teleológica
Informação-valor
137
Tentamos suprir essas lacunas com a análise de textos atinentes à
epistemologia da área, mais especificamente, aqueles que guardam a idéia de
paradigmas ou abordagens observáveis na ciência da informação. Contudo,
apesar das lacunas existentes, não podemos deixar de ressaltar que,
houveram avanços nas possibilidades de compreensão do objeto informação.
O trabalho abre ainda, novas perspectivas de compreensão para a ciência da
informação, visualizadas no argumento do sujeito construtor do conhecimento,
que, no nosso caso, foram direcionadas para os cursos de pós-graduação
brasileiros em ciência da informação. Outras pesquisas podem se valer do
argumento e, direcionar o olhar para outras representações do conhecimento
construído pelos sujeitos dentro da área de ciência da informação, ou até
mesmo em outras áreas. Na mesma perspectiva, a possibilidade de
compreensão da ordem da hermenêutica para a ciência da informação
propiciam inúmeros outros olhares e pesquisas futuras.
Cabe, por fim, o questionamento final sobre a possibilidade de
desenvolvimento dessas perspectivas apresentadas no trabalho. Desafio esse,
que apresentamos aos sujeitos construtores do conhecimento da área de
ciência da informação. Pois, perguntaria um “jovem” principiante artífice do
conhecimento, estaríamos realmente sendo compreendidos?
138
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148
ANEXOS
Anexo 1
Programa: MCT /IBICT – Mestrado 1970; Doutorado 1992
Área de Concentração: O conhecimento da informação e a informação para o
conhecimento.
Linhas de Pesquisa Ementa de Linha de Pesquisa
Teoria, epistemologia,
interdisciplinaridade e
ciência da informação
Estudos orientados à reconstrução crítica das estratégias e
premissas epistemológicas constituídas no campo da Ciência da
Informação e sua interdisciplinaridade, assim como ao
desenvolvimento de conceitos, metodologias, modelos e teorias dos
fenômenos, processos e construtos de informação.
Representação, gestão e
tecnologia da informação
Estudo das diferentes formas de mediação dos processos
cognitivos, comunicacionais e sociais, considerando a informação
como objeto de uma ação de intervenção. Investigação dos fluxos,
processamento e gestão da informação em contextos distintos.
Estudos de necessidades e usos da informação em seus diferentes
contextos. Ênfase na organização de domínios de conhecimento, na
representação da informação e nas tecnologias de informação e
comunicação.
Informação, conhecimento
e sociedade
Configurações sócio-culturais, tecno-econômicas e político-
institucionais da informação e do conhecimento, contemplando as
especificidades da sociedade brasileira. Informação e conhecimento
como expressões e construções sócio-culturais. Ciclos e fluxos
informacionais no âmbito das organizações, comunidades e redes.
Informação e conhecimento na produção material e imaterial, nos
processos de transformação social e na tomada de decisão
estratégica.
Programa: PUCCAMP – Mestrado 1977
Área de Concentração: Administração da Informação
Linhas de Pesquisa Ementa de Linha de Pesquisa
Gestão da
Informação
Investigação dos processos, procedimentos, teorias e técnicas
necessários para a concepção, implementação e operacionalização dos
serviços de informação nas organizações.
Produção e
Disseminação da
Informação
Investigação dos processos, procedimentos, teorias e técnicas
necessárias para a concepção de produtos e serviços de informação nas
organizações, tendo como referencial as formas de consumo.
149
Programa: UFBA – Mestrado 1998
Área de Concentração: Informação e Conhecimento na Sociedade
Contemporânea
Linhas de Pesquisa Ementa de Linha de Pesquisa
Informação e
Conhecimento em
Ambientes
Organizacionais
Compreende estudos: da relação informação e conhecimento;
informação e tecnologias de informação e comunicação; informação e
processo cognitivo; da inteligência organizacional, abrangendo gestão
da informação e gestão do conhecimento. Inclui a compreensão: do
desenvolvimento do conhecimento na Sociedade; e da definição da
Ciência da informação e sua relação com a epistemologia.
Informação e
Contextos sócio-
econômicos
Compreende estudos: da história e das relações da informação com a
economia, com os processos políticos, com a inclusão social e digital,
com a vida social e cultural, e com a identidade nacional. Abrange a
compreensão do Estado, das empresas e da sociedade civil na
organização, gestão e regulação nacional e internacional da
informação.
Programa: UFMG – Mestrado 1976; Doutorado 1997
Área de Concentração: Produção, organização e utilização da informação.
Linhas de Pesquisa Ementa de Linha de Pesquisa
Gestão da
Informação e do
Conhecimento
As atividades de investigação científica nesta linha concentram-se em
temáticas relacionadas à gestão da informação e do conhecimento em
contextos organizacionais. Tais temas focalizam as seguintes questões:
Políticas de informação (nacionais e transnacionais) para a infoinclusão,
cognição em organizações, fontes e serviços de informação para negócios,
tecnologias para gestão do conhecimento e avaliação de sistemas de
informações organizacionais.
Informação, Cultura e
Sociedade
A linha de ICS tem abordado temáticas variadas, tendo, entretanto, como
elementos comuns a preocupação em discutir problemas relativos a
democratização do acesso à informação, bem como ao exercício das
atividades informacionais, procurando evidenciar as contradições, os limites
e alternativas que se apresentam no âmbito da sociedade da informação.
Organização e Uso
da Informação
A linha “Organização e Uso da Informação” preocupa-se com estudos de
duas das funções básicas de bibliotecas: os sistemas de recuperação da
informação e a organização e o uso de informação. Foi estruturada com
base no pressuposto de que o estudo e a reflexão sobre qualquer das duas
funções são potencializados a partir da interação/inter-relação existente
entre as duas, procurando explorar as teorias correspondentes, de forma a
consolidar núcleos teóricos relevantes para as áreas envolvidas. Entre os
grandes temas da linha destacam-se: Representação da informação
(classificação, descrição e modelagem) em contextos digitais, análise de
assunto, Bibliometria, estudos de usos e usuários de sistemas de
informação.
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Programa: UFSC – Mestrado 2003
Área de Concentração: Gestão da Informação
Linhas de Pesquisa Ementa de Linha de Pesquisa
Fluxo da Informação Estudar os canais de produção, distribuição e circulação da informação, os
processos e suportes informacionais e a apropriação da informação nas
unidades de informação, visando construir suportes teóricos para a
compreensão do funcionamento das unidades de informação e para o
entendimento da dinâmica dos fluxos de informação na sociedade
contemporânea.
Profissionais da
Informação
Estudar as necessidades de busca e uso de informação da sociedade, em
diferentes setores, que determinam a configuração das atividades dos gestores
da informação, visando construir metodologias que permitam avaliar as
condições de oferta de educação e capacitação profissional nas áreas que
compõem o campo de atuação dos profissionais de ciência da informação.
Programa: UnB – Mestrado 1978; Doutorado 1992
Área de Concentração: Planejamento e gerência de unidades de informação
(mestrado) Transferência da informação (Doutorado)
Linhas de Pesquisa Ementa de Linha de Pesquisa
Arquitetura da
informação
Estudos teóricos e práticos sobre a análise da informação, indexação,
estruturas informacionais, representação do conhecimento e recuperação
da informação.
Comunicação da
informação
Modelos e processos da comunicação da informação científica, tecnológica,
comunitária, arquivística, organizacional e para negócios. Suporte
informacionais
tradicionais e eletrônicos. Direito autoral. Influência dos contextos
acadêmico,
industrial, empresarial, organizacional e social no comportamento
informacional.
Gestão da
informação e do
conhecimento
Estudos teóricos, metodológicos e práticos sobre gestão da informação e
do conhecimento em sistemas de informação, bibliotecas, arquivos e
demais unidades de informação e sobre a formação e mercado de trabalho
dos profissionais da informação. Análise das necessidades e dos
comportamentos dos indivíduos e das comunidades na busca e no uso da
informação.
151
Programa: UNESP – Mestrado 1998
Área de Concentração: Informação, tecnologia e conhecimento
Linhas de Pesquisa Ementa de Linha de Pesquisa
Informação e
Tecnologia
Abrange estudos e pesquisas relacionados à geração, transferência, utilização
e preservação da informação e de documentos nos ambientes científico,
tecnológicos, empresariais e da sociedade em geral, associados a métodos e
instrumentos proporcionados pelas tecnologias da informação e comunicação.
Organização da
Informação
Considera a organização da informação como elemento para garantia de
qualidade na recuperação, destacando-se o desenvolvimento de referenciais
teóricos e metodológicos interdisciplinares acerca dos procedimentos de
análise, síntese, condensação, representação e recuperação do conteúdo
informacional, bem como dos produtos documentários deles decorrentes.
Ressalta-se, como dimensão teórica, a reflexão sobre organização do
conhecimento e seus desdobramentos epistemológicos e instrumentais; e,
como dimensões aplicadas, a produção científica na área e a formação
profissional, suas práticas e determinações institucionais em Unidades de
Informação enquanto elementos subjacentes à organização do conhecimento .
Programa: USP – Mestrado 1972; Doutorado 1980
Área de Concentração: Cultura e Informação
Linhas de Pesquisa Ementa de Linha de Pesquisa
Acesso à Informação Estudos teóricos e metodológicos nos aspectos relacionados à produção,
organização para transferência e uso, visando o acesso e a apropriação da
informação. A abordagem desses conteúdos tem como princípio a observação
dos modos de produção da sociedade contemporânea, os contextos sócio-
culturais e econômicos de difusão e divulgação da informação, a diversidade de
públicos e, em última análise, a função social da informação.
Mediação e Ação
Cultural
Baseada nos estudos de Política Cultural – entendida como ciência da
organização dos sistemas culturais – esta linha apresenta-se como um campo
de natureza processual, situacional e relacional que se propõe não apenas a
construir teoricamente um conhecimento do mundo da cultura tal como ele se
revela nos constructos informacionais formalizados (biblioteca, museu, sistemas
virtuais etc) como nele intervir com instrumentos determinados visando o apoio à
produção, distribuição, acesso e uso dos bens culturais, promovendo a
socialização do conhecimento e da informação correspondente. Mais
especificamente, a ação cultural é entendida como processo de criação ou
organização das condições necessárias para que as pessoas e grupos inventem
seus próprios fins no universo da cultura institucionalizada, e a mediação cultural
é entendida como o domínio das ações que visam fazer a ponte entre a obra de
cultura, seu produtor e seu público a partir das instituições formais e de modo a
permitir que os sentidos de uma e outro, além dos objetivos do terceiro, possam
convergir para um ponto comum.
152
Programa: UFPb – Mestrado 1977
Área de Concentração: Informação, Conhecimento e Sociedade
20
Linhas de Pesquisa Ementa de Linha de Pesquisa
Memória,
Organização e Uso
da Informação
A linha de pesquisa: memória, organização, produção e uso da
informação incorpora: preservação da memória, representação de
informação e de conhecimento, web semântica, usos e impactos da
informação.
Ética, Gestão e
Políticas de
Informação
A linha de pesquisa: ética, gestão e políticas de informação incluem
estudos sobre: ética e informação, inclusão social, gestão do
conhecimento, gestão de unidade, de serviços e produtos de informação,
políticas de informação: cultural, científica e tecnológica.
Fontes: http://www.ancib.org.br ; http://www.uff.br/ppgci/ppgci_areas.htm ; http://www.puc-
campinas.edu.br/pos/curso.asp?id=2 ; http://www.posici.ufba.br ; http://www.eci.ufmg.br/ppgci ;
http://www.cin.ufsc.br/pgcin/pgcin.htm ; http://www.cid.unb.br/pos ;
http://www.marilia.unesp.br/ensino/pos-grad/ciencia_informacao/apresentacao.htm ;
http://www.eca.usp.br ; http://www.ufpb.br Acesso em: 05 de Janeiro de 2007.
20
Extraído do folder de abertura de concurso para mestrado em ciência da informação pelo Programa de
Pós-graduação em Ciência da Informação da UFPB.
153
Anexo 2
154
155
156
Extraído do livro: CARROLL, Lewis. Aventuras de Alice. 3.ed. São Paulo: Summus, 1980.
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