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Transversalidade como condição para a percepção do aspecto sinuoso da
existência. É esta ferramenta que se prefere utilizar. Assim, não se almeja buscar a
resolução, a dissolução do problema, do conflito, mas enfatizar as divergências.
Tentar explorar os muitos matizes que juntos refletem o social.
Conforme esclarece Maffesoli, introduzir um número variado de autores é
algo que não se deve temer, pois seriam seus próprios antagonismos que
permitiriam uma abordagem polidimensional do social. Complementa, ainda, que
não se deve recusar ou denegar paradoxos, antinomias e antagonismos, mas
abordá-los naquilo que são: “donde não aparecerá a Verdade divina, mas um
ajustamento de seus aspectos acidentados (altos e baixos) ao seu objeto lábil”
([1985] 1988, p. 182).
O que se propõe, então, é uma “pluralidade funcional”, a simples construção
de uma “arquitetura” na qual diversos elementos apresentem suas atrações e
repulsões. E, juntando a fórmula proposta por Balandier, expressa por Maffesoli, às
suas próprias considerações, pode-se dizer que, se a “sociedade é vários”, a melhor
aposta é no desvio, sendo ele o caminho mais perto para a centralidade ([1985]
1988, pp. 62-73).
Claro está que existe o perigo de uma grande palhaçada ou de obter-se uma
construção com materiais de variada proveniência e de escolha aleatória.
Nem sempre é possível evitar-se tal risco – mas é preciso encará-lo enquanto
tal ou mesmo, por que não, aceitá-lo. Através de costuras malfeitas, é algo
como a vida que às vezes pode vir a insinuar-se.
(...) A polissemia existencial não se ajusta a uma lógica redutora. Assim, sem
nada negar às diversas contribuições intelectuais, mas jogando-as umas com
(ou contra) as outras, obtemos um quadro talvez mais impressionista, mas
mais completo do todo social. Como sabemos, a vida das sociedades assenta
num número elevado de desacordos, de antagonismos que, confrontados uns
aos outros, produzem uma surpreendente cenestesia. É, portanto, normal que
utilizemos, para exprimi-la, uma abordagem igualmente constituída de
heterogeneidades e de paradoxos. Vale a pensa apostar que, por este viés,
será possível chegarmos, senão a um sistema, ao menos a um afresco de
cores e formas contrastantes, mas equilibrado (MAFFESOLI, [1985] 1988, p.
190).