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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MARIA LUIZA DE PAULA SANTOS
CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE: UMA
PROPOSTA PARA FORMAÇÃO ESCOLAR DO JOVEM
ESTUDANTE POBRE. (1943-2007)
CUIABÁ – MT
2007
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO, EDUCAÇÃO, CULTURA E SOCIEDADE
LINHA DE PESQUISA: MOVIMENTOS SOCIAIS, POLÍTICA E EDUCAÇÃO
POPULAR
MARIA LUIZA DE PAULA SANTOS
CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE: UMA
PROPOSTA PARA FORMAÇÃO ESCOLAR DO JOVEM
ESTUDANTE POBRE. (1943-2007)
CUIABÁ – MT
2007
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MARIA LUIZA DE PAULA SANTOS
CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE: UMA PROPOSTA
PARA FORMAÇÃO ESCOLAR DO JOVEM ESTUDANTE POBRE. (1943-2007)
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação, do Instituto de
Educação da Universidade Federal de Mato
Grosso, com o Título Campanha Nacional de
Escolas da Comunidade: uma Proposta para
Formação Escolar do Jovem Estudante Pobre.
(1943-2007), da mestranda Maria Luiza de Paula
Santos, como exigência parcial para a obtenção
do título de Mestre em Educação, Área de
concentração: Educação Cultura e Sociedade,
Linha de Pesquisa: Movimentos Sociais, Política e
Educação Popular. Orientador: Professor Doutor
Manoel Francisco de Vasconcelos Motta.
CUIABÁ – MT
2007
FICHA CATALOGRÁFICA
S237c Santos, Maria Luiza de Paula
Campanha Nacional de Escolas da Comunidade: Uma proposta para
formação do jovem estudante pobre (1943-2007)/ Maria Luiza de Paula Santos : --
Cuiabá/MT – UFMT/IE, 2008.
146p.: il
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em
Educação, do Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, com o
título Campanha Nacional de Escolas da Comunidade: uma proposta para formação
escolar do jovem estudante pobre (1943-2007), da Mestranda Maria Luiza de Paula
Santos, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação, a
área de concentração educação, cultura e sociedade. Linha de pesquisa: movimentos
sociais, política e educação popular.
Orientador Prof. Dr. Manoel Francisco de Vasconcelos Motta.
Bibliografia: 144-1469
CDU – 37.014
Índice para catálogo sistemático
1. Educação
2. Campanha
3. Comunidade
4. Pensamento Social Cristão
“Pouco a pouco, como quem não pressente que a vida
passa, fui dando asas aos meus sonhos e cheguei a um
ponto em que esses sonhos já não me pertencem”.
Felipe Tiago Gomes.
Dedico
Ao meu amado marido José Carlos, companheiro de
todas as horas pela inestimável colaboração e
paciência durante este trabalho e que soube
compreender a minha ausência em muitos momentos;
Ao meu querido filho José Carlos, que me apontou
caminhos, passando-me sua segurança e serenidade
nos momentos difíceis;
Ao meu querido filho Douglas que mesmo distante me
ajudou, incentivou e socorreu-me inúmeras vezes com
o uso das novas tecnologias;
A minha única filha, adorada e amada Analuiza, que
mesmo distante foi minha grande incentivadora e
soube compreender as muitas vezes que me
negligenciei como mãe durante esta caminhada.
À Maria Eduarda, minha querida neta, quem mais
sentiu minha ausência, pois com seus 4 aninhos ainda
não possui maturidade para entender.
A vocês dedico este trabalho.
Agradeço
A Deus, princípio de tudo.
À minha Família, pelo amor e por ter sido companheira de
todos os momentos.
À Universidade Federal de Mato Grosso UFMT e
Instituto de Educação, aos coordenadores do Programa de
Pós-Graduação em Educação, pelo conjunto da obra, por
abrir as portas, por mostrar caminhos.
Ao professor Manoel Francisco de Vasconcelos Motta
pelo trabalho de orientação, incentivo, participação e
paciência para que o trabalho fosse realizado. Muito
obrigada.
Aos professores do PPGE pelas orientações e
ensinamentos sobre como fazer ciência.
Aos colegas do grupo de pesquisa pelo companheirismo
e incentivo.
À Stela, minha grande amiga de mestrado e de trabalho,
pelos tropeços partilhados durante esta caminhada, pelo
ombro amigo e, principalmente, pelo incentivo e
colaboração.
À CNEC pelo apoio no desenvolvimento deste trabalho, em
especial à Superintendente Regional da CNEC/MT-MS,
Cleoni Trevisan Bueno, minha chefe e querida amiga que
possibilitou os meus estudos.
A todos que de alguma maneira apoiaram e contribuíram
com o início e a ansiada finalização desta difícil jornada do
Mestrado.
LISTA DE FIGURAS
TÍTULO PÁGINA
Figura 1 Família de Felipe Tiago Gomes. 45
Figura 2 O Professor Felipe Tiago Gomes com Maria Nativa de
Oliveira, a 1ª professora.
46
Figura 3 Felipe Tiago Gomes quando jovem estudante em
Pernambuco.
49
Figura 4 Colégio Castro Alves Primeira escola para a Campanha
do Ginasiano Pobre. Recife Pernambuco Sede do
Sindicato dos Contabilistas.
53
Figura 5 Sede própria da CNEC, na Rua Silvio Romero, 25, Santa
Teresa, no Rio de Janeiro.
92
Figura 6 Logomarca da CNEC feita por Francisca, irmã do Professor
Felipe. Foi utilizada pela CNEC até 2002.
97
Figura 7 Dona Alzira Sodré, Dona Léa Bandeira, Almirante Benjamin
Sodré, Felipe Tiago Gomes e Murílio Avelar Hingel, durante
visita às obras da sede da CNEC, em Brasília-DF em 1973.
110
Figura 8 Logomarca atual da CNEC, usada a partir de 2003. 121
Figura 9 Felipe Tiago Gomes, fundador da CNEC. 139
LISTA DE QUADROS
TÍTULO PÁGINA
Quadro 1 Estatísticas CNEC 117
LISTA DE ABREVIATURAS
ABMES Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior
CEAA Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos
CEI Campanha de Erradicação das Invasões
CNE Conselho Nacional de Educação
CNEC Campanha Nacional de Escolas da Comunidade
CNEG Campanha Nacional de Educandários Gratuitos
CNGP Campanha Nacional do Ginasiano Pobre
DNE Departamento Nacional de Educação
ENEC Exame Nacional de Escolas Cenecistas
FIES Programa de Financiamento Estudantil do Ensino Superior
IAPC Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários
IAPI Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários
ICES Instituições Cenecistas de Ensino Superior
INEP Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos
IPASE Instituto de Previdência a Assistência dos Servidores do Estado
NOVACAP
Companhia Urbanizadora da Nova Capital
PAS Projetos de Assistência Social
PEP Plano Cenecista de Expansão da Educação Profissional
PPPI Projeto Político Pedagógico Institucional
PROUNI Programa Universidade para Todos
PSD Partido Social Democrata
SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
UNAMA Universidade da Amazônia
RESUMO
Introdução: A Campanha Nacional de Escolas da Comunidade CNEC é uma
organização filantrópica, sociedade civil de direito privado, sem fins lucrativos,
com um estatuto apoiado na orientação e diretrizes de sua diretoria nacional.
Fundada por Felipe Tiago Gomes, educador paraibano, a CNEC, influenciada
pelo pensamento social cristão da primeira metade do século XX, espalhou-se
pelo Brasil, ramificando suas instituições educacionais e sociais na maioria dos
estados brasileiros. A intenção desta pesquisa foi mostrar como se deu a
evolução da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade desde a sua
fundação até a configuração de sua proposta atual, procurando entender os ideais
de seu fundador e a política que caracteriza na atualidade a sua ação. Propõe-se
também o estudo pesquisar a influência do pensamento social cristão nos ideais
que fundamentaram a criação e as transformações da CNEC. De caráter
bibliográfico documental, a metodologia utilizada para a realização desta pesquisa
foi a abordagem qualitativa. A escolha foi decorrente da constatação de que os
procedimentos dessa abordagem são os que melhor se adequam a estudos desta
natureza. Foram utilizadas principalmente obras documentais produzidas pela
própria instituição, tais como: folders, jornais e livros.O estudo demonstrou que,
ao analisamos a história da CNEC e sua evolução no decorrer de seus 64 anos
de existência, encontramos uma rede de ensino que se firmou em todo território
nacional ao longo destes anos de atuação pedagógica e política. Também foi
possível concluir pelo estudo que o pensamento social cristão permeou o
pensamento do professor Felipe Tiago Gomes em sua atuação como educador
que liderou a criação dessa importante rede nacional de escolas comunitárias.
Palavras-chave: campanha, comunidade, educação, pensamento social cristão.
ABSTRACT
Introduction: The National Campaign of Schools of the Community CNEC is a
philanthropic organization, private civil society of lucrative endless, private right,
with a statute rested on the orientation and directives of its national management.
It founded by Felipe Tiago Gomes, of Paraíba educator, to CNEC, influenced by
the social thought Christian of the first half of the century XX, spreaded itself by
Brazil, branching off his social and educational institutions in the majority of the
Brazilian states. The intention of this researches was show as gave the evolution
of the National Campaign of Schools of the Community since to his foundation up
to configuration of its present proposal, finding understand the ideals of its founder
and to political that characterizes in the present time to its action. It proposes itself
also the study research the influence of the Christian social thought in the ideal
that they substantiated the creation and the transformations of the CNEC. The
documentary bibliographical character, the methodology utilized for the
achievement of this researches was the qualitative approach. The choice was
resulting of the verification of that the procedures of that approach are the that
better itself adapt to studies of this nature. They were utilized mainly documentary
works produced by the own institution, such as: folders, periodic and books. The
study showed that, upon we analyzing the history of the CNEC and their evolution
in elapse of their 64 years of existence, we find a net of education that itself signed
in all national territory to the long one of these years of political and pedagogical
action. Also was possible conclude for the study that the Christian social thought
penetrated the thought of the teacher Felipe Tiago Gomes in his action as
educator that led the creation of that important national net of community schools.
Keywords: campaign, community, education, Christian social thought.
SUMÁRIO
Página
INTRODUÇÃO ............................................................................................
14
CAPÍTULO I
IDEÁRIO CATÓLICO DA EDUCAÇÃO E A CAMPANHA NACIONAL
DE ESCOLAS DA COMUNIDADE .............................................................
23
CAPÍTULO II
CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE CNEC
RAÍZES HISTÓRICAS ................................................................................
42
2.1 A CAMPANHA PARA O GINASIANO POBRE ....................................
44
2.2 A CAMPANHA NACIONAL DE EDUCANDÁRIOS GRATUITOS
CNEG ..........................................................................................................
65
2.3 O APOIO FINANCEIRO DO ESTADO ÀS CAMPANHAS DE FELIPE
TIAGO GOMES ..........................................................................................
98
CAPÍTULO III
A CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE ............... 105
CAPÍTULO IV
A REDE CNEC ........................................................................................... 119
4.1 A ESTRUTURA DE ORGANIZAÇÃO DA CNEC .................................
122
4.2 ATUAL PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL DA
CNEC .........
129
CONCLUSÃO .............................................................................................
136
REFERÊNCIAS .......................................................................................... 145
ANEXOS .....................................................................................................
151
14
INTRODUÇÃO
A Campanha Nacional de Escolas da Comunidade CNEC é uma
organização filantrópica, sociedade civil de direito privado, sem fins lucrativos,
com um estatuto apoiado na orientação e diretrizes de sua diretoria nacional. Foi
fundada por Felipe Tiago Gomes, educador paraibano, influenciado pelo
pensamento social cristão da primeira metade do século XX.
A intenção desta pesquisa é mostrar como se deu a evolução da
Campanha desde a sua fundação até a configuração de sua proposta atual.
A história começa em Recife, em 1943, quando foi fundada uma instituição
voltada ao atendimento de estudantes pobres. Alguns estudantes agiram em favor
da escolarização de outros jovens. Sua história, em nossa opinião, muito
engrandece este país, especificamente o nordeste.
Estes jovens estudantes, apesar dos apelos, das dificuldades da vida,
souberam renunciar a seus interesses pessoais e perseveraram na defesa de
seus objetivos; e os ideais que alimentaram aqueles jovens do Recife se
concretizaram. À medida que iam sendo alcançados, logo renasciam fortalecidos
e mais ambiciosos como a desafiarem as restrições da realidade. Sinal de que um
sonho de estudante pode representar uma interpretação de justos anseios e
legítimas aspirações dando-lhes desempenho de missão com elevada
responsabilidade. Foi o que aconteceu com aqueles jovens estudantes do Recife
que, em 1943, fundaram uma instituição voltada a atender os estudantes que
15
desejavam cursar o Ginásio, mas não dispunham de recursos financeiros para
tanto. Surgiu assim a Campanha para o Ginasiano Pobre.
Esta iniciativa que vai dar origem à Campanha Nacional de Escolas da
Comunidade CNEC como a instituição hoje é chamada, nasceu quando o
Brasil se achava no período do Estado Novo. É um período de ditadura que
encerra uma ideologia que partia de princípios tais como nacionalismo, integração
nacional, centralização e hierarquia. Constituiu-se num regime de perdas das
liberdades públicas, de governo autoritário e unitário.
Durante o Estado Novo, o empenho do Governo voltou-se para apoiar o
setor exportador que, a par de seus rendimentos, favorecia a importação da
maquinaria e matérias primas necessárias ao desenvolvimento das indústrias.
Diante da conjuntura econômica e política do mundo, o Brasil teria de passar de
simples produtor de matérias primas e poucos produtos agrícolas, a um país de
indústrias e policultura.
Com a expansão dos centros industriais e comerciais, surgiu a expansão
dos centros urbanos, o aperfeiçoamento técnico e a mobilização social,
verificando-se, com isto, novas condições de vida. Ampliaram-se, nas cidades, as
classes operárias e para elas acorreram as populações rurais, num enorme
êxodo.
Desta situação de transformações econômico-sociais e políticas proveio a
política educacional brasileira nesse período. Para os condutores do Estado
Novo, a educação haveria de trazer a solução aos problemas nacionais tanto na
16
ordem econômica quanto política. Os educadores do país inteiro confiavam no
poder transformador da escola.
Os jovens que não pertenciam às camadas mais elevadas da sociedade
não tinham acesso à educação, muitas vezes nem à mais elementar.
Na época, era notável a influência do pensamento social cristão que zelava
pela conservação dos valores cristãos de justiça, solidariedade e liberdade nas
políticas internas. Mas, apesar desta contribuição e de seus esforços, tinha uma
expressão política fraca diante das doutrinações do Estado Novo. Com o fim da 2ª
Guerra Mundial a ditadura do Estado Novo entra em crise e é encerrada. Tem
início então um período de redemocratização da sociedade que inicia em 1945 e
vai até 1964.
Foi neste clima de forte influência da doutrina social cristã na reconstrução
da sociedade civil que Felipe Tiago Gomes havia fundado a Campanha para o
Ginasiano Pobre. A iniciativa destes jovens estudantes do Recife foi a base, a
pedra fundamental para a criação de um dos maiores complexos educacionais
não estatal da América Latina.
Felipe Tiago Gomes, católico, fez de seus princípios cristãos uma fortaleza
pela luta de seus ideais. Esses valores cristãos que estão na raiz do projeto da
Campanha liderada por Felipe Tiago Gomes podem ser entendidos como
próximos do que mostra Jacques Maritain:
Todos, católicos e não católicos, cristãos e não cristãos, no
instante em que eles mesmos reconheçam, cada um em sua própria
perspectiva, os valores humanos dos quais o evangelho nos faz tomar
17
consciência, a dignidade e os direitos da pessoa, o caráter de obrigação
moral inerente à autoridade, a lei do amor fraterno e a sanidade do
direito natural, encontrar-se-ão por si atraídos ao seu dinamismo e
serão capazes de cooperar com o bem comum. Não é em virtude de
forças internas desenvolvidas no seio do povo e emanantes dele; em
virtude da abnegação e do dom de si dos homens que se porão a serviço
do trabalho comum, cuja autoridade moral será deliberadamente aceita;
em virtude das instituições, dos usos e dos costumes que tal sociedade
política poderia ser chamada cristã, o nas suas aparências, e sim na
sua substância. (MARITAIN, 1999, p. 96-7)
Sua proposta deu certo. Amigos, estudantes, religiosos e personalidades
políticas assumiram com ele a concretização do seu projeto.
Nascida dos sonhos de Felipe Tiago Gomes e seus amigos estudantes, a
CNEC organiza-se segundo um modelo de escola que não se caracteriza nem
como pública, nem como privada. Ela faz parte de um terceiro segmento: a escola
comunitária.
Em relação à visão comunitária das escolas cenecistas, Ivone Boechat
considera:
A escola comunitária dispensa o paternalismo de receber tudo
pronto. Seu objetivo é a ‘soma de esforços’. Para os que nela trabalham,
horizonte é a capacidade de olhar sem limite. Não se envergonha de
buscar diariamente o apoio de todos os segmentos da sociedade, porque
identifica-se com ela.
A Escola tem o poder de transformar o comportamento de toda a
comunidade. (BOECHAT, 1993, p. 33)
Para Boechat, a escola comunitária é uma escola comprometida com a
comunidade, onde as pessoas aprendem a viver melhor na sociedade; esta
escola tem que ser reinventada no dia-a-dia e deve habilitar o povo brasileiro a
18
resolver a causa dos seus problemas e de suas misérias. Na escola comunitária
cada pessoa tem seu valor reconhecido, havendo uma cooperação para o
aperfeiçoamento da sociedade na qual se vive; a interação acontece porque se
promove permanentemente o intercâmbio entre os anseios de cada um e a
solução dos problemas comuns. (BOECHAT, 1993, p.25-35)
Este envolvimento comunitário das escolas cenecistas foi sempre a base e
de seu funcionamento e dos resultados obtidos na disseminação de suas escolas
por todo o país.
Sua organização está estruturada de tal modo que podemos considerar
que, democraticamente, ela permite a manifestação das aspirações das
comunidades junto à direção das suas unidades em toda a rede.
Oportuniza, outrossim, pela sua organização, um nível mais amplo de
decisões no que se refere aos seus interesses e ao seu destino.
Em cada unidade é formado um Conselho Comunitário - célula vital desta
entidade -, que pretende ser um elo entre a escola e a comunidade. O Conselho
Comunitário, formado unicamente por pais, possibilita à comunidade a
participação nas decisões da instituição. A criação do Conselho Comunitário é
pré-requisito para a criação de uma escola cenecista, devendo a sua formação
ser, portanto, anterior à criação da instituição escolar. É através dele que é
construída a escola, que são definidos os projetos a serem desenvolvidos, com
base nas necessidades e interesses da comunidade. As competências da
Diretoria do Conselho Comunitário Cenecista encontram-se detalhadas no Art 39
do Estatuto Social da CNEC.
19
A CNEC atualmente atua na Educação Infantil, no Ensino Fundamental,
Ensino Médio, Educação Profissional, Ensino Superior de graduação, seqüencial,
de extensão e pós-graduação, na Educação Continuada e Difusão Cultural e
Artística.
A CNEC surge da iniciativa e do trabalho do educador Felipe Tiago Gomes,
como escola comunitária. Para esta manutenção como escola comunitária contou
sempre com a ajuda da iniciativa privada, empresários, políticos, entidades
religiosas e manteve sempre nexos claros (Pontes, 1984) com o Estado brasileiro,
tendo na expansão e diversificação de suas atividades o apoio financeiro dos
diferentes âmbitos e esferas governamentais, mantendo sua autonomia enquanto
organização de caráter comunitário.
A pesquisa mostra os vários caminhos percorridos pelos voluntários
cenecistas, principalmente por Felipe Tiago Gomes e os fundadores da CGP
Campanha para o Ginasiano Pobre em busca de apoio financeiro de governos
para o início e a continuidade da Campanha ao longo destes muitos anos de sua
existência, mas, principalmente, nos primeiros anos de seus trabalhos. O apelo ao
auxílio governamental através de aproximações aos políticos é mais tarde
institucionalizado através de Projetos de Lei. Esta relação com o Estado levou
alguns dos fundadores do movimento a se afastarem, como foi o caso do
educador e homem público pernambucano Joel Pontes.
Ao longo de sua trajetória a CNEC estabeleceu relações permanentes com
o Governo em todas as instâncias na luta por verbas para manutenção de suas
instituições uma vez que não se tratava mais de Ginásios gratuitos, como o
haviam sido. Era preciso remunerar professores e funcionários, manter prédios,
20
instalações e adquirir material. Desta forma, além do fundamental apoio das
comunidades, a CNEC passou a contar com verbas públicas de forma garantida e
com periodicidade.
Dividida em 4 capítulos a pesquisa ora apresentada tem limitações
naturalmente impostas pelas circunstâncias. Porém procura-se ampla no que se
propôs mostrar. Narra o processo histórico de criação da CNEC e procura
entender no que se transformou atualmente esse projeto iniciado pelo educador
cristão católico Felipe Tiago Gomes.
No primeiro capítulo encontram-se descritos os fundamentos do ideário
social cristão católico, servindo de base para a análise dos ideais de Felipe Tiago
Gomes na fundação da CNEC a Campanha Nacional de Escolas da
Comunidade. Pensadores como Maritain, Freire, Paiva, Boechat são discutidos de
forma a se entender a importância do pensamento social cristão católico na vida
de Felipe Tiago Gomes e nos ideais que o impulsionavam.
O segundo capítulo apresenta o surgimento da Campanha para o
Ginasiano Pobre (CGP), que mais tarde se transforma na Campanha Nacional de
Educandários Gratuitos (CNEG) e, finalmente na atual Campanha Nacional de
Escolas da Comunidade (CNEC). Apresentam-se neste capítulo os aspectos
históricos de seu surgimento, a evolução da Campanha nos diversos Estados
brasileiros, as mudanças pelas quais passou, adaptando-se às mudanças da
política e da educação brasileira.
O terceiro capítulo volta-se às informações da CNEC em relação à sua
expansão nos diversos estados brasileiros bem como a sua reorganização
21
estrutural, com um histórico que firma a CNEC como uma instituição considerada
e respeitada no país, entre políticos, leigos, religiosos.
O quarto capítulo mostra a rede CNEC atual, seu funcionamento na atual
conjuntura política e educacional brasileira, mostrando o trabalho que desenvolve
na atualidade, em âmbito educacional social. Descreve ainda a proposta político
pedagógica que embasa o funcionamento da CNEC nos mais variados níveis e
modalidades da educação.
A metodologia escolhida para a realização desta pesquisa foi a abordagem
qualitativa. A escolha desta abordagem é decorrente da constatação de que os
procedimentos de abordagem qualitativa são os que melhor se adequam a
estudos desta natureza.
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares.
Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que
não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que
corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e
dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de
variáveis. (MINAYO org. 2001, p.21.)
A pesquisa foi realizada a partir de autores que abordam o tema
investigado, bem como da bibliografia produzida e publicada pela própria
instituição, tais como livros, revistas, anais, jornais e folders. O site da CNEC
(www.cnec.br) e os sites específicos da CNEC nos estados também ofereceram
inúmeras e importantes informações que complementaram este trabalho.
22
O presente estudo será valiosa fonte de pesquisa aos cenecistas ou
pesquisadores do movimento de escolas comunitárias, principalmente aos
educadores, alunos e estudiosos do movimento ou para aqueles que quiserem
conhecer a trajetória do educador Felipe Tiago Gomes, personalidade que
marcou a história da educação brasileira através de um projeto arrojado, efetivado
com sucesso.
23
CAPÍTULO I
IDEÁRIO CATÓLICO DA EDUCAÇÃO E A CAMPANHA NACIONAL DE
ESCOLAS DA COMUNIDADE
A educação brasileira desde seus primórdios desenvolveu-se sob a égide
do cristianismo, tendo suas raízes na Europa, fundamentalmente daquela parte
do continente marcada pelo espírito cristão e católico da contra-reforma.
Infundindo o espírito cristão católico em suas escolas, foram os jesuítas os
primeiros educadores brasileiros, dando forma à primeira educação no Brasil: a
educação cristã. Outras ordens religiosas também chegaram ao Brasil, porém
nenhuma tinha a educação como finalidade direta e clara.
O fato de ter sido a Europa, a Europa latina (TOBIAS, 1986) quem
colonizou o Brasil é um fato de suma importância, pois assim a educação
brasileira irá originar-se do mundo latino, dos jesuítas recém formados por Inácio
de Loiola, da Contra-Reforma, da união entre a Igreja Católica e o Estado.
O conceito de educação do jesuíta era fundamentalmente
baseado na existência da liberdade humana, no respeito à pessoa e na
universalização da espiritualidade da alma humana como conseqüente
direito à educação por parte do indígena e do negro. Educação é
atualizar as potencialidades da pessoa humana, de maneira a capacitá-
la a receber a luz da fé e a salvar a sua alma. (TOBIAS, 1986, p. 41)
Observa-se, desta forma que, desde o princípio da história da educação no
Brasil, os ideais do cristianismo permeavam a educação brasileira, difundindo sua
24
fé, sua política religiosa através do trabalho dos jesuítas e de outras
congregações religiosas que aqui se fizeram presente. A história mostra ao longo
de todos os anos de educação brasileira que a Igreja Católica sempre ocupou um
lugar de destaque neste campo de atuação; a princípio trazendo programas de
ensino da Europa e mais tarde, aos poucos, com bastante relutância, adaptando-
se à realidade brasileira elaborando uma pedagogia que atendesse aos seus
objetivos de instruir e doutrinar o índio e o negro. “À medida que o Brasil e sua
educação desenvolviam-se, o currículo também se diferenciava, aperfeiçoando-se
cada vez mais”. (TOBIAS, 1986, p. 58)
A educação ministrada tinha, inicialmente, a preocupação da alfabetização.
Depois desta, aparecia a finalidade básica para a qual os jesuítas tinham vindo ao
Brasil: “... a catequese, feita diariamente; é a educação cristã, que marcou e
marcará, para todo o sempre o Brasil. A infância, a educação da primeira infância
marca toda e qualquer pessoa”. (TOBIAS, 1986, p. 65)
Tanto através da educação como através da própria religião vivida e
ensinada em suas igrejas, em suas aulas de catequese (ou de catecismo) a Igreja
Católica marcou profundamente a cultura e a educação brasileira. Os católicos
fiéis aos seus princípios religiosos participam, ao longo dos séculos da construção
do país, tanto na área social, quanto na área política, religiosa, cultural, difundindo
sua fé, sua moral e seus costumes.
A partir dos anos 30, a igreja católica criou um setor mais especializado,
um movimento religioso mais amplo de conscientização espiritual, composto por
apostolados leigos, que preconizavam a valorização da ordem e a harmonia
social, acatando as estruturas e as instituições existentes, cujos eventuais
25
problemas estariam nas falhas das pessoas que as compõem. Caberia, no
máximo, reformar as consciências individuais para que uma ordem harmônica e
justa imperasse no mundo. Através do Pio XII algumas mudanças podem ser
vislumbradas, conforme podemos verificar no Dicionário de Política, Volume 2:
Pio XII tentará elaborar um conceito mais amplo do apostolado
dos leigos e abandonar, portanto, a referência exclusiva à AÇÃO
CATÓLICA, usual em Pio XI; mas se deterá no limiar dos problemas
efetivos da autonomia política e do pluralismo. Ele criou, contudo, no
pensamento e na prática, uma situação histórica que tornou inevitável a
transposição desses limiares. (BOBBIO et al, 1992, p. 921)
Fundamentada em Jacques Maritain, a igreja católica, através de seus
padres, religiosos e dos católicos passou a definir com mais clareza o seu papel
no desenvolvimento da nação brasileira. Era necessário que os cristãos se
conscientizassem daquilo que se exige deles. “O futuro não será bom, nem para o
mundo, nem para a religião se os crentes não compreenderem o que se exige
deles em primeiro lugar”. (MARITAIN, 1999, p. 107). Segue Maritain definindo que
o que se exige de um cristão é que ele mantenha os princípios da igreja católica e
viva de acordo com os mesmos, não opondo o mal ao mal, não permitindo que
interesses pessoais subjuguem os interesses espirituais, da religião. É preciso
dizer a verdade e viver de acordo com ela.
MARITAIN (1999), ao discutir os problemas da educação cristã destaca a
necessidade de se fazer uma educação humana, livre das ameaças da
escravidão e da desumanização. Surgirá então um homem integral. E, “Para
26
corresponder a este humanismo integral é necessário que se promova uma
educação integral (...).”(MARITAIN, 1999, p. 108).
A educação do futuro deverá sair do individualismo, devendo o homem
assumir a sua relação vital com a sociedade, com o trabalho e com o bem
comum, substituindo este individualismo pela relação comunitária voltada às
aspirações e necessidades do homem. Esta será uma educação, segundo
Jacques Maritain, que desenvolverá no homem o sentido de liberdade e de
responsabilidade, o sentido dos direitos e dos deveres, a coragem de se arriscar,
de exercer a autoridade para o bem comum, ao mesmo tempo em que exerce o
respeito à individualidade do outro. Assim, segundo o mesmo autor,
... aqui vemos o caráter autenticamente democrático da
educação do futuro. Cada um deve trabalhar ou assumir a parte que lhe
toca do peso da comunidade humana, segundo a sua capacidade.
Porém, o trabalho não é um fim em si mesmo, o trabalho deve buscar os
meios para a alegria, a expansão e o deleite do espírito. (MARITAIN,
1999, p. 109)
O pensamento social cristão é norteador da educação e dos princípios
vividos e difundidos pela Igreja católica através de sua autoridade máxima, o
Papa. Entenda-se, neste contexto, o pensamento social cristão como um conjunto
de idéias e doutrinas que, mesmo inspiradas nos valores do cristianismo,
concebem-se inseridas numa sociedade autônoma, no que se refere à Igreja. Isto
tornou possível sair do contexto essencialmente eclesiológico para uma reflexão
ampla,
27
... que ambicionava apresentar-se como interpretação católica da
ciência social e, por isso, de qualquer modo, como uma ciência
alternativa.
[...]
O problema da produção capitalista, o fato operário, as
mudanças que eles acarretam, constituem a ‘questão social’ e são o
principal objeto da nova ciência cristã-social. (BOBBIO et al, 1992, p.
919)
Várias encíclicas papais definem a conduta da igreja, dos católicos. tais
como a Rerum Novarum de Leão XIII. A Igreja mostrava-se favorável à reforma
social. Neste contexto, a idéia central do pensamento social cristão era o da
inserção do homem num todo social cuja finalidade era a plenitude de sua vida
individual. Ainda a mesma encíclica considerava como direito natural do homem,
o direito de associação; ou, conforme a mesma encíclica, “o direito de se unir em
sociedades o homem possui por natureza: e os direitos naturais o Estado deve
tutelá-los, não destruí-los” (Rerum Novarum, in BOBBIO et al, 1992, p. 919).
Os pensamentos divulgados pelo Papa Leão XIII através da Rerum
Novarum tinham seu fundamento em Tomás de Aquino, mostrando a obrigação
do Estado em favor dos economicamente desfavorecidos.
A classe dos ricos, forte em si mesma, tem menos necessidade
de pública defesa; as populações miseráveis, que carecem de um apoio
próprio, é que têm especial necessidade de o encontrar no amparo do
Estado. E aos operários, que pertencem ao número dos fracos e
necessitados, deve o Estado dirigir seus cuidados e providências.
(Rerum Novarum, in BOBBIO et al, 1992, p. 919)
Da mesma forma que se faz referência ao papel do Estado no amparo aos
pobres, a Igreja também impele os católicos “para fora da sacristia”, convocando
28
a todos para uma ação social comum, tornando os católicos mais ativos e
conscientes de suas obrigações cristãs junto à sociedade. O social entra nos
horizontes da Igreja e debate-se o papel dos crentes no plano social.
Pode a justiça social realizar-se sem a participação direta
daqueles que estão interessados em sua realização, sem a participação,
antes de mais nada, dos crentes? Ou será que os crentes se hão de
limitar à ação religiosa e à enunciação de princípios gerais? (BOBBIO et
al, 1992, p. 920)
Os Papas Pio X e Pio XI mudaram esta linha social do cristianismo,
direcionando o trabalho e o pensamento nos cristãos no espaço eclesiástico e
negando a autonomia dos crentes em relação a sua prática política e social,
saindo do comprometimento da Igreja com a solução das questões sociais. A
ação social é vista como uma coisa com a evangelização de uma sociedade
que, segundo Pio XI está paganizada. Neste período, um grupo de intelectuais
franceses, entre eles Maritain e Bernanos, opondo-se ao pensamento da Igreja
propagado pelo Papa Pio XI, dá novamente início à luta pela autonomia. As obras
de Jacques Maritain, Emmanuel Mounier e outros pensadores cristãos eram
referências teóricas a muitos dos movimentos e grupos organizados dametade
do século XX, que faziam frente no confronto com as desigualdades gritantes da
sociedade brasileira, principalmente na mobilização política de trabalhadores
urbanos e rurais.
Para Bobbio, Maritain, em seu livro Humanisme integral ,
29
... apresenta a distinção entre o que um católico cumpre como
católico e o que ele faz por ser católico. Aquelas ões pertencem à
ordem da doutrina e do culto, estas à da ação histórica. É para este
segundo tipo de ação que se reivindica a autonomia. (BOBBIO et al,
1992, p. 920-21)
A história continuava a ser vista como desígnio de Deus, mas a atitude
deixava de ser passiva. Ao invés de acatar a ordem supostamente natural da
sociedade existente, tratava-se de agir em nome de Deus para transformar “as
estruturas”, criar uma ordem socialmente justa, baseada nos princípios cristãos,
tendo por objetivo as “massas humanas”, que eram obstruídas pelas estruturas
econômicas, sociais e políticas existentes, que urgia modificar.
Num mundo polarizado pela guerra fria, estes grupos e movimentos
organizados buscavam em Maritain um caminho dentro do ideário católico, que
não fosse nem a adesão ao comunismo e nem a inércia conformista dos cristãos
frente à ordem estabelecida. Procurava-se atingir um primado vital da qualidade
sobre a quantidade, do trabalho sobre o dinheiro, do humano sobre a técnica, da
sabedoria sobre a ciência, do serviço comum das pessoas humanas sobre a
ambição individual de enriquecimento indefinido ou a vontade estadista do poder
ilimitado.
Somente com o Papa Bento XV, o pensamento social cristão retoma a
linha de Leão XIII. Da mesma forma o Papa Pio XII põe no centro do pensamento
social cristão os direitos da pessoa humana, o que leva à valorização das opções
subjetivas de cada um. Pio XII, concentrando a importância fundamental do social
30
na finalidade e nas instituições religiosas, em mensagem natalina proferida em
1942 diz:
A origem e o fim essencial da vida social hão de ser a
conservação, o desenvolvimento e o aperfeiçoamento da pessoa
humana que a ajudarão a pôr retamente em prática as normas e os
valores da religião e da cultura. (in BOBBIO et al, 1992, p. 921)
Avanço considerável na história do pensamento social cristão ocorreu
através de dois documentos do Papa João XXIII: Mater et magistra (1961) e
Pacem in terris (1962). Antes destes documentos a doutrina social da Igreja era
mostrada “como uma doutrina racional, vinculada à revelação, de que a hierarquia
eclesiástica é intérprete e guardiã. Seu perfil é, pois, teórico de um lado e
paradogmático do outro.” (BOBBIO et al, 1992, p. 921). É através da Mater et
Magistra que se passa a fazer uma avaliação dos problemas referentes à vida, à
cultura e à política mundial. Temas como o equilíbrio entre agricultura e indústria,
o mundo do desenvolvimento e dos subdesenvolvidos são abordados, sendo suas
idéias apresentadas como necessitando de imediata adequação à prática. Em
texto do documento papal lê-se:
... que (os leigos cristãos) não esqueçam que a verdade e a
eficácia da doutrina social católica se demonstram pela orientação
segura que ela oferece para a solução dos problemas contemporâneos...
Uma doutrina social não deve ser apenas proclamada, mas de ser
traduzida em termos concretos na realidade. (Mater et Magistra, in
BOBBIO et al, 1992, p. 922)
31
Portanto, a Igreja estava propondo aos cristãos, fatos e ações concretas.
Estas idéias são reforçadas no segundo documento do Papa João XXIII, a Pacem
in terris, pois é através dele que se descreve uma sociedade onde são
respeitados os direitos de cada um; uma sociedade justa na qual a distinção dos
poderes é uma forma de garantia do respeito aos direitos individuais. Isto envolve
crentes e não-crentes, comprometidos na prática por uma sociedade mais justa,
efetivando-se a colaboração de católicos e não-católicos, uma vez que ideologias
hostis ao cristianismo não são mais consideradas como motivo para a não-
colaboração. A Igreja não mais se apresenta como o lugar de salvação num
mundo de perdição. Apresenta-se agora como um lugar onde se manifesta a
vontade salvadora de Deus voltada a todos os homens e a toda a história. Estas
mudanças da igreja nestes últimos tempos podem ser definidas como a teologia
da libertação. Estes temas se manifestam através da encíclica de Paulo VI, a
Populorum Progressio. Situada na América Latina, esta teologia mostra as
dimensões da mudança. Segundo BOBBIO,
A doutrina social da Igreja teve por epicentro a questão operária;
a teologia da libertação tem como central o tema do imperialismo e do
subdesenvolvimento. É devido a tal diferença de forma, de âmbito e de
planos que a preocupação eclesial pelo político o pode, depois do
Concílio Vaticano II, assentar nas mesmas bases do primeiro. BOBBIO
et al, 1992, p. 923)
Constatando que viviam num mundo polarizado entre capitalismo e
comunismo, ambos considerados anticristãos, mas também sem as ilusões dos
católicos tradicionalistas de um retorno ao paraíso perdido medieval, encontrava-
32
se no ideal histórico de Maritain uma das bases para o engajamento cristão
eficaz, pela participação política ativa de todos os católicos, dentro e fora da
igreja, em busca de uma sociedade justa e cristã, acima dos sistemas capitalista e
comunista.
A principal tarefa da educação está antes de tudo em formar o homem ou
alimentar o dinamismo por meio do qual o homem se faz homem.
Segundo Jacques Maritain:
[...] a palavra ‘educação’ tem três significados diferentes. Pode ser
aplicada a qualquer processo que orienta e conduz o homem à sua
plenitude (educação no sentido mais lato); ou no trabalho de formação
que os adultos empreendem, intencionalmente, com relação aos jovens;
ou em sentido mais restrito, ao trabalho especial das escolas e
universidades.” (MARITAIN, 1959, p. 14)
Se perguntarmos qual a natureza e o destino do homem, a concepção
completa e integral do homem – primeiro requisito da educação - só pode ser uma
concepção filosófica e religiosa. Filosófica, porque diz respeito à natureza ou
essência do homem. Religiosa, pela posição da natureza humana com relação a
Deus e pelas dádivas especiais e experiências e vocação conseqüentes.
Para MARITAIN (1959), ao falar nos rumos da educação, a concepção
filosófica e religiosa do homem pode apresentar-se sob vários aspectos, dentre
elas, para ele, católico e filósofo, a educação bem baseada é aquela que se
fundamenta na concepção cristã, a única verdadeira. Em suas palavras, “... o
homem da nossa civilização é o homem cristão, mais ou menos secularizado. Por
conseguinte, devemos aceitar esta idéia como base comum e deduzir que o
33
mesmo acontece na consciência comum dos povos civilizados.” (MARITAIN,
1959, p. 20-1),
A primeira finalidade da educação é a liberdade interior e espiritual a ser
alcançada pelo indivíduo. Ou, por outras palavras, a libertação desse indivíduo
pelo conhecimento, pela sabedoria, pela boa vontade e pelo amor.
A educação deve ter em conta o grupo social e o papel que o homem nele
desempenha. Deve formar o homem para uma vida de cooperação útil e normal
na comunidade, ou orientar o desenvolvimento da pessoa humana na esfera
social, despertando e fortificando seus sentimentos de liberdade, obrigação e
responsabilidade, constitui objetivo essencial.
O professor tem papel fundamental na educação dos indivíduos. Ele deve
ajudar o aluno, mostrando-lhe a relação lógica existente entre as idéias, que a
capacidade analítica ou dedutiva desse aluno não está em condições de
estabelecer por si mesma.
Tudo isso se reduz a que a atividade natural da inteligência do aluno e a
orientação intelectual do professor são fatores dinâmicos em educação. Mas seu
principal agente, seu fator dinâmico ou força propulsora é o princípio vital interior
daquele que vai ser educado. O educador ou professor é indispensável; porém o
fator essencial da educação está no interior do educando, na sua postura em
relação à educação e ao aprendizado.
Aquele conhecimento que chamamos de sabedoria, que penetra em tudo e
tudo abrange, com a mais profunda, universal e unida das percepções, é um
conhecimento que vive, não apenas pela supremacia da ciência, mas também
34
pela experiência humana espiritual. Tem que se haver com as realidades que
influem em cada um dos seres e em todos eles e com as aspirações da natureza
e da liberdade do homem, de modo a tornar a juventude capaz de participar dos
frutos intelectuais e morais da sabedoria, dando-lhes bases para participar das
tarefas definidas e limitadas da vida adulta e na comunidade civil.
O ensino liberta a inteligência, em lugar de oprimi-la. Por outras palavras
chega-se à libertação da mente, pelo domínio da razão sobre as coisas
aprendidas. Segundo MARITAIN, (1959, p. 151), “A educação de amanhã deve
dar ao homem comum os meios que lhe permitam atingir sua plenitude. Não
no trabalho, mas nas atividades sociais e políticas da comunidade civil e nas
atividades de suas horas de lazer”. Esse entendimento de Maritain tem o
significado de contraponto ao ideário liberal que também se pretende de caráter
universal.
Numa organização social que se diz baseada na dignidade do homem e na
igualdade de direitos, a educação secundarista deve ser dada a todos. que a
educação liberal seria aquela que capacitaria o homem a pensar tão bem quanto
seus poderes inatos o permitem, por definição e por direito deveria ser dada a
todos. Não seria para os ricos, nem para a elite intelectual, que a ela tem
acesso por recursos próprios. Nessa perspectiva, uma sociedade livre que se
restringisse a um pequeno grupo de cidadãos, não se estendendo a todos, não
sobreviveria.
A educação liberal repousou seus valores nas necessidades específicas do
futuro do homem imediato, suas relações com a sociedade, ou seja, com o
trabalho e o bem comum. Desenvolvendo no homem os sentimentos de liberdade
35
e responsabilidade, os direitos e deveres humanos, a coragem de enfrentar os
riscos e de exercer a autoridade para o bem geral, o respeito pela humanidade de
cada pessoa individualmente. A sede de conhecimento liberal identificar-se-ia
com a libertação e a emancipação social.
A crise dos anos 40, o período pós-guerra trouxe a desintegração da vida
familiar, a crise da moral, a separação entre a religião e a vida, a crise do estado
político e da consciência crítica, a necessidade dos países democráticos se
reconstruírem para atender os novos padrões, caberia sobremaneira grande
responsabilidade à educação para reparar estas deficiências.
Responsabilidade dupla: a primeira de manter a essência da educação
humanística, que deve ser preservada a qualquer custo, e a segunda, a de
adaptá-la às exigências do momento do bem comum.
Sendo assunto de interesse público, não deve o Estado ficar indiferente.
Deve aumentar o número de escolas com definições claras sobre as relações
entre os mesmos. Neste momento a importância do princípio pluralista, surge e
afloram, com autonomia, as associações livres, com o reconhecimento dos seus
direitos pelo Estado, em que associações de trabalhadores ou outras entidades
se organizam e fundam instituições de ensino.
A primeira função extraordinária da escola seria o ensino da moral, que
passou a ser um assunto de emergência pública. Toda escola deve ensinar,
preferencialmente os princípios da moral, fundamentados no cristianismo.
Caberia também como tarefa da Educação, suprir a ausência do Estado e
da comunidade política, no período pós-guerra. O sentimento de amplitude e
36
liberdade que a educação tradicional desfrutou, implicava, por parte do ambiente
social, a aceitação comum de padrões mentais e políticos, decisivos e marcantes,
de costumes, de hábitos e regras, profunda e subconscientemente arraigados.
Desta forma, o mais livre dos sistemas educacionais demonstraria, na realidade,
caráter autoritário.
Tanto para as organizações escolares, quanto para o cidadão
individualmente, a liberdade, os direitos e a autonomia têm como correspondentes
a responsabilidade, os deveres e as obrigações morais. Nas comunidades
humanas, a liberdade e a autoridade são mutuamente necessárias, do mesmo
modo que são inevitáveis os conflitos.
O Estado delega à educação a tarefa de reparar o que está faltando no
meio ambiente, em matéria de inspiração política, de costumes, de cultura, de
unidade moral, de unanimidade, forçando-a a exercer função política imediata.
Com isto a educação torna-se uma função única e diretamente dependente da
administração do Estado; conseqüentemente a organização escolar torna-se um
órgão da maquinaria deste “estado totalitário” que se coloca acima da justiça, do
bem e do mal.
No “estado democrático”, esse método educacional, pode conduzir ao
fracasso. Cabe ao estado informar a organização escolar das necessidades
sociais, deve zelar pela elucidação cuidadosa dos valores e interesses comuns,
exigindo esforços na construção da moral, social e política. A unidade não é mais
do que um resultado, um resultado de verdadeira inspiração interior, da boa
vontade e do amor, por um ideal comum claramente afirmado e por uma tarefa
comum a ser realizada.
37
A Doutrina Social da Igreja o é fonte somente do pensamento social
cristão nem se esgota nos textos eclesiais ou nas organizações de leigos
eclesialmente dependentes. Nem se identifica com a história dos ideais e dos
partidos que reivindicaram da democracia cristã, mas é um processo de várias
faces, nas diversas situações culturais, sociais e políticas.
Abrimos um parêntese para os anos 30, pois é a partir deste período que
situamos sua luta por um regime de liberdades ordenadas que o conduziram ao
longo da década de 50, à recusa progressiva do regime autoritário.
No pós-guerra e noutros países europeus, a doutrina social cristã está
presente na reconstrução do Estado, na sociedade civil e iniciativa privada,
segundo os modelos da economia social de mercado e a organização política
democrática. Neste período sonhou-se com um novo renascimento cultural e
espiritual da humanidade na superação do capitalismo e do comunismo,
especialmente nas suas manifestações mais retrógradas e totalitárias. Queria a
igreja e a tradição cristã resgatar as origens e voltar à pureza dos princípios
evangélicos e do compromisso com os pobres.
Andava no ar desse tempo um ativismo que concita a levar, não apenas ao
cumprimento dos deveres de cidadão, mas também o testemunho cristão, a um
engajamento maior e direto na luta por uma ordem temporal justa, por um mundo
cristão e humano. A obra de filosofia política e cultural de Jacques Maritain
despertava em todos o dever de participação mais consciente e se inseria na
aversão pela ditadura de Vargas. É importante destacar neste contexto, tendo
como ponto principal a educação fundamentada nos princípios cristãos de
38
Maritain mostradas por Giancarlo Galeazzi ao fazer introdução ao livro do filósofo
francês Por um Humanismo Cristão, que diz:
A lição democrática de Maritain não é apenas política, mas
também pedagógica, visto que o pensador francês tem consciência de
que à democracia ocorre educar. Portanto, ele propõe uma filosofia de
educação liberal para todos, realizando-se através de uma obra de não
condicionamento por um lado, e de promoção da personalidade, por
outro. (GALEAZZI, in MARITAIN, 1999, p. 27)
A geração democrata cristã zelava pela complementaridade dos valores da
liberdade, solidariedade e justiça nas poticas internas. Apesar de notáveis
contribuições, a democracia cristã da recepção e ativismo decorrente, passa por
grupos diversos e relativamente isolados, significando expressão política fraca,
porém não deixa de ser uma via alternativa às doutrinações do Estado Novo, dos
liberais e dos comunistas.
No Brasil, até 64, 90% dos militantes políticos tinham uma característica
comum: ou tinha pai ou mãe católicos, ou eram católicos ou haviam deixado o
cristianismo. É de fundamental importância o conhecimento desta realidade para
o entendimento desse fenômeno de politização dos católicos, tão importante no
Brasil e na América Latina. O Brasil era um país católico, por origem, por tradição
e por educação. Felipe Tiago Gomes, o idealizador da Campanha Nacional de
Escolas da Comunidade CNEC também era um cristão, educado sob a égide
dos princípios da Igreja Católica. Como ele, muitos dos seus colegas estudantes
também o eram, apesar da divergência de idéias. Os fundadores da Campanha,
que na época contavam por volta de 16 e 17 anos, não se constituíam em um
39
grupo homogêneo em sua forma de pensar. Joel Pontes, um dos fundadores da
Campanha, dizia:
Carlos Luiz de Andrade, também do pré-jurídico da nossa idade,
meio poeta e meio político. (...) tinha dias de estar mais comunista que
Stalin, e outros em que, de Plínio Salgado a Gustavo Barroso em riste,
desgrenhava os longos cabelos salvando a humanidade através do
fascismo. Eu me danava com uma e outra coisa. Meu negócio era um
socialismo sonhador que nem sei direito como descrever. (PONTES,
1984, p. 8).
A Campanha, desde sua fundação sempre buscou e contou com o apoio e
a participação das mais diferentes personalidades e autoridades tanto políticas,
quanto civis e religiosas. Tinha, porém, sempre por princípio não fazer nenhum
tipo de discriminação tanto no que se refere à religião, política, etnia ou qualquer
outra.
Vivia-se o período de pós-guerra. Conflitos civis e religiosos grassavam
pelo mundo. A destruição era a tônica de muitas cidades. Famílias e povos
desacreditavam de Deus, dos poderes constituídos e às vezes da própria
capacidade de se reerguer. A Igreja Católica desempenhou papel fundamental
neste período, pelo apoio dado aos países atingidos pela guerra, às famílias
destruídas, aos doentes, aos mutilados, aos órfãos. Foi nesse clima de grande
influência da doutrina social cristã na reconstrução da sociedade civil no período
pós-guerra, que Felipe Tiago Gomes, em conjunto com alguns amigos estudantes
deu início ao seu projeto político-pedagógico que viria mais tarde constituir-se na
Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, criando Ginásios em todo o
país. Estes Ginásios destinavam-se ao atendimento ao estudante pobre, que,
40
contemporaneamente se transformaram no conjunto de escolas que formam hoje
a Instituição CNEC - Campanha Nacional de Escolas da Comunidade.
Este estudo considera que a organização da Campanha Nacional de
Escolas da Comunidade fundada por Felipe Tiago Gomes foi fortemente
influenciada pelo Pensamento Social Cristão da 1ª metade do Século XX.
A influência da Igreja Católica na formação religiosa do povo brasileiro e os
princípios cristãos foram responsáveis, não por esta, mas por outras ações e
Campanhas lançadas no Brasil em benefício da população pobre, incapaz de
suprir por si as condições materiais mínimas necessárias para a vida, quer de
alimentação, de moradia, de saúde ou de educação.
Dentre as Campanhas, a CEAA Campanha de Educação de
Adolescentes e Adultos (a primeira grande Campanha dirigida
predominantemente ao meio rural), as “Escolas Noturnas”, entre outras se
voltavam à oferta de educação à população pobre e à educação comunitária.
(PAIVA, 1987, p. 175-9)
A educação comunitária, com a difusão de novos conhecimentos
ou a melhoria dos métodos e a modificação do conteúdo da educação
social, poderia ser um fator decisivo para o progresso comunitário.
(PAIVA, 1987, p. 177-8)
Dentre os princípios que fundamentam o ideário social católico da
educação, bem especificados por Jacques Maritain, cabe aqui citar um que muito
41
bem diz, dos ideais de Felipe Tiago Gomes ao fundar a então Campanha do
Ginasiano Pobre:
É certo que, neste domínio, não se é, enquanto crente, mas
enquanto participante de certa pátria, enquanto ligados por costumes,
tradições, interesses, modos de sentir e ver de uma comunidade carnal,
ou, enquanto tendo em comum certo ideal histórico concreto, (...) são
assim chamados a fazer obra comum. Mas nesta obra temporária
comum são investidos de valores éticos e espirituais (...). Nesta obra
temporal comum, o que resta ainda como elemento eficaz de primeira
importância (digo primeira e não suficiente), para pacificação dos
homens, é a benevolência recíproca e a amizade (...). Nesta esfera de
vida temporal e política, o termo que melhor convém não é amor de
caridade, mas amizade civil (...). (MARITAIN, 1999, p. 104).
Percebe-se examinando todo esse ideário e a ação política e pedagógica
de seus fundadores, que a Campanha dos Ginasianos Pobres, que vai dar origem
posteriormente à CNEC, teve seus princípios fundamentados no pensamento
social cristão da primeira metade do Século XX.
42
CAPÍTULO II
CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE – CNEC – RAÍZES
HISTÓRICAS
A Campanha Nacional de Escolas da Comunidade CNEC é hoje uma
rede de ensino com significativa participação na educação brasileira. Sua atuação
se na educação infantil, ensino fundamental, ensino dio e ensino superior,
atuando também na pós-graduação (lato senso e stricto senso) bem como cursos
de educação continuada e educação profissional de extensão universitária. Está
presente em quase todos os estados da federação tendo sua sede nacional em
João Pessoa/PB e com escritório de representação no Distrito Federal, o que a
torna um dos mais expressivos movimentos de educação comunitária existente na
América Latina. Desde sua origem tem suas atividades voltadas à educação e à
área social. Um exemplo dessa atuação foi a criação da rádio comunitária em
Picuí, na Paraíba, que prestava serviços gratuitos à comunidade local. Essa
atuação social continua sendo desenvolvida através de ações de alfabetização de
jovens e adultos, inclusão digital de idosos, trabalhos com crianças e jovens na
área da formação profissional, da informática, atividades recreativas com
crianças, adolescentes, adultos, idosos em situação de risco social ou
vulnerabilidade pessoal.
A CNEC é uma sociedade civil filantrópica, com objetivos educacionais e
assistenciais, sem fins lucrativos. Em 30 de novembro de 1954 através do
Decreto nº 36.505, foi reconhecida de utilidade pública. Recebeu do Conselho
43
Nacional de Serviço Social o Certificado de Entidade de Fins Filantrópicos. Esta
sua característica de entidade de caráter filantrópico possibilitou que recebesse
um expressivo apoio do Estado. Sua política, voltando-se, freqüentemente, a
atender às demandas educacionais das comunidades, recebeu, em contrapartida
condições para sua manutenção. Por este motivo, por muitos anos ela foi
considerada como uma entidade subordinada ao Estado, tendo em vista essa
dependência institucional e financeira. A condição de escola comunitária permitiu
que todos os recursos, públicos ou privados, fossem aplicados no
desenvolvimento e na expansão da instituição. A CNEC difere das escolas
particulares quanto à obtenção de lucros, pois é uma instituição que não precisa
repartir seus lucros, visto não ter proprietários.
Como entidade educacional, desde seus primórdios, a CNEC é uma
instituição que visa empregar todos os esforços no sentido de atender às
demandas de natureza educacional.
Ao despontar no cenário educacional brasileiro, em 1943, é possível que os
seus fundadores não tivessem a devida dimensão de onde esse movimento
poderia chegar. As possibilidades foram se delineando ao longo de sua história e
as suas relações, que foram a partir daí estabelecidas, condicionando seu
crescimento.
A expansão e o crescimento emergente da CNEC no cenário educacional
resultou de um contexto onde as populações, influenciadas pelos efeitos do
processo de industrialização e urbanização passaram a exigir, a reivindicar a
ampliação do acesso ao ensino secundário, até então privilégio de poucos. A
ausência de escolas e a reivindicação por parte das comunidades foi o que
44
permitiu que a CNEC, com forte apoio do Estado pudesse ir preenchendo esta
lacuna existente nas comunidades.
Apoiando-se na falta de instituições escolares que atendesse às
populações da grande maioria das cidades do interior do Brasil, vislumbrando a
possibilidade de ocupar essa lacuna que os poderes públicos e instituições
privadas deixaram, com uma proposta da oferta do ensino secundário gratuito,
com a colaboração das comunidades e do poder público, a CNEC traçou suas
ações, contando com os mais diversos profissionais que imbuídos pelos ideais
cenecistas, incorporaram-se a esse projeto de educação. Assim desenvolveram
ações que não se prendiam somente à sala de aula, conseguindo o envolvimento
da população e que levou a mudanças significativas no aspecto cultural das
cidades do interior onde se fazia presente pela criação de suas escolas.
A idéia de escolas para a comunidade, segundo nos confirma BOECHAT
(1993), tem suas raízes no pensamento social cristão católico. Essas raízes
cristãs católicas, que estão na origem da CNEC, tiveram início no trabalho de
Felipe Tiago Gomes quando organiza a Campanha para o Ginasiano Pobre.
2.1 A CAMPANHA PARA O GINASIANO POBRE
A CNEC, como hoje é conhecida, surgiu do ideal fundamentado no
pensamento social cristão, principalmente no pensamento de Jacques Maritain,
filósofo francês, católico, estudioso de Santo Tomás de Aquino. Tinha por
idealizadores um grupo de estudantes universitários, liderados por Felipe Tiago
45
Gomes, um jovem paraibano que foi ao Recife em 1941 com o objetivo de
bacharelar-se em Direito.
Figura 1 Família de Felipe Tiago Gomes. Sentados: o irmão mais velho,
José Severiano e os pais Ana Maria da Conceição e Elias Gomes. Em pé:
Felipe, Francisco, Maria e Francisca sendo Felipe o 1º de pé, à esquerda.
Menino pobre de Picuí, interior da Paraíba, que, diferentemente de outros
garotos, não abandonou os estudos pela falta de recursos, Felipe Tiago Gomes
nasceu no dia 1º de maio de 1921, no Sítio Barra do Pedro, Município de Picuí, na
Paraíba; filho caçula de Elias Gomes Correia e Dona Ana Maria Gomes.
46
Figura 2 O Professor Felipe Tiago Gomes com Maria Nativa de
Oliveira, a professora, quando rememorava a infância do
fundador da CNEC, durante aposição de foto de sua genitora em
sala especial do Colégio Ana Maria Gomes em Picuí. À esquerda,
Ana Maria de Almeida Gomes (sobrinha) e a irmã Maria
Alexandrina Gomes.
Em 1928, foi alfabetizado por sua irmã Francisca; de 1933 a 1935, estudou
no Grupo Escolar de Picuí, aprendendo as primeiras letras com a professora
Maria Nativa de Oliveira.
Depois de muita luta, em 1936, com o apoio do seu professor primário Dr.
Manoel Pereira do Nascimento, prestou exame de admissão ao Ginásio, obtendo
aprovação. Ingressou no Colégio Pio XI em Campina Grande, Trabalhou no
internato tomando conta de outras crianças menores, para custear seus estudos.
Neste período (1938) fundou e presidiu o Grêmio Lítero Cultural Humberto de
47
Campos em Picuí. Concluiu o Curso Ginasial no Colégio Pio XI em 1940.
Terminando o ginásio, viu que as possibilidades de prosseguir estudos e fazer
direito pareciam-lhe impossíveis.
Em 1941, na intenção de dar continuidade aos seus estudos, foi
fundamental a solidariedade do Juiz de Direito da sua cidade, Doutor José
Saldanha, que lhe conseguiu hospedagem com um amigo em Recife, o dentista
Doutor Morais, residindo com esta família por algum tempo. Mais tarde, convidado
por outros jovens, hospedou-se na Casa do Estudante de Pernambuco onde
trabalhou como porteiro. Designado para auxiliar na biblioteca, o contato com os
livros o levou a ler “El Drama de América Latina” de John Gunther que narra a
experiência de estudantes das Universidades Populares do Peru que, à noite,
promoviam com sucesso a instrução gratuita a outros estudantes que por sua
pobreza não tinham acesso às aulas regulares. Esta leitura deu-lhe a idéia de
criar uma instituição que possibilitasse a outros jovens o acesso ao ginásio
gratuito, sem mensalidades, nem taxas.
Aqui no Brasil, notadamente no Nordeste, pouquíssimos eram os jovens
que podiam ingressar no curso Ginasial, devido à prevalência quase absoluta de
educandários privados, instituições ligadas à Igreja Católica, onde o ensino era
pago. Aos jovens pobres, a grande maioria, se conferia, quando muito, o ensino
primário gratuito, devido à ausência de escolas, de educandários que os
atendessem. O Curso Ginasial era privativo dos mais abastados.
O jovem Felipe Tiago Gomes, sentia uma profunda inquietação diante da
difícil situação de tantos estudantes pobres; e neste grupo ele se incluía. As
dificuldades pelas quais ele e outros estudantes passavam para cursar o Ginásio
48
seriam motivo suficiente para desistir deste empreendimento. Porém sua
formação cristã, sua educação familiar lhe mostravam outros caminhos. Como
dizia Paulo Freire,
Sua experiência lhes vem ensinando que ser cristão não significa
necessariamente ser reacionário, como ser revolucionário não implica
em ser ‘demoníaco’. Ser revolucionário significa estar contra a opressão,
contra a exploração, em favor da libertação das classes oprimidas, em
termos concretos e não em termos idealistas. (FREIRE, 1982, p. 113).
Desta forma, refletindo sobre suas próprias dificuldades e a situação
idêntica de muitos jovens para conseguir estudar, transmitia aos seus amigos e
colegas suas angústias e preocupações em relação à situação. Estas e outras
idéias passaram a fazer parte das conversas e discussões dos jovens estudantes.
Eram inúmeros os estudantes em iguais condições de pobreza como Felipe Tiago
Gomes. Jovens humildes, sedentos de aprender, cujos recursos financeiros os
distanciavam das escolas da época. A elite tinha seu próprio sistema de
escolarização. Desta forma, o idealizador da CNEC, constatando ser a escola
privilégio dos ricos, resolveu empenhar-se em mudar este quadro.
O primeiro dos colegas a ser chamado por Felipe foi Everardo da Cunha
Luna. Logo se aliou ao grupo Carlos Luís de Andrade. Juntos promoveram a
primeira reunião da entidade que contou com a presença de outros companheiros
como Joel Pontes, Eurico José Cadengue e Florisval Silvestre Neto, todos
secundaristas, sendo alguns do Ginásio Pernambucano e outros do Colégio
Carneiro Leão. Foi através dos ideais e sonhos destes cinco estudantes
49
secundaristas, liderados por Felipe Tiago Gomes, que a história da Campanha
deu os primeiros passos.
Convivendo com colegas pobres, percebi que não estava sozinho na
luta. Passei a sentir a beleza da vida e a solidariedade humana ao
encontrar outros moços iguais a mim, dispostos a vencer dificuldades.
Eu não ia a cinemas nem a festas. Estudava bastante [...] Matriculado na
primeira série do curso pré-jurídico, andava a da Casa dos
Estudantes até o Ginásio Pernambucano, numa longa caminhada, em
companhia de Everardo, que era como um irmão, tal a amizade que nos
unia. (GOMES, 1989, p.14).
Nasce, assim, uma instituição comprometida com a fundação de uma
escola focada ao moço pobre. Assim, a CNEC - Campanha Nacional de Escolas
da Comunidade como hoje é conhecida, nasceu em Recife, capital de
Pernambuco, no dia 29 de julho de 1943, como Campanha do Ginasiano Pobre,
numa reunião de estudantes pré-universitários na Casa do Estudante de Recife,
Pernambuco, onde residiam. Felipe Tiago Gomes, juntamente com cinco amigos
estudantes corporificaram a idéia. Diferentemente da luta empreendida no início
do século pela difusão do ensino primário, estes jovens, a partir da década de 40,
passaram a lutar pela ampliação do ensino secundário, tendo como lema: “No
Brasil só há um problema nacional – A educação do povo.
50
Figura 3 – Felipe Tiago Gomes quando jovem estudante em Pernambuco.
A história brasileira, ao longo de sua trajetória mostra ser a educação um
privilégio de poucos. a luta do Padre Manuel da brega, na época do início
da educação jesuítica no Brasil, mostrou esta realidade quando este educador
cristão, patriota e homem de visão, mesmo desentendendo-se com seus
superiores da ordem religiosa, procurou incluir no currículo do curso médio as
disciplinas profissionalizantes. Sua morte marcou a mudança: as disciplinas
profissionalizantes foram retiradas do currículo. E muda-se a história da
educação, pois, em conseqüência,
... o ensino médio brasileiro entrou na multissecular ladeira da
aristocratização econômica do ensino e no prejudicial desprezo farisaico
pelas disciplinas profissionais e pelos ofícios que tão bem a caracterizam
até hoje em dia.
...
não era mais o espírito cristão, nem sequer democrático, o
inspirador do ensino médio brasileiro. (TOBIAS, 1986, p. 66).
Por isso, quinhentos anos depois, Anísio Teixeira, em seu livro Educação
não é Privilégio, chega à triste, mas objetiva conclusão de que a escola brasileira
é altamente seletiva, classificando seus alunos. Para este educador do século XX,
“Passar pela escola, entre nós, corresponde a especializar-nos para a classe
média ou superior. E está a grande atração. Ser educado, escolarmente
significa, no Brasil, não ser operário, não ser membro das classes trabalhadoras.”
(TEIXEIRA, in TOBIAS, 1986, p. 66)
51
Felipe Tiago Gomes, conhecedor da história da educação brasileira, do seu
aspecto seletivo e excludente, consciente de seu papel como cristão na luta pela
melhoria da educação no país, decide fazer a sua parte. Juntamente com colegas
estudantes, estudos, leituras, conversas os levaram a lutas pela educação para
os alunos pobres que não tinham acesso à educação paga. Assim surge a
instituição com o nome de Campanha para o Ginasiano Pobre, uma vez que seu
enfoque estava nestes jovens, desejosos de seguir estudos no Curso Ginasial.
Nasceu como uma Campanha, como algo que traz um sentido
de esforço de emergência, a título precário e provisório, tendo a sua
frente jovens estudantes sem recursos financeiros ou materiais de
qualquer espécie, sem contar com relações sociais, sem dispor de poder
político, sem ter mesmo idéia de como se organizar para conseguir o que
pretendiam, num ambiente de improvisação. (HOLANDA, 1981, p. 35).
Coragem, entusiasmo e idealismo era com que os jovens ginasianos
contavam para vencer os obstáculos. Constatando ser a escola privilégio dos
ricos, esse grupo universitário decidiu oferecer ensino gratuito aos pobres.
As dificuldades de acesso aos estudos e a marcante pobreza dos jovens
levou Felipe Tiago Gomes, o idealizador da CGP a escrever:
Os fundadores da Campanha não tiveram dinheiro fácil para estudar.
Alguns passaram fome para fazer seu curso ginasial. Outros
compravam um par de sapatos quando os velhos, de tão estragados,
não podiam ser usados. E lhes revoltava ver tantos jovens desejosos de
outros horizontes culturais e proibidos de alcançá-los, por falta de
recursos. Filósofos, sociólogos e outros homens de cultura afirmavam
não ser justa tão tremenda desigualdade; os filhos de ricos podiam
libertar-se da ignorância; os pobres estavam condenados a permanecer
na infra-estrutura social. Eram os parias sociais, que apenas tinham o
direito, quando possuidores do curso primário, de fazer as contas dos
52
donos de botequins e armazéns, passar jogo de bicho e votar nos chefes
políticos como eleitores de cabresto. (GOMES, 1989, p. 19).
O projeto deste grupo de estudantes transformou-se numa bandeira de luta
pela democratização do ensino do país, mostrando que as comunidades pobres
também podem ter acesso ao saber, desde que além assuma esta causa pelos
menos favorecidos, em nome da cidadania e da fraternidade cristã. Felipe Tiago
Gomes, encorajado pelo sucesso da primeira escola, divulgou esta realização,
contando com os universitários como seus maiores aliados que, ouvindo em
congressos as narrativas do sucesso do empreendimento em Recife desejavam
repetir este feito em seus estados.
O Recife surgir, agora e pela primeira vez, no Brasil, um grupo
de moços entusiastas para abrir novos caminhos e acender novas luzes
nas inteligências de dezenas de rapazes pobres, que apenas têm o
curso primário e não podem, por motivo financeiro, continuar seus
estudos. A mocidade quer, e esperamos que o povo aplauda. (GOMES,
1989, p. 23)
A primeira atividade deste grupo foi lançar o Boletim do Ginasiano Pobre,
em 30 de agosto de 1943. As informações e apelos deste Boletim provocaram
muitas adesões, tanto de populares quanto de comerciantes e de homens
públicos. Jornais e revistas da época adeririam ao movimento, divulgando
amplamente suas idéias e, como conseqüência, foi instalado o curso de
Preparação à Admissão ao Ginásio. Os professores eram os próprios
idealizadores do projeto que davam aulas gratuitas.
53
Somente três anos depois o Ginásio fundado passou a funcionar, na sede
do Sindicato dos Contabilistas, em sala cedida pela entidade. Recebeu o nome de
Ginásio Castro Alves.
Figura 4 Colégio Castro Alves Primeira escola
para a Campanha do Ginasiano Pobre. Recife
Pernambuco – Sede do Sindicato dos Contabilistas.
Nesta trajetória, contou, sobretudo com a adesão de jovens, que ao
conhecer a proposta cenecista, passaram a incorporá-la e se comprometeram a
assumi-la, propagando-a nas demais cidades, mesmos aqueles jovens que após
a conclusão dos estudos, retornavam à causa cenecista. Estes jovens, com esta
nova forma de pensar, de que as mudanças se dariam pela educação, se
apoiaram na CNEC sentindo a possibilidade de contribuir para melhorar o nível
cultural das populações às quais pertenciam, fortalecendo assim o crescimento do
movimento cenegista, principalmente no nordeste, berço de seu nascimento.
54
O ideal dos jovens estudantes voltava-se em favor de outros jovens, às
conquistas de realização de estudantes pobres, sem espaço para crescer, sem
oportunidade de desenvolverem conhecimentos. A força dos sonhos era de tal
grandeza, que aqueles estudantes, mesmo amadurecidos e solicitados pelos
apelos da realidade e da vida, souberam renunciar a seus interesses pessoais e
persistiram na defesa de seus sonhos, transformando-os em sonhos
permanentes. Cada conquista representava o surgimento de novos sonhos,
fortalecidos na luta e na necessidade, que desafiavam altivos as restrições da
realidade. Sinal de que um sonho de estudante pode representar uma
interpretação de justos anseios e legítimas aspirações lhes dando desempenho
da nobre missão e elevada responsabilidade.
A decisão de criarem um ginásio gratuito noturno que atendesse os jovens
estudantes trabalhadores, pobres, fez com que promovessem ampla divulgação
com vistas a divulgar o movimento e conseguir a adesão de pessoas da
comunidade, funcionários públicos, empresários cuja adesão fortalecesse o
movimento e que oferecessem recursos para sua criação e manutenção;
pretendiam também, através de intensa divulgação conscientizar a sociedade
para uma realidade social e educacional do país.
Jovens, práticos, talentosos, mas sem dinheiro acharam imediatamente
uma forma de efetivarem seus sonhos. Iniciaram suas atividades publicando suas
idéias através do Boletim anteriormente fundado (30 de agosto de 1943). Além de
divulgar seus ideais, conseguiram a adesão de importantes personalidades
políticas da época. Em relação a ele escreveu Epitácio Soares:
55
Tenho diante da vista o 1 do Boletim da Campanha do
Ginasiano Pobre, iniciativa levada a efeito no Recife, por estudantes dos
colégios pernambucanos e que, de certo modo encontrará o apoio de
todos os bons brasileiros.
Quer a mocidade estóica de Pernambuco um ginásio onde a
instrução de grau secundário seja ministrada gratuitamente e esses
rapazes pobres que, apenas, têm o curso primário e o podem, por
motivo financeiro, continuar os seus estudos.
Não vejo em que se possa ser mais útil à pátria do que se lhe
educando a juventude. Por isso mesmo, eis-nos a bater palmas a esse
pugilo de moços que teve a lembrança feliz de fundar A C.G.P., cujo
programa de ação vem delineado nas ginas do Boletim. (SOARES, in
GOMES, 1994, p: 40)
Além do Boletim, outra ação importante foi a organização do Teatro do
Estudante de Pernambuco que foi uma vitoriosa realização da Campanha para o
Ginasiano Pobre, levando às classes populares dos subúrbios de Recife várias
peças teatrais e a palavra inflamada de jovens que lutavam para que esta
população pudesse dar instrução aos seus filhos. Procuravam, através das
apresentações teatrais, angariar fundos para a Campanha e, ao mesmo tempo,
difundir a cultura e divertir o povo. Muitas vezes nem o sucesso artístico nem o
financeiro aconteceram.
Várias peças foram encenadas. Um dos fundadores, Joel Pontes,
considerado por Felipe Tiago Gomes como uma expressão de grande força
literária, desde a fundação da entidade, escreve, em relação a estas
representações:
Representamos em todos eles (Centro Educativo Operário do
Cordeiro), dirigidos por um colega alagoano Florêncio Teixeira um
repertório colhido no Colégio Salesiano, cujo maior sucesso foi a
comédia de autor ignorado Um Escorrego no Quiabo. Meçam a
desorientação cultural: aquele oásis para saciar a sede do caminheiro
56
ávido de saber oferecia teatro de escorrego, palhaçada braba.
(PONTES, 1978, p. 75).
A causa que inspirava a fundação da Campanha para o Ginasiano Pobre, a
possibilidade de democratização do ensino secundário, almejando o acesso a um
maior número de estudantes economicamente marginalizados do processo
educativo nacional, se apresentava assim revestida de superior nobreza.
O país vivia sob a ditadura Vargas, cenário da década de 40. O discurso
propagado pela Campanha era aparentemente desvinculado de qualquer
ideologia e conflito de classe, pois conclamava todos os brasileiros a se unirem à
tarefa de construir uma nação desenvolvida, apresentando a educação como
possibilidade de resolução dos problemas nacionais e de construção de uma
sociedade democrática. Sob a influência dessas idéias, cientes da injusta
desigualdade de acesso à escola secundária e vivenciando o clima de
contestação do regime autoritário que vivia o país, os ideais de Felipe e de seus
cinco colegas caíram em solo fértil.
É bem verdade que, em 1943, o Brasil estava engajado na 2° Guerra
Mundial, através da participação da Força Expedicionária Brasileira, nas lutas da
Itália contra o Nazi-facismo. Os estudantes gritavam por liberdade, aproveitam-se
dos comícios realizados contra a Alemanha, o Japão e a Itália. O Recife, às
escuras, por medidas de segurança, era a cidade que mais sofria as
conseqüências da ditadura do Estado Novo. Aqueles jovens presenciavam o
choque de idéias e também delas participavam. Mas, da angústia que martirizava
o grupo, uma luz de esperança foi acesa: “De que adiantava a libertação do
57
mundo, se o Brasil continuava escravo?” Daí a revolução daqueles moços em
busca de uma liberdade que não brotasse de trincheiras materiais, mas do
funcionamento de milhares de escolas.
A Campanha para o Ginasiano Pobre nasceu quando o Brasil se achava no
período do Estado Novo, portanto, sob a ditadura de Vargas, cuja ideologia
encerrava alguns princípios tais como nacionalismo, integração nacional,
centralização, hierarquia e outros. Vivia-se um regime de perdas das liberdades
públicas, com um governo autoritário e unitário.
Durante o Estado Novo, observamos que o empenho do Governo voltou-se
para apoiar o setor exportador que, a par de seus rendimentos, favorecia a
importação da maquinaria e matérias primas necessárias ao desenvolvimento das
indústrias. Diante da conjuntura econômica e política do mundo, o Brasil teria de
passar de simples produtor de matérias primas e poucos produtos agrícolas, a um
país de indústrias e policultura.
Uma nova classe, representando um estado intermediário da estratificação
social, veio aparecendo tanto pela descida de participantes da classe superior,
como pela ascensão de algumas camadas do proletariado.
Desta situação de transformações econômico-sociais e políticas proveio a
política educacional brasileira nesse período. Para os condutores do Estado
Novo, a educação haveria de trazer a solução aos problemas nacionais tanto na
ordem econômica quanto política. No entanto, não houve benefício para a classe
operária como um todo.
58
Neste clima político, o grupo de jovens manteve-se firme em torno de sua
proposta, liderados por Felipe Tiago Gomes. Divulgado a instituição na cidade do
Rio de Janeiro e na periferia, centraram seus esforços na montagem de peças
teatrais. Era uma forma de divulgarem as idéias da Campanha e, ao mesmo
tempo, angariar fundos para prover as necessidades básicas da casa. O grupo
teatral desenvolveu-se a tal ponto de se tornar um movimento autônomo e um dos
melhores do país. Da mesma forma o Boletim foi um excelente veículo de
divulgação da Campanha para o Ginasiano Pobre, oportunizando a adesão ao
movimento de representativas personalidades da vida nordestina: clero,
magistrados, mestres, artistas, escritores de renome nacional.
De 15 a 21 de abril de 1944, gozando já de razoável popularidade, a
Campanha para o Ginasiano Pobre realizou a Primeira Semana da Cultura
Nacional em Recife, que, além de contar com apoio de pessoas de renome de
Pernambuco, reuniu nomes notáveis na área da educação e da cultura. O escritor
Luís da mara Cascudo estava entre os convidados para a realização de uma
palestra. Não pôde comparecer devido a um compromisso no Rio de Janeiro,
convocado pela Diretoria Nacional da Defesa Civil. Porém enviou
correspondência de apoio e incentivo à Campanha. Palestras informativas e
culturais, teatro, sica, pintura, foram algumas das mostras da Semana. Dentre
os homens de letras estavam o Dr. Costa Porto, o Dr. Luís Freire, o Dr. Jordão
Emerenciano, o Dr. Gilberto Osório, o Dr. Guilherme Auler e o Dr. Aníbal Bruno.
Emissoras de rádio, jornais, colunistas passaram a divulgar o evento,
incentivando e conclamando a população, principalmente os acadêmicos a dele
participarem. Várias palestras foram proferidas pelos estudantes na Rádio Clube
de Pernambuco a respeito da Campanha e do evento cultural.
59
Nesta mesma época, chegando ao seu aniversário, sua evolução
exigia uma melhor estrutura como organização.
É eleita então a primeira diretoria que ficou assim constituída:
1º Conselheiro: Felipe Tiago Gomes
2º Conselheiro: José Rafael de Menezes
3º Conselheiro: Genivaldo Vanderely
Diretor do Departamento Artístico: Severino Florêncio Teixeira
Diretor de Departamento de Finanças: Clóvis Miranda
Diretor de Departamento de Propaganda: José I. Cabral
Diretor de Boletim: Felipe Tiago Gomes
Redator: Genivaldo Vanderley
Surge assim a primeira unidade do sistema, o Ginásio Castro Alves, sendo
instalado em de agosto de 1944 numa sala no andar da sede do Sindicato
dos Contabilistas.
O Curso de Admissão ao curso ginasial gratuito está
funcionando num prédio emprestado, com cadeiras emprestadas, na
Rua da Aurora, 363 – 1º andar.
A matrícula se elevou a 130 alunos, variando as idades de 12
a 35 anos. Muitos assistem às aulas em pé, porém não desanimam.
Estão convictos de que venceremos. E enquanto as prometidas carteiras
não chegam, eles assistirão às aulas de e farão provas orais. De
qualquer maneira, até o dia 15 de novembro teremos de conseguir as
carteiras, pois o exame de admissão será em fevereiro próximo.”
(GOMES, 1989: 37)
60
Seus alunos, (os ginasianos pobres), assistiam às aulas com roupas
rasgadas, descalços, sem carteiras para se sentarem; eram, porém, ávidos pelo
conhecimento que lhes era transmitido por jovens universitários que, gratuita e
voluntariamente dividiam com eles o seu saber.
É o pensamento cristão presente naqueles que não se entregam às
mazelas que a sociedade lhes impõe pela discriminação à pobreza. É também a
presença do pensamento cristão naqueles que dão a sua contribuição pela
melhoria da realidade vigente. Nas palavras de MARITAIN,
É melhor gastar-se para atingir o bem, que ser esmagado pelo
mal. Estas são verdades muito simples e, certamente, tempos virão em
que elas serão compreendidas pela consciência comum.
[...]
Mas, a obra para a qual somos chamados, a obra que devemos
cumprir com coragem e esperança será tanto maior, se considerarmos
que, a cada instante, ela será traída pela fraqueza humana, deverá ter
como objetivo, se quisermos que a civilização sobreviva, um mundo de
homens livres, cuja substância profana seja penetrada por um
cristianismo vivo e real, um mundo onde a inspiração evangélica oriente
a vida comum para um humanismo heróico. (MARITAIN, 1999, p. 66-7).
O Ginásio Castro Alves, localizado em Recife, Pernambuco foi o primeiro
Ginásio gratuito do Brasil, fundado pela Campanha do Ginasiano Pobre. Apesar
das inúmeras dificuldades pelas quais passava: falta de material pedagógico,
material de consumo, de carteiras, uma estrutura física insustentável. “As
carteiras definitivas puderam se adquiridas com receita da encenação da peça
“Era uma vez um vagabundo’, em Caruaru e, também, oferta de particulares”
(VERMELHO, 1984, p. 31).
61
Nas ruas, nas entradas dos cinemas, por parte, os promotores
da C.G.P. distribuíam panfletos, com fotografia estampada de mais de
100 alunos, na sua maioria operários, assistindo as aulas de pé. Os
panfletos tinham a seguinte redação:
“USINEIROS! INDUSTRIAIS! COMERCIANTES!
AGRICULTORES!
Dois minutos! Olhai atentamente para esta fotografia. Estais
vendo?! Vistes?! Reparastes bem?!
Não, não vos espanteis. São os ginasianos pobres que estão de
(de pé, ouvistes?!), implorando saber, suplicando conhecimento,
pedindo cultura.
[...]
Se fordes cristãos e humanos, se amais o Brasil, tendes um
dever a cumprir, uma obrigação a fazer COOPERAR NA AQUISIÇÃO
DE CARTEIRAS PARA O GINASIANO POBRE! (GOMES, 1989, P. 35-6)
Como resultado da panfletagem, pessoas do comércio, autoridades
políticas e militares colaboraram para a solução do problema. Também
autoridades da área cultural, como o Dr. Valdemar de Oliveira, Diretor do Teatro
Santa Izabel que emprestou tamboretes do teatro para acomodar os alunos; da
mesma forma, o General Isauro Regueira, Comandante da Região Militar, ao
receber o panfleto, foi conhecer o trabalho da Campanha e tornou-se um
colaborador. A inauguração das carteiras teve solenidade pública realizada no dia
27 de novembro de 1944 (GOMES, 1989, p. 36).
O Ginásio funcionava numa sala emprestada na sede do Sindicato dos
Contabilistas. Por suas precárias instalações o Curso não é reconhecido pelo
MEC, funcionando assim de forma irregular até o ano de 1946. Passando a
funcionar no Colégio Osvaldo Cruz, foi o Ginásio Castro Alves reconhecido pelo
Ministério da Educação em 1946. Assim, no dia 10 de abril deste ano os diretores
da Campanha do Ginasiano Pobre iniciavam os exames de admissão do seu
primeiro ginásio gratuito.
62
No dia 10 de abril de 1946, depois de ingentes esforços, os
diretores da Campanha do Ginasiano Pobre iniciavam no Colégio
Osvaldo Cruz, os exames de admissão do primeiro ginásio gratuito a
funcionar como iniciativa totalmente particular no Brasil (GOMES, in
Coletânea Cenecista, 1994, p. 70).
Felipe Tiago Gomes, fundador e idealizador da Campanha para o
Ginasiano Pobre, juntamente com seus colegas, sempre acreditaram na proposta,
cientes de que todos deviam ter acesso à educação, sendo este um direito
também dos que por ela não podiam pagar. A pobreza envolvia aquele grupo de
estudantes. Revoltava-os verem “tantos jovens desejosos de outros horizontes
culturais e proibidos de alcançá-los, por falta de recursos”. (Gomes, F. T., História
da CNEG. Rio de Janeiro: Publicações, 1965, p. 18).
Assim, o grupo de estudantes deu o passo. Por convocação de Felipe
Tiago Gomes, participaram da 1ª reunião que deu origem à Campanha,
agrupamento formado pelos citados Carlos Luís de Andrade, Florisval Silvestre
Neto, Joel Pontes, Eurico José Cadengue e Everardo Luna. Organiza-se assim a
primeira proposta que visa oferecer ensino gratuito aos pobres. Dentre os
participantes deste primeiro encontro, cabe destaque a Everardo Luna que mais
tarde tornou-se um dos mais competentes professores da Faculdade de Direito de
Recife. Joel Pontes foi cronista do grupo, coordenando o Boletim e outros
aspectos relacionados à divulgação da Campanha em jornais, revistas, emissoras
de rádio; desde o início da Criação do Ginásio Castro Alves foi ativo participante
de todas as atividades jornalísticas, sendo responsável por muitos dos registros
até hoje existentes.
63
Os alunos que freqüentavam as aulas no ginásio destinado aos que não
tinham acesso ao saber recebiam os ensinamentos de jovens estudantes
voluntários que trabalhavam como professores, ensinando os alunos.
A Campanha nasceu com a denominação de “Campanha para o Ginasiano
Pobre”, pois era esta a sua característica fundamental. Ou, nas palavras de um de
seus fundadores, texto publicado no primeiro Boletim da Campanha:
Nós cogitamos e vamos fundar a “Campanha para o Ginasiano Pobre”.
Um colégio. Uma casa nossa, como um amplexo acolhendo e ajudando
todos os pobres que desejam fazer o ginásio. Um oásis para saciar a
sede do caminheiro ávido de saber. Do moço pobre. Roto. Sem livros e
sem farda. Descalço e sem gravata. (SENA, in GOMES, 1994, p. 41)
Conforme texto citado de HOLANDA (1981, p. 35), a entidade nasceu
como uma Campanha, como algo que traz em si o sentido de um esforço
concentrado, um esforço de emergência. Para a época (1943), a expressão
Campanha também se fundamentava em um programa educacional de
destaque do governo federal. PAIVA (1987) refere-se a esta campanha (grifo
nosso) lançada no governo de Getúlio Vargas, uma campanha de educação de
jovens e adultos, considerando-se a premência e a necessidade de mudar o
quadro de analfabetismo no país. É uma campanha, no sentido de dar destaque à
urgência de sua realização. Era a CEAA Campanha de Educação de
Adolescentes e Adultos. É a primeira grande campanha de educação dirigida
predominantemente ao meio rural. Na CEAA eram uniformes a orientação
metodológica e o material didático utilizados no meio rural e urbano. Há um
64
aspecto que caracteriza o CEAA e que está presente nos ideais da Campanha
para o Ginasiano Pobre. Esta semelhança nos é mostrada nas palavras da
autora, ao dizer que
A nova programação, entretanto, transforma-se num programa
independente no qual predomina a metodologia do desenvolvimento
comunitário...
[...] a aplicação de princípios de desenvolvimento comunitário e
a busca de uma metodologia cada vez mais eficaz no tratamento dos
problemas rurais e na educação de sua população. (PAIVA, 1987: 177).
Observa-se na fala da autora que um dos objetivos da CEAA é o
desenvolvimento comunitário, através de uma educação voltada aos que até
então não eram beneficiados por ela. A Campanha para o Ginasiano Pobre,
mesmo que seja com outras características, propõe uma campanha que ofereça
acesso ao ensino ginasial aos estudantes pobres.
O movimento continuava seu processo de expansão. Ofereciam-se aos
moços pobres possibilidades de obter conhecimentos capazes de vencer os
obstáculos naturais, existentes em uma sociedade em mudança. Eram pobres os
estudantes e era pobre a Campanha. Começou sem nenhum recurso a não ser a
coragem, a ousadia, o entusiasmo e os ideais dos jovens estudantes. Não tinham
dinheiro, não tinhas relações, não tinham poder. Mas o ideal os levava adiante.
Em 1944 quase todos os fundadores da CGP cursavam o ensino
superior. Com garra e coragem venciam as dificuldades que surgiam nos mais
diversos setores. A Campanha completava um ano desde seus primeiros
passos. O grupo de estudantes, fundadores do movimento, principalmente
65
através de Felipe Tiago Gomes, seu idealizador, segue divulgando seus ideais de
educação pelo país afora, levando esperança para o estudante pobre,
beneficiando aqueles que, sem esta oportunidade não teriam atingido os seus
objetivos de formação nem teriam tido a oportunidade de desenvolverem seus
talentos e ampliado seus conhecimentos. Isto se tornava realidade num país onde
“a escola sempre foi um dos deveres mais relegados e menos sérios do Poder
Público”. (TEIXEIRA, in GOMES, 1986, p. 11).
2.2 A CAMPANHA NACIONAL DE EDUCANDÁRIOS GRATUITOS - CNEG
A Campanha para o Ginasiano Pobre, a partir de 1946, passou a chamar-
se Campanha para Ginásios Populares. A denominação Campanha do Ginasiano
Pobre dava a impressão de um trabalho mais sentimental, paternalista, sendo
estudantes pobres que faziam esforços para ajudar outros estudantes pobres. E
não era este o sentido da sua luta. Havia nos ideais da Campanha um espírito de
civismo cuja consciência levava seus participantes a encararem as dificuldades
sem pieguismos e sentimentalismos. Foi esta a razão da mudança de
denominação, acreditando-se que a mesma “emprestava idéia de congregação de
esforços, de lutas do povo em defesa da educação da nossa gente. Nome certo
para uma campanha oportuna” (GOMES, 1989, p. 49). Porém, esta denominação
teve curta duração. Esta mudança de denominação era fruto de
amadurecimento de seus idealizadores, conforme se pode observar nas palavras
de Felipe Tiago Gomes:
66
Os rapazes queriam deixar aquilo de “estudantes pobres”, que
cheirava um pouco a sentimentalismo socializante, a século XIX. Logo
após, como a palavra “Popular” estava cheirando a subversiva,
chegaram eles ao nome Campanha Nacional de Educandários Gratuitos.
(QUEIROZ, in GOMES, 1994, p. 25).
Ainda em relação a esta alteração de denominação, escreve o fundador,
professor Felipe:
Resolvemos, então, mudá-lo para Campanha dos Ginásios
Populares. O Partido Comunista estava no apogeu. ... A Campanha dos
Ginásios Populares parecia, naquela época, a alguns, que se tratava de
uma obra comunista. A palavra “popular” era propriedade do referido
partido. Os diretores da Campanha, por via de dúvidas resolveram
mudar o nome da organização para Campanha de Educandários
Gratuitos. (GOMES, 1994, p. 70-71)
Em 1947, Felipe Tiago Gomes encontrou-se com o então Ministro da
Educação, do governo do Marechal Eurico Gaspar Dutra (1946 a 1951) o Dr.
Clemente Mariani, expondo-lhe um plano de criação de educandários gratuitos
em todo o país. O Ministro manifestou apoio e simpatia à idéia. Porém foi
somente em 1948 que a diretoria da Campanha promoveu um movimento em
âmbito nacional, por sugestão do Professor Lourenço Filho. Este movimento
consistia na expansão da Campanha através da participação de encontros
estudantis, atividades políticas. Felipe Tiago Gomes e outros envolvidos com a
Campanha procuravam participar pelo Brasil inteiro de movimentos estudantis,
congressos, seminários e outros encontros que envolvessem jovens estudantes,
67
políticos, entidades de classe, divulgando as idéias da Campanha e conclamando
todos a se envolverem em seus ideais. É a partir deste movimento que a
Campanha Nacional de Educandários Gratuitos – CNEG - se firma, alargando seu
campo de ação, abrangendo o ginásios, mas, também, escolas técnicas de
comércio, escolas normais, colégios.
Nesta época, Lourenço Filho recomendou ao representante da Campanha
a elaboração do seu estatuto em nível nacional. Acontece assim o I Congresso
Nacional da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos no qual é aprovado o
estatuto. Felipe Tiago Gomes é o Delegado da CNEG junto aos demais estados,
aos territórios e ao Distrito Federal. A Campanha torna-se prestigiada pelo
governo e respeitada e admirada pelas suas tradições de luta. A Campanha
mantém-se fiel a si mesma; sua independência e programa de ação, certamente,
são responsáveis pela sua sobrevivência.
Neste contexto é fundamental destacar o papel do Professor Lourenço
Filho por suas idéias inovadoras em relação à educação. A visão que o professor
Lourenço Filho tinha de educação em nível, não nacional, mas mundial o
tornavam respeitado no meio educacional. Suas idéias e sugestões para a CNEG
foram muito importantes. A divulgação da Campanha nos meios estudantis,
através da participação de encontros e seminários levou as idéias da Campanha
Nacional de Educandários Gratuitos para muitos lugares aonde, de outra forma
não chegaria. O primeiro estatuto, garantindo à Campanha a legalidade,
respeitabilidade e conhecimento nacional, deve-se ao professor Lourenço Filho.
O educador Lourenço Filho é conhecido, sobretudo, por sua participação
nos movimentos pioneiros da Escola Nova. Foi duramente criticado por sua
68
colaboração no Estado Novo de Getúlio Vargas. Todavia é indiscutível sua
participação e contribuição à educação brasileira. Foi membro do Conselho
Nacional de Educação - CNE – e assessor do então ministro da Educação,
Gustavo Capanema. Teve papel fundamental na criação do INEP – Instituto
Nacional de Estudos Pedagógicos, concebido como fonte primária de
documentação e investigação, com atividades de intercâmbio geral e assistência
técnica. Na sua gestão (1938 a 1946), o INEP adquiriu grande expressão
internacional; foram realizados estudos da situação dos professores e dos
programas do ensino secundário. Era um intelectual, um educador extremamente
ativo e preocupado com a escola em seu contexto social bem como com as
atividades que envolviam o trabalho do educador em sala de aula.
Segundo este educador,
A escola tradicional não serve o povo, e não o serve porque es
montada para uma concepção social vencida, senão morta de todo...
A cultura, bem ou mal, vinha servindo os indivíduos que se destinavam
às carreiras liberais, mas nunca às profissões normais de produção
econômica. (LOURENÇO FILHO, in SANTOS, Ademir V. e LEAL, Leila
L. L. Publicação do programa de pós-graduação em Educação CECH,
UFSCar, out. – nov. 1999).
Estas palavras de Lourenço Filho vêm confirmar o entendimento do
autor, da profunda articulação existente entre a escola e a vida social. Lourenço
Filho tinha claro que a elitização e o intelectualismo da educação brasileira não
atendiam às necessidades das classes populares, antes as privavam de inserção
no esquema produtivo. Daí sua grande dedicação e empenho em, ao longo de
muitos anos, apoiar e contribuir, de forma decisiva, para o desenvolvimento dos
ideais da Campanha.
69
Além de Lourenço Filho, educadores, anônimos alguns, famosos outros,
acreditaram nos ideais da Campanha e empenharam-se e contribuíram,
efetivamente pela sua implantação. Assim, por muitos anos, o Brasil inteiro
conhece as escolas Cenegistas ou a CNEG, convive com suas realizações,
disseminando-se pelo país os ideais e o trabalho destes educandários.
O período de 1945 a 1949 foi importante, principalmente por uma
aproximação cada vez maior entre a Campanha, o Governo Federal e os
governos estaduais. bacharel em Direito, Felipe Tiago Gomes transferiu
residência para o Rio de Janeiro, por considerar que estando na capital do país
teria melhores possibilidades de, através de contato políticos, conseguir verbas
para a entidade e ampliar a criação de Ginásios. Os tempos iniciais foram de
imensas dificuldades, principalmente financeiras, no que se refere à própria
sobrevivência do idealizador da CNEG. Em sua persistência na busca de
soluções, Gomes pôde sempre contar com a compreensão e o auxílio de diversas
pessoas, entre amigos e os que acreditavam e confiavam no ideal que ele
propunha. Felipe Tiago Gomes, residindo no Rio de Janeiro, conseqüentemente,
leva à transferência da sede da Campanha para a capital. Viajou muito e fundou
muitos Ginásios. O movimento seguia em ritmo acelerado de crescimento e
expansão. Muitos estados brasileiros aderiam ao projeto e as escolas cenegistas
proliferavam.
Iniciam-se os novos vôos: a difusão da Campanha pelos Estados, através
de contatos com autoridades e/ou estudantes é algo que acontece
permanentemente, proporcionando a criação de inúmeros ginásios, nas mais
70
diversas cidades brasileiras, sendo 66 educandários nos primeiros dez anos de
existência.
O ano de 1948 marcou o início efetivo da expansão da Campanha pelo
país inteiro. O movimento repercutia em vários estados. A imprensa sempre se
manifestou favorável à Campanha, não havendo nenhum registro que se
manifeste contrário. Felipe Tiago Gomes decide que é necessário partir para a
fase do seu trabalho em frente à Campanha: sua divulgação pelos estados.
Licenciado do SESI onde trabalhava, Felipe Tiago Gomes ainda não sabia
como realizaria esta empreitada. Tinha, porém, uma certeza: viajaria pelos
estados para difundir a Campanha. Distribuindo entre estados e municípios as
despesas advindas de suas viagens, o mais difícil era encontrar nos Estados a
pessoa certa para responsabilizar-se pelo programa de trabalho.
O primeiro estado visitado foi o Pará, em 12 de setembro de 1948. A
imprensa local, A Província e A Folha do Norte, importantes jornais de Belém bem
como autoridades políticas, educacionais e religiosas (Governador, Arcebispo
Metropolitano e Prefeito da Capital) deram destaque aos seus propósitos. Dentre
eles importante apoio foi dado por Edson Franco que mais tarde seria um
educador de destaque no cenário educacional brasileiro. Edson Franco, homem
público com expressiva atuação na educação, foi presidente por duas vezes da
ABMES Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior, ocupando,
o cargo de Reitor da Universidade da Amazônia – UNAMA.
O segundo estado visitado foi o Amazonas onde os encontros
aconteceram também com líderes religiosos, políticos, estudantis e diversas
71
autoridades, tais como o Governador do estado, o Prefeito de Manaus, Diretores
da Faculdade de Direito e do Colégio Estadual. Nos dias 20 e 23 de setembro de
1948, data da visita, os jornais A Tarde, O Jornal, deram notícias da Campanha.
Apesar de noticiado, o encontro não trouxe resultados.
No Maranhão, o “acaso”, enquanto engraxava os sapatos, sentado ao seu
lado, um estudante. Perguntado sobre sua vida estudantil, falou que seus colegas
eram “parados”. Perguntado se poderia assumir a responsabilidade de um
trabalho como o da Campanha, o estudante, de imediato indicou a pessoa ideal
para um trabalho destes. Na palavra do jovem estudante, “Ah, somente uma
pessoa poderia arcar com essa responsabilidade; trata-se de uma professora que
criou, à noite, um curso de alfabetização de adultos, no Colégio do Estado” .Foi
assim que Felipe encontrou a pessoa certa para coordenar a Campanha naquele
estado: a Diretora da Biblioteca do Estado, professora de alfabetização de
adultos, Ariceya Moreira Lima, dedicada à educação popular gratuita. Ali a
Campanha conseguiu a sua vitória. Em reunião realizada na Faculdade de
Direito de o Luís, o grupo liderado pela Professora Ariceya Moreira Lima que
lutava pela criação do curso ginasial noturno mantido pelo estado, no Colégio
Estadual, ganhou para a outra parte da assistência, que queria a fundação de
educandário da Campanha. O Movimento valeu a pena, pois o importante é dar
escolas gratuitas, mesmo que não seja através da Campanha. Os acontecimentos
no estado resultaram na criação imediata do curso ginasial noturno, contando
com a efetiva participação do então Governador Sebastião Archer da Silva. O
Diário de São Luís, dos dias 28 e 29 de setembro de 1948, e O Imparcial, também
em 29 de setembro divulgaram amplamente os feitos.
72
A visita ao Ceará contou com o apoio do governador, Faustino de
Albuquerque Souza, de autoridades, estudantes e jornais locais, que receberam e
apoiaram a Campanha de Educandários Gratuitos. O Correio do Ceará e O Povo,
de de outubro de 1948, divulgaram em manchetes a posição da Campanha
sobre o ensino gratuito. Apesar de todos estes aspectos positivos, nada ficou
definido. Em 1951, Felipe Tiago Gomes volta ao Ceará, com o objetivo de instalar
a Campanha neste estado. Uma comissão é criada, sendo considerados seus
componentes como pessoas com competência e as atribuições necessárias para
a realização da tarefa. O apoio dos meios de comunicação é intenso. Mesmo
assim o projeto não obteve os resultados esperados. Mais tarde, a Campanha
cresceu e se consolidou graças à liderança do Comendador Luís Cavalcanti
Sucupira e ao trabalho do Professor Lúcio Ferreira de Melo.
No Rio Grande do Norte a receptividade de governador José Varela e de
outras autoridades foram decisivas ao movimento. Em 2 de outubro de 1948 A
República, jornal local, divulgou amplamente notícias referentes ao evento e ao
programa de trabalho. Não houve, porém resultados ou decisões imediatas.
O último estado visitado nesta turnê foi a Paraíba, em 7 de outubro de
1948. Felipe Tiago Gomes foi recebido pelo então governador Oswaldo Trigueiro.
A imprensa local, através de A Imprensa e O Estado da Paraíba, registraram
amplamente as notícias da Campanha.
Estas visitas geralmente não traziam resultados imediatos de criação de
escolas, mas a partir delas, grupos de pessoas passavam a se envolver com os
ideais da Campanha, procurando na comunidade cidadãos que se interesassem
e, posteriormente, fizessem parte do grupo que criava as escolas.
73
Após estas visitas aos estados do Norte, o propósito agora era visitar os
estados do sul, com o objetivo de continuar divulgando a Campanha, seus
propósitos e ideais.
Esta segunda etapa iniciou por Alagoas. O primeiro contato casual, no
aeroporto, colocou Felipe Tiago Gomes em contato com o Padre Teófanes
Augusto de Araújo Barros, diretor de um colégio particular, o Colégio Guido de
Fontgalland, religioso interessado pela sorte dos jovens que não podiam pagar
pelos seus estudos. O sacerdote deu amplo apoio à Campanha, levando-o a
conhecer o professor Aurélio Viana. Surgiu assim o núcleo inicial de Alagoas. Em
companhia do Dr. Florêncio Teixeira, Tiago Felipe Gomes visitou os jornais de
Maceió que se ocuparam amplamente das propostas da Campanha, divulgando
seus ideais com destaque nos dias 17 e 20 de outubro de 1948.
No dia 20 de outubro de 1948, Felipe Tiago Gomes se encontrava em
Sergipe. Apesar de encontro com o governador em exercício, Moacyr Sobral
Barroso, não houve, de imediato, resultados práticos para o movimento.
Na Bahia a imprensa local referiu-se amplamente e com simpatia à
Campanha, mormente O Estado da Bahia e A Tarde, no período de 22 a 27 de
outubro de 1948. Foram fundamentais o apoio do professor Anísio Teixeira, então
Secretário de Educação e do governador Otávio Mangabeira.
Em Vitória, no Espírito Santo, em visita em novembro de 1948, os
acontecimentos tiveram como ponto de partida uma conferência proferida por um
estudante da Faculdade de Direito à qual Felipe Tiago Gomes foi assistir. Ao sair
com o conferencista, expôs-lhe os propósitos da Campanha obtendo ampla
74
receptividade. Segundo o jovem conferencista, eram realizações deste tipo que
faltavam à juventude da época. Este conferencista, Christiano Dias Lopes Filho,
tornou-se mais tarde um dos maiores cenegistas, responsável pelo primeiro
projeto de lei que beneficiou a entidade e autor de ante-projeto que favoreceu a
Campanha com verbas por série. Foi marcante a participação do então
governador Carlos Lindemberg, do Secretário de Educação, o Sr. José Celso
Cláudio, bem como da imprensa e da Academia Capixaba de Novos. Todos estes
aspectos positivos deram a Felipe Tiago Gomes a certeza de que poderia contar
com a colaboração das autoridades, que garantiram seu apoio, bem como do
povo capixaba.
Na Capital da República o Rio de Janeiro no final do ano de 1948
ocorreu o encontro com o Ministro de Educação do Governo Dutra, Clemente
Mariani, que se manifestou favorável à Campanha. Ainda na Capital, o Professor
Lourenço Filho, Diretor do Departamento Nacional de Educação DNE
manifestou claramente seu interesse pela Campanha; foi deste encontro que
surgiu a sugestão de se elaborar o estatuto da entidade em âmbito nacional. Esta
sugestão foi de grande valia para a organização da Campanha.
No Rio de Janeiro o contato foi através do estudante Luís Carlos da
Fonseca, Presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito, com quem
foram traçados os planos de expansão do movimento no estado. Ismael Coutinho,
Secretário de Educação do Estado, recebeu o idealizador da Campanha Felipe
Tiago Gomes, dando-lhe amplo apoio e prometendo ajuda no que fosse possível.
No momento, porém, nada foi efetivado.
75
São Paulo foi visitada em 17 de novembro de 1948. Não houve interesse
pelo assunto por parte das autoridades. Nesta cidade encerrou-se esta etapa do
programa de expansão.
Por recomendação do Professor Lourenço Filho, com vistas a dar
amplitude nacional ao movimento, no dia 17 de dezembro de 1948, instalou-se na
Rua Barão de São Borja, 237, sede provisória do Ginásio Castro Alves, o I
Congresso Nacional da Campanha dos Educandários Gratuitos. Foi votado o
primeiro Estatuto da CNEG e conferido âmbito nacional à organização, com sede
no Recife. A partir deste evento a entidade passou a se chamar Campanha
Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG).
O primeiro estatuto da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos,
aprovado no I Congresso Ordinário em Recife e devidamente registrado em
cartório, apresenta em seu Artigo 4º os fins da entidade, conforme publicado por
AZEVEDO (1983: 125-127):
a) Colaborar com o Ministério da Educação e órgãos competentes
estaduais e receber dos mesmos a necessária orientação;
b) Difundir o ensino e fornecer material didático gratuitamente às
classes menos favorecidas;
c) Fundar educandários gratuitos em todo o território nacional;
d) Assegurar assistência social aos educandos;
e) Promover pesquisas de interesses educacionais;
f) Fundar bibliotecas e órgãos de caráter científico educacionais;
g) Interceder junto a qualquer órgão do poder público no sentido de
obter financiamento, verbas para a manutenção da Campanha.
O programa da expansão da CNEG continua em 1949. Seguiu-se a
instalação de vários Ginásios pelo Brasil afora.
76
No Ginásio de João Pessoa, na Paraíba, as primeiras provas ao exame de
admissão foram feitas em 25 de fevereiro de 1949 no Ginásio Castro Pinto. A
instalação efetiva do educandário ocorreu em 11 de março de 1949.
Em Curitiba, no estado do Paraná, no dia 04 de abril de 1949 foi instalado
o “Ginásio Professor João Cândido”, nas dependências do Colégio Santa Maria
que cedeu suas instalações para o funcionamento do Ginásio da Campanha. A
solenidade contou com a presença de representante do Governador do Estado,
da presença do magnífico Reitor da Universidade do Paraná, do Arcebispo
Metropolitano, do Prefeito de Curitiba, deputados, desembargadores, diretores de
colégios, universitários. Neste ato de instalação do Ginásio foi feito um louvor
especial à obra dos universitários do Paraná.
Em Coari, no Amazonas, os exames de admissão ocorreram de 12 de
abril de 1949, tendo a sua frente Dulcinéia Rodrigues de Salva, diretora do novo
educandário amazonense. Com a criação do Ginásio de Coari e contando com a
efetiva colaboração do Instituto Popular de Coari estava sendo aberta uma nova
fase para a cultura no Estado do Amazonas, pois este era o primeiro Ginásio a
funcionar fora de Manaus. Era a CNEG em plena selva amazônica.
O projeto de expansão da Campanha, criando novos Ginásios nos mais
variados pontos do Brasil, seguia a passos largos a sua programação. A imensa
necessidade de instituições escolares que atendessem aos jovens destituídos de
poder aquisitivo para avançar em seus estudos mostrava-se de forma cada vez
mais clara e imperiosa. Felipe Tiago Gomes seguia em seu propósito, contando
com o apoio das mais diversas pessoas, de autoridade locais, tanto políticas,
quanto religiosas e educacionais e, contando, sobretudo, com o apoio de pessoas
77
que acreditavam na educação e no direito que todos têm a esta mesma
educação.
Residindo agora no Rio de Janeiro, retoma seu ideal em relação à capital
da república. Funda-se a CNEG daquele estado. O Correio da Manhã do Estado
publicava uma nota, em 29 de fevereiro de 1949, informa:
Em Niterói, no Bairro Operário do Barreto, em prédio cedido pelo
Governo do Estado, acha-se em organização o Ginásio Felisberto de
Carvalho, estando inscritos quase cem alunos, todos pertencentes às
classes operária e comerciária. No próximo mês será lançada, em todos
os Estados, pela mocidade, com o apoio dos elementos da boa vontade,
a Campanha com a instalação de cinqüenta ginásios gratuitos para as
classes pobres do Brasil, até 1950. (GOMES, 1989: 62-63).
E foi neste ano de 1949, em Niterói, que ocorreu a situação considerada
mais difícil para a CNEG e seu idealizador. O governo fluminense sempre
recebeu os idealizadores da Campanha, dando-lhes pleno apoio. Em 23 de
fevereiro de 1949, Felipe Tiago Gomes acompanhado de Silmário Guimarães,
Presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Filosofia de Niterói, em
companhia do Professor Ismael Coutinho, Secretário de Educação e Cultura
visitaram o Grupo Escolar Conselheiro Macedo Soares, no Bairro proletário do
Barreto. No dia 15 de março eram entregues ao Ministério da Educação os
documentos pedindo a inspeção para o Ginásio Felisberto de Carvalho quando a
inscrição para os exames de admissão contava com mais de cem inscritos. Na
capital fluminense, os diretórios acadêmicos de Direito e de Filosofia e a União
Fluminense de Estudantes contribuíram de maneira eficiente para a vitória da
CNEG.
78
Visitas diárias ao Grupo Escolar Conselheiro Macedo Soares constatavam
o aumento de candidatos ao exame de admissão e os problemas encontrados
pela demora de se realizar a inspeção do prédio para a efetivação dos mesmos.
Felipe Tiago Gomes, sabedor de que no dia 1º de maio o Presidente Eurico
Gaspar Dutra inauguraria em São Gonçalo, uma rie de melhoramentos, decidiu
convidar o Presidente da República para “inaugurar” o Ginásio Felisberto de
Carvalho. Seria esta uma estratégia para conseguir com que o Ministério
autorizasse a realização dos exames de admissão mesmo antes do relatório de
inspeção. Em encontro com o governador do Estado do Rio de Janeiro, Edmundo
Macedo Soares, constatou-lhe como negada a possibilidade de o Presidente da
república inaugurar o referido educandário. Apegado a esta deixa, Felipe Tiago
Gomes dirigiu-se ao Ministro da Educação, Clemente Mariani:
“Ministro Mariani disse-lhe o Presidente da República, no
próximo dia 1º de maio, vai inaugurar o Ginásio Felisberto de Carvalho.
Precisamos da autorização para fazer os exames de admissão. Sem
essa providência, o General Dutra não poderá inaugurar o
estabelecimento”. Daí repetia a conversa de que mais de centena de
operários iriam homenagear o Presidente etc..., etc. O Ministro,
simpático ao nosso movimento, não teve como fugir ao cerco: autorizou.
(GOMES, 1989, p. 54)
Este episódio teve um final feliz, pois, apesar de Dutra não inaugurar o
Ginásio Felisberto de Carvalho, chegou um telegrama designado um inspetor
para, em caráter de urgência proceder à verificação do estabelecimento para fins
de reconhecimento em regime preliminar, para fins de realização dos exames de
admissão. Outros entraves referentes ao espaço físico defasado para a efetivação
dos exames de admissão na capital fluminense contaram com o apoio do
79
Professor Tobias Tostes Machado, da Diretoria do Ensino Primário do Estado e
do Professor Haroldo Lisboa da Cunha, Diretor do Ensino Secundário.
Os exames de admissão do Ginásio Felisberto de Carvalho foram
realizados no Grupo Escolar Raul Vidal, por uma questão de emergência, devido
ao precário estado do Grupo Escolar Conselheiro Macedo. A realização dos
exames, porém, foi uma tragicomédia, nas palavras do próprio Felipe Tiago
Gomes (COMES, 1989:67). Não havia papel para a realização dos exames. O
mesmo foi conseguido através de doação do professor Lealdino Alcântara, do
Colégio Brasil.
O Ginásio estava autorizado a funcionar, o que era o mais importante.
Assim, no dia 6 de junho de 1949 era proferida a aula inaugural do Ginásio
Felisberto de Carvalho. Aproximadamente dois meses após a realização dos
exames de admissão, o Ginásio mudou definitivamente para o Grupo Escolar
Benjamim Constant, graças à boa vontade do Dr. Tobias Tostes Machado, diretor
do Departamento de Educação da Secretaria de Educação e ao Dr. João Borges
de Moraes, Inspetor do MEC, mais tarde Diretor do Centro Educacional Capitão
Lemos Cunha, na Ilha do Governador, unidade escolar modelo da Campanha.
O crescimento da CNEG no Rio de Janeiro deveu-se, em grande parte, ao
apoio da imprensa local, divulgando os ideais da Campanha, bem como suas
realizações. Em Niterói era editado o jornal O Estado, ligado à imprensa de A
Noite do Rio. Foi nesta redação de Felipe Tiago Gomes conheceu um jovem
chamado Castro Alves. “Liguei-me a ele, possivelmente pela simpatia da sua
pessoa e pelo nome que me era tão caro” (GOMES, 1989, p. 68). O nome
remontava-o ao primeiro Ginásio da Campanha, o Ginásio Castro Alves de
80
Recife, bem como a inteligência e o idealismo do jovem, foram responsáveis por
uma estreita ligação entre os dois. E assim, aquele Castro Alves foi um excelente
colaborador da CNEG. Jornais como O Correio da Manhã, O Globo serviam-se do
alcance destes veículos de comunicação para divulgar a Campanha,
apresentando discursos ou entrevistas e pronunciamentos de diferentes
autoridades tais como do Cardeal D. Jaime Câmara, de membros da Comissão
da Educação da Câmara dos Deputados, do Senador José Américo, do Sociólogo
Gilberto Freyre, do Deputado Aureliano Leito (SP), do Governador do Rio, Carlos
Lindemberg, do Ministro da Educação, Clemente Mariani, do Ministro da Guerra,
General Canrobert Pereira da Costa, que assim se expressou: “Quemluzes ao
espírito e à inteligência merece todo o apoio” (GOMES, 1989: 69).
Da mesma forma, outros veículos de comunicação tais como O Jornal
(Órgão líder dos Diários Associados), na voz de jornalistas como Assis
Chateaubriand, Austragésilo de Athayde, contribuíram muito para aumentar o
entusiasmo pela causa. Através de Austragésilo de Athayde, (Diários Associados)
Felipe Tiago Gomes, conseguiu autorização para realizar diversas entrevistas
com as mais variadas personalidades relacionadas aos ideais da Campanha. O
Jornal encarregava-se de publicá-las. Os principais focos das entrevistas de
Felipe Tiago Gomes foram a Câmara dos Deputados e o Senado Federal.
Divulgava os ideais da Campanha, seus projetos de implantação de novos
Ginásios e solicitava o apoio financeiro do Governo Federal para o funcionamento
dos Ginásios.
Com a movimentação realizada na Câmara dos Deputados e no Senado
Federal, através destas entrevistas, crônicas e editoriais, a imprensa despertou
81
para o problema e mais outros editais passaram a ser publicados. Merece
destaque uma parte de uma crônica de Rubem Braga:
Não conheço esse rapaz do Recife, chamado Felipe Tiago
Gomes, que meteu na cabeça a idéia de que é preciso democratizar o
ensino no Brasil.
[...]
Minha bela Cachoeiro do Itapemirim contará, o mês que vem
com o seu ginásio noturno ... a que a professora Zilma Coelho Pinto ...
deu um impulso tão grande.
...
Esses movimentos nos mostram que ainda há, neste País, muito
impulso generoso que não recua da espantosa mediocridade de tantos
setores de nossa vida blica. gente querendo tocar essa joça para
a frente. Gente que sonha e “mete os peitos”, e se chateia horrivelmente,
e chateia todo mundo e realiza. É gente pobre como esse Felipe e
aquela Zilma de Cachoeiro. Gente pobre, milionária de humanidade.
(BRAGA, in GOMES, 1989: 72-73).
Com a expansão da CNEG, nas demais regiões brasileiras e analisando
seu discurso educacional presente naquele momento, a partir daí seu idealizador,
o Professor Felipe Tiago Gomes buscou apresentar uma visão da presença dessa
entidade no cenário educacional mato-grossense, destacando sua contribuição na
ampliação do acesso ao ensino secundário. Na época, os atuais estados de Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul ainda formavam um Estado.
Dentro desse processo de expansão a Campanha chegou em Mato
Grosso em novembro de 1949, assim como nos diz Felipe Tiago Gomes:
(....) Viajei, confiante, a Mato Grosso, na FAB, com uma carta de
recomendação de Dona Ubaldina de Carvalho Muller ao Comandante
da Base Aérea de Campo Grande. Ao chegar. Procurei-o. Não estava na
cidade. Indaguei a um sargento: “Qual a autoridade maior, aqui, no
82
momento?”. “É aquele capitão vestido de oficial”. Dirigi-me ao indicado e
expus-lhe o objetivo da minha visita àquela cidade. Perguntou-me. O
senhor trouxe bastante dinheiro para fundar esse ginásio?” Não,
nenhum”, respondi-lhe secamente. “Então, o senhor nada arranjará
aqui”. Expliquei que ouvira falar numa professora que realizava um
interessante trabalho de educação a menores desamparados.” Deve ser
a Professora Oliva Enciso. Trabalha na Prefeitura. Se ela quiser ajudá-lo,
terá êxito na sua visita a Campo Grande”. E foi assim, dois dias após, no
Fórum, eram fundados com a presença de autoridades, em 12 de
novembro de 1949, a Campanha em Mato Grosso, sob a presidência
da Professora Oliva Enciso, e o Ginásio Barão do Rio Branco. Ficava
assim, mais uma vez provado que o idealismo consegue realizar o que,
para muita gente, só se faz com dinheiro. (GOMES, 1989, p. 76)
De Mato Grosso, entusiasmado com os resultados da missão, Felipe Tiago
Gomes dirigiu-se a Goiás. Os resultados iniciais, porém, não foram animadores.
O quadro mudou quando a filha do dono do hotel onde estava hospedado,
estudante de direito, se propôs a convocar uma reunião na Faculdade. Após esta,
outra reunião com o Instituto de Educação; as duas foram importantes para a
efetivação da Campanha no estado. Boatos de que a CNEG era um movimento
comunista, causaram transtornos. Porém a palavra do professor Venerando de
Freitas Borges “se cuidar da educação do povo é comunismo, eu também sou
comunista”, (GOMES, 1989, Escolas da Comunidade, p: 77) mudaram o conceito.
Este ano de 1949 marcou importante acontecimento para a Campanha:
concluía o curso ginasial a primeira turma do primeiro estabelecimento de ensino
da CNEG – Ginásio Castro Alves, do Recife. Escolhido para paraninfo o Professor
Meton de Alencar, fala aos alunos concluintes do Ginásio, destacando a
importância do trabalho e da dedicação sem tréguas para se atingir os ideais. Cita
Pasteur, Santos Dumont, Tomás Édson, Marconi, Rui Barbosa, Einstein e outros,
cujas conquistas foram frutos amadurecidos no trabalho intenso, no labor
permanente, árduo, duro, em horas de cansaço e de vigílias, de estudos, de
pesquisas e de renúncias. À exemplo destes, incentiva os jovens concluintes da
83
turma da CNEG do Colégio Castro Alves, a desempenharem o seu papel na
construção de um país melhor dizendo:
Habituai-vos a trabalhar, pois estamos cansados de inválidos
e sombras, de parasitas e incrédulos, que lançaram nossa pátria no
pleno reinado da nossa mediocridade.
Mãos à obra, vós que estais na plenitude da força, da idade, do
vigor físico e intelectual, do entusiasmo, da coragem e do patriotismo. A
mocidade é a seiva que renova a pátria, alicerça o porvir, desbrava
horizontes, perscruta o futuro e realiza algo de construtor, de duradouro,
de permanente. (GOMES, 1989: 66)
Nesta época, Felipe Tiago Gomes era funcionário do IPASE (Instituto de
Previdência a Assistência dos Servidores do Estado) como auxiliar de obras,
tendo, porém, pequena remuneração. Aborrecia-lhe ser Bacharel em Direito e
trabalhar como fiscal de obras. Ao receber o primeiro salário do IPASE, pediu
licença ao Presidente do Instituto para ausentar-se por uns dias, com vistas a
trabalhar na divulgação da Campanha. Foi neste período que viajou a Mato
Grosso e Goiás. Ao retornar, porém sua situação profissional não era nada boa,
correndo risco de demissão. Assim, para evitar maiores vexames, pediu
demissão.
Os resultados de suas visitas pelo Brasil, no decorrer de 1948 e primeiro
semestre de 1949, começavam a trazer resultados. No segundo semestre de
1949 foram criadas as Diretorias Municipais da CNEG em Maués (AM), Belém
(PA), Grajaú (MA), Sertânea (PE), Goiânia, Inhumas, Vianópolis e Paraúna (GO),
Campo Grande (MT), Santa Terezinha e São Mateus (ES), Princesa Isabel, Picuí,
Bananeiras e Monteiro (PB), São José da Laje, Pilar, Santana do Ipanema e
84
Arapiraca (AL). O movimento foi se alastrando e, como resultado destas viagens,
no ano seguinte foram criados sete ginásios, dos quais foram desligados o
Abraão Levi (PA) e o Olavo Bilac, de Sertânia (PE), por não seguirem os
princípios cenegistas.
O II Congresso Nacional da Campanha de Educandários Gratuitos
realizou-se em 3 de março de 1950. Não há registros de sua realização a não ser
uma nota nos jornais A Tribuna e o Diário do Povo, ambos de Niterói. Foi um
Congresso tumultuado que se realizou em vários lugares diferentes, ora por falta
de espaço, ora por se achar inconveniente que a reunião esteja acontecendo em
determinado lugar, ora porque o guarda quer fechar o estabelecimento. Mesmo
assim, além da discussão do estatuto da entidade, importantes assuntos foram
abordados.
Por ocasião da realização do II Congresso Nacional da Campanha, a
CNEG estava implantada em onze estados: Pernambuco, Amazonas, Paraíba,
Rio de Janeiro, Paraná, Pará, Maranhão, Alagoas, Espírito Santo, Mato Grosso e
Goiás. Eram vinte e sete estabelecimentos. A Campanha havia atingido grandes
dimensões, aumentando nas mesmas proporções os problemas e as
preocupações. Surge a necessidade de rever o estatuto. Este congresso nova
redação ao artigo dos fins (Capítulo II Das Finalidades). AZEVEDO (1983: 127-
129) mostra as alterações:
O Caput do Artigo passa a incluir as expressões: ‘... inspirado
nos sadios princípios cristãos de fraternidade humana’ e as seguintes
modificações:
85
1) permanece a intenção de ‘colaborar com o Ministério da Educação e
Saúde, Secretarias de Educação dos Estados e outras instituições
públicas’, acrescentando instituições particulares, com o objetivo de
solucionar os ‘problemas educacionais do país’. No entanto, a expressão
‘receber dos mesmos a necessária orientação’, do Estatuto anterior,
muda de fisionomia, com o acréscimo do Parágrafo 1º que a define:
Ԥ - No cumprimento de suas finalidade e em vista do que
dispõe a alínea a deste artigo, a C.N.E.G. aceitará, respeitada a sua
autonomia, sugestões e, em casos específicos, orientação necessária do
Ministério da Saúde, das Secretarias de Educação dos Estados, bem
assim de outros órgãos especializados do Poder Público Federal ou
Estadual’.
2) as alíneas b e c são alteradas e, embora permaneça a anteocupação
em oferecer ensino gratuito, surge a preocupação em se estabelecer
uma retribuição para os que, buscando suas instituições, tenham
condições sócio-econômicas mais favorecidas. Por outro lado determina
que os ‘educandários gratuitos’ a que se propunha fundar sejam de
ensino secundário.
Este II Congresso definiu outras mudanças em seu estatuto, tais como a
não gratuidade aos que puderem pagar, tanto em relação ao curso, quanto às
matrículas e à assistência didático-social. Houve também a preocupação com a
garantia da o discriminação religiosa, étnica, social, nem de caráter político-
partidário.
É importante registrar que, nos Congressos realizados anualmente, o
estatuto sofreu várias alterações, sempre com a preocupação de manter seus
ideais e de se adaptar à realidade brasileira em seus mais amplos aspectos.
Desta forma a CNEG segue sua trajetória de expansão, difundido seus ideais nas
mais diversas regiões do território nacional.
A CNEG do Rio Grande do Sul muito deve a uma mulher que não mediu
esforços para enfrentar as dificuldades que entravavam a criação da Campanha
no estado: Maria Nilda Ilha, nascida em Livramento, fronteira com o Uruguai.
86
Organizou turmas, compôs o quadro de docentes, encarou a burocracia dos
órgãos públicos, aque tudo estivesse plenamente resolvido. A data de 02 de
julho de 1950 marca o início da CNEG naquele estado, com a instalação do Curso
Preparatório ao Ginásio, funcionando junto ao Grupo Escolar Duque de Caxias
em Porto Alegre. O Primeiro Ginásio da CNEG-RS, Senador Salgado Filho, em
Porto Alegre, recebeu autorização para funcionar em 1952.
O crescimento da CNEG dependia de várias circunstâncias, inclusive do
apoio do MEC. Em 31 de janeiro de 1951, com a mudança de governo, o
professor Haroldo Lisboa da Cunha deixa aquele órgão ministerial, dificultando as
atividades da CNEG. Os Ginásios espalhados pelo país inteiro registraram
dificuldades as mais variadas, principalmente financeiras. Alguns não suportaram
os entraves e fecharam.
O ano de 1951 foi iniciado com esperanças redobradas. Era necessário
elaborar um plano de ação para o ano que se iniciava. No dia 20 de fevereiro
instalou-se oficialmente no Instituto de Educação, em Niterói, o III Congresso
Nacional. Sua organização e resultados superaram os Congressos anteriores.
Autoridades políticas e religiosas se fizeram presentes e os meios de
comunicação noticiaram amplamente os fatos.
Em várias cidades brasileiras, as realizações da CNEG eram amplamente
divulgadas e valorizadas pelo povo brasileiro. Apoio do poder público, presidente,
vice-presidente, ministros, governadores, marcaram as atividades deste ano. No
dia 16 de junho de 1951 era dada a aula inaugural da CNEG no Rio de Janeiro,
evento amplamente prestigiado e divulgado.
87
Na ânsia de levar os ideais da Campanha ao estado de Minas Gerais,
percorreu várias cidades mineiras: Ponte Nova, Juiz de Fora, Belo Horizonte,
Nova Era, Santos Dumont, Ouro Preto, Sete Lagoas, entre outras. Não
encontrava o que buscava. “Já estava cansado de andar pelas terras mineiras,
desconfiado de que os idealistas haviam morrido com a Inconfidência, quando os
operários de Juiz de Fora, liderados por Luís Negromonte, formaram o primeiro
grupo, no sentido cenegista da palavra” (GOMES, 1989, p. 94). Assim, em Santos
Dumont surgia o Ginásio Vigário Raimundo, pioneiro do movimento, mas
desligado do mesmo, dois anos depois, pois os donos do Ginásio particular
encamparam a idéia e deram ao estabelecimento orientação diferente da
proposta cenegista. Em 1951 um grupo de universitários mineiros tornou-se a
sustentação da nossa base de ideais cenegistas para Minas Gerais. Eles
trouxeram o apoio da imprensa, dos mestres, das autoridades, todos envolvidos
na implantação da Campanha. Alunos da Faculdade de Filosofia de Belo
Horizonte ficaram incumbidos de dirigir as duas instituições criadas: O Ginásio
“Monsenhor Artur de Oliveira foi dirigido por Wilson Chaves e o Ginásio “Leonel
Franca” foi dirigido pelo acadêmico Expedito Albuquerque. Em Uberaba o Prefeito
Dr. Antônio Prospero e sua esposa Dona Quita foram grandes incentivadores do
Ginásio “Dr. José Ferreira”. No estado mineiro é necessário destacar a
contribuição do Professor Jenner Procópio Alvarenga que desde o princípio e no
decorrer de todo o processo de desenvolvimento e implantação da CNEG mineira
foi sempre elemento presente e atuante em todos os acontecimentos e
realizações.
O ano de 1952 foi um ano em que poucos ginásios foram criados; poucos
estabelecimentos novos puderam funcionar, devido a seus processos terem sido
88
preparados em 1951. Foi, porém, um ano de expectativas. A nomeação do
professor Roberto Acioli para Diretor do Ensino Secundário foi de grande valia. A
CNEG passou a esparramar-se em terras fluminenses e surgiu o primeiro
educandário em terras gaúchas.
Em julho de 1952 realizava-se o IV Congresso, no auditório do IAPC
(Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários) na Rua México, no Rio
de Janeiro, sendo eleito Presidente da Diretoria da Campanha o Jornalista
Henrique de La Rocque Almeida, Presidente do Instituto dos Comerciários,
personalidade marcante na história da Campanha.
Foi neste ano de 1952 que ocorreu o registro do Estatuto da Campanha,
em cartório do Rio de Janeiro, no dia 19 de novembro. Consta neste registro a
relação dos seguintes nomes, como fundadores da Campanha: Felipe Tiago
Gomes, Joel Pontes, Carlos Luis de Andrade, Alcides Rodrigues de Sena, Hélio
Dantas, Severino Teixeira de Vasconcelos, José Rafael de Menezes, Edgar de
Andrade, Everardo Luna, José Sampaio Dias. “Estes nomes foram reconhecidos
como tais durante o IV Congresso, em 1952, e divulgados como fundadores
quando nos festejos do 10º aniversário” (no V Congresso) (AZEVEDO, 1983, p.
35).
Foi neste mesmo ano de 1952 que a entidade reformulou seus princípios,
estruturando-os em bases comunitárias, com o objetivo de remunerar seus
professores, ainda que de forma irrisória; cabia às comunidades a
responsabilidade de manutenção das escolas.
89
Em apenas dez anos a CNEG se encontrava disseminada em todos os
estados brasileiros, tendo 42 ginásios funcionando, 13 colégios, atendendo
20.311 alunos distribuídos em 498 turmas, atendidos por 1.094 professores.
Agora eram 54 as cidades atendidas pela CNEG. (CNEG. Estatística
1969/1970. Edição mimeografada).
Em agosto deste mesmo ano de 1952 a CNEG ganhava sua primeira sede
própria, no Serviço Social do IAPC (Instituto de Aposentadorias e Pensões dos
Comerciários), na Rua Alcindo Guanabara, nº 20, sala 705, Cinelândia: sala,
máquina de escrever, móveis de escritório... Depois de tantos anos, ocupando
espaços e equipamentos de favor, trabalhando de madrugada, usando máquinas
alheias, dependendo da compreensão e boa vontade de muitos, aquela era uma
grande vitória.
O ano de 1952 marcou o início das atividades da CNEG em Santa
Catarina. A União Estadual de Estudantes de Santa Catarina, presidida pelo
acadêmico de direito Neudy Primo Massolini liderou o lançamento da Campanha.
No dia 21 de dezembro de 1952, numa das salas do Colégio Estadual Dias Velho
foi eleita a primeira diretoria, sendo eleito Presidente o Almirante Carlos da
Silveira Carneiro. Merece destaque na implantação dos ideais da Campanha, o
exemplo dado pelos professores de Concórdia que, por 4 anos, lecionaram
gratuitamente, revertendo seu salário em prol da construção da sede própria do
Ginásio. Rapidamente a Campanha se difunde vitoriosa em várias regiões do
estado, contando com o apoio das autoridades e do povo catarinense.
O ano de 1953 foi um ano de grandes vitórias: a comemoração do 10º
aniversário da Campanha e a promulgação da Lei 1.911/53. Esta lei foi
90
promulgada no dia 23 de julho, dois dias antes do início do V Congresso,
publicada no Diário Oficial em 25 de julho. A referida lei concede subvenção anual
à Campanha Nacional de Educandários Gratuitos. O Projeto foi apresentado ao
Plenário da Câmara de Deputados pelo Deputado Medeiros Neto, do PSD de
Alagoas.
As comemorações do 10º aniversário de fundação da Campanha, realizada
em Minas Gerais, por ocasião do V Congresso, foram empolgantes. A caravana
partiu de trem do Rio, sendo recebida em Minas por chuva de panfletos que
conclamava o povo mineiro a ingressar na CNEG, a lutar pelo benefício da
instrução gratuita e a batalhar pelos ideais da Campanha, uma vez que o povo
mineiro traz em sua história a luta por ideais e combates em prol da
nacionalidade. Neste trabalho merece destaque a professora Clara Grimaldi,
extraordinária colaboradora cenegista da época.
Este foi um ano promissor também porque a sede da CNEG funcionava
normalmente, recebendo e enviando correspondências, atendendo e orientando
setores em funcionamento ou em organização. De julho de 1952 a julho de 1953
foram preparados os processos de 27 novos educandários. Era a prova de que a
Campanha havia encontrado o seu lugar no país e na educação brasileira.
A Campanha conquistava, cada dia, de maneira mais segura, a
confiança das autoridades educacionais, especialmente da direção e do
corpo de funcionários da Diretoria do Ensino Secundário do Ministério da
Educação. (GOMES, 1989: 106).
91
O Boletim da CNEG há muitos anos fora de atividade, voltou a circular,
dando vitalidade ao trabalho realizado e divulgando os empreendimentos e
realizações das entidades da CNEG. A diretoria promovia em diversos setores as
mudanças necessárias ao bom andamento das atividades cenegistas.
O VI Congresso, realizado em 1954, teve por sede a então capital federal,
o Rio de Janeiro. As reuniões foram efetuadas na Câmara Municipal. Importante
palestra sobre as Diretrizes da Escola Secundária Brasileira foi proferida pelo
Professor Armando Hildebrand, já colaborador da CNEG, e agora Diretor do
Ensino Secundário do Ministério de Educação.
Foi amplamente discutido o Relatório da Diretoria, inclusive o emprego do
auxílio federal de Cr$ 500.000,00 (Quinhentos mil cruzeiros). Foi reeleito o
jornalista La Rocque para presidente da entidade. Os serviços contábeis foram
melhorados, com a eleição de Jayme Souto para Tesoureiro.
Outro aspecto importante deste VI Congresso foi a aprovação de aquisição
de sede própria para a entidade, com desconto a ser feito na verba federal de
10%. A influência, os esforços e o prestígio do presidente La Rocque possibilitou
à entidade a aquisição de sede própria. La Rocque comprou fiado o casarão da
Rua Silvio Romero, 25, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Foram meses de
visitas a dezenas de edifícios e, no dia 9 de março de 1955 foi assinada a
promessa de cessão do prédio. A transação foi efetuada por dois milhões de
cruzeiros, à prestação, devendo a firma Sociedade Anônima de Comércio e
Intermediação receber toda a importância até agosto de 1957. Foi uma excelente
aquisição. A reforma do prédio foi possível graças ao auxílio de dois milhões
92
de cruzeiros que o Deputado Aurélio Viana conseguiu no Orçamento da União e
à contribuição de várias firmas particulares.
De 9 de março de 1955 a 15 de novembro de 1957, foram dois anos de
muitos trabalhos e preocupações para que a Campanha tivesse sede própria.
Saía-se de uma sala pequena, cedida pelo Dr. La Rocque, Presidente do IAPC,
para uma casa ampla, moderna e bem equipada. Os bons acontecimentos
levavam a crer que a CNEG caminhava no rumo certo e firme em seus propósitos
de que seu programa era capaz de resolver o problema do ensino médio no país.
Figura 5 Sede própria da CNEC, na Rua Silvio
Romero, 25, Santa Teresa, no Rio de Janeiro,
inaugurada em 15 de novembro de 1957,
constituindo-se na maior vitória da CNEC na década
de 50.
Desta forma, com a presença de autoridades do governo federal, estadual,
religiosos, políticos, civis, professores e alunos cenegistas, a inauguração da sede
93
em 15 de novembro de 1957 foi uma vitória sem precedentes. Posteriormente o
espaço foi ampliado pela aquisição do prédio vizinho, de nº 27.
O VII Congresso cenegista foi realizado em julho de 1955, no auditório da
Câmara Municipal no Rio de Janeiro e foi encerrado no prédio do IAPC, no bairro
Olaria. O professor Armando Hildebrand fez importante pronunciamento sobre o
ensino secundário do país. Um dos aspectos relevantes daquele congresso foram
as discussões em relação à assistência técnico-pedagógica aos educandários.
Assim, neste evento foi eleito o Professor Carlos Affonso dos Santos como Diretor
de Orientação Pedagógica do órgão central. Constatou-se que vários entraves
precisavam ser analisados para que o rendimento dos educandos fosse aquele
que se desejava. Dentre estes entraves constam o funcionamento em prédios não
próprios, o ensino noturno, os poucos recursos pedagógicos, o desajuste,
especialmente econômico, do corpo docente, entre outros. Funcionando em
prédios próprios, com mais recursos, pessoal especializado, era de se esperar
que o acompanhamento pedagógico trouxesse bons resultados.
O VIII Congresso da CNEG realizou-se no período de 8 a 14 de julho de
1956, tendo sua instalação realizada no Clube Central, na Praia de Icaraí em
Niterói. Foi um dos Congressos mais ativos, com reuniões se sucedendo pela
manhã e à tarde no Estádio Caio Martins e à noite, com a parte artística, na
Associação Médica. Foi dado destaque pelo Presidente do IAPI, Deputado Jo
Raimundo da Silva, à assistência educacional que era ministrada aos filhos de
contribuintes do citado órgão. Neste Congresso foi eleita a Senhora Sarah
Kubitschek, primeira dama do país, como presidente da Campanha.
94
Inicia-se, a partir daí, uma nova fase para a Campanha. Até o ano de 1955
somente haviam sido criados Ginásios do tipo acadêmico. Porém as mudanças
operadas na sociedade e as características da clientela mostravam a necessidade
de se tomar um outro rumo, através da criação de cursos técnicos que, além da
melhoria cultural oferecida aos jovens, os preparassem para o ingresso no
mercado de trabalho local, preparando-os, portanto técnica e culturalmente.
Alagoas, através do Presidente da CNEG local, foi o estado pioneiro na
implantação, iniciando esta fase de criação ainda em 1956, com quatro escolas
de comércio no estado. Era o início de novos tempos cenegistas.
O IX Congresso teve sua abertura efetivada no dia 22 de julho de 1957, no
auditório do MEC, sendo a sessão inaugural precedida pelo escritor Ciro dos
Anjos, representante de Dona Sarah Kubitschek, Presidente Nacional da
entidade. As reuniões plenárias realizaram-se no auditório do SENAC, na rua
Santa Luzia, nº 735, Rio de Janeiro. Era mais um momento destinado aos
debates dos problemas e organização de planos de ação. Neste congresso foi
votada a Carta de Princípios e reeleita Sarah Kubitschek como Presidente da
Campanha. A reforma estatutária criou o Conselho Administrativo que mais tarde
daria origem à criação do Conselho Nacional da CNEG.
A Campanha tinha, tempo, uma grande preocupação: tirar os cursos
oferecidos pela CNEG, dos grupos escolares onde a maioria funcionava. No ano
de 1957 vários estados já estavam tomando providências, construindo sedes
próprias para alguns de seus cursos. Outros, seis no total, funcionavam em
sede própria e dois em prédios alugados. Sarah Kubitschek, como Presidente
95
Nacional da CNEG, deu franco impulso ao programa de construção e ampliação à
rede escolar cenegista.
O X CONGRESSO marcava também o 15º aniversário da CNEG.
Para comemoração do 15º aniversário escolheu-se a cidade do
Recife - berço da Campanha para uma concentração com o objetivo
principal de analisar os problemas relativos ao ensino e reexaminar a
organização e funcionamento da CNEG em função desse desiderato.
(GOMES, 1989: 116).
Amplos debates, eleição de nova diretoria, agora sob a Presidência do
Deputado Guilhermino de Oliveira, importantes decisões relacionadas ao futuro
da Campanha, marcaram este Congresso. O relatório apresentado aos
congressistas mostrava que naquele ano (1958), 74 novos educandários iniciaram
suas atividades, o que corresponde a um número maior do que o total de
educandários criados no primeiro decênio da entidade.
O XI CONGRESSO foi realizado em Porto Alegre em julho de 1959. Foi
reeleito para Presidente da Campanha o Deputado Guilhermino de Oliveira.
Foram aprovadas teses importantes para o aperfeiçoamento dos serviços da
CNEG, tais como: A Comunidade e a Escola, Gratuidade do Ensino Médio,
Orientação Educacional e Finanças e Tomada de Contas. Neste 16º aniversário
da entidade, segundo VERMELHO (1984, p. 57-58) estavam funcionando 257
educandários gratuitos espalhados por 200 municípios; em 110 destes municípios
havia somente escolas cenegistas.
96
A realização em Goiânia em 1960 do XII CONGRESSO, um dos mais
proveitosos do movimento, possibilitou a visita a Brasília para contatos com
autoridades e para conhecer o terreno onde seria construída a futura sede da
Campanha, terreno este conseguido por Dona Sarah Kubitschek, quando
ocupava a presidência da entidade. Neste congresso foi eleito o professor Felipe
Tiago Gomes para a direção da entidade.
No ano seguinte Fortaleza sediava o XIII CONGRESSO Cenegista. Foram
aprovadas profundas modificações nos estatutos, com a criação da Organização
Nacional.
O grande desenvolvimento apresentado pela Campanha exige algumas
mudanças.
Torna-se necessária a organização de um quadro de servidores
que dessem contínua assistência aos setores e educandários, para que
fossem evitadas aos novos, falhas constatadas na entidade, e
sanadas as existentes. (GOMES, 1989: 118)
Neste sentido desempenhou papel importante o XIII CONGRESSO que
determinou nova orientação aos trabalhos. Nas palavras de GOMES, “Entramos,
assim, numa nova fase em que administradores, peças novas na composição
cenegista, começaram a propor diretrizes seguras aos nossos companheiros”.
Surgiam assim as administrações estaduais.
Foi nesta época que outro importante acontecimento veio marcar a história
da CNEG: o surgimento de uma Escola Superior no Rio Grande do Sul, em Santo
97
Ângelo, capital das Missões, 20 anos depois da criação da Campanha do
Ginasiano Pobre. No dia 3 de março de 1963 foi inaugurada a Faculdade de
Direito de Santo Ângelo, contando com a importante presença do Presidente do
Conselho Nacional Deputado Paulo Sarasate e de várias autoridades nacionais e
locais. Aquele momento teve um significado ímpar. Durante as solenidades que
marcaram o evento, Felipe Tiago Gomes diz que
... fiquei, algumas vezes, absorto, voltado para o passado e, como
num sonho, via-me magro, de roupas surradas, subnutrido, lutando
heroicamente para entrar na Faculdade de Direito do Recife. E, por
várias vezes, despertei com a voz do orador que ganhava entonação
mais forte ou com o interromper de um dobrado de música, ou, ainda,
com o estouro de uma bomba, e sentia a agradável sensação de que o
civismo que nos impulsionou naqueles idos distantes de 1943, dando
a primeira arrancada séria de democratização do ensino, oferecia,
naqueles momentos, o seu fruto mais precioso. (GOMES, 1989, p. 119).
Figura 6 Logomarca da CNEC feita por Francisca,
irmã do Professor Felipe. Foi utilizada pela CNEC a
2002.
Esse processo inicial de desenvolvimento vai se encerrar em 1969 quando
o XIX Congresso da entidade, realizado em Niterói, muda novamente, por razões
98
políticas e pedagógicas, a denominação da Campanha, que passa a chamar-se
Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC.
2.3 O APOIO FINANCEIRO DO ESTADO ÀS CAMPANHAS DE FELIPE TIAGO
GOMES
No decorrer de todos estes anos, desde a sua fundação, a então
Campanha do Ginasiano Pobre vinha lutando pelo apoio financeiro do Governo
Federal para o seu projeto de expansão do ensino gratuito. Diz Gomes citando
uma crônica de Rubem Braga :
É evidente que cabe ao Estado, incapaz de realizar por si próprio
a obra enorme de educação que se faz necessária, ajudar
concretamente, com as reservas e precauções indispensáveis, mas de
maneira positiva, os movimentos desse tipo.
Esses movimentos mostram que ainda há, neste país, muito
impulso generoso que não recua da espantosa mediocridade de tantos
setores de nossa vida pública (BRAGA, in GOMES, 1989: 73).
Essa busca por apoio financeiro do Estado marcou o afastamento de Joel
Pontes, um dos fundadores, que assim se refere ao fato:
Até que um dia não foi possível mais ignorar o Governo. Pouco
faltou para que nos matássemos na escolha dos termos de cartas e
ofícios. A mim tudo me parecia bajulação.
[...]
Poucos meses depois, quem largava a Campanha era eu e
vou contar como isso se passou. Antes, porém é justo que diga a minha
discordância quanto à aproximação pouco antes iniciada com o Governo,
e cada vez mais estreita, contrariando um dos princípios dos nossos dias
heróicos, precisamente o de não permitir a interferência de políticos.
Parecia-me que se não existiam as escolas gratuitas como o nosso
Ginásio era por culpa daquele mesmo Governo do qual estávamos
99
procurando depender. (...) Não percebia que uma obra do porte da
imaginada por Felipe Tiago Gomes tinha que se desenvolver
perigosamente, driblando os interesses escusos, e não podia desprezar
adjutórios capazes de se transformar em obstáculos caso não fossem
aceitos. Não soube valorizar a arte do equilibrismo, como ainda não sei,
tendo ao lado o mestre consumado que soube levar a Campanha de
conquista em conquista, através de Governos tão antagônicos como o
foram estes últimos no Brasil, do Estado Novo até 31 de março de 1964.
(PONTES, 1984, p.79-0)
Foi da autoria do Deputado Federal pela Paraíba, Plínio Lemos, um projeto
que auxiliava a Campanha. A lei 1.490-B de 1951, resultante desse projeto
apresentado no ano de 1949, o qual concedia à Campanha a quantia de C$
520.000,00 (quinhentos e vinte mil cruzeiros)” (SILVA, 2001, p. 107). Seus
esforços foram uma luta constante pela aprovação do Projeto, mas, depois de
dois anos de expectativas angustiantes, foi promulgada a Lei pelo Presidente do
Congresso Nacional. O Presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, omitira-se
no caso. Na época, o valor previsto era muito importante para a Campanha: Cr$
1.775.000,00 (um milhão, setecentos e setenta e cinco mil cruzeiros). A CNEG
ficou sem a verba, pois o Ministro da Fazenda, Horácio Lafer, negou-se a efetuar
o pagamento.
A CNEG recebeu sua primeira verba federal em fins do ano de 1950; era o
primeiro auxílio orçamentário do Governo Federal, no valor de Cr$ 200.000,00,
resultante da emenda do Senador Santos Neves, a pedido de Christiano Dias
Lopes Filho. Na Comissão de Orçamento da Câmara a emenda recebeu o
parecer favorável do Deputado Paulo Sarasate. Apesar de aprovada, a ajuda
financeira demorou a sair. Pedir, implorar ao MEC a liberação da verba fizeram
parte da longa trajetória deste processo. A verba precisava da devida autorização
do Presidente da República, o General Dutra. O General Newton Cavalcanti,
100
Chefe do Gabinete Militar da Presidência interessou-se pela solução do impasse.
Assim, em 10 de outubro de 1950, o Processo 24.794/50 recebia, finalmente, a
assinatura presidencial. Convém destacar que Christiano Dias Lopes foi o
estudante conferencista com quem Felipe Tiago Gomes pôde contar quando de
sua primeira visita ao Espírito Santo, em 1948, para a divulgação da Campanha,
oferecendo ao então jovem Felipe o incentivo a sua obra e tornando-se um
cenegista militante.
Foi através deste auxílio que se iniciou o apoio financeiro do Governo
Federal à CNEG.
Distribuir esta pequena verba entre 26 estabelecimentos de ensino, além
do órgão central da Campanha, não foi tarefa fácil. Felipe Tiago Gomes solicitou a
ajuda de Christiano Dias Lopes Filho, acadêmico presidente da Campanha no
Espírito Santo. Foram estudadas as necessidades e estabelecidas prioridades
para que a distribuição primasse pela justiça. Christiano Dias Lopes Filho sempre
foi alguém profundamente envolvido na Campanha, destacando-se em
organização, contribuindo decisivamente na liberação deste primeiro auxílio
federal e que socorreu a entidade nas fases mais difíceis, quando ela iniciava sua
caminhada nas terras do Sul.
Foi através da Lei 1.911/53 que a mesa diretora da Câmara dos
Deputados, em projeto encaminhado pelo Deputado Medeiros Neto, aprovou a
subvenção anual de verba à CNEG.
O terceiro Projeto de Lei, de 846/55 apresentado em 5 de dezembro de
1955 pelo deputado Antunes de Oliveira, aprovado pela Comissão de Educação e
101
Cultura, beneficiava os educandários da CNEG com Cr$ 30.000,00 por turma,
incluindo as escolas, normais, as escolas de comércio, as profissionais, agrícolas,
os cursos científicos e os técnicos em contabilidade, além de consignar 10% do
global para as despesas de manutenção da entidade. Porém o Deputado
Guilherme de Oliveira achou que, diante do novo salário mínimo, esta importância
era insuficiente para atender às necessidades dos estabelecimentos. Assim, com
aprovação da Comissão de Finanças o Deputado fez o referido projeto voltar à
Comissão para rever um “erro de ordem técnica”. Quando o projeto voltou ao
plenário uma agradável surpresa: elevava-se para setenta mil cruzeiros, por
turma, o quantitativo atribuído à CNEG. Além disso, o Deputado Guilhermino de
Oliveira apresentou emenda ao Orçamento da União, elevando o auxílio federal
de 1958 para trinta e três milhões de cruzeiros. A CNEG recebia um grande
impulso para o seu funcionamento e a realização de seus ideais.
O ano de 1956 foi um ano importante para a Campanha sob os aspectos
da valorização e reconhecimento das contribuições da CNEG à educação do país
e pelo apoio financeiro do governo Federal. Nomes de políticos e educadores
importantes marcaram publicamente seu apoio à Campanha, tais como o Ministro
da Educação Clóvis Salgado, seu chefe de Gabinete o Professor Celso Brant, o
Senador Parsifal Barroso, Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, todos
dando seu apoio à Campanha e garantindo (e cumprindo) ajuda financeira. O
Professor Armando Hildebrand, invicto apoiador dos ideais da Campanha,
destinou a quantia de sete milhões de cruzeiros a 16 unidades escolares
cenegistas para obras e equipamentos. Era o Governo Federal que começava a
sentir a seriedade dos trabalhos da CNEG. Naquele ano a Campanha operava
em 16,83% dos municípios brasileiros.
102
Porém, apesar das inúmeras conquistas, a CNEG enfrentou problemas e
dificuldades permanentes ao longo de sua trajetória. Um dos grandes problemas
enfrentados pelos educandários cenegistas no interior era a falta de docentes
titulados. Não havia acesso à formação de nível superior que preparasse mão de
obra qualificada para atuar nos Ginásios Cenegistas. Em 1952 surgiu uma
polêmica propostas legislativas que muita agitação causou no seio da classe
estudantil. Era o denominado Projeto 23. Por ele, nas comunidades do interior,
onde não houvesse professor registrado, quem possuísse curso superior poderia
lecionar cadeiras no curso médio, que fossem relacionadas a sua profissão.
Revoltados, os estudantes entraram em greve; primeiramente os de Filosofia,
seguidos pelos demais cursos, considerando um absurdo a situação, uma vez
que as Faculdades de Filosofia estavam aí a formar novos profissionais.
A CNEG posicionou-se favorável ao projeto, uma vez que sabia que os
professores de faculdades de Filosofia tão cedoo optariam por atuar em
escolas localizadas em pequenas cidades do interior e as crianças e os jovens
continuariam sem atendimento. O movimento empreendido pela CNEG em prol
do Projeto 23 foi decisivo para a aprovação do mesmo, pelo Senado da
República. Porém, o Presidente da República, Getúlio Vargas vetou o Projeto. Em
sua justificativa recomendava ao Ministério da Educação que estudasse uma
maneira de oferecer às populações do interior a formação do corpo docente dos
seus ginásios. Assim, preocupados com os mestres residentes nas localidades
interioranas, o Professor Felipe Tiago Gomes, com equipe especialmente
constituída para este fim, elaborou Projeto de Lei, apresentado à mara dos
Deputados pelo Deputado Medeiros Neto. Mais tarde, na Diretoria do Ensino
Secundário, o Professor Armando Hildebrand solicitou a colaboração do Professor
103
Felipe, no sentido de se empenhar pela aprovação do referido Projeto. Foi a
descoberta de mais um aliado à causa cenecista. Inteligente e lúcido, consciente
dos problemas que atravessava a educação brasileira, principalmente nos lugares
mais distantes, o Professor Hildebrand promoveu uma grande renovação no
ensino secundário.
A Campanha Nacional de Escolas da Comunidade foi duplamente pioneira.
Primeiro, ao criar um movimento nacional em benefício da expansão de
oportunidades de educação secundária Ginásio e Colégio, totalmente inédito no
nosso país e antecedeu em décadas a ação do Estado neste nível de ensino;
segundo, ao optar pelo atendimento ao estudante pobre, uma vez que, para as
classes favorecidas da população havia sempre a rede de instituições
particulares, quase todas de caráter confessional, criadas nas cadas de
cinqüenta e sessenta.
As transformações que ocorrem na educação brasileira vão também
provocar grandes mudanças na expansão, na oferta de alternativas de
escolarização. É necessário observar que as políticas de expansão da escola
pública estatal vão ter um grande dinamismo a partir dos anos 70. Os governos
militares realizaram uma dinâmica política de expansão das redes estatais por
todos os estados do país.
Além disso, segundo Motta,
Convém lembrar também que, a partir do Concílio Vaticano II,
em 1966, abre-se, com as transformações que ocorrerão na Igreja
Católica na América Latina, uma nova postura dos católicos em relação
à educação; as mudanças, que são profundas, verificadas a partir deste
Concílio, fazem com que diminua o interesse dos educadores católicos
104
pela formação das elites, dirigindo-se estes gradativamente para um
trabalho voltado para a educação popular. A conseqüência dessas
mudanças é que, pouco a pouco, a Igreja Católica começa a perder
espaço, em grande medida voluntariamente em razão de sua nova
política de opção pelos pobres, no ensino fundamental e médio dedicado
às elites.
Este espaço vazio, deixado pela Igreja Católica no ensino
fundamental e médio para as elites, logo será ocupado pelo
aparecimento de grupos privados de educadores laicos que ofereciam a
estas elites um ensino voltado para uma preparação mais adequada
para os desafios técnicos, científicos e gerenciais que os novos tempos
exigiam. Além do que esses grupos possuíam também uma marcada
identidade política e ideológica com o projeto pedagógico e político da
ditadura. (MOTTA, 1996, p. 72)
Estas mudanças, tanto do Estado quanto da Igreja Católica vão implicar em
um reposicionamento da CNEC. Sua rede de escolas constituídas até 1987 vai
sofrer um impacto muito forte tanto do ponto de vista do ideário pedagógico e
político quanto do ponto de vista de sua organização administrativa.
Os ideais cristãos católicos que estavam na origem do projeto liderado por
Felipe Tiago Gomes vão dar lugar a uma grande organização orientada por novos
valores encontrados nas instituições que irão compor nas duas últimas décadas
do século XX, o terceiro setor.
105
CAPÍTULO III
A CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE
“Um ginásio apenas era a nossa meta, mas a
idéia se espalhou pelos generosos corações
brasileiros e transformou-se na maior obra do
ensino comunitário das Américas, com unidade de
direção”.
Prof. Felipe Tiago Gomes
Foi no XIX CONGRESSO da entidade, realizado em Niterói, no Rio de
Janeiro, em 1969 que ocorreu a mudança de denominação. Acharam, então, os
dirigentes da Campanha, reunidos em Congresso, que havia chegado a hora de
atualizarem o nome da instituição, de acordo com a filosofia do movimento, para
Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, nome que mantém até hoje. A
expressão gratuito não mais correspondia à realidade do trabalho desenvolvido
que cabia às comunidades o provimento da parte mais significativa das
despesas. não se fazia mais possível, manter a gratuidade, pois os recursos
públicos ou eram muito escasso, ou nem existiam e era premente a necessidade
de garantir a remuneração do seu quadro de pessoal, em cada escola. Assim,
como Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC, propõe uma
doutrina de educação comunitária.
Foi dentro deste quadro que encontramos a Campanha com propósito de
continuar abrindo escolas em todo o país. Neste período a Campanha volta sua
atenção à criação de cursos profissionais.
106
Em 1971, mais de mil estabelecimentos de ensino funcionavam. Alguns
em sedes próprias, confortáveis e equipadas; e muitos outros em unidades da
Federação, graças ao apoio das comunidades amadurecidas para o problema da
construção e manutenção de sua própria escola.
Para o nosso País só há um remédio – a fundação de ginásios populares
em todo o território nacional. Se o ensino fosse mais barato, haveria
mais proveito. E mais proveitoso seria para o Brasil se houvesse lugar
para os rapazes pobres estudarem. Mas a idéia de ginásios gratuitos
está lançada. Apenas nos falta um pouco mais de apoio. Esse apoio que
não deveríamos procurar, que deveria, naturalmente, e é claro, vir ao
nosso encontro, como estímulo. Falta um pouco de compreensão e boa
vontade. (GOMES, 1989, p. 38).
A expansão da Campanha acontece em todo o país. Por toda a parte
Felipe espalha escolas da CNEC. Assim,
... o Brasil foi se pontilhando de um modelo de escola, de mobilização
comunitária de tal modo que, por toda parte professores, estudantes,
pais, associações e empresas se unem para fundar uma escola e nela
promover um processo, uma experiência de democratização do ensino,
uma escola nascida no meio do povo, feita pelo povo e para o povo,
portanto democrática, aberta a todos e por isso mesmo, antielitista.
(FERNANDES, in GOMES, 1986, p.11-12).
O movimento tem expansão nacional e mobiliza as forças sociais. Cria-se
assim um envolvimento entre as diferentes camadas da sociedade, abrindo
diálogo entre partidos políticos, entidades religiosas, grupos sociais, instituições,
engajados no projeto de expansão da CNEC.
107
A escola então nascida sob o signo da comunidade cria um
espaço entre o diálogo e a oportunidade de se expressar e de promover
a sua revelação social. É a comunidade posta diante de si mesma e
nesta reflexão recupera o seu direito e o seu poder de educar porque o
lugar da educação é o lugar da vida e esta mora na sociedade civil, não
na sociedade política institucionalizada, assentada no poder do Estado”.
(FERNANDES, in GOMES, 1986, p.12).
O movimento cenecista promove a educação de seus alunos, que na
CNEC encontram as condições que viabilizam e oferecem oportunidade a estes
alunos de desenvolverem e continuarem sua formação escolar. Realiza-se desta
forma um processo que do meu ponto de vista tem caráter democrático, com
acesso à educação por expressivos setores das comunidades.
Partindo dos ideais iniciais nascidos nas dependências de uma casa de
estudantes no Recife, continuando até nossos dias, a Campanha marcou e marca
a história da educação brasileira, sendo responsável por um dos maiores
movimentos educacionais de nossa história.
O pensamento educacional do FUNDADOR tinha naqueles
tempos da Rua da Aurora, toda força e a riqueza dos desdobramentos
dialéticos de um movimento sem precedentes na história da Educação
Nacional. ‘A vocação da Campanha é a luta’ diz Felipe, de modo
paladino e sua força é a verdade deste projeto não importado, mas
nascido da realidade ‘terceiro-mundista’ do Brasil.
[...]
Ocorre, porém, que o mundo oficial que habita os gabinetes da
administração pública está mais interessado nos modelos importados e
abstratos que inspiram as renovações pedagógicas, que se embalam na
rede oficial. Não têm interesse nem disposição para a luta das Escolas
da Comunidade. Por outro lado, as necessidades brasileiras de
educação estão a pedir soluções concretas que atendam às
necessidades e aspirações de nossas comunidades, pois é nelas que os
homens moram. Isto é muito simples para suas complicadas
inteligências. O mundo oficial insiste ainda em ignorar, de forma quase
sistemática, experiências brasileiras de educação, privilegiando modelos
importados. O fetichismo do colonizador ainda exerce poderoso fascínio.
(FERNANDES, in GOMES, 1986, p.13-14).
108
As propostas de Felipe Tiago Gomes encontram um campo fértil para sua
concretização na realidade brasileira, uma vez que a educação brasileira estava a
exigir soluções que atendessem às necessidades de formação escolar de suas
comunidades.
Assim, durante longos anos, 46 anos na época em que o Professor Felipe
escreveu a história da CNEC, que está publicada no livro “Escolas da
Comunidade” (GOMES, 6ª ed. 1989), a idéia da escola da comunidade ganhou
corpo em mais de um milhar de comunidades.
Encontram-se frutos sazonados ao alcance dos brasileiros,
resultado do trabalho profícuo de toda essa gente valorosa: médicos,
engenheiros, advogados, professores, homens de empresas, enfim,
pessoas do maior conceito batalhando em toda a parte e, o que é mais
importante, na própria administração da CNEC. (GOMES, 1989, p. 129)
A história de todos os Estados brasileiros, nas mais distantes localidades
mostra que a participação efetiva da comunidade, trabalhando, auxiliando com
donativos, tendo idéias criativas para garantir a construção e a sobrevivência das
escolas da Campanha, foi sempre o ponto alto das conquistas, das vitórias. Os
jovens em diferentes comunidades passaram a ter acesso a livros, cursos,
oficinas, tendo oportunidade de adquirir os conhecimentos imprescindíveis que os
preparem para a vida, a cidadania e o trabalho.
109
A sede de amor ao próximo, o interesse de ver o país,
aceleradamente, em busca do seu desenvolvimento, levam-nos a todos
nós a nos sentirmos recompensados ao verificar que a semente lançada
no solo pernambucano, nos idos de 1943, transformou-se ao longo
desses anos que se seguiram, na frondosa árvore que hoje (1979)
(informação nossa) acolhe mais de 430 mil alunos, parte integrante do
apreciável contingente de um milhão de brasileiros que mourejam em
torno do mesmo objetivo: o de servir à sua comunidade, ao seu próximo,
ao seu País, fazendo da educação uma bandeira e fator de integração
de todos os brasileiros. Pelas nossas casas de ensino já passaram
milhões de jovens. (GOMES, 1989, p. 129)
Foram sempre anos de muito trabalho, dedicação e doação de pessoas,
trabalhadores voluntários que dedicavam seu tempo livre em prol da proposta de
fundar escolas num maior número possível de municípios em todo o país.
A entidade encontrou muitos entraves. Verbas não recebidas ou cortes
injustificados das mesmas, o Golpe Militar de 1964, o AI-5 de 1968, críticas
referentes às atividades e ideais da CNEC, foram algumas das dificuldades
enfrentadas pelos idealizadores da Campanha.
A transferência da sede da CNEC, do Rio de Janeiro para Brasília,
constituiu-se num processo lento e complexo que durou desde a instalação da
nova capital até 1974 quando uma sede foi inaugurada. Era necessário
transferir a sede do Rio para Brasília devido à distância que se ficava do centro
das decisões nacionais, o que prejudicava o destino da instituição. Primeiramente,
por influência de dona Sarah Kubitschek, o Conselho de Administração da
NOVACAP cedeu um terreno para a construção da nova sede. Mas como as
obras não foram iniciadas a tempo, expirou o prazo e o terreno foi reincorporado à
NOVACAP. Dona Léa de Aquino Bandeira, esposa do então Comandante Militar
do Planalto, General Antônio Bandeira, após conhecer a história da CNEC, passa
a integrar a equipe do Distrito Federal, tendo sido fundamental sua intervenção no
110
processo de conseguir um novo terreno para a construção da sede da instituição
em Brasília, conforme nos fala o Professor Felipe: “Mais alguns meses de
negociação, obtivemos, com a ajuda de dona Léa Bandeira, o terreno onde se
acha edificada a sede, na Avenida L-2 Norte, Quadra 608, Módulo D” (GOMES,
1989, p. 123).
Figura 7 - Dona Alzira Sodré, Dona Léa Bandeira, Almirante Benjamin Sodré, Felipe Tiago
Gomes e Murílio Avelar Hingel, durante visita às obras da sede da CNEC, em Brasília-DF
em 1973.
A instalação da representação da CNEC em Brasília, no edifício Gilberto
Salomão aconteceu em 24 de junho de 1971, o que facilitou o contato direto e
imediato com órgãos federais, resultando em respostas rápidas e precisas em
relação às suas reivindicações.
111
Transcorreram os anos de 1971, 1972 e 1973. A sede própria estava em
construção, com recursos conseguidos em contribuições de setores locais, tendo
uma parcela destes recursos a isto especificamente destinada pelo MEC. Em 10
de julho de 1973 a sede estava pronta e mobiliada e todo o acervo documental
transferido do Rio para Brasília. Assim, em 31 de julho foi comemorado o 19º
aniversário de fundação, em Brasília, na nova sede. Por exigência do estatuto
então em vigor, foram eleitos para a Diretoria Nacional, personalidades residentes
em Brasília, ficando a presidência com o Ministro do Superior Tribunal Militar, Dr.
Alcides Vieira Carneiro, que permaneceu no cargo, colaborando com a CNEC a
sua morte em 1976. A inauguração oficial da nova sede ocorreu somente em 15
de maio de 1974, com o nome de “Casa Benjamim Sodré”, em homenagem ao
Almirante Benjamin Sodré, um dos mais ativos colabores da entidade. Dentre
muitos nomes desta luta pela democratização do ensino brasileiro através deste
projeto de educação comunitária, merecem destaque o Almirante Benjamim
Sodré. Ele, juntamente com sua esposa dona Alzira Sodré, por muitos anos lutou
pela criação de escolas através do projeto educacional comunitário da CNEC.
Em relação a este e outros colaboradores fala Felipe Tiago Gomes:
A presença do Almirante Benjamim Sodré foi para a CNEC o que
significa para o nordestino a chuva. A sua maneira cativante de tratar o
próximo, a sua bondade contagiante, a ajuda inteligente na solução dos
problemas, a autoridade moral de cidadão que se dispôs a servir com
energia, embora humildemente, ao País, trouxe alegria e confiança às
hostes cenecistas, que passaram a trabalhar com mais vigor no
encaminhamento dos problemas da entidade. (GOMES,1989, p.119).
112
A inauguração contou com a presença do homenageado, na condição de
Presidente do Conselho Nacional da CNEC, do General Adalberto Pereira dos
Santos, vice-presidente da República, Ministro de Estado de Educação, Ney
Braga, representando o Presidente Ernesto Geisel, entre outros ministros,
senadores, deputados e diversas autoridades.
No cenário da capital nacional a CNEC marcava presença com variadas
atividades. A Seção do Distrito Federal realizava trabalhos de assistência aos
favelados da periferia de Brasília, contando com amplo apoio do serviço
voluntário. Em 15 de agosto de 1971 Dona Léa Bandeira assume a presidência
da CNEC no Distrito Federal, implanta e passa a coordenar a primeira instituição
educacional e assistencial da comunidade denominada Ceilândia (CEI
Campanha de Erradicação das Invasões), para onde o governo estava
transferindo as invasões urbanas da capital federal, para um espaço único,
organizado, com plenas condições de habitabilidade. A sede própria da unidade
educacional e assistencial foi inaugurada em 20 de março de 1972.
A Campanha Nacional de Escolas da Comunidade segue construindo sua
história com intensas atividades no país inteiro. É importante aqui o registro de
suas atividades na região amazônica, criando centros comunitários, destinados à
atuação na área educacional, econômica, esportiva e outras atividades
características da região. Merecem destaque os cursos de alfabetização, de
ensino supletivo, atendendo à população que não teve acesso à escola no tempo
certo, cursos de formação e atendimento profissional, de acordo com as
necessidades do mercado de trabalho local e regional. Foram desenvolvidos
programas de saúde, atividades artísticas e sociais, atingindo e atendendo a
113
população mais modesta, de menos recursos e acesso à cultura e à formação,
naquele imenso espaço do território nacional.
Na fronteira com o Peru e a Colômbia, o Ginásio de Tabatinga, fundado em
1972, foi um marco decisivo na vida dos jovens da região, pois, a partir de sua
instalação não era mais necessário buscar a complementação dos estudos após
os quatro anos do Grau, em cidade Colombiana. O referido Ginásio serviu
como um marco de integração nacional.
Na história da CNEC muitos nomes marcaram, pela sua contribuição
humana, social e política, pessoas que durante anos deram o melhor de seus
esforços pela causa, lutaram para dotar a entidade de verbas federais que
fortalecessem a instituição e possibilitassem as ações e os ideais propostos pelos
seus fundadores e pelos que deram continuidade a estes ideais em todo o
território nacional. Nomes “que fizeram de suas vidas um p ermanente campo de
trabalho em favor da escola para todos”. (GOMES, 1989, p. 128).
A comemoração do 36º aniversário da CNEC, em 1979, levou seu fundador
Felipe Tiago Gomes a reafirmar sua certeza de que a entidade cumpria aquilo que
ele considerava o seu dever de trabalhar pelo amor ao próximo e pelo interesse
de ver o país caminhar aceleradamente em busca de seu desenvolvimento,
proporcionando educação a, aproximadamente, 430 mil alunos em todo o
território nacional. A entidade seguia, fazendo da educação uma bandeira e fator
de integração de todos os brasileiros. Milhões de jovens, nos mais diversos
municípios brasileiros, já passaram pelas casas de ensino da CNEC.
Segundo PONTES, (1978, p. 82),
114
... no fim do ano de 1976 a Campanha Nacional de Escolas da
Comunidade era a maior cadeia de estabelecimentos de 1 e 2 graus do
país, atuando em 985 municípios, com 20.846 professores e 1.317
escolas que atendem 372.469 estudantes brasileiros
Em 29 de julho de 1981, dia do 38º aniversário de fundação da CNEC, o
Deputado Evaldo Gonçalves de Queiroz, em discurso no Plenário da Assembléia
Legislativa da Paraíba, afirma que:
Os números, com certeza, definem melhor o resultado dessa
extraordinária comunhão de forças voltadas para a realização de um
Sonho de Estudante que se transformou, como por milagre, numa
portentosa Lição de Eternidade. Em 1953, dez anos depois, a CNEG
dispunha de 66 Escolas, com 5.223 alunos; em 1963, aos vinte anos de
funcionamento, estavam 487 municípios brasileiros contemplados com
cerca de 642 escolas e 100 mil estudantes; em 1973, trinta anos depois,
a CNEG atuava em 900 municípios, contando com uma rede escolar de
1.250 escolas e 309.900 alunos. Hoje são mais de 1.000 municípios
servidos pela CNEG, com um total de mais de 1.300 Escolas e cerca de
um total de perto de meio milhão de alunos cenecistas. (QUEIROZ,
1981, p. 13).
A CNEC, no ano de seu 42º aniversário de fundação, publicou o Cadastro
Geral, 1984, com dados estatísticos sobre a instituição e seus objetivos.
Neste documento são definidos como objetivos da rede CNEC:
a) Despertar e coordenar o esforço das comunidades brasileiras para
as atividades educacionais, assistenciais e comunitárias;
115
b) Fundar e manter, em todo o território nacional, escolas e outras
unidades operativas para os sócios e seus dependentes, bem como
para estudantes desprovidos de recursos;
c) Cooperar, sempre que possível, com movimentos que visem à
difusão e ao aperfeiçoamento do ensino. (Cadastro Geral, 1984, p.
7)
A Campanha segue sua trajetória de educação nos mais diferentes lugares
e superando os obstáculos típicos de cada região.
Regiões distantes, de difícil acesso tiveram através de uma cenecista
intrépida e corajosa sua oportunidade de desenvolvimento educacional e social:
Norma Romaguera que, juntamente com seu esposo o Cel. José Maria
Romaguera dedicaram-se a instalar escolas cenecistas em regiões amazônicas.
Seu trabalho alcançou o Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Mato Grosso, Pantanal
do Mato Grosso do Sul, Boa Vista, Porto Velho, Rondônia e Roraima. A precária
situação em que vivia a população destas regiões transformou Norma Romaguera
em uma lutadora incansável por este povo, disseminando o projeto do Professor
Felipe Tiago Gomes, pelo desenvolvimento social e educacional dos moradores
destas regiões. Segundo Norma Romaguera,
Em Altamira, os aviões cheios de nordestinos, jogavam famílias
na selva amazônica como gado.
[...]
A cada passo, a cada momento, era surpreendida pelo
desconhecimento total da área que devíamos povoar. Dos técnicos
recebíamos apostilas de, por exemplo, ‘Curso de Bombeiro Hidráulico’.
Esse era um exemplo de desconhecimento total.
Tínhamos que refazer apostilas dentro da necessidade que o
‘Bombeiro Encanador’ tinha conhecimento; rasgávamos tudo que era
técnica em ‘Bombeiro Hidráulico’ e muitas, também, foram inutilizadas;
116
todas com desconhecimento da área em que estávamos atuando.
(ROMAGUERA, s.d, p. 23).
No Amazonas, foram desenvolvidos vários projetos relacionados a
problemas ligados à economia, educação, desenvolvimento integrado,
preferencialmente voltados ao II Plano de Desenvolvimento da Amazônia.
Era prioridade a preparação do homem amazônico para as
tarefas de desenvolvimento, pois esta era, sem dúvida, a força criadora
do trabalho e do progresso social.
Cursos de carpintaria, marcenaria, bombeiro-encanador,
eletricista e de datilografia, direcionados à construção das AGROVILAS
foram organizados sob minha orientação e ajudados pela comunidade
local. (ROMAGUERA, s.d, p: 26)
A CNEC se propagava na região através do trabalho de Norma
Romaguera. Havia escolas funcionando em lugares improvisados.
Já falei de Benevides, no Pará, onde nossa Escola era num
vagão da Estrada de Ferro Bragantina – Escola François Paul Begôt.
Sentados no chão, embaixo das arueiras, na sombra das
mesmas. (ROMAGUERA, s.d. p: 24)
A comunidade empenhava-se em conseguir espaços em escolas públicas
e na 9construção de prédios próprios. Cursos de educação sica eram
117
complementados por cursos profissionalizantes adaptados à realidade local.
Diversas etnias indígenas foram atendidas. No Mato Grosso, índios terena, cinta-
larga e outros foram beneficiados pela CNEC no trabalho da Professora Norma.
Muitas informações em relação a este trabalho estão registradas em sua
Monografia sobre Aldeias Indígenas na Região de Nioaque – MT.
O momento ximo de expansão da rede de escolas vinculadas a CNEC
ocorreu em 1987, ano em que a entidade atingiu o ponto mais alto de
atendimento na área da educação, conforme demonstram os dados:
Municípios atendidos 1.016
Escolas em funcionamento 1.346
Alunos Matriculados 474.380
Professores Atuantes 24.566
Quadro 1 - Estatísticas CNEC
Fonte: – www.cnec.br
Ao longo de sua trajetória, frente às mudanças resultantes da introdução de
inovações políticas, econômicas, educacionais e sociais, a CNEC obrigou-se a
rever sua estrutura, a fim de ajustar-se para continuar prestando trabalhos
educacionais comunitários.
Esse momento de mudanças institucionais e políticas vai significar o
surgimento de muitas transformações.
118
É nesse período que se inicia a transformação do complexo de escolas da
Campanha em uma organização do chamado Terceiro Setor. Lentamente esses
processos de mudanças vão desaguar na reestruturação que ocorrerá em 2000,
quando iniciará uma significativa mudança na orientação de sua política de
gestão.
119
CAPÍTULO IV
A REDE CNEC
Constituída sob a forma de associação civil sem fins lucrativos, a CNEC é
pessoa jurídica de direito privado, tem por missão, despertar e coordenar esforços
das comunidades para ações educativas em todos os níveis, através da
prestação de serviços e produtos educacionais e sociais.
É hoje reconhecida como um dos mais expressivos movimentos de
educação de toda a América Latina. Suas instâncias de direção são constituídas
pela Diretoria Nacional, pelas Diretorias Estaduais e pelo Conselho Comunitário.
Segundo o que está posto na Coleção Cenecista, Volume III, CNEC
Edições, p. 503, a CNEC entende desenvolvimento comunitário como um
processo de integração das pessoas que compõem um determinado grupo,
levando-as a assumir sua responsabilidade pela concretização dos objetivos a
que essa comunidade se propõe. A proposta cenecista consiste em deflagrar
ações que propiciem o desenvolvimento comunitário, mobilizar e organizar as
comunidades para que reflitam sobre os seus problemas e alinhem as alternativas
capazes de solucioná-los, elegendo as mais prioritárias e viáveis, a partir daí, o
grupo executará o seu programa de trabalho. (Coleção Cenecista, Volume III,
CNEC Edições, p. 503)
Educação comunitária significa organizar a população para o exercício da
cidadania e melhorar a sua qualidade de vida. É preciso ter sempre em mente
120
que o motor da educação comunitária é a melhoria da qualidade de vida e não a
resignação ao estado de pobreza. A educação comunitária se fundamenta no
reconhecimento da diversidade cultural, na economia popular, na
multiculturalidade, no desenvolvimento da autonomia de pessoas, grupos e
instituições e na promoção da cidadania.
A CNEC, a partir da cada de 90 acompanhou a evolução do Terceiro
Setor no Brasil o que resultou na priorização da Educação Básica e
Profissionalizante como principais produtos, pela demanda da prestação desses
serviços, em especial no interior do País. Diante do fato de que, em muitas
comunidades o Estado não supria esta demanda, a CNEC atuou junto a estas
comunidades, formando o profissional exigido para a realidade local. Cursos
profissionalizantes que preparassem jovens e adultos para o mercado de trabalho
exigidos pelo Terceiro Setor passaram a ser priorizados pela CNEC. Na medida
em que o Estado vai assumindo a educação básica, a CNEC vem
gradativamente, reduzindo suas unidades que atendiam este segmento. Com isto
suas atividades passam a se direcionar para serviços educacionais e
assistenciais, voltadas para o mercado. Isto faz com que a CNEC venha
priorizando uma maior atuação no Ensino Superior principalmente a partir da
década de 90.
Confirmando esta orientação, em 2005, ao publicar o primeiro número da
Revista CNEC Social, se lê:
A CNEC chegou a manter mais de 2 mil escolas, principalmente
nas localidades em que o Estado o apresentava condições de suprir
as carências da comunidade. Porém, quando a iniciativa pública iniciou o
processo de retomada de suas obrigações com a educação, a instituição
121
iniciou a redução das unidades, optando por continuar suas atividades
onde a prestação de serviços educacionais e assistenciais eram
prioritárias. (Revista CNEC Social, 2005, p.3, )
Se com a educação básica observa-se uma redução de unidades
cenecistas, com o Ensino Superior acontece o inverso refletindo de forma clara
essa mudança de orientação: a linha de expansão de Cursos Superiores pela
CNEC é especialmente verificada nos últimos cinco anos, criando-se dez
Instituições Cenecistas de Ensino Superior – ICES.
A CNEC nasceu tendo como finalidade, fundar e manter em todo território
nacional, com a participação das comunidades e do poder público, unidades
educativo-comunitárias, para jovens estudantes pobres. Estes ideais foram se
transformando ao longo de sua história, contando sempre com educadores e
educadoras que lutaram e se empenharam na conquista destes objetivos.
Figura 8 – Logomarca atual da CNEC, usada a partir de 2003.
122
4.1 A ESTRUTURA DE ORGANIZAÇÃO DA CNEC
A CNEC possui em sua estrutura de organização, órgãos de direção e
execução. A estrutura de direção pode ser assim descrita: uma Diretoria e um
Conselho Fiscal Nacional, uma Diretoria e um Conselho Fiscal Estadual e, em
âmbito local, um Conselho Comunitário Cenecista e um Conselho Fiscal Local.
Os Órgãos de Direção da CNEC são a Diretoria Nacional, as Diretorias
Estaduais e as Diretorias dos Conselhos Comunitários Cenecistas.
A Diretoria Nacional é eleita por 2 anos, podendo ser reeleita para
períodos subseqüentes; é formada pelo Presidente, Vice-presidente, Secretário e
5 (cinco) Diretores. Os presidentes das Diretorias Estaduais reúnem-se nos anos
pares para eleger a Diretoria Nacional. É de sua competência decidir sobre
aspectos da CNEC em âmbito nacional, tais como: aprovar as políticas e
diretrizes da CNEC, acompanhando sua implantação e desenvolvimento, aprovar
o orçamento anual, homologar ou decidir pela dispensa do Superintendente da
CNEC, dos Diretores e Vice-diretores das Instituições Cenecistas de Ensino
Superior, tanto em nível nacional quanto estadual, fixar indicadores, valores ou
percentuais para as contribuições das unidades cenecistas, propor a reforma do
Estatuto Social e do Regimento Interno, convocar o Conselho Consultivo
Nacional, entre outras atribuições.
123
Em âmbito Nacional está a autoridade máxima: o Superintendente
Nacional.
A Diretoria Estadual, eleita por 2 anos, reelegível para períodos
subseqüentes, compõe-se de Presidente, Vice-presidente, Secretário e, no
mínimo, 3 (três) e, no máximo, 5 (cinco) Diretores. À Diretoria Estadual compete,
entre outras atribuições, cumprir e fazer cumprir as políticas e diretrizes
operacionais emanadas da Diretoria Nacional, aprovar o orçamento anual da
CNEC, decidir pela intervenção nas Diretorias dos Conselhos Comunitários
Cenecistas e nos Conselhos Fiscais locais, homologar a nomeação e dispensa de
diretores das unidades cenecistas do Estado, exceto as de ensino superior,
autorizar a aquisição de bens imóveis no âmbito de sua competência territorial,
aprovar o Plano de Atividades da CNEC estadual.
A Diretoria do Conselho Comunitário Cenecista é eleita pelo mandato
de 2 (dois) anos, reelegível para períodos subseqüentes e compõe-se de
Presidente, Vide-presidente, Secretário e, no mínimo, 3 (três) e, no máximo, 5
(cinco) membros. A Diretoria do Conselho Comunitário Cenecista tem, entre
outras, as seguintes atribuições: aprovar o valor das contribuições sociais
destinadas à manutenção e desenvolvimento da unidade, recomendar a
nomeação e/ou demissão do diretor da unidade, apoiar e divulgar a unidade
cenecista junto à comunidade e às diversas instituições, informar à diretoria
estadual tudo que atente contra a unidade, incentivar e promover ações na
comunidade que beneficiem a CNEC.
É importante destacar nesta estrutura, o Conselho Comunitário Cenecista,
integrado à escola, em cada comunidade onde uma instituição cenecista. É
124
através dele que a comunidade participa e se envolve com as diversas instâncias
da escola. É a partir do Conselho Comunitário, que surgem os mais diversos
projetos pedagógicos e sociais: artesanato, esporte, empresa júnior, teatro,
bandas de música, creches, escolas, clubes de atendimento à melhor idade,
unidades de qualificação e preparação de mão-de-obra e outros, conforme as
características e necessidades da comunidade.
A base estrutural da CNEC é a comunidade, por isso, para a criação de
uma escola em uma cidade, organiza-se primeiro o Conselho Comunitário
Cenecista, formado somente por pais. O Conselho é o seu núcleo comunitário e
tem como primeira responsabilidade a construção da escola através do trabalho
dos próprios pais que se organizam e iniciam a construção e estruturação da
escola, para finalmente abrir suas portas à comunidade.
Nas escolas cenecistas o Conselho Comunitário Cenecista é eleito pelos
demais pais, no 1º semestre dos anos ímpares. Através dele a comunidade
participa, se organiza e assegura a sobrevivência da escola. O Conselho é
requisito número um para se criar uma escola da CNEC. Por isto é a célula vital
da CNEC em cada comunidade. Seu envolvimento se em todas as decisões
administrativas/financeiras, como na definição dos cursos a oferecer, na
aprovação das planilhas de custos que determina o valor da anuidade escolar e
até a indicação do diretor da unidade cenecista.
Os presidentes dos Conselhos Comunitários Cenecistas eleitos, reúnem-se
no segundo semestre de cada ano ímpar, a fim de elegerem a diretoria de seu
respectivo estado.
125
Estatutariamente, os órgãos de direção não são remunerados. É preciso
estar ciente da importância dessa estrutura, uma vez que a CNEC o possui
dono pois é através do voto direto de cada membro da comunidade organizada
que se constituem os órgãos de direcionamento da CNEC.
Os Órgãos de Execução da CNEC o a Superintendência Nacional, as
Superintendências Estaduais e a Direção das Unidades Escolares.
As Superintendências Nacional e Estaduais são incumbidas da
coordenação e execução das atividades técnico-administrativas da Associação. É
de sua competência planejar, coordenar e supervisionar os serviços técnicos,
administrativos e financeiros, elaborar Plano de Ação e Relatório de Atividades
Anual, cumprir e fazer cumprir as políticas e diretrizes institucionais, entre outras.
Aos Diretores das Unidades Cenecistas compete cumprir e fazer cumprir
as decisões emanadas de órgãos cenecistas superiores, planejar, organizar e
dirigir os diversos serviços da unidade, assessorar o Conselho Comunitário,
proporcionar condições ao bom andamento da unidade, entre outras.
Os Órgãos de Fiscalização da CNEC são os Conselhos Nacional,
Estaduais e Locais, eleitos por 2 (dois) anos, reelegíveis, o compostos por
Presidente, 2 (dois) Conselheiros titulares e 3 (três) Conselheiros suplentes. A
estes conselhos compete ação fiscalizadora, assídua e minuciosa em relação a
tudo o que se refere aos aspectos financeiros e contábeis da associação,
mantendo sigilo e encaminhando parecer aos Órgãos de Direção e Deliberação;
compete-lhes, também, dar parecer sobre balanço de contas e demonstrações
contábeis
126
Apesar das mudanças ocorridas, a CNEC vem preservando em sua
organização a Diretoria Nacional, Estadual e o Conselho Comunitário Cenecista.
Eles continuam tendo papéis muito próximos de quando foram pensados e
organizados por Felipe Tiago Gomes.
Além das escolas, a CNEC está legalmente habilitada a implantar e
administrar unidades de produção, comercialização, comunicação, turismo,
pesquisa, assistência social e incentivo a práticas desportivas cujos resultados
serão destinados exclusivamente a sua manutenção.
A CNEC, ainda que estes números venham declinando, em 2007 se faz
presente em 20 Estados e Distrito Federal, atuando em 250 municípios, com 248
escolas e 22 faculdades, perfazendo um total de 269 instituições educacionais.
Júlio César Lindemann, Superintendente Nacional da CNEC, no editorial
da Revista CNEC Social propõe reflexões e ações voltadas a atingir os ideais
cenecistas. Refere-se aos aspectos educacionais e sociais da entidade. Em suas
palavras:
O visionário professor Felipe Tiago Gomes, acompanhado de
outros idealistas, fundou a CNEC com a finalidade de viabilizar educação
a jovens em situação de vulnerabilidade social em localidades deste
País, onde nem o estado ousava se fazer presente. Seu idealismo
contribuiu, por conseqüência, para minorar a disparidade social, em prol
de uma sociedade mais justa e solidária... (Revista CNEC Social, 2005,
p. 2, Editorial)
A CNEC, desde a primeira cada de sua criação, tem direcionado muitas
de suas ações à área social. Esta também tem sido uma das tônicas ao repensar
127
o seu papel na sociedade brasileira. Ao ser entrevistado pela Revista CNEC
Social, o Presidente Nacional da entidade, Deputado Federal Alexandre José dos
Santos, do PMDB do Rio de Janeiro, enfatiza a questão das ações sociais no
desenvolvimento das atividades da CNEC em âmbito Nacional. Segundo ele, a
instituição mantinha 115 projetos sociais nos 20 estados e no Distrito Federal
onde atua. A linha seguida para a realização destes projetos fundamentava-se
nas necessidades específicas de cada comunidade. Porém, segundo o
Presidente da CNEC a instituição:
... prepara-se para o desenvolvimento de um único programa
que contemple as prioridades e diretrizes constantes no Sistema Único
de Assistência Social, privilegiando projetos pontuais segundo o
interesse e a necessidade de cada comunidade. (SANTOS, in CNEC
Social, 2006, p. 11).
São inúmeros os projetos desenvolvidos pela CNEC na área social nos
Estados onde atua. Segundo o Relatório Social 2005, publicado na Revista
CNEC Social (Edição 1, Ano 1), as atividades sociais são inúmeras, diversas,
de acordo com as características da clientela e da necessidade da comunidade.
A força da assistência social na região Centro-Oeste, Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul é marcante. Existem 37 projetos desenvolvidos na região.
Envolvem portadores de necessidades especiais e crianças, adolescentes,
jovens e idosos em situação de risco social e/ou vulnerabilidade pessoal. Os dois
estados trabalham em parceria,
128
Um destes projetos, batizado como ‘Medalha Milagrosa’ foi
trabalhado pela Superintendência Estadual da CNEC dos dois estados
em parceria com a Paróquia Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, no
auxílio a famílias carentes, promovendo medidas que minimizassem a
situação de pobreza e exclusão social. Foram atendidas 140 pessoas,
moradores do Bairro Pascoal Moreira Cabral de Cuiabá (MT). (Revista
CNEC Social, 2005, p. 8)
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul tiveram também o cuidado no
atendimento a jovens envolvidos com violência e prostituição. Outros projetos,
sendo um deles realizado na Escola Cenecista Vale do Araguaia, capacitaram
adolescentes e jovens mães para o trabalho artístico e manual, buscando inseri-
los na sociedade, tanto pela ocupação produtiva do tempo ocioso quanto pela
possibilidade de geração de renda. Jovens foram atendidos através do esporte,
da inclusão digital. Atividades diversas foram direcionadas a idosos, através da
informática, horta produtiva, em parceria com a EMPAER e a UNEMAT (MT). Em
Alta Floresta (MT) desenvolveu-se um projeto voltado a crianças com dificuldades
de aprendizagem. Em Nova Mutum (MT) promoveu-se a integração social de
mulheres sem qualificação profissional. Os deficientes visuais receberam
atendimento especial pelo projeto Inclusão Digital em Campo Grande (MS), em
parceria com o Instituto Sul Mato-Grossense de Cegos. Portadores de
necessidades especiais participaram do projeta Artista Cidadão, em Campo
Grande (MS). Vários outros municípios realizaram interessantes projetos na área
social a partir de iniciativas cenecistas.
129
Com o que foi mostrado é possível observar que na área social a CNEC
tem se destacado, voltando suas preocupações, como no início de sua história,
àqueles que mais necessitam, mesmo que não seja na área educacional.
Implantar Projetos de Assistência Social – PAS – em todos os Estados é uma das
metas da atual diretoria nacional.
4.2 ATUAL PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL DA CNEC
“Não se constrói um projeto sem uma
direção política, um norte, um rumo”.
Gadotti (1994)
A história da CNEC é o que possibilitou à instituição construir seu atual
Projeto Político Pedagógico Institucional - PPPI. As metas do Projeto Pedagógico
atualmente em curso, foram estabelecidas no curso de Capacitação realizado de
2005 pelo então Superintendente Nacional da CNEC, Prof. Júlio César
Lindemann e no Encontro de Planejamento Estratégico que aconteceu em julho
de 2006, no Estado da Paraíba.
Foi estabelecida como meta 1 o trabalho pedagógico de “Garantir a
excelência dos Serviços Educacionais”. Esboça-se, neste contexto, um novo perfil
profissional que contempla aspectos como participação, iniciativa, raciocínio
crítico, criativo e reflexivo.
Entre as iniciativas do atual PPPI encontra-se a proposta de avaliação do
desempenho pedagógico dos educandos das instituições cenecistas. Ela foi
130
implantada emde setembro de 2006. Um dos principais pontos foi a realização
do Exame Nacional das Escolas Cenecistas ENEC, em todas as Unidades da
Educação Básica da CNEC. O ENEC avaliou aproximadamente, 19 mil alunos
da a rie, do Ensino Fundamental e rie do Ensino Médio em mais de
240 escolas. Seu objetivo foi, à maneira das instituições públicas de ensino,
avaliar o nível de seus alunos e a atuação pedagógica da Instituição, considerado
como o marco de um novo tempo.
A experiência educacional da rede consolida-se no Sistema de Ensino
CNEC, que estabelece sua identidade com atuação em todas as unidades de
ensino. Seguindo sua proposta pedagógica, a Rede CNEC implantou o Sistema
de Ensino CNEC através de material pedagógico próprio. A dimensão deste
projeto é muito expressiva em termos quantitativos, acreditando-se que neste ano
de 2007 serão distribuídos 280.000 exemplares de material pedagógico produzido
pela Rede CNEC. Segundo Alexandre José dos Santos, Presidente Nacional da
entidade, o Projeto de material didático do Sistema de Ensino CNEC “contribuirá
na formação do povo brasileiro, com acesso à educação básica de qualidade”.
(SANTOS, in CNEC Social, 2006, p. 11)
Para implantação do projeto foram realizados em 2006 os seminários
regionais, distribuídos por região. Para estes seminários dividiu-se o país em
cinco regiões, com o objetivo de formar gestores da rede. Eles reuniram as
equipes administrativas e pedagógicas de cada região. Os Seminários tiveram por
objetivos:
Integrar as Equipes Pedagógicas e Administrativas;
Ampliar os conceitos de Educação Comunitária;
131
Socializar conceitos filosóficos e pedagógicos do Material Didático do
Sistema de Ensino CNEC;
Apresentar novas tendências da moderna educação.
Como resultado deste encontro, as equipes definiram objetivos e metas a
serem alcançados, com vistas a melhorar e atualizar permanentemente a
educação cenecista, procurando mantê-la dentro dos ideais para os quais foi
criada.
Atuando em todos os níveis da educação a CNEC se firmou no cenário
nacional como uma organização educativa, que amplia permanentemente seu
quadro de atuação.
A concretização do projeto do Centro Cenecista de Educação Profissional
Felipe Tiago Gomes, em Brasília-DF, tem sua meta voltada para a Educação
Profissional, oferecendo cursos básicos nas áreas de Turismo e Lazer,
Hospitalidade e Comunicação. Trabalhar com a Educação profissionalizante é,
historicamente, parte da atuação da CNEC.
Criou-se também o Plano Cenecista de Expansão da Educação
Profissional - PEP, que pretende estender sua atuação, em curto prazo, a vários
Estados brasileiros com vistas à formação dos estudantes, segundo as demandas
do mercado de trabalho.
Na Educação Superior, refletindo de maneira singular a demanda nacional,
a linha de expansão da CNEC é especialmente verificada nos últimos cinco anos,
com a criação de novas Instituições Cenecistas de Ensino Superior – ICES.
132
Atualmente são 22 Instituições Cenecistas de Ensino Superior, com 99
Cursos autorizados, freqüentados por mais de 16.000 alunos. O atendimento a
alunos através da Universidade para Todos PROUNI, neste ano de 2007, está
sendo de 1.167 bolsas. Pelo Programa de Financiamento Estudantil do Ensino
Superior - FIES foram atendidos 346 alunos.
É interessante verificar a expansão ocorrida no Ensino Superior. Em 2006
houve a criação de uma nova Faculdade em Ituberá - BA, outra nova Faculdade
em Senhor do Bonfim, também na Bahia e 13 novos cursos autorizados nas
faculdades em funcionamento. Essa expansão continua em 2007 com o
credenciamento de 07 novas faculdades e 28 novos cursos, em tramitação no
Ministério da Educação.
Na Educação Básica suas unidades de ensino continuam atuando da
Educação Infantil ao Ensino Médio, Profissionalizante e Educação de Jovens e
Adultos, em 20 Estados e no Distrito Federal.
No decorrer deste ano de 2007 a Campanha Nacional de Escolas da
Comunidade através de estudos e seminários está preparando um Projeto
Político Pedagógico Institucional que norteará as ações de todas as unidades da
instituição. Sua elaboração pretende oferecer condições para que, cada unidade,
mantendo a linha estabelecida nacionalmente, possa trabalhar de acordo com as
características específicas de cada comunidade em que atua.
O PPPI é constituído como um processo permanente de reflexão e
discussão dos problemas da CNEC, na busca de alternativas viáveis à efetivação
de seus fins.
133
Em sua estrutura, o Projeto Político Pedagógico Institucional procura
caracterizar uma visão histórica, a visão filosófica, de estrutura estatutária e
organizacional. Define as diretrizes estratégicas para a qualidade CNEC, na qual
descreve sua Visão de Futuro, Missão e os Valores.
Sua filosofia procura destacar que a Instituição considera cidadania plena e
a relação entre escolaridade e desenvolvimento.
As diretrizes institucionais para a definição de suas propostas pedagógicas
são apresentadas por segmentos:
- Para a Educação Infantil a proposta centraliza-se na valorização e no
conhecimento do EU, desenvolvendo autonomia e convivência.
- Para o Ensino Fundamental, Segmento, a proposta pedagógica
volta-se à adoção de um paradigma de educação centrado no aluno, e nos pilares
da educação contemporânea. Exige permanentemente o questionamento de “que
alunos queremos formar?”.
- Para o Ensino Fundamental, Segmento, a proposta pedagógica
acentua a necessidade de se desenvolver no educando as competências
necessárias ao exercício da cidadania, oferecer-lhe condições de atuar no
mercado de trabalho e de dar seqüência aos seus estudos. Propõe-se trabalhar o
aluno intelectual e socialmente.
- O Ensino Médio da CNEC define seus projetos voltados à formação da
pessoa humana de forma integral para torná-la livre e capaz e a formação do
aluno de forma a capacitá-lo para um bom desenvolvimento na sua área na
134
sociedade. Propõe-se trabalhar responsabilidade, valores e atitudes, mas,
também conteúdos.
- Na Educação de Jovens e Adultos, a CNEC tem a missão de
encaminhar a pessoa para sua auto-realização e para uma aprendizagem
produtiva. Para este nível de ensino estabelece que se deve priorizar não o
quanto o aluno aprende, mas o como aprende.
- A Educação Profissional de Nível Médio propõe-se estabelecer uma
ligação entre o ensino médio e a educação profissional; estabelecer uma
articulação que reforce o conjunto das competências a serem desenvolvidas tanto
na educação básica quanto na profissional.
É importante destacar que o Projeto Político Pedagógico Institucional
seguido pelas escolas cenecistas apresenta-se bem estruturado, tendo para cada
um dos níveis o desenvolvimento dos seguintes itens:
Introdução
Fundamentos Teóricos Científicos
Fundamentos Ético-Filosóficos
Fundamentos Epistemológicos
Fundamentos Didático-Pedagógicos
I - Conteúdo
II - Metodologia
III - Planejamento
IV - Avaliação
V - Visão de aluno e professor
135
Bibliografia
A bibliografia que sustenta o projeto pedagógico da CNEC tem como
autores principais: Piaget, Vygotsky, Edgar Morin e Perrenoud.
A abordagem de cada um dos itens do Projeto Político Pedagógico
Institucional é bem elaborado, com boa fundamentação e clareza de linguagem. A
leitura permite um bom entendimento do mesmo. Missão, Valores e Visão de
Futuro traçam as linhas mestras do PPPI da CNEC.
O PPPI, em síntese, revela em que vem se constituindo a rede cenecista
de educação. Ainda que tenha se distanciado dos ideais iniciais de seu fundador
é possível afirmar que permanece uma preocupação com a qualidade e em ter
um vínculo com as comunidades onde desenvolve o seu trabalho pedagógico,
político e social.
136
CONCLUSÃO
Sou hoje infinitamente menor e menos
importante do que meus próprios sonhos, até
porque eles habitam outros seres, outras cabeças,
outros corações. (GOMES. 1986, p.207.)
Felipe Tiago Gomes
Felipe Tiago Gomes, tendo formação de Bacharel em Direito, ao longo de
sua vida dedicou-se à educação. Idealizou e levou adiante um sonho audacioso:
oferecer educação gratuita a quem por ela o pudesse pagar. Acompanhou a
evolução do seu tempo, participando efetivamente da vida política, social e,
principalmente, educacional do seu país. Além de fundar a CNEC, com escolas
pelo país inteiro, participou de outras entidades ou instituições em prol da
educação. Foi prefeito de sua cidade natal, Picuí, foi presidente do Diretório
Central dos Estudantes Universitários de Pernambuco, foi um dos fundadores do
Teatro Universitário de Pernambuco. Recém formado em Direito foi membro
Integrante da Campanha de Erradicação do Analfabetismo, colaborador do
Movimento Cívico contra o Analfabetismo no Espírito Santo, Diretor do
Departamento de Ensino Médio da Secretaria de Educação do Estado do Rio de
Janeiro e ajudou a organizar o Movimento Popular de Alfabetização, foi Membro
Diretor da Associação Brasileira de Educação.
A partir de 1960 passa a dedicar-se integralmente ao trabalho para o
desenvolvimento da CNEC. Viagens, contatos com autoridades políticas,
religiosas, empresariais, institucionais e outras impulsionaram continuamente a
137
expansão, o desenvolvimento e a permanente atualização da CNEC em todo o
Brasil tendo sempre à frente Felipe Tiago Gomes e as representações da
entidade em todo o território nacional.
Deste seu empenho em levar avante o projeto, fala AZEVEDO (1983),
referindo-se ao professor Felipe e aos companheiros que naqueles idos de 1943,
do Ginásio Castro Alves de Recife, berço da Campanha, tomaram rumos
diversos:
Outros colegas e idealistas foram sendo envolvidos. Eram
‘estudantes que seguiam o pensamento, na época até um tanto
messiânico, de um colega recém-chegado do sertão paraibano’. Mas,
segundo Joel Pontes, ‘só um (...) chegaria ao fim da carreira, herói da
paz, naturalmente, herói mais profundo porque não o foi para salvar a
pele. Sua causa, a educação; sua fé, no povo, por julgá-lo capaz de criar
as próprias escolas. Somente ele, o idealizador da Campanha, persistiu
no movimento (...) Nós outros, co-fundadores, fomos pedindo as contas;
ou pelos trancos da vida, ou em busca de seus regalos’. (AZEVEDO,
1983, p. 33)
Aqueles que bem conheciam o Professor Felipe e que puderam usufruir
seu convívio, dizem que sem a personalidade forte que o marcou em todas as
suas ações, a Campanha não teria alcançado o nível de desenvolvimento que
atingiu. AZEVEDO (1983), servindo-se de depoimentos de inúmeros
colaboradores da CNEC afirma em relação a Felipe Tiago Gomes:
Segundo Alcides Rodrigues de Sena, capacidade de liderança é
uma característica forte da personalidade de Felipe. Diz que se observa
138
‘nele, também, que é um homem de uma teimosia fora do comum’.
Teimosia aplicada em função da coisa pública, exclusivamente, pois
nunca ‘ocupou amigo nenhum para postular nada em caráter pessoal, e
cuja modéstia de vida diz muito bem do que ele é’. Outro companheiro,
Afonso Pereira da Silva, salienta que na aparência o fundador da
Campanha é calmo, pois é meio agressivo quando necessário, sem
medo de enfrentar os obstáculos, franciscanamente vivendo com uma
única opção de vida que é a instituição que criou. (AZEVEDO, 1983, p.
29).
A Campanha contou inúmeras vezes com o Professor Felipe em sua
diretoria, quer como Presidente, como Superintendente ou em outras funções.
Sua visão de educação em âmbito nacional, sua competência administrativa e
seu desprendimento de nome, poder e cargos públicos fizeram com que o
Professor Felipe, ao longo dos anos dedicados ao seu projeto político pedagógico
transformasse o seu sonho no maior empreendimento não estatal de educação no
país.
Em sua trajetória de fundador e líder da CNEC, o Professor Felipe foi
homenageado inúmeras vezes, com as mais variadas menções de honra, com
títulos honorários de cidadania e muitos outros, que lhe foram outorgados por
entidades, municípios, políticos e por cidadãos de diversos estados brasileiros.
Felipe Tiago Gomes também teve sempre ao seu lado uma presença
inseparável, uma guardiã solícita, sua irmã Maria Alexandrina Gomes, mulher
austera em suas ações que, com seu senso crítico discreto e intuitivo de mulher
sertaneja participou ativamente junto ao Professor Tiago de toda a história
cenecista.
Ao término de sua trajetória neste mundo, escreveu sobre ele a escritora
Raquel de Queiroz:
139
No dia 21 de setembro de 1996, Felipe Tiago Gomes faleceu em
Brasília, vítima de complicações cardíacas. Deixou milhares de órfãos,
cenecistas e estudantes, que tiveram na Campanha Nacional das
Escolas da Comunidade, um meio de integrarem-se com a educação
comunitária e de qualidade. Um meio de tornarem-se cidadãos.
Por esse infinito legado, todo o Brasil é grato a Felipe Tiago
Gomes. Um homem comum que se tornou ídolo para milhares de
pessoas, e jamais será esquecido das mentes daqueles que conhecem o
verdadeiro sentido de educar.
O professor Felipe Tiago Gomes é em pessoa o Inventor, o Pai,
a Própria Alma da CNEC. (QUEIROZ, 1996, p.3)
Figura 9 – Felipe Tiago Gomes, fundador da CNEC.
Uma vida inteira dedicada à causa da educação fizeram do Professor
Felipe um educador querido e respeitado nos meios educacionais brasileiros,
principalmente por aqueles que, como alunos ou como profissionais cenecistas,
puderam participar da concretização do seu sonho de democratização da
educação brasileira.
140
A pesquisa nos mostra que iniciativas deste tipo devem ser incentivadas e
financiadas. As escolas cenecistas, cuja base é a comunidade desenvolvem-se e
se mantém principalmente pela participação efetiva da comunidade. É mais de
meio século de trabalhos educacionais e sociais voltados às comunidades. Ainda
permanecem vivas as idéias de Felipe Tiago Gomes: levar educação e
assistência social aos mais recônditos recantos deste país. Onde houver
necessidades educacionais, sociais, de apoio, de assistência, lá devem estar
entidades capazes de fazer o que é preciso ser feito.
Ainda precisamos de sonhadores e idealistas capazes de viver pela
realização de seus sonhos, como nos mostra FERREIRA NETO, referindo-se aos
primeiros tempos da CNEC:
O sonho deste grupo de jovens transformou-se numa pregação
cívica e em uma bandeira de lutas pela democratização do país e Felipe
Tiago Gomes, encorajado pelo sucesso da criação da primeira escola,
partiu para uma verdadeira cruzada nacional em favor do ensino gratuito,
mostrando que as comunidades pobres também poderia ter acesso ao
saber desde que, nelas, alguém assumisse a causa da educação dos
humildes como dever de cidadania e de fraternidade cristã. (FERREIRA
NETO, 1987, p.119)
Da mesma forma como Ferreira Neto, cabe aqui lembrar Jacques Maritain
cujo pensamento cristão perfeitamente completa o de Ferreira Neto. Para
MARITAIN (1999) é preciso viver com o povo e para o povo, dentro dos princípios
cristãos, aplicando eficazmente a doutrina cristã, oportunizando a todos,
condições de vida digna, como filhos de Deus e como seres humanos.
141
A filosofia cenecista, mantendo ao longo de mais de 60 anos os ideais
cristãos do Professor Felipe, está presente na nação brasileira, em pleno século
XXI. Atravessou tantos e tão tumultuados anos da história brasileira, mantendo-se
fiel aos princípios cristãos do seu fundador. Não se manteve, porém alheia às
mudanças ocorridas no país e, principalmente, na educação e na área social. Foi
reformulando suas metas, seus objetivos, ampliando e mudando sua área de
atuação de acordo com as exigências do seu tempo e de acordo com as
diferentes necessidades das comunidades nas quais atua.
Há, contudo, inegavelmente, a despeito da dispersão territorial,
uma COMUNIDADE CENECISTA no Brasil. Um grupo que comunga os
mesmos ideais e se alimenta na mesma doutrina e filosofia. O homem,
como ser social, tem uma responsabilidade perante a comunidade em
que vive. As mútuas responsabilidades propiciam uma interação forte,
capaz de gerar um movimento integrador, que não marginaliza, não
expulsa, não elitiza, mas une, agrega e conduz à resolução de
problemas básicos da população. (FERREIRA NETO, 1987, p.120-1)
As palavras do autor supra-citado nos mostram que a instituição se
mantém fiel aos princípios de seu fundador, que continuam atuais no tempo, no
espaço e na história. Um cristianismo corajoso e sempre atual que fez das
instituições cenecistas, tanto em sua atuação na área educacional quanto na área
social, entidades imprescindíveis em centenas de comunidades brasileiras.
O crescimento da Campanha atingiu índices tão inesperados que o próprio
fundador, Professor Felipe Tiago Gomes, ao longo dos anos, tomou consciência
da necessidade de reestruturar sua estrutura administrativa.
142
Em muitos dos momentos de preocupação, afirmava ser necessária a
organização de um quadro de servidores que pensassem sua adequação
administrativa frente a sua dimensão atual, no contexto sócio-econômico do país,
para que fossem evitadas as falhas constatadas, sanando-as e evitando novas
falhas.
Tendo iniciado apenas com o objetivo de atender através da oferta de
ensino gratuito aos ginasianos pobres, a instituição foi se adaptando, ao longo
das décadas às mudanças ocorridas na sociedade, nas comunidades, na história
do Brasil. Como exemplo pode ser citado o atual programa de Assistência Social,
fruto das necessidades e carências da comunidade onde a CNEC atua. O
trabalho social é uma outra faceta do atendimento àqueles marginalizados pelo
poder constituído, pela sociedade; são os excluídos, agora não pela educação,
mas pelas condições de vida, de sobrevivência, ou como diz o projeto “pessoas
em situação de vulnerabilidade pessoal e/ou risco social”. É o pensamento social
cristão presente.
Outro aspecto de mudanças implantado nas escolas cenecistas é a
atuação no Ensino Superior, cuja ampliação acontece a cada dia que passa.
Dedicar-se a este nível de educação deve-se ao fato de que esta é também uma
carência encontrada nas várias comunidades em que a CNEC atua. Na atual
conjuntura educacional há, por parte do governo, maiores investimentos na
educação pública que abrange a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o
Ensino Médio. Portanto, agora em maiores índices, o governo faz a sua parte na
Educação Básica. O mesmo, porém, não acontece com o Ensino Superior. A
143
CNEC, mais uma vez dentro dos ideais do seu fundador, vem suprir esta lacuna
do ensino público, como o foi nos idos de 1943, com o então Ginásio.
Aqueles que conviveram com o Professor Felipe Tiago Gomes, na década
de 90, puderam acompanhar de perto a angústia que o abatia, por saber que sua
CNEC, por quem dedicou toda sua vida, necessitaria de medidas que iriam mudar
os rumos de sua trajetória. Isto muito o angustiava. Porém estava consciente de
que, para a sua sobrevivência, era preciso investir-se de coragem para trilhar os
novos caminhos. Caminhos estes que levariam a Campanha a se distanciar dos
seus objetivos originais, do seu projeto inicial de oferecer educação aos
estudantes pobres. Sempre que lhe era permitido afirmava que sua irmã Maria
Gomes, que o acompanhou durante sua vida, lhe dizia com sábias palavras: “A
obra do bem comum passa pela eternidade, e dura mais do que quem a fez.”
(GOMES. 1986, p. 208.) E o professor Felipe afirmava: Quem se educa deve
fazê-lo com a consciência de quem serve, de alguém que, ao preparar-se para a
vida, deverá, acima de tudo, estar disposto a arcar com uma parcela de sacrifícios
e responsabilidades em favor da sociedade.” (GOMES. 1986, p.67)
Pelas considerações apresentadas é possível concluir (se o termo o
permite) que o ideário cristão do pensamento social católico influenciou
fortemente Felipe Tiago Gomes em sua trajetória de educador e idealizador dessa
extensa rede de escolas em que se transformou a Campanha Nacional de
Escolas da Comunidade a CNEC. Católico convicto fez da sua fé e dos seus
ideais sua razão de viver, empregando a vida para a concretização dos seus
sonhos. Não estando mais fisicamente presente na organização desde 1996,
144
seus ideais, sua filosofia continuam vivos no trabalho de todos os que acreditam
e/ou se dedicam à causa cenecista.
O estudo realizado não se esgota aqui, mas abre um leque de
possibilidades para novas pesquisas que aprofundem o tema ou que enfoquem
outros aspectos do mesmo.
Espera-se ter contribuído com este estudo para a causa cenecista e para
aqueles, cristãos ou não, sabedores de que todos devemos dar a nossa
contribuição na construção de um mundo melhor, mais humano e mais justo.
145
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ARANZADI, D. ; GINER, C. Uma escola social. São Paulo : Loyola, 1962.
AZEVEDO, João Ferreira. Dimensões de um Sonho. Maceió : EDUFAL, 1983,
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BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicolas; PAQUINO, Gianfranco. Tradução
Carmen C. Varriale... [et al.]; 4. ed. Dicionário de Política. Brasília : Universidade
de Brasília, 1992.
BOECHAT, Ivone. Escola comunitária. Escola de todos. Brasília : CNEC
Edições, 1993, 140 p.
BOECHAT, Ivone. Por uma escola Humana. Brasília : CNEC Edições, 1995,
128p.
BOECHAT, Ivone. Uma escola que ensina a amar. Brasília : CNEC Edições,
1994, 84 p.
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Geral – 1984. Brasília : Edições Cenecistas, 1985, 165 p.
CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE – CNEC. Catálogo
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CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE – CNEC. Coletânea
Cenecista, Vol. I, II, III. IV. Brasília : CNEC Edições, 1994, 902 p.
CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE – CNEC. Relatório
86/87. Brasília : CNEC Edições, 1987, 130 p.
CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE. Felipe Tiago
Gomes: Vida e obra. Brasília : CNEC Edições, 1991, 35 p.
CARNEIRO, Alcides Vieira. Discursos em 14 tempos. Rio de Janeiro : CNEC
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comunidade. Sessão Solene do Congresso Nacional. Brasília : editora do
Congresso Nacional, 1993, 39 p.
CURY, Carlos Roberto Jamil. Ideologia e educação brasileira: católicos e
liberais. São Paulo : Cortez e Moraes, 1978, 201 p.
FERREIRA NETO, Augusto. O desafio de amar. 2. ed. Belo Horizonte : Cuatiara,
1993, 82 p.
146
FERREIRA NETO, Augusto; GARCIA, Sebastião. Desenvolvimento
Comunitário: princípios para a ação. Rio de Janeiro : Bloch, 1987, 207 p.
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1982, 149 p.
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática
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Igreja católica e política do Movimento de Educação de Base. Petrópolis-RJ :
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Comunidade. 151 p., 1984, Salvador; Anais... Brasília, 1985.
XXVII Congresso Nacional Ordinário da Campanha Nacional de Escolas da
Comunidade. 82 p. 1981, Fortaleza; Anais... Brasília, 1981.
XXVIII Congresso Ordinário da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade.
154 p. 1982, João Pessoa; Anais... Brasília,1984.
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Rio de Janeiro : CNEC, 2006 - . Semestral. [Publicação em circulação.]
CENECARMO. Órgão Informativo do Colégio Cenecista Nossa Senhora do
Carmo. Unaí-MG : CNEC, 2006 - . Bimestral. [Publicação em circulação.]
CNEC Social. Superintendência Nacional da CNEC. Relatório Social da
Campanha Nacional de Escolas da Comunidade: João Pessoa-PB : Gráfica
Sépia, 2006, Ano 1, Nº 1.
FACEB EM FOCO. Informativo da Faculdade Cenecista de Brasília. Ceilândia
Norte – DF : CNEC, 2006 -. Bimestral. [Publicação em circulação.]
149
FACEWCA. Faculdade Cenecista de Varginha-MG: CNEC, 2000 - . Trimestral.
[Publicação em circulação.]
DOCUMENTOS:
CNEC Estatuto Social, Rio de Janeiro, 2006.
CNEC O Estatuto Comentado.
CNEC Projeto Político Pedagógico Institucional, 2004.
CNEC Regimento Interno.
WEBGRAFIA:
http://libdigi.unicamp.br
www.abnes.org.br
www.abnes.org.br
www.centroeducaciona.com.br
www.cnec.br
www.cnecal.org.br
www.cnecam.gov.br
www.cnecbh.org.br
www.cnecce.gov.br
www.cneces.org.br
www.cnecma.gov.br
www.cnecmg.gov.br
www.cnecmt.org.br
www.cnecpe.org.br
www.cnecpi.gov.br
150
www.cnecprsp.edu.br
www.cnec-rj.com.br
www.cnecrn.gov.br
www.cnecrs.org.br
www.cnecsc.com.br
www.cnecsg.gov.br
www.diariodopara.com.br
www.geocities.com/felipetiagogomes/historia
www.inep.gov.br
www.institutocabure.com.br/igrejacatolica/educ.pop
www.lourencofilho.com.br
www.novaescola.br
www.prograd.ufu.br.
www.tca.com.br/cnec/historia
www.wikipedia.org/wiki/felipe_tiago_gomes
www.wikipedia.org/wiki/lourenço_filho
151
ANEXOS
152
ANEXO 1:
DIRETORIA NACIONAL:
Presidente: Deputado Federal Alexandre José dos Santos – Presidente da
CNEC/RJ;
Vice-Presidente: Doutor Juarez de Magalhães Rigon – Presidente da CNEC/SC;
Secretária: Professora Anita Ortiz Corrêa - Presidente da CNEC/RS;
Diretores:
Deputado Federal Rogério Auto Teófilo - Presidente da CNEC/AL;
Monsenhor André Viana Camurça - Presidente da CNEC/CE-MA;
Professor João Faustino Ferreira Neto - Presidente da CNEC/RN;
Jornalista Juril de Plácido e Silva Carnasciali - Presidente da CNEC/PR-SP;
Professor Murílio de Avellar Hingler - Presidente da CNEC/MG.
153
ANEXO 2:
CONSELHO FISCAL NACIONAL:
Presidente: Doutor Edinalvo Dantas – CNEC/DF;
Conselheiros Titulares:
Doutor Júlio César Baltharejo – CNEC/RJ;
Doutor Laércio Segundo de Oliveira – CNEC/RN;
Conselheiros Suplentes:
Doutor Ernane Soares Maia – CNEC/RJ;
Professora Lina Monte Mor – CNEC/RJ;
Professor Reinaldo Mosso Beiruth – CNEC/RJ.
154
ANEXO 3:
CONSELHO CONSULTIVO NACIONAL:
Presidente: Senador Renan Calheiros;
Vice-presidente: Professora Marly Macieira Sarney;
Membros:
Doutor Ubiratan Aguiar;
Ministro Guilherme Palmeira;
Governador do Estado de Minas Gerais Aécio Neves;
Governador do Estado do Rio Grande do Sul Germano Rigoto;
Senador Teutônio Vilela Filho;
Deputada Federal Fátima Bezerra;
Senador Sérgio Cabral;
Senador Romeu Tuma;
Doutor Hugo Napoleão
Deputada Federal Yeda Crusius;
Deputado Federal Gastão Dias Vieira;
Deputado Federal Edir Oliveira;
Deputado Federal Léo Alcântara
Deputado Federal João Paulo Cunha;
Deputado Federal Wanderley Alves Oliveira.
155
ANEXO 4:
MATO GROSSO E MATO GROSSO DO SUL
DIRETORIA REGIONAL
Presidente
: Shirley Teresinha Sebben
Vice
-
Presidente:
Luiz Lázaro Magalhães Filho
Secretária:
Tânia Maria Dorilêo da Silva
Diretores:
José Carlos dos Santos
Ademir Bonatto
Neuza Terezinha da Carli Bertoldi
CONSELHO FISCAL
Presidente
: Ivelise Cardoso Pereira
Conselheiros:
Loaci Argemira Cavalcanti
Marta Helena Cocco
CONSELHO CONSULTIVO
Presidente
: José Geraldo Filho
Vice
-
Presidente:
Wellington Antonio Fagundes
Membros:
Jorge Soares da Silva
Ricarte de Freitas Júnior
156
Silval da Cunha Barbosa
Hermínio J. Barreto
Valdinei Holanda Moraes
Ildo José Busanello
Sebastião Moura Silva
Marcus Fabrício Nunes dos Santos
157
SOBRE A AUTORA
Maria Luiza de Paula Santos nasceu em 04 de fevereiro de 1953, no
município de Paranaíba/MS, filha de Antonio de Paula Netto e Olympia Nogueira
de Paula. Iniciou seus estudos e graduou-se em Três Lagoas/MS. É graduada em
Geografia e Pedagogia pela UFMS e Faculdade de Educação Antonio Gomes
Reis Neves Barretos/SP, respectivamente. Especializou-se em Supervisão e
Planejamento Escolar pela Faculdade de Formação Profissional Integrada,
Goiânia/GO. Funcionária Pública Estadual , concursada pelo Estado de MS onde
ministrou aulas por 7 anos. Em 1983 efetivou-se como professora da rede pública
estadual onde durante 08 anos conciliou os trabalhos de coordenação e docência
pedagógica em escola estadual do município de Nova Xavantina /MT. Em 1990,
transferindo-se para Cuiabá passou a prestar serviços na Secretaria Estadual de
Educação, Coordenadoria Técnica, trabalhando com legislação, normas e
inspeção. Neste período, em 1993 passou a fazer parte do quadro de funcionários
da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade - CNEC na função de
Coordenadora Pedagógica, participando de vários comitês e grupos de trabalho
da instituição, onde a hoje possui nculo empregatício. A partir de 1997,
concomitantemente, a convite passou a compor a equipe técnica do Conselho
Estadual de Educação de Mato Grosso, vindo a aposentar-se no ano de 2003. Em
2005 e 2006 apresentou trabalhos em congressos e seminários em parceria com
o Prof. Doutor Manoel Francisco de Vasconcelos Motta voltados para a temática
de Movimentos Sociais.
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