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O controle da leitura aparece como mais direto, mais simples e,
certamente, mais indolor. Para funcionar, basta que as leituras do
público a ser alfabetizado e educado (portanto, a ser doutrinado)
sejam orientadas, mediante algum mecanismo de autoridade, para
determinados corpus de obras e não para outro, para um cânone fixo,
que pode ser mais ou menos amplo, mais liberal ou mais restritivo,
mas que é imposto ... (p. 207)
Os cânones tendem a assegurar a manutenção do pensamento e do status
quo desejados. Todas as sociedades possuem seus mecanismos de controle,
organização e distribuição dos discursos que lhe interessam; os que não
interessam aos seus propósitos são interditados e marginalizados, pois o
estabelecimento de um cânone não obedece apenas aos desejos de uma
sociedade como um todo, mas a grupos dentro dela ou de algumas instituições.
Dentre elas, a instituição carcerária também elenca o seu rol de obras permitidas e
estabelece o seu cânone. No quarto capítulo dessa pesquisa mostraremos a
constituição do cânone do Lar do Adolescente – Fazendinha em Cuiabá - MT
2.5 – OUTROS MODOS DE LER
Os cânones são estabelecidos para assegurar interesses de grupos e por
isso mesmo são históricos e mutáveis, por isso mesmo, cabe-nos ressalvar que a
mudança de cânone nunca se dá de forma absoluta, pois mesmo na vigência de
um cânone, outro, “marginal”, com ele coexiste. Isto é, ao lado das obras que são
indicadas para leitura, e representam a manutenção de um determinado status
quo, existe um rol de outras não indicadas, mas que mesmo assim, circulam
paralelamente. É o que podemos nominar, conforme Faria (1999,) de leitura
erudita
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e leitura comum
12
11
A leitura erudita é aquela consagrada pela tradição humanista e assimilada pela escola
tradicional, ao longo de sua estruturação, como a única leitura válida. Sua finalidade é de ordem
exclusivamente estética; o leitor mantém distanciamento do texto, fruindo-o formalmente, segundo
os padrões eruditos estabelecidos pela crítica literária de seu tempo. (Faria, 1999: 82)
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A leitura comum, ao contrário, não é feita em função do valor literário atribuído à obra pela
academia. [Nela] a relação do leitor com a obra é afetiva; ela se manifesta pela identificação do
leitor com a história, com os temas tratados, coma s personagens. (idem)