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Adriane Marchese Chiodi
Compreensão em leitura: elaboração de tarefas avaliativas com enfoque
cognitivo.
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Letras Mestrado, Área de
concentração em Leitura e Cognição,
Universidade de Santa Cruz do Sul, como
requisito parcial para a obtenção do grau de
Mestre em Letras.
Orientadora: Prof.ª Dr. Onici Claro Flôres
Santa Cruz do Sul, Agosto de 2008.
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Adriane Marchese Chiodi
Compreensão em leitura: elaboração de tarefas avaliativas com enfoque
cognitivo.
Esta Dissertação foi submetida ao Programa de
Pós-Graduação em Letras – Mestrado, Área de
concentração em Leitura e Cognição,
Universidade de Santa Cruz do Sul, como requisito
parcial para a obtenção do grau de Mestre em
Letras.
Prof.ª Dr. Onici Claro Flôres
Professora Orientadora
Prof. Dr. Vilson José Leffa
Prof.ª Dr. Lilian Cristine Scherer
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Bibliotecária : Muriel Thurmer - CRB 10/1558
C539c Chiodi, Adriane Marchese
Compreensão na leitura : elaboração de tarefas avaliativas com enfoque cognitivo /
Adriane Marchese Chiodi ; orientadora, Onici Claro Flôres. - 2008.
132 f. : il.
Dissertação ( Mestrado ) – Universidade de Santa Cruz do Sul, 2008.
Bibliografia.
1. Leitura. 2. Compreensão na leitura. 3. Mediação cognitiva. 4. Avaliação leitora. I.
Flôres, Onici Claro. II.
Universidade de Santa Cruz do Sul. Programa de Pós-
Graduação em Letras. III. Título.
CDD: 418.4
4
DEDICATÓRIA
Dedico esta dissertação à minha amada família e às pessoas que fazem parte da
minha vida e torcem por mim.
Seja qual for a forma de manifestação da fé, haverá sempre a certeza, em cada um
de nós, da existência divina, capaz de iluminar e de nos fazer acreditar na possibilidade
do sucesso. Devemos a ti, a segurança para conseguirmos enfrentar os dias mais
obscuros, a inteligência, a coragem para entendermos as lições mais difíceis da vida, e
a paciência para poder compreender o próximo e a nós mesmos.
Ao meu pai Luiz,
Pelo exemplo de homem digno e honesto.
Pela responsabilidade e atenção dedicada a nossa família, seu orgulho maior.
Pela vontade com que sempre quis abraçar a causa e a coisa pública, fazendo dela seu
ideal.
Pelo que é, homem de origem simples, com pouco e muito saber, pelo que soube
construir ao longo de sua trajetória de vida, de quem tenho muito orgulho de ser filha.
À minha mãe Teresinha, que esteve sempre por perto, dando-me apoio
incondicional com seu olhar cheio de afeto e preocupação. Agradeço-lhe por todas as
vezes em que ouviu meus sonhos e me amparou. Tenho muito orgulho de ser sua filha
e lhe agradeço, sobretudo, pelo carinho, educação e orações.
Aos meus manos Rovani e Ronivan, especiais e insubstituíveis, companheiros de
todos os momentos, exemplos de homens simples, dignos e honestos.
À minha mana Marilu, por ser minha irmã-amiga-mãe, por torcer por mim, por ter
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comemorado cada uma das minhas conquistas até hoje como se fossem e, de fato,
também são – dela.
À minha sobrinha e afilhada Milene, por seu amor incondicional.
À minha orientadora, Prof Dr.ª Onici Claro Flôres, exemplo de dedicação,
compreensão, confiança e seriedade, ensinando “o aprender a ser melhor com, do que
ser melhor de...”.
E por último, mas o em último lugar, ao meu amor eterno, Namir, o que dizer?
Obrigado? Desculpe? Nunca se sabe ao certo. Companheiro incansável, meu porto
seguro nos momentos mais obscuros e nas lições mais difíceis da vida, que eu possa
mostrar o potencial que acredita que tenho, por confiar em mim tanto e sempre.
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AGRADECIMENTOS
A produção de um trabalho como este nunca é feita apenas por quem escreve.
Muitas pessoas contribuíram com idéias, palavras, leituras, correções; outras com uma
palavra de incentivo e, ainda outras, até mesmo assumiram minhas atividades, para
facilitar um tempo maior de dedicação ao estudo. Sendo assim, ao finalizar esse
trabalho, não poderia deixar de agradecer.
Em especial à minha estrela guia, Prof.ª Dr. Onici Claro Flôres, pela disponibilidade,
por não ter medido esforços para me ajudar, pela paciência, por ter acreditado em mim
e me ensinado tanto, pelas idéias, indicação de livros, pelas suas leituras críticas do
que eu escrevia, pelo estímulo e exigência do meu crescimento acadêmico e pessoal,
emprestando-me seu brilho e sua energia. Foi muito bom tê-la como orientadora.
Ao Namir, minha cara-metade, por confiar em mim, pelo apoio incondicional, pelo
incentivo insistente e por suportar muuuitas privações para que meu sonho se tornasse
realidade. Sem você isso não seria possível. A conquista é sua também.
Aos demais familiares, amigas e amigos da labuta diária, a quem quero muito bem,
pelo carinho e generosidade dedicados durante essa árdua, e ao mesmo tempo,
gratificante e realizadora caminhada.
À professora Dr.ª Ângela Kleiman e ao professor Dr. Luiz Antônio Marcuschi,
pesquisadores deste país, que lutam, diretamente ou não, para uma melhoria na
qualidade da educação, pela atenção em responder os e-mails, e pelos textos valiosos
que me foram enviados.
Ao professor Renato Michel, pela estatística, cuja confiança e paciência foi
7
estatisticamente significativa.
À direção do Colégio Estadual Ilópolis que sempre que possível ajeitou meus
horários, aos meus alunos que colaboraram com a aplicação deste projeto, em especial
àquelas colegas que me apoiaram quando surgiram dificuldades, as quais exercem
com compromisso e profissionalismo esta difícil, porém, prazerosa missão.
A todos os professores do mestrado, pelas valiosas contribuições que fizeram para
que o meu trabalho fosse realizado.
A todos que torcem por mim e pela minha felicidade.
A todos muitíssimo obrigada!
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“É melhor tentar e falhar, que se preocupar e ver a vida passar .
É melhor tentar ainda que em vão, que sentar-se fazendo nada.
Até o final. Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias tristes
em casa me esconder. Prefiro ser feliz, embora louco, que em
conformidade viver”.
(Martin Luther King)
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RESUMO
Fundamentando-se em uma concepção interacionista de linguagem e em um
conceito de leitura também sócio-interacionista, a base teórica desta investigação
apoiou-se, sobretudo, em autores como Vygotsky (1983, 1984, 1993), Kleiman (1995,
1998, 2001), Marcuschi (1985, 1996, 2001), Koch (1993, 1998, 2005), Dascal (2006)
entre outros, e tem o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre a compreensão em
leitura e a sua relação com a aprendizagem, a memória e a atenção, verificando
através dessas âncoras a possibilidade de escolha e preparação de exercícios para a
avaliação leitora. A meta é enfocar a inter-relação entre as habilidades citadas,
testando-as através de um instrumento constituído de vários exercícios que enfatizam
ora uma ora outra, visando ao detalhamento um pouco mais efetivo do processo de
compreensão leitora, ao aprimoramento do trabalho do professor e ao desenvolvimento
da capacidade de compreensão e interpretação do aluno-leitor.
Em vista disso, recorreu-se à metodologia experimental, sendo criada e adaptada
uma bateria de exercícios que, no seu conjunto, pôde fornecer dados mais específicos
a respeito das falhas de compreensão, obtendo-se maior grau de fidedignidade dos
resultados e das análises propostas. O pressuposto assumido pelo trabalho, foi de que
os exercícios de tipo padronizado não conseguem estabelecer quais são exatamente as
dificuldades de compreensão existentes, se estariam vinculadas à aprendizagem, à
memória ou à atenção, e de que modo isso afetaria a compreensão; a hipótese inicial é
que a organização de exercícios especiais, em que as habilidades cognitivas sejam
dissociadas, sendo testadas através de atividades distintas, permitiria uma melhor
avaliação da competência leitora dos alunos; e, em continuidade, a segunda hipótese é
a de que os professores de língua portuguesa podem produzir seus próprios materiais
de ensino, validando-os em suas turmas, desde que recebam apoio técnico para tal. Os
participantes da pesquisa foram estudantes do Ensino Médio, da rede pública estadual,
e o período de realização de coleta dos dados estendeu-se de abril a maio de 2008. Os
10
resultados obtidos confirmaram as hipóteses formuladas. Com relação à primeira, a
confirmação foi parcial, pois os dados indicaram que, de fato, uma série de exercícios
cuja formulação preveja a dissociação das habilidades envolvidas na compreensão e
distintas ênfases na proposta de testagem permitem uma análise mais segura dos
dados. Porém não foi possível detectar aque ponto uma ou outra das habilidades
investigadas afetaria a compreensão, uma vez que foi possível estabelecer
tachativamente com base nos dados obtidos, se a maior dificuldade do aluno seria, por
exemplo, focalizar a atenção ou inferir. Com relação à segunda, que dizia respeito à
possibilidade de o próprio professor produzir seus materiais de leitura os resultados
além de confirmados são promissores. A proponente do estudo considera que a
experiência feita foi instigante, trazendo conseqüências decisivas em nível profissional
e pessoal. Espera-se que a natureza da pesquisa realizada, que as idéias defendidas e
as sugestões feitas sejam úteis e possam contribuir para que os professores conheçam
melhor os materiais e atividades que utilizam em suas ões pedagógicas que
envolvam leitura, compreensão e interpretação.
Palavras-chave: Compreensão em leitura; mediação cognitiva; avaliação leitora;
produção de exercícios avaliativos.
11
ABSTRACT
Based in an interactionist language conception and in a reading concept also
sociointeractionist, the theoretical base of this investigation was supported especially in
authors like Vygotsky (1983, 1984, 1993), Kleiman (1995, 1998, 2001), Marcuschi
(1985, 1996, 2001), Koch (1993, 1998, 2005), Dascal (2006) among others, and it has
the objective to deepen the knowledge on comprehension and its relation with learning,
memory and attention, verifying through these anchors the possibility of chosing and
preparation of exercises for reading evaluation. Its goal is focusing the inter-relation
between those skills, testing them through an instrument constituted of several exercises
that emphasize now one skill after another, aiming a little more effective detailing of the
reading comprehension process, a teacher´s job improvement and a teacher´s job
improvement and a development of the capacity of reading comprehension and
interpretation of the student reader.
In view of that, the experimental methodology was used, being created and adapted
a battery of exercises that, in their set, it could supply more specific data about reading
comprehension fails, getting bigger degree of trustworthiness of the results and of the
proposed analyses. The presupposition assumed by this paper was that the
standardized type exercises do not manage to establish which are exactly the reading
comprehension difficulties, if they would be linked to learning, memory or attention, and
in what way this would affect comprehension; the starting hypothesis is that the
organization of special exercises, in which cognitive skills be dissociated, being tested
through distinct activities, would allow a better evaluation of the students reader
competence; and, in continuity, the second hypothesis is that Portuguese language
teachers can produce their own teaching materials, validating them in their groups, since
they receive technical support for that. The participants of the research were high school
students, of the public state net, and the period of data collection was from April to May
2008. The obtained results confirmed formulated hypotheses. Regarding the first of
them, the confirmation was partial, because data indicated that, in fact, a battery of
12
exercise which formulation foresees the dissociation of the involved skills on
comprehension and distinct emphases in the proposal of testing allow a safer data
analysis. However it was not possible to detect up to which point one or other
investigated skills would affect comprehension, seeing that was possible to establish
brandly, based on obtained data, if the mayor difficulty of the student would be, for
example, focusing attention or inferring. Regarding the second one, that was respect to
the possibility of the own teacher producing his/her reading materials the results beyond
confirmed are promising. The proposer of this study considers that this experience was
stimulating, bringing decisive consequences in professional and personal level. It is
hoped that the nature of the carried out research, the defended ideas and the
suggestions done be useful and can contribute so that the teachers know better the
materials and activities they use in their pedagogic actions that involve reading,
comprehension and interpretation.
Key-words: Reading comprehension; cognitive mediation; reading evaluation;
production of evaluative exercises.
13
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.........................................................................................................15
1COMPREENSÃO EM LEITURA: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS.........................19
1.1 Algumas ancoragens teóricas............................................................................20
1.2 O processamento da compreensão.. .................................................................21
1.3 Os horizontes da compreensão..........................................................................23
1.3.1 Níveis de compreensão leitora........................................................................30
1.3.2 Avaliação de leitura ........................................................................................32
1.3.2.1 Geração de inferências................................................................................32
1.3.2.2 Cloze Test....................................................................................................34
1.3.3 Exercícios de avaliação leitora .......................................................................36
1.4 Inter-relações entre compreensão, aprendizagem e memória...........................38
1.5 Inter-relação entre compreensão e atenção.......................................................43
2 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA.............................................................................47
2.1 Objetivos da pesquisa.........................................................................................47
2.1.1 Objetivo geral...................................................................................................47
2.1.2 Objetivos específicos.......................................................................................47
2.2 Hipóteses de trabalho.........................................................................................48
2.3 Procedimentos....................................................................................................48
2.3.1 Caracterização do estudo................................................................................48
2.3.2 População e amostra.......................................................................................49
2.3.3 Instrumentos da pesquisa................................................................................49
2.3.4 Etapas do trabalho...........................................................................................52
3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS.................................................54
3.1 Resultado da análise estatística.........................................................................54
14
3.2 Comparação entre dados estatísticos e dados brutos..................................... 66
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................83
REFERÊNCIAS.......................................................................................................89
ANEXOS.................................................................................................................93
Anexo A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido..........................................93
Teste 1 - A Competência do coração......................................................................97
Teste 2 - Teste.......................................................................................................101
Teste 3 - Dia Ocidental da Mulher.........................................................................109
Teste 4 - O Nariz....................................................................................................113
Teste 5 - Os Alimentos..........................................................................................119
Teste 6 - Coração..................................................................................................124
Teste 7 - O Zelador do Labirinto............................................................................128
Fotografia...............................................................................................................132
INTRODUÇÂO
O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer
da gente é coragem”
João Guimarães Rosa, (1965, p. 241).
Vive-se uma época marcada por transformações, a qual se caracteriza pela
explosão de conhecimentos em quase todas as áreas de saber e pelo descrédito
precoce de muitas informações que se julgava fossem permanentes. Novas formas de
organização do trabalho aliaram-se a um sistema de vida pautado pelo individualismo e
pela competitividade, determinando em grande medida a vida material e cultural das
pessoas. É essa a realidade para a qual é preciso se preparar, sendo que a
compreensão permeia todas as atividades do dia-a-dia, como um fator decisivo para
desencadear processos de aprendizagem variados e possibilitar o enfrentamento dos
desafios da sociedade atual.
Tendo, pois, como pano de fundo esse panorama social, a presente pesquisa surgiu
da reflexão e análise da prática pedagógica. A crítica à atividade docente da própria
investigadora impulsionou a emergência de uma atitude mais independente na
proposição de atividades de leitura, e a busca de condições para oportunizar aos
alunos um melhor acompanhamento do ritmo de desenvolvimento da sociedade,
através da mediação de leitura, contribuindo, dessa maneira, para a melhoria da
qualidade de ensino. De acordo com Moraes (2004, p. 218), “[...] O processo pode ao
mesmo tempo ser difícil e gratificante, exigindo romper com convicções fortemente
estabelecidas. Não basta dissolver o que é cristalizado. É necessário produzir novas
alternativas dentro do próprio processo”.
16
Assim, em uma sociedade que se transforma de modo rápido e contínuo, na qual as
informações e conhecimentos gerados pela ciência e pela tecnologia se multiplicam o
tempo todo, é indispensável que as pessoas pensem e possam, de fato, compreender,
esperando-se, além disso, que estudantes de ensino fundamental, de ensino dio e
de ensino universitário, sobretudo, consigam entender os textos que lêem, até para
captar e analisar pontos de vista distintos dos seus. A realidade mostra o oposto.
Avolumam-se comprovações da existência de inúmeras dificuldades de compreensão
leitora, e como o problema existe, há também muitas pesquisas sobre o assunto. Estas,
contudo, não chegam a esclarecer totalmente a questão e nem respondem à maioria
das dúvidas existentes, não se sabendo ao certo, por exemplo, como aprendizagem,
memória e atenção estão envolvidas na compreensão.
Num primeiro momento, precisa-se esclarecer o que se entende por compreensão.
Como se questiona Dascal (2006, p. 76): “A compreensão tem a ver com o que está
em nossa cabeça? Talvez. Sinto que há algo mais [...]”. Esse autor comenta que
diversas disciplinas arrogam-se o direito de investigar a compreensão. Quase todas têm
algo a dizer, afirma ele, tanto em relação às propostas da lingüística, da filosofia, da
psicologia quanto das ciências cognitivas, mas ele se pergunta, também, se as
metodologias são adequadas. Enfim, ele problematiza o conceito e os modos de
abordar a questão, cotejando teoria/metodologia e discutindo quais são os fatos,
teorias, opiniões, objetos, hábitos etc, que se deveria selecionar, para então, examinar
minuciosamente aqueles que têm alguma relação com a compreensão.
O presente trabalho versa, assim, sobre compreensão leitora, defendendo a idéia
de sua relação indissociável com aprendizagem, memória e atenção. A compreensão é
nele analisada como um feixe de diferentes processos mentais, constituindo um todo
complexo a ser abordado através de uma bateria experimental de exercícios,
elaborados para atender às especificidades do estudo proposto, com o intuito de
acrescentar, talvez, subsídios teóricos e contribuições às atividades pedagógicas do
professor. O instrumento de avaliação da compreensão leitora, projetado em função
17
dele, tem o objetivo de testar habilidades cognitivas vinculadas à compreensão,
especificamente, a aprendizagem, a memória e a atenção. Como é possível antever,
um único exercício não poderia abranger todos os mecanismos mentais envolvidos, por
isso, diferentes tipos de tarefas são propostas. Em vista disso, o instrumento de
pesquisa contém sete (7) atividades de leitura enfocando distintas habilidades
concernentes à compreensão, as quais priorizam leitura/compreensão,
leitura/aprendizagem, leitura/memória e leitura/atenção. Alguns dos tipos de exercícios
selecionados foram validados em inglês e em português, como o teste cloze e outros
que, também, constam em anexo, são adaptações de exercícios já propostos em
trabalhos de vários autores. A novidade está em reconstituir a proposta sem utilizar o
texto anteriormente aplicado e integrar cada um dos exercícios a um objetivo mais
amplo do que o de um exercício isolado, único para avaliar a compreensão. A
seqüência dos exercícios, em seu todo, vai nortear o processo avaliativo, orientando o
trabalho a ser desenvolvido pelo professor.
Com esse objetivo em mente, organizou-se o relato de pesquisa em três capítulos.
O capítulo inicial faz uma revisão teórica do tema, analisando como se o
processamento de compreensão e seus horizontes possíveis, os níveis de
compreensão teoricamente analisados, o modo de geração de inferências e a
metodologia da produção de exercícios avaliativos de leitura, inclusive, do teste cloze.
Além disso, descrevem-se as inter-relações entre compreensão, aprendizagem,
memória e atenção. No capítulo seguinte, capítulo dois, é delimitada a pesquisa, são
definidos os objetivos, as hipóteses de trabalho, os procedimentos e a descrição dos
instrumentos propostos para avaliar a compreensão. No terceiro capítulo, passa-se à
aplicação dos exercícios e à análise dos resultados apresentados ao longo do
processo. Na sequência, são feitas algumas considerações em torno da pesquisa
realizada. Adicionalmente, as dificuldades de compreensão captadas pelos testes são
registradas, acrescentando-se comentários sobre os possíveis vínculos da
compreensão com a aprendizagem, a memória e a atenção. Discute-se até que ponto
foi possível constatar, se as habilidades cognitivas em foco podem afetar a
compreensão. Indica-se, ainda, qual dentre elas se mostrou determinante e qual a mais
18
difícil de apreender, analisando-se o resultado final dos exercícios. Por fim, se
destacará a conveniência de os professores escolherem e prepararem seus próprios
materiais de ensino de leitura.
Do ponto de vista acadêmico, o estudo se justifica porque se relaciona com os
propósitos do curso, que concernem à investigação da relação entre leitura e cognição.
Do ponto de vista social, ele se sustenta porque um dos maiores problemas
educacionais que a população brasileira enfrenta em nossos dias, de acordo com várias
pesquisas feitas, é a falta de compreensão leitora e o analfabetismo funcional. Do ponto
de vista do conhecimento, o estudo interessa porque esclarecerá alguns pontos
nebulosos sobre compreensão e propõe um trabalho diferenciado sobre compreensão
leitora, considerando diferentes questões cognitivas com alguma acurácia.
1 COMPREENSÃO LEITORA: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Este trabalho tem o objetivo de avaliar a compreensão em leitura e sua relação com
a aprendizagem, a memória e a atenção, ou seja, ele enfoca a inter-relação existente
entre essas habilidades, e, além disso, defende uma maior autonomia ao professor na
escolha de materiais avaliativos e no planejamento dos mesmos. O seu ponto de
partida foi a constatação de que um dos grandes desafios da educação brasileira, hoje,
é implementar a prática de leitura nas escolas. A competência leitora plenamente
desenvolvida emanciparia o leitor para continuar sua própria aprendizagem,
independentemente do professor, destacando-se, ainda, por estimular a criação,
imaginação e formação de um leitor autônomo e crítico.
A dificuldade está em que os alunos precisam ser motivados a ler, pois não
demonstram saber por quê, nem para que a leitura vai ser-lhes útil. De fato, a proposta
pedagógica precisa refletir-se na vida real desses alunos, devendo ser vista como uma
ferramenta de auxílio a uma construção ativa e intersubjetiva da compreensão do
mundo. Aos docentes cabe, então, conceber a leitura como prática social aliada a
competência individual, apresentar objetivos de leitura bem definidos, utilizar
metodologia de trabalho dinâmica e motivadora que faça circular os conhecimentos
adquiridos, selecionar textos adequados, formular questões que valham a pena resolver
e que visem à aprendizagem, o esquecendo de que os alunos fazem parte de um
contexto sócio-cultural e político, apesar de cada um ter sua própria história. A
desconsideração desses detalhes dificulta o contato do aluno com a leitura,
desfavorecendo a sua prática. É imprescindível, então, que o professor focalize a
atenção nas atividades de leitura propostas, para que os exercícios não venham ao
encontro do que afirma Marcuschi “[...] os exercícios de compreensão propostos
raramente apresentam algum desafio ou estimulam a reflexão crítica sobre o texto”
(1996, p.64). Kleiman, de sua parte, assegura-nos que “[...] o tipo de pergunta que o
professor faz ou seja, a sua mediação entre o leitor em formação e o autor do texto
20
escrito - é crucial” (2001, p. 10).
Por tudo isso, mediar a compreensão em leitura é essencial, cabendo à escola
fornecer aos alunos o lastro inicial, uma vez que de posse do instrumental necessário,
eles terão a possibilidade de continuar aprendendo de acordo com seu ritmo, memória
e atenção. Trata-se de construir relações entre saberes, rompendo a fragmentação
existente. Quanto mais o aluno souber e quanto mais ler, maiores serão as suas
possibilidades de inferir, de analisar, de fazer comparações e, finalmente, de chegar à
compreensão leitora. Formular perguntas sobre um texto implica saber qual a finalidade
da leitura, sendo essencial que o professor saiba que habilidade pretende desenvolver
no aprendiz. E como ressaltam Kleiman e Moraes (2002), uma das funções da escola é
dar aos alunos as condições indispensáveis, para que consigam compreender a
complexidade das informações em circulação no seu dia-a-dia.
1.1 Algumas ancoragens teóricas
A compreensão leitora é um fenômeno complexo, envolvendo o indivíduo
integralmente, seja em relação aos aspectos cognitivos, seja em relação aos fatores de
ordem emocional, psicossociais e culturais, dependendo tanto do desenvolvimento de
aptidões, quanto do conhecimento prévio. Um trabalho docente sistemático e bem
orientado é imprescindível à formação de leitores autônomos e críticos, percebendo-se
uma notória escassez de propostas pedagógicas que realmente traduzam essa
convicção. Por isso, quando se buscou delimitar o campo de abrangência desta
pesquisa, fez-se uma triagem das definições do que seja compreensão e interpretação,
pois elas são muito numerosas. Então, decidiu-se recorrer à explicitação do ponto de
vista teórico adotado. As definições teriam de estar de acordo com ele. A primeira
teórica a ser consultada foi Ângela Kleiman. Assim, conforme Kleiman (1995), a
compreensão se apóia na percepção e construção de significados com base na
textualidade, no nível lexical, sintático, semântico e pragmático. Já a interpretação
estaria diretamente relacionada às práticas culturais da comunidade a que pertence o
leitor.
21
Segundo a autora citada, entender a compreensão leitora é uma tarefa complicada,
porque o próprio objeto a ser compreendido é difícil de ser apreendido em sua
integralidade, tendo em vista a complexa rede de relações existentes dentro do texto no
que diz respeito à estrutura da sentença, do período e do parágrafo. Essas relações
tornam qualquer texto excessivamente complexo para ser captado de forma rápida,
imediata e total. Kleiman (1995, p.13) acrescenta que “A compreensão de um texto é
um processo que se caracteriza pela utilização do conhecimento prévio: o leitor utiliza
na leitura conhecimentos adquiridos ao longo de sua vida”. Nessa ótica, tanto o texto,
quanto o leitor são importantes para a atividade leitora ser bem sucedida, por isso, a
leitura é considerada um processo interativo, no qual texto, autor e leitor têm papel
relevante.
Dascal (2006) propõe um modelo integrado de interpretação/compreensão, uma vez
que em sua perspectiva não é possível falar em compreensão sem relacionar o
conceito ao de interpretação. Para ele esses dois conceitos são indissociáveis. Afirma,
além disso, que “[...] a interpretação é a atividade pela qual se busca uma espécie de
lugar seguro, descobrindo regularidade que se encaixe ali, onde originariamente causou
surpresa” (2006, p.661). O autor destaca que o recurso aos modelos interpretativos é
parte da descoberta e da invenção das regularidades para a qual o discernimento é
invocado, a fim de que se possa passar de um modelo a outro, tanto para entender o
objeto a ser interpretado quanto para avaliar a compreensão.
Em suma, compreender/interpretar são atividades cognitivas imprescindíveis,
porque a realidade da sala de aula se faz pelo trabalho de compreensão e interpretação
de alunos e professores. Embora não haja uma solução mágica, não se pode perder as
oportunidades que acontecem na sala de aula e, consequentemente, na vida escolar,
para a descoberta do sentido de algo que resulta da ação-interação humana, como é o
caso da leitura de textos.
1.2 O processamento da compreensão
22
Pode-se afirmar, sem medo de engano, que uma boa compreensão em leitura
pressupõe, além do conhecimento lingüístico propriamente dito, um repertório de
informações exteriores ao texto. Já a interpretação envolve aquilo que se faz com o que
se leu, relacionando o texto à experiência de vida, à própria existência. A decorrência é
que para ler, o leitor mobiliza diversos sistemas de conhecimento lingüístico,
enciclopédico e interacional - que interagem entre si. Essa mobilização integral do leitor
enriquece o texto lido, dando-lhe uma dimensão não existente antes da leitura
(Kleiman, 1995).
O conhecimento lingüístico, ainda de acordo com Kleiman (1995, p.14),
“desempenha um papel central no processamento do texto”, pois as palavras se
agrupam em unidades ou frases maiores e mais significativas, e, à medida que as
palavras são percebidas, a mente é ativada para construir significados. Por sua vez, o
conhecimento textual, ou seja, o conjunto de noções e conceitos sobre o texto, de
posse do leitor, também faz parte do conhecimento lingüístico prévio e desempenha um
papel importante na compreensão, sendo a partir dele que o leitor pode produzir as
inferências necessárias para reunir e integrar as diferentes partes do texto num todo
coerente.
O conhecimento de mundo ou enciclopédico, de sua parte, resulta das experiências
e do convívio do leitor com textos e pessoas, num dado espaço social. Ele é ativado no
momento devido, sendo essencial à compreensão, porque fornece as bases
informativas a respeito das ações sociais presentes nas variadas situações interativas.
O conhecimento estruturado na memória determina em grande parte as expectativas
sobre a ordem em que as coisas devem ou não acontecer, permitindo economia na
comunicação. Por exemplo, o que é típico de uma dada situação permanece implícito,
porque o leitor tem condições de complementar as lacunas informativas do texto.
ainda a seleção das palavras a serem usadas de acordo com o lugar, a pessoa, o grupo
em que o leitor está e assim por diante, e essa atividade relaciona-se com o
conhecimento de mundo, porque não se usa o mesmo modo de dizer em todos os
lugares. Se alguém o fizer, provavelmente, encontrará algum tipo de problema ou
23
sugirá algum mal-entendido.
através do conhecimento interacional, o aluno acessa esquemas de situações
sociais nas quais a leitura é requerida, quem lê, o que e assim por diante. Além
disso, pode produzir inferências que só são possíveis, se ele entender as normas sócio-
culturais expressas no texto e nas relações causais que o texto expressa. Em tais
circunstâncias, a leitura é um ato perceptual e cognitivo. A compreensão do texto se
processa a partir de informações gerais, anteriormente memorizadas, sendo elas
constitutivas do entendimento daquilo que é lido. O fluxo da informação vai do leitor
para o texto e vice-versa, simultaneamente. Na ótica de Kleiman essa atividade é
definida como sendo “[...] uma interação a distância entre leitor e autor via texto” (1995,
p.65), sendo o texto o elemento mediador dessa interação. Desse modo, deve-se ter
presente que o ato de ler ocorre sob circunstâncias específicas, num contexto social e
cultural também específico, fazendo parte da vida do indivíduo e do grupo a que o leitor
pertence. Assim, a compreensão de um texto depende das relações existentes entre
leitor, autor e texto no momento em que a leitura está sendo feita, não pairando acima
das circunstâncias de vida normais dos leitores.
1.3 Os horizontes da compreensão
Ao discorrer a respeito da compreensão leitora, Marcuschi (1996, p.75) propõe
cinco horizontes de compreensão, tais como a seguir relacionados: 1) falta de
horizonte, 2) horizonte mínimo, 3) horizonte máximo, 4) horizonte problemático e 5)
horizonte indevido. O primeiro horizonte, ou melhor, a falta de horizonte (repetição ou
cópia) é a leitura colada ao texto original. O leitor não se sente autônomo para construir
o significado textual, ficando preso à palavra do autor que forneceu textualmente as
pistas do sentido pretendido por ele (intencionalidade), para que o leitor as seguisse.
Nesse caso, o leitor apenas recupera as informações explícitas ou quase explícitas. No
segundo, o horizonte mínimo (paráfrase), o leitor continua preso ao texto, ainda
preocupado com a identificação das informações objetivas, explicitadas no texto,
podendo retomá-las, quase na íntegra, com alterações mínimas. Nesse caso, o leitor
24
é capaz de fazer algumas inferências, preenchendo lacunas textuais previsíveis
(elipses). É no terceiro horizonte, o horizonte máximo, que o leitor se liberta, produzindo
inferências com base nos implícitos, percebendo o sentido global do texto e lendo nas
entrelinhas. No horizonte seguinte - o quarto - o horizonte problemático ou de
extrapolação, o leitor começa a se afastar demais do texto. O sentido que ele cria,
privilegia os conhecimentos pessoais mais do que as informações do texto, daí a
denominação de horizonte problemático. No quinto horizonte o horizonte indevido o
leitor distancia-se demasiadamente do texto fonte; por isso se diz que, nesse caso,
houve equívoco, uma vez que o leitor afirma a existência de informações que o texto
não traz. Com essa proposta Marcuschi expressou sua convicção de que o texto diz
algo, não podendo ser negado, enquanto produto discursivo. Essa posição é importante
porque implica afirmar que existem limites também para o leitor, já que o texto diz o que
diz e não aquilo que ele – leitor - decidir que foi dito.
Continuando com Marcuschi (1996, p.77), em sua ótica a compreensão é um
processo ativo, criativo e construtivo, que ultrapassa a informação trazida pelo texto.
Para o autor “[...] compreender é inferir, criar, representar e propor sentidos. A noção de
compreensão como simples ato de decodificação leva a fazer perguntas equivocadas”.
E ainda, “[...] A compreensão depende de conhecimentos pessoais prévios e de
informações textuais”. (1996, p.73).
Alliende e Condemarin (1987, p.12), por sua vez, ratificam os demais autores
citados asseverando que a compreensão de textos escritos é um fenômeno bastante
complexo, até porque os fatores que a determinam são muitos, mantendo-se
interligados entre si. Em decorrência, de acordo com esses autores, as estratégias e as
técnicas para medir a compreensão devem ser analisadas cuidadosamente. A
complexidade pode ser dimensionada em função de que o texto escrito é uma
ferramenta essencial para o processo de aprendizagem que dele depende, numa
sociedade letrada, e, deve-se levar em conta dois aspectos importantes para que de
fato haja aprendizagem. Por um lado a interação do leitor com o texto, e, por outro, a
interação do leitor com a sua própria cognição.
25
Colomer e Camps (2002, p. 47), de sua parte, asseguram que a compreensão não
é uma questão de oito ou oitenta. Como qualquer outro ato de comunicação, a leitura
depende da atuação dos participantes da situação interativa. Assim, o leitor interpreta o
texto a seu modo e, esse modo, ao final da leitura, se ajusta mais ou menos à intenção
do seu autor. Interessa, pois, investigar as condições que influenciaram a interpretação
e os fatores que condicionaram o grau de compreensão alcançado. As autoras referidas
concluem dizendo que “Parece que o processamento em diferentes níveis não segue
uma única direção ascendente (da letra ao texto) ou descendente (dos conhecimentos
e hipóteses globais à letra), mas que uma inter-relação constante entre eles” (2002,
p.57).
Interessa salientar, como o fizeram Colomer e Camps, que existem dois modos de
processamento do texto. No modelo de leitura ascendente, o leitor vai decifrando
pequenas unidades como letras, sílabas, palavras, frases, sentenças etc. juntando as
partes, aos poucos, trabalhosamente. Os leitores desse tipo lêem de forma lenta.
Decodificar é a tarefa básica, envolvendo a cognição por completo. O objetivo é a
compreensão dos pormenores, para que os dados do texto guiem a leitura. Nesse
modelo, o problema es relacionado à falta de conhecimento lingüístico prévio do
leitor, que pode complicar o processamento total do texto, por exemplo, dificultando a
apreensão da idéia principal, dada à morosidade de reconhecimento das palavras.
No modelo descendente, o leitor lê rapidamente, muitas vezes adivinhando as
palavras, ao invés de lê-las. A informação processada não vem do texto
necessariamente, pois o leitor faz uma abordagem não linear, mobilizando seu
conhecimento prévio de modo mais intenso do que a própria informação constante no
texto. A tendência desse leitor é a de apreender as idéias principais, ignorando os
detalhes. Um dos problemas do modelo descendente é que, se o leitor tiver pouco
conhecimento sobre o assunto lido e, além disso, não tiver tempo para adivinhar,
acabará se limitando a fazer um simples reconhecimento rápido de algumas palavras,
não de todas, descurando do seu peso no todo textual.
26
Para compreender, é certo que o leitor tem de decodificar. Não como interagir
com o texto sem descobrir como fazê-lo ignorando sua estrutura e as palavras que o
formam, mas compreender vai além de decodificar. Ler não é simplesmente decifrar o
que esescrito, mas, sobretudo, entender, interpretar, inferir, hipotetizar, apreender o
dito e, principalmente, o não dito, incorporando conhecimentos e idéias aos
conhecimentos e experiências pessoais. A compreensão é, por isso, um processo
dinâmico de interação e criação, em que o leitor faz uso de suas habilidades de
raciocínio e explora, articuladamente, o seu conjunto de conhecimentos, para,
interagindo com as pistas fornecidas pelo texto, construir o seu sentido global.
Ao longo dos anos a pergunta sobre como se compreende tem intrigado e
desafiado educadores e pesquisadores. Respostas alternativas para essa questão têm
provocado uma série de mudanças de enfoque, de processos e de práticas educativas.
Dentre os conhecimentos aceitos, quase unanimemente, está aquele de que a
compreensão em leitura implica atividade cognitiva do leitor e pode envolver várias
estratégias.
Segundo Leffa (1996, p. 143-159), para compreender um texto o leitor usa muitos
procedimentos de abordagem textual, os quais variam desde o nível inconsciente do
processamento gráfico até o nível consciente da atenção. Para Leffa os fatores que
envolvem a compreensão podem ser divididos em três grandes grupos: (1) os relativos
ao texto, (2) à legibilidade e (3) à inteligibilidade. Quanto ao primeiro fator, as pesquisas
se voltaram com ênfase ao estudo da organização do texto, da coesão e da coerência;
quanto ao segundo fator, existem estudos relativos ao leitor, ao levantamento e uso das
estratégias adequadas, à análise de fatores psicológicos como a inteligência, o
interesse e a atitude em relação à leitura, bem como ao conhecimento prévio. Por fim,
quanto ao terceiro fator, os estudos feitos demonstraram uma preocupação maior com o
processo do que com o produto da leitura, em termos de intervenção pedagógica.
Pogré (2006) destaca que a compreensão inclui uma dupla dimensão: pensamento
27
e ação. Compreender, de acordo com essa autora, é atuar flexivelmente em qualquer
circunstância a partir do que se sabe sobre algo, porém, ela alerta os professores,
ressaltando a necessidade de uma proposta pedagógica que lugar a diferentes
modos de ensinar e aceite diferentes modalidades de aprender. Koch (2005, p.17)
enfatiza que, na visão interacional de linguagem, a compreensão deixa de ser
entendida como a simples “captação” de uma representação mental, ou como a mera
decodificação da mensagem resultante da codificação feita por um dado emissor. Ela é,
isto sim, uma atividade interativa exigente e complexa de produção de sentidos, que se
realiza com base nos elementos lingüísticos presentes na superfície textual e no seu
modo de estruturação, requerendo um vasto conjunto de saberes, inclusive sobre a sua
(re) construção, no interior do evento comunicativo.
Kato (1995, p.62) acrescenta que “[...] a compreensão em leitura é uma atividade
que envolve a integração do velho com o novo [...]” e, ainda, que “[...] a compreensão
exige a interação do leitor com dados do texto, dados de sua memória e de sua
capacidade cooperativo-comunicativa com um autor que ele geralmente não conhece”
(p.122). A autora assegura, além disso, que:
[...] o conhecimento prévio, que permite fazer predições, pode advir do próprio
texto ou de informações extratextuais que provêm dos esquemas mentais do
leitor. O foco não é mais a sentença, mas o texto. A compreensão passa
a ser vista não como resultado dos sinais lingüísticos, mas como um ato de
construção, em que os dados lingüísticos são apenas um fator para o
significado construído
(1998, p. 61).
Por tudo isso, “[...] a compreensão passou a ser vista não mais como resultado de
uma decodificação dos sinais lingüísticos, mas como um ato de construção, em que os
dados lingüísticos são apenas um fator que contribui para o significado construído”,
assevera Kato (1998, p.61).
Para Carvalho (2002, p.121), a compreensão ocorre quando o leitor se dirige ao
texto querendo deslindar questões suscitadas pelo seu mundo, buscando encontrar
pistas que o auxiliem no entendimento da realidade. E afirma tachativamente que “[...] é
somente num encontro histórico onde experiências se defrontam que é possível a
28
compreensão e a interpretação de textos”. Taylor (1986, p.13), por outro lado,
complementa as observações de Carvalho dizendo que: “A compreensão é um
fenômeno público e interacional” a respeito do qual os falantes nem sempre se
questionam. Esse autor chega à conclusão de que é difícil estabelecer critérios fixos
que a comprovem totalmente, pois fatores como a situação, o contexto e o propósito do
texto podem interferir no processo.
De acordo com Anderson (2005), as habilidades de compreensão desempenham
um papel essencial no aprendizado da leitura e esse papel vai aumentando conforme o
aluno avança nas séries escolares, à medida que o nível educacional progride,
podendo a habilidade do aluno ser analisada e treinada. Quatro estratégias básicas,
segundo ele, fundamentam a compreensão: resumir, esclarecer dificuldades, formular
perguntas e fazer previsões sobre o próximo conteúdo. Esse autor também afirma que
uma medida importante da compreensão é a memória, sendo que os tipos de
habilidades que atingem um bom desempenho de memória dificilmente são
automáticos, exigindo treinamento intensivo, tal como qualquer outro tipo de habilidade.
Isto é, para Anderson, uma boa capacidade de memorização é um indicador confiável
de compreensão. Como visto, a abordagem da leitura embasa-se em modelos que
buscam dar conta de todos os seus aspectos. Esses modelos lidam com os aspectos
cognitivos da leitura, isto é, com os vínculos entre o informante, o leitor e o texto
enquanto objeto, e entre linguagem escrita e compreensão, memória e inferência. Além
disso, a impossibilidade de acesso direto ao processamento da compreensão no
cérebro, a profusão de elementos intervenientes, o número de aspectos cognitivos a
serem considerados, também colaboram para tornar a ação avaliativa da compreensão
difícil. Porém, o aprofundamento do que se conhece acerca desses aspectos auxilia
muito a tarefa, servindo de fundamento para que se decida o que e como medir a
compreensão, além de servir de indicador das capacidades cognitivas que devem ser
consideradas no momento de avaliá-la.
Dascal (2006) assevera enfaticamente que o reconhecimento da compreensão
implica a interpretação, não havendo como saber se alguém entendeu o que leu sem
29
interpretar os dados obtidos, ou seja, sem recorrer a uma teoria fio condutor uma
teoria da comunicação, levando o (a) leitor (a) a compartilhar o tratamento
epistemológico da pragmática, sobre uma base filosófica e lingüística. Prática e teoria
devem andar juntas para se obter sucesso na tentativa de compreender a
compreensão. Segundo Dascal, é preciso ir além do dito, porque alguém pode dizer ou
escrever algo e querer dizer ou comunicar outra coisa completamente diferente. A
compreensão depende, pois, de interpretar a experiência humana traduzida em
palavras. Desse modo muitos elementos que podem ser avaliados e controlados por
meio dos exercícios, daí a complexidade da questão. Adicionalmente, acrescenta que a
compreensão é uma tarefa que se embasa no nível das regras de uso da língua natural,
incluída a pragmática. Compreender não implica manipular apenas material verbal,
compreender consiste em entender o texto. a interpretação se faz descobrindo as
motivações ideológicas ou inconscientes do texto; interpretar é explicar, ou seja,
esclarecer as motivações escondidas no texto. Segundo o autor, no texto estão
envolvidos mecanismos de natureza distinta: os gramaticais e pragmáticos, material de
compreensão; e as motivações escondidas, material de interpretação. Contudo não
para ignorar que a interpretação depende da compreensão de texto.
Em contrapartida, Marcuschi (2001) chama a atenção para a precariedade dos
exercícios de compreensão leitora. Ele faz uma crítica severa, por exemplo, aos livros
didáticos, reputando-os como propostas de “copiação” e não de compreensão.
Segundo o autor (1996, p. 73), “A proposta dos exercícios escolares falha porque
concebe o texto como uma soma de informações objetivas facilmente identificáveis”. Na
maioria dos exercícios padronizados não clareza quanto ao objetivo pretendido pela
tarefa proposta. Em decorrência, perde-se uma boa oportunidade de treinar o
raciocínio, o pensamento crítico e as habilidades argumentativas. Também se perde a
oportunidade de incentivar a formação de opinião e de cidadãos mais críticos e capazes
de confrontar o mundo em que vivem com outras realidades. Reforça-se sua assertiva
com outro fragmento do mesmo autor, “Os exercícios de compreensão raramente levam
a reflexões críticas sobre o texto [...] o que sugere que compreender é apenas
identificar conteúdos. Esquecem-se [...] outros aspectos relevantes nos processos de
30
compreensão” (op. cit., p. 49). De fato, para acontecer a compreensão em leitura é
preciso primeiro conceber a leitura como um movimento interdisciplinar que não se
dissocia da sociedade e da história, exigindo do aluno a capacidade de inter-relacionar
os conhecimentos do texto com os seus conhecimentos prévios de forma a confrontá-
los com a realidade e com outros textos.
1.3.1 Níveis de compreensão leitora
Como esclarecido anteriormente, a compreensão leitora depende de um grande
número de fatores complexos inter-relacionados. Com certo conhecimento teórico sobre
esses fatores, prevê-se ser um pouco mais fácil detectar o foco das dificuldades de
compreensão e algumas alternativas para facilitá-la.
As perguntas centradas na superfície do texto, por exemplo, têm a finalidade de
verificar a capacidade da memória de trabalho, de curto e, também, de longo prazo.
as perguntas inferenciais se voltam à análise das expectativas e deduções do leitor
quanto às idéias contidas no texto, além de averiguar o conhecimento enciclopédico por
ele detido. As perguntas interpretativas, por sua vez, envolvem julgamentos pessoais e
verificam as reações do leitor a respeito das idéias apresentadas, comparando o ponto
de vista do leitor com o ponto de vista exposto no texto.
As perguntas distribuem-se em níveis de compreensão. Segundo Alliende e
Condemarín (1987, p.141), o nível de compreensão literal envolve as informações
explícitas, ou seja, tudo o que está expresso literalmente, sendo detectável na
superfície do texto. Essas questões tanto podem implicar o simples reconhecimento
como a evocação (memorização). O reconhecimento consiste apenas em localizar e
identificar elementos do texto, como certos detalhes decisivos que podem alterar o
significado global (localizar). Já a evocação requer que o estudante reproduza da
memória as informações apresentadas no texto, o que envolve focalização da atenção
e memória, bem como habilidade de estudo.
31
A compreensão inferencial, por sua vez, exige que o leitor descubra as idéias e
informações implícitas no texto, derivando-as da interação entre conhecimento de
mundo e o texto em si. Esse tipo de questão implica a descoberta de relações e de
idéias dedutíveis a partir do que consta do texto, não se apoiando estritamente no que
está escrito. As perguntas inferenciais exigem raciocínio para serem respondidas.
Na compreensão crítica, que quase se identifica com a interpretação, nos termos de
Dascal, o aluno formula um juízo de valor, compara as idéias apresentadas no texto
com critérios externos, provenientes de outros textos, ou, então, com um critério interno,
fornecido pela sua experiência de vida, seus conhecimentos e valores. Os juízos
formulados baseiam-se na realidade ou na imaginação (o aluno faz a distinção entre o
que é real no texto e o que pertence a fantasia do autor) e de valores (o aluno emite
julgamentos frente à atitude da personagem ou das personagens).
O importante é trabalhar com vários níveis de compreensão/interpretação leitora e
explorá-los de forma adequada, contribuindo dessa forma para a formação de leitores
capacitados que apreendam informações explícitas e implícitas, mediante a
consideração de pistas fornecidas pelo texto, que cada sujeito interage impregnado
de teorias pessoais enriquecidas de conhecimentos e vivências.
A questão mais delicada diz respeito, porém, ao critério a ser utilizado para se
abordar a compreensão, e conseqüentemente, para fazer a sua avaliação. Pode-se
pensá-la, por exemplo, como um conjunto de várias habilidades e, a partir de um
referencial teórico produtivo, criar instrumentos que permitam comprovar a necessidade
dessas habilidades para a compreensão. O presente estudo vai nesta direção, podendo
assim contribuir para aumentar o conhecimento a respeito da habilidade compreensiva.
As concepções apresentadas até aqui se interligam, apesar de abordarem distintos
aspectos cognitivos ou diferentes fatores envolvidos na compreensão. Elas enfocam a
relação entre o leitor e o texto, entre a memória e as representações mentais, entre
linguagem e compreensão, atenção, memória, inferência, pensamento e aprendizagem,
buscando também incorporar aspectos sócio-culturais, uma vez que suas análises
32
incluem desde a percepção das letras até o uso do conhecimento armazenado na
memória. No entanto, em que pese toda a pesquisa feita até o momento, o assunto não
está esgotado, restando muitas dúvidas a serem sanadas. Em conseqüência, a
complexidade do processamento mental inerente à compreensão requer estudos
minuciosos por parte de pesquisadores da área da psicolingüística, neuropsicologia,
etc., pois o ato de compreender envolve um conjunto de funcionamentos mentais que
justificam integralmente a preocupação dos professores com os problemas de
compreensão leitora de seus alunos.
1.3.2 Avaliação de leitura
Acredita-se que a compreensão em leitura não é orientada apenas pelas marcas
gráficas do texto, mas, sobretudo, pelo que essas marcas têm a dizer e pelo modo
como o leitor apreende e interpreta a intenção pretendida pelo autor, sem esquecer que
o leitor possui uma história pessoal. História essa, que faz diferença quando ele se
defronta com um texto que favorece a produção de inferências, mobilizando a sua
memória e o seu modo de entender o mundo.
1.3.2.1 Geração de inferências
Inferir, segundo vários conceitos existentes, sempre diz respeito à produção de
novos conhecimentos, a partir de algo lido. Coscarelli (1996, p.7), por exemplo, aposta
decididamente na importância inquestionável dos processos inferenciais e afirma que
eles “são a alma da leitura”, assegurando, sobretudo, que o leitor que não faz
inferências, de fato, não lê.
Para Marcuschi (1996), a compreensão de textos é uma atividade de co-autoria
realizada pelo autor e pelo leitor do texto. Nessa perspectiva, o processo inferencial tem
papel de destaque, evidenciando que a compreensão depende de conhecimentos
pessoais prévios (informações não textuais e de informações textuais). Entretanto,
mesmo que a compreensão envolva certa liberdade por parte do leitor, essa liberdade
33
é, ao mesmo tempo, direcionada pelo próprio texto. Em uma publicação anterior (1985),
ele enfatizara que as inferências são processos cognitivos que implicam a construção
de representação semântica baseada na informação textual e no contexto, sendo
justamente a capacidade de reconhecimento da intenção comunicativa do interlocutor,
e mais precisamente do autor, no caso do texto escrito, que caracteriza o leitor maduro
e, portanto crítico, questionador e reconstrutor dos saberes acumulados culturalmente.
Pode-se perceber que Marcuschi em (1989) salientara o encontro entre os
mundos do leitor e do autor no processo de compreensão textual, destacando o papel
de ambos na elaboração de inferências, contemplando, além disso, as memórias de
experiências pessoais e socioculturais vividas pelo leitor. Kintsch (1998), por sua vez,
apoiando-se estritamente na questão cognitiva individual, assegura que as inferências
traduzem os conhecimentos que o leitor possui sobre situações sociais/expressões
lingüísticas que circulam no contexto sociocultural e que estão arquivadas na sua
memória de longo prazo. As perguntas inferenciais exigem raciocínio, como afirmado
anteriormente, e, por isso mesmo, Kintsch (1998, p.191) acrescenta que as inferências
são processos de geração que computam nova informação “[...] sobre as bases do
texto e informação de background relevante na memória de longo prazo”. Kintsch
(p.189-193) também declara ser importante diferenciar as inferências dos processos de
recuperação de conhecimento. Para ele, as primeiras são caracterizadas como
processos de resolução de problemas, favorecendo a geração de uma nova
informação; enquanto os processos de recuperação apenas despertam e ativam
conhecimentos preexistentes na memória, podendo ser automáticas (geralmente
inconscientes) ou controladas (geralmente conscientes).
Por outro lado, Marcuschi (1989) fez uma investigação a respeito da classificação
das inferências, na ótica de vários autores, propondo por sua vez a seguinte tipologia:
1) Inferências de base textual: lógicas (dedutivas, indutivas, condicionais), sintáticas e
semânticas (associativas, generalizadoras, co-referenciais); 2) inferências de base
contextual: pragmáticas (intencionais, conversacionais, avaliativas), práticas
(experienciais) e cognitivas (esquemáticas, analógicas e composicionais); e 3)
34
Inferências sem base textual: falseamentos e extrapolações infundadas.
Como diz Dell’Isola (2001), enquanto o leitor atribui sentido ao que lê, processos
inferenciais estão ocorrendo, o que permite dizer que a inferência se efetiva através da
conclusão de um raciocínio, da elaboração dos pensamentos e do levantamento e
expressão de expectativas, envolvendo estados afetivos individuais e reações
vinculadas ao meio social de origem do leitor. Para a autora (p. 44), “Inferência é, pois,
uma operação mental em que o leitor constrói novas proposições a partir de outras
dadas”, ocorrendo também quando o leitor busca, além do texto, informações e
conhecimentos adquiridos com suas próprias experiências de vida.
Segundo Koch e Travaglia (1993, p. 70), inferência é “aquilo que se usa para
estabelecer uma relação o explícita do texto entre dois elementos desse texto”. É
resultante da ativação dos esquemas do leitor e permite que este infira a respeito do
desconhecido, ou, mais abreviadamente, a inferência permite ao leitor “construir novas
proposições a partir de outras já dadas”, como o assevera Marcuschi (1984 p. 25).
Enfim, em todos esses conceitos, pode-se observar um ponto em comum: as
inferências ocorrem na mente do leitor, logo, a aprendizagem, a memória e a atenção
são fenômenos que atuam tanto na compreensão de um texto quanto nos processos
inferenciais, não sendo possível, ainda, ignorar que o leitor es no mundo e num
mundo social organizado, portanto as negociações de sentido são uma constante e não
algo incomum e esporádico, elas fazem parte da cognição intersubjetiva e, é claro, da
compreensão.
1.3.2.2 Cloze Test
Dentre os testes utilizados para avaliar a compreensão leitora, o cloze tem recebido
uma avaliação muito positiva. Por isso mesmo vale a pena verificar quais são as
possibilidades de uso desse teste rotineiramente nas atividades propostas aos alunos.
Nesse caso, o próprio professor selecionaria textos, os mais diversos, para produzir
35
materiais especialmente destinados a turma X ou Y, que apresenta tais e tais
características. Ao invés de avaliar apenas o resultado, o cloze se transformaria em um
tipo de material usual que o professor produziria para acompanhar o desempenho de
seus alunos durante todo o ano, verificando seus pontos fortes e seus pontos fracos. O
teste, tal como proposto de início, prevê o preenchimento de espaços em branco,
segundo o teste cloze original, de Wilson Taylor (1953). A idéia apresentada por Taylor
consiste em manter intactos o primeiro e o último parágrafo, e eliminar, aleatoriamente
ou sistematicamente as palavras do texto, mais ou menos a cada ou palavras,
substituindo-as por um traço de aproximadamente quinze espaços, para que o leitor
complete as lacunas com a palavra que acreditar ser a apropriada, sendo o ideal propor
o preenchimento de aproximadamente cinqüenta palavras por teste.
O cloze, idealizado por Taylor em 1953 e retomado por Santos (2002), propõe a
preparação antecipada de um texto, do qual se suprimem vocábulos, substituindo-os
por um traço de tamanho igual (em todas as lacunas deixadas). A organização do
material segue regras que variam em função do objetivo para o qual será utilizado.
Interessa salientar que esse teste é um dos instrumentos mais usados para a avaliação
da legibilidade lingüística e conceitual dos textos, e para o diagnóstico da compreensão
leitora, sendo também empregado como uma estratégia eficaz para a aprendizagem de
destrezas específicas de leitura, na leitura de idiomas estrangeiros, no direcionamento
da leitura em disciplinas de estudo, na busca de melhoria da escrita e em trabalhos de
recuperação (Santos, 2005).
A partir de sua proposição o cloze tem sido considerado uma das estratégias mais
adequadas de aferir a compreensão leitora considerando-se sua facilidade de
construção, aplicação e correção (Santos, 1991). Seu uso pode propiciar ao leitor a
ampliação cultural e a aprendizagem de conteúdos específicos de maneira
interdisciplinar, o que possibilita também a aquisição da competência em leitura e o
desenvolvimento da criatividade verbal (Santos, Primi, Taxa e Vendramini, 2002).
Para Tomitch “O procedimento cloze é uma ferramenta de pesquisa que também
36
permite que o pesquisador tenha acesso à compreensão leitora e ao processo de
leitura” (2008, p.36). Segundo a autora, ele é uma ferramenta capaz de desvelar os
processos cognitivos envolvidos durante a leitura, um tipo de teste complementar
básico que pode medir a eficácia da comunicação, sobretudo, parecendo não só
mensurar dados, como também possibilitar a investigação tanto do sucesso quanto do
fracasso dos leitores na realização do teste. O cloze constitui-se em um procedimento
de múltiplas aplicações sendo uma fonte inesgotável de investigação e provocação à
curiosidade científica.
1.3.3 Exercícios de avaliação leitora
Conforme Kleiman (1998, p. 9), “a compreensão, não se necessariamente
durante o ato de ler, mas durante a realização da tarefa, na interação com o professor
ao propor atividades que criem condições para o leitor retomar o texto e, na retomada,
compreendê-lo”. Essa observação faz com que se tenha de reconhecer o caráter social
e processual da atividade de compreensão. Portanto, uma das áreas de investigação
sobre compreensão leitora que necessariamente precisa se expandir é a da produção
de materiais, independizando o professor das propostas presentes nos livros didáticos.
Sobretudo, saber que “A diferença de ensinar uma prática e ensinar para que o
aluno desenvolva uma competência não é mera questão de terminologia...” (Kleiman,
1998, p.1). De fato, é indiscutível que a concepção teórica adotada para o ensino
determina o todo – estratégias, exercícios e tarefas que fazem parte da ação
didática do professor, terão reflexo na vida real dos alunos.
O jornal Zero Hora de 09 de setembro de 2003 traz no seu caderno “Reportagem
Especial” a manchete: “Brasileiro sem entender”. O lead da reportagem afirma que
“levantamento divulgado ontem aponta que 67% da população têm dificuldade para
dominar a escrita e a leitura”. Mesmo que existam pesquisas científicas sobre o
funcionamento cerebral e haja investimentos blicos no estudo da compreensão
leitora, as notícias sobre o desempenho em leitura são alarmantes. Parece que o
37
esforço é vão, precisam-se encontrar “fórmulas”, se é que existem fórmulas do ensinar
a compreender, e também descobrir se é isso que a escola precisa ensinar, e os alunos
precisam aprender. Embora as estratégias de leitura não sejam suficientes, elas são
necessárias. Ângela Kleiman assegura que as estratégias que são usadas pelo leitor,
através das quais ocorre a compreensão, “[...] podem ser inferidas a partir da
compreensão de texto, [...] conhecimento verbal e não verbal do leitor, do tipo de
perguntas sobre o texto, dos resumos que faz, de suas paráfrases, e da maneira como
manipula o objeto” (1998, p. 49).
Para a autora citada é preciso ter em mente que durante o processamento cognitivo
do texto, o leitor, depois de decifrar os signos, tenta entender do que trata o texto. Para
isso, diferentes atitudes podem ser tomadas a partir do próprio texto, considerando ou
não a sua complexidade. Se o texto for complexo, o leitor poderá sacrificar a
progressão em favor da interpretação, como o sugere Kleiman. Assim, a busca de
equilíbrio parece ser a solução.
Assim, se os professores se queixam tanto da falta de compreensão dos alunos, e
se os resultados das investigações não são animadores, como bem o atestam as
pesquisas, então se deve questionar o modo como vem sendo realizado o ensino da
compreensão em leitura e o trabalho dos professores. E ainda mais, o questionamento
deve incluir a investigação de quais as dimensões do processo compreensivo que estão
sendo consideradas e qual a política de compreensão em leitura que as escolas estão
adotando, que uma das preocupações do professor em sala de aula é a de criar
situações que desenvolvam a compreensão leitora. Para isso é preciso que o professor
saiba quais são os processos cognitivos envolvidos na compreensão e, também, que
tenha notícia de sugestões e idéias alternativas para desenvolver seu trabalho; que
identifique e compreenda quais os aspectos mais decisivos da atividade interpretativa
dos alunos, determinando-a; que observe e registre os mecanismos constitutivos da
cooperação interpretativa necessários para obter a compreensão; que defina as
expectativas geradas pelo texto em confronto com o conhecimento e com o contexto
em que estão inseridos os leitores, seus alunos. a partir desse patamar analítico, o
38
professor poderá elaborar ferramentas para a compreensão leitora, as quais venham ao
encontro das necessidades dos alunos, acrescentando-lhes novas possibilidades de
aprendizagem e de construção do conhecimento.
1.4 Inter-relações compreensão, aprendizagem e memória
Muito mais do que o conceito constante nos dicionários gerais da língua, que grosso
modo a definem como a ação de aprender, a aprendizagem é um processo que implica
mudança de comportamento. Essa mudança é obtida por meio da experiência do
sujeito e condicionada por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais.
Nesse enfoque, centrado no aprender, o conhecimento é construído e reconstruído
continuamente.
Do ponto de vista cognitivo, a aprendizagem consiste na aquisição de novas
informações e em sua integração ao conjunto de conhecimentos preexistentes na
mente do sujeito. Aprender, então, não se limita apenas à aquisição de novas
informações, tendo, ainda, o objetivo de corrigir, aprofundar, alargar e reorganizar a
base de conhecimentos já existentes. Em outras palavras, a aprendizagem não é
independente dos outros processos mentais de atenção, percepção, memória e
raciocínio, ao contrário, o conhecimento resulta exatamente da mediação mais ou
menos coordenada dos vários processos cognitivos envolvidos (Pinto, 1997).
Por isso mesmo, os educadores preocupados com as discrepâncias existentes
entre o que a sociedade, a escola e a família esperam que os alunos e filhos aprendam
e conheçam, e os resultados efetivamente obtidos pela escola, buscam descobrir,
dentre muitas questões, as inter-relações existentes entre a compreensão, a
aprendizagem, a memória e a atenção. Essa preocupação decorre do desconhecimento
de como acontece a aprendizagem. O professor, de fato, não sabe como o aluno está
reagindo às inovações tecnológicas. Este aluno pode gostar de ler na tela e não no
livro. Ele pode escrever inúmeros textos no Messenger e afirmar que não gosta de
escrever. Pode ser extremamente desatento em uma aula comum e concentrar-se num
39
trabalho de pesquisa no Google. É inegável que o progresso tecnológico e a rapidez
das novas interações via Internet propiciaram o surgimento de novas maneiras de
relacionar-se com o mundo, exigindo mudanças na maneira de ensinar e aprender. É
preciso entender um pouco melhor como a revolução da informática afetou as emoções
e a inteligência das pessoas. Hoje em dia, o professor tem de conhecer melhor o aluno,
tanto em termos afetivos, quanto estritamente cognitivos, para poder se situar melhor,
enquanto um dos interlocutores privilegiados desse aluno, caso contrário, não
conseguirá interagir com sucesso em sala de aula.
Assim, embora muitas pessoas suponham saber o que seja aprendizagem, elucidar
o significado preciso desse conceito pode lhes dar muito trabalho. Segundo Anderson
(2005, p.3), “A aprendizagem é o processo pelo qual modificações duradouras ocorrem
no potencial comportamental como resultado da experiência”. A definição de Anderson
propõe um modo de considerar a questão. Outros autores dão ênfases diferentes ao
tema. Explicar o que se entende por aprendizagem, contudo, é bastante complexo.
Piaget (1990), por exemplo, entende a aprendizagem como um processo de construção
individual através do qual se faz uma interpretação pessoal e única da cultura na qual
se está inserido. De acordo com esse ponto de vista, aprender significa fazer uma
interpretação e representação pessoal da realidade, o que transforma o processo em
algo único e irrepetível.
Essa construção individual não se opõe à interação intersubjetiva, pelo contrário, as
duas se complementam, uma vez que a aprendizagem é um processo interno, mas não
exige isolamento para acontecer. Ninguém pode aprender no lugar do outro. Porém, é
possível aprender, graças aos processos de interação social e da comunicação com
outras pessoas que passam a atuar como mediadores. O professor pode ser um desses
mediadores, apesar de o -lo necessariamente. Em contrapartida, o professor
precisa acautelar-se para não separar o processo de aprendizagem do processo de
ensino. Os dois processos são interdependentes à medida que a forma como ele
planifica o ensino é decisiva, para que o aluno possa construir aprendizagens. O ensino
não consiste, então, em transmitir conhecimentos acabados, porque é necessário
40
ensinar apenas aquilo que a pessoa precisa para que ela mesma possa constituir as
suas aprendizagens básicas. Ou seja, o ensino não é um conjunto de receitas prontas
que se possa aplicar a todos os alunos e a todas as situações uniformemente; pelo
contrário, é uma atividade dinâmica na qual intervêm múltiplos fatores que impedem
prever de antemão o que vai acontecer quando aplicadas estratégias diversas a grupos
diversos.
Dentre outras tantas, uma teoria que contribuiu muito para o trabalho escolar é a
que foi apresentada por Gardner (1994). Esse autor enfatizou que o ser humano é
dotado de múltiplas inteligências, tendo que ser valorizado em sua totalidade. A tarefa
do educador em tal perspectiva é explorar, através de estímulos diversos, o
envolvimento cognitivo do aluno no desenvolvimento e na busca constante de soluções
para os múltiplos problemas que o cercam, os quais podem evidentemente ameaçar a
sua existência de alguma maneira. Porém, independente da concepção assumida pelo
professor, o incontestável é que o ser humano vai construindo conceitos, em função do
meio que o cerca. Esses conceitos são registrados, ou não, por mecanismos da
memória. Isto é, os efeitos da aprendizagem são retidos ou não na memória, pois o
processo é reversível até certo ponto, podendo mesmo ser sucedido por uma mudança
neural duradoura.
Para o entendimento da memória como um processo mental superior, os estudos de
Vigotsky têm especial destaque. O ponto nevrálgico de sua proposta é a idéia de que
os fenômenos devem ser estudados como processos em movimento, em mudança
constante. Ele mostra como a mediação, tanto aquela propiciada pelo uso de
instrumentos, quanto à posterior, pelo uso da palavra a semiótica - criou a estrutura
necessária para a transformação das funções psicológicas, na interação do homem
com o ambiente social. A teoria de Vigotsky (1984, 1993) mostra como os processos da
memória, bem como das demais funções mentais, são desenvolvidos e motivados pela
interação social humana. Em vista disso, a função da memória no adulto é diferente da
que se observa nas fases anteriores do desenvolvimento ontogenético, que em
decorrência são mais primitivos, não possuindo correspondência nos humanos adultos.
Enquanto a criança lembra para poder pensar, o adulto pensa para lembrar; a memória
41
do adulto é resultante da mediação da vida social, interiorizada, principalmente, através
da linguagem verbal. Na adolescência e na idade adulta, o processo de memória passa
a ser caracterizado pela lógica: "o processo de lembrança está reduzido a estabelecer e
encontrar relações lógicas; o reconhecer passa a consistir em descobrir aquele
elemento que a tarefa exige que seja encontrado" (Vigotsky, 1984, p.58).
Na ótica de Anderson (2005, p.4) a “memória é o registro da experiência subjacente
à aprendizagem e refere-se ao processo de adaptação do comportamento à
experiência [...]”. Assim, a aquisição de um conhecimento novo caracteriza a
aprendizagem. Já o papel da memória é o de guardar a nova construção a partir de sua
aquisição até o momento em que estiver consolidada. O armazenamento realizado pela
memória não é, entretanto, um mero arquivo mental, mas como afirma Lent (2004), o
conhecimento consolidado interage com as demais informações presentes no rebro
através da interconexão das redes neurais sempre que for evocado.
Além do mais, não se pode pensar a vida sem memória. Sem ela não se poderia
aprender. Conforme Lieury (1997), a verdadeira importância que a memória tem para o
ser humano, em nível individual, é permitir a construção do "eu", a partir da elaboração
mental da própria história de vida, dando um sentido de existência pessoal
independente e de coerência entre as diferentes fases vividas pelo sujeito; e, em nível
coletivo, ela ajuda a desenvolver a sociabilidade e o sentimento de pertença que une
todos os membros da comunidade e da própria espécie. Xavier (2003) acrescenta que
a memória compreende um conjunto de habilidades mediadas por diferentes módulos
do sistema nervoso, que funcionam de forma independente, porém cooperativa.
Anderson (2005) sublinha que a memória é o registro da experiência subjacente à
aprendizagem, havendo, pois, uma estreita relação entre aprendizagem, memória e
atenção. Por sua vez, Izquierdo (2004, p.15), destaca quais o as funções exercidas
pela memória, alertando para o fato de que ela permite a aquisição, a conservação e a
evocação de informações. Segundo ele, a aquisição denomina-se também aprendizado
e a evocação, recordação ou lembrança. A memória, na perspectiva de Izquierdo
(2002, 2004) e de Anderson (2005), é a base do conhecimento e como tal deve ser
trabalhada e estimulada, uma vez que é através dela que se atribui significado ao
42
cotidiano e se acumulam experiências para utilizar durante toda a vida.
Izquierdo (2002) comenta, além disso, que o acervo de memórias faz com que cada
pessoa seja o que é, um indivíduo único, não existindo duas pessoas absolutamente
idênticas nem gêmeos univitelinos, nem clones -, sendo ela - a memória - a
determinar o que se chama "forma de ser" ou personalidade. Tedesco (2004), por outro
lado, destaca que as recordações mais pessoais, mais íntimas, resultam, de fato, de um
complexo processo de interseção de influências de grupos sociais diversos, cada um
tendo um tipo de repercussão específica sobre o produto final o modo de ser de cada
indivíduo. Laroche (2006) reitera que a memória não é um registro passivo das
experiências vividas e nem um registro apenas de experiências pessoais, ela permite,
também, a recepção de instrução e é uma grande força para o progresso social, uma
vez que o ser humano tem a capacidade de comunicar para o outro aquilo que
aprendeu e, ao fazê-lo, acaba criando culturas peculiares, distintas, que são passadas
de geração a geração.
No momento, as pesquisas indicam que a memória pode ser descrita como uma
seqüência de processos. O primeiro desses processos é o aquisitivo, que consiste na
entrada de um evento qualquer nos sistemas neurais ligados à memória. A aquisição é
seletiva: como os eventos são múltiplos e complexos, os sistemas de memória
permitem a aquisição de alguns aspectos mais relevantes para a cognição, mais
marcantes para a emoção, mais focalizados pela atenção, mais fortes sensorialmente,
ou simplesmente priorizados por critérios desconhecidos. Pode-se acrescentar, pois,
que a memória não é um registro passivo, mas um tipo de atividade de determinados
sistemas neurais. Ao invés de reprodutiva, é criativa em alguns aspectos e um pouco,
ou mais destrutiva em outros. Apesar de interligados, os circuitos da memória são
independentes, existindo pelo menos sete fatores fundamentais para que a
aprendizagem se efetive, são eles: saúde física e mental, motivação, conhecimento
prévio, maturação, inteligência, concentração ou atenção e memória (Damásio, 2003).
Assim, a compreensão é, na verdade, um fenômeno recorrente durante toda a vida,
43
sendo influenciada e determinada por diversos fatores. A aprendizagem é um deles e,
envolvida no processo de aprendizagem, encontra-se a memória, que cria condições
para que o conhecimento seja adquirido, formado, conservado e evocado.
1.5 Inter-relação compreensão e atenção
Quase todo mundo sabe o que é prestar atenção em alguma coisa e também como
é difícil sustentar essa atenção concentrada, se não se estiver interessado ou motivado.
Em toda a atividade de atrair a atenção, o indivíduo fica num papel passivo; reage a
algo que vem de fora. Não é preciso calcular a atenção logo de início, nem de modo
usual, pois algo atrai a atenção da pessoa, ou não atrai e permanece de pano de fundo.
O estudo da atenção e da sua importância no comportamento humano remonta aos
primórdios da psicologia. Apesar disso não foi possível até os dias de hoje reduzir essa
realidade psicobiológica complexa a uma simples definição, nem tão pouco relacioná-la
com uma única região do cérebro. Na verdade, continua-se a saber muito pouco acerca
da forma como funciona a atenção, enquanto sistema cerebral. É interessante destacar
que raramente se pensa na atenção, ela é dada como um pressuposto, ou seja, a
atenção apenas acontece, parecendo tão natural quanto a respiração. Em termos
específicos, porém, a atenção é uma concentração de atividade mental. Às vezes a
atividade mental focaliza-se porque a atenção foi atraída por um estímulo interessante
no ambiente. Outras vezes a atividade mental concentra-se, porque um propósito no
prestar atenção a algum estímulo específico e assim por diante.
Segundo Xavier (2003), a atenção corresponde a um conjunto de atividades
cognitivas que leva à seleção ou priorização no processamento de certas categorias de
informação. na ótica de Sternberg (2000), a atenção é o fenômeno através do qual
se processa ativamente uma quantidade limitada do enorme montante de informações
disponíveis através dos sentidos, das memórias armazenadas e de outros processos
cognitivos. O fenômeno psicológico da atenção possibilita o uso criterioso dos limitados
recursos mentais disponíveis. Ao obscurecer as luzes sobre a multiplicidade de
44
estímulos externos (sensações) e internos (pensamentos e memórias), é possível
realçar os estímulos que interessam. Um elevado nível de atenção também abre
caminho para os processos de memória, de modo que se consegue evocar a
informação em que se prestou atenção. Os processos automáticos de captação da
atenção são velozes e não requerem controle ativo por parte da pessoa, sendo
desencadeados rapidamente de forma quase inevitável, mesmo que o sujeito não
esteja prestando atenção à fonte de estimulação, segundo comentários explicativos de
Xavier (2003).
Inicialmente, os psicólogos acreditavam que a atenção processava a informação,
fazendo-o sempre de modo consciente; agora, reconhecem que parte do
processamento ativo da informação sensorial, da informação evocada e da informação
cognitiva acontece sem conhecimento consciente, segundo ponderações de Sternberg
(2000). Ainda conforme Sternberg (p.79), os benefícios da atenção são evidentes
quando referidos aos processos de atenção consciente. Além do valor geral da
atenção, a atenção consciente satisfaz outros três objetivos: (1) monitorar as interações
com o ambiente; (2) ligar o passado (memórias) e o presente (sensações), servindo
como base para a construção da identidade pessoal; (3) controlar e planejar futuras
ações, com base na informação monitorada e nas ligações entre as memórias
passadas e as sensações presentes.
O conceito de atenção sofreu várias expansões e, ao se tornar mais elástico,
passou a correr o risco de explicar tudo sem explicar nada. A ressalva tem a ver com a
tendência de utilização do conceito para indicar fenômenos diversos. Normalmente,
contudo, o conceito é usado para referir-se à seletividade do processamento. Como
afirmado anteriormente, várias regiões do cérebro são responsáveis pela atenção,
incluindo-se dentre elas algumas estruturas subjacentes à superfície do córtex cerebral,
de acordo com as pesquisas de Matlin (2004, p.43). A pesquisa atual salienta, no
entanto, a importância de duas regiões do córtex: (1) a rede posterior de atenção no
lobo parietal é responsável pelo tipo de atenção exigida para a busca visual e (2) a rede
anterior de atenção no lobo frontal é a parte do cérebro responsável pela inibição das
45
respostas automáticas a estímulos.
De acordo com Lent (2004), prestar atenção é focalizar a consciência, concentrando
os processos mentais em uma única tarefa principal e colocando as demais em
segundo plano. Essa ação focalizadora só se torna viável, segundo ele, porque é
possível sensibilizar seletivamente um conjunto de regiões cerebrais que executam a
tarefa principal, inibindo as demais. Dois aspectos são relevantes nesse processo: (1) a
criação de um estado geral de sensibilização, conhecido como alerta, e (2) a
focalização desse estado de sensibilização sobre certos processos mentais e
neurobiológicos - a atenção propriamente dita. Lent assegura ainda, que, depois de
várias tentativas de estudar a atenção, os neuropsicólogos e neurofisiologistas têm se
proposto a compreender três questões fundamentais, a saber: (1) se a atenção
influencia a percepção tornando-a seletiva; (2) de que modo isso ocorre e (3) quais os
mecanismos neurais envolvidos nessas operações.
A partir dos estudos feitos até o momento, Lent, citado, categoriza diferentes
tipos de atenção. Na atenção explícita ou aberta, que tende a ser automática, o foco
da atenção coincide com a fixação visual. Entretanto, nem sempre é assim. Muitas
vezes o foco da atenção não coincide com o olhar, nesse caso ocorre atenção
implícita ou oculta, que costuma ser uma operação mental involuntária. Nesses casos,
os mecanismos neurais que permitem a seleção dos objetos operam nas regiões
vizinhas, ou mesmo na periferia do campo visual (Lent, 2004, p.581).
Já para Luria (1991, p. 11) a atenção é sobretudo um processo seletivo. Esse autor
afirma que "a seleção da informação necessária, o assessoramento dos programas
seletivos de ação e a manutenção do controle permanente sobre elas são
convencionalmente chamados de Atenção". O caráter seletivo da função mental da
atenção é essencial para o pensamento organizado humano, de acordo com o autor.
Contudo, Luria (p. 22) aponta dois tipos básicos de atenção: o arbitrário e o involuntário.
"O involuntário acontece quando um estímulo forte ou novo atrai a atenção sem que a
vontade do homem venha a interferir (é instintivo e é comum ao homem e ao animal). A
atenção arbitrária é inerente ao homem". Evidentemente, as categorizações advogadas
46
por Lent e Luria, já referidos, descrevem fenômenos similares.
Conforme já mencionado, o conceito de atenção tem sido usado para indicar
diferentes funcionamentos cognitivos. Entretanto, os dois significados mais comuns
relacionam-se ao processamento seletivo e ao esforço mental ou concentração. O que
se conhece sobre a temática, atesta que no momento em que algum sentido é
encontrado, deflagra-se a atenção, a emoção, os sentimentos e, então, a compreensão
efetiva-se. O envolvimento emocional dos alunos através da atenção ou de sentimentos
de aceitação é certeza de sucesso na busca do conhecimento. Despertar-lhes tais
sentimentos parece ser uma das chaves que acionam os processos cognitivos do
cérebro humano responsáveis pela compreensão.
2 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA
A presente pesquisa tem natureza empírica e seu fio condutor são os fundamentos
teóricos do sociointeracionismo vygotskiano, pautando-se em autores como Kleiman
(1995, 1998, 2001), Marcuschi (1985, 1996, 2001), Koch (1993, 1998, 2005) e Dascal
(2006). A proposta é a testagem da compreensão leitora, discutindo a sua natureza, o
seu modo de ocorrência e a sua coexistência com os processos cognitivos a ela inter-
relacionados, sugerindo aos professores um modo de ação pedagógica mais engajada
através da produção de exercícios avaliativos que lhes permitam acompanhar melhor
as atividades de leitura dos alunos.
2.1 Objetivos da pesquisa
2.1.1 Geral
Analisar a compreensão leitora e a sua inter-relação com a aprendizagem, a
memória e a atenção, avaliando-a através de um instrumento constituído de sete (7)
exercícios que enfocam essas distintas habilidades cognitivas.
2.1.2 Específicos
2.1.2.1 Criar e adaptar exercícios de avaliação da compreensão leitora que envolvam
habilidades cognitivas vinculadas à compreensão, especificamente, habilidades de
aprendizagem, de memória e de atenção.
2.1.2.2 Explicitar modos de produção de exercícios de leitura que sejam úteis e
inspiradores, especialmente aos professores de língua portuguesa, enquanto
mediadores do processo ensino-aprendizagem.
2.2 Hipóteses de trabalho
48
Em conformidade com os objetivos da presente investigação foram estabelecidas
duas hipóteses: uma relacionada à proposta de refinamento dos testes de avaliação
leitora, e outra, referente à testagem feita no presente estudo, que contempla a
produção de exercícios de leitura pelos próprios professores.
H 1: Exercícios de compreensão leitora mais refinados e situados podem auxiliar na
identificação das dificuldades de compreensão leitora existentes, e se elas estão
vinculadas à aprendizagem, à memória ou à atenção e de que modo isso afetaria a
compreensão. A organização de exercícios especiais, em que as habilidades sejam
dissociadas, sendo testadas através de atividades distintas, permitiria uma melhor
avaliação da competência leitora dos alunos.
H 2: Os professores de língua portuguesa podem produzir seus próprios materiais de
ensino, validando-os em suas turmas, desde que recebam apoio técnico para tal.
2.3 Procedimentos
Na presente seção desta investigação, apresenta-se a caracterização do estudo,
população e amostra, instrumentos de pesquisa, etapas e metodologia do trabalho com
leitura.
2.3.1 Caracterização do estudo
A metodologia deste trabalho tem caráter empírico, propondo uma série de
atividades de leitura que avaliam as diferentes habilidades cognitivas envolvidas na
compreensão. O instrumento de testagem propriamente dito é constituído de uma
bateria de sete (7) tipos de exercícios de leitura, enfocando compreensão,
aprendizagem, memória e atenção, inter-relacionadamente. No experimento foram
utilizados três tipos de perguntas: objetivas, inferenciais e interpretativas, além de testes
cloze.
49
2.3.2 População e amostra
Os participantes da investigação foram estudantes do Ensino Médio, da rede
pública estadual, matriculados no Colégio Estadual Ilópolis (RS). Da população foi
selecionada uma amostra de 30 alunos, divididos em dois grupos, cada um deles
composto de 15 alunos. Um dos grupos foi apontado pelos seus professores como
constituído de leitores proficientes e o outro, de leitores não-proficientes. A seleção dos
grupos entre leitores proficientes e leitores não-proficientes foi feita pelos professores
de Língua Portuguesa, Biologia, História e Matemática. Os dois grupos de participantes
freqüentam o ano do Ensino Médio, com idades variando entre dezesseis e
dezenove anos, de ambos os sexos.
Num primeiro momento, foi proposto um estudo piloto com alunos de mesmo nível,
dentre as turmas do Ensino Médio da mesma escola. Nessa fase foram validados os
exercícios criados/adaptados especialmente para a presente investigação. Os mesmos
exercícios, depois de validados, foram utilizados na avaliação da compreensão leitora
dos participantes da pesquisa.
2.3.3 Instrumentos da pesquisa
O instrumento de pesquisa compõe-se de sete exercícios de compreensão leitora.
Nos exercícios foram inseridas perguntas de compreensão em leitura do tipo geral e
específico, verdadeiro ou falso, múltipla escolha, relacionar, completar, assinalar,
avaliar e esquematizar, incluindo questões objetivas, inferenciais e interpretativas, cujas
respostas envolviam conhecimento lingüístico, textual, interacional e de mundo.
As sessões de testagem foram assim distribuídas:
sessão - Leitura da crônica A competência do coração de Paulo Santana,
publicada em Zero Hora, 03 de outubro de 2004. O exercício propõe o preenchimento
50
de lacunas e tem o objetivo de observar a inter-relação compreensão e atenção focal,
mobilizando a memória de outros textos (intertextualidade) e a coesão entre as
informações textuais (repetição e colocação). Foram omitidos 40 vocábulos, propondo-
se um jogo entre as palavras-chave cérebro e coração. O espaço para ser preenchido
foi mantido sem modificações, não sendo proporcional ao tamanho da palavra. O valor
de cada resposta correta é 2.5, somando 100 pontos ao todo.
sessão - Leitura do conto Teste de Moacyr Scliar. In: O Amante da Madonna -
contos, Moacyr Scliar. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1997, p. 32-35. O exercício prevê
o preenchimento de espaços em branco, de acordo com a proposta original do teste
cloze, de Wilson Taylor (1953), que consiste em manter intactos o primeiro e o último
parágrafo e, depois, eliminar aleatoriamente ou sistematicamente as palavras do texto,
mais ou menos a cada ou palavras, substituindo-as por um traço de
aproximadamente quinze espaços, para que o leitor complete as lacunas com a palavra
que acreditar ser a apropriada, sendo o ideal propor o preenchimento de
aproximadamente cinqüenta palavras. Assim, um texto de quatrocentas (400) palavras
dará uma freqüência de apagamento a cada palavra. A proposta de utilização do
exercício cloze relaciona-se à idéia de que uma avaliação da compreensão leitora deva
reaproveitar testes usuais que apresentem bons resultados, adaptando-se o texto às
condições do grupo investigado.
Esse exercício foi preparado de acordo com a proposta de Taylor (1953),
objetivando observar a possível inter-relação compreensão e atenção. Por ser um cloze
inferencial é baseado na seleção da melhor opção, envolvendo tarefa de escrutínio
acurado das idéias contidas no texto. O exercício usado neste experimento se compõe
de 385 palavras com uma freqüência de apagamento a cada palavra, omitindo ao
todo 44 vocábulos. O valor de cada vocábulo certo corresponde a 2.05, totalizando 100
pontos.
sessão - Leitura da crônica Dia Ocidental da Mulher de Martha Medeiros,
publicada em Zero Hora, 08 de março de 2000. O exercício baseou-se na proposta de
51
Modelo de Situação tal como apresentada por Walter Kintsch no livro Comprehension: a
paradigm for cognition. New York: Cambridge University Press, 1998. O objetivo
envolveu, pois, a questão do conhecimento detido pelo leitor objetivando analisar a
inter-relação compreensão e conhecimento prévio, sobretudo. O exercício se constitui
de 15 questões somando 100 pontos ao todo.
sessão Leitura silenciosa da crônica O Nariz de Luis Fernando Verissimo, que
consta no livro O nariz e outras crônicas. São Paulo: Ática, 1994. Após a leitura, o texto
foi recolhido e entregues as questões a serem respondidas, sem o texto de apoio. O
exercício proposto baseou-se em Colomer e Camps, no livro Ensinar a ler, ensinar a
compreender. Porto Alegre: Artmed, 2002. A proposição do exercício teve o objetivo de
observar a inter-relação entre compreensão e memória. O exercício se compõe de
perguntas objetivas e inferenciais investigando capacidade de evocação,
reconhecimento, conhecimento extratextual, subentendido e conhecimento de mundo,
contendo 10 questões, totalizando 100 pontos.
sessão - Leitura do texto Os alimentos. Wikipédia, enciclopédia livre. Acesso em
20 de junho de 2007. O exercício se propôs a analisar a inter-relação compreensão,
aprendizagem, memória e atenção, envolvendo questões de evocação,
reconhecimento, conhecimento prévio e de avaliação relacionando conhecimento
enciclopédico e experiências pessoais, contendo 10 questões, totalizando 100 pontos.
sessão - Leitura do texto Coração, de José Mariano Amabis e Gilberto Rodrigues
Martho adaptado do livro Biologia dos organismos. São Paulo: Moderna, 2004. O
exercício proposto teve o objetivo de observar a inter-relação compreensão e atenção,
focalizando em especial o tipo de inferência produzida, desenvolvendo atividades de
conhecimento prévio e reconhecimento. O exercício se constitui de 10 questões e valor
total de100 pontos.
7ª sessão – Leitura, interpretação e compreensão da crônica, O Zelador do labirinto,
que foi apresentada aos alunos em fragmentos, para atender o propósito da pesquisa.
52
Após a leitura de cada fragmento, o qual foi entregue um a um, foram propostas as
questões para serem respondidas. Tanto o fragmento do texto, quanto as questões
propostas para serem respondidas foram entregues um a um, sucessivamente, até a
conclusão. A crônica lida consta no livro de Luis Fernando Verissimo, O Nariz e outras
crônicas. São Paulo: Ática, 1994. O exercício proposto baseou-se em uma adaptação
daquele elaborado por Dell’Isola no livro: Leitura: inferências e contexto sociocultural.
Belo Horizonte. Formato Editorial, 2001. O objetivo foi o de observar a inter-relação
compreensão e aprendizagem, investigando questões atinentes à antecipação,
reconhecimento, previsão, subentendido, conhecimento extralingüístico e conhecimento
relacionado a experiências pessoais. O exercício se compõe de 15 questões, cujo valor
corresponde a 6.6 cada uma, somando 99 pontos no total.
Depois de respondidos, os exercícios foram recolhidos para serem feitos o
levantamento das respostas e a tabulação dos dados. Na avaliação foi dado tratamento
quantitativo aos dados coletados. As respostas corretas acima de 70% foram tidas
como revelando um nível de compreensão proficiente; As respostas corretas entre 50 e
70% foram consideradas um nível de compreensão médio e as pontuações até 50%
indicaram não compreensão ou compreensão insuficiente do texto.
Os dados coletados constituirão um banco de dados para um trabalho direcionado à
formação de leitores e à formação de professores. Caso as análises forneçam pistas de
como se deu o processamento e a compreensão em leitura, elas servirão de sugestão
para enriquecer o trabalho dos professores em termos de produção de exercícios de
avaliação leitora. Assim, a meta da presente investigação é relacionar a pesquisa
acadêmica ao trabalho do professor em sala de aula. A investigação não foi exaustiva,
nem pretende resolver a questão de leitura no Brasil. Busca apenas fazer a sua parte.
2.3.4 Etapas do trabalho
As etapas do trabalho compreenderam atividades diferenciadas. A primeira delas foi
o encontro da pesquisadora com o grupo de participantes selecionados para informá-
53
los sobre a pesquisa, sua finalidade e o compromisso assumido com a sua efetivação.
Nesse encontro foi entregue a todos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os
alunos maiores de idade assinaram o documento na própria ocasião. os alunos
menores levaram-no para ser assinado pelos responsáveis, e posteriormente os
entregaram à pesquisadora. A condição indispensável para a efetiva participação no
trabalho envolveu a assinatura do termo de adesão, bem como o comparecimento de
todos aos sete encontros. Após esse primeiro contato, iniciou-se o período de aplicação
dos exercícios elaborados para a pesquisa, que foi feita em sete sessões de 60 minutos
consecutivos, o que totalizou quatorze períodos de aula e sete encontros.
3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS
3.1 Resultado da análise estatística
Os resultados da pesquisa foram analisados através da utilização de técnicas de
estatística descritiva e inferencial. Na etapa descritiva foram utilizadas tabelas de
freqüências e medidas descritivas como dia, mediana, valor mínimo e valor máximo.
Na etapa inferencial foram utilizados os testes estatísticos não-paramétricos de Mann-
Whitney, para verificar as diferenças entre os grupos de alunos com relação aos
exercícios de leitura aplicados, e de Friedman, para verificar as diferenças entre os
resultados obtidos dentro do mesmo grupo. A escolha de testes não-paramétricos
ocorreu em função do tipo das variáveis do estudo (soma dos escores dos testes), que
são medidas em escala ordinal. O nível de significância utilizado como critério de
aceitação ou rejeição nos testes estatísticos foi de 5% (p < 0,05). As análises foram
realizadas no programa SPSS, versão 15.
RESULTADOS ANÁLISE ESTATÍSTICA
TABELA 4 MEDIDAS DESCRITIVAS DA SOMA DOS ESCORES DOS TESTES
(SEM TRANSFORMAÇÃO NAS ESCALAS), DE ACORDO COM OS GRUPOS.
Grupo
Leitores proficientes Leitores não-proficientes
n Média Mediana
Valor
Mínimo
Valor
Máximo
n Média Mediana
Valor
Mínimo
Valor
Máximo
A competência do
Coração
15 65,07 66 50 74 15 56,67 58 26 76
Teste 44 lacunas 15 78,27 77 74 84 15 74,40 75 65 83
Dia Ocidental da
Mulher
15 32,53 32 19 48 15 17,00 15 3 41
O Nariz 15 45,27 45 40 54 15 36,60 36 27 52
Os Alimentos 15 47,27 48 33 55 15 36,60 38 4 50
Coração 15 34,53 34 21 45 15 24,20 27 0 38
O Zelador do Labirinto
15 28,20 29 25 30 15 26,53 27 23 30
Obs.: Os escores foram atribuídos de acordo com a seguinte regra:
55
1 Errou a questão ou não respondeu = 0;
2 Acertou em parte a questão = 1;
3 Acertou a questão = 2.
TABELA 5 MEDIDAS DESCRITIVAS DA SOMA DOS ESCORES DOS TESTES,
ESCALAS ENTRE 0 E 100 PONTOS, DE ACORDO COM OS GRUPOS.
Grupo
Leitores proficientes Leitores não-proficientes
n Média Mediana
Valor
Mínimo
Valor
Máximo
n Média
Mediana
Valor
Mínimo
Valor
Máximo
A competência do
Coração
15 81,33 83 63 93 15 70,83 73 33 95
Teste 44 lacunas 15 88,94 88 84 95 15 84,55 85 74 94
Dia Ocidental da
Mulher
15 54,22 53 32 80 15 28,33 25 5 68
O Nariz 15 78,05 78 69 93 15 63,10 62 47 90
Os Alimentos 15 76,24 77 53 89 15 59,03 61 6 81
Coração 15 71,94 71 44 94 15 50,42 56 0 79
O Zelador do
Labirinto
15 94,00 97 83 100 15 88,44 90 77 100
Figura 1 - Médias dos Escores dos Testes, por Grupos.
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
A
competência
do Coração
Teste 44
lacunas
Dia Ocidental
da Mulher
O Nariz
Os Alimentos
O Coração O Zelador do
Labirinto
Testes
Média
Leitores proficientes Leitores não-proficientes
56
Teste Não-paramétrico de Mann-Whitney
Teste: A competência do Coração – comparação entre os Grupos
Test Statistics
b
64,000
184,000
-2,018
,044
,045
a
Mann-Whitney U
Wilcoxon W
Z
Asymp. Sig. (2-tailed)
Exact Sig. [2*(1-tailed Sig.)]
Teste: A
competência
do Coração -
Escala de 0 a
100
Not corrected for ties.
a.
Grouping Variable: Grupo
b.
O Objetivo do exercício era verificar a existência de diferença estatisticamente
significativa entre duas amostras independentes. Conclui-se que existem diferenças
estatisticamente significativas entre os alunos do grupo de “leitores proficientes” e do
grupo de “leitores não-proficientes”, com relação ao Texto “A competência do Coração”
(p = 0,044). Observa-se que em todos os exercícios realizados, consideraram-se as
diferenças estatisticamente significativas quando p < 0,05, indicando um nível de
significância de 5%.
Ranks
15
18,73 281,00
15
12,27 184,00
30
Grupo
Leitores proficientes
Leitores ñ-proficientes
Total
Teste:A competência
do Coração - Escala
de 0 a 100
N
Mean Rank
Sum of Ranks
57
Teste: Teste - 44 lacunas – versão do teste cloze - comparação entre os Grupos
Test Statistics
b
62,500
182,500
-2,087
,037
,037
a
Mann-Whitney U
Wilcoxon W
Z
Asymp. Sig. (2-tailed)
Exact Sig. [2*(1-tailed Sig.)]
Teste 44
lacunas -
Escala de
0 a 100
Not corrected for ties.
a.
Grouping Variable: Grupo
b.
Conclui-se que existem diferenças estatisticamente significativas entre os alunos do
grupo de “leitores proficientes” e do grupo de “leitores não-proficientes”, com relação ao
Texto de 44 lacunas (p = 0,037).
Ranks
15
18,83
282,50
15
12,17
182,50
30
Grupo
Leitores proficientes
Leitores ñ-proficientes
Total
Teste: Teste -
Escala de 0 a 100
N
Mean Rank Sum of Ranks
58
Teste: Dia Ocidental da Mulher – comparação entre os Grupos
Test Statistics
b
29,500
149,500
-3,448
,001
,000
a
Mann-Whitney U
Wilcoxon W
Z
Asymp. Sig. (2-tailed)
Exact Sig. [2*(1-tailed Sig.)]
Teste: Dia
Ocidental
da Mulher -
Escala de
0 a 100
Not corrected for ties.
a.
Grouping Variable: Grupo
b.
Conclui-se que existem diferenças estatisticamente significativas entre os alunos do
grupo de “leitores proficientes” e do grupo de “leitores não-proficientes”, com relação ao
Texto “Dia Ocidental da Mulher” (p = 0,001).
Ranks
15 21,03 315,50
15
9,97
149,50
30
Grupo
Leitores proficientes
Leitores ñ-proficientes
Total
Teste: Dia Ocidental da
Mulher - Escala de 0 a 100
N
Mean Rank
Sum of Ranks
59
Teste: O Nariz – comparação entre os Grupos
Test Statistics
b
25,000
145,000
-3,637
,000
,000
a
Mann-Whitney U
Wilcoxon W
Z
Asymp. Sig. (2-tailed)
Exact Sig. [2*(1-tailed Sig.)]
Teste: O Nariz
- Escala de 0
a 100
Not corrected for ties.
a.
Grouping Variable: Grupo
b.
Conclui-se que existem diferenças estatisticamente significativas entre os alunos do
grupo de “leitores proficientes” e do grupo de “leitores não-proficientes”, com relação ao
Texto “O Nariz” (p < 0,001).
Ranks
15
21,33
320,00
15
9,67
145,00
30
Grupo
Leitores proficientes
Leitores ñ-proficientes
Total
Teste: O Nariz -
Escala de 0 a 100
N
Mean Rank
Sum of Ranks
60
Teste: Os Alimentos – comparação entre os Grupos
Test Statistics
b
36,000
156,000
-3,179
,001
,001
a
Mann-Whitney U
Wilcoxon W
Z
Asymp. Sig. (2-tailed)
Exact Sig. [2*(1-tailed Sig.)]
Teste: Os
Alimentos -
Escala de
0 a 100
Not corrected for ties.
a.
Grouping Variable: Grupo
b.
Conclui-se que existem diferenças estatisticamente significativas entre os alunos do
grupo de “leitores proficientes” e do grupo de “leitores não-proficientes”, com relação ao
Texto “Os alimentos” (p = 0,001).
Ranks
15
20,60
309,00
15
10,40
156,00
30
Grupo
Leitores proficientes
Leitores ñ-proficientes
Total
Teste: Os Alimentos
- Escala de 0 a 100
N
Mean Rank
Sum of Ranks
61
Teste: Coração – comparação entre os Grupos
Test Statistics
b
42,000
162,000
-2,933
,003
,003
a
Mann-Whitney U
Wilcoxon W
Z
Asymp. Sig. (2-tailed)
Exact Sig. [2*(1-tailed Sig.)]
Teste: O
Coração -
Escala de
0 a 100
Not corrected for ties.
a.
Grouping Variable: Grupo
b.
Conclui-se que existem diferenças estatisticamente significativas entre os alunos do
grupo de “leitores proficientes” e do grupo de “leitores não-proficientes”, com relação ao
Texto “O Coração” (p = 0,003).
Ranks
15
20,20
303,00
15
10,80
162,00
30
Grupo
Leitores proficientes
Leitores ñ-proficientes
roficientes
Total
Teste: Coração
-
Escala de 0 a 100
N
Mean Rank Sum of Ranks
62
Teste: O Zelador do Labirinto – comparação entre os Grupos
Test Statistics
b
74,500
194,500
-1,605
,108
,116
a
Mann-Whitney U
Wilcoxon W
Z
Asymp. Sig. (2-tailed)
Exact Sig. [2*(1-tailed Sig.)]
Teste: O
Zelador do
Labirinto -
Escala de
0 a 100
Not corrected for ties.
a.
Grouping Variable: Grupo
b.
Conclui-se que não existem diferenças estatisticamente significativas entre os
alunos do grupo de “leitores proficientes” e do grupo de “leitores não-proficientes”, com
relação ao Texto “O Zelador do Labirinto” (p = 0,108). Na verdade, os resultados desse
exercício, em especial, não confirmaram a hipótese de pesquisa e exige interpretação
adicional, a parte.
Ranks
15
18,03
270,50
15
12,97
194,50
30
Grupo
Leitores proficientes
Leitores ñ-proficientes
Total
Teste: O Zelador
do Labirinto
-
Escala de 0 a 100
N
Mean Rank
Sum of Ranks
63
Teste Não-paramétrico de Friedman
Grupo = Leitores proficientes – comparação entre os testes
Conclui-se que existem diferenças estatisticamente significativas entre os resultados
dos exercícios de leitura aplicados aos alunos do grupo de “leitores proficientes” (p <
0,001). Foi aplicado então o Teste de Comparações Múltiplas de Dunn, para verificar
quais os textos que apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre si. Os
textos que apresentaram diferenças significativas foram os seguintes:
A Competência do Coração x Dia Ocidental da Mulher (p < 0,01);
A Competência do Coração x O Zelador do Labirinto (p < 0,05);
Teste 44 lacunas x Dia Ocidental da Mulher (p < 0,001);
Teste 44 lacunas x O Nariz (p < 0,05);
Teste 44 lacunas x Os Alimentos (p < 0,05);
Ranks
a
4,20
6,00
1,07
3,60
3,40
3,00
6,73
Teste: A competência do Coração - Escala de 0 a 100
Teste: Teste 44 lacunas - Escala de 0 a 100
Teste: Dia Ocidental da Mulher - Escala de 0 a 100
Teste: O Nariz - Escala de 0 a 100
Teste: Os Alimentos - Escala de 0 a 100
Teste: Coração - Escala de 0 a 100
Teste: O Zelador do Labirinto - Escala de 0 a 100
Mean Rank
Grupo = Leitores proficientes
a.
Test Statistics
a,b
15
69,543
6
,000
N
Chi-
Square
df
Asymp. Sig.
Friedman Test
a.
b.
Grupo = Leitores proficientes
64
Teste 44 lacunas x Coração (p < 0,01);
Dia Ocidental da Mulher x O Nariz (p < 0,05);
Dia Ocidental da Mulher x O Zelador do Labirinto (p < 0,001);
O Nariz x O Zelador do Labirinto (p < 0,01);
Os Alimentos x O Zelador do Labirinto (p < 0,001);
Coração x O Zelador do Labirinto (p < 0,001).
65
Teste Não-paramétrico de Friedman
Grupo = Leitores não-proficientes – comparação entre os testes
Conclui-se que existem diferenças estatisticamente significativas entre os resultados
dos exercícios de leitura aplicados aos alunos do grupo de “leitores não-proficientes” (p
< 0,001). Foi aplicado então o Teste de Comparações ltiplas de Dunn, para verificar
quais os textos que apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre si. Os
textos que apresentaram diferenças significativas foram os seguintes:
A Competência do Coração x Dia Ocidental da Mulher (p < 0,001);
Teste 44 lacunas x Dia Ocidental da Mulher (p < 0,001);
Teste 44 lacunas x O Nariz (p < 0,05);
Teste 44 lacunas x Os Alimentos (p < 0,05);
Teste 44 lacunas x Coração (p < 0,001);
Ranks
a
4,53
6,07
1,27
3,33
3,60
2,60
6,60
Teste: A competência do Coração -
Escala de 0 a 100
Teste: Teste 44 lacunas -
Escala de 0 a 100
Teste: Dia Ocidental da Mulher -
Escala de 0 a 100
Teste: O Nariz - Escala de 0 a 100
Teste: Os Alimentos - Escala de 0 a 100
Teste: Coração -
Escala de 0 a 100
Teste: O Zelador do Labirinto - Escala de 0 a 100
Mean Rank
Grupo = Leitores não--proficientes
a.
Test Statistics
a,b
15
68,629
6
,000
N
Chi-
Square
df
Asymp. Sig.
Friedman Test
a.
b.
Leitores não-proficientes
66
Dia Ocidental da Mulher x O Zelador do Labirinto (p < 0,001);
O Nariz x O Zelador do Labirinto (p < 0,001);
Os Alimentos x O Zelador do Labirinto (p < 0,01);
Coração x O Zelador do Labirinto (p < 0,001).
3.2 Comparação entre dados estatísticos e dados brutos
A compreensão de um texto não pode ser analisada apenas como um produto,
mas, principalmente, como um processo construtivo. Entender a leitura como um
processo significa, entre outras coisas, assumir que vários fatores a ela
relacionados, os quais precisam ser investigados pelos pesquisadores. Por isso
mesmo, após analisar os dados estatísticos, optou-se por fazer também uma análise
dos dados brutos, a fim de considerar resultados não captados de modo genérico.
TABELA 1 DISTRIBUIÇÃO DOS
ALUNOS, DE ACORDO COM OS
GRUPOS.
Grupo n %
Leitores proficientes 15 50,0
Leitores não-proficientes 15 50,0
Total 30 100,0
Os dados colhidos foram numerosos, sendo que alguns deles prestam-se a uma
análise mais minuciosa. Em primeiro lugar, os resultados da análise estatística
comprovaram integralmente o principal pressuposto da pesquisa. Na verdade, a divisão
do grupo de alunos em leitores proficientes e leitores não-proficientes, segundo a
avaliação dos professores, mostrou ser adequada. Nos sete exercícios realizados, os
alunos considerados leitores proficientes ratificaram a avaliação dos professores, pois
houve diferença estatisticamente significativa entre seu desempenho e o do grupo
67
formado por leitores considerados não-proficientes.
TABELA 2 DISTRIBUIÇÃO DOS ALUNOS POR SEXO, DE ACORDO
COM OS GRUPOS.
Grupo
Leitores proficientes
Leitores não
-
proficientes
Total
n % n % n %
Masculino 4 26,7 7 46,7 11 36,7
Feminino 11 73,3 8 53,3 19 63,3
Total 15 100,0 15 100,0 30 100,0
Quanto à tabela 2, distribuição dos alunos por sexo de acordo com o critério leitor
proficiente e não-proficiente, não se destacou uma diferença significativa na variável
sexo dos leitores. Nos dois grupos a maioria é de mulheres – 73,3% leitores proficientes
e 53,3% leitores não-proficientes. Quanto ao sexo feminino, observou-se sua
preponderância no grupo de leitores proficientes, isto é, a maioria dos leitores
proficientes era constituída de participantes do sexo feminino.
TABELA 3 DISTRIBUIÇÃO DOS ALUNOS POR IDADE, DE
ACORDO COM OS GRUPOS.
Grupo
Leitores proficientes Leitores não-proficientes Total
n % n % n %
16 6 40,0 9 60,0 15 50,0
17 9 60,0 2 13,3 11 36,7
18 0 0,0 3 20,0 3 10,0
19 0 0,0 1 6,7 1 3,3
Total 15 100,0 15 100,0 30 100,0
68
Na tabela 3, distribuição dos alunos por idade, segundo o critério leitores
proficientes e leitores não-proficientes, observou-se que o grupo de leitores não-
proficientes incluiu todos os alunos com idade de dezoito e dezenove anos. Uma das
explicações possíveis é de que esses alunos tivessem interrompido seus estudos por
determinado tempo, ou, então, que fossem repetentes. Nos dois casos, a questão etária
estaria relacionada a fatores de outra natureza, talvez fatores emocionais.
TABELA 4 MEDIDAS DESCRITIVAS DA SOMA DOS ESCORES DOS TESTES
(SEM TRANSFORMAÇÃO NAS ESCALAS), DE ACORDO COM OS GRUPOS.
Grupo
Leitores proficientes Leitores não-proficientes
n Média Mediana
Valor
Mínimo
Valor
Máximo
n Média Mediana
Valor
Mínimo
Valor
Máximo
A competência do
Coração
15 65,07 66 50 74 15 56,67 58 26 76
Teste 44 lacunas 15 78,27 77 74 84 15 74,40 75 65 83
Dia Ocidental da
Mulher
15 32,53 32 19 48 15 17,00 15 3 41
O Nariz 15 45,27 45 40 54 15 36,60 36 27 52
Os Alimentos 15 47,27 48 33 55 15 36,60 38 4 50
Coração 15 34,53 34 21 45 15 24,20 27 0 38
O Zelador do Labirinto
15 28,20 29 25 30 15 26,53 27 23 30
Obs.: Os escores foram atribuídos de acordo com a seguinte regra:
3 Errou a questão ou não respondeu = 0;
4 Acertou em parte a questão = 1;
5 Acertou a questão = 2.
As medidas descritivas da soma dos escores, sem transformação nas escalas, e o
resultado de cada exercício individualmente constam na tabela 4. Essa tabela mostra
os índices obtidos pelos dois grupos, em cada exercício.
69
TABELA 5 MEDIDAS DESCRITIVAS DA SOMA DOS ESCORES DOS TESTES,
ESCALAS ENTRE 0 E 100 PONTOS, DE ACORDO COM OS GRUPOS.
Grupo
Leitores proficientes Leitores não-proficientes
n Média Mediana
Valor
Mínimo
Valor
Máximo
n Média
Mediana
Valor
Mínimo
Valor
Máximo
A competência do
Coração
15 81,33 83 63 93 15 70,83 73 33 95
Teste 44 lacunas 15 88,94 88 84 95 15 84,55 85 74 94
Dia Ocidental da
Mulher
15 54,22 53 32 80 15 28,33 25 5 68
O Nariz 15 78,05 78 69 93 15 63,10 62 47 90
Os Alimentos 15 76,24 77 53 89 15 59,03 61 6 81
Coração 15 71,94 71 44 94 15 50,42 56 0 79
O Zelador do
Labirinto
15 94,00 97 83 100 15 88,44 90 77 100
Na tabela 5, constam as medidas descritivas das somas dos escores dos
exercícios, transformadas para uma escala entre 0 e 100 pontos. Essa transformação
foi aplicada com o objetivo de permitir a comparação entre os exercícios.
Figura 1 - Médias dos Escores dos Testes, por Grupos
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
A
competência
do Coração
Teste 44
lacunas
Dia Ocidental
da Mulher
O Nariz
Os Alimentos
O Coração
O Zelador do
Labirinto
Testes
Média
Leitores proficientes
L
eitores
não
-
proficientes
70
Na figura 1, Médias dos Escores dos Exercícios, por Grupos, o gráfico não permite
verificar se as diferenças o estatisticamente significativas, apenas apresenta uma
visualização das diferenças na amostra, excetuando-se apenas um deles, o exercício 7,
que utilizou o texto O zelador do labirinto.
Para analisar os resultados com mais adequação, as questões dos exercícios serão
discutidas em relação aos tipos de perguntas formuladas, como a seguir se discrimina:
a) questões objetivas, as quais envolveram reconhecimento e evocação, todas
altamente dependentes de memória e atenção; b) as questões inferenciais que
envolveram antecipação de informações (hipóteses interpretativas), previsão
(possibilidades interpretativas), pressuposto, subentendido, mobilização de
conhecimento extratextual, relacionando-o à informação constante no texto, dedução
lógica (hiperonímia/ hiponímia), paráfrase (sinonímia), ironia e metáfora (inferência
pragmática), estabelecimento de inter-relações entre informações não exatamente
indispensáveis e previsibilidade sintático-semântica (teste cloze); e, por fim, c)
questões interpretativas, as quais implicavam o estabelecimento de inter-relações
entre conhecimento adquirido (enciclopédico) e experiência pessoal.
A divisão do grupo total de alunos em proficientes e não-proficientes de acordo com
os professores de língua portuguesa, biologia, história e matemática foi pertinente, e
esse julgamento antecipado provou estar adequado, como já referido anteriormente.
Essa constatação não invalida, porém, a possibilidade de algum erro de avaliação dos
professores. A possibilidade, no entanto, parece ser remota, que apenas um dos
exercícios não confirmou a previsão, o exercício de 7. Além do mais, a seguir, será
realizada a análise do tipo de questão proposta no exercício comentado, uma vez que
os alunos, de modo geral, saíram-se muito bem, não havendo diferença de
performance significativa entre os dois grupos. Leitores proficientes e leitores não-
proficientes obtiveram escores altos, o que chama a atenção. Será que as respostas
não exigiam unicamente “copiação”, como o refere Marcuschi?
Assim, a pretensão do estudo era a de que a análise do resultado obtido em cada
71
exercício pudesse ser cotejada com o tipo de pergunta proposto, o que permitiria
discernir respostas que dependessem exclusivamente da memória, daquelas que
envolvessem raciocínio e daquelas, ainda, que implicassem inter-relacionar leitura e
experiência de vida, conhecimento enciclopédico - conteúdos de ensino trabalhados na
escola - e conhecimento de mundo.
No texto A competência do coração, exercício 1, avaliou-se a inter-relação
compreensão e atenção, propondo-se um jogo de alternância entre as palavras-chave
cérebro e coração. Foi possível, então, constatar que a atenção é, dentre outros tantos,
um fator importante para compreensão leitora, comprovando-se haver diferenças
estatisticamente significativas entre os alunos do grupo de leitores proficientes e do
grupo de leitores não-proficientes com relação a esse detalhe (p = 0,044). O que
confirma a idéia de que memória/atenção são imprescindíveis para a
interpretação/compreensão, uma vez que o registro ou não de certos detalhes
informativos pode desvirtuar totalmente o resultado da leitura.
As lacunas do texto cujo título é Teste, por sua vez, envolviam tarefas de escrutínio
acurado das idéias contidas no texto, de identificação de vínculos textuais, de
comparação entre possibilidades de resposta, de localização de informações, de
avaliação, de seleção e de distribuição do texto em idéias principais, secundárias e
acessórias. O modo de organização da tarefa propunha exercícios de múltipla escolha,
não tendo o estudante a incumbência de elaborar uma resposta, porém de selecionar a
opção correta dentre as possibilidades existentes. Por isso mesmo, demandava
discernimento por parte do sujeito testado, para que ele pudesse, de fato, fazer a
melhor escolha. Foi possível observar diferença estatisticamente significativa entre os
resultados obtidos pelos alunos do grupo de leitores proficientes e pelo de leitores não-
proficientes, também, com relação a esse teste (p = 0,037).
Prosseguindo, observou-se, por exemplo, que na lacuna 7, “- É, um motel. Um
motel pequeno, (7)_______________, perto daqui[...]” as três possibilidades de escolha
eram antiquado, antigo e velho. Sete dos 30 alunos escolheram a opção antigo, que é o
72
item lexical contido no texto original, os demais optaram pelo termo velho,
possibilidade permitida, que é um sinônimo quase perfeito; Na lacuna 20, “-Você
está louco de desejo. Você treme de desejo. Você (20)_______________ a roupa,
atira-se sobre ela...” as três possibilidades que existiam para a escolha eram arranca,
tira e rasga. Arranca é a palavra do texto, contudo, com exceção de quatro alunos, os
demais, todos, escolheram a segunda possibilidade existente, escolhendo a forma
verbal tira; na lacuna 31 “O dia seguinte (31)______________ uma terça-feira”, as
sugestões eram foi, ser e é, sendo esta a alternativa correta, conforme o texto. Quanto
a essa lacuna específica, pôde-se captar o nível de atenção existente, pois em relação
ao dia “seguinte” a forma do verbo no passado foi - certamente não seria a melhor
opção. Se o dia ainda não chegara, como se poderia usar um verbo no passado? Além
do mais, no texto, a frase indica futuro. A seleção dos tempos verbais mostrou, assim,
certa flutuação do nível de atenção ao todo textual. Pode-se ainda destacar que o uso
da forma verbal ser para indicar o dia seguinte, uma terça-feira, estabelece uma ruptura
sintática frasal, falta de concordância. Nesse caso, não havia uma alternativa de
resposta. Na L.43 - Qualquer outro quarto está a sua disposição diz o homem.
Menos (43)_______________: ele está ocupadoas opções existentes eram este,
esse e aquele. De acordo com o texto, a palavra a ser usada era esse, e o
demonstrativo este era a alternativa aceitável. De acordo com a gramática
tradicional, deve-se usar a expressão este para algo próximo da pessoa que fala, esse
para algo que está próximo da pessoa que ouve e aquele para algo que está distante
de ambas. Em tais circunstâncias, é preciso dar atenção ao cotexto lingüístico (ou seja,
às relações internas ao texto) para fazer a escolha adequada. A maioria dos alunos,
entretanto, escolheu a segunda resposta viável, aliás, o uso de este e esse está cada
vez mais indiferenciado entre os usuários da língua. Assim, a partir dessa análise, ainda
que não exaustiva, é possível depreender que a atenção focalizada no que se está
lendo, é indispensável à compreensão leitora. Deve-se salientar, porém, que nesse tipo
de cloze, os escores indicaram que houve boa compreensão de ambos os grupos,
mantendo-se, porém, a diferença significativa entre o desempenho dos dois.
Por sua vez, o exercício relacionado ao texto Dia Ocidental da Mulher teve o
73
objetivo de observar a inter-relação compreensão, aprendizagem e atenção e
apresentou, como a maioria dos exercícios, diferença estatisticamente significativa
entre os alunos do grupo de leitores proficientes e do grupo de leitores não-proficientes
(p = 0,001). Um dado extremamente relevante é que tanto no grupo de leitores
proficientes como no de leitores não-proficientes baixou a porcentagem de acertos às
questões. O dado a ser adicionalmente registrado é que todas as questões do
exercício, com exceção de uma, são do tipo inferencial. Através desse exercício foi
possível, então, concluir que, quando o leitor o dispõe de conhecimentos prévios
suficientes, o processo inferencial ou não se efetiva, ou não é bem sucedido. Na
ausência de conhecimentos prévios relevantes que permitam interpretar a informação
do texto, as frases se convertem em uma sucessão de palavras, não conseguindo levar
o leitor a ativar o contexto que tenha sentido. Como a inferência era indispensável, os
alunos não se saíram bem, porque a maioria das respostas exigia raciocínio e
capacidade de estabelecer relações entre informações provenientes de diferentes
disciplinas curriculares. Nesse exercício, a questão da não mobilização do
conhecimento anterior foi posta em foco. Ou os alunos não tinham aprendido o que fora
dado em geografia e história, ou esse conteúdo o fora dado. Como os professores
asseguraram que os alunos tinham conhecimento da matéria, o que se constatou é que
de fato não a aprenderam, que não conseguiram estabelecer, com segurança, de
que o texto estava falando.
Salienta-se, sobretudo, que para ter certeza de que os alunos tinham visto, na
escola, o conteúdo de ensino sobre o qual versava o exercício, antes, então, de decidir
quais seriam as perguntas a integrar a avaliação leitora, a pesquisadora conversou com
os professores das referidas disciplinas para saber se as informações requeridas no
exercício eram de conhecimento dos alunos. então foram propostas em definitivo as
questões. Pode-se deduzir, pois, de acordo com os resultados desse exercício
específico - o qual continha 15 questões, sendo 14 do tipo inferencial, 11 envolvendo
conhecimento prévio, 2 envolvendo paráfrase, 1 envolvendo ironia, e apenas 1 objetiva
envolvendo reconhecimento que a aprendizagem precisa ser discutida,
redimensionando-se sua importância com relação à leitura. O fato é que as inferências
74
são essenciais para a compreensão leitora e para a formação de leitores críticos e
autônomos; entretanto, para poder inferir é necessário ter uma base cultural sólida.
Nesse exercício, em especial, nem os alunos considerados leitores proficientes nem os
tidos como leitores não-proficientes saíram-se bem. Houve uma baixa produtividade
geral, o que mais uma vez corrobora os péssimos índices de leitura obtidos por alunos
brasileiros em testes nacionais e internacionais. Nesse exercício confirmaram-se as
palavras de Kleiman (1995, p.13), “A compreensão de um texto é um processo que se
caracteriza pela utilização do conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura
conhecimentos adquiridos ao longo de sua vida”. Caso o leitor não tenha conhecimento
prévio a respeito daquilo que o texto trata, a compreensão/interpretação poderá não
acontecer. Sobretudo, chamou atenção a questão 10, inferencial, envolvendo
conhecimento prévio extratextual, porque nenhum respondente acertou a questão. Ela
inquiria sobre a relação de sentido existente entre as palavras: “religião” e “católica”. Os
alunos não entenderam que a católica é um tipo de religião. O que pôde ocasionar
essa dificuldade de compreensão, talvez, tenha sido o uso de hiperônimo e de
hipônimo, uma vez que a distinção entre as diversas religiões existentes as coloca na
condição de hipônimos do termo mais genérico religião. Nesse exercício ficou evidente
que para compreender é necessário que o leitor mobilize o conhecimento lingüístico,
enciclopédico e interacional. De fato, o processo de ensino e o processo de
aprendizagem devem interagir para que o aluno construa a aprendizagem.
Aprendizagem e atenção se inter-relacionam, sendo que a mediação coordena os
vários processos cognitivos envolvidos.
Em prosseguimento, o exercício realizado através do texto O Nariz compunha-se de
perguntas objetivas e inferenciais, investigando a inter-relação compreensão e
memória. Das 10 questões propostas, 6 eram objetivas e todas, inclusive as quatro
restantes, tiveram de ser respondidas sem consultar o texto-base. Novamente,
confirmou-se a diferença estatisticamente significativa entre os alunos do grupo de
leitores proficientes e do grupo de leitores não-proficientes (p < 0,001). O exercício
propôs questões objetivas, inferenciais e de interpretação, envolvendo evocação,
reconhecimento, subentendido e conhecimento de mundo. Na questão 1a, os leitores
75
foram solicitados a descrever, com expressões lidas no texto, o modo como o dentista
era visto antes de usar o nariz postiço, e a 1b perguntava como ele passara a ser visto
depois de usar o nariz postiço. Essa questão envolvia evocação, com discriminação
precisa da informação. Nela evidenciou-se dificuldade de resposta de parte da maioria
absoluta dos alunos, que de 30 participantes do estudo, na questão 1a, apenas 3
acertaram a resposta, todos pertencentes ao grupo dos leitores proficientes, e na 1b de
30 participantes, 8 acertaram, sendo desses, 2 do grupo dos leitores não-proficientes. A
questão 3, por sua vez, perguntava que argumento a mulher usou para convencer o
marido de que ele deveria tirar o nariz postiço. De 30 alunos, apenas 7 acertaram a
resposta. É possível deduzir a partir desses dados que o processamento da memória,
quando avaliado através de questões de evocação, como exemplificado através das
questões 1 e 3 (objetivas), podem apresentar um grau de dificuldade bastante alto.
Reconhecer é bem mais fácil do que evocar, em que pese as questões enfocarem
dados substanciais para a compreensão. A questão 10, de sua parte, também
apresentou resultado inesperado. Ela envolvia conhecimento de mundo e avaliação, e
perguntava: “Você acha que ele tem razão?”. Dos 30 participantes somente 15
acertaram, sendo 12 do grupo de leitores proficientes. Os demais não conseguiram
articular a situação contida no texto ao conhecimento de mundo que detinham. As
perguntas de evocação e a questão 10, que demandava interpretação, foram
respondidas de modo inadequado pela maioria absoluta dos sujeitos investigados. O
que comprova mais uma vez que memória e atenção são, dentre outros fatores,
imprescindíveis para a compreensão, confirmando as palavras de Anderson (2005),
quando afirma que uma boa memorização é um indicador confiável de compreensão.
O exercício proposto em Os alimentos analisou a inter-relação compreensão,
aprendizagem e atenção. Como na maioria dos exercícios, comprovou-se haver
diferença estatisticamente significativa entre os resultados obtidos pelos alunos do
grupo de leitores proficientes e do grupo de leitores não proficientes (p = 0,001).
Contudo, nesse exercício, evidenciou-se um dado não registrado anteriormente. As
questões do exercício foram classificadas em sua maioria como objetivas. Elas
pressupunham evocação e reconhecimento, exigindo atenção. Buscou-se antes avaliar
76
o conhecimento prévio para após planejar as atividades. As informações requeridas nas
questões, supostamente, eram de conhecimento dos alunos. O que se esperaria, nesse
caso, é que eles pudessem responder adequadamente às questões, que das 10
questões propostas 8 eram objetivas, e as outras 2 - uma inferencial e a outra
interpretativa. A idéia era que o aluno valorizasse a informação de que era detentor.
A seguir se fará uma análise das perguntas para descobrir qual o seu nível real de
dificuldade, já que o resultado do teste não foi o esperado.
Os conhecimentos escolares básicos, apesar da sua importância, não estão imunes
ao esquecimento. Analisando as questões do texto citado acima, tem-se a comentar
que as questões 1, 4, 5, 6 e 8, todas objetivas, envolviam evocação e reconhecimento.
Nessas questões, as demandas à memória dos alunos foram grandes, o que sem
dúvida foi obtido, numa medida até certo ponto desconcertante. Eles foram avisados de
que não poderiam manusear o texto para responder às questões, então era preciso
prestar muita atenção na leitura feita. A professora leu o texto em voz alta, em seguida,
um deles também o leu. Além disso, eles podiam lê-lo silenciosamente mais de uma
vez, se o desejassem. A dificuldade era que eles o poderiam manusear o texto
durante a realização do exercício. Esperava-se que, com o alerta, os participantes se
preparassem mais, concentrando-se na leitura. Os resultados mostraram que os alunos
não leram o texto para aprender, para estudar, e acabaram apresentando mau
desempenho. O que também demonstra que a memória de curto prazo não funcionou
bem. Eles não conseguiram reter os dados do texto na memória após a leitura.
Na comparação entre as questões respondidas de modo inadequado observou-se
acentuada diferença de tipo de questão. A questão 10, de interpretação, relacionava
conhecimento enciclopédico e experiência pessoal e solicitava que o aluno criasse uma
dieta considerada ideal para a saúde do corpo e da mente. Dos 30 participantes apenas
1 acertou a questão, 22 acertaram em parte, 5 erraram totalmente e 2 não
responderam. Nesse exercício ficou evidente a importância da inter-relação entre
aprendizagem e atenção para a compreensão em leitura. Se a questão 10,
interpretativa, requeria conhecimento prévio, experiência de vida, a questão 1 exigia
77
a leitura atenta e concentrada do texto, pois a resposta estava explícita. Contudo, os
alunos não tinham o texto em mãos, precisando lembrar do que o texto dizia. Daí a
dificuldade, também observada na questão 4, objetiva, que perguntava que alimentos
nos fornecem energia. Como os alunos não podiam recorrer ao texto, de 30 alunos
apenas 4 acertaram a questão, 3 do grupo dos leitores proficientes e 1 do grupo dos
leitores não-proficientes. Na questão 5, que perguntava o que são materiais de
construção, a resposta o estava explícita no texto, e dos 30 participantes apenas 7
souberam responder. Na 5b que questionava qual era a função dos chamados
“materiais de construção” alimentares, dos 30 alunos, 9 acertaram e na 5c que
solicitava que listassem 5 dos alimentos “materiais de construção” dos 30 alunos,
somente 2 responderam corretamente. Por sua vez, a questão 6 que perguntava que
minerais também integravam os nutrientes que formam os tecidos corporais, cuja
resposta estava explícita no texto, foi respondida corretamente somente por 2 alunos. A
questão 8, objetiva, questionava se os alimentos que constavam na lista da questão
não estavam no texto. Nesses casos, era preciso relembrar a lista de alimentos
referidos no texto para poder responder, a questão requeria reconhecimento. Essa
questão foi igualmente respondida por poucos. O que se depreende do exposto é que
talvez os alunos não estejam concentrando a atenção suficientemente.
Prosseguindo, o exercício do texto Coração teve o objetivo de observar a inter-
relação compreensão e atenção, focalizando em especial o tipo de inferência
produzida, desenvolvendo atividades que mobilizavam conhecimento prévio, além de
reconhecimento de informações contidas textualmente. Nesse teste confirmou-se
também a diferença estatisticamente significativa entre os alunos do grupo de leitores
proficientes e do grupo de leitores não-proficientes, (p = 0,003). Embora persistindo a
diferença entre os dois grupos, o grupo de leitores proficientes baixou sua média nos
escores. De 10 questões, 5 eram inferenciais, o que mais uma vez põe em destaque a
dificuldade de produzir inferências. As questões 5, 6 e 8 foram as que mais chamaram a
atenção pelo número de erros. Na questão 5, inferencial, envolvendo conhecimento
prévio, dos 30 alunos, 5 acertaram, sendo 1 destes considerado leitor não-proficiente.
Na questão 6, objetiva (reconhecimento), o resultado foi o mesmo que aquele
78
encontrado na questão anterior e, na questão 8, inferencial, pressupondo
conhecimento anterior, dos 30 alunos, 7 acertaram a resposta, todos pertencentes ao
grupo dos leitores proficientes. Ficou outra vez evidente a falta de focalização da
atenção e a sua importância imprescindível para a compreensão leitora.
O exercício que não confirmou a previsão é o que resultou do texto O Zelador do
labirinto, único a não apresentar diferença estatisticamente significativa entre os dois
grupos de leitores (p = 0,108), que aproximaram suas performances drasticamente,
como é possível observar na tabela 1. As perguntas do exercício envolviam, sobretudo,
questões objetivas. Ele constituía-se de 15 questões, das quais 9 eram objetivas (de
reconhecimento). Aparentemente, as questões demandavam uma leitura baseada na
superfície do texto, não exigindo pensar para responder. Mesmo assim houve uma
surpresa. Na questão 1, que perguntava sobre o que poderia versar o texto a ser lido,
tomando por base o título, todos os respondentes acertaram a questão. Os alunos
conseguiram antecipar o assunto, formulando uma hipótese plausível, talvez porque
todos soubessem o que significava a palavra zelador. Alguns tiveram dificuldade de
saber o que era um labirinto, mas não sobre o que fosse um zelador e suas funções. De
fato, chamou a atenção o resultado das questões 9 e 13. A questão 9, inferencial,
perguntava como agiu o zelador naquele momento da história e por quê. A média dessa
questão envolvendo subentendido foi de 15 acertos, sendo 8 dos considerados leitores
proficientes e 7 dos considerados leitores não-proficientes. na questão 10,
inferencial, que perguntava por que ele pegou seu caderno e o toco de lápis e começou
a escrever, 28 dos 30 respondentes acertaram, talvez porque envolvesse uma situação
conhecida, mesmo que no texto não estivesse especificado o que ele ia escrever. Na
questão 11, também inferencial, que perguntava por que o zelador hesitou, dos 30
alunos, 29 responderam corretamente. Conforme o texto subentende-se que o zelador
hesitou porque estava confuso, no entanto, essa palavra não aparece no texto. Foi
notória a dispersão das respostas à questão número 13, na qual ocorreu a maior
variação de respostas. Dos 30 alunos, 16 acertaram, sendo essa uma das cinco
questões inferenciais do teste. A questão perguntava o que era terrível, por que e para
quem e, na verdade, o texto não explicitava claramente o que acontecera. As pessoas
79
estavam perdidas. O terrível era não saber como sair dali, o mapa mental do zelador
não pudera ser recuperado. Nessa questão é preciso produzir inferências com base nas
informações presentes no texto, usando conhecimento mais ou menos óbvio para
completar o que está implícito, porque o texto fornece pistas suficientes para que seja
feita a inferência. Ela, contudo, não foi formulada por um grande número de alunos. Ou
seja, basta não estar escrito para o aluno atrapalhar-se bastante. Por outro lado, nas
questões objetivas que demandavam reconhecimento, a média de acertos oscilou entre
24 e 30 acertos, entre todos os 30 respondentes, talvez porque eles tivessem que
reproduzir a resposta, e o grau de exigência não fosse muito grande.
No texto O zelador do labirinto, foram propostas 15 questões ao todo, sendo 10
questões do tipo objetivo, as quais propunham reconhecimento, 1 questão de
interpretação, apenas, que exigia conhecimento de mundo e 4 questões inferenciais,
envolvendo respectivamente antecipação, previsão e subentendido. O objetivo desse
exercício era inter-relacionar compreensão e aprendizagem, mas as questões, ao que
tudo indica, não apresentaram nenhum desafio e nem conduziram à reflexão crítica do
texto, reduzindo-se à identificação de informações explícitas, com base na reprodução.
A proporção de acertos oscilou entre 10 e 15 respostas certas.
Além disso, precisa-se levar em consideração que, no texto comentado, o tipo de
proposta foi diferente das demais, tendo, de fato, outra natureza. O texto foi distribuído
aos poucos e a memória de trabalho não foi exigida como nos outros casos. Além
disso, a memória de longo prazo foi mobilizada em menor proporção do que nos outros
exercícios por não haver muitas menções a personagens ou situações desconhecidos
dos alunos.
no exercício proposto através do texto O Dia ocidental da mulher ocorreu o
inverso do ocorrido com O zelador do labirinto. Seu resultado apontou baixo rendimento
dos dois grupos. O teste propunha questões que exigiam a formulação de inferências, o
que dificultou o desempenho dos alunos. A habilidade de o leitor perceber
determinados fatos, de modo geral, implícitos, tornando-se um elemento ativo no
80
processo, foi quase nula, sendo extremamente reveladora, pois, no caso, era o próprio
aluno quem devia mobilizar a sua experiência de vida, estabelecendo relações e
formulando deduções bem sucedidas, elementos importantes para a compreensão
leitora. Se o leitor não assumir essa incumbência, não nada que possa substituí-lo.
Os exercícios tornaram bem claro que o aluno não está acostumado a agir
cognitivamente, enquanto lê.
A análise dos dados brutos, por outro lado, acrescenta algumas notas dissonantes.
No exercício que verificou o texto O Nariz, referido anteriormente, o aluno de número
16, classificado como leitor não-proficiente, acertou 26 das 29 respostas, errando
apenas três questões, uma envolvendo evocação (questão objetiva) e a outra
demandando interpretação. A proporção de acertos entre os leitores proficientes oscilou
entre 20 e 25 acertos, e somente 1 respondente acertou 27 questões. No teste citado
constavam 10 perguntas, sendo 6 do tipo objetivo, 2 inferenciais e 2 de interpretação.
Já no texto O zelador do labirinto composto por 15 questões, 10 objetivas, 4
inferenciais e 1 de interpretação, o aluno de n. 16 errou somente uma questão, a de
número 3 (questão objetiva), que envolvia reconhecimento e perguntava que tipo de
pessoa era o zelador. No texto O coração das 24 respostas a serem dadas, ele acertou
18. No texto A competência do coração, fez-se um jogo de alternância entre as
palavras-chave cérebro e coração. De 40 lacunas o aluno acertou 33 e no texto
denominado Teste, envolvendo tarefas de escrutínio acurado das idéias contidas no
texto, de 44 lacunas acertou 37. Os únicos exercícios que o causaram surpresa
quanto ao pré-julgamento desse aluno pelos professores foi o texto Dia ocidental da
mulher, em que, das 30 respostas, acertou 11, e a média de acertos foi de 22; e o texto
Os alimentos - das 31 perguntas, o aluno em questão acertou 14, sendo a média, de
24 acertos. Assim, os resultados obtidos por esse aluno, em particular, precisam ser
reanalisados, e a sua produção leitora exigirá dos professores redobrada atenção. Além
disso, pode-se ventilar a hipótese de esse sujeito apresentar um tipo de habilidade
leitora a ser considerado separadamente, a partir da comparação entre tipos de
pergunta/performance, buscando precisar o mais possível o porquê da avaliação dos
81
professores não conferir com seu desempenho nos exercícios.
De acordo com o ponto de vista cio-interacionista, a compreensão do texto é
baseada na evocação, no reconhecimento, nos valores sociais, nos conhecimentos
prévios e nas experiências de vida. Resultando da inter-relação de processos cognitivos
e interacionais, o processo de compreensão apóia-se em grande parte nas inferências
elaboradas pelo leitor, assim quanto mais conhecimento o leitor tiver, melhor será a sua
compreensão em leitura. De fato, como assevera Koch, a compreensão depende da
capacidade de o leitor “[...] construir ou recuperar na memória um modelo satisfatório
[...]” (2005, p.46), que “[...] a língua não existe fora dos sujeitos sociais que a falam
[...] e nos quais mobilizam seus saberes quer de ordem lingüística, quer de ordem
sociocognitiva, ou seja, seus modelos de mundo [...]” (p.44).
De fato, elementos de outras ordens, como experiências e crenças que circulam no
contexto sociocultural (Marcuschi,1985), além das habilidades cognitivas específicas
para o processamento textual, também, contribuem para que o leitor formule inferências
e consiga compreender os implícitos do texto e, em decorrência, compreenda o texto.
Vale ressaltar que tais habilidades são importantes não para a compreensão leitora,
mas também para a realização de ltiplas tarefas intelectuais e físicas úteis na vida
prática, em especial, na resolução de problemas e na tomada de decisões, que a
sociedade está se transformando de modo rápido, contínuo, e as informações e
conhecimentos gerados pela ciência e pela tecnologia se multiplicam. Nessas
circunstâncias, é indispensável que as pessoas pensem e possam, de fato,
compreender, até para captar e analisar pontos de vista distintos dos seus.
O avanço do presente estudo foi constatar que de fato é possível investigar a
compreensão leitora com um pouco mais de segurança, desmembrando os exercícios a
serem utilizados, ao focalizar distintas habilidades cognitivas com maior ou menor
ênfase. Aprendizagem, memória e atenção inter-relacionam-se, sendo de suma
importância para a compreensão em leitura, mas, de fato, formular questões que
enfoquem essas habilidades cognitivas de forma dissociada, com especial cuidado ao
82
tipo de pergunta elaborada em cada caso, parece ser a chave mestra para a
estruturação de exercícios de leitura mais produtivos e mais concernentes às
dificuldades específicas dos respondentes. Assim, a experiência desenvolvida neste
estudo demonstrou ser possível selecionar e produzir exercícios que contemplem essas
habilidades, avaliando as dificuldades leitoras com mais eficiência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A velocidade das mudanças e as exigências da tecnologia e do mercado de
trabalho são tantas e tão rápidas, que o profissional de qualquer área pode ser
literalmente surpreendido por alterações drásticas em sua atividade diária. Viver hoje
demanda compreender o que acontece e predispor-se a aprender. Por isso mesmo, o
problema da compreensão leitora é uma questão de grande interesse em qualquer
campo de conhecimento ou de trabalho. É importante que o ser humano entenda um
grande número de fenômenos, o comportamento de outras pessoas, acontecimentos
físicos, conceitos científicos e matemáticos, mas, sobretudo, que compreenda
expressões verbais faladas e, nesse caso específico, escritas.
Como tudo nesta vida oscila, a concepção de leitura também, e, em conseqüência
disso, o conceito de compreensão apresenta flutuações; ora se restringe a identificação
de informações contidas no texto, ora inclui e exige a inserção de dados do
conhecimento de mundo do leitor. Apesar de diferentes, as várias concepções têm um
ponto em comum, podem ser avaliadas através dos “exercícios de compreensão”. Na
atualidade, importa rever como o professor está concebendo que o aluno deva ler, a fim
de que as questões de compreensão por ele formuladas não sejam inadequadas ao
propósito de mediar a construção do conhecimento, visto que muitas vezes essas
questões sequer exigem a leitura do texto para serem respondidas. Retomando as
palavras de Marcuschi “[...] a geração de sentidos pela reunião de várias
informações do próprio texto ou pela introdução de informações e conhecimentos
pessoais ou outros não contidos no texto [...]” (1996, p.75). É preciso elaborar questões
propiciando aos alunos lembrar conhecimentos aprendidos, retomar conhecimentos
memorizados, possibilitar treinamento da atenção conduzindo-os a perceber as
entrelinhas do texto, não restringindo a compreensão ao objetivo de atribuir uma nota. É
imprescindível que o aluno interaja com o texto, com o professor, com o objeto de
conhecimento e com seus colegas. Tanto um estudante, quanto um profissional que
tenham habilidade e compreensão desenvolvidas apresentarão pensamento crítico,
84
autônomo e criativo, com uma maior variedade e qualidade de idéias, que, aliás, são as
que na maioria das vezes faltam.
Kleiman (1998, p.3) usa o termo pedagogia da contradição para se referir a um tipo
muito comum de incoerência escolar:
Nos primeiros contatos com a leitura, aprende-se o alfabeto para um dia no
futuro poder compreender o texto e oraliza-se a leitura para aprender a ler
silenciosamente. Fragmenta-se o texto para aprender a perceber o todo, um
tema, uma idéia principal. Impõe-se um mesmo texto ao grupo para se
desenvolver o gosto individual pela leitura, a relação estética e de prazer íntima
e privada. Procura-se fazer com que o aluno responda somente o que está
previsto na leitura do professor ou do autor didático e exige-se um leitor crítico e
participativo.
Objetiva-se formar leitores com plena capacidade de compreender os textos que
lêem, então é preciso ver a leitura como um movimento interdisciplinar que se associa à
sociedade e à história. A leitura individual, num primeiro momento, permite que o aluno
dialogue silenciosamente com os valores e idéias presentes no texto. Após esse
momento, a mediação feita pelo professor possibilita novas leituras sobre o texto. Sob a
mediação do professor, a aula torna-se realmente o que deve ser: um espaço interativo
no qual se e se discute muito. Essa etapa da leitura exige do aluno a capacidade de
inter-relacionar os conhecimentos do texto com os conhecimentos de mundo, de forma
a confrontá-los com a realidade e com outros textos.
Uma das conclusões a que se chegou foi a mesma de Taylor (1986), que destacou
a dificuldade de estabelecer critérios comprobatórios fixos da compreensão, pois fatores
como a situação, o contexto e o propósito do texto e da leitura podem interferir
acentuadamente. Isso acontece porque a compreensão leitora processa-se por meio de
uma atividade cognitiva sofisticada e envolve a interação leitor, autor e texto, em dado
ambiente, não sendo aconselhável ignorar essa circunstância. Assim, o ganho é que os
resultados obtidos confirmaram as hipóteses de pesquisa, senão totalmente, na maior
parte. Ou seja, é certo que exercícios situados conseguem avaliar com bastante
precisão quais sejam as maiores dificuldades de compreensão leitora existentes, mas,
de outra parte, não foi possível precisar se essas dificuldades estariam vinculadas à
85
aprendizagem, à memória ou à atenção, e de que modo isso afetaria a compreensão. A
confirmação dos resultados foi, pois, parcial, não detectando em que proporção uma ou
outra das habilidades testadas afetaria a compreensão.
Quanto à hipótese de a organização de exercícios que dissociem as habilidades
cognitivas enfocando-as, separadamente, permitir a avaliação da competência leitora
dos alunos com acuidade, ela confirmou-se porque o estudo propiciou precisar as
facilidades e dificuldades encontradas na compreensão. De fato, pôde-se chegar a
conclusões que esclarecem um pouco melhor que habilidades são mais exigidas, e
também que tipo de pergunta é mais interessante, de acordo com o trabalho pretendido
pelo professor, que é o de facilitar e mediar, para que haja interação mais efetiva entre
texto e leitor.
Através dessa pesquisa confirmou-se que a compreensão é um ato social porque
envolve um processo de comunicação entre leitor, autor e texto. Para alcançá-la, no
entanto, é necessário relacionar conhecimento novo e conhecimento armazenado na
memória, isto é, faz-se necessário agir cognitivamente. Sobretudo, é preciso valorizar a
memória, valer-se de estratégias, ativar e relacionar informações, pistas textuais,
conhecimento prévio e capacidade de raciocínio inferencial, englobando o texto como
um todo. Sabe-se, além disso, que o conhecimento é o que ao indivíduo condições
de inserir-se na sociedade. No entanto, a metodologia de trabalho dos professores para
a compreensão de textos restringe-se, em geral, à leitura de alguns parágrafos por um
aluno, oralmente, acompanhado pelos colegas atentos aos desvios que ele possa
cometer em relação a aspectos como pronúncia de palavras, entonação, pontuação; ao
final dessa leitura, o professor pede ao aluno que explique o trecho lido e, na falta de
resposta, passa a explicá-lo. O aluno continua não sabendo o que leu e nem para que
‘aquilo’ vai ser-lhe útil.
A compreensão e o ensino são questões sociais, porque o parte do processo de
construção do ser humano, e a grande maioria das pessoas espera que a escola
possibilite a autonomia intelectual necessária para o aluno compreender/interpretar toda
86
e qualquer linguagem, conhecer outras culturas, ampliar os conhecimentos e possibilitar
acesso à informação, mas a realidade por vezes é outra. O aluno busca um saber vivo,
cheio de significado e a escola oferece o oposto. Ou talvez, nem aluno e nem escola
saibam o que desejam. Algo tem de ser feito ao invés de repetir a mesma velha
fórmula.
Por último, quanto à hipótese de o professor escolher e preparar os seus próprios
exercícios de avaliação leitora, além de confirmada, suas possibilidades são
promissoras. Os professores de língua portuguesa podem produzir seus próprios
materiais de ensino, validando-os em suas turmas, desde que tenham apoio para tal.
Ao produzir seus próprios exercícios, o professor coordena os processos cognitivos que
objetiva desenvolver, podendo avaliar o desempenho dos alunos e tirar conclusões. Ao
professor cabe, então, analisar os textos em circulação e escolher aqueles que
possibilitem desenvolver o objetivo que tem em mente; ter clareza na habilidade que
pretende desenvolver no aprendiz e optar por tipos de questões que venham ao
encontro do objetivo proposto. Ele deve considerar aspectos relevantes ao planejar
suas aulas e elaborar seus materiais. Como se falou, a compreensão varia conforme
a experiência do leitor, sendo importante começar a preparação dos exercícios a partir
da valorização do repertório de referências que os alunos possuem, conduzindo-os a
relacionar o que estão lendo com o que já leram ou vivenciaram antes, ou estão lendo e
vivendo. Para tanto, é imprescindível considerar o contexto e oferecer aos alunos textos
que façam sentido para eles, que revelem a importância e a funcionalidade da leitura
para obterem seus fins, na sociedade em que vivem.
Embora haja diferentes questionamentos e diversas respostas, o mais importante
de tudo isso é a reflexão que se promove em torno da compreensão leitora de cada um,
permitindo e propiciando o conhecimento de diferentes linguagens e fontes de
conhecimento. Desse modo a compreensão se efetiva tendo em vista o texto, o
contexto, as múltiplas fontes de conhecimento, os conhecimentos construídos no
cotidiano e os guardados na memória. Nesse propósito, de fato, os alunos interagem
com o texto de forma individual e social, ampliando seus horizontes de expectativas,
87
sua compreensão e interpretação.
Não havendo espaço e tempo para que o aluno interaja com o texto, uma vez que é
no contato com o texto que o leitor pode manter uma relação com o autor e consigo
mesmo, na busca de anuência ou discordância, a compreensão não se efetiva, pois é
através dessa relação que o leitor consegue inferir, articular seus conhecimentos
prévios e construir sentidos alternativos. Se o aluno não chega a compreender os textos
utilizados pelas diversas disciplinas com o intuito de acessar os conteúdos de cada uma
das áreas de estudo, o interage com o objeto de conhecimento, não estabelece
relação de aprendizagem e, de fato, não compreende.
De fato, a proposta pedagógica precisa refletir-se na vida real dos alunos como uma
ferramenta de compreensão do mundo. Cabe ao professor refinar o tipo de material, o
tipo de questão e o nível de compreensão leitora que irá considerar. Por fim, resta
aditar que a habilidade de perceber determinados fatos, depende do próprio aluno, é
ele quem deverá mobilizar e trazer para dentro do texto a sua experiência de vida, a
partir do estabelecimento de relações e deduções bem sucedidas. Se o leitor não
assumir essa incumbência, não há nada que possa substituí-lo.
Dascal assegura-nos que “compreender e captar são as duas modalidades básicas
de compreensão” (2006, p. 105). E para poder compreender e captar é preciso refletir
sobre si mesmo e sobre as próprias ações. A avaliação da prática pedagógica leva a
descobrir falhas e possibilidades de melhoria até pela comparação entre o que um
indivíduo pensa e o que os demais pensam. Quem não reflete sobre o que faz
acomoda-se, repete erros e se mostra incapaz de enfrentar o novo. Qualquer
profissional, e, em especial, o professor, não pode apenas repetir rotineiramente o seu
trabalho sempre da mesma forma, sem preocupação com o seu aprimoramento, porque
a vida social está diferente daquela de alguns anos atrás. Hoje, é preciso manter-se em
dia com o que a tecnologia s à disposição das pessoas. A facilitação da vida diária
através dos recursos tecnológicos impõe desafios e faz cobranças. Uma delas é a
constante atualização. Assim, é de todo impensável não manter contato com outros
88
profissionais, sendo necessário ler, observar, analisar para poder interagir com o aluno
que vier, qualquer aluno. Se isso sempre foi verdade e exigência para o profissional,
hoje, mais do que nunca, não se atualizar significa involuir. Indiscutível é que escrever
sobre isso, é muito mais fácil do que fazer, pois se renovar é complicado, mas sem ter
em mente essa necessidade, falta sentido ao trabalho do professor.
Concluído o trabalho, o desafio é outro: divulgar seus resultados, especialmente
para a comunidade educacional a que se tem acesso direto. O propósito também é o de
aprofundar o estudo de teorias e práticas de ensino da compreensão, a fim de contribuir
ainda mais significativamente para a minimização dos problemas oriundos do ensino de
leitura na relação com a aprendizagem escolar. a necessidade de seleção,
organização e elaboração constante de exercícios adequados ao ensino de leitura e da
compreensão. A experiência da dissertação foi importante pela aprendizagem, pelo
crescimento, pela construção, mesmo que não possa resolver todos os problemas de
leitura e compreensão existentes. Seu valor decorre da execução de um projeto em prol
da educação, com vistas a um mundo e a uma vida melhor.
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ANEXOS
Anexo A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
No momento, o que interessa problematizar é o que se sabe a respeito de
compreensão, pois os problemas existentes são os mais variados. Assim, este trabalho
se propõe a investigar algumas das questões pendentes, propondo-se a direcionar o
trabalho no sentido da criação de um instrumento que possa avaliar a compreensão
leitora de modo mais amplo.
O presente projeto justifica-se pela necessidade de aprofundar os conhecimentos
teóricos a respeito de leitura, pois embora haja muitas pesquisas sobre compreensão
leitora, os estudos existentes precisam ganhar dimensões alternativas, afinal, a vida
atual exige que as pessoas entendam o que lêem. O mundo letrado, cada vez mais
exigente, esem todos os lugares e a escrita passou a constituir a paisagem humana
de forma inevitável.
Do ponto de vista acadêmico, o projeto se justifica porque se relaciona com os
propósitos do curso que concernem à investigação de leitura e cognição. Do ponto de
vista social, ele se sustenta porque um dos maiores problemas educacionais que a
população brasileira enfrenta em nossos dias, de acordo com as últimas pesquisas
feitas, é a falta de compreensão leitora e o analfabetismo funcional. Do ponto de vista
do conhecimento, o projeto interessa porque esclarecerá alguns pontos nebulosos
sobre compreensão e irá propor um trabalho diferenciado sobre compreensão leitora.
A metodologia do trabalho terá caráter experimental, propondo uma série de
atividades de leitura que avaliem diferentes aspectos cognitivos envolvidos na
94
compreensão. O instrumento de testagem propriamente dito será constituído de uma
bateria de sete tipos de testes de leitura, enfocando compreensão, aprendizagem,
memória e atenção, alternada e conjuntamente, bem como distintas habilidades
concernentes à compreensão, as quais priorizam leitura/compreensão,
leitura/aprendizagem, leitura/memória e leitura/atenção. Alguns desses testes foram
validados inúmeras vezes em inglês e português, como o teste cloze, e, outros, são
adaptações de testes validados em trabalhos de vários autores, em língua inglesa.
Os testes foram preparados especialmente para a presente investigação. Numa
primeira etapa, serão validados, para, após, serem utilizados na avaliação da
compreensão leitora dos sujeitos da pesquisa, que são estudantes do 3º ano, do ensino
médio, da rede blica estadual, matriculados no Colégio Estadual Ilópolis (RS), com
idades variando entre quinze e vinte anos, sexo feminino e masculino.
O presente estudo embasa-se na seguinte hipótese: Para avaliar a compreensão
leitora de forma fidedigna, faz-se necessário utilizar um instrumento que envolva um
conjunto de habilidades cognitivas, obtendo-se com isso um maior grau de
analiticidade, dadas as possibilidades de correlação entre os resultados obtidos em
cada um dos testes do instrumento.
Pelo presente Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, declaro que concordo
em participar deste projeto de pesquisa, pois fui informado (a), de forma clara e
detalhada, livre de qualquer forma de constrangimento e coerção, dos objetivos, da
justificativa E dos procedimentos A que serei submetido (a), dos riscos, desconfortos e
benefícios possíveis, assim como das alternativas às quais poderia ser submetido,
todos acima listados.
Fui, igualmente, informado (a):
da garantia de receber resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento a qualquer
dúvida acerca dos procedimentos, riscos, benefícios e outros assuntos relacionados
com a pesquisa;
95
da liberdade de retirar meu consentimento, a qualquer momento, e deixar de
participar do estudo, sem que isto traga prejuízo à continuação de meu cuidado e
tratamento;
da garantia de que não serei identificado quando da divulgação dos resultados e
que as informações obtidas serão utilizadas apenas para fins científicos vinculados ao
presente projeto de pesquisa;
do compromisso de proporcionar informação atualizada obtida durante o estudo,
ainda que esta possa afetar a minha vontade em continuar participando;
de que se existirem gastos adicionais, estes serão absorvidos pelo orçamento da
pesquisa, não atingindo qualquer participante.
O Pesquisador Responsável por este Projeto de Pesquisa é Adriane Marchese
Chiodi (Fone (051) 97257438)
O presente documento foi assinado em duas vias de igual teor, ficando uma com o
voluntário da pesquisa, ou seu representante legal, e outra com o pesquisador
responsável.
Desde declaro-me grata aos alunos pela sua participação, a qual viabilizou a
realização da presente pesquisa,
Adriane Marchese Chiodi
Data __ / __ / ____
____________________________________
Nome e assinatura dos Pais ou responsáveis
96
_________________________________________________
Nome e assinatura do Responsável Legal, quando for o caso
_____________________________________________________________
Nome e assinatura do responsável pela obtenção do presente consentimento
97
Exercício 1 – A competência do coração
teste - Leitura da crônica A competência do coração de Paulo Santana. O
preenchimento das lacunas textuais tem o objetivo de observar a inter-relação
compreensão e atenção. Esta proposta de teste cloze, tipo racional, na classificação
feita por Santos 2005, controla os tipos de palavras eliminadas e exige que o aluno
preste atenção, mantendo a coerência entre as idéias contidas no texto e a palavra
escolhida. Adicionalmente, fez-se um jogo de alternâncias entre as palavras-chave
cérebro e coração.
A Competência do Coração.
Paulo Santana
O coração não sente ciúme. O coração ama. Quem sente ciúme é o cérebro.
Por isso se diz que o ciúme é coisa da cabeça da gente.
O ciúme é um sentimento tão rfido que não cabe no (L.1) _____________ O
ódio também vem do (L.2) _____________. Por isso é que se diz que estamos com a
cabeça quente.
O (L.3) ________________ ama. Ternura vem do (L.4) ______________
Tolerância vem do (L.5) _____________. Bondade só vem do (L.6) _____________.
Quando alguém trai a quem ama ou estima, é porque o (L.7) ______________foi
superado na luta que ele mantém contra os outros órgãos.
Não existe mau caráter original. O caráter será mau quando o (L.8)
____________ não tiver influência sobre ele. E será bom quando o (L.9)
_____________ o tiver envolvido.
Tanto prova que é corrente a expressão “mau-caráter”. Mas nunca se ouviu dizer
“mau (L.10) _____________”. Porque no (L.11) _______________ cabem as coisas
boas. A lixeira do homem está em outras partes, algumas bem notáveis, do seu corpo.
No (L.12) _______________ não cabe nem um argueiro.
O (L.13) ______________ é a parte nobre do corpo humano, todas as outras são
plebéias, porque se conspurcam.
98
A bênção sai do (L.14) _____________ o impropério salta do (L.15)
____________ Saudade nasce no (L.16) _____________, rancor vem do (L.17)
____________.
Quem dispara a lágrima é o (L.18) _____________. Quem dispara o revólver é o
(L.19) _______________.
E sempre se travará a luta, descrita pelo filósofo, entre o (L.20) ______________
e o (L.21) ______________. E o incrível é que nesta luta, vença quem vencer, a razão
sempre está com o (L.22) ______________.
Quando enfrenta o (L.23) ______________, o (L.24) _______________ perde a
razão. “E o (L.25) ______________ tem razões que a própria razão desconhece”.
Razão tem aquele que tiver (L.26) ____________. (L.27) _____________
tem aquele que mostrar boa razão
O (L.28) _____________é, portanto, um mero rival do (L.29) _____________. E
o homem se corrompe quando o (L.30) _______________toma o lugar do (L.31)
_____________.
Eu, as vezes, amo tanto que penso que tenho dois (L.32) _______________ , o
segundo no lugar do (L.33) ______________ . Sem (L.34) ______________, eu
enlouqueço de tanto amar, porque só o (L.35) ______________ pode travar a corrida
alucinada do (L.36) ______________ para o amor.
Daí que quem pensa não ama, e quem ama não pensa. Se o destino tiver que
escolher entre me avariar o (L.37) _______________ e o (L.38) ______________, que
me preserve o (L.39) _______________ e dane-se meu (L.40) _________________.
Mil vezes ser um encefalopata que um cardiopata.
Prefiro vegetar como um idiota, mas tonto de amor.
Fonte: Zero Hora, 03 de outubro de 2004.
99
A Competência do Coração.
Paulo Santana
O coração não sente ciúme. O coração ama. Quem sente ciúme é o cérebro.
Por isso se diz que o ciúme é coisa da cabeça da gente.
O ciúme é um sentimento o pérfido que não cabe no coração. O ódio também
vem do cérebro. Por isso é que se diz que estamos com a cabeça quente.
O coração ama. Ternura vem do coração. Tolerância vem do coração.
Bondade só vem do coração.
Quando alguém trai a quem ama ou estima, é porque o coração foi superado na
luta que ele mantém contra os outros órgãos.
Não existe mau caráter original. O caráter será mau quando o coração não
tiver influência sobre ele. E será bom quando o coração o tiver envolvido.
Tanto prova que é corrente a expressão “mau-caráter”. Mas nunca se ouviu dizer
“mau coração.”. Porque no coração cabem as coisas boas. A lixeira do homem está
em outras partes, algumas bem notáveis, do seu corpo. No coração não cabe nem um
argueiro.
O coração é a parte nobre do corpo humano, todas as outras são plebéias,
porque se conspurcam.
A bênção sai do coração, o impropério salta do cérebro. Saudade nasce no
coração, rancor vem do cérebro.
Quem dispara a lágrima é o coração. Quem dispara o revólver é o cérebro.
E sempre se travará a luta, descrita pelo filósofo, entre o coração e o cérebro. E o
incrível é que nesta luta, vença quem vencer, a razão sempre está com o cérebro.
Quando enfrenta o cérebro, o coração perde a razão. “E o coração tem razões que
a própria razão desconhece”.
Razão tem aquele que tiver rebro. Coração tem aquele que mostrar boa
razão.
O cérebro é, portanto, um mero rival do coração. E o homem se corrompe quando
o cérebro toma o lugar do coração.
Eu, as vezes, amo tanto que penso que tenho dois corações, o segundo no lugar
100
do cérebro. Sem cérebro, eu enlouqueço de tanto amar, porque o cérebro pode
travar a corrida alucinada do coração para o amor.
Daí que quem pensa não ama, e quem ama não pensa. Se o destino tiver que
escolher entre me avariar o coração e o cérebro, que me preserve o coração e dane-se
meu cérebro. Mil vezes ser um encefalopata que um cardiopata.
Prefiro vegetar como um idiota, mas tonto de amor.
Fonte: Zero Hora, 03 de outubro de 2004.
101
Exercício 2 – Teste
teste - Leitura do conto Teste de Moacyr Scliar e preenchimento das lacunas do
texto. O objetivo do teste em questão é o de observar a possível inter-relação
compreensão e atenção, já que, a mente humana necessita organizar vivências e
experiências de modo significativo e articulado, vinculando-as entre si. De modo geral,
o cloze, como tarefa que envolve tanto as expectativas do leitor como as pistas do
texto, tem sido visto como um instrumento apropriado para a avaliação e o
desenvolvimento da compreensão em leitura, tendo possibilitado melhor aprendizagem,
segundo as pesquisas existentes a respeito do tema. O teste cloze, de sua parte,
envolve tarefas de escrutínio acurado das idéias contidas no texto, de identificação de
vínculos textuais, de comparação entre possibilidades de resposta, de localização, de
avaliação, de seleção e de distribuição das informações em idéias principais,
secundárias e acessórias. Seu modo de organização propõe testes de múltipla escolha,
não tendo o estudante a tarefa de elaborar uma resposta, mas de selecionar a opção
correta dentre as escolhas elencadas. Por ser um cloze inferencial é baseado na
seleção da melhor opção, existindo duas possibilidades de preenchimento da lacuna.
Por isso mesmo, o presente teste demanda bastante discernimento por parte do sujeito
testado, para que possa, de fato, fazer a melhor escolha.
Teste
Moacyr Scliar
Um homem vai à vidente. Eu sou rico, diz, eu sou bem apessoado, eu sou culto e
eu sou simpático, mas até agora eu não encontrei a mulher de minha vida.
- Eu quero saber o que me reserva o futuro em termos de um grande amor.
- A vidente, uma mulher ainda jovem (1)_______________ bonita, mira
atentamente a bola de (2) _______________. Hum, murmura, eu vejo alguma coisa...
(3)_______________ motel...
- Um motel? – O homem se surpreende; (4) _______________ nunca foi a motel.
102
Para encontros, (5)_______________ tem um confortável apartamento num edifício (6)
_______________.
- É, um motel. Um motel pequeno, (7)_______________, perto daqui... Eros é o
nome... (8)_______________? Deixa eu olhar melhor... É sim, (9) _______________
Eros. Eu vejo você entrando no (10)_______________ Eros... Você se dirige a um
(11)_______________... É o quarto número sete... Número (12)_______________...
Você abre a porta e entra... (13)_______________ uma mulher deitada, nua...
- Como é (14)_______________ mulher? O homem mal pode conter
(15)_______________ ansiedade.
- Eu não posso dizer, o (16)_______________ está mergulhado em penumbra...
Mas o (17)_______________ é muito bonito... Eu, pelo menos, (18)_______________
bonito.
- E eu?
- Voeslouco (19)_______________ desejo. Votreme de desejo. Você
(20)_______________ a roupa, atira-se sobre ela... (21)_______________ trepada,
meu caro, grande trepada... E, (22)______________ sem vê-la, sem saber o seu
(23)_______________, você conclui que ela é o (24)_______________ amor de sua
vida. Esse dia, (25)________________ terça-feira, decidiu seu destino.
O (26)______________ paga e se vai.
Na rua, (27)_______________ o sol forte, ele reage à (28)_______________
que dele se apossou: ora, resmunga, (29)_______________ tudo é bobagem, eu nunca
deveria (30)_______________ procurado essa mulher.
O dia seguinte (31)______________ uma terça-feira. À noite, depois
(32)______________ beber com os amigos, o homem (33)______________ de
farra, hein? de (34)______________ passar na rua mencionada pela vidente.
(35)_______________ ver se o tal motel Eros (36)_______________.
Existe. Tal como ele foi descrito (37)_______________ vidente, é um velho
estabelecimento, aparentemente (38)_______________ freqüentado: no
estacionamento há apenas um (39)_______________, aliás, em mau estado. O homem
(40)_______________, pede ao soturno porteiro a chave (41)_______________ quarto
7.
103
- Qualquer outro quarto está (42)______________ sua disposição diz o
homem. Menos (43)_______________: ele está ocupado. uma
(44)_______________ lá. Ela está esperando alguém.
O homem vai ao quarto, abre a porta, e, na semi-obscuridade, divisa a mulher
deitada, nua. Tremendo de desejo, ele desfaz-se das roupas, ele joga-se sobre ela e
não vida, é a mulher de sua vida. Feliz, acende a luz e quem está ali, senão a
vidente?
Fonte: Teste. In: O Amante da Madonna. Moacyr Scliar. Porto Alegre: Mercado Aberto,
1997, p. 32-35.
Selecione a possibilidade que julgar correta para o preenchimento da lacuna:
01- a) e b) mas c) embora
02- a) vôlei b) cristal c) neve
03- a) aquele b) o c) Um
04- a) ele b) aquele c) ela
05- a) ele b)eles c) ela
06- a) reservado b) prudente c) discreto
07- a) antiquado b) antigo c) velho
08- a) Eros b) Morfeu c) Baco
09- a) era b) está c) é
104
10- a) hotel b) Motel c) cabana
11- a) suíte b) cubículo c) quarto
12- a) sete b) treze c) três
13- a) Há b) tem c) haverá
14- a) aquela b) esse c) essa
15- a) ante b) a c) uma
16- a) quarto b) terceiro c) cubículo
17- a) corpo b) esqueleto c) pernas
18- a) imagino b) penso c) acho
19- a) desde b) de c) perante
20- a) arranca b) tira c) rasga
21- a) duradouro b) comprido c) Grande
22- a) embora b) mesmo c) semelhante
23- a) nome b) apelido c) pseudônimo
24- a) grande b) vasto c) enorme
105
25- a) essas b) esta c) essa
26- a) bípede b) animal racional c) homem
27- a) sobre b) sob c) após
28- a) emoção b) comoção c) perturbação
29- a) isso b) isto c) aquilo
30- a)obter b) possuir c) ter
31- a) foi b) ser c) é
32- a) de b) logo que c) após
33- a) resolve b) esclarece c) decide
34- a) farra b) folia c) diversão
35- a) querendo b) pretende c) Quer
36- a) vive b) existente c) existe
37- a) pela b) por a c) segundo
38- a) pouco b) um pouco c) mínimo
39- a) auto b) carro c) veículo
40- a) entra b) invade c) introduz
106
41- a) do b) daquele c) desse
42- a) a b) ante c) com
43- a) este b) esse c) aquele
44- a) cliente b) mulher c) pessoa
107
Teste
Moacyr Scliar
Um homem vai à vidente. Eu sou rico, diz, eu sou bem apessoado, eu sou culto e
eu sou simpático, mas até agora eu não encontrei a mulher de minha vida.
- Eu quero saber o que me reserva o futuro em termos de um grande amor.
- A vidente, uma mulher ainda jovem e bonita, mira atentamente a bola de cristal.
Hum, murmura, eu vejo alguma coisa... Um motel...
- Um motel? O homem se surpreende; ele nunca foi a motel. Para encontros,
ele tem um confortável apartamento num edifício discreto.
- É, um motel. Um motel pequeno, antigo, perto daqui... Eros é o nome... Eros?
Deixa eu olhar melhor... É sim, é Eros. Eu vejo você entrando no Motel Eros... Você se
dirige a um quarto... É o quarto mero sete... Número sete... Voabre a porta e
entra... Há uma mulher deitada, nua...
- Como é essa mulher? – O homem mal pode conter a ansiedade.
- Eu não posso dizer, o quarto está mergulhado em penumbra... Mas o corpo é
muito bonito... Eu, pelo menos, acho bonito.
- E eu?
- Você está louco de desejo. Você treme de desejo. Voarranca a roupa, atira-
se sobre ela... Grande trepada, meu caro, grande trepada... E, mesmo sem vê-la, sem
saber o seu nome, você conclui que ela é o grande amor de sua vida. Esse dia, essa
terça-feira, decidiu seu destino.
O homem paga e se vai.
Na rua, sob o sol forte, ele reage à emoção que dele se apossou: ora, resmunga,
isso tudo é bobagem, eu nunca deveria ter procurado essa mulher.
O dia seguinte é uma terça-feira. À noite, depois de beber com os amigos, o
homem resolve de farra, hein? de farra passar na rua mencionada pela
vidente. Quer ver se o tal motel Eros existe.
Existe. Tal como ele foi descrito pela vidente, é um velho estabelecimento,
aparentemente pouco freqüentado: no estacionamento apenas um carro, aliás, em
108
mau estado. O homem entra, pede ao soturno porteiro a chave do quarto 7.
- Qualquer outro quarto esa sua disposição diz o homem. Menos esse: ele
já está ocupado. Há uma mulher lá. Ela está esperando alguém.
O homem vai ao quarto, abre a porta, e, na semi-obscuridade, divisa à mulher
deitada, nua. Tremendo de desejo, ele desfaz-se das roupas, ele joga-se sobre ela e
não vida, é a mulher de sua vida. Feliz, acende a luz e quem está ali, senão a
vidente?
Fonte: Teste. In: O Amante da Madonna. Moacyr Scliar. Porto Alegre: Mercado Aberto,
1997, p. 32-35.
109
Exercício 3 – Dia Ocidental da Mulher
teste Leitura, interpretação e compreensão da crônica Dia Ocidental da Mulher de
Martha Medeiros. O teste baseia-se no Modelo de Situação “conhecimento prévio do
assunto”, tendo o objetivo de observar a inter-relação compreensão, aprendizagem e
atenção.
Dia Ocidental da Mulher
Martha Medeiros
1 Na Arábia Saudita, mulher não pode dirigir automóvel. No Irã, o testemunho de
2 uma mulher vale metade do de um homem. No Egito, ainda se fazem mutilações
3 genitais para que as garotas não sintam prazer no ato sexual. Na Jordânia, a
4 Justiça faz olho branco para o pai que mata a filha por alguma razão sensata,
5 como suspeitar que ela anda transando antes do casamento. E o Afeganistão é
6 um doce : lá é proibido mulher trabalhar fora e quem deixa o tornozelo à mostra
7 descobre que sangue de Aiatolá tem poder.
8 Essas mulheres sem direito à cidadania, ao sexo livre e à vaidade teriam todo o
9 direito de se queixar,se isso também não fosse reprimido a chibatadas. Elas têm
10 um árduo e longo caminho pela frente, que só será percorrido se houver uma
11atenuação no fanatismo religioso que governa seus países. Enquanto isso, nós,
12 católicas apostólicas romanas, passamos o dia trabalhando, depois vamos
13 buscar os filhos no colégio, damos banho neles, servimos o jantar e brigamos
14 para colocá-los na cama, e terminamos o dia reclamando que é jogo duro ser
15 mulher. Se vissem a cena, nossas colegas do outro lado do mundo gargalha -
16 riam por trás do xador, e olha que sorrir também deve ser proibido por lá.
17 Temos, é verdade, uma rotina estressante, já que, mesmo trabalhando de igual
18 para igual com os homens, a casa e as crianças ainda correm por nossa conta.
19 Temos o problema da violência sexual, que é uma espada na cabeça de todas
20 as mulheres. Temos a questão da equiparação salarial, que em alguns setores
21 ainda inexiste.E ainda tem a Gisele Bündchen em todas as revistas,encarnando
22 uma perfeição que passa longe dos nossos espelhos. Ainda assim, santificado
110
23 seja o livre arbítrio.
24 Algumas mulheres, em vez de soltar foguete por tudo o que foi conquistado até
25 agora, comprometem nossa classe com uma eterna postura de vítima e com um
26 comportamento ardiloso nas relações afetivas. Mantêm-se em casamentos
27 insatisfatórios por causa de dinheiro, submetem-se às grosserias dos parceiros
28 por medo de ficar sozinhas,armam vinganças quando traídas e ainda acham
29 que têm muita fibra por isso. Fibra tem quem sai pela porta e passa a se bancar.
30 Hoje é o Dia Internacional da Mulher. Um dia que não sei para que serve, mas
31 não deveria ser para erguer um muro de lamentações. A parada está ganha
32 neste lado do mundo. Tendo emprego e escolaridade, a mulher pode tudo. Pode
33 ser presidente, astronauta ou toureira. Pode ter filho aos 40, pode prender
34 bandido, pode participar do Paris-Dakar e tudo isso sem abdicar do batom e do
35 decote. As muçulmanas mal podem respirar por baixo do xador que lhes cobre o
36 corpo, só os olhos ficam de fora. A gente, ao contrário, deixa quase tudo à
37 mostra, mas ainda há quem tape voluntariamente os próprios olhos porque tem
38 medo de enxergar o quão longe fomos . Ninguém nos proíbe de nada. Não há
39 razão para temer a liberdade.
Fonte: Zero Hora, 08 de março de 2000.
Atividades
1) a. Em quantas partes é dividido o mundo, no texto considerado?
b. Como são chamadas essas partes? (conhecimento prévio intratextual > questões
inferenciais)
2) Qual é o outro lado do mundo a que o texto se refere (L.15)? (conhecimento prévio
intratextual > questão inferencial)
3) Os países citados no texto, excluindo-se o Brasil, fazem parte de que lado do
mundo? (conhecimento prévio intratextual > questão inferencial)
111
4) Localize os dois lados do mundo citados no texto, de acordo com o mapa, fazendo
uma descrição. (conhecimento prévio extratextual > questão inferencial)
5) Levando em conta a origem das palavras Oriente e Ocidente vindas do latim,
descreva a localização, quanto ao movimento do sol em torno da terra. (conhecimento
prévio extratextual > questão inferencial)
6) O Iraque faz parte do mundo Ocidental ou do mundo Oriental? (conhecimento prévio
extratextual > questão inferencial)
7) Que outros países fazem parte das duas divisões do mundo, e não estão presentes
no texto? Cite 5 deles. (conhecimento prévio extratextual > questão inferencial)
8) Quais são as religiões mencionadas no texto? (conhecimento prévio intratextual >
questão inferencial)
9) Registre abaixo as atividades femininas aceitas no mundo Ocidental e não aceitas no
mundo Oriental. (reconhecimento > questão objetiva)
a. Ocidente b. Oriente
10) Qual a relação de sentido existente entre as palavras: religião e católica? Faça um
gráfico para mostrar essa relação. (conhecimento prévio extratextual > questão
inferencial)
11) O que é preciso saber para explicar o significado das palavras e expressões abaixo.
(conhecimento prévio extratextual > questão inferencial)
a) Aiatolá (L.7) -
b) Xador (L.16) -
112
c) Gisele Bündchen (L.21) -
d) livre arbítrio (L.23) -
e) Paris-Dakar (L.34) -
12) Localizar no texto os sinônimos das palavras, copiando-as e identificando o número
da linha em que aparece. (paráfrase > questão inferencial)
a) renunciar -
b) diminuição -
c) astucioso -
d) desgastante -
e) oculta -
f) igualdade -
g) difícil -
h) lamúrias -
i) espontaneamente -
j) ostentação -
13) Localizar no texto o antônimo da palavra aceitar. (paráfrase > questão inferencial)
14) Qual a intenção da autora ao dizer que o pai teve uma “razão sensata” (L.4)? (ironia
> questão inferencial)
15) De acordo com o texto, qual o significado da palavra tape (L. 37)? Que outra(s)
possibilidade(s) de significado poderia ter esta palavra fora do contexto em que está
inserida? (conhecimento prévio extratextual > questão inferencial)
113
Exercício 4 – O Nariz
teste Leitura, interpretação e compreensão da crônica O Nariz de Luis Fernando
Verissimo, proposta de exercício baseada no teste de Colomer e Camps 2002, tendo o
objetivo de observar a inter-relação compreensão e memória, por meio de questões
literais e inferenciais. O ponto de partida da elaboração do exercício em tela foi a
consideração do papel da memória como registro de novas informações e, portanto, de
novas aprendizagens, sendo, pois, através dela que se acumulam experiências. De
fato, a memória é um pressuposto para a aquisição do conhecimento, podendo-se
pensá-la como uma seqüência de processos. Em síntese, a memória é imprescindível
porque cria condições para que o conhecimento seja adquirido, constituído e
armazenado, e, em vista disso, torna possível a compreensão.
O Nariz
Luis Fernando Verissimo
Era um dentista, respeitadíssimo. Com seus quarenta e poucos anos, uma filha quase
na faculdade. Um homem sério, sóbrio, sem opiniões surpreendentes, mas uma sólida
reputação como profissional e cidadão. Um dia, apareceu em casa com um nariz
postiço. Passado o susto, a mulher e a filha sorriram com fingida tolerância. Era um
daqueles narizes de borracha com óculos de aros pretos, sobrancelhas e bigodes que
fazem a pessoa ficar parecida com o Groucho Marx. Mas o nosso dentista não estava
imitando o Groucho Marx. Sentou-se à mesa do almoço – sempre almoçava em casa –
com a retidão costumeira, quieto e algo distraído. Mas com um nariz postiço.
- O que é isso? – perguntou a mulher depois da salada, sorrindo menos.
- Isso o quê?
- Esse nariz.
- Ah. Vi numa vitrina, entrei e comprei.
- Logo você, papai...
Depois do almoço, ele foi recostar-se no sofá da sala, como fazia todos os dias. A
mulher impacientou-se.
- Tire esse negócio.
114
- Por quê?
- Brincadeira tem hora.
- Mas isto não é brincadeira.
Sesteou com o nariz de borracha para o alto. Depois de meia hora, levantou-se e
dirigiu-se para a porta. A mulher o interpelou.
- Aonde é que você vai?
- Como, aonde é que eu vou? Vou voltar para o consultório.
- Mas com esse nariz?
- Eu não compreendo você – disse ele, olhando-a com censura através dos aros sem
lentes. – Se fosse uma gravata nova você não diria nada. Só porque é um nariz...
- Pense nos vizinhos. Pense nos clientes.
Os clientes, realmente, não compreenderam o nariz de borracha. Deram risadas ("Logo
o senhor, doutor...”) fizeram perguntas, mas terminaram a consulta intrigados e saíram
do consultório com dúvidas.
- Ele enlouqueceu?
- Não sei – respondia a recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos. – Nunca vi
"ele" assim. Naquela noite ele tomou seu chuveiro, como fazia sempre antes de dormir.
Depois vestiu o pijama e o nariz postiço e foi se deitar.
- Você vai usar esse nariz na cama? – perguntou a mulher.
- Vou. Aliás, não vou mais tirar esse nariz.
- Mas, por quê?
- Por que não?
Dormiu logo. A mulher passou metade da noite olhando para o nariz de borracha. De
madrugada começou a chorar baixinho. Ele enlouquecera. Era isto. Tudo estava
acabado. Uma carreira brilhante, uma reputação, um nome, uma família perfeita, tudo
trocado por um nariz postiço.
- Papai...
- Sim, minha filha.
- Podemos conversar?
- Claro que podemos.
- É sobre esse nariz...
115
- O meu nariz outra vez? Mas vocês só pensam nisso?
- Papai, como é que nós não vamos pensar? De uma hora para outra um homem como
você resolve andar de nariz postiço e não quer que ninguém note?
- O nariz é meu e vou continuar a usar.
- Mas, por que, papai? Você não se dá conta de que se transformou no palhaço do
prédio? Eu não posso mais encarar os vizinhos, de vergonha. A mamãe não tem mais
vida social.
- Não tem porque não quer...
- Como é que ela vai sair na rua com um homem de nariz postiço?
- Mas não sou “um homem”. Sou eu. O marido dela. O seu pai. Continuo o mesmo
homem. Um nariz de borracha não faz nenhuma diferença.
- Se não faz nenhuma diferença, então por que usar?
- Se não faz diferença, por que não usar?
- Mas, mas...
- Minha filha...
- Chega! Não quero mais conversar. Você não é mais meu pai!
A mulher e a filha saíram de casa. Ele perdeu todos os clientes. A recepcionista, que
trabalhava com ele há 15 anos, pediu demissão. Não sabia o que esperar de um
homem que usava nariz postiço. Evitava aproximar-se dele. Mandou o pedido de
demissão pelo correio. Os amigos mais chegados, numa última tentativa de salvar sua
reputação, o convenceram a consultar um psiquiatra.
- Você vai concordar – disse o psiquiatra, depois de concluir que não havia nada de
errado com ele – que seu comportamento é um pouco estranho...
- Estranho é o comportamento dos outros! – disse ele. – Eu continuo o mesmo. Noventa
e dois por cento de meu corpo continua o que era antes. Não mudei a maneira de
vestir, nem de pensar, nem de me comportar, Continuo sendo um ótimo dentista, um
bom marido, bom pai, contribuinte, sócio do Fluminense, tudo como era antes.
- Mas as pessoas repudiam todo o resto por causa deste nariz. Um simples nariz de
borracha. Quer dizer que eu não sou eu, eu sou o meu nariz?
- É... – disse o psiquiatra. – Talvez você tenha razão...
O que é que você acha leitor? Ele tem razão? Seja como for, não se entregou. Continua
116
a usar nariz postiço. Porque agora não é mais uma questão de nariz. Agora é uma
questão de princípios.
Fonte: Verissimo, Luis Fernando. O nariz e outras crônicas. São Paulo. Ática, 1994.
1) Faça um paralelo entre o modo como o dentista era visto antes de usar o nariz
postiço e depois de tê-lo usado, com expressões lidas no texto. (evocação > questão
objetiva)
DENTISTA
a) ANTES b) DEPOIS
__________________ __________________
__________________ __________________
__________________ __________________
__________________ __ _______________
__________________ __________________
__________________ __________________
2) Escreva: (V) para a alternativa que repetir exatamente o que consta no texto e (F)
para a alternativa que introduziu modificações no texto lido. (evocação > questão
objetiva)
a.( ) Era um dentista respeitadíssimo.
b.( ) Com seus quarenta e poucos anos e uma filha na faculdade.
c.( ) Um homem sério, sóbrio, com opiniões surpreendentes, mas uma sólida
reputação como profissional e cidadão.
d.( ) Um dia apareceu em casa com um nariz postiço. Passado o susto, a mulher e a
filha sorriram com fingida tolerância.
e.( ) Sentou-se à mesa do almoço - sempre almoçava em casa –com a retidão
117
costumeira, quieto e algo distraído.
f.( ) Depois do almoço, ele não foi recostar-se no sofá da sala, como fazia todos os
dias.
g.( ) Refestelar-se com o nariz de borracha para o alto.
h.( ) Depois vestiu o pijama , tirou o nariz postiço e foi se deitar.
i.( ) A recepcionista não entregou o pedido de demissão.
j.( ) Quer dizer que eu não sou eu, eu sou o meu nariz?
3)Que argumento a mulher usou para convencer o marido de que ele deveria tirar o
nariz postiço? (evocação > questão objetiva)
4) Marque os argumentos que foram usados pela filha para convencer seu pai de que
ele estava errado. (evocação > questão objetiva)
a. ( ) “... se transformou no palhaço do prédio?”
b. ( ) “ – Brincadeira tem hora.”
c. ( ) “ Eu não posso mais encarar os vizinhos, de vergonha.”
d. ( ) “ Pense nos vizinhos, pense nos clientes.”
e. ( ) “ A mamãe não tem mais vida social.”
5) Marque os argumentos que o pai usou para responder aos argumentos da filha.
(evocação > questão objetiva)
a.( ) “ – Mas não sou ‘um homem’. Sou eu. O marido dela. O seu pai.”
b.( ) “ Continuo o mesmo homem.”
c.( ) “ Um nariz de borracha não faz nenhuma diferença.”
d.( ) “ Chega! Não quero mais papo...”
e.( ) “ Não mudei a maneira de trajar, nem de pensar, nem de me comportar...”
f.( ) “ Quer dizer que não sou mais eu , virei meu nariz?...”
6) No primeiro parágrafo do texto, o narrador compara o dentista com Groucho Marx.
118
Quem é o Groucho Marx? No que eles se assemelham? (conhecimento prévio
extratextual > questão inferencial)
7) O que fica patente na atitude do dentista ao procurar um psiquiatra, mesmo que
tenha sido por influência dos seus amigos? (interpretar_ envolvendo conhecimento de
mundo > questão de interpretação)
8) O que está criticando o dentista, ao fazer a pergunta: “Mas as pessoas repudiam
todo o resto por causa deste nariz?”. Que idéia está implícita em seu questionamento?
(subentendido > questão inferencial)
9) O que acabou acontecendo com o dentista? (reconhecimento > questão objetiva)
10) Você acha que ele tem razão? Em que dilema ele nos coloca? (avaliar_ envolvendo
conhecimento de mundo > questão de interpretação)
119
Exercício 5 – Os Alimentos
5º teste – Leitura, interpretação e compreensão do texto Os alimentos com o objetivo de
observar a inter-relação compreensão, aprendizagem, memória e atenção, por meio de
perguntas literais e inferenciais.
Os alimentos
Os alimentos nos proporcionam a energia e os nutrientes que o corpo necessita
para manter a saúde e a vida, para crescer e se desenvolver, para se movimentar,
trabalhar, brincar, pensar e aprender. O corpo precisa de uma variedade de nutrientes -
proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e minerais - que estão presentes nos
alimentos que consumimos.
As proteínas são necessárias para formar e manter a massa muscular, o sangue, a pele e
os ossos, bem como outros tecidos e órgãos do corpo.
Os carboidratos e as gorduras são a principal fonte de energia, apesar de algumas
gorduras também fazerem parte do grupo de nutrientes que são necessários tanto como
«materiais de construção» quanto para ajudar o corpo a utilizar determinadas vitaminas.
As vitaminas e os sais minerais são necessários em menores quantidades do que as
proteínas, as gorduras e os carboidratos, mas são essenciais para uma boa nutrição.
Ajudam o corpo a funcionar de forma adequada e a manter a saúde. Alguns minerais
também fazem parte da formação de tecidos corporais; por exemplo, os ossos e os dentes
contêm cálcio e flúor e o sangue contém ferro.
Fibras e água limpa também são fundamentais para uma boa alimentação.
Todos os alimentos contêm nutrientes, mas diferentes alimentos contêm distintas
quantidades e tipos de nutrientes.
Os alimentos ricos em proteínas são carnes de todo tipo, aves de granja e peixes, feijões,
grão de bico, soja, amendoim, leite, queijo, iogurte e ovos.
Os alimentos ricos em carboidratos são arrozes, milhos, trigos e outros cereais, alguns
tipos de batatas, inhame e raízes ricas em amido, e também o açúcar.
Os alimentos ricos em gordura são óleos, alguns tipos de carne e derivados, gordura de
porco, manteiga, margarina e outros derivados do leite, alguns peixes, castanhas e soja.
120
Os alimentos ricos em vitamina A são verduras e legumes de cor verde escura, a
cenoura, a batata, abóbora, manga, mamão, ovos e fígado.
Os alimentos ricos em vitaminas B são verduras e legumes de cor verde escura,
amendoim, feijões, grão-de-bico, cereais, carne, peixes e ovos.
Os alimentos ricos em vitamina C são frutas e a maioria das verduras e legumes,
incluindo batatas.
Os alimentos ricos em ferro são carnes, peixes, amendoim, feijões, grãos de bico, folhas
verdes escuras e frutos secos.
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre. Acesso em 20 de junho de 2007.
1) Alimentos (evocação > questão objetiva)
a) Os alimentos contêm b) O corpo precisa de...
------------------------------------------ ------------------------------------------
------------------------------------------ -----------------------------------------
-----------------------------------------
-----------------------------------------
-----------------------------------------
-----------------------------------------
2) Preencha a lacuna com o nome do nutriente, explicando qual a sua contribuição para
o adequado funcionamento de nossa saúde de acordo com sua função. (evocação >
questão objetiva)
a)________________________ são necessárias para formar e manter a massa
muscular, o sangue, a pele e os ossos, bem como outros tecidos e órgãos do corpo.
b)________________________ são a principal fonte de energia do organismo, apesar
121
de algumas gorduras também fazerem parte do grupo de nutrientes necessários como
“materiais de construção”.
c)________________________ são necessários, pois ajudam o corpo a funcionar de
forma adequada e a manter a saúde, fazendo parte da formação dos tecidos corporais.
d)________________________ são fundamentais para uma boa alimentação.
3) a) Quais os nutrientes exigidos em menores quantidades?
b) Vitaminas são ou não nutrientes? (reconhecimento > questões objetivas)
4) Que alimentos nos fornecem energia? (reconhecimento > questão objetiva)
5) (a)O que são, (b)qual sua função e (c)quais são os “materiais de construção”? Cite 5
dos materiais de construção. (reconhecimento > questão objetiva)
6) Que minerais também integram os nutrientes que formam os tecidos corporais?
(reconhecimento > questão objetiva)
7) A gordura é essencial para o funcionamento adequado do corpo e pode ser
classificada em saturada e insaturada. A gordura (a) _____________ é aquela com a
qual devemos ter cuidados especiais, pois consiste de triglicerídeos e contém somente
ácidos graxos saturados, apresentando ligação química entre carbonos; a gordura (b)
_____________ é uma gordura na qual uma ou mais ligações duplas estão presentes
na cadeia de ácido graxo. Sua origem é vegetal, tendo aspecto líquido. (conhecimento
prévio extratextual > questão inferencial)
8) Marque com um X a(s) alternativa(s) que compõe(m) cada alimento. (P) Proteína;
(C) Carboidrato; (G) Gordura; (Va) Vitamina A; (Vb) Vitamina B; (Vc) Vitamina C; (F)
Ferro. (reconhecimento > questão objetiva)
122
1) espinafre a.(P) b. (C) c.(G) d.(Va) e.(Vb) f.(Vc) g.(F)
2) frango a.(P) b. (C) c.(G) d.(Va) e.(Vb) f.(Vc) g.(F)
3) salsa a.(P) b. (C) c.(G) d.(Va) e.(Vb) f.(Vc) g.(F)
4) tomate a.(P) b. (C) c.(G) d.(Va) e.(Vb) f.(Vc) g.(F)
5) batata doce a.(P) b. (C) c.(G) d.(Va) e.(Vb) f.(Vc) g.(F)
6) fígado a.(P) b. (C) c.(G) d.(Va) e.(Vb) f.(Vc) g.(F)
7) nozes a.(P) b. (C) c.(G) d.(Va) e.(Vb) f.(Vc) g.(F)
8) laranjas a.(P) b. (C) c.(G) d.(Va) e.(Vb) f.(Vc) g.(F)
9) abacate a.(P) b. (C) c.(G) d.(Va) e.(Vb) f.(Vc) g.(F)
10) salmão a.(P) b. (C) c.(G) d.(Va) e.(Vb) f.(Vc) g.(F)
9) Preencha a lacuna respondendo se a gordura encontrada no alimento ingerido é a
saturada ou a insaturada. (reconhecimento > questão objetiva)
a) Comi carne gordurosa, meu organismo recebeu gordura__________________.
b) Preparei uma salada verde e temperei com bacon, meu organismo recebeu
gordura_______________ encontrada no bacon.
c) Comi amendoim, ingeri gordura ____________________.
d) Comi pão de soja, ingeri gordura ___________________que é encontrada na soja.
123
e) Comi um pedaço de pão com nata fresquinha, ingeri gordura ________________
que é encontrada na nata.
10) Crie uma dieta considerada ideal para a saúde do corpo e da mente. (avaliar_
envolvendo conhecimento de mundo > questão de interpretação)
124
Exercício 6 - Coração
teste Leitura, interpretação e compreensão do texto Coração de José Mariano
Amabis e Gilberto Rodrigues Martho. O teste propõe-se a testar a inter-relação
compreensão e atenção, através de perguntas literais e inferenciais.
Coração
O coração humano é um órgão oco, com tamanho comparável ao de um punho
fechado e pesa cerca de 400 gramas. Localiza-se no meio do peito, sob o osso externo,
com a extremidade inferior ligeiramente deslocada para a esquerda. As paredes do
coração são constituídas pelo chamado tecido muscular estriado cardíaco, o miocárdio
(do grego myos, músculo, e cardio, coração).
Tem quatro cavidades internas, as câmaras cardíacas. As duas câmaras
superiores são chamadas de átrios cardíacos, ou aurícolas; as duas inferiores são
chamadas de ventrículos cardíacos. A parede dos ventrículos cardíacos é bem mais
espessa do que a parede dos átrios. A diferença esrelacionada à função dessas
câmaras: enquanto os átrios bombeiam sangue para os ventrículos imediatamente
abaixo deles, o ventrículo direito bombeia sangue para os pulmões e o esquerdo, para
a maior parte do corpo.
O sangue chega ao coração por grandes vasos e penetra nos átrios. O átrio
cardíaco esquerdo recebe o sangue rico em oxigênio proveniente dos pulmões,
enquanto o átrio cardíaco direito recebe sangue rico em gás carbônico proveniente do
resto do corpo. O átrio esquerdo comunica-se com o ventrículo esquerdo por um orifício
guarnecido pela válvula atrioventricular esquerda, válvula bicúspide, ou válvula
mitral, cuja função é garantir a circulação do sangue em um único sentido, sempre do
átrio para o ventrículo. O átrio cardíaco direito comunica-se com o ventrículo direito por
meio de um orifício guarnecido pela válvula atrioventricular direita, ou válvula
tricúspide, com função equivalente à da válvula bicúspide.
Quando ocorre a contração dos átrios, denominada sístole atrial, os ventrículos
estão se relaxando e o sangue passa para dentro deles. Quando ocorre contração dos
125
ventrículos, denominada sístole ventricular, as válvulas atrioventriculares (direita e
esquerda) fecham-se e o sangue é forçado a sair do coração.
O sangue sai do coração por artérias de grande diâmetro, que partem do ventrículo
direito (artéria pulmonar) e do ventrículo esquerdo (aorta). O ventrículo cardíaco direito
envia sangue para os pulmões, enquanto o ventrículo cardíaco esquerdo envia sangue
para as demais partes do corpo. Em condições normais não nenhuma comunicação
entre a metade direita e esquerda do coração; são duas bombas separadas, porém
funcionando em conjunto e comunicando-se através dos vasos sangüíneos.
Fonte: Texto adaptado de Amabis, J. & Martho, G. R. Biologia. 2. ed. São
Paulo: Moderna, 2004.
1) Diga se a afirmação é verdadeira (V) ou falsa (F). (conhecimento prévio extratextual
> questões inferenciais)
a) O oxigênio e o gás carbônico são gases. ( )
b) A aorta é uma artéria. ( )
c) A válvula mitral garante a circulação do sangue das câmaras superiores para as
inferiores. ( )
d) O sangue sai do coração por artérias de pequeno diâmetro. ( )
e) Vasos e artérias têm a mesma função. ( )
2) Que tipo de gás vem dos pulmões e vai para o corpo? (conhecimento prévio
extratextual > questão inferencial)
3) a) Qual o nome do movimento que permite que o sangue saia do coração?
b) E o daquele que faz o movimento contrário? (reconhecimento > questões
objetivas)
4) O que acontece quando os átrios e os ventrículos se contraem? (reconhecimento >
126
questão objetiva)
5) Diferencie sangue venoso e sangue arterial. (conhecimento prévio extratextual >
questão inferencial)
6) Há dois tipos de circulação: grande circulação e pequena circulação. Explique.
(reconhecimento > questão objetiva)
7) Relacione as duas colunas de acordo com a função de cada uma das palavras da
coluna da esquerda. (relacionar > questão inferencial)
a) Artérias são vasos que levam sangue de órgãos e
tecidos para o coração.
b) Veias são vasos que levam sangue do coração
para os órgãos e tecidos corporais.
8) Qual a relação entre o bombeamento do sangue e a pressão arterial? (conhecimento
prévio extratextual > questão inferencial)
9) Relacione as palavras ao restante do enunciado, de acordo com função e significado
de cada uma delas. (reconhecimento > questões objetivas)
(1) artérias
(2) válvula
(3) aurícula
(4) ventrículo
(5) bombear
a) ( ) cavidade superior do coração.
127
b) ( ) bombardear e acionar o sangue do corpo.
c) ( ) uma das duas cavidades inferiores do coração.
d) ( ) dobra membranosa que nos vasos e condutos do corpo, obsta ao refluxo dos
líquidos, espécie de tampa que fecha por si.
e) ( ) vasos que conduzem o sangue do coração a todas as partes do corpo, grande via
de comunicação.
10) Preencha o esquema de acordo com o texto lido. (reconhecimento > questão
objetiva)
Coração humano
a)Função
b)Constituição
c)Localização d)Posição
e)Funcionamento
bomba
hidráulica
veias
artérias
sangue
metade direita
metade esquerda
128
Exercício 7- O zelador do labirinto
teste Leitura, interpretação e compreensão da crônica O zelador do labirinto de
Luis Fernando Verissimo, exercício baseado no teste proposto por Dell’Isola, 2001. O
objetivo é observar a inter-relação compreensão e aprendizagem relacionando-a à
antecipação, formulação de hipóteses, inferências e estabelecimento de conexões,
através de perguntas literais e inferenciais.
O Zelador do Labirinto
Luis Fernando Verissimo
Tem também a história do zelador do labirinto. Todos os dias ele saía de casa cedo,
com sua marmita, e entrava no labirinto. Seu trabalho era percorrer todo o labirinto,
inspecionando as paredes e o chão, vendo onde precisava um retoque, talvez uma mão
de tinta, etc.
Era um homem metódico. Pela manhã, fazia a ronda do labirinto, anotando tudo que
havia para ser consertado, depois saía do labirinto, almoçava, descansava um
pouquinho, e entrava de novo no labirinto, agora com o material que necessitaria para
seu trabalho. Quando não havia nada para ser consertado, ele apenas varria todo o
labirinto e, ao anoitecer, ia para casa. Um dia, enquanto fazia a sua ronda, o zelador
encontrou um grupo de pessoas apavoradas. Queriam saber como sair dali. O zelador
não entendeu bem.
– Como, sair?
– A saída! Onde fica a saída?
– É por ali – apontou o zelador, achando estranha a agitação do grupo.
Mais tarde, no mesmo dia, enquanto varria um dos corredores, o zelador encontrou
o mesmo grupo. Não tinham encontrado a saída. Estavam ainda mais apavorados.
Alguns choravam. Alguém precisava lhes mostrar a saída! Com certa impaciência, o
zelador começou a dar a direção. Era fácil.
– Saiam por ali e virem à esquerda. Depois à direita, depois à esquerda, esquerda
outra vez, direita, direita, esquerda... – Espere! – gritou alguém. – Ponha isso num
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papel. Sacudindo a cabeça com divertida resignação, o zelador pegou seu caderno de
notas e toco de lápis e começou a escrever.
– Deixa eu ver. Esquerda, direita, esquerda, esquerda...
Hesitou.
– Não, direita. É isso. Direita, direita, esquerda... Ou direita outra vez?
O zelador atirou o papel e o lápis no chão como se estivessem pegando fogo. Saiu
correndo, com todo o grupo atrás. Também estava apavorado. Aquilo era terrível. Ele
nunca tinha se dado conta de como aquilo era terrível. Corredores davam para
corredores que davam para corredores que davam numa parede. Era preciso voltar
pelos mesmos corredores, mas como saber se eram os mesmos corredores? A saída!
Onde fica a saída?
A administração do labirinto teve que procurar um novo zelador, depois que o
desaparecimento do outro completou um mês. Podia adivinhar o que tinha acontecido.
O novo zelador não devia ter muita imaginação. Era preferível que nem soubesse ler e
escrever. E em hipótese alguma devia falar com estranhos.
Fonte: Verissimo, Luis Fernando. O nariz e outras crônicas. São Paulo. Ática, 1
1) Sobre o que poderá versar o texto a ser lido, tomando por base o seu título?
(antecipação > questão inferencial)
2) Qual era o trabalho do zelador? (reconhecimento > questão objetiva)
O zelador do labirinto
Tem também a história do zelador do labirinto. Todos os
dias ele saía de casa cedo, com sua marmita, e entrava no
labirinto. Seu trabalho era percorrer todo o labirinto,
inspecionando as paredes e o chão, vendo onde precisava um
retoque, talvez uma mão de tinta, etc.
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3) Que tipo de pessoa era o zelador? (reconhecimento > questão objetiva)
4) Como o zelador procedia para realizar seu trabalho? E se não houvesse nada para
ser consertado? (reconhecimento > questão objetiva)
5) O que aconteceu certo dia enquanto ele fazia a ronda? (reconhecimento > questão
objetiva)
6) Como estavam aquelas pessoas? Por quê? (reconhecimento > questão objetiva)
7) O que perguntavam aquelas pessoas ao zelador? (reconhecimento > questão
objetiva)
8) O que respondeu o zelador? (reconhecimento > questão objetiva)
9) Como agiu o zelador nesse momento? Por quê? (subentendido > questão
inferencial)
Como, sair?
– A saída! Onde fica a saída?
– É por ali – apontou o zelador, achando estranha a agitação
do grupo.
Mais tarde, no mesmo dia, enquanto varria um dos
corredores, o zelador encontrou o mesmo grupo. Não tinham
encontrado a saída. Estavam ainda mais apavorados. Alguns
choravam. Alguém precisava lhes mostrar a saída! Com certa
impaciência, o zelador começou a dar a direção. Era fácil.
– Saiam por ali e virem à esquerda. Depois à direita, depois à
esquerda, esquerda outra vez, direita, direita, esquerda... –
Espere! – gritou alguém. – Ponha isso num papel.
Era um homem metódico. Pela manhã, fazia a ronda do
labirinto, anotando tudo que havia para ser consertado, depois
saía do labirinto, almoçava, descansava um pouquinho, e entrava
de novo no labirinto, agora com o material que necessitaria para
seu trabalho. Quando não havia nada para ser consertado, ele
apenas varria todo o labirinto e, ao anoitecer, ia para casa. Um
dia, enquanto fazia a sua ronda, o zelador encontrou um grupo
de pessoas apavoradas. Queriam saber como sair dali. O zelador
não entendeu bem.
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10) Por que ele pegou seu caderno e o toco de lápis e começou a escrever? (previsão >
questão inferencial)
11) Por que "hesitou"? (subentendido > questão inferencial)
12) O que ele fez com o papel e o lápis? (reconhecimento > questão objetiva)
13) Aquilo o quê? Por que era terrível? Para quem? (intratextual > questão inferencial)
14) Como deveria ser o novo zelador? (reconhecimento > questão objetiva)
15) Fazer algo e explicar como algo é feito são atitudes e habilidades diferentes? Por
quê? (interpretar_envolvendo conhecimento de mundo > questão de interpretação)
A administração do labirinto teve que procurar um novo
zelador, depois que o desaparecimento do outro completou um
mês. Podia adivinhar o que tinha acontecido. O novo zelador não
devia ter muita imaginação. Era preferível que nem soubesse ler
e escrever. E em hipótese alguma devia falar com estranhos.
Aquilo era terrível. Ele nunca tinha se dado conta de como
aquilo era terrível. Corredores davam para corredores que
davam para corredores que davam numa parede. Era preciso
voltar pelos mesmos corredores, mas como saber se eram os
mesmos corredores? A saída! Onde fica a saída?
O zelador atirou o papel e o lápis no chão como se estivessem
pegando fogo. Saiu correndo, com todo o grupo atrás. Também
estava apavorado.
Sacudindo a cabeça com divertida resignação, o zelador
pegou seu caderno de notas e toco de lápis e começou a
escrever.
– Deixa eu ver. Esquerda, direita, esquerda, esquerda...
Hesitou.
– Não, direita. É isso. Direita, direita, esquerda... Ou direita
outra vez?
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Fotografia da escola e dos alunos que participaram da pesquisa
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