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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
Maria Candida Galvão Flores
A PRESIDÊNCIA COLLOR DE MELLO:
OLHARES, IMAGENS E REPRESENTAÇÕES
DE UM ATRIBULADO PERCURSO POLÍTICO
Rio de Janeiro
2008
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Maria Candida Galvão Flores
A presidência Collor de Mello: olhares, imagens e
representações de um atribulado percurso político
Tese apresentada, como requisito parcial para
obtenção do título de Doutor, ao Programa de Pós-
Graduação em História, da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro. Área de Concentração: História
Política.
Orientador: Prof. Dr. Orlando de Barros
Rio de Janeiro
2008
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Dedico esta tese ao meu Orientador, Prof. Dr.
Orlando de Barros, que, nos últimos quatro anos, me
acompanhou pacientemente pelos caminhos e
descaminhos que percorri, apontando sempre a
melhor rota.
AGRADECIMENTOS
Ao meu Orientador, Prof. Dr. Orlando de Barros, pelo convívio cordial, pela amizade,
pelos ensinamentos, e pelo singular acompanhamento em todos os passos percorridos para a
produção desta tese.
Aos professores do Programa de Pós-graduação em História, que direta ou
indiretamente contribuíram para o bom termo desta tese. Dentre esses, agradeço
especialmente às professoras doutoras Lúcia Maria P. Guimarães e Lúcia Bastos P. das
Neves. Também agradeço aos funcionários da pós-graduação pela atenção dispensada em
todas as ocasiões.
Aos professores doutores Eduardo Granja Coutinho, Marilena Ramos Barboza e Lená
Medeiros de Menezes, que participaram da banca do exame de qualificação, por terem
apontado possibilidades de pesquisa e por provocarem com suas sugestões muitas das
reflexões aqui contidas. Também sou grata aos colegas de curso, que partilharam comigo
durante a jornada o melhor que a Pós-graduação de História da UERJ pôde nos proporcionar.
Ao historiador Prof. Dr. Fábio Koifman, da Universidade Estácio de Sá, por ter
franqueado generosamente o acesso ao Arquivo do Governo Collor.
Aos funcionários da Biblioteca Nacional, Seção de Periódicos, pelo auxílio cordial e
competente durante as seções de pesquisa. O mesmo agradecimento faço aos funcionários do
Arquivo Nacional, pela ajuda prestada na consulta ao acervo dos presidentes da República.
Também sou grata a Stela Damiani Barros, pelas palavras de incentivo e pelo apoio
constante, que foram extremamente importantes. Da mesma forma, a Rafael Damiani Barros,
pela sempre eficiente assessoria técnica, assim como pela maestria na língua inglesa.
Aos colegas da Sub-reitora de Pós-graduação e Pesquisa, da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro, pela compreensão tão indispensável à realização deste trabalho.
À minha família, pela alegria compartilhada em cada etapa vencida e pelo apoio
constante e presença marcante quando surgiram as dificuldades.
Maria Candida Galvão Flores
A presidência Collor de Mello: olhares, imagens e representações
de um atribulado percurso político
“Esse é o tempo do show-biz (...) até a política (...) O Collor daqui
pouco ninguém sabe mais quem é. O rei do marketing, quem diria (...)
tomou de assalto a cena (...) e passou todo mundo para trás (...) Chegou e
tome mais lance de publicidade (...) não saía do cartaz. Rampa para baixo e
para cima (...) Mutatis mutantis, sai o Collorgate e entra o Itamar. Nem ao
menos primeira dama (...) Juiz de Fora não rende tanto quanto Canapi.” (Otto
Lara Rezende. Bom dia para nascer, crônica, 1993)
RESUMO
No começo dos anos 80, a “década perdida”, o Brasil iniciou a travessia de uma
demorada e generalizada crise, mormente pela falência do modelo econômico iniciada no
regime militar e uma colossal dívida pública, externa e interna, quase de impossível
refinanciamento. A retirada dos militares não se deu ordenadamente: a “classe” política havia
sido destroçada pelas cassações, quando não corrompida para a obtenção de apoio na fase de
derrocada da ditadura. A sucessão do último dos generais não se fez senão de modo trágico,
com a doença mortal de Tancredo Neves, o presidente-eleito. Sarney, velho colaborador da
ditadura, recentemente conquistado pelas forças da redemocratização, governou sob
reprovação generalizada, com crise de governabilidade, hiperinflação e acusações de
corrupção.
Diante do quadro desanimador, abriu-se a possibilidade a aventuras políticas que
investissem na desorientação do eleitor, de resto desacostumado de escolher o presidente da
república em quase três décadas. Apresentou-se Fernando Collor de Mello, originário da alta
burguesia nordestina e governador da provinciana Alagoas, tendo de enfrentar o imaturo
Partido dos Trabalhadores, recém instituído na luta contra a ditadura. Para conquistar o
eleitor, Collor valeu-se da atualização técnica dos meios publicitários, sobretudo da mídia
televisiva. A seu favor, penderam os favores do empresariado, temeroso do avanço do
socializante PT. A classe média empolgou-se com o discurso modernizador e moralista de
Collor; os pobres do nordeste entusiasmaram-se por poderem eleger diretamente um
presidente nordestino, de estilo novo, de discurso que apelava à modernização.
Collor valeu-se de seu perfil esportivo, elegância natural, beleza pessoal e enquadrou-
se disciplinadamente num perfil publicitário encomendado, recorrendo a contínuos atos
performáticos não só para eleger-se como para governar. Talvez por lhe faltar autêntico
carisma, ou por não poder assumir a “vocação para a política”, na acepção weberiana, Collor
entendeu de empolgar os brasileiros por ações de prestidigitação política. Desde o primeiro
dia de governo vieram as contradições e decepções, sintetizadas nos planos econômicos
autoritários e pífios. Descontentando o empresariado, a classe média e os trabalhadores, foi
acusado de corrupção e cassado, fazendo o Brasil atravessar um período de perigosa crise,
num trajeto assinalado por não poucos momentos de anti-performance. Legou aos governos
que o sucederam a uma certa tendência ao espetaculoso em política.
Palavras-chave: Nova República, Governo Collor de Mello, Performance, Mitos políticos,
Política e representação.
Abstract
At the early 1980's, the "lost decade", Brazil underwent a long and widespread crisis,
driven by the failure of the economic model established by the military regime and
unmanageable public debts of enormous scale, national and foreign alike. The military
withdraw did not occur in an orderly fashion: the political class had been dismantled by
subsequent terminations of mandates, as well as the corruption that ensued in the attempt to
amass support to the declining regime. Tragedy befell the succession of the last general, when
the elected president in office, Tancredo Neves, became fatally ill. Sarney, formerly a
supporter of the dictatorial government, but recently overtaken by the new democratic efforts,
ascended to presidency under heavy popular disapproval, administration woes, hyperinflation
and charges of corruption.
Before this appalling scenario, arose the possibility for daring political maneuvers,
whose purposes were aimed to bewilder and disorient the electorate, which for thirty years
grew unaccustomed to the democratic standards of nominating a president. Thus came
Fernando Collor de Mello, from northeastern aristocracy, governor of the provincial Alagoas,
to oppose the yet unripe Partido dos Trabalhadores (Workers Party), freshly established in the
struggle to overthrow the military regime. Collor employed the media to full advantage,
taking advantage of technical developments in advertisement and leaned heavily on
television, in particular. To his aid came corporations and stood important sectors of the
industry, terrified at the ascent of the socialistic PT. Middle class was captivated by Collor's
modernizing and moralistic speeches; underprivileged classes were elated by the chance to
vote directly on a candidate with tempting progressive ideals, eminently those who shared his
northeastern origins.
Collor was endowed with a noteworthy athletic profile, charming grace and good
looks, perfectly befitting a public persona conceived to win the elections with continuous acts
of self promotion, all of which were carried on to his government days. Although he lacked in
charisma, authenticity and vocation, Collor did not fail to amuse brazilians through extensive
use of political prestidigitation. Disappointment and contradictions arose from the very first
day in office. Abjectly authoritarian economy plans stirred the population, workers and
corporations, who ultimately impeached him in apprehensive political turmoil, intensified by
several moments of underperformance. Later governments inherited this same tendency to
spectacularity in their political courses.
Key words: New Republic, Collor de Mello’s Government, Performance, Political
Myth, Politics and Representation.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1
CAPÍTULO 1 – O CONTEXTO HISTÓRICO DA ELEIÇÃO DE FERNANDO COLLOR DE
MELLO: MOMENTOS POLÍTICOS DO REGIME MILITAR À REDEMOCRATIZAÇÃO
39
1.1 O REGIME MILITAR E O FORTALECIMENTO DA MÍDIA TELEVISIVA
40
1.2 POLÍTICA E MÍDIA NO FIM DO REGIME MILITAR 52
1.3 AS AGRURAS DA RECONSTRUÇÃO DEMOCRÁTICA 55
1.4 A FABRICAÇÃO DO PRESIDENTE PERFORMÁTICO 63
CAPÍTULO 2 – FERNANDO COLLOR DE MELLO, UM MOMENTO HISTÓRICO EM
DISPONIBILIDADE PARA UMA SIMBOLOGIA DE OCASIÃO
83
2.1 ENFRENTANDO O INIMIGO: DA CAÇA AOS “MARAJÁS” AO PALÁCIO DO PLANALTO 84
2.2 E ASSIM O CAÇADOR DE “MARAJÁS” FOI ELEITO PRESIDENTE DA REPÚBLICA 107
2.3 O MITO DO HERÓI-SALVADOR E A DIMENSÃO CULTURAL: UM MERCADO
SIMBÓLICO TRANSIENTE, DA PRODUÇÃO À APLICAÇÃO
112
CAPÍTULO 3 – A PRESIDÊNCIA PERFORMÁTICA DE FERNANDO COLLOR DE
MELLO: DISCURSO, MITO E PERFORMANCE NA NARRATIVA HISTÓRICA
129
3.1 A ELEIÇÃO E A POSSE 130
3.2 O PRIMEIRO PLANO COLLOR: UM GOLPE ESPETACULAR CONTRA A INFLAÇÃO 136
3.3 A CAMPANHA ELEITORAL PARA GOVERNADORES, DEPUTADOS E SENADORES DE
1990
145
3.4 PRIVATIZAÇÕES 148
3.5 O SEGUNDO PLANO COLLOR 153
3.6 AS VIAGENS PRESIDENCIAIS 159
3.7 O GOVERNO COLLOR E A ECOLOGIA 162
3.8 O GOVERNO COLLOR E OS “MARAJÁS” 167
CAPÍTULO 4 – A DERROCADA: DA REPRESENTAÇÃO DESBARATADA ÀS NOVAS
PERSPECTIVAS SIMBÓLICAS QUE SE ABRIRAM
170
4.1 O IMPEACHMENT: A ANTI-PERFORMANCE DO PRESIDENTE PERFORMÁTICO 170
4.2 CAI O PANO – O HERÓI-SALVADOR SAI DE CENA 196
4.3 O CONTRA-DISCURSO DE COLLOR DE MELLO: A SUA VERSÃO DO IMPEACHMENT 201
4.4 AS NOVAS PERSPECTIVAS QUE SE ABRIRAM 203
5.1
CONSIDERAÇÕES FINAIS
208
6.1 ICONOGRAFIA COMENTADA: PERFORMANCE E ANTIPERFORMANCE 216
7.1
FONTES E BIBLIOGRAFIA
235
8.1
ANEXO: RELAÇÃO DE MATÉRIAS CONSULTADAS DO “ARQUIVO COLLOR”
245
INTRODUÇÃO
A escolha de um tema para pesquisa envolve uma série de fatores e motivações e a
nossa opção não constituiu exceção. Um dos fatores foi o nosso interesse pessoal pelo
momento vivido e outro, a relevância que atribuímos ao estudo de um período da história
que trouxe tanto esperança quanto frustração, ao povo brasileiro e que, muitas vezes,
aproximou-se da feição de um espetáculo político, que foi o abreviado e decepcionante
governo de Fernando Collor de Mello.
Ele procurou impor uma imagem de si mesmo que captasse e fixasse a atenção da
sociedade brasileira. Esta imagem constituiu-se numa seleção de traços que ele preferiu
apresentar à opinião pública. Para tal, ao mesmo tempo, produziu uma representação
figurada e reconstruída da realidade. Assim, a nossa abordagem é, basicamente, a
representação política centrada na performance de Fernando Collor de Mello.
1
A viabilidade da investigação, devida à abundância de fontes e à sua acessibilidade,
contribuiu para a nossa escolha uma vez que, também, vislumbramos a possibilidade de
realizarmos uma abordagem original sobre o tema.
Evidentemente, um tema de pesquisa histórica deve ser relevante não só para o
próprio pesquisador, mas também, para os seus contemporâneos e, na nossa opinião, o tema,
na forma como o abordamos, é uma escolha historiográfica extremamente significativa. De
resto, tendo o governo de Collor de Mello se constituído numa experiência diversa, das
tradições governamentais e políticas brasileiras, e por ter chegado a termo em dramático
quadro de eventos, tem-se constituído em problema histórico muito necessário a desvendar.
Compreender o período de governo do presidente Collor de Mello é uma tarefa que
exige o enfrentamento de diversas questões e envolve a reflexão da participação de
diferentes atores sociais e políticos no delineamento deste período.
Marcando fortemente o fim do século XX, podemos dizer, de um ponto de vista do
encadeamento histórico, que a década de 90 teve seu início em 1989, devido aos eventos de
grande significado simbólico que tiveram lugar neste ano, cujos desdobramentos ocorreriam
por todo aquele decênio. Dentre eles, a queda do muro de Berlim, que arrastou com ele os
regimes autoritários do Leste Europeu e o neoliberalismo que começou a ser assentado com
1
Orlando de Barros, A performance: em busca de uma metodologia, in CD-rom Anais do Congresso Pré-Fiealc,
“América Latina e o Processo de Modernização”, UERJ, 2005, pp 1-9. Este estudo sobre a performance do Prof.
Orlando de Barros, Orientador da presente tese, foi elaborado, especialmente, para orientar e servir de apoio
teórico-metodológico a nossa pesquisa uma vez que levamos ao Professor a nossa dificuldade em encontrar
estudos sobre a performance relacionados à história e à representação política.
Margaret Thatcher e Ronald Reagan, ainda antes do fim da URSS, cujo desenrolar regional
foi o Consenso de Washington.
2
Nesse cenário, a redemocratização brasileira, instaurada em 1985, se consolidou com
a volta das eleições diretas para a Presidência da República, em 1989.
3
Na corrida eleitoral
do primeiro turno vários candidatos concorreram, alguns falecidos: Ulisses Guimarães,
Mário Covas e Leonel Brizola. E, no pódio da disputa, o ex-operário e ex-líder sindicalista
Luis Inácio Lula da Silva, e o empresário e ex-governador de Alagoas, Fernando Collor de
Mello.
Assim, vinte e nove anos depois da eleição direta que levou Jânio Quadros à
Presidência da República, Fernando Collor de Mello, em 1989, foi o primeiro presidente
civil eleito por voto direto. Depois de um longo período autoritário, e de um governo
tutelado pelas forças armadas, os brasileiros puderam finalmente eleger um presidente, numa
eleição que teve dois turnos, uma inovação trazida pela Constituição de 1988.
4
Além das críticas ao governo anterior de José Sarney, a campanha de Collor de Mello
estava apoiada na redução do papel do Estado, que foi o eixo principal, e na proposta de uma
política de governo nova, e doutrinária, que queria por em prática através do combate à
inflação e à corrupção. Entre suas promessas de campanha, além da anunciada moralização
política e o fim da inflação, ele ofereceu para as elites, a modernização econômica do país
consoante a receita do neoliberalismo, prometendo um Estado mínimo, a eliminação dos
controles burocráticos da política econômica, a abertura da economia e o apoio às empresas
brasileiras para se tornarem mais eficientes e competitivas perante a concorrência externa. O
apelo da campanha era basicamente emocional, buscando estabelecer processos de projeção,
ou seja, identificação dos eleitores com o candidato, uma vez que as propostas de Collor de
Mello eram fruto de pesquisa junto à sociedade para que ele soubesse o que os eleitores
esperavam de um futuro presidente.
5
Dirigindo-se aos eleitores com um discurso, ao mesmo tempo, modernizador,
populista e autoritário, e apresentando uma imagem jovem e arrojada, Collor de Mello
impôs-se como aquele que lutaria contra toda injustiça. Da mesma forma, o tema da redução
2
Em novembro de 1989, o Institute for International Economics realizou uma reunião em
Washington, nos Estados Unidos, que ficou conhecida como o Consenso de Washington e
passou a ditar todo um conjunto de mudanças e reformas econômicas conhecidas como
neoliberalismo.
3
Maria Paula Nascimento Araújo, “A ditadura militar em tempos de transição (1974-1985), in Francisco Carlos
Palomanes Martinho (org), Democracia e ditadura no Brasil, Rio de Janeiro, EDUERJ, 2005, pp.153-64.
4
Thomas E. Skidmore, Uma história do Brasil, São Paulo, Editora Paz e Terra, 1998, pp. 302-4.
5
Martin Claret, “Projeto Brasil Novo”, in O fenômeno Collor, São Paulo, Martin Claret, 1989, pp. 99-135.
do papel do Estado na economia, já aparecia como uma sinalização da ruptura com a
mentalidade empresarial tradicional. Tal enérgica imagética parecia, pois, essencial para
servir de suporte aos objetivos políticos em causa, uma vez que desconstruir o Estado
intervencionista brasileiro constituía-se em fragorosa ruptura com um longo passado
histórico.
Em torno da imagem do empresário jovem, moderno, e próspero, que põe as suas
energias a serviço da causa pública, cristalizaram-se os impulsos de emoção, de esperança e
de adesão pré-existentes de forma difusa no imaginário político criando expectativas de
novas condições políticas na sociedade que, supostamente, mudariam a cara do país e a vida
dos brasileiros. Ele surgia como um reformador num momento em que havia fortes
aspirações de mudanças, depois de um período de grande inflação, com todas as suas
conseqüências sociais, havendo também grande descontentamento quanto à forma como o
país vinha sendo administrado, com grande descrédito dos políticos de estilo tradicional.
Collor de Mello prometia ser, com sua imagem intrépida, o remédio para todos os males.
6
Tinha pretensão a ser o “salvador do país”.
Para compor e divulgar esta imagem de “salvador”, Fernando Collor de Mello contou
com o apoio da mídia. Aliás, os aspectos midiáticos foram a característica mais evidente na
participação de Fernando Collor de Mello na vida política brasileira desde sua aparição no
cenário nacional até a sua queda.
Como ponto central de suas falas, Collor de Mello se autodenominou “caçador de
marajás” e “defensor dos descamisados” isto é, opositor dos privilégios dos altos
funcionários públicos e defensor dos pobres e necessitados.
7
Ao ser eleito presidente, Collor
de Mello apresentou-se como o “herói-salvador” cujo governo seria o início de uma nova
vida para os brasileiros.
Mais adiante, falando de seu governo, no exercício do mandato, o presidente o
fazia com grandiloqüência. Entretanto, a grande expectativa da população brasileira, em
relação ao governo Collor de Mello, expressou-se com clareza nas turbulências e
reviravoltas, dificuldades e crises enfrentadas neste período, que atingiram seu ponto
máximo quando o presidente renunciou para escapar ao impeachment, em virtude da
acusação de corrupção no exercício do poder.
Ao reportar-nos aos relatos dos acontecimentos que marcaram o governo de Collor
de Mello, sempre registrados pela mídia, é prioritário inquirir sobre as representações deste
6
Lincoln de Abreu Penna, República Brasileira, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999, pp. 321-2.
7
História – 1990 – Fernando Collor de Mello, in Folha Online, data de acesso: 10/03/2004.
governo e sobre a performance de seu personagem e como tais circunstâncias operaram
sobre a realidade política e cultural do país, porque acreditamos que os olhares, as imagens,
os símbolos e as representações deste governo configuram este período como um fenômeno,
ainda que meteórico, na cultura política do Brasil contemporâneo, tornando-se necessário
compreender o seu real sentido e significado no cenário político brasileiro.
A partir dos antecedentes históricos necessários para a contextualização do tema, foi
nossa intenção, no presente estudo, voltar-nos, especificamente, para a análise das
representações políticas e dos aspectos simbólicos que circunscrevem o governo Collor de
Mello, operando assim, o necessário corte dos estudos específicos.
Entretanto, em função do “problema“ principal da nossa pesquisa extrapolar marcos
temporais, o percurso do presidente Collor de Mello compreendeu, além do período em que
este exerceu o governo do país, a campanha eleitoral de 1989, e, também, o período posterior
ao impeachment, naquilo que foi relevante para a nossa abordagem do tema anteriormente
descrito, abrangendo, pois, não a crise simbólica do fim daquele governo como também
da desconstrução discursiva que se seguiu. Além disso, para contextualizar o momento
histórico da eleição de Fernando Collor abordamos, naquilo que foi relevante para o nosso
estudo, o período do regime militar no país.
O estudo do nosso tema evoca precisamente a necessidade de compreender os
mecanismos de poder que conduzem às possibilidades políticas de políticos performáticos,
mas também, o interesse de perceber as suas resistências, os mecanismos de solidariedade
que conseguem perdurar em uma estrutura política, muitas vezes influenciados pela mídia.
Existe uma lacuna de obras historiográficas direcionadas para o enfoque proposto,
uma vez que os estudos sobre Collor de Mello e seu governo pouco trataram da questão sob
o ângulo da nossa interpretação, e nenhum sob o nosso tratamento teórico-metodológico.
Observa-se na produção historiográfica desse período, uma tendência em associar as recentes
transformações no cenário mundial (neoliberalismo, globalização), à entrada abrupta do país
no modelo neoliberal. Entretanto, destacamos, também, uma outra vertente, no campo da
Ciência Política, da Sociologia e da Comunicação Social, que aborda o tema objeto da nossa
pesquisa a partir da campanha eleitoral, com ênfase no padrão midiático-publicitário na
política e, também, alguns que analisam a política como espetáculo mais não a partir da
vertente da performance, que é a nossa opção.
Os contatos e as trocas interdisciplinares entre a História, a Antropologia e a
Sociologia alargaram o campo de estudo do político com novas possibilidades teóricas.
Poder e política passam ao domínio das representações sociais e suas conexões com as
práticas sociais; coloca-se como prioritária a problemática do simbólico: simbolismo, formas
simbólicas, mas, sobretudo, o “poder simbólico”, como em Bourdieu.
8
Alguns dos trabalhos mais relevantes publicados sobre o governo de Collor de Mello
têm raízes na Ciência Política e no Jornalismo.
9
Estes estudos procuram resgatar os
acontecimentos da época dentro de um quadro de mudanças culturais, econômicas e político-
institucionais para lançar luz sobre as iniciativas de modernização política no país. Outro
ponto em comum a esses autores, além de todos serem pesquisadores em suas respectivas
áreas, está no fato de que eles trazem a imprensa para o bojo da análise e, devido a esse traço
em comum com a presente tese aqui os mencionamos. Se, por um lado, esses livros ocupam
um espaço significativo na historiografia do governo Collor de Mello, por outro, carecem de
uma perspectiva original na abordagem histórica.
O caso de profundidade nesse momento específico é o seguinte: país um tanto
tradicional em matéria de trocas internacionais, o Brasil era então muito fechado e regulado,
muito estatizado, com forte intervenção na economia, com educação deficiente, dificultando
“se fazer entender”, do ponto de vista de uma clara proposição de programa de uma
plataforma de governo capaz de mudar o quadro nacional. Assim, qualquer mudança
essencial precisava ser feita sob a liderança de um “homem forte”, em quem o eleitor
pudesse confiar o seu destino. Daí, a feição simbólica escolhida e encarnada por Fernando
Collor de Mello, através de suas ações de performance, para construir artificialmente o
carisma que não possuía de fato.
Collor de Mello assumiu a postura de um “messias” que poderia resolver os
problemas do Brasil pela força da sua personalidade. Essa estratégia se adequava claramente
ao ânimo dos muitos brasileiros que estavam se desiludindo com a volta ao regime
democrático, deficiente na gestão da administração pública, e eram suscetíveis a políticos
que prometiam soluções miraculosas. Ao mesmo tempo, a mensagem neoliberal de Collor de
Mello apelava aos empresários, que procuravam um candidato comprometido com a redução
do papel do Estado na economia.
10
8
Francisco Falcon, “História e Poder”, in Ciro Flamarion Cardoso e Ronaldo Vainfas, Domínios da História.
Ensaios de teoria e metodologia, Rio de Janeiro, Campus, 1997, cap. 3, p. 76.
9
Alberto Tosi Rodrigues, Brasil de Fernando a Fernando: neoliberalismo, corrupção e protesto na política
brasileira de 1989 a 1994, Ijuí, UNIJUÍ, 2000. Celso Melo, Collor – o ator e suas circunstâncias, Novo
Conceito, 2007. Francisco de Oliveira, Collor: a falsificação da ira, Rio de Janeiro, Imago, 1992. Keith S.
Rosenn e Richard Downes (orgs.), Corrupção e reforma política no Brasil: o impacto do impeachment de
Collor, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 2000. Mario Sérgio Conti, Notícias do Planalto: a imprensa e
Fernando Collor, São Paulo, Companhia das Letras, 1999.
10
Thomas Skidmore, op. cit. p. 303.
Esta abordagem remete-nos ao campo do simbólico, ao universo do político, ao
estudo das representações. O governo Collor de Mello procurou trabalhar fortemente o
simbólico: o novo, o forte, o saudável, um Brasil diferente e em mudança, desejando fazer
parte do mundo desenvolvido, tanto pelas “representações” presidenciais como dos aspectos
culturais valorizados: o “sertanejo” na canção, com a música das duplas Chitãozinho e
Xororó, e Leandro e Leonardo; a televisão a cabo, o declínio da mídia impressa, etc...
Ressaltando-se nesta linha de raciocínio como a característica deste governo a
personalização do poder na figura do Presidente.
Profissionalmente elaborados para a publicização midiática, a maioria dos eventos do
governo Collor de Mello polarizavam emoções difusas, e ofereciam, generosamente, a
imagem de um “Brasil Novo”. Tanto a eleição, quanto o governo de Collor de Mello
constituíram-se num marco na política brasileira, porque foi a partir daí que se observa a
crescente influência dos meios de comunicação de massa, em especial o início da era do
sensacionalismo na televisão como método de ação política.
Inegavelmente, a mídia promoveu mudanças na política brasileira, dentre elas a
propaganda centrada nos atributos pessoais, estimulando o personalismo, principalmente
pela aplicação de recursos modernos de propaganda e controle da opinião pública. No caso
de Collor de Mello além de ter contado com a boa vontade da mídia, ele investiu no
marketing político colocando-se como o “caçador de marajás”, como um político jovem,
cheio de energia e coragem para acabar com a corrupção, e resolver os problemas do país,
conforme esperado pelos eleitores na ocasião da campanha presidencial.
Não podemos esquecer de que Collor de Mello, descendente de uma oligarquia
nordestina, dirigia jornal em Maceió e que sua família era dona da repetidora local da TV
Globo. Assim, certamente ele sabia da importância do marketing político e, em virtude disso,
soube planejar a sua imagem. Alberto T. Rodrigues, analisando a eleição de Collor de Mello
para presidente ressalta que, desde 1987, em seu primeiro ano de mandato no governo de
Alagoas, o Instituto Vox Populi de Belo Horizonte, de propriedade de seu amigo de infância
Marcos Antônio Coimbra, levantou dados fundamentais para a montagem do perfil adequado
à candidatura à presidência.
11
E Koifman lembra que, nesta época, o combate aos altos
salários de funcionários públicos estaduais rendeu a Collor de Mello o apelido de “caçador
de marajás”, que viria a ter largo e proveitoso uso na campanha para presidente.
12
11
Alberto Tosi Rodrigues, O Brasil de Fernando a Fernando. Neoliberalismo, corrupção e protesto na política
brasileira de 1989 a 1994. Ijuí: Editora UNIJUÍ, 2000. p. 64.
12
Fábio Koifman (org), Os Presidentes do Brasil, Rio de Janeiro, Editora Estácio de Sá, 2000.
De fato, para uma população extremamente cansada, saturada com uma situação de
hiperinflação e de corrupção do governo anterior, que foi estrategicamente usada no contexto
da disputa presidencial, Collor de Mello, o “caçador de marajás”, concretizava um desejo
coletivo de mudanças. Logo, o poder simbólico de Collor de Mello, construído por
intermédio da mídia, estava assentado numa realidade objetiva. Vislumbramos que Collor de
Mello usou a técnica clássica populista: uso do quadro real para produzir um quadro de
representação simbólica, manipulando o futuro com promessas irrealizáveis. E, para melhor
compreender este cenário que se desenhava no Brasil, é preciso ter presente uma pista dada
por Bourdieu, ao discutir o “poder simbólico”: “as propriedades (objetivamente) simbólicas
(...) podem ser utilizadas estrategicamente em função de interesses materiais e simbólicos do
seu portador”.
13
Assim, penetramos no universo do simbólico no político, que circunscreve o governo
Collor de Mello na cultura política brasileira, tentando compreender determinadas
expressões de uma luta, também simbólica, que foi empreendida e suas repercussões na vida
da população. A nossa análise prende-se aos elementos discursivos e simbólicos, às imagens,
às idiossincrasias semânticas, às representações que, nesta época conduziram a divisão das
elites em “modernas” e “atrasadas” preparando o campo de luta entre as pretensas forças do
bem e do mal, investidas da grandeza mítica.
Admitimos que, a construção de uma imagem pública é indissociável de uma certa
mitificação, na medida em que as representações apresentadas buscam sempre a associação
com conteúdos simbólicos fortes, que possam obter a ressonância pretendida. Podemos,
então, assumir a perspectiva proposta por Girardet: “É de uma narrativa que se trata, e é
preciso interpretar um pouco como o leitor da Chanson de Roland pode ler e interpretar a
narrativa das proezas do herói de Ronevaux, sem ter de obrigatoriamente interrogar-se sobre
a natureza exata do acontecimento histórico que lhe serviu de ponto de partida e suporte”.
14
Assim, podemos dizer que Collor de Mello utilizou-se do palco político para
estabelecer uma relação teatral com povo. Ele fazia o espetáculo, proporcionava o sonho e
conferia a certeza de que este se realizaria. E é neste aspecto que vamos concentrar o nosso
estudo: as representações políticas do governo Collor de Mello a partir da performance do
presidente.
Em verdade, o governo Collor de Mello, enquanto expressão concreta de um plano de
adequação do país às recomendações do Consenso de Washington, tem ao mesmo tempo um
13
Pierre Bourdieu, O poder simbólico, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2003, p. 112.
14
Raoul Girardet, Mitos e mitologias políticas, São Paulo, Companhia das Letras, 1987, p. 66.
suporte objetivo e outro subjetivo que se mesclam numa simbiose que provocou profundas
mudanças no cenário político brasileiro.
A área do nosso projeto é a política e a cultura e, a originalidade da nossa abordagem
não está no material trabalhado, que é de domínio público, mas na perspectiva analítica que
o ilumina. Com o olhar dirigido para a política e a cultura pretendemos colocar em relação
dados dispersos, descobrir entre eles nexos insuspeitos, e combiná-los harmoniosamente
buscando uma interpretação ampla e nova que intriga, interpela e nos fará enxergar com
outros olhos um dos momentos políticos mais importantes da história contemporânea, que
foi o tumultuado governo de Fernando Collor de Mello.
Nesse sentido, elaboramos uma pesquisa sobre o trânsito do governo Collor de Mello
no universo político-cultural do Brasil contemporâneo e, nesta perspectiva o nosso tema
encontra-se inserido na área de concentração do curso, História Política, e na linha de
pesquisa Política e Cultura. René Rémond, em seu estudo sobre a renovação da História
Política, esclarece que o político não tem limites fixos, é abrangente, é o gestor da sociedade.
Assim, por não se fechar sobre si mesmo o político pode estabelecer relações estreitas com o
cultural.
15
Então, concentramo-nos em estudar o governo do presidente Collor de Mello
enquanto um manifesto de mitificação política; procurando avaliar o quanto este governo
operou no simbolismo político brasileiro, a ponto de deixar rastros importantes na cultura,
sobretudo a de massa, procurando delinear as representações postas em prática pelo sistema
produtor de símbolos, indagando a respeito das origens de sua força no jogo político.
Assim sendo, a nossa tarefa compreendeu antes, o estudo das manifestações
simbólicas e suas “sinalizações”, sobretudo as midiáticas; depois, o confronto desse modelo
simbólico instalado no poder contra os dos oponentes. Importante foi investigar, também, o
confronto no “mercado simbólico” brasileiro bem como a derrocada do modelo simbólico
pretendente, procurando entender os motivos reais e concretos da falha do modelo
pretendido. Estas sinalizações midiáticas compreendem um extenso percurso que começa na
produção simbólica e alcança o consumo no mercado simbólico vigente naquele lapso
temporal, constituindo-se aqui em bem simbólico. As falas, as imagens de Collor de Mello
sinalizavam as representações de um governo que assim se queria conhecido e aceito pelos
brasileiros. Se o governo Collor, pela manipulação simbólica, pelo menos, se reserva um
recorte especial na história cultural e política brasileira, há de convir que bem cabe na
15
René Rémond, Por uma história política, Rio de Janeiro, UFRJ, FGV, 1996.
sentença de Bourdieu que diz “o mercado dos bens simbólicos tem as suas leis, que não são
as da comunicação universal entre sujeitos universais (....)”.
16
A abordagem que orienta a presente tese de doutorado fundamenta-se no quadro
teórico-metodológico que privilegia elementos da história política, da história cultural e da
teoria do discurso, para que possamos realizar a análise das falas e demais fragmentos
simbólicos.
Entretanto, a reflexão teórica que fundamenta a nossa análise está apoiada no estudo
elaborado, especificamente para a nossa tese, pelo Professor Orlando de Barros, que deu
origem ao texto intitulado “A Performance: em busca de uma metodologia”, que nos mostra
o caminho a percorrer.
17
“Tendo, pois, a cultura hodierna se convertido numa civilização
predominantemente mimética, é de esperar que não a cultura material se
organize basicamente pelo princípio da performance, assim como
performática deve ser a orientação de boa parte das ações sociais, inclusive
aquelas relativas à ordem do poder. Assim, a performance converteu-se em
chave para o entendimento do mundo hodierno”.
18
O princípio da performance e, conseqüentemente, as ações performáticas estiveram
presentes na maioria dos acontecimentos do final do século 20, principalmente para
naturalizar os novos temas como a globalização e o neoliberalismo que modificaram a face
do Estado, uma vez que, muitas vezes, as políticas externas e internas influenciam-se
mutuamente. O avanço tecnológico, com a divulgação quase que imediata dos
acontecimentos contribuiu para que os mesmos tomassem a feição de espetáculos e por que
não dizer, fruto de ações performáticas.
A opção por este suporte teórico para orientar a nossa análise prende-se a sua
aplicação direta ao nosso problema: a fabricação de uma candidatura com a construção de
uma imagem nova e uma história nova porque “prometendo virtudes e linhas ideológicas de
interesse público, muitas vezes, colidentes com os interesses publicitários, boa parte da
performance consiste em despistar as vinculações efetivas do passado, construindo no
noticiário e nos editoriais uma face sobre a outra”.
19
O percurso político de Fernando Collor de Mello, a sua eleição para presidente e seu
curto período no governo do país, insere-se neste período de transformações do final do
século 20 e, também, ele utilizou os recursos disponíveis na recém convertida “civilização
16
Pierre Bourdieu., op. cit. p.129.
17
Orlando de Barros, op. cit.
18
Idem, p.1.
19
Idem, p.11.
mimética”, para atingir o mais alto posto de representação política do país. Barros lembra
que na “civilização mimética”, a performance se atém ao campo da representação e
caracteriza-se por uma mediação entre atuantes, que operam por meio da ação sedutora, e o
público.
20
A nossa primeira preocupação é esclarecer o conceito de performance que é bastante
polissêmico, ou seja, tem vários significados, segundo diferentes autores como nos adverte
Barros no início de seu trabalho, com muita propriedade, como “uma palavra
performática”.
21
Esta palavra de sentido variado aparece relacionada aos mais diversos
campos do conhecimento como a economia, a tecnologia, a linguística, a história, e as artes,
dentre outros. Em qualquer caso, porém, Barros destaca que ela subentende alguns
significados, que servirão de marcos para a nossa análise, como “a execução de uma ação
que se espera seja realizada em atendimento a dada prescrição, em conformidade com
determinado índice reconhecível de marcas balizadoras” e, também, conforme sua natureza
“sua presença pode ser esotérica, xamânica, provocadora, pedagógica, instigadora, protesto
político, paródia, farsa e divertimento”.
22
É interessante apontar que essa palavra tem
inevitavelmente duas conotações: a de uma presença física e a de um espetáculo, no sentido
de algo para ser visto.
Desvendando as idéias de Debord,
23
apresentadas em seu livro A sociedade do
espetáculo, no qual ele assevera que nas sociedades onde passaram a dominar as condições
modernas de produção, instalou-se uma total “acumulação de espetáculos”, Barros esclarece
que Debord não concebe “espetáculo” como um simples conjunto de imagens e
representações, mas uma relação social, mediada por imagens, convertendo-se numa visão
de mundo, todavia objetivada e operacional”.
24
Pensando a performance no mundo hodierno, onde mito, espetáculo e poder estão
intimamente ligados, ressalta Orlando de Barros em sua análise das três formas de poder,
elencadas por Debord no livro A sociedade do espetáculo.
25
A primeira, o concentrado,
consistia numa condensação ideológica em torno de um líder; a segunda encontrou sua
gestão modular na democracia americana; e a terceira, constituída pela combinação dos dois
anteriores combina cinco aspectos principais: a incessante renovação tecnológica, a fusão
econômico-estatal, o segredo generalizado, a mentira sem contestação e o presente perpétuo.
20
Orlando de Barros, op. cit. p.8.
21
Idem, p.1.
22
Idem, pp.3 e 5.
23
Guy Debord, A sociedade do espetáculo, Rio de Janeiro, Contraponto, 1997, passim.
24
Orlando de Barros, op. cit. p.1.
25
Idem, pp. 6-7.
A progressão da sociedade do espetáculo alcançou nessa fase de integração as sociedades
periféricas. Nesta fase o centro emulador ocultou-se, sendo desnecessário dar a conhecer o
chefe e a expressão por meio de uma ideologia clara. E o motivo de ser tão difuso foi que
nunca o espetacular influíra tanto nos comportamentos e nos bens produzidos como agora,
integrando-se à realidade enquanto falava dela, deixando de ser simples representações. Não
demorou a instalar-se de modo autoritário dando azo ao desenvolvimento das constelações
midiáticas. A falsificação e a manipulação passaram a dominar o espetáculo, sendo senhor
das lembranças, assim como os projetos que modelam o porvir.
A performance é dominada pelo espírito do desempenho e do espetáculo. Assim, o
Estado espetáculo e a performance estão intimamente relacionados e, concorrer às eleições
presidenciais, e exercer o mais alto cargo do país envolvem ações inegavelmente
performáticas e é um dos campos por excelência onde se pode aplicar tal conceito.
De um ponto de vista teórico, ao atualizar a função mediadora do corpo, as
performances remetem a numerosas cerimônias primitivas e, em particular, à magia. O mago
tribal usava seu corpo ritualmente com os objetivos mais diversos; a devoção da comunidade
e o encantamento das ações do bruxo estavam a serviço não de fins práticos; muitas destas
cerimônias tinham por meta tornar coerente o grupo e o estabelecimento de normas de
comportamento. Os magos de hoje, através da herança que a arte resgatava das culturas
ancestrais, oferecem espetáculos que se diferem dos demais por abrir possibilidades de se
vislumbrar novos horizontes, que sempre se relacionaram com a criatividade e com a certeza
de estarmos diante de um processo de câmbio e mutação, superador do estatismo das
convenções sociais. Na repetição cerimonial existe um simbolismo mágico-mítico, o da
preservação de um certo estado de ordem frente à ameaça do caos bíblico, o Apocalipse, ou o
caos energético, por exemplo.
26
Na performance uma acentuação muito maior do instante presente, do momento da
ação. Isto cria a situação do rito. A performance tem também uma característica de
espetáculo, de show, e seu caráter é muitas vezes efêmero. Barros lembra que na performance
dizer algo é fazer algo e que isto de ser considerado em termos de eficácia, de seu êxito ou
fracasso e dos efeitos que produza. A performance inclui termos que corriqueiramente se
utilizam como seus sinônimos: teatralidade, ação e representação, embora não possa reduzir-
26
Antonio Albino Canelas Rubim, “A espetacularização e midiatização da política”, in Antonio Albino Canelas
Rubim (org), Comunicação e Política: conceitos e abordagens, Salvador, Edufba, 2004, pp.193-4.
se a eles. Podemos considerar a performance e o performativo como co-participantes na
construção da realidade, ainda que efêmera.
27
Desse modo, o espetáculo instala uma relação de poder. E o poder, muitas vezes,
afirma-se como e através da produção de espetáculos. O caráter necessariamente público
desse ato deve ser reivindicado de imediato. Para chamar a atenção e prender o olhar, o
evento visa a conquistar pessoas e para isso deve realizar-se publicamente. Mais que isto, a
magnitude reivindicada e, muitas vezes, alcançada pelo evento espetacular requer a sua
localização em um lugar, geográfico ou virtual, necessariamente público.
28
O espetáculo remete também à esfera do sensacional, do surpreendente, do
excepcional, do extraordinário. Daquilo que contrapõe o naturalizado ao ordinário, e supera o
dia a dia. A instalação, no âmbito do extraordinário, potencializa a atenção e o caráter público
do ato ou evento espetacular. A ruptura com a vida ordinária, condição de existência do
espetáculo pode ser produzida pelo acionamento de inúmeros expedientes, em geral, de modo
intencional, mas, em alguns horizontes, até mesmo de maneira não prevista. A produção do
extraordinário acontece, quase sempre, pelo acionamento do maravilhoso, de um grandioso
que encanta, que atrai e que seduz os sentidos e o público.
29
Esse maravilhamento produz-se pelo exacerbamento de dimensões constitutivas do ato
ou evento, da dramaticidade de sua trama e de seu enredo, através de apelos e dispositivos
plástico-estéticos relativos ao registro da visão mais, também, aos sonoros em menor grau. A
plasticidade visual, componente essencial, e a sonoridade tornam-se vitais: os movimentos, os
gestos, os corpos, as expressões corporais e faciais, o vestuário, os cenários, a sonoridade, as
palavras, as pronúncias, as performances; enfim, todo esse conjunto de elementos e outros
não enunciados têm relevante incidência na atração da atenção, na realização do caráter
público e na produção das simbologias e dos sentidos pretendidos com o espetáculo.
30
A associação entre política e imagem traz à tona a idéia do carisma weberiano, que
pode ser pensado na perspectiva contemporânea de dominações no campo da política, da
economia, das dias. O carisma em Weber é um conceito fundador, situado como um dos
três tipos “puros de dominação legítima” que podem ser de caráter racional, tradicional ou
carismático. A chamada “autoridade carismática” de Weber se sustenta por “razões de
confiança pessoal na revelação, heroicidade, exemplaridade, dentro do círculo no qual a e
seu carisma tenham validez”. As relações entre poderes políticos, econômicos e midiáticos,
27
Orlando de Barros, op. cit.
28
Antonio Albino Canelas Rubim, op.cit.
29
Idem.
30
Idem.
assim como a celebração da aparência, reduziram o carisma à capacidade de convencimento.
Esta capacidade pode ser fabricada com todo o aparato tecnológico e lingüístico disponível
para os exercícios da política. Por outro lado, a intervenção da dia será determinante na
configuração deste carisma.
31
Na performance está implícita a idéia da presença de um corpo no qual se inscreve
uma rede de informações percebidas em uma situação dada. Considerando a performance
uma linguagem, Orlando de Barros ressalta a importância do corpo nas situações
performáticas a partir da aproximação entre jogo e performance nas idéias de energia vital,
força corpórea, resistência, arrojo e tenacidade. Ele descreve duas situações que são
adequadas para o nosso estudo.
32
A primeira refere-se ao domínio do corpo no espaço, a exploração de suas
potencialidades sedutoras e de domínio, que tem sido elementos políticos usados para
provocar adesão, como catalisador de vontades. Ele lembra que numa época de crise, tensões
e incertezas, um líder que, nos tempos atuais, mostrar-se esportista, ecológico, arrojado, tem
grandes chances de arrebatar multidões, sobretudo se seu corpo preencher os padrões de
beleza dominantes, dotado dos elementos estéticos valorizados.
A segunda destaca que o corpo na performance alcança uma posição central como
elemento de análise, não pelo que quer dizer ou a que alude, com suas polissêmicas
significações ao querer sempre representar, que acaba por impor certa transmutação
corpórea, conjurando forças sobrenaturais. Ele evidencia que a atividade xamânica, que tem
tal perfil, é toda performática, em seu recorte de gestual enérgico, no afã de atrelar forças
invisíveis e incomuns para a consecução das necessidades coletivas, o que ocorre numa
inequívoca relação de poder. Não raro contém os elementos comunicacionais essenciais para
a fabricação de mitos.
Na performance o corpo apresenta-se composto de sentidos e de formas e é
empregado como um instrumento de comunicação. E, além disso, ele transmite mensagens
através de seus movimentos, seus gestos e suas ações. Para construir a sua imagem de
presidente e da presidência, de fato Collor de Mello utilizou-se com muita propriedade do
corpo nas situações descritas por Barros. Convém ressaltar, que seu corpo jovem, atlético, e
de boa aparência, dentro dos padrões estéticos valorizados, muito contribuiu para o seu breve
“êxito”.
31
Maria Helena Weber, “Imagem pública”, in Antonio Albino Canelas Rubim (org), Comunicação e Política:
conceitos e abordagens, Salvador, Edufba, 2004, p.270.
32
Orlando de Barros, op. cit. p.15.
Também nesta linha de estudo sobre a utilização do corpo na performance, Siqueira
assevera que é um aspecto significativo da sociedade pós-moderna, com repercussões em
todos os aspectos de nossa vida. Ele assevera que, em decorrência desta prioridade, temos
uma cultura da performance, que intrínseca à etapa multinacional do capitalismo, e
juntamente com o produtivismo e a lucratividade, está associada à competição e diz respeito
à obsessão, que vai da modelação do corpo, aos índices de todos os tipos: produção, venda,
audiência, e outros.
33
Este breve texto de Siqueira prende-se ao estudo da performance relacionada aos
elementos chaves do capitalismo, produtividade e lucro, e aí a performance está intimamente
ligada à competição. O fato deste texto se limitar a estudar um determinado aspecto da
performance prejudica um entendimento mais abrangente e profundo da performance.
Ainda sobre a valorização do corpo, Lopes aponta que o uso da idéia-força de
performance nas análises de história da cultura permite um olhar novo sobre certos
fenômenos que já foram esquadrinhados através de prismas diversos. Em cada situação
histórica concreta, indivíduos e grupos projetam anseios, marcam posições e constroem
imagens de si e da sociedade envolvente através de formas pelas quais se apresentam e
atuam publicamente, dentro de estruturas mais ou menos ritualizadas. O uso de linguagens
corporais, técnicas retóricas, expressões faciais, manipulação de emoções, regras de
procedimento coletivo, decoração visual do corpo e do espaço, para citar alguns
elementos performáticos, em manifestações públicas contribuem para a construção de
identidades coletivas que ao mesmo tempo refletem e influenciam o curso dos eventos.
34
A referência a estes dois textos que estudam a performance relacionada e limitada a
aspectos específicos do mundo hodierno mostra a dificuldade que tivemos para encontrar um
estudo abrangente e profundo sobre a performance que nos possibilitasse realizar a análise
teórica-metodológica do presente tema.
Espetáculo e performance estão intimamente ligados à representação política que
uma sociedade faz de si mesmo, através dos meios de comunicação. E, para servir de apoio à
nossa análise optamos pelo estudo que Jeannenay realiza sobre a mídia no âmbito da história
política renovada, a partir da seguinte questão: “qual é a influência da mídia sobre a opinião
pública e quais são os meios de que o Estado, os governantes, os partidos políticos, os
grupos de pressão dispõem para pressionar a imprensa escrita, falada ou televisiva e, através
33
Holgonsi Soares Gonçalves Siqueira, “A performance sob uma lógica tecnicista”, in Jornal A Razão,
01/06/2000.
34
Antonio Herculano Lopes, Performance e História, Textos de Trabalho 6, Rio de Janeiro, Fundação Casa Rui
Barbosa, 1994.
dela, a opinião pública”.
35
Procurando esclarecer esta interrogação ele apresenta, no seu
texto, duas abordagens possíveis e complementares. A primeira refere-se à imprensa escrita e
consiste em tentar conhecer a origem do dinheiro que a sustenta; e a segunda consiste em
ver, em casos precisos, como funcionam as influências como, por exemplo, na televisão, o
nascimento, a vida e a morte dos programas, a nomeação e o afastamento dos diretores.
36
Mais adiante, em seu texto, Jeannenay assinala que existe uma influência específica
da televisão na vida política, influência esta que escapa à nossa percepção, pois ela foge ao
mesmo tempo ao imediato e ao intencional: é aquela que o poder dos microfones e das
câmaras exerce sobre o modo de expressão dos atores. E complementa ressaltando que a
eloqüência dos políticos foi, com certeza, modificada por isso, como: a forma, a expressão, o
vocabulário, a sintaxe, e também, seu gestual, sua maneira de se vestir e de se mover.
37
Entretanto, Jeannenay deixa de reparar que a televisão, ao mostrar o corpo em movimento,
faz um perfeito simulacro do real. É quase como o corpo presente.
A partir do prisma dos produtores da informação, e observando as relações da mídia
com o poder, Jeannenay lembra que as paixões, os impulsos, as motivações morais, e até
mesmo os desinteresses influenciam este relacionamento. Para apreender o meio em seu
conjunto ele sugere prestar atenção nos vínculos múltiplos que aproximam ou afastam os
protagonistas deste jogo de trocas. Já o produto, ou melhor, a notícia, passa por um processo
de elaboração, de difusão, depois de extinção da informação. Ele lembra que, a cada dia os
meios de comunicação se recopiam em círculo segundo um processo freqüentemente
assinalado e, seria preciso multiplicar as análises de notícias particulares, que têm todas,
ritmo próprio, sua vida e sua morte, e que só se explicam uma em relação às outras.
38
A nossa primeira preocupação será entender o discurso, suas propriedades e, as
possibilidades como resultado de análise e síntese. Diana L. P. Barros sugere que
comecemos por identificar o elemento comum nas diversas dimensões discursivas que,
segundo ela, é representado pela enunciação e condições de produção do discurso.
39
Estudando a enunciação no discurso da imprensa escrita, o renomado estudioso das
propriedades das mídias impressas, Véron destaca que o discurso não produz apenas um
efeito e sim um “campo de efeito de sentido”. Na sua perspectiva o dispositivo de
enunciação comporta: 1) o enunciador que é a imagem do que fala; 2) o destinatário que é a
35
Jean-Noël Jeannenay, “A Mídia”, in René Remond, Por uma história política, Rio de Janeiro, EDUERJ,
Fundação Getúlio Vargas, 1996, pp. 213-30.
36
Idem, pp. 218-20.
37
Idem, p. 221.
38
Idem, p. 223.
39
Diana L.P. Barros, Teoria do discurso: fundamentos semióticos, São Paulo, Atual, 1988.
imagem daquele a quem o discurso é endereçado; e 3) a relação entre o enunciador e o
destinatário que é proposto pelo discurso.
40
Na sua abordagem, Véron distingue o emissor “real” do enunciador, e o receptor
“real“ do destinatário destacando, também, que enunciador e destinatário são duas entidades
discursivas. Para ele, essa dupla distinção é fundamental porque o mesmo emissor poderá,
em discursos diferentes, construir enunciados diferentes; ao mesmo tempo ele construirá a
cada vez, diferentemente, seu destinatário. Outro item importante para Véron é a distinção
entre enunciação e enunciado, porque um mesmo conteúdo pode ser enquadrado por
modalidades de enunciação bastante diferentes.
Este conceito de “campo de efeito de sentido”, concebido por Véron a partir da visão
da economia clássica na qual uma seqüência integrada entre a produção, a circulação, a
distribuição e o consumo de bens, permite estabelecer a existência de um mercado
simbólico.
Para a análise dos discursos, das falas, considerando a importância de sua dimensão
histórica, e incorporando os elementos da enunciação e as condições de produção utilizamos
o quadro teórico-metodológico do Professor Orlando de Barros que incorpora elementos de
diversas teorias de análise do discurso, procurando tornar operacional o arsenal teórico
disponível para os enfrentamentos usuais das tarefas do historiador.
41
Na sua perspectiva, o primeiro momento é dedicado a uma análise preliminar que
identifica:
“1) o nosso local que é o patamar da fala e do discurso; 2) a nossa
qualidade que é o da ideologia que contém três versões básicas: a) como falsa
consciência (na tradição marxista), b) como visão do mundo; c) como
consciência crítica e libertária (da classe operária); 3) reparar a máxima
peirceana: “dizer é fazer”, bem como sua continuidade barthesiana-
veroniana: “ler-e escrever-é fazer”, isto é, o texto expressa vontades,
pensamentos e ações sociais; 4) proposta decorrente do ítem anterior:
conjunção de fala/discurso em político-ideológico # esquema clássico: poder,
fazer, saber; 5) por fim o documento encerra representação, teatralização,
performance”.
42
Após a identificação preliminar do documento, o Professor Orlando de Barros sugere
um percurso para a análise do discurso considerando as seguintes colocações:
40
Eliséo Véron, Quand lire c´est faire: l´enonciation dans le discourse de la presse écrite, Semiotique II, Paris,
IREP, 1983 e A produção de sentido, São Paulo, Cultrix-USP, 1980, apud Orlando de Barros, Custódio
Mesquita: um compositor romântico no tempo de Vargas (1930-45), Rio de Janeiro, Funarte, EdUERJ, 2001, pp.
24 -5 e 42.
41
Orlando de Barros, O texto “documento” para o historiador atento, Rio de Janeiro, Mestrado História Política
– UERJ, 1998 e A propósito de um texto que publicamos em ensaio, Rio de Janeiro, Mestrado História Política –
UERJ, 1996.
42
Idem.
“1) O texto é uma construção; a extração do sentido impõe uma
desconstrução, isto é, a decomposição de temas, argumentos, manipulações,
objetivando a avaliação do poder e dos interesses correlatos. A desconstrução
é, rigorosamente uma posição crítica, é uma posição de denúncia (Derrida).
2) O texto possui uma teoria econômica equivalente à visão clássica
da economia: a produção, a circulação, a distribuição e o consumo, em todas
as suas implicações. (Barthes, Veron)
3) O texto é um espetáculo, reinvidica um território que lhe é
próprio, no qual exerce suas propriedades. (Deleuze)
4) O produtor do discurso produz o referente do discurso. (Lyotard)
5) O texto é território dos jogos da libido, com sua distribuição de
afeições, com seu eixo de valores eufóricos e disfóricos, que remetem a
conotações profundas relativas à vida e à existência. (Lyotard)
6) Um aspecto importante do texto é sua teatralização, sua
performance (Mc Lean), ele contém invariavelmente uma mis-en-scéne
retórica e metafórica que deforma o sentido em proveito ideológico.
(Lyotard, Mc Lean)
7) O texto é um manipulador de objeto, quando o sistema dos
objetos não constitui um texto em si mesmo. (Baudrillard)
8) O aspecto desviante e deformador do sentido em um texto não
raro tem função produtora de simulacros, propondo simulações para livrar
responsabilidades sociais ou gerar “cortinas” à revelação crítica.
(Baudrillard)
9) O ser humano é um signo porque é a sua fala. (Lacan)
10) O efeito especular: toda comunicação envolve modulação,
porque os atuantes procuram imprimir no outro a visão que eles querem que
os outros tenham dele (assertiva clássica, a partir de Hjelmslev)”.
43
Com esta metodologia aplicada ao nosso objeto, tentamos estabelecer, através da
análise das falas do Presidente, e das notícias veiculadas na dia: a) o quanto de ideação
elas contém; b) se faltou sentido prático, nessas falas, e se elas revelam isso; c) se as falas
foram ingênuas ou fortuitas, não considerando as dificuldades históricas (contenciosos do
passado, perfeita avaliação do perfil econômico do país, perfeita avaliação dos sistemas
tributários, legislativos e de contabilidade nacionais, o perfil dos interesses dos empresários,
o sistema social, e os aspectos culturais); d) o interesse dos segmentos nacionais (políticos,
empresários, militares).
Nesse sentido, discutimos a representação política e a performance de Fernando
Collor de Mello e de seu governo, aplicando uma nova dimensão compreensiva que,
acreditamos, auxiliará o entendimento desse período da nossa História.
Fernando Collor de Mello funcionava como uma espécie de xamã, um catalizador,
um mestre de cerimônias do ritual e, numa abordagem preliminar, admitimos que os
espetáculos presidenciais de Collor de Mello eram uma grande representação para justificar
43
Orlando de Barros, O texto “documento” para o historiador atento, op. cit. e A propósito de um texto que
publicamos em ensaio, op. cit.
o poder, e propomo-nos a investigar se o governo do presidente Collor constituiu-se num
mito político. Para esta análise buscaremos apoio nas concepções de Barthes
44
e Girardet.
45
Barthes tece um ensaio teórico-metodológico sobre o mito como texto privilegiado na
decifração dos modos de produção social de significação a partir de um material variado de
capas de revistas, fotos, anúncios publicitários e reportagens de jornais, dentre outros. Para
ele o mito é uma mensagem, uma fala, uma comunicação e, também, é um simulacro que se
institui para conformar, para naturalizar. De acordo com Barthes o mito não esconde nada,
tem como função deformar, não fazer desaparecer é uma narrativa de caráter ideológico,
distorcido.
Girardet desenvolve uma análise sobre as construções míticas específicas ao campo
da política demarcando três concepções: a) narrativa com valor eminentemente explicativo;
b) ilusão, mistificação; c) conjunto de imagens motrizes que acionam energias de
excepcional potência (apontada por Sorel).
Comentando o mito do líder salvador e providencial, Girardet fala de uma figura
napoleônica que, como Collor de Mello, não traz consigo os símbolos do poder ou da justiça,
mas antes os símbolos da guerra, sinais do enfrentamento da ordem estabelecida, um homem
que “apodera-se das multidões, que subjuga”.
“A legitimidade de seu poder não provém do passado, não depende
do fervor da lembrança; inscreve-se no brilho da ação imediata. O gesto do
seu braço não é símbolo de proteção, mas convite à partida, sinal de aventura.
Ele atravessa a história como um raio fulgurante. Herói da juventude e do
movimento, sua impetuosidade chega a ponto de domar a natureza; transpõe
as montanhas, atravessa os desertos, salta por cima dos rios...Esse é bem o
lugar que ocupa, nesse imenso complexo mitológico que a lenda napoleônica
representa, a imagem do jovem Bonaparte, a do vencedor das duas
campanhas da Itália, de 1795 e de 1800”.
46
Ainda na condição de candidato, Collor criou as condições políticas para,
posteriormente, no governo, assumir uma espécie de postura bonapartista que marcou boa
parte de seu breve mandato. Para isso, desde logo, e aproveitando-se da crise econômico-
social, apresentou-se como um outsider do empresariado, das associações sindicais, da
política e dos partidos políticos. Em contrapartida dizia-se comprometido com o povo em
geral, os descamisados, considerando-se um guardião e juiz da sociedade, acima dos
interesses particulares e corporativos dos diversos grupos sociais.
44
Roland Barthes, op. cit.
45
Raoul Girardet, op. cit. pp.12-3.
46
Idem, p.75.
Uma vez no governo, Collor, sob o argumento de que havia sido eleito
democraticamente, radicalizou a sua postura de intransigência, avessa a qualquer tipo de
entendimento. Na época, alguém disse que o argumento de ter sido eleito democraticamente
soava como uma autorização para que não procedesse democraticamente. Decretou e
conduziu um plano de estabilização de forma extremamente autoritária, sem qualquer tipo de
negociação com os setores organizados da sociedade, com os quais entrou em conflito desde
a campanha eleitoral. Coerente com sua postura bonapartista, governou, fundamentalmente,
através de medidas provisórias e desqualificou, sistematicamente, os poderes legislativo e
judiciário.
Enquanto os velhos reclames enalteciam as pretensas qualidades do produto, isto é,
procuravam estimular racionalmente o comprador potencial, os anúncios modernos buscam
associar o produto a valores abstratos que, presume-se, são ambicionados pelo público:
juventude, riqueza, sucesso, disponibilidade sexual, tudo o que cabe na vagueza da palavra
“status”. Esta é uma característica do mito, conforme salienta Barthes a substituição da
persuasão pela sugestão.
47
Collor de Mello, assessorado por especialistas em marketing,
buscou criar para si uma imagem associada a esses valores abstratos a partir de uma
performance direcionada nesse sentido.
Em torno da performance de Fernando Collor combinam-se duas das quatro
constelações da mitologia política descritas por Girardet: o Salvador e a Conspiração.
48
Vestia, assim, a fantasia de Salvador da Pátria, essa figura chave dos mitos políticos: o
homem dotado de qualidades excepcionais, capaz de conjurar o mal, que a fortuna apresenta
ao país no momento apropriado. Collor se apresentava como a única solução, para os
problemas do Brasil, contra quem se uniam os maus patriotas. Propôs reconstruir a nação. O
chamamento messiânico do nome é evidente. O discurso do Salvador da Pátria enfatiza muito
mais, é claro, a excepcionalidade dos atributos do líder: ele é o “único” capaz de remediar a
situação. Também tende a exagerar a gravidade da situação que exige a presença do homem
providencial.
A constelação da Conspiração ou do Complô abrange todo um conjunto de narrativas
cuja função é identificar a lógica do mal, acionada por personagens sombrios, demoníacos que
estendem sua rede de manipulação para conservar o poder destrutivo de uma coletividade. A
visão conspiratória das elites para manter em proveito próprio a situação política-econômica
vigente tem sua imagem reforçada na teia de cumplicidade que as une ao poder central.
47
Roland Barthes, op. cit. p.66.
48
Raoul Girardet, op. cit. pp.25-96.
Como assinala Girardet a denúncia do complô maléfico é sempre seguida do apelo ao
Salvador, ao Redentor “a quem se acha reservada a tarefa de livrar a cidade das forças
perniciosas que pretendem estender sobre ela sua dominação”.
49
Collor é, portanto, muito
mais que um candidato à presidência da República ou o presidente da República, ele é a
materialização da imagem mítica da ruptura com os grilhões do passado, anúncio de um novo
tempo na política. O slogan da mudança é um incitamento à participação na grande batalha.
O discurso de Fernando Collor de Mello tanto em campanha eleitoral quanto como
presidente construiu-se em torno de uma série de conceitos: modernização, integração,
igualdade, democracia, soberania, etc... A propósito de uma situação assemelhada, assinala
Bourdieu que,
“o que seria um discurso irresponsável na boca de qualquer um é
uma previsão razoável na boca de outro. As expressões políticas, programas,
promessas, previsões ou prognósticos nunca são verificáveis ou falsificáveis
logicamente; elas não são verdadeiras senão na medida em que aquele que as
enuncia (por sua conta ou em nome de um grupo) é capaz de as tornar
historicamente verdadeiras, fazendo-as advir na história e isto depende ao
mesmo tempo da sua aptidão para apreciar de maneira realista as
probabilidades de êxito da ação destinadas a pô-las em ato e das suas
capacidades para mobilizar as forças necessárias para o fazer, ao conseguir
inspirar a confiança na sua própria veracidade e, portanto, nas suas
probabilidades de êxito”.
50
Esta reflexão de Bourdieu retratou com muita propriedade em muitos aspectos o
discurso de Fernando Collor de Mello. De início, suas promessas, seus programas e suas
previsões para o país foram aceitas como necessárias e razoáveis, entretanto, a medida que o
tempo avançou, ele mostrou-se incapaz torná-las realidade e o seu discurso transformou-se
de uma “previsão razoável” para um discurso “irresponsável”. É a partir dessa relação
dialética de um discurso que se constituiu numa prática social e, de uma prática social que,
ao mesmo tempo, construiu o discurso, é que buscamos criar a nossa narrativa.
A nossa opção pela análise do discurso deve-se ao fato de que o estudo da linguagem
política de forma contextualizada mostra o aspecto dinâmico e o modo como são produzidas
as idéias políticas em determinado momento histórico.
51
E, também, porque é o cerne da
representação e a raiz de todos os signos e símbolos.
Teatro e política estão intimamente ligados e pertencem ao mundo do espetáculo.
Ambos tratam, de certa forma, de arte: arte dramática e arte política. A hierarquia política
lembra-nos a hierarquia do espetáculo teatral: as figuras em cartaz, os atores principais, os
49
Raoul Girardet, op. cit. p.63
50
Idem, p.186.
51
Anthony Pagden. “Introduction”, in The languages of political theory in early modern Europe. CUP, 1990.
atores coadjuvantes num cenário específico. Além disso, tanto o repertório dramático como o
repertório político, oferecem uma grande variedade de papéis para os atores comporem seus
personagens: herói, esportista, defensor dos oprimidos, líder, vilão, etc. Como se sabe,
pessoa vem do latim personna, que significa máscara de teatro. E, na personalização do
poder existe algo de teatral e a teatralização da vida pública é plena de simulação. A política
se transforma num teatro de ilusão que engana esse espectador, aliando-o a um ídolo e,
distraindo-o dos problemas reais através da contemplação fascinante de um monstro sagrado
a exibir emoções por vezes sinceras, freqüentemente fictícias, e sempre egocêntricas.
52
O uso generalizado e recorrente de fotografias pelo presidente Collor de Mello,
sugere a existência de uma relação entre os interesses do governo e as imagens, na produção
de representações. Observamos que, durante o governo Collor de Mello, as diversas imagens
estão articuladas como se formassem um percurso, uma seqüência da qual pretendemos
extrair um significado, uma história. Bem a propósito Barthes escreveu que “a imagem
transforma-se numa escrita, a partir do momento em que é significativa: como a escrita ela
exige uma lexis”.
53
Referenciado-nos nesse entendimento é possível tomarmos uma imagem
(foto) como uma fala, uma linguagem.
Também, estudando as imagens como fontes históricas, Burke ressalta que “as
imagens registram atos de testemunho ocular e, assim como os textos constituem-se numa
forma importante de evidência histórica”.
54
Ele acrescenta que as imagens oferecem
evidências particularmente valiosas apesar de, muitas vezes, serem ambíguas ou
polissêmicas.
55
As fotografias atestam o estilo espetaculoso de Collor de Mello exercer o poder. As
corridas, o futebol, o vôlei, o vôo num avião de guerra supersônico, o mergulho num
submarino, a ida ao supermercado, a subida e a descida diárias da rampa do Palácio do
Planalto, acompanhado de gente famosa, e o comparecimento à Caixa Econômica Federal
para abrir uma caderneta de poupança, dentre outros, podem ser considerados como os
espetáculos presidenciais que operam em direção a dois objetivos: um é a própria
personalidade do presidente, no caso de suas práticas esportivas; outro enfatiza certas
políticas de governo, no caso da abertura da caderneta de poupança o presidente demonstrou
sua confiança pessoal, num instrumento considerado importante para sua estratégia
52
Roger-Gerard Schwartzenberg, O Estado Espetáculo. Rio de Janeiro – São Paulo, 1978.
53
Roland Barthes, op. cit. p.132.
54
Peter Burke, Testemunha Ocular: história e imagem, Bauru, EDUSC, 2004, p.17.
55
Idem, pp.233-4.
econômica naquele momento de retração dos investidores, causado por sua política
econômica.
Podemos admitir que os efeitos da presidência-espetáculo são o culto à
personalidade, com a presença física da autoridade no centro da vida do país, e a
demonstração de que os espetáculos presidenciais são um substitutivo a recursos mais
institucionais de fazer política.
O sistema de estrelato analisado por Sennet caracteriza-se, no âmbito da política, por
um funcionamento gravitacional em torno de personagens astros. Sennet ressalta a dimensão
cênica da exposição da personalidade como constitutiva do regime do estrelato político e
esclarece: “Aquilo que é crível a respeito de um político são as suas motivações, seus
sentimentos, sua integridade (......). Em termos de estrutura social existe uma conexão entre
política e as artes hoje, que é diretamente criada pela cultura da personalidade (.....). De
maneira perversa trata-se da procura por um herói acreditável dados os termos modernos da
personalidade”.
56
Considerando que a construção de imagens públicas é indissociável de uma certa
mitificação, na medida em que as representações apresentadas buscam sempre a associação
com conteúdos simbólicos fortes, que possam obter a ressonância pretendida, destacamos a
análise de Burke que ressalta a complexidade do processo de construção de imagens: “Os
personagens, sejam heróis ou vilões, ganham sempre dimensões maiores que na vida. Cada
história se situa no ponto de intersecção entre o arquétipo e uma conjuntura, entre imagens
herdadas e acontecimentos específicos, individuais”.
57
Assim, no nosso estudo sobre o governo Collor, pretendemos articular a dimensão do
imaginário político à dimensão estrutural da lógica econômico-política, para melhor resgatar
o seu significado histórico. É um esforço para fugir das análises unilaterais, fugir dos
equívocos analíticos para os quais nos alerta Bourdieu: “trata-se de escapar à alternativa do
registro desmistificador dos critérios objetivos e da ratificação mistificada e mistificadora
das representações e das vontades para se manter junto o que está junto na realidade”.
58
Na realidade é uma busca de ampliação do olhar histórico, para de fato, manter junto,
no plano da análise, o que está junto na realidade. E, seguindo o caminho apontado por
Bourdieu ”(....) uma economia do simbólico que é irredutível à economia (em sentido
56
Richard Sennet, O declínio do homem público. As tiranias da intimidade, São Paulo, Companhia das
Letras,1988, pp. 350-1.
57
Peter Burke, A fabricação do Rei: a construção da imagem pública de Luís XIV, Rio de Janeiro, Zahar, 1994.
58
Idem, p.122.
restrito) e as lutas simbólicas têm fundamentos e efeitos econômicos (em sentido restrito)
efetivamente reais”.
59
Chaveau e Tétard discutem o imediatismo do trabalho histórico, diante da história a
acontecer, do fato, a presença ainda prenhe dos fatos que se chama história do presente.
60
Ressaltam que na história do presente o historiador é, também, produtor de um discurso que
irá compor o universo das fontes, ou seja, ele é testemunha dos acontecimentos. Outra
questão a salientar é que os atores da história examinada provavelmente estão vivos e,
possivelmente, atuantes. Eles também apontam a dimensão radiofônica, cinematográfica, e
televisiva da história do presente, em função de uma demanda social ávida por
esclarecimentos sobre a situação nacional e internacional, a partir dos anos 50, quando
observamos a aceleração e o aumento da comunicação, a renovação progressiva da imprensa
e da edição, a elevação do nível de estudos e a força dos engajamentos ideológicos e morais.
O tempo da história do presente caracteriza-se por uma intensa aceleração histórica
em que a informação circula com uma velocidade tão grande, e em tão grande quantidade
que acaba por impor um padrão de consumo igualmente rápido e tendente à não assimilação.
Acreditamos que a esta complexidade corresponde a necessidade do instrumental analítico
de que o historiador dispõe, daí o grande número de historiadores analisando os
acontecimentos para milhões de espectadores e leitores em tempo real.
Pierre Nora nos diz que,
“na medida em que efetivamente o acontecimento se tornou
intimamente ligado à sua expressão, sua significação intelectual, próximo de
uma primeira forma de elaboração histórica, esvaziou-se a favor de suas
virtualidades emocionais. A realidade propõe, o imaginário dispõe. (...) O
acontecimento é o maravilhoso das sociedades democráticas. Mas a própria
integração das massas teve por efeito integrar também o maravilhoso. A
literatura popular e operária antes da metade do século XIX mostra que o
fantástico tradicionalmente tomava seus elementos do extramundo. No
presente momento é a própria sociedade industrial que os fornece. Dessa
forma obtém-se um efeito de sobremultiplicação quando as performances da
sociedade tecnocrática parecem precisamente imitar os temas do fantástico
tradicional”.
61
É o caso da presente tese sobre o governo Fernando Collor de Mello, centrada na
performance do presidente, em que cada evento assumia a forma de espetáculo divulgado
pela mídia. A eliminação de um discurso mais racional e a utilização mais elaborada de
59
Peter Burke, op. cit. p.129.
60
Agnès Chaveau, Philippe Tétard, “Questões para a história do presente”, Bauru, São Paulo, EDUSC, 1999, pp:
7-37.
61
Pierre Nora, “O retorno do fato”, in Jacques Le Goff e Pierre Nora, História: novos problemas, Rio de Janeiro,
Francisco Alves, 1976, pp 180-93.
signos, privilegiando a forma, o desempenho, faz com que o espetáculo da performance
tenha uma leitura mais emocional que racional. Muitas vezes o espectador, o público, o
povo, a massa não entende mais sente o que está acontecendo. Então, insere-se na história
do presente o governo Collor de Mello porque é presente pela proximidade temporal,
simplesmente, cujos eventos não se desenrolaram nem se esgotaram ainda: Estado Mínimo,
reconstrução, desregulamentação, modernização, reformas, controle da moeda...
O conceito de cultura proposto por Chartier concebe-a enquanto prática, e sugere
para seu estudo as categorias de representação e apropriação. Ele sugere que o social faz
sentido nas práticas culturais, e as classes e grupos adquirem alguma identidade nas
configurações intelectuais que constroem, nos símbolos de uma realidade contraditória
representada.
62
Nesse campo onde idéias, imagens, representações e ações se encontram está
esta tese.
Estudando a história conceitual do político Rosanvallon esclarece que,
“o objeto da história conceitual do político é a compreensão da
formação e evolução das racionalidades políticas, ou seja, dos sistemas de
representações que comandam a maneira pela qual uma época, um país ou
grupos sociais conduzem sua ação, encaram seu futuro. Partindo da idéia que
estas representações não são uma globalização exterior à consciência dos
atores como são por exemplo as mentalidades mas que elas resultam, ao
contrário, do trabalho permanente de reflexão da sociedade sobre ele mesma,
tem por objetivo: 1) fazer a história da maneira pela qual uma época, um país
ou grupos sociais procuram construir as respostas àquilo que percebem mais
ou menos confusamente como um problema, e 2) fazer a história do trabalho
realizado pela interação permanente entre a realidade e sua representação
definindo os campos histórico-problemáticos. Seu objeto é assim a
identificação dos “nós históricos” em volta dos quais as novas racionalidades
políticas e sociais se organizam; as representações do político se modificam
em relação às transformações nas instituições; às técnicas de gestão e às
formas de relação social. Ela é história política na medida em que a esfera do
político é o lugar da articulação do social e de sua representação. Ela é
história conceitual porque é ao redor de conceitos a igualdade, a soberania,
a democracia, etc, - que se amarram e se comprovam a inteligibilidade das
situações e o princípio de sua ativação”.
63
Tão longa citação deve-se ao fato de que ela muito ajuda a esclarecer a discussão do
nosso tema pois segundo o autor, as representações são um aspecto fundamental para a
compreensão da história política. Para a nossa análise, das representações do governo Collor
de Mello, nos apoiamos na assertiva do autor de que as representações emergem a partir de
uma reflexão da sociedade que busca resolver os seus problemas. O ponto principal é a
identificação do que o autor chama de “nós históricos”, em torno dos quais as representações
62
Ronaldo Vainfas,”História das Mentalidades e História Cultural,” op. cit. cap. 5, p. 154.
63
Pierre Rosanvallon. Por uma história conceitual do político (nota de trabalho), in Revista Brasileira de
História, v.15, nº 30, São Paulo, 1995, p. 16.
do político se modificam em função da conjuntura. Além disso, o autor destaca a
importância dos conceitos porque são eles que vão contribuir para a clareza da narrativa. O
governo Collor de Mello ocupou um período da nossa história que pode ser considerado de
transição dos governos militares para os democraticamente eleitos e, nesta época,
observamos que o tema da modernização estava associado à democracia implicando assim,
em um discurso sobre modernização que não se limitava apenas ao plano econômico,
abrangendo também, o político-institucional e o cultural. Collor de Mello propunha-se a
redesenhar o Brasil, modernizá-lo dentro do contexto de retorno da democracia, para
construir um futuro melhor para o país o que implicava em uma nova cultura política
adequada ao novo tempo que se iniciava.
Aplicando esta síntese ao nosso objeto ressaltamos que, o nosso local é o discurso de
Fernando Collor de Mello e o discurso da dia sobre o seu governo, como demonstram as
nossas fontes, descritas mais adiante. O discurso político é expressão de ideologia e não tem
necessariamente o compromisso com a verdade. O rigor do texto científico na busca da
realidade, muitas vezes, fere as argumentações políticas. É necessário rediscutir hoje o que é
ideologia e a partir disso realizar a busca da compreensão teórica da realidade. Para
identificar a ideologia por trás do discurso de Fernando Collor de Mello, buscamos apoio em
Terry Eagleton que registra, em seu livro Ideologia, dezesseis sentidos de uso para este
conceito na atualidade.
64
a) processo de produção de significados, signos e valores na vida
social; b) um corpo de idéias característico de um determinado grupo ou
classe social; c) idéias que ajudam a legitimar um poder político dominante;
d) idéias falsas que ajudam a legitimar um poder político dominante; e)
comunicação sistematicamente distorcida; f) aquilo que confere certa posição
a um sujeito; g) formas de pensamento motivadas por interesses sociais; h)
pensamento de identidade; i) ilusão socialmente necessária; j) a conjuntura de
discurso e poder; k) o veículo pelo qual atores sociais conscientes entendem o
seu mundo; l) conjunto de crenças orientadas para a ação; m) a confusão
entre realidade lingüística e realidade fenomenal; n) oclusão semiótica; o) o
meio pelo qual os indivíduos vivenciam suas relações com uma estrutura
social; p) o processo pelo qual a vida social é convertida em uma realidade
natural”.
Tal multiplicidade de sentidos exige um esclarecimento sobre qual deles orientará a
nossa narrativa. No atual estágio da nossa análise, estamos entendendo ideologia como uma
dimensão falsificadora da realidade para ajudar a legitimar os interesses de um grupo
dominante. Apesar do discurso de Collor de Mello condenar com veemência as
conseqüências da gestão política da oligarquia como a inflação, o atraso, a miséria, a fome, o
64
Terry Eagleton, Ideologia, São Paulo, UNESP, 1997, p.15.
empreguismo, os privilégios, a corrupção e a injustiça, ele pertencia e, também, usufruía dos
privilégios da oligarquia que condenava.
Estabelecendo uma aproximação entre ideologia e espetáculo, Debord ressalta que “o
espetáculo é ideologia por excelência, porque expõe e manifesta em sua plenitude a essência
de todo sistema ideológico: o empobrecimento, a sujeição e a negação da vida real”.
65
A proposta da conjunção de fala / discurso em político-ideológico decorrente da
máxima de que o texto expressa vontades, pensamentos e ações sociais contribui para a
nossa percepção do discurso como uma prática social, identificando as situações que
delineiam e afetam o discurso e, a sua influência na realidade política e social. E,
representação, teatralização e performance constituem o eixo da nossa análise que é a
discussão de uma representação política radicalizada pelo desempenho de um líder
carismático.
Sobre os usos políticos da informação, Chomsky esclarece que “as mazelas sócio-
econômicas do planeta são responsabilidade de um pequeno número de pessoas, sobretudo
norte-americanas, que controlam o governo e as grandes corporações, manipulando um
público dócil e influenciável por intermédio da mídia”.
66
Bourdier nos alerta para o fato
de que “os produtos jornalísticos são muito mais homogêneos do que se acredita”.
67
Assim,
considerando as falas e as imagens de Collor de Mello, identificamos um campo de discurso
através do qual podemos olhar a história e, também, a representação de seu tempo.
Então, para compreender os motivos, as justificativas, as orientações e as
incoerências que permearam o percurso de Collor de Mello no poder e, também, levaram à
perda de confiança dos cidadãos em seu governo, identificamos a presidência Collor como
um percurso discursivo, do qual emergem três momentos significativos principais que
englobam determinados eventos-ações.
O primeiro momento é o da deflagração do herói, quando ele se prepara para subir ao
“palco” e privilegia a eleição e a posse, ocasião em que Collor de Mello se apresentou como
aquele que iria empreender a reconstrução do país; o segundo é o do exercício performático,
quando o herói assume o “palco” e comanda o “espetáculo”, sendo este momento discursivo
centrado no projeto de modernização do país; e, o terceiro é o do desmascaramento do
personagem, quando ele abandona o “palco” e sai de cena, como conseqüência do fracasso
65
Guy Debord, A sociedade do espetáculo, Rio de Janeiro, Contraponto, 1997, p.138.
66
Noam Chomsky, A privatização da democracia, entrevista com Noam Chomsky por Nelson Asher, in Folha
de SãoPaulo, 09/03/1997.
67
Pierre Bourdier, A circulação circular da informação, in “Sobre a televisão”, seguido de “A influência do
jornalismo” e “Os jogos olímpicos”, Rio, Zahar, 1997.
das medidas econômicas e das denúncias de corrupção, e desenvolve-se em torno do
processo de impeachment do presidente, como resultado não das conseqüências de seus
atos, mas também pela falência de seu arsenal simbólico.
Em função disso, selecionamos da trajetória de Collor de Mello na presidência da
República os acontecimentos que consideramos mais significativos da performance do
presidente. Analisamos a performance de Collor, à luz do nosso quadro teórico-
metodológico, para responder às questões, que orientaram a nossa pesquisa e, que estão
relacionadas nas nossas hipóteses: a) o governo do presidente Collor de Mello parece
enquadrar-se nos esquemas clássicos das construções ticas de sentido político, como as
concepções de Barthes e Girardet; b) que imagens, que símbolos, que idéias, que linguagem
e que séries semânticas são particularmente vinculadas ao percurso de Collor de Mello na
presidência da República; c) que representações estão vinculadas ao confronto entre o
governo Collor, enquanto modelo simbólico instalado no poder, contra o dos oponentes; d)
por suposto, o recurso a técnicas hodiernas de comunicação como suporte político estendeu-
se aos governos sucessores, cada qual esforçando-se em “construir” seu próprio arsenal
simbólico, ameaçando assumir a estatura de metalinguagem.
Dentre as fontes que utilizamos está o Arquivo do Governo Collor da
Universidade Estácio de que compunha a documentação da pesquisa que resultou no
livro “Os Presidentes”, editado por aquela mesma universidade. Destacamos, também, que
este Arquivo do Governo Collor foi adquirido pela Universidade Estácio de Sá de um
antiquário localizado na cidade do Rio de Janeiro, por iniciativa do Diretor de Pesquisa e
Pós-graduação desta universidade, o historiador e professor Fábio Koifmann.
O Arquivo compõe-se de cento e três (103) cadernos com recortes de jornais e
revistas que retratam este período da nossa História através de matérias, reportagens,
entrevistas, crônicas, fotografias e caricaturas. Ressaltamos que, a forma como a
documentação está organizada indica que houve a preocupação de colecionar as reportagens
sobre este tema e também destacamos que observamos que os documentos foram reunidos
por vontade do organizador do arquivo, caracterizando-se desta forma como uma coleção.
Na nossa percepção, o organizador do arquivo, provavelmente, um particular, mostra através
de seus comentários a sua desilusão com o transcorrer do governo do presidente Collor
deixando claro a sua decepção com o presidente no qual depositou suas esperanças.
A autoria da introdução e dos comentários não está explícita em alguns cadernos,
mas, em outros, existe uma assinatura que não conseguimos identificar, mas que,
acreditamos ser da pessoa que organizou este Arquivo, aliás ainda incógnita no momento em
que encerramos esta tese.
A característica principal, ou melhor, original deste Arquivo é conter recortes de
jornais e revistas selecionados por um leitor que, por sua vez, organizou este Arquivo com a
marca de sua personalidade, revelando a sua espontaneidade nos comentários registrados nos
diversos cadernos. Observamos que esta coleção deve ter sido feita por uma pessoa
entusiasmada com o presidente eleito e que nutria esperança no governo Collor de Mello.
Entretanto, a medida que as promessas de campanha do presidente eleito não eram
cumpridas, a frustração e o desencanto com o governo Collor começaram a aparecer.
Esse fato é relevante uma vez que, apesar de estarmos trabalhando com a imprensa, o
fazemos em cima de um recorte especial, tanto no que se refere aos periódicos quanto no que
se refere às notícias e às matérias. Isto significa que a nossa fonte é diferenciada e o nosso
olhar, também. Grande parte do material compilado, neste Arquivo, se aproxima mais dos
valores eufóricos, do que dos valores disfóricos do governo Collor de Mello.
Segundo o organizador do Arquivo, “trata-se de uma coletânea de reportagens e
alguns comentários pessoais, sobre atos, eventos, e gente, referentes todos à política
brasileira no período que denominamos de: Governo Collor” e, para balizar o Arquivo, foi
delimitado um espaçamento temporal: “o estudo, a coleção, compreende reportagens desde
01/12/1987, quando Collor ainda era governador da pequena Alagoas, até depois de sua
renúncia à presidência da República, em 30/10/1992”.
68
Sobre este Arquivo fizemos a
seguinte hipótese: o organizador do Arquivo indicava que era simpático e esperançoso no
governo Collor, quando dos escândalos tornou-se cético, e depois vendeu sua coleção.
Este Arquivo contém recortes de jornais e revistas colados em 103 volumes
encadernados e, está catalogado em doze temas principais, selecionados a critério do
Organizador, como segue: (1) Eleição e período antes da posse, compreendendo
reportagens sobre a campanha eleitoral e a eleição (1º e turnos), a viagem de Collor ao
exterior e o período antes da posse, nos cadernos de nº 2 ao nº 7; (2) Ministérios e
Secretarias, compreendendo os cadernos de 8 ao 13; (3) Economia, compreendendo
reportagens sobre as medidas provisórias e os planos econômicos, nos cadernos de 14 ao
24; (4) Reforma administrativa, compreendendo reportagens sobre a venda do
patrimônio da União, o combate às mordomias, os processos de privatização, a previdência
social, os fundos de pensão, a saúde pública, a habitação, o ensino, e a modernização da
68
“Explicação Inicial”, in Arquivo Governo Collor, caderno 1, que, doravante, citaremos como A.G.C., Cad.,
15/01/1999.
Constituição, nos cadernos de 25 ao 32; (5) Política externa, compreendendo
reportagens sobre as viagens do presidente ao exterior, e as visitas de presidentes e de
representantes estrangeiros, destacando-se a ECO-92 e o MERCOSUL, nos cadernos de
33 ao nº 42; (6) Política interna, compreendendo reportagens sobre a propaganda pessoal do
presidente e dos atos de governo, as privatizações, a inflação, os salários, a Amazônia, e,
também, a corrupção, nos cadernos de 43 ao 59; (7) Democracia em funcionamento,
compreendendo reportagens sobre a campanha e a eleição de 1990 para governadores,
deputados e senadores, nos cadernos de 60 ao 62, sobre as pressões contrárias ao plano
econômico, nos cadernos de 63 ao 66, sobre as eleições municipais de 1992, nos
cadernos de 84 ao 85, e, também, reportagens sobre o impeachment, nos cadernos de
86 ao 91; (8) Executivo versus Legislativo, compreendendo reportagens sobre diversas
Comissões Parlamentares de Inquéritos, dentre outras, nos cadernos de 67 ao 76; (9)
Crises políticas, compreendendo reportagens sobre as dificuldades de governar do
presidente, as denúncias de Pedro Collor, e a possibilidade do impeachment, nos cadernos de
77 ao 83; (10) Poder Judiciário, Ministério Público e Supremo Tribunal Federal,
compreendendo reportagens sobre o envolvimento Paulo César Farias nas denúncias de
corrupção, o impeachment, e os julgamentos no Senado e no STF, nos cadernos de 92 ao
caderno nº 96; (11) Prestação de contas de Collor, compreendendo os cadernos de 97 ao
nº 98; (12) Vida particular de Collor, compreendendo os cadernos de nº 99 ao nº 103.
Cada caderno possui um índice e uma introdução, com exceção do caderno 1 que
se refere ao índice geral e está dividido em três partes: a parte indica a relação dos títulos
dos 103 cadernos, a parte indica a relação dos capítulos por cada caderno, e a parte
compõe-se do conjunto de textos com comentários pessoais do Organizador do Arquivo, e
referentes às reportagens de cada caderno. Encontra-se, também, ao lado de algumas
reportagens, pequenos desenhos, anotações manuscritas com comentários, alguns irônicos,
opiniões favoráveis e desfavoráveis e críticas emitidas pelo organizador do Arquivo. Além
disso, encontra-se, também, legendas, falas, pequenos desenhos, e traços, acrescentando ou
ressaltando detalhes, em algumas fotografias e caricaturas.
Analisando o conteúdo acima descrito, ressaltamos que grande parte das matérias,
que compõem este Arquivo, refere-se aos jornais O Globo e Jornal do Brasil. Consultamos,
para a presente tese, 1172 matérias assim distribuídas: 666 do O Globo, 410 do Jornal do
Brasil, 57 da Tribuna da Imprensa, 14 da Revista Veja, 10 da Última Hora, 5 da Folha de
São Paulo, 3 do Estado de São Paulo, 3 da Revista Manchete, 2 do Hoje em Dia (BH), 1 do
Fluminense e 1 do Hora do Povo .
Assim, basicamente, os jornais e periódicos que compõem este Arquivo fazem parte
da imprensa do Rio de Janeiro. E, apesar de serem jornais de circulação nacional, o olhar é o
do Rio de Janeiro, porque a representatividade de São Paulo e Minas Gerais é insignificante,
e os demais estados não estão aqui representados.
Outra fonte consultada foi A palavra de Fernando Collor de Mello -
www.collor.com que é uma página na Internet criada e alimentada pela assessoria de Collor
de Mello compreendendo discursos feitos durante a presidência; informes da assessoria de
imprensa em Miami, na Flórida, nos Estados Unidos; artigos escritos por Collor; o primeiro
capítulo da “Crônica de um golpe a versão de quem viveu o fato”, destaques dos
pronunciamentos (discursos e entrevistas) de Collor sobre as vertentes: social, política e
administrativa; e fotos históricas e similares que abrangem o período em que Collor foi
governador de Alagoas, a campanha para presidente, o período da presidência da República, e
o período da campanha de 1998, apoiando candidatos ao governo do estado de Alagoas.
Os artigos escritos por Collor intitulam-se: a) Brasil 95, b) Brasil: e as reformas? c)
Encontro com Gabo, d) Prudência ou Omissão? e) Integrar para buscar a paz, f) A saída
social liberal, g) A versão de quem viveu o fato, h) Definindo as medidas, i) Formação do
governo, j) Mexarsil, l) Diálogos com Merquior.
Os fragmentos dos pronunciamentos de Collor sobre as vertentes administrativa,
social e política contemplam as seguintes áreas temáticas. Na vertente administrativa:
reforma administrativa, servidor público, corrupção, desregulamentação. Na vertente social:
diagnóstico, dívida social, criança adolescente, idoso, saúde, educação, habitação
saneamento, previdência social, questão fundiária, trabalhador, livre negociação salarial,
indexação salarial, entorpecentes, criminalidade. Na vertente política: liberalismo, elites,
constituição, democracia e cidadania, Congresso Nacional, partidos políticos, entendimento
nacional – consenso, presidencialismo – parlamentarismo, estilo de governar.
Dos diversos discursos selecionamos os dois pronunciados no dia da posse em 15 de
março de 1990, o primeiro na cerimônia de posse no Congresso Nacional intitulado Projeto
de Reconstrução Nacional e, o segundo no parlatório do Palácio do Planalto. Optamos por
esses dois discursos por se tratar de duas falas para um mesmo momento. O primeiro
discurso para os políticos, os empresários, os convidados estrangeiros, enfim as elites, e o
segundo discurso para o povo que o elegeu.
As fotos históricas e similares estão agrupadas nos seguintes temas: Governador do
Estado de Alagoas (1986/1989); Campanha para Presidente (1989); Posse (15/03/1990);
Presidente da República (1990/1992); Encontros com líderes mundiais; Visita oficial à
Washington; I Encontro Ibero Americano Guadalajara, México (18/07/1991); II Encontro
Ibero Americano Madri, Espanha; ECO-92; Palestras nos Estados Unidos e Europa
(1996/1997); O ex-presidente prestando sua última homenagem ao Frei Damião (junho
1997); Visita ao Estado da Paraíba; Fotos Diversas; Campanha de 1998 em Alagoas.
No Diário do passado - Coletânea de artigos publicados pelo jornal O Estado de
São Paulo - www.estadao.com.br/ext/diariodopassado/20020929.htm, encontram-se os
seguintes artigos sobre o governo Collor de Mello: (1) Collor, presidente no colégio; (2)
Briga familiar tornou-se crise nacional; (3) República de Alagoas, um reduto da família
Malta; (4) Na prefeitura de Maceió, Collor nomeou funcionário sem concurso; (5) PC o amigo
influente do Palácio; (6) Popularidade de Collor começou a cair em 91; (7) As secretárias que
participaram da crise política; (8) Sem aliança, Collor tornou pública a crise conjugal; (9)
Videntes e ocultistas, os conselheiros de Collor; (10) Subida e descida da rampa: mais um
marketing político; (11) As denúncias no governo Collor; (12) Confisco e plano não acabaram
com a inflação; (13) Collor excêntrico: alugou um jatinho para viajar no reveillon; (14)
Relacionamento ambíguo até na família; (15) Um governador caçando marajás; (16) “Só o
povo me tira daqui”; (17) Isolamento de Collor fica evidente em 12 de agosto; (18) Desprezo
manteve Collor afastado da base parlamentar; (19) Um conto de fadas que terminou em
separação; (20) “Esquema PP”, a denúncia que invadiu o Palácio do Planalto; (21) Nas ruas,
estudantes protestam contra o governo Collor; (22) Apenas militares permanecem no
Ministério Collor; (23) Collor, faixa preta no caratê e amante da velocidade; (24) Promessas
não cumpridas: acabar com a corrupção e a inflação.
Consultamos, também, O Fenômeno Collor, Martin Claret Editores, São Paulo, 1989.
Segundo os editores “este livro–reportagem mostra um retrato de corpo inteiro do caçador de
marajás” e, “é um ato de no futuro do Brasil”. Além do prefácio dos editores, o livro
contém os seguintes capítulos: dados biográficos e currículo, Collor e a imprensa, idéias de
Collor, pensamentos de Collor, “Projeto Brasil Novo”, e diretrizes básicas aos empresários.
Esta publicação apresenta, de forma laudatória, a trajetória pessoal e política de Collor de
Mello e destaca alguns episódios performáticos vivenciados por ele. Como por exemplo, sua
performance de inimigo declarado do governo Sarney, e também, a ocasião em que ele
enfrentou os pistoleiros alagoanos, evidência de sua bravura frente aos comandantes do
estado. Marcado pelo arrojo, jovialidade e por um caráter destemido, Collor despontava como
herói diante da justiça alagoana. Aqui, é explícita a marca Collor, a bravura de um político
novo e que jamais se curvaria aos detentores do poder. Trata-se de um material rico para a
pretensão de Collor de Mello a líder messiânico e carismático.
A análise das fontes constou de três fases principais: a pré-análise que correspondeu à
organização do material a ser analisado, e a sistematização das idéias iniciais, de modo a
permitir um esquema preciso do desenvolvimento das operações que se sucederam; a
exploração do material que consistiu na codificação do material analisado; e, o tratamento
dos resultados obtidos e interpretação de forma que os resultados tornem-se significativos e
válidos.
A documentação encontrada dá ênfase ao personagem Fernando Collor de Mello,
evidenciando o processo de construção e desconstrução de facetas importantes de sua
imagem política, durante o período da campanha presidencial, do exercício do poder e do
impeachment.
O marco inicial é o ano de 1987 quando Fernando Collor de Mello, como governador
de Alagoas, entusiasmou-se com a receptividade popular que teve a sua luta contra os
“marajás” em seu estado, cujos salários absorviam toda a receita estadual. Filiado ao PMDB,
ele percebeu a impossibilidade de concorrer à presidência da República, como candidato do
partido, porque teria que disputar, no âmbito do partido, com Ulysses Guimarães e, também,
com Mario Covas. Optou, então, por um partido pequeno o PJ Partido da Juventude que,
por sua sugestão, mudou a sigla para PRN Partido da Reconstrução Nacional. Em
14/05/1989, Collor de Mello desincompatibilizou-se do governo de Alagoas e, iniciou a
campanha eleitoral participando de comícios, passeatas, carreatas, debates e programas de
televisão que, aos poucos, foram conquistando o público. De modo surpreendente, Collor de
Mello venceu o turno das eleições com oito milhões de votos na frente de Lula, o
colocado e, venceu, também, o turno com uma margem superior a quatro milhões de
votos.
Na construção das imagens de Collor de Mello para a campanha presidencial
destacou-se, a de “caçador de marajás”, e de “defensor dos descamisados”, cuja função era
persuadir espectadores, ouvintes e leitores de sua luta contra a corrupção, e que repercutiram
favoravelmente junto ao povo, e defender e proteger os mais pobres. A imagem de Collor de
Mello, projetada nesta época, foi a de um político excepcionalmente dedicado aos negócios
do Estado e ao bem-estar do povo em descompasso com o neoliberalismo que ele adotava
em seu Estado mínimo.
Após a eleição, Collor de Mello programou uma viagem ao exterior para descanso e
contatos com outros governantes. Ele se mostrou ao mundo, um presidente jovem e
dinâmico eleito por voto direto, e determinado a causar um impacto imediato sobre o público
estrangeiro.
Ao retornar da viagem, no período que antecede a posse, de 15 de fevereiro a 15 de
março de 1990, Collor e sua equipe trabalharam no anexo 2 ao prédio do Itamarati, em
Brasília, denominado de “Bolo de Noiva”. Por ocasião da posse, que teve a presença de
visitantes estrangeiros, o presidente eleito prometeu liquidar a inflação ao discursar na
cerimônia havida no Congresso Nacional e, a seguir, na cerimônia no Palácio do Planalto,
Collor de Mello, após receber a faixa presidencial, símbolo de poder, das mãos de José
Sarney que pediu a Deus que o abençoasse, discursou no parlatório, diante de uma multidão,
como um verdadeiro candidato ainda em campanha, convocando todos os segmentos da
sociedade para a reconstrução do país de acordo com o projeto por ele proposto. O ritual da
posse foi assistido por embaixadores estrangeiros e por uma multidão de populares.
E, neste dia, foram anunciados o Plano Econômico e a Reforma Administrativa,
elaborados, em segredo, por Collor de Mello e seus colaboradores mais próximos, que
causaram grande impacto no país e no povo brasileiro. Tanto o Plano quanto a Reforma
foram cuidadosamente anunciados na mídia e, os eventos sugeriam que Collor de Mello e
sua equipe estavam determinados a causar um impacto imediato sobre o público.
Observamos, que as fontes têm uma prolixidade e uma riqueza real, pode-se dizer,
simplificando ao extremo, que o simbólico, liberado dos quadros tradicionais em que estava
encerrado, conduz à proliferação de mensagens pelas quais, direta ou indiretamente, a
ascensão e a queda de Fernando Collor e o seu governo procuram se inscrever nas
representações coletivas, ou melhor, procuram se inscrever nelas. O discurso livre sobre este
período da nossa história aparece nas fontes mais diversas veiculadas pela mídia: na
televisão, no rádio, nos jornais, nas revistas, nas fotografias, nas caricaturas.
A leitura das fontes leva-nos a considerar o governo Collor como um instante
privilegiado na nossa História, em termos de crise vivida intensamente, não ao nível dos
princípios, mas da prática social: fontes do discurso, pelas quais Collor apresentou sua nova
visão para o Brasil; fontes de iconografia nobre ou popular através das quais se cunham as
idéias-força (novo, moderno, forte) e por onde se exprime sua representação simbólica em
imagens; fontes musicais, sobretudo da canção, que refletem, como o imaginário popular,
mais a maneira como esses valores foram recebidos do que a sua formulação em um nível
mais elevado.
E, também, uma série de dados que refletem a prática vivenciada dessas idéias-força
novas: as do relato escrito da cena. As subidas e as descidas da rampa do palácio Alvorada,
as caminhadas do Presidente e a votação do impeachment, dentre outras, organizadas como
espetáculos, explicitando o discurso oficial, e introduzindo, também, às vezes, mais em
contraste do que como complemento, a expressão das aspirações populares.
Dos discursos políticos de Collor de Mello, privilegiamos as duas falas no dia da
posse. O pronunciamento do presidente na cerimônia de posse no Congresso Nacional, em
Brasília, em 15 de março de 1990, intitulado Projeto de Reconstrução Nacional incorpora as
propostas de campanha de Collor de Mello em um programa de modernização para o país.
O título do discurso, bastante significativo, refere-se à proposta de Collor de Mello de
atender às expectativas nacionais, relacionadas ao primeiro presidente eleito por voto direto
desde 1961, da consolidação de uma institucionalidade democrática e do combate à inflação.
Aliás, o que justifica o termo reconstrução, diz respeito à inflação, à reforma do Estado e à
modernização econômica, bem como à posição do Brasil no mundo contemporâneo.
Em sua fala Collor de Mello destaca como tópicos principais de seu programa a
democracia e cidadania; a inflação como inimigo do Estado e a modernização econômica; a
preocupação ecológica; o desafio da dívida social e a inserção do Brasil no mundo
contemporâneo, acenando assim com uma ampla reforma do Estado. Além disso, também
nesta fala, o presidente recuperou sua tradição familiar na política, referindo-se a seu avô
Lindolfo Collor e seu pai Arnon de Mello; dividiu as elites em modernas e atrasadas e,
colocou-se como um representante das elites modernas. Mais adiante, o presidente cita a
bandeira, como símbolo da Pátria, mencionando que ela retrata a grandeza do Brasil e ele,
presidente do Brasil, se compromete a realizar “um governo capaz de erguer o Brasil à altura
do valor de sua gente”, vislumbrando-se aí a característica messiânica do presidente.
a fala de Collor no parlatório do Palácio do Planalto foi dirigida ao povo que o
elegeu e, se aproximou mais, de um discurso de campanha eleitoral, conclamando o povo
para as reformas que iria empreender para mudar o país.
O quadro teórico-metodológico apresentado foi utilizado como base para a análise
das fontes. A documentação será analisada à luz da Semiologia obedecendo método
apreendido nas aulas de teoria e metodologia do Professor Orlando de Barros. Esta análise
do conteúdo das fontes começa com a identificação de dois eixos: o sincrônico que
representa os valores e as intenções de quem escreve no momento em que escreve e,
também, os objetivos mais imediatos do mesmo; e, o diacrônico que caracteriza as
referências históricas, as circunstâncias que promoveram ou ensejaram a asserção do autor
do documento. Em seguida, identificamos a percepção do juízo que o autor tem ou quer
passar das representações que usa, classificando-se os aspectos positivos como “eufóricos” e
os negativos como “disfóricos”.
69
Dada à complexidade e abrangência do tema, começamos o trabalho com a consulta
às fontes primárias, acima descritas porque no cenário do Brasil contemporâneo em que a
mídia apresenta-se como um importante espaço de produção da vida brasileira, decidimos
realizar a nossa exploração do simbólico e das representações no âmbito do governo Collor
de Mello através da mídia, trabalhando as falas e as imagens do Presidente, amplamente
difundidas em jornais e revistas e, também, o próprio discurso que essa mídia foi
construindo sobre o governo Collor de Mello.
As seguintes questões-chave nortearam a presente tese.
1) O governo do presidente Collor de Mello parece, numa abordagem preliminar,
enquadrar-se nos esquemas clássicos das construções ticas de sentido político, como as
concepções conhecidas de Girardet e Barthes.
2) Que imagens, que símbolos, que idéias, que linguagem e que séries semânticas são
particularmente vinculadas ao percurso de Collor de Mello na presidência da República, ou
no governo do país? Partimos do pressuposto que elas podem ser identificadas, classificadas
e definidas em sua produção e oportunidade eventual, isto é, dadas à luz na conformidade
das necessidades do governo em seu percurso no tempo.
3) Que representações estão vinculadas ao confronto entre o governo Collor de
Mello, enquanto modelo simbólico instalado no poder, contra os dos oponentes? Supomos
que o caráter dominante foi o da construção de um arsenal simbólico próprio (mas também
com parte tomada de empréstimo) como elemento político legitimador, em sua participação
no mercado simbólico. A proposta de impeachment e a ulterior renúncia para evitá-lo
constitui-se numa inequívoca derrota simbólica, sendo perfeitamente identificáveis os
oponentes pelo uso de um arsenal equivalente.
4) Dizemos que, o recurso a técnicas hodiernas de comunicação como suporte
político estendeu-se aos governos sucessores, cada qual esforçando-se em “construir” seu
próprio arsenal simbólico, ameaçando assumir a estatura de metalinguagem. O governo
Collor de Mello continua desqualificado pelos sucessores, ainda que algumas de suas metas,
como a modernização, o respeito pelos compromissos internacionais, a desestatização e a
integração com a economia mundial continuem persistentes, e não menos prossiga a
utilização dos recursos simbólicos herdados.
69
Orlando de Barros, O texto “documento” para o historiador atento, op. cit. e A propósito de um texto que
publicamos em ensaio, op. cit.
A organização da presente tese consiste de quatro capítulos, nos quais discutimos as
hipóteses, além da introdução e das considerações finais.
Capítulo 1: O contexto histórico da eleição de Fernando Collor de Mello: momentos
políticos do regime militar à redemocratização.
Este capítulo remete à contextualização histórica do tema. Ele abre a presente tese e
apresenta o período do regime militar, e o retorno á democracia com o governo de José
Sarney que substituiu Tancredo Neves, em virtude do falecimento deste, destacando os
momentos políticos mais significativos, na nossa opinião, como o aparecimento e a influência
da mídia na política. O propósito desse capítulo é situar o momento político da eleição direta
para a Presidência da República, que foi vencida por Fernando Collor de Mello.
O período compreendido pela passagem do regime militar para a Nova República
ficou conhecido como transição democrática. Aos poucos o autoritarismo foi substituído pelo
modelo democrático liberal. Mas é importante ressaltar que o próprio período do regime
militar de 1964 se intitulava uma “revolução de natureza democrática”. Ainda na década de
1970 esta redemocratização iniciou seus primeiros passos para restabelecer as eleições diretas
para presidente. A “reabertura política” havia sido anunciada em 1974 pelo presidente
Ernesto Geisel. A anistia política e a suspensão da maior parte dos poderes excepcionais, que
o Executivo se outorgara através dos atos institucionais decretados sem ao menos a aprovação
do Legislativo, ocorreu em 1979.
No final dos anos 80 o general Figueiredo fez um pronunciamento dirigido às forças
armadas destacando a abertura e a volta das mesmas à tarefa exclusiva do papel original. Foi
iniciado um movimento no país onde regime autoritário foi amplamente combatido,
abarcando os mais diferentes setores da sociedade, desde o grande capital monopolista e
financeiro, até o sindicalismo classista do ABC paulista. Este movimento teve êxito através da
Aliança Democrática, a Nova República e a vitória no Colégio Eleitoral da chapa Tancredo
Neves e José Sarney em 1984. Nos anos de 1987 e 1988, ocorreu uma relativa desmobilização
política. O insucesso da campanha das diretas e a decepção com o plano cruzado, aliados à
inflação e ao desgaste com os salários, fez com que a população mostrasse o novo cenário
político do Brasil nas eleições para prefeito e vereadores de 1988, onde foi constatado que os
partidos com maior votação foram aqueles que, de alguma maneira inspiraram protesto e
oposição ao governo de José Sarney e àqueles que se identificavam com ele.
Dessa forma foi possível prever que o sucessor presidencial na eleição de 1989 seria o
candidato que aparecesse disposto a lançar um plano de governo completamente oposto ao até
então realizado. O nome de Fernando Collor de Mello, candidato pelo PRN, ex-prefeito de
Maceió, e ex-governador de Alagoas, surgiu como forte candidato a esta sucessão, em razão
da sua grande repercussão nos meios de comunicação devido, principalmente, a sua campanha
contra os funcionários com altos salários na administração pública, chamados “marajás”.
Capítulo 2: Fernando Collor de Mello: um momento histórico em disponibilidade para
uma simbologia de ocasião.
Este capítulo expõe as reflexões sobre as ações de Collor de Mello à luz da
performance. Procuramos aqui demonstrar como o presidente Collor, durante o seu governo,
enquadrou-se nas construções míticas de Barthes e Girardet. Para tal, discutimos a construção
da imagem do presidente e, também, a tentativa de manter essa imagem no período que
exerceu a presidência da República.
Também, ocupamo-nos em identificar as “marcas performáticas” de Collor de Mello
durante o seu governo e para tal, elencamos as imagens, as idéias, os símbolos, a linguagem e
as séries semânticas que caracterizaram o seu percurso no exercício da presidência da
República. Este capítulo refere-se, sobretudo, ao debate da gestão de Collor na presidência da
República. Discutimos alguns dos eventos mais polêmicos, ou melhor, aqueles em que a
prática performática do presidente foi mais evidente, segundo a nossa investigação.
Capítulo 3: A presidência performática de Fernando Collor de Mello: discurso, mito e
performance na narrativa histórica.
Este capítulo refere-se, sobretudo, ao debate da gestão de Collor de Mello na
presidência da República. Discutimos aqui, alguns dos temas mais polêmicos, ou melhor,
aqueles em que a prática performática do presidente foi mais evidente, segundo a nossa
investigação.
Realizamos aqui a análise da conjuntura do período do governo de Fernando Collor
destacando os atores, os cenários, os elementos de cena, e os elementos dos bastidores e
procurando colocá-los no seu papel para apresentá-los de tal forma que permita-nos
compreender este breve período de governo. Dos diversos acontecimentos, compreendidos
entre a posse e o impeachment de Collor de Mello, escolhemos aqueles que indicavam
“sentidos” mais pertinentes para a nossa análise.
Através da análise de conjuntura, a partir dos temas selecionados, identificamos os
campos de confronto. De início, identificamos as estratégias do presidente no sentido de
“acertar o passo“ do Brasil com o mundo capitalista ou o Primeiro Mundo. Para isso, ele se
propôs a desestatizar a economia, combater a inflação, reduzir os gastos públicos, e combater
a corrupção. Depois, identificamos, também, as estratégias da sociedade, ou melhor, da
oposição que se expressavam no desejo de rever o modo pelo qual o Brasil se articulava com
a economia mundial, dando maior ênfase às necessidades da sociedade nacional e mais
urgência ao atendimento das demandas sociais do povo brasileiro. Para alcançar este objetivo,
seria fundamental combater a inflação sem achatar os salários, democratizar a gestão da
economia sem sacrificar as empresas públicas, e rever as estratégias de desenvolvimento de
forma a dar prioridade à empresa nacional, ao mercado interno, à criação de empregos e ao
combate à miséria.
Capítulo 4: A derrocada: da representação desbaratada às novas perspectivas
simbólicas que se abrem.
Encontra-se neste capítulo a narrativa do impeachment que foi uma ação performática,
ou melhor, foi a anti-performance, carregada de dramaticidade uma vez que o povo que o
elegeu também o tirou da presidência da República.
Além de discutirmos o final melancólico do governo de Fernando Collor de Mello,
discutimos, também, alguns eventos que levaram ao seu afastamento da presidência da
República, como o não cumprimento das promessas de campanha e as denúncias de
corrupção. Entretanto, consideramos, também, que alguns temas e algumas das práticas
políticas do governo Collor foram utilizadas pelos governos subseqüentes como a utilização
da mídia na política, o Estado mínimo e a modernização da economia.
Analisamos, também, as perspectivas que se abrem depois de Collor para os que
vieram depois dele, como Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva que não
mais puderam renunciar ao marketing político.
CAPÍTULO 1
O CONTEXTO HISTÓRICO DA ELEIÇÃO DE FERNANDO COLLOR DE
MELLO: MOMENTOS POLÍTICOS DO REGIME MILITAR À
REDEMOCRATIZAÇÃO
O objetivo desse breve histórico é servir ao entendimento das chances de Fernando
Collor de Mello concorrer à presidência da República, e mostrar as circunstâncias tanto
econômicas quanto políticas que criaram as possibilidades de Fernando Collor, a partir de um
desempenho performático, ultrapassar todas as demais forças políticas, tradicionais e
modernas, e tornar-se o presidente “Salvador da Pátria” como pretendeu ser.
Impossível entender a eleição de Fernando Collor de Mello para presidente da
República sem situá-la historicamente. Ele pertence à geração que emergiu na fase de abertura
política. Sua vitória nas urnas foi produto de diversos eventos internacionais e nacionais
dentre os quais o advento da globalização e do neoliberalismo,
70
o fim do regime militar, e a
utilização máxima da mídia nas campanhas eleitorais, entre os mais significativos. O que mais
particularmente nos interessa nesta presente contextualização histórica é o Collor de Mello
como epicentro e produto de um momento de pretensa renovação política, de efervescência
social, de formação de um olhar sobre o retorno da democracia. E, como tal, de certo modo,
ele foi um divisor de águas.
A presente contextualização histórica abordará de forma sucinta o regime militar e
terminará na eleição de Collor de Mello para presidente da República, procurando na
exposição que se segue compreender o que mudou nesse processo de transição política; uma
vez que, no decorrer deste período, houve a substituição de um modelo político por outro,
apesar de que durante o regime militar o processo eleitoral não ter sido suspenso, ocorrendo
apenas redução de sua abrangência ao Congresso e eleições locais. E, também, começou a
ocorrer de modo mais intenso a utilização da mídia, mais particularmente a televisão, para
naturalizar a ideologia dominante, através da divulgação daquilo que seria de interesse para a
manutenção do regime então vigente.
70
O Globo 80 anos: o mundo, 28/05/2005.
1.1. O REGIME MILITAR E O FORTALECIMENTO POLÍTICO DA MÍDIA
TELEVISIVA
Consta que quando os militares assumiram o governo no Brasil, eles foram avisados,
pela Central Intelligence Agency (CIA) e por outras instituições americanas, de que o povo
brasileiro preferia enfaticamente a televisão para se informar e se comunicar. Aconselharam,
então, a criar a Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel) porque ela levaria a
imagem do Brasil a todo o país controlada por Rio de Janeiro e São Paulo. Depois, era preciso
fabricar mais aparelhos de televisão, para abastecer o povo brasileiro. Em seguida, eles
subsidiaram as emissoras para importar equipamentos abaixo do custo e, também,
fomentaram a abertura ou a ampliação de grandes lojas de venda de eletrodomésticos e de
televisão, dentre as quais o Rei da Voz, a Brastel e a Casa Garson, sendo que muitas delas
hoje não existem mais. Assim, a televisão passou a ter importância fundamental no país, e
durante o regime militar, a televisão foi um importante instrumento do governo.
71
Então, consolidando a importância das comunicações no Brasil e reforçando a
necessidade de regulamentar permanentemente o setor, foi criado no governo Castelo Branco
o Ministério das Comunicações.
72
Também foi com a intervenção expressa do presidente da
República, o marechal Castelo Branco que foi concluído o acordo entre a Rede Globo e o
grupo Time-Life. O grupo americano investiu cerca de cinco milhões de dólares e colocou à
disposição da emissora seu conhecimento técnico, administrativo e comercial.
73
A história da
Rede Globo está ligada, em grande parte, à penetração do capital estrangeiro nos meios de
comunicação nacionais. Essa penetração, no caso da Rede Globo, começou nos anos 50,
mas se consolidou nos anos 60.
74
Desta forma, ao criar um ministério e viabilizar a compra de televisores a crédito, o
regime militar deu prioridade ao desenvolvimento de um moderno sistema de
telecomunicações para auxiliar na implementação do objetivo principal do “novo” modelo
político: segurança e integração nacional.
71
Fernando Barbosa Lima, “Direitos Constitucionais, Imprensa e Cidadania”, in Fala: cadernos de cidadania,
1, Rio de Janeiro, UERJ, Faculdade de Direito, CCBLS, 2006, p. 16.
72
Octávio Penna Pieranti, “Políticas para a mídia: dos militares ao governo Lula”, in Lua Nova: Revista de
Cultura Política, nº 68, São Paulo, 2006.
73
Michele & Armand Mattelart, O carnaval das imagens: a ficção na tv, São Paulo, Ed. Brasiliense, 1998, p. 40.
74
Pedrinho A. Guareschi, “Comunicação e Poder: a presença e o papel dos meios de comunicação de massa
estrangeiros na América Latina”, Petrópolis, Editora Vozes, 1987, pp. 44 - 8. Simon Hartog, ”Muito além do
cidadão Kane”, DVD vídeo, Channel Four, 1993.
Durante esse período de constituição do regime militar, o governo Castelo Branco, em
outubro de 1965, mediante o Ato Institucional 2 (AI-2), transformou o sistema
pluripartidário em bipartidário com um partido pró-regime, a Aliança Renovadora Nacional
(ARENA) e um partido de oposição ao regime, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB)
e, também, tornou indireta a eleição de presidente da República.
75
De acordo com Faria Figueiredo, estas duas medidas constituíram-se nos pilares do
regime que se iniciava. Alterar a forma de escolha do Presidente da República, através da
eleição indireta, foi visto, pelos auxiliares diretos de Castelo Branco, como a única alternativa
para a manutenção da unidade e continuidade política do regime militar, o que era de
fundamental importância na época. Uma vez estabelecida a eleição indireta para a Presidência
da República, inicialmente com o AI-2 e posteriormente incorporada às constituições
outorgadas, iniciou-se, de fato, o processo de construção política que vigorou durante o
regime militar.
76
Durante os anos de regime militar sucederam, na chefia do Estado, ao marechal
Castelo Branco, que governou de 1964 a 1967, o general Costa e Silva, que governou de 1967
a 1969, e durante o período mais repressivo uma Junta Militar, que governou de 1969 a
1970.
77
Em 1968, no governo Costa e Silva, a resistência ao regime militar chegou às ruas,
começaram a se intensificar manifestações e greves contra o regime então vigente que foram
reprimidas pela polícia. Em setembro, o deputado Márcio Moreira Alves propôs o repúdio
popular aos militares e o boicote às comemorações da Semana da Pátria. Tal atitude não foi
bem vista pelos militares que pediram licença ao Congresso para processá-lo, mas tiveram o
pedido negado, e forneceram assim, ao regime, o pretexto para implementar medidas de
exceção. Então, em 13 de dezembro, o governo anunciou a edição do AI-5, que fechou o
Congresso por tempo indeterminado, e que voltou a funcionar em 22 de outubro de 1969, e
deu amplos poderes ao chefe de estado para intervir no Legislativo, nos Estados e municípios,
75
Lincoln de Abreu Penna, República Brasileira, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999, pp.239-315. Adriano
Nervo Codato, “Uma história política da transição brasileira: da ditadura militar à democracia”, in Revista de
Sociologia, 25, Curitiba, 2005, pp. 83-106. Centro de Informação de Acervos dos Presidentes da República,
Arquivo Nacional, http://www.arquivonacional.gov.br/memoria/crapp-site/presidente.asp?rqID=30, data de
acesso: 24/07/2007.
76
Marcus Faria Figueiredo, “A formação dos ciclos políticos”, in Lucia Klein e Marcus F.Figueiredo,
Legitimidade e coação no Brasil pós-64, Rio de Janeiro, Forense-Universitária, 1978, p.135.
77
O Globo 80 anos-o país, 25/06/2005.
cassar mandatos e suspender direitos, decretar confisco de bens e suspender a garantia de
habeas corpus. Também foi instituída a censura prévia aos meios de comunicação de massa.
78
Outro fato de grande significado político deste período foi a declaração de
impedimento do presidente Costa e Silva o que implicaria na posse do vice-presidente Pedro
Aleixo, um civil eleito por votação indireta em março de 1967 juntamente com o general
Costa e Silva. Constitucionalmente, isto implicaria em que as Forças Armadas e a própria
elite militar seriam chefiadas por um civil, o que estava completamente fora de questão.
Diante desta situação, os três ministros militares do governo Costa e Silva editaram o AI-12,
em 31 de agosto de 1969, em cujo preâmbulo justificaram: “(...) diante da situação que o país
atravessa, por força do Ato Institucional 5 (...), não se coadunam com a transferência das
responsabilidades da autoridade suprema e de Comandante Supremo das Forças Armadas,
exercidas por Sua Excelência, a outros titulares, conforme previsão constitucional”. Com base
neste ato, os três ministros militares formaram uma Junta Militar e assumiram a Presidência
governando até a posse do general Médici.
79
O general Médici que governou de 1970 a 1974 teve, na área econômica, uma
conjuntura internacional favorável que contribuiu para uma grande expansão da economia
brasileira, expressa no vertiginoso crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), na
estabilização dos índices inflacionários, na expansão da indústria, do emprego e do mercado
interno, período esse que ficou conhecido como o “milagre brasileiro”, amplamente divulgado
pela mídia. Neste contexto e visando aumentar os investimentos no país, em outubro de 1970,
o Brasil obteve do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) o maior empréstimo até
então concedido a um país da América Latina.
80
Ainda em 1970, dentro deste quadro de reorganização política e econômica do país,
ampliou-se o limite do mar territorial brasileiro para duzentas milhas. Nesse mesmo ano foi
criado o Incra, lançado oficialmente o Mobral e o Programa de Metas e Bases, para Ação do
Governo, que coordenava cerca de duzentos projetos tidos como prioritários para a política de
desenvolvimento. Foi institucionalizado o Projeto Rondon, decretado o Estatuto do Índio, e
78
Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Adriano Nervo Codato, op. cit. Banco de Dados Folha Acervo de Jornais,
http://almanaque.folha.uol.com.br/ditadura.htm, data de acesso: 24/07/2007.
79
Marcus Faria Figueiredo, op. cit. p.143.
80
Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Centro de Informação de Acervos dos Presidentes da República, Arquivo
Nacional, op. cit. Adriano Nervo Codato, op. cit.
lançado o Plano de Integração Nacional, que previa a construção das rodovias
Transamazônica, Cuiabá-Santarém, e Manaus-Porto Velho.
81
A obtenção facilitada de crédito internacional permitiu um bom número de feitos à
economia. Em 1972 foi inaugurada a refinaria de petróleo de Paulínia, em São Paulo, a maior
do país e, em 1973, o Brasil assinou dois importantes acordos: com a Bolívia, para a
construção de um gasoduto entre Santa Cruz de la Sierra e Paulínia; e com o Paraguai, para a
construção da usina hidrelétrica de Itaipu. No ano seguinte foi inaugurada a maior usina
hidrelétrica da América do Sul, na ilha Solteira, assim como a ponte Presidente Costa e Silva,
ligando o Rio de Janeiro a Niterói.
82
Estes feitos ajudaram a firmar o regime militar, e este
aproveitou a boa fortuna na economia para uma divulgação maciça, de caráter excessivamente
otimista, na televisão, por meio de métodos publicitários avançados para a época. Isso
consolidou as relações entre marketing e política no Brasil.
Entretanto, os investimentos em infra-estrutura não conseguiam mascarar o
endurecimento do regime apesar da contribuição da Rede Globo, agora integrada à nova
forma de dominação no Brasil. No seu principal programa de notícias, o Jornal Nacional,
durante o período mais duro do regime militar, o então presidente Médici fez uma declaração
famosa: “Sinto-me feliz todas as noites quando ligo a televisão para assistir ao jornal.
Enquanto as notícias dão conta de greves, agitações, atentados e conflitos em várias partes do
mundo, o Brasil marcha em paz, rumo ao desenvolvimento. É como se eu tomasse um
tranqüilizante após um dia de trabalho”. Mas não havia tranqüilizantes para os milhares de
presos, torturados e mortos por conta do regime militar e que a programação televisiva se
abstinha de noticiar.
83
O “milagre econômico”, período em que o Brasil apresentou um crescimento
significativo na área econômica, respaldou o endurecimento político de 1969 a 1973. Com
investimentos internos e empréstimos do exterior, o país estruturou uma base de infra-
estrutura moderna. Porém, esse crescimento teve um custo muito alto uma vez que os
empréstimos estrangeiros geraram uma dívida externa elevada para os padrões econômicos do
81
Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Centro de Informação de Acervos dos Presidentes da República, Arquivo
Nacional, op. cit. Adriano Nervo Codato, op. cit.
82
Idem.
83
Sérgio Domingues, “A verdadeira história de Roberto Marinho”, agosto de 2003, http://www. Radialistassp.
Org.br/verdadeira_história-robertomarinho.hym, data de acesso: 22/06/2007. Simon Hartog, ”Muito além do
cidadão Kane”, DVD vídeo, BBC-Channel Four, 1993. “Globo Repórter: 40 anos”, TV Globo, 1995, in DVD
vídeo, Arquivo do Professor Orlando de Barros.
Brasil, sem contar a criação de numerosas empresas estatais que, logo adiante, tornar-se-iam
um problema político e econômico ao tempo da eleição de Fernando Collor de Mello.
A crise econômica do Brasil, no início dos anos 70, que estava ligada, externamente, a
questão do petróleo, colocou o país numa situação econômica bastante difícil. Além disso,
internamente, o governo Médici, que recentemente terminara, foi de um profundo
autoritarismo, o mais pesado até então, desde 1964, e sua ação, através dos órgãos de
repressão, deixou muitas marcas na sociedade. Entre os militares, por seu turno, havia
posições muito independentes, tanto sobre temáticas políticas quanto no que se referia à
repressão ilimitada em nome da segurança nacional. Tais posicionamentos denotavam fratura
na hierarquia e na ordem, sempre tão cara ao setor. Então, era mister preservar as Forças
Armadas como instituição ou poder-se-ia correr o risco de inviabilizar o modelo de Estado
desenhado e que vinha sendo executado pelos militares. Assim, a necessidade de modificar a
estrutura do regime começou timidamente a se manifestar.
84
Neste contexto, em 1974, assumiu a presidência o general Ernesto Geisel, e seu
governo coincidiu com o fim do “milagre econômico" e com a insatisfação popular em altas
taxas que ameaçavam a estabilidade do regime militar. A crise internacional do petróleo
contribuiu para uma recessão mundial e, o aumento das taxas de juro, além de reduzir o
crédito, pôs a dívida externa brasileira em um patamar crítico.
O ano de 1974 e a posse do general Geisel na presidência da República marcaram
uma nova etapa na conjuntura brasileira. O novo presidente acenava para a sociedade com
um projeto de abertura política gradual e controlada. O projeto de distensão era resultante de
cisões no interior do próprio governo e, foi idealizado pelo presidente Geisel e o chefe de seu
Gabinete Civil, general Golbery do Couto e Silva, como resposta a questões e conflitos
internos. A partir daí, a constituição de uma ampla frente de lutas pelas liberdades
democráticas foi o fator fundamental para o processo de redemocratização vivido pelo país
entre 1974 e 1985.
85
84
Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Eloísa Helena Capovilla da Luz Ramos, De Golbery a Lula: olhares sobre a
redemocratização no Brasil, Rio Grande do Sul, Escola de Formação Fé, Política e Trabalho de Caxias do Sul,
UNISINOS, Mimeo.
85
Maria Paula Nascimento Araújo, “A ditadura militar em tempo de transição (1974-1985)”, in Francisco Carlos
Palomanes Martins (org), Democracia e ditadura no Brasil, Coleção Comenius, Rio de Janeiro, EDUERJ, 2006,
pp. 154 -5. Lúcia Klein, “A política de distensão”, in Lucia Klein e Marcus F. Figueiredo, Legitimidade e
coação no Brasil s-64, Rio de Janeiro, Forense-Universitária, 1978, pp.63-103. “Globo Repórter: 40 anos”,
op.cit.
O governo Geisel foi marcado, desde seu início, pelo processo denominado pelo
próprio presidente como de distensão lenta, gradual e segura, com vistas ao retorno do sistema
democrático ao país. O binômio, desenvolvimento e segurança, formulado pela Escola
Superior de Guerra foi mantido durante seu governo, caracterizado pela convivência entre
uma política de tendência liberalizante e a atuação dos órgãos de segurança implantados após
o “movimento militar” de 1964.
86
Em 1974, o governo permitiu a realização de propaganda eleitoral, anteriormente
proibida, e os candidatos do MDB à Câmara dos Deputados e ao Senado obtiveram uma
expressiva vitória nos principais estados do país, aumentando consideravelmente a bancada
oposicionista nas duas casas. No início desse mesmo ano havia expirado o prazo de suspensão
dos direitos políticos dos primeiros cassados pelo AI-1, como os ex-presidentes Juscelino
Kubitschek e Jânio Quadros e, em 1975, teve fim a censura prévia ao jornal O Estado de São
Paulo, medida estendida mais tarde a outros órgãos da imprensa.
87
As iniciativas liberalizantes não evitaram, entretanto, os recuos autoritários do
governo, registrando-se, durante todo o período Geisel, a repressão às organizações
clandestinas e ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a utilização, em diversas ocasiões, do
AI-5. Um momento de grande repercussão nacional deste período foi a morte por
enforcamento do jornalista Vladimir Herzog, ainda em 1975, nas dependências do DOI-CODI
de São Paulo, que resultou em manifestações políticas contra o governo e, evidenciou a
existência de divergências com os setores militares contrários à política do governo Geisel. A
notícia da morte de Vladimir Herzog não foi divulgada pela televisão mais os jornais a
divulgaram e, em protesto, um número expressivo de pessoas se reuniu na praça da Sé, em
São Paulo.
88
No ano seguinte, a morte do operário Manuel Fiel Filho, no mesmo local e nas
mesmas condições, levaria à exoneração do comandante do II Exército, general Ednardo
D’Ávila Melo, e ao confronto entre o governo e os militares que continuavam ainda a se opor
ao processo de abertura do regime. Além disso, as relações entre a Igreja e o governo
acirraram-se, em 1976, com o seqüestro do bispo de Nova Iguaçu, dom Adriano Hipólito, e o
86
Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Lúcia Klein, op. cit. Adriano Nervo Codato, op. cit. Centro de Informação de
Acervos dos Presidentes da República, Arquivo Nacional, op. cit.
87
Idem.
88
Idem.
assassinato do padre João Bosco Burnier, em Mato Grosso, ambos envolvidos na formação de
comunidades eclesiais de base e em movimentos populares, o que desgostava os militares.
89
Ainda em 1976, foi elaborada a Lei Falcão, que alterou a propaganda eleitoral,
impedindo o aparecimento de candidatos ao vivo no rádio e na televisão. Em 1977, o governo
Geisel colocou o Congresso Nacional em recesso por 14 dias, em virtude da não aprovação da
proposta de reforma do Poder Judiciário encaminhada ao governo. Então, para assegurar a
maioria governista no Legislativo, instituiu-se, em seguida, o chamado “pacote de abril”, que
incluía uma série de medidas, dentre as quais a manutenção de eleição indireta para
governadores; a eleição indireta de um terço dos membros do Senado (que resultou na criação
da figura do senador escolhido indiretamente, então chamado “biônico”, a partir de uma lista
prévia feita por Geisel), à ampliação das restrições impostas pela Lei Falcão e a extensão do
mandato do sucessor de Geisel de quatro para seis anos.
90
Um fato revelador das divergências internas nas Forças Armadas ocorreu em outubro
desse mesmo ano, quando foi demitido o ministro do Exército, o general Sylvio Frota, cuja
candidatura à sucessão presidencial era articulada por setores militares identificados com a
chamada linha dura. Começaram, também, as reivindicações trabalhistas e registrou-se, em
maio de 1978, a primeira greve de operários metalúrgicos desde 1964, em São Bernardo do
Campo, salientando-se, na ocasião, a liderança de Luis Inácio da Silva, o Lula, presidente do
Sindicato da categoria.
91
No que se refere à política econômica, as principais metas do governo Geisel foram
estabelecidas no II Plano Nacional de Desenvolvimento, que priorizava os investimentos do
setor energético e em indústrias básicas, com o intuito de adequar a economia à crise
internacional do petróleo e ao estágio de desenvolvimento industrial do país, e de reduzir o
capital estrangeiro em setores considerados infra-estruturais. Nesse sentido, foi lançado em
1975 o Pró-alcool e assinado o acordo nuclear Brasil-Alemanha. O plano econômico do
governo ressentiu-se, entretanto, do impacto da crise do petróleo, do aumento da dívida
externa e do desequilíbrio da balança de pagamentos. Nesse contexto, uma das medidas
defendidas pelo governo, em outubro de 1975, foi a adoção de contratos de risco entre a
Petrobrás e empresas estrangeiras para a prospecção de petróleo no país. Em 1978, no final do
governo, os principais problemas da economia continuavam sendo o crescimento da taxa de
89
Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Lúcia Klein, op. cit. Adriano Nervo Codato, op. cit. Centro de Informação de
Acervos dos Presidentes da República, Arquivo Nacional, op. cit.
90
Idem.
91
Idem.
inflação e da dívida externa. Em 31 de dezembro de 1978, o presidente revogou o AI-5 e
restaurou o hábeas corpus, dando um passo decisivo no processo de redemocratização do
país.
92
Ao terminar mais um governo do ciclo autoritário, em 1978, dois acontecimentos
tiveram influência considerável na vida política do país: o avanço organizado da oposição ao
regime e o fim do AI-5. No primeiro caso foi possível registrar dois sintomas deste avanço da
sociedade do Comitê Brasileiro pela Anistia, nos primeiros dias deste ano. Até então a anistia
era defendida por vozes isoladas, embora representativas. Mas, a partir de 1978, a campanha
em favor da “anistia ampla, geral e irrestrita” ganhava a expressão de um movimento cívico
de caráter nacional e suprapartidário.
93
Neste cenário conturbado, reafirmando o projeto de abertura política iniciado no
governo anterior, o general João Baptista Figueiredo assumiu a presidência em 1979 com a
finalidade de completar o projeto da abertura e, nesse sentido, uma de suas primeiras
medidas foi decretar a Lei da Anistia que foi aplicada aos acusados ou condenados por
crimes políticos, muitos dos quais ainda estavam exilados. Em agosto de 1979 foi aprovada a
Lei de Anistia que, apesar das restrições, beneficiou cidadãos destituídos de seus empregos,
presos políticos, parlamentares cassados desde 1964, permitindo a visita de exilados ao país.
Foram também anistiados os responsáveis pelos excessos cometidos em nome do governo e
da segurança nacional. Em dezembro de 1979, o governo modificou a legislação partidária e
eleitoral e restabeleceu o pluripartidarismo no país.
94
O ano de 1979 foi um marco no processo de gradual restauração da democracia. O
general Figueiredo, último dos cinco presidentes militares, assumiu o poder em março. Seu
governo se caracterizou por um gradual relaxamento da repressão na maior parte do país e
pelo aumento simultâneo da importância dos partidos e das eleições. A repressão contra os
partidos e os políticos foi menos freqüente durante sua presidência do que nos governos
Médici e Geisel. Entretanto, a expansão econômica do período de 1967-1974 perdera vigor e
desgastou-se ainda mais com o impacto da crise do petróleo de 1979.
95
92
Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Lúcia Klein, op. cit. Adriano Nervo Codato, op. cit. Centro de Informação de
Acervos dos Presidentes da República, Arquivo Nacional, op. cit.
93
Lincoln de Abreu Penna, idem, p. 296.
94
Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Centro de Informação de Acervos dos Presidentes da República, Arquivo
Nacional, op. cit. Adriano Nervo Codato, op. cit. “Globo Repórter: 40 anos”, op. cit.
95
Scott P. Mainwaring, Sistemas partidários em novas democracias; o caso Brasil, Rio de Janeiro, FGV, Porto
Alegre, Mercado Aberto, 2001, pp.128-30. Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Soraia Marcelino Vieira, A eleição
do futuro: 1989 votando para mudar”, Dissertação (Mestrado em Ciência Política), UFF, Niterói, 2006.
Dando continuidade à estratégia criada por seu antecessor, Figueiredo esperava
manter a situação política sob controle e simultaneamente prosseguir com o projeto de
abertura. Nesse contexto, as eleições e os partidos ganharam uma importância maior do que
tinham nos governos anteriores. Se conseguisse sair vitorioso nas eleições, o governo
poderia ampliar a liberalização do sistema político e ao mesmo tempo manter-se no poder.
Mas em vista do desempenho eleitoral da ARENA em anos anteriores e das tendências
demográficas, o governo não acreditava ter chances de vitória com as regras eleitorais
vigentes, embora achasse que poderia derrotar uma oposição dividida em eleições
majoritárias. Dessa maneira, o governo mudou as regras eleitorais. Em novembro de 1979, o
governo extinguiu os dois partidos e impôs uma nova legislação eleitoral, que foi aprovada
pelo Congresso Nacional sob o nome de Lei Orgânica dos Partidos, que extinguiu o
bipartidarismo, destinada fundamentalmente a manter a ARENA intocada mais com um
novo nome Partido Democrata Social (PDS), e dividir a oposição em vários partidos. Com a
ajuda do “pacote eleitoral” de abril de 1977 e outras leis, o PDS contava obter bons
resultados nas eleições.
96
O governo esperava que a nova legislação eleitoral estimulasse a fragmentação da
oposição, mas que, ao mesmo tempo, fosse suficientemente restritiva para impedir a
formação de partidos de esquerda fortes. A nova legislação obrigava todas as organizações
partidárias a incluírem a palavra “partido” em sua legenda. Isso visava abalar a crescente
identificação do eleitorado com o MDB, forçando-o a mudar sua sigla na esperança de assim
enfraquecer os laços que o partido havia criado com a sociedade.
97
Uma reforma eleitoral e partidária incluindo uma mudança das regras que
inviabilizavam a existência de mais de dois partidos, era uma antiga reivindicação da
oposição, mas o governo a realizou em proveito próprio. As expectativas do governo de
manter a integridade da ARENA como partido e de dividir a oposição logo se tornaram
realidades. Antes da reforma, 231 dos 420 deputados federais pertenciam à ARENA; depois
da reforma, embora os números oscilassem um pouco de um mês para outro, a ARENA tinha
cerca de 215. Os deputados da oposição passaram de 189 para 205. que a oposição não
estava mais unida e o governo acreditava ser capaz de cooptar alguns partidos.
98
96
Scott P. Mainwaring, op. cit. Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Soraia Marcelino Vieira, op. cit.
97
Idem.
98
Idem..
Cinco partidos da oposição nasceram da divisão do antigo MDB. Seu herdeiro direto,
o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), era o maior de todos, com 115
deputados em janeiro de 1982, mas era também o mais heterogêneo. Havia de tudo no
PMDB, desde organizações clandestinas de esquerda, os dois partidos comunistas, e até
grupos conservadores, mas a corrente social dita democrata era mais forte. O PMDB foi de
longe o maior partido de oposição durante todo o resto do período militar. Um partido de
centro, nascido da fusão da facção conservadora do MDB com uma corrente liberal da
ARENA, o Partido Popular (PP), fundado pelo senador “emedebista” Tancredo Neves, era o
segundo maior partido da oposição, com 69 deputados na Câmara Federal em janeiro de
1982. Meses depois, o PP se dissolveu e fundiu-se com o PMDB em revide a mudanças na
legislação eleitoral.
99
Os demais partidos da oposição eram muito menores e só tinham organizações
viáveis em alguns estados. O Partido Democrático Trabalhista (PDT) era um partido de
centro-esquerda, de orientação social democrata, mas de estilo populista e personalista.
Contava com apenas 10 deputados no início de 1982, mas a surpreendente vitória de Leonel
Brizola para o governo do estado do Rio de Janeiro nas eleições desse mesmo ano colocou o
partido em evidência. Daí em diante, o PDT se tornou um forte competidor em dois estados
importantes (Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul) e, ao longo dos anos 80, firmou-se em
alguns estados.
100
O Partido dos Trabalhadores (PT) foi o principal aglutinador da esquerda. Líderes
sindicais, grupos progressistas da Igreja Católica, lideranças dos movimentos sociais,
intelectuais e alguns setores da esquerda socialista ajudaram a fundar o PT. Essas forças
políticas rejeitavam a estratégia de frente ampla do PMDB, sob o argumento de que ela
colocava em segundo plano os interesses do povo e que era importante criar um canal
partidário para apoiar as lutas populares. Embora houvesse cinco deputados do PT na
Câmara Federal, o governo militar considerou-o uma ameaça por causa de sua orientação
esquerdista e de suas ligações com sindicatos e movimentos sociais combativos. O discurso
do partido enfatizava a mudança radical, a mobilização e a participação popular, e a
democracia interna. A força eleitoral do partido foi, inicialmente, concentrada em São Paulo
e, só no final dos anos 80, o PT deixou de ser um partido regional.
101
99
Scott P. Mainwaring, op. cit. pp.130-1. Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Soraia Marcelino Vieira, op. cit.
100
Idem.
101
Idem.
Por fim, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), liderado pela ex-deputada Ivete
Vargas, estava ideologicamente mais próximo do PP e atraiu parte da oposição centrista.
Partido pequeno com apenas quatro deputados na Câmara em 1982 competia com o PDT
pela posse do legado do PTB de antes de 1965. O novo PTB surgiu das facções mais
clientelistas de seu antecessor. Juntos esses cinco partidos criados em 1979-80 reuniram
todos os 479 deputados federais eleitos em 1982, 349 dos 487 (71,7%) que se elegeram em
1986. Quatro novos partidos surgiram durante a década de 80, e ganharam algum peso
político: o Partido da Frente Liberal (PFL), conservador, o Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB), de centro-esquerda, o Partido Democrata Cristão (PDC), de centro-
direita, e o Partido da Reconstrução Nacional (PRN), de direita.
102
Depois de 1980, a competição eleitoral prevaleceu na lógica das forças de oposição.
Essa tendência indicou uma mudança em relação ao período 1974-1980, quando outras
formas de atividade, tais como os movimentos sociais, em muitos momentos sobrepujaram
os partidos na função de canalizar as demandas da oposição. Após as reformas eleitorais de
79 e o surgimento de novos partidos, a maioria dos líderes populares passou a dar
importância à política eleitoral. Muitos militantes se engajaram primordialmente na política
partidária e se afastaram dos movimentos sociais.
103
Ainda em novembro, foi aprovado o
projeto do governo que previa eleições diretas de governadores e extinguia a figura do
senador “biônico”, isto é, eleito indiretamente.
104
Em 1980 verificaram-se reações ao processo de abertura do regime, quando grupos
de direita foram responsáveis por atentados a bomba em bancas de jornal que vendiam
periódicos de esquerda. Em agosto, desse ano, cartas bombas foram enviadas à Câmara
Municipal do Rio de Janeiro e ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
resultando na mutilação do funcionário José Ribamar, da Câmara, e na morte de Lida
Monteiro da Silva, da OAB. Em 1981, ocorreria o caso mais polêmico do governo
Figueiredo, quando duas bombas explodiram nas proximidades do Riocentro, no Rio de
Janeiro, durante a realização de um evento comemorativo do dia do trabalho. As duas únicas
vítimas do atentado foram dois militares lotados no CODI do I Exército. O episódio teve
102
Scott P. Mainwaring, op. cit. pp.130-1. Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Soraia Marcelino Vieira, op. cit.
103
Idem.
104
Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Adriano Nervo Codato, op. cit. Centro de Informação de Acervos dos
Presidentes da República, Arquivo Nacional, op. cit. “Globo Repórter: 40 anos”, op. cit.
ampla repercussão pública e o resultado do inquérito, inocentando os dois militares, seria
colocado sob suspeição, e acarretaria uma crise no governo.
105
No que diz respeito à política econômica registrou-se, durante o governo Figueiredo,
o esgotamento do modelo econômico adotado pelos governos militares agravado pela nova
crise do petróleo em 1979, e a elevação dos juros no mercado internacional. Em 1979 o
governo congelou as importações de petróleo e criou o Conselho Nacional de Energia.
Intensificaram-se, nesse período, as atividades do Pró-alcool e estenderam-se os contratos de
risco com empresas estrangeiras para a prospecção de petróleo a todo o território nacional.
106
Após a crise do petróleo de 1973, começou a ganhar força o que se convencionou
chamar de neoliberalismo que é uma prática político-econômica baseada nas idéias de
pensadores monetaristas, representados principalmente por Milton Friedman, dos Estados
Unidos e Friedrich Hayek, da Grã-Bretanha. Eles defendiam a idéia de que já não se podiam
manter os pesados investimentos que se haviam realizado após a II Guerra Mundial uma vez
que existiam déficits públicos, balanças comerciais negativas e inflação. Defendiam, portanto,
uma revisão do papel do Estado na economia.
Vivia-se o fim da guerra fria, a consolidação da informática, a vitória da democracia
pluralista, e a introdução de novos preceitos nas relações internacionais. O contexto antes
heterogêneo passou a homogêneo, com interesses convergentes na ordem internacional com
os neoliberais na política galgando posições dominantes na política. Tratava-se de uma
época assinalada pela derrocada soviética, projetando-se as concepções de direita, a partir
dos governos de Margaret Thatcher, no Reino Unido e Ronald Reagan, nos Estados Unidos,
com larga influência mundial. Desde então o Estado passou a gerir a ordem política e
econômica, deixando as empresas privadas livres para investirem como quisessem, os
Estados passaram a desregulamentar e a privatizar inúmeras atividades econômicas antes por
eles conduzidas.
107
Desse momento data a dívida do Terceiro Mundo, que esse arrasta como um grilhão e
que serviu de arma para arrancar a liberalização, a desregulamentação, a privatização e a
desnacionalização do capital em países que se haviam engajado na via do desenvolvimento
industrial autônomo. Graças a medidas de liberalização e desregulamentação, que se
105
Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Adriano Nervo Codato, op. cit. Centro de Informação de Acervos dos
Presidentes da República, Arquivo Nacional, op. cit. “Globo Repórter: 40 anos”, op. cit.
106
Idem.
107
Orlando de Barros, “Sinopse da História das Relações Externas Brasileiras”, in História das Relações
Internacionais-teoria e processos, Monica Lessa e Williams Gonçalves (org), Rio de Janeiro, EDUERJ, 2007,
pp.43-109.
estenderam a um número cada vez mais importante de esferas de atividades econômicas e
sociais e de países, o capital conseguiu retirar a maior parte dos freios e das salvaguardas que
haviam anteriormente contido e canalizado sua atividade. Isso foi mais fácil porque essas
medidas foram apoiadas, senão impostas, no plano institucional pelas grandes organizações
econômicas.
108
1.2. POLÍTICA E MÍDIA NO FIM DO REGIME MILITAR
Paralelamente ao quadro de crise econômica, observou-se no Brasil desde 1978 a
eclosão de movimentos grevistas de diversas categorias profissionais, destacando-se, em
1980, a paralisação dos metalúrgicos do ABC paulista, mantida por 41 dias, e que resultou
em demissões, choques com as tropas da polícia e do Exército, intervenção em sindicatos, e
na prisão e enquadramento de líderes sindicais na Lei de Segurança Nacional (LSN). Em
1981 reuniu-se a primeira Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (CONCLAT) e
dois anos depois foi criada a Central Única dos Trabalhadores (CUT).
109
Estas mudanças na
conjuntura foram percebidas pela televisão que começou a sua transformação, na expectativa
do fim próximo do regime militar.
O escritório central da TV Globo permitiu que uma equipe de repórteres fizesse um
documentário sobre os movimentos grevistas do ABC paulista. Entretanto, este
documentário nunca foi apresentado. Lula, o líder sindical na época, comentando o episódio
disse.”Achavam que nós não deveríamos falar para a TV Globo. A Globo mentia a
respeito da greve. Ela não dava as informações corretas, não dava o número de participantes
correto, não dava as nossas deliberações corretas, não dava o número total de pessoas
paralisadas, ela informava sobre interesses patronais. Por exemplo: um dia a TV Globo
entrevista o Lula falando em nome dos trabalhadores, e o Mário Garnero, falando em nome
dos empresários. No dia da entrevista aparece o Mário Garnero. Não aparece o Lula”. E,
Armando Nogueira, o chefe de Jornalismo da TV Globo de 1967 a 1989, assim se
manifestou. “A recomendação que a gente tinha, a instrução que a gente tinha da parte da
108
François Chesnais, “Por trás do discurso sobre a mundialização inevitável”, in Raul K. M. Carrion e Paulo
Fagundes Vizentini (orgs), A crise do capitalismo globalizado na virada do milênio, Porto Alegre, Ed.
Universidade UFRGS, 2000, pp. 21-2.
109
Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Adriano Nervo Codato, op. cit. Centro de Informação de Acervos dos
Presidentes da República, Arquivo Nacional, op. cit. “Globo Repórter: 40 anos”, op. cit.
ditadura, era de fazer uma cobertura soft, sem som ambiente, ou seja, sem trilha sonora e sem
que se pudesse ouvir os líderes sindicais, só se podia ouvir os líderes patronais”.
110
No Brasil, o primeiro grande desafio da abertura foi a eleição de 1982. O projeto
aprovado pelo Congresso não tornava o multipartidarismo uma pálida expressão
pluripartidária como partia da premissa de que o PDS, melhor estruturado nacionalmente e
contando com a máquina administrativa, acabasse sendo o principal beneficiado das
eleições. Nas eleições majoritárias, o PDS ganhou em doze estados, o PMDB em nove e o
PDT somente no Rio de Janeiro, contudo, em número de votos o PMDB saíra vitorioso,
porque vencera nos principais e mais populosos estados da federação.
111
Outro episódio foi a apuração de votos no Rio de Janeiro, em 1982, por ocasião das
eleições para o governo de vários estados, com previsão de vitória da oposição em vários
deles. E assim ocorria também no Rio de Janeiro, onde Leonel Brizola era o candidato do
PDT ao governo estadual: ressalte-se que Brizola sempre fora crítico exacerbado da Rede
Globo de televisão. Na ocasião, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) contratou uma empresa
de consultoria, a Proconsult, ao que se dizia de propriedade de militares integrantes do
Serviço Nacional de Informação, para fazer a apuração dos votos por meio de computadores.
Constatou-se que havia fraude nos programas de computador para prejudicar Brizola. A
Globo divulgava hora a hora os resultados dos boletins fraudados, embora estivesse a par do
esquema. Sucedeu então que um sócio da empresa procurou o candidato do PDT, propondo
– o que se constituía em verdadeira chantagem – que denunciaria a fraude se Brizola
aceitasse nomear para cargos importantes no governo indicações que queria fazer. Brizola
levou o sócio da empresa ao Tribunal Eleitoral, e acompanhado por um juiz e por jornalistas
da imprensa internacional, invadiu a empresa de consultoria Proconsult. Depois foi à Globo
que continuava a divulgar os números fraudados.
112
Noutros acontecimentos da vida política
nacional a Globo também teria papel proeminente, não raro distorcendo informações.
Em 1982, na mesma ocasião das eleições diretas para os governos estaduais,
realizaram-se também eleições para o Congresso. A oposição obteve maioria na Câmara dos
Deputados e o PDS, no Senado e nos governos estaduais. Em 1983 formou-se uma frente
única que reuniu partidos e entidades de oposição numa campanha que tomou o país
110
Geraldo Anhaia Mello, Muito além do Cidadão Kane, http://blog.controversia.com.br/2000/02/18/o-inicio-
da-globo/, data de acesso: 24/07/2007. Simon Hartog, op. cit.
111
Lincoln de Abreu Penna, op. cit., p. 296. O Globo 80 anos-o país, 25/06/2005.
112
Lincoln de Abreu Penna, op. cit. O Globo 80 anos-o país, op. cit. Mario Sérgio Conti, Notícias do Planalto: a
imprensa e Fernando Collor, São Paulo, Companhia das Letras, 1999, pp. 34-6.
reivindicando eleições diretas para a Presidência da República, era a campanha das “Diretas
Já”. A emenda constitucional das diretas, de autoria do deputado peemedebista Dante de
Oliveira, foi derrotada na Câmara em abril de 1984. Em meados de 1984, a democracia
brasileira renascia, articulada por uma solução negociada entre as lideranças políticas. No
mês de julho, o PMDB e o PFL acertaram a aliança da chapa Tancredo Neves – José Sarney.
O regime militar chegava ao fim não por uma derrubada revolucionária, mas por uma
solução negociada entre as elites políticas.
113
Em 1984, o país mobilizou-se na campanha pelas “Diretas Já”, campanha que pedia
eleições diretas, para a Presidência da República, amplamente apoiada por movimentos de
massa, em meio a praças cheias e com a união de líderes nacionais como Ulysses Guimarães,
Fernando Henrique Cardoso, Lula, Tancredo Neves, dentre outros. O movimento reivindicava
a aprovação da emenda Dante de Oliveira que tramitava no Congresso, e que garantiria
eleições diretas para presidente naquele ano, mediante alteração na Constituição. No dia 25 de
abril de 1984, Brasília encontrava-se sob tensão, em grande parte provocada pelas medidas de
segurança postas em prática pelo governo, Brasília abrigou caravanas vindas de vários pontos
do país, para acompanharem a votação, que terminou sem que o quorum necessário à sua
aprovação fosse alcançado.
114
A importância dos acontecimentos bem como o rumo que
tomavam na direção do fim do regime militar obrigavam as televisões a cobrir
demoradamente os lances políticos da redemocratização, já levando em conta como se afastar
da incômoda adesão ao regime militar, o que não foi fácil.
Outro episódio também bastante indicativo das relações da Globo com o regime
militar foi o movimento das “Diretas Já”, em 1984, que a empresa procurou deixar fora do
noticiário ou, mesmo, minimizar, o que não conseguiu. Isso levou, nos comícios, o
surgimento de um bordão, clamado aos brados pela multidão: “o povo não é bobo, fora a
Rede Globo”. A Globo, quando viu que a ditadura estava fatalmente no fim, começou uma
gradativa mudança de atitude com o fito de garantir uma posição proeminente no governo
futuro, fosse qual fosse. Reuniu-se com Tancredo Neves e acertou a tática de dirigir o
movimento popular para a saída política que menos causava prejuízos à classe dominante
naquelas circunstâncias: o Colégio Eleitoral e não as eleições diretas. Tancredo seria o
candidato da burguesia liberal contra Maluf, candidato preferido pelos militares. Derrotada
113
Maria Paula Nascimento Araújo, “A ditadura militar em tempo de transição (1974-1985)”, in Francisco
Carlos Palomanes Martins (org), Democracia e ditadura no Brasil, Coleção Comenius, Rio de Janeiro,
EDUERJ, 2006, p. 163.
114
Lincoln de Abreu Penna, op. cit. p. 296.
no Congresso a emenda das “Diretas”, a Globo começou a apresentar os comícios de
Tancredo Neves como festas populares e democráticas. Maluf ficou com o papel de
“malvado”, que lhe caía perfeitamente bem, diante do grande repúdio ao esgotado regime
vigente. O resultado foi que a Globo contribuiu de modo importante para que se tornasse
aceitável a votação no Colégio Eleitoral, em vez das desejadas eleições diretas. A eleição
presidencial indireta, no Congresso, acabou, por força da mídia, parecendo uma festa de
democracia e não a contrariedade da vontade popular, parecendo assim, uma saída honrosa
para os militares.
115
A mídia televisiva encontrava, por fim, uma saída.
1.3. AS AGRURAS DA RECONSTRUÇÃO DEMOCRÁTICA
Fatores externos e internos influenciaram a abertura política. Às pressões
internacionais para a democratização e para a liberalização do comércio internacional vindas
dos Estados Unidos e, também, da ONG Anistia Internacional, somaram-se os dois choques
do petróleo, de 1973 e 1979, que ocasionaram uma crise econômica que mostrou que havia
sinais de esgotamento do modelo econômico baseado na substituição de importações
conjugado ao incentivo às exportações e ao endividamento externo, que evidenciou a falta de
condições dos governos militares de promoverem o crescimento econômico. Paralelamente,
o regime militar mostrava sua insustentabilidade interna com a dissidência no interior das
forças armadas e a perda do apoio popular, cuja manifestação mais significativa de
insatisfação com o regime foram as eleições, especialmente a partir da eleição de 1974,
quando o partido de oposição, o MDB, começou a ganhar mais representatividade por meio
do voto direto.
116
E, em janeiro de 1985, Tancredo Neves e José Sarney foram eleitos indiretamente
pelo Colégio Eleitoral, respectivamente, presidente e vice-presidente da República,
derrotando os candidatos governistas Paulo Maluf e Flávio Marcílio.
117
Ele integrava a
Aliança Democrática, à frente de oposição formada pelo PMDB e pela Frente Liberal, a
dissidência do PDS. A eleição marcou o fim do regime militar.
118
A eleição de Tancredo
Neves e José Sarney, apesar do método eleitoral indireto, acendeu uma chama de esperança.
115
Lincoln de Abreu Penna, op. cit. p. 296. Mario Sérgio Conti, op. cit. p. 37.
116
Soraia Marcelino Vieira, op. cit.
117
Centro de Informação de Acervos dos Presidentes da República, Arquivo Nacional, op.cit. Adriano Nervo
Codato, op.cit.
118
“Globo Repórter: 40 anos”, op. cit.
Nascia o que se convencionou chamar de a “Nova República”. Porém Tancredo Neves ficou
doente antes de assumir e acabou falecendo. Assumiu, então, o vice-presidente José Sarney,
homem que até então tão bem servira o regime militar.
119
Após contemplar uma longa transição partindo do regime autoritário o país
enfrentava enormes desafios para construir uma democracia viável. O cenário interno
apresentava-se com inflação próxima a um patamar de hiperinflação, a maior dívida externa
do mundo ainda por negociar, índices perigosamente baixos de investimentos, tanto no setor
público quanto no privado, dívida interna crescente, a maior parte financiada em bases
diárias, e déficit orçamentário endêmico.
120
Além disso, a herança do regime militar durante o processo de democratização e
aperfeiçoamento de um regime que não era popular, aliado a um alto grau de fragmentação e
de baixa institucionalidade dos partidos políticos, também contribuíram para a eleição de
Fernando Collor de Mello, uma vez que durante o regime militar os partidos políticos
perderam a sua função de representação. Entretanto, o fim do regime militar não deve ser
associado somente à crise econômica que foi paralela à distensão da ditadura e à crise social
que decorreu dos efeitos liberalizantes da política de distensão.
121
O governo do presidente
Sarney, que se iniciava, foi marcado, sobretudo, por duas grandes tarefas que se impunham
ao país: reconstruir a democracia e enfrentar a crise inflacionária.
A principal interpretação da reforma do Estado e a estabilização da economia durante
o governo Sarney é que o presidente não estava muito empenhado em nenhuma das duas
áreas. Mas uma outra importante explicação de que as instituições políticas impediram
Sarney de levá-las a cabo. Seus planos de estabilização resultaram em estrondosos fracassos
e o governo não fez nenhum avanço na reforma do Estado.
122
Antes ao contrário, o Estado
continuou pesado, enquanto Sarney prosseguia aliado com os setores que haviam se
locupletado no regime militar.
No plano econômico o governo Sarney anunciou em de março de 1986, uma
ampla reforma monetária que ficou conhecida como “Plano Cruzado”, em referência à nova
moeda implantada. Comandado pelo ministro da fazenda Dílson Funaro, e considerado
heterodoxo por diferir dos planos recomendados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI),
119
“Globo Repórter: 40 anos”, op. cit.
120
Thomas Skidmore, “A queda de Collor: uma perspectiva histórica”, in Keith S. Rosenn e Richard Downes,
Corrupção e reforma política no Brasil: o impacto do impeachment de Collor, Rio de Janeiro, FGV, 2000, pp.
28-9. O Globo 80 anos-o país, 25/06/2005.
121
Adriano Nervo Codato, op. cit.
122
Scott P. Mainwaring, op.cit. pp. 352-3. Lincoln de Abreu Penna, op.cit. Soraia Marcelino Vieira, op.cit.
tinha como medidas de estabilização econômica o congelamento de preços e salários, o
abono de 8% para todos os trabalhadores, o gatilho salarial a cada vez que a inflação
ultrapassasse 20%, e o incentivo à produção em detrimento da especulação financeira. A
moeda valorizada funcionaria como um instrumento de distribuição de renda, aumentando o
poder de compra dos salários. Inicialmente, os resultados foram positivos, com inflação
inferior a 2% ao mês. Todavia, em setembro daquele ano, foram sentidos os efeitos do
aumento camuflado de preços e do que foi avaliado como um aquecimento excessivo da
economia. Em fevereiro de 1987, as reservas cambiais caíram rapidamente e o ministro
Funaro suspendeu os pagamentos dos juros da dívida externa aos bancos privados, enquanto
a inflação atingia um patamar de 365,7% anuais. A moratória foi suspensa em novembro,
quando o Brasil pagou 500 milhões de dólares ao FMI.
123
Em janeiro de 1988, o novo ministro da Economia Luis Carlos Bresser Pereira,
promoveu um outro plano de estabilização que ainda assim não conteve a inflação, cujo
índice girou em torno de 1000% naquele ano. Seu sucessor, Maílson da Nóbrega, também
não obteve sucesso. Um ano depois, em janeiro de 1989, um terceiro programa econômico
foi anunciado pelo governo, batizado de “Plano Verão”, que congelou salários e preços,
porém o ano encerrou-se com a taxa anual de inflação de 1764,86%. O Brasil vivia então os
efeitos da crise que atingiu amplamente a América Latina na década de 1980, quando o
aumento da taxa de juros americana e a recessão mundial atingiram as exportações
brasileiras. As taxas de juros e de risco (spread) tornaram insustentável o financiamento da
dívida externa. Em conseqüência, verificou-se a diminuição dos investimentos públicos,
traduzidos em cortes orçamentários, e retração da iniciativa privada, dadas as altas taxas de
juros e a reduzida perspectiva de consumo.
124
Não obstante as dificuldades econômicas, o governo prosseguiu ampliando os gastos
públicos, criando novas fontes de despesas. Destacou-se nesse período a criação do
Ministério da Cultura, em 15 de março, obedecendo, segundo decreto que o originou, “à
situação atual do Brasil” que não poderia prescindir de “uma política nacional de cultura,
condizente com os novos tempos e com o desenvolvimento já alcançado pelo país”.
125
Com o objetivo de consolidar o regime democrático, logo que tomou posse, o
governo Sarney iniciou uma série de reformas legais de caráter político, dentre as quais:
123
Lincoln de Abreu Penna, ibidem. Adriano Nervo Codato, op. cit. Centro de Informação de Acervos dos
Presidentes da República, Arquivo Nacional, op. cit.
124
Idem.
125
Idem.
eleições diretas, em dois turnos, para a presidência da República; eleições diretas nas capitais
dos Estados, áreas de segurança e principais estâncias hidrominerais; representação política
para o Distrito Federal na Câmara dos Deputados e no Senado; direito de voto aos
analfabetos; e liberdade de organização partidária, mesmo para os comunistas.
126
Neste contexto, o presidente Sarney ampliou o pluripartidarismo e legalizou
plenamente o sindicalismo e as grandes centrais sindicais: a Central Única dos Trabalhadores
(CUT), ligada ao PT, e a Central Geral dos Trabalhadores (CGT), ligada à esquerda do
PMDB e ao PCB. Foram legalizados, também, os partidos de esquerda tradicionais, como o
PCB e o PC do B, surgindo novos partidos, como o Partido Social Democrata Brasileiro
(PSDB), formado por antigos membros do PMDB, autodenominados por seus integrantes
como de centro-esquerda, e o Partido Liberal (PL), organizado, principalmente, por
empresários adeptos do neoliberalismo. Em novembro de 1986, realizaram-se eleições
simultâneas para o Governo dos Estados, Senado Federal, Câmara dos Deputados e
Assembléias Estaduais, com o PMDB elegendo a maioria dos governadores e tornando-se
majoritário no Congresso Nacional. O Congresso então eleito, também assumiu a tarefa de
elaborar a nova Constituição brasileira, estabelecendo-se como Assembléia Constituinte de
que se esperava que viesse resgatar o período militar autoritário oferecendo uma Carta
Magna com conteúdo democrático atualizado e que levou um ano para ser redigida, a
Constituição de 1988.
127
A convocação de uma Assembléia Constituinte foi um dos compromissos assumidos
por Tancredo Neves na sua campanha e, posteriormente, honrado por Sarney, uma vez que a
Constituinte era um importante passo na consolidação do regime democrático.
Em 10 de fevereiro de 1987, instalou-se a Assembléia Nacional Constituinte,
iniciando suas atividades, sob a liderança do deputado Ulysses Guimarães. A nova
Constituição foi promulgada em 5 de agosto de 1988, tendo sido desde então considerada a
mais democrática da história brasileira. Dentre outras medidas, ela estabeleceu eleições
diretas em dois turnos para presidente, governadores e prefeitos, adotou o presidencialismo
como forma de governo, afirmou a independência dos três poderes, restringiu a atuação das
forças armadas, estendeu o voto aos analfabetos e maiores de 16 anos, universalizou o direito
126
Brasilio Sallum Júnior, Brasil e Argentina hoje – política e economia, EDUSC, São Paulo, 2004, p.53.
127
Thomas Skidmore, Uma história do Brasil, São Paulo, Paz e Terra, 2000, pp. 267-75.
de greve, entre diversas outras garantias civis, sociais e trabalhistas, deixando lacunas, no
entanto, no que se refere à reforma agrária.
128
Durante a Assembléia Constituinte, Sarney montou um bloco suprapartidário
conhecido como “Centrão”. O presidente esperava que o “Centrão” lhe proporcionasse o
apoio garantido que os partidos lhe negavam. Mas a fidelidade do “Centrão” a Sarney era
incerta e dependia de um fluxo permanente de patronagem que minava as políticas de
estabilização. Além do mais, o “Centrão” se dividiu em muitas questões e uma numerosa
facção do bloco apoiou medidas contrárias às que Sarney defendia. Em questões
relacionadas com a estabilização e a reforma do Estado, os constituintes muitas vezes
votaram contra as preferências de Sarney. Enquanto o governo propugnava por maior
abertura aos mercados externos, a Constituinte adotou diversas medidas nacionalistas.
Enquanto o governo começava a avançar na diminuição do Estado, a Constituinte aprovou
dispositivos estatizantes e ainda por cima sancionou várias medidas que contrariavam a
opinião de Sarney: o aumento substancial das transferências da receita fiscal federal para os
estados e municípios; o aumento dos benefícios e despesas previdenciárias; a extensão dos
direitos trabalhistas; medidas econômicas estatizantes e nacionalistas e o cancelamento das
dívidas de empresas privadas com o governo federal.
129
A Constituição de 1988 introduziu importantes modificações nas relações entre o
Executivo e o Legislativo e entre o presidente e os governadores. Fortaleceu o federalismo,
transferiu recursos substanciais do governo federal para os estados e municípios, reduziu os
poderes presidenciais e ampliou os do Legislativo. Essas mudanças produziram um contexto
institucional diferente do que Sarney havia herdado em março de 1985. Congresso, estados e
municípios fortalecidos significaram maiores limitações aos poderes de Sarney, e
dificultaram ainda mais a realização de reformas. Embora em muitos aspectos o Brasil fosse
uma democracia quando Sarney tomou posse, do ponto de vista das relações entre Executivo
e Legislativo e entre governo federal e subunidades da federação não era; as mudanças
introduzidas pela Constituição de 1988 foram mais significativas do que as pequenas
modificações ocorridas em 1985.
130
Entretanto, apesar da Constituição de 1988 refletir o avanço ocorrido no país na área
da extensão dos direitos sociais e políticos aos cidadãos em geral e às chamadas minorias, ao
128
Centro de Informação de Acervos dos Presidentes da República, Arquivo Nacional, op. cit. Adriano Nervo
Codato, op. cit.
129
Scott P. Mainwaring, op. cit. pp.354. Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Soraia Marcelino Vieira, op. cit.
130
Idem.
mesmo tempo consagrou um quadro que vinha sendo superado, dadas as novas realidades
de um mundo globalizado, especialmente no campo econômico. O monopólio outorgado ao
Estado, nos setores de petróleo, telecomunicações, energia elétrica, portos e transporte
rodoviário logo se revelou um obstáculo ao fornecimento de bens e serviços e uma carga que
um Estado em crise não poderia suportar.
131
No campo econômico, Sarney pôs em ação vários planos de estabilização, mas as
estatísticas econômicas sublinham o flagrante insucesso de todos eles: a inflação cresceu de
59% em 1986, ano de criação do Plano Cruzado, para 395% em 1987, 993% no ano
seguinte, 1862% em 1989. Uma das principais razões do malogro das sucessivas tentativas
de estabilizar a economia era de ordem institucional. Construir uma base estável de apoio em
um sistema político que dispensa o poder é um desafio incessante. Os presidentes usam da
distribuição de recursos governamentais para premiar seus aliados. Mas o uso maciço de
dinheiro público enfraqueceu as medidas de austeridade adotadas pelo governo. Sarney tinha
medo de que, sem a farta distribuição de verbas, a Constituinte acabasse encurtando seu
mandato para quatro anos. Além disso, temia uma série de revezes em outras áreas e, por
isso, entregou-se à barganha de nomeações e verbas em troca de apoio político.
132
Preocupado em assegurar um mandato de cinco anos, Sarney sacrificou as reformas
para “comprar” o apoio político de que necessitava para atingir seu objetivo. Nessas
circunstâncias, qualquer política econômica de austeridade se tornava inviável. Durante os
primeiros dezoito meses do seu governo, Sarney esteve na confortável situação de enfrentar
uma escassa oposição por parte do Congresso, em conseqüência tanto da fraqueza do
legislativo quanto do apoio garantido da coalizão PMDB-PFL e das condições relativamente
favoráveis da economia. Além disso, o presidente dispunha de imensos poderes
constitucionais e podia governar por decretos, as medidas provisórias, o que lhe garantia
uma posição de força diante do Congresso. Mas essa capacidade irrestrita de efetuar políticas
começou a estreitar-se em 1987, em função da deterioração do contexto econômico e político
e também de mudanças institucionais.
133
Com a erosão de sua popularidade, Sarney perdeu
uma fonte de influência sobre o Congresso e os governadores. Ante a queda de popularidade
do presidente, o crescimento da inflação, e a desaceleração da economia, governadores e
parlamentares procuraram se afastar de Sarney, dificultando-lhe mais ainda a articulação do
apoio de que necessitava para realizar as reformas.
131
Boris Fausto, História Concisa do Brasil, São Paulo, Imprensa Oficial SP, EDUSP, 2002, p. 289.
132
Scott P. Mainwaring, op. cit. pp.353-4. Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Soraia Marcelino Vieira, op. cit.
133
Idem.
Após o fracasso do Plano Cruzado, Sarney não pôde mais contar com o apoio do
Congresso. Em 1986, quando sua popularidade era enorme devido ao êxito do Plano
Cruzado, o PMDB e o PFL lhe garantiam respaldo político. Mas com o fracasso do plano, a
ala progressista do PMDB o abandonou. A natureza negociada da transição democrática
obrigou Sarney a equilibrar os pedidos de verbas e cargos do PMDB e o PFL. Mas era difícil
governar com uma coalizão que incluía opositores e defensores do regime militar. Conflitos
se sucediam entre os ministros, freqüentemente levando a incoerências no processo de
elaboração de políticas. Para enfrentar esse problema, Sarney tentou organizar uma base de
apoio suprapartidária e usar nomeações e verbas para induzir governadores e parlamentares a
apoiá-lo. No entanto, após o colapso do Plano Cruzado, ele não conseguiu manter a
integridade da coalizão. O restante de seu mandato foi marcado por graves conflitos dentro
do próprio governo.
134
Durante seu governo, Sarney acabou de vez com a censura à imprensa, e na época em
que o deputado federal Antonio Carlos Magalhães era ministro das Telecomunicações houve
um aumento considerável de concessões de emissoras de radiodifusão. Elas foram usadas, em
muitos casos, como forma de barganha com os parlamentares que compunham a Assembléia
Constituinte, em busca de apoio ao governo, aliás, bastante debilitado pelo insucesso da
economia.
135
De acordo com Adriano Codato, o governo Sarney foi a expressão máxima do grupo
que controlou a mudança política no Brasil. A longevidade da tríade ARENA – PDS – PFL na
cena política mostra que não houve uma verdadeira substituição dos grupos ligados à ditadura
mas, uma acomodação no universo das elites, tendo as Forças Armadas passado para o fundo
do palco, sem contudo perder suas prerrogativas.
136
Quase no fim do seu mandato, Sarney estava cada vez mais isolado e incapaz de levar
a cabo um plano de estabilização econômica. O déficit fiscal e as taxas de inflação
explodiram. O governo tentou ainda tomar algumas iniciativas importantes, mas a maior parte
delas foi rejeitada. Por exemplo, apresentou um projeto visando reduzir o déficit da
Previdência Social por meio do corte de benefícios, mas a proposta não foi aprovada. Após
uma série de derrotas do governo na tentativa de aprovar uma lei salarial em 1989, um dos
amigos fiéis do presidente admitiu. “É o fim. Toda vez que se faz uma votação secreta, o
134
Scott P. Mainwaring, op. cit. Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Soraia Marcelino Vieira, op. cit.
135
Octávio Penna Pieranti, “Políticas para a mídia: dos militares ao governo Lula”, in Lua Nova: Revista de
Cultura Política, nº 68, São Paulo, 2006.
136
Adriano Nervo Codato, op. cit.
governo dispõe de 31 votos de um total de 570)”.
137
Em setembro do mesmo ano, um dos
partidários de Sarney, o governador Newton Cardoso, do PMDB de Minas Gerais, afirmou.
“Ninguém mais acredita no governo”.
138
Ante um governo paralisado por políticas
desconexas, a economia deteriorou-se ao longo de 1989. A dívida interna duplicou entre
janeiro de 1988 e meados de 1989 e a inflação escalou alturas. O governo perdeu o controle
da economia, acarretando uma crise hiper-inflacionária no começo de 1990.
139
Entretanto, o governo José Sarney teve o grande mérito de consolidar o período de
transição democrática, assegurando a campanha eleitoral e, as eleições presidenciais de 1989,
quando, pela primeira vez em 29 anos, o Presidente da República seria eleito diretamente pelo
povo, justamente o sucessor de Sarney. E, Fernando Collor capitalizou as dificuldades do
governo Sarney em proveito da sua candidatura. Naquele momento, o governo Sarney
encontrava-se desgastado pelas promessas não cumpridas da Nova República e pelo reiterado
fracasso de planos de combate à inflação e de estabilização da moeda. Assim, o
descontentamento com o governo Sarney, com a explosão inflacionária, com as mudanças
sociais não realizadas, com a sobrevivência das velhas lideranças políticas gestadas pelo
regime militar, dentre outros motivos, solapavam o campo político.
140
Não existe um consenso sobre qual o tempo exato do período de transição que
sobreveio ao fim do regime militar brasileiro. Grosso modo, os cinco anos do governo Sarney
são considerados como de transição para a verdadeira democracia, cuja pedra de toque
deveria ser a eleição direta do Presidente da República. Mas para o historiador Aarão Reis, a
transição começou em 1979, com o fim dos atos de exceção e aprovação da anistia. Refletindo
sobre a gênese e o desenvolvimento da ditadura militar no Brasil, este autor preocupou-se
também em analisar a sua extinção, que para ele a ditadura foi “redefinindo-se,
transformando-se, transitando para uma democracia sob formas híbridas, mudando de pele
como um camaleão muda de cores, em uma lenta metamorfose que até hoje desencadeia
polêmicas a respeito de quando, efetivamente, terminou”.
141
137
Luis Eduardo Magalhães, deputado federal (PFL-Bahia), citado em “Salve-se Quem Puder”, Istoé Senhor,
16/05/1990, p.19.
138
“Tchau, Sarney. Alô, Ermírio”, Istoé Senhor, 06/09/1989, p.40.
139
Scott P. Mainwaring, op. cit. pp. 354-5. Lincoln de Abreu Penna, op. cit. Soraia Marcelino Vieira, op. cit.
140
Antonio Albino Canelas e Leandro Colling, “Mídia e eleições presidenciais no Brasil pós-ditadura”, in
Doutrina, pp.169-90.
141
Daniel Aarão Reis, Ditadura militar, esquerdas e sociedade, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2000, p.11.
1.4. A FABRICAÇÃO DO PRESIDENTE PERFORMÁTICO
Para tal, foi editado e divulgado um livro construído em forma de reportagem sobre a
trajetória pessoal e política de Fernando Collor.
142
A importância dessa breve biografia
prendia-se ao fato de que, dessa forma, Collor de Mello e seus consultores políticos
consideravam que o cidadão comum podia, assim, “conhecer” a família do candidato à
presidência da República e, baseado nessa apresentação idealizada, formar uma opinião
pessoal “real” sobre ele, que viria de encontro aos anseios do eleitorado.
O cenário inicial da construção dessa imagem foi o estado de Alagoas, seu berço
familiar e político. Fernando Collor de Mello é neto de Lindolfo Collor e filho de Leda Collor
de Mello e Arnon Affonso de Farias Mello. Tanto Lindolfo quanto Arnon participaram da
vida política do país. Antes de ser eleito presidente da República, Fernando Collor foi
nomeado prefeito de Maceió pelo então governador Guilherme Palmeira, da ARENA, em
1979;
143
foi eleito deputado federal, pela ARENA, com 55.124 votos, em 1982; e, também,
foi eleito governador de Alagoas, pelo PMDB, com 400.246 votos, em 1986.
144
O relato da herança política de Fernando Collor foi minucioso e enaltecedor naquilo
que valorizaria a sua candidatura, como a trajetória do avô materno, Lindolfo Collor que foi
ministro do Trabalho de Getúlio Vargas logo após a revolução de 1930. Aliás, o primeiro dos
ministros da pasta do Trabalho, ministério recém criado pela revolução de 1930. Com
objetivo determinado de criar uma candidatura simpática aos trabalhadores, destacou-se que
ele foi o formulador da legislação trabalhista que Vargas anunciou logo após chegar ao poder.
Uma legislação que lhe valeria o título de “pai dos pobres”, título este que, segundo o relato,
deveria ser de Lindolfo Collor: “Na verdade a história mostra que o “pai dos pobres” era outro
e não Vargas”. Enfatizou, ainda, que as propostas que ele trouxe para o governo, na época,
eram tão ousadas que o próprio Vargas vacilou no momento de colocá-las em prática.
Ressaltou, também, que da inspiração de Lindolfo Collor saíram as primeiras leis para
beneficiar o trabalhador brasileiro sendo ele responsável por um dos códigos mais modernos
do mundo naquele início da década de 30. Mais tarde, Vargas adaptaria esse código conforme
o modelo da Carta Del Lavoro, de Mussolini.
145
Mas, a essa altura, a publicação destaca que
142
Martin Claret , O Fenômeno Collor, São Paulo, Martin Claret, 1989.
143
Na época do regime militar, no governo Figueiredo, o governador tinha a atribuição de nomear o prefeito.
144
Martin Claret , op. cit. p. 35.
145
Orlando de Barros, “Os intectuais de esquerda e o ministério Lindolfo Collor”, in Jorge Ferreira e Daniel
Aarão Reis, As esquerdas no Brasil, vol.1: A formação das tradições, pp. 297-330. Segundo o autor, o próprio
Collor foi acusado pelos anarquistas e comunistas de copiar a Carta del Lavoro, que já existia então.
Lindolfo Collor não estava mais com Vargas porque se decepcionara com o rumo dos
acontecimentos, “pois era um verdadeiro campeão da democracia e da liberdade”.
146
Democracia e liberdade eram temas recorrentes durante a campanha de Fernando
Collor, principalmente, em suas críticas ao governo de José Sarney. Esta ênfase na legislação
trabalhista do período Vargas foi muito usada na campanha e, depois, na presidência, para
marcar a imagem de Collor como defensor dos trabalhadores e dos “descamisados”.
A narrativa sobre o pai de Collor de Mello realçou a sua coragem em combater a
violência na política de Alagoas. Arnon de Mello, pai de Fernando Collor, foi eleito
governador em 1950, exatamente 37 anos antes da eleição de Fernando Collor para
governador de Alagoas. De acordo com o relato, disputar a eleição em 1950 foi uma decisão
que exigiu de Arnon de Mello uma grande coragem física e moral porque o poder em Alagoas
era exercido por um pequeno grupo de pessoas, uma oligarquia que se mantinha às custas de
métodos violentos. O jornalista e já então empresário Arnon de Mello (ele iniciava um
trabalho que resultaria numa ativa rede de rádio, tevê e jornais em Alagoas) entrou para a
política para cumprir uma missão que, segundo o relato, ninguém ousava assumir: enfrentar a
oligarquia de Alagoas.
147
Esta ênfase no enfrentamento dos políticos tradicionais de Alagoas, e na trajetória
empresarial do pai de Fernando Collor aliado ao caráter de missão na prática política,
também, foi muito utilizado por Collor, em sua performance política. Além disso, a coragem
e o destemor foram marcas valorizadas durante a campanha eleitoral e, posteriormente no
exercício da presidência da República.
148
O clã Collor de Mello teve sua origem no casamento de Leda, filha de Lindolfo
Collor, um dos líderes da revolução que levou Getúlio Vargas ao poder em 1930 e, depois,
seu ministro do Trabalho, com Arnon de Mello, deputado, senador e governador de Alagoas.
Nos anos 50, Arnon de Mello passou a reconstruir a fortuna da família por meio de negócios
imobiliários no Rio de Janeiro e de comunicações em Alagoas, onde montou um jornal, uma
bem equipada emissora de televisão e duas estações de rádio (AM e FM). Foi esse pequeno
império familiar que empregava 700 funcionários e faturava cerca de US$ 12 milhões, ao ano,
que Arnon, ao morrer em 1983, legou à mulher Leda que ficou com 75% das ações, e aos
cinco filhos: Leopoldo, Leda, Ana Luiza, Fernando e Pedro, cada um com 5% das ações.
Entretanto, a narrativa fez silêncio sobre um importante fato. Em 1963, Arnon protagonizou
146
Martin Claret , op. cit. p. 14.
147
Idem, pp. 15-7.
148
“Um homem decidido, um político obstinado”, O Globo, 15/03/1990, in A.G.C., Cad. 99, p. 9.
uma grande crise política nacional: no plenário do Senado, ele trocou tiros com o senador
Silvestre Péricles e acabou atingindo mortalmente o senador José Kairala, do Acre.
149
Muito a propósito, o vínculo de Fernando Collor com os negócios de sua família,
provavelmente, teve influência na imagem que ele pretendia construir porque o fato de
possuir uma empresa, com outros membros da família o colocava ao lado de empresários que
queriam mudanças, mas esperavam que elas ocorressem de uma forma mais suave, sem
alterações profundas da sociedade.
A valorização da figura materna foi um outro item de relevância para o eficiente
marketing político de Fernando Collor. Quando Arnon de Mello ainda vivia, era dona Leda
quem sentava à cabeceira da mesa, no almoço da família. Quando Arnon morreu, dona Leda
continuou administrando os negócios da família, mas praticamente deixou nas mãos do filho
Pedro a condução dos negócios em Alagoas. Embora tenha constituído a Fundação Arnon de
Mello, funcionários da Gazeta de Alagoas, onde fica a sede da fundação não lembravam de
tê-la visto uma única vez no local. Dona Leda, na realidade, dedicava sua vida a cultuar a
memória do pai, Lindolfo Collor. no primeiro ano de governo, ela organizou sete
solenidades para reavivar a memória do pai, que, segundo dizia, era o verdadeiro líder da
Revolução de 30 e que não se tornou presidente devido a uma articulação de última hora
que entregou o poder a Getúlio Vargas.
150
Este relato biográfico teve propósitos bem definidos como lembra Barros, em seu
texto sobre a performance, no qual esclarece que Fernando Collor não obstante suas origens, e
sua trajetória teve a preocupação de apresentar-se à população como o “anti-político”. Valeu-
se da corrosão do prestígio da elite política brasileira e da atividade política em geral.
Entretanto, Collor de Mello foi produto de duas gerações de políticos: Lindolfo Collor,
ministro de Vargas e Arnon de Mello, senador. Por isso, para que Fernando Collor emergisse
como der político, o eficiente marketing de sua campanha política alterou, de forma sutil, as
marcas ideológicas de sua herança política construindo uma história coincidente com um
passado mitológico o avô fora ministro do Trabalho de Vargas, no início das conquistas
sociais dos trabalhadores nos anos 30 – e dando ampla publicidade no combate aos “marajás”,
isto é, ao funcionalismo público parasitário. Barros, também assevera que essa modulação
nova foi necessária, uma vez que as marcas dos políticos do nordeste tradicionalismo,
conservadorismo, nepotismo, coronelismo, transgressão dos dispositivos eleitorais, além do
contencioso dos escândalos contínuos dos políticos donos de usinas açucareiras que se valiam
149
“Briga familiar tornou-se crise nacional”, in Diário do Passado, Agência Estado.Aedata, 29/09/1992.
150
Idem.
de seus cargos para defraudar dinheiro público eram exatamente repudiadas pelo país na
época.
151
O projeto “Brasil Novo” foi a íntegra do discurso que Fernando Collor proferiu
durante a convenção do PRN, em Brasília, no dia 12 de julho de 1989, quando sua
candidatura foi oficialmente homologada pelo partido.
152
O discurso que contém uma série de
propostas de governo, segundo consta na publicação, foi uma resposta àqueles que acusaram
Collor de não ter um programa de governo. Este discurso apresentava as marcas que modulam
a performance da enunciação porque descrevem um nível de ação do sujeito da fala no
sentido de prometer e jurar, no sentido de substituir um projeto político sem estofo.
153
Collor de Mello, neste discurso, usou de uma eficiente estratégia porque apropriou-se
dos problemas existentes no país, na época, e transformou-os nos temas que aparecem no seu
projeto político. Outro ponto relevante era que o seu projeto, não apresentava programas de
ação, apenas afirmações de pretensões futuras. Neste projeto, ele oferecia aos eleitores uma
visão otimista do país caso ele chegasse à presidência da República e esta visão
exaustivamente repetida por ele e amplamente divulgada pela mídia para uma população que
ansiava por mudanças foi particularmente poderosa para a criação do “herói-salvador”.
Ao convocar os trabalhadores para o seu projeto “Brasil Novo” referiu-se novamente
ao seu avô materno que foi ministro do Trabalho no governo Vargas. Esta marca ideológica
criada pelo seu marketing político foi de grande valia para sua luta contra os funcionários
públicos ineficientes, os “marajás”, e a favor dos “descamisados”, seduzindo-os com suas
promessas.
“Mais uma vez peço licença para uma referência pessoal que brota
de meus sentimentos. É a que devo à figura por todos os títulos, precursora,
lúcida e ilustre de meu avô materno, Lindolfo Collor, cujo centenário de
nascimento se comemora no próximo ano. Pioneiro da legislação social, no
governo Vargas, e primeiro titular da Pasta do Trabalho, teve que renunciar à
vida pública, para manter a integridade de suas profundas convicções
democráticas e de sua arraigada crença na harmonia social. A frase com que
terminou um artigo de apreciação da encíclica Rerum Novarum, de Leão
XIII, é, para mim uma orientação de vida que fundamenta minha crença nas
possibilidades de convivência social harmônica entre as classes: “Que nunca
possa uma classe oprimir outra impunemente”. (.....) Todo o meu esforço
como Presidente da República, inspirado nos preceitos legados por meu avô
em sua ação política, será, portanto, voltado para que o trabalhador brasileiro
deixe de ser o contribuinte discriminado de todos os sacrifícios exigidos pela
sociedade e pela economia e passe a ser o parceiro do desenvolvimento, dos
seus frutos e beneficiário, em igualdade de condições com o capital, da
151
Orlando de Barros, “A performance em busca de uma metodologia”, in CD-rom Anais do Congresso Pré-
Fiealc, “América Latina e o processo de modernização”, UERJ, 2005, ISBN:85-98875-03-1, p. 11.
152
Martin Claret , op, cit. pp. 99-135.
153
Orlando de Barros, op. cit. p. 3.
riqueza coletivamente produzida no país. (.....) A todos garanto, sem
restrições, aquilo que foi o sonho de Lindolfo Collor bem estar e justiça
social”.
154
O viés eufórico dos discursos de Fernando Collor manifestava-se, também, na
avaliação de sua performance feita por sua assessoria de marketing, uma vez que, segundo
ela, na imprensa, os adversários, atordoados pela fulminante ascensão de Collor, e já sem
esperanças de que a sua candidatura pudesse vir a ser abalada por qualquer fato novo até as
eleições, tentavam uma contra-ofensiva. De acordo com o relato, Brizola, por exemplo, disse
que o candidato do PRN representava uma aventura, que ele se transformaria num ditador e
que sua proposta política era “nazi-fascista”. Nos mesmos jornais que davam algum destaque
a essa declaração, Collor aparecia em fotografias, sereno, assistindo à solenidade em que seu
avô materno, Lindolfo Collor, era homenageado com a Ordem do Mérito Judiciário do
Trabalho. Fernando Collor interrompeu a campanha para assistir a essa homenagem póstuma
àquele que segundo ele, foi o seu primeiro exemplo na vida e na política. Ele disse que
participar da homenagem ao avô foi seu melhor presente de aniversário ao completar 40 anos.
Coincidência ou estratégia de marketing?
155
Em função de seu eficiente marketing político, a plataforma de governo, ou melhor, a
plataforma de pretensões de Collor, teve grande e positiva repercussão na imprensa falada e
escrita, e nos meios políticos do país, uma vez que os temas selecionados eram aqueles que
interessavam ao eleitorado e que foram levantados por sua assessoria de marketing através de
uma pesquisa.
Os discursos de Collor de Mello serviam principalmente para reforçar a imagem de
mudança no país, com boas expectativas mesmo em meio a uma séria crise econômica. Junto
à imagem do “Brasil Novo” os discursos distribuídos nos diversos espaços da mídia insistiam
em mostrar para o eleitorado que Collor de Mello era o candidato mais preparado para livrar o
país da crise.
Ao tratar de cada setor (política, economia, meio ambiente, entre outros), os discursos
de Fernando Collor apontavam as áreas mais problemáticas e procuravam mostrar como as
coisas seriam melhores com as mudanças que ele realizaria. Com isso, construiu a imagem de
um Brasil cheio de boas perspectivas, o país do progresso e da felicidade que podiam ser
encontradas brevemente graças ao homem certo.
No início da sua fala, durante a convenção do PRN, Collor de Mello anunciou as
mudanças que faria, colocando-se como uma espécie de xamã, que conjuraria as mudanças
154
Martin Claret , op. cit. pp. 127-9.
155
Idem, p. 13.
tão desejadas que até o momento não haviam sido implementadas, face ao complô das forças
do mal. Ele se colocou como aquele que podia ocupar, junto aos eleitores, o lugar do
candidato que encarnaria as mudanças e, assim, estaria marcado para ganhar. Fernando Collor
apresentou aqui a natureza xamânica essencial da sua missão pretensa utilizando-se de todos
os meios para sensibilizar os eleitores.
“Venho, em nome da fé, como mandatário da verdade e sob a
inspiração da liberdade com justiça, para promover a prosperidade coletiva,
retomar o desenvolvimento, restaurar a dignidade da vida pública, assegurar a
soberania nacional, reformar as velhas estruturas e banir de vez os vícios da
incompetência, da corrupção e das práticas espúrias que infelicitam o país,
degradam a atividade política e envergonham a nação”.
156
Apresentando-se como um político conciliador, Collor de Mello fez, ainda, um apelo
contra a radicalização da campanha eleitoral: “Nós, os que postulamos a presidência, todos
sem exceção, temos que nos comportar como adversários, mas nunca como inimigos”.
157
No
final da exposição de sua plataforma de governo, fez uma análise, acentuando que “o
agravamento do conflito pelo poder, na hipótese de um confronto no segundo turno, pode pôr
em risco o entendimento, com graves e imprevisíveis conseqüências para a governabilidade e
para o futuro da redemocratização em que estamos empenhados”.
158
Aqui Fernando Collor se
colocou como o grande mestre onisciente, o que conhece os meandros da política e é por isto
capaz de antecipar os lances futuros.
A função predominante neste discurso foi o estabelecimento de um novo contrato com
os brasileiros e mostrar a ruptura com o governo Sarney. E, considerando que ele foi o relato
da plataforma política de Collor estão presentes, pelo menos, duas seqüências: uma,
relatando o projeto político de Collor, e outra, opondo este projeto à situação existente.
“Tenho a certeza de que, correspondendo ao que de mim espera o
povo brasileiro, serei a voz dos inconformados, porque dentro de mim ferve
de indignação a ira dos justos contra a miséria em que vive a maioria de uma
população pobre, dentro de um território rico, ante a indiferença de alguns, o
conformismo de muitos e a aceitação passiva de quase todos. Esta,
seguramente, não é a sociedade de nossos sonhos. Para torná-la mais justa e
fazê-la mais digna, como a queremos, teremos que superar o egoísmo, vencer
os preconceitos e sepultar o ódio, porque assim poderemos, em nome da
justiça e sob o império da lei, instaurar uma sociedade fundada na
fraternidade coletiva de todas as classes e na solidariedade de todos os
homens”.
159
156
Martin Claret , op. cit. p. 101.
157
Idem, p. 134.
158
Idem.
159
Idem, p. 101.
Em seguida, Collor de Mello invocou para si a função de neutralizar a ação dos
inimigos, ao identificá-los e localizá-los, expondo seus planos secretos. Para Collor os dois
grandes males do Brasil eram a inflação e a corrupção, os quais ele prometia combater sem
tréguas. Escolhendo, deliberadamente, enfatizar o combate à inflação e à corrupção ele, sem
hesitar, situou o conflito no contexto áspero de uma luta maniqueísta entre o bem e o mal, a
verdade e a mentira, o certo e o errado. Era isso que o povo ansiava por ouvir.
“Eleito Presidente da República, meu primeiro compromisso será o
de declarar guerra de forma permanente, obstinada e sem tréguas, aos dois
piores males que infelicitam a nação, desvirtuam a cidadania e afrontam o
nosso patriotismo: a inflação e a corrupção, representada pela deterioração
dos costumes, que grassa em todo o país, paralisado pela descrença ante a
impunidade que protege os que fraudam o fisco, se apropriam do dinheiro
público e especulam com o poder do Estado”.
160
Definir claramente seus inimigos trouxe muitos benefícios a Fernando Collor. Atacar
os inimigos fez com que Collor de Mello parecesse poderoso e, também, desviava a atenção
do povo de se interessar pelas informações sobre seu próprio programa de ação que não eram
divulgadas nem mencionadas. Estes inimigos, eleitos por Collor, forneceram um foco para
que o povo pudesse definir a si mesmo, identificando o inimigo, que também era o dele. Além
disso, estes inimigos permitiram a Collor de Mello imputar culpas para as mazelas do país de
um modo seguro e, mesmo assim, aparentemente desafiador. Enfim, os inimigos selecionados
por Collor foram aqueles que o povo estava predisposto a odiar.
No projeto “Brasil Novo” a redefinição do papel do Estado, na visão de Collor,
contemplava um amplo leque de mudanças em diversas áreas como a privatização de
empresas, a abertura da economia, o resgate da dignidade do servidor público dentre outras.
Collor, em sua fala, enfatizou que o Estado estaria a serviço da sociedade. Essa era a sua
retórica política, a sua ideologia, que repetida e divulgada pela mídia ajudou a estabelecer a
hegemonia dessa representação de que governo demais é ruim, redução da regulação
governamental e mercado livre são coisas boas.
“A redefinição do papel do Estado, entretanto, não se reduz, como
supõem alguns, a um programa de privatização ou reprivatização de
empresas. Terá, ao contrário, objetivos muito mais amplos e ambiciosos, na
medida em que se destina a colocar o Brasil em compasso com o mundo
desenvolvido, aumentando a nossa participação no comércio mundial,
abrindo fronteiras aos nossos parceiros e garantindo ao cidadão, que aqui
vive, eficiência, respeito e tratamento digno por parte de todo o Serviço
Público. Governo e Estado deixarão de tutelar a sociedade, como é típico do
estado cartorial e paternalista que, em maior ou menor grau, sempre tivemos,
para passar a servi-lo como instrumento do progresso, do bem-estar, da paz e
da tranqüilidade social. Isto implica fortalecer e dar efetividade ao seu poder
160
Martin Claret , op. cit. p. 101.
regulamentar, ao seu poder de fiscalizar e coordenar as atividades privadas,
inclusive as delegadas pelo próprio Estado, e impõe. Em última análise, a
completa reformulação do conceito de planejamento, para adaptá-lo às
necessidades de uma sociedade aberta, uma economia livre e instituições
democráticas. Isto supõe também o resgate da dignidade do servidor público
e sua efetiva valorização. Muito ao contrário do que pensam os adeptos do
estado reduzido, o fim da interferência estatal indevida na economia não
significa um estado fraco. Ao contrário, exige instituições públicas fortes, um
poder público atuante, dinâmico, desburocratizado e eficiente, para que possa
cumprir a sua função social, protegendo os desassistidos, os pobres, os
desamparados e aqueles que o modelo econômico perverso e injusto empurra
para a marginalidade dos benefícios econômicos e sociais, produzidos
coletivamente por todo o povo brasileiro”.
161
Ele continuou a modelar a sua imagem de candidato de modo a emprestar a densidade
psicológica exigida de qualquer personagem de sucesso em uma trama ficcional bem urdida.
A ressonância entre ficção e realidade foi essencial para que o personagem ganhasse força, se
tornasse crível. Ele reconstruía a imagem pré-existente dando lugar a de um homem
determinado na sua luta por justiça para os desvalidos. Dirigindo-se diretamente ao povo
brasileiro, Collor assim se manifestou fazendo com que as pessoas não se sentissem sós nessa
luta, estavam caminhando com ele para um “Brasil Novo”.
“Sustento-me, sobretudo, na inquebrantável de nossa gente, em
nome da qual, se eleito, juro e prometo reerguer a Nação, tornando-a mais
fraterna, mais próspera, mais justa e menos desigual. Vamos começar um
Brasil novo. Um Brasil que saiba repartir com justiça, em favor do povo, toda
a riqueza feita pelo povo. (.....) Por isso, apelo mais uma vez ao povo
brasileiro, pedindo que não me deixe na hora decisiva em que, pela força
de seu voto e pela grandeza de sua fé, haveremos de transformar este grande
país, antecipando o futuro promissor com que todos sonhamos. Eu preciso de
vocês”.
162
Seu discurso apresentava leituras simplistas, ingênuas, oportunistas e conspirativas da
ordem internacional e de nosso lugar nela. O que estava ocorrendo era, na verdade, a
formação de uma hegemonia neoliberal, que se apropriou da “modernidade” e, ao mesmo
tempo, transformou a oposição entre modernidade e atraso num dos eixos fundamentais do
debate político. Sua mensagem encerrava programas mínimos e máximos, projetos utópicos,
promessas de curto e longo prazo. Mas podiam incluir também, em paralelo ou no interior
dessas mesmas construções discursivas, núcleos imagéticos ou simbólicos fortemente
irracionais. Tais elementos ajudavam a compor os mitos políticos, mas não eram estes
propriamente. Seu traço fundamental foi a promoção de uma relação emocionalizada entre o
161
Martin Claret , op. cit. pp. 106-7.
162
Idem, pp. 134-5.
povo e os conteúdos da mensagem política. Fernando Collor apresentava a sua mensagem de
forma que ela fosse de fácil compreensão e repetição pelo povo.
No discurso do “Brasil Novo” Collor utilizava e abusava das expressões afirmativas e
dos adjetivos. Modernidade era um vocábulo que sempre esteve presente nas falas de
Fernando Collor e queria dizer quase tudo: avançar, ingressar no primeiro mundo, ter mais
justiça social, indústrias competitivas ou distribuição de renda. Além disso, a modernidade
estava sempre associada a determinação, coragem, desejo e vontade de transformar o Brasil.
E, em oposição aos “marajás” vieram os “descamisados” e “pés-descalços” convocados
sempre que Collor queria referir-se à população de baixa renda.
163
Outro ponto relevante para a performance de Fernando Collor era a composição do
cenário de conspiração para que a imagem do “herói-salvador” pudesse se destacar junto aos
eleitores. Para tal, esta breve biografia de Collor de Mello enfatizava o antagonismo entre
Collor e Sarney relatando minuciosamente todos os acontecimentos que serviam para
corroborar esta imagem conspiratória do governo Sarney contra o jovem político de Alagoas.
Segundo o relato, as divergências entre Collor e Sarney começaram quando Fernando Collor
ganhou a convenção estadual do PMDB em 1986. Cumprindo o ritual, foi a Brasília em
companhia de seus correligionários de Alagoas comunicar oficialmente sua candidatura ao
presidente da República. Afinal, Sarney era também presidente de honra do PMDB. Sarney
recebeu a comitiva alagoana, cumprimentou Collor friamente, ouviu que ele era candidato ao
governo do estado e limitou-se a perguntar se ele iria voltar a Maceió naquele dia ou se iria
dormir em Brasília. A frieza de Sarney e o seu distanciamento foram interpretados por
Fernando Collor como uma silenciosa declaração de guerra à sua candidatura.
164
O relato continuava revelando que Sarney convivera superficialmente com Collor ao
tempo em que era presidente do PDS e Collor apenas uma promissora liderança desse partido
em Alagoas. Chegou até a assumir ares de paternalismo político com relação ao jovem Collor
por ocasião do falecimento de Arnon de Mello, em setembro de 1983. Como presidente do
PDS, não de honra, mas efetivo, Sarney não criara obstáculos para a nomeação de Collor
como prefeito de Mace em 1979. Era o tempo da hegemonia do PDS respaldada pelo
regime político militar. O afastamento e a hostilidade de Sarney em relação a Collor viriam
depois, com o processo de democratização do país.
165
163
“No Brasil Novo, só expressões afirmativas”, O Globo, 31/12/1990, in A.G.C., Cad. 99, p. 17 (verso)
164
Martin Claret , op. cit. pp.21-2.
165
Idem, pp.22-4.
Collor foi eleito deputado federal aos 33 anos, o mais votado em Alagoas. O país vivia
então, momentos de grande efervescência. A oposição da época apresentava a emenda pela
eleição direta para presidente da República. O PDS de José Sarney tentava por todos os meios
impedir a aprovação das eleições diretas. O então deputado Fernando Collor de Mello
anunciava publicamente que iria votar a favor das eleições diretas e repelia as pressões de
Sarney para mudar sua posição. Derrotada a emenda das diretas, com o voto dissidente de
Fernando Collor, o PDS tentou organizar suas forças para superar um fato novo que surgia no
cenário político: a idéia de uma candidatura de oposição dentro do próprio colégio eleitoral.
Em Alagoas, o governador Divaldo Suruagy reunia as principais lideranças e propunha uma
curiosa armação para deixar o Estado em situação confortável, qualquer que fosse o candidato
escolhido pelo partido do governo. Ele, Suruagy, apoiaria o pré-candidato Aureliano Chaves,
com quem mantinha relações pessoais. O ex-governador Guilherme Palmeira tinha afinidades
com o senador Marco Maciel e apoiaria a indicação de Maciel como candidato. O terceiro
candidato, Paulo Maluf, seria apoiado pelo jovem líder Fernando Collor, que aceitou essa
composição por não ver nela prejuízos maiores para o PDS e para Alagoas.
166
Nas manobras que se seguiram acabou surgindo um novo candidato, Mário
Andreazza. Suruagy, convidado para vice na sua chapa, aceitou e anunciou que iria à
convenção do PDS. Nessa convenção, saiu vitorioso Maluf. O resultado iniciou o movimento
de migração de pedessistas assustados com o crescimento da candidatura Tancredo Neves
pela oposição articulada de tal maneira que desde o início parecia irresistível. Apesar da
iminente vitória de Tancredo e da revoada dos pedessistas em sua direção entre eles o
próprio Sarney que acabaria vice de Tancredo, Fernando Collor honrou seu compromisso até
o fim. O candidato do PDS era Paulo Maluf, Collor era do PDS e votou em Maluf no Colégio
Eleitoral.
167
Mesmo no período em que Sarney tinha altos índices de popularidade, Collor
sustentava que o compromisso assumido por Tancredo Neves, definindo um mandato de
quatro anos para o presidente, precisava ser cumprido. Nas intermináveis reuniões do PMDB
que acabavam sempre adiando uma decisão sobre a duração do mandato, Collor era quase
uma voz isolada que martelava na tecla dos quatro anos. Collor participou de um jantar em
Brasília, organizado por Ulysses Guimarães, presidente do PMDB, para se discutir a questão
do mandato. O governador de Alagoas pediu a palavra e disse que não poderia, em hipótese
alguma, ser favorável a um mandato de cinco anos, e fez apelo para que se convocasse
166
Martin Claret , op. cit. pp.22-4.
167
Idem.
imediatamente uma convenção do partido e se decidisse o assunto. Pediu a Ulysses que não se
omitisse, pois qualquer vacilação do chefe peemedebista abalaria a confiança da opinião
pública em relação ao partido. Servido o jantar, formaram-se grupos, e Collor sentiu-se
isolado. Decidiu ir embora e foi se despedir de Ulysses: “Quero lhe pedir, mais uma vez, que
não deixe, por favor, essa questão passar em branco na convenção”. Ulysses virou-se para um
grupo de governadores e comentou: “Olha aqui, minha gente. A fera já vai embora”. Fernando
Collor nunca mais foi convidado para essas reuniões.
168
Assim, Sarney foi apresentado como
o grande vilão que na inescrupulosa busca pelo poder recorria aos artifícios mais escusos.
Outro capítulo desta biografia refere-se a trechos das entrevistas que Collor concedeu
à imprensa durante a campanha. As entrevistas possibilitavam a oportunidade de que o
próprio candidato não apenas recusasse as imagens impostas mas, também, assumisse a tarefa
de revelar a imagem de seu interesse. A divulgação da sua imagem perante o público garantir-
lhe-ia votos e, também, do lado da imprensa, Collor lhes trazia notícias com suas iniciativas e
propostas populares. Então, nestas entrevistas ele declarava suas idéias e seu pensamento
político.
Em 1989, Fernando Collor era governador de Alagoas, e fora eleito com extremo
apoio popular, a sua política consistia em enxugar a máquina do Estado e ganhou destaque na
mídia sob o rótulo de “caça aos marajás”. Nestas entrevistas, Fernando Collor esclareceu
porque combatia os “marajás”, uma das principais marcas de sua futura campanha para a
presidência da República. Ao trazer à luz os altos salários dos funcionários de Alagoas e a
forma como eles se compunham, Fernando Collor colocou-se contra a corrupção; evocou,
com orgulho, vultos importantes da história do Brasil, os primeiros presidentes da República,
os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto; e, como estes primeiros presidentes,
que lutaram para implantar a República no país, ele lutaria contra os “marajás” até, se
necessário, descumprindo determinação judicial. Assim, Collor recriava sua imagem
descolando-a da política tradicional e mostrava coragem e destemor para os necessários
enfrentamentos em defesa dos “descamisados”. Veja, por exemplo, o trecho da entrevista.
Revista Veja – Por que tanto empenho em combater os marajás?
Collor – A tarefa de todos os governadores que estão assumindo
agora é arrumar a casa. Não nem para falar em plano de governo. Como
governar o caos? O cenário é desolador para quem está chegando. Os Estados
estão contaminados pelos desmandos, pelo desrespeito, pela falta de
hierarquia e pelo desprestígio do funcionalismo público, que é o encarregado
de fazer funcionar a máquina administrativa. Então, é preciso antes pisar
sobre chão firme para depois iniciar as obras de governo. Sempre nos
orgulhamos de ser a terra dos marechais, porque aqui nasceram Deodoro e
Floriano. Agora, viramos terra dos marajás. Viramos alvo das chacotas
168
Martin Claret , op. cit. pp.25-7.
nacionais. Era impossível deixar que isso continuasse. Por isso, estou tão
empenhado em combatê-los.
169
Enfatizando o combate aos marajás Collor concedia entrevista a outra revista sobre o
tema, explicando exaustivamente as razões pelas quais ele os havia elegido como um inimigo
a combater. Aqui, ele se manifestava em um tom didático e trazia para si a missão pedagógica
de esclarecer aos demais cidadãos quanto aos inimigos que ele se propunha a combater.
Assim, Collor se colocava como aquele que educava os interlocutores e os leitores com o seu
exemplo pessoal.
Revista Playboy Os marajás, os aposentados precoces são hoje
espécie em extinção em Alagoas?
Collor Sem dúvida. E isso pode ser constatado pelos números: em
março, quando assumimos, tínhamos uma folha de pagamentos de 520
milhões de cruzados para uma arrecadação líquida de 120 milhões; já naquele
mês, reduzimos a folha para 360 milhões, ao mesmo tempo em que
conseguimos melhorar a arrecadação, desbloqueando alguns fundos, o que
nos proporcionou uma receita de 340 milhões. Então, ficamos com um déficit
de folha de 20 a 40 milhões de cruzados por mês, já a partir de abril, sem
sobrar nenhum centavo para custeio nem para investimento. E até dezembro
pretendo ter o estado gerenciável, para levar adiante a administração.
Revista Playboy Os marajás são hoje um problema a nível
nacional? E como combatê-los?
Collor Sem dúvida, é um problema nacional. E três pontos são
fundamentais para se combater esse tipo de desmando: decisão política,
coragem e determinação. Mas as medidas têm que ser abrangentes, sem
exceções, caso contrário não dão certo. Tenho aqui mesmo duas ou três
pessoas trabalhando comigo, no terceiro escalão, que foram atingidas,
perderam substancialmente os seus vencimentos. Mas é necessário também
que haja uma definição correta do que seja um marajá.
Revista PlayboyEntão, o que é um marajá?
Collor O “marajá” não é somente aquele funcionário que ganha
200, 300, ou 400 mil cruzados por mês. É todo servidor estadual que agregue
ao seu salário-base vantagens ilegais, com a finalidade, obviamente, de
formar ao final do mês um salário mais robusto. Em Alagoas havia “marajás”
com salários-base de 2 mil ou 3 mil cruzados, mas que conseguiram tantos
acréscimos que chegaram a ganhar 20 ou 30 mil cruzados por mês.
Revista PlayboyComo é essa matemática?
Collor – Um funcionário se torna “marajá” da seguinte maneira:
primeiro, ele pede um terço a mais sobre seus vencimentos devido a um
trabalho que costumeiramente, entre aspas, vem fazendo além do seu horário
normal, o que consegue por pressões políticas, pois na verdade não faz
serviços extraordinários. Dali a um ano, já incorpora esse terço ao seu
salário-base sobre o qual incide o reajuste salarial, e recebe o primeiro
anuênio. ele pede horário integral, com 100% sobre seus vencimentos,
acrescidos daquele terço por horas extras. Passa mais um ano e ele já começa
a ganhar um biênio e dois anuênios, tudo em cascata. Depois de mais algum
tempo, ocupa um cargo de chefia e tem um adicional em seu salário, que é
incorporado depois de um ano. E no terceiro ano recebe um triênio, um
biênio e três anuênios. E por aí vai...É uma progressão mais que geométrica.
Revista Playboy Mas não são vantagens aparentemente legais, por
terem sido aprovadas através de leis?
Collor – Sim... mas são ilegais porque inconstitucionais.
Revista Playboy E como isso aconteceu?
169
Martin Claret , op. cit. p. 43.
Collor Através de leis estaduais casuísticas que tinham digamos
assim – o retrato 3 por 4 do grupo beneficiado. Então, antes mesmo de
assumir o governo, fui como cidadão ao Supremo Tribunal Federal argüir
que, essas leis estaduais feriam vários dispositivos da Constituição Federal. E
o STF suspendeu tudo isso, liminarmente. Como se pode entender que tenha
sido aprovada uma lei que permite a várias pessoas, com 36,37 anos de idade,
se aposentar com 60, 70 mil cruzados por mês, quando qualquer trabalhador
precisa de 35 anos de serviço para se aposentar e ganhar de 3 a 4 mil
cruzados por mês do INPS?
170
Reiterando a ênfase no combate aos marajás, Collor esclarecia a sua disposição de
descumprir uma determinação judicial que, por sinal, vinha muito a propósito para um
político que se colocava como o único capaz de lutar contra a conspiração, o complô que
prejudicava o país.
Jornal Folha de São Paulo informações de que o sr. se negará
a atender à determinação judicial de pagar os marajás do seu Estado e isso
poderá redundar numa intervenção federal no seu Estado para que a sentença
do Tribunal de Justiça de Alagoas seja cumprida. O sr. se recusará a cumprir
tal decisão?
Collor Eu respeito muito a Justiça do meu país. Infelizmente, por
falta absoluta de condições materiais eu não tenho como cumprir essa
decisão. O Estado não dispõe de recursos para engordar o polpudo salário
dos marajás e por isso me vejo impossibilitado de cumprir essa decisão.
171
Fernando Collor combatia com veemência o desacreditado governo Sarney e seus
falidos planos econômicos, num país que vivia intensa crise e o medo da hiperinflação. Nestas
entrevistas ele apresentava sugestões de como governar o país ao presidente Sarney: destacou
alguns defeitos do presidente; colocou em dúvida a representatividade do presidente Sarney,
que não fora escolhido pelo voto popular; denunciou as retaliações que vinha sofrendo o
estado de Alagoas por parte do governo Sarney; e, também, apresentou-se como um político
equilibrado e consciente ao dizer que suas críticas limitavam-se ao governo de Sarney e não
se estendiam à figura do presidente. Collor buscava caracterizar o governo Sarney como
conspirativo em relação à sua candidatura.
Revista Veja – O que o sr. acha do presidente Sarney?
Collor – A indecisão é o seu defeito mais grava. O presidente precisa
assumir o comando da nação. Estamos participando de um jogo de futebol
sem o juiz. Assim, a partida não pode chegar a bom termo.
Revista Veja – O sr. é favorável às eleições diretas para presidente?
Collor É claro. Diretas sempre. Votei a favor da emenda Dante de
Oliveira e considero que não há esperanças de um governo efetivamente
representativo sem eleição direta para presidente, sobretudo porque
padecemos de um regime presidencialista forte e concentrador. Afinal de
contas, qualquer pessoa que ocupa cargo público graças ao voto popular
parece mais representativa do que um presidente escolhido por apenas
algumas centenas de privilegiados num colégio eleitoral.
170
Martin Claret, op. cit., pp. 49-52.
171
Idem, p.54.
Revista Veja – Deveriam ser realizadas quando?
Collor Logo. Acho que esta questão de duração do mandato do
presidente precisa ser definida pela Constituinte, é claro. Mas antes precisa
ser definido o regime a ser adotado após a promulgação da nova Carta a esta
altura do campeonato um mandato de quatro anos para o presidente Sarney é
mais que razoável. Uma data simpática é 15 de novembro de 1988.
Revista Veja O que o presidente Sarney deveria fazer para
melhorar o seu governo?
Collor O presidente, neste regime, tem um poder excepcional. É
dono da caneta e do papel. É, portanto, o único culpado pelo sucesso ou pelo
fracasso de seu governo. O que eu desejo é que o presidente Sarney se defina.
A sociedade está perplexa, e a classe política atônita e à espera de definições
do senhor presidente. Se não é para trocar ministros, que ele diga claramente.
Que se defina sobre a questão dos juros, da auditoria sobre a dívida externa.
O país não agüenta mais tanta indecisão.
172
A outro jornal comentava os problemas de seu Estado em função da oposição que
fazia ao governo Sarney e enfatizava que a sua oposição era apenas ao governo e não à pessoa
do presidente. Era mais uma oportunidade para Collor destacar que os males provinham do
governo Sarney.
Jornal Folha de o Paulo A que nível chegam as retaliações do
governo federal contra sua administração em Alagoas devido à oposição em
que o sr. vem se colocando em relação ao governo Sarney?
Collor É a retaliação mais cruel, mais brutal e mais imoral que
se viu neste país. Essa retaliação, capitaneada pelo Ministro da Habitação e
Urbanismo (Prisco Viana), atingiu níveis insuportáveis em relação à Alagoas.
Sobretudo na área do seu ministério, que é o que dispõe de recursos, via
Caixa Econômica Federal, para financiar o desenvolvimento dos diversos
estados brasileiros. Com as recentes medidas tomadas pelo governo federal,
no entanto, a situação de Alagoas se estabeleceu para todos os outros estados,
em função dessas restrições. Mas isto ao presidente da República essas
últimas medidas via Encargos Gerais da União, que está sob o comando da
SEPLAN a total autonomia para dispor de recursos para contrabalançar a
perda que governos cincoanistas tiveram com as recentes medidas adotadas
pelo governo federal.
Jornal Folha de São Paulo As suas relações pessoais com o
presidente Sarney, nesse momento, quais são?
Collor O meu relacionamento pessoal com o presidente da
República sempre foi muito bom. Eu não costumo atacar pessoas, eu não
costumo atacar figuras, eu costumo atacar princípios equivocados. Eu ataco
com vigor erros administrativos, omissões, isso é o que eu ataco. E,
naturalmente, por mais que pessoalmente o meu relacionamento sempre
tenha sido cordial com o presidente da República, ele vem sendo afetado,
porque o presidente da República entende a crítica, que eu faço ao seu
governo e à sua ação administrativa, como uma crítica pessoal. O presidente
se confunde com o poder. E não sabe distinguir aquela crítica até onde vai na
sua ação administrativa e até onde vai à sua pessoa. Essa confusão que ele
vem fazendo é que vem tornando o seu período administrativo muito
dificultado e acredito até um tormento para ele e para as pessoas que lhe são
mais próximas.
173
172
Martin Claret, op. cit. pp. 44-6.
173
Idem, pp.55-6.
A mídia encontrou, nesta altura, em Collor o candidato ideal: jovem, desportista,
corajoso, atraente, e com um discurso energético. Nestas entrevistas Fernando Collor
enfatizou outra marca de sua campanha: a utilização do corpo em sua dimensão simbólica. Ele
se mostrou um homem atraente e sedutor, além de desportista, revelando então sua
preferência pelo caratê. Este aspecto de seu passado foi uma qualidade adicional para Collor,
porque demonstrava com sucesso as qualidades de valentia e coragem que eram de grande
valor, para as lutas que o futuro presidente empreenderia. Marcado pelo arrojo, jovialidade e
por um caráter destemido, ele despontava como herói diante da justiça alagoana. Aqui, estava
explícita a marca Collor, a bravura de um político novo e que jamais se curvaria aos
detentores do poder.
Revista Playboy As mulheres o apoiaram na campanha eleitoral
porque o sr. é um homem atraente?
Collor – Porque sou jovem.
Revista PlayboyO sr. é assediado pelas eleitoras?
Collor Sou, sou...Bastante. Em comícios, nos palanques, na rua...
Mas isso não acontece somente comigo. Basta ser um homem de vida
pública, estar em campanha, para despertar aqui e acolá sonhos e fantasias de
eleitoras. Então eu vejo isso de uma maneira normal, não como um estímulo
a coisa nenhuma. É uma forma de elas demonstrarem amor, de gostar, às
vezes até de confiar, de querer bem.
174
Fernando Collor de Mello na sua construção de herói mítico era muito auxiliado pelo
seu corpo, uma vez que a mídia apresentava o seu físico como um emblema de virilidade o
que provocava a admiração das mulheres pela força masculina e, talvez, uma fascinação pelo
guerreiro masculino. Além disso, havia o contraste entre a sua estatura e a de Tancredo, e a de
Sarney, e ainda a de outros que o antecederam.
Revista PlayboyE não é perigoso desafiar pistoleiros?
Collor Eles são covardes, pois agem drogados ou bados. Os
pistoleiros são muito parecidos com cachorros. Demonstrou medo, eles
avançam, como cães. Então, você tem de demonstrar que não tem medo deles
e, às vezes, até ultrapassar um pouco os limites.
Revista Playboy A versão que circula aqui por Maceió é que o sr.
teria até aberto a camisa, exposto o peito e os desafiado a atirar...
Collor Não foi bem assim... Isto tem um certo tom demagógico
que não é a minha especialidade... Mas os enfrentamos.
Revista PlayboyE como foi em outras cidades?
Collor Também foi muito desagradável. Em Flexeiras, foram
colocadas mulheres entre o povo, no comício, protegidas por pistoleiros, para
provocar. E os pistoleiros quebraram vidros dos carros da comitiva,
esvaziaram pneus, na frente de soldados do destacamento da Polícia
Militar,sem que eles tomassem qualquer providência. No comício, prometi
acabar com essa imoralidade, essa conveniência da PM. E mais: fui
aconselhado a, quando descesse de lá, sair por trás do palanque, pegar o carro
e ir embora... Não, não vou. Vou é descer e caminhar até a saída da cidade. O
174
Martin Claret, op. cit., p.47.
povo veio, se juntou a nós, e ninguém fez nada. Em Marechal Deodoro,
literalmente desafiei o prefeito, que havia assassinado um vereador durante a
campanha, a deixar as pistolas e a ter um encontro de homem para homem
comigo, porque eu queria lhe enfiar a mão na cara.Então, esse pessoal sabe
que sou uma pessoa com muito bom humor, com um temperamento cordial,
mas ninguém ouse dividir a bola. Porque, dividiu, eu vou às últimas
conseqüências...Em nome da preservação da autoridade e da lisura deste
governo.
Revista Playboy Essa segurança em enfrentar os pistoleiros vem
do fato de o sr. ter sido duas vezes campeão brasileiro de caratê?
Collor o pessoal da imprensa exagerou, né? Eu fui campeão
brasiliense e sempre fui bem colocado nas disputas brasileiras. Cheguei a ser
vice-campeão brasileiro, mas não campeão. Uma vez tentei corrigir um
jornalista, dizendo que a informação de que havia sido bicampeão brasileiro
estava errada, mas ele reagiu: “Não, deixa assim, que mais charme...” (
Risos).
175
Referindo-se ao seu berço político, Fernando Collor reforçou e enfatizou sua trajetória
política colocando-se como um político jovem e competente e com vocação para a atividade
política. Ressaltou que era um político independente e preparado e, também, que apenas sua
herança política não seria suficiente para colocá-lo na posição que ocupava.
Revista Veja O sr. começou sua vida política na ARENA, junto
com os ex-governadores alagoanos Divaldo Suruagy e Guilherme Palmeira.
Agora os combate. Por que o sr. não rompeu co eles antes?
Collor Comecei com eles, mas não pelas mãos deles. Essas
pessoas se atribuem um valor maior do que realmente têm. Sempre caminhei
com minhas próprias pernas. Venho de uma família de políticos. Meu avô
Lindolfo Collor foi o primeiro ministro do Trabalho, no governo Getúlio
Vargas, e quem criou a base da atual legislação trabalhista brasileira. Meu
pai, Arnon de Mello, há 37 anos quebrou todo o ciclo de violência em
Alagoas ao se eleger governador. Portanto, não sou fruto de uma ação entre
amigos.
176
Referindo-se a seu ingresso na política Collor destacava que tinha vocação para a
carreira política. Entretanto, mais adiante, já no exercício da Presidência da República ele
assumiu que não tinha nenhuma vocação política, e acrescentou, que o destino é que o havia
levado à presidência e revelou que o seu talento era o de administrador, de empreendedor.
177
Revista Playboy O seu ingresso na política foi uma questão de
herança familiar? Seu pai, Arnon de Mello, foi governador de Alagoas e seu
avô materno, Lindolfo Collor, foi o primeiro ministro do Trabalho durante o
governo Getúlio Vargas.
Collor O ingresso na política se por vocação, por destino, ou
pelas duas juntas. Neste último caso, para se formar uma grande carreira.
A vocação e o destino nunca estiveram tão associados como no Sarney. Ele
tem uma vocação política, mas a mão do destino foi muito, muito benéfica,
positiva para ele. Já o Jango (o ex-presidente João Goulart) teve muito mais
destino que vocação, e, quando esta lhe foi exigida, faltou. Eu, embora
175
Martin Claret , op. cit. pp.52-3.
176
Idem, p.44.
177
“Firmeza, a principal marca do presidente”, O Globo, 31/12/1990, in A.G.C., C AD. 99, P. 17.
formado em Economia pela Universidade Federal de Alagoas, me sinto muito
mais vocacionado para o exercício da atividade política.
178
Referindo-se à modernidade Fernando Collor revelou sua agenda política mostrando-
se um político jovem preocupado com os novos temas. Ele entendia que modernidade,
contemporaneidade e juventude estavam intimamente ligadas.
Afinal A superação desse preconceito se deveria, talvez em parte, à
modernidade da sua candidatura. Como o sr., um candidato considerado
moderno e, exatamente por isso, prestigiado hoje nacionalmente, como o sr.
define os traços essenciais da modernidade, hoje no Brasil?
Collor – Ser moderno, em primeiro lugar, é ser contemporâneo,
forçando um pouco a utilização da expressão, no futuro. Há que se ter sempre
uma sintonia fina, muito apurada, entre a expectativa da população, entre os
anseios da sociedade e a ação política daquele que encarna alguma
característica de modernidade. Ser um candidato moderno é ser um candidato
que tenha um entendimento perfeito do que significa o sonho dessa geração
que hoje se constitui, dos 16 aos 47 anos de idade, que tem como ponto de
convergência o fato de nunca ter votado para presidente da República e que,
comparecendo pela primeira vez às urnas, vai querer materializar, pelo voto,
aqueles seus sonhos. Quer dizer, ser moderno é sonhar o que esta geração
está sonhando.
Afinal E os temas que definem a modernidade? Quer dizer, quais
são os principais temas que devem fazer parte de um cardápio da
modernidade?
Collor Ecologia, participação da mulher no processo de evolução
social, a questão da Igreja, a questão dos Direitos Humanos, enfim, o
enfrentamento desses problemas, que nascem em função da grande crise
vivida hoje pelo país e também pelo mundo; a crise de transformação vivida
pelo mundo de um modo geral.
179
Referindo-se à corrupção, Fernando Collor disse que o tema teria grande influência no
comportamento do eleitorado. Ele aqui revelou a sua estratégia política, uma vez que achava
que a eleição seria marcada pelo “voto da vingança”, ele se colocava como o vingador e os
votos da vingança seriam canalizados para ele.
Jornal O Globo Como será o comportamento do eleitorado nestas
eleições?
Collor Serão eleições marcadas pelo voto da vingança. Eu,
pessoalmente, quero me vingar disso tudo que estamos passando. Que os
responsáveis paguem pelo prejuízo que trouxeram ao país e à nossa geração.
São escândalos atrás de escândalos. Alguém tem de se responsabilizar por
isso.
180
Nestas entrevistas Fernando Collor utilizou-se de estratégias discursivas, tais como a
negação, a ironia e o estilo polêmico com a finalidade de conquistar os eleitores. E, as suas
falas giravam sempre em torno dos mesmos temas: Estado mínimo, modernização,
privatização. Esses temas eram amplamente divulgados pela mídia que ajudou a estabelecer a
178
Martin Claret , op. cit. p.47.
179
Idem, pp.58-9.
180
Idem, p.71.
hegemonia dessas representações que tentavam induzir anuência a certas posições políticas,
naturalizando-as.
Então, para a construção de sua imagem, Fernando Collor, aproveitando-se do
momento de mudança que ocorria no país, construiu um discurso no qual incorporava
elementos ambíguos como a sua luta a favor dos “descamisados” e as privatizações, que
vinham de encontro a um desejo do empresariado e, conseqüentemente, das elites que ele
supostamente combatia. Em sua retórica política os temas democracia e modernização eram
recorrentes, e se prestavam a uma significação genérica uma vez que cada cidadão os entendia
da forma que melhor lhe aprouvesse. Assim, Collor de Mello, aproveitando-se deste momento
de transição pelo qual passava o país e, apropriando-se do discurso neoliberal através de seus
temas modernização e democracia utilizou-os para simbolizar a reforma econômica através do
combate à inflação, para simbolizar a reforma política através do combate à corrupção, e,
também, para simbolizar uma mudança cultural a partir do engajamento dos cidadãos na luta
que ele, Fernando Collor, empreenderia por um “Brasil Novo”.
O projeto “Brasil Novo” foi utilizado como base para os pronunciamentos de Collor e,
mais adiante, na ocasião da sua posse este projeto foi o cerne de seu discurso, transformando
aquele momento numa ocasião privilegiada para demarcar e enfatizar posturas políticas.
Retomando seus temas mais caros, Collor teceu considerações críticas sobre o capitalismo
brasileiro, combinando reflexões econômicas com uma visão política da questão social. O
tema da redução da intervenção do Estado na economia, aparecia como outro índice da
ruptura com a mentalidade empresarial tradicional.
O processo de construção da imagem de Fernando Collor foi acompanhado e
corporificado em fotografias escolhidas do objeto-candidato que mostravam aspectos parciais.
As fotografias que ilustravam este livro retratavam momentos diversos da vida de Fernando
Collor como o trabalho, a família e a própria campanha. Elegemos estas fotos como de nosso
interesse investigativo uma vez que foram incorporadas ao texto como marcas emblemáticas.
As fotos individuais representavam Collor quando criança com trajes escolares,
quando adolescente, praticando caratê, como governador do estado de Alagoas, e em
campanha com seus gestos característicos: o “v” da vitória, com a mão fechada e levantada, e
com a mão levantada fazendo o sinal positivo. As fotos coletivas referiam-se a momentos em
que ele aparecia rindo, conversando, festejando. Nestas fotos as mensagens orientavam-se
para o companheirismo, a amizade, a alegria, a realização e a valorização. Nos retratos da
família ele aparecia com o pai, com a mãe, com os filhos e com a mulher. Algumas fotos
mostravam Fernando Collor com os amigos e, também, em campanha, falando com eleitoras,
e com autoridades. Além disso, existiam fotos individuais de seu avô materno, de seu pai e de
seu irmão Leopoldo Collor.
Considerando-se as fotos observadas em seu conjunto, podemos questionar qual o
estilo dominante de sua mensagem que aparece relacionada a fortes elementos de juventude,
coragem, destemor, força moral, resistência, enfim todos os elementos necessários para
enfrentar os inimigos (corrupção, inflação, atraso) e realizar as mudanças a que se propunha e
pelas quais a sociedade ansiava. Ou seja, Fernando Collor de Mello era o candidato ideal,
aquele que se eleito faria as coisas. É evidente que essas fotos foram escolhidas para fixar
símbolos dando forma a uma imagem específica para representar Collor, para falarem de si, e
parecem portar atributos que se misturam para construir determinada imagem: a do candidato
ideal à presidência da República.
As fotografias permitiam localizar algumas marcas enunciativas da intenção de
produzir uma visão caleidoscópica do candidato, favorável a que múltiplos processos de
identificação e projeção fossem acionados pelos destinatários. Algumas em cenas, gestos,
expressões combativas, o abraço protetor a uma eleitora. Outras respectivamente dele
adolescente e criança, atualizaram as raízes de classe média do candidato e funcionaram como
demonstração da adesão dos bem nascidos à sua candidatura. As imagens caucionadas na
simbólica da infância e da juventude reforçavam a idéia de mudança, que o candidato
pretendia incorporar. Outra imagem mostrava que o candidato tinha uma história, ele não era
um estreante no cenário político institucional: sua presença no governo do estado de Alagoas
atestava isso. Na imagem em que Collor de Mello discursava na convenção do PRN que
homologou a sua candidatura, seu dinamismo e seriedade estão confirmados na expressão de
concentração captada pela câmara para qual ele não está olhando, o que sugere a anti-pose, ou
seja, algo que não foi preparado para ser mostrado, que supostamente acontece, independente
do seu registro.
Barros lembra que a performance expressa a capacidade e o desempenho do emissor e
do receptor no sentido da otimização da mensagem. O processo de elaboração da imagem do
candidato pautava-se no princípio do atendimento das demandas dos consumidores do
mercado de imagens políticas, reduzindo ou quebrando possíveis linhas de resistência. Daí a
preocupação em atingir a classe média que se pressupunha que desejava mudança, desde que
tal mudança tivesse uma face que não fosse ameaçadora, e sim apaziguadora dos temores do
desconhecido. O apelo da campanha era basicamente emocional: buscava-se estabelecer
processos de projeção-identificação dos eleitores com o candidato, fazê-los apaixonar-se por
ele, torná-lo o seu candidato.
181
A juventude, no caso, não designava apenas uma etapa da evolução biológica, mas a
seiva viva de uma nova mentalidade política que se consubstanciava na presidência da
República. O ato da posse assumiu o estatuto de rito de iniciação da vida e foi semantizado
como recusa de um legado tradicional, ruptura com o passado.
181
Orlando de Barros, A performance em busca de uma metodologia, in CD-rom Anais do Congresso Pré-Fiealc,
“América Latina e o processo de modernização”, UERJ, 2005, ISBN:85-98875-03-1.
CAPÍTULO 2
FERNANDO COLLOR DE MELLO: UM MOMENTO HISTÓRICO, EM
DISPONIBILIDADE PARA UMA SIMBOLOGIA DE OCASIÃO.
As eleições de 1989 podem ser consideradas um momento de mudanças na vida
política brasileira. Primeiramente, porque, depois de quase 30 anos, os eleitores puderam
novamente eleger, diretamente, o presidente do país. Em segundo lugar, o caráter midiático da
campanha, em que os meios de comunicação tiveram uma grande influência não por levar
as alterações na essência da propaganda política como também por terem se colocado como
atores políticos.
A Rede Globo e a grande imprensa, por muitas razões, foram acusadas de promover o
candidato vitorioso Fernando Collor de Mello. O presidente eleito, além de contar com a “boa
vontade” da mídia, também investiu no marketing político e conseguiu fazer uma campanha
“profissional.” Ele mesmo foi eficaz em se tornar um líder bem adaptado às exigências da
mídia, colocando-se como o “caçador de marajás”, um jovem político com coragem e energia
para acabar com a corrupção e resolver os problemas do país.
Conforme afirmou Afonso de Albuquerque em sua dissertação de mestrado, Collor de
Mello deu pouco espaço em seus programas para debates de propostas políticas.
182
O
candidato do PRN procurou, pelo contrário, dar ênfase à construção da sua imagem. O único
tema que ainda mereceu destaque foi o da corrupção, apresentado como o resultado da
atuação dos “marajás” sobre a política brasileira. Fernando Collor, por outro lado, construiu-
se como um super-herói, o “caçador de marajás”, um homem jovem e corajoso capaz de tirar
o país “da lama”. Em relação aos adversários, os programas de Collor adotaram o presidente
Sarney e seu governo como principal alvo.
Em uma outra dissertação sobre o tema, Fátima de Carvalho concluiu que Collor de
Mello misturou propostas liberais e social-democratas, como a remodelação do Estado e a
reforma agrária.
183
Tendo construído o perfil do candidato jovem e corajoso, Collor dedicou
21,7% do seu horário eleitoral à autopromoção. Como segundo eixo temático, aparecem os
ataques ao governo Sarney.
182
Afonso de Albuquerque, Aqui você verdade na tevê: a propaganda política na televisão, Niterói, UFF,
1999, Dissertação de Mestrado em Comunicação, Imagem e Informação.
183
Fátima Lampreia de Carvalho, O centro do labirinto: um estudo sobre a competição eleitoral na TV, Rio de
Janeiro, IUPERJ, 1994, Dissertação de Mestrado em Ciência Política.
Para construir a sua imagem de herói, Fernando Collor, além de atacar o governo
Sarney, identificou como vilões no estado de Alagoas os políticos sem escrúpulos, e os
funcionários públicos que recebiam salários altíssimos, que logo seriam chancelados como
“marajás”. Em 1989, o tema de maior relevância acabou sendo o combate à corrupção. Collor
de Mello, ao construir um discurso voltado para esta questão e por ter se constituído como o
“caçador de marajás”, se tornou convincente ao eleitorado pela repetição e, com isso, elegeu-
se presidente.
Fernando Collor, jovem e bem apessoado, exibia na televisão, tanto na campanha
quanto depois, na presidência, seus cabelos bem penteados, seus ternos italianos, sua
disposição de esportista. Todo seu esforço era para apresentar o visual mais atraente e
elegante possível. Fez sua campanha assessorado por um eficiente comitê de marketing e,
soube logo se projetar como candidato viável para a direita, amealhando apoio e
financiamento. Collor de Mello se apresentou como o paladino da modernidade, palavra que
com ele passou a representar privatização de empresas estatais, desregulamentação e abertura
da economia ao capital internacional. Fazia dos políticos tradicionais os inimigos nº 1 da
pátria e, apresentava-se como o único que tinha forças para derrotá-los.
Em torno da imagem do político jovem, moderno, próspero que punha suas energias a
serviço da causa pública, cristalizaram-se os impulsos de emoção, de esperança, de adesão
pré-existentes de forma difusa no imaginário político. Os resultados eleitorais confirmaram a
eficácia da construção tica em que heróis do progresso marcham contra as forças do atraso.
Collor elegeu-se com expressiva votação. que se destacar, porém, que as condições de
eficácia não dependem tão somente da intencionalidade dos construtores de mitos, mas
principalmente dos cenários e contextos favoráveis ao acolhimento; “o que significa entre
outras coisas que em sua estrutura, em sua forma, como em seu conteúdo, a mensagem a ser
transmitida deve, para ter alguma possibilidade de eficácia, corresponder a um certo código já
inserido nas normas do imaginário”.
184
2.1. ENFRENTANDO O INIMIGO: DA CAÇA AOS MARAJÁS AO PALÁCIO
DO PLANALTO.
O panorama eleitoral do ano de 1989 expressou com fidelidade a ausência de
alternativas hegemônicas e a fragmentação do campo político. O grande número de
184
Raoul Girardet, Mitos e mitologias políticas. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
candidaturas de centro, esquerda e direita apontou para o momento de transição vivido pela
sociedade brasileira. Entre os candidatos estavam os deres dos principais partidos: Ulysses
Guimarães (PMDB), Aureliano Chaves (PFL), Luiz Inácio Lula DA Silva (PT), Leonel
Brizola (PDT), Mario Covas (PSDB), Paulo Maluf (PDS), Roberto Freire (PCB), Guilherme
Afif Domingues (PL), Ronaldo Caiado (PSD) e Fernando Collor de Mello (PRN).
185
A irrupção eleitoral de Collor e de Lula indicou, antes de tudo, o desejo e o signo de
mudanças prevalecentes na época, o fastio com os políticos tradicionais e uma ansiedade por
novidades políticas, ainda que em perspectivas político-ideológicas muito distintas.
Enquanto a novidade de Lula implicou, em radicalidade, na superação do regime militar e na
busca de uma justiça social no país, a outra representada por Collor de Mello, ao se alimentar
do ressentimento dos “descamisados” contra a injustiça, inaugurou, em nível nacional, uma
possibilidade política de privilegiar o mercado como princípio regulador e motor da
sociedade, em detrimento do estatal e do público. Collor de Mello, em moldes marcantes e
inovadores para a política brasileira, introduziu uma alternativa neoliberal, bem como uma
política configurada pela existência de um padrão midiático no país.
186
Embora não se possa atribuir o sucesso da candidatura exclusivamente à mídia, tudo
na campanha de Collor de Mello teve a marca da produção publicitária. O Instituto Vox
Populi, de seu amigo Marcos Antonio Coimbra, levantou dados fundamentais para a
montagem do perfil adequado à candidatura à presidência da República.
187
O Instituto Vox
Populi levantava desde as preferências por nomes e partidos, até a predileção do eleitorado
pelo tipo físico, idade e conduta dos candidatos. Ao mesmo tempo, Collor de Mello valia-se
de bancos de dados informatizados sobre cada item que poderia vir a ser mencionado na
campanha presidencial. Como toque final, a logomarca “Collor” em branco sobre fundo azul
e os dois “éles” em verde-e-amarelo.
188
“Collor” a marca de maior sucesso nesta eleição presidencial, nasceu da vingança de
Cláudio Humberto da Rosa e Silva, editor político da Tribuna de Alagoas, para irritar o
jovem herdeiro político do senador Arnon de Mello, deputado Fernando Mello. O deputado
não gostava de ser chamado pelo sobrenome da mãe. Preferia o nome da família do pai, para
garantir a herança eleitoral. Exatamente por isso, Cláudio Humberto, então num jornal de
185
Memória Globo, Jornal Nacional: a notícia faz história, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2004, p. 204.
186
Antonio Albino Canelas e Leandro Colling, “Mídia e eleições presidenciais no Brasil pós-ditadura”, in
Doutrina, pp.169-90.
187
Mario Sérgio Conti, Notícias do Planalto: a imprensa e Fernando Collor, São Paulo, Companhia das Letras,
1999, pp. 96-8.
188
J.Nêumane, Atrás do palanque.Bastidores da eleição de 1989, São Paulo, Siciliano, 1989, pp. 55-7.
oposição, muito antes de se tornar amigo do jovem político e virar seu principal assessor,
insistia em chamá-lo Collor. O nome acabou adotado como marca, virou verbo “collorir” e
adjetivo “collorido” e, acabou conquistando a maioria do eleitorado brasileiro.
189
As pesquisas do Vox Populi tinham por objetivo auxiliar o candidato Fernando Collor
a dialogar com os eleitores, uma vez que, dessa forma, suas propostas iriam de encontro aos
anseios do eleitorado. Nesse sentido, houve uma mudança no papel tradicional do político
cujo objetivo era persuadir os eleitores de seus pontos de vista.
A partir dos dados levantados pelo Vox Populi, Collor de Mello adotou uma postura de
marketing que enfatizava a imagem de político independente, jovem, empreendedor, arrojado
e arrogante, conseguindo fazer-se a modernização em pessoa e, dessa forma, forjou um mito
com suas próprias mãos e se transformou num fenômeno eleitoral. Collor de Mello aferiu, por
essa via, a penetração que tinha o discurso, em diferentes regiões do país, que ensaiara na
campanha eleitoral de Alagoas, em 1986, contra os funcionários públicos que supostamente
recebiam salários astronômicos e não trabalhavam, chamados por ele de “marajás”. Durante
sua campanha para o governo de Alagoas, Collor fez surpreendente sucesso com suas
veementes promessas de mudanças. “Fernando Collor, o caminho das mudanças”, era o lema
da campanha. A proposta de caça aos “marajás” do serviço público estadual não fazia parte do
repertório original. Surgiu no meio da campanha e logo virou seu maior símbolo. Esta
expressão de grande poder simbólico foi incorporada ao discurso de Collor quando, num
comício, ele ouviu a palavra “marajá” dita por um anônimo na assistência e, de imediato,
percebeu o impacto que ela causaria junto aos eleitores e à mídia.
190
Realmente, o slogan o “caçador de marajás” foi um eficiente marketing político que
passou a compor a imagem do candidato Fernando Collor. O “caçador de marajás” constituiu-
se no símbolo privilegiado da campanha de Collor uma vez que apresentou, de forma
emocional, uma proposta tão difícil de ser refutada quanto fácil de ser iludido por ela.
Collor de Mello foi eleito governador de Alagoas com 42% dos votos, e despertou a
atenção da opinião pública nacional logo no primeiro dia de governo quando assinou vários
decretos tirando os privilégios dos super funcionários do estado. As medidas de moralização
do serviço público convulsionaram Alagoas. E, não demorou muito, tiveram impacto no resto
do país traduzidas em cenas mostradas pela televisão, como a de repartições públicas
189
“Como se fez um presidente”, Jornal do Brasil, 19/12/1989, in A.G.C., Cad. 5, p.57.
190
Mario Sérgio Conti, Notícias do Planalto: a imprensa e Fernando Collor, São Paulo, Companhia das Letras,
1999, p. 15. “Como se fez um presidente”, op. cit.
superlotadas, dada a obrigatoriedade de assinatura do cartão de ponto. Desde o início de sua
gestão como governador Collor almejava a repercussão nacional. A seu pedido, o Instituto
Vox Populi fez uma pesquisa sobre a imagem dos novos governadores, ao se completarem os
primeiros cem dias de administração. Em resposta à pergunta “Qual o governador que você
mais admira”? Collor recebeu 12% das indicações, enquanto governadores de grandes
estados, como Moreira Franco do Rio de Janeiro e Orestes Quércia de São Paulo, ficaram com
índices entre 7% e 8%. Governadores de longa tradição, como o pernambucano Miguel
Arraes, não passaram de 2%. Esta foi a primeira de uma série de pesquisas feitas pelo Vox
Populi que seriam utilizadas por Collor para balizar suas iniciativas políticas.
191
Em novembro de 1987, o então governador de Alagoas, Collor de Mello, foi a Brasília
e declarou que o estado de Alagoas não tinha condições de pagar aos “marajás” e em função
disso, assinou um decreto declarando “caça” a eles. Porém, sofreu um questionamento do
presidente Sarney e, a partir daí, Collor começou a acusar o presidente de perseguições, fato
este que usou em sua campanha como um forte ponto para a sua desvinculação do governo
Sarney. Ainda em 1987, Collor reapareceu na mídia televisiva ao ir novamente a Brasília,
desta vez para questionar um fato que tomou conhecimento através de jornais: a existência de
um suposto dossiê do Serviço Nacional de Informação (SNI) que continha supostas
irregularidades de sua gestão governamental em Alagoas. Porém, o SNI negou a existência do
referido dossiê e o caso ficou por isto mesmo, valendo apenas a aparição nacional do
governador. A partir destes episódios Collor de Mello tornou-se conhecido nacionalmente.
192
Da mídia impressa destacamos duas matérias sobre o episódio do SNI nas quais
Collor procurou mostrar que o então presidente Sarney era homem do regime militar. Na
primeira, o Jornal do Brasil publicou que o relatório do SNI apontava que o governador
alagoano “gastava dez vezes mais recursos em propaganda pessoal do que com saneamento e
medicina”, e o comparava ao ministro da propaganda e da cultura nazista Joseph Goebbels.
E, com base em recortes de jornais, acusava-o de fazer conchavos com altos funcionários do
Estado, qualificando-o como “um Al Capone moderno”, que não teria desapropriado “nem
um palmo de terra dos usineiros”. Apontado como “belo menino, irrequieto e extremamente
voluntarioso” no relatório do SNI, o governador de Alagoas revidou, dizendo que “toda essa
adjetivação ficaria mais apropriada para designar as ações do governo”. Collor de Mello, que
191
Mario Sérgio Conti, Notícias do Planalto: a imprensa e Fernando Collor, São Paulo, Companhia das Letras,
1999, p. 15. “Como se fez um presidente”, op. cit.
192
Ana Paula Andrade, “As primeiras eleições midiáticas,” UNESP – Franca, Mimeo, 2003, p. 16.
veio ao Rio de Janeiro para assistir ao desfile das escolas de samba cujos enredos abordavam
o tema dos “marajás”, devolveu as acusações ao presidente Sarney.
“O presidente vai aprender a respeitar o povo brasileiro. Ele não tem
estatura, não tem preparo para comandar e conspurca a nossa cidadania. O
que acho terrível é vermos práticas tão condenadas pela Nova República
estarem vigindo de novo, aperfeiçoadas. O SNI é um órgão insidioso e
irresponsável. Causa repulsa. Até quando nós, cidadãos, vamos ter um
serviço de informações a pairar sobre o bem e o mal, como se tivesse a chave
do certo e do errado”?
193
Na segunda matéria, também no Jornal do Brasil, o governador de Alagoas disse
acreditar que a sua candidatura à presidência da República foi o motivo para o SNI tentar
atingir sua dignidade. E assim se manifestou. “Mas se foi esse o motivo, tenho certeza, de
que essa atitude vai se virar inteiramente contra esse órgão. A sociedade brasileira agora
sabe que pode gritar, que pode se rebelar contra uma ação tão nefanda”. Ao ser abordado por
um jornalista, na caminhada pelo corredor do anexo do Palácio do Planalto, que quis saber se
o episódio colocava o regime em situação difícil, Collor de Mello fez ar de surpresa e
perguntou: “que regime”? E acrescentou. “Esse regime está envergonhando a nação. Isso é
uma vergonha”. Irritado, afirmou que a divulgação para fontes de governo de notícias sobre
dossiês envolvendo parlamentares era uma tentativa de golpear a Constituinte. Disse,
também, que o governo federal estava deteriorando as relações com a sociedade por causa da
sua “decomposição”. Essa deterioração não era especificamente com Alagoas, mas com a
oposição ao governo, da falta de autoridade, de legitimidade do presidente da República: “Já
existe uma incompatibilidade não apenas com Alagoas, mas com a sociedade brasileira”,
disse Collor de Mello.
194
Ao iniciar-se a campanha eleitoral para a presidência da República, o ex-governador
do estado de Alagoas, Fernando Collor de Mello, apresentou-se como candidato, de início
filiado ao Partido da Juventude (PJ). Sua filiação a este partido de pouca expressão e
representatividade deveu-se ao fato de que, no final de 1987, o presidente do PJ, mas virtual
“dono”, assim considerado por muitos, daquele partido, Daniel Tourinho, solicitou a
colaboração de Collor de Mello para evitar que o partido fosse extinto, uma vez que só
conseguira criar diretórios em oito estados e a legislação exigia um mínimo de nove. Num
breve período, Collor de Mello viabilizou o registro do PJ em trinta municípios alagoanos
permitindo, assim, que Daniel Tourinho conseguisse o nono diretório estadual, garantisse a
existência do PJ e, também, retribuísse o favor convidando o governador para participar do
193
“Collor vai interpelar chefe do SNI”, Jornal do Brasil, 18/02/1988, in A.G.C., Cad. 2, p.7.
194
“Que regime”? O Jornal do Brasil, 19/02/1988, in A.G.C., Cad. 2, p.9.
programa de televisão do partido.
195
Mais tarde, Collor de Mello filiou-se ao Partido de
Renovação Nacional (PRN) em virtude dos grandes partidos terem optado por nomes mais
expressivos, como Ulysses Guimarães, Mario Covas, Leonel Brizola, Paulo Maluf e Luis
Inácio “Lula” da Silva. Ambas as legendas, Partido da Juventude (PJ) e Partido de
Renovação Nacional (PRN), indicavam alguns dos elementos que iriam compor a imagem
do candidato Fernando Collor de Mello: jovem, reformador, novo tempo e nova esperança.
O político de Alagoas apresentava-se aos eleitores como “caçador de marajás” nos
comícios, nas passeatas e carreatas, nos debates e nos programas de televisão. Em entrevista
ao Bom Dia Brasil, nos estúdios da Rede Globo, em Brasília, poucos dias antes de tomar
posse como governador, em março de 1987, Fernando Collor de Mello deixou claro sua
intenção de combater os funcionários públicos que trabalhavam pouco, e recebiam proventos
faustosos. Nesta entrevista ele adiantou o propósito da audiência que teria à tarde com o
procurador geral da República, Sepúlveda Pertence, quando pediria a abertura de um
processo para impedir o pagamento dos benefícios que, acumulando-se em vantagens uns
sobre os outros, aumentavam os salários dos funcionários de Alagoas.
196
Iniciou-se, assim,
com a “caçada” aos “marajás”, a pretensa cruzada de Collor de Mello contra a corrupção,
uma estratégia para a instauração de uma imagem nova e muito adequada ao momento
vivido, que fez grande sucesso junto ao eleitorado nacional.
Assim, a surpresa das eleições foi o ex-governador de Alagoas, Fernando Collor de
Mello, que se candidatou por um partido pequeno e praticamente desconhecido, o PRN, e
desde abril começou a liderar as pesquisas de intenção de voto. Com um discurso agressivo
contra o governo de José Sarney ia de encontro aos anseios do eleitorado que, em 1989, quis
se desligar dos esquemas políticos tradicionais. Em diversas ocasiões, o governador de
Alagoas criticara duramente o presidente Sarney, recusara a ele o apoio aos cinco anos de
mandato durante a Constituinte, e ia à Brasília regularmente denunciar o tratamento
discriminatório dado a Alagoas.
Entretanto, enquanto atacava o governo Sarney nos palanques, Collor de Mello
manobrava com realismo nos bastidores. Procurou o ministro das Comunicações, Antonio
Carlos Magalhães, do PFL, querendo apoio e conselhos. O apoio era complicado. Antonio
Carlos vira as bases do PFL, na Bahia, debandarem da candidatura oficial do partido, a de
Aureliano Chaves, em direção a de Collor. Mas como era ministro, não podia apoiar
195
Mario Sérgio Conti, op. cit. p. 96.
196
Idem, p. 13.
abertamente um candidato que atacava o presidente com virulência. Antonio Carlos ofereceu
sua demissão a Sarney, que não a aceitou porque havia liberado seus ministros para votarem
em quem bem entendessem. Luiz Eduardo Magalhães, comentando que as lideranças que o
apoiavam em diversos municípios da Bahia haviam aderido a Collor, disse: “nem eu nem
meu pai podemos fazer a mesma coisa. Sarney foi muito bom para nós e o Collor bate muito
nele”.
197
Mas ao candidato do PRN também não interessava a sustentação explícita de um
político que estivera ligado ao regime militar e era suporte da Nova República. Entretanto,
Antonio Carlos aconselhava Collor. Encontrava-se com ele todas as semanas na casa do
embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, em Brasília. Alberico Souza Cruz, jornalista da
Globo, participou de algumas dessas reuniões. Antes de serem levadas ao ar, Collor mostrava
ao ministro e ao jornalista fitas de vídeo com peças de sua propaganda na televisão. Assim,
Antonio Carlos e Souza Cruz evitaram que alguns ataques mais violentos a Lula fossem
exibidos no horário gratuito do PRN.
198
Nesta época a conjuntura internacional modificava-se e, o marco inicial para a assim
chamada Nova Ordem Mundial foi a queda do Muro de Berlim, em 1989, com tudo o que
simbolizou em termos políticos, econômicos e sociais. Evidentemente, muitos aspectos
anteriores indicavam uma nova era econômica em formação. A destruição do Muro de
Berlim rompeu com a mais significativa característica da Guerra Fria: a bipolaridade. Em
1985, a eleição de Mikhail Gorbatchov para a liderança da União Soviética tinha por
plataforma, no que toca à política internacional, estabelecer formas pacíficas de sobrevivência
democrática entre regimes econômicos antagônicos.
199
A queda do muro de Berlim, por
irônico sinal, deu-se cerca de um mês antes das eleições presidenciais brasileiras de 15 de
novembro, servindo também para mostrar o quanto pesaria em breve sobre o Brasil a pressão
do capitalismo transnacional, sob a égide sintética de “modernidade”.
Collor soube aproveitar-se do momento e sem vincular-se aos conceitos de direita e
esquerda, apesar de em um segundo turno ter formado aliança claramente conservadora com
PDS, PFL, e a ala mais à direita do PMDB, vinculou seu projeto à idéia do “moderno.”
Valorizando as heranças negativas internas e internacionais, Fernando Collor não levou o
debate para o campo das particularidades do novo projeto liberal que pretendia implantar no
197
Mario Sérgio Conti, op. cit. pp. 193-4. Ricardo Noblat, “Collor atropela os políticos”, Jornal do Brasil,
06/05/1989, in A.G.C., Cad. 2, p.26.
198
Idem.
199
O Globo 80 anos-o mundo, 28/05/2005.
Brasil. Ao contrário, fazendo uma campanha sistemática contra as empresas estatais
resumindo-as às suas deficiências e distorções e contra as ideologias que chamava de
ultrapassadas, vinculou as duas idéias à noção de “atraso” e, astutamente, à candidatura
petista. Sobre este tema, a imprensa divulgou. “Collor quer evitar a todo custo a polarização
ideológica, ou seja, que a campanha até 17 de dezembro se caracterize por um confronto entre
forças de esquerda e de direita”.
200
Neste contexto, Collor de Mello apresentou-se como o candidato da consolidação
democrática, prometeu mudar a estratégia de desenvolvimento brasileiro, e dispôs-se a abrir
a economia provocando uma tensão entre os setores fechados que não fazem concessões ao
exterior. Também, indicou que procuraria alinhar o Brasil aos paises mais desenvolvidos em
busca de apoio internacional para a renegociação da dívida externa, e para assegurar a
continuidade do financiamento. Com o processo de globalização, a abertura comercial
passou a ser uma estratégia necessária para os países atraírem investimentos das empresas
transnacionais.
É difícil saber se a imagem do “caçador de marajás” teve alguma inspiração no
debate econômico trazido pela ascensão ideológica do consenso neoliberal, em torno da
necessidade de racionalizar e otimizar o serviço público como requisito para um Estado
mínimo ou, especialmente enxugar a folha de pagamentos como requisito para obter o
equilíbrio receita-despesa. Se teve, certamente extrapolou, no imaginário popular, assumindo
conotações inauditas de luta contra a corrupção, o empreguismo, o apadrinhamento e, daí,
indo mais além, para a imagem do jovem forte, perseverante, aguerrido, ao final quase
guindado à condição de paladino da luta contra toda injustiça.
Embora fosse facilmente demonstrável, desde sempre, que essa imagem jamais
correspondeu à triste situação de Alagoas sob Collor, isso era o que menos pesava na
conformação das preferências e esse dado é revelador da importância que assumiu, a partir
de 1989, o marketing eleitoral e o quanto, por conta disso, a política descolou-se da
discussão cidadã sobre as situações vividas e passou a apoiar-se na montagem, por via de
prestidigitação televisiva, de promessas de satisfação de sonhos difusos.
201
Segundo a crônica política, a candidatura de Fernando Collor de Mello à presidência
da República começou a surgir num jantar em Tóquio, durante uma viagem do então
governador de Alagoas ao Japão e à China, do qual participaram, além de Collor de Mello,
200
Folha de São Paulo, 17/11/1989.
201
“Observatório da Imprensa”, TVE, 07/05/2007, in DVD vídeo, Arquivo do Professor Orlando de Barros.
seu assessor de Imprensa Cláudio Humberto Rosa e Silva, o deputado federal Renan
Calheiros e o deputado estadual Cleto Falcão, então líder do governo na Assembléia
alagoana.
202
Em dezembro de 1987 Fernando Collor assim se manifestou sobre a sua candidatura à
presidência da República. “Se um dia chegasse lá, eu colocaria os bandidos que estão
assaltando o Tesouro Nacional na cadeia e acabaria com os “marajás” de todo o país. Tenho
consciência das dificuldades para se chegar à Presidência, principalmente se o candidato é de
um Estado pequeno como Alagoas. Neste caso é praticamente impossível”.
203
Em janeiro de 1988, a candidatura de Collor à presidência era vista com desconfiança
pela imprensa. “O auto-lançamento de Collor de Mello como pré-candidato à sucessão
presidencial acrescenta um novo elemento e nova dinâmica à disputa interna no PMDB, na
qual se alinham pelo menos oito personalidades, cinco das quais paulistas. É óbvio que,
sem máquina partidária e sem ter a respaldá-lo um grande Estado, as chances do jovem
governador de Alagoas são escassas, no âmbito da organização a que está filiado”.
204
Em outubro de 1988 a imprensa noticiou que Fernando Collor, nesta época sem
partido, não queria ser vice de ninguém e comentou que as siglas tradicionais estavam
desgastadas e desprovidas de referências, acrescentando que pretendia ser uma espécie de
candidato alternativo na sucessão do presidente Sarney.
205
No início de 1989, apesar de os candidatos ainda não terem sido indicados
oficialmente, os partidos começaram a fazer campanha e, paralelamente, os Institutos de
Pesquisa começaram, também, a acompanhar as intenções de votos. Na pesquisa realizada
pelo Instituto Gallup, correspondente aos meses de fevereiro, março, abril, maio e junho de
1989 destacamos os seguintes resultados mais significativos. De fevereiro a marco Collor
apresentou os seguintes resultados, respectivamente: 11,9%, 13,8%, 16,9%, 37,8% e 44,6%;
enquanto Brizola apareceu com 15,5%, 14,8%, 15,6%, 13% e 12,2%, respectivamente; e Lula
com 15,9%, 11,8%, 15,1%, 8,1% e 5,5%, respectivamente.
206
O crescimento acelerado de
Fernando Collor foi acompanhado da redução do número de eleitores de Lula, do PT, e
202
“Sessão nostalgia, um ano depois”, O Globo, 18/12/1989, in A.G.C., Cad.5, p.31 (verso). Alberto Tosi
Rodrigues, Brasil de Fernando a Fernando, Ijuí, Ed. UNIJUÍ, 2000, p. 65.
203
“Collor tentará chegar à Presidência por pequeno partido”, O Globo, 20/12/1987, in A.G.C., Cad. 2, p.5.
204
“Candidatura Collor”, Folha de São Paulo, 28/01/1988, in A.G.C., Cad. 2, p.6.
205
“Collor não quer ser vice de ninguém”, de Marcelo Migliaccio, Tribuna da Imprensa, 14/10/1988, in A.G.C.,
Cad.2, p.15.
206
“O fantasma do turno único. Acreditem: Fernando Collor continua a subir na pesquisa e seu eleitorado é mais
fiel que se imagina”, Instituto Gallup, in Istoé/Senhor, 19/07/1989, pp.30-5.
também, de Brizola, do PDT. Provavelmente, Lula e Brizola despontaram no início da
campanha eleitoral por serem os mais conhecidos dentre aqueles que estavam descontentes
com o governo Sarney.
Foi em Maceió, em fevereiro de 1989, que o então governador Fernando Collor de
Mello lançou o manifesto de criação do Partido da Reconstrução Nacional (PRN), pelo qual
seria candidato à presidência da República.
207
Nesta época, Collor de Mello já saíra do PMDB
e abrigara-se no Partido da Juventude (PJ), que depois mudaria de nome para PRN, que tinha
como único parlamentar Arnaldo Faria Sá, eleito pelo PTB-SP em 1986 e ex-candidato a vice-
prefeito na chapa de Paulo Maluf, na campanha municipal de 1988.
208
Em entrevista à imprensa, Fernando Collor discorreu sobre os principais pontos de sua
plataforma eleitoral. “O maior problema do país não é a crise econômica nem social, mas a
crise moral. Não serei candidato para sucumbir a acordos espúrios e entendimentos
subalternos. É necessário que retiremos a lama apodrecida representada pela corrupção”. (...)
Administrando sobre o tripé “moralidade, austeridade e eficiência”, Collor conseguiu
ultrapassar as fronteiras alagoanas e se transformou num político de prestígio nacional. (...)
Em Alagoas, no entanto, o governo Collor de Mello era criticado tanto por antigos e leais
correligionários como por novos adversários. Dos 27 deputados estaduais, 25 faziam oposição
ao governador, a quem haviam ameaçado de impeachment. (...) Collor definia-se
ideologicamente como um “cristão preocupado com os problemas sociais”. Sua plataforma
baseava-se fundamentalmente no liberalismo: defendia a redução da presença do Estado na
economia, o controle do sistema financeiro por parte da iniciativa privada, e a implantação,
em escala nacional, do método Paulo Freire de alfabetização.
209
Assim, em maio de 1989, Collor de Mello desincompatibilizou-se do governo de
Alagoas para concorrer à presidência da República pelo PRN que, em julho, realizou uma
convenção nacional que o escolheu e Itamar Franco como candidatos à presidente e vice-
presidente, respectivamente. Iniciava-se, então, a campanha eleitoral de Collor com amplo
apoio da mídia.
em campanha, Fernando Collor dispara nas pesquisas de opinião com a
popularidade de caçador de “marajás” e o prestígio de inimigo do presidente Sarney. E assim
ele se manifestava: “Na minha gestão não vai haver mordomia. Vou vender as mansões do
207
“Collor cria novo partido e sai candidato”, Tribuna da Imprensa, 05/02/1989, in A.G.C., Cad.2, p.16.
208
Alberto Tosi Rodrigues, op. cit. p. 65.
209
“Caçador de marajá quer de volta a moral”, de Inaldo Sampaio, entrevista com Fernando Collor de Mello, O
Globo, 05/02/1989, in A.G.C., Cad. 2, pp. 17-20.
governo em Brasília e os carros oficiais dos ministros. Em um ano e meio, a inflação será de
3% ao mês”.
210
Enquanto em Alagoas as denúncias contra Collor se avolumavam no que se referiam à
aquisição irregular de veículos, acordo com os usineiros, verba secreta e contratações
ilegais.
211
Nas ruas o povo assim se manifestava sobre o candidato Collor de Mello. “Ele é
minha única esperança”, disse José Clóvis Lodetti, 45 anos, comerciário em São Paulo. “Basta
ele acabar com os marajás que sobrará mais dinheiro para o povo”, falou Cristovam José da
Silva, 43 anos, taxista com ponto em frente ao Ministério da Fazenda em Brasília. “Os
políticos velhos me deixam desinteressado. Acredito que Collor vá fazer algo diferente”, disse
José Carlos Pasotto, 37 anos, comerciante.
212
Antes de ser eleito presidente, Fernando Collor, solicitado a se posicionar
ideologicamente, “fala para seu público” colocando-se como o candidato da renovação e da
recuperação, dos antigos ideais de respeito à autoridade e às instituições, e de amor à
Pátria.
213
Estas referências evidenciam os elementos personalistas e salvacionistas do
discurso de Collor de Mello que abusou no uso de técnicas discursivas que visavam colocá-
lo como figura central do processo político e identificá-lo como porta-voz da vontade do
povo brasileiro em suas aspirações de mudanças.
Em entrevista à revista Isto É / Senhor, antes de ser eleito presidente, Collor de Mello
assim se pronunciou sobre ideologia, demonstrando preocupação em apresentar-se como
aquele que representaria os anseios do povo brasileiro no governo do país.
214
Repórter: O Sr. diria que substituiu a ideologia das idéias pela
ideologia dos princípios?
Collor: São as duas coisas, se nós entendermos como princípios, na
atividade pública, exatamente esses critérios da dignidade, da seriedade no
trato da coisa pública, da correção; sem associarmos a isso o ideal, que eu
acalento, de ver um Brasil (sem falso ufanismo e sem nenhuma outra
conotação extremada de amor à Pátria), um Brasil em que a gente sinta
orgulhoso de viver nele. A junção desse ideal de Brasil socialmente mais
justo, de um Brasil que cresça economicamente, com um Brasil em que haja
o respeito à autoridade, e as instituições sejam respeitadas é o que me anima
nesse processo todo.
210
“O astro da largada. Collor. Quem é, o que quer, e porque está agitando a sucessão”, Revista Veja,
17/05/1989, in A.G.C., Cad. 2, p.32.
211
“O peso das acusações. As denúncias contra Collor”, de Gilvandro Filho, Revista Veja, 17/05/1989, in A.G.C.,
Cad. 2, p.35.
212
“Os que ajudam nas ruas”, Revista Veja, 17/05/1989, in A.G.C., Cad. 2, p.37.
213
Orlando de Barros, A performance em busca de uma metodologia, in CD-rom Anais do Congresso Pré-Fiealc,
“América Latina e o processo de modernização”, Rio de Janeiro, UERJ, 2005, p.14.
214
Martin Claret, O fenômeno Collor, São Paulo, Martin Claret Editores, 1989, pp. 63-4.
Aqui, Collor de Mello, procurava atingir os desejos e as ambições de cada brasileiro
e dava-lhes a ilusão de sua realização.
Repórter: O Sr. Pertence à categoria das pessoas que acham que o
tempo da ideologia terminou?
Collor: Existe ideologia, sim, e vejo com muita preocupação a
questão ideológica ficar num plano secundário. Outro dia, vi o Carlos
Chagas, na TV Manchete, fazendo uma pesquisa com a intenção do segundo
voto das pessoas entrevistadas. Ele perguntava: Em quem você votaria se a
eleição fosse hoje? E a pessoa dizia: fulano. Segunda pergunta: E se fulano
não fosse candidato, em quem você votaria? Então, percebi que um
percentual elevadíssimo dos votos que seriam dados ao Lula viriam para
mim, caso ele não fosse candidato, e vice-versa. Outro ponto: E se o Antonio
Ermírio não fosse candidato, em quem você votaria? 36% dos eleitores do
Antonio Ermírio viriam para mim. Aí, procurei verificar o que tínhamos em
comum, o Lula, o Antonio Ermírio, e eu. Liguei para um instituo de pesquisa,
o Vox Populi, e perguntei como eles analisavam isso. Eles disseram que,
primeiro, essa eleição não vai ser decidida pela questão ideológica. Segundo,
que nós três seríamos os únicos fatos novos desta eleição, e que o eleitor vai
votar pela renovação, em algo que signifique um basta ao sistema
convencional de se fazer política. Mas vejo isso com certa apreensão, como
vejo também com muita apreensão o fato de os partidos hoje não estarem
servindo como canais de comunicação entre as aspirações da sociedade e os
centros de poder. Como estamos vendo, esta eleição não será definida pelos
partidos, mas em torno de pessoas, de nomes, e isto é muito perigoso. A
culpa não é da sociedade, não está exatamente na prática política: o erro está
exatamente na prática política equivocada.
Neste trecho da entrevista, Collor de Mello criticava o personalismo na política que,
no seu entender, contava com o apoio dos meios de comunicação e sem a mediação dos
partidos políticos. Entretanto, foi exatamente deste modo que ele se preparou para concorrer
às eleições para presidente e saiu vitorioso.
Repórter: Ideologicamente, então, o que o eleitor pode esperar do Sr?
O Sr. é um homem de esquerda, de centro, de direita?
Collor: Sou basicamente um reformista. Sou progressista, tenho uma
profunda preocupação social, até porque sou cristão e me orgulho de sê-lo e
de praticar a minha religião. Eu me defino como um reformista cristão, com
uma enorme preocupação com esta política econômica desconectada da nossa
realidade
.
Com esta resposta, Collor de Mello procurava estabelecer a sua condição de um líder
que satisfaria os anseios do povo brasileiro a partir da defesa dos seus interesses sociais.
Ainda, em entrevista dada a dois jornalistas e publicada na imprensa, Collor manteve o seu
discurso de político independente e assim se manifestou.
”Os moderados vão ficar com um candidato tipo Jânio. Não me
interessam. Se eu quisesse, mais de cem deputados me apoiariam.(...) Eu não
sou nada populista. Populista é aquele que mexe com a emoção popular sem
nenhum compromisso, sem oferecer propostas que solucionem seus
problemas. (...) A primeira conseqüência do meu crescimento nas pesquisas é
que estou arrebentando com o Lula, crescendo em cima de seu eleitorado. E
não se pode dizer que os eleitores do PT sejam de direita. Portanto, a
esquerda não pode considerar que a minha candidatura seja de direita. Eu
irrito tanto a esquerda como a direita. O discurso da esquerda quem está
levando na prática sou eu, com minha rebeldia contra o establishment, contra
o status quo. Mas não estou fazendo entendimento com um lado nem com
outro. Se a esquerda está irritada porque ficou sem a prática de seu discurso,
a direita não aceita fazer uma aliança em torno de um programa sério. A
direita só entende as alianças da tutela e eu sou intutelável. Isso deixa a
direita extremamente insegura”.
215
Apesar de contar com a adesão de Roberto Marinho a sua candidatura à presidência, a
admiração de Collor por Roberto Marinho não era extensiva à cobertura da campanha feita
pela Rede Globo. Em agosto de 1989, uma manifestação convocada por militantes do PDT,
PT, e por estudantes da Universidade Federal Fluminense (UFF) impediu a realização de uma
passeata do candidato do PRN à presidência, pelas ruas de Niterói. Houve um confronto entre
manifestantes, seguranças do candidato e a polícia, no qual ficou ferido o assessor de
imprensa de Fernando Collor, Cláudio Humberto Rosa e Silva, atingido por uma pedrada.
Collor viu a matéria do Jornal Nacional a respeito e não gostou.
216
Já no início da campanha surgiram denúncias e, em 11 de setembro de 1989, o
procurador de Justiça Eleitoral, Aristides Junqueira Alvarenga, determinou a abertura de
sindicância para apurar as denúncias do jornal Folha de São Paulo de que Collor de Mello
estaria usando como assessores da campanha eleitoral funcionários públicos de Alagoas que
continuavam recebendo vencimentos pagos pelo Estado. Para atacar Brizola, e também
Guilherme Afif Domingues, Collor usava Sebastião Nery. O jornalista publicava artigos na
Tribuna da Imprensa fustigando Brizola, insinuando que ele teria ligações com o tráfico de
drogas no Rio, e Afif, apresentando-o como o candidato da Federação das Indústrias de São
Paulo. Os artigos eram depois reproduzidos, como anúncios, em O Dia, O Globo e no Jornal
do Brasil. O estratagema funcionou até que o PDT e o PL, de Afif, entraram com
representações contra Sebastião Nery. A Justiça Eleitoral descobriu então que a republicação
dos artigos nos jornais fluminenses era paga pela Setembro, a agência da campanha de Collor,
e impediu que continuassem a ser veiculados fora da Tribuna da Imprensa. A republicação de
pelo menos um deles descobriu-se também, foi paga pela Associação de Bancos do Estado de
São Paulo. Durante seis meses, Nery seguiu ganhando o salário de assessor do ministro da
Cultura, José Aparecido de Oliveira. Veja publicou uma pequena matéria sobre o assunto, e
215
“Vou receber o voto da vingança”, de Maria Lima e Marcelo Neto, Entrevista com Fernando Collor de Mello,
O Globo, 20/05/1989, in A.G.C., Cad. 2, pp.40-1.
216
Mario Sérgio Conti, op. cit. p. 168.
observou: o candidato caçador de “marajás” tinha um “marajá” na sua assessoria, Sebastião
Nery, que recebia um salário do estado embora não comparecesse ao local de trabalho.
217
A propaganda eleitoral seguia com acusações de toda ordem. A entrevista mais
polêmica realizada no programa Palanque Eletrônico foi a de Leonel Brizola no dia 6 de
setembro. O candidato do PDT, no último bloco acusou a Rede Globo de ter o seu próprio
candidato à eleição, insinuando que a emissora favorecia Fernando Collor no noticiário, o que
segundo a emissora não era fato, uma vez que fora adotado o sistema de rodízio justamente
para evitar aquele tipo de acusação. No fim do programa, Alexandre Garcia esclareceu aos
telespectadores que a TV Globo não tinha candidatos e nem partidos. Dirigindo-se a Brizola,
afirmou que somente no mês de agosto o candidato havia aparecido quarenta vezes nos
noticiários da emissora. No dia 15, começou em todo o país o horário de propaganda eleitoral
gratuita. Pouco depois, o corregedor geral eleitoral, Romildo Bueno de Souza, deu prazo de
48 horas para que o presidente da TV Globo, Roberto Marinho, respondesse às acusações de
Brizola, de que sua emissora estaria beneficiando Collor. No dia seguinte, através de seus
advogados, Marinho negou as acusações.
218
Um fato que merece destaque é que a TV Globo não realizou um debate com os
candidatos antes do primeiro turno, seu programa Palanque Eletrônico, chamou
individualmente os principais candidatos para apresentarem sua plataforma eleitoral e
responder perguntas previamente selecionadas e feitas por jornalistas. Outros canais de
televisão como a Manchete e a Bandeirantes fizeram debates, mas o candidato Fernando
Collor não compareceu alegando não haver necessidade de debater, uma vez que estava bem a
frente dos outros candidatos nas pesquisas.
Os comícios em diversos pontos do país também se intensificavam. Continuando a
campanha pela sucessão presidencial, no dia 5 de outubro de 1989, seguranças do candidato
Collor de Mello agrediram, em Viçosa, Minas Gerais, oito estudantes que faziam campanha
para o candidato do PT, Lula. No dia 8, Collor reuniu cerca de 60.000 pessoas em Caruaru,
em Pernambuco e, no dia 21, falou para cerca de 30.000 em Montes Claros, Minas Gerais. No
dia 14, Lula, do PT, reuniu cerca de 15.000 pessoas em um comício em Garanhuns, em
Pernambuco, no dia 17 ele reuniu cerca de 80 mil no Rio de Janeiro, no dia 18 cerca de 60 mil
em Belo Horizonte e, no dia 21 reuniu cerca de 20 mil trabalhadores sem terra em Ronda
Alta, no Rio Grande do Sul. No dia 18, mais de trinta partidários de Leonel Brizola, candidato
217
Mario Sérgio Conti, op. cit p. 156.
218
Memória Globo, op.cit p. 205.
do PDT, foram espancados durante um comício de Collor de Mello em Uruguaiana, no Rio
Grande do Sul.
No dia 16 de outubro, a TV Bandeirantes realizou debate com sete candidatos à
Presidência da República e, pouco tempo depois, no dia 31, Armando Corrêa, candidato à
presidência pelo Partido Municipalista Brasileiro (PMB) renunciou, cedendo seu lugar ao
apresentador Silvio Santos, dono do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). No mesmo dia,
Silvio Santos assinou ficha de filiação ao PMB e anunciou o nome do senador Marcondes
Gadelha, que foi afiliado do PFL da Paraíba, como seu vice. Este fato, a duas semanas do
pleito, tumultuou o processo eleitoral. A candidatura de última hora, que teve o apoio de
alguns membros do PFL, foi possível porque o presidente Sarney vetara, em junho daquele
ano, o artigo da Lei Eleitoral que impunha o limite de 15 de maio pra a filiação partidária de
quem quisesse ser candidato. Em 9 de novembro, os juízes do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) decidiram, por unanimidade, cassar a candidatura de Silvio Santos porque sendo sua
empresa de televisão concessionária de serviço público, ele estava obrigado a
desincompatibilizar-se de suas funções três meses antes do pleito, o que não ocorreu. Além
disso, o registro do PMB foi cassado por não ter realizado convenções partidárias, em pelo
menos nove estados. A candidatura de Silvio Santos foi criticada por quase todos os
candidatos à presidência. Fernando Collor denunciou o episódio como uma manobra de
Sarney para perturbar o jogo eleitoral. O PRN entrou com um recurso no TSE contra a
candidatura, que acabou impugnada.
219
No dia 12 de novembro, Collor de Mello encerrou sua campanha com um comício
para 70.000 pessoas em Maceió, Alagoas. Em 15 de novembro de 1989 realizou-se em todo o
país o primeiro turno da eleição, com 82.074.718 eleitores aptos a votar. No dia 21 o Tribunal
Superior Eleitoral anunciou o resultado do pleito em que votaram 88,06% do eleitorado.
Collor de Mello deteve 28,62% dos votos, Lula 18,08%, Leonel Brizola 15,45%, Mario
Covas 10,78%, Paulo Maluf 8,28%, Guilherme Afif 4,53%, Ulysses Guimarães 4,43%,
Roberto Freire 1,06%, Aureliano Chaves 0,83%, Ronaldo Caiado 0,68%, outros 3,70%,
brancos 1,43%, e nulos 4,23%. O primeiro turno das eleições de 89 terminou com a vitória
dos dois candidatos mais críticos ao governo Sarney e que apresentavam propostas de
mudanças políticas, sociais e econômicas.
220
219
Alberto Tosi Rodrigues, op. cit. pp. 44-5. Memória Globo, op. cit. pp. 205-6.
220
“TSE divulga o resultado final 7 dias após eleição”, Jornal do Brasil, 22/11/1989, in A.G.C.,Cad.5, p.66.
Analisando o momento eleitoral de 1989, Rubim e Colling destacaram a importância
da mídia nesta campanha para presidente da República:
“a mídia não se caracteriza apenas como um novo e relevante fator
que altera as condições de disputa, mas também – e isso se torna fundamental
age como um ator político, senão novo, mas agora com ampliada potência
política, devido ao seu intenso desenvolvimento, a amplitude crescente do
seu poder de publicizar e de silenciar e seu intenso impacto em uma
sociabilidade envolvida pela mídia. E esta intervenção como ator no campo
da política se vê potencializada ainda mais pelo caráter altamente competitivo
das eleições em seu segundo turno, quando Collor e Lula disputaram a
presidência de modo bastante acirrado até o momento da votação”.
221
Muito a propósito este comentário uma vez que, a vitória de Collor foi devida, em
grande parte, a sua percepção de que naquele momento político específico, uma performance
adequada amplamente divulgada pela mídia lhe traria imensas vantagens.
Collor de Mello e Lula se classificaram para disputar o segundo turno e, logo após
saírem os resultados do primeiro turno, iniciaram os processos de negociação com os partidos
dos candidatos derrotados. No dia 20 de novembro, presidentes de dez entidades empresariais
de São Paulo, entre eles Mario Amato da FIESP, reuniram-se e decidiram apoiar Collor de
Mello. E, no dia 21, o PCB, em convenção nacional, decidiu apoiar Lula no segundo turno.
No dia 25, durante o congresso do PDT, Brizola pediu que o partido apoiasse o candidato do
PT. No dia 30, seguranças de Collor e militantes do PT e do PDT entraram em choque em
Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, e cerca de dez pessoas ficaram feridas e mais de vinte
foram presas. Com o crescimento de Lula nas pesquisas, a campanha pela televisão e pelo
rádio no horário eleitoral obrigatório recrudesceu, com acusações de parte a parte. Contra
Collor, havia denúncias de corrupção e fraudes em Alagoas. Contra Lula, insinuações de que,
se eleito, confiscaria a poupança dos aposentados e os apartamentos da classe média.
222
Em seu programa de governo, Collor de Mello fez uma proposta clara de reduzir o
papel do Estado na economia e reorganizar a economia, através de uma agenda neoliberal.
Lula defendeu a reorganização da economia, através de um modelo diferente do apresentado
pelo concorrente. Não propôs a redução do Estado, mas a organização de suas contas e não
apresentou uma proposta clara de reforma do Estado. Collor se aproveitou dessa falta de
clareza do programa de Lula para apresentá-lo como um candidato com idéias estatizantes e
como uma ameaça ao direito de propriedade.
221
Antonio Albino Canelas Rubim e Leandro Colling, op. cit. p.178.
222
Memória Globo, op. cit. pp. 207-8. “Collor: PT vai querer dividir casas. Ex-companheira ataca Lula pela
TV”, O Globo, 13/12/1989, in A.G.C., Cad. 4, p.136.
Na reta final da campanha, no dia 12, Collor de Mello apresentou, no programa
eleitoral gratuito, o depoimento da enfermeira Miriam Cordeiro, ex-namorada do candidato
petista e mãe de sua filha Lurian nascida fora do casamento. A Miriam Cordeiro contou que,
quando ficou grávida, Lula lhe oferecera dinheiro para abortar e acusou o ex-namorado de
racista. O depoimento teve grande repercussão e abalou a candidatura de Lula. No Jornal
Nacional do dia seguinte, os dois lados foram ouvidos. A jornalista Maria Helena Amaral, ex-
assessora de Collor, denunciou que Miriam Cordeiro havia recebido dinheiro do PRN para
aparecer no programa eleitoral do partido. Mas a ex-namorada de Lula disse que participou do
programa espontaneamente e confirmou as denúncias contra o candidato do PT.
223
Este
episódio nunca foi devidamente esclarecido.
224
Para além de qualquer influência que esse depoimento tenha tido diretamente sobre os
eleitores, o certo é que teve impacto muito grande sobre o candidato do PT. No último debate
pelo pool de emissoras de televisão, Lula mostrou-se abatido e inseguro. Nem sombra do
candidato do primeiro debate. Fernando Collor partiu para um discurso mais marcadamente
direitista, tentando impingir à classe média os termos de uma radicalização que seria
promovida com o PT no poder. A edição do debate realizada pela Rede Globo, num dia em
que o horário eleitoral pela televisão havia terminado, passou a imagem de que Collor de
Mello havia “massacrado” seu oponente.
225
As interferências político-eleitorais da mídia foram evidentes principalmente em dois
episódios. O seqüestro do empresário Abílio Diniz em que os seqüestradores foram mostrados
na televisão com camisetas de campanha de Lula, e a edição realizada pelo Jornal Nacional
do último debate entre Collor e Lula.
226
No primeiro episódio, o empresário havia sido
seqüestrado por criminosos que cobravam para libertá-lo e a polícia sabia a localização do
esconderijo, havia prendido um dos seqüestradores, com o qual negociou a rendição. No
episódio final, amplamente divulgado pela televisão e pelos jornais, os seqüestradores
apareceram vestindo camisetas da campanha do candidato Lula e, no local, foi encontrado
223
Memória Globo, op. cit. pp. 208. “Collor ataca para garantir vantagem”, O Globo, 13/12/1989, in A.G.C.,
Cad. 4, pp.134-5.
224
“Campanha deixou sem apuração o seu pior escândalo”, Jornal do Brasil, 16/12/1989, in A.G.C., Cad. 4,
p.187.
225
Alberto Tosi Rodrigues, op. cit. pp. 80-1. Gilberto Velho, “A vitória de Collor: uma análise antropológica”, in
Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, nº 26, março 1990.
226
Antonio Albino Canelas Rubim e Leandro Colling, op. cit. pp.169-90.
material de sua campanha. Na ocasião, foi levantada a hipótese de motivação política
relacionada a Collor que se verificou, depois, não ser verdadeira.
227
Entre o primeiro e o segundo turno da eleição, houve dois debates entre os candidatos
do PRN, Fernando Collor de Mello, e do PT, Luis Inácio Lula da Silva. O primeiro,
transmitido dos estúdios da TV Manchete, no Rio de Janeiro, em 3 de dezembro. O segundo,
dia 14, dos estúdios da TV Bandeirantes, em São Paulo. Os dois debates foram transmitidos
das 21horas e 30 minutos às 24 horas, por um pool, formado pelas quatro principais emissoras
de televisão do país: Globo, Bandeirantes, Manchete e SBT.
228
Quatro mediadores Alexandre Garcia (Globo), Boris Casoy (SBT), Marília Gabriela
(Bandeirantes), e Eliakim Araújo (Manchete) se revezaram um em cada bloco, fazendo a
primeira pergunta aos candidatos. Participaram também, os jornalistas Joelmir Beting
(Globo), Luis Fernando Emediato (SBT), Fernando Mitre (Bandeirantes), Carlos Chagas
(Manchete, no primeiro debate) e Villas-Boas Corrêa (Manchete, no segundo debate),
responsáveis pelas perguntas dos três primeiros blocos. O quarto e último bloco foi dedicado
a perguntas entre os próprios candidatos.
229
Consideramos relevante descrever o último debate dos dois candidatos, uma vez que a
sua edição e re-apresentação pela TV Globo foi motivo de controvérsia, dada a dificuldade de
se ter realizado uma análise deste episódio que evidenciou a participação da Globo na eleição
de 1989. O motivo de controvérsia foi a apresentação da edição manipulada deste último
debate entre Lula e Collor no Jornal Nacional da emissora, o que supostamente teria
favorecido Fernando Collor.
Joelmir Beting relatou que o clima estava bastante tenso no segundo e último debate.
As pesquisas de intenção de voto vinham dando empate técnico entre Collor e Lula e o
debate, realizado a três dias das eleições, era encarado como o momento decisivo da
campanha presidencial. “Aquele momento foi de adrenalina total. Acho que a única pessoa
calma era eu, porque o resto do pessoal nem respirava, jornalistas, convidados, assessores e os
dois candidatos”, comentou Beting.
230
227
Francisco de Oliveira, Collor a falsificação da ira, Rio de Janeiro, Imago, 1992, pp.20-1. Alberto Tosi
Rodrigues, op. cit. p.81.
228
Memória Globo, op. cit. pp. 209-28. Mario Sérgio Conti, op. cit. pp. 264-73. “Troca de acusações entre Collor
e Lula marca debate pela televisão”, e “O ataque e a defesa dos candidatos”, O Globo, 04/12/1989, in A.G.C.,
Cad.4, pp.115-8.
229
Idem.
230
Memória Globo, op.cit Mario Sérgio Conti, op. cit.
As perguntas da TV Globo abordaram três temas: dívida pública e calote, feita para
Collor, previdência social, feita para Lula, e as relações com o Congresso, especialmente em
ano de eleição, feita para Collor. Na pergunta sobre dívida pública, Beting demonstrou
antever qual seria o principal desafio que o país enfrentaria no futuro próximo. “Se eleito, o
senhor pretende mudar as regras do jogo mexendo em prazos de aplicação, índices de
correção monetária, qual a sua proposta de governo para a dívida pública e para o dinheiro do
povo em banco”? Collor desviou-se da pergunta e usou subterfúgios. Meses depois, no
primeiro dia de governo, congelou os depósitos bancários.
231
Os demais participantes fizeram perguntas duras. Boris Casoy, mediador do SBT,
destacou as mudanças que ocorriam então na política e na economia dos países comunistas
que o jornalista resumiu como “a falência do Estado empresário” e perguntou se o fato
serviria de lição pra o Brasil. Embora apresentada aos dois candidatos, a questão era mais
difícil para o candidato Lula, que tinha propostas de governo de cunho esquerdista e, portanto,
estatista.
232
Luis Fernando Emediato, também do SBT, dirigindo-se a Lula, criticou o programa de
governo do PT: “Está claro aqui, nas páginas 13 e 15 do seu programa, que o projeto
econômico, social e político do PT não consiste apenas em ganhar a eleição, o que seria
apenas o primeiro passo. Está aqui. O seu caminho histórico é fazer uma reforma radical, uma
revolução socialista. O senhor sabe que isso é perigoso”. Emediato interpelou também
Fernando Collor, que se apresentava como candidato dos pobres e diferente dos demais
políticos. O jornalista lembrou que Collor pertencera, alternadamente, a vários partidos de
tendência conservadora; afirmou também que ele tinha feito em Alagoas o mesmo que outros
políticos e formulou a seguinte pergunta. “O senhor teria coragem de confessar que era um
político como esses que o senhor critica e agora o senhor mudou e é um santo”? Ao longo do
programa, Emediato e os outros jornalistas queixaram-se de que nem Lula nem Collor tinham
respondido objetivamente às perguntas.
233
O jornalista Villas-Boas Corrêa, que representava a TV Manchete, lastimou que a
campanha eleitoral, “que teve seus grandes momentos, tenha também atravessado momentos
lamentáveis”. Disse estar preocupado com o debate direto que seria travado dali a pouco entre
Lula e Collor, pediu que mantivessem alto vel na reta final. “Que os dois candidatos não
231
Memória Globo, op.cit Mario Sérgio Conti, op. cit.
232
Idem.
233
Idem.
demonstrem, não passem para o público a impressão de que ambos são indignos do exercício
da Presidência da República”.
234
Fernando Mitre, da TV Bandeirantes, citou a entrevista de um brasileiro pobre a uma
revista dizendo que votaria em Collor porque na primeira semana de governo ele “vai mudar a
nossa vida”. Alertou, então, aos dois candidatos sobre as expectativas que estavam criando
entre os necessitados, e questionou Fernando Collor sobre a possibilidade dele não cumprir
suas promessas, se eleito, o que, então, poderia contribuir para gerar uma grave crise no
país.
235
A Rede Globo apresentou duas edições desse último debate, no dia seguinte a sua
realização: uma, no noticiário televisivo Jornal Hoje por volta das 13 horas e outra, no Jornal
Nacional no chamado horário nobre. O segundo resumo provocou grande polêmica. A Globo
foi acusada de ter favorecido o candidato do PRN, tanto na seleção dos momentos como no
tempo dado a cada candidato, que Fernando Collor teve um minuto e meio a mais do que o
adversário.
236
O PT chegou a mover uma ação contra a emissora no Tribunal Superior Eleitoral,
como direito de resposta, desejando que novos trechos do debate fossem apresentados no
Jornal Nacional antes das eleições, mas o recurso foi negado. Como reação do partido, atores
da própria emissora, junto com outros artistas e intelectuais, protestaram contra a edição em
frente à sede da Rede Globo, no Rio de Janeiro.
237
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, popularmente conhecido como Boni, então vice-
presidente de operações da Rede Globo, numa matéria publicada pela Folha de São Paulo no
dia 17, disse que a Coordenação Geral de Jornalismo cometera um erro de avaliação e fizera
uma edição favorável a Collor de Mello. A orientação da direção da empresa, afirmou, era a
de que os dois candidatos recebessem um tratamento igual, o que não acontecera no compacto
do Jornal Nacional que refletiu “com uma pitada de exagero” a superioridade de Collor sobre
Lula.
238
Boni conta como foi: “Eu me lembro que vi a edição do Jornal Hoje e a edição da
noite, que eu achei que não tinha ficado correta. Ela não tinha favorecido o Fernando Collor
de uma maneira extrema, mas tinha dado uma vantagem maior do que a que ele teve na
234
Memória Globo, op. cit. Mario Sérgio Conti, op. cit.
235
Idem.
236
Idem.
237
Idem.
238
Idem.
realidade”. Eu estava em Angra e, imediatamente depois, me ligou a Folha de São Paulo
perguntando se eu tinha visto as duas edições e o que eu achava. Eu não tinha falado com o
doutor Roberto, não sabia quem tinha mexido, não sabia nada. Eu disse assim: “eu acho que
ela não correspondeu ao que ocorreu no debate”.
239
Boni se lembrou de também ter dito à Folha que não acreditava que a edição do Jornal
Nacional tivesse influenciado de forma decisiva as eleições. Isto porque, segundo o IBOPE, a
audiência total do debate (somadas todas as emissoras que compunham o pool) fôra de 66
pontos, maior do que a do Jornal Nacional do dia seguinte, que apresentou 61 pontos: “O
debate deu mais audiência do que o Jornal Nacional. Então mais gente viu o debate do que a
edição. A edição não foi, portanto, a razão da vitória do Fernando Collor. O Collor –
Armando Nogueira expressa isso claramente ganhou o debate do Lula de 3x2 e na edição
que foi ao ar no Jornal Nacional ganhou de 3x1. Tiraram um gol do Lula. Essa é a questão:
proporção. Mas quando você volta atrás e que a edição deu menos audiência do que o
debate, se pergunta como pôde influenciar mais. Mas o que aconteceu, eu não sei, não
participei, vi no ar. Respondi à Folha que não concordava com a edição, mas sem acusar
ninguém”.
240
Roberto Marinho reagiu à declaração do Boni na Folha numa entrevista que o jornal
publicou no dia seguinte. “Boni é o melhor diretor de televisão do Brasil, mas nunca o tive
como especialista em questões eleitorais”, afirmou. Segundo o presidente das Organizações
Globo, a edição do Jornal Nacional tinha resumido de maneira correta o que acontecera no
debate, que Collor realmente havia tido uma performance melhor que Lula. “O debate foi
de maior felicidade para Collor e de infelicidade para Lula”, afirmou.
241
A edição do último debate, entre Lula e Collor, que relatamos acima, foi tratado pela
Memória Globo e por Mário Sérgio Conti como uma decisão tomada no segundo escalão da
Direção de Jornalismo da Rede Globo, sem conhecimento ou aprovação de seu Diretor-
Presidente. A esse respeito é suficiente dizer que outros estudos apontavam Roberto Marinho
como o principal responsável pela cobertura jornalística do jornal O Globo, bem como de sua
emissora de televisão.
242
Dessa forma, não é possível acreditar que um assunto daquela
239
Memória Globo, op. cit. Mario Sérgio Conti, op. cit.
240
Idem.
241
Idem.
242
Venicio A. de Lima, “Televisão e política, hipótese sobre o turno da eleição presidencial de 1989,in
Mídia: teoria e política, São Paulo, Fundação Perseu Abramo, 2001, pp. 213-49.
magnitude não tenha passado pelo conhecimento do presidente da Rede Globo que, na época,
havia aderido publicamente à candidatura de Fernando Collor.
243
A própria liderança do PT, no dia seguinte ao debate, se mostrou abatida,
reconhecendo que Lula não se saíra bem no confronto com Collor de Mello. Como noticiou o
Jornal do Brasil na manhã que precedeu a edição do Jornal Nacional, “um sentimento de
frustração marcara as avaliações que o comando da campanha petista fazia sobre a
participação de Lula no debate com o candidato do PRN”. O próprio candidato do PT admitiu
que sua exibição não provocara o mesmo impacto do debate anterior. “Eu poderia ter sido
mais incisivo e fazer mais denúncias”, declarou Lula aos jornalistas que o aguardavam no
portão de sua casa em São Bernardo do Campo.
244
Em 15 de dezembro, pesquisa Gallup indicava Collor com 45,6% e Lula com 43,8%.
Na pesquisa sobre a imagem dos candidatos, Collor foi apontado pelos eleitores como o mais
simpático, 49,8% contra 33,7% para Lula, mais confiável, 42,1% contra 38,2%, e mais
capacitado, 46,5% contra 36,7%.
245
Os candidatos do PRN, Fernando Collor de Mello, e do PT, Luis Inácio Lula da Silva,
chegaram tecnicamente empatados às eleições do segundo turno, de acordo com pesquisa do
IBOPE, feita com o uso de urnas e voto secreto. Collor manteve os mesmos 47% da pesquisa
do início da semana e Lula subiu de 43% para 46%. Nas últimas quatro pesquisas do IBOPE,
a diferença entre Collor e Lula foi baixando de quinze para nove, equivalente a quatro e um
ponto percentual. Diante da pequena diferença entre os dois candidatos, o trabalho dos
militantes na boca da urna, uma modalidade de propaganda eleitoral proibida por lei, mas
nunca respeitada, foi decisivo. Militantes do PRN e do PT, ignorando a proibição de
propaganda na véspera da eleição, percorreram as praias da zona sul do Rio. A “carreata” do
PRN saiu do Leblon, mas foi detida em Copacabana por fiscais da Justiça Eleitoral. O PT
conseguiu cumprir todo o roteiro de sua “carreata”, que seguiu do Leme ao Leblon, passando
pelas favelas do Chapéu Mangueira e de Dona Marta.
246
O dia da eleição, aliás, foi também tumultuado. E, conforme divulgado pela imprensa,
neste dia muitas empresas de ônibus retiraram os veículos de redutos favoráveis a Lula, o que
243
Luiz Miguel do Nascimento, “Introdução ao debate sobre a eleição presidencial brasileira de 1989”, in
História: questões e debates, n.44, Curitiba, Editora UFPR, pp.168-9.
244
Memória Globo, op. cit. Mario Sérgio Conti, op. cit.
245
“Collor é considerado mais simpático”, O Globo, 15/12/1989, in A.G.C., Cad. 4, p. 162.
246
“IBOPE dá Collor e Lula empatados”, Jornal do Brasil, 17/12/1989, in A.G.C., Cad.5, p.9
dificultou o acesso dos eleitores aos locais de votação.
247
As pesquisas de boca-de-urna dos
quatro maiores institutos do país, Gallup, Ibope, DataFolha, e Vox Populi, indicavam a
vitória do candidato do PRN, Collor de Mello, na eleição presidencial.
248
No dia 17 de dezembro realizou-se em todo o país o segundo turno da eleição
presidencial. No dia 21, o TSE anunciou o resultado oficial do pleito. Collor de Mello obteve
42,75% e Lula 37,86%, abstenção 14,40%, brancos 1,20%, e nulos 3,79%. No dia 30, Collor
de Mello e seu vice Itamar Franco foram diplomados pelo presidente do TSE, Francisco
Rezek. Dirigentes do PDT, PT, PCB, PC do B, e da esquerda do PMDB em reunião no Rio de
Janeiro anunciaram sua oposição ao futuro governo Collor. A Comissão Executiva do PMDB,
reunida em Brasília, também decidiu opor-se a Collor de Mello.
249
Enquanto no Brasil davam-se as eleições presidenciais, finalizadas em disputa de
segundo turno entre Collor e Lula, as mudanças econômicas ditadas pelos centros dominantes,
com o advento dos governos Thatcher e Reagan chegavam à América Latina. Consolidava-se
o neoliberalismo no Chile com Pinochet, na Bolivia com Banzer e Paz Estensoro, no México
com Salinas, na Venezuela com Andrez Peres, no Peru com Fujimori, na Argentina com
Menen. No Brasil, país com economia ainda muito regulada, com muitos dispositivos de
proteção no comércio externo e, sobretudo, com forte presença de empresas estatais,
esperava-se que o novo governo viesse a ser pressionado pelo capitalismo internacional, se
bem que Collor de Mello em campanha prometesse caminhar firmemente nesse sentido
com suas confusas alusões à modernidade. Assim, a aplicação do projeto neoliberal deu-se no
Brasil desde o início da década de 90 com a posse do governo Collor de Mello, quando
começou a abertura do mercado nacional ao capital estrangeiro, as primeiras privatizações de
empresas públicas e as primeiras desregulamentações trabalhistas.
250
Com a sua chegada à
presidência da República, foi que se iniciou, apesar das ações contraditórias, um amplo
processo de reformulação do Estado brasileiro, pondo por terra o antigo paradigma
desenvolvimentista conservador, e trazendo à baila elementos de um discurso neoliberal
pretensamente legitimado pelo momento histórico vivido.
O confronto entre as imagens de Collor de Mello e Lula foi pleno de simbolismo. De
um lado, Collor de Mello, o Salvador, que poderia resolver os problemas do Brasil pela força
247
“Juiz de Meriti calcula abstenção: 30%”, O Globo, 18/12/1989, in A.C.G., Cad.5, pp.25-6. “Chuva e falta de
ônibus impedem eleitores de votar”, Jornal do Brasil, 18/12/1989, in A.C.G., Cad.5, pp.33-6.
248
“Pesquisas: Collor é o novo presidente”, Globo, 18/12/1989, in A.C.G., Cad.5, pp.38-9.
249
“Collor vence por mais de 4 milhões de votos”, O Globo, 22/12/1989, in A.C.G., Cad.5, p.67-8.
250
José de Deus Luongo da Silveira (org), “Questões sobre a ética e a modernidade”,
http://www.via-rs.net/pessoais/joseluongo/Texto8.htm, data de acesso: 12/08/2007.
de sua personalidade, que acabaria com a corrupção e que, com o seu plano de modernização
do país, colocaria o Brasil no Primeiro Mundo e, do outro, Lula, o anti-Salvador, operário
oriundo do movimento trabalhista que se propunha a introduzir reformas, que atenuassem as
desigualdades sociais. Além disso, durante a disputa, houve um intenso debate ideológico
com Collor de Mello procurando assustar os eleitores oriundos das classes mais favorecidas,
de que Lula era um radical que expropriaria bens, e Lula não conseguiu se descolar dessa
imagem, o que provavelmente prejudicou o seu desempenho nas urnas.
251
2.2. E ASSIM O “CAÇADOR DE MARAJÁS” FOI ELEITO PRESIDENTE DA
REPÚBLICA.
Principalmente em função de sua performance porque como lembra Barros, ela
subentende alguns significados como “a execução de uma ação que se espera seja realizada
em atendimento a dada prescrição, em conformidade com determinado índice reconhecível de
marcas balizadoras” e, também, conforme sua natureza “sua presença pode ser esotérica,
xamânica, provocadora, pedagógica, instigadora, protesto político, paródia, farsa e
divertimento”.
252
Fernando Collor se auto-denominou um “fenômeno” e, com o auxílio da
mídia, divulgou a sua presença, principalmente, instigadora naquele momento.
Analisando a eleição de Fernando Collor, Eli Diniz nos lembra que se pode dizer que o
“fenômeno” Collor constituiu-se a partir da ausência de unidade de um projeto político das
elites brasileiras. Na década de 80, com o fim do regime militar e o governo Sarney,
configurou-se uma lacuna nos rumos que o país deveria tomar e quem seria seu representante
no processo sucessório. O modelo estadista-desenvolvimentista dava sinais claros de
esgotamento. Os empresários brasileiros ansiavam por uma nova via de desenvolvimento
econômico com a reinserção do país no mercado internacional numa tendência de abertura
dos mercados. Eles reivindicavam, ainda, o fim da intervenção estatal no mercado interno,
uma política financeira estável, uma moeda forte e a readequação nos direitos políticos e
sociais por meio da abertura democrática e a modificação dos direitos trabalhistas. No
decorrer dos anos 80, paralelamente à percepção da gravidade e profundidade da crise,
observou-se a tomada de consciência do esgotamento do modelo de industrialização por
251
Thomas Skidmore, “Uma História do Brasil”, São Paulo, Paz e Terra, 2000, p. 304.
252
Orlando de Barros, op. cit. pp. 3 e 5.
substituição de importações. Sob o impacto desse processo de conscientização, o imperativo
de ruptura com o passado, veio à tona radicalizando a agenda de mudanças. Esta
compreenderia não reformas econômicas, como também uma ampla reestruturação
político-institucional, da qual a reforma do Estado seria um componente central. É nesse
contexto que o neoliberalismo assume a primazia das aspirações da elite, sendo apontado
como a matriz ideológica mais adequada para conduzir as forças modernizantes e impulsionar
a dinâmica social na direção de uma nova ordem.
253
A eleição de 1989 teve como componente principal a pulverização das candidaturas
numa demonstração de divisão das elites brasileiras e dos setores populares. E alguns fatores
contribuíram para a vitória de Fernando Collor: primeiro, a rápida viabilidade de sua
candidatura, adquirindo um sólido apoio das camadas mais pobres da sociedade e mantendo-
se sustentada pelo que ele mesmo chamou de “descamisados” e “pés descalços”. Segundo,
porque parte das elites depositou nele suas esperanças, logo vista sua viabilidade, ampliando
sua sustentação política com o PFL e parte do PMDB que eram partidos de forte influência
regional que tinham candidatos próprios, mas que foram abandonados ao migrar para a
candidatura mais forte de Collor. Terceiro, pela polaridade direita versus esquerda, definida
no segundo turno em que as elites não tinham outra alternativa a não ser depositar todas as
suas apostas nesta saída política, se não o Brasil seria governado por um operário de esquerda,
contrariando todas as possibilidades que havia para a tal modernidade que pregavam.
Além disso, a candidatura Lula enfrentou alguns problemas desde o primeiro turno das
eleições: problemas internos à coligação, especialmente ao PT, que atrasaram a composição
da chapa e a unificação do discurso e impuseram certa paralisia à primeira parte da campanha;
a vulnerabilidade a críticas de cunho administrativo, adquirida com a conquista de
importantes prefeituras pelo PT no ano anterior, notadamente as maiores como São Paulo,
Porto Alegre, Vitória, Campinas, Santos, Santo André e São Bernardo do Campo; e, uma
intensa movimentação grevista que irrompeu em 1989, no rastro da crise econômica e que do
ponto de vista político acoplava-se ao xadrez das divergências internas da base de apoio da
candidatura Lula. A onda de greves vista com reservas pelo eleitor médio, era,
conseqüentemente, um tópico insistentemente explorado pelos adversários e pela imprensa.
254
Outro aspecto importante das eleições de 1989 foi a televisão que prosperou no Brasil
durante o regime militar e firmou-se como força política na década de 80. Desde as eleições
253
Eli Diniz, Crise e reforma do Estado e governabilidade – Brasil 1985-1995, FGV, 1989.
254
Alberto Tosi Rodrigues, op. cit. pp. 55-6.
para prefeito de 1985, a televisão se tornou um fator importante na escolha dos ocupantes dos
principais cargos executivos. Dada a fraqueza dos partidos e a baixa porcentagem de pessoas
que se identificam com um partido, os candidatos não confiavam nas legendas para atrair
eleitores. O primeiro contato dos eleitores com os candidatos a presidente ou governador se
dava pela televisão, na qual tinham exposição perante o público. Assim, foi a capacidade de
passar uma imagem favorável que fez ou derrubou o candidato.
255
O público e os políticos reconheceram o enorme impacto da televisão. O octogenário
político baiano, senador Luis Vianna (UDN ARENA PFL PMDB), que fez política
desde a década de 20 até sua morte no início dos anos 90, fez comentários durante uma
entrevista sobre as mudanças na política que havia presenciado. Quanto às campanhas
políticas, disse que a maior mudança em sua vida fora causada pela televisão.
“A televisão substituiu os comícios. Hoje se faz comunicação direta
(com as pessoas) pela televisão. Antigamente nós viajávamos por muitas
cidades, fazendo comícios; essa é a grande diferença de hoje. (...) Hoje as
campanhas são completamente diferentes, porque você pode ver tudo pela
televisão. Num país em que os meios de comunicação eram precários, o
advento da televisão significou uma grande diferença. O que costumava levar
oito ou dez dias de intensa campanha você pode fazer em poucos minutos
pela televisão”.
256
O público também achava que a televisão era uma força política de grande influência.
Uma pesquisa da Folha de São Paulo, em 29/03/1987, realizada em São Paulo, Rio de
Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre, pediu aos 3.316
entrevistados que classificassem as 22 instituições de mais poder e prestígio. Televisão, rádio
e imprensa escrita ficaram nos três primeiros lugares em prestígio, e primeiro, sexto e quinto,
respectivamente em poder.
257
A televisão era e é uma fonte fundamental de informação política. Uma pesquisa do
Ibope, com 5.000 pessoas, perguntou onde elas obtinham informações sobre a situação do
país: 82% citaram a televisão contra 40,1% que indicaram o rádio, 37,6% falaram nos jornais,
34,7% mencionaram as conversas e 13,6% indicaram as revistas.
258
A partir de meados dos
anos 80, somente dois jornais brasileiros vendiam mais de 250.000 exemplares por dia e o
255
Scott P. Mainwaring, Sistemas Partidários em novas democracias: o caso Brasil, Porto Alegre, Mercado
Aberto, Rio de Janeiro, FGV, 2001, p.291.
256
Luis Vianna, “Entrevista concedida a Scott P. Mainwaring”, 28/01/1988, in Scott P. Mainwaring, Sistemas
Partidários em novas democracias: o caso Brasil, Porto Alegre, Mercado Aberto, Rio de Janeiro, FGV, 2001,
p.291.
257
Maria do Carmo Campello de Souza, “The Brazilian New Republic: under the sword of Damocles”, in Alfred
Stepan, Democratizing Brazil: problems of transition and consolidation, New York and Oxford, Oxford
University Press, pp.389-90.
258
“Pesquisa nacional do IBOPE”, maio de 1987, in Scott P. Mainwaring, Sistemas Partidários em novas
democracias: o caso Brasil, Porto Alegre, Mercado Aberto, Rio de Janeiro, FGV, 2001, p.292.
maior deles vendia 320.00 exemplares ao dia.
259
A Revista Veja era de longe o semanário de
maior circulação, vendendo mais de um milhão de exemplares. Em 1989, 72,6% dos
domicílios brasileiros tinham aparelho de televisão.
260
Uma das razões pelas quais a televisão assumiu toda essa importância nas campanhas
para cargos executivos foi a escassez de outras fontes de informação política para a maioria
dos eleitores. Dada a precariedade dos salários e da educação de massas, apenas uma minoria
tinham acesso à imprensa escrita. A televisão brasileira era sofisticada e tinha um mercado de
grandes dimensões, o que aumentava seu impacto político. Em termos de sofisticação
tecnológica, a televisão brasileira era líder no terceiro mundo. A televisão não eclipsou os
partidos como meio de disseminação da informação política e orientação do eleitorado, como
também criou uma imagem em geral negativa dos partidos.
261
A mídia denigriu os partidos e
o Congresso, o que contribuiu para a despolitização dos setores populares e para atitudes de
cinismo e hostilidade para com os partidos.
262
Em suma, a televisão vem desempenhando um
papel fundamental nas campanhas políticas no Brasil desde 1985, e fortalecendo os
candidatos em detrimento das legendas. Com isso, ela tem contribuído para dificultar a
institucionalização de um sistema partidário.
263
Muito a propósito, de acordo com um estudo do Centro Woodrow Wilson, dos Estados
Unidos, as eleições de 1989 foram as primeiras diretas após 29 anos e, a primeira a acontecer
no Brasil integrado por uma moderna indústria cultural: a televisão.
264
Por exemplo, foi quase
consenso na época que o debate eleitoral entre Collor e Lula editado pela TV Globo, de forma
a favorecer o primeiro, teve influência no resultado das eleições.
E, acredita Venicio A. de Lima nesse sentido que três novelas em particular
contribuíram para a vitória de Collor de Mello nas eleições de 1989: “Vale Tudo”, “O
Salvador da Pátria”, e “Que Rei sou Eu”? Estas novelas retratavam, direta ou indiretamente, o
país como um lugar onde a corrupção na política, e dos políticos contaminavam o espaço
social. Assim, a solução para os problemas do país jamais viria dos políticos tradicionais uma
259
Vamireh Chacon, “Os meios de comunicação na sociedade democrática”, in Hélio Jaguaribe et al., Brasil,
sociedade democrática, Rio de Janeiro, José Olympio, 1985, p.362.
260
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, dados citados em “Partilha Selvagem”, Isto é Senhor,
21/11/1990, p.37, in Scott P. Mainwaring, Sistemas Partidários em novas democracias: o caso Brasil, Porto
Alegre, Mercado Aberto, Rio de Janeiro, FGV, 2001, p.292.
261
Scott P. Mainwaring, op. cit. p.292.
262
Maria do Carmo Campello de Souza, “The Brazilian New Republic: under the sword of Damocles”, in Alfred
Stepan, Democratizing Brazil: problems of transition and consolidation, New York and Oxford, Oxford
University Press, pp.366-68.
263
Scott P. Mainwaring, op. cit.
264
“Social impact of television in Brazil”, Alessandra J. Griffiths, in Infobrazil, the Center of Brazilian Studies-
The Johns Hopkins University, vol.14, n.1, novembro 1992, pp.5-8-9.
vez que, segundo Lima, a atividade política, o estado, os políticos e os funcionários públicos
estavam identificados com corrupção, incompetência, pouca aplicação ao trabalho e
corporativismo.
265
No Brasil, o impacto da televisão sobre os partidos também foi mediado pelas regras
institucionais formais. O impacto da televisão nas campanhas e nas eleições foi maior nas
democracias em que houve eleições diretas para os cargos políticos mais altos e nas quais, por
conseguinte, a habilidade dos políticos para fabricar uma imagem favorável de si mesmos
através da mídia foi especialmente importante.
266
Tal constatação foi assinalada por Jeannenay, em seu texto sobre a mídia. Ele lembra
que existe uma influência específica da televisão na vida política, influência esta que escapa
à nossa percepção, pois ela foge ao mesmo tempo ao imediato e ao intencional: é aquela que
o poder dos microfones e das câmaras exerce sobre o modo de expressão dos atores. E
complementa ressaltando que a eloqüência dos políticos foi, com certeza, modificada por
isso, como a forma, a expressão, o vocabulário, a sintaxe, e também, seu gestual, sua
maneira de se vestir e de se mover.
267
E, sobre os usos políticos da informação, Chomsky esclarece que “as mazelas sócio-
econômicas do planeta são responsabilidade de um pequeno número de pessoas, sobretudo
norte-americanas, que controlam o governo e as grandes corporações, manipulando um
público dócil e influenciável por intermédio da mídia”.
268
A Constituição de 1988 estipulou um mandato de cinco anos para os presidentes da
República, de quatro anos para deputados federais e de oito anos para senadores. A não
simultaneidade das eleições de 1989 favoreceu o populismo e a orientação antiinstitucional
das campanhas. Nenhum outro cargo além dos de presidente e vice-presidente da República
foram disputados e a não simultaneidade certamente ajudou Collor a se eleger como um
outsider, sem o apoio de um partido de expressão.
269
Não é por acaso que a política democrática no Brasil tem se caracterizado pelo
personalismo, pela concentração de poder nas mãos do presidente da República e pela
265
“Brazilian soap operas: influence on the political process”? in Infobrazil, the Center of Brazilian Studies-The
Johns Hopkins University, vol.14, n.1, novembro 1992, p.6.
266
Scott P. Mainwaring, op. cit. p.333.
267
Jean-Noël Jeannenay, “A Mídia”, in René Remond, Por uma história política, Rio de Janeiro, EDUERJ,
Fundação Getúlio Vargas, 1996, pp. 213-30.
268
Noam Chomsky. A privatização da democracia, entrevista com Noam Chomsky por Nelson Asher, in Folha
de SãoPaulo, 09/03/1997.
269
Scott P. Mainwaring, op. cit., p.328.
inconstância do processo de formulação de políticas. Falta de previsibilidade e de
institucionalização têm assolado o país, dando origem ao ressurgimento do populismo e das
campanhas eleitorais de teor personalista.
270
Os candidatos aos cargos do Executivo são eleitos ou derrotados muito mais em
função de suas próprias forças e fraquezas do que por influência dos partidos. Collor não tinha
apenas uma trajetória política antipartidária, como também conduziu uma campanha hostil
aos partidos e aos políticos. Um candidato sem partido teria grande dificuldade de se eleger
presidente numa democracia cujo sistema de partidos fosse mais institucionalizado, porque
poucos eleitores se disporiam a apoiar um candidato tão marcadamente contrário à política
partidária. A eleição de Collor foi produto de um sistema partidário fluido.
271
2.3. UM MITO DO HERÓI-SALVADOR E A DIMENSÃO CULTURAL: UM
MERCADO SIMBÓLICO TRANSIENTE, DA PRODUÇÃO À APLICAÇÃO.
O discurso do “caçador de marajás” veiculado na mídia foi eficiente no sentido de
estimular as energias potenciais de uma população que vivenciava todas as inseguranças de
uma situação de hiper-inflação e de corrupção. Collor de Mello passou a encarnar as
mudanças necessárias que deveriam ser implementadas no país e que garantiriam a
estabilidade e a segurança do povo brasileiro. O esforço concentrado, ou melhor, a
performance de Collor, para convencer a população brasileira, sobretudo a classe média e a
grande maioria dos pobres e excluídos foi uma luta simbólica impondo o “caçador de
marajás” à crença coletiva. É o que nos ensina Bourdieu fornecendo-nos pistas para melhor
entender esta luta simbólica.
“(.....) apreender a lógica própria de uma luta em que a força social
das representações não está necessariamente proporcionada ao seu valor de
verdade (.....) Com efeito, enquanto pré-visões, essas mitologias científicas
podem produzir a sua própria verificação se conseguirem impor-se à crença
coletiva e criar, pela sua energia mobilizadora, as condições de sua própria
realização”.
272
270
Rachel Meneguello, “Electoral behaviour in Brazil: the 1994 presidential elections”, in International Social
Science Journal, n.146, dezembro de 1995, pp.627-41.
271
Scott P. Mainwaring, op. cit. p.387.
272
Pierre Bourdieu, O poder simbólico, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2003.
A luta simbólica foi forte no cenário das eleições, o candidato Lula e o “caçador de
marajás” travaram uma dura batalha simbólica, com ampla vantagem para o discurso de
Collor que dispunha da boa vontade da dia. A campanha presidencial foi indexada ao
significado simbólico do “caçador de marajás”: combate à corrupção e combate à inflação. O
“caçador de marajás” mostrou a sua eficácia simbólica no reconhecimento que o povo fez do
seu “poder mágico”, mudando expectativas e mudando cenários. O cenário faz evocar
Bourdieu, quando afirma que “todo poder simbólico está firmado no reconhecimento,
produzindo a existência daquilo que enuncia”.
273
Collor de Mello, o “caçador de marajás”, se afirmou enquanto mito político do nosso
tempo, na medida em que sua força de mobilização, seu dinamismo profético se fez sentir
entre diferentes grupos e classes sociais, respondendo ao sonho coletivo de combate à
corrupção, e de derrubada da inflação.
274
Seu poder mobilizador, seu poder mistificador, em
verdade é a força do poder simbólico, “o mundo social é representação e vontade”.
275
Comentando o mito do líder salvador e providencial, Girardet fala de uma figura
napoleônica que, como Collor de Mello, não traz consigo os símbolos do poder ou da justiça,
mas antes os símbolos da guerra, sinais do enfrentamento da ordem estabelecida, um homem
que “apodera-se das multidões, que subjuga”.
276
“A legitimidade de seu poder não provém do passado, não depende
do fervor da lembrança; inscreve-se no brilho da ação imediata. O gesto do
seu braço não é símbolo de proteção, mas convite à partida, sinal de aventura.
Ele atravessa a história como um raio fulgurante. Herói da juventude e do
movimento, sua impetuosidade chega ao ponto de domar a natureza; transpõe
as montanhas, atravessa os desertos, salta por cima dos rios...Esse é bem o
lugar que ocupa, nesse imenso complexo mitológico que a lenda napoleônica
representa, a imagem do jovem Bonaparte, a do vencedor das duas
campanhas da Itália, de 1795 e de 1800”.
277
Ainda na condição de candidato, Collor criou as condições políticas para,
posteriormente, no governo, assumir uma espécie de postura “bonapartista” que marcou boa
parte de seu breve mandato. Para isso desde logo, e aproveitando-se da crise econômico-
social, apresentou-se como um outsider do empresariado, das associações sindicais, da
política e dos partidos políticos. Em contrapartida, dizia-se comprometido com o povo em
geral, os “descamisados”, considerando-se um guardião e juiz da sociedade, acima dos
interesses particulares e corporativos dos diversos grupos sociais.
273
Pierre Bourdieu, op. cit.
274
Raoul Girardet, op. cit. .
275
Pierre Bourdieu, op. cit., p.188..
276
Raoul Girardet, op. cit., p.75.
277
Idem.
Depois de eleito, o presidente Fernando Collor de Mello, como um performer, tirou
proveito de suas habilidades, as marcas que foram valorizadas pelo seu marketing político.
Chegara o momento de Fernando Collor se mostrar, se revelar e, para isso, tinha que ser algo
especial, pois a performance, como diz Barros, realiza a intensidade e a eficácia do espetáculo
e, Collor de Mello subiu no palco para mostrar algo diferente.
278
A partir disso, Fernando
Collor desenvolveu e mostrou suas habilidades pessoais, suas idiossincrasias. Ele recriou um
vocabulário próprio, uma marca pessoal, definiu um estilo, enfim, criou uma linguagem
própria.
Seu tempo era o aqui e agora, isto é, o tempo presente que, como lembra Barros, é o
tempo da performance e ter um contato direto com o público fez com que o trabalho ganhasse
significação com a energia aplicada.
279
Essa energia dizia respeito à capacidade de
mobilização do público para estabelecer um fluxo de contato com o presidente. A energia se
deu tanto ao nível de emissão, com o presidente enviando uma mensagem sígnica, como ao
nível de recepção, estimulando a habilidade do presidente de sentir o público, o espaço e as
oscilações dinâmicas do mesmo. Nesse processo de feedback, Collor teve a possibilidade de
dar respostas a possíveis alterações na recepção, ou seja, ele pôde alterar o seu roteiro. E o fez
com eficiência, até a vitória eleitoral.
A performance de Collor de Mello na presidência caracterizava-se por cerimônias
obsessivas que se repetiam como a criar rituais. As caminhadas, as visitas oficiais, o gosto
pelos esportes e pela velocidade, as viagens, as subidas e as descidas da rampa do Palácio do
Planalto, enfim, cada uma parecia algo realmente novo, dado que a mudança de contexto
descobria a imaginação do emissor e do receptor e os confrontava com uma revalorização da
ação corporal.
Barros assevera que a performance expressa a capacidade e o desempenho do emissor
e do receptor no sentido da otimização da mensagem.
280
Nestes elementos teóricos
enquadram-se as ações de performance de Collor de Mello. O nome dele estava nas páginas
dos jornais todos os dias, não por sua atuação política frente a um país em crise, mas
também por suas extravagâncias, e atitudes um tanto escandalosas.
Logo depois de eleito presidente, provocou surpresa geral ao embarcar para as Ilhas
Seychelles com a esposa Rosane, onde passaram o reveillon. Cercada de mistério, essa viagem
278
Orlando de Barros, op. cit.
279
Idem.
280
Idem.
transformou-se no primeiro escândalo do novo governo. O frete do jato Falcon 900, alugado a
uma empresa suíça, custou 300 mil dólares, quantia que nem mesmo todo o patrimônio
declarado do então recém-empossado presidente seria suficiente para pagar.
Os movimentados finais de semana do presidente Collor ajudavam a desviar o foco da
crise. No último deles, ele viveu mais um dia de super-herói. O presidente não resistiu à
vaidade: registrou sua própria performance com uma câmera de controle remoto que mandou
prender no painel do avião.
281
Antes disso, porém, ele havia voado em um Mirage F103 da
Força Aérea Brasileira e rompeu a barreira do som a 13 mil metros de altitude em
treinamentos do Exército na Amazônia. O F103 foi pilotado pelo tenente-coronel Fernando
Cima. Depois de algumas acrobacias, Collor disse: “manobras perigosas são o meu estilo”.
Quando em visita às Forças Armadas, manobrou tanques e outros carros blindados, navegou
em navios de guerra e até em submarinos, assim como voou nos aviões de caça F5/B e
Mirage.
Vestindo uniformes e fazendo o que os militares faziam, Fernando Collor buscava,
talvez, prestigiar os militares, entretanto, essa aproximação começou quando ele abandonou
um projeto que defendera na campanha, o da criação do Ministério da Defesa, que controlaria
o Exército, a Marinha e a Aeronáutica.
282
Em outra performance de “super-herói”, registrada na matéria “Collor ultrapassa a
barreira do som”,
283
o presidente Collor de Mello fez um vôo de uma hora e meia, de
Brasília para o Rio de Janeiro, como co-piloto de um avião de caça de dois lugares, de
fabricação americana, que foi considerado um sucesso. Segundo o tenente-coronel Mark de
Matos, Comandante do Grupo de Aviação de Caça e companheiro de vôo do presidente,
Collor portou-se como um verdadeiro “caçador”. O presidente Collor assim se manifestou.
“Decidi voar a bordo de um avião de combate para demonstrar meu apreço e minha
admiração pela Aeronáutica e, especialmente por nossa aviação de caça. Durante o vôo, tive
ocasião de vivenciar um instante simbólico da hora que atravessamos: o novo horizonte que
se apresenta à humanidade como um todo e aos brasileiros em particular”. Neste episódio o
centro é a própria personalidade do presidente, homem corajoso, arrojado que enfrenta
281
“Criatividade ajuda a enganar a crise. A nação precisa de nervos de aço para acompanhar os fins de semana
do presidente Fernando Collor de Mello. Ontem, ele viveu mais um dia de super-herói. (...) O presidente não
resistiu à vaidade: registrou sua própria performance com uma câmera de controle remoto que mandou prender
no painel do avião”, Jornal do Brasil, 23/04/1990, in A. G. C., Cad. 44.
282
Mario Sérgio Conti, op. cit. pp.336-7.
283
“Collor ultrapassa a barreira do som”, O Globo, 23/04/1990, in Arquivo Collor, Caderno 44.
desafios para alcançar seus objetivos, é o der que, com as suas performances, atinge os
cidadãos de forma direta e pessoal.
Outro gesto performático de Collor de Mello ocorreu no dia 26 de abril de 1990,
alguns meses depois do primeiro plano Collor, o presidente compareceu ao posto de serviço
que a Caixa Econômica Federal mantinha dentro do Palácio do Planalto e ali, presente toda a
imprensa, rádio e televisão, abriu uma caderneta de poupança. Collor de Mello com o seu
gesto quis demonstrar sua confiança pessoal num instrumento considerado importante para
sua estratégia econômica, uma vez que a intervenção do governo nas contas bancárias e o
respectivo congelamento dos depósitos gerou a desconfiança popular para com os depósitos
de poupança.
284
Consciente de que a boa aparência é um dado importante para a prática política,
Fernando Collor, homem muito vaidoso, não deixou escapar uma oportunidade de se mostrar,
de “aparecer”, como um homem jovem e bonito, incluído entre os cinqüenta mais belos do
mundo por uma revista norte-americana,
285
forte, amante dos esportes, fazendo da moda um
estilo sofisticado de política
286
e sempre fazendo “pose”. “Fazer pose”, “posar”, remete-nos a
posar para retrato a óleo, posar para máquina fotográfica, o que se tornou dispensável com o
aumento da sensibilidade dos filmes; assim, posar ressemantizou-se para representar.
Entretanto, no caso de Collor este conceito guardou parte de seu sentido original uma vez que
o presidente muito se utilizou do seu corpo como matéria prima da política, não somente
explorando suas capacidades físicas mas, também, incorporando outros aspectos, como o
político, e transformando-se em sujeito e objeto de sua própria obra: “pose de presidente”.
Fernando Collor em sua performance utilizou-se do corpo como um instrumento de
comunicação. Ele destacava alguns aspectos para privilegiar o que lhe era pertinente, ele
buscava orientar a percepção da sociedade, do povo para que ela coincidisse com a sua. A
energia, o poder e a vitalidade de seu corpo tendiam a mistificar Collor de Mello.
A projeção internacional de Fernando Collor passou por sua inclusão na lista das 50
pessoas mais bonitas do mundo, segundo relação realizada pela revista norte-americana
People, no primeiro semestre de 90. Definido como “um presidente dinâmico e desportista”,
Collor apareceu na listagem ao lado de personalidades como a princesa Diana, e os atores
como Michelle Pfeiffer, Paulina Porzkova, Paul Newman, Tom Cruise, Kevin Kostner e Mel
284
“Efeitos da presidência-espetáculo”, Jornal do Brasil, 27/04/1990, in A. G. C., Cad. 44.
285
“Aprovação com louvor em teste de beleza. Revista dos EUA inclui Collor entre os 50 mais belos”, de
Heloisa Villela, O Globo, 01/05/1990, in A. G. C., Cad. 43.
286
“Collor faz da moda um estilo sofisticado de política”, de Iesa Rodrigues, Jornal do Brasil, 01/04/1990, in A.
G. C., Cad. 99.
Gibson, além de Jonh F. Kennedy, entre outros. Collor enfatizava deliberadamente os elogios
que lhe eram atribuídos ao cultivar essa condição de “super-homem”. Ele evitava associar-se
a qualquer coisa que pudesse ser impopular ou que pudesse fazê-lo parecer falível.
Esse novo estilo de governar um país problemático resultou, porém, em reportagens
que de uma forma ou de outra arranharam a imagem que vinha sendo arduamente construída.
Uma das características da performance é a sua interação dinâmica com o público e outra, a
introdução de elementos aleatórios e surpreendentes. Nesse sentido, a performance de Collor
de Mello enquadrou-se nesse esquema.
Por exemplo, em setembro de 1990, Jucineide Brás da Silva, ex-funcionária da
Prefeitura de Maceió, veio a público para dizer que Collor era pai de seu filho, James
Fernando Brás da Silva, então com 10 anos de idade. O menino foi registrado como filho dos
pais de Jucineide, Gerdo e Luiza. Jucineide afirmou, na ocasião, que recebeu ajuda financeira
para o parto, e foi contratada como assistente administrativa pela Fundação Educacional de
Maceió sem obrigação de comparecer ao trabalho, “um marajazinho”, como ela mesma se
definiu e recebeu, durante três anos, depósitos regulares em dinheiro. Essa ajuda financeira foi
extinta quando ela passou a viver com o fazendeiro Pedro de Holanda Cavalcanti, morto de
emboscada alguns anos mais tarde.
287
Outro exemplo, no domingo, no dia 16 de dezembro de 1990, Fernando Collor dirigia
o automóvel Veraneio FC1989, próximo à Casa da Dinda, quando atingiu em cheio a Kombi
do comerciante Geraldo Reis. Collor bateu quando tentava entrar no atalho que leva aos
bosques de eucalipto, onde costumava correr. Ele não parou para ver se havia alguém ferido e
muito menos para conversar sobre os estragos que provocou na Kombi. O comerciante, que
tem uma chácara a seis quilômetros do local da colisão, considerou o acidente “uma
barbeiragem”.
288
A performance também se caracteriza pela alteração na imagem através das
expressões corporais e faciais, o gestual, e os figurinos. “Eu não sou um homem vaidoso.
Procuro apenas preservar o meu preparo físico”, assim dizia Fernando Collor.
289
Sua
dedicação aos esportes foi grande; sendo que o que ele mais apreciava de fazer era a corrida.
A paixão de Collor pelos esportes levou a Varig a doar-lhe, em maio de 91, um dos mais
completos e sofisticados equipamentos de modelagem física. Avaliado em 400 mil dólares, o
287
“Collor excêntrico: alugou um jatinho para viajar no Réveillon”, in Diário do Passado, Agência
Estado.Aedata, 29/09/1992.
288
“Para cabeleireiro, Collor não foi barbeiro”, O Globo, 18/12/1990, in A.G.C., Cad. 99, p. 68 e “Collor constata
que a Kombi de cabeleireiro já está recuperada”, O Globo, 24/12/1990, in A.G.C., Cad. 99, p.70.
289
Martin Claret , op. cit. p. 88.
Life Circuit é operado por um sistema de computação de última geração, permitindo uma
completa série de exercícios (circuit trainnig) para condicionamento muscular e aumento da
resistência cardio-vascular e respiratória.
Tanto nos esportes mais radicais como nas simples corridas pelas alamedas próximas à
Casa da Dinda, em Brasília, a imagem do presidente jovem e esportista sempre foi
devidamente promovida por sua assessoria. Esse trabalho de marketing tinha por objetivo
transmitir a imagem de um homem saudável pronto para enfrentar qualquer emergência. Essa
maneira de ser teve repercussão até mesmo no exterior. Para tal, Collor manejava, ou melhor,
usava o seu corpo para oferecer um vislumbre da cultura formada em torno do seu projeto
ideológico. O uso intenso do corpo por ele era um caminho para atingir as emoções das
pessoas, logo ele poderia ter uma profunda influência sobre elas.
Corria, na maioria das vezes, acompanhado de seus assessores, e também de artistas,
correligionários, enfim das pessoas as mais diferentes. Durante a corrida usava sempre uma
camiseta com dizeres sobre os assuntos em pauta, que eram sempre variados como campanhas
em favor da ecologia ou, por exemplo, contra o uso de drogas. Em todas as ocasiões estava
a televisão e a mídia para documentar a performance presidencial.
As preocupações ecológicas de Collor levaram-no a dedicar o domingo para ajudar na
limpeza das margens do lago Paranoá, de onde recolheu um volume de lixo suficiente para
encher cinco sacos plásticos, repetindo uma prática que já havia feito na praia da Barra de São
Miguel, em Maceió.
290
Num domingo de apelo ecológico na casa da Dinda, residência do
presidente, Collor vestia uma camiseta branca com os dizeres “Quem é que vai pagar por
isso” tirada de uma das canções do cantor Lobão, e “Deixem a natureza em paz”, que
ladeavam o desenho de um cormorão, ave que habita o litoral do golfo Pérsico, coberto de
petróleo derramado de uma plataforma, e embaixo da frase vinha a assinatura de Collor.
291
Neste trabalho de promoção da imagem presidencial estavam, também, as mensagens,
algumas diretas, outras indiretas, de suas camisetas. Algumas frases ficaram famosas: “Baleia
no mar é vida”, 27/05/90; “Criança: prioridade nacional”, 24/06/90; “O tempo é senhor da
razão”, 18/11/90; “Roxo de paixão pelo Brasil”, 7/4/91; “É tempo de semear. Planta Brasil”,
6/10/91; “Não fale em crise. Trabalhe” 19/10/91.
292
290
“Collor dedica domingo às crianças e à ecologia. Presidente ajuda na limpeza das margens do lago Paranoá.
Collor recolheu às margens do lago um volume de lixo suficiente para encher 5 sacos plásticos, repetindo uma
prática que havia feito na praia da Barra de São Miguel, em Maceió”, O Globo, 06/01/1992, in A. G. C., Cad.
43.
291
“Na casa da Dinda, domingo de apelo ecológico”, O Globo, 04/02/1991, in A. G. C., Cad. 100, p.25
292
Collor, faixa preta no caratê e amante da velocidade”, in Diário do Passado, Agência Estado.Aedata,
29/09/1992.
As frases nas camisetas bem demonstravam a preocupação de Fernando Collor com a
sua performance uma vez que, estavam reunidos a ideologia e a utilização do corpo para
marcar a mensagem. Neste diálogo entre o porta-voz do presidente, Cláudio Humberto, e um
repórter, sobre o marketing de Collor de Mello, o repórter mostrou sua preocupação com o
fato do presidente estabelecer uma relação entre a presença física e o espetáculo no sentido de
algo a ser visto e, ele não deixou de identificar o uso dos atributos do corpo do presidente com
os objetivos perseguidos. A performance do presidente no campo esportivo, que na camiseta
usada na corrida do cooper levava a mensagem “drogas: fora daqui”, valorizava algumas
marcas de sua imagem que se resumiam em eficiência, desempenho, convencimento, e
superação. Mas, o porta-voz do presidente afirmou que o presidente era patriota e não havia
qualquer estratégia de marketing em sua performance.
[Repórter]- O Presidente, ontem, decidiu correr com uma camiseta
trazendo uma mensagem contra as drogas. Qual o objetivo dessa novidade?
[Cláudio Humberto Rosa]- Está dentro daquela consciência de que
ele é um exemplo para a Nação. Então, ao lado da prática de esportes, deve
contribuir para a solução de problemas muito graves da sociedade
brasileira.
293
As mensagens que o presidente divulgava abrangiam tanto a esfera pessoal quanto a
de seu governo. Com as camisetas coloridas e com dizeres próprios à ocasião o presidente
correu quilômetros em todas as direções, todos os lugares, em Brasília, nos estados e até no
estrangeiro. No Central Park nos Estados Unidos, correu e fez uma homenagem a John
Lennon, e acabou sendo capa da revista Newsweek. A prática de esportes não se limitava às
corridas: Collor de Mello jogou vôlei com o campeão Bernard Rajzman e futebol com o Zico.
Também tentou o tênis, correu de motocicleta e bicicleta e, no lago Paranoá, velejou, passeou
de lancha e de jet ski, sempre com espectadores, sempre à vista da televisão.
294
Amante dos esportes de risco, Fernando Collor era faixa preta, primeiro grau no
caratê, modalidade em que chegou a ser vice-campeão brasileiro. Durante sua juventude em
Brasília, fez uso da força de seus golpes por diversas vezes. Consta que, como aluno do
Centro Integrado de Ensino Médio, derrubou uma porta com golpes de caratê por ter sido
proibido de assistir a uma aula do professor de História, Hélio Miranda. Conforme revelou à
Revista Playboy de março de 90, era muito agressivo e brigava “como quem toma um copo de
água”. Nessa mesma entrevista, admitiu ter participado de uma briga contra policiais, na qual
293
“Não marketing. Collor é patriota”, trecho da entrevista com Cláudio Humberto Rosa e Silva, Jornal do
Brasil, 29/04/1990, in A. G. C., Cad. 43.
294
“Todos os marketings de uma presidência”, Jornal do Brasil, 30/09/1992, in A.G.C., Cad. 99, p.94.
apanhou muito, mas também bateu muito. Apesar do apego à violência, fez um curso de
manequim no Rio de Janeiro, quem sabe pensando em suas futuras posturas corporais para
performances políticas.
295
Além das longas caminhadas e corridas dominicais no lago Norte, em Brasília, Collor
nada, com elegância, os quatro estilos, mas é um péssimo jogador de futebol. Com 1metro e
89 centímetros de altura, calça sapatos número 43,5 e tem predileção por velocidade. Já eleito
presidente pilotou a 160 quilômetros por hora uma motocicleta Kawasaki Ninja” de mil
cilindradas pelas ruas de Brasília.
296
Foi o suficiente para que sua mãe, dona Leda, iniciasse
uma campanha nacional para que o filho não repetisse o feito. Pelos carros esportivos o
presidente tinha grande interesse então, em 15 de outubro de 1990 guiou um automóvel
esportivo Ferrari da Granja do Torto até a sua residência particular, a Casa da Dinda. “Isto é
carro de Primeiro Mundo”, comentou o presidente antes de entrar no modelo F40”.
297
Além
do “carro de primeiro Mundo”, também experimentou o modelo GLS Santana, projetado,
desenhado e construído por engenheiros brasileiros.
Durante visita à Itália, em junho de 1990, pouco antes do início da Copa do Mundo,
Collor visitou a pista de testes da Ferrari, em Maranello, onde quebrou o protocolo e dirigiu o
modelo F40, carro esporte que se assemelha a um bólido de Fórmula 1. Ele pisou até 165
quilômetros por hora, num limite máximo de 280 quilômetros por hora. Depois, pilotou um
Testa Rossa. Um ano mais tarde, Collor de Mello protagonizou outro espetáculo no exterior.
Desta vez na Suécia, onde testou o sistema de freios ABS dos caminhões SaabScania. Em um
trecho de paralelepípido molhado, para reproduzir as condições de asfalto coberto de gelo,
Collor acelerou até atingir a velocidade de 55 quilômetros por hora e freou. O caminhão
não bateu em um paredão de pedras porque o piloto de testes tomou a direção das mãos dele.
Numa segunda tentativa, com o sistema ABS desligado, ele acelerou o caminhão pela segunda
vez até os 55 quilômetros por hora e freou. O resultado foi um perigoso “cavalo de pau”.
Esse gosto para se expor ao risco servia, provavelmente, a um propósito determinado,
qual seja o de convencer ao povo de que ele tinha a força de vontade necessária para moldar
os acontecimentos e que não era meramente arrastado por eles. Também, as performances
esportivas de Collor de Mello produziam um espetáculo contínuo graças ao qual o público era
295
Mario Sérgio Conti, op. cit. Carlos Melo, Collor-o ator e suas circunstâncias, São Paulo, Novo Conceito,
2007.
296
“Collor corre de moto e jet-ski”, Jornal do Brasil, 12/03/1990, in A.G.C., Cad. 99, p. 82.
297
“O passeio do Presidente a 180 km/hora dirigindo uma Ferrari do Torto à casa da Dinda”, O Globo,
15/10/1990, in A. G. C., Cad. 43.
investido de poder, propiciando-lhe um sentimento passageiro de domínio e força, o que
talvez compensasse a falta de poder na vida diária.
Mas, ainda que preferisse o seu lado esportista, o presidente mostrava-se interessado
em fazer com que fosse visto seu comportamento espiritual: fazia ioga e meditação.
Preocupava-se, também, em parecer um homem do povo, com suas obrigações e alegrias
quotidianas, e apareceu fazendo compras num super mercado, tomando parte em passeatas,
beijando a bandeira e fazendo votos de vitória nos jogos internacionais.
Apresentava-se principalmente, como um presidente profundamente interessado no
futuro do país as crianças e, para prestigiá-las criou um ministério oficioso de crianças.
Mais um instante performático, uma vez que as crianças são o mais importante símbolo do
futuro. Em outra ocasião, segundo o relato do jornal, o presidente Collor de Mello visitou uma
escola para comprovar a qualidade da merenda escolar, na vila Paranoá, favela que o ex-
governador de Brasília, Joaquim Roriz elevou à categoria de cidade-satélite do Distrito
Federal, próxima à “Casa da Dinda”.
298
De acordo com a matéria, o presidente visitou a Escola Classe 2, a mais bem instalada
da região, apesar de existirem nas imediações algumas escolas em completo estado de
abandono. A visita foi rápida, durando menos de vinte minutos. O presidente percorreu
algumas salas da escola, conheceu a horta, a cozinha e provou do prato do menino Charles
Ferreira de Mesquita que, às 9 horas e 40 minutos, comia arroz com açafrão, com galinha
desidratada desfiada e feijão. “Muito boa, boa mesmo. Vocês têm razão de gostar da comida”,
disse o presidente, depois de provar com a colher azul de Charles a comida servida no prato
também de plástico azul. Timidamente, Charles quase não falava com o presidente, limitando-
se a balançar a cabeça para responder sim ou não. Ao chegar à sala de aulas, Collor perguntou
às crianças se a comida estava boa e ouviu em coro que sim. Mas, quando Collor saiu, o
menino Jorge Santos disse aos repórteres que o lanche de ontem estava bom porque o
presidente fora lá.
Outros alunos reclamavam de tudo: da falta d’água, de terem encontrado pedras no
feijão e da falta de açúcar no leite. As professoras também se queixavam, Elaine de Moura
Félix achava que Collor deveria ter ido a outra escola do Paranoá, àquela que os moradores
chamam de “escola de lata”, porque as paredes são revestidas de folhas de metal. Greice
Ferreira Rodrigues reclamou da falta de material na Escola e disse que os professores
recorrem a sucatas para dar aulas.
298
O Globo, 18/05/1990, in A.G.C., Cad. 31.
A visita surpreendeu alunos e professores, com exceção de Maria da Guia de Souza,
que trabalha no apoio administrativo e que sabia da visita desde a noite anterior. Ela fora
avisada pelo motorista de Collor, Juracy de Oliveira, que tem um dos filhos naquela escola e é
seu vizinho no Paranoá. Lá, Maria da Guia o esperava arrumada, de brincos e colar. A
surpresa ficou para a diretora, Irondina Cabral, que não sabia da visita do presidente e não
estava no momento da visita. Mas os professores garantiram que ela se encontrava na
Fundação Educacional.
“Oi pessoal, tudo bem? Bom dia pessoal, boa a merenda”? Com esse cumprimento o
presidente entrava e saía rapidamente das salas. Na horta, o presidente quis saber de dois
meninos o que estavam plantando. “Não sei não. A mulher é que mandou”, respondeu o
menino João Santos, apontando para a professora Maria da Guia que não saía do lado de
Collor. O presidente reagiu sorridente. “Mas vocês estão muito fracos”. O presidente
distribuiu autógrafos e perguntou às crianças se sabiam cantar o Hino Nacional e escrever a
palavra Brasil e, posou para foto com uma emocionada moradora do Paranoá.
Neste caso, o presidente, com os seus gestos, quis demonstrar sua confiança pessoal
num instrumento considerado importante para sua estratégia, e enfatizou certas políticas de
governo. Aqui, com a sua performance, o presidente Collor fez um apelo emocional visando
atingir as classes populares e marginalizadas, os “descamisados”. Também, a emoção da
narrativa de certa forma subestima a capacidade crítica do espectador, porque procurava
transmitir subliminarmente as ideologias por meio de imagens e do espetáculo.
Durante sua visita aos Estados Unidos, Collor em recepção na Casa Branca foi
chamado de líder moderno e vigoroso
299
e, o presidente Bush, ao erguer um brinde em sua
homenagem, comparou-o ao personagem aventureiro do cinema, Indiana Jones, arrancando
risos e aplausos, e disse: “Estou contente com o fato de Indiana Jones e sua esposa poderem
estar aqui conosco esta noite”.
300
Mas talvez, a performance mais emblemática, simbólica, e repetida do presidente
Collor de Mello era subir e descer a rampa do Palácio Alvorada, acompanhado de convidados,
geralmente compostos de crianças, alunos dos colégios, trabalhadores, empresários, índios
seminus, políticos, atletas de todas as categorias, e convidados especiais.
301
Muitas vezes
esses atos eram recebidos com protestos de vários grupos, que se postavam ao da rampa
299
“Na Casa Branca, elogios a um líder moderno e vigoroso. Recepção no meio do jardim contou até com
trombetas”, de José Meirelles Passos, O Globo, 19/06/1991, in A. G. C., Cad. 34, p.29.
300
“Indiana Collor: sucesso na Casa Branca. Bush, ex-piloto, nunca comandou Air Force One”, de José
Meirelles Passos, O Globo, 20/06/1991, in A. G. C., Cad. 34, p.37.
301
“Cerimônia da rampa vira um termômetro de prestígio”, de Itamar Garcez, Jornal do Brasil, 28/10/1990, in
A. G. C., Cad. 44.
justamente à espera de que o presidente fizesse uma de suas caminhadas performáticas. Na
definição de um importante funcionário do gabinete militar da presidência da República,
principal responsável péla cerimônia, “Collor quer dar um brilho crescente à rampa”. Assim,
o monumento de Oscar Niemeyer era uma passarela dos preferidos do “Brasil Novo” e um
sinal de prestígio para quem precisava do presidente. Um convite de Fernando Collor para
descer ou subir a rampa do Palácio do Planalto poderia ajudar um candidato cambaleante nas
pesquisas de opinião ou poderia homenagear um aniversariante famoso. Além disso, servia
também para transformar audiências indesejadas, e que lotavam a disputada agenda
presidencial, em encontros rápidos e informais. Desse jeito, Collor de Mello chamava a
atenção por gestos definidos por seus assessores como “populares”.
Para o povo, na época incentivado por agentes de turismo, a melhor hora era o fim.
Collor descia até o da rampa, despedia-se protocolarmente de seus auxiliares imediatos e,
então, atravessava a avenida em frente ao Planalto, e dirigia-se ao povo para abraços, beijos e
pedidos de autógrafos. Isso acontecia duas vezes por semana. No final, em ritmo apoteótico, o
presidente deixava a Praça dos Três Poderes num helicóptero acenando para o povo.
Entretanto, muitos não gostavam da performance do presidente na rampa palaciana,
como o então senador Jarbas Passarinho, que confessou. “Fiquei espantado com o presidente
subindo a rampa com gestos de jogador de basquete”. Outro personagem da história recente
da República, que tinha muitas lembranças da cerimônia em outros governos, o então
deputado Ulysses Guimarães criticou o tratamento que Collor dispensava à cerimônia, depois
que Vicenzo Caselli, proprietário de uma pizzaria preferida pelo presidente, subiu a rampa em
maio. “Eu nunca convidaria o Marco Aurélio”, indignou-se o deputado, lembrando o dono de
seu restaurante preferido. “É uma cerimônia sacra do poder. Eu não profanaria nem com
parentes”, completou. O marketing político de Fernando Collor de Mello levou muito em
conta as atividades de maior apelo popular. Por isso mesmo as solenidades de subida e
descida da rampa do Palácio do Planalto passaram a integrar o calendário turístico de Brasília.
Além das aparições públicas de Collor, sempre bem disposto, havia a atração de seus
convidados, não ministros, assessores e parlamentares, mas também personagens de
destaque durante a semana, nos mais diversos setores, e artistas.
O clima positivo da solenidade, entretanto, não durou muito e logo começaram os
incidentes. Em 23 de março de 1991, José Darlonísio Pereira da Cruz foi preso numa dessas
solenidades, sob a acusação de atentar contra a vida de Fernando Collor. Darlonísio portava
uma faca de cozinha e um bilhete, no qual explicava que sua intenção não era a de matar ou
ferir Collor, mas apenas chamar a atenção para o fato de estar desempregado.
302
Em 28 de junho de 91, mil professores, alunos e funcionários da Universidade de
Brasília e trabalhadores sem-terra de Alto Floresta, no Mato Grosso, vaiaram Collor durante
toda a cerimônia. Ele lembrou seus tempos de campanha. Com os punhos cerrados, gritou
diversas vezes: “Tudo pelo Brasil”. A prisão do bancário Marcos Antonio Fernandes Lopes,
30 anos, em 8 de outubro de 1991, foi mais um desses episódios na subida da rampa, sempre
às terças-feiras. Depois de xingar o presidente, Marcos ainda tentou dar um soco em Collor,
quando foi agarrado pelos seguranças. O bancário foi libertado no mesmo dia, depois que foi
constatado que ele estava sob tratamento psiquiátrico.
303
Em 22 de novembro, uma estudante de 16 anos foi presa durante manifestação da
UNE na solenidade de descida da rampa. Na Delegacia da Criança e do Adolescente, disse
que insultou Collor por se sentir revoltada com a situação do país.
304
Em 4 de fevereiro de 1992, a subida da rampa foi cancelada pela primeira vez,
coincidindo com a fisionomia abatida e o visível emagrecimento de Collor. De janeiro a
novembro de 1991, as solenidades de subida e descida da rampa foram assistidas por 22.902
pessoas, segundo dados do Gabinete Militar da Presidência. Na comemoração dos dois anos
de governo, a descida da rampa do Palácio do Planalto foi assistida por 10 mil pessoas. Ao
lado dele estavam 1.168 convidados. Nesse tempo todo, algumas personalidades ajudaram
Fernando Collor a encantar o público. Entre elas pessoas de destaque dos esportes e da
televisão, Edson Arantes do Nascimento, Ayrton Senna, Nelson Piquet, Gugu Liberato,
Angélica e a atriz mexicana Gabriela Rivero, da novela Carrossel.
305
Havia espetacularização da presidência em duas cerimônias semanais. Na tarde de
sexta-feira, Collor de Mello descia a rampa do Palácio do Planalto acompanhado de atletas,
comediantes, ministros e atores. Na manhã de domingo corria nas imediações da “Casa da
Dinda”, vestindo camisetas com mensagens anti-drogas, ecológicas e filosóficas, como “o
tempo é o senhor da razão”. Á noite, no Fantástico, programa dominical da TV Globo, e na
primeira página dos jornais de segunda-feira, era infalível o registro de suas corridas.
306
O presidente Collor se sentia no governo como um “Dom Quixote”, a “endireitar o
errado incorrigível e lutar pelo direito, sem questões ou descanso”. Foi o que ele disse ao
302
“Subida e descida da rampa: mais um marketing político”, in Diário do Passado, Agência Estado.Aedata,
29/09/1992.
303
Idem.
304
Idem.
305
Idem.
306
Mario Sérgio Conti, op. cit. p 337.
porta-voz Cláudio Humberto, em bilhete no qual lembra Cervantes, ao comparar-se ao
personagem imortal do escritor espanhol.
307
O governo Collor de Mello, antes que fosse objeto da crise final que, por fim, motivou
seu encerramento com a renúncia presidencial, surpreendeu, transbordou, recorreu
enfaticamente ao campo simbólico encarnando imagens sucessivamente, tornando difícil
precisar os seus contornos e os seus limites. Nessa linha de raciocínio, vislumbramos o
inusitado, o surpreendente no governo Collor de Mello, exemplarmente retratado no episódio
da “Caminhada pela Criança”, ocorrida no dia 24 de junho de 1990, no Parque da Cidade, em
Brasília, que é um bom índice do comportamento afoito, “heróico” e performático do
presidente e, ao mesmo tempo, inconseqüente.
Segundo o relato, o presidente Collor de Mello participou desta caminhada em
companhia de destacados artistas, como a apresentadora de televisão Angélica, o ator
Mussum, a dupla Juba e Lula, e de integrantes da seleção brasileira de basquete feminino, e
outros atletas. Ao iniciar a caminhada, em rápido discurso para mais de 3.000 crianças, a
maioria vinda de cidades-satélites em ônibus do governo, o presidente reafirmou a prioridade
nº 1 do governo para com a criança, “para retirar o Brasil do futuro e trazê-lo para o presente”.
Mas, poucas das 500 crianças, que iriam acompanhá-lo na caminhada de 1400 metros,
conseguiram manter o ritmo do Presidente que logo começou a correr velozmente, para
desespero dos organizadores e de algumas crianças. Houve um pequeno tumulto, e cinco
crianças se machucaram. Uma delas foi socorrida por uma psicóloga da Fundação Centro
Brasileiro para Infância e Adolescência (CBIA), que não quis se identificar, e que repetia para
os colegas: “Há um mês avisamos, e estava combinado que o Presidente não correria”.
No final do percurso, depois de discursar, o Presidente seguiu para o helicóptero,
distribuindo beijos, autógrafos e cumprimentos pelo caminho, após transformar em corrida a
“Caminhada pela Criança”.
308
Mostra o episódio que o Presidente não hesitava em sacrificar a
prudência em prol de sua imagem de “herói-salvador”, nessa altura fortemente aproximada
a de um astro pop da cultura popular.
Não por acaso, mais adiante, em julho de 1992, em manifestação de apoio a Collor de
Mello ao som de música sertaneja, a dupla Leandro e Leonardo empolgou o Presidente e dona
Rosane ao cantarem a música “Entre tapas e beijos”.
309
307
“Collor se acha D.Quixote na luta contra o erro”, Jornal do Brasil, 13/07/1991, in A. G. C., Cad. 44.
308
“Collor transforma em corrida Caminhada pela Criança”, O Globo, 25/06/1990, in A. G. C., Cad. 43.
309
O Globo, 20/07/1992.
Ainda nesta época com vantagem para o discurso oficial que, além de dispor de
amplos espaços na mídia, contava, ainda, com uma expectativa de confiança da população no
“presidente-salvador”, no “presidente-herói”. Naquela altura Collor de Mello perdera muito
de seu prestígio nas camadas esclarecidas da população e parte da imprensa.
A imagem de Collor de Mello, tal como transmitida pela imprensa, não formava um
todo coerente. O presidente juntava símbolos de jovialidade ao ser fotografado de camiseta,
tênis e abrigo esportivo; de atleta quando corria, jogava futebol e vôlei; de religioso, ao
aparecer contrito ao lado de Frei Damião; de simpático às causas ecológicas visitando a
Amazônia; de playboy pilotando motocicleta e jet-ski; de intelectual portando um livro de
Norberto Bobbio; de soldado uniformizado de “Rambo” e de rico consumista usando gravatas
Hermes, tomando uísque Logan, e fumando charutos cubanos.
310
E, ao mesmo tempo, criticava as elites, os empresários e os funcionários públicos
proclamando-se de defensor dos “descamisados”, e “caçador de marajás”. Apresentava-se
como o empreendedor individualista, hostil à máquina governamental, ou melhor, ao peso do
Estado.
A performance de Fernando Collor girava em torno do lazer e estava centrada na
aparência, na imagem, no consumo, e baseava-se no jogo, no ludibrio para a sua produção.
Ele jogava com as convenções sociais e, muitas vezes, as desprezava. Tentava distinguir-se
por meio de atividades ritualizadas, ou de outras atividades sociais. Ele tornava-se “alguém”
quando era bem sucedido e obtinha identidade por meio da admiração e o respeito dos outros.
Pouco mais de um ano da sua posse, Collor de Mello teve o seu desempenho avaliado
por Darcy Ribeiro que assim se manifestou.
“O Collor primeiro me assustou. Eu não esperava a vitória dele, foi
uma vitória assim meio espantosa. Segundo, este governo é de um nordestino
claro que de uma família da nobreza nordestina que é muito pior que os ricos
em qualquer país do mundo. Os ricos do nordeste são gente dura, perversa,
pervertida, é uma gente muito ruim. Apesar disso, supõe-se uma certa
solidariedade, muitos deles dão solidariedade muito grande para o povo do
nordeste. Um nordestino jovem, o que é uma coisa muito simpática, voltado
para a gente mais pobre, descamisados, como ele chamava, uma coisa meio
peronista, ou pés-descalços. De repente, ele opta pelos ricos. Quer dizer, o
eleito dos pobres opta pelos ricos”.
311
A superexposição de sua imagem foi logo notada e classificada pela imprensa como
artificial. Também tida como “fabricada”, logo se verificou que o “produto” tinha não poucos
defeitos. Reparou-se que a produção nem sempre era bem cuidada. Descobriu-se que a
310
Mario Sérgio Conti, op. cit. p.337.
311
“Entrevista com Darcy Ribeiro”, Jornal do Brasil, 07/04/1991, in A.G.C., Cad. 32, p. 54 e sgtes.
motocicleta por ele pilotada em Brasília, uma possante “Ninja” fora contrabandeada.
312
Na
Suécia, Collor de Mello dirigiu um caminhão que derrapou e saiu da pista. Na Espanha,
pendurou mais comendas e medalhas no fraque do que o rei Juan Carlos. Vestindo um colete
da Polícia Federal, ateou fogo num amontoado de pacotes de maconha, mas o excesso de
gasolina provocou uma explosão que chamuscou pessoas da sua comitiva.
Por tudo isso, dona Leda Collor, mãe do presidente assinou um artigo na Revista Veja,
opinando que o presidente não deveria realizar atividades arriscadas, como pilotar um caça a
jato, o que fizera o presidente algum tempo antes.
313
Isto provocou um comentário ácido do
presidente. “Dona Leda nunca se preocupou com os filhos e agora vem com essa conversa
mole”, disse Collor a Cláudio Humberto quando leu o artigo.
O estilo de Collor ficou demonstrado na sua escolha de Cláudio Humberto da Rosa e
Silva, também de Alagoas, como seu secretário de Imprensa. Normalmente, cabe ao secretário
de imprensa cultivar boas relações com a imprensa, fornecendo informações básicas e relatos
suplementares para melhorar a imagem do governo. Cabe-lhe também esclarecer da melhor
maneira possível as declarações ou atitudes do presidente. Cláudio Humberto não não
seguia esse padrão “normal” como também revelou-se um dos secretários de imprensa mais
rudes que já se viu na política brasileira. Costumava desbancar em linguagem ofensiva,
atacando pessoalmente os jornalistas e seus editores. Suas cartas a editores tornaram-se
invectivas clássicas.
314
Nada disso teria importância por si mesmo (e Cláudio Humberto acabou saindo para
tornar-se adido cultural em Lisboa) se não refletisse a própria falta de critério do presidente,
criando uma atmosfera pesada para o debate público. O estilo belicoso de Cláudio Humberto
sintetizava a decisão politicamente míope de Collor de trazer Alagoas para Brasília. Todo
presidente traz amigos e auxiliares de seu estado natal. No entanto, Alagoas é um pobre
estado nordestino que encarna a política ao velho estilo, vista com condescendência pelos
brasileiros do Centro-Sul mais desenvolvido. Fernando Collor não percebeu que era preciso
atenuar o ar provinciano de seu governo para tornar-se politicamente eficaz em escala
nacional.
315
O maior problema de Collor de Mello era sua maneira de ser. Sua boa aparência e
preferência por esportes arriscados o haviam tornado o político brasileiro mais midiático em
312
“Moto usada por Collor é do procurador de Bebeto”, Jornal do Brasil, 03/04/1990, in A.G.C., Cad. 99, p. 57.
313
“Brasil faz eco a dona Leda”, Jornal do Brasil, 29/04/1990, in A.G.C., Cad. 99, p.61.
314
Thomas Skidmore, “A queda de Collor: uma perspectiva histórica”, in Keith S. Rosenn e Richard Downes
(orgs), Corrupção e reforma política no Brasil: o impacto do impeachment de Collor, FGV, 2000, p.35.
315
Idem.
muitas décadas. Aquele charme televisivo dera, no início de 1989 e graças a TV Globo, uma
visibilidade nacional instantânea a uma figura provinciana pouco conhecida. No entanto, a
boa aparência de Fernando Collor não conseguiu esconder uma atitude arrogante própria de
uma fase anterior da política brasileira. Esse atributo é comum entre as personalidades
públicas, mas Collor não se esforçava por escondê-lo. Estava habituado a fazer poucas
concessões ao lidar com outros políticos. Parecia a encarnação moderna do coronel da política
nordestina, acostumado a mandar ao invés de negociar.
316
Essa abundância de eventos performáticos provoca um questionamento, sobre a
necessidade de Collor de Mello precisar de alguma coisa exagerada para ganhar as eleições e
se manter no poder porque por mérito, ele não a ganharia. Mas, tendo vencido, que mais
haveria de sustentá-lo, além de suas performances.
316
Thomas Skidmore, op. cit.
CAPÍTULO 3
A PRESIDÊNCIA DE FERNANDO COLLOR DE MELLO: DISCURSO,
MITO E PERFORMANCE NA NARRATIVA HISTÓRICA
Fernando Collor de Mello, como político e empresário da mídia, foi muito beneficiado
por ela, tornando-se conhecido do eleitorado por meio de jornais, revistas e emissoras de
televisão, os mesmos órgãos cujas reportagens serviriam de estopim para o movimento que
veio a tirá-lo da presidência mais tarde. O jornalismo investigativo teve um papel decisivo no
desenvolvimento do processo de impeachment porque a derrocada de Fernando Collor de
Mello iniciou com o presidente acusado de corrupção por seu irmão Pedro Collor, na
entrevista publicada na Revista Veja, muito explorada em seguida pela mídia em geral.
A presidência de Collor de Mello manifestava-se através de um estilo espetaculoso de
enfatizar certas políticas de governo, com a presença física da autoridade no centro da vida do
país, demonstrando que os espetáculos presidenciais eram um substituto de recursos
institucionais de fazer política. Para tal, Collor utilizou-se de um aspecto significativo da
sociedade pós-moderna, com repercussões em todos os aspectos de nossa vida que é a
performance.
317
Performance, espetáculo e ideologia estão intimamente ligados. Estabelecendo uma
aproximação entre ideologia e espetáculo, Debord ressalta que “o espetáculo é ideologia por
excelência, porque expõe e manifesta em sua plenitude a essência de todo sistema
ideológico: o empobrecimento, a sujeição e a negação da vida real”.
318
Para a presente
análise estamos entendendo ideologia como uma dimensão falsificadora da realidade para
ajudar a legitimar os interesses de um grupo dominante. Apesar do discurso de Collor de
Mello condenar com veemência a inflação, o atraso, a miséria, a fome, o empreguismo, os
privilégios, a corrupção e a injustiça, ele pertencia e, também, usufruía dos privilégios dessa
oligarquia que condenava.
Outra relação pertinente é que performance, espetáculo e emoção estão interligados e
a manipulação do emocional é central para a política do espetáculo, que se expressa através
das cerimônias e dos rituais, que se constituem numa interface entre as ações políticas e as
práticas culturais, e enfatizam os seus aspectos comunicacionais e discursivos. Assim, para a
317
Orlando de Barros, A performance em busca de uma metodologia, in CD-rom Anais do Congresso Pré-Fiealc,
“América Latina e o processo de modernização”, Rio de Janeiro, UERJ, 2005.
318
Guy Debord, A sociedade do espetáculo, Rio de Janeiro, Contraponto, 1997, p.138.
nossa análise, as cerimônias são eventos narrativos e performáticos e, como tais, são tratados
à luz da metodologia concebida por Barros que assevera que “a performance converteu-se
em chave para o entendimento do mundo hodierno”.
319
Então, para discutir a performance de Collor de Mello, que de certo modo transformou
seu percurso na presidência da República num teatro de ilusão, selecionamos deste percurso
discursivo alguns momentos significativos que englobam determinados eventos-ações. A
importância destes acontecimentos era que, naquele momento, eles, pela sua dimensão e seus
efeitos, afetariam o destino e a vida do povo brasileiro. Era esta a percepção da sociedade,
relacionada a uma determinada visão positiva do sentido e do rumo dos acontecimentos. A
narrativa, que compreende além da eleição e da posse, os momentos dos dois planos
econômicos, a campanha eleitoral de 1990, as privatizações, as viagens presidenciais, o
encontro internacional para tratar da ecologia denominado Rio-92, e o combate aos “marajás”,
desenvolve-se tanto no cenário interno quanto no cenário externo, uma vez que Fernando
Collor saía, com freqüência, em viagens para o exterior para exercer a diplomacia presidencial
ou, também, de férias.
A reconstituição desses eventos-ações foi feita, principalmente, a partir da cobertura
jornalística selecionada, organizada e comentada pelo Organizador do “Arquivo Governo
Collor”, que mencionamos, e que foi tratado na presente tese como ator daquela trajetória
política, uma vez consideramos seus comentários, de certo modo, como um olhar da
sociedade à presidência performática de Collor de Mello.
3.1. A ELEIÇÃO E A POSSE
O contexto adverso e conflituoso para o país, tanto interna quanto externamente,
tornou-se um cenário favorável para a eleição de Fernando Collor de Mello para presidente
porque a incerteza, a insegurança, a decepção, com os esforços econômicos feitos durante o
regime militar, a custos sociais elevados, em meio a perplexidade da sociedade, estendida
também ao primeiro governo civil com sua hiperinflação, configuravam, de certo modo, um
momento de caos político propício para o surgimento de heróis e chefes redentores.
O evento significativo deste momento foram as eleições diretas para presidente da
República, que iriam consolidar, conforme as expectativas da nação, a redemocratização
319
Orlando de Barros, op. cit. p.1.
brasileira, instalada em 1985. Assim, a eleição e posse de Fernando Collor de Mello
constituiu-se em evento privilegiado.
Durante a campanha eleitoral procurou sempre se colocar como a única opção possível
para o eleitorado. E, nesta época, assim se manifestou. “Percebi a possibilidade de ser eleito
Presidente por pura intuição”.
320
Tal declaração proferida durante a campanha eleitoral,
apresentou-o como um político de percepção apurada, capaz de intuir acontecimentos futuros
e criar condições para que eles se concretizassem, o que provavelmente seria de grande
utilidade no exercício da presidência. O povo brasileiro voltava a ter esperança e encontrava,
assim, o seu Messias, o seu Salvador neste político que aparentava mostrar-se perspicaz e
empenhado em trabalhar para realizar os anseios dos brasileiros.
O período compreendido entre a vitória de Collor de Mello nas eleições e a sua posse
foi repleto de especulações sobre o que aconteceria quando ele assumisse a presidência da
República e, muito a propósito, os jornais retrataram este momento de dúvidas em seus
editoriais, e em suas reportagens, ao procurar responder as principais questões que emergiam
relacionadas a forma como o presidente eleito governaria,
321
que medidas adotaria para
combater a inflação uma vez que tudo indicava que seria através da redução do déficit
público,
322
e, também, se haveria um encontro entre o presidente eleito, Collor, e o presidente
em exercício, Sarney.
323
A mídia impressa mostrava, assim, a ansiedade da sociedade com
relação à consecução das promessas miraculosas feitas durante a campanha eleitoral.
Diante das medidas a serem tomadas por Collor de Mello destacavam-se, na imprensa,
a possibilidade do Banco Central tornar-se independente,
324
a intenção de cobrir o déficit
público com impostos,
325
um plano radical de privatizações,
326
a retomada do leilão da
dívida
327
e, a definição de um plano econômico.
328
Além disso, diante da crise que se
apresentava no país, Collor exigiu que Sarney combatesse o caos que se instalara na
economia,
329
acusou as elites de se beneficiarem com a crise,
330
criticou o governo Sarney por
320
Martin Claret, “Pensamentos de Collor”, in O Fenômeno Collor, São Paulo, Martin Claret, 1989, p.90.
321
“O problema vai ser como governar”, Jornal do Brasil, 17/12/1989, in A. G. C., Cad. 7, pp.63-6.
322
“Collor vai combater a inflação via redução do déficit público”, O Globo, 24/12/1989, in A. G. C., Cad. 7,
p.29.
323
“Collor quer se encontrar com Sarney”, O Globo, 28/12/1989, in A. G. C., Cad. 7, p.32.
324
“Collor estuda tornar o Banco Central independente”, O Globo, 09/01/1990, in A. G. C., Cad. 7, p.12.
325
“Collor cobrirá déficit com impostos”, O Globo, 10/01/1990, in A. G. C., Cad. 7, pp.15-7.
326
‘Collor terá plano radical de privatização”, O Globo, 11/01/1990, in A. G. C., Cad.7, p.18.
327
“Collor deve retomar leilões da dívida”, O Globo, 14/01/1990, in A. G. C., Cad. 6, p. 48.
328
“Collor chega para definir plano econômico”, O Globo, 14/01/1990, in A. G. C., Cad. 6, p. 49.
329
“Collor exige que Sarney combata o caos”, O Globo, 14/02/1990, in A. G. C., Cad. 7, pp. 5-6.
330
“Collor acusa elites de se beneficiarem com a crise”, O Globo, 12/02/1990, in A. G. C., Cad. 6, pp. 197-8.
gastar demais
331
e prometeu guerra à inflação e aos que dela se beneficiavam.
332
Assim, a
mídia mostrava as ações que, provavelmente, seriam implementadas pelo “herói-salvador”
que, por sua vez, continuava a “brigarcom os inimigos previamente escolhidos: as elites e o
governo Sarney.
Entretanto, enquanto o país especulava sobre o seu governo, Collor de Mello utilizava-
se de uma prática existente desde o início da República: a viagem presidencial antes da posse.
Assim, ele saiu em viagem ao exterior para descanso, passeios e contatos com outros
governantes como presidente eleito do Brasil. Seu roteiro, bastante variado, foi
acompanhado e divulgado pela imprensa. O presidente eleito descansou nas Ilhas
Seychelles
333
e, depois, foi ao Egito visitar monumentos, templos e ruínas”.
334
Enquanto isso,
deixava assentar as conseqüências de sua vitória surpreendente no cenário político brasileiro.
Mais tarde, em Roma, Collor de Mello chamou o consultor de economia e, tudo
indicava que ele começava a estruturar o plano econômico.
335
Vislumbrava-se que Collor
pretendia criar um impacto, no primeiro dia de governo, com um ataque à inflação.
336
Entretanto, o impacto criado por Collor, naquele momento, foi muito diferente do esperado
pelo povo brasileiro. Na Suíça, o “caçador de marajás alugou, por 300 mil dólares, um avião
o que repercutiu de forma desfavorável na imprensa francesa.
337
Em virtude desse fato,
Fernando Collor chegou em Paris mal-humorado e decidido a não falar com a imprensa, uma
vez que estava habituado a ser elogiado pela mídia. Mesmo assim, sem levar em conta os
comentários desfavoráveis, hospedou-se no Hotel Ritz, um dos mais caros da cidade.
338
Sobre
o fato, o Organizador do “Arquivo Governo Collor”, em que baseamos a documentação desta
tese, aqui representando o olhar crítico da sociedade brasileira, teceu o seguinte comentário.
“Já gastando por conta da nação esfarrapada! E estão planejando fazer economia”?
339
Este comentário mostra a contradição existente entre o discurso e a prática do
presidente eleito, emergindo, assim, o conflito entre as duas imagens de Collor: a tradicional e
331
“Collor critica governo por gastar mais”, O Globo, 15/02/1990, in A. G. C., Cad. 7, pp. 37-40.
332
“Collor promete guerra aos que estimulam a inflação”, Jornal do Brasil, 15/02/1990, in A.G.C., Cad.7, p. 8.
333
“Collor descansa nas Ilhas Seychelles”, O Globo, 02/01/1990, in A. G. C., Cad. 6, p.6.
334
“Collor foi ao Egito. Presidente eleito visita monumentos, templos e ruínas”, Rosangela Bittar e Marina
Wodke, Jornal do Brasil, 04/01/1990, in A. G. C., Cad. 6, p.8.
335
“Collor conclui em Roma plano econômico”, O Globo, 04/01/1990, “Collor chama a Roma consultor para
economia”, Jornal do Brasil, 04/01/1990, “Plano de Collor antecede equipe”, Jornal do Brasil, 05/01/1990, in
A. G. C., Cad. 6, pp.11-5.
336
“Collor atacará inflação no primeiro dia”, O Globo, 06/01/1990, “Collor quer impacto logo no primeiro
dia”, Jornal do Brasil, 06/01/1990, “Daniel Dantas volta a negar plano de emergência”, Jornal do Brasil,
07/01/1990, in A. G. C., Cad. 6, pp. 18-19-20 e 23.
337
“Avião alugado por Collor na Suíça custou US$ 300 mil”, Jornal do Brasil, 08/01/1990, “Viagem repercute
na imprensa francesa”, O Globo, 12/01/1990, in A. G. C., Cad. 6, pp.28 e 35.
338
“Collor em Paris quer apenas paz e sossego junto à família”, O Globo, 07/01/1990, in A.G.C., Cad.6, p.21-2.
339
Comentário do Organizador do Arquivo Governo Collor, in A.G.C., Cad. 6, p.22.
conservadora, de um político que provinha dos quadros nordestinos, prejudicada pelos
escândalos dos políticos donos de usinas açucareiras, que se valiam de seus cargos para
defraudar dinheiro público, e aquela fabricada do campeão da honestidade pública.
340
Antes de iniciar um novo ciclo de viagens,
341
Collor de Mello anunciou quais seriam
seus auxiliares mais diretos, dentre eles Zélia Cardoso de Melo,
342
para o Ministério da
Fazenda e Marcos Coimbra,
343
para o Gabinete Civil. Reiniciando as viagens, percorreu a
América do Sul. Em suas falas, procurou privilegiar a integração regional valorizando o
Mercosul.
344
Depois, seguiu para os Estados Unidos, e apelou para a boa vontade dos
investidores,
345
garantindo que o plano econômico, que estava em elaboração, traria bons
resultados em 100 dias.
346
Sua tematização discursiva nesta viagem foi a mesma da campanha
eleitoral, a redução do Estado
347
e a abertura da economia,
348
procurando seguir a voga
dominante no mundo, o que facilitou o bom entendimento em seus contatos com outros
chefes de Estado no prosseguimento da viagem.
349
Sobre as viagens do presidente Collor, antes da posse, o Organizador do “Arquivo
Governo Collor” fez a seguinte observação, na qual demonstrava a preocupação com a
performance do presidente eleito.
“Para um país pobre como o nosso, devedor de Deus e o mundo,
acho meio exagerado o montante de gastos numa viagem desse porte.
Outrossim, os resultados práticos são pequeníssimos, apenas promessas do
nosso futuro governante e dos visitados, e nada mais. Todavia, dois
aspectos válidos: a) não atrapalhar com a presença, o governante que se
despede; b) ficar longe das pressões e ambições políticas, naturais num início
de governo, onde e quando, são trocados uma imensidão de ministros, chefes
e chefetes”.
350
Em 14 de fevereiro de 1990, o presidente eleito voltou ao Brasil depois de se ter
mostrado ao mundo, e de ter conversado com diversos governantes em várias nguas, pois
dominava perfeitamente bem o inglês e o francês, além de boa noção de outros idiomas. Na
340
Orlando de Barros, op. cit. p.11.
341
“Collor inicia viagem a 9 países. Collor inicia hoje viagem de 20 dias por nove países”, Jornal do Brasil,
24/01/1990, in A. G. C., Cad. 6, pp. 64-6.
342
“Zélia anuncia que Collor aprova propostas econômicas”, Jornal do Brasil, 16/01/1990, “Collor aprova plano
de Zélia sem a recessão”, Tribuna da Imprensa, 16/01/1990, in A. G. C., Cad. 7, pp. 24-6.
343
“Collor escolhe Coimbra para seu Gabinete Civil”, Jornal do Brasil, 31/01/1990, in A.G.C., Cad. 6, p. 111.
344
“Collor: só mercado comum libertará a América do Sul”, O Globo, 22/01/1990, in A. G. C., Cad. 6, p. 57.
345
“Discurso de Collor apela à cooperação. Collor conquista platéia nos EUA”, de Teodomiro Braga, Jornal do
Brasil, 26/01/1990, in A. G. C., Cad. 6, p.75.
346
“Collor: Brasil sai da crise em 100 dias”, O Globo, 26/01/1990, in A. G. C., Cad. 6, pp. 70-4.
347
“Collor diz que redução do Estado tira país da crise”, Jornal do Brasil, 27/01/1990, in A.G.C., Cad. 6, p. 80.
348
“Collor defende abertura da economia com justiça social”, O Globo,30/01/1990,in A.G.C., Cad. 6, pp. 104-5.
349
“Gorbachov acha Collor renovador como Perestroika”, Jornal do Brasil, 01/02/1990, “Thatcher promete
colaborar com o Brasil”, Jornal do Brasil, 09/02/1990, in A. G. C., Cad. 6, p. 122 e 181.
350
Observação do Organizador do Arquivo Governo Collor, in A.G.C., Cad. 6, p.1.
ocasião, os jornais especulavam os nomes dos futuros ministros e, também, sobre planos de
governo que estariam em cogitação. Enquanto isso, a equipe do presidente eleito trabalhava
em segredo no edifício chamado “Bolo de Noiva”, isto é, no segundo anexo ao prédio do
Itamarati, em Brasília.
Personalidades nacionais e internacionais convidadas para a posse do novo presidente
dirigiram-se à capital e movimentaram os aeroportos do Rio de Janeiro.
351
Por ocasião da
posse presenciaram, em Brasília, com lágrimas marcando a passagem da faixa,
352
Collor de
Mello assumir o cargo sob aplausos do Congresso.
353
Discursando no ato da posse, em
cerimônia havida no Congresso Nacional, o presidente eleito, coerente com suas promessas na
campanha eleitoral, prometeu, mais uma vez, liquidar a inflação.
354
Mais tarde, no discurso
pronunciado no parlatório do Palácio da Alvorada, diante de uma vasta multidão, mostrou-se
ainda como um verdadeiro candidato em campanha: “(...) dou minha vida para cumprir o
programa. Juro a vocês, diante do altar de minhas convicções, que ao lado do povo vamos
reconstruir o nosso país”.
355
As lágrimas de Fernando Collor sensibilizaram o público no momento performático e
simbólico da posse, que foi o ato inaugural do governo, o início, o começo de algo novo
caracterizando, portanto, o rompimento com o anterior. Collor de Mello retomou em seus
pronunciamentos o combate a inflação, e a idéia de mudança, amplamente utilizada durante a
sua campanha eleitoral, ao convocar o povo para participar da reconstrução do país que
significava, como prometera, modernizar e moralizar, alvo intencionado desde a sua
campanha eleitoral que, para se tornar realidade, necessitava do estabelecimento de um
consenso, de aprovação geral. E uma das formas para obtê-lo foi mobilizar o povo através do
discurso no ato da posse.
Na posse, os palcos privilegiados foram o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto.
Nestes locais, além da presença dos convidados nacionais e internacionais, no interior de
ambos os recintos, do lado de fora o povo contentava-se em estar presente, de modo eufórico,
assistindo e participando. O “Herói-Salvador”, o “Salvador da Pátria” chegara ao poder para
mudar o país conforme prometera.
351
“A caminho da capital. Convidados para a posse de Collor movimentam aeroportos do Rio”, Jornal do Brasil,
15/03/1990, in A. G. C., Cad. 7, p.78.
352
“Lágrimas marcam a passagem da faixa”, O Globo, 16/03/90, in A. G. C., Cad. 7, pp.125-6.
353
“Collor assume sob aplausos do Congresso”, O Globo, 16/03/90, in A. G. C., Cad. 7, p.114.
354
“Posse. Discurso no Congresso. Vamos liquidar a inflação”, O Globo, 16/03/90, in A. G. C., Cad. 7, pp.111-
3, 115-8, 123-4.
355
“Presidente Collor promete dar até a vida pela reconstrução do Brasil”, O Globo, 16/03/90, in A. G. C., Cad.
7, pp.130-1.
Neste dia, 15 de março de 1990, Fernando Collor proferiu dois discursos para um
mesmo momento. O primeiro na cerimônia de posse no Congresso Nacional, intitulado
“Projeto de Reconstrução Nacional”,
356
o segundo no parlatório do Palácio do Planalto.
357
O
primeiro discurso foi, prioritariamente, dirigido aos políticos, aos empresários, aos
convidados estrangeiros, enfim, às elites. o segundo foi endereçado ao povo, aos
“descamisados”, enfim, àqueles que o elegeram. Neste momento, o presidente movimentava-
se com desenvoltura entre os diferentes segmentos da sociedade, para enviar a sua mensagem
de “Salvador da Pátria” que ainda era bem recebida por grande parte da sociedade.
O pronunciamento do presidente na cerimônia de posse no Congresso Nacional, em
Brasília, em 15 de março de 1990, intitulado “Projeto de Reconstrução Nacional” incorporou
as propostas de sua campanha em um programa de modernização para o país.
O título do discurso, bastante significativo, referia-se à proposta de Collor de Mello
de atender às expectativas nacionais, relacionadas ao primeiro presidente eleito por voto
direto desde 1961, da consolidação de uma institucionalidade democrática e do combate à
inflação. Aliás, o que justificava o termo reconstrução, dizia respeito à inflação, à reforma do
Estado e à modernização econômica, bem como à posição do Brasil no mundo
contemporâneo.
Em sua fala, Collor de Mello destacou como tópicos principais de seu programa a
democracia e cidadania; a inflação como inimigo do Estado e a modernização econômica; a
preocupação ecológica; o desafio da dívida social e a inserção do Brasil no mundo
contemporâneo, acenando assim com uma ampla reforma do Estado. Além disso, também
nesta fala, o presidente recuperou sua tradição familiar na política, referindo-se a seu avô
Lindolfo Collor e seu pai Arnon de Mello; dividiu as elites em modernas e atrasadas e,
colocou-se como um representante das elites modernas. Mais adiante, o presidente fez
menção à bandeira, como símbolo da Pátria, e lembrou que ela retrata a grandeza do Brasil e
ele, presidente do Brasil, comprometia-se, assim, a realizar “um governo capaz de erguer o
Brasil à altura do valor de sua gente”, vislumbrando-se a característica messiânica do
presidente.
a fala de Collor no parlatório do Palácio do Planalto foi dirigida ao povo que o
elegeu e, se aproximou mais, de um discurso de campanha eleitoral conclamando o povo
para as reformas que empreenderia para mudar o país. De certo modo, neste discurso, o
356
“Posse. Discurso no Congresso. Vamos liquidar a inflação”, op. cit.
357
“Presidente Collor promete dar até a vida pela reconstrução do Brasil”, op. cit.
presidente eleito convocou o povo que o elegeu para apoiá-lo e acompanhá-lo no seu
governo, uma vez que tudo fazia para se passar como o “Salvador da Pátria”.
Nestes dois pronunciamentos no dia da posse, Fernando Collor, coerente com a sua
proposta de política espetaculosa durante a campanha eleitoral, colocou-se como aquele
político especial capaz de enxergar a realidade do país, na sua verdadeira dimensão e em toda
sua complexidade, realizar um diagnóstico a partir desse conhecimento, e propor a única
solução possível que já estava sendo articulada nos bastidores do governo que se iniciava.
Nesse sentido, no dia anterior à posse, em 14 de março de 1990, o Banco Central
decretou feriado bancário por três dias e, o presidente eleito foi à televisão e falou em rede
nacional sobre a necessidade de tal medida.
358
Seu objetivo era acalmar a população e
tranqüilizá-la quanto às medidas que estavam por vir.
359
Dessa forma, os pronunciamentos do
presidente recém empossado assumiam, assim, a natureza de uma farsa, senão uma traição,
porque na mesma ocasião, em segredo absoluto, Collor de Mello e seus colaboradores mais
próximos elaboravam o “Plano Econômico” e a “Reforma Administrativa” que foram
anunciados horas depois, no mesmo dia da posse, em 15 de março de 1990.
360
As novas
medidas se caracterizaram pelo autoritarismo e pelo intervencionismo exagerado, e acima de
tudo, surpreenderam o povo, ao lado de quem o presidente declarou que implementaria as
mudanças. Provavelmente, foi neste momento que as esperanças dos brasileiros, depositadas
no presidente eleito, começaram a se transformar em frustração.
3.2. O PRIMEIRO PLANO COLLOR: UM GOLPE ESPETACULAR CONTRA
A INFLAÇÃO.
Discursando no Congresso, no dia da posse,
361
o presidente eleito assim se manifestou.
“A guerra contra a inflação não é apenas um princípio do governo. É um compromisso da
minha geração”.
362
Vislumbramos um apelo do presidente recém empossado, para que
houvesse uma aquiescência sem restrições à política de estabilização econômica, que foi, sem
dúvida, formulada e implementada de forma autoritária. Este conjunto de medidas que
recebeu o nome de Plano Collor foi, talvez, o mais significativo ato performático do
358
“Collor fecha banco antes da posse”, Jornal do Brasil, 14/03/1990, in A.G.C., Cad. 15, p.31.
359
“BC decreta ferido bancário por 3 dias. Collor vai à TV, em rede nacional, acalmar a população”, O Globo,
14/03/90, in A.G.C., Cad. 15, p.29.
360
“O presidente dispara sua bomba. Empossado, Collor baixa o mais ambicioso e drástico plano econômico
para vencer a inflação”, Revista Veja, 21/03/1990, in A.G.C., Cad. 15, p.114.
361
“Posse. Discurso no Congresso. Vamos liquidar a inflação”, op. cit.
362
Martin Claret ,”Pensamentos de Collor”, op. cit. p.92.
presidente e de seu governo, uma vez que se tornou o centro absoluto, para não dizer o único
ponto relevante da agenda política de 1990. E tão surpreendente quanto o teor das medidas
deste plano econômico foi a fraca reação à radicalidade das mesmas.
A apresentação do Plano Collor
363
excedeu em tudo o que se poderia esperar, com
destaque especial para o “congelamento” das contas correntes e das cadernetas de poupança
no limite máximo de 1.250 dólares.
364
Segundo o estipulado no plano, o que estivesse acima
desse limite seria liberado ao longo de dezoito meses. Assim, em segredo, o presidente recém
empossado havia feito, contraditoriamente, exatamente aquilo que, durante a campanha,
dissera que o Partido dos Trabalhadores (PT) faria, caso Lula fosse eleito: o “confisco”
365
das
contas bancárias.
366
Ou seja, a maior intervenção estatal na propriedade privada jamais
promovida no Brasil. Não foi obra de um partido ou presidente da República de esquerda, mas
foi realizada por um presidente de inequívoca feição direitista.
367
As medidas duras, impopulares e desagradáveis justificavam-se como “remédio
amargo” expressão então muito corrente de todo indispensável, a um plano econômico
que se dispusesse contra a renitente inflação, e foi o que o governo Collor de Mello pôs em
andamento. Esta foi a justificativa apresentada para o Banco Central ter decretado em 14 de
março de 1990, feriado bancário por três dias. Por conta disso, foi à televisão, em rede
nacional, acalmar a população.
368
Também, na ocasião, a Ministra da Fazenda, Zélia Cardoso
de Melo,
369
no mesmo sentido, explicou em entrevista as razões do feriado que havia antes
negado que ocorreria até a véspera do anúncio do Plano Collor.
370
Instante performático e pleno de simbolismo também teve lugar no dia seguinte ao da
posse, iniciando-se a performance às sete horas da manhã da sexta-feira, 16 de março, quando
o novo presidente apresentou as linhas gerais do que ficaria conhecido por Plano Collor,
batizado, significativamente, com o nome do presidente e, nesta altura, herói-salvador. Ao
emprestar seu nome para o plano de estabilização econômica, Collor de Mello talvez tenha
363
“Plano Collor: cruzeiro volta como herói, moeda criada em 1942 ressurge como a nova esperança”, Jornal do
Brasil, in A.G.C., Cad. 15, p.62.
364
“Collor bloqueia o dinheiro”, O Globo, in A.G.C., Cad. 15, p.42.
365
Registramos no texto confisco entre aspas porque, ainda que assim tratado em todos os meios do país na
época, o Plano Collor, na verdade, nada confiscou, mas congelou temporariamente os depósitos bancários.
366
“O confisco. No seu primeiro ataque frontal à inflação, o governo se apropria de uma parte do dinheiro dos
brasileiros”, Revista Veja, 21/03/1990, in A.G.C., Cad. 15, p.125.
367
Mario Sérgio Conti, Notícias do Planalto, São Paulo, Companhia das Letras, 1999, p.324.
368
“Banco Central decreta feriado bancário por três dias, Collor vai a televisão, em rede nacional, acalmar a
população”, op. cit.
369
“O choque de Zélia. Na esteia do governo, a Ministra produz um terremoto na economia do país, com
medidas que vão do congelamento à abertura nas importações”, Revista Veja, 21/03/1990, in A.G.C., Cad. 15,
p.115.
370
“Collor fecha bancos antes da posse”, op. cit.
pretendido marcá-lo com algumas características da sua imagem, como a eficiência, o
convencimento, a superação, e o elegeu como um campo performático privilegiado.
Mais tarde nesse dia, às dez horas e trinta minutos, Collor de Mello atravessou a pé a
Praça dos Três Poderes, acompanhado pelos doze ministros de Estado e por uma massa
compacta de repórteres e cinegrafistas, e levou o pacote contendo o plano econômico
pessoalmente às mãos do presidente do Congresso, senador Nélson Carneiro, lembrando em
um curto improviso que aquelas medidas tinham o aval de 35 milhões de brasileiros.
371
Esta
caminhada com características de um desfile, provavelmente, foi um espetáculo
minuciosamente preparado para o público, no caso o povo brasileiro, para demonstrar que o
presidente ali estava executando a vontade predominante da sociedade e para mostrar a
consecução da promessa de reforma e modernização do país feita durante a campanha
eleitoral, a começar por um ataque frontal e radical contra o inimigo renitente, a inflação.
Os ministros Zélia Cardoso de Melo e Bernardo Cabral reuniram-se, então, com
Nélson Carneiro e o Presidente da Câmara, Paes de Andrade, e explicaram, em detalhes, cada
uma das medidas. À tarde desse mesmo dia, Zélia Cardoso de Melo - juntamente com o
secretário especial de Política Econômica, Antonio Kandir, o presidente do Banco Central,
Ibrahim Eris, e o presidente do BNDES, Eduardo Modiano atendeu aos jornalistas ávidos
por declarações, em entrevista coletiva, na qual explicou que Collor penalizara os ricos e não
os pobres, posto que, apenas 10% da população possuía ativos financeiros superiores ao limite
estabelecido. As explicações, tanto para a Câmara quanto para a mídia, deixavam entrever
as imprecisões do plano e uma certa necessidade de convencimento da população atingida
diretamente pelas duras medidas. Também, era imperioso conseguir a adesão dos políticos ao
plano de estabilização uma vez que eram eles que teriam de aprovar tais medidas tão
contundentes uma vez que o plano econômico chegou ao Congresso sem discurso.
372
Esta
opção feita por Collor, de apenas entregar ao presidente do Congresso um plano de tal
abrangência começava a se revelar um tanto desastrosa uma vez que o plano dentre outras
medidas, previa a mudança da moeda,
373
o bloqueio dos depósitos bancários
374
e a eliminação
dos cartéis.
375
Estes últimos eram tidos como também causadores das distorções econômicas
então reinantes por prejudicarem a livre concorrência.
371
“Plano chega ao Congresso sem discurso”, O Globo, 16/03/1990, in A.G.C., Cad. 15, p.21.
372
Idem.
373
“Pacote inclui congelamento retroativo e a volta ao cruzeiro”, O Globo, 16/03/90, in A.G.C., Cad. 15, p.36.
374
“Collor bloqueia o dinheiro”, O Globo, 17/03/1990, in A. G. C., Cad. 15, p.42.
375
“As medidas de Collor, prevista a eliminação dos cartéis”, O Globo, 16/03/1990, in A. G. C., Cad.15, p.38.
Collor de Mello se empenhava em demonstrar que o plano econômico vinha de
encontro aos anseios da sociedade brasileira, não era obra dele e, sim, do povo, como
podemos observar neste trecho de seu pronunciamento no Congresso. “(...) As medidas foram
adotadas dentro daquilo que pregamos e levamos à apreciação da sociedade brasileira.
(...)”.
376
E procurava justificar as duras medidas implementadas, assegurando que eram as
únicas opções existentes como afirmou na ocasião por meio desta metáfora de inequívoco
sentido performático: “Eu estava em uma floresta e tinha apenas uma bala para acertar o tigre.
Acertei em cheio”.
377
Vislumbrava-se, assim, a tentativa de naturalizar o Plano Collor cujo
aspecto foi o “confisco”,
378
praticamente uma agressão à sociedade. O plano também previa o
retorno do Cruzeiro,
379
moeda criada em 1942, substituída pelo Cruzado no governo de
Sarney, e agora ressurgia como a esperança de um novo tempo.
Quase tão impressionante quanto o “confisco” foi a reação da chamada grande
imprensa. Os editoriais foram unânimes no aplauso irrestrito ao plano. Jornais, revistas e
emissoras de televisão deixaram de lado as convicções liberais e as posições antiestatais.
Reduzidos a sua essência, os editoriais de apoio às medidas econômicas do novo governo
convergiam para a mesma justificativa: era preciso fazer algo contra a hiperinflação, que
chegara a quase 100% ao mês no fim do governo Sarney, mesmo que esse “algo” fosse atentar
contra os direitos constitucionais à propriedade privada, afinal, pilar do capitalismo.
380
Sobre o plano, o Organizador do “Arquivo Governo Collor” assim se manifestou
muito a propósito e, em consonância com a perplexidade que tomou conta da sociedade na
época.
“O choque foi brutal, e ninguém acreditou no que estava sendo
proposto. E tudo feito às carreiras, numa pressa de impacto, tipo surpresa. As
gafes, os erros jurídicos e constitucionais da equipe econômica comandada
pela professora e ministra Zélia Cardoso de Mello, foram inúmeros e
grosseiros. E o presidente Collor teve momentos bastante embaraçosos e de
difícil explicação perante o Congresso”.
381
O Plano Collor também compreendeu uma proposta de reforma administrativa que
atingiu os direitos dos servidores públicos, dentre outras modificações.
382
As mudanças na
estrutura do poder concentraram-se na reorganização da subordinação dos Ministérios e, para
376
“A sociedade quer ações concretas e imediatas”, O Globo, 17/03/1990, in A. G. C., Cad. 15, p.46.
377
“Economia pára por 30 dias”, Tribuna da Imprensa, 17 e 18/03/1990, in A. G. C., Cad. 15, pp. 57-9.
378
“Plano Collor bloqueia US$ 85 bilhões, Banco Central tira de circulação 30% do PB do país”, de Teodomiro
Braga, Jornal do Brasil, 19/03/1990, in A. G. C., Cad. 15, p.63.
379
“Plano Collor,Cruzeiro volta como herói, moeda criada em 1942 ressurge como a nova esperança”, Jornal do
Brasil, 19/03/1990, in A. G. C., Cad. 15, p.62.
380
Mario Sérgio Conti, op. cit. pp.324-5.
381
Comentários do Organizador do Arquivo Governo Collor, in A.G.C., Cad. 1, p.30.
382
“Collor dá início à reforma do Estado”, O Globo, 16/03/1990, in A. G. C., Cad. 25, p.6.
atingir este objetivo, a principal medida foi reunir num super ministério quatro deles. O
comando desse super ministério, chamado da Infra-Estrutura, foi entregue a um homem por
demais centralizador e habituado à direção de uma única empresa estatal, o senhor Ozires
Silva, ex-oficial da FAB, ex-presidente da Petrobrás e da Embraer, que foi transformado pelo
presidente em super-ministro, numa pasta que passou a abranger os antigos Ministérios das
Comunicações, Minas e Energia, Transportes, Ciência e Tecnologia.
383
Outra medida adotada
foi a dissolução de uma só vez do Serviço Nacional de Informação (SNI) e esta tarefa foi dada
a um civil, o empresário Pedro Paulo Leone, função até então atribuída exclusivamente a
militares.
384
Para Collor de Mello, boa parte dos servidores públicos era tida por “marajá”
ou não tinha serventia, logo, devia ser dispensada.
385
O governo também procurou combater
as “mordomias” com a venda do patrimônio da União:
386
imóveis,
387
liquidação de Estatais
388
e Institutos, venda de participação acionária e privatização das Estatais.
389
Na Previdência Social, o governo tumultuou a vida dos aposentados com medidas
390
voltadas, pretensamente, para a diminuição dos gastos públicos
391
e, com o que denominou
como “caça aos marajás”.
392
Diversas vozes se manifestaram na imprensa pró e contra as
medidas. “O Congresso Nacional reagiu fortemente ao veto do Presidente Collor aos planos
de custeio e benefícios da Previdência Social (...)”.
393
“Ao vetar o projeto da Previdência,
Collor teve a coragem própria de um estadista, resistindo à sedução da popularidade”.
394
Para ser posto em prática, o Plano Collor precisava ser aprovado no Congresso e,
durante o debate parlamentar emergiram dois tipos de discursos. Um que apoiava o plano
porque o considerava o único mecanismo disponível no momento para enfrentar o processo
inflacionário, e para tentar por fim ao caos econômico. E outro que considerava o Plano
383
“Com o toque pessoal do Presidente, primeiro escalão de Collor reúne juventude e experiência. O Super
Ministério”, Manchete, 24/03/1990, in A. G. C., Cad. 25, p.11.
384
“Collor dá a um empresário tarefa de extinguir o SNI”, Jornal do Brasil, 15/03/1990,in A.G.C., Cad. 25, p.47.
385
“Corte de pessoal ignora o que o Estado tem de bom”, Jornal do Brasil, 27/05/1990,in A.G.C., Cad. 25, p.78.
386
“Mordomias em leilão. O governo vende 8 mansões ministeriais e começa na prática seu programa de
austeridade”, Veja, 23/05/1990, in A. G. C., Cad. 26, p.19.
387
“Governo inicia venda de imóveis”, Jornal do Brasil, 08/11/1990, in A. G. C., Cad. 26, p.27.
388
“Decreto de Collor fecha 10 estatais”, O Globo, 28/04/1990, in A. G. C., Cad. 26, p.55.
389
“Privatização: governo aponta regras”, O Globo, 21/04/1990, in A. G. C., Cad. 26, p.83.
390
“Zélia afasta de vez vinculação dos benefícios da Previdência ao Mínimo”, O Globo, 24/11/1990, in A. G. C.,
Cad. 28, p.28.
391
“Aposentadoria não terá mais reajuste pelo salário mínimo”, Jornal do Brasil, 04/06/1992, in A. G. C., Cad.
28, p.91.
392
“Governo descobre que marajás da Previdência são poucos e legais”, O Globo, 04/04/1991, in A. G. C., Cad.
28, p.124.
393
“Collor tira tudo do aposentado. É a política do mata o velho, diz Líder”, Ultima Hora, 13/09/1990, in A. G.
C., Cad. 28, p.15.
394
“Decisão de Estadista”, O Globo, 16/09/1990, artigo transcrito do Jornal da Tarde / SP, 13/09/1990, in A. G.
C., Cad. 28, p.17.
Collor, de certa forma, um reflexo do estilo autocrático e centralizador do presidente, um
atentado e uma ameaça às instituições democráticas.
Discursando no Palácio do Planalto, na solenidade de assinatura das medidas
provisórias, o presidente assim se pronunciou: “(...) Só gastem o que for indispensável.
Regateiem, regateiem muito. Pechinchem, pechinchem. Discutam o preço, para que todos
possam valorizar ainda mais o seu salário. (...)”.
395
Mais um instante performático de Collor
de Mello em que ele fazendo-se de Messias, orientava o povo como proceder diante das novas
medidas que estavam sendo implementadas, num quadro de emergência econômica imposta
pela escalada inflacionária que, de certo modo, possibilitou a aceitação daquelas medidas
verdadeiramente autoritárias, ainda que não fosse nada confortável ao governo uma
comparação nesse sentido com o regime militar não havia muito tempo extinto.
Mas, na prática, o Plano Collor, apesar de muito ambicioso, apresentou-se com muitas
imprecisões e foi duramente criticado.
396
O senador e ex-ministro do Planejamento Roberto
Campos disse que “o presidente Fernando Collor reza uma missa liberal, mas escolheu
sacerdotes partidários do dirigismo estatal”. Já o deputado federal e ex-ministro da Fazenda
Antonio Delfim Neto observou que “falta chamar o doutor Carvalho, um velho funcionário do
Gabinete Civil que não deixava passar nenhuma bobagem para o Presidente assinar”. E, o
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos Luis Antonio Medeiros comentou que “Zélia e
equipe não vivem na Suíça. O governo está se isolando. O enxugamento deu errado e eles
resolveram abocanhar os salários”.
397
Entretanto, apesar das críticas, a ministra Zélia Cardoso
de Melo contava com o apoio do presidente.
398
Mas, estas críticas revelavam a inexperiência e
o despreparo da jovem equipe ministerial e do próprio presidente, frente aos problemas do
país.
As primeiras reações contrárias ao Plano Econômico foram dos banqueiros, dos
empresários
399
e dos comerciantes porque foram alguns dos segmentos diretamente atingidos
pelas medidas, além de serem duramente fiscalizados, pelo menos no início do governo, cuja
equipe precisava mostrar serviço.
400
Em represália, os empresários sofreram críticas do
395
O Globo, 24/03/1990, in A. G. C., Cad. 16, p.14.
396
“Guilhotina pronta. A equipe econômica do governo erra mais do que acerta. Collor é obrigado a revogar seus
atos e avisa que podem rolar cabeças no Ministério”, Veja, 23/05/1990, in A. G. C., Cad. 15, p.86.
397
“Fogo Cerrado”, Veja, 23/05/1990, in A. G. C., Cad. 15, p. 87 verso.
398
“Collor tira quem afrontar Zélia”, Jornal do Brasil, 31/10/1990, in A. G. C., Cad. 20, p.17.
399
“Amato diz que Plano Collor foi uma cilada”, “Amato: caímos na cilada do Plano Collor”, O Globo,
06/11/1990, “Empresário revela: FIESP vai sabotar Plano Collor”, Última Hora, 09/02/1991, in A. G. C., Cad.
16, pp.78 e 94.
400
“Zélia e Tuma pressionam banqueiros”, “Bancos: agências estão sem dinheiro”, “Fiscalização nos bancos faz
dinheiro aparecer”, “Collor está irritado com tentativa de sabotagem”, O Globo, 22/03/1990, in A. G. C., Cad.
16, pp. 63 e seguintes.
presidente.
401
Também a classe média atingida em sua poupança, e na dificuldade de obter
crédito naquela ocasião, mostrou imediata oposição ao Plano Collor.
As expectativas dos autores do plano não se confirmaram quanto ao fato de que o
dinheiro restante na economia seria suficiente para um mínimo razoável de atividade. Não foi,
e o próprio Banco Central foi obrigado a providenciar a abertura de linha de crédito para que
os empresários pudessem honrar ao menos as folhas de pagamento, dando origem ao
esgarçamento do aperto monetário. Assim, apesar da aquiescência inicial da população,
começava aos poucos uma oposição sistemática ao Plano Collor, com grande destaque na
imprensa: “Plano Collor arrasa a economia informal”,
402
“Collor libera verba para gerar
emprego”,
403
“Collor libera mais de 40 bi para a safra”
404
e Cruzados podem ser trocados
para pagar dívidas e impostos”.
405
Os problemas se avolumavam principalmente nas relações entre o governo e o meio
empresarial. Na proposta de redefinição do papel do Estado, para atrair novos capitais
externos para investimentos e extinguir o protecionismo, dentre outras medidas, o governo
não consultou qualquer empresário ou entidade empresarial, apesar de a FIESP ter mobilizado
representantes de diversos setores para colaborar com o governo. Mais uma vez Collor de
Mello semeou a desconfiança com o seu estilo autoritário. E a imprensa destacava as medidas
implementadas: “Zélia decreta economia livre”,
406
“Preço do leite C é liberado após 45 anos
de controle”, “Trigo é liberado após 30 anos de controle estatal”, “Preços da cesta básica
disparam, compras que Collor fez em abril estão 93,15% mais caras”,
407
“Zélia pede à
população que não compre”,
408
“Zélia abre as portas ao exterior”, “Presidente testa carros
soviéticos”, e “Governo ataca monopólios facilitando as importações”.
409
À medida que os objetivos propostos não eram alcançados, o Plano Collor suscitou
muitas reações e algumas vozes se manifestaram através da imprensa por meio de jornalistas
401
“Planalto acusa Amato de capitalista selvagem”, “Planalto chama Amato de empresário-coronel”, Última
Hora, 07/11/1990, ”Collor critica empresários e pede mais patriotismo”, Jornal do Brasil, 12/08/1991, in A. G.
C., Cad. 16, pp. 86 e 97.
402
O Globo, 02/04/1990, in A. G. C., Cad. 16, p.117.
403
O Globo, 13/04/1990, in A. G. C., Cad. 16, p.122.
404
O Globo, 26/04/1990, in A. G. C., Cad. 16, p.129.
405
O Globo, 05/07/1991, in A. G. C., Cad. 17, p.50.
406
Jornal do Brasil, 27/06/1990, in A. G. C., Cad. 18, p.11.
407
“Preço do leite C é liberado após 45 anos de controle”, Jornal do Brasil, 17/07/1990, “Trigo é liberado após
30 anos de controle estatal”, Jornal do Brasil, 18/09/1990, “Preços da cesta básica disparam, compras que Collor
fez em abril estão 93,15% mais caras”, Jornal do Brasil, 25/11/1990, in A. G. C., Cad.18, p.33-4 e 40.
408
O Globo, 03/02/1991, in A. G. C., Cad. 18, p.57.
409
“Zélia abre as portas ao exterior”, Jornal do Brasil, 27/06/1990, “Presidente testa carros soviéticos”, O
Globo, 06/08/1990, “Governo ataca monopólios facilitando as importações”, O Globo, 01/09/1990, in A. G. C.,
Cad. 18, p.21e 23, Cad. 27, p.183..
de prestígio. Vilas Boas-Corrêa disse: “Recuando, negociando, aprendendo”.
410
Carlos
Castelo Branco sugeriu: “Aceitem o plano, recusem o estilo”.
411
Marceu Vieira observou:
“Em um mês de governo vira o país de cabeça para baixo”.
412
Jacy Mendonça constatou que
“Não se pode salvar a economia com todo mundo quebrando”.
413
“Ele não cumprirá o
mandato”, foi o que disse Brizola, acrescentando que Collor de Mello não chegaria ao fim do
mandato de cinco anos, mas, teve o cuidado de ressaltar que ele, Brizola, não encabeçaria um
pedido de impeachment. Entretanto, mais tarde, por ocasião da aprovação das medidas do
Plano Collor II, no Congresso, o governador eleito do Rio de Janeiro, Leonel Brizola,
escolheu Zélia Cardoso, que estava sendo atacada por todos os lados, para trocar apoio por um
financiamento substancial para o Rio de Janeiro.
414
Apesar dos problemas na implementação do plano econômico se avolumando e objeto
de editoriais na imprensa: “Pesquisa: população parou de investir”,
415
“Meio milhão de
pessoas vão ter o compulsório de volta”,
416
“Recursos bloqueados no over serão trocados por
títulos”,
417
“Fraudes liberam mais de Cr$ 89 milhões”,
418
“Collor e PC salvaram cruzados do
bloqueio”,
419
a forte recessão imposta à economia proporcionou um breve momento de
calmaria inflacionária. O governo tentou, então, se aproveitar deste momento para restaurar a
aquiescência social erodida, propondo aos empresários e aos trabalhadores uma série de
medidas do interesse de ambos.
Um dos aspectos interessantes do Plano Collor foi que ele, apesar da sua abrangência,
não incluiu a dívida externa. Entretanto, silenciar sobre assunto tão relevante para o país
indicava que a intenção inicial era obter alguns resultados palpáveis na estabilização
monetária para que se reunissem condições um pouco melhores na renegociação da dívida
depois, uma vez que os bancos credores queriam ao menos algum pagamento de juros em
1990, que o Brasil estava em moratória não declarada desde meados de 1989. A Ministra
Zélia Cardoso pretendia renegociar a dívida por um período de cinco anos
420
pois, segundo
410
Jornal do Brasil, 06/04/1990, in A. G. C., Cad. 15, p.163.
411
Idem, p.164.
412
Jornal do Brasil, 15/04/1990, in A. G. C., Cad. 15, p.173.
413
O Globo, 14/04/1990, in A. G. C., Cad. 15, p.171.
414
Tribuna da Imprensa, 04/06/1990, in A. G. C., Cad. 15, p.196.
415
O Globo, 29/05/1990, in A. G. C., Cad. 17, p.15.
416
Tribuna da Imprensa, 27/05/1992, in A. G. C., Cad. 17, p.9.
417
O Globo, 28/03/1990, in A. G. C., Cad. 17, p.20.
418
O Globo, 12/05/1990, in A. G. C., Cad. 17, p.123.
419
Jornal do Brasil, 22/08/1992, in A. G. C., Cad. 17, p.84.
420
“Zélia pretende renegociar dívida externa por 5 anos”, O Globo, 20/04/1990, in A. G. C., Cad. 20, p.60.
ela, os credores teriam que esperar pelo pagamento dos atrasados.
421
Entretanto, a mudança no
tratamento da dívida contrariou os banqueiros,
422
e, eles passaram a criticar a nova proposta
de negociação,
423
uma vez que a situação da dívida era extremamente delicada porque a
moratória de um ano era recorde.
424
Mas, apesar disso, a Ministra Zélia Cardoso de Melo não
estava inclinada a aceitar um acordo com o FMI que impusesse mais sacrifícios ao país,
425
além dos que estavam sendo feitos no combate à inflação.
426
Assim, em discurso no FMI, de
grande repercussão internacional, a Ministra Zélia Cardoso de Melo disse que o Brasil não
podia pagar a dívida externa,
427
e criticou os bancos credores
428
declarando que eles
marginalizavam a América Latina.
429
Enquanto isso, sem alarde, o Brasil comprou bilhões de
dólares da dívida com deságio.
430
Na tentativa de retomar as negociações, o governo Collor de Melo fez uma proposta
de negociação da dívida externa:
431
propondo convertê-la em bônus.
432
Mas esta inovação não
foi aceita pelos credores e pelo FMI.
433
Entretanto, mais tarde, o governo acertou os termos
da negociação da dívida reconhecendo que já haviam sido pagos aos credores,
434
o montante
de 147 bilhões de dólares e ainda devíamos o valor de 114 bilhões de dólares.
435
O presidente
avalizou, então, um acordo com o FMI cuja proposta admitia o pagamento dos valores dos
juros em atraso.
436
Apesar disso, as discussões sobre este tema estavam longe de chegar a um
consenso como demonstrou a imprensa na época: “Países ricos bloqueiam créditos ao
Brasil”,
437
“Credores rechaçam proposta do Brasil”,
438
“Zélia pedirá perdão de 50% da dívida
421
“Zélia: credores terão de esperar pelo pagamento dos atrasados”, O Globo, 08/05/1990, in A. G. C., Cad. 20,
p.63.
422
“Mudança no tratamento da dívida contraria banqueiros”, de José Meirelles Passos, O Globo, 23/05/1990, in
A. G. C., Cad. 20, p.63.
423
“Banqueiros criticam novo estilo de negociar dívida”, de Manoel Francisco Brito, in A. G. C., Cad. 20, p.68.
424
“Moratória de um ano é recorde”, de Beth Calado, Jornal do Brasil, 03/07/1990, in A. G. C., Cad. 20, p.109.
425
“Zélia: acordo com o FMI não imporá sacrifícios”, O Globo, 09/09/1990, in A. G. C., Cad. 20 p.118.
426
“Governo ao FMI: inflação será de 7%”, O Globo, 14/09/1990, in A. G. C., Cad. 20, p.119.
427
“Zélia: Brasil não pode pagar a dívida”, O Globo, 25/09/1990, in A. G. C., Cad. 20, p.79.
428
“Zélia discursa no FMI e critica bancos credores”, O Globo, 24/09/1990, in A. G. C., Cad. 20, p.76.
429
Zélia diz que credores marginalizam América Latina. Discurso de impacto movimentou FMI. Ministra
causou “frisson” ao criticar os ricos”, de Manoel Francisco Brito, Jornal do Brasil, 27/09/1990, in A. G. C., Cad.
20, p.83.
430
“Sem alarde, Brasil compra bilhões da dívida com deságio”, O Globo, 07/07/1990, in A.G.C., Cad.21, p.62.
431
“Brasil faz proposta inovadora de negociação da dívida”, Jornal do Brasil,12/10/1990, in A.G.C., Cad. 20,
p.84.
432
“Governo propõe converter a dívida externa em bônus”, O Globo, 12/10/1990, in A. G. C., Cad. 21, p.68.
433
“Credor acha proposta do Brasil inviável”, O Globo, 13/10/1990, in A. G. C., Cad. 21, p.11.
434
“Governo acerta na negociação da dívida”, de Octávio Costa, Jornal do Brasil, 21/10/1990, in A. G. C., Cad.
21, pp.45 a 48.
435
“Credores levaram US$ 147 bi e ainda devemos US$ 114”, Tribuna da Imprensa, 22/10/1990, in A. G. C.,
Cad. 21, p.42.
436
“Collor avaliza proposta da dívida que admite pagar juros em atraso”, O Globo, 16/11/1990, in A. G. C., Cad.
21, p.90.
437
José Meirelles Passos, O Globo, 17/11/1990, in A. G. C., Cad. 21, p.19.
oficial”,
439
“Dívida: Clube de Paris nega perdão”,
440
“EUA não recuam e mantêm o veto ao
empréstimo do BID”,
441
Eximbank dos EUA corta crédito ao País”.
442
A “magia” dos primeiros dias do plano econômico foi quebrada no decorrer do tempo.
O governo e, também, o próprio presidente, começaram a acumular desgastes, e ambos
tornaram-se alvo de críticas. A imprensa, antes eufórica em suas apreciações, passou a
apontar a falta de bom senso do governo e, também, os seus equívocos.
A implementação das medidas deste plano econômico propiciou a emergência de
campos de confronto entre o Estado e diversos segmentos da sociedade, como os empresários,
os banqueiros, os funcionários públicos e a classe média, todos afetados pelas reformas que
não produziam os resultados esperados.
3.3. A CAMPANHA ELEITORAL PARA GOVERNADORES, DEPUTADOS E
SENADORES DE 1990
Ao fazer a declaração “Vamos construir um Brasil novo”,
443
durante a sua campanha,
o presidente Fernando Collor de Mello acreditava que apenas os votos dos que o elegeram
seriam o respaldo bastante para exercer o mandato, entretanto, logo após as eleições, em
janeiro de 1990, a Comissão Nacional Executiva do PMDB reuniu-se em Brasília, e decidiu
fazer oposição ao futuro governo do presidente eleito. Além disso, resolveu também, expulsar
todo filiado que desobedecesse a esta determinação. Esta atitude do PMDB indicava que o
presidente enfrentaria dificuldades no seu governo. Assim, o seu engajamento na campanha às
eleições para os governos e Assembléias legislativas estaduais,
444
assim como para o
legislativo federal, que se realizariam em todo o país, no mês de outubro de 1990,
445
tinha um
profundo senso estratégico e performático, por força da urgente necessidade de se respaldar
eleitoralmente diante da oposição crescente e da mal sucedida política econômica. Procurava,
pois, usar da mesma fórmula política de que se valera na eleição presidencial.
Então, em março de 1990, Collor de Mello abriu a campanha para a sucessão em
Alagoas no comício de inauguração de um conjunto habitacional, recebendo o abraço do
438
José Meirelles Passos, O Globo, op. cit. p.20.
439
O Globo, 03/04/1991, in A. G. C., Cad. 21, p.24.
440
Patrícia Sabóia, O Globo, 04/04/1991, in A. G. C., Cad. 21, p.25.
441
Osvaldo Peralva, Jornal do Brasil, 08/04/1991, in A. G. C., Cad. 21, p.27.
442
“Eximbank dos EUA corta crédito ao País”, de Heloisa Villela, O Globo, 29/05/1991, in A. G. C., Cad. 21,
p.29.
443
Martin Claret , op. cit. p. 97.
444
“Collor busca eleição de amigos fiéis em Roraima”, Jornal do Brasil, 23/07/1990, in A.G.C., Cad. 60, p.20.
445
“Collor pede votos para aliados”, Jornal do Brasil, 04/10/1990, in A.G.C., Cad. 61, p.20.
homenageado Frei Damião.
446
Neste ato político o presidente apelou para o instinto e a
emoção, para seduzir o povo, ao se aproximar e receber o apoio de um importante e
carismático líder religioso do Nordeste.
O retorno do presidente a seu Estado foi celebrado em uma “carreata”, ocasião
aproveitada para se pronunciar, alertando os presentes para a importância de votarem nos
candidatos que eram seus aliados,
447
pois assim, ele poderia construir um novo Brasil. (...)
“O Brasil exige que seus filhos esqueçam as divergências ideológicas e se unam para tirar o
país da crise. (...) O presidente da República sozinho não pode fazer muita coisa. Agora, um
presidente da República aliado a um Congresso Nacional sensível tem todas as condições de
fazer as reformas que o país necessita”.
448
Em comício para 15 mil pessoas, com a presença dos senadores Moacir Andrade,
Bernardo Cabral e Renan Calheiros, Collor de Mello emocionado, com a voz embargada,
assumiu um compromisso: “Como Presidente da República quero jurar hoje, diante do altar
das minhas convicções que não faltarei ao chamamento do povo mais sofrido do meu país”.
No percurso da “carreata”, Collor de Mello a todo instante comentava com Bernardo Cabral:
“Olhe que coisa bonita, que momento emocionante”. De fato, daquele modo, mais uma vez,
Collor de Mello utilizou-se da emoção, que se constitui no alvo e no combustível da
performance, para seduzir o público e reforçar suas promessas de campanha em favor dos
“descamisados”.
Na sua chegada ao aeroporto, ao perceber que um policial militar impedia que
populares se aproximassem dele, Collor de Mello repreendeu o soldado: “Deixa o povo, deixa
o povo”. Naquele momento, o presidente eleito não esqueceu de criticar as elites, que
considerava irresponsáveis e atrasadas. “No Brasil é comum um presidente ser eleito pelo
povo e governar para as elites. A partir do dia 15, estaremos contrariando essa regra cínica”,
prometeu.
449
Novamente, reiterava o compromisso para com os segmentos menos favorecidos
da sociedade, aproveitando-se, assim, de cada oportunidade, para ressaltar quão importante,
necessário e urgente era o seu governo na construção de um novo Brasil mais justo.
Em maio de 1990, quando o governo Collor de Mello já enfrentava dificuldades na
implementação das medidas do plano econômico, o presidente pediu votos para seus
446
“Collor abre sucessão em Alagoas”, de Inaldo Sampaio e Maria Lima, O Globo, 11/03/1990, in A. G. C., Cad.
60, p.15.
447
“De volta ao palanque, em Alagoas. Presidente quebra promessa e entra firme na campanha”, Jornal do
Brasil, 30/08/1990, in A.G.C., Cad. 60, p.23.
448
“Collor pede união para atacar a crise”, Jornal do Brasil, 11/03/1990, in A. G. C., Cad. 60, p.16.
449
“Collor faz apelo à união para tirar o país da crise”, de Augusto Fonseca, Jornal do Brasil, 11/03/1990, in A.
G. C., Cad. 60, p.17.
correligionários em Minas Gerais
450
e em Roraima,
451
e afirmou que só quem apoiasse o plano
seria eleito.
452
De volta a Alagoas, Collor de Mello entrou firme na campanha,
453
apesar de ter
dito que não faria campanha propriamente, mas torceria por alguns candidatos.
454
Entretanto,
apoiou ostensivamente algumas candidaturas em três estados: Rio Grande do Norte, Minas
Gerais e Paraná.
455
Mas, até entre seus aliados o presidente não contava com total apoio ao seu governo.
Para o candidato do Partido de Reconstrução Nacional (PRN) ao governo de Minas Gerais,
Hélio Costa, apontado pelas previsões eleitorais da Rede Globo como adversário de Hélio
Garcia, do PRS, no segundo turno, o presidente Collor de Mello liberou quase três bilhões de
cruzeiros a serem investidos no estado nas áreas de saúde, habitação e produção. Mas, a
liberação dos recursos não foi suficiente para conquistar o apoio esperado ao Plano Collor:
Hélio Costa criticou o confisco da poupança e as demissões de funcionários públicos.
456
E,
por fim, no segundo turno eleitoral, em novembro de 1990, Hélio Garcia foi eleito governador
de Minas Gerais.
Também em Alagoas, onde se fazia política à moda antiga,
457
segundo a imprensa,
Collor teve problemas com seus aliados pois assumiu o apoio a Bulhões
458
que, depois de
empossado, se aliou aos adversários do governo.
459
O presidente apostava em resultado favorável ao seu governo
460
e festejou a vitória nas
urnas.
461
Entretanto, de acordo com a opinião de David Fleisher, cientista político da UNB, o
grupo de apoio a Fernando Collor, formado basicamente pelos seguintes partidos políticos:
PFL, PDS, PTB, PRN, PDC e PL, elegeu 250 deputados, um número próximo a maioria
450
“Collor pede voto para seus correligionários em Minas”, Jornal do Brasil, 04/05/1990, in A.G.C., Cad.60,
p.19.
451
“Collor busca eleição de amigos fiéis em Roraima”, Jornal do Brasil, 23/07/1990, in A. G. C., Cad. 60, p.20.
452
“Collor. Só quem apóia o plano será eleito”, O Globo, 04/05/1990, in A. G. C., Cad. 60, p.18.
453
“De volta ao palanque, em Alagoas. Presidente quebra promessa e entra firme na campanha”, Jornal do
Brasil, 30/08/1990, in A. G. C., Cad. 60, p.23.
454
“Collor não fará campanha mas torcerá por alguns candidatos”, O Globo, 08/10/1990, in A. G. C., Cad. 60,
p.24.
455
“Presidente apoio ostensivo a candidatos em três estados”, Jornal do Brasil, 11/10/1990, in A. G. C., Cad.
60, p.25.
456
“Collor promete a Costa verba de Cr$ 3 bilhões”, Jornal do Brasil, 12/10/1990, in A. G. C., Cad. 60, p.26.
457
“Na terra dos Collor se faz política à moda antiga”, Jornal do Brasil, 25/11/1990, in A. G. C., Cad.62, p.18.
458
“Collor assume apoio a Bulhões e dá ajuda a Alagoas”, Jornal do Brasil, 11/01/1991, in A. G. C., Cad. 62,
p.26.
459
“Empossado, Bulhões se alia aos adversários de Collor em Alagoas”, O Globo, 19/03/1991, in A. G. C., Cad.
62, p.124.
460
“Collor aposta em resultado favorável ao seu governo”, Tribuna da Imprensa, 04/10/1990, in A. G. C., Cad.
61, p.21.
461
“Collor festeja vitória na batalha das urnas”, O Globo, 20/10/1990, in A. G. C., Cad. 60, p.28.
absoluta de 252 mais, para que o presidente ficasse tranqüilo, ele deveria ter 280
parlamentares na Câmara.
462
Tudo indicava que os novos congressistas seriam aliados do governo federal.
463
Ainda
assim, buscando consolidar seu grupo de apoio no Congresso Nacional, o presidente Collor de
Mello recebeu Antônio Carlos Magalhães, senador da Bahia, para almoço no Palácio do
Planalto
464
pois, o quadro de sustentação do governo no legislativo apresentava-se com
maioria apertada na Câmara, o que não se dava no Senado, onde o governo tinha maioria
inconteste.
465
O estilo autoritário do Presidente rendeu-lhe problemas na Câmara dos Deputados
como demonstram os comentários de dois importantes deputados, por ocasião de sua saída da
Câmara. Em novembro de 1990, o deputado Renan Calheiros, líder do governo, renunciou ao
cargo e criticou o presidente, a quem chamou de “um primata em política”. Mais adiante, em
fevereiro de 1991, o deputado Ulysses Guimarães deixando o cargo de presidente da Casa,
anunciou-se como opositor implacável do governo no parlamento, e declarou na ocasião: “O
presidente da República não é senador nem deputado, mas está tendo interferência maior que
os parlamentares no Congresso”, salientou ainda que seu sucessor teria a missão de “impedir
essas intromissões indébitas”. Prosseguindo em seu protesto, queixou-se do abuso do
presidente na edição de medidas provisórias, dizendo que este estava ofendendo até mesmo o
dicionário, quando insistia na reedição das medidas. “Urgente e provisória não é exatamente a
forma como as medidas têm sido usadas pelo governo”, criticou o deputado, para quem a luta
contra esse exagero seria “uma maneira de reabilitarmos o Congresso perante a opinião
pública”. Para ele, era inadmissível que o chefe do Legislativo permitisse que o chefe de outro
poder continuasse comandando e tomando as iniciativas que cabiam ao Parlamento.
466
462
“Conservadores farão maioria no Congresso”, Tribuna da Imprensa, 04/10/1990, in A. G. C., Cad. 61, p.48.
463
“Novos congressistas serão aliados do governo federal”, Tribuna da Imprensa, 05/10/1990, in A. G. C., Cad.
62, p.8.
464
“Collor sonha com aliado à frente da Câmara e do Senado”, O Globo, 19/10/1990, in A. G. C., Cad. 61,
p.76.
465
“Maioria de Collor na Câmara será apertada. Senado mantém sustentação ao governo”, O Globo, 27/11/1991,
in A. G. C., Cad. 62, p.135.
466
“Ulysses se despede advertindo Collor”, Jornal do Brasil, 01/02/1991, in A. G. C., Cad. 62, p.99.
3.4. PRIVATIZAÇÕES
O programa de privatizações do governo Collor,
467
um dos principais pontos do
discurso de modernização do país, foi de difícil realização uma vez que inúmeras barreiras
tiveram que ser vencidas, tanto as jurídicas e quanto as nacionalistas e, também, as dos
diferentes grupos sociais que de certa forma se sentiam prejudicados com as vendas das
empresas, como, por exemplo, os funcionários de muitas companhias estatais. De acordo com
dois ex-ministros da Infra-Estrutura, os senhores Ozires Silva e Eduardo Teixeira, a
dificuldade de vender as estatais devia-se a entraves burocráticos e à cautela que se devia ter
no trato do patrimônio público.
468
Atendendo ao pedido do presidente,
469
o novo ministro da Infra-Estrutura anunciou
que aceleraria o programa de privatização, entretanto, os constantes adiamentos das datas de
venda das estatais indicavam que ainda não existia um consenso na sociedade sobre a
necessidade de privatização. Um dos argumentos mais consistentes contra a privatização era
baseado na crença de que a participação do governo em alguns setores chaves era um
componente essencial para o desenvolvimento do programa industrial brasileiro. Sem
considerar se esta convicção correspondia à nova realidade econômica ou não, o fato é que ela
influenciava o debate sobre a privatização. Em março de 1991, Collor respondeu às críticas de
que o programa de privatização era mais retórico do que prático, ao anunciar um programa de
privatização mais ambicioso que o anterior.
470
A primeira venda realizou-se em 4 de setembro de 1990, e não foi de uma empresa
federal e sim de uma empresa do estado de São Paulo, a VASP. Em leilão que durou apenas
dez minutos foi concretizada a privatização da VASP, com a participação de um único grupo,
o consórcio “Voe-VASP” composto pelas empresas de Wagner Canhedo, com sede em
Brasília, e 3.500 empregados da companhia aérea estatal. O grupo fez o lance mínimo de
3.308.019.832,00 cruzeiros adquirindo 15.956.142.609 ações ordinárias, equivalentes a 60%
do capital. Os 40% restantes continuaram com o governo de São Paulo, detentor de todas as
ações até a época.
471
467
“Collor regulamenta privatização e espera arrecadar Cr$ 719 mil”, O Globo, 17/08/1990, in A.G.C., Cad. 26,
p.99.
468
“Até hoje, só uma estatal privatizada”, O Globo, 12/05/1990, in A.G.C., Cad. 49, p.12.
469
“Collor pede a Ministério pressa nas privatizações”, Jornal do Brasil, 05/05/1990, in A. G. C., Cad. 26, p.84.
470
Mark D. Hoff, “After high hopes, privatization program encounters difficulties”, in Infobrazil, Center of
Brazilian Studies – The Johns Hopkins University, vol.12, n.4, junho 1991, pp.6 e 12.
471
“Vasp é vendida por Cr$3,3 bi”, O Globo, 05/09/1990, in A.G.C., Cad.49, p.7.
Esta primeira estatal que foi privatizada motivou uma Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) na qual Paulo César Farias, coordenador da campanha que elegeu Collor, foi
intimado a depor.
472
Em seu depoimento,
473
ele confessou ter emprestado 7 milhões de dólares
a Wagner Canhedo
474
ajudando-o, assim, a comprar a VASP.
475
A CPI optou por não indiciar
o presidente Collor,
476
concentrando-se em Paulo César Farias e pedindo a sua prisão e o
bloqueio de seus bens.
477
Além de Paulo César Farias, a ex-ministra Zélia Cardoso de Melo
também depôs nesta CPI
478
e, apesar de negar seu envolvimento com a compra da VASP,
479
a
CPI realizou uma devassa nas suas contas bancárias.
480
Outro político envolvido nesta CPI foi
o ex-governador Orestes Quércia que se bastou em afirmar, em seu depoimento, que a venda
da VASP foi realizada de acordo com a lei.
481
A CPI também ouviu o depoimento de
funcionários da VASP, que denunciaram suborno
482
e o esquema para forçar a rápida
privatização da empresa.
483
Em 7 de junho de 1991, depois de treze meses paralisada, quando deixou mais de
1.500 funcionários desempregados, e de produzir cerca de 290 mil toneladas de carvão pré-
lavado, o governo federal conseguiu privatizar a unidade carbonífera da Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN) em Santa Catarina. Fundada em 1921, como Carbonífera
Próspera, em 1988 ela foi transformada em departamento da CSN e finalmente colocada entre
as prioritárias a serem privatizadas. Os mineiros ocuparam a empresa para impedir as
demissões, mas estas foram consumadas apesar de a empresa ter continuado ocupada até o dia
da privatização. A intenção dos mineiros era a transformação da unidade em cooperativa, com
a aquisição do patrimônio, mas o projeto que tramitava no Congresso Nacional ficou sem
efeito com a privatização.
484
472
“PC comparece para depor na CPI da VASP”, Tribuna da Imprensa, 05/08/1992, in A.G.C., Cad.73, p.15.
473
“CPI da VASP intimará PC a depor”, O Globo, 05/08/1992, in A.G.C., Cad.73, p.15.
474
“PC emprestou US$ 7 milhões a Canhedo. Ex caixa de Collor confessa ter dado dinheiro para o leilão da
VASP e cai em contradições”, O Globo, 12/08/1992, in A.G.C., Cad.73, p.19.
475
“PC confessa que ajudou a comprar a VASP”, O Globo, 12/08/1992, in A.G.C., Cad.73, p.18.
476
“CPI não indiciará Collor e fará toda a carga contra PC”, Tribuna da Imprensa, 21/08/1992, in A.G.C.,
Cad.75, p.55.
477
“CPI da VASP pede prisão de PC e o bloqueio de seus bens”, O Globo, 14/08/1992, in A.G.C., Cad.73, p.24.
478
“Zélia será ouvida hoje na CPI”, Jornal do Brasil, 14/09/1992, in A.G.C., Cad. 73, p.40.
479
“Zélia nega envolvimento com a VASP”, O Globo, 15/09/1992, in A.G.C., Cad.73, p.42.
480
“CPI da VASP aprova devassa nas contas bancárias de Zélia”, O Globo, 17/09/1992, in A.G.C., Cad.73,
pp.47-9.
481
“Quércia afirma na CPI que a venda da VASP foi legal”, O Globo, 19/08/1992, in A.G.C., Cad.73, p. 28.
482
“Ex-diretor denuncia suborno no caso VASP. Testemunha diz na CPI que lobista lhe ofereceu Cr$ 8 bilhões
para poupar o ex-governador Quércia em seu depoimento”, Jornal do Brasil, 18/10/1992, in A.G.C., Cad. 73,
p.71.
483
“Ex-diretoria da VASP sucateou companhia. Depoimento de funcionário denuncia esquema montado com
ECT e bancos para forçar a rápida privatização da empresa”, Jornal do Brasil, 16/10/1992, in A.G.C., Cad. 73,
p.71.
484
“CSN privatiza mina de carvão no Sul do país”, Jornal do Brasil, 07/06/1991, in A.G.C., Cad. 49, p.14.
Prosseguindo com as privatizações, em 2 de agosto de 1991, após uma reunião em
Londres, foi acertada a venda da Engenheiros Especializados S/A (ENGESA) e o perfil
acionário da nova empresa. Os novos acionistas foram a britânica British Aerospace, com
40% do capital, a Norberto Odebrecht, com 20%, a Schabin Cury, também com 20%, a
Industria de Materiais Bélicos (IMBEL), com 11%, e funcionários, com 9%. Toda a linha de
blindados sobre rodas da ENGESA foi vendida à nova empresa, com exceção dos planos dos
tanques pesados Osório, que continuaram reservados à família do ex-presidente da empresa,
José Luiz Whitaker Ribeiro.
O começo do estrangulamento da ENGESA aconteceu quando o governo do Iraque
deixou de honrar seus compromissos, sendo o melhor cliente da empresa até 1987, que não
pagou 80 milhões de dólares. Mais tarde, Whitaker Ribeiro investiu 100 milhões de dólares
no programa de desenvolvimento do tanque Osório, na hipótese de vender o equivalente a 8
bilhões de dólares, no total de 318 tanques, totalizando 2,2 bilhões de dólares, seriam
comprados pela Arábia Saudita. Depois de três anos de negociações, nada aconteceu de
proveitoso. A concordata se deu em 1989, quando a ENGESA pagou 400 títulos em cartório e
sustou dez pedidos de falência. O desfecho aconteceu no início de 1991 quando os
empregados, com salários atrasados a vários meses, iniciaram uma série de protestos na porta
da empresa. Algumas dessas manifestações chegaram a paralisar o tráfego na Rodovia
Presidente Dutra. A partir daí ficou claro que a única saída para a empresa seria a venda de
seus ativos para um sócio com capital suficiente para dar prosseguimento aos projetos de
investimento da empresa.
485
De outra feita, em 24 de outubro de 1991, o Banco Bozano Simonsen coordenou um
consórcio de empresas e instituições financeiras que arrematou 51% das ações ordinárias da
Usiminas ofertadas no leilão de privatização realizado na Bolsa de Valores do Rio de
Janeiro.
486
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga recebeu com satisfação o
resultado do leilão da Usiminas e disse que estava garantida a participação efetiva dos
trabalhadores na gestão da empresa. Ele ficou satisfeito com a pulverização das ações e disse
que vinha negociando, a algum tempo, a fórmula para a administração compartilhada da
485
“British Aerospace e grupos nacionais compram Engesa”, de Lia Carneiro, e “Fim de guerra acelerou a crise”,
de Ronaldo Lapa, Jornal do Brasil, 10/08/1991, in A.G.C., Cad. 49, p.16(frente e verso).
486
“Bozano compra a Usiminas”, Jornal do Brasil, 25/10/1991, in A.G.C., Cad.49, p. 116.
Usiminas através de um consórcio. Ele afirmou, também, que foi uma vitória dos
trabalhadores.
487
No desenrolar do processo para a privatização da Usiminas que foi amplamente
divulgado pela imprensa, o Organizador do “Arquivo Governo Collor” teceu os seguintes
comentários. A respeito do editorial “Usiminas será oferecida aos empregados antes do
leilão”,
488
ele assinalou: “empregado, trabalhador tem capital para comprar uma usina desse
porte; puro engodo”!
489
E, referindo-se ao editorial “Minas quer ter compensação por
privatização da Usiminas”,
490
ele anotou. “Solicitação absurda! A Usiminas não vai ser
fechada, apenas o controle trocará de mãos! Se os ‘mineiros’ não querem mãos estrangeiras,
que peguem as próprias”.
491
Ainda sobre a participação dos empregados no leilão para a
privatização da Usiminas, o Organizador do “Arquivo Governo Collor” comentou. “Pura
utopia e demagogia! Empregado não tem dinheiro nem para colocar na poupança, como vai
entrar no mercado de ações”?
492
Estes comentários podem muito bem expressar a opinião de
parte da sociedade sobre o processo de privatizações.
Entretanto, em 12 de novembro de 1991, a Procuradoria Geral da República decidiu
abrir inquérito para investigar a possibilidade de fraude no leilão da Usiminas. O pedido de
investigação foi feito ao procurador geral, Aristides Junqueira, em documento firmado por 24
senadores, entre eles Eduardo Suplicy do PT de São Paulo, Nelson Carneiro do PMDB do Rio
de Janeiro, Fernando Henrique Cardoso e Mario Covas, ambos do PSDB de São Paulo. Os
senadores anexaram ao documento cópia de um Termo de Compromisso assinado entre os
membros do consórcio de empresas que adquiriu o controle da Usiminas, no qual os
participantes se comprometiam a atuar de forma conjunta no leilão, inclusive estabelecendo o
preço máximo que deveriam pagar pelas ações.
493
As privatizações, amplamente divulgadas em suas falas durante a campanha eleitoral,
constituíam-se num dos itens da modernização do país. E, os exemplos acima descritos bem
demonstram o grau de conflito neste cenário em termos de escolher que empresas seriam
privatizadas; determinar as medidas de desregulamentação; e quanto de capital estrangeiro
entrará e em que setores; dentre outras decisões do governo. As privatizações configuravam
487
“Resultado do leilão agrada a Sindicato dos Metalúrgicos”, O Globo, 25/10/1991, in A.G.C., Cad.49, p.131.
488
“Usiminas será oferecida aos empregados antes do leilão”, O Globo, 22/05/1991, in A.G.C., Cad. 49, p.34.
489
Comentário do Organizador do Arquivo Governo Collor, in A.G.C., Cad. 49, p.34.
490
“Minas quer ter compensação por privatização da Usiminas”, Tribuna da Imprensa, 12/07/1991, in A.G.C.,
Cad. 49, p.37.
491
Comentário do Organizador do Arquivo Governo Collor, op. cit. p.37.
492
Idem, p.61 (verso).
493
“Privatização da Usiminas será apurada”, Jornal do Brasil, 13/11/1991, in A.G.C., Cad.49, p.142.
um cenário de ruptura com alguns atores sendo deslocados de suas posições e ocupando novas
ou não, balizando novos arranjos de forças econômicas, sociais e políticas.
No segundo ano de seu governo, num cenário de crise, o presidente Collor ainda
mantinha o apoio dos empresários para o seu programa de privatizações.
494
Dando
continuidade ao programa, o presidente aprovou a privatização de diversas empresas dentre
elas a COSIPA, a CSN, a AÇOMINAS, e a Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro.
495
Além disso, o presidente também se manifestou favorável à privatização dos serviços públicos
sem, entretanto, indicar quais seria prioritários.
496
3.5. O SEGUNDO PLANO COLLOR
“Se eleito Presidente da República ninguém terá salários aviltados”.
497
Esta assertiva de Collor de Mello feita durante a campanha eleitoral não se
concretizou, pois em janeiro de 1991, os efeitos da recessão e do desemprego se faziam
sentir e tudo indicava que o Plano Collor havia chegado ao fim. Então, o governo iniciou os
primeiros ajustes
498
para corrigir os erros apresentados no plano econômico inicial, que se
consubstanciaram no Segundo Plano Collor, mais um trabalho da equipe econômica
comandada pela ministra Zélia Cardoso de Melo.
499
O primeiro a prever a necessidade de um
novo plano econômico foi o deputado Delfim Neto, em 12 de junho de 1990.
500
Então, mais uma vez, em 31 de janeiro de 1991 a ministra Zélia Cardoso de Mello
ocupou rede nacional de rádio e televisão para apresentar ao Brasil o Plano Collor II que,
dentre outras medidas, congelava preços e salários e promovia uma desindexação ampla dos
preços.
501
Em 2 de fevereiro, foi a vez de Collor de Mello ocupar a rede nacional de rádio e
televisão para defender o novo plano econômico, e repetir o já então desgastado “não me
deixem só” que, àquela altura, mais se assemelhava a um grito de socorro porque o
descontentamento com o governo era geral. O espanto dos Congressistas foi enorme inclusive
494
“Collor exalta privatizações. Empresários elogiam programa e homenageiam presidente”, Jornal do Brasil,
18/12/1991, in A.G.C., Cad.26, p.138
495
“Collor aprova privatização da Cosipa, CSN, Açominas e Lloyd Brasileiro”, O Globo, 19/12/1991, in A. G.
C., Cad. 27, p.114.
496
“Serviços públicos são prioridade na privatização”, O Globo, 05/01/1992, in A. G. C., Cad. 26, p.140.
497
Martin Claret , op. cit. p. 96.
498
“Plano Collor parece ter chegado ao fim”, Coluna do Castello, de Carlos Castello Branco, Jornal do Brasil,
17/01/1991, in A. G. C., Cad. 70, p.62.
499
“Collor já admite ajustes no plano”, O Globo, 18/01/1991, in A. G. C., Cad. 70, p.88.
500
“Delfim prevê novo Plano Collor”, Tribuna da Imprensa, 22/06/1990, in A. G. C., Cad. 23, p.8.
501
“Governo decreta feriado bancário e ajusta plano. Pacote “overnight” acaba e tablita volta. Congela preços e
salários”, O Globo, 01/02/1991, in A. G. C., Cad. 23, p.20.
entre os aliados do governo. O líder do PFL e do bloco governista na Câmara, Ricardo Fiúza
assim se pronunciou. ”Fui surpreendido pelo congelamento e não gostei”. E complementou
mais adiante. “O governo montou uma equipe econômica sem consultar ninguém. Essa equipe
é dona da verdade e fez o pacote sem ouvir ninguém”.
O motivo alegado para o novo plano econômico foi evitar a volta da hiperinflação.
Mas, infelizmente, o Plano Collor II fez reviver, de pronto, velhos vícios econômicos, tais
como o desabastecimento e o ágio, que se uniram ao “arrocho” salarial.
502
Assim, a equipe
econômica voltou a cometer erros, o que foi motivo de severas críticas: (a) “Essa avalanche
de ações contra o bloqueio dos cruzados novos é resultado do descrédito da equipe
econômica; (b) O presidente Collor precisa trocar a equipe econômica. A inflação vai cair no
dia em que houver um novo ministro da Economia. Não adianta a ministra Zélia dizer que vai
fazer isso ou aquilo. Ninguém acredita nela. Eu nunca vi um ministro acumular tantos poderes
quanto ela. A Zélia é fulminante; (c) Estamos num momento em que a Constituição não é
respeitada, em que o governo decide tudo sozinho. Isso gera um sentido de insegurança tão
grande que traz a ameaça de uma ruptura das instituições. Nesse cenário, poderemos ter o
parlamentarismo antes do fim do governo Collor”.
503
A aprovação desse segundo plano econômico no Congresso foi, também, uma batalha
difícil e tumultuada, agravada pela postura da ministra Zélia Cardoso de Melo que, por
princípio, não aceitava negociar absolutamente nada, até que em 13 de fevereiro de 1992
cedeu um pouco e admitiu negociar alguns itens.
504
A idéia das lideranças partidárias era
condicionar o seu apoio à diminuição da autonomia política do presidente cujo governo
encontrava-se bastante enfraquecido. O país aproximava-se de uma crise de governabilidade,
e as manifestações contra as novas medidas se sucediam com greves e paralisações de
protesto pelas demissões e pelo congelamento de salários.
Algumas pesquisas produzidas pelos institutos de opinião pública procuravam definir
o cenário do país. Em 23 de fevereiro de 1991, o IBOPE entrevistou 2600 pessoas
505
sendo a
maioria a favor do Plano Collor II, e da Ministra da Fazenda. Em 29 de fevereiro, o Datafolha
publicou enquete pela qual 58% da população consideravam o Plano Collor II ruim para o
país, 12% o consideravam em parte bom e em parte ruim, e 18% o consideravam bom. Neste
502
“Plano revive velhos vícios econômicos. Desabastecimento e ágio se unem agora a arrocho salarial”, Jornal
do Brasil, 10/02/1991, in A. G. C., Cad. 23, p.56.
503
Trechos da entrevista com Ives Gandra da Silva Martins, por Arlete Salvador, Veja, 01/05/1991, in A. G. C.,
Cad. 92, pp.46-8.
504
“Zélia admite negociar plano econômico com Congresso. Zélia pede prazo a admite mudar plano”, O Globo,
15/02/1991, in A. G. C., Cad. 23, pp.89-90.
505
“IBOPE constata aprovação ao Plano Collor”, O Globo, 23/02/1991, in A. G. C., Cad. 23, p.103.
cenário contraditório, apesar dos problemas e dos protestos, e por conta de um movimento em
favor da governabilidade, as principais medidas do plano foram aprovadas no Congresso, no
final de fevereiro. Mas, em março já se delineava o fracasso do Plano Collor II.
No início de 1991, completando um ano de governo,
506
Collor de Mello propôs
algumas modificações na Constituição.
507
Agora mostrava-se um presidente em busca de
conciliação com os parlamentares e, também, com a sociedade.
508
Nesse sentido, a ministra
Zélia Cardoso de Melo e sua equipe econômica foram encarregados de preparar um outro
plano econômico
509
que passou a ser conhecido como “Projetão”.
510
Este plano englobava
uma série de quase 40 projetos de lei que corrigiam, modificavam e até suprimiam artigos da
Constituição.
511
As questões prioritárias eram a política industrial, a infra-estrutura, a
educação, a saúde, o capital e o trabalho, a agricultura e a reforma agrária. Pretendia-se que
tais questões fossem amplamente debatidas. Entretanto, apesar do apelo ao entendimento, o
“Projetão” foi recebido com desconfiança e cautela por políticos, inclusive os aliados do
governo, empresários e outros segmentos da sociedade.
Enquanto a equipe econômica preparava o “Projetão”, o Congresso Nacional, em
nome da governabilidade, lançava a idéia de criação de uma Comissão Mista na qual teriam
assento atores sociais relevantes.
512
Este espaço deveria funcionar como um lugar de
discussão e, também, poderia reforçar a representação da sociedade, nesse meio tempo,
surgiram denúncias de corrupção no governo que contribuíram para a desconfiança
generalizada.
As tentativas de Collor de Mello para reverter o isolamento político foram infrutíferas
e a política econômica implementada pela ministra Zélia Cardoso de Melo contribuiu para
esta situação. Em virtude disso, e em mais uma tentativa de reverter este quadro, em 5 de
maio de 1991, Zélia Cardoso de Melo foi substituída no posto pelo ex-embaixador nos
Estados Unidos, o economista Marcílio Marques Moreira.
513
Acompanhando a demissão da
506
“Um governo com mais barulho do que ação”, Jornal do Brasil, 10/03/1991, in A. G. C., Cad. 32, p.11.
507
“Próximo passo de Collor é a retomada do desenvolvimento”, O Globo, 09/03/1991, in A. G. C., Cad. 32, p.8.
508
“Passado 1 ano de governo,Collor muda o tom de seu discurso e pede união nacional. Um presidente em
busca de conciliação”, O Globo, 15/03/1991, in A. G. C., Cad. 32, p.27.
509
“Governo prepara plano econômico”, Jornal do Brasil, 08/03/1991, in A. G. C., Cad. 32, p.8.
510
“Projeto de Reconstrução Nacional. A opção democrática pelo desenvolvimento”, de Fernando Collor, O
Globo, 02/04/1991, in A. G. C., Cad. 32, pp.50-1.
511
“Presidente propõe reforma do Estado”, O Globo, 15/03/1991, in A. G. C., Cad. 32, p.22.
512
“Collor quer que Congresso seja o fórum do projetão”, O Globo, 20/03/1991, in A. G. C., Cad. 32, p.42.
513
“Collor demite Zélia e Marcílio Marques Moreira assume Economia”, O Globo, 09/05/1991, in A. G. C., Cad.
23, p.108.
titular da Fazenda, os demais membros da equipe econômica também se demitiram. Mas Zélia
Cardoso de Melo não se retirou sem deixar de acusar as elites pela crise.
514
O curto período em que Zélia Cardoso esteve no Ministério da Fazenda foi marcado
pela atmosfera turbulenta. Ela adicionou nada menos de 26 novas atribuições a seus poderes e
somou confrontos com parlamentares, empresários, trabalhadores, ministros e credores
externos. O caso amoroso que Zélia Cardoso manteve com o então ministro da Justiça,
Bernardo Cabral, colaborou no processo de desgaste da ministra. Mas a gota d’água para a
queda de Zélia Cardoso foi o confronto com o secretário de Desenvolvimento Regional,
Egberto Batista. Ela cancelou uma portaria na qual Baptista concedia à Superintendência da
Zona Franca de Manaus (Suframa) o poder de conceder cotas de importação além dos limites
estabelecidos pelo Ministério da Fazenda.
515
Em de maio de 1991, Collor assinou cinco dos projetos prioritários do “Projetão”
num total de onze equacionados e os enviou ao Congresso.
516
Em 11 de julho de 1991, o
governo reativou o “Projetão”, agora apelidado pelos Congressistas de “Emendão”, com um
projeto de lei sobre uma nova política salarial.
517
Agora, com o novo Ministro da Economia
Marcílio Marques Moreira, o governo anunciou, em 23 de agosto de 1991, o “Emendão”,
518
proposta que alteraria 44 artigos da Constituição e tinha por objetivo salvar a União, Estados e
Municípios da insolvência financeira. Os pontos da Constituição que seriam revistos eram:
aposentadorias, educação, impostos, juros, telefonia, servidores públicos, judiciário, despesas
públicas, dívidas dos Estados e títulos públicos. O “Emendão” recebeu críticas em todo o
país, principalmente dos políticos, e só foi apoiado pelos credores, porque as alterações
vinham de encontro aos seus interesses.
519
O presidente diante das resistências recuou de sua postura imperial, e tentou negociar,
apesar de ter rebatido as críticas, porque ele considerava o “Emendão” a única saída para a
crise nacional.
520
E, coerente com seu desempenho performático, Collor de Mello foi à
televisão e pediu apoio público ao “Emendão”.
521
Mas, o “Emendão” sofreu modificações de
514
“Zélia sai ressentida com Collor”, Jornal do Brasil, 10/05/1991, “Zélia se despede acusando as elites”, O
Globo, 11/05/1991, in A. G. C., Cad. 23, pp.112-3.
515
“A queda de Zélia”, de Moacir Werneck Castro, Jornal do Brasil, 18/05/1991, in A. G. C., Cad. 23, p.114.
516
“Collor assina 5 projetos do Projetão”, O Globo, 01/05/1991, in A. G. C., Cad. 32, p.69.
517
“Governo reativa Projetão com nova política salarial”, Jornal do Brasil, 11/07/1991, in A. G. C., Cad. 32,
p.74.
518
“Emendão de Collor muda o país. Emendão impõe 2 anos de sacrifícios”, Jornal do Brasil, 23/08/1991, in A.
G. C., Cad. 32, p.78.
519
“Só credores apóiam o Emendão. Emendão recebe críticas em todo o país”, Jornal do Brasil, 24/08/1991, in
A. G. C., Cad. 32, p.85.
520
“Collor adverte que Emendão é a única saída para a crise”, O Globo, 25/08/1991, in A. G. C., Cad. 32, p.91.
521
“Collor pede na TV apoio a Emendão”, O Globo, 26/08/1991, in A. G. C., Cad. 32, p.98.
acordo com as pressões dos políticos e dos governadores e chegou à sua 14ª versão
522
em
setembro de 91 e acabou virando “Emendinha”, uma versão reduzida do projeto original, para
poder passar no Congresso.
523
Frustrado, com a não aprovação integral das medidas, Collor
disse, na época, que sem o “Emendão” todos iriam chorar em futuro breve, porque haviam
resistido às modificações necessárias.
524
O Plano Collor II adiou o reinício das negociações com o FMI
525
que, todavia,
pressionava para que os compromissos se mantivessem em dia.
526
Tudo indicava que a
substituição de Zélia Cardoso por Marcílio Moreira facilitaria a negociação da dívida,
527
o que
de fato ocorreu, iniciando-se então as negociações oficiais da dívida com FMI e demais
bancos estrangeiros.
528
A esse respeito o chefe da Divisão Atlântico Sul do FMI, José
Fajgenbaum, sugeriu que o Brasil deveria reformar a Constituição se quisesse um acordo com
aquela instituição. Tal sugestão irritou o presidente Collor de Mello que a ele respondeu no
melhor estilo “bateu-levou”: “Manda ele reformar a casa dele”.
529
Em virtude disso, Marcílio
Moreira suspendeu reunião com FMI
530
e o governo decidiu que a negociação ocorreria se
o FMI substituísse o chefe da missão.
531
O técnico taxou de “constrangedora” a reação do
presidente, mas o FMI não alardeou o caso,
532
tratando o incidente com discrição,
533
o que
levou os credores a apostarem na superação do impasse.
534
Como o resultado não foi o
esperado, o FMI substituiu o chefe da missão no Brasil.
535
522
“Emendão do governo está na sua 14ª versão”, O Globo, 12/09/1991, in A. G. C., Cad. 32, p112.
523
“Emendão vai virar Emendinha para passar no Congresso”, O Globo, 14/09/1991, in A. G. C., Cad. 32, p.114.
524
“Collor: sem o Emendão vamos chorar juntos depois”, O Globo, 20/09/1991, in A. G. C., Cad. 32, p.125.
525
“Plano Collor II adia reinício das negociações com o FMI”, O Globo, 28/03/1991, in A. G. C., Cad. 20, p.21.
526
“Collor repudia crítica do FMI e diz que não aceita pressão”, O Globo, 06/05/1991, in A. G. C., Cad. 20, p.23.
527
“Nomeação de Ministro facilita negociação da dívida”, de Manoel Francisco Brito, Jornal do Brasil,
10/05/1991, in A. G. C., Cad. 20, p.24.
528
“Brasil vai negociar com FMI e bancos”, de Regina Alvarez, O Globo, 30/04/1991, e “Brasil começa
negociação oficial da dívida”, de Manoel Francisco Brito, Jornal do Brasil, 01/05/1991, in A. G. C., Cad. 20,
p.92-3.
529
“Collor se irrita com chefe do FMI”, e “Chefe da missão do FMI se indispõe com o governo brasileiro”, Hoje
em Dia, Belo Horizonte, 19/07/1991, in A. G. C., Cad. 20, p.27.
530
“Crise faz Marcílio cancelar reunião com missão do FMI”, e “Brasil suspende reunião com FMI”, Jornal do
Brasil, 20 e 23/07/1991, in A. G. C., Cad. 20, pp. 28 e 35.
531
“Collor quer que FMI mude negociador”, O Globo, 22/07/1991, e “Governo negocia se FMI substituir
chefe da missão”, de Odail Figueredo, Jornal do Brasil, 23/07/1991, in A. G. C., Cad. 20, pp. 33 e 36.
532
“FMI impõe lei do silêncio. Técnico taxa de ‘constrangedora’ reação de Collor”, de Lazlo Varga, O Globo,
21/07/1991, in A. G. C., Cad. 20, p.32.
533
“Fundo procura tratar incidente com discrição”, de José Meirelles Passos, O Globo, 24/07/1991, in A. G. C.,
Cad. 20, p.44.
534
“Bancos e credores apostaram na superação do impasse”, de Heloisa Villela, O Globo, 24/07/1991, in A. G.
C., Cad. 20, p.43 (verso).
535
“FMI substitui chefe da missão no Brasil”, e “FMI nomeia novo negociador no Brasil”, O Globo, 24/07/1991,
in A. G. C., Cad. 20, pp.42-3.
Retomadas as negociações da dívida, o FMI fez duas exigências para dar aval ao
Brasil: corte radical nos gastos do governo e mais austeridade monetária.
536
O governo
começou a negociar a dívida com os bancos
537
e Candessus, representante do FMI, veio ao
Brasil receber a carta de intenções
538
com promessas de defender o plano do Brasil no FMI.
539
O Brasil prometeu pagar 8 bilhões de dólares a credores em 1992,
540
mas o FMI adiou a
votação do plano
541
e, a proposta do Brasil para “rolar” a dívida foi rejeitada pelo Clube de
Paris.
542
Assim, nessas circunstâncias, não havendo alternativa, o governo Collor de Mello
recuou e se submeteu, fechando acordo com o Clube de Paris,
543
cedendo em todos os
pontos.
544
No Natal de 1991, o presidente Fernando Collor pedia à população para adiar as
compras. Segundo seu raciocínio, os preços baixariam porque os empresários haviam
promovido reajustes preventivos por temer novo choque econômico. Mais tarde, ele sugeria:
“quebrou, abra um botequim”. A reação na FIESP foi imediata: quem deveria abrir um
armazém de secos e molhados era esta equipe econômica do governo, que iria saber, pela
primeira vez, o que era trabalhar na iniciativa privada, sugeria Roberto Nicolau Jeha, um dos
dirigentes da federação. Mário Amato foi contundente: “tenho absoluta convicção que as
autoridades de Brasília não têm idéia tida do drástico quadro recessivo que estamos
atravessando. A sociedade está pagando custos inéditos em termos de produção, salário e
emprego”. Durante uma confraternização de fim de ano, Collor de Mello previa um ano de
1992 melhor, seria o ano da virada, do fim da crise, do início da vitória final do
desenvolvimento, do bem estar e da justiça social.
545
Nesta época, o cenário não era de consenso mais de conflito. Daí o fracasso das
tentativas de pacto ou entendimento. O presidente “Salvador” não contava com a
536
“FMI exige corte radical nos gastos do governo”, O Globo, 27/07/1991, e “FMI exige mais austeridade para
dar aval ao Brasil”, de Teodomiro Braga, Jornal do Brasil, 08/09/1991, in A. G. C., Cad. 21, pp.30 e 34.
537
‘Brasil começa a negociar dívida externa com bancos”, O Globo, 22/08/1991, in A. G. C., Cad. 21, p.96.
538
“Candessus vem ao Brasil receber carta de intenções”, de Eli Teixeira, Jornal do Brasil, 29/11/1991, in A. G.
C., Cad. 20, p.100.
539
“Candessus promete defender plano do Brasil no FMI”, de Odail Figueiredo, Jornal do Brasil, 04/12/1991, in
A. G. C., Cad. 20, p.105.
540
“O Brasil promete pagar US$ 8 bi a credores em 92”, de João Borges e Silvia Faria, O Globo, 10/12/1991, in
A. G. C., Cad. 20, pp.131-2.
541
“FMI adia votação do plano de ajuste. Reajuste de 147% faz FMI adiar votação de acordo”, de Teodomiro
Braga, Jornal do Brasil, 17/01/1992, in A. G. C., Cad. 21, p.39.
542
“Clube de Paris rejeita proposta do Brasil para rolar a dívida”, O Globo, 25/02/1992, in A. G. C., Cad. 21,
p.40.
543
“Brasil se submete ao Clube de Paris e fecha acordo. Brasil recua e consegue acordo com o Clube de Paris”,
O Globo, 27/02/1992, in A. G. C., Cad. 21, p.55.
544
“Marcílio: governo cedeu o que podia”, O Globo, 28/02/1992, in A. G. C., Cad. 21, p.56.
545
“Confisco e planos não acabaram com a inflação”, in Diário do Passado”, Agência Estado.Aedata,
29/09/1992.
inconsistência do plano econômico, antes elogiado pela imprensa e aceito pelo povo. Pode-se
atribuir, em parte, o insucesso das medidas às promessas feitas durante a campanha para a
presidência da República, de resolução imediata de problemas complexos como, por exemplo,
o combate à inflação, como o próprio presidente alardeava “que tinha uma bala na agulha
para derrubar o tigre da inflação”. Collor não levou em conta o tempo da sociedade,
constituída de classes e grupos com interesses distintos e, também, com poderes distintos. O
imediatismo de Collor também poderia ser tomado como resultado do complexo de “herói”,
de performer.
3.6. AS VIAGENS PRESIDENCIAIS
“Defendo uma parceria saudável da economia nacional com o capital
internacional”.
546
A modernização do país, a abertura da economia prometida por Collor de Mello em
sua campanha seria agora divulgada aos países mais desenvolvidos nas viagens presidenciais.
Logo após as eleições presidenciais que levaram Collor ao poder, sua viagem de férias
à França foi motivo de comentários na imprensa francesa. O matutino católico La Croix achou
estranho que o presidente eleito estivesse em Paris e criticou “ninguém mais governa em
Brasília e a inflação ultrapassa os 50% ao mês”. Além disso, o La Croix comentou com ironia
as férias de Collor de Mello pelo Gabão, Seychelles, praias do Oceano Índico, Roma e Paris,
afirmando que o presidente do Brasil “parece um homem totalmente imprevisível e sua
viagem de férias vai custar um milhão de dólares”. Para o jornal, “a origem desta soma
fabulosa é tão misteriosa quanto o financiamento milionário de sua campanha”.
O vespertino Le Monde também se espantou que o “caçador de marajás” passasse
férias de “marajá”. O articulista do vespertino escreveu que “o presidente eleito do Brasil
estava sendo alvo de críticas em seu país por causa da verdadeira fortuna que gastava para
descansar da campanha eleitoral”. O Le Monde descreveu a despesa de férias do presidente
eleito, entre as quais o aluguel do jato Falcon 900, a estadia no Hotel Ritz, o mais caro de
Paris, e calculou que a viagem de Collor de Mello custaria pelo menos 300 mil dólares. O
jornal perguntou também de onde vinha o dinheiro e, embora ressalvasse que ele tinha fortuna
pessoal, julgava que o financiamento das férias do presidente eleito vinha da ajuda que
recebeu dos círculos bancários e dos industriais. O jornal comparou os gastos de Collor de
546
Martin Claret , op. cit. p. 87
Mello com a situação econômica difícil de muitos brasileiros pobres, que foram seus eleitores
em dezembro.
547
Tais críticas da imprensa internacional repercutiam nos periódicos
brasileiros. Iniciava-se assim, num cenário de desconfiança, a viagem do presidente ao
exterior. Entretanto, apesar das críticas, ele foi bem recebido por Mitterrand,
548
presidente da
França, e aproveitou para pedir apoio para uma vaga para o Brasil no fórum dos países
ricos,
549
ocasião que aproveitou, também, para se pronunciar contra a elite brasileira.
550
No Japão, o presidente disse que liquidaria a inflação com um golpe de caratê
551
e, em
discurso pronunciado no Press Club, defendeu a conciliação da abertura da economia com a
justiça social, prometendo, na ocasião, fazer do Brasil um país moderno e justo em cinco
anos, com a boa vontade do capital externo: “Nós não cultivamos a xenofobia”.
552
Na Rússia,
Collor de Mello propôs novo diálogo Leste-Sul e seu plano de modernização para o Brasil foi
comparado, por Gorbachev, às mudanças ocorridas na Rússia.
553
Em Berlim, Collor enfrentou
protestos dos representantes do PT e da CUT que se encontravam numa convenção de
líderes sindicalistas.
554
Nos Estados Unidos, Collor de Mello recebeu promessas de ajuda,
555
informou que o
plano econômico traria bons resultados em 100 dias
556
e, em discurso em que apelou para a
cooperação, conquistou a platéia.
557
O presidente George Bush prometeu tratamento atencioso
à dívida do Brasil,
558
dando a impressão de que a visita de Collor de Mello aos Estados
Unidos havia se encerrado com relativo sucesso.
559
Após a posse, Collor de Mello,
acompanhado de sua equipe, visitou novamente os Estados Unidos, onde se encontrou com o
presidente George Bush novamente e, dentre outros temas, foram negociar a dívida
547
“Viagem repercute na imprensa francesa”, O Globo, 12/01/1990, in A. G. C., Cad. 6, p.35.
548
“França recebe Collor como estadista”, O Globo, 05/02/1990, in A. G. C., Cad. 6, p.151.
549
“Collor pede vaga entre os ricos”, Jornal do Brasil, 06/02/1990, in A. G. C., Cad. 6, pp.159-160.
550
“Collor fala mal da elite brasileira a Mitterrand”, de Silvio Ferraz, Jornal do Brasil, in A. G. C., Cad. 6,
p.166.
551
“Collor no Japão promete liquidar inflação com um golpe de caratê”, O Globo, 30/01/1990, in A. G. C., Cad.
6, p.103.
552
“Collor defende abertura da economia com justiça social”, O Globo, 30/01/1990, in A. G. C., Cad. 6, pp.104-
5.
553
“Collor propõe novo diálogo Leste-Sul”,O Globo, 02/02/1990, in A. G. C., Cad. 6, pp.130-1-2.
554
“Collor, em Berlim, enfrenta protestos do PT e da CUT”, Jornal do Brasil, 04/02/1990, in A. G. C., Cad. 6,
pp.144-5.
555
“EUA receberão Collor com novas promessas de ajuda”, O Globo, 23/01/1990, in A. G. C., Cad. 6, p.62.
556
“Collor nos EUA: plano econômico trará bons resultados em 100 dias”, O Globo, 26/01/1990, in A. G. C.,
Cad. 6, p.68.
557
“Discurso de Collor apela à cooperação. Collor conquista platéia nos EUA”, de Teodomiro Braga, Jornal do
Brasil, 26/01/1990, in A. G. C., Cad. 6, p.75.
558
“Bush promete tratamento melhor à dívida do Brasil”, Jornal do Brasil, 27/01/1990, in A. G. C., Cad. 6, p.79.
559
“Collor encerra com sucesso visita aos Estados Unidos”, Jornal do Brasil, 28/01/1990, in A. G. C., Cad. 6,
pp. 85-6-7.
brasileira
560
e reivindicar paridade no comércio recíproco,
561
momento em que declarou que
“nossas relações devem deixar uma fase um pouco romântica e amadorística para entrar em
etapa mais profissional e pragmática”.
562
Collor de Mello aproveitou para ponderar que “no
momento em que o Brasil se abre para o exterior, exigimos que os países desenvolvidos
deixem seus mercados abertos para colocarmos nossos produtos”.
563
Apesar das críticas à
ecologia e à violência no Brasil, correntes na imprensa norte-americana,
564
o presidente Bush
declarou que “os Estados Unidos querem ser parte da solução e não dos problemas do
Brasil”.
565
Collor de Mello propôs a George Bush o fim das divergências comerciais
566
e,
também, insistiu que queria receber recompensa dos Estados Unidos e dos países do primeiro
mundo pelas reformas que instituía no Brasil, com muitos sacrifícios.
567
Também declarou, ao
ser entrevistado, que o Brasil não mais esperava “sentado” por ajuda
568
e, apesar de ter
retornado ao país desiludido,
569
considerava o presidente Bush um novo aliado do Brasil.
570
Na Argentina, Collor de Mello conversou com o presidente Carlos Menen sobre o
mercado comum em formação entre o Brasil e a Argentina.
571
Em uma posterior visita de
Carlos Menen ao Brasil, as conversações incluíram, além do Mercosul, um possível acordo
sobre controle nuclear,
572
um aspecto sensível nas relações entre os dois países e fonte de
apreensão no passado.
Chegando a Madrid para participar da Cúpula Ibero-Americana,
573
Collor de Mello
buscou o isolamento porque foi muito criticado nos jornais espanhóis: ”Salsa, riqueza e muita
corrupção”, dizia o título do Diário 16, para o qual Collor se agarrava com unhas e dentes ao
560
“Collor vai negociar pessoalmente nos EUA dívida brasileira”, O Globo, 16/06/1991, in A. G. C., Cad. 34,
p.11.
561
“EUA: Collor vai exigir comércio recíproco”, O Globo, 17/06/1991, in A. G. C., Cad. 34, p.13.
562
“Collor buscará negociação mais política com EUA”, Jornal do Brasil, 17/06/1991, in A. G. C., Cad. 34,
p.12.
563
“O Brasil exige reciprocidade”, entrevista com Fernando Collor de Mello, O Globo, 17/06/1991, in A. G. C.,
Cad. 34, pp. 14-5-6.
564
“EUA criticam ecologia e violência no Brasil”, Jornal do Brasil, 18/09/1991, in A. G. C., Cad. 34, p.22.
565
“Bush promete apoio a Collor na dívida”, O Globo, 19/06/1991, in A. G. C., Cad. 34, p.27.
566
“Collor propõe a Bush o fim das divergências comerciais”, Jornal do Brasil, 19/06/1991, in A. G. C., Cad.
34, p.32.
567
“Collor quer recompensa do primeiro mundo por suas reformas”, Jornal do Brasil, 20/06/1991, in A. G. C.,
Cad. 34, p.34.
568
“Brasil não espera mais sentado por ajuda”, entrevista com Fernando Collor de Mello, de José Meirelles
Passos e Roberto Stefanelli, O Globo, 20/06/1991, in A. G. C., Cad. 34, p.41.
569
“O país que Collor mostrou a Bush. Collor volta ao país sem ilusões”, de Manoel Francisco Brito, Jornal do
Brasil, 21/06/1991, in A. G. C., Cad. 34, p.43.
570
“Collor: Bush é novo aliado do Brasil”, O Globo, 22/06/1991, in A. G. C., Cad. 34, p.51.
571
“Collor aproveitará para assinar tratado com Menen e participar de reunião do Mercosul”, de Paulo Botero, O
Estado de São Paulo, 18/07/1991, in A. G. C., Cad. 34, p.55.
572
“Collor e Menen querem energia nuclear pacífica”, Hoje em Dia, Belo Horizonte, 19/07/1991, in A. G. C.,
Cad. 34, p.63.
573
“Collor chega à Madrid para a Cúpula Ibero-Americana”, de Rita Tavares, Jornal do Brasil, 22/07/1992, in
A. G. C., Cad. 34, p.140.
poder, na tentativa de evitar o pedido de impeachment que poderia resultar das acusações de
corrupção.
574
Devido ao momento difícil pelo qual passava, o presidente Collor de Mello cancelou
sua ida à ONU deixando de discursar na Assembléia, pela primeira vez, desde que assumiu a
presidência. O cancelamento da viagem também foi sugerido pelo titular do MRE, Celso
Lafer, que temia que ocorressem novas manifestações de protesto contra o presidente, por
parte de brasileiros que moravam em Nova York.
575
Dizia-se que estas viagens serviam para cumprir uma das promessas de campanha de
Collor de Mello que era inserir o Brasil no “primeiro mundo”. Para tal, suas propostas de
governo previam uma adequação do país ao Consenso de Washington, e, também, estavam
associadas às recentes transformações do cenário mundial: o neoliberalismo e a globalização.
Além disso, os excessos cometidos durante suas viagens, e noticiados pela imprensa, eram
creditados ao presidente jovem, rico, extravagante e, também, por que não dizer,
espalhafatoso, por alugar um avião a jato estrangeiro e por hospedar-se no hotel mais caro de
Paris.
Na época, o “primeiro mundo” estava associado ao ideal que a maior parte dos
brasileiros almejava como realidade para o país e para o povo, de conotação extremamente
positiva. No governo Collor, a referência a “primeiro mundo” indicava um lugar mítico e mal
definido, e foi um dos temas recorrentes de Fernando Collor.
3.7. O GOVERNO COLLOR E A ECOLOGIA
“A preservação do Meio Ambiente significa preservação da vida”.
576
Na agenda de modernização do país concebida pelo presidente Collor de Mello
figurava o tema ecologia, que naquela época se colocava entre as questões prioritárias dos
organismos internacionais, como a Organização das nações Unidas (ONU), que buscavam
solucionar o dilema de promover o desenvolvimento econômico sem destruir a natureza. O
tema ajustava-se perfeitamente à imagem do presidente “herói-salvador”, empenhado em
melhorar as condições sociais e econômicas do povo brasileiro, que assim se pronunciou
durante a campanha eleitoral.
574
“Collor se isola após chegada à Espanha”, de Rita Tavares, Jornal do Brasil, 24/07/1992, in A. G. C., Cad.
34, p.142.
575
“Collor cancela ida a Nova York para Assembléia da ONU”, O Globo, 10/09/1992, in A. G. C., Cad. 34,
p.156.
576
Martin Claret , op. cit. p. 96.
No Dia Nacional do Meio Ambiente, em 6 de junho de 1990, no Pantanal
Matogrossense, o presidente Collor de Mello lançou um Pacote Ecológico definindo os rumos
de sua política para o setor e criando novas reservas e áreas de proteção ambiental. Coerente
com o seu estilo de governar, o presidente divulgou sua política nacional para o meio
ambiente nesta data específica, e neste local privilegiado em termos de ecologia para,
provavelmente, potencializar mais uma de suas performances de presidente moderno,
preocupado com o meio ambiente.
Mais tarde, em julho de 1990, o Senado Federal aprovou o Programa Nacional de
Meio Ambiente que previa a criação de um sistema de unidades de conservação com o
objetivo de consolidar, implementar e criar parques, reservas e outras áreas de proteção
ambiental e, também, a promovia os meios para que a ciência e a tecnologia contribuíssem de
forma efetiva na solução dos problemas ambientais, priorizando projetos que requeriam ação
imediata.
Estas medidas provavelmente criaram um cenário favorável perante a comunidade
internacional, mais precisamente a ONU, para que o Brasil pleiteasse a II Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, por ela patrocinada, que viesse a se
realizar no Rio de Janeiro. Este evento constituiu-se em um privilegiado mecanismo para a
divulgação da imagem do presidente jovem, moderno arrojado empenhado em colocar o
Brasil junto aos países desenvolvidos.
577
Para a realização deste evento foram implementadas diversas medidas. Assim, em
abril de 1991, através de concurso realizado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, foi escolhido o
símbolo oficial da Conferência que mostrava o mar e o Pão de Açúcar no centro do globo
terrestre. Além disso, havia os custos para cobrir os gastos com a preparação e a realização do
evento que incluíam, também, as obras de infra-estrutura urbana e melhorias na imagem do
Rio de Janeiro. A Conferência teve lugar em Jacarepaguá, e foi um evento grandioso que
reuniu diversas autoridades representantes de países e convidados especiais, para tratar de
assuntos polêmicos ligados à ecologia
578
que envolvam interesses divergentes dos países ricos
e pobres.
579
577
O Globo 80 anos – Rio, 30/07/2005.
578
“Nova ordem ambiental à vista”, entrevista com Celso Lafer, de Luis Orlando Carneiro e Ricardo Miranda,
Jornal do Brasil, 31/05/1992, in A. G. C., Cad. 39, p.117.
579
“Collor sugere ‘bloco de pressão’ contra ricos”, e “Países amazônicos cobram apoio do Primeiro Mundo”, de
Eliane Catanhede, O Globo, 11/02/1992, in A. G. C., Cad. 38, p.7.
Sobre o tema, assim se pronunciou o presidente Collor de Mello, destacando a
importância que ele emprestava ao evento, na discussão de um novo modelo de
desenvolvimento integrado ao meio ambiente.
”Beneficiários de mais de um século de intenso desenvolvimento
industrial a custo ambiental altíssimo, os países industrializados atingiram um
patamar que lhes permite buscar, conforme suas prioridades, processos
alternativos de crescimento. Os países em desenvolvimento têm visão
diferente: é preciso identificar as causas, é preciso ir aos erros cometidos,
contribuindo para formulação de um novo modelo de desenvolvimento, não
limitando as iniciativas da Rio-92 àquelas destinadas a sanar o desperdício e
a ineficiência na produção, a reverter padrões de consumo suntuário e
abusivo”.
580
Anteriormente, ao evento que teve lugar no Rio de Janeiro, diversas reuniões
ocorreram em Nova York, para discutir os acordos que seriam assinados na Rio-92 e, numa
delas, entre representantes de grandes grupos de países, pela primeira vez, em quase dois anos
de negociações, os Estados Unidos reconheceram que os países em desenvolvimento
precisariam de recursos adicionais para cumprir os compromissos que seriam assinados na
Rio-92. A menção de recursos adicionais por parte dos americanos, no entanto, estava longe
de significar a proximidade de um acordo. Os americanos e japoneses resistiam em aceitar as
duas maiores exigências dos países pobres: que assumissem um compromisso para a liberação
contínua de recursos e que fosse criado um fundo internacional para recolher as doações, além
dos fundos existentes nos organismos multilaterais. Sem isso, o grupo dos 77, como eram
chamados os países em desenvolvimento, não aceitariam assumir compromissos para evitar a
degradação ambiental. O presidente Bush estava pessoalmente interessado num acordo para a
conservação de florestas, segundo o chefe da delegação americana, Curtis Bohlen o que
indicava que os Estados Unidos deveriam aumentar as pressões sobre o Brasil. Ainda,
segundo uma fonte da delegação, os Estados Unidos não estavam satisfeitos com a pressão
que o Brasil e outros países em desenvolvimento estavam fazendo para colocar na carta de
princípios, que seria assinada pelos chefes de estado na Rio-92, que a maior parte dos estragos
ambientais do mundo foi causada pelos países ricos, que, por isso, deveriam financiar sua
conservação”.
581
Em um dos documentos que seriam trazidos para a conferência da ONU, no Rio,
denominado a Carta da Terra, aparentemente, paises ricos e países pobres haviam chegado a
580
“Conferência Rio”, Jornal do Brasil, 22/03/1992, in A. G. C., Cad. 37, p.7.
581
“EUA reconhecem escassez de recursos”, de Deborah Berlink, O Globo, 26/03/1992, in A. G. C., Cad. 37,
p.8.
um consenso. Mas, um jornal do Rio de Janeiro apresentou um quadro das profundas
diferenças entre os países ricos e pobres sobre ecologia.
“Os países pobres conseguiram dar um tom desenvolvimentista à
carta ao assegurar em vários parágrafos o direito soberano dos países de se
desenvolver e de explorar seus próprios recursos. Países ricos, especialmente
os Estados Unidos, aceitavam esses conceitos, mas gostariam de ver escrito
no texto, em troca, algum tipo de mecanismo que garantisse um mínimo de
controle sobre a política nos países pobres. (...) Os dois princípios onde não
houve acordo eram justamente os que respondiam à questão fundamental nas
negociações: afinal, como devia ser dividida a responsabilidade pelos
estragos ambientais e quem iria pagar a conta? O Brasil e outros países
queriam deixar claro no texto que os países ricos, por serem os maiores
poluidores tinham a responsabilidade histórica pela degradação ambiental.
Outro ponto de controvérsia foi o parágrafo, sugerido pelos países
industrializados, que dizia que nas políticas de desenvolvimento os países
tinham que levar em consideração políticas populacionais”.
582
Entretanto, as divergências entre países pobres e ricos acabaram por eliminar a Carta
da Terra da Rio-92.
583
Diversos chefes de Estado confirmaram presença na Rio-92, sendo que a maioria foi
de paises da América do Sul e Central, mas vieram também chefes de Estado importantes.
584
Durante a Rio-92, o presidente Collor de Mello teve que se dividir entre a Presidência da
República e a Conferência da ONU. Para auxiliá-lo a ONU nomeou 39 vice-presidentes, que
assumiram, alternadamente, a liderança do evento, permitindo que o presidente continuasse a
governar o país sem atropelos, ao mesmo tempo, que a iniciativa da ONU visava estabelecer
uma representação mais eqüitativa e equilibrada de interesses em conflito no Rio Centro.
585
Apesar da disposição para o diálogo de alguns representantes,
586
muitos delegados
chegaram de má vontade, criticando a inconveniência do evento, capitaneados pelo Presidente
Bush, dos Estados Unidos.
587
Bush temia que a Rio-92 prejudicasse os Estados Unidos
588
e só
concordou em participar do evento após solicitar que outros países deixassem de insistir na
adoção de um tratado que impusesse drásticas restrições às emissões de dióxido de carbono,
582
“Consenso entre países sobre a Carta da Terra”, de Deborah Berlink, O Globo, 03/04/1992, in A. G. C., Cad.
37, p.9.
583
“Rio-92 deve ficar sem a Carta da Terra”, de Deborah Berlink, O Globo, 04/04/1992, in A. G. C., Cad. 37,
p.103.
584
“Confirmada presença de 60 chefes de Estado”, O Globo, 03/04/1992, in A G. C., Cad. 37, p.9
585
“Rio-92. Collor presidirá a Conferência com 39 vices”, O Globo, 21/05/1992, in A. G. C., Cad. 37, p.11.
586
“Europa tenta tirar EUA do isolamento”, Jornal do Brasil, 07/06/1992, in A. G. C., Cad. 39, p.70.
587
“Brasil se ‘desaponta’ com EUA”, de Teodomiro Braga e Ronaldo Brasiliense, Jornal do Brasil, 02/06/1992,
in A. G. C., Cad. 38, p.29.
588
“Bush teme que Rio-92 prejudique americano”, de José Meirelles Passos, O Globo, 02/05/1992, in A. G. C.,
Cad. 37, p.110.
gás que produz o efeito estufa.
589
Também, o representante da Comunidade Européia resolveu
não participar da Rio-92.
590
Para marcar a importância do evento, o presidente Collor de Mello lançou um novo
pacote ambiental que compreendia a criação de cinco reservas extrativistas e cinco áreas de
preservação ambiental, incluindo a de Petrópolis.
591
Infelizmente, os prognósticos negativos e
as divergências sobre os tratados a serem assinados predominaram durante toda a
conferência.
592
Mas, o presidente Collor soube contornar todos as dificuldades diplomáticas e
deu o exemplo, assinando todos os tratados propostos. Foi o primeiro a assinar a Convenção
do Clima
593
e, assinou o mais controvertido dos convênios – o Tratado da Biodiversidade.
594
Durante a Conferência, o Rio Centro foi considerado território da ONU, pelo
presidente Collor de Mello, e o tema do evento foi inspiração para uma profusão de símbolos
e monumentos de concreto e, também, de granito, incluindo árvores artesanais e, buscando
eternizar a importância deste encontro sobre o meio ambiente foram cunhadas uma série de
moedas de ouro. Entrementes, durante o evento ocorreram protestos em diversos pontos da
cidade.
595
Um dos monumentos tinha forma de uma ampulheta gigante com um módulo de vidro
onde foram colocadas camadas de terra vindas de todos os países do mundo. Na parte inferior
da ampulheta foi inscrita a palavra “paz” em quarenta idiomas. Este monumento foi
considerado como o símbolo da corrida contra o tempo para que fossem alcançadas a união e
a paz entre os homens.
596
Outro monumento consistia em uma gigantesca construção em aço e
madeira, com 10 metros e altura e 3000 folhas de cobre, denominada a Árvore da Vida, onde
foram penduradas folhas recortadas em papel, com promessas e pedidos de pessoas de
centenas de países que queriam um mundo melhor, do ponto de vista ecológico e social.
597
Foram, também, cunhadas 50 mil moedas comemorativas da Conferência cujo preço englobou
589
“Bush impõe condições para vir à Rio-92”, O Globo, 29/03/1992, in A. G. C., Cad. 37, p.101.
590
“Representante da CE diz que vai boicotar conferência arranjada. Carlos Ripa di Meana decide não participar
dos ‘acordos muito fracos’ que serão assinados no Rio”, de João Batista Magalhães, Folha de São Paulo, e
“Comissário da CE cancela viagem ao Rio”, de Mônica Yana Kiew, O Globo, 28/05/1992, in A. G. C., Cad. 37,
pp. 110-1.
591
“Governo lança novo pacote ambiental. Collor assina a criação de 5 reservas extrativistas e 5 áreas de
preservação ambiental, incluindo a de Petrópolis”, Jornal do Brasil, 21/05/1992, in A. G. C., Cad. 37, p.129.
592
“Divergências entre Norte e Sul marcam o início da Rio-92”, O Globo, 03/06/1992, in A. G. C., Cad. 37,
p.114.
593
“Collor: primeiro a assinar Convenção do Clima”, O Globo, 05/06/1992, in A. G. C., Cad. 37, p.147.
594
“Collor assina o mais controvertido Tratado”, Tribuna da Imprensa, 06-07/06/1992, in A. G. C., Cad. 37,
p.151.
595
“ONGs levam seu protesto ao Rio Centro”, O Globo, 10/06/1992, in A. G. C., Cad. 39, p.33.
596
“Monumento à Paz está quase pronto”, Jornal do Brasil, 04/06/1992, in A. G. C., Cad. 37, p.16.
597
“A árvore das promessas. Símbolo da campanha pela salvação do planeta vira ‘point’ no Fórum Global”,
Jornal do Brasil, 12/06/1992, in A. G. C., Cad. 37, p.19.
o valor numismático e o estojo e possibilitou uma arrecadação de, aproximadamente, 100
milhões de cruzeiros.
598
Paralelo à Conferência, teve lugar o Fórum Global que foi um conjunto de
conferências e eventos, realizados no Parque do Flamengo e, destinado a todos que não
tiveram acesso à Conferência, como ecologistas do mundo inteiro e, personalidades místicas e
religiosas que compareceram em profusão.
Sobre a Rio-92 o Organizador do “Arquivo Governo Collor “ comentou.
“A Conferência ECO-Rio/92 não foi um fracasso, mas também não
foi um sucesso internacional. Tratou de assuntos polêmicos e que envolvem
interesses econômicos e de divergentes países ricos e pobres, todos querendo
vantagens de uns sobre os outros. A Conferência teve símbolos e
monumentos: monumentos de concreto ou granito, árvores artesanais, e até
moeda de ouro. Tudo em homenagem do nada, pois nada foi resolvido no
espaço e no tempo”.
599
Os resultados da Conferência foram modestas, não houve resultados práticos e
imediatos, mas apenas a assinatura de um tratado de boa intenção futura.
600
Entretanto, as
performances de Collor de Mello por ocasião da Rio-92 mereceu o seguinte comentário:
“Surgiu na Rio-92 um país talhado para a construção dessas pontes: o Brasil, ali personificado
pelo presidente Fernando Collor”.
601
3.8. O GOVERNO COLLOR E OS “MARAJÁS”
O nome “marajá”, aplicado aos altos funcionários públicos brasileiros, surgiu no Rio
de Janeiro no começo dos anos 50, época em que muito se noticiou sobre a independência da
Índia, quando os ricos príncipes provincianos tiveram suas riquezas respeitadas pelo novo
estado, em troca de terem perdido o poder de governar suas províncias, como faziam durante
a dominação britânica. Parece ter surgido durante o governo interino de José Linhares,
ministro do Supremo que substituiu Vargas, deposto em 1945. Consta ter Linhares nomeado
todos os parentes e uma enorme quantidade de figuras nordestinas. Nos anos 50 o termo se
generalizara em revistas e sátiras musicais. É o caso de “Maria Candelária”.
602
598
“Moeda de 2 mil vale 75 mil. A inflação agora chegou ao Rio Centro”, O Globo, 06/06/1992, in A. G. C.,
Cad. 37, p.17.
599
Comentário do Organizador do Arquivo Governo Collor, in A.G.C., Cad. 1, p.79.
600
“Em dois anos de governo Collor o país não executou nenhum projeto ligado à preservação ambiental com
ajuda dos órgãos internacionais”, e “Brasil não consegue obter dinheiro fora”, de Ronaldo Brasiliense, e “Brasil
receberá US$ 4,6 bilhões, diz Collor”, Jornal do Brasil, 31/05/1992 e 16/06/1992, in A. G. C., Cad. 38 e 39, pp.
20 e 140.
601
“Brasil 92”, O Globo, 16/06/1992, in A. G. C., Cad. 39, p.139.
602
Arquivo do Professor Orlando de Barros.
A “caça aos marajás” teve início quando Fernando Collor era governador do estado de
Alagoas. Nesta época, Collor optou por iniciar o saneamento moral e financeiro da
administração pública de Alagoas, pelo combate ao servidor público que agregasse ao seu
salário-base vantagens ilegais, porque segundo Collor eram inconstitucionais, com a
finalidade de formar ao final do mês um salário muito superior ao salário-base. Para Collor,
este servidor público era um “marajá”.
603
A imprensa deu amplo destaque às providências de Collor de Mello para enfrentar este
problema do desajuste funcional e salarial do funcionalismo público. Ao lado do corte nos
salários dos “marajás” o conjunto das primeiras medidas tomadas por Collor nesse sentido
incluiu a obrigatoriedade de assinatura do cartão de ponto, o fim das aposentadorias precoces
e das aposentadorias dos ex-governadores, a partir da sua gestão uma vez que o próprio Collor
renunciou a esse direito. Collor anulou as contratações irregulares feitas pelo seu antecessor
exatamente no período eleitoral, o que era proibido por lei. Completando essa primeira
medida administrativa, Collor mandou fechar os escritórios de representação de Alagoas em
três estados e na capital federal que, segundo ele, não passavam de “cabides de emprego”.
604
As medidas tomadas por Collor rendiam manchetes de jornal em todo o país. As
televisões deslocaram equipes até Maceió para mostrar imagens incríveis: funcionários
fazendo fila, aguardando a vez de bater o ponto como determinara o governador, e que não
sabiam como fazer isso, não sabiam qual era seu cargo, não conheciam seu chefe e por último
não tinham sequer lugar para sentar na repartição. Em Alagoas, o empreguismo, uma doença
antiga da administração pública brasileira, adquiriu deformações tão grandes que não
poderiam deixar de sensibilizar a opinião pública nacional. Em função disso, Collor foi
aplaudido em editoriais de jornais e em comentários de rádio e televisão.
605
A “caça aos
marajás” foi um dos principais eixos da campanha eleitoral de Fernando Collor para a
presidência da República.
Mais adiante, o ministro Magri, originário dos quadros sindicais, da pasta do Trabalho,
logo após ser indicado para o cargo pelo presidente eleito, manifestou-se favorável à demissão
do servidor que não trabalha, ou seja, aquele que apenas assina o ponto no seu local de
trabalho.
606
Meses mais tarde, com o governo em funcionamento, Collor de Mello mandou
demitir 354 mil funcionários públicos,
607
pondo em prática a sua promessa de lutar contra os
603
Martim Claret, op. cit. p.51.
604
Martim Claret, op. cit. p.28.
605
Idem.
606
“Magri demitirá servidor que não trabalha”, O Globo, 18/02/1990, in A.G.C., Cad. 11, p.21.
607
“Collor manda cortar 354 mil funcionários públicos”, Jornal do Brasil, 10/05/1990, in A.G.C., Cad. 25, p.84.
“marajás”. Prosseguindo com seu repertório de medidas drásticas, o governo Collor reduziu o
salário dos servidores e colocou em disponibilidade mais de dez mil funcionário públicos.
608
Tal era a proposta de Fernando Collor, amplamente divulgada pela imprensa que pouco antes
se sua posse lembrou ao presidente que o Brasil era um país de “marajás”.
609
Entretanto, os problemas não tardaram a aparecer. Como no Ministério da Justiça que
demitiu, indenizou e recontratou os servidores
610
e, também, quanto à previsão dos gastos
com as demissões que estavam ultrapassando as previsões.
611
As dificuldades enfrentadas
pelo governo, muito em função do açodamento na implementação das medidas, foram de tal
ordem que ele se propôs a estudar a readmissão dos servidores chegando, inclusive, a incluir
na proposta servidores que ainda não tinham sido demitidos.
612
Os servidores ociosos
custavam ao governo a expressiva quantia de 32 milhões de cruzeiros.
613
Assim, a reforma
administrativa implementada pelo governo acumulava prejuízos e, também, paralisava os
serviços essenciais.
614
Este caso bem retrata as incoerências do governo Collor de Mello, o
presidente performático que muitas vezes atrapalhou-se com a sua própria performance.
Além dos funcionários públicos, o governo Collor tratou, também, como “marajás” os
aposentados da Previdência Social. Uma de suas medidas mais contundentes, e que gerou
inúmeros protestos, foi a desvinculação dos benefícios da previdência ao salário mínimo.
615
Também, com relação aos proventos de alguns aposentados tidos como “marajás”, o governo
Collor, precipitadamente, mandou suspender seus pagamentos
616
apenas para descobrir, mais
adiante, que estes “marajás” eram poucos e legais.
617
CAPÍTULO 4
608
“Governo reduz salário e põe 10.708 em disponibilidade”, Jornal do Brasil, 17/06/1990, in A.G.C., Cad. 25,
p.98.
609
“Collor herdará um paraíso de marajás”, O Globo, 11/03/1990, in A.G.C., Cad. 28, p.99.
610
“Ministério da Justiça demite, indeniza e recontrata servidores”, de Coeli Mendes, O Globo, 12/04/1990, in
A.G.C., Cad. 25, p.25.
611
“Demissões vão custar o dobro do previsto”, O Globo, 22/05/1990, in A.G.C., Cad. 25, p.88.
612
“Governo estuda readmissão dos que ainda não demitiu”, O Globo, 14/06/1990, in A.G.C., Cad. 25, p.127.
613
“Servidores ociosos custam 32 milhões. Reforma administrativa do governo acumula prejuízos e paralisa
serviços essenciais”, O Globo, 16/12/1990, in A.G.C., Cad. 25, p.102.
614
Idem.
615
“Zélia afasta de vez vinculação dos benefícios da previdência ao salário mínimo”, O Globo, 24/11/1990, in
A.G.C., Cad. 28, p.28.
616
“Collor suspende pagamento dos marajás da previdência”, O Globo, 23/03/1991, in A.G.C., Cad. 28, p.112.
617
“Governo descobre que marajás da previdência são poucos e legais”, O Globo, 04/04/1991, in A.G.C., Cad.
28, p.124
A DERROCADA: DA REPRESENTAÇÃO DESBARATADA ÀS NOVAS
PERSPECTIVAS SIMBÓLICAS QUE SE ABRIRAM
4.1. O IMPEACHMENT: A ANTI-PERFORMANCE DO PRESIDENTE
PERFORMÁTICO
“Não me deixem só”.
618
Este apelo marcou as falas de Fernando Collor durante o
período de crise no seu governo que culminou no impeachment.
Apesar do fracasso dos dois planos econômicos no combate à inflação, a derrocada de
Collor de Mello teve início somente com os desentendimentos entre o irmão caçula do
presidente, Pedro Collor de Mello, com o empresário Paulo César Farias, que começaram em
setembro de 1991, quando Farias anunciou o lançamento do jornal Tribuna de Alagoas para
concorrer com a Gazeta de Alagoas, da família Collor. Pedro dirigia a Gazeta e reagiu: “Vou
defender o patrimônio da família com as armas que disponho”, disse ao irmão de Paulo César
Farias, o deputado federal Augusto Farias, do PSC. Na mesma semana, ele encaminhou
requerimento ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) pedindo o registro da
marca Tribuna de Alagoas, com 26 combinações diferentes.
619
Entretanto, o que mais irritou Pedro Collor foi a suspeita de conivência do irmão
Fernando Collor com os planos de Farias ao concorrer com as Organizações Arnon de Mello,
que possuía ainda uma gráfica, uma emissora de televisão coligada à Globo e quatro
emissoras de rádio, em Alagoas. Até então, embora mantivesse um relacionamento pouco
amistoso com Fernando Collor, não se entendiam desde crianças, garantiam familiares e
amigos, Pedro Collor jamais o atacara. Em dezembro de 1991, quando Collor visitava a
Europa, Pedro fez a primeira declaração pública contra Paulo César Farias. Ele desafiou o
empresário, que tinha sido o caixa da campanha presidencial do irmão, a explicar como
operara, em menos de 24 meses, o milagre da multiplicação dos cruzeiros. “A vida milionária
que ele leva é um escárnio à miséria do povo brasileiro”, disse, anunciando que dispunha de
um dossiê contra “o careca”, como se referia ao empresário. Pedro Collor ameaçava
618
Martin Claret , “Pensamentos de Collor”, in O Fenômeno Collor, São Paulo, Martin Claret, 1989, p. 97.
619
Jornal de Alagoas foi o estopim das denúncias”, in Diário do Passado, Agência Estado.Aedata, 29/09/1992.
apresentar provas de que Farias “enriquecera extorquindo empresários de Alagoas”. Assim,
Paulo César teve que desistir, temporariamente, de editar o jornal no estado.
620
O conflito entre o presidente da República, seu irmão e o coordenador da campanha
presidencial supostamente teve origem quando Paulo César Farias e seus irmãos envolveram-
se num problema que se revelou extremamente desastroso para os três e para o governo.
Collor de Mello havia incentivado Paulo César Farias a entrar no mercado de comunicações
de Alagoas, dominado por sua própria família. Em resposta, o irmão do presidente, Pedro,
administrador do grupo de comunicações da família do presidente, entrou em conflito direto
com Paulo César Farias e seus irmãos. O secretário particular de Fernando Collor, Cláudio
Vieira, participou das negociações para a aquisição da Tribuna de Alagoas, o jornal com que
Paulo César Farias concorreria com a Gazeta de Alagoas, da Organização Arnon de Mello.
621
O investimento de quatro milhões de dólares, seria, segundo Pedro Collor, incompatível com
os rendimentos oficiais dos concorrentes. Esse episódio abriu uma crise na família Collor de
Mello e contrapôs visceralmente os irmãos Fernando e Pedro.
622
Em abril de 1992, Pedro Collor entregou o primeiro dossiê a depositários de
confiança, contendo três fitas cassete, nas quais estavam relatadas operações financeiras
irregulares promovidas por Paulo César Farias. Em função disso, a Receita Federal
intensificou a devassa nas declarações de renda de Farias. A conseqüência imediata desse fato
na economia do país foi a alta do dólar e queda na Bolsa de Valores. Depois de várias
tentativas de silenciar o filho, cujas denúncias começavam a atingir o presidente da República,
Leda Collor de Mello decidiu afastar Pedro Collor da direção geral das empresas da família
em Alagoas. Em carta divulgada no dia 20 de maio, ela alegou que o filho estava sob intensa
crise emocional. Pedro Collor divulgara uma gravação em fita cassete na qual vinculou
Fernando Collor a Paulo César Farias e revelou detalhes do relacionamento entre os dois.
623
Ao amplificar o que parte da imprensa noticiava desde o ano anterior e adicionar
carga emocional à denúncia feita no próprio seio da família, Pedro Collor deflagrava a crise
que poria termo ao governo. Foi um episódio marcado por intensas desavenças familiares,
cujos contornos fizeram brotar fissuras nos círculos pessoais do presidente e terminaram por
extrapolar os domínios domésticos e expor à nação atarantada, um espetáculo sórdido de
corrupção e mandonismo que se referiam às ligações diretas entre as ações do coordenador da
620
Jornal de Alagoas foi o estopim das denúncias”, op.cit..
621
“Pedro poupa Collor e envolve Cláudio Vieira”, Jornal do Brasil, 05/06/1992, in A. G. C., Cad. 75, p.60.
622
Jornal de Alagoas foi o estopim das denúncias”, op. cit.
623
Idem.
campanha eleitoral Paulo César Farias
e o próprio Presidente.
624
As denúncias foram feitas
através de entrevistas concedidas à Revista Veja, a primeira em 5 de maio de 1992 e, mais
tarde, repetidas nas emissoras de televisão de todo o país.
625
Em 19 de maio de 1992, Pedro Collor foi destituído da direção do grupo Arnon de
Mello por sua mãe, dona Leda Collor de Mello, sob acusação de desequilíbrio emocional. Ele
entregaria ao Procurador-Geral da República, Aristides Junqueira, nos dias que se seguiram,
cinco fitas cassete de vinte minutos cada, consolidando o vasto rol de denúncias contra o
presidente e contra Paulo César Farias. Nessas fitas, Pedro Collor afirmava que, atuando em
órgãos do governo, Paulo César Farias “roubava, extorquia e corrompia, tendo como suporte
sua amizade com o presidente”.
626
No dia 23 de maio, Pedro disse à Revista Veja que Paulo César Farias e Fernando
Collor eram sócios. No dia seguinte, o presidente pediu abertura de processo contra o irmão
por ofensa à sua honra. Ao mesmo tempo, a Polícia Federal iniciou a apuração das denúncias
contra Paulo César e, no final de maio, abriu inquérito, a pedido do Procurador-Geral, para
apurar as denúncias de Pedro. Aristides Junqueira baseou seu pedido na transcrição das fitas
cassete apresentadas, e na entrevista de Pedro Collor publicada na revista Veja. Na noite de 26
de maio, o Congresso Nacional decidiu instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
mista, integrada por deputados e senadores, para apurar as denúncias de Pedro Collor.
627
Durante o dia, Fernando Collor havia se apresentado duas vezes, em rede nacional de rádio e
televisão, para desculpar-se à nação pela crise familiar e repudiar como falsas as denúncias do
irmão.
628
Dois dias depois, laudo emitido por uma junta médica atestava a sanidade mental de
Pedro Collor, e contestava as alegações feitas anteriormente por sua própria família.
629
Em depoimento na Polícia Federal, em São Paulo, Pedro Collor negou ter provas
contra Paulo César Farias e procurou isentar o irmão.
630
O mês de junho começou com
acusações contra Pedro Collor, por ter praticado tráfico de influências para intermediar a
624
“Pedro Collor depõe e ataca PCFarias”, O Globo, 29/05/1992, in A. G. C., Cad. 74, p.18. “Pedro entrega lista
dos homens de ouro de PC. Esquema PC possui 12 testas de ferro. Dossiê de Pedro Collor entregue à Polícia
Federal contém organograma do governo paralelo”, O Globo, 30/05/1992, in A. G. C., Cad. 75, p.58. “Collor
pede desculpas à nação pelo irmão”, O Globo, 27/05/1992, in A. G. C., Cad. 74, p.43.
625
“Collor dissolve o governo. Irritado com denúncias diárias de corrupção, presidente inicia reforma ampla no
ministério”, O Globo, 31/03/1992, in A. G. C., Cad. 80, p.79. “TV mostrará Pedro Collor na CPI”, Jornal do
Brasil, 04/06/1992, in A. G. C., Cad. 81, p.43.
626
“Pedro Collor depõe e ataca PCFarias”, op. cit. p.18.
627
“Fazer ou não fazer uma CPI para valer, eis a questão”, Tribuna da Imprensa, 28/05/1992, in A. G. C., Cad.
74, p. 11.
628
“Collor pede desculpas à nação pelo irmão”, op. cit.
629
Jornal de Alagoas foi o estopim das denúncias”, op. cit.
630
“Pedro Collor está blefando e deslumbrado com a notoriedade”, Tribuna da Imprensa, 28/05/1992, in A. G.
C., Cad. 81, p.37.
venda de petróleo à Petrobrás. As investigações da CPI prosseguiam, mas era a imprensa que
revelava indícios das ligações de Fernando Collor com Paulo César Farias. A revista Isto É
que circulou na última semana de junho descreveu a ligação direta da Brasil Jet com o
presidente. A situação se agravou quando o ex-motorista de Ana Acioli confirmou que Paulo
César Farias pagava as contas da casa presidencial, e transferia dinheiro para parentes de
Fernando Collor em Alagoas. O Congresso Nacional decidiu, então, suspender o recesso de
julho para não paralisar a CPI e a imprensa começou a pedir a renúncia de Fernando Collor.
631
Algumas vozes se levantaram para desqualificar as denúncias feitas por Pedro Collor,
e os familiares e amigos do presidente tentaram, sem sucesso, acalmar o irmão do presidente,
enquanto as denúncias
se sucediam com mais ferocidade a cada nova entrevista.
632
A CPI
ainda não fora formada no Congresso mas, na prática, estava nos jornais.
633
A cada dia
novas acusações eram publicadas, ampliando o impacto sobre a opinião blica.
634
Provas
concretas contra o presidente, realmente não apareceram, e, nem mesmo Paulo César Farias
fez qualquer acusação contra ele, e sobre o alegado envolvimento do presidente da República
com os seus muitos e suspeitos negócios, que estavam então sendo esmiuçados pela Polícia
Federal e, também, pela Receita Federal.
635
Enquanto isso, os políticos, principalmente os deputados federais, aprofundaram as
investigações e descobriram muitas ligações entre os dois acusados. O ex-líder do governo,
Renan Calheiros, afirmou em seu depoimento à CPI, que em três oportunidades avisara o
presidente Collor de Mello sobre Paulo César Farias.
636
Além disso, ele testemunhou que
alguns alagoanos que participaram do governo haviam acumulado fortuna de forma
considerável após a eleição presidencial, além do próprio Paulo César Farias, o mais
enriquecido de todos. Renan Calheiros destacou, ainda, o enriquecimento de Cláudio Vieira e
do porta-voz Cláudio Humberto. Finalizando seu depoimento, comparou Fernando Collor a
631
Jornal de Alagoas foi o estopim das denúncias”, op.cit.
632
“Pedro Collor está blefando e deslumbrado com a notoriedade”, op. cit. p.37. “Pedro poupa Collor e envolve
Cláudio Vieira”, op. cit. p.60. “CPI vai investigar Pedro Collor”, O Globo, 08/06/1992, in A. G. C., Cad. 75,
p.66.
633
“Congresso assustado: CPI pode consagrar Collor. Comissão pouco representativa, a exclusão do presidente
das acusações e a convocação de poucos depoentes ameaçam o resultado das investigações”, Tribuna da
Imprensa, 29/05/1992, in A. G. C., Cad. 75, p. 19.
634
“Ibsen já admite CPI sobre PCFarias”, O Globo, 19/05/1992, in A. G. C., Cad. 74, p.8. “CPI começa a apurar
hoje denúncias contra PCFarias”, O Globo, 01/06/1992, in A. G. C., Cad. 74, p.28. “PC se compromete ao depor
na CPI. PC depõe e reforça suspeitas da CPI”, O Globo, 10/06/1992, in A. G. C., Cad. 74, pp.34-7.
635
“Pedro entrega lista dos homens de ouro de PC. Esquema PC possui 12 testas de ferro. Dossiê de Pedro
Collor entregue à Polícia Federal contém organograma do governo paralelo”, op. cit. p. 58. “PC garante que não
precisa de Collor”, Jornal do Brasil, 12/06/1992, in A. G. C., Cad. 74, p.38.
636
“Renan vai ter que explicar governo paralelo de PC”, O Globo, 28/05/1992, in A. G. C., Cad. 74, p. 13.
Nero e Calígula.
637
Ao comparar o presidente aos antigos imperadores romanos de trágica
trajetória política, o antigo aliado político mostrou a sua preocupação em desvincular-se de
Collor que, a esta altura, tinha uma imagem bastante desgastada.
O processo judicial avolumou-se, também devido à contribuição da mídia,
principalmente a do Rio de Janeiro e de São Paulo, permitindo que a sociedade tomasse
melhor conhecimento do assunto. Em decorrência, a opinião pública pôs-se firmemente
contrária ao presidente, principalmente os jovens, tendo estes se organizado em movimentos
de protesto, os “caras-pintadas”, fazendo reviver em concorridas passeatas as demonstrações
de massa contrárias ao regime militar no passado recente, conhecido como “Diretas já”.
638
O presidente se defendeu como pôde. Explicou, tentou provar seu alheamento dos
negócios, que supostamente estavam ligados à corrupção de Paulo César Farias, mas as
evidências contra ele eram muito fortes. Alguns fatos eram muito comprometedores como a
mesada de 20 mil dólares, recebida por Rosane Collor, a primeira dama. Outros fatos vindos a
público complicavam o caso, como as “trapalhadas” de Cláudio Vieira, e as provas vindas dos
doleiros uruguaios; os depósitos bancários em nome da primeira dama; a movimentação de
contas com nomes semelhantes, da secretária particular do presidente Collor de Mello, perto
de 10 milhões de cruzeiros; o uso indevido das sobras de dinheiro da campanha eleitoral,
sobras estas não devolvidas ao partido, como deveriam ter sido.
639
Nesta época, quando
surgiram as primeiras denúncias, Fernando Collor de Mello estava em aberto conflito com
todas as classes sociais, especialmente com a classe média e, também, com as elites que, nesta
altura, tinham todo o interesse em não favorecê-lo ou ajudá-lo. Comentando esse momento
crítico do governo o Organizador do “Arquivo Governo Collor”, fonte principal da presente
tese, assim se manifestou, em comentário manuscrito à margem.
“Pois daqui para frente os políticos e a imprensa tudo fizeram para
prejudicar, impedir de funcionar, e desmoralizar não o governo como um
todo, mas particularmente o senhor presidente Collor. Foi uma batalha
terrível, um jogo duro e sujo, semelhante aos anteriores, que acabaram
derrubando os governos Vargas, Jânio Quadros e Jango Goulart. Os motivos?
Sempre os mesmos: interesses contrariados, ambições prejudicadas, a idéia
fixa de que em se mudando o mandatário máximo a máquina administrativa
se conserta, se lubrifica, e volta a funcionar a contento de todos. Puro engano,
lamentável engano”.
640
637
“Renan: esquema PC tinha alto comando”, O Globo, 26/06/1992, in A. G. C., Cad. 74, p.79.
638
“Está faltando povo na crise política”, de Etevaldo Dias, Jornal do Brasil, 01/08/1992, in A. G. C., Cad. 81,
p.124.
639
“Secretária de Collor recebia de PC”, Jornal do Brasil, 28/06/1992, in A. G. C., Cad. 75, p.28.
640
Comentários do Organizador do Arquivo Governo Collor, in A.G.C., Cad. 1, p.168.
Este comentário do Organizador do “Arquivo Governo Collor” é particularmente
interessante, uma vez que naquela altura, o governo Collor encontrava-se bastante desgastado,
não só pelo não cumprimento de suas promessas de campanha, como também pelas denúncias
de corrupção. Ainda assim, na declaração do Organizador do “Arquivo Governo Collor”
vislumbramos posição favorável ao presidente Collor, quem considerava uma tima de uma
trama. A posição de vítima foi amplamente utilizada pelo presidente, durante o processo de
impeachment e, com certeza, muitos brasileiros acreditaram que ele fora realmente vítima de
uma bem urdida trama.
Em julho de 1992, a pressão sobre o governo Collor de Mello aumentou de forma
substancial, principalmente contra a pessoa do presidente. A idéia do impeachment foi
rapidamente se cristalizando, quer entre os políticos, quer no meio empresarial, da mesma
forma que nos sindicatos, e na sociedade em geral. A mídia conseguiu mobilizar os meios
estudantis e o povo em geral. Nesta época, a política monetária executada pelo ministro
Marcílio Marques Moreira dava sinais de que era insuficiente para combater a inflação, e o
governo não dispunha de muitas alternativas capazes disso. Havia a expectativa de que, nos
próximos dois meses, ela continuasse na faixa dos 20% ao mês em virtude da forte recessão
mais, a estratégia de juros altos não poderia ser mantida por muito tempo, sob risco de
aumentar ainda mais os índices de preços, por conta do crescimento da dívida e do déficit
público.
641
Buscando, mais uma vez, mostrar aos brasileiros que ele estava empenhado em
cumprir suas promessas de modernização do país, o presidente Collor convocou, em 16 de
julho de 1992, em rede nacional de rádio e televisão, a sociedade a pressionar deputados e
senadores para aprovarem o projeto de ajuste fiscal do governo encaminhado ao Congresso.
642
Enquanto isso, as pressões se faziam em todos os sentidos e direções, particularmente
sobre os governadores, políticos, juízes e procuradores. Poucos se dispunham a defender o
presidente, apesar do Ministério Público ter declarado não ter provas suficientes para solicitar
o impeachment.
643
E, enquanto os deputados se mobilizavam para a abertura do processo, o
presidente Collor, em desespero, saia em busca de aliados, de amigos e inimigos, distribuindo
641
“Opções são poucas”, Jornal do Brasil, 04/06/1992, in A.G.C., Cad. 68, p. 92.
642
“Collor faz apelo ao empresariado“, Jornal do Brasil, 16/07/1992, in A.G.C., Cad. 68, p. 112. “Collor apela à
sociedade para que pressione pela aprovação do ajuste“, O Globo, 17/07/1992, in A. G. C., Cad. 68, p.115.
“Collor pede apoio popular à reforma”, Tribuna da Imprensa, 17/07/1992, in A. G. C., Cad. 68, p.116.
643
“Apoio o governo até onde for possível”, entrevista / ACM, O Globo, 16/08/1992, in A. G. C., Cad. 86, p.54.
“Congresso discute prorrogação dos trabalhos da CPI do PC. Governo não acredita em “impeachment” e
oposição tem medo das conseqüências. Ibsen revela que nada contra Collor”, Tribuna da Imprensa, 20-
21/06/1992, in A. G. C., Cad. 74, p.44.
cargos e prometendo verbas, comprando votos a favor de sua permanência no cargo. Até o
desfecho final, o presidente não acreditou que fosse perder o mandato.
644
Procurando não se deixar abater, Collor de Mello prosseguiu reagindo. Baseado em
seu carisma e popularidade dos tempos da campanha eleitoral, o presidente, fiel ao seu estilo
“bateu-levou”, desafiou os opositores. O presidente, em virtude do desenrolar das
investigações, foi aconselhado a renunciar, antes que a Câmara se decidisse pelo
impeachment. Não aceitou o conselho dos amigos e, pelos meios de comunicação, exortou a
sociedade a demonstrar apoio a seu governo, apelou aos aliados para que fizessem
demonstrações públicas contra o que chamou de “golpe branco”, empunhando bandeiras
verde-amarelas. O desejo de sua permanência no poder apelava, pois, para esse recurso
igualmente performático, em favor da continuação de seu governo e, ainda, pela continuação
do apoio às suas propostas de modernização da economia e da sociedade em prol das reformas
do Estado. Mas Collor, apesar de tentar permanecer no cargo, não pôde evitar o que, naquela
altura, era incontornável. Em vez de ter aliados nas ruas, como pretendia, teve contra si os
“caras-pintadas”.
Como as indagações levantadas ao longo do inquérito permaneciam sem resposta, a
CPI preparou-se para lançar um relatório supostamente devastador sobre a corrupção.
Lutando por sua sobrevivência política, Fernando Collor cometeu um erro catastrófico. Já
impopular, e tido como culpado das crescentes dificuldades na economia e da virtual paralisia
administrativa do país que motivava queixas infindas, e ainda mais acusado de corrupção,
Collor desafiou seus detratores para um duelo de apoio público. Em 13 de agosto o presidente
convocou os brasileiros a usar as cores verde amarelo da bandeira nacional, para demonstrar
nas ruas o apoio a seu governo. O domingo seguinte, dia 16 de agosto, ficou conhecido como
o “dia nacional de luto”. Com o resultado, contrariando o presidente, milhares de
manifestantes desfilaram espontaneamente pelas ruas vestidos de preto. Manifestantes contra
Collor de Mello espalharam-se rapidamente pelo país. Assim, Collor não demorou a perder o
apoio não só do Congresso como da sociedade.
645
É importante ressaltar a contribuição da imprensa para o “dia nacional de luto”, porque
no sábado, dia 15 de agosto, o editorial da primeira página da Folha de São Paulo propôs que
a população usasse a cor preta no domingo, em sinal de luto pela situação do governo e em
644
“Em nenhum momento me abalei”, entrevista / Collor, O Globo, 31/05/1992, in A. G. C., Cad. 81, p.72.
645
Amaury de Souza, “O impeachment de Collor e a reforma institucional no Brasil”, in Keith S. Rosenn e
Richard Downes, Corrupção e reforma política no Brasil: o impacto do impeachment de Collor, Rio de Janeiro,
Editora FGV, 2000, pp. 138-42.
resposta à convocação de Collor pelo uso do verde-amarelo.
646
Então, no domingo 16 de
agosto de 1992, em todas as grandes cidades brasileiras, particularmente no Rio de Janeiro,
São Paulo e Belo Horizonte, as multidões saíram às ruas vestidas de preto, de luto,
contrariando o desejo de Fernando Collor. Apenas nas proximidades da Casa da Dinda,
alguns simpatizantes atenderam à convocação do presidente e a ele deram apoio. Um ano
depois, consumado o afastamento, Collor de Mello lamentou ter convocado o verde-
amarelo.
647
Daí para frente, sua popularidade foi por água abaixo, quase todos os políticos se
furtaram de se aproximar do presidente. Sucessivos atos contra o governo encheram praças e
ruas de milhares de pessoas, principalmente de trabalhadores e estudantes. Em 19 de agosto,
em Vitória, cerca de três mil estudantes secundaristas fecharam as principais ruas da cidade
para defender o impeachment, em protesto organizado pela UMES, sob a palavra de ordem
“Fora Collor já”. Em Salvador cerca de doze mil pessoas, na maioria vestidas de preto,
fizeram a maior manifestação na Bahia desde o início da CPI, incluindo o enterro simbólico
de Fernando Collor.
648
No Rio de Janeiro, um grupo de artistas e intelectuais enfrentou chuva para exigir, das
escadarias do Teatro Municipal, o impeachment do presidente, em manifestação organizada
pelo “Movimento dos Cidadãos Indignados”. Em Belo Horizonte, o Sindicato dos Bancários
promoveu a encenação da peça “O Banquete dos Porcos”, em que os atores usavam máscaras
de Collor, Paulo César Farias e Lafayete Coutinho, presidente do Banco do Brasil. Também
na capital mineira, estudantes secundaristas de oito escolas particulares da cidade pediam o
“Fora Collor”, em protesto contra reajustes das mensalidades escolares.
649
Em 21 de agosto, no Rio de Janeiro, novo recorde de público: uma multidão de cerca
de 25 mil pessoas reuniu-se no centro, na maior manifestação pelo impeachment da capital
carioca até então. A passeata ocupou praticamente toda a avenida Rio Branco. Saudados por
chuva de papel picado predominaram no ato os estudantes muitos de caras pintadas ou com
roupas pretas, verdes e amarelas. A manifestação terminou às quinze horas com um comício
na Cinelândia, sendo ouvido o Hino Nacional cantado pela cantora profissional Fafá de
Belém.
650
646
Folha de São Paulo, 15/08/1992.
647
“Se arrependimento matasse...” O Globo, 15/08/1993, in A. G. C., Cad. 100, p.143.
648
Folha de o Paulo, 20-25/08/1992. Alberto Tosi Rodrigues, O Brasil de Fernando a Fernando:
neoliberalismo, corrupção e protesto na política brasileira de 1989 a 1994”, Editora Unijuí, Rio Grande do Sul,
2000, pp.221-3.
649
Folha de São Paulo, op. cit. Alberto Tosi Rodrigues, op. cit.
650
“Dez anos de impeachment – Lula é o futuro do Brasil”, Jornal do Brasil, 29/09/2002.
O presidente da UNE, Lindeberg Farias, declarou que os estudantes não sairiam das
ruas até a queda de Collor de Mello. Sobre o envolvimento dos estudantes, “os caras-
pintadas”, no movimento que culminou com a saída de Fernando Collor, Lindberg Farias
disse que o início foi quando o Movimento pela Ética na Política fez uma manifestação em
São Paulo, no dia 8 de agosto de 1992, da qual participaram os principais líderes de oposição,
inclusive Lula. E os estudantes tinham um ato marcado para o dia 11 de agosto, na linha do
“Fora Collor”. Lindberg contou que chegou a São Paulo, vindo de uma atividade em Belo
Horizonte, às 5 horas da manhã e foi direto para a Universidade de São Paulo (USP) convocar
os estudantes. Segundo ele, a manifestação foi um sucesso e contou com a presença de mais
de 30 mil pessoas. Ele também assinalou a influência da mini-série “Anos Rebeldes”, exibida
pela TV Globo nesta época, que versava sobre a luta dos jovens contra o regime militar. E a
luta pela retirada do Collor se deu paralelamente à exibição desta mini-série. Na época,
Bornhausen pronunciou uma frase famosa: “Roberto Marinho deu um tiro no pé”,
provavelmente fazendo referência ao apoio dado a Collor pela TV Globo que, com a
influência da mini-série, transformara-se em apoio para o impeachment. Lindberg afirmou,
ainda, que nos cartazes convocando para as passeatas constavam: “Anos Rebeldes–Próximo
Capítulo”. E, também, nas salas de aula os estudantes diziam: “Nós estamos vendo na mini-
série a juventude que lutou contra a ditadura militar. Agora é a nossa vez de ir para as ruas e
lutar por um país melhor”.
651
No dia 21 de agosto houve passeata em São José dos Campos, em Belo Horizonte, em
Campo Grande, em Cuiabá, e em São Luis. Em 23 de agosto de 1992, em Fortaleza, cerca de
sete mil religiosos pediram o impeachment durante uma caminhada convocada pelas dioceses
do estado do Ceará, dentro das atividades da Campanha da Fraternidade de 1992. Em Belém,
cerca de mil pessoas assistiram ao ato artístico-cultural “Xô Collor”, promovido pela UNE e
entidades estudantis locais. Em Maceió, cerca de seis mil pessoas se concentraram na maior
manifestação pelo impeachment na capital alagoana, convocada pela “Frente de Oposição
Popular”, coligação de dez partidos que apoiava a candidatura do senador Teotônio Villela
Filho à Prefeitura de Maceió. Em 24 de agosto, no Rio, o PDT promoveu ato exclusivo, em
que não se reivindicou o impeachment, mas apenas se protestou contra a corrupção. A platéia,
segundo a imprensa, era composta por funcionários públicos e cabos eleitorais. Em São Paulo,
foi inaugurado o “Painel da Indignação”, na praça Ramos de Azevedo, com cerca de
quinhentos presentes. O painel, idealizado pelo Movimento pela Ética na Política, se
651
“Dez anos de impeachment – Lula é o futuro do Brasil”, op. cit.
destinava a colher manifestações de protesto da população e encaminhá-las aos
congressistas.
652
Então, a partir das denúncias do irmão mais novo do presidente, Pedro, que enxergava
em Paulo César Farias, ex-tesoureiro de Collor, um concorrente perigoso para os negócios de
sua família, e esta comandava a política em Alagoas, foi requerida uma Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI) pelo senador Eduardo Suplicy e pelo deputado José Dirceu, ambos do PT
de São Paulo. A CPI investigou Farias durante 95 dias sob intensa pressão das forças políticas
que sustentavam o governo Collor.
653
A investigação que culminou com o impeachment
esteve perto de não apresentar resultados, não fossem os depoimentos do motorista Eriberto
França e da secretária Sandra de Oliveira. Eriberto trabalhava para a secretária de Collor, Ana
Acioly, e pagava contas pessoais do presidente e da primeira-dama Rosane Collor com os
cheques de “fantasmas”.
654
Sandra trabalhava para o empresário Alcides Diniz, amigo de
Collor, que o ajudou a montar uma farsa para justificar a origem dos recursos gastos pelo
presidente durante seu mandato. A “Operação Uruguai”, referência ao alegado empréstimo de
cinco milhões de dólares feito pelo presidente no exterior, teve a participação de outros três
amigos de Collor: o advogado Cláudio Vieira, o deputado de Brasília Paulo Octávio, então no
PRN, e o empresário Luiz Estevão.
655
O relatório da CPI acabou associando o presidente Collor aos crimes de corrupção
passiva e prevaricação, o que levou o assunto a ser discutido no plenário da Câmara,
decorrendo daí o pedido de impeachment, aliás, antecipadamente requerido pelos
presidentes da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB).
656
Em 24 de agosto, foi divulgado no auditório Petrônio Portela do Senado, o relatório
final da CPI do caso Paulo César Farias.
657
A leitura do texto durou cerca de cinco horas, foi
transmitida ao vivo por emissoras de rádio e televisão, e apontava crimes comuns e de
responsabilidade cometidos pelo presidente da República. O senador Amir Lando, do PMDB-
RO, abriu o relatório de 400 páginas com a seguinte citação do Evangelho segundo São João:
652
Folha de São Paulo, 20-25/08/1992.
653
“Por trás da CPI do PCFarias uma grande luta pelo poder. (para Moniz Bandeira os grandes grupos
paulistas e o PT querem derrubar Collor)”, Tribuna da Imprensa, 10/08/1992, in A. G. C., Cad. 86, p.45.
654
“CPI vai convocar Ana Acioli e motorista Eriberto”, Jornal do Brasil, 29/06/1992, in A. G. C., Cad. 75, p. 29.
“PC: mais cheques para os íntimos de Collor”, Globo, 25/07/1992, in A. G. C., Cad. 75, p.53.
655
“Secretária diz que empréstimo no Uruguai foi forjado em São Paulo”, O Globo, 30/07/1992, in A. G. C.,
Cad. 75, p.101. “CPI não comprova empréstimo no Uruguai”, Jornal do Brasil, 31/07/1992, in A. G. C., Cad.
75, p.108. “Dez anos do impeachment uma década, o começo do fim de Fernando Collor”, de Nelson
Breve, Jornal do Brasil, 29/09/2002.
656
“CPI investiga ligação de Collor e PC”, Jornal do Brasil, 22/06/1992, in A. G. C., Cad. 75, p.24.
657
“CPI tem prova do vínculo PC-Collor”, Jornal do Brasil, 22/08/1992, in A. G. C., Cad. 75, p.54.
“Conhecereis a verdade e ela vos libertará”; e concluiu dizendo: “Espero que a nação não fuja
dessas verdades”.
658
O relatório abria, com isso, espaço para o processo de impeachment do presidente.
Com o resultado da CPI, as oposições e os organizadores da movimentação social foram
tomados pela euforia. Em 25 de agosto ocorreram em São Paulo duas grandes concentrações
populares, duas passeatas em Recife, uma em Salvador e, também, em Belo Horizonte,
Curitiba, Maceió e Rio de Janeiro.
659
Neste clima, em 25 de agosto, por dezesseis votos a
cinco, a CPI aprovou o relatório que incriminava o presidente. Em clima de festa, as cerca de
setecentas pessoas que lotavam o auditório Petrônio Portela, no Senado, saudaram o resultado
cantando o Hino Nacional. Abria-se assim, a possibilidade de instauração de um processo de
impeachment. Em Brasília, cerca de cinqüenta mil pessoas tomaram no final da tarde o
gramado em frente ao Congresso Nacional, numa vigília cívica de acompanhamento da
votação do relatório final da CPI. Os estudantes, a exemplo do que acontecera em outras
manifestações pelo Brasil, foram à Esplanada dos Ministérios de rostos pintados com palavras
de ordem.
660
Impossibilitados de convocarem o presidente para depor junto à Comissão de
Inquérito, os deputados acharam por bem acusá-lo de improbidade e irresponsabilidade, o que
foi feito com base em um pedido elaborado pelos presidentes da Associação Brasileira de
Imprensa (ABI) e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Com este documento na mão, o
presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, definiu o rito processual na Câmara para iniciar o
processo de impeachment.
661
A tramitação obedeceria a um rito sumário e se realizaria
mediante voto aberto. Um dia depois desta decisão, o governo impetrou um mandato de
segurança, com pedido de liminar, questionando as regras definidas para o processo. A
liminar foi parcialmente concedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que no dia 10 de
setembro, decidiu ampliar de cinco, para dez sessões, o prazo para que Collor apresentasse a
sua defesa.
662
Após a Semana da Pátria, em setembro, as manifestações públicas ganharam ainda
maior impacto e disseminação. Com presença importante do movimento estudantil, diversos
atos em favor do impeachment continuaram a espalhar-se pelo país.
658
“Dez anos do impeachment – As articulações que levaram ao fim de um governo”, Jornal do Brasil,
29/09/2002.
659
Folha de São Paulo, 26-27/08/1992.
660
Idem.
661
“Collor chama Ibsen de canalha golpista. Collor ataca Oposição com palavrões (Presidente perde o controle
durante jantar e ofende parlamentares que apóiam o impeachment)”, O Globo, 18/09/1992, in A. G. C., Cad. 88,
p.97.
662
Alberto Tosi Rodrigues, op. cit., pp.234-5.
Havia sido marcada para o dia 15 de setembro a apreciação pelo plenário da Câmara
do recurso do governo contra a forma de votação do pedido de admissibilidade decidida pelo
presidente da Câmara dos deputados Ibsen Pinheiro, isto é, o voto aberto.
663
O governo, diante
da vitória parcial no Supremo, retirou o recurso para que a Câmara não tomasse qualquer
decisão antes do julgamento decisivo pelo STF sobre a matéria, que acabou se dando no dia
23 de setembro. A decisão do Supremo, porém, frustrou as expectativas de Fernando Collor,
aprovando o voto aberto e o rito sumário determinados pelo presidente da Câmara. No dia
seguinte, foi aprovado o parecer do relator da Comissão Especial da Câmara, a ser levado a
plenário, sobre a admissibilidade do processo contra Collor, por trinta e dois votos contra um,
do líder do governo, Humberto Souto, enquanto quinze governistas abandonaram a sessão.
664
A mobilização social e a aprovação do voto aberto dos parlamentares seriam
certamente os principais fatores responsáveis pela aprovação do pedido de admissibilidade do
impeachment no plenário. Afinal, a estratégia governista se escorava quase que
exclusivamente na política fisiológica, prática de difícil sustentação pública, naquele
momento em especial para os que eram candidatos às eleições municipais que se
avizinhavam. Acossados pelo voto aberto, que os colocara expostos diante do eleitor, e pelo
calendário político, que os obrigara a expor-se antes das eleições de 3 de outubro, muitos
parlamentares indecisos começaram a mudar de posição poucas horas depois da decisão do
STF pelo voto aberto. No dia da votação no STF, a Comissão Pró-Impeachment contabilizava
345 votos contrários a Fernando Collor. Na sexta-feira, dia 25, dois dias depois da decisão
pelo voto aberto, contabilizavam-se quase 370.
665
O rito do processo e a maneira de votação, se voto aberto ou secreto, foram assuntos
polêmicos durante as primeiras semanas. Todavia, governo e oposição se empenhavam em
angariar votos, o máximo que podiam, em favor se seus interesses opostos. Enquanto isso, os
advogados do presidente Collor de Mello entraram no Supremo Tribunal Federal com
sucessivos mandados de segurança, procurando anular o processo em curso ou retardá-lo o
máximo possível.
No dia da votação do relatório o líder do PSDB no Senado, Fernando Henrique
Cardoso, reuniu em seu gabinete os principais articuladores da destituição de Fernando
Collor: os presidentes do PMDB, Orestes Quércia, do PSDB, Tasso Jereissati, e do PT, Luis
Inácio Lula da Silva. As articulações foram intensas dos dois lados. A tropa de choque de
663
“Collor chama Ibsen de canalha golpista. Collor ataca Oposição com palavrões (Presidente perde o controle
durante jantar e ofende parlamentares que apóiam o impeachment)”, op. cit.
664
“Collor limita governo à disputa pelo mandato”, Jornal do Brasil, 21/09/1992, in A.G.C., Cad. 88, p. 24.
665
Alberto Tosi Rodrigues, op. cit., pp.238-9.
Collor, comandada pelo secretário de Governo, Jorge Bornhausen, pelo governador da Bahia,
Antonio Carlos Magalhães e pelo ministro da Ação Social, Ricardo Fiúza, tentou assegurar os
aliados. Os líderes da oposição conseguiram aumentar a dissidência na base governista,
amparados na pressão popular e na perspectiva das próximas eleições municipais. Eram 17
horas quando Fiúza ligou para Collor pelo telefone celular e avisou que a derrota era
iminente.”Perdemos o controle da situação”, afirmou o ministro.
666
Iniciado o julgamento, o presidente não aceita o advogado indicado pelo ministro
Sanches mas não consegue parar a máquina compressora do Senado. E, também, os senadores
favoráveis a Collor vão pouco a pouco passando para o outro lado devido a diversas razões,
dentre elas, porque todos queriam garantir seus respectivos mandatos nas eleições que viriam
em breve e, também porque ninguém queria se arriscar perante a opinião da mídia e da
sociedade.
667
Seguindo a tendência verificada na votação do relatório da Comissão Especial, o
plenário de Câmara dos Deputados, no dia 29 de setembro, em decisão inédita na história
brasileira, aprovou o afastamento do presidente Collor, por esmagadora maioria: 441 votos a
favor, 38 contra, uma abstenção e 23 ausências. Estava aprovado o afastamento, ainda que
provisório, do presidente da República e com o voto maciço de todas as bancadas, inclusive a
governista. Até mesmo, integrantes do grupo mais fechado de apoio a Collor aderiram à
proposta do impeachment. Entre o PFL, o PRN, e o PSC, que formavam o bloco de
sustentação ao governo, com 120 deputados, apenas 20 votaram contra. Mas, nesta altura,
nada mais adiantava, o “espetáculo” estava montado. Segundo pesquisa do Datafolha, 80%
dos brasileiros queriam que a Câmara votasse o impeachment, apenas 12% queriam que
Collor permanecesse e 7% estavam indecisos. A sessão de votação foi transmitida por todas
as redes nacionais de televisão.
668
Ao final da votação, o plenário e as praças públicas
explodiram em comemoração. Cerca de 500 mil pessoas saíram às ruas nas dezessete
principais cidades do país para acompanhar a votação.
669
Fernando Collor foi afastado da Presidência da República. O processo seria então
encaminhado ao Senado, que teria cento e oitenta dias para proceder à votação. Em caso do
julgamento não ocorrer nesse prazo, Collor de Mello retornaria ao cargo, embora sem prejuízo
da continuidade do processo. No Palácio do Planalto, cercado pela Polícia Militar, Collor
666
“Dez anos do impeachment – As articulações que levaram ao fim de um governo”, op. cit.
667
“Presidente do STF diz que tribunal não desprezará opinião pública”, Jornal do Brasil, 20/09/2002, in
A.G.C., Cad. 95, p. 20. Folha de São Paulo, 29/09/1992.
668
“STF abre sessão para transmissão ao vivo”, Jornal do Brasil, 23/09/2002, in A.G.C., Cad. 95, p. 24.
669
Folha de São Paulo, 29/09/1992.
esperou o desfecho sozinho em seu gabinete. Ao saber do resultado, indicou o ministro da
Justiça, Célio Borja, para conduzir a transição após seu afastamento, que foi oficializado três
dias depois. Barbosa Lima Sobrinho ao deixar o plenário após a votação do impeachment
resumiu: “O Brasil está aliviado”.
670
Em dois de outubro, Fernando e Rosane Collor deixaram o Palácio do Planalto, sob
vaia dos funcionários do Senado, que se aglomeravam no local. Já no helicóptero que os
levaria a sua residência, à “Casa da Dinda”, o presidente afastado deixou o cargo reafirmando
sua inocência, e que “não perdera o afeto do coração do povo brasileiro, que se tornaria mais
confiante quando conhecesse a verdade”. Ao vice-presidente, Itamar Franco, que assumiu
interinamente, coube a tarefa de assumir a presidência com a responsabilidade de compor um
novo ministério e recompor a governabilidade ameaçada do país.
671
Dois dias depois da posse dos novos ministros, a 7 de outubro, os advogados de Collor
de Mello deram início à primeira de uma série de oito manobras regimentais ou jurídicas, em
que definiram como estratégia de defesa questionar as datas e os valores dos depósitos
“fantasmas” para parentes e empregados de Fernando Collor. A defesa também resolveu pedir
uma perícia nas provas, contra Collor de Mello, levantadas na Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) do caso Paulo César Farias e pela Polícia Federal. O objetivo era adiar ao
máximo a votação a princípio marcada para 22 de dezembro, visto que se Collor de Mello não
fosse julgado em cento e oitenta dias retornaria à presidência. Para retardar ao máximo o seu
julgamento, Collor, provavelmente vislumbrando uma possível derrota, fez sucessivas trocas
de advogados e, também, a sua defesa utilizou todos os meios disponíveis para adiar a votação
no Senado. Para tal, os advogados de defesa de Fernando Collor, José Guilherme Vilela e
Evaristo de Moraes Filho, tentaram impedir que 29 senadores votassem no processo de
impeachment. De acordo com a defesa de Collor, estes senadores eram suspeitos porque
alguns participaram da CPI do Paulo César Farias, e outros por serem suplentes que
assumiram o lugar de titulares que ocupavam cargos no ministério de Itamar Franco.
672
Entretanto, a intenção da defesa de retardar o julgamento não foi bem sucedida, uma vez que
o presidente do STF, o ministro Sidney Sanches, negou o pedido dos advogados de Collor.
673
Assim, o senador Antonio Mariz, do PMDB da Paraíba, relatou o processo na
Comissão do Impeachment do Senado considerando procedente a denúncia contra o
presidente afastado, por crime de responsabilidade. Para o senador, as investigações da CPI
670
“Dez anos do impeachment – As articulações que levaram ao fim de um governo”, op. cit.
671
Folha de São Paulo, 03/10/1992.
672
“Defesa de Collor quer impedir 29 senadores”, Jornal do Brasil, 26/11/1992, in A.G.C., Cad. 91, p.13.
673
“Supremo decide que senadores podem votar”, Jornal do Brasil, 27/11/1992, in A.G.C., Cad. 91, p.16.
do Congresso e da Polícia Federal evidenciavam a ligação de Collor com Paulo César
Farias.
674
Antes do início da votação, os advogados do presidente provocaram o momento
mais tenso da sessão ao protestarem contra o “cerceamento do direito de defesa”. O advogado
de defesa, Evaristo de Moraes Filho, alegou que não houve tempo para examinar o volumoso
conjunto de provas coletado pela comissão. Tentando comover a platéia, Evaristo lembrou
que já havia defendido presos políticos, no período do regime militar, quando não tinham
amplo direito de defesa e disse “é assim que me sinto agora”.
675
Além de seu advogado de
defesa, Collor teve o apoio do senador Ney Maranhão, do PRN de Pernambuco, e assim,
por 16 votos a 1 foi aprovado o parecer favorável ao julgamento do presidente afastado
Fernando Collor, por crime de responsabilidade.
676
Após esta primeira derrota, os advogados de Collor, em conversas com os senadores,
admitiram que não havia mais nada a fazer. Para eles, Collor seria condenado e perderia o
cargo definitivamente para o vice Itamar Franco. Entretanto, segundo os senadores, o esforço
dos advogados da defesa tinha intenção profissional e política. Primeiro, eles foram
contratados para defender um cliente acusado de corrupção. Como não tinham provas para
refutar as acusações, tentavam protelar o processo alegando imperfeições técnicas e formais.
Os objetivos políticos concentravam-se na insistência das denúncias de que estaria havendo
“cerceamento do direito de defesa” que poderia auxiliar, mais tarde, o retorno de Collor à
política. O senador Élcio Álvares, do PFL do Espírito Santo, previa o desfecho dessa
manobra: no dia do julgamento, Collor compareceria ao Senado e renunciaria com um
discurso em cadeia nacional de rádio e televisão, no qual assumiria o papel de vítima e
denunciaria os senadores como seus algozes. Outros senadores, nesta mesma linha, previam
que Collor alegaria, mais tarde, que não teve direito de defesa, que seu julgamento fora
sumário e conduzido por inimigos declarados. A estratégia foi montada por seus advogados,
quando alegaram falta de tempo para analisar documentos, apontaram falhas no rito do
processo e levantaram suspeição contra 29 senadores.
677
Outro antigo aliado que previa que o processo contra Collor terminaria com seu
afastamento definitivo foi seu ex-coordenador político, Jorge Bornhausen. Ele aconselhou
Collor a renunciar antes da votação do impeachment na Câmara e, na época em que a
aprovação do impeachment na Câmara era quase certa, Bornhausen sugeriu que Collor
674
“Relator apontará evidências de crime”, O Globo, 28/11/1992, in A.G.C., Cad. 91, p.15.
675
“Momento tenso antes da votação”, Jornal do Brasil, 27/11/1992, in A.G.C., Cad. 91, p.18.
676
“Senado submete Collor à primeira derrota”, Jornal do Brasil, 28/11/1992, in A.G.C., Cad. 91, p.18.
677
“Sem defesa, o caminho é a renúncia”, de Itamar Garcez, Jornal do Brasil, 28/11/1992, in A.G.C., Cad. 91,
p.20.
deixasse a presidência através de uma negociação. As lideranças do Congresso se
comprometeriam a votar todos os projetos de modernização da economia. Depois, Collor
renunciaria. Dessa forma, segundo Bornhausen, Collor voltaria “facilmente” à vida política,
elegendo-se deputado federal por Alagoas.
678
Em 2 de dezembro, por 67 votos a favor e três contra, o plenário do Senado aprovou o
parecer da Comissão Especial do Impeachment que autorizava o julgamento do presidente
afastado Fernando Collor por crime de responsabilidade e o transformou de indiciado em réu.
Os senadores: Áureo Mello, do PRN do Amazonas, Ney Maranhão, do PRN de Pernambuco,
e Lucídio Portella, do PDS do Piauí, votaram a favor do arquivamento do processo contra
Collor. Com uma defesa apaixonada do presidente afastado, o senador Áureo Mello levou a
platéia aos risos quando comparou Collor a Jesus Cristo e a Tiradentes, “de mãos
amarradas”.
679
E, o senador Lucídio, em sua declaração de voto, acusou o Senado e o
presidente do STF de estarem protagonizando uma farsa.
680
Assim que foi proclamado o resultado da votação no plenário do Senado, o presidente
afastado Fernando Collor ligou para os senadores que votaram a seu favor, para agradecer os
únicos votos recebidos e dizer que estava muito emocionado com a coragem dos “três
mosqueteiros”. Diante da derrota, o senador Ney Maranhão disse que Collor não se abateu,
que estava forte e, falando firme, pediu para que tivessem fé, que continuassem de cabeça
erguida e que acreditassem na vitória final. Na conversa com os três senadores, Collor deixou
clara que não pretendia renunciar. “A luta continua, senador. Não vamos esmorecer”, disse a
Ney Maranhão. Segundo relato do senador pernambucano, a reação de Collor aos 67 votos
contra o arquivamento da acusação foi de conformismo, que ele não esperava por surpresas
na votação. “Ele não esperava coisa melhor, não. Sabia que era jogo de cartas marcadas. A
sensação que tenho é a de que ele não vai renunciar e passará para a história mais cedo que
muita gente imagina. Ele vai sair disso como vítima”, disse o senador Maranhão. Já o senador
Lucídio Portella declarou”. Isso tudo é uma farsa. Se o presidente ouvir meus conselhos
renunciará. É o que deve fazer uma pessoa de bom senso”.
681
Entretanto, fracassou a “operação renúncia” colocada em prática pelos senadores que
votaram a favor de Collor e que foram à Casa da Dinda para convencer o presidente afastado
Fernando Collor de que seu caso estava perdido no Senado. Irritado com as previsões
pessimistas propagadas pelos três, Collor abortou a “operação”, pedindo que enterrassem
678
“Bornhausen diz que Collor não volta”, Jornal do Brasil, 30/11/1992, in A.G.C., Cad. 91, p.21.
679
“Senado transforma Collor em réu”, O Globo, 03/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, p.27.
680
“Collor agradece votos dos três mosqueteiros”, O Globo, 03/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, p.28.
681
Idem.
definitivamente o movimento pró-renúncia. “Antes que falássemos qualquer coisa o Collor foi
logo dizendo: renúncia nem por hipótese. Eu disse que ele não ia gostar dessa história de
renúncia”, contou, desapontado, o senador Áureo Mello. “Ele estava mais otimista do que eu
esperava. Não me deu chances para falar em renúncia. Seria menos traumático do que ir até o
fim. Se a coisa está perdida não adianta estrebuchar”, disse Portella. Ao invés de ouvir um
relato realista das dificuldades que enfrentava no Senado, Collor preferiu falar das chances
que enxergava de alcançar vitórias no STF. Ney Maranhão disse-lhe que o julgamento seria
político e por isso sua sentença estaria selada, mas Collor contra-argumentou dizendo que o
STF decidiria que o julgamento fosse jurídico. Para os três senadores, o presidente afastado
disse que só o povo brasileiro teria o direito de julgá-lo politicamente. “Se o Senado me julgar
politicamente, será um acerto de contas dos que eu derrotei na campanha presidencial”, disse
Collor a Maranhão.
682
Antes de confirmar a data do julgamento de Collor pelo Senado para o dia 22 de
dezembro, o presidente do STF, o ministro Sidney Sanches indeferiu um recurso da defesa de
Collor para adiar o julgamento. José Guilherme Villela e Evaristo de Moraes Filho queriam
novas perícias na “Casa da Dinda” (de engenharia) e na Brasil’s Garden (de contabilidade)
que, poderiam atrasar em 30 dias, no mínimo, a data prevista do julgamento.
683
“Vai chegando o dia do julgamento e a gente vê que não adianta defesa alguma, dá um
desânimo enorme”. Com esta frase, o advogado de defesa Evaristo de Moraes Filho
reconheceu que teria muito mais trabalho para defender seu cliente na sessão de julgamento
do Senado do que teria o advogado de acusação Evandro Lins e Silva para convencer os
senadores a condenar Fernando Collor com a pena da cassação e inabilitação política por oito
anos. Evaristo disse que seu adversário de júri não teria muito trabalho para preparar a
acusação, já que esse trabalho todo estava sendo desempenhado na prática, pela imprensa.
684
A imprensa divulgou que Evaristo de Moraes Filho, principal advogado de defesa de
Collor, por pouco não foi candidato a vice-presidente de Luis Inácio Lula da Silva. Evaristo,
militante do PSB, não foi vice de Lula porque não achou conveniente passar todo o ano de
campanha com seu escritório de advocacia fechado.
A primeira reação de Evaristo de Moraes quando procurado para defender Collor, foi
de surpresa. Como espectador do processo, ele estava convencido do envolvimento do
presidente afastado nos casos de corrupção imputados a Paulo César Farias e achava que tudo
682
“Operação renúncia fracassa na Casa da Dinda”, O Globo, 05/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, p.31.
683
“Sanches desfaz manobra da defesa de Collor”, Jornal do Brasil, 09/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, p.35.
684
“Advogados de Collor acham que as chances são mínimas”, de Maria Lima e Rudolfo Lago, O Globo,
20/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, p.43.
tinha que ser apurado num processo regular. Como advogado, julgava que não estava sendo
concedido amplo direito de defesa a Collor. Evaristo de Moraes não entendia o que levava
Collor a confiar e eleger como advogado alguém ligado ao seu principal adversário na disputa
pela presidência. “No meu primeiro encontro com o presidente, tive o cuidado de lembrá-lo
das minhas convicções políticas. Ele me disse que estava ciente, mas que confiava em mim
como advogado”, disse Evaristo. As diferenças políticas, porém, impediam cliente e advogado
de se tornarem amigos.
685
Como defensor, Evaristo de Moraes teve que se defrontar, pela segunda vez, com o
advogado de acusação, Evandro Lins e Silva. No início do processo, Evaristo o tratava
como “meu mestre”. Mas, o respeito acabou com a divulgação da peça acusatória. “Aquilo foi
uma falta de respeito, aquela história de Dorian Gray. O doutor Evandro aprendeu, assim
como eu, que não se deve insultar o réu”, criticou o advogado de defesa de Collor.
686
Exatamente 208 dias depois de criada a CPI do caso Paulo César Farias, o Senado
instalou no dia 22 de dezembro a sessão de julgamento do presidente afastado Fernando
Collor, sob o impacto da mais ousada manobra do processo: a desconstituição dos advogados
de defesa que adiava a sentença final para o dia 29. Chamado pelo ministro da Justiça,
Maurício Correa, de “jogo sujo”, o afastamento dos advogados deixava em suspense, também,
o presidente Itamar Franco, que pretendia assumir definitivamente o governo no dia 23 de
dezembro com um pronunciamento à nação. Os advogados de defesa que participaram da
manobra, executada 15 horas antes do início do julgamento e 33 horas depois que Paulo César
Farias deixou o país, continuaram representando o presidente afastado no processo de crime
comum. Depois de abrir a sessão do Senado e ter confirmado a ausência do presidente
afastado ou seus representantes, o presidente do STF, Sidney Sanches, declarou oficialmente
que Fernando Collor era revel e nomeou um advogado dativo para defendê-lo. Este advogado,
pago pela União, teria uma semana para ler os autos do processo, o que lhe permitiria
defender o presidente afastado. A manobra foi anunciada, às 18 horas, pelo porta-voz de
Collor, Etevaldo Dias. Ele distribuiu um manifesto do presidente afastado à nação, no qual
Fernando Collor alegava que “pressões políticas de toda ordem recaem sobre os senadores, no
momento em que necessitam da isenção e da serenidade próprias do papel de juízes que
desempenham”. Os advogados da defesa e da acusação reuniram-se com o ministro Sidney
Sanches no gabinete do presidente do Senado, Mauro Benevides, do PMDB do Ceará. Às
685
“Uma dupla desanimada e cansada de guerra”, O Globo, 20/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, p. 44.
686
Idem.
vinte horas, os advogados de defesa de Collor, Villela e Evaristo recusaram o papel de
advogados dativos, oferecido por Sanches, que marcou nova data de julgamento.
687
O presidente afastado Fernando Collor alegou pressões políticas sobre os senadores e
falta de oportunidade de defesa para destituir os seus advogados e adiar o seu julgamento.
Respondendo às críticas, o porta-voz de Collor, Etevaldo Dias, disse que a decisão não podia
ser entendida como apego ao poder e sim como uma medida para assegurar os direitos do
presidente afastado. Numa carta destinada aos seus advogados, Collor os destituiu, agradeceu
o trabalho desempenhado em sua defesa no processo de impeachment e afirmou que eles
continuavam como seus advogados no processo de crime comum que estava no STF. Em
outra carta, dirigida à nação, Collor falava das pressões políticas e dizia que fora vítima de
uma “campanha difamatória sem precedentes no país”. E, ainda sobre a atitude de Collor,
Etevaldo Dias comentou que “diante do clima que se estabeleceu de falta de isenção, essa era
a única coisa que poderia ser feita”. Em tom de campanha eleitoral, Collor escreveu uma
“carta ao povo brasileiro” na qual afirmou: “Durante anos, o povo brasileiro foi submetido à
arbitrariedade dos tribunais de exceção. Não posso permitir que esta prática venha, mais uma
vez, turvar o processo democrático (.....) Não posso compactuar com a tentativa que está
sendo feita pelos poderosos de ocasião para criar constrangimentos aos senadores com o
intuito de forçá-los a executar uma sentença proferida”, escreveu Collor. Segundo o porta-
voz havia um clima que impedia um julgamento parcial e jurídico. Etevaldo Dias afirmou,
também, que a decisão do presidente afastado não foi motivada pelo pequeno número de
senadores que estava a seu favor, “mas pelo clima da falta de isenção”. E garantiu que “esse
gesto do presidente é um gesto democrático de quem não vai renunciar. Ele teve o apoio dos
advogados em sua decisão”.
688
As medidas protelatórias de Collor e de seus advogados de defesa foram muito
criticadas na imprensa, uma vez que os sucessivos adiamentos de seu julgamento estavam
prejudicando o país porque o governo de Itamar Franco prolongava-se na interinidade, o que o
impedia de preparar planos de ação. Também foi criticada a carta à nação do presidente
afastado na qual falava em defesa da democracia mas que, na realidade, era uma derradeira
tentativa de defender a sua própria imagem a essa altura bastante desgastada.
689
Justificando-se, o presidente afastado se disse vítima de “uma quartelada parlamentar”
e assegurou que não pretendia renunciar antes do julgamento no dia 29 de dezembro. Collor
687
“Manobra da defesa adia julgamento”, O Globo, 22/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, p. 47.
688
“Carta à nação em tom de campanha”, O Globo, 22/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, p. 47.
689
“É uma irresponsabilidade protelar o julgamento”, de Carlos Chagas, Tribuna da Imprensa, 23/12/1992, in
A.G.C., Cad. 91, p. 53.
disse, ainda, que estava convencido de que seria absolvido se o julgamento fosse imparcial,
isento e que retornaria ao exercício pleno da presidência da República. Ao ser entrevistado
pelo jornalista Boris Casoy, do SBT, Collor assegurou que tinha patrimônio para pagar o
empréstimo de 5 milhões de dólares feito através da Operação Uruguai, e se disse
“extremamente preocupado” com a situação nacional. Sem mencionar o nome de Itamar
Franco, afirmou que o programa de governo que não era seu “mas de toda a sociedade
brasileira” que por ele optou nas urnas, fora rasgado. Ele descartou, também, a possibilidade
de deixar o país: “esta é a minha trincheira de luta. Fico de pé, de cabeça erguida esperando
que o julgamento imparcial me seja garantido”, afirmou. Disse, ainda, ter constatado,
“impassível”, que era “mais fácil afastar um presidente da República do que um inquilino”.
Voltou a afirmar que aceitou “as regras do jogo” devido à sua “convicção democrática muito
forte” e acusou os adversários, identificados por ele como uma parte da elite empresarial e
sindical, de não terem feito o mesmo. E concluiu que não o podiam “cassar por oito anos em
plena vigência da democracia: não admito um julgamento não baseado na isenção e na
imparcialidade”.
690
Para finalizar o conflito e marcar a data do julgamento, um despacho do presidente do
processo de impeachment, ministro Sidney Sanches, aceitou a indicação do advogado José de
Moura Rocha como novo defensor do presidente afastado Fernando Collor, mas manteve o
dia 29 de dezembro como a data do julgamento. O presidente do STF decidiu também que o
advogado dativo nomeado por ele, Inocêncio Mártires Coelho, continuaria no processo, para
evitar que, através de nova destituição ou renúncia do advogado, o presidente afastado
conseguisse outro adiamento.
691
Durante a sessão do julgamento do impeachment, quando as testemunhas de defesa
estavam sendo ouvidas, o presidente Collor, por telefone, orientou seu advogado, José de
Moura Rocha, a pedir a palavra e ler uma carta que lhe fora entregue pouco antes da sessão
começar. Era o pedido de renúncia e, assim, o julgamento quase acabou, pois que, os
senadores na sua euforia pela vitória alcançada, trataram logo de empossar o colega Itamar
Franco na presidência. E a seguir, continuaram o julgamento de Collor e cassaram seus
direitos políticos até o ano 2000. Emergiram então algumas questões: o ex-presidente já havia
renunciado e, assim, não detinha mais mandato político e não podia ser cassado. Ou, será
que teriam os senadores ainda em mente um fato histórico de que queriam se prevenir, o
episódio em que Getúlio Vargas que depois de deposto da presidência da República em 1954,
690
“Quartelada parlamentar”, O Globo, 25/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, p. 63.
691
“Sanches aceita novo advogado de Collor”, O Globo, 25/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, p. 64.
conseguiu ser eleito deputado e senador mais votado do Brasil na época, e também, conseguiu
ser reeleito novamente presidente.
692
Assim, esgotadas todas as manobras para protelar o julgamento por crime de
responsabilidade, Fernando Collor renunciou no dia 29 de dezembro, às nove horas e trinta e
quatro minutos, à Presidência da República.
693
Escrita com a caríssima caneta Mont Blanc, em
apenas seis linhas, a carta-renúncia foi lida pelo advogado de Collor de Mello, no plenário do
Senado, depois de frustrada ainda uma derradeira tentativa de adiamento, baseada na ausência
do ex-deputado Thales Ramalho, uma das testemunhas de defesa. Apesar dos esforços e
tentativas protelatórias dos advogados do presidente Collor de Mello, a defesa não conseguiu
mudar o processo político do impeachment e nem retardá-lo por muito tempo.
694
As tentativas
foram várias e pelos mais diversos motivos. Tudo foi inútil. Nem o Supremo Tribunal Federal
(STF) e nem os senadores cederam às pressões, aliás, muito maiores pelo lado acusador, que
tinha a seu favor a mídia e, também, a opinião pública devidamente manejada.
695
De acordo com a imprensa, o julgamento proporcionou o confronto histórico entre
dois dos melhores advogados da época: Evaristo de Moraes Filho e Evandro Lins e Silva,
sendo que este último foi quem preparou o documento referente às alegações finais da
acusação contra o presidente afastado usando de ironia e comparando-o a Dorian Gray,
personagem de Oscar Wilde, que, segundo ele, como Collor, escondia “figura horrenda” sob
bela aparência: (...) ”A personalidade do jovem esbelto e formoso, de olhos altivos e gestos
imponentes, apareceu na tela, pintada no seu lado moral, como a horrenda figura da
corrupção, do vício e da fraude. Todos puderam ver, na peça acusatória que a personagem
pública era uma burla, e o retrato escondido, a realidade. (....)”.
696
O advogado de defesa de Collor de Mello, Evaristo de Moraes Filho, ao ser
perguntado de que forma a opinião pública interferiu no caso Collor, respondeu que “Collor é
um exemplo que vai para os livros, de condenação pela mídia. Deu-se uma inversão do ônus
da prova. Partiu-se da presunção de que Collor era culpado, salvo se provasse que era
inocente”.
697
Collor de Mello desabafou: “lutei tudo o que podia lutar, resisti ao máximo às elites
políticas, lamento profundamente essa nossa mentalidade de derrubada sucessiva de
692
“Ato de arbítrio”, O Globo, 31/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, p.93.
693
“Collor renuncia mas deve perder seus direitos políticos”, O Globo, 30/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, p.84.
694
Defesa joga com quanto pior melhor”, e “É uma irresponsabilidade protelar o julgamento”, de Carlos
Chagas, Tribuna da Imprensa, 23/12/1992, in A. G. C., Cad. 91, p.53.
695
“Presidente do STF diz que tribunal não desprezará a opinião pública”, op. cit.
696
“Acusação compara Collor a Dorian Gray”, Jornal do Brasil, 11/11/1992, in A. G. C., Cad. 90, p.95.
697
Trecho da entrevista com Evaristo de Moraes Filho, por Carlota Araújo, O Globo, 13/01/1993, in A. G. C.,
Cad. 95.
presidentes como se o cargo fosse de um simples chefe de departamento”; e acrescentou
“hoje, no Brasil, é mais fácil afastar o presidente da República eleito pelo voto popular do que
retirar um inquilino indesejável”.
698
O presidente do STF, Sidney Sanches, tinha uma resposta pronta para os críticos, entre
os quais o presidente afastado Fernando Collor, que diziam ter sido o processo de
impeachment julgado mais rápido do que uma simples ação de despejo: “Quero saber se a
opinião pública acha que o processo de impeachment deveria demorar quatro anos, como uma
ação de despejo. A verdade é que os prazos da lei estão sendo rigorosamente cumpridos”.
699
Em seu discurso de despedida Fernando Collor falou ao povo brasileiro em tom de
campanha e ressaltou: (....) “Lamentavelmente e mais uma vez corremos o risco de ver
triunfar a velha litania dos golpes. (....) Fui vítima de uma campanha difamatória sem
precedentes na História do país. (....) Meu julgamento definitivo não é o do Senado, mas o da
História e da Justiça. (....) A Constituição brasileira acaba de ser, mais uma vez, duramente
violentada”.
700
Fernando Collor criticou a decisão do Senado Federal de julgá-lo e condená-lo por
crime de responsabilidade mesmo após aceitar a sua renúncia. Ao anunciar que recorreria ao
STF para anular o julgamento, Collor transformou seu primeiro pronunciamento como ex-
presidente num raivoso discurso contra o legislativo que chamou de “verdugo e algoz do
presidente”.
701
O desabafo do presidente teve lugar na biblioteca que lhe serviu de refúgio durante o
processo de impeachment e afastamento da presidência. Explicou que a renúncia foi o último
dispositivo legal que lhe restava e, insistindo que teve o seu direito de defesa cerceado,
classificou-se como mais uma vítima entre as figuras da República que sofreram acusações de
improbidade. “Do mais honrado e agraciado, Duque de Caxias, ao inesquecível Juscelino
Kubitschek que, como ele, sofreram com a pecha insultuosa de corruptos”. Também não
deixou de citar, sem mencionar o nome, o envolvimento em denúncias de corrupção o ex-
presidente Sarney, que teve a denúncia arquivada. Acrescentou, ainda, que “a
responsabilidade de apresentar o Brasil aos olhos do mundo como uma “republiqueta tribal”,
em que inconformados de todos os matizes se amotinam para afastar o depositário de
representação política majoritária do país, não há de ser minha, mas sim dos que, em nome de
698
“Collor: lutei tudo que podia lutar”, O Globo, 30/12/1992, in AGC, Cad 91, pp. 88-90. “Collor explica a
renúncia como ato de resistência às elites políticas”, O Globo, 31/12/1992, in AGC, Cad 91, pp. 90-3. Trecho da
entrevista com Fernando Collor de Mello, O Globo, 24/12/1992, in A. G. C., Cad. 91, p. 61.
699
“Ministro: impeachment não é despejo”, Tribuna da Imprensa, 19-20/12/1992, in A. G. C., Cad. 91, p. 42.
700
“Manifesto ao povo brasileiro”, O Globo, 29/12/1992, in A. G. C., Cad. 91, p. 91.
701
“Collor acusa Senado de verdugo e algoz”, Jornal do Brasil, in AGC, Cad. 91, pp. 94-5.
seus próprios interesses se sublevaram para rasgar a Constituição”. E frisou que para ele “a
associação entre os novos golpistas da esquerda, com os velhos inconformados da direita foi
responsável por um suposto impeachment, um simulacro de julgamento”.
702
Comparando-se a Getúlio Vargas e Jânio Quadros para justificar a sua renúncia como
um ato de resistência às elites políticas, o ex-presidente Collor despediu-se com um “até
breve” após seu último pronunciamento à nação, que chamou de “manifesto ao povo
brasileiro”. Mesmo derrotado, Collor procurou manter em seu discurso um tom positivo,
buscando passar a certeza de que reverteria no STF a sentença do Senado, que cassou os seus
direitos políticos por oito anos. Ele anunciou que impetraria junto ao STF um mandado de
segurança nesse sentido. “Resisto, em nome da sobrevivência das instituições democráticas”,
desafiou.
Na narrativa da imprensa, a derrocada de Collor teve como seu momento mais
importante e significativo o julgamento de Fernando Collor pelo STF.
703
Além do confronto
histórico de dois importantes advogados, Evaristo de Moraes Filho e Evandro Lins e Silva,
diversos fatos contribuíram para que o evento se transformasse num verdadeiro espetáculo
terminal de performance.
704
A defesa de Collor usou todos os recursos disponíveis para
retardar o julgamento: fez trocas sucessivas de advogados, e tentou impedir o voto de alguns
senadores por considerá-los suspeitos.
705
Em contrapartida, o Senado transformou Collor em
réu em parte por pressão dos políticos dos partidos, dos sindicatos, de grande parte da
população e, também, da mídia.
706
A imprensa, também, relatou minuciosamente a performance, ou melhor, a anti-
performance no caso, de Collor após a renúncia. Emocionado, as mãos trêmulas, ele falou por
23 minutos. A forma encontrada para fazer seu pronunciamento foi a convocação da
imprensa. No caso, não para uma entrevista. Não foram permitidas perguntas. O ex-presidente
fez seu discurso e só. As televisões e rádios mantiveram Collor o tempo todo ao vivo. No
discurso, Collor procurou demonstrar que a República brasileira não conseguia dar certo
graças ao comportamento das elites. Sua destituição, segundo ele, era fruto das mesmas
causas que levaram Getúlio Vargas ao suicídio, e Jânio Quadros à renúncia. Um deu fim à
própria vida para não ser deposto e, o outro renunciou ao fim de sete meses de mandato, para
não ter que ceder aos que pretendiam tutelar o seu governo. Por fim concluiu. “Aqui estarei
702
“Collor acusa Senado de verdugo e algoz”, op. cit.
703
“Ministros do STF mantêm julgamento para hoje”, O Globo, 29/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, p. 75.
704
“Evaristo e Evandro, o confronto histórico”, Jornal do Brasil, 15/11/1992, in AGC, Cad 91, pp.7-8.
705
“Sidney Sanches rejeita pedido de impugnação de senadores”, O Globo, 27/11/1992, AGC, Cad. 91, p.15.
706
“Senado transforma Collor em réu”, op. cit. “Senado submete Collor à primeira derrota”, op. cit.
sempre. Aqui é o meu lugar; perante Deus, a Pátria e a opinião pública do país. Perante Deus
tenho a consciência tranqüila. Perante a Pátria, o sentimento do dever cumprido. Não
transgredi a lei, não violei a Constituição, nem me omiti de meus deveres”.
707
Vestindo um terno azul com riscas brancas, e com os cabelos impecavelmente
penteados, o ex-presidente Collor tentava dar ao seu último pronunciamento o mesmo tom de
pompa que marcou o seu governo. O chão de lajotas com a cera descascada da velha
biblioteca cheirando a mofo e sem ar-condicionado, porém, demonstrava que os tempos eram
bem outros. O rosto marcado aparentando cansaço e tensão, e as mãos tremendo levemente
em nada lembravam a jovialidade da época da campanha. Ao seu lado apenas seus sete
últimos companheiros: a mulher Rosane, o ex-secretário Luis Carlos Chaves, os senadores
Odacir Soares (PFL-RO) e Ney Maranhão (PRN-PE), seu cunhado Marcos Coimbra, Eunícia
Guimarães, amiga de Rosane, e o porta-voz Etevaldo Dias. Inicialmente marcado para as onze
horas, o pronunciamento só começou quase uma hora depois. Collor de Mello ficou esperando
o fim do discurso de seu sucessor, Itamar Franco. Enquanto isso, na apertada sala da
biblioteca, cerca de 50 jornalistas se espremiam em frente à mesa de Collor. Tão logo Itamar
terminou seu discurso, Fernando Collor cumpriu, insistente, seu ritual de presidente. Sentou-
se no banco de trás de um Opala de cor vermelho-vinho e, no carro, atravessou a rua que
separa a “Casa da Dinda” da biblioteca, num percurso de no máximo 200 metros. Antes de
entrar, o ex-presidente ordenou aos seguranças que retirassem a cadeira que ficava atrás da
mesa. Falaria em pé, rodeado por seus amigos.
708
Rosto tenso, ele entrou afinal na biblioteca. Colocou-se ao centro, atrás da mesa e, sem
olhar para qualquer um dos jornalistas, firmou um ponto no horizonte à sua frente e começou
a falar. “Volto à presença de meus concidadãos para, mais uma vez, prestar contas de meus
atos no exercício da presidência de nosso país”. O momento e o estado de espírito do
presidente estavam indicados pelos livros que ele estava lendo. Atrás de sua mesa de trabalho,
na biblioteca da “Casa da Dinda”, o ex-presidente Collor mantinha uma estante baixa com três
prateleiras identificadas com a seguinte etiqueta: “reservados ao presidente”. Eis alguns
exemplos: “O dinheiro fácil”, de Giles Gautier; “Na arena”, de Richard Nixon; “Método Silva
de controle mental”, de José Silva; “Cadastro geral dos suspeitos de ódio ao presidente”, de
707
“Collor explica renúncia como ato de resistência às elites políticas”, O Globo, 31/12/1992, in AGC, Cad. 91,
pp. 90-2.
708
Idem.
Luis Gutemberg; “A política da solidão”, de R.Polin; “Não verás país nenhum”, de Ignácio de
Loyola Brandão; dentre outros.
709
A imprensa estrangeira deu ampla cobertura à renúncia de Collor de Mello. Ela
também foi notícia nos principais jornais da televisão italiana. A primeira emissora a tratar do
assunto foi o Canal 4, no seu noticiário das treze horas e trinta minutos. Nos telejornais
noturnos houve maiores informações, mas ninguém se preocupou em saber a opinião dos
políticos italianos. A Telemontecarlo lembrou que Collor foi o primeiro presidente eleito
depois de 20 anos de ditadura militar, mostrou imagens da leitura no Congresso de sua carta
de renúncia, e também de Itamar Franco, dizendo que o novo presidente ocuparia o governo
por dois anos.
710
A rede americana de televisão CNN colocou nas manchetes de todos os seus
noticiários a renúncia de Fernando Collor e a posse de Itamar Franco na presidência da
República. Os mexicanos que sintonizaram as emissoras de rádio do grupo Acir souberam da
notícia ao vivo, durante o café da manhã, assim como os telespectadores do canal 13, segunda
maior rede de televisão do país. O diário argentino Clarín abriu espaço na primeira página da
edição que circula em Buenos Aires para as notícias de Brasília. Portugueses e japoneses
também tomaram conhecimento das mudanças políticas no Brasil, ao vivo, por meio de uma
das 21 linhas telefônicas diretas colocadas à disposição dos correspondentes estrangeiros pela
Embratel, no Senado.
711
A secretaria de Comunicação Social do Senado credenciou 54 jornalistas estrangeiros
de 37 órgãos de comunicação de todo o mundo para a cobertura das sessões. Alguns
jornalistas como Nathanael Nash, enviado especial do New York Times, também cobriram a
movimentação na “Casa da Dinda”. A Associate Press havia enviado até o final da tarde, 12
informes para todo o mundo. Segundo Jorge Medeiros, correspondente em Brasília, que teve
o reforço de três repórteres e um fotógrafo, o enfoque das notícias variou ao longo do dia. De
manhã, os primeiros flashes informavam sobre a renuncia de Collor, seguindo-se notícias
sobre a posse de Itamar e o julgamento no Senado.
712
A expectativa era quanto à política
econômica de Itamar e o julgamento no Senado. Todos queriam saber se as reformas iniciadas
709
“Collor explica renúncia como ato de resistência às elites políticas”, op. cit.
710
“Renúncia foi notícia nas TVs italianas”, e “Imprensa estrangeira deu ampla cobertura”, O Globo,
30/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, p.89.
711
“Imprensa estrangeira deu ampla cobertura”, op. cit.
712
“Congresso não perde tempo e comemora renúncia de Collor”, O Globo, 30/12/1992, in A.G.C., Cad. 91,
p.86.
por Collor de Mello seriam mantidas. Ian Simpson, da Reuters, começou seu relato pela posse
de Itamar. “Collor é notícia de ontem. O que interessa agora é o Brasil de Itamar Franco”.
713
Collor de Mello esperava que o Senado encerrasse o julgamento após a renúncia,
deixando intocados seus direitos políticos. Por setenta e três votos contra oito, porém, os
senadores decidiram prosseguir com o julgamento e, o ex-presidente teve cassados seus
direitos políticos, por setenta e seis votos contra três, tornando-se inelegível por oito anos.
714
Dois anos depois, procurando reagir, Collor de Mello, com base no seu pedido de renúncia,
tentou reaver os direitos políticos no Supremo Tribunal Federal. No dia 7 de dezembro de
1994, o julgamento do ex-presidente Collor de Mello iniciou-se sob grande pressão da classe
política e de parte do povo levantado pelo clamor da mídia. E o ex-presidente foi absolvido do
crime de corrupção passiva por cinco votos a três, por falta de provas concretas e
conclusivas.
715
O impeachment foi o último ato do governo Collor de Mello, a performance final do
“herói-salvador” ou, a anti-performance. Seu brado, “não me deixem só”, que antes
aglutinava o povo nos seus comícios, agora assemelhava-se a um pedido de socorro e, o povo
tomava a iniciativa de fazer exatamente o oposto, como nas passeatas a favor do
impeachment. Collor não percebeu que estava realmente uma vez que, durante seu
governo, conseguiu afrontar a todos os setores organizados da sociedade. Este último ato
assemelhou-se a uma ópera bufa. Collor de Mello foi comparado a Nero e a Calígula por um
ex-aliado político e, a Dorian Gray pelo advogado de acusação. Manifestou-se dizendo que
no “Brasil tiram-se presidentes como se cargo fosse de um simples chefe de departamento” e,
também, disse que “hoje, no Brasil, é mais fácil afastar o presidente da República eleito pelo
voto popular do que retirar um inquilino indesejável”.
716
Uma semana depois de renunciar, o ex-presidente Fernando Collor começou a perder
os privilégios que o cargo lhe oferecia. Collor assistiu ao constrangedor entra e sai de
caminhões, da presidência da República, que retiravam da “Casa da Dinda” os equipamentos
do patrimônio público cedidos durante os mais de dois anos de governo. De latas de lixo a
antenas de televisão, nada escapou da operação desmonte organizada por funcionários do
setor de patrimônio do Palácio do Planalto. “A retirada está sendo feita de comum acordo com
os usuários e existe orientação do próprio presidente Itamar Franco para que o processo seja
713
“Renúncia foi notícia nas TVs italianas”, e “Imprensa estrangeira deu ampla cobertura”, op. cit.
714
“Collor acusa Senado de verdugo e algoz”, op. cit. e “Collor irá ao STF contra a condenação”, Jornal do
Brasil, 31/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, pp. 94-5.
715
“Collor tenta anular inelegibilidade no STF”, O Globo, 31/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, p. 93.
716
“Acusação compara Collor a Dorian Gray”, op. cit. “Entrevista com Fernando Collor de Mello”, O Globo,
24/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, p.61.
feito com moderação para não parecer oba-oba”, explicou Silvia Diniz, da Secretaria de
Imprensa do Planalto. “Estamos seguindo a legislação”, repetiu várias vezes a assessora, para
garantir que a retirada não era retaliação de Itamar a Collor.
717
De acordo com Silvia Diniz, a
utilização dos bens era legal e, nesse caso, Collor não cometeu qualquer abuso ou
irregularidade.
718
4.2. CAI O PANO – O “HERÓI-SALVADOR” SAI DE CENA
O fracasso das medidas econômicas e as denúncias de corrupção provocaram o
enfrentamento entre o presidente e os diversos segmentos da sociedade (empresários,
políticos, estudantes) e desmascararam o “herói-salvador”.
As crises do governo Collor desenvolveram-se em diversos cenários. No gabinete,
com a substituição de ministros, que haviam sido escolhidos para exercer o cargo durante
todo o período de governo. No Congresso Nacional, com os políticos, quando o presidente
buscava apoio para as duras medidas implementadas em função do plano econômico. Nas
ruas, com o povo decepcionado com as promessas de campanha que não se realizavam. Nos
bastidores, com a família e seus auxiliares diretos que levaram às denúncias de corrupção no
governo. No plano internacional, com os problemas relacionados à dívida externa e ao meio
ambiente. E, além disso, toda a trama foi amplamente divulgada pela mídia na medida que
os eventos se sucediam.
Buscando apoio em Barthes, que nos revela que o mito é uma mensagem, uma fala,
uma comunicação e, também, um simulacro que se institui para conformar, para naturalizar,
que o mito não esconde nada, tem como função deformar, impedir o desaparecimento, que é
uma narrativa de caráter ideológico. Identificamos na performance do mito do “herói-
salvador” essa característica de simulacro, de farsa, de falsificação.
719
A eleição do
presidente Collor ocorreu praticamente fora e, porque não dizer, à revelia dos quadros
políticos institucionalizados. Tornou-se candidato por um partido fictício, por ele mesmo
criado, o PRN, e teve a pretensão de estabelecer uma relação direta entre ele e o povo, o que
revelou o seu caráter manipulador, autoritário e demagógico. Para tal, criou uma seqüência
de performances profundamente vinculadas a uma imagem associada à aparência, estilo e
modo de se apresentar ao público, inclusive pela vestimenta, e levou-a demasiado a sério.
717
“Presidência faz operação desmonte na Dinda”, Jornal do Brasil, 05/01/1993, in A.G.C., Cad. 58, p. 24.
718
“Caminhões tiram da Dinda lembranças do poder”, O Globo , 05/01/1993, in A.G.C., Cad. 58, p. 25.
719
Roland Barthes, Mitologia, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1993, passim.
Percebeu a decomposição do Estado e dos políticos e criou a sua oportunidade nestas
brechas mas, esqueceu-se, também, que ele era produto da decomposição do Estado e da
decomposição do homem público. O “herói-salvador” era falso.
E, também, buscando apoio em Girardet, destacamos ainda que na condição de
candidato, Fernando Collor criou as condições políticas para, posteriormente, no governo,
assumir uma espécie de postura “bonapartista”, o que de fato marcou boa parte de seu breve
mandato.
720
Para isso, desde logo e aproveitando-se da crise econômico-social então
existente, apresentou-se como um outsider do empresariado, das associações sindicais, da
política e dos partidos políticos. Em contrapartida, dizia-se comprometido com o povo em
geral, os descamisados, considerando-se um guardião e juiz da sociedade brasileira como um
todo, acima dos interesses particulares e corporativos dos diversos grupos sociais.
Uma vez no governo, Collor, sob o argumento de que havia sido eleito
democraticamente, radicalizou a sua postura de intransigência, avessa a qualquer tipo de
entendimento com qualquer segmento que fosse além de seu círculo pessoal. Na época,
alguém disse que o argumento de ter sido eleito democraticamente soava como uma
autorização para que procedesse como quisesse, sem limites constitucionais. Decretou e
conduziu um plano de estabilização econômica de forma extremamente autoritária, sem
qualquer tipo de negociação com os setores organizados da sociedade, com os quais entrou
em conflito desde a campanha eleitoral. Coerente com esta postura governou,
fundamentalmente, através de medidas provisórias e desqualificou, sistematicamente, os
poderes legislativo e judiciário.
Autoritário, centralizador e messiânico, Collor julgava-se um predestinado. Fernando
Collor acreditou que mantinha uma relação de superioridade, entretanto, quando foi chamado
a demonstrar a sua “força”, a relação de forças havia mudado e a vitória transformou-se em
derrota. Ele não conseguiu cumprir suas principais promessas de campanha.
Para desvendar as intenções subjacentes de Collor de Mello, e procurar relacioná-las
com o fim melancólico de seu governo, elaboramos uma análise ideológica do “Projeto de
Reconstrução Nacional”.
721
A construção simbólica desse projeto apontava para uma
mudança radical do país, incluindo um grande número de questões ligadas tanto à realidade da
sociedade como da cultura brasileiras. Estas questões abrangiam a relação entre o Estado, a
economia e a sociedade, e à natureza do público e do privado no país, enfim um projeto que
720
Raoul Girardet, Mitos e mitologias políticas, São Paulo, Companhia das Letras, 1987. pp.12-3.
721
Orlando de Barros, O texto “documento para o historiador atento, Rio de Janeiro, Mestrado História
Política UERJ, 1998 e A propósito de um texto que publicamos em ensaio, Rio de Janeiro, Mestrado História
Política – UERJ, 1996.
prometia tudo o que o povo brasileiro desejava à época, ou seja, nada menos que milagres.
Assim, destacamos os temas mais recorrentes nas falas de Fernando Collor: inflação, caça aos
marajás, ecologia, dívida social, modernização, dívida externa, vida pública. A cada um
desses temas indicamos a correspondência, com determinados atores e determinadas
intenções.
TEMAS ATORES INTENÇÕES
Inflação estado, assalariados egoísmo, individualismo vicioso,
economia
Caça aos marajás servidores públicos,
sociedade brasileira nepotismo, corrupção, governabilidade
Ecologia ONU, estado desenvolvimento, expansão do mercado
Dívida social governo, elites,
sociedade brasileira
e trabalhadores e pobres comportamento paternalista, populismo
Modernização empresários mudanças externas e internas,
desenvolvimento econômico
Dívida externa estado/governo, credores reequacionar a dívida
Vida pública presidente viver para a política, servir ao povo
Observamos, então, que os atores revelavam os primeiros indícios das representações
que encontramos. Na maioria dos temas os atores ocupavam posições de confrontação: o
estado, o povo e as elites revelavam uma sociedade dividida em grupos sociais em disputa.
Também, a dubiedade, entre as propostas racionais e as miraculosas, mostravam as
contradições que acompanharam Collor de Mello desde sempre. As intenções, as causas, ou
as explicações indicavam que a política era representada através de corrupção, nepotismo,
egoísmo, populismo, paternalismo. Apresentava-se, então, uma representação da política
como um exercício a serviço de interesses próprios, distante da maioria da população. O
presidente, entretanto, aproximava-se da construção simbólica da política brasileira que tem
sido marcada por personagens, por uma política de favores, e por um discurso que promete
milagres. A isso se une uma cultura feliz em receber favores, crente em milagres e
profundamente enraizada em relações de parentesco.
Assim, buscando desconstruir os discursos de Collor e os discursos sobre ele e seu
governo veiculados na mídia, indicamos, a seguir, alguns elementos esclarecedores.
722
Um
dos aspectos performáticos de Collor de Mello foi enfatizar a sua fala e, muitas vezes,
substituí-la pela ação, atitude muito característica da performance que tem justamente como
uma de suas funções substituir a fala.
Sujeitos
Emissores: Collor de Mello, ministros
Observadores: políticos, empresários, intelectuais, mídia.
Destinadores: sociedade, povo e, também, empresários, políticos, jornalistas.
Seres reais e fabulares: marajás, descamisados, elites, trabalhadores, aposentados,
oligarquias, corruptos.
Tema de superfície: modernização, democracia, reconstrução, integração, inflação,
corrupção, ecologia.
Temas mais profundos: aplicação das idéias neoliberais, estado mínimo, conservação
da estrutura social e econômica com modificações exteriores e “cosméticas” ou retóricas
para disfarçar aquelas que eram, de fato, de interesse das elites.
Figurações: liquidar a inflação com um golpe de caratê, caçador de marajás, protetor
dos descamisados, matar o tigre da inflação com um único tiro (plano Collor 1).
Imagens: esportista, arrojado, moderno, jovem, estado mínimo para cumprir sua
função social, atitudes messiânicas, salvacionistas.
Elementos eufóricos: integração, ecologia, modernização, desregulamentação,
combate à burocracia, produtividade, competitividade.
Elementos disfóricos: recessão, atraso, corrupção, inflação, peso do Estado na vida
pública e privada.
Recapitulando os acontecimentos relativos à presidência de Fernando Collor de Mello,
tem-se a impressão de que ele já trilhava há algum tempo o caminho da autodestruição
política e especialmente depois da votação de 1992, que autorizou uma comissão parlamentar
para investigar as acusações havidas contra ele. Parecia que Collor de Mello seguiu um roteiro
feito só de erros e gafes, a começar pela decisão, em 1990, de mudar as regras bancárias sobre
o preenchimento de cheques. Anteriormente, os brasileiros podiam emitir cheques ao
portador, o que significava que não havia registro de quem os recebera. O governo recém-
722
Orlando de Barros, O texto “documento” para o historiador atento, op .cit. e A propósito de um texto que
publicamos em ensaio, op. cit.
eleito de Collor eliminou esse costume, exigindo que dali em diante os favorecidos fossem
nomeados nos cheques.
Essa mudança voltou para assombrar o presidente quando a comissão parlamentar de
inquérito conseguiu quebrar o sigilo bancário. Entre os 40 mil cheques examinados, havia
alguns emitidos por empregados de Paulo César Farias a favor de Collor de Mello para um
carro, para o “Jardim da Babilônia”
723
em sua casa, a “Casa da Dinda”. Fernando Collor
comprometeu-se ainda mais ao demonstrar uma fidelidade obstinada a Paulo César Farias,
com quem ele vinha declarando de público ter rompido todos os laços, mesmo depois que as
revelações negativas começaram. Collor, também, avaliou mal sua capacidade de influenciar
o público através da televisão, seu meio de comunicação predileto. Ele ganhara prestígio
nacional graças à televisão. Quando estourou a crise do impeachment, tornou a recorrer a ela.
Fez quatro discursos na televisão, pois precisava desmentir as constantes denúncias. E, via-se
cada vez mais na defensiva.
Fernando Collor de Mello foi levado a dar explicações com justificativas, logo
refutadas, pois não apresentava prova. À medida que suas aparições tornavam-se mais
desesperadas, perdeu o ar de autoridade. Ao apelar para o público em favor de sua inocência,
desgastou a própria legitimidade. Os melhores exemplos foram de que nunca se beneficiara
dos negócios de Paulo César Farias, logo refutada por provas da compra de um carro da marca
Fiat; e a alegação de que suas despesas pessoais haviam sido cobertas por um empréstimo no
Uruguai, que logo se constatou se basear em documentos falsificados. O mais sensacional erro
de avaliação de Collor foi o apelo feito aos brasileiros em 1992 para que demonstrassem
apoio a ele trajando verde e amarelo, as cores nacionais. A reação foi espantosa: enormes
multidões surgiram em todo Brasil usando preto. Isso foi o começo de uma série de grandes
manifestações contra Fernando Collor nas grandes cidades, geralmente lideradas por
adolescentes de classe média então sensibilizados por uma telenovela da época sobre as
passeatas estudantis de protesto durante a ditadura militar no final dos anos 60.
724
E, o Organizador do “Arquivo Governo Collor” assim se expressou em comentário à
margem de uma reportagem, mostrando o seu desencanto com aquele que tanto prometeu e
tão pouco realizou, quanto a esse período da nossa história.
“E ‘tudo’...começou assim! Em 1987, ainda governador do pequeno
estado de Alagoas – Fernando Collor de Mello – entusiasmou-se com a
receptividade popular que teve sua luta contra os ‘marajás’ em seu estadinho,
marajás cuja folha de pagamento absorviam toda a receita estadual. E esse
723
Denominação dada aos sofisticados jardins da casa de Collor de Mello, em Brasília.
724
Thomas Skidmore, “A queda de Collor: uma perspectiva histórica”, in Keith S. Rosenn e Richard Downes
(orgs), Corrupção e reforma política no Brasil: o impacto do impeachment de Collor, FGV, 2000, pp.37-8.
entusiasmo o levou a pensar na possibilidade de se candidatar à presidência
da República, quando então poderia por na cadeia todos os ‘marajás’ de
Alagoas e do Brasil inteiro. Mas tudo não passou de um ‘sonho’ de 35
milhões de eleitores. Em 30/12/92, o mais jovem presidente brasileiro, eleito
com apenas 40 anos de idade, teve que renunciar, acusado de formação de
quadrilha e corrupção generalizada...envolvendo sua própria esposa, alguns
de seus ministros, auxiliares diretos, e amigos íntimos como o famoso PC...”.
725
4.3. O CONTRA-DISCURSO DE COLLOR DE MELLO: A SUA VERSÃO DO
IMPEACHMENT
Depois de um período afastado da política, por força dos derradeiros acontecimentos
de seu governo, o ex-presidente Fernando Collor retornou à cena política como senador eleito
do estado de Alagoas. Então, ao assumir a sua cadeira no Senado, o ex-presidente fez um
discurso narrando a sua versão sobre o momento final de seu governo, o impeachment.
Nesta fala, Fernando Collor resgatou a sua condição de primeiro presidente eleito pelo
voto direto, após o período de regime militar, e a expressiva votação que recebeu. Coerente
com o seu perfil performático, o ex-presidente mostrou-se como vítima de um ato “insuflado
pelas paixões e alimentado pelo fragor das ruas insufladas pela cegueira das paixões”.
726
Da mesma forma que dizia, durante a campanha eleitoral, e no decorrer do seu período
de governo, o ex-presidente colocou-se na mesma situação que outros vultos da nossa história
política como os imperadores Pedro I e Pedro II, os presidentes Marechal Deodoro,
Washington Luis, Café Filho, Jânio Quadros e Jango Goulart, dizendo “que os atos de força
tornaram-se uma rotina periódica de nossa história política”.
727
Ao analisar a investigação da CPI, Collor de Mello afirmou “a CPMI não cuidava de
investigar-me, o que não era seu objeto, mas de incriminar-me, mesmo sem provas, indícios
ou evidências”.
728
Continuou, dizendo que a falsidade faz parte da política brasileira e se
colocou, novamente, junto a outros ex-presidentes como Arthur Bernardes e João Goulart.
729
Prosseguindo a sua fala, o ex-presidente afirmou que, depois de eleito, procurou
entendimento com os demais partidos políticos com o objetivo de fazer um governo
transparente, entretanto, segundo ele, tal entendimento não se concretizou a despeito e seus
725
Comentário do Organizador do Arquivo Collor, in A.G.C., Cad. 1, p. 53.
726
“Resgate da História a verdade sobre o processo do impeachment”, discurso pronunciado pelo senador
Fernando Collor de Mello ao assumir seu mandato no Senado pelo estado de Alagoas, Brasília, 15/03/2007, p.4.
727
Idem, p.5.
728
Idem, p.13.
729
Idem.
esforços. E, referiu-se, também, a falta de apoio político e à animosidade de Ibsen Pinheiro
que, segundo ele, transformou o pedido de impeachment em instrumento de vingança
pessoal.
730
Fernando Collor de Mello ressaltou, nesta fala, que por iniciativa sua, as denúncias de
seu irmão Pedro foram investigadas, entretanto, por culpa desses mesmos partidos que não o
apoiaram no início do mandato, ele foi afastado da presidência da República. Considerou,
também, pouco oportuna a transmissão da votação pela televisão e, também, o slogan usado
pelo presidente da Câmara, que entendeu como uma antecipação do resultado “o que o povo
quer esta Casa acaba querendo”.
731
Da tribuna do Senado, o ex-presidente e agora senador, Fernando Collor citou
diversos juristas, políticos, e matérias veiculadas pela imprensa favoráveis à continuação de
seu mandato naquela época e, mais uma vez, colocou-se como vítima de uma conspiração.
Segundo Collor de Mello, ele foi afastado por conta da suposição de que as acusações que lhe
fizeram eram verdadeiras. E, finalizou dizendo que, a injustiça que sofreu, com o
impeachment, foi reparada pelo povo alagoano, ao elegê-lo para o Senado.
732
Os momentos que destacamos deste discurso de Fernando Collor mostram as
contradições do então presidente da República, que adotou um padrão midiático-publicitário
de fazer política, valorizando a mídia e o povo que o elegeu, entretanto, quando esta mesma
mídia e este mesmo povo colocaram-se a favor de seu afastamento, tal fato, segundo ele,
tratava-se de uma conspiração.
Emblemático, também foi que, quando o ex-presidente analisou e criticou as
circunstâncias de seu impeachment discursando da tribuna do Senado. Seria o desejo de
reciclar a sua imagem, reivindicando para si a condição de vítima das elites atrasadas, que ele
se propusera a combater? Ou queria apenas ser, novamente, o grande astro da política
buscando iluminar-se com o brilho daquele instante, como um resgate do momento em que
foi eleito presidente da República? Ou então, seria a “virada” do ex-presidente que se
registrava agora, no seu retorno ao Senado, garantindo-lhe a posição de “vencedor”? Ou,
também, inspirou-se na “Carta–testamento” de Getúlio Vargas que, como ele, se dizia
defensor da vontade popular e que foi impedido de executar as promessas, ofereceu sua vida
em sacrifício, uma vez que, ele, Fernando Collor, por ter sido afastado do exercício da
presidência da República e, também, por ter sido afastado da cena política, de certa forma
730
Resgate da História – a verdade sobre o processo do impeachment”, op. cit. pp. 19-20.
731
Idem, pp. 28-9.
732
Idem, pp. 95-9.
considerou ter oferecido sua vida em sacrifício, uma espécie de performance derradeira, por
ter deixado a outra, a carregada de realidade, inconclusa, como muito a propósito lembra
Barros em seu trabalho.
733
4.4. AS NOVAS PERSPECTIVAS SIMBÓLICAS QUE SE ABRIRAM
Durante o afastamento do presidente Collor, o vice-presidente Itamar Franco assumiu
o governo interinamente e, com equilibrio, evitou comentários formais sobre os sucessivos
adiamentos do julgamento do presidente, ainda que esta situação estivesse prejudicando o país
porque não havia como o governo Itamar Franco desdobrar-se em soluções de problemas
administrativos, questionar erros do passado e preparar planos de ação de curto e médio prazo
na condição de interinidade.
734
Entretanto, esta não era a percepção do presidente afastado
que, respondendo as alegações de que o país estaria parado, assim se pronunciou.
“Não houve mudança no governo ou não deveria ter havido
mudança de governo. O vice-presidente da República foi eleito na minha
chapa. Ele subscreveu, ele assinou, referendou, sublinhou toda a proposta de
governo. A intranqüilidade reinante hoje no país, sobretudo nos agentes
econômicos, na sociedade como um todo, é pela perplexidade causada pela
mudança de rumo dado por um mesmo governo à proposta que vinha sendo
implementada. Hoje o que causa essa certa interrogação sobre os rumos do
país é o fato de não estar sendo cumprida rigorosamente como deveria estar
pelo senhor vice-presidente da República uma proposta de governo que antes
de pertencer àqueles que foram eleitos para o Executivo nas eleições de 1989
pertencem à sociedade que referendou esta proposta”.
735
No dia 29 de dezembro de 1992, menos de quatro horas depois da renúncia de
Fernando Collor, Itamar Franco assinava em sessão solene do Senado, o termo de posse como
33º presidente da República, depois de exercer o cargo interinamente por 89 dias. Itamar
assumiu a presidência exatamente três anos depois de ter sido diplomado como vice de Collor,
no dia 29 de dezembro de 1989, na primeira eleição direta para o cargo em 29 anos. Itamar
acompanhou os acontecimentos de casa, mas só soube da renúncia quando alguém gritou
perto de seu quarto: “Collor renunciou”. Itamar pretendia assumir oficialmente no dia
seguinte, pois não tinha preparado o discurso de posse. Mas, cedeu aos argumentos de quatro
ministros Fernando Henrique Cardoso, Maurício Corrêa, Mauro Durante e Murilo Hingel e,
também, dos líderes do governo no Senado, Pedro Simon, e na Câmara, Roberto Freire, e
733
Orlando de Barros, A performance: em busca de uma metodologia, op. cit., p. 15.
734
“Manobra adia julgamento de Collor”, O Globo, 22/12/1992, e “É uma irresponsabilidade protelar o
julgamento”, de Carlos Chagas, Tribuna da Imprensa, 23/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, pp. 46 e 53.
735
Entrevista/Fernando Collor, O Globo, 24/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, p. 61.
aceitou tomar posse sem discurso, para evitar um problema jurídico com a declaração de
vacância do cargo por 24 horas. “Tudo bem, sou voto vencido”, cedeu. Numa cerimônia
improvisada e sem discursos, Itamar quebrou o protocolo ao apresentar ao presidente do
Congresso, Mauro Benevides, do PMDB do Ceará, sua declaração de bens. O discurso de
Itamar foi transmitido à nação no dia seguinte, quando ele reuniu a equipe ministerial e
anunciou as primeiras medidas do governo.
736
O presidente Itamar Franco buscou orientar o seu governo a partir de dois
compromissos principais: resgatar a ética na administração pública e preparar o país para
implantação de um plano de estabilização econômica, com possibilidade de sucesso.
O drama do mandato fracassado de Fernando Collor de Mello e a intensidade da
campanha de 1994 minaram as forças políticas do país. Os esforços para transformar o
sistema presidencialista num sistema mais moderno e equilibrado, com o fortalecimento do
Legislativo e do Judiciário e uma significativa redução dos poderes imperiais do
presidencialismo brasileiro acabaram dando em nada. A cena política em 1994 e 1998 ficou
reduzida a um conflito entre a centro-direita, mais bem organizada que em 1989, e a coligação
de PSDB/PFL/PTB, que derrotou facilmente a coligação de esquerda
PT/PSB/PCdoB/PPS/PV, liderada por Lula.
O sucesso do Plano Real deu grande impulso à coligação de centro-direita.
737
Com
sua vitória nas eleições presidenciais de 1994 e sua posse em 1º de janeiro de 1995, o
presidente Fernando Henrique Cardoso deu uma conotação claramente econômica à
campanha eleitoral. Tal ênfase foi natural considerando o destaque de Fernando Henrique no
Plano Real de estabilização elaborado pela equipe econômica que ele coordenou no início de
1994, quando ministro da Fazenda do governo Itamar Franco. Fernando Henrique Cardoso se
afastou do cargo em abril para se lançar candidato à presidência, e seu plano culminou em
de julho com a introdução do “real” como nova moeda brasileira. Na prática, o Plano Real
revelou-se tão eficaz ao reduzir a inflação e os preços em termos reais em julho, agosto e
setembro, que Fernando Henrique foi eleito com maioria absoluta (54%) no primeiro turno,
em 3 de outubro de 1994.
738
736
“Renúncia não salva Collor”, O Globo, 30/12/1992, in A.G.C., Cad. 91, p.85.
737
David Fleischer, “Além de Collorgate: perspectivas de consolidação democrática no Brasil via reformas
políticas”, in Keith S. Rosenn e Richard Downes, Corrupção e reforma política no Brasil: o impacto do
impeachment de Collor, Rio de Janeiro, Editora FGV, 2000, pp. 109-10.
738
Gilberto Dimenstein e Josias de Souza, A história real-trama de uma sucessão, São Paulo, Ática, 1994;
Luciano Suassuna e Luiz Antonio Novaes, Como Fernando Henrique foi eleito presidente- os acordos secretos,
o PT de salto alto, São Paulo , Contexto, 1994; apud David Fleischer, “Além de Collorgate: perspectivas de
consolidação democrática no Brasil via reformas políticas”, in Keith S. Rosenn e Richard Downes, Corrupção e
reforma política no Brasil: o impacto do impeachment de Collor, Rio de Janeiro, Editora FGV, 2000, pp. 108.
O “real”, a nova moeda brasileira, instituído em de julho de 1994 conseguiu impor-
se à descrença coletiva, criando novas condições políticas na sociedade brasileira que se
expressaram com clareza no quadro da sucessão presidencial. E, a partir de sua
institucionalização, o “real” mostrou a sua força mobilizadora, invertendo a tendência da
sucessão presidencial uma vez que em junho de 1994, Lula mostrava-se o grande favorito
com mais de 30% das intenções de voto e Fernando Henrique não chegava a 20%.
739
Lula mantinha, à época, uma grande vantagem e os articuladores da campanha de
Fernando Henrique Cardoso, resignavam-se diante dessa realidade, aceitando que essa
vantagem não podia ser desfeita até o mês de outubro e que a alternativa seria tentar alcançá-
lo no segundo turno. Mas, a despeito das previsões, Fernando Henrique Cardoso foi alçado à
presidência da República no primeiro turno graças ao “real” e a tão falada estabilização. E,
aprovado o “real”, o presidente assumiu o governo com 70% de aprovação e com a
expectativa de que faria um bom governo. De fato, o governo Fernando Henrique estava
vinculado ao sucesso do “real”. Com a nova moeda na rua e a inflação em baixa, Fernando
Henrique Cardoso e o “real” transformaram-se dia a dia no novo referencial da campanha de
1994. Assim, o “real”, no contexto da disputa presidencial foi estrategicamente usado em
função de determinados interesses no difícil jogo político. E a resposta foi eficiente, porque
estimulou energias potenciais de uma população que vivenciava todas as inseguranças de uma
situação de hiperinflação. O “real” passou a encarnar a estabilidade, a segurança. Na mídia, se
tornaram públicas as vozes de apoio e de ovação ao “real” de Fernando Henrique, difundindo
uma maneira de fazer ver e fazer crer, de dar a conhecer e de fazer reconhecer.
740
A campanha presidencial estava indexada ao real. O cenário eleitoral dependia de seus
efeitos e de seus resultados. Assim, no domínio da economia do simbólico foi se consolidando
a simbiose entre a nova moeda e Fernando Henrique Cardoso. Acompanhando-se o desenrolar
das falas de Fernando Henrique, em campanha, tinha-se de forma clara, como o candidato
apoiava suas mensagens no “real” que, então, se transformou no seu maior símbolo: Fernando
Henrique o “homem do real”. E, o candidato falava sempre de improviso e aprendeu a mexer
com a emoção. As identidades de Fernando Henrique de professor e de político se
misturavam, se mesclavam, criando a figura do moderno salvador, o político do novo tipo, o
que salva com saber, eficiência, competência e honestidade. E, Fernando Henrique Cardoso
739
Alba Maria Pinho de Carvalho, “O real no imaginário político contemporâneo: uma abordagem a partir da
imprensa”, in Irlys Barreira e Sulamita Vieira (org), Cultura Política:tecidos do cotidiano brasileiro, Fortaleza,
EUFC, 1998, pp.13-50. Argemiro J. Brum, Desenvolvimento Econômico Brasileiro, Ijuí, Unijuí, 1999, pp.489-
556.
740
Idem.
trabalhou bem essa idéia de salvador no cenário do “real”: afirmou e reafirmou que o “real”
não era obra dele e, sim, do povo, e, ao mesmo tempo destacou o seu esforço, a sua luta, a sua
atuação enérgica enquanto ministro da Fazenda para reconstruir a economia.
741
Ele, também, enfatizou o poder, quase mágico, da crença do povo e destacou o seu
papel de guardião conferido pela sociedade, no reconhecimento da sua paternidade do real:
“segura o real...” Era um tom populista que calava bem no contexto de mudanças que a nova
moeda então provocava. O “real” forneceu a Fernando Henrique Cardoso a identidade política
clara uma marca: o “homem do real”. Ele foi a base da mobilização popular em torno da
candidatura de Fernando Henrique, foi ele que alçou o candidato à presidência da República
no contexto da disputa eleitoral. Assim, da mesma forma que a assessoria de marketing de
Collor de Mello, trabalhando com representações e símbolos, o comitê da campanha de
Fernando Henrique Cardoso, imbricado no governo, com apoio decisivo da mídia, conseguiu
forjar identidades eleitorais no imaginário político brasileiro para os dois candidatos de peso
na reta final da disputa, Fernando Henrique e Lula, transformando a eleição presidencial de
1994 numa disputa plebiscitária entre o candidato oficial que representava a estabilidade
econômica via “real” e o candidato que queria o retorno da inflação porque era contra o
“real”.
742
A concordância entre Fernando Henrique Cardoso e Fernando Collor de Mello se deu
na concentração em torno de um ponto comum: a moeda, seu valor, inflação. Assim também,
em relação ao estado mínimo, abertura de mercado e modernização. Collor foi aquele que
chegou à presidência porque lutaria contra a corrupção e porque traria uma nova proposta
para o país: o “Brasil Novo”. E, Fernando Henrique aquele que chegou à presidência porque
derrotou a inflação com o “real”. Entretanto, as propostas modernizadoras de Fernando Collor
de Mello, como o Estado mínimo, e a modernização da economia, dentre outras, foram
preservadas e implementadas por Fernando Henrique Cardoso, da mesma forma que, as
técnicas de marketing e a utilização da mídia.
Da mesma forma, o atual presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, durante a
sua última campanha eleitoral, utilizou-se das técnicas de marketing para ressemantizar e
ressimbolizar a sua imagem, com o objetivo de ser aceito pelas camadas mais conservadoras,
trocando a imagem de um político radical por uma imagem de “paz e amor”, preferentemente
com seu nome repetido no diminutivo.
743
741
Alba Maria Pinho de Carvalho, op. cit. Argemiro J. Brum, op. cit.
742
Idem.
743
Orlando de Barros, A performance: em busca de uma metodologia, op. cit., p.10.
Muito a propósito, Barros esclarece que “o domínio do corpo no espaço, a exploração
de suas potencialidades sedutoras e de domínio têm sido elementos políticos usados para
provocar adesão, como catalisador das vontades. Numa época de crise, tensões e incertezas,
um líder que, nos tempos atuais, mostrar-se esportista, ecológico, arrojado, tem grandes
chances de arrebatar multidões, sobretudo se seu corpo preencher os padrões de beleza
dominantes, dotado dos elementos estéticos valorizados”.
744
Nesta descrição enquadra-se
Fernando Collor de Mello, mas também, Fernando Henrique Cardoso muito se utilizou de sua
imagem de intelectual e de professor para inspirar segurança e conquistar o povo, da mesma
forma que Lula, também se utilizou de sua imagem de metalúrgico e de trabalhador, para
mostrar e reforçar a igualdade de oportunidades e ascensão social e, além disso, calcado no
slogan de “paz e amor” mostrar sua disposição para o diálogo e, o entendimento entre as
diversas camadas da sociedade.
Assim, podemos dizer que, a partir da eleição de Fernando Collor houve uma
intensificação na utilização da mídia nas campanhas eleitorais, com ampla utilização das
técnicas publicitárias na fabricação das imagens dos candidatos, como se fossem produtos a
serem lançados no mercado. Esta mesma tecnologia que, muitas vezes, ajuda a destruir a
democracia participativa, transformando a política em espetáculo da mídia e em batalha de
imagens, poderia ajudar a revigorar o debate e a participação democrática.
Entretanto, verificou-se que as imagens e os discursos propagados pela mídia podem
ter efeitos contraditórios, e que a sociedade pode resistir à manipulação pela mídia. Por
conseguinte, a saturação da cobertura dada pela mídia aos episódios políticos é uma faca de
dois gumes: pode conformar a opinião pública no sentido de apoiar o governo como
realmente o fez durante algum tempo, mas, com sua repetição infindável de imagens e textos
de uma situação de impasse pode levar a sociedade a voltar-se contra o seu governante que
promoveu tal impasse. Seus efeitos positivos de curto prazo também dão indícios da
volubilidade da sociedade num contexto saturado pela mídia, pois ele logo esquece os grandes
acontecimentos do ano anterior.
744
Orlando de Barros, A performance: em busca de uma metodologia, op. cit. p.15.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diz-se de certos povos que não perdem uma oportunidade de perder uma
oportunidade. E assim parece ser o caso do Brasil, em certos momentos de sua história,
quando fez escolhas arriscadas e mesmo desastrosas, tendo, por isso, de padecer e adiar a
realização das melhores esperanças do país do futuro. Tal parece ter ocorrido, na história
recente, pelo menos em duas oportunidades, com as eleições de Jânio Quadros (1960) e
Fernando Collor de Mello (1989). A renúncia do primeiro, com sete meses de governo,
promoveu um período de instabilidade política que culminou no golpe militar que instaurou a
ditadura de duas décadas de duração. A eleição de Collor, que acendeu o desejo de
modernização, de controle da galopante inflação e de estancamento da corrupção renitente,
acabou em fiasco, um verdadeiro tiro pela culatra, que pôs a República de ponta cabeça, num
dos momentos mais dramáticos da história recente. Sendo assim, cabe indagar porque, depois
de ter errado com Quadros, o que teria levado os brasileiros a se deixarem conduzir por
Collor, sobretudo depois de ter amargado o regime militar autoritário.
Aparentemente, era de se esperar que o eleitorado se mostrasse desconfiado de
promessas impossíveis de cumprir e pouco disposto a acolher candidatos sem uma delongada
experiência política e administrativa, sem ter deixado de concorrer para a derrocada da
ditadura e, ainda, sem presença destacada e constante no palco dos acontecimentos políticos
dos anos 80. Collor não tinha nada disso que pudesse trazê-lo ao foco principal. Não tinha
passado de luta contra o autoritarismo; tratava-se de um governador de um estado pequeno,
provinciano e pouco influente, sem experiência política ou administrativa que justificasse sua
candidatura. Entretanto, não se pode negar que Collor se tenha transformado num fenômeno
político, que tenha preenchido o vazio, o de um esperado líder típico dos novos tempos.
E os novos tempos, no caso, foram os do pleno desenvolvimento das mídias modernas,
dos procedimentos publicitários capazes de manipular eficientemente a opinião pública, dos
institutos preparados para sondar com precisão os anseios mais recônditos, capazes de operar
a computação e manipulação quase infinitas de informações. Os novos tempos são aqueles em
que as campanhas políticas são desenhadas a régua e compasso, com as técnicas das melhores
campanhas publicitárias de mercado, aquelas que, de tão bem feitas, costumam criar
necessidades, capazes mesmo de transformar o eleitor num consumidor.
Os novos tempos são também os da estruturação dos lobbies, dos financiamentos de
campanhas eleitorais por interesses econômicos pouco visíveis em seus contornos, mas
plenamente detectáveis. Os tempos modernos são os da descoberta de soluções novas para um
velho problema, aquele de sempre para os que detêm o poder: a contenção de mudanças, a
necessidade de dobrar ou contornar a vontade popular e controlar a opinião pública, a
manutenção da hegemonia reinante e o impedimento de que novas forças emirjam. As
soluções novas incluem não esquemas e alianças bem arranjados, mas, sobretudo, a
aplicação de eficiente e bem aparelhado arsenal publicitário que se utiliza de competente
engenharia de mídia, sobretudo a centralizada na televisão.
Nos anos do regime militar desenvolveram-se muito a mídia e a publicidade no Brasil,
em parte como natural produto do “milagre econômico”, em parte por ter a ditadura militar
também se utilizado da publicidade moderna para obter certa legitimidade, já que lhe faltava a
das urnas, se estas não fossem manipuladas à força ocasionalmente. Já então com um grande
alcance da televisão sobre o país imenso, pode-se dizer que, para usar a metáfora clássica de
George Orwell, o Brasil estava pronto para sua pequena experiência com um Big Brother
qualquer, pelo menos no que tange aos dispositivos de manipulação da vontade coletiva.
Numa viagem oficial à China, como governador de Alagoas, um áulico da entourage
de Collor lhe sugeriu que aproveitasse a notoriedade que havia obtido na mídia por sua “caça
aos marajás” e se candidatasse às eleições presidenciais. De fato, a indignação pública contra
os funcionários que haviam conseguido remuneração excessiva e descabida por meio de
chicanas judiciais estava no ápice quando da referida viagem e bem podia ser capitalizada.
Uma consulta ao instituto de pesquisa Vox Populi indicou o perfil de candidato esperado pelo
eleitorado. Um dos pontos-chave era justamente a rejeição aos privilégios, como o dos
“marajás”, assim como o dos usineiros de açúcar do nordeste, tão beneficiados pelos favores
do orçamento público. Collor saiu à frente na campanha eleitoral para a presidência da
república, em seu espetaculoso combate aos “marajás”; no mais, tratou de cumprir o figurino
apurado na pesquisa: jovialidade, temperamento esportivo, tipo físico atlético, beleza
máscula, aspectos que bem situou o candidato junto ao eleitorado feminino. O discurso
delineou-se como promitente de mudanças e de modernização, com juras de ataque frontal à
hiperinflação, de combate sem trégua aos entraves e ao atraso da economia, aos cartéis e aos
preços protegidos. Vinha de encontro a alguns rogos recentes do empresariado brasileiro:
falou da necessidade de privatizações de empresas públicas, do estado mínimo. Aos
“descamisados” prometeu o fim da inflação que corroia os salários; à classe média, o combate
à corrupção e os cuidados com o meio ambiente, fazendo com que o neologismo ecologia se
tornasse familiar pela presença constante em seus pronunciamentos.
Collor, firmando sua estampa de galã de cinema ou televisão, não demorou a
configurar e firmar sua campanha na ação, no desempenho, na promessa de alteração do
mundo pelo toque pessoal, no comportamento de demiurgo, aspectos que, conforme o estudo
de Orlando de Barros, constituem elementos característicos da performance. Assim, Collor,
abandonou o que Weber denominou certa vez de “vocação para a política”, ou o que, na
tradição brasileira, o Manifesto dos Mineiros, em 1943, chamou de “apelo ao dever cívico”.
Preferiu, em vez disso, obter a aprovação do eleitorado pelas promessas feitas de modo
espetaculoso, bem à feição de um país apaixonado pelas novelas de televisão e outros gêneros
de mídia. Enquanto se desenvolvia a fácies performática, algumas “verdades” do candidato se
impunham pela repetição ad nauseam, quase como mantras, uma técnica de convencimento
que vinha de longe e se mostrava eficiente mais uma vez.
Favoreciam tal projeto de conquista do eleitorado, em primeiro lugar, a cauterização
política promovida durante o regime militar, com cassação freqüente dos opositores e
aliciamento dos aliados por meio do oferecimento de vantagens indevidas, então denominadas
de “práticas fisiológicas”, cada vez mais comuns quando os militares não mais podiam se
sustentar no poder. Em segundo lugar, não havia propriamente partidos políticos, com
programas claros e recorte ideológico. O PMDB mais parecia uma frente de resistência ao
regime militar, um tanto descosido, muito diversificado em relação aos parlamentares que o
compunham. Em terceiro lugar, o autoritarismo impediu as eleições presidenciais e tratou o
eleitor de tal jeito que se pode dizer que o infantilizou. Durante o governo Sarney, a crise de
hiperinflação, as manobras do presidente para obter um ano a mais de mandato, o esforço dos
políticos dos “grotões” para manter seus privilégios e suas fontes de abastecimento fisiológico
haviam minado o horizonte político visível do eleitor. E este não pudera eleger diretamente
Sarney, conduzido à presidência por um fato do destino, em substituição a um presidente
eleito indiretamente pelo congresso e que adoeceu mortalmente sem ter tomado posse.
Vivendo em tal fragilidade política e ideológica, considerando-se vítima dos azares da
história, o eleitorado brasileiro, quase a completar três décadas sem eleger o mandatário
máximo da nação, em grande parte, estava pronto às manobras de prestidigitação, ávido por
encontrar o guerreiro vingador, aberto às promessas mágicas de quem se apresentasse
convincentemente como salvador da pátria, protótipo mitológico clássico estudado por Raul
Girardet, cujo figurino, absolutamente central, se encaixa à perfeição em Collor de Mello
naquele momento. Nessas circunstâncias, os eleitores encontraram-se com a mídia moderna,
especialmente com a televisiva, esta última especialmente tocada por esse algo pouco tangível
chamado “emoção”, isto é, a “ação sobre os sentimentos”, essa coisa deixada propositalmente
vaga denominada por uma expressão derivada da fisiologia: “adrenalina”. Emoção,
adrenalina, esperança de ação espetacular se satisfazem com atos fortemente teatralizados, por
assim dizer, com performances, e não propriamente com programa de boa gestão
administrativa, mas pela força da vontade, pela explosão de energia. Se assim é, o instituto de
opinião pública e os publicitários a serviço de Collor de Mello bem entenderam a conjuntura e
se apresentaram com competência para conquistar o poder.
Mas é bom que se diga que uma grande parte do eleitorado procurava manter o
equilíbrio. A grande quantidade de candidatos bem expressa a dificuldade de organização dos
partidos e seu pouco horizonte ideológico. Collor de Mello acabou arrebanhando uma espécie
de fusão dos interesses médios, com seu partido recém fundado, sem tradição alguma, se
adensando em um extremo do mapa eleitoral, em contra-peso ao avanço do Partido dos
Trabalhadores e de Lula, seu líder político originado na lida sindical. Boa parte do eleitorado
aspirava por mudanças, mas que não fossem tão arrojadas a ponto de servir de pretexto para a
volta dos militares. O empresariado temia o programa econômico estatista e nada liberal de
Lula. A classe média ouvia com atenção o discurso moralizador de combate à corrupção de
Collor, e mostrava-se temerosa do esquerdismo do PT, num tempo em que o discurso anti-
comunista do regime militar não estava de todo disperso. Nos acirrados momentos da
campanha do segundo turno, acentuou-se a idéia-força da conspiração, outro protótipo
mitológico estudado por Girardet, quando uma das porções discursivas predominantes passou
a ser a ameaça comunista, emoldurada no candidato oponente e seu partido, aquele de quem
poder-se-ia esperar que socializasse as empresas privadas e confiscasse as contas de poupança
da classe média.
Um fato interessante que se passa na campanha de Collor é que, sendo de um estado
nordestino, houvesse pouca aceitação naquele momento, quando a sustentação do governo
Sarney dependeu tanto dos “coronéis” provincianos e dos fisiológicos interesses dos
usineiros, com um sem número de escândalos e denúncias na imprensa, que faziam crer que
os “grotões” nordestinos estavam a dominar o Brasil moderno. Mas Collor não tinha a
aparência média dos velhos líderes nordestinos; o sotaque era o da zona sul do Rio de Janeiro.
O discurso contra a corrupção e em favor da regeneração e modernização dos hábitos
políticos impunha um estranho efeito de sentido, era do nordeste mesmo que partia a proposta
de mudança, como a de uma cura homeopática: Simila simila curantur?
Apoiando-se na construção discursiva do texto da crise, Collor de Mello delineou
claramente os inimigos a combater: o governo Sarney e os políticos tradicionais, a “elite” que
atravancava a modernização do país, a corrupção, o atraso, a hiperinflação, os “marajás” e os
funcionários públicos indolentes em geral, o Estado demasiadamente crescido às custas da
livre empresa, os gastos públicos demasiados, os cartéis, a regulamentação excessiva da
economia, a proteção descabida dos interesses de setores dominantes da economia por meio
de taxas alfandegárias excessivamente altas, etc. Depois de tantas vezes repetido, podia-se
delinear claramente que Collor tinha um programa oposto ao de Lula, o opositor principal, no
que tange ao papel do Estado e o da livre empresa. Isso permitiu suporte significativo e
definitivo do empresariado e da classe média. Obtido o apoio, Collor partiu para uma
campanha espetacular, em que o adversário principal foi satanizado como líder das forças do
atraso, do mal supremo e da falta de ética, essa última reforçada por um golpe baixo, com a
acusação surpreendente ao adversário, no último debate na televisão, quando Lula foi acusado
de ter abandonado uma filha que tivera fora do casamento, num clima típico de gênero
sensacionalista da tevê, não fosse aquele um programa fiscalizado pelo Tribunal Eleitoral.
Vencidas as eleições, enquanto se aguardava a posse, o presidente-eleito teve
oportunidade de por em prática, aqui e no estrangeiro, um bom número de seu arsenal
performático, embora um tanto questionado pela imprensa internacional, tal como se deu com
a perdulária viagem de descanso na costa africana. Como primeira medida importante de seu
governo, ainda no dia da posse, Collor desferiu um golpe espetacular, absolutamente
inesperado, que foi o plano econômico, mais tarde conhecido como Plano Collor I. O ato
sensacional e surpreendente com que inaugurara o governo, uma performance de celerado,
descontentou a todos, os empresários, pelo evidente despreparo da equipe econômica, a classe
média, pela perda temporária do controle de suas pequenas poupanças. A decepção foi
definitiva: Collor mostrou-se capaz de perpetrar o que denunciou que Lula faria, durante a
campanha eleitoral. Daí em diante tornou-se definitivamente suspicaz para uma larga parte
dos brasileiros.
Nesse episódio alegou que não poderia ser outra atitude, pois tinha uma única bala
para matar o tigre da inflação. Inaugurando o governo assim performaticamente, continuou a
aproveitar as oportunidades que se apresentavam: as descidas semanais na rampa do palácio,
as caminhadas de fim de semana, os passeios de jet-ski. Não faltaram as atitudes temerárias,
como o vôo num avião militar de caça, nem as ocasiões em que abusou da velocidade em
bólidos, a ponto de receber um “pito” público da mãe. Elegante e considerado o mais belo
chefe de Estado de seu tempo, teve de ouvir do presidente dos Estados Unidos, no que se
constituiu duplo sentido, que era um protótipo de “Indiana Jones”, um herói popular do
cinema. Tudo valia, naquela altura, para justificar os atos impopulares e a incontornável
gestão da economia, inclusive com o retorno da inflação.
Não houve reação imediata ao primeiro plano econômico, apesar da truculência e
flagrante inconstitucionalidade. Todos queriam o controle da inflação. A falta de resultados
positivos, entretanto, levou ao aberto descontentamento, passado o primeiro ano de governo.
E Collor de Mello continuou a descontentar a classe média, ao iniciar as privatizações e
demitir centenas de milhares de funcionários. O discurso contra as “elites” se chocava com
uma abertura desastrada da economia, sem nada pedir em troca dos parceiros internacionais,
agravando as contas externas e prejudicando interesses econômicos que não tinham como
concorrer com as companhias estrangeiras que, em não poucos casos, exerciam o dumping,
provocando a falência dos produtores brasileiros, por sinal fortemente gravados pelo fisco. E
assim a toda hora surgiam nas cidades brasileiras lojas de quinquilharias importadas, e
começavam a circular nas ruas os veículos que Collor costumava chamar de “automóveis de
primeiro mundo”, em contraste com o que ele também chamava de “carroças”. Isso custava
empregos e descontentava também os seus “descamisados” da época da campanha eleitoral, já
acossados de novo pela inflação.
Continuando os atos performáticos, eles soavam anti-performáticos em algumas
ocasiões, no sentido de que passaram a atuar contra o governo, de maneira oposta ao
desejado. E se tornaram permanentemente assim quando se divulgou o escândalo de seu chefe
de campanha, Paulo César Farias, formalmente acusado de ter amealhado uma fortuna, em
parceria com o presidente, como produto de corrupção. Os terríveis atos de anti-performance
que se seguiram, verdadeira via crucis nacional, por sua vez merecedores de ampla cobertura
midiática, terminou com o impeachment temporário, a renúncia e o julgamento que cassou o
mandato, tornando-o inelegível por oito anos. E tudo se deu sem que ficasse cabalmente
provado o envolvimento de Collor com Farias. Foi cassado pela posse indevida de um simples
automóvel de fabricação brasileira, uma de suas “carroças”, acusação de que foi inocentado
mais tarde. E tudo isso se passou na mídia, na televisão principalmente, como uma mini-série
noturna, a confirmar o aforismo bíblico do “quem com ferro fere com ferro será ferido”:
construído pela mídia, o herói performático, tendo deixado de servir, foi inapelavelmente
desconstruído e derrotado. Esse momento trágico, em nossa pesquisa, muitas vezes ganha
comentários patéticos do organizador do “Arquivo Collor”, de que tanto nos valemos para
escrever esta tese de doutoramento.
Não se pode negar que algumas medidas postas em prática pelo governo Collor de
Mello tenham sido respaldadas e continuadas nos governos seguintes. As tentativas de
controle da inflação foram seguidas e, finalmente, obtiveram razoável sucesso, assim como a
visão monetarista se instalou de vez. A economia se modernizou e ficou menos fechada às
importações. Finalmente, a administração nacional enquadrou os funcionários públicos,
desmobilizados pelos aumentos salariais setorizados, que quebrou com a unidade das
organizações sindicais. Hoje a maioria dos funcionários acumula uma defasagem salarial
próxima aos 80%, sem correção significativa cerca de quinze anos, contrariando a
legislação. Em tal ponto do “Estado mínimo”, que Collor quis atingir, de fato serviu de
inspiração definitiva para os governos seguintes, a começar por Itamar Franco, que ousou
corrigir os salários dos militares em 18% sem fazer o mesmo com os civis, o que era devido
em lei. Assim, se os “marajás” continuaram com suas vantagens intocadas, os funcionários
em geral pagaram o preço das reformas, com graves conseqüências para os serviços públicos
e para a democracia. A caminhada na direção do neoliberalismo e da globalização foi seguida,
pois, pelos governos seguintes, sendo um trunfo para a performance de Lula e de seu partido
que, finalmente, chegaram ao poder.
Nem se pode dizer que as privatizações, timidamente iniciadas por Collor, não tenham
se acelerado mais tarde, inclusive na gestão “socialista” de Lula. Quanto a corrupção, ela
prossegue, como sempre ocorreu, com parte da mídia denunciando que as privatizações dos
governos sucessores aludiam, em não poucos casos, a “crimes perfeitos”, pois elas seriam
resultado dos “ensinamentos” de Collor: de que haveria métodos melhores de apropriação de
recursos públicos dos que foram usados naquele governo. Novos impeachments parecem
agora impossíveis, pois os fatos indicam ter o congresso se rendido às vantagens
“fisiológicas” de todos os tipos, e isso bem parece recurso político e método de governar do
executivo, como bem mostraram os dolorosos casos recentes de corrupção, tão maiores que os
de Collor de Mello, pelo volume e pelo alcance de pessoas atingidas.
Tudo indica que Collor, pelos seus métodos performáticos e midiáticos, também
introduziu doravante uma cultura política definitiva, os governos sucessores começaram
“blindados”, para usar uma metáfora corrente. O presidente Fernando Henrique Cardoso, que
não quis ser “Indiana Jones”, preferiu ser o “príncipe” dos intelectuais e quanto mais pôde
usou sua estampa para tirar partido da respeitabilidade até então pouco obtida pelos últimos
governantes brasileiros entre os chefes de Estado do mundo. Lula, que não demora nos dias
que correm a cumprir o segundo mandato, prossegue ainda como um ator em performática e
permanente campanha eleitoral, estranhamente necessitado de continuar a convencer os
eleitores imaginários da excelência de seu governo. O uso da mídia, com vastos recursos
publicitários, veio para ficar, deixando a “Voz do Brasil”, recurso midiático primitivo
implantado por Vargas em 1933, parecer brincadeira de criança. Para o bem e para o mal, os
governantes brasileiros não mais podem governar sem expressar claramente suas
performances, por meio dos recursos da mídia, correndo o risco de fazer perigar a democracia
e infantilizar a sociedade. Os métodos de Collor parecem ter contagiado de vez seus
sucessores e, se assim for, terão assegurado, nefastos ou não, um papel histórico que lhe é
próprio, com lugar marcado na cultura política brasileira contemporânea.
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04/01/1990; Jornal do Brasil; Collor chama a Roma consultor para economia. Aventuras de
viagem. Caderno 6; p.14.
05/01/1990; Jornal do Brasil; Plano de Collor antecede equipe. Caderno 6; p.15.
05/01/1990; Jornal do Brasil; Comitiva vai à cidade de São Francisco, de Rosângela Bittar e
Marina Wodke. Caderno 6; p.17.
06/01/1990; O Globo; Collor atacará inflação já no primeiro dia. Caderno 6; pp.18-19.
06/01/1990; Jornal do Brasil; Collor quer impacto logo no primeiro dia. Caderno 6; p.20.
07/01/1990; Jornal do Brasil; Daniel Dantas volta a negar plano de emergência. Caderno 6;
p.23.
07/01/1990; Jornal do Brasil; Collor impõe com amigos novo estilo do poder em Brasília.
Políticos cedem vez a filhos de pioneiros que fizeram fortuna, de Rosângela Bittar. Caderno
6; p.27.
07/01/1990, O Globo, “Collor em Paris quer apenas paz e sossego junto à família”, Cad.6,
p.21-2.
08/01/1990; Jornal do Brasil; Avião alugado por Collor na Suíça custou US$ 300 mil.
Caderno 6; p.28.
08/01/1990; Jornal do Brasil; O solitário Indiana Collor, de Etevaldo Dias. Caderno 6; p.29.
09/01/1990; O Globo; Collor estuda tornar o Banco Central independente. Caderno 7; p.12.
10/01/1990; O Globo; Collor cobrirá déficit com impostos. Caderno 7; pp.15-16-17.
11/01/1990; O Globo; Collor terá plano radical de privatização. Caderno 7; p.18.
11/01/1990; O Globo; Collor começa a definir o roteiro das viagens oficiais. Caderno 6;
p.35.
12/01/1990; O Globo; Collor anunciará alguns ministros em uma semana. Caderno 6; p.37.
12/01/1990; O Globo; Viagem repercute na imprensa francesa. Caderno 6; p.35.
14/01/1990; O Globo; Collor deve retomar leilões da dívida. Caderno 6; p.48.
14/01/1990; O Globo; Collor chega para definir plano econômico. Caderno 6; p.49.
15/01/1990; Jornal do Brasil; Collor indica Cabral para Ministério da Justiça. Cad 10; p.10.
16/01/1990; Jornal do Brasil; Zélia anuncia que Collor aprova propostas econômicas.
Caderno 7; pp. 24-25.
16/01/1990; Tribuna da Imprensa; Collor aprova plano de Zélia sem a recessão. Cad 7; p. 26.
18/01/1990; Jornal do Brasil; Collor anuncia ministros militares, Caderno 10; p.61.
19/01/1990; O Globo; General Tinoco diz que SNI não será mais extinto. Caderno 10; p.69.
22/01/1990; O Globo; Collor: mercado comum libertará a América do Sul. Caderno 6;
p.57.
23/01/1990; O Globo; EUA receberão Collor com novas promessas de ajuda. Cad 6; p.62.
24/01/1990; Jornal do Brasil; Collor inicia viagem a 9 países. Collor inicia hoje viagem de 20
dias por nove países. Caderno 6; pp.64-65-66.
26/01/1990; O Globo; Collor nos EUA: plano econômico trará bons resultados em 100 dias.
Caderno 6; p.68.
26/01/1990; O Globo; Collor: Brasil sai da crise em 100 dias. Caderno 6; pp.70-71-72-73-74.
26/01/1990; Jornal do Brasil; Discurso de Collor apela à cooperação. Collor conquista platéia
nos EUA, de Teodomiro Braga. Caderno 6; p.75.
27/01/1990; Jornal do Brasil; Bush promete tratamento melhor à dívida do Brasil. Cad. 6;
p.79.
27/01/1990; Jornal do Brasil; Collor diz que redução do Estado tira país da crise. Caderno 6;
p.80.
28/01/1990; Jornal do Brasil; Collor encerra com sucesso visita aos EUA. Caderno 6; pp.85-
86-87.
29/01/1990; O Globo; Collor defende abertura da economia para atrair investimentos do
Japão. Caderno 6; p.90.
30/01/1990; O Globo; Collor pretende derrubar inflação logo. Caderno 6; pp.101-102.
30/01/1990; O Globo; Collor no Japão promete liquidar inflação com um ‘golpe de caratê’.
Caderno 60; p.103.
30/01/1990; O Globo; Collor defende abertura da economia com justiça social. Caderno 6;
pp.104-105.
31/01/1990; Jornal do Brasil; Collor escolhe Coimbra para seu Gabinete Civil. Caderno 6;
p.111.
01/02/1990; Jornal do Brasil; Gorbachov compara eleição de Collor à Perestroika. Caderno 6;
pp.119-120-121.
01/02/1990; Jornal do Brasil; Gorbachov acha Collor renovador como Perestroika. Caderno
6; p.122.
02/02/1990; O Globo; Collor propõe novo diálogo Leste – Sul. Caderno 6; pp.130-131-132.
03/02/1990; O Globo; Collor arrasa carro nacional. Caderno 6; p.135.
03/02/1990; O Globo; Collor: carros nacionais são carroças. Caderno 6; p.136.
05/02/1990; O Globo; França recebe Collor como estadista. Caderno 6; p.151.
06/02/1990; Jornal do Brasil; Collor pede vaga entre os ricos. Caderno 6; pp.159-160.
07/02/1990; Jornal do Brasil; Collor fala mal da elite brasileira a Mitterand, de Silvio Ferraz.
Caderno 6; p.166.
08/02/1990; O Globo; Collor quer carta branca contra inflação. Caderno 6; p.169.
08/02/1990; O Globo; Entrevista – Fernando Collor, de Marcelo Netto. ‘Acabou o discurso do
Brasil coitadinho’. Caderno 6; pp.170 a 173.
09/02/1990; Jornal do Brasil; Thatcher promete colaborar com o Brasil. Caderno 6; p.181.
10/02/1990; O Globo; PRN: Collor já dispõe de maioria no Congresso. Caderno 6; p.185.
12/02/1990; O Globo; Collor acusa elites de se beneficiarem com a crise. Caderno 6; pp.197-
198.
13/02/1990; Jornal do Brasil; ‘A elite é adversária’. Caderno 6; p.201.
14/02/1990; O Globo; Collor exige que Sarney combata o caos. Caderno 7; pp.5-6.
15/02/1990; Jornal do Brasil; Collor promete guerra aos que estimulam a inflação. Caderno
7; p.8.
15/02/1990; O Globo; Collor declara guerra à especulação: inflação é um caso de polícia.
Caderno 7; p.36.
15/02/1990; O Globo; Collor critica governo por gastar mais. Caderno 7; pp. 37-8-9-40.
15/02/1990; O Globo; “Vou declarar guerra à inflação”..... Caderno 7; pp.41 a 44.
18/02/1990; Jornal do Brasil; (Magri) O meu confronto vai ser com as elites. Caderno 11;
p.20.
18/02/1990; O Globo; Magri demitirá servidor que não trabalha. Caderno 11; p.21.
18/02/1990; Jornal do Brasil; Collor escolhe as elites como inimigo nº 1. Caderno 7; p.49.
19/02/1990; O Globo; Collor decide sobre medida provisória. Caderno 7; p. 73.
20/02/1990; O Globo; Ozires Silva na Infra-Estrutura vai promover a privatização. Ozires
assumirá defendendo privatizações. Caderno 10; pp.95 e 101.
24/02/1990; O Globo; Inflação de fevereiro é recorde: 72,78%. Caderno 46; p.47.
03/03/1990; Jornal do Brasil; Sarney revela a Collor segredo sobre dívida externa. Caderno 7;
pp.57-58.
04/03/1990; Jornal do Brasil; Ex-assessora de Collor (Margarida Procópio) em Alagoas
ocupará Ação Social. Caderno 11; p.168.
07/03/1990; O Globo; Collor no Congresso: a força das alianças. Caderno 7; pp.69-70.
09/03/1990; O Globo; Tuma será o super-xerife da economia. Chefiará Polícia, Receita e
Sunab. Caderno 12; p.43.
10/03/1990; O Globo; Éris: déficit público cairá para zero. Caderno 13; p.85.
10/03/1990; O Globo; Collor já tem lei para prender sonegador. Caderno 12; p.45.
10/03/1990; Jornal do Brasil; Roriz assume Agricultura e Reforma Agrária. Caderno 10;
p.154.
11/03/1990; O Globo; Novo governo vai colocar à venda dez mil imóveis dia 16; Cad. 26;
p.15.
11/03/1990; O Globo; Collor herdará um paraíso de marajás. Caderno 28; p.99.
11/03/1990; O Globo; Collor abre sucessão em Alagoas. Caderno 60; p.15.
11/03/1990; Jornal do Brasil; Collor pede união para atacar crise. Caderno 60; p.16.
11/03/1990; Jornal do Brasil; Collor faz apelo à união para tirar o país da crise, de Augusto
Fonseca. Caderno 60; p.17.
12/03/1990, Jornal do Brasil, “Collor corre de moto e jet-ski”, Cad. 99, p. 82.
13/03/1990; O Globo; Collor conclui ministério: Rezek no Itamaraty e Alceni na Saúde.
Caderno 10; p.74.
14/03/1990; O Globo; BC decreta feriado bancário por 3 dias. Collor vai à TV, em rede
nacional, acalmar população. Caderno 15; p.29.
14/03/1990; Jornal do Brasil; Collor fecha banco antes da posse. Caderno 15; p.31.
15/03/1990; Jornal do Brasil; A caminho da capital. Convidados para a posse de Collor
movimentam aeroportos do Rio. Caderno 7; p.78.
15/03/1990; Jornal do Brasil; Collor a um empresário tarefa de extinguir o SNI; Caderno
25; p.47.
16/03/1990; O Globo; Collor dá início à reforma do Estado; Caderno 25; p.6.
16/03/1990; O Globo; Posse. Discurso no Congresso. “Vamos liquidar a inflação”, Caderno
7; pp.111 a 113; 115 a 118; 123 a 124.
16/03/1990; O Globo; Collor assume sob aplausos do Congresso. Caderno 7; p.114.
16/03/1990; O Globo; Lágrimas marcam a passagem da faixa. Caderno 7; pp.125 a 126.
16/03/1990; O Globo; O discurso no Parlatório. “Dou a minha vida para cumprir o
programa.” (Helena Chagas). Caderno 7; p.129.
16/03/1990; O Globo; Presidente Collor promete dar até a vida pela reconstrução do Brasil.
Caderno 7; pp.130 a 131.
16/03/1990; O Globo; Plano chega ao Congresso sem discurso. Caderno 15; p.21.
16/03/1990; O Globo; Pacote inclui congelamento retroativo e volta do cruzeiro. Caderno 15;
p.36.
16/03/1990; O Globo; Collor início à reforma do Estado. As medidas de Collor previam a
eliminação dos cartéis. Caderno 15; pp.37-8.
16/03/1990; Jornal do Brasil; Plano Collor: cruzeiro volta como herói, moeda criada em 1942
ressurge como a nova esperança. Caderno 15; p.62.
17/03/1990; O Globo; Estilo Collor quase ‘derruba’ Ministros, Zélia passa mal na caminhada
até o Congresso, de Maria Lima. Caderno 15; p.20.
17/03/1990; O Globo; Collor bloqueia o dinheiro. Caderno 15; p.42.
17/03/1990; O Globo; Collor modifica a economia:”Agora é vencer ou vencer”. Caderno 15;
p.45.
17/03/1990; O Globo; (discurso no Congresso) “A sociedade quer ações concretas e
imediatas. As medidas foram adotadas dentro daquilo que pregamos e levamos à apreciação
da sociedade brasileira.” Caderno 15; p.46.
17/03/1990; O Globo; (discurso ao Ministério) “O Brasil não aceita mais derrotas. O
momento é grave. A situação requer determinação patriótica, urgência e um trabalho
abnegado e incansável.” Caderno 15; p.48.
17/03/1990; O Globo; Cruzados bloqueados perdem podes de compra. Cruzados voltarão
frustrando sonhos, de Andréa Dunningham. Caderno 17; p.30.
17-18/03/1990; Tribuna da Imprensa; Economia pára por 30 dias. Caderno 15; p.57.
17-18/03/1990; Tribuna da Imprensa; Collor garante que plano não traz desemprego.
(entrevista do Presidente à Rede Globo). Caderno 15; p.59.
18/03/1990; Jornal do Brasil; Alemanha de 1948 inspirou plano. Caderno 15; p.8.
18/03/1990; Jornal do Brasil; Dia 16 será o dia D de Collor, de Marcos Sá Correa e Etevaldo
Dias. Caderno 15; p.11.
19/03/1990; Jornal do Brasil; Plano Collor bloqueia US$ 85 bilhões. Banco Central tira de
circulação 30% do PIB do país, de Teodomiro Braga. Caderno 15; p.63.
19/03/1990; Jornal do Brasil; O golpe de Collor, de Etevaldo Dias. Caderno 15; p.113.
20/03/1990; O Globo; Dívida interna cresce de forma acentuada. Caderno 21; p.96.
20/03/1990; Jornal do Brasil; Coluna do Castello Collor é melhor na comunicação, de
Carlos Castello Branco. Caderno 15; p.147.
21/03/1990; “Posse. Collor sobe a rampa”. Caderno 7; pp.133 a 136.
21/03/1990; O Globo; Presidente revive tradição e sobe rampa do Planalto. Caderno 15; p.13.
21/03/1990; Jornal do Brasil; Rossane assume LBA e anuncia que vai doar salário de Cr$
150 mil. Caderno 13; p.99.
21/03/1990; Veja; O presidente dispara sua bomba. Empossado, Collor baixa o mais
ambicioso e drástico plano econômico para vencer a inflação. Caderno 15; p.114.
21/03/1990; Veja; O choque de Zélia. Na estréia do governo, a Ministra produz um terremoto
na economia do país, com medidas que vão do congelamento à abertura nas importações.
Caderno 15; p.115.
21/03/1990; Veja; O confisco. No seu primeiro ataque frontal à inflação, o governo se
apropria de uma parte do dinheiro dos brasileiros. Caderno 15; p.125.
21/03/1990; Veja; Time da retaguarda. Ao indicar os novos integrantes do segundo escalão, o
governo Collor investe pesado no critério da competência. Caderno 12; p.8.
21/03/1990, Jornal do Brasil , “Plano Collor: cruzeiro volta como herói, moeda criada em
1942 ressurge como a nova esperança”, Cad. 15, p.62.
21/03/1990, O Globo, “Collor bloqueia o dinheiro”, Cad. 15, p.42.
22/03/1990; O Globo; Zélia eTuma pressionam os banqueiros. Bancos; agências estão sem
dinheiro. Fiscalização nos bancos faz dinheiro aparecer. Collor está irritado com tentativa de
sabotagem. Caderno 16; pp.63 e segtes.
22/03/1990; Jornal do Brasil; Enxugamento ou expropriação?, de Benito Paret. “A
demagogia dos palanques precisa ser substituída pela discussão séria das medidas e das suas
conseqüências.” Caderno 15; p.150.
24/03/1990; O Globo; “Só gastem o que for indispensável. Regateiem, regateiem muito.
Pechinchem, pechinchem. Discutam o preço, para que todos possam valorizar ainda mais o
seu salário,” discurso na solenidade da assinatura das medidas provisórias no Palácio do
Planalto. Caderno 16; p.14.
24/03/1990; O Globo; IBOPE: 89% querem o plano aprovado. Caderno 16; pp.19 e segtes..
24/03/1990; Manchete; Com o toque pessoal do Presidente, primeiro escalão de Collor reúne
juventude e experiência. O Super Ministério; Caderno 25, p.11.
24/03/1990; Manchete; Collor presidente. Caderno 7; pp.121 a 122; 127 a 128.
24/03/1990; Manchete; Um presidente jovem a uma equipe jovem a missão de tirar o país
do caos. Caderno 15; p.24.
24/03/1990; Jornal do Brasil; Jô Soares, Relembrando. Caderno 16; p.112.
25/03/1990; O Globo; Paradoxos e miragens do Plano Collor, de Eli Diniz. “Violam-se
direitos da cidadania, aprofunda-se a centralização do poder decisório no Executivo, criando-
se um governo plenipotenciário.” Caderno 15; p.159.
27/03/1990; Jornal do Brasil; Collor retira medidas que Congresso julgou ilegais. Caderno
16; p.29.
28/03/1990; O Globo; Recursos bloqueados no over serão trocados por títulos. Cad 17; p.20.
28/03/1990; O Globo; Plano recebeu ao todo 2933 emendas no Congresso. O “mico preto”
das reformas – Políticos fogem da briga com o funcionalismo. Caderno 70; p.8.
28/03/1990; Jornal do Brasil; Congresso não desiste das emendas. Líderes aprovam a
retirada, mas, prometem alterar. Caderno 70; p.9.
29/03/1990; Jornal do Brasil; Collor enfrenta primeira crise em 14 dias de governo. Zélia
perde secretário econômico. Caderno 10; p.157.
30/03/1990; Jornal do Brasil; Trapalhadas no Planalto (as saídas de Roriz e Leleco Barbosa).
Caderno 10; p.166.
30/03/1990; Jornal do Brasil; Congresso revoga a 169 e muda plano. Caderno 70; p.10.
30/03/1990; O Globo; Partidos têm acordo para mudar o Plano. Caderno 70; p.11.
30/03/1990; O Globo; Partidos se unem e vão alterar o Plano. Para Amaral, nascerá um
“Frankenstein”. Deputado leva as más notícias ao Presidente. Caderno 70; p.12.
31/03/1990; O Globo; Briga entre aliados deixa Collor irritado. Caderno 70; p.14.
01/04/1990; Jornal do Brasil; Iesa Rodrigues Collor faz da moda um estilo sofisticado de
política. Caderno 99.
01/04/1990; O Globo; Reformas paralisam a administração; Caderno 25; p.21.
01/04/1990; Jornal do Brasil; Milhares de cartas provocam a reação do Congresso. Governo
superestimou o apoio dos parlamentares ao pacote, de Dora Tavares Lima. Caderno 70; p.15.
01/04/1990; Jornal do Brasil; Entrevista com Nelson Jobim. Caderno 70; p.50.
01/04/1990; Jornal do Brasil; Manifesto à Nação. Caderno 70; p.54.
02/04/1990; O Globo; Plano Collor arrasa a economia informal. Caderno 16; p.117.
02/04/1990; O Globo; Cabrera: iniciativa privada financiará reforma agrária. Caderno 10;
p.170.
03/04/1990, Jornal do Brasil, “Moto usada por Collor é do procurador de Bebeto”, Cad. 99,
p. 57.
06/04/1990; Jornal do Brasil; Recriando, negociando, aprendendo, de Vilas-Boas Correa.
Caderno 15; p.163.
06/04/1990; Jornal do Brasil; Aceitam o plano e recusam o estilo, de Carlos Castello Branco.
Caderno 15; p.164.
08/04/1990; Jornal do Brasil; Fim do SNI revela ineficiência e muitas mordomias; Caderno
25; p.48.
10/04/1990; O Globo; Impasse sobre poupança ameaça votação das medidas econômicas.
Zélia: PMDB quer o “Plano Brasil Velho”. Ulysses teme o decurso de prazo. Caderno 70;
p.24.
10/04/1990; Jornal do Brasil; Plantão de 80 horas no plenário. Montanhas de papel do Plano
Collor confundem votação.(Augusto Fonseca e João Domingos); Caderno 67; p.18.
11/04/1990; Jornal do Brasil; Congresso vota hoje espinha dorsal do Plano Collor. Collor
pretende votar emendas, de Dora Tavares Lima. Caderno 70; p.27.
11/04/1990; O Globo; Ulysses à “menina” Zélia: “Não leve o País à forca”. Inimigos do plano
econômico botam o “bloco na rua”. Protestos vão das mulheres de PE a lavradores do Sul.
Caderno 70; p.28.
11/04/1990; O Globo; A tramitação das MPs. Caderno 70; p.29.
12/04/1990; Tribuna da Imprensa; Collor consegue vitória pelo voto dos parlamentares.
Caderno 16; p.44.
12/04/1990; Jornal do Brasil; Se as coisas foram como se esperava, de Carlos Castello
Branco. Caderno 15; p.167.
12/04/1990; O Globo; Ministério da Justiça demite, indeniza e recontrata servidores, de Coeli
Mendes; Caderno 25; p.25.
12/04/1990; Tribuna da Imprensa; 12 parlamentares decidem o destino de 140 milhões.
Banquetes e reuniões suplantam o Congresso. Caderno 71; p.17.
12/04/1990; O Globo; BC liberará Cr$ 26,7 bi para habitação. Caderno 16; p.123.
13/04/1990; O Globo; Collor libera verba para gerar emprego. Caderno 16; p.122.
14/04/1990; O Globo; Entrevista/Jacy Mendonça. “Industria automobilística não é suicida.
Não se pode salvar a economia com todo mundo quebrando.” Caderno 15; p.171.
15/04/1990; Jornal do Brasil; Em um mês governo vira o país de cabeça para baixo, de
Márcia Vieira. Caderno 15; p.173.
16/04/1990; Jornal do Brasil; As 19 leis que mudaram o governo e a economia. Caderno 15;
pp.79 e segtes.
18/04/1990; Jornal do Brasil; Presidente viaja ao Rio em caça supersônico F-5. Caderno 43.
18/04/1990; O Globo; Collor deve reeditar medidas não votadas. Caderno 14; p.53.
18/04/1990; Jornal do Brasil; Collor celebra índice zero e promete irrigar economia. Caderno
46; p. 49.
20/04/1990; O Globo; Zélia pretende renegociar dívida externa por cinco anos. Cad 20; p.60.
20/04/1990; Jornal do Brasil; Collor garante que não há nem haverá recessão. Cad 47; p.10.
21/04/1990; O Globo; Privatização: governo aponta regras. Caderno 26; p.83.
22/04/1990; O Globo; IBGE: economia brasileira pode sofrer recessão sem precedentes.
Caderno 47; p.25.
23/04/1990; O Globo; Collor ultrapassa a barreira do som. Caderno 44.
23/04/1990, Jornal do Brasil, Criatividade ajuda a enganar a crise. A nação precisa de nervos
de aço para acompanhar os fins de semana do presidente Fernando Collor de Mello. Ontem,
ele viveu mais um dia de super-herói. (...) O presidente não resistiu à vaidade: registrou sua
própria performance com uma câmera de controle remoto que mandou prender no painel do
avião”, Cad. 44.
23/04/1990; Jornal do Brasil; Porta-voz diz que prova manipulação do DIEESE. Caderno 46;
p.18.
23/04/1990; O Globo; Cláudio Humberto acusa DIEESE de manipular índice de preços.
Caderno 46; p.19.
26/04/1990; O Globo; Collor libera mais 40 bi para safra. Caderno 16; p.129.
27/04/1990; Jornal do Brasil; efeitos da presidência-espetáculo. Caderno 44.
27/04/1990; O Globo; Medeiros quer que Magri tome decisões ou renuncie. Caderno 11; p.33.
28/04/1990; O Globo; Decreto de Collor fecha dez estatais. Caderno 26; p.55.
29/04/1990; Jornal do Brasil; Entrevista-Cláudio Humberto Rosa e Silva/”Não marketing.
Collor é patriota”. Caderno 43.
29/04/199, Jornal do Brasil, “Brasil faz eco a dona Leda”, Cad. 99, p.61
01/05/1990; O Globo; Revista dos EUA inclui Collor entre os 50 mais belos. (Heloisa
Villela). Caderno 43.
01/05/1990; Jornal do Brasil; IPC medido pelo IBGE aponta uma inflação de 44,80% em
abril. Caderno 46; p.52.
02/05/1990; O Globo; Collor culpa elites por baixos salários. Caderno 102; p.17.
02/05/1990; O Globo; Brasil abre mercado de automóveis. Caderno 27; p.172.
03/05/1990; O Globo; Congelamento agora é só para cartéis e cesta básica. Caderno 18; p.30.
04/05/1990; O Globo; Collor. Só quem apóia o plano será eleito. Caderno 60; p.18.
04/05/1990; Jornal do Brasil; Collor pede voto para seus correligionários em Minas. Caderno
60; p.19.
05/05/1990; Jornal do Brasil; Collor pede a Ministério pressa nas privatizações. Cad 26; p.84.
05/05/1990; O Globo; Governo libera as importações. Caderno 27; p.178.
05/05/1990; O Globo; Governo toma medidas para impedir a volta da inflação. Zélia fecha
torneira de conversões. Caderno 46; p.53.
05/05/1990; Jornal do Brasil; Governo suspende conversão. Caderno 47; p.10.
05/05/1990; Última Hora; Medida provisória tenta evitar aumentos salariais; Cad 19; p.82.
08/05/1990; O Globo; Zélia: credores terão de esperar pelo pagamento dos atrasados. Caderno
20; p.63.
09/05/1990; Veja; Arauto do apocalipse. O ecologista José Lutzenberger, agora no governo,
continua sua pregação catastófrica pelo mundo. Caderno 12; p. 111.
09/05/1990; Veja; Segunda-feira negra. O governo encerra subitamente o prazo para o resgate
da poupança dos aposentados, entope os bancos e volta atrás depois de prejudicar os idosos.
Caderno 17; p.89.
10/05/1990; Jornal do Brasil; Presidente critica fundos de previdência complementar.
Caderno 28; p.137.
10/05/1990; Jornal do Brasil; Duelo à sombra (governo x burocracia); Caderno 25, p.110.
10/05/1990; Jornal do Brasil; Collor manda cortar 354 mil funcionários públicos; Caderno
25; p.84.
11/05/1990; Jornal do Brasil; Zélia vai anunciar aumento de 3% no mínimo de maio.
Caderno 19; p.31.
11/05/1990; Tribuna da Imprensa; Figueiredo acusa general Cerqueira de insuflar a
desobediência. “O Exército pode virar CUT fardada”; Caderno 25; p.53.
12/05/1990; O Globo; Fraudes liberam mais de Cr$ 89 milhões. Caderno 17; p.123.
12/05/1990; O Globo; Generais punidos por criticar Governo; Caderno 25; p.58.
17/05/1990; O Globo; Salário-mínimo só sobe em junho: 5%. Caderno 19; p.33.
17/05/1990; O Globo; Livre negociação deixa CUT e CGT indignadas. Caderno 48; p.116.
17/05/1990; O Globo; Governo não vai mais garantir índices de reajustes dos salários;
Caderno 19; p.132.
18/05/1990; O Globo; O presidente Collor visitou, ontem de manhã, uma escola na Vila
Paranoá favela que o ex-governador Joaquim Roriz elevou à categoria de cidade satélite,
próxima à Casa da Dinda – para comprovar a qualidade da merenda escolar. Caderno 31.
19/05/1990; O Globo; Collor recebe o Presidente da China. Caderno 35; p.8.
19/05/1990; O Globo; Collor antecipa programas de governo. Caderno 46; p.7.
20/05/1990; O Globo; Na meta dos cem dias o desafio de Collor, de Maria Lima e Helena
Chagas. Caderno 15; p.15.
20/05/1990; O Globo; Ulysses e Freire querem impedir Collor de ir à tribuna do Congresso,
de Jorge Bastos Moreno. Caderno 15; p.19.
20/05/1990; O Globo; Entrevista/Célio Silva, de Jandira Gouveia e Guilherme Evelin. “O
governo erra por inexperiência. O presidente é o primeiro a mandar as coisas para cá. Se ele
manda, por que os outros não mandam?” Caderno 15; p.76.
22/05/1990; O Globo; Demissões vão custar o dobro do previsto; Caderno 25; p.88.
23/05/1990; Veja; Guilhotina pronta. A equipe econômica do governo erra mais do que
acerta. Collor é obrigado a revogar seus atos e avisa que podem rolar cabeças no Ministério.
Caderno 15; pp.86 e segtes.
23/05/1990; Veja; Fogo cerrado. Caderno 15; p.87.
23/05/1990; Veja; As armas da batalha. O governo Collor publicou no DOU, desde sua
posse, 348 atos mudando as normas do setor financeiro. Entre circulares (133), portarias (37),
instruções normativas(27), decretos (13), leis (21), medidas provisórias (28), e outros
despachos (89), chega-se a uma média de8 atos publicados por dia, contando-se somente os
das úteis. Caderno 15; p.92.
23/05/1990; Veja; Mordomias em leilão. O governo vende 8 mansões ministeriais e começa
na prática seu programa de austeridade; Caderno 26; p.19.
23/05/1990; O Globo; Mudança no tratamento da dívida contraria banqueiros, de José
Meirelles Passos. Caderno 20; p.63.
23/05/1990; Jornal do Brasil; Banqueiros criticam novo estilo de negociar dívida, de Manoel
Francisco Brito. Caderno 20; p.68.
24/05/1990; O Globo; Collor admite política salarial transitória. Caderno 19; p.11.
24/05/1990; O Globo; Collor admite rever política salarial. Caderno 19; p.12.
25/05/1990; O Globo; Governo e partidos começam a negociar nova lei salarial. Cad 19; p.13.
26/05/1990; O Globo; Governo espera arrecadar este ano US$ 9 bi com privatização. Caderno
26; p.87.
27/05/1990; Jornal do Brasil; Corte de pessoal ignora o que o Estado tem de bom; Caderno
25; p.78.
29/05/1990; O Globo; Pesquisa: população parou de investir. Caderno 17; p.15.
30/05/1990; Tribuna da Imprensa; Presidente visita o Emfa e diz que espera respeito à
hierarquia. “Nossa prioridade é o social”; Caderno 25; p.64.
31/05/1990; O Globo; Governo desiste do IPC e cria índice para poupança e BTN. Caderno
46; p.21.
01/06/1990; O Globo; Governo derrotado no Congresso. Caderno 14; p.45.
01/06/1990; O Globo; IBGE apura inflação de 7,87% em maio. Caderno 46; p. 58.
02/06/1990; O Globo; Procurador Geral da República recorre ao STF contra o governo.
Caderno 14; p.72.
03/06/1990; O Globo; Base política de Collor começa a ruir. Governo não atende à enxurrada
de pedidos e começa a perder aliados no Congresso. Caderno 14; p.15.
04/06/1990; Tribuna da Imprensa; Brizola acha que país vai em direção ao golpe militar. “Ele
não cumprirá o mandato.” Depois de criticar as medidas econômicas, Brizola arriscou em
mais uma previsão: a de que Collor não chegará ao fim do mandato de 5 anos. No entanto,
afastou a possibilidade de encabeçar um pedido de impeachment. Caderno 15; p.196.
05/06/1990; Tribuna da Imprensa; Pisando em terreno incerto. Governo insistirá com medida
questionada pela comunidade jurídica. Caderno 14; p.65.
05/06/1990; Tribuna da Imprensa; Zélia ameaça o país com recessão. Caderno 47; p. 29.
13/06/1990; O Globo; Lista dos que sacaram antes do plano não satisfaz Senador (Jamil
Haddad-PSB/RJ). Caderno 17; p.73.
14/06/1990; O Globo; Governo estuda readmissão dos que ainda não demitiu; Caderno 25;
p.127.
14/06/1990; Tribuna da Imprensa; Governo admite recessão, mas não muda política. Caderno
47; p. 33.
15/06/1990; Tribuna da Imprensa; Atraso na reforma já tem 2 alvos; Santana e CUT; Caderno
25; p.27.
17/06/1990; Jornal do Brasil; À sombra da Copa, de Fernando Pedreira. “A mística do super-
Collor invencível abalou-se consideravelmente, mesmo entre os setores mais ingênuos da
população”. Caderno 98; p.60.
17/06/1990; Jornal do Brasil; Governo reduz salário e põe 10.708 em disponibilidade;
Caderno 25; p.98.
22/06/1990; O Globo; EUA querem participação majoritária na privatização. Cad 26; p.94.
22/06/1990; Tribuna da Imprensa; Delfim prevê novo Plano Collor. Caderno 23; p.8.
22/06/1990; O Globo; Imagem do líder é melhor do que a do próprio governo. Cad 97; p.71.
23/06/1990; O Globo; A opinião dos candidatos derrotados sobre os 100 dias de governo.
Caderno 97; pp. 14-5-6.
24/06/1990; O Globo; Zélia: oligopólios e ineficiência tornam a inflação inevitável. Caderno
46; p. 64.
24/06/1990; O Globo; João Santana, o homem mau do presidente. Caderno 13; p.13.
25/06/1990; O Globo; Salário divide Governo, TST, Congresso; Caderno 19; p.87.
25/06/1990; O Globo; Collor transforma em corrida a “Caminhada pela criança”. Caderno 43.
27/06/1990; Tribuna da Imprensa; Política industrial é ousada e perigosa, de Carlos Chagas.
Caderno 18; p.10.
27/06/1990; Jornal do Brasil; Zélia decreta economia livre. Zélia abre as portas para o
exterior. Caderno 18; pp.11 e 21
27/06/1990; Jornal do Brasil; Kandir diz que recomposição faria inflação explodir; Caderno
19; p.88.
27/06/1990; O Globo; Governo proíbe reposição salarial fora de data-base; Caderno 19; p.87.
27/06/1990; O Globo; Governo acaba com protecionismo para a industria nacional. Caderno
18; p.5.
27/06/1990; O Globo; Nova política industrial pode levar Brasil a um autêntico beco sem
saída, de Ricardo Bueno. Caderno 18; p.9.
29/06/1990; Jornal do Brasil; Collor libera US$ 66,2 milhões para obras contra as enchentes.
Caderno 57; p.149.
02/07/1990; O Globo; Collor: negociação deve proteger quem ganha até 3 nimos; Caderno
19; p.140.
03/07/1990; Jornal do Brasil; Moratória de um ano é recorde, de Beth Calado. Caderno 20;
p.109.
03/07/1990; Última Hora; Manobra do governo adia votação da Lei Salarial; Caderno 19;
p.141.
04/07/1990; Jornal do Brasil; Collor avisa que não haverá outro plano econômico. Caderno
23; p.7.
04/07/1990; Jornal do Brasil; Duro regime de emagrecer, de Marcos Correa. Caderno 46;
p.8.
07/07/1990; O Globo; Sem alarde, Brasil compra bilhões da dívida com deságio. Caderno 21;
p.62.
11/07/1990; Jornal do Brasil; Ribeiro contra-ataca Ozires com dossiê ao Planalto. Caderno
10; p.111.
11/07/1990; O Globo; Congresso aprova nova lei salarial. Zélia recomenda a Collor que vete
indexação; Caderno 19; p.143.
11/07/1990; Tribuna da Imprensa; Lei salarial é aprovada em votação simbólica. Presidente
do PMDB acredita que parlamentares derrubarão vetos; Caderno 19; p.146.
12/07/1990; O Globo; SBF: bomba atômica brasileira depende de decisão política, de
Fanny Zygband. Caderno 40; p.106.
13/07/1990; Jornal do Brasil; Governo promove corte de 39% nos investimentos. Caderno
47; p.116.
13/07/1990; Jornal do Brasil; Salários manipulados, de Antonio Lumbreas Junior; Caderno
19; p.92.
13/07/1990; O Globo; Salário só terá abono se inflação passar dos 8%; Caderno 19; p.97.
14/07/1990; Jornal do Brasil; Mínimo ganha 27,1% e chega a Cr$ 4904,76; Caderno 19; p.
34.
14/07/1990; O Globo; Collor incentiva ajuda aos menores carentes. Caderno 55; p.36.
15/07/1990; O Globo; Manhas e manias no dia a dia do Poder. Na intimidade do gabinete de
cada Ministro de Collor a vaidade se mistura ao misticismo. Caderno 11; p.57.
17/07/1990; Jornal do Brasil; Preço do leite C é liberado após 45 anos de controle. Caderno
18; p.33.
22/07/1990; Jornal do Brasil; Collor e Sarney combinaram brigas para vencer Lula. Caderno
7; pp. 62 a 64.
22/07/1990; O Globo; Inflação medida pelo IPC fica em 12,92% no mês de julho. Caderno
46; p. 67.
23/07/1990; O Globo; Entrevista com Otávio Gouvêa de Bulhões, de Lea Cristina. Caderno
47; p. 37.
23/07/1990; Jornal do Brasil; Collor busca eleição de amigos fiéis em Roraima. Caderno 60;
p.20.
25/07/1990; Jornal do Brasil; Zélia aceita dar abono para faixa de até 3 mínimos; Cad. 19;
p.99.
26/07/1990; Jornal do Brasil; Brasil recebe o Presidente do Chile após 22 anos. Caderno
35; p.16.
26/07/1990; Jornal do Brasil; Leonel Brizola XVI – Farsa vergonhosa. Caderno 7; pp. 65.
27/07/1990; O Globo; Chile apóia acesso à Ásia via Pacífico. Caderno 35; p.20.
27/07/1990; O Globo; Abono alcança 83% dos assalariados. Caderno 19; p.101.
28/07/1990; O Globo; Zélia: abono não influirá na inflação. Cem mil servidores serão
beneficiados, de Regina Alvarez; Caderno 19; p.103.
31/07/1990; O Globo; Presidente veta projeto de lei que previa a reindexação dos salários.
Caderno 18; p.142.
01/08/1990; O Globo; Collor anuncia medidas que desregulamentam a economia. Caderno
27; p.180.
06/08/1990; O Globo; Presidente testa carros soviéticos. Caderno 18; p.23.
17/08/1990; Jornal do Brasil; Capital estrangeiro pode comprar até 40% de estatal. Caderno
26; p.101.
17/08/1990; O Globo; Collor regulamenta privatização e espera arrecadar Cr$ 719 mil.
Caderno 26; p.99.
24/08/1990; Tribuna da Imprensa; Presidente desafia CUT e duvida da greve geral. Caderno
48; p.126.
30/08/1990; Jornal do Brasil; De volta ao palanque, em Alagoas. Presidente quebra promessa
e entra firme na campanha. Caderno 60; p.23.
01/09/1990; O Globo; Governo ataca monopólios facilitando as importações. Caderno 27;
p.183.
01/09/1990; O Globo; Mínimo aumenta 16,39% e fica em Cr$ 6056,31 este mês; Caderno 19;
p.35.
02/09/1990; Jornal do Brasil; Brasil e Iraque fizeram acordo nuclear secreto. Caderno 40;
p.57.
03/09/1990; O Globo; Sábado, show de Simone para ajudar LBA. Caderno 43.
09/09/1990; O Globo; Zélia: acordo com o FMI não imporá sacrifícios. Caderno 20; p.118.
09/09/1990; O Globo; Liquidação das estatais pode ir até 1993. Caderno 26; p.63.
11/09/1990; O Globo; Collor propõe diálogo e pacto social (discurso do presidente). Caderno
07; p.19.
13/09/1990; Última Hora; Collor tira tudo do aposentado. Caderno 28; p.15.
13/09/1990; Última Hora; Aposentados entram na Justiça contra Collor. Caderno 28; p.16.
14/09/1990; O Globo; Governo ao FMI: inflação será de 7%. Caderno 20; p.119.
15/09/1990; O Globo; Ibrahim Sued e o Demolidor Colunista desce a rampa ao lado do
presidente. Caderno 43.
16/09/1990; Jornal do Brasil; Entrevista do Presidente (Os 6 meses de Collor). Caderno 97;
p.23-4.
16/09/1990; O Globo; Decisão de Estadista:”Ao vetar o projeto da Previdência, Collor teve a
coragem própria de um estadista, resistindo à sedução da popularidade”.(Artigo transcrito do
Jornal da Tarde, São Paulo, de 13/09/1990). Caderno 28; p.17.
16/09/1990; Jornal do Brasil; Leonel Brizola, Seis meses de alienação. Caderno 98; p.64.
18/09/1990; Jornal do Brasil; Trigo é liberado após 30 anos de controle estatal. Cad 18; p.34.
19/09/1990; Jornal do Brasil; Collor fecha poço para explosão atômica na Amazônia.
Caderno 40; p.115.
21/09/1990; O Globo; BC liquida 3 bancos estaduais. Caderno 57; p.50.
24/09/1990; O Globo; Zélia discursa no FMI e critica bancos credores. Caderno 20; p.76.
25/09/1990; O Globo; Zélia: Brasil não pode pagar a dívida. Caderno 20; p.79.
27/09/1990; O Globo; Collor sustou projeto nuclear bélico. Collor: Brasil desenvolvia projeto
para fazer bomba. Caderno 40; p.116.
27/09/1990; Jornal do Brasil; Zélia diz que credores marginalizam América Latina. Discurso
de impacto movimentou FMI. Ministra causou “frisson” ao criticar os ricos, de Manoel
Francisco Brito. Caderno 20; p.83.
29/09/1990; Jornal do Brasil; Congresso custa a votar verba e paralisa máquina do governo.
Caderno 22; p.10.
29/09/1990; O Globo; Salário-mínimo em outubro passa a ser de Cr$ 6425,14; Cad 19; p.37.
30/09/1990; O Globo; BID promete a Collor liberar US$ 1 bilhão até o fim do ano. Caderno
20; p.14.
30/09/1990; O Globo; Programa nuclear prevê gastos de US$ 7 bilhões com controle civil.
Caderno 40; p.34.
01/10/1990; O Globo; Programa nuclear terá definição política, de Cida Fontes. Cad 40; p.38.
04/10/1990; O Globo; Líder pedetista elogia postura de Collor. Caderno 61; p.12.
04/10/1990; Jornal do Brasil; Collor pede votos para aliados. Caderno 61; p.20.
04/10/1990; Tribuna da Imprensa; Collor aposta em resultado favorável ao seu governo.
Caderno 61; p.21.
04/10/1990; Tribuna da Imprensa; Conservadores farão maioria no Congresso. Cad 61; p.48.
05/10/1990; Tribuna da Imprensa; Novos congressistas serão aliados do governo federal.
Caderno 62; p.8.
05/10/1990; Tribuna da Imprensa; Liberalização envolve riscos, adverte Bacha, por Ivan
Accioly. Caderno 18; p.39.
08/10/1990; O Globo; Collor não fará campanha, mas, torcerá por alguns candidatos. Caderno
60; p.24.
10/10/1990; O Globo; Collor e Salinas querem integrar a economia da AL. Caderno 35; p.23.
10/10/1990; Jornal do Brasil; Política contra os cartéis gera conflito no governo, de Dora
Guedes e Mário Rosa. Caderno 27; p.188.
10/10/1990; O Globo; Servidores terão reajuste de 30%. Caderno 48; p.8.
11/10/1990; Jornal do Brasil; Presidente dá apoio ostensivo a candidatos em três estados (Rio
Grande do Norte, Minas Gerais, Paraná). Caderno 60; p.25.
11/10/1990; O Globo; Collor apóia candidatos com verbas. Caderno 60; p.25.
12/10/1990; Jornal do Brasil; Collor promete a Costa (Hélio Costa-MG) verba de Cr$ 3
bilhões. Caderno 60; p.26.
12/10/1990; Jornal do Brasil; Brasil faz proposta inovadora de negociação da dívida, de
Madalena Rodrigues. Caderno 20; p.84.
12/10/1990; O Globo; Governo propõe converter a dívida externa em bônus. Cad 21; p.68.
13/10/1990; O Globo; Credor acha a proposta do Brasil inviável. Caderno 21; p.11.
13-14/10/1990; Tribuna da Imprensa; Os preferidos do presidente Collor. Afinidades antigas,
de Carlos Chagas. Caderno 60; p.27.
14/10/1990; Jornal do Brasil; Salinas celebra o novo liberalismo latino-americano. Caderno
35; p.27.
14/10/1990; O Globo; Economistas: estabilização ainda é viável. Caderno 46; p. 79.
14/10/1990; O Globo; Romance com Zélia derruba Cabral. Do entusiasmo à carbonização em
tempo recorde. Em 6 meses, Cabral se torna a maior decepção. Caderno 10; pp.19-20.
14/10/1990; Jornal do Brasil; Esquerda e direita aplaudem escolha. Segundo o deputado
Paulo Delgado (PT-MG) “Jarbas Passarinho é um dos melhores quadros do pensamento
conservador”. Caderno 10; p.31.
15/10/1990; O Globo; O passeio do presidente a 180 km por hora. Caderno 43.
15/10/1990, O Globo,” O passeio do Presidente a 180 km/hora dirigindo uma Ferrari do Torto
à casa da Dinda”, Cad. 43.
15/10/1990; O Globo; Passarinho quer mudar Carta antes de 93. Caderno 10; p.34.
16/10/1990; O Globo; Cabral se despede e alerta Passarinho. Cabral se queixa das futricas de
subalternos. Caderno 10; p.21.
16/10/1990; Jornal do Brasil; Cabral mostra mágoa na despedida, de Dodora Guedes e
Cristiane Samarco. Caderno 10; p.23.
18/10/1990; O Globo; Entrevista: Zélia C. de Mello. “Prazo para derrubar inflação vai até
janeiro”. Caderno 46; p. 81.
19/10/1990; O Globo; Collor já sonha com aliado à frente da Câmara e do Senado. Caderno
61; p.76.
19/10/1990; O Globo; Cabral: livro de Zélia fortaleceu meu casamento. Para ex-ministro, o
título do livro deveria ser “Zélia, uma vingança”. Caderno 10; p.25.
20/10/1990; O Globo; Collor festeja vitória na “batalha” das urnas. Caderno 60; p.28.
20/10/1990; O Globo; Presidente recebe Maluf e diz que seu programa é parecido com o dele.
Maluf no Planalto. Caderno 60; p.84.
20/10/1990; O Globo; Motta Veiga deixa Petrobrás fazendo críticas ao governo. Cad 72; p.60.
20-21/10/1990; Hora do Povo; Governo adula Bush por máquina que já fazemos, de Sérgio
Rubens Torres. Caderno 40; p.152.
21/10/1990; Jornal do Brasil; Governo aceita na renegociação de dívida, de Octávio Costa.
Caderno 21; pp.45-8.
22/10/1990; Jornal do Brasil; Kandir quer conquistar opinião pública para renegociar dívida,
de Beth Cataldo e Madalena Rodrigues. Caderno 20; p.135.
22/10/1990; Tribuna da Imprensa; Credores levaram US$ 147 bi e ainda devemos US$ 114.
Caderno 21; p.42.
24/10/1990; O Globo; Dívida externa: oposição apóia Zélia. Caderno 20; p.138.
24/10/1990; Jornal do Brasil; Senado respaldo a Zélia na negociação da dívida. Caderno
20; p.139.
25/10/1990; O Globo; Petróleo: governo articula fim do monopólio. Caderno 27; p.139.
26/10/1990; O Globo; Collor manda investigar as acusações de Motta Veiga. Cad 72; p.67.
28/10/1990; O Globo; Collor exige de empresários e ministros guerra à inflação. Cad. 46;
p.83.
28/10/1990; O Globo; Collor exige união no combate à inflação. Caderno 46; p. 84.
28/10/1990; Jornal do Brasil; Cerimônia da rampa vira um termômetro de prestígio, de
Itamar Garcez. Caderno 44.
28/10/1990; Jornal do Brasil; Entrevista com Edmar Bacha, de Altair Thury e Carla
Rodrigues. Caderno 47; p. 40.
31/10/1990; Jornal do Brasil; Collor tira quem afrontar Zélia. Caderno 20; p.17.
31/10/1990; O Globo; Salário-mínimo passa a Cr$ 8329,55; Caderno 19; p. 38.
02/11/1990; O Globo; Coimbra nega acusações de Motta Veiga no caso VASP. Cad 73; p.9.
03/11/1990; Jornal do Brasil; Coimbra explicação confusa sobre seu papel no caso VASP.
Caderno 73; p.10.
03/11/1990; O Globo; Lei garante que cruzados novos não poderão ser devolvidos em títulos.
Caderno 17; p. 22.
05/11/1990; O Globo; Orçamento: começa disputa dos recursos. Avalanche de emendas da
Oposição altera repasses. Parlamentares economistas não assinam em branco, de Beatriz
Abreu e Denise Rothenburg. Caderno 22; p.24.
06/11/1990; O Globo; Amato diz que plano Collor foi uma cilada. Amato: caímos na cilada
do plano Collor. Caderno 16; p.78.
07/11/1990; Última Hora; Planalto acusa Amato de capitalista selvagem. Planalto chama
Amato de empresário-coronel. Caderno 16; p.86.
07/11/1990; Jornal do Brasil; Telecomunicações deixa de ser privilégio da Embratel. Caderno
27; p.155.
07/11/1990; Jornal do Brasil; Inflação vai a 15% e agrava a situação. Caderno 47; p.46.
07/11/1990; O Globo; Governo quer reduzir juros e reforçar combate à inflação. Cad 47; p.8.
08/11/1990; Jornal do Brasil; Governo inicia venda de imóveis; Caderno 26; p.27.
08/11/1990; O Globo; Presidente da CNEN diz desconhecer projeto para fazer bomba
atômica, de Lúcia Toríbio. Caderno 40; p.137.
08/11/1990; Última Hora; Agüenta povão! Sobem pão, luz, trens, ônibus e combustíveis. E
não adianta morrer, enterro também subiu. Caderno 46; p. 165.
08/11/1990; Última Hora; Medeiros: empresário está criando inflação. Caderno 46; p. 165.
09/11/1990; O Globo; Congresso quer mudar controle de atividade nuclear no País. Caderno
40; p.41.
10/11/1990; Jornal do Brasil; Orçamento de Collor para 91 é criticado no Congresso, de Jo
Ramos. Caderno 22; p.49.
10/11/1990; O Globo; A inflação corre à solta. Será que se segue o conselho de Lênin, de
L.G.Nascimento Silva. Caderno 46; p. 88.
10-11/11/1990; Tribuna da Imprensa; Planalto quer mandar na política nuclear. Cad 40; p.42.
10-11/11/1990; Tribuna da Imprensa; Governo vai instruir aliados sobre MP 256. Caderno
19; p.14.
11/11/1990; Jornal do Brasil; Passarinho assinou mais de mil cassações políticas. Caderno
10; p.42.
12/11/1990; O Globo; O poder informal da elite do Congresso. Caderno 62; p.129-31.
13/11/1990; O Globo; Zélia: não negociaremos nada no Plano. Caderno 19; p.15.
13/11/1990; O Globo; Servidores tentam mudar venda de imóveis funcionas. Cad 26; p. 28.
14/11/1990; Jornal do Brasil; IBGE mostra que concentração de renda aumentou. Caderno
47; p. 190.
14/11/1990; Jornal do Brasil; Aposentados ganham de Collor na Câmara. Caderno 28; p.23.
14/11/1990; O Globo; Deputados derrubam veto de Collor ao Plano de Custeio. Cad 28; p.23.
16/11/1990; O Globo; Collor avaliza proposta da dívida que admite pagar juros em atraso.
Caderno 21; p.90.
17/11/1990; O Globo; Collor: não tenho medo de cara feia. Em mim ninguém põe canga.
Caderno 30.
17/11/1990; O Globo; Países ricos bloqueiam créditos ao Brasil, de José Meirelles Passos.
Caderno 21; p.19.
20/11/1990; O Globo; Equipe econômica do governo desaconselha revisão salarial. Caderno
19; p.16.
21/11/1990; O Globo; Líderes cobram mudanças nos salários. Caderno 19; p.17.
21/11/1990; O Globo; Credores rechaçam proposta do Brasil, de José Meirelles Passos.
Caderno 21; p.20.
22/11/1990; O Globo; Redutor de inflação: saída para o salário. Recurso evita a defasagem e a
expectativa inflacionária; Caderno 19; p.125.
23/11/1990; O Globo; Collor aceita ponderações dos políticos. Caderno 70; p.70.
23/11/1990; O Globo; Alta do dólar leva saldo da balança a US$ 900 milhões. Cad 47; p. 154.
24/11/1990; O Globo; Zélia afasta de vez vinculação dos benefícios da Previdência ao
Mínimo. Caderno 28; p.28.
25/11/1990; O Globo; Candidatos dispensam apoio do Planalto. Caderno 62; p.17.
25/11/1990; Jornal do Brasil; Na terra dos Collor se faz política à moda antiga. Cad 62; p.18.
25/11/1990; O Globo; Economistas do governo não abrem mão do ajuste. Para Zélia, a única
saída é a liberdade de mercado. Kandir pede cooperação para reduzir custo social. Caderno
70; p.40.
25/11/1990; O Globo; Entrevista com João Santana, de Luis Erlanger. “O governo não
negociará votos por cargos com o Congresso”. Caderno 70; p.55.
25/11/1990; Jornal do Brasil; Preços da cesta básica disparam. Compras que Collor fez em
abril estão 93,15% mais caras. Caderno 18; p.40.
26/11/1990; Jornal do Brasil; Coisas da Política. “Collor, agora, não governa mais sozinho”.
Caderno 70; p.59.
27/11/1990; O Globo; Urnas revelam o novo mapa político do Brasil. Caderno 62; p.132.
29/11/1990; O Globo; Salário-mínimo sobe em dezembro para Cr$ 8836,82; Cad 19; p.39.
30/11/1990; O Globo; Índios pedem a Collor que demarque a área caiapó. Caderno 44.
30/11/1990; Jornal do Brasil; Collor ignora proibição do TCU e institui leilão para imóveis.
Caderno 26; p.30.
02/12/1990; Jornal do Brasil; Bush traz a sul-americanos sua proposta de parceria econômica
de William Long. Caderno 35; p.29.
02/12/1990; Jornal do Brasil; “Agora chega de Salvadores da Pátria”. Entrevista com Maria
da Conceição Tavares. Caderno 70; p.44.
03/12/1990; O Globo; Collor dirá a Bush que Brasil não cede na questão da dívida. Caderno
35; p.32.
04/12/1990; O Globo; Bush promete apoio na renegociação da dívida. Em novo cerimonial,
recepção na rampa do Planalto. Caderno 35; p.36.
04/12/1990; O Globo; Collor pede solução política para a dívida. Caderno 35; p.38.
04/12/1990; Jornal do Commercio; Bush recusa função de intermediário na negociação.
Caderno 35; p.43.
05/12/1990; Jornal do Brasil; CPI conclui que Brasil pode fabricar bomba atômica. Caderno
40; p.129.
06/12/1990; O Globo; Veto de Collor ao Plano da Previdência é mantido. Caderno 28; p.30.
06/12/1990; O Globo; CPI nuclear: emenda encerra polêmica. Caderno 40; p.128.
09/12/1990; O Globo; Inflação: vários pesos e várias medidas. Caderno 46; p.25.
12/12/1990; O Globo; Regime de servidor é sancionado com 11 vetos (RJU); Caderno 25;
p.136.
14/12/1990; Jornal do Brasil; Dívidas levam à decisão de fechar Lloyd. Caderno 27; p.69-83.
16/12/1990; O Globo; Novo caso de amor no Ministério da Justiça. Moça jovem toca o
coração do viúvo Passarinho. Caderno 10; p.45.
16/12/1990; O Globo; Servidores ociosos custam 32 milhões. Reforma administrativa do
governo acumula prejuízos e paralisa serviços essenciais, de Lúcia Toríbio; Caderno 25;
p.102.
16/12/1990; O Globo; Impasse impede BC de liquidar bancos. (Nelson Luiz de Oliveira).
Caderno 57; p.57.
16/12/1990; Jornal do Brasil; Recessão chegou e deve se agravar em 1991. Cad 47; p.52-54.
18/12/1990, O Globo, “Para cabeleireiro, Collor não foi barbeiro”, Cad. 99, p. 68.
24/12/1990, O Globo, “Collor constata que a Kombi de cabeleireiro está recuperada”, Cad.
99, p.70.
19/12/1990; O Globo; No último dia de trabalho no ano, Congresso votou até o que não sabia.
Caderno 14; p.24.
25/12/1990; O Globo; Governo enviou ao Congresso 147 MPs em 9 meses, de Denise
Rothemburg. Caderno 14; p.14.
27/12/1990; O Globo; Collor extingue reserva na venda de carros. Caderno 27; p.200.
27/12/1990; O Globo; Collor libera 10 bilhões para combater a seca. Caderno 57; p.153.
29/12/1990; O Globo; Inflação sobe para 19,39% e governo culpa os remédios. Cad 46; p. 99.
29/12/1990; O Globo; Mínimo sobe 39% e vai a Cr$ 12325,00; Caderno 19; p.41.
29-30/12/1990; Tribuna da Imprensa; As mais pessimistas previsões foram superadas diante
dos números. Inflação recorde é de 19,39% e surpreende equipe econômica; Cad 19; p.41.
01/01/1991; O Globo; Roriz assume pedindo frente de apoio ao Governo Collor. Caderno 62;
p.108.
03/01/1991; O Globo; Collor reedita medida sobre salários e convoca Congresso. Cad. 14;
p.58.
03/01/1991; O Globo; Privatização incluirá títulos da dívida. Caderno 26; p.142.
06/01/1991; O Globo; Bancos se unirão para atuar na privatização. Caderno 26; p.108.
06/01/1991; O Globo; Zélia defende mudança no cálculo da inflação. Caderno 46; p.30.
06/01/1991; O Globo; Zélia quer mudar forma de cálculo dos índices de inflação. Cad. 46;
p.31.
08/01/1991; Jornal do Brasil; Índices são novos culpados da inflação. Caderno 46; p.32.
11/01/1991; Jornal do Brasil; Collor assume apoio a (Geraldo) Bulhões e ajuda à Alagoas.
Caderno 62; p.26.
13/01/1991; O Globo; Collor critica Ozires Silva, que deve deixar o governo. Caderno 10;
p.115.
17/01/1991; Jornal do Brasil; “Plano Collor parece ter chegado ao fim”. Coluna do Castello,
de Carlos Castello Branco. Caderno 70; p.62.
18/01/1991; O Globo; Empresários pedem redução da taxa de juros. Zélia diz não. Caderno
21; p.99.
18/01/1991; O Globo; Collor já admite ajustes no plano. Caderno 70; p.88.
18/01/1991; Jornal do Brasil; Governo começa a negociar nova política salarial com
oposição. Caderno 19; p.19.
19/01/1991; O Globo; Renan encerra campanha com acusações a Bulhões e a Collor. Caderno
62; p.28.
22/01/1991; O Globo; Partidos não se entendem sobre votação da Medida sobre salário.
Caderno 19; p.20.
24/01/1991; O Globo; Governo negocia hoje dívida das estatais, de Silvia Faria. Cad 21; p.94.
26/01/1991; O Globo; Sem acordo, adiada política salarial. Bancada do governo adia votação
da lei salarial; Caderno 19; p.153.
27/01/1991; Jornal do Brasil; Economistas acham que Plano Collor acabou. Cad 23; p.12.
27/01/1991; O Globo; Maioria de Collor na Câmara será apertada. Senado mantém
sustentação do governo. Caderno 62; p.135.
01/02/1991; O Globo; Governo decreta feriado bancário e ajusta plano. Pacote “overnight”
acaba e tablita volta. Congela preços e salários. Caderno 23; p.20.
01/02/1991; Jornal do Brasil; O texto que o Ministério da Economia distribuiu explicando as
medidas. Caderno 23; p.29.
01/02/1991; Jornal do Brasil; Ulysses se despede advertindo Collor. Caderno 62; p.99.
03/02/1991; O Globo; Collor pede à sociedade a defesa do plano. Caderno 97; p.98.
03/02/1991; Jornal do Brasil; Um míssil contra a inflação. Caderno 97; p.101.
03/02/1991; O Globo; Sai tabela para cálculo dos salários.Collor pede mobilização cívica.
Caderno 23; p.33.
03/02/1991; O Globo; DO publica duas medidas. Caderno 23; p.34.
03/02/1991; Jornal do Brasil; Congelamento tenta pela quinta vez deter inflação. Caderno 18;
p.148.
03/02/1991; O Globo; Zélia pede à população que não compre. Caderno 18; p.57.
04/02/1991; O Globo; Na casa da Dinda, domingo de apelo ecológico. Caderno 100; p.25.
06/02/1991; O Globo; Collor pede alternativas e não só críticas ao plano. Caderno 70; p.107.
09/02/1991; Última Hora; Empresário revela: Fiesp vai sabotar plano Collor. Cad 16; p.94.
09/02/1991; O Globo; IBGE não divulgará mais inflação. Caderno 46; p.38.
10/02/1991; Jornal do Brasil; Plano revive velhos vícios econômicos. Desabastecimento e
ágio se unem agora a arrocho salarial. Caderno 23; p.56.
15/02/1991; O Globo; Zélia admite negociar plano econômico com Congresso. Zélia pede
prazo e admite mudar plano. Caderno 23; pp.89-90.
16/02/1991; O Globo; Collor estende a mão ao novo Congresso. Caderno 70; p.77.
16/02/1991; O Globo; A camiseta pela aliança. Collor presenteia Sarney, na busca de
aproximação, de Jorge Bastos Moreno. Caderno 70; p.109.
16/02/1991; Jornal do Brasil; Unificação de data-base favorece a greve geral; Caderno 19;
p.127.
17/02/1991; O Globo; Centrais rejeitam data-base em janeiro; Caderno 19; p.128.
17/02/1991; O Globo; Cientista político alerta para riscos do caos social no País. “Se o
Presidente não apresentar uma grande proposta, não fizer uma revisão no Plano Collor II, vai
perder a credibilidade”. Entrevista com Hélio Jaguaribe, de Oscar Valporto e Wilson Tosta.
Caderno 23; p.143.
17/02/1991; O Globo; Calendário da inflação não muda desde 86. Caderno 46; p.32.
18/02/1991; Última Hora; Militares ganham voz no Congresso Nacional. Caderno 67; p.12.
19/02/1991; O Globo; Collor insiste na colaboração do Congresso. Caderno 97; p.46.
20/02/1991; Jornal do Brasil; Brizola ataca a “ditadura econômica”, de Jorgemar Felix.
Caderno 23; p.146.
20/02/1991; Jornal do Brasil; Ensaio Geral, de Villas Bôas-Correia. Caderno 23; p.148.
23/02/1991; O Globo; Ibope constata aprovação ao Plano Collor. Caderno 23; p.103.
24/02/1991; O Globo; Data-base: empresário teme unificação; Caderno 19; p.129.
25/02/1991; O Globo; Plano Collor II paralisa importações. Caderno 23; p.71.
26/02/1991; O Globo; Economistas rejeitam tese de indexação total. Caderno 46; p.41.
27/02/1991; O Globo; “Plano Collor II não liquidará inflação”. “Ninguém deveria ter-se
surpreendido com o plano que é uma continuação lógica do Plano Collor I. E fatalmente será
seguido por outras intervenções”. Entrevista com Francisco Lopes, de George Vidor. Caderno
23; p.140.(?)
27/02/1991; O Globo; Bresser: plano caminha para o fracasso. Caderno 23; p.155.
27/02/1991; O Globo; Collor elogia a maturidade da classe política. Caderno 70; p.110.
27/02/1991; O Globo; Relator exclui unificação das datas-base; Caderno 19; p.130.
01/03/1991; O Globo; Fevereiro acaba sem anúncio do índice oficial de inflação.Cad.46; p.43.
02/03/1991; O Globo; Aprovado o abono de 3 mil durante 5 meses. Congresso revive época
da Constituinte. Parlamentares trabalham toda a madrugada; Caderno 19; p.107.
03/03/1991; O Globo; Entrevista com Mario Henrique Simonsen, de Cecília Costa e Lea
Cristina. “Chega de pacotes e de MPs”. Caderno 14; p.146.
03/03/1991; O Globo; Governo X Congresso: a guerra das MPs. Collor é recordista na edição
de medidas. Caderno 14; p.150.
05/03/1991; Jornal do Brasil; Os marajás da Assembléia. 5 funcionários ganham mais de Cr$
4 milhões e 40 acima de Cr$ 1 milhão. Caderno 67; p.87.
08/03/1991; Jornal do Brasil; Governo prepara plano econômico. Caderno 32; p.8.
09/03/1991; O Globo; Próximo passo de Collor é a retomada do desenvolvimento. Caderno
32; p.8.
10/03/1991; O Globo; FMI vem receber 10ª Carta de Intenções, de Cristina Veiga. Caderno
20; p.125.
10/03/1991; Jornal do Brasil; Collor (1 ano)/Muito barulho e pouca ação. Um governo com
mais barulho do que ação. Caderno 32; pp.11-2
10/03/1991; Jornal do Brasil; Confisco foi apenas instrumento de poder, de Octávio Costa.
Caderno 32; p.15.
10-11/03/1991; O Fluminense; PTB engrossa a oposição e também quer limitar MPs.
Governo quer manter poder para reeditar MPs. Caderno 14; p.103.
15/03/1991; O Globo; Passado 1 ano de governo, Collor muda o tom de seu discurso e pede
união nacional. Um presidente em busca de conciliação. Caderno 32; p.27.
19/03/1991; O Globo; Empossado, Bulhões se alia aos adversários de Collor em Alagoas.
Caderno 62; p.124.
20/03/1991; O Globo; Collor quer que Congresso seja o fórum do Projetão. Caderno 32; p.42.
23/03/1991; O Globo; Collor suspende pagamento dos marajás da Previdência. Caderno 28;
p.112.
23/03/1991; Jornal do Brasil; Lista de marajás da Previdência pode indicar fraude. Caderno
28; p.109.
23/03/1991; O Globo; Governo acaba com IPC para inibir expectativa de inflação. Caderno
46; p.44.
24/03/1991; O Globo; Estagnação deverá marcar desempenho econômico em 91. Cad. 47;
p.93.
26/03/1991; O Globo; Ozires sai e Teixeira assume Ministério da Infra-Estrutura. Caderno 10;
p.116.
26/03/1991; Jornal do Brasil; Teixeira assume Infra-Estrutura no lugar de Ozires. Caderno
10; p.121.
27/03/1991; Jornal do Brasil; Governo erra alvo na caça à marajás. Caderno 28; p.117.
27/03/1991; O Globo; Militares vão à Justiça contra redução de salários. Caderno 48; p.167.
28/03/1991; O Globo; Plano Collor II adia reinicio das negociações como FMI. Cad 20; p.21.
28/03/1991; Jornal do Brasil; Dança com caringangues. Collor oficializa 5 reservas indígenas
no Sul. Caderno 55; p.109.
29/03/1991; O Globo; Polícia Federal e Planalto não se entendem sobre marajás. Caderno 28;
p.119.
31/03/1991; O Globo; Entrevista com Eduardo Suplicy, de Roberto Stefanelli. “Senado
poderá aprovar só uma reedição de medida provisória”. Caderno 14; p.114.
01/04/1991; O Globo; Collor anuncia que fará uma limpeza na Previdência Social, de Maria
Lima. Caderno 28; p.36.
02/04/1991; O Globo; Projeto de Reconstrução Nacional. A opção democrática pelo
desenvolvimento, de Fernando Collor. Caderno 32; pp.50-1.
03/04/1991; O Globo; Zélia pedirá perdão de 50% da dívida oficial. Caderno 21; p.24.
04/04/1991; O Globo; Dívida: Clube de Paris nega perdão, de Patrícia Sabóia. Cad 21; p.25.
04/04/1991; O Globo; Governo descobre que marajás da Previdência são poucos e legais.
Caderno 28; p.124.
05/04/1991; Jornal do Brasil; Fracasso nas investigações de Magri irritou Collor. Os
Bastidores da intervenção branca. Crise no INSS esvazia poder do Ministro, de Mário Rosa.
Caderno 28; p.45.
07/04/1991; Jornal do Brasil; Entrevista com Darcy Ribeiro. Caderno 32; p.56.
08/04/1991; O Globo; Collor corre rápido e deixa Magri para trás. Na camiseta roxa, a
“paixão pelo Brasil”. Caderno 11; p.24.
08/04/1991; Jornal do Brasil; EUA não recuam e mantêm o veto ao empréstimo do BID, de
Osvaldo Peralva. Caderno 21; p.27.
09/04/1991; O Globo; Brasil fecha novo acordo da dívida. Brasil fecha acordo com credores.
Caderno 21; p.49.
12/04/1991; O Globo; Descongelamento de preços será feito através de acordo. Caderno 18;
p.162.
14/04/1991; Jornal do Brasil; Coisas da Política, de Etevaldo Dias; Collor comemorou muito
cedo a queda da inflação. Caderno 46; p.115.
16/04/1991; O Globo; Governo quer reajustar salário-mínimo de 6 em 6 meses com ganho
real de 5%; Caderno 19; p.43.
17/04/1991; O Globo; Congresso mudará projeto do mínimo; Caderno 19; p.44.
18/04/1991; O Globo; Collor não demarcará reserva ianomâni. Índias descerão rampa do
Planalto com trajes atípicos. Funai compra calcinhas e sutiãs para todo o grupo.Caderno 51;
p.93 (fte e verso).
19/04/1991; O Globo; Tumulto, depredação e saque em São Paulo. Caderno 57; p.141.
23/04/1991; O Globo; Governo recorre ao STJ para sustar as ações de liberação dos cruzados.
Caderno 17; p.103.
23/04/1991; O Globo; STF susta liminar que libera cruzados. Caderno 17; p.110.
27/04/1991; O Globo; Bird: Brasil tem que controlar inflação. Caderno 46; p.117.
29/04/1991; Jornal do Brasil; Plano Collor II sob alta tensão. Coisas da Política, de Mario
Rosa. Caderno 23; p.156.
29/04/1991; O Globo; Governo não divulgará metas de inflação. Caderno 46; p.119.
30/04/1991; O Globo; Brasil vai negociar com FMI e bancos, de Regina Alvarez. Cad. 20;
p.92.
01/05/1991; Jornal do Brasil; Brasil começa negociação oficial da dívida, de Manoel
Francisco Brito. Caderno 20; p.93.
01/05/1991; O Globo; Collor assina 5 projetos do Projetão. Caderno 32; p.69.
06/05/1991; O Globo; Collor repudia crítica do FMI e diz que não aceita pressão. Cad. 20;
p.23.
07/05/1991; Jornal do Brasil; Collor pode perder Zélia mas não muda a economia. Coisas da
Política, de Etevaldo Dias. Caderno 70; p.63.
09/05/1991; O Globo; Collor demite Zélia e Marcílio Marques Moreira assume Economia.
Caderno 23; p.108.
10/05/1991; Jornal do Brasil; Zélia sai ressentida com Collor. Caderno 23; p.112.
10/05/1991; Jornal do Brasil; Nomeação de Ministro (Marcílio Marques Moreira) facilita
negociação da dívida; de Manoel Francisco Brito. Caderno 20; p.24.
10/05/1991; Jornal do Brasil; Collor propõe nova política salarial a funcionalismo. Caderno
48; p.11.
10/05/1991; Jornal do Brasil; Teixeira sai sem admitir nenhum erro. Santana assume Infra-
Estrutura sem constrangimento. Caderno 10; pp.127 e 130.
11/05/1991; Jornal do Brasil; Santana diz que não haverá mais demissões nas estatais.
Caderno 10; p.131.
11/05/1991; O Globo; Zélia se despede acusando as elites. Caderno 23; p.113.
12/05/1991; O Globo; Entrevista: Ulysses Guimarães. “Nosso sistema de governo é a
pajelança.” (Jorge Bastos Moreno e Luis Erlanger). Caderno 69; p.37.
15/05/1991; Jornal do Brasil; Marcílio forma equipe de burocratas profissionais. Cad. 24;
p.10.
15/05/1991; O Globo; Nova equipe indica “sarneyzação”. Caderno 24; p.12.
15/05/1991; O Globo; Marcílio forma equipe com ex-integrantes do Governo Sarney.
Caderno 24; p.18.
18/05/1991; Jornal do Brasil; A queda de Zélia, de Moacir Werneck Castro. Cad 23; p.114.
18/05/1991; Jornal do Brasil; CPI apura que 100 mil fraudam a Previdência. Cad. 72; p.27.
19/05/1991; Jornal do Brasil; lia Caridosa de Mello, de Jorge Maranhão. Caderno 23;
p.118.
19/05/1991; Jornal do Brasil; “Não haverá Plano Marcílio.” Entrevista com Marcílio M.
Moreira, de Eli Teixeira e Paulo Fona. Caderno 24; p.34-6.
20/05/1991; Jornal do Brasil; Collor mantém política salarial. Caderno 19; p.20.
24/05/1991; O Globo; Marcílio diz que política salarial pode ser alterada. Caderno 19; p.23.
25/05/1991; Jornal do Brasil; Marajás da aposentadoria. Subsídio do Estado garante a ex-
deputados pensões milionárias após 2 mandatos. Caderno 67; p.93.
26/05/1991; Jornal do Brasil; As nossas Forças desarmadas. Militares dizem que corte de
verba prejudica defesa, de Celson Franco e Cleber Praxedes. Caderno 22; p.27.
26/05/1991; O Globo; Presidente quer medidas para punir a violência nas greves. Caderno 48;
p.136.
28/05/1991; Folha de São Paulo; Recessão recorde no Brasil foi inútil, de Dornbusch.
Caderno 47; p.72.
28/05/1991; O Globo; TST avisa que dará reajustes de salários proibidos pelo governo;
Caderno 19; p.94.
29/05/1991; O Globo; Eximbank dos EUA corta crédito ao país, de Heloisa Villela. Caderno
21; p.29.
29/05/1991; Folha de São Paulo; Pai do milagre chileno critica política de Collor, de Mauro
Lopes. Caderno 98; p.70.
30/05/1991; O Globo; União usa mapa de 1831 para cobrar taxa. Caderno 22; p.110.
02/06/1991; O Globo; Collor moderniza, mas não ouve seu SNI. O governo mandou agentes
para casa e colocou um paisano no comando das informações. “SNI soft”, agentes em casa e
civil no comando (João Alberto Ferreira e Mônica Prado). Caderno 12; p.20.
06/06/1991; O Globo; Magri faz turismo na reunião da OIT. Caderno 11; p.36.
07/06/1991; O Globo; Governo inicia liberalização de preços. Caderno 18; p.73.
11/06/1991; Jornal do Brasil; Magri admite erro e Collor decide mantê-lo no cargo. Caderno
11; p.47.
14/06/1991; Jornal do Brasil; Comissão aprova aumento de benefícios da Previdência.
Caderno 48; p.103.
14/06/1991; Jornal do Brasil; Collor promete mudar o Nordeste. Presidente faz romaria
sertaneja. Missa e recursos para o interior animam alagoanos. (Letícia Lins); Caderno 54;
p.69.
16/06/1991; O Globo; Collor vai negociar pessoalmente nos EUA dívida brasileira. Caderno
34; p.11.
16/06/1991; O Globo; CPIs levam Congresso à realidade do país. Caderno 72; p.10.
17/06/1991; Jornal do Brasil; Collor buscará negociação mais prática com EUA. Cad. 34;
p.12.
17/06/1991; O Globo; EUA: Collor vai exigir comércio recíproco. Caderno 34; p.13.
17/06/1991; O Globo; Entrevista com Fernando Collor de Mello. Caderno 34; p.14.
18/06/1991; O Globo; Collor, irritado com o PMDB acusa Quércia de incompetência.
Caderno 34; p.19.
18/06/1991; Jornal do Brasil; EUA criticam ecologia e violência no Brasil. Caderno 34; p.22.
19/06/1991; O Globo; Bush (pai) promete apoio a Collor na dívida. Caderno 34; p.27.
19/06/1991; O Globo; Na Casa Branca, elogios a um “líder moderno e vigoroso”. Recepção
no meio do jardim contou até com trombetas, de José Meirelles Passos. Caderno 34; p.29.
19/06/1991; Jornal do Brasil; Collor propõe a Bush o fim das divergências comerciais.
Caderno 34; p.32.
20/06/1991; Jornal do Brasil; Collor quer recompensa do 1º mundo por suas reformas.
Caderno 34; p.34.
20/06/1991; O Globo; “Indiana Collor”: sucesso na Casa Branca, de José Meirelles Passos.
Caderno 34; p.37.
20/06/1991; O Globo; Entrevista com Fernando Collor de Mello, de José Meirelles Passos e
Roberto Stefanelli. “Brasil não espera mais sentado por ajuda”. Caderno 34; p.41.
20/06/1991; O Globo; Collor exige nova ética de desenvolvidos. Caderno 34; p.66.
20/06/1991; O Globo; Senado aprova acordo da dívida externa. Caderno 20; p.144.
20/06/1991; O Globo; Domésticas devem ter novos direitos em 60 dias. Caderno 48; p.112.
21/06/1991; Jornal do Brasil; O país que Collor mostrou a Bush (pai) / Collor volta ao país
sem ilusões, de Manoel Francisco Brito. Caderno 34; p.43.
21/06/1991; Jornal do Brasil; Fim da reserva na informática (líderes do Congresso firmam
acordo para acabar com restrições em 92). Caderno 40; p.18.
22/06/1991; O Globo; Collor: Bush (pai) é novo aliado do Brasil. Caderno 34; p.51.
22/06/1991; O Globo; Collor reconduz Junqueira à Procuradoria da República. Cad 10; p.59.
24/06/1991; O Globo; Orçamento: assédio dos currais eleitorais, de Rudolfo Lago. Caderno
22; p.31.
25/06/1991; O Globo; Dívida financiará projetos ambientais. Caderno 21; p.70.
26/06/1991; O Globo; Collor se previne contra Itamar. Presidente deixa Coimbra e Pedro Luis
no Brasil, de Maria Lima. Caderno 34; p.132.
26/06/1991; O Globo; Câmara aprova abertura da informática à estrangeiros. Cad 40; p.19.
27/06/1991; Última Hora; Congresso veta bandalheira contra servidores públicos. Caderno
48; p.21.
30/06/1991; O Globo; Canhedo não paga dívida da VASP. VASP: Canhedo não paga dívidas
e já aflige credores. Caderno 73; p.11.
01/07/1991; O Globo; Canhedo diz que vida da VASP é considerada pública pelo CMN.
Caderno 73; p.12.
01/07/1991; Jornal do Brasil; Brasil começa a pagar hoje juros da dívida. Caderno 20; p.114.
01/07/1991; O Globo; Collor exige solução sobre salários. Caderno 48; p. 24.
02/07/1991; O Globo; Marcílio, sem alarde, baixa novo pacote. Caderno 24; p.40.
02/07/1991; O Globo; Governo de São Paulo paga dívida da Vasp. Caderno 73; p.13.
03/07/1991; O Globo; Fleury cobra dívida da VASP na justiça. Caderno 73; p.14.
03/07/1991; O Globo; Desnível salarial leva Forças Armadas a criticar Congresso. Caderno
48; p.83.
05/07/1991; O Globo; Cruzados podem ser trocados para pagar dívidas e impostos.
Caderno 17; p.20.
09/07/1991; Jornal do Brasil; Cinco meses de mandato milionário, de Cláudia Boechat. De
fevereiro, data da posse, até junho, os 70 deputados estaduais receberam, cada um o
equivalente a Cr$ 96.472/dia. Caderno 48; p.146.
10/07/1991; O Globo; Collor desafia Quércia em seu reduto (Presidente Prudente). Caderno
62; p.29.
11/07/1991; O Globo; Collor quer Fleury a seu lado contra Quércia. Caderno 62; p.31.
11/07/1991; O Globo; Deputado propõe a criação de imposto único. Caderno 22; p.115.
11/07/1991; O Globo; Investimentos em 90 foram os mais baixos da década. Cad 47; p.14.
11/07/1991; Jornal do Brasil; Governo reativa Projetão com nova política salarial. Caderno
32; p.74.
12/07/1991; Jornal do Brasil; Collor admite que exagerou nas MPs. Caderno 14; p.159.
13/07/1991; Jornal do Brasil; Collor se acha D. Quixote na luta contra o erro. Caderno 44.
13/07/1991; O Globo; Nova política salarial já causa polêmica. Caderno 19; p.24.
15/07/1991; O Globo; Marcílio: inflação ainda está sob controle. Caderno 46; p.127.
16/07/1991; O Globo; Ministério fixará a política salarial até o fim do mês, de Regina
Alvarez. Caderno 19; p.25.
18/07/1991; O Estado de São Paulo; (foto) Collor aproveitará para assinar tratado com
Menem e participar de reunião do Mercosul, de Paulo Sotero. Caderno 34; p.55.
19/07/1991; Hoje em Dia (BH); Collor e Menem querem energia nuclear pacífica. Caderno
34; p.63.
19/07/1991; Hoje em Dia (BH); Collor se irrita com chefe do FMI. Chefe da missão do FMI
se indispõe com o governo brasileiro. Caderno 20; p.27.
19/07/1991; O Globo; Collor é contra isolamento de Cuba. Caderno 34; p.61.
20/07/1991; Jornal do Brasil; Crise faz Marcílio cancelar reunião com missão do FMI.
Marcílio suspende reunião e chama delegado no FMI. Caderno 20; p.28.
21/07/1991; O Globo; FMI impõe a lei do silêncio. Técnico taxa de “constrangedora” reação
de Collor, de Laszlo Varga. Caderno 20; p.32.
21/07/1991; O Globo; Dívida impõe a austeridade a governadores. Dívida de US$ 60 bi.
Paralisa os Estados. Caderno 57; pp.23 a 26.
22/07/1991; O Globo; Collor quer que FMI mude negociador. Caderno 20; p.33.
23/07/1991; Jornal do Brasil; Brasil suspende reunião com FMI. Caderno 20; p.35.
23/07/1991; Jornal do Brasil; Governo negocia se FMI substituir chefe de missão, de
Odail Figueiredo. Caderno 20; p.36.
24/07/1991; O Globo; FMI substitui chefe da missão no Brasil. Caderno 20; p.42.
24/07/1991; O Globo; FMI nomeia novo negociador no Brasil. Caderno 20; p.43.
24/07/1991; O Globo; Fajgenbaum esperava manter o cargo. Bancos credores apostaram na
superação do impasse, de Heloisa Villela. Caderno 20; p.43 (verso).
24/07/1991; O Globo; Fundo procura tratar incidente com discrição, de José Meirelles Passos.
Estilo “soft” perde para “bateu-levou”. Caderno 20; p.44.
24/07/1991; O Globo; Salários: proposta de Marcílio inclui piso setorial e prefixação.
Caderno 19; p.26.
27/07/1991; O Globo; FMI exige corte radical nos gastos do governo. Caderno 21; p.30.
27/07/1991; Jornal do Brasil; Collor reconhece que aumento dado a servidor é pouco.
Caderno 48; p.11.
28/07/1991; O Globo; Governo abandona política salarial, de Helena Chagas. Cad. 19; p.27.
29/07/1991; Jornal do Brasil; Política salarial vai atender as faixas mais desprotegidas, de
Vannildo Mendes. Caderno 19; p.28.
31/07/1991; O Globo; Projeto de Reconstrução Nacional: Realizações, de Fernando Collor.
Caderno 32; p.76.
03/08/1991; O Globo; Congresso exigirá explicação sobre conta secreta da SAE. Cad 40;
p.98.
04/08/1991; O Globo; BC: inflação só cairá com reformas. Caderno 46; p.131.
04/08/1991; O Globo; Projeto de Reconstrução Nacional: Prioridades, de Fernando Collor.
Caderno 32; p.77.
06/08/1991; Jornal do Brasil; Collor manda Leoni explicar verba secreta. Caderno 40; p.102.
06/08/1991; O Globo; Leoni explicará verbas secretas na Câmara. Caderno 40; p.102.
07/08/1991; O Globo; Dorothéa retoma controle de preços. Caderno 18; p.169.
08/08/1991; Jornal do Brasil; Marcílio arrocha economia para controlar a inflação. Caderno
47; p.15.
08/08/1991; Jornal do Brasil; Darcy deixa Senado atacando programa de privatização.
Caderno 67; p.58.
09/08/1991; Jornal do Brasil; Collor culpa empresários pela escalada dos preços. Cad. 18;
p.174.
09/08/1991; O Globo; Collor vetará as emendas ao projeto dos servidores. Caderno 48; p.41.
12/08/1991; Jornal do Brasil; Collor critica empresários e pede mais patriotismo. Cad. 16;
p.97.
17-18/08/1991; Tribuna da Imprensa; Salário de militar coloca governo sobre um vulcão,
Euclydes Figueiredo adverte o Planalto. Caderno 48; p.93.
18/08/1991; Jornal do Brasil; Marcílio prevê que Brasil volte a crescer em 3 anos. Caderno
47; p.75.
20/08/1991; Jornal do Brasil; Governo impõe medidas rígidas para rolar dívidas dos estados.
Caderno 57; p.33.
22/08/1991; O Globo; Chiarelli vira Ministro no Uruguai. No Congresso muitos aplaudiram a
queda. Caderno 10; p.87.
22/08/1991; O Globo; Brasil começa a negociar dívida externa com bancos. Caderno 20; p.96.
22/08/1991; O Globo; STF: salário de disponível é intocável; Caderno 25; p.131.
22/08/1991; O Globo; Medeiros: ação contra reajuste no Congresso. Caderno 48; p.151.
23/08/1991; Jornal do Brasil; Emendão de Collor muda o país. Emendão impõe 2 anos de
sacrifícios. Caderno 32; p.78.
24/08/1991; Jornal do Brasil; Só credores apóiam o Emendão. Emendão recebe críticas em
todo o país. Caderno 32; p.85.
25/08/1991; O Globo; Collor adverte que Emendão é a única saída para a crise. Cad 32; p.91.
26/08/1991; O Globo; Collor pede na TV apoio ao Emendão. Caderno 32; pp.98 e sgtes.
29/08/1991; O Globo; Câmara desafia Collor e indexa salários. Collor vai vetar lei salarial da
Câmara. Oposição: entre a platéia e a realidade; Caderno 19; p.153.
30/08/1991; O Globo; Inflação medida pelo IGPM chega a 15,25% em agosto. Caderno 46;
p.139.
30/08/1991; O Globo; Governo aceita mínimo de 42 mil. Collor vetará indexação até 7
mínimos; Caderno 19; p.49.
03/09/1991; Jornal do Brasil; Orçamento da União em 92 faz corte drástico de gastos.
Caderno 22; p.60.
04/09/1991; O Globo; Crise leva Collor a procurar oposição. Caderno 71; p.26.
04/09/1991; O Globo; Lutzenberger xinga Zélia e General. (Débora Berlink).”Essa mulher
acabou com o poder aquisitivo do povo e esculhambou com a imagem do Collor. Se a Zélia
for à Rio-92, eu não vou.” Caderno 12; p.124.
06/09/1991; Jornal do Brasil; Governo restringe acesso a dados sobre gasto da União.
Caderno 22; p.19.
07/09/1991; O Globo; Collor parte hoje para uma viagem de 7 dias à África. Cad 34; p.63.
08/09/1991; Jornal do Brasil; FMI exige mais austeridade para dar aval ao Brasil, de
Teodomiro Braga. Caderno 21; p.34.
09/09/1991; O Globo; Collor, em Angola, muda política externa. Caderno 34; p.77.
10/09/1991; O Globo; Collor oferece o projeto dos “Ciacs” para Angola. Caderno 34; p.80.
11/09/1991; Jornal do Brasil; Collor volta a Bush (pai) por mais investimentos e tecnologia.
Caderno 34; p.83.
12/09/1991; O Globo; STF: parecer é a favor dos marajás. Caderno 28; p.132.
12/09/1991; O Globo; Emendão do governo está na sua 14ª versão. Caderno 32; p.112.
13/09/1991; O Globo; Medeiros anuncia greve contra queda salarial. Caderno 19; p.29.
14/09/1991; O Globo; Entrevista com Fernando Collor de Mello, de Amauri Teixeira.
Caderno 34; p.88.
14/09/1991; O Globo; Emendão vai virar Emendinha para passar no Congresso. Cad 32;
p.114.
15/09/1991; Jornal do Brasil; Governo comete erro no projeto do Orçamento da União, de
Madalena Rodrigues. Caderno 22; p.62.
17/09/1991; O Globo; Collor divide em 3 o Emendão. Presidente volta a repelir exigências e
governo de coalizão garante que está punindo corruptos. Caderno 32; p.116.
17/09/1991; O Globo; Cruzados liberados ficam nos bancos. Caderno 17; p.146.
21/09/1991; O Globo; Collor diz que sem Emendão todos vão chorar. Collor: sem o
Emendão, vamos chorar juntos depois. Caderno 32; p.124.
21/09/1991; O Globo; Bancos estaduais aceitam regras do BC e podem reabrir. Cad 57; p.74.
22/09/1991; O Globo; Collor volta à ONU para cobrar dos ricos. Caderno 34; p.93.
22/09/1991; O Globo; Presidente sai a passeio e compra livros em NY. Antes da Avenida,
goles de água de coco, de José Meirelles Passos. Caderno 34; p.94.
23/09/1991; Jornal do Brasil; Collor pede aos EUA apoio para a dívida. Caderno 34; p.95.
24/09/1991; O Globo; Collor a Bush (pai): Brasil na pode pagar, de JoMeirelles Passos e
Jorge Bastos Moreno. Caderno 34; p.101.
25/09/1991; O Globo; Abono será incorporado ao salário; Caderno 19; p.115.
25/09/1991; O Globo; Collor ouve líderes e admite mudar Emendão. Caderno 32; p.128.
26/09/1991; O Globo; Collor adia a reforma da Previdência. Caderno 28; p.63.
27/09/1991; O Globo; Collor dá ao Congresso poder para fiscalizar a SAE. Cad 40; p.104.
01/10/1991; O Globo; Collor: privatização manterá empregos. Caderno 97; p.103.
01/10/1991; Jornal do Brasil; Entrevista do presidente/ O Brasil é um país sério, sim”.
Caderno 97; p.111.
03/10/1991; Jornal do Brasil; Câmara começa a apreciar Emendão. Caderno 71; p.35.
06/10/1991; O Globo; ONU desvenda a conexão Brasil-Iraque. Documentos confiscados em
Bagdá revelam detalhes sobre cooperação secreta na área nuclear, de José Meirelles Passos.
Caderno 40; p.72.
07/10/1991; Jornal do Brasil; Collor em alto astral. Caderno 100; p.33.
07/10/1991; O Globo; Emendão obrigou Planalto a ouvir políticos. Caderno 71; p.42.
10/10/1991; O Globo; Congresso faz “picadinho” do Emendão. Caderno 71; p.46.
10/10/1991; Jornal do Brasil; FMI exige reforma tributária. Caderno 22; p.140.
11/10/1991; O Globo; Oposição torna o Emendão inviável. Caderno 71; p.49.
13/10/1991; O Globo; Preços voltam a enlouquecer com o avanço da inflação. Cad 18; p.99.
15/10/1991; O Globo; Collor pede ajuda a João Paulo II. Presidente sugere interferência
contra as “injustiças nas relações entre os povos”. Caderno 36; p.64.
18/10/1991; Jornal do Brasil; Aposentados brigam na justiça para conseguir os 147%.
Caderno 65; p.30.
20/10/1991; O Globo; Esquerda na maracutaia do Orçamento, de Rudolfo Lago, Núbia Ferro
e Denise Rothenburg. Caderno 22; p.36.
25/10/1991; O Globo; Collor elogia antecipação de plebiscito. Caderno 69; p.13.
26/10/1991; O Globo; Dercy Gonçalves desce a rampa com Collor.Atriz diz que presidente é
macho para caramba. Caderno 43.
26/10/1991; O Globo; Collor rejeita críticas e acusa de covardes os empresários que demitem.
Caderno 16; p.100.
26/10/1991; Jornal do Brasil; Collor condena empresário covarde que se interessa por juro
baixo. Caderno 16; p.104.
29/10/1991; O Globo; Taxas de juros chegam a 42% ao mês. Juros no “over” vão a 42%,
recorde do governo Collor. BC pára de intervir no mercado de ouro e provoca descontrole.
Caderno 21; p.107.
30/10/1991; Jornal do Brasil; Collor concede 11 milhões de hectares a 48 mil índios. Caderno
51; p.101.
01/11/1991; O Globo; Pacote vai aumentar os impostos. Caderno 22; p.144.
02/11/1991; O Globo; Menores salários pagarão mais imposto. Caderno 22; p.148.
02/11/1991; O Globo; IR: reforma prejudica mais a classe média. Caderno 22; p.86.
03/11/1991; O Globo; Entrevista-Marcílio M. Moreira, de Cecília Costa. “A solução para o
país está em uma trajetória liberal”. Caderno 47; p.79.
06/11/1991; O Globo; Superávit de outubro foi o pior do ano. Caderno 47; p.127.
08/11/1991; O Globo; Collor responsabiliza Lula e Meneguelli. Caderno 69; p. 133.
08/11/1991; O Globo; PSDB: acabou o diálogo com Collor. Caderno 71; p.54.
09/11/1991; O Globo; Collor repudia as críticas do PSDB. Reação agressiva surpreende líder
do PSDB. Estratégia passou pela isenção do Presidente. Caderno 69; p.113.
14/11/1991; Jornal do Brasil; CPI divulga lista dos “notáveis” do narcotráfico. Cad 72; p.39.
16/11/1991; O Globo; Collor contraria Exército e cria reserva ianomâni. Caderno 51; p.107.
21/11/1991; O Globo; Senadores criticam reserva ianomâni. Caderno 51; p.113.
21/11/1991; Jornal do Brasil; Oposição paralisa nova lei salarial. Oposição cria impasse na
votação da política salarial. Passarinho anuncia “quebradeira” e conquista apoio. Mínimo não
muda até janeiro; Caderno 19; p.162.
22/11/1991; O Globo; Governo e Oposição discutem abono; e Collor às Oposições: por favor,
não obstruam as votações; Caderno 19; p.116 (frente e verso).
23/11/1991; O Globo; Só Igreja e Funai apóiam reserva ianomâni. Caderno 51; p.114.
25/11/1991; Jornal do Brasil; Coisas da Política. O protesto de uma moça de 16 anos.
Caderno 98; p.74.
25/11/1991; O Globo; Vendas de estatais ainda não reduziram a dívida pública, de Liana
Verdini. Caderno 26; p.135.
26/11/1991; Tribuna da Imprensa; Comércio reage a Collor: crítica é ato de desespero.
Caderno 16; p.108.
29/11/1991; Jornal do Brasil; Camdessus vem ao Brasil receber Carta de Intenções, de Eli
Teixeira. Caderno 20; p.100.
30/11/1991; O Globo; Inflação medida pelo IGPM, foi de 25,62% em novembro. Cad 46;
p.147.
04/12/1991; Jornal do Brasil; Camdessus promete defender plano do Brasil no FMI, de Odail
Figueiredo. Caderno 20; p.105.
04/12/1991; Jornal do Brasil; Governo rola dívidas estaduais em troca da reforma tributária.
(Rita Tavares). Caderno 57; p.41.
05/12/1991; O Globo; Governo manterá juro alto e elevará tarifas. Décima Carta de Intenções
ao FMI garante que compromissos com Clube de Paris serão cumpridos em dia. Caderno 20;
p.50.
05/12/1991; O Globo; Íntegra do documento entregue pelo governo brasileiro ao FMI.
Caderno 20; pp. 52-7.
05/12/1991; O Globo; Relator manipula distribuição de verbas. Caderno 22; p.43.
08/12/1991; O Globo; Decreto regulamenta aposentadoria. Decreto limita reajustede
aposentados. Caderno 65; p.17.
09/12/1991; O Globo; Governo pode testar o imposto único em 92. Caderno 22; p.118.
10/12/1991; O Globo; Brasil promete pagar US$ 8 bi a credores em 92, de João Borges e
Silvia Faria. Caderno 20; pp. 131-2.
12/12/1991; O Globo; ACM volta a atacar governo. Caderno 57; pp.10 a 11.
14/12/1991; O Globo; Brasil e Argentina firmam acordo nuclear em Viena, de Maria Lima.
Caderno 40; p.55.
17/12/1991; Jornal do Brasil; Collor diz que Ministério não muda e defende Alceni. Caderno
97; p.51.
17/12/1991; O Globo; Collor: maus empresários devem abrir botequim. Caderno 97; p.115-6.
17/12/1991; Tribuna da Imprensa; Entrevista do presidente Collor solta o verbo. Caderno
97; p.119.
18/12/1991; Jornal do Brasil; Collor exalta privatização. Empresários elogiam programa e
homenageiam o Presidente. Caderno 26; p.138.
18/12/1991; Jornal do Brasil; Collor manda fechar garimpo da área caiapó. Caderno 55;
p.150.
19/12/1991; O Globo; Câmara derruba alíquota de 35% do IR. Caderno 22; p.96.
19/12/1991; O Globo; Collor aprova a privatização da Cosipa, CSN, Açominas e Lloyd.
Caderno 27; p.114.
21/12/1991; O Globo; Abono deve ser pago até 8 de janeiro. Collor sanciona abono de Cr$ 21
mil; Caderno 19; p.120.
22/12/1991; O Globo; Política de Marcílio revive plano de 1964. Roberto Campos: inflação
pode cair sem choques. Caderno 24; p.97.
24/12/1991; O Globo; Collor contraria equipe e aprova nova tabela do IR. Caderno 22; p.97.
24/12/1991; O Globo; Collor propõe uma agenda de consenso. Caderno 97; p.54.
28/12/1991; O Globo; Inflação pelo IGPM cai para 23,6%. Caderno 46; p.150.
29/12/1991; O Globo; A agenda para o consenso, de Fernando Collor de Mello. Caderno 70;
p.80.
30/12/1991; O Globo; Presidente reclama das avaliações de 91. Caderno 97; p.57.
31/12/1991; O Globo; Petroquisa: Collor vai viabilizar privatização. Caderno 27; p.101.
31/12/1991; O Globo; Collor: 1992 marcará o fim do Estado obsoleto. Caderno 97; p.58
05/01/1992; O Globo; 1991: Preparação para o futuro. Caderno 97; p.59.
05/01/1992; O Globo; Serviços públicos são prioridade na privatização. Caderno 26; p.140.
06/01/1992; O Globo; Collor dedica domingo às crianças e à ecologia. Caderno 43.
07/01/1992; Jornal do Brasil; Forte rejeição à agenda Collor Coluna do Castello. Caderno
70; p.65.
08/01/1992; Jornal do Brasil; Collor não quer impor, mas humildemente propor Coluna do
Castello. Caderno 70; p.66.
08/01/1992; O Globo; Collor convoca o Congresso para aumentar desconto da Previdência.
Caderno 65; p.86.
11/01/1992; Jornal do Brasil; Governo quer descontar 147% dos aposentados em julho. Pires
suspeita de desvio do Finsocial. TCU inicia auditorias na segunda. Collor vai abrir números
do INSS. Congresso terá informações sobre receita e despesa. Caderno 65; p.66.
14/01/1992; O Globo; Collor assina hoje decreto para privatizar Embraer. Caderno 27; p.20.
15/01/1992; O Globo; Modiano (BNDES) quer privatizar Petrobrás. Caderno 27; p.91.
15/01/1992; O Globo; Collor afirma que os 147% podem sepultar a previdência. “No regime
presidencialista sempre os que jogam no quanto pior, melhor. No regime parlamentarista
existe uma solidariedade entre Governo e Congresso.“ Caderno 65; p.64.
15/01/1992; Jornal do Brasil; Collor diz que presidencialismo amplia seu isolacionismo.
Caderno 69; p.116.
17/01/1992; Jornal do Brasil; FMI adia votação do plano de ajuste. Reajuste de 147% faz
FMI adiar votação de acordo, de Teodomiro Braga. Caderno 21; p.39.
19/01/1992; O Globo; Governo recua no aumento do INSS. Caderno 65; p.104.
24/01/1992; O Globo; Chiarelli é demitido pela 2ª vez. Caderno 10; p.91.
26/01/1992; O Globo; Um ano após o Collor II, pacotes saem de cena, de a Cristina.
Caderno 24; p.99.
26/01/1992; O Globo; Bresser insiste: não como escapar do choque. Ex-ministro não crê
em queda da inflação, de Laszlo Varga. Caderno 24; p.101.
26/01/1992; Jornal do Brasil; Ministro (Aeronáutica) gasta milhões para reformar casa.
Caderno 26; p.9.
26/01/1992; O Globo; Entrevista/R.Stephanes, de Nelson Torreão e Pedro Rocha.
“Prioridades são conter fraudes e aumentar receita”. Caderno 11; p.94.
06/02/1992; Jornal do Brasil; Peso do cargo deixa Collor deprimido, de Ricardo Miranda
Filho. Caderno 100; p.58.
07/02/1992; O Globo; Collor reaparece e garante: está tudo bem. Caderno 100; p.62.
11/02/1992; O Globo; Computador cancela projetos para fechar orçamento da União, de
Maria Luiza Abbott. Caderno 22; p.66.
11/02/1992; O Globo; Países amazônicos cobram apoio do Primeiro Mundo, de Eliane
Cantanhede. Collor sugere “bloco de pressão” contra ricos. Caderno 38; p.7.
11/02/1992; O Globo; Governo reduz a reserva de mercado para a informática. Caderno 40;
p.26.
16/02/1992; Jornal do Brasil; Presidência desgasta e envelhece. Caderno 100; p.68.
18/02/1992; O Globo; Collor anuncia hoje pacote de estímulo ao comércio exterior. Caderno
27; p.204.
21/02/1992; Jornal do Brasil; Juiz diz que Alceni teve participação em fraudes. Caderno 11;
p.150.
22/02/1992; O Globo; Governo já aceita discutir dolarização. Caderno 24; p.42.
22/02/1992; Jornal do Brasil; Collor pre inflação de 21% para fevereiro. Caderno 46;
p.160.
24/02/1992; Tribuna da Imprensa; Congresso vai votar fim da aposentadoria por tempo de
serviço. Caderno 28; p.82.
24/02/1992; O Globo; Comissão especial votará Emendão amanhã. Caderno 71; p.59
25/02/1992; O Globo; Clube de Paris rejeita proposta do Brasil para rolar a dívida. Caderno
21; p.40.
27/02/1992; O Globo; Brasil se submete ao Clube de Paris e fecha acordo. Brasil recua e
consegue acordo com o Clube de Paris. Caderno 21; p.55.
27/02/1992; O Globo; Volnei acusa ex-ministro (Magri) de corrupção em fita gravada.
Caderno 11; p.69.
28/02/1992; O Globo; Marcílio: governo cedeu o que podia. Caderno 21; p.56.
29/02/1992; Folha de São Paulo; Planalto ignorou alerta sobre corrupção. Caderno 80; p.40.
02/03/1992; O Globo; Recessão atinge setores imunes à crise. Caderno 18; p.108.
09/03/1992; O Globo; Collor tem proposta para a implantação do parlamentarismo. Collor
programa mudança de regime, de Cristiana Mendes Lobo. Caderno 69; p.118.
14/03/1992; O Globo; Presidente volta à rampa. Caderno 97; p.64 (verso).
14/03/1992; O Globo; Collor: corruptos não terão guarida. Caderno 97; p.65.
14/03/1992; O Globo; Margarida vai depor na CPI do FGTS. Caderno 11; p.173.
15/03/1992; O Globo; Collor, 2 anos: o recomeço. Caderno 97; p.67.
26/03/1992; Jornal do Brasil; Congresso limita salários de deputados e vereadores. Caderno
48; p.157.
28/03/1992; O Globo; Collor recusa demissão de Leoni. Valorização da denúncia irritou
Planalto. Caderno 12; p.29.
29/03/1992; Jornal do Brasil; Exército investiga Tuma e DPF. Caderno 12; p.49.
31/03/1992; Jornal do Brasil; Collor recomeça governo com renúncia coletiva do Ministério.
Caderno 80; p.77.
31/03/1992; O Globo; Collor dissolve o governo. Irritado com denúncias diárias de corrupção,
presidente inicia reforma ampla no ministério. Caderno 80; p.79.
01/04/1992; O Globo; Jaguaribe quer ver modernos unidos em torno de Collor. Convite à
sociólogo desagrada PSDB. Caderno 12; p.92.
01/04/1992; Jornal do Brasil; Brasil recua para acelerar a negociação. Posição oficial aceita
proposta dos EUA sobre financiamento e abre mão de culpar países ricos pela destruição.
Caderno 38; p.16.
02/04/1992; Jornal do Brasil; Ministério de Collor fica mais velho. Caderno 71; p.68.
02/04/1992; Jornal do Brasil; Collor cria programa para atrair partidos. Caderno 46; p.10.
02/04/1992; Jornal do Brasil; Collor tem programa básico para um governo de coalizão.
Caderno 46; p.12.
03/04/1992; O Globo; Célio Borja toma posse na Justiça e fica longe da política. Passarinho:
bala perdida me abateu. Em discurso emocionado, deu sinais de que deixava o governo
magoado. Caderno 10; p.51.
03/04/1992; Jornal do Brasil; Congresso critica caráter genérico do programa mínimo.
Caderno 46; p.14.
03/04/1992; Jornal do Brasil; Reforma de Collor foi ensaio parlamentarista. Cad 69; p.121.
04/04/1992; Jornal do Brasil; Borja atuará pelo parlamentarismo. Caderno 10; p.52.
05/04/1992; Jornal do Brasil; Congresso dá supersalários a magistrados. Caderno 48; p.163.
05/04/1992; Jornal do Brasil; Governo lança programa de metas. Caderno 46; p.15.
07/04/1992; Jornal do Brasil; Eliezer assume e Leoni ataca “de tratores”. Caderno 12; p.43.
10/04/1992; Jornal do Brasil; Marcílio indicou Celso Lafer para o comando do Itamarati.
Caderno 10; p.81.
10/04/1992; O Globo; Novo governo de Collor sai do PFL. PDS, PL, PTB e PRN, mas não
amplia base política. Caderno 71; p.83.
14/04/1992; O Globo; Despedida ao som de lambada. Funcionários festejam a saída de João
Santana. Caderno 10; p.135.
18/04/1992; O Globo; Um ministro trabalho. Tropeços de Mellão irritam presidente.
Caderno 11; p.100.
19/04/1992; O Globo; Entrevista/Ângelo Calmon de Sá, de João Borges e Silvia
Faria.”Chegou a hora do realismo. Com a habilidade que tem, partiu do nada e chegou à
Presidência, acho Collor um gênio político”. Caderno 12; p.64.
20/04/1992; O Globo; Governo propõe fórmula de ganho real para o mínimo; Cad 19; p.58.
21/04/1992; O Globo; Pratini quer aumentar a competitividade da Petrobrás. Cad 10; p.143.
21/04/1992; O Globo; Comunidade científica irá de luto à Rio-92, diz Ênio Candotti. Caderno
38; p.134.
22/04/1992; O Globo; foto de Collor depositando flores no busto de Tiradentes. Collor
divulgou texto no qual compara os ideais do inconfidente às aspirações de seu governo.
Caderno 100; p.37.
26/04/1992; Jornal do Brasil; O mínimo no fundo do poço. DIEESE afirma que o novo
salário proposto é um retrocesso na história do Brasil, de Tatiana Petit; Caderno 19; p.62.
02/05/1992; O Globo; Collor só aceita correção quadrimestral para mínimo; Cad 19; p.66.
05/05/1992; Jornal do Brasil; Rei ou Presidente? Ulysses quer definir forma de governo antes
do plebiscito. Caderno 69; p.22.
11/05/1992; O Globo; Collor agiliza processo de privatização, de Núbia Ferro. Cad 26; p.151.
19/05/1992; O Globo; Ibsen já admite CPI sobre PCFarias. Caderno 74; p.8.
22/05/1992; O Globo; Collor: reforma fará juro cair para 15%. Caderno 22; p.161.
23/05/1992; O Globo; Pérolas Federais, de Miriam Leitão. Caderno 22; p.16.
27/05/1992; Tribuna da Imprensa; Meio milhão de pessoas vão ter o compulsório de volta.
Caderno 17; p.9.
27/05/1992; O Globo; Collor pede desculpas à nação pelo irmão. Caderno 81; p.43.
28/05/1992; O Globo; Câmara aprova plebiscito em 93 e defende Collor. Caderno 69; p.149.
28/05/1992; Tribuna; Pedro Collor está blefando e deslumbrado com a notoriedade. Caderno
81; p.37.
28/05/1992; Tribuna; Fazer ou não fazer uma CPI para valer, eis a questão. Caderno 74; p.11.
28/05/1992; O Globo; Renan vai ter que explicar ‘governo paralelo’ de PC. Caderno 74; p.13.
29/05/1992; O Globo; Pedro Collor depõe e ataca PCFarias. Caderno 74; p.18.
29/05/1992; Tribuna; Congresso assustado: CPI pode consagrar Collor. Comissão pouco
representativa, a exclusão do presidente das acusações e a convocação de poucos depoentes,
ameaçam os resultados das investigações. Caderno 75; p.19.
29/05/1992; O Globo; Magri desafia CPI do FGTS: “não vai dar em nada mesmo”. Caderno
72; p.47.
30/05/1992; Jornal do Brasil; Collor pede que Congresso vote reformas já. Caderno 71; p.86.
30/05/1992; O Globo; IBOPE: 58% apóiam apuração de denúncias. Caderno 72; p.13.
30/05/1992; O Globo; Pedro entrega lista dos ‘homens de ouro’ de PC. Esquema PC possui
12 testas-de-ferro. Dossiê de Pedro Collor entregue à Polícia Federal contém organograma do
‘governo paralelo’. Caderno 75; p.58.
31/05/1992; Jornal do Brasil; Brasil não consegue obter dinheiro fora, de Ronaldo
Brasiliense. Em dois anos de governo Collor o país não executou nenhum projeto ligado à
preservação ambiental com ajuda dos órgãos internacionais. Caderno 38; p.20.
31/05/1992; Jornal do Brasil; Nova ordem ambiental à vista (entrevista com Celso Lafer), de
Luis Orlando Carneiro e Ricardo Miranda. Caderno 39; p.117.
31/05/1992; O Globo; Entrevista/Collor. “Em nenhum momento me abalei”. Cad 81; p.72.
01/06/1992; O Globo; CPI começa a apurar hoje denúncias contra PCFarias. Cad 74; p.28.
02/06/1992; Jornal do Brasil; Brasil se ‘desaponta’ com EUA, de Teodomiro Braga e
Ronaldo Brasiliense. Caderno 38; p.29.
04/06/1992; Jornal do Brasil; Aposentadoria não terá mais reajuste pelo salário mínimo.
Caderno 28; p.91.
04/06/1992; Jornal do Brasil; TV mostrará Pedro Collor na CPI. Caderno 74; p.63.
05/06/1992; Jornal do Brasil; Pedro poupa Collor e envolve Cláudio Vieira. Cad 75; p.60.
07/06/1992; Jornal do Brasil; Europa tenta tirar EUA do isolamento (Rio-92). Cad 39; p.70.
08/06/1992; O Globo; Passeata ecológica critica posição de George Bush. Caderno 38; p.164.
08/06/1992; O Globo; CPI vai investigar Pedro Collor. Caderno 75; p.66.
09/06/1992; O Globo; Nova acusação a PC: ‘negócio das tarifas’. Caderno 74; p.66.
10/06/1992; Jornal do Brasil; PC confessa que pressionou Petrobrás no caso da Vasp.
Caderno 74; p.69.
10/06/1992; O Globo; PC se compromete ao depor na CPI. Caderno 74; p.34.
10/06/1992; O Globo; PC depõe e reforça suspeitas da CPI. Caderno 74; p.35-37.
10/06/1992; O Globo; ONGs levam seu protesto ao Rio Centro. Caderno 39; p.33.
11/06/1992; O Globo; Banco Real e TV Globo doam verba para Fórum (Rio-92). Caderno 38;
p.101.
12/06/1992; Jornal do Brasil; PC garante que não precisa de Collor. Caderno 74; p.38.
13-14/06/1992; Tribuna da Imprensa; Bush firma como grande vilão. Bush confirmou
todas as expectativas e não assinou o Tratado da Biodiversidade. Caderno 38; p.48.
14/06/1992; O Globo; CPI comprova ligação de PC com seus testas-de-ferro. Cad 74; p.91.
14/06/1992; O Globo; Motta Veiga denuncia tráfico de influência. Caderno 74; p.92.
15/06/1992; Jornal do Brasil; Coisas da Política, de Marcelo Pontes. O cerco sobre o
Presidente. Caderno 82; p.10.
16/06/1992; O Globo; Motta Veiga diz que Coimbra o impediu de alertar Collor. Cad. 75;
p.70.
16/06/1992; O Globo; Motta Veiga diz que tentou avisar Collor, de Fátima Cristina. Caderno
75; p.72.
16/06/1992; Jornal do Brasil; Brasil receberá US$ 4,6 bilhões, diz Collor. Caderno 39; p.140.
16/06/1992; O Globo; Brasil-92. “Surgiu na Rio-92 um país talhado para a construção dessas
pontes: o Brasil, ali personificado pelo presidente Fernando Collor.” Caderno 39; p.139.
17/06/1992; Tribuna da Imprensa; ‘Motta Veiga é um mentiroso’. Embaixador Coimbra
categórico. Governo sai da defesa e interpela judicialmente ex-presidente da Petrobrás.
Caderno 75; p.74.
18/06/1992; Jornal do Brasil; Collor quer retomar cena política, por Rita Tavares. Caderno
81; p.87.
20/06/1992; O Globo; Manifestação de apoio ao som de música sertaneja. Caderno 43.
20-21/06/1992; Tribuna da Imprensa; Congresso discute prorrogação dos trabalhos da CPI do
PC. Governo não acredita em ‘impeachment’ e oposição tem medo das conseqüências. Ibsen
revela que nada há contra Collor. Caderno 74; p.44.
22/06/1992; Jornal do Brasil; CPI investiga ligação de Collor e PC. Caderno 75; p.24.
22/06/1992; O Globo; Collor responde às acusações tardias. (início do discurso “chegou a
hora de dar um basta” e no final “Não me deixem só! Eu preciso de vocês! Mais do que nunca
é atual este apelo”). Caderno 81; p.93.
23/06/1992; Tribuna da Imprensa; Cabral confirma encontro em que Renan denunciou
PCFarias. Caderno 74; p.96.
23/06/1992; Tribuna da Imprensa; Collor no momento errado: não me deixem só, de Helio
Fernandes. Caderno 81; p. 103.
24/06/1992; O Globo; CPI conclui que empresas de PC ‘lavam’ dólares. Caderno 74; p.97.
24/06/1992; O Globo; Bandeira depõe e compromete PC. Ex-piloto de Collor reforça na CPI
suspeitas sobre lavagem de dólares no exterior. Caderno 74; p.98.
24/06/1992; Jornal do Brasil; Personagens do escândalo. Caderno 74; p.102.
26/06/1992; O Globo; Renan: esquema PC tinha ‘alto comando’. Caderno 74; p.79.
26/06/1992; O Globo; Ex-lider reafirma que Collor sabia. ‘O ex-lider do governo Renan
Calheiros afirmou em seu depoimento à CPI, que avisara o presidente Collor sobre o esquema
PC em três oportunidades (.....). Renan testemunhou que alguns alagoanos que participaram
do governo enriqueceram se forma considerável após a eleição presidencial. Além do próprio
PC, que ‘enriqueceu mais que todos’, Renan destacou o ‘enriquecimento fantástico’ de
Cláudio Vieira e do ex-porta-voz Cláudio Humberto. Renan comparou Collor a Nero e
Calígula.’ Caderno 74; p.79 (verso).
27/06/1992; O Estado de São Paulo; Política República de Alagoas. CPI aciona Interpol
para investigar tráfico. Deputado suspeita de que aviões do esquema PC possam estar levando
drogas para os EUA. Caderno 74; p.84.
27/06/1992; O Estado de São Paulo; Primeira Família Rosane esquia, Collor fica no hotel.
Presidente prefere se dedicar a estudos enquanto primeira dama sai para passear, de Pámela
Nunes e Jane Filipon. Caderno 34; p.134.
28/06/1992; O Globo; CPI apurará contas da secretária de Collor. Caderno 75; p.26.
28/06/1992; Jornal do Brasil; Secretária de Collor recebia de PC. Caderno 75; p.28.
28/06/1992; Jornal do Brasil; Histeria e golpismo, de Leonel Brizola. Caderno 82; p.27.
28/06/1992; Jornal do Brasil; Coluna do Castello Impeachment é uma mera fantasia legal.
Caderno 82; p.31.
29/06/1992; Jornal do Brasil; CPI vai convocar Ana Acioli e motorista Eriberto. PFL
prazo para Collor explicar denúncia. Caderno 75; p.29.
29/06/1992; Jornal do Brasil; Presidente reúne ministros e nega denúncias. Caderno 34;
p.137.
30/06/1992; O Globo; Influência do PC ia do Planalto ao BB. Contas telefônicas do escritório
do ex-tesoureiro de Collor comprovam ligações para todo o governo. Órgãos públicos
recebiam até 10 chamadas por dia. Caderno 74; pp.47-48.
30/06/1992; Tribuna da Imprensa; Collor e Motta Veiga frustram as expectativas. Não dizem
nada. Ex-presidente da Petrobrás não acrescentou nada às suas denúncias e o presidente
deixou para esclarecer hoje as novas acusações ao governo. Caderno 75; p.79.
30/06/1992; Tribuna da Imprensa; Faltam dois anos e meio para terminar o governo Collor,
só um quarto ministério poderá salvá-lo, de Hélio Fernandes. Caderno 81; p.114.
30/06/1992; O Globo; Presidente recebe evangélicos e reza por seu governo. No Planalto, 30
minutos de fé e emoção. Caderno 81; p.119.
03/07/1992; O Globo; A estratégia do Governo: denúncia e golpe. Caderno 82; p.41.
04/07/1992; O Globo; Marcílio considera dolarização péssima medida para o Brasil. Caderno
24; p.57.
06/07/1992; O Globo; Após 6 meses, Collor volta correr. Caderno 43.
07/07/1992; O Globo; Provas contra PC e ‘homens de ouro’. Investigações da Receita
comprovam que PC cobrava propina para intermediar obras públicas. Caderno 75; p.118.
11/07/1992; Jornal do Brasil; Collor vai à TV festejar acordo com bancos. Caderno 97;
p.123.
11/07/1992; Jornal do Brasil; CPI investiga ação de PC nas privatizações. Caderno 74; p.50.
13/07/1992; O Globo; Responsabilidades de Collor , de Eduardo Mascarenhas. Caderno 75;
p.37.
13/07/1992; O Globo; CPI tem provas que ligam PC a francês. Empresário alagoano e Guy
dês Longchamps viajaram juntos a Paris a bordo do’Morcego Negro’, de Cássia Maria e
Ricardo Amaral. Caderno 74; p.52.
15/07/1992; O Globo; Dólar bate 4 mil no paralelo em dia de poucos negócios. Caderno 47;
p.167.
16/07/1992; Jornal do Brasil; Collor e CPI trocam acusações. Collor critica CPI por forçar
Ana Acioli a depor. Caderno 75; p.114.
22/07/1992; Jornal do Brasil; Collor chega a Madri para a Cúpula Ibero-Americana, de Rita
Tavares. Caderno 34; p.140.
23/07/1992; O Globo; ‘Fantasma’ de PC pagou carro de Collor. Caderno 75; p.49.
24/07/1992; Jornal do Brasil; Collor se isola após chegada à Espanha, de Rita Tavares.
Caderno 34; p.142.
24/07/1992; Jornal do Brasil; Sem papas na língua, de Elizabeth Orsini. (dicionário de gírias
revela a linguagem do poder). Caderno 86; p.8.
24/07/1992; Jornal do Brasil; Collor descobre a única porta de saída, de Villas-Boas Correa.
Caderno 82; p.96.
25/07/1992; O Globo; PC: mais cheques para íntimos de Collor. Caderno 75; p.53.
27/07/1992; Jornal do Brasil; PC garante que sai absolvido do escândalo. Caderno 75; p.122.
27/07/1992; Jornal do Brasil; Coisas da Política A pororoca de lama, de Marcelo Pontes.
Caderno 81; p.122.
28/07/1992; Tribuna da Imprensa; Cláudio Vieira xeque-mate mas não explica cheque-
ouro. Ex-secretário de Collor anima aliados e entusiasma adversários e fica devendo
comprovantes dos negócios da China que fez no Uruguai. Caderno 75; p.96.
30/07/1992; O Globo; “Secretária diz que empréstimo no Uruguai foi forjado em São Paulo”.
Caderno 75; p.101.
31/07/1992; Jornal do Brasil; “CPI não comprova empréstimo no Uruguai”. Cad 75; p.108.
01/08/1992; Jornal do Brasil; “Sandra narra à CPI montagem de operação (operação
Uruguai)”. Caderno 75; p.109.
01/08/1992; Jornal do Brasil; “Triste Espetáculo”. Caderno 81; p.125.
01/08/1992; Jornal do Brasil; “Está faltando povo na crise política, de Etevaldo Dias.
Caderno 81; p.124.
05/08/1992; Tribuna da Imprensa; “A saída de um ministro fraco, como Goldemberg, não
pode abalar nenhum governo, mesmo em crise”. Caderno 11; p.125.
05/08/1992; Tribuna da Imprensa; “PC na comparece para depor na CPI da VASP”. Caderno
73; p.15.
05/08/1992; O Globo; “CPI da VASP intimará PC a depor”. Caderno 73; p.15.
05/08/1992; Tribuna da Imprensa; “CPI da NEC esbarra com o poder”. Caderno 73; p.106.
09/08/1992; Jornal do Brasil; “Chega ao fim o confisco. Última parcela de cruzados novos
será devolvida dia 17 com perda para a inflação”. Caderno 17; p.152.
10/08/1992; Tribuna da Imprensa; Para Moniz Bandeira, os grandes grupos paulistas e PT
querem derrubar Collor. (entrevista: Por trás da CPI do PCFarias uma grande luta pelo
poder). Caderno 86; p.45.
11/08/1992; Jornal do Brasil; “PC depõe hoje na CPI sobre compra da VASP”. Caderno 73;
p.16.
12/08/1992; O Globo; “PC confessa que ajudou a comprar a VASP”. Caderno 73; p.18.
12/08/1992; O Globo; “PC emprestou US$ 7 milhões a Canhedo. Ex-caixa de Collor confessa
ter dado dinheiro para o leilão da VASP e cai em contradições na CPI”. Caderno 73; p.19.
13/08/1992; O Globo; “Governo pede a STF para derrubar lei que reduz imposto de
empresas”. Caderno 22; p.134.
13/08/1992; Jornal do Brasil; “Aviões de PC usaram rota do narcotráfico”. Caderno 74; p.86.
14/08/1992; O Globo; “CPI da VASP pede a prisão de PCFarias e o bloqueio de seus bens”.
Caderno 73; p.24.
16/08/1992; O Globo; “Collor diz que cruzados tiveram valorização superior à poupança”.
Caderno 17; p.156.
16/08/1992; O Globo; Entrevista/ACM. “Apoio o governo até onde for possível.” Caderno
86; p.54.
17/08/1992; Tribuna da Imprensa; de Rolland Gianotti: “O impeachment desmoralizaria
todas as instituições do país, para Hércules Corrêa, a retirada de Collor não traria nada de
positivo”. Caderno 86; p.58.
19/08/1992; O Globo; “Quércia afirma na CPI que a venda da VASP foi lega”. Cad 73; p.28.
20/08/1992; O Globo; “Collor assina hoje pacote com aumento real de 19%”. Cad 48; p.47.
21/08/1992; Tribuna da Imprensa; “CPI não indiciará Collor e fará toda a carga contra PC”.
Caderno 75; p.55.
22/08/1992; Jornal do Brasil; “Collor e PC salvaram cruzados do bloqueio”. Caderno 17;
p.30.
22/08/1992; Jornal do Brasil; “CPI tem prova do vínculo PC – Collor”. Caderno 75; p.54.
25/08/1992; Jornal do Brasil; “Ironia e cores não poupam políticos. Faixas e cartazes”.
Caderno 87; p.42.
01/09/1992; O Globo; Orçamento de 93 corta gastos em 22%. Caderno 22; p.70.
04/09/1992; O Globo; “CPI da VASP aprova quebra de sigilo de contas bancárias. lia
explicará seu interesse pela empresa. Em 1989, ZLC comprou edital de privatização”, de
Nelson Torreão. Caderno 73; p.37.
04/09/1992; Jornal do Brasil; Depoimento de ACM na CPI da NEC termina em palavrão.
Caderno 73; p.107.
04/09/1992; Tribuna da Imprensa; “ACM assume responsabilidade pelo estrangulamento da
NEC”. Caderno 73; p.108.
06/09/1992; O Globo; Carta do presidente à Roberto Marinho e resposta. Caderno 88; p.61.
10/09/1992; O Globo; “Collor cancela ida a NY para Assembléia da ONU”. Caderno 34;
p.156.
11/09/1992; Tribuna da Imprensa; “PMDB protege Quércia e quer devassar ACM. PMDB
salva Quércia e agora quer quebrar sigilo bancário de ACM”. Caderno 73; p. 39.
14/09/1992; Jornal do Brasil; “Zélia será ouvida hoje na CPI”. Caderno 73; p. 40.
15/09/1992; O Globo; “Zélia nega envolvimento com a VASP. No depoimento, queixa e
réplica. Zélia diz o que quer e ouve o que não quer”. Caderno 73; p. 42.
16/09/1992; Jornal do Brasil; “Collor sai da toca”, de Villas-Boas Correa. Caderno 88; p.68.
17/09/1992; O Globo; “CPI da VASP aprova devassa nas contas bancárias de Zélia”. Caderno
73; p. 47. Caderno 73; p. 49.
18/09/1992; O Globo; “Collor chama Ibsen de canalha golpista. Collor ataca Oposição com
palavrões. (Presidente perde o controle durante jantar e ofende parlamentares que apóiam
impeachment)”. Caderno 88; p.97.
20/09/1992; Jornal do Brasil; “Presidente do STF diz que tribunal não desprezará a opinião
pública”. Caderno 95; p.20..
21/09/1992; Jornal do Brasil; “Privatização gera polêmica. Utilização de “moedas podres” e
modelo de venda das estatais são questionados”. Caderno 26; p.162.
21/09/1992; Jornal do Brasil; “Collor limita governo à disputa pelo mandato”. Cad 88; p.24.
21/09/1992; Tribuna da Imprensa; “Ofensas do Presidente paralisam de vez o país”. Caderno
88; p.25.
23/09/1992; Jornal do Brasil; “STF abre sessão para transmissão ao vivo”. Caderno 95; p.24.
24/09/1992; Tribuna da Imprensa; “O Planalto cercou-se da pior malta do Congresso”, de
Carlos Chagas. Caderno 88; p.72.
24/09/1992; Jornal do Brasil; “Disfarces reveladores”, de Heraclio Salles. Caderno 88; p.73.
25/09/1992; Folha de São Paulo; ver artigo de Otto Lara Resende. Caderno 88; p.33.
27/09/1992; O Globo; “Alvorada sede do novo governo ou trincheira”, de Maria Lima.
Caderno 100.
27/09/1992; Jornal do Brasil; “A marca da História”. Caderno 88; pp.43-7.
28/09/1992; Jornal do Brasil; “Classe sem classe”, de Celso de Sousa e Silva. Cad 88; p.49.
30/09/1992; Tribuna da Imprensa; “Ele pensou que nesta vida era tudo ter”, Carlos Chagas.
Caderno 88; p.53.
30/09/1992; Jornal do Brasil; “Todos os marketings de uma presidência”. Caderno 99; pp. 94
e segtes.
30/09/1992; Jornal do Brasil; Nomes e gestos não deixarão saudades. Caderno 100; p.128.
01/10/1992; O Globo; “Collor tenta continuar no governo. (magoado e decepcionado com os
políticos, Presidente atribui a derrota à fragilidade humana)”. Caderno 88; p.111.
11/10/1992; Jornal do Brasil; “Leonel Brizola LXXI. VASP: o maior esquema PC”.
Caderno 73; p. 65.
16/10/1992; Jornal do Brasil; “Ex-diretoria da VASP sucateou companhia. Depoimento de
funcionário denuncia esquema montado com ECT e bancos para forçar a rápida privatização
da empresa”. Caderno 73; p. 71.
18/10/1992; Jornal do Brasil; “Ex-diretor denuncia suborno no caso VASP. Testemunha diz
na CPI que lobista lhe ofereceu Cr$ 8 bilhões para poupar o ex-governador Quércia em seu
depoimento”.
18/10/1992, O Globo,” Impasse no Senado favorece volta de Collor à Presidência”, Caderno
90; p.20.
19/10/1992, O Globo, “Congresso suspende recesso para garantir votação do impeachment”,
Caderno 90, p.26.
23/10/1992, Jornal do Brasil, “CPI do PP vai quebrar sigilo de 77”, Caderno 72, p.106.
24/10/1992; O Globo; Romeu Tuma:”a situação do presidente Collor é muito difícil” (José
Paulo Tupynambá). Caderno 12, p.58.
25/10/1992, Jornal do Brasil, “Impeachment” fortaleceu parlamentarismo”, Cad 69, p.80.
28/10/1992, O Globo, “Para advogado de Collor, comissão é uma pantomima, uma farsa”,
Caderno 90, p.48
04/11/1992, O Globo, “PC recebia telefonemas da Casa da Dinda”, Caderno 90, p.67.
11/11/1992, Jornal do Brasil,”Acusação compara Collor a Dorian Gray”, Cad. 90, p.90-6.
15/11/1992, Jornal do Brasil, “Evaristo e Evandro, o confronto histórico”, Cad nº 91, pp.7-8.
18/11/1992, Jornal do Brasil, “Organograma da privatização da VASP”, Caderno 73; p. 91.
18/11/1992, Jornal do Brasil, “CPI inocenta Marinho e ACM no caso da NEC”, Caderno 73;
p. 113.
26/11/1992, Jornal do Brasil, “Defesa de Collor quer impedir 29 senadores”, Cad. 91, p.13.
27/11/1992, Jornal do Brasil, “Supremo decide que senadores podem votar”, Cad. 91, p.16.
27/11/1992, Jornal do Brasil, “Momento tenso antes da votação”, Cad. 91, p.18.
27/11/1992, O Globo, Sidney Sanches rejeita pedido de impugnação de senadores”, Cad. 91,
p.15.
28/11/1992, O Globo, “Relator apontará evidências de crime”, Cad. 91, p.15.
28/11/1992, Jornal do Brasil, “Senado submete Collor à primeira derrota’, Cad. 91, p.18.
28/11/1992, Jornal do Brasil, “Sem defesa, o caminho é a renúncia”, de Itamar Garcez, Cad.
91, p.20.
30/11/1992, Jornal do Brasil, “Bornhausen diz que Collor não volta”, Cad. 91, p.21.
03/12/1992, O Globo, “Senado transforma Collor em réu”, Cad. 91, p.27.
03/12/1992, O Globo, “Collor agradece votos dos três mosqueteiros”, Cad. 91, p.28.
05/12/1992, O Globo, “Operação renúncia fracassa na Casa da Dinda”, Cad. 91, p.31.
09/12/1992, Jornal do Brasil, “Sanches desfaz manobra da defesa de Collor”, Cad. 91, p.35.
15/12/1992, Jornal do Brasil, “Bermudes dá parecer sobre o impeachment”, Cad 96; p.33.
19-20/12/1992, Tribuna da Imprensa, “Ministro: impeachment não é despejo”, Cad. 91, p.
42.
20/12/1992, O Globo, “Advogados de Collor acham que as chances são mínimas”, de Maria
Lima e Rudolfo Lago, Cad. 91, p.43.
20/12/1992, O Globo, “Uma dupla desanimada a cansada de guerra”, Cad. 91, p. 44.
20/12/1992; O Globo; Entrevista com Collor. Caderno 100; p.135.
22/12/1992, O Globo, “Manobra da defesa adia julgamento”, Cad. 91, p. 47.
22/12/1992, O Globo, “Carta à nação em tom de campanha”, Cad. 91, p. 47.
23/12/1992, Tribuna da Imprensa, “Defesa joga com quanto pior melhor, É uma
irresponsabilidade protelar o julgamento”, de Carlos Chagas, Cad. 91, p. 53.
24/12/1992, O Globo, Trecho da entrevista com Fernando Collor de Mello, Cad. 91, p. 61.
24/12/1992; O Globo; Entrevista com Fernando Collor de Mello “hoje, no Brasil, é mais
fácil afastar o presidente da República eleito pelo voto popular do que retirar um inquilino
indesejável”. Caderno 91; p.61.
25/12/1992, O Globo, “Quartelada parlamentar”, Cad. 91, p. 63.
25/12/1992, O Globo, “Sanches aceita novo advogado de Collor”, Cad. 91, p. 64.
29/12/1992, O Globo, “Manifesto ao povo brasileiro”, Cad. 91, p. 91.
29/12/1992, Jornal do Brasil , “Collor acusa Senado de “verdugo e algoz”, Cad.nº 91, pp.94-
5.
29/12/199, O Globo, “Ministros do STF mantêm julgamento para hoje”, Cad. 91, p. 75.
29/12/1992; O Globo; “O dia do juízo final. De Pequim à Dinda. Em quadrinhos a aventura
de Collor, do lança mento da candidatura ao afastamento pela Câmara”, Cad. 91; pp. 76 a 78.
29/12/1992; O Globo; Discurso de Collor em sua despedida Manifesto ao povo brasileiro.
Caderno 91; p.91e segtes.
30/12/1992, O Globo, Collor renuncia mais deve perder seus direitos políticos”, Cad. 91,
p.84.
30/12/1992, O Globo, “Collor: lutei tudo que podia lutar”, Cad nº 91, pp. 88-90.
30/12/1992, O Globo, “Congresso não perde tempo e comemora renúncia de Collor”, Cad. 91,
p.86.
30/12/1992, O Globo, “Renúncia foi notícia nas TVs italianas, Imprensa estrangeira deu
ampla cobertura”, Cad. 91, p.89.
31/12/1992, Jornal do Brasil, “Collor acusa Senado de verdugo e algoz, Collor irá ao STF
contra a condenação”, Cad. 91, pp. 94-5.
31/12/1992, O Globo, “Collor tenta anular inelegibilidade no STF”, Cad. 91, p. 93.
31/12/1992, O Globo, “Ato de arbítrio”, Cad. 91, p.93.
31/12/1992, O Globo, Collor explica a renúncia como ato de resistência às elites políticas”,
Cad nº 91, pp. 90-3.
31/12/1992; O Globo; “Um final interminável”, Caderno 100; p.110.
05/01/1993, O Globo, “Caminhões tiram da Dinda lembranças do poder”, Cad. 58, p. 25.
05/01/1993, Jornal do Brasil, “Presidência faz operação desmonte na Dinda”, Cad. 58, p. 24.
13/01/1993, O Globo, Trecho da entrevista com Evaristo de Moraes Filho, por Carlota
Araújo, Cad. 95.
15/08/1993, O Globo, “Se arrependimento matasse...”, Cad. 100, p.143.
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