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propiciar ao leitor o contato com uma linguagem expressiva, poética, renovadora
a fim de discutir temas que, no fundo, “acabam sempre especulando sobre a
construção do significado da existência” (Azevedo, 1999, p. 4). No processo de
mediação da leitura literária, a libertação do Patinho Feio, é leitura possível dentre
outras que a linguagem polissêmica permite.
É justamente pelo aspecto artístico que a literatura como “um fenômeno de
linguagem resultante de uma experiência existencial/social/cultural” (Coelho,
2000, p.17) resiste ao tempo e encanta as pessoas, dentre as quais as crianças
que, muitas vezes, se apropriam de obras que, a priori, não teriam sido escritas
para ela, porém, de acordo com Sosa (1978, p.16), elas são aceitas porque
“respondem às exigências de sua psique [da criança] durante o processo de
conhecimento e de apreensão, que se ajustam ao ritmo de sua evolução mental,
e em especial ao de determinadas forças intelectivas”, Góes (1991, p.19)
exemplifica, citando:”Robinson Crusoé, As Viagens de Gulliver e As Mil e Uma
Noites, obras clássicas que, nos parece, realizaram muito mais do que uma
simples comunicação imposta pelo adulto à criança”.
Ainda em relação a essa questão, Sosa (1978) acrescenta:
Nem os contos de Perrault, nem os de Grimm, os primeiros a darem uma
significação perfeita à literatura infantil, foram, originariamente, inventados
por crianças ou para crianças, mas são de caráter popular e
correspondem, ao menos por seu tipo e essência, a fases de culturas
primitivas, ou como experiência viva; formam o que Antônio Machado
chama o barro santo (folclore), que serve para modelarmos nossa criação
posterior, sadia e poderosa, a autêntica, que será renovada na recriação
do povo. (SOSA, 1978, p.128)
Nesse aspecto, “Literatura infantil é a literatura que procura despertar na
criança emoção e prazer pelo interesse do narrado: oral ou escrito.” (Góes, 1991,
p.56), mas pode ser também, de acordo com Coelho (2000), um fecundo
instrumento de formação humana, ética, estética, política, que oferece matéria
para formar ou transformar as mentes.
Paulino (1999, p.52) destaca que a arte literária “nos permite conhecer
melhor o existente, ao percebermos outras possibilidades de existir” e acrescenta