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FUNDACAO GETULIO VARGAS
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO
MARIA HELENA MEINERT
ESTUDO SOBRE A CONFIANÇA DOS STAKEHOLDERS NAS INFORMAÇÕES
NÃO-FINANCEIRAS DOS RELATÓRIOS DE
SUSTENTABILIDADE DAS EMPRESAS
SÃO PAULO
2008
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MARIA HELENA MEINERT
ESTUDO SOBRE A CONFIANÇA DOS STAKEHOLDERS
NAS INFORMAÇÕES NÃO-FINANCEIRAS DOS
RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE DAS EMPRESAS
Dissertação apresentada à Escola de
Administração de Empresas de São Paulo da
Fundação Getulio Vargas, como requisito
para obtenção do título de Mestre em
Administração de Empresas
Campo de conhecimento:
Gestão Ética, Socioambiental e de Saúde
Orientadora: Prof
a
. Dr
a
. Maria Cecilia
Coutinho de Arruda
SÃO PAULO
2008
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Meinert, Maria Helena.
Estudo sobre a confiança dos stakeholders nas informações não-financeiras dos
relatórios de sustentabilidade das empresas / Maria Helena Meinert. - 2008.
110 f.
Orientadora: Maria Cecília Coutinho de Arruda.
Dissertação (mestrado) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo.
1. Ética comercial. 2. Responsabilidade social da empresa. 3. Relatórios
comerciais - Redação. 4. Clientes e fornecedores - Relacionamento. 5. Abertura de
informações ao público. I. Arruda, Maria Cecília Coutinho de. II. Dissertação
(mestrado) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo. III. Título.
CDU 174.4
MARIA HELENA MEINERT
ESTUDO SOBRE A CONFIANÇA DOS STAKEHOLDERS
NAS INFORMAÇÕES NÃO-FINANCEIRAS
DOS RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE DAS EMPRESAS
Dissertação apresentada à Escola de
Administração de Empresas de São Paulo da
Fundação Getulio Vargas, como requisito
para obtenção do título de Mestre em
Administração de Empresas
Campo de conhecimento:
Gestão Ética, Socioambiental e de Saúde
Data de aprovação:
____/____/____
Banca examinadora:
___________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Maria Cecilia Coutinho de Arruda
(Orientadora)
FGV-EASP
___________________________________
Prof. Dr. Mario Prestes Monzoni Neto
FGV-EAESP
___________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Maria Tereza Saraiva de Souza
UNINOVE
AGRADECIMENTOS
A conclusão deste trabalho significa a realização de um sonho antigo, que contou com o apoio
e a participação de pessoas muito especiais. Dedico este espaço a todos que participaram de
forma direta ou indireta desse período tão intenso e importante da minha vida.
Agradeço ao Marcelo por compartilhar o meu sonho com paciência, compreendendo todos os
momentos de ausência e pelo apoio incondicional.
À Professora Dra. Maria Cecilia Coutinho de Arruda, minha orientadora, que me incentivou
desde o início do mestrado, sempre disponível e compreensiva, e me proporcionou muito
mais do que a orientação.
Aos meus pais, pelos valores ensinados, pelo carinho e pelo apoio, sempre.
Aos Professores José Carlos Barbieri e Mário Aquino Alves pelas valiosas sugestões
apresentadas na avaliação da proposta de dissertação.
Ao Professor Fernando Gurgueira que, perto ou longe, me inspirou e incentivou, fazendo com
que eu não desistisse desse objetivo.
A todas as pessoas que participaram da pesquisa, viabilizando parte relevante do trabalho.
Ao Beat Grüninger pelas sugestões, pela troca de idéias e pelo estímulo durante todo o
período do mestrado.
Ao Marco Antonio Fujihara pelas discussões, reflexões, “elocubrações” e pelo incentivo antes
e durante a realização do trabalho.
Aos colegas de mestrado, por tornar esta etapa mais prazerosa e divertida.
À Patrícia Berardi pela amizade que surgiu na convivência, por compartilhar angústias,
dúvidas, certezas e alegrias, sempre com bom humor e esperança.
Ao Carlos Eduardo Ferreira, pelas horas de estudo e por me ajudar a superar os obstáculos
que surgiram.
Aos meus amigos, pela torcida e pela compreensão aos convites recusados. Em especial,
agradeço à Luzia Hirata, pela disposição em agüentar o “chororô” e estar sempre por perto
com palavras de incentivo e conforto.
Aos companheiros da BSD, em especial à Alessandra Pereira, Luiza Cecílio e Verônica Rubio
(agregada), agradeço a confiança, o incentivo e o carinho.
Obrigada a todos!
“O desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que
limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer
ponderadamente sua condição de agente”.
(Amartya Sen)
It’s difficult to get a man to understand something when his salary
depends upon his not understanding it”.
(Upton Sinclair)
RESUMO
O objetivo desta Dissertação é estudar a confiança dos stakeholders nas informações não-
financeiras dos relatórios de sustentabilidade das empresas. Iniciativas nacionais e
internacionais auxiliam a identificação e coleta de indicadores relevantes, possibilitando a
comparabilidade entre as empresas. O intenso aumento na quantidade de relatórios de
sustentabilidade publicados levou à indagação do presente estudo: os stakeholders confiam
nestas informações? Desenvolveu-se estudo exploratório de natureza qualitativa, com
utilização de questionários semi-estruturados. A pesquisa indicou que a confiança é parcial,
especialmente porque muitos relatórios enfatizam indicadores pouco significativos na
avaliação do desempenho da gestão de sustentabilidade. A confiança fica debilitada pela falta
de foco em divulgar informações relevantes, e pela escassez de mecanismos de verificação
externa. O trabalho se apóia no conceito de sustentabilidade empresarial que engloba as
dimensões estratégicas: econômica, social e ambiental. A gestão empresarial é analisada do
ponto de vista de valores, questões e processos com o objetivo de minimizar qualquer dano
proveniente de suas atividades, criando valor econômico, social e ambiental. A ética
empresarial e a transparência foram consideradas como elementos que impulsionam os
administradores a gerir empresas de forma sustentável, na medida em que permeiam toda a
gestão da empresa, tanto do ponto de vista estratégico, como operacional. O aumento da
demanda por informações por parte dos stakeholders incentivou as empresas a desenvolverem
e monitorarem indicadores de desempenho socioambientais, além dos econômicos.
Palavras-chave
: 1. sustentabilidade empresarial. 2. ética empresarial. 3. transparência. 4.
responsabilidade social corporativa. 5. stakeholders. 6. relatórios de sustentabilidade. 7.
confiança.
ABSTRACT
The main objective of this dissertation is to study stakeholders’ trust on non-financial
information announced on sustainability reports. National and international initiatives support
companies on the identification and compiling of sustainability performance indicators. The
significant increase on the quantity of sustainability reports leads to a crucial question: do
stakeholders trust sustainability information? Based on a qualitative approach, with the use of
semi-structured questionnaire, the research indicated partial trust relationship on sustainability
reports, mostly because of the lack of focus on sustainability performance. Trust is harmed
because there are no evidences of materiality assessment and for the lack of third party
verification. The work is based on the sustainability management concept, which integrates
three strategic dimensions: economic, social and environmental. Corporate management is
seen from a perspective that includes values, issues and processes, with the aim of minimizing
any potential damage related to the organizational activities, and at the same time, create
economic, social and environmental value. Companies should define clear goals, considering
stakeholders’ management. Business ethics and transparency were seen as elements that boast
executives to manage organizations in a sustainable approach, as those elements surround the
whole organizational environment, both in the strategic and operational point of view. The
increase on stakeholders’ requests for information, have stimulated companies to develop
social and environmental performance indicators, besides the usual economic indicators.
Key-words
: 1. organizational sustainability. 2. business ethics. 3. transparency. 4. corporate
social responsibility. 5. stakeholders. 6. sustainability reports. 7. trust.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Esquema dos Assuntos deste Estudo
Figura 2: Pirâmide de Responsabilidade Social Corporativa
Figura 3: Modelo de Três Esferas de Responsabilidade Social Corporativa
Figura 4: Modelo de Entradas e Resultados (Input-Output Model)
Figura 5: Modelo de Administração de Stakeholders
Figura 6: Teia de Inter-relações
Figura 7: Modelo de Valor Sustentável
Figura 8: Modelo de Confiança Proposto
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Quem é um stakeholder?
Tabela 2: Relação de argumentos para a responsabilidade dos stakeholders
Tabela 3: Balanços sociais modelo Ibase no Brasil – médias e grandes empresas
Tabela 4: Concessão do “Selo Balanço Social/ Betinho”
Tabela 5: Relação de entrevistados
Tabela 6: Modelo da planilha comparativo
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Número de Relatórios de Sustentabilidade por Ano
Gráfico 2: Vinte setores com maior número de relatórios de sustentabilidade
Gráfico 3: Tipos de relatórios publicados
Gráfico 4: Evolução do uso de diretrizes GRI no mundo
Gráfico 5: Evolução do uso de diretrizes GRI no Brasil
Gráfico 6: Atributos da sustentabilidade empresarial
Gráfico 7: Atributos dos relatórios de sustentabilidade
Gráfico 8: Atributos da confiança em relatórios de sustentabilidade.
LISTA DE SIGLAS
AA1000 AccountAbility Assurance Standard
ABRASCA Associação Brasileira das Companhias Abertas
CED Comitee for Economics Development
GAAP Generally Accepted Accounting Principles
GRI Global Reporting Initiative
IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
IAASB International Auditing and Assurance Standard Board
ISAE International Standard on Assurance Engagements
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
15
2 JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS
17
3 REVISÃO DA LITERATURA
20
3.1 Responsabilidade Social Corporativa 21
3.2 Gestão de Stakeholders 27
3.3 Sustentabilidade Empresarial 36
3.4 Relatórios de Sustentabilidade 39
3.5 Confiança 51
3.6 Verificação por Terceira Parte 57
4 PESQUISA DE CAMPO
62
4.1 Abordagem Metodológica 62
4.2 Estratégia da pesquisa 63
4.3 Métodos de Coleta e Análise de Dados 64
5 RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO
67
5.1 Sustentabilidade Empresarial 67
5.2 Relatórios de Sustentabilidade 70
5.3 Confiança 74
6 Considerações finais
78
6.1 Limitações do estudo 83
6.2 Contribuições do estudo 83
6.3 Sugestões para estudos futuros 84
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
85
8 APÊNDICES
89
APÊNDICE A – Resumo da Entrevista 1
91
APÊNDICE B – Resumo da Entrevista 2
93
APÊNDICE C – Resumo da Entrevista 3
95
APÊNDICE D – Resumo da Entrevista 4
97
APÊNDICE E – Resumo da Entrevista 5
99
APÊNDICE F – Resumo da Entrevista 6
101
APÊNDICE G – Resumo da Entrevista 7
103
APÊNDICE H – Resumo da Entrevista 8
105
APÊNDICE I – Resumo da Entrevista 9
108
APÊNDICE J – Resumo da Entrevista 10
110
15
1. INTRODUÇÃO
Até meados da década de 1980, predominava a resistência entre os empresários em tomar
ações que minimizassem os impactos socioambientais relacionados à atividade industrial.
Gastos com controle de poluição eram considerados custos desnecessários que
comprometeriam os lucros, a competitividade e a oferta de empregos. Assim, tais
investimentos eram considerados prejudiciais aos interesses dos acionistas. Nesse contexto, a
estratégia era de transferir para a sociedade os custos ambientais, isentando as empresas,
verdadeiras causadoras dos impactos, de assumir sua responsabilidade (DEMAJOROVIC,
2003).
As desigualdades sociais decorrentes de processos contínuos de concentração de renda, assim
como questões como saúde e segurança no trabalho, trabalho infantil, trabalho forçado e
assédio moral passaram a fazer parte da agenda dos executivos.
Atualmente, muitas empresas declaram publicamente sua preocupação com os impactos
socioambientais de suas atividades na sociedade. Grandes empresas se utilizam da mídia de
massa ou de seus próprios relatórios anuais para associar sua imagem a uma postura
socioambiental responsável. Executivos lotam auditórios de seminários. A preocupação sobre
a interação da empresa e o ambiente externo é antiga, no entanto a discussão do tema por
empresários é mais recente.
As décadas de 1980 e 1990 foram marcadas pelo aumento do número de variáveis com as
quais as empresas precisavam lidar. Internacionalização de mercados, competição global,
novas tecnologias e velocidade das mudanças são alguns dos elementos que caracterizam o
aumento da complexidade no ambiente dos negócios. Pressões externas por informações mais
claras e transparentes, por uma postura correta em relação ao meio ambiente,
multiculturalidade e diversidade também fazem parte deste ambiente complexo. De acordo
com Ansoff (1983), o direcionamento das organizações está relacionado com o meio em que
elas se encontram e com a capacidade de responder aos diferentes desafios desse ambiente.
No campo da ética empresarial, a década de 1990 foi marcada pela preocupação com as
diferenças morais no âmbito internacional, bem como com questões relacionadas a corrupção,
liderança e responsabilidade corporativa (ARRUDA; WHITAKER; RAMOS, 2001). Os
16
autores afirmam que nos anos 2000 foi resgatada a abordagem aristotélica: “A boa empresa
não é apenas aquela que apresenta lucro, mas a que também oferece um ambiente moralmente
gratificante, em que as pessoas boas podem desenvolver seus conhecimentos especializados e
também suas virtudes.” (ARRUDA; WHITAKER; RAMOS, 2001; p. 57). Aristóteles alega
que é pelo exercício do bem que se adquire a prática do bem – ao praticar a justiça, os
homens tornam-se justos (ARISTÓTELES, 1985). Dessa forma, a moralidade consiste em
praticar determinadas ações pelo reconhecimento do que ocorrerá em conseqüência, numa
visão voltada para o futuro.
Para Elkington (2001), o mercado atual de mudanças rápidas direcionou o desenvolvimento
de uma estratégia de gestão fundamentada em três pilares: o econômico, o ambiental e o
social. Ou seja, foram adicionadas novas disposições às antigas abordagens de lucros e
perdas. Para o autor, o desenvolvimento sustentável é uma questão estratégica de
competitividade entre as principais preocupações da indústria e do comércio.
A mudança de foco experimentada pelas empresas, implicou na necessidade de prestar contar
contas a uma rede de partes com as quais se relaciona. Com a velocidade que as informações
transitam, não é possível que as empresas escondam determinados aspectos, pois está sujeita a
cobrança por parte de diversos atores. O estabelecimento de relacionamentos complexos e o
aumento da demanda por informações implicaram na necessidade das empresas publicarem
informações sociais e ambientais, além das econômicas. Hoje, observa-se um grande número
de relatórios de sustentabilidade publicados por empresas no Brasil e no mundo.
Questiona-se, porém, se as informações dos relatórios de sustentabilidade publicados pelas
empresas brasileiras atende aos interesses de seus leitores, os públicos interessados. O
objetivo do presente estudo é identificar a confiança dos stakeholders nas informações não-
financeiras providas pelas empresas em seus relatórios de sustentabilidade. A opinião de
representantes de diferentes grupos de stakeholders foi ouvida no desenvolvimento de estudo
exploratório.
17
2. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS
O conceito de desenvolvimento sustentável vem de um processo longo, contínuo e complexo
de reavaliação crítica da relação existente entre a sociedade civil com seu meio natural,
assumindo diversas abordagens e concepções. A definição de desenvolvimento sustentável
utilizada neste trabalho será a do Relatório de Bruntland, Nosso Futuro Comum (1987),
consolidada na Rio-92, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento: “desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do
presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem as suas próprias
necessidades.” (CMMA, 1991, p. 46)
Apresentar progresso em direção à sustentabilidade é uma escolha da sociedade, das
organizações, das comunidades e dos indivíduos, devendo existir um grande envolvimento de
todos os segmentos (BELLEN, 2005). Barbieri (2007) alerta para o fato de as palavras
sustentável e sustentabilidade passarem a ser conectadas à palavra desenvolvimento na década
de 1980. Antes disso, porém, o termo já era utilizado com o sentido financeiro de
continuidade e competitividade.
Muitas empresas apresentam-se publicamente como sustentáveis, buscando uma maior
aproximação e identificação com seus stakeholders. A idéia é fazer com que a empresa tenha
a imagem de um sujeito ativo na sociedade, ao invés de sujeito passivo voltado unicamente
para os próprios interesses.
O relatório da Organização das Nações Unidas, A Encruzilhada da Desigualdade (2005)
apresenta dados preocupantes em relação ao aumento das desigualdades entre ricos e pobres
em todo o mundo (UNITED NATIONS, 2005):
Nos 20 países mais pobres do mundo a renda per capita média avançou 23% nos
últimos 40 anos. Já nos 20 países mais ricos houve avanço de 183% no mesmo
período.
Em 48 países a desigualdade cresceu, em outros nove diminuiu, enquanto permaneceu
praticamente inalterada nos demais 16 países da amostra.
18
80% da renda mundial está com um bilhão de pessoas vivendo em países
desenvolvidos enquanto outros 20% da renda estão com cinco bilhões residentes em
países em desenvolvimento.
Atualmente, a preocupação com os impactos socioambientais das ações humanas é um tema
freqüente em discussões entre os executivos. Assim, investimentos em gestão da
responsabilidade corporativa e da sustentabilidade vêm sendo cada vez mais cobrados pelos
stakeholders às empresas. Elkington (2001) afirma que as corporações são as únicas
organizações que dispõem de recursos, tecnologia, alcance global e motivação para alcançar a
sustentabilidade. Portanto, a relação entre os negócios e a sociedade, tema central da
responsabilidade corporativa, é também essencial na discussão da sustentabilidade
empresarial.
A ética empresarial e a transparência permeiam a sustentabilidade nos negócios, pois fazem
parte do processo de mudanças nas relações comerciais. Busca-se o comprometimento dos
executivos com ações que visam resultados de longo prazo, fundamentadas em três eixos
principais: econômico, ambiental e social.
Entende-se por ética empresarial o conjunto de princípios e padrões que orientam o
comportamento no ambiente dos negócios, sendo que a determinação sobre a eticidade das
ações fica a cargo dos stakeholders (FERRELL; FRAEDRICH; FERRELL, 2001). Os autores
afirmam que as empresas possuem responsabilidades éticas para com a sociedade, que são
expectativas de comportamentos ou atividades das empresas que não estão previstas em leis.
Para fins deste trabalho, utilizaremos o conceito de sustentabilidade empresarial proposto por
Elkington (2001), considerando o triple botton-line, ou seja, o foco da organização está em
resultados ambientais e sociais, além dos econômicos. Assim, a sustentabilidade empresarial
busca o sucesso do negócio no longo prazo e ao mesmo tempo contribui para o
desenvolvimento econômico e social da comunidade, um meio ambiente saudável e uma
sociedade igualitária.
Uma ferramenta amplamente utilizada pelas empresas para divulgar as ações de
sustentabilidade aos seus stakeholders é o relatório de sustentabilidade. O objetivo deste
trabalho é analisar a existência de uma relação de confiança entre as empresas e seus
19
stakeholders por meio das informações divulgadas em seus relatórios de sustentabilidade.
Assim, propõem-se as seguintes questões para estudo:
1. Na visão dos stakeholders, as informações divulgadas pelas empresas em seus
relatórios de sustentabilidade atendem às suas expectativas e refletem a realidade?
2. Quais processos poderiam ser incorporados na gestão da sustentabilidade para
aumentar a confiança dos stakeholders nas informações dos relatórios de
sustentabilidade?
O presente estudo não tem por objetivo esgotar a análise ou estabelecer procedimentos
práticos para se desenvolver relacionamentos de confiança entre empresas e seus
stakeholders. O trabalho pretende conceber recomendações para o aprimoramento de relações
fundamentadas em confiança, podendo ser um apoio às empresas no estabelecimento de
processos de gestão da sustentabilidade.
20
3. REVISÃO DA LITERATURA
Seis áreas da literatura gerencial são relevantes para o desenvolvimento deste estudo.
Primeiro, trata-se da Responsabilidade Social Corporativa, como ponto de partida para as
discussões deste trabalho. A segunda área abordada é a gestão de stakeholders, relacionada à
Responsabilidade Social Corporativa e à Sustentabilidade Empresarial. Como guarda-chuva
da estrutura do estudo, conceitua-se a Sustentabilidade Empresarial, terceira área investigada.
O quarto item estudado trata dos Relatórios de Sustentabilidade, relacionando à importância
de desenvolvimento e monitoramento de indicadores. A quinta área incorporada no estudo é a
Confiança. Por último, debate-se a importância de incluir procedimentos de Verificação
Independente para relatórios de sustentabilidade.
No esquema apresentado na Figura 1, relacionam-se os conceitos centrais deste estudo de
forma estruturada. Ressalta-se que, apesar da Sustentabilidade Empresarial ser o conceito que
abrange toda a estrutura, ela é apresentada como terceiro item na revisão da literatura por uma
questão de coerência cronológica. Os temas da Responsabilidade Corporativa e da Gestão de
Stakeholders começaram a ser pesquisados antes da Sustentabilidade Empresarial, que tem
uma abordagem mais abrangente.
21
Figura 1: Esquema dos Assuntos deste Estudo
3.1. Responsabilidade Social Corporativa
O conceito de responsabilidade social corporativa tem evoluído desde a década de 1970.
Friedman (1970), seguidor da doutrina clássica de mercado livre, defende que a
responsabilidade social das empresas está relacionada unicamente ao lucro. Com isso, gera
produtos e serviços que a sociedade necessita, gera empregos e paga as taxas governamentais
para que o governo cumpra com o seu papel social. Segundo o autor, a responsabilidade social
da empresa está dentro dela, gerindo-a de maneira lucrativa. Ou seja, para Friedman (1970) a
Auditoria
Indicadores
Econômicos Ambientais Sociais
RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE
CONFIANÇA
Sustentabilidade Empresarial
Responsabilidade Social
Corporativa
Stakeholders
demanda por informações
22
responsabilidade social da empresa está limitada a propiciar condições favoráveis para o
desenvolvimento econômico. Este sim seria condição necessária ao desenvolvimento social.
Neste cenário, os negócios são vistos como uma busca pelo lucro, sendo que outras
preocupações sociais são de responsabilidade de governos e sociedades e não de empresas.
Ultimamente um ponto de vista específico tem obtido cada vez maior
aceitação – o de que os altos funcionários das grandes empresas e os líderes
trabalhistas têm uma responsabilidade social além dos serviços que devem
prestar aos interesses de seus acionistas ou de seus membros. Este ponto de
vista mostra uma concepção fundamentalmente errada do caráter e da
natureza de uma economia livre. Em tal economia só há uma responsabilidade
social do capital – usar seus recursos e dedicar-se a atividades destinadas a
aumentar seus lucros até onde permaneça dentro das regras do jogo, o que
significa participar de uma competição livre e aberta, sem enganos ou fraude.
(FRIEDMAN, 1985, p. 23)
Para Friedman (1985), cada esfera da sociedade deve representar seu papel. As organizações
políticas exercem a função política, os sindicatos e representantes dos trabalhadores defendem
os interesses desses grupos, o governo desempenha a função social que visa o bem-estar geral,
e as empresas devem cumprir o papel econômico por meio da maximização dos lucros e da
manutenção da competição. A independência entre esses três setores é de fundamental
importância para garantir a liberdade individual e a competitividade do mercado. Neste
contexto, as questões éticas são de caráter individual. “Os problemas éticos realmente
importantes são os que um indivíduo enfrenta numa sociedade livre – o que ele deve fazer
com sua liberdade.” (FRIEDMAN, 1985, p. 22)
Dessa forma, o governo é uma figura essencial ao funcionamento do sistema. Determina as
regras, interpreta e as pratica. Enquanto que o mercado diminui a quantidade de questões
decididas pelos meios políticos, minimizando a participação governamental. Os papéis do
governo numa sociedade livre, de acordo com Friedman (1985) são: proporcionar os meios
para modificar as regras, regular as diferenças sobre os significados das regras e assegurar o
cumprimento das regras.
Friedman (1985) é contra ações tomadas por empresas em benefício da sociedade que possam
prejudicar os próprios interesses. Considera violação da função dos negócios decisões que
tenham o foco fora da maximização de lucros, tais como: evitar aumentos de preços em
23
função de objetivos sociais e investimentos de recursos além de exigências legais para
prevenção de poluição. Recursos financeiros empregados em projetos sociais implicam na
redução de salários de empregados e nos dividendos dos acionistas, além aumentarem os
preços aos consumidores.
Narver (1971) considera as externalidades aos negócios na discussão sobre a responsabilidade
social. Externalidades são conceituadas como conseqüências econômicas que uma empresa
apresenta, e para a qual não existe escolha. O autor discute amplamente a questão da poluição
ambiental, sob a ótica de custos. Enfatiza-se o fato de que o não-investimento em questões
ambientais implica em custos ainda maiores tanto para as empresas como para os
consumidores e as comunidades. De acordo com o autor, quando uma empresa perde sua
credibilidade, torna-se difícil e caro recuperá-la. Portanto, é fundamental preservá-la.
Grant (1991) desenvolve um estudo empírico no qual rejeita a conjectura de que as empresas
se especializam em aspectos econômicos. Enfatiza o fato das empresas desempenharem um
papel político e possuírem poder econômico, permitindo sua influência na criação de políticas
públicas nas perspectivas econômica e social para proteger seus interesses no mercado. As
empresas foram e são uma força política na economia mundial.
De acordo com Milgrom e Roberts (1992), as decisões empresariais envolvem custos e
receitas que são incertos e distribuídos ao longo do tempo. Além disso, os acionistas buscam
garantir o valor futuro de seus investimentos, e, para tanto um componente essencial na
decisão dos proprietários é o valor de mercado da empresa, e não apenas a maximização de
lucros no curto prazo. Assegurar a viabilidade da organização ao longo do tempo é diferente
de maximizar lucros, no entanto, esta ação garante a rentabilidade dos acionistas no longo
prazo.
Para Carroll (1999) a concepção de que a responsabilidade social corporativa exclui a
importância da empresa ser lucrativa é equivocada. Argumenta que lucratividade e
responsabilidade são conceitos que podem ser aplicados em conjunto, estimulando a reversão
de responsabilidades sociais em oportunidades de negócios, com beneficio econômico, e
gerando riquezas.
24
No entanto, para medir o desempenho das empresas, outros fatores além do lucro devem ser
considerados. De acordo com os padrões contábeis, o desempenho econômico é o lucro da
empresa após a dedução de custos e da depreciação do capital. Porém, existe uma diferença
entre o valor contábil e o chamado, segundo Elkington (2001), “valor de capital”. O valor
contábil analisa o passado, os custos e a depreciação, enquanto que o valor de capital está
relacionado à visão de futuro da empresa, ou seja a esperança de lucro ao longo do tempo.
O relatório do Comitee for Economics Development (1971) destacou a mudança significativa
do contrato entre a sociedade e as empresas:
Os negócios estão sendo chamados a assumir responsabilidades amplas para a
sociedade como nunca antes e para servir a uma ampla variação de valores
humanos (qualidade de vida além de quantidade de produtos e serviços). Os
negócios existem para servir à sociedade; seu futuro dependerá da qualidade
da gestão em responder às mudanças de expectativas do público. (CED apud,
Carroll, 1999, p. 6).
Carroll (1979) desenvolve o conceito de responsabilidade social corporativa considerando
uma ampla gama de obrigações que as empresas têm para com a sociedade. Assim, propõe
quatro categorias que devem refletir a responsabilidade social das empresas: econômica, legal,
ética e filantrópica. Em 1991, Carroll consolida seu modelo e propõe a Pirâmide da
Responsabilidade Social Corporativa (figura 2):
Figura 2: Pirâmide da Responsabilidade Social Corporativa
Fonte: Adaptação de CARROLL, 1991, p. 42.
Filantrópica
Ética
Legal
Econômica
Ser um bom cidadão corporativo
Contribuir com recursos financeiros para
a qualidade de vida da comunidade
Obri
g
ação de fazer o
q
ue é certo e
j
usto
Cumprir a legislação
Res
p
eitar as re
g
ras vi
g
entes
Ser rentável
25
A responsabilidade econômica da empresa é de produzir bens e serviços que a sociedade
deseja e vendê-los de forma rentável. Os outros papéis atribuídos às empresas pelo modelo de
Carroll (1991) são derivados desse pressuposto fundamental, que é a base do funcionamento
do sistema capitalista.
A responsabilidade legal trata do cumprimento às leis. A sociedade espera que as empresas
atinjam seus objetivos econômicos dentro da observação às leis vigentes, incluindo padrões de
segurança e regulamentações ambientais. São as leis que organizam o contexto legal e
institucional dentro do qual as empresas atuam.
A responsabilidade ética representa o comportamento e as normas éticas que a sociedade
espera das empresas. As decisões devem ser tomadas considerando suas conseqüências,
preservando os direitos dos outros e levando em conta o cumprimentos dos próprios deveres,
além de buscar o equilíbrio nos interesses dos vários grupos atuantes.
A responsabilidade filantrópica é relacionada às ações espontâneas da empresa em resposta às
expectativas sociais, dirigidas por normas sociais. Portanto, fica a critério dos administradores
a decisão de engajar a empresa em papéis sociais que não são obrigatórios, e que estão
relacionados ao senso ético.
Mais recentemente, Schwartz e Carroll (2003) afirmam que a responsabilidade social nos
negócios engloba as expectativas econômica, legal e ética que a sociedade tem das empresas
em um determinado período. A responsabilidade econômica das empresas é de ser lucrativa,
produzindo bens e serviços que os consumidores precisem e queiram. As organizações devem
fazer negócios de acordo com os requisitos legais vigentes. Além disso, a sociedade possui
expectativas em relação à conduta de negócios das empresas que vão além do cumprimento
de requisitos legais: são as responsabilidades éticas.
As ações filantrópicas da empresa são incluídas nas categorias econômica e ética. Ética,
quando a empresa faz doações essencialmente filantrópicas, sem interesse de retorno.
Econômica, quando doações são feitas associadas ao marketing ou à imagem da empresa. É
importante ressaltar que o modelo proposto prevê a sobreposição das três categorias
(econômica, legal e ética), partindo da premissa de que nenhuma é mais importante do que a
outra, conforme ilustra a figura 3:
26
Figura 3: Modelo de Três Esferas da Responsabilidade Social Corporativa
Fonte: (SCHWARTZ; CARROLL, 2003, p. 509)
As finalidades da responsabilidade social são bastante abrangentes. As empresas são
responsáveis pelas implicações de suas atividades na sociedade. Devem prestar contas de seus
impactos diretos, assim como de impactos indiretos, incluindo toda a cadeia produtiva e todo
o ciclo de vida de seus produtos. A responsabilidade social engloba, por conseguinte,
parcerias entre clientes e fornecedores, qualidade dos produtos, satisfação de clientes,
contribuições para o desenvolvimento de comunidades, investimentos em pesquisas,
preservação ambiental, participação dos trabalhadores nos resultados e nas decisões da
empresa, diversidade, segurança no trabalho e desenvolvimento profissional (MICHALOS,
1997).
Para Srour (1998), mesmo em circunstâncias em que prevalecem códigos morais, a empresa
apenas passa a demonstrar preocupação com a responsabilidade social quando sua
continuidade está em risco, sob pressão de contrapartes organizadas ou em relações de disputa
de poder.
O relacionamento com stakeholders é, portanto, parte fundamental da responsabilidade social
corporativa. Segundo Carroll (2003), stakeholder é o indivíduo, ou grupo de indivíduos que
influencia ou é influenciado por ações, decisões, políticas, práticas ou objetivos de uma
organização.
Puramente Ética
Puramente
Legal
Puramente
Econômica
Legal/
Ética
Econômica/
Legal
Econômica/
Legal/ Ética
Econômica/
Ética
27
3.2. Gestão dos Stakeholders
A teoria dos stakeholders descrita por Freeman (1984) considera que as empresas devem
atender aos interesses de todas as partes com as quais se relacionam, e não apenas aos
interesses dos acionistas. Donaldson e Preston (1995) apresentam uma abordagem gerencial à
teoria dos stakeholders, indicando que o papel dos gestores é de recomendar atitudes,
estruturas e práticas que constituam a gestão de stakeholders.
Donaldson e Preston (1995) inter-relacionam três justificativas para a teoria dos stakeholders:
Descritiva: demonstra que os conceitos incorporados à teoria correspondem à
realidade. A teoria dos stakeholders apresenta um modelo que descreve a empresa
como um conjunto de interesses específicos que podem ser convergentes ou
concorrentes.
Instrumental: relaciona a gestão de stakeholders ao desempenho corporativo. A teoria
dos stakeholders estabelece uma relação entre gestão de stakeholders e o alcance dos
objetivos de desempenho empresarial (lucro, estabilidade, crescimento, entre outros).
Normativa: considera os direitos de determinados grupos, o contrato social e o
benefício ao maior número de pessoas. De acordo com a teoria dos stakeholders, os
interesses de diversos stakeholders devem ser valorizados e não apenas os interesses
dos acionistas.
De acordo com Donaldson e Preston (1995) stakeholders são pessoas ou grupos de pessoas
com interesses legítimos nos processos ou nos impactos das atividades da empresa. Dessa
forma, a gestão de stakeholders requer atenção simultânea aos interesses legítimos dos
stakeholders tanto no estabelecimento das estruturas organizacionais e definição de políticas e
procedimentos, como também na tomada de decisões específicas. A teoria não implica no
tratamento igualitário a todos os stakeholders, daí a importância de identificá-los.
Os autores concluem que a parte essencial da teoria dos stakeholders é normativa. A precisão
descritiva da teoria presume a veracidade dos principais conceitos normativos, assim como
presume que os gestores considerem os interesses dos stakeholders como valores intrínsecos.
28
O Stanford Research Institute (in Donaldson e Preston, 1995) define stakeholders como
grupos, sem o apoio dos quais, a empresa deixa de existir. Isto é, a estratégia de gestão da
empresa deve considerar as contribuições de seus stakeholders para conseguir alcançar as
próprias metas. A tabela 1, traz outras definições do termo.
Definição de Stakeholder Fonte
Grupos, sem o apoio dos quais, a empresa deixa de existir. Stanford Research Institute,
1963
Dependem da empresa para atingir seus objetivos pessoais e em de
quem a empresa depende para existir.
Rhenman, 1964
Quem afeta as realizações e objetivos da empresa ou quem é
afetado pelas realizações e objetivos da empresa.
De quem a empresa depende para sobreviver.
Freeman & Reed, 1983: 91
Pode afetar ou ser afetado pela realização de objetivos da empresa. Freeman, 1984: 46
Pode afetar e ser afetado por um negócio (business). Freeman & Gilbert, 1987: 397
Aqueles que fazem reivindicações por meio de contratos formais. Cornell & Shapiro, 1987: 5
Possuem um objetivo ou demandam por objetivos em uma empresa. Evan & Freeman, 1988: 75-76
Quem se beneficia ou é prejudicado, cujos direitos são violados ou
respeitados, por atividades corporativas.
Evan & Freeman, 1988: 79
Sem o apoio de quem, a empresa deixaria de existir. Bowie, 1998: 112
Grupos, junto aos quais, a empresa possui responsabilidades. Alkhafaji, 1989: 36
Possuidores de contratos. Freeman & Evan, 1990
Que possuem relacionamento com uma empresa. Thompson et al., 1991: 209
Possui interesse nas atividades de uma empresa e a habilidade de
influenciá-la.
Savage et al., 1991: 61
Constituintes que possuem reivindicações legítimas para com uma
empresa, estabelecidas por meio de um relacionamento de trocas.
Hill & Jones, 1992: 133
Possuem algum relacionamento legítimo e não-trivial com a
empresa, como: transações comerciais, atividades de impacto e
responsabilidades morais.
Brenner, 1993: 205
Que possuem um ou mais objetivos nos negócios, podendo afetar
ou ser afetados por eles.
Carroll, 1999: 60
Participantes do processo de criação de valor. Freeman, 1994: 415
Interagem e proporcionam significado à empresa. Wicks et al., 1994: 483
Podem ser influenciados por, ou são potenciais influências da
empresa.
Starik, 1994:90
Produz algum tipo de risco, em conseqüência de ter investido
alguma forma de capital, humano ou financeiro, em uma empresa,
ou, que está submetido a riscos em conseqüência das atividades de
uma empresa.
Clarkson, 1994: 5
Possui ou reivindica propriedade, direitos, ou interesses em uma
empresa e suas atividades.
Clarkson, 1995: 106
Interagem com a empresa, e, assim, torna possível sua operação. Nasi, 1995:19
Que impacta ou pode impactar, ou é impactado pelas atividades de
uma empresa.
Brenner, 1995: 76
Pessoas ou grupos com interesses legítimos nos processos e
aspectos substantivos de uma atividade corporativa.
Donaldson & Preston, 1995:
85
Tabela 1: Quem é um stakeholder?
Fonte: MITCHELL; AGLAE; WOOD, 1997, p.858, tradução nossa
29
A teoria dos stakeholders, conforme Donaldson e Preston (1995), vai além da constatação de
que as empresas possuem stakeholders, ressaltando que tal constatação possui implicações
gerenciais. Portanto, é função gerencial selecionar atividades e direcionar recursos para que a
empresa obtenha os benefícios provenientes da legitimação dos stakeholders.
Donalson e Preston (1995) contrapõem dois modelos: o sistema de entradas e resultados
(input-output model) e o modelo de administração dos stakeholders.
O modelo de entradas e resultados (figura 4) adota uma abordagem com foco nas funções
internas da empresa. Considera como principal responsabilidade da empresa o lucro, sendo
que o papel dos gestores é representar os interesses acionistas, e o ambiente externo está em
oposição à empresa. Os stakeholders são considerados de forma defensiva pelos
administradores, como fatores de produção, partes da cadeia produtiva, produtos de mercado.
Figura 4: Modelo de Entradas e Resultados (Input-Output Model)
Fonte: DONALDSON; PRESTON, 1995, p. 68, tradução nossa.
No modelo de administração dos stakeholders (figura 5), a relação entre a empresa e a
sociedade é de interdependência, na qual a obrigação da empresa para com os stakeholders é
gerida pela administração da empresa. O estilo de administração é adaptativo.
Empregados
Em
p
resas
Investidores
Clientes Fornecedores
30
Figura 5: Modelo de Administração dos Stakeholders
Fonte: DONALDSON; PRESTON, 1995, p. 69, tradução nossa.
Wheeler e Sillanpää (1997) apresentam uma abordagem que intensifica os interesses dos
acionistas, ao mesmo tempo em que ressalta a importância da gestão das responsabilidades
éticas, sociais e ambientais. A gestão de stakeholders (stakeholding) é fundamentada na visão
da empresa como um veículo social, e considera todas as partes que fazem parte do sistema
social. Os autores enumeram quatro pressupostos:
As empresas geridas no interesse de uma ampla gama de stakeholders terão maior
probabilidade de se comportar de forma socialmente responsável;
Os negócios podem criar dois tipos de valor com sucesso: comercial e social;
O valor social e comercial são mutuamente reforçáveis, levando a maior lealdade do
stakeholder e poder de recuperação da corporação; e
A transparência social e comercial leva à maior identidade e eficiência organizacional.
A inclusão dos stakeholders é um processo contínuo que requer a revisão e adequação de
objetivos e metas. A filosofia da melhoria contínua, com cooperação, fundamentada em
relações de confiança, integridade e visão de longo prazo, são as bases da gestão de
stakeholders.
Harrison e Freeman (1999) argumentam que a gestão de stakeholders é de difícil condução,
uma vez que envolve, por um lado, o planejamento de estratégias competitivas, provendo
altos retornos aos acionistas. Por outro lado, outros stakeholders podem considerar tais ações
depreciativas aos próprios interesses. Desse modo, a gestão de interesses concorrentes de
Comunidades
Empresa
Governos
Sindicatos
Clientes
Órgãos
Políticos
Investidores
Fornecedores
Empregados
31
diversos stakeholders é uma função gerencial essencial. A efetiva gestão de stakeholders
auxilia na solução desses dilemas éticos, equilibrando as demandas de diversos grupos de
interesses. Além disso, integra os interesses de negócios aos interesses da sociedade.
Harrison e Freeman (1999) ressaltam, ainda, que os desempenhos social e econômico devem
ser avaliados em conjunto, uma vez que efeitos econômicos também são sociais e efeitos
sociais também possuem implicações econômicas. A idéia original da gestão de stakeholders
é de integrar as vertentes econômica e social.
Heugens, Bosch e Riel (2002) desenvolveram um estudo para avaliar a existência de
vantagem competitiva em empresa com práticas de engajamento de stakeholders. O
desenvolvimento de relacionamentos com responsabilidades mútuas entre empresa e os
públicos externos é considerado o caminho para a excelência no desempenho. Os autores
alegam que o engajamento de forma colaborativa faz com que as partes conheçam e entendam
suas preocupações comuns. Dessa forma, é essencial que se desenvolvam indicadores para
avaliar a inclusão de stakeholders, bem como a credibilidade sobre esse processo. A gestão de
relacionamentos externos deve considerar os mecanismos de integração, pois eles podem
proporcionar à empresa o nível almejado para alcançar seus objetivos.
Clarkson (1995) assume que a empresa é um sistema formado por grupos de stakeholders. A
continuidade da empresa depende de sua habilidade em cumprir com seus objetivos
econômicos e sociais, gerando valor para que cada grupo de públicos de interesse permaneça
nesse sistema. Logo, o equilíbrio nas relações com diferentes grupos-chave é essencial, e evita
a insatisfação de outros grupos que façam parte do sistema. A partir do momento em que as
empresas assumem suas obrigações para com os stakeholders e legitimam suas
reivindicações, passam a atuar dentro de padrões éticos e morais (CLARKSON, 1995).
O autor propõe um modelo para avaliação do desempenho da empresa fundamentado na
gestão de seus relacionamentos com os diversos grupos de stakeholders. Para Clarkson
(1995), stakeholders são pessoas ou grupos que reivindicam ou dispõem de propriedade,
direitos ou interesses em uma empresa e em suas atividades no período passado, presente e
futuro. Direitos ou interesses reivindicados são resultado de ações tomadas pela empresa,
podendo ser de ordem legal ou moral, individual ou coletiva.
32
O autor propõe uma classificação de grupos de stakeholders de acordo com a semelhança de
seus interesses, reivindicações ou direitos, conforme:
Stakeholders Primários: Grupos sem os quais a continuidade da empresa está
comprometida, implicando em um alto grau de interdependência. Ex.: acionistas,
investidores, empregados, consumidores, fornecedores, governo.
Stakeholders Secundários: Grupos que influenciam ou afetam, são influenciados ou
afetados pela empresa. No entanto, não participam de transações com a empresa e não
são essenciais para a sua sobrevivência. São aqueles que possuem a capacidade de
mobilizar a opinião pública contra ou a favor do desempenho da empresa. Ex.: mídia,
universidades, ONG’s.
A principal questão na avaliação do desempenho da empresa está relacionada à obtenção de
dados para mensuração. Dados e indicadores de desempenho descrevem o que a empresa
realmente faz em relação a assuntos específicos. O fato da empresa não dispor de
determinadas informações indica sua postura ou estratégia em relação aos assuntos. Se o dado
não está disponível, significa que a empresa não o monitora. Os dados passam a ser
monitorados e gerenciados na medida em que a empresa atribui importância e relevância que
justifique o acompanhamento. Quanto mais alto o nível de gestão ao qual os dados são
reportados, indica uma maior importância atribuída pela empresa. (CLARKSON, 1995).
Mitchell; Aglae; Woods (1997) enfatizam a importância de priorização dos stakeholders pelas
empresas. Os autores propõem uma classificação dos stakeholders de acordo com três
atributos: o poder
de influenciar a empresa, a legitimidade da relação entre o stakeholder e a
empresa, e a urgência
do stakeholder em suas demandas. De acordo com os autores, as
definições dos atributos são as que seguem:
Poder: relacionamento entre atores sociais no qual um pode pressionar o outro a tomar
determinada atitude por não possuir alternativas plausíveis.
Legitimidade: o reconhecimento geral de que ações de determinada instituição são
desejadas e adequadas dentro de um sistema de normas, valores, crenças e definições.
Urgência: o grau de demandas dos stakeholders para ações imediatas.
Os autores alegam que a análise dos atributos nos stakeholders, aponta uma maior relevância
àqueles que apresentam os três atributos, seguidos dos que apresentam dois e, por fim, os que
33
apresentam um atributo. É importante ressaltar que a análise e classificação dos stakeholders
deve ser repetida de tempos em tempos, uma vez que a classificação pode sofrer alterações ao
longo do tempo. Portanto, a relevância de determinado grupo de stakeholders é baixa se
apenas um atributo puder ser observado, moderada se dois ou mais atributos forem
observados, e alta se os três atributos forem observados.
Stakeholders considerados latentes, ou seja, que num determinado momento não precisam ser
considerados pela empresa, mas poderão ter sua importância num período futuro, podem ter
sua relevância significativamente aumentada por ações como: estabelecimento de parcerias,
desenvolvimento de ações políticas, ou construção social da realidade. O mapeamento de
stakeholders é um instrumento útil para aumentar o conhecimento da empresa sobre o que e
quem realmente importa em um período de tempo específico. É importante lembrar, no
entanto, que a relevância dos stakeholders muda. Assim, a estratégia de gestão deve ser
flexível, de acordo com a existência ou não dos atributos de poder, legitimidade e urgência.
Carroll e Buchholtz (2003) dividem a gestão de stakeholders nos seguintes itens:
Identificação dos stakeholders: identificação e classificação de grandes grupos e,
também subgrupos. Por exemplo, o grupo de empregados pode ser classificado em
subgrupos de homens, mulheres, idosos, etc.
O que cada stakeholder representa: as demandas de cada grupo stakeholders podem
ser diferentes e, portanto, representar tanto uma ameaça como uma nova oportunidade
para os negócios.
Oportunidades e ameaças que os stakeholders representam para a empresa.
Responsabilidades da empresa para com os grupos de stakeholders: econômica, legal e
ética.
Estratégias e ações que devem ser adotadas pelos gestores da empresa: relacionadas
com o potencial de ameaça ou de cooperação que os stakeholders podem implicar para
a empresa.
Jawahar e Mclaughlin (2001) mencionam que o fato das empresas lidarem simultaneamente
com stakeholders diferentes implica na utilização de estratégias distintas em cada estágio do
ciclo de vida da empresa. Desse modo, a teoria dos autores está fundamentada na premissa de
que as exigências das empresas mudam de acordo com seu ciclo de vida. Os stakeholders
34
considerados críticos pela empresa para sua continuidade terão ações proativas direcionadas a
atender a seus interesses. Já os stakeholders que não são considerados prioritários, serão
abordados por estratégia defensiva ou reativa.
Os stakeholders estão cada vez mais interessados em avaliar as empresas pelos processos que
geram lucros, pois estes envolvem inovação, produção, segurança de trabalhadores e
consumidores, e são influenciados pelos valores da empresa em relação a meio ambiente,
finanças e capital humano (WHITE, 2005). Ballou, Heitger e Landes (2006) enfatizam que os
stakeholders pressionam as empresas para publicarem informações de sustentabilidade em
relatórios anuais ou mesmo em relatórios voluntários sobre o desempenho corporativo.
Para fins deste trabalho, consideraremos a empresa como parte de uma teia de relações, que
influencia e é influenciada por diversos grupos de stakeholders. Estes, por sua vez, se inter-
relacionam entre si, conforme ilustra a figura 6:
Fornecedores
Acionistas
Empregados
Clientes
Governo
Meio Ambiente
Comunidade
ONG’s
Empresa
Sociedade
Mídia
Figura 6: Teia de Inter-relações
A responsabilidade mútua dos diferentes stakeholders deve ser considerada pela
administração das empresas. Goodstein e Wicks (2007) ressaltam a responsabilidade dos
35
stakeholders em relação a três elementos: reciprocidade, interdependência e prestação de
contas (accountability). Os autores reconhecem a empresa como uma rede de relacionamentos
entre stakeholders, na qual as partes envolvidas possuem responsabilidades mútuas,
compartilhando o objetivo de ser reciprocamente benéfica e sustentável ao longo do tempo.
Os autores analisam, por exemplo, o caso de fraude da Enron do ponto de vista da
responsabilidade dos stakeholders, analisando os regimes de responsabilidades existentes no
momento em que houve a falha moral. Para Goodstein e Wicks (2007), o lapso na rede de
responsabilidades dos stakeholders permite o acontecimento de tais eventos. Ou seja, várias
decisões irresponsáveis de diferentes partes, como empregados, bancos de investimento e
analistas de mercado, contribuíram para aumentar ainda mais o grave problema. Isso sugere
que os elementos do regime de responsabilidade (sanções legais, profissionalismo, integridade
individual, cultura organizacional, inspetorias internas e balanços) eram falhos e pouco
consistentes.
O aprimoramento do desempenho de empresas e stakeholders depende de uma nova forma de
pensar as organizações – de baixo para cima, de fora para dentro e de cima para baixo –
criando sistemas de responsabilidades mútuas consistentes e duráveis. Para tanto, é preciso
entender os fatores que levam os stakeholders a agir de forma responsável ou não, utilizando
este conhecimento para desenhar, gerenciar e manter as organizações ao longo do tempo
(GOODSTEIN e WICKS, 2007). Na tabela 2 apresentam-se argumentos para a
responsabilidade dos stakeholders, associados a suas implicações práticas:
Argumentos para as Principais
Responsabilidades dos Stakeholders
Implicações Práticas
A responsabilidade dos stakeholders possibilita
uma nova forma de pensar sobre a ética
empresarial.
Empresas e stakeholders compartilham a
responsabilidade de desenvolver e manter um
ambiente ético.
A responsabilidade dos stakeholders auxilia o
entendimento de falhas morais nas organizações,
responsabilizando diversos stakeholders.
Oportunismo e/ou indiferença por parte dos
stakeholders podem ser determinantes para um
comportamento antiético.
A responsabilidade dos stakeholders pode
despertar uma nova forma de pensar e agir, na
qual falhas morais tornem-se eventos raros.
Empresas e stakeholders podem agir em
conjunto, desenvolvendo regime de
responsabilidades que promovam o
comportamento ético.
A responsabilidade dos stakeholders pode
incentivar o pensamento crítico sobre o
desenvolvimento de organizações de reconhecida
excelência e desempenho excepcional.
O sucesso dos negócios depende do
desenvolvimento de empresas e de
relacionamentos com stakeholders que
proporcionem tanto a capacidade de respostas
como a responsabilidade.
36
A responsabilidade dos stakeholders nos
possibilita a criação de conceitos que permitam
assumir novos desafios nos negócios.
As empresas podem ter os stakeholders como
parceiros mútuos na construção da excelência
responsável dos negócios.
Tabela 2 – Relação de argumentos para responsabilidade dos stakeholders
Fonte: GOODSTEIN; WICKS, 2007
De acordo com pesquisa feita pela AccountAbilitity, um dos maiores desafios dos negócios
hoje é definir quais são os stakeholders mais importantes, explicitando claramente quem são
os públicos de interesse, quais são as suas preocupações, que tipo de garantia (assurance)
buscam e como podem impactar a empresa. (AccountAbility, 2006)
A competência organizacional de entender e se antecipar às novas tendências e se engajar
com comunidades de interesses diversos é fundamental para o sucesso organizacional. Esta é
essencialmente a mesma competência de se adaptar às instáveis condições de mercado.
A reputação é um recurso intangível que as empresas constroem ao longo de sua existência.
Trata-se de um recurso de difícil imitação e replicabilidade pelos concorrentes, portanto, é um
patrimônio de suma importância para a continuidade dos negócios (RUSSO; FOUTS, 1997).
A comunicação aberta, o comportamento ético e as relações com os agentes sociais são
aspectos diretamente relacionados à reputação.
A reputação das empresas depende do apoio e do entendimento dos stakeholders.
Publicamente as empresas buscam satisfazer demandas de uma série de grupos para que
possam operar na sociedade. A reputação de uma empresa envolve a percepção desses grupos,
como proprietários, sociedade e comunidade, além de gerações presentes e futuras, clientes,
empregados, fornecedores, parceiros, órgãos governamentais, bancos. A demonstração de que
a empresa atua de acordo com critérios sociais e éticos pode auxiliar na construção da
reputação. Por outro lado, a perda do apoio dos stakeholders pode ser considerada um risco
reputacional difícil de ser revertido (FOMBRUM; SHANLEY, 1990).
3.3. Sustentabilidade Empresarial
O conceito de sustentabilidade empresarial é uma evolução da responsabilidade social
corporativa, integrando a gestão de stakeholders, a lucratividade e a gestão ambiental. A
37
definição de desenvolvimento sustentável apresentada no Relatório de Bruntland, Nosso
Futuro Comum (1987), consolidada na Rio-92, a Conferência das Nações Unidas para o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento: “desenvolvimento sustentável é aquele que atende às
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem
as suas próprias necessidades.” (CMMA, 1991, p. 46)
Elkington (2001) propõe o conceito do Triple Bottom-Line, segundo o qual as organizações
devem integrar a sustentabilidade em sua estratégia pela incorporação de três dimensões:
econômica, ambiental e social. O termo é empregado para abarcar todo o conjunto de valores,
questões e processos que as organizações devem identificar com o objetivo de minimizar
qualquer dano proveniente de suas atividades e, ao mesmo tempo, criar valor econômico,
social e ambiental. Para tanto, é essencial que a empresa tenha nitidez em seus objetivos, e
que considere a gestão de seus stakeholders.
Para Hart e Milstein (2004), a sustentabilidade global trata de conceitos multidimensionais
complexos que não podem ser solucionados pela tomada de uma única ação corporativa. A
criação de valor sustentável deve levar em conta quatro pressupostos básicos:
Primeiro, as empresas podem criar valor reduzindo o nível de consumo de
matéria-prima e de poluição associado com a rápida industrialização.
Segundo, as empresas podem criar valor ao operar com níveis mais amplos de
transparência e responsabilidade, uma vez que são impulsionadas pela
sociedade civil. Terceiro, as empresas podem criar valor por meio do
desenvolvimento de novas e revolucionárias tecnologias que tenham o
potencial para reduzir as pegadas do homem sobre o planeta. Finalmente, as
empresas podem criar valor ao atender às necessidades daqueles localizados
no extremo inferior da pirâmide de renda do mundo, e isso de uma forma que
facilite a criação e distribuição de renda inclusiva. (HART; MILSTEIN, 2004,
p. 69-70)
Dessa forma, os autores desenvolvem o modelo de valor sustentável (figura 7), que integra os
quatro pressupostos acima descritos, alocados em contextos temporais de presente e futuro e
relacionados aos ambientes interno e externo à empresa.
38
Figura 7: Modelo de Valor Sustentável
Fonte: HART; MILSTEIN, 2004, p. 71.
Os benefícios externos da responsabilidade social corporativa e da sustentabilidade
empresarial estão relacionados ao seu efeito na reputação corporativa. Empresas com uma boa
reputação de responsabilidade social podem melhorar suas relações externas com
consumidores, investidores, instituições financeiras, fornecedores e concorrentes. A
transparência das informações sobre ações e resultados relacionados à responsabilidade social
também influencia na construção de uma imagem positiva com os stakeholders (ORLITZKY,
2003).
Os mercados necessitam de informações para que funcionem de maneira eficiente e efetiva,
exercendo sua função. Durante décadas, as empresas recusaram-se a ampliar a transparência
corporativa especialmente em áreas como a proteção ambiental. Atualmente, porém, existe
uma competição entre as empresas líderes em relação à prestação de contas transparente de
temas econômicos, ambientais e sociais (ELKINGTON, 2001).
Internamente, é importante que as empresas mensurem e monitorem seu desempenho em
relação à sustentabilidade. Como as dimensões da sustentabilidade são complexas, é
fundamental a adequada definição de objetivos, bem como a avaliação da relevância das
informações no presente e no futuro, considerando também as demandas dos stakeholders.
39
3.4. Relatórios de Sustentabilidade
De acordo com Besserman (2003), as estatísticas são utilizadas desde a Antiguidade para fins
de recenseamento. Mais tarde, passaram a ser utilizadas para dimensionar o poderio militar e
para estabelecer estatísticas demográficas. Na economia, as necessidades de governos,
empresas e demais atores econômicos para projetar o funcionamento da economia incentivou
o desenvolvimento de estatísticas nessa área. O surgimento de indicadores sociais foi
estimulado pelo movimento democrático ao longo do século XX, o Welfare State na Europa e
o New Deal nos Estados Unidos.
Estatísticas e indicadores auxiliam governos, empresas, cidadãos a compreender a realidade,
contribuindo para a tomada de decisões e auxiliando a formação de opinião. Pode-se verificar
que os indicadores sociais e econômicos tiveram um grande avanço, porém, os indicadores
ambientais ainda são merecedores de aprimoramentos, necessitando de padronização e
metodologias técnicas (BESSERMAN, 2003).
Para atender demandas de informações de diferentes stakeholders, muitas empresas têm
divulgado anualmente seus relatórios de sustentabilidade, como forma de demonstrar
transparência em relação à responsabilidade social empresarial aos grupos de interesse com os
quais se relacionam. O Corporate Register é um diretório que, desde 1992, registra relatórios
de Responsabilidade Corporativa, Sustentabilidade e de Meio Ambiente de todo o mundo. O
site é continuamente atualizado, provendo acesso às últimas publicações das empresas
(CORPORATE REGISTER, 2008). De acordo com este instrumento, em 2000 houve o
registro de 823 relatórios e em 2006 de 2425, representando um aumento de quase 3 vezes no
número de relatórios no período de 6 anos. O gráfico 1 demonstra a evolução desde 1992,
ressalta-se que o número de relatórios em 2007 é menor devido ao fato de algumas empresas
ainda não terem concluído seus relatos:
40
Gráfico 1 - Número de Relatórios de Sustentabilidade por Ano
Fonte: CORPORATE REGISTER, 2008.
O gráfico 2, apresenta os setores da indústria que mais publicam relatórios. Não por acaso,
podemos observar que as atividades com maior número de publicações são aquelas
reconhecidas no passado por danos ambientais.
41
Gráfico 2 – Vinte setores com maior número de relatórios de sustentabilidade
Fonte: CORPORATE REGISTER, 2008.
A necessidade de se divulgarem informações além das financeiras surgiu, especialmente, em
decorrência de escândalos envolvendo empresas em acidentes ambientais, constatações de
trabalho forçado ou infantil, corrupção, propina, falta de precisão quanto a informações sobre
os produtos, entre outros.
As empresas passaram a sofrer maior controle da sociedade, tendo que demonstrar um
posicionamento claro frente a tais problemas. Nesse cenário, o relatório de sustentabilidade é
uma ferramenta de gestão que contribui para melhorar a interação entre a empresa, a
sociedade e o meio ambiente.
Existe uma tendência das empresas divulgarem seu desempenho econômico, social e
ambiental por meio de indicadores de desempenho em relatórios de sustentabilidade. No
entanto, a origem desses relatórios data da década de 1960, nos Estados Unidos. A sociedade
civil norte-americana estava consternada com as conseqüências da Guerra do Vietnã: o
aparato bélico utilizado prejudicava sobreviventes, seus descendentes, e o meio ambiente.
42
Assim, passaram a praticar boicotes contra as empresa que estivessem direta ou indiretamente
ligadas ao conflito. Como conseqüência, as empresas tiveram uma redução nas vendas, nos
lucros e nos resultados dos acionistas. As empresas começaram então a publicar relatórios de
suas ações sociais para tentar evitar maiores prejuízos. (TORRES, 2007)
Na década de 1970, em países europeus, particularmente na França, Alemanha e Inglaterra, a
sociedade passou a exercer uma cobrança por responsabilidade social nas empresas,
consolidando a necessidade de divulgação de relatórios sociais.
A idéia de responsabilidade social das empresas popularizou-se, nos anos 70,
na Europa. E foi a partir desta idéia, que em 1971 a companhia alemã STEAG
produziu uma espécie de relatório social, um balanço de suas atividades
sociais. Porém, o que pode ser classificado como um marco na história dos
balanços sociais, propriamente dito, aconteceu na França em 72: foi o ano em
que a empresa SINGER fez o, assim chamado, primeiro Balanço Social da
história das empresas. Na França, várias experiências consolidaram a
necessidade de uma avaliação mais sistemática por parte das empresas no
âmbito social. Até que em 12 de julho de 1977, foi aprovada a Lei 77.769, que
tornava obrigatória a realização de Balanços Sociais periódicos para todas as
empresas com mais de 700 funcionários. Este número caiu posteriormente
para 300 funcionários. (TORRES, 2007)
O gráfico 3 demonstra que na década de 1990 as empresas começaram a publicar
essencialmente relatórios ambientais. O escopo dos relatórios foi gradativamente aumentando,
sendo incluídas questões de saúde e segurança do trabalhador, aspectos das comunidades,
responsabilidade social corporativa, até chegar a um modelo mais abrangente, que
conhecemos com relatório de sustentabilidade:
43
Gráfico 3 – Tipos de relatórios publicados
Fonte: CORPORATE REGISTER, 2008.
No Brasil existiram iniciativas isoladas desde 1965. No entanto, foi a partir da década de 1990
que algumas empresas passaram a publicar sistematicamente relatórios sociais e ações
desenvolvidas em benefício das comunidades, do meio ambiente e dos funcionários
(TORRES, 2006). Atualmente, o modelo mais utilizado no mundo é o GRI (Global Reporting
Initiative), que será abordado mais adiante nesta seção.
Em 1978, o Instituto de Desenvolvimento Empresarial, hoje denominado Fundação Instituto
de Desenvolvimento Empresarial e Social (FIDES) iniciou a discussão sobre os balanços
sociais. Em 1984 foi produzido o primeiro balanço social brasileiro, da indústria do setor
químico Nitrofértil. O relato foi desenvolvido para o público interno da empresa. A partir de
1997 o tema ganha força entre as empresas brasileiras, com a campanha defendida pelo Ibase
(Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) pela divulgação voluntária de balanço
social (INSTITUTO ETHOS, 2008).
O modelo do Ibase é um demonstrativo das informações das empresas quanto a seus
investimentos internos e externos em ações de responsabilidade social corporativa. Desde
1997, passou por três revisões considerando contribuições de diferentes stakeholders. O
modelo é constituído por uma página, trazendo principalmente indicadores quantitativos sobre
44
investimentos financeiros, sociais e ambientais. Para o Ibase, a empresa deve divulgar o
balanço social como forma de apresentar periodicamente à sociedade suas ações e a evolução
no tratamento de temas de interesse da sociedade brasileira. O instituto não sugere protocolos
para levantamento de dados nem exige que as informações passem por um processo de
verificação independente. Para estimular a ampla divulgação das informações por médias e
grandes empresas, o Ibase criou em 1998 o “Selo Balanço Social Ibase/ Betinho”. O selo pode
ser utilizado por empresas que divulgarem todas as informações solicitadas, além de publicá-
lo em jornal ou revista de grande circulação (INSTITUTO ETHOS, 2008). Na tabela 3,
apresentam-se os dados evolutivos da quantidade de balanços sociais desenvolvidos de acordo
com o modelo Ibase entre 1997 e 2005:
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
21 38 57 125 173 174 211 212 200
Tabela 3 – Balanços sociais no modelo Ibase no Brasil – médias e grandes empresas
Fonte: BALANÇO SOCIAL, 2008
Para efeito de comparação, a tabela 4, traz o dados de concessão do “Selo Balanço Social/
Betinho” entre os anos de 1999 e 2005:
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
8 24 21 40 58 63 52
Tabela 4 – Concessão do “Selo Balanço Social/ Betinho”
Fonte: BALANÇO SOCIAL, 2008
Em consonância com o Ibase, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
publica desde 2001 o Guia de Elaboração do Balanço Social, com sugestões de informações a
serem divulgadas pelas empresas em seus balanços sociais (INSTITUTO ETHOS, 2008).
Para Teoh e Shiu (1990), o relato de informações relacionadas à responsabilidade corporativa
das empresas deve ser percebido pelos usuários como úteis, uma vez que sua elaboração
implica em custos. Os autores fizeram um estudo para identificar a influência dessas
informações nas decisões de investidores. Concluíram que não havia relação significativa, no
entanto, se as informações fossem apresentadas de forma quantitativa, focadas em melhorias
dos produtos e práticas justas de negócios, seriam percebidas como relevantes na tomada de
decisão.
45
De acordo com White (2005), o relato de indicadores de sustentabilidade se tornou um
componente essencial tanto para o público interno à empresa quanto ao público externo. Os
relatórios de sustentabilidade contemplam indicadores econômicos, ambientais e sociais que
auxiliam o monitoramento de práticas sustentáveis ao longo do tempo. Vale ressaltar, que os
relatórios de sustentabilidade são produzidos para prover informações a uma ampla gama de
stakeholders, e não apenas aos acionistas (BALLOU; HEITGER; LANDES, 2006).
O aumento do número de relatórios de sustentabilidade não passou despercebido pelos
investidores. Desde 1999, o Dow Jones Sustainability Index (DJSI) avalia o desempenho
financeiro de empresas com ações direcionadas à sustentabilidade (WHITE, 2005). No Brasil,
a BOVESPA lançou em 2005 o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) que integra
empresas comprometidas com a sustentabilidade e a responsabilidade social empresarial e
envolve critérios socioambientais e econômico-financeiros.
A demanda por informações sobre o comportamento organizacional das empresas por parte de
consumidores, governos, empregados e comunidades locais, assim como de investidores é
cada vez maior. Grandes empresas têm um impacto significativo nas comunidades e nos
empregados. Assim, desempenhos inadequados provocam impactos que podem ser custosos
em diversas áreas. Recentemente, impactos de desempenhos inadequados tem causado danos
à reputação e ao lucro das empresas (WHITE, 2005).
Os relatórios de sustentabilidade constituem uma tendência que implica na competitividade
das empresas. Cada vez mais, mostra-se uma ferramenta importante tanto interna como
externamente: proporciona uma forma de análise e monitoramento interno dos indicadores e
provê transparência aos stakeholders (WHITE, 2005).
O modelo para elaboração de relatório de sustentabilidade mais utilizado atualmente é o GRI
(Global Reporting Initiative), que traz diretrizes mundiais para elaboração de relatórios de
sustentabilidade.
A GRI é um processo internacional de longo prazo, com participação ativa
de múltiplas partes interessadas, cuja missão é desenvolver e divulgar as
Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade, de aplicação global. As
diretrizes são utilizadas de maneira voluntária por organizações que
46
desejam elaborar relatórios sobre as dimensões econômica, ambiental e
social de suas atividades, produtos e serviços. O objetivo é auxiliar a
organização relatora a articular e compreender suas contribuições para o
desenvolvimento sustentável. (GRI, 2006)
A GRI incentiva as empresas a divulgarem: a) iniciativas com o propósito de melhorar o
desempenho econômico, social e ambiental; b) resultados das iniciativas; e c) estratégias
futuras para melhoria do desempenho. Assim, as diretrizes não pretendem governar o
comportamento de determinadas empresas, mas contribuir para a descrição de resultados
obtidos com a utilização de novas ferramentas de gestão (processos, procedimentos, entre
outros).
A estrutura proposta pela GRI dos relatórios de sustentabilidade contém dois tipos de
indicadores: essenciais e adicionais. Os indicadores essenciais são relevantes para a maior
parte das organizações relatoras e para a maior parte dos stakeholders. Os indicadores
adicionais são importantes para algumas organizações ou atividades específicas, ou ainda para
um grupo específico de stakeholders (GRI, 2006).
Lançada originalmente em 2000, as Diretrizes para Elaboração de Relatórios de
Sustentabilidade da GRI passaram por dois processos de revisão, a primeira em 2002 e a
segunda em 2006, quando foi lançada a versão G3 das diretrizes.
O último processo de revisão contou com sugestões de stakeholders, como empresas,
entidades da sociedade civil e instituições de ensino, em processos estruturados de consultas
realizados em diversos países. Entre as sugestões, foi identificada a necessidade de uma
ferramenta compatível com outras normas e padrões de sustentabilidade. Foi atribuída maior
ênfase no desempenho das empresas e seus indicadores. Para auxiliar a compilação e coleta de
dados, foram desenvolvidos protocolos de coleta, com explicações detalhadas. (INSTITUTO
ETHOS, 2008).
A GRI-G3 estabelece que o conteúdo do relatório deve assegurar uma apresentação
equilibrada e razoável do desempenho da organização. Para tanto, considera essencial a
adequada identificação dos stakeholders, uma vez que são eles que farão uso do relatório e
são o ponto de referência para a maior parte das decisões relativas à preparação do relatório.
(GRI, 2006)
47
O G3 estabelece princípios que descrevem os resultados que um relatório deverá atingir e
orientam as decisões ao longo do processo de elaboração do relatório, tais como quais
questões e indicadores relatar e como relatá-los. Os princípios são divididos em dois grupos:
(1) princípios para determinar as questões e indicadores que a organização deverá relatar; e
(2) princípios para assegurar a qualidade e a correta apresentação das informações relatadas.
Princípios para a Definição do Conteúdo do Relatório:
Inclusão: “A organização relatora deverá identificar suas partes interessadas e explicar
que medidas foram tomadas em resposta a questões levantadas pelas mesmas (GRI,
2006).” É importante que os stakeholders-chave sejam adequadamente identificados,
assim como o tipo de informação que cada grupo demanda. Assim, o relatório trará
informações úteis aos seus públicos de interesse.
Relevância e materialidade: “As informações em um relatório deverão cobrir questões
e indicadores que vão influenciar de forma substancial as decisões das partes
interessadas usuárias do relatório (GRI, 2006).” Mais uma vez a correta identificação
dos stakeholders é essencial para que as informações divulgadas sejam efetivamente
de interesse dos públicos.
Transparência: “A divulgação completa e equilibrada de informações sobre as
questões e os indicadores necessários para a tomada de decisões pelas partes
interessadas e sobre os processos, procedimentos e hipóteses usadas na preparação
dessas divulgações (GRI, 2006).” Este princípio diz respeito à forma que a empresa
relatora demonstra sua contribuição para a melhoria dos aspectos relacionados à
sustentabilidade. É importante que haja uma relação evidente entre a estratégia da
empresa e o contexto da sustentabilidade.
Abrangência: “A cobertura das questões e indicadores relevantes e materiais, assim
como a definição do limite do relatório deverão ser suficientes para permitir que as
partes interessadas avaliem o desempenho econômico, ambiental e social da
organização relatora no período coberto pelo relatório (GRI, 2006).” O relatório de
sustentabilidade deve proporcionar aos stakeholders uma gama de informações que
possibilitem a avaliação do desempenho da organização, de acordo com os limites em
que atua. Quando o relatório compreender informações de um grupo de empresas
48
nacional ou internacional (subsidiárias, joint ventures, entre outros.), os públicos
leitores devem ter um entendimento preciso do alcance das informações.
Princípios para Assegurar a Qualidade das Informações Relatadas:
Equilíbrio: “O relatório deverá fornecer uma apresentação equilibrada e razoável do
desempenho da organização relatora (GRI, 2006).” O relatório deve conter
informações positivas e negativas, de tal forma possibilite uma análise crítica dos
resultados da empresa pelo leitor.
Comparabilidade: “As informações relatadas deverão permanecer coerentes e ser
compiladas e apresentadas de uma forma que permita às partes interessadas usar o
relatório para analisar mudanças relativas a outras organizações (GRI, 2006)”. A
comparabilidade é que permite que o leitor analise os resultados da empresa ao longo
dos períodos. Para tanto, métodos e critérios para cálculo de dados, processos internos
e escopo, devem ser mantidos. Quando não for possível mantê-los, é importante
esclarecer a alteração efetuada, bem como as razões para tal.
Exatidão: “As informações relatadas deverão ser precisas e suficientemente detalhadas
para que as partes interessadas que estejam usando o relatório tomem decisões com
alto grau de confiança (GRI, 2006).” Para indicadores quantitativos, o relatório deve
descrever as bases de cálculo. Para indicadores qualitativos, deve mencionar em que
processos internos baseou-se para obtê-los.
Periodicidade: “As informações são apresentadas a tempo e de acordo com um
cronograma regular, de forma que as partes interessadas que estejam usando o
relatório possam tomar decisões dotadas das informações necessárias (GRI, 2006).”
Para que as informações sejam úteis para a tomada de decisão dos stakeholders, o
relatório deve ser publicado em uma freqüência anual, estando facilmente disponíveis
aos públicos (divulgação no portal eletrônico, por exemplo).
Clareza: “As informações deverão estar disponíveis de uma forma que seja
compreensível e acessível às partes interessadas que estiverem usando o relatório
(GRI, 2006)”. Os stakeholders devem conseguir localizar com facilidade as
informações de seu interesse dentro do relatório. Para tanto, além do índice, siglas
devem ser explicadas e termos técnicos devem ser acompanhados de glossário.
Confiabilidade: “As informações e processos usados na preparação do relatório
deverão ser registrados, compilados, analisados e divulgados de uma forma que
49
permita sua revisão e verificação (GRI, 2006).” Este princípio determina que as partes
interessadas devem confiar nas informações divulgadas. Isso pode ocorrer por meio da
verificação independente do relatório por empresa especializada, ou pelo
estabelecimento de um diálogo constante com as partes.
A GRI- G3 recomenda fortemente que as empresas utilizem uma forma de verificação externa
para aumentar a credibilidade do relato.
A verificação externa deverá ser conduzida por grupos ou indivíduos
externos à organização, que sejam competentes e obedeçam a normas
profissionais de verificação, ou envolver abordagens que sigam processos
sistemáticos, documentados e comprovados, mas não dirigidos por uma
norma específica. (GRI, 2006)
Para incentivar a adoção gradual dos indicadores G3, as diretrizes apresentam uma abordagem
evolutiva em relação ao atendimento aos indicadores e ao fornecimento de informações
descritas no guia. São atribuídas as classificações C, B e A, sendo que um relatório com
classificação C atende a um menor número de indicadores, a classificação B representa o
atendimento a um número intermediário de indicadores e a classificação A significa o pleno
atendimento aos indicadores propostos pelas diretrizes GRI-G3. Relatórios submetidos a
verificação externa recebem as classificações C+, B+ ou A+.
O modelo GRI tem sido a referência para elaboração de relatórios de sustentabilidade no
mundo, sendo reconhecido por sua proposta desenvolver um padrão internacional
comparável, vide gráfico 4.
50
0
4
30
94
185
294
450
720
1000
0 200 400 600 800 1000 1200
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Gráfico 4 – Evolução do uso de diretrizes GRI no mundo
Fonte: GLOBAL REPORTING, 2008
No Brasil, a adesão das empresas ao modelo não é diferente, conforme se pode visualizar no
gráfico 5.
0
4
7
13
15
0246810121416
2002
2003
2004
2005
2006
Gráfico 5 – Evolução do uso de diretrizes GRI no Brasil
Fonte: CORPORATE REGISTER, 2008
A credibilidade do relatório de sustentabilidade depende da qualidade das informações
divulgadas. O relato de informações não-financeiras não deve ser confundido com as ações
sociais praticadas pela empresa, e não deve ser utilizado apenas como uma peça de divulgação
e promoção da empresa.
51
3.5. Confiança
De acordo com Tapscott e Ticoll (2003) as empresas dos dias atuais tendem a ser abertas, isto
é, serem voluntariamente transparentes, ao mesmo tempo em que gerenciam informações
sigilosas e estratégicas. Os autores consideram que há um entendimento de que a
transparência é um valor corporativo que está relacionado aos princípios de honestidade,
prestação de contas (accountability) e confiança. O objetivo das empresas deve ser de criar
valor a todos os grupos de stakeholders, utilizando-se de processos participativos para
alcançar o equilíbrio entre grupos de interesses diversos.
A questão da confiança é de fundamental importância na relação entre as empresas e seus
stakeholders.
Giddens (1990) diferencia crença e confiança. Segundo o autor, em uma situação de crença o
indivíduo não considera alternativas e reage culpando outros em situações de decepção. Já em
situações de confiança, consideram-se diferentes alternativas para seguir determinado
caminho, assumindo-se parte da responsabilidade de ter depositado tal confiança. Sendo
assim, a confiança atua em ambientes de risco, nos quais podem ser obtidos níveis variáveis
de segurança.
Fukuyama (1995) discute a relação entre o amplo acesso às informações da sociedade
moderna e a confiança. Enfatiza, porém, que confiança não se reduz a informação, apesar de
envolver um processo de troca de informações.
Confiança é a expectativa que nasce no seio de uma comunidade de
comportamento estável, honesto e cooperativo, baseado em normas
compartilhadas pelos membros dessa comunidade. Essas normas podem ser
sobre questões de “valor” profundo, como a natureza de Deus ou da justiça,
mas também compreendem normas seculares, como padrões profissionais e
códigos de comportamento. (Fukuyama, 1995, p. 41).
Giddens (1991) define confiança como a segurança na credibilidade uma pessoa ou de um
sistema, de acordo com uma série de eventos e conseqüências, expressando a fé na
honestidade do outro, ou na veracidade de princípios abstratos. Para o autor, a natureza das
instituições modernas está diretamente relacionada aos mecanismos de confiança em sistemas
52
abstratos, principalmente nos especialistas. Assim, confiança está relacionada a ausência de
motivos para duvidar.
Mayer, Davis e Schoorman, (1995) definem confiança como a disposição de uma parte de se
sujeitar a ações de outra parte devido à expectativa de que a outra parte realizará determinada
ação específica e relevante, que independe da interferência ou do controle da parte
interessada. A confiança é fundamentada em relações. Assim, grupos e organizações podem
obter confiança de outras partes, assim como podem confiar em outras partes (MAYER;
DAVIS; SCHOORMAN, 1995). Os autores argumentam que as relações são construídas em
cenários de interdependência, na medida em que as partes envolvidas possuem objetivos
comuns. Especialmente no ambiente organizacional, encorajar a confiança mútua faz com que
os empregados trabalhem em conjunto de forma mais efetiva. Por exemplo, em trabalhos de
equipes auto-supervisionados a confiança toma o lugar da supervisão, uma vez que a
observação direta dos empregados é inviável.
A necessidade de confiança apenas existe em situações que envolvem risco. Tendo como
ponto de partida essa afirmação, Mayer, Davis, Schoorman (1995) propõem um modelo que
envolve duas partes distintas: a parte que confia (trustor) e a parte a ser confiada (trustee).
Para explicar os motivos que levam uma parte a ter maior ou menor grau de confiança na
outra parte, os autores consideram os atributos da parte a ser confiada (trustee). Suas
características e ações é determinam o grau de confiança. Os atributos que auxiliam a
determinar o grau de confiança são: competência, boa vontade e integridade.
A competência determina o conhecimento e possíveis influências em assuntos específicos. A
parte a ser confiada pode ter conhecimento técnico específico reconhecido, possibilitando que
a parte que confia reconheça tal capacidade de forma incondicional. A boa vontade representa
o quanto o trustor reconhece e acredita que o trustee desenvolve independente de suas
motivações, sendo que a existência de uma conexão entre as partes é subentendida. Trata-se
da percepção de uma orientação positiva do trustee em relação ao trustor. A integridade é a
percepção do trustor de que o trustee atende a uma gama de princípios aceitáveis do ponto de
vista do trustor. É importante salientar que os três atributos aqui descritos (competência, boa
vontade e integridade) são essenciais em relações de confiança e que eles podem variar de
forma independente. No entanto, isso não significa que os atributos não possuam relação, mas
sim que eles podem ser avaliados separadamente (MAYER; DAVIS; SCHOORMAN, 1995).
53
Em relacionamentos recentes a confiança do trustor no trustee não pode ser muito grande pois
existe pouca informação quanto à boa vontade do trustee. Neste caso, é possível obter
informações por meio de uma terceira parte ou por observação direta. Com o
desenvolvimento do relacionamento a interação aumenta, possibilitando ao trustor o
entendimento quanto à boa vontade da contraparte. Para se ter clareza quanto à disposição
para estabelecer um relacionamento de confiança entre duas partes, é importante avaliar, de
um lado, a propensão do trustee em confiar e, de outro lado, a percepção do trustor em
relação à competência, boa vontade e integridade (MAYER; DAVIS; SCHOORMAN, 1995).
Figura 8 – Modelo de Confiança Proposto
Fonte: MAYER; DAVIS; SCHOORMAN, 1995, p.715, tradução nossa.
Mudanças no ambiente e na percepção dos trustors podem causar a reavaliação da relação de
confiança. Sistemas de controle organizacionais rígidos podem inibir o desenvolvimento de
relações de confiança na medida em que ações do trustee podem ser percebidas como
respostas aos sistemas de controles ao invés de sinais de comprometimento. O entendimento
claro sobre as necessidades das partes envolvidas é essencial para o estabelecimento de um
relacionamento de confiança, vide figura 8 (MAYER; DAVIS; SCHOORMAN, 1995).
A confiança é um componente importante em diferentes situações. Possibilita o
comportamento cooperativo, promove formatos organizacionais adaptativos, promove o
estabelecimento de redes, reduz conflitos, reduz custos de transações, facilita a formação de
Competência
Boa Vontade
Integridade
Confiança
Aceitação de
Riscos
Resultados
Risco Percebido
Propensão do
Trustor
Atributos da
Confiança
54
grupos de trabalhos e aumenta a capacidade de respostas rápidas em caso de crises
(ROUSSEAU et al, 1998).
Para Rousseau et al. (1998) confiança é um estado psicológico que consiste na intenção de
aceitar vulnerabilidades devido à existência de expectativas positivas sobre as intenções ou
sobre o comportamento de outra parte.
O risco, entendido como a possibilidade, é um componente essencial para a conceitualização
de confiança, especialmente na tomada de decisões. A conexão entre risco e confiança é
recíproca: assumir riscos cria uma possibilidade de se obter confiança, que leva a aceitação de
riscos. Não seria necessário haver confiança caso as ações pudessem ser tomadas em
ambientes de completa certeza. Incertezas sobre as intenções e ações de contrapartes são as
fontes da aceitação de riscos (ROUSSEAU et al, 1998).
Outra condição importante para a existência de confiança é a interdependência entre as partes,
na qual os interesses de uma parte não podem ser alcançados sem o comprometimento da
outra parte. A confiança tende a aumentar em relacionamentos de duração prolongada, de
acordo com Rousseau, et al. (1998). Como risco e interdependência são condições para a
confiança, variações nesses fatores ao longo do tempo de relacionamento entre as parte pode
implicar em alterações no nível e na forma que a confiança assume no relacionamento. Ou
seja, a confiança é um fator que pode ser desenvolvido, construído, perdido e recuperado em
relacionamentos de longa duração.
A confiança desempenha um papel fundamental nas organizações nos seguintes aspectos:
comunicação, gestão de conflitos, negociações, satisfação e desempenho. A própria
subdivisão de trabalho implica na troca de informações entre as partes que devem
compartilhar certo grau de confiança mútua, possibilitando que os objetivos propostos sejam
alcançados. A confiança mútua é abalada quando existem incertezas quanto às intenções,
motivações e competências das partes envolvidas (MCEVILY; PERRONE; ZAHEER; 2003).
De forma geral, McEvely; Perrone; Zaheer (2003) definem confiança como a disposição de
aceitar vulnerabilidades devido à existência de expectativas positivas sobre intenções ou
comportamentos de outra parte. Como a confiança representa uma premissa positiva sobre
motivos e intenções de outra parte, faz com que tanto o processo de geração de informações
55
como a adoção de processos preventivos sejam simplificados. A confiança torna a tomada de
decisões mais eficiente por tornar menos complexa a aquisição e interpretação de
informações. Além disso, a confiança estimula comportamentos e rotinas mais viáveis e
benéficos pela assunção de que a contraparte não se beneficiará de possíveis vulnerabilidades.
A estratégia de maior transparência, com transferência de conhecimento associada à maior
velocidade na circulação de informações, é possibilitada dentro de uma lógica de confiança,
estimulando a cooperação e a busca de soluções conjuntas (MCEVILY; PERRONE;
ZAHEER; 2003).
A transferência de confiança entre duas partes por intermédio de uma terceira é instrumento
que viabiliza o estabelecimento de relacionamentos. No nível individual, duas pessoas que
possuem pouco conhecimento mútuo podem desenvolver um relacionamento de confiança
pelo compartilhamento de confiança em uma terceira parte comum. A confiança em uma
terceira parte é um mecanismo de representação da confiança em uma contraparte
desconhecida ou pouco conhecida. Ou seja, a terceira parte é um intermediário que negocia
confiança, servindo como fundamento para desenvolver uma relação de confiança com uma
contraparte desconhecida.
A estrutura organizacional também é impactada pela confiança pelo estabelecimento de
relacionamentos de reciprocidade de forma contínua, resultando em vínculos estáveis e redes
organizacionais. A confiança reduz a necessidade de controles pois cria condições para que o
relacionamento seja duradouro, portanto, ficam reduzidas também as incertezas. Como as
partes aprendem umas com as outras, acabam por estabelecer uma maior identidade
(MCEVILY; PERRONE; ZAHEER; 2003).
A confiança intensifica o compartilhamento de conhecimento pelo aumento da transparência e
pela garantia do acesso a esse conhecimento. É importante salientar que a confiança impacta a
troca de conhecimento tanto do ponto de vista do receptor como do ponto de vista do emissor.
Para o emissor, a confiança no receptor reduz sua preocupação com utilização adequada do
conhecimento. Já para o receptor, a confiança afeta a sua percepção sobre a veracidade da
informação. Quando o conhecimento é obtido de uma fonte confiável, a veracidade da
informação tende a ser considerada fidedigna, permitindo que o usuário da informação
aplique tais conhecimentos e gere novos. Na ausência de um relacionamento de confiança, os
56
usuários da informação empregarão esforços no sentido de validar a sua precisão (MCEVILY;
PERRONE; ZAHEER; 2003).
A confiança estimula a suspensão de julgamento entre as partes, pois a tendência de esperar
comportamentos prejudiciais. Mesmo na ocorrência de um evento negativo, as contrapartes
tendem a não assumir imediatamente má fé. A confiança provê a acreditação que as partes
necessitam para lidar com situações imprevistas, evitando a necessidade de empregar esforços
e recursos, reduzindo custos de transações.
Williams (2005) estabelece uma relação entre transparência e confiança. Argumenta que o
aumento da preocupação das empresas com a questão da confiança estimulou a adoção do
conceito de transparência como instrumento para aumentar os níveis de confiança entre os
públicos em geral, especialmente investidores, intermediários, consumidores e órgãos
regulamentadores. Ainda que o conceito de transparência esteja sujeito a mudanças e que sua
conexão com a confiança ainda seja uma hipótese, alguns pesquisadores consideram a
transparência um sinônimo de abertura, e, assim, é um antecedente e um resultado da
confiança (WILLIAMS, 2005).
O estudo de Williams (2005) indica que a confiança interpessoal, a cooperação e redes de
relacionamento facilitam e aprimoram a eficiência e a eficácia organizacional, ao mesmo
tempo em que auxilia no desenvolvimento de um alto nível de transparência. A utilização de
recursos de cooperação e padrões de comunicação contribui para a melhoria da capacidade de
resposta da empresa nos níveis social, político e legal. Com isso, a empresa pode desenvolver
e aprimorar sua transparência, sendo mais efetiva no atendimento a demandas dos
stakeholders.
A percepção de risco associado a outras partes é um aspecto que deve ser considerado na
tomada de decisões que envolvem riscos. É importante salientar que confiança e sistemas de
controle podem ser ferramentas auxiliares na gestão de riscos (SCHOORMAN; MAYER;
DAVIS, 2007). Adicionalmente, uma vez que a confiança em determinada instituição esteja
abalada, é importante identificar de que maneira essa relação foi debilitada, pois, segundo os
autores, diferentes danos requerem diferentes respostas.
57
A confiança dos stakeholders nos negócios demonstra-se abalada em função de algumas
ocorrências desde os anos 1990 em diversas esferas. Os empregados perdem a confiança nas
organizações em que trabalham ou trabalharam devido a práticas como reengenharia, fusões e
terceirização. Clientes perdem a confiança nas empresas por falta de informações sobre
produtos perigosos, campanhas de marketing invasivas, propagandas enganosas. Entre as
empresas, compra hostil de uma empresa por outra e espionagem industrial estão entre as
práticas que levam à falta de confiança (BRENKERT, 1998). De acordo com o autor, a
confiança possibilita o compartilhamento de informações e reduz o custo de transações, além
de prover um fundamento para a expansão de relações morais nos negócios.
Para Flores e Solomon (1998), a atual preocupação dos executivos com a confiança tem
origem na suspeita de que esse valor está sendo pouco considerado em muitas corporações.
Os autores afirmam que a confiança é um aspecto dinâmico das relações humanas. Sendo
assim, trata-se de um processo contínuo, que deve ser iniciado, mantido, recuperado sempre
que necessário, e constantemente legitimado. Portanto, a confiança é um processo
desenvolvido ao longo de toda a existência das relações.
3.6. Verificação por Terceira Parte
O processo de auditoria de informações financeiras é consolidado de acordo com princípios
internacionais geralmente aceitos - Generally Accepted Accounting Principles (GAAP). O
International Federation for Accountants (IFAC) regulamenta o setor, sendo responsável por
estabelecer padrões e normas específicas para a atuação dos profissionais de auditoria
financeira. Para esta instituição, o objetivo de um contrato de auditoria para um profissional
da área de contabilidade é de avaliar ou mensurar um subject matter (dados, sistemas e
processos) que é de responsabilidade de uma outra parte (gestores) contra um critério
adequado. Finalmente, deve expressar uma conclusão que proporcione aos usuários das
informações um determinado nível de segurança sobre o subject matter (IFAC, 2007).
Na auditoria de demonstrações financeiras o auditor fornece uma opinião sobre a veracidade e
equilíbrio na apresentação das informações, de acordo com procedimentos previamente
estabelecidos (WALLAGE, 2000).
58
White (2005) lembra que, diferente dos princípios contábeis geralmente aceitos (GAAP-
Generally Accepted Accounting Principles), não há padrões geralmente aceitos para relatórios
de sustentabilidade. Na maioria dos casos, relatórios de sustentabilidade expõem atividades
econômicas, ambientais e sociais das empresas. No entanto, as empresas nem sempre utilizam
os mesmos indicadores para mensurar o desempenho de suas atividades, fato que dificulta a
comparação.
Para Ballou, Heitger e Landes (2006), as informações referentes à sustentabilidade das
empresas são auditáveis porque são quantitativas e verificáveis. No entanto, a falta de
métricas confiáveis para todos os stakeholders resulta em declarações qualitativas sobre
gestão de riscos e desempenho e mensurações quantitativas que não são suficientemente
confiáveis para que sejam auditadas. De acordo com o autor, a maior parte das informações
que estão sendo submetidas a processos de auditoria são não-financeiras e relativas a medidas
quantitativas de desempenho.
Comparado ao relato de informações financeiras, o relato para a sustentabilidade tem um
significado maior do que a questão exclusiva da transparência, pois se trata de uma parte
integral do processo de comunicação entre a empresa e seus stakeholders-chave (WALLAGE,
2000). O diálogo com os stakeholders é uma peça fundamental no processo de verificação do
relatório de sustentabilidade porque os objetivos e temas relevantes devem ser estabelecidos
em consulta às partes interessadas.
O IAASB (Intenational Auditing and Assurance Standard Board ) é um organismo
independente, cuja missão é desenvolver padrões para trabalhos de auditoria e verificação
independente de informações. Seu objetivo é de fortalecer a confiança pública nos
profissionais de auditoria por meio de:
estabelecimento de padrões de alta qualidade para procedimentos de auditoria,
verificação independente, controle de qualidade e serviços relacionados;
aprimoramento da uniformidade dos procedimentos de verificação independente para
profissionais do mundo todo.
Para o IAASB, todos os relatórios de sustentabilidade submetidos a procedimentos de
verificação independente padronizados pela norma ISAE 3000 (International Standard on
Assurance Engagements), que abrange a verificação de informações não-financeiras. A ISAE
59
3000 estabelece uma estrutura, por meio da qual os profissionais de auditoria podem prover
trabalhos de verificação independente para informações de sustentabilidade. A norma é
direcionada a profissionais de auditoria contábil e inclui:
condições do contrato de verificação independente;
aceitação do contrato de verificação independente;
planejamento e desenvolvimento dos trabalhos;
requisitos éticos;
como obter evidências comprobatórias; e
estrutura geral do relatório de verificação independente.
O escopo da verificação independente de informações de sustentabilidade pela ISAE 3000 é
definido pelo cliente, sendo assim os objetos de verificação são acordados entre o profissional
de auditoria e o cliente no início dos trabalhos. (IAASB)
A AccountAbility é uma instituição internacional fundada em 1996 com o nome de Institute
for Social and Ethical AccountAbility, com o objetivo ainda vigente de promover a prestação
de contas (accountability) para o desenvolvimento sustentável. A iniciativa conta com
executivos, acadêmicos e profissionais da área de auditoria com interesse em desenvolver
meios de mensurar e relatar o desempenho das organizações em relação à sustentabilidade.
Em 1999, a AccountAbility lançou o AA1000 Framework, que é um apoio para o aprendizado
organizacional para a sustentabilidade, por meio da promoção da prestação de contas de
indicadores de sustentabilidade, da auditoria e de relato. Em 2003, a instituição lançou a
AA1000 Assurance Standard (AA1000AS), que fornece uma estrutura para auditoria
(AA1000AS, 2003).
O padrão AA1000AS oferece uma estrutura de verificação do teor do relatório e dos seus
processos de gestão subjacentes contra três critérios principais: materialidade, abrangência e
capacidade de resposta. Estes três critérios devem guiar a atuação dos auditores em todos os
momentos do trabalho. A materialidade trata da divulgação de assuntos que permitam que os
stakeholders façam julgamentos, tomem decisões e ações. O princípio da abrangência está
relacionado ao reconhecimento dos impactos que empresa provoca, bem como do
conhecimento da opinião dos stakeholders sobre eles. O princípio da capacidade de resposta
60
está associado à habilidade da empresa em apresentar respostas às preocupações dos
stakeholders (AA1000AS, 2003).
Para a AA1000, os procedimentos de auditoria devem incluir uma avaliação criteriosa sobre a
relevância das informações monitoradas pelas empresas e divulgadas nos relatórios de
sustentabilidade. O padrão está em processo de revisão, contando com a participação de
profissionais de vários países por meio de consultas públicas.
Com a preocupação de qualificar profissionais para a auditoria em sustentabilidade, a
Accountability firmou parceria com o IRCA (International Register of Certified Auditors),
com capacitações desenvolvidas a partir do padrão AA1000AS e seus critérios (O’DWYER;
OWEN, 2007).
Sob a perspectiva do verificador independente, Wallage (2000) afirma que o auditor deve
participar do processo de mapeamento dos stakeholders, definindo questões-chave e
indicadores associados. É importante, ainda, considerar o sistema de controles internos
associado aos indicadores publicados.
O’Dwyer e Owen (2007) alertam para a importância de consultar os stakeholders na definição
do escopo da auditoria, enfatizando que ainda há pouco envolvimento dos grupos de interesse
no processo de auditoria. Eles defendem que a independência do auditor deve ser comprovada
e, em última instância, deve ser acreditada pelos grupos de interesse e não pela administração
da empresa ou pelos próprios auditores. Os autores demonstram grande preocupação com a
forma com que as declarações de verificação independentes são escritas: excessivas
limitações de escopo e baixo nível de comprometimento do auditor (low level of assurance).
O órgão holandês de registro de contadores e profissionais de auditoria, Royal NIVRA,
desenvolveu uma versão preliminar de um padrão para auditoria de relatórios de
sustentabilidade (Standard for Assurance Engagements relating to Sustainability Reports),
chamada de ED34. A norma propõe o direcionamento das declarações de verificação
independente especificamente aos stakeholders da organização relatora, indicando claramente
como os grupos de interesse foram identificados. Outra recomendação prevista pela norma, é
de se avaliar criticamente se os stakeholders-chave da organização estão representados de
forma efetiva e completa (Royal NIVRA, 2007).
61
O processo de auditoria pode ser uma peça importante para a gestão da sustentabilidade,
proporcionando confiança aos stakeholders sobre a qualidade das informações não-financeiras
publicadas pelas empresas. A auditoria é uma forma de legitimar as informações fornecidas
pelas empresas. De acordo com Palazzo e Scherer (2006), a legitimidade pode ser
compreendida como a conformidade com normas sociais, valores e expectativas. A
legitimidade é uma condição para a sobrevivência de uma organização, sendo que a perda de
legitimidade implica na falta de confiança de suas contrapartes em relação à conformidade
com as regras sociais.
De acordo com Luzia Hirata (informação verbal)
1
, gerente da área de sustentabilidade da
PricewaterhouseCoopers, o processo de verificação independente de relatórios de
sustentabilidade consiste em:
Identificação da origem das informações para elaboração do relato;
Avaliação dos controles internos, processos de registro e atualizações relacionadas às
informações do relato;
Avaliação da relevância das informações quanto à gestão da sustentabilidade.
Entrevistas com gestores responsáveis pelas informações do relato;
Confirmação, em base de testes seletivos, das informações do relatório de
sustentabilidade, com informações constantes nos sistemas de controles internos e no
sistema de comunicação interna e externa da organização, incluindo dados qualitativos
e dados quantitativos;
Confirmação, em base de testes seletivos, da apuração dos indicadores de desempenho
ambiental, através da verificação de registros de instrumentos de monitoramento
ambiental, da revisão de cálculos e da verificação da uniformidade e aderência aos
procedimentos estabelecidos pela organização (comparação de medições).
1
Informações fornecidas em entrevista presencial, em São Paulo, em janeiro de 2008
62
4. PESQUISA DE CAMPO
Para atingir o objetivo proposto de identificar a confiança de grupos de stakeholders nas
informações providas pelas empresas em seus relatórios de sustentabilidade foi desenvolvido
uma pesquisa exploratória por meio de entrevistas semi-estruturadas e análise de conteúdo.
4.1. Abordagem Metodológica
A metodologia escolhida foi o estudo exploratório de natureza qualitativa. De acordo com
Selltiz, Wrightsman e Cook (1987) estudos que têm por objetivo a familiarização ou
compreensão de determinado fenômeno geralmente são denominados estudos exploratórios.
Além disso, os autores complementam que o estudo exploratório permite ao pesquisador que
faça um levantamento provisório do fenômeno, para que posteriormente seja estudado de
maneira mais estruturada e detalhada. Conforme mencionado anteriormente, o objetivo do
estudo é identificar quais aspectos geram confiança aos stakeholders em relação às
informações divulgadas em relatórios sustentabilidade por empresas no Brasil.
Para Denzin e Lincoln (2006), a pesquisa qualitativa ressalta a natureza socialmente
construída da realidade. Os pesquisadores qualitativos buscam soluções para as questões que
destacam o modo como a experiência social é criada e alcança significado. Segundo King,
Keohane e Verba (1994), a pesquisa qualitativa foca em um número reduzido de casos com
uma abordagem mais profunda, e geralmente extraem uma grande quantidade de informações
de seus estudos.
De acordo com Berger e Luckmann (2006), a realidade da vida cotidiana é socialmente
construída. Sendo assim, as pessoas apenas passam a entender efetivamente a realidade,
quando passam a compreendê-la, após a própria interpretação. Portanto, a realidade
contempla as interpretações pessoais sobre a vida cotidiana. Os autores afirmam que a vida
cotidiana é a interpretação da realidade pelos homens, tomando um sentido subjetivo na
medida em que forma um mundo coerente.
A abordagem metodológica adotada para elaboração deste trabalho é condizente com o
fundamento dos métodos qualitativos de pesquisa, que considera a realidade social como
resultado da interpretação dos indivíduos, e não como um dado objetivo a ser conquistado.
63
Assim, a realidade é maleável e desenvolvida a partir da interação social. (CASSEL e
SYMON, 1997). De acordo com esses autores, o objetivo de entrevistas qualitativas é de
enxergar o tópico de pesquisa na perspectiva do entrevistado, entendendo os motivos que
levaram a tal interpretação.
O objetivo da pesquisa de campo é conhecer as necessidades de informações de stakeholders,
identificando quais processos podem reforçar a confiança nas informações divulgadas em
relatórios de sustentabilidade.
4.2. Estratégia de pesquisa
Nesta pesquisa, utilizou-se a abordagem de entrevista semi-estruturada para a coleta de dados.
De acordo com Selltiz, Wrightsman e Cook (1987) a entrevista menos estruturada é indicada
em casos de estudos profundos sobre percepções, atitudes e motivações. Ainda segundo os
autores, esse tipo de entrevista é útil quando os entrevistadores estão sondando uma nova área
de pesquisa, ou quando querem descobrir como as pessoas conceituam os tópicos, que
terminologia é utilizada e qual o nível de compreensão dos entrevistados.
A flexibilidade da entrevista não estruturada, se apropriadamente
empregada, ajuda a levantar os aspectos afetivos e valorativos das respostas
dos entrevistados e a determinar o significado pessoal de suas atitudes. Ela
não apenas permite que o entrevistado se expresse em detalhe sobre o
assunto da entrevista, mas também pode eliciar os contextos sociais e
pessoais de crenças e sentimentos. Este tipo de entrevista atinge seus
propósitos à medida que as respostas dos entrevistados são espontâneas e
não forçadas, altamente específicas e concretas, ao invés de difusas e gerais,
sendo pessoais e auto-reveladoras, ao invés de superficiais. (SELLTIZ;
WRIGHTSMAN; COOK, 1987)
Para Cassel e Symon (1997), as características essenciais de entrevistas em pesquisas
qualitativas são: baixo grau de estrutura imposto pelo entrevistador, predominância de
questões abertas, foco em situações e ações cotidianas do entrevistado.
Este estudo utilizou como ferramenta para coleta de dados entrevistas individuais semi-
estruturadas com diferentes stakeholders de empresas, com interesse na confiabilidade das
informações divulgadas em relatórios de sustentabilidade elaborados no Brasil. As entrevistas
serão semi-estruturadas para evitar indução aos entrevistados e possibilitar o aprofundamento
64
dos temas. O instrumento para coleta de dados foi um roteiro de entrevista, considerado mais
apropriado à natureza indutiva do estudo. O roteiro, apresentado a seguir, foi utilizado como
referência, sendo que perguntas adicionais foram acrescentadas pela pesquisadora na medida
em que as entrevistas ocorreram.
O roteiro inicial para a realização das entrevistas é o seguinte:
1. Quando falo em sustentabilidade empresarial, o que surge em seu pensamento?
2. O que é um relatório de sustentabilidade para você? Para que serve?
3. Quando você lê um relatório de sustentabilidade, quais informações você procura?
4. Que outras informações poderiam ser providas pelas empresas em seus relatórios de
sustentabilidade?
5. Você confia nas informações que as empresas publicam em seus relatórios? Por quê?
6. Que mecanismos poderiam aumentar sua confiança nas informações dos relatórios de
sustentabilidade?
7. Você considera úteis as informações publicadas em relatórios de sustentabilidade?
4.3. Métodos de Coleta e Análise de Dados
Foram realizadas entrevistas presenciais e por telefone, a partir do roteiro apresentado no item
anterior, com 10 profissionais de diferentes grupos de interesse (amostra por conveniência,
não probabilística), conforme a tabela 5. Das 10 entrevistas, 8 foram presenciais e 2 por
telefone.
Grupo de Stakeholders Nome Entidade
1. Analista de crédito Prefere não se identificar Banco
2. Investidores Lélio Lauretti Economista, presidente da
Comissão Avaliadora do
Prêmio ABRASCA, consultor
de empresas, membro do
conselho de administração de
empresas.
3. Investidores Ana Novaes Membro dos Conselhos de
Administração da CCR, da
CPFL e da Datasul. Consultora
do Conselho de Auditoria da
CSN.
4. Analistas de mercado Otávio Vianna BNDES
5. Fornecedores Ericka Cintra Quality Way
65
Grupo de Stakeholders Nome Entidade
6. Universidades Carlos Domingues Tuiuti, Unibrasil e Opet
7. Mídia Heródoto Barbeiro CBN, TV Cultura
8. Mídia Adalberto Marcondes Envolverde
9. Universidades Cláudio Bruzzi Boechat Fundação Dom Cabral
10. ONGs Prefere não se identificar ONG Ambientalista com
atuação na região amazônica
Tabela 5: Relação de entrevistados
É importante ressaltar que a coleta de dados foi desenvolvida tenho como referência o roteiro
apresentado no item anterior, porém não foi limitado a ele. A metodologia pressupõe que o
pesquisador complemente suas perguntas por assuntos sugeridos pelo próprio entrevistado
durante a entrevista. As entrevistas semi-estruturadas pressupõem a diversidade de
vocabulário dos entrevistados, possibilitando construções diferentes sobre as perguntas do
pesquisador (BERG, 2004). Assim, questões relevantes podem aparecer pela interação entre
pesquisador e entrevistado.
As perguntas que surgiram durante as entrevistas não foram demonstradas aqui por serem
relacionadas a situações específicas e terem como objetivo aprofundar o entendimento sobre
os temas da pesquisa.
A análise das informações obtidas durante as entrevistas foi feita por meio de análise de
conteúdo, procedimento de pesquisa que tem como ponto de partida a mensagem e que
permite ao pesquisador fazer inferências sobre os elementos da comunicação. A análise é
executada a partir da descrição das entrevistas que leva o pesquisador à interpretação das
informações, ou seja, ele atribui significação às características descritas. Nesse processo, a
inferência é o procedimento intermediário que possibilita a ligação, explícita e controlada, da
descrição à interpretação (FRANCO, 2005).
Produzir inferências em análise de conteúdo tem um significado bastante
explícito e pressupõe a comparação de dados, obtidos mediante discursos e
símbolos, com os pressupostos teóricos de diferentes concepções do mundo,
de indivíduo e de sociedade. Situação concreta qie se expressa a partir das
condições da práxis de seus produtores e receptores acrescida do momento
histórico/ social da produção e/ ou recepção. (FRANCO, 2005, P. 27)
A vida cotidiana está limitada ao tempo presente, mas sim, é produto de um longo, conflitivo
e complexo processo histórico e social. Desse modo, o entendimento de situações que
66
ocorrem em determinado ambiente e em circunstância de interação pessoal e institucional
específicas, é essencial para a compreensão de situações cotidianas.
Todas as e foram gravadas e transcritas pessoalmente pela autora. A transcrição tem
importância significativa por possibilitar que o pesquisador relembre as falas, tanto do
entrevistado como próprias, adquirindo maior certeza sobre os assuntos tratados. No processo
de transcrição o pesquisador tem a possibilidade de reforçar as percepções adquiridas durante
a entrevista.
Dessa forma, foram levantados os principais pontos levantados por cada entrevistado durante
a transcrição. Após a conclusão de todas as entrevistas e todas as transcrições, foi efetuada
uma análise crítica de forma a comparar as respostas de diferentes stakeholders. A partir daí,
foram montadas planilhas com os temas principais de cada entrevista, que possibilitaram uma
visão comparativa sobre as opiniões dos entrevistados. A tabela 6 indica o formato usado na
elaboração da planilha.
Observações
Entrevistado
1 2
...
... 10
Dados Gerais
Data da entevista:
Entidade:
Grupo de Stakeholders que representa:
Nível hierárquico:
Se outros, qual?
Nome (opcional):
Perfil do
Entrevistado
Autoriza divulgar o nome?
1. Já leu algum relatório de sustentabilidade?
2. Se sim, por qual motivo?
3. Quando falo em sustentabilidade empresarial, em que
você pensa?
4. O que é um relatório de sustentabilidade para você?
Para que serve?
5. Que informações você procura quando lê um relatório
de sustentabilidade?
6. Que informações poderiam ser providas pelas empresas
em seus relatórios de sustentabilidade e não são?
7. O que significa confiança para você?
8. Você confia nas informações que as empresas publicam
em seus relatórios? Por quê?
9. Que mecanismos poderiam aumentar sua confiança nas
informações dos relatórios de sustentabilidade?
Roteiro
10. Você considera úteis as informações dos relatórios de
sustentabilidade?
Tabela 6: Modelo da planilha comparativa
67
A utilização da planilha foi útil por possibilitar a visualização de diferenças e similaridades
das percepções dos entrevistados sobre as informações de sustentabilidade fornecidas pelas
empresas. A planilha também permitiu a identificação de aspectos que apareceram com maior
incidência nas falas dos entrevistados.
5. RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO
Neste capítulo são apresentados os resultados da análise de conteúdo das entrevistas
realizadas. O processo de análise foi conduzido conforme metodologia descrita no capítulo
anterior. Após as análises foram identificados três temas principais que serão discorridos nas
próximas seções.
A primeira seção aborda como a sustentabilidade empresarial é vista na opinião dos
entrevistados. A segunda trata da utilidade dos relatórios de sustentabilidade, bem como da
idéia dos entrevistados sobre os assuntos que devem ser publicados e sobre o estágio em que
se encontram os relatórios brasileiros. A terceira e última seção aborda questão da confiança,
tendo como referência as informações dos relatórios de sustentabilidade brasileiros.
5.1. Sustentabilidade Empresarial
Os entrevistados entendem que a sustentabilidade empresarial é uma forma de gestão que
considera os aspectos sociais e ambientais na tomada de decisões de longo prazo. Alegam que
a sustentabilidade empresarial inclui trabalhos de filantropia, porém não se limita a ela. De
forma geral concordam que a inclusão de stakeholders, em processos de diálogo e
engajamento, é essencial na gestão da sustentabilidade.
A sustentabilidade não é filantropia, possui uma pequena parte relacionada
à filantropia mas não se limita a isso. A sustentabilidade é um processo de
gestão no qual você considera todo o processo da empresa (público interno,
público externo, fornecedores, etc.), com o objetivo de fazer a máquina
girar de forma harmônica, conversando com os stakeholders. A
sustentabilidade garante a existência da empresa no tempo e no espaço.
(Entrevistado 1)
68
Existe uma uniformidade quanto ao entendimento de sustentabilidade empresarial pelos
entrevistados. Todos os entrevistados acreditam que haja uma discrepância entre o que as
empresas clamam desenvolver em relação à sustentabilidade e as ações que, de fato, são fruto
de uma preocupação específica com a sustentabilidade.
A visão de que a empresa cumpre o seu dever perante a sociedade com
visão de longo prazo. Uma empresa que está no caminho da
sustentabilidade não sacrifica os objetivos de longo prazo em nome do curto
prazo. O mercado de capitais continua extremamente focado no curto prazo.
Os investidores são tão cautelosos quando fazem projeções das empresas
para os próximos dez anos que utilizam uma taxa de desconto e trazem a
valor presente: então estão olhando o curto prazo. As empresas podem e
devem ajudar a criar uma consciência de cidadania, com o pessoal agindo
dentro da cidadania, sem usar o governo a seu favor, sem corromper. Se as
grandes empresas não se engajarem DE FATO e não de APARÊNCIA, não
podemos ser muito otimistas quanto às próximas gerações. A única razão de
otimismo é que ao longo da história, situações de grande adversidade
causam uma reação. (Entrevistado 2)
Até os anos 1980, 1990, no Brasil todas as decisões de conselhos de
empresas eram voltadas para o shareholder value, ou seja, maximizar o
valor do acionista. Essa era a forma inicial de se ver a empresa. Hoje em
dia, o shareholder value ainda é predominante, mas é preciso levar em
consideração outros fatores, quais sejam: os consumidores, o meio ambiente
e os próprios recursos humanos da empresa. Nesse contexto, a
sustentabilidade seria a preocupação com os outros players. O impacto
ambiental das atividades é de relevante questão na definição de
sustentabilidade. Por exemplo, não existe uma sessão específica nos
conselhos das empresas para tratar das questões de sustentabilidade.
(Entrevistado 6)
[... estamos num ponto em precisamos resolver um grande enigma do
capitalismo: como preservar o meio ambiente, promover a inserção das
populações [de economias que foram recentemente inseridas] no mercado
de consumo (como por exemplo, China e Rússia), com todas as suas
conseqüências, e como continuar sendo rentáveis. Em minha opinião esta
equação está proposta, mas não está resolvida. (Entrevistado 7)
A sustentabilidade empresarial está inserida no contexto da sustentabilidade
do planeta, sociedade humana incluída. A sustentabilidade empresarial não
é viável sem o todo. Trata do equilíbrio entre o ambiente de negócios, o
ambiente natural e as pessoas. Traz para as pessoas consciência sobre as
questões ambientais, e requer das empresas o aumento do
comprometimento da empresa em relação ao presente e ao futuro, as
gerações futuras como horizonte. (Entrevistado 9)
A definição clássica de que a função principal das empresas é de gerar lucro e remunerar seus
acionistas parece estar sendo revisitada. Atualmente, as empresas são vistas como instituições
69
a serviço da sociedade, que como conseqüência geram lucro. Ressalta-se que o lucro é sempre
considerado uma condição necessária à existência das empresas.
Reconhecer valores que sejam intangíveis do ponto de vista de precificação,
reconhecer necessidades que vão além daquilo que o mercado simplesmente
quer, reconhecer a necessidade de distribuir o seu lucro no tempo (e não
simplesmente obter todo lucro possível de uma vez só), e reconhecer a
necessidade da perenidade da organização. Não existe a possibilidade de ser
perene sem responsabilidade social, responsabilidade ambiental,
compromisso com o consumidor, compromisso com o acionista,
compromisso com o mercado, compromisso com a sociedade na qual a
empresa está inserida. E as empresas que não fizerem isso, cada vez mais
terão dificuldade de se posicionar de forma consistente no mercado.
(Entrevistado 8)
Para facilitar a visualização dos principais aspectos relacionados à sustentabilidade
empresarial, foram identificados os atributos mais citados pelos entrevistados, conforme
apresentação no gráfico 6.
9
8
66
44
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Longo prazo Transparência Não é
filantropia
Gestão Processo Distribuição de
riquezas
Gráfico 6 – Atributos da sustentabilidade empresarial
Pode-se observar que existe uma grande preocupação dos stakeholders em relação ao
estabelecimento de estratégias de gestão de longo prazo focadas na sustentabilidade. Os
relatórios devem aprimorar a descrição de suas estratégias de gestão para que se possam
identificar, de fato, quais as práticas empreendidas na gestão da sustentabilidade. Trata-se de
um processo de tomada de consciência da necessidade de se buscarem alternativas ao modelo
de desenvolvimento econômico vigente.
70
5.2. Relatório de Sustentabilidade
Os entrevistados, de forma geral, examinam relatórios de sustentabilidade por razões
relacionadas às suas atividades profissionais. Ou seja, como fonte de informações sobre a
gestão e os processos da empresa.
Como jornalista e como cidadão você deve procurar os assuntos que geram
mais impacto na sociedade. E no momento a sustentabilidade é o maior
impacto em nossa sociedade. Ou seja, como vamos conseguir manter o
modelo econômico que nós temos, com crescimento, com rentabilidade,
com remuneração aos acionistas, com satisfação dos públicos-alvos etc.?
Para mim isto é uma incógnita, eu não sei como vamos resolver isso. Então
eu tenho desenvolvido pautas e entrevistas sobre isso. Por este motivo tenho
procurado relatórios de sustentabilidade. (Entrevistado 7)
Utilizo como recurso em sala de aula, para estimular o pensamento crítico
em relação à sustentabilidade. (Entrevistado 9)
De acordo com as diretrizes G3 da GRI (Global Reporting Initiative), relatório de
sustentabilidade é um termo amplo para designar uma publicação de empresas que descreve
seus impactos econômicos, sociais e ambientais. A publicação salienta que o documento deve
conter uma descrição sensata e equilibrada do desempenho da empresa, com informações
tanto positivas como negativas (GRI, 2006).
Para os entrevistados, o relatório de sustentabilidade é um instrumento de transparência que
deve proporcionar aos leitores uma visão clara sobre a gestão da empresa, seus valores e seu
comprometimento em relação à sustentabilidade. Além disso, os indicadores sociais,
ambientais e econômicos devem ser explicados de forma clara e com linguajar simples, para
atender a grupos de interesses diversos.
Um instrumento que visa demonstrar, por meio de indicadores, o quanto a
organização está trabalhando para viabilizar sua atividade sem comprometer
as gerações futuras. (Entrevistado 5)
O balanço financeiro me mostra se a empresa dá lucro, já o relatório de
sustentabilidade me mostra quais os valores dela, o que ela tem como
percepção de mundo, qual o papel dela no mundo, o que ela faz pelo
planeta, pela comunidade onde está inserida, pelo entorno, pelo meio
ambiente e pela qualidade do mercado em que ela atua. (Entrevistado 8)
71
Os relatórios de sustentabilidade também são uma forma de difundir boas práticas de gestão
da sustentabilidade para que outras empresas possam aprimorar o próprio desempenho. É
importante, no entanto, que o relatório seja elaborado de forma realista, considerando os
pontos críticos da empresa e apontando metas e prazos para adoção de medidas práticas. Uma
grande crítica dos entrevistados é de que muitas empresas se utilizam dos relatórios apenas
como uma peça de publicidade, abordando exclusivamente os aspectos positivos de suas
atividades, sem o comprometimento com a melhoria e sem o reconhecimento de pontos falhos
na gestão.
A maior parte dos relatórios de sustentabilidade são obras de ficção. Ou
seja, as informações dali sofrem um processo de reedição e embelezamento.
É como quando se faz uma reportagem, eu posso excluir algumas coisas e
adicionar outras. Superestimam-se as coisas que são favoráveis e se varre
para debaixo do tapete as outras. (Entrevistado 7)
Os relatórios ainda parecem uma foto de fim de ano (com todos sorrindo).
(Entrevistado 4)
Quando um relatório está cheio de auto-elogios da empresa, eu começo a
desconfiar porque a função de um relatório de sustentabilidade não é essa.
Assim como um relatório financeiro, um relatório de sustentabilidade
precisa trazer dados concretos, dados objetivos. Eu tenho que olhar para um
relatório e entender qual é a política de responsabilidade social corporativa
da empresa, qual a política de meio ambiente da empresa, o que ela tem
como valor em relação à perenidade. (Entrevistado 8)
O relatório de sustentabilidade não serve apenas para atender demandas de informações de
stakeholders externos. Trata-se de uma importante ferramenta de gestão interna, na medida
em que o monitoramento sistemático de indicadores proporciona às empresas a percepção
histórica de seu desempenho social, ambiental e econômico. Além disso, é uma forma da
empresa reduzir riscos, pois está relacionado à posição futura que empresa planeja ocupar,
considerando os fatores da sustentabilidade.
Um relatório de sustentabilidade serve primeiramente para conscientizar as
próprias empresas sobre a natureza e extensão do problema (normalmente
as empresas não estão acostumadas a lidar com tais problemas). Não há
nenhum problema que possa ser resolvido se não for de fato identificado e
reconhecido em sua natureza e extensão. Se não tem problema não tem
solução. (Entrevistado 2)
A principal crítica aos relatórios de sustentabilidade está relacionada à sua utilização apenas
para demonstrar sucessos, uma vez que é pouco provável que uma empresa experimente
72
somente acertos ao longo de um período que, normalmente, é de um ano. Este fato gera
estranheza e leva os entrevistados a questionarem se os relatórios estão realmente atendendo
aos objetivos de existência aos quais se propõem.
Em alguns casos as empresas alardeiam ações de melhorias ambientais relacionadas a redução
de consumo de insumos, energia ou água. Estas questões, no entanto, são muito mais
relacionadas à redução de custos do que com a preocupação da empresa com a
responsabilidade ambiental. A redução de custos é um objetivo legítimo das empresas e está
relacionada ao seu desempenho econômico. Questiona-se, porém, a utilização de tais
informações como forma de confundir o leitor de relatórios de sustentabilidade, associando
indicadores efetivamente econômicos ao desempenho ambiental.
Quanto eu distribuo aos meus acionistas, aos empregados, ao governo, são
questões de sustentabilidade, agora, quanto eu gasto de água é uma questão
de custo e não de sustentabilidade. (Entrevistado 2)
As empresas gostam de divulgar informações sobre redução de consumo de
água, até porque isso reduz o custo. Por outro lado não comentam sobre o
tratamento dado ao efluente industrial. (Entrevistado 7)
Da mesma forma, as empresas devem fazer uma análise sobre a relevância dos indicadores de
sustentabilidade para a própria atividade. Isto é, se o objetivo de um relatório de
sustentabilidade é discorrer sobre indicadores sociais, ambientais e econômicos, cabe à
empresa decidir os que provocam maior impacto na sociedade e que merecem ser publicados.
Por exemplo, sabe-se que a atividade de mineradoras, indústrias químicas e petroquímicas
causam determinados impactos ambientais significativos. Tais atividades, portanto, devem ser
o foco dos relatórios de sustentabilidade. Nesse caso, projetos de incentivo à cultura, apesar
de importantes, abrangem um impacto menor em face às referidas atividades.
Quando são misturadas informações relevantes e não relevantes, eu
confundo o leitor e nivelo por baixo. (Entrevistado 2)
Considero falsos os relatórios de empresas como bebidas alcoólicas,
armamentos e cigarros, cuja atividade não visa o bem comum da sociedade.
(Entrevistado 2)
A relação das atividades da empresa com o aquecimento global é um item
que certamente será cobrado pela sociedade em um futuro próximo.
(Entrevistado 3)
73
Eu não consigo imaginar uma indústria plástica fazer uma propaganda
dizendo que o plástico não é biodegradável. Mas consigo imaginar a
divulgação de um programa de reutilização do plástico. Ou seja, não
consigo imaginar a empresa alegando diretamente que ela contribui para
denegrir o meio ambiente. (Entrevistado 6)
Deveria haver um cruzamento financeiro [das informações do relatório de
sustentabilidade]. Quando um relatório traz o valor financeiro em projetos
sociais, por exemplo, não existe uma relação de quanto isso significa do
lucro, quanto do valor é renúncia fiscal, ou seja, de que maneira o recurso
sai da estrutura financeira e passa para o outro lado. (Entrevistado 8)
Os principais atributos relacionados aos relatórios de sustentabilidade abordados pelos
entrevistados estão sintetizados no gráfico 7:
9
888
6
3
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Pontos cticos Comunicão
de práticas de
gestão
Equilíbrio Metas Gestão interna/
riscos
DVA
Gráfico 7 – Atributos dos relatórios de sustentabilidade
A falta de comprometimento da empresa com melhorias e a falta de transparência para
assumir questões críticas leva a uma interpretação de que as empresas têm medo da cobrança
que pode surgir em função da publicação de dados exatos. As empresas precisam fazer uma
análise das informações que são significativas aos stakeholders, ou seja, que possibilitem aos
stakeholders como a empresa alinha seus objetivos estratégicos e o desempenho aos aspectos
da sustentabilidade.
74
5.3. Confiança
A confiança é um atributo essencial aos relatórios de sustentabilidade. Entende-se que de nada
adianta o investimento em tempo e recursos financeiros pelas empresas, se os leitores dos
relatórios não acreditarem nas informações ali publicadas. Os entrevistados associam a
confiança nas empresas à transparência nas relações, sejam elas comerciais ou não.
O maior valor intangível que uma empresa pode ter é o grau de confiança
que elas inspiram em todos os seus stakeholders. Hoje com a comunicação
instantânea, imediata e universal, cair na besteira de mostrar que não é
confiável em algum aspecto, levará as pessoas mais esclarecidas a não
manterem relações comerciais. (Entrevistado 2)
A condição de considerar os dados explicitados como apresentados de
forma correta, com conteúdo e significado corretos. (Entrevistado 5)
Confiança significa dar valor às informações com dados que possam
eventualmente ser reproduzidos em uma reportagem, em um artigo ou em
um texto. (Entrevistado 8)
As informações que aparecem nos relatórios de sustentabilidade são
verdadeiras, no entanto, nem sempre são suficientes. Quando o relatório
discorre muito sobre ações sociais sem um acompanhamento sistêmico,
desconfio das informações porque a empresa, normalmente, procura mudar
do foco do seu real impacto na sociedade para projetos bonitos.
(Entrevistado 9)
Os entrevistados consideram a auditoria dos dados divulgados nos relatórios de
sustentabilidade um procedimento de grande importância para que confiem nas publicações.
No entanto, a simples conferência de dados por empresa independente não é suficiente para
garantir a confiança dos stakeholders. Entende-se que as informações publicadas pelas
empresas são verdadeiras, pois seria um risco muito grande, ou até mesmo uma fraude,
divulgar dados falsos. No entanto, as informações dos relatórios de sustentabilidade são
consideradas insuficientes para que os stakeholders avaliem o desempenho social, ambiental e
econômico. As empresas tendem a amplificar fatos positivos e a omitir fatos negativos. Dessa
forma, a confiança dos stakeholders fica abalada.
Verificação por terceira parte aumenta a confiança e a falta gera
desconfiança. A verificação por terceira parte é importante porque tem o
comprometimento da empresa de auditoria. (Entrevistado 1)
75
Com o tempo o mercado vai precificar as empresas que valem mais com
relação as suas informações de sustentabilidade. Falar inverdades não será
tolerado e as empresas que optarem por esta estratégia terão de pagar o
preço. (Entrevistado 3)
Não consigo imaginar que as empresas das quais sou conselheira escrevam
algo que não tenha acontecido em seus relatórios. Inclusive se isso ocorrer
está caracterizada uma fraude. Apesar de não ser um documento oficial
contábil é um documento público. (Entrevistado 6)
Acredito que posso confiar parcialmente [nos relatórios]. Para se ter
confiabilidade dos dados é preciso fazer uma auditoria. O relatório só
divulga o que é bom para eles, mas o que divulga é verdade. (Entrevistado
7)
A auditoria de dados deve ser feita nas grandes empresas. Não há
justificativas para uma grande empresa não ter seu relatório auditado.
Devido ao custo envolvido na auditoria, empresas menores podem fazer
seus relatórios por profissionais que tenham credibilidade no mercado e não
passem por auditoria. Mas a partir de um determinado ponto, a auditoria é
necessária para dar fundamento ao sistema. (Entrevistado 8)
A difusão espontânea de informações pela mídia é um recurso utilizado pelos stakeholders
para avaliar a confiabilidade de seus relatórios de sustentabilidade.
Sempre parto do princípio da boa fé. Para não confiar deve haver uma
razão, a desconfiança não é uma atitude minha. Se houver um fato na mídia,
ou algo que a minha experiência diga que é diferente, aí sim eu desconfio.
(Entrevistado 2)
Nunca vi uma empresa assumir sua responsabilidade, ainda que indireta, no
desmatamento da região amazônica. (Entrevistado 10)
Entende-se que o processo de elaboração de relatórios ainda é novo para as empresas. Como
todo processo novo, estamos passando por um período de aprendizado. Existem empresas que
não fazem bons relatórios pelo fato de não conhecerem os reais objetivos de tal publicação.
Falta de dados históricos comparativos, ausência de avaliação sobre a relevância das
informações e excesso de auto-elogios são exemplos de indícios que os stakeholders utilizam
para avaliar o grau de confiança que podem depositar nas publicações.
O processo de elaboração de relatórios de sustentabilidade ainda está num
estágio inicial, ainda é um processo amador. Talvez por falta de
conhecimento das empresas os relatórios ainda são pouco confiáveis. A
confiança nos relatórios depende da confiança na própria empresa.
(Entrevistado 4)
76
Os relatórios de sustentabilidade ainda não são confiáveis, pois as
organizações apresentam os seus relatórios com poucas séries históricas que
permitam identificar a continuidade das atitudes adotadas. Além do que as
organizações vêem utilizando, de forma indiscriminada a sustentabilidade -
para fins de marketing, assim sendo, percebe-se que há manipulação de
dados. (Entrevistado 5)
Existem relatórios que são confiáveis e relatórios que não são confiáveis.
Há relatórios que não são confiáveis por conta do marketing ou por
manipulação de informações e tem relatórios que não são confiáveis porque
são mal feitos (e não por má fé). (Entrevistado 8)
Mecanismos sistemáticos de consulta aos stakeholders são considerados uma forma de
participativa tanto para avaliar informações efetivamente relevantes como para aumentar a
confiança nas informações publicadas. No entanto, este mecanismo apenas é conveniente no
caso das empresas estarem abertas o suficiente para ouvir críticas e tomar ações de gestão
práticas fundamentadas nas intervenções provenientes do processo de engajamento. A simples
abertura de um canal de comunicação não é suficiente para caracterizar um processo de
engajamento de stakeholders. O engajamento efetivo deve estar associado a ações de
melhorias internas, assim como a relevância das informações e a capacidade de reposta da
empresa aos seus stakeholders.
A consulta sistemática a stakeholders é uma forma de melhorar a qualidade
das informações. Mas as empresas precisam aprender a ouvir críticas e
utilizá-las de forma a aprimorar sua gestão. É melhor ouvir críticas em um
fórum interno, mesmo que com a participação de partes externas do que
desenvolver determinadas ações sem consultas e ver as críticas publicadas
na mídia. (Entrevistado 6)
Diálogos com stakeholders são mecanismos interessantes. Porém ainda
estamos engatinhando nesse processo. Por exemplo, se eu sou fornecedor de
uma empresa quero mais e vender para ela e não criticá-la. Trata-se de um
processo evolutivo, que vai andar mais ou menos rápido, dependendo da
cobrança da opinião pública. (Entrevistado 7)
Relacionados à confiança, os principais atributos abordados pelos entrevistados durante as
entrevistas estão apresentados no gráfico 8:
77
10
8
555
3
2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Auditoria Consulta a
stakeholders
Mídia
espontânea
Critérios claros Dados
históricos
Atendimento a
clientes
Empresas
consolidadas
Gráfico 8 – Atributos da confiança em relatórios de sustentabilidade
É importante ressaltar que a reputação não é determinada apenas pelas informações que a
própria empresa fornece, mas sim por informões provenientes de outras fontes como a
mídia e o mercado de ações. A reputação corporativa reflete o relativo sucesso em satisfazer
as expectativas de múltiplos stakeholders (FOMBRUM; SHANLEY, 1990).
78
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O movimento pela sustentabilidade empresarial conquista cada vez mais espaço entre
acadêmicos e executivos. Os problemas sociais e ambientais com os quais a sociedade atual
precisa lidar também são questões estratégicas para a perenidade das empresas. As empresas
adquiriram tamanha força econômica e política que passaram a ter maior responsabilidade
para com todos os públicos com quem se relaciona.
Esta Dissertação discorreu sobre a evolução do conceito de responsabilidade social
corporativa. Observou-se que ao longo do tempo houve mudanças quanto ao entendimento
sobre o papel da empresa na sociedade. Elkignton (2001) desenvolveu o conceito de
sustentabilidade empresarial, na perspectiva do triple bottom-line, estabelecendo três
dimensões determinantes ao sucesso organizacional: a econômica, a social e a ambiental. A
sustentabilidade empresarial busca a perenidade do negócio de forma lucrativa, ao mesmo
tempo em que apóia o desenvolvimento econômico e social da comunidade, o equilíbrio
ambiental e estimula a redução das desigualdades sociais.
Nesse contexto, verificou-se o fortalecimento dos stakeholders, que passaram a desempenhar
função primordial na mudança de postura das empresas. A gestão de stakeholders foi
incorporada como assunto estratégico, sendo considerada na definição de políticas e
procedimentos assim como na tomada de decisões. Um grande desafio das empresas é
identificar seus stakeholders, e, mais que isso, definir aqueles que considera prioritários,
garantindo a adoção de medidas equilibradas e mais justas nas relações. A classificação de
stakeholders não é um exercício estático, uma vez que situações de mercado podem levar a
alterações ao longo do tempo.
Abordou-se a empresa como uma rede de relacionamentos entre stakeholders, com
responsabilidades recíprocas e sustentáveis ao longo do tempo.
A ética empresarial e a transparência são elementos que impulsionam os administradores a
aderir a modelos de gestão sustentáveis. Observou-se que o aumento da demanda de
stakeholders por informações que refletissem ações tomadas em relação à sustentabilidade,
incentivou-as a desenvolver e monitorar indicadores de desempenho sociais e ambientais,
além dos indicadores econômicos.
79
A ferramenta amplamente utilizada para divulgar essas informações é o relatório de
sustentabilidade. Foram apresentadas iniciativas nacionais (Ibase e Guia Ethos) e
internacionais (GRI, AA1000) que auxiliam na identificação e coleta de indicadores
relevantes e comparáveis entre as empresas. O grande aumento da quantidade de relatórios de
sustentabilidade publicados levou ao questionamento sobre a confiança dos stakeholders nas
informações contidas nessas publicações.
Considerou-se o fator “confiança” uma peça fundamental no relacionamento entre empresas e
stakeholders. A confiança é um atributo relacionado às expectativas das partes envolvidas e à
ausência de motivos para duvidar. A clareza no entendimento das necessidades das partes é
crucial para o estabelecimento de um relacionamento de confiança (MAYER; DAVIS;
SCHOORMAN, 1995). A confiança está associada a riscos, uma vez que em ambientes de
completa certeza não haveria sentido avaliar o aspecto. A interdependência das partes também
é condição de existência de confiança, na qual os interesses dos envolvidos estão mutuamente
relacionados.
Utilizando-se o referencial teórico como fundamento, foi desenvolvido o roteiro de perguntas
utilizado no decorrer das entrevistas do estudo exploratório. Foram ouvidos representantes
dos seguintes grupos: analistas de crédito, investidores, analistas de mercado, fornecedores de
empresas, universidades, mídia e ONGs. Optou-se por entrevistar representantes de grupos de
stakeholders diversos com o objetivo de identificar possíveis diferenças nas demandas por
informações.
Pela análise de conteúdo das entrevistas pode-se observar que a maior parte dos entrevistados
possui entendimentos conceituais similares dos temas deste estudo. Este fato contribuiu para a
análise das informações, possibilitando o agrupamento das questões abordadas com maior
freqüência.
Ficou claro que a sustentabilidade empresarial está relacionada ao estabelecimento de práticas
de gestão que contemplem os pilares econômico, social e ambiental. A visão de longo prazo
em detrimento do curto prazo é entendida como fator primordial ao estabelecimento de
estratégia efetiva de gestão da sustentabilidade. Mereceu destaque de forma espontânea pelos
entrevistados, o fato da sustentabilidade não estar associada exclusivamente às atividades
80
filantrópicas desenvolvidas pelas empresas. Houve uma preocupação em salientar a distinção
entre sustentabilidade empresarial e ações filantrópicas pelo fato de, na visão dos
entrevistados, muitas empresas ainda demonstrarem confusão no entendimento conceitual.
Os relatórios de sustentabilidade foram definidos como ferramenta de comunicação sobre as
práticas de gestão da empresa aos seus stakeholders. Espera-se que os relatórios apresentem
com transparência informações claras e equilibradas, abordando pontos críticos e
estabelecendo metas para o futuro. A transparência ao assumir pontos críticos leva os
stakeholders a considerar que as empresas estão comprometidas com a busca de melhorias,
uma vez que dificilmente as empresas possuem apenas indicadores positivos para apresentar.
O estabelecimento de metas de longo prazo é de fundamental importância para os
entrevistados na avaliação de desempenho das empresas.
Para muitos entrevistados, os relatórios desviam a atenção dos leitores, trazendo informações
que estabelecem pouca conexão entre a sustentabilidade e as atividades desenvolvidas pelas
empresas. Um exemplo é a ênfase atribuída por alguns relatos em programas e atividades
culturais, muitas vezes desenvolvidas com recursos provenientes de renúncia fiscal;
desprezando a importância de apresentar impactos ambientais ou sociais em conseqüência das
atividades foco da empresa. Não se trata de ser contra o investimento cultural, mas sim do
estabelecimento de critérios de priorização aos assuntos publicados, uma vez que a
sustentabilidade do negócio deve ser o objetivo maior da publicação.
Outro exemplo de uso indevido dos relatórios é a associação de melhorias de processos e,
portanto, de redução de custos, a projetos de melhorias ambientais. Na opinião de alguns
entrevistados, a redução no consumo de água, energia ou outros insumos é parte da busca pela
eficiência e pela redução de custos, ações legítimas e importantes na gestão das empresas. No
entanto, não apresentam relação direta com a sustentabilidade.
Para atender às necessidades dos stakeholders os relatórios devem demonstrar transparência
por meio da divulgação de informações claras, concisas e precisas, traduzindo o que é de fato
importante para o bom desempenho da organização. A expectativa dos entrevistados é de que
as empresas demonstrem que a sustentabilidade é um valor da empresa, que pode ser
demonstrado em seus processos, práticas de gestão e comprometimento estratégico. É de
81
fundamental importância que as empresas relacionem suas estratégias e seu desempenho às
questões da sustentabilidade.
Os relatórios de sustentabilidade provêem uma extensa gama de indicadores que variam
bastante entre empresas e países. Os entrevistados alegam conhecer bons relatórios, porém,
enfatizam que a maioria deles ainda constitui uma ferramenta de publicidade das empresas,
com suas boas intenções e resultados positivos.
De uma forma geral, os stakeholders consultados confiam nas informações que as empresas
divulgam nos relatórios de sustentabilidade. Isto é, acreditam que os dados publicados são
exatos, até porque se as empresas divulgarem informações falsas, tal fato poderia ser
caracterizado como fraude. No entanto, acreditam que os objetivos de informar sobre as
práticas de gestão, integrando a estratégia da empresa ao desempenho sustentável, não são
atingidos por grande parte dos relatórios.
Na revisão da literatura, observou-se que a confiança em uma terceira parte é um mecanismo
de representação da confiança em uma contraparte desconhecida ou pouco conhecida
(MCEVILY; PERRONE; ZAHEER; 2003).
O estabelecimento de procedimentos sistemáticos de verificação independente das
informações publicadas contribui para o aumento da confiança dos stakeholders, mas não é
suficiente. O investimento em cifras consideráveis com a contratação de reputadas empresas
de auditoria, apenas agrega valor se as informações relatadas forem consideradas relevantes
para os stakeholders. A falta de comprometimento estratégico de empresas com a
sustentabilidade é refletida nos seus relatórios, por mais bem feitos que possam ser do ponto
de vista estrutural e visual. Se indicadores tidos como relevantes não são divulgados, os
stakeholders tendem a entender que não examinados e tratados com a devida importância
pelas empresas. Indicadores que não são relatados, provavelmente não são monitorados e,
portanto, não podem ser aprimorados. A ausência de dados históricos sobre determinados
indicadores compromete a confiança dos interessados.
A utilização de painéis de stakeholders ou processos sistemáticos de diálogos com
stakeholders é considerada prática útil para o aprimoramento da gestão, contribuindo para o
aumento da confiança dos stakeholders nas informações das empresas. Destaca-se, porém,
82
que tais atividades apenas são válidas se a empresa estiver aberta a ouvir críticas e a tomar as
devidas ações de melhorias de gestão. Por isso, de acordo com os entrevistados, a abertura de
canais para receber críticas, sugestões e elogios é importante, desde que sejam estabelecidos
mecanismos de diálogo nos quais a troca fica evidenciada para as partes envolvidas.
Para identificarem se podem ou não confiar informações dos relatórios de sustentabilidade das
empresas, muitos entrevistados recorrem a práticas alternativas. Identificam a existência de
matérias sobre as empresas de interesse na mídia em geral; confrontam informações do
relatório de demonstrações financeiras ao relatório de sustentabilidade; ou buscam
informações em órgãos de defesa do consumidor ou órgãos de defesa dos direitos humanos.
O envolvimento das empresas na construção do desenvolvimento sustentável requer uma nova
forma de criar inovações para atender ao mercado, uma vez que grande parte dos problemas
socioambientais que enfrentamos hoje são conseqüência de inovações consideradas
convenientes no passado. As organizações sustentáveis devem investir sistematicamente em
inovações que considerem o equilíbrio entre os eixos econômico, social e ambiental. Dessa
forma, a empresa contribuirá com o desenvolvimento sustentável, trazendo resultados para ela
própria, para a sociedade e para o meio ambiente (BARBIERI, 2007).
O resultado do estudo indica que as empresas estão em um processo de aprendizado sobre a
sustentabilidade empresarial. O relatório de sustentabilidade, se utilizado como uma
ferramenta de gestão é um instrumento efetivo que contribui com o desenvolvimento de
indicadores e aprimoramento dos controles internos. Os leitores de relatórios buscam
informações que realmente reflitam a estratégia de gestão de sustentabilidade empresarial. A
divulgação de relatórios de sustentabilidade exclusivamente para fins de publicidade é um
desperdício de esforços e recursos, na medida em que os stakeholders buscam dados
efetivamente relevantes e que contribuam para avaliação sobre o desempenho das empresas
em que nutrem interesses.
83
6.1. Limitações do estudo
O presente trabalho apresentou uma visão geral sobre a confiança dos stakeholders nas
informações providas pelas empresas em seus relatórios de sustentabilidade, assim como dos
conceitos que envolvem a questão, quais sejam: responsabilidade social corporativa,
sustentabilidade empresarial, gestão de stakeholders, verificação independente e confiança.
Uma limitação do estudo refere-se à impossibilidade de abarcar todos os representes de
grupos de stakeholders de importantes setores da sociedade: órgãos governamentais, órgãos
reguladores, sindicatos, órgãos de defesa do consumidor, ONGs de atuações distintas. Tais
públicos não foram considerados para esta pesquisa por estarem relacionados mais ao
ambiente regulatório, e o foco da pesquisa ter sido o ambiente estratégico de gestão.
A segunda limitação está relacionada à diversidade dos grupos de stakeholders entrevistados.
Se, por um lado, esta diversidade nos proporciona um panorama abrangente, por outro pode
esconder eventuais divergências entre os grupos.
Os entrevistados do estudo possuem atuação profissional em grandes centros brasileiros: São
Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Regiões menos desenvolvidas ou mesmo de
características agrícolas podem apresentar resultados diferentes sobre os temas pesquisados.
Por último, não foi contemplada a prática da gestão da sustentabilidade dentro das empresas,
com suas implicações estratégicas e operacionais.
6.2. Contribuições do estudo
Este estudo procurou agregar valor ao novo campo de conhecimentos sobre a sustentabilidade
empresarial no Brasil.
As considerações finais, feitas com base na análise das entrevistas indicam que as empresas
brasileiras precisam desenvolver processos de gestão da sustentabilidade mais robustos para
que seus stakeholders tenham maior confiança em suas informações.
84
Este trabalho pode contribuir como um referencial para empresas que buscam ingressar no
caminho da sustentabilidade empresarial, com vistas ao estabelecimento de relacionamentos
de confiança entre empresas e seus stakeholders, com a adoção de mecanismos de
comunicação efetivos, que possam ser utilizados para o desenvolvimento da gestão da
sustentabilidade.
Mediante o aumento significativo na quantidade de relatórios de sustentabilidade publicados,
o trabalho alerta para necessidade de entender as demandas dos stakeholders para se
estabelecer, monitorar e gerenciar indicadores de desempenho. A confiança nas informações
está relacionada à sua qualidade e relevância na opinião dos stakeholders.
6.3. Sugestões para estudos futuros
A sustentabilidade empresarial é um assunto que merece estudos mais aprofundados no
campo da administração. No que diz respeito a relatórios de sustentabilidade, recomenda-se a
realização de estudo que identifique demandas por informações de sustentabilidade,
segregadas por grupos de stakeholders.
Ampliar as categorias de stakeholders estudadas, de forma a entender o nível de envolvimento
de cada grupo de stakeholders, tendo como foco a priorização de grupos de interesse.
Outra sugestão é o estudo de práticas de gestão da sustentabilidade em empresas, mudando de
uma perspectiva de fora para dentro, para a análise de estratégias e práticas de gestão.
Por fim, recomenda-se o estudo comparativo de informações de relatórios de sustentabilidade
de setores específicos, confrontando com a opinião de stakeholders com interesses específicos
nas atividades do setor objeto da pesquisa. Acredita-se que as lacunas identificadas possam
contribuir com a gestão da sustentabilidade empresarial.
85
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90
APÊNDICES
91
APÊNDICE A - Resumo da Entrevista 1
Entidade: Banco de grande porte
Grupo de Stakeholders que representa: Analistas de crédito
Nível hierárquico: Especialista
Se outros, qual? n/a
Nome (opcional): Prefere não se identificar
Autoriza divulgar o nome? Não
1. Já leu algum relatório de sustentabilidade?
Sim.
2. Se sim, por qual motivo?
Usuário das informações por proverem crédito a empresas de grande porte.
3. Quando falo em sustentabilidade empresarial, em que você pensa?
A sustentabilidade não é filantropia, possui uma pequena parte relacionada à filantropia mas
não se limita a isso. A sustentabilidade é um processo de gestão no qual você todo o processo
da empresa (público interno, público externo, fornecedores, etc.), com o objetivo de fazer a
máquina girar de forma harmônica, conversando com os stakeholders. A sustentabilidade
garante a existência da empresa no tempo e no espaço. A Responsabilidade Corporativa
formaliza coisas que antes eram marginais à empresa, sem perder o foco no business e no
lucro.
4. O que é um relatório de sustentabilidade para você? Para que serve?
É uma forma da empresa comunicar seus procedimentos e práticas de gestão. Quando lê um
relatório, a primeira coisa que faz é abrir a última página para ver se foi auditado (se o
disclosure é de fato ou não).
5. Que informações você procura quando lê um relatório de sustentabilidade?
Processos e mecanismos de gestão.
Se é auditado.
Como trata as informações (se há equilíbrio em geral).
6. Que informações poderiam ser providas pelas empresas em seus relatórios de
sustentabilidade e não são?
Pontos críticos. (insucessos)
Metas. (assumir metas não atingidas e justificar).
DVA: muito difícil de entender (não comunica de forma eficaz).
Não muito longo.
Linguagem acessível para qualquer público.
92
7. O que significa confiança para você?
A entrevistada tem confiança em empresas consolidadas no mercado.
Empresas que demonstrem através de seus trabalhos que são sérias.
Com pessoal capacitado.
Uma forma de analisar se a empresa é confiável é confrontar as informações de seus
relatórios com as informações da mídia.
8. Você confia nas informações que as empresas publicam em seus relatórios? Por quê?
Verificação por terceira parte aumenta a confiança e a falta gera desconfiança.
A verificação por terceira parte é importante porque tem o comprometimento da
empresa de auditoria.
A figura do auditor é fundamental (profissional capacitado).
9. Que mecanismos poderiam aumentar sua confiança nas informações dos relatórios de
sustentabilidade?
Auditoria.
Mídia espontânea.
Mecanismos de consulta a stakeholders (diálogo efetivo, convidar pessoas para dentro
da empresa - é difícil enganar dentro da própria casa).
SAC
10. Você considera úteis as informações dos relatórios de sustentabilidade?
Sim, mas poderia ser melhor.
93
APÊNDICE B - Resumo da Entrevista 2
Entidade: Investidor independente
Grupo de Stakeholders que representa: Investidores
Nível hierárquico: Diretor/ Sócio
Se outros, qual?
Economista, com larga experiência no mercado
financeiro e no de capitais.
Nome (opcional): Lélio Lauretti
Autoriza divulgar o nome? Sim
1. Já leu algum relatório de sustentabilidade?
Sim.
2. Se sim, por qual motivo?
Orienta o desenvolvimento de relatórios de sustentabilidade por empresas. Criador do Prêmio
ABRASCA de Relatórios. Dever de ofício. O entrevistado se sente responsável por melhorar
a qualidade dos relatórios.
3. Quando falo em sustentabilidade empresarial, em que você pensa?
A visão de que a empresa cumpre o seu dever perante a sociedade com visão de longo prazo.
A empresa não é cidadã, que é ou deixa de ser cidadão são os donos da empresa. Uma
empresa que está no caminho da sustentabilidade não sacrifica os objetivos de longo prazo em
nome do curto prazo. O mercado de capitais continua extremamente focado no curto prazo.
Os investidores são tão cautelosos quando querem ver as projeções das empresas pros
próximos dez anos, e eu me pergunto o que eles fazem com essas projeções. Pegam uma taxa
de desconto e trazem a valor presente: então estão olhando o curto prazo. Na questão
científica, acredita que temos conhecimento para resolver TODOS os problemas ambientais e
relacionados à sustentabilidade. Os indivíduos também precisam melhorar: somos ótimos
consumidores e investidores e péssimos cidadãos (que seria a parte mais importante). As
empresas podem e devem ajudar a criar uma consciência de cidadania, com o pessoal agindo
dentro da cidadania, sem usar o governo a seu favor, sem corromper. Se as grandes empresas
não se engajarem DE FATO e não de APARÊNCIA, não podemos ser muito otimistas quanto
às próximas gerações.
4. O que é um relatório de sustentabilidade para você? Para que serve?
Um relatório de sustentabilidade serve primeiramente para conscientizar as próprias empresas
sobre a natureza e extensão do problema (normalmente as empresas não estão acostumadas a
lidar com tais problemas). Não há nenhum problema que possa ser resolvido se não for de fato
identificado e reconhecido em sua natureza e extesão. Se não tem problema não tem solução.
5. Que informações você procura quando lê um relatório de sustentabilidade?
Pontos críticos.
94
6. Que informações poderiam ser providas pelas empresas em seus relatórios de
sustentabilidade e não são?
O perigo é os relatórios de sustentabilidade é que muitas vezes eles misturam informações
relevantes com informações que não são relevantes. Por exemplo confusão entre redução de
custo e melhoria ambiental (reduzir custo é obrigação da empresa desde sempre). O que se faz
para a sustentabilidade? Qual a segurança no trabaho, qual o ambiente de trabalho?
Quando são misturadas informações relevante e não relevantes, eu confundo o leitor e nivelo
por baixo.
Por exemplo, quanto eu distribuo pros meus acionistas, pros empregados, pro governo, agora,
quanto eu gasto de água é uma questão de custo e não de sustentabilidade.
7. O que significa confiança para você?
O maior valor intangível que uma empresa pode ter é o grau de confiança que elas inspiram
em todos os seus stakeholders. Hoje com a comunicação instatânea, imediata e universal, cair
na besteira de mostrar que não é confiável em algum aspectos, levará a pessoas mais
esclarecidas a não manter relações comerciais.
8. Você confia nas informações que as empresas publicam em seus relatórios? Por quê?
Sempre parte do princípio da boa fé. Para não confiar deve haver uma razão, a desconfiança
não é uma atitude minha. Se houver um fato na mídia, ou algo que a minha experiência diga
que é diferente, aí sim eu desconfio.
9. Que mecanismos poderiam aumentar sua confiança nas informações dos relatórios de
sustentabilidade?
Certificação.
Auditoria externa. A auditoria externa é muito útil para a própria empresa em primeiro
lugar, pois ela aprende a melhorar seus controles internos.
Melhoria de controles internos.
10. Você considera úteis as informações dos relatórios de sustentabilidade?
Sim, a partir do momento em são parte da sociedade e tem obrigação de informar a
população sobre suas atividades.
Luta para combater os relatórios de "irresponsabilidade social". Ataca a falsidade de
relatórios de empresas como bebida, armamentos e cigarros, cuja atividade não visa o
bem comum da sociedade.
Considera importante as empresas pararem de falar que são boazinhas.
O maior problema da sustentabilidade é a concentração de riquezas. E o pior é que
estamos num processo cada vez mais acelerado de concentração de riquezas, que já
era muito grande.
95
APÊNDICE C - Resumo da Entrevista 3
Entidade: BNDES
Grupo de Stakeholders que representa: Analistas de mercado
Nível hierárquico: Gerente
Se outros, qual? n/a
Nome (opcional): Otávio Vianna
Autoriza divulgar o nome? Sim
1. Já leu algum relatório de sustentabilidade?
Sim.
2. Se sim, por qual motivo?
O interesse decorre da importância dada à sustentabilidade pelo BNDES. Não acompanha
diretamente em suas atividades de trabalho porque o BNDES possui um departamento de
Meio Ambiente para acompanhara estas questões.
3. Quando falo em sustentabilidade empresarial, em que você pensa?
Em boas práticas de gestão e de produção. Empresas que possuem preocupação social e
ambiental.
4. O que é um relatório de sustentabilidade para você? Para que serve?
Um relatório de sustentabilidade serve para demonstrar a capacidade analítica das empresas.
Hoje, de forma geral, a preocupação das empresas em relação aos riscos associados à
sustentabilidade é muito reduzida. As empresas que tenham essa preocupação tendem a estar
bem posicionadas no futuro. No futuro a sociedade pode não aceitar produtos que contribuam
com o aquecimento global. Isso aumenta o risco da empresa, implicando também em sua taxa
de desconto e no ativo. Então, o relatório de sustentabilidade das empresas é uma questão de
sobrevivência, e contribui com a redução de riscos de negócios.
5. Que informações você procura quando lê um relatório de sustentabilidade?
Principalmente informações de meio ambiente pela relação com o trabalho no BNDES
(estruturação de operações de crédito de carbono).
6. Que informações poderiam ser providas pelas empresas em seus relatórios de
sustentabilidade e não são?
Emissão de gases por produto.
Relação das atividades da empresa com o aquecimento global. Este item certamente será
cobrado pela sociedade em um futuro próximo.
96
7. O que significa confiança para você?
Confiança está relacionada a critérios. Se os critérios são confiáveis, a informação é
confiável.
A confiança também está relacionada a transparência e governança corporativa.
Auditoria.
Nível de mercado.
8. Você confia nas informações que as empresas publicam em seus relatórios? Por quê?
Acredita que as informação são confiáveis, porém nem todas as informações são publicadas.
As empresas amplificam as coisas boas e não falam de pontos críticos
Com o tempo o mercado vai precificar as empresas que valem mais com relação as suas
informações de sustentabilidade. Falar inverdades não será tolerado e as empresas que
optarem por esta estratégia terão de pagar o preço.
A padronização (GRI) é adequada porque ajuda para reduzir o custo se obter as informações.
9. Que mecanismos poderiam aumentar sua confiança nas informações dos relatórios de
sustentabilidade?
Auditoria por empresas com reconhecida credibilidade no mercado. (transparência, sem
conflito de interesses, tempo de experiência)
A validação pelos stakeholders é um caminho importante, que porém possui um custo muito
elevado.
10. Você considera úteis as informações dos relatórios de sustentabilidade?
Sim, o fato da empresa ter preocupação sinaliza que ela é eficiente em seu core business.
97
APÊNDICE D - Resumo da Entrevista 4
Entidade: Quality Way
Grupo de Stakeholders que
representa: Fornecedores
Nível hierárquico: Gerente
Se outros, qual? n/a
Nome (opcional): Ericka Cintra
Autoriza divulgar o nome? Sim
1. Já leu algum relatório de sustentabilidade?
Sim.
2. Se sim, por qual motivo?
Pelo trabalho. Como fornecedora de serviços, busca informações sobre os clientes em
relatórios de sustentabilidade.
3. Quando falo em sustentabilidade empresarial, em que você pensa?
Sustentabilidade é sobrevivência. Preocupação urgente com as questões ambientais, sociais e
financeiras das empresas.
4. O que é um relatório de sustentabilidade para você? Para que serve?
O relatório de sustentabilidade tem duas funções essenciais: 1) disseminar conhecimentos
para que outras empresas possam aprender e adotar boas práticas; 2) assumir pontos críticos e
informar à sociedade sobre o que está sendo feito para melhorar. Com a grande preocupação
focada na propaganda, as coisas ficam meio mascaradas.
5. Que informações você procura quando lê um relatório de sustentabilidade?
Transparência em relação às ações de sustentabilidade.
6. Que informações poderiam ser providas pelas empresas em seus relatórios de
sustentabilidade e não são?
Ações que precisam ser feitas pelas empresas e ainda não são.
Passivos sociais e ambientais.
Padronização de indicadores (vide relatórios financeiros) para que seja possível fazer
comparações.
7. O que significa confiança para você?
Auditoria independente.
98
8. Você confia nas informações que as empresas publicam em seus relatórios? Por quê?
O processo de elaboração de relatórios de sustentabilidade ainda está num estágio inicial,
ainda é um processo amador. Talvez por falta de conhecimento das empresas os relatórios
ainda seja pouco confiáveis. A confiança nos relatórios depende da confiança na própria
empresa.
9. Que mecanismos poderiam aumentar sua confiança nas informações dos relatórios de
sustentabilidade?
Auditoria independente.
Encontros com stakeholders. Demonstra boa vontade da empresa de ouvir e falar.
Acompanhamento e monitoramento mais sistemático das informações. Não apenas
para a publicação.
Os relatórios ainda parecem uma foto de fim de ano (com todos sorrindo).
10. Você considera úteis as informações dos relatórios de sustentabilidade?
Padronização: alguns pontos deveriam ser obrigatórios.
Os indicadores quantitativos deveriam ser melhor explicados. Muitas vezes fica difícil de
entender.
Precisa haver uma conscientização em três níveis: 1) da população no sentido de cobrar, 2) da
mídia, cobrando e apresentando fatos relevante; 3) das universidades, instruindo com
qualidade sobre os aspectos da sustentabilidade.
No futuro a publicação de relatórios de sustentabilidade deve ser obrigatória, assim como das
demonstrações financeiras.
99
APÊNDICE E - Resumo da Entrevista 5
Entidade: Unibrasil, Opet, Tuiuti
Grupo de Stakeholders que
representa: Universidades
Nível hierárquico: Outros
Se outros, qual?
Professor das universidades: Unibrasil; Opet e
Tuiuti.(Curitiba - PR)
Nome (opcional): Carlos Domingues
Autoriza divulgar o nome? Sim
1. Já leu algum relatório de sustentabilidade?
Sim.
2. Se sim, por qual motivo?
Curiosidade.
3. Quando falo em sustentabilidade empresarial, em que você pensa?
É a condição de uma organização desenvolver suas atividades atuais buscando, na medida do
que possível, considerar as questões econômicas, ambientais e sociais para que esta viesse a
prover as novas gerações de possibilidade continuidade.
4. O que é um relatório de sustentabilidade para você? Para que serve?
Um instrumento que visa demonstrar, por meio de indicadores, o quanto a organização está
trabalhando para viabilizar sua atividade sem comprometer as gerações futuras.
5. Que informações você procura quando lê um relatório de sustentabilidade?
As informações que digam respeito ao conselho da empresa, as ações ambientais e sociais, a
auditoria do relatório e possíveis correções referentes aos anos anteriores.
6. Que informações poderiam ser providas pelas empresas em seus relatórios de
sustentabilidade e não são?
No momento não vejo que sejam necessárias mais informações.
7. O que significa confiança para você?
A condição de considerar os dados explicitados como apresentados de forma correta, com
conteúdo e significado corretos.
100
8. Você confia nas informações que as empresas publicam em seus relatórios? Por quê?
Não, pois as organizações apresentam os seus relatórios com poucas séries históricas que
permitam identificar a continuidade das atitudes adotadas. Além do que as organizações vêem
utilizando, de forma indiscriminada a sustentabilidade - para fins de marketing, assim sendo,
percebe-se que há manipulação de dados.
9. Que mecanismos poderiam aumentar sua confiança nas informações dos relatórios de
sustentabilidade?
Maior possibilidade de acessos por parte de pesquisadores (mestres e doutores) aos projetos e
funcionários envolvidos. Bem como, a sujeição de auditoria por parte das Instituições de
Ensino Superior (devidamente credenciadas), isto traria maior confiança nas ações e nos
relatórios.
10. Você considera úteis as informações dos relatórios de sustentabilidade?
A principio sim, mas para fins de pesquisa documental e acompanhamento. Não acredito que
a sociedade esteja no momento de atuar frente as organizações baseadas nos relatórios.
101
APÊNDICE F - Resumo da Entrevista 6
Entidade: Independente, Conselheira
Grupo de Stakeholders que
representa: Investidores
Nível hierárquico: Diretor/ Sócio
Se outros, qual?
Membro dos conselhos de administração da CCR,
CPFL e Datasul. Consultora do conselho de
auditoria da CSN.
Nome (opcional): Ana Novaes
Autoriza divulgar o nome? Sim
1. Já leu algum relatório de sustentabilidade?
Sim.
2. Se sim, por qual motivo?
Interesse profissional.
3. Quando falo em sustentabilidade empresarial, em que você pensa?
Até os anos 1980, 1990, no Brasil todas as decisões de conselhos de empresas era voltadas
para o shareholder value, ou seja, maximizar o valor do acionista. Essa era a forma inicial de
se ver a empresa. Hoje em dia, o shareholder value ainda é predominante, mas é preciso levar
em consideração outros fatores, quais sejam: os consumidores, o meio ambiente e as próprios
recursos humanos da empresa. Nesse contexto, a sustentabilidade seria a preocupação com os
outros players. A sustentabilidade inclui também a governança corporativa (que está ligada ao
mercado de capitais e à sobrevivência da empresa), apesar de nem todos os conselheiros
considerarem dessa forma. O impacto ambiental das atividades é de relevante questão na
definição de sustentabilidade. Por exemplo, não existe uma sessão específica nos conselhos
das empresas para tratar das questões de sustentabilidade.
4. O que é um relatório de sustentabilidade para você? Para que serve?
O relatório de sustentabilidade é uma fonte de informações mais para quem está fora da
empresa. Quanto aos projetos sociais às vezes consulta, mesmo como conselheira.
5. Que informações você procura quando lê um relatório de sustentabilidade?
Sociais e ambientais, principalmente.
6. Que informações poderiam ser providas pelas empresas em seus relatórios de
sustentabilidade e não são?
Impactos sociais e ambientais associados a soluções.
102
Acho que as empresas devem ser francas quanto à sua atividade e ao dano que causam ao
meio ambiente, mas não fazer propaganda do dano. Fazer propaganda da remediação sim.
7. O que significa confiança para você?
Auditoria.
8. Você confia nas informações que as empresas publicam em seus relatórios? Por quê?
Não consegue imaginar que as empresas das quais é conselheira escrevam algo que não tenha
acontecido em seus relatórios. Inclusive se isso ocorrer e alguém pegar, está caracterizada
uma fraude. Apesar de não ser um documento oficial contábil é um documento público.
9. Que mecanismos poderiam aumentar sua confiança nas informações dos relatórios de
sustentabilidade?
Seria interessante existir princípios reguladores, mas é sempre importante pensar na questão
do custo x benefício.
Uma coisa importante, é que a empresa não deve substituir o Estado. Aqui no Brasil tem uma
idéia de que as empresas têm a obrigação de fazer isso e isso está errado. Uma coisa é você se
preocupar com seus recursos humanos, com seus clientes. Outra coisa é você se preocupar no
limite de substituir o Estado em ações de saúde e educação, o que é um absurdo. Há uma total
distorção entre o que é obrigação de uma empresa privada e o que não é obrigação de uma
empresa privada.
É válida a idéia de auditar informações sociais. No entanto, é importante lembrar que ações
sociais têm um custo, e o custo da auditoria dessas informações pode inviabilizar a existência
da própria ação. Uma solução para o custo seria que a auditoria sorteasse uma ou duas dentre
as várias ações para verificar se de fato estão sendo feitas.
As ações sociais são normalmente espontâneas, no momento em que você coloca um auditor
para verificá-las você tira a espontaneidade do processo. Vira um negócio proforma, assim
como as informações financeiras.
A consulta sistemática a stakeholders é uma forma de melhorar a qualidade das informações.
Mas as empresas precisam aprender a ouvir críticas e utilizá-las de forma a aprimorar sua
gestão.
10. Você considera úteis as informações dos relatórios de sustentabilidade?
Sim.
103
APÊNDICE G - Resumo da Entrevista 7
Entidade: CBN, TV Cultura
Grupo de Stakeholders que representa: Mídia
Nível hierárquico: Outros
Se outros, qual? Editor chefe
Nome (opcional): Heródoto Barbeiro
Autoriza divulgar o nome? Sim
1. Já leu algum relatório de sustentabilidade?
Sim
2. Se sim, por qual motivo?
Primeiro porque procura desenvolver pautas em cima disso. Como jornalista e como cidadão
você deve procurar os assuntos que geram mais impacto na sociedade. E no momento a
sustentabilidade é o maior impacto em nossa sociedade. Ou seja como vamos conseguir
manter o modelo econômico que nós temos, com crescimento, com rentabilidade, com
remuneração aos acionistas, com satisfação dos públicos-alvo etc.
3. Quando falo em sustentabilidade empresarial, em que você pensa?
Com a expansão do capitalismo para países de economia pré-capitalista, como China e
Russia, chegou-se à conclusão de que os recursos naturais disponíveis não serão suficientes
para todo mundo. Então, estamos num ponto em precisamos resolver um grande enigma do
capitalismo: como preservar o meio ambiente, como promover a insersão dessas populações
no mercado de consumo, com todas as suas conseqüências, e como continuar sendo rentáveis.
Na minha opinião está equação está proposta, mas não está resolvida. Nesse cenário, as
empresas são muito mais uma unidade do que no passado. No passado havia uma forte
intervenção do Estado, havia organizações não empresariais, mas o sistema se modificou de
uma tal forma que isso tudo se atrofiou e as empresas cresceram. Com isso seu poder cresceu
muito e a responsabilidade, teoricamente, também cresceu muito.
A definição marxista do século XIX de empresa dizia que a finalidade última de uma empresa
é de gerar lucro. Ou, usando um eufemismo, a empresa existe para remunerar os seus
acionistas. Hoje, será a definição clássica de empresa se adapta à tomada de consciência de
que as coisas são finitas? Não se consegue mais controlar informação. Então afirma-se que a
função última da empresa é servir à sociedade. Como conseqüência está a geração de lucros,
com o qual os acionistas são remunerados. Eu acho que há uma mudança conceitual na
definição de empresa.
Muitas empresas ainda fazem da sustentabilidade puro marketing.
4. O que é um relatório de sustentabilidade para você? Para que serve?
A maior parte dos relatórios de sustentabilidade são obras de ficção. Ou seja, as informações
dali sofrem um processo de reedição e embelezamento. É como quando se faz uma
104
reportagem, eu posso excluir algumas coisas e adicionar outras. Superestima-se as coisas que
são favoráveis e se varre para debaixo do tapete as outras.
5. Que informações você procura quando lê um relatório de sustentabilidade?
Práticas de gestão sustentáveis.
6. Que informações poderiam ser providas pelas empresas em seus relatórios de
sustentabilidade e não são?
As empresas gostam de informações sobre redução de consumo de água, até porque isso reduz
o custo. Por outro lado não comentam sobre o tratamento dado ao efluente industrial.
Os relatórios poderiam ser uma forma de informar de fato. Mas se tiver no relatório, alguém
pode cobrar.
7. O que significa confiança para você?
Auditoria.
8. Você confia nas informações que as empresas publicam em seus relatórios? Por quê?
Confia parcialmente. Para se ter confiabilidade dos dados é preciso fazer uma auditoria. O
relatório só divulga o que é bom para eles, mas o que divulga é verdade.
Os relatórios são obras ficcionais por falta de credibilidade e porque são muito parecidos uns
com os outros. Parece que as empresas só fazem relatórios para apresentar, de qualquer jeito.
9. Que mecanismos poderiam aumentar sua confiança nas informações dos relatórios de
sustentabilidade?
Uma validação poderia ser, por exemplo pelo Instituto Ethos, ou algo semelhante, seja
nacional ou internacional. O que não dispensa as auditorias técnicas do tipo Big 4 ou até
mesmo da ISO.
Diálogos com stakeholders são mecanismos interessantes. Porém ainda estamos engatinhando
nesse processo. Por exemplo, se eu sou fornecedor de uma empresa quero mais e vender para
ela e não criticá-la. Trata-se de um processo evolutivo, que vai andar mais ou menos rápido,
dependendo da cobrança da opinião pública.
O relatório não deve ser regulamentado porque cada empresa possui características próprias.
Os relatórios devem ser diferentes porque cada empresa possui uma visão diferente.
A divulgação na imprensa.
10. Você considera úteis as informações dos relatórios de sustentabilidade?
Em geral, não.
105
APÊNDICE H - Resumo da Entrevista 8
Entidade: Envolverde
Grupo de Stakeholders que representa: Mídia
Nível hierárquico: Diretor/ Sócio
Se outros, qual? Editor chefe
Nome (opcional): Adalberto Marcondes
Autoriza divulgar o nome? Sim
1. Já leu algum relatório de sustentabilidade?
Sim.
2. Se sim, por qual motivo?
Busca compreender se a empresa tem a sustentabilidade como um valor de gestão e não um
valor de marketing.
3. Quando falo em sustentabilidade empresarial, em que você pensa?
Reconhecer valores que sejam intangíveis do ponto de vista de precificação, reconhecer
necessidades que vão além daquilo que o mercado simplesmente quer, reconhecer a
necessidade de distribuir o seu lucro no tempo (e não simplesmente obter todo lucro possível
de uma vez só), e reconhecer a necessidade da perenidade da organização. Não existe a
possibilidade de ser perene sem responsabilidade social, responsabilidade ambiental,
compromisso com o consumidor, compromisso com o acionista, compromisso com o
mercado, compromisso com a sociedade na qual a empresa está inserida. E as empresas que
não fizerem isso, cada vez mais terão dificuldade de se posicionar de forma consistente no
mercado.
4. O que é um relatório de sustentabilidade para você? Para que serve?
Quando um relatório está cheio de auto-elogios da empresa, eu começo a desconfiar porque a
função de um relatório de sustentabilidade não é essa. Assim como um relatório financeiro,
um relatório de sustentabilidade precisa trazer dados concretos, dados objetivos. Eu tenho que
olhar para um relatório e entender qual é a política de responsabilidade social corporativa da
empresa, qual a política de meio ambiente da empresa, o que ela tem como valor em relação à
perenidade.
5. Que informações você procura quando lê um relatório de sustentabilidade?
O balanço financeiro me mostra se a empresa dá lucro, já o relatório financeiro me mostra
quais os valores dela, o que ela tem como percepção de mundo, qual o papel dela no mundo, o
que ela faz pelo planeta, pela comunidade onde está inserida, pelo entorno, pelo meio
ambiente e pela qualidade do mercado em que ela atua.
Primeiro, identifica qual a referência para a elaboração do relatório (se é GRI, Ibase, etc.).
Depois analisa quem fez o relatório, quem auditou e o histórico da empresa.
106
Identifica que um relatório está mais voltado para o marketing cruzando informações do
relatório de sustentabilidade com o relatório financeiro.
Visão de futuro.
6. Que informações poderiam ser providas pelas empresas em seus relatórios de
sustentabilidade e não são?
No Brasil a maior parte das empresas ainda vê o relatório de sustentabilidade como um valor
de marketing e uma pequena parte vê como parte de seu processo de governança e
transparência.
Importantíssimo apontar claramente o montante proveniente de renúncia fiscal e que tipo de
incentivo se trata.
Como na maior parte dos casos os leitores de relatórios financeiros são diferentes dos leitores
de relatórios de sustentabilidade, algumas informações financeiras deveriam estar nos
relatórios de sustentabilidade e vice-versa.
É importante saber quem decide as ações de sustentabilidade. São assinados pelo presidente,
mas normalmente as ações são feitas por gerências.
7. O que significa confiança para você?
Significa dar valor às informações com informações que possam eventualmente ser
reproduzidas em uma reportagem, em um artigo ou em um texto.
8. Você confia nas informações que as empresas publicam em seus relatórios? Por quê?
Vamos relativizar, estamos trabalhando na fronteira do conhecimento e muita gente
capacitada ainda não se sente capacitada para escrever relatório. Existem poucas pessoas
efetivamente capacitadas escrevendo relatórios, o que existe, são muitas agências de
comunicação e de relações públicas escrevendo relatórios.
Existem relatórios que são confiáveis e relatórios que não são confiáveis.
9. Que mecanismos poderiam aumentar sua confiança nas informações dos relatórios de
sustentabilidade?
É importante que os relatórios sigam alguma diretriz, a GRI é um bom modelo. Bem
estruturado.
É importante que o mercado tenha mais interface com os relatórios de sustentabilidade.
As empresas precisam aprender a avaliar o que é relevante de fato para seus stakeholders e
evidênciar esses fatos no relatório.
O maior valor que um relatório pode ter é a comparabilidade. Tem que poder ser comparável,
trazendo os parâmetros de comparabilidade no próprio relatório.
107
Auditoria.
Panéis de stakeholders são importantes, desde que as empresas utilizem as críticas de forma
construtiva e de fato aprimorem a gestão.
10. Você considera úteis as informações dos relatórios de sustentabilidade?
Sim. Mas poderia ser melhor.
108
APÊNDICE I - Resumo da Entrevista 9
Entidade: Fundação Dom Cabral
Grupo de Stakeholders que representa: Universidades
Nível hierárquico: Professor
Se outros, qual? Professor
Nome (opcional): Cláudio Boechat
Autoriza divulgar o nome? Sim
1. Já leu algum relatório de sustentabilidade?
Sim.
2. Se sim, por qual motivo?
Utiliza como recurso em sala de aula, para estimular o pensamento crítico em relação à
sustentabilidade.
3. Quando falo em sustentabilidade empresarial, em que você pensa?
A sustentabilidade empresarial está inserida no contexto da sustentabilidade do planeta,
sociedade humana incluída. A sustentabilidade empresarial não é viável sem o todo. Trata do
equilíbrio ambiente de negócios, o ambiente natural e as pessoas. Traz para as pessoas
consciência sobre as questões ambientais, e requer das empresas o aumento do
comprometimento da empresa em relação ao presente e ao futuro, as gerações futuras como
horizonte.
A sustentabilidade é uma característica dos seres vivos para que permaneçam vivos no
planeta. Mais do que a sobrevivência, trata da vida com qualidade, pensando sempre num
processo evolutivo, para séculos, milênios.
4. O que é um relatório de sustentabilidade para você? Para que serve?
O relatório de sustentabilidade é um instrumento de gestão empresarial, que serve para
informar os públicos da empresa sobre seu desempenho.
O modelo GRI é considerado adequado, é inclusivo e abre o caminho para discussões sobre o
papel das empresas na sociedade. Serve tanto para prover um padrão como para provocar
discussões.
5. Que informações você procura quando lê um relatório de sustentabilidade?
Informações sobre o engajamento com a sustentabilidade no negócio mesmo.
Visão de futuro.
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6. Que informações poderiam ser providas pelas empresas em seus relatórios de
sustentabilidade e não são?
Impactos negativos, por exemplo informações sobre concorrência desleal.
Informações sobre concorrência desleal.
Muitos relatórios ainda são relatos de “coisas boas”.
7. O que significa confiança para você?
Trazer informações úteis e relevantes.
8. Você confia nas informações que as empresas publicam em seus relatórios? Por quê?
Acredita que as informações que aparecem nos relatórios de sustentabilidade são verdadeiras,
no entanto, nem sempre são suficientes. Quando o relatório discorre muito sobre ações sociais
sem um acompanhamento sistêmico, desconfia das informações porque a empresa,
normalmente, procura mudar do foco do seu real impacto na sociedade para projetos bonitos.
9. Que mecanismos poderiam aumentar sua confiança nas informações dos relatórios de
sustentabilidade?
Testemunho de terceira parte crível.
Auditoria (AA1000 – Quality Assurance).
10. Você considera úteis as informações dos relatórios de sustentabilidade?
Sim. Apesar de não serem completos.
110
APÊNDICE J - Resumo da Entrevista 10
Entidade:
ONG Ambiental com atuação na
Amazônia
Grupo de Stakeholders que representa: ONGs
Nível hierárquico: Diretor
Se outros, qual? n/a
Nome (opcional): Prefere não se identificar
Autoriza divulgar o nome? Não
1. Já leu algum relatório de sustentabilidade?
Sim.
2. Se sim, por qual motivo?
Para identificar a versão das empresas que atuam com agronegócio na região amazônica,
sobre ao desmatamento e aos impactos sociais que ocorrem em conseqüência de suas
atividades.
3. Quando falo em sustentabilidade empresarial, em que você pensa?
É a consciência da empresa de que ela faz parte de um todo, que seus relacionamentos devem
ser satisfatórios para todas as partes uma vez que o sistema natural, que inclui ambiente,
pessoas e empresas, está interligado.
4. O que é um relatório de sustentabilidade para você? Para que serve?
É o instrumento pelo qual a empresa passa informações aos seus stakeholders, é a prestação
de contas da empresa.
Ele é um embrião de algo que deve ser amplamente desenvolvido. As empresas ainda estão
num estágio em que divulgam as boas ações e não indicadores que reflitam de fato seu
impacto na sociedade.
5. Que informações você procura quando lê um relatório de sustentabilidade?
Metas relacionadas a futuro.
Impactos ambientais.
Impactos sociais, por exemplo, medidas tomadas em função de alterações
significativas das características da comunidade devido a instalação de novos
empreendimentos.
6. Que informações poderiam ser providas pelas empresas em seus relatórios de
sustentabilidade e não são?
Impactos negativos.
Relacionamento com órgãos gorvernamentais.
111
Ações relacionadas à corrupção e propina.
Os relatórios ainda são “peças de marketing”.
7. O que significa confiança para você?
Fazer o que se compromete; cumprir com a palavra.
8. Você confia nas informações que as empresas publicam em seus relatórios? Por quê?
Aquilo que está escrito nos relatórios deve ser verdadeiro, porém, está longe de ser suficiente
para informar o leitor sobre os impactos socioambientais das atividades da empresa. Nunca vi
uma empresa assumir sua responsabilidade, ainda que indireta, no desmatamento da região
amazônica, que é o caso de empresas de alimentos, carnes.
9. Que mecanismos poderiam aumentar sua confiança nas informações dos relatórios de
sustentabilidade?
Auditoria.
Participação efetiva de stakeholders.
10. Você considera úteis as informações dos relatórios de sustentabilidade?
Sim. Mas não suficientes.
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