envolvia todo um carinho, um laço, e que eu acho que foi me ajudando a passar... então... e,
tirando a escola, e aí sim eu tive os livros, os escritos. Na minha casa a gente não tinha muitos
livros infantis, só depois que eu fiquei adolescente é que aí mamãe foi investindo, percebeu, e
tal, mas enquanto criança a gente ao tinha muito a coisa do livro escrito porque a gente ouvia
mais as histórias das minhas duas avós... das festas, das lendas, assim, narrativas orais no
sentido popular mesmo, os causos que contavam, das aparições no meio do mato que não era
o saci daqui mas, hoje eu faço a mediação, lá chamava não sei o quê, era muito marcante,
tudo, os costumes, como se fazia o pão, como é que se colhia a azeitona, a cereja, não sei o
quê, entendeu? O quê que se cantava nessas ocasiões porque a colheita também era um
momento festivo, ... a minha avó, essa que é a mãe do meu pai, ela gostava muito de... como
ela não sabia escrever, então ela memorizava, sempre memorizou coisas inteiras, então,
quadrinhas, versinhos, poeminhas, e ela vivia recitando aquelas coisas, nhem nhem nhem,
muitos até de caráter religioso também, então, às vezes era uma quadrinha para falar de Santo
Antônio, às vezes enchia o saco também, vamos falar sério, mas era assim. E a minha avó por
parte de mãe, ela já não tinha tanto isso, mas era também uma boa contadora de causos, e uma
boa contadora da vida dela. Então, a experiência dela enquanto mulher, lógico que não com a
liberdade que a gente tem para conversar hoje em dia, mas ela deixava... eu fui começando a
entender melhor assim a experiência dela como mulher, né, entrar na vida adulta, casar e
depois ter filhos, o quanto aquilo foi meio que traumático para ela, então elas passavam
também. E a minha avó paterna também, porque minha avó paterna quando teve a primeira
filha teve depressão pós-parto, ficou ensandecida e essas coisas, como se tratava na época...
tranca a mulher no quarto... como quem cria uma fera lá, porque minha avó ficou realmente
muito agressiva, queria atacar os outros, então só uma irmã dela é que podia entrar no quarto,
e chamaram o médico, por fim, para dar um atendimento, aí o médico veio... eu acho uma
história assim... o médico vem, examina e tal e diz que o remédio que ele poderia orientar era
chamar o marido que estava na América, aquela coisa do português sair, estava nos Estados
Unidos, no caso, não tinha vindo pro Brasil. Chama ele de volta porque o remédio para ela era
ter outro filho, então para eu entender... a coisa da mulher na sociedade... e sempre pessoas
ligadas ao cultivo da terra, ao trabalho na terra de agricultura, de agricultor mesmo que o meu
pai tem uma saudade incrível, então quando pára... meu pai é português, veio para cá já com
vinte e tantos anos, ou trinta, quase, mas esse que deixou a coisa lá e não consegue se
desvincular... então conta muitas histórias, sempre falando, inclusive tinha a mulher
apaixonada que ele deixou lá e aqui ele veio fazer uma outra vida e não foi o que ele também
queria, então é uma pessoa que conta muita história, sentar do lado dele é... ele começa a falar,