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RICARDO TAKEDA LELIS
RICARDO TAKEDA LELISRICARDO TAKEDA LELIS
RICARDO TAKEDA LELIS
Estudo da ocorrência de atitudes discriminatórias na
assistência à saúde de pessoas com HIV/AIDS
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RICARDO TAKEDA LELIS
RICARDO TAKEDA LELISRICARDO TAKEDA LELIS
RICARDO TAKEDA LELIS
Estudo da ocorrência de atitudes discriminatórias na
assistência à saúde de pessoas com HIV/AIDS
Orientador: Prof. Dr. Artênio José Isper Garbin
Araçatuba
2006
Dissertação apresentada à Faculdade
de Odontologia da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filh
o”, Câmpus de Araçatuba, para
obtenção do título de “Mestre em
Odontologia Preventiva e Social”
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Nascimento: 25.10.1980 – GUAÍRA /SP
Filiação: Paulo Roberto Alves Lelis
Neuza Suely Takeda Lelis
1999/2004: Curso de Graduação em Odontologia pela Faculdade de Odontologia de
Araçatuba – UNESP
2005/2006: Curso de Pós-Graduação em Odontologia Preventiva e Social, nível de
Mestrado, na Faculdade de Odontologia de Araçatuba – UNESP
Dados Curriculares
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Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Dedico este trabalho:
Aos meus pais, Paulo e Neuza, exemplos de
humildade e superação, pelo amor, carinho,
dedicação, incentivo, constante apoio, exemplo de
vida e pelo grande esforço realizado para a minha
educação, a qual sempre foi priorizada em todos os
momentos.
À minha irmã Paula pela amizade, companheirismo,
incentivo e carinho sempre presente e ao meu irmão
Márcio (in memoriam) pelo exemplo de força e luta
que sempre levarei comigo.
À minha namorada, Taciana, pelo seu amor, carinho
e apoio em todos os momentos.
Dedicatória
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Às pessoas com HIV/AIDS, razão dessa pesquisa, por terem revelado
parte de suas vidas, confiando em mim suas estórias, viabilizando a
realização desse trabalho. Meu carinho, respeito e eterna gratidão.
Dedicatória Especial
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Ao meu orientador Prof. Dr. Artênio José Isper Garbin, pela
sua orientação, ensinamentos transmitidos, qualidade de trabalho e dedicação. Minha
eterna gratidão pela confiança depositada e contribuição na minha formação.
À Profa. Adjunto Cléa Adas Saliba Garbin, por um dia ter
acreditado em mim e ter me mostrado o caminho acadêmico, pela disposição em sempre
ajudar, estímulos renovadores, dedicação e oportunidades oferecidas, minha eterna
gratidão.
Admirável Sensibilidade
Aos Coordenadores e Voluntários das ONGs/AIDS
participantes da pesquisa por acreditarem na importância dessa pesquisa, permitindo a
sua realização. Obrigado pelo voto de confiança e parabéns pelo maravilhoso e
inestimável trabalho desenvolvido por vocês.
Agradecimentos
Especiais
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
À Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP, nas pessoas do seu Diretor Prof.
Dr. Paulo Roberto Botacin e Vice-Diretor Prof. Dr. Célio Percinoto, por proporcionar a
realização desta pesquisa e pelos anos de graduação, pós-graduação e crescimento
profissional.
À coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Odontologia Preventiva e Social da
Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP, Cléa Adas Saliba Garbin e à vice-
coordenadora, Suzely Adas Saliba Moimaz, pelo trabalho, amor e dedicação constantes
ao referido programa.
À Profa. Nemre Adas Saliba pela iniciativa, coragem e espírito empreendedor ao
constituir o Programa de Pós-Graduação em Odontologia Preventiva e Social da
Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP, o que possibilitou a minha formação
e participação em importantes projetos na área de Saúde Pública.
Aos professores do Departamento de Odontologia Infantil e Social da Faculdade de
Odontologia de Araçatuba, Profa. Titular Nemre Adas Saliba, Prof. Titular Orlando
Saliba, Profa. Adjunto Cléa Adas Saliba Garbin, Profa. Adjunto Suzely Adas Saliba
Moimaz, Prof. Dr. Artênio José Isper Garbin, Prof. Dr. Renato Moreira Arcieri, Prof.
Dr. Eliel Soares Orenha, , Profa. Dra. Maria Lúcia Marçal Mazza Sundefeld, pelao
apoio, incentivo, boa convivência e amizade.
Agradecimentos
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
A todos os professores do Curso de Pós-Graduação em Odontologia Preventiva e Social
da Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP, por todos os ensinamentos
ministrados e ótima convivência.
Aos alunos da minha turma do Curso de Mestrado em Odontologia Preventiva e Social,
Ana Paula Dossi, Daniela Coelho de Lima e Karina Tonini dos Santos, pelo
companheirismo, carinho e cumplicidade, minha eterna amizade.
Aos alunos da nova turma do Curso de Mestrado em Odontologia Preventiva e Social,
Fabiano Tonaco Borges, Lívia Silva Bino, Luciana Schneider e Rosana Leal do Prado,
pelo excelente relacionamento e amizade durante o curso.
Aos alunos do atual Curso de Doutorado em Odontologia Preventiva e Social, Cristina
Fadel, Lívia Zino, Nelly Foster Ferreira e Patrícia Elaine Gonçalves, pela amizade e
ótimo convívio.
Aos colegas da turma anterior do Curso de Doutorado em Odontologia Preventiva e
Social, Ana Valéria Pagliari, Jeidson Antônio Morais Marques, Maria de Lourdes
Carvalho e Joildo Guimarães Santos, pelo ótimo relacionamento, companheirismo e
integração durante o curso.
Aos amigos Antônio Carlos Pacheco Filho, autor do prefácio desta singela obra,
Alexandre Denadai de Souza, Fernando Maeda, Otoniel Antônio Macedo dos Santos,
Pedro Paulo Bak Mansi, Rodrigo Isquierdo e Rogério Franco, pela amizade e
companheirismo.
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Aos amigos de Uberlândia, Edimilson Lino Guilherme, Fernanda Bernardes de Assis,
Leila Maria Bernardes de Assis e Pedro Euripedes de Assis pela sempre cordial
recepção e pelo precioso apoio para a execução dessa pesquisa.
Aos amigos de Dourados, Camila Iglesias Reinas, Clarissa Schäffer, Clóvis Yamaguti,
Cristiane Iglésias Reinas Yamaguti, Daniel César Nepomuceno, Davi Kleber
Nepomuceno, Gislaine de Cássia Nepomuceno, Luiz Kleber Nepomuceno Júnior, Sueli
Rebouças Nepomuceno e Orlando Conceição Malheiros pela enorme hospitalidade e
amizade.
A todos os meus familiares e amigos de Guaíra-SP, pelo apoio e incentivo constantes.
Aos funcionários do Departamento de Odontologia Infantil e Social da Faculdade de
Odontologia de Araçatuba - UNESP, Neusa Martins Rovina Antunes, Nilton César
Souza e Valderez Freitas Rosa, pela amizade e disposição com que sempre me
auxiliaram.
A todos os funcionários da Biblioteca da Faculdade de Odontologia de Araçatuba -
UNESP, Ana Cláudia Grieger Manzatti, Cláudia de Souza Frare, Cláudio Hideo
Matsumoto, Isabel Pereira de Matos, Ivone Rosa de Lima Munhoz, Izamar da Silva
Freitas, Jéssica Durbergr, Luzia Anderlini e Maria Cláudia de Castro Benez, pela
atenção e eficiência com que sempre me atenderam.
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Aos funcionários da Seção de Pós-Graduação da Faculdade de Odontologia de
Araçatuba - UNESP, Diogo Reatto, Marina Midori Sakamoto Hawagoe e Valéria
Queiroz Marcondes Zagatto, pelo excelente trabalho, atenção dispensada, grande
disposição em atender e ótimo relacionamento.
A todos os demais professores e funcionários da Faculdade de Odontologia de
Araçatuba - UNESP, pela ajuda e atenção que me dispensaram desde a graduação.
Aos meus amigos da atual república, Adriano Boldori, Carlos Eduardo Shimabucoro,
Kélio Garcia Silva, Matheus Malvino Rossi e Renato Ferraço, e de repúblicas anteriores,
Anna Júlia Hernandes Chamas, Antônio Braz de Oliveira Filho, Antonio Hernandes
Chaves Neto, Daniel Ribeiro da Costa, Edo Hirata, Giscard José Ribeiro Machado e
Renan Braguini, pela convivência feliz, amizade e companheirismo.
Aos meus amigos e amigas da I turma do curso Noturno de Odontologia da Faculdade
de Odontologia de Araçatuba – UNESP, pelos anos de estudos, ótima convivência,
aprendizagem conjunta, diversão e amizade.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), do
Ministério da Educação e Cultura, pela concessão de Bolsa de Estudo.
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
“Estou convencido de que a AIDS é uma doença revolucionária. Ela recoloca
de forma radical para a nossa sociedade, tanto brasileira quanto
internacional, uma série de problemas vitais que durante muito tempo
tentamos ignorar”.
(Humberto de Souza)
Epígrafe
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
CARTA AO JOVEM RICARDO TAKEDA: a não convencionalidade do prefácio
Prezado amigo Takeda,
Difícil espalhar nossos sentimentos. Uma sociedade justa na sua Carta, íntegra nos
discursos políticos e, paradoxalmente, hipócrita e resistente em aceitar muitos valores que,
erroneamente, divulga como morais. Não é para qualquer um; não qualquer estudante, não
para qualquer jovem artista da ciência, exato para aquele que tem sensibilidade. No trato, no
abraço, na conversa, na escolha de seus orientadores.
Conversas regadas à poesia, música ao fundo, da alma profunda revela-se o desejo
quase insano de descobrir a cura para os males do mundo. Chagas que não se curam como
uma simples enfermidade. Chagas que necessitam da essência do ser humano.
Muitas vezes nos pegamos indignados, raivosos com a situação calamitosa em que se
encontra a sociedade, o universo que nos contempla e que nos permeia. Mediante esse quadro,
fica fácil medir as indignações advindas de fatos alheios, pois a nossa responsabilidade sobre
a indignação de lavra genética, torna-se distante e difícil de ser tocada. Talvez por um motivo
que cerceie nossa essência, que nos coloque medo justamente por não sabermos enfrentá-lo.
Muito preocupante é a indignação que não é percebida, omissa, obscura aos nossos
olhos e inteligência. Sombra da realidade, essa indignação fere sem ser tocada, desmancha
sem ser fragmentada, chora sem ao menos receber as graças de um lenço de nosso
humanismo. Crianças desesperadas e paradoxalmente iluminadas pelos faróis das esquinas
Prefácio
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
pedem esmola à nossa indignação, à nossa essência e recebem um mísero troco como se esse
bastasse para nos desculparmos e reintegrarmos nossa essência. Elas (crianças) percebem a
fragilidade de nossa indignação, notadamente, falsa.
Desviamos de fezes caninas e nutrimos nosso asco, nossa repugnância ao vermos fezes
humanas, fezes demasiadas humanas. Muito fácil sentirmos ojeriza ao cheiro, à forma, ao
conteúdo das excrescências, pois não são nossas, são dos outros. Encoleiramos nossa essência
nas tendências, nas lojas modernas e cheirosas. Nossa indignação continua pungente aos fatos
alheios. "Vamos celebrar a estupidez humana". Humana e alheia. Vamos encobrir nossa
indignação presa em nós mesmos, que um simples farol pode nos dar a redenção, uma
simples moeda pode nos redimir.
Creio, jovem Takeda, que a sua coragem em desnudar a indignação do homem perante
alguns fatos essencialmente sociais, inseridos no núcleo da sociedade, possa fazer melhorar a
consciência da mediocridade que impera em muitos seres humanos que se dizem indignados,
mas não reconhecem seus próprios medos e indignações. Espraie a sua pesquisa, espalhe seu
sentimento de nobre artista da ciência não só para as academias, mas sim, e com todo o valor,
para o mundo. O mundo dos humanos, o mundo dos artistas, o mundo da poesia que tanto
gostamos.
Uma sociedade humana, comprometida com valores humanísticos deve mostrar a sua
essência, a de cada um que compõe o corpo social chamado Brasil. Vamos celebrar as
amizades, beijar mesmo sem ser beijado. Vamos jogar as poesias para fora dos livros, darmos
liberdade póstuma aos poetas. Vamos dar vida às nossas vidas, deixarmos de ser cárceres da
repugnância, da bestialidade, da futilidade. Seremos um povo melhor ao sentirmos nosso
próprio cheiro, ao abraçarmos nossos amigos, ao celebrarmos nossa mais pura e genuína
essência.
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Com apreço, do amigo que se faz presente na sua pesquisa e na sua capacidade de
desmistificar alguns preconceitos bobos, incertos, sem saber ao certo o valor da essência do
ser humano.
Antonio Carlos Pacheco Filho
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Lelis RT. Estudo da ocorrência de atitudes discriminatórias na assistência à saúde de pessoas com
HIV/AIDS [Dissertação]. Araçatuba: UNESP – Universidade Estadual Paulista; 2006.
Objetivou-se verificar e analisar a ocorrência de atitudes discriminatórias de profissionais de
saúde na assistência à saúde de pessoas com HIV/AIDS. Trata-se de uma pesquisa quanti-
qualitativa com a participação de 68 pessoas com HIV/AIDS provenientes de quatro
ONGs/AIDS dos seguintes municípios: Araçatuba-SP, Birigui-SP, Dourados-MS e Uberlândia-
MG. Os participantes da pesquisa, após consentimento livre e esclarecido, responderam a
questionários auto-administrados contendo perguntas abertas e fechadas abrangendo o tema
proposto. Posteriormente, realizaram-se entrevistas semi-estruturadas individuais com 19
indivíduos que haviam vivenciado situações discriminatórias praticadas por profissionais de
saúde. Para a análise dos resultados, utilizou-se o programa Epi-info, versão 6.04 (dados
quantitativos) e a análise de conteúdo (dados qualitativos). Dentre os 68 participantes da
pesquisa, 41,2% afirmaram terem sido discriminados por profissionais de saúde, dos quais 78,6%
foram discriminados no serviço público de saúde. Dentre as situações discriminatórias
vivenciadas pelos portadores do HIV, em 34,2% estavam envolvidos os profissionais de
enfermagem, em 34,2% os cirurgiões-dentistas e em 31,6% os médicos. Por meio dos relatos foi
possível observar que as atitudes discriminatórias ocorreram através do atendimento
diferenciado, recusa de tratamento ou utilização de medidas extras de biossegurança, tendo
ocorrido inclusive em instituições de ensino superior na área da saúde. É necessária a adoção de
estratégias para combater a ocorrência de tais atos visando-se a humanização na assistência a
saúde de pessoas com HIV/AIDS e a melhoria na qualidade de vida desses pacientes.
Palavras-chave: Síndrome de imunodeficiência adquirida. Preconceito. Pacientes.
Soropositividade para o HIV. Bioética. Ocupações em saúde.
Resumo
Geral
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Lelis RT. Study of the occurrence of discriminatory attitudes in the assistance to the health of
people living with HIV/AIDS [Dissertação]. Araçatuba: UNESP Universidade Estadual
Paulista; 2006.
This study aimed to verify and to analyze the occurrence of discriminatory attitudes of health care
workers in the assistance to the health of people living with HIV/AIDS. A quantitative-
qualitative research was carried out with the participation of 68 HIV-positive people proceeding
from four Not Governmental Organizations for AIDS from four brazilian cities. The participants
of the research answered the auto-administrate questionnaires that contained open and closed
questions including the considered subject. Later, it was carried out face to face semi-
structuralized interviews with 19 individuals who had been discriminated by health care workers.
For the analysis of the data we used the Epi-info, version 6.04 program and the content analysis.
Among the sixty-eight participants, 41.2% stated to have been discriminated by health care
workers and among these people, 78.6% had been discriminated in the health public service. The
discriminatory situations were practiced by nursing professionals (34.2%), dentists (34.2%) and
physicians (31.6%). Through the stories it was possible to observe that the discriminatory
attitudes occurred by the differentiated attendance, refusal of treatment or by the adoption of
extra precautions measures, having also occurred in colleges with courses in health area. The
adoption of strategies to fight against the occurrence of such acts is necessary aiming at human
assistance to the health of HIV-positive individuals and the improvement in the life quality of
these patients.
Keywords: Acquired immunodeficiency syndrome. Prejudice. Patients. Bioethics. HIV
seropositivity. Health occupations.
General Abstract
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Figura 1 Distribuição percentual dos participantes da pesquisa de acordo com
o gênero.
41
Figura 2 Distribuição percentual dos participantes da pesquisa de acordo com
a idade.
42
Figura 3 Distribuição percentual das pessoas com HIV/AIDS de acordo com
a categoria de exposição
43
Figura 4 Distribuição percentual das respostas dos participantes da pesquisa
segundo a experiência de discriminação por profissionais de saúde.
45
Figura 5 Distribuição percentual das pessoas que foram discriminadas por
profissionais de saúde, segundo o local de ocorrência da
discriminação.
46
Figura 6 Distribuição percentual das situações discriminatórias vivenciadas
por pessoas com HIV/AIDS segundo o profissional de saúde
envolvido.
47
Lista de Figuras
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Tabela 1 Distribuição numérica e percentual das pessoas com HIV/AIDS
segundo categoria de exposição e gênero.
44
Tabela 2 Distribuição numérica e percentual das pessoas com HIV/AIDS
segundo a escolaridade e a ocorrência de discriminação.
48
Tabela 3 Distribuição numérica e percentual dos participantes da pesquisa de
acordo com a categoria de exposição e a ocorrência de discriminação.
48
Tabela 4 Distribuição numérica e percentual dos participantes da pesquisa de
acordo com o tempo de diagnóstico da soropositividade para o HIV e a
ocorrência de discriminação.
49
Lista de Tabelas
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
AIDS: Acquired Immune Deficiency Syndrome (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida)
CDC: Centers for Disease Control and Prevention
CFE: Conselho Federal de Enfermagem
CFM: Conselho Federal de Medicina
CFO: Conselho Federal de Odontologia
CONASIDA: Centro Nacional para la Prevención y el Control del VIH/SIDA – México
HIV: Human Immune Deficiency Virus (Vírus da Imunodeficiência Humana)
ONG: Organização Não-Governamental
ONGs/AIDS: Organizações Não-Governamentais de assistência a pessoas com HIV/AIDS
UDI: Usuários de Drogas Injetáveis
Lista de Abreviaturas
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
1 Introdução Geral .......................................................................................................
21
2 Proposição Geral .......................................................................................................
23
3 Capítulo 1 ........................................................................................................
24
3.1 Resumo Geral .........................................................................................................
27
3.2 General Abstract .....................................................................................................
29
3.3 Introdução ...............................................................................................................
31
3.4 Proposição ...............................................................................................................
36
3.5 Material e Método ..................................................................................................
38
3.6 Resultados ................................................................................................................
41
3.7 Discussão .................................................................................................................
51
3.8 Conclusão ................................................................................................................
56
3.9 Referências ...............................................................................................................
58
4 Capítulo 2 ........................................................................................................
63
4.1 Resumo ....................................................................................................................
66
4.2 Abstract ....................................................................................................................
68
4.3 Introdução ...............................................................................................................
70
4.4 Proposição ...............................................................................................................
74
4.5 Material e Método ..................................................................................................
76
4.6 Resultados ................................................................................................................
80
4.7 Discussão .................................................................................................................
87
4.8 Conclusão ................................................................................................................
93
4.9 Referências ...............................................................................................................
95
Anexos .............................................................................................................................
99
Sumário
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
21
“Quem me dera, ao menos uma vez,
Explicar o que ninguém consegue entender:
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente”.
(Renato Russo – Índios)
O surgimento da epidemia da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) no início
da década de 1980 esteve relacionado a comportamentos considerados inadequados como o
homossexualismo, a promiscuidade sexual e o uso de drogas, que, adicionados ao grande medo
de contágio e à maneira que campanhas informativas e preventivas abordavam o tema,
conduziram a um quadro generalizado de preconceito e discriminação em relação às pessoas com
HIV/AIDS.
Mesmo após os avanços das pesquisas que possibilitaram a produção de medicamentos
eficientes no combate ao vírus e o conhecimento absoluto dos meios de transmissão, o que por
sua vez permitiu a elaboração de medidas preventivas eficazes, ainda é grande a discriminação a
pessoas HIV soropositivo na sociedade e, incoerentemente, nos serviços assistenciais de saúde.
Tendo em vista a grande importância desse assunto e a relativa escassez de trabalhos
relacionados a este polêmico e complexo tema, faz-se necessário investigar a ocorrência de
atitudes discriminatórias de profissionais de saúde com relação a pacientes HIV soropositivo,
compreendendo de que maneira estas acontecem, para que assim, sejam elaboradas estratégias
eficazes para o seu controle. Pois, torna-se inadmissível que pessoas abaladas emocionalmente
por conta de sua condição sorológica e pela estigmatização imposta pela sociedade, sejam
submetidas a situações discriminatórias justamente por aqueles nos quais elas buscam o elemento
terapêutico essencial para o tratamento da AIDS: a esperança.
1 Introdução Geral
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
22
As pesquisas quantitativas e qualitativas não se opõem. Ao contrário, quando realizadas
em conjunto promovem uma mais elaborada e completa construção e compreensão da realidade.
Dessa forma, optou-se pela realização de uma pesquisa quanti-qualitativa.
O presente trabalho de dissertação foi dividido em dois capítulos.
No primeiro capítulo são apresentados os dados referentes à pesquisa quantitativa e no
segundo capítulo estão presentes os dados relativos à pesquisa qualitativa.
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
23
A presente pesquisa teve como objetivo verificar e analisar a ocorrência de atitudes
discriminatórias na assistência à saúde de pessoas com HIV/AIDS buscando identificar: a sua
ocorrência entre os participantes da pesquisa; quais os profissionais de saúde envolvidos; quais os
locais de ocorrência; e de que maneira essas situações discriminatórias ocorreram.
2 Proposição Geral
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Capítulo 1
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Estudo da ocorrência de discriminação na assistência à
saúde de pessoas com HIV/AIDS
3 Capítulo 1
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Resumo
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
27
Objetivou-se verificar e analisar a ocorrência de atitudes discriminatórias na assistência à saúde de
pessoas com HIV/AIDS. Foi realizada uma pesquisa quantitativa, transversal descritiva com a
participação de 68 pessoas com HIV/AIDS de quatro municípios brasileiros. Os sujeitos da
pesquisa, após consentimento livre e esclarecido, responderam a questionários auto-
administrados contendo perguntas abertas e fechadas abrangendo o tema proposto. 41,2% das
pessoas HIV+ afirmaram terem sido discriminadas por profissionais de saúde. Dentre as
situações discriminatórias vivenciadas pelos portadores do HIV, em 34,2% estavam envolvidos
os profissionais de enfermagem, em 34,2% os cirurgiões-dentistas e em 31,6% os médicos. Das
pessoas que sofreram discriminação, 78,6% afirmaram terem sido discriminadas no serviço
público de saúde. A ocorrência de discriminação na assistência à saúde de pessoas com
HIV/AIDS foi elevada, tendo acontecido em sua grande maioria no serviço público de saúde. É
necessária a instituição de estratégias que visem humanizar o atendimento a esses pacientes.
Palavras-chave: Síndrome de Imunodeficiência Adquirida Discriminação Pacientes -
Soropositividade para o HIV - Bioética.
3.1 Resumo
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Abstract
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
29
It was aimed to verify and to analyze the occurrence of discriminatory attitudes in the assistance
to the health of people living with HIV/AIDS. A quantitative research was carried out with the
participation of sixty-eight HIV-positive individuals from four brazilian cities. The participants
answered auto-administrate questionnaires that contained open and closed questions including
the considered subject. Among the sixty-eight participants, 41.2% stated to have been
discriminated by health care workers and, among these people, 78.6% had been discriminated in
the health public service. Among the discriminatory situations experimented by the people living
with HIV/AIDS, in 34,2% nurse professionals were involved, in 34,2% dentists were involved
and in 31,6% physicians were involved. The occurrence of discrimination in the assistance to the
health of HIV-positive patients was high. The majority of discrimination situations occurred in
the public health service. It is necessary the institution of strategies aiming at human attendance
to these patients.
Key-words: Acquired Immunodeficiency Syndrome Discrimination Patients - HIV
Seropositivity – Bioethics.
3.2 Abstract
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
I
n
t
r
o
d
u
ç
ã
o
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
31
*
No Brasil, segundo dados do Sistema de Vigilância Epidemiológica, o primeiro caso da
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) foi registrado em 1982. O Ministério da Saúde
deixa implícita a possibilidade de o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) ter sido
introduzido no país na década de 1970, tendo em vista o seu período de incubação (Brasil, 1999).
Até junho de 2005 haviam sido registrados 371.827 casos de HIV/AIDS, dos quais, 11.740
foram notificados do período de julho de 2004 a junho de 2005 (Brasil, 2005).
Os primeiros casos da doença eram restritos basicamente às cidades de São Paulo e Rio
de Janeiro, tendo como categoria de exposição os homens que faziam sexo com homens de
melhores condições sócio-econômicas e os hemofílicos (Bastos et al., 1999).
Em anos posteriores à extensa disseminação inicial observada no segmento populacional
composto por homossexuais masculinos, verificou-se certa estabilização da epidemia da AIDS
nesse grupo de pessoas, principalmente entre os indivíduos pertencentes a estratos sócio-
econômicos mais privilegiados, onde ocorreu importante mobilização no sentido da realização de
práticas sexuais mais seguras (Parker, 1994).
Em contrapartida, a transmissão heterossexual do HIV aumentou consideravelmente,
principalmente a partir da década de 1990, ocasionando um crescimento substancial da
ocorrência de AIDS entre as mulheres.
Assim, a epidemia da AIDS passou nos últimos anos por processos de
“heterossexualização” e feminização”, sendo observado em anos mais recentes outras duas
*
Normalização segundo a revista AIDS and Behaviour (Anexo C)
3.3 Introdução*
O meu prazer,
agora é risco de vida.
Meu sex and drugs não tem nenhum rock 'n' roll.
Eu vou pagar a conta do analista,
pra nunca mais ter que saber quem eu sou”.
(Cazuza – Ideologia)
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
32
transformações: a “pauperização”, na qual populações em desvantagem sócio-econômica vêm
sendo mais atingidas e a “interiorização” da epidemia, que cada vez mais avança rumo aos
municípios de médio e pequeno porte do Brasil (Szwarcwald et al., 2000).
A transmissão do HIV a partir da transfusão de hemo-derivados, que chegou a
corresponder a 12% dos casos de AIDS registrados no Brasil até 1984, teve sua redução graças à
mobilização da sociedade civil, que denunciou a prática comercial das transfusões sanguíneas e
exigiu a instituição de programas para o seu controle e a fiscalização pelo Estado. Essa ação
resultou na obrigatoriedade da realização de testes anti-HIV em todas as atividades hemoterápicas
a partir de 1986, reduzindo consideravelmente a ocorrência de transmissão do HIV por esta via, a
qual passou a ser responsável por cerca de 0,3% dos casos registrados de AIDS em 2004 (Brasil,
2005).
Em meados da década de 1980, o segmento populacional constituído por usuários de
drogas injetáveis (UDI) passou a ocupar posição de destaque entre os casos de transmissão
sanguínea do HIV, chegando a ser responsável por cerca de 20% dos casos acumulados no Brasil
na década de 1990 (Fonseca e Castilho, 1997).
A sociedade brasileira reagiu com moralismo e hipocrisia ao aparecimento dos primeiros
casos de AIDS no país. No entanto, tal reação não foi exclusiva do Brasil, nem tampouco de
nossa época, pois assim também foi com a hanseníase e a peste bubônica na Idade Média e a
sífilis no início do século XX, que geraram quadros de pânico coletivo, punições injustas e falsas
atribuições das causas das doenças a grupos discriminados por suas crenças religiosas, origem
social ou por seus comportamentos “desviantes” (Pinel e Arivado, 1996).
Dessa forma, as explicações morais e também religiosas contribuíram para a ancoragem
da AIDS no transgressor representado pelo universo dos homossexuais, das prostitutas e dos
drogados, ou dos pecadores, dos promíscuos e dos imorais, reforçando a idéia estigmatizante de
grupos de risco presente no imaginário social desde o início da epidemia até os dias atuais (Paulilo
e Jeolás, 2005).
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
33
Embora os meios de transmissão do HIV sejam totalmente conhecidos e os métodos
para sua prevenção sejam bastante difundidos, observa-se ainda grande discriminação com
relação às pessoas com HIV/AIDS, não apenas por parte da sociedade, mas também por
profissionais de saúde (Paiva, 2000).
O risco da transmissão ocupacional do HIV, desde que medidas universais de
biossegurança sejam adotadas, é considerado praticamente inexistente (Klein et al., 1988; Scully e
Porter, 1989), de modo que a probabilidade de soroconversão após uma perfuração com agulha
contaminada por sangue de um paciente HIV soropositivo é considerado menor que 0,6%
(Centers for Disease Control and Prevention, 1985; Klein et al., 1988; Samaranayake et al., 1995).
Desde os primeiros anos da epidemia tem sido debatido intensamente o dever de médicos
e outros profissionais de saúde em prestar assistência à pacientes com HIV/AIDS. A Associação
Médica Americana e outras associações de profissões da área da saúde determinam que os
profissionais por elas representados têm a obrigação ética em administrar cuidados a estes
pacientes, desde que suas necessidades se enquadrem em suas áreas de competência (Bryan,
2002).
No Brasil, o Conselho Federal de Medicina, através da resolução CFM-1359/92, dispõe,
de acordo com o Art. 1º, que “o atendimento profissional a pacientes portadores da
imunodeficiência humana é um imperativo moral da profissão médica, e nenhum médico pode
recusá-lo”, o que é extensivo às instituições de qualquer natureza, pública ou privada (Silva,
1995).
Outras profissões da área da saúde, apesar de seus Códigos de Ética não possuírem
artigos específicos quanto ao atendimento de pessoas com HIV/AIDS, condenam práticas
discriminatórias a quaisquer pacientes.
O Código de Ética Odontológica dispõe que constitui infração ética “discriminar o ser
humano de qualquer forma ou sob qualquer pretexto” (Art. 7º) (Conselho Federal de
Odontologia, 2003). De acordo com o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, “o
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
34
profissional de enfermagem respeita a vida, a dignidade e os direitos da pessoa humana, em todo
o seu ciclo vital, sem discriminação de qualquer natureza” (Art.3º) (Conselho Federal de
Enfermagem, 2000).
Além dos Códigos de Ética das profissões de saúde que condenam práticas
discriminatórias no exercício profissional, todos os cidadãos brasileiros, sem exceções, têm
garantido o direito à assistência à saúde de forma universal e igualitária pela constituição federal
(Art. 196) (Brasil, 1999).
Ainda que a assistência à saúde de pacientes com HIV/AIDS tenha respaldo legal, ético e
biológico, observa-se ainda grande receio e indisposição de profissionais de saúde em prestar-lhes
atendimento, caracterizando-se uma atitude discriminatória, incoerente e, sobretudo, desumana.
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Proposição
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
36
O presente estudo teve como objetivo verificar e analisar a ocorrência de atitudes
discriminatórias na assistência à saúde de pessoas com HIV/AIDS, identificando os profissionais
de saúde envolvidos e os locais onde essas situações discriminatórias foram vivenciadas pelos
portadores do HIV.
3.4 Proposição
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Material e M
étodo
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
38
3.5.1. Caracterização e campo de realização da pesquisa:
Previamente à sua realização, a pesquisa foi avaliada e aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Araçatuba – UNESP, processo FOA 2005-02241.
Trata-se de uma pesquisa quantitativa, transversal descritiva, a qual, como o próprio nome
indica, é utilizada para descrever o mais detalhado possível uma realidade.
Segundo Szwarcwald et al. (2000), a disseminação da epidemia da AIDS no Brasil passa
por um processo de interiorização, privilegiando municípios predominantemente urbanos, que
tenham maior interação com outras localidades através de estradas e outras vias de acesso, o que
facilita o deslocamento populacional, da força de trabalho sazonal, e o transporte de cargas.
Assim, optou-se intencionalmente por quatro municípios para a realização dessa pesquisa, nos
quais essas características estão presentes, sendo: Araçatuba-SP, Birigui-SP, Uberlândia-MG e
Dourados-MS.
Para se ter acesso às pessoas com HIV/AIDS, optou-se por escolher uma Organização
Não Governamental de assistência a pessoas com HIV/AIDS (ONG/AIDS) de cada um desses
municípios, devido a maior facilidade em encontrá-las e também porque a abordagem aos
indivíduos nas próprias Unidades Básicas de Saúde poderia causar a inexatidão ou a omissão de
dados e a recusa de participação na pesquisa por conta de um eventual receio de represália por
parte dos profissionais das Unidades de Saúde.
3.5 Material e Método
"Quando eu estava no hospital de Boston, pensei muito e acabei descobrindo que ficar
calado me deixava ainda mais traumatizado. É uma situação ambígua, de esconde-
esconde. Mostrar aos outros que com AIDS pode-se continuar vivendo, trabalhando,
produzindo, me pareceu o caminho mais certo. Agora me sinto mais aliviado".
(Cazuza – Entrevista – 1989)
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
39
3.5.2. Participantes da pesquisa e instrumento de coleta de dados:
Todos os indivíduos assistidos pelas quatro ONGs/AIDS participantes da pesquisa
responderam a questionários auto-administrados (Anexo A) contendo perguntas abertas e
fechadas abrangendo o tema proposto.
Assim, a população estudada foi constituída por 68 pessoas com HIV/AIDS, sendo 16,
18, 19 e 15 indivíduos respectivamente das cidades de Birigui, Araçatuba, Uberlândia e Dourados.
Os sujeitos da pesquisa, de acordo com as normas da resolução 196, de 10 de outubro de
1996, do Conselho Nacional de Saúde, foram esclarecidos previamente que a participação na
presente pesquisa seria voluntária e que os dados obtidos seriam, posteriormente, divulgados em
publicações e reuniões científicas e, ainda, que suas identidades seriam mantidas em sigilo
absoluto.
3.5.3. Forma de análise dos resultados:
Utilizou-se o programa Epi-info 2000, versão 6.04 tanto para a entrada das informações e
montagem do banco de dados quanto para o processamento e análise estatística. Na associação
de variáveis utilizou-se o teste Exato de Fisher, adotando-se o nível de significância estatística de
5%.
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Resultados
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
41
A composição da amostra quanto ao gênero foi equivalente em dois municípios
(Araçatuba e Birigui), apresentando maior proporção do gênero masculino (63,2%) na cidade de
Uberlândia e maior prevalência do gênero feminino (73,3%) na cidade de Dourados. No entanto,
considerando-se a população total, observou-se uma distribuição homogênea quanto a essa
característica, sendo constituída em 51,5% por mulheres e em 48,5% por homens (Fig. 1).
Fig. 1 Distribuição percentual dos participantes da pesquisa de acordo com o gênero. Araçatuba-
SP, 2006
50%
50%
50%
50%
73,3%
26,7%
36,8%
63,2%
51,5%
48,5%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Araçatuba
(n=18)
Birigui
(n=16)
Dourados
(n=15)
Uberlândia
(n=19)
Total
(n=68)
Feminino Masculino
3.6 Resultados
"O que mais odeio é gente
complicada e preconceituosa, hipocrisia e ser
acordado. Nenhuma outra coisa consegue ser pior do que isso".
(Cazuza – Entrevista – 1989)
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
42
Com relação à idade, a população estudada apresentou até vinte anos (5,9%), de vinte e
um a trinta nos (26,5%), de trinta e um a quarenta anos (35,3%), de quarenta e um a cinqüenta
anos (25%) e de cinqüenta e um a sessenta anos (7,4%) (Fig. 2).
Fig. 2 Distribuição percentual dos participantes da pesquisa de acordo com a idade. Araçatuba-
SP, 2006
5,9%
26,5%
35,3%
25,0%
7,4%
Até 20 anos 21-30 anos 31-40 anos 41-50 anos 51-60 anos
Quanto à categoria de exposição, a relação heterossexual teve a maior prevalência nas
amostras de todos os municípios estudados assim como na população total, onde 47,1% das
pessoas adquiriram o HIV por essa via, seguido pela utilização de drogas injetáveis (UDI) (17,6%)
e relação homossexual (11,8%), sendo baixa a ocorrência do grupo de exposição “transmissão
vertical” (de e para o filho). Observou-se alta ocorrência da categoria “transfusão de sangue”
na cidade de Dourados (20%) (Fig. 3).
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
43
Fig. 3 Distribuição percentual das pessoas com HIV/AIDS de acordo com a categoria de
exposição. Araçatuba, 2006
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Araçatuba
(n=18)
Birigui
(n=16)
Dourados
(n=15)
Uberlândia
(19)
Total
(n=68)
Rel. Heterossexual Rel. Homossexual Transf. Sangue
Transm. Vertical UDI Não Sabe
Considerando-se o gênero, na população total, a categoria de exposição de maior
prevalência entre as mulheres foi a relação heterossexual (65,7%). entre os homens, a de maior
prevalência foi a utilização de drogas injetáveis (UDI) (33,4%), seguida pela relação heterossexual
(24,2%) e homossexual (24,2%) (Tabela 1).
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44
Tabela 1 Distribuição numérica e percentual das pessoas com HIV/AIDS segundo categoria de
exposição e gênero (n=68). Araçatuba, 2006.
Categoria de Exposição
Não Sabe
Rel.
Heteross.
Rel.
Homoss.
Transf.
Sangue
Transm.
Vertical
UDI TOTAL
Gênero
N % N % N % N % N %
N % N
%
Feminino
6 17,2
23 65,7 0,0 0,0 2 5,7
0 0,0
4 11,4
35
51,5
Masculino
3 9,1
8 24,2 8 24,2
2 6,1
1 3,0
11 33,4
33
48,5
Total 9 13,2
31 45,6 8 11,8
4 5,9
1 1,5
15 22 68
100
A ocorrência de discriminação por profissionais de saúde foi maior ou igual a 40% nas
amostras de todos os municípios estudados, assim como na população total, com exceção da
amostra de Uberlândia, que apresentou a menor ocorrência de discriminação, sendo de 21,1%
(Fig. 4).
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
45
Fig. 4 Distribuição percentual das respostas dos participantes da pesquisa segundo a experiência
de discriminação por profissionais de saúde. Araçatuba, 2006.
55,6%
44,4%
50,0%
50,0%
40,0%
60,0%
21,1%
78,9%
41,2%
58,8%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Araçatuba
(n=18)
Birigui
(n=16)
Dourados
(n=15)
Uberlândia
(n=19)
Total
(n=68)
Foram discriminados o foram discriminados
Na população total, 28 pessoas afirmaram ter sofrido discriminação por profissionais de
saúde, das quais 78,6% afirmaram ter vivenciado essas situações em serviços públicos de saúde,
14,3% no serviço particular e 2% afirmaram terem sido discriminadas em ambos os setores (Fig.
5).
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46
Fig. 5 Distribuição percentual das pessoas que foram discriminadas por profissionais de saúde,
segundo o local de ocorrência da discriminação (n=28). Araçatuba, 2006.
78,6%
14,3%
7,1%
Servo público Servo Particular Ambos
Dentre as vinte e oito pessoas que afirmaram ter sido discriminadas por profissionais de
saúde, vinte haviam vivenciado essa situação 1 vez, sete foram discriminadas 2 vezes e uma
experimentou essa situação 4 vezes. Portanto, foram referidas 38 situações discriminatórias, das
quais 34,2% foram praticadas por profissionais de enfermagem, 34,2% por cirurgiões-dentistas e
31,6% por médicos (Fig. 6).
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
47
Fig. 6 Distribuição percentual das situações discriminatórias (N=38) vivenciadas por pessoas com
HIV/AIDS segundo o profissional de saúde envolvido. Araçatuba, 2006.
34,2%
34,2%
31,6%
Cirurgião-Dentista Profissionais de Enfermagem Médicos
Na população estudada, observou-se maior porcentagem de pessoas com HIV/AIDS no
grupo com menos tempo de estudo (70,6%). O grupo de pessoas com 9 e mais anos de estudo
apresentou maior percepção de atitudes discriminatórias praticadas por profissionais de saúde
(55%), embora não sendo estatisticamente significante (p=0,179) (Tabela 2).
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
48
Tabela 2 Distribuição numérica e percentual das pessoas com HIV/AIDS segundo a escolaridade
e a ocorrência de discriminação (n=68). Araçatuba, 2006.
Já foi discriminado por profissionais de saúde?
Não Sim Total
Escolaridade
N % N % N %
0-8 anos de estudo 31 64,6 17 35,4 48 70,6
9 e + anos de estudo
9 45,0 11 55,0 20 29,4
Total 40 58,8 28 41,2 68 100,0
A ocorrência de discriminação por profissionais de saúde foi maior nos grupos de pessoas
que contraíram o HIV por meio de relação homossexual (50%), UDI (50%) e transfusão de
sangue (75%), sendo maior estatisticamente significante na categoria UDI quando comparada
com a categoria heterossexual (p=0,034) (Tabela 3).
Tabela 3 Distribuição numérica e percentual dos participantes da pesquisa de acordo com a
categoria de exposição e a ocorrência de discriminação (n=68). Araçatuba, 2006.
Categoria de Exposição
Não Sabe Rel Heteross.
Rel. Homoss.
Transf.
Sangue
Transm.
Vertical
UDI TOTAL
Ocorrência de
Discriminação
N % N % N % N % N % N % N
%
Não 6 75 22 71 4 50 1 25 1 100
6 37,5
40
58,8
Sim 2 25 9 29 4 50 3 75 0 0 10 62,5
28
41,2
Total 8 11,8
31 45,5 8 11,8
4 5,9 1 1,5
16 23,5
68
100
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
49
A maior parte da população estudada descobriu sua soropositividade para o HIV
menos de seis anos (58,8%), seguida pelo grupo de pessoas sabidamente portadoras do HIV de
7-12 anos atrás (23,5%) e mais de 13 anos (17,7%). A ocorrência de discriminação foi maior
no grupo populacional que tinha conhecimento sobre sua soropositividade mais tempo
quando comparado ao grupo de pessoas com diagnóstico do HIV mais recente (p=0,048) (Tabela
4).
Tabela 4 Distribuição numérica e percentual dos participantes da pesquisa de acordo com o
tempo de diagnóstico da soropositividade para o HIV e a ocorrência de discriminação.
Araçatuba, 2006.
Ocorrência de discriminação
Não Sim Total
Tempo de
diagnóstico HIV+
N % N % N %
0-6 anos 27 67,5 13 32,5 40 58,8
7-12 9 56,2 7 43,8 16 23,5
13-18 4 33,3 8 66,7 12 17,7
Total 40 58,8 28 41,2 68 1000
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Discussão
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
51
No Brasil, tem sido observado um crescimento substancial de casos da AIDS entre as
mulheres, ocasionado pelo aumento da transmissão heterossexual da doença. A razão da
freqüência de AIDS entre homens e mulheres que era de 26/1 em 1985 passou a ser de 3/1 em
1995, sendo atualmente de 1,5/1 (Brasil, 2005). Na população estudada observou-se uma
composição similar quanto ao gênero, onde 51,5% eram mulheres e 48,5% eram homens.
O processo de “heterossexualização” pelo qual vem passando a epidemia da AIDS
(Szwarcwald et al., 2000) foi confirmado na população estudada, onde a principal via de
transmissão do HIV foi a relação heterossexual (47,1%), apresentando-se similar aos dados
apresentados pelo Ministério da Saúde em relação ao total de casos registrados no país no
período de 1983-2005 (Brasil, 2005). No entanto, quanto às outras categorias de exposição,
observou-se maior porcentagem de casos devido a transfusões sanguíneas (5,7% entre as
mulheres e 6,1% entre os homens) e utilização de drogas injetáveis (33,4% entre os homens).
A ocorrência de discriminação na assistência à saúde de pessoas com HIV/AIDS foi
elevada (41,2%), tendo sido maior do que em estudos realizados por Schuster et al. (2005) (26%) e
Succi e Succi (2003) (20,7%). Considerando-se os municípios separadamente, observou-se menor
ocorrência de discriminação na amostra de Uberlândia-MG, onde as pessoas com HIV/AIDS
contam com atendimento especializado no Hospital de Clínicas de uma Universidade, o que
poderia explicar a menor experiência de situações discriminatórias por essas pessoas. Ainda
assim, a ocorrência de discriminação nessa cidade foi considerável (21,1%).
3.7 Discussão
E há tempos nem os santos têm ao certo a medida da maldade.
E há tempos são os jovens que adoecem.
Há tempos o encanto está ausente. Há ferrugem nos sorrisos.
E só o acaso estende os braços a quem procura abrigo e proteção”.
(
Renato Russo
Há tempos
)
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
52
A grande maioria das pessoas participantes desse estudo, que foram discriminadas por
profissionais de saúde, afirmou ter passado por essa situação no serviço público de saúde.
Embora o fato de a pesquisa ter sido realizada em uma ONG/AIDS possa ter contribuído para a
maior ocorrência de discriminação naquele setor da saúde, esse acontecimento chama a atenção
ao considerarmos o processo de pauperização pelo qual a epidemia da AIDS vem passando, onde
cada vez mais os tratamentos nesse setor serão requisitados. Assim torna-se evidente a
necessidade do direcionamento de estratégias de humanização na assistência aos portadores do
HIV principalmente no serviço público de saúde.
Os profissionais de saúde relacionados aos atos discriminatórios sofridos pelos
participantes da pesquisa foram os cirurgiões-dentistas (34,2%), os profissionais de enfermagem
(34,2%) e os médicos (31,6%). Jovic-Vranes et al. (2006) realizaram um estudo sobre o
comportamento de profissionais de saúde em relação ao atendimento de pessoas HIV positivo,
onde observaram que o direito de recusar um paciente com HIV/AIDS era requisitado por
cirurgiões-dentistas (17%), médicos (11%) e enfermeiros (9%), e que eram adotadas medidas
adicionais de biossegurança quando atendiam esses pacientes respectivamente por 83%, 75% e
88%. Essa prática é desnecessária, uma vez que a adoção de métodos universais de biossegurança
é seguramente suficiente para prevenção da transmissão ocupacional do HIV (Capilouto et al.,
1993; Gerberding et al., 1985; Verrusio, 1989;).
O estigma associado à idéia de que as pessoas com HIV/AIDS sejam provenientes de
populações marginalizadas, como homossexuais, e a crença de que a AIDS estaria relacionada à
promiscuidade sexual e a comportamentos ilegais como o uso de drogas, tem influenciado
negativamente a disposição de profissionais de saúde em atender esses pacientes (Massiah et al.,
2004).
Na população estudada observou-se maior ocorrência de situações discriminatórias na
assistência à saúde de pessoas com HIV/AIDS pertencentes à categoria de exposição UDI
quando comparado com a categoria heterossexual. Essa constatação pode ser explicada pela
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
53
maior dificuldade de acesso à saúde pelos usuários de drogas (Mawar et al., 2005; Samoilov e
Bangkok, 2004).
Alguns estudos demonstram a discriminação existente e persistente contra homossexuais
tanto na sociedade civil como em serviços assistenciais de saúde (Johnson et al., 2005; Kass et al.,
1992; Liu e Choi, 2006; Mawar et al., 2005). A porcentagem de indivíduos pertencentes à categoria
homossexual que sofreram discriminação foi maior comparada à categoria heterossexual. No
entanto, não houve associação estatisticamente significante.
Segundo Grzywacz (2000), a escolaridade apresenta-se como o componente mais
importante da condição sócio-econômica para os estudos de determinação dos comportamentos
relacionados à saúde, onde níveis elevados de escolaridade estão geralmente associados a
melhores condições de habitação, trabalho, renda e de posição sócio-econômica.
A prevalência da AIDS foi maior em pessoas com menos anos de estudo (70,6%),
corroborando dados de outros trabalhos que demonstram a maior ocorrência dessa doença em
grupos de pessoas de menor escolaridade (Fonseca et al., 2000, 2002; Brasil, 2004). No entanto,
vale ressaltar que pessoas com piores indicadores sócio-econômicos tendem a procurar mais
pelos apoios de ONGs, o que pode ter superestimado esse resultado (Silva, 2004). Não houve
associação estatisticamente significante entre o nível de escolaridade e a ocorrência de
discriminação, estando de acordo com pesquisa realizada por McCarthy et al. (1996), onde os
pesquisadores constataram não haver associação entre a experiência de discriminação sob a forma
de recusa de atendimento e características sócio-econômicas dos pacientes.
Na população estudada, observou-se que a maioria das pessoas tinha conhecimento de
sua soropositividade para o HIV há menos de seis anos. Houve associação entre a experiência de
situações discriminatórias praticadas por profissionais de saúde e o tempo de diagnóstico, onde a
experiência de situações discriminatórias foi maior no grupo de pessoas com conhecimento de
sua soropositividade para o HIV há mais tempo do que no grupo de pessoas sabidamente
portadoras do HIV menos tempo. Esse resultado confirma dados de pesquisa realizada por
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
54
Schuster et al. (2005), onde pessoas com diagnóstico mais recente do HIV sofreram menos
situações discriminatórias. No entanto, não é possível afirmar se as pessoas com HIV/AIDS com
diagnóstico mais recente sofreram menos discriminação porque a assistência à saúde dessas
pessoas melhorou nos últimos anos ou se isso é devido ao menor tempo hábil para que as
mesmas vivenciassem essas situações.
De qualquer modo, vários trabalhos recentes ainda demonstram os comportamentos
discriminatórios e preconceituosos de profissionais de saúde com relação ao atendimento de
pacientes com HIV/AIDS (Chen et al., 2004; Jovic-Vranes et al., 2006; Kermode et al., 2005; Succi
e Succi, 2003). Outros estudos apontam ainda a falta de informação e o desconhecimento dos
profissionais de saúde com relação à AIDS no que diz respeito à forma de contaminação e
potencial de transmissibilidade do HIV (Aisien e Shobowale, 2005; Juan et al., 2004), métodos de
biossegurança (Adebamowo, 2002; Oliveira et al., 2002) e noções éticas (Succi e Succi, 2003).
O receio das pessoas com HIV/AIDS de serem discriminadas é um dos principais fatores
responsáveis pela não revelação de suas condições sorológicas ao procurarem serviços de saúde.
Vários estudos demonstram que muitas pessoas portadoras do HIV não revelaram suas
soropositividades ao serem atendidas por cirurgiões-dentistas (Charbonneau et al., 1999; Giuliani
et al., 2005; Perry et al., 1993; Terry et al., 1994). Perry et al. (1993) demonstraram ainda que existe
uma maior tendência das pessoas com HIV/AIDS revelarem suas condições sorológicas para
médicos do que para cirurgiões-dentistas.
Dessa forma, é de fundamental importância que se atenda todo e qualquer paciente como
potencialmente infectado pelo HIV, adotando-se corretamente o protocolo de biossegurança
(Discacciati e Vilaça, 2001). Torna-se importante também que o relacionamento profissional-
paciente seja humanizado, baseado na sinceridade e confiança, favorecendo a realização do
tratamento e melhorando a qualidade de vida do paciente (Ramos e Alves, 2002).
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Conclusão
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
56
A ocorrência de atitudes discriminatórias na assistência à saúde de pessoas com
HIV/AIDS foi elevada, tendo sido praticadas por cirurgiões-dentistas, profissionais de
enfermagem e médicos. Na população estudada, a grande maioria das situações discriminatórias
vivenciadas ocorreu no serviço público de saúde.
Torna-se indispensável a instituição de programas orientando o atendimento a pessoas
com HIV/AIDS, principalmente no serviço público de saúde, visando, de forma pontual, a
diminuição da ocorrência de discriminação no atendimento a esses pacientes, o que refletirá
positivamente na qualidade de vida dos mesmos.
3.8 Conclusão
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
R
eferências
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
58
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Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Capítulo 2
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Análise das situações discriminatórias vivenciadas por pessoas
com HIV/AIDS na área da saúde: um estudo qualitativo
4 Capítulo 2
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Resumo
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
66
Desde o início da epidemia da AIDS, as pessoas com HIV são estigmatizadas, sofrendo
discriminação não na sociedade, como também em serviços assistenciais de saúde. Objetivou-
se analisar as situações discriminatórias na assistência a saúde de pessoas com HIV/AIDS. Foram
realizadas entrevistas semi-estruturadas individuais, após o consentimento livre e esclarecido, com
19 pessoas portadoras do HIV que afirmaram previamente já terem sofrido algum tipo de
discriminação por profissionais de saúde. Essas pessoas eram assistidas por ONGs/AIDS de
quatro municípios brasileiros. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas e
analisadas utilizando-se a análise de conteúdo. As atitudes discriminatórias ocorreram por meio
do atendimento diferenciado, recusa de tratamento ou pela utilização de medidas extras de
biossegurança, tendo ocorrido inclusive em instituições de ensino superior na área da saúde. É
necessária a adoção de estratégias para combater a ocorrência de tais atos objetivando-se a
humanização na assistência a saúde de pessoas com HIV/AIDS e a melhoria na qualidade de vida
desses pacientes.
4.1 Resumo
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Abstract
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
68
Since the beginning of the AIDS epidemic, the people living with HIV/AIDS were
estigmatizated suffering discrimination not only in the society, as well as in health care services. It
aimed to analyze the discriminatory situations in the assistance to the health of HIV-positive
individuals. It was carried out face to face semi-structuralized interviews with nineteen people
living with HIV/AIDS who had been discriminated by health care workers. These people were
attended by Not Governmental Organizations for AIDS (NGO/AIDS) from four brazilian
cities. The interviews were recorded and then transcribed and analyzed through the content
analysis. The discriminatory attitudes occurred through the differentiated attendance, refusal of
treatment or by the adoption of extra precautions measures, having also occurred in colleges with
courses in health area. The adoption of strategies to fight against the occurrence of such acts is
necessary aiming at human assistance to the health of HIV-positive patients and the
improvement in the life quality of these patients.
4.2 Abstract
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
I
n
t
r
o
d
u
ç
ã
o
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
70
i†
Os primeiros casos da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) foram
identificados em grandes cidades norte-americanas em 1981, onde se observou a ocorrência de
Sarcoma de Kaposi, Pneumonia por Pneumocistis Carinii e outras doenças oportunistas em
homossexuais masculinos jovens, previamente saudáveis
1
.
As investigações epidemiológicas dos casos seguintes levaram a crer que a AIDS estaria
relacionada não ao homossexualismo, como também à promiscuidade sexual e à utilização de
drogas injetáveis. O fato de estes comportamentos serem considerados inadequados pela
sociedade ocasionou a estigmatização dos pacientes com HIV/AIDS, tendo sido a doença
considerada inicialmente como “a peste gay” e como uma enfermidade que “só seria adquirida
por quem quisesse”
2-4
.
Outro fator também responsável pela estigmatização das pessoas com HIV/AIDS foi a
forma como a mídia abordou a epidemia em seu início. Em 1981, antes mesmo do registro do
primeiro caso da doença no país, a imprensa brasileira divulgava as primeiras matérias sobre o
“câncer gay”
5
. Nesse mesmo momento, a mídia introduziu noções discriminatórias na sociedade,
como a existência de grupos de risco (constituídos pelos transgressores, pecadores, promíscuos e
imorais) fortemente presentes no imaginário social no início da epidemia, deixando até hoje
impressões difíceis de serem removidas
6
.
Até mesmo em artigos de periódicos especializados de determinadas profissões da área de
saúde é possível perceber o sentimento de pânico quando a epidemia da AIDS era abordada,
levando-os à divulgação de conteúdos carregados de preconceito e discriminação, como a
Normalizado segundo a revista “AIDS Patient Care and STD” (Anexo D)
“É inadmissível que alguém sofra por
um vírus, uma doença, uma
enfermidade, e que, além disso, além de ter de enfrentar a morte,
ainda precise se esconder da sociedade”.
(Hebert de Souza)
4.3 Introdução*
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
71
orientação de identificação, durante a anamnese, dos pacientes pertencentes a “grupos de risco”,
a adoção de medidas de biossegurança com pacientes “suspeitos” e a restrição do atendimento a
pacientes HIV soropositivo a situações de urgência
7,8
.
De acordo com o sociólogo Hebert de Souza
9
, a dificuldade em se abordar a epidemia da
AIDS reside no fato de ela envolver três componentes extremamente complexos: o sexo, ao qual
a AIDS estaria relacionada de maneira muito direta; a moral, que é conseqüência de a doença
estar relacionada à sexualidade, ao comportamento sexual de cada um; e a morte, o medo de
morrer. O fato de a doença estar relacionada à questão do sexo e do homossexualismo revelaria
dois lados perversos: a repressão sexual e o moralismo, os quais levam “a dois subprodutos
extremamente complicados e danosos a qualquer sociedade humana, que é a criminalização de
um fenômeno e a marginalização das pessoas que são afetadas por uma doença”, onde a
preocupação excessiva sobre os comportamentos humanos ocasionaria o afastamento do
entendimento e tratamento da doença em si
9
.
A discriminação na assistência à saúde de pessoas com HIV/AIDS pode ocorrer pela
recusa de atendimento, pelo tratamento diferencial a esses pacientes, por meio da revelação da
condição sorológica para outras pessoas, pela isolação física dos mesmos não justificada
biologicamente e através do aconselhamento de intervenções que não seriam indicadas a outros
pacientes, como o aborto e a esterilização
10-14
. ainda a adoção de medidas diferenciadas de
biossegurança, uma forma de discriminação bastante peculiar e praticada por muitos profissionais
de saúde
15,16
.
Existem rios trabalhos que apontam comportamentos e atitudes discriminatórias de
profissionais de saúde com relação ao atendimento de pessoas com HIV/AIDS
17-20
. No entanto,
raros são os trabalhos que buscam o entendimento desse tema a partir da visão dos próprios
portadores.
Dessa forma, faz-se necessário analisar as atitudes discriminatórias de profissionais de
saúde com relação a pacientes HIV soropositivo, identificando e compreendendo a maneira
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
72
como estas ocorrem a partir da percepção dos próprios pacientes, para que assim, sejam gerados
dados que possam subsidiar a elaboração de estratégias eficazes para o seu controle.
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Proposição
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
74
O presente estudo teve como objetivo analisar as situações discriminatórias vivenciadas
por pessoas com HIV/AIDS na área da saúde, por meio dos relatos dos participantes da
pesquisa.
4.4 Proposição
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Material e M
étodo
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
76
4.5.1. Caracterização da pesquisa
Por se tratar de um tema bastante delicado, relacionado à intimidade de cada pessoa com
HIV/AIDS, optou-se pela realização de uma pesquisa qualitativa, a qual procura compreender os
fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo.
Para tanto, segundo Minayo
21
, a pesquisa qualitativa lida com um nível da realidade que não é
passível de quantificação, ou seja, ela se preocupa com o “universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos
que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis".
De acordo com Triviños
22
, a pesquisa qualitativa, na amostragem, não se preocupa com a
sua quantificação e, ao invés da aleatoriedade, decide intencionalmente, considerando uma série
de condições (sujeitos que sejam essenciais para o esclarecimento do assunto em foco, facilidade
para se encontrar a pessoa, tempo para as entrevistas) o tamanho da amostra.
4.5.2. O campo de realização da pesquisa:
A epidemia da AIDS no Brasil passa pelo processo de interiorização, rumo a cidades com
maior interação a outras localidades e facilidade para o deslocamento populacional
23
. Assim,
optou-se pela realização da pesquisa em municípios com essas características, sendo: Araçatuba-
SP, Birigui-SP, Uberlândia-MG e Dourados-MS.
Para se ter acesso aos portadores do HIV foi escolhida uma Organização Não-
Governamental de assistência a pessoas com HIV/AIDS (ONG/AIDS) de cada uma dessas
4.5 Material e Método
"Eu acho que a entrevista é uma maneira de você chegar ao
grande público, porque eu sempre adorei ler entrevistas dos
artistas que eu gosto, inclusive várias delas mudaram
completamente minha cabeça".
(Cazuza
Entrevista
1989)
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
77
cidades, pois assim haveria maior facilidade em encontrá-los, e também porque a abordagem aos
mesmos nas próprias Unidades Básicas de Saúde poderia causar a inexatidão ou a omissão de
dados e uma maior recusa de participação na pesquisa devido ao receio de sofrerem retaliações
impostas pelos profissionais de saúde das Unidades de Saúde.
4.5.3. Participantes da pesquisa:
A amostra da presente pesquisa foi constituída por 19 pessoas com HIV/AIDS que
afirmaram previamente ter sofrido discriminação por profissionais de saúde e que consentiram
em participar da pesquisa.
A fim de se identificar essas pessoas, todos os indivíduos assistidos pelas ONGs/AIDS
foram questionados se haviam sofrido algum tipo de discriminação praticada por profissionais
de saúde. As pessoas que responderam afirmativamente foram convidadas a participar da
pesquisa.
Os sujeitos da pesquisa, de acordo com as normas da resolução 196, de 10 de outubro de
1996, do Conselho Nacional de Saúde, foram esclarecidos previamente de que a participação na
presente pesquisa seria voluntária e que os dados obtidos seriam, posteriormente, divulgados em
publicações e reuniões científicas e, ainda, que suas identidades seriam mantidas em sigilo
absoluto.
A presente pesquisa teve como condições de inclusão na amostra o consentimento livre e
esclarecido dos participantes e a revelação prévia da condição sorológica ao vivenciarem as
situações discriminatórias ou o conhecimento prévio dos profissionais de saúde da
soropositividade dos pacientes por outros meios (cartão de encaminhamento, prontuários, etc.).
Teve como fatores de exclusão o não consentimento em participar da pesquisa e as situações
discriminatórias vivenciadas sem que a condição sorológica da pessoa fosse conhecida pelo
profissional de saúde.
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
78
4.5.4. Instrumentos de coleta de dados:
Para a coleta dos dados optou-se pela realização de entrevistas semi-estruturadas
individuais, norteadas por roteiro (Anexo B), pois este método valoriza a presença do
pesquisador e oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e
a espontaneidade necessárias, o que é especialmente importante na abordagem do tema em
questão
22
.
As entrevistas foram gravadas utilizando-se um aparelho gravador de áudio Panasonic
modelo RN-202, para que os relatos fossem posteriormente transcritos e analisados.
4.5.5. Análise dos resultados:
Para a análise dos dados coletados por meio das entrevistas, foi utilizada a análise de
conteúdo, a qual se presta ao estudo das motivações, atitudes, valores e crenças, contidas nas
mensagens. A análise de conteúdo é definida como “um conjunto de técnicas de análise das comunicações,
visando, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, obter indicadores
(quantitativos ou não), que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/ recepção
(variáveis inferidas) das mensagens”
24
.
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Resultados
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
80
Foram identificadas 28 pessoas que afirmaram ter sofrido discriminação por profissionais
de saúde, dentre as quais, 9 não aceitaram ser entrevistadas. Assim, foram entrevistadas 19
pessoas, sendo que 12 haviam vivenciado uma situação discriminatória, 4 haviam sido
discriminadas duas vezes, 1 foi discriminada três vezes e 2 vivenciaram quatro situações de
discriminação na área da saúde. Dessa forma, foram totalizados 31 relatos de situações de
discriminação praticadas por profissionais de saúde.
Aplicando-se a análise temática aos conteúdos dos relatos obtidos, foram determinadas
três unidades de registro, segundo as quais os relatos foram categorizados, sendo: a recusa de
atendimento, o atendimento diferenciado e a adoção de medidas extras de biossegurança.
A recusa de atendimento como forma de discriminação
Dentre as 31 situações de discriminação relatadas pelas pessoas entrevistadas, 12 foram
referentes a esta categoria.
Houve situações em que o tratamento é interrompido a partir do momento em que o
paciente revela a sua soropositividade para HIV. Nos relatos, algumas pessoas indignam-se pela
possibilidade de o profissional atender outros portadores do HIV sem ter conhecimento disso.
“(...) aí, começou a me dar dor de dente, eu fui procurar um dentista, aí eu cheguei num posto perto
da casa de recuperação que tinha, o homem [cirurgião-dentista] tava tratando tudo certinho dos meus dentes, aí,
na hora que ele foi mexer com, mexer com negócio de sangue, que ele ia arrancar com o buticão, que ele ia ponhá
pra arrancar com o buticão, eu falei pra ele que eu tinha, que eu era soropositivo. Eu falei: que eu sou
soropositivo. Aí, ele tirou a mão na hora, soltou o alicate assim [faz movimento de susto]. E ele falou: Então
você não pode ser atendido aqui não, você tem que ir em outro lugar [...]. E as pessoas que vão lá, que não revelam
4.6 Resultados
“Não esconda tristeza em mim
.
Todos se afastam quando o mundo está errado.
Quando o que temos é um catálogo de erros.
Quando precisamos de carinho, força e cuidado”.
(
Renato Russo
O l
ivro dos dias
)
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
81
que é um soropositivo? Trata sem saber. E é até mais perigoso. Agora eu pelo menos fui realista e falei pra ele, né.
E o outro que tem e nem fala nada. Ele trata, nem sabe e passa batido. Não é verdade?”
(D.A.L.A., 29, situação ocorrida há seis anos)
Em outras situações o atendimento é recusado tendo como justificativa a falta de horário
devido ao grande número de pacientes em tratamento (em uma clínica particular). Segundo o
relato a seguir, a pessoa discriminada, apesar da situação vivenciada, ressalta a sua atitude de
sempre revelar sua condição sorológica, mesmo tendo que sofrer as “conseqüências” de tal ato.
“Que nem uma dentista aqui perto, eu fui lá e falei minha situação, revelei minha situação, né [HIV+],
eu revelo pra qualquer um, onde eu for, pode ser público, particular, eu revelo sim, mas depois vêm as
conseqüências, né. Aí, ela disse que eu tinha que pegar um atestado com o médico, tal (...), eu fui, busquei, levei [o
atestado], levei pra ela, aí ela disse que não, que ela tinha muitos pacientes, mas eu logo deduzi que a causa foi
essa [ser HIV+], mas a gente tem que revelar, tem que revelar, mas sofre, né”.
(MCALA, 42 anos, situação ocorrida há 9 anos)
Em alguns relatos o atendimento é recusado até que por algum motivo o profissional vê-
se “obrigado” a atender o paciente.
“(...) quando eu cortei o braço, que tava sangrando muito, cortou um vasinho, eu fui até o pronto socorro,
eu peguei e falei pra enfermeira que eu tinha plaqueta baixa e não podia ficar sangrando, e ela pegou e perguntou
pra mim: - Ué, mas como você sabe que tem plaqueta baixa? E eu peguei e falei pra ela: - Porque eu sou portador
do vírus [HIV] e a proteção baixa e não estanca. E tava sangrando muito, eu tava ficando até meio tonto,
meio lido. E o médico não queria mexer, se minha mãe não fala de chamar a polícia, ele não queria costurar
meu braço e um ficava jogando pro outro, disse que tinha mudado o plantão, que um tinha passado pro outro, e
não sei o que, e eu sangrando, enquanto minha mãe o chegou e falou que ou ele mexia ou minha mãe ia
chamar a polícia, ele não costurou”.
(ASSB, 31 anos, situação ocorrida há 4 anos)
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
82
Em outras situações o profissional de saúde se quer fornece alguma justificativa para tal
atitude, limitando-se simplesmente a se “esconder” do paciente, o que revela uma total falta de
consideração e respeito à pessoa portadora do HIV.
“Eu deduzo assim que foi uma discriminação, porque eu preciso usar aparelho, né. E logo de imediato eu
entrei em contato com esse dentista, ele tirou um molde certinho da boca pra colocar o aparelho e ele mandou eu
voltar depois de uma semana (...), falei com a secretária, e a secretária toda vez que procurava ele, dizia que ele
não tava, e eu ficava na porta esperando, e eu via que ele tava lá dentro, e tava atendendo o pessoal. Então, é, é, eu
achei que foi um ato assim de discriminação, porque ele ficou sabendo que eu era soropositivo e ele não quis me
atender. No entanto, quando eu entrei, que não coloquei a situação [ser HIV+], ele me atendeu numa boa, depois
que eu falei pra ele que eu era soropositivo (...) ele continuou me atendendo, que ao voltar lá, o atendimento
não foi igual ao do primeiro dia. Acho que ele ouviu tudo o que ele tinha que ouvir pra poder disfarçar mais pra
frente e me dispensar, você entendeu?”.
(RCS, 31 anos, situação ocorrida há 2 anos e meio)
Foi relatada outra situação em que o profissional de saúde recusou-se a continuar o
tratamento do paciente HIV positivo, justificando tal decisão devido a reclamações de outros
pacientes, ao ficarem sabendo que o mesmo também prestava atendimento a portadores do HIV.
“(...) e esse camarada é um dentista da rede pública (...) e ele começou a tratar dos meus dentes tal, aí, um
belo dia ele chegou e falou pra mim: R. eu não quero tratar mais de você porque é o seguinte, algumas pessoas
vieram me falar aqui que você é portador e eles não querem vim tratar mais (...) então foi um choque, né. Um
negócio esquisito, você se sente assim, o chão meio treme, né, aquela coisa, pô, mas por quê? O atendimento não é o
mesmo pra cada um? O fato é que eu me senti muito mal naquela época”.
(RJLQ, 49 anos, situação ocorrida há 3 anos)
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
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Houve ainda, situações de discriminação em Faculdades de Odontologia, onde,
potencialmente, este problema poderia ser combatido. Justificou-se a recusa do atendimento
alegando-se a falta de condições técnicas e estruturais, tais alegações, muitas vezes estapafúrdias,
beiram o desrespeito não só à pessoa, como à sua capacidade inteligível.
“(...) teve uma vez também que eu fui [uma Faculdade de Odontologia], e eles alegaram pra mim que,
a partir do momento que eu tinha isso [AIDS], eles alegaram pra mim que eles não podiam mexer comigo ali,
porque ali não existia esterilização suficiente. então, até eu perguntei assim pra ele, falei assim: mas ué, então
eu corro o risco tanto de passar para uma outra pessoa, quanto de adquirir isso , foram lá, entraram num
conselho lá, conversaram lá, eles falaram pra mim que iam arrumar pessoas capacitadas para fazer meu
tratamento, e, retornaria a me chamar, isso até hoje, não me chamaram mais, isso faz uns dois anos, um ano e
meio mais ou menos”.
(A.S.S.B., 31 anos, situação ocorrida há dois anos)
O atendimento diferenciado como forma de discriminação
Das 31 situações discriminatórias relatadas pelas pessoas entrevistadas, 16 foram
referentes a esta categoria.
Em certas situações de atendimento diferenciado, relatos em que o profissional atende
o paciente HIV positivo de forma grosseira e se considerarmos o contexto, de forma desumana,
como na situação descrita a seguir, onde a pessoa relata uma situação ocorrida quando sua
esposa, também portadora, estava grávida do primeiro filho do casal.
“Então dessa parte eu acho que eu fui discriminado por causa das palavras dele. Ele sempre foi grosso,
sempre foi grosso, nunca foi hospitaleiro, nunca, nunca, nunca, sempre com estupidez, todo atendimento dele era
bruto. Ele falou de forma grosseira: - Do jeito que você ta aí, você nem vai ver seu filho nascer. Aí, passou o tempo,
encontrei com ele, e tive o prazer de falar que, que vi meu filho nascer sim”.
(PSFC, 33 anos, situação ocorrida há 6 anos)
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
84
De outro modo, deixar o atendimento de pessoas com HIV/AIDS para o último horário
do período, seria outro tipo de atendimento diferenciado a que essas pessoas são submetidas.
“Eu cheguei e fui fazer o ultra-som. eu entreguei o papel pra ela (onde constava ser HIV+). ela
pegou, escreveu meu nome, mandou eu assinar, eu falei pra ela: - Que número eu sou? E ela falou: - A
quarta (...). o médico chegou quinze pras oito, foi entrando as pessoas que estavam , entrou a primeira,
depois entrou a segunda, entrou a terceira. Aí eu falei pra minha irmã: - Bom, já que entrou a terceira, eu vou ser
a quarta, né(...) ela (a enfermeira) pegou saiu e falou assim pra mim: - Oh, Dona J. eu vou passar essa
mulher aqui na sua frente porque ela ta com um probleminha. Mas eu pensei, porque era uma pessoa de idade,
falei tudo bem. Aí, passou aquela, depois passou a outra, passou a outra (...), passou tudo, eu fui a última,
porque eram dez pessoas, fui a número dez”.
(JES, 53 anos, situação ocorrida há 1 ano e meio)
Em certas situações, um atendimento diferenciado, grosseiro, pode ter conseqüências
comprometedoras para o estado de saúde das pessoas com HIV/AIDS, que estão abaladas
emocionalmente por ter a doença.
“Eu fiquei um bom tempo sem ir no médico, por causa que o médico um dia falou alto comigo. Bateu na
mesa e falou alto comigo, porque eu precisei de um atestado dele pra levar no INSS. E aí, a partir daquele
momento, fiquei no canto chorando, chorando, falei pro meu marido, nunca mais enquanto este médico estiver
aqui, eu não vou voltar mais aqui. Aí, eu não fui mais no médico, com isso fui me sentindo pior, os exames eu não
fiz mais (...)
(EC, 35 anos, situação ocorrida há 1 ano)
A adoção de medidas extras de biossegurança como forma de discriminação
Dentre as 31 situações de discriminação relatadas pelas pessoas entrevistadas, 3 foram
referentes a este tipo de categoria.
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
85
No relato a seguir, o atendimento ao portador de HIV foi evitado ao máximo até o
momento em que o profissional realizou o procedimento utilizando vários pares de luvas.
“Quando a minha mãe chegou, falou que ele ia mexer ou chamar a polícia, ele até colocou três ou quatro luvas
na mão, entendeu? Costurou que nem costura porco, mas, mas costurou”.
(ASSB, 31 anos, situação ocorrida há 4 anos)
Em outra situação, houve relatos referentes à adoção de medidas extras de biossegurança
(no caso a utilização de mais pares de luvas) que, quando percebidas pelos portadores do HIV,
ocasionaria certa agressão emocional em pessoas já abaladas psicologicamente.
“(...) ela não me tratou mal não, ela ficou com os olhos arregalados e, e colocou três luvas. Então, é como eu te
falei, se fosse alguém que não tivesse um preparo psicológico quanto à doença que tem, ficaria até chateado, né. Isso
daí psicologicamente afeta quem não ta preparado, né. Pôxa ela colocou três luvas, é um negócio chato”.
(MMM, 37 anos, situação ocorrida há 3 anos)
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Discussão
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
87
O estudo qualitativo das situações discriminatórias vivenciadas por pessoas HIV
soropositivo é importante, como foi dito anteriormente, pois possibilita compreender o
contexto no qual as mesmas ocorreram e verificar o seu impacto no cotidiano dos portadores do
HIV.
Dentre as formas de discriminação relatadas pelas pessoas com HIV/AIDS, a de maior
ocorrência foi o atendimento diferenciado por profissionais de saúde (16 situações).
As situações narradas demonstram um atendimento desrespeitoso, desumano e diferente
do que seria feito com outros pacientes. Em estudo realizado por Schuster et al
25
, foi observado
que esse tipo de discriminação foi também o de maior prevalência, onde os portadores do HIV
haviam sido atendidos de forma desconfortável e tratados com inferioridade. O mesmo autor
chama a atenção para a possibilidade de que atendimentos diferenciados, como aquele em que o
profissional de saúde age de forma grosseira (caso relatado em nosso estudo), possam ser mal
interpretados visto que esse profissional pode apresentar tal comportamento com todos pacientes
(HIV positivo ou não). No entanto, se for este o caso, a conduta de tal profissional não deixa de
estar equivocada pelo fato de ele agir assim com todos, pelo contrário, ele atende de forma
inadequada uma gama ainda maior de pessoas.
Esse atendimento diferenciado é de difícil compreensão, pois para tanto teríamos que
encontrar os motivos de tais profissionais para adotarem essas atitudes. Não podemos esquecer
que os profissionais de saúde, essencialmente, são produtos da sociedade, e, de modo geral,
4.7 Discussão
Pra que este beijo agora?
Por que meu amor este abraço?
Um dia você vai embora sem sofrer os tormentos que eu passo.
De que vale sonhar um minuto se a verdade da vida é ruim?
Se existe um preconceito muito forte separando você de mim”.
(Cazuza – Preconceito)
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
88
adquirem dela, durante a sua formação, suas crenças e seus valores, podendo dessa forma, herdar
as idéias estigmatizantes com relação aos portadores do HIV.
A ocorrência de recusa de atendimento relatada pelas pessoas HIV soropositivo esteve
relacionada diretamente às suas condições sorológicas, tendo ocorrido inclusive a interrupção do
tratamento logo após os pacientes revelarem sua soropositividade para o HIV aos profissionais
de saúde.
Panebianco et al
26
ao analisarem as queixas de violações de direitos humanos junto ao
CONASIDA (Centro Nacional para la Prevención y el Control del VIH/SIDA – México),
verificaram que a maioria das reclamações era devido à recusa de atendimento (41%).
Por meio dos relatos foi possível observar que a grande maioria das situações
discriminatórias representadas pela recusa de atendimento foi atribuída aos cirurgiões-dentistas,
cujas atividades apresentavam maior risco de contaminação por estarem mais expostas ao sangue.
Diferentemente dos médicos, onde se observou, através dos relatos, que suas atividades estavam
relacionadas, quase em sua totalidade, a consultas clínicas, portanto, não expostos ao sangue do
paciente. Esse fato talvez explique a maior ocorrência de discriminação devido a atendimentos
diferenciados envolvendo esses profissionais e a recusa de atendimento envolvendo aqueles
profissionais.
Da mesma forma, Kochen et al
27
estudando a percepção de pessoas HIV positivo sobre o
atendimento recebido por profissionais de saúde, observaram que atos discriminatórios, como a
recusa de tratamento, estiveram mais relacionados a cirurgiões-dentistas do que a médicos.
Vale ressaltar que esse tipo de discriminação pode ser percebido de forma equivocada,
como no caso de encaminhamento para centros mais preparados para o atendimento de
portadores do HIV ser entendido como recusa de atendimento
25
. Analisando os relatos, esse tipo
de falsa discriminação ocorreu uma única vez na amostra estudada, onde a paciente, ao procurar
atendimento em uma unidade de saúde quando a epidemia estava no início, foi encaminhada para
um centro de saúde que estaria mais bem preparado para o seu tratamento.
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
89
A alta carga preconceituosa existente na sociedade civil em relação a portadores do HIV é
bem conhecida
28-30
. O receio de perder outros pacientes por ficarem sabendo que determinado
profissional de saúde atende também portadores do HIV é uma das justificativas para estes
profissionais recusarem pessoas com HIV/AIDS
31,32
. Essa situação foi relatada por uma pessoa
nesse estudo, embora o atendimento estivesse sendo realizado no serviço público de saúde.
Segundo estudo de Giuliani et al
33
, o receio de ter o tratamento recusado ou um
atendimento diferenciado, juntamente com o medo de outras pessoas ficarem sabendo de sua
soropositividade para o HIV, levaram os pacientes com HIV/AIDS a não revelarem a sua
condição sorológica para seus cirurgiões-dentistas. Esse fato é preocupante, pois pode trazer
conseqüências prejudiciais ao paciente durante o seu tratamento. Ao mesmo tempo expõe a
importância da adoção de medidas universais de biossegurança por profissionais de saúde no
atendimento de todos os pacientes. É ainda preocupante, uma vez que alguns profissionais de
saúde são negligentes quanto à isso
34,35
.
Algumas pessoas entrevistadas demonstraram certa indignação ao terem o tratamento
recusado, argumentando que o profissional de saúde muitas vezes atende um paciente HIV
positivo sem ter conhecimento disso, pois muitas pessoas não revelam sua soropositividade pelos
motivos descritos anteriormente ou ainda não sabem que estão infectados pelo HIV. Posto isto, é
inevitável a formulação de uma questão: afinal, é preferível que o profissional de saúde atenda a
esses pacientes sabendo que são portadores do HIV, portanto tomando a devida atenção e
adotando adequadamente métodos universais de biossegurança, ou que o profissional de saúde
atenda-os sem saber de suas condições sorológicas (em sua “abençoada” ignorância) criando-se
um ambiente de falsa segurança, favorecendo um atendimento “desatencioso”, onde as medidas
de biossegurança são mais facilmente negligenciadas?
Outra forma de discriminação relatada pelas pessoas com HIV/AIDS foi a adoção de
medidas extras de biossegurança ao serem atendidas. Alguns trabalhos envolvendo profissionais
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
90
de saúde comprovam essa atitude quando o paciente a ser atendido é portador do HIV ou é
pertencente a algum “grupo de risco”
15,16,36,37
.
A adoção de medidas extras de biossegurança ocorreu por meio da utilização de mais
pares de luvas durante o atendimento. Esse mesmo comportamento foi observado em
profissionais de saúde por Adebamowo et al
36
que utilizavam 2 pares de luvas ao atenderem
pacientes de “alto risco” (46,1%) ou com HIV/AIDS (12,8%).
Essa atitude seria dispensável considerando-se o baixo potencial de transmissibilidade
ocupacional do HIV, onde medidas universais de biossegurança adotadas corretamente são
suficientes para a sua prevenção
38-41
.
Segundo relatos das pessoas com HIV/AIDS, as situações discriminatórias teriam
ocorrido inclusive em instituições de ensino (Faculdades de Odontologia) por meio da recusa de
atendimento por docentes. Esse fato chama a atenção e torna-se bastante preocupante, pois
agindo dessa forma, os professores, talvez inconscientemente, ensinam a partir de seu exemplo,
os alunos a terem a mesma atitude, o que vai realimentar o universo de profissionais de saúde que
discriminam esses pacientes. Assim, este fato nos convida a refletir sobre a conduta e as
orientações de professores aos graduandos de cursos da área de saúde em relação ao atendimento
a portadores do HIV. De fato, alguns estudos m demonstrado a existência de preconceito e
discriminação em cursos de graduação dessa área
32,42
.
A percepção de atitudes discriminatórias praticadas por profissionais de saúde pode
desestimular os pacientes HIV soropositivo a continuar o tratamento, aderir a programas de
tratamentos ou a retornar às consultas
43,44
. Esse fato foi comprovado por relato de uma paciente
nesse estudo, que interrompeu o tratamento com anti-retrovirais após ter sido discriminada pelo
seu médico. Os resultados de uma pesquisa envolvendo pacientes com HIV/AIDS de uma
clínica pública demonstraram que o bom relacionamento médico-paciente tende a promover a
maior aderência ao tratamento com anti-retrovirais, por outro lado, relacionamentos de baixa
qualidade tendem a impedir que isso ocorra
45
.
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
91
É importante sabermos de que forma as situações de discriminação na área da saúde são
vivenciadas pelos pacientes com HIV/AIDS para que possamos compreendê-las melhor e
combatê-las com maior precisão e eficácia. Por meio dos relatos foi possível perceber que a
maioria das situações discriminatórias ocorreu em serviços públicos de saúde, o que pode sugerir
que estratégias para o controle das mesmas sejam instituídas primeiramente nesse setor. Tais
estratégias deveriam contemplar desde palestras informativas sobre meios de contaminação e
potencial de transmissibilidade do HIV em serviços assistenciais de saúde aorientações sobre
ética, abordagem e humanização na relação profissional/paciente.
Tendo-se constatado a ocorrência de recusa de atendimento de pessoas com HIV/AIDS
em Faculdades da área da saúde, torna-se inegável a necessidade da discussão sobre o tema no
ambiente universitário para que medidas oportunas sejam adotadas localmente de acordo com a
necessidade e a viabilidade de cada realidade. O que não se pode admitir é que tais situações
continuem ocorrendo nesse ambiente norteado por princípios éticos, conhecimento científico e
pelo compromisso com a comunidade.
Por fim, deve-se ter em mente que todos somos frutos de uma sociedade e dela
adquirimos certos valores e crenças, nem sempre desejáveis. Tal herança muitas vezes persiste e
resiste entre alguns profissionais de saúde, mesmo que estes passem por capacitação técnico-
científica em instituições de ensino superior. Assim, não há como negar que, enquanto a epidemia
secundária da estigmatização existir de forma marcante entranhada na sociedade, o combate à
discriminação de pessoas com HIV/AIDS na área da saúde e em todas outras áreas será muito
mais árduo, traumatizante e demorado.
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Conclusão
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
93
As situações discriminatórias vivenciadas pelas pessoas com HIV/AIDS ocorreram sob a
forma de recusa de tratamento, atendimento diferenciado e adoção de medidas extras de
biossegurança, tendo ocorrido inclusive em instituições de ensino superior. Faz-se necessária a
adoção de estratégias que visem o controle da ocorrência dessas situações nos serviços de saúde e
também em Faculdades de cursos da área da saúde, buscando um atendimento adequado e
humanizado. É necessária também a adoção de estratégias junto à sociedade civil que visem
diminuir a estigmatização imposta aos portadores do HIV, o que vai colaborar não com a
melhoria na qualidade de vida de pessoas HIV soropositivo como também facilitará a adoção de
medidas preventivas pela sociedade, minimizando a falsa idéia da existência de grupos de risco.
4.8 Conclusão
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
R
eferências
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
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Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
Anexos
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
100
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO
CÂMPUS DE ARAÇATUBA - FACULDADE DE ODONTOLOGIA - PROGRAMA DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA PREVENTIVA E SOCIAL
Identificação (letras iniciais do nome):
Idade: Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
Estado Civil: Ocupação/Profissão:
Religião: Cidade:
1. De acordo com as categorias usadas pelo IBGE, qual é a que descreve melhor a sua cor?
A) Branco B)Pardo C)Preto D) Índio E)Amarelo F) Não sei
2. Até que ano você estudou?
3. Há Quanto tempo você freqüenta a ONG?______________________________________
4. Há quanto tempo você descobriu que estava infectado pelo HIV?
_________________________________________________________________________
5. De que maneira você acredita ter contraído o HIV?
A) Relação homossexual D) Transfusão de sangue
B) Relação heterossexual E) De mãe para o filho
C) Utilização de drogas injetáveis F) Não sei
6. Você já sofreu discriminação por profissionais de saúde?
( ) Não ( ) Sim. Quantas vezes?______________________________________________
7. Qual ou quais foram os profissionais de saúde?_____________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
8. Foi no serviço de saúde:
( ) Público ( ) Particular ( ) Em ambos
A
NEXO A
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
101
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
CÂMPUS DE ARAÇATUBA - FACULDADE DE ODONTOLOGIA - PROGRAMA DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA PREVENTIVA E SOCIAL
Roteiro de entrevista
Identificação: Cidade:
1. Quais as principais dificuldades enfrentadas pelo paciente HIV+ com relação à saúde pública?
2. Você acredita ter o mesmo acesso e assistência à saúde que outros cidadãos? Por quê?
3. Você sofreu algum tipo de discriminação ao procurar algum profissional de saúde? Por
qual(is) profissional(is) de saúde? Há quanto tempo ela ocorreu?
4. A discriminação pela qual você passou ocorreu no serviço de saúde público, particular ou em
ambos?
5. De que (quais) forma(s) você foi discriminado? Relate o(s) casos.
6. Por que você acha que foi discriminado pelo(s) profissional(is) de saúde?
A
NEXO B
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
102
Author Instructions AIDS and Behavior
Seth C. Kalichman, Ph.D.
Center for HIV Prevention & Intervention
2006 Hillside Road, Unit 1248
University of Connecticut
Storrs, CT 06269
1. Manuscripts should be submitted to the Editor through Springer’s Editorial Manager peer
review system at: http://aibe.edmgr.com
2. Submission is a representation that the manuscript has not been published previously and is
not currently under consideration for publication elsewhere. A statement transferring copyright
from the authors (or their employers, if they hold the copyright) to Springer will be required
before the manuscript can be accepted for publication. The Editor will supply the necessary
forms for this transfer. Such a written transfer of copyright, which previously was assumed to be
implicit in the act of submitting a manuscript, is necessary under the U.S. Copyright Law in order
for the publisher to carry through the dissemination of research results and reviews as widely and
effectively as possible.
3. Type double-spaced on one side of 8 ½ × 11-inch white paper using generous margins on all
sides, (including copies of all illustrations and tables). 4. A title page is to be provided and should
include the title of the article, authors name (no degrees), authors affiliation, and suggested
running head. The affiliation should comprise the department, institution (usually university or
company), city, and state (or nation) and should be typed as a footnote to the authors name. The
suggested running head should be less than 80 characters (including spaces) and should comprise
A
NEXO C
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
103
the article title or an abbreviated version thereof. For office purposes, the title page should
include the complete mailing address, telephone number, fax number, and email address of the
one author designated to review proofs.
5. An abstract is to be provided, preferably no longer than 150 words.
6. A list of 4-5 key words is to be provided directly below the abstract. Key words should express
the precise content of the manuscript, as they are used for indexing purposes.
7. All sections should carry headings (such as INTRODUCTION, METHODS, RESULTS,
DISCUSSION, CONCLUSIONS, etc.), typed flush left. All acknowledgments (including those
for grant and financial support) should be typed in one paragraph (so-headed) on a separate page
that directly precedes the References section.
8. Illustrations (photographs, drawings, diagrams, and charts) are to be numbered in one
consecutive series of Arabic numerals. The captions for illustrations should be typed on a
separate sheet of paper. All illustrations must be complete and final, i.e., camera-ready.
Photographs should be large, glossy prints, showing high contrast. Drawings should be high
quality laser prints or should be prepared with india ink. Either the original drawings or good-
quality photographic prints are acceptable. Artwork for each figure should be provided on a
separate sheet of paper. Identify figures on the back with authors name and number of the
illustration. Electronic artwork submitted on disk should be in the TIFF or EPS format (1200 dpi
for line and 300 dpi for halftones and grayscale art). Color art should be in the CYMK color
space. Artwork should be on a separate disk from the text, and hard copy
must
accompany the
disk.
9. Tables should be numbered (with Roman numerals) and referred to by number in the text.
Each table should be typed on a separate sheet of paper. Center the title above the table, and type
explanatory footnotes (indicated by superscript lowercase letters) below the table.
Mestrado – Ricardo Takeda Lelis – UNESP - 2006
104
10. List references alphabetically at the end of the paper and refer to them in the text by name
and year in parentheses. Where there are three or more authors, only the first author’s name is
given in the text, followed by et al. Where there are two authors, the word "and" (not an
ampersand) should be used in the text. References should include (in this order): last names and
initials of all authors, year published, title of article, name of publication, volume number, and
inclusive pages. The style and punctuation of the references should generally conform to APA
style, but note the use of "and" (not "&") - illustrated by the following examples:
Journal Article
Kalichman, S. C., Heckman, T., and Kelly, J. A. (1996). Sensation seeking as na explanation for
the association between substance use and HIV-related risky sexual behavior. Archives of Sexual
Behavior, 25, 141--154.
Book
Loue, S. (1995). Legal and ethical aspects of HIV-related research. New York: Plenum Press.
Contribution to a Book
Cohen, J. B., and Alexander, P. (1995). Female sex workers: Scapegoats in the AIDS epidemic. In
A. O’Leary and L. S. Jemmott (Eds.), Women at risk: Issues in the primary prevention of AIDS (pp. 195-
-218). New York: Plenum Press.
11. Footnotes should be avoided. When their use is absolutely necessary, footnotes should be
numbered consecutively using Arabic numerals and should be typed at the bottom of the page to
which they refer. Place a line above the footnote, so that it is set off from the text. Use the
appropriate superscript numeral for citation in the text.
12. In general, the journal follows the recommendations of the Publication Manual of the American
Psychological Association, and it is suggested that contributors refer to this publication.
13. After a manuscript has been accepted for publication and after all revisions have been
incorporated, manuscripts should be submitted to the Editor’s Office as hard copy accompanied
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105
by electronic files on disk. Label the disk with identifying information - software, journal name,
and first authors last name. The disk
must
be the one from which the accompanying
manuscript (finalized version) was printed out. The Editor’s Office cannot accept a disk
without its accompanying, matching hardcopy manuscript.
14. The journal makes no page charges. Reprints are available to authors, and order forms
with the current price schedule are sent with proofs.
15. Springer Open Choice. In addition to the normal publication process (whereby an article is
submitted to the journal and access to that article is granted to customers who have purchased a
subscription), Springer now provides an alternative publishing option: Springer Open Choice. A
Springer Open Choice article receives all the benefits of a regular subscription-based article, but
in addition is made available publicly through Springer’s online platform SpringerLink. To
publish via Springer Open Choice, upon acceptance please visit
www.springeronline.com/openchoice to complete the relevant order form and provide the
required payment information. Payment must be received in full before publication or articles will
publish as regular subscription-model articles. We regret that Springer Open Choice cannot be
ordered for published articles.
INSTRUCTIONS FOR BRIEF REPORTS
AIDS and Behavior accepts Brief Reports of soundly designed research studies that are of
specialized interest or can be considered preliminary findings. An author who submits a Brief
Report must agree not to submit the full report to another journal. To ensure that a Brief Report
does not exceed the available journal pages (approximately 4 pages), the text of the paper should
not exceed 14 pages using one inch margins all around and a font size of 12 point. The Abstract
should be limited to 100 words. References should be limited to no more than 12 and there
should be no more than one table or one figure.
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106
AIDS Patient Care and STDs
Manuscripts must be submitted online using the following url:
http://mc.manuscriptcentral.com/aidspatientcare
In addition to the electronic submission, please supply one hard copy to Dr. Jeffrey Laurence,
Laboratory for AIDS Virus Research, Weill Medical College of Cornell University, 411 East 69
Street, New York, NY 10021.
Please read all the instructions to authors before submitting.
Manuscript Submission and Copyright Agreement Form
The Copyright Agreement form (available from web site at
http://www.liebertpub.com/media/content/transfer_of_copyright.pdf.) should be submitted once
your paper has been accepted for publication. Manuscripts cannot be published without this form.
The corresponding author is responsible for obtaining signatures of coauthors. Authors not
permitted to release copyright must still return the form signed under the statement of the reason for
not releasing the copyright. Upon acceptance of your paper, please fax the Copyright Agreement
form to 914-740-2108.
Preparation of Manuscript
Include a running title of about 45 characters. An abstract of not more than 250 words, which
should be self-explanatory without reference to the text should also be prepared. The abstract should
not contain subheadings nor specific citations to the literature. Main subject headings should be
centered in all capital letters. Secondary headings should be flush left-hand margin initial cap (first
word only) italics. Tertiary headings should be flush left-hand margin initial cap (first word only)
bold, followed immediately by text.
A
NEXO D
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107
Text
Use only standard abbreviations, which can be found in the AMA’s Manual for Authors & Editors. At
first usage, spell out terms and give abbreviations in parentheses. Thereafter, use only abbreviations.
It is not necessary to spell out standard units of measure, even at first usage. Use generic names for
drugs if possible. If you wish to use a proprietary drug name the first time it appears, use the generic
name followed by the proprietary name, manufacturer, and city in parentheses.
References
References must be numbered consecutively as they are cited in the text using superscript numbers
after the period. References appearing for the first time in tables and figures must be numbered in
sequence with those cited in the text where the table or figure is mentioned. Use journal
abbreviations as provided by Medline, National Library of Medicine. List all authors when there are
six or less. When there are more than six, list the first three, followed by et. al. If references to
personal communications or unpublished data are used, they are not to be in the list of references.
Instead, they should be referred to in the text in parentheses. (F.P. Hazeltine, personal
communication). Include among the references papers accepted but not yet published; designate the
journal and add "In Press." Please refer to the AMA’s Manual for Authors & Editors or a previous
issue of the Journal for assistance with the preparation of references.
Letters to the Editor
Letters should be written as a continuous narrative, without abstract or subheadings. There is no
word limit for Letters, but they are generally limited to three printed pages. There is a two figure
and/or table limit, and a maximum of ten references.
Reprint Address
Following the references, provide an "Address reprint requests to:" section that includes the name
and complete address of the person to whom reprint requests should be sent. An e-mail address may
also be included if desired.
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Legends
Legends for illustrations may be entered when individual files are uploaded or as a separate file. In
the legend, provide explanations for any abbreviations, arrows, etc. on the art work. If the illustration
is taken from a copyrighted publication, permission must be obtained and credit given in the legend.
Tables
Tables should be double-spaced, each as a separate file, and provide a title for each table. Cite tables
in sequence in the text. Explain abbreviations used in the body of the table in footnotes. If the table
is taken from a copyrighted publication, permission must be obtained and credit given in a footnote.
Illustrations
Cite figures consecutively in the manuscript within parentheses. Example: These keratotic areas can
be confused with condyloma (Fig. 8A). The Journal publishes all illustrations in black and white.
Requests for color may be submitted; the cost will be incurred by the authors. Please contact
Publisher for color cost. Electronic submission of art is acceptable with the following caveats:
• Black and white line illustrations should be submitted at 600 DPI.
• Halftones and color should be submitted at a minimum of 300 DPI.
• Save art as either TIFF or EPS files. Color art must be saved as CYMK—not RGB.
Do NOT submit PowerPoint or Excel files. Adobe is the software of choice.
Permissions
The author must obtain permission to reproduce figures, tables, and text from previously published
material. Written permission must be obtained from the original copyright holder (generally the
publisher, not the author or editor) of the journal or book concerned. An appropriate credit line
should be included in the figure legend or table footnote, and full publication information should be
included in the reference list. Written permission must be obtained from the author of any
unpublished material cited from other institutions. Please include copies of all permission letters
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obtained. All permissions’ listings must be shown in the manuscript; they cannot be entered on
proofs.
Reprints
Reprints may be ordered by using the special reprint form that will accompany the proofs. Once
page proofs are received by the corresponding author, they should be read carefully and returned
promptly to the publisher with the author’s approval indicated by initialing. Reprints ordered after
the issue is printed will be charged at a substantially higher rate.
Publisher
AIDS Patient Care and STDs
is published by Mary Ann Liebert, Inc., 140 Huguenot Street, 3rd
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