Não, Snr. Senador, não somos, graças a Deus, nenhuns rebeldes. Não é nas
nossas fileiras que se encontram esses homens de que falia a Sagrada
Escriptura, que desprezam a autoridade constituída, e blasphemam a
majestade. Ninguém n’este, mundo, ainda menos a Santa Sé Apostólica, nos
pode levar a commeter crime de rebeldia. A Igreja Santa, de que somos
Ministros, inspira-nos, pelo contrário, o maior horror a esse crime igualmente
condenado por toas as leis divinas e humanas [...] Reconhecemos e
respeitamos a legitima autoridade civil da nção Brazileira a que pertencemos,
o sumettemo-nos docilmente a tudo o que essa autoridade determina dentro da
esphera de suas atribuições. Damos todos os dias a nossa pátria nossos suores,
os esforços do nosso zelo, as solicitudes, fadigas sacrifícios mais penosos de
nosso Apostolado, a palavra santa que conforta e moralisa o povo, os
Sacramentos que regeneram e santificaram os costumes. Damos-lhes todos os
dias as orações e as lagrimas que prorompem de nosso coração magoado,
vendo as injustiças que a opprimem, a desmoralisação que a corrompe, os
perigos que a ameaçam, e sobretudo esse esforço supremo, e desesperado que
agora se está fazendo para arrancar-lhe do coração a fé Catholica, a fé que
ungiu este Brazil no berço, que o baptisou com o nome glorioso de Terra da
Santa Cruz e, única lhe assegura ainda todas as condições de vitalidade, todas
as garantias de futuro. Este somos, Snr. Senador. Se é isto o que se entende
por cidadãos rebeldes [...] o Governo civil não pode obrigar os Bispos a
apostar de sua fé, fazendo-sos admitir que deve desobedecer ao Papa, quando
é de fé Catholica que todos os Christãos devem obediência ao Vigário de Jesus
Christo[...]
274
Os padres do Pará ficaram ao lado de seu Bispo negando-se a reconhecer a vacância,
chegando a fazer uma Assembléia do clero paraense para protestar contra a prisão
275
.
Manifestações populares também aconteceram em várias localidades da Diocese do Pará. O
Papa Pio IX se posicionou sobre a Questão Religiosa, se colocando de forma solidária ao
lado de Dom Macedo, o que expressou em carta dirigida ao cabido do Pará de 25 de maio
de 1875
276
. E Dom Macedo em um Breve conforta também o seu clero.
274
COSTA, Dom Antônio de Macedo. Carta do Excelentíssimo Bispo do Pará ao Excelentíssimo Senador
Ambrósio Leitão da Cunha. 31 de julho de 1873, p. 4-6.
275
A Assembléia do Cabido declarou que continuava a reconhecer Dom Macedo como seu bispo ordinário.
“O Clero paraense protesta contra esse ato de violência preponderante e audaz usurpação da autonomia e
independência da Igreja, e declara alto e bom som que não se manchará com o crime de apostasia,
desrespeito os interditos e suspensões canonicamente impostas pelo digno e ilustrado Bispo desta Diocese”.
Belém, 8 de setembro de 1875. LUSTOSA, Dom Antônio. Dom Macedo... 1992, p. 257. Queremos deixar
registrado que entre esses padres estavam os do Amazonas que se colocaram ao lado de Dom Macedo, entre
eles Raimundo Amâncio e Félix da Cruz Dácia.
276
Resumo do Breve de Pio IX: 1º Chefe da cristandade, tendo a solicitude de todas as Igrejas, sente os males
de todos, porque vê quase por toda parte a guerra feita pelos ímpios à religião; 2º declara ainda uma vez o
Sumo Pontífice que a seita maçônica é infensíssima inimiga da fé católica, é filha de Satanaz, tendo
assoberbado os governos, é a causa da perdição das almas e da horrível perseguição que sofremos; 3º Pio IX
alegra-se com a firmeza de seus amados Filhos, assegura-nos a vitória da fé, louva o clero paraense por seu
zelo na defesa dos direitos da Igreja, exorta-o a ficar firme no seu posto de honra e aconselha a oração por
intercessão da Imaculada Mãe de Deus; 4º O Pastor universal declara que a maçonaria reúne em si a malícia
de todas as seitas antigas, não podendo haver ordem, paz e tranqüilidade, enquanto ela subsistir no mundo e
dominar os governos; 5º Precisamos do auxílio sobrenatural para vencer esta malvada seita, compêndio de
todos os erros, heresias e impiedades, a qual será aniquilada pela Santíssima Virgem, a Imaculada Maria, Mãe
de Deus. LUSTOSA, Dom Antônio. Dom Macedo... 1992, p. 318.
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