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ESPECIFICIDADE HOSPEDEIRA E ANÁLISES MORFOMÉTRICAS
DE COCHONILHAS DO GÊNERO Planococcus (HEMIPTERA:
PSEUDOCOCCIDAE)
LILIAN ROBERTA BATISTA CORREA
2008
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LILIAN ROBERTA BATISTA CORREA
ESPECIFICIDADE HOSPEDEIRA E ANÁLISES MORFOMÉTRICAS
DE COCHONILHAS DO GÊNERO Planococcus (HEMIPTERA:
PSEUDOCOCCIDAE)
Dissertação apresentada à Universidade Federal
de Lavras como parte das exigências do
Programa de Pós-graduação em
Agronomia/Entomologia, área de concentração
Entomologia Agrícola, para obtenção do título de
“Mestre”.
Orientadora
Prof.ª Dra. Brígida Souza
LAVRAS
MINAS GERAIS - BRASIL
2008
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Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos da
Biblioteca Central da UFLA
Correa, Lilian Roberta Batista.
Especificidade hospedeira e análises morfométricas de cochonilhas do
gênero Planococcus (Hemiptera: Pseudococcidae) / Lilian Roberta Batista
Correa. – Lavras: UFLA, 2008.
77 p. : il.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Lavras, 2008.
Orientadora: Brígida Souza.
Bibliografia.
1. Cochonilha-branca. 2. Morfologia. 3. Hospedeiro. I. Universidade
Federal de Lavras. II. Título.
CDD – 595.754044
LILIAN ROBERTA BATISTA CORREA
ESPECIFICIDADE HOSPEDEIRA E ANÁLISES MORFOMÉTRICAS
DE COCHONILHAS DO GÊNERO Planococcus (HEMIPTERA:
PSEUDOCOCCIDAE)
Dissertação apresentada à Universidade Federal
de Lavras como parte das exigências do
Programa de Pós-graduação em
Agronomia/Entomologia, área de concentração
Entomologia Agrícola, para obtenção do título de
“Mestre”.
APROVADA em 23 de fevereiro de 2008.
Dr. Ernesto Prado EPAMIG/FAPEMIG
Dra. Lenira V. C. Santa-Cecília IMA/EPAMIG
Dr. Alcides Moino Júnior UFLA
Prof.ª Dra. Brígida Souza
UFLA
(Orientadora)
LAVRAS
MINAS GERAIS – BRASIL
Ao Cristo Jesus, fonte de misericórdia.
À Nossa Senhora, Rainha dos Anjos.
Por abençoarem o pão nosso de cada dia e a luz de toda manhã!
AGRADEÇO
AGRADEÇOAGRADEÇO
AGRADEÇO
Aos meus queridos pais, Álvaro e Alice, por serem, simplesmente, os
alicerces de minha vida.
Aos meus irmãos, Rogério e Rodrigo, pelo apoio de sempre.
DEDI
DEDIDEDI
DEDICO
COCO
CO
Os países em desenvolvimento têm duas opções: a ciência ou a miséria.
Bernardo Houssay
“Não vos inquieteis, pois, com o dia de amanhã: o dia de
amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o
seu cuidado.”
(Mateus 6, 34)
“O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano.”
Isaac Newton
AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal de Lavras (UFLA), pela oportunidade concedida para
realização do curso de Mestrado em Agronomia/Entomologia, e em especial ao
Departamento de Entomologia.
À Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
(EPAMIG/CTSM/EcoCentro), pela oportunidade de realização dos trabalhos
científicos.
Ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), pela concessão da bolsa de estudos.
Ao Consórcio Brasileiro de Pesquisas e Desenvolvimento do Café
(CBP&DCafé), pelo financiamento deste trabalho.
Ao Instituto de Investigaciones Agropecuarias (INIA, Chile), pela contribuição
nas preparações das cochonilhas provenientes de videira.
À professora Dra. Brígida Souza, pela orientação de forma segura e agradável, e
pela bondade.
À pesquisadora Dra. Lenira V. C. Santa-Cecília, pelo apoio, carinho e
oportunidade.
Ao pesquisador Dr. Ernesto Prado, pelas importantes sugestões na elaboração
desta dissertação e grande auxílio nos experimentos.
Aos professores do Departamento de Entomologia, pelos ensinamentos, em
especial César Freire Carvalho e Luis Cláudio Paterno.
Ao professor Alcides Moino Júnior, pela participação na banca de avaliação
desta dissertação.
À amiga Fabiana Ribeiro (EPAMIG-CTSM), pela prestatividade e preciosa
ajuda nos experimentos.
Aos colegas da EPAMIG-CTSM, em especial Claudinha, Daniel, Marcinho,
Dona Maritza, Patrícia, Ester e Marçal, pelos momentos alegres no cafezinho.
Ao pesquisador Júlio César Souza (EPAMIG-CTSM), pelo apoio e incentivo.
Aos funcionários do Departamento de Entomologia, pela prestatividade.
À estagiária do laboratório, Ana Luiza, pela ajuda valiosa nos trabalhos.
Aos amigos de curso Heisler Gómez (Guatemala), Cleidson Soares e Iuri
Montandon, pela amizade, boa convivência e momentos de lazer.
Aos amigos de Departamento, Beth, Michelle, Eliana (Lia), Melissa, Luis
Carlos, Bruno Freitas e Marcos Magalhães.
Às amigas da “República Curva di Rio”: Belzinha, Michelle, Selma e Aline,
pela amizade, apoio e pelos momentos felizes. E especialmente à Belzinha, pela
ajuda na formatação da dissertação.
Às grandes amigas Renatinha (eterna companheira), Regina e Simone.
Aos estimados amigos Elton Visioli, Luciano Veiga Cosme e Fabiana Akemi,
que mesmo a distância torcem por mim.
Aos preciosos amigos Paulo Roberto Hardoim e Jean Patrick Bonani.
Aos meus padrinhos, Izabel e Pedro.
A todos os meus familiares que, de alguma maneira, me incentivaram nessa
caminhada.
E a todos que, de alguma forma, contribuíram para a conquista desta etapa de
minha vida.
Muitíssimo obrigada!!
SUMÁRIO
RESUMO ......................................................................................................... i
ABSTRACT.................................................................................................... ii
CAPÍTULO 1..................................................................................................1
1 INTRODUÇÃO GERAL ...............................................................................1
2 REFERENCIAL TEÓRICO...........................................................................3
2.1 Taxonomia e caracterização morfológica das cochonilhas............................3
2.1.1 Superfamília Coccoidea............................................................................3
2.1.2 Família Pseudococcidae............................................................................5
2.1.3 Gênero Planococcus Ferris, 1950............................................................10
2.1.4 Planococcus citri (Risso, 1813)..............................................................13
2.1.5 Planococcus minor (Maskell, 1897)........................................................14
2.2 Aspectos bioecológicos de P. citri e P. minor............................................15
2.2.1 Descrição da biologia e ciclo de vida......................................................15
2.2.2 Ocorrência e plantas hospedeiras............................................................18
2.2.3 Hábitos e comportamento.......................................................................19
2.2.4 Comportamento alimentar ......................................................................21
2.3 Importância como insetos-praga................................................................21
2.4 Influência do alimento na biologia dos insetos herbívoros..........................24
2.5 Seleção de hospedeiros pelas cochonilhas..................................................25
2.6 Especificidade de hospedeiros...................................................................27
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................29
CAPÍTULO 2................................................................................................37
1 RESUMO ....................................................................................................37
2 ABSTRACT ................................................................................................38
3 INTRODUÇÃO...........................................................................................39
4 MATERIAL E MÉTODOS..........................................................................40
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................45
6 CONCLUSÕES...........................................................................................55
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................56
CAPÍTULO 3................................................................................................58
1 RESUMO ....................................................................................................58
2 ABSTRACT ................................................................................................59
3 INTRODUÇÃO...........................................................................................60
4 MATERIAL E MÉTODOS..........................................................................62
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................64
6 CONCLUSÕES...........................................................................................73
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................74
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................77
i
RESUMO
CORREA, Lilian Roberta Batista. Especificidade hospedeira e análises
Morfométricas de Cochonilhas do gênero Planococcus (Hemiptera:
Pseudococcidae). 2008. 77p. Dissertação (Mestrado em Agronomia.
Entomologia) Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.
1
Objetivou-se com este trabalho determinar a especificidade de
hospedeiros de cochonilhas do gênero Planococcus por meio de estudos
biológicos, bem como o conhecimento da identidade das mesmas por meio de
análises morfométricas. Para os estudos morfológicos os espécimes (fêmeas
adultas) foram coletados em lavouras de cafeeiro, em plantas de cacau e em
vinhedos e, em seguida, preparados em lâminas. As análises foram efetuadas de
acordo com a metodologia proposta por Cox e Freeston (1985), que se baseia em
atribuição de notas para caracteres morfológicos. Para os estudos biológicos as
cochonilhas foram obtidas de plantas de cacau, lavoura de café e mudas de
citros. Ovos foram transferidos individualmente para placas de Petri contendo
discos foliares de cacau, ca e citros, os quais foram suspensos sobre uma
lâmina de ágar-água a 1% e, mantidos em câmaras climatizadas reguladas a 25 ±
1ºC, 70 ± 10% UR e 12 horas de fotofase. As cochonilhas procedentes de
cafeeiros de Jaguaré, ES apresentaram características de P. citri, e aquelas de
cafeeiros de Cachoeiro do Itapemirim, ES de P. minor. A população oriunda de
cacaueiros apresentou-se como P. minor e os espécimes provenientes de videira
apresentaram características correspondentes a P. citri. Todos os caracteres
estudados, em uma análise isolada, apresentaram sobreposição de valores em
função da origem hospedeira e geográfica dos espécimes, de modo que a
separação entre P. minor e P. citri somente foi possível pela nota final (score).
Nos ensaios biológicos os discos foliares de café se apresentaram como os mais
satisfatórios para o desenvolvimento das cochonilhas, uma vez que, de forma
geral, promoveram a redução do período de ninfa de fêmeas e machos e, ainda,
permitiram uma maior longevidade desses insetos. Os maiores índices de
mortalidade foram obtidos quando as cochonilhas foram criadas no substrato
cacau, independente da planta hospedeira da qual foram originalmente coletadas,
e quando mantidas em citros, oriundas de insetos coletados em plantas de café.
De uma maneira geral, as populações oriundas de cacaueiro e cafeeiro se
desenvolvem melhor em café, e aquelas provenientes de citros, em café e citros.
1
Orientadora: Brígida Souza – UFLA.
ii
ABSTRACT
CORREA, Lilian Roberta Batista. Host specificity and morphometric
analyses of aealybugs of the Genus Planococcus (Hemiptera:
Pseudococcidae). 2008. 77p. Dissertation (Master in Agronomy. Entomology)
– Federal University of Lavras, Lavras, MG
1
The aim of this work was to determine the host specificity of mealybugs
genus Planococcus. Biological and morphometric studies were done. For the
morphological studies, the specimens (adult females) were collected in coffee
tree crops, in cocoa plants and in vineyards and, prepare don slides. The
morphologic analyses were performed according to the methodology proposed
by Cox and Freeston (1985). For the biological studies, the mealybugs were
obtained from cocoa plants, coffee crop and citrus seedlings. Eggs were
transferred singly to Petri dishes containing leaf disks of cocoa, coffee and
citrus. Those leaf disks were kept on a 1% water-agar and, kept in acclimatized
chambers regulated at 25 ± 1ºC, 70 ± 10% RH and 12 h photophase. The
mealybugs coming from coffee trees showed the following characteristics of P.
citri (Jaguaré, ES), and of P. minor (Cachoeiro do Itapemirim, ES), from cocoa
trees, they presented as being P. minor and the specimens coming from vine
presented characteristics corresponding to P. citri. The separation between P.
minor and P. citri was only possible for the score and all the traits studied, in an
isolated analysis, presented superposition of values in related the origin of the
specimens. In the biological assays, the leaf disks of coffee presented themselves
as the most satisfactory to the development of mealybugs, since, in a global way,
it reduced the period of nymph of females and males and further, it allowed a
longer longevity of those insects. The highest mortality rates were obtained
when mealybugs were reared on the cocoa substrate, independent of the host
plant from which they were originally collected, and when kept on citrus, from
insects collected on coffee plants. In general, the populations from cocoa tree
and coffee tree developed better on coffee and from citrus, on coffee and citrus.
1
Adviser: Brígida Souza – UFLA.
1
CAPÍTULO 1
1 INTRODUÇÃO GERAL
A agricultura moderna está envolvida por um modelo altamente
dependente de insumos externos e pressionada por margens de lucro cada vez
mais estreitas. Deste modo, o uso de produtos fitossanitários de forma incorreta
no controle de insetos tem gerado desequilíbrios ecológicos, desencadeando
surtos de pragas secundárias e ressurgência de pragas, além de um aumento
significativo no custo de produção agrícola (Primavesi, 1994).
Assim, o setor agrícola caminha para uma tendência de busca de uma
agricultura sustentável, que envolva o manejo eficiente dos recursos disponíveis,
mantendo a produção em níveis necessários para satisfazer a crescente
população mundial, conservando os recursos naturais (FAO, 1989).
Dessa maneira têm-se buscado meios alternativos para o controle de
pragas, como o biológico, sendo que uma das etapas básicas para implantação de
um programa é a identificação correta do inseto praga. Por exemplo, em muitas
partes do mundo, espécies locais de Planococcus, as quais são
morfologicamente muito semelhantes à Planococcus citri (Risso, 1813), têm
sido confundidas com esta espécie. Tal confusão pode dificultar as pesquisas
relacionadas aos agentes de controle biológico, uma vez que os himenópteros
parasitóides dessas cochonilhas distinguem entre as diferentes espécies, e
medidas de controle podem vir a fracassar quando outros parasitóides são
introduzidos (Cox, 1981).
Assim ocorre com a espécie Planococcus minor (Maskell, 1897), que é
muito semelhante a P. citri e, da qual, é difícil de ser distinguida. Segundo
Santa-Cecília et al. (2007), estas espécies podem ser encontradas na mesma
planta hospedeira, além de causarem danos similares atacando as raízes e a parte
2
aérea (rosetas) do cafeeiro. Devido a estes fatores, existe certa confusão com
relação à sua presença ou não em cafeeiros e se somente uma ou ambas as
espécies estão presentes na planta. Estas espécies têm sido relatadas também em
cacau podendo existir especificidade de hospedeiros.
Tal situação é bastante complexa, tanto que, em estudos realizados por
Santa-Cecília et al. (2002), verificou-se que, em uma mesma região cultivada
com cafeeiros no Estado do Espírito Santo, foram identificadas cochonilhas das
duas espécies, P. citri e P. minor.
A identificação das duas espécies do gênero Planococcus tem se
mostrado difícil por se tratar de espécies crípticas (sibling species). A
possibilidade de existir uma especificidade, total ou parcial, das espécies
colonizando cafeeiro, citros e cacau poderia contribuir para o esclarecimento
desta questão. De acordo com Santa-Cecília et al. (2002), a realização de
levantamentos e estudos taxonômicos é necessária para o estabelecimento de
programas de controle, sobretudo o biológico, devido à especificidade que
podem apresentar alguns grupos de inimigos naturais como parasitóides e
entomopatógenos.
Diante da importância desses insetos como praga em diversas plantas
cultivadas, este trabalho teve por objetivos determinar a especificidade de
hospedeiros de cochonilhas do gênero Planococcus por meio de estudos
biológicos, bem como o conhecimento da identidade das mesmas através de
estudos morfológicos e análises morfométricas.
3
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Taxonomia e caracterização morfológica das cochonilhas
2.1.1 Superfamília Coccoidea
As cochonilhas (scale insects) pertencem à Ordem Hemiptera,
Subordem Sternorryncha e Superfamília Coccoidea (Gullan & Kosztarab, 1997),
a qual inclui mais de 7700 espécies compreendidas em 28 famílias (Gullan e
Martin, 2003; Ben-Dov et al., 2007).
Freqüentemente a Superfamília Coccoidea é dividida em dois grupos
menores e informais, os archaeococcóideos e os neococcóideos (Kosztarab e
Kózar, 1988; Gullan & Martin, 2003), os quais são caracterizados,
respectivamente, pela presença ou ausência de espiráculos abdominais (Miller &
Kosztarab, 1979).
Os archaeococcóideos compreendem as cochonilhas da família
Margarodidae em geral, sendo este grupo às vezes dividido em duas ou mais
famílias (Kosztarab & Kózar, 1988), abrangendo 80 gêneros e 600 espécies. Os
neococcóideos constituem a maioria das cochonilhas compreendendo todas as
outras famílias, sendo as três mais numerosas: Diaspididae (cochonilhas de
carapaça, com cerca de 2400 espécies), Pseudococcidae (cochonilhas-
farinhentas, com cerca de 2000 espécies) e Coccidae (cochonilhas de carapaça,
com mais de 1000 espécies) (Gullan & Martin, 2003).
Os coccóideos diferem muito dos outros hemípteros sendo que a
maioria, geralmente, apresenta formas que se assemelham às partes de suas
plantas hospedeiras, e muitas características destes insetos têm sido interpretadas
como adaptações para o modo de vida sedentário como parasitas de plantas. As
fêmeas dos coccóideos podem ser ornamentadas com uma variedade de ceras, as
quais podem se assemelhar a estrelas, camafeus, conchas de ostra, sementes e
outras formas. Estes insetos ocorrem em quase todos os hábitats botânicos,
4
desde tundras a os trópicos, e podem ser encontrados em folhas, ramos,
troncos e raízes de plantas, podendo, ainda, induzir várias formas de galhas
(Miller & Kosztarab, 1979).
As cochonilhas prosperam sobre plantas de importância econômica
sendo, geralmente, consideradas como pragas, e muitas espécies têm sido bem
estudadas. Entretanto, a identificação desses insetos é muito difícil, pois a
maioria apresenta tamanho reduzido (menos que cinco milímetros) e as espécies
intimamente relacionadas podem ser superficialmente similares. Uma
identificação precisa depende de preparações microscópicas e familiaridade com
características cuticulares muito pequenas, que são distinguidas sob preparação
microscópica (Gullan & Kosztarab, 1997).
Historicamente, a classificação das cochonilhas tem sido baseada quase
que exclusivamente na morfologia de fêmeas adultas, embora exista um sistema
baseado na estrutura do lábio. Para propósitos de identificação, uma
classificação baseada na morfologia de fêmeas adultas é mais prática, porém as
classificações deveriam também levar em consideração características dos
machos adultos, das ninfas, citologia e biologia (Miller & Kosztarab, 1979;
Williams, 1991).
5
2.1.2 Família Pseudococcidae
À família Pseudococcidae pertencem as cochonilhas chamadas de
farinhentas (mealybugs), sendo a segunda maior família dos Coccoidea, com
cerca de 2000 espécies e mais de 270 gêneros (Gullan & Martin, 2003; Ben-Dov
et al., 2007). Em âmbito mundial, depois da família Diaspididae, é o segundo
grupo de cochonilhas de maior importância econômica como praga de diversas
espécies vegetais (Granara de Willink, 1991).
Têm sido reconhecidas entre três e cinco subfamílias de Pseudococcidae
em diferentes trabalhos científicos publicados. Entretanto, Downie & Gullan
(2004), após estudos filogenéticos baseados na seqüência de DNA, propuseram
as seguintes subfamílias: Rhizoecinae, Phenacoccinae e Pseudococcinae.
As cochonilhas-farinhentas são insetos pequenos (0,5 a 8,0 mm) e com
corpo delicado, e esse nome comum deriva da secreção de cera branca,
pulverulenta ou farinhenta que cobre o corpo de ninfas e fêmeas adultas da
maioria das espécies (Downie & Gullan, 2004; Williams & Granara de Willink,
1992). Somente as espécies que o adaptadas para viver em locais protegidos,
tais como galhas, não possuem ou têm reduzida a quantidade de secreção
farinhenta (Miller, 1991). A margem do corpo desses insetos freqüentemente
possui uma série de prolongamentos laterais de cera, segmentalmente arranjados
e geralmente mais proeminentes na parte posterior (Kosztarab & Kozár, 1988).
As secreções são formadas pela mistura de três tipos de cera e outras
substâncias, incluindo lipídios e resinas (Waku & Foldi, 1984). A função destas
secreções de cera é proteger as cochonilhas contra a perda excessiva de água
(dessecação), condições de excesso de umidade (chuvas), ataque de inimigos
naturais (como, por exemplo, patógenos) e, até mesmo, exercer função sensorial
(Cox & Pearce, 1983).
As cochonilhas dessa família apresentam um grande dimorfismo sexual.
Os machos adultos, se presentes, são de vida curta e não se alimentam, pois têm
6
o aparelho bucal não funcional e frágil (Miller, 1991; Williams, 1991). São
diminutos e tipicamente alados e, embora bastante comuns, são raramente
observados (Cox, 1983). Eles têm o corpo distintamente dividido em cabeça,
tórax e abdome, e são dotados de apenas um par de asas desenvolvidas, sendo
que as posteriores são reduzidas a hâmulo-halteres (Williams, 1991).
As fêmeas adultas são ápteras e sedentárias, assemelhando-se às formas
imaturas, e variam no comprimento do corpo de 0,4 a 8,0 mm, dependendo da
espécie (Kosztarab & Kozár, 1988; Williams, 1991). Apresentam o corpo de
consistência frágil, com a forma ovóide alongada ou arredondada. Sobre a
superfície dorsal pode ser vista a segmentação do corpo, porém não se nota uma
diferenciação entre cabeça, tórax e abdome. Sem dificuldades, em quase todas as
espécies é fácil observar um par de antenas e três pares de pernas (Castillo &
Bellotti, 1990; Ramos, 2003).
Individualmente, as fêmeas adultas da mesma espécie podem variar em
tamanho de acordo com as condições ambientais sob as quais elas se
desenvolvem, e a forma do corpo parece estar relacionada com o hábitat, sendo
mais característico da espécie do que do gênero (Cox, 1987).
A família Pseudococcidae pode ser reconhecida pela presença de alguns
ou de todos os seguintes caracteres das fêmeas adultas: ostíolos dorsais, circulus
ventrais, cerários marginais, dutos tubulares internos achatados ou planos, mas
nunca em forma de taça, e a presença de poros triloculares pelo menos na
superfície dorsal (Williams, 1991).
Embora a cabeça (região cefálica) se encontre intimamente fusionada ao
protórax, pode-se diferenciar certas características e algumas estruturas
correspondentes a essa área (Ferris, 1961; Ramos, 2003). As antenas têm de seis
a nove artículos, mas, às vezes, podem ser reduzidas, sendo empregadas para o
reconhecimento de gêneros e amesmo para a separação de espécies (Ferris,
1961).
7
O aparelho bucal é opistognata, claramente dirigido posteriormente em
direção ao abdome (Snodgrass, 1935), e do tipo sugador labial tetraqueta.
Apresenta peças bucais adaptadas para perfurar o tecido vegetal vivo e sugar o
alimento na forma líquida, constando de dois pares de estiletes bucais e uma
cobertura protetora formada pelo lábio (Chandler & Watson, 1999).
O tórax apresenta três segmentos, cada um com um par de pernas, as
quais são ausentes apenas em algumas espécies, com um único segmento tarsal e
sempre com garras simples. Os espiráculos, como em todos os outros Coccoidea,
são representados somente por dois pares torácicos entre as bases das pernas.
Poros translúcidos freqüentemente encontram-se presentes sobre as pernas
posteriores (Ferris, 1961; Williams & Granara de Willink, 1992; Ramos, 2003).
Nas fêmeas adultas, o abdome é do tipo deprimido e formado por oito
segmentos, sendo somente o primeiro visível dorsalmente (Ramos, 2003).
Ventralmente entre o terceiro e quarto segmentos abdominais encontra-se o
circulus, uma estrutura que, provavelmente, se trata de um órgão adesivo
(Williams & Granara de Willink, 1992).
O oitavo segmento abdominal, em geral, forma os lóbulos anais,
localizados de cada lado do anel anal, os quais variam muito quanto ao
desenvolvimento e esclerotização entre as espécies. Em cada lóbulo encontra-se
uma seta apical e, ocasionalmente, uma região esclerotizada ventral bem
definida chamada de barra anal (Chandler & Watson, 1999). O ânus está
geralmente localizado no ápice do abdome, ocasionalmente no dorso ou muito
raramente no ventre e, em geral, está circundado pelo anel anal, formado por
duas fileiras de células e seis setas (Cox, 1987).
Uma das estruturas mais características dos insetos da família
Pseudococcidae é a presença de dois pares de ostíolos dorsais, sendo um par
localizado na cabeça e o outro no sexto segmento abdominal (Ferris, 1961).
Suspeita-se que sua função esteja relacionada com a liberação de substâncias
8
defensivas, pois quando molestadas, as cochonilhas abrem o ostíolos e liberam
uma secreção líquida (Cox, 1987). Williams (1978) comparou essa estrutura aos
sinfúculos dos afídeos.
Outra característica bem distintiva dos pseudococcídeos são os cerários,
que normalmente ocorrem em número de 17 pares, mas podem estar presentes
somente nos lobos anais ou serem ausentes. Cada cerário se constitui de um
agrupamento de poros e setas arranjado ao redor da margem do corpo, de onde
se originam os filamentos laterais de cera (Ferris, 1961).
Existem normalmente quatro tipos de poros secretores de cera presentes
em pseudococcídeos: os triloculares, os discóides multiloculares, os
qüinqüeloculares e os discoidais (Chandler & Watson, 1999). Os triloculares são
encontrados geralmente no dorso e no ventre, e podem variar levemente em
tamanho e forma na mesma espécie. São eles os responsáveis pela produção da
cera fina e farinhenta (Williams & Granara de Willink, 1992).
Os poros discóides multiloculares possuem mais de cinco lóculos
(aberturas), usualmente dez, e estão localizados no ventre e até mesmo ao redor
da vulva. Eles secretam uma cera pulverulenta que, além de revestir o corpo das
formas jovens, também têm a função de cobrir os ovos e produzir o ovissaco. As
espécies com muitos desses poros ao redor da vulva geralmente são ovíparas, ao
passo que aquelas que possuem pouco ou nenhum poro são com freqüências
vivíparas (Williams & Granara de Willink, 1992; Chandler & Watson, 1999).
Os poros qüinqüeloculares são encontrados em poucos gêneros e os
discoidais são freqüentemente pequenos e espalhados sobre a superfície do
corpo (Williams & Granara de Willink, 1992).
A cera que é excretada pelas glândulas desses insetos atravessa a
cutícula por meio de tubos internos que são chamados de dutos tubulares, os
quais são formados pela invaginação da parede do corpo. Eles são cilíndricos e a
9
extremidade interna, em Pseudococcidae, é geralmente plana e nunca em forma
de taça (Chandler & Watson, 1999).
Segundo Williams & Granara de Willink (1992), existem os dutos
tubulares com colar oral, presentes principalmente no ventre e responsáveis pela
produção de cera para formação do ovissaco, e os dutos tubulares com anel oral,
encontrados freqüentemente no dorso. A distinção entre estes dois tipos de dutos
é importante para separação de gêneros e espécies.
As setas do corpo podem ser flageladas, lanceoladas ou cônicas no
dorso, porém são comumente flageladas no ventre. As dorsais tendem a ser de
um tipo e, em geral, característico do gênero; em raras ocasiões se encontra
mais de um tipo de seta (Cox, 1987).
A taxonomia e a classificação atuais de pseudococcídeos são baseadas
na morfologia de fêmeas adultas, embora Afifi (1968) tenha feito estudos de
filogenia usando métodos numéricos baseados na morfologia de machos adultos.
Mais recentemente, Hodgson (2002) também efetuou a análise morfológica
cladística de machos adultos de cochonilhas incluindo representantes de dez
espécies de Pseudococcidae.
O principal problema encontrado quando se utiliza a morfologia de
fêmeas adultas para identificação de pseudococcídeos é a considerável variação
intraespecífica dos caracteres usados, podendo ser difícil a determinação dos
limites desta variação. Assim, é freqüentemente impossível determinar se uma
forma difundida e variável representa uma ou várias espécies, as quais podem
permanecer não distinguidas até que discrepâncias em sua biologia ou ecologia
sejam notadas (Cox, 1983). Além disto, as espécies de cochonilhas da família
Pseudococcidae apresentam um alto grau de similaridade morfológica,
particularmente nos estágios imaturos, o qual pode causar dificuldades na
diferenciação em nível de espécie (Beuning et al., 1999).
10
Nur (1978), por meio de comparações de eletroforese de nove formas
morfológicas de cochonilhas-farinhentas, encontrou três espécies crípticas
(sibling species). Com base no fato de que algumas destas espécies diferiram em
mais de 80% de suas enzimas, este autor sugeriu que, pelo menos em
Pseudococcidae, a diferenciação morfológica desenvolve mais lentamente em
relação às características que afetam o isolamento reprodutivo. Diferenciações
na composição de feromônios de machos de espécies crípticas sugerem que a
conservação morfológica pode ser um fenômeno bem difundido em Coccoidea
(Miller & Kosztarab, 1979).
2.1.3 Gênero Planococcus Ferris, 1950
O gênero Planococcus Ferris, 1950 é originário do Velho Mundo (Cox,
1989) e contém 37 espécies (Ben-Dov, 1994). De acordo com Williams &
Granara de Willink (1992), o gênero inclui insetos com as seguintes
características: fêmeas adultas normalmente com corpo oval, lóbulos anais
sempre com barras anais ventrais; antenas geralmente com oito artículos; pernas
bem desenvolvidas, garras tarsais sem dentículos, poros translúcidos dispostos,
em geral, sobre a coxa e tíbia posteriores; circulus bem desenvolvido; ostíolos
representados pelos pares, anterior e posterior; anel anal apical com seis setas;
cerários numerando 18 pares, cada um, com duas setas cônicas; corpo com setas
flageladas; poros discóides multiloculares geralmente presentes somente no
ventre, os qüinqüeloculares ausentes e os triloculares uniformemente
distribuídos; dutos tubulares com colar oral usualmente presentes no ventre, às
vezes também no dorso (Figura 1).
11
Cerário pré-ocular
Cerário 6
Cerário 8
ABDOME
Seta do anel anal Seta cisanal
CABEÇA
PROTÓRAX
MESOTÓRAX
METATÓRAX
II
III
IV
VI
VII
IX
v
Cerário pré-ocular
Cerário 6
Cerário 8
ABDOME
Seta do anel anal Seta cisanal
CABEÇA
PROTÓRAX
MESOTÓRAX
METATÓRAX
II
III
IV
VI
VII
IX
v
FIGURA 1 Diagrama generalizado das características morfológicas do gênero
Planococcus apresentando a numeração dos segmentos e cerários. Esquerda:
vista dorsal; direita: vista ventral (Fonte: Cox, 1989).
12
A identificação de espécies do gênero Planococcus é bastante
dificultada pela variação morfológica que ocorre devido às condições ambientais
sob as quais esses indivíduos se desenvolvem (Cox, 1989). Como exemplo, Cox
(1983) concluiu que Planococcus citricus Ezzat e McConnell, 1956 é uma forma
modificada de P. citri encontrada em regiões com altas temperaturas. Dessa
forma, características estruturais podem variar simplesmente com as condições
ambientais, pois, espécimes criados em ambientes com temperaturas altas ou
baixas têm menos dutos tubulares com colar oral do que aqueles criados em
temperaturas médias. O resultado disso é que características que distinguem
espécies podem ser diferentes para indivíduos de ambientes distintos (Cox,
1989).
Além disso, a ocorrência de espécies crípticas ou irmãs entre
cochonilhas é bastante comum (Miller & Kosztarab, 1979), como ocorre com as
espécies P. citri e P. minor. Elas são muito semelhantes entre si e difíceis de
serem distinguidas; podem ocorrer na mesma planta hospedeira, atacando as
raízes e a parte aérea, além de causarem danos similares (Santa-Cecília et al.,
2007).
Apesar da similaridade entre essas espécies, elas foram diferenciadas
através de caracteres morfológicos por Cox & Freeston (1985), que estudaram
cochonilhas que ocorrem em cacaueiro. Foram utilizados os seguintes
caracteres: o número de dutos tubulares sobre a cabeça e tórax, número de poros
discóides multiloculares sobre o tórax e a razão do comprimento da tíbia + tarso
em relação ao comprimento do trocanter + fêmur da perna posterior. Porém,
segundo Cox (1983), como foi relatado, esses caracteres apresentam uma
variação considerável em função das condições ambientais sob as quais os
espécimes são criados. Como resultado desta variação, os valores dos caracteres
avaliados se sobrepõem, até certo ponto, entre as duas espécies, sendo que eles
são de fato, característicos e determinantes para as mesmas.
13
Essa situação tornou o uso das chaves dicotômicas tradicionais
impraticável para a separação dessas duas espécies, sendo a forma mais
conveniente a utilização do método de notas (score) elaborado por Cox &
Freeston (1985).
2.1.4 Planococcus citri (Risso, 1813)
É conhecida comumente por cochonilha-dos-citros (citrus mealybug),
cochonilha-branca e cochonilha-da-roseta-do-cafeeiro. Foi descrita como
Dorthesia citri Risso, 1813 por designação original, a partir de exemplares
coletados em plantas de citros, na França (Cox, 1989).
Essa espécie não possui muitas sinonímias, mas existe uma grande
variação intraespecífica, fato que levou Ferris, em 1950, ao descrever o gênero
Planococcus, a considerar que provavelmente essa espécie representasse um
complexo de diferentes raças biológicas e geográficas (Le Pelley, 1968).
As fêmeas adultas desses insetos possuem o corpo com formato oval,
coloração geral castanho-amarelada, recoberto por uma secreção pulverulenta de
cera branca e uma lista mediana no dorso, característica da espécie (Santa-
Cecília et al., 2007). Medem cerca de 1,6-3,2 mm de comprimento e 1,0-2,0 mm
de largura. As margens do corpo com a série completa de 18 pares de cerários,
sendo que cada cerário apresenta duas setas cônicas, exceção para o pré-ocular
que pode ter uma ou três setas. As pernas são alongadas, com poros translúcidos
aparentes sobre as coxas e as tíbias posteriores e presença de ostíolos com
margens moderadamente esclerotizadas (Cox, 1989).
A espécie apresenta dorso com setas flageladas, ausência de poros
discóides multiloculares, poros triloculares uniformemente distribuídos e poros
discoidais dispersos; dutos tubulares dorsais com colar oral sem margens
aparentes, maiores que os dutos ventrais, freqüentemente presentes próximos de
algum cerário; superfície ventral do corpo com setas normais e setas cisanais
14
mais curtas que as setas do anel anal; fileira simples ou dupla de poros discóides
multiloculares na margem posterior dos segmentos III-VII; poros triloculares
bem distribuídos e poros discóides escassos; e dutos tubulares com colar oral
presentes em áreas medianas dos segmentos abdominais e próximos às margens
do corpo (Williams & Granara de Willink, 1992).
As ninfas de primeiro ínstar possuem o corpo recoberto por pouca
cerosidade branca, um par de filamentos na extremidade do abdome. Ninfas do
segundo ínstar são maiores, têm o corpo recoberto por abundante secreção
cerosa e dois pares de filamentos caudais. No terceiro, as ninfas apresentam 17
pares de filamentos cerosos ao redor do corpo e um par posterior, assemelhando-
se à fêmea adulta (Santa-Cecília et al., 2007).
Outras espécies do gênero Planococcus têm sido erroneamente
identificadas como P. citri. Por exemplo, P. minor, como mencionado
anteriormente, é muito semelhante externamente a P. citri e somente foi
diferenciada por meio de estudos morfológicos (Cox, 1981 e 1983; Cox &
Freeston, 1985). Da mesma forma, por muito tempo a distinção entre P. citri e
Planococcus ficus (Signoret, 1869) não foi muito clara, mas a separação dessas
duas espécies é agora universalmente aceita (Cox, 1989).
Ainda segundo Cox (1989), as espécies Phenacoccus spiriferus Hempel,
1900, Planococcoides cubanensis Ezzat e McConnell, 1956 e Planococcus
cucurbitae Ezzat e McConnell, 1956 são todas sinônimos de P. citri, pois as
variações morfológicas que apresentam não são consistentes, sendo consideradas
como próprias da espécie.
2.1.5 Planococcus minor (Maskell, 1897)
Essa espécie, descrita como Dactylopius calceolariae var. minor
Maskell, 1897 e designada por Cox em 1989, também é conhecida por
cochonilha-branca ou cochonilha-das-rosetas (Santa-Cecília et al., 2007).
15
As fêmeas adultas se caracterizam por possuírem o corpo oval, medindo
de 1,3 a 3,2 mm de comprimento e de 0,8 a 1,9 mm de largura; margens do
corpo com 18 pares de cerários, cada um com duas setas cônicas, exceção para o
pré-ocular que pode ter uma ou três setas (Cox, 1989); pernas bem
desenvolvidas, presença de poros translúcidos sobre as coxas e as tíbias
posteriores; poros discóides multiloculares presentes ao redor da vulva, fileiras
duplas desses poros na margem posterior dos segmentos abdominais III-VII
(exceção para espécimes muito pequenos) (Williams & Granara de Willink,
1992).
Apresentam também poros triloculares moderadamente numerosos e
bem distribuídos; dutos tubulares com colar oral presentes na região ventral da
maioria dos segmentos abdominais, em grupos marginais nos segmentos
abdominais e em menor número na cabeça e margens do tórax (Cox, 1989).
Apesar da grande similaridade entre P. citri e P. minor, ambas foram
diferenciadas por Cox (1981), basicamente pelo número reduzido de dutos
tubulares ventrais na cabeça e rax, e pelo grande número de poros discóides
multiloculares no tórax e abdome, apresentados por P. minor.
2.2 Aspectos bioecológicos de P. citri e P. minor
2.2.1 Descrição da biologia e ciclo de vida
O tipo de reprodução dos insetos da família Pseudococcidae é
tipicamente sexuado, embora umas poucas espécies sejam partenogenéticas
(Williams, 1985; Kosztarab & Kozár, 1988).
Em todas as espécies de pseudococcídeos as fêmeas passam por três
ínstares a atingirem a fase adulta. O primeiro é conhecido como ínstar de
locomoção (crawler), o segundo e o terceiro como ínstares de alimentação, e o
adulto é chamado de fêmea neotênica. Os machos passam pelos dois primeiros
ínstares semelhantemente às fêmeas e, a partir do final do segundo, entram em
16
dois “ínstares pupais” de onde emerge o adulto (Williams & Granara de Willink,
1992) (Figura 2).
As fêmeas dessa família colocam os ovos em um ovissaco branco e
filamentoso, produzido por glândulas da cutícula, ou são ovovivíparas e, nesse
caso, geralmente falta a secreção filamentosa (Cox & Pearce, 1983; Williams,
1985). Em espécies do gênero Planococcus, as fêmeas fertilizadas colocam os
ovos no interior de um ovissaco cotonoso, uma estrutura lanuginosa branca que
elas secretam junto ao corpo (Santa-Cecília & Souza, 2005).
Os filamentos de cera que cobrem os ovos, formando o ovissaco, servem
para protegê-los contra a dessecação ou prevenir que eles possam aderir uns aos
outros (Gerson, 1980). Estas secreções são produzidas pelos dutos tubulares e
poros discóides (Cox & Pearce, 1983).
A capacidade de oviposição das fêmeas de P. citri é de cerca de 400
ovos (Gallo et al., 2002) e após dois a dez dias nascem as ninfas (Gravena,
2003). O período de ninfa das fêmeas dura em média 28 dias e dos machos 24
dias. O macho vive apenas dois a quatro dias após a emergência, enquanto que
as meas vivem em torno de 87 dias (Coffee Board Research Department,
1984). Desta forma, a duração do ciclo de vida (ovo até atingir a fase adulta)
varia de 20 a 44 dias (Gravena, 2003), podendo ocorrer, geralmente, de duas a
oito gerações deste inseto ao ano, dependendo das condições climáticas às quais
estão submetidos (Martinez-Ferrer et al., 2003).
17
1
2
3
4
5
6
7
1
2
3
4
5
6
7
1
2
3
4
5
6
7
FIGURA 2 Esquema do ciclo de vida de fêmeas e machos de cochonilhas do
gênero Planococcus. Legenda: 1 (ovos), 2 (ninfa de primeiro ínstar), 3 (ninfa de
segundo ínstar), 4 (ninfa de terceiro ínstar), 5 (fêmea adulta), 6 (casulo) e 7
(macho adulto). (Fonte: modificada de Santa-Cecília & Souza, 2005).
Alguns aspectos relacionados à biologia de P. citri foram estudados em
frutos de abóbora por Malleshaiah et al. (2000), em folhas de café por Correa et
al. (2005a) e de citros por Correa et al. (2005 b).
As fêmeas de P. minor colocam cerca de 350 ovos e o período
embrionário dura de quatro a 14 dias. O tempo para completar uma geração (ovo
até a atingir a fase adulta) varia de 28 a 45 dias, dependendo das variações de
temperatura e umidade relativa do ar (Sahoo et al., 1999). O período ninfal das
fêmeas ocorre em cerca de 20 dias, e dos machos em, aproximadamente, 22 dias
18
(Maity et al., 1998). As fêmeas adultas vivem em torno de 32 dias (Martínez &
Surís, 1998).
Alguns autores já relataram aspectos biológicos de P. minor criada em
vários hospedeiros como: fatias de batata (Martínez & Surís, 1998); tubérculos
de batata, frutos de abóbora e inhame (Maity et al., 1998); soja, ixora (Ixora
signaporensis) e rabo de gato (Acalypha wilkesiana) (Biswas & Ghosh, 2000).
2.2.2 Ocorrência e plantas hospedeiras
A espécie P. citri apresenta uma ampla distribuição geográfica,
ocorrendo em regiões tropicais, subtropicais e temperadas do planeta, em plantas
cultivadas em condições de campo e casa-de-vegetação (Llorens, 1990;
Gravena, 2003).
No Brasil está distribuída por todas as regiões (Llorens, 1990) e, por ser
um inseto polífago, pode atacar várias espécies vegetais, sendo relatada nas
culturas de anonáceas (pinha, fruta do conde, atemóia, etc.), cafeeiro, soja,
goiabeira, algodoeiro, videira, figueira, mangueira, bananeira, carambola,
coqueiro, macadâmia e em citros (Williams & Granara de Willink, 1992;
Gravena, 2003). Segundo Balachowsky (1935), ataca, ainda, figueira e plantas
cultivadas em estufas como antúrios, orquídeas, cactáceas e bromeliáceas.
A cochonilha P. minor é conhecida como uma importante praga de mais
de 250 plantas hospedeiras nas regiões Afrotropical, Australiana, Neártica,
Neotropical e Oriental (Williams, 1985). É difundida em várias extensões
geográficas, primariamente nos trópicos e subtrópicos (Cox, 1989). O registro
atual da distribuição global de P. minor sugere que este inseto pode estar
associado intimamente com biomas característicos, tais como desertos, campos
temperados, savanas e cerrados, e florestas latifoliadas úmidas tropicais e
subtropicais (Williams, 1985).
19
Essa espécie é polífaga e alimenta-se de uma variedade de plantas
silvestres e cultivadas, tais como banana, citros, café, cacau, anonáceas, figueira
e batata. No Brasil foi relatada, ocorrendo em dália, paineira, café, abacate e
cacau (Williams & Granara de Willink, 1992).
Freqüentemente, P. minor tem sua ocorrência relatada erroneamente
como P. citri, como, por exemplo, nas Ilhas do Pacífico Sul, onde esta espécie é
bem mais comum que P. citri (Williams, 1982). Tal confusão também ocorre
nas regiões Orientais, onde a espécie de Planococcus que geralmente é
encontrada em cacau é P. minor, embora a maioria dos relatos se refira a P. citri
(Cox & Freeston, 1985).
2.2.3 Hábitos e comportamento
As cochonilhas-farinhentas podem ser encontradas em quase todas as
partes da planta hospedeira, mas muitas espécies localizam-se em locais
característicos. Muitas vivem debaixo de cascas de árvores, na bainha das folhas,
nas brácteas, debaixo de cálices e raízes (Cox, 1987), botões florais e frutos
(Santa-Cecília et al., 2002).
Os machos adultos e o primeiro ínstar das ninfas dessas cochonilhas
adquiriram uma função especial na dispersão destes insetos. Dessa forma o
primeiro ínstar (crawler) serve como um agente de dispersão e localização de
sítios de alimentação, enquanto que os machos têm função de disseminação do
pool genético (Miller & Kosztarab, 1979). Essas cochonilhas podem se manter
móveis por toda sua vida, caminhando por todas as superfícies. Entretanto, a
maneira mais eficiente de disseminação por maiores distâncias é através do
vento, que desloca as ninfas ambulantes por toda a cultura e entre culturas
vizinhas (Gravena, 2003).
20
Gravena (2003) observou que essas cochonilhas depositam seus ovos em
espaços protegidos e nas fendas dos troncos em plantas de citros, onde passam
todo o inverno, permitindo a disseminação das ninfas ambulantes na primavera.
Podem ser encontradas na parte aérea e nas raízes das plantas. Conforme
estudos desenvolvidos por Martínez et al. (1991), em cafeeiros cultivados em
Cuba, condições de temperatura do solo superiores a 23ºC e umidade relativa do
solo acima de 85% favorecem a concentração desse inseto na parte rea da
planta.
No Estado do Espírito Santo, Fornazier & Martins (2003) observaram
que a cochonilha-da-roseta (Planococcus sp.) apresenta grande incidência nas
raízes, principal e secundárias, de cafeeiros e, nos meses de agosto e setembro,
podem também ser encontradas em trânsito nas hastes da planta ou infestando as
rosetas.
Embora as cochonilhas-farinhentas não sejam grandes produtoras de
honeydew, muitas formigas tendem a associar-se a estes insetos (Gravena,
2003). Esta associação entre formigas (Hymenoptera: Formicidae) e insetos da
Subordem Sternorrhyncha (Hemiptera) é conhecida como trofobiose, uma
relação mutualista de evolução convergente (Delabie, 2001).
As formigas coletam honeydew produzido pelas cochonilhas, o qual lhes
serve como importante fonte de alimento, pois é rico em açúcares, aminoácidos
e ceras. Em troca as formigas protegem as cochonilhas contra predadores e
parasitóides, e ainda remove o excesso de honeydew evitando a proliferação do
fungo da fumagina nas colônias das cochonilhas (Gullan, 1997). Essas formigas
ainda podem transportar as cochonilhas de um lado a outro, colaborando com a
sua dispersão, como foi observado por Fornazier et al. (2000) em plantas de
café, com uma espécie do gênero Solenopsis (lava-pé).
As cochonilhas apresentam uma notável variedade de microrganismos
endossimbiontes, os quais são importantes nos requerimentos de esteróis e
21
nitrogênio dos seus hospedeiros. Assumem, ainda, importante papel na
resistência contra patógenos microbianos e na desintoxicação de compostos
secundários produzidos pelas plantas (Buchner, 1965). Provavelmente, as
cochonilhas necessitam desses endossimbiontes, pois os fluidos do floema não
apresentam constituição ideal dos requerimentos nutricionais. Ao contrário, os
insetos que se alimentam de células do parênquima, em geral, não necessitam de
endossimbiontes, pois essas lulas fornecem uma dieta razoavelmente
balanceada (Raven, 1983).
2.2.4 Comportamento alimentar
O aparelho bucal das cochonilhas é do tipo sugador labial tetraqueta,
adaptado para a perfuração de tecido vegetal, porém os machos apresentam o
aparelho bucal não funcional, desta forma o se alimentam (Williams, 1991;
Chandler & Watson, 1999).
Para se alimentarem as cochonilhas introduzem seus estiletes bucais nos
tecidos da planta, exclusivamente no floema, o que é possível devido ao
aparelho bucal que forma uma longa probóscide (Bernays & Chapman, 1994;
Silva & Mexia, 1999).
Os padrões de comportamento alimentar das cochonilhas apresentam
particularidades em relação a outros insetos sugadores. Assim, esses organismos
inserem os estiletes bucais, uma única vez na planta, de forma intercelular,
sendo que as inserções dentro das células dos tecidos são relativamente
prolongadas (Prado et al., 2007).
2.3 Importância como insetos-praga
As cochonilhas se alimentam pela sucção de seiva das plantas e algumas
espécies causam danos economicamente consideráveis na agricultura (Miller &
22
Kosztarab, 1979; Williams, 1985). Os danos são provenientes não apenas da
remoção de seiva, mas também da injeção de toxinas e do honeydew que é
liberado ao sugarem a seiva (Williams, 1985), o qual favorece a incidência do
fungo da fumagina, reduzindo a fotossíntese e dificultando a respiração das
plantas (Gravena, 2003).
Em várias localidades do mundo, P. citri tem sido relatada causando
prejuízos em diversas culturas. Gullan (2000) citou que esta cochonilha é a
espécie de maior freqüência nos pomares cítricos da Austrália, infestando ramos
e frutos. Sua ocorrência também é referida em alguns países da América do Sul,
em plantas cítricas e outras frutíferas de importância econômica, como no Chile
(González, 2003), Peru (Salazar, 1971) e Argentina (Granara de Willink, 1991),
além de ser a cochonilha mais comum associada à cultura de flores na
Califórnia, EUA (Laflin & Parrella, 2004).
No Brasil, a cochonilha P. citri tem ocorrência freqüente nas lavouras
cafeeiras, atacando principalmente as rosetas com botões florais e frutos,
podendo, porém, mobilizar-se na planta e alojar-se nas raízes. Os prejuízos
podem atingir entre 20 e 30% da produção em lavouras altamente infestadas,
devido à sua uniforme distribuição no campo. Os danos decorrentes do ataque de
P. citri em plantas de café são observados desde a floração até a colheita,
ocasionando chochamento ou queda dos botões florais e frutos, conhecido pelo
produtor como roseta banguela. Além disso, podem provocar o apodrecimento
do colo do cafeeiro, próximo ao solo, servindo de entrada para microrganismos
patogênicos (Santa-Cecília et al., 2002 e 2007).
Segundo Fornazier & Martins (2003), a cochonilha-da-roseta
(Planococcus sp.), que ocorre no Estado do Espírito Santo, pertence a um
complexo de cochonilhas, que alguns anos vem tomando papel de praga-
chave em diversos municípios produtores de café Conilon deste Estado,
23
representando perdas na produtividade da cultura do cafeeiro. Dessa maneira, as
estimativas de prejuízos referem-se aos danos ocasionados pelo complexo de
cochonilhas-das-rosetas, sendo difíceis os cálculos para cada espécie (Santa-
Cecília et al., 2007).
Em pomares cítricos, segundo Gravena (2003), os danos ocasionados
por P. citri são decorrentes da sucção contínua de seiva, reduzindo o tamanho
dos frutos e causando deformações, quando ainda novos, e injetando toxinas no
ato da alimentação. Podem causar a queda dos frutos mais novos e os mais
velhos, geralmente, ficam com sinais de danos semelhantes aos ocasionados por
tripes (Thysanoptera). Em densidades populacionais muito altas causam
desfolhas na planta, sendo uma preocupação constante para os produtores de
cítricos do mercado in natura.
A cochonilha P. minor é uma praga de numerosas culturas
economicamente importantes, tendo uma gama de hospedeiros e distribuição
geográfica muito similar a outras cochonilhas, incluindo P. citri. Assim, é
conhecida a sua co-ocorrência com outras espécies intimamente relacionadas,
como, por exemplo, em regiões de cultivo de cacau. Nestas plantas é conhecida
a ocorrência de seis espécies de Planococcus, sendo P. minor uma das mais
importantes e, geralmente, predominante nas lavouras das regiões Neotropical e
Oriental (Cox & Freeston, 1985; Cox, 1989).
Dessa forma, podem ocorrer múltiplas espécies sobre uma mesma planta
hospedeira, sendo difícil estimar o impacto econômico de cada uma
isoladamente. Entretanto, cita-se que P. minor representa aproximadamente 90%
do complexo das cochonilhas que atacam café na Nova Guiné, estimando-se que
cause uma redução de 70-75% nos rendimentos da cultura (Williams & Watson,
1988).
24
Os danos e sintomas de ataque de P. minor são muito semelhantes aos
de P. citri em cafeeiros, atacando principalmente a parte rea, sugando a seiva
das rosetas, resultando em frutos chochos ou secos (Santa-Cecília et al., 2007).
2.4 Influência do alimento na biologia dos insetos herbívoros
Muitos aspectos na vida dos insetos, tais como comportamento,
fisiologia e ecologia, estão, de alguma maneira, relacionados com a qualidade e
quantidade do alimento utilizado, tornando fundamentais as relações tróficas
entre eles e as plantas (Slansky & Rodriguez, 1987).
Sabe-se que o consumo e utilização de alimento constituem condições
básicas para o crescimento, desenvolvimento e reprodução dos insetos. Dessa
forma, a qualidade e a quantidade de alimento ingerido na fase larval afetam a
taxa de crescimento, o tempo de desenvolvimento, peso do corpo, sobrevivência,
bem como influenciam a fecundidade, longevidade, movimentação e capacidade
de competição de adultos. A nutrição qualitativa envolve exigências nutricionais
básicas (exigências específicas), tais como a ingestão de aminoácidos, vitaminas
e sais minerais (nutrientes essenciais) e carboidratos, lipídios e esteróis
(nutrientes não-essenciais). Por outro lado, a nutrição quantitativa considera a
proporção de alimento ingerido, digerido, assimilado e convertido em tecidos de
crescimento (Parra, 1991).
A maioria das interações entre plantas e insetos envolve direta ou
indiretamente o fator alimento (Hagen et al., 1984), o qual fornece energia para a
reprodução e existência dos mesmos na natureza. Para minimizar o ataque
desses fitófagos, as plantas desenvolveram estruturas físicas e/ou substâncias
químicas que causam efeitos deletérios aos insetos não adaptados a se alimentar
das mesmas (Pizzamiglio, 1991). Assim, o efeito no metabolismo do inseto é
decorrente, principalmente, da ingestão de alomônios (metabolitos xicos,
25
inibidores enzimáticos, inibidores reprodutivos) ou da impropriedade nutricional
(deficiência qualitativa ou quantitativa de nutrientes) (Gallo et al., 2002).
Os alomônios produzidos pelas plantas, conhecidos como substâncias
secundárias, são capazes de protegê-las contra o ataque dos insetos herbívoros,
os quais podem atuar pela repelência para oviposição, efeito deterrente na
alimentação, redução nos processos digestivos, e/ou pela modificação na
digestão e assimilação do alimento. Deficiências dietéticas podem restringir as
reservas de alimento abaixo de um nível mínimo, causando redução no tamanho
e funcionamento das glândulas endócrinas, resultando em desenvolvimento
anormal. Em casos extremos podem causar inanição ou morte (Hagen et al.,
1984; Evans, 1984).
Muitos insetos, entretanto, desenvolveram mecanismos para manipular
essas defesas de suas plantas preferidas ou, mesmo, utilizá-las em benefício
próprio como atraentes e estimulantes da alimentação (Panizzi & Parra, 1991;
Pizzamiglio, 1991). Deste modo, as substâncias secundárias que inicialmente
foram selecionadas pelas plantas para sua defesa, tornaram-se cairomônios para
insetos, que desenvolveram mecanismos para sobrepujá-las, conduzindo a uma
especificidade hospedeira (Hagen et al., 1984).
2.5 Seleção de hospedeiros pelas cochonilhas
Todos os insetos fitófagos exibem algum grau de seletividade em
relação ao alimento utilizado. Conseqüentemente, eles se deparam com a
necessidade de selecionar um hospedeiro adequado em algum estágio de sua
vida. A seleção deste hospedeiro não envolve somente a escolha correta da
espécie de planta, mas também a seleção de uma planta individual dentro da
espécie, que seja suscetível à alimentação, sobrevivência e desenvolvimento
(Bernays & Chapman, 1994).
26
O processo de seleção das plantas hospedeiras pelos insetos envolve
todos os órgãos sensoriais, pelo menos parcialmente, e estes incluem o estímulo
visual (cor, formas), tátil (contatos), paladar (gosto) e olfatório (odores), sendo
este último o mais importante e dominante nas interações inseto/planta
(Chapman, 1982). A aceitação do hospedeiro e a indução para o início da
alimentação estão relacionadas com fagoestimulantes e substâncias secundárias
presentes nas plantas (Evans, 1984).
A seleção e o reconhecimento do hospedeiro pelo inseto sugador
envolvem vários estágios, os quais foram descritos por Prado (1997) para
pulgões, e que foram ajustados para as cochonilhas por Santa-Cecília (2003). De
forma esquemática, esses estágios são apresentados a seguir:
Processo de seleção do hospedeiro pelas cochonilhas
Local de ação Natureza dos estímulos
Fatores químicos: odores
Estímulos químicos e físicos da
cutícula: cera, secreções, odores
Fatores químicos e físicos:
lignina, fibras, aleloquímicos etc
Fatores químicos e físicos:
bloqueio, aleloquímicos
Seiva: características físicas e
químicas (nutrientes,
aleloquímicos, coagulação de
proteínas, calose)
Espaço aéreo
Superfície da planta
Tecidos da epiderme
e mesofilo
Xilema
Floema
27
As cochonilhas fêmeas, por serem ápteras, têm limitadas possibilidades
de escolher o hospedeiro e são restringidas pela sua capacidade de locomoção.
Nesse caso, a ação das substâncias voláteis da planta poderá ser considerada
secundária (Santa-Cecília, 2003).
Renard (1993) relatou que o caminhamento da cochonilha sobre a
superfície foliar da planta hospedeira, antes da inserção dos estiletes bucais,
permite discriminar as plantas com diferentes níveis de antixenose. et al.
(1995) demonstraram que tal discriminação se deve, provavelmente, à presença
de receptores mecânicos e químicos na extremidade do lábio. Estes fatores
concorrem diretamente para o processo de seleção do hospedeiro e possuem
importante papel na interação inseto-planta, uma vez que os fitófagos possuem
um padrão consistente de preferência quando podem escolher entre dois ou mais
substratos alimentares (Kogan, 1982).
2.6 Especificidade de hospedeiros
A maioria das espécies de insetos fitófagos tende a se especializar com o
táxon da planta da qual eles se alimentam, podendo também associar-se com
partes particulares das plantas e, às vezes, até mesmo com um órgão ou tecidos.
Como exemplos da especialização em tecidos têm-se os insetos sugadores da
ordem Hemiptera. Estes insetos introduzem seus estiletes bucais nos tecidos das
plantas e se alimentam de células individuais, como as cochonilhas que sugam a
seiva do floema, o que é possível devido ao aparelho bucal que forma longos
estiletes sugadores (Bernays & Chapman, 1994).
Slansky & Rodriguez (1987) propuseram que um grupo ou espécie de
planta hospedeira apresenta características físicas, químicas e fenológicas que
podem ser relacionadas com os caracteres fisiológicos e comportamentais do
herbívoro. De acordo com Bernays & Chapman (1994), os insetos sugadores
28
comumente exibem adaptações morfológicas e fisiológicas associadas com seu
modo particular de alimentação, em tecidos específicos e, dessa forma, a maioria
apresenta especificidade para espécies hospedeiras.
O hospedeiro pode ter um efeito profundo no comportamento de
cochonilhas como, por exemplo, influenciando o período de oviposição em
função da localização do inseto na planta (Luck & Dahlsten, 1975). Da mesma
forma, o hospedeiro pode também influenciar na morfologia desses insetos e, até
mesmo, no processo de especiação. Espécies de cochonilhas apresentam
morfologia divergente em função de diferentes hospedeiros ou da localização em
partes específicas destes (Miller & Kosztarab, 1979).
Muitos insetos especialistas que atacam espécies de plantas relacionadas
tendem a desenvolver raças hospedeiras (host races), constituindo populações
que ainda são capazes de procriarem, mas que tendem a preferir hospedeiros
diferentes. Muitos insetos com especificidade hospedeira acasalam sobre o
mesmo hospedeiro, o que fornece um mecanismo de escolha que causa uma
redução no fluxo gênico entre populações que atacam diferentes hospedeiros.
Adicionalmente, existem espécies de insetos intimamente relacionadas e muito
semelhantes, mas reprodutivamente isoladas, as quais são chamadas espécies
irmãs (sibling species). Provavelmente estas espécies divergiram de um ancestral
comum e co-evoluíram com seus respectivos hospedeiros (Evans, 1984).
Algumas espécies de Planococcus apresentam especificidade hospedeira
para família de plantas e até mesmo gênero. As espécies deste gênero foram
divididas em grupos, por meio de características morfológicas e de suas plantas
hospedeiras. Assim, espécies do grupo-dendrobii, por exemplo, o específicas
de Orchidaceae, e outras, apesar de terem uma ampla gama de hospedeiros,
apresentam preferências distintas. Por exemplo, P. citri, geralmente considerada
como polífaga, é raramente encontrada em campos de videiras, enquanto P.
ficus, comum em videiras, nunca é encontrada em citros (Cox, 1989).
29
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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37
CAPÍTULO 2
1 RESUMO
CORREA, Lilian Roberta Batista. Estudos morfológicos de Cochonilhas do
Gênero Planococcus (Hemiptera: Pseudococcidae) oriundas de diferentes
hospedeiros.
1
Considerando-se a dificuldade de se separar as espécies de cochonilhas
Planococcus citri (Risso, 1813) e Planococcus minor (Maskell, 1897) e a
importância econômica atribuída às mesmas em diferentes culturas, este trabalho
teve por objetivo a identificação de espécimes do gênero Planococcus
provenientes de diferentes hospedeiros. Os espécimes (fêmeas adultas)
utilizados nas análises morfométricas foram coletados em lavouras de cafeeiros
(Coffea canephora L. cultivar Conilon) nos municípios de Cachoeiro do
Itapemirim e Jaguaré, ES; em plantas de cacau (Theobroma cacao L. cultivar
Comum) em Lavras, MG e em vinhedos (Vitis vinifera L.) em Copiapó, Chile.
Após a confirmação do gênero Planococcus, seguiram-se as análises
morfológicas de acordo com a metodologia proposta por Cox e Freeston (1985)
para a separação das espécies P. citri e P. minor. Os resultados obtidos indicam
que, de acordo com a nota final (score), dois grupos distintos de Planococcus
foram encontrados no material avaliado. As cochonilhas procedentes de
cafeeiros de Jaguaré apresentaram características de P. citri, e aquelas de
cafeeiros de Cachoeiro do Itapemirim, de P. minor. A população oriunda de
cacau apresentou-se como P. minor, entretanto, alguns valores se encontraram
fora da amplitude de variação da espécie, com uma sobreposição com P. citri,
indicando, desta maneira, a variabilidade intraespecífica. Os espécimes
provenientes de videira apresentaram características correspondentes a P. citri.
Todos os caracteres estudados, em uma análise isolada, apresentaram
sobreposição de valores em função da origem hospedeira e geográfica dos
espécimes, de modo que a separação entre P. minor e P. citri somente foi
possível pela nota final.
1
Orientadora: Brígida Souza – UFLA; Co-orientador: Ernesto Prado – EPAMIG/FAPEMIG.
38
2 ABSTRACT
CORREA, Lilian Roberta Batista. Morphologic Studies of Mealybugs of the
Genus Planococcus (Hemiptera: Pseudococcidae) Coming from Different
Hosts.
1
This work aimed at the identification of specimens of the genus
Planococcus coming from different hosts, taking into consideration the difficulty
to separate the mealybugs species Planococcus citri (Risso, 1813) and
Planococcus minor (Maskell, 1897) and their economic importance to in
different crops. The specimens (adult females) utilized in the morphometric
analyses were collected in crops of coffee trees (Coffea canephora L. cultivar
Conilon), on cocoa plants (Theobroma cacao L. cultivar Comum) and on vines
(Vitis vinifera L.). After mounting, the identification of the specimens and the
confirmation of the genus Planococcus proceeded and, the morphologic analyses
according to the methodology proposed by Cox and Freeston (1985), for the
separation of mealybugs P. citri and P. minor. The results pointed out that,
according to the score, two distinct groups of Planococcus were found in the
material evaluated. The mealybugs coming from coffee trees in Jaguaré - ES
presented characteristics of P. citri, and those collected in Cachoeiro do
Itapemirim - ES of P. minor. The population coming from cocoa (Lavras - MG)
presented itself as being P. minor; however, some values were outside the range
of the species, with an overlap with P. citri, indicating, the variability of each
species. The specimens coming from vine (Copiapó Chile) presented
characteristics corresponding to P. citri. All the traits studied, in an isolated
analysis, presented an overlap of values in related of the origin of the specimens,
thus the separation between P. minor and P. citri only was possible by the score.
1
Adviser: Brígida Souza – UFLA; Co-adviser: Ernesto Prado – EPAMIG/FAPEMIG.
39
3 INTRODUÇÃO
As cochonilhas podem apresentar uma diversidade de formas e ocorrer
em quase todos os hábitats botânicos, desde tundras aos trópicos, podendo ser
encontradas em folhas, frutos, ramos, troncos e raízes (Miller & Kosztarab,
1979). Estes insetos desenvolvem-se sobre uma grande gama de plantas de
importância econômica, sendo muitas espécies consideradas como pragas por
causarem danos expressivos às culturas.
De acordo com Charles et al. (2000), a identificação de espécies de
cochonilhas da família Pseudococcidae é baseada, principalmente, na forma,
número e distribuição de poros e dutos produtores de cera sobre o tegumento das
fêmeas adultas, usando o conceito de “mapas” esquemáticos. O maior problema
no uso desse sistema é a variabilidade na presença ou mero de caracteres-
chave que ocorrem em fêmeas de uma mesma espécie, os quais podem depender
das condições ambientais, tais como temperatura ou planta hospedeira nas quais
esses insetos se desenvolvem.
Além disso, a ocorrência de espécies crípticas ou irmãs entre
cochonilhas é bastante comum (Miller & Kosztarab, 1979), como ocorre com
Planococcus citri (Risso, 1813) e Planococcus minor (Maskell, 1897), as quais
são muito semelhantes entre si e difíceis de serem distinguidas, podendo, ainda,
ocorrer na mesma planta hospedeira (Williams & Granara de Willink, 1992).
Santa-Cecília et al. (2002), em seus estudos taxonômicos sobre cochonilhas, da
família Pseudococcidae, relataram que as duas espécies podiam estar ocorrendo
em cafeeiros no Estado do Espírito Santo.
Devido à cochonilha P. citri ser muito similar à P. mino,r foi
identificada incorretamente como P. citri aa publicação de Cox & Freeston
(1985), que separaram as duas espécies com o uso do método de notas (score),
pois as chaves dicotômicas tradicionais mostraram-se infactíveis. Uma vez que
40
os caracteres utilizados na identificação apresentam uma variação considerável
em função das condições ambientais sob as quais os espécimes o criados, os
valores dos caracteres considerados se sobrepõem até certo ponto entre as duas
espécies, mas eles são característicos e determinantes para as mesmas (Cox,
1983).
Desse modo, nos estudos desenvolvidos por Cox & Freeston (1985)
relacionados às cochonilhas que ocorrem em cacaueiro em todo mundo, essas
espécies foram diferenciadas principalmente pelo número de dutos tubulares
sobre a cabeça e tórax, número de poros discóides multiloculares sobre o tórax e
pela razão do comprimento da tíbia + tarso em relação ao comprimento do
trocanter + fêmur das pernas posteriores.
Considerando-se a dificuldade de separar essas duas espécies de
cochonilhas e a importância econômica atribuída às mesmas em diferentes
culturas em vários locais do mundo, este trabalho teve por objetivo a
identificação dos espécimes, do nero Planococcus, provenientes de plantas de
cacau, café e videira.
4 MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido no Laboratório de Controle Biológico de
Pragas da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais,
EPAMIG/CTSM, Lavras, MG.
Os espécimes (fêmeas adultas) utilizados nas análises morfométricas
foram coletados em lavouras de cafeeiros (Coffea canephora L. cultivar
Conilon), nos municípios de Cachoeiro do Itapemirim e Jaguaré, ES; em plantas
de cacau (Theobroma cacao L. cultivar Comum) cultivadas em casa de
vegetação, em Lavras, MG, e em vinhedos (Vitis vinifera L.) da região de
Copiapó, Chile. A partir dos exemplares coletados iniciaram-se criações em
41
laboratório, a 25 ± 1ºC, 70 ± 10% UR e 12 horas de fotofase, mantidas em frutos
de abóbora (Cucurbita maxima L.) do tipo cabotchá, para obtenção de espécimes
para preparação das lâminas. Os exemplares coletados em videira foram
preparados nos laboratórios do Instituto de Investigaciones Agropecuárias
(INIA), Santiago, Chile.
O processo de preparação das lâminas para avaliação microscópica
seguiu o procedimento de Watson & Chandler (2000), com modificações, como
descrito a seguir:
Inicialmente as cochonilhas foram deixadas em álcool 70%, por cerca de uma
hora, para endurecimento da cutícula e remoção do excesso de cera;
Foi feita uma abertura longitudinal na região ventral do corpo, usando um
estilete de ponta bem fina;
Deixaram-se os espécimes em hidróxido de potássio a 10% por um período de
24 horas, para dissolução do conteúdo interno do corpo;
Com o auxílio de uma mini-espátula pressionou-se levemente o corpo do
inseto no sentido dorso-ventral para remoção do conteúdo interno através da
abertura ventral;
Os insetos foram lavados em água morna, para remoção do excesso de gordura
e, posteriormente, mergulhados em cellosolve
para retirada de toda a gordura e
cera do corpo;
Adicionaram-se gotas de ácido fuxínico (colorante) nos espécimes e, após
cerca de 20 minutos, o excesso de colorante foi retirado lavando-os em álcool
70% e depois álcool 100%, por mais ou menos 5 minutos;
Clarearam-se os espécimes em óleo de cravo por pelo menos 10 minutos.
A montagem foi feita com bálsamo do Canadá e armazenada em estufa por 15
dias para secagem das lâminas.
42
Foram feitas 21 preparações para cochonilhas provenientes de cacau, 22
para videira e 16 para café, sendo 11 oriundas de Cachoeiro do Itapemirim e 5
de Jaguaré. Após a montagem das lâminas procedeu-se à confirmação do gênero
Planococcus, utilizando-se as chaves dicotômicas de Cox (1989) e Williams &
Granara de Willink (1992). As análises morfológicas foram realizadas em
microscopia óptica de acordo com a metodologia proposta por Cox & Freeston
(1985) para a separação das cochonilhas P. citri e P. minor.
Os caracteres taxonômicos avaliados foram divididos em duas
categorias: aqueles que foram contados (A, B, C, D e F) e aqueles que foram
medidos (E) (Tabela 1).
43
TABELA 1 Caracteres taxonômicos, valores e notas utilizados para separação
das espécies de cochonilhas Planococcus citri e Planococcus minor, conforme
metodologia de Cox e Freeston (1985).
Carácter *
Valor **
Nota
(score) ***
A.
0-3 0
4-13 10
Número de dutos tubulares ventrais na
cabeça
14-35 40
B.
presente 10
Dutos tubulares presentes ou ausentes entre
o e cerário sobre a cabeça, em pelo
menos um lado do corpo
ausente 0
C.
0-2 0
3-7 10
Número de dutos tubulares ventrais
adjacentes ao 8º par de cerário
8-30 40
D.
0-6 5
Número de poros discóides multiloculares
atrás da coxa anterior
7-12 0
E.
1,00-1,07 0
1,08-1,17 5
Razão do comprimento da tíbia+tarso com o
trocanter+fêmur posteriores
1,18-1,30 10
F.
simples 15
intermediária
5
Fileira de poros discóides multiloculares
sobre a margem posterior do segmento
abdominal VI
dupla 0
* Verificar Figura 1. ** Referem-se aos números totais de ambos os lados do
corpo do inseto. *** Nota final: se as notas de todos os caracteres somarem entre
0 e 35 o inseto é identificado como P. minor; se somarem entre 35 e 120 é
identificado como P. citri.
44
1
1
2
2
2
2
3
3
4
4
4
5
1
1
2
2
2
2
3
3
4
4
4
5
FIGURA 1 Esquema de uma fêmea adulta de cochonilha do gênero
Planococcus (Hemiptera: Pseudococcidae), demonstrando caracteres utilizados
nas análises morfométricas. Legenda: 1 (poros discóides multiloculares), 2
(dutos tubulares com colar oral), 3 (poros triloculares), 4 (poros discoidais) e 5
(seta flagelada). (Fonte: Modificada de Cox & Freeston, 1985).
45
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos indicam que, de acordo com a nota final, dois
grupos distintos de Planococcus foram encontrados no material avaliado,
embora a variação dos caracteres isolados se sobreponha. As cochonilhas
procedentes de cafeeiros do município de Jaguaré apresentaram características
de P. citri, e aquelas coletadas em Cachoeiro do Itapemirim características de P.
minor (Figura 2). Este resultado ratifica a informação sugerida por Santa-Cecília
et al. (2002) que relataram a possível ocorrência de duas espécies do gênero
Planococcus em cafeeiros do Estado do Espírito Santo, P. citri e P. minor.
A população oriunda de cacau apresentou-se como sendo P. minor.
Entretanto, alguns valores se encontraram fora da amplitude de variação da
espécie, com uma sobreposição com P. citri, indicando, dessa maneira, a
variabilidade existente dentro da espécie (Figura 2). Este resultado corrobora
com os relatos de Cox (1989) que afirmou que a cochonilha mais comum em
cacaueiros da região Neotropical é a espécie P. minor.
Os espécimes provenientes de videira apresentaram características
correspondentes a P. citri (Figura 2), confirmando a referência feita por
Demontis et al. (2007) de que esta espécie de cochonilha normalmente é
encontrada no agroecossistema dos vinhedos, embora a espécie mais comum
seja Planococcus ficus (Signoret, 1869) (Cox, 1989).
46
Nota final
0 20 40 60 80 100
Origem:
cacau
café (CI)
café (J)
videira
P. minor
P. citri
Nota final
0 20 40 60 80 100
Origem:
cacau
café (CI)
café (J)
videira
P. minor
P. citri
FIGURA 2 Nota (score) final dos espécimes de Planococcus (Hemiptera:
Pseudococcidae) oriundos de plantas de cacau (Lavras, MG), café (CI=
Cachoeiro do Itapemirim, ES e J= Jaguaré, ES) e videira (Copiapó, Chile),
conforme metodologia de Cox & Freeston (1985).
Os dutos tubulares ventrais presentes na cabeça dos exemplares
examinados foram encontrados em maior número nos espécimes oriundos de
cafeeiros (município de Jaguaré) e de videira, sendo que os materiais oriundos
de cafeeiros (Cachoeiro do Itapemirim) e de cacau apresentaram valores muito
próximos (Tabela 2). Contudo, todos os valores verificados estão dentro da
amplitude encontrada por Cox (1981). Constatou-se, nos exemplares dos
diferentes hospedeiros, uma sobreposição quase total dos valores. Portanto, não
discrepâncias consistentes no número de dutos tubulares presentes na região
ventral da cabeça de Planococcus sp., capazes de sustentar a separação dos dois
táxons em questão (Figura 3).
47
TABELA 2 Médias erro padrão) obtidas no estudo morfológico para
separação de Planococcus citri e Planococcus minor, oriundas de diferentes
hospedeiros, conforme metodologia de Cox & Freeston (1985).
Caracteres Cacaueiro Cafeeiro (CI)* Cafeeiro (J)* Videira
Número de
dutos tubulares
ventrais na
cabeça
3,0 ± 0,43
(0-7)**
n= 21
2,4 ± 0,41
(0-5)
n= 11
6,4 ± 0,87
(3-8)
n= 5
5,6 ± 1,2
(4-9)
n= 22
Número de
dutos tubulares
ventrais
adjacentes ao 8º
par de cerário
3,0 ± 0,42
(0-7)
n= 21
1,8 ± 0,69
(0-6)
n= 11
9,8 ± 0,66
(8-12)
n= 5
6,8 ± 0,49
(3-11)
n= 22
Número de
poros
multiloculares
atrás da coxa
anterior
2,2 ± 0,34
(0-6)
n= 21
2,0 ± 0,62
(0-6)
n= 11
3,0 ± 0,95
(0-5)
n= 5
0,5 ± 0,17
(0-3)
n=22
346,3 ± 1,98 327,6 ± 6,59 359,0 ± 0,81 352,1 ± 4,76
(329,0-369,3) (298,4-364,6) (357,5-361,3) (321,3-387,5)
Comprimento
da tíbia + tarso
(µm)
n= 21 n= 11 n= 4 n=22
313,0 ± 3,75 338,0 ± 3,95 320,2 ± 6,08 311,0 ± 4,66
(285,2-339,2) (322,7-365,9) (308,5-337,3) (282,5-350)
Comprimento
do trocanter +
fêmur (µm)
n= 21 n= 11 n= 4 n=22
Razão do
comprimento
(tíbia + tarso) /
(trocanter +
fêmur)
1,11
(1,03-1,2)
n= 21
1,07
(1,02-1,13)
n= 11
1,12
(1,07-1,16)
n= 4
1,14
(1,07-1,18)
n=22
* CI= Cachoeiro do Itapemirim, ES e J= Jaguaré, ES.
** Amplitude de variação dos valores encontrados.
n= número de espécimes.
48
Origem:
cacau
café (CI)
café (J)
videira
Dutos tubulares da cabeça
0 2 4 6 8 10
FIGURA 3: Dispersão do número de dutos tubulares ventrais presentes na
cabeça dos espécimes de Planococcus (Hemiptera: Pseudococcidae) oriundos de
plantas de cacau (Lavras, MG), café (CI= Cachoeiro do Itapemirim, ES e J=
Jaguaré, ES) e videira (Copiapó, Chile).
As cochonilhas oriundas de cafeeiros de Jaguaré e videira apresentaram
um maior mero de dutos tubulares ventrais adjacentes ao oitavo par de
cerários, em relação àquelas provenientes de cafeeiros de Cachoeiro do
Itapemirim e cacaueiros (Tabela 2). Esse carácter não apresentou uma diferença
consistente em função do hospedeiro e origem geográfica da população
estudada, não sendo possível a definição das duas espécies por meio da análise
deste carácter isoladamente (Figura 4).
49
Dutos do cerário 8
0 2 4 6 8 10 12
Origem:
cacau
café (CI)
café (J)
videira
FIGURA 4: Dispersão do mero de dutos tubulares ventrais adjacentes ao
oitavo par de cerários (iniciando da cabeça) dos espécimes de Planococcus
(Hemiptera: Pseudococcidae) oriundos de plantas de cacau (Lavras, MG), café
(CI= Cachoeiro do Itapemirim, ES e J= Jaguaré, ES) e videira (Copiapó, Chile).
As populações provenientes de cafeeiros (Cachoeiro do Itapemirim e
Jaguaré) e de cacaueiros apresentaram-se semelhantes quanto ao número de
poros multiloculares dispostos atrás das coxas anteriores (Tabela 2), enquanto
aquelas oriundas de videira apresentaram um número inferior. Ainda assim,
ocorreu uma sobreposição completa dos valores encontrados em todas as
populações estudadas. Estes resultados indicam que esse carácter, isoladamente,
não contribui de forma significativa para distinção das duas espécies envolvidas.
Entretanto, a variação no número desses poros multiloculares dos materiais
avaliados está incluída dentro dos limites das populações de Planococcus
estudadas por Cox (1989) (Figura 5).
50
Poros multiloculares
Origem:
cacau
café (CI)
café (J)
videira
0 1 2 3 4 5 6
FIGURA 5 Dispersão do número de poros multiloculares presentes atrás das
coxas anteriores dos espécimes de Planococcus (Hemiptera: Pseudococcidae)
oriundos de plantas de cacau (Lavras, MG), café (CI= Cachoeiro do Itapemirim,
ES e J= Jaguaré, ES) e videira (Copiapó, Chile).
O comprimento da tíbia + tarso posteriores das cochonilhas provenientes
de cafeeiros do município de Jaguaré foi maior que os obtidos para os
exemplares das outras origens, sendo que a maior faixa de variação (66,2µm) foi
encontrada no material oriundo de cafeeiros de Cachoeiro do Itapemirim e de
videiras (Tabela 2). Para o comprimento do trocanter + fêmur, posteriores, o
menor valor foi obtido no material procedente de plantas de videira, entretanto, o
comprimento dos dois caracteres foi especialmente variável.
Os valores do limite superior da variação do comprimento das pernas
metatorácicas (tíbia + tarso e trocanter + fêmur) das cochonilhas identificadas
como P. minor foram superiores aos resultados encontrados por Cox (1981;
1989). Embora os valores médios destes caracteres obtidos das populações
estudadas tenham sido diferentes, a faixa de variação de ambos apresentou
51
sobreposição (Figura 6), tanto que a razão entre eles foi muito similar,
independentemente da origem (Tabela 2).
trocanter + fêmur
Origem:
cacau
café (CI)
café (J)
videira
tíbia + tarso
280 300 320 340 360 380
290
310
330
350
370
390
FIGURA 6 Dispersão do comprimento do trocanter + fêmur posteriores versus
comprimento da bia + tarso posteriores dos espécimes de Planococcus
(Hemiptera: Pseudococcidae) oriundos de plantas de cacau (Lavras, MG), café
(CI= Cachoeiro do Itapemirim, ES e J= Jaguaré, ES) e videira (Copiapó, Chile).
Em relação aos dutos tubulares localizados entre o segundo e terceiro
cerários da cabeça, constatou-se que todos os espécimes originários de cafeeiros
de Cachoeiro do Itapemirimo apresentaram estas estruturas, entretanto, foram
encontrados em todos provenientes de videira. De uma maneira geral, estavam
presentes nos exemplares procedentes de cafeeiros do município de Jaguaré e
faltaram em apenas alguns espécimes coletados em cacaueiros. A fileira de
poros multiloculares presentes na margem do segmento abdominal VI, em geral,
apresentou-se intermediária nos exemplares coletados em cafeeiros dos dois
municípios capixabas e em cacaueiros, e de forma simples nos provenientes de
52
videira. Entretanto, essa fileira de poros, em alguns espécimes procedentes de
cacau mostrou-se dupla, e em videira intermediária.
Ocorreram algumas divergências entre os resultados obtidos no presente
trabalho em relação às descrições dessas duas espécies feitas por outros autores.
Assim, Williams & Granara de Willink (1992) relataram que a espécie P. minor
se caracteriza pela presença de fileiras duplas de poros discóides multiloculares
na margem posterior dos segmentos abdominais III-VII. Entretanto, nos
espécimes estudados oriundos de cafeeiros de Cachoeiro do Itapemirim e de
cacaueiros, que se apresentaram como P. minor, foram encontradas fileiras
intermediárias no segmento abdominal VI com exceção somente para alguns
exemplares.
Da mesma forma, Cox (1981) descreveu que a espécie P. minor
apresenta um número reduzido de dutos tubulares ventrais na cabeça e tórax em
relação a P. citri. Contudo, nos resultados obtidos não foi possível detectar essa
diferença, pois houve uma sobreposição no número desses dutos entre todas as
populações avaliadas (Figuras 3 e 4). Esse mesmo autor, ainda, referenciou que
P. minor apresenta um maior número de poros discóides multiloculares no tórax
e abdome, contrariando os resultados obtidos, os quais não permitiram a
averiguação deste fato, uma vez que o mero destes poros se mostrou
extremamente variável em função das populações estudadas (Figura 5).
Todos os caracteres avaliados neste trabalho apresentaram uma
considerável variação dentro e entre as populações estudadas.
Conseqüentemente, ocorreu uma sobreposição dos valores obtidos para esses
caracteres avaliados, de forma que uma análise isolada dos mesmos não sustenta
a hipótese de tratar-se de duas espécies distintas ou de populações isoladas
geograficamente (biótipos). Esta separação das duas espécies torna-se possível
apenas quando se examina a nota final (score), a qual inclui os resultados de
todos os caracteres avaliados (Figura 2).
53
A variação dos caracteres morfológicos estudados neste trabalho pode
ser devida a alguns fatores, tais como a indução causada pelo ambiente, dentro
de cada população; variação genética dentro da população; variação causada por
diferenças genéticas entre populações e, finalmente, diferenças genéticas entre
espécies (Cox, 1989).
Segundo Miller & Kosztarab (1979), as plantas hospedeiras podem ter
efeitos profundos sobre a morfologia dos insetos, podendo, em certos casos,
conduzir à especiação. Entretanto, conforme Luck & Dahlsten (1975), a
variabilidade intra-específica induzida por plantas hospedeiras tem, às vezes,
levado ao desenvolvimento de biótipos, que são confundidos com espécies
gêmeas.
Dessa maneira, a separação errônea de um táxon variável em duas ou
mais espécies, baseada em variações morfológicas pode permanecer não
identificada até que similaridades de sua biologia e ecologia sejam notadas pelos
taxonomistas (Charles et al., 2000). Marotta & Tranfaglia (1995), estudando
populações simpátricas de Puto superbus (Leonardi, 1907) e Puto tauricus
(Borchsenius, 1948) (Hemiptera: Pseudococcidae), concluíram que somente
caracteres morfológicos seriam insuficientes para discriminação em duas
espécies distintas, e questionaram se os dois táxons eram, de fato, espécies
distintas ou simplesmente populações variáveis de uma espécie polimórfica.
O contrário também pode ocorrer, sendo, freqüentemente, impossível
determinar se uma espécie polimórfica representa realmente uma ou várias
espécies. Nestes casos, tais espécies podem permanecer não distinguidas até que
discrepâncias em sua biologia e ecologia sejam notadas (Cox, 1983). Assim, ao
longo de anos, a distinção entre P. citri e P. ficus não foi muito clara, mas a
separação destas duas espécies é atualmente aceita universalmente (Cox, 1989).
Com relação à Pseudococcidae, particularmente, um fator agravante
seria que a diferenciação morfológica desenvolve-se mais lentamente em relação
54
às características que afetam o isolamento reprodutivo (Nur, 1978). Contudo,
diferenciações na composição de feromônios de machos de espécies crípticas
sugerem que a conservação morfológica pode ser um fenômeno bem difundido
em Coccoidea (Miller & Kosztarab, 1979).
A identificação dos pseudococcídeos ainda se torna mais difícil devido à
taxonomia e classificação atuais destes insetos serem baseadas apenas na
morfologia de fêmeas adultas (Hodgson, 2002). Outro problema encontrado
quando se utiliza a morfologia de fêmeas adultas para identificação dessas
cochonilhas é que, além dos caracteres usados poderem variar
consideravelmente dentro de uma espécie, pode ser difícil determinar os limites
desta variação (Cox, 1983).
As cochonilhas do gênero Planococcus apresentam variações
morfológicas em função das condições do ambiente (temperatura e hospedeiro)
sob as quais estes indivíduos se desenvolvem. Dessa maneira, vários biótipos
desse gênero foram confundidos como sendo uma espécie distinta de P. citri,
como, por exemplo, Planococcus citricus Ezzat e MacConnell, 1956, que
simplesmente é uma forma modificada da espécie encontrada em regiões de
altas temperaturas. O mesmo incide com Planococcoides cubanensis Ezzat e
McConnell, 1956 e Planococcus cucurbitae Ezzat e McConnell, 1956, pois são
consideradas formas de P. citri encontradas em Ficus pandurate e Cucurbita sp.,
respectivamente (Cox, 1983 e 1989).
Desse modo, são necessárias pesquisas adicionais sobre as espécies P.
citri e P. minor a fim de se encontrar diferenças consistentes para a separação
desses dois táxons.
55
6 CONCLUSÕES
De acordo com a nota final, nas populações estudadas estão presentes
exemplares de P. citri e P. minor.
A separação entre P. citri e P. minor somente é possível pela nota (score)
final.
Todos os caracteres estudados apresentam sobreposição de valores em função
da origem hospedeira e geográfica dos espécimes.
Somente caracteres morfológicos são insuficientes para uma discriminação de
P. citri e P. minor em táxons distintos.
56
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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58
CAPÍTULO 3
1 RESUMO
CORREA, Lilian Roberta Batista. Estudos morfológicos de
Cochonilhas do Gênero Planococcus (Hemiptera: Pseudococcidae)
oriundas de diferentes hospedeiros.
1
Este trabalho teve por objetivo estudar o desenvolvimento de populações
de cochonilhas do gênero Planococcus em diferentes espécies vegetais, visando
à verificação de especificidade hospedeira. As cochonilhas Planococcus sp.
utilizadas nos experimentos foram obtidas de plantas de cacau (Theobroma
cacao L. cultivar Comum), em lavoura de café (Coffea canephora L. cultivar
Conilon) e em mudas de citros (Citrus sinensis L. Osbeck cultivar Valência).
Ovos foram transferidos individualmente para placas de Petri contendo discos
foliares de cacau (T. cacao cultivar Catongo), café (Coffea arabica L. cultivar
Mundo Novo) e citros (C. sinensis cultivar Pêra Rio), utilizando-se 60
repetições. Esses discos foliares foram mantidos sobre uma lâmina de ágar-água
a 1%, com a superfície abaxial voltada para cima. As placas foram vedadas com
filme plástico de PVC e mantidas em câmaras climatizadas reguladas a 25 ±
1ºC, 70 ± 10% UR e 12 horas de fotofase. Para as cochonilhas oriundas de
cacaueiro, o substrato citros prolongou o desenvolvimento ninfal dos machos
(26,0 dias). Para os insetos provenientes de cafeeiro, o substrato café
proporcionou o menor período ninfal de fêmeas e machos (19,2 e 21,3 dias,
respectivamente) e maior longevidade das fêmeas (59,1 dias). Discos foliares de
cacau exerceram um efeito deletério sobre ninfas fêmeas oriundas de citros e o
café promoveu menor duração da fase ninfal desses insetos (20,1 dias). Os
maiores índices de mortalidade foram obtidos quando as cochonilhas foram
criadas no substrato cacau, independente da planta hospedeira da qual foram
originalmente coletadas, e quando mantidas em citros, a partir de insetos
coletados em plantas de café. De uma maneira geral, as populações oriundas de
cacaueiro e cafeeiro se desenvolvem melhor em café, e aquelas provenientes de
citros, em café e citros.
1
Orientadora: Brígida Souza UFLA; Co-orientador: Ernesto Prado – EPAMIG/FAPEMIG.
59
2 ABSTRACT
CORREA, Lilian Roberta Batista. Biological Studies of Mealybugs of the
Genus Planococcus (Hemiptera: Pseudococcidae) in Different Hosts.
1
This work evaluated the development of mealybugs populations of the
genus Planococcus in different plant species, aiming at the verification of host
specificity. The specimens used in the experiments were obtained from cocoa
plants (Theobroma cacao L. cultivar Comum), coffee crop (Coffea canephora L.
cultivar Conilon) and citrus seedlings (Citrus sinensis L. Osbeck cultivar
Valência). Single eggs were transferred to Petri dishes containing leaf discs of
cocoa (T. cacao cultivar Catongo), coffee (Coffea arabica L. cultivar Mundo
Novo) and citrus (C. sinensis cultivar Pêra Rio). They were maintained on a
water-agar slide at 1%, with the abaxial surface turned upwards. The dishes were
sealed with a PVC plastic film and kept in climatized chambers regulated at 25 ±
1ºC, 70 ± 10% RH and 12 hours of photophase. For the mealybugs coming from
cocoa tree, the citrus substrate prolonged the nymphal development of the males
(26.0 days). In the nymphal period of females and males coming from coffee
tree, the coffee substrate allowed a shorter duration of that period (19.2 and 21.3
days, respectively) and, in addition to having providing a longer longevity to the
females (59.1 days). In the nymphal period of females coming from citrus, the
cocoa substrate exercised a deleterious effect on them and the coffee allowed the
shorter time of that period (20.1 days). The highest rates of mortality were
obtained when they were reared on the cocoa substrate, independent of the host
plant from which they were originally collected, and when kept on citrus, from
insects collected on coffee plants. In general, the populations coming from cocoa
tree and coffee tree developed best on coffee, and those coming from citrus, on
both coffee and citrus.
1
Adviser: Brígida Souza – UFLA; Co-adviser: Lenira V. C. Santa-Cecília – IMA/EPAMIG.
60
3 INTRODUÇÃO
As cochonilhas constituem-se em um dos principais grupos de insetos-
praga em diversos sistemas de produção, infestando plantas silvestres e
cultivadas, seja em campo ou em cultivos protegidos (Claps & Terán, 2001;
Santa-Cecília & Souza, 2005). Debilitam seu hospedeiro pela sucção de seiva,
inoculação de toxinas e pelo honeydew que liberam sobre a planta, o qual
favorece o desenvolvimento da fumagina (Cox, 1989).
Muitos aspectos da vida do inseto, tais como comportamento, fisiologia
e ecologia estão, de alguma maneira, relacionados com a qualidade e quantidade
do alimento utilizado, tornando fundamentais as relações tróficas entre insetos e
plantas (Slansky & Rodriguez, 1987).
Os insetos fitófagos dependem das plantas para sobreviver e estão
sujeitos a todas as alterações que resultam das interações entre elas e o meio
ambiente. Entretanto, essa associação íntima não afeta somente a eles, pois uma
infestação intensa de insetos não passa despercebida pela planta (Osborne,
1973). Para minimizar o ataque desses fitófagos, as plantas desenvolveram
estruturas físicas e/ou substâncias químicas que causam efeitos deletérios aos
insetos não adaptados a se alimentar das mesmas (Pizzamiglio, 1991).
Por outro lado, muitos insetos desenvolveram mecanismos para
manipular essas defesas de suas plantas preferidas ou, mesmo, utilizá-las em
benefício próprio, como atraentes e estimulantes da alimentação (Panizzi &
Parra, 1991). Desse modo, as substâncias secundárias que inicialmente foram
selecionadas pelas plantas para sua defesa, tornaram-se cairomônios para
insetos, que desenvolveram mecanismos para sobrepujá-las, conduzindo para
uma especificidade hospedeira (Hagen et al., 1984).
61
Slansky & Rodriguez (1987) propuseram que um grupo ou espécie de
planta hospedeira apresenta características físicas, químicas e fenológicas que
podem ser relacionadas com os caracteres fisiológicos e comportamentais do
herbívoro. De acordo com Bernays & Chapman (1994), os insetos sugadores
comumente exibem adaptações morfológicas e fisiológicas associadas com seu
modo particular de alimentação, em tecidos específicos e, dessa forma, a maioria
apresenta especificidade para espécies hospedeiras.
Algumas espécies de Planococcus apresentam especificidade hospedeira
para família de plantas, e até mesmo gênero. As espécies deste gênero foram
divididas em grupos, por meio de características morfológicas e suas plantas
hospedeiras. Assim, espécies do grupo-dendrobii, por exemplo, o específicas
de Orchidaceae, e outras, apesar de terem uma ampla gama de hospedeiros,
apresentam preferências distintas. A espécie Planococcus citri (Risso, 1813), por
exemplo, que é considerada polífaga, não é freqüentemente encontrada em
campos de videiras, enquanto Planococcus ficus (Signoret, 1869), comum em
videiras, raramente é encontrada em citros (Cox, 1989).
A ocorrência de espécies crípticas ou irmãs entre cochonilhas é bastante
comum (Miller & Kosztarab, 1979), como se verifica com Planococcus citri
(Risso, 1813) e Planococcus minor (Maskell, 1897), as quais podem ocorrer na
mesma planta hospedeira, como foi relatado por Santa-Cecília et al. (2002) em
cafeeiros. Dessa forma, a possibilidade de existir uma especificidade total ou
parcial das espécies colonizando cafeeiro, citros e cacau poderia contribuir para
o esclarecimento desta questão.
Assim sendo, este trabalho teve por objetivo estudar o desenvolvimento
de populações de cochonilhas do gênero Planococcus em diferentes espécies
vegetais, visando à verificação de especificidade hospedeira.
62
4 MATERIAL E MÉTODOS
Os ensaios foram conduzidos no Laboratório de Controle Biológico de
Pragas da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais,
EPAMIG/CTSM, Lavras, MG.
Colônias de Planococcus sp. utilizadas nos experimentos foram obtidas
de plantas de cacau (Theobroma cacao L. cultivar Comum) cultivadas em casa
de vegetação, em Lavras, MG; lavoura de café (Coffea canephora L. cultivar
Conilon) localizada no município de Cachoeiro do Itapemirim, ES; e mudas de
citros (Citrus sinensis L. Osbeck cultivar Valência), mantidas em casa de
vegetação, no município de Piracicaba, SP.
Ovos provenientes diretamente de colônias do campo foram utilizados
na instalação dos bioensaios (Tabela 1), sendo transferidos individualmente para
placas de Petri (5 cm de diâmetro) contendo discos foliares de cacau (T. cacao
cultivar Catongo), café (Coffea arabica L. cultivar Mundo Novo) e citros (C.
sinensis cultivar Pêra Rio). Estes discos foliares (4 cm de diâmetro) foram
mantidos sobre uma lâmina de aproximadamente 5 mm de ágar-água a 1%, com
a superfície abaxial voltada para cima. As placas foram vedadas com filme
plástico de PVC e mantidas em câmaras climatizadas reguladas a 25 ± 1ºC, 70 ±
10% UR e 12 horas de fotofase. Quando os discos foliares iniciavam o processo
de amarelecimento as placas eram substituídas por novas.
63
TABELA 1 Constituição dos bioensaios, apresentando a procedência dos
insetos (Planococcus sp.) coletados e os hospedeiros utilizados nos estudos de
biologia.
Origem
Hospedeiros (discos foliares)
Ensaio 1
Cacaueiro (Theobroma cacao) (frutos)
cacau (T. cacao cv. Catongo)
café (Coffea arabica cv. Mundo Novo)
citros (C. sinensis cv. Pêra Rio)
Ensaio 2
Cafeeiro (Coffea canephora) (rosetas)
cacau (T. cacao cv. Catongo)
café (Coffea arabica cv. Mundo Novo)
citros (C. sinensis cv. Pêra Rio)
Ensaio 3
Cítricos (Citrus sinensis) (ramos e frutos)
cacau (T. cacao cv. Catongo)
café (Coffea arabica cv. Mundo Novo)
citros (C. sinensis cv. Pêra Rio)
As cochonilhas foram observadas sob microscópio estereoscópico em
intervalos de 24 horas, ao longo de todo seu período de vida, avaliando-se o
número de ínstares, a duração e a mortalidade no período ninfal, a longevidade e
o ciclo de vida de machos e fêmeas. As fêmeas adultas permaneceram isoladas
dos machos durante toda sua vida. Como não diferenciação sexual evidente
no início do desenvolvimento ninfal, as repetições foram constituídas por
indivíduos com sexo não conhecido.
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com 60
repetições para cada tratamento, sendo cada repetição constituída por um inseto
encerrado em uma placa, e os tratamentos, pelos substratos alimentares.
64
Os dados da duração do período ninfal, longevidade e ciclo de vida
foram submetidos à análise de variância (ANAVA) e as médias comparadas pelo
teste de Tukey a 5% de significância, com dados transformados em
x
. Para o
cálculo da sobrevivência foi utilizado o teste de Qui-quadrado a 5% de
significância. Nesse cálculo não se considerou o sexo dos insetos, pois alguns
morreram no primeiro ínstar e início do segundo, ocasiões em que ainda não é
evidente a diferenciação sexual, obtendo-se a mortalidade geral.
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como relatado, para a maioria dos pseudococcídeos (Garcia et al.,
1992; Malleshaiah et al., 2000; Santa-Cecília et al., 2004; Correa et al., 2005) o
desenvolvimento ninfal de Planococcus sp., provenientes de todos os
hospedeiros, constou de quatro ínstares para os machos, sendo o terceiro e
quarto passados dentro de um casulo, e de três ínstares para as fêmeas.
Durante o período experimental as fêmeas adultas não apresentaram
reprodução por partenogênese e, embora algumas delas tenham iniciado a
construção do ovissaco, não houve postura. Essas observações divergem
daquelas realizadas por Malleshaiah et al. (2000) que constataram reprodução
sexuada e partenogenética em P. citri.
De uma maneira geral, o número de machos foi superior ao de fêmeas,
com restrição a dois tratamentos (cacaueiro/cacau e cafeeiro/café), diferindo dos
resultados de Malleshaiah et al. (2000) e Correa et al. (2005) que constataram
um número superior de fêmeas. Entretanto, Correa (2006) verificou uma
quantidade de machos ligeiramente maior que de fêmeas, quando criou P. citri
em cafeeiro.
65
As cochonilhas fêmeas oriundas de cacaueiro apresentaram um período
ninfal semelhante em todos os substratos alimentares avaliados (Tabela 2). Os
valores constatados para esse período foram superiores aos encontrados por
Maity et al. (1998), quando estudaram a cochonilha P. minor criada em
tubérculos de batata (17,1 dias) e frutos de abóbora (17,8 dias), entretanto, foram
inferiores ao obtido quando criada em inhame (31,7 dias).
TABELA 2 Duração média (dias) erro padrão) do desenvolvimento de
fêmeas e machos de Planococcus sp. (Hemiptera: Pseudococcidae) oriundos de
cacaueiro em folhas de diferentes hospedeiros. (25 ± 1ºC, 70 ± 10% UR e 12
horas de fotofase).
Hospedeiros
cacau café citros
Fase
Theobroma cacao Coffea arabica Citrus sinensis
Valor P*
Período ninfal 24,3 ± 1,9 23,9 ± 1,4 23,5 ± 1,0
(F) n= 3 n= 14 n= 11
0,9558
Período ninfal 23,0 ab 21,8 ± 0,6 b 26,0 ± 1,1 a
(M) n= 1 n=24 n= 12
0,003
Longevidade 21,3 ± 6,9 b 53,8 ± 4,8 a 51,1 ± 2,8 a
(F) n= 3 n= 14 n=11
0,002
Longevidade 3,0 ab 2,3 ± 0,2 b 3,2 ± 0,3 a
(M) n= 1 n= 24 n= 12
0,05
Ciclo de vida 45,7 ± 5,0 b 77,6 ± 5,0 a 74,6 ± 2,7 a
(F) n= 3 n=14 n=11
0,005
Ciclo de vida 26,0 ab 24,1 ± 0,6 b 29,2 ± 1,1 a
(M) n= 1 n= 24 n=12
< 0,001
* Análise de variância com dados transformados por
x
. Médias seguidas com
mesma letra nas linhas não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.
F= fêmea, M= macho; n = número de indivíduos observados.
Para os machos, o período ninfal foi influenciado pelos substratos
alimentares, sendo que as ninfas que se desenvolveram em citros apresentaram
maior duração desse período, constatando-se um aumento de 4,2 dias em relação
66
àquelas criadas em café, onde se obteve o menor tempo de desenvolvimento
(Tabela 2). Todavia, ambos os valores foram inferiores aos obtidos por Correa et
al. (2005) quando avaliaram o desenvolvimento de P. citri criada em folhas de
citros (C. sinensis cv. Bahia) (31,2 dias).
Na fase adulta, os substratos café e citros promoveram um maior período
de sobrevivência das fêmeas de Planococcus sp. em relação ao cacau,
permitindo cerca de 30 dias a mais de vida. Para os machos, somente o citros
provocou um prolongamento significativo deste período (Tabela 2). Todavia,
nos três tratamentos a longevidade foi próxima àquela encontrada por outros
autores, como Malleshaiah et al. (2000) (4,4 dias) e Correa et al. (2005) (2,0
dias) trabalhando com a cochonilha P. citri criada em frutos de abóbora e folhas
de citros, respectivamente.
O ciclo de vida (período ninfal + longevidade) dessa cochonilha foi
influenciado pelos substratos alimentares, sendo que as fêmeas mantidas em café
e citros, e os machos criados em citros, apresentaram um maior tempo de vida
(Tabela 2).
O desenvolvimento ninfal de fêmeas provenientes de cafeeiro sofreu
influência dos hospedeiros sobre os quais foram criadas (Tabela 3), sendo que o
substrato café se apresentou como o mais favorável, por permitir menor duração
desse período, seguido pelo substrato cacau. O citros acarretou a maior duração,
constatando-se um prolongamento de 5,8 dias em relação ao café, resultado
muito próximo ao obtido por Correa et al. (2005) para P. citri em citros (cv.
Bahia) (24,3 dias). Os valores constatados para a duração desse período nos
hospedeiros café e cacau se aproximaram daqueles verificados por Biswas &
Ghosh (2000), que estudaram a biologia da cochonilha P. minor em soja (17,5
dias), ixora (Ixora signaporensis) (16,2 dias) e rabo de gato (Acalypha
wilkesiana) (21,8 dias).
67
TABELA 3 Duração média (dias) erro padrão) do desenvolvimento de
fêmeas e machos de Planococcus sp. (Hemiptera: Pseudococcidae) oriundos de
cafeeiro em folhas de diferentes hospedeiros. (25 ± 1ºC, 70 ± 10% UR e 12
horas de fotofase).
Hospedeiros
cacau café citros
Fase
Theobroma cacao Coffea arabica Citrus sinensis
Valor P*
Período ninfal 19,5 ± 0,5 ab 19,2 ± 0,6 b 25,0 ± 1,7 a
(F) n= 2 n= 24 n= 4
0,003
Período ninfal 23,7 ± 1,8 ab 21,3 ± 0,4 b 25,5 ± 0,9 a
(M) n= 3 n= 20 n= 4
0,002
Longevidade 40,5 ± 12,5 ab 59,1 ± 2,8 a 37,5 ± 6,9 b
(F) n= 2 n= 24 n= 4
0,007
Longevidade 3,0 ± 0,0 2,7 ± 0,2 2,3 ± 0,3
(M) n= 3 n= 20 n= 4
0,530
Ciclo de vida 60,0 ± 13,0 b 78,3 ± 2,8 a 62,5 ± 6,4 ab
(F) n= 2 n= 24 n= 4
0,039
Ciclo de vida 26,7 ± 1,8 ab 23,9 ± 0,5 b 27,8 ± 0,6 a
(M) n= 3 n= 20 n= 4
0,005
* Análise de variância com dados transformados por
x
. Médias seguidas com
mesma letra nas linhas não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.
F= fêmea, M= macho; n = número de indivíduos observados.
Os substratos alimentares apresentaram um efeito semelhante ao
verificado para as fêmeas, em relação à duração do período ninfal de machos de
Planococcus sp. Da mesma forma, o café proporcionou o menor tempo de
desenvolvimento, enquanto que o citros foi o substrato que acarretou maior
duração até atingir a fase adulta (Tabela 3). O período ninfal constatado para os
machos criados em café foi similar aos verificados por Correa et al. (2006) para
P. citri mantida nas cultivares de cafeeiro Acaiá Cerrado (22,3 dias) e Apoatã
(20,2 dias). Contudo, discreparam daqueles obtidos por Laflin & Parrella (2004),
quando estudaram a biologia dessa espécie a 20ºC, em rosas (36,6 dias). Esta
68
discrepância provavelmente se deve ao efeito da temperatura ou mesmo a um
efeito do substrato alimentar.
A longevidade das fêmeas diferiu em função dos substratos alimentares
avaliados, com uma variação de 21,6 dias entre aquelas criadas em café e citros,
verificando-se que a duração desse período foi ampliada quando foram criadas
em café (Tabela 3). O tempo de vida das fêmeas que se desenvolveram em citros
foi reduzido em 18,9 dias em relação ao resultado de Correa et al. (2005), obtido
para P. citri criada na cultivar Bahia. Tais divergências podem estar relacionadas
ao uso de cultivares diferentes. Segundo Bernays & Chapman (1994), a seleção
do hospedeiro o envolve somente a escolha correta da espécie de planta, mas
também a seleção de uma planta individual dentro da espécie, a qual seja
suscetível à alimentação, sobrevivência e desenvolvimento.
O período de vida adulta dos machos não foi afetado pelo hospedeiro em
que se desenvolveram. Com relação ao ciclo de vida, verificou-se que os
hospedeiros exerceram influência sobre o desenvolvimento desses insetos. As
fêmeas apresentaram um ciclo mais longo quando criadas em café, e os machos,
quando criados em citros (Tabela 3).
A duração do período ninfal de fêmeas provenientes de citros foi muito
influenciada pelos substratos para os quais foram transferidas (Tabela 4), visto
que o cacau exerceu um efeito deletério sobre elas, não permitindo que nenhuma
atingisse a fase adulta. Uma maior velocidade de desenvolvimento foi obtida
quando esses insetos foram criados em café, em relação àqueles criados em
citros. Para os machos, não houve influência dos hospedeiros sobre a duração da
fase de ninfa. Correa et al. (2006), estudando a biologia de P. citri em cafeeiros,
encontraram valores muito próximos para a duração desse período para fêmeas
criadas nas cultivares Acaiá Cerrado (20,2 dias) e Mundo Novo (23,6 dias).
Martínez & Surís (1998) obtiveram resultados semelhantes para o período ninfal
de machos (21,3 dias) para P. minor criada em batata.
69
A duração do período de vida adulta das fêmeas de Planococcus sp. não
foi afetada pelos substratos sobre os quais foram alimentadas, enquanto os
machos apresentaram um prolongamento desta fase quando criados em citros
(Tabela 4). Porém, o tempo de vida dos machos se assemelhou aos verificados
em outros trabalhos, como aqueles conduzidos por Correa (2006) e Malleshaiah
et al. (2000) para P. citri, em cafeeiro e frutos de abóbora, respectivamente.
TABELA 4 Duração média (dias) erro padrão) do desenvolvimento de
fêmeas e machos de Planococcus sp. (Hemiptera: Pseudococcidae) oriundos de
citros em folhas de diferentes hospedeiros. (25 ± 1ºC, 70 ± 10% UR e 12 horas
de fotofase).
Hospedeiros
cacau café citros
Fase
Theobroma cacao Coffea arabica Citrus sinensis
Valor P*
Período ninfal 20,1 ± 0,9 b 23,4 ± 0,8 a
(F)
**
n= 20 n= 10
0,016
Período ninfal 22,3 ± 0,7 20,0 ± 0,6 20,3 ± 0,3
(M) n= 6 n= 29 n= 28
0,122
Longevidade 55,5 ± 4,1 51,5 ± 2,9
(F)
**
n= 20 n= 10
0,656
Longevidade 2,3 ± 0,3 b 2,8 ± 0,1 ab 3,1 ± 0,1 a
(M) n= 6 n= 29 n= 28
0,010
Ciclo de vida 75,6 ± 4,2 74,9 ± 3,0
(F)
**
n= 20 n= 10
0,969
Ciclo de vida 24,7 ± 1,0 22,8 ± 0,6 23,3 ± 0,4
(M) n= 6 n= 29 n= 28
0,286
* Análise de variância com dados transformados por
x
. Médias seguidas com
mesma letra nas linhas não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.
** Mortalidade de 100%.
F= fêmea, M= macho; n = número de indivíduos observados.
70
Quando se avaliou o ciclo de vida de fêmeas e machos não foram
verificadas diferenças no tempo de desenvolvimento em função dos hospedeiros
estudados (Tabela 4).
Os substratos alimentares exerceram influência na mortalidade das
ninfas de Planococcus sp. oriundas dos três hospedeiros (Tabela 5). Os maiores
índices de mortalidade foram obtidos quando criadas no substrato cacau,
independente da planta hospedeira da qual foram originalmente coletadas, e
quando mantidas em citros, a partir de insetos coletados em plantas de café.
Nestas condições, os valores de mortalidade foram superiores a 85%. As
menores porcentagens de mortalidade foram encontradas quando as ninfas se
desenvolveram no substrato café, independente da procedência hospedeira, e no
citros, quando oriundas de plantas de citros.
TABELA 5 Mortalidade média (%) de ninfas de Planococcus sp. (Hemiptera:
Pseudococcidae) de diferentes origens criadas em três hospedeiros. (25 ± 1ºC, 70
± 10% UR e 12 horas de fotofase).
Origem/hospedeiros Período ninfal
Cacaueiro (Theobroma cacao) (frutos)
cacau 93,4 a
café 36,7 c
citros 61,7 b
Cafeeiro (Coffea canephora) (rosetas)
cacau 90,0 a
café 26,7 cd
citros 86,7 a
Cítricos (Citrus sinensis) (ramos e frutos)
cacau 90,0 a
café 18,3 d
citros 36,7 c
Valor P*
< 0,001
* Médias seguidas com mesma letra na coluna não diferem entre si pelo Teste de
Qui-quadrado (χ
2
) a 5%.
71
Vários autores, estudando a biologia de pseudococcídeos, obtiveram
índices de mortalidade baixos, como Garcia et al. (1992), que estudaram a
cochonilha Dysmicoccus cryptus Hempel, 1918 em tubérculos de batata (3%);
Correa et al. (2005) que estudaram P. citri em folhas de citros (30%) e Correa
(2006) estudando esta mesma espécie em cultivares de café (abaixo de 30%).
De uma maneira geral, os discos foliares de cacau se mostraram menos
adequados para as diferentes populações de cochonilhas, pois, embora não
tenham prolongado o período de desenvolvimento ninfal, proporcionaram as
maiores taxas de mortalidade, além de terem causado a morte de todas as ninfas
fêmeas oriundas de citros (Tabela 4). Este fato fornece subsídios para se sugerir
que folhas de cacau apresentam alguma particularidade que afeta negativamente
o desenvolvimento dessas cochonilhas. De fato, como relatado por Pizzamiglio
(1991), as plantas desenvolvem estruturas físicas e/ou substâncias químicas que
causam efeitos deletérios aos insetos não adaptados a se alimentar das mesmas.
Esse efeito no metabolismo do inseto é decorrente principalmente da ingestão de
metabolitos tóxicos, inibidores enzimáticos e reprodutivos, ou da deficiência
qualitativa e quantitativa de nutrientes (Gallo et al., 2002).
As cochonilhas que foram criadas no substrato cacau apresentaram-se
com tamanho menor em comparação com os insetos criados nos demais
substratos. De acordo com Evans (1984), as deficiências dietéticas podem causar
a redução no tamanho e funcionamento das glândulas endócrinas, resultando em
desenvolvimento anormal e, em casos extremos, podem causar inanição ou
morte. Entretanto, populações de Planococcus sp. foram observadas em
densidades relativamente elevadas sobre plantas de cacau cultivadas em casa de
vegetação. Além disso, existem relatos da ocorrência desses insetos em lavouras
de cacau da região Neotropical e regiões da Polinésia, Australo-oriental e
Oriental (Cox & Freeston, 1985).
72
Essas constatações levam a sugerir a existência de uma especialização
do inseto, pois a maioria das espécies fitófagas tende a especializar-se com o
táxon da planta da qual se alimentam, podendo também se associar com partes
particulares das plantas (Bernays & Chapman, 1994). Como os espécimes
utilizados neste experimento foram originalmente coletados em frutos de
cacaueiros, eles podem ter sofrido o efeito, não apenas da mudança de
hospedeiro, mas também da alteração da parte da planta, ou seja, dos frutos para
os discos foliares. Este fenômeno também foi observado por Kirkpatrick (1953)
que, ao estudar cochonilhas (Planococcus sp.) presentes em cacaueiros de
Trinidad, verificou que elas podiam se desenvolver sobre frutos de citros, mas
não em folhas.
O substrato ca se apresentou como o mais satisfatório para o
desenvolvimento das cochonilhas, uma vez que proporcionou as maiores taxas
de sobrevivência e, de maneira geral, reduziu o período de ninfa de fêmeas e
machos. Além disso, permitiu uma maior longevidade desses insetos, sugerindo
que esse hospedeiro provém condições mais favoráveis para seu
desenvolvimento.
Segundo Parra (1991), a qualidade e a quantidade do alimento ingerido
na fase jovem afetam a taxa de crescimento, o tempo de desenvolvimento, peso
do corpo e sobrevivência, bem como influenciam a fecundidade, longevidade,
movimentação e capacidade de competição de adultos. Assim, dietas
inadequadas induzem o inseto a prolongar o desenvolvimento ninfal.
O prolongamento do tempo de vida adulta provocado pelo substrato café
fortalece o indício de tratar-se de um alimento adequado, pois o desempenho de
cada estágio de vida do inseto depende basicamente do sucesso do estágio
anterior em obter, sintetizar e acumular as substâncias nutricionais em
quantidades apropriadas (Parra, 1991).
73
Na busca de uma especificidade alimentar dessas populações de
cochonilhas do gênero Planococcus, pode-se dizer, baseando-se nos resultados
obtidos para sobrevivência e duração dos estágios de vida, que as populações
provenientes de cacaueiros e cafeeiros se desenvolvem melhor em café, e que as
oriundas de citros, em café e citros.
6 CONCLUSÕES
Os substratos alimentares influenciam o desenvolvimento das populações de
cochonilhas do gênero Planococcus, independentemente do hospedeiro de
origem.
O substrato café provoca uma redução do período de ninfa de fêmeas e
machos de Planococcus sp. e um maior tempo de vida dos adultos.
O substrato cacau promove as maiores taxas de mortalidade e o café as
menores taxas.
Populações oriundas de cacaueiro e cafeeiro se desenvolvem melhor em café,
e aquelas provenientes de citros, em café e citros.
74
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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insects. New York: Chapman & Hall, 1994. 312p.
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(Maskell) on various host plants. Environment and Ecology, West Bengal, v.
18, n. 4, p. 929-932, 2000.
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cítricos en la Provincia de Tucumán (Republica da Argentina). Neotropical
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando-se os resultados obtidos nos estudos morfológicos e
biológicos, pode-se dizer que a situação que envolve a taxonomia de
Planococcus citri e Planococcus minor é bastante complexa. Embora essas
espécies sejam consideradas como dois táxons distintos e descritas como
crípticas, não apresentam discrepâncias suficientes para sustentar a hipótese
atual da separação de ambas.
Portanto, não se pode rejeitar a idéia de que as mesmas sejam
simplesmente populações variáveis de uma espécie polimórfica, embora ainda
faltem subsídios para tal alusão.
Dessa forma, são necessárias pesquisas adicionais na busca por
similaridades ou divergências entre P. citri e P. minor, principalmente aquelas
referentes às caracterizações moleculares das mesmas, como análises de PCR e
de feromônios dos machos. De qualquer maneira os resultados do presente
estudo poderão servir de base para pesquisas futuras sobre o tema.
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