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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
PÓS-GRADUAÇÃO EM OCEANOGRAFIA BIOLÓGICA
CARACTERIZAÇÃO DA PESCA
E ABUNDÂNCIA RELATIVA DA TAINHA
(MUGIL PLATANUS) (GÜNTHER, 1880)
NO ESTUÁRIO DA LAGOA DOS PATOS
CRISTIANA NEVES FERREIRA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Oceanografia Biológica da
Fundação Universidade Federal do Rio Grande,
como requisito parcial à obtenção do título de
MESTRE.
Orientador: Profa. Dra. Enir Girondi Reis
RIO GRANDE
Julho 2007
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Livros Grátis
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Milhares de livros grátis para download.
Dedico ao meu pai, meu eterno amigo,
ao meu querido filho Lucas e ao
meu amor, Santiago
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente à professora Neca pela sua excelente orientação e
imensurável amizade. Trabalhar no seu laboratório foi uma experiência enriquecedora
tanto do ponto de vista profissional quanto pessoal. Obrigada pelo grande apoio e
infindável compreensão. Em um dos momentos mais difíceis da minha vida, sua força e
amizade foram imprescindíveis. Agradeço pelo conhecimento transmitido e sua valiosa
contribuição para o meu aprimoramento profissional. Tu és um anjo sem asas.
Obrigada, de coração.
Aos meus pais, pelo apoio e paciência, em especial ao meu pai pelo infinito amor
e amizade. Obrigada por estar sempre tão presente em minha vida.
À toda minha família, pelo apoio, em especial ao Santiago, meu esposo, pelo amor
e amizade. Obrigada por acreditar em mim. Agradeço aos meus irmãos pelas constantes
perguntas sobre a tainha e os prazos. À minha prima Lú, pela amizade, carinho e apoio.
Aos meus avós, pelo imenso amor. À Íris, pelo amor incondicional, preciosa companhia
e amizade.
Ao grande amigo Mauro Lima pelos momentos vividos, as preciosas conversas, as
ondas surfadas, as deliciosas lazanhas e as freqüentes risadas.
Às minhas amigas queridas Aninha, Carol Berra, Carô, Carlinha e Marilsa pela
grande amizade.
Aos pescadores e seus familiares que gentilmente cederam seu tempo propiciando
uma excelente oportunidade de aprendizado para mim.
Aos membros da banca examinadora, Dra. Enir Girondi Reis (Departamento de
Oceanografia- FURG), Dr. Jorge Pablo Castello (Departamento de Oceanografia-
FURG), Dr. Paul Gerhard Kinas (Departamento de Matemática- FURG), Dr. José
Roberto Verani (Departamento de Hidrobiologia- UFSCAR) pelas valiosas críticas e
sugestões feitas ao trabalho.
Ao professor Pedrinho e ao Gladimir, pelo apoio e amizade.
Aos professores do curso de pós-graduação, em especial aos professores Kinas,
Castello e Felipe, pelo conhecimento transmitido.
Ao coordenador da pós-graduação, Dr. César Costa, e à Vera, pela colaboração.
Á CNPq pelo auxílio financeiro oferecido.
ÍNDICE
Pag.
Lista de Tabelas.............................................................................................................................
.
i
Lista de Figuras.............................................................................................................................
.
iii
Resumo...........................................................................................................................................
.
vii
Abstract..........................................................................................................................................
.
ix
Introdução......................................................................................................................................
1
Estatística de Pesca................................................................................................................................
.
5
Biologia da Espécie.................................................................................................................................
.
10
Capítulo 1
Avaliação da Qualidade dos Dados..............................................................................................
.
12
Material e Métodos................................................................................................................................. 12
Coleta de Dados..............................................................................................................................
.
12
Análise dos Dados...........................................................................................................................
.
16
Resultados...............................................................................................................................................
.
18
Pesca de Mugil platanus..................................................................................................................
.
22
Tratamento dos Dados.....................................................................................................................
.
24
Principais Problemas do Registro de Dados.....................................................................................
.
29
Discussão.................................................................................................................................................
31
Recomendações sobre o Uso de Agentes de Campo em um Sistema de Amostragem
de Pesca Artesanal...........................................................................................................................
35
Capítulo 2
Caracterização da Pesca de Mugil platanus no estuário da Lagoa dos Patos..........................
.
40
Material e Métodos.................................................................................................................................
41
Resultados...............................................................................................................................................
.
45
Tipo e Número de Operação de Pesca.............................................................................................
45
Tipos de Operação de Pesca por Comunidade.................................................................................
.
48
Pesca com Redes de Emalhe
............................................................................................................
50
Pesca com Redes de Cerco
..............................................................................................................
.
72
Comparação dos Resultados entre 2002 e 2003...............................................................................
.
86
Discussão.................................................................................................................................................
88
Uso e eficiência das Artes de Pesca Utilizadas
.................................................................................
89
Ordenamento Pesqueiro...................................................................................................................
.
91
Capítulo 3
Unidade de Esforço de Pesca e Abundância Relativa de
Mugil platanus
no Estuário
da Lagoa dos Patos........................................................................................................................
.
93
Material e Métodos.................................................................................................................................
95
Definição de Unidade de Esforço de Pesca
......................................................................................
.
95
Distribuição Espacial e Sazonal de Mugil platanus
...........................................................................
98
Resulrados..............................................................................................................................................
.
99
Definição de Unidade de Esforço de Pesca......................................................................................
.
99
Distribuição Espacial e Sazonal de Mugil platanus
...........................................................................
104
Discussão................................................................................................................................................. 120
Definição de Unidade de Esforço de Pesca......................................................................................
.
120
Abundância e Ciclo de Vida de Mugil platanus................................................................................
123
Discussão Geral.............................................................................................................................
.
127
Conclusões...............................................................................................................................................
134
Recomendações....................................................................................................................................... 135
Referências Bibliográficas............................................................................................................
.
136
Apêndices.......................................................................................................................................
.
144
i
LISTA DE TABELAS
CAPITULO 1
Tabela 1.1- Número de operações de pesca (Nr), captura, em peso (kg), número de
pescadores amostrados (NP) e média e desvio padrão do número de operações de pesca
por pescador (Nr/NP) para cada comunidade durante os anos de 2002 e 2003 na pesca
de M. platanus no estuário da Lagoa dos Patos...............................................................23
Tabela 1.2– Número de operações de pesca e peso total capturado pelos diferentes tipos
de artes de pesca descritos nas planilhas de campo (dados originais).............................25
Tabela 1.3 – Número de operações de pesca e peso total capturado pelos tipos de
operação de pesca nos anos de 2002 e 2003 (dados originais)........................................26
Tabela 1.4 – Número de operações de pesca e peso total capturado pelos diferentes
tipos de operação de pesca durante os anos 2002 e 2003, após o procedimento de
verificação dos dados (dados triados). A diferença em relação aos dados originais e o
percentual de perda de dados são apresentados...............................................................29
CAPITULO 2
Tabela 2.1 – Características das redes de emalhe fixo (simples), das estratégias de pesca
e das embarcações da comunidade
Mangueira nos anos 2002 e 2003............................51
Tabela 2.2: Características das redes de emalhe fixo (simples), das estratégias de pesca
e das embarcações da comunidade
Torotama nos anos 2002 e 2003..............................54
Tabela 2.3: Características das redes de emalhe fixo (simples), das estratégias de pesca
e das embarcações da comunidade
Passinho nos anos 2002 e 2003...............................58
Tabela 2.4: Características das redes de emalhe fixo (simples), das estratégias de pesca
e das embarcações da comunidade
Capivaras nos anos 2002 e 2003.............................62
Tabela 2.5: Características das redes de emalhe fixo (simples), das estratégias de pesca
e das embarcações da comunidade
Várzea nos anos 2002 e 2003..................................66
Tabela 2.6 – Características das redes de emalhe fixo (simples), das estratégias de pesca
e das embarcações da comunidade
Z-3 nos anos 2002 e 2003........................................69
Tabela 2.7: Características das redes de cerco, das estratégias de pesca e das
embarcações da comunidade
Bosque nos anos 2002 e 2003...........................................73
Tabela 2.8: Características das redes de cerco, das estratégias de pesca e das
embarcações da comunidade
Passinho nos anos 2002 e 2003........................................77
Tabela 2.9: Características das redes de cerco, das estratégias de pesca e das
embarcações da comunidade
Várzea nos anos 2002 e 2003...........................................81
i
ii
Tabela 2.10: Características das redes de cerco, das estratégias de pesca e das
embarcações da comunidade
Z-3 nos anos 2002 e 2003.................................................84
CAPITULO 3
Tabela 3.1- Procedimento para inclusão de novos variáveis aos modelos de regressão
linear................................................................................................................................97
Tabela 3.2– Coeficientes de determinação ajustado (R
2
ajustado) e nível de
significância (p) para os modelos de regressão linear entre a captura ( Ln(Kg +1) ) e as
variáveis de esforço amostradas para a pesca de cerco...................................................99
Tabela 3.3– Coeficientes de determinação ajustados (R
2
ajustado) e nível de
significância (p) dos modelos de regressão linear simples entre a captura ( Ln(Kg +1) ) e
as variáveis de esforço amostradas para a pesca de emalhe fixo...................................101
Tabela 3.4 – Resultados da aplicação dos Testes Kruskal-Wallis e de Mann-Whitney -
Cerco 2002 ....................................................................................................................105
Tabela 3.5 - Resultados da aplicação dos Testes de Kruskal-Wallis e de Mann-Whitney
- Cerco 2003..................................................................................................................106
Tabela 3.6 - Resultados da aplicação dos Testes de ANOVA e de Tukey – Emalhe fixo
2002 ..............................................................................................................................113
Tabela 3.7 - Resultados da aplicação dos Testes de ANOVA e de Tukey – Emalhe fixo
2003...............................................................................................................................114
ii
iii
LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO
Figura 1- Variação anual do desembarque de M. platanus no Rio Grande do Sul por
tipo de explotação. A área no círculo é apresentada em
detalhe................................................................................................................................6
Figura 2- Variação anual dos desembarques artesanal e industrial de M. platanus no
Rio Grande do Sul e Santa Catarina, de 2001 a 2005 (Fonte: IBAMA)
................................................................ ..........................................................................8
Figura 3 – Variação dos valores médios dos desembarques da captura total de M.
platanus no Rio Grande do Sul (a) e em Santa Catarina
(b).......................................................................................................................................9
CAPITULO 1
Figura 1.1 – Localização das comunidades pesqueiras amostradas no estuário da Lagoa
dos Patos..........................................................................................................................13
Figura 1.2 – Variação mensal do número total de pescadores amostrados (--) e
número acumulado de pescador ao longo dos meses (- - ) entre os anos de 2002 e 2003
nas comunidades do Bosque (a), Mangueira (b), Torotama (c), Passinho (d), Capivaras
(e), Várzea (f) e Z-3 (g)...................................................................................................20
Figura 1.3 – Diagrama esquemático de um programa de amostragem (baseado em
FAO, 1999).....................................................................................................................36
CAPITULO 2
Figura 2.1 – Setores de pesca e comunidades pesqueiras no estuário da Lagoa dos
Patos................................................................................................................................ 44
Figura 2.2. Operações de pesca, peso total capturado e número total de pescadores para
todas as comunidades nos anos de 2002 e 2003..............................................................47
Figura 2.3 – Distribuição do número de operações de pesca (a), do peso capturado de
M. platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c) para a pesca de emalhe
fixo (simples) na comunidade
Mangueira durante os anos de 2002 e 2003....................52
Figura 2.4 – Distribuição do número de operações de pesca (a) e do peso capturado (b)
para a pesca de emalhe fixo (simples) por setor de pesca no outono do ano de 2002 e de
2003 na comunidade de
Torotama ..................................................................................55
Figura 2.5 – Distribuição do número de operações de pesca (a), do peso capturado de
M. platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c) para a pesca de emalhe
fixo (simples) na comunidade da Torotama
durante os anos de 2002 e 2003.................56
iii
iv
Figura 2.6.
–- Distribuição do número de operações de pesca (a) e das capturas (b) para
a pesca de emalhe fixo (simples) por setor de pesca para cada ano, realizado pelos
pescadores estabelecidos em Passinho
............................................................................59
Figura 2.7– Distribuição do número de operações de pesca (a), do peso capturado de M.
platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c), para a pesca de emalhe
fixo (simples) na comunidade do Passinho
durante os anos de 2002 e 2003..................60
Figura 2.8 – Distribuição do número de operações de pesca (a) e das capturas (b) para a
pesca de emalhe fixo (simples) por setor de pesca para cada ano, realizado pelos
pescadores estabelecidos em Capivaras
........................................................................ 63
Figura 2.9 – Distribuição do número de operações de pesca (a), do peso capturado de
M. platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c), para a pesca de emalhe
fixo (simples) na comunidade de Capivaras
durante os anos de 2002 e 2003................64
Figura 2.10 – Distribuição do número de operações de pesca (a), do peso capturado de
M. platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c) para a pesca de emalhe
fixo (simples) na comunidade da Várzea
durante os anos de 2002 e 2003.....................67
Figura 2.11 – Distribuição do número de operações de pesca (a) e das capturas (b) para
a pesca de emalhe fixo (simples) por setor de pesca para cada ano, realizado pelos
pescadores estabelecidos na Z-3
......................................................................................70
Figura 2.12 – Distribuição do número de operações de pesca (a), do peso capturado de
M. platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c) para a pesca de emalhe
fixo (simples) na comunidade Z-3
durante os anos de 2002 e 2003...............................71
Figura 2.13 – Distribuição do número de operações de pesca (a) e das capturas (b) para
a pesca de cerco por setor de pesca para cada ano, realizado pelos pescadores
estabelecidos no Bosque
..................................................................................................74
Figura 2.14 – Distribuição do número de operações de pesca (a) do peso capturado de
M. platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c) para a pesca de cerco na
comunidade do Bosque
durante os anos de 2002 e 2003................................................75
Figura 2.15 - Distribuição do número de operações de pesca (a) e das capturas (b) para
a pesca de cerco por setor de pesca para cada ano, realizado pelos pescadores
estabelecidos em Passinho
...............................................................................................78
Figura 2.16 – Distribuição do número de operações de pesca (a) do peso capturado de
M. platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c), para a pesca de cerco
na comunidade do Passinho
durante os anos de 2002 e 2003.........................................79
Figura 2.17 – Distribuição do número de operações de pesca (a), do peso capturado de
M. platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c) para a pesca de cerco na
comunidade da Várzea
em 2002......................................................................................82
iv
v
Figura 2.18 - Distribuição do número de operações de pesca (a) e das capturas (b) para
a pesca de cerco por setor de pesca para cada ano, realizado pelos pescadores
estabelecidos na Z-3
. 85
Figura 2.19 – Distribuição do número de operações de pesca (a), do peso capturado de
M. platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c) para a pesca de cerco na
comunidade Z-3
durante os anos de 2002 e 2003...........................................................86
CAPITULO 3
Figura 3.1– Distribuição mensal do total do número de operações de pesca e da área
das redes na pesca de emalhe fixo nos anos de 2002 e 2003.........................................103
Figura 3.2- Distribuição mensal das operações de pesca e das capturas de Mugil
platanus para a pesca com redes de cerco em 2002 (a) e 2003 (b). (Nr – número de
operações de pesca; Kg – peso total capturado)............................................................104
Figura 3.3 – Distribuição mensal do esforço de pesca e CPUE de Mugil platanus para a
pesca de cerco em 2002 (a) e 2003 (b)..........................................................................105
Figura 3.4- Distribuição espacial das operações de pesca e das capturas de Mugil
platanus ao longo do estuário em 2002 e 2003 para a pesca com redes de cerco. (Nr –
número de operações de pesca; Kg – peso total capturado)..........................................107
Figura 3.5- Distribuição espacial do esforço de pesca e da captura por unidade de
esforço (CPUE) de Mugil platanus para a pesca de cerco em 2002 (a) e 2003 (b).......107
Figura 3.6 - Distribuição espaço-temporal do número de operações de pesca e captura
(kg) (a) e do esforço de pesca e da captura por unidade de esforço (b) de Mugil platanus
para a pesca de cerco nos meses de fevereiro, março, abril e maio do ano de 2002. (Nr –
número de operações de pesca; Kg – peso total capturado)..........................................109
Figura 3.7 - Distribuição espaço-temporal das operações de pesca e das capturas (a) e
do esforço de pesca e da captura por unidade de esforço (CPUE) (b) de Mugil platanus
para a pesca de cerco nos meses de abril, maio, outubro e novembro do ano de 2003.
(Nr – número de operações de pesca; Kg – peso total capturado)................................111
Figura 3.8- Distribuição mensal das operações de pesca e das capturas de Mugil
platanus para a pesca de emalhe fixo em 2002 (a) e 2003 (b). (Nr – número de
operações de pesca; Kg – peso total capturado)............................................................112
Figura 3.9– Distribuição mensal do esforço de pesca e da captura por unidade de
esforço (CPUE) de Mugil platanus para a pesca de emalhe fixo em 2002 (a) e 2003
(b)...................................................................................................................................113
v
vi
Figura 3.10- Distribuição espacial do número de operação de pesca e da captura de
Mugil platanus para a pesca de emalhe fixo no ano de 2002 (a) e 2003 (b). (Nr –
número de operações de pesca; Kg – peso total capturado)..........................................115
Figura 3.11- Distribuição espacial do esforço de pesca e da captura por unidade de
esforço (CPUE) de Mugil platanus para a pesca de emalhe fixo em 2002 (a) e 2003
(b)...................................................................................................................................115
Figura 3.12 - Distribuição espaço-temporal das operações de pesca e das capturas (a) e
do esforço de pesca e da captura por unidade de esforço (CPUE) (b) de Mugil platanus
para a pesca de emalhe fixo nos meses de abril, março e maio do ano de 2002. (Nr –
número de operações de pesca; Kg – peso total capturado)..........................................117
Figura 3.13 - Distribuição espaço-temporal das operações de pesca e das capturas (a) e
do esforço de pesca e da captura por unidade de esforço (CPUE) (b) de Mugil platanus
para a pesca de emalhe fixo nos meses de abril, março e maio do ano de 2003. (Nr –
número de operações de pesca; Kg – peso total capturado)..........................................119
vi
vii
RESUMO
O ciclo de vida de Mugil platanus está intimamente relacionado a ambientes estuarinos,
sendo o estuário da Lagoa dos Patos uma importante área de crescimento, alimentação e
maturação gonadal para a espécie. M. platanus tem sido tradicionalmente capturada no
Rio Grande do Sul pela pesca artesanal no estuário da Lagoa dos Patos, durante o
outono, quando indivíduos em estágio avançado de maturação gonadal vão realizar a
migração reprodutiva para desovar no oceano. Apesar das grandes flutuações na
abundância da espécie estarem associadas às variações ambientais, a análise do histórico
dos desembarques da pesca artesanal para o Estado (1960-2005) revela um quadro
preocupante com uma tendência decrescente nas capturas a partir da década de 80 e um
pronunciado decréscimo no peso médio capturado, a intervalos de 5 anos, para o
período de maior captura (outono). No estuário da Lagoa dos Patos, durante os anos de
2002 e 2003, foram coletados, pela primeira vez, dados pareados de captura e esforço de
pesca, em sete comunidades pesqueiras (Bosque, Mangueira, Torotama, Passinho,
Capivaras, Várzea e Z-3). A coleta de dados foi feita por agentes de campo, da própria
comunidade, sendo registrado um total de 1.188 operações de pesca dirigidas à M.
platanus realizadas por 124 pescadores com captura total de 143.036kg. Nesse estudo
foi feita análise da adequação do sistema de amostragem por agentes de campo para
coleta de dados de captura e esforço de pesca, descrição das artes de pesca empregadas
para a captura de M. platanus e análise da distribuição espacial e sazonal da abundância
da espécie no estuário através da CPUE, sendo selecionada a unidade de esforço de
pesca mais apropriada pela sua relação com a captura. O sistema de amostragem se
mostrou satisfatório para contornar os constantes fracassos na coleta de dados, por
técnicos e/ou pesquisadores, decorrentes principalmente da alta velocidade de
comercialização das capturas. Os principais problemas encontrados foram: falta de um
viii
desenho amostral pré-definido que possibilitasse a realização de comparações; falta de
capacitação dos agentes de campo para a tomada de dados; e falta de monitoramento da
coleta de dados que resultaram em perda de informações e de detalhamento sobre as
operações de pesca, e inclusão de possíveis fontes de erro na análise. No entanto,
recomenda-se implementar esse sistema de coleta de dados, desde que sejam feitos os
ajustes necessários, permitindo a identificação e correção dos problemas à curto prazo, a
capacitação dos agentes de campo e o monitoramento da coleta de dados. A pesca de M.
platanus é realizada predominantemente com duas artes de pesca: redes de cerco e redes
de emalhe fixo, cada uma delas sendo considerado um grupo operacional estratégico. O
emalhe fixo foi a arte de pesca mais utilizada, embora o volume das capturas com redes
de cerco tenham sido superiores. Apenas na comunidade do Bosque a pesca com emalhe
fixo foi desprezível. Não foram encontradas diferenças marcantes entre as comunidades
pesqueiras quanto às artes e embarcações de pesca. Os maiores volumes de captura e
maior esforço de pesca ocorreram principalmente no período de março a maio. Como
unidade de esforço de pesca para o cerco, utilizou-se a combinação do número de lances
e a área das redes. Para o emalhe fixo, a área das redes foi utilizada como unidade de
esforço, sendo a escolha feita com base em literatura relacionada pois as capturas não
foram explicadas pelas variáveis de esforço de pesca amostradas. A distribuição sazonal
e espacial da CPUE não apresentaram tendências claras, observando-se padrões
contrários para a pesca de cerco e de emalhe fixo. As baixas capturas encontradas nos
dois anos, a pequena janela temporal, de apenas dois anos, os problemas na coleta de
dados e a forte relação entre a abundância de M. platanus e as condições ambientais
estão entre as possíveis causas desse resultado. A pressão pesqueira sobre o estoque no
período de reprodução, juntamente com as condições ambientais prevalecentes,
contribuem para as grandes flutuações na abundância de M. platanus .
ix
ABSTRACT
The Patos Lagoon estuary is an important nursery, feeding and gonad maturation
ground for M. platanus. The species has been traditionally exploited in the Rio Grande
do Sul by artisanal fishery in the Patos Lagoon estuary during autumn, when mature
adults move to the sea to spawn. Although the large fluctuations in the species´
abundance are associated with environmental variables, the artisanal fishery landings
(1960-2005) show a decreasing trend since 1980´s and an important reduction on the
average landings at 5 years intervals for the most intense period of fishing (autumn).
Capture and effort data combined were collected for the first time during 2002 and 2003
in the Patos Lagoon estuary in seven fishing communities (Bosque, Mangueira,
Torotama, Passinho, Capivaras, Várzea e Z-3). Catch and effort data were collected by
field agents from all seven communities. A total of 1,188 fishing operations that
resulted in 143t were carried out by 124 fishermen. The sampling system by field
agents, the description of fishing units and fishing operations, and the spatial and
temporal distributions of M. platanus were analyzed. The sampling system revealed to
be satisfactory to reduce the constant failures in data collection by technical staff,
caused mainly by the fast commercialization in a great number of scattered landing
sites. The main problems of the sampling system were: lack of a previously defined
sampling design, inadequately trained field agents and absence of a monitoring system.
As a result detailed fishing information was lost and bias was introduced. However, the
use of this type of sampling system is suggested as long as the required adjustments are
done, i.e., allowing for the identification and correction of problems in a short time
period, proper training of field agents, and monitoring of data collection. Two fishing
gears are used to catch M. platanus in the estuary: encircling gillnets and fixed gillnets,
each one considered a strategic operation group. Fixed gillnets were more frequently
x
used, although the catch is lower than with encircling gillnets. Only in one community
(Bosque) the use of fixed nets fishery was occasional. Fishing gears and vessels do not
differ significantly between communities. The maximum values of catch and effort were
found between March and May mainly. The combination of the number of sets and the
area of net was the selected unit of effort for encircling gillnets. For fixed nets the area
of the net was used, the choice based on literature as the tested effort units did not
explained the catch. Spatial and temporal distributions of CPUE did not show clear
tendencies, encircling gillnets and fixed gillnets presenting opposite trends. The small
artisanal landings during the two years of the study, the small time window for
investigation, the problems with data collecting and the strong relationship between M.
platanus abundance and the environmental conditions are among the possible causes of
the discrepant result. The exploitation of the stock during its reproductive period along
with the prevailing environmental conditions contributes to the great fluctuations in the
abundance of M. platanus.
1
INTRODUÇÃO
A explotação dos recursos pesqueiros no estuário da Lagoa dos Patos, tendo como
espécies alvo corvina (Micropogonias furnieri), tainha (Mugil platanus), bagre (Netuma
barba) e camarão-rosa (Farfantepenaeus paulensis), remonta desde o século XIX (Ihering,
1885).
Essa pesca, categorizada como artesanal, teve grande importância econômica nas
décadas de 60 e 70 quando atingiu mais de 43 mil toneladas somente de peixes excluindo-
se camarão. No entanto, a partir de 1982, as capturas têm decrescido drasticamente
(Reis &
D’Incao, 2000). Seu volume mais baixo foi atingido em 2003, com menos de 3 mil
toneladas.
A partir da década de 80 apenas a pesca de F. paulensis e de M. platanus tem sido
economicamente rentável no estuário (Reis et al., 1994; Reis & Rodrigues, 2003). As
demais espécies ocorrem em safras ocasionais. Com a queda nas capturas e como forma de
mantê-las em níveis ainda rentáveis, as estratégias de pesca empregadas pelos pescadores
artesanais incluem, cada vez mais, o uso de um maior número de redes, o emprego de
aparelhos de pesca cada vez menos seletivos (como as redes de arrasto) e a utilização de
tamanhos de malha menores aos recomendados (Boffo & Reis, 2003). Também como
resultado do colapso da pesca no estuário estabeleceu-se um novo tipo de pescaria, ao
longo de áreas costeiras de baixa profundidade, que utiliza como arte de pesca redes de
emalhe à deriva (Reis et al., 1994; Boffo & Reis, 2003; Janata & Reis, 2005). Ainda no
litoral, a pesca industrial com arrasteiros de porta e parelhas e traineiras (que utilizam rede
2
de cerco) incidem sobre os mesmos recursos explotados pela pesca artesanal estuarina
(Haimovici, 1997).
O estuário da Lagoa dos Patos tem um papel fundamental no ciclo de vida das
espécies explotadas como área de reprodução, criação e alimentação, como é reconhecido
tradicionalmente por diversos autores (Chao et al., 1982; Chao et al., 1985; Vieira &
Scalabrin, 1991; Vieira et al., 1998). O uso de artes de pesca inadequadas, como o arrasto
para o camarão e o emprego de malhas inferiores ao tamanho permitido, no entanto,
resultam na captura de indivíduos de tamanho inferior ao recomendado e que podem ser
encontrados no estuário durante o ano todo (Garcia & Vieira, 2001).
Como resultado, as espécies-alvo são explotadas em várias etapas de seu ciclo de
vida por diferentes modalidades de pesca em diferentes regiões, o que intensifica a pressão
pesqueira e causa impacto negativo sobre juvenis que ingressam ao estoque adulto e no
estoque desovante, comprometendo a sustentabilidade dos recursos e, conseqüentemente,
da atividade pesqueira (Reis, 1992; Haimovici, 1997; Haimovici, 1998; Reis & Rodrigues,
2003; Janata & Reis, 2005).
Na Lagoa dos Patos, juvenis de três espécies de Mugilidae – Mugil curema, M.
gaimardianus e M. platanus - são encontrados utilizando o estuário como área de criação e
alimentação, porém somente os adultos de M. platanus são alvos da pesca artesanal (Reis et
al., 1994; Vieira et al., 1998). A explotação incide principalmente sobre os indivíduos em
estados avançados de maturação gonadal que realizam a migração reprodutiva do estuário
para o oceano para desovar em águas marinhas, na tradicional “corrida da tainha” (Alarcón,
3
2002). O estoque é também explorado no litoral do Rio Grande do Sul por barcos
industriais com rede de cerco (traineiras) e pela pesca costeira de emalhe. A frota de Santa
Catarina atua tanto com traineiras como com barcos de pequeno porte da pesca artesanal
(Miranda et al., 2006; CEPSUL/IBAMA, 2007)
Embora medidas de limitação do número e tamanho de rede por pescador existam
para a área (D’Incao & Reis, 2002), os instrumentos regulatórios que respaldam a
legislação vigente carecem de informações sólidas sobre o esforço de pesca adequado aos
níveis de sustentabilidade dos estoques. A dinâmica da pesca no estuário é muito ágil, os
pescadores ajustam rapidamente sua estratégia em relação às alterações de ocorrência e
abundância dos recursos pesqueiros no local. Essa dinâmica dificulta as avaliações de
esforço de pesca por safra e mesmo por local do estuário. Como conseqüência, até os dias
de hoje, não há registro confiável do esforço de pesca para a Lagoa dos Patos.
Esse estudo tem por objetivo determinar o estado da pesca artesanal de Mugil
platanus (Pisces: Mugilidae) no estuário da Lagoa dos Patos através da avaliação da
distribuição espacial e sazonal da abundância relativa, buscando identificar as artes de
pesca dominantes empregadas na área para a espécie. Esse estudo está organizado em três
partes:
Capítulo 1 – trata da análise da adequação do sistema de coleta de dados empregado
no presente trabalho;
Capítulo 2 – descreve as artes de pesca empregadas pelos pescadores artesanais para a
captura de M. platanus no estuário da Lagoa dos Patos;
4
Capítulo 3 – discute as alternativas de unidade de esforço de pesca mais apropriada de
acordo com as artes de pesca empregadas na captura de M. platanus e analisa a distribuição
espacial e sazonal da abundância relativa da espécie no estuário relacionando às artes de
pesca associadas.
5
Estatística de Pesca
Mugil platanus tem sido tradicionalmente capturada no Rio Grande do Sul pela pesca
artesanal do estuário da Lagoa dos Patos. Somente nas últimas duas décadas é que a pesca
pela frota industrial de traineiras e de emalhe costeiro em águas marinhas tem aumentado
sua importância (Figura 1). A análise das estatísticas da pesca artesanal de M. platanus no
Rio Grande do Sul no período de 1960 a 2005, coletadas pelo IBAMA (e pelos órgãos
antecessores) junto às indústrias de processamento de pescado, mostram duas tendências.
Até o início da década de 70, as capturas da espécie aumentaram, ocorrendo a maior safra
de M. platanus nessa fase, em 1975, com 4.291 toneladas. A partir daí as capturas
diminuem lenta porém constantemente. Na década de 90, a captura média anual da pesca
artesanal foi reduzida à metade em relação à década de 80, com apenas 1.032 toneladas. A
partir de 1996, as capturas anuais não chegam a atingir 1.000 toneladas e em 2001 foi
capturado o menor volume da série analisada, apenas 134 toneladas. Embora seja pequeno
o volume desembarcado nos últimos anos, a captura de M. platanus tem grande importância
para a pesca artesanal, chegando a contribuir com 60% do total em peso desembarcado em
2000 e 2005. Com o colapso das outras pescarias na década de 80, as safras encontram-se
reduzidas a apenas duas espécies (M. platanus e F. paulensis) que sustentam a atividade
pesqueira artesanal.
A pesca de emalhe costeiro teve início na região em 1982, embora, apenas a partir de
1993, o IBAMA tenha iniciado os registros dos desembarques como uma nova categoria de
pesca. Isso significa que as capturas da pesca artesanal entre 1982 e 1992 estão
superestimadas já que incluem a captura pela pesca de emalhe costeiro (Reis et al., 1994).
6
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
2005
Ano
Desembarque (t)
CERCO
COSTEIRO
ARTESANAL
TOTAL
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Ano
Desembarque (t)
CERCO
COSTEIRO
ARTESANAL
TOTAL
Figura 1- Variação anual do desembarque de M. platanus no Rio Grande do Sul por tipo de
explotação. A área no círculo é apresentada em detalhe. (Fonte: CEPERG/IBAMA).
A contribuição da pesca industrial de cerco e de emalhe costeiro ao total capturado de
M. platanus tem sido mais evidente apenas a partir de 2000 (Figura 1).
7
Uma grande variabilidade anual é observada no histórico dos desembarques
pesqueiros de M. platanus para todos os tipos de explotação (Figura 1). Tanto no período
em que a pesca artesanal dominava a captura da espécie como nas últimas décadas,
variações extremas são observadas de um ano para outro. Como exemplo do primeiro
período, a captura em 1973 foi apenas uma quinta parte do que havia sido capturado no ano
anterior (3.052 toneladas); já em 1974, o volume total foi cerca de quatro vezes maior que
em 1973. No final da década de 90, quando a pesca industrial de cerco e de emalhe costeiro
já estavam consolidadas a mesma situação se repete: em 1999 a captura total foi de 527
toneladas enquanto que no ano seguinte foi quatro vezes maior e, em 2001, reduziu-se a um
volume menor que capturado anteriormente (457 toneladas). Esse quadro leva a supor que a
variabilidade não pode ser atribuída unicamente aos efeitos da pesca ou ainda somente à
adição de novas formas de explotação. As flutuações na abundância da espécie estão
diretamente relacionadas com as condições ambientais (Miranda et al., 2006). Nota-se um
padrão de flutuação cíclica no volume capturado em períodos de aproximadamente 4 a 5
anos, onde se percebe alta captura, seguida por decréscimo (Figura 1).
Comparou-se o total capturado de M. platanus no Rio Grande do Sul com os
desembarques de Santa Catarina para a pesca artesanal e industrial no período de 2001 a
2005 (Figura 2). Entende-se aqui como industrial todo aquele tipo de pesca que não é
categorizado como artesanal e que apresente qualquer volume de captura da espécie,
embora a maior parte das capturas seja realizada por traineiras. Observa-se que a pesca
industrial tem uma contribuição maior que a pesca artesanal em ambos os Estados. Embora
não haja registros, grande parte dos desembarques em Santa Catarina tem como a área de
8
pesca a costa do Rio Grande do Sul. Verifica-se uma tendência de acréscimo lento nas
capturas a partir de 2001 nos desembarques dos dois Estados, o que está provavelmente
relacionado com o início de um novo ciclo de máximas e mínimas, repetindo a variação
cíclica característica do recurso.
De acordo com Miranda et al. (2006), entre 1986 e 1995, Rio Grande do Sul e Santa
Catarina foram os Estados que mais capturaram M. platanus na região sudeste-sul,
perfazendo 39% e 37% do total dos desembarques, respectivamente. Já entre 2000 e 2003,
a participação do Rio Grande do Sul diminuiu para 16% enquanto que em Santa Catarina
aumentou para 45%. As razões são várias, incluindo desde as capturas decrescentes da
pesca artesanal no estuário da Lagoa dos Patos, à pesca intensa de traineiras que
desembarcam em Santa Catarina até a melhoria no sistema de coleta de dados no Estado
vizinho, recentemente modificado.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
2001 2002 2003 2004 2005
ANO
Desembarque (t)
Artesanal-RS
Industrial-RS
Artesanal-SC
Industrial-SC
Figura 2- Variação anual dos desembarques artesanal e industrial de M. platanus no
Rio Grande do Sul e Santa Catarina, de 2001 a 2005 (Fonte: CEPERG e
CEPSUL/IBAMA).
9
A análise das médias mensais de captura pela pesca artesanal no Rio Grande do Sul,
em três períodos de 5 anos cada, revelou que as maiores capturas ocorrem entre março e
maio, observando-se uma visível redução no volume capturado (Figura 3a). No período de
1991 a 1995, a média oscilou entre 210 e 256 toneladas, nos meses de março a maio, e de
2001 a 2005, a média variou entre 20 a 54 toneladas.
Em Santa Catarina, analisando-se o período entre 2001 a 2005, verifica-se que o
maior volume desembarcado ocorre em maio e junho, com captura mensal de 1.000
toneladas, em média (Figura 3b). O deslocamento de um mês nos maiores volumes de
captura em relação ao Rio Grande do Sul estão provavelmente relacionados à captura de M.
platanus durante sua migração reprodutiva em direção sul-norte, após deixarem o estuário
da Lagoa dos Patos.
0
50
100
150
200
250
300
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
s
Captura (t)
Média91-95
Média96-00
Média01-05
(a)
0
500
1000
1500
2000
2500
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
s
Desembarque (t
)
2000
2001
2002
2003
2004
2005
(b)
Figura 3 – Variação dos valores médios mensais dos desembarques da captura total de M.
platanus no Rio Grande do Sul (a) e em Santa Catarina (b). (Fonte: CEPERG e
CEPSUL/IBAMA)
10
Biologia da Espécie
Mugil platanus (Günther, 1880) possui seu ciclo de vida intimamente ligado a regiões
estuarinas que constituem criadouros naturais, sendo considerada como uma espécie
estuarino-dependente (Vieira et al., 1998; Garcia et al., 2001). Com distribuição geográfica
conhecida restrita ao Atlântico sul ocidental (Menezes, 1983), do Rio de Janeiro até o sul
da Argentina (Castro et al., no prelo), a espécie busca grandes áreas lagunares para se
desenvolver até atingir a maturação das gônadas, quando inicia a migração reprodutiva para
desovar no mar (Vieira & Scalabrin, 1991; Alarcón, 2002).
A maioria das espécies de Mugilidae tem sua migração reprodutiva para o mar
associada a épocas de declínio ou de baixa temperatura ambiental (Thomson, 1966; Vieira,
1985). No estuário da Lagoa dos Patos, a migração reprodutiva de M. platanus tem como
causa provável o esfriamento das águas causado pelo sistema de ventos da região (Vieira,
1985). O vento sudoeste, além de resfriar as águas da região adjacente à Lagoa dos Patos
(Miranda, 1971), ocasiona o represamento de água salgada pela região profunda do canal
(Vieira & Scalabrin, 1991; Vieira, 1985). Assim, o gatilho ambiental para o início da
migração reprodutiva seriam três fatores: vento sudoeste, queda brusca da temperatura da
água e a penetração de água marinha no estuário.
A espécie desova entre abril e outubro (final de outono e inverno), com picos em
junho, julho e agosto, em águas marinhas com temperaturas entre 19˚ e 21˚ C, em uma área
que se estende da desembocadura da Lagoa dos Patos até o norte de Santa Catarina (Vieira,
1985; Alarcón, 2002). A migração para o mar é realizada tanto por adultos que já
11
participaram do processo reprodutivo como por aqueles que vão desovar pela primeira vez
(Alarcón, 2002).
A direção predominante das correntes costeiras determina a dispersão dos ovos e
larvas planctônicas para a costa sul do Brasil (Vieira & Scalabrin, 1991). O recrutamento na
Lagoa dos Patos ocorre o ano todo com picos de maior abundância durante o inverno e a
primavera. O extenso recrutamento está associado ao longo período de desova e com
variações locais do padrão de circulação das correntes costeiras na região os quais
determinam variações no tempo de transporte para os locais de recrutamento (Vieira &
Scalabrin, 1991).
M. platanus apresenta apenas um período reprodutivo por ano, de fevereiro a maio,
com desova total sincrônica em dois grupos. Possui uma alta fecundidade e ovócitos
pequenos do tipo pelágico (Alarcón, 2002), característica de espécies de peixes desovantes
pelágicas (Balon, 1984). O comprimento médio de primeira maturação gonadal é de
330mm. Juvenis de M. platanus estão presentes o ano todo no estuário e em áreas costeiras
marinhas adjacentes à Lagoa dos Patos (Vieira, 1991).
Indivíduos adultos, com as gônadas em fases iniciais de maturação, começam a
aparecer no estuário da Lagoa dos Patos de junho a setembro. Até o mês de maio há
deslocamento da espécie para a área norte do estuário, simultaneamente à maturação
gonadal. No período de fevereiro a maio, quando a temperatura começa a diminuir e a
salinidade aumentar, devido à ação de ventos e correntes, inicia-se novamente o processo
de migração do estuário para o oceano (Alarcón, 2002).
12
CAPÍTULO 1
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS DADOS
Diversos programas de amostragem da pesca artesanal foram estabelecidos ao
longo dos anos pelo Laboratório de Recursos Pesqueiros Artesanais do Departamento
de Oceanografia da Fundação Universidade Federal do Rio Grande, dependendo dos
objetivos, da infra-estrutura, do financiamento e do sucesso das capturas. Embora se
tenha obtido um conhecimento considerável sobre a pesca artesanal do estuário da
Lagoa dos Patos, somente em 2002 e 2003 foi possível estabelecer um sistema de coleta
de dados por comunidade pesqueira, buscando-se contornar os constantes insucessos
nas coletas de amostras geralmente associados às baixas capturas e à alta velocidade de
sua comercialização. Nesse período, houve a possibilidade única de coletar dados
pareados de captura e esforço de pesca por duas safras consecutivas das principais
espécies capturadas pela pesca artesanal na Lagoa dos Patos.
Esse capítulo tem como objetivo avaliar o sistema de coleta de dados adotado
para a pesca artesanal do estuário da Lagoa dos Patos nos anos de 2002 e 2003.
MATERIAL E MÉTODOS
Coleta de Dados
O presente estudo utilizou dados previamente coletados pelo sistema de
amostragem por agentes de campo, provenientes do projeto de pesquisa “A explotação
pesqueira artesanal de teleósteos no estuário da Lagoa dos Patos”, executado pelo
Laboratório de Recursos Pesqueiros Artesanais, como parte do Projeto “Re-
estabelecimento da Capacidade Produtiva do Sistema Ambiental da Pesca no Extremo
Sul do Brasil”, Fundo Nacional do Meio Ambiente.
13
A coleta de dados foi realizada continuamente entre fevereiro de 2002 e janeiro
de 2004, em sete comunidades pesqueiras do estuário da Lagoa dos Patos: Bosque,
Mangueira e Torotama, no município de Rio Grande; Passinho, Capivaras e Várzea, em
São José do Norte; e Z-3, no município de Pelotas (Figura 1.1). A escolha das
comunidades se deu de modo a construir um cenário composto por localidades
próximas ao oceano (Bosque e Mangueira), à linha imaginária que delimita o estuário
(Várzea e Z3) e áreas intermediárias (Torotama, Passinho e Capivaras), contemplando
ambas as margens.
Figura 1.1 – Localização das comunidades pesqueiras amostradas no estuário da Lagoa
dos Patos.
14
Os dados foram coletados por agentes de campo da própria comunidade,
escolhidos segundo os seguintes critérios: (a) grau de instrução - saber ler e escrever;
(b) conhecimento sobre a atividade de pesca como os tipos de artes de pesca e a
identificação das principais espécies capturadas; (c) localização da moradia -
proximidade aos pontos de desembarque e compra de pescado; (d) tempo disponível
para coleta de dados; (e) bom relacionamento com a comunidade; e (f) iniciativa e
disposição para a coleta de dados.
Para cada comunidade foi selecionado um agente de campo que foi, em sua
maioria, do sexo feminino ligada à pesca pela relação familiar como esposa e filha de
pescador.
Os dados coletados nas chamadas planilhas de campo foram os seguintes (a
planilha de campo utilizada encontra-se no Apêndice I):
- características da embarcação utilizada (comprimento, potência do motor,
presença de sonda, capacidade de carga, número de tripulantes);
- local da pescaria (nome, profundidade, tempo de navegação);
- arte de pesca (tipo de rede, comprimento, altura e tamanho de malha da rede,
número de lances, tempo de pesca, espécies capturadas e peso capturado por espécie).
Cada planilha de campo corresponde ao desembarque de uma saída individual
de uma embarcação para realizar a pesca no estuário, denominada operação de pesca. O
desembarque em uma comunidade não significa necessariamente que o pescador
pertença a essa comunidade.
A distribuição e o recolhimento das planilhas de campo junto aos agentes foram
feitos a intervalos de 10 a 15 dias, nas comunidades mais afastadas da sede do
15
município de Rio Grande (Torotama, Z-3, Várzea, Capivaras e Passinho) e a cada 3 ou
5 dias, nas comunidades mais próximas (Bosque e Mangueira).
Com base no total de registros de pesca e de peso capturado foram identificadas
as principais artes de pesca empregadas em cada ano bem como a participação dos
pescadores de cada comunidade amostrada nesses totais. As artes de pesca utilizadas
foram classificadas quanto ao tipo de rede: pano simples e de três panos (feiticeira ou
tresmalho); e pelo método de pesca (tipo de operação de pesca): rede de espera fixa,
chamado de emalhe fixo; rede de espera à deriva, denominado de emalhe à deriva,
conhecido pelos pescadores como bombóio; e rede de emalhe de cerco, ou
simplesmente cerco, chamado pelos pescadores de lance.
Uma vez identificados os principais tipos de operação de pesca, as artes de pesca
foram descritas para cada comunidade, comparando-se os anos de 2002 e 2003. As
características de cada arte de pesca incluíram: comprimento em braças
1
, altura em
número de malhas
2
, tamanho de malha da rede, pela distância entre nós adjacentes (em
milímetros), número de lances para a pesca de cerco e tempo de permanência das redes
na água para o emalhe (em horas).
A frota foi caracterizada pelo comprimento (em metros) e a capacidade de carga
(em quilos) das embarcações, o número de tripulantes e a presença ou ausência de
sonda. A época do ano, os locais de pesca, a profundidade (em metros) e o tempo de
navegação até os locais de pesca (em horas) também foram registrados.
Cada agente de campo foi informado sobre os objetivos do projeto e a
importância do correto preenchimento dos dados e orientado sobre os dados a serem
1
1 braça corresponde a 1,83m
2
A conversão da altura em número de malhas para metros se dá por: altura (m)= (número de malhas X
2)/1000
16
coletados e seu registro nas planilhas de campo. Foi solicitado aos agentes de campo
que realizassem a coleta de dados diariamente com o maior número de pescadores,
priorizando o acompanhamento da atividade ao longo de 2002 e 2003.
Os dados registrados nas planilhas de campo foram armazenados em banco de
dados Microsoft Access (Microsoft Office).
Análise dos Dados
A qualidade do sistema de coleta de dados foi avaliada por duas maneiras: (1)
análise do procedimento de coleta de dados, procurando-se verificar a
representatividade da amostragem em cada comunidade pesqueira; (2) análise do
aproveitamento dos dados coletados, avaliando-se a ocorrência de perda de informação
e suas causas. Sempre que possível, procurou-se comparar os dados coletados pelos
agentes de campo com as informações obtidas em entrevistas com os pescadores.
Para elucidação do procedimento de coleta de dados, foi realizada no ano de
2005 uma entrevista semi-estruturada com cada agente de campo na respectiva
comunidade, procurando-se conhecer os critérios de seleção dos pescadores amostrados
e o processo de tomada de dados em campo. O formulário utilizado encontra-se no
Apêndice II.
O processo de tomada de dados foi avaliado, para cada comunidade, através do
número acumulado de pescadores amostrados por mês entre os anos 2002 e 2003 e o
número de pescadores amostrados em cada mês durante os dois anos. O cálculo do
número de pescadores foi feito com base nos resultados da amostragem da pesca
artesanal como um todo, ou seja, considerando-se todas as espécies capturadas. Uma
avaliação da participação dos pescadores (em %) na pesca de M. platanus, para cada
17
comunidade, foi realizada a partir dos dados gerais provenientes da amostragem para
todas as espécies capturadas.
O cálculo do número de pescadores amostrados na pesca de M. platanus foi feito
posteriormente com os dados já triados. Utilizou-se a relação entre o número total de
operações de pesca e de pescadores amostrados (Nr/ NP) para cada ano por comunidade
como indicativo da representatividade das operações de pesca para cada pescador.
O grau de aproveitamento das informações obtidas sobre a pesca de M. platanus
foi quantificado pelo número de informações perdidas (ou descartadas) no processo de
tratamento dos dados.
O procedimento de verificação dos dados foi realizado através de triagens das
planilhas de campo para o levantamento de informações incompletas, duvidosas e de
possíveis erros nas planilhas digitalizadas. A verificação foi feita através da
comparação, para cada arte de pesca, da distribuição de cada variável amostrada como
comprimento e altura da rede, tamanho de malha empregado, tempo de navegação, local
de pesca, comprimento e capacidade da embarcação, número de tripulantes, época do
ano, entre outras. Foi realizado um procedimento de triangulação de informações para
detectar possíveis problemas com os dados coletados. Esse método consistiu da
realização de sucessivas e paralelas filtragens das variáveis amostradas por arte de pesca
no conjunto de dados como um todo (comunidades e anos agrupados), para cada
comunidade em separado, para cada ano e com os anos agrupados. Procurou-se
encontrar padrões na atividade de cada pescador através do acompanhamento das
características das artes de pesca empregadas. Uma análise estatística descritiva de cada
variável, feita para cada arte de pesca, em cada comunidade para cada ano, encontra-se
no Capítulo 2.
18
As dúvidas levantadas no tratamento dos dados foram solucionadas em
entrevistas com os pescadores e/ou agentes de campo. Quando isso não era possível, os
dados eram descartados. A correção de erros de digitação foi feita mediante checagem
das planilhas de campo.
Os principais problemas encontrados nos dados coletados e que
impossibilitaram a inclusão de algumas planilhas de campo na análise bem como
recomendações para melhoria do sistema de amostragem foram analisados.
RESULTADOS
As informações sobre a pesca foram coletadas pelos agentes de campo em
pontos de desembarque, próximos as suas residência, em pontos de venda de pescado
através das notas de compra ou, em alguns casos, os próprios pescadores entregavam as
informações nas residências dos agentes.
A seleção dos pescadores pelos agentes de campo para participarem da coleta de
dados baseou-se na disponibilidade para concederem informações da pescaria e na
proximidade do local da residência ou de desembarque do pescado. A maioria dos
pescadores amostrados em cada comunidade era conhecido ou familiar dos agentes de
campo como esposo e pai. Os agentes fizeram inicialmente um cadastro das
embarcações de cada pescador que incluiu nome, comprimento, capacidade de carga e
número de tripulantes. Assim, no momento do desembarque, os agentes coletavam
somente as informações relativas à captura em si.
Os dados registrados pelos agentes de campo totalizaram 7.642 operações de
pesca, referentes a 243 pescadores amostrados durante os anos de 2002 e 2003 para
19
todas as espécies. Desse montante, 1.188 operações de pesca foram dirigidas à M.
platanus, realizadas por 124 pescadores com captura total de 143.036kg.
Em 2002 foram registradas 475 operações de pesca para M. platanus realizadas
por 56 pescadores com total capturado de 64.638kg. Em 2003, 713 operações de pesca
efetuadas por 94 pescadores resultaram em uma captura total de 78.398kg. O número de
pescadores em 2003 correspondeu a 75,8% do total amostrado e em 2002, a 45,2%.
A análise dos dados coletados por comunidade é apresentada a seguir.
Bosque
Um total de 18 pescadores foi amostrado ao longo dos anos de 2002 e 2003. A
incorporação de pescadores na amostragem foi praticamente concluída em 2002
(88,9%). O número de pescadores amostrado por mês no ano de 2002 variou entre 2 e
12, com média de 5,2 (dp= 2,8). Em 2003, o número oscilou de 2 a 6, com média de 3,5
pescadores por mês (dp=1,6) (Figura 1.2a). O maior número foi observado em outubro
de 2002. Do total amostrado, 55,6% dos pescadores realizaram a pesca para captura de
M. platanus no estuário.
Mangueira
Foi amostrado um total de 33 pescadores para o período de dois anos. Um pouco
mais da metade do total de pescadores foi amostrado em 2002 (57%), o número de
pescadores por mês variou entre 3 e 10, com média de 5 pescadores (dp= 2,2). Em
2003, o número variou entre 1 e 9, com média de 5,2 pescadores (dp= 2,8) (Figura
1.2b). Os maiores números foram observados em dezembro de 2002 e maio, outubro e
novembro de 2003. Do total amostrado, 45% dos pescadores operaram para captura de
M. platanus no estuário da Lagoa dos Patos.
20
a)
0
5
10
15
20
N pescador
Acumulado
men sa l
d)
0
5
10
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20
25
30
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N pescador
Acumulado
men sa l
b)
0
5
10
15
20
25
30
35
N pescador
Acumulado
men sa l
e)
0
5
10
15
20
25
N pescador
Acumulado
mensal
f)
0
5
10
15
20
25
N pescador
Acumulado
men sa l
c)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
N pescador
Acumulado
mensal
g)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
N pescador
Acumulado
men sa l
Figura 1.2 – Variação mensal do número total de pescadores amostrados (--) e número
acumulado de pescador ao longo dos meses (- - ) entre os anos de 2002 e 2003 nas
comunidades do Bosque (a), Mangueira (b), Torotama (c), Passinho (d), Capivaras (e),
Várzea (f) e Z-3 (g).
Torotama
Um total de 57 pescadores foi amostrado para o período de 2002 e 2003.
Durante o ano de 2002, apenas um pequeno número de pescadores fez parte da amostra
(22,8%), sendo o restante incorporado em 2003 . O número de pescadores amostrado
por mês em 2002 variou de 1 a 7, com média de 2,6 (dp= 2,1). Em 2003 houve um
pronunciado aumento no número de pescadores amostrado por mês, variando entre 1 e
21
43, com média de 14 pescadores por mês (dp=15,8). O pico no número de pescadores
amostrado se refere ao período de outubro a dezembro de 2003 (Figura 1.2c). Do total
de pescadores amostrado nos dois anos, cerca de 30% realizaram a pesca para captura
de M. platanus no estuário.
Passinho
Nos anos de 2002 e 2003 foram amostrados 30 pescadores. Quase a totalidade
foi atingida em 2002 (90%), sendo que cerca da metade desse total foi incorporada no
mês de abril. O número de pescadores amostrado por mês em 2002 oscilou entre 2 e 16,
com média de 10,2 (dp=5,8). Em 2003, o número variou entre 5 e 19 com média de 11,9
(dp= 5,5). Em abril e novembro de 2002 e de outubro a dezembro de 2003 foi
amostrado o maior número de pescadores (Figura 1.2d). Cerca de 77% do total de
pescadores amostrados realizou a pesca para captura de M. platanus.
Capivaras
Foram amostrados 21 pescadores para o período de 2002 e 2003 dos quais quase
metade dos pescadores foi incorporada em 2002 (47%). Em 2002 o número de
pescadores amostrado por mês variou entre 4 e 8, com média de 6,5 (dp=1,7). Em 2003,
o número de pescadores oscilou entre 1 e 19 com média de 9,2 (dp=5,8). Os períodos
entre abril e maio de 2002, novembro de 2002 a maio de 2003 e de setembro a
dezembro de 2003 apresentaram os maiores valores de pescadores amostrados (Figura
1.2e). A pesca de M. platanus foi realizada por cerca de 67% do total de pescadores
amostrado.
Várzea
Nos dois anos em conjunto foram amostrados 22 pescadores dos quais grande
parte foi incorporada à amostra em 2002 (72%). Tanto em 2002 como em 2003 o
número de pescadores por mês oscilou entre 3 e 11, embora médias diferentes (5,9;
22
dp=2,9 em 2002 e 6,6 ;dp=3,8 em 2003). Os maiores números de pescadores
amostrados foram observados em maio e novembro de 2002 e em outubro e novembro
de 2003 (Figura 1.2f). Cerca de 77% do total de pescadores amostrado realizou a pesca
de M. platanus no estuário.
Z-3
Um total de 45 pescadores foi amostrado no período de dois anos, sendo que
metade dos pescadores foram incorporados em 2002. O número de pescadores
amostrado por mês variou entre 1 e 17, com média de 5,4 (dp=5,9) em 2002 e no ano
seguinte o número oscilou entre 1 e 19 com média de 13,8 (dp=5,6) (Figura 1.2g). Cerca
de 62% do total de pescadores amostrados realizou a pesca para M. platanus no
estuário.
Pesca de Mugil platanus
Grande parte dos pescadores amostrados em 2002 e 2003 realizou a pesca de M.
platanus nas comunidades da Várzea, Passinho, Capivaras e Z-3. Aproximadamente
metade dos pescadores amostrados no Bosque e na Mangueira dirigiram suas atividades
para a espécie enquanto que em Torotama apenas um pequeno número de pescadores
amostrados operou na sua captura.
Passinho, Várzea e Capivaras foram as comunidades com maior número de
operações de pesca amostrado (NR) tanto em 2002 quanto em 2003, refletindo a
importância da pesca da espécie para essas comunidades, como demonstrado pelo
grande número de pescadores direcionados a essa espécie (NP) (em torno de 70%)
(Tabela 1.1). O total de operações de pesca para captura de M. platanus na Mangueira e
Torotama em cada ano foi baixo, à semelhança do pequeno número de pescadores.
23
Tabela 1.1- Número de operações de pesca (Nr), captura, em peso (kg), número de
pescadores amostrados (NP) e média e desvio padrão do número de operações de pesca
por pescador (Nr/NP) para cada comunidade durante os anos de 2002 e 2003 na pesca
de M. platanus no estuário da Lagoa dos Patos.
N
r
Kg NP NR/NP N
r
Kg NP NR/NP N
r
Kg NP
Bosque
50 8053 6 8,3 (5,9) 71 12934 8 8,9 (10,7) 121 20987 10
Mangueira
14 2013 7 2 (1,1) 28 1931 9 3,1 (3,2) 42 3944 15
Torotama
16 1381 3 5,3 (4,2) 37 22669 15 2,5 (1,2) 53 24050 17
Passinho
126 10047 17 7,4 (5,0) 96 6448 11 8,7 (6,1) 222 16495 23
Capivaras
96 3958 8 12 (6,6) 127 5264 13 9,8 (8,2) 223 9222 14
V
árzea 121 5607 11 11 (12,9) 268 2510 11 24,4 (27,8) 389 8117 17
Z-3
52 33579 4 13 (23,3) 86 26642 27 3,2 (3,6) 138 60221 28
Total 475 64638 56 8,5 (9,3) 713 78398 94 7,6 (12,5) 1188 143036 124
2002 2003 Total
De maneira geral, em 2003 houve aumento no número de operações de pesca, de
aproximadamente 50%, com um incremento nas capturas de cerca de 21% e acréscimo
no número de pescadores amostrados, em torno de 68%.
Analisando-se as comunidades em separado, nota-se que o número de operações
de pesca e de pescadores amostrados em todas as comunidades aumentaram ao longo do
período, exceto em Passinho (Tabela 1.1). Já as capturas em 2003 aumentaram apenas
nas comunidades Bosque, Torotama e Capivaras.
Em 2002, as operações de pesca se distribuíram ao longo de 4 a 6 meses, sendo
que a maioria dos pescadores trabalhou apenas 1 ou 2 meses no ano (84%),
preferencialmente no período de março a abril. O número de vezes que cada pescador
foi amostrado variou de 1 a 48, sendo que a maioria teve no máximo 10 operações de
pesca no ano (74%).
O número total de operações de pesca amostrado por pescador durante o ano de
2002 variou entre 2 e 13, sendo que nas comunidades Z-3, Capivaras e Várzea foi
encontrado maior número de operações de pesca amostrado para cada pescador (Tabela
1.1). Na Z-3 o grande número de pescadores anônimos dificultou a análise, visto que os
registros de anônimo foram agrupados como sendo de um único pescador. Na
24
Mangueira houve um menor número de operações de pesca por pescador, com média
de 2 operações por pescador.
Em 2003, houve uma ampliação no número total de operações de pesca
amostrado por pescador que oscilou entre aproximadamente 2 e 25. Esse aumento foi
devido principalmente aos pescadores da Várzea, onde ocorreu um aumento expressivo
de operações de pesca para o mesmo número de pescadores amostrado (Tabela 1). Em
Torotama, Capivaras e Z-3 houve redução no número de operações de pesca por
pescador em 2003. A pronunciada diminuição encontrada para os pescadores na
comunidade Z-3 se deve provavelmente a grande redução no número de pescadores
anônimos (Tabela 1).
De maneira geral, os pescadores trabalharam de 1 a 7 meses ao longo do ano em
2003, sendo que a maioria concentrou sua atividade apenas em 1 ou 2 meses no ano
(75%), preferencialmente no período de março a abril. O número de registros
amostrado por pescador variou de 1 a 84, sendo que grande parte dos pescadores
realizou no máximo 10 operações de pesca no ano (80%).
Tratamento dos Dados
Foram registradas 11 denominações de tipo de arte para captura de M. platanus
(Tabela 1.2). No entanto, essas definições, em grande parte, se referiam a um mesmo
tipo de operação de pesca. Assim, pode-se identificar as artes de pesca usadas como
emalhe fixo pela ocorrência do registro “tempo de pesca” e pela ausência de “número de
lances”. Por sua vez, foram categorizadas como cerco aquelas artes de pesca em que
haviam sido registrados “número de lances” e ausência de “tempo de pesca” nos
registros. Nos casos onde ocorreram ambas as variáveis, as entrevistas com os
pescadores e agentes de campo possibilitaram a identificação correta, baseada na
25
verificação dos valores do conjunto das variáveis nas planilhas de campo, como o
comprimento e altura das redes.
Tabela 1.2– Número de operações de pesca (Nr) e peso total capturado (Kg) pelos
diferentes tipos de artes de pesca descritos nas planilhas de campo (dados originais).
Comunidades
arrasto
espera
feiticeira lance malha manjoada prancha rede parada
singela tainha
tangla
Total
Bosque Nr 2 118 1 121
Kg 4 20981 2 20987
Mangueira Nr 1 1 12 12 16 42
Kg 281 12 1663 1443 545 3944
Torotama Nr 5 48 53
Kg 7180 16870 24050
Passinho Nr 105 117 222
Kg 15648 847 16495
Capivaras Nr 1 197 16 9 223
Kg 41 7635 707 839 9222
Varzea Nr 28 361 389
Kg 2724 5393 8117
Z-3 Nr 8 25 61 44 138
Kg 464 23261 3180 33316 60221
Total Nr 1 207 21 285 49 540 1 11 12 44 16 1187
Kg 41 8103 7887 63453 17151 9422 12 1660 1443 33316 545 143033
Tipos de Arte de Pesca
As categorias de operações de pesca, adotadas neste estudo, foram formadas
pelas seguintes artes de pesca (Tabela 1.3):
emalhe fixo (simples) - “espera”, “malha”, “manjoada”, “singela” e
“parada” ;
emalhe fixo (tresmalho) - “feiticeira”;
cerco - “lance” e “tainha”.
Ainda foram registradas redes de emalhe à deriva chamadas de bombóio ou
lance. Elas não foram usadas na análise pelo baixo número de operações amostrado. A
arte de pesca identificada como “tangla” refere-se a “tarrafa”, arte relatada apenas na
comunidade Mangueira e com um número pequeno de operações de pesca, sendo,
portanto, excluída da análise. Essa denominação não é comum entre os pescadores e é
atribuída a erro de digitação. Também foram excluídas da análise as operações de pesca
26
de arrasto que ocorreram em Capivaras e Mangueira pelo baixo número e pouca
representação nas comunidades.
Normalmente, cada pescador emprega apenas um tipo de arte de pesca por safra.
A distinção entre redes de pano simples e redes de três panos (feiticeira) só foi
possível para as planilhas de campo que constava como tipo de arte de pesca
“feiticeira”; o restante foi considerado “rede de pano simples”. Embora houvesse
distinção do tipo singela, em algumas planilhas de campo, se tornaria impossível
confirmar a quantidade de panos da rede utilizada. Consequentemente, apenas as artes
denominadas nas planilhas como feiticeira foram consideradas redes de três panos ou
tresmalho.
Tabela 1.3 – Número de operações de pesca (Nr) e peso total capturado (Kg) pelos tipos
de operação de pesca nos anos de 2002 e 2003 (dados originais).
Os pescadores definem “manjoada” como o tipo de operação na qual o pescador
deixa a rede nas andainas, geralmente durante a safra e a visita para fazer a despesca, a
intervalos regulares de 12 ou 24 horas. Embora em algumas planilhas de campo tenha
27
aparecido “manjoada” como tipo de arte de pesca, não se pode assegurar se, quando não
especificado, refere-se a outro tipo de operação de pesca. Por exemplo, para um mesmo
pescador, redes com características similares, inclusive com o mesmo tempo de pesca
foram definidas tanto como “manjoada” ou “malha”. Dessa forma, optou-se por agrupar
as artes de pesca na categoria emalhe fixo. Também não foi possível diferenciar quando
as redes tinham as duas extremidades presas à andainas ou apenas uma ponta era fixa.
Já para a pesca de cerco não foi possível distinguir o tipo de lanceio realizado, ou seja,
se os pescadores cercavam em forma de círculo, caracol ou outro.
A comunidade Z-3 foi responsável pelas maiores capturas de M. platanus com
42% do total enquanto que os pescadores da Várzea apresentaram o maior número de
operações de pesca para o período, totalizando 33% dos registros (Tabela 1.3). A
análise detalhada do uso de artes de pesca por cada comunidade é apresentada no
Capítulo 2.
A categoria de emalhe fixo (simples) representou 69% do total de operações de
pesca amostrado e 26% do peso capturado. A categoria de pesca cerco teve um menor
número de operações de pesca (28%) e maior participação no total em peso capturado
(68%). A categoria de emalhe fixo (tresmalho) contribuiu pouco para o total tanto em
número de operações de pesca (2%) como em peso total capturado (5%) (Tabela 1.3).
Todas as comunidades trabalharam com o emalhe fixo (simples). Apenas as
comunidades Mangueira e Torotama não realizaram a pesca de cerco. O emalhe fixo
(tresmalho) foi reportado somente nas comunidades Torotama e Capivaras (Tabela 1.3).
Após as artes de pesca serem devidamente classificadas, procedeu-se à
verificação e padronização dos dados, o que resultou na exclusão de 89 registros de
pesca (7,5%), realizados por 12 pescadores que totalizaram 35.502kg (25%).
28
A maior perda de informações refere-se à coleta de dados na Mangueira e
Torotama com o menor número de registros de pesca. No caso da Mangueira, a agente
de campo, no segundo ano de amostragem, obteve um emprego na cidade de Rio
Grande, o que provavelmente prejudicou a coleta de dados. Cerca de 50% das
operações de pesca para M. platanus nessa comunidade não foi usada nas análises. Em
contrapartida, nas comunidades de Passinho, Capivaras e Bosque houve um elevado
aproveitamento das informações das planilhas de campo coletadas. As maiores perdas
em peso capturado foram observadas em Torotama e Z-3.
Após a triagem, os três principais tipos de operações de pesca previamente
identificados - emalhe fixo (pano simples), emalhe fixo (tresmalho) e cerco - se
mantiveram (Tabela 1.4).
Comparando-se com os dados originais, observou-se que as comunidades da
Várzea, Capivaras e Passinho permaneceram com maior número de operações de pesca
amostrado, perfazendo 70% do total. A comunidade Z-3 manteve as maiores capturas
apesar do alto percentual de dados não aproveitados. A maior alteração na análise dos
dados foi em Torotama que, após a eliminação de 19 registros de operação de pesca,
apresentou redução significativa no peso total capturado e o número de pescadores
amostrados caiu pela metade (Tabela 1.4). Todas as operações de pesca com redes do
tipo emalhe fixo (tresmalho) foram excluídas nessa comunidade. A exclusão das
planilhas de campo em Torotama foi devido à ausência do comprimento total das redes,
tendo sido anotado apenas o comprimento de cada pano, cerca de 20 braças, sem ser
notificado o número total de redes empregado.
29
Tabela 1.4 – Número de operações de pesca (Nr) e peso total capturado (Kg) pelos
diferentes tipos de operação de pesca durante os anos 2002 e 2003, após o procedimento
de verificação dos dados (dados triados). A diferença em relação aos dados originais e o
percentual de perda de dados são apresentados.
Tipos de Artes de Pesca
Comunidades
Lance
Emalhe fixo
(simples)
Emalhe fixo
(tresmalho) Total
Diferença % perda
Bosque Nr 117 3 120 1 0,8
Kg 20911 6 20917 70 0,3
Mangueira Nr 20 20 22 52,4
Kg 2834 2834 1110 28,1
Torotama Nr 34 34 19 35,8
Kg 3656 3656 20394 84,8
Passinho Nr 105 117 222 0 0,0
Kg 15648 847 16495 0 0,0
Capivaras Nr 9 197 16 222 1 0,4
Kg 839 7635 707 9181 41 0,4
Várzea Nr 27 335 362 27 6,9
Kg 2678 5252 7930 187 2,3
Z-3 Nr 48 69 2 119 19 13,8
Kg 42764 3741 16 46521 13700 22,7
Total Nr 306 775 18 1099 88 7,4
Kg 82840 23971 723 107534 35499 24,8
Principais Problemas do Registro de Dados
A classificação genérica, nas planilhas de campo, do tipo de operação realizada,
com diferentes definições para a mesma arte de pesca foi o principal problema
encontrado na análise dos dados coletados. Dentro da própria comunidade e para um
mesmo pescador foram encontradas diferentes denominações para o tipo de rede usada
nas operações de pesca como, por exemplo, malha, espera e singela. A falta de
padronização no preenchimento das planilhas e a ausência de um monitoramento
freqüente do conteúdo, além de dificultar o agrupamento dos tipos de operações de
pesca empregados para captura da espécie, resultaram na perda de informações mais
detalhadas sobre as práticas pesqueiras. Como conseqüência, para o agrupamento das
artes de pesca em tipo de operação foi usada a ocorrência de determinadas informações
nas planilhas. Por exemplo, o emalhe fixo (tresmalho) foi considerado apenas quando
constava na planilha “tipo de rede feiticeira”; para o emalhe fixo à deriva, quando
estava registrado como bombóio. Com o processo de triangulação das informações de
30
cada planilha (cruzamento de dados), foi possível verificar eventuais correspondências
nas características da arte de pesca para definições distintas como tamanho de malha,
comprimento e altura de rede. Contudo, a falta de especificação foi considerada
ausência da característica. Por exemplo, redes de três panos foram consideradas apenas
quando se tinha especificado nas planilhas; se não, foram consideradas de pano
simples.
Outro ponto negativo observado nas planilhas foi em relação ao número de
lances e tempo de pesca para cada operação. Em algumas planilhas constavam as duas
informações, o que causou dúvida se o pescador trabalhou com redes de cerco ou de
espera (emalhe fixo). Houve também casos em que constava como número de lances “o
dia todo” e no tempo de pesca “14h”. Em outros, o tempo de pesca correspondia aos
dias que o pescador esteve embarcado, como 72 e 120 horas. Após checagem das
informações com os pescadores e/ou agente de campo, essas planilhas foram utilizadas,
quando possível, para a caracterização das artes de pesca, porém excluídas da análise de
captura por unidade de esforço de pesca.
Problemas também ocorreram pela falta de informação quanto ao número de
dias de pesca correspondente a cada planilha de campo. Na maioria das vezes não
esteve especificado, sendo, portanto, desconsiderado esse tipo de informação nas
análises. A ausência de outros dados considerados fundamentais como o peso
capturado, as dimensões da rede e tamanho de malha empregado resultou na exclusão
de informações.
Denominações diferentes para um mesmo tipo de arte de pesca foram
observadas entre comunidades, tendo sido solucionado mediante entrevistas com os
pescadores. As planilhas de campo na Mangueira que constava como tipo de rede
31
“lance” se referiam, na verdade, à redes de emalhe à deriva, denominadas de bombóio
nas outras comunidades.
No processo de checagem das informações obtidas nas planilhas de campo foi
possível encontrar informações incoerentes (outliers) como redes com altura de 400
malhas (quando o usual é cerca de 30 malhas), que foram descartadas, erros de
digitalização das planilhas de campo, que foram corrigidos ou descartados e equívocos
quanto à localidade pesqueira a qual o pescador pertencia.
Através da análise minuciosa das planilhas digitalizadas com a checagem nas
planilhas de campo, as informações sobre a pesca nas comunidades pesqueiras foram
validadas.
Um resumo dos principais problemas encontrados, suas causas e soluções
adotadas encontram-se no Apêndice III.
DISCUSSÃO
O sistema de coleta de dados da pesca artesanal do estuário da Lagoa dos Patos
por agentes de campo mostrou ser uma alternativa promissora para lidar com problemas
que frequentemente pesquisadores e/ou técnicos enfrentam nas amostragens de
desembarques como, por exemplo, a alta velocidade de comercialização das capturas, as
dificuldades logísticas para se deslocar até os pontos de desembarque, o acesso às
informações por parte dos pescadores, entre outros. Por residir na própria comunidade, a
probabilidade do agente de campo estar presente no momento dos desembarques é
maior comparado às amostragens feitas por pesquisadores ou técnicos que dependem
para a locomoção até os pontos de desembarque da disponibilidade de viaturas,
geralmente restrita a horários fixos. Também as relações sociais entre os agentes de
32
campo e os membros da comunidade facilitam o acesso aos pescadores e,
consequentemente, às informações de pesca.
Embora necessite uma série de ajustes, a utilização de agentes de campo para
coleta de dados traz diversas vantagens. Por exemplo, torna possível o registro de
informações sobre a pesca mesmo nos momentos em que as capturas não são
volumosas. Na década de 70 e no início dos anos 80, quando a produção pesqueira do
Rio Grande do Sul estava em seu máximo, a amostra dos desembarques era facilitada
por estar amplamente distribuída pelos trapiches de pesca ao longo do estuário e pela
grande disponibilidade de pescado capturado. As amostragens eram feitas nos galpões
de armazenamento, bastando a equipe de amostragem selecionar o pescado para compor
suas amostras (Reis et al., 1994). No entanto, como regra geral, a procedência (local)
das capturas, a arte de pesca, o barco e o esforço aplicado eram desconhecidos. A única
maneira de se obter essas informações era a equipe de amostragem estar presente no
trapiche quando o barco chegava da pesca. Por isso, nunca se obteve, mesmo na época
de grandes volumes capturados, dados de captura e esforço razoavelmente confiáveis.
Essa situação, nesse aspecto, não é diferente de hoje. Para se obter dados pareados de
captura e o esforço de pesca, o amostrador deve estar presente quando o pescado é
desembarcado no trapiche ou então ter um sistema de registro de captura obtida e
esforço empregado por operação de pesca.
Desta forma, os dados aqui analisados sobre a pesca artesanal no estuário da
Lagoa dos Patos constituem uma fonte inédita de dados de captura e esforço. Contudo,
algumas desvantagens da coleta de dados por parte de agentes de campo devem ser
mencionadas no intuito de serem corrigidas para futuros programas de amostragem de
captura e esforço.
33
A amostragem realizada principalmente no círculo de relações sociais do agente
de campo, influenciada pelo grau de parentesco, desenvoltura e afinidades do agente na
comunidade (amostragem por conveniência), faz necessária extrema cautela na análise
dos dados coletados. Isto é decorrente da ausência de uma padronização do processo de
amostragem, o que acaba dificultando análises comparativas dos dados coletados entre
comunidades, setores, épocas e/ou anos. Nos dados aqui analisados, por exemplo, o
maior número de operações de pesca registrados nas comunidades Passinho, Várzea e
Capivaras não significou, necessariamente, que os pescadores nessas comunidades
saíram mais vezes para pescar em relação às outras comunidades mas que o esforço
amostral pode ter sido maior.
O baixo número de vezes que um determinado pescador foi amostrado pode ter
sido causado por diversos fatores que incluem desde sua pequena atividade no período
amostrado, como reflexo de condições inapropriadas para a pesca, desembarque em
outros pontos ao longo do estuário como também por baixo esforço amostral.
Algumas outras informações que não foram coletadas podem ser adicionadas no
momento do registro dos desembarques como, por exemplo, o período de tempo que o
pescador permaneceu embarcado. Esse tipo de informação não esteve sempre
discriminado nas planilhas, o que causou problemas de interpretação dos dados
coletados. A falta de informação, em cada planilha de campo, do número de panos
usados na rede (simples ou tresmalho) resultou no agrupamento das capturas, sem
considerar as diferenças na seletividade da arte de pesca.
Por outro lado, ainda que a representatividade do número de pescadores
amostrados em relação as suas respectivas comunidades tenha sido baixa, a coleta de
dados de parentes e conhecidos por parte dos agentes de campo favoreceu na
34
confiabilidade das informações coletadas. Em geral, o aproveitamento das informações
foi relativamente alto, com perda de menos de 10% do total de planilhas de campo
(operações de pesca) registradas durante os dois anos do programa de amostragem.
Embora seja melhor uma pequena quantidade de informações acuradas do que
uma grande quantidade de informação suspeita (King, 1995), é importante levar em
conta ao analisar os resultados que, de maneira geral, em praticamente todas as
situações, a seleção deliberada dos componentes da amostra leva a um vício sistemático
que afeta negativamente as estimativas (Pope, 1988). Contudo, é preferível fazer
suposições a respeito dos estoques pesqueiros e do desenvolvimento da pesca baseadas
na análise cuidadosa e adequada de um conjunto de dados limitados do que usar de
simples adivinhação (Csirke et al., 1987).
As variações de interpretação para o preenchimento das planilhas, aliado à
ausência de capacitação adequada dos agentes de campo, acarretaram na perda de
informações e detalhamento das operações de pesca. O agrupamento das artes de pesca
em apenas três categorias (emalhe fixo; emalhe a deriva e cerco) simplificou a
diversidade de modos de operação de pesca existentes no local já que as diferentes
denominações referem-se às várias maneiras que o pescador utiliza uma mesma rede.
As diversas práticas pesqueiras adotadas revelam o conhecimento do pescador sobre as
espécies exploradas e, conseqüentemente, contribui para melhor entendimento da
biologia do recurso (Hilborn & Walters, 1992).
35
Recomendações sobre o Uso de Agentes de Campo em um Sistema de Amostragem da
Pesca Artesanal
É importante o estabelecimento de um programa contínuo de coleta de dados da
pesca para o acompanhamento das tendências nas capturas e monitoramento das
mudanças nas estratégias de pesca e na eficiência das pescarias. Para tanto, um
programa de amostragem de desembarques, através de agentes de campo capacitados,
constitui uma ferramenta promissora na avaliação do estado de explotação dos recursos
pesqueiros. O maior detalhamento das informações necessárias, a capacitação dos
agentes de campo e o monitoramento do preenchimento das planilhas são medidas
importantes para melhorar a qualidade dos dados coletados.
A coleta de dados deve seguir um roteiro previamente definido e testado,
realizada a intervalos regulares, diários ou a cada 2 dias, previamente determinados
pelo conhecimento da dinâmica da pescaria, sendo importante registrar quando não
houve desembarques (sem êxitos). A seleção dos pescadores e/ou embarcações deve ser
feita previamente.
O desenho amostral deve ser repassado aos agentes de campo, cabendo a eles a
tarefa de executar a coleta de dados dentro do desenho amostral pré-definido. O número
de agentes de campo por comunidade deve ser determinado anteriormente pela
observação do número de pontos de desembarques na localidade. A seleção dos agentes
de campo deve se basear na localização de suas moradias em pontos estratégicos na
comunidade e nos demais critérios já adotados anteriormente (grau de instrução,
conhecimento sobre a atividade pesqueira, proximidade aos pontos de desembarque e
compra de pescado, tempo disponível, bom relacionamento com a comunidade e
iniciativa e disposição para a coleta de dados). A coleta de dados deve ser uma
atividade remunerada e monitorada, que exija responsabilidade e tenha alguma forma
36
de controle por parte dos gestores. O cruzamento das informações coletadas por agentes
de uma mesma comunidade e visitas de observadores de campo ao acaso podem ser
adotadas como forma de verificação do sistema de coleta de dados.
O sucesso do programa de coleta de dados depende da realização de todas as
etapas previstas desde o processo de planejamento até a implementação e
monitoramento da coleta e análise dos dados (Figura 1.3).
Figura 1.3 – Diagrama esquemático de um programa de amostragem (baseado em FAO,
1999).
37
O primeiro passo de qualquer programa de coleta de dados deve ser a definição
dos objetivos a serem atingidos, contextualizando os agentes de campo dentro da
importância das informações que eles irão coletar. A partir daí, é necessário identificar
quais as informações necessárias para chegar aos objetivos e como obtê-las. Nesse
aspecto, é altamente recomendável o desenvolvimento e a execução de um projeto-
piloto. Para a pesca artesanal no estuário da Lagoa dos Patos, a falta de objetivos claros
resultou na subutilização dos agentes de campo e na imprecisa noção de quais dados e
de como esses dados deveriam ser coletados para a apropriada análise de captura e
esforço de pesca.
A detecção a curto prazo dos problemas encontrados poderia ter sido feita
através da implantação de um projeto piloto com a adequada análise e uso dos dados
coletados, o que faria com que os problemas fossem rapidamente identificados e
reparados, não prejudicando a obtenção do objetivo a longo prazo.
O desenvolvimento do programa de amostragem que, supostamente, deveria
ocorrer sincronizado com o desenvolvimento de um banco de dados, para utilizá-lo
como ferramenta para testar e melhorar o programa de coleta de dados, não ocorreu.
Isso resultou na exclusão e na falta de detalhamento das informações obtidas nas
planilhas de campo bem como possível introdução de ruídos pelo próprio tratamento
posterior dos dados ao se categorizar os tipos de operação de pesca para M. platanus no
estuário.
Uma vez iniciado, o programa de coleta de dados deve ser regularmente
revisado, para assegurar a adequação dos dados coletados na obtenção dos objetivos
propostos. A capacitação e o treinamento da equipe envolvida na tomada e análise dos
dados são componentes cruciais para o sucesso da implementação do programa de
38
coleta de dados e deve fazer parte da primeira etapa do programa. No sistema aqui
adotado, não ocorreu um treinamento propriamente dito, resumindo-se a uma rápida
transmissão das necessidades, em base individual.
A coleta de dados, a criação de um banco de dados, a entrada de dados, a
execução do processamento dos dados coletados no projeto piloto, a validação dos
dados, com posterior análise do programa de coleta de dados e do banco de dados, e
conseqüente discussão dos resultados com as partes envolvidas são etapas
imprescindíveis a um bom sistema de coleta de dados (FAO, 1999; Evans & Grainger,
2002).
Os dados de captura e de esforço estão entre as informações mais importantes a
serem obtidas de uma pescaria e o estabelecimento de um bom sistema de
monitoramento desses dados deve ser prioritário em qualquer sistema de amostragem
da pesca (FAO, 2006). A escolha de indicadores de desempenho do programa deve ser
feita com base nos objetivos propostos e consequentemente sobre os dados coletados
(Sparre, 2000). O uso de índices de captura por unidade de esforço pode ser apropriado
desde que se tenha uma série temporal consideravelmente maior que 2 anos de
amostragem (como nesse estudo), que possibilita avaliar tendências nas capturas ao
longo do tempo.
O sistema de coleta por agentes de campo da própria comunidade pode se
constituir em incentivo para a gestão participativa das pescarias. O estabelecimento, a
médio e longo prazo, de possíveis cenários pesqueiros pode criar maior
comprometimento com as conseqüências das estratégias de pesca adotadas. Os modelos
gerados podem vir a ser importantes ferramentas para que os resultados diários da
atividade se tornem parte integrante de um sistema a longo prazo, ou seja, que o
39
histórico das capturas faça parte do conjunto de fatores interferindo nas tomadas de
decisões do pescador a curto e médio prazo.
40
CAPITULO 2
CARACTERIZAÇÃO DA PESCA DE MUGIL PLATANUS
NO ESTUÁRIO DA LAGOA DOS PATOS
O conhecimento sobre a estrutura e o funcionamento das práticas pesqueiras é
indispensável para a gestão. O entendimento das estratégias pesqueiras e das decisões
do pescador de onde e quando sair para pescar pode predizer como uma dada pescaria
irá responder a mudanças nas propostas de gestão, tais como restrições de esforço e de
área (Vignaux, 1996). O conhecimento e entendimento das estratégias de pesca
adotadas pelas comunidades pesqueiras são elementos essenciais para a elaboração de
medidas de controle eficazes (Tzanatos et al., 2005; Branch et al., 2006; Vignaux,
1996) juntamente com o monitoramento das estratégias de pesca para que se
determinem eventuais mudanças que possam refletir em alterações nas capturas.
Quando se trata da elaboração de medidas de controle da pesca de M. platanus
no estuário da Lagoa dos Patos, é importante a definição de grupos de operações
pesqueiras que correspondem a escolhas similares em termos de espécie alvo, arte e
local de pesca (Pelletier & Ferraris, 2000). A elucidação de como, onde e quando a
espécie é capturada pelos pescadores pelas diferentes comunidades possibilita a
construção de um cenário pesqueiro da explotação da espécie no estuário, prioritário
para o desenvolvimento em curto e médio prazo de estratégias para a gestão pesqueira
na região, que possibilitará avaliações mais refinadas da pesca no local.
41
Este capítulo tem por objetivo descrever as estratégias da pesca de M. platanus
adotadas pelos pescadores artesanais residentes no entorno do estuário da Lagoa dos
Patos, procurando-se identificar as peculiaridades de cada comunidade.
MATERIAL E MÉTODOS
A caracterização da pesca de M. platanus baseou-se na análise dos dados
coletados por agentes de campo em 2002 e 2003 em 7 comunidades pesqueiras do
estuário da Lagoa dos Patos (ver Capítulo 1 para descrição completa). O ano de 2004
não foi incluído nas análises por representar apenas o mês de janeiro e por não ter
abrangido todas as comunidades.
A descrição da atividade pesqueira foi realizada para cada ano em separado,
considerando especialmente o período de ocorrência de safras.
Com base no total de registros de pesca e de peso capturado foram identificadas
as principais artes de pesca empregadas em cada ano bem como a participação dos
pescadores de cada comunidade amostrada nesses totais. As artes de pesca foram
classificadas quanto ao tipo de rede: pano simples e de três panos (feiticeira ou
tresmalho); e pelo método de pesca (tipo de operação de pesca): rede de espera fixa,
chamado de emalhe fixo; rede de espera à deriva, denominado de emalhe à deriva,
conhecido pelos pescadores como bombóio; e rede de emalhe de cerco, ou
simplesmente cerco, chamado pelos pescadores de lance.
Uma vez identificados os principais tipos de operação de pesca, as artes de pesca
foram descritas para cada comunidade comparando-se os anos de 2002 e 2003. As
características de cada arte de pesca incluíram: comprimento em braças, altura em
número de malhas, tamanho de malha da rede, pela distância entre nós adjacentes (em
42
milímetros), número de lances para a pesca de cerco e tempo de permanência das redes
na água para o emalhe (em horas).
Como a captura de fauna acompanhante é irrisória em redes de emalhe (Reis &
Pawson, 1992), sendo mínima a diferença entre o total capturado e o total
desembarcado, esses valores foram considerados sinônimos nesse trabalho.
A frota foi caracterizada pelo comprimento (em metros) e a capacidade de carga
(em quilos) das embarcações, o número de tripulantes e a presença ou ausência de
sonda. A época do ano, os locais de pesca, a profundidade (em metros) e o tempo de
navegação até os locais de pesca (em horas) também foram descritos.
As áreas de pesca identificadas pelos pescadores foram agrupadas em setores de
pesca tendo como base a sugestão de Schafer & Reis (no prelo). Os setores foram
classificados de acordo com Vieira & Reis (2005) (Figura 2.1):
Barra (B) - dos molhes da Barra de Rio Grande até a Ilha da Base, no Porto
Novo;
Ilha dos Marinheiros (IM) - área no entorno da Ilha dos Marinheiros;
Diamante (D) - da Ilha da Base até a linha imaginária que une o Bico da
Areia à Ponta Rasa;
Sarangonha - SZ3 (SZ3) - da linha imaginária que une o Bico da Areia à
Ponta Rasa até a linha imaginária que une a Ponta Rasa à Ponta da Feitoria,
passando pela ilha da Sarangonha;
Sarangonha (SR) - da linha imaginária que une a Ponta Rasa à Ponta da
Feitoria, passando pela ilha da Sarangonha até a linha imaginária que une a
Ponta da Feitoria à Ponta dos Lençóis;
43
Norte da Feitoria (NF) - setor que fica ao norte da Ilha da Feitoria, na região
da lagoa que não é mais considerada estuário.
A distribuição espacial e temporal da atividade pesqueira foi analisada pelo
número de operações de pesca, número de pescadores e peso total capturado, por mês e
por setor de pesca, ao longo de cada ano para cada arte de pesca e comunidade.
44
Figura 2.1 – Setores de pesca e comunidades pesqueiras no estuário da Lagoa dos Patos.
45
RESULTADOS
Tipo e Número de Operações de Pesca
Durante o período de estudo (2002 e 2003) foi amostrado um total de 1.099
operações de pesca dirigidas para M. platanus, realizadas por 112 pescadores, com uma
captura total em peso de aproximadamente 107.534 kg. As operações de pesca foram
basicamente de dois tipos: emalhe fixo (espera) e cerco (lance).
As redes de emalhe são fixadas em estacas de madeira (“calões ou andainas”) ou
por ferros (âncoras) ao longo do estuário. No primeiro caso, em geral a rede permanece
no seu local de pesca até o final da safra, sendo retirada e levada à terra eventualmente,
para conserto e/ou manutenção. A forma de operação mais comum é denominada de
“manjoada”, onde a rede é deixada durante a noite em operação nos calões e, na manhã
seguinte, o pescador retorna ao local para a despesca. No segundo caso, as redes são
fixadas por ferros e o pescador aguarda na embarcação para fazer a despesca. Nesse
caso, o tempo de permanência das redes em operação é menor.
A pesca de cerco inicia-se quando o pescador, ao perceber o cardume, que se
posiciona na camada superficial da coluna d´água, desloca-se da embarcação principal
em uma pequena embarcação movida a remo, o caíco, levando uma extremidade da rede
formando uma trajetória circular de modo a cercar o cardume. Ao retornar à embarcação
principal, completado o cerco, os pescadores batem vigorosamente com os remos na
água forçando os peixes a nadar na direção da rede, sendo estes então emalhados.
Quando o lance é feito à noite, não há necessidade de fechar a parte inferior da rede
pois, segundo os pescadores, a tainha não consegue escapar pelo fundo. O formato do
cerco pode variar, sendo usado também uma trajetória assemelhada a um caracol ou
46
mesmo serem utilizados dois caícos (botes) para formarem dois caracóis, o que permite
um cerco mais rápido e o uso de redes maiores (Vieira, 2005).
A grande maioria das redes usadas durante o período de estudo, tanto de espera
quanto de cerco, era de pano simples, sendo baixo o número de registros de pesca com
redes de três panos (feiticeira) (Figura 2.2).
Em 2002, do total de 431 operações de pesca (cerco e emalhe), 62%
correspondem as redes de emalhe fixo e 37%, redes de cerco (Figura 2.2). Por outro
lado, do total de 55.339kg, 80% se refere a capturas do cerco. As redes de emalhe à
deriva foram pouco utilizadas. O número de pescadores amostrados foi similar no
emalhe fixo simples e no cerco.
Em 2003, houve aumento considerável no número de operações de pesca com
redes de emalhe fixo e nas suas capturas (Figura 2.2). O emalhe fixo se manteve como
a principal atividade em número de registros em 2003, com 78% do total das 649
operações de pesca. O cerco, apesar de apresentar redução no número de registros e nas
capturas comparado ao ano de 2002, permaneceu com capturas maiores (73%) do que o
emalhe fixo (simples). Houve um expressivo aumento no número de pescadores
amostrados com redes de emalhe enquanto que no cerco diminuiu o número de
pescadores. Redes de emalhe fixo tresmalho foram pouco utilizadas, sendo empregadas
apenas pela comunidade Capivaras.
47
2002 2003
Operações de pesca
140
509
16
Cerco
emalhe fixo
tresmalho
Captura (kg)
36053
13641
707
Cerco
emalhe fixo
tresmalho
Pescadores
25
60
3
Cerco
emalhe fixo
tresmalho
Operações de pesca
161
266
4
Cerco
emalhe fixo
emalhe a deriva
Captura (kg)
44459
10330
550
Cerco
emalhe fixo
emalhe a deriva
Pescadores
34
38
3
Cerco
emalhe fixo
emalhe a deriva
Figura 2.2. Operações de pesca, peso total capturado (kg) e número total de pescadores
para todas as comunidades nos anos de 2002 e 2003.
Para analisar as diferenças de estratégia de pesca por comunidade, os resultados
serão apresentados por arte de pesca, analisando-se cada comunidade individualmente
em cada período anual. Um breve resumo é apresentado inicialmente, seguido por uma
análise comparativa entre comunidades.
48
Tipos de Operação de Pesca por Comunidade
Bosque
Durante os anos de 2002 e 2003, foram amostradas 117 operações de pesca para
captura de M. platanus no Bosque referentes à atividade de 10 pescadores, com uma
captura total de 20.911kg. A grande parte das operações de pesca corresponde ao uso de
redes de cerco (97%), com a totalidade do peso capturado (100%). As redes de emalhe
fixo foram pouco utilizadas e pouco contribuíram para o total capturado.
Mangueira
Vinte e quatro operações de pesca realizadas por 12 pescadores foram
amostradas com captura total de 3.384kg em 2002 e 2003. A maior parte da captura foi
efetuada com redes de emalhe fixo (simples) (83%). A pesca de bombóio foi realizada
por apenas 3 pescadores, em 2002, com captura total de 550 kg para 4 operações de
pesca. Para a descrição da estratégia de pesca foi considerada apenas a atividade com
redes de emalhe fixo nesta comunidade.
Torotama
Todas as operações de pesca nos dois anos amostrados correspondem ao uso de
redes de emalhe fixo (simples). Foram amostradas 34 operações de pesca em Torotama
referentes à atividade de 8 pescadores, com uma captura total de aproximadamente
3.000kg.
Passinho
Um total de 222 operações de pesca para 23 pescadores, responsáveis por uma
captura de 16.500kg foram amostradas. Nos dois anos amostrados, praticamente só
houve o uso de cerco, realizado com aproximadamente o mesmo número de pescadores
e de operações de pesca de emalhe fixo.
49
Capivaras
Durante 2002 e 2003, foi amostrado um total de 222 operações de pesca para 14
pescadores com um peso total capturado de 9.181kg. Cerca de 89% dos registros de
pesca correspondem às redes de emalhe fixo (simples) responsáveis por 83% das
capturas. O número de operações com redes de cerco (4%) e de emalhe fixo tipo
feiticeira (7%) foi pequeno com pequena captura.
Apenas um pescador operou redes de cerco com um total de 839 kg. As redes de
emalhe fixo tipo tresmalho foram usadas somente por 3 pescadores, que obtiveram um
peso total de 707 kg. Por outro lado, dos 18 pescadores amostrados, 13 trabalharam com
redes de emalhe fixo (simples), com uma captura total de 7.635 kg durante os dois
períodos anuais estudados.
Várzea
Na comunidade da Várzea em 2002 e 2003 foram amostradas 362 operações de
pesca resultando em uma captura total de 8.000 kg, realizadas por 17 pescadores que
utilizaram principalmente redes de emalhe fixo (simples) (92%). Embora tenha sido
pequeno o número de operações de pesca com redes de cerco (7%), aproximadamente
33% do total em peso foi capturado com essa arte.
Z- 3
Foram amostradas 134 operações de pesca referentes a 28 pescadores com um
peso total capturado de 60.000 kg. No ano de 2002 o cerco foi a modalidade de pesca
mais empregada (83%), com inexpressiva participação das redes de emalhe fixo
(simples). Já em 2003 as redes de emalhe fixo foram as mais utilizadas pelos pescadores
da Z-3 (71%), embora o cerco tenha contribuído com a maior parte do peso total
capturado (87%) nesse ano. De modo geral, houve um sensível aumento no número
total de registros de pesca em 2003 comparado ao ano anterior, sendo as redes de
50
emalhe fixo as principais responsáveis por esse acréscimo. O número de pescadores que
operou o cerco variou pouco de um ano para outro. Por outro lado, na pesca de emalhe
16 novos pescadores foram amostrados em 2003.
Pesca com Rede de Emalhe Fixo (Simples) por Comunidade
As características da rede de emalhe simples e demais variáveis relativas à
embarcação e às estratégias de pesca são analisadas a seguir para todas as comunidades
amostradas, exceto para o Bosque onde o uso dessa arte foi insignificante.
Mangueira
Em 2002, a pesca de emalhe fixo foi operada por 4 pescadores com um total de
9 operações de pesca e captura de 1.451kg. Em 2003, foram amostradas 11 operações
de pesca para 7 pescadores com total de 1.383kg (Tabela 2.1).
O comprimento das redes de emalhe fixo (simples), usadas em 2002, variou de
500 a 1.800 braças, sendo freqüente o uso de redes entre 500 e 600 braças, todas com 35
malhas de altura. O tamanho de malha foi de 45 ou 50 mm, com preferência pela malha
de 50 mm. O tempo de permanência das redes na água variou de 12 a 24 horas, sendo a
maioria 24 horas. O peso capturado variou de 60 a 281 kg, com a maioria das operações
com capturas de até 150 kg. Os locais de pesca tinham 1,5 metros de profundidade,
sendo alcançados com 10 minutos de navegação e eram localizados no setor B.
Em 2003, o comprimento e a altura das redes foram menores, houve redução do
tempo de permanência das redes em operação e do peso capturado. A profundidade dos
locais de pesca aumentou embora os pescadores tenham atuado no mesmo setor (B)
(Tabela 2.1).
51
Tabela 2.1 – Características das redes de emalhe fixo (simples), das estratégias de pesca
e das embarcações da comunidade
Mangueira nos anos 2002 e 2003.
Arte de Pesca 2002 2003
Número de pescadores 4 7
Emalhe fixo
(simples)
Número de registros 9
11
Comprimento
das redes (braças)
(500 – 1.800)
Média: 733,3
Dp: 412,3
Moda: 500 - 600
(100 – 800)
Média: 490,9
Dp: 197,2
Moda: 600
Altura das redes (malhas) 35 (100%)
20 - 80
Moda: 30
Tamanho de malha (mm) 45 ou 50
Moda: 50
30, 50 ou 40 e 50
Moda: 50
Captura
Peso total capturado
por operação (kg)
(60 – 281)
Média: 161,2
Dp: 73,9
(4 - 460)
Média: 125,7
Dp: 151,3
Estratégia
de pesca
Tempo de pesca (h) (12 ou 24)
Moda: 24
(3 - 12)
Moda: 12
Local de pesca B B
Profundidade (m) 1,5 (100%)
(2 – 15)
Média: 9,5
Dp: 5,95
Moda: 2 e 13
Tempo de navegação (h) (0,1 – 0,3)
Média: 0,19
Dp: 0,04
Moda: 10min
(0,1 – 0,5)
Média: 0,23
Dp: 0,10
Moda: 12min
Época do ano Mar – Abr
Abr - Maio
Embarcação
Comprimento (m) (4,9 – 10)
Média: 7,8
Dp: 1,9
Moda: 8,5 a 9
(5,5 – 9,6)
Média: 7,6
Dp: 1,7
Moda: 5,5 e 8,5
Capacidade de carga (kg) (600- 7.000)
Média: 3.525
Dp: 2.611,4
Moda: s/ moda
(1.000 – 7.000)
Média: 2.718,2
Dp: 1.778,7
Moda: 1.000 e 3.000
Número de tripulantes (2- 4)
Média: 2,6
Dp: 0,7
Moda: 2
(2 – 3)
Média: 2,9
Dp: 0,3
Moda: 3
52
No ano de 2002, o emalhe fixo (simples) foi realizado no mês de março e abril
enquanto que em 2003 a pesca ocorreu em abril e maio. De maneira geral, maio foi o
mês com maior número de operações de pesca e de pescadores mas as maiores capturas
aconteceram em abril de 2003 (Figura 2.3).
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Operação de pesca
2002
2003
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Captura (kg)
2002
2003
0
1
2
3
4
5
6
7
8
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
mero de pescadores
2002
2003
Figura 2.3 – Distribuição do número de operações de pesca (a), do peso capturado
de M. platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c) para a pesca de
emalhe fixo (simples) na comunidade
Mangueira durante os anos de 2002 e 2003.
53
Torotama
A pesca de emalhe fixo em Torotama totalizou 16 operações de pesca em 2002
realizadas por apenas 3 pescadores, com um total capturado em peso de 1.381kg. No
ano de 2003, foram amostrados 18 operações de pesca com peso total capturado de
2.275kg para 6 pescadores.
Em 2002 as redes utilizadas de emalhe fixo apresentaram de 600 a 900 braças de
comprimento, com preferência por redes de 800 braças (Tabela 2.2). A altura oscilou de
25 a 30 malhas e somente tamanho de malha 45mm foi utilizada. Os pescadores
deixaram as redes de 3 a 10 horas pescando, sendo a maioria por 5 horas. O peso total
capturado por operação de pesca variou de 23 a 400kg. Os pescadores operaram nos
setores IM e D (Figura 2.4), com maior número de operações de pesca e de captura no
setor IM. As redes foram deixadas a uma profundidade de 1 a 3 metros, sendo que os
locais de pesca no setor IM apresentaram profundidade preferencial de 3 metros e no
setor D, de 2 a 3 metros. O tempo de navegação até os locais de pesca variou de 1,5 a 10
horas, dependendo do setor em que ocorreu a captura. No setor IM o tempo de
navegação variou de 4 a 10 horas, com a grande maioria levando 9 horas. Para o setor
D, os pescadores levaram de 2 a 9 horas, com a maioria de 7 horas. As embarcações
tinham, em sua maioria, um comprimento de 7,5 metros, capacidade de carga de 1.000 e
1.500kg e eram tripuladas por 2 a 3 homens (Tabela 2.2)
54
Tabela 2.2: Características das redes de emalhe fixo (simples), das estratégias de pesca e
das embarcações da comunidade
Torotama nos anos 2002 e 2003.
Arte de
Pesca
2002 2003
Número de pescadores 3 6
Emalhe fixo
(simples)
Número de registros 16 18
Comprimento
das redes
(braças)
(600– 900)
Média: 790,6
Dp: 102,1
Moda: 800
(600– 900)
Média: 811
Dp: 67,6
Moda: 800
Altura das redes
(malhas)
(25 ou 30)
50% cada
30 (100%)
Tamanho de malha (mm) 45 (100%)
45 (100%)
Captura
Peso total capturado
por operação (kg)
(23 – 400)
Média:86.3
Dp: 90,3
(23 - 374)
Média: 126,4
Dp: 105,6
Estratégia de
pesca
Tempo de pesca (h) (3 – 10)
Média: 6,2
Dp: 2,3
Moda: 5
(6 – 12)
Média: 9,6
Dp: 2,6
Moda: 12
Local de pesca IM, D IM, D, SR
Profundidade (m) (1 – 3)
Média:2,2
Dp: 0,8
s/ moda
(1 – 3)
Média: 2,3
Dp: 0,6
Moda: 2
Tempo de navegação (h) (1.5 -10*)
Média: 7,2
Dp: 2,2
Moda: 9**
(1,5 – 2,5)
Média: 1,7
Dp: 0,4
Moda: 1,5
Época do ano Mar- Mai e Out – Dez
Mar - Mai
Embarcação
Comprimento (m) (5,5 – 7,6)
Média: 7,0
Dp: 0,9
Moda: 7,5
(5,5 – 8,0)
Média: 6,7
Dp: 0,9
Moda: 6,5
Capacidade de carga (kg) (800 – 2.500)
Média: 1.275
Dp: 515,7
Moda: 1.000 e 1.300
(700- 2.500)
Média: 1.600
Dp: 612,6
Moda: 2.000
Número de tripulantes (2-3)
Média: 2,6
Dp: 0,5
Moda: 2 e 3
(2-3)
Média: 2,5
Dp: 0,5
Moda: 2 e 3
* refere-se a apenas 1 pescador; ** refere-se a 2 pescadores
55
No ano de 2003, o tempo de permanência das redes foi maior, com o total em
peso capturado menor (Tabela 2.2). O tempo de navegação até os locais de pesca e o
comprimento das embarcações foram menores enquanto que a capacidade de carga
apresentou um pequeno aumento. As demais características foram similares a 2002
embora os pescadores também tenham operado no setor SR em 2003 (Figura 2.4).
(a)
0
2
4
6
8
10
12
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
2002
2003
(b)
0
500
1000
1500
2000
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Captura (kg)
2002
2003
Figura 2.4 – Distribuição do número de operações de pesca (a) e do peso capturado (b)
para a pesca de emalhe fixo (simples) por setor de pesca no outono do ano de 2002 e de
2003 na comunidade de
Torotama.
No ano de 2002, a pesca ocorreu de março a maio e de outubro a dezembro. O
primeiro período foi responsável por cerca de 52,4% do peso total capturado no ano,
com 62,5% do total de operações de pesca (Figura 2.5).
Em 2003, a pesca ocorreu de março a maio. O número de registros e o número
de pescadores foi maior comparado ao ano de 2002, sendo a pesca nesse ano
responsável por cerca de 62% do total em peso capturado nos dois períodos anuais
(Figura 2.5).
56
(a)
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Operação de pesca
2002
2003
(b)
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Captura (kg)
2002
2003
(c)
0
1
2
3
4
5
6
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
mero de Pescadores
2002
2003
Figura 2.5 – Distribuição do número de operações de pesca (a), do peso capturado de M.
platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c) para a pesca de emalhe fixo
(simples) na comunidade da
Torotama durante os anos de 2002 e 2003.
Passinho
Na comunidade de Passinho foram registrados, em 2002, 66 operações de pesca
realizadas por 12 pescadores com captura de 430kg. Em 2003, foram registradas 51
operações de pesca realizadas por 6 pescadores com total capturado de 417kg.
As redes de emalhe fixo (simples) para captura de M. platanus utilizadas em
2002 apresentaram de 144 a 400 braças de comprimento, sendo a maioria delas com 240
57
braças (Tabela 2.3). A altura variou entre 25 e 40 malhas, com preferência por redes de
30 malhas de altura. O tamanho de malha empregado nas redes foi de 50 ou 55, com
grande parte de tamanho de malha 50 (65%). As redes permaneceram 12 horas na água,
com a captura variando entre 1 a 28 kg por operação de pesca. A profundidade do local
de pesca variou entre 0,5 e 3 metros, com uma preferência por locais de 2 metros de
profundidade. Os pescadores utilizaram os setores de pesca D e SR, sendo que os
maiores valores de registros e de captura total em peso ocorreram em D (Figura 2.6). O
tempo de navegação foi de aproximadamente 25 minutos. As embarcações de pesca
apresentaram de 4 a 8,5 metros de comprimento, capacidade de carga entre 200 a
3.000kg, com um a três tripulantes por barco. Porém, a maior parte dos barcos tinha 8
metros de comprimento, 3.000kg de capacidade de carga e foi tripulada por duas
pessoas.
Em 2003, o tempo que as redes permaneceram na água aumentou, o tempo de
navegação diminuiu e o número de tripulantes foi menor. As maiores capturas
ocorreram no mesmo setor do ano anterior (Figura 2.6). O As demais variáveis se
mantiveram similares ao ano anterior.
58
Tabela 2.3: Características das redes de emalhe fixo (simples), das estratégias de pesca e
das embarcações da comunidade
Passinho nos anos 2002 e 2003
Arte de
Pesca
2002 2003
Número de pescadores 12 6
Emalhe fixo
(simples)
Número de registros 66 51
Comprimento
das redes
(braças)
(144 – 400)
Média: 251,6
Dp: 69,1
Moda: 240
(120 – 480)
Média: 240,5
Dp: 102,7
Moda: até no
máx 252 (70%)
Altura das redes
(malhas)
(25 – 40)
Moda: 30
(25 – 30)
Moda: 25
Tamanho de malha (mm) 50 (65.1%); 55 (34.8%)
50 ou 55
Moda: 55
Captura
Peso total capturado
por operação (kg)
(1 – 28)
Média: 6,5
Dp: 5,6
(1 – 41)
Média: 8,2
Dp: 7,9
Estratégia de pesca
Tempo de pesca (h) 12 (100%)
24 (100%)
Local de pesca D, SR
D, SR
Profundidade (m) (0,5 – 3)
Média: 1,6
Dp: 0,7
Moda: 2
(1 – 12)
Média: 3,6
Dp: 4,1
Moda: até 2
Tempo de navegação (h) (0,17 – 1)
Média: 0,3
Dp: 0,2
Moda: 0,4
(0,1- 0,5)
Média: 0,2
Dp: 0,1
Moda: 0,1
Época do ano Abr – Mai
Abr - Mai
Embarcação
Comprimento (m) (4 – 8,5)
Média: 6,9
Dp:1,5
Moda: 8 e 9
(5 – 8,6)
Média: 6,7
Dp: 1,3
s/ Moda
Capacidade de carga (kg) (200 – 3.500)
Média: 1.909,2
Dp: 1.060,8
Moda: 3.000
(800 – 4.000)
Média: 2.439,2
Dp: 1.215,2
s/ Moda
Número de tripulantes (1 -3)
Media: 1,7
Dp: 0,5
Moda: 2
(1- 2)
Média: 1,2
Dp: 0,4
Moda: 1
59
(a)
0
10
20
30
40
50
60
70
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
2002
2003
(b)
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Captura (kg)
2002
2003
Figura 2.6. Distribuição do número de operações de pesca (a) e das capturas (b) para a
pesca de emalhe fixo (simples) por setor de pesca para cada ano, realizado pelos
pescadores estabelecidos em
Passinho.
A pesca de emalhe fixo ocorreu nos meses de abril e maio nos dois anos de
estudo (Figura 2.7). Em 2002 a atividade intensificou em abril. Já em 2003, a pesca foi
similar entre esses meses.
60
(a)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Operação de pesca
2002
2003
(b)
0
100
200
300
400
500
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Captura (kg)
2002
2003
(c)
0
2
4
6
8
10
12
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Número de Pescadores
2002
2003
Figura 2.7– Distribuição do número de operações de pesca (a), do peso capturado de M.
platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c), para a pesca de emalhe
fixo (simples) na comunidade do
Passinho durante os anos de 2002 e 2003.
Capivaras
Em Capivaras foi amostrado em 2002 um total de 96 operações de pesca
realizadas por 8 pescadores com captura de 3.958kg. Em 2003, 101 operações de pesca
foram realizadas por 12 pescadores com um total de 3.677kg.
As redes de emalhe fixo para captura de M. platanus utilizadas no ano de 2002,
apresentaram de 340 a 950 braças de comprimento, sendo a maioria delas de 400 a 500
braças (Tabela 2.4). A altura variou entre 20 e 38 malhas, sendo freqüente redes de 30
malhas de altura. O tamanho de malha empregado nas redes foi de 50 ou 55, com
preferência por tamanho de malha 50 (95,8%). As redes ficaram preferencialmente 24
61
horas na água (96,8%), com a captura variando de 5 a 280kg. No entanto, grande parte
obteve captura de até 40kg. A profundidade dos locais de pesca variou entre 1,5 e 3
metros, com preferência por locais de 3 metros de profundidade.
62
Tabela 2.4: Características das redes de emalhe fixo (simples), das estratégias de pesca e
das embarcações da comunidade
Capivaras nos anos 2002 e 2003.
Arte de
Pesca
2002 2003
Número de pescadores 8 12
Emalhe fixo
(simples)
Número de registros 96 101
Comprimento
das redes (braças)
(340– 950)
Média: 595,5
Dp: 174,3
Moda: 400-500
(168– 840)
Média: 561,5
Dp: 198,9
s/ moda
Altura das redes
(malhas)
(20 – 38)
Moda: 30
(30 – 50)
Moda: 30
Tamanho de malha (mm) 50 (95.8%) ou 55 40 ou 45
Moda: 45 (99%)
Captura
Peso total
Capturado por operação
(kg)
( 5 – 280)
Média: 41,2
Dp: 41,9
(3 – 188)
Média: 36,4
Dp: 38,4
Estratégia de
pesca
Tempo de pesca (h) 12 ou 24
Moda: 24 (96,87%)
24 (100%)
Local de pesca D, SR, SZ3
D, SR, SZ3
Profundidade (m) (1,5 – 3)
Média: 2,5
Dp: 0,6
Moda: 3
(1,5 – 6)
Média: 2,9
Dp: 0,9
Moda: 3 (73%)
Tempo de navegação (h) (0,5 – 1,5)
Média: 0,8
Dp: 0,3
Moda: 0,6 e 1,0
(0,15 – 1,5)
Média: 0,8
Dp: 0,3
Moda: 0,6 e 1,0
Época do ano Abr – Mai
Abr - Mai
Embarcação
Comprimento (m) (4 – 9,3)
Média: 6,8
Dp: 1,8
Moda: 5 e 9
(4 – 9,5)
Média: 7,3
Dp: 1,9
Moda: 9
Capacidade de carga (kg) (500 – 6.000)
Média: 2015,6
Dp: 1750,7
Moda: 1.000 e 2.000
(600 – 6.000)
Média: 2.611,6
Dp: 1.957,5
Moda: 1.500 e 6.000
Número de tripulantes (1- 2)
Média: 1,7
Dp: 0,4
Moda: 2
(1-3)
Média: 1,8
Dp: 0,5
Moda: 2
63
Os pescadores trabalharam nos setores D, SR e SZ3. O maior número de
operações de pesca ocorreu em SZ3 com as maiores capturas (Figura 2.8). As
embarcações apresentaram comprimento entre 4 e 9,3 metros, com a grande parte com 5
ou 9 metros e sua capacidade de carga variou entre 500 e 6.000 quilos, sendo mais
freqüente embarcações com 1.000 e 2.000 kg. O número de tripulantes variou entre 1 e
2, sendo mais comum 2 homens por barco.
Em 2003 as redes apresentaram grande variação no tamanho, mas comprimentos
menores foram mais freqüentes do que em 2002 (Tabela 2.4). A altura das redes sofreu
um ligeiro aumento na amplitude embora a preferência manteve-se similar ao ano
anterior, o tamanho de malha empregado diminuiu e o peso total capturado por operação
de pesca foi menor. O comprimento e a capacidade de carga das embarcações
aumentaram. As demais variáveis foram semelhantes ao ano anterior assim como os
locais de pesca permaneceram os mesmos (Figura 2.8).
(a)
0
10
20
30
40
50
60
70
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
2002
2003
(b)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Captura (kg)
2002
2003
Figura 2.8–Distribuição do número de operações de pesca (a) e das capturas (b) para a
pesca de emalhe fixo (simples) por setor de pesca para cada ano, realizado pelos
pescadores estabelecidos em
Capivaras.
64
A captura de M. platanus foi realizada preferencialmente nos meses de abril e
maio nos dois anos de estudo (Figura 2.9). Em 2002 o pico de atividade foi em maio
enquanto que em 2003 foi em abril, mês com maior número de registros, captura e
pescadores. Em 2003, o início da pesca ocorreu em março. As capturas totais foram
similares entre os anos, entre 3.500 e 4.000kg.
(a)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Operação de pesca
2002
2003
(b)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Captura (Kg)
2002
2003
(c)
0
2
4
6
8
10
12
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
mero de Pescadores
2002
2003
Figura 2.9 – Distribuição do número de operações de pesca (a), do peso capturado de M.
platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c), para a pesca de emalhe
fixo (simples) na comunidade de
Capivaras durante os anos de 2002 e 2003.
65
Várzea
Na Várzea, em 2002 foram amostradas 69 operações de pesca realizadas por 8
pescadores com um total de 2.746kg. Em 2003, 266 operações de pesca foram
registradas para 11 pescadores, que resultou na captura de 2.506kg.
O comprimento das redes de emalhe fixo usadas em 2002 variou entre 200 e
1.200 braças, sendo a maioria de 300 braças (Tabela 2.5). A altura variou entre 25 e 50
malhas, com 89,5% das redes, apresentando até 35 malhas de altura. O tamanho de
malha preferencial foi de 45mm. Os pescadores deixaram as redes até 24 horas na água,
com preferência por 12hs. Foi capturado um total de 207kg de M. platanus por operação
de pesca, sendo mais freqüente a captura de, no máximo, 10kg. As redes foram
colocadas a uma profundidade de 1 a 2m, sendo mais freqüente até 1m. Os pescadores
levaram de 25 minutos a 1h de navegação até o local de pesca, sendo a maioria dos
casos de cerca de 30 minutos. A pesca foi realizada apenas no setor SR. As
embarcações de pesca apresentaram de 3 a 9,6m de comprimento e capacidade de carga
entre 300 e 6.000kg. A grande maioria apresentou 9,6m, 6.000kg de capacidade de
carga e apenas um tripulante.
Em 2003, o comprimento das redes e o tamanho de malha aumentaram enquanto
que a altura das redes foi um pouco menor foi maior. O tempo de pesca usado mais
frequentemente dobrou, passando de 12 para 24 horas e a capacidade de carga das
embarcações aumentou (Tabela 2.5).
66
Tabela 2.5: Características das redes de emalhe fixo (simples), das estratégias de pesca e
das embarcações da comunidade
Várzea nos anos 2002 e 2003.
Arte de
Pesca
2002 2003
Número de pescadores 8 11
Emalhe fixo
(simples)
Número de registros 69 266
Comprimento
das redes
(braças)
(200– 1.200)
Média: 517,9
Dp: 289,0
Moda: 300
(500– 1.500)
Média: 832,3
Dp: 298,3
Moda: 1.000
Altura das redes
(malhas)
(25 - 50)
Moda: 30
(25- 40)
Moda: 30
Tamanho de malha (mm) (45, 50, 55 e 65)
Moda: 45
(45 – 70)
Moda: 55 e 65
Captura
Peso total capturado por
operação (kg)
(1 – 207)
Média: 39,8
Dp: 44,9
(1 – 204)
Média: 9,4
Dp: 20,1
Estratégia de
pesca
Tempo de pesca (h) (1* – 24)
Média: 12.6
Dp: 5,4
Moda: 12
(12 e 24)
Média: 23,6
Dp: 2,1
Moda: 24
Local de pesca SR SR
Profundidade (m) (1 – 2)
Média: 1,1
Dp: 0,3
Moda: até 1
(1 – 4)
Média: 1,7
Dp: 0,9
Moda: 1 e 2
Tempo de navegação (h) (0.25 a 1)
Média: 0,5
Dp: 0,1
Moda: 30min
(0.20 – 0.90)
Média: 0,5
Dp: 0,2
Moda: 30min
Época do ano Fev – Maio; Out - Nov Fev – Maio; Out – Nov
Embarcação
Comprimento (m) (3 – 9,6)
Média = 7,9
Dp: 2,1
Moda: 5 e 9,6
(6 -9,6)
Média: 8,7
Dp: 1,0
Moda: 7,5 e 9,6
Capacidade de carga (kg) (300 – 6.000)
Média: 3.771,0
Dp: 2.201,7
Moda: 1.000 e 6.000
(100 – 6.000)
Média: 4.678,9
Dp: 1.866,1
Moda: 2.500 e 6.000
Número de tripulantes (1-3)
Média: 1,2
Dp: 0,5
Moda: 1
(1 -2)
Média: 1,1
Dp: 0,3
Moda: 1
* apenas uma operação
67
Em 2002 e 2003 a pesca ocorreu de fevereiro a maio e de outubro a dezembro
(Figura 2. 10).
(a)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Operação de pesca
2002
2003
(b)
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Captura (Kg)
2002
2003
(c)
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
mero de Pescadores
2002
2003
Figura 2.10 – Distribuição do número de operações de pesca (a), do peso capturado de
M. platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c) para a pesca de emalhe
fixo (simples) na comunidade da
Várzea durante os anos de 2002 e 2003.
68
Z- 3
Na comunidade Z-3, em 2002, foram registrados 8 operações de pesca por 6
pescadores com captura total de 360kg. Em 2003, 61 operações de pesca realizadas por
17 pescadores com total capturado de 3.381kg foram amostradas.
O comprimento das redes de emalhe fixo usadas em 2002 variou de 400 a 1.000
braças (Tabela 2.6). A altura variou de 30 a 100 malhas, com preferência por redes de
30 malhas de altura. O tamanho de malha foi de 50 ou 60mm, com preferência por redes
de 50mm. As redes permanecerem na água por 12 ou 24 horas, sendo mais freqüente 12
horas. O peso capturado variou de 1 a 100kg, com a maioria das capturas tendo 20 ou
40kg. Os pescadores mostraram preferência por locais com 2 metros de profundidade
com tempo de navegação de 1 hora. As operações de pesca ocorreram nos setores D, SR
e SZ3 (Figura 2.11). As embarcações utilizadas em sua maioria apresentaram 9 metros
de comprimento, capacidade de carga de 6.000kg e 2 tripulantes.
69
Tabela 2.6 – Características das redes de emalhe fixo (simples), das estratégias de pesca
e das embarcações da comunidade
Z-3 nos anos 2002 e 2003.
Arte de
Pesca
2002 2003
Número de pescadores 6 17
Emalhe fixo
(simples)
Número de registros 8 61
Comprimento
das redes
(braças)
*( 400 – 1.000)
Média: 683,3
Dp: 231,7
s/ moda
(100– 1.500)
Média: 783,6
Dp: 304,5
Moda: 900
Altura das redes
(malhas)
(30 - 100)
Moda: 30
(20 – 100)
Moda: 30
Tamanho de malha (mm) (50 – 60)
Moda: 50
(30 – 80**)
Moda: 60
Captura
Peso total capturado por
operação (kg)
(1 – 100)
Média: 41,8
Dp: 37,4
(1 - 900)
Média: 55,4
Dp: 131,9
Estratégia de
pesca
Tempo de pesca (h) (12 ou 24)
Moda: 12
(11 - 48)
Média: 14,8
Dp: 7,5
Moda: 12
Local de pesca D, SR, SZ3
D, SR, SZ3, NF
Profundidade (m) (1,5 – 5,5)
Média: 3,0
Dp: 1,8
Moda: 2
(2 – 6)
Média: 2,5
Dp: 1,05
Moda: 2
Tempo de navegação (h) (1 - 5)
Média: 1,9
Dp: 1,6
Moda: 1
(0,5 – 4)
Média: 1,5
Dp: 0,8
Moda: 1
Época do ano Abr, Out e Dez Jan- Mai ; Out – Dez
Embarcação
Comprimento (m) (5 – 11)
Média: 8,3
Dp: 2,3
Moda: 9
(6 – 11,5)
Média: 7,6
Dp: 1,9
Moda: 6
Capacidade de carga (kg) (800 – 10.000)
Média: 4.633,3
Dp: 3.430,3
Moda: 6.000
(600 – 12.000)
Média: 3388,5
Dp: 3.486,9
Moda: 2.000
Número de tripulantes (1 – 4)
Média: 2,0
Dp: 1,09
Moda: 2
(1- 4)
Média: 1,7
Dp: 0,9
Moda: 1
*apenas 6 operações de pesca apresentam todas as informações completas; ** refere-se a 2 operações de pesca
realizadas no verão (2 pescadores)
70
(a)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
2002
2003
(b)
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Captura (kg)
2002
2003
Figura 2.11 – Distribuição do número de operações de pesca (a) e das capturas (b) para
a pesca de emalhe fixo (simples) por setor de pesca para cada ano, realizado pelos
pescadores estabelecidos na
Z-3.
Em 2003, houve aumento da amplitude dos tamanhos de malha e do
comprimento das redes utilizadas. As capturas foram maiores embora o tempo de
permanência das redes foi similar ao ano anterior . (Tabela 2.6). O maior número de
operações de pesca ocorreu no setor SR, com captura similar ao setor SZ3. Os
pescadores também operaram no setor NF (Figura 2.11). O comprimento, a capacidade
de carga e o número de tripulantes das embarcações foram menores que em 2002.
A pesca de emalhe fixo, em 2002, foi realizada principalmente no mês de abril
com capturas similares ao mês de outubro (Figura 2.12). Em 2003, a pesca ocorreu
preferencialmente nos meses de fevereiro e abril, com pico de atividade e das capturas
em abril. Já o número de pescadores parece apresentar dois picos, em fevereiro e em
abril e maio.
71
(a)
0
5
10
15
20
25
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Operação de pesca
2002
2003
(b)
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Captura (Kg)
2002
2003
(c)
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
mero de Pescadores
2002
2003
Figura 2.12 – Distribuição do número de operações de pesca (a), do peso capturado de
M. platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c) para a pesca de emalhe
fixo (simples) na comunidade
Z-3 durante os anos de 2002 e 2003.
72
Pesca com Rede de Cerco por Comunidade
A análise da pesca de cerco será realizada para o Bosque, Passinho, Várzea e Z-
3. Nas demais comunidades o uso dessa arte foi insignificante.
Bosque
Na comunidade do Bosque foi registrado em 2002 um total de 47 operações de
pesca realizadas por 6 pescadores com captura de 7.911kg. Em 2003, 67 operações
foram efetuadas por 7 pescadores com 12.722 kg.
Em 2002, o comprimento das redes variou de 250 a 1.400 braças de
comprimento, sendo a maioria de 1.300 braças (Tabela 2.7). A altura das redes variou
entre 20 e 42 malhas, embora grande parte dos pescadores utilize redes de 42 malhas. O
tamanho de malha foi de 45 e 50 mm. Os pescadores realizaram de 1 a 12 lances na
pesca de cerco, sendo mais freqüente de 3 a 5 lances de pesca por pescaria. O peso total
de M. platanus capturado variou entre 1 a 510kg. O tempo de navegação mais freqüente
foi de 1,5 a 2 horas. Os pescadores trabalharam nos setores B, IM e D, sendo que o
maior número de operações de pesca se concentrou no setor IM com as maiores
capturas (Figura 2.13). Grande parte dos locais de pesca apresentou profundidades de
1m. A grande maioria das embarcações de pesca apresentou 8,5m de comprimento,
capacidade de carga de 1.000 ou 3.500kg e 3 tripulantes.
Em 2003, embora as redes sejam de menor amplitude de comprimento, a
maioria teve um comprimento similar ao ano anterior. Redes de maior altura foram
empregadas. O número de lances por pescaria apresentou a mesma variação do ano
anterior e o tempo de navegação ao local de pesca diminuiu (Tabela 2.7).
73
Tabela 2.7: Características das redes de cerco, das estratégias de pesca e das
embarcações da comunidade
Bosque nos anos 2002 e 2003.
Arte de
Pesca
2002 2003
Número de pescadores 6 7
Cerco
Número de registros 47 67
Comprimento
das redes
(braças)
(250 – 1.400)
Média: 700
Dp: 400,5758
Moda: 1.300
(500 – 1.200)
Média: 864,17
Dp: 217,91
Moda: 1.200
Altura das redes
(malhas)
(20 – 42)
Moda: 30
(25 – 70)
Moda: 45
Tamanho de malha (mm)
45 e 50 45 ou 45 e 50
Captura
Peso total capturado
por operação (kg)
(1 – 510)
Média: 167,7
Dp: 136,5
(12 – 730)
Média: 186,4
Dp: 152,9
Estratégia de pesca
Número de lances (1 – 12)
Média: 3.5
Dp: 2,1
Moda: 3 e 5
(1 – 12)
Média: 3,8
Dp: 2,2
Moda: 4
Local de pesca B, IM, D B, IM, SZ3
Profundidade (m) (0,5 – 3)
Média: 1,4
Dp: 0,7
Moda: 1
(1 - 6)
Média: 1,6
Dp: 0,9
Moda: 2
Tempo de navegação (h) (0,17 – 4)
Média: 1,5
Dp: 0,9
Moda: 1,5 a 2
(0,17 - 3.5)
Média: 0,8
Dp: 0,6
Moda: 0,5
Época do ano Fev- Abr Jan- Mai e Out
Embarcação
Comprimento (m) (6,8 – 9,0)
Média:8,0
Dp: 0,8
Moda: 8,5
(6,5 - 11)
Média: 7,9
Dp: 1,0
Moda: 9,0
Capacidade de carga (kg) (900 – 5.000)
Média: 2.580,6
Dp: 1.473,0
Moda: 1.000 e 3.500
(900 -10.000)
Média: 2.841,8
Dp: 1.675,5
Moda: 2.000
Número de tripulantes (2- 5)
Média: 3,2
Dp: 0,9
Moda: 3
(1 -5)
Média: 3,1
Dp: 1,0
Moda: 3
74
Os pescadores realizaram a pesca nos mesmos setores de 2002 com pequeno
número de operações de pesca no setor SZ3 e capturas inexpressivas. As maiores
capturas ocorreram em IM (Figura 2.13). Os locais de pesca apresentaram
profundidades superiores. A amplitude de comprimento das embarcações de pesca
aumentou mas a grande maioria manteve o comprimento igual a 2002. A amplitude da
capacidade de carga duplicou, embora em média tenha se mantido os valores similares
ao ano anterior.
(a)
0
10
20
30
40
50
60
70
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
2002
2003
(b)
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Captura (Kg)
2002
2003
Figura 2.13 – Distribuição do número de operações de pesca (a) e das capturas (b) para
a pesca de cerco por setor de pesca para cada ano, realizado pelos pescadores
estabelecidos no
Bosque.
As operações de pesca com redes de cerco para captura de M. platanus foram
realizadas preferencialmente nos meses de fevereiro a abril, com atividade máxima no
mês de março, tanto em 2002 quanto em 2003, embora a atividade foi expressiva
75
também no mês de outubro no último ano (Figura 2.14). O peso total capturado de M.
platanus em ambos os anos foi máximo no mês de março.
O número de operações de pesca foi maior em 2003, o que está relacionado com
o elevado número de operações de pesca em outubro. Por outro lado, o peso total
capturado de M. platanus em março de 2003 corresponde quase que ao total do peso
capturado durante o ano de 2002. Em ambos os anos, o número de pescadores em cada
mês foi baixo, embora em março de 2002 a pesca tenha sido realizada pela quase
totalidade dos pescadores amostrados em 2002 (83%). Em 2003, apenas a metade dos
pescadores amostrados nesse ano participou da atividade no mês de março.
(a)
0
5
10
15
20
25
30
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Operação de pesca
2002
2003
(b)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Captura (Kg)
2002
2003
(c)
0
1
2
3
4
5
6
7
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Número de Pescadores
2002
2003
Figura 2.14 – Distribuição do número de operações de pesca (a) do peso capturado de
M. platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c) para a pesca de cerco na
comunidade do
Bosque durante os anos de 2002 e 2003.
76
Passinho
Em Passinho foi amostrado em 2002 um total de 59 operações de pesca para 8
pescadores com um total em peso capturado de 8.567kg. Em 2003 foram registrados 44
operações de pesca realizadas por 4 pescadores com captura total de 5.031kg.
No ano de 2002, as redes apresentaram de 600 a 1.300 braças de comprimento,
com altura de 30 malhas e tamanho de malha 50mm (Tabela 2.8). O peso total de M.
platanus capturado por operação de pesca variou de 2 a 1.050kg. Os pescadores
realizaram, na maioria dos casos, até 4 lances por pescaria. O tempo de navegação até
os locais de pesca levou entre 40 e 50 minutos. Os locais de pesca em geral
apresentaram baixas profundidades, mostrando a preferência dos pescadores por
profundidades entre 0,5 a 1 metro.
77
Tabela 2.8: Características das redes de cerco, das estratégias de pesca e das
embarcações da comunidade
Passinho nos anos 2002 e 2003.
Arte de
Pesca
2002 2003
Número de pescadores 8 4
Cerco
Número de registros 60 45
Comprimento
das redes
(braças)
(180 – 1.300)
Média: 740,5
Dp: 358,7
Moda: 600-700
(500 – 800)
Média: 723,3
Dp: 82,3
Moda: 650 e 800
Altura das redes
(malhas)
(25 – 40)
Moda: 30
(25 – 50)
Moda: 30
Tamanho de malha (mm) 50 (100%)
50 (100%)
Captura
Peso total capturado
por operação (kg)
(2 – 1.050)
Média: 160,3
Dp: 182,5
(3 – 1.000)
Média: 134,0
Dp: 167,5
Estratégia de pesca
Número de lances (1 – 11)
Média: 3,6
Moda:1-4
(até 4 lances 73,3%)
(1 – 6)
Média: 3,1
Moda: 1 a 2
Local de pesca IM, D, SR, SZ3, NF
B (1R), IM, D
Profundidade (m) (0,5 -3,0)
Média: 1,5
Dp: 0,7
Moda: 1,0
(1.5 – 2.5)
Média: 1.9
Dp: 0,5
Moda: 1,5
Tempo de navegação (0.25 – 1)
Média: 0,7
Dp: 0.2
Moda: 40- 50min
(0,4 – 2)
Média: 0,8
Dp: 0,4
Moda: 30min
Época do ano Abr- Mai
Abr- Mai
Embarcação
Comprimento (m) (6,9 – 10)
Média: 8,3
Dp: 0,9
Moda: 8,5
(8,3 - 10)
Média: 8,6
Dp: 0,5
Moda:8,5
Capacidade de carga (kg) (1.600 – 7.000)
Média: 3,1
Dp: 1.1814,9
Moda: 2.000
(2.000 – 7.000)
Média: 2.681,8
Dp: 1.521,5
Moda: 2.000
Número de tripulantes (1 -5)
Média: 2,6
Dp: 1,2
Moda: 2
(1 – 5)
Média: 2,2
Dp: 0,9
Moda: 2
78
Os pescadores realizaram o cerco preferencialmente nos setores D e IM sendo o
número de operações de pesca, de pescadores e as capturas superiores no setor D
(Figura 2.15). As embarcações de pesca apresentaram em sua maioria, 8,5 metros de
comprimento, 2.000kg de capacidade de carga e dois tripulantes.
(a)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
2002
2003
(b)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Captura (Kg)
2002
2003
Figura 2.15 - Distribuição do número de operações de pesca (a) e das capturas (b) para a
pesca de cerco por setor de pesca para cada ano, realizado pelos pescadores
estabelecidos em
Passinho.
Em 2003, houve redução no número de operações de redes de cerco, no número
de pescadores amostrados e no peso total de M. platanus capturado (Tabela 2.8). Houve
um leve aumento da amplitude da altura das redes que oscilou entre 25 e 50 malhas,
com preferências similares ao ano anterior. O peso total de M. platanus capturado por
operação mostrou-se similar ao ano anterior, embora o número de lances tenha
79
diminuído. As características das embarcações de pesca se mantiveram bem como o
número de tripulantes.
A pesca de cerco em 2002 restringiu-se aos meses de abril e maio, com maior
número de operações no mês de maio e capturas maiores em abril. Em 2003, a pesca
ocorreu de março a maio com pico de atividade e das capturas em abril (Figura 2.16).
(a)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Operação de pesca
2002
2003
(b)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Captura (kg)
2002
2003
(c)
0
1
2
3
4
5
6
7
8
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Número de Pescadores
2002
2003
Figura 2.16 – Distribuição do número de operações de pesca (a) do peso capturado de
M. platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c), para a pesca de cerco
na comunidade do
Passinho durante os anos de 2002 e 2003.
80
Várzea
Apenas em 2002 houve registros para o cerco, sendo amostradas 27 operações
de pesca para 5 pescadores com uma captura total de 2.678kg.
As redes usadas de cerco apresentaram de 350 a 1.500 braças de comprimento,
com grande parte das redes de 350 ou 800 braças de comprimento (Tabela 2.9). A altura
das redes foi de 25 a 95 malhas, com preferência por 25 ou 30 malhas. O tamanho de
malha encontrado foi de 45 ou 50mm, preferencialmente. Os pescadores realizaram de 1
a 7 lances por operação de pesca, sendo a maioria dos casos de no máximo 4 lances por
registro. O peso total capturado de M. platanus foi de 4 a 490kg por operação de pesca,
no entanto, 74,1% dos registros obtiveram no máximo até 100kg de M. platanus. Os
pescadores levaram de 30 minutos a 5h navegando até os locais de pesca, sendo que
89% dos casos, com no máximo 90 minutos de navegação. Os locais de pesca variaram
de 1 a 6m de profundidade, com preferência por locais de 2m de profundidade.
Os pescadores operaram nos setores SR e NF, sendo que nesse último a
atividade foi realizada poucas vezes por apenas um pescador, com capturas baixas. As
embarcações de pesca apresentaram comprimento de 4,9 a 11 m, a capacidade de carga
variou entre 800 e 7.000kg e de 1 a 5 tripulantes. A maior parte das embarcações tinha
7m de comprimento, capacidade de 2.000kg e era operada por três tripulantes.
81
Tabela 2.9: Características das redes de cerco, das estratégias de pesca e das
embarcações da comunidade
Várzea nos anos 2002 e 2003.
Arte de
Pesca
2002
Número de pescadores 5
Cerco
Número de registros 27
Comprimento
das redes
(braças)
(350 – 1.500)
Média: 648,1
Dp: 334,9
Moda: 350 e 800
Altura das redes
(malhas)
(25 – 95)
Moda: 25 e 30
Tamanho de malha (mm) 45 ou 50
Captura
Peso total capturado
por operação (kg)
(4 – 490)
Média: 99,2
Dp: 115,2
Estratégia de pesca
Número de lances (1 – 7)
Média: 4,0
Dp: 1,8
Moda: até 4 lances (63%)
Local de pesca SR, NF
Profundidade (m) (1 - 6)
Média: 1,9
Dp: 1,3
Moda: 2
Tempo de
navegação (h)
0.5 – 5
Média: 0,9
Dp: 1,3
Moda: 30min
Época do ano Abr- Mai
Embarcação
Comprimento (m) (4,9 – 11)
Média: 6,7
Dp: 1,7
Moda: 7,0
Capacidade de carga (kg) (800 – 7.000)
Média: 2.118,5
Dp: 1.738,5
Moda: 2.000
Número de tripulantes (1 – 5)
Média: 2,4
Dp: 1,2
Moda: 3
82
A pesca de cerco foi realizada durante os meses de fevereiro a maio, sendo que a
maior parte das operações foi realizada em abril e maio (85,2%), e o peso total
capturado nesse mesmo período corresponde a cerca de 95% das capturas para o ano
(Figura 2.17).
(a)
0
2
4
6
8
10
12
14
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Operação de pesca
(b)
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Captura (Kg)
(c)
0
1
2
3
4
5
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Número de Pescadores
Figura 2.17 – Distribuição do número de operações de pesca (a), do peso capturado de
M. platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c) para a pesca de cerco na
comunidade da
Várzea em 2002
83
Z- 3
Na comunidade Z-3 em 2002 foram amostrados 28 registros de pesca para 15
pescadores com captura total de 25.303kg. Em 2003, um total de 20 registros de pesca
para 13 pescadores que totalizaram 17.461kg foi registrado.
As redes de cerco em 2002 apresentaram de 100 a 2.000 braças de comprimento,
sendo a maioria com 1.000 e 1.500 braças (Tabela 2.10). A altura variou de 20 a 100
malhas, sendo a maioria de 100 malhas de altura. O tamanho de malha foi de 50mm. De
maneira geral, foram feitos 4 lances de pesca, podendo variar de 1 a 12. As capturas
oscilaram entre 10 e 5.000kg, com grande parte de até 200kg a cada operação. A
profundidade dos locais de pesca variou de 3 a 7m, sendo que os pescadores
demonstraram preferência por locais de 6 metros. O tempo de navegação até os locais
de pesca variou de 1 a 6 horas, sendo mais comum 6 horas.
84
Tabela 2.10: Características das redes de cerco, das estratégias de pesca e das
embarcações da comunidade
Z-3 nos anos 2002 e 2003.
Artes de
Pesca
2002 2003
Número de pescadores 15 13
Cerco
Número de registros 28 20
Comprimento
das redes
(braças)
(100– 2.000)
Média: 1.107,7
Dp: 459,1
Moda: 1.000 e 1.500
(300– 2.000)
Média: 940
Dp: 318,9
Moda: 1.000
Altura das redes
(malhas)
(20- 100)
Moda: 100
(23 -100)
Moda: 100
Tamanho de malha 50
(100%)
(30 – 60)
Moda: 50
Captura
Peso total capturado por
operação (kg)
(10 – 5.000)
Média: 845,8
Dp: 1.125,2
(4 – 3.000)
Média: 930,4
Dp: 752,1
Estratégia de
pesca
Número de lance (1 -12)
Média: 4,4
Dp: 2,6
Moda: 4
(2 – 10)
Média: 5,5
Dp: 2,2
Moda: 5
Local de pesca SR, NF
D, SR, SZ3, NF
Profundidade (m) (3 – 7)
Média: 5,3
Dp: 1,2
Moda: 2
(2 – 6)
Média: 3,4
Dp: 1,5
Moda: 2
Tempo de navegação (h) (1 - 6)
Média: 4,1
Dp: 1,8
Moda: 6*
(0,5 -12)
Média: 3,1
Dp: 3,7
Moda: 1
Época do ano Mar- Mai
Mar – Mai; Out – Dez
Embarcação
Comprimento (m) (9 – 14)
Média: 11,0
Dp: 1,0
Moda: 11 e 12
(7 – 14)
Média: 10,4
Dp: 2,4
Moda: 8, 11 e 14
Capacidade de carga (kg)
(7.000 – 14.000)
Média: 11.214,3
Dp: 2.543,8
Moda: 12.000
(3.000 – 16.000)
Média: 7.900
Dp: 3.708,4
Moda: 4.000 e 10.000
Número de tripulantes
(3 – 5)
Média: 3,9
Dp: 0,5
Moda: 4
(1 – 4)
Média: 2,5
Dp: 1,1
Moda: 2 e 4
*refere-se a preferência pelo setor NF
85
Os pescadores realizaram a pesca de cerco nos setores SR e NF, sendo
encontrado nesse último o maior número de registros de pesca e de capturas (Figura
2.18). Não foi possível avaliar o número de pescadores amostrado porque muitas
operações de pesca se referiam a pescadores anônimos.
As embarcações de pesca apresentaram de 9 a 14 metros de comprimento,
capacidade de carga entre 7.000 e 16.000kg e de 3 a 5 tripulantes, a maioria tendo entre
11 e 12 metros de comprimento, 12.000kg de capacidade de carga e 4 tripulantes.
Em 2003 o tempo de navegação foi menor o que está relacionado a preferência
dos pescadores pelo setor SZ3 (Tabela 2.10). As embarcações de pesca apresentaram
comprimento e capacidade de carga menor comparado a 2002. O número de tripulantes
também reduziu embora se mantenha boa parte das embarcações com quatro tripulantes.
(a)
0
5
10
15
20
25
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
2002
2003
(b)
0
5000
10000
15000
20000
25000
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Captura (Kg)
2002
2003
Figura 2.18 - Distribuição do número de operações de pesca (a) e das capturas (b) para a
pesca de cerco por setor de pesca para cada ano, realizado pelos pescadores
estabelecidos na
Z-3.
86
A pesca de cerco ocorreu nos meses de março a maio no ano de 2002, enquanto
que em 2003 os pescadores operaram também nos meses de outubro a dezembro (Figura
2.19).
(a)
0
5
10
15
20
25
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Operação de pesca
2002
2003
(b)
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Captura (Kg)
2002
2003
(c)
0
1
2
3
4
5
6
7
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Número de Pescadores
2002
2003
Figura 2.19 – Distribuição do número de operações de pesca (a), do peso capturado de
M. platanus (kg) (b) e do número de pescadores amostrados (c) para a pesca de cerco na
comunidade
Z-3 durante os anos de 2002 e 2003.
Comparação dos Resultados entre 2002 e 2003
As alterações nas estratégias de pesca para captura de M. platanus no estuário da
Lagoa dos Patos entre os dois períodos anuais (2002 e 2003) para cada comunidade
poderiam refletir as rápidas mudanças feitas pelos pescadores em resposta às condições
da pesca em cada ano, como safras melhores ou piores. No entanto, na maioria das
87
comunidades estudadas, os pescadores amostrados em um ano não são os mesmos no
ano seguinte. As diferenças encontradas podem, então, ser atribuídas à incorporação de
novos pescadores no sistema de coleta de dados. Isso resulta em maior
representatividade da atividade na comunidade porém dificulta a avaliação de possíveis
mudanças nas táticas pesqueiras do pescador. Além disso, as diferenças encontradas em
uma mesma comunidade de um ano para outro podem ser relacionadas à mudanças na
própria estrutura da pesca como, por exemplo, o uso de barcos maiores ou menores ou
redes de maior ou menor comprimento, o que não corresponde à realidade. Alterações
na estrutura de pesca são marcantes e não podem ser relacionadas às pequenas variações
de valores médios entre um e outro ano, como observado nesse estudo. Por isso,
concluiu-se ao final da análise dos dados separados em dois períodos anuais, para cada
comunidade, que o agrupamento em uma única amostra, para os dois anos em conjunto,
se constitui em um retrato mais realista da estrutura da pesca de cada comunidade.
Apresenta-se abaixo um resumo dos resultados, em cada categoria de pesca.
Pesca de Emalhe Fixo
Há uma grande variação nas características das embarcações por comunidade.
As maiores, com maior capacidade de carga, são encontradas na Várzea enquanto que
na Mangueira e Torotama o número de tripulantes é maior que nas outras comunidades.
A grande parte das embarcações de pesca não apresentou equipamentos acústicos
(sonda).
Os pescadores de Torotama e Z-3 trabalham com as redes mais longas e na Z-3
se utilizam redes mais altas. Os pescadores de Passinho operam com as menores redes,
em Capivaras os pescadores deixam suas redes por mais tempo na água, ocorrendo o
oposto em Torotama. Os locais de pesca localizaram-se a, no máximo, 1,5 horas de
88
navegação. Apenas em Torotama os pescadores colocaram as redes de emalhe a
distâncias superiores.
Pesca de Cerco
No estuário da Lagoa dos Patos pode-se observar que os pescadores da Z-3 e do
Bosque trabalham com redes de maior comprimento, sendo que na Z-3 são usadas redes
mais altas. Também na Z-3 são observadas as maiores embarcações, com maior
capacidade de carga e maior número de tripulantes, garantindo mais autonomia, com
maior tempo de navegação até os locais de pesca. Esse quadro pode sugerir que há mais
tempo de procura dos cardumes, resultando em elevadas capturas por operação de
pesca. Por outro lado, os pescadores do Bosque, Passinho e Várzea trabalham com
embarcações menores, de menor capacidade de carga e menor número de tripulantes,
resultando em menor poder de pesca. Os pescadores operaram as redes de cerco na
maior parte das vezes a distâncias de, no máximo, 2 horas de navegação. A captura por
operação de pesca é pequena. A quase totalidade dos barcos não possuiu equipamentos
acústicos para detecção de cardumes (sondas).
A maioria dos pescadores amostrados opera apenas uma das modalidades de
pesca, sendo que somente 9% trabalharam com ambas.
DISCUSSÃO
A atividade pesqueira no estuário da Lagoa dos Patos, independente da arte de
pesca empregada, apresenta um forte componente territorial relacionado a localização
geográfica das comunidades nas quais os pescadores residem. Os pescadores da
Mangueira e do Bosque concentram suas atividades na parte baixa do estuário, nos
setores B e IM, respectivamente. As comunidades de Torotama, Passinho e Capivaras,
89
localizadas na parte média do estuário, concentram suas pescarias nessa área embora os
pescadores de Capivaras também atuem na parte alta do estuário, no setor SZ3. As
comunidades localizadas na região mais ao norte do estuário, Várzea e Z-3, realizam a
pesca nos setores SR e NF, preferencialmente.
A escolha por locais próximos, com pequeno tempo de navegação do local de
moradia, pode estar associada à economia de combustível e à segurança nas operações.
Mudanças bruscas nas condições do clima, como ventos e chuva, são comuns na região
o que pode fazer com que grandes deslocamentos afetem a segurança pessoal dos
pescadores (Vieira & Reis, 2005).
Uso e Eficiência das Artes de Pesca Utilizadas
Embora as redes de cerco sejam artes de pesca mais eficientes (King, 1995) e
suas capturas máximas aproximadamente 5 vezes maiores do que as melhores capturas
realizadas com redes de emalhe fixo, as artes de pesca passivas foram as mais
empregadas em todas as comunidades, exceto pelos pescadores do Bosque e Passinho.
Contudo, esse resultado pode ser devido a problemas na coleta de dados, sendo
necessário estudos para posterior verificação do padrão encontrado. Sabe-se que na
Várzea em 2003, o agente de campo coletou informações apenas dos pescadores que
utilizam o emalhe fixo.
A escolha do método de pesca empregado está possivelmente associada à
probabilidade de encontrar os cardumes e aos custos relacionados ao deslocamento até
essas áreas de pesca e às possibilidades de maior lucro. Se o pescador pudesse optar,
provavelmente adotaria artes de pesca passivas por exigirem menor investimento para
90
construção e operação das redes embora as capturas sejam menores que as obtidas com
redes de cerco.
Nos anos 1999 e 2000, as redes de cerco foram as artes de pesca mais utilizadas
na região (Alarcón, 2002). Os desembarques da pesca artesanal para esse período foram
bem superiores ao reportado para 2002 e 2003 (ver Introdução), o que sugere a
existência de safras melhores e, conseqüentemente, uma maior expectativa de lucro na
atividade. Isto está também relacionado ao maior número de pescadores operando o
cerco já que, em condições desfavoráveis, eles não saem para pescar. O baixo número
de pescadores que utilizam as duas artes indica a preferência por uma ou outra, com
estratégias de pesca distintas.
A decisão do pescador pela alternativa de pesca a ser adotada se baseia na
maximização do seu lucro e sofre interferência de uma variedade de fatores tais como
expectativa de captura, custo, tecnologia disponível, padrões passados de pesca,
tradição, disponibilidade dos estoques e regulamentações de gestão (Bene & Tewfik,
2001). Pelo conhecimento das condições do estuário no período que antecede a
chamada “safra da tainha”, os pescadores podem predizer, com certo grau de segurança,
as possibilidades de sucesso nas pescarias (Reis & Vieira, 2005a), o que de acordo com
Vignaux (1996) e Pelletier & Ferraris (2001), pode determinar o volume de
investimentos necessário para a atividade. No caso da pesca no estuário da Lagoa dos
Patos, mais do que determinar o investimento em termos de uso de uma ou outra arte, o
pescador decide a freqüência e o local onde vai pescar.
Há uma série de outros fatores que determinarão o sucesso da pesca, quais
sejam, a formação dos cardumes, a habilidade do pescador e a capacidade da
91
embarcação de localizar, perseguir, envolver e capturar o cardume (ACMRR, 1976).
Esses não foram objeto desse estudo.
Ordenamento Pesqueiro
No estuário da Lagoa dos Patos, o uso das redes de emalhe é vantajoso pois
permite determinar, com grande margem de segurança, a espécie-alvo e o tamanho a ser
capturado (Reis & Pawson, 1992). Para os pescadores, seu emprego permite maior
retorno econômico, com uma maior captura (em quilograma) por unidade capturada, por
privilegiar a explotação de indivíduos de grande porte. As redes de emalhar,
independente da forma de operação, são altamente seletivas, no qual o tamanho do
pescado está diretamente relacionado com o tamanho de malha utilizado (Hamley,
1975). Somente as espécies com uma morfologia corporal semelhante à da espécie alvo
são também capturadas (Reis & Pawson, 1992).
O tamanho de malha permitido por regulamento (Instrução Normativa Conjunta
IBAMA/SEAP n°3 de 09/02/2004) no estuário da Lagoa dos Patos é de 50mm. Embora
as medidas de controle da pesca não incluam tamanho mínimo permitido de captura
para as principais espécies explotadas no local (Reis & Vieira, 2005b), a pesca de M.
platanus com emprego de tamanho de malha modal entre 45 e 50mm, para as redes de
cerco e entre 45 e 55/65mm, para as redes de emalhe fixo, indica que a captura atinge
indivíduos acima do tamanho de primeira maturação gonadal. Segundo Alarcón (2002),
a maior parte dos indivíduos capturados com redes de tamanho de malha 45mm, está
acima do comprimento médio da primeira maturação gonadal (L
50
= 33 cm).
M. platanus, além de ser alvo da pesca artesanal no estuário da Lagoa dos Patos,
é explotada também pela frota de emalhe costeiro no Rio Grande do Sul e pela frota
92
artesanal e industrial de Santa Catarina durante sua migração reprodutiva (Miranda et
al., 2006). Os adultos sofrem uma forte pressão pesqueira tanto no estuário como no
oceano, o que pode comprometer a sustentabilidade do estoque e, consequentemente, da
atividade pesqueira. A tendência de queda nas capturas ao longo dos anos demonstra a
necessidade de medidas de gestão mais eficazes. O estabelecimento de uma área
proibida para a operação das traineiras nas imediações dos molhes da Barra (Portaria
IBAMA Nº 80/03) e a recente formação de grupos de trabalho interinstitucionais para
propor o ordenamento de redes de emalhe na costa sudeste-sul e da pesca da tainha
podem contribuir para minimizar a pressão pesqueira sobre o recurso.
Antes de se elaborar estratégias de gestão para a pesca é preciso definir quais são
as unidades de explotação existentes. No caso de M. platanus no estuário da Lagoa dos
Patos, os 11 tipos de artes de pesca originalmente registrados (Capítulo 1) não se
refletiram em 11 diferentes grupos operacionais pois as variações apresentadas não
podem ser consideradas significativas. Assim, identifica-se apenas dois grupos
operacionais estratégicos na explotação de M.platanus no estuário da Lagoa dos Patos:
o cerco e o emalhe fixo. Essas artes de pesca apresentam características funcionais e
estruturais próprias que levam a pressões distintas sobre o estoque e devem ser tratadas
em separado quando se pensa em medidas de controle da pesca (Gulland, 1983). É
provável que cada um desses dois grupos podem ser considerados como métier de
acordo com a definição de Tzanatos et al. (2006). Cada métier consiste de uma unidade
operacional de gestão pesqueira, que corresponde a escolhas similares em termos de
espécie-alvo, arte de pesca e local de pesca. No entanto esta possibilidade deve ser
investigada, ampliando-se a análise para toda a área de distribuição da espécie, estuário
e oceano, e abrangendo todos os tipos de explotação.
93
CAPÍTULO 3
UNIDADE DE ESFORÇO DE PESCA E ABUNDÂNCIA
RELATIVA DE MUGIL PLATANUS NO ESTUÁRIO DA
LAGOA DOS PATOS
A estimativa da abundância dos recursos pesqueiros é fundamental para a
avaliação dos estoques. Na maior parte dos casos, é impossível estimar a abundância
absoluta de uma população porém, para estudos da dinâmica populacional, pode ser
suficiente conhecer apenas a densidade relativa. Os métodos para determinar a
densidade relativa produzem índices de abundância que podem ser usados para
comparar diferentes áreas geográficas ou acompanhar tendências temporais. Um dos
índices mais importantes para isso é a captura por unidade de esforço (CPUE) que se
baseia na suposição de que a captura é proporcional ao esforço usado para obtê-la
(King, 1995). Embora o uso desse índice seja questionado, o seu uso, com as devidas
precauções sobre as fontes de erros introduzidas, vem sendo tradicionalmente utilizado
na ciência pesqueira, para obter estimativas úteis das tendências na abundância dos
estoques pesqueiros (Hilborn & Walters, 1992; FAO, 2006).
A estimativa de índices de abundância a partir de dados de capturas comerciais é
obtida pela razão entre a captura registrada em um dado evento de pesca e o esforço de
pesca empregado. Teoricamente uma unidade de esforço remove uma proporção fixa do
estoque, conhecida como o coeficiente de capturabilidade, que varia conforme o tipo de
arte de pesca e condição de pesca (Gulland, 1983).
94
A escolha da unidade de esforço deve se basear no entendimento de como a
pesca opera e quais as mudanças na pescaria que possam afetar o coeficiente de
capturabilidade (Gulland, 1983).
A estimativa de esforço de pesca permite avaliar o impacto das medidas de
gestão (baseadas no esforço de pesca) sobre a pressão realmente exercida nos estoques
pesqueiros (Sparre & Venema,1997).
Os principais fatores que determinam o esforço de pesca para as artes de pesca
de atuação passiva são o tamanho do aparelho de pesca e o tempo de pesca
(permanência na água). Por outro lado, para as artes ativas, o tempo de procura dos
cardumes, o tamanho e a quantidade das redes, a habilidade do pescador, a comunicação
entre pescadores e a presença de equipamentos para encontrar cardumes são os
principais fatores que determinam o esforço pesqueiro sobre o estoque para a pesca de
cerco (ACMRR, 1976; FAO, 1999).
Este capítulo tem como objetivo avaliar a mais apropriada das medidas
disponíveis de esforço de pesca e discutir a variação sazonal e espacial da captura por
unidade de esforço de pesca (CPUE) para Mugil platanus no estuário da Lagoa dos
Patos ao longo dos anos de 2002 e 2003.
95
MATERIAL E MÉTODOS
Definição de Unidade de Esforço de Pesca
Tendo sido identificadas as principais artes de pesca empregadas na pesca de M.
platanus no estuário da Lagoa dos Patos (Capítulo 2), foram testadas para cada arte de
pesca quais as unidades de esforço de maior importância nos resultados das capturas
através de modelos de regressão linear entre as variáveis de esforço de pesca amostradas
(variáveis independentes) e o logaritmo natural das capturas (variável dependente).
Para avaliar a efetividade do modelo estimado foi utilizado o coeficiente
múltiplo de determinação ajustado (R
2
ajustado múltiplo), porque ele leva em conta em
seu cálculo o número de variáveis incorporadas. O coeficiente múltiplo de determinação
representou a medida da quantidade de variação na variável dependente (capturas)
explicada pelas variações de todas as variáveis independentes juntas.
Foram utilizados, para cada arte de pesca, os dados correspondentes ao período
dos dois anos de amostragem, tendo sido analisado um total de 292 operações de pesca
com redes de cerco e 762 com redes de emalhe. Cada operação de pesca corresponde a
uma saída individual da embarcação, para qual se teve o esforço de pesca empregado e a
captura total relacionada. Dentre as variáveis amostradas nas planilhas de campo, para
a pesca de cerco, foram investigadas: (1) comprimento (m), altura (m) e área das redes
(m
2
); (2) número de lances; (3) tempo de navegação (h); (4) comprimento (m) e
capacidade de carga (kg) das embarcações; e (5) número de tripulantes.
Para a pesca de emalhe fixo, as variáveis de esforço testadas foram: (1)
comprimento (m), altura (m) e área das redes (m
2
); (2) tempo de permanência das redes
na água (h); (3) tempo de navegação (h); (4) comprimento (m) e capacidade de carga
(kg) das embarcações; e (5) número de tripulantes.
96
O tempo de permanência das redes na água na pesca de emalhe fixo variou entre
12 ou 24 horas. Foi verificada a existência de diferenças na relação entre as variáveis de
esforço e a captura conforme o maior ou menor tempo de pesca, através da análise dos
modelos de regressão linear estimados, separando-se os dados em duas categorias: até
12 horas e acima de 12 horas.
O procedimento para escolha da unidade de esforço mais apropriada foi feito de
acordo com as seguintes etapas (Tabela 3.1): primeiramente foram estimados modelos
de regressão linear simples, do logaritmo natural das capturas (variável dependente) e
cada uma das variáveis de esforço de pesca (variável independente), uma a uma. A
variável independente, cujo modelo estimado apresentou melhor ajuste avaliado pelo
maior valor do coeficiente múltiplo de determinação (R
2
ajustado), foi selecionada.
Regressões lineares múltiplas entre o logaritmo natural das capturas e cada combinação
entre essa variável (fixa) e as demais variáveis de esforço de pesca, uma a uma (variável
fixa + variável i) foram analisadas. Quando o valor do coeficiente múltiplo de
determinação resultante do modelo era maior do que o previamente obtido, a
combinação foi selecionada. Dessa maneira, o modelo foi sendo acrescido de variáveis
à medida que a combinação de sucessivas variáveis de esforço de pesca (independentes)
produzia um valor de coeficiente múltiplo de determinação (R
2
ajustado) superior ao
anterior.
97
Tabela 3.1- Procedimento para inclusão de novos variáveis aos modelos de regressão
linear
Passos Procedimentos
1˚
Ln (kg +1) = a + b Xi
Fixa: X1
2˚
Ln (kg +1) = β
0
+ β
1
X1 + β
2
Xi
Fixa: X1 + X2 (combinação 1)
3˚
Ln (kg +1) = β
0
+ β
1
X1 + β
2
X2 + β
3
Xi
Fixa: X1 + X2 + X3 (combinação 2)
4˚
Ln (kg +1) = β
0
+ β
1
X1 + β
2
X2 + β
3
X3 + β
4
Xi
Fixa: X1 + X2 + X3 + X4 (combinação 3)
5˚
Ln (kg +1) = β
0
+ β
1
X1 + β
2
X2 + β
3
X3 + β
4
X4 + β
5
Xi
Para o modelo definido, foi avaliada a contribuição de cada variável na
explicabilidade total das capturas (variável dependente) a partir do coeficiente de
regressão parcial padronizado (beta). O sinal desse coeficiente foi utilizado a fim de
avaliar as associações positivas e negativas entre as variáveis dependentes e
independentes (Zar, 1984).
A análise de resíduos foi realizada para testar se as suposições sobre o modelo
de regressão estavam adequadas. A normalidade foi verificada através do gráfico de
probabilidade normal de resíduos de regressão padronizados. A ocorrência de padrões
na distribuição dos resíduos foi avaliada pelo diagrama de dispersão dos resíduos em
função da variável dependente.
Paralelamente foi executado um modelo de regressão linear passo a passo entre
as variáveis de esforço e o logaritmo natural da captura, disponível no Statistica 6.0
®
,
sendo feita a comparação com os resultados obtidos no procedimento descrito acima.
98
Foram verificados a seqüência de inclusão das variáveis de esforço amostradas, os
respectivos coeficientes de determinação ajustados e os coeficientes de regressão beta
padronizados. A normalidade foi verificada através do gráfico de probabilidade normal
de resíduos de regressão padronizados. A ocorrência de padrões na distribuição dos
resíduos foi avaliada pelo diagrama de dispersão da variável dependente.
Distribuição Espacial e Sazonal de M. platanus
Para análise da distribuição espacial e sazonal de M. platanus foi utilizada a
abundância relativa, estimada pela captura por unidade de esforço (CPUE), para cada
arte de pesca (cerco e emalhe fixo) e cada ano em separado (2002 e 2003).
Definida a melhor unidade de esforço de pesca para cada arte de pesca
empregada, a CPUE foi calculada para cada mês e setor de pesca, analisando-se as
variações sazonais e espaciais.
Análises de variância (ANOVA) e o teste não paramétrico Kruskal-Wallis foram
utilizados para comparar diferenças significativas nas CPUEs entre os meses e setores
de pesca para cada ano e arte de pesca em separado (nível de significância = 0.05).
Apenas os meses e setores com um número de operação de pesca igual ou maior que 6
foram incluídos na análise.
Para identificar as diferenças significativas entre índices mensais e setores foi
utilizado o teste a posteriori de Tukey, nos casos de normalidade dos dados, e o teste de
Mann-Whitney, não paramétrico, na ausência de normalidade. Gráficos de
probabilidade normal dos resíduos padronizados foram feitos para o teste da
99
normalidade. Quando possíveis, foram empregadas transformações do tipo logaritmo
natural para a normalização dos dados de CPUE.
Paralelamente foi avaliada a distribuição sazonal e espacial do esforço de pesca
e das capturas, através do número total de operações de pesca amostrado e do peso total
capturado para cada mês e setor em cada ano.
RESULTADOS
Definição da Unidade de Esforço de Pesca
Pesca de Cerco
O melhor ajuste do modelo de regressão linear estimado para a pesca de cerco
foi aquele que teve como variáveis explicativas o logaritmo natural do número de lances
(Ln nlance +1) e o logaritmo natural da área das redes (Ln área). O modelo apresentou
uma força moderada de associação (R
2
ajustado= 0,44) (Tabela 3.2). O coeficiente de
determinação ajustado (R
2
ajustado) do modelo demonstrou que o comportamento das
capturas foi explicado em cerca de 45% pelo modelo acima proposto.
Tabela 3.2– Coeficientes de determinação ajustado (R
2
ajustado) e nível de significância
(p) para os modelos de regressão linear entre a captura ( Ln(Kg +1) ) e as variáveis de
esforço amostradas para a pesca de cerco.
Parâmetros R
2
ajustado p
Ln (n lance +1) 0,2930 p<0,05
Ln (n lance +1) + Ln (área) 0,4418 p<0,05
Ln (n lance +1) + Ln (área) + Ln (capac carga) 0,4598 p<0,05
Dentre as variáveis explicativas, o logaritmo natural do número de lances (Ln n
lance +1) mostrou ter maior importância relativa (Beta= 0,536) do que o logaritmo
natural da área das redes (Ln área) (Beta = 0,388). Esse resultado foi encontrado nos
dois métodos utilizados.
100
Os resultados demonstraram que a variável ´capacidade de carga´ foi
responsável por um pequeno aumento do ajuste do modelo de regressão (R
2
ajustado =
0,4598). No entanto, optou-se pela não inclusão dessa variável tendo em vista a pequena
contribuição da mesma ao ajuste e sua alta correlação com as outras variáveis
mencionadas (r
2
>0.7). Embarcações com grande capacidade de carga geralmente
transportam maior quantidade de rede e podem realizar maior número de lances de
pesca. O maior ou menor tempo que o pescador permanece na área de pesca e que
poderia resultar em maior captura e a necessidade de barcos com maior capacidade de
carga, depende principalmente da vulnerabilidade da espécie, das condições ambientais
e do mercado (demanda e preços). Em todos os casos registrados, o peso total capturado
não chegou à metade da capacidade da embarcação.
Os resultados do modelo de regressão linear passo a passo entre as variáveis de
esforço e o logaritmo natural da captura do Statistica 6.0
®
foram similares aos obtidos
pelo procedimento de inclusão proposto (Tabela 3.1).
Desse modo, a unidade de esforço selecionada foi então o número de lances e a
área das redes, resultando na CPUE estimada por:
CPUE = Captura/ (Número de lances x Área de rede),
sendo captura em quilos e área de rede em m
2
.
Pesca de Emalhe fixo
Foram encontrados valores de coeficientes de determinação muito baixo nas
regressões lineares entre as variáveis de esforço de pesca amostradas e as capturas das
operações com redes de emalhe fixo, sendo que apenas o tempo de pesca, o tempo de
101
navegação e o número de tripulantes mostraram uma associação significativa com o
peso total capturado. O comprimento, a altura e a área das redes e o comprimento das
embarcações apresentaram correlação negativa com as capturas (Tabela 3.3).
Tabela 3.3– Coeficientes de determinação ajustados (R
2
ajustado) e nível de
significância (p) dos modelos de regressão linear simples entre a captura ( Ln(Kg +1) ) e
as variáveis de esforço amostradas para a pesca de emalhe fixo.
Parâmetros R
2
ajustado p-level
Comprimento das redes (m) 0,0013 0,9831
Altura das redes (m) 0,0007 0,5233
Área das redes (m
2
)
0,0006 0,4692
Tempo de pesca (h) 0,0241 0,0000
Tempo de navegação (h) 0,0755 0,0000
Comprimento das embarcações (m) 0,0006 0,4931
Capacidade de carga das embarcações (kg) 0,0028 0,0770
Número de tripulantes 0,1508 0,0000
Os resultados das sucessivas regressões múltiplas lineares mostraram que o
melhor ajuste do modelo foi com as variáveis logaritmo natural do número de
tripulantes (LN n trip +1) e logaritmo natural do tempo de navegação (LN t naveg +1)
(R
2
ajustado = 0.19). Embora a associação seja significativa, o baixo valor de R
2
ajustado, demonstra haver uma quase imperceptível força de associação linear entre as
capturas (variável dependente) e as variáveis independentes selecionadas
(0,01<R
2
>0,20).
Os resultados para cada categoria de tempo de pesca (até 12 h e acima de 12h)
não apresentaram diferenças dos dados tratados em conjunto. Portanto, a verificação da
melhor unidade de esforço de pesca foi feita com base no modelo de regressão múltipla
linear de melhor ajuste, utilizando-se o conjunto de dados de categorias de tempo de
permanência das redes na água. As principais variáveis explicativas foram o número de
tripulantes e o tempo de navegação. A única diferença no modelo de regressão,
102
utilizando-se as operações de pesca com 12 horas de permanência das redes na água, é
que o tempo de navegação e o número de tripulantes foram as primeiras e segundas
variáveis incorporadas ao modelo, respectivamente.
Os resultados do modelo de regressão linear passo a passo entre as variáveis de
esforço e o logaritmo natural da captura do Statistica 6.0
®
foram similares aos obtidos
pelo procedimento de inclusão proposto (Tabela 3.1).
Tendo em vista o baixo nível de explicação encontrado nos modelos de
regressão linear (R
2
ajustado<0,50), testou-se empregar duas unidades de esforço de
pesca que são diretamente relacionadas ao sucesso da pescaria (ACMRR, 1976;
Gulland, 1983): a operação de pesca propriamente dita, ou seja, cada saída individual da
embarcação (viagem) e a área das redes (m
2
). A captura por viagem representa uma
alternativa mais simples que pode, de certa forma, facilitar a obtenção de índices de
abundância relativa. Para tanto, se analisou a distribuição espaço-temporal da CPUE e
do esforço de pesca utilizando-se essas duas medidas de esforço de pesca.
Os resultados mostraram que, ao longo dos meses, nos dois anos, o número total
de operações de pesca (viagens) e a quantidade total de área de rede empregada
apresentaram uma distribuição similar (Figura 3.1). Uma forte correlação positiva foi
encontrada entre as variáveis de esforço de pesca em 2002 (r
2
=0.9603) e em 2003
(r
2
=0.9271). A média da área das redes utilizadas ao longo dos meses não mostrou
grande variação, demonstrando que o progressivo aumento no esforço de pesca ao longo
dos meses se deveu ao efeito aditivo do aumento no número de operações de pesca.
103
(a)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
meses do ano
0
10
20
30
40
50
60
70
Nr
esfoo
(b)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
meses do ano
0
10
20
30
40
50
60
70
Nr
esfoo
Figura 3.1– Distribuição mensal do total do número de operações de pesca e da área das
redes na pesca de emalhe fixo nos anos de 2002 (a) e 2003 (b).
Optou-se pela área das redes como unidade de esforço no cálculo da captura por
unidade de esforço de pesca (CPUE) por apresentar um padrão de distribuição ao longo
dos meses nos dois anos similar ao do número de operações de pesca . Além disso, o
tamanho da arte de pesca é o fator que mais fortemente influencia no poder de pesca das
redes de emalhar (Sparre, 2000), Portanto, a CPUE foi calculada por:
CPUE = Captura total/ (Área total da rede)
sendo captura em quilos e área de rede em m
2
.
104
Distribuição Sazonal e Espacial de M. platanus no Estuário da Lagoa dos Patos
Pesca de Cerco
As operações de pesca amostradas durante o ano de 2002 ocorreram de janeiro a
maio, com 70,2% do total dos registros realizados nos meses de abril e maio (Fig. 3.2).
As maiores capturas foram obtidas em abril com um total de 25.095kg (56,4%),
enquanto que o peso total capturado em maio foi similar ao mês de março.
Em 2003, a atividade pesqueira ocorreu principalmente em março e abril, meses
responsáveis por 56,5% dos registros do ano, representando cerca da metade da captura
total em peso (50,8%). Também foram registradas operações de pesca no período de
outubro a dezembro (Figura 3.2). O mês de novembro teve uma participação
relativamente importante para o total das capturas de 2003 (27,8%).
(a)
0
10
20
30
40
50
60
70
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
meses do ano
Operação de pesca
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
Captura (kg)
Nr
Kg
(b)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
meses do ano
Operação de pesca
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
Captura (kg)
Nr
Kg
Figura 3.2- Distribuição mensal das operações de pesca e das capturas de Mugil
platanus para a pesca com redes de cerco em 2002 (a) e 2003 (b). (Nr – número de
operações de pesca; Kg – peso total capturado).
Em 2002 se observa que a CPUE de fevereiro a março praticamente dobrou,
sendo mantida em abril, decrescendo em maio (Figura 3.3). O acréscimo na CPUE em
março parece ter ocasionado o aumento do esforço de pesca em abril, que não foi
acompanhado de aumento na CPUE. Em maio o esforço empregado reduziu-se pela
105
metade, embora o número de operações de pesca não apresentasse o mesmo decréscimo
(Figuras 3.2 e 3.3). Os pescadores, aparentemente, reduziram o número de lances e a
área das redes empregadas mas não deixaram de ir pescar. As CPUEs não foram
diferentes entre si, com exceção de fevereiro com o menor valor para o ano (Tabela
3.4).
(a)
0
50
100
150
200
250
300
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
meses do ano
Esforço de pesca
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
CPUE
esfoo
cpue
(b)
0
50
100
150
200
250
300
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
meses do ano
Esforço de pesca
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
CPUE
esfoo
cpue
Figura 3.3 – Distribuição mensal do esforço de pesca e CPUE de Mugil platanus para a
pesca de cerco em 2002 (a) e 2003 (b).
Tabela 3.4 – Resultados da aplicação dos Testes de Kruskal-Wallis e de Mann-Whitney
- Cerco 2002.
nHp
Meses 160 10,12 0,0175
Fev Mar Abr
Fev -
Mar 0,0020 -
Abr 0,0090 0,4229 -
Mai 0,0259 0,1445 0,4521
nHp
Setores 160 5,45 0,2440
A captura por unidade de esforço de pesca em 2003 aumentou de fevereiro a
março, acompanhando o acréscimo no esforço de pesca empregado (Figura 3.3). Em
abril houve queda na CPUE, enquanto o nível de esforço se manteve, reduzindo-se no
106
mês de maio. No segundo período de atividade (out – dez), o mês de novembro
apresentou valores altos de CPUE.
Os testes de Mann-Whitney revelaram que os maiores valores de CPUE em
2003 ocorreram no mês de março e novembro. As CPUEs entre os outros meses não
apresentaram diferença significativa (Tabela 3.5).
Tabela 3.5 - Resultados da aplicação dos Testes de Kruskal-Wallis e de Mann-Whitney
- Cerco 2003.
nHp
Meses 131 30,53 0,0001
Jan Fev Mar Abr Mai Out Nov
Jan -
Fev 0,5875 -
Mar 0,0027 0,0006 -
A
b
r
0,0515 0,0898 0,0177 -
Mai 0,4470 0,5967 0,0030 0,0954 -
Out 0,8886 0,9599 0,0006 0,0992 0,6156 -
Nov 0,0170 0,0031 0,3800 0,0411 0,0065 0,0049 -
Dez 1,0000 1,0000 0,2815 0,6955 0,8875 0,9286 0,2579
nHp
Setores 122 2,87 0,2375
As operações de pesca se concentraram na parte baixa e intermediária do
estuário em 2002, nos setores IM e D, responsáveis por 57% dos registros de pesca e as
maiores capturas foram reportadas no setor NF, com 53% do peso total capturado no
ano (Figura 3.4).
107
(a)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
0
5000
10000
15000
20000
25000
Captura (kg)
Nr
Kg
(b)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
0
5000
10000
15000
20000
25000
Captura (kg)
Nr
Kg
Figura 3.4- Distribuição espacial das operações de pesca e das capturas de Mugil
platanus ao longo do estuário em 2002 e 2003 para a pesca com redes de cerco. (Nr –
número de operações de pesca; Kg – peso total capturado).
A maior intensidade de esforço de pesca empregado no ano de 2002 se
concentrou na parte alta do estuário (setor NF), e a menor foi aplicada nos setores B e
SZ3. Os maiores valores de CPUE foram encontrados nesses dois setores, NF e B
(Figura 3.5). Estatisticamente, no entanto, não foi encontrada diferença significativa da
CPUE entre os setores de pesca (Tabela 3.4).
(a)
0
50
100
150
200
250
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Esforço de pesca
(n lance X m
2
) x10
4
0
20
40
60
80
100
120
140
CPUE
esfoo
cpue
(b)
0
50
100
150
200
250
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Esforço de pesca
(n lance X m
2
) x10
4
0
20
40
60
80
100
120
140
CPUE
esfoo
CPUE
Figura 3.5- Distribuição espacial do esforço de pesca e da captura por unidade de
esforço (CPUE) de Mugil platanus para a pesca de cerco em 2002 (a) e 2003 (b).
A atividade pesqueira em 2003 se concentrou na parte baixa do estuário, com o
maior número de operações de pesca e as maiores capturas sendo registradas no setor
IM (Figura 3.4). Os pescadores que realizaram a atividade nesse setor empregaram
108
esforço de pesca mais intenso comparado aos outros setores. No entanto, o valor da
CPUE nesse setor se apresentou muito similar a encontrada para os setores D, SR e NF,
onde foi aplicada quantidade de esforço de pesca muito inferior ao do setor IM (Figura
3.5). A CPUE elevada para o setor SZ3 está relacionada com o baixo número de
registro. O teste de Kruskal-Wallis revelou não haver diferença significativa da CPUE
entre os setores de pesca utilizados (Tabela 3.5).
A análise mensal por local de pesca em 2002 mostrou que de fevereiro a março,
as operações de pesca, captura e esforço se concentraram no setor IM principalmente
(Figura 3.6). Os maiores CPUEs foram observados em fevereiro em B e em março em
NF . Em abril e maio, as maiores capturas, operação de pesca, esforço e CPUE foram
observados no setor NF embora em abril os setores D e SR tiveram um número similar
de operação de pesca e em maio a CPUE foi maior também em SR.
109
Março (n =31)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Esforço de pesca (n
lanceX m
2
)x10
4
0
50
100
150
200
250
CPUE
Abril (n = 61)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Esforço de pesca
(n lanceX m
2
)x10
4
0
50
100
150
200
250
CPUE
Maio (n =52)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Esforço de pesca (n
lanceX m
2
)x10
4
0
50
100
150
200
250
CPUE
0
5
10
15
20
25
30
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
Captura (kg)
0
5
10
15
20
25
30
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
Captura (kg)
0
5
10
15
20
25
30
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
0
5000
10000
15000
20000
Captura (kg)
Fev (n=16)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Esforço de pesca (n
lanceX m
2
)x10
4
0
50
100
150
200
250
CPUE
esforço
cpue
(a)
0
5
10
15
20
25
30
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
Captura (kg)
Nr
kg
(b)
Figura 3.6 - Distribuição espaço-temporal do número de operações de pesca e captura
(kg) (a) e do esforço de pesca e da captura por unidade de esforço (b) de Mugil platanus
para a pesca de cerco nos meses de fevereiro, março, abril e maio do ano de 2002. (Nr –
número de operações de pesca; Kg – peso total capturado).
110
Pelo teste de Kruskal-Wallis não foi detectada diferença significativa na CPUE
entre os setores de pesca nesses meses (Tabela 3.4).
Em 2003, a comparação mensal da captura por unidade de esforço entre os
setores só foi possível nos meses de abril, maio, outubro e novembro (Figura 3.7). Em
abril, a pesca ocorreu principalmente na parte intermediária do estuário, no setor D, mas
as maiores capturas foram registradas para o setor IM. Maior quantidade de esforço de
pesca foi empregada no setor SZ3 e os maiores valores de CPUE foram encontrados no
setor IM. Nota-se uma queda gradativa da CPUE conforme a atividade se desloca da
parte baixa à parte alta do estuário. Para o mês de maio, a atividade foi reportada apenas
nos setores D e IM, sendo registrado maior número de operações de pesca no setor D,
embora as maiores capturas, o maior nível de esforço de pesca e a maior CPUE tenham
sido observados no setor IM. Em outubro, as operações de pesca aconteceram
preferencialmente no setor IM, e as maiores capturas no setor SZ3. O maior esforço de
pesca foi aplicado no setor IM enquanto que a maior CPUE foi encontrada no setor
SZ3. No mês de novembro as operações de pesca se distribuíram preferencialmente nos
setores IM, SZ3 e NF. As maiores capturas foram registradas para o setor SZ3, onde foi
empregada a maior quantidade de esforço de pesca juntamente com o setor NF, e foi
obtida a maior CPUE para o período.
Pelo teste de Kruskal-Wallis não foi encontrada diferença significativa na CPUE
entre os setores para todos os meses (Tabela 3.5).
111
(a)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
Captura (kg)
Nr
kg
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
Captura (kg)
Abril (n=33)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Esforço de pesca (n
lance X m
2
) x10
4
0
50
100
150
200
250
300
CPUE
esfoo
cpue
Maio (n=10)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Esforço de pesca
(n lance X m
2
) x10
4
0
50
100
150
200
250
300
CPUE
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
Captura (kg)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
Captura (kg)
Out (n=17)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Esforço de pesca (n
lance X m
2
) x10
4
0
50
100
150
200
250
300
CPUE
Nov (n=10)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Esforço de pesca (n
lance X m
2
) x10
4
0
50
100
150
200
250
300
CPUE
(b)
Figura 3.7 - Distribuição espaço-temporal das operações de pesca e das capturas (a) e do
esforço de pesca e da captura por unidade de esforço (CPUE) (b) de Mugil platanus
para a pesca de cerco nos meses de abril, maio, outubro e novembro do ano de 2003.
(Nr – número de operações de pesca; Kg – peso total capturado).
112
Pesca de emalhe fixo
Durante o ano de 2002 as operações de pesca ocorreram de fevereiro a maio e de
outubro a dezembro, com pico de atividade nos meses de abril e maio, representando
78,8% dos registros. As maiores capturas ocorreram em maio (42,1%) (Figura 3.8).
Em 2003, a atividade pesqueira se concentrou no mês de abril, com 37,3% das
operações de pesca, sendo o mês responsável pela maior captura, com pouco mais da
metade do total em peso capturado no ano (57,5%) (Figura 3.8).
(a)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
meses do ano
Operação de pesca
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
Nr
Kg
(b)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
meses do ano
Operação de pesca
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
N
r
Kg
Figura 3.8- Distribuição mensal das operações de pesca e das capturas de Mugil
platanus para a pesca de emalhe fixo em 2002 (a) e 2003 (b). (Nr – número de
operações de pesca; Kg – peso total capturado).
O esforço de pesca aumentou ao longo dos meses em 2002, com pico em maio.
A maior CPUE foi encontrada em fevereiro e outubro (Figura 3.9). No entanto, o teste
de Tukey mostrou que apenas a CPUE no mês de novembro foi menor do que a dos
outros meses e que a CPUE em abril é menor do que a de março (Tabela 3.6). Os dados
referentes aos meses fevereiro e dezembro não foram utilizados para a análise da
captura por unidade de esforço pelo baixo número de operações de pesca registrado
(n<=3).
113
Tabela 3.6 – Resultados da aplicação dos Testes de ANOVA e de Tukey – Emalhe fixo
2002.
nFp
Meses 258 10,24 0,0000
Mar Abr Mai Out Nov
Mar -
Abr 0,0002 -
Mai 0,4282 0,0063 -
Out 0,9801 0,0551 0,5686 -
Nov 0,0000 0,0046 0,0000 0,0000 -
Dez 0,5818 0,9999 0,907 0,4431 0,6248
nFp
Setores 255 22,653 0,0000
SR IM SZ3 D
SR
IM 0,5198
SZ3 0,0039 0,9928
D 0,0000 0,0015 0,0000
B 0,0000 0,0385 0,0213 0,0000
Em 2003, o esforço de pesca seguiu o padrão encontrado para o ano anterior nos
meses de fevereiro a maio, com um aumento nos meses de outubro e novembro (Figura
3.9). Por outro lado, a CPUE exibiu comportamento diverso, com pico no mês de abril.
Pelo teste de Tukey, a CPUE em abril e em maio foi maior do que a de fevereiro e
março (Tabela 3.7).
(a)
0
10
20
30
40
50
60
70
meses do ano
0
50
100
150
200
250
300
350
400
esfoo
cpue
(b)
0
10
20
30
40
50
60
70
meses do ano
0
50
100
150
200
250
300
350
400
esfoo
cpue
Figura 3.9– Distribuição mensal do esforço de pesca e da captura por unidade de
esforço (CPUE) de Mugil platanus para a peca de emalhe fixo em 2002 (a) e 2003 (b).
114
Tabela 3.7 – Resultados da aplicação dos Testes de ANOVA e de Tukey – Emalhe fixo
2003
nFp
4 0,0000
Mar Abr Mai Out
-
0,0000 -
0,0000 0,9999 -
0,3844 0,0000 0,0000 -
0,3755 0,0000 0,0000 1,0000
p
0,0000
IMSR
Meses 499 27,
Jan Fev
Jan -
Fev 0,9888 -
Mar 0,9999 0,6307
Abr 0,425 0,4501
Mai 0,3898 0,4117
Out 0,9392 0,0328
Nov 0,9426 0,0317
nF
Setores 498 46,63
BD
B -
D 0,0000 -
IM 0,2562 0,0000 -
SR 0,0000 0,2843 0,0000 -
SZ3 0,2406 0,0000 0,0000 0,0000
As operações de pesca em 2002 foram realizadas principalmente na parte
intermediária e alta do estuário, nos setores D e SR, responsáveis por 76% dos registros
de pesca. As maiores capturas foram obtidas nos setores SZ3 e SR, com 62% do peso
total capturado em 2002 (Figura 3.10). O maior valor de CPUE encontrado foi no setor
B e a maior quantidade de esforço de pesca no setor SR (Figura 3.11). Pela análise
estatística, a CPUE no setor B foi maior do que a encontrada nos setores D e SR, sendo
que a CPUE em D foi menor do que a dos outros setores, exceto comparado ao setor IM
(Tabela 3.6). A CPUE encontrada no setor IM não apresentou diferença significativa
com nenhum outro setor.
115
(a)
0
50
100
150
200
250
300
350
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
Nr
kg
(b)
0
50
100
150
200
250
300
350
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
N
r
Kg
Figura 3.10- Distribuição espacial do número de operação de pesca e da captura de
Mugil platanus para a pesca de emalhe fixo no ano de 2002 (a) e 2003 (b). (Nr –
número de operações de pesca; Kg – peso total capturado).
Em 2003, a pesca ocorreu principalmente na parte alta do estuário, no setor SR,
sendo responsável por 64 % dos registros. As maiores capturas foram obtidas nos
setores SZ3 e SR, com 62% do total em peso capturado no ano (Figura 3.10). Em 2003,
o maior valor de CPUE foi observado na parte baixa do estuário, nos setores B e IM,
enquanto que o maior esforço de pesca foi obtido na parte alta do estuário, no setor SR
(Figura 3.11). Pelo teste de Tukey, os setores B e IM apresentaram as maiores CPUEs, e
que o setor SR apresentou a menor CPUE (Tabela 3.7).
(a)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
esfoo
cpue
(b)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
esfoo
cpue
Figura 3.11- Distribuição espacial do esforço de pesca e da captura por unidade de
esforço (CPUE) de Mugil platanus para a pesca de emalhe fixo em 2002 (a) e 2003 (b).
116
A comparação mensal da CPUE entre setores de pesca em 2002 só foi possível
para os meses de março, abril e maio (Figura 3.12). Devido ao baixo tamanho das
amostras entre os setores não foi possível avaliar estatisticamente diferenças da CPUE,
sendo feita análise gráfica para verificar possíveis tendências. Durante o mês de março,
a pesca ocorreu principalmente na parte alta do estuário, no setor SR, com a maior
quantidade de esforço de pesca. As maiores capturas foram encontradas na parte baixa e
alta do estuário, nos setores B e SR. E a maior CPUE foi observada no setor B. Em
abril, o maior número de operações de pesca foi registrado na parte intermediária do
estuário, no setor D. Maior quantidade de esforço de pesca foi empregada nos setores D,
SR e NF e, a maior CPUE foi encontrada no setor B, embora com apenas duas
operações de pesca. Em maio, a atividade pesqueira aconteceu principalmente na parte
intermediária e alta do estuário, nos setores D, SR e SZ3 com as maiores capturas em
SZ3 e SR. Embora o esforço de pesca tenha sido maior na parte alta e intermediária do
estuário, a maior CPUE foi encontrada no setor IM, mas que correspondem a apenas 3
operações de pesca.
117
Abril (n=108)
0
2
4
6
8
10
12
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Esforço de pesca
(m
2
) x10
4
0
50
100
150
200
250
300
350
400
CPUE
Maio (n=97)
0
2
4
6
8
10
12
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Esforço de pesca
(m
2
) x10
4
0
50
100
150
200
250
300
350
400
CPUE
Mao (n=33)
0
2
4
6
8
10
12
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Esforço de pesca
(m
2
) x10
4
0
50
100
150
200
250
300
350
400
CPUE
esfoo
cpue
(b)
0
10
20
30
40
50
60
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
Captura (kg)
(a)
0
10
20
30
40
50
60
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
Captura (kg )
Nr
Kg
0
10
20
30
40
50
60
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
Operação de pesca
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
Captura (kg)
Figura 3.12 - Distribuição espaço-temporal das operações de pesca e das capturas (a) e
do esforço de pesca e da captura por unidade de esforço (CPUE) (b) de Mugil platanus
para a pesca de emalhe fixo nos meses de abril, março e maio do ano de 2002. (Nr –
número de operações de pesca; Kg – peso total capturado).
Em 2003, os dados possibilitaram a comparação da CPUE mensal entre setores
nos meses de março a maio (Figura 3.13). No mês de março, a atividade se manteve
preferencialmente na parte alta do estuário, no setor SR. O setor IM apresentou a maior
118
CPUE, enquanto que os setores SR e D, os menores valores, sendo encontrada para o
setor SZ3, o valor intermediário. Em abril, a atividade se manteve preferencialmente na
parte alta, no setor SR, mas, houve grande aumento no número de operações de pesca
realizadas nos setores D e SZ3. A CPUE manteve o mesmo padrão do mês anterior,
salientando-se que o setor B foi excluído da análise (n= 3). Em maio, a pesca também
ocorreu na parte intermediária e superior do estuário, preferencialmente no setor SR. A
captura por unidade de esforço encontrada no setor D foi inferior à obtida nos setores
IM e B, não sendo encontrada diferença significativa na CPUE entre os setores D e SZ3.
119
(a)
0
20
40
60
80
100
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
0
500
1000
1500
2000
2500
Nr Kg
0
20
40
60
80
100
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
0
500
1000
1500
2000
2500
0
20
40
60
80
100
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
0
500
1000
1500
2000
2500
Abril (n = 184)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
0
200
400
600
800
1000
Maio (n = 91)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
0
200
400
600
800
1000
Março (n=61)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
BIMDSZ3SRNF
setores de pesca
0
200
400
600
800
1000
esfoo
cpue
Figura 3.13 - Distribuição espaço-temporal das operações de pesca e das capturas (a) e
do esforço de pesca e da captura por unidade de esforço (CPUE) (b) de Mugil platanus
para a pesca de emalhe fixo nos meses de abril, março e maio do ano de 2003. (Nr –
número de operações de pesca; Kg – peso total capturado).
120
DISCUSSÃO
Definição de Unidades de Esforço para a Pesca de Cerco e de Emalhe Fixo de M.
platanus
As medidas de esforço selecionadas para a pesca de cerco de Mugil platanus no
estuário da Lagoa dos Patos (número de lances e área da rede) apresentaram uma força
moderada de associação linear com a captura, o que é freqüentemente encontrado em
análises de problemas de pesca (Andrade, 2004). No caso da pesca com emalhe fixo, o
baixo valor do coeficiente de determinação (R
2
) entre as capturas e qualquer das
possíveis unidades de esforço testadas não auxilia na eleição da medida mais adequada
de esforço para essa arte. Embora a área das redes e o tempo de operação sejam as
medidas de esforço comumente consideradas para esse tipo de pesca (Gulland, 1983;
ACMRR, 1976), os modelos de regressão linear para a pesca artesanal no estuário da
Lagoa dos Patos resultaram em uma baixa explicabilidade das capturas por essas
variáveis de esforço. Portanto, a busca de medidas de esforço recomendadas pela
literatura nem sempre apresentam o resultado esperado, pelo menos do ponto de visto
estatístico. O resultado encontrado nesse estudo pode estar sendo influenciado pela
qualidade dos dados coletados, que apresentaram diversas inconsistências (ver Capítulo
1).
A utilização de ferramentas estatísticas como critério para a escolha de unidades
de esforço deve ser aliada ao conhecimento disponível da estrutura e dinâmica da pesca.
Schnute (2005) menciona que a falta de conhecimento aprofundado da pescaria pode
gerar resultados destorcidos, o que pode prejudicar a correta avaliação dos estoques
pesqueiros. Na pesca artesanal de M. platanus optou-se por priorizar o conhecimento
acumulado sobre a pesca artesanal e, então, fazer o melhor uso possível dos resultados
121
estatísticos. Assim, na pesca de cerco, embora a inclusão da variável “capacidade de
carga” das embarcações tenha resultado em um modelo de melhor ajuste, a sua
influência na prática pesqueira está sendo explicada pelas outras variáveis já
selecionadas (área da rede e número de lances), sendo considerada redundante. Além
disso, a relação causa-efeito entre a capacidade de carga de uma embarcação e o sucesso
da captura é apenas uma inferência, especialmente se comparado com a rede utilizada e
o número de vezes que essa rede é colocada para pescar.
Embora a disponibilidade de dados é que vai determinar que variável será usada
como medida do esforço de pesca, busca-se aquela medida que tenha a melhor relação
entre o esforço e a mortalidade por pesca (Gulland, 1983). Sparre (2000), ao categorizar
as medidas de esforço para diferentes artes, menciona que a melhor relação é encontrada
naquelas medidas consideradas como “primeira prioridade”. No caso da pesca de cerco
essa é ”número de lances e tempo de procura do recurso”. O caso específico de “número
de lances”, sejam eles bem sucedidos ou não, refere-se quando o cardume está
relacionado com a abundância do estoque ou quando os lances são feitos ao acaso. Já
“tempo de procura” é considerada uma medida adequada quando o cardume foi
localizado e aí o lance é feito, excluindo-se o tempo gasto na procura, aproximação,
colocação da rede, captura e recolhimento dos peixes (Sparre, 2000). A obtenção dessa
medida de esforço, no entanto, é complicada, podendo, facilmente, gerar informações
ambíguas baseadas na suposição ou adivinhação e serem, por conseqüência, de baixa
confiabilidade. Por isso, sua obtenção para a pesca artesanal da Lagoa dos Patos não é
considerada exeqüível.
As diferenças encontradas nas CPUE´s para a pesca de cerco, usando uma e
outra medida de esforço, não afetaram a seleção da medida considerada mais adequada
122
nesse estudo – “número de lances X área da rede”. Esse exercício simplesmente
demonstra que o uso de qualquer medida dará resultados que provavelmente não
correspondem à situação em análise.
Para redes de emalhe, é recomendado “número de unidades de esforço”, sendo
cada unidade de esforço “o comprimento das redes multiplicado pelo número de vezes
em que a rede foi colocada em operação ou pelo número de vezes em que houve a
despesca” (Gulland, 1983; FAO, 1999). Foi com base nessas premissas que a medida de
esforço ”área da rede” para a pesca de emalhe fixo de M. platanus no estuário foi
selecionada.
Para ambos grupos operacionais estratégicos (cerco e emalhe fixo), os resultados
obtidos de CPUE para M. platanus estão condicionados às limitações dos dados de
captura e esforço e à seqüência temporal disponível.
A evolução da pesca na região foi descrita por Rodrigues et al. (1989) que
dividem o processo histórico em quatro fases, desde sua origem, no século XVIII, até
meados de 1960. A partir daí, a dinâmica na pesca de M. platanus passou do uso quase
que total de redes de emalhe fixo em calões para o cerco com redes de emalhe (Reis et
al., 1994; Alarcón, 2002). Pelos resultados deste trabalho, verifica-se que a pesca de
emalhe fixo segue sendo adotada e que, juntamente com o cerco, são as duas mais
importantes artes de pesca empregadas para a captura da espécie no estuário da Lagoa
dos Patos.
A evolução da pesca de emalhe no estuário segue o padrão de outras pescarias
de rede de emalhar, iniciando por um aumento do tamanho das redes, diminuição do
tamanho de malha, aumento do tempo de operação até um momento em que o recurso
não responde positivamente a um aumento do esforço (Boffo & Reis, 2003).
123
Alterações importantes nas redes de emalhe tais como tamanho e material das
redes e modo de operação e, para a pesca com cerco, as melhorias introduzidas nos
barcos ou nas artes de pesca podem influenciar na eficiência de pesca (Gulland, 1983).
Embora a maioria das embarcações encontradas no presente estudo não possui
equipamentos acústicos como sonda, seu uso para a detecção dos cardumes, bem como
a ampliação do tempo de permanência das redes na água, alterações nos tamanho de
malha empregado, entre outras, devem ser monitoradas para possibilitar fazer os ajustes
necessários nas medidas de esforço em uso.
Ainda que o uso de CPUE como índice de abundância relativa tenha suas
limitações (Maunder et al., 2006), no caso de M. platanus essas restrições são
acentuadas por se tratar de uma espécie cuja abundância e ciclo reprodutivo são
extremamente dependentes das condições ambientais (Miranda et al., 2006) e por
apresentar comportamento de formação de cardumes (Vieira et al., no prelo). A
utilização de índices de abundância em espécies que tem esse comportamento pode
gerar resultados contrários ao que ocorre de fato (Hilborn & Walters, 1992). Contudo,
mesmo assim, é mais apropriado avaliar as mudanças na abundância de recursos
pesqueiros considerando-se o esforço de pesca aplicado do que basear-se apenas em
dados de desembarque pesqueiro (Miranda et al., 2006; Hilborn & Walters, 1992).
Abundância e Ciclo de Vida de M. platanus
A pesca de M. platanus no estuário da Lagoa dos Patos é realizada de forma
sazonal, preferencialmente entre março e maio, quando se observam as maiores capturas
e maior intensidade do esforço de pesca sobre adultos em processo de maturação
gonadal (Alarcón, 2002). No período de outubro a dezembro a atividade pesqueira é
124
reduzida, com baixa contribuição em peso, sendo que a pesca incide sobre os indivíduos
em fases iniciais de maturação, que começam a aparecer no estuário entre junho e
setembro (Alarcón, 2002). Os valores de CPUE nos meses de novembro e dezembro de
2003, para a pesca de cerco e de emalhe fixo, respectivamente, foram relativamente
elevadas, porém a intensidade de esforço empregada foi reduzida nesse período, o que
possivelmente demonstra sucessos eventuais de um pequeno número de operações de
pesca que atuou sobre esses indivíduos adultos com gônadas em estágios iniciais de
maturação. A captura da espécie nesse período, contudo, é pequena e inexpressiva
quando se analisa uma série temporal de captura ao longo de vários anos (Capítulo 1).
Não foram observadas tendências claras nos índices de abundância de M.
platanus em relação ao espaço e tempo. Esperava-se que o deslocamento da espécie de
sul a norte, para zonas mais internas do estuário, do início para a metade do ano, fosse
claro conforme verificado por Alarcón (2002). Os resultados, no entanto, foram
variáveis com diferentes tendências, dependendo da arte de pesca. Isso pode ser
explicado pelo baixo número de operações amostrado por arte e setor em cada mês e
também pode estar mascarado pelo tipo de agrupamento adotado das áreas de pesca por
setores. Além disso, a pouca abundância do recurso no período de estudo, a pequena
janela temporal analisada, de apenas 2 anos (2002 e 2003), os problemas encontrados
nos dados registrados e o posterior processo de triagem e o grande dinamismo das
condições ambientais no estuário interferindo no comportamento da espécie, são fatores
que podem ter contribuído para a pouca clareza na distribuição sazonal e espacial da
abundância de M. platanus no estuário através dos dados analisados.
As estatísticas de desembarque mostram um pequeno acréscimo nas capturas de
M. platanus de 2002 para 2003 pela frota artesanal do estado de Rio Grande do Sul
125
embora com baixo volume (Capítulo 1). Os resultados de CPUE obtidos nesse estudo,
por sua vez, apresentam tendência oposta para a pesca de emalhe fixo, sendo em 2002 3
vezes maior que a obtida em 2003; o nível de esforço de pesca foi quase a metade. Para
a pesca de cerco, a CPUE mostrou valores similares entre os anos, mas em 2002 foi
aplicado o dobro do esforço de pesca. Essas diferentes tendências entre as artes de um
ano a outro podem estar relacionados às distintas formas de operação já que cerco é uma
arte ativa e emalhe é passiva. O emalhe quase sempre é colocado em uma mesma área,
ano após ano, associado ao princípio de territorialidade. Assim, se no seu deslocamento
ao longo do estuário o recurso não passa pelo local onde estão colocadas as redes de
emalhe, a CPUE irá diminuir, mesmo que o total desembarcado seja mais de 40% que
no ano anterior. Outro fator que pode explicar essas diferenças é que os índices de
captura por unidade de esforço adotados não estejam refletindo a distribuição da
abundância da espécie no local. Nesse caso, a razão possivelmente se deve a base de
dados (e seus problemas), a representatividade heterogênea das artes e dos pescadores
por comunidade e a influência dos fatores ambientais no comportamento da espécie.
Condições adversas podem afetar a disponibilidade do recurso em função de mudanças
no padrão migratório uma vez que a espécie necessita de condições ótimas para realizar
a migração (Miranda & Carneiro, 2007).
O fenômeno El Niño, responsável pelo incremento de chuvas no sul do Brasil,
afetou as condições ambientais em 2002 e 2003 (www.cptec.inpe.br/enos, 2007). De
acordo com Vieira et al. (no prelo), as capturas de adultos de M. platanus pela pesca
artesanal no estuário da Lagoa dos Patos e o recrutamento de juvenis para o estuário
estão inversamente relacionados aos níveis de chuva e intrusão de água marinha. Uma
fraca intrusão de água marinha pode prejudicar a entrada de juvenis da espécie no
126
estuário, o que compromete o recrutamento, e a baixa salinidade pode levar a uma
maior dispersão dos adultos maduros durante a migração, resultando em cardumes
menores, o que pode explicar, por sua vez, as baixas capturas encontradas durante as
condições anômalas do El Niño (Garcia et al., 2001).
Os desembarques de M. platanus pela frota de traineiras tem sido
consideravelmente maiores que os desembarques da pesca artesanal (ver Introdução,
Figura 2). O pequeno volume das capturas artesanais no Rio Grande do Sul, observado
nas estatísticas pesqueiras nos anos 2002 e 2003, leva a supor que as condições no
estuário não foram favoráveis à atividade pesqueira nesse período já que o sucesso de
uma safra é fortemente dependente das condições ambientais (Miranda et al., 2006;
Miranda & Carneiro, 2007). Por outro lado, no oceano o estoque é encontrado em
cardumes por estar próximo da época de reprodução, sendo explotado pela frota de
traineiras. As estatísticas de desembarques antagônicas refletem essas condições.
As causas das flutuações na abundância do estoque de M. platanus devem ser
mais bem entendidas e relacionadas com as variações de um ano para o outro. É
importante monitorar os possíveis fatores que interferem nas variações na abundância
da espécie, sendo imprescindível investigar melhor as unidades de esforço de pesca a
serem utilizadas para a pesca no estuário bem como pelas diferentes frotas, sendo
necessário avaliar os procedimentos necessários para a padronização do esforço de
pesca empregado para captura da espécie. Mesmo tendo-se conhecimento das grandes
flutuações na abundância, relacionadas às condições ambientais, a pressão pesqueira
sobre o estoque no período de reprodução pelas diferentes frotas (ver Capítulo 2), como
apontam Miranda & Carneiro (2007), pode contribuir de forma importante para a
diminuição da abundância da espécie.
127
DISCUSSÃO GERAL
Usualmente os dados disponíveis para análise da pesca artesanal sofrem pela
falta de continuidade, precisão e adequação (Reis, 1992). Nesse sentido, o conjunto de
dados utilizado nesse estudo pode ser considerado mais completo e contínuo do que os
normalmente à disposição para essa categoria de pesca, que utilizam apenas
informações de captura ou de captura por unidade de esforço baseado em medidas
pouco específicas como, por exemplo, captura por viagem de pesca ou captura por
pescador ou embarcação (Cetra & Petrere, 2001; Graaf et al., 2006; Miranda &
Carneiro, 2007).
Desse modo, se sugere adotar o sistema de coleta de dados por agentes de campo
como forma de obter uma série temporal contínua e representativa da pesca artesanal do
estuário da Lagoa dos Patos, desde que se realize um desenho amostral pré-definido, os
agentes de campo sejam adequadamente capacitados, a tomada de dados seja
monitorada, avalie-se o cumprimento dos objetivos propostos através de um teste-piloto
e se adote modificações necessárias na metodologia utilizada (Capítulo 1). No estuário
da Lagoa dos Patos, as diferenças encontradas entre as comunidades na distribuição
espacial do esforço de pesca e nas características das artes e embarcações de pesca e
estratégias de operação devem ser incorporadas no planejamento do desenho amostral
do programa de coleta de dados de captura e esforço de pesca.
O uso de índices de captura por unidade de esforço de pesca para a avaliação da
abundância dos estoques pesqueiros é a principal ferramenta disponível embora tenha
uma série de limitações (Capítulo 3). A CPUE pode e deve ser usada como indicativo
da tendência da situação do estoque de M. platanus desde que se utilize uma série
temporal que permita verificar tendências. Isso é inexistente até o momento. Embora se
128
saiba que as grandes flutuações na abundância de M. platanus dependem principalmente
das variáveis ambientais (Miranda et al., 2006; Miranda & Carneiro, 2007; pode-se citar
mais algum autor para isso como Vieira ou Garcia ou Alarcon??)), é melhor avaliar as
tendências das capturas usando-se a CPUE do que simplesmente através dos dados de
desembarque pesqueiro, ignorando-se o esforço empregado.
A ausência de tendências claras nos índices de abundância de M. platanus em
relação ao espaço e tempo aponta para o efeito combinado de diferentes fatores sobre a
distribuição da espécie no estuário, que vão além das restrições do uso da CPUE como
índice de abundância. O reduzido espaço temporal de análise, de apenas 2 anos, e o
comportamento da espécie em relação às condições ambientais possivelmente
influenciaram nos resultados obtidos. Além do estuário da Lagoa dos Patos ser um
ambiente heterogêneo e dinâmico (Niencheski & Baumgarten, 1998), a influência do
evento El Niño no período amostrado (2002 e 2003) provavelmente contribuiu para
mascarar os resultados dos índices de abundância.
O dinamismo da atividade pesqueira, devido aos constantes ajustes das estratégias
de pesca que visam maximizar os lucros, impõe a necessidade de constante
monitoramento da atividade. O monitoramento e a elucidação dos processos de causa e
efeito das decisões dos pescadores permite determinar as eventuais mudanças que
possam refletir em alterações nas capturas (Branch et al., 2006). No estuário da Lagoa
dos Patos é bem clara a resposta adaptativa do pescador (esforço de pesca) à
disponibilidade do recurso no local, com o aumento do esforço de pesca seguido do
aumento das capturas. A escolha do pescador acerca da espécie-alvo se baseia na
sazonalidade da capturabilidade das espécies explotadas ao longo do ano e ao seu
retorno econômico. Embora a pesca de M. platanus ocorra em outras épocas do ano
129
(primavera-verão), a atividade se concentra no outono quando a espécie se torna
economicamente interessante ao pescador, os indivíduos adultos se encontram em
estágio avançado de maturação gonadal, o que lhes confere um incremento de peso,
correspondendo a um maior valor unitário para o pescador.
Considerando-se as possíveis respostas às medidas de gestão, é imprescindível
avaliar a pressão pesqueira num contexto mais amplo, para o qual o uso do conceito
métier se mostra apropriado (Tzanatos et al., 2005). Para a elaboração de medidas de
controle eficazes é necessário o conhecimento e o entendimento da dinâmica da pesca,
que deve abranger toda a pressão de pesca que o estoque sofre ao longo do seu ciclo de
vida e área de ocorrência.
A definição de unidades de estoque ainda não está claramente determinada para
M. platanus. Miranda et al. (2006) sugerem a existência de mais de uma população ao
longo da costa, com diferentes épocas e áreas de desova. No entanto, embora seja ideal
a definição de unidades populacionais (ou estoques) para a gestão das pescarias, no caso
de M. platanus a delimitação clara dessas unidades é complexa, por sua estrutura e
dinâmica, o que torna ainda mais indicado a utilização de unidades de explotação
(Sparre, 2000).
Considerando-se a amplitude do circuito migratório da espécie, do estuário da
Lagoa dos Patos para o oceano, em uma área que se estende da desembocadura da
Lagoa dos Patos até além de Santa Catarina, e a importância do volume desembarcado
nesses dois Estados (RS e SC), de 90 a 95% do total para a região Sul
(CEPERG/IBAMA, 2007), é fundamental que seja feita a atualização e a caracterização
da pesca de M. platanus, visando definir sua real estrutura tecnológica, social e
econômica nas regiões onde é explotada. Isso possibilitará a construção de um cenário
130
pesqueiro da explotação da espécie, prioritário para o desenvolvimento de estratégias
para a gestão pesqueira do estoque.
M. platanus é considerada sobreexplotada, sendo integrante do anexo II da
Instrução Normativa MMA N 5 (21/05/2004) que trata da lista nacional das espécies de
invertebrados aquáticos e peixes sobreexplotadas ou ameaçadas de sobreexplotação.
Todavia, existem poucas regras específicas vigentes no litoral sul e sudeste para
normatizar a explotação desse recurso (CEPSUL/IBAMA, 2007). A intensificação da
pressão pesqueira sobre a espécie pela frota industrial em ambos os Estados e a ausência
de medidas de controle dessas pescarias salvo algumas restrições pontuais, como o
estabelecimento de uma área proibida para a operação das traineiras nas imediações dos
molhes da Barra (Portaria IBAMA Nº 80/03), contribuem para um quadro de alerta. Os
adultos de M. platanus sofrem uma forte pressão pesqueira tanto no estuário como no
oceano, durante sua migração reprodutiva, o que pode comprometer a sustentabilidade
do estoque e, consequentemente, da atividade pesqueira. Espécies como M. platanus,
com alta fecundidade, podem ser sobreexplotadas embora os níveis de recrutamento
permaneçam altos. Mas como o recrutamento é bastante variável devido aos efeitos do
ambiente, decréscimos no recrutamento causados pela baixa abundância do estoque
podem ser difíceis de detectar. Conseqüentemente, a níveis baixos do estoque, o
recrutamento pode falhar, sem apresentar qualquer indício prévio (King, 1995).
Embora os fatores ambientais aparentemente influenciem mais no tamanho do
estoque do que a pesca (Miranda et al., 2006; Miranda & Carneiro, 2007), a tendência
de queda nas capturas de M. platanus ao longo dos anos demonstra que a abundância da
espécie pode estar diminuindo (ver Introdução). Há uma forte evidência que à medida
que o tamanho do estoque dos peixes pelágicos que formam cardumes diminui, a área
131
sobre a qual os peixes se distribuem também diminui, até mesmo se não houver grandes
mudanças ambientais, o que causa um aumento no coeficiente de capturabilidade,
mesmo com redução no tamanho do estoque (Hilborn & Walters, 1992). Desse modo,
espécies como M. platanus podem continuar sendo alvo lucrativo para os pescadores
mesmo se o tamanho total do estoque decline. Recomenda-se que esse tema seja alvo de
investigação específica.
Um novo elemento no cenário de explotação que vem contribuir para acentuar
ainda mais a pressão sobre M. platanus é a recente demanda por ovas da espécie para a
exportação (CEPERG/IBAMA, 2007), que apresentam um valor de mercado bem
superior ao da carne do pescado. Esse comércio ocorre principalmente em Santa
Catarina justamente onde se concentra a maior parte das embarcações e dos
desembarques da frota industrial. Na Mauritânia, em situação similar, o interesse
econômico por ovas secas e salgadas de Mugil spp provocou a elaboração de medidas
de gestão específicas para preservar o estoque e incrementar a atividade econômica
(Bernardon, 2004).
Como resposta à necessidade de providências para definir critérios para
possibilitar uma explotação sustentável de M. platanus, recentemente houve a formação
de grupos de trabalho interinstitucionais para propor o ordenamento das redes de emalhe
e da pesca da espécie nas regiões sudeste e sul do Brasil (CEPSUL/IBAMA, 2007).
Foram apresentadas diversas propostas como, por exemplo, o estabelecimento de áreas
de exclusão para a captura da espécie pelas frotas industrial, artesanal, individualmente
e em conjunto; limitação do esforço de pesca direcionado ao recurso, como a restrição
do número de barcos da frota de cerco. Especificamente para a pesca no estuário da
Lagoa dos Patos, são propostas a revisão do período de defeso vigente, das
132
características físicas das embarcações de pesca permitidas e da altura e tamanho de
malha das redes empregadas no local (CEPSUL/IBAMA, 2007). Analisando essas
propostas de ordenamento, no entanto com base nos resultados aqui obtidos, sugere-se
não haver necessidade de se alterar as características das embarcações e das redes de
pesca empregadas na pesca de M. platanus no estuário. As artes de pesca usadas são
altamente seletivas com tamanho de malha preferencial que captura indivíduos maiores
que o tamanho da primeira maturação sexual (33cm) (Alarcón, 2002) e não foi
encontrado a disseminação de equipamentos acústicos nos barcos. O que deve ser feito,
contudo, é o monitoramento das estratégias de pesca, com a avaliação do possível
aumento da eficiência de pesca através do controle do tamanho das redes, tempo de
pesca, uso de equipamentos acústicos para a detecção dos cardumes e eventualmente
alterações no tamanho de malha. É importante que se dê preferência para as artes de
pesca mais seletivas.
Embora a quantidade total de esforço de pesca empregado para captura de M.
platanus no estuário da Lagoa dos Patos seja desconhecida é importante que se faça
algum tipo de limitação, como no número de pescadores e/ou de barcos. Nesse sentido
algumas providências têm sido tomadas como o estabelecimento da Portaria 171/98 que
exige como condição para a pesca na Lagoa dos Patos que seja comprovada a moradia
no entorno da Lagoa, além de exercerem a atividade no mínimo há 3 anos. O principal
objetivo dessa medida foi de restringir o número de pescadores além de privilegiar os
pescadores locais, o que pode ser favorável para M. platanus.
Por outro lado, essa Portaria estabeleceu um período de defeso no qual durante
os meses de junho a setembro os pescadores ficam impedidos de exercer sua atividade.
Como compensação, recebem o valor de um salário mínimo por mês, a título de seguro-
133
desemprego, o que fez com que outras pessoas que não têm a pesca como atividade
principal procurassem receber o beneficio (Reis & Vieira, 2005b). O seguro–
desemprego portanto estimulou o aumento do número de pescadores cadastrados na
região, o que no entanto não necessariamente corresponde a um aumento do esforço de
pesca. Uma maneira possível de controlar o cadastramento de falsos pescadores é a
participação ativa da comunidade onde o pescador reside no processo de inclusão de
novos pescadores. A seleção deve privilegiar os filhos de pescadores e pescadores
antigos que não apresentam sua situação regulamentada (Reis & Vieira, 2005c).
A alteração do período permitido para a pesca pode ser uma alternativa para
diminuir a pressão sobre o recurso no estuário. A restrição do período de pesca apenas
para a safra da espécie, de março a maio, pode promover uma redução na mortalidade
por pesca, por limitar a atividade a um determinado período, desde que o esforço
empregado se mantenha.
A exclusão da pesca artesanal no estuário da Lagoa dos Patos não parece ser
uma alternativa viável tendo em vista que, atualmente, M. platanus juntamente com F.
paulensis, são os principais recursos economicamente importantes na região. Proibir a
pesca no estuário, sem apresentar alternativa de explotação ou atividade para os
pescadores, significa acentuar a problemática social já instalada com o colapso das
capturas na década de 80. Deve-se também considerar o impacto da pesca no estuário
em relação ao impacto da atividade das traineiras e a disposição dos pescadores
artesanais por mais de 10 anos para regular a pesca no estuário enquanto que o mesmo
empenho não é observado na pesca industrial (Reis & Vieira, 2005b). Nesse sentido, a
proibição de pesca no estuário viria a penalizar o único grupo de atores que foi
suficiente engajado para fazer algo para preservar a pesca e os recursos.
134
É imprescindível que seja feito a avaliação e o monitoramento das outras
unidades de explotação de M. platanus em Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Se formos comparar a magnitude do esforço de pesca despendido pelas frotas
artesanal e industrial nos últimos anos, é evidente que a redução do esforço de pesca
empregado pelos barcos industriais terá efeitos mais benéficos ao estoque do que a
diminuição do esforço de pesca artesanal. Segundo CEPERG/IBAMA (2007), há uma
diferença de magnitude na ordem de 100 vezes entre as estimativas do desembarque por
viagem das frotas artesanal e industrial (100-300kg para 10-30t). No entanto, não se
pode desconsiderar completamente o impacto que a pesca artesanal exerce sobre o
recurso.
A grande variação na abundância de M. platanus, dependente das condições
ambientais, dificulta a gestão de sua pescaria. Cenários futuros não são facilmente
previstos. No entanto, as incertezas e lacunas no conhecimento não devem ser usadas
como justificativa para ausência de decisão. Pelo contrário, deve-se utilizar todo o
conhecimento disponível, cientifico e tradicional, e incorporar as incertezas nas tomadas
de decisão.
CONCLUSÕES
1) O sistema de coleta de dados de captura e esforço de pesca
por agentes de campo é adequado e é uma forma promissora de coleta de
dados (Capítulo 1);
2) São utilizados, predominantemente, dois grupos
operacionais para captura de Mugil platanus no estuário da Lagoa dos
135
Patos: o cerco e o emalhe fixo; a pesca se concentra no outono, atuando
principalmente sobre indivíduos em estado avançado de maturação
gonadal que vão realizar a migração reprodutiva para o mar;
3) Padrões na distribuição espacial e sazonal da espécie no
estuário não foram encontrados. Isso pode ser explicado principalmente
pela pequena janela temporal de análise, de apenas 2 anos, e influência
dos fatores ambientais no comportamento da espécie.
RECOMENDAÇÕES
1) Criação de um programa contínuo de amostragem de dados de
captura e esforço de pesca no estuário através de agentes de
campo, assegurando a representatividade e confiabilidade das
informações coletadas;
2) Extensão do programa de amostragem para toda a área de
ocorrência da espécie e para todos os tipos de explotação;
3) Estudo da dinâmica populacional da espécie, incluindo os fatores
ambientais que afetam a capturabilidade da espécie ao longo do
tempo e que mascaram as tendências da abundância do recurso.
136
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144
APÊNDICE I
Planilha de campo utilizada para a coleta dos dados pelos agentes de campo.
PESCADOR
ATA.......
MBARCAÇÃO
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA
LABORATÓRIO DE RECURSOS PESQUEIROS ARTESANAIS
Telefones – 233.65.27/233.67.48/233.65.24
FURG
PLANILHA DE AGENTE DE CAMPO
PROJETO FURG – FNMA
OME........................................................................... DN .../........../200....
PELIDO....................................................................... LOCAL............................ A
E
................................
..........................
OCAL ONDE PESCOU
OME...........................................N
OMPRIMENTO........................................................... C
OTENCIA DO MOTOR............................................... P
SONDA.......( ) SIM...........( ) NÃO
APACIDADE CARGA.......................C
UMERO DE TRIPULANTES...................................... N
L
............................................
IPO DE
OMPRIMENTO
LTURA
AMANHO
NUMERO
EMPO
EIXE
RADO
ESO
OME...............................N
ROFUNDIDADE (metros)........................................... P
EMPO NAVEGAÇÃO................................................. T
T
REDE
C
DA REDE
(braças)
A
DA REDE
(malhas)
T
DA MALHA
(entre nós
) adjacentes
DE
CES LAN
(se for o
caso)
T
DE
PESCA
(horas)
P
CAPTU
P
(kg)
OBSERVAÇÕES:..................................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................................................
.
145
APÊNDICE II
Roteiro de entrevistas com os agentes de campo para verificação dos dados coletados.
Roteiro das Entrevistas - Agentes de Campo
Nome:
Data:
Localidade:
1. Como foram escolhidos os pescadores ? Quais foram os critérios ? Como fez para
que eles participassem ?
2. Quem são os pescadores ? (Parentes, vizinhos ?)
3. Você acha que os principais pescadores foram amostrados ? Quantos % dos
principais pescadores da comunidade ?
4. Como foi a coleta de informações (planilhas)? Quem escreveu nas planilhas ? Com
que frequência foram coletadas as planilhas ?
5. Quanto ao número de pescadores houve muita diferença entre os anos ? Por quê? E
quanto ao número de registros de pesca ?
6. E como foi a pesca de modo geral nos anos de 2002 e 2003 ? As safras foram boas ?
De que espécies ? Por que será ?
7. Houve algum problema na coleta ? Quais ? Como lidou com eles ?
8. Quais foram os pontos positivos ?
9. E os pontos negativos ?
10. Tem sugestão do que poderia ser feito para melhorar a coleta de dados ? Sabe o por
quê se coletou esses dados ?
11. Estaria disposto a continuar a coletar dados ? Por quê ? E em qual situação?
146
APÊNDICE III
Principais problemas, possíveis causas e soluções encontradas para análise dos dados
coletados nas planilhas de campo pelos agentes de campo durante os anos de 2002 e
2003 nas comunidades Bosque, Mangueira, Torotama, Passinho, Capivaras, Várzea e Z-
3.
Problemas
Prováveis causas Soluções
Classificação genérica do tipo de
rede
malha, tainha, manjoada,
espera, lance, etc
várias denominações para o tipo
de rede nas planilhas para um
mesmo pescador
Falta de padronização no
preenchimento das planilhas;
Coleta de dados não
estruturada
Falta de capacitação dos
agentes de campo e de
monitoramento dos dados
coletados
Agrupamento das artes de
pesca
Padronização com base na
triangulação dos dados e
entrevistas
Falta de especificação da
quantidade de panos nas redes
(simples ou tresmalho)
Presença apenas quando
especificado
Planilhas de campo incompletas
ausência de informações: peso
capturado, da malha empregada, do
tipo de rede, altura, tempo de pesca,
número de lances, local de pesca,
profundidade, etc
constar apenas o comprimento
de uma rede (pex 20 bças), mas não
se tem o número de redes
empregadas (pesca de emalhe fixo)
Para uma mesma planilha de
campo, no local do número de
lances tem dia todo e em tempo de
pesca, 14 horas
Falta de monitoramento
dos dados coletados
Falta de tempo para anotar
os dados porque o pescador
estava apressado e o agente
não quis atrapalhar
Exclusão e/ou utilização
apenas para caracterização
Informações absurdas
pex. 400 malhas de altura
Falta de monitoramento a
curto prazo (mensal) dos
dados coletados com posterior
checagem com os agentes de
campo e/ou pescador
Checagem, correção e/ou
exclusão
Falta de padronização da unidade
de tempo utilizada para as
planilhas de campo (kg/ semana;
kg/ operação de pesca; kg/lance)
Tempo de pesca de 72 horas,
120h o que corresponde aos dias de
pesca (pex 1 semana = 5 dias)
Falta de padronização da
coleta de dados – falta de
capacitação e monitoramento
dos dados coletados
Exclusão e/ou utilização
apenas para caracterizar a arte,
como tamanho de redes,
altura, malha, etc
147
Informações concomitantes a dois
tipos de operação numa mesma
planilha de campo
Número de lance e tempo de
pesca
Checagem em campo e
correção
Denominações diferentes para um
mesmo tipo de operação de pesca
entre comunidades
Lance quer dizer bombóia
(emalhe a deriva) na Mangueira
Falta de projeto piloto;
Falta de monitoramento
dos dados coletados
Checagem em campo e
correção
Erros de digitação
Dados nas planilhas
digitalizadas diferem dos presentes
nas planilhas de campo
Banco de Dados incompleto
(Planilhas digitalizadas incompletas
ou não atualizadas, por exemplo,
não consta todas as embarcações do
mesmo pescador durante o período
todo)
Várias planilhas digitalizadas
correspondendo ao mesmo dia de
pesca para um mesmo pescador,
sem especificar o porque da divisão
Dados de uma comunidade
anotados como de outra
Ausência de sistema de
análise dos dados; demora
para o uso das informações
coletadas
Falta de um
monitoramento dos dados
coletados
Falta de projeto piloto
Checagem e correção
Complementação de
informações
Desconsideração do
número de dias
Os pescadores de São
Lourenço foram excluídos da
análise
Pequeno número de registros de
pesca de arrasto
Arte de pesca predatória;
Medo de represália
Exclusão
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