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The Journals of Sylvia Plath (1982) são os diários editados polemicamente por
Frances McCullough e Hughes, este escreveu também a introdução e teria omitido
informações e partes importantes, principalmente relacionados ao suicídio de SP (RATNER,
1982). The Unabridged Journals of Sylvia Plath 1950-1962 (2000) são diários na íntegra,
estando ausentes dois referentes aos últimos três anos de vida, que Hughes alegou ter
destruído para preservar a memória dos filhos, mesmo tendo afirmado a importância-chave
deles para a compreensão do processo de composição de Ariel. É fundamental para se
conhecer melhor sua vida e obra. Vida que, depois de várias biografias, um filme, esmiuçada
em vários e muitos detalhes e ângulos, permanece em dúvida. Não há um consenso sobre
quem foi SP, mas: “Com os diários, escritos por alguém que quis viver com a intensidade da
arte, pelo menos temos [a maior parte de] sua própria versão” (LOPES, 2004, s/p).
SP abordou alguns assuntos polêmicos e tabus para sua época, tais como, obsessão,
atração e culto à morte, suicídio, autodestruição, perda e tentativa de afirmação da identidade,
busca pela realidade e sentido do eu e do mundo, alienação, distúrbios e colapsos psíquicos,
loucura e dor, pesar e sofrimento interiores físicos e existenciais, condição feminina na
sociedade, erotismo, entre outros. Geralmente em tom confessional, quase sempre em
primeira pessoa, transcendendo ao universal, melancólico, depressivo, sério e resignado; sua
voz controlada, às vezes, se torna fria, irônica, ácida, e violenta. O tema recorrente, que
permeia quase todos os poemas, mesmo implicitamente, é a morte, seja em sentido físico/real,
psicológico, simbólico, negativo ou positivo, devido à crise existencial e perda de sentido no
eu, na vida e no mundo. A interpretação do sentido da morte na poesia plathiana é variada.
Holbrook (1988) argumenta que por SP ter sido esquizofrênica, foi capaz de por meio
de sua poesia ter iluminações, momentos que os existencialistas denominam de Sorge, o
“pavor”, que espreita a existência comum. Indo contra o que Heidegger observou, de que, não
há como viver em concentração única, “de olho completamente aberto” consciente em relação
ao destino terrível da nossa existência, que é a inevitabilidade da morte. O eu-poético em
vários momentos experiencia um pavor genuíno de estar viva e de ser um “ser-para-a-morte”
no sentido heideggeriano, principalmente nos poemas iniciais.
Para Feder (1988), a preocupação central da poesia de SP foi o suicídio, como um
construto mítico de poder transcendente, o que não ocorreu na vida real. A morte é o inimigo,
que ela incorpora e possui o poder de transcendência e mudança. Nenhum poeta tratou de
modo melhor e tão minucioso, o conflito do suicídio e de um suicida. Nos últimos poemas,
detalhes realistas de doenças, partes de rostos e corpos, odores e sons emergem como imagens
alucinatórias, que seriam “a voz do nada” procurando identidade na linguagem.