RESUMO
Considerando-se que o acesso das gestantes ao atendimento digno, humanizado e de qualidade
é além de um direito, uma necessidade da mulher, o Ministério da Saúde expressa e oficializa por meio
de portarias, a intenção de investir na atenção à gravidez, ao parto e ao puerpério, instituindo o Programa
de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN). É um Programa inédito, pois consulta ampla na
literatura não identificou nenhum outro no formato do PHPN. Ademais, é uma proposta de intervenção
para um país em desenvolvimento; oferece diretrizes para as diferentes instâncias da assistência;
descreve as condições mínimas para a atenção com incentivo financeiro atrelado ao cumprimento de tais
condições; e propõe um sistema de informação (SISPRENATAL), que oferece ao gestor local, monitorar
avanços e desafios e corrigir falhas. Neste contexto, decidiu-se pela realização do presente estudo que
teve como objetivo geral avaliar a qualidade da assistência pré-natal no Ceará a partir da implementação
do PHPN, tendo como objetivos específicos avaliar indicadores de processo do PHPN geradores no
SISPRENATAL no Estado; analisar aspectos específicos da atuação do enfermeiro na atenção pré-natal,
informados no sistema; e identificar a receita financeira gerado pelo PHPN para o Ceará. O estudo
caracterizou-se como sendo do tipo exploratório e descritivo e teve como universo o Sistema de Saúde
do Ceará. Parte dos dados foi coletada na Célula de Informação da Secretaria Estadual da Saúde por
meio de busca no Sistema de Informação do Pré-Natal e outra parte na Coordenadoria de Controle e
Avaliação da mesma Secretaria. Os indicadores de processo serviram de subsídios para analisar a
qualidade da assistência pré-natal no Ceará, no período de junho de 2001 a agosto de 2006. Ao longo
desses seis anos foram notificados 691.001 nascidos vivos (NV) no SISPRENATAL. Contudo, foram
detectados apenas 312.507 cadastros de gestantes, ou seja, 44,4% do número de NV, incluindo gestantes
com idade gestacional até 120 dias entre 2001 a 2003 e a partir de então as gestantes de todas as idades
gestacionais. Observou-se aumento crescente nos indicadores de cadastramento precoce das gestantes
(<120 dias) no programa, saindo de 88,3%, em 2001, para 96,4%, em 2006. A avaliação de todas as
condições determinadas no Componente I do PHPN, juntas, que define uma melhor qualidade da
assistência pré-natal prestada, o percentual atingiu 15,67% das gestantes cadastradas. Este resultado foi
superior em aproximadamente 50% o resultado encontrado no País, tendo em vista que a conclusão do
referido indicador em nível nacional foi de cerca de 10,12% para o mesmo período. Ficou demonstrado
que os Enfermeiros atuam amplamente na assistência pré-natal nas unidades básicas de saúde do Estado,
pois 95% dos cadastros de adesão de gestantes e 88% das consultas de puerpério foram realizadas por
esse profissional. Quanto ao aspecto financeiro ao verificar-se a diferença dos valores de procedimentos
que foram realizados e informados no BPA dos municípios mas, não tiveram aprovação temos um valor
total Estadual de R$ 323.040,00. O que se percebe, pelo valor é a possível falta interesse ou até mesmo o
desconhecimento por parte dos gestores, em resolver problemas que geram a desaprovação das
informações e obstruem a arrecadação de recursos, diminuído, desta forma, a possibilidade de maiores
avanços nesta área. Enfim, com este estudo pôde-se perceber que se faz necessário uma intensificação
nas discussões entre profissionais, gestores e comunidade, levantando os avanços e desafios em cada
município, em cada área adstrita de PSF, a fim de promover uma visualização das diversas necessidades
no campo da assistência pré-natal, buscando soluções viáveis e eficazes. É inaceitável que uma área do
cuidado tão necessária e tantas vezes priorizada nas políticas públicas de saúde deste País ainda padeça
de negligência pela ausência de garantias tão básicas como a realização de exames laboratoriais
essenciais, imunização anti-tetânica e o seguimento puerperal, realidade detectada no Ceará e também
descrita no cenário nacional. Há de reconhecer o papel ativo do enfermeiro nessa área do cuidado e de
ser inadiável que gestores municipais se apropriem do processo de financiamento do PHPN e possam
minimizar oportunidades perdidas de aquisição de recursos.
DESCRITORES: Cuidado Pré-Natal; Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento;
Avaliação em Saúde; Financiamento em Saúde; Papel do Enfermeiro.