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UNIVERSIDADEFEDERALDEPERNAMBUCO
CENTRODEARTESECOMUNICÃO
PROGRAMADEPÓSGRADUAÇÃOEMLETRASELINGÜÍSTICA
Aconstruçãodasinonímiaporencapsulamentoanafórico:
umaper spectivasóciocognitiva
CinthyaTorresMelo
Orientadores:
Profa.Dra.JudithHoffnagel(UFPE)
Prof.Dr.LuizAntônioMarcuschi(UFPE)
RECIFE
2008
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http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Melo,CinthyaTorres
A construção da sinonímia por encapsulamento
anafórico:umaperspectiva sóciocongnitiva/Cinthya
TorresMelo.Recife:OAutor,2008.
130folhas.
Tese (doutorado) – Universidade Federal de
Pernambuco.CAC.Letras,2008.
Incluibibliografia.
1. Lingüística . 2. Sinonímia. 3. Encapsulam ento
anafórico.4.Cognição. 5.Significação(Filosofia).6 .
Pragmática.7.Semântica(Filosofia).I.Título.
801 CDU(2.ed.) UFPE
410 CDD(21.ed.) CAC2008
55
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UNIVERSIDADE FEDERAL
DE
PERNAMRUCO
CENTRO DE ARTES
E
CO~WNICACAO
PROGRAMA DE
POS-GRADUACAO
EM
LETRAS
E
LINGUISTICA
A
construqIo
da
sinonimia por encaps~~larnento anafbrico:
uma perspectiva s6cio-cognitiva
Cinthya
Torres
Melo
Banca Examinadora:
Profa. Dra. Elizabeth Marcuschi (UFPE)
Ayh
I
~JL
L-
Profa. Dra. M6n
Profa. Dra. Judith
~rofal~ra. Rosane N~~C$~'(UFRPE)
Tese apresentada ao Programa de Pos-graduaqzo
em Letras da Universidade Federal de Pernambuco
conio requisito parcial para obtenqgo
do
Grau
de
Doutora
em
Lingiiistica.
RECIFE
Julho
dc
2008
3
DedicoestetrabalhoaoProfessorDoutorLuizAnnioMarcuschi
(UFPE),meumestreementoracadêmico,quemeensinouaamara
lingüísticaeaenxergarnosprocessosdereferenciaçãoanafóricao
maisbelocampodeinvestigaçãocientíficaparaoestudodos
processosdetextualização.
Estaobraéfrutodasliçõesquevocêmeensinou!
4
AGRADECIMENTOS
ADeus, pela dádiva da vida plena pela qual posso pensar econstruir todos os meus
objetivos;
AtodososamigosdaFraternidadeEspíritaMoradadoSol,pormesustentareme
meguiaremnosárduosmomentosdeescritadestetrabalho,principalmenteaosamigos
Dr. Adamastor, Elionel Grawost e Moisés pela compreensão e pelo apoio que me
deram durantetodoesteúltimoanodeescrita;
Àminha mãe Margarida Martins, por me apoiar, me incentivar e dedicarhorasde
cuidadosàsminhasfilhasparaqueeupudessemerecolheretrabalharsossegadamente;
Ao meu esposo Márcio Saraiva e àsminhasfilhasGabriela(7 anos)e Maiara(4
anos),portantacompreensãonasminhasinúmerashorasdeausênciafamiliar;
A meu sogro Márcio José Valença Saraiva de Melo e minha sogra Therezinha
Saraivade Melo,peloapoioconstanteeirrestritoquemededicaram;
À minha cunhada Tânia Pinheiro (UFC), pela força e pelo incentivo de irmã
espiritual;
ÀminhaamigaVeraLúciaMaciel,pelaconstantepresençaamorosaepeloincentivo
desmedidoparaqueestetrabalhonãoparassepelametadeechegasseaofim;
ÀKarinaFalcone,companheiradedoutorado,pelaamizadeepeloconfortoemtodos
osmomentosdifíceisvividosduranteomeudoutorado;
AoamigodoutorandoLeonardoMozdzenski,portercompartilhadocomigoodiada
apresentaçãodestetrabalho;
À Coordenação da PósGraduação em Letras e Lingüística da UFPE, na pessoa da
Coordenadora e Professora Doutora Angela Dionísio, por terreconduzido a minha
vida acadêmica após o afastamento, por doença, do meu orientador Luiz Antônio
Marcuschi;
5
AtodososfuncionáriosdaPósGraduaçãoemLetraseLinísticadaUFPE,em
especial a Jozaías F. Santos e à Diva Albuquerque pela disposição e boa vontade
constantesnosatendimentosburocráticos;
A CAPES,pelosdoisanosdebolsadedoutoradoconcedidosparaestapesquisa;
ÀProfessoraDoutoraBethMarcuschi(UFPE),porteracreditadoquetudoistoera
possível e feito inúmeros questionamentos sobre o conteúdo deste trabalho,
possibilitandoriquíssimasreflexõesereescritasemtodososcapítulos;
ÀProfessoraDoutoraDórisCunha(UFPE),pelasressalvaspreciosasquefezaalguns
pontos da teseequemefizeramterforçasparareescrevêlosdoinícioaofim,apósa
qualificação;
ÀProfessora Doutora Mônica Cavalcante (UFC), por mais uma vez teraceitado o
convite para fazer parte da minha banca de defesa, tal como no mestrado, e ter
contribuídoimensamenteparaalgumasreformulaçõesfinai
ÀProfessoraDoutoraRosaneAlencar(UFRPE),porterparticipadodaminhabanca
dedefesaetersugeridoaspectosrelevantesnestetrabalho;
Aos ProfessoresDoutoresAntônio CarlosXavier (UFPE) e FranciscoAlvesFilho
(UFPI),porteremsedisponibilizadoaocuparaposiçãodesuplentesnabancafinal;
Eemespecial,aosdoisgrandesguerreirosdestaminhaempreitada:
À minha segunda orientadora Professora Doutora J udith Hoffnagel, por ter
permanecidoaomeuladoeacreditadonomeutrabalho,ultrapassandooslimitesdeseus
campos depesquisacientífica parase aventurarcomigo emumtrabalhoanteriormente
iniciado,meorientandocomsuasleiturasequestionamentos;
E ao meu primeiro orientador Professor Doutor Luiz Antônio Marcuschi, que
desafiou as próprias limitações de sua convalescença para acompanhar a leitura das
iiasgeraisdoscapítulos,participandoassimdestetrabalho.
6
Pensaremmeioàsciênciassignifica:
passaraoladodelas,semdesprezálas.”
Heidegger(1950)
CaminhosdoCampo
7
RESUMO
Este trabalho é uma investigação teórica sobre a sinonímia por encapsulamento
anafórico.Estetemaénovoeaexpressão‘sinonímiaporencapsulamentoanafórico’foi
criadapornósparaexplicarumoutroolharquetemosdofenômenolingüísticodescrito
porConte(2003)comoencapsulamentoanafórico.Adefiniçãodeencapsulamentodada
porConte(2003:117)dizqueesteé“umrecursocoesivopeloqualumsintagmanominal
funcionacomo umaparáfraseresumitivadeuma porçãoprecedentedotexto”.Nossas
análises indicam que este fenômeno também pode darse por uma sinonímia sócio
cognitiva e não apenaspor uma paráfrase resumitiva, como atestado por Conte. Para
comprovaranossaobservação,partimosdeumestudosemânticofilosóficosobreoque
quer dizer significado e sentido aplicados às noções de sinonímia como igualdade de
significado (Platão), como identidade de significado (Aristóteles) e por fim como
equivalênciadesentido,queéaformapelaqualnósconcebemosestetipodesinomia.
Em verdade, não negamos a existência das noções de igualdade e de identidade de
significado na sinonímia, dentro do escopo de uma semântica formalista. Mas,
apontamosqueestapodeservistaporumoutroânguloteórico.Aperspectivatrica
escolhida para observarmos a sinonímia por encapsulamento anafórico éa perspectiva
sóciocognitiva.Estaconcebealínguacomoumaaçãosocialsituada,ondeossujeitos
constroemnainteratividadediscursivaosobjetosdediscursoeossentidos,inseridosem
contextosreferenciaissocialmentepartilhados(Salomão,1999;Marcuschi,2003;Koche
CunhaLima,2004).Buscamoscomprovarqueestasinonímiaocorreporumarelaçãode
sentidoconstrdaporumaequivalênciasóciocognitivasobreasbasesdeumprocesso
inferencialqueseencontraapoiadoem
Frames
(Barsalou,1992)eRelevâncias(Sperber
eWilson, 1986). O sentidoapresentasecomoumpontodevista,ummodopeloqual
compreendemosalgo,umapossibilidadedeinterpretação(Husserl)queseestabelecepor
caminhosinferenciais (Frege,1978;Marcuschi,2000;2003;2007b)construídosemuma
interação social. Paradefesadestahipótese, analisamos exemplosextraídosdeautores
discutidos ao longo deste trabalho. Nossas conclusões apontam este novo objeto
lingüístico, chamado de sinonímia por encapsulamento anafórico, como um possível
campodeestudoparaasáreasdareferenciaçãoanafóricaindiretaedasóciocognição.
PalavrasChave: Sinomia. Encapsulamento Anafórico. Sentido. SócioCognição.
Referenciação.AnáforaIndireta.Inferenciação.
8
RESUMEN
Este trabajo es una investigación teórica sobre la sinonimia por encapsulamento
anafórico.Estetemaesnuevoylaexpresión‘sinonimiaporencapsulamentoanafórico’
fue creada por nosotros para explicar una otra forma de ver el fenómeno lingüístico
descrito por Conte (2003) como encapsulamento anafórico. La definición de
encapsulamentodadaporConte(2003:117)dicequeesteesunrecursocohesivoporel
cual un sintagma nominal funciona como una paráfrasis resumida de una porción
precedentedeltexto”.Nuestrosanálisisindicanqueestefenômenotambienpuedeseda
por una sinonimia sociocognitiva y no solamente por una paráfrasis resumida, como
atestado por Conte. Para comprobar nuestra observación, partimos de un estudio
semánticofilosófico sobre lo que quiere decir significado y sentido aplicados a las
nociones de sinonimia como igualdad de significado (Platón), como identidad de
significado(Aristóteles)yporfincomoequivalenciadesentido,queeslaformaporla
cualnosotrosconcebimosestetipodesinonimia.Enrealidad,nonegamoslaexistencia
de las nociones de igualdad y de identidad de significado en la sinonimia, dentro del
límitedelasemânticaformalista.Pero,apuntamosqueestapuedeservistaporunotro
ángulo teórico. La perspectiva trica elegida para observarnos la sinonimia por
encapsulamentoanafóricoeslaperspectivasociocognitiva.Estaconcibelalenguacomo
unaacciónsocialubicada,dondelossujetosconstruyenenlainteractividaddiscursivalos
objetos de discurso y los sentidos, inseridos en contextos referenciales socialmente
compartidos (Salomão,1999; Marcuschi,2003; Koch e CunhaLima,2004). Buscamos
comprobar que esta sinonimia ocurre por una relación de sentido construida por una
equivalenciasociocognitivasobrelasbasesdeunprocesoinferencialqueseencuentra
apoyadoen
Frames
(Barsalou,1992)yRelevancias(SperbereWilson,1986).Elsentido
se presenta como un punto de vista, un modo por lo qual comprendemos algo, una
posibilidad de interpretación (Husserl) que se establece por caminos inferenciales
(Frege,1978;Marcuschi,2000;2003;2007b)construidosenunainteracciónsocial.Para
defensadeestahipótesis,analizamosejemplosextraídosdeautoresdiscutidosalolargo
destetrabajo. Nuestrasconclusionesapuntaneste nuevoobjeto lingüístico, llamadode
sinonimia por encapsulamento anafórico, como un posible campo de estudio para las
áreasdelareferenciaciónanafóricaindirectaydelasociocognición.
PalabrasClave: Sinonimia. Encapsulamento Anafórico. Sentido. SocioCognición.
Referenciación.AnáforaIndirecta.Inferenciación.
9
ABSTRACT
Thisthesisisatheoreticalinvestigationofsynonymythroughanaphoricencapsulation.
Thisthemeisnewandtheexpression“synonymythroughanaphoricencapsulation”was
createdbyustoexplainanotherviewofthislinguisticphenomenondescribedbyConte
(2003) as anaphoric encapsulation. The definition for encapsulation given by Conte
(2003:117)tellsusthatthisis“acohesiveresourcebywhichanounphrasefunctionsas
a short paraphrase of a preceding portion of text”. Our analysis indicates that this
phenomenonalso comesabout throughasociocognitive synonymyandnot onlybya
short paraphrase as attested by Conte. To prove our observation, we begin with a
semanticphilosophicalstudyofmeaningandsenseappliedtothenotionsofsynonymyas
equality of meaning (Plato), as identity of meaning (Aristotle) and finally as the
equivalenceof sense, which isthewaywe conceive thiskind ofsynonymy withinthe
scope of a formalsemantics. But we point out that this could be seen fromanother
theoretical angle. The theoretical perspective chosen to observe synonymy through
anaphoricencapsulationisthesocialcognitiveperspective,whichconceiveslanguageas
a situated social action, where the subjects construct in discursive interactivity the
objects of discourse and the senses, inserted in socially shared referential contexts
(Salomão,1999;Marcuschi,2003;Koch e CunhaLima,2004).Ourobjectiveistoshow
thatthissynonymyoccursthrougharelationofsensesconstructedbyasociocognitive
equivalencebasedonaninferentialprocess,thatfindtheirsupportin
Frames
(Brasalou,
1992)andRelevance(SperberandWilson,1986).Senseispresentedasapointofview,
awayinwhichweunderstandsomething,apossibilityofinterpretation(Husserl)thatis
establishedbyinferentialmeans(Frege,1978;Marcuschi,2000;2003;2007b)builtthrough
social interaction. To defend this hypothesis, we analyzed examples extracted from
authors discussed throughout this thesis. Our conclusions point towards this new
linguisticobject,calledsynonymythroughanaphoricencapsulation,asapossiblefieldof
studyfortheareasofindirectanaphoricreferenceandsocialcognition.
Keywords: Synonymy. Anaphoric Encapsulation. Sense. Social Cognition. Reference.
Indirectanaphora.Inference.
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................... 11
CAPÍTULO1DOSIGNIFICADOAOSENTIDONASINONÍMIA:UMAVISÃO
SEMÂNTICOFILOSÓFICA..................................................................................... 20
1.1 OUsodosTermosSignificadoeSentido.............................. .................................. 24
1.2 OSignificadonaSemânticaFilosóficaClássica:anoçãodeigualdadenasinonímia.... 32
1.3 DoSignificadoaoSentidoemAristóteles:anoçãodeidentidadenasinomia............. 39
1.4 OSentidonaSemânticaModerna:anoçãodesentidonasinonímia ........................... 48
CAPÍTULO2OSENTIDOCOMOUMCRITÉRIOVÁLIDONARELAÇÃODE
SINONÍMIA:UMAABORDAGEMBASEADANALÓGICAMODERNA.............. 52
2.1 SentidoeRefencianaSinonímia........................................................................ 54
2.2 OValorCognitivonaRelaçãodeIgualdadeparaFrege.... ....................................... 61
2.3 OSentidocomoumaRelaçãodeInferência....................................... ..................... 63
CAPÍTULO3ACONSTRUÇÃODASINONÍMIAPORENCAPSULAMENTO
ANAFÓRICO:UMAPERSPECTIVASÓCIOCOGNITIVA..................................... 68
3.1 APerspectivadaSinomianachamadaParáfraseResumitiva ................................. 69
3.2 OSentidonaPosiçãodeSintagmaNominalEncapsulador....................................... 74
3.3 ASinonímiaporEncapsulamentoAnafóricocomoumaAçãoSocial ......................... 81
CAPÍTULO4OACESSOAOSENTIDONASINONÍMIAPORENCAPSULAMENTO
ANAFÓRICO.............................................................................................................. 88
4.1 OAcessoaoSentidopelaTeoriadaFenomenologiadeHusserl................................. 89
4.2 OAcessoaoSentidopelaTeoriadaRelevância:omodeloostensivoinferencialde
SperbereWilson ....................................................................... ......................... 98
4.3 OAcessoaoSentidopelaConstruçãodeFrames:ateoriadeatributosevaloresde
Barsalou..................................... ..................................................................... 111
CONCLUSÃO...............................................................................................................120
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS............................................................................125
11
INTRODÃO
Estetrabalhotratadadescriçãodeumtipodesinonímiaqueatéentãonão
évistaemnenhumaliteraturalingüísticadenossoconhecimento. Tratasedaquiloque
nós ‘batizamos’ de sinonímia por encapsulamento anafórico. Para a construção
teórica desta sinonímia mergulhamos em discussões que estão nas bases teóricas da
semânticafilofica,dasemânticaformalistaeanalítica,dasemânticapragmaticistaeda
lingüística textual, cognitiva e ciocognitiva. Através dessas discussões buscamos
mostrar que , nestes campos teóricos, pequenas brechas por onde nós podemos
enxergaroscaminhosquenoslevamasituarestetipodesinonímianaperspectivasócio
cognitivaeasrazõesquenosconduzemaisto.
O leitor pode estranhar não iniciarmos esta investigação abordando a
perspectivaciocognitiva.Contudo, onossoargumentoéquecomosetratadeuma
investigaçãoessencialmenteteórica, de umtemasemnenhumprecedentecientíficono
qual pudéssemos noapoiar,nósoptamospornão desconsideraro queatradiçãodos
estudoslingüísticosnoslegousobreasinonímiatalcomonósaconhecemos:sobreas
basesdeumasemânticafilosóficaformaledeumasemânticapragmática.
Optamosporpinçardestasteoriasaquiloquerefletidamentepudemos,de
alguma forma, correlacionar com a
essência
da perspectiva sóciocognitiva que é: 1)
línguacomoaçãosocial;2)estudodoléxicocomoumaredederelaçõesconjuntaque
envolveaspectossociais,culturaisecognitivosparaaproduçãodesentidosocialmente
situado; 3) atividade referencial como uma atividade inferencialsituada emprocessos
enunciativos que ocorrem em atividades de textualização; e 4) processamento da
informação através de cálculos cognitivos inferenciais guiados por contextos
socialmentepartilhados.Emgeral,estesquatroitensjáabarcamgrandesdiscussões,por
issonãonossentimoscomprometidosemapresentarediscutiroutrospontos.
Comodissemosotemaénovo,masaomesmotempoconhecidoporquese
tratadeapresentaroencapsulamentoanafórico,quesobaperspectivadasinonímiae
não apenas da paráfrase resumitiva como defende e define Conte (2003). Esta iia
12
surgiucomoumapossibilidadeinvestigatóriaemumadasaulasdeLingüísticadeTexto,
ministradanaUFPE,duranteoprimeiroanodedoutorado.
Oprojeto desenvolvido para ser a tese de doutorado tinha como focoa
sinonímia na produção textual, mas este foi redirecionado para unirse com o
encapsulamentoanafóricoemvirtudedeenxergarmosquenoencapsulamentoanafórico
apresentado por Conte (2003) havia umabrecha pela qual poamos desenvolver um
estudo sinonímico que serealizava por uma relação de sentidos construídospor uma
inferênciadenaturezasóciocognitiva.
Ao invés de apresentarmos um processo de sinonímia onde o sujeito é
excluídodeseu papel decriador, manipuladorereformuladordesentidosconstruídos
socialmente, nós apresentamosumasinonímia queconsideraapresença deumsujeito
cognitivo cuja bagagem sóciohistóricacultural é elemento cocriador dos sentidos
construídosnainteratividadedalíngua,reunindopensamento,linguagememundoem
umadimensãoqueosvêcomo“operadoresdaconceptualizaçãosocialmentelocalizada
atravésdaatuaçãodeumsujeitocognitivo,emsituaçãocomunicativareal,queproduz
significados como construções mentais, a serem sancionadas no fluxo interativo”,
conformeexpõeSalomão(1999:64).
Ahipótesesóciocognitiva,assimchamadaporMargaridaSalomãoesua
equipe de pesquisadores, busca um equilíbrio entre fontes de conhecimento como
gramática, esquemas conceptuais e molduras comunicativas que proporcionam um
caminho promissor para as questões que envolvem procedimentos de produção de
sentido emdiscursoscotidianos(Marcuschi, 2004).Por estarazão aescolhemospara
seraperspectivatricasobreaqualnosdebruçamosparainvestigaraconstruçãoeo
funcionamentodasinonímiaporencapsulamentoanafórico.Poisestudarestefenômeno
é estudar processos de significação (referência + sentido) ligados diretamente ao
contextociodiscursivodalínguaematividadesdetextualizaçãointerativas,comojá
dissemos.
A nossa proposta de trabalho parte de algumas concepções que são
importantesseremapontadasnestemomento:
1 Partimosdeumavisãodelínguanãoformalista,queconcebealinguagemcomo
ação social (Clark,1996; Marcuschi,2003, 2003a; Koch e CunhaLima,2004;
13
Koch,2005; Salomão,1999; Mondada e Dubois,2003; Mondada, 1994;1997; e
outros) cujos indivíduos são atuantes no processo de categorização e
recategorização dos sentidos construídos em ações interativas comunicativas
cujas vivências sociais, históricas e culturais somamse para a produção de
sentidossituados.Anguaéumaformaderepresentaçãosimbólicageralmente
opaca, nãotransparente e indeterminada sintática e semanticamente”
(Marcuschi,2003a:3).
2 Em todo o processo analítico do funcionamento da língua em atividades
interativas, a cognão é o elo que liga todos os modos de construção da
compreensão, da interpretação, sob uma perspectiva nãorepresentacionista da
língua (Marcuschi, 2004). A língua não providencia uma semântica
a priore
paraoléxico,nãoestamosdizendoqueaspalavrassãovaziasdesentido,mas
que o sentido por nós efetivamente atribuído às palavras em cada uso é
providenciadopelaatividadecognitivasituada”(Marcuschi,2003a:7).
3 As expressões
significado
e
significação
possuem entendimentos diversos em
contextostricosespecíficoseporistonãopodemserusadasindistintamente,e
muitas vezes como sinônimas (Marcuschi,1999;2000). Consideramos que o
significado, inicialmente nosestudossemânticofilosóficosformais,dizrespeito
apenas à relação entre os nomes e as coisas do mundo sob uma perspectiva
referencialistadalíngua.Depois,osignificadopassaaagregarumaoutranoção
além da noção de referência vericondicionalentrenomese coisas: anoção de
sentido (Frege,1978). O estudo do sentido associado à referência indireta e
intencional estudada por Frege (1978), aos nossos olhos, abre caminhos para
mostramos que podemos estudar o sentido como um objeto lingüístico
“essencialmentesóciocognitivoderesoluçãotextualdiscursivaeosemântica
doléxiconofuncionamentocontextualdeusodalíngua(Marcuschi,2004).Por
estarazão, consideramosque asignificação, estudodareferênciaassociadaao
sentido compartilhado e situado em atividades comunicativas interativas, é
diferente do estudo do significado que contempla a referência como uma
propriedade da língua e não como uma “ação praticada pelos falantes com a
língua”(Marcuschi,2003a:4).
14
4 Processos inferenciais não se restringem apenas às análises das condições de
verdadeoufalsidadedassentençasouenunciados.Elessãoresultantes,também,
de uma variabilidade de fatores que envolvem coerência, progressão tópica,
conhecimento de mundo, conhecimento partilhado, conhecimento lingüístico,
efeitos de sentido, estratégias cognitivas, construção de
frames
etc. Por isto,
muitas produções de sentido estão fundamentadas em nossas experiências e
raciocínios inferenciais, em uma relão com a língua no uso público
(Marcuschi,2000;2004);
5 A sinomia por encapsulamento anafórico é considerada neste trabalho como
umprocessociocognitivoquerealizaoperaçõesdeprojeçãodeentidadesou
atributos de entidades entre ambientes cognitivos, estabelecendo assim uma
relaçãodeequivalência ciocognitivaentreossentidosconstruídos;
6 A sinonímia por encapsulamento anafórico também é um processo de
referenciação nãonominalista que concebe a ngua como atividade cio
cognitiva que integra a cultura, a experiência e os aspectos situacionais e os
considera como fatores de interferência na determinação referencial. Nesta
perspectiva,alínguaésocialecognitiva.
Todasessasconcepçõesformamanossabaseteóricaparadefendermosa
tesedeque:
A sinonímia por encapsulamento anafórico é um processo de
referenciação que ocorre poruma equivalência de sentido construída
sóciocognitivamente.Nestaperspectiva,osentidoapresentaumponto
devista;ummodo peloqualcompreendemosalgo;umapossibilidade
de interpretação que se estabelece por um caminho inferencial
construídoemumainteraçãosocial.
Adiscussãodestaidéiaseráexclusivamentetricaafimdequepossamos
estabeleceracompreenodoqueéasinonímiaporencapsulamentoanafórico,comose
dáoseufuncionamentodiscursivoecomotemosacessoaosentidoconstrdoporela,
cognitivamente.
15
Porseremtodososcapítulosteóricos,nãoreservamosaestainvestigação
uma análise de
corpus
propriamente dito. Trabalhamos essencialmente comexemplos
retirados de Conte (2003) e Francis (2003), discutindoos e conduzindoos para a
perspectivaciocognitivadasinonímiaporencapsulamentoanafórico.Nãobuscamos
constituire nem analisarum
corpus
coletado por nós,investigando gêneros diversos,
porqueanossapreocupaçãofoidesenvolverumateoriaquefossecapazdeexplicaro
fenômeno da sinonímia por encapsulamento e tornálo vivel aos olhos dos leitores
destetrabalho, chegandose acomprovação desuaexistêncialingüística.Depoisdisto
sim,serápossível,emoutrotrabalho,abrirocampodeinvestigaçãoparavermososeu
funcionamentoemdiversosgênerostextuais.
Portalrazão,nãotemosumcapítulometodológicodedicadoaum
corpus
.
Masressaltamosqueosexemplosde Conte(2003)edeFrancis(2003)sãoexemplos
retirados do domínio jornalístico: em Conte, os exemplos originais em italiano foram
tiradosdojornal
CorrieredellaSera
eosexemplosoriginaiseminglêsforamtiradosda
revista
Newsweek
. Francis (2003) tirou exemplos da coleção de
corpor
a do
Bank Of
English
, mantido em Cobuild, Birmingham, e em particular, do
corpus
de edições
completas do
The Times
.Entendemos que osexemplostrabalhadosporestesautores
formam um corpus natural, o que já nos oferece a possibilidade de verificarmos o
fenômenodasinonímiaporencapsulamentoemaçõescomunicativaspúblicas.
Nossoobjetivogeraléteorizaroestudodasinonímiaparaalémdoslimites
jáinstituídospelasemânticaformalepelasemânticapragmática,inserindoa,também,
nocampoteóricodasóciocognição,nasinvestigaçõesdefenômenosdetextualizaçãoe
estudodoléxico.
Os objetivos específicos são dois: 1) mostrar, teoricamente, que a
sinonímia por encapsulamento pode ser considerada como objeto de investigação
lingüística;e2)queosentidoéocritérioválidoparasuaconstrução.
Arelevânciainvestigativadesteestudoéoportunizarumarevisãotrica
sobreofuncionamentodasinonímianosprocessosdetextualizaçãoenosprocessosde
seleçãolexicalsobreasbasesdeteoriassóciocognitivas.
Ametodologiadetrabalhoescolhidapornósédecaráter
essencialmente
analítico, teórico e interpretativo a partir de uma reunião de teorias selecionadas e
16
discutidas no corpo desta investigação. Esclarecemos ao leitor que todas as nossas
análisesteóricaseinterpretativasrepresentamonossopontodevistasobreoqueocorre
nofenômenochamadode
encapsulamentoanafórico
.Poistodopontodevista,antesde
tudo, é uma operação de categorização, recategorização e identificação de referentes
efetuados por sujeitos falantes em contextos de interação, conforme defendem
Apothéloz&ReichlerBéguelin (1995).
Este trabalho está dividido em quatro capítulos, desconsiderando a
introdução ea concluo. O capítulo 1 traz uma visão panorâmica sobre a distinção
entre
significado
e
sentido
, e uma discussão semânticofilosófica clássica sobre as
noçõesde
igualdade
ede
identidade
de significadodiscutidasporPlatãoem
OCrátilo
e
em Aristótelesem
DosargumentossofísticoseTópicoI
,cap.5e7,atéchegarmosà
noçãode
sentido
como
omodo
comopensamososnomesdascoisasedosobjetosdo
mundo;omodocomoconstruímoseinteragimoscomosobjetosdosnossosdiscursos
elevadoaonívelconceitualporintermédiodasexpressõesdeumalíngua.
Ocapítulo2discute
osentido
comoumcritérioválidoparaaconstrução
dasinonímiaporencapsulamentoanafóricobaseadonasdiscussõeseinterpretaçõesque
fazemos sobre alguns postulados de Frege em
Sobre Sentido e Referência
.
Apresentamos,nestecapítulo,
como
podemosrelacionarofatorcognitivoepredicativo
abordados nos estudos sobresentido e referência como fatorcognitivoepredicativo
que ocorre na sinonímia por encapsulamento anafórico mostrando porque é posvel
inserir este fenômeno nas atividades cognitivas de conceptualização. O foco deste
capítulo é mostrar que através da concepção de referência indireta e intencional
postulada por Frege (1978), nós podemos vislumbrar, mesmo que timidamente, a
natureza essencialmente cognitiva da sinomia por encapsulamento anafórico que é
determinadaporpredicaçõeseacarretamentospredicativosnousodalíngua.
Ocapítulo3apresentaoconceitodeencapsulamentoanafóricodadopor
Conte(2003)ediscuteosnossospontosdeconcordânciaediscordânciaencontradosna
sua definição, quando aplicados às nossas questões sobre a sinonímia por
encapsulamentoanafórico.Nestecapítuloabordamosaimportânciaeofuncionamento
do sintagma nominal encapsulador que apresenta o sentido neste tipo de sinonímia.
Tambémexpomos as razões pelasquais enxergamosa sinonímia por encapsulamento
comoumaformadeaçãosocialcomalíngua.
17
Por fim, o capítulo 4 traz uma convergência de aspectos teóricos
postulados por Husserl(1954), Moore (1953), Mondada e Dubois(2003), Sperbere
Wilson (1986) e Barsalou (1992) quanto a construção de 3 caminhos de acesso ao
sentidoconstruídosnasinonímiaporencapsulamentoanafórico:
1) AcessoaosentidoporevidênciaslógicoanalíticastrabalhadasatravésdaTeoria
da Consciência Intencional de Husserl (1900), a partir dos estudos de Held
(1995)quenossituacomclarezanospostuladodeHusserl.Aquidamosênfaseà
concepçãodeHusserldequenossosconhecimentosmanifestamformasvariadas
depercepçãodosobjetosdomundo,atravésdeângulosquepodemnosremeter
aoutrosconhecimentos;
2) Acesso ao sentido por inferências por evidências pragmáticocognitivas
discutidasatravésdaTeoriadaRelevânciadeSperbereWilson(1986),apartir
do olhar inovador trazido por Silveira e Feltes (1997) que apresentaram o
aspectocognitivoexistentenospostuladosdaTeoriadaRelevância.Enfatizamos
aconcepçãodeSperbereWilsonsobreofatodosindivíduosprestarematenção
apenasaosfenômenosquelhessãorelevantesaosinteressesecircunstânciasdo
momento;
3) Acesso ao sentido por inferências por evidências sóciocognitivas através da
TeoriadosframesporAtributoseValoresdeBarsalou(1992).Aênfasedadaa
estateoriaconsistenaconcepçãodeBarsaloudequeosframesapresentamuma
correlão de conceitos e um meio natural de dar conta da variabilidade
contextualnasrepresentaçõesconceituais.
Todos estes três acessos evidenciam uma forma de conhecimento, um
mododeinterpretar, decompreenderosobjetosdiscursivos,construindomúltiplas
possibilidadesdejulgamentoseaçõesatravésdeseleçõeslexicaisqueconstituemum
velcentralligadoàproduçãodesentido.
Em todos os catulos são apresentados e discutidos exemplos para
comprovação dos achados da nossa investigação. As conclusões são expostas
gradativamentenestasdiscussõesdispensandoassimum capítulolongodedicadoaestas.
Oqueapresentamoscomoconclusãoéofechamentodetodasasnossasdiscussõeseas
diretrizesparaaaplicabilidadedestetrabalhoeparafuturasinvestigações.
18
Os nossos conceitos chaves ligados à formulão da tese que buscamos
defendernestetrabalhosão:
· LÍNGUA: é ação social, é ação conjunta, é ação comunicativa que integra
experiências sociais, culturais e históricas dos indivíduos (Clark,1996;
Salomão,1999;Marcuschi,1999,2000,2003,2003ae2004;Koch,2004,2005;
KocheCunhaLima,2004;Mondada,1997;MondadaeDubois,2003);
· SIGNIFICADO:dizrespeitoàsquestõesdecondiçõesdeverdadeoufalsidade
dos enunciados nos estudos sobre a referência, na perspectiva da semântica
referencialista(Marcuschi,1999,2000,2003,2003ae2004);
· SIGNIFICÃO: diz respeito às condições de uso de um enunciado
associandoosestudosdareferênciaaosestudosdaproduçãodesentidosituado
(Marcuschi,1999,2000,2003,2003a,2004);
· CONTEXTO: é tudo o que está envolvido em uma interação comunicativa
situadaemexperiênciassociais,históricaseculturaisdomundorealedomundo
imaginário,construídasnasatividadessóciocognitivasdosindivíduosatravésde
açõescomunicativasqueocorremporprocessosassociativosdenaturezadiversa
estudados nos escopos da cognição e da sóciocognição, e que vão além da
semânticaformal(Marcuschi,2003,2003a,2004;KocheCunhaLima,2004);
· SINOMIA:fenômenoessencialmentesóciocognitivo,deperspectivatextual
ederesoluçãotextualdiscursivaenãosemântica(Marcuschi,2003a);fenômeno
de construção desentido nãoreferencialista enão representacionistadangua
(Marcuschi,2007a);
· SENTIDO: um modo de compreender algo através de experiências
compartilhadasemvivênciassociaisquesãoconstruídasnumaredederelações
sociais,históricaseculturais(Salomão,1999;Marcuschi,2003,2003a;);
· SINOMIA POR ENCAPSULAMENTO ANAFÓRICO: um processo de
referenciação que ocorre por uma equivalência de sentido constrda cio
cognitivamente. Nesta perspectiva, o sentido apresentaum pontodevista;um
modopeloqualcompreendemosalgo;umapossibilidadedeinterpretaçãoquese
estabeleceporumcaminhoinferencialconstruídoemumainteraçãosocial;
19
· INFERÊNCIA:umaestratégiasóciocognitivatextualqueintegraumconjunto
de saberes de natureza histórica, social e cultural. São cálculos cognitivos
guiadospor ações desencadeadas por contextossocialmente partilhados e que
estãonabasedascategoriasedosconceitos(marcuschi,2000;2003);
· EQUIVALÊNCIA COGNITIVA: relação inferencialemvelconceitualque
opera com o sentido que atribuímos às palavras em cada uso, e que é
providenciadoporumaatividadecognitivasituada.
Por fim, as nossas conclusões apontam que é possível considerarmos a
sinonímiapor encapsulamentoanafóricocomoumobjetolingüístico.Aexplicação
destefenômenopodeservistaemaspectosteóricosqueforampinçadosdafilosofia
da linguagem, das semânticas formal e analítica, da semântica pragmaticista, da
cognição e da sóciocognição e trabalhados ao longo dos quatro capítulos
desenvolvidos.Consideramosaindaqueosentidonasinonímiaporencapsulamento
anafóricoéumfenômenolingüísticosituadopor
evidenciar
:
· Finalidades(divertir,argumentar,ironizar,elogiaretc);
· Objetivosdinâmicosevariavelmenteflexíveisnasaçõescomunicativas;
· Eserresultantedauniãodeumasériedeoutrasaçõesconjuntasmaissimples.
20
CAPÍTULO1
DOSIGNIFICADOAOSENTIDONASINOMIA:UMAVISÃO
SEMÂNTICOFILOFICA
AquicabemuitobemaperguntaqueCarlosAlbertoFaracomepropôsum
dia,duranteumabancadeTesedeTitularemCuritiba:oquevocêdiria
sobre a verdade desse enunciado: A justiça é cega’?.” Creio que a
resposta depende das condiçõesem que empregamosesseenunciadoque
poderia ser pertinente simultaneamente com significações opostas. Sua
verificação o depende decondiçõesde verdade esim decondiçõesde
uso.Aqueleenunciadonãorefereumfato,masaconstruçãodeumfato.
Marcuschi(2007a:70)
Acitação deMarcuschinos põedefrentecomoeixodonossotrabalho
queé estudar a sinonímia nascondiçõesdeuso sóciocognitivo
1
enão nascondições
lógicas de verdade ou falsidade dos enunciados. A questão posta por Faraco pode
parecer simples de ser respondida, mas não é. Não podemos pensar em língua como
algoondeoscontextossocial,históricoeculturalnãoseintegramparaconstruçãoda
compreensãodoquedizemosedoqueosoutrosdizem.Tambémnãopodemospensar
comalínguasemumsistemalógicodeformaseconteúdos.Nãodáparadissociaros
doisaspectosquandopensamos
com
alíngua.
AposiçãoteóricaadotadanestetrabalhoéamesmadeMarcuschi,nasua
resposta. Para compreendermos algo precisamos entender em quaiscondiçõesdeuso
um enunciado é empregado para chegarmos as suas significações, que podem ser
variadas. Para Marcuschi, o termo significação nos diz muito mais do que o termo
significado,consideradopormuitasteoriassemânticasformalistascomonãoumtermo
que não é distinguido da referência sendo bastante usado dentro do contexto dos
postuladosdeumasemânticareferencialista(2007a).
21
Adistinçãoprimáriaqueapontamosestánofatodeotermo
significado
,
por estar mais relacionado aos estudos da lógica formal, debruçase veementemente
sobreosestudosdasquestõesdas
condiçõesdeverdadeoufalsidade
deumenunciado,
semenvolverocontextosóciocognitivonessarelação.Nestaperspectiva,entendeseo
significadocomoalgoconstruídonumarelaçãodiretaentrelinguagememundo,ouseja,
entreumsignolingüísticoeseureferente,ondeocontextoéoprópriodigodalíngua,
conforme nos aponta Marcuschi (1999:115) no artigo
Coerência e Cognição
Contingenciada
.Jáotermo
significação
relacionasemuitomaisaosestudosquelevam
em consideração as
condições de uso
de umenunciado no contexto no qualele está
inserido,comoosestudosdapragmática,sóciopragmática,cognição,ciocogniçãoe
outros.Nestaperspectiva,asignificaçãopassaaindicaraexistênciadeumadimensão
social envolvida no processo de estabelecimento de uma referência, ou seja, a
significaçãoéconstrdapelo
modocomousamos
aspalavrasnumdiscurso
2
.
Marcuschi(2007a)postulaquesignificaçãoéotermomaisadequadopara
sediscutiranaturezadosfenômenosdalínguaporqueestaseconstróicontinuamente
nas interações humanas, no cerne das ações comunicativas integradasàs experiências
sociais,culturaisehistóricasdosindiduos.Porisso,ascondiçõesdeusodepalavras,
oufrases,ousentençasfazeremdiferençanomododecompreendêlas.
Paraestelingüista,conhecerasignificaçãodeumenunciadoéconhecero
seu sentido expresso, ou seja, a significação é sentido + referência, conforme o tem
_
1
Asóciocogniçãoseráabordadaemcapítulosposterioresporumaquestãometodológica.
2
Uma das bases teóricas que alicerçam a distinção a qual Marcuschi faz para estes dois termos
encontraseem Putnam (1988), no livrointitulado
Représentation et Réali
,discutidoemMarcuschi
(2000),noartigo
Quandoareferênciaéumainferência
.Nesteartigo,Marcuschidefendeaidéiadeque
a análise das condições de verdade de um enunciado apresenta apenas uma preocupação que é
estabelecer a verdade ou falsidade de um enunciado com a determinação de um mundo objetivo,
chegandosedestaformaaumaexatidãodesignificado.EleconcordacomaidéiadePutnam(1988)de
que é possível não se de maneira o exata uma relação de significado com um correspondente
unívoconomundoextramente;earazãodistorepousana concepçãodequeaspropriedadesasquais
nosreferimos“nãoestãonanguamasnomodocomoausamoseaadquirimos”(Marcuschi,2000:11).
DeacordocomPutnam(p.54
apud
Marcuschi,2000:1112),tratasedeadmitirque“areferênciaéum
fenômenosocial”.Eassimconsiderandoa,“areferênciaéparcialmentefixadapeloprópriocontexto”,
ouseja,“acontribuiçãodocontextoéessencialparaquecheguemosautilizarnossositenslexicaisde
acordocomoqueosdemaisfazememnossogruposocial.Conhecerasignificaçãodeumapalavraéter
umconhecimentotácitodesuasignificaçãonosentidodesaberusarapalavranumdiscurso,enãosaber
traduzila ou saber o que ela designa ou denota. Conhecer a significação de uma palavra (...) não é
rigorosamenteconhecerum
fato
.Asignificaçãoéinteracional.Oentornoemsimesmoexerceumpapel
nadeterminaçãodo quedesignamaspalavrasdeumlocutoroudeumacomunidade”.
22
atestadoemartigoscientíficos
3
.Istoéreafirmadonoseuprojetodepesquisa
OAspecto
LexicalnoProcessodeTextualização
(2004:21):
Oproblemadasignificação(sentido+referência)écentralnesteprojetoe
deve sero principalobjetodeinvestigação.Emborajásesaibamuito
sobreaquestão,ocertoéqueaindapersistemdúvidaseasquestõesem
relaçãoàsignificaçãocontinuamabertas.
A nossa postura é a mesma de Marcuschi: significado é diferente de
significação, e ao se falar sobre a significação falase sobre sentido e referência,
indissociavelmente.Tambémconcordamoscomaidéiadequehámuitasquestõesque
continuam abertas em relação à significação. Para nós, uma delas é a questão da
sinonímianaperspectiva textualconstruindo uma redede relaçõesdesentido apartir
das nossas escolhas lexicais inseridas em contextos situados socialmente, quando
observadossobreasbasesdeperspectivassóciocognitivas.
Sendo assim, nesta investigação, partimos do prinpio que o termo
significado
relacionaseaosestudosdasemânticaformaldosenunciadoscujocontexto
sóciocognitivo está fora do seu escopo trico, e o termo
significação
é um
alongamento do termo significado porque engloba sentido e referência associados ao
funcionamentocontextual envolvidonosdiscursosenostextos.
Consideramos tamm neste trabalho, tal como Marcuschi (2000; 2004;
2007a),queocontextoétudooqueestáenvolvidoemumainteraçãodiscursivasituada
em experiências sociais, históricase culturaisdo mundo reale do mundo imaginário,
construídas nas atividades sóciocognitivas dos indiduos através de ações
comunicativas que ocorrem por processos associativos de natureza diversa estudados
nosescoposdacognãoedasóciocognição, equevãoalémdasemânticaformal.O
processoassociativoquedaremosênfaseaqui éoinferencial.
Nós assumimos a distinção entre significado e significação a fim de
defendermos, apartir destecapítulo,atesedequeasinonímiaporencapsulamento
anafórico é um processo de referenciação sóciocognitivo que ocorre por
equivalência (cognitiva) de sentido. Nesta perspectiva, o sentido apresenta um
ponto de vista; um modo pelo qual compreendemos algo; uma possibilidade de
_
3
VerMarcuschi(2000)ePutnam(1988),conformecitaçãoemnotaanterior.
23
interpretação que se estabelece por um caminho inferencial construído em uma
interaçãosocial.
4
Por este ângulo, a sinonímia passa a ser estudada como um fenômeno
essencialmente deresolão ciocognitivaetextualdiscursivaenãosemântica.Esta
passaaservistanascondiçõesdeusoenãonascondiçõesdeverdadeoufalsidadedos
enunciados. Por isso é preciso partir da distinção entre significado e sentido, pois a
sinonímia,nosestudosclássicosdasemânticaformalistalógicaeobjetivista,aindatem
sidolargamenteestudadacomoelementodecoesãoedecoerênciaporsubstituiçãode
umapalavraporoutra
demesmosignificado
,enãodemesmasignificação.
Daquiparafrenteusaremosotermosentidoconsiderandooomesmoque
significação, e buscaremos mostrar que as bases para a defesa desta nossa tese têm
início em discussões que perpassam a semântica filosófica clássica com Platão e
Aristóteles,depoisasemânticalógicaeanalíticacomFregeatéchegarmosàsdiscussões
nocampotextualdiscursivoesóciocognitivomostrandoofuncionamentodanossatese
e a sua inclusão em uma perspectiva sóciocognitiva que pode ser apontada como
possíveldesdereflexõesobtidasapartirdasemânticafilosófica.Consideramostamm
quenãohásentidosemreferênciaporissoacharmosqueotermosentidoéomelhor
termoparadefinirarelação deequivalênciaciocognitivaaqualdefenderemossera
relaçãodesentidoconstruídapelasinonímiaporencapsulamentoanafórico.
A forma pela qual concebemos este tipo de sinonímia e o sentido
construído por ela não é o postulado de uma teoria lingüística, mas o resultado de
nossasinvestigaçõesereflexõesrealizadasaolongodasleiturasepesquisasfeitassobre
a organização referencial, aspecto central nos estudos da textualização, que dá
continuidade e estabilidade ao texto, e que contribui decisivamente para a coerência
discursiva.
NasteoriasdaLingüísticadeTexto,asinonímiaéconsideradacomoparte
integrantedosestudossobreaorganização,acontinuidadeeaprogressãoreferencialno
_
4
Anossateseseráretomadaemoutrosmomentosdestetrabalho,semprenaintegra,paradarumamaior
lucidezàsnossasdiscussões.
24
texto. Ela constrói um encadeamento referencial que se organiza num sistema de
correlõescomoumaredemultidimensional,assimcomocategorizaMarcuschi
5
.
Emvirtudedisto,acreditamosqueépossívelobservarmosasinonímiapor
encapsulamento anafórico como um processo sóciocognitivo de encadeamento
referencialquemarcaaconstruçãodosentidonotexto,deslocandoaassimparaalém
da semântica lógica e formal que a estuda nos limites das condições de verdade ou
falsidadedeumenunciado,paraobserválanoscamposinvestigativosdasóciocognição
comoumtipodefuncionamentodasinonímianousosóciotextualdiscursivo.Vejamos
entãoadiferençaqueenxergamosentreostermos
significado
e
sentido
,comoprimeiro
aspectodediscussãoparateorizarmossobreasinonímiaporencapsulamentoanafórico.
1.1 OUsodosTermosSignificadoeSentido
Pode parecer, ao leitor, que estamosfalando sobre amesma coisa epor
isso é dispensável fazermos a distião entre
significado
e
sentido
. Mas, temos
observado que o termo significado, muitas vezes, é empregado para sefalarsobre o
sentido,comosefossemcorrelatos.Maisadiante,nestecapítulo,veremosquealgumas
noções desinonímia nos mostram que mesmo se falando em significado,em algumas
destasnoções,estásefalandoem sentido.
Terumavisãoclaradessadistiãonosajudaaverdoiscaminhosparao
estudodasinonímia:1)ocaminhodoestudodosignificadoporidentidade,igualdade
oucorrespondênciaentrepalavrasoufrases,ondesecontemplaareferencialidadesem
contexto de uso da ngua; e 2) o caminho do estudo do sentido entre as palavras,
fraseseenunciados,ondesecontemplaareferencialidadeeosentidonousosocialda
língua.
Umdospontosquebuscaremosdefendernanossateseéqueossentidos
noslevamaosdiversosmodosdecompreensãodeumobjetodiscursivo.Portalrazão,
assumimos a posição de que nós construirmos o sentido das coisas através das
experiências que compartilhamos nas vivências sociais. Cada um constrói
_
5
Ver Luiz Antônio Marcuschi (1998) em
Referenciação e Cognição: o caso da afora sem
antecedente.
25
individualmenteecoletivamente,numaredederelaçõessociais,históricaseculturais,o
entendimentodascoisasdomundo(Husserl)
6
.
Para observarmos uma diferença entre os termos
significado
e
sentido
devemos ter em mente que a racionalidade científica, que estuda as relações de
significado, o éaúnicalegítimaadministradoradenossasrelaçõesdeconhecimento
comarealidade.ArespostadeMarcuschiaFaraco(
aqueleenunciadoorefereum
fato,mas a construçãodeumfato
)caiem nossadefesaparamostrarqueadistinção
entresignificadoesentidoestánamaneirapelaqualolhamosomundo.Apresentamos
abaixoosdoisolhares:
Oprimeiro olhar nos diz quesenósolhamoso mundo pelasjanelasdas
reflexõesfilosóficasesemânticaslógicas
7
acreditamosquea linguageméomeiopelo
qualomundopodeserrepresentadosemhavermodificaçõesdeseusobjetosmundanos.
Alinguagemrepresentaarealidadedomundoenósestamosligadosdiretamenteaela
podendoestarealidadeseranalisável.Oquesubjaznessaconcepçãoéacrençadequeo
mundo, cada coisa e também nossa consciência seriam compostas unicamente por
elementos plenamente determinados e de sentido unívoco com conceitos fixos. A
relação entre indiduo e mundo seria transparente ecomo a linguagem é o meio de
ligação entre estes então a linguagem também seria transparente. Assim, o intuito de
fazeradistinçãoentresignificadoesentidonãoteriarazãodeser,poisambosostermos
seriamsinônimosporseremconsideradoscomotermosqueestudamasdesignaçõesou
denotaçõesdaspalavras
8
.
Se considerarmos como uma indagação epistêmicametodológica a
pergunta de Faraco
O que você diria sobre a verdade do enunciado: A justiça é
cega
?’,anossarespostaseráapenasqueesseenunciadoéverdadeiro
seesomentese
a
_
6
AbordaremosestaeoutrasconcepçõesdeHusserlnocapítulo4.
7
Aofalarmosem semânticalógica fazemos mençãoaoestudodosignificadocomoauxíliodalógica
matemática(“By‘logicalsemantics’isheremeantthestudyofmeaningwiththeaidofmathematical
logic”.),conformeLyons(1977),em
Semantics
,Vol.1,p.138.DeacordocomLyons(p.138),otermo
“semânticalógica’écomumenteusadodeformamaisrestritapeloslógicosquepeloslingüístas.Paraos
lógicos,asemânticalógicaocupasedainvestigaçãodosignificadoouinterpretaçãodeumaexpressão
constrdoespecialmenteemsistemaslógicosartificiais.
8
Nestaperspectivaasinonímiadostermossignificadoesentidoédefinidaporumaidéiadeidentidade.
DeacordocomLyons(1977:156),“duasclassesodefinidasporseremidênticas(maisprecisamente,
extencionalmenteidênticas)seesomentesecadaumadelaspossuiexatamenteosmesmosmembros”.
Nestecaso,ambostratamdoestudodasdesignaçõesoudenotaçõesdaspalavras.
26
justiça tiverolhos e que não enxerguem. Como ajustiçanão é umser vivo, mas um
conceito,nãopossuiolhos;logooenunciadonãoéverdadeiro,éfalso.
Osegundoolharnos dizquesenósnosdirecionarmos paraasreflexões
sóciocognitivas, ao invés de considerarmos a pergunta de Faraco apenas nas suas
relações de verdade ou falsidade com significados fixos, podemos considerála como
unidades de sentido conceitualmente compreensíveis cuja linguagem é o resultado da
forma como vivenciamos o mundo num campo de dimensões, articulões, ângulos,
configurações, que, em relações conjuntas, constroem o sentido (MerleauPonty)
9
.
Mediante esta perspectiva, a resposta para
O que você diria sobre a verdade do
enunciado: A justiça é cega
?, dependeria das condiçõesdeuso desteenunciado que,
resumidamente, dizemos que advêm de um vivenciar (experimentar) que pode não
coincidir, necessariamente, com a análise lógica da sentença, mas que expressa a
construçãodeummododesecompreenderalgo
10
.
Estes são os dois olhares sobre os quais podemos nos debruçar para
entendermosarespostadeMarcuschiàindagaçãodeFaraco:pelasemânticaformalista
epelaciocognão. Acompreensãodeumenunciadonãoestá,necessariamente,na
resposta a pergunta
oquesignificay ouz,
mas no modocomocompreendemosum
enunciado;eistodizrespeitoaoconhecimentoquetemossobreassituaçõesdeusode
umenunciado, podendose chegaraváriascompreensõesincluindoaquelaquesetem
comaanálisedascondiçõesdeverdadeaqualmencionamosanteriormente.Apergunta
aserrespondidadeveriaser
comovoentendeaverdadedesseenunciado:Ajustiça
écega?
,emvezde
Oquevocêdiriasobreaverdadedoenunciado:Ajustiçaécega
?.
Acreditamosqueaperguntareformuladafazcomquecheguemosà
construçãodeum
fato
enãoapenasa
referênciaaumfato
,comoasseverouMarcuschi.Eissofazmuita
diferençanomododepensarsobreoconteúdodestasperguntas.
_
9
Éinteressantelerareflexãosobreapercepçãodomundoedosobjetosatravésdavivência,dofilósofo
Maurice MerleauPonty ([1945]1972) em
Phénomenologie de la Perception
, no artigo de Erich
ChristianSchröder(1995)intitulado:
Fenomenologianoslimitesdafilosofiadasubjetividade
.
10
Éaqui quenósenxergamos ocaráter social do significado,conformetamm foi apontadopor M.
Dummett (1974) em um texto intitulado
O caráter social do significado
, discutido em Marcuschi
(2000). OqueDummettconsideracomosignificadonãoestácondicionadoascondiçõesdeverdadede
um enunciado, o significado não é objetivo e nem faz com que o sentido seja associado a certas
condições de verdade. Este pensamento se distancia do quer dizer o termo significado na semântica
lógica.PreferimosadotarotermosignificaçãocomoofezMarcuschi(2000)apartirdePutnam(1988)e
dizerqueestudarasignificaçãoéiratrásde
conhecerousodeumapalavranumdiscurso
.
27
O leitor pode estar se perguntando se a nossa discussão a respeito da
distinção entre significado e sentido não passa apenas de um ponto de vista o qual
buscamos explicitar neste trabalho. Respondemos que,de fato, ela o é. Dizemos isto
porquemuitosteóricosafirmam nãohaverumconsensosobreoqueésignificado
11
.
Arespostaparaestaperguntatemsidolugardedisputaentreestudiosos
do significado de vários campos como: filósofos, semanticistas, lógicos,psicólogos e
etc. Há aquelesquecrêemqueosignificadoéumarelaçãocausalentreumobjetono
mundo e um dado na mente. Porexemplo,quandoalguémvêumcavaloé acionado,
imediatamente, nasuamente, o conceito de cavalo. Outroscrêemqueosignificadoé
resultado de uma convenção entre os indiduos que compõem um grupo social. Há
aindaaquelesquecrêemqueosignificadodeumasentençapode serapreendido pela
explicitaçãodascondiçõesemqueumasentençaéanalisadacomoverdadeira,conforme
ofizemoscomaperguntadeFaraco.
Marcuschi(1999:115)dizque
Parasuperaroslimitesdeumasemânticadasrepresentaçõesformaiseos
limites da inferenciação lógica exigese atenção especial para algumas
noções básicas a fim de estabelecer distinções que permitam observar
melhorasatividadesdesenvolvidasnoprocessodeproduçãodecoencia.
Entre estas estão centralmente as seguintes: referência, significado,
cognição e efeito de sentido. Esses termos o usuais na semântica, na
pragmática, bem como nas diversas teorias preocupadas com aspectos
discursivos no uso da língua. Contudo, não há unanimidade em sua
conceituação.
Isto é o quetambém pensaOliveira
12
(2001:36), em
Semântica Formal
,
autoraquedestacamosaquipelaclarezacomqueexpõeestaquestão,aoafirmaroque
acabamosdeexporechamaranossaatençãoparaofatodeque:
Ousotécnicodesignificadoqueosemanticistafaznãorecobretodasas
ocorrênciasde‘significado’nalinguagemordinária.Ese,comodissemos,
_
11
Ver Maria Helena Duarte Marques (1990) em
Iniciação à Semântica
e Marcuschi (1999) em
CoerênciaeCogniçãoContingenciada
.
12
Aolongodasnossasexposiçõesfaremosváriascitaçõesaestaautorapelofatodelaapresentarum
posicionamento que condiz com o nosso quanto as questões de significado, sinonímia, referência e
sentido. Apesar de seu livro intitularse Semântica Formal, o curioso é que ela se mostra bastante
reflexiva quanto aos pontos que nós destacamos e chega a conclusões convergentes com as nossas.
Salientamos,maisumavez,queocaminhoparaentendermosasinonímiaporencapsulamentoanafórico
na perspectiva sóciocognitiva parte tanto da filosofia da linguagem quanto da semântica formal. A
explicação desta sinonímia que buscamos defender existir encontrase naquilo que está às margens
destasteorias,porestarazãotemosdiscutidomuitosdeseuspostulados.
28
ummodelosemânticodeveserconsistente,entãotemosquesaberemque
sentidootermosignificadoestásendousadoparaomantermosconstante.
Vejamososquestionamentosdaautoraparamostraralgunsusosdotermosignificado
(p.36):
(8)Qualosignificadodacorazul?
(9)Qualosignificadodapalavraazul?
(10)Qualosignificadodesteatodogoverno?
(11)Oquesignificaterfebrealta?
(12)Oquesignificaaexpressão‘terumacasa’?
(13)Oquesignificaterumacasa?
Quaisdassentençasacima, vocêacredita,descrevemmelhoroobjetode
estudosdosemanticista?
DeacordocomasexplicaçõesdeOliveira,senósrespondemosàpergunta
aludindo aos itens (9) e (12) estamos certos, por termos o conhecimento que o
semanticistasepreocupacomosignificadodesentençasepalavras.OsItens(8)e(9)
mostramsedistintosporpodermosdardiferentesrespostas.
Oitem(8)indagasobreosignificadodealgonomundoeparadarmosa
resposta dependeremos de um contexto, como exemplifica a autora ao dizer que se
considerarmosumcontexto de aulasobrea técnicadeFengShui, a respostaserá
o
azul significa espiritualidade, porque é um elemento terra e está associado ao
hexagramaKendoIChing,amontanha
.Masseocontextoforumaprovadefísica,a
resposta será
cor da radiação eletromagnética de comprimento de onda
compreendido, aproximadamente, entre 480 e 510 milimícrons”
. Oliveira diz que as
duasrespostasnosremetemàmetafísica,umadescriçãodecomooazulénarealidade,
considerandoocomoumfenômenonomundo.
noitem(9)estamosdiantedeumquestionamentosobreosignificadode
azul
em uma dada ngua. No caso da língua portuguesa poderíamos apontar uma
amostra de azul no mundo, nos deparando com o significado de uma palavra
relacionado ao objeto no mundo, apontado, “dedado” pela palavra, como Oliveira
explicita, numa teoria referencial do significado. Aqui entram também as possíveis
29
respostas dadas por diciorios ou traduções para uma outra ngua conhecida do
falante.
Ositens(10) e(11) seaproximamdo item(8) porperguntaremsobreo
que significa certo fenômeno ou evento no mundo. Febre significa doença, o ato do
governosignificafechamentodasuniversidadespúblicas.Em(12),Oliveiranosdizque
sóépossívelumtipoderesposta:osignificadodosintagmaverbal
terumacasa.
Por
exemplo,terumacasasignifica
teraposselegaldeumaresidência.
em(13)háumapossibilidademuitomaiorderespostasdependendoda
situação em que a frase é usada, como por exemplo:
deixar de pagar o aluguel
. A
autora(p.39)afirmaqueem(13),ofalantesupõequeseuinterpretesaibaosignificado
das palavras que ele está usando e está perguntando o significado de um evento no
mundo”. O contrário disso ocorre em(12), cujo “falante pretende que seu intérprete
percebaqueelenãosabeosignificadodaspalavrasequerqueoesclareçaprecisamente
sobre esse aspecto”. Essa é a postura da semântica formal, de acordo com Oliveira
(p.39).
É interessante a forma como esta autora expõe a multiplicidade de
respostasquepodemosdarparaaperguntaoqueésignificado?.Comojádissemos,as
análises da autora são bastante esclarecedoras, o que nos faz concordar com a sua
exposição e aproveitarmos o ensejo para chamarmos à atenção do leitor para o que
ocorre nos itens(8) e (9), quenosservemdeamostraspara adistiãoque fazemos
entresignificadoesentido.
No item (8) as duas respostas para o significado da cor azulenvolvem
questõescontextuaisqueconstroemdiversaspossibilidadesinterpretativasbaseadasem
relaçõessóciohistóricoculturaldosindivíduos.Estaspossibilidadesinterpretativassão
consideradas por nós comoos sentidosconstruídos, enão como ossignificadosda
cor azul. A pergunta
Qual o significado da cor azul
?não indaga, também paranós,
sobre o significado da palavra
azul
, como em (9); mas, de acordo com o que
defendemosnestetrabalho,elaindagasobrecomo
entendemos
acorazulemumadada
situação de uso da ngua. Por isso podemos ter respostas variadas dentro de uma
mesmalíngua,comofoiapontadoporOliveira(2001:37).
30
RelembremosanossadiscussãosobreaperguntadeFaracoearespostade
Marcuschi.Sesairmosdaperspectivareferencialdalínguanoescopodeumasemântica
formalistalógica,querelacionaumapalavraaumobjetonomundo,deformadireta,nós
veremos que a pergunta
Qual o significado da cor azul
? o busca
referir um fato
,
busca
aconstruçãoqueumindivíduotemdeumfato
.TalcomonosafirmouMarcuschi,
no final da citação de abertura destecapítulo. Deste modo, os itens (8), (10), (11)e
(13),sesãoquestõesdemetafísicaounão,nãoimporta.Oqueimportaéqueessesitens
indagam
osentidoconstruído
pelos sintagmas,dependendo dassituaçõesemqueeles
o usados. Aqui reside a diferença entre significado e sentido. Essas questões são
tratadasforadasemânticalógica,comoveremosmaisadiante.Elasestãoinseridasno
campo de uma pragmática cognitiva, como nos apontam Silveira e Feltes (1997) ao
mostraremofortecomponentecognitivonapragmáticadeSperbereWilson(1986),e
também da sóciocognição, como tem abordado Salomão (1999) e (Barsalou, 1992),
teóricos que abordaremos no capítulo 4 deste trabalho para mostrarmos o
funcionamentodanossanaperspectivasóciocognitiva.
Diante destas considerações, nós entendemos que a sinonímia é um
fenômeno
13
deconstruçãodesentido,nãoreferencialistaenãorepresentacionista
dalíngua.Assimcomoaspalavrasefrasesisoladasnãodemonstrammaisqueregras
lógicas de verdade ou falsidade ou pressupostos silosticos vericondicionais, a
sinonímia nesta perspectiva também não demonstra mais do que a ponta de um
iceberg
14
.Oquesubmergeémuitomaiscomplexodoqueimaginamos,poisneleestáo
sentido e seusdiversos modos de construção. Na superfície estão os significados das
palavras e sentenças tão bem trabalhados pela semântica lógica formalista cujopapel
principal“é fornecero significadodeumasentençasemfazerreferênciaaospossíveis
usoseaçõesquecomelaseproduzem”(Oliveira,2001:50).
AsinonímianaperspectivadosignificadonaSemânticaLógica,aplicadaàs
línguasnaturais,nãoabarcausoseaçõesconstruídosnassentenças;cabenosrecorrerà
FilosofiadaSemânticapara seentendercomoépossívelenxergarmoso fenômenoda
sinonímiacomoconstrutordesentidoentrepalavraeconceito.
_
13
Fenômenoéumapalavraqueusamosdeformagenérica.
14
Tratasedametáforado
iceberg
propostaporKoch(porexemplo,Koch,2002).
31
AnossaexcursãopelaFilosofiadaSemânticapartedeumapergunta:na
sinonímia, a relação existente entre palavras e conceitos é naturalmente
predeterminada ou é uma construção social? Responderemos esta questão com a
análise dos exemplos abaixo, retirados do artigo
Aspectos Problemáticos numa
SemânticaLógicaparaLínguasNaturais
,deMarcuschi(2007a:17):
1Ospequenosladrõessãopresoseosgrandesficamsoltos
2Prendemseosgrandesesoltamseospequenos
Para uma semântica lexicalista que esclarecesse ou descrevesse o
significado de
pequeno
,
ladrão
,
preso
,
grande
, etc, a verdade da
sentença1continuariaobscura,dadoquesemacompreensãodocontexto
cultural,relaçãocomcontextospragmáticos,etc.,seusentidonãoficaria
determinado.Seriaimpossívelinclusivedecidirsobresuaverdade,jáque
nãoseteriapropriedadealgumadoenunciadoesimapenasdepalavras.
Caso a análise lexicalista fosse completa com a informação sobre o
conteúdo doslexemasqueocomem,elateriaomesmovalorverdadee
interpretaçãoqueasentença2.Contudo,ossentidosde1e2diferemem
vários aspectos e ambas as sentenças diferem entresi diversamentedo
que as palavras que entram em 1 e 2. Isso pode ser tomado como
evidência para a pouca serventia que oferece uma análise isolada de
palavras quando elas funcionam num sistema de relações, ou seja,
quandoaparecemempregadasemsentenças.
Se as palavras e os conceitos fossem naturalmente predeterminados as
palavraspequeno,ladrão,presoegrandeteriamumarelaçãosinonímicanasfrases1e
2, mas isto não ocorre. O que apreendemos dos exemplos dados por Marcuschi e
tambémdasuaexplicaçãoéquepalavraseconceitossópossuemrelõesdesignificado,
e mesmo assim predeterminado e não
naturalmente
predeterminado, quando vistos
isoladamente. Se estes forem vistos numa interação discursiva serão frutos de uma
construção social. Portanto, podemos ter as duas respostas a depender do ângulo de
observaçãodalíngua.
Este trabalho não nega que palavras e conceitos possuem significados
predeterminados, masconsidera queestespossuemsempresignificadosnimoscujos
sentidos são conhecidos ou acessados quando empregamos essas palavras e seus
conceitosmínimosemumsistemaderelaçõesconstruídassocialmente.Porissopalavras
e conceitos não possuem relações de significado naturalmente predeterminado. A
perspectivaadotadaaquiédequepalavraseconceitosexpressamsignificadosmínimos
quandopermitemacessosaumainterpretaçãoapenasdeconteúdosemânticosentencial.
32
Oacessoaosentidoépossívelquandopalavraseconceitosestãoinseridosemsituações
socialmenteconstruídas.Daíoestudosobresignificadoentrelexemasnãodarcontada
sinonímiaporencapsulamentoanafóricoemumainteraçãodiscursiva,poisestatratada
construçãodeumareferênciasocialcomumasignificaçãotambémsocial.
Esclarecida a distinção que fazemos entre significado e sentido, nós
precisamosentenderarazãopelaqualoestudodosignificadonãodácontadestetipode
sinonímia. Por issoé necessário discutir agora a trajetória da vio de significado nas
noções de igualdade ou semelhança, e identidade na sinonímia, desde as bases
semânticofilosóficasdasdiscussões a respeito do que ésignificado nasrelaçõesentre
nomes e coisas até chegarmos à noção de sentido na sinonímia, e não mais de
significado.Vejamosadiscussãoarespeitodasnoçõesdeigualdade,deidentidadeede
sentidoquepodemosatribuiràsinonímia.
1.2 OSignificadonaSemânticaFilosóficaCssica:anoçãodeigualdadena
sinonímia
Aarbitrariedadedosignoéoprimeiropontodediscussãotravadopelosfilósofos
da Antigüidade cujo ponto de vista inicial era de que o significado das palavras era
representado pelaspalavraseera tamm arbitrário.
Osfilósofosgregos,desdeoséculoVa.C.,sepreocupavamcomasinvestigações
sobre a origem e a natureza da língua interessandose por descobrir a relação de
nomeação que havia entre as palavras e as coisas. A história da lingüística ocidental
começacomumgrandeconfrontodevisõessobrealíngua,fundamentalmenteopostas:
a) ngua como fonte de conhecimento; e b) língua como um simples meio de
comunicação.Aquestãofundamentalaserrespondidanaquelaépocaera
:
alínguatem
algum vínculo direto e essencial com a realidade, espiritual ou física, ou é
puramentearbitrária?
Asimplicaçõesdessaperguntapropõemdoispontosdevistasicosnosestudos
lógicofilosóficos,deacordocomRobins(1967:Cap.2):
1 Sealíngua,dealgummodo, contém ou espelhaarealidade, então oestudo da
línguaéumcaminhopossívelparaoconhecimentodarealidade;
33
2 Porém,sealínguaéarbitrária,entãonadademaiorimportânciapodeserobtido
com seu estudo. O objetivo da lingüística será então o entendimento da
língua(gem)enadamais.
Dos Retóricos até Platão, os problemas discutidos na filosofia da linguagem
consistiam em saber até que ponto as normas consagradas, as instituições e os
julgamentosdoqueeracertoouerrado,justoouinjustoetc,erambaseadosnanatureza
dascoisasouatéquepontoeramessencialmenteprodutosdeumaconvençãotácitaou
mesmodeumalegislaçãoexplícita.Asquestõesgeraisversavamsobretrêspontos:
1)Anaturezadalinguagemesuarelaçãocomahumanidade;
2)Alinguagemeopensamento;
3)Alinguagemearealidade.
Nosfragmentosconservadosdastesessofistasencontraseumtextodofilósofo
Górgeas
15
(séc. V a.C.) que proe uma reflexão sobre a capacidade de verdade ou
falsidade da linguagem, ou do discurso. Para este filósofo, defensor da tese sobre a
impossibilidade de haver um discurso verdadeiro, “o discurso não manifesta o objeto
exterior;aocontrário,éoobjetoexteriorquesemanifestanodiscurso”(Górgeas
apud
Nef(1995:12).
ParaGórgeasodiscurso(logos)eraconcebidocomooresultadodasimpressões
sensíveiseacadaimpressãogeradaporum
sentido
corresponderiaumtipodediscurso
relativoaessaimpressão.Ouseja,odiscursoserealizariaemsimesmo,seriaincapazde
apreenderumaestruturageralcomumaosdiferentescampossensoriais,dependeriadas
impressões.Nassuaspalavras,
Pois se existem seres visíveis, audíveis e universalmente sensíveis, e de
umaexistênciaquenoséexterior,dessesseres,osvisíveissãopercebidos
pelavista, osaudíveispeloouvido,eessessentidosnãopodemtrocaros
seus papéis. Assimsendo, comosepoderevelaraoutrem essesseres?
Poisomeioquetemosderevelaréodiscurso;eodiscursonãoénemas
substânciasnemosseres:nãosãopoisosseresquenósrevelamosàqueles
que nos cercam; nós só lhes revelamos um discursoque édiferentedas
substâncias. (...) Quanto ao discurso (...), sua constituição resulta das
impressõesvindasdosobjetosexteriores,istoé,dosobjetosdasensação:
doencontrocomoseusabornasceemnósodiscursoqueseráproferido
comrelaçãoaessaqualidade,edaimpressãodacor,odiscursoreferenteà
cor.Seéassim,odiscursonãomanifestaoobjetoexterior;pelocontrário,
_
15
Essaquestão encontraseemFrédéricNef(1995)nolivro
Alinguagem:umaabordagemfilosófica
.
34
é o objeto exterior que se manifesta no discurso (Górgeas
apud
Nef
(1995:12).
Umaspecto que achamosinteressantenadefinãodediscursodergeaséo
uso do termo
sentido
. Não podemos afirmar que para ele sentido e significado são
correlatos, a nossa impressão é que não são. O que podemos arriscardizer é que ao
definir discurso como resultado das impressões sensíveis de cada um, Górgeas nos
permite entender nas suas entrelinhas que existe no discurso algo que vai além do
significadosentencial.Porestaperspectivadeobservaçãonosparecemaisacertadoter
sidousadootermo
sentido
eaoinvésdotermo
significado
,tal comoofezGórgeas.
Opensamentocontidonestacitaçãodergeas,sobreatesedaimpossibilidade
de um discurso verdadeiro, foi importante para a oposição de Demócrito entre
naturalismo e convencionalismo nosquestionamentossobrealinguagemea realidade.
Nodiálogochamado
Crátilo
16
,
dePlatão(finaldoséculoVa.C.),ascontrovérsiasentre
essas duas questões é discutida entre Hermógenes e Crátilo ao formarem umdiálogo
comSócratesparaouviremesteúltimofalarsobreajustezadosnomes.
AposiçãonaturalistadefendidaporCrátilopartiadoprincípioqueosignificado
na linguagem era natural, a alma era a fonte de origem dos nomes de acordo coma
forma derepresentaçãoque esta possadasdiversasrealidades.Oresultadodissofoi
umavisãodelínguacomo
espelhoexatodomundo
.
O convencionalismo defendido por Hermógenes assegurava que no significado
não havia umacorrespondência direta entre o nome e a coisa, entre estes havia uma
variávelderelaçõesedefenômenossemânticosimportantesqueinvalidavaaconcepção
delínguacomoespelhodarealidade.Osnomeseramarbitráriosepodiamserimpostosà
vontade. Para refutar a posição de Hermógenes ao dizer: “Para mim, seja qual for o
nome que se dê a uma determinada coisa, esse é o seu nome certo; e mais: se
substituirmosessenome por outro, vindoacairemdesusooprimitivo,onomenãoé
menos certo do que o primeiro” (384, d), crates se apóia na afirmativa de que as
proposiçõesnospermitemfalar
arespeitodascoisas
,sejamelasverdadeirasoufalsas,
pois“épossíveldizerpormeiodaspalavrasoqueéeoquenãoé”(385,b).
_
16
UsamosatraduçãodeCarlosAlbertoNunes.Belém,UniversidadeFederaldoPará,1973.
35
A posição de Sócrates nos permite pensar que, para ele, osnomesconstituem
formas convencionais com significados convencionais e que, também, entre nomes e
coisasháumelodeconaturalidadequegaranteoseuconhecimento.Ouseja,referindo
seasproposiçõesàscoisascomoelasrealmentesão,entrasenocampodaverdade.
Paraestefilósofoaspalavrassãoinstrumentosdessaverdade.Noatododizer,o
usodosnomeseasuaformaenunciativaproposicional,queserevelaemconhecimento,
oinseparáveisdaaçãodedarinformaçãounsaosoutrosededistinguirascoisasda
maneiracomoelasestãoconstituídas.PorissoSócratesdizque:
Assimsendo,conviránomearascoisaspelomodonaturaldenomeálase
serem nomeadas, e pelo meio adequado, não como imaginamos que
devemos fazêlo, caso queiramos ficar coerentescom oqueassentamos
antes.Sóporessemodoconseguiremos,defato,darnomeàscoisas;do
contrário, será impossível” (387,d). ...O nome, por conseguinte, é
instrumento para informar a respeito das coisas e para reparálas, tal
comoalançadeiraseparaosfiosdateia(Sócrates,388,c).
É instigante percebermos que a obra
Crátilo
defende a idéia de que
o é
possível a relação direta entrenome ecoisa enem aseparaçãocompleta deambos
.
Para dar nomesàs coisasé precisoconhecêlas,e para conhecêlaséprecisoque elas
tenhamnome.Assim,osnomessurgemcomalinguagem,sãomantidosereformulados
nalinguagem.
O resultado deste pensamento é quePlatão tornouseum grande precursor de
umadasdiscusescentraisdafilosofiadalinguagem:
adiscussãoarespeitodaforma
como o mundo está organizado
. O personagem
Crátilo
apresenta a concepção do
mundo como um museu onde para cada objeto temse um nome adequado que o
categorizadeformadefinívelemsuascategoriasperantetodososindiduos.
36
Este aspecto foi batizado culos mais tarde por Quine como o mito do
museu
17
.Istoé,omundoestariatodoetiquetadoláfora,comoaspeçasdeummuseu.
Ecompreenderessemundoseriaconhecerascoisasqueestão“láfora”.
Essavisãodemundoedelínguaconceituaosignificadocomoalgoqueacontece
pelas características necessárias que os objetos do mundo precisam ter para serem
reconhecidoscomtal.Onome
Homem
teriasignificadoquandoaplicadoaoindivíduodo
sexo masculino, com as características corporais próprias da masculinidade. Logo,
nomearcorretamenteserianomeardeacordocomaexistênciadessascaracterísticasnos
indiduos,osnomesdealgumamaneirarepresentariamessaestrutura.
Isto quer dizer que se aplicarmos de forma correta um nome a uma coisa, o
acessoaosignificadoserágarantidopelaspropriedadesqueessacoisapossui.Postular
que os nomes são propriedades de seus objetos é dizer que a língua é espelho da
realidade,equeosignificadoporelaestáaprisionadonascaracterísticasdeseusobjetos
mundanos.Eisso,sabemos,éumaposiçãoextremista.
Esta é uma perspectiva ontológica e tradicionalista do significado, que o
consideracomoumacorrespondênciainstituídaeatribuídaaumtermo.Ouseja,como
uma representação direta entre nome e coisa. Assim, a noção de sinonímia como
fenômeno de substituição por igualdade de significado entre nomes é plenamente
justificada.Sãosinônimasaspalavrasquepossuemomesmosignificadoisolado,epor
issopodem serpermutáveissemacarretarmudançadesignificado.
_
17
Quine, vinculado por herança aopositivismo lógico, casa atendência da filofica analíticacomo
pragmatismo norteamericano clássico e aplica ao que chama de “teorias semânticas acríticas” a
expressão “mito do museu”. Para Quine, as semânticas acríticas em o significado com a mesma
percepção do homem comum, de certo modo a mesma da filosofia tradicional. Para as semânticas
acríticas, a mente do homem é concebida como um museu no qual internamente váriaspeças em
exposição nas vitrines (os significados), e em todas essas peças estão associados os seus rótulos (as
palavras).PorissoQuinepostulouque,sobessaperspectiva,trocardelinguagemeraapenastrocarde
rótulos,conservandoaspeçasdo“museumental”.UmdospontoscentraisdeinvestigaçãodeQuinefoi
responder à pergunta ‘O que vêm a ser o significado e as condições de verdade das declarações
lingüísticas?’. Quine vai de encontro ao pensamento positivista lógico que diz que a análise da
linguagemesuaassepsiasãopossíveisemvirtudedosignificadodassentençasdalinguagem,etambém
suas condiçõesde verdade, serem algonítidoedetermivel. Estepressupostoé abaladopelatesede
Quinesobrea
indeterminabilidadedosignificado
,queéjustamenteofatodenãoserpossíveletiquetaro
significadocomosefazàspeçasdeummuseu,criandoseumalinguagemprivadaatalpontodetornar
seuma linguagem oaprendida socialmente ondese pressupõeque cadaindivíduo possuiumplano
mental interno e privado criado fora de uma vivência social. É interessante ver essa discussão em
Ghiraldelli,P.(2003:131136)enopróprioQuineem
DoisDogmasdoEmpirismo
(1975).
37
IstonoslembraoqueOliveira(2001:71)afirmasobreasinonímianaperspectiva
da semântica formal ao apresentar duas frases: (21)
Jo é casado
e (22)
Jo é
solteiro
18
.
Elaenfatizaquenasquestõesdesinonímia,
O problema está na exigência dequeas sentenças expressemo mesmo
significado. Note queseJoãoécasado, enoelenecessariamentenãoé
solteiro, mas o inverso não é válido. Se João não é solteiro, ele o é
necessariamentecasado.Elepodeserdivorciadoouviúvo.Portanto,elas
não expressam precisamente o mesmo conteúdo, suas condições de
verdadeooexatamenteas mesmas,tantoquea sentença em(22)é
verdadeiraseJoãoéviúvoeasentençaem(21)éfalsanessasituação
.
Estepensamentoétambémonossopensamentonestetrabalho.Acreditamosque
parahaversinonímiaexata,assentençasdevemserverdadeirasnasmesmascondições
deusoeestaéumarestriçãomuitorígidaimpostaàsinomia,porquesepensarmosem
algumcontextosituacionalarelaçãode
omesmo
significado,de
exatidão
designificado
pode ser quebrada. Eis um argumento o qual não podemos perder de vista nesta
discussão a respeito da noção de igualdade na sinonímia, pois este argumento é
facilmente derrubado se pensarmos na tese da
indeterminabilidade do significado
de
Quine ou ainda nas concepções de M. Dummett (1974) sobre o
caráter social da
linguagem
ou de Putnam (1988) sobre
a referência ser um fenômeno social
.
Contribuições estas trazidas por perspectivas pragmáticas e também sóciointerativas
preocupadascomocarátersocial,histórico,dinâmicoenãotransparentedalíngua.
Mas,voltandoao
Crátilo
,ateoriadeHermógenestamméextremista.Paraele
a língua estaria a mercê” da vontadede cada indiduo. Qualquer nome poderiaser
modificadoemesmoassimhaveriaoreconhecimentodoseuobjeto.Oatodesignificar
recaisobreousuáriodalínguaedependedeconheceroquesepassanasuacabeçapara
sechegaràcompreensão.Maisumavezestamosdiantedeumaperspectivaontológica,
comadiferençadeserooutroladodaextremidadedopensamentodeCrátilo
.
ComomediadordadiscussãoentreHermógeneseCrátilo,cratesexpõequeo
atodenomearrepresentaapenasumafasedoprocessoqueintermediaonomeeacoisa;
éuminstrumentoqueviabilizaconstruiracompreensãodascoisas.Osignificado,por
esseângulo,érepresentadopelarelaçãoentrenomeecoisanoatodenomear,epor
issoestáem“corelação”comonomeeoobjeto.
_
18
EncontramosadiscussãosobreestasduasfrasesemQuine(1975),em
DoisDogmasdoEmpirismo
.
38
Apesardecratesbuscarumamediação,aidéiaderepresentaçãodarealidade
continuaser abasedalinguagem sobopressupostodequealínguaéumespelhodo
mundoeoqueexisteéumarelaçãobiunívocaentrelinguagememundo.Sendoassim,a
relaçãoentrenomeecoisacontinuaaserarbitrária.
Contudo, é importante frisarmos que Platão, no diálogo
O sofista
, chegou à
conclusãodequea verdadee afalsidadenãosãopropriedadesnemdaspalavrasnem
dosfatos,masdosenunciados.Oquefoimuitoimportanteparaseestudarosignificado
saindodoeixodaspalavrasparaoeixodasentença.
Uma das posições adotada por este filósofo era de que ao se tratar da
possibilidade do falso nos enunciados nos deparamos com dois veis de distinção
importantes:
19
1)oníveldonomear(
onomazein
),veldasintaxequecombinanomes
e verbos; e 2) o nível do dizer (
legein
), vel que formula em que condições um
enunciadoéverdadeiroesignificativo.O
legein
tratadodiscursopropriamenteditono
qualsediscorresobreasexpressõeseo
onomazein
tratadadenominação,danomeação
dasexpressões.ParaPlatão,umdiscursodiscorresobreumaproposição(
leigen
)enão
apenas nomeia uma proposição. Parecenos aqui que para Platão, o significado na
nomeaçãoémaisrestritoquenodiscursoondeasproposiçõespodemserentendidas,de
fato,comoverdadeirasoufalsas.
Em resumo, as correntes clássicasda Idade Antiga discutem basicamente duas
concepçõesdesignificado:
1)Secadapalavradalínguanomeiaumaentidade,umacontecimentodarealidade,o
significadodeumapalavraéentãoacoisaporelanomeada,oseureferente;
2)Seaspalavrassãoconcebidascomoreflexodarealidadee,emsuasrelaçõescom
os estados de coisas, não há verdadeiramente relação explícita entre linguagem e
pensamento. Logo, o significado de uma palavra é uma construção que se dá nas
relaçõescomosestadosdecoisasdomundo.
_
19
ParaessadiscussãoverFrédéricNef,Cap.I(1995).
39
Todavia,essadiscussãosofreuumamudançanaviradadaIdadeAntigaparaa
IdadeMédia, poisAristótelespostuloucomrigoreclarezaqueaúnicarelaçãológica
para se analisar a questão da verdade é aquela que se estabelece entre o sujeito e o
predicado.Paranossainvestigação,issoimplicaemumamudança nanoçãodesinonímia
como
igualdade
entre palavras e coisas para a noção de sinonímia como
identidade
entre palavras e coisas, caracterizandose para nós como uma possibilidade de se
enxergarumafasedetransiçãonaperspectivadosignificado,aqualaproveitamospara
mostraranossaconcepçãodeequivalênciadesentidonasinonímiaporencapsulamento
anafóricocujapredicaçãoéumelementoimportantedesuaconstituição.
1.3 DoSignificadoao SentidoemAristóteles:anoçãodeidentidadenasinonímia
NospostuladosdeAristótelesem
Dosargumentossofísticos
20
(cap.6)
,
aanálise
danaturezadarelaçãoentrelinguagemepensamentopassapeloviésdaidentidadede
um pensamento expresso por asserções diferentes. Assertivas e pensamentos são
combináveis
paraa formação de umpensamento verdadeiro. Este filósofochamoude
identidadearelaçãodesignificadoexistenteentrenomeecoisa,aoinvésdeusarotermo
‘igualdade’ como acabamos de ver na noção de igualdade na sinonímia. Segundo ele
(Cap.1:515),
Éimpossívelintroduzirnumadiscussãoasprópriascoisasdiscutidas:em
lugar delas usamos os seus nomes como símbolos e, por conseguinte,
supomos que as conseqüências que decorrem dos nomes também
decorram das próprias coisas, assim como aqueles que fazem lculos
supõemomesmoemrelaçãoàspedrinhasqueusamparaessefim.Mas
osdois casos(nomes ecoisas) nãoosemelhantes, poisosnomessão
finitos,comotambémoéasomatotaldasfórmulas,enquantoascoisas
oinfinitasemnúmero.É inevitável,portanto,queamesmafórmulae
umnometenhamdiferentessignificados.
Nestacitação,Aristótelesnosfalasobrearelãocom aquiloqueelechamoude
conseqüenteequeexistequandoserefutaumargumento.Deacordocomestefilósofo,
algumas pessoas supõem que a relação de conseqüência é conversível.Ou seja,
_
20
Estediscursotratadosargumentossofísticosquepareciamserargumentosourefutações,masquena
realidadenãopassavamdeilogismos.
40
“sempre quando A existe, B necessariamente também existe, existindo B, A tamm
deve necessariamente existir” (Cap.5: 167b, 5). A conclusão a qual ele chega é que,
daínascemtambémosenganosrelacionadoscomasopiniõesquesebaseiamna
percepçãodossentidos”.
Anoçãodequeosenganosnascemdasopiniõesquetêmporbaseossentidos
nosdáapossibilidadedefazermosumaoutraleituraaqualdizrespeitoàdistinçãoque
fazemosentresignificadoesentidoparaaconstruçãodasinonímiaporencapsulamento.
AaparentesimplicidadedopensamentodeAristótelesnoslevaaumareflexão
complexa, pois nos parece que neste ponto do seu discurso em
Dos Argumentos
Sofísticos
,noséapresentadaumapequenabrechaporondeépossívelnosperguntarse
paraele,defato,
significado
e
sentido
expressavamamesmacoisa.Asdiscussõesque
faremosadiantenospermitemousardizerquenão.
Emmuitas passagens
Dos Argumentos Sofísticos
e tambémde
TópicosI
21
, de
Aristóteles, encontramos pontos de convergência com os exemplos de Oliveira
(2001:71)analisadosnoitem1.2destecapítulo.Recapitulemososexemplos(21)J oé
casado e (22) J o é solteiro. Ambosseguem o seguinte raciocínio, naspalavrasde
Oliveira:seJoãoécasado,entãoelenecessariamentenãoésolteiro,masoinversonão
éválido.SeJoãonãoésolteiro,elenãoénecessariamentecasado”.Esteraciocínionão
parecediferirdopensamentodeAristótelesaosugerirserumequívocoasuposiçãodas
pessoasdeque“semprequando
A
existe,
B
necessariamentetambémexiste,existindo
B
,
A
também deve necessariamente existir”. Oliveira aplica nos exemplos (21) e (22) a
relação de conseqüência de Aristóteles e nos mostra que nem sempre ela pode ser
conversível,conformepostuladoporeste.
Comoarelaçãodeconseqüêncianemsempreéconversível,asnossasreflexões
noslevamaquestionarasustentabilidadedealgumasdefiniçõesclássicasdesinonímia
como vocábulos de significado muito parecido ou até mesmo igual
22
, ou aspecto
_
21
Discursoquefalasobreoraciocínioeassuasvariedadesafimdesechegaràcapacidadedereplicar
um argumento para evitar dizer algo que venha a embaraçar a si mesmo, proporcionando o
entendimentodoraciocíniodialético.
22
VerMariaMargaridadeAndradeeJoãoBoscoMedeiros,2000.
41
queserefereàigualdadesemânticaentrepalavrasousentençasqueexpressamo
mesmosignificado
23
.
Arazãoquenosconduzaestequestionamentoresidenoargumentousadopor
Aristóteles que diz que as opiniões se baseiam na percepção dos sentidos. Sendo
assim,oaspectodeigualdadeousemelhançadesignificadosemânticoentrevocábulos
deve, obrigatoriamente, contemplar o sentido e o apenas a referência de um nome
quando se fala em significado entre nomes. Isto foi demonstrado por Oliveira nos
exemplos(21)e(22),poisoraciocínioinversosópodeseradmitidoseconsiderarmoso
sentidocomoacausaparanãoseterestabelecidoumarelaçãodesinonímiaentre
Joé
casado
e
Jo o é solteiro
. Mas, pelas definições clássicas de sinonímia já
apresentadas, estas duas sentenças são sinonímicas por constituirem uma igualdade
semântica:umdossignificadosdesersolteiroénãosercasado.
Se consideramos correta a explicação dos exemplos (21) e (22), e nós a
consideramos, devemos admitir que existe no miolo dessa discussão, como pano de
fundo, uma distinção entre significado e sentido. Por isso nãoserpossívelobterse o
inversoem(22),poisnesteocorreapercepçãodeumsentidoquantoaousodotermo
solteiro.Afirmarque
nãosersolteiro
nãoimplicanecessariamenteem
sercasado
,éuma
percepção que acreditamos estar ligada a um sentido atribuído a expressão ‘homem
casado’equepoderiaserporexemplo
24
:
(a)Umhomemquevivejuntocomalguémcomosefossecasado,masnãoé;
(b)Umhomemquepossuinamorada,eporissonãoestásolteiro,mastambémnão
écasado.
É interessante a maneira como construímos a relação de sentido em(a) e(b),
pelaleicivil(a)e(b)sãosolteirosporquenãosãocasadoslegalmente,masporvalores
relacionadosacomportamentossócioafetivostemososeguinteraciocínio:
(a) é um nãosolteiro, porque mora junto com alguém como se fosse casado e ao
mesmotempoéum nãocasado,porquenãoécasadopelaleicivil;
(b)éum nãosolteiro,porqueécomprometido,etambém um nãocasado, porquenão
_
23
VerRobertaPiresdeOliveira(2001).
24
Osexemplos(a)e(b)sãonossoseasanálisestambém.
42
mora junto com ninguém. Como se pensar na sinonímia nestes casos?
25
Não há
igualdadedesignificadoem sersolteiro em(a)e(b).Sãosentidosdistintos.
No capítulo10
DosargumentosSofísticos
,Aristótelesreafirmaaexistênciade
uma relação indireta entre nomes e coisas e sugereque o silogismonão seapresenta
como uma condição
sine qua nom
que assegura o sentido de uma assertiva, pois a
impressão que se tem da coisa é que assegura o sentido. De acordo com esse
posicionamento trico, parecenos pertinente dizer que para este filósofo o termo
significado
aplicavaseàexpressãoeotermo
sentido
aplicavaseaopensamento.Isto
implica inferirmos que para Aristóteles, o pensamento era de natureza conceitual e
tambémcognitiva,emboraelenãotenhausadoostermos
conceito
enem
cognitivo
.
Em uma de suas afirmações ele diz que quando alguém “se dirigi contra a
expressão”, não quer dizerqueestejasedirigindo “contra o pensamento”. Oexemplo
que ele nos oferece é o da ambigüidade e da multiplicidade de significados de uma
expressão como formas de argumentar sobre a expressão. Mas quando não se está
argumentando sobre os vários significados de uma expressão, está se argumentando
sobreopensamentoqueveiculaumaexpressão:sobreosentido.
PodemosveresteraciocínionaexplicaçãodeOliveira:
seJoécasado,então
elenecessariamenteoésolteiro,masoinversonãoéválido.SeJooésolteiro,
elenãoénecessariamentecasado
”.Nasegundasentençaoargumentorecaisobreum
determinadosentidonousodapalavrasolteiro,enaprimeirasentençaoargumentorecai
sobreosignificadodapalavra.
VejamosestaoutraafirmãodeAristóteles:
Se algm pensa que “triângulo” é uma palavra que comporta vários
significados e a concedeu emalgum sentido diferente do da figura que,
segundo se demonstrou, contém dois ângulos retos, o inquiridor dirigiu
_
25
Nossasugestãoéquepensemosnasinonímia,nestecaso,comoumarelaçãodesentidoconstruídapor
valores que estão subordinados a um atributo. Tanto valores quanto atributos são conceitos que
descrevem um aspecto de um membro de uma categoria. A categoria ‘homem solteiro’ possui um
atributoqueé‘nãosercasado’,esseatributopossuivaloressubordinadosaeleequesãoconceitoscomo:
homemquevivejuntocomalguém,masoécasado.EstateoriaéabordadaporBARSALOU(1992)e
seráalvo deestudo nocapítulo4.
43
nestecasooseuargumentocontra opensamentodooutroou não?Sea
expressãotemváriossignificados,masorespondentenãocompreendenem
imaginaqueassimseja,comonegarqueoinquiridortenhadirigidoaquio
seu argumento contra o pensamento daquele? Ou de que outra maneira
deveria ele formular sua pergunta supondose que a pergunta seja do
silencioso é ou não possível falar?” a não ser sugerindo uma distinção
comosegue:arespostaé‘não’numsentidoe‘simemoutro?Se,pois,
alguém respondesseque isso não épossívelemsentido algumeooutro
replicassequesim,oseuargumentonãosedirigiriacontraopensamento
doinquirido?(DosArgumentosSofísticos,Cap.10)
Nesse discurso de Aristóteles, nosparece estar implícita uma distinçãoentreo
significado da expressão e o sentido da expressão. Aquele que responde que não há
sentidoalgumnapergunta
dosilenciosoépossívelfalar?
dirigeseuargumentocontraa
expressão,poisumaanálisedascondiçõesdeverdadedestasentençanospermitedizer
queestaéfalsa.Porém,aquelequerespondequesimdirigeseuargumentocontraum
pensamento que nada mais é do que um sentido construído. O primeiro argumenta
sobreosignificadodaexpressãoeosegundosobreosentido.
MaisumaveznosreportamosaosexemplosdeOliveira(2001),jácitadosneste
capítulo:
(8)Qualosignificadodacorazul?
e
(9)Qualosignificadodapalavraazul?.
Em(8)temosotermo
significado
inquirindoo
sentido
,aquiloquepensamossobreacor
azul, a forma como a concebemos, e em (9) temos o termo
significado
inquirindo o
significado
dapalavra,aquiloqueelasignificaenquantoexpressão.
DissemosqueAristótelesnãousouotermoconceitualparafalarsobreanatureza
dopensamento,masquesuasposiçõesteóricasnossugeremisso.Um exemplodadopor
eleéneveecisne.Elenosdizqueasduaspalavraspossuemumarelaçãodeidentidade
comser branco. O que ocorre entre neve, cisne e coisa branca é uma relação de
identidade por uma propriedade absoluta que há em neve e cisne, que é a
propriedadede ser branco. Arelaçãosemânticaentre essaspalavrasnão é mais a dos
naturalistase nemadosconvencionalistasquetratavamarelaçãoentrepalavrascomo
unívoca e direta, pois neve e cisne não significam a mesma coisa. Esta relação de
identidade, que nos sugere Aristóteles, nos parece existir a partir de uma inferência,
emboramaisrestritaesentencial.
44
UmapropriedadeparaAristóteles(TópicosI:Cap.5)“éumpredicadoquenão
indicaaessência
26
deumacoisa,mas,todavia,pertenceexclusivamenteaelaedelase
predicademaneiraconversível”.
Elenosdáoexemplodequeéumapropriedadedohomemsercapazdeaprender
gramática. Se A é um homem então é capaz de aprender gramática, e se é capazde
aprendergramática,éumhomem.Essaéumapropriedadechamadade
absoluta
.
Porém, eleaponta para o fato deque ninguémchamade propriedadeabsoluta
uma coisa que pertence a algo diferente e que por isso é chamada de propriedade
temporária.Eleexplicaoqueépropriedadetemporáriadaseguinteforma:
Exemplifiquemos o ‘sono’ no caso do homem, ainda que, em dado
momento,sósepossapredicardele.Querdizer,sealgumacoisadessetipo
se chamasse atualmente “propriedade”, ela não receberia tal nome em
sentidoabsoluto,mascomoumapropriedade“temporária”ourelativa”,
pois estar ao lado direito” é uma propriedade temporária, enquanto
“bípede é, em suma, atribuído como propriedade em certas relações:
constitui, por exemplo, uma propriedade do homem em relação a um
cavaloouaumcão.(Tomo –I,Cap.5)
Entendemoscomestaexplicaçãoqueaspropriedadestemporáriastem havercom
ossentidosconstrdoscomoformasdecompreensãodascoisas.Eporestarazãosão
temporários e o absolutos, e dizem respeito ao pensamento e não diretamente à
expressão.
Um outro aspecto interessante na noção de identidade em Aristóteles é a
discussãosobreaempregabilidadedotermoomesmo.Eleafirmaquequandosetratade
falar sobre a relação existente entre nomes e coisas se emprega o termo ‘o mesmo’,
sobretudo,numsentidoaceitoportodomundo,aoqueéuno.Porém,elenosdizque
mesmoassim podemosempregáloemmaisdeumsentido.Otermo‘omesmo’podeser
empregadoemumusomaisliteral
27
semprequeidentidadedizrespeitoaumnomeduplo
oudefiniçãodupla:
Manto
éomesmoque
capa
;
umanimal
queandacomdoispéséa
mesmacoisaque
umhomem
”.
28
_
26
Em Aristóteles, a essência de uma coisa indica a sua “definição”, por exemplo: ‘um animal que
caminhacomdoispés’éadefiniçãodehomem.Poisanimaléogênerodohomem.
27
EstetermofoiusadoporAristótelesemTópicos–I:Cap.7.
28
ExemplosextraídosdeAristótelesemTópicos–I:Cap.7.
45
Umaoutraaplicaçãodotermo‘omesmo’,segundoAristóteles,équandoestediz
respeitoaum acidente,queéumapropriedadetemporária:
aquelequeestásentado
ou
aquelequeémúsico
é
omesmoqueSócrates
”.
Aristóteles chamou de acidente as propriedades temporárias ou relativas. Um
acidente é: (1)
aquilo que pertence como atributo a um sujeito sem ser nem a sua
definição, nem o seu gênero
29
e nem uma propriedade absoluta, mas pertence, no
entanto,àcoisa
;e(2)
algoquepodepertencerouopertenceraalgumacoisa,sem
queporissoacoisadeixedeserelamesma
.
Segundoestefilósofo,(2)éamelhorformadeexpressaroqueéumacidentepor
não se precisar ter conhecimento do que seja
gênero
,
propriedade
e
definição
. Um
exemplodadoporeleébrancura.Umacoisapodeserbrancaemummomentoedeixar
de branca em outro momento. No caso do exemplo
ser branco
em
neve
e
cisne
,
Aristóteles o considera como um exemplo de identidade criada por uma propriedade
absoluta,enãotemporária.
Emresumo, podemossintetizaropensamento aristotélicodaseguinteforma:o
termo o mesmoquando usado para caracterizar a relação de identidadeentrenome e
coisadáseporintermédiodeduaspropriedades:poruma
propriedadeabsoluta
oupor
uma
propriedadetemporária
.Ouseja,poralgoqueestáno
significado
daspalavras,ou
por algo que está na
percepção do sentido no uso
das palavras, no modo como as
entendemos.
Nasduasrelaçõesdeidentidadeapresentadasenxergamosocorrerumprocesso
de inferência. A primeira propriedade nos sugere a ocorrência de uma inferência
semânticaencontradanospostuladosdalógicacomponencialeanatica.Asegundanos
sugere mais que uma inferência lógica componencial, ela sugere uma inferência
cognitiva onde a sinonímia não é construída por uma relação estabelecida por uma
propriedadeabsoluta,masporumarelaçãoestabelecidaporumapropriedadetemporária
entrenomeecoisa.
_
29
Segundo Aristóteles (Tópicos I, Cap. 5), um gênero é aquilo que se predica, na categoria de
essência,deriascoisasqueapresentamdiferençasespecíficas.Porexemplo,sealguémpergunta“que
éoobjetoquetensdiantedeti?”.Seoobjetoforhomem,respondemosqueéumanimal.“Gêneroéa
classe genérica”, como afirmou Aristóteles, cuja propriedade é universal para todos que pertençam a
aquelaclasse.Aoafirmarque“animal”éogênerodohomemassimcomoodoboi,teremosafirmado
queelespertencemaomesmogênero.
46
Em ambas as propriedades a inferência não deixa de ser conceitual, pois na
propriedadeabsolutaainferênciasemânticaapresentaoquechamamosdeumconceito
mínimoenapropriedadetemporáriaainferênciacognitivaapresentaoquechamamos
de um conceito relevante, que é posto em destaque por condições situacionais
construídasemumadeterminadainteraçãodiscursiva.
Todosessespostuladosapresentadosreforçamaindamaisanossacrençadequeem
Aristóteles,entrenomeecoisa,umarelaçãode
identidadeentresignificados
(usode
conceitosmínimo)
30
eoutrade
identidadeentresentidos
(usodeconceitosrelevantes)
.
OfatodeconjeturarmosqueexistenospostuladosdeAristótelesumaimplícita
abordagemsobre umainferência semântica e uma inferênciacognitiva no processo de
identidadeentrenomeecoisa,permitenosassociar,
apenas
porestasconjeturações,a
sinonímiapor encapsulamento anafórico ao que elechamou de
relação de identidade
porpropriedadestemporárias
queocorreporintermédiodossentidosconstruídospelas
expressões.
Aristóteles usou o termo identidade para mostrar que havia algo além do
significado,naperspectivadeigualdade,unindoumapalavraàoutranumasubstituição.
Estealgo erao sentido, conformenossasanálises;oque implicaemumadiferençana
forma depensarmossobrea sinonímia. Esclarecemosqueestaéumareleituradaquilo
queconsideramosestarimplícitonospostuladosdestefilósofo.
Aristóteles nunca falou explicitamente sobre a relação entre nome e conceito.
Tantoéquechamouumadasformasdeseentenderotermoomesmo,narelaçãode
identidadetemporária,comoacidente.
Oargumento da propriedadetemporáriaa qualatribmosàscoisasfavorecea
nossatesedequeasinonímiatambémocorrealémdarelaçãoentresignificados,ocorre
narelãoentresentidos,casocontrário,comopoderiaocorrerasinonímiaentrenomes
ecoisasqueseencontramemcaráterdeligaçãotemporáriaourelativa?.
Por exemplo,como sedáa sinonímiaentrepizzae as CPIsque resultam na
impunidade dos políticos nasinvestigações feitas pelo nossoCongresso Nacional,
_
30
Tomamos por base para o uso dotermo conceito mínimoo que nos diz Ariel (2002) sobrea noção de
“sentidonimo”comosubstituiçãoaotermosentidoliteral.Eparaousodotermoconceitorelevanteoque
nosdizemSperbereWilson(1986)sobreanoçãodeRelevâncianaconstruçãodosentido.Estesdoisúltimos
autoresserãoabordadosnocapítulo4aofalarmossobreoacessoaosentidonasinomiaporencapsulamento.
47
emBrasíliaDF?.Asinonímiaaquisóépossívelseatribuirmosaessasduasexpressões
umaidentidadeporpropriedadetemporária,queasunepelopensamentoquedesignam,
ouseja,pelosentidosocialmenteconstrdoenoqualelassãoempregadas.
Contudo,mesmoacreditandoserpossívelfazermosessareleituraem Aristóteles,
asuaposturateóricanãodeixoudeconfundirosignificadoeosentidodeumaexpressão
lingüística como objeto. E este é o problema que encontramos nosseus postulados.
Poisparaele,aspercepções, mesmobaseadasemopiniõesque emergem dossentidos
construídos,ocorremporhaverpropriedadesdeidentidadereferencialistaentrenomee
coisa.Sejamestasabsolutasoutemporárias,seohouverapropriedadede
serbranco
em
cisne
e
neve
,nãohácomocriarumarelãodebrancuraentreeles.Aqui,aidéiade
identidadeé
representacionistaereferencialista
:umnomerepresentaumacoisa,ouum
nomerepresentaumconceito,eestaéasuareferência.
Concordamos com Marcuschi (2007a:1819) ao expressar que teria sido de
granderelevância se este filósofo tivesselevado adiante um estudo detalhado sobre o
significado numa lógica sentencial, ao invés de ter permanecido com sua lógica
silostica,apenasnaanálisedarelaçãodepredicadosnoenunciado,enãodeorações
entresi”.PorissonãoencontramosemAristótelesumaexplicitudequantoaosentidode
umaexpressão, queé oque Aristóteles chamoudepensamento.Apesarde terescrito
sobreopensamento,assuasdiscussõespermaneceramemestadodelatêncianosseus
postulados.
Aorefletirmossobreasinonímia,considerandoasbasestricasaristotélicas,nós
enxergamos uma mudança da idéia de
igualdade
entre significado para a idéia de
identidade entre significados e identidade entre sentidos
. Mesmo enxergando esta
mudaa, nós temos consciência de que a noção de identidade em Aristóteles ainda
objetificaosignificadoeosentido,mantendoseaidéiadelínguacomorepresentaçãodo
pensamento e representação da realidade. Por este motivo nós descartamos a
possibilidade de dizer que a sinonímia por encapsulamento anafórico ocorre por uma
identidadeentresentidosconstruídos
.Senãoexistisseessaobjetificaçãodosignificadoe
dosentido,nóspoderíamosdizerqueoraciocínioquedesenvolvemossobreaidentidade
de sentido por propriedade temporária seria pertinente ao estudo da sinonímia por
encapsulamentoanafórico.
48
Asinonímianestaperspectivaaindaéarbitráriaedescontextualizadadasituação
sóciocomunicativa e de seus interlocutores. A noção de identidade é um avanço
comparado coma noçãodeigualdade, maso significado eosentidocontinuamsendo
tratadoscomo uma questãodecondiçõesdeverdade,decontradição,dededução etc,
considerandose apenas o que expressam as palavras. Passemos a discutir agora a
terceiranoçãodesinonímia comoumarelãodeequivalênciaentresentidos.
1.4 O SentidonaSemânticaModerna:anoçãodesentidonasinonímia
esclarecemosquenãoconsideramososentidocomoumaidentidadeou
mesmo uma correspondência instituída arbitrariamente a um termo. Defendemos que
sentido é fruto do movimento de nossos pensamentos, é o lugar onde a linguagem é
sempre o resultado de uma interação social. Sentido é o modo como pensamos os
nomes e as coisas do mundo. E isto ocorre porque as diferentes vivências dos
indiduoselaboramosentidocomoumnívelintersubjetivodacomunicação(Husserl)
31
,
contrapondoseaonívelontológiconominalista.
Pensar é fazer julgamentos, proferir desejo, querer, fazer perguntas,
suposiçõesetc.Comopensamentoesentidopodemsertomadoscomocorrelatos,isto
fazcomqueosentidonãosejaumelementomaterialdasvivências,portantoelenãoé
umobjetoquerepresentanomesecoisas.Osentidoéomodocomoconstruímose
interagimos com os objetos dos nossos discursos, e que é elevado ao nível
conceitualpormeiodasexpressõesdalíngua.
Esta nossa maneira de conceber o sentido enfraquece a força da
arbitrariedade do signo e oferecenoscondiçõesparaenxergamos o significado como
algo que está relacionado diretamente com o signo e a sua formalidade no uso
gramaticaldosnomes.Enquantoosentidoestárelacionadocomoindiduoeomodo
como este compreende e interpreta o mundo, construindo as diversas possibilidades
conceituais designadas, pelas palavras, em vivências sociais. A intencionalidade aqui
abre caminho para que o sentido seja visto como uma porta de entrada para a
compreensão(Husserl).
49
Acreditamos que a sinonímia na perspectiva fenomenológica avança nos
seuslimites com a semântica formal, epassa afazerpartedeumasemânticaanalítica
oucontemporâneaquepodeexplicarcomotemosacessoàinterpretaçãopelomodode
construçãodenossosobjetosdiscursivos,semtratáloscomorepresentaçõesdiretasdas
coisas, ou como imagens ou conceitos abstratos que só ocorrem na mente de um
indiduo, ou aindacomoabstraçõesfictíciasdosobjetos.Essasemânticapreocupase
emexplicar
como
osobjetospermitemquetenhamos
acesso
àinterpretaçãoeao
modo
deuso
quefazemosdosobjetoslingüísticos.
Stein (2003: 3552) em
Ontologia, Semântica Formal e Diferença
Ontológica
discutebem aviradadeperspectivadasemânticaformalparaaanalítica,onde
adiferençaentresignificado esentidoéessencialporquesetratadeestudaro
comose
chegaaalgo
.Elenosdizque:
Esse como se dá através do nosso compreender e a universalidade do
nosso compreender não é dada por uma espécie de superabstração
generalizadora pela qual podemos afirmar que com isso apanhamos o
todo,porquepormaisabstraçãoquefaçamosdoobjeto,aindaestamosem
contatocomelenoespaçoenotempoenãocom osignificado.Masoque
éeste‘como’,este‘wie’,este‘how’dequeafilosofiaanalíticaseocupa?
Sabemosqueestecomonascediretamentedaseguinteafirmação:sujeitos
somentesepodemrelacionarcomobjetosdomundoatrasdamediação
dosentido.Portanto,o comoéoâmbitonoqualnosrelacionamoscomos
objetos.Esseâmbitoéacondiçãodepossibilidade.(...).Compreenderé
exatamente operar este como e explicar como se articula o nosso
compreenderemexpressõeslingüísticas;édarcontadesse como.(pg46)
A preocupação em explicar esse
como
é o que não encontramos em
Aristóteles,nasuateoriadametafísica,aoexporumateoriadoobjetosemumateoria
dosignificado.Porissodissemosanteriormentequeesteestudoteriasidorelevantepara
adistinçãoentresignificadoesentidoqueestãoimplícitosnospostuladosdestefilósofo.
Aristótelesdeixouumalacunasobreateoriadoqueestavaimplicadono
conhecimento emrico como um todo e que é a totalidade do nosso compreender,
conforme nos assevera Marcuschi (2007a). Daí termos afirmado que este filósofo,
apesar de não ter mencionado o termo ‘conceito’ ao falar sobre sentido, abriu
pressupostos para esta nossa investigação no campo do acesso à compreensão e à
interpretaçãodeobjetosdiscursivos.
_
31
VerHusserl(1984)em
InvestigaçõesLógicas
.Vol.XIX,1.
50
AafirmativadeSteindeque“compreenderéexatamenteoperarestecomo
eexplicarcomosearticulaonossocompreenderemexpressõeslingüísticas”,podeser
aplicadoaonossoobjetodeestudoqueéasinonímiaporencapsulamentoanafórico.
Apothéloz&Chanet(2003)eConte(2003)atestamqueoencapsulamento
anafórico é formado por um sintagma nominal encapsulador, composto
preferencialmenteporumdemonstrativo+umnomeequepossuifunçãopredicativa.
Nósdefendemosaidéiadequeosintagmanominalencapsulador,porserpredicativo,
expressa um sentido que está associado à porção anaforizada e indica um ponto de
vista, umapossibilidadedeinterpretação doque seestá encapsulando. Paranós,
essepontodevistanãoéosignificadodaporçãoanaforizada,éosentidoindicandoo
modo como acessamos a interpretação dos enunciados encapsulados. Vejamos um
exemploretiradodoartigodeConte
32
(2003)intitulado
EncapsulamentoAnafórico
,que
seráotemadonossocapítulo3:
(1) É de ontem a notícia de que um superpetroleiro afundou ao
largo dacostabálticaderramandoacargainteiranomar.Hojese
pergunta:estaenésimacatástrofeecológica poderiaserevitada?
Emnossasanálises,osintagmanominalestaenésimacatástrofe apresenta
um ponto de vista sobre o conteúdo expresso pela porção anterior do texto. É uma
possibilidadeinterpretativadesteconteúdo,éosentidoconstruído,nãoéosignificado.
Este sintagma apresenta o modo como acessamos a interpretação dos
enunciadosencapsulados.Tantoéquepodemosmodificarestesintagmaeexpressarmos
outras possibilidadesinterpretativas semalterarmos a porção anterior do texto. Basta
substituirmososintagmanominalporoutrocomo:
estenaufrágiopoderiaserevitado
?,
ou
este vazamento de óleo poderia ser evitado
?, ou ainda
este acidente poderia ser
evitado
?. A substituição vai depender do modo como interpretamos os enunciados
encapsulados.
Assubstituiçõesexemplificadasacimaconstituem,nonossopontodevista,
comoumbomargumentoparapensarmosnapossibilidadedeocorrerumasinonímiano
encapsulamento anafórico. E é a partir deste pensamento que iremos discutir agora
51
comoseestabelecearelaçãodesinonímiaentresintagmanominalencapsulador,queéo
sentidoconstrdo,eoconteúdodaporçãoencapsulada,ouseja,entre
sentido
easua
referência
.
_
32
Os exemplos analisados nesta investigação foram extrdos, em sua maioria, de Conte (2003),por
trabalharoencapsulamentoanafórico.Porém,asanálisessãonossas.
52
CAPÍTULO2
OSENTIDOCOMOUMCRITÉRIOVÁLIDONARELÃODE
SINONÍMIA:UMAABORDAGEMBASEADANALÓGICA
MODERNA
ÉnasemânticadoséculoXX,nospostuladosdaLógicadeGottlobFrege
(1978), no artigo
Über Sinn und Bedeutung
(Sobre o Sentido e a Referência), que
encontramosas idéiasquerevolucionaram osestudossemânticosanalíticos. Demodo
bastantegeral,podemosdizerquenestaobra Fregediscorresobreosseguintespontos:
1)Osignificadosecompõededuaspartes:referentee sentido;
2)Alinguagemnaturalexprimesentençascomvalordeverdade,eovalordeverdadeé
consideradocomooreferentedasentença,poisesteexisteemummundoreal.Àestas
sentenças aplicase o princípio de substitutividade
salva veritate
que se aplica à
sinonímiaporidentidadedereferentes;
3)Alinguagemnaturaltambémexprimeinúmerassentençasintencionais,masquenão
se submetem ao princípio da substitutividade
salva veritate
e por esta razão,
sentençasintencionais o se incluem nalinguagem artificial almejada por Frege para
seus estudos. Poisnão hácomodeterminarovalordeverdadedessassentenças,uma
vezqueovalordeverdadedepende,aqui,decrenças,deconhecimentodemundodos
indiduos, resultando assim na impossibilidade de atribuir uma interpretação para as
sentençasintencionaisnosestudosdedescriçãodaslínguasnaturais.
Oliveira (2001:133114) nos ofereceumaexplicação clarasobre oqueé
esteprincípio:
A propriedade de substituirmos guardando a referência é chamada de
substitutividade
salva veritate
. Ela possibilita criarmos uma linguagem
extensional, isto é, uma linguagem em que o valor de verdade de uma
sentençacomplexaéfuãoexclusivadosvaloresdeverdadedaspartes
que a compõem. Essa propriedade permite construirmos uma máquina
semântica totalmente cega para o sentido; uma máquina que, dadas as
53
referências de sentenças simples, calcula (mecanicamente) o valor de
verdade de qualquer sentença, complexa que seja, formada pelas
sentenças simples. (...) Esse princípio, que Frege atribui a Leibniz, diz
que podemos substituir as partessemalterar otodo,semantivermosos
valoresdeverdadedaspartes,independentementedosentido.
Destacamos esta explicação porque ela aponta a razão de tornarse
problemática a questão das sentenças intencionais em Frege. Na perspectiva deste
filósofo, não se podia obter o valor de verdade de sentenças intencionais, que é o
referente,comoomesmo,aoseaplicarapropriedadedesubstitutividade
salvaveritate
,
poisparaistoeranecessárioconsiderarfatorescomocrenças,conhecimentodemundo,
indiduo, temporalidade e outros aspectos mais que estivessem arrolados à
intencionalidadecomaqualumasentençaeraproferida.
Todavia, o que era problemático para Frege se apresenta bem oportuno
paraestudarmosasinonímiaporencapsulamentoanafórico.OnossointeresseemFrege
residepontualmentenoitem (3),eemumadesuasimplicaçõesdirecionadaparaanossa
investigação: o sentido como um critério lido para a relação de sinonímia por
encapsulamentoanafórico.Poisconsideramosqueestasinonímianãoseenquadrano
prinpiodesubstitutividade
salvaveritate
.
AntesdeentrarmosnasconsideraçõesdeFrege,retornemos,maisumavez,aojá
mencionadoartigodeMarcuschi
AspectosProblemáticosnumaSemânticagicapara
Línguas Naturais
para colocarmos em evidência o caso da sinonímia, apesar deneste
artigoasinonímianãoserofocodesuadiscussão.Leiamoscomatençãoestacitaçãode
Marcuschi(2007a:4243),umpoucolonga,sabemos,masdegrandeimportânciaparao
quetemosdefendidosobreasinonímiaporencapsulamento:
Aobjeçãomaissériaesistemáticaànoçãodeque“referência”e“sentido”
seriamamesmacoisaveiodeFregeefoilevadaadianteporquasetodos
os que vieram depois dele e, hoje, é uma noção trica essencial nos
estudos semânticos. Na moderna Filosofia da Linguagem a distinção
estabelecida porFregemarcouprofundamenteainvestigação.Aquestão
levantadaporFregeemseuensaio
SinnundBedeutung
era:comopoderia
ser determinada a diferença de sentido de dois nomes como “Estrela
matutina”e“Estrelavespertina”,seambossereferiamaomesmoobjeto,
ouseja, aoPlanetanus?Seambostêm amesma referência, entãoas
expressõesteriamqueser,forçosamente,sinônimas.Seassimnãoofosse,
a identidadereferencial não seria critério desinonímia para expressões.
Que ambas as expressões não têm o mesmo significado não são
54
sinônimas , apesar de terem a mesma refencia, pode ser inferido da
simplesobservaçãodequeassenteas:
25. AEstreladaManhãéidênticaàEstreladaManhã
26. AEsteladaManhãéidênticaàEstreladaTarde
m a ver com duas coisas diversas. A sentença 25 é uma tautologia
gica, ao passo que26 traduz uma observação empírica combaseem
dadosdaAstronomia.Averdadedeambasédeterminadapormétodose
análises totalmente diversos. Se aqui temos duas sentenças com
proposições equivalentes, é porque não temos uma predicação com
expressõesdemesmosentido,nãoobstantereferiremseaomesmoobjeto.
Issojáéprovasuficienteparasedemonstrarqueasemânticarealistanão
temcondiçõesdefornecerumcritérioválidopararelaçõesdesinonímia.
Em primeiro lugar, esta citação nos é interessante porque apresenta um
ponto de discussão central nos estudos da sinonímia, sob a perspectiva da
referencialidade: a identidade referencial como o critério essencial para haver
sinonímia. Jávimos nocapítuloanterior,emAristóteles,queaquestãodaidentidade
porumapropriedadeabsolutaoutemporáriaexistenteentrenomeecoisanãodeixade
confundirosignificadoeosentidocomoobjeto,acoisaemsi.Oquenãoseadequaàs
discussões que temos travado sobre a sinonímia por encapsulamento anafórico. Os
exemplos de Frege, quando aplicados à sinonímia, de fato colocam em dúvida o seu
critério válido que era o de identidade referencial, ou seja, de mesmo referente ao
preencherascondõesdoprincípiodesubstitutividade
salvaveritate
.
E em segundo lugar, a citação de Marcuschinos é valiosa porque nos
mostraquepodemosinferir,apartirdeFrege,umanovaformadeenxergararelaçãode
sinonímia: através uma relação de equivalência de sentido, conforme buscamos
defender.Poristo,discutirarespeitodesentidoereferênciaédeextremaimportância
paraosestudossobresinonímiaporencapsulamentoanafórico.
2.1 SentidoeReferêncianaSinonímia
Em
ÜberSinnundBedeutung
(1978)Fregediscutesentidoereferência e
tececonsideraçõessobre
aigualdade
aosequestionarseelaestabeleceriadefatouma
55
relação e qual relação seria esta: entre objetos?, entre nomes?, ou entre sinais de
objetos?.
EmoutroartigochamadoFunçãoeConceito
33
(1978:43),anteriorao
Sinn
und Bedeutung,
Frege apresentou pela primeira vez a noção de distinção entre
referência e sentido ao postular que “2
4
= 4²” e “4.4 = 4²” exprimem pensamentos
diferentes, masos sinaisusadoscontêmamesma referência, onúmero 16,e porisso
podemsersubstituíveis.Comesteraciocínioelechegouàconclusãodequeaigualdade
dereferêncianãoimplica,necessariamente,em umaigualdadedepensamentos.
As duas frases usadas na citação de Marcuschi e que são célebres da
distinção entre sentido e referencia, dadas por Frege, mostram como separarmos o
sentidodareferência:
a) AEstrelaManhãéaEstreladaManhã.
b) AEstreladaManhãéaEstreladaTarde.
NasanálisesdeFrege (1978)asduasfrasespossuem o mesmo referente
(Vênus), mas veiculam pensamentos (sentidos) diferentes, pois
a Estrela da Tarde
apresenta um outro pensamento pelo qual podemos chegar ao referente Vênus, por
intermédiodosconhecimentosdaastronomia.Asduasfrasessãoverdadeiras,possuem
o valor de verdade que é Vênus, o referente de ambas. Aqui podemos aplicar
tranqüilamenteoprincípiodesubstitutividade
salvaveritate
,poiscontinuaremosaobter
o mesmo referente ouvalordeverdadenasduasfrases.O queobtemosentãoéuma
relaçãodesinonímiacombasenaigualdadeouidentidadedeseusreferentes
34
.
Oliveira (2001:111112) nos apresenta uma leitura elucidativa quanto a
outropardefrasesusadoporFrege:
c) AEstreladaManhãéaEstreladaTarde.
d) AEstreladaManhãéumplaneta.
_
33
Títulooriginal
FunktionundBegriff.
34
Leiamse os termos
referente
,
valor de verdade
e
objeto
como correlatos em muitas passagens de
Frege, umavez que, paraFrege,elesqueremdizer
umobjetonomundoreal
,ouseja,averdade.Nós
preferimosotermo
referente
,emboraalgumasvezespossamosusar
valordeverdade
ou
objeto
.
56
Segundoaautora,nafrase(c)oreferenteVênuséomesmoparaosnomes
EstreladaManhã
e
EstreladaTarde
,oquecaracterizaumaidentidadereferencialentre
osdoisnomes. Porém,(d)
EstreladaManhã
,queéVênus,nãopossui identidade
referencial com
um planeta
, pois o verbo
ser
não diz que
Estrela da Man
e
um
planeta
sãonomesdeum mesmoobjeto.
A explicação deste mesmo é que
um planeta
não referencia um objeto
particularnomundo,masumconjuntodeobjetosquesãoosplanetasdonossosistema
solar.Arelaçãodoverbo
ser
em(c)éumarelaçãodeidentidadeeem(d)éumarelação
depertenceaalgumacoisa,comoaoconjuntodeplanetasdonossosistemasolar.Pela
teoriadeFrege,aindaépossívelseaplicaroprinpiodasubstitutividade
salvaveritate
nestes exemplos, pois embora havendo a relãode identidade em (c) e a relação de
pertenceem(d),asduasfrasescontinuamcomomesmoreferente,emboracontinuema
possuirsentidosdistintos.
Vejamosagoraaaplicaçãodo prinpiodesubstitutividade
salvaveritate
nestasoutrasduasfrasesusadasporFrege(1978:43),noartigo
FunçãoeConceito
:
e) AEstrelaVespertinaéumplanetacujarevoluçãoémenorqueadaTerra.
f) AEstrelaMatutinaéumplanetacujarevoluçãoémenorqueadaTerra.
Sabemosque
EstrelaVespertina
e
EstrelaMatutina
possuemomesmoreferente,
Vênus,equeestesdoisnomespossuemsentidosdistintos.Sabemostammquetanto
em(e)quantoem(f)arelaçãodoverbo
ser
édepertenceaumconjuntodeplanetasdo
nosso sistema solar. Ao aplicarmos o que postula Frege, a frase (e) não pode ser
sinônimadafrase(f)porqueovalordeverdadede
umplanetacujarevoluçãoémenor
queadaTerra
dependedeconhecimentosastronômicosmaisespecíficos,porissonada
sepodedizerdaverdadeoufalsidadedestepredicado.
Seaverdadedopredicadodependedeconhecimentosmaisespeficos,de
acordo coma teoria de Frege, não se podeconsiderar queeste predicado tenhauma
referência, mas ele possui um sentido. Frege (1978:68) afirma que “há partes de
sentençasquepossuisentido,masquenãotêmreferência”.Istoéoqueocorrecomas
frases(e)e(f).Osnomes
EstreladaMan
e
EstreladaTarde
possuemreferênciae
57
sentido,masopredicado,queéomesmoparaasduasfrases,possuiapenassentidoe
nãoreferência.Porestarazão,nãopodemosaplicaroprinpiodasubstitutividade
salva
veritate
para termos uma
sinonímia salva veritate
entre as frases (e) e (f), pois do
predicadodestasnadasepodedizer,nemqueéverdadeironemqueéfalso,conforme
concluiuFrege.
Todavia,asfrases(e)e(f)podemsersinônimasseconsiderarmosasduas
sentençascomointencionaisenãocomoextensionaisemseuspredicados.Poiscomo
nosasseveraOliveira(2001:116),
A máquina semântica de Frege só traduz sentenças extensionais.
Sentenças intencionais emperram a máquina freguiana, precisamente
porqueoseuvalordeverdadenãopodeserdeduzidomecanicamente.(...)
Emoutros termos, a máquinafreguiana não consegueatribuirlhesuma
interpretação.
Concordamos com Oliveira que a máquina freguiana não dá conta de
sentenças intencionais e por isso poderia não parecer lógico discutirmos Frege nesta
investigação sobre sinonímia por encapsulamento anafórico, porém como ela mesma
afirma,umaboapartede“SentidoeReferência”éumminuciosoestudosemânticode
sentençasintencionaisdalinguagemnatural”.Eisaquiapartequebuscaremosressaltar
e que irá nos servir como uma ponte para tudo o que discutimos em Aristóteles, no
capítulo 1, sobre a questão de enxergarmos uma duplicidade de interpretação na
definição do prinpio de identidade que foi o de identidade de significado e o de
identidadedesentido.OutravantagemdeestudarmosFregenasquestõesdesinonímia é
queestedesenvolveseuspostuladosemrelaçõessentenciaisenãoapenasemrelações
entrepalavras.
Voltemosàssentençasintencionais.Pararesolveraquestãodoentraveda
máquina freguiana, Frege (1978:110111) no artigo
Digressões sobre o Sentido e a
Referência
35
afirmaqueépossívelhaversubstituiçãomantendoomesmosentidoenão
areferência,construindodessemodosentençassinônimaschamadasdesegundonível:
Embora a relação de igualdade seja imaginável entre objetos, tamm
entreos conceitos ocorre uma relação semelhante que, por se dar entre
conceitos, denomino de relação de segundo nível, ao passo que a
igualdadeentre objetos,chamoa de relação deprimeironível.Digamos
_
35
Artigo Póstumo publicado sob o tulo original
Ausführungen über Sinn und Bedeutung
. Escrito
provavelmenteentre1892e1895.
58
queumobjeto
a
éigualaumobjeto
b
(nosentidodecoincinciatotal)se
a
cai sob todo conceito sob o qual cai
b
, viceversa. Obtemos algo de
correspondentepara osconceitossefizermoscomqueconceitoeobjeto
troquemosseuspapéis.
Apliquemosàsfrases(e)e(f) oqueFregepostula sobreaigualdade entre
objetos ou referentes, chamada de relação de primeiro nível:(...) digamos que
o
referente
Estrela Vespertina
é igual ao referente
Estrela Matutina
(pois ambos são
nomes de nus) se o referente
Estrela Vespertina
cai sob toda uma relão de
acarretamentocom oconceito
umplanetacujarevoluçãoémenorqueadaTerra
sobo
qualtambémcaiumarelaçãodeacarretamentoem
Estrelamatutina
.
Para que o conceito ou predicado
36
em (e) tenha uma relação de
acarretamentocomoseureferenteénecessáriotermosconhecimentosastronômicosque
noslevemaovalordeverdadeoufalsidadede(e).Porém,nósjávimosqueestetipode
sentençaintencionalnãopossibilitaumasinonímia
salvaveritate
comasentença(f),em
nenhumadesuaspartes.Poissenadapodemosdizer,extensionalmente,dopredicadoda
sentença(e),entãooacarretamentocomoseureferente
EstrelaVespertina
nãoocorre.
Assim,o princípio desubstitutividade
salva veritate
entre
EstrelaMatutina
e
Estrela
Vespertina
,apesardeVênusseromesmoreferenteparaambasasexpressões,poresta
partedateoriadeFrege,nãopodeocorrer.
Vamos agora ao inverso dessa questão, no que diz respeito à igualdade
entreconceitosoupredicadoschamadaderelaçãodesegundonível:(...)digamosque
o conceito
um planeta cuja revolução é menor que a da Terra
em (e) é igual ao
conceito
umplanetacujarevoluçãoémenorqueadaTerra
em(f),poisconstituemo
mesmoconceito,seoconceito
umplanetacujarevoluçãoémenorqueadaTerra
cai
sob toda uma relação de acarretamento com o referente
Estrela Vespertina
, caindo
assimtambémsob
EstrelaMatutina
.
A outra parte da teoria de Frege nos diz que aqui podemos ter uma
sinonímia, mas não é a
salva veritate
. O que acontece para isto é que a relação de
acarretamentoentreoconceitooupredicadode(e),queserepeteem(f),maspoderia
nãoserepetirtambém,foiconsideradacomopossívelmesmonãosepodendodizer
_
36
Entendemos que ao usarmos os termos predicado ou conceito estamos nos remetendo ao mesmo
raciocíniodeFregedequeumpredicadoéumconceito.
59
nada sobreareferênciaouvalor de verdadedo conceitode(e)e(f).Isto implica
dizermosque:1)se
EstrelaVespertina
e
EstrelaMatutina
referemseaomesmoobjeto
e2)seconsideramos oacarretamento do conceito em(e)como seureferente, então
podemos asseverar que temos entre as sentenças (e) e (f) uma relão de sinonímia,
porémoéumasinonímia
salvaveritate
.Mas,então,nosperguntamosquetipode
sinonímiaéestachamadaporFregederelaçãodesegundonível?Responderemos
estaperguntamaisadiante.
Observemos atentamente que o fato de Frege considerar a relação de
igualdadeentreconceitoscomoum critérioqueéválidoparase estabelecerumarelação
de segundo vel faz com que os referentes possam ser tomados como sinonímicos
mesmo tendo sentidos diferentes. Nossas reflexões indicam que essa relação de
sinonímia pode ser aplicada ao que estamos chamando de
sinonímia por
encapsulamentoanafórico
.Vejamosoexemplo(g)
37
:
(g) Contudo, o contribuintequerefletissesobreasnotíciasquelê
diariamentenosjornaisouvênaTV,agiriacommaissabedoriado
que com justa indignação diante dos assaltos diários ao dinheiro
público.Quematentar,porexemplo,paraasfilasqueserpenteiam
nascalçadasdoshospitais,iráconcluirqueelasnascembemlonge
dali. Geralmente nas cidades do interior, cujos prefeitos e
deputados preferem mil vezes receber a transporterapia” das
ambulânciasdoquemanterumhospital,umaunidadedeprimeiros
socorros que seja. Pelas razões que a Policia Federal acaba de
descobrir com essa Operação Sanguessuga. Apropriada
denominação que não pode ser esquecida nas próximas eleições.
(DiáriodePernambuco14/04/06).
Otermo
38
essaOperaçãoSanguessugaretomaanaforicamenteumaparte
doquefoiditoanteriormenteequeestásublinhado.Otermosanguessugadizrespeito
a
umpequenobichocomaparênciademinhocaquepostosobreocorpodeumanimal
ouserhumanochupalheosangue
.aparteanaforizadadizrespeitoao
roubode
verbasdasaúdepúblicanascidadesdointerior
.Ambospossuem referenteseconceitos
distintos.
_
37
Esteexemplofazpartedo
corpus
depesquisadamonografia
Intertexto,InterdiscursoeInternero
emArtigosdeJornaleRevista
,escritaporÁdinaSoaresSilvaeElisabeteSilvaMenezes(2006).
38
Tratase de um sintagma nominal encapsulador, como já foi apresentado no final do capítulo 1.
Porém, para uma melhor compreensão do raciocínio que estamos desenvolvendo, usaremos aqui a
expressão“termo”nolugardesintagmanominalencapsulador.
60
Todavia, se aplicarmos o raciocínio de Frege quanto à sinonímia de
segundo vel, entre conceitos, veremosquesanguessugae a parteanaforizada, no
contexto do texto, dizem respeito a um outro conceito, digamos conceito Z, que é
sorver ou roubar indiscriminadamente todo ou quase todo o dinheiro destinado à
saúde pública nas cidades do interior
. Este é o conceito que os liga. Contudo, o
conceito Z só pode ser inferido se usarmos o nosso conhecimento de mundo para
chegarmos até ele. Desta forma, sanguessuga e a parte anaforizada podem ser
consideradasequivalentesporhaverumarelaçãodeacarretamentocomconceitoZ.Os
doistermospodemserarroladoscomosinonímicosmesmotendoconceitosereferentes
extensionaisdiferentes.Estassãosentençaschamadasdeintencionais,portanto,geram,
nanossaperspectiva,
sinonímiasintencionais
.Masqualanaturezadestasinonímia?
Responderemosestaperguntamaisadiantejuntamentecomaanterior.
OconceitoZqueligasanguessugaeaparteanaforizadaacarretauma
referênciaaqualFregechamoudereferênciaindireta,ouseja,areferênciaaqualse
chega pelo sentido das palavras em contextos intencionais. No exemplo (g), a
referência indireta que nós constrmosfoi:
políticosque sugam ou roubamdinheiro
público
. Oliveira(2001:120), aosereportarao contexto intencional emFrege,afirma
que:
(...)Emcontextosintencionais,sóépossívelsubstituirsemantivermoso
queFregedenominoudereferênciaindireta,istoé,osentidodaspalavras.
É por isso, aliás, que esses casos o chamados de intencionais, eles
requerem uma descrição semântica baseada no sentido e não na
referência.(...)Asubstituição,nessescasos,épossívelsemantivermoso
sentidodaexpressão.Maistarde,essegrupodeoperadoresepredicadores
será chamado de intencional, o contexto, de contexto opaco”. Nesse
grupo, averdadedotodonãoéumafunçãodosvaloresdeverdadedas
partes, e o princípio de substitutividade não se aplica. Pode haver
substituição desde que eu garanta que o sentido se mantenha
absolutamenteidêntico,desdequehajasinonímia.
Diante das considerações que levantamos com o exemplo (g), nós
entendemos que a sinonímia por encapsulamento anafórico é possível de ocorrer se
construirmos uma relação chamada por nós, nesta investigação, de relação de
equivalência de sentido, que une o anaforizante e o anaforizado. Portanto, a nossa
resposta para a pergunta “Mas que tipo de sinonímia é esta chamada por Frege de
relação de segundo nível?” é: sinonímia por equivalência de sentido. E a resposta
61
paraasegundaperguntaMasqualanaturezadestasinonímia?”é:naturezacognitiva.
Completaremosestasegundarespostamaisadiante.
2.2 OValorCognitivonaRelaçãodeIgualdadeparaFrege
Dissemos anteriormente que em
Sobre Sentido e Referência
, Frege
(1978:61) tece considerações sobre a igualdade e questionase se a igualdade
estabeleceriadefatoumarelação.Paraele,
A igualdade
*
desafia a reflexão dando origem a questões que não são
muitoceisderesponder.Éelaumarelação?Umarelaçãoentreobjetos
ouentrenomesousinaisdeobjetos?EmminhaBegriffsschrift
*
assumia
última alternativa.Asrazõesqueparecem apoiar estaconcepçãooas
seguintes: a=a e a=b são, evidentemente, sentenças de valor cognitivo
diferentes;a=asustentase
apriori
e,segundoKant,deveserdenominada
de analítica, enquanto que sentenças da forma a=b conm,
freqüentemente, extensões muitovaliosas denossoconhecimento,enem
semprepodemserestabelecidasapriori.
*asnotasderodapécomestesímbolosãotodasoriginaisdeFrege.
Frege usao termovalor cognitivoparaexpressararazão da relação de
a=b.Segundoasuateoria,paradeterminarovalorcognitivoérelevanteosentidoda
sentença, ou seja, o pensamento expresso por ela; enquanto para determinar a sua
referênciabasta apenasoseuvalordeverdade.
Assim, nos diz Frege (1978:86), se a=b, ambos possuem a mesma
referência,omesmovalordeverdadedea=a.Masapesardisto
b
podediferirdosentido
de
a
,então o sentido dea=a terásentido diversodea=b, ou seja,não teráo mesmo
valor cognitivo. Ele conclui que “se, como anteriormente, entendemos por “jzo” a
trajetória do pensamento para seu valor de verdade, podemos tamm dizer que os
jzossãodiferentes”.Comestacitaçãonósarriscamosdizerqueparafrege,ossentidos
o construídosporjuízosquenoslevamaumreferente.Portanto, podemosconcluir
queovalorcognitivodeumasentençaconstituiseemseusentido,eesteporsuavez
_
*
“Usoestapalavranosentidodeidentidadeeentendo“a=b”nosentidode“aéomesmoqueb”ou“a
ebcoincidem.”
*
Begriffsschrift,einederarithmetischennachgebildeteFormelsprachedesreinenDenkens,Halle,1879,
S8.(N.doT.)
62
constituiseemumjzoquenoslevaaumreferente
39
.Logo,sãoossentidosquenos
levamàsreferênciasdascoisasenãooinverso.
Na explicação de como funciona a relação deigualdade consideramos a
expressão‘valorcognitivo’desumaimportância.Ousodessetermorelacionadoaoque
Fregeentendeporsentidonosfazpensarquetalvez,paraele,osentidosejadenatureza
experiencial, ouseja,quantoaomododeconstruçãodosentido.Pois,nestecaso,os
jzosseconstroemporintermédiodaexperiência,doconhecimentodemundopúblico
particular e coletivo, e também do conhecimento enciclopédico que podem dar o
estatutodeverdadeparaosenunciados.Porissochegamosaumobjetoreferencialpor
meiodeumsentidoconstruído.
Em Oliveira (2001:123) encontramos a afirmativa de que o contexto
intencional associado ao valor cognitivo de uma sentença, tal como explicitado por
Frege,mesmoquedemaneirarudimentar,conseguenosexplicarque“oconhecimento
do falante sobre o significado das sentenças está relacionado à sua capacidade de
relacionarlinguagememundo”.Assim,“osignificadodeumaexpressãolingüísticaestá
na possibilidade de o sentido alcançar uma referência”. Conforme já explanamos no
exemplo(g).
Entendemosentão queovalor cognitivoatribdoaumasentençaindica
umapossibilidadedevariabilidadenasubstituiçãodostermosemumasentença.Por
exemplo: em (g) o sintagma nominal encapsulador pode ser outro se atribuirmos um
outrovalorcognitivoparaoquefoiditonaparteanaforizada.Podeser,porexemplo,
essaOperaçãoAntiColarinhoBranco:
(g’)Contudo,ocontribuintequerefletissesobreasnotíciasquelê
diariamentenosjornaisouvênaTV,agiriacommaissabedoriado
que com justa indignação diante dos assaltos diários ao dinheiro
público.Quematentar,porexemplo,paraasfilasqueserpenteiam
nascalçadasdoshospitais,iráconcluirqueelasnascembemlonge
dali. Geralmente nas cidades do interior, cujos prefeitos e
deputados preferem mil vezes receber a transporterapia” das
ambulânciasdoquemanterumhospital,umaunidadedeprimeiros
socorros que seja. Pelas razões que a Policia Federal acaba de
descobrir com essa Operação AntiColarinho Branco.
_
39
LembramosqueestaquestãotemmuitasemelhançacomoquediscutimosemAristóteles,noitem1.3
destetrabalho,aopostularque“asopiniõessebaseiamnapercepçãodossentidos”.
63
Apropriadadenominaçãoquenãopodeseresquecidanaspróximas
eleições.(DiáriodePernambuco14/04/06).
Neste caso, o conceito Z é o de
homens da classe alta que roubam
dinheiropúblicoeficamimpunes
.PercebamosqueesteconceitoZéum outroconceito
que é diferente do conceito do exemplo original (g). Para nós, essa é a grande
contribuiçãodeFregeparaadefesadanossatese.Elechegaàconclusãoquepodemos
preencheroespaçodeumconceito,queéumpredicado,umsentido,comexpressões
variadasqueindicamjzosvariados.
Isto quer dizer que a relão de equivalência cognitiva ocorre pela
construçãodesentidosatravésdeummodoassociativochamadodeinferência,queé
por onde obtemos uma referência indireta. Desta forma, podemos pensar na
sinonímia por encapsulamento anafórico como uma relação de substitutividade
indireta construída por umainferênciaqueintegraum conjuntodesaberes’de
natureza histórica, social e cultural. s acreditamos que esses saberes formam
aquiloqueFregechamadevalorescognitivos.
Esteracionionosleveacrerqueossentidosconstruídospelasinonímia
porencapsulamentoanafóricosãoresultantesdeatributosevaloressociaispúblicos,e
não subjetivos. Agora, podemoscompletara respostaparaapergunta,aquiampliada:
qualanatureza,fenomenológica,dasinonímiaintencional?.Anossarespostaé:a
naturezasóciocognitiva.
2.3 OSentidocomoumaRelaçãodeInferência
No artigo
Digressõessobre o Sentido eaReferência,
Frege (1978:111)
abordaacondiçãodevariabilidadedoconceitosobaperspectivaformal.Tratasede
“um lugar que sempre deve ser preenchido de alguma maneira”. Oliveira (2001:134)
ressalta que tratase de uma estrutura com lacunas que indicam a possibilidade de
preenchimentosalternativos.Paradeterminarmosessaestrutura,comparamossentenças
edestacamosapartequeérecorrente”.Oliveirachamaessaestruturadepredicado,nós
achamamosdesentido.JáFrege(p.111)achamadeconceito øouconceitoX.
64
Podemosentenderissopelosseguintesexemplos
40
:
(F1)AEstrelaMatutinaéVênus.
(F2)AEstrelaMatutinaéumplaneta.
(F3)AEstrelaMatutinaéumastroluminosodocéu.
Consideremos os exemplos (F2) e (F3) possuidores de uma parte
recorrente e invariante que é
Estrela Matutina
e outra variável. A parte variávelé o
predicado ou conceito ou sentido que atribmos à parte recorrente e invariável. As
partesvariáveisde(F2)e(F3)indicampropriedadesdiversasde
EstrelaMatutina
.Estas
propriedades modificam o modo de compreensão das sentenças construindo, assim,
novas sentenças. Podemos visualizar as lacunas de preenchimento alternativo da
seguinteforma:
(F2)AEstrelaMatutinaé______________.
(F3)AEstrelaMatutinaé__________________.
Estesespaçospodemserpreenchidosdemaneirasdiferentesdasqueestão
em (F2) e (F3). Para isto, basta que ativemos um conjunto de saberes históricos,
sociais, culturais e enciclopédicos chamados de
valores cognitivos
. Em todas as
ativações estamos nos servindo de uma construção inferencial para chegarmos às
diversas possibilidades de preenchimento, que são os modos pelos quais
compreendemos
EstrelaMatutina
.
Deixamos o exemplo (F1) de fora porque, como já explicitamos
anteriormente,Vênusoéumpredicadoouconceitoousentidode
EstrelaMatutina
.
Vênuséaprópria
EstrelaMatutina
.Porissonãopodemosaplicaroracionioacima.
Aspartesvariáveis,quesãoossentidos,alémdeindicarpropriedadesde
Vênus,tambémindicam possibilidadesderecuperarmosdiscursivamenteonome
Estrela
Matutina
. Por isto Frege chamou este tipo de sentença de estrutura completa e
saturada,comsentidoereferência.
Neste caso, de recuperação discursiva, aspropriedadespodemse tornar
nomesprópriosdesdequeprescindamdoartigodefinido.Porexemplo,oplaneta...,o
_
40
Osexemplos(F1)e(F2)pertencemaFrege,eo(F3)édenossaautoria.
65
astro luminoso do céu.... Também é considerada como nome próprio toda uma
sentença como A Estrela Matutina é umplaneta, por possuir sentido e referência.
LembramosqueparaFregeestareferênciaéindireta.
Sendoassim,asfrases(F1)e(F2)podemsersinônimassepensarmos
emumarelaçãodereferênciaindiretaem(F2),deacarretamentoentreapartevariávele
aparteinvariante. Isto torna(F3) tambémumasinonímia de (F1) e(F2). Lembramos
queestaéumasinonímiadenatureza
sóciocognitiva
.
Em Oliveira (2001:136) encontramos uma citação de Lyons (1977:125)
quenosémuitooportuna:
NaspalavrasdeLyons:Porpredicadoentendeseumtermoqueéusado
em combinação com um nome a fim de fornecer uma determinada
informaçãoacercadoindivíduoaqueonomeserefere:i.é.,afimdelhe
atribuir uma propriedade”. Aos espaços vazios dáse o nome de
argumento.Quandoosespaçosdeumpredicadosãopreenchidos,geram
sesentençasquesão,porsuavez,nomespróprios,porquetêmsentidoe
referência, e que podem então, funcionar como argumento de outros
predicadosmaiscomplexos.
Vejamos como tudo isso pode ser aplicado à sinonímia por
encapsulamentousandoagoraostermosquelhesãocabíveis.Voltemos,novamente,ao
exemplo(g):
(g) Contudo, o contribuintequerefletissesobreasnociasquelê
diariamentenosjornaisouvênaTV,agiriacommaissabedoriado
que com justa indignação diante dos assaltos diários ao dinheiro
público.Quematentar,porexemplo,paraasfilasqueserpenteiam
nascalçadasdoshospitais,iráconcluirqueelasnascembemlonge
dali. Geralmente nas cidades do interior, cujos prefeitos e
deputados preferem mil vezes receber a transporterapia” das
ambulânciasdoquemanterumhospital,umaunidadedeprimeiros
socorros que seja. Pelas razões que a Policia Federal acaba de
descobrir com essa Operação Sanguessuga. Apropriada
denominação que não pode ser esquecida nas próximas eleições.
(DiáriodePernambuco14/04/06).
OsintagmanominalencapsuladoressaOperaçãoSanguessugaapresenta
umsentido
,ummododecompreeno
daparteanaforizada
sublinhada.Estesintagma
éoespaçodoqualfalamosqueindicaapossibilidadedepreenchimentoalternativopara
oencapsulamentoanafórico. Se consideramos este sintagma como um acarretamento
66
doqueinferimoscognitivamentedaparteanaforizada,entãoosintagmaessaOperação
Sanguessuga,aporçãoanaforizadaGeralmentenascidadesdointerior,cujosprefeitos
e deputados preferem mil vezes receber a “transporterapia” das ambulâncias do que
manterumhospital,umaunidadedeprimeirossocorrosqueseja,eainferênciarealizada
políticos que sugam ou roubam dinheiro público
são sinonímicos por constituírem
referência indireta e sentido. As possibilidades de preenchimento são ativadas por
valores cognitivos que constituem a razão da variabilidade de sentido, tornando o
sintagma nominal encapsulador um argumento que poderá ser usado ou não,
posteriormente,nodiscurso.
O sintagma nominal poderá ser recuperado discursivamente como um
nomeppriocomousodoartigodefinido‘AOperaçãoSanguessugaesetornarum
argumento discursivo. Em(g’)mostramosapossibilidadedeuma variação desentido
com o sintagma nominal ‘essa Operação AntiColarinho Branco’, que implica
tambémem uma variação da inferência:
homens da classe alta que roubam dinheiro
públicoeficamimpunes
.
Portanto, diantedetudooquefoiexposto,nósacreditamosqueanossa
formadeenxergarestamanifestaçãodesinonímia,atravésdoencapsulamentoanafórico,
podeserdefendidaedefinidaocorreporumarelaçãoqueocorrepeloestabelecimento
de uma
equivalência de sentido
. O sentido é considerado como o modo pelo qual
compreendemosalgo;éumpontodevista;éumapossibilidadedeinterpretaçãoquese
dá por uma relação de equivalência de sentido que se estabelece pelo viés de uma
inferênciaindireta,conformetemosdestacado.
Através da ‘máquina freguiana’, como a chamou Oliveira, podemos
observarqueainferênciaocorretantoemsentençasextensionaisquantoemsentenças
intencionais.Asinferênciasvariamdesdeumainferênciasintáticaatéumainferênciaque
podemoschamarde
sóciocognitiva
,poragregarvalorescognitivos.
Vejamosno próximocapítuloas implicaçõesdessanossaformadevera
sinonímia por encapsulamento anafórico, deixando agora a perspectiva da semântica
lógicaefilofica,paranosdebruçarmossobreaperspectivadalingüísticatextualeda
referenciaçãoparaavançarmosnomododecompreensãodoqueécomofuncionaesta
sinonímia.Continuaremosaobservarosentidopelaperspectivasquedesenvolvemosaté
67
agora, e mergulharemos na definição de MariaElisabeth Conte (2003) para fazermos
consideraçõessobrealgunsdeseuspressupostoseadentrarmosnavisãosóciocognitiva
destefenômeno.
Lembramos que a nossa intenção é mostrar que a sinonímia por
encapsulamentoexiste,éumfenômenoidentificávelepossíveldeserdescritoapartirde
reflexõesquepartemdasemânticafilosófica,dasemânticaanalíticaedeanálisesquese
encontram à margem da semântica lógica, como vimos em Frege ao tratar da
substituição de segundo vel e da referência indireta e intencional. Até o momento
buscamosmostrarquenasperspectivasacimaháindicativossobrealgoquevaialémdo
significadodeumapalavraousentença:osentido.
Nossasdiscussõestêmevidenciadoaexistênciadecomponentescognitivos
nas análises e reflexões feitas até aqui. Embora muito timidamente. Veremos este
aspecto com mais ênfase nos capítulos 3 e 4, onde ressaltaremos o caráter social e
cognitivo da sinonímia por encapsulamento anafórico e a enquadraremos, então, na
perspectivasóciocognitiva.
68
CAPÍTULO3
ACONSTRÃODASINONÍMIAPORENCAPSULAMENTO
ANAFÓRICO:UMAPERSPECTIVASÓCIOCOGNITIVA
Encapsulamentoanafóricoéumrecursocoesivopeloqualumsintagma
funcionacomoumaparáfraseresumitivadeumaporçãoprecedentedo
texto. O sintagmanominal anafóricoéconstrdocomumnomegeral
como núcleo lexical e tem uma clara preferência pela determinação
demonstrativa. Pelo encapsulamento anafórico, um novo referente
discursivoécriadosobabasedeumainformaçãovelha;elesetornao
argumentodepredicaçõesposteriores.Comoumrecursodeintegração
semântica, os sintagmas nominais encapsuladores rotulam porções
textuaisprecedenteaparecemcomopontosnodaisnotexto.Quandoo
núcleodo sintagmanominalanarico éaxiológico,oencapsulamento
anafórico pode ser um poderoso meio de manipulação do leitor.
Finalmente, o encapsulamento anafórico pode também resultar na
categorização e na hipostasiação
*
(“hypostasis” ) de atos de fala e de
funçõesargumentativasnodiscurso.
Conte (2003:177)
A definição de encapsulamento anafórico apresentada por Conte diz que este
fenômenofuncionacomoumaparáfraseresumitivaqueretomaumaporçãoanteriordo
texto, e que isto ocorre através de um sintagma nominal acompanhado,
preferencialmente, de uma determinação demonstrativa, criandose um novo referente
discursivo.Vejamosoexemplo(1),deConte,abordadononossocapítulo1:
(1) É de ontem a notícia de que um superpetroleiro afundou ao
largo dacostabálticaderramandoacargainteiranomar.Hojese
pergunta:estaenésimacatástrofeecológica poderiaserevitada?
Neste exemplo, de acordo com a definição de Conte, o sintagma nominal
encapsulador esta enésima catástrofe funciona como uma paráfrase resumitiva da
porçãoanterioranaforizada
Édeontemanotíciadequeumsuperpetroleiroafundou
aolargodacostalticaderramandoacargainteiranomar
.Enésimacatástrofeé
vistaentãocomo:1)umaparáfraseresumitiva;2)umnovoreferentediscursivo; e3)um
argumento para predicações posteriores podendo servir de meio de manipulação
69
discursiva.sconcordamoscomositens(2)e(3),masnãotemosamesmaopinião
quantoaoitem(1).
Pela definição de Conte, a paráfrase resumitiva estabelece uma relação de
argumentoparapredicaçõesposteriores.sentendemosqueafuãodaparáfrase,em
Conte,é
predicar
atravésdeumsintagmanominalencapsulador.Entendemostambém
quenemsempreaparáfraseirámanteromesmoreferenteeomesmosentidodaporção
precedentedotextoporque,deacordocomadefinição,aparáfraseresumitivacriaum
novoreferentediscursivo.
Todavia,aposiçãodeContequantoaosintagmaencapsuladorfuncionarcomo
uma paráfrase resumitiva o é a mesma defendida por nós neste trabalho. s
enxergamos este recursotextual como uma ocorrênciadesinonímiaenãocomouma
ocorrência de paráfrase resumitiva. Como já dissemos anteriormente, esta o é a
perspectiva pela qual enxergamos este fenômeno textual, e este trabalho pretende
mostrar que o nosso olhar é racional e pertinente a toda descrição de sinonímia por
encapsulamentoanafóricoquetemosdesenvolvidoatéaqui.
Sempretendermosdiscutirateoriageraldaparáfraseenemassuasformasde
ocorrência,observamosquenoexemplo(1)etammemoutrosexemplosdadospor
Conte, o sintagma nominal encapsulador PODE funcionar como uma sinonímia por
encapsulamentoanafóricoenãosócomoumaparáfraseresumitiva.Poristoatemos
chamadodesinonímiaporencapsulamentoanafórico.Vejamoscomoistoacontece.
3.1 APerspectivadaSinonímianachamadaParáfraseResumitiva
Buscamos no trabalho de Gaston Hilgert (USP) uma leitura mais
abrangente sobre a paráfrase e suas formas de manifestação. Lá, encontramos uma
definição de paráfrase dada por Wenzel (1981:386
apud
Hilgert,1989:28)
41
nos
seguintestermos:doisenunciadoslinísticosestãoumcomooutronumarelação
parafrástica,quandoosegundoenunciadoretomaemparteounotodooquefoi
_
*
N.T:Hipóstase,emsentidofilosóficolembrasedimentaçãotransformaçãoemsubstância(aquiloquehá
depermanentenascoisasquemudam).(Conte,2003:190).
41
Ver a tesededoutoradodeG.Hilgert,intitulada
Aparáfrase:umprocedimentodeconstituiçãodo
diálogo
.
70
dito no primeiro e, com isso, expressa idéia de igualdade ou de semelhança.
Vejamosaaplicaçãodessadefiniçãonoexemploabaixo
42
:
(2)
Averdade,profundaanomalia donosso sistema detelevio,
representa o peso do poder potico. Este fato provocou uma
excessivafragmentaçãodaredeprivada,sobretudonoCentroSul.
(Conte,2003:178).
Noexemplo(2),estefatoestáemrelaçãoparafrásticacomtodaafraseanteriore
expressaidéiadeigualdadeousemelhança.Aprimeiraperguntaquenosvemàmenteé:
igualdadeousemelhançaentreoquê?Entresentidos,entrereferentes?Ousodotermo
igualdade
na definição clássica de paráfrasedadapor Wenzelnoslevaa percebermos
queestapossuiamesmaconcepçãodeFregesobreaigualdadedosignificado:queéa
igualdadeentrereferentes.AquelaaqualFregechamoudeprimeironível.
Se a igualdade a qual a definição de paráfrase de Wenzel aludeé pensada em
termos de igualdade entre referentes, então estamos diante do princípio de
substitutividade
salva veritate
, que é atribdo,
também
, à sinonímia. Tal como foi
tratadoporFrege(1978)eporOliveira(2001).
Apossibilidadedeenxergarmoscomoparáfraseoencapsulamentoanafóricoé
possívelselevarmosemcontaoconteúdoextensionaldostermos.Aoquenosparecefoi
o que Conte fez. Mas, ainda assim, como explicar pela definição de Wenzel que o
sintagmanominalestefatopossuiomesmovalordeverdadequeaporçãoanaforizada
É de ontem a notícia de que um superpetroleiro afundouao largo dacosta ltica
derramandoacargainteiranomar
?Qualseriaovalordeverdadeoureferentedeste
sintagmanominal?Nãosabemosresponder.Poisfaltaparaistooconhecimentodeum
contextoquefoichamadoporFregedeopaco”,porterpropriedadesintencionaisenão
extensionais.
Vimosnocapítulo2,noitem2.3,queestefatoocupaaposiçãodepredicadoou
conceitoqueprecisaterumvalordeverdadeparapoderassumiraposiçãodesubstituto
salvaveritate
,daporçãoanterioranaforizada.Eistonósjásabemosqueoépossível,
pois é necessárioquetenhamosumconhecimentodemundoparachegarmosàverdade
_
42
UsamosesteeoutrosexemplosdeConte(2003)apenasparaargumentarmosanossaposiçãoteórica.
Asanáliseseconsideraçõessãonossas.
71
destetermo.Assim,nãosetratadeumasinonímia
salvaveritate
,nemdeumaigualdade
ou semelhança entre referentes. Tratase de uma sinonímia intencionalcom referência
indireta. Oquesó reforçaanossa idéia de queeste tipo de encapsulamento anafórico
podeservistocomoumasinonímia.
Podemosassociaraosargumentosquetemosusadoparadefenderanossatesede
sinonímia por encapsulamento anafórico, que a paráfrase é uma técnica corrente no
Estruturalismo e na Gramática GerativoTransformacional em particular, chamada de
transformação parafrástica. É um mecanismo de transformação nas operações
estruturais, sejamelas de naturezafonológica, morfológica ou mesmo semântica. Mas
essanaturezasemânticatemporbaseasinferênciasextensionaisenãoasintencionais.
As inferências intencionais têm um estudo mais desenvolvido no campo da
pragmática (Grice,1971;1975), da pragmáticacognitiva ou sóciopragmática
(Sperber e Wilson, 1986), da cognição e da sóciocognição (Miller:1994;
Fauconnier:1997; Salomão:1999; Fauconnier e Turner: 2002; Barsalou:1992;
Koch:2004; Marcuschi: 2003), mais particularmente nos estudos sobre cálculos e
projõesdesentidoem umanaturezasóciocontextual.Marcuschi(2003:246)éumdos
teóricos que defendea tesedequenãoexistemcategoriasnaturaisporquenãoexiste
ummundonaturalmentecategorizado”.
De acordo com Marcuschi (2003), o seu ponto de vista sóciocognitivo é o
mesmodefendidoporMiller(1994)aoafirmarqueaformacomoconstruímosanossa
percepção revela o modo pelo qual concebemos a realidade externa de maneira
recorrente; por Fauconnier (1997) ao postular que as mesclagens conceituais são
origináriasderelaçõesinferenciaisqueocorremtambémporumcontínuoderecorrências
que se dá em relações intersubjetivase não numa relação diretacom a realidade; por
FauconniereTurner(2002)aoexpressaremqueaoselevaremcontaavidamentalde
umindivíduocomos processosdeanalogia,a atividade metafórica,associaçõesetc,a
produção de significações resulta de mesclagens conceituais e não de identificações
factuais,eporSalomão(1999)aotrataralinguagemcomocapacidadedeconhecimento
do sujeito com outros sujeitos em uma relação de criação de conhecimentos,
multiplamenteenquadrávelemprocessossóciocognitivos.
72
Estasposiçõesteóricasservemparanosmostrarque
aforma
nãoéaúnicaviade
acesso para a construção do sentido. Existem atividades sóciocognitivas, como as
associações,metáforas,metomias,meronímias,eincluímosaquiasinonímia,quevão
ser relevantes para essaconstrução. Todos essesautores buscam integrar, como fator
relevantenosestudoscienficos,asinterrelaçõesdeidentidadeeimaginaçãocriadasa
partirdeinferenciações.
Oquenósdizemoséconstruídodiscursivamenteeainferênciaestánabasedas
categorias e dos conceitos, tal como discutimos no capítulo 2, no item 2.3. Por isso,
entendemos que o exemplo (2), embora caracterizado através de um nome geral
(HallidayeHasan,1976),naperspectivadeumareferênciaindiretaeintencional,vaise
constituir como uma sinonímia de natureza sóciocognitiva que se dá através de
processosinferenciaisindiretos.
Atravésdaanálisequefizemoscomoexemplo(2),deConte,nóspodemosdizer
que este exemplo não pode ser definido, APENAS, como um caso de transformação
parafrástica, tal como visto nos moldes do Estruturalismo e da Gramática Gerativa
formal. Sobre bases tricas ciocognitivistas, nós podemos enxergála, TAMBÉM,
como um caso de sinonímia levandose em conta o caráter social dos processos
cognitivos envolvidos em uma ação discursiva. Pois o sintagma nominal este fato
estabelece uma sinonímia onde o sentido é revelado pelo próprio sintagma nominal
encapsuladorqueevidenciaummododeapresentaçãodacompreenumpontode
vista; uma possibilidadeinterpretativaconstruídaporumarelaçãoinferencialde
natureza sóciocognitiva. No exemplo (2) também podemos aplicar o princípio de
variabilidadedosentido:
(2)
A verdade
,
profunda anomalia do nosso sistema de televisão,
representa o peso do poder político
. Esta declaração / Esta situação /
Esta conscientização / Esta alienação / Esta mentira provocou uma
excessiva fragmentação da rede privada, sobretudo no CentroSul.
(Conte,2003:178).
Portalrazãodissemosanteriormentequeosentidoconstróiumpontodevistano
processo do encapsulamento anafórico. E cada palavra usada para ocupar o lugar do
termofatopoderáresultarem umaoutrasinonímiacom umoutrosentido.
73
Diante das considerações apresentadas, a definição de paráfrase de Wenzel
(1981:386) parecenos bastante restrita para se analisar o queocorre no exemplo(2),
sobaperspectivaintencional discutidaem Frege.AoaplicarmosateóricadeFregena
definiçãodeWenzelvemosquearelaçãoestabelecidanãoénemdeigualdadeenemde
semelhança, uma vez que um conceito só pode ser paráfrase de outro conceito e um
objetopodeserparáfrasedeoutroobjeto.Oquenãoéocasoaqui,poisosintagma
nominalencapsuladortemafunçãodepredicadoenãodereferente.Osintagmanominal
pode se tornar um referente se nós usarmos o artigo definido transformandoo emo
fato,umnomequepoderáservircomoumargumentoposteriornotexto.
Oencapsulamentoanafóricoobservadocomoumtipodeocorrênciadesinonímia
inserese numa vio de língua praxeológica e interativa, na qual as formas servem
semprecomofontesparaasinterações.Quantoaisto,nósassumimosaposiçãoteórica
deMarcuschi(2003:252253)aodizerque:
Situaçõessãoconstructossociaisqueresultamnãode“percepções”,masde
definições,considerandoqueasaçõeshumanassãoguiadasporsentidose
significações, no centro das ações estão os processos de interpretação.
Antes de agir, sempre interpretamos as situações comalguminstrumento
disponívelcomo,porexemplo,algummodelodesituaçãodispovelparao
momentodaação.(...)Énessemomentoquealinguagemassumeseupapel
fundamentalcomocondiçãodepossibilidadedaexpressãointersubjetivada
recorrência,analogiaesimilaridadequeoperamcomoestruturassemticas
efundamoconhecimentocomoreconhecimento.
Comodissemosnoiciodestecapítulo,nãoénossofocodiscutirasrelaçõesde
paráfrasenestetrabalho.Buscamoslevantaralgumasinquietaçõesquantoaofatodese
observaresterecursoapenascomoumrecursosemântico,eapenassobreaóticadeuma
paráfraseresumitiva.
Outro estudo detalhado e profundo sobre a paráfrase nós encontramos em
CatherineFuchs(1982).Nofinaldoseulivrointitulado
LaParaphrase
(p.163164),há
umatrechonoqualelanosdizqueexisteumfenômenolingüísticointeressantequepode
serafavoroucontrárioàparáfrase:l’existencederelationsd’inférenceàpartirdês
74
énoncés – relations qui peuvent, selon lês cas, fonder ou au contraire bloquer
l’établissementd’unerelationdeparaphrase
43
.
Nósacreditamosqueasinonímianoencapsulamentoanafórico,naperspectivade
uma inferência indireta, sobre bases sóciocognitivas, pode ser um dos possíveis
questionamentos para discutirmos claramente os limites que separam uma paráfrase e
umasinonímiaemaçõescomunicativassocialmentesituadas.
EstacitaçãodeFuchsbaseiaseemsuacrençadeque“aquiloquepoderiapassar,
do ponto de vista do estrito ‘sentido lingüístico’, por uma identidade de sentido
(sinonímia),funcionasempre,napráticadiscursivaconcreta,comoumavanço,comoum
deslocamentodesentido”.Porisso,paraFuchs(p.30),parafrasearéentregarseauma
atividadedereformulaçãopelaqualserestituiosentidodeumdiscurso(enunciadoou
texto)jáproduzido(...),etodarestituiçãodesentidoédeslocamentodesentido”.
Anossaposiçãoéqueoencapsulamentoanafórico,conformeotemosdescrito,é
uma atividade de referencião indireta de natureza sóciocognitiva na qual o sentido
nãoé a restituiçãodeumdiscursojáproduzido. Osentidoéaapresentaçãodeum
pontodevista,ummododecompreensão,umapossibilidadeinterpretativaqueéinferida
a partir do conteúdo anteriormente expressado, constituindo assim um processo de
sinonímia.Vejamoscommaisdetalhesaspartesconstituintesdesteprocessosinonímico.
3.2 OSentidonaPosiçãodeSintagmaNominalEncapsulador
De acordo com Apothéloz e Chanet (2003:132133), no artigo
Definido e
demonstrativo nas nomeações
, o sintagmanominal encapsulador é umanominalização
quesumarizainformaçõesdaporçãoanteriordotextoatravésdoencapsulamentodeum
processoouestadoexpressoanteriormenteporumaproposição.
O termo nominalização diz respeito a uma operação discursiva chamada de
operação anafórica, e o nome núcleo da anáfora é denominado por estes autoresde
substantivo predicador. O predicador apresentase como um lexema que marca a
_
43
“Aexistênciaderelaçõesdeinferênciaapartirdosenunciados–relaçõesquepodem,deacordocom
oscasos,fundamentarouaocontráriobloquearoestabelecimentodeumarelaçãodeparáfrase”.(Trad.
nossa).
75
operaçãodeencapsulamentoanafórico cujafuãoécriarumreferenteou objetode
discurso atravésdeumconjuntodeinformaçõessuporte.
Onomenúcleodeumsintagmaencapsulador,comoporexemploestaenésima
catástrofe,é umpredicado.Por issoé possíveldizermos,deacordo comovimosem
Frege,queestenomeapresentaumconceito,umsentidoexpressopelolexemaequese
torna um objeto de discurso. E os casos de encapsulamento com nomeações que
manifestamumapropensãoparaumadeterminaçãodemonstrativa(c.f.Conte,2003:177;
Apothéloz e Chanet,2003:142), nos parecem sempre possuírem referência e sentido
construídosextensionalmenteouintencionalmente,comodiscutidonocapítulo2coma
teoriadeFrege.
Segundo postulam Apothéloz e Chanet, o substantivo predicador pode operar
uma recategorização mais ou menos metafórica do processo, ou comportar uma
conotaçãoaxiológicaevidente.Comotemosdefendidoqueosubstantivopredicadoréo
sentidoconstruídonasinonímiaporencapsulamento,istoexplicaofatodesteespaço,no
texto,poderterváriaspossibilidadesdepreenchimentocomoespecificamosnoexemplo
(2):Esta declaração / Esta situação/ Esta conscientização/Estaalienação/Esta
mentira. Cada uma dessas possibilidades
requalifica
,
reenquada
,
reorienta
,
recategoriza
oencapsulamentoeporconseqüênciaapresentaumanovasinonímia.
É importante lembrarmos que todos os exemplos de sinonímia por
encapsulamento anafórico discutidos nesta investigação são exemplos que
recategorizam,poispartimosdaposiçãoteóricaassumidaporMarcuschi(2003:243)de
que:
A maneira como dizemos aos outros as coisas é muito mais uma
decorrência de nossa atuação discursiva sobre o mundo e de nossa
inserção sóciocognitiva no mundo pelo uso da nossa imaginação em
atividades de ‘interação conceitual’ do que simplesmente fruto de
procedimentosformaisdecategorizaçãolingüística.
Destemodo,mesmoqueonúcleodosintagmanominalsejapreenchidoporum
nome semanticamente
quase neutro
ou
pronome
(Halliday e Hasan,1976), como o
sintagma nominal do exemplo (2) este fato, ainda assim acreditamos ocorrer a
recategorização. Todo o processo de encapsulamento, de sumarização de informão
anterior,quenãoocorrepormeiodeumarepetiçãolexicaldealgumitemexplicitado
76
anteriormentenotexto,implicaemumarecategorizaçãodainformação,sejaelaatravés
deinferênciassemânticasou ciocognitivas.
Isto nos lembrar da definição de sinonímia que encontramos em Ullmann
(1964:130)nolivrointitulado
Semântica:umaintroduçãoàciênciadosignificado
.
Segundoesteautor:
A sinonímia é mais que um processo textual de substituição, é um
processo textual de construção, manuteão, categorização e
recategorização da interpretação através de operações mentais que
intensificam, emotivam, valoram, depreciam, identificam aspectos
discursivosculturaisesociais,eatémesmopsíquicosdosseususuários.
As associações aqui o condicionadas pelas circunstâncias de uso e
característicasdosusuários,ecostumamocorrernasdiversasmodalidades
deregistro.
Éinteressanteobservarmosasidéiasderecategorização,deoperaçõesmentais,de
valores cognitivos e de associações que estão expressas nesta definição semântico
pragmática
44
. Esta definição não apresenta discrepâncias com o que é defendido na
sóciocognição sobre ser a ngua uma forma de ação social situada cujos aspectos
sociais, históricos e culturais dos indivíduos contribrem para as diversas formas de
categorizaçãoerecategorizaçãodosobjetosdenossosdiscursos.
Defendemosaspectossemelhantes,mascomalgumasalteraçõesqueousamosfazer
nestadefiniçãoparaajustálaàsconcepçõesmaisamplasdefendidasnestetrabalho,uma
vezqueelasnosparecembemplausíveis:(anossa mudançaestásublinhada):
Asinonímiaémaisqueumprocessodesubstituição,éumprocesso
textual discursivo de construção, manutenção, categorização e
recategorizaçãodainterpretação,atravésdeoperaçõespredicativas
que intensificam, emotivam, valoram, depreciam, identificam
aspectosdiscursivosculturaisesociais,eatémesmopsíquicosdos
seususuários.Asassociaçõesaquioconstruídasporrelõesde
sentido socialmente situadas nas ações comunicativas, que são
condicionadas pelas circunstâncias de uso e características dos
usuários,ecostumamocorrernasdiversasmodalidadesderegistro.
_
44
Ullmannem1964(pp.294295)defendiaaidéiadoprofessorW.E.Collinson(1939)dequenãohá
sinônimosperfeitosesimdiferençasnousodesinônimos.OprofessorCollinsonbaseiasenoartigode
G.Devoto<<sinonímia>>in
EnciclopédiaItaliana
,XXXI,p.857.Nesteartigo,Devotoexpõequeuma
palavrapodesersinônimadetodaumafrase.
77
Ullmann(1964:294) dizque“éperfeitamente verdadequeaabsolutasinonímia
vem contra o nosso modo habitual de considerar a linguagem. (...) Muito poucas
palavrassãopermutáveisemqualquercontexto,semamaislevealteraçãodosignificado
objetivo,dotomsentimentaloudovalorevocativo”.
Ainda segundo Ullmann (1964:498), nos processos de categorização e
recategorização subjaze uma rede de associações que as ligam com outros termos,
outrosdiscursos.Essasassociaçõesestãoalgumasvezesbaseadasemligaçõesentreos
sentidos,outrassãomeramenteformais,enquantoqueoutrasenvolvemaomesmotempo
aformaeosignificadotermodasemânticaformal.
De acordo com o conceito de campos associativos desenvolvido por Bally
(1950), o que forma o campo associativo de uma palavra é uma intrincada rede de
associaçõesquesebaseiamoranasemelhança,oranacontiguidade,surgindoumasentre
sentidos e outras entre nomesou aindaentreambos.Ullmann (1964:501) nosdizque
por ser o campo aberto por definição, algumas associações estão condenadas a ser
subjetivas.Muitas fazempartedosprocessosdemetáforas,comparaçõeseprovérbios.
Consideramosqueesteémaisummotivoparapensarmosqueasinonímiavaialémdo
processo desubstituição. Emumaação comunicativa socialmentesituada,a sinonímia
constrói, mantém, categoriza e recategoriza os sentidos que são organizados
socialmente. Acreditamos que são as
predicações
realizadas na sinonímia que nos
permitem estudarmos este fenômeno no campo da cognição e mais ainda da sócio
cognição,porevidenciarem osaspectosaxiológicosquesãointrínsecosaesseprocesso.
A recategorização no encapsulamento anafórico é chamada de rótulo
retrospectivo. No artigo
Rotulação do discurso: Um aspecto da coesão lexical de
grupos nominais
, Gills Francis (2003:191) aborda o sintagma nominal encapsulador
como um rótulo retrospectivo. Na nossa perspectiva, o tulo retrospectivo é o que
denominamos de sentido. Francis (p.195) define um tulo retrospectivo da seguinte
forma:
Umrótuloretrospectivoserveparaencapsularouempacotarumaextensão
dodiscurso.Meucritériomaiorparaidentificarumgrupoanaforicamente
coesivocomoumrótuloretrospectivoéquenãohánenhumgruponominal
particular a queeleserefira:nãoéumarepetiçãoouumsinônimo”de
nenhum elemento precedente. Em vez disso, ele é apresentado como
equivalente à oração ou orações que ele substitui, embora nomeandoas
pelaprimeiravez.Orótuloindicaaoleitorexatamentecomoestaexteno
78
dodiscursodeveserinterpretada,eissoforneceoesquemaderefencia
dentrodoqualoargumentosubseqüenteédesenvolvido.
Esta definição apresenta dois aspectos comos quais não concordamosquando
pensamos no caso da sinonímia por encapsulamento anafórico. A primeira
discordância recai sobre a afirmação do critério maior de identificação de um rótulo
retrospectivoseranãoreferênciaanenhumgruponominalparticular.
Nóssublinhamosaporçãoanaforizadanosexemplostrabalhadosjustamentepara
mostrar que o sintagmanominal dirigese, no texto, aumgrupo nominal individuado.
Porém,aporçãoanaforizadafuncionacomoumaâncorareferencialparasechegarao
referenteinferido eque está ligado àâncorapelas pistascotextuaisecontextuaisque
unemaâncorareferencial,osintagmanominalencapsuladoreoreferenteinferido.
Este referente nós jáo apresentamosnocapítulo2sobonomedeconceitoZ,
queéoresultadodainferênciaindiretaconstruídaequeresultanosentidoconstruído.
Vejamosnovamenteoexemplo(g):
(g) Contudo, o contribuintequerefletissesobreasnotíciasquelê
diariamentenosjornaisouvênaTV,agiriacommaissabedoriado
que com justa indignação diante dos assaltos diários ao dinheiro
público.Quematentar,porexemplo,paraasfilasqueserpenteiam
nascalçadasdoshospitais,iráconcluirqueelasnascembemlonge
dali. Geralmente nas cidades do interior, cujos prefeitos e
deputados preferem mil vezes receber a transporterapia” das
ambulânciasdoquemanterumhospital,umaunidadedeprimeiros
socorros que seja. Pelas razões que a Policia Federal acaba de
descobrir com essa Operação Sanguessuga. Apropriada
denominação que não pode ser esquecida nas próximas eleições.
(DiáriodePernambuco14/04/06).
1) O sintagma nominal encapsulador (o sentido construído): essa Operação
Sanguessuga;
2) Porção anaforizada (âncora referencial): Geralmente nas cidades do interior, cujos
prefeitosedeputadospreferemmilvezesrecebera“transporterapia”dasambulânciasdo
quemanterumhospital,umaunidadedeprimeirossocorrosqueseja,
3) Inferência realizada (referente inferido):
políticos que sugam ou roubam dinheiro
público
79
Neste exemplo o sintagma nominal encapsulador é o sentido, oucomo chama
Francis, rótulo retrospectivo. A porção anaforizada é o grupo nominal particular que
servedeâncorareferencialparaoencapsulamento,poisancoraeativa(cognitivamente)
oseureferentequeéainferênciaconstruída.Assim,ochamadotuloretrospecto,pela
perspectiva investigativa deste trabalho estabelece uma relação sinonímica com a
inferência,criandoassimaanáforaeoseureferente.
Anossa segundadiscordânciadiz respeitoaosintagma nominalencapsulador
não ser um sinônimo” de nenhum elemento precedente. De fato, o sintagmanominal
encapsulador não é sinônimo e nem repetição de nenhum elemento anterior,
mas é
sinônimodainferênciaconstruídaentreosconteúdosdaporçãoanaforizadaeassuas
associaçõesrealizadas emumcontextosóciodiscursivosituado
.Aâncorareferencial,
por um processo inferencial, ativa um novo referente construído cognitivamente.
Schwarz(2000:98110)
45
, no artigo
Indirekte Anaphern inTexten
, chama estetipode
anáforadeanáforaindireta,pois
Exigemse, para sua solução, estratégias cognitivas fundadas em
conhecimentos semânticos armazenados no xico, ligados a pais
semânticos, e também se exige estratégias cognitivas baseadas em
conhecimentosconceituaisbaseadosemmodelosmentais,conhecimentode
mundoeenciclodicos.
ParafinalizarmosanossaanálisesobreacitaçãodeFrancis(p.195),aoinvésde
elaborarmos uma outra discordância, apresentaremos um ponto de concordância.
Concordamos com a explicaçãodequeo rótuloindicaao leitor exatamentecomo
esta exteno do discurso deve ser interpretada, e isso fornece o esquema de
referênciadentrodoqualoargumentosubseqüenteédesenvolvido”.Istoéotemos
afirmadoaopostularqueosentidoindicaomodopeloqualinterpretamososconteúdos
daporçãoanterioranaforizada.
Diantedasconsideraçõesqueacabamosdetecer,onosépossível percebermos
oencapsulamentoanafórico
apenas
comoumrecursodeintegraçãosemântica,talcomo
postulamFrancis(2003)eConte(2003).Eleémaisqueisso.Eleétambémumrecurso
de coerência e interação de natureza sóciocognitiva constrdo pela língua em uma
_
45
TraduçãodeMarcuschi(2001),noartigo
AforaIndireta:OBarcoTextualesuasÂncoras
.
80
práticasocial,tornandoseentãoumaformadereferenciaçãoporinferenciaçãoindireta
sóciocognitiva.
Vejamos mais doisexemplos(Conte,2003) para sintetizarmoso quefoiexposto
atéagora:
(3)
O miniteste de ontem parece dizer que a maioria dos italianos
continuaavotardentro do perímetro docentrodireitodoPólo
da Liberdade: mas dentro desse perímetro redistribuemse os
própriosconsensos,nãoesquecendonemmesmoaAliança,que
parece ter começado a bloquear uma perigosa erosão.
Curiosamente,sim.Mas,acrescentamos,nemtanto.Porque,esta
tendência era em boa medida colhida daquelas mesmas
estratégiasberlusconianasdeavaliação.
Em (3),aporçãoanaforizadasublinhadaservedeâncorareferencialparaosintagma
nominalencapsuladorestatendênciaque,porsuavez,éosentidodarelaçãoinferencial
construída pela porção anaforizada. A inferência construída ativaumreferente cognitivo
quepodeser,porexemplo,
maneiradeagirtemporária
.
(4) No fim,contudo, aluta contraa corrupção serávencidapelo
desenvolvimento dos próprios países não pelo mundo dos ricos.
Há sinaisencorajadores: a Tailândia e o Zimbábue, entre outros,
estabeleceram comissões anticorrupção, embora elas nem sempre
cumpramo queprometem.(...). naArgentinae emoutroslocais,
advogados, que uma vez defenderam casos civis, agora lutam
contraacorrupção.Estesesforçosnativosalgumasvezesacabam
morrendonacasca.
Em (4), a porção anaforizada é a âncora referencial do sintagma nominal
encapsulador estes esforços nativos, que é o sentido constrdo pela inferência. Já o
referenteativadopelainferênciapodeser:
lutapelamoralizaçãodapátria
.
81
As inferências descritas constituem lculos cognitivos guiados por ações
desencadeadas por contextos socialmente partilhados, por isto os chamamos de
inferências sóciocognitivas. Nestes cálculos estão os
conhecimentos partilhados
,
o
conhecimentodemundo
,
osframes
,
osesquemas
,
osscripts
etc,queagemcomo ações
sociaispossibilitandoavariabilidadedosentido.
3.3 ASinonímiaporEncapsulamentoAnafórico comoumaAçãoSocial
Quando consideramos a sinomia por encapsulamento como um fenômeno
sóciocognitivo deixamos de lado a concepção de língua em termos de sistema e
passamos a considerála como uma ação social, uma ação conjunta que envolve
aspectoscognitivosesociais.
AidéiadequealinguageméumaaçãoconjuntafoiformuladaporClark(1996)
a partir dos trabalhos de G. Lakoff (1986) e R. Langacker (1987), que estudam a
linguagemcomoumaformadeaçãonomundoequeintegrafenômenoscognitivosem
geraleemparticular.Os fenômenoscognitivosqueocorrem navidasocialfuncionam
como um espaço que oferece modelos da interação e da construção de sentidos
cognitivamentecoerentesemotivados
46
.SegundoClark
47
(1996:4):
Emalgunslugares,ousodalínguatemsidoestudadocomosefosseum
processointeiramenteindividual,comoseresidisseinteiramentedentrodas
ciências cognitivas – psicologia cognitiva, lingüística, ciência da
computação,filosofia.Emoutroslugares,elatemsidoestudadacomose
fosse um processo inteiramente social, como se residisse inteiramente
dentrodasciênciassociais–psicologiasocial,sociologia,sociolingüística,
antropologia.Eusugiroqueelapertenceàsduasáreas.Nósnãopodemos
teresperançadeentenderalínguaanãosertomandoacomoumconjunto
deaçõesconjuntasconstruídasapartirdeaçõesindividuais.
Sabemos que a perspectiva pragmática foi o grande marco da virada da
concepção de língua como sistema paraa concepção de língua como ação social. O
texto, visto como a unidade principalda comunicaçãoe da interação humana ganhou
forçasnasteoriasdecunhocomunicativo.Koch(2004;2005)explicaquealingüísticade
textoteveseuspilaresnaTeoriadosAtosdeFalaenaTeoriadaAtividadeVerbal,onde
_
46
VeressadiscussãoemKocheCunhaLima(2004).
47
TraduçãodeKocheCunhaLima(2004).
82
o texto tornouseo ponto de partida para osestudos sobre contextos comunicativos
situacionaiscujofocoprincipaleraestudaranguanoseufuncionamentoconcreto,na
sociedade.Alínguaeratomadacomoumaatividadehumanacomunicativaecomoações
sociais.Deacordocom KocheCunhaLima(2004:285):
Asaçõesverbaisoaçõesconjuntas,ouseja,usaralinguagemésempre
seengajaremalgumaaçãonaqualalinguageméomeioeolugarondea
açãoacontecenecessariamenteemcoordenaçãocomoutros.Essasações,
contudo, o o realizações autônomas de sujeitos livres e iguais. o
ações que sedesenrolamemcontextos sociais,comfinalidadessociaise
com papéis distribuídos socialmente. Os rituais, os neros eas formas
verbaisdispoveisosãoemnadaneutrosquantoaestecontextosocial
e histórico. (...) Ver a linguagem como ação conjunta não é, então,
suficiente: é precisopassar a abordála comoumaaçãosocial.Relações
sociais complexas (cultural e historicamente situadas) autorizam ou
desautorizamosfalantesaproduziremcertossentidos.
Segundo as autoras, para a concepção de língua como ação social houve
contribuição da psicologia da linguagem e da filosofia da linguagem, em meados da
décadade70.Àprimeiracoubeodesenvolvimentodaidéiadeatividadeverbalhumana,
e à segunda coube os estudos sobre a Teoria dos Atos de Fala nas ações sociais
individuais.
Muitas críticas foram feitas aos estudos dos Atos de Fala (Austin,1962;
Searle,(1984);eGrice,(1975),napragmáticaclássica,pelofatodessasteoriastratarema
construçãodosentidocomoalgoqueocorrenamentedosfalantesenãocomoalgo
queseconstróitambémexternamente,socialmente,conjuntamente.
ParaSearle(1984),ousodeumaexpressãorepresentaintençõesesignificados
pretendidosportalexpressão.Osignificadoéconstruídoatravésdeumprocessoquese
dá internamente, é mental e individual. Compreender o significado é depreender as
intenções do falante e qualquer desvio dessa interpretação é vista como errada. O
ouvinteéapenasumdecodificadordasintençõesdofalante.AinteraçãonaTeoriados
AtosdeFalaocupaumafunçãodetrocassistemáticasentredoisindivíduosautônomos,
ligadosporumcódigocomum(alínguafaladadeambos),talcomonosapontam Koche
CunhaLima(2004:281)eKoch(2005).
Tambémconsideramoscomoasautorasacima(2004:282),queomaiorproblema
dessa concepção é que “as intenções são tomadas como o real significado de uma
83
expressãousada.Anguaaindanãosaidaidéiadecódigoeainteraçãoficarelegadaa
umconjuntodetrocassistemáticasentrefalanteeouvintequeusamumcódigocomum.
KocheCunhaLima(2004)ressaltamqueéproblemáticoofatodeSearleusarotermo
significado e considerálo como um processo totalmente mental e individual. s já
discutimos isto nos capítulos anteriores, ao dizermos que o termo significado pode
considerarapenasareferência,comopodetambémconsiderarreferênciaesentido,como
emFrege.
No entanto, as autoras asseveram queaconcepção deSearlenão seconstituiu
como entrave para que a teoria da ação verbal viesse a ter contornos mais amplos,
deixando de ser vistacomo sefosseconstruídaexclusivamente namente do indiduo
paraservistacomoumaconstruçãoematividadessociais,nofazer(agir)interativocom
o outronumcontexto sociocomunicativo.Vejamosaviradaparaessaperspectiva,em
umadascitaçõesemKoch(2004:1415),aopôremevidênciaacitaçãodeWunderlich
(1976:30), e apontálo como um dos autores mais referendados na área dos estudos
textuaisnadécadade70queabordaaTeoriadaAtividadeVerbal:
O objetivo da teoria da atividade é extrair os traços comunsdas ações,
planos de ação e estágios das ações, e pôlos em relação com traços
comuns dos sistemas de normas, conhecimentos evalores. A análise do
conceitodaatividade(oque éatividade/ação)estáestreitamenteligadaà
análise do conhecimento social sobre as ações ou atividades (o que se
considera uma ação). A teoria da atividade é, portanto, em parte uma
disciplinadeorientaçãodasciênciassociais,emparte,tambémdefilosofia
e demetodologia da Ciência. Arelação comalingüísticaestá em queo
funcionamentopragmáticoda teoriadalinguagemdeveenlaçarsecoma
teoriadaatividadeeque,porsuavez,aanáliselingüísticapodecontribuir
de algumaformaparaodesenvolvimentodaatividade.
Esta citação é considerada como um marco para a concepção de línguacomo
açãosocial.OqueKoch(2004:15)noschamaaatençãocomestacitaçãoéque“pensar
em ações lingüísticas é pensar que elas são sempre produzidas conjuntamente e se
sobrepõem constantemente quando, por exemplo, damos uma aula, respondemos
perguntas e conversamos sobre assuntos fora do tema da aula”. Por esta razão a
linguagemésempreomeioeolugar ondeasaçõesacontecemconjuntamente,enãoum
sistemaouumproduto.Oscontextossociaisvãoancorarasaçõesemqualquerinstância
social,porissoelasnuncaserãoneutras,conformevimosnoexemplo(2)comousodo
termoestefato.
84
Em uma outra citação em Koch (2004:18) encontramos um resumo das
investigaçõessobre línguacomo açãoverbal, atravésdo pensamento deHeinemann&
Viehweger (1991). Consideramos oportuna transcrevêla, mesmo sendo um pouco
longa:
Heinemann & Viehweger (1991), em Introdução à lingüística do texto,
asseveramqueospressupostosgeraisqueregem estaperspectivapodem
serassimresumidos:
(a) Usarumalínguasignificarealizarações.Aaçãoverbalconstituiuma
atividade social, efetuada por indiduos sociais, com o fim de realizar
tarefas comunicativas, ligadas com a troca de representações, metas e
interesses. Ela é parte de processos maisamplosdeação, pelosquais é
determinada;
(b) Aaçãoverbalésempreorientadaparaosparceirosdacomunicação,
portantoétambémaçãosocial,determinadaporregrassociais;
(c) A açãoverbalrealizasenaformadeproduçãoerecepçãodetextos.
Ostextoso,portanto,resultantesdeaçõesverbais/complexosdeações
verbais/estruturas ilocucionais, que estão intimamente ligadas com a
estruturaproposicionaldosenunciados;
(d) Aaçãoverbalconscienteefinalisticamenteorientadaoriginasedeum
plano/estratégiadeação.Pararealizarseuobjetivo,ofalanteutilizaseda
possibilidade de operar escolhas entre os diversos meios verbais
disponíveis. A partir da meta final a ser atingida, o falante estabelece
objetivosparciais,bemcomosuasrespectivasaçõesparciais.Estabelece
se,pois,umahierarquiaentreosatosdefaladeumtexto,dosmaisgerais
aosmaisparticulares.Aointerlocutorcabe,nomomentodacompreensão,
reconstruiressahierarquia;
(e) Os textos deixam de ser examinados como estruturas acabadas
(produtos), mas passam a ser considerados no processo de sua
constituição,verbalizaçãoetratamentopelosparceirosdacomunicação.
Por esta perspectiva, a língua não obedece apenas aos aspectos sintáticos e
semânticos, mas aos aspectos (sócio)pragmáticos que envolvem as crenças, valores,
preferências, desejos,contraposições,etc. Lembramosqueestaétambémaconcepção
deHusserleTammMerleauPonty,filósofosdalinguagemcitadosnonossocapítulo
1.
DeacordocomKoch(2004),nadécadade80sedimentamseosestudossobre
os processos cognitivos envolvidos nas ações verbais. Nas décadas de 70 e 80 duas
viradasforamdesumaimportânciaparaconstruiravisãodelínguacomoaçãosocial:a
viradasóciopragmática(quevai alémdapragmáticaclássica)eaviradacognitiva.
85
É importante frisarmos que uma ação verbal não está dissociada deprocessos
cognitivos. No princípio dos estudos cognitivistas a idéia era de queo agir(ação) era
resultante de operações mentais no processamento do conhecimento que por sua vez
estavamrepresentadosnamemóriaeláentãoeramativadosparaprocessarosentido.
Citamos algumas operações mentais como: Inferências
(Marcuschi,2000;2003;2007b), Conhecimento de mundo (Heinemann &
Viehweger,1991); Graus de Relencia (Sperber e Wilson,1986); Hipótese da
SaliênciaGradual(Giora,20022003);
Frames
(Minsky,1975);
Frames
poratributos
e valores (Barsalou,1992);
Scripts
(Schank & Abelson,1997); Cenários (Sanford &
Garrod,1985);Esquemas(Rumelhart,1980);Modelosmentais(JohnsonLaird,1983),
Modelos episódicos ou de situação (Van Dijk,1995;1997) etc. Estas o operações
complexas de conhecimentos que representam
48
experiências vivenciadas pelos
indiduosemsociedadeequevãoajudaraconstruirosentidoexpressopelosintagma
nominalencapsulador,conformevistonosexemplosanalisados.
Asoperaçõesmentaistambémsãochamadasdeestratégiascognitivas.Elassão
construídasnodiscursoatravésdeprocessossóciocognitivosmuitomaiscomplexosdo
quesupõeapercepçãoindividualcombasenumalinguagemtransparente,iluminadorae
confortavelmenteinstrumentalizadaounaturalizada(Marcuschi,2003).
Paraentendermosofuncionamentodasinonímiaporencapsulamentoanafóricoe
aconstruçãodosentidonestasinomia éprecisonosinserirnocampodessasestratégias
cognitivassituadassocialmente,comoaçõesconjuntas,ondeoexterioreinteriornãosão
maisdistintoseúnicosparasechegaraossentidos.
Isto quer dizer que o fazer sentido/interpretar é uma ação de produção de
conhecimentosocialmenteútilevalidadonainteração.Eisumadasdiferençasdosócio
cognitivismoparaocognitivismo,pois,nesteúltimo,osconhecimentosqueumindivíduo
possui estão estruturados emsuamente esuapreocupaçãoestáemestudarcomoeles
oacionadospararesolverproblemaspostospeloambientesocialqueestárepresentado
mentalmente. Enquanto que para o ciocognitivismo há processos cognitivos que
_
48
Estapalavraoestárelacionadacomateoriarepresentacionistadalíngua.osetratadedefender
neste trabalho o mentalismo cognitivo, nem a nossa visão de ngua encontrase atrelada a esta
perspectiva.Representaçõesmentaissãovistasnocognitivismoinicialcomoentidadesnaturais.E essa
o é a nossacrença. Representar aquisignifica conceitualizar omundoe a comunicaçãodomundo,
conformeMarcuschi(2003).
86
acontecemnasociedadeenãoexclusivamentenoindivíduo;taiscomoosprocessosde
referenciação,inferenciaçãoecategorizaçãoconstruídosessencialmenteematividades
sóciodiscursivas (Marcuschi, 2003:245). Eis porque intitulamos este trabalho de
A
construção da sinonímia por Encapsulamento Anarico: uma perspectiva cio
cognitiva
.
Marcuschiafirmaqueostrêsprocessosacimasãobásicosequepermitemtodaa
reflexãohumanaeaanálisedoprópriopensamentonoâmagodalinguagem.Pois,“éno
sóciocognitivismoque resideaconcepçãodelínguacomoumaaçãosocial,umaação
conjunta que envolve aspectos cognitivos e sociais para construção de sentidos
socialmentesituados”(p.245).
A relão entre sinonímia, encapsulamento anafórico e sentido, que temos
buscado mostrar neste trabalho, só é possível se considerarmos a cognição de forma
situada e dinâmica, pois na base dessa atividade lingüística está a interatividade e o
compartilharmentodeconhecimentoseatenção.Ouseja,seconsiderarmosaperspectiva
sóciocognitiva.
Assim, a língua pode ser vista como uma ação humana onde as situações
comunicativassão constructos sociais.É porestarazãoquemostraremos,nopróximo
capítulo,queoacessoaosentidoestárelacionadocomasnossasescolhaslexicaiestas
porsuavezconduzemosinterlocutoresàinterpretaçãoeàcompreensãodosconteúdos
discursivos.
Acreditamos que as escolhas lexicais que fazemos no uso da sinomia por
encapsulamento anafóriconãoocorremsimplesmentepelabuscadeumaigualdadeou
semelhançaouidentidadedesignificadoentrelexemas,maspelabusca,
também
,de
uma equivancia de sentido estabelecida sóciocognitivamente, através de uma
relação inferencial indireta construída a partir dos lexemas. O que queremos é
ressaltar que este tipo de sinonímia está intimamente ligado à produção de sentidos
socialmentepartilhadoseo
apenas
aoestabelecimentodesignificadoslexicais.
Marcuschi(2003a:4)noschamaaatençãoparaofatodoléxicoconstituir
umdospontosnucleareseaomesmotempomaisfrágeisdotrabalhocom
a língua. (...) O xico é estratégiconãosó para a produçãodesentido,
mas para o próprio processo de textualização. Este aspecto é relevante
paratratarasinomia,amefora,aironia,apolissemia,aambigüidade,
87
o tópico e todos os demais problemas que afligem o aluno na hora de
produzir e compreender um texto. Como o xico tem a ver com o
processo referencial e como este ligase à organização tópica, a
continuidade referencial se dá por relaçõessóciocognitivas e atividades
inferenciaisemqueoléxicotemumafunçãobastantesaliente.
Esteautor(p.5)defendeoprincípiodeque“identidadelexical,identidadetópica,
significação e referenciação não são automaticamente correlacionadas, mas
enunciativamente produzidas”.Trêsrazõessão oferecidasporele:1)“ositenslexicais
nãosãoautônomos”;2)“ostópicosnãosãodados
apriore
”;3)acompreensãotextual
nãoécoercitivanemextrativa,istoé,podemseterváriascompreensõesdeummesmo
enunciado”.Esteautorconcluique
umavezdeterminadooenquadrepico,oxicopassaafuncionardesse
pontodevistacomoprodutordesentidospossíveis.Daíograndedesafioa
todosostrabalhosquebuscamnointeriordoxicoíndicesdeidentidade
temática, presençade ideologias etc, nasuposiçãode umfuncionamento
autônomodoxico.(...)Seoxicoélimitadoerecorre comregrasque
otambémlimitadas,aproduçãodesentidonãopodevirdosistemanem
de alguma propriedade linística apenas, mas de nossas ações com a
língua. Sentido é efeito de trabalho com a ngua e não da língua.
(2003a:5)
Seguramente, a posição de Marcuschi contempla bastante a nossa
investigaçãoenosdáumrespaldoparamostrarmosqueestudossobresinonímiapodem
edevemiralémdoslimitesdasemânticaformal,alémdopragmatismodeSearleede
Griceealémdocognitivismopuro.
Convém dizer que não negamos nenhum estudo realizado pelas
perspectivasteóricascitadasacima,masestudarasinonímiaapenasnocampodeestudo
dos fenômenos de igualdade ou identidade de significado é não contemplar,
holisticamente,avisãodelínguacomoumaaçãosocial,umaaçãoconjuntaqueenvolve
aspectoscognitivos,históricos,sociaiseculturaisparaaproduçãodesentido.Essavisão
épertinenteasóciocognição.
Vejamos no capítulo 4 como efetivamente osentido éprovidenciado por
atividades sóciocognitivas situadas e acessado na sinonímia por encapsulamento
anafórico.
88
CAPÍTULO4
OACESSOAOSENTIDONASINONÍMIAPOR
ENCAPSULAMENTOANAFÓRICO
Apresentamosdesdeoprimeirocapítulodestainvestigaçãoanossatesede
queasinonímiaporencapsulamentoanafóricoapresentaumpontodevista,ummodo
decompreensão,deinterpretaçãoconstruídainferencialmenteemumainteraçãosocial,
equeestepontodevistapodeserchamadodesentido.Ressalvamosoquejádissemos
em capítulos anteriores: que não concebemos o sentido por meio de uma
correspondênciainstitdaarbitrariamenteaum termo,mascomo
omodo
depensarmos
os nomese ascoisasdomundo,
omodo
peloqualconstruímoseinteragimoscomos
objetosdediscurso,queéelevadoaonívelconceitualporintermédiodasexpressõesda
língua.
Semdúvida, é possível dizermos que o sentido que atribuímosàscoisas
relacionasecom o indiduoe omodocomoeste compreendeeinterpreta omundo,
construindo as diversas possibilidades conceituais designadas, pelas palavras, em
vivênciassociais.Portalrazãoescrevemosnoitem1.4,doprimeirocapítulo,quesão
importantesosestudosqueabordam aintencionalidade,afimdequeosentidopossaser
observadocomouma portadeentradaparaacompreensão(Husserl).
Aintencionalidade
emsi
nãoéofocodenossotrabalho,nósjáodissemos
anteriormente.Todavia, nósabordaremos nestecapítuloperspectivasteóricasquenão
deixam defalar
a respeitoda
intencionalidade,mas,sobreo ângulodaconstruçãode
possibilidadesconceituais, no qualo sentido construídono encapsulamentoanafórico,
que é definido como um ponto de vista assumido quando interpretamos a relação
existenteentreaâncorareferencialeo
conceitoZ
49
inferido,éresultadodeopiniõese
de valores axiológicos. Pois cada ato de opinar apresenta apenas um ponto de vista
provisório(Husserl).Porissonósdissemosqueossintagmasnominaisencapsuladores
podem ser modificados de acordo com as opiniões formadas pelos leitores ou
produtoresdotexto.
89
As perspectivas tricas que trabalharemos são: a
Teoria da
Fenomenologia
(Husserl) a partir de Klaus Held (1995), a
Teoria da Relevância
(SperbereWilson,1986)apartirdeSilveiraeFeltes(1997)ea
TeoriadosFramespor
AtributoseValores
(Barsalou,1992)
50
.
Estasteoriasforamescolhidaspelofatodeseremaquelasasquaismelhor
julgamos poder visualizar a sinonímia por encapsulamento anafórico e o acesso ao
sentido construído. Outros autores que trabalham o processamento das inferências
intencionais, cálculos e projeções de sentido como Fauconnier (1997), Fauconnier e
Turner(2002)e tambémo queé salientenoacessoàsignificaçãolexicalcomoGiora
(2002;2003)mereceriamserestudadosnaperspectivadestanossainvestigação,masem
um outro momento. As teorias selecionadas já nos dão condições de explicarmos a
sinonímia por encapsulamento anafórico como uma atividade sóciocognitiva situada.
IniciemosasnossasdiscusespelofilósofoHusserl.
4.1 OAcessoaoSentidopelaTeoriadaFenomenologiadeHusserl
Husserl, na obra
A crise das Ciências Européias e a Fenomenologia
Transcendental.UmaintroduçãonafilosofiaFenomenológica
(1954),
51
postulaqueao
apresentarmos um ponto de vista abrimos uma perspectiva interpretativa que é
provisóriaporsempreapresentarcondiçõesdeserrevisada,eestacondiçãopertenceao
atodeopinar
.
O artigo de Klaus Held (1995) intitulado
Fenomenologia transcendental:
evidência eresponsabilidade
, publicadoemalemão e traduzidoparaoportuguês,faz
umaprofundaabordagemdaobradeHusserledizqueparaestefilósofo,dopontode
vista da episteme, ou seja, da ciência, a característica básica da opinião é sua
_
49
JáabordamosoconceitoZnosegundocapítulo,nofinaldoitem2.1.
50
TrabalharemosHusserlapartirdeK.Held(1995)emvirtudedacomplexidadequeéafenomenologia
deHusserl. Heldnostraz umolharbastantecríticoeaprofundadodestaobra.Tambémtrabalharemos
SperbereWilsonatravésdoolhardeSilveiraeFeltespelofatodestesautorestrazeremcomclarezao
forte componente cognitivo contido nos processos inferenciais e na noção de relevância deSperbere
Wilson, o que foi inovador na época da publicação do ensaio de Silveira e Feltes (1997)
intitulado
PragmáticaeCognição:Atextualidadepelarelevância
.
51
O título original é
 Die Krisis der euroischen Wissenschaften und die transzendentale
Pnomenologie
.EineEinleitungindiephänomenologischePhilosophie.
90
parcialidadeempontosdevistasunilaterais
.Eistoocorreporqueaspessoassempre
estãofixadasnaquiloquelhesédemaiorinteressenomomento.
De acordo com Held (1995),Husserl postula que o interesseestreita as
perspectivas para as possibilidades de
julgar
e de
agir
, e que há uma imensidão de
incalculáveispossibilidadesdefazermosjulgamentoseconstruirmosações.Istoocorre
em virtude das pessoas viverem sempre em mundos específicos do único mundo,
comoomundodacriança,dotrabalhador,doestudante,dofilósofoetc.Ouseja,esses
mundosespecíficossão
recortes
deumúnicomundouniversalquecriampossibilidades
interpretativas,condicionadasainteresses.Estaperspectivanosajudaamostrarmosque
a sinonímia por encapsulamento anafórico, através do sentido, constrói um ponto de
vista, uma possibilidade interpretativa que diz respeito a um horizonte limitado, a
mundosespecíficosnosquaisvivemosindivíduos.
SegundoHeld,oqueéinteressanteemHusserléaconcepçãoqueeletinha
doatodejulgareagirnalinguagem.Cadamundoespecíficoouhorizontelimitadogera
umespaçodepossibilidadesdejulgamentoeaçãoquepermiteaohomemveraquiloque
ocorre,emtermosdeacontecimento,nointeriordessemundoparticular.PoisHusserl
postulaqueoquepodeservistonoespaçodepossibilidadesdejulgamentoeaçãoéa
manifestaçãodaopino.
Nalinhadediscussãodestainvestigação,atesedequeasinonímiaapresentaum
ponto de vista, um modo de interpretaçãoconstrdo emumainteração social, eque
estepontodevistapodeserchamadodesentido,tambémpodeserexplicadaporesta
perspectiva husserliana que vai nos dar embasamento para compreendermos que o
acesso ao sentido dá se por aquilo que o leitor ou produtor deum texto vê em seu
mundoparticular,queéummundotambémdecoletividade,poisnãoestamosfalando
sobreomundointeriorde
um
indivíduo, massobre
ummundoparticularinseridoem
uma coletividade
, como o mundo ou universo dos lingüístas, dos recifences, dos
pernambucanos,dosbrasileirosetc.
NósnosinserimosnamesmaperspectivadeHusserldequeaquiloquese
vêemummundoparticularéumrecorterealizadoàluzdeinteresses,istoé,oolhardo
leitor ou produtor na construção da sinonímia por encapsulamento anafórico não se
mantém, necessariamente, naquilo que é dito ou escrito em si. Este olhar vai
91
imediatamentealémdoditoouescrito,direcionaseparaaquiloaoqualéfamiliareútil
no universo de interessesdos interlocutores. Consideremos tudo isso no exemplo
52
a
seguir:
(5) ...o sistema imunológico dospacientesreconheceuosanticorpos
do rato e os rejeitou. Isto significa que eles não permanecem no
sistema por tempo suficiente para se tornarem completamente
eficazes.Asegundageraçãodeanticorposagoraemdesenvolvimento
éumatentativadecontornaresteproblemaatravésda“humanização”
dosanticorposdorato,usandoumatécnicadesenvolvidapor...
De acordo com as nossas análises, o sintagma nominal este problema
constituiasinonímiaporencapsulamentoanafóricoqueapresentaumsentidoconstruído
pelos conceitos existentesnaâncorareferencial(
osistema imunológico dospacientes
reconheceuosanticorposdoratoeosrejeitou)
enaparteconceitualquedizrespeitoà
âncora(
Istosignificaqueelesopermanecemnosistemaportemposuficientepara
tornaremcompletamenteeficazes.)
.
Osintagma nominal encapsulador este problema expressa
uma opinião
,
umpontodevista
inseridoemummundoparticular,mastambémcoletivo,dequemo
escreveu.Osintagmanominalencapsuladorabre,portanto,umaperspectivadiantedas
outraspossibilidadesquepodemsergeradaspelocampodediversidadesdejulgamento
edeaçãoosquaisnóspodemosproferir.Porissoafirmamosserposvelhaveroutras
possibilidadesdepreenchimentodoespaçodosintagmanominalencapsulador.Vejamos
istoentãonoexemplo(5):
(5A) Asegundageração de anticorpos agoraemdesenvolvimentoé
umatentativadecontornarestafalhaatravésda“humanização”dos
anticorposdorato,usandoumatécnicadesenvolvidapor...
Ouainda:
(5B) Asegunda geração de anticorpos agora em desenvolvimento é
uma tentativa de contornar esta janela imunológica através da
humanização” dos anticorpos do rato, usando uma técnica
desenvolvidapor...
_
52
RetiradodoartigodeFrancis(2003:195).
92
Arelaçãodeinferênciaqueseestabeleceentreaâncorareferencialeaparte
conceitualem(5)constituiaquiloquechamamosdeumcaminhodeacessoaosentido
construído,queresultanosintagmanominalencapsuladoresteproblemaouestafalha
ouaindaestajanelaimunológica.Oacessosedáemvirtudedeconstruirmosarelação
de inferência sobre evidências que nos sãoapontadastanto por situações lógicas das
sentençasemquestãoquantoporsituaçõesquevãoalémdessalógicasentencial.
Percebamos que há uma gradação de sentido entre problema, falha e
janela imunológica, pois cada sintagma apresenta um aumento de informação e de
conhecimento. Ostrêsapresentampontosdevistaque
evidenciam
umoutromodode
falar sobre os conteúdos da porçãoanaforizada que, por sua vez, nosdirecionapara
outras informações. São novas inferências a constituir outros caminhos de acesso a
outrossentidos.
As nossas análisesindicam queo sintagmaeste problemaé acessadopor
umainferência lógicoanalíticarealizadaapartirdassentençasanteriorescujosverbos
rejeitou
e
o permanecem
, no conjunto das pressuposições lógicas doque foi dito,
evidenciamumproblemaque
estásebuscandoresolver
compesquisascientíficas.Já
nosintagmaestafalha,oacessoaosentidoconstruídovaialémdalógicasentencialao
inferirmos, por exemplo, que
a pesquisa terminada constatou
ser possível usar
anticorpos do ratopara aumentaro sistema imunológicodepacientes,masaousálos
houveumafalhainesperadanoprocessodeaceitabilidadeorgânica.Porúltimo,em esta
janela imunológica, o acesso ao sentido ocorre através de conhecimentos que
possuímossobre
aaçãodaAids
nosistemaimunológicodossereshumanos.
Todasessasinferênciassãopossíveisdeseremacessadas,quersejapormeio
deumalógicasentencialquersejaporintermédiode enquadresdesituaçõessociaisque
nos remetem para além dos conteúdos das sentenças analíticas, como ocorre, por
exemplo,em estafalhaeestajanelaimunológica.
Osdiferentescaminhosdeacessoaosentidoconstruídonasinonímiapor
encapsulamento anafórico
evidenciam
uma forma de conhecimento que temos dos
objetosdomundo,ummododeinterpretar,decompreenderessesobjetos.Ejustamente
porassimnosapresentaremosobjetoséqueestes
evidenciam
outraspossibilidadesde
julgamentoseações.EstaéateoriadaconsciênciaintencionaldeHusserl.
93
Deacordocomessateoria,osnossosconhecimentos manifestam formas
variadasdepercepçãodosobjetosdomundo,estestêmsempreângulosquepodemnos
remeteraoutrosconhecimentos.Porexemplo,sevemosumacasaapartirdarua,temos
a consciência de que também poderíamos vêla a partir de outro ângulo, como, por
exemplo,dojardim.Assim,apercepçãodacasafeitaapartirdaruaoudojardim insere
seemumcontexto referencialdeformasdemanifestaçãodonossoolhar,abrindoum
espaço que resulta em uma forma de ver as coisas através das nossas vivências
(Husserl). Segundo Husserl, o mundo é o contexto referencial ondeos objetosestão
inseridos,ocontexto
referencia
osobjetosmudandolhesosângulosdeobservaçãode
acordocomosnossosolharesinseridosemmundosparticularesecoletivosdevivências
sociais.
Porestarazão,nósdissemosnonossoprimeirocapítuloqueanossavisão
de língua não é de um sistema de etiquetagem, conforme também asseveram, entre
outros já citados, Mondada e Dubois (2003). Lembramos, oportunamente, as duas
autoras porque para elas a visão de língua enquadra a concepção de que os sujeitos
constroem,atravésdepráticasdiscursivasecognitivassocialeculturalmentesituadas,
versõespúblicasdomundo.
Conforme afirmamMondada e Dubois(2003:17), no resumo introdutório
do texto
Construção dos objetos de discurso e categorização: uma abordagem dos
processosdereferenciação
53
,
Nestasegundavisão,ascategoriaseosobjetosdediscursopelosquais
os sujeitos compreendem o mundo não o nem preexistentes, nem
dados,masseelaboramnocursodesuasatividades,transformandose
a partir dos contextos. Neste caso, as categorias e os objetos de
discursoomarcados porumainstabilidadeconstitutiva,observável
atrasdeoperaçõescognitivasancoradasnaspráticas,nasatividades
verbaisenãoverbais,nasnegociaçõesdentrodainteração.
Abase desse postulado de Mondada e Dubois, na perspectiva da nossa
investigação, coincide com a teoria da consciência intencional de Husserl quanto à
instabilidade da referência dos objetos no mundo, em virtude de haver um contexto
_
53
tulo original (1995):
Construction des objets de discours et catégorisation: une approche des
processus de réferenciation
. Apesar deste texto ser escrito em conjunto com Dubois, o conceito de
objetos de discurso foi primeiramente exposto por Mondada (1994) em
Verbalisation de space et
94
referencialque evidencia ângulos deummesmoobjeto,consolidandopontosdevista,
julgamentos e ações variados. Pois para Husserl, os ângulos são os nossos olhares
advindosdeummundoparticularinseridoemumacoletividade,comojádissemos.
ParaMondadaeDubois(2003:35),
Asinstabilidadesnãosãosimplesmente casosdevariaçõesindividuaisque
poderiam ser remediadas e estabilizadas por uma aprendizagem
convencional de “valores de verdade”; elas o ligadas à dimensão
constitutivamenteintersubjetivadasatividadescognitivas.
Por esta razão, os objetos aos quais nos referimos discursivamente são
chamados de objetos de discurso, ao invés de objetos do discurso, a fim de
desvinculálos da idéia de etiquetagem onde as palavras referemse aos objetos
existentesnomundo,deformadireta.
Nossa reflexão nos leva a asseverar que Mondada (1994) e Mondada e
Dubois (2003), na concepção de objetos de discurso, pensam da mesma forma que
Husserl.Deacordocom Held,opensamentodeHusserleraodeque(1995:113)
Nóspodemoslidarcomobjetos,enquantoeleseventualmentenossão
dados em qualquer forma de manifestação e que cada forma de
manifestação é apenas uma, de uma multiplicidade de possíveis
possibilidades de manifestação, e que os objetos devem vir ao nosso
encontroemformasdemanifestação,paradefatoestaremnumarelação
conosco,comosujeitospercipientes.
Oqueentendemoscomessastrêsúltimascitaçõeséqueasinonímiapor
encapsulamento anafórico ao apresentar um objeto de discurso, por exemplo, este
problema, como um modo de interpretar o que está escrito na porção anaforizada
oferecenosumaexplicaçãoindicativa,tambémchamadadedefiniçãoostensiva.Uma
definiçãoostensiva
evidencia
omododeinterpretaçãodadoàâncorareferencial easua
parte conceitual (porção textual anaforizada). Essas explicações indicativas ou
definições ostensivas, para nós, constituem o sentido construído por um olhar, por
umaperspectivadeobservação.
Anoçãodeexplicaçãoindicativachamadadedefiniçãoostensiva,quemais
tarde será vista como modelo ostensivoinferencial em Sperber e Wilson (1986), é
_
fabrication du savoir: Approche linguistique de la construction des objets de discours, lausanne,
95
tratada por um filósofo que merece ser citado aqui e que se chama George Edward
Moore(1953),noartigo
SomeMainProblemsofPhilosophy
.
Buscamos no artigo intitulado
George Edward Moore: o que é alise
conceitual
,deW.Künne(1995),trazerumadiscussãointeressantesobreospostulados
deMoorequantoàrelãodesentidoeaconstruçãodasinonímia.Künne(1995:52)nos
dizque emresposta aoqueo filósofoamericanoCooperHaroldLangfordchamoude
Paradox of Analysis
(1942:323), no seu artigo
The Notion of Analysis in Moore’s
Philosophy
, Moore esclarece a sua compreensão sobre o que é analisar e fala
explicitamente sobre aquestão dasinonímia. No
ParadoxofAnalysis
Langford(
apud
nne,1995:52)dizque:
Se a expressão lingüística que propõe o Analysandum(expressãoa ser
analisada) tem o mesmo significado como a expressão lingüística que
propõe oAnalysans(expressãoanalisadora),entãoaanáliseafirmauma
simples identidadee é trivial; mas, se ambas as expressõeslingüísticas
nãotêmomesmosignificado,entãoaanálisenãoécorreta.
Segundo Künne, Moore responde ao pensamento de Langford
especificandoqueaosedizerqueasinonímiaéumaquestãodeidentidadeentretermos,
o que é chamado por Langford de uma simples identidade trivial, não há nenhuma
informaçãodiferenteentre,porexemplo,‘leoa’e‘leãofeminino’; sãosinônimos.Porém,
segundo o que defende Moore quanto à perspectiva de observação das coisas do
mundo,se‘leoa’e‘lofeminino’nãosereferiremamesmacoisanafrase
Serleoaéo
mesmo que ser um leão feminino
, então há valores pragmáticos
54
desiguais que
desfazemarelaçãodesinonímiaentre‘leoa’e‘leãofeminino’.
NóspodemosexemplificaropensamentodeMooredaseguinteforma:se
alguém entende que
ser leoa
diz respeito à reação de uma pessoa frente a algumas
situaçõesdavidaouque
serleoa
éumaatitudedasmulheresemrelaçãoaoscuidados
com a sua prole, então,
ser leoa
, não vai constituir um sinônimo de
leão feminino
porque a relação o é de ‘ser animal, ‘ser bicho’; a relação é de ‘postura
comportamental’,de‘atitude’,de‘ação’.NopostuladodeLangford,asinonímiavista
_
UniversitédeLausanne,Thèse
.
54
Valores pragticos, para Moore, têm a ver com o uso dos termos em situações de vivência
diferenciada.
96
sobessesvalorespragmáticosqueacabamosdeapresentaréincorreta,oumelhor,não
existe.
Pararesolvero
ParadoxofAnalysis
deLangford,Moorepostulaqueao
ladodaexigênciadesinonímia,quantoaosignificadodaexpressãolingüísticaatravésda
constatação de uma identidade entre os termos, está a exigência, também, de uma
equivalênciacognitivanousodostermos,equeestadeveserconhecidaporaqueles
queausam.
DeacordocomKünne(1995:54),paraMoore,ofatodeduasexpressões
se referirem uma à outra, ainda não é uma condição suficiente para a sinonímia. A
condiçãonecessáriadasinonímiaestánofatodesesaberquealgoé“A”porquesesabe
que“A”éomesmoque“BC”.OexemplodadoporKünneé:
meiocheio
e
meiovazio
(proposãoBC)emumaprimeiraanálise não constituiumasinonímia.
Cheio
e
vazio
expressam uma idéia antagônica. Porém,
um copo pela metade
(proposição A) é
sinônimode
umcopomeiocheio
etambémde
umcopomeiovazio
.Sendoassim,
meio
cheio
e
meiovazio
sãosinônimosquandoatribmosvalorespragmáticosqueconstroem
umaequivalênciacognitivaentre
meiocheio
e
meiovazio
aosetratardeumcopode
águapelametade.ParaMoore,equivalênciacognitivaseexplicaquandoossubstitutos
daproposiçãoA,
meiocheio
e
meiovazio
,expressamdoismodosdistintosdecompora
sinonímiadoconteúdodaproposiçãoA.
IstonosfazlembrarFrege(1978:62),em
SobreoSentidoeaReferência
,
aoexpressarque:
Sejam
a
,
b
,
c
as linhas que ligam os rtices de um triângulo com os
pontosmédiosdosladosopostos.Opontodeinterseçãode
a
e
b
é,pois,o
mesmo que o ponto de interseção de
b
e
c
. Temos, assim, diferentes
designaçõesparaomesmoponto,eestesnomes(“pontodeinterseçãode
a e b” e “ponto de interseção de b ec” ) indicam, simultaneamente, o
modo de apresentação e, em conseqüência, a sentença conm um
conhecimentoreal.
AoaplicarmosopensamentodeFregeaoexemplodadoporKünne,para
explicaraequivalênciacognitivadefendiaporMoore,temososeguinteraciocínio:
Sejam
umcopopelametade(a)
,
meiocheio(b)
e
meiovazio(c)
as
proposições que constroem uma relação sinonímica. O ponto de
interseçãode
a
e
b
(
Umcopopelametadeéumcopomeiocheio
)é,
97
pois,omesmoqueopontodeinterseçãode
b
e
c
(
Umcopomeio
cheioéumcopomeiovazio
).
Estas considerações nos mostram que é possível a construção da
sinonímiaporencapsulamentoanafóricoocorrerporuma
equivalênciasóciocognitiva
.
Portaisrazõesrepetimosaolongodoscapítulosanterioresqueasinonímiavaialémda
construçãodeigualdade,deidentidadeedeequivalênciasemânticaentreasexpressões
lingüísticas; ela vai, também, se constituir como uma relação de equivalência cio
cognitivanousodostermos.
A equivalência sóciocognitiva se aplica, por exemplo, quando
consideramoscomosinonímiaostermos
CongressoNacional
e
pizza
,aoouvirmosou
lermos notícias que falem sobre os escândalos no nosso Congresso Nacional, em
BrasíliaDF,estandoestesassociadosaotermopizza.Esteexemplofoiabordadono
nosso segundo capítulo. O fato de se ouvir dizer que
os escândalos no Congresso
Nacional acabam em pizza
, fazcomque em muitas notícias o termo
pizza
possaser
usadocomosinônimode
escândalonoCongressoNacional
.
Essa pida abordagem sobre a Teoria da Fenomenologia de Husserl,
discutida e desmembrada para algumas assertivasdeMondada&DuboisedeMoore
tema finalidadederessaltarquetodosseapóiamemummesmoponto paraexporem
suasteorias:todosseapóiamna convicçãodequeummododecompreenderas
coisas do mundo que se distancia da realidade das coisas na perspectiva
ontológica. Curiosamente, Frege tamm se apóia na concepção de que há uma
diversidadenomododeconhecimentodascoisas,chamadodesentido.
Reunindoosposicionamentosdessesquatroautoresnãonosrestadúvida
de que os objetos de discurso evidenciam sentidos diversos porque há modos
diversificadosdeinterpretação,decompreensão,porhavermúltiplasformasdeolhares
debruçadossobreummesmoobjeto.Sãoperspectivasdiferentes,ângulosdiversospelo
qualumobjetodomundorealouimagináriopodeservisto.Daípodermoschamaresses
objetos de
objetos de discurso
, dos nossos discursos em contextos referenciais
particulareseaomesmotempocoletivos,comoexpôsHusserl.
A nossa intuição nos leva a crer que a integração dessas perspectivas
teóricas está no fato de que um ponto de vista só existe porque lhes conferimos
98
atributose valoresquese diferenciamemsituações referenciaisdefinidas.Osnossos
julgamentos e asnossas ações são resultadosdestes,quepor sua vez,também fazem
parte daquilo que Moore chamou de definão ostensiva, que tomamos como o
resultado da inferência feita entre os conteúdos da âncora referencial e da parte
conceitual:osentido.
As definições ostensivas são, portanto, os sintagmas nominais
encapsuladores‘esseproblema,estajanelaimunológicaeestafalha,queoos
‘sentidossinônimos’ da porção anterior anaforizada. Esta nossa perspectiva de
observaçãodasinomiaépertinenteselevarmosemcontaacondiçãodeequivalência
sóciocognitivaentreostermos,equevaialémdacondiçãodeidentidadedesignificado
lingüísticoentreostermosoumesmodeequivalênciasemântica,comotemosressaltado
emmuitosmomentosdanossaargumentação.
Umoutroaspectoimportantequeresultadadiscussãosobreospostulados
de Husserl, de Mondada & Dubois e de Moore é que o ângulo pelo qual vemos as
coisas, que mostra o modo como estamos compreendendo algo, indica caminhos de
acesso ao sentido que podem ocorrer através das outras duas perspectivas tricas
escolhidasparaestainvestigação:aperspectivadaRelencia (SperbereWilson,1986);
ea perspectivados Framesporatributosevalores(Barsalou,1992).Vejamoscomo
podemosexplicarasinonímiaporencapsulamentoanafóricoporestasduasteorias.
4.2 OAcesso aoSentidopelaTeoriadaRelencia:omodeloostensivo
inferencial deSperbereWilson
Sperbere Wilson (1986) em
Relevance: Communication andCognition
,
partindo do modelo inferencial de Grice (1975) e das discordâncias quanto a esse
modelo, desenvolveram uma teoria pragmáticocognitiva chamada de Teoria da
Relencia.Paraestesautores,aTeoriadaRelevânciatomaporbaseaconcepçãode
queosindivíduosprestam atençãoapenasafenômenosquelhesparecemrelevantes.Ou
seja,nósprestamosatençãoaalgumacoisa,emalgumamedida,quevemaoencontrode
nossosinteressesouqueseajustamàscircunstânciasdomomento.
99
O estudo de Silveira e Feltes (1997), em
Pragmática e Cognição: a
Textualidade pela Relevância
, sobre omodelodaTeoriadaRelevâncianostrazuma
leitura interessante sobre a teoria de Sperber e Wilson (1986), aproximandoos da
cognição e de seus aspectos sociais. Esta teoria diz que a comunicação humana tem
duaspropriedadesindissociáveisqueoadeserostensiva,porpartedocomunicador,
e a de ser inferencial, por parte do ouvinte. Quando o comunicador produz um
enunciadoelemanifestaumconjuntodesuposições
55
paraoouvinte,sobreaquiloque
elecomunica.Oenunciadofuncionanestaperspectivacomoumaevidênciadireta
uma
osteno
– daintençãoinformativadofalante(SperbereWilson,1986:162).
Isto nos faz lembrar o que falamos anteriormente, neste capítulo, sobre
entendermososintagmaencapsuladorsinonímicocomoumaexplicaçãoindicativa,uma
definiçãoostensiva,conformepostuladopelofilósofoMoore(1953).SegundoMoore,
as explicações revelam a relação de sentido construída por um olhar, por uma
perspectivadeobservação.Oquepodeperfeitamentesercomparadocomoquedizo
modelodaTeoriadaRelevância,pois paraestateoriaumenunciadoquandochamaa
ateão do ouvinte leva este a construir e a manipular representações conceituais.
Assim, aquilo que é posto em foco pelo ouvinte,por meio da ostensão do estímulo
enunciado pode originar suposições e inferências no vel conceitual. Por esta razão
dissemosserpossívelhaverumavariedadedeopçõesparaopreenchimentodosintagma
nominalencapsuladornoexemplo(5)enosoutrosexemplostrabalhadosemcapítulos
anteriores.
O modelo ostensivoinferencial de Sperber e Wilson (1986), tema do
segundo capítulo de Silveira e Feltes (1997), apresenta uma outra propriedade da
comunicação que se chama Grau de Relevância. Quando construímos suposições a
respeito de um enunciado, ou seja, quando construímos um conjunto estruturado de
conceitos, manifestamos esses conceitos em graus diversos formando aquilo que
SperbereWilson chamamdeambientecognitivo.
Um ambiente cognitivo pode ser tuo ou o. O comunicador pode
produzir algo em um ambiente cognitivo e o ouvinte processar este algo em outro
ambiente cognitivo justamente por não haver ocorrido uma interseção de ambientes
_
55
Entendamosporsuposição“umconjuntoestruturadodeconceitos”(SperbereWilson,1986:85),que
sãoconsideradosporestesautorescomoumrótulo,comoumendereçoparaacessarmosasinformações.
100
cognitivos entre comunicador e ouvinte, a fim de se formar o mesmo conjunto de
conceitos. “Um ambiente cognitivo fornece a informação necessária para a
comunicação, mas é meramente um conjunto de suposições que é mentalmente
representadoeconsideradocomoverdadeiro”(SilveiraeFeltes,1997:29)
56
.Assim,uma
comunicaçãopodegeraralteraçõesdosambientescognitivosdosinterlocutoresporse
construirinferênciasdiversas.
Deacordocom SilveiraeFeltes(1997:42)éprecisoentenderbemotermo
Relevância
usadoporSperbereWilson:
Essetermonãoétomadoemseusentidocomum,quepodesetornar
vago e variáveldeacordocomas diferentescircunstânciasem queé
empregado.ParaSperbereWilson,tratasedeumconceitoteóricoútil
para explicar o processamento de informação pelos indiduos nos
contextos comunicativos. O interesse destes é mostrar como a
Relevânciaébuscadae alcançadaemprocessosmentais
.
O contexto comunicativo nada mais é do que o ambiente cognitivo
construído por um conjunto de premissas usadas para interpretar os enunciados.
SegundonosexplicamSilveiraeFeltes(p.29),“trataseemessênciadeumconstructo
psicológico, construído de umsubconjunto desuposiçõesdoouvintesobre omundo,
queafeta,emesmodetermina,asuacompreensãodoenunciado”.
ParaSperbereWilson(1986),aspremissaseconclusõesextrdasdeum
ambiente cognitivo formam as implicaturas
57
contextuais que, segundo Silveira e
Feltes (p.44), “consistem nas suposições resultantes (derivadas) da combinão de
informações velhas(jáexistentes ou dadas) com informaçõesnovas”. Elaspodemser
acessadas,porexemplo,pelamemóriaenciclopédicaoupeloconhecimentodemundo.
Ressaltamosqueoqueestesautoreschamamdeimplicatura,nóstemos
chamadodeinferênciaporqueenxergamosnestesdoistermososmesmoscaminhosde
acessoàsinformaçõestantopelamemóriaenciclopédicaquantopeloconhecimentode
_
56
Aexpressão mentalmenterepresentado’,usadaporSilveiraeFeltes,éconsideradacomoolugaronde
seestabelecemosconceitos;enãocomoateoriadarepresentaçãomental.
57
“Anoçãode implicaturaproposta por Sperber e Wilson é diferente daquelaapresentadaporGrice.
ParaGrice,asimplicaturaspartemdodito,indoalémdele,maspressupõemobediênciaàsouviolação
das máximas conversacionais. em Sperber e Wilson, a noção de implicatura desdobrase em
premissas e conclusões implicadas, que não partem necessariamente do dito” (Silveira e Feltes,
1997:30).ParaSperbereWilsonasimplicaturasoseguemaobediênciaàsmáximasconversacionais
deGrice,elasseguemaquiloquecompõeumdeterminadoambientecognitivo.
101
mundo. Retornemos ao exemplo (5) e vejamos como isso funciona ao criarse duas
outraspossibilidadesdeconstruçãodosintagmanominalencapsuladorem (5A)e(5B):
(5)...osistemaimunológico dospacientesreconheceuosanticorposdo
ratoeosrejeitou.Istosignificaqueelesnãopermanecemnosistemapor
tempo suficiente para se tornarem completamente eficazes. A segunda
geração de anticorpos agora em desenvolvimento é uma tentativa de
contornar este problema através da “humanização” dos anticorpos do
rato,usandoumatécnicadesenvolvidapor...
(5A)(...)Asegundageraçãodeanticorposagoraemdesenvolvimentoé
uma tentativa de contornar esta falha através da “humanização” dos
anticorposdorato,usandoumatécnicadesenvolvidapor...
(5B)(...)Asegundageraçãodeanticorposagoraemdesenvolvimentoé
uma tentativa de contornar esta janela imunológica através da
“humanização”dosanticorposdorato,usandoumatécnicadesenvolvida
por...
O sintagma nominal encapsulador este problema, em (5), constituiuma
relevância acessada por um ambiente cognitivo gerado pela âncora referencial (
...o
sistema imunológico dospacientesreconheceuosanticorposdoratoe osrejeitou)
e
pelasuaparteconceitual(
Istosignificaqueelesnãopermanecemnosistemaportempo
suficiente para tornarem completamente eficazes.)
. Este problema implica um
determinado grau de relevância em relação aos outros sintagmas nominais
encapsuladoresestafalhaeestajanelaimunológica.
Ao processarmos as informações contidas na âncora e na sua parte
conceitual, nós construímos ambientes cognitivos diversos que são os conjuntos de
suposiçõesasquaisfazemossobreaquiloquefoilidoequepodem partirdoditoounão
dito,conformejáodissemos.
No exemplo (5), o acesso a este problema dáse por um ambiente
cognitivocriadopelostermos
rejeitou
,
opermaneceuportemposuficiente
e
tentativa
de contornar
, que estão expressos naporção anaforizada e são interpretados por um
conhecimento enciclopédico. No campo das inferências lógicoanalíticas, estes
evidenciamum problemaque ainda
buscase resolver com o avançar das pesquisas
102
científicas
.Eisaquioambientecognitivodeacessoaosintagmanominalencapsulador
esteproblema.Oupodemosdizertambém,eisaquioambientecognitivodeacessoao
sentidoconstruídopelasinonímiaporencapsulamentoanafórico.
Em(5A),esta falhaapresenta umsegundograudeRelevânciaacessado
porumoutroambientecognitivoquejánãoéomesmode(5).Esteambientecognitivo
dáse a partir de inferências pragmáticocognitivas, também criadas pelos mesmos
termos
rejeitou
,
o permaneceu por tempo suficiente
e
tentativa de contornar
, mas
quevãoalémdoconhecimentoenciclopédicooudalógicasentencial,nosremetendoa
conceitossocialmentepartilhadosequenoslevamaconstruiraidéiadeuma
pesquisa
quefoiterminadaeaoserpostaempráticaocorreuumafalhainesperada
.Eisentão
umsegundoambientecognitivoparaoacessoaosentido,parcialmenteapoiadonodito.
Porúltimo,em(5B),estajanelaimunológicaapresentaumterceirograu
derelevânciaacessadoporumambientecognitivodiversode(5)e(5A).Usaseaquio
conhecimento de mundo e o conhecimentoespecífico sobre o que é
a AIDs, os seus
sintomaseoseucomportamentonocorpofísico
paraaconstruçãodeumoutrosentido
queseapóiamenosaindanodito,emuitomaisnaquiloquenãoédito,naquiloqueé
maisinferidosóciocognitivamente.Eisoterceiroambientecognitivoparaoacessoao
sentido.
Nas três relevâncias encontramos um processo de inferência que vai da
inferência proposicional à inferência cognitiva. Aquilo que é inferido da âncora
referencial e da sua parte conceitual implica em diferentes Graus de Relevância que
resultam em novas suposições, e assim novas interpretações são dadas ao mesmo
enunciado.
Em (5), há um Grau de Relevância maior porque se faz um menor
esforço no processamento da informação para se chegar ao sintagma nominal
encapsuladoresteproblema.Em(5A),oGraudeRelevânciaé menordoqueem (5)e
maior do que em (5B), porque se faz um esforço moderado no processamento da
informação que resulta no sintagma esta falha. Em (5B), temse um Grau de
Relencia menor em razão de haver um maior esforço no processamento da
informaçãoparasechegaraosintagmaestajanelaimunológica.
103
Quanto maior for o esforço e a energia mental gastos para operações
mentaiscomoatenção,memóriaeraciocíniousadosnoprocessamentodainformação,
menor será o Grau de Relevância porque as implicaturas contextuais ou as
inferências,comonósastemoschamado,terãomenosevidênciasnoselementosdoco
texto, como em (5B). Inversamente, quanto menorfor oesforço e aenergiasgastos,
maior será o Grau de Relevância porque se terá mais evidências informativasnos
elementoscotextuais.
Cabenosfazerumaperguntaagora:podemosafirmarqueossintagmas
nominais encapsuladores em (5), (5A) e (5B) não o sinônimos dos ambientes
cognitivos criados pelas inferências feitas a partir da porção textual anterior
anaforizada?Anossarespostaénão.Nãopodemosafirmarisso.Aocontrário,elessão
sinonímiasconstruídasporumaequivalênciaciocognitivaentreoambientecognitivo
criado a partir da âncora referencial e da sua parte conceitual e o sintagma nominal
encapsulador,queéosentidodessarelação.
Simplifiquemostudodaseguinteforma:
A Sintagma nominalencapsulador ou sentido em (5B): esta janela
imunológica;
B Porção textual anterior anaforizada (âncora referencial e sua
parteconceitual)em(5B):
... o sistema imunológico dos pacientes reconheceu os anticorpos do
rato e os rejeitou. Istosignifica que eles não permanecem no sistema
portemposuficienteparasetornaremcompletamenteeficazes
;
C Ambiente Cognitivo em (5B):
a AIDs, os seus sintomas e o seu
comportamentonocorpofísico
;
Concluo:AésinônimodaequivalênciasóciocognitivaqueháentreB
eC.Portanto,nestarelaçãodeequivalência A=B=C=A.
A
Teoriada ConsciênciaIntencional
deHusserl, quedizque osnossos
conhecimentosmanifestamformasvariadasdepercepçãodosobjetosdomundoeque
estes têm sempre ângulos que podem nos remeter a outras formasdeconhecimento,
104
parecenos ligarse à
Teoria da Relevância
quanto aos Graus de Relevância que são
geradosporambientescognitivosmútuosouo,equeevidenciamumaoutraformade
verosobjetosdiscursivos.
O
contextoreferencial
,postuladoporHusserl,tambémpareceencaixarse
no que Sperber e Wilson chamam de
ambiente cognitivo
, pois ambos são formasde
manifestação do nosso olhar abrindo umespaço queresultaem
uma
formadever as
coisasatravésdasnossasvivências.
Tanto o
contextoreferencial
quantoo
ambientecognitivo
referenciamos
objetos de discurso mudandolhes a interpretação pelos ângulos de observação, de
acordocomolharesinseridosemmundosparticularesecoletivosdevivênciassociais,
conforme explicitamos. Ambos evidenciam um vasto campo de incalculáveis
possibilidadesdefazermosjulgamentoseconstruirmosaçõesqueresultamemopiniões
sobre a forma como olhamos os objetos discursivos. Essas opiniões o as
interpretaçõesasquaischegamossobrealgoou,comotemosdefendido,sãoossentidos
criadosnasinonímiaporencapsulamentoanafórico.
Na Teoria da Relevância, umoutroponto importante para entendermosa
diversidadedepossibilidadesparaopreenchimentodosintagmanominalencapsuladoré
quenoprocessodecompreensão,paraSperbereWilson(1986),ainterpretaçãonão
pode ser comprovada, e sim apenas confirmada. Pois no processo de construção
inferencialnãohágarantiasdelinearidade,oquetorna,comonosdizSilveiraeFeltes
(1997:35), a verdade das conclusões apenas provável, através de um processo de
formaçãodehipóteses– quesupõe raciocíniocriativo, analógico eassociativo–ede
confirmação de hipóteses– que se ajusta ao conhecimento de mundo do indiduo”.
Este é mais um ponto de congruência da Teoria da Relevância com a Teoria da
ConsciênciaIntencionaldeHusserl.
Estasperspectivasexplicamnosofatodasinformaçõescontidasnaâncora
referencialenaparteconceitualseremacessadasdediversosmodoseconstruídaspor
inferências variadas. No acesso à interpretação ocorre um processo de integração de
informações que culmina em quatro formas de processamento da interpretação ou
acessoaosentido.
105
SilveiraeFeltes(1997:45)nosapresentamoesquemapeloqual,nateoria
de Sperber e Wilson, uma informação pode ser reforçada ou enfraquecida pelo
fenômeno chamado de força das suposições que é um tipo de efeito contextual
resultantedacombinãodeinformaçõesvelhascominformaçõesnovas.
Nocasodasinonímiaporencapsulamento,nósenxergamosesseesquema
comoumesquema deacesso ao sentido construído peloprocessodeintegraçãodas
informações contidas na âncora referencial e na parte conceitual dos exemplos
trabalhados, como nos exemplos (5), (5A) e (5B). De acordo com Silveira e Feltes
(pg.45),oesquemadeprocessamentodainformaçãoouacessoaosentidoapresentase
daseguinteforma,podendoserimbricadas:
(a)Porum
input
perceptual(visual,auditivo,olfativo,tátil,etc.);
(b)Por
input
lingüístico (decodificação lingüística), pela ativação de
suposições;
(c)Pela
ativação
de suposições estocadas na memória (conhecimento
enciclopédicoeoutros) ouesquemas de suposições,quepodem ser
completadoscominformaçãocontextual;
(d)Por
deduções
,quederivamsuposiçõesadicionais.
Noexemplo(5)observamosqueossintagmas
rejeitou
,
opermanecem
no sistemaimunológico por tempo suficiente
e
tentativade contornar
constroemum
ambiente cognitivooucontextoreferencialpormeiodeum
input
lingüísticoqueativa
suposiçõeslógicasqueresultamnosintagmanominalencapsuladoresteproblema.
(5) ...o sistema imunológico dospacientes reconheceu os anticorpos do
ratoeosrejeitou.Istosignificaqueelesnãopermanecemnosistemapor
tempo suficiente para se tornarem completamente eficazes. A segunda
geração de anticorpos agora em desenvolvimento é uma tentativa de
contornar este problema através da humanização” dos anticorpos do
rato,usandoumatécnicadesenvolvidapor...”
Em(5A)temosnovamenteo
input
lingüísticodossintagmas
rejeitou
,
o
permanecem no sistema imunológico por tempo suficiente
e
tentativa de contornar.
Porém,nóstemosconcomitanteaesse
input
lingüísticoaativaçãodeoutrasuposição,
formada por um conjunto estruturado de conceitos, como já explicitamos. Essa
suposição resulta no sintagma encapsulador esta falha, que é construído por
106
informaçõescontextuaisquenoslevam,porexemplo,aoenquadre
58
ou
frame
dequese
trata de
uma pesquisa terminada, mas quando posta em prática houve uma falha
inesperada
.Oqueédiferentedoenquadreou
frame
criadoem(5),de
umapesquisaem
andamentoqueapresentouumproblemanoseuteste
.
(5A) (...)A segundageração deanticorposagoraemdesenvolvimentoé
uma tentativa de contornar esta falha através da humanização” dos
anticorposdorato,usandoumatécnicadesenvolvidapor...”
Em (5B) o acesso ao sintagma encapsulador esta janela imunológica
ocorre devido à ativação de suposições estocadasna memória do interlocutor. Como
exposto antes, são inferências construídas por suposições adicionais acessadas pelo
conhecimento de mundo e também específico que se tem sobre a AIDS e suas
conseqüências nosistema imunológico de umindivíduo. Anossaanáliseindicaque o
input
lingüísticoqueservedeportadeacessoparaaconstruçãodosintagmaestajanela
imunológicaresideeminformaçõescontidasnossintagmas
osistemaimunológicodos
pacientes
e
o permanecem no sistema por tempo suficiente para se tornarem
completamenteeficazes
.
(5B)(...)A segundageração deanticorposagoraemdesenvolvimentoé
uma tentativa de contornar esta janela imunológica através da
humanização”dosanticorposdorato,usandoumatécnicadesenvolvida
por...”
Estemododeinterpretarasinformaçõesdaporçãotextualanaforizada não
querdizerquenãopossamexistiroutrossintagmas,nocotexto,parao
input
lingüístico
aquinestesexemplos.Ogatilhopodeseroutro.Assuposições,conjuntoestruturado
de conceitos” (Sperbere Wilson, 1986:85), são consideradaspor estes autores como
umrótulo
59
,comoumendereçoparaacessarmosasinformações.
Assim, a relevância se define mediante um esforço de processamento da
informação.Doesforçodeprocessamentoderivamseoschamadosefeitoscontextuais
quesão as suposiçõesasquaisacessamosatravésdasinformaçõescontidasnaâncora
_
58
Relembramos aqui idéia defendida por Marcuschi (2003a:5) de que “(...) uma vez determinado o
enquadretópico,oléxicopassaafuncionardessepontodevistacomoprodutordesentidospossíveis”.
59
Já foi abordado no terceiro capítulo deste trabalho que Francis (2003) também considera esses
sintagmasencapsuladorescomorótulos.
107
referenciale naparteconceitualdaporçãoanaforizadadosexemplostrabalhados.Por
meio das suposições acessadas, nós constrmos então o sentido de todo esse
processamentodainformaçãoqueresultanosintagmanominalencapsulador.
Istoquerdizerqueoprocessodeinterpretação,deconstruçãodosentido
no encapsulamento anafórico, é uma via de o dupla que se efetiva pela
sócio
interatividade
construída entre os interlocutores. Ao escrevermos ou falarmos sobre
algo,nóscriamosumobjeto dediscursoquepodeservistopordiversosângulos.Daí
serpossível acessarmosdiversossentidosmedianteumúnicoobjetodiscursivo.
Por este aspecto, a construção do sentido tornase mais que um
procedimento cognitivo, ela se torna um processamento sóciocognitivo porque
envolve, em essência, “um constructo psicológico, constituído de um subconjunto de
suposiçõesdoouvintesobreomundo,queafeta,emesmodeterminasuacompreensão
doenunciado”(SilveiraeFeltes,1997:29).
No processamento ciocognitivo quando os interlocutores acessam o
mesmo contexto referencial (Husserl,1954) ou ambiente cognitivo (Sperber e
Wilson,1986), ou ainda contexto sóciocognitivo (Salomão,1999; Marchuschi &
Koch,1998; Marchuschi,1998, Mondada e Dubois,2003; Mondada,1997), há então a
construçãodesentido compartilhado entre falantee ouvinte, escritoreleitor. Quando
não, constroemse sentidos diferentes, porém não menos possíveis de serem
consideradoscomopertinentesparaumainterpretação.
Nós entendemos que quando Sperber e Wilson consideram o ambiente
cognitivocomo,emessência,umconstructopsicológico,conformeasseverouSilveirae
Feltes, aqueles dois acoplam ao ambiente cognitivo o caráter social que envolve os
acessosaessesambientes.PorissoSperbereWilsonconsideramoambientecognitivo
como“umsubconjuntodesuposiçõessobreascoisasdomundo”.Estaperspectivasóé
possível se considerarmos o caráter social que está envolvido em toda e qualquer
interação.
Deacordocoma TeoriadaRelevância,nóspodemosdizerquenasentrelinhasde
seuspostuladosháacompreensãodequeossentidosconstruídosdiscursivamentenão
apontam para os
objetos do mundo
, mas para os
objetos de discurso
acessados pela
interação social.NãoconstruímososentidoDAScoisasdomundo,nósconstruímoso
108
sentidoSOBREascoisasdomundo.PodemosentenderesteSOBREcomoindicadorde
queosentidonãoéumarepresentaçãomentaldosobjetos.Osentidoénecessariamente
umaoperaçãosóciocognitiva,conformeafirmouSalomão(1999:71),
“namedidaemqueosujeitonuncaconstróiosentidoemsi,massempre
para alguém (ainda que este algm seja si mesmo). Construir sentido
implicaemassumirdeterminadaperspectivasobreumacena,perspectiva
queétambémmutávelnoprópriocursodaencenação”.
Em resumo, construir sentidos não é construir representações mentais.
Construirsentidosé acessarambientescognitivos mediante suposiçõesfeitassobre os
objetosdediscurso
emumainteraçãodiscursiva. Nasinonímiaporencapsulamento,o
sintagma nominal encapsulador apresenta
um
sentido construído pelos ambientes
cognitivosgeradospelassuposiçõesfeitasapartirdasinformaçõescontidasnaâncora
referencial e na parte conceitual da porção anaforizada. Os sintagmas nominais
encapsuladores esteproblema,esta falhaeesta janela imunológicaapresentam
um
sentidoconstruído,inferidoapartirdassuposiçõesrealizadas.Osentido,nestescasos,
apresenta, evidencia
e não
representa
um ponto de vista conceitual que implica em
assumir determinadas perspectivas sobre o conteúdo da âncora referencial e da parte
conceitualanaforizada.Osentidoévariável medianteoângulodeobservação.
SilveiraeFeltes(1997:49)afirmam queparaSperbereWilson (1986),
ARelevânciaéumafunçãodeefeitoseesforços,elaéumapropriedade
nãorepresentacionaldamente.ARelevânciaé“disparada”,simplesmente
ocorreespontânea einconscientemente, nãoéumaregra quesesiga ou
que se viole, como acontece com o Princípio de Cooperação e suas
máximas. O que pode vir a serrepresentadooapenasjulgamentosde
Relevância. Quandoestesocorrem,sãocomparativoseintuitivos,nunca
quantitativos(porexemplo:x éfracamenterelevante,yémaisrelevante
quex,etc.).
Asconsideraçõesacima,maisumavez,nospermitemdizerqueosentido
nasinonímiaporencapsulamentoéomodocomoumindivíduocompreendeeinterpreta
os ambientes cognitivos acessados a partir dos conteúdos da porção anaforizada,
construindo assim as diversas possibilidades interpretativas. Por isso podemos pensar
nos exemplos de encapsulamento anafórico como relações de equivalência sócio
cognitiva queocorrem entreosentidoconstruídoeosambientescognitivosacessados.
109
Motivados por esta razão dissemos, no nosso terceiro capítulo, que o
encapsulamento anafórico é mais que um recurso coesivodeintegração semântica.O
encapsulamento anafórico é também um recurso de
coerência
e de
interação
de
ambientescognitivosqueresultaemumaequivalênciaciocognitivaentreosintagma
nominal e a porção anaforizada, constituindose, assim, em uma sinonímia por
encapsulamentoanafóricosobreasbasesdeumaperspectiva sóciocognitiva.
Namedida emquetrabalhamoscomaperspectivaacima,asinonímiasai
darelãode
identificaçãodosignificado
paraarelação
inferencialeinteracionalda
significação
.Marcuschi(1999:114),em
CoerênciaeCogniçãoContingenciada
,aponta
o fato que na relação de identificação a pergunta a ser respondida é “oque significa
isso?”ea coerênciaé vista como“uma propriedadedotextoqueseachapresaaum
determinadousododigoesuasrelaçõesimediatas”.Jánarelãodeinferênciaede
interaçãoasperguntasaseremrespondidassão,respectivamente,oqueelequerdizer
com isso?” e “ o que entendemos com isso agora?”. Na relação de inferência, a
coerência é “resultado de processos inferenciais em contextos cognitivos complexos
ondeanoçãoderelevânciaécentral”.Narelaçãodeinteração,acoerênciaévistacomo
“resultadocoletivo,conjuntamenteconstruídae,emmuitoscasos,dedicilidentificação
foradocontextoemquefoiproduzida”.
Tudoistoqueacabamosdeexpornoslevaaconcluirque
ossentidos
que
nósconstruímos
comalíngua
sãoinstáveisemutáveis
60
;eégraçasaessapossibilidade
de mutabilidade e instabilidade que
possuem os sentidos
que podemos organizar o
mundo,discursivamente,deinúmerasmaneiras.Aproduçãodecoerência,defato,como
nosapontaMarcuschi(1999:114),“éproduçãodesentidonumaatividadeconjunta”.
Portanto,considerarque
alíngua
éconstitutivamenteinstávelemutável
61
só é possível se concebermos que são os
sentidos construídos com a língua que
proporcionam a esta a condição de ser constitutivamente instável e mutável
. Não
_
60
Leiasemutáveiscomovariáveis.
61
Esta foi a conclusão a qual chegou Penna (2006:1314) no seu artigo
Construção de sentidos por
formas nominais: aforas associativa rotulações e (re) categorizões
. “De tudo o que foi visto,
concluisequeanguaéconstitutivamenteinstável(Revuz, 1998)equeéjustamentedainstabilidade
quenasceapossibilidadedeseconstruirsentidos;quetextosprogridemgraçasàsmuitasestratégiasde
construção dos objetosdediscurso e que essas estratégias só o possíveis porque falante/produtor
procede a escolhas passíveis de serem negociadas no ato enunciativo e
joga
com as inúmeras
possibilidadesdeorganizaçãodiscursivadomundo”.
110
consideramosqueporseralínguainstáveléquenasceapossibilidadedeseconstruira
diversidadedesentidos.Aocontrário,épelainstabilidade emutabilidade queossentidos
apresentam que nós construímos possibilidades de se pensar com a língua de forma
infinitamentevariável.
Ressaltamos que quando concordamos que o sentido é constrdo pelos
ambientes cognitivos acessados estamos dizendo também que estes formam o que
Salomão(1999:71)temchamadodemoldura(ou
frame
)dainteração.Segundaesta
autora,
Dopontode vista de Goffman(1986), toda interação comunicativa (ou
todo encontro, como ele o denomina) é dramática, na medida em que
participar dele é inserirse numa determinada moldura (ou
frame
”) e
exercerdentrodelaumpapelcomunicativoparticular.
A possibilidade de variação do sintagma nominal encapsulador ocorre
porquenósestamosinseridosnumadeterminadamolduraou
frame
quevaicategorizar
ou recategorizarosobjetosdediscurso.Assim,asmoldurasou
frames
construídosse
configuramcomoumfundoestruturadodeexperiências,crençasepráticasconstituindo
umaespéciedeprérequisitoconceitualparasechegaràcompreensão.
Por tanto, a sinonímia por encapsulamento não ocorre de forma direta,
palavraapalavra.Masporintegraçãodeinformações(SperbereWilson,1986)que
eclodemtantopeloqueestáarmazenadonamemóriaenciclopédicaquantopeloqueestá
na memória de mundo dos indiduos, iluminando elementos particulares dos
frames
construídos.
Sendoassim,nóspodemosdizerqueestarelaçãodesinonímiaocorrepor
equivalênciasóciocognitivaentre
frames
.Sãoos
frames
quevãoservirdebasepara
construirmosossentidosquesão,porsuavez,perspectivasdeumobjetodiscursivo.
Medianteoquetemosdiscutidoépossíveldizermosqueasrelevânciassão
iluminações particulares dos
frames
que evidenciam um ponto de vista, uma
possibilidade de julgamento e ação que é a manifestação da opinião, como postula
Sperber e Wilson (1986) e Husserl (1954), podendo ser sempre revisada. Por isso a
sinonímia por encapsulamento anafórico não é linear, o sentido é tomado como
111
provisório,tornaseportantoumahitesequenãopodeserprovadaesimconfirmada,
comoasseguramSperbereWilson(
apud
SilveiraeFeltes,1997:35).
Tambémacreditamos que a nãolinearidade do sentido ocorre pelo fato
dos
frames
formaremconjuntos deatributosevalores,poisestesnosoferecem um
meio natural de dar conta da variabilidade do sentido constrdo na sinonímia por
encapsulamentoanafórico.EssaconcepçãoencontraseemBarsalou(1992).Atéagora
vimos que o acesso ao sentido, na sinonímia por encapsulamento anafórico, pode
ocorreratravésdeumarelenciaquenoslevaaconstruçãode
frames
possuidoresde
atributosevalores.Vejamosagoracomopodemosacessarosentidoapartirde
frames
,
naconcepçãodeLawrenceW.Barsalou(1992).
4.3 OAcessoaoSentidopelaConstruçãodeFrames:ateoriadeatributose
valoresdeBarsalou
No artigo
Frames, Concepts, and Conceptual Fields
62
, Barsalou (1992)
busca mostrar que “os
frames providenciam
 a representação fundamental do
conhecimento na cognição humana”
63
(p.21). Para este autor, essa noção de
frame
é
interessante por duas razões: primeiramente porque “oferece um meio natural de dar
contadavariabilidadecontextualnasrepresentaçõesconceituais
64
”,edepoisporque“os
frames
representam todos os tipos de categorias, incluindo categorias de seres
animados,objetos,lugares,eventosfísicos,eventosmentais,etc”
65
(p.29).
A posição de Barsalou nos faz refletir sobre a variabilidade do
preenchimento do sintagma nominalencapsulador, comodestacado nosexemplos(5),
(5A)e(5B).Nanossaperspectiva,ossintagmasnominaisesteproblema,estafalhae
esta janela imunológica apresentam pontos de vista. Cada um dos pontos de vista
constitui um
frame.
_
62
As citações de Barsalou o traduções feitas por Marcuschi, na aula 8 do Curso de Lingüística
Cognitiva,ministradonaUFPEem2005.Estematerialencontraseemmimeo.
63
“InthiscapterIproposethatframesprovidethefundamentalrepresentationofknowledgeinhuman
cognition”.
64
“Framesofteranaturalmeansofaccoutingforcontextualvariabilityinconceptualrepresentations”.
65
“I assume that frames represent all types of categories, including categories for animates, objects,
locations,physicalevents,mentalevents,andsoforth”.
112
Segundoateoriadesteautor,os
frames
possuemtrêscomponentes:
(a)Conjuntosdeatributosevalores;
(b)Invariantesestruturais;
(c)Condicionantes.
Todo
frame
possuiumnúcleoformadordeumconjuntodeatributos,que
oconceitosquedescrevemumaspectodeummembrodeumacategoria.Paracada
atributo,muitossãoosvaloresquepodemvirjuntocomele.Porexemplo,o
frame
de
casapossuimuitosatributoscomo
térrea
,
primeiroandar
,
quartos
,
cozinha
,
áreade
serviço
,
banheiros
etc. Todos são conceitos que descrevem um aspecto de casa.
Podemosjuntaraessesatributosalgunsvalorescomo:
térreasempiscina
,
cozinhacom
armários embutidos
,
quartos com suíte
,
área de serviço sem dependência de
empregada
etc.
EmBarsalounãoháaquestãodalistadetraçosnecessáriosousuficientes
para uma categoria numa representação semântica. Para ele, em uma categoria como
‘casa’, evidências de atributos e valores que estão interrelacionados, não há
independênciadeelementoscomoalistadetraços(Rosch,1978).Hácaracterísticasque
formam valores e outras que formam atributos. O exemplo que ele nos oferece é o
frame
decarro.Sãoatributoso
motorista
,
combustível
,
motor
e
rodas
.Sãovalores
o
motor de 4 cilindros
,
8
ou
16
;
o combustível as
,
gasolinaou álcool
,e assimpor
diante.
dissemosquenasinonímiaporencapsulamentoanafórico,ossintagmas
encapsuladores evidenciam a maneira pela qual estamos interpretando o que foi dito
anteriormente, na porção anaforizada. Pela perspectiva de Barsalou, nós podemos
considerar o ambiente cognitivo de cada sinonímia por encapsulamento como um
frameatributo porque evidencia o conceito que foi formado pela leitura da porção
textualanaforizada.
A porção anaforizada apresenta o que vamos chamar neste trabalho de
âncoraframe
66
.AssimcomoMarcuschi(2001)eSchwarz(2000)chamamdeâncora
_
66
NãoexisteemBarsalouotermoâncorafr ameenemframeatributooumesmofr amevalor.Nós
criamosestestermosapartirdoqueBarsalouconsideracomo
frame
,
atributo
e
valor
eosaplicamosao
nossoobjetodeinvestigação.
113
referencialenãodereferente,aporçãotextualanaforizada.Istoporqueelavaiservir
debase,deâncora,paraaconstruçãodoquevamoschamardeframeatributo.
Porfim,osintagmanominalencapsulador,queéosentido,constituioque
vamos chamar de framevalor, pois é um conceito que está subordinado ao frame
atributo.Ouseja,eleéumconceitovalorativodoconceitodeframeatributo.Porissoé
que na sinonímia por encapsulamento anafórico a equivalência sóciocognitiva existe
entreoambientecognitivoeosintagmanominalencapsulador.Porqueambosformam
frames
poratributosevaloresqueestãosempreinterrelacionados,poisosvaloressão
subordinadosaoatributo,comoreferendouBarsalou(pg.31).
Os atributos e valores de um
frame
são construídos pelos nossos
conhecimentos de memória enciclopédica, construídos pelas nossas habilidades
perceptuais,pelasnossasatividadesmentaisnasquaisestamosengajadosnosmomentos
deinteraçãoepelasnossasvivênciassociais.Percebamosqueistonãoémuitodiferente
doesquemadeprocessamentodainformaçãodeSperbereWilson(1986)
67
.
Podemosesquematizartudoissodaseguinteforma,noexemplo(5B):
AEstajanelaimunológica(sintagmanominalencapsuladorousentido):
Framevalor;
BPorçãotextualanaforizada(âncorareferencialesuaparteconceitual):
Âncoraframe;
... o sistema imunológico dos pacientes reconheceu os anticorpos do
rato e os rejeitou. Istosignifica que eles não permanecem no sistema
portemposuficienteparasetornaremcompletamenteeficazes
.
C Ambiente Cognitivo (a AIDs, os seus sintomas e o seu
comportamentonocorpofísico):Frameatributo.
Concluo:Aésinônimodaequivalênciacognitivaentreaâncoraframe
BeoframeatributoC.Continuaentão,nestarelaçãodeequivalência,o
esquemaA=B=C=A.Poderemosmudarquantasvezesforpossíveloitem
C,queestaremosmudandotambémoitem A.Oquenãopodemudaréa
_
67
Esteesquemaencontrasenosubitem4.2destecapítulo.
114
relão de equivalência ciocognitiva que deve haver sempre entre
ambos.
Noexemplo(5A)oframeatributoé
umapesquisaterminadaqueaoser
posta em prática apresentou uma falha o esperada
. O framevalor é o sintagma
nominal encapsulador esta falha. em (5) o frameatributo é
uma pesquisa em
andamentoaondesebuscaresolveralgoqueodeucertonoavançardaspesquisas
científicas
.O framevaloré esteproblema,queéosentidoconstruídoeapresentado
pela estruturadeumsintagmanominal encapsuladorcomovistosem(5A)e(5B).As
âncorasframecontinuamiguaisparatodosestesporqueéaparteinvariante.
SegundoBarsalou,“adefiniçãodeatributoéextrínseca,dependentede
umarelaçãoaspectualdeumconceitocomacategoria”
68
(pp.3031).Oqueemumcaso
consideramoscomoatributopodenãoseremoutrocaso,oqueresultaapenasemum
conceito.Poroexemplodadonapg.108:
casatérreacompiscina
.
Oconceito,paraBarsalou,sedefinecomoainformaçãodescritivaqueas
pessoas representam cognitivamente para uma categoria, incluindo informação
definicional, informação prototípica, informação funcionalmente importante e
provavelmente outros tipos de informação”
69
(p.31). Por esta perspectiva, Barsalou
postulaqueaformacomoeledefineconceitoassemelhasevagamenteaintençãoe
sentido”(p.31).Eque,emgeral,eleassumequeos
frames
representamtodosostipos
deconceitos.
Istoimplicadizermosquetantoosatributosquantososvalorespodemser
chamados de conceitos. E trabalhar com conceitos, como é o caso de todos os
elementos envolvidos na sinonímia por encapsulamento anafórico, é trabalhar na
perspectivadeumaintegraçãoconceitualoumesclagemconceitualqueocorreentre
frames
70
. Tanto os atributos quantos os valores implicam num determinado ponto de
vistadeumasituaçãoimaginada.
_
68
“Inthisregard,thedefinitionofattributeisextrinsic,dependingonaconcept’saspectualrelationtoa
category”.
69
“By concept I mean the descriptive information that people represent cognitively for a category,
including definitional information, prototypical information, functionally important information, and
probably other types of information as well. In this regard, my use of concept vaguely resembles
intensionandsense”.
70
VerFauconniereTurner(2002).
115
O curioso é que Frege (1978), em
Sobre o Sentidoe a Referência
, nos
alerta para o fato de que osentido poderecairsobreumconceito, sendo esteúltimo
tomadocomosentidoeaomesmotempocomoconceito.Fregeconsideraatrajetóriade
umpensamento como um“juízo”, ese sãoos pensamentos diferentessãotambémos
jzosdiferentes.
Sabemos que neste caso Frege considera “jzo” como a trajetória do
pensamentoparaoseuvalor deverdade
71
.SeFregeotivessemencionadoqueesta
trajetóriadirigeseparaoumvalordeverdade,nósatépoderíamospensarqueháuma
fagulhade semelhançacomaformadepensarsobreoconceitodescritaemBarsalou.
Umconceitonãodeixadeserum“juízodevalor”,umsentidoumaintenção,ouseja,
nãodeixademostrarumatrajetóriadopensamento,masnãonecessariamenteparaum
valordeverdade.
As invariantes estruturais, segundo fator formador de um
frame
,
constituem um outro aspecto pelo qual podemos explicar a sinonímia por
encapsulamento anafórico em exemplos onde o sintagma nominal encapsulador é um
nome geral. Para Barsalou
72
(p.35), as relações existentes entre conceitos são muitas
vezes comuns a todos os exemplares de uma categoria tornandose de algum modo
invariáveis.Eistoéoqueelechamadeinvariantesestruturais.
Este segundo aspecto ligase ao terceiro aspecto que são os
condicionantes.Deacordocomoautor
73
(p.37),asinvariantesestruturaisrepresentam
relações relativamente constantes entre atributos de um
frame
. No caso de carro,
exemplo dado por ele, temse relações condicionantesentre o
motor
eo
combustível
queseestabelecemnormativamenteenãomudamdecarroparacarro.
Os condicionantes mostram que as relações são ordenadas,
interdependentes e determinam valores globais dos atributos, como em transporte
temos relações entre
velocidade
e
duração
. Por exemplo, um avião se desloca em
menostempoqueumcarro, eesteemmenostempoqueumalambreta.Velocidadee
duração são condicionantes nas relações de invariantes estruturais, seja qual for o
_
71
Estaquestãoencontrasenosubitem2.2docapítulo2.
72
(...)“Becausesuchrelationsgenerallyholdacrossmostexemplarsofaconcept,providingrelatively
invariantstructurebetweenattributes,Irefertothemasstructuralinvariants”.
73
“Thestructuralinvariantsdescribedintheprevioussectionrepresentrelativelyconstantrelations
betweenaframe’sattributes”.
116
transporte pensado haverá sempre a relação de invariância ocasionada por
condicionantes que apresentam relações constantes, como em motor e combustível, e
velocidadeeduração.
Istoéoqueocorrenoexemplo(3)analisadonocapítuloanterior:
A verdade, profunda anomalia do nosso sistema de televisão,
representa o peso do poder político. Este fato provocou uma
excessivafragmentaçãodaredeprivada,sobretudonoCentroSul.
(Conte,1996:178).
De acordo com o que expôs Barsalou, nós podemos dizer que o sintagma
nominalencapsuladorestefato,alémdeumframevalor,constituiseem umainvariante
estrutural, pois diz respeito a um conceito que é comum atribuir aos eventos
comunicativosemgeral.Arelaçãodecondicionantedáseentre
eventocomunicativo
e
fato
, imprimindo assim um valor, um conceito global para o sintagma nominal
encapsulador. Mas, lembramos que esta é apenas uma possibilidade para o
preenchimentodestesintagmanominal.OValorpoderiaseroutrocomo,porexemplo,
esta declaração ou esta notícia. E não teríamos mais esta relação de invariância
estrutural.
Os
frames
por atributos, valores, invariantes estruturais e condicionantes são
todos conceitos os quais manipulamos de acordo com as rias situações nas quais
estamosinseridoseinserindosesempre,namedidaemqueinteragimoscomomundo
construindo e reconstruindo o modo como compreendemos as coisas do mundo em
geral.
A construção de
frames
e as suas relões conceituais nos indicam um outro
caminho de acesso ao sentido para a construção e explicação da sinonímia por
encapsulamento. Mais do que operações cognitivas, os
frames
são operações cio
cognitivas por se mostrarem sempre interdependentes com o aspecto sóciohistórico
culturaldosindivíduosnousodalinguagem,oquegarantetambémumanãolinearidade
nasmanifestaçõesdiscursivas.
Tanto a teoria da Relevância de Sperber e Wilson(1986) quanto ateoria dos
Frames
deBarsalou(1992)contemplamocaráterinferencialdasrelaçõesconceituais,
ambas admitem que essas relações ocorrem em ambientes cognitivos ou
frames
117
formadoresdediversosmodosdeinterpretaçãoqueé,emessência,osentidoconstruído
nasinteraçõesdiscursivassociais.Asduasteoriasnosfornecemcaminhosdeacessoao
sentido e demonstram os aspectos cognitivos envolvidos na sinonímia por
encapsulamento.Sãoperspectivaspelasquaispodemosabordaroacessoaosentidona
sinonímiaporencapsulamentoanafórico,orapelaescolhadeumaRelevância,emseus
graus,orapelaconstruçãodeum
frame
poratributos,valores,invariantesestruturaise
condicionantes.
Emntese,ateoriadeBarsalounosmostraapossibilidadedeconstruirmosuma
riedeatributos.Contudo,estesatributostêmumalimitaçãoquelheséimpostapela
experiência, pelas teorias, pela cultura etc. Isto é o que Barsalou (pg.34) nos dizno
trecho:
Clearly, an infinite number of attributes could be constructed for a
category(Goodman,1995).Inthisregard,thehumanconceptualsystemis
highly productive,althoughnopersonconstructsallorevenmanyofthese
potencial attributes. Experience, goals, and intuitive theories play
importantrolesinconstrainingattributeconstruction.Ifpeopleexperience
differentexemplarsofacategory,theymayrepresentdifferentattributes
forit.Onceparticularattributesbecomerepresentedforacategory,they
determine relevance. If two people represent a category with different
attributes,theyencodeitsexemplarsdifferently.Differentaspectsofthe
exemplar are relevant, because the perceivers’ respective frames orient
perceptiontodifferentinformation.
Os
frames
,ao formarem camposconceituais, propiciamcombinaçõesinúmeras
paraocorrênciadeoutrosconceitos,outrosframes.Dessemodo,ateoriadeBarsalou
sobre
frames
,
conceitosecamposconceituais
nosofereceumaamplapossibilidadede
enxergarmos a relão de equivalência sóciocognitiva que ocorre na sinonímia por
encapsulamento anafórico como uma relação que não é fixa e nemrígida, poisassim
comoos
frames
,elaédinâmica,flexívelaoscontextosdiversosquepodemativarnovos
atributos,portanto,novospontosdevista,novossentidos.
De acordo com Barsalou (pg.61) os
frames
correlacionam conceitos. E nesta
perspectivadecorrelaçãopodemossempreproduzir
frames
dentrode
frames
.Poresta
razão a sinonímia por encapsulamento pode construir diversos pontos de vista, com
diversos conceitos correlacionados. O sintagma nominal encapsulador é apenas
um
resultadodessacorrelãoentre
frames
.
118
A perspectiva dos atributos e valores demonstra que podemos considerálos
comorelevânciaspelasquaissãoapontadaspossibilidadesdediversospontosdevista.
Porissorelacionamos,nestecapítulo,aTeoriadaRelevânciadeSperbereWilson coma
Teoria de Frames por Atributos e Valores de Barsalou. Estas também se encontram
interrelacionadas com os postulados de Husserl, Moore e Mondada e Dubois
apresentadosnestecapítulo.
Pois, de uma forma geral, todas evidenciam que os sentidos são modos de
observaçãode
objetosdediscurso
construídosporcontextosreferenciaisouambientes
cognitivosgeradossempreporinferências.
Buscamoscomtodasasteorias,discutidasnesteenosoutroscapítulos,fechara
nossa proposta de argumentação em defesa da existência do nosso objeto de
investigaçãoqueéaconstruçãodasinonímiaporencapsulamentoanafóricodesde
a perspectiva semântico filosófica até a perspectiva sóciocognitiva, perspectiva
estaquenosdácondiçõesdeexplicála,enxerlaetornálaumobjetivopossível
de ser investigado em diversos gênerostextuais públicos porqueela existe como
objetolinístico.
Eparafinalizaroconjuntodetodososcapítulos,nósescolhemosumacitaçãode
Salomão (1999:65) que nos é bastante apropriada para encerrarmosesta investigação
sobreasinonímiaporencapsulamentoanafóricoeossentidosqueestaconstrói:
Escolher como objeto de linística os processos de construção do
sentido, antes que a identificação deunidades estruturais ou apredição
sobre seqüências bemformadas é mudar substancialmente a agenda da
disciplina.osetratademenosprezaroscomprometimentosanteriores,
cujo bom sucesso abriu campo (nos termos de Fauconnier, 1997,p.6)
“para a investigação em larga escala dos femenos semânticos e
pragmáticos”;naverdade,taisempreendimentospodemserdesenvolvidos
emparalelo,ressalvandoseucaráterepifenomênico.
119
A posição de Salomão também é a nossa. A sinonímia por encapsulamento
anafórico pode ser investigada em paralelo com a sinonímia estudada pela semântica
formal.O quealmejamoscomosquatro capítulosapresentadosfoiampliarofocode
estudos sobre a sinonímia nos processos de textualização e nos processos de
referenciação anafórica indireta sobre as bases da perspectiva ciocognitiva. Desta
maneira, acreditamos estar trabalhando tanto aspectos do xico quantos aspectos da
produçãotextual.
120
CONCLUSÃO
Duranteasdiscussõesapresentadasnosquatrocapítulosdestainvestigação
tecemosasnossasconsideraçõesargumentativasetambémasnossasconclusõessobrea
sinonímia por encapsulamento anafórico e os sentidos construídos por ela. Ao
conduzirmoseste tipo desinonímiaparachegarmosà perspectivasóciocognitiva,que
considera a língua como ação conjunta, nós sugerimos que a sinonímia por
encapsulamento anafórico possa ser vista como um fenômeno de textualização por
referenciação indireta essencialmente ciocognitivo, que ocorre por meio de uma
equivalência sóciocognitiva entre os sentidos constrdos por processos inferenciais.
Nós também sugerimos que o sentido seja considerado como é o modo pelo qual
compreendemos algo; como um ponto de vista; como uma possibilidade de
interpretação que se dá por uma relação de equivalência sóciocognitiva que se
estabelecepeloviésdeumainferência.
Nós consideramosasafirmativasdeKocheCunhaLima(2004:283286),
queporsuavezbaseiamseemClark(1996),paraevidenciarmosquenasinonímiapor
encapsulamento
o sentido possui finalidades, objetivos dinâmicos e variavelmente
flexíveis,tornandoseumaaçãoprincipalnodiscurso
.Sãoelas:
1Nasinonímiaporencapsulamentoanafórico,ossentidosconstruídospossuem
finalidades comuns seja para divertir, argumentar, ironizar, elogiar, seja para
manterse relativamente imparcial ou tomar partido de algo ou alguém, etc”;
podemosveristonosexemplos(2)e(4)analisados:
(2) A verdade, profundaanomalia do nosso sistemade televisão,
representa o peso do poder político. Este fato provocou uma
excessivafragmentaçãodaredeprivada,sobretudonoCentroSul.
(Conte,1996:178).
Em(2),estefatopodeterfinalidadescomo:1)demonstrarimparcialidade
quantoaodiscursoanterior;2)seguirummanualqualquerderedaçãoqueexijaessetipo
decomportamentoredatório;e3)marcarumacontecimentoocorrido.Aprovadeque
existeumafinalidadedefinidaéquesemudarmososintagmanominalpodemosmudara
121
natureza da ação e construirmos outros sentidos. Por exemplo, esta declaração, esta
demagogia,estamanchete,estemoralismo,etc.
(4) No fim,contudo, aluta contra a corrupção serávencidapelo
desenvolvimento dos próprios países não pelo mundo dos ricos.
Há sinaisencorajadores: a Tailândia e o Zimbábue, entre outros,
estabeleceram comissões anticorrupção, embora elas nem sempre
cumpramo queprometem.(...). naArgentinae emoutroslocais,
advogados, que uma vez defenderam casos civis, agora lutam
contraacorrupção.Estesesforçosnativosalgumasvezesacabam
morrendonacasca.
Em (4), estesesforçosnativospodeter finalidadescomo: 1) demonstrar
umaaçãodereconhecimentopeloquefoiditoanteriormente;e2)ironizar,comoapoio
dacontinuaçãodafrase
algumasvezesacabammorrendonacasca
.
2Nasinonímiaporencapsulamentoanafórico,ossentidosconstruídospossuem
objetivosdinâmicosevariavelmenteflexíveisnasaçõescomunicativas,adepender
dotipodeinteração,poisunspodemsermaisritualísticoseprevisíveis,enquanto
outros podem ser mais abertos estabelecendo a cada momento novos objetivos
comunicativos”;
Em(2)temosumanotícia.Senosguiarmos,porexemplo,peloManualde
RedaçãodaFolhadeS.Paulo,estefatoéumaaçãocomunicativaritualísticaeprevivel
paradarumaconotação“neutra”àposiçãoassumidapelojornaloupelojornalistaafim
deevitar comprometimento como que foi dito,eistopodeserinferidoaoseteresse
contexto.
em(4),tambémumanotícia,estesesforçosnativosestabeleceumnovo
rumo para a ação comunicativa, pois o mesmo pode se tornar um argumento de
manipulaçãodeopinião quepodeser desenvolvido ou nãonainteração, masqueserá
sempre um sentido construído naquele ponto do discurso em relação ao que foi dito
anteriormente.
3Nasinonímiaporencapsulamentoanafórico,osentidoéresultantedaunode
uma série de outras ações conjuntas mais simples e que se organizam de forma
hierárquica,constituindoetapasdaaçãoprincipal”
.
122
Porexemplo,em(4), aoobservarmosarelaçãoqueseestabeleceentrea
âncora referencial e a sua parte conceitual, que forma a porção anaforizada para
construção do sentido, apresentamse outras ações comunicativas como: 1) luta pela
corrupção; 2) sinaisencorajadores dadospor países;3) comissõesanticorrupção;e4)
elasnemcumpremoqueprometem.Oresultadodarelaçãoinferencialqueseestabelece
entre todas estas ações converge para uma ação principal que é interpretar tudo isto
comoessesesforçosnativos.
Estasexemplicaçõesservemparamostrarapossibilidadedevariabilidade
do sentido na construção da sinonímia por encapsulamento anafórico, de forma a
sintetizarasdiscussõestravadasemtodososcapítulos.Nãofoi nossoobjetivoinvestigar
as intenções dos falantes/escritores, mas sim apontar que esta sinonímia pode ser
estudada pela construção de sentidos com finalidades e objetivos definidos que
apresentam asintençõesdosfalantes/escritores.
As discussões teóricas e as análises dos exemplos mostram que na
sinonímiaporencapsulamentoanafóricoaequivalênciasóciocognitiva entreosentido
eoambientecognitivoinferido,a partirdaâncorareferencialedasuaparteconceitual,
nãoéresultantedeumaimagemmentalquealguémformaaoouvir,porexemplo,a
palavra PAPAGAIO, que pode ser bemdiferente para doisindivíduos dependendo da
imagem que projetam. Esta é uma teoria representacional defendida por psilogos e
pesquisadores da inteligência artificial que postulam uma abordagem dos protipos
mentais,uniformizandoasimagensmentaisdosindivíduosperanteumtermo,relegando
as ao caráter privado. O que vimos não ser o caso da sinonímia em questão, pois as
imagens mentais vistas neste trabalho pela construção de
frames
mostram que estas
imagenssão partesde umenquadre social e possuem umcaráter públicoe particular,
desdequeinseridosemumacoletividadeenãoemumaindividualidade.
OsentidodapalavraPAPAGAIOnãoéaimagemmentalquecriamosao
ouvirestapalavra. Por exemplo,aimagem deuma AVE. Osentidoquevaiatribuirà
sinonímia por encapsulamento anafórico uma equivalência cognitiva é o modo como
interpretamos,compreendemosapalavraPAPAGAIOmediadaporumareferênciadireta
ou indireta que se faz. Por exemplo: PAPAGAIO como AVE, como PIPA, como
ALGUÉMQUEVIVEAREPETIROQUEOSOUTROSFALAM,comoalguémque
123
é TAGARELA etc. Isto pode ser explicado pela teoria dos
frames
e atributos
(Barsalou).
Aequivalênciasóciocognitivaque ocorreentre o sentido e o ambiente
cognitivoinferidotambémopodeserconsiderada,nasinomiaporencapsulamento,
comoresultantedepráticaseconvençõessociaisconstitutivasdeaçõesparticularesque
produzemsentidosdeterminadosporinferênciaslógicasemsentidoestrito.Nãosetrata
aqui de implicaturas que devem, necessariamente, partir do dito e ir além dele
pressupondo uma obediência às máximas conversacionais ou uma violação a estas
máximas (Grice). A equivalência sóciocognitiva considerada neste trabalho gera
premissaseconcluesimplicadas,porémelasoprecisam,necessariamente,partirdo
dito(SperbereWilson).Comovimosnoexemplo(5B),docapítulo4.
Todos os argumentos defendidos por nós, neste trabalho, nos levam a
afirmarqueasinomiaporencapsulamentoanafóriconãoseconstituiAPENAScomo
umarelaçãoentrepalavrasquedenotamconvencionalmenteosentidosobavaliaçõesde
condições de verdade, conforme vimos com a Teoria Vericondicional. Todavia,
curiosamente, nós encontramos nas discussões travadas no capítulo 2, no qual
abordamosateoriadeFrege,umabrechaparaenxergarmososlimitesquepodemlevara
sinonímiapor encapsulamento anafóricoparaalémdaTeoriaVericondicional:quando
consideramos o sentido de uma sentença e a sua referência indireta é possível
constituirmosumaequivalência denaturezasóciocognitiva.
Anossa avaliação final sugere a sinonímia por encapsulamento anafórico
como um fenômeno essencialmente sóciocognitivo. Esta investigação integralmente
teóricapodeservir debasepara outros estudos teóricosmais aprofundadose também
práticos sobre sinonímia, processos de referenciação por anáfora indireta,
construção de frames, e também, para o estudo do aspecto lexical no processo de
textualização. Este último,foio títuloeo temado projetodepesquisadeMarcuschi
(2004),noProjetoIntegrado“FalaeEscrita:CaracterísticaseUsos”,nodepartamento
de letras da Universidade Federal de Pernambuco, na sala do NELFE (Núcleo de
EstudosLingüísticosdaFalaedaEscrita).
124
Finalizando,nósesperamosqueestetrabalhopossasetornarumagotade
contribuiçãonoimensouniversodepesquisaseestudossobreofenômenodasinonímia,
dareferenciaçãoanafóricaindireta,daproduçãodesentidoedaorganizaçãotópicado
textonosprocessosdetextualização.
125
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