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sacerdotal, religiosa. Abri neste Brasil mais de mil igrejas. Fundei a
Igreja Universal no Estado de São Paulo, em Pernambuco, no Espírito
Santo, no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro, inúmeras. Viajei para
vários países: Guiné Bissau, Moçambique, Angola, África do Sul,
Portugal, Espanha. Fundei a Igreja na Espanha e ajudei a fundar a
Igreja na América Latina quase toda. Um dia, decidiram que eu
deveria entrar na política, e foi o que fiz. Quando houve aquela
denúncia da LOTERJ, no Rio de Janeiro, o Conselho de Bispos
decidiu que eu deveria afastar-me até que tudo estivesse esclarecido.
Mas eles o fizeram de uma forma que eu achei que não foi correta
para comigo, pelo muito que eu me dediquei à instituição, pois foram
29 anos da minha vida. Toda a minha juventude passei na Igreja,
lutando. Fui preso, espancado, passei fome, passei frio, noites sem
dormir. Eu fui o primeiro pintor, o primeiro pedreiro, o primeiro
faxineiro da igreja, o primeiro pastor, o primeiro obreiro da Igreja,
quando a Igreja nada tinha. E trabalhei muito tempo sem salário,
muitas e muitas vezes sem almoçar e sem jantar. Passei fome e muitas
vezes dormia no altar da igreja, porque a Igreja nada tinha, nada tinha.
(Choro. Pausa.) Eu... Sempre que eu falo na Igreja, eu me emociono,
porque foi a minha vida que eu passei lá. E eles não foram corretos
comigo, pois não me deram o direito da dúvida. Qualquer bandido
merece o direito da dúvida, mas não eu. A maioria dos bispos que
estão lá hoje foram batizados por mim, que preguei o Evangelho a
muitos deles, busquei muitos deles na favela, na criminalidade, tirei
muitos deles do tráfico, das drogas, pregando o Evangelho para eles. E
eles não foram corretos comigo, não ficaram solidários, nem sequer
me deram o direito da dúvida. E eu me magoei. Eu fiquei magoado e
disse a eles: “Para a Igreja eu não volto mais, não vou exercer nunca
mais o ministério”. (Choro.) Eu sou um homem cheio de defeitos, de
erros, mas eu nunca cometi o erro de deixar um amigo meu
abandonado, mesmo que ele estivesse errado, porque um pastor tem
que ter compaixão das pessoas. Por isso, afastei-me e fui afastado do
sacerdócio. E eu não tenho culpa desse assunto da LOTERJ. A CPI
provou isso. O Ministério Público me investigou, provou isso.
Inocentaram-me. Nada ficou provado contra mim. Mas eu tive um
sofrimento muito grande. O sofrimento maior foi me ver desamparado
por aqueles que eu amparei ao longo de minha vida, por 30 anos.
Vinte e nove anos eu lutei pela Igreja, mas na hora em que eu precisei
deles, eles me deram as costas e me crucificaram. Não foram corretos,
porque, quando eles precisaram, eu estava lá, sempre ao lado deles. O
Bispo Macedo foi preso. No dia em que ele foi preso, eu era Bispo na
Bahia. Peguei o avião e fui para lá. Fiquei dormindo na cadeia os 15
dias, até ele sair de lá. Fiquei dormindo na porta da delegacia, num
banco da delegacia. Eu disse: “Macedo, só vou sair daqui quando você
sair. Eu vou sair junto com você”. De todos eles, não houve um que
tivesse algum problema pessoal que eu não tenha comparecido. Eu
disse: “Olha, estou do teu lado”. E quando eu precisei, quando eu
errei, eles não foram solidários comigo. Então, eu fiquei magoado,
porque isso não é companheirismo, não.[...]