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A situação de miséria de grandes
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contingentes populacionais, em especial no
meio rural, levou centenas de excluídos e expropriados da terra, no final da década
de 70 e início da seguinte, a realizar ocupações de latifúndios
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, uma vez que muitos
desses sem – terra nem sequer tinham para onde ir. Foram diversas ocupações
realizadas de forma espontânea e isolada, nos estados do Sul e Centro-Sul do país,
tendo em comum o apoio da Comissão Pastoral da Terra - CPT
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.
A ocupação da
terra se tornou, para muitas famílias, a única maneira de poder sobreviver:
Em seu desenvolvimento desigual, o modo capitalista de produção gera
inevitavelmente a expropriação e a exploração. Os expropriados utilizam-se
da ocupação da terra como forma de reproduzirem o trabalho familiar.
Assim, na resistência contra o processo de exclusão, os trabalhadores criam
uma forma política – para se ressocializarem, lutando pela terra e contra o
assalariamento – que é a ocupação da terra. Portanto, a luta pela terra é
uma luta constante contra o capital. É a luta contra a expropriação e contra
a exploração. E a ocupação é uma ação que os trabalhadores sem-terra
desenvolvem, lutando contra a exclusão causada pelos capitalistas e (ou)
pelos proprietários de terra. A ocupação é, portanto, uma forma de
materialização da luta de classes (FERNANDES, 2000: 280).
Após ocupações e lutas diversas que se desencadeavam de forma
semelhante pelo País, porém sem estarem articuladas, a CPT passou a reunir
lideranças desses focos de conflito e resistência, quando então os trabalhadores
começam a trocar experiências e a discutir uma organização de sem-terras que os
aglutinassem. Amadureceu, nesse processo, a intenção de criar um movimento
autônomo dos sem-terras em todo País.
Assim, em janeiro de 1984, no Paraná, é
fundado o MST no primeiro Encontro Nacional dos Trabalhadores Rurais sem Terra.
Em janeiro de 1985, na cidade de Curitiba, realizou-se o primeiro Congresso
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Segundo o Censo Agropecuário / IBGE, 1995/96, apud Agenda MST 2002, o Brasil possui
4.515.810 famílias sem-terra. O censo contabiliza como sem-terras os arrendatários, parceiros,
pequenos proprietários (até 5 ha) e assalariados rurais.
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Nos últimos dez anos, 21,2% das pequenas unidades produtivas (menores de 20 ha) deixaram de
existir. Em números absolutos, isso significa 705 mil pequenas propriedades agrícolas
(CHRISTOFFOLI, 2000). Em sua maioria, essas terras vêm sendo adquiridas por médios ou grandes
proprietários de terra.
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Detalhes do processo para a formação do MST podem ser encontrados em Fernandes, 2000. Além
da CPT, diversos outros fatores contribuíram para a eclosão de um movimento de sem-terras, como o
fim da ditadura militar, a mecanização da agricultura e o crescente desemprego agrícola. Um relatório
sucinto desses fatores, do caráter do MST e das lutas camponesas que o MST herda e recupera
pode ser encontrado em Görgen, Sérgio A. e Stédile, João Pedro. A luta pela terra no Brasil. São
Paulo, Scritta Editorial, 1993.
Para saber mais sobre a origem do MST ver: Fernandes, Bernardo Mançano. A formação do MST no
Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. Esse livro recupera desde as iniciais ocupações de terra que
motivaram o surgimento do MST até a organização desse Movimento na atualidade, passando pela
história do MST em cada Estado do país.