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IVONE DE OLIVEIRA LIMA
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFESSORES DAS ESCOLAS PÚBLICAS
DE CUIABA-MT SOBRE O QUE PENSAM SER AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
DE ALUNOS ACERCA DA AIDS
CUIABÁ
2005
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1
IVONE DE OLIVEIRA LIMA
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFESSORES DAS ESCOLAS PÚBLICAS
DE CUIABÁ-MT SOBRE O QUE PENSAM SER AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
DE ALUNOS ACERCA DA AIDS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal de
Mato Grosso, como requisito para a obtenção do título
de Mestre em Educação, na área de concentração:
Educação, Cultura e Sociedade.
PROFESSORA DOUTORA EUGÊNIA COELHO PAREDES
ORIENTADORA
CUIABÁ/MT
2005
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - UFMT
IVONE DE OLIVEIRA LIMA
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFESSORES DAS ESCOLAS PÚBLICAS
DE CUIABÁ-MT SOBRE O QUE PENSAM SER AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
DE ALUNOS ACERCA DA AIDS
CUIABÁ, ABRIL DE 2005.
BANCA EXAMINADORA
Professora Doutora Eugênia Coelho Paredes
Orientadora
Professora Doutora Sylvia Leser de Mello
Examinadora Externa
Professora Doutora Artemis Augusta Mota Torres
Examinadora Interna
Professora Doutora Maria Ignez Joffre Tanus
Examinadora Suplente
3
DEDICATÓRIA
A DEUS por sempre amparar-me a todo o momento que
lhe recorri, principalmente nas dificuldades surgidas e permitir a
realização de mais uma etapa na minha formação profissional.
Aos meus genitores HÉLIO JACINTO DE OLIVEIRA
e ANTONIA DE OLIVEIRA, pela compreensão e respeito quando
da decisão em ausentar-me dos cuidados a vocês durante o período
deste estudo. O amor desta filha lhes é eterno.
Ao meu querido Carlos César de Lima, pelo
incondicional amor, incentivo, compartilhamento e compreensão.
Amar você é estar vivendo plenamente a vida.
A minha querida Ivena Isabel de Oliveira Lima, este ser
especial que DEUS me propiciou a oportunidade de gerar, pela
compreensão das minhas ausências, pelo carinho e preocupação.
Você é a razão de tudo isto.
4
AGRADECIMENTO ESPECIAL
À Professora Doutora Eugênia Coelho Paredes, pelos
ensinamentos, pelas sábias intervenções no momento adequado,
pela paciência em direcionar-me no caminho da pesquisa,
propiciando-me crescimento para a vida.
5
AGRADECIMENTOS
Conhecimento não se adquire sozinho. Compartilhar o que se aprende é
relevante para a construção da humanidade.
No percurso da construção desta pesquisa obtive diversas contribuições de
pessoas que me estimularam a prosseguir e até aqui chegar.
Expresso aqui minha graditão a:
À Professora Doutora Sylvia Leser de Mello, sou grata por conceder-me a
honra de estar presente na banca examinadora e, com suas sugestões e críticas fundamentais,
no Exame de Qualificação, possibilitaram a reelaboração e o enriquecimento da pesquisa.
À Professora Doutora Artemis Augusta Mota Torres, pela cuidadosa leitura,
pelos comentários e sugestões ímpares no Exame de Qualificação, permitiram-me direcionar
para a melhoria e conclusão deste trabalho.
À Professora Doutora Maria Ignez Joffre Tanus, pela cordial e afetuosa atenção
ao se disponibilizar a ler o meu trabalho.
À Professora Doutora Denise Jodelet pelas atenções e contribuições dadas
auxiliando-me na construção do instrumento de coleta de dados.
À Professora Doutora Denise Cristina de Oliveira por nortear a utilização do
software ALCESTE e pelas sugestões de sua análise.
À colega e Mestra Miriam Ross Milani pelo incentivo constante para realizar
este curso e pela contribuição na introdução do conhecimento do software ALCESTE.
Aos professores Doutor Nicanor Palhares Sá, Doutor Manoel Francisco
Vasconcelos Motta, Doutora Maria Aparecida Morgado, Doutora Maria Augusta Rondas
Speller, Doutora Maria Lúcia Muller, pela oportunidade de aprendizagem proporcionada
durante os seminários do curso de mestrado.
6
Aos colegas do Grupo de Pesquisa em Educação e Psicologia com os quais
muito aprendi durante a trajetória deste estudo: Lucia Shiguemi Izawa Kawahara, Sandra
Pavoeiro Tavares de Carvalho, Solange Thomé Gonçalves Dias, Sumaya Persona de
Carvalho, Sandra Regina Geiss Lorenzini, Antonia Gedy Simões Dutra, Rinalda Bezerra
Carlos, Daniela Aparecida Zanetti, Larissa Silva Freire Spinelli, Maria Aparecida de Amorim
Fernandes, Sheyla de Souza Araújo e Érica Lopes Rascher.
À Mestra Daniela Barros Silva Freire pelas contribuições, compartilhamento de
suas experiências e conhecimento durante esta jornada de estudo.
Aos mestres e colegas Acácio Alexandre Pagan, pelas sugestões e
companheirismo no compartilhamento das bibliografias, Ana Rafaela Pecora, Maria Evilasa
Ximenes Melo e Rita Aparecida Oliveira pelos incentivos e grandes trocas.
A amiga e Mestra Lea Lima Saul, de quem fui aluna, que muito me incentivou
a fazer este mestrado, pelas leituras cuidadosas e incalculáveis contribuições desde o inicio da
construção e finalização deste trabalho feitas com sinceridade e afetividade. Esquecer o que
você fez por mim é impossível. Minha amizade por você é eterna.
Às colegas do mestrado Elisabete Costa Martins Pizaneschi, Kátia Simone da
Rosa Bianchi, Marta Maria Telles Coutinho e Patrícia Borges Soler pela convivência e
companheirismo durante este período de aprendizado.
Especialmente a Iraneide Albuquerque Silva, pela demonstração de carinho e
amizade cativando-me ao abdicar-se dos seus momentos de lazer, se predispondo a leitura e
contribuindo inestimavelmente durante todo o processo de construção e conclusão deste
estudo. Sou lhe eternamente grata.
À Maria Enildes Auxiliadora Leite Cândido, pela oportunidade de descobrir
mais uma amiga no transcorrer destes dois anos, período em que partilhamos as alegrias, as
tristezas, as dúvidas e confirmamos nossa amizade.
7
À Dionéia da Silva Trindade, Rosely Ribeiro Lima e Simone Sanches Vicente,
pela atenção, carinho e alegria que se dispuseram sempre a me ajudar.
Às bolsistas Joselma Barbosa de Lucena, Taís Meira Ueta e Carla Taciana
Teixeira pela amabilidade com que me atenderam.
Às funcionárias da Secretaria de Pós-graduação, especialmente a Luísa Maria
Teixeira Silva Santos que prontamente com sua simpatia me atendia nas mais diversas
solicitações.
À Mestra Luisa Patatas, pela dedicação prestada na primeira revisão do
trabalho.
Ao Degmar dos Anjos, pela atenção dispensada na revisão durante a
construção da análise deste estudo.
À colega Marlene Rodrigues da Silva, pela predisposição sincera, afetiva e
cuidadosa na revisão final do trabalho.
À Maria Ubaldina Costa Sanches, Marilu, pelo apoio incondicional durante
esse processo de aprendizado, pelas sugestões e cordialidade no partilhamento das
bibliografias.
Ao meu querido sobrinho Marilson de Oliveira Correa, pelo carinho, paciência
e disponibilidade em que me assistiu com os serviços de computação.
À Doutora Lydia Bocayúva Tavares, pelas preocupações com a minha saúde,
se disponibilizando e zelando para que eu chegasse até aqui.
À Direção Geral do CEFET por oportunizar-me a realização deste curso na
minha formação e propiciarem condições para sua efetivação.
Às colegas da Área de Serviços e Tecnologia do CEFET, Amarília Matilde da
Silva, Gláucia Mara de Barros Samaniego, Lina Márcia de Carvalho Silva Pinto, Palmira
8
Gonçalves, Terezinha de Mattos, pelo incentivo e paciência em que todas as vezes que nos
encontrávamos tiveram que ouvir-me falar do mesmo assunto: mestrado.
Às colegas Maria do Perpétuo Socorro de Souza e Sônia Iria dos Santos, pela
colaboração em dividir as aulas para que eu tivesse condições de ajustar minhas atividades
profissionais e acadêmicas.
Aos Diretores e Coordenadores das escolas visitadas que prontamente
autorizaram a realização das entrevistas e, especialmente aos professores protagonistas deste
trabalho, pela forma receptiva e cordial que me receberam e se prontificaram a contribuir para
que este trabalho se concretizasse.
À minha família pelo apoio e compreensão das ausências durante este período
de estudo. Especialmente a minha irmã Maria Auxiliadora de Oliveira Correa, que sempre me
incentivou a dar continuidade na minha formação profissional, partilhando os compromissos
familiares. Você mora no meu coração.
À família do meu esposo Carlos, pela torcida para que eu chegasse até aqui.
Em especial a Tânia Maria de Lima Beraldo por compartilhar os meus momentos de angústia,
preocupando-se, trazendo de suas viagens materiais para que eu pudesse enriquecer este
trabalho.
9
RESUMO
A pesquisa teve por objetivo conhecer as representações sociais de professores de escolas
públicas de Cuiabá-MT sobre o que pensam ser as representações sociais de alunos acerca da
AIDS. O referencial teórico usado teve como base a Teoria das Representações Sociais de
Serge Moscovici (1978) e colaboradores. Para obter os dados deste trabalho foram contatados
44 professores de escolas públicas do Ensino Fundamental de Cuiabá-MT. O instrumento de
coleta de dados utilizado foi a entrevista semi-estruturada. O material verbal foi submetido ao
processamento do software ALCESTE que proporcionou seis classes temáticas. Os resultados
revelaram que, de acordo com os professores, os pais não orientam os filhos sobre a AIDS.
Isto ocorre por causa da desestrutura familiar, da situação econômica das famílias e, também,
por se tratar de um assunto relacionado à sexualidade. Verificou-se a incumbência para a
escola da responsabilidade em orientar adequadamente os alunos sobre essa doença. O
professor assim, passa a ser o interlocutor mais próximo para instruir os alunos. A Feira de
Ciências foi mencionada como uma das práticas educativas que proporciona o acesso às
informações sobre a enfermidade aos alunos. O professor da disciplina de Ciências foi citado
como aquele que mais enfoca o tema na sala de aula. Para alguns entrevistados, os professores
de outras áreas de estudo não abordam o assunto, porque lhes falta oportunidade para tal em
sua área de trabalho. AIDS é considerado um tema polêmico que deve ser discutido com os
alunos, enfocando a prevenção e as conseqüências da doença. A televisão se destaca como a
principal fonte de informação para os discentes, porém que os informes publicitários não são
considerados satisfatórios. O posto de saúde é o local indicado para os alunos obterem
maiores esclarecimentos relacionados à AIDS. A noção e a compreensão da doença não
diferem quanto ao nível de escolaridade. Alguns educadores declararam que as meninas se
preocupam mais com a sexualidade e prevenção das doenças. As representações sociais dos
alunos, na opinião dos professores, se constituem embasadas nos elementos: doença
10
transmissível, mortal e sem perspectiva de cura. A sexualidade aparece como um elemento
significativo nas representações sociais acerca da AIDS. Os docentes ao falar o que pensam
seus alunos sobre a síndrome terminam, em muitas ocasiões revelando o que eles mesmos
pensam a esse respeito.
Palavras-chave: AIDS, professor, aluno, representações sociais, educação.
11
ABSTRAC
This research aimed to know the social representations of teachers from public schools in
Cuiabá-MT
have about what they think to be the social representations of students concerning
to AIDS. Theory of Social Representations of Serge Moscovici (1978) and collaborators was
used as the theoretical base. The data was collected among 44 teachers from basic education
of public schools in Cuiabá-TM. The instrument of data collection was the interview. The
collected verbal material was submitted to the processing of the software ALCESTE, which
provided six thematic classes. The results indicated that, according to the teachers, the
students’ families do not give orientation to children about AIDS. This occurs mainly because
of the economic situation of the families and, also, because is a subject related to sexuality.
So, it was noticed that families transfer to school the responsibility to give students adequate
orientation about this illness. The teacher becomes the main interlocutor, having the
responsibility to guide students about this theme. Issues on the area of sciences were
mentioned as one of practical works which provides students with more information access
about this disease. The Science teachers were mentioned as those ones who provide more
discussions in the classroom about this theme. However, for some interviewed people,
teachers from other areas of study do not discuss about AIDS because they say they do not
have opportunities to do it. To teachers, AIDS is considered a controversial subject that must
be discussed with students. It must be focused the prevention and the consequences of the
illness. The television was mentioned as the main source of information to students. However,
teachers say that the advertisements provided by media are not satisfactory. The health
institution is the indicated place where students can get orientation about AIDS. The notion
and the understanding of the illness do not differ between the level or gender of the students.
However, some teachers say that girls are more worried about the sexuality and prevention of
12
the illness. The social representations of students, according to teachers, are constituted of the
following elements: transmissible illness, mortal and incurable disease. Sexuality appears as
an important element in teacher’s social representations concerning AIDS. When they say
what their students think about AIDS, they reveal in different moments, their own thoughts
about this theme.
Keywords: education, teacher, student, social representations, AIDS
13
LISTAS DE FIGURAS
Figura 1 – Perfil dos sujeitos quanto ao sexo ........................................................................... 54
Figura 2 – Perfil dos sujeitos quanto a faixa etária................................................................... 55
Figura 3 – Perfil dos sujeitos quanto ao nível de formação...................................................... 56
Figura 4 – Perfil dos sujeitos quanto a área de atuação. ........................................................... 57
Figura 5 – Perfil dos sujeitos quanto ao regime de trabalho. ................................................... 58
Figura 6 – Perfil dos sujeitos quanto a carga horária. .............................................................. 59
Figura 7 – Perfil dos sujeitos quanto ao tempo de serviço. ...................................................... 60
Figura 8 – Perfil dos sujeitos quanto ao tempo na instituição .................................................. 61
Figura 9 – Perfil dos sujeitos quanto a religião. ....................................................................... 62
Figura 10 – Aproveitamento do material discursivo em porcentagem ..................................... 67
Figura 11 – UCEs de cada classe e seu percentual de aproveitamento .................................... 67
Figura 12 - Palavras analisadas, por classe .............................................................................. 68
Figura 13 – Dendrograma geral proporcionado pelo ALCESTE ............................................. 69
Figura 14 – Dendrograma e suas classes nomeadas ................................................................. 70
Figura 15 – Dendrograma da classe 1 ...................................................................................... 72
Figura 16 – Partição A1 do dendrograma da classe 1 – Situação econômica e social dos alunos
........................................................................................................................................... 74
Figura 17 – Partição A2 do dendrograma da classe 1 – Ausência de facilidade e carência
sócio-econômica dos alunos .............................................................................................. 77
Figura 18 – Partição B1 do dendrograma da classe 1 – Dificuldades no cotidiano do aluno .. 80
Figura 19 – Partição B2 do dendrograma da classe 1 – A família do aluno ............................ 83
Figura 20 – Dendrograma da classe 5 ...................................................................................... 87
Figura 21 – Partição A1 do dendrograma da classe 5 – Aprendizagem e avaliação ................ 88
Figura 22 – Partição A2 do dendrograma da classe 5 – Contexto escolar ............................... 91
Figura 23 – Partição B1 do dendrograma da classe 5 – Preocupações na escola ..................... 93
14
Figura 24 – Partição B2 do dendrograma da classe 5 – Preocupação com a formação escolar ...
........................................................................................................................................... 95
Figura 25 – Dendrograma da classe 2 ...................................................................................... 99
Figura 26 – Partição A1 do dendrograma da classe 2 – Comportamento dos jovens frente a
AIDS ................................................................................................................................ 100
Figura 27 – Partição A2 do dendrograma da classe 2 – Conhecimento e ações para prevenção
......................................................................................................................................... 102
Figura 28 – Partição B1 do dendrograma da classe 2 – Reações e efeitos diante da AIDS .........
......................................................................................................................................... 106
Figura 29 – Partição B2 do dendrograma da classe 2 – Preocupações com as formas de
contágio ............................................................................................................................ 110
Figura 30 -Dendrograma da classe 4 ...................................................................................... 115
Figura 31 – Partição A1 do dendrograma da classe 4 – Informações, família e escola ......... 116
Figura 32 – Partição A2 do dendrograma da classe 4 – Diálogo e indiferenças .................... 119
Figura 33 – Partição B1 do dendrograma da classe 4 – Recursos didáticos .......................... 121
Figura 34 – Partição B2 do dendrograma da classe 4 – Abordagem por disciplina ............... 124
Figura 35 – Dendrograma da classe 6 .................................................................................... 128
Figura 36 – Partição A1 do dendrograma da classe 6 – Ações e espaço de informações ...... 129
Figura 37 – Partição A2 do dendrograma da classe 6 – Origem, formas e qualidades das
informações ...................................................................................................................... 132
Figura 38 – Partição B1 do dendrograma da classe 6 – Conhecimento, prevenção e
conseqüências .................................................................................................................. 135
Figura 39 – Partição B2 do dendrograma da classe 6 – Compreensão e características das
informações ...................................................................................................................... 138
Figura 40 – Dendrograma da classe 3 .................................................................................... 142
Figura 41 – Partição A1 do dendrograma da classe 3 – Características dos alunos ............... 143
Figura 42 – Partição A2 do dendrograma da classe 3 – AIDS: noção e gênero ...........................
......................................................................................................................................... 146
Figura 43 – Partição B1 do dendrograma da classe 3 – Conhecimento ................................. 148
15
Figura 44 – Partição B2 do dendrograma da classe 3 – Noção: faixa etária .......................... 150
16
LISTAS DE TABELAS
Tabela 1 – Casos de AIDS notificados no município de Cuiabá – 1980 a 2002 ...................... 41
Tabela 2 – Palavras características da partição A1, suas formas associadas e χ² ..................... 74
Tabela 3 – Palavras características da partição A2, suas formas associadas e χ² ..................... 78
Tabela 4 – Palavras características da partição B1, suas formas associadas e χ² ..................... 81
Tabela 5 – Palavras características da partição B2, suas formas associadas e χ² ..................... 83
Tabela 6 – Palavras características da partição A1, suas formas associadas e χ² ..................... 89
Tabela 7 – Palavras características da partição A2, suas formas associadas e χ² ..................... 91
Tabela 8 – Palavras características da partição B1, suas formas associadas e χ² ..................... 94
Tabela 9 – Palavras características da partição B2, suas formas associadas e χ² ..................... 95
Tabela 10 – Palavras características da partição A1, suas formas associadas e χ² ................. 100
Tabela 11 – Palavras características da partição A2, suas formas associadas e χ² ................. 103
Tabela 12 – Palavras características da partição B1, suas formas associadas e χ² ................. 106
Tabela 13 – Palavras características da partição B2, suas formas associadas e χ² ................. 110
Tabela 14 – Palavras características da partição A1, suas formas associadas e χ² ................. 116
Tabela 15 – Palavras características da partição A2, suas formas associadas e χ² ................. 120
Tabela 16 – Palavras características da partição B1, suas formas associadas e χ² ................. 122
Tabela 17 – Palavras características da partição B2, suas formas associadas e χ² ................. 124
Tabela 18 – Palavras característica da partição A1, suas formas associadas e χ² .................. 130
Tabela 19 – Palavras característica da partição A2, suas formas associadas e χ² .................. 132
Tabela 20 – Palavras característica da partição B1, suas formas associadas e χ² ................... 136
Tabela 21 – Palavras característica da partição B2, suas formas associadas e χ² ................... 138
Tabela 22 – Palavras características da partição A1, suas formas associadas e χ² ................. 143
Tabela 23 – Palavras características da partição A2, suas formas associadas e χ² ................. 146
Tabela 24 – Palavras características da partição B1, suas formas associadas e
χ² ................. 149
17
Tabela 25 – Palavras características da partição B2, suas formas associadas e χ² ................. 150
18
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 20
CAPÍTULO 1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................. 24
1.1 A Teoria das Representações Sociais .............................................................................. 25
1.1.1 Conceito de representações sociais.................................................................................. 27
1.1.2 funções das representações sociais .................................................................................. 29
1.1.3 Processos de elaboração das representações sociais........................................................ 30
1.1.4 O espaço de estudo das representações sociais ............................................................... 32
1.1.5 Tipos de representações sociais ....................................................................................... 34
1.1.6 Representações sociais: uma pesquisa dirigida à educação............................................. 35
1.2 AIDS: Conceito, surgimento, evolução ........................................................................... 38
CAPÍTULO 2 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................. 51
2.1 Universo da pesquisa ........................................................................................................ 53
2.2 Sujeitos ............................................................................................................................... 53
2.3 Instrumentos de Coleta de Dados.................................................................................... 62
2.4 Instrumento de análise dos dados ................................................................................... 64
CAPÍTULO 3 - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS ......................................... 66
3.1 Descrevendo os dados proporcionados pelo software ALCESTE ................................ 67
3.1.1 Classe 1 – Contexto social e familiar do aluno ............................................................... 71
3.1.2 Classe 5 – A imagem escolar do aluno ............................................................................ 86
3.1.3 Classe 2 – AIDS: temor e contágio para os alunos.......................................................... 97
19
3.1.4 Classe 4 – AIDS: circulação da informação na escola .................................................. 113
3.1.5 Classe 6 – AIDS: fontes de informações ....................................................................... 127
3.1.6 Classe 3 – AIDS e sexualidade: relação de gênero e série escolar ................................ 141
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 153
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 161
ANEXO A .............................................................................................................................. 168
ANEXO B .............................................................................................................................. 170
ANEXO C .............................................................................................................................. 172
ANEXO D .............................................................................................................................. 176
20
INTRODUÇÃO
21
A presente pesquisa se justifica pela busca em apreender e conhecer, como são
constituídas as representações sociais da AIDS no campo educacional, diante de uma doença
impiedosa e que, é apresentada como um dos temas de contemporaneidade mais relevantes
neste milênio.
O interesse pelo tema As representações sociais de professores das escolas
públicas de Cuiabá-MT, sobre o que pensam ser as representações sociais de alunos acerca
da AIDS que é tratado nesta investigação, advém da forma em que é feita sua apresentação
como uma questão significativa, devido à grande vulnerabilidade dos adolescentes no
contexto social em que se encontram inseridos. O que possibilita, ainda, conhecer e
compreender como essas representações são elaboradas e como elas orientam os indivíduos
nos grupos a que pertence.
O objeto deste estudo faz parte de um projeto vinculado ao Grupo de Pesquisa
em Educação e Psicologia (GPEP) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), e que
encontra também articulado a outras instituições de Ensino Superior. Em âmbito nacional,
está ligado à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) e, internacionalmente, ao
Laboratoire de Psychologie Sociale (LPS) da École des Hautes Études en Sciences Sociales
(EHESS) em Paris.
Em Cuiabá, o tema AIDS, é um dos assuntos contemporâneos pesquisados pelo
GPEP, juntamente com outros temas como sexualidade, drogas, violência e perspectiva de
futuro. Tais temas foram investigados pelos mestrandos da turma de 2002, com pré-
adolescentes e adolescentes de 11 a 15 anos, do ensino fundamental das escolas públicas de
Cuiabá-MT. Os mesmos objetos de estudos foram investigados com professores, a partir de
2003 a 2004, do qual esta pesquisa faz parte.
22
Atualmente vive-se um período de constantes e rápidas mudanças sociais,
caracterizadas pelos problemas e conflitos de natureza semelhantes que afetam as condições
de sobrevivência e as perspectivas dos indivíduos como: desemprego, pobreza e doenças.
Diante de diversos avanços tecnológicos percebe-se evidentemente que a AIDS
é uma das doenças que preocupa a sociedade. Surgida no início de 1980 e considerada como
um novo desafio em que o mundo teria que manter contato, aprender com ele e sobre ele,
causa a morte e leva a discriminação.
Para Jodelet ( 2001) a desinformação e a incerteza da ciência colaboram para o
surgimento de interpretações que circularão de boca em boca ou passaram de um meio de
comunicação a outro.
A AIDS nos últimos anos tem assumido um novo panorama. Segundo
Whertein (2000) essa doença vem atingindo um número maior de pessoas mais jovens que
estão sendo contaminadas pelo rus. Portanto, é um mal que está afetando as pessoas na
plenitude da sua juventude, considerando-se, assim, uma geração vulnerável. Além disso, o
conceito de grupo de risco caiu em desuso, pois a AIDS atualmente tornou-se uma doença
suscetível a atingir qualquer pessoa na sociedade.
Para realizar a análise deste trabalho a Teoria das Representações Sociais
(TRS) de Serge Moscovici (1978) serviu como referencial teórico. Seus pressupostos teóricos
permitiram conhecer e compreender como uma forma de conhecimento elabora a conduta e a
comunicação entre os sujeitos, bem como estes interpretam a realidade.
Esta dissertação se estrutura em três capítulos que se apresenta a seguir.
O primeiro capítulo é dedicado a uma breve explanação da história da Teoria
das Representações Sociais, o conceito e seus colaboradores, as funções das representações,
os processos de elaboração das representações, o espaço de estudo e os tipos de
23
representações, e sua ligação com pesquisas na área da Educação. Em seguida, se apresenta
também uma sucinta contextualização do tema AIDS, sua história, conceito e evolução.
No segundo capítulo são descritos os procedimentos metodológicos, em que é
explicitado o processo da pesquisa em relação ao universo do estudo, o perfil dos sujeitos
entrevistados, o instrumento de coleta de dados. Descreve-se o estudo piloto realizado, bem
como os procedimentos das entrevistas semi-estruturadas. Também está descrito o
instrumento usado para o processamento dos dados coletados nas entrevistas, a saber, o
software Analyse Lexicale par Contexte d’un Ensemble de Segments de Texte (ALCESTE).
No terceiro capítulo são apresentados os dados obtidos e a análise dos
resultados. Aqui são descritas as seis classes temáticas formadas a partir dos resultados
apresentados pelo software ALCESTE.
Por fim, nas Considerações Finais, os resultados alcançados na análise são
retomados e se desvelam as reflexões que surgiram nesta pesquisa. Em seguida, são
apresentadas as referências bibliográficas que subsidiaram este estudo e os Anexos.
24
CAPÍTULO 1
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
25
1.1 A Teoria das Representações Sociais
A Teoria das Representações Sociais (TRS) foi instituída por Serge Moscovici,
com objetivo de compreender como o conceito da psicanálise se difundiu de diferentes formas
nos mais diversos grupos. Estudo realizado com parisienses deu origem a esta Teoria que
resultou em uma obra intitulada La Psycanalyse son image et son public em l961, editada
originalmente na França e publicada no Brasil com o título de A Representação Social da
Psicanálise (l978). Moscovici, psicólogo social, procurou entender como um conhecimento
científico se transfere de um contexto social para outro, transformando-se em senso comum.
Para o psicólogo social, a psicanálise é um acontecimento cultural que, ao
ultrapassar o círculo restrito das Ciências, da Literatura ou da Filosofia, afeta a sociedade de
forma geral, possibilitando o surgimento de um novo senso comum que não pode ser
compreendido como um fator capaz de difundir ou de distorcer a Ciência. No entanto, para
analisar esse acontecimento e esse fenômeno, seria indispensável a contribuição da Sociologia
e da História. Assim, a Psicologia Social valeu-se da apreensão dos seus aspectos essenciais,
através do estudo das representações sociais e das comunicações.
Moscovici (2003) em entrevista concedida à Ivana Marková, esclarece o que
tinha em mente ao iniciar o seu estudo:
[...] tentei compreender e reabilitar o pensamento comum e o conhecimento comum.
Ainda mais, não o considerei como algo tradicional, ou primitivo, como mero
folclore, mas como algo muito moderno, originando-se parcialmente da ciência,
como a configuração que assume quando se torna parte e parcela da cultura. Vi a
transformação do conhecimento científico em conhecimento comum como uma área
de estudo possível e excitante. (MOSCOVICI, 2003, p. 311).
Segundo esse pesquisador, o pensamento primitivo está baseado na crença de
um poder ilimitado da mente em amoldar a realidade, em transpô-la e ativá-la e determinar o
curso dos acontecimentos. o pensamento científico está baseado na crença do poder
26
ilimitado dos objetos ao ajustar o pensamento, determinar completamente sua evolução e de
serem interiorizados na e pela mente.
Nesse sentido, a Psicologia Social passa a ser considerada uma expressão do
pensamento científico que, ao estudar o sistema cognitivo, pressupõe que os homens, na sua
plenitude racional, reagem a fenômenos ou acontecimentos da mesma forma que os cientistas.
Compreender, portanto, consiste em validar as informações.
Moscovici (2003) esclarece que o mundo é percebido tal como é, com suas
percepções, idéias e atribuições, respondendo a estímulos do meio físico ou quase-físico em
que se convive.
Nóbrega (2003) explica que a construção da TRS como objeto não se encontra
no espaço da Sociologia, porém no cruzamento indivisível do individual e do social, captado
pela psicossociologia de Moscovici.
A autora destaca que o psicólogo teve como interesse,
[...] demonstrar a importância e a possibilidade de mudanças que o pensamento
científico fundado na elaboração do senso comum, pode exercer na medida em que
interprete os fatos sociais e transforme a realidade, esta entendida como processo, a
partir do princípio da indissociabilidade entre indivíduo e sociedade, sujeito e
objeto, interno e externo. (NOBREGA, 2003, p. 53, grifo do autor).
Madeira (2003) esclarece que a TRS é essencialmente importante, para que
estas não se enrijeçam por causa da definição monolítica de estratégias que, ao se tornarem
uma só, negam à teoria, a possibilidade de crescimento e ainda ignoram os objetos enquanto
organizações simbólicas de sujeitos que se constroem na relação com os demais, num
determinado tempo e espaço.
27
1.1.1 Conceito de representações sociais
Entendem-se representações sociais como saberes elaborados e compartilhados
nos grupos sociais para a construção e compreensão da realidade. Moscovici (1978) esclarece
que as representações sociais surgem da interação entre duas pessoas ou entre dois grupos.
Para ele, uma representação percorre e reúne experiências, expressões, conceitos e condutas
provenientes de diversas origens.
Entretanto, o psicólogo não apresentou um conceito de representações sociais.
(1996, p. 30) cita que Moscovici: “[...] sempre resistiu a apresentar uma definição precisa
das representações sociais, por julgar que uma tentativa nesse sentido poderia acabar
resultando na redução do seu alcance conceitual”.
Moscovici (1978) considera a representação uma forma de conhecimento
individual que tem como objetivo elaborar a conduta e a comunicação entre os sujeitos. Para
Jodelet (2001), representar ou representar-se está vinculado a um ato de pensamento em que o
sujeito se reporta a um objeto por meio de uma pessoa, de um acontecimento material,
psíquico ou social, assim como um fenômeno natural, uma idéia, uma teoria, tanto real,
imaginária ou mítica. Porém, tal objeto é imprescindível. Portanto, não existe representação
sem objeto.
Por ser uma estudiosa da teoria de Moscovici, Jodelet (2001) tem se destacado
por sua contribuição ao estabelecer o conceito de representações sociais. Esta apresenta uma
definição que se tornou receptiva e utilizada na comunidade científica.
[...] é uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um
objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um
conjunto social. Igualmente designada como saber de senso comum ou ainda saber
ingênuo, natural, esta forma de conhecimento é diferenciada, entre outras, do
conhecimento científico. Entretanto, é tida como um objeto de estudo tão legítimo
quanto este, devido à sua importância na vida social e à elucidação possibilitadora
dos processos cognitivos e das interações sociais. (JODELET, 2001, p. 22).
28
Sobre a estruturação do conceito de representação social, Nóbrega (2003)
argumenta que o ato de se representar acontece simultaneamente no momento em que ocorre
a separação e aproximação entre o sujeito e objeto, quando o eu do sujeito se separa do objeto
e a ele se une através da formação de uma imagem.
Comparando aos conceitos entre representações sociais e outros conceitos
cognitivos, Moscovici (1978) esclarece que é possível compreender essas diferenças. Ele
considera as representações sociais um processo de interação que desenvolve e confere um
sentido único entre os grupos e as pessoas.
Os conceitos de imagem, de opinião e de atitude não levam em conta esses vínculos,
a abertura que os acompanha. Os grupos são encarados a postiori de maneira
estática, não na medida em que criam e se comunicam, mas enquanto utilizam e
selecionam uma informação que circula na sociedade. (MOSCOVICI, 1978, p. 50).
Para que fosse possível esclarecer a preocupação entre o psicológico e o social,
Abric (2001) desenvolve uma abordagem experimental da representação social, explicando o
seu conceito:
[...] a representação é um conjunto organizado de opiniões, de atitudes, de crenças e
de informações referentes a um objeto ou a uma situação. É determinada ao mesmo
tempo pelo próprio sujeito (sua história, sua vivência), pelo sistema social e
ideológico no qual ele está inserido e pela natureza dos vínculos que ele mantém
como esse sistema social. (ABRIC, 2001, p. 156).
Wagner (1998) ao abordar a sócio-gênese e as características das
representações sociais, conceitua representação social como um conjunto de pensamento
estruturado, isto é cognitivo, avaliativo, afetivo e simbólico, sobre um fato social relevante
que se constituiu em imagens e metáforas, conscientemente compartilhado entre os demais
participantes do grupo social.
Moscovici confirma que:
As representações sociais devem ser vistas como uma maneira específica de
compreender e comunicar o que nós já sabemos. Elas ocupam, com efeito, uma
posição curiosa, em algum ponto entre conceitos, que têm como seu objetivo abstrair
sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepções, que reproduzam o mundo
de uma forma significativa. (MOSCOVICI, 2003, p. 46).
29
1.1.2 Funções das representações sociais
As funções das representações sociais norteiam a conduta e a comunicação
entre os indivíduos e, estão ligadas a um sistema de valores, noções e práticas que irão lhes
proporcionar conhecimento, para se orientar no meio social, material e como forma de
dominação, proporcionar-lhes um referencial comum ao estabelecer uma realidade
consensual. Este fator demonstra a importância das representações sociais na interação social.
Ao abordar a dinâmica e as funções sociais Jodelet (2001, p. 21) ressalta que:
“[...] Estas definições partilhadas pelos membros de um mesmo grupo constroem uma visão
consensual da realidade para esse grupo. Esta visão, que pode entrar em conflito com a de
outros grupos, é um guia para as ações e trocas cotidianas”.
Quanto à questão das finalidades próprias das representações sociais, Abric,
citado por Sá, (1996) confere-lhes quatro funções essenciais:
Funções de saber: elas permitem compreender e explicar a realidade. [...] Funções
identitárias: elas definem a identidade e permitem a salvaguarda da especificidade
dos grupos. [...] Funções de orientação: elas guiam os comportamentos e as práticas.
[...] Funções justificatórias: elas permitem justificar a posteriori as tomadas de
posição e os comportamentos. (ABRIC, 1994, apud Sá, l996, p. 43-44).
As representações sociais, enquanto fenômeno psicossocial, atendem a duas
funções, no dizer de Nóbrega (2003): uma que se refere à contribuição dos processos de
formação das condutas, e outra à orientação das comunicações sociais.
30
1.1.3 Processos de elaboração das representações sociais
Para compreender as representações sociais, é essencial conhecer como elas
são elaboradas. A construção dessas representações é norteada por dois processos
sociocognitivos denominados ancoragem e objetivação, esclarecendo como o social
transforma um conhecimento em representação e como esta modifica o social.
Segundo Moscovici (l978), as representações sociais se constitui de uma
formação lógica, desdobrada em duas faces: a face figurativa e a simbólica. Isto é, em toda
figura existe um significado e, em todo significado, existe uma figura.
No dizer de Moscovici, a finalidade das representações sociais é transformar
um objeto não conhecido em um objeto conhecido. Ele considera que, para transformar
palavras não-familiares, idéias ou seres em palavras próximas e atuais,
[...] É necessário dar-lhes uma feição familiar, r em funcionamento os dois
mecanismos de um processo de pensamento baseado na memória e em conclusões
passadas. (MOSCOVICI, 2003, p. 60).
Moscovici (2003) explica ancoragem como o processo a que se recorre para
classificar o objeto desconhecido através da comparação de acordo com o que lhe é
conhecido.
[...] No momento em que nós podemos falar sobre algo, avaliá-lo e então comunicá-
lo mesmo vagamente, como quando nós dizemos de alguém que ele é ‘inibido’
então, nós podemos representar o não-usual em nosso mundo familiar, reproduzi-lo
como uma réplica de um modelo familiar. (MOSCOVICI, 2003, p. 62).
Doise citado por Sá (1996), entende que ancoragem está vinculada a “[...]
incorporação de novos elementos de saber em uma rede de categorias mais familiares”
(DOISE, l990, p.128, apud SÁ, l996, p.46).
Jodelet (2001) esclarece que a ancoragem intervém no processo de elaboração
das representações, assegurando sua integração no social.
31
[...] a ancoragem enraíza a representação e seu objeto numa rede de significações
que permite situá-los em relação aos valores sociais e dar-lhes coerência. Entretanto,
nesse nível, a ancoragem desempenha um papel decisivo, essencialmente no que se
refere à realização de sua inscrição num sistema de acolhimento nocional, já
pensado. (JODELET, 2001, p. 38-39).
A autora destaca ainda que a ancoragem serve para instrumentalizar o
conhecimento, atribuindo-lhe um valor funcional para a compreensão e administração do
ambiente. Ancorar, portanto, é identificar pessoas, idéias, relações, objetos ou acontecimentos
estabelecendo em uma categoria que aproxima o sujeito do objeto, o indivíduo e o
participante do seu grupo, fortalecendo, consequentemente, o grupo.
O processo de objetivação é outra forma de constituir as representações sociais.
Este processo consiste em unir a idéia do não-familiar com a da realidade, transformando-se
no verdadeiro significado do que é real. É identificada, inicialmente, como um universo
puramente intelectual e remoto, surgindo acessível e consubstancialmente diante dos olhos.
Ao conceituar objetivação, Moscovici (2003) explica que ela tem a função de
revelar a qualidade representativa de uma idéia ou ser impreciso, ou seja, dar forma e
reproduzir no mundo exterior um conceito em uma imagem, direcionando-a para o grupo
social. Ainda acrescenta que fazer uma comparação é representar, preencher com substância
aquilo que está naturalmente vazio. Assim, a imagem se torna um elemento da realidade, em
vez de apenas elemento do pensamento.
Para Jodelet (2001), a objetivação se apresenta como o processo de
nacionalização das idéias, valorizando as realidades concretas, diretamente claras e utilizáveis
na ação sobre o mundo e os outros. A estrutura que revela a imagem da representação torna-se
condutora da contextualização e, de forma comum e funcional, a teoria de referência para
compreender a realidade.
A objetivação, portanto, é a reprodução de um conceito em uma imagem, é a
transformação de idéias em objetos concretos e materiais que compõem a realidade.
32
Nóbrega (2003, p. 65) contribui esclarecendo que: “[...] a objetivação consiste
em materializar as abstrações, corporificar os pensamentos, tornar físico o visível, o
impalpável, enfim, transformar em objeto o que é representado”. Segundo esta autora, a
função social da objetivação baseia-se na contribuição para o processo de comunicação,
gerando laços sociais.
Já para Moscovici (2003), as representações tornam o não-familiar em familiar,
caracterizadas pela dependência que estabelecem com a memória.
É dessa soma de experiências e memórias comuns que nós extraímos as imagens,
linguagem e gestos necessários para superar o não-familiar, com suas conseqüentes
ansiedades. As experiências e memórias não são nem inertes, nem mortas. Elas são
dinâmicas e imortais. Ancoragem e objetivação são, pois, maneiras de lidar com a
memória. (MOSCOVICI, 2003, p. 78).
1.1.4 O espaço de estudo das representações sociais
O espaço de estudo de representações sociais se define pelas diversas
dimensões que caracterizam a representação como uma forma de saber prático, ligando um
sujeito a um objeto.
Esse conhecimento prático, segundo Jodelet (2001), reporta-se à experiência a
partir da qual ele é formado, aos contextos e às circunstâncias em que ele se encontra. Refere-
se, especificamente, ao fato de que a representação serve para atuar sobre o universo e o
outro, desembocando assim, em suas funções e eficácia sociais.
Jodelet (2001, p. 28), ao apresentar o campo de estudo das representações
sociais, específica-as como um conhecimento comum que pode estar ligado ao conjunto de
elementos e de relações que se apresentam sintetizado em três questionamentos: “Quem sabe
e de onde sabe?, O que e como sabe?, Sobre o que sabe e com que efeitos?”.
33
Esses questionamentos, segundo a autora, resultam em três ordens
problemáticas: a) condições de produção e de articulação; b) processos e estados; c) estatuto
epistemológico das representações sociais. Assim, consideradas interdependentes, abarcam os
temas dos trabalhos teóricos e empíricos.
A indagação Quem sabe e de onde sabe? refere-se às condições de formação e
circulação das representações sociais e está relacionada ao contexto onde esse saber é
produzido e propagado, provavelmente, através da cultura, que é constituída de valores,
crenças e costumes; da linguagem, seja através da conversação, da mídia, da família, da
escola ou dos meios científicos; e na sociedade quando os conhecimentos acontecem pela
partilha e vínculo social ou afirmação de pertenças dos grupos.
O que e como sabe? diz respeito aos processos e estados das representações
sociais que identificam a forma de saber do sujeito, seu conhecimento científico, psicológico,
social e coletivo, a partir dos conteúdos representativos como a linguagem, os discursos, as
informações e as práticas.
E, por último, Sobre o que sabe e com que efeitos?, está relacionado ao estatuto
epistemológico das representações sociais em que o conhecimento é adaptado pelo sujeito
através da relação entre o pensamento comum e o científico, provocando a transformação de
um conhecimento em outro, procurando entender a realidade, caracterizando um
conhecimento simples, diferente da ciência, porém adaptado à ação sobre o mundo.
Jodelet (2001) esclarece que:
[...] a comunicação desempenha um papel fundamental nas trocas e interações que
concorrem para a criação de um universo consensual. Finalmente, remete a
fenômenos de influência e de pertença sociais decisivos na elaboração dos sistemas
intelectuais e de suas formas. (JODELET, 2001, p. 29).
34
1.1.5 Tipos de representações sociais
O campo de estudos das representações sociais pode ter o seu contexto
mapeado pela separação entre diferentes tipos de representação, conforme suas origens e
respectivos espaços de inclusão social. Sá (1996) cita Moscovici (1988), que demonstra
preferência pelo adjetivo social, caracterizando-o em três tipos de representações percebidas
como legitimamente sociais: hegemônicas, polêmicas e emancipadas.
Por representações hegemônicas, Arruda (l998), embasada em Moscovici,
entende que são aquelas compartilhadas por todos os membros de grupos estruturados de um
partido ou de um Estado, predominantes nas práticas simbólicas ou afetivas dos grupos.
Porém, não são produzidas no grupo e sim praticadas por ele.
Wagner (l998), em relação às representações hegemônicas, contribui
esclarecendo que os estudos em psicologia cultural trouxeram uma explicação quanto ao
relacionamento entre as representações culturais e sociais. As representações culturais são
consideradas fruto da tradição por estarem enraizadas no pensamento e no comportamento
dos sujeitos e compartilhadas nos grandes grupos.
Quanto às representações polêmicas, pode-se compreender, segundo Arruda
(1998) ainda através de Moscovici, que são elaboradas através de conflitos gerados a partir de
interesses e disputas entre os grupos, e não são compartilhadas pelo grupo social como um
todo.
Na afirmação de Wagner (1998), as representações polêmicas são aquelas
formadas a partir das disputas e desordens sociais temporárias nos grupos, exemplificadas na
desigualdade social, aborto, discussões ecológicas, conflitos nacionais entre outros. Essas
representações são consideradas recentes em importância histórica, de validade limitada,
35
menos estáveis, compartilhadas nos pequenos grupos, não atingindo, portanto, a sociedade em
geral.
As representações emancipadas, de acordo com Arruda (1998), se caracterizam
pelas interpretações específicas de segmentos sociais, de acordo com as idéias e
conhecimentos que circulam num determinado grupo, apresentando autonomia, resultante da
interação entre os membros que integram os grupos sociais.
Sá (l996) explica representações emancipadas como:
[...] a conseqüência da circulação do conhecimento pertencente e das idéias
pertencentes a subgrupos que se encontram em contato mais ou menos estreito. Cada
subgrupo cria sua própria versão e a partilha com os outros. Essas são
representações emancipadas com um certo grau de autonomia em relação aos
segmentos integrantes da sociedade. (SÁ, 1996, p. 40).
1.1.6 Representações sociais: uma pesquisa dirigida à educação
Ao vincular as representações sociais à Educação, deve-se considerá-la como
uma forma de compreensão do poder em que uma relação é exercida em toda a sociedade, e
não apenas como privilégio de alguns. Dessa forma, é de fundamental importância entender
como as representações sociais são formadas, mantêm-se, organizam-se e se estabelecem num
sistema social em que também está inserida a Educação.
Nesse sentido, Gilly (2001) procura compreender a representação dos
conjuntos organizados de significações sociais no processo educativo. Conforme esse autor,
surge uma nova forma para esclarecer os mecanismos sociais que atuam no processo
educativo e influenciam nos resultados, favorecendo, assim, as articulações entre
Psicossociologia e Sociologia da Educação.
36
Essas articulações tratam das relações de um grupo social, sua conduta frente à
escola, a forma como o professor interpreta seu papel e também avalia a atuação deste em
relação à comunicação pedagógica e à construção do conhecimento.
Constata-se que os trabalhos desenvolvidos na área educacional têm
contribuído significativamente para a realização de estudo de temas gerais referentes à
construção e às funções das representações sociais como afirma Gilly (2001):
[...] a área educacional aparece como um campo privilegiado para se observar como
as representações sociais se constroem, evoluem e transformam no interior de
grupos sociais, e para elucidar o papel dessas construções nas relações desses grupos
com o objeto de sua representação. (GILLY, 2001, p. 322).
Madeira (2003) tem se valido da importância dessa teoria para o meio
educacional, ao explicar a educação como uma dimensão que integra a vida pessoal e social.
[...] É um processo amplo que envolve o homem todo e todo homem, no seu viver e
de seu fazer. Somos todos aprendizes e ensinantes numa interlocução com o outro,
presente ou suposto, pela qual, no concreto, saber e fazer integram-se à dinâmica do
viver, como apropriação e expressão. (MADEIRA, 2003, p. 115).
Nota-se que, nessa totalidade de relações e integração, a significância da
aplicabilidade das representações sociais no processo educativo permite tomar objetos de
pesquisa no dinamismo em que estes se constituem e lhes dão forma.
Provém daí o esclarecimento de Madeira (2003), sobre a sua opção em
desenvolver estudos das representações sociais na área de educação, na tentativa de encontrar
caminhos adequados, consistentes e lógicos que possam dar conta dos questionamentos
apresentados na prática da pesquisa na área educacional.
Para (1998), a educação é uma área temática em que a representação social
tem participação relevante, através de discussões promovidas tanto por educadores como por
psicólogos a respeito da aplicabilidade teoricamente fundamentada das representações na
dinâmica educacional.
37
(l998, p. 39) assevera que: “A rigor, os temas relacionados à educação, em
sentido amplo, são quase co-extensivos da própria vida cotidiana, onde é amplamente
mobilizado o conhecimento das representações sociais”.
Gatti (l998), ao prefaciar a obra Adolescência, Escola e Cotidiano, ressalta que,
conceitualmente, o estudo das representações sociais tem contribuído para a compreensão de
diversas questões ligadas aos processos educacionais. Essa autora assegura que essas
representações, elaboradas socialmente, passam a ser construtoras da realidade para os
sujeitos, confirmando assim sua importância nos contextos da socialização e do ensino.
Portanto, o espaço escolar é considerado como local de integração dos
indivíduos com perspectivas e experiências de vidas diferentes. Envolvida por essas
diferenças, a escola se torna propiciadora das interações entre os sujeitos que dela participam,
promovendo, assim, influência decisiva na construção do sujeito.
Essas considerações dizem respeito à teoria que fundamenta este estudo em
Educação. Utiliza-se a Teoria das Representações Sociais por entender que as representações
sociais são constituídas no cotidiano, através das trocas de informações e socialização nos
grupos formados por sujeitos inseridos em uma determinada realidade social.
Conhecer as representações sociais de professores sobre o que pensam ser as
representações sociais de alunos de escolas públicas acerca da AIDS permite compreender
qual o significado da síndrome para os adolescentes. Possibilita ainda entender como essas
representações são elaboradas no contexto social dos professores aqui investigados, e como
elas estão orientando vida cotidiana desses sujeitos.
38
1.2 AIDS: Conceito, surgimento, evolução
Na sua trajetória, o homem se viu obrigado a lutar contra suas próprias
fragilidades. Ao olhar para trás, pode-se contemplar um passado permeado de desajustes e
conflitos, ora entre o homem e a natureza, ora do homem contra consigo mesmo, motivado,
entre tantos problemas, pela fome, guerras, intempéries e pela incidência das doenças,
sobretudo as infecciosas.
Em meio à realidade cotidiana de diferente amplitude, dá-se início, nos
princípios da década de 1980, a um novo desafio com o qual o mundo deveria manter contato,
aprender com ele e sobre ele, independente da promessa de se arrastar pelo século XXI afora.
Esse desafio foi denominado: a síndrome da imunodeficiência adquirida, AIDS.
Segundo Mann e Oliveira (2002), a AIDS foi conhecida por volta de 1981, nos
EUA, ao serem identificados, em São Francisco e Nova York, um significativo número de
indivíduos homossexuais adultos do sexo masculino com Sarcoma de Kaposi, pneumonia e
comprometimento do sistema imunológico. Inferiu-se desse fenômeno o surgimento de uma
nova doença, ainda não classificada, de etiologia viral, provavelmente infecciosa e
transmissível. Isto é, acometia uma pessoa que apresentasse anticorpos provavelmente
relacionados ao Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV).
No dizer de Souza (1994), esse vírus surgiu sob diversos aspectos, de forma
espetacular, letal, apresentando manifestação rápida, fulminante, cruel e sem cura. Diante
disso, após cuidadosas análises, considerou-se que a nova ndrome seria uma doença
infecciosa, com provável etiologia viral transmitida por via sexual. A relação sexual passou a
ser considerada como o meio mais significativo de transmissão do vírus da AIDS, pois,
independentemente da preferência sexual da pessoa, tanto os homens quanto as mulheres
estão sujeitos a contrair essa doença.
39
Quanto à relação sexual, Souza (1994, p. 13) esclarece que: “[...] queiramos ou
não, é vital para a humanidade e é universal, e na nossa cultura está marcada por todo tipo de
preconceito, culpabilidade, pecado, danação, inferno”.
Com o decorrer do tempo, detectou-se a AIDS também em jovens
homossexuais masculinos e, posteriormente, em hemofílicos quando tratados com sangue e
seus derivados.
Oliveira e Weinstein (2002) fazem referência às duas décadas da descoberta da
doença citando o primeiro nome como Imunodeficiência Relacionada a Gays, GRID. Porém,
ao final de 1982, um ano e meio após o surgimento dos primeiros casos, a nova Síndrome foi
relacionada ao sangue, passando a ser detectadas não em gays, mas também em mulheres e
homens heterossexuais, usuários de drogas, hemofílicos, receptores de transfusão de sangue e
bebês. Devido a essa nova constatação, o Center for Disease Control and Prevention (CDC)
1
de Atlanta, Estados Unidos, atribui outro nome à nova enfermidade, que passou a ser
denominada AIDS, a síndrome de imunodeficiência adquirida do inglês Acquired
Immunodeficiency Syndrome. Esse fato não passou despercebido à imprensa leiga que a
chamou de câncer gay.
Algumas das conseqüências mais visíveis desse pânico foram as mais variadas
formas do que era genericamente denominado ‘preconceitoe ‘discriminação’, mas
que, aos poucos, foram sendo conceituadas como violação dos direitos humanos das
pessoas com HIV/AIDS [...] (GALVÃO, 2000, p. 178).
A AIDS por ser identificada como uma doença transmissível não pelo ato
sexual, mas também através do sangue, como nos explica Souza (1994):
[...] sangue é outro elemento universal na cultura da humanidade; o sangue está na
nossa cultura sob mil formas, há pessoas que entram em pânico quando vêem,
embora seja parte constituinte da nossa realidade. E o vírus se transmite,
fundamentalmente pelo sangue. [...] Então, este vírus que adora sangue, mata-nos
através do sangue. (SOUZA, 1994, p. 13).
1
Órgão de controle de doenças nos EUA.
40
Conforme Batista e Gomes (2000) duas possíveis vias de transmissão já
conhecidas, a sexual e a sangüínea, sendo esta última pela ocorrência de AIDS entre
hemofílicos, heterossexuais hemotransfundidos e usuários de drogas ilícitas injetáveis.
Constataram-se, algum tempo depois, casos similares em crianças, filhas de usuários de
drogas injetáveis, definindo assim outro mecanismo de infecção: a transmissão da mãe
infectada para o filho. Essa transmissão pode ocorrer pelo sangue, durante a gravidez
(placenta), no momento do parto ou através do leite materno.
Em virtude dessa doença estar cercada de tantas dúvidas e preconceitos,
observa-se que muitas descobertas nessas duas décadas aconteceram, mas também muitas
perdas se seguiram, pois à medida que a Ciência avançava, a epidemia atingia uma mesma
proporção ou avançava em maior escala.
Ao se referir à AIDS, Jodelet (2001, p. 20) assim esclarece: “Um
acontecimento surge no horizonte social, que não se pode mostrar indiferente: mobiliza medo,
atenção e uma atividade cognitiva para compreendê-lo, dominá-lo e dele se defender”.
A autora explica que as interpretações construídas pelos indivíduos a respeito
de um acontecimento social são, ao mesmo tempo, produto e processo, uma vez que produto é
o pensamento formado como conteúdo e o processo surge como pensamento formador, como
elemento elaborador da sociedade.
Segundo Batista e Gomes (2000), a AIDS não se adquire através de aperto de
mão, abraço, beijo na face. Não possibilidade de infecção no convívio comum em
compartilhar pratos, copos, talheres, roupas e vaso sanitário.
Todavia, Jodelet (2001) afirma que a falta de informação e a incerteza da
ciência favorecem o surgimento de interpretações que vão circular de boca em boca ou
mesmo passar de um veículo de comunicação a outro.
41
Quanto ao surgimento da AIDS no Brasil, Batista e Gomes (2000) explica que,
as primeiras descrições da infecção pelo HIV foram em 1982. Porém, considerando o período
de incubação, deduz-se que a introdução do vírus no país aconteceu na década de 1970,
período em que essa doença difundiu-se, inicialmente, nas áreas metropolitanas do sudoeste
brasileiro e, na década de 1980, nas diversas macro-regiões do país.
A AIDS, como doença, passou a tomar forma homogênea, por se caracterizar
por uma concentração maior em São Paulo, causada por um período de expansão do
movimento pela liberdade de expressão da sexualidade, que divulgava a livre opção sexual e a
pluralidade de parceiros entre homossexuais masculinos. nas regiões Central e Norte do
país, as maiores concentrações da AIDS ocorrem nas capitais dos estados.
Embora ainda se constate uma grande incidência da AIDS na região Sudeste,
atualmente a disseminação dessa epidemia acontece de forma mais lenta. Compreende-se esse
fato como resultado da combinação de vários fatores, entre eles: mudanças comportamentais
de alguns segmentos populacionais, de saturação dos segmentos populacionais de maior risco;
a implantação e implementação de medidas preventivas com ênfase na educação e saúde e,
por último, de programa de intervenção e controle da doença. (BRASIL, 2002).
Em Cuiabá, segundo a Tabela um, pode-se observar os casos de AIDS
notificados no período de l980 a 2002.
Identifica-se que, no período de 1999 a 2002 que o índice de casos de AIDS
notificados vem diminuindo.
Tabela 1 – Casos de AIDS notificados no município de Cuiabá – 1980 a 2002
Região
1980-1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
Total
1980-2002
Cuiabá
106
60
70
61
93
107
137
140
104
55
74
48
4
1059
Fonte: Brasil, Ministério da Saúde, Boletim Epidemiológico – AIDS – 2002
42
O Boletim Epidemiológico do ano 2002, ao referir às tendências temporais,
destaca a desaceleração nas taxas de incidência da enfermidade no Brasil como um todo no
início do novo milênio, e na região Centro Oeste a partir de 1998. Isto, em parte, pode ser
decorrente do atraso e de outros problemas de notificação dos casos.
Whertein (2000) constata que, no Brasil, a epidemia da AIDS assumiu, nos
últimos tempos, uma nova forma, apresentando como característica marcante a redução da
faixa etária da população atingida, sugerindo que pessoas cada vez mais jovens estão
infectadas pelo vírus.
Segundo Rua e Abramovay (2001), os jovens entre 15 a 24 anos formam um
grupo intensamente afetado pelo vírus da AIDS, porque fazem parte de um grupo vulnerável,
considerando o papel do contexto social e institucional em que estão inseridos.
Assim, a AIDS afeta as pessoas na plenitude de sua vida, transformando os
jovens na chamada geração de vulnerabilidade. Muitos morreram e a epidemia continua em
grande parte invisível aos adultos e aos próprios jovens, cujos atributos físicos, psicológicos e
sociais os tornam suscetíveis à doença.
Salles (l998) contribui explicando que a adolescência é uma fase da vida
caracterizada pela busca de ajustamentos sexual, social e vocacional, e pela luta da
independência e da emancipação em relação aos pais. É vista como a idade de conflito e crise,
em que o ser humano passa por mudanças corporais, pessoais e familiares. Espera-se que o
adolescente aceite as transformações do seu próprio corpo, do seu papel sexual, obtenha
independência da família e dos outros, escolha uma profissão e atinja uma identidade pessoal.
Segundo Salles (l998, p. 48), “Essa fase só pode ser caracterizada como
emaranhado de fatores de ordem individual – por se associar à maturidade sexual – e histórica
e social – porque são específicos da cultura em que o adolescente está inserido”.
43
Paiva (1992) ressalta que, durante os anos de surgimento da AIDS, as idéias
formadas sobre essa doença levaram as pessoas a abordarem mais os doentes que a
enfermidade em si. Assim, a atenção voltou-se para os indivíduos pertencentes a grupos de
risco, divididos em vítimas: os hemofílicos, e promíscuos: os homossexuais, prostitutas e
viciados em drogas. Pela divisão nota-se o preconceito que se acentuava sobre os portadores
da AIDS.
As divergências de opinião confundiram a sociedade, transmitindo às pessoas
que não pertenciam ao grupo de risco a falsa idéia de que a AIDS seria uma doença distante,
fator este considerado como um dos principais para a propagação em âmbito mundial.
A AIDS, atualmente, tornou-se uma doença capaz de alcançar qualquer pessoa
na sociedade. O conceito de grupo de risco caiu em desuso, quando se fala em
vulnerabilidade, porém diversas pessoas desavisadas permanecem com a idéia preestabelecida
de que ter a doença é sinônimo de mau comportamento.
Assim como o mundo, o Brasil, ao ser surpreendido pela AIDS, procurou
minimizar o seu impacto. Apesar dos mais de vinte anos de convivência desagradável com a
síndrome, é importante que se aprenda com as falhas anteriores, intensificando as formas de
prevenção e de educação da sociedade, desmistificando a doença.
A AIDS ocupa posição de destaque entre as doenças contagiosas. Observa-se
assim que são espontâneas as transferências entre o social e o biológico, estabelecendo, dessa
forma, à associação da enfermidade com a morte. Porém, tal transferência não é sistemática,
uma vez que a distância indica a visão de uma enfermidade dos tempos modernos e, nas
relações de proximidade, prevalece a visão de uma doença que é letal.
Segundo Kovács (1996), o diagnóstico de uma doença como a AIDS, ou
mesmo daquelas que se não são fatais, causando como seqüelas deficiências, limitações ou
mesmo incapacidade graves, trazem da mesma forma a concepção da morte, que é acentuada
44
pela perda. Acentua ainda, a redução de função ou por qualquer obstáculo ao
desenvolvimento de atividades ou pela interrupção da vida profissional.
Dessa forma, pode-se afirmar que, com a instalação da doença, o portador
situa-se num quadro de dores e limitações, que o leva a procurar eliminar ou até mesmo
aliviar esse mal-estar físico. Sadala (2000) acrescenta que a assistência aos doentes com AIDS
fundamenta-se nos princípios de igualdade, beneficência e autonomia para todos. Nessa
perspectiva, faz-se necessário atendê-los igualmente aos demais, sem preconceito ou
discriminação, visando seu bem-estar, sua cura, recuperação, alívio do desconforto,
estimulando-o à adaptação e à auto-realização e à participação no próprio cuidado.
Graças aos avanços obtidos na área da saúde, observa-se o aumento
significativo de sobrevida no doente. Porém, não houve controle do crescimento do número
de casos de AIDS, principalmente na área das populações menos favorecidas, uma vez que
tais recursos são poucos acessíveis a uma parcela significativa da população.
Para compreender o desenvolvimento da AIDS nas diversas regiões do mundo,
deve-se levar em conta não seu caráter biológico, mas também social, o qual a diferencia
dos padrões já conhecidos de propagação de uma doença epidêmica.
Nos Planos Curriculares Nacionais (PCNs), ao tratar da educação sexual e
prevenção da AIDS, o que ocorre é uma tentativa de regular e orientar crianças e jovens
dentro dos padrões que esses planos consideram normalmente corretos. Percebe-se que os
adolescentes têm-se apresentado despreparados para tratar da sexualidade, criando barreiras
para a promoção da sua saúde sexual, tornando-se mais vulneráveis ao contágio da AIDS e de
outras doenças sexualmente transmissíveis (DST), ou mesmo a uma gravidez indesejada. A
falta de diálogo familiar, a crescente oferta de drogas em diversos espaços que o adolescente
freqüenta, principalmente na escola, a sensação de invulnerabilidade, a suscetibilidade às
45
pressões grupais e à transgressão são alguns aspectos determinantes da vulnerabilidade dos
adolescentes.
As dúvidas referentes à sexualidade estão na escola, fazem parte das conversas
dos jovens estudantes, nos grafites dos banheiros, nas piadas ou brincadeiras, das
aproximações afetivas, dos namoros. Também estão, de fato, nas salas de aula,
assumidamente ou não, nas falas e atitudes das professoras, dos professores e estudantes.
Assim, devido a esses fatos, pode-se identificar a importância do contexto escolar como o
melhor espaço para realizar a pesquisa das representações dos professores sobre o que pensam
ser as representações sociais dos alunos acerca da AIDS.
Devido ao tempo de permanência do adolescente nas escolas e às
oportunidades de trocas, convívio social e relacionamentos amorosos, estas são identificadas
como ambientes-chave para realizar a educação relacionada à AIDS entre os jovens. Porém,
alguns obstáculos impedem que isso aconteça. Um dos impedimentos é a crença de que
educar os jovens sobre o sexo encoraja a atividade sexual.
Whertein (2000, p. 11) acrescenta que [...] “A resposta é que a educação é uma
arma para modificar essa situação e preservar os jovens e, se bem utilizada, pode ser a melhor
arma no combate à epidemia”.
Além do alto índice quantitativo da propagação da AIDS, essa doença
demonstra um outro aspecto, estabelecendo relevância social. Madeira (l998) destaca que a
AIDS apresenta-se como uma presença indesejável no mundo atualmente. Não é discreta e
por isso não pode ser ignorada, como outras doenças inconvenientes que, ao se distanciarem,
se diluem, justificam-se ou mesmo são esquecidas. A AIDS se atualiza no dia-a-dia e na
intimidade dos indivíduos, enquanto se institui como um limite insuportável.
A pesquisadora afirma que,
A densidade desta presença e a busca de caminhos para seu domínio vêm
mobilizando não só pesquisadores de diferentes áreas do saber, mas também o
46
homem comum. Frente a uma ameaça de que não pode fugir, este último tenta
construir estratégias em coerência com o saber através do qual, na relação com o
outro, aprendeu a viver e a sobreviver. (MADEIRA l998, p. 9).
A TRS tem papel importante no estudo da AIDS, como se pode verificar na
revisão bibliográfica de diversas pesquisas sobre este tema, pautadas nessa teoria, relatados a
seguir.
O trabalho de representações sociais do contágio da AIDS realizado por Jodelet
(l998) trata de uma análise crítica da produção científica nas ciências humanas e sociais, das
questões relativas aos significados atribuídos ao contágio e à prevenção, como na própria
representação da saúde e da doença.
No que diz respeito à infecção pelo HIV, considerando sua novidade e as
informações disponíveis ao público, foi formulada a hipótese de que esse tomaria,
aos campos de conhecimentos, sábios e profanos, informações concernentes a outras
doenças contagiosas, tendo em vista a densidade da noção de contágio nestes casos e
no da Aids. (JODELET, l998, p. 37).
É fundamental a contribuição de Joffe na pesquisa realizada em l990,
intitulada, ‘Eu não’, ‘O meu grupo não’: Representações sociais transculturais da AIDS,
envolvendo jovens sul-africanos e britânicos, homens e mulheres escolarizados. Nesse
trabalho, percebe-se que a AIDS, além de ser associada a nações estrangeiras, cada cultura
relaciona-a a grupos marginais como homossexuais e drogados no Ocidente, e mulheres,
inclusive prostitutas, no mundo subdesenvolvido.
A autora percebeu que:
Não é, pois, coincidência que a grande maioria de minha amostra total sinta que suas
chances de contrair o HIV o mínimas. Sejam quais forem as práticas pessoais de
alguém, as práticas do ‘outro’ podem ser construídas, ao nível de representações
sociais, como mais perversas, antinaturais e geradoras de doença. (JOFFE, l995, p.
320).
Lage (1998) em sua pesquisa, realizada no contexto social da França mostra
que:
O interesse dos alunos pela Aids aumenta proporcionalmente com a idade. A
mudança mais significativa, no entanto, foi verificada em torno dos 14-15 anos,
quando a maioria dos alunos de ambos os sexos disseram estar mobilizados por esta
problemática (64% contra 43% na CM2). (LAGE, l998, p. 78).
47
A fragilidade do jovem diante da epidemia é uma questão grave, seja por
desinformação, preconceito, passividade ou mesmo por dúvidas características do
desenvolvimento de cada um, ou ainda porque utilizam o preservativo mais para evitar a
gravidez que para se prevenir da AIDS.
Em seguida, Tura (l997) desenvolveu uma pesquisa com a qual pretendia
compreender as estratégias utilizadas pelos jovens para enfrentar a epidemia. Com a
realização da pesquisa, observou-se que eles estão cientes sobre as diversas formas de
contágio e os meios de prevenção, apresentando, porém, um conhecimento truncado,
fragmentado. Percebem que são vulneráveis à AIDS, mas, devido às notícias baseadas nas
descobertas de novas terapias e tratamentos, as representações ainda estão sendo elaboradas e
reelaboradas.
Madeira (l998) em seu estudo enfatiza sua decisão em ter, como sujeitos,
jovens na faixa etária entre nove e 22 anos, não só pela gravidade da incidência da AIDS, mas
pela falta de espaço social de voz. Ela considerou a importância da comunicação com os
jovens sobre a qual muito se fala na contemporaneidade, porém, deles, pouco se ouve a voz.
A autora explica que a pesquisa foi realizada com 48 sujeitos de ambos os
sexos na Cidade de Natal, RN, com a finalidade de analisar suas características sócio-
econômico-educacionais, definindo como critério a renda, salário e local de residência.
Ao concluir, Madeira esclarece que, para os jovens, a representação social da
AIDS está intrinsecamente ligada ao medo e às formas de prevenção. Esses sujeitos entendem
a AIDS como uma ameaça que adquire forma através da ligação estabelecida entre a doença e
a prática sexual. Em seus discursos, tornam claro que têm medo da AIDS. Porém, apesar de
conhecerem e afirmarem a necessidade do uso do preservativo, rejeitam esse recurso na
prática, ao não sustentarem que usam a camisinha com os parceiros que consideram como
seus iguais.
48
Com relação ao contágio, os jovens acreditam que, praticamente não existe o
risco de se contrair tal doença quando se trata de parceiros considerados iguais. Todavia, o
medo de contágio é manifestado quando o contato se estabelece com aqueles considerados
diferentes. Ou seja, nas relações com sujeitos não pertencentes ao grupo desses jovens.
Assim, para os jovens, a representação social da AIDS atribui à mulher um
sentido de passividade e submissão, e ao homem independência e autonomia na busca da
realização do prazer relacionado à figura masculina.
Thiengo (2002) também é uma das pesquisadoras nesse campo. Ela traçou
como objetivo esboçar o perfil e indicar as implicações da representação social do HIV/AIDS
para as relações inter-pessoais e para as práticas de proteção de adolescentes, sendo sujeitos
portadores e não portadores do vírus com idade entre 12 e 20 anos.
Como resultado de seu estudo, Thiengo (2002) encontrou indicativos de que a
representação social da AIDS está relacionada à prevenção, embora os adolescentes tenham
assinalado a importância do uso do preservativo. Para eles, o significado de proteção nas
práticas sexuais está baseado na exclusividade sexual, no nculo amoroso, no conhecimento
e na confiança que se tem do parceiro. Também a representação social da AIDS é elaborada e
reflete um conteúdo negativo, pois, em seus discursos, aparecem as palavras sintoma, doença,
sofrimento e morte as quais são representadas como uma fatalidade, uma doença que mata,
que não tem cura.
Outra pesquisa realizada também no campo das representações sociais é a de
Fernandes (2002). Em sua pesquisa, buscou descrever e analisar o conteúdo e a estrutura das
representações encontradas e discutir o conhecimento deste grupo quanto às medidas de
prevenção adotadas para esta doença. Fernandes, para obter os dados de sua pesquisa valeu-se
da participação de 300 estudantes da UFMT, sendo l50 do curso de Enfermagem e l50 do
curso de Comunicação Social.
49
A pesquisadora obteve como resultado a descrição dos conteúdos de
representação ao revelarem que a AIDS têm em sua estrutura os elementos: doença, morte,
preconceito, prevenção e sexo. Enfatiza que o termo prevenção remete ao uso do
preservativo, porém não está associado ao uso contínuo deste tipo de proteção. Ainda que a
busca de informações sobre a doença esteja centrada no ambiente escolar, é apontada a
necessidade de desenvolver programas estruturados de educação em saúde voltados para a
promoção da saúde sexual. Dessa forma, a educação pode ser o canal essencial para trabalhar
com o desenvolvimento da sexualidade e, com isso, combater a propagação da AIDS.
Oltramari (2003) em sua pesquisa de doutorado propõe realizar um breve
levantamento das pesquisas sobre representações sociais da AIDS realizadas no Brasil, a
partir do início da epidemia e também discutir como a doença tem sido representada, através
da sua evolução, por grupos específicos. Ele tem como objetivo compreender, por meio deste
levantamento, como as representações sociais podem influenciar na dinâmica da doença para
determinados grupos.
O autor considera que algumas representações sobre a AIDS parecem ter
mudado no decorrer dos anos, argumentando que:
Se antes a AIDS vinha sendo relacionada diretamente ao ‘medo e a morte’, hoje
talvez esta representação esteja mais presente entre pacientes que possuam a doença
e familiares. Entre outras pessoas, a representação de AIDS suscita a idéia de
‘prevenção’. É importante lembrar que esta representação fica restrita a alguém, ou
seja, a prevenção é necessária quando não se conhece a pessoa. (OLTRAMARI,
2003, p. 15).
Essas pesquisas demonstram o quanto as representações sociais são dinâmicas
e se inscrevem em um espaço da vida cotidiana, fazendo com que sejam organizadas lógicas
de prevenção a partir destas representações sociais. Desta forma, as doenças são reelaboradas
a partir do momento histórico e dos grupos sociais que constroem as suas representações
sociais.
50
Pagan (2004) desenvolveu a pesquisa intitulada Um estudo das representações
sociais acerca da AIDS manifestadas por pré-adolescentes e adolescentes de escolas públicas
de Cuiabá em 2002 e 2003, com idade entre 11 e l5 anos, com o objetivo de identificar e
descrever os saberes do senso comum sobre o modo de transmissão virótica e de prevenção da
AIDS e manifestações dos adolescentes acerca do portador de HIV.
Como resultado, o pesquisador identificou a AIDS como um tema que os
adolescentes discutem em família, principalmente com a mãe, e é, sobretudo, tratado nas aulas
e nas pesquisas. Ainda revelaram a importância da prevenção nas atividades pedagógicas
desenvolvidas sobre a doença. Para esses adolescentes, a AIDS está vinculada à morte e não
tem cura. Quanto ao professor, ficou constatado que não é procurado para tirar dúvidas sobre
a doença e que este não demonstra estar acessível para que isso aconteça.
Portanto, neste capítulo que trata da Fundamentação Teórica, buscou-se aclarar
as concepções sobre a Teoria das Representações Sociais, a partir de um diálogo referente a
sua constituição e características. Não obstante, também conhecer a importância da área
educacional nas atividades pedagógicas sobre a AIDS, considerando a interação deste campo
educacional com o da teoria.
Além disso, pode-se apresentar o conceito notório e as pesquisas realizadas
quanto à AIDS, objeto de representação social que neste trabalho será exposto por professores
do ensino fundamental da rede pública de Cuiabá-MT.
Neste presente estudo, deseja-se compreender a importância da temática
referente às representações sociais de professores acerca do que pensam ser as representações
dos alunos da rede pública sobre a doença.
A seguir apresenta-se os procedimentos metodológicos utilizados nesta
pesquisa, o perfil dos sujeitos entrevistados e o campo de estudo.
51
CAPÍTULO 2
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
52
Ao definir o método a ser utilizado em uma pesquisa, é importante que o
pesquisador defina que diretrizes seguir, para que possa conhecer o objeto estudado. Com o
propósito de conhecer as representações sociais de professores acerca do que pensam ser as
representações sociais de alunos das escolas públicas de Cuiabá sobre a AIDS, procurou-se
respaldo em autores como Gatti (2002, p.44), que explica: “Quando falamos de método,
estamos falando da forma de construir o conhecimento”.
Segundo essa autora, o método surge a partir da troca de idéias, dos pontos de
vista, fundamentos relacionados à prática. Nesse sentido, não é considerado apenas como um
conjunto de passos que impõem uma direção, mas, um conjunto de crenças, valores, atitudes,
que deve ser considerado no seu aspecto interiorizado, seu lado intersubjetivo e até mesmo
personalizado pelas intervenções do pesquisador.
Portanto, pode-se apreender que a metodologia é uma prática real, concreta,
revelada nas ações, na organização da pesquisa e na forma como o investigador percebe a
realidade.
Para desenvolver esta pesquisa, foi utilizado, como instrumento de coleta de
dados, a técnica de entrevista semi-estruturada. Os dados obtidos foram processados no
software ALCESTE e posteriormente analisados.
Sejam quais forem os critérios utilizados em uma pesquisa, o objetivo é
ampliar a oportunidade de compreender diferentes posições tomadas pelos membros do meio
social. Assim, tanto a técnica por meio de entrevista semi-estruturada quanto a do software
ALCESTE realizam seu papel e se complementam.
53
2.1 Universo da pesquisa
A pesquisa teve como campo de estudos a cidade de Cuiabá-MT, capital do
estado de Mato Grosso. Situada no centro geodésico da América do Sul, que possui 483.346
habitantes. (IBGE, 2000).
Neste trabalho foi escolhido como público alvo os professores de escolas
públicas do Ensino Fundamental, como sujeitos da investigação, oriundos de um universo
composto de 152 escolas situadas no perímetro urbano, sendo 77 da rede municipal e 68 da
rede estadual. Segundo dados levantado na Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso
(SEDUC), constatou-se que, em Cuiabá, existem 3.940 professores atuando no ensino
fundamental.
As instituições de ensino escolhidas para realização da pesquisa estão
localizadas nas regiões norte, sul, leste e oeste de acordo com a distribuição feita pela
Secretaria de Educação, perfazendo assim um total de oito escolas visitadas.
2.2 Sujeitos
Os sujeitos desta pesquisa são professores do Ensino Fundamental das escolas
públicas Municipais e Estaduais de Cuiabá, correspondendo a um total de 44 participantes.
O perfil dos sujeitos entrevistados foi traçado por meio de um código de
referência, contendo os seguintes dados denominados variáveis: sexo, idade, nível de
formação, área de atuação, regime de trabalho, carga horária, tempo de serviço, tempo na
instituição e religião, que serão apresentados em seguida.
54
A inclusão da variável religião no perfil dos sujeitos deve-se ao fato de se tratar
desta pesquisa ter como foco a doença AIDS, considerado um tema contemporâneo,
polêmico, devido as suas implicações no contexto social.
Os gráficos apresentados, a seguir mostram o perfil estatístico e as
características dos sujeitos entrevistados.
Observa-se na Figura um, a predominância do sexo feminino, indicando que
foram entrevistadas 28 mulheres e 16 homens. Isto se evidencia porque, na profissão de
magistério o sexo feminino é predominante.
Figura 1 – Perfil dos sujeitos quanto ao sexo
64%
36%
FEMININO MASCULINO
55
O grupo a seguir compõe-se, predominantemente, de professores cuja faixa
etária varia de 41 a 45 anos.
0%
11%
11%
20%
26%
18%
14%
IDADE 20 A 25 IDADE 26 A 30 IDADE 31 A 35
IDADE 36 A 40 IDADE 41A 45 IDADE 46 A 50
IDADE ACIMA DE 50
Figura 2 – Perfil dos sujeitos quanto a faixa etária
56
Quanto ao nível de formação dos sujeitos entrevistados, apresentado na Figura
três, destacaram-se os professores especialistas com 21 participantes e, na seqüência,
aparecem 11 graduados e 12 portadores do título de mestrado.
47%
28%
25%
GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO MESTRADO
Figura 3 – Perfil dos sujeitos quanto ao nível de formação
57
Em relação à área de atuação, mostrada na Figura quatro, destacou-se nas
entrevistas a disciplina de Português com 10 participantes, em seguida, de Ciências com nove,
Matemática com cinco, História com sete, Geografia com quatro, Educação Física com dois,
Educação artística e Filosofia com três e Inglês com um professor.
23%
11%
20%
2%
9%
16%
5%
7%
7%
PORTUGUÊS MATEMÁTICA CIÊNCIAS
INGLÊS GEOGRAFIA HISTÓRIA
ED.FISICA ED.ARTISTICA FILOSOFIA
Figura 4 – Perfil dos sujeitos quanto a área de atuação
58
A Figura cinco apresenta o regime de trabalho dos professores pesquisados, a
maior parte pertence ao quadro de efetivos, ou seja, 35 dos entrevistados são efetivos e apenas
nove são interinos.
20%
80%
EFETIVO INTERINO
Figura 5 – Perfil dos sujeitos quanto ao regime de trabalho
59
Em relação à carga horária de trabalho dos entrevistados, visualizada na Figura
seis, apresenta predominância a de 30 horas semanais com 31 participantes, nove sujeitos de
até 20 horas semanais e quatro professores com até 40 horas semanais.
20%
71%
9%
ATÉ 20HORAS ATÉ 30 HORAS ATÉ 40 HORAS
Figura 6 – Perfil dos sujeitos quanto a carga horária
60
Na Figura 7, observa-se que o tempo de serviço dos professores entrevistados
varia numa escala de um a 30 anos em exercício profissional. A maior parte está concentrada
na faixa de dois a 25 anos e, na faixa dos 26 e acima dos 30 anos, há poucos sujeitos.
2%
11%
18%
16%26%
23%
2%
2%
ATÉ 1 ANO 2 A 5 ANOS 6 A 10 ANOS 11 A 15 ANOS
16 A 20 ANOS 21 A 25 ANOS 26 A 30 ANOS MAIS DE 30 ANOS
Figura 7 – Perfil dos sujeitos quanto ao tempo de serviço
61
Com relação ao tempo de serviço na instituição, mostrada na Figura oito,
observa-se que a maioria dos sujeitos entrevistados está inserida na faixa de um a 10 anos
lecionando na escola onde foi realizada a entrevista.
20%
32%
25%
9%
9%
5%
ATÉ 1 ANO 2 A 5 ANOS 6 A 10 ANOS
11 A 15 ANOS 16 A 20 ANOS 21 A 25 ANOS
Figura 8 – Perfil dos sujeitos quanto ao tempo na instituição
62
Em relação à religião, a Figura nove, mostra que predomina a católica entre os
entrevistados com um total de 27 participantes, em seguida a evangélica com 16 sujeitos e um
não professa nenhum tipo de religião.
62%
2%
36%
CATÓLICA EVANGÉLICA NÃO TEM
Figura 9 – Perfil dos sujeitos quanto a religião
2.3 Instrumentos de Coleta de Dados
Para proceder a coleta do material verbal, foi utilizada a técnica de entrevista
semi-estruturada, considerada um instrumento importante, pelo fato de fornecer dados básicos
para entender a realidade social dos entrevistados e suas relações cotidianas.
A respeito desse instrumento, Triviños (1987) esclarece que:
[...] a entrevista semi-estruturada, mantém a presença consciente e atuante do
pesquisador e, ao mesmo tempo, permite a relevância na situação do ator. Este traço
da entrevista semi-estruturada, segundo nosso modo de pensar, favorece não a
descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de
63
sua totalidade tanto dentro de sua situação específica como de situações de
dimensões maiores. (TRIVINÕS, 1987, p. 152).
Portanto, a entrevista semi-estruturada se forma em uma linha de estudo no
teor da pesquisa, possibilitando conhecer os elementos que a compõem.
Para levantar o universo nocional, inicialmente foram realizados estudos
pilotos com quatro professores do ensino fundamental, servindo de treinamento da técnica da
entrevista semi-estruturada. Esses recursos favoreceram maior aproximação com o objeto da
pesquisa, identificando a adaptação e validade do citado instrumento para coletar os dados.
Desta forma, foi elaborado um roteiro para as entrevistas abrangendo o tema
proposto. Ao definir as escolas públicas para a realização das entrevistas piloto, foi utilizado
como critério a distribuição por região.
Para agendar as entrevistas, foi apresentado um documento ao Diretor ou
Coordenador das escolas e estes, junto com a pesquisadora, convidavam os professores para
participarem das entrevistas. Os docentes atendiam prontamente, procurando marcar a
entrevista em um horário disponível no período em que estivessem na escola.
Essa etapa foi muito importante para que se pudesse verificar e analisar o
comportamento do pesquisador e como os sujeitos entrevistados respondiam às perguntas,
identificando as dificuldades para interpretar as questões do roteiro. Através dos discursos dos
sujeitos foi possível identificar a aplicabilidade do roteiro da entrevista.
Após a realização do estudo piloto, analisado e apresentado ao grupo de
pesquisa para, a partir daí elaborar o roteiro definitivo da entrevista, apresentado no anexo C.
Em 2003, foi realizado um Seminário Internacional de Pesquisa Qualitativa em
Representações Sociais em Cuiabá. Este seminário possibilitou uma melhor estruturação das
perguntas.
64
Nesse período, foram elaboradas perguntas relativas ao objeto pesquisado, a
fim de se obter informações a respeito do contexto escolar do aluno, da sua vida cotidiana e
do tema específico da pesquisa.
Nas oito escolas visitadas, realizaram-se 44 entrevistas. O material coletado,
através dos discursos dos professores, foi gravado, transcrito e estruturado em um texto para
que se efetivasse a análise.
2.4 Instrumento de análise dos dados
Para realizar a análise dos dados obtidos nas entrevistas, o material foi
organizado em um corpus, e, em seguida, processado no software ALCESTE Analyse
Lexicale par Contexte d’un Ensemble de Segments de Texte. Este programa é utilizado como
método para revelar as informações essenciais contidas nos discursos.
Ao realizar o processamento dos dados, o ALCESTE, com base na estatística,
classifica os vocabulários, e, na seqüência, gera um relatório que contém um contexto das
falas extraído dos discursos no qual apresentam as palavras destacadas na classe.
Para que o texto coletado seja processado adequadamente pelo software
ALCESTE, é necessário prepará-lo corrigindo pontuação, passando todas as palavras com
letras maiúsculas para minúsculas e retirando todos os caracteres como apóstrofo, hífen, e
percentagem.
O texto, após ser preparado para o ALCESTE e realizar o seu processamento,
foi separado por UCI – Unidade de Contexto Inicial, identificada como linha estrelada,
65
contendo as variáveis caracterizando os sujeitos entrevistados. Para melhor compreensão,
segue um exemplo:
**** *ind 10 *sex 1 *id 2 *nf 3 *at 1 *rt 1 *ch 3 *ts 4 *ti 3 *rel 1
Esta linha estrelada reporta-se ao indivíduo de número 10, do sexo feminino,
com idade entre 26 a 30 anos, possui nível de formação como especialista, atua na área de
língua portuguesa, tem como regime de trabalho efetivo, sua carga horária é de até 40 horas,
como tempo de serviço está entre 11 a 15 anos, trabalha nessa instituição entre 6 a 10 anos e
sua religião é católica. Os anexos A e B apresentam, o quadro das variáveis e a caracterização
dos entrevistados.
A partir do material discursivo, da sua preparação prévia, após corrigir os erros
ortográficos, substituir os símbolos gramaticais e tomar como base a análise do vocábulo, o
ALCESTE efetuou a quantificação dos elementos verbais, através de um recorte de texto
denominado Unidade de Contexto Elementar (UCE), conforme exemplo a seguir:
u.c.e. : 126 Os alunos deveriam ter acesso numa informação que trouxesse mais
humanização. Falasse mais do corpo humano, mais do caráter, mais do
desenvolvimento pessoal. Esse tipo de informação ajudaria um pouco mais ele a
decidir, ou seja, ele decidir por ele mesmo quando começaria a ter relacionamento
sexual.
No final do processamento do texto, o programa apresenta uma descrição do
conteúdo estatístico contendo as freqüências, as porcentagens e o χ
2
(qui quadrado) de cada
classe, permitindo ao pesquisador identificar, entre as palavras geradas, aquela que irá
descrever e melhor definir a classe.
Para realizar a análise de cada classe, toma-se como referência o valor do χ
2
(qui quadrado) que o ALCESTE apresentou no resultado da descrição do conteúdo.
No capítulo seguinte apresenta-se o resultado do relatório do ALCESTE e a
análise correspondente a estes dados.
66
CAPÍTULO 3
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS
67
3.1 Descrevendo os dados proporcionados pelo software ALCESTE
Tendo em mãos o relatório final fornecido pelo programa, foi possível verificar
que no processamento do material verbal coletado, o software reconheceu 44 linhas
estreladas, o que equivale ao número de sujeitos entrevistados.
Conforme se constata na Figura 10, o texto analisado pelo programa apresentou
um índice de aproveitamento de 75,18%, correspondendo a l887 UCEs.
Figura 10 – Aproveitamento do material discursivo em porcentagem
As UCEs e o índice percentual proporcionados pelo programa foram agrupadas
em seis classes, de acordo com a similaridade dos assuntos abordados, como mostra a Figura
11.
Figura 11 – UCEs de cada classe e seu percentual de aproveitamento
68
No dicionário apresentado no relatório, de um total de 100455 vocábulos,
foram identificadas 5854 palavras diferentes. Cada palavra apareceu, em média, 17 vezes. A
freqüência máxima de palavra analisada foi de 4055, sendo reconhecidos no total das classes,
571 vocábulos analisados. A Figura 12 apresenta esse total de léxicos distribuído em cada
classe.
Figura 12 - Palavras analisadas, por classe
A Figura 13, apresentada a seguir, exibe o dendrograma gerado pelo
ALCESTE, comprovando que o texto foi fragmentado em quatro partes.
Segundo Câmara (2004, p. 2), compreende-se por dendrograma como um:
“Diagrama em forma de árvore que sumariza um processo de agrupamento de objetos em
classes hierárquicas (análise de Cluster). Os casos semelhantes são unidos em grupos cujas
posições no dendrograma são determinadas pelo nível de (dis) similaridade entre eles”.
69
Figura 13 – Dendrograma geral proporcionado pelo ALCESTE
Para a compreensão dos conteúdos de cada classe ateve-se às relações
existentes entre as mesmas, verificando em que sentido se aproximam ou se distanciam. Na
leitura do dendrograma pode-se verificar que a classe três se originou da primeira divisão e
dessa ramificação, surgiu a classe seis que é gerado em uma segunda divisão. Esta por sua
vez, origem às classes dois e quatro oriundas da terceira divisão, as quais estão associadas
entre si. As classes um e cinco provenientes da quarta divisão estão em oposição às demais
mantendo um distanciamento destas.
Cada uma das classes abrange um conjunto de idéias que estão associadas entre
si e que são caracterizadas pelo agrupamento de palavras que as constitui, conforme
apresentado anteriormente na Figura 12. Atribuiu-se um nome a cada classe de acordo com o
seu conteúdo. A análise dessas classes baseou-se na observação das palavras com maior valor
de χ² e suas relações no contexto em que aparecem nas UCEs. Tais denominações são
apresentadas, a seguir, na Figura 14.
1
2
70
Figura 14 – Dendrograma e suas classes nomeadas
O gráfico arbóreo apresenta dois grandes blocos. O primeiro aborda o tema
AIDS, e o segundo versa sobre questões relativas à vida cotidiana do aluno.
No primeiro bloco, a classe três trata do interesse do aluno pelo tema AIDS. Os
dados apontam que os fatores gênero e rie escolar são responsáveis pela variação de
interesse do aluno por esse tema. A classe seis se caracteriza por revelar os tipos de
informações sobre a AIDS a que os alunos têm acesso, mostrando ainda as adequações ou
inadequações quanto ao uso dessas informações.
As classes dois e quatro estão ligadas entre si no que respeita ao tema AIDS, no
entanto, se opõem quanto à postura dos alunos frente a esse assunto. A classe quatro, que faz
referência à circulação das informações a respeito dessa doença, revela as formas como
circulam as informações e as ações educativas sobre o tema no contexto escolar. Já a classe
dois trata do sentimento e das reações dos alunos quanto ao temor que possuem em contrair o
vírus.
Contexto social e familiar do aluno
A i
magem
escolar do aluno
AIDS: temor e contágio para os alunos
AIDS: circulação de informação na escola
AIDS: fontes de informações
AIDS e sexualidade: relação gênero e série escolar
AIDS: o aluno e suas concepções
Visão do cotidiano do aluno
Professores: AIDS e contexto
escolar
71
No segundo bloco, as classes um e cinco estão ligadas entre si pela
aproximação dos conteúdos. Essas classes apresentam o aluno como foco o qual é
considerado pelos professores, a partir do contexto sócio-familiar (classe um) e escolar (classe
cinco).
Apresenta-se a seguir as descrições e análises das classes na ordem como
aparecem na Figura 13, para que, dessa forma, haja maior clareza na compreensão dos dados
processados pelo ALCESTE.
3.1.1 Classe 1 – Contexto social e familiar do aluno
A classe um representa 16,64% de aproveitamento do material processado pelo
software ALCESTE, sendo classificadas 122 palavras e 314 UCEs em sua composição.
Constata-se no dendrograma da classe que o tema é tratado sob dois aspectos,
subdividindo-se, inicialmente, em dois grandes blocos, aqui denominados de Bloco A e Bloco
B, como mostra a Figura 15.
72
Figura 15 – Dendrograma da classe 1
BLOCO A
DIFICFULDADES
SÓCIO-
ECONÔMICAS DO
ALUNO
CONTEXTO SOCIAL E
FAMILIAR DO ALUNO
BLOCO B
FATORES SOCIAIS
QUE INTERFEREM
NA CONVIVÊNCIA
FAMILIAR DO
ALUNO
73
O Bloco A, denominado Dificuldades sócio-econômicas do aluno, revela os
obstáculos que estes enfrentam no seu cotidiano em relação às condições de sobrevivência,
bem como outras privações vivenciadas em seu contexto social. O Bloco B, intitulado de
Fatores sociais que interferem na convivência familiar do aluno, aponta os empecilhos
encontrados pelos adolescentes em sua convivência familiar.
Esse entendimento resulta de uma análise mais detalhada de cada parte do
dendrograma apresentado na Figura 14. Portanto, para melhor visualizar os resultados
encontrados, apresenta-se um delineamento do assunto da classe, observando o conteúdo
de cada um dos blocos (A e B) separadamente, considerando suas subdivisões, aqui
chamadas de A1, A2, B1 e B2. Também são apresentadas, por ordem de χ², as palavras
dessas partições, bem como suas formas completas, para melhor visualização de seu valor
semântico no contexto estudado. Salienta-se que esse procedimento será adotado na
descrição de todas as classes.
Na partição A1, em conformidade com a Figura 16 e a Tabela 2, nomeada
de Situação social e econômica do aluno, sobressaem as palavras condição, roupa,
dinheiro e ganham referindo-se, no discurso dos professores, a desestrutura financeira e
social dos estudantes.
74
Figura 16 – Partição A1 do dendrograma da classe 1 – Situação econômica e social dos alunos
Tabela 2 – Palavras características da partição A1, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
condic+
condição, condições; 35.04
ganh+
ganham, ganha, ganhou 30.15
dinheir+
dinheirinho, dinheiro; 24.37
roup+
roupa, roupas, roupinha 24.17
ambiente+
ambiente 24.17
boa+
boa, boas 23.06
sair+
sair, sairam 22.90
bairro+
bairro, bairros 22.90
compr+
compra, comprar 21.79
com+
come, comer 20.64
desestrutur+
desestrutura, desestruturação, desestrututrada, 19.73
incentiv+
Incentivo 15.20
solt+
solto, solta 13.63
public+
pública, público 12.95
vind+
vinda, vindo 12.18
horário
horário 12.18
perifer+
periferia, 12.18
liber+
liberdade 12.09
gostar+
gostaria, gostariam 11.44
abr+
abrir, abrisse 11.32
mudança+
mudança, mudanças 9.87
desenvolv+
desenvolver, desenvolver 9.87
err+
errado, errar 8.22
estrutura
estrutura 8.07
caminh+
caminho, caminham, 6.99
A1
75
As palavras condição, comprar e comer estão associadas entre si mostrando,
no discurso dos professores, a desigualdade financeira vivenciada pelos alunos. Esse fator
contribui para que o adolescente de escola pública seja submetido a privações no cotidiano,
o que acaba por se refletir no contexto escolar. Esse entendimento pode ser visualizado nos
excertos que seguem:
[...] eles não têm condições de comprar nem um livro. Essa defasagem financeira
maltrata muito o aluno da escola pública. Também, interfere na vida social dos
alunos. Quando eles querem adquirir, comprar uma roupa, comer alguma coisa
diferente, eles se sentem excluídos. Na vida cotidiana, os alunos não têm muitas
facilidades. (feminino, 36 anos, professora de matemática).
[...] se a atividade que propomos tenha que despender um pouco de dinheiro ou do
tempo deles, alegam que não tem condições, nem tempo. (feminino, 36 anos,
professora de português).
[...] mas a dificuldade financeira conta muito, pesa muito. Se não é o governo
oferecer o material didático que eles conseguem ter na escola, não estudariam. O
próprio dicionário, eles não tem condições de comprar, então, fica difícil. Uma das
dificuldades dos alunos é a financeira que não condições de melhora nenhuma na
sua vida cotidiana. (feminino, 40 anos, professora de português).
Esses fatores descritos acima dificultam que o aluno carente tenha
oportunidade de participar da vida escolar e social. Neste sentido, Wanderley (1999),
acrescenta explicando que:
Os excluídos não são simplesmente rejeitados física, geográfica ou materialmente,
não apenas do mercado e de suas trocas, mas de todas as suas riquezas espirituais,
seus valores não são reconhecidos, ou seja, há também uma exclusão cultural.
(WANDERLEY, 1999, p.17).
As palavras roupas, dinheiro e ganham revelam o desejo dos estudantes no
sentido de mudar a realidade vivenciada por eles. Essa mudança viria através de um
emprego. No entanto, por não terem atingido a maioridade, não conseguem exercer uma
atividade remunerada, o que pode contribuir para sua insatisfação, segundo um dos
entrevistados,
Reclamam que não podem trabalhar, não conseguem um emprego. Gostariam de
trabalhar e ao mesmo tempo estudar. O maior problema que eles enfrentam no
cotidiano é a questão de não poderem exercer uma profissão, nem que fosse para
ganhar o que eles gastariam num final de semana. (feminino, 30 anos, professora de
português).
76
O desejo do adolescente em conquistar um emprego pode significar uma busca
de independência familiar e social que lhe proporcione o acesso a bens materiais, assim como
a autonomia para escolher o que consumir de sua preferência. Como nos revela Salles,
O adolescente busca no trabalho a realização pessoal e boa remuneração. Deseja
êxito profissional, financeiro, contribuir socialmente, ganhar bem e a felicidade
afetiva. [...] grande valor à felicidade e à família, e busca a realização de desejos
futuros, que se ligam à profissão, ao estudo, à posse de dinheiro e de status [...]
(SALLES, l998, p. 59).
Percebe-se que a falta de estrutura financeira é fruto também do locus onde os
alunos vivem, que as palavras bairro, desestrutura e ambiente aparecem relacionadas entre
si, mostrando o contexto de vida dos alunos e seus reflexos na escola, como mostram os
excertos a seguir:
[...] cada vez você percebe a desestruturação do aluno. Porque você está vendo o
aluno que está faltando. Daqui a um mês ele aparece, porque mudou com o pai, ele
saiu de casa. (feminino, 34 anos, professora de história).
[...] praticamente todos os alunos xingam, mas é uma coisa que condiz com a
realidade deles, isso vem de casa. O ambiente dos alunos em casa é desse jeito
através de xingamento, então, é difícil na escola conseguir essa mudança. (feminino,
41 anos, professora de história).
Por outro lado, essa problemática parece levar o aluno a enxergar a escola
como um lugar de referência para encontro com colegas, transformando-se, assim, em espaço
onde têm oportunidade de lazer e socialização. Um professor entrevistado analisa que:
[...] pela própria situação deles, pela própria desestrutura do bairro, a escola passa a
ser o contato onde os amigos se encontram. (masculino, 40 anos, professor de
geografia).
Coutinho (2004) em seus estudos, verificou em um dos seus resultados, que
para os seus entrevistados, os alunos representam a escola como espaço de diversão e não
como um local onde estariam freqüentando para adquirir conhecimento. Isto está relacionado
à vida cotidiana dos adolescentes.
Salles (l998, p. 85) afirma que: “A idéia compartilhada pelos professores é a de
que o adolescente não se preocupa com seus estudos e é desinteressado em relação à escola,
77
que se torna mais um local de passeio, de convivência social, de encontro com amigos e
namorados”.
Como mostra a Figura 17 e Tabela 3, na subdivisão A2 denominada Ausência
de facilidade e carência sócio-econômica do aluno, encontram-se outros aspectos que
complementam as informações da partição A1 quanto ao dia a dia dos alunos. Os vocábulos
facilidade, cotidiano, encontra, carência e financeira revelam o teor do discurso que diz
respeito à falta de facilidade na vida dos adolescentes e as privações no contexto sócio-
econômico.
Figura 17 – Partição A2 do dendrograma da classe 1 – Ausência de facilidade e carência sócio-econômica
dos alunos
A2
78
Tabela 3 – Palavras características da partição A2, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
facilidade+
facilidade, facilidades 236.72
cotidian+
cotidiana, cotidiano 209,41
encontr+
encontra, encontram, encontrar, encontrasse 193.47
car+
carência, carente, carentes 66.21
financeir+
financeira, financeiras 63.18
Aliment+
alimentação, alimentam, alimentar 45.30
facil+
fácil, facilmente 37.59
drog+
droga, drogas 31.73
soci+
sociais, social 31.11
pobr+
pobre, pobreza 24.37
concordo
concordo 22.84
sozinho+
sozinho, sozinhos 20.64
amizade+
amizade, amizades 17.62
baix+
baixa 16.68
trafic+
traficante, tráfico 12.18
lado+
lado, lados 10.98
acab+
acaba, acabam, acabamos, acabar, acabasse, acabou 9.89
daqui
daqui 8.97
conviv+
convívio 8.97
sai+
sai 8.55
classe+
classe 8.22
situac+
situação 7.69
os
os 6.89
As palavras facilidade, cotidiano e encontra, estão associadas entre si,
mostrando falta de facilidades na vida do aluno e ausência de oportunidades para o acesso
às melhores condições de vida. Verifica-se que a palavra facilidade tem, neste contexto,
uma conotação negativa, indicando as dificuldades enfrentadas pelo aluno, porque ela vem,
em geral, ligada ao advérbio não. Os sujeitos destacam que:
[...] Na vida cotidiana os alunos não encontram facilidades. A vida deles é muito
difícil. Eles deparam com a pobreza, com a carência social. (feminino, 41 anos,
professora de história).
[...] também na vida dos nossos alunos as facilidades são poucas. Tudo para ele é
muito difícil. O dia a dia dele não é fácil, devido a situação em que o aluno se
encontra, a pobreza, a convivência social. (feminino, 40 anos, professora de
português
).
Por outro lado, percebe-se também que o vocábulo facilidade indica
vulnerabilidade do aluno diante de situações adversas, o que pode levá-lo a práticas ilícitas,
79
segundo os professores. A ausência da família também se constitui como fator que pode
influenciar na forma de como o adolescente vive seu cotidiano.
[...] na vida cotidiana, as facilidades são os fatores externos que os alunos encontram
na rua. Esses fatores são os vândalos da rua, grupos, os alcoólatras, as pessoas que
mexem com xicos, os pais que estão desempregados. (masculino, 46 anos,
professor de português).
As facilidades na vida cotidiana, para os alunos é que eles estão encontrando
dinheiro fácil. Eles estão indo para esse lado do mundo das drogas, da violência. O
pai e a mãe como nunca estão presentes em casa, acabam dando dinheiro para os
alunos. (feminino, 28 anos, professora de ciências).
Novamente, para os professores, esses aspectos do contexto do aluno estão
vinculados a sua condição econômica, como apontam as palavras alimentação, carência,
financeiro e pobreza, relacionadas entre si, indicando que os estudantes enfrentam
dificuldades sociais e econômicas por estarem, circunstancialmente, sem dinheiro e
também enfrentam o desemprego na família. Para os professores, são fatores como esses
que interferem no contexto escolar, como se confirmam nos fragmentos a seguir:
[...] eles encontram como dificuldade, por ser um bairro carente, é a financeira, que
vai acarretar as outras dificuldades, como no aprendizado também. Talvez por eles
em casa ficarem sozinhos. Tem a situação social, da alimentação, em que o aluno
vem na escola para merendar e não para aprender. (feminino, 44 anos, professora de
ciências).
A situação financeira em casa é outra dificuldade, não tem o que comer. Quando tem
é muito pouco, com isso os pais brigam em casa e os alunos chegam nervosos na
escola. (feminino, 41 anos, professora de educação física).
[...] alguns vem para escola e não entra na sala de aula. Os alunos na vida cotidiana
deparam com dificuldades financeiras. Enfrentam a situação do pai que está
desempregado. (masculino, 51 anos, professor de ciências).
Entretanto, percebe-se que a carência vivenciada pelo aluno se refere também
ao aspecto afetivo, que em alguns momentos os sujeitos se reportam, em seus discursos, às
difíceis condições de convivência com seus familiares.
[...] No cotidiano, a grande maioria dos nossos alunos não encontram facilidades. Os
alunos sem medo de errar não tem facilidades. Eles, não conhecem o pai, não tem
mãe, mora com a avó, os pais são separados. Ou o pai briga pela filha, é angustiante.
(feminino, 37 anos, professora de educação artística).
[...] tem aquela parte em que é dos alunos carentes, que às vezes o pai e a mãe saem
para trabalhar, e vem de manhã para a escola, e a tarde fica sozinho em casa ou na
rua. (masculino, 28 anos, professor de geografia).
80
Em consulta à pesquisa de Silva (2004) pode-se constatar, segundo os
professores por ela entrevistados, que a escola atualmente, caracteriza-se pela falta de
participação da família. Porém, a ausência dos pais na vida escolar dos filhos se justifica pela
situação econômica em que vivem, decorrendo daí um relacionamento familiar marcado pelo
conflito, de acordo com a declaração de um dos entrevistados:
Também falta um pouco de conversa entre pai e filho. A família está muito ausente
hoje. A família deixa o filho na escola e vai trabalhar. vai encontrar o filho à
noite, e quando chega o filho já está dormindo. (SILVA, 2004, p. 83).
Os aspectos abordados no Bloco A são complementados no bloco B. A
partição B1 mostrada na Figura 18 e na Tabela 4 intitulada Dificuldades no cotidiano do
aluno indica, por meio das palavras dificuldade, enfrenta, problema e familiares que a
desestrutura familiar se constitui em obstáculo na convivência e relacionamento do aluno no
seu cotidiano.
Figura 18 – Partição B1 do dendrograma da classe 1 – Dificuldades no cotidiano do aluno
B1
81
Tabela 4 – Palavras características da partição B1, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
dificuldade+
dificuldade, dificuldades
247.85
enfrent+
enfrenta, enfrentam, enfrentar
78.01
problema+
problema, problemas
77.94
famili+
família, familiar, famílias
52.08
mor+
mora, moram
40.48
familiares
familiares
39.00
separados
separados
35.20
vir+
vir, vira
34.46
tia
tia
25.11
dificil+
difícil, dificilmente
21.92
relaciona+
relacionamento, relacionamentos
21.34
filhos
filhos
17.59
inteir+
inteira, inteiro
16.32
maior+
maior, maioria
14.63
esporte+
esporte, esportes
13.63
dos+
dos
10.96
particip+
participa, participação
9.97
Os vocábulos enfrenta, problema e familiares demonstram que, para os
professores, as desavenças familiares com que os alunos se deparam em casa são causadas
por questões econômicas, sociais e afetivas. Devido a isso, passam a apresentar uma baixa
valorização pessoal e atitudes negativas, chegando até mesmo a desacreditarem de si
mesmos.
[...] existe também a dificuldade financeira que o aluno enfrenta, a carência de afeto.
(masculino, 42 anos, professor de educação física).
[...] também os alunos enfrentam em casa muita briga entre os pais. Isso facilita a
mudança de comportamento do aluno. Ele fica desestimulado, desanimado com a
vida. O aluno fica com a auto estima baixa, não acredita no seu potencial. Tem a
questão dos problemas sociais, o desemprego, a violência, e a carência afetiva.
(masculino, 51 anos, professor de ciências).
Nesse sentido, Albuquerque e Alves-Mazzoti (2003, p. 215), contribuem
explicando que: “[...] a família, convivendo com a ausência das políticas econômicas e
sociais, torna-se um espaço de conflitos”.
Pode-se perceber, nesse aspecto, que as palavras dificuldade, família, e
relacionamento, tornam-se evidentes no teor do discurso dos educadores que, os alunos, ao
se defrontarem com a desarmonia na família e se encontrarem envolvidos em atividades
82
ilícitas, tornam-se problemas para os pais. Com isso, estes transferem para o sistema escolar a
responsabilidade de administrar essa questão gerada pela desestruturação familiar.
[...] na vida cotidiana, os alunos tem inúmeras dificuldades familiares e
envolvimento com drogas. Essas são as dificuldades de casa que são direcionadas
para a escola. Existe muito aquela situação de pai e mãe vir a escola, e dizer que não
tem condições de lidar com o filho. Muitas vezes graças a Deus quando ele vem
para a escola. (masculino, 31 anos, professor de história).
Nesses excertos, os professores revelam que é difícil para os estudantes a
questão da ausência dos pais, interferindo até mesmo na convivência do aluno na escola.
Declaram ainda que os adolescentes sofrem com a atual mudança de estrutura
familiar e com a falta de uma ligação afetiva mais próxima com os pais.
[...] os pais são separados, ou fica o dia inteiro fora, não dão atenção e não
acompanham os filhos todos os dias. Então, por eles já não terem um bom
relacionamento em casa, não conseguem ter um relacionamento em grupo, na
escola. ( feminino, 41 anos, professora de história).
[...] eles reclamam muito essa questão do deslocamento. Os alunos têm também
dificuldade de relacionamento familiar. Ele mora com o pai, mora com a tia, e ainda
a tia bate. (masculino, 48 anos, professor de ciências).
[...] são poucos alunos que acabam tendo diálogo franco com professor. O
relacionamento familiar da maioria não é bom ou é com o pai, ou com a mãe ou com
o tio. (masculino, 40 anos, professor de geografia).
Os pais podem desempenhar um papel influenciador na vida dos filhos. Nesse
sentido, Yoshida (l998) explica que, nas relações familiares, é importante destacar a conduta
dos pais diante dos filhos e definir sua função.
Os papéis familiares levam como bagagem papéis afetivos (atitudes baseadas em
emoções como amor, ternura, um pouco de raiva, contentamentos, esperanças etc.),
papéis sociais (comportamentos profissionais, produtivos, segurança, participação
social, consciência política etc.), papéis intelectuais e culturais (comportamentos que
desenvolvam o eu com saber e sabor). (YOSHIDA, 1998, p. 238).
Exibida na Figura 19 e Tabela 5, a partição B2, denominada A família do aluno
agrupa as palavras pai, casa, mãe, diálogo complementando essa questão ao revelarem a
dificuldade que os alunos encontram em manter uma boa convivência familiar.
83
Figura 19 – Partição B2 do dendrograma da classe 1 – A família do aluno
Tabela 5 – Palavras características da partição B2, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
pai+
pai, pais
278.92
cas+
casa
202.51
mae+
mãe
91.61
vem
vem
37.05
dialog+
diálogo
34.08
alun+
aluno
33.97
filh+
filho
33.29
separ+
separou, separado
30.15
irmao+
irmão
29.08
deix+
deixa, deixar, deixam
24.74
trabalh+
trabalho, trabalhar, trabalham, trabalha
22.45
ajud+
ajuda, ajudar
21.15
tarefa+
tarefa
20.64
consegu+
consegue, conseguem
15.14
reclam+
reclamam, reclamando, reclamar
11.32
tempo+
tempo
11.27
cansado+
cansados
9.69
cheg+
chega, chegar, chegam
8.43
vez+
vez, vezes
6.61
No grupo de palavras dessa partição, destacam-se os vocábulos mãe, pai, e
casa, apontando para a situação dos alunos em relação à família. A instituição familiar em
muitos lares, encontra-se desestruturada devido ao rompimento no relacionamento dos
B2
84
pais, e também pela ausência destes na vida dos seus filhos, como mostram os seguintes
excertos:
[...] você encontra aluno muito carente, de afeto, de tudo. Ele chega em casa às vezes
é uma decepção. Muitas vezes a mãe separou, casou de novo, ou vice versa.
(masculino, 39 anos, professor de educação física).
A maior dificuldade dos alunos é o relacionamento com os pais em casa. Porque o
pai é separado da mãe, ou porque a mãe trabalha o dia todo fora. (feminino, 42 anos,
professora de português).
[...] quando a gente pede um trabalho para fazer em grupo até fazem. Às vezes os
alunos chegam em casa e os pais trabalham fora, tem essa vida corrida, não tendo
tempo para parar com o filho e verificar a tarefa. (masculino, 43 anos, professor de
história).
Nos fragmentos de fala dos professores transcritos a seguir, os vocábulos
irmão, diálogo e reclamam expressam que, influenciados pela desagregação familiar, os
alunos manifestam insatisfeitos com seus pais, principalmente pela falta de atenção e
demonstração de carinho:
[...] muitos deles reclamam, e vem muita carga para cima da gente. Geralmente eles
reclamam dos pais que não dão atenção. Que os pais não gostam deles, mais por
falta de diálogo. (feminino, 50 anos, professora de português).
[...] hoje, por exemplo, uma aluna trouxe um irmão menor com ela, porque não tinha
com quem deixar. A mãe teve que sair para trabalhar, o pai saiu para trabalhar e o
pequeno ia ficar em casa. (feminino, 48 anos, professora de inglês).
Nesse contexto é fundamental observar que os alunos confrontam-se com
obstáculos sócio-econômicos e afetivos que os levam a sentirem, em seu cotidiano, carência
emocional e física. Isso decorre, provavelmente, da desagregação familiar, da falta de
alimentação e das precárias condições do lugar onde vivem.
Zagury (2000, p. 96) completa explicitando que: “A família tem importante
papel não somente em relação à educação como no que se refere à parte emocional, afetiva do
adolescente”. A autora destaca ainda a importância da harmonia familiar, para que o
adolescente tenha um desenvolvimento saudável em todos os aspectos.
Na análise do Bloco A, que trata das Dificuldades sócio-econômicas do aluno,
os professores revelam a desestrutura financeira e a defasagem salarial em que vivem as
85
famílias dos adolescentes das escolas públicas visitadas. Isto interfere no cotidiano dos
alunos, fazendo-os se sentirem privados de participarem das atividades escolares e sociais em
seu meio.
Devido ao fato de muitos estudantes viverem em situação de pobreza,
socialmente excluídos, eles demonstram preocupação em trabalhar para obter seu próprio
meio de subsistência e tornarem independentes. Provavelmente, a falta de estrutura financeira
também está relacionada com o local onde os alunos vivem, pois esta condição leva-os a
compreenderem a escola como um local onde poderão manter contato com os colegas, como
espaço de lazer e socialização.
Para os professores, os alunos representam as dificuldades na sua vida
cotidiana, através da pobreza, desestrutura familiar e o desemprego, entre outros fatores.
Em seguida, no Bloco B, denominado Fatores sociais que interferem na
convivência familiar do aluno, revelam-se os empecilhos encontrados pelos alunos em sua
convivência familiar. Para os professores, os alunos se sentem desmotivados na escola
porque, em casa, se deparam com desavenças familiares, causadas, geralmente, por questões
econômicas, sociais e afetivas. Além da desmotivação, baixa auto-estima, carência afetiva e
impotência diante da sua realidade seriam as conseqüências das dificuldades constituintes dos
fatores que influenciam, negativamente, a vida escolar dos alunos.
Os professores constatam que os alunos representam a desagregação familiar e
a ausência dos pais devido ao trabalho, na insatisfação demonstrada em relação à falta de
diálogo, de atenção e de carinho no ambiente familiar.
Na seqüência apresenta-se a classe cinco, interligada a esta, de acordo com
estrutura mostrada no dendrograma, Figura 13.
86
3.1.2 Classe 5 – A imagem escolar do aluno
Conectada à classe um, essa classe expressa um índice de 10,55% de
aproveitamento, o que representa 155 UCEs da sua composição, sendo que foram
classificadas 92 palavras. Foi assim denominada por conter, em seu teor, a imagem escolar
que o aluno demonstra na sua atitude frente às preocupações e às despreocupações
demonstradas com o ensino-aprendizagem no cotidiano.
Na Figura 20, o dendrograma dessa classe versa sobre o ponto de vista dos
sujeitos, configurado em dois blocos, A e B. O primeiro bloco subdivide-se em duas partes
(A1 e A2), ao passo que o segundo bloco também se bipartiu (B1 e B2).
Pela denominação dessa classe, verifica-se que o discurso dos professores é
permeado por fatores que influenciam o contexto social e familiar do aluno.
87
Figura 20 – Dendrograma da classe 5
BLOCO A
ALUNO NO
CONTEXTO
ESCOLAR –
APRENDIZAGEM E
APROVAÇÃO
IMAGEM ESCOLAR DO
ALUNO
BLOCO B
PREOCUPAÇÃO
COM O CONTEXTO
ESCOLAR E
DESPREOCUPAÇÃO
COM O ENSINO-
APRENDIZAGEM
88
Conforme a Figura 20, o Bloco A mostra o pensamento dos educadores sobre a
situação dos alunos no espaço escolar. Esses sujeitos apontam que os alunos não se
preocupam com os estudos e também com o seu futuro. Os adolescentes demonstram
apenas estar preocupados em não serem reprovados no final do ano. O bloco B também
trata da despreocupação dos alunos com o contexto escolar e com o conteúdo ensinado,
porém, alguns sujeitos em suas declarações, apontam a preocupação de uma pequena parte
de alunos em obter uma educação de melhor qualidade.
Na subdivisão A1, denominada Aprendizagem e avaliação, exibida na Figura
21 e Tabela 6 as palavras aprendizagem, futuro, aprovado, e reprovado, destacam as falas dos
educadores sobre a preocupação dos alunos com os resultados do processo avaliativo e
despreocupação destes com o conteúdo ensinado, ou ainda, com o que possa vir a ocorrer na
sua vida escolar.
Figura 21 – Partição A1 do dendrograma da classe 5 – Aprendizagem e avaliação
A1
89
Tabela 6 – Palavras características da partição A1, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
aprendiz+ aprendizado, aprendizagem
106.58
futuro futuro
69.19
aprovado+ aprovado, aprovados
68.15
direito+ direito, direitos
42.52
janela+
janela, janelas
42.52
reprov+ reprovado, reprovar
42.08
parec+ parece, parecem
33.55
sistema sistema
19.42
tir+ tirar
11.14
depend+ depende, dependência
9.47
conheci+ conhecimento
8.95
acompanh+ acompanhar, acompanhando, acompanhava
8.32
diz+ diz, dizem, dizer
7.47
fin+ final, finais
7.33
As palavras aprendizagem e futuro indicam que, do ponto de vista dos sujeitos,
os alunos manifestam não possuírem perspectivas de crescimento pessoal, priorizando apenas
o que estão vivenciando no momento. Nesse sentido, demonstram que não estão interessados
em aproveitar os conhecimentos disponibilizados pela escola os quais, provavelmente seriam
de grande utilidade em suas vidas, como analisam estes professores em sua fala:
Os alunos na vida escolar parecem não se preocupar com o futuro, com o agora.
Não tem a visão de futuro. O que vale para ele é o agora. (masculino, 51 anos,
professor de ciências).
Não estão preocupados com o futuro escolar deles dentro de uma faculdade. Os
alunos parecem que não se preocupam e nem estão levando muito a sério é a
aprendizagem em si mesmo. (feminino, 40 anos, professora de português).
Na vida escolar os alunos não se preocupam com o aprender, o conhecimento. Eles
não se preocupam, que da aprendizagem dele depende o seu futuro. Não aproveitam
a oportunidade de aprender para colocar em prática na sua vida. (masculino, 42
anos, professor de educação física).
Contrapondo-se a essas falas, Pécora (2003) pesquisando jovens estudantes de
escolas públicas de Cuiabá apresenta resultados demonstrando que, os alunos revelam a
importância do estudo para ser alguém na vida, possivelmente para obter ascensão social e um
futuro promissor.
90
Complementando a discussão anterior, os vocábulos aprovado e reprovado
sugerem que os alunos desejam somente ser considerados aptos no fim do ano. Segundo os
professores entrevistados, os adolescentes parecem acreditar que a avaliação escolar é
desnecessária, tendo em vista que somente se preocupam em mudar de nível e, por
conseguinte, não conseguem enxergar a importância real da aprendizagem em suas vidas:
[...] os alunos na vida escolar manifestam suas preocupações com a aprovação. Eles
querem mesmo é passar de ano, acabar logo. É mais querer ser aprovado e só. Eles
querem ver se tem nota para passar de ano. (feminino, 38 anos, professora de
português).
Na vida escolar, os alunos parecem não se preocupar com a própria aprendizagem.
Eles não se preocupam em adquirir conhecimento para a sua vida pessoal, estão
sempre achando que no final do ano tudo vai dar certo. Pensam que se fizer um
trabalho, uma atividade, estão aprovados. (feminino, 36 anos, professora de
matemática).
[...] quer dizer, não pode reprovar, dar nota baixa. Eles estão de um jeito que tem
direitos e poucas obrigações. Os alunos não se preocupam com a escola. (feminino,
43 anos, professora de matemática).
Porém, é preciso salientar que avaliação, no sistema educacional, é um recurso
utilizado para verificar a qualidade da aprendizagem do aluno quanto à compreensão de
conteúdos, hábitos e habilidades ensinadas, e não apenas como uma ferramenta para
aprovação ou reprovação.
Zagury (2002, p. 162) explica que: “[...] A reprovação realmente frustra o
aluno, [...] o ideal, o sonho de todos, incluindo os próprios alunos, é progredir e a aprovação é
um atestado de progresso, não resta dúvida. Por isso, ninguém ‘gosta’ de ser reprovado”.
De acordo com Brasil (2001, p. 81), os PCNs determinam que a avaliação
deveria ser para os alunos “[...] o instrumento de tomada de consciência de suas conquistas,
dificuldades e possibilidades para reorganização de seu investimento na tarefa de aprender”.
Seguindo a reflexão levantada na subdivisão anterior, a partição A2, Contexto
Escolar, mostrada na Figura 22, e a Tabela 7 apresentam os vocábulos estudar, nota, quer, e
patrimônio, que reforçam as opiniões dos docentes sobre o desinteresse dos alunos para com
o aprendizado e também com os bens que a escola possui.
91
Figura 22 – Partição A2 do dendrograma da classe 5 – Contexto escolar
Tabela 7 – Palavras características da partição A2, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
estud+ estuda, estudando, estudar, estudo, estudou
155.87
not+ nota
106.55
quer+ quer, querem, querer
44.89
patrimônio patrimônio
42.52
lanche lanche
42.52
cobranca+ cobrança
30.19
aula+ aula, aulas
26.18
divers+ diversão, diversões
22.99
brinc+ brincam, brincando, brincar
17.06
atividade+ atividades
16.78
val+ vale, valer
16.59
merend+ merenda
16.59
educ+ educação
15.58
fisica+ fisica
11.14
quadr+ quadra
10.81
saem saem
8.32
part+ parte
6.79
As palavras estudar e querer apresentam-se interligadas entre si, indicando
que, para os educadores, muitos estudantes demonstram não serem dedicados e nem
responsáveis com o processo de ensino e aprendizagem, deixando transparecer que são
influenciados por colegas descompromissados com os estudos. Conforme declararam os
professores, a imposição dos pais é o principal motivo para que a maior parte dos alunos
A2
92
freqüente a escola:
A única coisa que ele tem que fazer é estudar e ele não faz, porque não existe uma
cobrança. Então, para o aluno fica fácil, ele estuda a hora que ele quer, assiste o que
ele quer, eles vêm na hora que ele quer. (feminino, 47 anos, professora de
matemática).
[...] porque aqueles alunos que não tem comportamento atrapalham os que são
comportados e que querem levar o estudo mais a sério. Eles trazem esse
comportamento para a sala de aula e, às vezes, até contaminam a sala com certas
brincadeiras, tornando a aula mais difícil. (feminino, 48 anos, professora de inglês).
Os alunos nas situações da vida escolar são despreocupados. Eles não têm um
compromisso com a escola, com o estudo. A maior parte deles está aqui porque o
pai quer que ele esteja na escola. (feminino, 47 anos, professora de português).
A falta de interesse mostrada nos excertos acima parece ser comum na
adolescência, período em que ocorrem diversas transformações na maneira de o jovem
encarar o seu entorno. Uma dessas mudanças é a forma como o adolescente passa a visualizar
o sistema escolar. Em decorrência da sua convivência com outros colegas ele passará a se
interessar por outras coisas. Zagury (2000), ao discutir esta questão esclarece que:
[...] o adolescente não quer saber de estudar, critica tudo, ‘cola’ muito, mata’ aulas
sempre que pode, não sabe o que quer etc. E, na verdade, mesmo uma certa
mudança em relação aos estudos e à escola nesta fase. Surgem novos interesses, a
criança se torna mais crítica, não aceita tão passivamente o que de errado, seja
nos professores, nos inspetores, na metodologia ou no conteúdo que lhe é ministrado
(ZAGURY, 2000, p. 34).
Além desses aspectos, os vocábulos nota e cobrança apontam, nos discursos
dos professores, que a maioria dos alunos se interessa apenas em obter a média escolar, pois
somente estudam quando se vêem obrigados. Novamente, o interesse do aluno pelo resultado
da aprendizagem é apresentado como foco, reforçando o que foi apresentado na partição
anterior, Bloco A1.
[...] um desinteresse por parte da maioria dos alunos. Esses alunos não m muita
preocupação em estudar, é mais através de cobrança mesmo. A única preocupação
maior dos alunos da sétima e oitava serie é com a nota. Tudo que a gente vai fazer,
qualquer atividade, mesmo uma conversa informal, eles querem saber quanto que
vale. (feminino, 42 anos, professora de português).
[...] está fácil para ele. Cobrança aqui na escola, o aluno vai ver se atende ou não, de
acordo com a necessidade da nota que ele está precisando. (feminino, 47 anos,
professora de português).
93
O aluno também preocupa muito com a nota. Ele não faz atividade na sala buscando
o que vai ter de conhecimento. Ele quer saber apenas se a atividade vai valer nota.
(masculino, 39 anos, professor de educação física).
Outra situação em que o desinteresse do aluno é enfocado diz respeito à
preservação dos bens blicos. Quanto a isto, as palavras patrimônio e quadra apresentam
uma correspondência entre si, revelando, na fala dos professores, que os estudantes
demonstram pouco ou nenhum desejo de conservar a escola e os bens que nela ainda existem:
Na vida cotidiana, percebo que os alunos não se preocupam com a escola, pela
carência financeira deles, pois são todos de baixa renda. Eles m essa questão de
não estar cuidando, preservando o patrimônio. (masculino, 34 anos, professor de
ciências).
Não se preocupam em preservar o patrimônio. Eles depredam a escola e seus
equipamentos. (feminino, 41 anos, professora de educação física).
[...] eles estão achando que por ser a escola do governo, entram e saem. Eles não se
preocupam pensando que, não precisam limpar a escola. E, não precisam ajudar a
manter o patrimônio. Estão despreocupados com a escola. Às vezes, a gente fala
para os alunos para ajudar a manter a escola limpa, fazendo um mutirão. (feminino,
28 anos, professora de ciências).
No segundo bloco, a partição B1, Figura 23 e Tabela 8, denominada
Preocupações na escola, sobressaem as palavras preocupação, escola, vida e alunos
revelando, nas falas dos professores, que os alunos não demonstram preocupação com o
cotidiano escolar.
Figura 23 – Partição B1 do dendrograma da classe 5 – Preocupações na escola
B1
94
Tabela 8 – Palavras características da partição B1, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
preocup+ preocupa, preocupação, preocupam, preocupar;
291.97
escol+ escola, escolar, escolas
236.89
vida+ vida
173.58
alunos alunos
36.00
As palavras preocupação, escola e vida apresentam uma ligação entre si e se
complementam, expressando, nos discursos dos professores que grande parte dos alunos
revela uma despreocupação com a sua vida acadêmica. Nos excertos a seguir, a palavra
preocupação aparece precedida pelo advérbio não, indicando assim a falta de interesse dos
alunos com o cotidiano no contexto escolar:
[...] Na vida escolar os alunos demonstram não se preocupar com os estudos.
(feminino, 43 anos, professora de matemática).
[…] na vida escolar percebo que os alunos não tem muita preocupação com a
aprendizagem. A única coisa que eles se preocupam é com a nota. (feminino, 62
anos, professora de ciências).
[...] não existe a preocupação em estar aprendendo. A situação da vida escolar com
as quais os alunos parecem não se preocupar é com o conhecimento, eles não
buscam, de forma alguma. (feminino, 40 anos, professora de português).
Quanto à despreocupação do aluno, Salles (l998, p. 99) afirma em seus estudos
que: “[…] Nesse contexto representacional, o significado atribuído à escola e aos estudos,
componentes presentes nessa representação social, reafirma a imagem de que o adolescente
não se preocupa com nada e que não têm objetivos”.
Todavia, a Figura 24, partição B2, intitulada Preocupação com a formação
escolar, e a Tabela 9 contrapõe a esse discurso através das palavras ensino, conteúdo, e
aprender denotando as inquietações de partes dos alunos a respeito do processo de ensino e
aprendizagem no contexto escolar.
95
Figura 24 – Partição B2 do dendrograma da classe 5 – Preocupação com a formação escolar
Tabela 9 – Palavras características da partição B2, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
ensin+ ensinado, ensino
88.84
conteudo+ conteúdo, conteúdos
75.44
aprend+ aprendem, aprender, aprendeu
58.08
manifest+ manifestam
52.33
Preocupados preocupados
47.23
Qualidade qualidade
42.52
Preocupações preocupações
37.67
atrapalh+ atrapalham, atrapalhando, atrapalhar
33.80
compromisso+ compromisso
27.61
Violência violência
22.60
espaco+ espaço, espaços
16.59
cobr+ cobram, cobrar, cobraram
15.61
Cento cento
12.40
As palavras ensino e qualidade, interligadas entre si, mostram, na fala dos
professores, que alguns alunos exigem da escola e dos educadores aulas com um bom padrão
de qualidade, bem elaboradas, motivadoras e que os professores sejam mais atuantes:
Os alunos preocupam com a qualidade do ensino, muitas vezes cobram muita a
presença do professor na acepção da palavra. (feminino, 50 anos, professora de
filosofia).
B2
96
Então, eles querem, na verdade uma escola equipada para melhorar a qualidade de
ensino. Os alunos preocupam, quando dizem que eles gostariam que a escola fosse
mais aberta para a problemática que o jovem tem hoje. (feminino, 31 anos,
professora de ciências).
Infere-se dessa análise que o aluno possui uma capacidade crítica ao
argumentar que a escola realmente necessita melhorar suas práticas pedagógicas. Zagury
(2000) esclarece que:
O grande desafio da escola hoje é sem dúvida conseguir conquistar a atenção e a
motivação da criança e do jovem para o estudo. [...] ‘Não basta professores com
bom conteúdo... queremos aulas motivadoras, atraentes’. (ZAGURY, 2000, p. 55-
60).
Destaca-se, nessa partição, o discurso de um grupo de professores que
apresentam opiniões divergentes. Alguns docentes afirmam ver nos alunos interesse por uma
escola de qualidade, equipada para oferecer o que é necessário à aprendizagem; já outros
sujeitos expressam através das palavras aprender e conteúdo, que os estudantes demonstram
falta de compromisso em assimilar os assuntos tratados na sala de aula e que muitos não
conseguem visualizar a importância da educação formal, como confirmam os fragmentos
abaixo:
A preocupação dele mesma é com a nota, e não com o aprender, com o conteúdo. Na
vida escolar, os alunos não se preocupam com conhecimento em si. (feminino, 36
anos, professora de português).
[...] os alunos querem muito brincar, estão na adolescência, na efervescência da
idade, bem jovem quatorze, treze anos. Eles não estão preocupados com o conteúdo,
se precisam dele em casa, não tem noção da vida. Eles não m preocupação na vida
escolar. (feminino, 34 anos, professora de história).
Em decorrência disso, parece que, para o estudante, o teor do que é ensinado na
sala de aula não tem significação para a sua formação escolar enquanto sujeito social. Essa
constatação, porém, não corresponde totalmente à visão dos alunos pesquisados por Zagury
(2000). Na sua pesquisa, a autora constatou que os discentes pesquisados se contradizem
quanto ao conteúdo ministrado na escola. Para a maioria deles, o conteúdo escolar se constitui
de coisas úteis e inúteis, e apenas uma pequena parte aprova inteiramente o conteúdo
ministrado na escola.
97
Pelo exposto no Bloco A, os professores identificaram que, para os alunos, a
aprovação no final do ano e as notas atribuídas às atividades avaliativas sobrepõem à
importância de conhecimentos oferecidos pela escola para sua vida futura. Demonstrando
nesse sentido, uma despreocupação com a aprendizagem em relação a sua formação.
Evidencia-se também que os alunos não se dedicam com responsabilidade aos estudos porque
estão na escola mais por imposição dos pais.
Outra questão de grande relevância apresentada pelos educadores diz respeito à
falta de interesse dos alunos em preservar o patrimônio público ao qual têm acesso. As
escolas parecem estar depredadas e em péssimo estado justamente pelo descuido daqueles que
mais a utilizam: os alunos. Atitudes de vandalismo demonstradas pelos estudantes sugerem o
desinteresse por aquilo que a escola lhes representa, segundo os professores investigados.
No Bloco B, a maioria dos professores investigados considera que os alunos
representam uma imagem negativa do compromisso destes com o patrimônio escolar e com o
processo ensino e aprendizagem. Em contrapartida, uma pequena parcela de docentes afirma
que os estudantes estão desejosos de uma escola estruturada, organizada cujo ensino de
melhor qualidade corresponda as suas expectativas de vida.
3.1.3 Classe 2 – AIDS: temor e contágio para os alunos
A classe dois, composta por 413 UCEs, expressa um aproveitamento de
21,80%, correspondendo a 117 palavras analisadas. Nesse aspecto, esta classe é a que mais
representa o conteúdo do material verbal pesquisado. Assim, é importante ressaltar que, a
partir desta classe e as demais se referem ao objeto aqui estudado.
98
O dendrograma a seguir, Figura 25 desta classe, apresenta-se dividido em dois
blocos A e B. No primeiro bloco verificam-se duas partições (A1 e A2), enquanto que o
segundo exibe duas divisões (B1 e B2).
O discurso que abarca esta classe revela, nas vozes dos professores, os
sentimentos e as reações dos alunos frente a AIDS.
99
Figura 25 – Dendrograma da classe 2
BLOCO A
ORIENTAÇÃO E
PREVENÇÃO
BLOCO B
AIDS, DOENÇA TEMIDA
AIDS: TEMOR E
CONTÁGIO
100
Observando a subdivisão A1, nomeada Comportamento dos jovens frente a
AIDS, Figura 26 e Tabela 10, a partir das palavras doença, AIDS, camisinha, verifica-se que a
temática se refere ao que pensam os alunos sobre a AIDS e o meio de prevenção, segundo os
professores.
Figura 26 – Partição A1 do dendrograma da classe 2 – Comportamento dos jovens frente a AIDS
Tabela 10 – Palavras características da partição A1, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
doenca+ doença, doenças
147.09
aids aids
87.25
vai vai
65.18
camisinha+ camisinha, camisinhas
40.94
pod+ pode, podem, podia
34.70
mostr+ mostra, mostrar, mostram, mostrando
31.07
acontec+ acontece, acontecer, aconteceu
26.00
tiv+ tiver, tiverem, tivesse
24.33
vou vou
13.90
faz+ faz, fazem, fazer
9.05
ach+ acha, acham, achar, acho, achando
8.97
Os vocábulos doença e AIDS, que se destacam, inicialmente nesta partição,
revelam, na fala dos professores, a visão dos alunos sobre essa enfermidade. Para os
adolescentes, essa síndrome é considerada uma doença sem perspectiva de tratamento
definitivo, de conseqüências letais. Isto se confirma pela caracterização atribuída a esse mal
A1
101
como incurável e temeroso para os estudantes. Depreende-se daí o desconhecimento das
formas de terapia proporcionadas gratuitamente.
[...] eles não vêem a AIDS como uma doença que futuramente pode ser curada. Se
pegar morreu mesmo. Eles tem medo da AIDS, que não tem cura. Os alunos não
conhecem todos os tratamentos que são feitos gratuitos e que não pode ser
interrompido. (feminino, 28 anos, professora de ciências).
No entanto, o fragmento a seguir consta que, ultimamente, os adolescentes
estão mais informados sobre a AIDS, pois têm noção de que se trata de uma enfermidade
contagiosa e letal.
[...] eles estão conhecendo o que é a AIDS a partir destes tempos para cá. Eu acho
que, a visão que eles m é de uma doença assim mortal que, se a pessoa contraiu,
está morta. (feminino, 30 anos, professora de português).
Para Pagan (2004), os discentes quando revelaram o que pensam sobre a
AIDS, a maioria afirmou que, para eles, é uma doença de caráter incurável. Estas afirmações
parecem estar ligadas ao desconhecimento a respeito dos meios de transmissão da síndrome.
Percebe-se que, apenas a metade citou possuir conhecimentos da formas de transmissão do
vírus e do seu caráter fatal e incurável.
Dando continuidade nesta análise, observa-se que a palavra camisinha aparece
segundo os professores, elucidando que os alunos, por estarem no auge de sua juventude, na
busca de auto-afirmação, não priorizam o uso do preservativo e, consequentemente, não
refletem sobre possíveis riscos à sua saúde. Isso possibilita compreender que esses
adolescentes se sentem imunes a essa doença, como se ilustra no excerto a seguir:
[...] se eles tiverem que transar, vai transar sem camisinha. Isso é uma coisa remota
para eles. Está para frente, se tiver que acontecer vai acontecer mesmo.
(masculino, 27 anos, professor de ciências).
Conforme Lage (1998), mais da metade dos alunos por ela pesquisados
mostraram nas suas respostas que possuem conhecimento acerca da contaminação da AIDS.
Para eles, o contágio advém, principalmente, via relação sexual e destacam a necessidade da
prevenção pelo uso da camisinha.
102
Nesse sentido Pagan (2004), constata que, para seus entrevistados, é evidente e
consciencioso que o desuso do preservativo é o meio mais comum de adquirir a AIDS.
Grande parte reconhece que a utilização da camisinha em todas as relações sexuais é
fundamental para evitar a própria infecção.
Todavia, a partir dos dados obtidos das entrevistas com os professores, estes
acreditam que o uso da camisinha não é considerado prioridade para se evitar a contaminação
do vírus HIV. Por isso, ancoram o desuso do preservativo na concepção de que eles não estão
sujeitos em contrair a AIDS.
Prosseguindo a análise, observa-se a partição A2 denominada Conhecimento e
ações para prevenção, Figura 27 e Tabela 11 que mostram as palavras vírus, pessoa, curso e
transmissão, referente ao procedimento didático do professor em sala de aula ao tratar o tema
AIDS.
Figura 27 – Partição A2 do dendrograma da classe 2 – Conhecimento e ações para prevenção
A2
103
Tabela 11 – Palavras características da partição A2, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
vírus vírus 116.77
pesso+ pessoa, pessoal, pessoas 103.24
curso+ curso 47.19
transmiss+ transmissão, transmissível 44.41
discrimin+ discriminação, discriminada, discriminados 33.61
tratamento+ tratamento, tratamentos 26.93
ato+ ato 23.41
corr+ corra, corre, correm, corremos, correr 21.98
infectad+ infectado, infectadas 21.48
dev+ deve, devem 21.26
engravid+ engravida, engravidar 19.86
primeira+ primeira 18.02
parceiros parceiros 16.74
adquir+ adquire, adquirir, adquiriu 16.56
parceir+ parceira, parceiras, parceiro 16.52
risc+ risco 14.09
mant+ mantém, manter 13.61
prazer+ prazer, prazerosa, prazeroso 13.61
contrai contrai 13.26
fato+ fato, fatos 7.46
estej+ esteja, estejam 6.90
for+ for, forem 6.84
explic+ explica, explicamos, explicar 6.43
Nota-se que as palavras vírus e pessoa destacam-se nesta subdivisão,
indicando, nos discursos dos sujeitos, que os alunos demonstram muitas dúvidas em relação a
AIDS, principalmente no que se refere ao agente infeccioso causador da doença. Os
depoimentos a seguir confirmam:
[...] ficam preocupados se uma pessoa que está contaminada pelo vírus pode beijar,
beber água no mesmo copo, se pode ser amigo, se pode abraçar. E quanto tempo
leva a doença para manifestar. Os alunos acham que por ser a primeira relação, não
vão engravidar, não vão ser contaminados com nada, não vão pegar doença
nenhuma. (feminino, 42 anos, professora de português).
[...] como o vírus trabalha no organismo? Por que nossas células de defesas não
reagem contra o vírus? Por que o vírus mata as células de defesa? Qual é a duração
do indivíduo? Quais são os primeiros sintomas? Com quem adquiriu a AIDS? Se ele
mantiver relação sexual com outra pessoa, abraçar, beijar ele vai pegar a AIDS?
(masculino, 34 anos, professor de ciências).
Tura (1997) ao tratar sobre as dúvidas dos alunos em relação a AIDS,
encontrou como resultado respostas classificadas em dois grupos: relação do sujeito com a
síndrome, e relação dos sujeitos entre si. Quanto à relação do sujeito com a síndrome,
104
permearam questões relativas à origem do HIV, ao quadro clínico, ao diagnóstico da doença,
ao tratamento, à evolução e à prevenção em geral.
A respeito da relação dos sujeitos entre si, surgiram dúvidas referentes à
relação interpessoal como: sujeitos da transmissão do vírus, formas de contaminação em
geral, formas de prevenção pessoal, atitudes em relação ao portador e à doença em si.
Percebe-se, nessa discussão, que as dúvidas em relação ao rus coincidem
com as que se revelaram nesta análise. Segundo os sujeitos desta pesquisa, os
questionamentos dos alunos estão relacionados mais à contaminação, diagnóstico, e evolução
da doença.
Pelos vocábulos curso e dar os professores ressaltam a necessidade de
esclarecer aos alunos suas dúvidas relativas à AIDS, através de orientações planejadas,
enfatizando aspectos que se referem às formas de contaminação, para que sabendo disso
procurem evitar a doença.
[...] para dar um curso sobre a AIDS é importante abordar sobre a prevenção, porque
as pessoas sabendo como essa doença pode ser transmitida, podem ser mais
cautelosas, na hora que elas forem se relacionar com os parceiros. (feminino, 30
anos, professora de português).
[...] se fosse dar um curso sobre a AIDS abordaria mesmo que esteja muito batido, o
pessoal ainda tem vida, que se beijar na boca pega a AIDS. (feminino, 28 anos,
professora de ciências).
Quanto a essa orientação que os professores revelam ser importante
proporcionar aos alunos, Gonçalves (2002), em sua pesquisa Formação dos Professores e
Prevenção à AIDS, revela que, quanto à abordagem desse tema em sala de aula, é preciso
levar em conta a preparação do professor. Para lidar com os problemas do adolescente é
necessário que os docentes busquem cursos de formação continuada para ampliar seus
conhecimentos e, assim, ter condições de proporcionar melhores informações a seus alunos.
Desta forma, será possível discutir os temas transversais previstos nos PCNs com mais
propriedade.
105
A palavra transmissão que complementa a explanação anterior ressalta, nas
falas dos sujeitos, a importância também de orientar os alunos sobre as formas de propagação
do vírus HIV, bem como os meios para evitar a doença.
A gente bate muito nessa questão da prevenção. Fala sobre todos os tipos de
doenças, inclusive a AIDS, sobre os sintomas, o modo de transmissão, e se ele não
cuidar pode adquirir a doença. (feminino, 44 anos, professora de ciências).
[...] falar da AIDS é importante enfocar sobre as formas de transmissão da AIDS,
como se adquire. Os cuidados que devem ser tomados para tratar da doença.
(feminino, 28 anos, professora de geografia).
Essas justificativas apresentadas pelos professores, para se trabalhar o tema
AIDS em sala de aula estão contempladas nos PCNs:
O momento mais propício para se abordar esse tema é quando algo a ele referente é
trazido pelos próprios alunos ou é vivido por aquela comunidade escolar. Se isso não
ocorrer, o professor deve abordar a questão. Também aqui se faz particularmente
importante o levantamento do conhecimento prévio dos alunos sobre as doenças
sexualmente transmissíveis e sobre a AIDS, pois constata-se a existência de um
grande volume de informações errôneas e equivocadas. (BRASIL, 2001, v.10, p.
148).
Pode-se inferir pelo exposto que os professores percebem, entre os alunos, uma
incerteza em relação aos fatos existentes sobre a AIDS e, através de cursos propõe esclarecer
as dúvidas, enfocando principalmente as formas de contágio.
Na partição caracterizada como B1 e intitulada Reações e efeitos diante da
AIDS, Figura 28, Tabela 12, elegem-se as palavras morrer, medo, aidético, contrair e
preconceito como as mais representativas e que mostram como conteúdo, o sentimento de
grande inquietação e temor apresentados pelos alunos a respeito da AIDS.
106
Figura 28 – Partição B1 do dendrograma da classe 2 – Reações e efeitos diante da AIDS
Tabela 12 – Palavras características da partição B1, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
morr+ morre, morrem, morrer, morreu 72.72
med+ medo, médico 45.17
aidet+ aidética, aidéticas, aidético, aidéticos 36.55
contra+ contraem, contrair, contrairem, contraiu 26.63
preconceito+ preconceito, preconceitos 25.06
sentimento+ sentimento, sentimentos 24.91
doente+ doente, doentes 20.73
temores temores 19.86
cur+ cura, curada, curar 18.89
lugar+ lugar, lugares 16.73
mundo mundo 14.69
fulan+ fulano 12.85
cont+ contam, contar, controu 12.15
mort+ morte, mortal 12.00
conhec+ conheça, conhece, conhecem, conhecer, conheceram
11.84
deu+ Deus, deu 8.75
mesmos mesmos 6.52
nel+ nela, nele, neles 6.52
Do ponto de vista de alguns sujeitos, pode-se perceber pelas palavras morrer e
mundo que se encontram interligadas entre si, que parte dos alunos vêem a AIDS apenas
como mais uma das enfermidades comuns no seu cotidiano. Decorre daí a despreocupação
com as conseqüências letais provenientes dessa enfermidade. Além disso, para os estudantes,
a síndrome é um mal que eles não estão sujeitos a adquirir.
B1
107
É mais uma doença. É normal, não preocupação. Se pegar, pegou, se morreu,
morreu. A AIDS enquanto não bate na porta, todo mundo acha que acontece com
os outros. (masculino, 51 anos, professor de ciências).
Por outro lado, nos depoimentos em que as palavras medo e temores aparecem,
revelam a opinião de outra parte de professores quanto ao sentimento dos alunos em relação a
AIDS. Está claro, na visão dos docentes, que para os adolescentes, essa síndrome se constitui
como um mal muito temido, principalmente no que se refere ao processo de adoecer e morrer,
tendo em vista que estes são conscientes de que se trata de uma doença incurável.
[...] podem viver mais uns dias, mas eles sabem que não tem cura. As inquietudes e
os temores em relação a AIDS que os alunos têm é o medo de pegar a doença.
(masculino, 52 anos, professor de história).
Em relação a AIDS, os temores dos alunos é que todo mundo tem medo de morrer.
(feminino, 47 anos, professora de matemática).
Segundo Thiengo (2000) um dos resultados de seu estudo aponta que, para os
adolescentes entrevistados a AIDS está associada à morte, a uma fatalidade que se manifesta
de forma rápida e inevitável.
Pagan (2004) corrobora, nesse sentido, ao destacar a declaração de um
estudante que remete à imagem de um portador de HIV ao perceber a impossibilidade de cura
é eminentemente conduzida à morte, conforme se observa no depoimento a seguir:
Porque AIDS mata né? Acho que o principal é isso. Acho que é isso mesmo.
Acho que dão prioridade pra isso, porque é uma doença chata que você precisa ficar
tomando remédio caro, pra ver se você tem mais tempo de vida. Não é certeza que
você vai sobreviver, porque ainda não inventaram uma cura pra AIDS. Você tem
que pôr na cabeça que você vai morrer, você querendo ou não. (PAGAN, 2004, p.
120).
Essa opinião também aparece nas falas dos professores aqui investigados,
que, para estes, os alunos vinculam a AIDS à uma doença incurável e que leva à morte.
Pode-se perceber que, ao referir à morte, esta se configura na doença como um
fenômeno incontestável. Em relação a AIDS considera-se como um mal nefasto, letal, que
não tem cura e, assim, a sua compreensão é formada pelo senso comum.
108
A palavra aidético complementa essa visão ao apresentar, na voz dos sujeitos,
que, entre os alunos, o sentimento de temor em relação às pessoas acometidas do vírus HIV
está relacionada à descriminação ao portador da doença.
É o medo quando eles vêem uma pessoa aidética, não seria o preconceito, mas sim o
medo, pois eles mesmos contam casos que conheceram fulano ou ficaram sabendo
de uma história de pessoas aidéticas. (feminino, 40 anos, professora de português).
Reportando-se novamente ao temor, o vocábulo contrair aparece no discurso
dos professores, revelando sentimento de preocupação dos alunos diante da possibilidade de
vir a adquirir o vírus HIV, da perspectiva de cuidados e sobrevivência, se confirmado o
diagnóstico da doença.
O temor dos alunos é o medo de contrair uma AIDS e, como vai ser minha vida?
Como é que eu vou sobreviver? Se ficar doente, quem vai cuidar de mim?
(feminino, 41 anos, professora de educação física).
Depreende-se dessas falas que prevalece, entre os alunos, significativo temor
ante o perigo, à ameaça provocada pela AIDS e o mal que essa doença causa.
Com relação ao medo, Madeira (1998) explica que ao investigar sobre a reação
de seus entrevistados ao pensar sobre a AIDS, identificou nas respostas o temor em adquirir a
doença. Isso caracteriza que, nas representações sociais da AIDS para os jovens, essa
enfermidade está associada diretamente, à prevenção e ao medo. A relação da AIDS, a medo e
as formas de prevenção foi a que primeiramente se caracterizou na pesquisa realizada por essa
autora.
Assim sendo, parte dos professores percebe também que os alunos expressam
opiniões pré-concebidas em relação aos portadores da síndrome. Esse tipo de comportamento
se revela através da repulsa e da segregação externadas quando o tema é abordado na sala de
aula e na negação da possibilidade de se colocar na situação do doente.
[...] não vejo diferença no sentimento. Quando você vai lecionar em filosofia a
questão do preconceito eles mencionam a AIDS. (masculino, 51 anos, professor de
ciências).
O sentimento que os alunos demonstram é de medo da AIDS e a gente nota um
109
certo preconceito perante aquele que tem a doença. Eles acreditam que a AIDS não
tem cura. Eles nunca se colocam no lugar de quem está com a AIDS, dificilmente.
Os alunos acreditam que a AIDS é um bicho de sete cabeças. (feminino, 28 anos,
professora de ciências).
Pagan (2004), em seu estudo, também detectou manifestação de preconceito
por parte dos estudantes entrevistados, que tiveram uma tendência maior em revelar que
somente homossexual pega, prostituta pega AIDS. Infere-se, desses trechos de fala, uma
concepção de segregação e estereótipo relacionados, provavelmente, a um desconhecimento
sobre as formas de se contrair essa doença.
Fernandes (2002) revela em sua pesquisa que, os estudantes afirmaram que
existem diferenças entre quem pega e quem não pega AIDS, indicando, assim, a existência do
preconceito. Essas diferenças apresentadas como preconceito, são modificadas através de
argumentos biológicos, psicológicos e sociais, que divergem das respostas a outros
questionamentos menos evidentes.
Observa-se que, para os professores, os estudantes formalizam opiniões a
respeito da AIDS, sem procurar conhecer e refletir realmente sobre o que é a doença, seus
sintomas e o tratamento. Para os docentes, esse preconceito é conseqüência do fato de os
alunos apresentarem conhecimentos fragmentados e superficiais a respeito dessa enfermidade.
Na última partição desta classe B2, nomeada Preocupações com as formas de
contágio, Figura 29 e Tabela 13, nas palavras pega, beijo, toma e seringa versam, em seu
conteúdo, a preocupação com as formas de contaminação e as precauções relativas à AIDS.
110
Figura 29 – Partição B2 do dendrograma da classe 2 – Preocupações com as formas de contágio
Tabela 13 – Palavras características da partição B2, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
peg+ pega, pegam, pegando, pegar, pegou 174.97
beij+ beijando, beijar, beijo 57.27
tom+ toma, tomam, tomando, tomar; 40.78
seringa+ seringa, seringas 37.97
sangue sangue 36.69
organismo organismo 33.61
abrac+ abrançando, abraçar, abraço 30.13
relac+ relação, relações 28.78
contamin+ contaminação, contaminada, contaminado 24.33
transfus+ transfusão, transfusões 23.25
transmit+ transmite, transmitir, 21.98
mat+ mata,matando,matar 22.48
mão+ mão 19.93
cuidados cuidados 19.12
frequent+ freqüente, freqüentes 17.16
exame+ exame, exames 16.74
boca+ boca 14.17
remedio+ remédio, remédios 13.26
lid+ lidando, lidar 10.61
evit+ evitar, evite 9.07
pra pra 8.75
necessar+ necessárias, necessários 6.52
As palavras pegar e relação que se encontram interligadas entre si, indicam,
nos discursos dos professores, que os alunos manifestam dúvidas quanto aos meios de contrair
B2
111
o vírus HIV através do ato sexual. Isto, talvez esteja vinculado ao período de adolescência em
que se encontram, pois, nessa fase, a maioria está dando início às práticas sexuais.
[...] se acontecer a relação, vou pegar AIDS? Quando trabalhei filosofia, surgiram
algumas perguntas, como é a doença, se apertar a mão da pessoa, ela vai transmitir a
AIDS, [...] (masculino, 48 anos, professor de ciências).
Segundo Pagan (2004), a maioria dos seus entrevistados demonstrou
compreender que a via sexual é a responsável pela transmissão da AIDS entre as pessoas.
Assim, pode-se perceber que as palavras beijo e abraço, complementam a
explanação anterior, já que os sujeitos aqui investigados também revelam que os alunos
indagam sobre a AIDS, demonstrando sua inquietação quanto às formas de transmissão da
doença. Isso parece ocorrer devido ao fato de que os estudantes encontram-se no auge das
descobertas do relacionamento e dos contatos físicos com outros da sua idade.
A pergunta mais freqüente é sobre o beijo. Se a AIDS pega se beijar na boca. Se a
AIDS pode ser contraída se der um aperto de mão, um abraço. (feminino, 30 anos,
professora de português).
Por outro lado, Fernandes (2002) pesquisando alunos universitários, estudantes
de enfermagem e comunicação, constatou em seu estudo que a maioria dos seus respondentes,
quanto à transmissão do vírus HIV pelo beijo, acreditam que não se adquire a AIDS através
desse ato.
Devido a isto, as palavras tomar e cuidado apresentam nestes discursos que os
sujeitos entrevistados expressam preocupação em orientar os adolescentes visando prevenir o
mal que a AIDS causa.
Então, os alunos têm que tomar cuidado. Mostrar que no bairro deles também a
AIDS está infestada, porque essa divulgação não é feita por bairro. (masculino, 46
anos, professor de matemática).
[...] abordar também como fazer para não pegar a AIDS, todos os cuidados
necessários não só o ato sexual. (feminino, 28 anos, professora de matemática).
Nesse sentido a palavra seringa completa a idéia referente a outros meios de
transmissão da AIDS, a que os alunos estão expostos.
112
E como acontece o avanço da doença no organismo. O que realmente tem hoje em
dia para evitar a propagação da AIDS. Conhecer sobre os coquetéis. Os alunos
deveriam ter acesso como se transmite a AIDS, não pela relação sexual, como
também no sangue contaminado e das seringas contaminadas. (masculino, 39 anos,
professor de educação física).
O médico falou sobre a questão da transfusão de sangue. Pegando através das
seringas, citou os hemofílicos. E de outras maneiras que se pode pegar a doença.
(feminino, 51 anos, professora de educação artística).
Dentre os grupos de risco, aparece nesse excerto um que está muito exposto ao
contágio da AIDS: dos hemofílicos. Como eles necessitam frequentemente de transfusões de
sangue, tornam-se presa fácil do HIV, se o vírus estiver presente no sangue de algum doador
infectado por essa doença. Além desse grupo, a seringa utilizada entre dependentes de drogas
injetáveis torna-se também um instrumento de contágio impiedoso quando compartilhado no
grupo em que há uma pessoa infectada.
Foi essa a preocupação demonstrada pelos adolescentes entrevistados por Tura
(l997), quando revelaram que temem o uso de agulhas infectadas na doação de sangue,
conforme se constata neste depoimento:
Porque eles têm medo de na doação usarem seringas que foram usadas em outras
pessoas e pegarem AIDS, que nós sabemos que os jovens têm uma certa
desconfiança, não são muito bem informados sobre estes métodos. A AIDS é um
vilão para todo mundo, por causa disso m medo de doar sangue pegar AIDS
(TURA, l997, p. 119).
Por outro lado, pode-se observar que Pagan (2004, p. 140) em seu estudo
verificou que: “[...] pouco mais da metade e um terço dos jovens parecem deter informações
acerca do risco de contaminação por transfusão [...]”.
Conclui-se que, sob o ponto de vista dos professores desse estudo, parece que a
utilização da seringa, tanto na transfusão sanguínea, como quando compartilhadas entre
usuários de drogas, é um instrumento capaz de possibilitar o contágio do vírus HIV.
Retomando o conteúdo dessa classe, observa-se que no Bloco A, denominado
Orientação e prevenção, para a maioria dos professores, os alunos não vêem a AIDS como
algo que está suscetível a acontecer com eles, apesar de conhecerem a doença e considerá-la
113
incurável. Mesmo assim, os alunos não priorizam os cuidados para evitar a contaminação do
vírus.
Os docentes percebem que os estudantes trazem, para a sala de aula, suas
dúvidas referentes às reações do vírus no organismo, as formas de contaminação, evolução da
doença e propõem abordar o tema AIDS, enfocando, principalmente, as medidas necessárias
para se evitar esse mal.
O Bloco B, AIDS, doença temida, retrata, para os docentes, a representação do
aluno quanto às reações diante da AIDS, uma vez que este bloco reporta-se à concepção de
doença transmissível, incurável e fatal, que traz como conseqüências, o temor em adquirir
essa doença, em morrer e o preconceito de que é vítima o portador do vírus HIV no meio em
que vive.
Assim sendo, os professores percebem que, embora os alunos manifestem
preocupações com outras formas de transmissão do vírus HIV, prevalece as que estão
relacionadas ao ato sexual.
3.1.4 Classe 4 – AIDS: circulação da informação na escola
A classe quatro, que se encontra conectada a classe dois, apresenta um
aproveitamento de l7,70% do material analisado, compreendendo 78 palavras selecionadas e
334 UCEs em sua composição.
Conforme as classes anteriormente analisadas. Pode-se verificar que a Figura
30 do dendrograma apresenta-se também dividida em dois blocos A e B. O primeiro bloco
subdivide-se em A1 e A2 e o segundo biparte-se em B1 e B2.
114
Nessa classe, os professores apresentam um discurso a respeito da ação
educativa acerca da AIDS e das formas de como circulam as informações sobre a doença no
contexto escolar.
115
Figura 30 – Dendrograma da classe 4
AIDS: CIRCULAÇÃO DA
INFORMAÇÃO NA
ESCOLA
BLOCO A
INFORMAÇÕES E
INDIFERENÇAS
BLOCO B
PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS
116
Na partição A1, nomeada Informações, família e escola apresentada na Figura
31 e Tabela 14, destacam-se as palavras percebe, conversa, orienta e ciências retratando, nas
declarações dos professores, a falta de orientação dos pais acerca da AIDS e as ações
pedagógicas realizadas na escola.
Figura 31 – Partição A1 do dendrograma da classe 4 – Informações, família e escola
Tabela 14 – Palavras características da partição A1, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
perceb+ percebe, percebemos, percebo 61.97
convers+
conversa, conversam, conversamos, conversar,
conversas, conversassem, conversei
50.60
orient+ orienta, orientação, orientam, orientar 42.37
ciencia+ ciência, ciências 32.32
questiona+ questionamento, questionamentos 26.79
comentar+ comentarem, comentário, comentários 26.02
vieram vieram 22.31
toc+ toca, tocado, tocamos, tocar 16.03
proprios próprios 14.63
feira+ feira, feiras 13.05
tabu+ tabu, tabus 12.35
fez fez 10.31
diss+ disse, disseram, disso 9.09
viu viu 8.90
gente gente 8.49
coment+
comenta, comentam, comentando, comentar,
comentaram, comentei, comentou
7.21
sent+ sentam, senta, sente, sentem 7.19
A1
117
Nessa partição, destaca-se, inicialmente, o vocábulo percebe que se encontra
interligado a orienta e tabu. Essas palavras indicam que os professores, nos seus discursos,
observam que os alunos não recebem orientação dos pais sobre a questão da AIDS.
Provavelmente, esta omissão deva-se ao fato de que trata de um tema que está vinculado à
sexualidade. Nesse sentido, essa doença é considerada um assunto interditado no seio
familiar, em decorrência de normas, sentidos, valores e estereótipos socialmente
sedimentados.
A família orienta muito pouco. Existe um tabu muito grande na família, porque para
falar de AIDS tem que falar de sexo. (masculino, 42 anos, professor de história).
[...] percebo que a família não orienta, porque não fala sobre sexo, isso nós vemos.
Os alunos reagem ao falar sobre a AIDS, discutindo. (feminino, 47 anos, professora
de filosofia).
[...] ela fala para as coleginhas. As coleginhas acabam falando com a professora, e
pergunto se ela já conversou com a mãe. A criança diz que não conversou porque
tem vergonha. E na conversa que você fica sabendo que os pais não orientam, é
quando eles questionam muito. (feminino, 37 anos, professora de educação
artística).
Com relação a essa postura dos pais quando o tema é sexualidade, Zagury
(2000) esclarece que:
Uma das preocupações dos pais através dos tempos sempre foi a vida sexual dos
filhos. [...] É uma coisa que preocupou os pais desde sempre. que até algumas
décadas esse assunto era resolvido com uma grande dose de repressão e mantendo as
crianças e jovens no desconhecimento, na ignorância, por vezes total, sobre o
assunto. [...] Os pais não conversavam com os filhos [...] Alguns falam através de
metáforas, outros conseguem abordar apenas alguns aspectos, sentindo-se
intimidados ou despreparados para a conversa franca sobre alguns outros temas.
(ZAGURY, 2000, p. 168-169).
Em virtude da omissão dos pais na orientação acerca da AIDS, os professores
afirmam que estes passam a incumbência para a instituição educacional. Infere-se, desse fato,
que essa atribuição, indicando os docentes para sanar as dúvidas dos filhos a respeito da
enfermidade, está relacionada à crença de que estes possuem maiores conhecimentos sobre
essa doença.
[...] os filhos não tem essa orientação em casa e a responsabilidade fica para a
118
escola, para os professores orientarem sobre a AIDS. O ideal seria que os pais
também tivessem o conhecimento suficiente para poder debater sobre o assunto.
Todas as vezes que vai falar sobre o tema AIDS, o pai responde ao filho vai
perguntar para o seu professor, ele sabe. (masculino, 39 anos, professor de educação
física).
As palavras conversa e próprios complementam essa discussão, à medida que
os professores observam que na falta de orientação dos pais, os alunos durante as aulas
colocam suas opiniões e dúvidas referente à AIDS e parecem sentir a ausência da família no
sentido de orientá-los.
[...] percebo que a família não orienta, quando conversamos com o aluno sobre o
assunto AIDS, O professor deixa livre para eles falarem. (feminino, 41 anos,
professora de inglês).
[...] percebo, pela conversa com os próprios alunos, pelos relatos, pelas dúvidas que
eles têm. (feminino, 62 anos, professora de ciências).
[...] percebo que a família não orienta sobre a AIDS pelo modo dos alunos
conversarem. Quando o assunto é abordado e o aluno diz que o pai não tem tempo
para conversar com ele. (masculino, 43 anos, professor de história).
Por outro lado, os fragmentos dos discursos seguintes, composto pelas palavras
ciência, vieram e feira, falam das atividades pedagógicas realizadas na escola. Oportunizando aos
alunos meios de se informar melhor sobre a AIDS, a fim de sanar, assim, as suas dúvidas.
[...] tive oportunidade de falar sobre a AIDS na sala. Foi quando um rapaz morreu
em conseqüência da AIDS. Por ano, nos fazemos duas feiras de ciências, e que
também comentamos antes e depois da feira, quando os alunos nos procuram com
dúvidas. (masculino, 40 anos, professor de geografia).
[...] houve mesmo feira de ciências voltada para essa questão da AIDS. E todas as
vezes que tem palestras sobre o assunto, vieram vários fazer, você percebe que
eles ficam bastante interessados e querem saber quanto mais, melhor. (feminino, 30
anos, professora de português).
Segundo esses professores, as informações sobre a AIDS veiculam com
freqüência na escola, através de feiras de ciências, palestras e pelos próprios docentes.
Contrário ao que se depreende nesta pesquisa, os estudos desenvolvidos quanto
às formas de discussão acerca da AIDS nas escolas por Pagan (2004) constataram que:
[...] em geral pouca circulação de informações sobre a AIDS, na escola.
Entretanto, apesar de apresentarem-se algumas contradições quanto a este fato, as
falas ainda são contextualizadas no decorrer das aulas. Atividades que estimulam o
protagonismo juvenil, como por exemplo, as feiras de ciências ou exposições, foram
poucos assinaladas. (PAGAN, 2004, p. 106).
119
Os alunos investigados por Pagan (2004) revelaram que a escola, na maioria
das vezes, não proporciona informações e nem promove atividades pedagógicas sobre a
doença, e quando o tema é abordado, restringe apenas às aulas de Ciências.
A subdivisão A2, intitulada Diálogo e indiferenças, visualizada na Figura 32 e
Tabela 15, apresenta os vocábulos fala, pergunta, reage e dúvida, como os mais
representativos do conteúdo, pois diz respeito ao comportamento demonstrado pelos alunos
quando a AIDS é abordada na sala de aula.
Figura 32 – Partição A2 do dendrograma da classe 4 – Diálogo e indiferenças
A2
120
Tabela 15 – Palavras características da partição A2, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
fal+
fala, falado, falam, falamos, falando, falar,
falava, fale, falei, falou
90.56
pergunt+
pergunta, perguntam, perguntando, perguntar,
perguntas, pergunto
70.65
reag+ reage, reagem 68.40
duvid+ duvida, duvidas 48.31
reac+ reação, reações 44.74
sala+ sala, salas 40.59
discuss+ dsiscussão, discussões 21.01
sei+ sei 19.83
opini+ opinião 18.57
curioso+ curiosos 18.11
sigla+ sigla, siglas 17.80
ouv+ ouve, ouvem, ouvimos, ouvir 17.25
gravid+ grávida, grávidas, gravidez 11.00
tenh+ tenha, tenham, tenho 9.85
vergonh+ vergonha, vergonhosas, vergonhoso 8.65
pres+ presente, presentes 8.23
ao ao 8.16
uns uns 7.53
lev+ leva, levam, levando, levar, levaram, levo 7.37
dst+ dst, dsts 7.36
ness+ nessa, nessas, nesse 6.51
Os vocábulos fala, sala, articulados à palavra reage apresentam as opiniões dos
professores quanto à abordagem do tema AIDS e as reações dos alunos. Ao conversar sobre a
síndrome na sala, os adolescentes revelam-se tranqüilos, fazendo gracejos, provavelmente por
se tratar de um tema que está relacionado à sexualidade. Parece que os estudantes demonstram
esse comportamento em decorrência da fase em que estão vivenciando, isto é, estão no
período de descoberta da vida sexual.
Quando se fala nesse assunto na sala, os alunos ligam ao sexo. A reação da
criançada é ficar rindo. Eles ficam descontraídos. (masculino, 52 anos, professor de
história).
[...] ao falar nesse assunto AIDS na sala, os alunos reagem levando na brincadeira,
caçoam. (feminino, 50 anos, professora de português).
As palavras pergunta, dúvida que se encontram interligadas mostram no
discurso de um professor, que os alunos parecem vincular o estudo acerca da AIDS somente à
121
disciplina de Ciências.
Os alunos não fizeram nenhuma pergunta relacionado à AIDS para mim, nem
demonstram suas dúvidas. Eles ainda estão naquela que ciências são ciências.
geografia é geografia. história é história e português é português. Então, eles pensam
que não é pertinente a aula de português. (feminino, 30 anos, professora de
português).
Nesse sentido, a disciplina Ciências também aparece na pesquisa de Pagan
(2004) como uma área de conhecimento na escola que trabalha essa temática. No entanto,
além dessa disciplina, os alunos pesquisados por esse estudioso destacaram que, professores
de Ensino religioso, de Português e de Filosofia desenvolvem discussões relativas à AIDS.
Analisando a partição B1, denominada Recursos didáticos, exibida na Figura
33, Tabela 16, sobressaem as palavras história, demonstra, texto, polêmico, indicando, em seu
conteúdo, os recursos pedagógicos utilizados pelo professor, para motivar os alunos quando o
tema é AIDS.
Figura 33 – Partição B1 do dendrograma da classe 4 – Recursos didáticos
B1
B1
122
Tabela 16 – Palavras características da partição B1, suas formas associadas e χ²
Palavras
Palavras com suas formas associadas
χ²
histor+ historia, históricos 18.88
demonstr+
demonstra, demonstram, demonstrando
demonstraram
18.45
texto+ texto, textos 17.88
polem+ polêmica, polêmico, polêmicos 17.80
pen+ pena 14.88
respond+ responde, respondem, responder, respondeu 11.77
fiz+ fiz, fizemos, fizeram 11.31
surg+ surge, surgem, surgiram, surgiu 10.15
question+
questiona, questionam, questionando,
questionar,
9.23
momento+ momento, momentos 8.26
debat+ debate, debatemos, debater 7.52
lembr+ lembrando, lembrar, lembre, lembrei, lembro 7.52
No grupo de palavras desta subdivisão aparece, inicialmente, o vocábulo
história que se encontra conectado ao verbo surge indicando, no discurso dos professores,
que, a partir de fatos e experiências relatados nas aulas sobre a AIDS, os alunos passam a
demonstrar curiosidade em relação doença. Entretanto, o tema somente é debatido se ocorrer
alguma dúvida.
Se o professor conta a história que aconteceu com alguém, desperta o interesse
deles. Se surgem perguntas é discutido o assunto. (masculino, 42 anos, professor de
educação física).
Em contraponto, os vocábulos demonstra e questiona revelam, nas declarações
de uma parcela dos docentes, outro tipo de reação dos alunos quando o assunto AIDS é
tratado na sala.
[...] os alunos demonstram sentimento de tristeza, ficam comovidos, quando a gente
toca no tema AIDS. Principalmente, quando é falado de pessoas e amigos que
pegaram a AIDS. (feminino, 43 anos, professora de matemática).
[...] esse é um assunto que, quando se fala de DST, AIDS eles ficam bem
interessados. Demonstraram aquela expectativa, ficaram ansiosos, ficaram
questionando e também chocados de acordo com as figuras que foram passadas.
(feminino, 48 anos, professora de português).
Como a AIDS é uma doença muito divulgada, os vocábulos polêmico e pena
mostram as opiniões dos professores que, por se tratar de um tema questionador, defendem
que é um assunto que merece ser discutido mais vezes no ambiente escolar, até mesmo para
promover a formação de hábitos e valores que possibilitem a valorização da vida.
123
[...] porque, por mais que se fala muito sobre a AIDS, sobre a questão do sexo em si,
mas é uma questão muito polêmica. (feminino, 40 anos, professora de português).
[...] vejo que é importante para os alunos esse tema AIDS, que vale a pena trabalhar,
estar sempre reforçando, prevenir e educar. AIDS é um assunto interessante que
deve ser tratado sim. (feminino, 33 anos, professora de ciências).
A palavra texto traduz, nas falas dos sujeitos, um dos meios utilizados para
discorrer sobre a AIDS. O fragmento de fala a seguir mostra como a professora procura
oportunizar aos adolescentes a chance de discutirem sobre a doença.
tive oportunidade de falar sobre a AIDS na sala. Fizemos a leitura de um texto
sobre a AIDS e debatemos em sala de aula. (feminino, 44 anos, professora de
matemática).
Quanto ao recurso utilizado para falar sobre o problema da sexualidade e da
AIDS com os alunos, Gonçalves (2002) constatou em sua pesquisa que:
As dinâmicas têm, [...] uma função essencial no trabalho de prevenção, pois, por seu
caráter sensibilizador, promovem discussões conscientizadoras e, em conjunto com
outras atividades, podem promover também a criação de grupos que servem para
mobilizar a comunidade, da escola e de fora dela, para a necessidade do
comportamento preventivo (GONÇALVES, 2002, p. 35).
Pagan (2004) ao tratar da participação do docente na sala de aula, sobre as
formas de discussão acerca da AIDS, verificou que as ações pedagógicas, em que mostram as
técnicas de ensino utilizadas, como: grupo de orientação, feiras de ciências, respondendo
dúvidas, vídeos, pesquisas, e palestras provocam o interesse e a participação dos alunos.
Em relação à metodologia utilizada pelo professor para trabalhar AIDS na sala
de aula, Bucher (1995, p. 28) afirma que, “[...] os conteúdos devem tocar as esferas tanto
cognitiva quanto afetiva, através de dramatizações, dinâmicas de grupo, estudos de caso,
discussões contrastantes e outras técnicas mobilizadoras de participação efetiva”.
Na partição aqui analisada, destaca-se a atuação do professor na sala de aula e
os meios utilizados para a abordagem da AIDS, revelando que os docentes utilizam diversos
recursos para chamar a atenção dos alunos a respeito da gravidade dessa doença. Depreende-
se dessa análise que são proporcionados aos adolescentes oportunidades de reflexão e
124
conscientização sobre a síndrome na sala de aula, que promova especialmente os cuidados
que devem ser tomados em relação a essa enfermidade.
Na subdivisão B2, nomeada Abordagem por disciplina, mostrada na Figura 34,
Tabela 17, as palavras tema, assunto, oportunidade, importante e professor apontam, nos
discursos dos docentes, as disciplinas que abordam a temática AIDS.
Figura 34 – Partição B2 do dendrograma da classe 4 – Abordagem por disciplina
Tabela 17 – Palavras características da partição B2, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
tem+ tema, temas 91.88
assunto+ assunto, assuntos 83.96
oportunidade oportunidade 63.48
important+ importante, importantes, importantíssimo 33.68
professor+ professor, professora, professores 32.73
sexualidade sexualidade 29.96
portugues+ português, portuguesa 27.95
disciplina+ disciplina 20.74
area área 18.88
discut+ discute, discutem, discutimos, discutir 13.21
matematica matemática 13.18
abord+ aborda, abordam, abordar, abordaram 11.78
biolog+ biologia 8.65
As palavras tema e professor, que se encontram interligadas, indicam nas falas
dos sujeitos que as exposições pedagógicas realizadas na escola enfocando a AIDS são
B2
125
oportunidades de tratar sobre o assunto. Porém, nos discursos, fica evidente que o professor
de Ciências é quem mais desenvolve atividades e conversa sobre a doença. Mesmo assim,
alguns docentes de outras matérias revelam que não deixam de fazer também referência a essa
enfermidade na sua aula.
[...] nós temos aqui a feira de ciências e é trabalhado esse tema AIDS. A professora
de ciências é a que mais tem trabalhado esse tema AIDS, mas eu também, de vez em
quando, dou uns toques. (feminino, 41 anos, professora de educação física).
As palavras oportunidade e discutir vão revelar as áreas de conhecimento que
não oportunizam a discussão sobre a AIDS.
A disciplina que leciono é a matemática. Ela me pouca oportunidade para que se
possa discutir o assunto. (masculino, 27 anos, professor de matemática).
[...] como trabalho história, às vezes a gente não dá nem oportunidade de discutir um
assunto assim, como a AIDS. (masculino, 43 anos, professor de história).
Percebe-se, nesses recortes de fala, que a abordagem pedagógica do tema, não
tem um sentido de transversalidade. A integração de diferentes áreas de conhecimento, parece
não fazer parte ainda da realidade escolar.
Nesse sentido, Pagan (2004) ouvindo os alunos, encontrou que estes destacam
a disciplina de Ciências como sendo a que mais trata sobre o tema AIDS na sala de aula,
podendo-se observar isto na afirmação de um aluno.
Na aula de ciências, a professora discute muito, fala tudinho. Nós vimos uma fita
que fala tudinho, sobre as doenças, a gonorréia que, que pega nas pessoas quando
faz sexo oral, a professora passou um vídeo explicando tudinho, como se essa
doença, o que acontece com a pessoa, aí. A professora de ciências discute bastante
isso, fala tudinho, como a gente deve fazer, quando deve evitar isso, ela explica
direitinho. (PAGAN, 2004, p. 109).
Pode-se perceber nesses fragmentos de fala, onde aparecem as palavras assunto
e importante conectadas entre si, que os professores reconhecem a relevância do tema AIDS
para os alunos. Porém, quando cita a opinião dos alunos, este professor afirma não notar entre
os estudantes discussões sobre o tema:
[...] concordo que a AIDS seja um assunto importante para os alunos. Mas, entre os
alunos não tenho percebido que eles conversam sobre a AIDS. Quando o professor
126
toca no assunto discussão, mas entre eles não tenho percebido. (masculino, 43
anos, professor de história).
Quanto a isso, fazendo uma comparação com os estudos de Pagan (2004),
constata-se, na sua pesquisa, crítica de alguns alunos aos colegas despreocupados com a
doença.
Porque eles são desinformados, muito desinformados. [...] porque eu já perguntei pra
eles, eles falam que nãom interesse em saber, não conversam, nunca conversaram,
eles não querem saber também (PAGAN, 2004, p. 106).
No Bloco A, intitulado Informações e indiferenças é possível concluir que,
para os professores, a família não proporciona orientação aos alunos quanto ao tema AIDS.
Isto parece relacionar-se ao fato desta doença aparecer vinculada à questão da sexualidade ou
por ainda apresentar-se como tabu. Dessa forma, os pais transferem para escola,
especificamente para a pessoa do professor a missão de informar seus filhos quanto à
síndrome. Isso é verificado, pelos professores, nas conversas e dúvidas levantadas pelos
alunos nas aulas. A feira de ciências aparece como uma das atividades pedagógicas que a
escola promove para que os adolescentes possam obter informações, fazer seus
questionamentos e esclarecer as suas preocupações em relação à doença.
Por outro lado, ao falar sobre a AIDS na sala de aula, os alunos demonstram
descontração, fazem gracejos, provavelmente por esse assunto estar associado à sexualidade.
Os adolescentes somente questionam quanto a doença, na disciplina de
Ciências que, para eles é a que enfoca mais sobre essa enfermidade.
O Bloco B, denominado Práticas pedagógicas revela que os docentes utilizam
diversos recursos pedagógicos para abordar o tema AIDS, como relatos de experiências e
textos proporcionados para leitura com objetivo de promover discussões conscientizadoras
referente à enfermidade. Assim, à medida que as dúvidas vão surgindo, o assunto em questão
é debatido. Alguns professores perceberam que os adolescentes manifestaram sentimento de
pesar e inquietação ao ouvirem as explicitações nas aulas sobre a doença.
127
Por ser a AIDS um tema polêmico, os professores argumentaram que deve ser
discutido com os alunos. Por isso, desenvolvem atividades para o tema na escola através da
feira de ciências, todavia, em sala de aula, o professor da disciplina de Ciências é o que mais
aborda sobre esse assunto. Os docentes também expuseram que, embora esse tema seja
importante para os alunos, não constataram que os mesmos discutem esse assunto com seus
pares.
Professores de outras áreas que não a de Ciências revelaram que, por falta de
oportunidade na matéria que ministra, não abordam sobre o tema AIDS em suas aulas.
Verifica-se que a falta de oportunidade parece estar ligada ao despreparo curricular associado
ao desinteresse em tratar sobre o assunto.
3.1.5 Classe 6 – AIDS: fontes de informações
A classe seis é composta por 342 UCEs, representando 18,12% de
aproveitamento do corpus analisado pelo ALCESTE e 112 palavras selecionadas.
Conforme o dendrograma mostrado na Figura 35, esta classe apresenta-se
dividida em dois blocos A e B. O primeiro bloco divide-se em dois (A1 e A2), enquanto que o
segundo subdivide-se também em duas partes (B1 e B2). O discurso que norteia esta classe
refere-se às fontes de informações, às campanhas e ao local que aborda o tema AIDS. Análise
da qualidade dos informes proporcionados aos alunos, apontando suas características.
128
Figura 35 – Dendrograma da classe 6
BLOCO B
CONHECIMENTO E
CARACTERÍSTICAS
DAS
INFORMAÇÕES
AIDS:
FONTES DE INFORMAÇÕES
BLOCO A
ORIGEM, PRÁTICAS E
QUALIDADES DAS
INFORMAÇÕES
129
O Bloco A, denominado Origem, práticas e qualidades das informações, diz
respeito às formas de divulgações realizadas sobre a AIDS, assim como os locais, às fontes,
aos meios e tipos de informes que são transmitidos para os alunos. O Bloco B trata do
Conhecimento e características das informações sobre a doença, priorizando o acesso aos
efeitos do vírus e as características dos dados.
Na partição A1, de acordo com a Figura 36 e Tabela 18, denominada de Ações
informativas e local, destacam-se os vocábulos campanha, posto, e saúde, que revelam,
segundo os professores as práticas de orientações relacionadas à AIDS. Nota-se, por meio
dessas palavras, que um dos locais indicados para que os alunos obtenham maiores
conhecimentos sobre a doença é o posto de saúde.
Figura 36 – Partição A1 do dendrograma da classe 6 – Ações e espaço de informações
A1
130
Tabela 18 – Palavras característica da partição A1, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
posto+ posto 45,42
campanha+ campanha, campanhas 43,33
saude saúde 38,60
globaliz+ globalizada, globalizado 22,65
assimil+ assimilar, assimilaram 17,51
distribu+ distribuir, distribuíssem 17,51
carnaval carnaval 17,25
foss+ fosse, fossem 12,34
diret+ direta, diretas, direto 11,88
dia a dia dia a dia 11,11
hormon+ hormônio, hormônios 10,66
feit+ feita, feitas, feito 10,39
livros livros 9,84
adolescente+ adolescente, adolescentes 9,70
adolescencia adolescência 7,35
metodo+ métodos 6,93
epoca época 6,88
governo governo 6,88
leitura+ leituras 6,88
As palavras campanha e assimilar indicam que os informes publicitários de
orientação sobre a AIDS, segundo os professores parecem ser apropriados para os alunos.
Porém, para os sujeitos entrevistados, os adolescentes não estão conseguindo absorver o
significado dessas informações, principalmente quando este tema é abordado no período dos
grandes eventos festivos, ocasião que aproveitam apenas para se divertirem.
[...] para a faixa etária, se é dirigida aos adolescentes é adequada. São eles que não
sabem assimilar. Até distribuir camisinha em campanhas, época de carnaval é
distribuída e os alunos pegam as camisinhas, assopram, fazem aqueles balões,
brincam e fica por isso mesmo. (feminino, 42 anos, professora de português).
Além disso, as palavras posto e saúde estão interligadas entre si, indicando
que a unidade básica de saúde é um dos locais indicados para que os alunos sejam
orientados e recebam esclarecimentos sobre a AIDS. Todavia, os estudantes mostram
desinteresse em adquirir maiores conhecimentos relativos a essa doença, como esclarecem
estes professores:
[...] dou alguns endereços de posto de saúde, se eles me procurarem. (feminino, 28
131
anos, professora de ciências).
[...] um pouco de acesso que eles m de informações são através de propaganda na
televisão, no posto de saúde e da escola, mas eles nãom interesse de estar
procurando, perguntando. (masculino, 27 anos, professor de ciências).
Pagan (2004) em seus estudos com pré-adolescentes e adolescentes, ao tratar
sobre as fontes de informações acerca da AIDS e outras doenças, aponta que o posto de saúde
está em quarto lugar como o local para onde os alunos se dirigem, a fim de obter informações
a respeito dessa enfermidade.
Quanto ao desinteresse dos alunos expresso pelos professores aqui
investigados, essa opinião pode configurar-se como generalizada, não refletindo a realidade.
Pagan (2004) detectou em sua pesquisa que os adolescentes procuram se informar sobre esse
tema através de conversas com suas mães. Segundo ele, “[...] a mãe é a pessoa mais procurada
para prover informações sobre a AIDS e outras doenças”. (PAGAN, 2004, p. 117).
Depreende-se dessa pesquisa que os alunos demonstram interesse em adquirir conhecimento
acerca da AIDS, diferente do que se detecta na fala dos professores aqui pesquisados.
Na partição A2, Figura 37 e Tabela 19, intitulada Origem, formas e qualidades
das informações, se destacam as palavras fonte, propaganda, recebe, insuficiente, mídia e
passadas, como as mais representativas. Elas tratam da procedência, dos meios e das
qualidades das informações que os alunos recebem acerca da AIDS.
132
Figura 37 – Partição A2 do dendrograma da classe 6 – Origem, formas e qualidades das informações
Tabela 19 – Palavras característica da partição A2, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas
χ²
fonte+ fonte fontes 165,79
propagand+ propaganda, propagandas 164,11
receb+ recebe, recebem, receber, recebeu 160,27
insuficiente+ insuficiente,insuficientes 111,58
midia mídia 89,76
passadas passadas 89,70
televisao televisão 82,98
procur+ procura, procuram, procurar, 61,89
revist+ revista, revistas 52,99
meio+ meio, meios 51,77
comunicacao comunicação 48,84
suficientes suficientes 43,33
program+ programa, programas 40,66
dess+ dessa, dessas 40,18
jornal+ jornal 34,61
atraves através 33,80
pass+ passa, passada, passam, passando, passaram 27,96
jornais jornais 26,33
analis+ Analisada, analisam, analisar, analise 13,45
critic+ critica, criticas 13,45
palestr+ palestra, palestras 12,78
cartaz+ cartaz, cartazes 12,45
assist+ assistir, assistem 11,43
form+ forma, form 10,94
precis+ precisa, precisam 9,80
humano+ humano 8,54
video+ vídeo, vídeos 8,48
ler+ ler 7,14
sej+ seja, sejam 6,67
A2
133
Os vocábulos passada, recebe e fonte demonstram que os professores, no teor
de seus discursos, constatam que as informações sobre a AIDS transmitidas aos alunos através
dos recursos didáticos oferecidos pela escola priorizam mais os aspectos prevenção, contágio
e efeitos da doença.
[...] as doenças a gente procura levar através de vídeo, cartaz, depoimentos que tem
na escola. E através do vídeo a gente desenvolve esse trabalho com os alunos. São
passadas para os alunos dessas fontes, as informações sobre os cuidados com a
AIDS. Se eles não se cuidarem, não se prevenirem pode adquirir a AIDS. (feminino,
44 anos, professora de ciências).
[...] eles recebem também informações através de vídeos, palestras com biólogas
formadas. As informações que os alunos recebem dessas fontes são de orientação,
como se adquire a AIDS, os meios preventivos para não se contaminar, não pegar a
doença e o uso dos preservativos. São esses tipos de informações que são passadas
para eles. (feminino, 48 anos, professora de português).
As palavras propaganda e televisão se destacam como o meio de
comunicação mais usado na transmissão de conhecimento sobre a AIDS. Isto ocorre,
provavelmente, porque os alunos têm mais oportunidade de assistir a televisão, em que a
divulgação acerca dessa doença se dá por meio dos informes publicitários.
[...] Mas, quem orienta é a televisão. A televisão é o maior meio de orientação, no
horário da novela, para o jovem, nesses intervalos de propaganda. (feminino, 33
anos, professora de ciências).
[...] eles recebem também informações pela televisão, pelas propagandas, através de
jornais, de revistas, e tem os que acessão internet. Eles recebem as informações
através dos meios de comunicação de massa. (feminino, 31 anos, professora de
ciências).
[...] porque sempre o jovem está assistindo televisão. O tempo é curto para esse tipo
de propaganda. (feminino, 41 anos, professora de geografia).
Pagan (2004) em entrevista com os alunos, ao consultá-los quanto às fontes de
informações sobre a AIDS e outras doenças, constatou que, em primeiro lugar nas repostas
dos alunos aparece da minha mãe, em segundo lugar encontram-se os livros e revistas com
significativa inferência nas respostas. A televisão, entretanto, não aparece em nenhum
momento como provedora de informação sobre a doença.
Ainda sobre as fontes de informações, Fernandes (2002), verificou como
resultado que a revista foi assinalada pela maioria dos entrevistados, ocupando o primeiro
lugar e, em segundo lugar, aparece a televisão. Isso difere do discurso dos professores aqui
134
investigados quando apontam a televisão como a fonte mais usada pelos alunos na busca de
informações sobre a AIDS.
Percebe-se, com isso, que a comunicação através da mídia tenta oferecer aos
adolescentes conhecimentos referentes à doença. Belloni (2001) esclarece que:
A opinião majoritariamente positiva sobre a televisão como meio de informação e de
aprendizagem e a assiduidade com que os jovens assistem à TV são os indicadores
mais seguros da importância do papel da televisão no processo de socialização das
novas gerações. (BELLONI, 2001, p. 31).
Dessa forma, as palavras mídia e passa, revelam nessas falas que as
orientações relativas à AIDS, transmitidas pelos meios de comunicações, são de cunho
instrutivos, com objetivo de alertar aos alunos, desde sua infância, quanto às precauções que
devem ser tomadas em relação a essa síndrome. Segundo um dos professores,
[...] na mídia são passadas informações com propagandas educativas, explicando a
prevenção e o uso da camisinha. Existe até propaganda pedagógica, porque você tem
que conscientizar o pequenininho, para termos adultos conscientes. (feminino, 43
anos, professora de português).
Quanto a isso, é interessante observar o que diz os PCNs, ao tratar dos Temas
Transversais, na relação existente entre informações transmitidas pela mídia e sexualidade.
Propõe-se que a Orientação Sexual oferecida pela escola aborde com as crianças e os
jovens as repercussões das mensagens transmitidas pela mídia, [...] Trata-se de
preencher lacunas nas informações que a criança e o adolescente possuem e,
principalmente, criar a possibilidade de formar opinião a respeito do que lhes é ou
foi apresentado. (PCN, 1998, p. 300).
Recorrendo a Jodelet (2001, p. 17), em relação às representações sociais
ressalta que: “[...] Elas circulam nos discursos, são trazidas pelas palavras e veiculadas em
mensagens e imagens midiáticas, cristalizadas em condutas e em organizações materiais e
espaciais”.
Continuando a análise, percebe-se que a palavra insuficiente indica que as
explicações proporcionadas aos alunos, através da publicidade, referentes à doença, segundo
os professores não lhes atraem a atenção e nem é satisfatória como meio de possibilitar um
conhecimento mais esclarecedor sobre esse tema. Para alguns docentes, se faz necessário
135
oferecer aos adolescentes um manual explicativo sobre a AIDS, visando reforçar as
informações adquiridas.
[...] não noto que o aluno presta atenção nas informações e nem nas fontes que
passam. Os alunos não prestam atenção nessas informações veiculadas pela
televisão. As informações passam despercebidas para eles. As informações dos
meios de comunicação são insuficientes para esse vel de alunos que nós temos
nesta comunidade. (feminino, 30 anos, professora de português).
[...] essas informações sobre a AIDS são insuficientes. Pois, não informam tudo
sobre a doença. As informações sobre a AIDS são inadequadas. Elas m umas
falhas, porque as informações são passadas até um certo interesse, principalmente da
mídia. As informações não são bem esclarecidas, deveria ter uma cartilha falando
sobre a AIDS, para entregar principalmente nas escolas. (masculino, 43 anos,
professor de história).
Percebe-se nesta partição que a AIDS é uma doença divulgada através das
campanhas educativas na televisão e dos recursos didáticos da escola, com objetivo de
orientar e alertar os alunos quanto ao contágio, aos cuidados para evitar a doença bem como
suas conseqüências. Porém, as informações proporcionadas pela mídia não são suficientes
para despertar o interesse dos adolescentes, conforme os discursos dos professores.
No Bloco B, que apresenta a subdivisão B1 denominada Conhecimento,
prevenção e conseqüência, mostrada na Figura 38 e Tabela 20 sobressaem as palavras
informações, acesso e prevenção revelando a necessidade dos alunos adquirirem
prioritariamente conhecimentos relativos às formas de prevenção, aos efeitos e aos problemas
que a AIDS causa.
Figura 38 – Partição B1 do dendrograma da classe 6 – Conhecimento, prevenção e conseqüências
B1
136
Tabela 20 – Palavras característica da partição B1, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
informacoes informações 682,35
inform+ informa, informação, informam, informar 92,62
as as 77,63
acess+ acesso 39,94
dever+ deveria, deveriam 38,97
preven+ prevenção, prevenir, 35,09
usar+ usar 19,57
consequencia+ conseqüência, conseqüências 13,06
jovem jovem 10,39
preservativo+ preservativo, preservativos 10,34
Os vocábulos informações e conseqüência, acesso e prevenção, que se
encontram interligados, revelam, na voz dos professores, que os alunos crêem nos dados
divulgados acerca da AIDS. Contudo, esses estudantes se consideram imune a essa doença e
por isso não se previnem. Por esse motivo, deve-se possibilitar aos adolescentes maiores
conhecimentos relativos aos problemas que o vírus lhes pode trazer.
[...] os alunos acreditam nas informações sobre a AIDS. Mas, não acham que vai
acontecer com eles, porque eles não fazem a prevenção da doença. Os alunos
deveriam ter acesso como informação nas conseqüências da AIDS. Fala muito em
prevenção, mas não se fala em conseqüências. (feminino, 44 anos, professora de
português).
É válido salientar, neste excerto, que o sujeito entrevistado declara que os
estudantes conhecem os riscos e os resultados produzidos pela doença, mas, quando estão se
relacionando com alguém, não dão significância para tal fato. Nesse sentido, é fundamental
que eles tenham conhecimento da doença de uma forma que transforme a sua consciência.
E no de vez em quando vêm as conseqüências. Os alunos têm a informação das
conseqüências, que eles dizem que, no momento da química a coisa é diferente.
As informações que os alunos deveriam ter acesso seriam aquelas que dessem mais
impactos, como o cigarro. Uma imagem forte. (masculino, 52 anos, professor de
história).
Segundo Pagan (2004), em sua pesquisa, constatou que os seus entrevistados
revelaram uma coerência entre a prevenção e transmissão da doença.
137
[...] Quanto à prevenção, os jovens consideraram a contaminação pelo desuso do
preservativo como o meio mais comum de contágio. No mesmo sentido, grande
parte avalia que utilizar camisinha em todas as relações sexuais é importante para
evitar a própria infecção. (PAGAN, 2004, p. 144).
Portanto, percebe-se nesta análise que as opiniões dos professores diferem dos
resultados acima, uma vez que os alunos demonstram consciência da doença, porém não
priorizam a prevenção quando estão vivenciando um relacionamento sexual. Devido a isto, é
importante que as campanhas instrutivas sejam mais persistentes e causem impactos mais
significativos, priorizando conscientizar os adolescentes sobre a prevenção.
Sobre prevenção e controle da AIDS, Batista e Gomes (2000, p. 79) esclarecem
que: “A modificação de comportamento, sobretudo no que se refere ao uso sistemático de
preservativos (camisinhas masculinas e femininas), é o único método disponível atualmente
para evitar a transmissão sexual do HIV, a principal via de disseminação da doença”.
Na partição B2, mostrada na Figura 39 e Tabela 21, nomeada de Compreensão
e características das informações, as palavras adequada, compreendidas, compreendem e
linguagem, abordam a percepção e características das informações acerca da AIDS
proporcionadas pela escola.
138
Figura 39 – Partição B2 do dendrograma da classe 6 – Compreensão e características das informações
Tabela 21 – Palavras característica da partição B2, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
adequada+ adequadas 123,85
compreendidas compreendidas 83,36
compreend+ compreendem, compreender 65,37
lingu+ língua, linguagem 44,72
inadequad+ inadequadas 39,00
compreens+ compreensão, compreensível 36,29
respeit+ respeito 27,82
termo+ termo, termos 26,33
nas nas 24,87
nivel nível 24,49
adequ+ adequada 24,01
cientif+ científico, científicos 22,65
pelos pelos 22,29
entend+ entendem, entender, entenderam, entenderem 22,29
cidad+ cidadão, cidadãos, cidade 18,23
acerca acerca 17,25
contagi+ contagio, contagiosa 17,25
sensibiliz+ sensibilizando, sensibilizar 17,25
juventude juventude 14,36
pratic+ prática 13,88
continu+ continuada, continuado, continuar 12,63
especifica+ específica, específicas 12,63
real+ real 10,66
atenc+ atenção 9,63
preparados preparados 8,54
coloc+ coloca, colocam, colocar, colocaram 7,17
num+ num. numa 6,77
B2
139
As palavras adequada, compreendidas, compreendem e linguagem revelam,
segundo os professores, que, na escola, os alunos recebem informações relativas à AIDS,
transmitidas de uma maneira apropriada, de acordo com o nível dos estudantes. As
adequações no uso de vocábulos ocorrem principalmente para sanar as dúvidas dos alunos,
fazendo com que os adolescentes demonstrem interesse quando o tema é tratado na sala de
aula. Nos excertos a seguir constata-se que, de modo geral, os estudantes demonstram
entenderem as informações que lhe são passadas sobre a doença.
[...] são adequadas através da forma como a escola está passando para os alunos.
Porque estamos trabalhando com os alunos no dia a dia para que eles compreendam.
Sim, são compreendidas, pois a escola está usando uma linguagem mais clara
possível, simples, fácil, fazendo uma linguagem do dia a dia, de compreensão.
(feminino, 51 anos, professora de educação artística).
[...] Quando eles ouvem alguma coisa sobre a AIDS, param para escutar. Por ser
uma doença, os alunos m essa concepção de que a AIDS mata. Então, eles param
para escutar e compreendem as informações. (feminino, 41 anos, professora de
história).
[...] as informações são adequadas. Porque as dúvidas, curiosidades dos alunos a
respeito da AIDS, são respondidas quando eles perguntam. Os alunos compreendem
as informações. Porque, como estamos lidando com adolescentes, eles vão falar na
linguagem deles. E não falamos numa linguagem rebuscada, termos científicos que
eles não vão entender. (feminino, 41 anos, professora de história).
Pagan (2004) também constatou em seus estudos que a maior parte dos alunos
pesquisados demonstrou facilidade para apreender as informações a respeito da AIDS.
A escola é, portanto, considerada um campo da educação privilegiado para a
troca de informações sobre a AIDS. Nesse sentido, Belloni (2001) explica que definir
antecipadamente as estratégias usadas para apresentar os conteúdos didáticos, selecionando-
os, preparando-os e fazendo bom uso das virtudes comunicacionais, obtêm-se uma maior
compreensão dos conhecimentos transmitidos na escola. Isso leva o aluno a constituir um
registro auto-suficiente, possibilitando uma aprendizagem no sentido de se tornar o estudante
autônomo e independente.
Observou-se nesta classe, a partir do Bloco A denominado Origem, práticas e
qualidades das informações, que os sujeitos pesquisados acreditam que os meios de
140
comunicação abordam com freqüência temas relacionados à AIDS. A televisão aparece como
principal fonte de informação sobre essa enfermidade para os adolescentes.
as campanhas publicitárias são citadas como programas que mais enfatizam
a prevenção e as conseqüências da doença. Porém, os professores consideram que esses
anúncios veiculados são insuficientes ou insatisfatórios para esse fim. As propagandas não
atraem a atenção dos adolescentes, porque não transmitem informações mais detalhadas da
síndrome. De acordo com argumentos apresentados pelos professores, essas informações não
estão sendo absorvidas adequadamente pelos os alunos, principalmente porque lhes são
transmitidas em datas festivas programadas. Dentre os meios de divulgação da AIDS, o posto
de saúde é indicado pelos professores como o local mais propício para os alunos buscarem
maiores esclarecimentos sobre essa síndrome.
Com base nesses dados, no Bloco B, nomeado Conhecimento e características
das informações, pode-se dizer que os professores constataram que os alunos acreditam nas
informações a respeito da AIDS. Porém, estes demonstram que não estão sujeitos a serem
contaminados pelo vírus, principalmente quando estão vivenciando um relacionamento. Nesse
caso, a prevenção é ignorada pelos jovens. No entanto, prevalece a necessidade de propiciar a
estes informações sobre as conseqüências da doença, de uma forma que promova a
conscientização e consequentemente valorização dos cuidados para se evitar a infecção.
Por outro lado, ao contrário dos comentários anteriores sobre a mídia, alguns os
sujeitos acreditam que as informações transmitidas pela escola sobre a AIDS são apropriadas
ao nível de conhecimento dos alunos que demonstram compreendê-las quando procuram
sanar suas dúvidas.
Referente a este importante trabalho que deve ser realizado pela escola, os
PCNs, especificamente no volume Temas Transversais, da quinta a oitava série, ao tratar da
prevenção às doenças sexualmente transmissíveis/AIDS explicam que:
141
Ao trabalhar com a prevenção da AIDS, são conteúdos indispensáveis as
informações atualizadas sobre as vias de transmissão do vírus HIV (fluídos sexuais,
sangue e leite materno contaminados), o histórico da doença, a distinção entre
portador do vírus e doente de AIDS e o tratamento. Os professores precisam
incentivar os alunos na adoção de condutas preventivas (usar camisinha, calçar luvas
ao lidar com sangue) e promover o debate sobre os obstáculos que dificultam a
prevenção. A promoção da saúde e o respeito ao outro vinculam-se à valorização da
vida como conteúdos importantes a serem trabalhados. (BRASIL, 1998, p. 326).
Com relação à relevância das informações acerca da AIDS, destaca-se o papel
do professor e sua prática pedagógica. Cabe a este proporcionar aos alunos acesso mais amplo
a informações sobre essa enfermidade através de práticas pedagógicas que sejam
significativas nesse sentido.
3.1.6 Classe 3 – AIDS e sexualidade: relação de gênero e série escolar
A classe três expõe 15,10% de aproveitamento do material analisado,
apresentando, em sua composição 105 palavras classificadas e 285 UCEs. Recebeu esta
nomenclatura por conter, nas falas dos sujeitos, a noção e interesse dos alunos pela AIDS e
sexualidade, segundo gênero e a série escolar.
A Figura 40 do dendrograma dessa classe constitui-se nos blocos A e B. O
primeiro bloco é subdividido nas partições A1 e A2, e o segundo reporta-se às divisões B1 e
B2.
142
Figura 40 – Dendrograma da classe 3
O Bloco A denomina-se Interesse e noção da AIDS segundo gênero, por
conter, em seu teor, as opiniões dos professores referentes às características dos alunos,
meninos e meninas, que demonstram estar sujeitos a se interessarem sobre a doença. O Bloco
B denominado, AIDS: noção dos alunos em relação à série escolar aborda a noção da doença,
enfocando os alunos da quinta a oitava séries.
BLOCO A
INTERESSE E
NOÇÃO DA AIDS
QUANTO AO
GÊNERO
BLOCO B
AIDS: NOÇÃO EM
RELAÇÃO A
SÉRIE ESCOLAR
AIDS E SEXUALIDADE:
RELAÇÃO GÊNERO E SÉRIE
143
Na partição A1, intitulada Características dos alunos, mostrada na Figura 41 e
Tabela 22, destacam-se os vocábulos interesse, sexual, propenso, experiência, atividade e
desperta, indicando como conteúdo as características dos alunos quanto ao interesse pelo
tema AIDS, bem como a compreensão das informações que chegam até eles.
Figura 41 – Partição A1 do dendrograma da classe 3 – Características dos alunos
Tabela 22 – Palavras características da partição A1, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
interess+ interessa, interessam, interessar, interesse
110.37
sexual+ sexual, sexualmente
88.57
propenso+ propenso, propensos
78.14
experiencia+ experiência, experiências
66.64
ativ+ ativa, ativo
66.40
despert+ desperta, despertando, despertar, despertou
60.51
comec+ começa, começam, começando, começaram
38.74
pel+ pela, pelas
30.49
menores menores
17.38
sexo sexo
16.33
curiosidade+ curiosidade
12.73
corpo corpo
9.51
entr+ entra, entram, entrando, entrar
7.60
A1
144
A palavra interesse que se destaca nesta partição articulada ao vocábulo
propenso expressa a percepção dos sujeitos quando relacionam este tema à série escolar dos
alunos. Segundo eles, os alunos de quinta e sexta séries manifestam pouco interesse sobre a
AIDS, porque estão no início da adolescência, tendo em vista que não estão amadurecidos e
não vivenciaram ainda uma relação afetiva, nem estão em plena prática sexual.
[...] os tipos de alunos menos propensos a interessar pela AIDS, são os alunos da
quinta série que ainda são menores, ainda não estão com o corpo mudando.
(masculino, 43 anos, professor de história).
[...] os tipos de alunos menos propensos a interessar pela AIDS são aqueles alunos
que não tem vida sexual ativa, não começaram ainda, não tiveram nenhum
relacionamento. (feminino, 41 anos, professora de educação física).
[...] os alunos de dez, onze anos da quinta e sexta séries, que não tem ainda um
amadurecimento e nem relacionamento sexual, não interessam pela doença.
(feminino, 44 anos, professora de matemática).
Zagury (2000) ao investigar com que idade os jovens estão realmente
começando sua vida sexual, verificou que a maioria dos adolescentes entre 14 e 15 anos ainda
não está com a vida sexual ativa, coincidindo com a opinião revelada pelos professores aqui
investigados.
De acordo com Lage (l998), os alunos demonstram interesse pela AIDS
proporcionalmente à idade cronológica. Os mais jovens encontram-se divididos entre a
mobilização que o tema provoca e o desejo de se manter distante das questões relacionadas à
sexualidade, pois sentem que não estão preparados para enfrentá-la e querem proteger a
tranqüilidade da infância.
Por outro lado, pode-se notar, nos discursos dos professores, que os alunos da
sétima e oitava séries com idade mais avançada demonstram desejo de ampliar seus
conhecimentos sobre a AIDS.
[...] Os alunos mais propensos a se interessar pela AIDS são aqueles da faixa etária
dos treze, quatorze e quinze anos. São os alunos da sétima e oitava séries.
(masculino, 44 anos, professor de matemática).
[...] Os alunos mais propensos tem um pouco a ver com a faixa etária, percebe-se
que são os alunos da oitava, sétima série, porque já são da idade de dezesseis,
145
dezessete anos, eles se interessam um pouco pelo assunto AIDS. (feminino, 40 anos,
professora de português).
Verifica-se nas palavras sexual, sexo, ativa e desperta que se encontram
interligadas e complementam esta partição, quando os educadores revelam que os alunos das
séries mais avançadas se interessam e compreendem mais facilmente o significado da AIDS,
por já vivenciarem a sexualidade ativamente.
[...] E você pega a oitava série que está todinha despertada sexualmente, que tem a
idade de quatorze, quinze anos, estão bem no auge. Nessa idade pode falar
aprofundado que eles têm noção da AIDS. (feminino, 28 anos, professora de
ciências).
[...] aqueles ativos sexualmente, que demonstram interesse. Porque é a fase que es
despertando a sexualidade deles hoje. Aqueles alunos que tem a vida sexual ativa
fazem perguntas mais ousadas, ligam a AIDS com o sexo. (feminino, 41 anos,
professora de história).
Quanto à maneira de como os adolescentes enfrentam a AIDS, Pagan (2004)
obteve na sua pesquisa com pré-adolescentes e adolescentes, o resultado de que a maioria
revelou preocupação com a doença, conforme declaração de um estudante:
Todo mundo fica assim preocupado, principalmente nós jovens, que ta sempre
conhecendo pessoas, ta sempre saindo. Fica preocupado. Fica uma colega, fica
preocupada com a outra, entendeu. [...] que a gente tem consciência que a gente
tem que se prevenir, é isso que a gente faz, se previne. (PAGAN, 2004, p. 105).
os alunos menos interessados pelo tema AIDS são os que estão na pré-
adolescência e não tiveram ainda um relacionamento sexual. Por outro lado, os discentes que
demonstram mais interesse sobre esse assunto são os adolescentes que estão vivenciando
suas experiências sexuais. Estes, todavia, possuem noção e compreendem a gravidade da
doença.
Na subdivisão A2, visualizada na Figura 42 e Tabela 23 denominada AIDS:
noção e gênero destacam-se as palavras, menina, menino e varia que aborda a concepção da
AIDS segundo as diferenças entre os gêneros.
146
Figura 42 – Partição A2 do dendrograma da classe 3 – AIDS: noção e gênero
Tabela 23 – Palavras características da partição A2, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
menin+ menina, meninas, menino
224.97
men+ meninos, menor
224.35
vari+ varia, variação, variam, variar
73.58
mulher+ mulher, mulheres
47.24
homem homem
31.35
inici+ iniciado, iniciando, iniciar, iniciaram, início
29.91
cima cima
27.32
mesma+ mesma, mesmas
26.06
namor+ namorar, namoro
18.39
maturidade maturidade
17.38
mach+ machismo, machões
11.54
diferente+ diferente, diferentes
11.04
diferenca+ diferença
9.55
igu+ igual
8.47
devido devido
7.95
Por meio das palavras menino, menina e varia verifica-se que, para alguns
professores, a compreensão relativa à AIDS entre os alunos e alunas é a mesma. Segundo
eles, os adolescentes demonstram que as dúvidas e as informações sobre a doença são
semelhantes, visto que atualmente qualquer pessoa está sujeita a ser contaminada pelo vírus.
[...] Não varia a noção da AIDS entre meninos e meninas. Em relação ao sexo
meninos e meninas têm as mesmas dúvidas e sabem, praticamente, as mesmas
coisas. (feminino, 30 anos, professora de português).
A2
147
[...] não varia a noção da AIDS para os meninos e as meninas. Porque tanto o
homem quanto a mulher pode adquirir, pode pegar a doença. (feminino, 41 anos,
professora de educação física).
[...] não percebo esta distinção, variação entre meninos e meninas. O assunto AIDS
está tão normal hoje em dia. virou um assunto do dia a dia, não vejo diferença de
meninos e meninas. Hoje em dia o homem e mulher estão numa situação tão
equiparada, que não está tendo esta diferença. (feminino, 48 anos, professora de
inglês).
Ao tratar da questão do gênero, Lage (l998) verificou em seus estudos que,
entre meninas e meninos, as manifestações afetivas em relação às pessoas acometidas pela
AIDS sofrem modificações diferentes, de acordo com o fator idade. O sentimento de
solidariedade nos meninos não modifica, independente da faixa etária. Porém, para as
meninas, esse sentimento de solidariedade aumenta significativamente a medida que vão
crescendo. A autora percebe assim que, da mesma maneira que as atitudes transformam com a
idade, a noção sobre a doença também está propensa a crescer.
Ainda com relação às diferenças entre meninos e meninas no que diz respeito
ao que sabem sobre a AIDS, percebe-se que divergências de opiniões no grupo de
professores aqui entrevistados. Os fragmentos de fala abaixo mostram que alguns professores
relatam variações de conhecimento quanto à doença. Tais sujeitos enfatizam que as meninas
parecem preocupar-se mais com a doença, procurando informar-se e prevenir-se.
Provavelmente, isto se caracteriza pela forma de educação familiar recebida, que está
relacionada aos princípios referente a crenças, comportamentos, normas e valores.
A noção da AIDS para meninos e meninas varia. A menina se interessa muito mais
do que o menino, ela sabe todos os métodos de prevenir. A menina pode até não ter
iniciado a vida sexual, mas ela tem conhecimento. Porque ela já leu, tem mais
vontade de ler e procurar saber o correto. (feminino, 28 anos, professora de
ciências).
A noção de AIDS para meninos e meninas varia. Porque a menina se preocupa mais
que o menino. É próprio da mulher. A mulher é mais precavida. (masculino, 52
anos, professor de história).
A noção da AIDS varia para meninos e meninas. As meninas buscam as
informações mais sérias que o homem. A menina leva a informação de um interesse
mais próprio, mais profundo, porque acho que é a questão da cultura, que é muito
mais fácil um homem procurar uma mulher do que a mulher procurar um homem.
(masculino, 34 anos, professor de ciências).
148
Isso parece relacionar-se com a mudança do perfil de pessoas contaminadas
pela AIDS que vem tornando-se mais expressiva com a feminização da doença. Nesse
aspecto, Goldstein (1996) explica que:
Especialmente no Brasil [...] é significativo o aumento de número de mulheres
soropositivas e doentes de AIDS. Esse aumento se deve a dois fatores muito
específicos no Brasil: à existência de uma classe urbana e pobre de usuárias (ou
parceiras de usuários) de drogas injetáveis e uma lógica cultural de sexualidade
construída de forma altamente complexa, incluindo enormes diferenças internas e
grandes cortes em discursos de subgrupos divididos por gênero, sexo, sexualidade,
classe e raça. (GOLDSTEIN, 1996, p. 138).
No entanto, na concepção dos professores, atualmente tanto o menino quanto a
menina possuem consciência da existência da AIDS, bem como de sua gravidade e
conseqüência. Contudo, a menina se destaca nas questões relacionadas à sexualidade e à
prevenção da síndrome, por ser considerada mais preocupada e cautelosa, devido a princípios
culturais.
As diferenças de noção acerca da AIDS novamente são reforçadas na partição
B1, nomeada Conhecimento, mostrada na Figura 43 e Tabela 24. Aqui sobressaem as palavras
noção e sabe referindo-se, na declaração dos professores, as diferentes concepções dos alunos
sobre a AIDS, relacionadas à série escolar e ao gênero.
Figura 43 – Partição B1 do dendrograma da classe 3 – Conhecimento
B1
149
Tabela 24 – Palavras características da partição B1, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
noc+ noção, noções
499.64
da da
60.13
sab+ sabe, sabem, saber
15.60
Por meio das palavras noção e sabe, nos fragmentos a seguir, os docentes
relatam que os adolescentes apresentam noções diversificadas a respeito da AIDS, devido às
características relacionadas à série escolar e o gênero. Aparece novamente o sexo feminino
como aquele que demonstra preocupação, prudência com a sexualidade e consciência da
probabilidade de contaminação pelo vírus HIV. Isto parece advir dos princípios, crenças e
valores proporcionados pela família.
[...] A noção sobre a AIDS para meninos e meninas varia. Porque a menina leva
mais a sério, mesmo por questão mais cultural. A menina é mais recatada nessa área
da sexualidade, sabe que existe possibilidade de pegar a doença. (masculino, 28
anos, professor de geografia).
Sobre a educação sexual proporcionada pelos pais, Zagury (2000) explica que,
em relação aos filhos, a liberdade sexual é maior, porém, com as filhas, a educação é mais
conservadora. Isso está claro quando os rapazes, ao iniciarem a vida sexual, obtêm total
aprovação dos pais, o mesmo não ocorre com relação às filhas as quais são resguardadas para
o casamento.
Na discussão do tema AIDS, as diferenças entre série escolar novamente
aparecem. Para alguns professores, os alunos das séries mais avançadas já demonstram que
compreendem o significado da doença e se sentem mais seguros para falar sobre a síndrome
em sala de aula.
[...] variam, os alunos da sétima e oitava séries, que tem quinze, dezesseis anos,
entendem, falam da AIDS, já sabe discutir com a gente sobre a AIDS e trazem
alguma noção sobre a AIDS. (feminino, 40 anos, professora de português).
Parte dos professores percebe, então, que o conceito dos alunos referente à
AIDS difere em questão de gênero e série, destacando que a menina, por ser mais sensata,
150
preocupa-se com a questão da sexualidade e da contaminação da AIDS. Dessa forma,
constatam também, que os alunos da sétima e oitava série, possuem conhecimento e
segurança para discutir sobre a síndrome, como reforça a subdivisão seguinte.
Na partição B2, denominada Noção: faixa etária, apresentada na Figura 44 e
Tabela 25 destacam-se as palavras série, quinta, ano, sétima, oitava, idade e sexta que tratam
novamente, conforme a partição anterior, da diferença quanto à noção dos adolescentes acerca
da AIDS, de acordo com a faixa etária.
Figura 44 – Partição B2 do dendrograma da classe 3 – Noção: faixa etária
Tabela 25 – Palavras características da partição B2, suas formas associadas e χ²
Palavras Palavras com suas formas associadas χ²
seri+ série, séries
508.75
quinta quinta
341.85
ano+ ano, anos
309.27
setima sétima
255.22
oitava+ oitava, oitavas
249.41
idade+ idade, idades
219.27
sexta sexta
195.74
faixa+ faixa
84.52
etaria+ etária
68.02
sexuais sexuais
20.33
B2
151
As palavras série, quinta, sexta e ano sobressaem nesta partição, indicando que
a idéia concebida pelos adolescentes sobre a AIDS é diversificada em relação à faixa etária.
São enfocados, nesta análise, especificamente os alunos das quinta e sexta séries, pois estes,
segundo os professores entrevistados, demonstram que conhecem a AIDS, as formas de
prevenção e contágio.
Porém, as palavras sétima, oitava e idade conectadas entre si, complementam
esta discussão, revelando, no discurso dos professores, que, para os alunos, o conhecimento
referente à doença difere a partir das séries mais avançadas e da faixa etária. À medida que os
adolescentes vão se tornando experiente nos seus relacionamentos, a conseqüência é que
desperta uma busca mais intensa por conhecimento sobre a doença.
A noção da AIDS varia conforme a idade. Porque, os alunos da sétima e oitava série,
de quinze e dezesseis anos, quanto mais eles vão amadurecendo, vão se relacionando
com o sexo oposto o interesse tende ser maior pela doença. (feminino, 44 anos,
professora de matemática).
Ao tratar sobre maturidade, Salles (l998) esclarece que o término da
adolescência é compreendido como a passagem para a fase adulta. A autora, (l998) pontua
que:
A maturidade social é diferente da sexual e fisiológica. […] Espera-se que o
adolescente aceite o próprio corpo, seu papel sexual, adquira independência dos pais
e de outros adultos, escolha uma profissão e chegue a uma identidade pessoal. […]
Essa fase pode ser caracterizada como emaranhado de fatores de ordem
individual por se associar à maturidade sexual histórica e social porque são
específicos da cultura em que o adolescente está inserido. (SALLES, l998, p. 47-48).
Para os docentes investigados nesta pesquisa, os alunos da quinta e sexta séries,
por serem ainda muito imaturos, representam a noção da AIDS nas formas de prevenção e
contágio, ao passo que para os da sétima e oitava series, a partir do seu desenvolvimento e
experiências sexuais, passam a ter maiores preocupações com a doença.
No Bloco A, Interesse e noção da AIDS quanto ao gênero, depreende-se que,
para os professores, os alunos mais inclinados a se interessarem por esse tema e já manifestam
conhecimento acerca da AIDS são os maiores de idade, porque, com a sexualidade aflorada,
152
estão em atividade sexual, enquanto os menores que estão na quinta e sexta séries, na pré-
adolescência não demonstram predisposição em conhecer a doença.
Quanto ao gênero, os educadores, em sua maior parte, percebem que não difere
a concepção da AIDS. Os meninos e as meninas possuem a mesma compreensão e dúvidas
relativas à doença. Porém, uma parcela de professores afirma que a menina demonstra mais
preocupação no tocante à sexualidade e à prevenção da doença, devido à sua formação
cultural.
No Bloco B, AIDS: noção em relação a série escolar, os professores
afirmaram que os alunos da sétima e oitava ries, por serem maiores se preocupam em saber
sobre a AIDS à medida que vão desenvolvendo-se e adquirindo experiências sexuais. Estes
demonstram possuir noção e confiança para debater sobre a síndrome.
Os alunos da quinta e sexta séries são de menores de idade. Embora
demonstrem conhecimento sobre a doença, contágio e prevenção não apresentam interesse em
se informar com mais profundidade sobre o tema.
153
CONSIDERAÇÕES FINAIS
154
A pesquisa que é relatada nesta dissertação teve como objetivo conhecer e
analisar as representações sociais de professores do ensino fundamental acerca do que eles
pensam que possam ser as representações dos alunos acerca da AIDS.
Tendo como princípio que a representação social é caracterizada como uma
forma de conhecimento que liga um sujeito a um objeto, as considerações aqui apresentadas
tomaram por base as indagações propostas por Jodelet (2001): Quem sabe e de onde sabe?, O
que sabe e como sabe? e Sobre o que se sabe, e com que efeitos?
Dessa forma, levando em conta o lócus da investigação e a circulação de
informações através das conversas, foi possível conhecer as ações dos professores, suas
preocupações com os episódios da vida escolar e cotidiana do aluno, a opinião e as atitudes
dos adolescentes diante do tema AIDS, conforme percebidas por seus mestres.
A questão Quem sabe e de onde sabe reporta-se à apreensão dos professores
quanto à constituição das representações sociais dos alunos, bem como à circulação das
informações no ambiente educacional.
Os professores afirmam que os pais não orientam os filhos sobre a AIDS. Essa
compreensão advém de conversas com os alunos, enriquecidas pelas dúvidas que estes lhes
apresentam sobre o tema. Percebe-se, na representação dos docentes, a ausência de diálogos
esclarecedores no âmbito da família. Isto aparece como conseqüência da desagregação
familiar e da situação econômica precária em que vivem as famílias desses alunos, pois os
pais precisam se ausentar para trabalhar.
Um outro
aspecto observado pelos docentes é que, por se tratar de um assunto
relacionado à sexualidade, surgem dificuldades para conversas francas e abertas, visto que os
conhecimentos dos progenitores encontram-se sedimentados nas concepções que estão
contidas na cultura e na sociedade, vinculadas às normas, à moral e aos valores conservando o
interdito.
155
Assim, os docentes indicam com segurança que as informações sobre a
síndrome não encontram espaço de expressão no ambiente familiar, sendo, portanto,
transferida para a escola toda responsabilidade em instruir adequadamente os alunos. Com
isso, o professor acaba por se avaliar como o responsável mais próximo para orientar os
adolescentes quanto à síndrome.
Diante desses elementos, pode-se perceber alguns aspectos relevantes quando
se fala em educação. As representações dos professores parecem desempenhar uma função
justificadora, ao revelar que a ausência da família no sentido de não orientar os filhos sobre a
AIDS, provavelmente naturalizam-se, pois torna a falta de diálogo algo comum e freqüente.
Assim sendo, atribui-se a escola e ao professor o compromisso em instruir o aluno da melhor
forma, como se a família não pudesse ou não devesse, ao menos, partilhar essa
responsabilidade.
Com relação às ações na escola no trato desse tema, os docentes revelam que,
das diversas atividades pedagógicas proporcionadas aos alunos, a que mais se destaca é a
periódica Feira de Ciências. Segundo eles, a escola a utiliza como uma das práticas educativas
com vistas a oportunizar aos adolescentes o acesso às informações. Desta forma, os discentes,
durante o evento, apresentam seus questionamentos e esclarecem suas vidas a respeito da
AIDS.
A disciplina denominada Ciências também foi mencionada pelos professores
como a que mais enfoca e desenvolve atividades relacionadas a essa temática na sala de aula.
Segundo os docentes, os professores de outras áreas de estudo argumentam que a matéria que
lecionam não lhes proporciona oportunidades para abordar esse assunto, e citam como
exemplo a matemática.
Resultados semelhantes também foram encontrados em pesquisa realizada por
Pagan (2004) com adolescentes, alunos dos professores ouvidos, destacando o papel da
156
disciplina de Ciências. Todavia, no que se refere à Feira, vale relembrar sua conclusão:
“Atividades que estimulam o protagonismo juvenil, como por exemplo, as feiras de ciências
ou exposições, foram pouco assinaladas” (PAGAN, 2004, p. 106). Isto aponta que os
professores percebem a fonte geradora das representações sociais de seus alunos de forma
diferenciada daquela que os diretamente implicados revelam. Obviamente trata-se de um
ponto à reflexão que, todavia, pode ser compreendido, de forma imediata e simplificado,
como expressando a visão de um grupo que se percebe como responsabilizado pela
transmissão e difusão de conhecimentos ao conjunto discente.
Isso vem permitir que os professores avoquem a si as tarefas de formatar as
funções de orientação que as representações sociais acarretam, o que fazem de maneira a
produzir representações hegemônicas, aquelas que são calcadas nos parâmetros da cultura,
dos costumes, da tradição, em que pese ser a AIDS um fenômeno contemporâneo.
Por outro lado, percebe-se que uma parcela de professores busca prover os
alunos com oportunidades para discutir sobre o tema, com o intuito de conscientizá-los sobre
a síndrome. Desta maneira, as atividades enfocam os cuidados com a prevenção, bem como
sobre as conseqüências da doença.
Segundo alguns professores, embora haja empenho em se discutir sobre o tema
AIDS na escola, o assunto ainda é considerado como sendo polêmico. Para os docentes, os
estudantes no seu cotidiano não conversam, entre si, sobre a doença. Talvez isto esteja
relacionado à imagem que os adolescentes passam no contexto escolar, que na
representação dos professores, os jovens demonstram não se preocupar. Porém, Pagan (2004),
relata que parte dos seus entrevistados tece crítica aos colegas revelando a despreocupação
destes com a síndrome. Isto equilibraria a composição do grupo, formado por apreensivos e
descuidados, que os professores enxergam de forma homogeneizada.
157
O que oblitera, pelo menos parcialmente, a visão dos professores? Em primeiro
lugar se pode considerar como explicativo que tão poucos empreendam as discussões que
qualificam como importantes o que resultaria em conhecimento apequenado acerca do que
pensam seus alunos. Depois, que levar em conta o fato de alunos serem massa de
passageiros, constantemente presentes na vida profissional do docente, e permanentemente
mutantes, em acordo com as sucessivas passagens de semestres letivos. É de se avaliar que o
grande número de discentes, o escasso tempo de convívio, acabe por transformá-los em seres
indistintos, sujeitos a rotulagem única.
A televisão foi citada pelos professores como a principal fonte externa de
informação dos alunos, uma vez que o tema é amplamente abordado em campanhas
publicitárias. Nelas, dá-se enfoque aos aspectos da prevenção, bem como às conseqüências.
No entanto, Pagan (2004) encontrou em seus estudos com adolescentes, que a figura materna
destaca-se como a maior provedora de informações sobre a AIDS, porque com ela os alunos
declaram estar a figura de maior interlocução. Curiosamente, na representação dos professores
pesquisados a mãe não aparece nos depoimentos, o que se coaduna com as percepções de
desagregação familiar e falta de diálogo já referido.
Quanto às informações veiculadas pelos anúncios publicitários, os docentes as
consideram insatisfatórias, avaliando que não atraem a atenção dos alunos, não transmitem
idéias detalhadas sobre a AIDS, o que acaba por não os conduzir a uma real compreensão
acerca da síndrome. Por tudo isto, concluem, os alunos acabam por ignorar os informes.
O posto de saúde foi ainda destacado por alguns professores como o local
indicado para que os alunos obtenham maiores esclarecimentos. Porém, segundo eles, os
estudantes não manifestam interesse em procurar este recurso. Pagan (2004), a tal respeito,
relata que a unidade de saúde se encontra em quarto lugar como o local em que os
158
adolescentes procuram para obter informações sobre a síndrome, antecedidos pelos
progenitores e por leituras.
O que e como sabe? trata dos processos e estados das representações, e está
relacionado às indagações feitas aos professores sobre as noções e interesse dos alunos pela
AIDS.
Em suas representações, os professores avaliam que os adolescentes de idade
menores, matriculados na quinta e sexta séries, mostram noções sobre a síndrome apenas no
que se refere à prevenção e ao contágio. Os alunos expressam pouco interesse pelo tema por
estarem na fase da pré-adolescência, quando não vivenciam, ainda, uma relação afetivo-
sexual. Isto também pode estar associado à despreocupação com a vida de modo geral, que
tais alunos não se preocupam, na regra, com o futuro.
Em relação ao gênero, a maioria dos docentes avalia que a compreensão sobre
a AIDS não difere entre meninos e meninas. Acreditam que ambos os sexos possuem as
mesmas informações e dúvidas quanto à doença.
Por outro lado, alguns professores afirmaram que as meninas demonstram mais
preocupação em relação à sexualidade e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
Isto provavelmente está relacionada à educação recebida de seus pais, ou também com a
mudança do perfil das pessoas infectadas pelo vírus, pois a feminização da doença vem se
tornando significativa no Brasil.
Considerando esses aspectos, percebe-se que os professores em sua
representação ancoram a noção e o interesse dos alunos sobre a AIDS à fase de adolescência
em que estes se encontram, enquanto portadora de experiências que lhes possam chamar a
atenção para dificuldades e riscos.
A questão Sobre o que sabe, e com efeitos? conduz à constatação segundo a
qual os professores privilegiam os eventuais efeitos das representações referindo àqueles de
159
idades maiores, da sétima e oitava séries, que estão com a sexualidade aflorada e
provavelmente em atividade sexual, período em que demonstram maior preocupação e
interesse em discutir sobre a doença nas aulas. Neste sentido, a sexualidade aparece como um
elemento que acaba por permitir ancoragens às representações.
Ainda, quanto à representação da doença, os docentes afirmaram que, para os
alunos, existe a noção de que a AIDS se trata de uma enfermidade incurável. Isto se confirma
também nos estudos de Pagan (2004). Porém, os professores citaram que, apesar de possuírem
esse conhecimento, os adolescentes não o utilizam em seu cotidiano. Segundo os educadores,
os jovens não priorizam o uso do preservativo para evitar a contaminação do vírus. Percebem
também que, mesmo tendo ciência sobre a AIDS, os alunos ainda apresentam dúvidas quanto
a este assunto. Estas, quando existem, se referem principalmente ao vírus, às formas de
contaminação e à evolução da doença. Tura (l997) confirma esses resultados em sua pesquisa
com os adolescentes cariocas.
Para os professores, as representações sociais dos alunos acerca da AIDS estão
relacionadas aos elementos: doença transmissível e mortal, doença sem perspectiva de cura.
Como conseqüência, surge o medo da contaminação, da morte e o preconceito a que o
portador do vírus está sujeito.
Quanto à morte, os professores afirmam que a AIDS é uma doença muito
temida pelos alunos, já que estes relacionam esse mal ao processo da enfermidade e ao
fenecimento. Pagan (2004) também encontrou idêntico temor como um dos elementos da
representação social dos alunos acerca dessa doença.
O preconceito aparece, na fala dos educadores, como uma forma de reação que
os alunos apresentam em relação à pessoa acometida pela doença e pela dificuldade de se
situar no lugar do infectado pela AIDS, o que é, igualmente, confirmado por Pagan (2004),
apontando para representações docentes que se coadunam com as dos discentes.
160
As formas de transmissão da AIDS foram mencionadas pelos professores como
sendo algumas das preocupações dos alunos. Revelaram que os adolescentes demonstraram
inquietações quanto às formas de contágio do vírus, porém a que mais se destacou foi a de
contaminação via relação sexual. Estes dados se assemelham aos coletados dentre alunos
ouvidos por Pagan (2004). Para os estudantes por ele pesquisados, a via sexual é o principal
meio de propagação dessa doença. Assim, em conformidade com os discípulos, os professores
ancoram a preocupação quanto às formas de contágio da AIDS no ato sexual. A sexualidade,
em sua mais vasta extensão, aparece como elemento importante nas representações sociais
acerca da AIDS. Levando em consideração a amplitude de sua importância na vida do
adolescente, pode-se avaliar que representações sociais de diversos matizes estejam a aflorar
nos grupos adolescentes, talvez tomando o lugar de algumas representações hegemônicas
difundidas pelos professores. Isto também viria em auxílio ao avaliar o desinteresse que os
alunos apresentam quanto às informações fornecidas pelos professores.
Foi possível observar, durante os contatos, e, depois, através da leitura das
entrevistas, que os docentes ao falar sobre o que pensam seus alunos acabam, em muitas
ocasiões, revelando também o que eles próprios pensam a esse respeito. Levando em
consideração tal fato, pode-se entender com mais precisão algumas das diferenças
encontradas
na pesquisa de Pagan (2004) feita com alunos, e os resultados aqui obtidos. Por
certo que não havia uma intenção relacionada a desconhecer como a síndrome é representada
pelos alunos. O mais provável é que, por toda a repercussão que as graves conseqüências
acarretadas pela AIDS à humanidade, os professores estivessem a expressar suas ansiedades e
preocupações.
161
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Escola sem conflitos: parceria com os pais. Rio de Janeiro: Record, 2002.
168
ANEXO A
169
QUADRO DE VARIÁVEIS
Sexo
sex
Feminino
1
Masculino
2
Faixa
Etária
(anos)
id
20 a 25
1
26 a 30
2
31 a 35
3
36 a 40
4
41 a 45
5
Acima
de 46
6
Nível de
Formação
nf
Ensino
Médio
1
Graduação
2
Especialização
3
Mestrado
4
Área de
Atuação
at
Língua
Portuguesa
1
Matemática
2
Ciências
3
Língua
Inglesa
4
Geografia
5
História
6
Educação
Física
7
Educação
Artística
8
Filosofia
9
Regime
de
Trabalho
rt
Efetivo
1
Interino
2
Carga
Horária
(horas
semanais)
ch
até 20
1
até 30
2
até 40
3
Tempo de
Serviço
(anos)
ts
até 1
1
2 a 5
2
6 a 10
3
11 a 15
4
16 a 20
5
21 a 25
6
Tempo na
Instituição
ti
até 1
1
2 a 5
2
6 a 10
3
11 a 15
4
16 a 20
5
21 a 25
6
Religião
rel
Católica
1
Evangélica
2
Não tem
3
170
ANEXO B
171
CARACTERIZAÇÃO DOS ENTREVISTADOS
UNIVERSIDADE FEDRAL DE MATO GROSSO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM EDUCAÇÃO CULTURA E SOCIEDADE
Orientadora: Profª Drª Eugênia Coelho Paredes
Orientanda: Ivone de Oliveira Lima
Escola:_____________________________________________________________________
Endereço:______________________________________________Bairro:_______________
Tel.: _______________
Diretor(a) ___________________________________________________________________
Coordenador(a) ______________________________________________________________
Data:___/___/___
Horário:_____________
1. Nome: ___________________________________________________________________
2. Sexo: ( ) F ( ) M
3. Idade: ______________
4. Nível de Formação:
( ) Ensino Médio ( ) Graduação ( ) Especialização ( ) Mestrado ( ) Doutorado
5. Área de Atuação: ___________________________________________________________
6. Regime de Trabalho: ________________________________________________________
7. Carga Horária: _____________________________________________________________
8. Tempo na Instituição: _______________________________________________________
9. Tempo de serviço: __________________________________________________________
10. Qual é a sua religião: _______________________________________________________
172
ANEXO C
173
ROTEIRO DE ENTREVISTTAS
Pretendo recolher pontos de vista dos professores da rede pública de ensino do
município de Cuiabá, acerca das preocupações principais que os jovens tem hoje em dia.
Como os alunos percebem suas próprias vidas? Que idéias têm sobre sua própria vida? Quais
os temas que mais lhes interessam? Quais são os problemas com que se defrontam? Peço-lhe
que diga o que você pessoalmente acha a respeito da preocupação dos alunos, baseando-se
sobre sua própria experiência no contato com eles, ouvindo, observando e também pelas
conversas que você tem com seus alunos.
(Aproximação da vida escolar)
1. De uma maneira geral, quais são as situações da vida escolar nas quais os alunos com quem
você trabalha manifestam suas preocupações?
2. De uma maneira geral, quais são as situações da vida escolar com as quais os alunos
parecem não se preocupar?
(Aproximação da vida cotidiana)
3. De uma maneira geral, quais são as situações da vida cotidiana nas quais os jovens com
quem você trabalha encontram maiores dificuldades?
4. De uma maneira geral, quais são as situações da vida cotidiana nas quais os jovens com
quem você trabalha encontram maiores facilidades?
(Se não aparecer o tema)
5. Em geral se considera que (tema) é um assunto importante para os alunos.
5.1. Você concorda ou discorda dessa opinião? Você constata a importância ou não desse
assunto entre os alunos?
6. Por que você não falou sobre isso?
(Se aparecer o tema)
Gostaria de conversar mais profundamente sobre (tema).
7. Para você quais seriam as opiniões dos alunos, suas crenças, suas idéias, seus sentimentos
sobre (tema)?
174
8. Quais são as inquietudes e os temores dos alunos com relação a (tema)?
9. Você acha que os alunos procuram informações sobre o (tema)? De que maneira?
(Preparar lista de fontes a propor se o entrevistado não mencionar).
10. Você acaba de falar de diferentes fontes de informação. Poderia dizer que tipo de
informação os alunos recebem de cada uma dessas fontes? (Retomar a fonte que não
for mencionada).
11. Essas informações são suficientes ou insuficientes? Por quê?
12. São adequadas ou inadequadas? Por quê?
13. Na sua opinião, essas informações são compreendidas pelos alunos? Por quê?
14. Na sua opinião, os alunos acreditam nas informações existentes a respeito de (tema)? Por
quê?
15. Quais são as informações as quais os alunos deveriam ter acesso?
16. Na sua percepção, como a família orienta sobre (tema)?
17. Como é que você percebe isso?
Vamos agora falar de sua experiência em sala de aula.
18. Quando se fala nesse assunto em sala de aula como os alunos reagem?
19. Quais são as perguntas mais freqüentes que mostram as dúvidas dos alunos? Por quê?
20. Quais tipos de alunos você acha que estão mais propensos a interessar-se pelo (tema)? Em
que sentido?
21. Quais tipos de alunos você acha que estão menos propensos a interessar-se pelo (tema)?
Em que sentido?
22. Na sua opinião a noção de (tema) para os alunos varia conforme a idade, considerando
alunos de 5ª a 8ª séries? Por quê?
23. Para meninos e meninas a noção de (tema) varia? Por quê?
24. Você já teve oportunidade de conversar sobre (tema) nas aulas? Pode lembrar de alguma
situação e me contar como foi?
25. Imagine que vovai dar um curso sobre (tema): o que você acha que seria importante
abordar? Por quê?
26. A administração da escola incentiva, restringe ou nem toma conhecimento sobre isso?
175
27. Quais seriam as condições que permitiriam ao professor uma melhor abordagem desse
problema em sala de aula? Por quê?
28. Na sua opinião, seus colegas também pensam assim?
29. Gostaria de saber se, na sua opinião, existem alguns pontos que deveríamos ter
conversado e não conversamos?
176
ANEXO D
177
RELATÓRIO RESUMIDO (ALCESTE)
IMAGE
12 rue Thiers
31400 Toulouse
Tél : (33) 05 61 331 007
Fax : (33) 05 61 331 043
Web : www.image.cict.fr
RAPPORT D'ANALYSE
Informations générales
Nom du corpus Iv.txt
Nom du plan Iv.pl
Analyse du vocabulaire
Nombre d'unités de contexte initiales (u.c.i.) 44
Nombre d'occurrences de formes 100455
Nombre de formes distinctes 5854
Fréquence moyenne par forme 17
Nombre de hapax 2747
Après la lemmatisation
Nombre de formes réduites 1105
Nombre de mots étoilés 90
Nombre de mots supplémentaires 302
Nombre d'unités de contexte élémentaire (u.c.e.) 2510
LISTE DES CATEGORIES "GRAMMATICALES"
Catégorie "Grammaticale" Indicateur
Nombres en chiffre
Eliminée
Mots en majuscules
Supplémentaire
Mots non trouvés dans DICIN (si existe)
Eliminée
formes non reconnues et fréquentes
Analysée
Auxiliaire ESTAR
Supplémentaire
Auxiliaire TER
Supplémentaire
Auxiliaire HAVER
Supplémentaire
Auxiliaire SER
Supplémentaire
Prépositions simples et locutions prépositives
Supplémentaire
Conjonctions et locutions conjonctives
Supplémentaire
Interjections
Supplémentaire
Pronoms
Supplémentaire
Numéraux
Supplémentaire
Adverbes
Supplémentaire
Formes non reconnues
Analysée
CROISEMENT
178
Tableau croisant les deux partitions
R C D H 2
Classes 1 2 3 4 5 6 Poids
1 314 2 0 7 37 2 362
2 3 413 6 38 2 12 474
3 1 8 285 11 2 1 308
R C D H 1 4 9 125 7 334 5 10 490
5 13 0 3 0 199 0 215
6 6 63 2 53 1 342 467
Poids 346 611 303 443 246 367 1887
Tableau des khi2 (signés)
R C D H 2
Classes 1 2 3 4 5 6 Poids
1 1740 -147 -64 -82 0 -75 362
2 -95 1132 -73 -47 -65 -79 474
3 -59 -103 1971 -55 -37 -64 308
R C D H 1 4 -83 0 -74 966 -60 -88 490
5 -14 -84 -28 -56 1676 -44 215
6 -85 -50 -82 -22 -66 1444 467
Poids 346 611 303 443 246 367 -----
CLASSE N°1
VARIABLES DE LA CLASSE N°1
Identification u.c.e total classées u.c.e. dans la classe Khi2
*id_2 205 47 6.55
*ind_1 64 17 4.70
*ind_41 39 11 3.84
*at_4 39 11 3.84
*ti_2 558 107 3.67
*id_7 263 53 2.72
*ts_3 337 65 2.07
*ind_44 40 10 2.06
*at_7 149 31 2.02
179
FORMES REPRESENTATIVES DE LA CLASSE N°1
Khi2 u.c.e. dans la classe Formes réduites Formes complètes
278.92 127 pai+ pai(72)
pais(96)
247.85 75 dificuldade+ dificuldade(48)
dificuldades(39)
236.72 63 facilidade+ facilidade(51)
facilidades(28)
209.41 67 cotidian+ cotidiana(62)
cotidiano(7)
202.51 84 cas+ casa(89)
casou(1)
193.47 46 encontr+ encontra(9)
encontrada(1)
encontram(32)
encontrando(1)
encontrar(5)
encontrass
91.61 51 mae+ mae(65)
maes(1)
78.01 19 enfrent+ enfrenta(5)
enfrentam(13)
enfrentar(1)
77.94 48 problema+ problema(20)
problemas(33)
76.21 98 vida+
66.21 24 car+ carencia(13)
carente(7)
carentes(3)
carinho(4)
carona(1)
63.18 16 financeir+ financeira(18)
financeiras(1)
52.08 67 famili+ familia(68)
familiar(11)
familias(2)
50.74 117 escol+
45.30 9 aliment+ alimentacao(6)
alimentam(1)
alimentar(2)
u.c.e. CARACTERISTIQUES DE LA CLASSE N°1
u.c.e. Khi2 Unité de Contexte Elémentaire
2001 48 A escola e um facil acesso para eles, a maioria moram perto. no
cotidiano,
a grande maioria dos nossos alunos nao encontra facilidades. os alunos
sem
medo de errar nao tem facilidades. eles, nao conhecem o pai, nao tem
mae, mora
com a avo, separou. ou pai briga pela filha, e angustiante.
284 42
A dificuldade que os alunos encontram no cotidiano e a falta de dialogo
com os pais. muitos alunos nao tem dialogo, pois vem de familia de pais
separados.
497 40
os filhos acabam orientando os pais sobre a doenca. muitas vezes os
pais
tem dificuldades sociais, financeiras e precisam ficar trabalhando o dia
180
inteiro.
um, o pai trabalha como pedreiro, outro como prestador de servico, a mae
trabalha
em casa de familia. entao, o acesso a essas informacoes e bem reduzido.
766 37
existe tambem a dificuldade financeira que o aluno enfrenta, a carencia
de afeto. ha tambem, aquele aluno que vem com problema neurologico e
muitas
vezes os pais fazem vista grossa.
464 37
voce encontra aluno muito carente, de afeto, de tudo. ele chega em casa
as vezes e uma decepcao. muitas vezes a mae separou, casou de-novo,
ou vice
versa.
1565 35
na vida cotidiana, os alunos tem inumeras dificuldades familiares e
envolvimento
com drogas. essas sao as dificuldades de casa que sao direcionadas para
a escola.
existe muito aquela situacao de pai e mae vir a escola, e dizer que nao tem
condicoes de lidar com o filho. muitas vezes da gracas-a deus quando ele
vem
para a escola.
1430 34
tem pai que e traficante, tem os proprios irmaos que sao usuarios de
drogas.
por outro lado vejo a preocupacao deles com a questao do trabalho. os
alunos
querem estudar e trabalhar. eles encontram dificuldades, porque nao
conseguem
emprego e quer ajudar a familia.
1363 34
na vida cotidiana, a maioria dos adolescentes desta escola encontra
maiores
dificuldades com a familia. sao filhos de pais separados, viciados com
alcool,
as vezes ate mesmo com drogas.
400 34
muitos deles possuem essa visao, ve com perspectiva o lado ruim, o lado
bem
duro. na vida cotidiana os alunos nao encontram facilidades. A vida dele
e
muito dificil. eles deparam com a pobreza, com a carencia social. nessa
perspectiva
eles encontram como facilidade a venda de drogas e ser traficante.
2382 33
devido a sua baixa estima. no nosso bairro, por incrivel que pareca, a
baixa
estima e muito grande. O pai esta desempregado, o aluno sai de casa, a
mae
ja comeca falar alto desde cedo.
SEGMENTS REPETES DE LA CLASSE N°1
Fréquences Segments Répétés
60 em cas+
59 na vida+ cotidian+
34 os alunos
29 os pai+
181
26 as vez+
22 na escol+
19 para eles
18 a escol+
17 nao tem
16 do alun+
15 com a
14 e a
14 os alunos encontr+
14 dos+ pai+
13 para o
CLASSE N°2
VARIABLES DE LA CLASSE N°2
Identification u.c.e total classées u.c.e. dans la classe Khi2
*ind_24 71 35 32.42
*ts_2 250 75 11.10
*ind_42 49 20 10.54
*rel_2 44 18 9.54
*ind_37 44 18 9.54
*rt_2 366 100 7.85
*id_3 213 60 5.54
*sex_2 771 189 5.26
*at_3 403 104 4.61
*ti_1 461 117 4.35
*ind_5 55 18 3.89
*ind_12 49 16 3.41
*ti_6 86 25 2.72
*ind_17 55 17 2.70
*id_4 402 100 2.67
*at_9 157 42 2.37
*ch_1 324 81 2.22
FORMES REPRESENTATIVES DE LA CLASSE N°2
Khi2 u.c.e. dans la classe Formes réduites Formes complètes
174.97 115 peg+ pega(67)
pegado(1)
pegam(3)
pegando(4)
pegar(61)
pegava(1)
pego(2)
pegou(12)
147.09 169 doenca+ doenca(186)
doencas(19)
116.77 40 virus virus(45)
103.24 102 pesso+ pessoa(75)
pessoal(9)
182
pessoas(46)
87.25 283 aids aids(413)
72.72 36 morr+ morre(3)
morrem(1)
morrer(17)
morreram(1)
morreu(19)
morro(1)
65.18 95 vai vai(125)
57.27 26 beij+ beijando(4)
beijar(12)
beijinho(1)
beijo(13)
47.19 22 curso+ curso(21)
cursos(1)
45.17 44 med+ medico(9)
medicos(1)
medo(40)
44.41 22 transmiss+ transmissao(17)
transmissivel(4)
transmissor(1)
40.94 52 camisinha+ camisinha(64)
camisinhas(1)
40.78 24 tom+ toma(5)
tomado(1)
tomam(2)
tomando(3)
tomar(17)
37.97 12 seringa+ seringa(6)
seringas(8)
36.69 14 sangue sangue(17)
u.c.e. CARACTERISTIQUES DE LA CLASSE N°2
u.c.e. Khi2 Unité de Contexte Elémentaire
1040 34 se acontecer a relacao, vou pegar aids? quando trabalhei filosofia,
surgiram
algumas perguntas, como e a doenca, se apertar a mao da pessoa, ela vai
transmitir
a aids, se abracar, se beijar pega a doenca.
276 32
se agente conseguir dominar a mente nao precisa nem tomar o remedio.
abordar
tambem como fazer para nao pegar a aids, todos os cuidados necessarios
nao
so o ato sexual, a transfusao de sangue, quando vai ao dentista, seringa
so
aceita se for rasgada na frente.
1296 29
como o virus trabalha no organismo? por-que nossas celulas de defesas
nao
reagem contra o virus? por-que o virus mata as celulas de defesa? qual e
a duracao
do individuo? quais sao os primeiros sintomas? com quem adquiriu a adis?
se
ele mantiver relacao sexual com outra pessoa, abracar, beijar ele vai
pegar
a aids?
2258 25
ficam preocupados se uma pessoa que esta contaminada pelo virus pode
183
beijar,
beber agua no mesmo copo, se pode ser amigo, se pode abracar. E
quanto tempo
leva a doenca para manifestar. os alunos acham, que por ser a primeira
relacao,
nao vao engravidar, nao vao ser contaminados com nada, nao vao pegar
doenca
nenhuma.
2437 24
talvez pode ser uma falha, nao sei. A perguntas mais frequentes e sobre o
beijo. se a aids pega se beijar na boca. se a aids pode ser contraida se
der um aperto de mao, um abraco.
338 24
A boca pode ter qualquer ferida, qualquer coisinha e pode pegar a
doenca.
entao, sao coisas nossas mesmo tambem de discriminacao, porque
tambem vou discriminar
sim. se eu souber que a pessoa tem aids nao vou tomar no mesmo copo.
entao,
sao coisas que infelizmente se passa para o aluno dessa forma como voce
pensa.
293 24
se eles tiverem que transar, vao transar sem camisinha. isso e uma
coisa
remota para eles. esta la para frente, se tiver que acontecer vai acontecer
mesmo.
184 24
E mais uma doenca. E normal, nao ha preocupacao. se pegar, pegou, se
morreu,
morreu. A aids enquanto nao bate na porta, todo mundo acha que so
acontece
com os outros.
1839 21
essa frase retrata bem-que eles nao veem a aids como uma doenca que
futuramente
pode ser curada. se pegar morreu mesmo. que eles tem medo da aids,
que nao
tem cura. os alunos nao conhecem todos os tratamentos que sao feitos
gratuitos
e que nao pode ser interrompido.
1298 21
porque suficiente quando voce pega do um e vai ate no infinito, o maximo
que voce pode fazer por um aluno. mostrar para ele no laboratorio o-que-e
um
virus da aids.
SEGMENTS REPETES DE LA CLASSE N°2
Fréquences Segments Répétés
33 os alunos
32 a aids
28 a doenca+
25 da doenca+
20 relac+ sexual+
19 sobre a aids
17 as vez+
16 peg+ a doenca+
184
14 nao so
14 se voce
14 de sangue
13 todo mundo
13 a camisinha+
13 peg+ a aids
13 da aids
CLASSE N°3
VARIABLES DE LA CLASSE N°3
Identification u.c.e total classées u.c.e. dans la classe Khi2
*ind_14 50 14 6.66
*ind_18 28 9 6.44
*ts_6 490 91 6.21
*ti_3 427 79 4.97
*ind_17 55 14 4.73
*at_7 149 30 3.19
*at_9 157 31 2.88
*ind_23 58 13 2.49
*ch_2 1318 210 2.35
*ind_35 33 8 2.19
*nf_4 188 35 2.01
FORMES REPRESENTATIVES DE LA CLASSE N°3
Khi2 u.c.e. dans la classe Formes réduites Formes complètes
508.75 118 seri+ serie(143)
series(6)
499.64 110 noc+ nocao(122)
nocoes(1)
341.85 72 quinta quinta(81)
309.27 100 ano+ ano(4)
anos(109)
255.22 48 setima setima(48)
249.41 57 oitava+ oitava(59)
oitavas(2)
224.97 78 menin+ menina(27)
meninas(92)
menininha(1)
menino(13)
224.35 62 men+ meninos(75)
menor(2)
219.27 55 idade+ idade(60)
idades(1)
195.74 40 sexta sexta(41)
110.37 66 interess+ interessa(10)
interessada(2)
interessado(2)
interessam(13)
interessando(1)
in
185
88.57 55 sexual+ sexual(60)
sexualmente(6)
84.52 25 faixa+ faixa(29)
78.14 30 propenso+ propenso(2)
propensos(32)
73.58 13 vari+ variacao(10)
variam(1)
variar(2)
u.c.e. CARACTERISTIQUES DE LA CLASSE N°3
u.c.e. Khi2 Unité de Contexte Elémentaire
2384 77 as oitavas series nao, ja sao mais adultos, quinze, dezesseis e dezessete
anos,
se ja nao estao na experiencia sexual, estao loucos para entrar. da quinta
serie ainda estao naquela curiosidade, tudo ainda, e novidade. A nocao de
aids
nao varia para meninos e meninas.
805 63
O aluno entra na quinta serie com onze anos entao, ainda nao quer saber.
da sexta ele esta com doze anos. agora dos treze aos quatorze que e
setima e
oitava series essa faixa etaria sim esta mais preocupa, pois existem alunos
que tiveram experiencias sexuais.
2145 55
ja os alunos da quinta e sexta serie que tem de dez a doze anos, ainda
nao
estao em inicio da vida sexual. A nocao nao varia para os meninos e as
meninas.
1828 53
eles ainda nao estao com a parte sexual tao ativa, estao comecando a
despertar.
E voce pega a oitava serie que esta todinha despertada sexualmente, que
tem
a idade de quatorze, quinze anos, estao bem no auge, nessa idade pode
falar aprofundado
que eles tem nocao da aids.
1692 52
eles estao se transformando, a voz esta engrossando, os pelos crescendo.
porque
eles estao querendo descobrir alguma coisa. E a idade do porque, o-que-e
isso.
os tipos de alunos menos propensos a interessar pela aids sao os alunos
da
quinta serie que ainda sao menores, ainda nao estao com o corpo
mudando.
1484 51
na sexta serie eles comecam a criar, se despertar para a doenca, porque
eles estao entrando na adolescencia. na quinta serie eles tem entre dez a
onze
anos, na sexta serie eles tem doze anos.
2144 49
porque pelo desenvolvimento cognitivo do adolescente, a quinta e sexta
serie,
esta na outra realidade, pois, sao pequenos. A nocao da aids esta mais
proxima
da setima e oitava serie, que tem treze a dezesseis anos, que esta no
inicio
186
da vida sexual.
2383 47
ja nao dormem bem, a casas nao e boa para morar. A nocao da aids varia
considerando
a idade. A quinta serie esta mais pela curiosidade, estao com dez a doze
anos.
1409 46
pode ser que o aluno da quinta nao venha entender com a mesma
intensidade,
porque ele nao usa na pratica. O aluno de setima e oitava serie, de
quatorze,
quinze anos para cima ja tem vida sexual ativa.
1485 45
na setima serie e que eles consolidam essa nocao da aids. na sexta serie
eles comecaram a desperta, eles perguntam, voce e bombardeada pelas
perguntas,
porque eles tem muitas duvidas.
SEGMENTS REPETES DE LA CLASSE N°3
Fréquences Segments Répétés
28 as menin+
24 A noc+ da aids varia
21 faixa+ etaria+
19 doze ano+
18 sobre a aids
17 A noc+
17 conforme a idade+
17 comec+ a
16 onze ano+
16 de dez
16 sexta seri+
15 nao varia
15 nao tem
15 dezesseis ano+
15 os men+
CLASSE N°4
VARIABLES DE LA CLASSE N°4
Identification u.c.e total classées u.c.e. dans la classe Khi2
*ind_33 40 16 13.95
*ti_4 171 44 8.33
*ind_34 34 11 5.10
*ind_6 32 10 4.10
*ind_25 58 16 4.01
*sex_1 1116 213 3.60
*at_8 84 21 3.22
*at_1 395 82 3.21
*ind_15 39 11 3.02
187
*ind_36 48 13 2.98
*nf_2 599 119 2.83
FORMES REPRESENTATIVES DE LA CLASSE N°4
Khi2 u.c.e. dans la classe Formes réduites Formes complètes
91.88 61 tem+ tema(57)
temas(3)
temem(6)
temor(2)
90.56 153 fal+ fala(42)
falada(1)
falado(16)
falam(16)
falamos(3)
falando(15)
falar(77)
falaram
83.96 73 assunto+ assunto(85)
assuntos(4)
70.65 68 pergunt+ pergunta(14)
perguntado(1)
perguntam(20)
perguntamos(1)
perguntando(4)
pergunt
68.40 22 reag+ reage(1)
reagem(21)
63.48 20 oportunidade oportunidade(20)
63.33 227 aids
61.97 61 perceb+ percebe(22)
percebem(1)
percebemos(5)
percebesse(1)
percebo(35)
50.60 59 convers+ conversa(15)
conversam(16)
conversamos(3)
conversando(4)
conversar(16)
convers
48.31 27 duvid+ duvida(2)
duvidas(24)
duvido(1)
duvidoso(1)
44.74 13 reac+ reacao(11)
reacoes(2)
42.37 41 orient+ orienta(23)
orientacao(16)
orientam(5)
orientando(1)
orientar(4)
orientaram(1)
40.59 53 sala+ sala(59)
salas(2)
33.68 35 important+ importante(34)
importantes(2)
importantissimo(2)
32.73 57 professor+ professor(31)
professora(16)
professores(22)
188
u.c.e. CARACTERISTIQUES DE LA CLASSE N°4
u.c.e. Khi2 Unité de Contexte Elémentaire
1188 31 nao sei se meus colegas pensam assim. alguns sim, que tenho mais
amizade.
porque nos conversamos sobre o assunto e deparamos com casos de
adolescentes gravidas
aqui na escola e nesse momento conversamos sobre esse tema.
2470 27
nos temos aqui a feira de ciencias e e trabalhado esse tema aids. A
professora
de ciencias e a-que mais tem trabalhado esse tema aids, mas eu tambem,
de-vez-em-quando,
dou uns toques.
373 26
os alunos nao fizeram nenhuma pergunta relacionado a aids para mim,
nem demonstram
suas duvidas. eles ainda estao naquela que ciencias e ciencias. geografia
e
geografia. historia e historia e portugues e portugues. entao, eles
pensam
que nao e pertinente a aula de portugues.
1111 25
ao falar nesse assunto aids na sala, os alunos reagem levando na
brincadeira,
cacoam. eles demonstrar nao estar ligando, so quando voce aborda
mesmo o assunto
eles ficam mais atentos, de orelha em pe.
357 25
E dst, ate comentei com o professor de ciencias, que eles nao sabem o-
que
significa essa sigla. tinha uns que fizeram piadinha e colocaram outras
coisas
no lugar.
862 23
A diretora ia abrindo e respondendo as perguntas que aqueles alunos
daquela
sala iam fazendo. teve situacoes ali que ela ficava meio confusa e eu nao
teria
coragem de responder, porque eram questoes muito intimas e ficava dificil
pra
nos enquanto professor e nao conhecedor de tudo aquilo que poderia ser
falado.
1900 22
concordo que a aids seja um assunto importante para os alunos. mas,
entre os
alunos nao tenho percebido que eles conversam sobre a aids. quando o
professor
toca no assunto ha discussao, mas entre eles nao tenho percebido.
2412 21
ja teve aqui na escola um projeto voltado para a gravidez na adolescencia,
toda essa questao de prevencao e e muito importante. O que percebo que
eles conversam,
nao tao diretamente para eu estar ouvindo. nos ouvimos comentarios
entre outros
alunos.
189
775 21
O assunto aids para os alunos tem pouca importancia. se o professor
conta
a historia que aconteceu com alguem, desperta o interesse deles. se
surgem pergunta
e discutido o assunto. nos trabalhamos com evangelicos, com alunos de
varias
religioes.
855 20
ja tive oportunidade de conversar sobre a aids sim, o caso daquela
menina
que nos tocamos no assunto e que ela relatou a questao do amigo dela
que estava
com aids.
SEGMENTS REPETES DE LA CLASSE N°4
Fréquences Segments Répétés
43 os alunos
23 sobre a aids
23 as vez+
18 da aids
16 dos+ alunos
13 os alunos reag+
12 sobre a doenca+
11 na escol+
10 o assunto+
10 a aids
9 um pouco
9 na sala+
9 essa doenca+
9 que eles
9 em relac+ a aids
CLASSE N°5
VARIABLES DE LA CLASSE N°5
Identification u.c.e total classées u.c.e. dans la classe Khi2
*ind_22 42 10 8.01
*ind_31 61 13 7.74
*sex_1 1116 135 6.96
*id_6 301 44 6.29
*at_2 193 30 5.69
*ti_6 86 15 4.54
*ind_35 33 7 4.05
*ind_11 28 6 3.57
*id_3 213 29 2.40
190
FORMES REPRESENTATIVES DE LA CLASSE N°5
Khi2 u.c.e. dans la classe Formes réduites Formes complètes
291.97 115 preocup+ preocupa(16)
preocupacao(55)
preocupada(2)
preocupado(2)
preocupam(77)
preocup
236.89 129 escol+ escola(105)
escolar(76)
escolas(1)
173.58 93 vida+ vida(112)
155.87 42 estud+ estuda(6)
estudam(1)
estudando(3)
estudante(1)
estudar(27)
estudo(10)
estudou(1
106.58 23 aprendiz+ aprendizado(10)
aprendizagem(16)
106.55 20 not+ nota(24)
notamos(1)
88.84 21 ensin+ ensinado(4)
ensinando(1)
ensino(18)
75.44 19 conteudo+ conteudo(19)
conteudos(2)
69.19 11 futuro futuro(13)
68.15 8 aprovado+ aprovado(5)
aprovados(3)
58.08 18 aprend+ aprendem(1)
aprender(17)
aprendeu(1)
52.33 17 manifest+ manifestado(1)
manifestam(16)
47.23 20 preocupados preocupados(23)
44.89 43 quer+ quer(20)
querem(28)
querer(3)
quero(1)
42.52 5 qualidade qualidade(5)
u.c.e. CARACTERISTIQUES DE LA CLASSE N°5
u.c.e. Khi2 Unité de Contexte Elémentaire
2045 57 na vida escolar, os alunos manifestam suas preocupacoes atraves da
inseguranca.
porque onde eles vivem ha um alto grau de violencia. os alunos
preocupam com
a qualidade do ensino, muitas vezes cobram muita a presenca do
professor na
acepcao da palavra.
763 49
na vida escolar os alunos manifestam minima preocupacao com a
aprendizagem.
eles se preocupam mais em brincar, tirar sarro de tudo e de todos. em
relacao
191
a estudo em si a preocupacao e minima, o aprender e minimo. os alunos
se preocupam
mais com o dia_a_dia dele, com as suas diversoes, com as suas paqueras.
651 49
os alunos na vida escolar manifestam suas preocupacoes com a
aprovacao.
eles querem mesmo e passar de ano, acabar logo. E mais querer ser
aprovado e
so. eles querem ver se tem nota para passar de ano. na escola os alunos
parecem
nao se preocupar muito com o conteudo, com o-que eles vao aprender.
706 47
na vida escolar os alunos manifestam suas preocupacoes, quando estao
na
aula de educacao fisica. voce ve muitos alunos preocupados com a
violencia
do dia_a_dia, com a questao do futuro.
2110 42
A preocupacao dele mesma e com a nota e nao com o aprender o
conteudo. na
vida escolar, os alunos nao se preocupam com conhecimento em si.
616 40
os alunos, nem sequer vem fazer a prova. O professor tem que ser
bastante maleavel,
porque senao, no fim ele e quem prejudica o aluno. O que preocupa os
alunos
e o trabalho que e passado para ele fazer, e a nota. na vida escolar os
alunos
parecem nao se preocupar com a educacao, o ensino.
1941 39
aqueles alunos que realmente estao preocupados com a educacao,
tambem estao
preocupados com essas situacoes de violencia que vem vivenciando no
dia_a_dia.
na vida escolar, vamos dizer que uns dez por cento de alunos numa sala,
estariam
interessados em estudar, em fazer um nivel superior, um segundo grau.
966 39
na vida escolar percebo que os alunos nao tem muita preocupacao com
a aprendizagem.
A unica coisa que eles se preocupam e com a nota. se tiver a nota para
eles
e o suficiente, o resto nao importa. quando a gente chega na porta para dar
aula,
eles ficam pedindo para nao dar conteudo.
395 39
os alunos nao tem muita preocupacao com a violencia. eles sao muito
agressivos,
mesmo dentro-de sala de aula. uma outra coisa que os alunos nao se
preocupam
e com a qualidade daquilo que eles estao aprendendo, com o ensino em
si.
2278 37
os alunos estao muito preocupados com a violencia. na vida escolar, os
alunos,
de um modo geral, nao estao muito preocupados com o compromisso
serio da educacao.
192
SEGMENTS REPETES DE LA CLASSE N°5
Fréquences Segments Répétés
50 na vida+ escol+
47 os alunos
20 na escol+
17 na vida+ cotidian+
15 com o
15 pass+ de ano+
12 dos+ alunos
12 as vez+
11 da escol+
10 eles quer+
10 a escol+
9 ou nao
8 eles estao
8 que esta
8 com as
CLASSE N°6
VARIABLES DE LA CLASSE N°6
Identification u.c.e total classées u.c.e. dans la classe Khi2
*ind_2 61 18 5.51
*id_3 213 51 5.48
*at_6 280 64 4.96
*at_5 187 45 4.94
*ind_27 42 13 4.76
*ind_3 48 14 4.05
*ind_23 58 16 3.61
*sex_2 771 154 3.01
*nf_4 188 42 2.50
*ind_42 49 13 2.40
*ind_11 28 8 2.09
FORMES REPRESENTATIVES DE LA CLASSE N°6
Khi2 u.c.e. dans la classe Formes réduites Formes complètes
682.35 215 informacoes informacoes(308)
165.79 36 fonte+ fonte(3)
fontes(34)
164.11 37 propagand+ propaganda(30)
propagandas(12)
propagando(1)
160.27 49 receb+ recebam(1)
recebe(6)
recebem(42)
receber(7)
recebeu(1)
123.85 32 adequada+ adequadas(34)
193
111.58 27 insuficiente+ insuficiente(4)
insuficientes(23)
92.62 72 inform+ informa(1)
informacao(64)
informado(1)
informais(1)
informal(2)
informam(4)
in
89.76 31 midia midia(33)
89.70 21 passadas passadas(22)
83.36 22 compreendidas compreendidas(23)
82.98 43 televisao televisao(46)
77.63 161 as as(207)
65.37 20 compreend+ compreendam(1)
compreendem(14)
compreender(4)
compreenderam(3)
61.89 40 procur+ procura(8)
procurado(1)
procuram(29)
procuramos(3)
procurando(2)
procurar(10)
52.99 18 revist+ revista(9)
revistas(10)
u.c.e. CARACTERISTIQUES DE LA CLASSE N°6
u.c.e. Khi2 Unité de Contexte Elémentaire
1452 42 eles recebem tambem informacoes pela televisao, pelas propagandas,
atraves-de
jornais, de revistas, os que acessao internet. eles recebem as
informacoes
atraves dos meios de comunicacao de massa. dessas fontes as
informacoes que
eles recebem iniciam pela feira de ciencias, onde ele tem uma informacao
mais
sistematizada e conceituada.
363 37
nao noto que o aluno presta atencao nas informacoes e nem nas fontes
que
passam. os alunos nao prestam atencao nessas informacoes veiculadas
pela televisao.
as informacoes passam despercebidas para eles. as informacoes dos
meios de
comunicacao sao insuficientes para esse nivel de alunos que nos temos
nesta comunidade.
1740 34
E dada para ele uma gama, um leque de informacoes, que sao os jornais,
revistas,
imprensa falada, escrita e mais a escola. agora, as campanhas que sao
feitas,
por exemplo, na televisao eles assistem como-se fosse mais uma
propaganda.
981 34
as informacoes nos procuramos adequa las. A gente procura fazer,
mesmo quando
utiliza videos ou filmes, ou panfletos, transformar numa linguagem
194
popular
entre eles. E a melhor forma de faze los entenderem melhor essa traducao.
geralmente
vem numa forma mais rebuscada, e a gente procura depois fazer
comentarios utilizando
o proprio linguajar dos alunos e facilita.
884 34
em nivel de midia nenhuma informacao nao e passada que nao sejam
adequadas.
as informacoes sao compreendidas. menos a aids, porque voce nao sabe
nem se voce
esta com a doenca.
54 34
ate para-que ele possa viver, respeitando seu corpo e a sua limitacao. os
alunos tem conhecimento proprio como usar e como sair preventivamente.
as informacoes
nunca sao suficientes. mas, insuficiente nao pode ser. porque os alunos
precisam
conhecer varios outros meios que possam informar melhores sobre a aids.
2237 32
nao precisam nem procurar porque tem muita informacao, estamos
sempre comentando,
os livros trazem propostas para debater. os alunos tem a-vontade as
informacoes
sem precisar ir atras, mas nao estao preocupados a-nao-ser-que seja
cobrado. essas
informacoes tem na escola, na midia, posto de saude, policlinicas, na
epoca
de campanha.
426 31
os alunos precisam muito mais de informacoes sobre a aids. as
informacoes
sao adequadas. porque, esta ensinando a usar o preservativo. mas,
precisaria
de maiores informacoes, que chamasse mais a atencao dos alunos para a
situacao.
algumas informacoes sao compreendidas pelos alunos.
305 28
eles nao entendem esses termos mais cientificos. quando passa na
televisao
a linguagem e bem cientifica. nao e utilizado o palavreado vulgar que eles
estao
acostumados a falar.
1805 26
teria o posto, o centro de saude se eles fossem atras. A gente tras todos
os metodos para eles visualizarem mesmo como que evita, cartazes, livros,
sites,
os que tiverem acesso.
SEGMENTS REPETES DE LA CLASSE N°6
Fréquences Segments Répétés
42 as informacoes
26 da aids
24 dess+ fonte+
23 essas informacoes
23 os alunos
21 sobre a aids
195
17 na televisao
17 na escol+
17 meio+ de comunicacao
14 para eles
14 a aids
13 de saude
13 atraves da
11 alguma cois+
11 para os alunos
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