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escolha dos ready- made funda-se numa “reação de indiferença visual”. Mais enfático ainda
ele foi em 1962, em carta a Hans Richter, publicada, em 1965:
“Quando eu descobri os ready-mades eu pensei em desencorajar a estética. O Neo-
Dada retomou meus ready-mades e encontrou beleza neles. Eu atirei um suporte
para garrafas e um urinou na cara deles como um desafio e agora eles os admiram
por sua beleza estética.”
A direção tomada, ao se admitir essa linha de argumentação, leva-nos a
aceitar a irrelevância conceitual da estética para a arte. Esse é um dos apontamentos mais
conhecidos e polêmicos que Kosuth levanta em Art After Philosophy. Ao afirmar que o século
XX trazia o fim da filosofia e o início da arte, ele não destaca, naturalmente, nenhum sentido
mecanicista nessa conexão, mas também não vê o fato como acidental. O que ele quer é
separar estética de arte, porque a estética ocupa-se com opiniões sobre a percepção do mundo
em geral. Isso não diz respeito a considerações feitas dentro de um contexto artístico.
Qualquer coisa física pode ser tomada como um objeto de arte, mas isso nada tem a ver com o
fato de ser ou não esteticamente agradável. Esta conexão equivocada entre estética e arte
perpetuou-se em razão do apego da arte tradicional e da crítica correspondente aos aspectos
morfológicos e decorativos dos objetos artísticos.
“É necessário separar a estética da arte porque a estética lida com opiniões sobre a
percepção do mundo em geral. No passado, um dos destaques da função da arte era
seu valor como decoração. Assim, qualquer ramo da filosofia que lidasse com a
beleza, e, portanto com o gosto, era inevitavelmente obrigado a discutir também a
arte. A partir desse hábito surgiu a noção de que havia uma conexão conceitual entre
a arte e a estética.”... (KOSUTH, 1969)
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“De fato as considerações estéticas são sempre alheias à função ou à razão de ser de
um objeto. A não ser, é claro, que a razão de ser de um objeto seja estritamente
estética. Um exemplo de objeto puramente estético é um objeto decorativo, uma vez
que a função primordial da decoração é acrescentar algo de modo a tornar mais
atrativo; adornar; ornamentar, e isso se relaciona diretamente com o gosto. O que
nos leva diretamente à arte e à crítica formaslistas.”
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Kosuth, além de absorver a influência de Duchamp, creditou a ele o ineditismo do
questionamento a respeito da função da arte. Mesmo reconhecendo uma tendência a
autodefinição da arte, a partir de Cézanne e através do cubismo, Kosuth define suas obras