98
insatisfação em relação aos recursos técnicos, não que eu já não saiba mais ou menos o
que fazer. É aquilo que a gente estava falando sobre você saber que ele supre, que eles
são, que eles vão... até porque é uma boa educação vocal, você já ouviu acontecendo,
você já viu fazendo, você já ouviu acontecendo. Mas você ainda sente falta, ou porque
você não conseguiu acessar em você, conseguir fazer com seu corpo. Por exemplo, tem
alguns sons que eu não consigo ouvir no meu corpo, né, então nessa hora, eu procuro
pensar na idéia, me fixar na idéia que eu quero passar, né? E não necessariamente
usando só a técnica. Eu penso, penso aonde é a ressonância e ela acontece. Mas, como
eu não consigo ouvir exatamente o que está acontecendo, não consigo identificar, dar
significado pra isso, fica uma dúvida e tal. Lógico, aí você vê o conjunto, se você está
adequado ao conjunto ou não. No caso do solista não, no caso do coral, você ouve o que
está acontecendo e você se concentra na idéia que você quer passar. Mas nesse caso
específico assim, se fica inteligível, eu conto mais hoje com essa coisa da imagem.
Entrevistadora - O que você está tratando por imagem?
Ângela – Quando você pensa no personagem, você imagina. Aí no caso da Carmem,
por exemplo, você imagine que ela é uma mulher muito...uma palavra pra isso né, ela é
muito enfim, decidida, então você imagina como é que ela soa, como é que ela é, não só
dentro da ópera que eu acho que até nesse caso a gente pode, eu pelo menos quando
pensei na Carmem como solo eu tirei ela da ópera pra fazer isso. Já que era só um solo,
eu pensei só naquela música, no personagem pra aquela música que é a Carmem. E
então você imagina como é que é o personagem como é que ele deve, como é que é uma
pessoa assim, como é que é ele, e daí você procura, usando a técnica, lógico, mas
também, mais imagens, imagens da pessoa, como é que ela é quando ela chega, como é
que ela se comporta, como é que as pessoas vêem ela, enfim, coisa assim que é normal,
né? E essas imagens vão trazendo a sonoridade que você quer, né, também. Daí alguns
recursos você já conhece tecnicamente, aí você coloca, você quer fazer um momento
contrastante com outro, aí você intensiona isso também, você concentra em fazer isso e
tal. É assim que normalmente eu trabalho, pelo menos na Carmem foi o que eu fiz.
6. Ângela - Bom, o meu repertório varia muito. Como eu escolho o repertório varia
muito. Pode ser indicação, algumas coisas que seriam interessantes de você trabalhar,
então o maestro indica, como foi o caso da Carmem. E tem, lógico, o teu gosto pessoal,
né? Porque às vezes você quer expressar aquele assunto, por exemplo, você quer
entender melhor aquele assunto e você procura estudar aquele assunto, com expressão e