Download PDF
ads:
“ESTUDO DO INÍCIO DA CORROSÃO A QUENTE DA SUPERLIGA
DE NÍQUEL IN738 LC PELAS CINZAS DA COMBUSO DA
CELULIGNINA PROVENIENTE DO BAGAÇO DE CANA”.
BELDO SALLES VALLE MACEDO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE - UENF
CCT
CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ
OUTUBRO - 2005
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
“ESTUDO DO INÍCIO DA CORROSÃO A QUENTE DA SUPERLIGA
DE NÍQUEL IN738 LC PELAS CINZAS DA COMBUSO DA
CELULIGNINA PROVENIENTE DO BAGAÇO DE CANA”.
BELDO SALLES VALLE MACEDO
“Dissertação de mestrado apresentada
ao Centro de Ciência e Tecnologia (CCT) da
Universidade Estadual do Norte Fluminense
(UENF), como cumprimento de parte das
exigências para obtenção do título de
mestre em Engenharia e Ciência dos
Materiais.”
Orientador: Prof. Ruben Rosenthal, Ph.D.
CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ
OUTUBRO - 2005
ads:
“ESTUDO DO INÍCIO DA CORROSÃO A QUENTE DA SUPERLIGA
DE NÍQUEL IN738LC PELAS CINZAS DA COMBUSTÃO DA
CELULIGNINA PROVENIENTE DO BAGAÇO DE CANA”.
BELDO SALLES VALLE MACEDO
“Dissertação de mestrado apresentada
ao Centro de Ciência e Tecnologia (CCT) da
Universidade Estadual do Norte Fluminense
(UENF), como cumprimento de parte das
exigências para obtenção do título de
mestre em Engenharia e Ciência dos
Materiais.”
Aprovada em 24/10/2005
Banca examinadora:
____________________________________________
Prof. Daltro Garcia Pinatti, Ph.D. - DEMAR - FAENQUIL -
__________________________________________
Prof. Marcelo Filgueira, D.Sc. - CCT - UENF -
_____________________________________________________
Prof. Herval Ramos Paes Júnior, D. Sc. - CCT - UENF-
___________________________________________
Prof. Ruben Rosenthal, Ph.D. - CCT - UENF -
Orientador
FICHA CATALOGRÁFICA
Preparada pela Biblioteca do CCT / UENF 30/2005
i
Macedo, Beldo Salles Valle
Estudo da corrosão a quente da superliga de níquel IN738LC pelas cinzas da
combustão da celulignina proveniente do bagaço de cana / Beldo Salles Valle
Macedo. Campos dos Goytacazes, 2005.
xiv, 110 f. : il.
Orientador: Ruben Rosenthal
Dissertação (Mestrado em Engenharia e Ciências dos Materiais) --
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Centro de
Ciência e Tecnologia. Laboratório de Materiais Avançados. Campos dos
Goytacazes, 2005.
Área de concentração: Síntese e caracterização
Bibliografia: f. 111-116
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Ruben Rosenthal pela dedicação, paciência e profissionalismo
que conduziu esta dissertação de mestrado.
Ao Professor Daltro Garcia Pinatti pelo material cedido para pesquisa e por ter
sido membro da banca de minha dissertação de mestrado.
Aos professores Anatoliy Matlakhov, Lioudmila Matlakhova, Luís Augusto
Terrones e Ângelus Giusepe pelas disciplinas cursadas, que me ajudaram no
desenvolvimento e conclusão deste trabalho.
Ao coordenador do curso de pós-graduação Professor Marcelo Filgueira por ter
sido membro da banca de minha dissertação de mestrado.
Ao Professor Eduardo Atem que participou da banca que me entrevistou e
aprovou para o curso de mestrado.
Ao Professor Herval Ramos Paes por ter participado da banca da minha defesa
de projeto e da banca da defesa da dissertação de mestrado.
Ao Carlos Henrique Gomes que me auxiliou durante os ensaios de laboratório.
A Rosane Toledo pelos ensaios de difração de raios –x.
Ao Ronaldo Quintanilha pelo suporte técnico nos testes de laboratório.
Ao Carlan e o Diego da oficina pela usinagem das amostras.
A Shirlene pelo seu trabalho na secretaria do CCT.
Aos colegas Bruno, Luciano, Cláudio, Frederico e Sidney que me ajudaram
durante o curso de mestrado.
A Usina Cupim pelo bagaço de cana cedido que serviu de matéria-prima para
fabricação das cinzas da celuligniua usadas no meu ensaio.
A RM Materiais Refratários pela fornecimento do combustível usado nos ensaios
de corrosão a quente.
A CBPF pelos ensaios de difração de raios –x.
A HOWMET pela superliga IN738LC, usada nos ensaios de corrosão a quente.
ii
Conteúdo
Lista de tabelas...........................................................................................................vii
Lista de figuras...........................................................................................................viii
Resumo......................................................................................................................xii
Abstract......................................................................................................................xiii
Objetivos....................................................................................................................xiv
Justificativas...............................................................................................................xiv
Capítulo 1: Introdução..................................................................................................1
Capítulo 2: Revisão bibliográfica..................................................................................3
2.1 - Biomassa............................................................................................3
2.1.1 - Celulignina..................................................................................5
2.2 - Turbinas a gás....................................................................................9
2.3 - Superligas de níquel.........................................................................13
2.3.1 - Microestrutura .........................................................................14
2.3.2 - A superliga de níquel IN738LC ................................................15
2.3.3 - Atuação dos elementos na superliga de níquel IN738 LC.......16
2.3.4 - Alteração em serviço da microestrutura...................................18
2.4 - Oxidação a altas temperaturas........................................................20
2.4.1 - Cinética de oxidação a altas temperaturas..............................21
2.4.2 - Oxidação seletiva.....................................................................22
2.5 - Corrosão a quente............................................................................25
2.5.1 - Estágios de corrosão................................................................26
iii
2.5.2 - Tipos de corrosão....................................................................27
2.5.3 - Teorias sobre taxas de corrosão.............................................29
2.5.4 - Mecanismo de deposição de sais............................................31
2.5.5 - Termoquímica dos sais na superfície da superliga..................33
2.5.6 - Ensaios e avaliação da corrosão a quente por depósito de
cinzas de celulignina................................................................34
2.6 - Ensaios de oxidação e corrosão a quente.......................................37
2.6.1 - Tipos de ensaios.....................................................................37
2.6.1.1 - Teste em cadinho...........................................................37
2.6.1.2 - Teste com recobrimento de sal......................................37
2.6.1.3 - Teste em queimador de bancada...................................38
2.6.2 - Fatores que afetam os testes de corrosão...............................38
2.6.3 - Geometria e dimensão das amostras......................................40
2.7 - Avaliação da corrosão......................................................................41
2.7.1 - Parâmetros de avaliação..........................................................41
2.7.1.1 - Penetração da corrosão..................................................41
2.7.1.2 - Variação de massa..........................................................42
2.7.1.3 - Caracterização microestrutural.......................................43
Capítulo 3: Materiais e metodologia...........................................................................43
3.1 - Materiais............................................................................................44
3.1.1 - Cinzas da celulignina...............................................................44
iv
3.1.2 - Superliga de níquel IN738 LC..................................................45
3.2 - Procedimento experimental...............................................................45
3.2.1 - Análise das cinzas....................................................................45
3.2.2 - Preparação dos corpos de prova.............................................46
3.2.3 - Execução dos ensaios..............................................................49
3.2.4 - Avaliação dos ensaios..............................................................51
3.2.4.1 - Avaliação das cinzas de recobrimento............................51
3.2.4.2 - Avaliação dos corpos de prova.......................................51
3.2.4.3 - Avaliação dos resultados................................................53
Capítulo 4: Resultados............................................................................................54
4.1 - Análise das cinzas............................................................................54
4.1.1 - Composição química................................................................54
4.1.2 - Composição estrutural.............................................................57
4.2 - Análise dos corpos de prova.............................................................61
4.2.1 - Variação de massa...................................................................61
4.2.2 - Caracterização microestrutural dos corpos de prova...............63
4.2.2.1 - Caracterização da superfície externa.............................63
4.2.2.1. a - Análise microscópica: morfologia..................63
4.2.2.1. b - Análise química: mapas de composição.......77
4.2.2.2 - Caracterização da seção transversal interna.................81
4.2.2.2. a - Análise microscópica: morfologia..................82
4.2.2.2. b - Análise química: mapas de composição.......82
v
Capítulo 5: Discussão dos resultados...................................................................100
5.1 - Análise das cinzas...........................................................................101
5.2 - Análise dos corpos de prova...........................................................101
5.2.1 - Variação de massa.................................................................101
5.2.2 - Caracterização da superfície externa (topo)..........................103
5.2.3 - Caracterização da seção transversal interna.........................105
Capítulo 6: Conclusões..........................................................................................108
Sugestões para trabalhos futuros...........................................................................110
Capítulo 7: Referências bibliográficas....................................................................111
Apêndice: Ficha do padrão de raios - x de SiO
2
..........................................
..........117
vi
Lista de tabelas
Tabela 1 - Composição química das cinzas da biomassa de origens diversas...........5
Tabela 2 - Composição química das cinzas da celulignina proveniente da madeira de
eucalipto......................................................................................................7
Tabela 3 - Composição química da superliga de níquel IN738 LC............................16
Tabela 4 - Variação de energia livre padrão..............................................................23
Tabela 5 - Relação de Pilling Bedworth.....................................................................24
Tabela 6 - Raio iônico dos elementos usados em superligas de níquel....................24
Tabela 7 - Ponto de fusão de óxidos.........................................................................24
Tabela 8 - Condutividade elétrica de óxidos..............................................................25
Tabela 9 - Concentração de (% mol) de sais nas palhetas das turbinas a gás.........32
Tabela 10 - Composição estimada de depósitos de sais em palhetas de turbinas a
gás..........................................................................................................32
Tabela 11 - Composição iônica típica de depósitos de sais em palhetas de turbinas a
gás..........................................................................................................33
Tabela 12 - Composição de atmosferas gasosas recomendadas em testes de
corrosão a quente...................................................................................40
Tabela 13 - Análise química por fluorescência de raios - X das cinzas da celulignina,
proveniente do bagaço de cana, tratada com água deionizada e com
água de poço...........................................................................................55
Tabela 14 - Análise química por via - úmida das cinzas da celulignina, proveniente
do bagaço de cana, tratada com água deionizada e com água de
poço.........................................................................................................56
Tabela 15 - Variação de massa (mg/cm
2
) dos corpos de prova (CAD), com o tempo
de exposição...........................................................................................61
Tabela 16 - Variação de massa (mg/cm
2
) dos corpos de prova (CAP), com o tempo
de exposição...........................................................................................62
vii
Tabela 17 - Análise pontual semi - quantitativa por EDS/MEV .................................81
Tabela A-1 - Ficha do Padrão de raios-x de SiO
2
....................................................117
viii
Lista de figuras
Figura 1 - Diagrama de fases para o sistema K
2
O - SiO
2
............................................4
Figura 2 - Desenho em corte de uma turbina a gás, com seus ciclos de
funcionamento............................................................................................11
Figura 3 - Rotor de uma turbina a gás e suas palhetas.............................................11
Figura 4 - Componentes principais de uma turbina a gás..........................................12
Figura 5 - Evolução da temperatura de serviço das palhetas das turbinas a
gás..............................................................................................................13
Figura 6 - Palheta de uma turbina a gás mostrando a micrografia da parte alterada
e não alterada da microestrutura da superliga de níquel...........................18
Figura 7 - Micrografia mostrando partículas de sulfeto em superliga de níquel.........19
Figura 8 - Aspecto da superfície de uma palheta de turbina a gás submetida a
processo de corrosão a quente.................................................................20
Figura 9 - Curvas de variação de massa em função do tempo das superligas de
níquel IN738 e B-1900 em presença de Na
2
SO
4
e ar estático a 1000ºC..27
Figura 10 - Solubilidade de diversos óxidos no sulfato de sódio (Na
2
SO
4
)
a uma temperatura de 1200K e pressão de 1atm de O
2
..........................30
Figura 11 - Superfície externa (topo), após ensaio de corrosão a quente a 820ºC
por 50 horas, mostrando aspecto do filme de óxido formado...............35
Figura 12 - Seção transversal interna, após ensaio de corrosão a quente a 820ºC
por 50 horas, mostrando formação interna de sulfetos.........................35
Figura 13 - Gráfico da variação de massa, após ensaio de 50 horas a 820ºC
usando depósito de cinzas de celulignina proveniente da madeira de
eucalipto (tratamento com água deionizada na pré-hidrólise)..................36
Figura 14 - Gráfico da variação de massa, após ensaio de 50 horas a 820ºC
usando depósito de cinzas de celulignina proveniente da madeira de
eucalipto (tratamento com água de poço na pré-hidrólise)......................36
ix
Figura 15 - Metrologia da corrosão............................................................................42
Figura 16 - Corpo de prova sem depósito de cinzas de celulignina...........................48
Figura 17 - Acabamento da superfície do corpo de prova com lixa 600mesh...........48
Figura 18 - Corpo de prova com depósito de cinzas de celulignina...........................49
Figura 19 - Disposição dos corpos de prova no forno elétrico...................................50
Figura 20 - Difratograma das cinzas obtidas pela combustão da celulignina do
bagaço de cana de açúcar obtida por pré-hidrólise ácida, usando
água deionizada, antes do ensaio de corrosão a quente........................59
Figura 21 - Difratograma das cinzas obtidas pela combustão da celulignina da
bagaço de cana de açúcar tratada por pré-hidrólise ácida, usando
água de poço, antes do ensaio de corrosão a quente.............................59
Figura 22 - Difratograma das cinzas obtidas pela combustão da celulignina da
biomassa de cana de açúcar tratada por pré-hidrólise ácida usando água
deionizada, após ensaio de corrosão a quente de 50 horas....................60
Figura 23 - Difratograma das cinzas obtidas pela combustão da celulignina da
biomassa de cana de açúcar tratada por pré-hidrólise ácida usando
água de poço, após ensaio de corrosão a quente de 50 horas...............60
Figura 24 - Gráfico do ganho de massa dos corpos de prova, em função
dos tempos de ensaio a 820ºC, corpos de prova da série CAD..............62
Figura 25 - Gráfico do ganho de massa dos corpos de prova, em função
dos tempos de ensaio a 820ºC, corpos de prova da série CAP.............63
Figura 26 - (a-f) - Caracterização da superfície externa (topo) do corpo de prova
por microscopia eletrônica de varredura, para tempo de ensaio de 5
horas a 820ºC (série CAD).......................................................................65
Figura 27 - (a-b) - Caracterização da superfície externa (topo) do corpo de prova
por microscopia eletrônica de varredura, para tempo de ensaio de 10
horas a 820ºC (série CAD)......................................................................67
Figura 28 - (a-d) - Caracterização da superfície externa (topo) do corpo de prova
por microscopia eletrônica de varredura, para tempo de ensaio de 25
horas a 820ºC (série CAD)......................................................................68
x
Figura 29 - (a-d) - Caracterização da superfície externa (topo) do corpo de prova
por microscopia eletrônica de varredura, para tempo de ensaio de 50
horas a 820ºC (série CAD)......................................................................69
Figura 30 - (a-f) - Caracterização da superfície externa (topo) do corpo de prova
por microscopia eletrônica de varredura, para tempo de ensaio de 5
horas a 820ºC (série CAP)......................................................................71
Figura 31 - (a-d) - Caracterização da superfície externa (topo) do corpo de prova
por microscopia eletrônica de varredura, para tempo de ensaio de 10
horas a 820ºC (série CAP)......................................................................72
Figura 32 - (a-b) - Caracterização da superfície externa (topo) do corpo de prova
por microscopia eletrônica de varredura, para tempo de ensaio de 25
horas a 820ºC (série CAP)......................................................................73
Figura 33 - (a-f) - Caracterização da superfície externa (topo) do corpo de prova
por microscopia eletrônica de varredura, para tempo de ensaio de 50
horas a 820ºC (série CAP).....................................................................75
Figura 34 - (a-f) - Caracterização microestrutural da superfície de um corpo de
prova submetido à exposição por 25 horas a 820ºC, sem recobrimento
com cinzas de celulignina.......................................................................77
Figura 35 - (a-i) - Mostra região da superfície externa que foi analisada por
EDS/MEV e os mapas correspondentes de distribuição dos
elementos químicos, para o corpo de prova ensaiado a 50
horas a 820ºC, recoberto com cinzas de celulignina tratada com
água de poço..........................................................................................80
Figura 36 - Mostra região da superfície externa analisada EDS/MEV......................81
Figura 37 - Micrografias das seções transversais dos corpos de prova ensaiados
com cinzas de celulignina tratada com: (a-d) água de poço (CAP) e (e-f)
água deionizada (CAD)...........................................................................82
Figura 38 - Mapas de composição (b-h) referentes à região de borda mostrada em
(a). Corpo de prova ensaiado a 820ºC por 50 horas, recoberto com
cinzas de celulignina tratada com água de poço.....................................87
Figura 39 - Mapas de composição (b-i) referentes à região de borda
mostrada em (a). Corpo de prova ensaiado a 820ºC por 5
horas, recoberto com cinzas de celulignina tratada com
água de poço..........................................................................................87
xi
Figura 40 - Mapas de composição (b-j) referentes à região da borda mostrada em
(a). Corpo de prova ensaiado a 820ºC por 50 horas, recoberto com
cinzas de celulignina tratada com água de poço......................................90
Figura 41 - Mapas de composição (b-i) referentes à região da borda mostrada em
(a). Corpo de prova ensaiado a 820ºC por 50 horas, recoberto com
cinzas de celulignina tratada com água de poço......................................96
Figura 42 - Mapas de composição (b-i) referentes à região da borda mostrada em
(a). Corpo de prova ensaiado a 820ºC por 50 horas, recoberto com
cinzas de celulignina tratada com água de poço......................................99
xii
Resumo
Macedo, Beldo Salles Valle, Universidade Estadual do Norte Fluminense; Outubro
de 2005; Estudo do início da corrosão a quente da superliga de níquel IN738LC
pelas cinzas da combustão da celulignina proveniente do bagaço de cana;
Orientador: Ruben Rosenthal.
A biomassa é uma fonte de energia limpa e renovável que já é utilizada como
combustível de caldeiras a vapor, mas que tem seu uso vedado nas turbinas a gás
por apresentar problemas de formação de depósitos vítreos bem como ocasionar
corrosão em altas temperaturas nos componentes das turbinas. A pré-hidrólise ácida
da biomassa de origens diversas como madeira, resíduos florestais e agrícolas e lixo
orgânico, tem como sub-produto a celulignina, que, por apresentar propriedades de
combustão catalítica, apresenta-se como uma importante alternativa aos
combustíveis fósseis, capaz de ocupar destaque na matriz energética nacional.
Como o processo de pré-hidrólise remove parte considerável do potássio da
biomassa, que é um dos principais responsáveis pela ocorrência de corrosão a
quente e formação de depósitos vítreos pela biomassa, abre-se a perspectiva de
utilizar a celulignina como combustível em turbinas a gás. Foram realizados ensaios
estáticos de corrosão a quente a 820ºC com tempos de 5h, 10h, 25h e 50h na
superliga de níquel IN738LC exposta a uma camada de recobrimento de cinzas da
celulignina. Os resultados indicaram a formação de óxidos nas superfícies externas
dos corpos de prova do teste, bem como a penetração da oxidação através da
transformação ocorrida nos carbonetos primários do tipo MC situados junto à
superfície. No entanto, a integridade do metal foi minimamente afetada. Não foi
observada a presença de depósitos vítreos na superfície dos corpos de prova.
Palavras - chave: biomassa, corrosão a quente, superliga de níquel IN738LC,
turbina a gás.
xiii
Abstract
Macedo, Beldo Salles Valle, Universidade Estadual do Norte Fluminense; October
2005; Study of the beginning of the hot corrosion of the nickel superalloy IN738LC by
the ashes of the combustion of cellulignin originating from the sugar cane bagasse;
Advisor: Ruben Rosenthal.
Biomass is a clean and renewable energy source that it is already used as
fuel for steam boilers. However, the occurrence of fouling, slagging and hot
corrosion does not allow conventional biomass to be used as fuel in gas turbines.
The acidic pre-hidrolysis of the biomass of several origins as wood, forest and
agricultural residues, and organic garbage, present as a sub-product the cellulignin,
that presents properties of catalityc combustion, being considered as an important
alternative to fossil fuels, capable to occupy prominence in the national energy
matrix. As the pre - hidrolysis removes from biomass considerable part of potassium
which is the main element responsible for hot corrosion and vitreous deposits
formation caused by conventional biomass, the perspective has now to be
considered of using cellulignin as a fuel for gas turbines operating at high-
temperature.
Static tests of hot corrosion were accomplished at 820ºC during times 5h,
10h, 25h and 50h in nickel base superalloy IN738LC exposed to a layer of ashes of
cellulignin.
The results indicate the formation of oxides on the external surfaces of the
tested samples, as well as in primary carbides of the type MC. However, the integrity
of the metal was minimally affected.
Key - words: biomass, hot corrosion, nickel superalloy IN738LC, gas turbines.
xiv
Objetivos
Os principais objetivos do atual trabalho são:
- Investigar o início da corrosão a quente causada pelas cinzas da
celulignina nas condições de ensaio;
- Avaliar se ocorre formação de depósitos vítreos indesejáveis na superfície
da superliga de níquel IN738LC na temperatura de 820ºC.
Justificativas
A relevância do atual trabalho se evidencia em vários campos, ressaltando-
se:
- Tecnológico: o trabalho contribui para validar o uso da celulignina como
combustível em turbinas a gás terrestres;
- Sócio - Econômico: contribuição para o desenvolvimento de regiões
produtoras de biomassa em particular a região do Norte - Fluminense, onde se
insere a UENF;
- Energético e ecológico: contribuição para o aumento das fontes não
poluentes e renováveis na matriz energética nacional;
- Científico: contribui para ampliação do conhecimento dos mecanismos
relacionados com o início da corrosão a quente de superligas de níquel causada
pela celulignina.
xv
1
Capítulo 1 – Introdução
As principais fontes de energia que estão disponíveis na natureza são
provenientes de fontes flutuantes (sol, ventos e maré), fontes não renováveis
(petróleo, carvão, gás e combustível nuclear) e fontes renováveis (biomassa). As
principais formas de biomassa usadas atualmente para geração de energia são a
madeira, carvão vegetal, o bagaço de cana de açúcar e a palha de arroz.
A matriz energética mundial é formada em sua maior parte pela energia do
petróleo (37%), carvão (25%), gás natural (19%), nuclear (8%), hidráulica (5%) e
biomassa (4%). De acordo com o balanço energético nacional de 2003 a matriz
energética brasileira é constituída pela energia das hidroelétricas (35%), biomassa
(25%) e outros (www. eco21. com.br). Na geração de energia elétrica, a fração
proveniente das hidroelétricas representa 96,8% do total (INB, 1997). Parte da
biomassa é atualmente queimada em caldeiras a vapor com baixo rendimento
térmico e sem ser utilizada para geração de energia elétrica.
O Brasil possui um grande potencial disponível de biomassa de cana de
açúcar, superior a 300x10
6
de toneladas de biomassa de cana de açúcar por ano
(Pinatti et al., 1997), que se for utilizada na geração de energia elétrica em
turbogeradores a vapor esta quantidade de biomassa resulta em 44,4x10
9
kWh.
A perspectiva de se utilizar biomassa como combustível em turbogeradores a
gás, que apresentam maior eficiência térmica, poderá introduzir importante alteração
na matriz energética nacional, em que a energia proveniente da biomassa passaria a
representar 82% da matriz (Pinatti et al., 2003).
Atualmente é vedada, no entanto, a utilização da biomassa convencional
como combustível em turbinas a gás devido à formação de depósitos vítreos na
superfície dos componentes das turbinas, comprometendo seriamente a eficiência
térmica, bem como pela ocorrência de corrosão a quente, principalmente pelo alto
teor de potássio das biomassas.
Estas limitações poderão ser superadas com a utilização como combustível
de um sub-produto da pré-hidrólise da biomassa, a celulignina, que apresenta
2
combustão catalítica, e que por possuir baixo teor de potássio, resulta na provável
diminuição de depósitos vítreos e da corrosão a quente.
O atual trabalho se propõe a investigar, através de ensaios de simulação em
laboratório, os efeitos da celulignina obtida a partir do bagaço de cana de açúcar na
formação de depósitos vítreos e no início da corrosão a quente da superliga de
níquel IN738LC.
3
Capítulo 2 - Revisão bibliográfica
2.1 – Biomassa
A biomassa consiste de compostos orgânicos que podem ser usados como
combustível com origem principalmente em resíduos agrícolas e florestais, cana de
açúcar, madeira e etc. O valor energético de uma biomassa depende do seu tipo e
tem um valor de aproximadamente 20MJ/kg (4778,83 kcal/kg) (Pinatti et al., 1997). A
biomassa da cana de açúcar constitui um sistema de duas fases: sólida e líquida. A
fase sólida é um complexo composto de celulose (polímero natural encontrado nos
vegetais), lignina (substância que se deposita nas células vegetais dando
consistência a estas células ) e pentosana, conhecida geralmente como fibra. A
fase líquida, o caldo, é uma solução aquosa contendo uma grande variedade de
substâncias orgânicas, entre as quais, 90% consiste de sacarose (açúcar da cana).
A biomassa da cana de açúcar possuí em média 48% de fibra, 50% de umidade e
2% de sólidos solúveis (Payne, 1989).
A Tabela 1 apresenta para as biomassas da casca da amêndoa, palha de
arroz, palha de trigo, mistura de madeira com sua casca e bagaço de cana de
açúcar, o percentual dos compostos presentes em suas cinzas em %m/m (massa de
óxido/massa de cinzas de biomassa) e a quantidade de cinzas presentes. Os metais
alcalinos, principalmente o potássio e o sódio, na forma de óxido podem formar
misturas de baixo ponto de fusão com silicatos. A biomassa da palha de arroz, por
exemplo, possui um conteúdo de álcali e sílica em proporções relativas, que podem
originar a formação de misturas de baixo ponto de fusão. O ponto de fusão da sílica
(SiO
2
) é de aproximadamente 1700ºC, porém uma mistura contendo 32%m/m de
K
2
O e 68%m/m de SiO
2
tem ponto de fusão igual a 769ºC (Miles el al., 1995;
Arvelakis et al., 2002). De acordo com a figura 1, o diagrama de estabilidade
termodinâmica de fases do sistema K
2
O-SiO
2
apresenta o ponto de fusão de várias
misturas entre sílica e óxido de potássio (K
2
O).
4
As misturas na faixa de 25%m/m a 35%m/m são encontradas em muitas
cinzas resultante da queima de biomassa (Miles et al., 1995). Isto significa que,
dependendo da temperatura de combustão da biomassa e da composição
química de suas cinzas, as cinzas podem fundir formando posteriormente um
material vítreo sobre a superfície das superligas. A presença das cinzas vitrificadas
tem sido relacionada com a perda de eficiência térmica (Arvelakis et al., 2002) e tem
sido um limitador à utilização de biomassa sólida em turbinas a gás.
Os elementos químicos como o potássio, sódio e enxofre, dentre outros, são
também responsáveis pela corrosão que é verificada em componentes como
trocadores de calor, dutos, palhetas de turbinas em sistemas a vapor de geração de
energia.
Figura 1 - Diagrama de fases para o sistema K
2
O-SiO
2
(Miles et al., 1995).
Temperatura (
0
C)
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
30 40 50 60 70 80 90 100
2
1
3
K
2
O K
2
O K
2
O %SiO
2
SiO
2
2SiO
2
4SiO
2
5
Tabela 1 - Composição química das cinzas da biomassa de origens diversas
(Miles, 1995).
Biomassa Casca
da
amêndoa
Palha
de arroz
Palha
de trigo
Madeira
com
casca
Bagaço de
cana de
açúcar
Cinzas
(%m/m)
6,16 20,34 8,09 7,25 2,44
SiO
2
(%m/m) 6,03 80,15 67,54 55,69 46,61
Al
2
O
3
(%m/m) 1,28 1,46 2,14 10,75 17,69
TiO
2
(%m/m) 0,07 0,06 0,10 0,52 2,63
Fe
2
O
3
(%m/m) 0,83 0,85 1,22 4,72 14,14
CaO(%m/m) 8,66 2,03 3,08 14,04 4,47
MgO(%m/m) 5,01 2,11 2,88 3,01 3,33
Na
2
O(%m/m) 0,99 0,91 2,05 2,17 0,79
K
2
O(%m/m) 53,60 8,51 14,38 4,39 4,15
SO
2
(%m/m) 1,46 1,22 5,02 1,54 2,08
P
2
O
5
(%m/m) 7,33 1,68 1,41 1,11 2,72
Não
determinado
14,74 1,02 0,18 2,06 1,39
Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100
2.1.1 - Celulignina
A pré-hidrólise da biomassa de origens diversas como bagaço de cana,
madeira de reflorestamento, resíduos agrícolas e lixo orgânico urbano, tratada em
solução de ácido sulfúrico (H
2
SO
4
) a 2% em volume, temperatura de 160ºC e
6
pressão de 0,6 MPa (6 atm), durante 30 minutos, fornece dois produtos: celulignina e
o pré-hidrolisado.
O pré-hidrolisado cujo constituinte principal é a xilose, serve como matéria
prima para produção de furfural, etanol e xilol.
A celulignina pode ser usada como, ração animal e potencialmente
como combustível sólido sem gaseificação prévia em turbinas a gás, desde que seja
moída em partículas com diâmetros menores que 200 µm, pois abaixo deste
diâmetro apresenta cinética de queima parecida com a do gás natural e um livre
caminho médio para o O
2
e CO maior que o diâmetro das partículas de celulignina, o
que favorece o processo de combustão (Silva, 1999).
A viabilidade técnico-econômica de celulignina já foi demonstrada, sendo que
seu máximo aproveitamento se dá dentro do conceito da Refinaria de Biomassa
(Pinatti et al., 2003).
A possibilidade de a celulignina ser utilizada em turbinas a gás do tipo com
combustor externo, é decorrente do nível mais baixo de potássio devido à remoção
parcial deste elemento no processo de pré-hidrólise e lavagem sub-seqüente da
celulignina.
Em particular, o uso da biomassa proveniente do bagaço de cana para
produzir a celulignina, traz perspectiva de se obter teores de potássio ainda
menores, pois estes elementos são lixiviados durante o processo de extração de
açúcar (Miles et al., 1995).
A origem da água utilizada no processo de pré-hidrólise é outro fator que
influi na composição química da celulignina e portanto, na composição de suas
cinzas, podendo afetar, desta forma, a formação dos depósitos vítreos e a corrosão
a quente.
A composição química das cinzas da combustão da celulignina proveniente
da madeira de eucalipto foi analisada (Gomes, 2002) por fluorescência de raios - X e
por via úmida tendo sido encontradas as seguintes composições, de acordo com a
tabela 2:
7
Tabela 2 - Composição química das cinzas da celulignina proveniente da
madeira de eucalipto (Gomes, 2002).
*NA
Não analisados
Concentração (%m/m)
Cinzas de celulignina tratada
com água deionizada (CAD)
Cinzas de celulignina tratada
com água de poço (CAP)
Composição
elementar
Via úmida Fluorescência
de raios-X
Via úmida Fluorescência
de raios-X
SiO
2
33,82 19,337 35,16 15,821
Al
2
O
3
NA* 5,041 NA* 4,790
TiO
2
NA* 1,416 NA* 0,794
Fe
2
O
3
12,09 11,816 12,39 15,741
CaO 15,36 31,104 19,80 48,987
MgO 1,37 - 0,73 -
Na
2
O 3,48 - 1,21 -
K
2
O 3,04 7,216 1,40 3,729
SO
3
16,52 19,823 5,45 9,345
P
2
O
5
1,25 - 0,21 -
CO
2
2,46 - 4,26 -
Como pode-se observar os dois métodos apresentaram resultados
conflitantes, o que tornaria a necessidade de análises mais conclusivas.
Ainda no trabalho de Gomes (2002), a difração de raios - X indicou a
presença dos compostos relacionados a seguir nas cinzas de biomassa de eucalipto.
Nem todos os compostos presentes foram, no entanto, identificados. São indicados
os padrões (JCPDS) utilizados na identificação dos compostos listados.
8
1 - Constituição das cinzas antes do ensaio de corrosão a quente:
a - Celulignina tratada com água deionizada.
- Carbonato de cálcio (CaCO
3
- JCPDS # 05-0586);
- Sílica (SiO
2
- JCPDS # 33-1161);
- Sulfato de cálcio (CaSO
4
- JCPDS # 37-1496);
- Óxido férrico (Fe
2
O
3
- JCPDS # 33-0664);
- Óxido de alumínio (Al
2
O
3
- JCPDS # 46-1212);
- Silicato de alumínio e cálcio (2CaO.Al
2
O
3
.SiO
2
- JCPDS # 01-0982).
b - Celulignina tratada com água de poço.
- Carbonato de cálcio (CaCO
3
- JCPDS # 05-0586);
- Sílica (SiO
2
- JCPDS # 33-1161);
- Sulfato de cálcio (CaSO
4
- JCPDS # 37-1496);
- Óxido férrico (Fe
2
O
3
- JCPDS # 33-0664);
- Silicato de alumínio e cálcio (2CaO.Al
2
O
3
.SiO
2
- JCPDS # 01-0982).
2 - Constituição das cinzas após ensaio de corrosão a quente de 1000 horas:
a - Celulignina tratada com água deionizada.
- Carbonato de cálcio (CaCO
3
- JCPDS # 05-0586);
- Sílica (SiO
2
- JCPDS # 33-1161);
- Sulfato de cálcio (CaSO
4
- JCPDS # 37-1496);
- Óxido férrico (Fe
2
O
3
- JCPDS # 33-0664);
- Óxido de alumínio (Al
2
O
3
- JCPDS # 46-1212);
- Óxido de cromo (Cr
2
O
3
- JCPDS # 01-1294).
b - Celulignina tratada com água de poço.
9
- Carbonato de cálcio (CaCO
3
- JCPDS # 05-
0586);
- Sílica (SiO
2
- JCPDS # 33-1161);
- Sulfato de cálcio (CaSO
4
- JCPDS # 37-1496);
- Óxido férrico (Fe
2
O
3
- JCPDS # 33-0664);
- Óxido de cromo (Cr
2
O
3
- JCPDS # 01-1294).
- Silicato de alumínio e cálcio (2CaO. Al
2
O
3
.SiO
2
- JCPDS # 01-0982).
2.2 - Turbinas a gás
A turbina a gás é uma máquina térmica composta de compressor, câmara
de combustão e turbina. O termo turbina a gás se refere aos gases formados na
combustão e que são usados como fluido de trabalho para acionar o rotor da turbina.
A figura 2 está mostrando o desenho em corte de uma turbina a gás e seus quatro
tempos de funcionamento, que são: compressão do ar ambiente; combustão
(queima do combustível com o ar utilizado na turbina a gás); expansão dos gases
oriundos da combustão da turbina a gás passando pelas palhetas localizadas no
rotor da turbina, realizando com isso trabalho; escape dos gases. O funcionamento
de uma turbina a gás tradicional utilizando combustíveis fósseis consiste na
compressão do ar atmosférico, elevando a pressão e temperatura do ar antes de
chegar à câmara de combustão onde é pulverizado gás, óleo ou querosene sob
pressão quase constante, reagindo com o ar quente que sai do compressor resulta
na combustão, dando origem aos gases que serão expandidos na turbina para
realizarem trabalho. Para as turbinas alcançarem um bom rendimento, os
gases resultantes da combustão devem ser aquecidos até a temperatura que o
material das palhetas suportem, e sua operação atender a parâmetros como
temperatura ambiente, umidade e altitude, pois em condições extremamente
quentes e úmidas o rendimento da turbina a gás cai em 1%, e a cada 100m acima
do nível do mar. Para melhorar o seu rendimento utiliza-se um equipamento, o qual
é um trocador de calor, chamado de regenerador, que aquece o ar que saí do
compressor antes de entrar na câmara de combustão da turbina a gás.
10
Abaixo temos algumas fórmulas utilizadas para cálculo de rendimento
térmico e eficiência em turbinas a gás (Dubbel et al
., 1996):
1) cálculo do rendimento térmico sem regenerador:
η
t
=(1- (T
4
-T
1
)/(T
3
-T
2
)), sendo T
1
a temperatura de entrada do ar no
compressor (ºK), T
2
a temperatura de saída do ar do compressor (ºK), T
3
a
temperatura de entrada dos gases na turbina(ºK), T
4
a temperatura de saída dos
gases da turbina (ºK).
2) cálculo do rendimento térmico com regenerador:
η
t
= 1- (( T
1
/T
3
)(P2/P1)
(k-1)/k
), sendo P2 a pressão de saída do ar no
compressor (kgf/cm
2
), P1 a pressão de entrada do ar no compressor (kgf/cm
2
), k a
razão entre c
v
(calor específico do ar a volume constante) e c
p
(calor específico do ar
a pressão constante).
3) cálculo da eficiência do compressor da turbina:
η
comp
= (H
2s
-H
1
)/(H
2
-H
1
), sendo H
2s
a entalpia de saída do ar do compressor
com perdas (kcal/kg), H
2
a entalpia de saída do compressor sem perdas (kcal/kg) e
H
1
a entalpia de entrada do ar no compressor (kcal/kg).
4) cálculo da eficiência da turbina:
η
turb
= (H
3
-H
4
)/(H
3
-H
4s
), sendo H
3
a entalpia de entrada dos gases na turbina
(kcal/kg), H
4
a entalpia dos gases na saída da turbina com perdas (kcal/kg) e H
4s
a
entalpia dos gases na saída da turbina sem perdas (kcal/kg).
O ciclo da turbina a gás real difere do ideal, devido as perdas de carga no
compressor e dos gases formados na câmara de combustão pela passagem através
da turbina. A turbina a gás é usada para propulsão de aviões e navios, acionar
geradores elétricos para geração de energia elétrica. As principais vantagens das
turbinas a gás são: 1) Unidades compactas e de baixo peso, equivalendo a 1/4 do
peso e 1/7 do volume de motores alternativos. 2) Alta eficiência e baixa poluição
ambiental. 3) Pode utilizar combustível líquido e sólido. As turbinas a gás são
divididas em: aeroderivadas (derivadas de uso aeronáutico) e “heavy duty”
(estacionárias).
11
O custo de manutenção das aeroderivadas é cerca de 2,5 vezes maior que
das estacionárias. A turbina a gás apresentada na figura 2 é do tipo aeroderivada.
Figura 2 - Desenho em corte de uma turbina a gás, com seus ciclos de
funcionamento (http://www.elsitioaeronautico.com/Motores/T- Turbina.htm).
A figura 3 mostra o perfil de uma palheta e o espaço entre as palhetas que os
gases quentes provenientes da combustão passam, realizando trabalho sobre a
palheta.
Figura 3 - Rotor de turbina a gás e suas palhetas
(http//www.vtt.fi/tuo/projects/gt_ecsc.htm-5k_).
Perfil
da
palheta
Passagem
dos gases
quentes
12
A figura 4 mostra uma turbina a gás e seus componentes principais.
Figura 4 - Componentes principais de uma turbina a gás
(http//www.vtt.fi/tuo/projects/gt_ecsc.htm.5k_).
A figura 5 apresenta através de um gráfico o aumento alcançado na
temperatura de entrada dos gases quentes resultantes do processo nas palhetas
das turbinas a gás, passando de 1150 ºC, em 1985, para 1500ºC, no ano 2000.
Carcaça
Rotor
Eixo
Câmara de
Combustão
Compressor
Axial
13
Figura 5 - Evolução da temperatura de serviço das palhetas das turbinas a
gás (http//www.vtt.fi/too/projects/gt_ecsc.5k_).
2.3 - Superligas de níquel
As superligas de níquel foram desenvolvidas com uma combinação de
propriedades mecânicas e resistência à corrosão, com o objetivo de serem utilizadas
em temperaturas superiores a 650ºC em meios altamente corrosivos, como os
ambientes de combustão (Durand-Charre, 1997). As superligas de níquel são
usadas em palhetas de turbinas a gás de jatos comerciais e militares, além de
turbinas terrestres que acionam compressores e geradores elétricos.
Essas superligas são geralmente compostas de 11 elementos diferentes
como: níquel, cromo, titânio, alumínio, molibdênio, tungstênio, cobalto, tântalo,
nióbio, háfnio e carbono conferindo a esta superliga resistência à fadiga mecânica,
resistência à fluência em elevadas temperaturas, resistência à fratura, altos valores
de tensão de ruptura e resistência à oxidação e corrosão em temperatura elevada,
alta condutividade térmica e baixo coeficiente de expansão térmica para evitar a
fadiga térmica.
14
A sua matriz possui uma estrutura cristalina austenítica cúbica de face
centrada, sendo as superligas de níquel principalmente endurecidas por precipitação
de intermetálicos. As superligas de níquel podem ser usadas em temperaturas de
até 80% de sua temperatura de fusão e submetidas a esforços mecânicos por mais
de 100.000horas (Decker e Sims,1
972).
Os principais processos de fabricação de componentes para turbinas a gás
são por processamento termo-mecânico, fundição e metalurgia do pó. Para a
fabricação de palhetas dos rotores, que requerem alta precisão nas dimensões,
acabamento superficial e intrincado sistema de orifícios e passagens internas para
resfriamento, a fundição de precisão tem se colocado como método mais indicado
(Sims, et al., 1969).
As palhetas fundidas evoluíram de uma estrutura de grãos equiaxiais, para
grãos colunares produzidos por solidificação direcional, e para uma estrutura
monocristalina na matriz. A eliminação de contornos de grãos possibilitou a
eliminação de elementos estabilizadores nos contornos como o carbono, boro e
zircônio. Estas superligas monocristalinas alcançaram aumento na temperatura
solidus e níveis mais elevados de fluência (Durand-Charre, 1997).
2.3.1 - Microestrutura das superligas de níquel
De acordo com Decker e Sims (1972) a microestrutura básica de uma
superliga de níquel é constituída de:
1) Matriz da liga (Gama) - Consiste em uma matriz austenítica de níque
l CFC
( cúbica de face centrada), contendo elementos em solução sólida como o cromo,
cobalto, tungstênio e molibdênio, e correspondendo a cerca de 53% do volume da
superliga.
15
2) Fase Gama Linha - São compostos intermetálicos de rede cristalina CFC,
de fórmula geral A
3
B, onde A representa o níquel e B, o alumínio, o qual pode ser
parcialmente substituído pelo titânio ou nióbio. Esses compostos precipitam
coerentemente com a matriz austenítica, distribuídos randomicamente por todo
volume da superliga. A morfologia das partículas de gama linha depende dos
parâmetros de rede entre a matriz e a fase gama linha. A fase gama linha
corresponde à cerca de 45% do volume da superliga.
3) Carbonetos - São formados pelo carbono e por elementos de transição
como cromo, tungstênio, vanádio, nióbio, tântalo e titânio. Durante o processo de
solidificação da superliga, a forma primária do carboneto (MC) aparece, enquanto
outros tipos de carbonetos (M
23
C
6
, M
6
C, Cr
7
C
3
e Cr
3
C
2
) podem aparecer nos
tratamentos térmicos e em serviço. A precipitação dos carbonetos pode aumentar a
resistência mecânica da superliga, quando estes se apresentarem na forma de
partículas discretas ao longo dos contornos dos grãos, e reduzir a resistência,
quando se apresentam na forma lamelar ou de filme contínuo nos contornos dos
grãos.
2.3.2 - A superliga de níquel IN738LC
A liga IN738LC é utilizada com estrutura equiaxial de solidificação tendo
ainda ampla aplicação em palhetas, mesmo com advento das ligas com solidificação
direcional e monocristalinas.
De acordo com a tabela 3, temos a composição química da superliga de
níquel IN738LC. O elevado teor de cromo presente concede excelente resistência a
corrosão em altas temperaturas, pela formação de camadas protetoras de óxido de
cromo. As propriedades mecânicas são também bastantes satisfatórias em
temperaturas de até 970ºC, embora seu uso se dê em temperaturas abaixo de
900ºC.
16
Tabela 3 - Composição química da superliga de níquel IN738LC (fabricada
pela Howmet, Inglaterra).
Elementos
%
nima
%
xima
C 0,09 0,11
Cr 15,7 16,3
Ti 3,2 3,7
Fe -- 0,4
Hf -- 0,2
Al 3,2 3,7
Mo 1,5 2,0
W 2,4 2,8
Co 8,0 9,0
Ta 1,5 2,0
Nb 0,6 1,1
Ni Diferença Diferença
A superliga de níquel IN738LC antes da utilização em serviço é submetida a
tratamento térmico padrão de 2h a 1120ºC com solubilização parcial de gama linha,
resfriamento ao ar, seguido de envelhecimento com tempo de 24h a 845ºC
(precipitação de gama linha) e resfriamento ao ar. O termo LC (“Low Carbon”) é
utilizado para indicar baixo carbono.
2.3.3 - Atuação dos elementos na superliga de níquel IN738 LC
Conforme indicado por Durand-Charre, (1997), são as seguintes as principais
funções dos elementos presentes na composição da superliga:
17
Carbono: resistência moderada a matriz, e é responsável pela formação
dos carbonetos com os elementos de transição, os quais possuem suas vantagens e
desvantagens citadas no item 3 da seção 2.3.1.
Cromo: aumenta a resistência a corrosão, desde que a temperatura não
exceda 950ºC por longos períodos de tempo; aumenta a resistência a sulfetação;
concede uma resistência moderada a matriz; provoca um aumento de fração
volumétrica de gama linha; em excesso dá origem à fases topologicamente
compactas, reduzindo a resistência mecânica.
Titânio: melhora a resistência à corrosão; concede uma resistência moderada
à matriz; promove um aumento na fração volumétrica de gama linha.
Alumínio: aumenta a resistência à oxidação; aumenta a resistência a
sulfetação e carburetação; concede uma resistência moderada à matriz e promove
um aumento na fração volumétrica de gama linha.
Molibdênio: aumenta a resistência da matriz; promove um aumento
moderado de fração volumétrica de gama linha. É prejudicial para a resistência à
oxidação em altas temperaturas.
Tungstênio: concede alta resistência à matriz e um aumento moderado de
fração volumétrica de gama linha.
Cobalto: concede pequeno aumento de resistência à matriz; promove um
aumento da fração volumétrica de gama linha e aumenta a linha solidus.
Tântalo: aumenta a resistência da matriz; aumenta a fração volumétrica de
gama linha.
Nióbio: aumenta a resistência da matriz; aumenta a fração volumétrica de
gama linha.
18
2.3.4 - Alteração em serviço da microestrutura das superligas de níquel.
A microestrutura da superliga de níquel sofre determinados tipos de
alterações em serviço, de acordo com ambiente e regime de trabalho (Swaminathan
e Cheruvu, 2001):
A) crescimento e coalescimento de partículas gama linha;
B) formação de filme de gama linha e carbonetos ao longo dos contornos de
grão;
C) precipitação de fases frágeis tais como σ e µ durante longo tempo de
serviço;
D) oxidação em atmosferas oxidantes;
E) sulfetação em atmosferas redutoras formadas por misturas de gases;
F) corrosão a quente em atmosferas com depósitos de sais.
A figura 6, mostra uma palheta de uma turbina a gás feita de superliga de
níquel, apresentando após 25.800 horas de serviço. A alteração da microestrutura
em sua parte superior é caracterizada por apresentar crescimento e coalescimento
de partículas da fase gama linha, enquanto que a parte inferior, menos sujeita a
esforços mecânicos, não apresenta alteração microestrutural significativa. O
aumento utilizado nas micrografias foi de 5000 X.
Figura 6 - Palheta de uma turbina a gás, mostrando a micrografia da parte
alterada e não alterada da microestrutura da superliga de níquel
(http://swiri.edu/4org/d18/mechflu/planteng/gasturb/conditas.htm).
19
A figura 7, mostra o processo de degradação por sulfetação em uma
superliga de níquel após 40.000h de serviço, utilizando aumento de 1500X.
Figura 7 - Micrografia mostrando partículas de sulfeto em superliga de níquel
(http://swiri.edu/4org/d18/mechflu/planteng/gasturb/lifevalu.htm
).
A figura 8 mostra a corrosão a quente por sulfato de sódio alcalino (Na
2
SO
4
)
em uma palheta de turbina a gás de superliga de níquel.
Óxido
Partículas de sulfeto
20
Figura 8 - Aspecto da superfície de uma palheta de turbina a gás, submetida
a processo de corrosão a quente (http//www. hghouston.com/x/07.html-27k).
2.4 - Oxidação a altas temperaturas
A oxidação a altas temperaturas das superligas de níquel ocorre em
ambientes altamente oxidantes como em ambientes de combustão, que operam com
excesso de ar para melhorar a eficiência da combustão . Nos ambientes industriais
onde tem-se alta atividade de oxigênio, as reações de oxidação são consideradas a
principal forma de corrosão. A oxidação em ligas leva às vezes à formação de uma
camada protetora, que atua como resistência a outras formas de ataque corrosivo
como a sulfetação e a corrosão por depósitos de cinzas e sais (Gentil, 1996).
A oxidação de um metal só é possível quando a pressão de dissociação do
óxido (pressão de equilíbrio) for menor que a pressão real de oxigênio ( pressão
total ou parcial do oxigênio mantido em fase gasosa) em equilíbrio com o óxido,
pois a variação de energia livre é menor que zero (Gentil, 1996).
21
2.4.1 - Cinética de oxidação a altas temperaturas
Quando um metal está operando em presença de oxigênio a altas
temperaturas, por um longo período de tempo, podemos ter três etapas cinéticas:
oxidação inicial, oxidação estacionária e oxidação catastrófica ( Gentil, 1996).
A oxidação inicial é regida pela lei cinética linear, na qual a velocidade de
oxidação não varia com o tempo; o seu mecanismo é topoquímico, ou seja, resulta
da interação química do metal com o oxigênio, onde o metal perde seus elétrons
para o oxigênio e oxida-se, enquanto que o oxigênio, ao receber os elétrons do
metal, reduz-se. Esta reação ocorre em pontos da superfície metálica
energeticamente vantajosos, chamados de centros ativos que são locais favoráveis
para que a reação topoquímica ocorra. A película que é formada na oxidação inicial
apresenta-se descontínua, com espessura entre 0 - 10nm, invisível a olho nu e não
é protetora (Gentil, 1996).
A oxidação estacionária é regida pelas leis cinéticas inversa e direta do
logaritmo, cúbica e parabólica, ou seja, a velocidade de oxidação em relação ao
tempo pode variar seguindo estes quatro tipos de leis cinéticas, dependendo da
temperatura em que o metal está operando. A lei inversa do logaritmo controla a
oxidação dos metais em temperaturas de até 200ºC, quando a espessura do óxido
está entre 10nm e 100nm; sua película é extremamente protetora e visível a olho nu
(Gentil, 1996).
A lei logarítmica direta controla a oxidação dos metais operando entre 200 e
300ºC, quando a espessura do óxido está entre 100 e 500nm; sua película é
extremamente protetora e visível a olho nu. A lei cúbica controla a oxidação dos
metais operando entre 300 e 500ºC, com espessura do óxido variando entre 0,5µm
a 100µ
m; sua película é extremamente protetora e visível a olho nu.
A lei parabólica controla a oxidação de metais aquecidos entre 500 e 800ºC
e espessura do óxido entre 100µm e 500µm; a película é protetora e visível a olho
nu. O mecanismo da oxidação estacionária ocorre por difusão das espécies
ionizadas ou seja ânions de oxigênio e cátions metálicos se deslocando através da
película de óxido (Gentil, 1996).
22
A oxidação catastrófica é regida pela lei cinética linear; o seu tipo de
mecanismo é misto, pois resulta de uma combinação do mecanismo topoquímico e
do mecanismo de difusão. As áreas do metal não cobertas pela camada de óxido
(largas trincas e poros transversais) sofrem oxidação catastrófica pelo mecanismo
topoquímico e as áreas do metal cobertas pela camada de óxido muito defeituosa
(estreitas trincas e poros transversais), com quantidade grande de imperfeições na
estrutura, sofrem oxidação catastrófica pelo mecanismo por difusão. A oxidação
catastrófica forma uma película descontínua com espessura superior a 0,5mm, que
não é protetora e é visível a olho nu (Gentil, 1996).
2.4.2 - Oxidação seletiva
Para que a oxidação seletiva na superliga ocorra, formando uma camada de
óxido protetor, o metal base e o elemento químico que sofrerá a oxidação deve
atender aos seguintes parâmetros:
A) Afinidade química pelo oxigênio - O elemento que sofre oxidação seletiva
deve possuir uma maior afinidade química pelo oxigênio, ou seja, uma maior
variação de energia livre em relação ao elemento base da liga (Pettit e Meier, 1984).
A tabela 4 mostra a variação de energia livre padrão para formação de alguns
óxidos.
23
Tabela 4 - Variação de energia livre padrão ( Pettit e Meier, 1984).
Elemento Óxido
G (KJ/ mol de O
2
)
Hf HfO
2
-919,2
Al Al
2
O
3
-907,2
Zr ZrO
2
-903,2
Ti TiO
2
-763,4
Si SiO
2
-697,8
Ta Ta
2
O
5
-642,0
Mn MnO -623,8
Nb Nb
2
O
5
-616,8
Mo MoO
2
-606,4
Cr Cr
2
O
3
-583,4
W WO
2
-401,2
Fe FeO -397,8
Co CoO -326,4
Ni NiO -300,6
B) Relação de Pilling-Bedworth - Consiste na razão entre volume de óxido
formado e o volume do metal. Os óxidos protetores devem ter esta razão entre 1 e
2,5 para formação de uma camada contínua, pois quando o volume do óxido é
menor que 1 o volume de óxido não é suficiente para cobrir toda superfície metálica,
não prevenindo o acesso de oxigênio ao metal; e quando a razão é maior que 2,5 o
volume de óxido é excessivo, embora a película seja contínua, não consegue manter
uma proteção adequada da superfície do metal, pois durante o seu crescimento
acumula vários defeitos em sua estrutura, permitindo assim o acesso do oxigênio ao
metal base ( Callister, 1997). Na tabela 5 temos a Relação de Pilling Bedworth (RPB)
de alguns óxidos.
24
Tabela 5 - Relação de Pilling - Bedworth (Gentil, 1996).
Óxido
Al
2
O
3
NiO FeO CoO Cr
2
O
3
SiO
2
RPB 1,275 1,65 1,76 1,99 2,07 2,27
C) Pressão de dissociação do óxido - Os metais que possuem maiores
pressões de dissociação do óxido são os mais resistentes a oxidação, pois possuem
menores variações de energia livre, dificultando a formação da película de óxido
protetor (Ramanathan, 1988).
D) Raio Iônico - O raio iônico do íon do elemento liga deve ser menor que o
raio iônico do íon do elemento base, para facilitar a difusão até a superfície e formar
o óxido protetor (Menezes, 1995).
A tabela 6 apresenta os raios iônicos de alguns dos elementos químicos
utilizados na composição das superligas:
Tabela 6 - Raio iônico de elementos utilizados em superligas (Menezes, 1995).
Ion Si
4+
Al
3+
Cr
3+
Ni
2+
Co
2+
Fe
2+
Raio Iônico (pm) 42 54 61 69 75 78
E) Os óxidos devem possuir pontos de fusão elevados, para evitar a
penetração da oxidação de maneira contínua (Hammond, 1993). Quando ocorre a
fusão em óxidos, a camada de óxido perde o seu efeito protetor. A tabela 7 mostra
pontos de fusão de alguns óxidos:
Tabela 7 - Ponto de fusão de óxidos (Hammond, 1993).
Óxido SiO
2
CoO NiO Al
2
O
3
Cr
2
O
3
Temperatura (ºC) 1723 1795 1984 2072 2266
25
F) Concentração do elemento de liga no metal base - Através da adição de
elementos na superliga pode-se modificar a resistência à oxidação.
Adicionando, por exemplo, elementos como cromo, alumínio, silício,
molibdênio, berílio em uma matriz de níquel modifica-se a sua taxa de oxidação
consideravelmente, embora a lei parabólica continue a ser obedeci
da (Sheir,1965).
G) Expansão Térmica - O metal e o óxido devem ter coeficientes de
expansão térmica próximos para evitar que a película de óxido se frature e com isso
perca a capacidade protetora ( Gentil, 1996).
H) Condutividade Elétrica: As películas de óxido formadas que possuem uma
maior condutividade elétrica, oferecem uma menor dificuldade à difusão iônica e com
isso são menos protetoras. Podemos observar na tabela 8, que o óxido que possui
menor condutividade elétrica é o óxido de alumínio ( Al
2
O
3
), enquanto que o óxido de
ferro (FeO) é o que possuí maior condutividade elétrica.
Tabela 8 - Condutividade elétrica de óxidos (Gentil, 1996).
Óxido Al
2
O
3
SiO
2
NiO Cr
2
O
3
CoO FeO
Condutividade
−1
cm
-1
10
-7
10
-6
10
-2
10
-1
10
+1
10
+2
2.5 - Corrosão a quente
A corrosão a quente em superligas de níquel utilizadas em palhetas de
turbinas a gás está relacionada principalmente com a formação de depósitos de sais,
principalmente o sulfato de sódio (Na
2
SO
4
), formado pela reação do óxido de sódio
(Na
2
O), proveniente da reação do sódio presente no ar, principalmente em
atmosferas marinhas e do oxigênio do ar de combustão, com o trióxido de enxofre
(SO
3
), formado pela reação do enxofre presente no combustível e do oxigênio
presente no ar de combustão. Este tipo de corrosão tem sido observado desde a
década de 60 (Lai, 1997). O depósito do sulfato de sódio (Na
2
SO
4
) na superliga de
níquel separa a superliga de níquel dos gases ambientais (O
2
e SO
3
), resultando em
26
uma menor atividade do O
2
proveniente do ar de combustão, dificultando assim a
oxidação seletiva; com isso, a difusão do SO
3
passa a ser mais rápida que a difusão
do O
2
sobre a superfície da superliga de níquel, danificando a camada de óxido
protetor (Lai, 1997).
No caso de combustíveis de biomassa, o maior risco de ocorrência de
corrosão a quente é devido à formação de K
2
SO
4.
O potássio desempenha, com
outros metais alcalinos e alcalinos terrosos, funções essenciais no metabolismo das
plantas e está presente em teor relativamente elevado nas biomassas (Lai, 1997).
O sal é formado devido à fácil volatilização deste elemento e reação com SO
3
. O
potássio desempenha, com outros metais alcalinos e alcalinos terrosos, funções
essenciais no metabolismo das plantas (Lai, 1997).
A morfologia da corrosão a quente na superliga de níquel é caracterizada
pela formação de uma fina camada de óxido poroso sobre a superfície da superliga
de níquel, com a matriz da superliga de níquel apresentando uma diminuição no teor
de cromo e uma camada interna rica em sulfetos (Lai, 1997).
2.5.1 - Estágios de corrosão
Quando uma superliga de níquel sofre o processo de corrosão a quente, em
presença de depósito de sulfato de sódio (Na
2
SO
4
), geralmente dois estágios estão
presentes: o estágio de iniciação, que se caracteriza pela baixa taxa de degradação
da superliga, sendo esta taxa parecida com a encontrada em superliga de níquel
sem a presença de depósitos. Este estágio depende de alguns fatores como:
composição química da superliga de níquel, qualidade de fabricação da superliga de
níquel, velocidade dos gases de combustão, temperatura dos gases de combustão,
composição química dos gases de combustão, composição química do sal, taxa de
deposição do sal e geometria da amostra.
O segundo estágio se caracteriza pela taxa mais elevada de degradação
da superliga de níquel, levando à sua retirada de operação (Pettit e Meier, 1984). A
figura 9 mostra a variação de massa de duas superligas de níquel com composições
27
diferentes, durante testes de corrosão a quente em presença de Na
2
SO
4
e ar
estático a uma temperatura de 1000ºC. Foi observado que a superliga de níquel
IN738 apresenta, nas condições de ensaio, o primeiro estágio mais prolongado,
resultando em uma variação de massa bem menor ao compararmos as duas
superligas expostas a um mesmo tempo.
Figura 9 - Curvas de variação de massa em função do tempo das superligas
de níquel IN738 e B-1900, em presença de Na
2
SO
4
e ar estático a 1000ºC (Pettit e
Meier,1984).
2.5.2 - Tipos de corrosão
A corrosão a quente está dividida em dois tipos:
28
Corrosão do tipo I: também chamada de corrosão a quente em altas
temperaturas, ocorre entre as temperaturas de 825ºC e 950ºC (Stringer, 1977),
quando o filme de sal encontra-se em geral fundido.
Esta forma de corrosão a quente começa com a condensação do sulfato de
sódio (no caso dos combustíveis fósseis) sobre a superfície das palhetas das
turbinas a gás. No decorrer do processo ocorre reação química entre o filme de
Na
2
SO
4
e a camada de óxido protetor formado durante a oxidação seletiva (Al
2
O
3
ou
Cr
2
O
3
), reduzindo a superliga substrato do elemento que forma o óxido protetor.
Assim, a oxidação do metal base torna-se acelerada, formando uma camada de
óxido porosa, a qual não é protetora. A forma de ataque neste tipo de corrosão a
quente é uniforme, formando uma região interna rica em sulfetos (o enxofre presente
no sal formado reage com superliga de níquel) e, como conseqüência, temos a
diminuição de elementos na composição da superliga substrato. A morfologia dos
produtos externos da corrosão a quente é caracterizada pela presença de óxido não
protetor, disperso pelo filme de Na
2
SO
4
(Stringer, 1977).
Corrosão do tipo II: também chamada de corrosão a quente a baixas
temperaturas, ocorre entre as temperaturas de 650ºC e 800ºC. Este tipo de corrosão
a quente consiste na formação de mistura eutética de baixo ponto de fusão entre o
sulfato de sódio (Na
2
SO
4
) e sulfato de níquel (NiSO
4
) nas superligas de níquel.
Nesta corrosão aparece o ataque não uniforme na forma de “pitting”, apresentando
ou não pequenas quantidades de sulfetos dentro das cavidades e uma redução de
alumínio e cromo na superliga substrato (Rapp e Zhang, 1994).
O ataque localizado está relacionado com fraturas na camada de óxido
protetor formado durante a oxidação seletiva, devido ao ataque por cloretos
resultantes da reação entre cloro e metais alcalinos existentes no combustível,
como, por exemplo, sódio e potássio, ciclo térmico (em função da variação de
temperatura que ocorre ao longo da geometria das palhetas das turbinas a gás) ou
erosão provocada pela alta velocidade em torno de 200m/s dos gases resultantes da
combustão que passam pelas palhetas das turbinas a gás, para realizarem trabalho.
A corrosão do tipo II precisa de pressões parciais de SO
3
mais elevadas para
ocorrer, ao contrário da corrosão do tipo I (Rapp e Zhang, 1994).
29
A corrosão a quente pode ser eletroquímica e envolver mecanismos de
dissolução de qualquer soluto ácido ou básico no sulfato de sódio fundido, já que o
sulfato de sódio (Na
2
SO
4
) é um composto iônico e, quando fundido, é condutor
eletrolítico, possuindo comportamento químico ácido - básico, onde Na
2
O é
componente básico e o SO
3
é o componente ácido (Rapp e Zhang, 1994).
2.5.3 - Teorias sobre taxas de corrosão
Uma das teorias mais aceita é a da dissolução dos óxidos protetores
formados sobre as superfícies das superligas devido à deposição de sais sobre os
óxidos protetores, principalmente quando os sais depositados encontram-se no
estado líquido (fundidos). Esta teoria foi proposta por Bornstein e Decrescente
(1969) e depois aprimorada por Goebel e Pettit (1970 e 1973), a qual consiste na
dissolução da camada de óxido como um ânion quando o sal é básico, ou seja, rico
em Na
2
O (corrosão do tipo I) e como cátion, quando o sal é ácido, ou seja, rico em
SO
3
(corrosão do tipo II). Foram feitas diversas medições de solubilidades, o que
levou Rapp e Goto (1981) a achar que para que ocorra a dissolução continuada da
camada de óxido, dissolução esta baseada na dissolução e reprecipitação da
camada de óxido protetor da superliga de níquel no filme de sulfato de sódio
(Na
2
SO
4
), dependendo da basicidade do filme de sal, o gradiente de solubilidade
dever ser negativo na interface óxido/sal, ou seja, a solubilidade do óxido no filme de
sal deve diminuir da interface óxido/sal para a interface sal/fase gasosa. A figura 10
mostra a variação da solubilidade de diversos óxidos no sulfato de sódio fundido
(Na
2
SO
4
), a uma temperatura de 1200K e pressão de O
2
de 1atm, em função do
logaritmo negativo da atividade de óxido de sódio (Na
2
O). O óxido de silício está a
uma temperatura de 1173K.
30
Figura 10 - Solubilidade de diversos óxidos no sulfato de sódio ( Na
2
SO
4
), a
uma temperatura de 1200K e pressão de 1atm de O
2
( Rapp, 1986).
Durante a operação em turbinas a gás, o SO
3
encontra-se em uma faixa de
pressão parcial na qual o Al
2
O
3
e Cr
2
O
3
exibem um mínimo de solubilidade no filme
de sulfato de sódio (Na
2
SO
4
) depositado sobre a superliga de níquel; por isso o
alumínio e o cromo são recomendados para a proteção de superligas de níquel para
palhetas de turbinas a gás (Stringer, 1977).
Estas teorias citadas acima explicam bem as taxas de corrosão em elevadas
temperaturas quando o filme de Na
2
SO
4
encontra-se no estado líquido, porém não
consegue explicar as elevadas taxas de corrosão em baixas temperaturas, abaixo do
ponto de fusão do sal.
De acordo com a teoria da dissolução ácido - base a rápida degradação da
superliga de níquel resulta da dissolução ácida ou básica da camada de óxido
protetor (Cr
2
O
3
ou Al
2
O
3
) no depósito de sal (Na
2
SO
4
). Esta teoria não se utiliza de
prótons ou íons característicos dos solventes para definir espécies ácidas ou
básicas. De acordo com ela, os sais oxigenados dos metais alcalinos podem ser
caracterizados por um componente básico e ácido.
Para o sulfato de sódio (Na
2
SO
4
), temos o Na
2
O como componente básico e
SO
3
como componente ácido (Inman e Wrench, 1966).
Na
2
SO
4
fundido a 1200 K
31
Devido a presença em grande quantidade do sulfato de sódio (Na
2
SO
4
) nas
palhetas das turbinas a gás, as quais utilizam superligas de níquel em sua
fabricação, os pesquisadores de corrosão têm dado uma especial atenção a sua
estabilidade, em temperaturas elevadas.
2.5.4 – Mecanismo de deposição de sais
Os estudiosos da corrosão a quente têm formulado vários mecanismos de
deposição do sal nas superfícies das superligas de níquel, sendo os dois principais:
deposição química, quando a pressão de vapor do Na
2
SO
4
excede sua pressão
parcial de equilíbrio em uma determinada temperatura de trabalho e deposição
física, quando algum tipo de sal desprende-se de um componente do equipamento e
se deposita por impacto sobre a superfície de outro componente ( Rapp, 2002).
Em 1997 Bornstein e Allen fizeram um estudo sobre depósitos de sais nas
palhetas da turbina a gás, quantificando a composição dos depósitos de sais
encontrados em %mol (número de moles do sal / somatório do número de moles de
todos sais encontrados) e observaram que a diferença na constituição do
depósito de sal encontrado nos diversos estágios da turbina a gás não foi
significativa, por ter sido a deposição realizada por impacto. A tabela 9 mostra os
teores dos diferentes sais presentes nos depósitos encontrados no interior e exterior
das palhetas.
32
Tabela 9 - Concentração % mol de sais das palhetas das turbinas a gás
(Bornstein e Allen, 1997).
Superfície externa do aerofólio Superfície interna de aerofólio
Rota do gás Canal de refrigeração
Sais estágio estágio estágio estágio
Na
2
SO
4
40 28 45 37
K
2
SO
4
4 3 3,2 4,4
CaSO
4
40 59 41 46
MgSO
4
13 8 9,5 11,5
Outros 3 2 1,3 1,1
De acordo com Bornstein e Allen (1997), se o mecanismo fosse por
condensação dos sais, diferenças significativas seriam encontradas na constituição
de depósitos de sal entre os estágios da turbina a gás, devido à diferença de
temperatura entre os estágios. Eles também verificaram que a deposição de
partículas de sal nos componentes de uma turbina ocorre principalmente através do
mecanismo de impacto. Mecanismo semelhante tem sido relatado na combustão em
caldeiras a vapor queimando biomassa.
A tabela 10 apresenta a composição desses depósitos e a tabela 11 mostra
a composição iônica típica de depósitos de sais em palhetas de turbinas a gás.
Tabela 10 - Composição estimada de depósitos de sais em palhetas de
turbinas a gás (Bornstein e Allen, 1997).
Sais depositados
NaCl Na
2
SO
4
K
2
SO
4
CaSO
4
MgCl
2
MgSO
4
(%mol) 0 54,68 5,50 15,00 0 24,82
33
Tabela 11 - Composição iônica típica de depósito de sais em palhetas de
turbinas a gás ( Bornstein e Allen, 1997).
Íon Cl
-
K
+
Ca
2+
Mg
2+
Na
+
SO
4
2-
Composição (% mol) 0 3,67 7,50 12,41 36,45 39,37
2.5.5 - Termoquímica dos sais na superfície da superliga
As superligas de níquel das palhetas das turbinas a gás trabalham em geral
em ambientes de combustão oxidantes, mas dependendo da regulagem da relação
vazão mássica de ar (kg
ar
/h)/ vazão mássica de combustível (kg
combustível/
/h), os
mesmos podem se tornar redutores. Os ambientes oxidantes são aqueles em que a
combustão ocorre com grande excesso de ar, para se obter uma melhor queima do
combustível, melhorando com isso o rendimento térmico da turbina a gás. Os
ambientes redutores são aqueles em que a combustão acontece com quantidades
de oxigênio abaixo do necessário, piorando o rendimento térmico da turbina a gás, e
com isso acumulando resíduos provenientes do combustível que não foram
queimados, aumentando o consumo de combustível.
No caso de ambientes redutores de combustão, como o que foi citado no
parágrafo anterior, na presença do enxofre, a atividade do oxigênio pode ficar
reduzida, tornando difícil à formação de uma camada de óxido protetor na superliga,
dando origem a uma camada de óxido não eficiente na proteção da superliga contra
a corrosão e formando sulfetos que não tem propriedades protetoras. Nestes
ambientes redutores, o enxofre está na forma gasosa de H
2
S, e em ambientes
oxidantes o enxofre dá origem a SO
2
e SO
3,
sendo neste caso a sulfetação mais
branda (Lai, 1997).
A sulfetação pode ser acelerada tanto em ambientes oxidantes como em
ambientes redutores, quando outras impurezas provenientes do combustível como
sódio e potássio, que reagem com SO
2
e SO
3
e dão origem a sais em estado
34
gasoso, se condensam em locais menos quentes da turbina promovendo uma
corrosão acelerada (Lai, 1997).
Os metais alcalinos e o enxofre presentes no combustível reagem com o
oxigênio presente no ar de combustão levando à formação de óxidos Na
2
O, K
2
O
e SO
3
. Os óxidos (Na
2
O + K
2
O) constituem a fração de álcali e ao reagirem com SO
3
darão origem a sulfatos (Na
2
SO
4
e K
2
SO
4
) que podem condensar e depositar sobre
a superfície das superligas, dependendo da temperatura de trabalho (Lai, 1997).
Quando a palheta da turbina a gás está operando a uma temperatura abaixo
do ponto de orvalho do sulfato do metal alcalino, a mesma fica exposta ao
condensado formado pelos seus vapores, o que pode levar à formação de sulfetos,
através da reação química do enxofre do sulfato de sódio com os elementos da
superliga, trazendo como conseqüência a dissolução da camada de óxido protetor
no filme de sal (Lai, 1997).
2.5.6 - Ensaios e avaliação da corrosão a quente por depósito de cinzas de
celulignina
Gomes (2002), em sua dissertação de mestrado, usando como meio
corrosivo um envólucro de cinzas provenientes da combustão da celulignina obtida
da madeira de eucalipto, realizou ensaios de corrosão a quente a 820ºC e com
tempos de exposição de até 1000h. Foram realizadas duas séries de ensaios, uma
utilizando cinzas da celulignina tratada com água deionizada (série CAD) e a outra
com corpos de prova utilizando cinzas da celulignina tratada com água de poço
(série CAP). Verificou-se na superfície externa dos corpos de prova da superliga
IN738LC, após remoção do depósito de cinzas, a formação de uma camada de
óxidos (rica em alumínio, cromo e titânio) já para o ensaio de 50 horas,
sendo que para o corpo de prova da série CAP, a camada se apresentou mais
espessa, sugerindo um processo de oxidação mais acelerado que o da série CAD
(figura 11). A figura 12 mostra na seção transversal interna a presença de sulfetos
próximos à borda dos corpos de prova das séries CAD e CAP; pode-se observar que
tanto o tamanho das partículas de sulfeto como a profundidade de ataque por
35
sulfetação foi maior nos corpos de prova da série CAP.
(a) (b)
Figura 11 - Superfície externa (topo), após ensaio de corrosão a quente a
820ºC por 50 horas, mostrando aspecto do filme de óxido formado. (a) amostra da
série CAP (b) amostra da série CAD. Aumentos de 2000X. Microscopia eletrônica de
varredura
Figura 12 - Seção transversal interna, após ensaio de corrosão a quente a
820ºC por 50 horas, mostrando formação interna de sulfetos abaixo da camada
externa do óxido formado. (a) amostra da série CAD (b) amostra da série CAP.
Aumentos de 2000X. Microscopia eletrônica de varredura.
Embutimento
Partículas de sulfeto
Embutimento
Partículas de sulfeto
36
As figuras 13 e 14 são referentes a variação de massa dos dois corpos de
prova ensaiados a 820ºC, utilizando recobrimento de cinzas de celulignina
proveniente da biomassa da madeira de eucalipto.
0 200 400 600 800 1000
-0,2
-0,1
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
CAD2
CAD1
Variação de massa (mg/cm
2
)
Tempo (h)
Figura 13 - Gráfico da variação de massa, após ensaio de 50 horas a 820ºC
usando depósito de cinzas de celulignina proveniente da madeira de eucalipto
(tratamento com água deionizada na pré-hidrólise).
0 200 400 600 800 1000 1200
-0,2
-0,1
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
CAP2
CAP1
Variação de massa (mg/cm
2
)
Tempo (h)
Figura 14 - Gráfico da variação de massa de corpos de prova, após ensaio
de 50 horas a 820ºC usando depósito de cinzas de celulignina proveniente da
madeira de eucalipto (tratamento com água de poço na pré-hidrólise).
37
2.6 - Ensaios de oxidação e corrosão a quente
Estes testes têm os seguintes objetivos: melhorar os conhecimentos a
respeito dos mecanismos de corrosão, previsão da vida em serviço e simular o
ambiente de serviço para obter dados quantitativos.
2.6.1 - Tipos de ensaios
De acordo com Nicholls (1995) os métodos mais usados para avaliar
mecanismos de oxidação e corrosão a quente em presença de um sal são: teste em
cadinho, com recobrimento de sal e de queimador de bancada. Outros tipos de
testes podem ser realizados, em que utilizam depósitos de produtos de combustão,
como cinzas de carvão (Osgerby et al., 1998) ou cinzas de biomassa (Gomes,
2002).
2.6.1.1 - Teste em cadinho
O corpo de prova é colocado em um forno aquecido dentro de um cadinho,
onde fica total ou parcialmente mergulhado em um sal fundido, como, por exemplo, o
sulfato de sódio (Na
2
SO
4
), sulfato de potássio (K
2
SO
4
) ou cloreto de sódio (NaCl), ou
ainda em mistura de alguns destes sais, podendo também ser usados gases como
CO, CO
2,
SO
2
, SO
3
, O
2
, N
2
eH
2
S ou mistura deles. Os gases podem ser borbulhados
nos sais fundidos ou passarem através do forno ( Beltran e Shores, 1972).
2.6.1.2 - Teste com recobrimento de sal
O corpo de prova é nebulizado com uma solução aquosa de um sal, secado
e colocado dentro de um forno aquecido à temperatura de trabalho da superliga,
onde é submetido à passagem de um fluxo contínuo de oxigênio, ar ou outras
atmosferas de interesse, com retiradas periódicas para pesagem e reposição do sal
(Beltran e Shores ,1972).
38
2.6.1.3 - Teste em queimador de bancada
Este teste é o que mais se aproxima das condições reais de trabalho de uma
turbina a gás. Consiste em colocar a amostra dentro de um forno, com circulação de
produtos de combustão, que podem ser adicionados de 5 a 200ppm (partes por
milhão) de sal marinho, correspondente a concentração de sal no ar e cerca de 1%
de enxofre, contaminante encontrado em combustíveis. Ciclos térmicos podem ser
aplicados.
Estes testes conseguem controlar melhor a reprodução de condições
ambientais, como temperatura e composição do gás, porém apresentam limitações
em reproduzir as elevadas velocidades de gases das turbinas em torno de 200m/s
(Pettit e Meier, 1984).
2.6.2 - Fatores que afetam os testes de corrosão
Os principais fatores que afetam os testes de corrosão estão listados abaixo:
1) Composição do depósito: a composição do depósito usada nos testes de
corrosão a quente deve ser parecida com as condições reais de trabalho, para que
se consiga resultados mais próximos da prática (Saunders, 1995).
2) Estrutura e composição do depósito: a estrutura e composição do depósito
devem ser caracterizadas (Saunders, 1995).
3) Taxa de depósito: deve-se simular nos trabalhos, a taxa de fluxo dos
contaminantes (mg/s) que são encontrados nas condições reais de trabalho
(Saunders, 1995).
4) Velocidade do gás: a velocidade do gás nos testes de corrosão a
quente em queimador de bancada deve ser controlada, pois ela tem influência
direta no aumento das taxas de corrosão por erosão (Saunders, 1995).
5) Temperatura do metal e do gás: o efeito do fluxo térmico é importante,
alterando estabilidade do depósito. As temperaturas que são mais usadas em ensaios
de oxidação estão situadas em uma faixa de temperaturas entre 250ºC a 1500ºC
39
( Nicholls, 1995). O controle de temperatura dentro do forno deve variar ±3ºC
até 600ºC, ±4ºC até 800ºC, ±5ºC até 1000ºC, ±8ºC até 1500ºC e ±10ºC acima de
1500ºC (Saunders, 1995).
6) Tempo: o tempo é um fator muito importante para que o processo de
corrosão se desenvolva, com a ocorrência de progressiva variação na estrutura dos
óxidos formados. Os intervalos de tempo mais usados são: 1h, 5h, 20h, 30h, 50h,
100h, 250, 300h, 500h, 1000h e 5000h (Saunders, 1995).
7) Ciclos térmicos: a estabilidade mecânica do óxido protetor formado durante
os ensaios de corrosão a quente e do depósito utilizado nos testes é controlada
pela taxa de ciclos térmicos, por isso é importante que se faça o controle da
temperatura do forno durante os testes (Saunders, 1995).
8) Controle da atmosfera gasosa: a atmosfera controla a estabilidade do
depósito ao redor do sal (Saunders, 1995) e por isso deve ser controlada para que
se possa ter um resultado mais próximo das condições reais de trabalho.
A simulação de condições ambientais em atmosferas gasosas tem sido uma
das maiores dificuldades para padronizar testes de corrosão (Grabke, 1995).
A tabela 12 mostra a composição de diferentes ambientes recomendados
para a realização de testes de corrosão a quente, bem como as respectivas faixas
de temperatura.
40
Tabela 12 -
Composição de atmosferas gasosas recomendadas em testes de
corrosão a quente (Grabke, 1995).
Ambiente Composição Temperatura (ºC)
Ar Ar, 2,5% H
2
O 450 - 1200
Incineração de resíduo Ar, 2,5% H
2
O, 0,1-1% SO
2,
0,05-
0,1% HCl
400 -800
Sulfetante 0,1-1% H
2
S, H
2
balanceado 300 - 600
Carbonetante 1% CH
4,
H
2
balanceado,ponto de
orvalho -45ºC
800 -1100
Nitretante 90% N
2,
10% H
2
ponto de orvalho
-45ºC
800 -1300
Gás de carvão (úmido) 0,1-1% H
2
S, 70% CO, 2,5% H
2
O, H
2
balanceado
400 - 700
Gás de carvão (seco) 0,1-1% H
2
S, 70% CO, 2,5% H
2
O, 25
H
2
400 - 700
Gás de resíduo
(pirólise)
90% H
2
O, 5% H
2,
5% CO, 0,1% HCl,
0,05% H
2
S
400 - 700
2.6.3 - Geometria e dimensão das amostras
A geometria e dimensão das amostras utilizadas em ensaios de corrosão a
quente em altas temperaturas são variadas. As amostras em forma de barras e de
discos são as mais usadas para materiais fundidos. As amostras em forma de
discos ou retangulares são mais usadas em ensaios para materiais laminados. As
amostras em forma de arcos são preferidas para ensaios em tubos.
41
A superfície da amostra deve ter uma área entre 400mm
2
e 600mm
2
. Assim,
um corpo de prova em forma de barra cilíndrica pode ter um diâmetro de 8mm e um
comprimento de 15mm, o que corresponde a uma área de 477,5mm
2
.
2.7 - Avaliação da corrosão
Na investigação da extensão da corrosão em uma amostra submetida a
ensaio de corrosão a quente, os dois aspectos mais importantes são os parâmetros
de avaliação e as técnicas de análise para obtenção dos resultados relativos a esses
parâmetros.
2.7.1- Parâmetros de avaliação
2.7.1.1- Penetração da corrosão
O conceito de profundidade de ataque total leva em conta a perda de metal
e a máxima penetração interna da corrosão. Este tipo de análise é útil quando a
amostra sofre ataque localizado como corrosão por “pitting” ou ataque intergranular
e para calcular a profundidade de ataque total, de acordo com a norma ASTM G 54-
84 (1991).
As medidas da figura 15 deverão ser feitas percorrendo a seção circular
metalográfica em 24 pontos, distanciando-se o ponto medido do próximo a medir de
15º (Nicholls 1995).
42
Figura 15 - Metrologia da corrosão.
r
0
= raio original da amostra;
r
m
= raio situado na região sem produtos de corrosão;
r
i
= raio situado na região que não sofre diminuição do percentual dos
elementos de liga;
r
g
= raio correspondente a região sem corrosão intergranular;
Estas medidas permitem expressar a dimensão dos efeitos diversos
causados pela corrosão, através dos seguintes parâmetros:
1) Seção perdida (cm
2
)= πr
0
2
- πr
m
2
2) Penetração interna (cm)= r
0
- r
i
3) Região de ataque de contorno de grão (cm)= r
0
- r
g
2.7.1.2 - Variação de massa
A variação de massa pode ser definida como taxa de crescimento de óxido
(oxidação) ou de perda de massa do metal (corrosão).
43
Quando ocorre a formação de produtos da corrosão, análises adicionais são
necessárias no processo de avaliação de corrosão (Grabke, 1995).
Através de uma microbalança pode-se analisar a variação de massa. A
variação de massa por unidade de área pode ser calculada pela seguinte fórmula de
acordo com ASTM G54 - 84 (1991):
C= W
f
- W
o
/A
Onde:
C= variação de massa por unidade de área em mg/cm
2
;
W
f
= massa final, em mg;
W
o
= massa inicial, em mg;
A= superfície original da amostra, em cm
2
.
2.7.1.3 - Caracterização microestrutural
As principais técnicas utilizadas, em geral, na investigação das alterações
microestruturais de corpos de prova submetidos a ensaios de corrosão a quente são
a microscopia eletrônica de varredura, microscopia eletrônica de transmissão,
espectroscopia por dispersão de energia (EDS), difração de raios – X e técnicas de
análise de superfície.
44
Capítulo 3 - Materiais e metodologia
O ensaio estático de corrosão a quente consistiu em cobrir os corpos de
prova da superliga de níquel IN738LC com uma camada de produtos de combustão
da celulignina oriunda do bagaço de cana de açúcar e submetê-los a uma
temperatura de aproximadamente 820ºC, por períodos curtos de tempo tendo como
atmosfera de trabalho o ar estático, no forno elétrico tubular.
A temperatura foi escolhida em função da expectativa da formação de
depósitos vítreos pela presença do eutético K
2
O.4SiO
2
normalmente encontrado em
cinzas de biomassa.
Após os ensaios, os corpos de prova passaram por processos de limpeza, e
foram avaliados os processos corrosivos envolvidos e a extensão da corrosão.
Os testes e as análises de corrosão seguiram, quando possível, as
recomendações de Nicholls (1995), que têm como meta estabelecer a padronização
de procedimentos experimentais para o estudo da corrosão a altas temperaturas.
3.1 - Materiais
3.1.1 - Cinzas de celulignina
As etapas de produção da celulignina e suas cinzas foram realizadas pela
RM Ma
teriais Refratários.
Matéria - prima: as cinzas utilizadas para cobrir os corpos de prova para os
ensaios de corrosão a quente foram produzidas a partir do bagaço de cana cedido
pela Usina de Áçucar e Álcool do Grupo Othon Bezerra de Mello (da região de
Campos dos Goytacazes-RJ).
Produção de celulignina: foram feitas 20 reações de pré-hidrólise ácida,
sendo a metade com água deionizada e a outra metade com água de poço,
produzindo dois lotes distintos de celulignina. Após a reação a celulignina produzida
foi lavada com a mesma água da reação até um pH 5,0.
45
Secagem: após a lavagem, a celulignina apresentou teor de umidade de
74,0%, sendo então encaminhada ao secador rotativo, finalizando com teor de
umidade
de 12,0%.
Queima: a celulignina seca foi queimada em mufla a temperatura de 550ºC
por 72h apresentando pico de temperatura de 650ºC. Quando esta cinza
apresentava alguns pontos de carbonização, era levada a uma mufla do laboratório
a uma temperatura de 550ºC por 8 h
oras para finalizar a queima.
O teor de cinzas foi de aproximadamente 7,0% para as cinzas de celulignina
de água deionizada e de 13,0% para cinzas de celulignina com água de poço. Como
o teor de cinzas insolúveis (Si, Al e Ti) não é influenciado pela qualidade de água
(deionizada ou de poço), esta diferença é creditada à variação de cinzas nos lotes
do bagaço, o qual não foi homogeneizado.
As cinzas da celulignina do bagaço de cana de açúcar, produzida utilizando
na pré - hidrólise água de poço e as cinzas da celulignina utilizando na pré - hidrólise
água deionizada foram passadas em peneiras de 50 mesh.
3.1.2 - Superliga de níquel IN738LC
A superliga de níquel IN738LC utilizada no atual trabalho foi recebida da
empresa Howmet (Inglaterra) na forma de corpos de prova para ensaios de tração
de 80mm de comprimento e diâmetro de 7mm na seção de menor diâmetro,
produzidos por fundição, sem aplicação de tratamentos térmicos .
A composição nominal da superliga de níquel IN738LC recebida já foi
especificada na tabela 3 (item 2.3.2).
3.2 - Procedimento experimental
3.2.1 - Análise das cinzas
As cinzas de combustão da celulignina do bagaço de cana de açúcar foram
analisadas e sua composição química determinada pelas técnicas de via úmida e de
46
fluorescência de raios - x por espectrometria por dispersão de energia (EDS). Os
compostos presentes foram identificados por difração de raios - x.
O difratômetro usado foi o SEIFERT modelo URD 65 para análise química
qualitativa e para análise química foi usado o espectrômetro de raios - x EDX - 700,
fabricado pela SHIMADZU.
3.2.2 - Preparação dos corpos de prova
As barras cilíndricas de 80mm de comprimento para ensaios de corrosão
foram usinadas a partir dos corpos de prova originais, ficando com diâmetro em
torno de 6mm. Após o processo de usinagem, as superfícies laterais cilíndricas das
peças passaram por etapas sucessivas de lixamento com lixas abrasivas de carbeto
de silício com granulometrias de 220, 320, 400 e 600 mesh. Depois de lixadas, as
duas barras cilíndricas de superliga de níquel IN738LC sofreram cinco cortes
utilizando a máquina de corte Mesoton, dando origem cada uma a seis amostras
com comprimento de 12mm (figura 16). A seguir foi feito lixamento nas duas seções
circulares de cada amostra obtida, utilizando lixas de 220, 320, 400 e acabamento
final 600 mesh (figura 17).
Para determinação das dimensões finais do corpo de prova (diâmetro e
comprimento) foi utilizado o micrômetro digital da marca MICROMASTER/TESA,
com precisão de 10
-3
mm. Ao redor de cada seção circular localizada na extremidade
do corpo de prova foram feitas oito medições de diâmetro e duas de comprimento da
amostra, para se obter valores médios de diâmetro e comprimento.
Após as medições, as amostras passaram por um processo de limpeza de
superfície, que seguiu as seguintes etapas:
1) Lavagem com água corrente e sabão líquido detergente;
2) Lavagem com água deionizada;
3) Lavagem com álcool isopropílico;
47
4) Secagem forçada com ar quente;
5) Limpeza em ultra-som, com imersão em acetona, durante 15min;
6) Secagem forçada com ar quente.
Depois do processo de limpeza, os corpos de prova foram pesados em
balança analítica, com precisão de 10
-5
g. A balança analítica usada foi a MC210S de
fabricação da SARTORIUS.
A deposição das cinzas sobre os corpos de prova foi feita sob a forma lama
fluida, ou seja, a celulignina, antes de ser depositada sobre a amostra foi misturada
com água até adquirir uma consistência de lama fluida (figura 17). Foram utilizados
nos ensaios oito corpos de prova, ficando quatro corpos de prova de reserva. A lama
fluida foi depositada nos oito corpos de prova da superliga de níquel IN738LC, sendo
quatro com depósito de celulignina produzida com água deionizada (série CAD) e
quatro com celulignina produzida com água potável (série CAP). Foi preparado um
corpo de prova de cada cinza de celulignina para cada tempo de ensaio (quatro
tempos de exposição).
Os corpos de prova a seguir foram colocados em cadinhos de porcelana e
aquecidos sobre uma chapa de aquecimento a uma temperatura de 250ºC, para
secar a lama fluida depositada. Durante a secagem, o recobrimento foi
periodicamente retocado com um pincel, para se conseguir uma camada de cinzas
com aspecto uniforme (figura 18). Foi usada uma balança de precisão (0,01g),
modelo AS5500C, de fabricação da MARTES, para fazer o acompanhamento da
massa de lama fluida depositada que ficou em torno de 100mg/cm
2
.
48
Figura 16 - Corpo de prova sem depósito de cinzas de celulignina.
Figura 17 - Acabamento da superfície do corpo de prova com lixa de 600
mesh.
49
Figura 18 - Corpo de prova com depósito de cinzas de celulignina.
3.2.3 – Execução dos ensaios
Os corpos de prova recobertos com cinzas da celulignina produzida com
uso de água deionizada foram colocados em cadinhos de alumina e levados ao
forno previamente aquecido à temperatura de ensaio. O controle de temperatura foi
feito com um termopar de cromel - alumel com a extremidade dentro do forno
situada junto aos cadinhos contendo os corpos de prova. Os cadinhos foram
suspensos no forno usando fios de arame KANTHAL com identificação dos tempos
de ensaio previstos para cada corpo de prova (figura 19). Os mesmos
procedimentos foram usados para ensaios com corpos de prova recobertos com
celulignina de água de poço. Na figura 19 temos um diagrama do forno elétrico e da
montagem do ensaio; não está representado o termopar de cromel-alumel: 1)
Cadinhos de alumina, suspensos por fios de arame; 2) Acionamento e controle do
forno elétrico; 3) Plaquetas para identificação dos corpos de prova; 4) Carcaça do
forno elétrico; 5) Apoios do forno elétrico e 6) Vara de aço para segurar e regular a
posição dos corpos de prova no forno elétrico, bem como sustentar o termopar.
50
Figura 19 - Disposição dos corpos de prova no forno elétrico.
As condições de ensaio foram:
A) Temperatura de ensaio: Os ensaios foram feitos a 820ºC em atmosfera de
ar estático, com tolerância de ±5 ºC. A temperatura foi escolhida de forma a se fazer
os ensaios em condições que não levassem à formação de depósitos vítreos, com
base no trabalho de Marcondes (2002) para celuligninas com origem em biomassas
diversas do bagaço de cana de açúcar. No referido trabalho não foi, no entanto,
estudada a temperatura de vitrificação da celulignina proveniente do bagaço de cana
de açúcar.
Foi também realizado um ensaio consistindo de exposição a 820ºC por
25horas em um corpo de prova da liga IN738LC sem depósito de cinzas, com a
finalidade de avaliar o efeito oxidante da atmosfera ambiente na liga e compará-lo
com efeito produzido nas amostras recobertas com cinzas. O acabamento superficial
1
2
3
4
5
6
51
foi o mesmo dos outros corpos de prova.
B) Tempo de ensaio: O tempo máximo de ensaio foi de 50 horas, com
retirada dos corpos de provas para avaliar os efeitos corrosivos nos seguintes
tempos: 5 horas, 10 horas, 25 horas e 50 horas. Depois de serem submetidos aos
tempos de ensaio, os corpos de prova foram retirados do forno e resfriados ao ar, a
temperatura ambiente.
3.2.4 - Avaliação dos ensaios
3.2.4.1 - Avaliação das cinzas de recobrimento
As cinzas utilizadas no recobrimento dos corpos de prova ensaiados por 50
horas foram recolhidos para análise por difração de raios - x, com objetivo de se
verificar se produtos de corrosão da superliga foram incorporados às cinzas e se as
mesmas sofreram mudanças estruturais ou formação de fases vítreas. Foi escolhido
o método de análise por difração de raios - x com o difratômetro ZEIFERT modelo
URD 65.
3.2.4.2 - Avaliação dos corpos de prova
A) Variação de massa
Após retirada do forno os corpos de prova passaram por três etapas de
limpeza, todas acompanhadas de pesagem de balança analítica; ao final da terceira
etapa foi alcançada a estabilidade no peso do corpo de prova e, portanto, um grau
de limpeza “plena”.
Primeira limpeza:
1) Retirada da camada cinzas de celulignina, pressionando levemente com
uma pinça;
52
2) Imersão em etanol absoluto PA durante 30 minutos em ultra-som;
3) Secagem com ar quente;
4) Verificação do grau de limpeza
no microscópio ótico;
5) Medida de massa em balança analítica com precisão de 10
-5
g.
Segunda limpeza:
1) Limpeza com escova de cerda macia e etanol absoluto PA;
2) Imersão em etanol absoluto PA durante 30 minutos em ultra-som;
3) Secagem com ar quente;
4) Medida de massa em balança analítica com precisão de 10
-5
g.
Terceira limpeza:
1) Limpeza com escova de cerda dura e etanol absoluto PA;
2) Imersão em etanol absoluto PA durante 30 minutos em ultra-som;
3) Secagem com ar quente;
4) Medida de massa em balança analítica com precisão de 10
-5
g.
B) Análise microestrutural
Após os três processos de limpeza citados no item anterior as oito amostras
foram cortadas transversalmente aproximadamente ao meio utilizando a máquina de
corte Miniton com fluido de refrigeração. Para cada condição (tipo de cinza e tempo
de ensaio), parte da amostra foi analisada na superfície externa (topo) sem
lixamento e polimento desta superfície, e a outra parte desta amostra foi embutida
a frio em resina epóxi para exame da seção transversal interna.
Seguiu-se a preparação metalográfica desta seção, utilizando lixas de
granulometrias de 220, 320, 400 e 600mesh a seco para evitar uma possível reação
de óxidos com a água. Após lixamento estas seções foram polidas com pastas de
diamante utilizando as seguintes granulometrias: 3µm, 1µm e 1/4µm. A seguir foi
feita nova limpeza para as amostras embutidas, que foram então recobertas com
53
uma camada de carbono utilizando o evaporador de carbono da BALTEC, modelo
CED030, de forma a tornar condutora a resina epóxi, para possibilitar as análises no
microscópio eletrônico de varredura.
A análise microestrutural foi feita por microscopia eletrônica de varredura,
utilizando o microscópio da marca Zeiss modelo DSM 962, e por microanálise por
EDS, utilizando o “software” ISIS da Oxford Instrument LTD.
3.2.4.3 - Avaliação dos resultados
Através do estudo comparativo dos efeitos causados pelos diferentes tempos
de exposição à temperatura de ensaio, para cada tipo de cinza utilizada, espera-se
determinar os processos iniciais de corrosão a quente pela ação das cinzas da
celulignina produzida do bagaço de cana de açúcar.
54
Capítulo 4 - Resultados
Os resultados das análises apresentadas neste capítulo seguem a seguinte
seqüência:
1) Análise das cinzas: composição química e difratometria de raios-x.
2) Análise dos corpos de prova: variação de massa e caracterização micro -
estrutural dos corpos de prova.
Com relação à análise microestrutural dos corpos de prova ensaiados
são apresentados os aspectos morfológicos observados na superfície externa (topo)
e em sua seção transversal, e também a análise por EDS/MEV de determinadas
regiões dessas seções.
4.1 - Análise das cinzas
4.1.1 - Composição química
São apresentados na tabela 13 os resultados obtidos da análise química por
fluorescência de raios - X das cinzas de celulignina oriunda do bagaço de cana de
açúcar tratada com água deionizada (CAD) e das cinzas da celulignina tratada com
água de poço (CAP), antes dos ensaios de corrosão a quente.
55
Tabela 13 - Análise química por fluorescência de raios-x (%m/m -
percentagem em massa) das cinzas da celulignina proveniente do bagaço de cana,
tratada com água deionizada (CAD) e com água de poço (CAP).
CAD CAP
SiO
2
75,015
%m/m SiO
2
72,391 %m/m
Al
2
O
3
17,452 %m/m Al
2
O
3
19,085 %m/m
Fe
2
O
3
2,435 %m/m Fe
2
O
3
2,344 %m/m
SO
3
2,054 %m/m SO
3
2,473 %m/m
K
2
O 1,139 %m/m K
2
O 1,165 %m/m
CaO 0,844 %m/m CaO 1,337 %m/m
TiO
2
0,816 %m/m TiO
2
0,914 %m/m
V
2
O
5
0,062 %m/m V
2
O
5
0,045 %m/m
ZnO 0,052 %m/m ZnO 0,062 %m/m
ZrO
2
0,040 %m/m ZrO
2
0,032 %m/m
MnO 0,033 %m/m MnO 0,036 %m/m
Cr
2
O
3
0,000 %m/m Cr
2
O
3
0,032 %m/m
Nas tabelas 14 e 15 são apresentadas, respectivamente as análises obtidas
pelo método de via úmida, realizadas por Ambiental Laboratório e Equipamentos
Ltda e Fundação Norte Fluminense de Desenvolvimento Regional. Podem ser
observadas diferenças substanciais entre os resultados obtidos pelos métodos de
análise por fluorescência e via úmida. Independente do método que se considere, ao
se comparar os resultados deste trabalho com os obtidos por Gomes (2002) para
análises das cinzas provenientes da celulignina da madeira de eucalipto (tabela 2),
pode-se verificar que no caso atual, tanto as cinzas do tipo CAD como CAP,
apresentaram um valor substancialmente mais elevado no teor de SiO
2
presente, e
uma drástica diminuição na quantidade de CaO, além de considerável redução no
teor de K
2
O e SO
3
.
Tanto o Si, como Ca e o K tem importância decisiva na formação de
eutéticos de baixo ponto de fusão, que levam a deposição de fases vítreas na
superfície metálica dos componentes de caldeiras e turbinas. O potássio, em
particular, é em geral o principal elemento responsável pelos processos de corrosão
a quente causados pelas biomassas, devido à formação de K
2
SO
4
.
56
Tabela 14A - Análise química por via úmida (%m/m - percentagem em
massa) das cinzas da celulignina proveniente do bagaço de cana tratada com água
deionizada (CAD) e com água de poço (CAP). Análise realizada por Ambiental
Laboratório e Equipamentos Ltda.
CAD CAP
CO
2
> 100
mg/kg
CO
2
> 100
mg/kg
Al
2
O
3
3,66 %m/m Al
2
O
3
0,05 %m/m
CaO 0,02
%m/m
CaO
< 0,01
%m/m
Fe
2
O
3
0,88
%m/m
Fe
2
O
3
0,99 %m/m
MgO
< 0,01
%m/m
MgO
< 0,01
%m/m
MnO
2
< 0,01
%m/m
MnO
2
< 0,01
%m/m
Na
2
O 0,03
%m/m
Na
2
O 0,19 %m/m
K
2
O 0,15
%m/m
K
2
O 0,17 %m/m
TiO
2
< 0,01
%m/m
TiO
2
< 0,01
%m/m
P
2
O
5
1010 mg/kg P
2
O
5
504 mg/kg
SiO
2
86,7 %m/m SiO
2
84,9 %m/m
SO
3
< 20
mg/kg
SO
3
< 20
mg/kg
57
Tabela 14B - Análise química por via úmida (%m/m - percentagem em
massa) das cinzas da celulignina proveniente do bagaço de cana, tratada com água
deionizada (CAD) e com água de poço (CAP). Análise realizada por Fundação Norte
Fluminense de Desenvolvimento Regional.
CAD CAP
P
2
O
5
0,15 %m/m 0,22 %m/m
K
2
O 0,07 %m/m 0,07 %m/m
CaO 0 %m/m 0,014 %m/m
MgO 0 %m/m 0,015 %m/m
SO
3
0,39 %m/m 0,86 %m/m
S
2
O
3
0,01 %m/m 0,02 %m/m
CuO 0,02 %m/m 0,018 %m/m
ZnO 0,052 %m/m 0,07 %m/m
MnO 0,014 %m/m 0,018 %m/m
CO
2
0,92 %m/m 1,03 %m/m
4.1.2 - Composição estrutural
São apresentados os difratogramas de raios-x referentes às análises das
cinzas de celulignina do bagaço de cana de açúcar, obtidas por pré-hidrólise ácida
utilizando água deionizada (CAD) e das cinzas de celulignina de biomassa de cana
de açúcar obtida por pré-hidrólise ácida utilizando água de poço (CAP), antes e
após os ensaios de corrosão a quente.
O método indicou através da análise dos difratogramas das figuras 20, 21, 22
e 23, e da comparação com os padrões do JCPDS que as principais reflexões
correspondem à presença de SiO
2
hexagonal (JCPDS 46-1015).
58
O padrão de SiO
2
é apresentado na tabela A-1 do apêndice. Esta
identificação originalmente foi dificultada em função das reflexões dos difratogramas
obtidos não obedecerem aos valores de intensidade estabelecidos pelo padrão,
provavelmente devido ao fato da granulometria das partículas de cinzas analisadas
não ter sido suficientemente fina, pois os tamanhos iniciais analisados eram da
ordem de 50 mesh. Procedeu-se então um novo peneiramento para 280 mesh das
cinzas correspondentes aos lotes de antes dos ensaios. As figuras 20 e 21 mostram
os difratogramas obtidos na segunda análise, já utilizando as amostras de cinzas
com granulometria adequada. As figuras 22 e 23 correspondem às análises das
cinzas que passaram pelos ensaios de corrosão a quente e mostram reflexões cujas
intensidades não correspondem exatamente ao padrão de SiO
2,
pois a granulometria
de 50 mesh das cinzas altera as reflexões presentes.
Algumas reflexões de baixa intensidade não identificadas em todos os
difratogramas apresentados provavelmente representam compostos que estão
presentes em quantidades menores. Pode-se observar também, em todas as
condições examinadas, a presença de uma fração de material amorfo
correspondente a faixa angular de 15 a 25 º.
Tendo a análise química por fluorescência de raios - X indicado a presença
de um teor considerável de alumínio, é possível que fases não identificadas nos
difratogramas possam conter este elemento químico. Na análise por via úmida da
tabela 14A, pode-se observar uma razoável quantidade de alumínio apenas para as
cinzas do tipo CAD, enquanto que para a análise por via úmida apresentada na
tabela 14B, a análise do alumínio não foi realizada.
59
0 20 40 60 80 100
0
500
1000
1500
2000
2500
M
M
64,05
M
68,15
L
79,90
67,80
60,00
54,85
50,20
45,85
42,45
39,55
36,60
20,80
26,65
L
L
L
L
L
L
L
L
L
L
L
L
Intensidade (u.a)
2 θ (g ra us)
Cinza AD 0h
Figura 20 - Difratograma de cinzas obtidas pela combustão da celulignina do
bagaço de cana de açúcar, obtida por pré-hidrólise ácida usando água deionizada,
antes do ensaio de corrosão a quente. Granulometria < 280 mesh ( reflexões do
SiO2 , - não identificado).
0 20 40 60 80 100
0
500
1000
1500
2000
2500
68,10
L
39,40
L
81,50
75,70
67,75
59,90
54,85
50,20
45,85
42,45
40,20
36,50
26,55
20,85
L
L
L
M
L
L
L
L
L
L
L
L
M
L
Intensidade (u.a.)
2 θ (gra us)
C in za A P O h
Figura 21 - Difratograma das cinzas obtidas pela combustão da celulignina
do bagaço de cana de açúcar, tratada por pré-hidrólise ácida usando água de poço,
antes do ensaio de corrosão a quente. Granulometria < 280 mesh ( reflexões do
SiO2 , - não identificado).
60
O objetivo da análise das cinzas após os ensaios de 50 horas a 820ºC foi
verificar se ocorreu alguma transformação estrutural nas mesmas durante os
ensaios, inclusive pela possível incorporação de elementos químicos provenientes
da camada de óxido dos corpos de prova.
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
0
500
1000
1500
2000
L
68,40
M
M
20,90
L
L
L
L
L
45,85
42,50
39,45
36,60
L
L
L
77,80
68,20
60,00
54,95
50,15
L
L
L
26,70
Intensidade (u.a)
2 θ (gra us)
CA D50h
Figura 22 - Difratograma de cinzas obtidas pela combustão da celulignina do
bagaço de cana de açúcar, tratada por pré-hidrólise ácida usando água deionizada,
após ensaio de corrosão a quente de 50 horas. Granulometria < 50 mesh ( reflexões
do SIO
2
, - não identificado).
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
L
68,15
67,75
L
M
L
L
L
L
L
L
L
L
L
L
L
26,60
75,70
68,35
64,05
59,95
54,85
50,15
42,45
39,45
36,55
20,90
Intensidade (u.a)
2 θ (graus)
CAP 50h
Figura 23 - Difratograma das cinzas obtidas pela combustão da celulignina
da bagaço de cana de açúcar, tratada por pré-hidrólise ácida usando água de poço,
após ensaio de corrosão a quente de 50 horas. Granulometria < 50 mesh ( reflexões
do SiO
2
, - não identificado)
61
Os difratogramas relativos aos tipos de cinzas, CAP e CAD, após ensaio de
50 horas não evidenciam, ao serem comparados com os respectivos difratogramas
obtidos antes dos ensaios, alteração significativa que indique a formação de novos
compostos.
4.2 - Análise dos corpos de prova
4.2.1 - Variação de massa
A variação de massa ocorrida durante os ensaios a 820ºC foi medida com a
balança de fabricação da Sartorius modelo MC 210 S com precisão de 10
-5
gramas
para as oito amostras de superliga de níquel IN738LC submetidas a tempos de
ensaio de 5 horas, 10 horas, 25 horas e 50 horas, sendo quatro amostras expostas
às cinzas de combustão da celulignina da biomassa de cana de açúcar tratada com
água deionizada (CAD) e as outras quatro, submetidas às cinzas de combustão da
celulignina da biomassa de cana de açúcar tratada com água de poço.
A tabela 15 mostra os dados obtidos de ganho de massa para a série CAD,
em todos os intervalos de tempo considerados.
Tabela 15 - Variação de massa (mg/cm
2
) dos corpos de prova (CAD) com o
tempo de exposição.
(mg/cm2) 0,00416
0,01618 0,04787 0,05651
Tempo (horas) 5 10 25 50
Os dados da tabela 15 são apresentados no gráfico da figura 24,
evidenciando um aumento contínuo da taxa de ganho de massa, para então, a partir
do tempo de 25 horas ter-se uma redução nesta taxa, mostrando uma possível
tendência de estabilização desta curva para tempos maiores.
62
No entanto, como apenas um corpo de prova foi avaliado para cada tempo
de ensaio, a análise dos resultados não pode ser considerada como conclusiva.
0
0,01
0,02
0,03
0,04
0,05
0,06
0 5 10 25 50
Tempo (horas)
Variação de massa (mg/cm2)
Curva de variação
de massa
Figura 24 - Gráfico do ganho de massa dos corpos de prova, em função dos
tempos de ensaio a 820ºC, corpos de prova da série CAD.
A tabela 16 mostra a variação de massa por área total da peça em função do
tempo, das amostras da série CAP.
Tabela 16 – Variação de massa (mg/cm
2
) dos corpos de prova (CAP) com
o tempo de exposição.
(mg/cm2) 0,01187
0,01575 0,01139 0,04625
Tempo (horas) 5 10 25 50
Os dados da tabela 16, quando analisados através do gráfico da figura 25,
evidenciam que ocorreu ganho de massa (mg/cm
2
) até o tempo de 10 horas;
63
seguindo-se entre os tempos de 10 e 25 horas, de uma perda relativa de massa até
25 horas, e então, novo aumento de massa entre os tempos de 25 e 50 horas.
0
0,005
0,01
0,015
0,02
0,025
0,03
0,035
0,04
0,045
0,05
0 5 10 25 50
Tempo (horas)
Variação de massa (mg/cm2)
Curva de varião de
massa
Figura 25 - Gráfico do ganho de massa dos corpos de prova, em função dos
tempos de ensaio a 820ºC, corpos de prova da série CAP
São também aplicáveis a estes resultados as mesmas considerações feitas
acima sobre a incerteza na precisão de dados quantitativos provenientes de um
único ensaio.
4.2.2 - Caracterização microestrutural dos corpos de prova
As técnicas de análise usadas para caracterizar seções transversais interna e
externa dos corpos de prova submetidos aos ensaios de corrosão foram a
microscopia eletrônica de varredura (MEV), para exame das características
morfológicas das transformações microestruturais, e a microanálise por dispersão de
energia (EDS/MEV), para obtenção dos mapas de distribuição dos elementos
químicos na região examinada.
64
4.2.2.1 - Caracterização da superfície externa
4.2.2.1.a - Análise microscópica: morfologia
Para caracterização dos aspectos morfológicos das transformações
decorrentes dos ensaios, as superfícies externas (topo) dos corpos de prova foram
examinadas por microscopia eletrônica de varredura utilizando elétrons secundários.
As regiões que foram documentadas na superfície externa de cada corpo de
prova procuram mostrar os aspectos que caracterizam a condição em que se
en
contra o corpo de prova.
Abaixo de cada micrografia dos corpos de prova que foram recobertos com
cinzas de celulignina é apresentada uma legenda composta de três partes. Na
primeira parte temos o termo CAD ou CAP, que se refere ao tipo de água usado na
pré-hidrólise da celulignina, ou seja, água deionizada ou de poço; na segunda parte
temos o tempo de duração de cada ensaio de corrosão a quente, e na terceira parte
está indicado o aumento da micrografia apresentada.
Para se verificar o efeito causado exclusivamente pela exposição da
superliga de níquel IN738LC ao ar a uma temperatura de 820ºC, um corpo de prova
foi ensaiado sem ter sido recoberto com cinzas, tendo sido adotada a seguinte
legenda na figura 34: na primeira parte consta o termo SC, que se refere ao corpo
de prova ensaiado sem cinzas de celulignina; na segunda parte consta o tempo de
duração e na terceira parte, o aumento.
A seguir são apresentadas nas figuras 26, 27, 28 e 29, as micrografias
obtidas por microscopia eletrônica de varredura, referentes aos ensaios com as
cinzas da celulignina obtidas por pré-hidrólise utilizando água deionizada (série
CAD). Em todas as amostras estão visíveis os sulcos provenientes de acabamento
superficial das amostras com a lixa de granulometria de 600 mesh.
A figura 26 a seguir, apresenta os resultados para tempo de ensaio de 5 horas.
65
(a) - CAD - 5h - 200 X (b) - CAD - 5h - 1000 X
(a) Apresenta uma distribuição de aparência dendrítica de partículas
grosseiras.
(b) Apresenta as partículas grosseiras referentes à micrografia (a), com
aumento maior; partículas menores são também visíveis alinhadas com os sulcos de
lixamento.
(c) - CAD - 5h - 5000 X (d) - CAD - 5h - 5000 X
(c) Apresenta partículas grosseiras referidas nas micrografias (a) e (b),
partículas de aspecto espinhoso estão também presentes próximas.
(d) Apresenta partículas de aspecto espinhoso, alinhadas com os sulcos de
lixamento.
66
(e) - CAD - 5h - 10000 X (f) - CAD - 5h - 2000 X
(e) Mostra em detalhe partículas de aspecto espinhoso, já referidas.
(f) Mostra uma camada grosseira ao redor da borda da amostra (parte
superior da micrografia).
Figura 26 : (a-f) Caracterização da superfície externa (topo) do corpo de
prova, por microscopia eletrônica de varredura, para tempo de ensaio de 5 horas a
820ºC (série CAD).
Segue-se a figura 27 que apresenta os resultados referentes aos ensaios por
10 horas nas condições já mencionadas para a figura 26.
(a) - CAD - 10h - 100 X (b) - CAD - 10h - 2000 X
(a) Apresenta uma distribuição de aparência dendrítica de partículas
grosseiras.
b) Apresenta camada grosseira em uma região de borda e partículas finas
67
alinhadas com os sulcos de lixamento.
Figura 27: (a-b) Caracterização da superfície externa (topo) do corpo de
prova, por microscopia eletrônica de varredura, para tempo de ensaio de 10 horas a
820ºC (série CAD).
Os resultados obtidos para tempos de 25 horas são apresentados a seguir na
figura 28.
(a) - CAD - 25h - 200 X (b) - CAD - 25h - 1000 X
(a) Apresenta partículas grosseiras de distribuição dendrítica.
(b)Mostra com maior aumento as partículas grosseiras de (a).
(c) - CAD - 25h - 2000 X (d) - CAD - 10h - 10000 X
68
(c) Mostra partículas finas junto à borda da amostra ( parte superior da
micrografia).
(d) Apresenta partículas finas com maior aumento, mostrando aspecto
espinhoso.
Figura 28 : (a-d) Caracterização da superfície externa (topo) do corpo de
prova, por microscopia eletrônica de varredura, para tempo de ensaio de 25 horas a
820ºC (série CAD).
Os resultados obtidos para tempos de 50 horas são apresentados abaixo na
figura 29.
(a) - CAD - 50h - 100 X (b) - CAD - 50h - 500 X
(a) Apresenta uma distribuição de aparência dendrítica de partículas
grosseiras.
(b) Apresenta as partículas finas seguindo orientação dos sulcos do
lixamento e algumas partículas grosseiras dispersas pela matriz.
69
(c) - CAD - 50h - 2000 X (d) - CAD - 50h - 10000 X
(c) Apresenta detalhes das partículas grosseiras e das partículas finas
espinhosas.
(d) Mostra com maior aumento, o aspecto da superfície nas regiões sem
partículas aparentes para o aumento de 500 X da figura (b).
Figura 29: (a-d) Caracterização da superfície externa (topo) do corpo de
prova, por microscopia eletrônica de varredura, para tempo de ensaio de 50
horas a 820ºC (série CAD).
A seguir são apresentadas as figuras 30, 31, 32 e 33 mostrando, a
caracterização por microscopia eletrônica de varredura das superfícies externas
(topo) dos corpos de prova da série CAP.
A figura 30 refere-se aos ensaios realizados por tempos de 5 horas.
70
(a) - CAP - 5h - 200 X (b) - CAP - 5h - 5000 X
(a) Apresenta partículas grosseiras nas regiões interdendríticas da superliga.
Pode-se observar regiões de aspecto claro e outras mais escuras.
(b) Detalhe das partículas grosseiras.
(c) - CAP - 5h - 10000 X (d) - CAP - 5h - 5000 X
(c) Mostra partículas de aspecto espinhoso orientadas na direção dos sulcos
de lixamento.
(d) Mostra com maior aumento as regiões clara e escura observadas em (a).
71
(e) - CAP - 5h - 5000 X (f) - CAP - 5h - 3000 X
(e) Caracterização da região escura observada em (a) e (d) mostrando a
formação de uma película na superfície.
(f) Mostra uma camada grosseira na região de borda, e partículas finas que
seguem a orientação do lixamento.
Figura 30: (a-f) Caracterização da superfície externa (topo) do corpo de prova,
por microscopia eletrônica de varredura, para tempo de ensaio de 5 horas a 820ºC
(série CAP).
A figura 31, a seguir, apresenta os resultados obtidos para tempos de
exposição de 10 horas.
(a) - CAP - 10h - 200 X (b) - CAP - 10h - 1000 X
72
(a) Mostra partículas grosseiras com distribuição dendrítica e região de
contraste claro e escuro na superfície, como na figura 30 - a.
(b) Mostra com maior aumento regiões de contraste claro - escuro de (a).
(c) - CAP - 10h - 1000 X (d) - CAP - 10h - 5000 X
(c) Outra região da superfície
(d) Mostra a presença de uma película descontínua
Figura 31: (a-d) Caracterização da superfície externa (topo) do corpo de
prova, por microscopia eletrônica de varredura, para tempo de ensaio de 10 horas a
820ºC (série CAP).
Na figura 32, a seguir são apresentados as micrografias referentes ao tempo
de ensaio de 25 horas, para série CAP.
73
(a) - CAP - 25h - 5000 X (b) - CAP - 25h - 5000 X
(a) Apresenta partículas finas de aspecto espinhoso, com formação orientada
seguindo os sulcos de lixamento, mostrando partículas extremamente finas.
(b) Detalhe da figura (a), região marcada com x, mostrando partículas
extremamente finas.
Figura 32 : (a-b) Caracterização da superfície externa (topo) do corpo de
prova, por microscopia eletrônica de varredura, para tempo de ensaio de 25 horas a
820ºC (série CAP).
São apresentadas na seqüência as micrografias referentes aos tempos de
exposição de 50 horas na figura 33.
x
74
(a) - CAP - 50h - 100 X (b) - CAP - 50h - 500 X
(a) Apresenta uma distribuição de aparência dendrítica de partículas
grosseiras e partículas finas orientadas com os sulcos de lixamento, estas cobrindo
maior área da superfície do que nas amostras de 5, 10, 25 horas.
(b) Mesma observação que em (a), para um maior aumento.
(c) - CAP - 50h - 2000 X (d) - CAP - 50h - 3000 X
(c) Apresenta partículas grosseiras e partículas finas espinhosas.
(d) Mostra região com grande acúmulo de partículas finas do tipo espinhoso.
75
(e) - CAP - 50h - 5000 X (f) - CAP - 50h - 10000 X
(e) Mostra partículas finas espinhosas e região livre destas partículas
(f) Detalhe de uma região livre de partículas finas espinhosas como a região
central da figura (e), revelando a presença de partículas ainda mais finas.
Figura 33: (a-f) Caracterização da superfície externa (topo) do corpo de
prova, por microscopia eletrônica de varredura, para tempo de ensaio de 50 horas a
820ºC (série CAP).
Na seqüência são apresentadas na figura 34 as micrografias obtidas a partir
de exame do corpo de prova ensaiado por 25horas, na mesma temperatura das
amostras das séries CAD e CAP, mas sem aplicação do depósito de cinzas de
celulignina.
76
(a) - SC - 25h - 200 X (b) - SC - 25h - 1000 X
(a) Mostra partículas grosseiras seguindo orientação dendrítica, assim como
nos corpos de prova ensaiados com cinzas de celulignina (CAD e CAP).
(b) Mostra partículas grosseiras como em (a) e partículas finas seguindo a
orientação do lixamento.
(c) - SC - 25h - 2000 X (d) - SC - 25h - 200 X
(c) Apresenta partículas grosseiras de tamanho superior ao apresentado nos
corpos de prova ensaiados com cinzas de celulignina (CAD e CAP).
(d) Apresenta formação de partículas de morfologia dendrítica não observadas
nos corpos de prova ensaiados com recobrimento de cinzas de celulignina.
77
(e) - SC - 25h - 2000 X (f) - SC - 25h - 3000 X
(e) Mostra partículas finas, espinhosas, alinhadas com o sulco do lixamento
(f) Apresenta um processo de descamação na borda, com danos à integridade da
superliga nesta região. Partículas finas alinhadas seguindo os sulcos de lixamento
estão também presentes.
Figura 34: (a-f) Caracterização microestrutural da superfície de um corpo de
prova submetido à exposição por 25 horas a 820ºC, sem recobrimento com cinzas
de celulignina.
4.2.2.1.b - Análise química: mapas de composição
A análise química da superfície externa (topo) dos corpos de prova foi
realizada por (EDS/MEV) para os corpos de prova ensaiados com cinzas de
celulignina tratada com água de poço no tempo de 50 horas. A figura 35 mostra uma
região da superfície do corpo de prova CAP que foi analisada por EDS/MEV , e os
mapas de distribuição dos elementos químicos.
78
(a)
(a) - Região analisada da amostra para obtenção dos mapas de composição,
mostrando partículas grosseiras (1); região sem partículas aparentes (2) e partículas
finas espinhosas (3). Aumento de 3000x
(b) - Al (c) - Co
(b) Mapa de distribuição do alumínio: não está bem definido.
(c) Mapa de distribuição do cobalto: não está bem definido, mas sugere
menor concentração do elemento nas partículas grosseiras (1) e nas finas (3).
12
3
79
(d) - Ni (e) - O
(d) Mapa de distribuição do níquel, revelando empobrecimento nas regiões de
partículas finas (3) e grosseiras (1).
(e) Mapa de distribuição do oxigênio, mostrando enriquecimento do elemento,
nas partículas finas (3) e nas partículas grosseiras (1).
(f) - Mo (g) – Ta
(f) Mapa de distribuição do molibdênio: apresenta-se com pouca definição,
não sendo conclusivo.
80
(g) Mapa de distribuição do tântalo: apresenta-
se com pouca definição, mas
mostra enriquecimento do elemento nas partículas grosseiras (1).
(h) - Cr (i) -
Ti
(h) Mapa de distribuição do cromo: apresenta-se com pouca definição; mas
sugere maior concentração do elemento nas partículas dos tipos (1) e (3).
(i) Mapa de distribuição do titânio: mostra maior concentração do elemento
nas partículas do tipo (1) e (3).
Figura 35 (a-i) - Mostra região da superfície externa que foi analisada por
EDS/MEV e os mapas correspondentes de distribuição dos elementos químicos,
para o corpo de prova ensaiado a 50 horas a 820ºC, recoberto com cinzas de
celulignina tratada com água de poço.
Foi realizada análise de composição semi-quantitativa por EDS/MEV na
região mostrada na figura 36, que por sua vez é semelhante à região (2) da figura
35, ou seja, encontra-se livre de partículas grosseiras ou partículas espinhosas na
superfície.
81
Figura 36 - Mostra região da superfície externa analisada por EDS/MEV.
A tabela 17 apresenta a análise pontual semi-quantitativa por EDS/MEV da
região da figura 36.
Tabela 17 - Análise pontual semi - quantitativa por EDS/MEV (%m/m).
O
2
Ta Al Nb Cr Ti Co Ni
16,3 0,8 8,9 4,6 25,6 4,6 5,4 balanço
14,6 0,9 10,3 0,8 24,2 4,0 5,6 balanço
16,2 2,0 9,5 0 24,9 7,2 6,5 balanço
16,3 1,4 10,8 0 21,9 6,0 6,8 balanço
A análise química das partículas grosseiras e das partículas menores de
aspecto “espinhoso” apresentou resultados inconsistentes e novas análises são
necessárias.
82
4.2.2.2 - Caracterização da seção transversal interna.
4.2.2.2.a - Análise microscópica
O exame por MEV da seção transversal revelou que a integridade da
superliga ao longo do contorno externo (borda) dos corpos de prova não foi
praticamente afetada pelos ensaios de exposição térmica com recobrimento com
cinzas do tipo CAD ou CAP, para todos os tempos de ensaio.
A figura 37 (a-d) mostra regiões junto à borda das amostras da série CAP que
apresentaram protuberâncias, revelando a ocorrência de um tipo de transformação
de fase, como resultado dos ensaios. Detalhes semelhantes podem ser observados
nas amostras da série CAD (figura 37 e-f).
(a) (b)
83
(c) - CAP - 50h - 8000 X (d) - CAP - 50h - 7250 X
(a-d) - As micrografias mostram regiões com protuberância na borda
associada a um tipo de transformação interna causando degradação localizada. A
micrografia (b) mostra a degradação de um carboneto junto à região afetada.
(e) - CAD - 3000 X (f) - CAD - 8500 X
(e-f) Apresentam regiões com protuberância na borda e região interna
semelhantes as observadas em (a-d).
84
Figura 37 - Micrografias das seções transversais dos corpos de prova
ensaiados com cinzas de celulignina tratada com: (a-d) água de poço (CAP) e (e-f)
água deionizada (CAD).
4.2.2.2.b - Análise química: mapas de composição
Em seguida são apresentados nas figuras 38 a 42 os mapas de
composição obtidos por EDS/MEV das regiões nas bordas da seção que
apresentaram protuberâncias. Os resultados foram obtidos para amostras da
série CAP com exposição de 50 horas.
(a) - Região da borda do corpo de prova da série CAP 50 horas
85
(b) - Co (c) - Cr
(b) - Mostra menor concentração de cobalto na região afetada.
(c) - Mostra menor concentração de cromo na região afetada, coincidindo
com o padrão de cobalto, mas apresentando um halo de maior concentração de
cromo.
(d) - Nb (e) - Ti
(d) - Apresenta a distribuição do nióbio, observando que ele aparece mais
concentrado na região transformada.
(e) - Apresenta a distribuição do titânio, observando que, como o nióbio, ele
aparece concentrado na região transformada; esta região parece estar envolvida por
um halo escuro, o que indica uma concentração inferior que a da matriz vizinha.
86
(f) - Ni (g) - O
(f) Apresenta a distribuição do níquel, observando que ele aparece em
padrão semelhante ao do cobalto, de baixa concentração na região de
transformação.
(g) - Apresenta a distribuição do oxigênio, que está concentrado na região
transformada, apresentando um halo de maior concentração no contorno da região.
(h) – Ta
Figura 38 - Mapas de composição (b-h) referentes a região de borda
mostrada em (a). Corpo de prova ensaiado a 820 ºC por 50 horas, recoberto com
cinzas de celulignina tratada com água de poço.
(h) –
Apresenta a distribuição do
tântalo, observando que ele
aparece
mais concentrado na
região transformada, com padrão
semelhante ao do nióbio (d).
87
Segue-se a figura 39.
(a)
(a) - Região de borda do corpo de prova (canto superior esquerdo da
micrografia) CAP - 50h. Uma partícula está presente nas proximidades da região de
transformação (aumento 3000 X).
88
(b) - Al (c) - Co
(b) - Mostra a distribuição homogênea do alumínio na área examinada.
(c) - Mostra a menor concentração de cobalto na região de transformação
junto à borda e na partícula próxima.
(d) - Cr (e) - O
(d) - Mostra a menor concentração de cromo na região de transformação, e
um halo de maior concentração envolvendo esta região. A partícula apresenta
também baixa concentração de cromo.
(e) - Mapa de distribuição do oxigênio, mostra concentração do elemento na
região de transformação e um halo de maior concentração envolvendo a região.
89
(f) - Nb (g) - Ta
(f) - Apresenta a distribuição do nióbio, que está mais concentrado na região
de transformação e na partícula do lado direito.
(g) - Apresenta o mapa de composição do tântalo com o mesmo padrão de
distribuição que o do nióbio (f).
(h) - Ti i) - W
(h) - Apresenta a distribuição do titânio, observando que ele aparece mais
concentrado na partícula do lado direito e na região de transformação do lado
esquerdo superior. Um halo de menor concentração do elemento parece existir ao
lado da região transformada.
90
(i) - Apresenta a distribuição do tungstênio, que se mostra bem uniforme na
área examinada, com a possível exceção de um halo de menor concentração
envolvendo a região de transformação.
Figura 39 - Mapas de composição (b-i), referentes à região de borda
mostrada em (a). Corpo de prova ensaiado a 820ºC por 50 horas, recoberto com
cinzas de celulignina tratada com água de poço.
Segue-se a figura 40.
(a)
(a) - Região da borda (parte inferior da micrografia) do corpo de prova,
(série CAP 50 horas). Uma partícula próxima mostra evidência de degeneração,
aumento de 3000 X.
91
(b) - Al (c) - Co
(b) - Apresenta a distribuição do alumínio, possivelmente com concentração
um pouco inferior na região de transformação de que na matriz; apresenta alguns
locais vizinhos com maior concentração.
(c) - Apresenta a distribuição do cobalto, que está menos concentrado na
região transformada e na partícula na parte superior desta região.
(d) - (Cr) (e) - (O)
(d) - Apresenta a distribuição do cromo, observando que ele aparece com
menor concentração na região de transformação e nas partículas presentes.
92
Um halo de maior concentração delineia a região de transformação
(e) - Apresenta a distribuição do oxigênio, que está concentrado na região de
transformação.
(f) - Nb (g) - Ta
(f) - Apresenta a distribuição do nióbio, que está concentrado na região de
transformação e nas partículas próximas.
(g) - Apresenta a distribuição do tântalo, com maior concentração na região
de transformação e nas partículas assim, como o nióbio.
(h) - Ni (i) –Mo
93
(h) - Apresenta a distribuição do níquel, observando que ele aparece com
concentração menor na região de transformação e nas partículas vizinhas.
(i) - Apresenta a distribuição do molibdênio aparentando estar um pouco mais
concentrado nas partículas e na região de transformação
(j) Titânio
(j) - Apresenta a distribuição do titânio, observando que ele aparece mais
concentrado nas partículas e na região de transformação.
Figura 40 - Mapas de composição (b-j) referentes à região da borda
mostrada em (a). Corpo de prova ensaiado a 820ºC por 50 horas, recoberto com
cinzas de celulignina tratada com água de poço.
Segue-se a figura 41.
94
(a) - Região da borda do corpo de prova da série CAP ; 50 horas mostrando
região de transformação na parte inferior, aumento de 3000 X.
(b) - Al (c) - Co
(b) - Apresenta a distribuição do alumínio, observando que ele aparece com
maior concentração em parte do contorno da região afetada.
(c) - Apresenta a distribuição do cobalto, observando que ele aparece com
menor concentração na região de transformação.
(d) - Cr (e) - O
(d) - Apresenta a distribuição do cromo, que está concentrado em parte da
região de transformação.
95
(e) - Apresenta a distribuição do oxigênio, observando que ele aparece
concentrado de forma heterogênea na região de transformação.
(f) - Ti (g) - Ta
(f) - Apresenta a distribuição do titânio, que está mais concentrado em parte
da região de transformada. Um halo de menor concentração parece envolver a
região.
(g) - Apresenta a distribuição do tântalo, observando que ele aparece mais
concentrado na região de transformação.
(h) - (Ni) (i) - Mo
96
(h) - Apresenta a distribuição do níquel, que apresenta baixa concentração na
região transformada.
(i) - Apresenta a distribuição do molibdênio, que parece estar disperso
homogeneamente na região de transformação.
Figura 41 - Mapas de composição (b-i) referentes à região da borda
mostrada em (a). Corpo de prova ensaiado a 820ºC por 50 horas, recoberto com
cinzas de celulignina tratada com água de poço.
A seguir é apresentada a figura 42. Em vários mapas o centro da região
transformada da figura 42, apresentou um contraste escuro consistente com uma
menor concentração do elemento analisado; no entanto, este contraste pode ter
se originado, neste caso, de um efeito proveniente de uma depressão na região
central que prejudica a captação dos raios - X emitidos pela região.
(a)
(a) - Região da borda do corpo de prova da série CAP - 50 h mostrando
protuberância e partícula degradada próxima à borda. Aumento de 3000 X.
97
(b) - Al (c) - Co
(b) - Apresenta a distribuição do alumínio, observando que ele aparece com
menor concentração no centro da região de transformação, a qual está em volta por
um halo de maior concentração.
(c) - Apresenta a distribuição do cobalto, observando que ele aparece com
menor concentração na região de transformação e na partícula.
(d) - Cr (e) – O
(d) -
Apresenta a distribuição do cromo, que está mais concentrado em um
halo envolvendo a região de transformação, de concentração mais baixa que a da
matriz. A partícula também possui baixa concentração do elemento.
98
(e) - Apresenta a distribuição do oxigênio, que está concentrado na região de
transformação.
(f) - Ti (g) - Ta
(f) - Apresenta a distribuição do titânio, que está concentrado na região de
transformação e na partícula.
(g) - Apresenta a distribuição do tântalo, observando que ele aparece mais
concentrado na partícula e em parte da região de transformação.
(h) - Ni (i) - Mo
99
(h) - Apresenta a distribuição do níquel, que apresenta baixa concentração
na região transformada e na partícula.
(i) - Apresenta a distribuição do molibdênio, que aparece mais concentrado na
partícula.
Figura 42 - Mapas de composição (b-i) referentes à região da borda
mostrada em (a). Corpo de prova ensaiado a 820ºC por 50 horas, recoberto com
cinzas de celulignina tratada com água de poço.
100
Capítulo 5 - Discussão dos resultados
5.1 - Análise das cinzas
Ao se comparar os resultados deste trabalho (tabelas 13 e 14) com os
obtidos por Gomes (2002) para as análises das cinzas da celulignina proveniente da
madeira de eucalipto (tabela 2), pode-se verificar que no atual trabalho, as cinzas do
tipo CAD e CAP provenientes da celulignina do bagaço de cana apresentaram,
particularmente nas análises por via úmida, um valor substancialmente mais elevado
no teor de SiO
2
presente, e uma considerável diminuição na quantidade de CaO,
K
2
O, MgO e SO
3
. O mesmo pode-se dizer da comparação com o teor destes
compostos presentes nas biomassas de diversas origens (ver tabela1).
A análise por difração de raios-x confirma que as cinzas provenientes da
celulignina oriunda do bagaço de cana de açúcar tem o SiO
2
como principal
composto presente, e que compostos ricos em cálcio, como Ca
2
SO
4
e CaCO
3
, cuja
presença em quantidade significativa nas cinzas da celulignina oriunda da madeira
de eucalipto (Gomes, 2002) foi indicada pela intensidade da reflexão dos raios-X,
não foram identificados no caso atual. Tanto o Si como o Mg, Ca e o K tem influência
decisiva na formação de eutéticos da baixo ponto de fusão, que levam a deposição
da fases vítreas na superfície metálica de componentes de caldeiras e turbinas.
Por outro lado o potássio, sódio, magnésio, cálcio, e o enxofre são, em
geral, os principais elementos responsáveis pelos processos de corrosão a quente
causados pelas biomassas, devido à formação de sais destes elementos.
O baixo teor de potássio presente nas cinzas da celulignina proveniente do
bagaço de cana pode ser explicado pela lixiviação substancial de potássio (e
também do cloro) quando da extração de açúcar a partir da cana (Miles, 1995) e
pela redução posterior quando do processo da pré-hidrólise para produzir a
celulignina.
101
5.2 - Análise dos corpos de prova
5.2.1 - Variação de massa
Os resultados apresentados nas tabelas 15 e 16 mostram a variação de
massa sofrida pelos corpos de prova submetidos a ensaios de corrosão a quente
com cinzas obtidas da combustão da celulignina tratada com água deionizada (CAD)
e de água de poço (CAP). Tendo o recobrimento consistido de uma camada de
cinzas de 100mg/cm
2
, os agentes corrosivos principais estavam presentes com uma
concentração de (Na+K) de 0,15mg/cm
2
para as cinzas do tipo CAD, e 0,28 mg/cm
2
,
para as cinzas do tipo CAP (análise por via úmida, tabela 14A).
Os resultados obtidos mostram, para o caso de cinzas de recobrimento do
tipo CAD (figura 24), um processo contínuo de ganho de massa consistente com a
ocorrência de crescimento de uma camada externa de óxido. A caracterização
microestrutural da superfície dos corpos de prova corrobora esta avaliação como
apresentado na seção 5.2.2. Na análise dos resultados obtidos para os ensaios com
cinzas do tipo CAP verificou-se a ocorrência de redução de massa entre os tempos
de 10 e 25 horas, seguido de um novo crescimento para tempos maiores. Os
resultados obtidos da caracterização microscópica externa dos corpos de prova
(seção 5.2.2) não mostram a ocorrência de descamação de película de óxido, o que
sugere que o trecho discordante na figura 25 seja resultante de um erro
experimental na obtenção de peso da amostra, o qual foi obtido a partir de um único
ensaio para cada tempo de exposição. Como não foi observada a formação de
depósitos vítreos na superfície externa (topo) é provável que os mesmos também
não tenham se formado na superfície cilíndrica. Desta forma, imprecisões nas
medições de quaisquer variações de massa ocorridas não teriam se dado em função
de processos de vitrificação de cinzas.
Por outro lado, não existe garantia que os procedimentos de limpeza da
superfície dos corpos de prova após ensaio de corrosão a quente tenham resultado
na remoção integral dos resíduos das cinzas de celulignina, pois a superfície
cilíndrica não foi examinada por microscopia eletrônica de varredura. Considerando
que as variações de massa observadas são da ordem de centésimos de miligrama,
102
a presença de uma mínima quantidade de resíduos de cinzas pode afetar os
resultados. Outro fator que também pode interferir na reprodutibilidade dos
resultados obtidos é a qualidade do acabamento superficial obtido por lixa 600
mesh; se o acabamento não for igual em todas as amostras e homogêneo em uma
mesma amostra, camadas mais espessas de óxidos podem ser formadas nas
amostras e nas regiões com riscos mais grosseiros, como pode ser verificado nas
regiões de borda de algumas amostras ( ver figuras 26f, 27b e 30f), interferindo na
precisão dos resultados. A probabilidade desta ocorrência é alta, mas seu efeito nos
resultados de variação de massa é difícil de avaliar, pois seria necessário examinar
também a superfície cilíndrica dos corpos de prova. Os cantos vivos também são
locais preferenciais para o desenvolvimento de processos de oxidação.
Gomes (2002) obteve em ensaios de corrosão de 50 horas a 820ºC,
utilizando cinzas de celulignina proveniente da madeira de eucalipto, variação de
massa de 0,014 e 0,040 mg/cm
2
para duas amostras que receberam depósito de
cinzas com celulignina tratada com água deionizada, e variação de 0,112 e 0,158
mg/cm
2
, para amostras que foram ensaiadas com depósitos de cinzas de celulignina
tratada com água de poço.
Para ensaios com cinzas do tipo CAD o ganho de massa verificado no atual
trabalho foi similar ao de um dos corpos de prova do ensaio de Gomes (2002),
e superior ao do outro corpo de prova, enquanto que para as cinzas do tipo CAP, o
ganho de massa foi cerca de três vezes menor no atual trabalho, quando comparado
ao de Gomes (2002). As cinzas da celulignina proveniente da madeira de eucalipto
utilizada no ensaio de Gomes (2002) apresentaram composição bem diferenciada
em relação às cinzas de celulignina oriunda do bagaço de cana de açúcar utilizadas
no atual trabalho, possuindo no caso de Gomes (2002), teores mais elevados de S,
K e Ca. No trabalho de Gomes (2002), o recobrimento das cinzas do tipo CAD
continha cerca de 12,5mg (K+Na)/cm
2
(pela análise por via úmida) ou 14,9 mg
(K+Na)/cm
2
(pela análise de fluorescência), enquanto que o recobrimento com
cinzas CAP apresentava 5,1mg (K+Na)/cm
2
(pela análise por via úmida) ou 7,74mg
(K+Na)/cm
2
(pela análise de fluorescência).
Pettit e Meier (1984) fizeram uso do depósito de Na
2
SO
4
correspondendo a
cerca de 1,6mg/cm
2
de sódio ao estudarem a corrosão a quente a 1000ºC na
103
superliga de níquel IN738, verificando a ocorrência de um estágio inicial (figura 9)
com baixa e constante taxa de corrosão para as primeiras 20 horas de ensaio (cerca
de 1 a 2mg/cm
2
, conforme estimativa a partir do gráfico apresentado pelos autores)
seguido de aumento gradual da taxa até atingir o estágio de propagação da corrosão
com ganho da massa de cerca de 10mg/cm
2
para 37 horas, evoluindo para
22mg/cm
2
com 46 horas de ensaio.
No atual trabalho, que usou concentração de (Na+K) menor que a de Pettit e
Meier (1984), a variação de massa foi bem inferior a 0,1mg/cm
2
, o que indica que os
ensaios teriam sido realizados dentro do âmbito do estágio que antecede o início da
corrosão a quente. No caso dos resultados obtidos por Gomes (2002) para ensaios
com corpos de prova recobertos com cinzas de celulignina proveniente da madeira
de eucalipto, embora os valores máximos de variação de massa para 50 horas de
ensaio tenham sido relativamente baixos (máximo de 0,16mg/cm
2
para cinzas do
tipo CAP e máximo de 0,04mg/cm
2
para cinzas do tipo CAD), a caracterização
microestrutural da superfície externa dos corpos de prova mostrou a formação de
camadas espessas de óxido e a ocorrência de descamação, particularmente nas
amostras ensaiadas com cinzas do tipo CAP, bem como a formação interna de
sulfetos.
Portanto, os resultados de variação de massa podem não ser conclusivos e
devem ser analisados de forma conjunta com a caracterização microestrutural.
5.2.2 - Caracterização da superfície externa (topo)
A análise das superfícies do topo dos corpos de prova correspondente aos
dois tipos de celulignina utilizados nos ensaios (CAP e CAD) revelou para os quatro
tempos de ensaio, a presença de partículas grosseiras da ordem de 10µm e
distribuídas segundo um padrão de aparência dendrítica, que está bem
caracterizado. Partículas menores, com cerca de 1µm, apresentando aspecto
espinhoso estavam também presentes, mas apresentando uma distribuição
preferencial de alinhamento com os riscos provenientes da etapa de acabamento da
104
superfície com lixa 600 mesh, o que também está bem evidenciado. A quantidade
das partículas espinhosas parece estar mais difundida com o aumento do tempo de
ensaio, e para as amostras recobertas nos ensaios com as cinzas do tipo CAP,
quando comparado o efeito causado pelos dois tipos de cinzas usadas. Regiões
com sulcos de lixamento mais profundos também apresentaram maior densidade
das partículas espinhosas, conforme observado em algumas regiões de borda.
A análise química por EDS/MEV da superfície externa revelou, através dos
mapas digitais de composição da figura 35, que tanto as partículas grosseiras como
aquelas de aspecto espinhoso são óxidos. Elas apresentaram uma maior
concentração de titânio, cromo, tântalo e oxigênio e menor concentração de cobalto
e níquel em relação às regiões vizinhas.
As regiões que não apresentam partículas visíveis quando observadas com
aumento de até 2000x no MEV, revelaram, sob aumentos maiores, a presença de
partícula da ordem de 0,2µm como parte de uma camada fina. Estas regiões
apresentaram teores de cromo (25%m/m) e Al (10%m/m) mais elevados do que
poderia se esperar na liga IN738 com estrutura dendrítica de solidificação (16%m/m
e 4%m/m respectivamente, (Rosenthal, 1983)), o que sugere a presença de uma
camada de óxido rica nestes dois elementos.
Estas observações são consistentes com os resultados de ganho de massa
obtidos na seção 5.2.1, evidenciando que após 50 horas de ensaio não se formou
uma camada de óxido espessa que favorecesse a ocorrência de descamação, com
a conseqüente ocorrência de um processo de perda de massa. Portanto a análise
microestrutural não confirmou os dados de perda de massa verificados para tempos
de exposição de 10 e 25 horas para as amostras da série CAP, reforçando a
hipótese levantada no ítem anterior que a discrepância teria origem em um erro
experimental.
A formação das partículas grosseiras na superfície de topo das amostras
segundo um padrão dendrítico poderá ser melhor compreendida na seção 5.2.3, ao
se analisar os resultados obtidos da caracterização microestrutural da seção
transversal interna.
105
A caracterização da superfície externa do corpo de prova submetido a 25
horas de ensaio a 820ºC com exposição ao ar, sem recobrimento com cinzas
revelou algumas características semelhantes às dos corpos de prova ensaiados com
deposição de cinzas da série CAP e CAD.
Partículas grosseiras distribuídas segundo o padrão de solidificação
dendrítica da superliga de níquel estavam também presentes, algumas possuindo
dimensões bem maiores que as observadas partículas nos ensaios com
recobrimento de cinzas. Foram também observadas partículas mais finas com
disposição preferencial com os riscos de lixamento da amostra. Algumas regiões das
bordas apresentaram evidências da ocorrência de descamação do óxido,
representando um estágio mais avançado de degradação da amostra por oxidação a
quente que aqueles verificados para as amostras recobertas com cinzas de
celulignina. Estas observações levantam a possibilidade de camada de cinzas
altamente rica em SiO
2
ter atuado de forma a proteger os corpos de prova ensaiados
contra um processo mais acelerado de oxidação a quente. Algumas ligas para uso
em altas temperaturas possuem um teor de silício compatível com a formação de
uma película de SiO
2
protetora contra a degradação ambiental. (ASM Specialty
Handbook, 1997). Estudos também mostraram que o recobrimento da liga IN-939
com sílica amorfa resultou em uma redução drástica no processo de oxidação da
liga a 899ºC.
5.2.3 – Caracterização da seção transversal interna
A borda interna da seção transversal dos corpos de prova apresentou em
geral um aspecto regular, mesmo para grandes aumentos (5000x) no microscópio
eletrônico de varredura, não evidenciando a ocorrência de danos à integridade da
superliga, ao contrário do que Gomes (2002) verificou para a superliga IN738LC
após ensaios de 50 horas utilizando celulignina proveniente da madeira de eucalipto.
Entretanto, no atual trabalho, algumas regiões de borda apresentaram
protuberâncias que estavam sempre associadas a uma região vizinha mais interna
da amostra, que evidenciava ter passado por uma transformação microestrutural,
106
como pode ser observado, por exemplo, na figura 37 (a-f). Estas protuberâncias
observadas na borda da seção interna transversal apresentam dimensões
semelhantes (5 a 10µm de diâmetro) às das partículas grosseiras da superfície
externa observadas nas figuras 26-33.
O exame dos mapas de composição nas figuras 38, 39, 40, 41 e 42 mostrou
que os elementos químicos nestas regiões de transformação vizinhas às
protuberâncias na borda apresentam um padrão semelhante de concentração de
elementos químicos a de carbonetos primários do tipo MC, que normalmente estão
presentes nas regiões interdendríticas da superliga IN738LC. Rosenthal (1983)
identificou na composição de carbonetos MC na superliga IN738LC com solidificação
direcional a presença dos seguintes elementos (%m/m): Ti (23,2), Nb (15,6), Mo
(2,7), Ta (37,0), W (9,45), Cr (0,8), Al (0,15), Ni (2,15) e Zr (0,4). De fato os mapas
de distribuição confirmam que as regiões de transformação são empobrecidas de
alumínio, cobalto, cromo e níquel e ricas em nióbio, tântalo, molibdênio e titânio. A
exceção foi o tungstênio. Pode-se também observar nas figuras 39, 40 e 42 que
partículas próximas à região de transformação seguem este mesmo padrão de
concentração dos elementos citados, embora estas se mostrem mais ricas no nióbio,
tântalo, molibdênio e titânio conforme evidenciado nos mapas de composição.
Outras diferenças observadas na concentração de elementos das partículas
de carbonetos do tipo MC e das regiões de transformação junto às protuberâncias
de borda residem na presença, nestas últimas, de enriquecimento destas regiões em
oxigênio, particularmente ao longo do contorno da região de transformação, onde
também ocorre aumento de concentração de cromo e alumínio, elementos
formadores de óxidos.
Os resultados obtidos no atual trabalho sugerem que partículas de carboneto
do tipo MC, que ficam localizadas nas regiões interdentríticas da superliga deram
origem às partículas grosseiras (protuberâncias) verificadas na superfície externa
(topo) das amostras em todas as condições examinadas, pois se constituíram em
locais preferenciais para a ocorrência de oxidação durante os ensaios utilizando
cinzas de celulignina, o mesmo tendo ocorrido nos ensaios sem cinzas. Neste
processo, a partícula de carboneto é degradada, conforme oxigênio proveniente do
107
recobrimento se difunde inicialmente através da interface carboneto-matriz, seguido
de difusão volumétrica para o interior do carboneto.
A menor concentração de tântalo, nióbio e titânio na região transformada a
partir da oxidação de partículas de carbonetos MC em comparação com partículas
de carbonetos MC não degradadas, pode ser explicada pela ocorrência de difusão
parcial destes elementos com a oxidação dos carbonetos situados junto a borda da
amostra, dando origem à uma protuberância externa com aparência de partícula
grosseira.
A formação do halo enriquecido em óxido de cromo e alumínio em torno da
região transformada, que é empobrecida nestes dois metais, não se encontra
documentada na literatura consultada, e pode decorrer da migração dos átomos de
cromo e alumínio a partir da matriz circundante, e da reação subseqüente destes
elementos com o oxigênio difundido pela interface carboneto-
matriz.
A deterioração de carbonetos situados junto à superfície da amostra foi
também verificada por Pettit e Meier (1984), no estudo da superliga de níquel B-1900
submetida a ensaios de oxidação a quente a 700ºC em atmosfera de 1atm de
oxigênio, por 45h.
No atual trabalho não se identificou a formação de sulfetos na região de
transformação, nem descamação da película protetora de óxido ou de corrosão
intergranular, ao contrário do que foi observado por (Gomes, 2002) ao estudar o
efeito de recobrimento com cinzas de celulignina proveniente da madeira de
eucalipto. As características apresentadas pelos corpos de prova após ensaios
correspondem exclusivamente a processos de oxidação compatíveis com o estágio
anterior à propagação da corrosão a quente. O baixo teor de elementos como K e S
nas cinzas seria responsável pela inibição do desenvolvimento da corrosão,
associado a um possível efeito protetor exercido pelo alto teor de SiO
2
presente nas
cinzas da celulignina proveniente do bagaço de cana de açúcar.
108
Capítulo 6 – Conclusões
No geral os efeitos observados para as 50 horas de ensaio indicaram a
ausência de características associadas à corrosão a quente por deposição de sais,
tratando-se mais de um processo incipiente de oxidação.
As principais conclusões da dissertação após os ensaios de corrosão a
quente usando depósitos de cinzas de celulignina oriunda do bagaço de cana de
açúcar em corpos de prova da superliga IN738LC foram:
A) Não foi observada a formação de depósitos vítreos na superfície dos
corpos de prova provavelmente devido aos baixos teores de K, Na, Ca, Mg e ao
elevado teor de silício nas cinzas de celulignina;
B) Partículas de carbonetos MC situadas junto à superfície dos corpos de
prova passaram por total ou parcial reação de oxidação, causando a formação
localizada de partículas de óxido protuberantes na superfície externa. Os corpos de
prova ensaiados ao ar sem deposição de cinzas também formaram estas partículas,
mas de maior tamanho;
C) Foi verificada a formação de uma fina camada de óxido na superfície.
Partículas de óxido de aspecto espinhoso se formaram preferencialmente nos
sulcos do lixamento, mas não chegaram a constituir uma camada contínua espessa;
D) O ganho de massa verificado após ensaio de 50 horas foi inferior a
0,06mg/cm
2
e pode ser associado a formação de óxidos superficiais;
E) Não foi confirmada a formação de sulfetos internos;
F) Não foi observada a ocorrência de corrosão intergranular;
G) Não foi observada a ocorrência de descamação de óxido na superfície;
H) A ausência de corrosão a quente decorre provavelmente do baixo teor de
K, Na, Mg, Ca e S presente nas cinzas da celulignina do bagaço de cana de açúcar.
Deve-se considerar a possibilidade de que o alto teor de SiO
2
das cinzas também
tenha exercido efeito protetor.
109
I) Não foram observadas diferenças significativas na comparação dos corpos
de prova ensaiados com cinzas provenientes de celulignina produzida com a
utilização água de poço e com água deionizada.
110
Sugestões para trabalhos futuros
Sugere-se o prosseguimento dos estudos com a celulignina proveniente do
bagaço de cana de açúcar, com ênfase nos seguintes trabalhos;
A) Realizar ensaios de maior duração, incluindo tempos de exposição de até
3000 horas, de forma a simular melhor as condições operacionais nas turbinas a
gás;
B) Realizar ensaios em temperaturas mais elevadas;
C) Utilizar técnicas de análise superficial para melhor caracterizar a evolução
da composição da camada externa de óxido com o tempo de ensaio;
D) Fazer ensaios com superligas de níquel de menor teor de cromo que
possibilitem aplicação em temperaturas elevadas;
E) Investigar um possível efeito protetor desempenhado pelo SiO
2,
presente em grande quantidade nas cinzas da celulignina do bagaço de cana de
açúcar.
111
Capítulo 7 - Referências Bibliográficas
A Corrosion and Materials Technology (http// www. hghouston.com) em 19/09/2005.
ASM Specialty Handbooks (1997), Heat Resistent Materials, ASM International,
p.309.
ASTM (1991) Standard Practice for Simple Static Oxidation Testing: G 54 - 84.
Arvelakis, S., Gehrmann, H., Beckmann, M. Koukios, E. G. (2002) Effect of leaching
on the ash behavior of olive residue during fluidized bed gasification.
Biomass and Bioenergy, 22, p.55 - 69.
Baxter, L. L. (1994) “Task 2. Pollutant Emission and Deposit Formation During
Combustion of Biomass Fuels.” Quarterly Report to National Renewable Energy
Laboratories, Livermore, California.
Bazzo, E. (1995). Geração de Vapor 2º. ed. - Florianópolis: Ed. da UFSC, 1995,
p 16.
Beltran, A.M. , Shores, D. A(1972) Hot Corrosion. In: Chester T. Sims and William
C. Hagel, The Superalloys. New York: Jonh Willey & Sons, p. 317 - 339.
Bornstein, N. S (1996) Reviewing Sulfidation Corrosion - Yesterday , Journal of
Metals, November, p. 37-39.
Bornstein, N. S., Allen, W. P. (1997) The Chemistry of Sulfidation Corrosion-
Revisited. Materials Science Forum. Switzerland: Trans Tech Publications, Vol.
251 - 254, and p. 127 - 134.
Callister, W. D. (1997) Materials Science and Engineering: An Introducion. 4
th
Ed.
Jonhy Wiley & Sons, Inc, 852 p.
112
Dubbel: Manual de Construção de Máquinas (Engenheiro Mecânico), 13º edição
alemã, TOMOII, p. 321 - 322 - 395 - 396.
Decker, R. F., Sims, C. T. (1972) The Metallurgy of Nickel-Base Alloys. In: Chester
T.Sims , William C. Hagel. The Superalloys. New York: John Willey & Sons, p.33 -
77.
Decrescente, M.A., Bornstein, N.S. (1968) Corrosion, vol. 24, p. 127.
Durand-Charre, M. (1997) The Microstructure of Superalloys. Amsterdam: Gordon
and Breach Science Publishers, 124p.
El Sitio Aeronáutico da República da Argentina - Turbinas a Gás -
(http:// www.elsitioaeronáutico.com/
Motores/ T – Turbina. htm),
página consultada em 10/02/2004.
Erickson, G.L. (1997) Superalloys resist hot corrosion and oxidation. Advanced
Materials & Processes 3 . p. 27 - 30.
Fawley, R. W. , (1972) Superalloy Progress. In: Chester T. Sims, William C. Hagel,
The Superalloys . New York: Jonh Willey & Sons , p.3 - 29.
Gemelli, E. (2001) Corrosão de materiais metálicos e sua caracterização. 1ª.
Edição. Rio de Janeiro : LTC Editora,183p.
Gentil, V. (1996) Corrosão. 3º edição. Rio de Janeiro: LTC, 345p
Gomes, C. H. F. (2002) Estudo do efeito dos produtos da combustão da celulignina
na corrosão a quente da superliga IN738LC. Dissertação de mestrado.
Universidade Estadual do Norte Fluminense UENF, p.192 - 194
113
Goebel. J. A. , Pettit, F. S. , Goward, G.W. (1975) Hot corrosion of Cobalt - Base
Alloys. Final Technical Report by Pratt & Whitney Aircraft , E. Hftd, Ct.,
for
Aerospace Research Laboratories, Wright-Patterson Air Force Base , Ohio,
Available National Technical Information Services Clearinghouse, Springfield,Va.
22161, Contract No. F33615-72 - C -1757.
Grabke, H. J (1995) Thermogravimetry. In: H.J. Grabke , D.B. Meadocrowft,
Guidelines for Methods of Testing and Research in High Temperature Corrosion.
London: Published for the European Federation of Corrosion by the Institute of
Materials, p. 52 - 61.
Grisaffe,S.J. (1972) Coatings and Protection In: ChesterT. Sims , William C. Hagel,
The Superalloys. New York: Jonh Willey & Sons , p. 341 - 370.
Hammond, C, R (1992/1993) The Elements. In: David R. Lide, CRC Handbook of
Chemistry and Physics. 73
rd
Edition: CRC Press, p. 4 -1- 4 -174.
Indústrias Nucleares do Brasil S. A - INB(1997) Relatório Anual de 1997, Rio de
Janeiro, RJ, Brasil. p38 - 41.
Inman, D., Wrench, D. M. (1966) Brit. Corrosion. J., 1, p. 246.
Lai, G. Y. (1997) High - Temperature Corrosion of Engineering Alloys. ASM
International. United States of America, 231p.
Marcondes, M.M ( 2002), Estudo da temperatura de início da formação da fase vítrea
nas cinzas de biomassas combustíveis de turbinas a gás. Dissertação de mestrado,
Faculdade de Engenharia Química de Lorena, Faenquil.
Menezes, I. (1995) Tabela Periódica dos Elementos. Belo Horizonte, MG.
114
Miles, P.E.T.R. , Miles, Jr. T. R. , Baxter, L. L. , Bryers, R. W. , Jenkins, B. M., Oden,
L.L. , (1995) Alkali deposits found biomass power plants: A preliminary
Investigation of their extent and nature. Summary report for National
Renewable Energy Laboratory, 117p.
Nicholls, J.R. (1995) Discontinuous Measurements of High Temperature Corrosion.
In: H. J. Grabke, D B. Meadowcroft, Guidelines for Methodes of Testing and
Research in High Temperature Corrosion. London: Published for the European
Federation of Corrosion by The Institute of Materials, p.11 - 36.
Osgerby, S., Gohil, D.D., Saunders, S.R.J.(1998) Cyclic High Temperature.
Corrosion in Coal Gasification Plant and Down Time Corrosion: A Procedure for
Laboratory Tests to Simulate Industrial Experience. National Physical Laboratory.
Payne, Jonh Howard (1989) Operações unitárias na produção de açúcar de cana;
tradução Florenal Zarpelon. - São Paulo : Nobel : STAB, p. 76.
Pettit, F.S., Meier, G.H. (1984) Oxidation and Hot Corrosion of Superalloys.
Proceedings of Fifth International Symposium on Superalloys, Pennsylvania.The
Metallurgical Society of AIME, p. 651 - 687.
Pinatti, D.G. (1997) Programa BEM: Biomassa - Energia - Materiais. Lorena - SP,
Faculdade de Engenharia de Lorena - FAENQUIL
Pinatti, D.G. ,Vieira, C.A., Cruz, J. A. da, Conte, R. A., (1997). Cellulignin: A New
Thermoeletric Fuel. Third Latin American Congress: Eletricity Generation nd
Transmission. Campos do Jordão-SP: Mont Blanc Othon Hotel, p. 95 -100.
Ramanathan, L. V. (1988) Corrosão e seu controle. São Paulo, SP: Hemus Editora
Limitada, p. 343.
115
Rapp, R. A (1986) Chemistry and Eletrochemistry of the Hot Corrosion of Metals .
Corrosion/86, Houston,Texas, Corrosion - NACE, vol. 42, p. 568 - 577.
Rapp, R. A. , Zhang. Y. S. (1994) Hot Corrosion de Materials : Fundamental Studies.
Journal of Metals, December. p. 47-55.
Rosenthal, R (1983) Tese de Doutoramento. Imperial College, Londres.
Silva, L.A. da.(1999) Avaliação do uso da celulignina como combustível em turbinas
a gás e análise da interação de produtos de combustão com compontes em
turbinas aeronáuticas. Dissertação de Mestrado-Faculdade de Engenharia
Química - Faenquil, p.96.
Saunders, S. R. J. (1995) Corrosion in the Presence of Melts and Solids.
Grabke, D.B. Meadowcroft, Guidelines for Methods of Testing and Research in
High Temperature Corrosion. London: Published for the European Federation of
Corrosion by The Institute of Materials, p.85-103.
Sheir, L. L. (1965) Corrosion, Metal - environment reactions. Second Edition.
London.
Simms, N. J., Oakey, J. E., Stephenson, D. J., Smith, P . J., Nichols, J.R. (1995)
Erosion corrosion modeling of gas turbine materials for coal
fired combined
cycle power generation. Wear, 186 – 187, p. 247-255.
Southwest Research Institute ( http://www.swri.edu/4org/d18/mechflu/gasturb/
conditas.htm). Consultada em 26/07/2005.
Superalloys: A Technical Guide (2002), edição, ASM International, p.351.
116
Stringer, J. (1972) Hot Corrosion in Gas Turbines . Report MCIC - 72 - 08, Battelle
Columbus Laboratories, Columbus, OH.
Swaminathan, V. P., Cheruvu, N. S. - Conditionand Remaining Life Section Turbine
Components is Essential To Insure Reliability, http: // www. Energypubs. com/
issues/ html/ we9703 - 001. html consultada em 10/02/04. Página mantida pela
Energy -Tech On Line.
VTT Industrial Systems (www.vtt.fi/tuo/projects/gt_ecsc.htm-5k) em 20/09/2005.
117
Apêndice
Tabela A1 - Ficha do padrão de raios-x de SiO
2
2θ Intensidade
h k l
20,860 16 1 0 0
26,640 100 1 0 1
36,544 9 1 1 0
39,465 8 1 0 2
40,300 4 1 1 1
42,450 6 2 0 0
45,793 4 2 0 1
50,139 13 1 1 2
54,875 4 2 0 2
59,960 9 2 1 1
67,744 6 2 1 2
68,144 7 2 0 3
68,318 5 3 0 1
75,660 3 302
77,675 1 220
81,173 2 114
81,491 2 310
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo