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cargos e a maioria das pessoas precisam porque a soma das remunerações acaba
resultando num salário um pouquinho mais razoável do que num cargo só. Mas o
fato é que você acaba não tendo nenhum, num certo sentido. Vou tentar explicar. Eu
tinha, até com uma certa ingenuidade, uma plena dedicação para com a minha escola
estadual, por gostar mesmo de lá e por estar fazendo um trabalho muito interessante
e não pude mais ter, porque eu tinha um emprego numa outra rede que tinha também
as suas demandas de coisas e que era um tanto difícil de conciliar.[...] Se pensar em
termos de atuação, de oficio, ele acaba atrapalhando. Pelo menos eu sinto isso,
quanto mais aulas você dá, pelo menos comigo eu sinto isso, a qualidade das aulas
vai diminuindo proporcionalmente.
Posteriormente, eu passei a planejar a retomada dos estudos, ingressei no curso de
Mestrado, retornando a velha casa, no caso a Unesp. Cogitei de início em fazer um
mestrado em arte-educação, que seria algo muito mais próximo de mim, do meu dia
a dia, mas eu fui bem aconselhado e ingressei no programa de poéticas, de
procedimentos artísticos. Ao ingressar no mestrado eu tive uma desculpa mais do
que justa para pedir exoneração na prefeitura (ATOR 2).
Este ator desenvolveu uma metodologia de ensino da Arte pautada na razão, deixando
os aspectos intuitivos para as aulas de teatro. Sua trajetória com a linguagem teatral se divide
em três fases distintas: uma com os alunos do Ciclo I, no início da sua carreira; outra com os
alunos do ensino médio noturno e outra com os alunos do Ciclo II.
Com os alunos do Ciclo I ele fez o seguinte tipo de atividade:
Com as crianças eu me lembro que a gente fazia o seguinte tipo de atividade, meio
que intuitivamente, eu não tinha a mínima idéia de como dar aulas para crianças, não
tive essa preparação mais específica no curso de licenciatura. Então eu fui tentando,
acertando e errando e aprendendo com os erros e assim por diante. Então eu diria
que foi uma construção empírica da coisa. Através da observação, dos acertos e dos
erros. Claro que, com as crianças, eu comecei com desenho e pintura, mas daí um
belo dia um aluninho tinha lido um livro ou visto um desses filmes de conto de fada,
não lembro exatamente, mas ele queria porque queria contar a história, mas daí eu
deixei ele contar a história, e à medida que ele contava a história, me ocorreu que a
gente podia, paralelo à narração dele, fazer uma espécie de encenação improvisada.
Como se fosse um ensaio para uma peça que não vai acontecer. Isso acabou dando a
base de como trabalhar teatro com eles. Não pensar em uma peça pronta para
apresentar para os pais, isso não. Contar histórias, de preferência histórias do
repertório deles, que inclusive eles sabiam maiores detalhes, me corrigiam. Às vezes
em tom de brincadeira, eu modernizava as histórias, mudando alguns aspectos dos
textos e eles me corrigiam, dizendo que não era assim, que naquela época era
diferente, este tipo de coisa. Eu tentava inserir algum elemento contemporâneo, por
exemplo, a Chapeuzinho Vermelho estava jogando videogame e ela precisava parar
para levar a cesta para a vovozinha. Eles achavam engraçado assim, porque eu trazia
essas improvisações para as histórias, trazendo elementos contemporâneos, mais
próximos deles e fazíamos as encenações e geralmente depois eu pedia para que eles
desenhassem ou fizessem um livrinho aonde havia a história que eles mesmos
escreviam com as ilustrações deles, tentando, na medida do possível, ilustrar as
cenas que nós havíamos ensaiado. E sempre havia ensaio, a gente fazia, aí não ficava
bom, a gente fazia de novo, como se fosse assim, a apresentação de um ensaio até
ficar bom, até melhorar. Mas a gente tentava fazer com que a coisa ficasse bem feita,
nada exaustivo, mas que ficasse o melhor possível. Mas claro que aquilo era só um
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