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Para CARNEIRO a droga continua fazendo valer a sua importância na economia
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da
libido humana. No entanto cabe ressaltar que o autor não faz aqui uma defesa intransigente do
uso de drogas principalmente do álcool, prova disso que o mesmo tece críticas ao consumo
descontrolado desta droga como veremos.
Alçada à condição de principal mercadoria do mundo, os meios químicos de prazer
sofreram um crescimento análogo em seu valor mercantil e em sua influência
econômica, social e cultural. O álcool, que é uma das drogas mais perigosas do
mundo, reconhecida oficialmente como a causa de uma boa parte das patologias
individuais e sociais, desde a cirrose e a dependência metabólica (calcula-se que
cerca de 5% da população mundial é álcool dependente), até a violência urbana e os
acidentes de trânsito não só é permitido, como faz parte do imaginário oficial da
felicidade e da alegria. Quais as razões históricas para o predomínio do álcool na
preferência popular para a obtenção de meios simples e diretos para o consolo
físico e espiritual da dor, da fadiga, do tédio e do sofrimento? Porque como remédio
para o sofrimento, diante de um cardápio incomensurável de substâncias químicas,
se consome acima de todas os diferentes tipos de álcool? Não se trata, entretanto, de
abolir o álcool
mas de buscar um uso saudável e responsável dessa droga. O que foi
dito em relação ao álcool aplica-se a todas as outras drogas. Cada uma possui a sua
virtude, faz parte de determinadas culturas humanas e, ao mesmo tempo, oferece o
seu perigo. A proibição cria não só um Estado policial como um fluxo de comércio
clandestino, devido a hipertrofia do preço. (CARNEIRO, 2003. s.p).
Ao mesmo tempo em que cresce a demanda pelo prazer químico, também se institui
um sistema proibicionista que se apóia num discurso médico-jurídico para justificar uma
pretensa guerra contra as drogas que, na verdade, desde a lei Seca de 1920, nos EUA, só tem
servido para aumentar o lucro e a violência.
Segundo Henrique Carneiro
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, As drogas são um dos arquétipos culturais mais
fortemente presentes no espírito da nossa época. O significado econômico de um consumo
massivo e as formas políticas do seu controle - como o regime do proibicionismo, adotado
como “lei seca” de 1920 a 1934 nos Estados Unidos em relação ao álcool e hoje estendido a
uma escala mundial com a “guerra contra as drogas” - são alguns dos aspectos mais relevantes
do fenômeno contemporâneo das drogas.
Assistimos atualmente uma demonização dos consumidores e dos traficantes de
drogas, a demonização do “drogado” e a construção de um significado suposto para o
conceito “droga” alcança na época contemporânea um auge inédito. Um fantasma ronda o
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O informe da ONU sobre drogas estimava, em 1997, que o tráfico de drogas ilícitas de cerca de 400 bilhões de
dólares equivalia a 8% do comércio mundial (Le Monde, 27/6/97). No Brasil, os 4 maiores mercados (FSP,
3/8/98) são, em bilhões de reais anuais: cerveja, 8,8; refrigerante 7,4; cigarro 5,3; e aguardente 2,1. A Ambev,
fusão da Brahma e Antártica, tornou-se a maior empresa privada do país. O nosso país é o quarto produto
rmundial e o primeiro exportador de tabaco (FSP, 10/8/2000).
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Texto apresentado na conferência: “A construção do vício como doença: o consumo de drogas e a medicina”,
no XIII Encontro Regional de História (Anpuh - MG), em 15/07/2002 em Belo Horizonte.