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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS
CÂMPUS DE BOTUCATU
ESTUDO ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS ALIMENTARES
CULTIVADAS POR MORADORES DA PERIFERIA DE SANTO
ANTONIO DE LEVERGER, MT.
MIRELLA CULTRERA
Dissertação apresentada à Faculdade de
Ciências Agronômicas da Unesp - Campus de
Botucatu, para obtenção do título de Mestre
em Agronomia – área de concentração em
Horticultura.
BOTUCATU-SP
Agosto – 2008
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS
CÂMPUS DE BOTUCATU
ESTUDO ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS ALIMENTARES
CULTIVADAS POR MORADORES DA PERIFERIA DE SANTO
ANTONIO DE LEVERGER, MT.
MIRELLA CULTRERA
Orientadora: Profª Drª Maria Christina de Mello Amorozo
Dissertação apresentada à Faculdade de
Ciências Agronômicas da Unesp - Campus de
Botucatu, para obtenção do título de Mestre
em Agronomia – área de concentração em
Horticultura.
BOTUCATU-SP
Agosto – 2008
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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉCNICA DE AQUISIÇÃO E TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO –
SERVIÇO TÉCNICO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO – UNESP - FCA
LAGEADO - BOTUCATU (SP)
Cultrera, Mirella, 1980-
C968e Estudo etnobotânico de plantas alimentares cultivadas por moradores da
periferia de Santo Antonio de Leverger, MT / Mirella Cultrera. – Botucatu :
[s.n.], 2008.
xi, 110 f. : il. color., gráfs., tabs.
Dissertação(Mestrado)-Universidade Estadual Paulista,
Faculdade de Ciências Agronômicas, Botucatu, 2008
Orientador: Maria Christina de Mello Amorozo
Inclui bibliografia
1. Etnobotânica. 2. Agricultura. 3. Plantas cultivadas. 4. Mato Grosso. I.
Amorozo, Maria Christina de Mello. II. Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” (Campus de Botucatu). Faculdade de Ciências Agronômicas.
III. Título.
III
Coração Civil
Milton Nascimento
Quero a utopia, quero tudo e mais
Quero a felicidade nos olhos de um pai
Quero a alegria muita gente feliz
Quero que a justiça reine em meu país
Quero a liberdade, quero o vinho e o pão
Quero ser amizade, quero amor, prazer
Quero nossa cidade sempre ensolarada
Os meninos e o povo no poder, eu quero ver
São José da Costa Rica, coração civil
Me inspire no meu sonho de amor Brasil
Se o poeta é o que sonha o que vai ser real
Bom sonhar coisas boas que o homem faz
E esperar pelos frutos no quintal
Sem polícia, nem a milícia, nem feitiço, cadê poder ?
Viva a preguiça viva a malícia que só a gente é que sabe ter
Assim dizendo a minha utopia eu vou levando a vida
Eu viver bem melhor
Doido pra ver o meu sonho teimoso,um dia se realizar
IV
Dedico este trabalho aos meus pais
João Carlos e Ione, irmãos
Ana Paula e Felipe e sobrinhos
Pedro e Giovanna, tão distantes, mas
tão presentes...
V
AGRADECIMENTOS
Desde o primeiro momento do Mestrado só tenho encontrado pessoas que me ajudaram
nesta importante etapa de desenvolvimento de minha vida, tanto profissional quanto pessoal.
Como posso então não acreditar nas forças divinas? Por isso agradeço a Deus por proporcionar
encontros com pessoas tão especiais... sem hierarquia agradeço:
À minha família: meus pais João Carlos e Ione e irmãos Ana Paula e Felipe pelo eterno
carinho, amor, compreensão e incentivo; meus queridos sobrinhos Pedro e Giovanna tão
lindos, graciosos que só trazem alegrias. Ao Du, por tudo de bom que já me proporcionou...
À minha orientadora Maria Christina de Mello Amorozo, pela vivência e ensinamentos
ao longo destes anos, pela confiança em meu trabalho e por me encorajar a aceitar novos
desafios. Agradeço também pela grande paciência e compreensão, principalmente na fase de
finalização deste trabalho.
Ao professor Lin Chau Ming pelos incentivos e desafios lançados com objetivo de
fazer os alunos se superarem cada vez mais, e também por tornar possível o trabalho em Mato
Grosso.
Aos moradores de Santo Antonio de Leverger pelo acolhimento, principalmente
agradeço aos participantes da pesquisas que com disposição e calorosa recepção tornaram este
trabalho mais agradável...
Aos professores Izabel de Carvalho, Rodrigo Aleixo de Brito Azevedo, Maria Antonia
de Carniello, Marcos Pizano e Maristela Simões pelas valiosas sugestões dadas a este trabalho.
Ao professor José Silvio Govone pela ajuda no cálculo das amostragens.
Às amigas Tati e Sil pela amizade e força... não tenho palavras...mas vocês sabem...
VI
Às amigas que participaram da fase inicial do mestrado Milena, Maria do Anjos e
Lívia, por me acolherem e pelos valiosos conselhos...pessoas especiais, de coração enorme...
Aos amigos da pós: Márcia, Gisele e Serginho.
À eterna turma de Rio Claro, Pablo, Morcego, Giu, Alberto, Úrsula, Eduardo, Cíntia e
Gi.
Ao Pablo e Tati pela tradução, ao Morcego pelas dicas na análise de dados. Ao Tiago
pela ajuda na tabulação dos dados.
Aos amigos e mestres que nos fazem enxergar a vida de um jeito mais especial e
interessante: Charlie, Dona Alice, Denise, Edna e Ana Paula Pegorer.
À Jura, Vado, Tico, Mimi, Leandro, Neiva e Vair, pelo carinho e acolhimento na
Pousada Tarumeiro. Aos funcionários da Prefeitura Municipal de Santo Antonio de Leverger
pelas informações concedidas.
À Sueli do Departamento de Ecologia da Unesp - Rio Claro pelo carinho e todos os
“galhos quebrados”; ao Sr. Nozor, pela confecção do mapa. À Bete da Horticultura, por toda
assistência prestada.
Às funcionárias da Seção de Pós Graduação da Faculdade de Agronomia da Unesp de
Botucatu por toda atenção e pelo excelente atendimento aos estudantes.
À Fundação CAPES/PROCAD pela bolsa e auxílio moradia concedidos para
realização de uma fase deste trabalho. Ao CNPq pela bolsa concedida.
VII
SUMÁRIO
Página
LISTA DE FIGURAS................................................................................................................IX
LISTA DE TABELAS...............................................................................................................XI
1. RESUMO.........................................................................................................................1
2. SUMMARY.....................................................................................................................3
3. INTRODUÇÃO...............................................................................................................5
4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................................10
5. OBJETIVOS..................................................................................................................15
6. MATERIAL E MÉTODOS...........................................................................................16
6.1 - Área de estudo..................................................................................................16
6.1.1 - Informações Gerais sobre Santo Antonio de Leverger............................16
6.1.2 - O povo de Santo Antonio de Leverger e sua caracterização....................19
6.2 - Breve histórico da área de estudo.....................................................................22
6.2.1 - Da ocupação da região à formação de Santo Antonio de Leverger..........22
6.2.2 - O surgimento dos bairros periféricos........................................................25
6.2.3 - Características gerais dos bairros..............................................................27
6.3 – Metodologia......................................................................................................29
7. RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................................33
7.1 - Caracterização sócio-econômica dos entrevistados...............................................33
7.2 - Espaços cultivados pelos entrevistados.................................................................46
7.2.1 – Quintais.....................................................................................................47
7.2.2 –Terrenos.....................................................................................................50
7.2.3 – Roças.........................................................................................................51
7.3 - Plantas alimentares: dados botânicos e etnobotânicos..........................................54
7.3.1 - Dados Gerais..............................................................................................54
7.4 - Circulação de materiais de plantio........................................................................68
VIII
Página
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................82
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................85
APÊNDICE 1.......................................................................................................................92
APÊNDICE 2.......................................................................................................................97
APÊNDICE 3.......................................................................................................................99
APÊNDICE 4.....................................................................................................................100
APÊNDICE 5.....................................................................................................................101
APÊNDICE 6.....................................................................................................................102
APÊNDICE 7.....................................................................................................................103
ANEXO 1...........................................................................................................................104
ANEXO 2...........................................................................................................................105
ANEXO 3...........................................................................................................................107
ANEXO 4...........................................................................................................................108
ANEXO 5...........................................................................................................................109
ANEXO 6...........................................................................................................................110
IX
LISTA DE FIGURAS
Página
Figura 1: Mapa da área de estudo.............................................................................................18
Figura 2: Farofa de banana e mojica, pratos típicos da culinária local....................................20
Figura 3: Duas atividades importantes exercidas pelos moradores do município: a agricultura
e pesca........................................................................................................................................21
Figura 4: Aterros e venda de lotes na área de estudo...............................................................27
Figura 5: Abertura de áreas e uso de plantas medicinais da vegetação pela população local..27
Figura 6: Infra-estrutura dos bairros da Laje e Jardim Santo Antonio.....................................29
Figura 7: Motivos que levaram a escolha da área para morar..................................................37
Figura 8: Faixas etárias dos informantes..................................................................................38
Figura 9: Ocupações citadas pelos informantes do sexo masculino.........................................38
Figura 10: Ocupações citadas pelos informantes do sexo feminino.........................................39
Figura 11: Número de moradores por domicílio......................................................................40
Figura 12: Número de filhos.....................................................................................................41
Figura 13: Faixas etárias dos filhos que moram com os pais...................................................41
Figura 14: Faixas etárias dos filhos que não moram com os pais............................................42
Figura 15: Ocupação dos filhos que moram com os pais.........................................................43
Figura 16: Ocupação dos filhos que não moram com os pais..................................................44
Figura 17: Áreas de cultivo da primeira e segunda amostra.....................................................46
Figura 18: Venda de frutas produzidas no quintal e plantio em vasilhas suspensas................49
Figura 19: Plantio em vasilhas suspensas (cebolinha) e em chão (batata doce, mandioca, ma-
racujá..........................................................................................................................................49
X
Página
Figura 20: Plantio em terrenos..................................................................................................53
Figura 21: Roças na “praia”......................................................................................................53
Figura 22: Número de plantas citadas por domicílio da primeira amostra...............................54
Figura 23: Número de plantas citadas por domicílio da segunda amostra...............................56
Figura 24: Algumas das plantas mais cultivadas na área de estudo: mandioca, pimenta, ata e
banana, manga e coco................................................................................................................57
Figura 25: Classificação das plantas quanto ao hábito e locais onde são encontradas.............67
Figura 26: Fontes externas de obtenção dos materiais de plantio por área cultivada...............68
Figura 27: Fontes internas de obtenção dos materiais de plantio por área cultivada...............69
Figura 28: Materiais de plantio utilizados pelos agricultores...................................................72
Figura 29: Número de plantas recebidas e doadas pelas unidades familiares..........................75
Figura 30: Sexo das pessoas que doam e recebem plantas das unidades familiares estudadas...
....................................................................................................................................................77
Figura 31: Locais de origem e destino das plantas...................................................................78
XI
LISTA DE TABELAS
Página
Tabela 1: Tamanho amostral da primeira etapa do trabalho.....................................................31
Tabela 2: Número de domicílios visitados nas duas amostras em cada localidade..................34
Tabela 3: Origem dos entrevistados da área de estudo.............................................................35
Tabela 4: Número de locais diferentes em que os informantes da segunda amostra
estabeleceram moradias durante a trajetória de vida.................................................................35
Tabela 5: Tempo de moradia das famílias................................................................................36
Tabela 6: Constituição familiar.................................................................................................40
Tabela 7: Grau de escolaridade dos filhos................................................................................42
Tabela 8: Destino dos filhos homens e mulheres.....................................................................44
Tabela 9: Tamanho das áreas de cultivo visitadas....................................................................47
Tabela 10: Citações de plantas nas três áreas de cultivo da segunda amostra..........................55
Tabela 11: Plantas alimentares encontradas nas unidades familiares da segunda
amostra.......................................................................................................................................58
Tabela 12: Número de espécies e tipos de plantas encontradas nas diferentes áreas de
cultivo........................................................................................................................................66
Tabela 13: Plantas com maiores porcentagens de cultivo a partir do material de plantio do
próprio agricultor.......................................................................................................................71
Tabela 14: Números de entradas e saídas das plantas que mais circulam................................74
Tabela 15: Zonas geográficas de origem e destino das plantas cultivadas...............................80
1
1. RESUMO
ESTUDO ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS ALIMENTARES CULTIVADAS POR
MORADORES DE BAIRROS DA PERIFERIA DE SANTO ANTONIO DE LEVERGER,
MT. Botucatu, 2008. 110 p.
Dissertação (Mestrado em Agronomia / Horticultura) Faculdade de Ciências
Agronômicas, Universidade Estadual Paulista.
Autora: MIRELLA CULTRERA
Orientadora: MARIA CHRISTINA DE MELLO AMOROZO
Este estudo teve como objetivo investigar se moradores da periferia de uma pequena cidade de
interior cultivam plantas alimentares e em que medida mantêm relações com as áreas rurais.
Para tanto, foi feito um levantamento etnobotânico das plantas alimentares cultivadas por
moradores de cinco bairros da periferia de Santo Antonio do Leverger, MT, identificando a
origem dos materiais de plantio e doações dos mesmos, as áreas de cultivo estabelecidas pelos
moradores, bem como os aspectos sócio-econômicos relacionados com a prática agrícola.
Foram feitas duas amostragens: a primeira aleatória, de 135 domicílios, e a segunda através da
Análise por Julgamento, onde 30 unidades familiares foram escolhidas por terem alguma área
sendo constantemente manejada. Verificou-se que os moradores cultivam plantas alimentares
em quintais, terrenos, roças na “praia” e roças em “campo fora”, sendo comum o cultivo em
mais de uma área por família, principalmente pelos entrevistados da segunda amostra (50%).
Foram encontradas pelo menos 93 espécies de plantas pertencentes a 38 famílias botânicas,
sendo as mais freqüentes: Anacardiaceae e Rutaceae. As plantas alimentares encontradas em
2
maior número de domicílios foram a mandioca (Manihot esculenta Crantz.) (n=30) e a banana
(Musa spp) (n=27). Foram citadas mais plantas perenes (68%) para quintais, ao contrário dos
terrenos e roças, onde as anuais foram mais citadas (56% e 81,3%, respectivamente). A
maioria das plantas cultivadas nas unidades familiares (n=696) teve origem externa e foram
obtidas principalmente através da rede social (n=353) e mercado (n=208); outras foram
originadas de plantas já cultivadas pelas famílias (n=246). A maior parte das aquisições
(84,5%, n=583) e das doações (85%, n=205) ocorreram dentro do município, principalmente
dentro da área urbana, mas houve trocas com a área rural (161 obtenções e 43 doações). As
pessoas que mais doaram e receberam plantas têm características em comum: maior número
de plantas cultivadas nas unidades produtivas, mais de uma área de plantio e origem rural. As
plantas que mais circularam entre as pessoas são a banana e a mandioca, muito consumidas
pelas famílias no dia a dia. Pode-se considerar que os moradores da área de estudo mantêm o
cultivo de plantas alimentares e elaboraram estratégias como forma de adaptação ao espaço
urbano, como, por exemplo, cultivar em terrenos vagos e manter contato com a zona rural,
fato este evidenciado pelas roças mantidas no meio rural e pelas trocas de materiais de plantio,
que beneficiam ambas as áreas. Porém, as plantas têm sido cultivadas por pessoas com idades
mais avançadas e com origem rural e, portanto, há uma incerteza em relação ao futuro das
atividades agrícolas e à manutenção destas plantas, já que as gerações mais novas não têm se
interessado em participar das mesmas.
Palavras-chave: Etnobotânica, plantas alimentares, agricultura, periferia, Mato Grosso.
3
2. SUMMARY
ETHNOBOTANY OF CULTIVATED FOOD PLANTS IN OUTSKIRTS OF SANTO
ANTONIO DO LEVERGER MUNICIPALITY, MATO GROSSO STATE, BRAZIL.
Botucatu, 2008. 110 p.
Dissertation (Master degree in Agronomy / Horticulture) – Agronomic Sciences College, State
University of São Paulo.
Author: MIRELLA CULTRERA
Adviser: MARIA CHRISTINA DE MELLO AMOROZO
The goal of this study was to investigate if outskirts residents of a small interior city cultivate
food plant and how is the relation that they keep with rural areas. For this was carried out an
inventory of the food plants used by the residents of five districts of Santo Antonio de
Leverger-MT, identifying the origin and the destiny of the plant material donated, the
cultivated areas and the socioeconomic aspects related with the local agriculture. For this, in a
first moment, it was used a random sample composed of 135 households. After this, a
judgment sample was conducted, where 30 households having managed areas, were selected.
The results indicated that the outskirt’s residents maintain food plants in their homegardens,
unoccupied land areas, cultivated fields on the lowland and dryland. A family usually has
more than one cultivated area, specially the ones interviewed in the second sample. Ninety
three species and 38 botanical families were identified, being Anacardiaceae and Rutaceae, the
most found botanical families. Cassava (n=30) and banana (n=27) were the most encountered
plants. Perennial plants were commonly found in homegardens (68%). In “terrenos” and
4
“roças” the annual plants were dominant (56% and 81.3%, respectivally). Considering the
origin of the plants, we found that the greater number of cultivated ones were obtained from
external sources (n=696); specially throught social network (n=353) and market source
(n=208). A total of 246 plants were originated by plants already cultivated by the families. The
majority of this material was obtained in the urban zones of the municipality, besides existing
exchanges with the rural zone. The people who most exchange and receive this plant material
have some characteristics in commum: they are usually from rural areas, cultivate the greatest
amount of plants in their properties and maintain more than one cultivated area. The cassava
and the banana, consumed daily, were the most exchanged plants in the area. We can consider
that the residents of the studied area maintain food plants under cultivation and figure out
strategies of adaptation to the urban space like, for example, the act of cultivating in
unoccupied land areas and the maintenance of the contact with rural zones. This last fact is
specially evidenciated by the presence of the cultivated fields in rural areas and by the
exchange of the plant material, fact that brings benefits to both areas. The act of cultivating is
more practiced among the older and rural members of the studied group. For this reason, there
is an uncertainty about the continuity of this activity in the area and the maintenance of these
cultivated plants, since the young generation is not interested in cultivating plants.
Key-words: Ethnobotany, food plants, agriculture, outskirt, Mato Grosso
5
3. INTRODUÇÃO
A diversidade dos recursos genéticos vegetais cultivados, bem como os
meios para sua conservação, vêm sendo amplamente estudados por pesquisadores de diversas
áreas do conhecimento científico, devido à sua importância e emergência diante da erosão
genética
1
que vem ocorrendo de forma acelerada nas últimas décadas. Em se tratando de
plantas alimentares, esta diversidade está intrinsecamente relacionada à promoção da
segurança alimentar e nutricional de grande parte da população mundial, constituindo a base
da sobrevivência, principalmente das populações rurais; e ainda mais, esta diversidade
fundamenta a agricultura moderna, pois é a fonte de material genético utilizado no
melhoramento de variedades comerciais produzidas por instituições de pesquisa e
desenvolvimento (Valle, 2002; Santilli e Emperaire, 2006), sendo, portanto, fundamental para
a população mundial como um todo, seja de forma direta ou indireta. Sabe-se que os maiores
geradores e detentores da diversidade agrícola mundial são os agricultores de pequena escala,
sejam eles pertencentes a populações tradicionais
2
ou não. Estas populações rurais têm
algumas características em comum dentro do tipo de sistema agrícola que praticam, assim
como a forte ligação do mesmo com seus modos de vida. Tal sistema geralmente é baseado na
1
Este termo pode ser definido de acordo com Williams (1997) como perda da diversidade intra-específica
produzida pela domesticação, à medida que uma quantidade cada vez menor de bem-sucedidos cultivares
modernos é produzida em grandes áreas.
2
De acordo com Diegues e Arruda (2001), populações ou sociedades tradicionais são: “grupos humanos
diferenciados do ponto de vista cultural que historicamente reproduzem seu modo de vida de uma forma mais ou
menos isolada, baseada na cooperação social e nas suas relações próprias com a natureza”.
6
produção para subsistência (em alguns casos ocorre a venda de excedentes), na mão-de-obra
familiar, no uso de insumos internos (da propriedade), na tecnologia simples e barata e na
prática do policultivo de espécies e variedades que pode ser considerada uma estratégia de
sobrevivência, pois, além de garantir a segurança alimentar e nutricional, promove a segurança
da lavoura em si contra estresses abióticos e bióticos, como por exemplo, as alterações
climáticas e ataques de pragas e doenças.
Mas no Brasil, assim como em alguns outros países, significativa
parcela destas populações está passando por um processo de transformação em seus modos de
vida devido a pressões provenientes da disseminação de um modelo agrícola industrial e da
modernização globalizante, conforme Amorozo (2006). Estas pressões podem se dar em
vários sentidos, como, por exemplo, na disputa por áreas de cultivo entre os grandes
agricultores que avançam em busca de terras cultiváveis em direção aos pequenos agricultores.
Estes por sua vez, são pressionados a vender suas terras, ou então são desestimulados a
continuar plantando, devido à competitividade desleal que surge no mercado com preços que
são inviáveis para os agricultores de pequena escala nele inseridos. Há também programas
governamentais e não governamentais que incentivam a substituição de sementes locais por
sementes comercialmente melhoradas e o uso de insumos agrícolas e maquinários de alto
custo que são inadequados para a economia agrícola familiar. Todas estas interferências
desestabilizam e desarticulam os sistemas agrícolas voltados para a subsistência, e têm efeito
negativo sobre o conjunto de germoplasma de plantas de cultivo que estas sociedades mantêm
e sobre o conhecimento associado a elas, conforme Amorozo (2006). Entretanto, de acordo
com Clement et al (2005), a comunidade da ciência e tecnologia, alertada para o risco do
desaparecimento desta diversidade agrícola, passou a buscar soluções, sendo a conservação ex
situ a primeira delas; mas logo foram percebidas as dificuldades de se fazer apenas este tipo de
conservação devido ao alto custo para manter os laboratórios, a impossibilidade de coletar
todas as variedades e espécies existentes e ainda mais, a impossibilidade de se promover em
laboratório a evolução natural das plantas que ocorre no ambiente. Assim, logo se viu a
necessidade de incluir a participação dos agricultores neste processo, através do incentivo da
7
conservação on farm
3
ou seja, a conservação dos recursos genéticos vegetais dentro de suas
roças, quintais, hortas, etc.
O município de Santo Antonio de Leverger-MT, localizado na Baixada
Cuiabana, caracteriza-se por ter a população essencialmente rural, voltada em sua grande
maioria, para atividades como a agricultura de subsistência e pesca. As comunidades rurais,
sendo algumas constituídas por agricultores tradicionais, se destacam pelo cultivo de
mandioca e pela produção de farinha. De acordo com Amorozo (2000), a perda de acesso à
terra devido ao avanço da pecuária, as emigrações da população rural, e até mesmo a
penetração de uma ideologia urbana têm causado uma desestruturação das comunidades rurais
locais, que pode ameaçar o seu rico sistema agrícola, baseado na policultura. Acredita-se que
este conjunto de fatores tem contribuído para o aumento do número de pessoas que vão morar
na cidade, principalmente nas áreas periféricas, onde hoje são encontrados conjuntos
habitacionais e novos loteamentos. Por outro lado, algumas pessoas que permanecem nas áreas
rurais têm se engajado em atividades econômicas relacionadas ao turismo, como pesqueiros,
bares, e empregos assalariados como caseiros em casas de veraneio, que estão aumentando e
envolvendo cada vez mais pessoas, principalmente aquelas que moram mais próximas ao rio
Cuiabá. Assim, alguns agricultores têm diminuído suas atividades agrícolas tradicionais para
atender às novas atividades econômicas que estão em ascensão na região. Este fenômeno tem
acontecido em várias partes do Brasil e do mundo, e foi descrito por Carneiro (2004), que o
associa à crescente procura dos citadinos por formas de lazer em ambientes rurais e como
conseqüência, a mesma autora observa que há menos pessoas se dedicando a atividades
agrícolas no campo.
De acordo com Amorozo (2002), em se tratando de comunidades
tradicionais, cultivar e cuidar de plantas é algo que se aprende muito cedo na vida e envolve
afetividade; e quem se acostuma a plantar, dificilmente deixa tal atividade, mesmo quando
migra para áreas mais urbanizadas. WinklerPrins (2002) observou que em Santarém – PA,
quando as famílias se dividem e parte migra para a zona urbana, levam para seus novos
quintais plantas cultivadas na área rural (em quintais e roças). Dessa forma, acredita-se que em
3
Neste trabalho foi considerada conservação on farm como sendo a manutenção de espécies cultivadas em sítios
e quintais pelos agricultores, diferente da conservação in situ que seria referente a manutenção e uso de parentes
selvagens de plantas domesticadas e de populações selvagens nos locais onde as mesmas ocorrem naturalmente,
de acordo com Biodiversity Conservation (2008).
8
municípios onde a presença da agricultura de subsistência é marcante, há grande possibilidade
de se encontrar áreas cultivadas com plantas diversas, como quintais, onde se encontram
plantas trazidas da zona rural. Assim, optou-se por realizar este trabalho em bairros da
periferia de Santo Antonio de Leverger, devido à possibilidade de se encontrar pessoas de
tradição rural que continuam a praticar de alguma forma a agricultura. O intuito foi de
verificar como tem se manifestado nos moradores destes bairros o hábito de cultivar plantas
alimentares, bem como se configuram os espaços de cultivo no meio urbano e o
funcionamento das redes de trocas de material de plantio nas quais ocorrem as aquisições e
doações de espécies e variedades das plantas cultivadas pelos moradores, para avaliar então, a
importância desta área do município como local de diversidade de plantas alimentares
cultivadas, entre elas, as hortícolas, tão importante para a segurança alimentar, para a
diversificação da dieta familiar, economia doméstica, e ainda mais, para a manutenção da
agrobiodiversidade, junto às populações rurais.
A apresentação deste trabalho está dividida em cinco partes: a primeira
contém informações históricas da região e do município especificamente, além de informações
sobre os primeiros colonizadores que deram origem à população atual, bem como informações
sobre a origem dos bairros que fazem parte da área de estudo, dados estes coletados através de
pesquisas bibliográficas e depoimentos das pessoas mais idosas, e que são importantes para o
entendimento da segunda parte do trabalho, em que estão as informações sobre as pessoas que
habitam a área de estudo, ou seja, idade, ocupação, origem, constituição familiar, etc, dados
estes, coletados através de entrevistas semi-estruturadas. A terceira parte descreve os
diferentes espaços onde os moradores cultivam suas plantas alimentares e suas peculiaridades,
tendo estes dados sido coletados através de entrevistas semi-estruturadas e observação
participante.
Já a quarta parte deste trabalho entra na questão botânica e
etnobotânica das plantas alimentares cultivadas, analisando as de maior ocorrência e os fatores
que determinam os tipos de plantas cultivadas em cada área de cultivo. Os dados também
foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas e observação participante.
A quinta e última parte é destinada à questão da circulação de materiais de plantio, ou seja, as
fontes de obtenção dos mesmos, as doações e a auto- suficiência em relação a estes materiais
por parte dos agricultores. Também analisa as redes sociais em que as circulações são mais
9
intensas e os tipos de plantas que mais circulam. Estes dados também foram coletados através
de entrevistas semi-estruturadas.
10
4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Muito se tem discutido a agrobiodiversidade, a importância da sua
conservação, bem como os meios para isto, mas é importante esclarecer o significado deste
termo, que foi utilizado pela primeira vez em 1992, por David Wood, na Convenção da
Diversidade Biológica (CDB) (Wood e Lenné, 2005). De acordo com os autores, este termo
refere-se não só aos recursos genéticos de plantas cultivadas que deveriam estar sendo
conservados, mas a toda biodiversidade funcional dentro de um sistema agrícola, que inclui
tanto a biodiversidade boa quanto ruim, como por exemplo, os patógenos e pragas que
prejudicam a produtividade e estabilidade do sistema agrícola. Atualmente a biodiversidade
agrícola é definida pela CDB como “um termo amplo que inclui todos os componentes da
diversidade biológica de relevância para a alimentação e agricultura e todos os componentes
da diversidade biológica que constituem o agro-ecossistema: a variedade e variabilidade de
animais, plantas, e microorganismos, no nível gênico, de espécies e de ecossistema, os quais
são necessários para sustentar as funções chaves do agro-ecossistema, sua estrutura e
processos (...)” (apud Wolff, 2004). Vendo a necessidade de se incluir os aspectos do
agricultor que interagem com o agro-ecossistema, Brookfield e Padoch (1994) propuseram o
termo “agrodiversidade” que compreende “as muitas maneiras as quais os agricultores usam a
diversidade natural do ambiente para a produção, incluindo não somente sua escolha de
cultivos, mas também o seu manejo da terra, água, e a vida como um todo”. Paralelamente,
outros autores inserem à definição deste termo o conhecimento do agricultor, que se expressa
através do seu manejo do sistema agrícola (Brush, 1992; Almekinders et al apud Brookfield e
Stocking, 1999). Após a CDB, ficaram estabelecidas propostas e diretrizes nas quais deve ser
11
apoiada a conservação da agrobiodiversidade. Entre elas a conservação ex situ, in situ e on
farm.
A urgência de se focar em estudos deste âmbito deve-se, entre outros
motivos, ao desaparecimento de grande parte dos recursos genéticos utilizados para a
alimentação. A FAO (2008) estima que no último século se perderam em torno de três quartos
da diversidade genética das variedades agrícolas cultivadas; sendo que estes recursos
genéticos são a base biológica da segurança alimentar mundial e, diretamente ou indiretamente
sustentam quase todos os meios de vida humana do planeta (FAO, 2008). Esta perda está
relacionada principalmente com o modelo agrícola comercial, disseminado pelos Estados
Unidos a partir da década de 60, através da denominada “Revolução Verde” que, segundo
Martine e Beskow (1987), consiste em um pacote tecnológico composto de sementes
melhoradas, mecanização, insumos químicos e biológicos que tinha a finalidade de
modernizar a produção agrícola, mas com sérias conseqüências sociais e ecológicas. Assim,
através do incentivo da prática de monoculturas e homogeneização das variedades cultivadas
para facilitar a mecanização e o uso de insumos, foram sendo substituídas não só as sementes
utilizadas, mas o modo de produção agrícola.
As conseqüências não ficam somente na erosão genética, mas também
na degradação ambiental, na desestruturação dos sistemas agrícolas de pequena escala e
conseqüentemente nos modos de vida das populações que dependem dos mesmos. Um
exemplo claro desta situação foi o ocorrido com os Xavantes no Mato Grosso, descrito por
Freitas (2006): o avanço da pecuária extensiva e das lavouras destinadas ao gado, deu início a
uma pressão territorial nas terras indígenas que, com a diminuição das suas áreas e a
destruição do ambiente natural nas suas proximidades, afetou diretamente a alimentação destes
povos que basicamente dependiam da caça e em menor escala da pesca, do extrativismo e da
agricultura. Desta forma, surgiu a fome, a ponto de se alimentarem de carcaças de animais
mortos na beira das estradas; assim, como forma de contornar a situação, o órgão de
assistência ao índio deu início a um programa de produção de alimentos baseada na mão de
obra não indígena dentro das aldeias e na produção de arroz mecanizada, alimento este que
não fazia parte da dieta dos Xavantes. A escassez dos recursos faunísticos, aliada à facilidade
da obtenção do arroz, incentivou a substituição da alimentação tradicional, fato este que
resultou em conseqüências negativas que vão desde o abandono gradativo das roças
12
tradicionais e, portanto, de grande parte das variedades cultivadas, até o surgimento de
doenças como a diabetes mellitus e desnutrição infantil.
Uma outra saída que estas populações adotam para tentar contornar os
problemas do avanço da agricultura moderna é vender suas terras e mudar-se para as cidades,
sendo este um processo que tem ocorrido em várias partes do mundo. No Brasil, a cada ano
aumenta o número de pessoas que residem em cidades, como pode ser observado em dados do
IBGE (2002) sobre as taxas de urbanização (de 78,4%). Com uma visão mais conservadora,
Veiga (2003), questiona os números do IBGE devido à metodologia utilizada, em que todas as
sedes de municípios, independente do número de habitantes, são consideradas
automaticamente urbanas; mas é fato que houve um aumento expressivo no número de
pessoas que moram em cidades ou nas proximidades delas nas últimas décadas. Para
Camarano e Beltrão (1999), o principal motivo do aumento populacional das cidades está
relacionado com o êxodo da população rural, que possui vários fatores condicionantes. Na
região Centro-Oeste, por exemplo, nas últimas duas décadas, a expansão da fronteira agrícola
desencadeada pelo avanço da agroindústria foi uma grande motivadora de emigração rural, de
acordo com Camarano e Abramovay (2000).
No entanto, trabalhos mostram que mesmo em áreas urbanas, ou com
características menos rurais, ainda há locais em que pessoas cultivam plantas alimentares,
medicinais, ornamentais, entre outras, em espaços como quintais (AMOROZO, 1981;
MADALENO, 2000; EICHEMBERG, 2003). Os quintais, em áreas urbanas, são também
freqüentemente destinados à produção de alimentos e remédios, principalmente entre as
camadas mais carentes da população (AMOROZO, 2008). Alguns autores atribuem funções
gerais importantes a estes espaços (tanto quintais urbanos quanto rurais): fonte de subsistência
e renda, repositório e teste de variedades e espécies de plantas incomuns de serem encontradas
(PADOCH e JONG, 1991); reservatórios de agrobiodiversidade (OAKLEY, 2004) e
segurança alimentar (WINKLERPRINS, 2002); Smith (1996 apud WINKLERPRINS, 2002)
acrescenta a promoção de uma dieta saudável e fonte de renda como importantes papéis de
quintais urbanos para a população, o que justifica a realização de estudos nesta área.
Segundo Amorozo (2002), os quintais mantidos por populações de
cidades interioranas fazem parte de um modo de vida onde as relações de vizinhança e
parentesco são intensas. À medida que circulam hortaliças, plantas medicinais, frutas, mudas
13
de plantas, etc, juntamente com as informações sobre seus empregos e significados, estes laços
sociais se estreitam, e assim, tanto o germoplasma quanto a tradição local são disseminados
pela população.
Winklerprins (2002) analisou a ligação que existe entre as pessoas da
zona rural e urbana de Santarém, PA, através do estudo de quintais e da rede de troca de
germoplasma. A autora constatou que os quintais ligam o rural e urbano através das trocas de
produtos e das relações sociais que estas trocas favorecem. Neste estudo, ela entende o quintal
como “uma zona de transição entre o rural e o urbano, e também entre os modos de vida
tradicional (homem do campo) e o moderno (assalariado)”, pois ali as pessoas podem
“praticar” e “expressar” a vida rural. No mesmo trabalho, foi observado que o germoplasma
encontrado em quintais urbanos veio de diferentes fontes, sendo que muitos são provenientes
de quintais de áreas rurais, ou de quintais pertencentes a familiares, vizinhos e amigos de
diferentes locais. Almekinders et al (1994 apud SEBOKA & DERESSA 2000) observaram
que na Etiópia, onde a troca é a forma mais utilizada para obtenção de sementes, esta também
ocorre mais entre a rede social tradicional e entre a família. Citando exemplos de estudos com
mandioca em Mato Grosso no Pará (AMOROZO 1996; EMPERAIRE & PINTON 1999) fica
mais evidente a importância de se estudar as redes de distribuição de germoplasma, quando as
autoras descrevem casos semelhantes nos dois trabalhos, de pessoas que perderam certas
variedades, mas devido a esta rede de trocas e doações, conseguem recuperá-las com as
pessoas que foram as receptoras das plantas em algum momento (o que pode acontecer com
outras plantas alimentares, medicinais, etc).
De acordo com Emperaire (2006), a existência dos recursos
domesticados ou cultivados resulta não só de um processo cumulativo de conhecimentos e de
uma transmissão temporal do recurso através de gerações, mas depende também de uma
transmissão espacial que se dá pela circulação de germoplasma em um determinado espaço
geográfico. Mas, de acordo com a mesma autora, os estudos sobre a conservação dos recursos
fitogenéticos têm privilegiado abordagens mais centradas no recurso em si do que nos
processos que levam ao seu desenvolvimento. Desta forma, pode-se concluir que para alguns
estudos sobre manutenção on farm da agrobiodiversidade de plantas alimentares é importante
analisar também as relações sociais de agrupamentos humanos e a dinâmica de circulação de
14
germoplasma, já que este pode ser considerado um processo de notável importância para a
conservação da diversidade de plantas cultivadas.
15
5. OBJETIVOS
5.1- Objetivo Geral
O presente trabalho teve como objetivo entender a dinâmica do cultivo
de plantas alimentares entre os moradores da periferia de Santo Antonio de Leverger, bem
como se configuram os espaços de cultivo e as condições de acesso ao seu material de plantio.
5.2- Objetivos específicos
fazer um levantamento etnobotânico das espécies e variedades de plantas
alimentares cultivadas por moradores da periferia do município;
identificar as fontes de obtenção de propágulos e sementes de espécies e
variedades das plantas alimentares cultivadas e verificar como circulam tais
materiais de plantio entre os moradores da região;
identificar e caracterizar os locais em que estão sendo cultivadas tais plantas;
entender como o contexto sócio-econômico interfere na prática do cultivo de
plantas pelos moradores da região;
entender a dinâmica das migrações da população na área.
16
6. MATERIAL E MÉTODOS
6.1 - Área de estudo
6.1.1 - Informações Gerais sobre Santo Antonio de Leverger
Este trabalho foi desenvolvido com moradores de bairros periféricos
da sede do município de Santo Antonio de Leverger, Mato Grosso (coordenadas geográficas
15º 47’11’’S e 56º 04’17’’W) onde o aumento do número de habitações tem sido
relativamente recente e rápido. Os bairros estudados foram: Fronteira, Aeroporto, Laje, Jardim
Santo Antonio e Conjunto Habitacional Marechal Rondon (Cohab), localizados às margens da
rodovia MT-040, sentido Santo Antonio de Leverger/ Cuiabá (Figura 1).
O município localiza-se na Baixada Cuiabana, fazendo divisa em sua
porção norte com a capital do estado e ao sul com os Pantanais Matogrossenses, ocupando
uma área de 12.260 km² (Figura 1). A unidade geoambiental a que pertence Santo Antonio de
Leverger, Superfícies Aplainadas Conservadas, caracteriza-se, segundo Dantas et al (2007),
por um relevo plano a levemente ondulado, em colinas rampeadas, amplas e suaves, com
baixas amplitudes de relevo e com sedimentação aluvial expressiva; há o predomínio de solos
profundos e bem drenados (Latossolo), portanto aptos à lavoura e pastagem plantada; porém
há também ocorrência de solos poucos espessos, imperfeitamente drenados e concrecionários
(Plintossolos Pétricos), com baixa fertilidade natural e severas restrições à agricultura. A
fisionomia da vegetação predominante é o cerrado, subtipo savana, com formação vegetal
arbórea densa (ALVARENGA, 1984), embora grande parte dela já esteja modificada.
17
O clima da região apresenta duas estações bem definidas: um período de
chuvas, que vai de outubro a março, e um período seco, de abril a setembro (Alvarenga et al,
1984). As médias anuais de temperatura são elevadas (23º a 25º C), a média das máximas fica
entre 30º e 32º C, sem grandes oscilações durante o ano; a das mínimas fica entre 16º e 20º C
(Brasil, Ministério das Minas e Energia, 1982, apud Amorozo, 1996)
A sede do município, que é considerada descentralizada por muitos
moradores, fica ao norte do mesmo, apenas a 30 quilômetros de Cuiabá, se considerarmos a
rodovia MT-040 que é a principal via de comunicação entre os municípios. De Santo Antonio
de Leverger fazem parte os distritos de Mimoso, Engenho Velho, Caité, Varginha, São
Vicente da Serra, além de muitos outros bairros rurais.
18
Figura 1: Mapa da área de estudo.
19
6.1.2 O povo de Santo Antonio de Leverger e sua caracterização
a) A população: de acordo com os dados do Censo Demográfico do
IBGE (2000), Santo Antonio de Leverger possui 15.435 habitantes, sendo que apenas um terço
é considerado urbano. A sua população teve a origem baseada na mistura de etnias indígenas
que ocupavam o local antigamente com povos ibéricos, principalmente portugueses, que se
estabeleceram na região após a descoberta das minas de ouro em Cuiabá, e africanos, que
vieram como escravos para trabalhar no primeiro ciclo do açúcar de Santo Antonio por volta
de 1750, segundo Freyre (1983); mais recentemente acrescentou-se a contribuição de
migrantes de outros estados. Como brasileiros, um “povo novo”, pela definição de Ribeiro
(2002):
“Novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada
culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente mestiçada, dinamizada por uma
cultura sincrética e singularizada pela redefinição de traços culturais delas oriundos”.
A população local mantém alguns costumes como na alimentação,
música e dança, que atraem turistas para a cidade, principalmente na época do carnaval. Os
pratos típicos envolvem muita carne, principalmente bovina, sempre temperada com cebolinha
(Allium spp) e coentro (Coriandrum sativum L). Peixe frito, mojica e pirão de peixe, peixe
ensopado; ensopadão (costela de boi com abóbora, batata doce, banana, milho verde em
pedaços, mandioca, cenoura, folha de repolho, chuchu...), costela com mandioca e galinhada
com arroz marcam a culinária regional (Figura 2) . Durante as festas religiosas realizadas nas
casas de devotos de santos geralmente são servidos feijoada ou sarapatel e carne seca com
arroz, além da farofa de banana que é um acompanhamento consumido quase que diariamente
pelos moradores. Nas festas está sempre presente o siriri e o cururu. O siriri é uma dança feita
por vários casais que cantam e dançam ao som da viola de cocho, o mocho (tipo de tambor em
forma de um banco com pele de boi esticada) e ganzá. O cururu é uma dança só de homens, ao
som de uma dupla também de homens que cantam e tocam viola de cocho e ganzá.
20
Figura 2: Farofa de banana e mojica, pratos típicos da culinária local.
b) Atividades econômicas: no geral, as principais atividades
econômicas exercidas estão relacionadas à agropecuária e pesca, no entanto, mais
recentemente, atividades ligadas ao turismo de pesca estão se expandindo cada vez mais ao
longo do rio Cuiabá e Pantanal.
A agricultura praticada pelos levergenses é em grande parte destinada
ao auto consumo, mas também ocorre a venda de excedentes. Ela é praticada no “campo fora”,
ou seja, em partes de relevo mais elevado, onde não sofre inundações provocadas por rios, e
também em roças nas margens do rio Cuiabá durante a estação seca e início das águas (roças
nas “praias”) (Figura 3). A mandioca é a cultura mais encontrada na região, e sua produção é
para o consumo da família e venda em forma de farinha ou in natura. Nas roças também há
bananas, abóboras e batata doce em grandes quantidades; além de melancia, melão, quiabo,
milho (também destinado à ceva de peixe) e maxixe. A região do município que fica próxima
à divisa com Rondonópolis tem se destacado pela produção de hortaliças para a baixada
cuiabana; é também uma região onde são encontradas extensas monoculturas de soja, algodão
e sorgo. Em relação à pecuária, podem ser observadas desde pequenas áreas de criação como
também grandes fazendas, estas últimas geralmente pertencentes a pessoas de outras
localidades.
21
A pesca é praticada nos rios, riachos e lagoas e de diferentes formas
pela população local: com vara de bambu, rede de espera, tarrafa e “espinheiro” (arame
amarrado de uma margem à outra do rio com vários anzóis presos). Ela é realizada tanto para
o consumo familiar quanto para a venda nas ruas, de porta em porta, ou para venda em
grandes quantidades a comerciantes da baixada cuiabana, transação esta que pode ser realizada
no “mercadão” que existe na cidade. A pesca é também uma atividade profissional
reconhecida pelo governo, pois há carteira de pescador profissional que dá direito a um salário
mínimo aos pescadores registrados na época da piracema.
Figura 3: Duas atividades importantes exercidas pelos moradores do município: a agricultura e pesca.
A expansão do turismo de pesca tem aumentado o número de ranchos,
pesqueiros, chácaras de fim de semana, e alguns campings e pousadas nas proximidades do rio
Cuiabá, e tem empregado algumas pessoas que antes se dedicavam à agricultura como
estratégia de sobrevivência. Estas pessoas estão se ocupando com atividades não agrícolas
como caseiro e cozinheiro, por exemplo; outra atividade relacionada em ascensão é a
exploração de iscas (minhocoçú), mas como sua exploração não é controlada, há ocorrência de
danos ambientais.
22
Devido à falta de oportunidades de emprego na cidade, principalmente
no setor terciário, um notável contingente de pessoas trabalha em Cuiabá, mas mantém sua
residência em Santo Antonio de Leverger, viajando todos os dias ou semanalmente.
6.2 - Breve histórico da área de estudo
6.2.1 - Da ocupação da região à formação de Santo Antonio de Leverger
Para relatar a história de Santo Antonio de Leverger é preciso entender
como se deu a ocupação de Cuiabá, pois, de acordo com IBGE (1958), só em 1899 com a Lei
Estadual n° 211, Santo Antonio do Rio Abaixo, como antes era chamado, se desmembrou de
Cuiabá. Os primeiros registros da região são do século XVIII, da época das bandeiras, famosas
expedições aos sertões pelos paulistas que estavam em busca de índios para aprisionar e
escravizar (AYALA e SIMON, 1914). É certo que a região já estava habitada por índios de
diferentes grupos, como os Bororos (FERREIRA, 1997), pois é justamente a presença deles
que atraiu os sertanistas. Oliveira e Viana (2006) analisaram dados arqueológicos da região
Centro-Oeste e acreditam que esta área teria sido uma zona de confluência de várias
sociedades indígenas agricultoras e ceramistas, formando um mosaico cultural.
Após a Guerra dos Emboabas, as viagens para o Oeste e Nordeste
brasileiro se intensificaram, e em uma destas viagens, em 1718, Pascoal Moreira de Cabral
Leme descobriu ouro no rio Coxipó-Mirim, iniciando a extração do mesmo e junto com outros
povoadores inaugurou o período das monções, que eram expedições fluviais povoadoras e
comerciais que substituíram as bandeiras naquela época (ELLIS, 1972). Ayalla e Simon
(1914) também atribuíram esta descoberta a Antonio Pires de Campos que teria passado do rio
Paraguai para o São Lourenço e deste para o Cuiabá, chegando ao Coxipó-Mirim, onde teria
travado uma luta com a nação Coxipones na mesma data. Um ano mais tarde, Pascoal Moreira
de Cabral Leme observou na superfície dos terrenos marginais do rio Coxipó mais ouro, e
navegando um pouco mais acima encontrou alguns índios enfeitados com o mesmo. Ficou
assim determinada a permanência naquele local, dando início ao primeiro povoamento deste
Estado, recebendo o nome de Forquilha. A partir daí a área foi rapidamente povoada por
imigrantes de várias regiões.
23
Por volta de 1722, por indicação de dois índios Carijós, Miguel Sutil
encontrou uma outra lavra de ouro, e devido a sua abundância e também ao esgotamento da
anterior, o povoamento se deslocou para o novo sítio, denominado “Cuyabá”. Notícia
espalhada, inúmeros sertanistas e aventureiros de São Paulo, Minas Gerais, Maranhão, além de
estrangeiros de diversas nacionalidades também foram atraídos pelo precioso metal. No
entanto nem todos chegaram ao seu destino, muitos estavam desprevenidos, encontrando
dificuldades pelo caminho, como a fome, doenças e ataques de índios Payaguás com suas
canoas. Mesmo assim, em 1729 Cuiabá já tinha cerca de três mil habitantes, mais de 100 casas
e duas igrejas (AYALLA e SIMON, 1914).
Pouco se sabe sobre o início do povoamento de Santo Antonio de
Leverger. Segundo os dados da Enciclopédia dos Municípios Brasileiros (IBGE 1958) é
provável que algumas pessoas que faziam parte das bandeiras do século XVIII tenham se
estabelecido na área, mais precisamente às margens do rio Cuiabá, devido à fertilidade do
solo, abundância de peixes e caça para a alimentação. Siqueira (1992) reuniu diversas cartas
de Sesmaria, a mais antiga com a data de 1727, que concedia terras da zona do Pantanal do rio
Cuiabá abaixo a interessados; porém, há menções nestas cartas que indicam que já havia
moradores no local. De acordo a mesma autora, como a região aurífera (Cuiabá) estava
centrada nas atividades de extração do minério, cabia às regiões circunvizinhas a ela, como a
região do rio Cuiabá abaixo, a produção de alimentos para o abastecimento do arraial mineiro.
Desta forma, estabeleceu-se um povoamento na área que, em 1734, construiu uma capela em
homenagem ao Santo Antonio; homenagem esta da população local ao santo que é justificada
pela história oral:
“Rompia de arrepio as corredeiras de águas barrentas do rio Cuiabá,
em plena enchente, uma monção que demandava as minas descobertas por Pascoal Moreira
Cabral e Sutil. Vinha desfalcada de algumas canoas e de vários de seus componentes,
afundadas e sacrificadas na refrega com os índios canoeiros “guatós”. Penetram certo
entardecer por uma bôca de água remansosa acampando à beira do sangradouro para o
pernoite. Refeitos na manhã seguinte, aprestam-se novamente para o reinício da viagem,
quando um dos ‘batelões’ fica prêso como se encalhado em banco de areia, não havendo como
dali sair, à fôrça de remos e ‘zingas’. A superstição apodera-se dos rudes canoeiros e por
sugestão de um deles é desembarcada a imagem de Santo Antonio, que transportavam. O
24
resultado foi surpreendente, pois em seguida a embarcação tomou impulso e seguiu viagem.
Outra monção, por ali de passagem, querendo transportar o Santo, o mesmo fenômeno se
repetiu.” (Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, IBGE 1958).
Passado o auge do período aurífero das minas de Cuiabá – no qual a
região onde se situa atualmente o município de Santo Antonio de Leverger foi fornecedora de
alimento - a região se volta para a pecuária e principalmente para o cultivo da cana de açúcar,
sendo que este último tornou-se em pouco tempo, uma das mais importantes atividades
econômicas do Estado, de acordo com Póvoas (1983). Para o mesmo autor, a fertilidade da
zona ribeirinha desta região proporcionada pelas enchentes do rio Cuiabá favoreceu, desta vez,
a concentração da indústria açucareira durante os séculos XIX e XX que foi representada pelas
grandes usinas como a Conceição, Itaici, Maravilha e Aricá. Conseqüentemente surgiu uma
elite muito influente politicamente no Estado, que esteve no poder por muitos anos. Nas
fazendas onde estavam instaladas as usinas plantava-se também alimento para subsistência e
para ser vendido no próprio armazém instalado na propriedade, e cada trabalhador tinha uma
caderneta onde era anotado o que era comprado para ser descontado no pagamento. Havia
também algumas habitações onde trabalhadores das lavouras e operadores de máquinas
podiam morar, além de escolas (até o primário) para os filhos dos mesmos estudarem. A partir
da década de 1940, a competição com o novo pólo da produção açucareira (São Paulo) que
detinha os maquinários mais modernos e técnicas avançadas, tornou-se acirrada para os
matogrossenses, pois os mesmos não tinham condições de modernizar suas usinas. Assim,
algumas delas foram transformadas em fazendas de gado e outras foram abandonadas,
finalizando este ciclo econômico. Hoje muitas pessoas ainda se recordam e relatam sobre este
período que marcou a história de Santo Antonio de Leverger.
25
6.2.2 - O surgimento dos bairros periféricos
De acordo com o relato dos moradores da região, aproximadamente há
40 anos, a área de estudo possuía pouquíssimas casas que “ficavam no meio do mato” ou entre
os campos que eram pastagens. Eram sítios nos quais havia pequenas lavouras e criações.
Moradores mais antigos de áreas próximas ao rio, mais precisamente onde hoje é o bairro da
Fronteira (um dos mais antigos da cidade), dizem que quase toda a área alagava na época das
águas e havia muita dificuldade de se locomover até a cidade para ir à escola, por exemplo,
pois não havia ruas. A água chegava na porta das casas e as trilhas que ligavam ao centro da
cidade encharcavam. Junto com as águas também vinham animais como as sucuris e os
jacarés. Segundo um morador deste bairro, ali era “um brejão que (onde se) criava boi brabo
que tinha que se (ser) apanhado a laço”. Em outros locais não tão próximos ao rio e que o
terreno ficava sobre laje de canga, havia ocasiões em que também alagava, devido à não
infiltração da água na rocha. Foi citada também a presença de pequenas lagoas e vertentes de
água que hoje não existem mais.
Nessa época, de acordo com os moradores, havia grandes áreas que
pertenciam ao Santo, o Santo Antonio, padroeiro da cidade. Quem estivesse disposto a plantar,
podia escolher um pedaço de terra e se estabelecer no local, e assim pedir os documentos para
a regularização da posse da mesma no cartório de Cuiabá. Tudo indica que esta condição foi
mudando após a entrada dos primeiros prefeitos que foram vendendo estas áreas e
desapropriando aqueles que não tinham documentos. A partir das décadas de 70 e 80, a venda
de terras se intensificou e até hoje há terrenos à venda em loteamentos formados por
imobiliárias – onde hoje estão localizados o bairro da Laje, Jardim Aeroporto, Jardim Santo
Antonio e Conjunto Habitacional Marechal Rondon. A venda desses lotes de forma facilitada
(a prazo) foi, e é até hoje, um atrativo para algumas pessoas que não tinham residência própria
e pagavam aluguel ou então moravam em chácaras e fazendas em casas para caseiros. As
construções de casas populares nestas áreas, como os Conjuntos Habitacionais Marechal
Rondon em 1985 e Alto do Leverger em 2005 também facilitaram a aquisição da casa própria.
Portanto, podem ser encontradas pessoas tanto nascidas no local, como aquelas de outros
estados brasileiros, com longas trajetórias de vida, sempre em busca de emprego e melhores
condições de vida.
26
Uma característica marcante destes bairros é a velocidade com que são
construídas novas casas. Notável também foi a grande mobilidade ou o fluxo de moradores
nos mesmos, ou seja, na época inicial da pesquisa foram observadas muitas pessoas que
tinham acabado de se mudar para a área, assim como muitas outras saindo para morar em
outros lugares. Hoje a área de estudo não apresenta mais grandes chácaras, a não ser aquelas
de veraneio que ficam às margens do rio Cuiabá. A maioria foi dividida pelos herdeiros dos
antigos moradores, e por isso encontram-se aglomerados de parentes que são vizinhos
(geralmente irmãos, tios), ou então várias casas de pessoas de grau de parentesco próximo
dentro de uma mesma chácara (podem ser encontradas até quatro gerações em uma mesma
propriedade).
Comparando a atual situação com os relatos dos antigos moradores,
observa-se que muita coisa mudou, principalmente em relação à paisagem. Muitos aterros
foram feitos (e ainda são) à medida em que se povoava o local para possibilitar a construção
de casas em áreas alagáveis. As áreas das propriedades também diminuíram assim como as
áreas destinadas à lavoura e pecuária. Muitas casas ainda estão próximas a áreas cobertas pelo
cerrado e é possível ver pessoas fazendo uso de plantas medicinais, frutas, lenha, caça, etc,
provenientes do mesmo. No entanto esta fonte de recurso está ameaçada por entulhos que são
jogados e pelo surgimento de novos loteamentos que estão “limpando” e aterrando estas áreas
(Figura 4 e 5).
27
Figura 4: Aterros e venda de lotes na área de estudo
Figura 5: Abertura de áreas e uso de plantas medicinais da vegetação pela população local
6.2.3 – Características gerais dos bairros
Os limites territoriais dos bairros e os nomes são incertos, por isso
optou-se por seguir os limites e nomes dados pela maioria dos moradores. Algumas pessoas
dizem que o Jardim Aeroporto e Santo Antonio pertencem ao Bairro da Laje.
Em relação ao tamanho dos terrenos, estes se mostraram variáveis,
havendo algumas tendências que foram observadas: o bairro da Fronteira possui tanto
unidades domiciliares que ocupam grandes áreas, mas com muitas moradias dentro da mesma
unidade, pertencentes à mesma família e algumas vezes já com divisões estabelecidas através
28
de cercas, como também propriedades pequenas. O Conjunto Habitacional Marechal Rondon e
os bairros da Laje e Jardim Aeroporto, apesar de terem algumas unidades domiciliares
padronizadas por serem originados a partir de loteamentos, tem algumas unidades ocupando
áreas maiores, como pequenas chácaras, geralmente de famílias antigas. Já o Jardim Santo
Antonio, também originado de loteamento, caracterizou-se pelo pequeno tamanho das
unidades familiares, se comparado aos outros bairros da área de estudo, sendo ausentes
chácaras.
Toda a área tem o cerrado como formação vegetacional predominante
(embora esteja modificado), com exceção do bairro da Fronteira, onde há também uma estreita
faixa de mata ciliar na margem do rio Cuiabá. O Jardim Santo Antonio, Aeroporto e
principalmente a Laje são os bairros que possuem maior área verde ainda presente, embora ela
tenha sido diminuída pelos novos loteamentos, estradas e moradias em construção. O bairro da
Fronteira é o que sofre mais alagamentos devido à sua menor elevação (em relação aos
outros). A Laje também sofre algumas inundações localizadas por estar sobre uma laje de
rocha denominada canga, que não permite a infiltração da água no solo. O solo da área de
estudo por sua vez, com exceção do bairro da Fronteira que é predominantemente arenoso,
varia nos outros bairros entre arenoso e “pedregulho”, originado da canga (de acordo com as
denominações locais); em alguns casos, o solo é tão raso que a laje da mesma rocha está
exposta (o que ocorre principalmente no bairro da Laje) (Figura 6).
Em relação à infra-estrutura da área de estudo, observou-se que a
maioria das ruas não possui pavimentação, assim como não há iluminação pública em todas
elas. Na maioria das casas a água é da rede pública de abastecimento, mas que tem um
abastecimento precário na época da seca, sendo que nestas épocas os moradores podem ficar
dias sem recebê-la. Algumas pessoas possuem poço artesiano. Há áreas onde o esgoto ainda
corre a céu aberto. O bairro com maior disponibilidade de serviços à comunidade é o Conjunto
Habitacional Marechal Rondon, onde há creche e escola de educação infantil que atendem a
população local, estabelecimentos comerciais como mercados, verdurarias, bares e linha de
ônibus que vai ao centro da cidade e a Cuiabá de hora em hora. Com exceção da Cohab e da
Fronteira, onde são encontrados alguns bares e mercados que já se fundem com o centro da
cidade que se expandiu, os outros bairros não possuem comércio (Figura 6).
29
Figura 6: Infra-estrutura dos bairros Laje e Jardim Santo Antonio.
6.3 - Metodologia
Em um estudo feito na década de 90, Amorozo (1996) observou que a
população rural de algumas comunidades de Santo Antonio de Leverger estava tendo
problemas com o encolhimento do seu espaço físico devido ao crescimento vegetativo da
população local, à venda de terras para pessoas de outros locais e à grilagem, resultando na
migração de pessoas para a cidade, que foram em busca de outras oportunidades que
garantissem a sobrevivência. Desta forma, como geralmente o local escolhido por estas
pessoas é localizado nas áreas periféricas das cidades, optou-se por desenvolver este trabalho
em cinco bairros localizados em tais áreas.
Foram feitas oito viagens que ocorreram entre Julho de 2006 a Abril de 2008,
totalizando 160 dias em campo. Primeiramente foi feita uma visita de reconhecimento dos
bairros periféricos próximos à sede do município para definir quais fariam parte da amostra.
Foram escolhidos os seguintes bairros: Fronteira, Cohab (Conjunto Habitacional Marechal
Rondon), sendo estes dois com maior concentração de casas por unidade de área; Jardim Santo
Antonio, Jardim do Aeroporto e Laje, com menor concentração de casas por unidade de área.
Foi realizado um mapeamento esquemático, no qual foram registrados
453 domicílios na área de estudo, excluindo chácaras de fim de semana. Na Cohab foram
contadas 201 casas (englobando aquelas que não pertencem ao conjunto habitacional, mas
30
estão muito próximas), no bairro da Fronteira 123, no bairro da Laje 58, no Jardim Santo
Antonio 45 e no Jardim Aeroporto 26.
Para a determinação do número de domicílios a ser visitado na etapa inicial da
pesquisa, que teve o objetivo de conhecer a origem dos moradores dos bairros, o tempo de
moradia, as plantas que são cultivadas por eles e também as áreas de plantio (através de uma
entrevista semi-estruturada) (Anexo 1), dividiu-se o conjunto de bairros em dois grupos
devido à diferença de concentração de casas por unidade de área (Tabela 1). Aplicou-se então
a fórmula de Krejcie e Morgan (1970 apud Bernard, 1988), como descrita abaixo, em cada um
destes grupos. Segundo Bernard (1988), esta fórmula geralmente é utilizada por antropólogos
para a determinação do tamanho amostral em pequenas populações.
Fórmula de Krejcie e Morgan (apud Bernard, 1988):
Tamanho amostral = x² N P(1-P) / C² (N-1) + x² P(1-P), onde:
x² = qui-quadrado = 3,841
N= tamanho da população
P= parâmetro populacional de uma variável, geralmente considera-se 0,5.
C² = intervalo de confiança escolhido, neste caso foi 0,1 (90%).
Calculado o tamanho amostral adequado para este trabalho, realizou-se uma
Amostragem Aleatória Simples (Tabela 1) que determinou quais domicílios deveriam ser
visitados para serem feitas as coletas dos dados da primeira etapa do trabalho.
31
Tabela 1: Tamanho amostral da primeira etapa do trabalho
Bairros
domicílios
Tamanho
amostral
Maior concentração
Fronteira e Cohab 324 76
Menor concentração
Jardim Santo Antonio, Jardim do
Aeroporto e Laje,
129 59
Total
453 135
No entanto, por motivos variados, dos 135 domicílios sorteados
inicialmente 48 (35,5 %) foram substituídos por outros através de um segundo sorteio, e mais
20 foram substituídos da mesma forma no decorrer das visitas, quando se julgou necessário. A
necessidade de substituição deu-se quando não foi possível encontrar morador no domicílio
após três visitas ou o mesmo não quis participar da pesquisa; quando o tempo de moradia no
local era inferior a um ano ou havia previsão do morador sair da casa em pouco tempo;
quando a casa era utilizada apenas em fins de semana ou a casa encontrava-se vazia.
Para a continuidade do trabalho foi utilizada a Amostragem por
Julgamento (BERNARD, 1988). De acordo com Bernard (1988) neste tipo de amostragem que
é não probabilística, o pesquisador escolhe os informantes adequados para o trabalho, de
acordo com o seu objetivo. Dessa forma, para a segunda amostra do trabalho, elaborou-se o
seguinte critério de seleção dos informantes: ter alguma área sendo constantemente manejada,
ou seja, o intuito era escolher as pessoas da área de estudo mais envolvidas com o cultivo de
plantas, já que o objetivo era aprofundar o estudo etnobotânico. Assim, no total foram
escolhidas 30 unidades familiares: 21 selecionadas da primeira amostragem (de 135
domicílios) e nove foram indicadas por outros informantes ou escolhidas por se ter
conhecimento de suas atividades. As entrevistas foram feitas com as pessoas responsáveis pelo
manejo, por isso em alguns casos o casal foi entrevistado. Ao todo foram entrevistados 10
casais, nove homens e mais 11 mulheres.
Com estes informantes foram feitas entrevistas semi-estruturadas
(Anexos 2,3,4 e 5) para conhecer a história de vida deles e a do local onde residem, a
constituição da família, características da área cultivada, a forma de obtenção de material de
32
propagação vegetativa, sementes e mudas e doações dos mesmos, além da finalidade do
cultivo de plantas alimentares. O levantamento etnobotânico das plantas alimentares foi feito
com o auxílio da técnica “Turnê Guiada”, como descrita por Albuquerque et al (2004). Nesta
fase, quando possível, as entrevistas foram gravadas e fotos foram feitas. A coleta botânica
ficou restrita às plantas que não puderam ser identificadas em campo com o auxílio de
literatura especializada (LORENZI e MATOS 2002; LORENZI et al, 2006).
Outros métodos da pesquisa qualitativa descritos por Viertler (2002),
como observação participante, conversas informais, entrevistas não estruturadas, além de
pesquisas bibliográficas sobre a região também foram utilizados.
Para este trabalho, por envolver populações humanas, foi elaborado
um Termo de Consentimento Livre Esclarecido o qual foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa do Instituto de Biociências da UNESP/ Rio Claro e assinado pelos participantes da
pesquisa (Anexo 7).
A análise de dados foi qualitativa e utilizando estatística descritiva.
33
7. RESULTADOS E DISCUSSÃO
7.1 - Caracterização sócio-econômica dos entrevistados
Na primeira amostra realizada para a coleta de dados gerais da
população, foram sorteados 135 domicílios da área de estudo. Muitos domicílios (35,5%)
deste primeiro sorteio tiveram que ser substituídos, em alguns casos até mais de uma vez,
devido ao curto tempo de moradia - menos de um ano no local (10), ou previsão de saída da
casa em pouco tempo (6); por serem casas de fim de semana principalmente de pessoas que
moram em Cuiabá (7), ou casas não ocupadas (9) e também por causa de pessoas que não
quiseram participar da pesquisa (4) ou não foi possível encontrar, muitas vezes por passarem o
dia trabalhando fora e retornar à noite (12). Este quadro caracteriza a área de estudo como um
local de grande mobilidade populacional e com características semelhantes a áreas rurais,
quando se vê casas de fim de semana no local, além de muitas chácaras de veraneio próximas
ao rio. A busca do contato com a natureza e de lazer associado ao meio rural pelos citadinos é,
segundo Carneiro (2004), um fenômeno que se iniciou no Brasil na década de 70 e que se
intensificou atualmente.
Após as substituições da primeira amostra e a seleção de 30 unidades
familiares com pessoas envolvidas no manejo contínuo de plantas, o número de domicílios
visitados por bairro nas duas etapas da pesquisa ficou como se segue na Tabela 2. Em 10
34
unidades familiares da segunda amostra foi entrevistado o casal, o que totalizou 40
informantes, sendo 19 homens e 21 mulheres.
Tabela 2: Número de domicílios visitados nas duas amostras em cada localidade.
Localidade Número de domicílios
visitados
1ª amostra
Número de domicílios
visitados
2ª amostra
Bairro da Fronteira 45 6
Conj. Habitacional
Marechal Rondon
31 5
Bairro da Laje 23 12
Jd. Santo Antonio 23 4
Jd. Aeroporto 13 3
Total 135 30
Constatou-se que a maioria dos moradores da área de estudo
(56%) entrevistados na primeira amostragem tem sua origem no próprio município, em
localidades próximas à sede do mesmo, havendo pouca diferença entre origem urbana e rural
(Tabela 3). Foi considerada origem urbana quando o entrevistado disse ter nascido na sede do
município e rural quando nascido em localidades rurais, mesmo que tenha morado depois em
alguma cidade. Algumas pessoas disseram ter nascido nas antigas fazendas pertencentes às
usinas de cana-de-açúcar que começaram a entrar em decadência na década de 40, e tiveram
que se mudar com o fim da atividade das mesmas. Também é comum encontrar pessoas que
nasceram em sítios e fazendas e quando chegaram a uma certa idade os pais se mudaram para
a cidade para que os filhos pudessem estudar. Hoje a área em que se realizou a pesquisa é o
local em que estes filhos, agora já casados, escolheram para morar. A forma de pagamento
facilitada e o valor dos lotes foram fatores determinantes na escolha do local para várias
famílias que ali se estabeleceram, incluindo aquelas de outros estados, que ali tiveram a
oportunidade de se estabelecer em uma casa própria após morarem em várias chácaras e
fazendas de forma temporária e vivendo em função da disponibilidade de emprego oferecido
35
por patrões. A tranqüilidade do local também foi um fator citado pelos moradores,
principalmente aqueles que vieram de Cuiabá.
Já para a segunda amostra, destaca-se o número de pessoas
provenientes da zona rural do município e pessoas de fora, tanto do próprio estado como
também de outras regiões do Brasil. Vale observar que essas outras localidades também
podem ser rurais. A longa trajetória de vida dos entrevistados da segunda amostra (Tabela 4) e
a busca de locais próximos à cidade para estabelecer moradia é uma característica comum
entre eles e que em parte está relacionada com os processos migratórios que são observados
em todo país, considerado também um reflexo da instabilidade da vida no campo, já que
muitos são oriundos de famílias de lavradores da zona rural.
Tabela 3: Origem dos entrevistados da área de estudo
Origem 1ª amostra (%) 2ª amostra (% )
Santo Antonio de Leverger – zona urbana
30 12,5
Santo Antonio de Leverger – zona rural
26 27,5
Cuiabá
16,3 5
Cidades próximas e distritos de S.A.
Leverger (N.S. Livramento, Chapada dos
Guimarães, Várzea Grande, Barão de
Melgaço, Mimoso, etc.)
12,6 22,5
Outros estados (PR, MS, CE, MG, SP, SC,
PE, GO, BA)
10,4 25
Outros municípios de Mato Grosso
2,2 7,5
Tabela 4: Número de locais diferentes em que os informantes da
segunda amostra estabeleceram moradias durante a trajetória de vida.
Número de locais diferentes Número de informantes
0 a 3
18
4 a 7
17
Mais que 8
5
36
Cunha (2006), analisando o processo de ocupação do Mato Grosso,
conclui que os fatores que geram a instabilidade dos agricultores familiares no campo são a
concentração fundiária e a transformação da estrutura produtiva a partir da década de 60, que
se voltou para a modernização da produção agrícola. Segundo o autor, só a partir da década de
80 o governo começou a incentivar projetos de colonização para pequenos produtores
baseados em assentamentos de famílias em pequenas propriedades, em substituição aos
grandes projetos agropecuários das décadas anteriores. No entanto, estes projetos não tiveram
sucesso devido à qualidade da terra, dificuldade de acesso ao crédito por parte de pequenos
produtores e ao isolamento da maioria das áreas colonizadas, desfavorecendo a permanência
de grande parte destes produtores familiares. Para Cunha (2006) o estilo de desenvolvimento
adotado pelo Estado é contraditório, pois possui uma estrutura econômica baseada na
agropecuária e com programas de colonização baseados em assentamentos rurais, mas o que
se observa é uma pequena população residindo no campo, caracterizando o estado pela
predominância de latifúndios com monoculturas e/ou pecuária extensiva que empregam pouca
mão-de-obra e beneficiam uma minoria. Os dados desfavoráveis à permanência da população
no campo não se restringem apenas aos migrantes. Dados publicados por Cunha (2006)
provenientes do IBGE de 1981, 1991 e 2001 no estado do Mato Grosso mostram a redução da
participação de trabalhadores “não-migrantes” na categoria “autônomo ou conta-própria na
agropecuária”, o que pode ser atribuído à falta de alternativas oferecidas aos habitantes ligados
com o meio rural.
O tempo de moradia (Tabela 5) indica que grande parte das pessoas de
ambas as amostras mora na área de estudo há menos de 20 anos, mesmo nos bairros de
formação mais antiga. Este fato pode estar relacionado com o surgimento dos loteamentos
formados pelas imobiliárias, a construção do Conjunto Habitacional Marechal Rondon em
1985, com o surgimento de uma nova geração de casais formando novas famílias e também
com a grande mobilidade da população que foi observada.
Tabela 5: Tempo de moradia das famílias
Tempo de
moradia
(anos)
1ª amostra (%) 2ª amostra (%)
0 a 9 49 42,5
37
10 a 19 28,3 25
20 a 29 11,3 14,5
30 a 39 7 0
Mais que 40 4,5 17,5
Para nove dos 40 informantes da segunda amostra, a facilidade de
comprar o terreno devido ao preço e condições de pagamento foi determinante na escolha do
local para morar (Figura 7). Com exceção de dois informantes, todos os outros são
proprietários de suas moradias.
012345678910
compra de terreno facilitada
gostou do local/ mais calmo
o citou motivo
terrenos grandes para plantar e criar
por ficar próximo à cidade
nasceu no local/herdou
falta de opção na cidade/ apareceu para comprar
cônjuge já tinha a propriedade
número de citações
Figura 7: Motivos que levaram a escolha da área para morar
Em relação à idade dos informantes verificou-se que a maioria dos
entrevistados tem mais de 50 anos (Figura 8).
38
0123456789
31 a 40
41 a 50
51 a 60
61 a 70
71 a 85
faixas etárias
número de informantes
mulheres
homens
Figura 8: Faixas etárias dos informantes
Constatou-se que muitos homens são aposentados rurais,
correspondendo a 52% da amostra masculina (Figura 9). No entanto, sete dos dez informantes
aposentados ainda trabalham na lavoura, outros produzem e vendem hortaliças, frutas,
trabalham em serviços em chácaras e de eletricista. Na maioria dos casos, estas atividades são
as mesmas exercidas antes de se aposentarem, representando uma continuidade da vida
profissional que, juntamente com a aposentadoria, fazem parte da renda familiar.
012345678910
aposentado
lavrador e pescador
guarda not urno
func.blico + funileiro + vendedor de iscas
guarda noturno + cuida de chácara
faz bicos/capina
pedreiro
ocupações
número de informantes
Figura 9: Ocupações citadas pelos informantes do sexo masculino.
39
Em relação às informantes, a maioria citou ser do lar (67%), e 19%
disseram ser aposentadas (Figura 10). No entanto, muitas disseram ter ajudado os pais ou
maridos em trabalhos de roça em alguma época da vida. Oito informantes dessas duas classes
disseram ter outras atividades como: fazer doces para vender, fazer crochê e outros artesanatos
para vender, produzir e vender hortaliças, produzir e vender iscas para pesca (iscas feitas de
milho, minhocoçu), costurar “para fora” e trabalhar na roça.
0246810121416
do lar
aposentada
desempregada
funcionária pública
cozinheira em
restaurante
ocupação
número de informantes
Figura 10: Ocupações citadas pelos informantes do sexo feminino.
Analisando os dados sobre as ocupações anteriormente exercidas,
verifica-se que todos os informantes trabalharam de alguma forma em serviços agrícolas
(trabalho em lavoura), seja intensivamente ou em atividades leves (principalmente aqueles que
trabalharam quando crianças e as mulheres); havendo também variações quanto ao tempo que
praticaram atividades agrícolas, ou seja, alguns trabalharam pouco tempo, apenas quando
crianças, e outros trabalharam a vida inteira. Há pessoas (25% da amostra) que trabalharam
somente em serviços de roça e o restante da amostra disse ter exercido outras atividades tais
como: babá, lavadeira, doméstica, faxineira, cozinheira, comerciante, funcionária pública
(limpeza), costureira, seringueira e caseira, no caso das mulheres; e no caso dos homens as
atividades já exercidas pelos informantes foram: pescador, pedreiro, seringueiro, oleiro,
segurança, guarda noturno, operador de máquinas, funcionário público (motorista), frentista,
serralheiro, peão e eletricista. No geral, as atividades citadas não exigem grau de escolaridade
40
elevado das pessoas que as exerceram e, de acordo com os dados, esta é a realidade em que os
informantes se encontram: 27,5% são analfabetos, 62,5 % estudaram menos de quatro anos e
apenas 10% têm o primeiro ou segundo grau completo (correspondente ao Ensino
Fundamental e Médio). Os dados coletados são aproximados devido à vaga lembrança que a
maioria dos entrevistados tem do período de vida escolar.
O número médio de moradores por domicílio é 4,3, sendo que a
maioria das casas tem entre três e cinco moradores (Figura 11). A constituição das famílias
que residem nos domicílios varia, mas geralmente encontra-se mais de uma geração na casa,
sendo comum avós criando netos e bisnetos (Tabela 6).
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
12345678
número de moradores
número de domilios
Figura 11: Número de moradores por domicílio.
Tabela 6: Constituição familiar
Constituição familiar Número de famílias
1 geração 2
2 gerações 15
3 gerações 13
Todos os informantes têm filhos, sendo que o número médio de filhos
por domicílio é de 4,9. Do total de filhos, a maioria é do sexo feminino (58%) e grande parte
dos filhos não mora mais com os pais (Figura 12).
41
5
0
10 15 25 30 35 40 45 50 55 60
moram com os pais
moram fora
número de filhos
mulheres
homens
Figura 12: Número de filhos (n=148).
Entre os filhos que ainda residem com seus pais a faixa etária
predominante está entre 20 e 29 anos (43%), ou seja, já ultrapassaram a idade escolar (Figura
10).
0 2 4 6 8 101214161820
0 a 9
10 a 19
20 a 29
30 a 39
40 a 49
50 a 59
faixas etárias
número de filhos
homens
mulheres
Figura 13: Faixas etárias dos filhos que moram com os pais.
A idade dos filhos que possuem sua própria residência é um pouco
mais elevada, sendo que a maioria está na faixa etária entre 20 e 39 anos (Figura 14). Houve
42
pais que não souberam dizer a idade de alguns filhos, o que corresponde a 21% do total de
filhos que não moram mais com os mesmos.
0 2 4 6 8 101214161820
0 a 9
10 a 19
20 a 29
30 a 39
40 a 49
50 a 59
faixas etárias
número de filhos
homens mulheres
Figura 14: Faixas etárias dos filhos que não moram com os pais.
Ao analisar o grau de escolaridade dos filhos, verificou-se que aqueles
que moram com seus pais (desconsiderando os que ainda estão em idade de freqüentar escola)
têm grau de escolaridade superior ao deles, mas inferior a de seus irmãos que moram fora
(Tabela 7).
Tabela 7: Grau de escolaridade dos filhos.
Grau de escolaridade Filhos que moram com
os pais (%)
Filhos que moram fora (%)
Estudou pouco 4,5 3
Ainda estuda 27 2
Ensino Fundamental incompleto 20,5 8,5
Ensino Fundamental completo -- 9,5
Ensino Médio incompleto 2,5 10,5
Ensino Médio completo/ Técnico 32 35,5
Superior 2,5 12,5
Não sabe o quanto estudou 11 9,5
Observa-se também que muitos dos filhos que moram com os pais não
trabalham atualmente (“desempregado”, “não trabalha/ não estuda”) e que dentro da classe
“empregados assalariados” a maioria é funcionária de empresas e comércios onde ocupam
cargos que não exigem alto grau de escolaridade (Figura 15). Ao analisar os dados sobre a
ocupação dos filhos que não moram mais com seus pais verifica-se expressivo número de
43
“funcionários públicos”, classe na qual estão inseridos professores, policiais, enfermeira,
engenheiro, entre outros; e também “empregados assalariados”, onde se encontram
domésticas, empregados de comércio, empresas particulares e indústria (Figura 16). A maior
diversidade de empregos e os tipos de atividades exercidas por eles têm relação direta com a
oportunidade de estudo que é oferecida à pessoa, aliada a um local com oferta de emprego,
como pode ser encontrado em grandes centros mais facilmente. A proximidade de Cuiabá
possibilita a população se locomover até a capital para estudar e/ou trabalhar diariamente, e
muitos, ao encontrar um emprego fixo, mantêm uma residência (ou a de seus pais) em Santo
Antonio de Leverger para retornar nos finais de semana; ou ainda, preferem mudar-se
definitivamente para a capital, como pode ser observado nos dados sobre migração da Tabela
8.
024681012
estudante
empregado assalariado
desempregado
não trabalha e nem estuda
do lar
bicos/autônomo
funcionário público
ocupação
número de filhos
Figura 15: Ocupação dos filhos que moram com os pais
44
0 5 10 15 20 25 30 35
funcionário público
empregado assalariado
do lar
autônomo
setor de obras
serviço rural
desempregado
ocupação
número de filhos
Figura 16: Ocupação dos filhos que não moram com os pais.
Tabela 8: Destino dos filhos homens e mulheres.
Destino dos filhos Homens Mulheres Total
Santo Antonio de Leverger – Urbano 20 20 40
Santo Antonio de Leverger – Rural 2 0 2
Cuiabá
12 30 42
Municípios Próximos (Várzea Grande, Barão de
Melgaço, Campo Verde, Chapada dos Guimarães).
6 7
13
Municípios mais distantes (Primavera do Leste,
Itapurã, Tangará da Serra).
4 0
4
Outros estados (SP, DF). 1 2
3
Ao analisar conjuntamente os dados conclui-se que a área de estudo
tem mostrado um fluxo constante de moradores chegando e deixando os bairros, e que são
atraídos pela facilidade de obter-se um terreno. Os dados gerais mostram que a maioria destes
habitantes é do próprio município (tanto da zona rural como urbana), mas aqueles que foram
selecionados por terem alguma área de plantio são em geral de origem rural, seja de Santo
Antonio de Leverger como de outros municípios e estados sendo que muitos também
apresentam extensas trajetórias de vida.
45
A idade dos informantes selecionados revela que o cultivo de plantas
tem ficado restrito a pessoas de idade avançada, com baixo grau de escolaridade e que
praticaram durante alguma fase da vida, ou a vida inteira, alguma atividade relacionada à
lavoura. Neste caso o tempo de moradia no local não tem relação com a prática do cultivo de
plantas, já que os dados mostram que o tempo de moradia não é elevado.
Os dados sobre os filhos, ou seja, a próxima geração que ocuparia a
área, revela que a maioria já deixou a casa dos pais, e muitos migraram para a capital. O grau
de escolaridade é maior em relação ao dos pais, principalmente desses filhos que já deixaram
suas casas, e conseqüentemente as atividades exercidas são diferentes, sendo insignificante a
quantidade de filhos que participa de atividade relacionada ao cultivo de plantas. Mesmo
aqueles que permanecem nas casas e estão desempregados não têm participação no cultivo das
plantas. A tendência geral que se pode observar da diminuição da prática do cultivo de plantas
pelas gerações mais novas devido ao seu modo de vida que é diferente de outras gerações
anteriores, é coerente com a percepção dos moradores mais idosos do local, já que é comum
escutar depoimentos em que são expostas as análises que eles fazem da vida e das pessoas que
os cercam. Como disse um informante observando seus amigos trabalharem na roça:
“Quando acabá essa raça aí (de homens), cê não vê mais um pé só! E
a comida vai sê fabricada de quê?”
A.S., 65 anos.
46
7.2 - Espaços cultivados pelos entrevistados.
Da amostra inicial de 135 informantes, 98% cultivam algum tipo de
planta. A maioria (82%) tem somente o quintal
4
como área de cultivo, e 15% possuem o
quintal, mais uma área que seria o terreno ou roça (Figura 17).
Primeira amostra Segunda Amostra
Áreas de cultivo (%)
82
8
7
2
1
Quintal Quintal e Roça Quintal e Terreno o tem área Roça
Áreas de cultivo (%)
46,5
26,5
16,5
7
3,5
Quintal Quintal e Roça Quintal e Terreno
Quintal, terreno e roça terreno
Figura 17: Áreas de cultivo da primeira e segunda amostra.
Já nas 30 unidades familiares da segunda amostra, o quintal também
aparece como sendo a área mais cultivada (Figura 17) - apenas um informante não tem quintal
com plantas, e o número de pessoas com mais de uma área de cultivo é proporcionalmente
maior (50%). Os diferentes espaços de cultivos identificados foram: quintais (29), terrenos (7),
roças em chácaras (5), roças em praias (6) e uma roça comunitária, cada um tendo
características próprias que serão definidas a seguir. Foram coletados dados sobre todos os
quintais e terrenos, cinco roças na praia e uma em chácara. Os tamanhos destas áreas são
variáveis, principalmente dos quintais (Tabela 9).
4
Neste trabalho a denominação “quintal” foi dada pela autora e não pelos informantes, embora se tenha tentado
descobrir uma denominação local e sua delimitação espacial por parte dos informantes. Considerou-se quintal
toda a área próxima à casa, onde são cultivados todos os tipos de plantas e animais são criados, sendo também
uma área onde são realizadas algumas tarefas domésticas e reuniões sociais.
47
Tabela 9: Tamanho das áreas de cultivo visitadas
Média (m²) Amplitude (m²)
Quintal (n=29)
1206,15 207 — 4339,5
Terreno (n=7)
363,71 56 — 720
Roça (n=5)
3400 2000—5000
7.2.1 - Quintais
Os quintais da área de estudo têm características semelhantes aos
descritos pela literatura que os define (Niñez 1984; Niñez, 1985). São localizados próximos às
casas, possuem plantas que são cultivadas para diversas finalidades, como exemplo, as
alimentares, medicinais, ornamentais, “protetoras do lar” entre outras. É um local de
atividades domésticas, como lavar roupas, louças e limpar peixes, sendo em alguns casos, uma
extensão da cozinha. O quintal também é um espaço onde se reúne a família e amigos para
confraternizações e festas religiosas, um lugar de descanso à sombra das árvores nas horas
quentes do dia. Também foi possível observar a obtenção de renda através da venda de frutas,
hortaliças, sementes e de doces de frutas produzidos no quintal (Figura 18). Alguns homens
utilizam os quintais para plantar mandioca e batata doce durante a época das águas (o que na
seca é feito nas margens do rio Cuiabá) para manterem as “raças” das mesmas.
As plantas são cultivadas nesta área tanto pelos homens quanto pelas
mulheres, havendo uma dedicação diferente de acordo com o tipo da planta. Geralmente as
mulheres se dedicam às ornamentais, medicinais, protetoras/religiosas e algumas alimentares.
Homens se dedicam mais às plantas alimentares que também são cultivadas na roça, como
mandioca, batata doce e banana. Frutíferas e hortaliças parecem ter a dedicação de ambos. É
comum a criação de animais domésticos, principalmente aves, que fornecem carne e ovos para
subsistência e em alguns casos para a venda. O tipo de criação das mesmas varia, sendo que
algumas pessoas possuem galinheiros e outras as criam soltas; neste último caso, foram
observados alguns conflitos entre vizinhos e também dentro da própria família quando há
pessoas mais ligadas ao cultivo de plantas que são prejudicadas pelo “ataque” das aves. Suínos
foram encontrados em menor quantidade, geralmente confinados, sendo criados para a
subsistência das famílias e em alguns casos para a venda.
48
Foram encontradas hortas em onze quintais da amostra, que são
espaços cultivados geralmente isolados por uma tela para evitar que animais como as aves
estraguem as plantas cultivadas. Nelas foram encontradas hortaliças e algumas plantas
medicinais, temperos, além de mudas de árvores frutíferas, em recipientes, para serem
transplantadas. Estes espaços são cultivados mais intensamente durante a época seca, pois a
umidade do solo não é excessiva e, portanto não estraga as hortaliças; também nesta época o
ataque de lagartas e outras “pragas” é menor, possibilitando o cultivo das plantas. As plantas
podem ser cultivadas em canteiros no chão ou construídos de madeira, em recipientes como
latas, canoas velhas e carriolas velhas. Na maioria dos quintais existe algum recipiente
desprotegido de tela, mas elevado, próximo à porta da cozinha, onde são encontrados
cebolinha, coentro, pimentão e pimentas, além de plantas medicinais como poejo. O cultivo
em recipientes suspensos, além proteger as plantas dos estragos causados por animais, permite
o cultivo das mesmas em épocas em que os solos estão encharcados (Figura 19). Em ambos os
casos (canteiros no chão e recipientes), a terra geralmente é preparada com esterco de cavalo
que é coletado pelas pessoas nas ruas e campos. É comum ver crianças e adultos com sacos na
mão procurando e coletando este tipo de esterco pelas ruas e pastos para seus canteiros na
época da seca. Observou-se que este espaço recebe atenção especial, pois é nele que muitos
entrevistados plantam sementes raras que foram obtidas, além de ser um local de teste de
germinação antes de levar, por exemplo, um “lote” de sementes ganhas para serem plantadas
na roça.
Foram observados quintais com dois padrões distintos, que se
diferenciaram pela disposição das plantas cultivadas. O primeiro padrão é aquele em que o
quintal está dividido em duas partes, geralmente por cercas, e a parte que fica mais ao fundo
do terreno é usada para o cultivo de mandioca, podendo ser comparada a uma pequena roça,
onde também se encontrou com menor freqüência, feijões, maxixe, melancia, etc (n=5). Já um
outro padrão é aquele em que as plantas estão todas juntas, havendo mais fruteiras e uma
menor quantidades de plantas consideradas “de roça”. Mesmo assim, na maioria dos casos, há
concentração de certas plantas de “roça” em zonas específicas do quintal nas quais entra
claridade para elas se desenvolverem; é uma divisão imaginária, pois não há cercas, mas fica
visível que há uma tendência de se concentrar algumas plantas em determinados locais. Estes
padrões estão relacionados com os tipos de plantas cultivadas, com a quantidade que se cultiva
49
cada uma delas e características da área, como tipo de solo e declividade do terreno, por
exemplo; além de haver relação também com a disponibilidade de área, preferência e
experiência dos integrantes da família.
Figura 18: Utilidades das frutas produzidas no quintal: venda e consumo
Figura 19: Plantio em vasilhas suspensas (cebolinha) e em chão (batata doce, mandioca, maracujá)
50
7.2.2 – Terrenos
Os terrenos são áreas que anteriormente estavam desocupadas e que
algumas pessoas passaram a usar para cultivar plantas (Figura 20). Foram encontrados sete
informantes que cultivam nestas áreas, mas apenas um é proprietário do terreno; dois usam
terrenos de proprietários desconhecidos, dois usam terrenos de parentes, e dois cultivam em
área de conhecidos. Todos eles são localizados no mesmo bairro em que residem os
informantes, na maioria das vezes muito próximos às moradias dos cultivadores. Algumas
pessoas alegaram que cultivam nesta área devido à falta de espaço no seu quintal; outros
acrescentaram a necessidade de manter o terreno limpo por causa de bichos. Com exceção de
dois casos, a maioria dos terrenos é manejada por homens.
Geralmente as plantas cultivadas se restringem às alimentares, que
também são plantadas em roças, como mandioca, batata doce, cará, quiabo, abóbora e maxixe
(Apêndice 1). Com exceção dos terrenos cultivados pelos próprios proprietários ou pelos seus
parentes, não é comum encontrar árvores frutíferas plantadas, pois de acordo com os
informantes, não há certeza do tempo que poderão cultivar no local e assim não compensa
investir no mesmo. Dessa forma, encontrou-se apenas um terreno com plantas medicinais e
três com árvores frutíferas. Plantas que exigem mais cuidados como hortaliças também não
são encontradas devido à indisponibilidade de água (sendo esta comparada à de uma roça). O
espaço é aproveitado misturando espécies e variedades diferentes de plantas, com exceção de
dois informantes que plantam somente mandioca no local. A produção é basicamente para
subsistência da família, mas há pessoas que doam para amigos e vizinhos ou para quem pede,
com exceção de um informante que disse vender parte da produção de mandioca no mercado
do filho. O manejo basicamente é a capina, principalmente na época das águas. Apenas um
informante disse irrigar as plantas quando necessário. Dois informantes disseram trazer
caminhões de areia da “praia”, um informante para o plantio de batata doce e outro para
mandioca; outro informante usa palha de casca de arroz queimada para fertilizar o solo.
Em média, o tempo de cultivo dos terrenos visitados é de dois anos,
um tempo relativamente curto, e que mostrou ter um processo dinâmico de aquisições e
abandonos: um informante abandonou o cultivo do terreno que era de um conhecido, pois não
compensava cuidar de algo que não era dele; outro diminuiu a área cultivada (tirou várias
51
plantas), pois começou a construção de uma casa para a filha que casou; outro informante
iniciou o cultivo em terreno localizado ao lado de sua casa onde havia uma vegetação de
cerrado que foi parcialmente “limpa” para o cultivo de plantas alimentares e criação de suínos.
7.2.3 – Roças
As 12 roças cultivadas pelos informantes são localizadas fora da área
de estudo. Cinco estão localizadas em chácaras nas localidades de Morro Grande, Aricazinho,
Peixinho, Vereda e estrada para Barão de Melgaço – a denominação chácara expressa um
local onde, além de haver plantações anuais e plantas perenes, há também moradia
estabelecida. Destas citadas, quatro são propriedades dos informantes e uma pertence a um
amigo do informante que cedeu um pedaço de terra para fazer a roça. Outras seis roças são
localizadas nas “praias” próximas à sede do município (Figura 21), sendo elas Praia Bar e
Porto Engenho, sofrendo inundações periódicas. Duas delas são de propriedade do
entrevistado e as outras são cedidas por amigos. Esta situação de empréstimo de terras é muito
comum e vantajosa para ambas as partes. Às vezes o proprietário não tem condições de
cultivar todo espaço que possui e assim divide suas terras entre amigos que se ajudam na
época de plantio e colheita. Há casos de amigos que plantam juntos há mais de 15 anos. A
outra roça cultivada por um dos informantes representa um caso excepcional no município.
Um grupo de moradores de um bairro entrou com um pedido na prefeitura de posse de uma
área (em terra firme), que estava sendo utilizada como lixão para fazer roças. O pedido foi
concedido e hoje nove pessoas do mesmo bairro dividiram a área em lotes e já estão plantando
nesta roça comunitária.
As roças são cultivadas em sua grande maioria por homens e em todas
elas só foram encontradas plantas alimentares. As mais comuns são mandioca, abóbora, batata
doce, milho, melancia, melão, banana, maxixe e alguns tipos de feijões. No geral,
principalmente em relação à mandioca, o plantio é feito após a época das águas, em fevereiro
ou março, quando o rio Cuiabá baixa e deixa as terras fertilizadas. Alguns informantes
combinam diferentes espécies, por exemplo, feijão de corda com milho, melancia, abóbora e
milho; mandioca e feijão de corda, etc. A produção é principalmente para o consumo familiar,
venda no comércio local e no caso do milho também para a pesca. No caso das roças em praia,
alguns agricultores disseram comprar fertilizantes sintéticos para melhorar a terra quando têm
52
dinheiro, mas isso não acontece sempre; e quando “dá praga” utilizam algumas receitas
caseiras e “remédios da Casa do Agricultor” (comprado), ou seja, agrotóxicos.
A maioria dos agricultores encontra-se desmotivada a continuar o
cultivo em roças e não vê um futuro promissor pela frente. Todos contam apenas com a sua
própria mão de obra e em um caso o informante tem apenas a ajuda da esposa. A idade dos
mesmos em média é 57,6 anos, e o trabalho não rende mais como antes segundo eles, embora
exista a ajuda mútua entre amigos. Outro empecilho é o aumento dos roubos dos produtos da
roça, como mandiocas, batata doce, abóboras e melancias. Há casos de roubos de batata doce
em que enterram novamente as folhas, e o roubo é descoberto alguns dias depois. Muito tempo
e trabalho são perdidos com os roubos e este problema, aliado à falta de ajuda familiar, tem
desestimulado não só os agricultores entrevistados, mas muitos outros da região.
53
Figura 20: Plantio em terrenos.
Figura 21: Roças na “praia”
54
7.3 - Plantas alimentares: dados botânicos e etnobotânicos.
7.3.1 - Dados Gerais
A maioria dos entrevistados na primeira etapa do trabalho (98%), no
qual 135 domicílios foram visitados, tem pelo menos uma planta alimentar em sua residência
(Figura 22). Nesta amostra houve 1084 citações de plantas alimentares relacionadas aos
quintais (mediana: 6,0; amplitude de variação: 0 a 49).
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0 1 a 10 11 a 20 mais que 20
número de pl antas ci tadas
mero de domicílios visitados
Figura 22: Número de plantas citadas por domicílio da primeira amostra.
Foram encontradas pelo menos 76 espécies científicas diferentes,
pertencentes a 35 famílias botânicas (Apêndice 1). As famílias que se destacaram por ter
maior número de representantes nos quintais visitados foram: Anacardiaceae, Arecaceae,
Malpighiaceae, Myrtaceae e Rutaceae. As plantas alimentares encontradas em maior número
de domicílios foram manga (Mangifera indica L.) e acerola (Malpighia spp), citadas por mais
da metade da amostra, além do caju (Anacardium occidentale L.) e limão (Citrus spp) citados
por mais de 40% dos entrevistados – este último correspondendo a mais de uma espécie; e
banana (Musa spp), coco (Cocos nucifera L.), mamão (Carica papaya L.) e goiaba (Psidium
guajava L.), encontrados em mais de 30% dos domicílios amostrados. Todas são plantas
55
arbóreas e arbustivas perenes
5
e frutíferas, as quais necessitam de pouco ou nenhum manejo
depois de estabelecidas (Apêndice 1). Dados semelhantes foram obtidos por Coomes e Ban
(2004) em quintais de Nuevo Triunfo, Peru, onde as espécies arbóreas e arbustivas de
frutíferas são predominantes nos quintais, e ainda mais, a sua contribuição dentro do quintal
aumenta de acordo com a idade do mesmo. Esta característica pode estar relacionada à
estrutura e fase do ciclo familiar nas quais muitas vezes pais com idades avançadas e filhos
ocupados com o trabalho não agrícola, ou mesmo sem interesse de cultivar plantas,
abandonam o manejo do quintal, permanecendo apenas espécies que não necessitam de
maiores cuidados.
As plantas anuais e bianuais
6
foram menos citadas (Apêndice 1), sendo
as mais presentes nos domicílios: mandioca (Manihot esculenta Crantz) e cebolinha (Allium
sp), citadas por mais de 25% da amostra, pimentas (Capsicum spp) e coentro (Coriandrum
sativum L.) citados por mais de 10% da amostra.
Em relação à segunda amostra, que corresponde a 30 unidades
familiares, foram registradas 845 citações de plantas alimentares nos três espaços de cultivo
(quintal, terreno e roça), sendo que a maior parte dessas plantas foi encontrada nos quintais
(Tabela 10); observa-se que o valor da mediana é maior que o encontrado na primeira amostra
e isso se deve à influência do critério de escolha desta segunda amostra. A maior parte das
unidades familiares possui de 11 a 40 plantas (Figura 23).
Tabela 10: Citações de plantas nas três áreas de cultivo da segunda amostra.
Número de
citações
Mediana Amplitude de
variação
Quintal
(n=29)
736 23 10—52
Roça
(n=6)
43 8 5—13
Terreno
(n=7)
66 5 2—24
Total/geral
845 26 13—52
5
O termo perene corresponde a plantas de ciclo longo, ou seja, plantas que não necessitam ser replantadas
periodicamente para se obter produção, de acordo com o manejo local, embora esta não seja necessariamente a
classificação agronômica
6
Foram consideradas plantas anuais e bianuais aquelas que possuem ciclo curto, e que necessitam ser replantadas
ao fim de cada fase produtiva, de acordo com o manejo local, embora esta não seja necessariamente a
classificação agronômica.
56
0
2
4
6
8
10
12
11 a 20 21 a 30 31 a 40 41 a 50 51 a 60
número de plantas citadas
mero de unidades familiares
Figura 23: Número de plantas citadas por domicílio da segunda amostra.
Nesta segunda amostra, do montante de plantas registradas, pelo
menos 93 espécies científicas diferentes foram encontradas sendo elas pertencentes a 38
famílias botânicas. As famílias que se destacaram por ter representantes em maior número de
domicílios foram: Anacardiaceae, Arecaceae, Annonaceae, Cucurbitaceae, Euphorbiaceae,
Musaceae, Rutaceae e Solanaceae (Tabela 11). As plantas alimentares mais encontradas foram
aquelas que compõem a alimentação diária da população local como a mandioca (30) e banana
(27), e também as fruteiras: manga (25), acerola, ata, limão (24) e coco (23) (Figura 24).
57
Figura 24: Algumas das plantas mais cultivadas na área de estudo: mandioca, pimenta, ata, banana,
manga e coco.
58
TABELA 11: Plantas alimentares encontradas em unidades produtivas de 30 famílias da periferia de Santo Antonio de Leverger, MT
Legenda: Local de cultivo - Q= quintal; T= terreno; R= roça
Hábito - A= arbórea; AB= arbustiva; H= herbácea; HE herbácea escandente; L= liana
Ciclo da Planta - A= anual; P= perene
N.I = não identificado.
Família/ Nome Científico Nome local Local de
cultivo
Hábito Ciclo da planta
(Perene/Anual)
Nº de domicílios
em que foram
encontradas as
plantas
Nº de
ocorrências
ANACARDIACEAE
Anacardium occidentale L Caju
Q
A P 21 24
Spondias sp 1 Cajá-manga
Q
A P 3 3
Spondias purpurea L. Ciriguela, jacote, cajá
Q/R
A P 5 5
Mangifera indica L. Manga, adem, ades ou coco de
garrote, bola, borbom, borbona,
comprada, comum, coquinho,
coração de boi, espada, enxertada,
grande, janeira, janeirinha, ouro,
ovo, pequi, porvilho, rosa,
manguinha, manguinha peito de
moça.
Q/T
A P 25 68
ANNONACEAE
Annona squamosa L. Ata, Conde, fruta do conde
Q/T
AR P 24 28
Annona muricata L. Graviola
Q
A P 2 2
APIACEAE
Daucus carota L Cenoura
Q
H A 1 1
Coriandrum sativum L. Coentro
Q
H A 13 13
Eryngium foetidum L. Coentro castelo, coentro da índia
Q
H A 4 4
N.I Coentro japonês
Q
H A 1 1
Petroselenium crispum
(Mill.) A.W.Hill
Salsinha, salsa
Q
H A 5 5
APOCYNACEAE
Hancornia s
p
eciosa var. Mangava
Q
A P 1 1
59
pubescens (Nees & Mart.)
Müll. Arg.
ARACEAE
Xanthosoma sp1 Taioba
Q
H A 1 1
Xanthosoma sp2 Inhame
Q
H A 1 1
Colocasia sp Inhame rosa
Q
H A 1 1
ARECACEAE
Orbignya phalerata Mart. Babaçu
Q
A P 4 4
Acrocomia aculeata(Jacq.)
Lodd. Ex Mart.
Bocaiúva
Q/T
A P 5 5
Cocos nucifera L. Coco, coco da Bahia, coco anão,
coco amarelo
Q/T
A P 23 27
Syagrus oleracea (mart.)
Becc.
Palmito amargo
Q
A P 1 1
ASTERACEAE
Q
Lactuca sativa L. Alface, alface lisa
Q
H A 4 4
Chicorium sp Almeirão
Q
H A 1 1
BRASSICACEAE
Brassica oleracea L. Couve, couve branca
Q/T
H A 8 9
Brassica sp1 Couve mostarda
Q
H A 1 1
Eruca sativa Mill. Rúcula
Q
H A 4 4
BIXACEAE
Bixa orellana L. Colorau, urucum
Q
A P 3 3
BROMELIACEAE
Ananas comosus (L.)
Merril.
Abacaxi, abacaxi pérola
Q/T
H A 12 13
CACTACEAE
Pereskia grandifolia L. Oropronobis
Q
A P 1 1
CARICACEAE
Carica papaya L.
Mamão, mamão caseiro, mamão
castelo, mamão goiaba, mamão
macho, mamão papaya, mamão
simples.
Q/T
A P 22 28
CARYOCARACEAE
60
Caryocar brasiliense
Cambess.
Pequi
Q
A P 4 4
CONVOLVULACEAE
Ipomoea sp Batata doce, batata doce amarela,
batata doce branca, batata doce de
arroba, batata doce maxuxo amarela,
batata doce maxuxo branca, batata
doce roxa.
Q/T/R
HE A 11 16
CUCURBITACEAE
Cucurbita spp Abóbora
Q/T/R
HE A 16 20
Cucurbita sp 2 Abóbora cabotiá
T
HE A 1 1
Sechium edule (Jacq.)Sw. Chuchu
Q
HE P 1 1
Cucumis anguria L. Maxixe
Q/T/R
HE A 5 5
Citrullus lanatus (Thunb.)
Matsum. & Nakai
Melancia
Q/T/R
HE A 3 3
Cucumis melo L. Melão
R/Q
HE A 3 3
Cucumis sativus L. Pepino
R
HE A 1 1
EBENACEAE
Diospyros kaki L. f. Caqui
Q
A P 3 3
EUPHORBIACEAE
Manihot esculenta Crantz. Mandioca, aipim, alecrim, amarela,
arizona, abóbora, mandioca de
folhagem, comigo ninguém pode,
branca, cacau, mandioca goiaba,
impim, impim branca,juruti,
liberata, liberatona, liberata folha
fina, liberata folha larga, matrinchã,
mandioca pau, roxa, seringueira, do
Paraná, da rama preta, três meses,
seis meses, para churrasco ou
paraguaia, mandioca uva, vermelha.
Q/T/R
H A 30 71
DIOSCOREACEAE
Dioscorea bulbifera L. Cará
Q
HE A 1 1
61
Dioscorea alata L. Cará, cará roxo
Q/T
HE A 5 5
FABACEAE
Arachis hypogaea L. Amendoim vermelho, amendoim
cavalo.
Q
H A 2 3
Vigna unguiculata (L.)
Walp.
Feijão de bagem ou de metro, feijão
de vagem, feijão catador, feijão
chicote.
Q/T/R
HE A 6 7
Phaseolus vulgaris L. Feijão carioca, carioquinha
R
HE A 1 1
NI Feijão ervilha
Q
HE A 1 1
NI Feijão miúdo
Q
HE A 1 1
NI Feijão vagem de salada
Q
HE A 1 1
Inga sp Ingá
Q
A P 2 2
Inga edulis Mart. Ingá de metro
Q
A P 2 2
Tamarindus indica L. Tamarindo, tamarino
Q
A P 6 6
LAMIACEAE
Ocimum gratissimum L. Alfavaca
Q
AB P 2 2
Ocimum selloi Benth. Alfavaquinha
Q
AB P 1 1
Ocimum sp 1 Alfavacona
Q
AB P 1 1
Mentha sp Hortelã
Q
H A 2 2
Plectranthus amboinicus
(Lour.) Spreng.
Hortelazão ou hortelã grosso
Q
H A 2 2
N.I Manjericão
Q
AB P 2 2
N.I Manjerona
Q
AB P 2 1
Vitex cymosa Bertero x
Spreng
Tarumã
Q
A P 1 1
LAURACEAE
Cinnamomum zeylanicum
Breyn.
Canela
Q
A P 1 1
Persea americana Mill. Abacate
Q
A P 14 14
LILIACEAE
Allium sativum L. Alho
Q
H A 3 3
Allium sp 1 Alho caseiro, de folha
Q
H A 2 2
Allium sp2 Alho japonês
Q
H A 1 1
Allium sp3 Cebolinha
Q/T/R
H A 21 21
62
LYTHRACEAE
Punica granatum L. Romã
Q/T
AB P 9 9
MALPIGHIACEAE
Malpighia sp
Acerola
Q/T
AB P 24 25
Bunchosia sp
Cereja
Q
AB P 1 1
MALVACEAE
Abelmoscus esculentus
Quiabo
Q/T/R
H A 12 12
MORACEAE
Morus nigra L. Amora
Q
A P 2 2
Ficus carica
Figo
Q/T
AB P 5 5
Artocarpus heterophyllus
Lam.
Jaca
Q
A P 7 7
MUSACEAE
Musa spp Banana, bananinha, banana da terra,
banana d’ água, banana três quinas,
banana de fritar, banana maçã,
banana mansão, banana mariquita,
banana missu, banana nanica,
banana nanicão, banana ouro,
banana prata, banana roxa, banana
sartaveaco
Q/T/R
H P 27 73
MYRTACEAE
N.I Gariroba
Q
A P 1 1
Psidium guajava L. Goiaba, goiaba pêra
Q/T
A P 15 15
Psidium sp Goiabinha do mato
Q
A P 1 1
Myrciaria spp Jabuticaba ou jabuticava
Q/T
A P 6 6
Syzygium jambos (L.)
Alston
Jambo ou jambo amarelo
Q
A P 4 4
Syzygium malaccense (L.)
Merr. & L.M. Perry
Jambo roxo
Q
A P 1 1
Syzygium cumini (L.)
Skeels
João bulão
Q
A P 1 1
Eugenia uniflora L. Pitanga
Q/T
AB P 5 6
63
OXALIDACEAE
Averrhoa carambola L. Carambola
Q
AB P 8 8
PASSIFLORACEAE
Passiflora edulis Sims. Maracujá, maracujá azedo, maracujá
pequeno, maracujina
Q
HE P 18 18
Passiflora quadrangularis
L.
Maracujá grande ou maracujá
castelo.
Q
HE P 2 2
POACEAE
Saccharum officinarum L. Cana, cana caiana, cana caiana
listrada, cana cristalina, cana
cristalina listrada, cana paranaense,
cana paulista, cana taquara ou
muquinha, cana para ração.
Q/R
H A 15 21
Zea mays L. Milho, milho 1051, catetinho,
comprado
Q/R
H A 5 5
ROSACEAE
Malus x domestica Borkh. Maçã
T
AB P 3 3
Fragaria x ananassa
(Weston) Duchesne
Morango
Q
H P 3 3
Pyrus communis L. Pêra.
T
AB P 1 1
RUBIACEAE
Coffea arabica L.
Café
Q
AB P 2 2
Genipa americana L. Jenipapo
Q
A P 1 1
Cordiera sp Marmelada preta
Q
AB P 1 1
RUTACEAE
Citrus spp Laranja, laranja azeda, laranja
comum, laranja de enxerto, laranja
pêra, laranja pêra São Paulo, laranja
baiana, laranja misteriosa, da terra,
de fazer doce
Q/T
A P 21 32
Citrus spp Laranja lima, lima, lima da peça,
lima da pérsia, lima lisa, lima de
imbigo
Q/T
A P 12 13
64
Citrus spp Limão, limão caipira, limão cidra,
limão galego, galeguinho, limão
rosa, limão vermelho, limão Taiti,
limãozinho.
Q/T
A P 24 33
Citrus spp Ponkan,,mexerica, tangerina,
morgote
Q/T
A P 9 13
SAPINDACEAE
Talisia esculenta (A. St.-
Hil) Radlk.
Pitomba
Q
A P 5 5
SOLANACEAE
Solanum gilo Raddi Jiló
Q/T
H A 3 3
Solanum paniculatum L. Jurubeba
Q
AB P 2 2
Lycopersicum esculentum
L.
Tomate
Q
H A 11 11
Capsicum annuum L. Pimentão
Q/T
H A 8 8
Capsicum frutescens L. Pimenta malagueta, pimenta dedo de
moça
Q/R
H A 8 8
Capsicum chinense Jacq. Pimenta de cheiro, pimenta de
cheiro ardida
Q/T
H A 4 4
Capsicum spp Pimenta, pimenta bodinha
Q
H A 2 2
VITACEAE
Vitis sp Uva
Q
L P 3 3
INDETERMINADAS
1
Coroa de frade
Q
A P 1 1
2
Fruta da Amazônia
Q
- - 1 1
65
Algumas plantas apresentaram etnovariedades
7
(Tabela 11), entre elas
a mandioca (21), banana (12) manga (10), cana (8) e laranja (7). A mandioca teve além das 21
etnovariedades nomeadas pelos informantes, outras 49 plantas que não foram nomeadas (entre
elas os “aipins ou impins”), mas que os informantes tentaram nomeá-las na ocasião da
entrevista, em quase todos os casos, a partir de características morfológicas da planta. Os
informantes também tiveram dificuldades de falar sobre as características das mandiocas
cultivadas, sendo que esta análise estava sendo feita por eles no momento da entrevista. Talvez
isto se deva ao fato de estar plantando há pouco tempo e não tiveram interesse ou
oportunidade de obter o nome da planta, o que revela a dinâmica de obtenção de variedades;
também pode ser uma característica da área de estudo, que tem entrada e saída constante de
pessoas trazendo novidades e de pessoas experimentando novas variedades. Amorozo (1996)
explica que é comum variedades recém-introduzidas virem sem nomes ou com algum nome já
conhecido, mas que corresponde a outra variedade, e acredita que o nome da variedade é
construído à medida que ela começa a ter visibilidade social, ou seja, quando começa a ser
disseminada. Agricultores da área de estudo que cultivam roças há muitos anos tiveram
certeza sobre os nomes das mandiocas que possuem e suas características. As etnovariedades
mais citadas foram “juruti” (10) e “liberata” (11), variedades também comumente encontradas
em bairros rurais do município, estudados por Amorozo (1996). As etnovariedades de manga
mais citadas foram “borbom” (18) e “rosa” (6); de banana foram “da terra” (15) e “nanica”
(9); de laranja foram “comum” (7) e “misteriosa” (6); e de cana foi a caiana (7).
Nesta amostra, 532 citações foram de plantas perenes (correspondendo
a 57 espécies científicas) e 297 foram de plantas anuais (correspondendo a 36 espécies
científicas). Em relação às áreas de cultivo, observou-se que nos quintais há predominância de
espécies perenes (ou de ciclo longo). Nos terrenos, embora o número de espécies perenes seja
maior, apenas dois informantes foram responsáveis por este número ser mais elevado que o
número de espécies anuais, sendo que um é dono do terreno e outro é pai do dono (Tabela 12).
Normalmente, as pessoas optam por cultivar mais plantas de ciclo curto nestes locais, o que
7
Neste estudo, etnovariedades são todas as plantas que foram reconhecidas como variedades pelos informantes,
não sendo necessariamente igual à classificação agronômica.
66
está relacionado a um conjunto de fatores: a posse do terreno, ou seja, muitos plantam em
locais alheios e preferem não investir no cultivo de plantas que só vão produzir em longo
prazo, e como não há certeza do futuro, preferem não plantar árvores frutíferas, por exemplo; a
ausência de plantas de grande porte que provocariam sombra, havendo nestes terrenos espaço
e luminosidade, e a presença de solos ainda pouco trabalhados e, portanto férteis, ideais para o
cultivo de plantas de ciclo curto. Já nas roças predominam as plantas anuais/bianuais (ou de
ciclo curto) (Tabela 12). Como todas as roças estudadas estão localizadas na margem do rio
Cuiabá, acredita-se que a preferência por cultivar plantas de ciclo curto deva-se às inundações
periódicas do rio, inclusive as escolhas de variedades de produção mais rápida, como por
exemplo, a variedade da mandioca “juruti”, cultivada por todos os entrevistados que possuem
roças na beira do rio e por muitos outros agricultores, por produzir raízes grandes em apenas
seis meses.
Tabela 12: Número de espécies e tipos de plantas encontradas nas diferentes áreas de cultivo.
Área de cultivo Quintal Terreno Roça
Tipo de planta Perene Anual Perene Anual Perene Anual
Número de espécies
botânicas
55 34 18 15 2 14
Número de citações
502 234 29 37 8 35
Em relação ao hábito das plantas, foi observado que nos quintais e
terrenos há predominância de espécies arbóreas e herbáceas; já nas roças, as herbáceas são em
maior número, principalmente as escandentes
8
(Figura 25). O quintal foi a área que apresentou
todos os tipos de hábitos das plantas, mostrando ser mais estruturado em relação aos estratos
de vegetação, o que indica um grande aproveitamento de recurso e espaço. De acordo com
Niñez (1985), esta é uma característica de quintais de populações localizadas em regiões
tropicais, onde a estrutura vegetacional é parecida com a da floresta. A estratificação nesta
área de cultivo pode ser formada, por exemplo, por mangueiras e abacateiros no estrato mais
8
Herbácea escandente é o termo utilizado para plantas trepadeiras, como abóbora, chuchu, maxixe, melancia,
melão, etc, que não apresentam crescimento secundário do caule.
67
alto, e nos estratos inferiores plantas que suportam ambiente parcialmente sombreado, como a
banana e ainda as herbáceas escandentes, como o maracujá.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
quintal terreno roça
número de espécies
arbóreas arbustivas herbáceas herb. escandente liana
Figura 25: Classificação das plantas quanto ao hábito e locais onde são encontradas
Ao analisar conjuntamente os dados, observou-se que os moradores
cultivam plantas alimentares em suas unidades domiciliares, principalmente aquelas que são
utilizadas na alimentação com mais freqüência, como a banana e a mandioca, além de
frutíferas tradicionalmente cultivadas, como a manga que também tem uma função adicional
que é a sombra, já que é de grande utilidade em uma região com elevadas temperaturas como
as de Santo Antonio de Leverger. As plantas mais freqüentes foram aquelas consideradas
perenes, o que pode ter relação com o ciclo familiar avançado em que a maioria das famílias
se encontra, com atividades não agrícolas exercidas pelas gerações mais novas e com o
desinteresse dos mesmos em plantar, fatores estes que podem levar à diminuição gradativa ou
abandono do cultivo de plantas de ciclo curto que exigem mais tempo e cuidado por parte das
pessoas.
Porém, aqueles que mantêm o costume de cultivar plantas alimentares
diversificam suas estratégias para se adequar ao espaço onde vivem, buscando alternativas
para superar alguns limites impostos pela área urbana. Entre as estratégias verificou-se o
plantio em terrenos disponíveis, onde se cultivam principalmente plantas alimentares de ciclo
curto, alternativa esta encontrada por aqueles que têm quintais pequenos; ou ainda o cultivo
68
nas roças, tanto na praia como no campo fora, sendo que muitas vezes são áreas cedidas por
outras pessoas e cultivadas em parceria com os donos. No geral, o cultivo mais intenso em
quintais, roças e terrenos foi encontrado, na maioria dos casos, em unidades familiares em que
os informantes têm origem rural, com idade mais avançada, mas ainda trabalhando
ativamente. Desta forma, a origem da família demonstrou ser um dos fatores mais importantes,
que pode determinar os tipos de estratégias de sobrevivência adotadas por elas, que pode
envolver o cultivo de plantas ou não.
7.4 - Circulação de materiais de plantio
Geralmente o conjunto de plantas cultivadas nas unidades produtivas
como quintais, roças e terrenos não é estático, havendo constantes entradas de plantas novas,
perdas e transferências de plantas de uma área de cultivo para outra, quando é o caso de
famílias que possuem mais de uma área. A maioria das plantas cultivadas é adquirida pelo
agricultor pela primeira vez de uma fonte externa, como por exemplo, doações de outras
pessoas, compra em comércio, coleta em mata, etc. Dos dados que puderam ser coletados,
registrou-se na área de estudo 696 plantas cultivadas que tiveram esta origem externa (Figura
26) .
origem externa (n=696)
0
10
20
30
40
50
60
total quintal terreno roça
(%)
rede social
comércio
outros
Figura 26: Fontes externas de obtenção dos materiais de plantio por área cultivada.
69
Dependendo das características da planta, do agricultor e das suas
necessidades, depois de adquirida pela primeira vez uma planta, o agricultor pode retirar dela
os materiais de plantio para o próximo cultivo, e assim consecutivas vezes. Desta forma,
foram encontradas 246 plantas que foram propagadas através de sementes, mudas e estacas
oriundas de plantas já cultivadas pela própria da família (pode-se considerar origem interna)
(Figuras 27).
origem interna (n= 246)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
total quintal terreno roça
(
%
)
propagação na unidade
moradia anterior
transferências de outras
áreas de cultivo
Figura 27: Fontes internas de obtenção dos materiais de plantio por área cultivada.
No caso destas plantas que tiveram origem dentro da própria unidade
familiar (Figura 27), foram consideradas aquelas que estão sendo multiplicadas
intencionalmente (sendo a maioria) (Figura 28) ou podem ter nascido espontaneamente, pois
há casos em que sementes caem no chão, germinam e são mantidas pelas pessoas, o que ocorre
geralmente com fruteiras. Entre as cultivadas intencionalmente, algumas se destacaram por
terem sido propagadas com freqüência a partir de materiais de origem interna, como o cará, o
coentro castelo e o amendoim, sendo que a maioria são plantas de ciclo curto (Tabela 13).
Todas elas têm características que incentivam e possibilitam a sua propagação pelo agricultor:
são plantas resistentes (com exceção da cebolinha), de fácil propagação e consumidas
70
freqüentemente (com exceção do amendoim que não é tão consumido na região). Foram
também incluídas nesta classificação plantas que eram cultivadas pelas famílias em moradias
anteriores e foram trazidas por elas quando se mudaram para a atual (n=53), sendo que a
grande maioria das ocorrências neste caso é de fruteiras, sendo as mais comuns: manga (n=6),
caju (n=5), acerola e ata (n=4), que são propagadas através de sementes. Trazer plantas de
lugares onde já se viveu pode ser uma forma de tentar manter, em parte, os costumes,
lembranças e o tipo de alimentação que se possui.
As plantas que foram transferidas de uma área de cultivo para outra
(n=20), como ocorre principalmente com a mandioca (n=7), abóbora e banana (n=2) também
foram consideradas de origem interna. Estas transferências de plantas podem se dar por dois
motivos: quando se trata de plantas de ciclo curto geralmente é contínua e ocorre entre a roça e
quintal (e vice versa), sendo da roça para o quintal quando o rio enche e do quintal para a roça
na vazante do mesmo. Pode-se considerar que esta transferência é uma estratégia encontrada
pelos agricultores de roças em praia para não perder as plantas que querem continuar
cultivando. Houve um caso (o único em que o informante possui três áreas de cultivo), em que
os terrenos também receberam plantas da roça. Já no caso de plantas perenes, representadas
pelas fruteiras, observou-se que esta transferência é definitiva, e quando ocorre, são plantas de
quintal que vão para o terreno, sendo que este tipo de transferência é menos freqüente entre os
moradores. Anderson et al (1985) observou em seu trabalho com sistema agroflorestal em uma
comunidade de Bacarena - PA, dinâmica semelhante de transferências de plantas, pois
verificou que várias espécies do quintal foram transplantadas de outras zonas locais de
manejo, como a roça. Desta forma, o autor conclui que o manejo e aproveitamento do quintal
só podem ser compreendidos num contexto mais amplo que abrange as zonas ao redor.
71
Tabela 13: Plantas com maiores porcentagens de cultivo a partir do material de plantio do próprio
agricultor.
Planta Porcentagem das ocorrências com
origem interna à unidade
Número de ocorrências
Amendoim 100% 3
Cará 100% 6
Coentro castelo 100% 4
Batata doce 76,5% 16
Mandioca 74% 71
Banana 62,5% 73
Ata 58% 24
45% 21
Cebolinha 45% 21
Cana
Em relação à origem externa das plantas, no que se inclui a origem
primária de todas elas, verificou-se que a aquisição de materiais de plantio se dá
principalmente através da rede social da qual a família faz parte, que inclui conhecidos e
amigos (n=168), o próprio grupo familiar (n=131), e a vizinhança (n=54) (Figura 26),
totalizando 353 ocorrências de aquisições através da rede social. A relação estabelecida no
momento da aquisição de uma planta, no caso deste trabalho, pareceu ser mais de doação do
material de plantio, sem se esperar retribuição imediata (Figura 28).
A segunda fonte de obtenção mais citada, que foi o comércio,
diferencia-se em dois tipos de compra: aquela feita especificamente de materiais para o plantio
(n= 116), como no caso das sementes de hortaliças, ou então a que é feita para fins alimentares
(n=92), e são utilizadas também para o plantio. Neste último caso, o uso de uma parte do
alimento como material de propagação pode se dar de diferentes formas: podem ser
aproveitadas as sementes de frutos como laranja, maracujá, abóboras, entre outros; pode
ocorrer o consumo de certas partes da planta e o plantio de outras partes, como acontece com a
cebolinha, abacaxi e cará; ou ainda pequena parte da compra é usada para plantar e o restante
para o consumo, como no caso da batata doce, chuchu, entre outras. Muitas sementes de frutas
como laranja, limão, acerola e ata germinam ao serem jogadas nos quintais após o consumo
das frutas e são normalmente mantidas pelas pessoas. Assim, muitas árvores são de origens
desconhecidas pelo informante, que diz “nasceu aí sozinha, de jogá a semente”. Em relação ao
mamão e à ata, alguns informantes dizem que elas não podem ser plantadas, devendo-se
72
apenas jogar as sementes na terra, pois o mamão “vira macho” se for plantado, e a ata não
nasce.
Dentro da categoria “outros” (n=135) estão as aquisições de plantas ou
materiais de cultivo em locais onde os informantes trabalham (geralmente fazendo “bicos” em
chácaras) (n=48), plantas cultivadas que já estavam presentes na propriedade quando se
mudaram para ela e foram mantidas pelos informantes (n=40). O hábito de coletar plantas por
onde se passa, como por exemplo, de áreas com vegetação nativa, lixões, terrenos (n= 26),
também foi registrado nesta pesquisa, o que reflete o interesse pessoal dos informantes em
experimentar e diversificar os tipos de plantas, principalmente dos seus quintais; também
houve aquisições pela EMPAER-MT (Empresa Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência e
Extensão Rural S/A) e feiras agropecuárias (n=11). O acervo de plantas de algumas unidades
familiares também foi composto de algumas plantas nativas que foram mantidas durante a
retirada da vegetação original (n=10).
Figura 28: Exemplo de materiais de plantio utilizados pelos
agricultores: sementes de feijão de corda guardadas para
consumo e plantio (fonte interna) e ramas de mandioca obtidas
por agricultor em roça de um conhecido.
73
Observou-se que as fontes de obtenção, principalmente as externas,
variaram de acordo com as áreas de cultivo (Figuras 26 e 27). Em relação à fonte interna, no
geral, a unidade produtiva da família é a própria fornecedora dos materiais de plantio. No caso
do terreno, o quintal e as roças das unidades familiares são os locais que fornecem as plantas
que são cultivadas, talvez por serem cultivados há pouco tempo e terem características como
luminosidade, que permitem cultivar plantas tanto plantas de roça como de quintais.
Observou-se também, que as plantas trazidas pelos informantes de suas antigas moradias são
cultivadas principalmente nos quintais. Em relação às fontes externas, no geral a rede social é
importante para o fornecimento de plantas cultivadas nas três áreas, mas na roça, o mercado
exerce maior influência, pois plantas como milho, maxixe, melancia, melão, quiabo, feijões, e
em alguns casos a abóbora, são plantadas através de sementes compradas pelos agricultores.
Segundo eles, a preferência por comprar estas sementes é devido ao tratamento químico contra
pragas que elas recebem, e por isso é mais garantida a colheita. No caso do milho, foi
observado que as sementes locais estão em falta e foram substituídas pelas híbridas. No caso
dos quintais, as compras se concentram nas sementes de coentro, tomate e outras hortaliças
que também são consumidas, como a cebolinha, nas frutas, das quais retiram-se as sementes
para o plantio e em menor proporção, na compra de mudas de fruteiras em viveiros
comerciais. No caso dos terrenos, os números da classe “comércio” se devem a dois
informantes, um que é proprietário do terreno e outro que é pai do dono, e por isso costumam
cultivar hortaliças (e compram sementes) e plantam fruteiras a partir das frutas compradas no
mercado, o que não é usual para a este tipo de área de cultivo.
Em se tratando da circulação em rede social, espera-se que doações por
parte dos informantes também sejam feitas. Assim, foram registradas 276 ocorrências de
doações, constatando-se que a maioria das unidades familiares mais recebeu plantas do que
doou. No entanto, durante a coleta de dados foi observado que os informantes lembraram mais
facilmente da origem das plantas que cultivam do que das doações que já fizeram, por isso
acredita-se que estes números devam ser maiores. Também só foram registradas as doações
que foram feitas com a intenção de servir de material de plantio, sendo descartadas as doações
de frutos e tubérculos para consumo, que podem ter sido usados também como material de
plantio.
74
As plantas que mais circulam pela rede social, ou seja, aquelas com
maiores números de ocorrências de recebimento e doações, são a mandioca, acerola, banana,
cana, feijões, entre outras (Tabela 14). Em alguns casos o número de doações (saídas)
ultrapassa o número de citações, o que demonstra que há plantas que são doadas mais de uma
vez, em todos os casos para receptores diferentes. Com exceção da acerola e da banana, todas
são consideradas, neste trabalho, plantas de ciclo curto, fato este que pode estar relacionado
com a maior procura e doações freqüentes por parte dos entrevistados e também de outras
pessoas relacionadas a eles. Estas também são plantas comumente consumidas na alimentação.
A acerola é uma espécie que se destaca entre as outras por ser perene e não tradicionalmente
cultivada no local, como a manga e caju, por exemplo, mas que ganhou seu espaço nos
quintais de Santo Antonio de Leverger, assim como na maioria dos municípios brasileiros.
Neste trabalho, podemos constatar a alta incidência desta fruteira através do número de
citações e da circulação (Tabela 14); de acordo com o depoimento de uma moradora, a acerola
foi introduzida no município através da Fazenda Experimental da Universidade Federal do
Mato Grosso há alguns anos, e algumas pessoas tiveram acesso a mudas que desde então se
espalharam pela região. Outros fatores como a alta produtividade, facilidade de propagação e
as “propagandas” que a mídia faz sobre as propriedades nutricionais da fruta também podem
ter contribuído para a dispersão da mesma.
Tabela 14: Números de entradas e saídas das plantas que mais circulam.
Plantas Numero de citações Ocorrência de entradas Ocorrências de saídas
Acerola
25 13 13
Banana
73 55 15
Batata doce
16 6 8
Mandioca
71 46 49
Cana
21 18 7
Cará
6 4 6
Coentro castelo
4 3 7
Cebolinha
21 5 13
Feijões
11 6 14
Pimentas
14 9 4
Quiabo
12 6 13
75
Por outro lado, algumas plantas que são freqüentemente encontradas
nas unidades familiares, como manga, caju, ata, espécies do gênero Citrus, mamão, abóbora,
entre outras, apresentaram pouca circulação entre os moradores. Este fato pode estar
relacionado com o ciclo da planta, que no caso da maioria é perene. É comum de se encontrar
no local pessoas que mantêm em seus quintais antigas árvores que foram plantadas pelos
antigos proprietários. Isso ocorre principalmente com a mangueira, que é uma espécie muito
cultivada no local e há muito tempo, fato este visível em vários quintais, onde se observam
árvores com enormes copas, que são mantidas tanto pelas frutas que produzem, como também
pelo conforto térmico que oferecem pela sua sombra. A facilidade de se encontrar sementes da
manga, caju e ata em terrenos e beiras de estradas também pode estar relacionada com o baixo
índice de circulação entre os moradores, e no caso do mamão, abóbora, laranja, limões, limas e
tangerinas, observou-se que muitos são obtidos através do comércio, principalmente em forma
de alimento.
Em todas as unidades familiares há alguma ocorrência de circulação de
plantas. Os informantes das 30 unidades relataram ter recebido no mínimo três materiais de
plantio. Embora quatro deles tenham dito que não doaram materiais de plantio provenientes de
suas unidades produtivas, este dado pode não ser totalmente confiável, pois a resposta depende
da memória dos mesmos. A maior parte da amostra (40%) recebeu 15 plantas ou mais e fez 10
doações ou mais (40%) (Figura 29).
0
2
4
6
8
10
12
0 1 a 4 5 a 9 10 a 14 15 a 19 20 ou mais
número de plantas
número de unidades domiciliar
e
recebidas doadas
Figura 29: Número de plantas recebidas e doadas pelas unidades familiares
76
Verificou-se que a circulação das plantas ocorre com maior
intensidade entre algumas pessoas da área de estudo (e também fora dela), ou seja, algumas
pessoas tendem a doar e/ou receber mais plantas, o que vai depender de algumas
características das famílias ou dos informantes. Como pode ser observado nos Apêndices de 2
a 7 em que estão as tabelas sobre as obtenções e doações por unidades familiares, algumas
aparecem como mais ativas tanto nas doações com nas recepções. É o caso das unidades 3, 8,
11 e 25. Em comum, apresentaram número maior de plantas em suas unidades produtivas, se
comparado com a média geral (média geral = 28,1; média das quatro unidades = 39,2); três
delas têm mais de uma área de cultivo (roça), localizada na zona rural, fato que amplifica a
rede de relacionamentos e, portanto, a possibilidade de aquisição de plantas. Deve-se
considerar também que são pessoas que, pelas suas características, como origem rural e
afinidade pelo cultivo de plantas, são movidas a sempre estar buscando novidades. Já outras
unidades familiares caracterizam-se por ter doado muito mais plantas do que ter recebido,
como as unidades 3, 21, 25 e 26. Em comum, todas apresentaram números de citação
elevados, e com exceção da unidade 25, todas as outras têm roças na zona rural. Estas
características assemelham-se às daquelas em que mais circulam as plantas. Há outras que se
destacam mais por apenas serem receptoras de plantas, como é o caso das unidades quatro, 7,
17, 23, 24 e 29. Fatores diversos que vão desde problemas na coleta de dados, em que as
pessoas têm dificuldade em lembrar-se para quem doou algumas plantas podem ter
influenciado os resultados. Este é o caso das unidades 4 e 24 que são representadas por
mulheres com idade avançada e que certamente já doaram mais plantas do que o registrado,
pois houve plantas que elas respondiam ao perguntar sobre doação: “ah, esta já dei demais,
nem sei mais para quem, muita gente já levou...”, assim, acredita-se que alguns dados estejam
subestimados. Já no caso das unidades sete, 17, 23 e 29 o curto tempo de moradia dos
informantes (que tem relação com o tempo de cultivo das plantas nos quintais) pode ter
interferido, pois há plantas de ciclo longo, como as fruteiras, que ainda não produziram e que,
portanto, ainda não forneceram material de plantio como sementes e estacas. Outro ponto em
comum entre eles, com exceção do número sete, é que todos cultivam apenas em seus quintais.
Observou-se que no geral, foram mais pessoas do sexo masculino que
doaram plantas às unidades familiares estudadas e também receberam das mesmas, como
encontrado por Alvarez et al (2005) em um estudo que focou no cultivo de sorgo em Duupa, e
77
diferente de outros estudos que mostram que as mulheres são mais ativas nas trocas de
materiais de plantio (Chernela 1986, Emperaire 2002) (Figura 30). No caso do presente
trabalho, o predomínio dos homens na rede e trocas provavelmente tem relação com o fato do
trabalho ter focado as plantas alimentares, o que poderia ser diferente se tivesse abordado
plantas medicinais, por exemplo. Plantas alimentares com propriedades medicinais, como a
acerola e a romã foram, em todos os casos, doadas por mulheres às famílias estudadas, assim
como outras fruteiras como a carambola (n=6) e o figo (n=4). Já os informantes da área de
estudo doaram mais para mulheres de sua rede social, plantas como a cebolinha (n=10) e os
dois tipos de coentro (n=11). Já os homens da rede social dos informantes doaram a eles mais
plantas de roça como mandioca (n=30), banana (n= 39), cana (n=13) e batata (n=6). Da
mesma forma, os receptores masculinos das plantas que são cultivadas nas unidades familiares
amostradas tiveram preferências pelas mesmas plantas. Isso se deve ao fato de que na área de
estudo, a roça é um domínio masculino e algumas plantas que geralmente são cultivadas por
homens tiveram um número alto de ocorrências e mesmo quando cultivadas em quintais, estas
plantas são geralmente manejadas por eles. Fruteiras que são tradicionalmente cultivadas na
área de estudo como a ata, caju e manga, apresentaram números de obtenções e doações
relacionados ao sexo das pessoas envolvidas na circulação bem equilibrados.
0
10
20
30
40
50
60
70
doadores (n=339) receptores (n=300)
(% )
mas culino
feminino
Figura 30: Sexo das pessoas que doam e recebem plantas das unidades familiares estudadas
78
Fazendo uma análise espacial sobre a circulação das plantas cultivadas
na área de estudo, ou seja, de onde elas vieram e para onde foram doadas, verificou-se que a
maior parte das aquisições (84,5%, n=583) e das doações (85%, n=205) ocorrem dentro do
município (Figura 31). As obtenções feitas em outros municípios se concentraram
principalmente em Cuiabá, e foram através do contato com parentes e conhecidos, ou então,
no caso de algumas pessoas, foram plantas trazidas da antiga moradia que lá se localizava. Já
as aquisições feitas em municípios mais distantes como Rondonópolis e outros estados como
Rondônia, ocorreram quando os informantes foram viajar para casa de parentes para visitá-los.
As doações para estes locais ocorreram da mesma forma, quando os informantes foram viajar
e levaram materiais de propagação para presenteá-los, ou então parentes que vão a Santo
Antonio visitá-los levam sementes, mudas e estacas de plantas que lhes interessam.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
obtenção (n=689) doação (n=241)
(% )
Santo Antonio
outros munipios (MT)
outros estados
Figura 31: Locais de origem e destino das plantas.
Em relação às aquisições feitas no próprio município de Santo Antonio
de Leverger (Tabela 15),
constatou-se que a zona urbana foi o local onde os informantes
obtiveram a maioria dos materiais de plantio, devido principalmente à rede social na qual a
família está inserida (n=212) e ao mercado (n=166). As aquisições por rede social foram feitas
tanto na cidade como um todo (n=121), como também foi localizada no bairro em que o
informante mora (n=91). Já os materiais de plantio obtidos através do mercado ocorreram de
79
duas formas: compra de mudas e sementes especificamente para o plantio, e compra de
alimentos e que foram usados também para o plantio.
Analisando os dados sobre o local de moradia das pessoas que
adquirem materiais de plantio com os informantes, ou seja, dos receptores (Tabela 15),
verifica-se que grande parte também se encontra na zona urbana, especificamente no mesmo
bairro dos seus doadores (n=113); isso significa que as doações ocorreram mais entre vizinhos
que também, em muitos casos, têm uma relação de parentesco. Estes dados mostram que na
área de estudo, apesar da circulação de plantas ser espacialmente abrangente, ela se
concentrou nas proximidades da moradia do doador.
Muitas plantas também vieram da zona rural para serem cultivadas na
área de estudo (Tabela 15), sendo que a obtenção das mesmas foi favorecida pelo contato com
parentes e conhecidos localizados nesta área. As plantas que se destacaram por apresentar
material de plantio oriundo da zona rural em quantidades consideráveis foram: mandioca
(n=33), banana (n=29), cana (n=12) e manga (n=8). No geral, são as pessoas (que adquirem)
que trazem as mudas, sementes ou estacas das plantas que desejam cultivar, mas há alguns
casos em que elas receberam estes materiais de parentes e conhecidos sem terem pedido. As
unidades familiares que apresentaram maior número de plantas oriundas da zona rural (3, 4, 7,
9, 26 e 27, com 11 ou mais ocorrências de plantas oriundas da zona rural) têm em comum
algumas características: possuir mais de uma área de cultivo (n=4) e ter pessoas de origem
rural (n=5). Embora os dados indiquem que a maioria das plantas foi obtida através de
materiais de plantio da zona urbana, vale lembrar que a cidade tem características rurais muito
fortes, devido às atividades exercidas pela população como um todo (relacionada à
agropecuária), e que mantém alguns hábitos rurais como quintais amplos e com diversos tipos
de plantas, principalmente os mais antigos. Também se deve atentar ao fato de que não foi
verificada a origem das plantas das pessoas que doaram aos informantes, ou seja, não foi
percorrida a rede de trocas além das famílias selecionadas para este estudo. Certamente,
muitos destes doadores obtiveram suas plantas, que hoje circulam entre as pessoas da área
urbana, na zona rural.
Os informantes também costumam fazer doações para pessoas da zona
rural, as quais foram receptoras de 21% das plantas em que se têm registros de doações. As
mais doadas foram a mandioca (n=16), banana (n=6), feijão e acerola (n=3). Algumas
80
características das unidades familiares que mais doaram para a zona rural, como ter roças
nestas áreas e origem rural, favoreceram estas doações, pois implicam em um contato social
mais freqüente com o meio rural. Há um tipo de doação, que embora pouco freqüente na área
de estudo, é interessante de se relatar como tipo de estratégia desenvolvida pelos agricultores,
que são os “empréstimos” ou um tipo de “doação temporária”. Estas doações permitem o
cultivo de plantas, como a mandioca, na época das águas, assim como ocorrem em quintais
que recebem plantas de roça de praia nesta época do ano, para assegurar o material de plantio.
Neste caso, as ramas são doadas (parece ser mais transferência) para parentes e conhecidos
no“campo fora”, com a garantia que após a vazante, o agricultor terá novamente as ramas das
mandiocas produzidas no campo fora para mais um cultivo na praia. Esta transferência
propicia uma maior quantidade de material de plantio se comparado ao cultivo temporário no
quintal.
Tabela 15: Zonas geográficas de origem e destino das plantas cultivadas
Santo Antonio de Leverger
Zona Urbana Zona Rural
Origem (n=583)
422 161
Destino (n=205)
162 43
Observou-se que a circulação de materiais de plantio é abrangente e
diversificada, mas concentra-se nas trocas (não necessariamente simultâneas) entre moradores
do município de Santo Antonio de Leverger. A aquisição de plantas diversas na área de estudo
depende primeiramente dos contatos sociais que as pessoas têm, seja com parentes ou amigos
e de oportunidades de deslocamentos ou viagens (de longas ou curtas distâncias) e
disponibilidade de materiais de plantio. Alguns informantes com características distintas,
como ter mais de uma área de cultivo, roça na área rural e origem rural, parecem aproveitar ao
máximo as possibilidades de se obter plantas através das fontes de material mais acessíveis a
eles, que neste trabalho verificou-se ser a rede social (principalmente as pessoas mais
próximas espacialmente) e o mercado.
81
Verificou-se também que algumas espécies são preferencialmente
doadas, sendo elas as mais consumidas nas refeições diárias, como a mandioca e a banana.
Outras são obtidas através do mercado, o que em alguns casos, como o milho, reflete a falta de
sementes locais que antigamente eram cultivadas. As trocas se deram mais entre pessoas do
sexo masculino porque o tipo de planta que mais circula é considerado “de roça”, que neste
caso são espécies mais manejadas por homens, mesmo quando presentes nos quintais. No
entanto, algumas fruteiras importantes para a família, por serem também usadas como
remédio, circularam mais entre as mulheres. A circulação de plantas dentro na unidade
familiar, entre diferentes áreas de cultivo (próprias ou não), pode ser considerada como uma
importante estratégia adotada pelos informantes, pois possibilita o cultivo permanente de
algumas plantas, como a mandioca. Estas transferências e doações entre as pessoas da zona
urbana e rural em ambos os sentidos, mostram que as pessoas da periferia da cidade também
são fontes de material de plantio, e estas áreas em conjunto formam um sistema dinâmico que
permite a manutenção da diversidade agrícola como um todo.
82
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através deste trabalho, foi constatado que, no geral, os moradores da
periferia de Santo Antonio de Leverger têm o costume de cultivar plantas alimentares em suas
unidades domiciliares. Foi verificado que a intensidade de cultivo varia diante das opções e
limitações, tanto espaciais como sociais e econômicas que o meio urbano promove.
As espécies alimentares mais encontradas foram no geral, perenes,
representadas pelas fruteiras como manga, banana, acerola e espécies do gênero Citrus; e no
caso das plantas de ciclo curto, foi a mandioca que se destacou. Este fato pode estar
relacionado com vários fatores como: ciclo familiar avançado, onde as famílias são
constituídas por casais idosos que diminuíram o cultivo de plantas anuais; desinteresse das
gerações mais novas em cultivar plantas, o fácil acesso ao mercado que as famílias urbanas
têm e as atividades não agrícolas exercidas pelos integrantes de famílias mais jovens.
As famílias que apresentaram maior número de plantas foram aquelas
que, devido às características pessoais dos informantes, como experiência no trato da terra,
origem rural, necessidade e afinidade ao cultivo de plantas, optaram por elaborar estratégias de
sobrevivência que envolvessem de alguma forma a agricultura, seja ela quintais e/ou terrenos e
roças. As diferentes áreas de cultivo permitem a variação dos tipos de plantas e, portanto, de
diferentes alimentos. Por exemplo, nos quintais encontra-se a maior diversidade de espécies de
frutas e hortaliças; já as roças permitem o cultivo de grandes quantidades de mandiocas,
feijões, abóboras, milhos, melancias, quiabos, entre outras; e os terrenos são espaços
83
intermediários, mas tendem a ter mais plantas de ciclos curtos como mandioca, devido às
condições de posse.
Constatou-se que a construção dos diferentes espaços de cultivo, que
fornecem importantes itens alimentares consumidos pelas famílias estudadas, depende da
circulação de materiais de plantio ao longo do tempo e do espaço, e com forte participação da
rede social da qual as famílias fazem parte. Assim, as possibilidades de obtenção de plantas
diversas aumentam de acordo com o alcance da rede social das famílias. Algumas unidades
familiares são chaves por manter importantes contatos com pessoas de localidades distantes e,
portanto adquirir plantas novas, que irão repassar para parentes, vizinhos e outros conhecidos
mais próximos espacialmente. Desta forma, algumas plantas foram trocadas entre áreas
urbanas e rurais, intercâmbio este que favorece a subsistência da família e a manutenção da
diversidade agrícola.
Pode-se considerar que em parte, os moradores da periferia de Santo
Antonio de Leverger fazem desta área um local de relevante importância para a manutenção
da diversidade agrícola, e que pode complementar o espaço rural, na medida em que recebe
plantas, mantém e também doa às pessoas do meio rural. Mas este processo só terá
continuidade enquanto houver pessoas que se interessem pelo cultivo ou dependam dele como
forma de subsistência. O que tem ocorrido na área é que o surgimento de outras formas de
subsistência e a desvalorização da prática agrícola como atividade econômica e modo de vida
distanciam cada vez mais as pessoas, principalmente as mais jovens, do cultivo de plantas.
Este processo foi observado na pesquisa e também pelos moradores locais, que estão
conscientes da diminuição da prática agrícola; estão cientes também de que ela tem ocorrido
graças ao trabalho das gerações mais velhas, principalmente.
Este quadro reflete uma tendência que é mundial e órgãos governamentais preocupados
com a questão alimentar das famílias têm proposto algumas ações de incentivo à agricultura
em áreas urbanas, principalmente em quintais, como forma de garantir a segurança alimentar
das famílias, de gerar renda, etc. Propostas como a criação de Bancos Comunitários de
Sementes e de incentivo as trocas das mesmas devem ser levadas em consideração, tendo em
vista a sua importância como mecanismo para a conservação dos recursos genéticos vegetais
e, portanto, para a segurança alimentar mundial. Mas deve ser lembrado que estas ações têm
que ser também de incentivo e valorização ao que é tradicional nestas áreas, como o cultivo de
84
espécies e variedades locais. Neste sentido é que os trabalhos de Etnobotânica podem auxiliar
as ações de melhoria nas condições de vida humana e conservação da agrodiversidade.
85
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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92
APÊNDICE 1: Tabela das plantas alimentares citadas por informantes da Primeira Amostra
(n=135)
Família/ Nome
Científico
Nome local
(Etnoespécies)
Nº de
domicílios
em que
foram
encontradas
as plantas
Hábito Ciclo da planta
(Perene/Anual)
ANACARDIACEAE
Anacardium occidentale
L
Caju, caju amarelo,
caju vermelho
58
A P
Spondias sp1 Cajá
5
A P
Spondias sp 2 Cajá-manga
9
A P
Spondias sp 3 Ciriguela, jacote
6
A P
Mangifera indica L. Manga, manga
borbom, rosa, janeiro,
bola
86
A P
ANNONACEAE
Annona squamosa L. Ata e fruta do conde
(etnoespécies)
57
AR P
Annona muricata L. Graviola
5
A P
APIACEAE
Coriandrum sativum L. Coentro
16
H A
Eryngium foetidum L. Coentro da índia
3
H A
Petroselenium crispum
(Mill.) A.W.Hill
Salsa
2
H A
ARACEAE
N.I Inhame
1
H A
Xanthosoma sp Taioba
1
H A
ARECACEAE
Orbignya phalerata
Mart.
Babaçu
2
A P
Acrocomia
aculeata(Jacq.) Lodd. Ex
Mart.
Bocaiúva
17
A P
Cocos nucifera L. Coco, coco da Bahia,
coco anão, coco
amarelo
48
A P
ASTERACEAE
Lactuca sativa L. Alface
6
H A
Chicorium sp Almeirão
2
H A
BRASSICACEAE
93
Brassica oleracea L. Couve, repolho
(etnoespécies)
5
H A
Eruca sativa Mill. Rúcula
2
H A
Nasturtium officinale
R.Br.
Agrião
1
H A
BROMELIACEAE
Ananas comosus (L.)
Merril.
Abacaxi
13
H A
CACTACEAE
Pereskia grandifolia L. Oropronobis
1
A P
CARICACEAE
Carica papaya L. Mamão
45
A P
CARYOCARACEAE
Caryocar brasiliense
Cambess.
Pequi
12
A P
CONVOLVULACEAE
Ipomoea sp Batata doce
11
HE A
CUCURBITACEAE
Cucurbita spp Abóbora
13
HE A
Sechium edule (Jacq.)Sw. Chuchu
2
HE P
Cucumis anguria L. Maxixe
4
HE A
Citrullus lanatus
(Thunb.) Matsum. &
Nakai
Melancia
8
HE A
Cucumis melo L. Melão
2
HE A
Cucumis sativus L. Pepino
2
HE A
EBENACEAE
Diospyros kaki L. f. Caqui
3
A P
EUPHORBIACEAE
Manihot esculenta
Crantz.
Mandioca, mandioca
juruti, liberata, impim,
manteiga, cenoura,
Arizona, alecrim,
vassorinha, mutuana,
comum, três meses
41
H A
DIOSCOREACEAE
Dioscorea spp Cará
3
HE A
FABACEAE
Arachis hypogaea L. Amendoim cavalo.
1
H A
NI Feijões, feijão
trepador, de vara,
chicote, de corda
7
HE A
Vigna unguiculata (L.)
Walp
feijão catador
1
HE A
94
Inga sp Ingá
4
A P
Inga sp ingá de metro
A P
Tamarindus indica L. Tamarindo, tamarino
7
A P
Hymenaea sp Jatobá
1
A P
LAMIACEAE
NI Alfavaca
2
AB P
Mentha spp Hortelã
5
H A
Plectranthus amboinicus
(Lour.) Spreng.
Hortelã grosso
1
H A
N.I Manjericão
1
AB P
Vitex cymosa Bertero x
Spreng
Tarumã
1
A P
LAURACEAE
Persea americana Mill. Abacate
16
A P
LILIACEAE
Allium spp Alho, alho poro,
caseiro
3
H A
Allium spp Cebolinha
39
H A
LYTHRACEAE
Punica granatum L. Romã
8
AB P
MALPIGHIACEAE
Malpighia spp Acerola
80
AB P
Bunchosia sp Cereja
1
AB P
MALVACEAE
Abelmoscus esculentus
Quiabo
8
H A
MORACEAE
Morus nigra L. Amora
5
A P
Ficus carica
Figo
3
AB P
Artocarpus heterophyllus
Lam.
Jaca
6
A P
MUSACEAE
Musa spp Banana, banana da
terra, bananinha, três
quinas, banana d’
água, prata,
sartaveaco, maricota,
roxa, maçã
45
H P
MYRTACEAE
N.I Gariroba
2
A P
Psidium guajava L. Goiaba, goiaba
vermelha, goiaba
branca
44
A P
Myrciaria spp Jabuticaba, jabuticava
8
A P
95
Syzygium cumini (L.)
Skeels
João bulão
1
A P
Eugenia uniflora L.
Pitanga
4
AB P
OXALIDACEAE
Averrhoa carambola L. Carambola
8
AB P
PASSIFLORACEAE
Passiflora spp Maracujá, maracujá
do mato, doce,
maracujina
23
HE P
POACEAE
Saccharum officinarum
L.
Cana
14
H A
Zea mays L. Milho, milho verde
3
H A
ROSACEAE
Malus x domestica
Borkh.
Maçã
1
AB P
Prunus sp Pêssego
1
AB P
Pyrus communis L. Pêra.
3
AB P
RUBIACEAE
Coffea arabica L.
Café
1
AB P
Genipa americana L. Jenipapo
1
A P
Cordiera sp Marmelada preta
1
AB P
RUTACEAE
Citrus spp Laranja, laranja d’
água, misteriosa,
comum
48
A P
Citrus spp Laranja lima, lima de
imbigo, das peça, da
pérsia,
9
A P
Citrus spp Limão, limão Taiti,
galeguinho, rosa,
galego, limão cidra,
limão nosso
56
A P
Citrus spp Ponkan, Laranja
ponkan,morgote,
tangerina
20
A P
SAPINDACEAE
P
Talisia esculenta (A. St.-
Hil) Radlk.
Pitomba
7
A P
SOLANACEAE
Solanummelongena L. Berinjela
1
H A
Solanum gilo Raddi Jiló
1
H A
Solanum paniculatum L. Jurubeba
1
AB P
96
Lycopersicum esculentum
L.
Tomate
8
H A
Capsicum annuum L. Pimentão
12
H A
Capsicum spp Pimenta malagueta,
pimenta dedo de
moça, pimenta de
cheiro, chumbinho.
18
H A
ZINGIBERACEAE
Curcuma longa L. Açafrão
3
H A
INDETERMINADAS
1 Araçá
1
AR P
2
Fruta banana
1
- -
3
Gemadinha
1
- -
4 Cacau
2
- P
97
APÊNDICE 2 : Origem externa das plantas cultivadas nas unidades familiares (UF).
QUINTAIS
Unidades
familiares
citações
Alimento
comprado
Material de
propagação
comprado
Rede
social
Herdado com a
propriedade
Local de
trabalho
Coletado no
mato
Nativo Outros
UF 1 15 2 2
3
2 0 1 0 0
UF 2 12 0 2
1
5 4 0 0 0
UF 3* 31 4 6
15
0 0 0 0 0
UF 4* 38 6 2
18
0 0 1 1 0
UF 5 27 0 9
9
3 0 4 0 0
UF 6 30 9 0
9
3 0 1 2 0
UF 7* 17 2 1
8
0 6 1 0 0
UF 8* 47 3 7
22
1 3 2 0 0
UF 9 22 0 1
7
0 1 0 0 0
UF 10 16 1 4
8
2 1 0 0 0
UF 11* 35 2 4
20
0 1 1 0 0
UF 12 15 1 1
6
3 0 4 0 0
UF 13 18 4 2
4
1 0 2 0 0
UF 14 23 3 0
8
0 0 4 1 0
UF 15 15 4 0
5
0 0 1 0 0
UF 16 19 5 -
9
0 0 0 0 0
UF 17* 29 0 6
19
0 0 0 0 0
UF 18 13 - 3
-
1 0 0 0 0
UF 19 52 13 15
12
0 10 0 3 0
UF 20* 20 1 0
16
0 1 0 0 0
UF 21 26 1 7
8
0 4 1 0 0
UF 22 10 2 0
6
0 1 0 0 0
UF 23* 32 3 3
16
0 1 0 1 0
UF 24 35 3 7
15
0 0 0 0 2
UF 25* 44 6 6
18
0 4 1 0 0
UF 26 16 2 0
9
0 0 0 1 0
UF 27 25 1 1
13
9 0 0 0 0
UF 28 23 1 0
12
3 3 2 0 0
UF 29* 31 4 0
16
0 1 0 1 4
98
TOTAL 736 83 89
312
33 41 26 10 6
*pessoas mais ativas na rede de circulação
99
APÊNDICE 3: Origem externa das plantas cultivadas nas unidades familiares (UF)
TERRENOS
Unidades
familiares
citações
Alimento
comprado
Material de
propagação
comprado
Rede
social
Herdado com
a
propriedade
Local de
trabalho
Coletado
no mato
Nativo Outros
UF 2 3 0 0
0
0 0 0 0 0
UF 3* 5 0 0
4
0 0 0 0 0
UF 7* 16 1 0
8
0 7 0 1 0
UF 9 3 0 0
3
0 0 0 0 0
UF 20* 2 0 0
2
0 0 0 0 0
UF 22 24 5 3
5
7 0 0 0 0
UF 30 13 2 6
3
0 0 0 0 0
TOTAL
66 8 9
25
7 7 0 1 0
* pessoas mais ativas na rede de circulação
100
APÊNDICE 4: Origem externa das plantas cultivadas nas unidades familiares (UF)
ROÇAS
Unidades
familiares
citações
Alimento
comprado
Material de
propagação
comprado
Rede
social
Herdado com
a
propriedade
Local de
trabalho
Coletado
no mato
Nativo Outros
UF 2 7 1 1
3
0 0 0 0 0
UF 6 10 0 6
3
0 0 0 0 0
UF 11* 8 0 0
5
0 0 0 0 0
UF 18 13 0 8
4
0 0 0 0 1
UF 26 3 0 1
1
0 0 0 0 0
UF 26 2 0 2
0
0 0 0 0 0
TOTAL
43 1 18
16
0 0 0 0 1
* pessoas mais ativas na rede de circulação
101
APÊNDICE 5 : Doações das plantas cultivadas em QUINTAIS. * pessoas mais ativas na rede de circulação
Unidades
familiares
nº Citações
Não foi doado
Parentes Conhecidos Vizinhos
Total de ocorrências de doações
UF 1 15
15
0
0 0
0
UF 2 12
7
3 3 1
7
UF 3* 31
17
15 5 1
21
UF 4* 38
21
9 2 0
11
UF 5 27
27
0 0 0
0
UF 6 30
17
9 1 0
10
UF 7 17
15
0 1 0
1
UF 8* 47
39
1 8 2
11
UF 9 22
19
1 1 0
2
UF 10 16
16
0 0 0
0
UF 11* 35
28
3 2 7
12
UF 12 15
14
1 0 0
1
UF 13 18
17
- - -
1
UF 14 23
21
1 0 0
1
UF 15 15
15
0 0 0
0
UF 16 19
12
5 2 1
8
UF 17 29
25
2 4 0
6
UF 18 13
-
- - -
-
UF 19 52
49
2 1 0
3
UF 20 20
19
1 0 0
1
UF 21* 26
13
0 11 13
24
UF 22 10
6
1 0 3
4
UF 23 32
30
2 0 0
2
UF 24 35
26
5 2 3
10
UF 25* 44
34
11 8 17
36
UF 26* 16
9
10 3 0
13
UF 27 25
11
0 2 4
6
UF 28 23
16
3 2 3
8
UF 29 31
27
1 3 0
4
TOTAL
736
565
86 61 55
202
102
APÊNDICE 6: Doações das plantas cultivadas em TERRENOS.
Unidades
familiares
Citações
Não foi
doado
Parentes Conhecidos Vizinhos Total de
ocorrências de
doações
UF 2 3 0 0 0 0
0
UF 3* 5 8 2 1 2
5
UF 7 16 3 1 1 1
3
UF 9 3 2 0 1 1
2
UF 20 2 2 0 0 0
0
UF 22 24 6 1 1 4
6
UF 30 13 1 0 1
1
TOTAL 66 46 4 5 8
7
* pessoas mais ativas na rede de circulação
103
APÊNDICE 7:Doações das plantas cultivadas em ROÇAS.
Unidades
familiares
Citações
Não foi
doado
Parentes Conhecidos Vizinhos
Total de
ocorrências de
doações
UF 2* 7 0 2 2 0
4
UF 6 10 8 1 4 0
5
UF 11* 8 0 0 2 1
3
UF 18 13 - 1 7 0
8
UF 26* 3 0 0 9 1
10
UF 26* 2 0 0 0 0
0
TOTAL 43 4 24 2
30
* pessoas mais ativas na rede de circulação
104
ANEXO 1: Roteiro de Entrevistas – Amostra Geral – setembro de 2006
Data:
Cód.
Nome:
Endereço:
Há quanto mora nesta casa?
De onde vieram?
Quem mora na casa:
Que plantas têm para comer?
Quem cuida das plantas?
Tem algum outro espaço onde alguém da família planta?
105
ANEXO 2: Dados Gerais – Santo Antonio de Leverger – 2007
Informante: _________
Data: ______________
Nome:______________________________________________________________________
________________
Idade:____sexo:___Ocupação___________________________________________________
____________________________________________________________________________
_______________________________
Escolaridade________________________________________
Endereço:___________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
_______________________________
*Onde nasceu e em que lugares morou (tempo):
____________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
_____________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
106
Área do terreno:____________________________________________
Casa: própria ( ) alugada( ) emprestada ( )
Moradores da casa:
Nome idade
sexo
Parentesco Ocupação Escolari/e De onde
veio
Ajuda
no
manejo?
107
ANEXO 3: Questionário -Levantamento das plantas cutivadas/circulação
Informante___________________ Data____________
Nº planta Planta De onde veio Para onde foi
108
ANEXO 4: Coleta de Plantas – Santo Antonio de Leverger – 2007
Informante: Bairro: Data:
nº Coleta Planta/cultivada ou
espontânea (c/v)
Local de coleta Observações Características da
planta (habito,
cor, cheiro,cor da
flor, resina)
Características ambientais Cód.
foto
109
ANEXO 5: Roteiro de entrevistas – Informações Gerais – SAL – Agosto de 2007- Segunda
amostra
1- Há quanto tempo mora aqui?
2- Por que veio morar aqui?
3- Como era aqui nesta época? No que trabalhava?
4- Você lembra que plantas tinha? São as mesmas ou mudou, porque?
5- Tem alguma planta que vende ou faz algum produto dela? Quais?
6- Quanto dá pra tirar?
7- Qual a área total do terreno? E a área que pode plantar
110
ANEXO 6: Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Meu nome é Mirella Cultrera, sou estudante da Universidade Estadual Paulista – Campus de
Botucatu/SP e estou aqui para fazer uma pesquisa sobre plantas alimentares que vocês, aqui desta
região de Santo Antonio de Leverger, têm em quintais e roças. A pesquisa, que será uma dissertação de
mestrado, se chama “Diversidade de plantas alimentares em bairros da periferia de Santo Antonio de
Leverger” e está sobre a orientação da professora Maria Christina de Mello Amorozo. Gostaria de
convidá-los a participar desta pesquisa em que estarei fazendo algumas perguntas sobre a vida de vocês
e sobre as plantas cultivadas. As entrevistas poderão ser anotadas ou gravadas, de acordo com a sua
preferência; também pedirei para tirar fotos de vocês e das plantas, assim como pedirei um pedaço de
algumas plantas para levar para a faculdade.
A qualquer momento você pode parar a entrevista ou desistir dela, pois não lhe trará nenhum
prejuízo. Se for de sua preferência, seu nome também será mantido em sigilo. As informações aqui
coletadas serão para estudos e poderão ser divulgados em revistas relacionadas à universidade e em
exposições de trabalhos em congressos.
Qualquer dúvida vocês podem entrar em contato comigo ou com a professora Christina das
seguintes formas:
Mirella Cultrera
Caixa Postal 21
Lindóia SP Cep 13.950-000
Telefone: (19) 3898 1182
e-mail: micultrera@hotmail.com
Maria Christina de Mello Amorozo
Departamento de Ecologia – IB - Universidade Estadual Paulista (UNESP)
Avenida 24- A, 1515 – Bela Vista
Cep:13.506-900 – Rio Claro _ SP
Telefone: (19) 3526-4233
Entrevistado:
Concordo em participar da pesquisa, após ter sido esclarecido sobre do que ela se trata, de
como os resultados vão ser usados e que tenho direito de não participar ou desistir dela a qualquer
momento, sem prejuízos para mim.
Declaro também que recebi uma cópia deste termo.
Nome:__________________________________________________________________________
Documento de identidade:______________________________ Data de nascimento:____________
Endereço:________________________________________________________________________
___________________________ ____________________________
Assinatura Assinatura
(entrevistado) (pesquisadora)
Livros Grátis
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