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ensinamentos foram por ele renegados, pelo cansaço da vida e pela desconfiança inerente
ao gauche. Por fim, após afirmar que aprendera “novas palavras” e tornara “outras mais
belas” (o aprendizado poético), Drummond volta a usar o tema de dia/noite, tal qual em “O
lutador” e “O elefante”: “Eu preparo uma canção/ que faça acordar os homens/ e
adormecer as crianças”. Homens que devem ser despertados para entender o seu
tempo/mundo (o que mostra que Drummond não abandonara sua postura política).
Crianças que devem dormir para sonhar com um tempo melhor ou ideal, como em
“Lembrança do mundo antigo”
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, de Sentimento do mundo.
Do ponto de vista formal, Drummond passa a privilegiar, nessa fase, a Tradição e
suas técnicas, rendendo-se, talvez, ao marfim das presas do elefante, que lhe eram tão caras
na fabricação poética. O poeta passa a dar preferências às formas fixas e metrificadas,
como o soneto. Não que antes esses recursos não estivessem presentes em sua obra. Mas
mistério, nos abismos.// Abriu-se em calma pura, e convidando/quantos sentidos e intuições restavam/a quem
de os ter usado os já perdera// e nem desejaria recobrá-los,/se em vão e para sempre repetimos/os mesmos
sem roteiro tristes périplos, //convidando-os a todos, em coorte,/a se aplicarem sobre o pasto inédito/da
natureza mítica das coisas,// assim me disse, embora voz alguma/ou sopro ou eco ou simples
percussão/atestasse que alguém, sobre a montanha,// a outro alguém, noturno e miserável,/em colóquio se
estava dirigindo:/’O que procuraste em ti ou fora de// teu ser restrito e nunca se mostrou,/ /mesmo afetando
dar-se ou se rendendo,/e a cada instante mais se retraindo,// olha, repara, ausculta: essa riqueza/sobrante a
toda pérola, essa ciência/sublime e formidável, mas hermética,// essa total explicação da vida,/esse nexo
primeiro e singular,/que nem concebes mais, pois tão esquivo// se revelou ante a pesquisa ardente/em que te
consumiste... vê, contempla,/abre teu peito para agasalhá-lo.’// As mais soberbas pontes e edifícios,/o que nas
oficinas se elabora,/o que pensado foi e logo atinge// distância superior ao pensamento,/os recursos da terra
dominados,/e as paixões e os impulsos e os tormentos// e tudo que define o ser terrestre/ou se prolonga até
nos animais/e chega às plantas para se embeber// no sono rancoroso dos minérios,/dá volta ao mundo e torna
a se engolfar,/na estranha ordem geométrica de tudo,// e o absurdo original e seus enigmas,/suas verdades
altas mais que todos/monumentos erguidos à verdade:// e a memória dos deuses, e o solene/sentimento de
morte, que floresce/no caule da existência mais gloriosa,// tudo se apresentou nesse relance/e me chamou
para seu reino augusto,/afinal submetido à vista humana.// Mas, como eu relutasse em responder/a tal apelo
assim maravilhoso,/pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio,// a esperança mais mínima - esse anelo/de ver
desvanecida a treva espessa/que entre os raios do sol inda se filtra;// como defuntas crenças
convocadas/presto e fremente não se produzissem/a de novo tingir a neutra face// que vou pelos caminhos
demonstrando,/e como se outro ser, não mais aquele/habitante de mim há tantos anos,// passasse a comandar
minha vontade/que, já de si volúvel, se cerrava// semelhante a essas flores reticentes// em si mesmas abertas e
fechadas;/como se um dom tardio já não fora/apetecível, antes despiciendo,// baixei os olhos, incurioso,
lasso,/desdenhando colher a coisa oferta/que se abria gratuita a meu engenho.// A treva mais estrita já
pousara/sobre a estrada de Minas, pedregosa,/e a máquina do mundo, repelida,// se foi miudamente
recompondo,/enquanto eu, avaliando o que perdera,/seguia vagaroso, de mãos pensas.”
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“Clara passeava no jardim com as crianças./O céu era verde sobre o gramado,/a água era dourada sob as
pontes,/outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados,/o guarda civil sorria, passavam bicicletas,/a menina
pisou a relva para pegar um pássaro,/o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era tranqüilo em redor de
Clara.// As crianças olhavam para o céu: não era proibido./A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não
havia perigo./Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos./Clara tinha medo de perder o
bonde das onze horas,/esperava cartas que custavam a chegar,/nem sempre podia usar vestido novo. Mas
passeava no jardim, pela manhã!!!/havia jardins, havia manhãs naquele tempo!!!”