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BARRAMENTOS NATURAIS NO VALE DO
RIO PERUAÇU: CONSEQÜÊNCIAS
ECOLÓGICAS E AMBIENTAIS DE EVENTOS
PRETÉRITOS E FUTUROS.
ISABEL PIRES MASCARENHAS
2008
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ISABEL PIRES MASCARENHAS
BARRAMENTOS NATURAIS NO VALE DO RIO PERUAÇU:
CONSEQÜÊNCIAS ECOLÓGICAS E AMBIENTAIS DE EVENTOS
PRETÉRITOS E FUTUROS.
Dissertação apresentada à Universidade Federal
de Lavras, como parte das exigências do
programa de Pós Graduação em Ecologia
Aplicada, área de concentração: Ecologia e
Conservação de Paisagens Fragmentadas e
Agrossistemas, para a obtenção do título de
“Mestre”.
Orientadora
Prof
a
Drª Rosângela A. Tristão Borém
LAVRAS
MINAS GERAIS - BRASIL
2008
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Mascarenhas, Isabel Pires.
Barramentos naturais no Vale do Rio Peruaçu: conseqüências
ecológicas e ambientais de eventos pretéritos e futuros / Elke Carvalho
Teixeira. – Lavras: UFLA, 2008.
110 p.: il.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Lavras, 2008.
Orientador: Rosângela A. Tristão Borém.
Bibliografia.
1. Vale do Rio Peruaçu. 2. Cavernas. 3. Fósseis. 4.
Paleoambiente. 5. Paleontologia. I.Universidade Federal de Lavras. II.
Título.
CDD – 574.5
Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos da
Biblioteca Central da UFLA
ISABEL PIRES MASCARENHAS
BARRAMENTOS NATURAIS NO VALE DO RIO PERUAÇU:
CONSEQÜÊNCIAS ECOLÓGICAS E AMBIENTAIS DE EVENTOS
PRETÉRITOS E FUTUROS.
Dissertação apresentada à Universidade Federal
de Lavras, como parte das exigências do
programa de Pós Graduação em Ecologia
Aplicada, área de concentração: Ecologia e
Conservação de Paisagens Fragmentadas e
Agrossistemas, para a obtenção do título de
“Mestre”.
APROVADA em 28 de agosto de 2008
Prof. Dr. Rodrigo Lopes Ferreira UFLA
Prof. Dr. Augusto Sarreiro Auler Instituto Carste
Prof
a
Drª Rosângela A. Tristão Borém
UFLA
(Orientadora)
LAVRAS
MINAS GERAIS - BRASIL
SUMÁRIO
Página
RESUMO................................................................................. i
ABSTRACT............................................................................ iii
1 APRESENTAÇÃO.............................................................. 1
2 REFERENCIAL TEÓRICO.............................................. 3
2.1. O CARSTE...................................................................... 3
2.1.1 Áreas Cársticas.............................................................. 3
2.1.2 Carstificação.................................................................. 4
2.1.3 Modelado Cárstico......................................................... 6
2.1.3.1 Exocarste..................................................................... 6
2.1.3.2 Epicarste...................................................................... 8
2.1.3.3 Endocarste................................................................... 9
2.2. CAVERNAS..................................................................... 9
2.2.1 Cavernas Primárias e Secundárias.............................. 9
2.2.2 Espeleogênese................................................................. 10
2.2.3 Depósitos Endocársticos e Processos Associados........ 11
2.3. PALEONTOLOGIA EM CAVERNAS......................... 13
2.3.1 Histórico......................................................................... 13
2.3.2 Fossilização em Cavernas............................................. 15
2.3.2.1 Tafonomia................................................................... 16
2.3.2.2 Processos..................................................................... 18
2.3.3 Tipos de Fósseis Encontrados em Cavernas............... 19
2.3.3.1 Datação de Fósseis Encontrados em Cavernas........ 21
2.4. FÓSSEIS ENCONTRADOS NAS CAVERNAS DO
PERUAÇU............................................................................... 23
3 ÁREA DE ESTUDO............................................................ 27
3.1. ESTUDOS AMBIENTAIS.............................................. 27
3.2. CLIMA............................................................................. 28
3.3. GEOLOGIA..................................................................... 28
3.4. GEOMORFOLOGIA...................................................... 31
3.4.1 Compartimentação Morfológica.................................. 32
3.4.1.1 Compartimento Carstificado..................................... 33
3.5. PEDOLOGIA................................................................... 36
3.6. VEGETAÇÃO................................................................. 37
3.7. ENCHENTES NO RIO PERUAÇU.............................. 40
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................. 43
CAPÍTULO I.......................................................................... 52
1 INTRODUÇÃO................................................................... 53
2 MATERIAIS E MÉTODOS............................................... 55
2.1 ÁREA DE ESTUDO......................................................... 55
2.2 MÉTODOS........................................................................ 66
2.2.1 Análise de cavernas à margem direita do rio.............. 66
2.2.2 Catalogação dos fósseis e subfósseis............................. 66
2.2.3 Topografia...................................................................... 69
2.2.4 Datação e coleta de amostras........................................ 69
2.2.5 Barramento.................................................................... 74
3 RESULTADOS.................................................................... 75
3.1 LAPA DO CARLÚCIO E DESNÍVEIS DE
INTERESSE............................................................................ 75
3.2 ASSEMBLÉIA SUBFÓSSIL........................................... 78
3.3 ESPELEOTEMAS E SÍTIOS DE DEPOSIÇÃO DE
SUBFÓSSEIS.......................................................................... 84
3.4 DATAÇÃO........................................................................ 94
3.5 BARRRAMENTO............................................................ 96
4 DISCUSSÃO........................................................................ 98
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................. 110
CAPÍTULO II......................................................................... 115
1 INTRODUÇÃO................................................................... 116
2 METODOLOGIA................................................................ 118
2.1 ÁREA DE ESTUDO......................................................... 118
2.2 MÉTODOS........................................................................ 123
3 RESULTADOS.................................................................... 124
3.1 ÁREAS POTENCIAIS À OCORRÊNCIA DE
ABATIMENTOS.................................................................... 124
3.2 INUNDAÇÃO COM BARRAMENTO NA LAPA DO
BREJAL.................................................................................. 124
3.3 INUNDAÇÃO COM BARRAMENTO NO ARCO
DO ANDRÉ............................................................................. 126
3.4 INUNDAÇÃO COM BARRAMENTO NA GRUTA
DO JANELÃO........................................................................ 127
4 DISCUSSÃO........................................................................ 136
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
.............................. 143
i
RESUMO
MASCARENHAS, Isabel Pires. Barramentos naturais no Vale do Rio
Peruaçu: conseqüências ecológicas e ambientais de eventos pretéritos e futuros.
2008. 146 p. Dissertação (Mestrado em Ecologia Aplicada) – Universidade
Federal de Lavras, Lavras, MG.
*
Assembléias fósseis encontradas em cavernas arquivam importantes
informações ambientais quanto o passado recente da área às quais se associam.
No cânion cárstico do vale do Rio Peruaçu, Parque Nacional Cavernas do
Peruaçu, Minas Gerais, depósitos orgânicos sugerem a ocorrência de grandes
enchentes decorrentes de barramentos naturais no leito do rio. Esta dissertação
procurou investigar a assembléia fóssil presente, principalmente, na Lapa do
Carlúcio e delinear os eventos de importação e deposição do material.
Pretendeu-se compreender as conseqüências ecológicas e ambientais de
barramentos naturais no vale do Rio Peruaçu com base na análise de eventos
pretéritos, prevendo o efeito de ocorrências futuras. Para tal, toda a assembléia
fóssil encontrada na Lapa do Carlúcio foi inventariada e mapeada. Ocorrências
representativas foram topografadas em relação ao nível do Rio Peruaçu, medido
em julho de 2007 e três amostras foram datadas, utilizando as técnicas carbono
14 nos restos e séries de urânio, em capas calcíticas que recobriam duas destas
peças. Com programas de geoprocessamento, o nível máximo de deposição
encontrado foi representado no relevo atual tendo como eixo de barramento as
Lapas do Brejal, Arco do André e do Janelão interpretadas como ambientes mais
favoráveis ao colapso. Bases de uso do solo, fitogeografia e infra-estrutura
balizaram a interpretação do alcance de eventos futuros em áreas naturais e
antropizadas do Parque. Encontrou-se um total de 1.479 ocorrências de
subfósseis na Lapa do Carlúcio sendo a grande maioria relativas a conchas de
moluscos terrestres das famílias Megalobulimidae e Bulimulidae. Foi catalogada
a ocorrência de 20 ossos, 57 sítios de deposição de vegetais, 4 carvões, um
coquinho e um sabugo de milho. As idades encontradas foram de 1.630 +/- 50
anos BP para uma amostra de tronco, de 3.050 +/- 50 anos BP para uma concha
de Megalobulimus e de 1.758,47 +/- 430,5 anos BP para a calcita que a revestia
e de 9.380 +/- 40 anos BP para outra concha de Megalobulimus e de 8.108,48
+/- 49,0 anos BP para sua cobertura calcítica. Essas idades sugerem a ocorrência
de pelo menos dois eventos de importação de material para a Lapa do Carlúcio.
O alcance mínimo de inundações de 19,6 metros acima da drenagem, encontrado
*
Comitê Orientador: Profª Drª Rosângela A. Tristão Borém - UFLA (Orientadora),
Rodrigo Lopes Ferreira - UFLA.
ii
para a ocorrência máxima de fósseis na Lapa do Carlúcio, foi extrapolado para o
relevo das áreas à montante das lapas do Brejal, Arco do André e do Janelão. No
caso desses futuros barramentos, a perda de áreas atingiria, essencialmente, a
vegetação primária das formações Comunidade Aluvial Arbórea, Floresta
Estacional Decidual e Savana Arborizada Fechada. Infra-estruturas direcionadas
ao uso público, pesquisa, controle e gestão da unidade de conservação como
estradas, trilhas e centro de apoio seriam igualmente afetados. Os resultados
permitiram gerar subsídios à previsão de impactos de barramentos ao longo do
Rio Peruaçu, área cuja propensão natural a abatimentos tem sido ultimamente
agravada pela ocorrência de tremores de terra.
iii
ABSTRACT
MASCARENHAS, Isabel Pires. Natural barring in the Peruaçu River Valley:
ecological and environmental consequences of past and future events. 2008. 146
p. Dissertation (Master Program in Applied Ecology) – Universidade Federal de
Lavras, Lavras, MG
*
.
Fossil assemblage found in caves record important environmental
information concerning the recent past of the surrounding area. In the karstic
canyon of the Peruaçu River, Cavernas do Peruaçu National Park, Minas Gerais
- Brazil, organic deposits suggests the occurrence of major floods resulting from
natural barring in the river bed. This dissertation sought to investigate fossil
assemblage present mainly in Carlúcio Cave, and outline the material
importation and deposition events. The objective is to understand the ecological
and environmental consequences of Peruaçu River natural barring based on
analysis of past events and predicting the effect of future occurrences. For this,
all the fossil assemblage found in Carlúcio Cave were inventoried and mapped.
Representative occurrences were topographed in relation to the level of Peruaçu
River, measured in July 2007. Three fossil remains were dated using carbon-14
and the calcite covers of two of these samples were dated by uranium series.
Using geoprocessing programs, the maximum level of deposition found was
represented in the current landform taking as the axis of the barring, the Brejal
Cave, the Arco do André Cave and the Janelão Cave interpreted as environments
more favorable to collapse. Land use, phytogeography and infrastructure
georeferenced bases permitted the interpretation of the reach of future events in
both natural and human interference areas. A total of 1,479 occurrences of
subfossils in Carlúcio Cave were found, the vast majority being related to land
mollusk shells of the Megalobulimidae and Bulimulidae families. The
occurrences of 20 bones, 57 vegetable deposition sites, 4 charcoals, one coconut
fruit and one ear of corn were catalogued. The ages found were from 1,630 +/-
50 years BP for a sample of wood, to 3,050 +/- 50 years BP for a
Megalobulimus shell and 1,758,5 +/- 430.5 years BP for its calcite cover, and
9,380 +/- 40 years BP for another Megalobulimus shell and 8,108.5 +/- 49.0
years BP for its calcite cover. Those ages suggest at least two organic material
importation events for Carlúcio Cave. The minimum flood reach of 19.6 meters
above the drainage found for the maximum fossil occurrence in Carlúcio Cave
*
Guidance Committee: Rosângela A. Tristão Borém - UFLA (Major Professor), Rodrigo
Lopes Ferreira - UFLA.
iv
was extrapolated to the landform located upstream from the Brejal Cave, the
Arco do André Cave and the Janelão Cave. In case of these future natural
barrings the loss of areas would affect essentially primary vegetation from the
training plant Riparian Forest, Deciduous Mesophyle Forest, Close Savanna
Woodland and Open Wooded Savanna. Infrastructure directed to public use,
research, control and management of the conservation area, such as roads, trails
and support centers, would also be affected. The results provide subsidies for
prediction of natural barring impacts in the Peruaçu River, an area whose the
natural tendency for collapse has been recently aggravated by land tremors.
1
1 APRESENTAÇÃO
Cavidades carbonáticas configuram ambientes propícios à ocorrência de
jazigos paleontológicos por apresentam atributos que facilitam o processo de
fossilização. No Brasil, os primeiros achados fósseis em cavernas remotam à
extração do salitre. Comentários acerca desses achados atraíram naturalistas
estrangeiros com destaque para o dinamarquês Peter Wilhelm Lund (1801-
1880), primeiro a explorar sistematicamente as cavernas brasileiras e a se
dedicar à paleontologia em cavidades naturais (Couto, 1971).
Desde a atuação de Lund (1950), os inventários paleontológicos em
cavernas de Minas Gerais concentram-se na região de Lagoa Santa, apesar do
elevado potencial paleontológico de outras áreas como o Parque Nacional
Cavernas do Peruaçu, ambiente cárstico considerado um dos mais importantes
sítios espeleológicos do Brasil (Piló & Rubbioli, 2003). No Vale do Peruaçu,
estudos paleontológicos são incipientes sendo, praticamente, restritos ao
inventário do Plano de Manejo do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, de
2003 (Ferreira et al., 2003).
Associados aos achados fósseis em cavidades naturais estão informações
ambientais pretéritas que apenas recentemente têm sido analisadas. A maioria
dos estudos paleontológicos realizados em cavernas brasileiras restringiu-se ao
simples inventário dos fósseis presentes. É nesse sentido que, também, desde
Lund (1950), a paleontologia em cavernas brasileiras pouco evoluiu,
principalmente, no que diz respeito ao estudo dos processos e condições de
transporte e preservação do registro fossilífero e, essencialmente quanto às
referências paleoambientais contíguas ao jazigo.
Acredita-se que eventos de importação de material para cavernas podem
abrigar informações paleoambientais relevantes e mesmo permitir a análise de
2
situações futuras. É diante do exposto que esta dissertação procura
primeiramente inferir acerca do conteúdo paleoambiental contido na assembléia
fóssil encontrada na Lapa do Carlúcio e, em seguida, extrapolar o conhecimento
ao ambiente atual.
O formato desta dissertação apresenta a seguinte estrutura: Referencial
Teórico, Área de Estudo, Capítulo I, Capítulo II.
No Referencial Teórico procurou-se situar o leitor quanto ao ambiente
subterrâneo, com destaque para o endocarste e quanto à paleontologia em
cavernas. Na Área de Estudo foi abordado o status do conhecimento científico
acerca do meio físico e cobertura vegetal do Vale do Peruaçu. De modo
complementar foi ainda apresentado um item referente às enchentes do Peruaçu,
tema pertinente ao presente estudo.
Os capítulos I e II apresentam dados inéditos, obtidos durante a
realização do estudo. Ambos os capítulos foram estruturados em forma de artigo
científico podendo, quando pertinente, apresentar informações anteriormente
abordadas no Referencial Teórico ou na Área de Estudo.
O Capítulo I caracteriza a assembléia fóssil encontrada na Lapa do
Carlúcio. São apresentados o inventário e a distribuição espacial do registro
fóssil na caverna, bem como dados topográficos e idades relativas a amostras de
destaque. A hipótese de importação do material para a Lapa do Carlúcio em
decorrência de paleoreservatórios é amplamente explorada. Os dados contidos
no Capítulo I da dissertação balizam a concepção do capítulo seguinte.
No Capítulo II foi abordada a possibilidade de ocorrência de novos
abatimentos com conseqüente represamento do Rio Peruaçu. O maior nível de
deposição de fósseis encontrado no primeiro capítulo, considerado nível mínimo
atingido por um paleoreservatório, foi extrapolado para o relevo atual sendo
avaliadas as perdas de áreas naturais e antropizadas.
3
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 O CARSTE
Segundo Klimchouk & Ford (2000a) a palavra karst significa terreno
pedregoso (stony ground). O termo apresenta sua origem associada à morfologia
da paisagem da Eslovênia e Croácia (kras) e refere-se a relevos com formas
típicas de processos de dissolução e com drenagem predominantemente
subterrânea (Karmann, 2000; Piló, 2000).
2.1.1 Áreas Cársticas
As áreas cársticas são aquelas em que prevalecem relevos
desenvolvidos, principalmente, a partir de processos hidroquímicos de
dissolução no qual o transporte em solução é mais importante que o transporte
por outros processos (Piló, 1997b; Piló, 2000; Auler, 2006). Tradicionalmente
são consideradas áreas cársticas as regiões onde se encontram litologias solúveis
do tipo evaporitas e, principalmente, carbonáticas (Karmann, 2000; Auler,
2006).
As rochas mais propícias à carstificação são as carbonáticas, pois
combinam alto grau de solubilidade com grande resistência mecânica que
permite a sustentação de grandes vazios em seu interior (Guano Speleo, 2004).
Definem-se por carbonáticas as rochas nas quais o mineral predominante
apresenta o radical carbonato CO
3
2-
, como os calcários, dolomitos, mármores,
brechas ou conglomerados carbonáticos, greda e carbonatitos. Acredita-se que
cerca de 90% das cavernas conhecidas no mundo se desenvolveram em rochas
carbonáticas (Auler, 2006).
Karmann (1994) estima a extensão das áreas carbonáticas do Brasil em 5
a 7% do território. Auler et al. (2005) calculam que as regiões cársticas
4
brasileiras somam, aproximadamente, 200 mil km². Segundo esses autores o
carste carbonático brasileiro ocorre, principalmente, em áreas de carbonatos
antigos, de idade predominantemente Pré-Cambriana, desenvolvidos em regiões
tectonicamente estáveis (crátons) e sob clima sazonal. A maior parte das áreas
cársticas se desenvolve em carbonatos do Grupo Bambuí, situado nos estados de
Minas Gerais, Goiás e Bahia (Auler et al., 2005). Para Minas Gerais, Piló
(1997b) estima o potencial cárstico em cerca de 17.600km² ou o equivalente a
3% do estado.
Auler et al. (2005) afirmam que o carste no Brasil ocorre não apenas em
áreas de carbonatos, mas também em litologias siliciclásticas, como arenitos e
quartzitos. Auler (2006) acrescenta que a recente constatação da
susceptibilidade de áreas de minério de ferro à formação de cavernas adiciona
um componente ao contexto espelológico brasileiro. O autor destaca ainda a
ocorrência, em menor escala, de cavernas em granito, gnaisse, solo e rochas
metamórficas variadas como micaxistos e filitos. A feição do relevo presente
em áreas de litologias não solúveis tem sido denominada pseudo carste. Nessas
áreas o principal fator modelador é a ação mecânica da água. Nesse sentido o
desenvolvimento ocorre essencialmente por desagregação dos grãos e não por
dissolução como ocorre nas rochas solúveis.
2.1.2 Carstificação
Para que os processos de carstificação ocorram, as rochas solúvies
devem perfazer um pacote de considerável espessura localizada na superfície ou
próxima a ela. O desenvolvimento de áreas cársticas está condicionado ainda a
características estruturais e/ou tectônicas dessas rochas uma vez que a
permeabilidade de fraturas favorece o fluxo preferencial da água subterrânea
(Karmann, 2000; Auler et al., 2005).
5
Para cumprir seu papel de agente de dissolução, a água penetra no
sistema via porosidades. A porosidade de uma rocha representa o somatório do
conjunto de seu espaço vazio (Klimchouk & Ford, 2000b). No domínio cárstico,
ela se divide em porosidade primária e secundária. A primária consta dos
espaços intragranulares da rocha, constituídos durante a diagênese. Tal
porosidade não é muito expressiva em rochas carbonáticas já que se apresentam,
em geral, de forma maciça (Piló, 2000).
Por outro lado, tem destaque na elaboração de formas cársticas, a
porosidade secundária, representada por juntas, fraturas, falhas, planos de
acamamento e outras descontinuidades formadas essencialmente pós-diagênese.
Como exemplo observa-se que, onde largas falhas estão presentes, é comum
encontrar dolinas e paredões alinhados ao longo delas (Piló, 2000). Destaca-se
que os sistemas de condutos e fraturas são o principal meio de circulação de
água em aqüíferos cársticos por representarem as principais estruturas que
guiam o fluxo (Milanovic, 1981; Klimchouk & Ford, 2000b).
Sendo a água o agente de dissolução e transporte primordial na
carstificação esta, obviamente, precisa estar presente no sistema. Nesse sentido,
climas com maior disponibilidade hídrica são mais favoráveis ao
desenvolvimento de áreas cársticas. Nota-se, ainda, que a água deve estar
presente no sistema essencialmente em circulação e, para tal, faz-se necessário
que o relevo apresente gradiente hidráulico de moderado a alto e amplitude
topográfica acima do nível do mar (Karmann, 2000).
O desenvolvimento do relevo cárstico em rochas carbonáticas é
controlado e direcionado principalmente pelo equilíbrio químico do sistema
CO
2
-H
2
O-CaCO
3
em que operam os processos de dissolução e transporte. A
dissolução ocorre quando a água da chuva absorve o gás carbônico (CO
2
)
presente na atmosfera e nos solos, derivado da matéria orgânica e se transforma
no ácido carbônico (H
2
CO
3
). Ao infiltrar pelas fraturas e descontinuidades
6
litológicas, a água saturada de ácido carbônico dissolve o carbonato de cálcio
(CaCO
3
) da matriz litológica, formando o bicarbonato de cálcio (Ca(HCO
3
)
2
),
que é altamente solúvel e, portanto, transportado em solução (Karmann, 2000;
Piló, 1998; 2000; White, 2000).
2.1.3 Modelado Cárstico
A morfologia cárstica representa um complexo dinâmico de feições
esculpidas pela ação da água em circulação, que atua na dissolução de sais de
pacotes espessos de rochas carbonáticas aflorantes ou subsuperficiais. O relevo é
ruiniforme e acidentado e apresenta uma variedade de feições singulares
desenvolvidas por processos de dissolução, corrosão e abatimento. A drenagem
é do tipo criptorréica, caracterizada por rios com fluxo vertical e subterrâneo,
com ampla presença de sumidouros e ressurgências e vales cegos (Ferreira,
2004).
O sistema cárstico envolve os domínios superficial, subsuperficial e
subterrâneo inter-relacionados, mas separados em exocarste, epicarste e
edocarste, respectivamente, por apresentarem processos e atributos
característicos.
2.1.3.1 Exocarste
A morfologia superficial do carste, denominado exocarste (Bögli, 1980)
é marcada por feições específicas dentre as quais as dolinas são as formas mais
particulares (Piló, 2000). As dolinas constituem depressões fechadas, circulares
ou elípticas, para onde converge a água superficial. Seu tamanho varia em
profundidade e diâmetro de poucos metros a centenas de metros e são divididas
em quatro tipos morfogenéticos (Jennings, 1985): (i) as dolinas de dissolução
são formadas pela dissolução diferencial acelerada concentrada em uma
descontinuidade e com o carreamento do material pela fratura; (ii) as dolinas de
7
colapso ou abatimento são formadas pelo desabamento do teto ou parede de
uma caverna; (iii) as dolinas de colapso devido ao carste subjacente ocorrem em
áreas de carste cobertos onde o colapso incide subjacente a uma camada de
outra litologia a qual também desaba; e (vi) as dolinas de aluviais ou de
subsidência compreendem um rebaixamento resultante do carreamento gradual
do solo através de fraturas. A coalescência de duas ou mais dolinas formam
depressões em forma de flor que podem apresentar vários sumidouros e
recebem o nome de uvala (Jennings, 1985; Piló, 1998).
Os poliés ou poljé representam outro tipo de feição exocárstica.
Configuram largas depressões fechadas, de fundo plano coberto por aluviões e
cortada por um fluxo de água, circundadas por paredes abruptas. Nesses, a
planície de corrosão é resultante do processo de dissolução das bordas
circundantes por inibição do rebaixamento do relevo. Muitos poliés alojam
lagoas temporárias e são aptos ao desenvolvimento de áreas de agricultura e
centros urbanos (Jennings, 1985; Kohler, 1995; Piló, 1998; 2000).
Regiões de transição morfológica que conjugam características fluviais
e cársticas foram denomindadas por White (1988) como fluviocársticas. São
caracterizadas pela ocorrência de curso d’água com trechos superficiais e
subterrâneos, na qual a drenagem pode ter sua origem no próprio carste
(autóctone) ou fora dele (alóctone). Dentre essas feições destacam-se: (i) os
sumidouros ou vales cegos que correspondem à interrupção abrupta da
drenagem para o início do seu percurso subterrâneo; (ii) as ressurgências ou
vales recuados que definem o retorno da drenagem ao curso superficial; (iii) os
vales secos que configuram testemunhos de antigo vale fluvial cujo curso hoje
corre subterrâneo; e (iv) os canyons que constam de vales encaixados com
paredões abruptos com origem normalmente relacionada a abatimentos de
sistemas subterrâneos (Jennings, 1985; White, 1988; Kohler, 1995; Piló, 1998,
2000). Kohler (1995) salienta que um fluviocarste ativo geralmente apresenta
8
acima de seu nível atual feições não funcionais, designadas fósseis, como vales
suspensos, abrigos e cavidades naturais.
Formas residuais, fruto da dissolução diferencial da rocha, aparecem em
amplitude no relevo cárstico assumindo formas distintas. No carste tropical,
ocorrem feições constituídas por morros residuais que recebem denominações
distintas como cone, torres, mogote e cockpits, sendo usado, no Brasil, o termo
maciço calcário. Outra forma residual compreende as caneluras, sulcos, furos ou
saliências irregulares de variadas dimensões que são definidas por lapiaz,
lapies, lapiás ou karren. Tais feições se formam diretamente sobre a rocha ou
em carste, parcial ou totalmente coberto, dado à dissolução promovida pela ação
de ácidos húmicos do solo ou pelo escoamento das águas pluviais. Extensas
superfícies cobertas por lapiesamento são designadas campos de lapiás (Kohler,
1995; Piló, 1998; 2000).
2.1.3.2 Epicarste
A zona de subsuperfície do relevo cárstico é denominada epicarste e
compreende os solos e o manto de intemperismo. Os solos cársticos são
formados apenas pelo produto residual insolúvel da rocha carbonática, o qual
não pode ser transportado em solução. Em decorrência da reduzida parcela de
elementos insolúveis nas rochas carbonáticas, esses solos tendem a ser pouco
espessos (White, 1988). Sendo o resíduo disponível para sua a formação
restrito, menor que 10% nos calcários, compreendem solos antigos e
essencialmente constituídos por sílica, alumino e ferro (Piló, 2000).
Ainda que pouco espesso, o manto de alteração epicárstico configura a
zona mais dinâmica na elaboração do relevo cárstico por ser aí a dissolução do
carbonato acelerada. Isso incide dado à baixa capacidade de absorção do solo
que, saturado, induz o fluxo lateral ao longo do contato rocha-solo. O tempo de
9
residência da drenagem interna nessa zona também é maior o que igualmente
auxilia o processo de dissolução (Piló, 2000).
2.1.3.3 Endocarste
O domínio endocarste (Bögli, 1980) engloba as formas subterrâneas
incluindo as cavernas e seus depósitos químicos, clásticos e orgânicos.
2.2. CAVERNAS
Cavernas configuram vazios mantidos após porções da rocha matriz
terem sido removidas por dissolução. Constam de leitos de rio subterrâneos,
ocupados ou não pela água, os quais muitas vezes são controlados por diaclases,
falhas, fratura e planos de estratificação (White, 1988; Piló, 2000; Auler et al.,
2005).
2.2.1 Cavernas Primárias e Secundárias
As cavernas cársticas e pseudo-cársticas podem ser divididas de acordo
com sua formação em primárias e secundárias. As cavernas primárias têm
origem simultânea à gênese da rocha encaixante sendo o exemplo mais comum
aquelas desenvolvidas pelo resfriamento diferencial do magma. Nessas a
superfície exterior do fluxo se solidifica primeiro, formando uma cobertura,
enquanto correntes interiores de lava seguem curso deixando um vazio no leito
interior que define a cavidade. Já as cavernas secundárias têm origem posterior
à litificação sendo formadas por processos mecânicos como fraturamentos
tectônicos e erosão física, como a ação de ondas do mar, e/ou por processos
físico-químicos de erosão e dissolução (Guano Speleo, 2004).
10
2.2.2 Espeleogênese
Klimchouk & Ford (2000a) definem por espelogênese a criação e
evolução de estruturas organizadas de permeabilidade na rocha, as quais foram
desenvolvidas como resultado do aumento, por dissolução, da porosidade
primitiva. A dissolução corresponde ao principal processo responsável pela
gênese das cavernas sendo, portanto, as áreas de rochas solúveis as mais
favoráveis à carstificação. Em rochas carbonáticas observa-se que as cavernas
são formadas na zona vadosa, na zona freática e ainda no nível freático (Piló,
2000).
Em cavernas carbonáticas, o estágio de formação inicial sucede abaixo
do nível freático, onde o fluxo laminar preenche a porosidade secundária da
rocha. Com o aumento do fluxo, formam-se canalículos, designados
protocondutos, que estabelecem a organização inicial e as conexões entre as
zonas hidrológicas de recarga e descarga. Gradualmente, os protocondutos
expandem, até alcançar diâmetro entre 5 e 15mm, que marca o estágio
breakthrough, a partir do qual o fluxo passa a ter regime turbulento com
conseqüente aceleração do desenvolvimento da cavidade. O aumento dos
protocondutos e a definição de rotas de fluxo marcam a mudança do aqüífero
fraturado para aqüífero de condutos. O desenvolvimento freático implica em
condutos com cortes circular e elípticos já que o total preenchido por água
permite a dissolução homogênea influenciada apenas pela porosidade secundária
(Jennings, 1985; Karmann, 2000; Auler et al., 2005).
Com o contínuo rebaixamento do lençol freático, a caverna é exposta à
zona vadosa. Os condutos se expandem pelo alargamento das fraturas, sendo
favorecido o desenvolvimento vertical por ação gravitacional, conforme ocorre
em redes de drenagem superficial. A formação de dutos estreitos e altos com
forma de cânion é característica (Auler et al., 2005).
11
O perfil transversal do conduto pode ser modificado devido à obstrução
parcial ou total desse por sedimentos. Carreados pelo fluxo d’água, sedimentos
são depositados em cavernas quando a capacidade de transporte do fluxo
diminui. O acúmulo desses depósitos isola o piso da caverna da dissolução, mas
o processo segue atuando no teto (White, 1988). Tal processo espeleogenético é
denominado paragênese e define a dissolução que ocorre de baixo para cima, na
interface entre o topo do sedimento e a porção da rocha que compõe o teto da
cavidade. Como morfologia resultante ocorrem os canais de teto (half-tubes)
que figuram como cânions invertidos situados acima de condutos pré-existentes
(Piló, 2000).
De forma conclusiva salienta-se que o desenvolvimento de cavernas
resulta da interação da taxa com que a água pode se mover entre as fraturas e
desenvolver os condutos com a taxa com que o calcário se dissolve (White,
2000). As cavernas evoluem gradualmente desde a rede de protocondutos até
quando essas se tornam secas e prestes a ser interceptadas pela denudação do
terreno. Neste contexto, entende-se por cavidades jovens aquelas em franco
processo de escavação. Atinge-se a fase madura quando é observado o processo
de incisão (desprendimento de blocos das paredes e tetos) e formação
espeleotemas. A caverna passa à senil quando as águas a abandonam escavando
níveis inferiores onde o ciclo recomeça com a origem de uma nova cavidade.
Por fim, a caverna se torna fóssil ao ser obstruída por depósitos químicos ou
clásticos (Guano Speleo, 2004; Auler et al., 2005).
2.2.3 Depósitos Endocársticos e Processos Associados
No interior de cavernas são encontrados depósitos dos tipos (i)
químicos, os quais são formados pela precipitação do material em solução como
os espelotemas; (ii) clásticos, que representam fragmentos de rochas e
12
sedimentos; e (iii) orgânicos, que constam da matéria orgânica preservada da
decomposição como fósseis e por vezes tufas.
Quanto à origem, os depósitos são designados alóctones quando
correspondem materiais procedentes do meio externo à caverna. Esses podem
ter sido transportados para o seu interior por agentes como água, vento ou
gravidade. São exemplos a ocorrência de fósseis e de solo. Quando os
depósitos agrupam materiais gerados dentro da própria caverna são definidos
como autóctones, sendo exemplos os espeleotemas, blocos abatidos e resíduos
insolúveis da rocha como argilas.
Diversos tipos de minerais são depositados em cavernas em decorrência
da precipitação química e são genericamente denominados espeleotemas
(Jennings, 1985). Os espeleotemas constam do tipo de depósito mais comum em
cavernas carbonáticas e são compostos, principalmente, por carbonato de cálcio
(CaCO
3
), em geral sob forma de calcita e aragonita. Os espeleotemas recebem
nomes específicos alusivos à forma como a contínua precipitação química o
esculpe. A formação de depósitos de CaCO
3
ocorre uma vez que, ao alcançar
ambientes cavernícolas, a água infiltrante encontra atmosfera com baixa pressão
parcial de CO
2
. Saturada em bicarbonato de cálcio em solução, proveniente da
dissolução do carbonato, a solução aquosa libera CO
2
para a atmosfera da
caverna o que resulta na precipitação do carbonato de cálcio e a conseqüente
formação de espeleotemas. Tal processo pode ser sintetizado pela equação:
CaCO
3
+ H
2
O + CO
2
2HCO
3
-
+ Ca
2+
(Auler et al., 2005).
Outro depósito autóctone configura os blocos colmatados do teto e
paredes das cavernas pelo processo designado desmoronamento, abatimento,
colapso ou incasão. O acúmulo desses blocos forma os cones de dejeção que
recobrem pisos e por vezes obstruem totalmente esses condutos. A incasão
ocorre em função do ajuste mecânico das cavidades e incide em linhas de maior
fraqueza como planos de estratificação e fraturas. Os abatimentos dependem de
13
fatores hidrológicos, morfológicos e, em especial, dos atributos litológicos e
estruturais.
Depósitos orgânicos alóctones como fósseis e subfósseis encontram nas
cavernas ambientes propícios à sua preservação. Adjuntos aos achados orgânicos
em cavidades naturais estão informações paleoambientais exclusivas as quais
arquivam o passado da região.
2.3. PALEONTOLOGIA EM CAVERNAS
A paleontologia teve importante papel no nascimento da espeleologia
como ciência moderna uma vez que a preocupação em explicar a origem da vida
levou ao estudo de registros fossilíferos, abundantes nas cavidades naturais
(Souza, 1999).
2.3.1 Histórico
Remota à exploração do salitre (nitrato de potássio), mineral utilizado na
fabricação da pólvora, extraído de cavidades do Brasil central, no final do século
XVIII e início do XIX, os primeiros fósseis encontrados nesses ambientes.
Comentários acerca desses achados levaram viajantes naturalistas estrangeiros,
no começo do século XIX, a visitar grutas (Couto, 1971; Souza, 1999).
Múltiplos relatos de viajantes abordam a existência de fósseis em cavidades, no
entanto, as cavernas constituíam objeto de interesse secundário frente à
amplitude da natureza brasileira a explorar (Auler, 2004).
Dentre os naturalistas estrangeiros, destaca-se o dinamarquês Peter
Wilhelm Lund (1801-1880), o primeiro a explorar sistematicamente as cavernas
com o objetivo de estudar seus depósitos fossilíferos (Couto, 1971; Auler, 2004).
Entre 1835 e 1846, Lund visita mais de 800 cavernas na região central de Minas
Gerais, coletando 12.412 peças fósseis pertencentes a 100 gêneros e 149
espécies dos quais 19 gêneros e 32 espécies extintos (Cartelle, 1995). Além da
14
questão paleontológica, os estudos de Lund (1950) apresentam conceitos
originais acerca da espeleogênese, da formação de salitre, da conservação de
cavernas, da deposição de espeleotemas e da cronologia dos sedimentos em
grutas (Couto, 1971; Auler, 2002; 2004). Sua coleção, que integra o acervo do
Zoologische Museum em Copenhague, permitiu estudos posteriores com
destaque para a obra de Herluf Winge (1888-1915) que se tornou a principal
referência da mastofauna pleistocênica brasileira (Cartelle, 1995; Leite & Costa,
2002).
Cinqüenta anos após os trabalhos de Lund (1950), entre 1897 a 1905, o
alemão Richard Kröne realiza trabalho semelhante, embora com resultados bem
mais modestos, nas grutas do vale do Ribeira, em São Paulo (Cartelle, 1994;
Auler et al., 2001; Auler, 2004). O legado de Kröne consta do cadastro de 41
cavernas, do mapa da Gruta do Monjolinho, do pioneirismo na fotografia
subterrânea no Brasil e de acervo paleontológico, posteriormente, estudado pelo
argentino Florentino Ameghino (Cartelle, 1994; Auler, 2004).
Apesar de estudos dispersos, especialmente do Museu Nacional do Rio
de Janeiro, a continuidade concreta da pesquisa paleontológica em cavernas
ocorre apenas na década de 1930 com a atuação da extinta Academia Mineira de
Ciências no vale do rio das Velhas. Embora tenha sido a arqueologia o centro de
interesse do estudo, as escavações encontraram vários fósseis muitos dos quais
integram o Museu de História Natural da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) (Couto, 1953; Cartelle, 1994; Cartelle et al., 1998).
A partir da década de 1940, o gaúcho Carlos de Paula Couto se dedica
ao estudo de fósseis em cavernas. Além da vasta coleção que compõe o acervo
do Museu Nacional do Rio de Janeiro, onde trabalhava, a atuação de Paula
Couto resultou em mais de duzentos artigos científicos, no resgate e tradução da
obra de Peter Lund e na publicação de livros de referência fundamental na área
de paleontologia de mamíferos brasileiros (Couto, 1953; Cartelle, 1994). O
15
trabalho de Paula Couto culminou, ainda, na publicação da lei de proteção aos
depósitos fossilíferos de 1942 (Brasil, 1942) e na formação de uma geração de
paleontólogos (Cartelle, 1994).
Pesquisas paleontológicas em cavernas de Minas Gerais continuaram de
maneira esporádica a partir da década de 1970 na região de Lagoa Santa, com
destaque para a expedição franco-brasileira na Lapa Vermelha. Sua
consolidação, contudo, ocorre, principalmente, na década de 1980 com
pesquisadores da UFMG e da Pontifícia Universidade Católica (PUC-MG)
(Cartelle, 1994; Cartelle et al., 1998; Ferreira et al., 2003).
Desde os trabalhos de Lund (1950), os inventários paleontológicos em
cavernas de Minas Gerais concentram-se na região instituída atualmente como
APA Carste de Lagoa Santa. Em 1998, a região contou com extenso estudo,
vinculado à gestão ambiental da Unidade de Conservação, que culminou em
detalhada caracterização paleontológica e na composição de um mapa de grutas
com registros fósseis (Cartelle et al., 1998; Ferreira et al., 2003).
2.3.2 Fossilização em Cavernas
Toda fossilização consta da interrupção da decomposição e, portanto,
deve ser sempre vista como processo excepcional que interrompe a passagem do
tempo (Carvalho, 2004). A fossilização de um organismo depende de condições
específicas para se realizar, constituindo desta forma em fenômeno bastante raro.
Cassab (2004) descreve a fossilização como a resultante da ação do conjunto de
processos físicos, químicos e biológicos que atuam no ambiente deposicional.
A dinâmica dos processos inerentes à vida é naturalmente destrutiva
para a matéria orgânica, quase sempre formada por moléculas facilmente
dissociadas em condição pós-morte. A mesma dinâmica natural, entretanto,
determina mecanismos que reforçam a resistência e durabilidade de carcaças ou
elementos dissociados e os protege da decomposição (Medeiros, 2004). Dentre
16
as premissas para a fossilização, destacam-se a existência de partes duras no
organismo, em especial inorgânicas, e a ocorrência do soterramento rápido do
material. Tais condições, associadas a um ambiente deposicional não-ácido
evitam a decomposição.
Cavernas podem ser encontradas em distintas litologias, no entanto,
registros fósseis apenas foram reportados em rochas carbonáticas (Auler et al.,
2006). Cavidades desenvolvidas em calcários e dolomitos apresentam atributos
que facilitam a formação de fósseis em seu interior. A estabilidade ambiental
desses ambientes, com destaque para a ausência permanente de luz, e o ambiente
não-ácido do interior das grutas limita a decomposição de organismos por
agentes biológicos, físicos e químicos. O ambiente cavernícola isola o
organismo do sistema externo e, portanto, das intempéries e, nesse sentido,
funciona como o soterramento. Por outro lado, a água de percolação solubiliza
compostos carbonáticos do solo e subsolo os quais são disponibilizados em
eventos posteriores de precipitação onde promovem a fossilização de
organismos.
2.3.2.1 Tafonomia
A tafonomia consta do estudo dos processos e das condições que
permitiram a preservação dos fósseis e como eles afetam a informação no
registro fossilífero (Cassab, 2004). Estudos tafonômicos são fundamentais para a
pesquisa paleontológica, uma vez que levam ao conhecimento mais acurado da
formação das jazidas fossilíferas encontrados em cavernas, bem como dos
fatores envolvidos na preservação dos depósitos (Almeida, 2000, citado por
Ferreira, 2003). Eventos de importação de material para o interior de cavernas
são únicos e irreplicáveis, determinando sítios deposicionais ímpares (Ferreira,
2003).
17
Quanto aos mecanismos que podem causar a deposição no interior das
cavernas, Lund (1950), com base em amplo estudo de registros fósseis da região
de Lagoa Santa, reconheceu cinco processos pelos quais materiais são
introduzidos em cavidades: (1) por meio de predadores que usam cavernas como
abrigo; (2) através queda em abismos; (3) pelo extravio e conseqüente morte de
animais que entram nas cavernas em busca de água ou abrigo temporário; (4)
dado à morte de animais que habitam as grutas; e (5) através do transporte por
enxurrada.
Os mesmos processos gerais definidos por Lund (1950) são aclarados
por outros autores com destaque para o transporte fluvial. Cartelle (1994)
defende que a ação de enxurradas, enchentes ou de rios que atravessam cavernas
é o fato mais comum no aporte de organismos para o interior desses sistemas.
Nesse mesmo sentido, Souza (1999) observa que grande quantidade de
sedimentos são carreados para dentro das cavernas pelas águas das enxurradas
levando contíguo restos de animais e vegetais. Couto (1953, p. 27-28) descreve
as cavernas calcárias como depositárias de fósseis que “acumularam-se, ali, por
ação de águas de enchentes periódicas ou de cursos d’água subterrâneos,
freqüentemente de mistura com concreções estalagmíticas, próprias das cavernas
de regiões calcárias”.
Ademais do transporte fluvial, Souza (1999) observa a ocorrência da
fossilização dos próprios animais cavernícolas e Couto (1971, p. 7) acrescenta
que às “corujas e mocos se devem milhares de ossadas de pequenos vertebrados
(ratos) encontrados no interior das cavernas como resultado de suas
regurgitações”. Couto (1971) afirma, ainda, que os restos de vertebrados
encontrados em cavernas podem, também, ser provenientes de animais que as
freqüentavam esporadicamente, procuravam-nas ocasionalmente ou chegavam
ali acidentalmente.
18
A acumulação fossilífera encontrada em ambientes cavernícolas irá
depender da estrutura da caverna e, em especial, do tamanho e número de
aberturas que ela possui. Segundo Ferreira (2003), muitas das cavidades com
registros fósseis possuem pelo menos uma entrada situada em fundo de dolina.
O autor afirma que a localização da entrada da caverna em encosta médio-
superior da vertente indica baixa possibilidade de aporte de material para seu
interior.
2.3.2.2 Processos
Conforme Ximenes (2002), a preservação em cavernas ocorre
basicamente por dois processos: a mumificação e a incrustação. A mumificação
consiste em processo raro onde partes orgânicas do animal são preservadas por
desidratação. Já a incrustação é mais comum, em vista da própria dinâmica de
recristalização do carbonato de cálcio e pode ocorrer relativamente rápido não
sendo indicativo de antiguidade da peça (Ximenes, 2002).
Na incrustação, as substancias transportadas pela água cristalizam na
superfície da estrutura, desta forma, o organismo é recoberto por película de
mineral, normalmente calcita, que o preserva. Esse processo é amplamente
observado em registros de fósseis encontrados em cavernas (Souza, 1999;
Cassab, 2004). Além da incrustação, fósseis encontrados em cavernas são
normalmente originados a partir de processos de permineralização e
substituição. A permineralização trata do preenchimento de poros, canalículos
ou cavidades internas existentes no organismo podendo ser este preenchimento
mineral, calcita no caso de cavernas calcárias, ou clástico. A substituição é
progressiva alteração do mineral que compõe originalmente a peça por outro
composto. Em ambientes cavernícolas é comum o processo de substituição por
calcificação (Cassab, 2004).
19
Cartelle (1994) afirma que o estado dos fósseis em cavernas é variado
podendo uma única gruta apresentar registros com diferentes aspectos. Ferreira
(2003) destaca que, no caso de ter sofrido substituições químicas, os materiais
encontrados estarão efetivamente fossilizados ao passo que em registros
desgastados ou superficialmente concrecionados, considera-se o material como
sub-recente. Cassab (2004) acredita serem considerados fósseis somente os
restos ou vestígios de organismos com mais de 11.000 anos, tempo calculado
pela última glaciação que marca o início do Holoceno, registros com idade
inferior são denominados subfósseis.
2.3.3 Tipos de Fósseis Encontrados em Cavernas
Dois tipos de fósseis podem ser encontrados em cavernas. O primeiro
refere-se aos fósseis inclusos na própria rocha encaixante, associando à fauna da
idade da diagênese litológica (Souza, 1999). Rochas carbonáticas, na maioria
das vezes, têm sua formação associada à sedimentação de depósitos ricos em
carbonato de cálcio proveniente de restos de animais marinhos ou de compostos
químicos produzidos por organismos. Dado a esta origem biogênica, a própria
rocha carbonática pode apresentar restos ou vestígios de vida presentes durante
sua diagênese.
No caso dos calcários e dolomitos do Grupo Bambuí, apenas fósseis
referentes a formas de vida primitivas são observados dado à sua idade
Neoproterozóica. São notáveis os estromatólitos encontrados na Formação Sete
Lagoas, que indicam ambiente de depósitos marinho-rasos, influenciados por
tempestades (Martins-Neto & Alkmim, 2001).
Cartelle (1995) afirma que no interior de grutas calcárias ocorre grande
parte dos achados paleontológicos. Apesar da predisposição das cavernas à
ocorrência de fósseis, o ambiente cárstico representa um sistema dinâmico que
reestrutura ativamente suas feições. As cavernas são, portanto, bem mais
20
recentes que a rocha em que se inserem (Auler et al., 2006). Auler et al. (2006)
baseados nas taxas de denudação do relevo da região cratônica, na qual se
encontra a maioria das cavernas brasileiras, afirmam que é improvável que
qualquer cavidade encontrada no presente possa ter sobrevivido na paisagem por
mais de alguns milhões de anos sem ter sido desestruturada por erosão. A
iniciação da espeleogênese pode por vezes ter ocorrido no Terciário, mas a
morfologia atual das cavidades foi desenvolvida essencialmente em tempos
geológicos recentes, durante o Quaternário (Auler et al., 2005).
Tal característica faz com que não seja presumível encontrar cavernas e,
por conseguinte fósseis, de idades avançadas em rochas carbonáticas. Registros
de vida Pleistocênica predominam no estudo de paleontologia de cavernas,
enquanto materiais mais recentes, do Holoceno, são pouco pesquisados apesar
de poder fornecer informações relevantes quanto ao passado recente do
ambiente.
Acredita-se que as cavernas do Grupo Bambuí se desenvolveram,
principalmente, durante o Quaternário e são especialmente relevantes no registro
de vida do Pleistoceno (Cartelle, 1995; Ferreira, 2003; Ferreira et al., 2003).
Para as cavernas inseridas no Vale do Rio Peruaçu acredita-se que o limite
inferior da abertura dos condutos se deu no Plio-Pleistoceno (Kholer et al., 1989;
Piló, 1989; Moura, 1997).
Desde a atuação de Peter Lund, as grutas do Grupo Bambuí inseridas no
Vale do Rio das Velhas, especialmente da região de Lagoa Santa, têm ocupado
lugar de destaque no registro fóssil da fauna Pleistocênica. Outras cavernas em
regiões e domínios litológicos distintos têm igualmente fornecido material de
grande importância para o melhor conhecimento da fauna extinta no final do
Pleistoceno. Cartelle (1994) destaca as cavidades nos estados de São Paulo,
Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio Grande do Norte, Ceará e
Piauí. Auler et al. (2001) salienta a importância da Toca da Boa Vista (Campo
21
Formoso, Bahia), maior caverna brasileira, como sítio paleoambiental onde
“numerosos fósseis, muitos deles completos e em notável estado de preservação,
permitiram expandir o conhecimento sobre a paleontologia de vertebrados
pleistocênicos” (Auler et al., 2001, p. 71).
Ademais de vertebrados pleistocênicos, cavernas carbonáticas
apresentam registros fósseis de invertebrados, principalmente moluscos uma vez
que tais organismos apresentam partes duras associadas. Em inventário
paleontológico da APA Carste de Lagoa Santa, Cartelle et al. (1998) registra
fósseis de moluscos diversos em quatro cavidades. Ferreira (2003) evidencia
moluscos (Bivalvia e Gastropoda) durante estudos paleontológicos
empreendidos na Província Cárstica Arcos-Pains-Doresópolis. Baptista &
Morato (2003) descrevem a incidência de gastrópodes terrícolas do gênero
Megalobulimus Miller (1878) (Strophocheiloidea: Megalobulimidae) em
cavernas de Arcos e Pedro Leopoldo.
2.3.3.1 Datação de Fósseis Encontrados em Cavernas
Achados fósseis em cavernas fornecem informações importantes sobre a
história ambiental do passado recente do lugar, sendo crucial determinar o
quanto um resto orgânico é antigo. Auler et al. (2005) destacam que a taxonomia
e tafonomia dos sedimentos orgânicos de cavernas aliadas a datações fornecem
dados importantes sobre o paleoambiente da superfície estudada.
Métodos de datação por radiocarbono e por séries de urânio são os mais
utilizados em amostras encontradas em cavidades naturais. Ambos os métodos
são radio-isotópicos e se baseiam na taxa de desintegração atômica da amostra.
O método
14
C é baseado na desintegração radioativa desse elemento.
Durante a vida, todo ser vivo assimila de forma constante o
14
C do ambiente,
havendo equilíbrio entre a quantidade desse elemento encontrado no organismo
e no ambiente. Quando ocorre a morte do organismo, esse equilíbrio é rompido
não sendo mais observada a assimilação do
14
C, apenas sua desintegração
22
radiotiva. A desintegração do
14
C decai em taxa constante definida pela meia
vida, ou seja, pelo tempo necessário para que a atividade do
14
C se reduza à
metade. A idade é encontrada pelo cálculo do
14
C residual verificado no
organismo sendo adotada a meia vida de 5.560 ± 30 anos (Pessenda et al., 2005).
Dois tipos de análises podem ser utilizadas na datação por
14
C. Pelo
método convencional, a idade é encontrada pela contagem do decaimento do
carbono em meias vidas. Em amostras reduzidas é usado um Acelerador de
partículas acoplado a um Espectrômetro de Massa definida pela sigla AMS, do
inglês Accelerator Mass Spectrometry. Vale ressaltar que a espectrometria de
massa é uma técnica que emprega a fragmentação física da matéria e detecção
da massa e de sua abundância para deduzir a composição do material.
A idade encontrada por
14
C é dada com referência a 1950, quando foi
descoberto a datação por carbono 14, tido como o ano que regula o antes do
presente (AP ou BP before present).
Assim como exposto para o método carbono 14, o método de datação por
séries de urânio baseia-se na taxa de desintegração atômica do elemento. No
entanto, no caso da datação por séries de urânio, a desintegração desse elemento
gera um novo elemento ou ainda elementos de mesmo número atômico e massas
diferentes. A idade da amostra é determinada pela razão de decaimento entre
234
U para
230
Th, desde que a parcela de argila ou detritos insolúveis da amostra
inexista ou que os métodos de correção, especialmente
232
Th-
230
Th, possam ser
utilizados (Latham & Schwarcz, 1992).
A aplicação da série do urânio (U) para datação de minerais carbonáticos
só é possível devido à solubilidade do urânio em água que contrasta com a
completa insolubilidade do tório (Th). Dessa forma, os precipitados de calcita e
de outros minerais apresentarão quantidades de urânio, mas serão virtualmente
desprovidos de tório (Latham & Schwarcz, 1992). Sendo assim, o
230
Th presente
23
nos precipitados é fruto do posterior decaimento radioativo do
234
U e a
comparação radioativa entre os isótopos permite obter a idade dos depósitos.
A utilização do método
230
Th/
234
U na datação de minerais carbonáticos já
está bem estabelecida e esse método parece ser o mais indicado na datação
desses materiais, por fornecer uma amplitude temporal elevada com uma
confiabilidade razoável (Richards & Dorale, 2003). Dentre as técnicas utilizadas
tem destaque o uso da espectrometria de massa associada a uma fonte de
ionização por plasma, chamado de ICP-MS do inglês Inductively Coupled
Plasma Mass Spectrometry, denominado no Brasil de Espectrometria de Massa
com Plasma Indutivamente Acoplado, ou simplesmente Espectrômetro Plasma-
Massa (Shen et al., 2002). Segundo Shen et al. (2002), essa técnica tornou
possível reduzir o tamanho das amostras, utilizar amostras de maior dureza e
analisar amostras com baixos teores de elementos.
Assim como em todas as técnicas de datação absoluta, a do
230
Th/
234
U
ICP/MS apresenta limitações e está sujeita a erros. No caso dos espeleotemas de
cavernas é freqüente a troca geoquímica conduzida por água saturada de CaCO
3
,
percolando nos depósitos mais velhos de carbonato, permitindo a entrada (ou
saída) de U e Th (Latham & Schwarcz, 1992). De forma inequívoca é
reconhecida a eficiência da datação pela série do urânio para os compostos
carbonáticos secundários e sua aplicação geocronológica com significativas
repercussões em estudos paleoambientais e paleoclimáticos do Quaternário.
2.4 FÓSSEIS ENCONTRADOS NAS CAVERNAS DO PERUAÇU
Conforme destaca Simões (2007), os estudos paleontológicos na área do
Parque Nacional Cavernas do Peruaçu (PNCP) são recentes e ainda incipientes.
As referências quanto à presença de material biológico nas cavernas do PARNA
se resumem ao trabalho de Sales (2002, 2003) e ao inventário paleontológico
que compõe o Plano de Manejo do PARNA (Ferreira et al., 2003).
24
O estudo de Sales (2002; 2003) aborda a ocorrência de aves na Lapa do
Rezar em distintas fases de decomposição. O trabalho, apesar de intitulado
Fossilização de Aves na Lapa do Rezar (Sales, 2002; 2003) tem seu mérito
associado à apresentação de inventário de esqueletos de aves encontradas na
caverna e à inferência quanto às possíveis causas de sua ocorrência na gruta.
Entre 2003 e 2004 são desenvolvidos os levantamentos ambientais que
iriam compor o Plano de Manejo do PARNA. Na ocasião, análises de
paleontologia foram empreendidas no PARNA por Ferreira et al. (2003)
abordando a deposição de fósseis em diversas cavidades naturais. O amplo
estudo desenvolvido foi aplicado na definição de áreas de visitação turística e
empreende recomendações quanto à proteção do patrimônio paleontológico e
seu uso na educação ambiental de visitantes.
A prospecção paleontológica realizada durante os estudos do Plano de
Manejo buscou inventariar quaisquer restos ou vestígios fósseis encontrados nas
cavernas. Das grutas então vistoriadas, apenas a gruta Bonita não demonstrou
qualquer resto ou vestígio fóssil (Ferreira et al., 2003).
Na Gruta do Janelão os materiais fósseis encontrados por Ferreira et al.
(2003) associam-se essencialmente a níveis de deposição química
principalmente pisos estalagmíticos e represas de travertinos. Os jazigos
fossilíferos, de tamanho reduzido, abrigam restos de aves, roedores, morcegos e
uma serpente, sendo que apenas um fragmento de crânio de mocó (Kerodon
rupestris) concrecionado foi passível de identificação in loco (Ferreira et al.,
2003).
Segundo Ferreira et al. (2003), na Gruta do Brejal destacam esqueletos
de mamíferos, aparentemente sub-recentes, encontrados ao longo do conduto
principal da caverna. Dois sítios de maior relevância foram encontrados. O
primeiro consta de restos ósseos concrecionados de um cervídeo de médio porte,
aparentemente da espécie Ozotoceros bezoarticus associados a piso
25
estalagmítico. O segundo jazigo consiste em um depósito clástico aluvionar,
elevado topograficamente e em processo de desmonte erosivo, onde foram
evidenciados ossos fragmentados pertencentes a diferentes espécies de
mamíferos, algumas pertencentes a cervídeos e outras a pequenos carnívoros
(Ferreira et al., 2003).
Os fósseis presentes na Gruta do Cabloco compreendem ninhos de
vespas fossilizados, aparentemente do gênero Sceliphron sp. (Hymenoptera:
Sphecidae), os quais representam icnofósseis, ou registros indiretos de vida,
bastante raros encontrados somente em outras poucas regiões do Brasil
conforme destacam Ferreira et al. (2003).
Já na Gruta do Rezar foram encontrados partes ósseas extremamente
frágeis de uma anta (Tapirus americanus) e ossos extremamente fragmentados
de mamíferos não passíveis de identificação. Muitos organismos mumificados
mostram-se presentes no conduto da caverna, com destaque para carcaças de
aves, indicando considerável entrada de organismos acidentais no sistema
(Ferreira et al., 2003).
No interior da gruta Olhos D’Água, Ferreira et al. (2003) observaram
fragmentos ósseos fossilizados bastante desgastados associados a sedimentos
conglomeráticos do piso da cavidade. O grau de alteração nas peças denota o
transporte por longas distâncias e impediu a identificação do mateiral in loco.
Foram passíveis de identificação duas peças, uma vértebra torácica e uma ulna
direita, ambas pertencentes aparentemente a carnívoros (Ferreira et al., 2003).
A gruta da Preguiça guarda uma das maiores descobertas
paleontológicas do PARNA Peruaçu: vários ossos incrustados bem preservados
de uma preguiça terrícola extinta pertencente à espécie †Catonyx cuvieri
(Mylodontidae: Scelidotheriinae) imersos em sedimento clástico calcificado. No
relatório do Plano de Manejo a dinâmica deposicional, a fossilização associada
26
ao registro e o detalhamento do jazigo foram apresentados em forma de
esquemas didáticos contendo fotos e ilustrações (Ferreira et al., 2003).
Outro sítio paleontológico de relevância consta da gruta Volta da Serra
III (Olhos do Brioco). É caracterizado pela grande quantidade de fósseis
presentes em praticamente toda extensão da caverna. Durante as prospecções
realizadas por Ferreira et al. (2003) foram encontrados fósseis pertencentes a
pelo menos três espécies de mamíferos extintos: †Catonyx cuvieri e †Valgipes
bucklandii ambas preguiças terrícolas, e †Hoplophorus euphractus, um
gliptodontíneo pleistocênico. A substituição foi constatada como processo de
fossilização recorrente sendo observada, nos materiais submersos, a
incorporação de óxido de manganês. Muitos dos registros encontrados na
caverna passaram por rearranjos que alteraram sua posição deposicional original
o que impossibilitou o estudo tafonômico. Tal interpretação apenas foi possível
em dois jazigos sendo apresentada no relatório em forma de esquemas didáticos
com fotografias e desenhos (Ferreira et al., 2003).
No interior da Lapa do Carlúcio, de acordo com Ferreira et al. (2003),
encontram-se, associados a pisos estalagmíticos, grande quantidade de fósseis
originados a partir de processos de incrustação, permineralização e substituição.
Tem destaque a ocorrência de moluscos fossilizados, cujas conchas
concrecionadas estão dispostas em grande abundância no segmento mais interior
da caverna. Na gruta foram ainda evidenciados ossos concrecionados de
roedores, quirópteros e anuros; partes esqueletais de um pequeno passeriforme; e
uma ulna e um úmero pertencente a mamífero de médio a grande porte,
aparentemente uma anta (Tapirus americanus). A deposição encontrada na Lapa
do Carlúcio foi interpretada por Ferreira et al. (2003) como proveniente de um
único evento de importação isolado onde a água invadiu essa cavidade e
alcançou grande altura. Inferiu-se que o evento de importação foi conseqüente
27
de um represamento do Rio Peruaçu desencadeado pelo abatimento encontrado
na entrada da Gruta do Brejal (Ferreira et al., 2003).
3 ÁREA DE ESTUDO
3.1 ESTUDOS AMBIENTAIS
Inserida às margens do Rio São Francisco, no norte de Minas Gerais, a
região do Vale do Rio Peruaçu configurou uma das primeiras áreas de ocupação
luso-brasileira do interior do país em vista do estabelecimento da rota colonial
Caminho da Bahia. O caminho que ligava Salvador, então capital do governo
geral da colônia, ao território minerador da capitania das Minas Gerais permitiu
o surgimento das principais cidades da região (Instituto Terrazul, 2007). No
século XIX, naturalistas aproveitaram da rota colonial para empreender
incursões científicas ao Brasil Central e registrar desta forma os primeiros
relatos acerca da paisagem cárstica da região do Vale do Peruaçu.
A partir da primeira metade do século XX, as referências ao Vale do
Peruaçu começam a se tornar mais precisas, inicialmente sendo abordadas em
forma de relatos e logo tomando caráter mais científico. Posteriormente, na
década de 1970, ocorrem as primeiras excursões espeleológicas e arqueológicas
ao Vale do Peruaçu e são publicados os primeiros trabalhos geológicos que
abordam a região. Nas décadas seguintes, importantes descobertas
espeleológicas e acadêmicas ocorrem e, à medida que a exploração do Peruaçu
se estabelece, observa-se a origem de uma preocupação quanto à conservação da
região que culminaria com a criação da Área de Proteção Ambiental (APA)
Cavernas do Peruaçu em 1989 e do Parque Nacional (PARNA) Cavernas do
Peruaçu em 1999.
28
Contribuições ao conhecimento das mais diversas características
ambientais do Vale do Rio Peruaçu já foram publicadas com destaque para o
documento referente ao Plano de Manejo do PNCP, de 2003, o qual configura o
mais completo acervo científico acerca da área do PARNA.
3.2. CLIMA
O clima da região se caracteriza como uma transição entre o tropical
chuvoso, quente e úmido, com inverno seco e verão chuvoso e o semi-árido,
com invernos secos e chuvas escassas no verão (Almeida & Uchigasaki, 2003).
Segundo a classificação de Köppen, o clima é tropical com estação seca (Aw),
ou clima tropical quente conforme a categorização de Gaussen. A temperatura
média anual de 24°C e precipitação média anual de 876,7 mm. (Moura, 1997;
Serafini Junior, 2003).
Ocorrem duas estações bem definidas sendo que o período chuvoso de
novembro a abril corresponde aos meses mais quentes e a estação seca, de maio
a outubro, é bastante severa. O período de estiagem é prolongado, podendo
alcançar sete meses. O trimestre de junho a agosto consta do mais seco, com
precipitação inferior a 60 mm em pelo menos um dos meses. Nos meses de
verão observam-se fortes chuvas isoladas ou precipitações generalizadas. O mês
de dezembro é o mais chuvoso atingindo em média 216 mm. A
evapotranspiração anual potencial está entre de 1.650 a 1.800 mm, com déficit
anual no balaço hídrico que varia de 550 mm a 900 mm. (Moura, 1997; Piló,
1997a; Serafini, 2003).
3.3. GEOLOGIA
A região do Vale do Rio Peruaçu se insere na unidade geotectônica do
Cratón São Francisco (Almeida, 1977). Nesse cratón, estabilizado a partir da
primeira metade do Pré-Cambriano Superior, encontra-se o embasamento
29
cristalino recoberto por rochas pertencentes aos Supergrupos Minas, Espinhaço e
São Francisco, esse último composto pelos Grupos Macaúbas e Bambuí em
Minas Gerais (Almeida, 1977; Campos et al., 1991; Almeida & Uchigasaki,
2003). No interior do cráton o grau de metamorfismo é baixo; em geral suas
camadas são suborizontais.
Na área de estudo, as seqüências pré-cambrianas foram afetadas por
esforços tectônicos do Ciclo Brasiliano, resultando em falhas e diaclases com
direções preferenciais NNE/SSW, e dobras suaves com eixo caindo para NW.
Tais falhamentos foram reativados no Mesozóico com estruturação de blocos
por falhas normais de direção NE/SW e formação de um sistema de horst e
gráben. A reestruturação resultante permitiu o encaixe Rio São Francisco e sua
planície aluvial no fundo do vale do lineamento estrutural (Lopes, 1981) e foi
parcialmente responsável pelo entalhamento do paredão do Peruaçu (Campos et
al., 1991).
Na região do PARNA Cavernas do Peruaçu ocorrem rochas
granodioríticas e granito-gnáissicas do embasamento cristalino. Sobre estas
rochas Pré-Cambrianas repousam em discordância seqüências de rochas
Neoproterozóicas carbonáticas do Grupo Bambuí. Seqüências e eventos
Paleozóicos que recobriam esta litologia foram apagados por hiato erosivo.
Desta forma, assentam diretamente sobre o Grupo Bambuí rochas siliciclásticas
de idade Cretácea da Formação Urucuia. Recobrindo essas seqüências ocorrem,
ainda, coberturas Cenozóicas indiferenciadas (Lopes, 1981; Campos et al., 1991;
Simões, 2007; Karmann et al., 2003).
O Grupo Bambuí ocupa toda a região centro-norte de Minas Gerais e é
constituído predominantemente por siltitos, ardósias, filitos, arcósios, calcários e
dolomitos cuja sedimetação ocorreu em mar epicontinental (Piló, 1997a;
Almeida & Uchigasaki, 2003). Dardenne (1978) afirma que na escala do Brasil
Central o Grupo Bambuí inclui seis formações as quais representam, da base
30
para o topo, as Formações Jequitaí, Sete Lagoas, Serra de Santa Helena, Lagoa
do Jacaré, Serra da Saudade e Três Marias.
Brandt (1980) destaca que a região norte de Minas Gerais é, sem dúvida,
uma das mais importantes províncias espeleológicas brasileiras. Na área de
estudo, o Grupo Bambuí é constituído, da base para o topo, pelas Seqüências
Januária/Itacarambi e Nhandutiba (Rabello et al., 1977), as quais passaram à
Formação e são correlacionáveis, respectivamente, às Formações Sete Lagoas e
Lagoa do Jacaré. A Formação Januária/Itacarambi é constituída por dolomitos e
calcários e a Nhandutiba é pelítica, formada por margas e siltitos intercalados
por lentes de calcário preto (Dardenne, 1978; Campos et al., 1991; Piló, 1997a;
Karmann et al., 2003).
O conjunto rochoso carbonático é considerado tipicamente sedimentar
com acamamento subhorizontalizado ou apresentando leve caimento e
metamorfismo incipiente ou ausente. Os carbonatos conferem grande pureza
(mais de 90% de CaCO
3
) o que indica a facilidade de dissolução pela água. O
calcário apresenta-se cinza escuro, bastante fraturado e falhado com concreções
de chert em forma de placas com diâmetros bastante variáveis. (Sociedade
Excursionista Espeleológica, 1975; Campos et al., 1991; Piló, 1997a).
Sobre os o Grupo Bambuí, com um hiato erosivo que abrange a escala
do Proterozóico Superior ao Cretáceo, depositou-se um pacote de siltitos
avermelhados e arenitos bem selecionados pertencentes à Formação Urucuia. Os
depósitos detrítico-lateríticos, encontrados acima dos siltitos e arenitos, foram
formados em época posterior à deposição e diagênese dos arenitos a partir da
remobilização de óxidos de Ferro e Magnésio (Campos et al., 1991; Almeida &
Uchigasaki, 2003; Simões, 2007).
Brandt (1980) afirma que as camadas areníticas que recobrem o Bambuí
em alguns pontos promovem a infiltração de sílica no calcário, principalmente
da Formação Lagoa do Jacaré, tornando-o silificado e modificando suas
31
características mecânicas e, conseqüentemente, transformando-o em menos
elástico.
No Cenozóico ocorreu o retrabalhamento das litologias pré-existentes
em ciclos de denudação e pediplanação sob condições climáticas oscilantes e
regime tectônico estável (Piló, 1989). Coberturas dentríticas Cenozóicas
resultantes dos processos de retrabalhamento de unidades mais antigas aparecem
depositadas, principalmente, ao longo das drenagens e junto a encostas (Almeida
& Uchigasaki, 2003; Karmann et al., 2003).
A evolução recente do sistema cárstico do Rio Peruaçu resulta, ainda, na
formação de um litotipo específico, fruto dos desmoronamentos que culminaram
na abertura do cânion, designado por brecha de colapso. Esses depósitos
compreendem fragmentos angulosos de calcário e couraça laterítica, podendo
exibir cimentação carbonática e fragmentos de espeleotemas. Estão presentes na
entrada e embaixo de clarabóias de cavidades inseridas no cânion e definem
cones de dejeção que por vezes sifonam o Rio Peruaçu (Karmann et al., 2003).
Localmente ocorrem, ainda, tufas carbonáticas com destaque para as
encontradas no Vale dos Sonhos. As tufas constituem em deposições de
carbonato de cálcio por efeito da liberação de CO
2
da solução bicarbonatada,
freqüentemente por influência da turbulência de fluxo em áreas com
significativo gradiente hidráulico e, de modo coadjuvante, pelo consumo de CO
2
por organismos vivos em seu metabolismo (Corrêa, 2006). As tufas do Vale dos
Sonhos apresentam em sua composição restos vegetais como folhas, galhos e
troncos (Karmann et al., 2003).
3.4. GEOMORFOLOGIA
A região do Rio Peruaçu se insere na margem esquerda do Rio São
Francisco. Apresenta relevo variado onde o arcabouço geológico impera como
fator dominante e condiciona o desenvolvimento do modelado. Em sua porção
32
ocidental, a bacia do Rio Peruaçu drena formas tabulares, esculpidas sobre
pacotes sedimentares da Formação Urucuia, conhecidas como chapadas. Nesse
domínio dos planaltos situados a altitudes de 830 metros desenvolvem veredas
que abrigam as nascentes do Rio Peruaçu. Em seu médio curso, o rio corre sobre
rochas carbonáticas do Grupo Bambuí, onde domina morfologia tipicamente
cárstica com feições particulares resultante de processos de dissolução e
corrosão. No baixo curso, o Rio Peruaçu transpõe as coberturas Cenozóicas
inconsolidadas da depressão do São Francisco na qual a morfologia aplanada é
fragmentada pela presença de morros residuais.
3.4.1 Compartimentação Morfológica
Para a bacia do Rio Peruaçu, Piló (1989) define três compartimentos
morfológicos: o de Cimeira, o Carstificado e o da Depressão do São Francisco.
A compartimentação pioneira proposta por esse autor foi modificada Karmann et
al. (2003) quando foram apresentados quatro domínios morfológicos: o Planalto
dos Gerais, a Zona de Transição, o Carstificado e o da Depressão do São
Francisco. Em linhas gerais a segunda proposta se diferencia da estabelecida por
Piló (1989) por dividir o compartimento de Cimeira em duas novas unidades
denominadas por Planalto dos Gerais e Zona de Transição.
O compartimento de Cimeira se desenvolve sobre os arenitos da
Formação Urucuia e se situa nas cotas topográficas acima de 750 metros.
Apresenta relevo aplainado, com ondulações suaves, baixa densidade de
drenagem e ocorrência de veredas que abrigam as nascentes do Rio Peruaçu.
Esse compartimento, excluindo a unidade Zona de Transição, foi reconhecido
por Karmann et al. (2003) como Planalto dos Gerais. O compartimento da Zona
de Transição, abordado apenas na proposta de Karmann et al. (2003), marca a
transição entre o relevo de baixos gradientes das chapadas e o relevo cárstico.
Essa unidade de transição situa-se entre as cotas 720 e 760 metros e tem como
33
particularidade a ocorrência de morros tabulares residuais na cobertura arenosa e
o gradativo surgimento de feições cársticas como dolinas.
Ambas as propostas de Piló (1989) e Karmann et al. (2003) admitem a
ocorrência dos compartimentos Carstificado e o da Depressão do São Francisco
sendo o primeiro compartimento diminuto da Zona de Transição na proposta de
Karmann et al. (2003). O compartimento Carstificado é definido pelo
desenvolvimento de relevo cárstico acidentado no médio curso do Rio Peruaçu,
sobre metassedimentos do Grupo Bambuí. Por conformar especificamente a área
de estudo do presente trabalho, esse compartimento será mais detalhado no item
seguinte. Por fim, no baixo curso do Rio Peruaçu, em cotas abaixo de 500
metros, ocorre o compartimento da Depressão do São Francisco onde depósitos
coluvionares e aluvionares associados à dinâmica do Rio São Francisco
preencheram a área tectonicamente rebaixada. A morfologia dessa área é
aplainada e suavemente ondulada, com ocorrência de dolinas e uvalas rasas, bem
como morros carbonáticos residuais bem individualizados testemunhos do recuo
remontante da escarpa calcária para oeste. Várias pequenas cavernas podem ser
observadas no sopé dessas elevações, principalmente em Itacarambi (Piló, 1989;
1997b; Karmann et al., 2003).
3.4.1.1 Compartimento Carstificado
Em seu médio curso o Rio Peruaçu percorre área de carbonatos e pelitos,
domínio do compartimento Carstificado definido por Piló (1989) e,
posteriormente, abordado por Karmann et al. (2003). Processos de dissolução,
incasão, deposição e transporte de sedimentos modelam um relevo acidentado
com grande diversidade de feições exocársticas e endocársticas conforme
exposto a seguir (Piló, 1989; 1997b; Karmann et al., 2003).
34
Domínio Exocárstico
No exocarste ocorre um conjunto de dolinas e uvalas nas áreas de topo
do compartimento, entre as cotas de 750 e 615 metros, não associadas
diretamente ao sistema fluviocárste do Peruaçu (Piló, 1997a). Maciços bem
individualizados, torres ruiniformes e lapiez (ou karrens) aparecem como feições
residuais. Conectando o planalto cárstico com a área de depressão e situado
paralelo à calha do Rio São Francisco, encontra-se o escarpamento rochoso,
localmente definido por serras (Marmelada, Mãe Joana, Cardoso das Minas), o
qual configura uma escarpa típica do modelo de pedimentação (Piló, 1997a;b).
Especial evidência é dada à ocorrência de um típico fluviocarste com a
presença de sumidouros, ressurgências e de um cânion situado no curso principal
do Rio Peruaçu cuja drenagem superficial contínua é segmentada por cavernas e
arcos (Piló, 1997a;b). A morfologia da calha principal do rio altera, à jusante do
local conhecido como Silú, definindo um cânion margeado por paredões
abruptos de 150 m de profundidade e 50 m de largura que se prolonga por 17
quilômetros até próximo ao povoado de Fabião I (Piló, 1997a; Rubbioli, 1999).
A gênese da morfologia atual do vale cárstico se associa ao processo
pretérito de aprofundamento do nível de base do Rio Peruaçu, aprofundamento
esse que teria causado alterações e descompressões as quais resultaram em
grandes abatimentos sucessivos ao longo do canal (Ferreira et al., 2003). A
dinâmica cárstica do Rio Peruaçu tem sido estudada por diferentes autores,
principalmente, quanto à ocorrência de enchentes e obstrução no curso principal
do rio em função dos processos de incasão do teto do cânion (Rubbioli, 1999;
Ferreira et al., 2003; Rodet et al., 2003a;b; 2004; 2005; Rodet & Rodet, 2004;
Piló et al., 2005).
35
Domínio Endocárstico
No compartimento Carstificado o domínio endocárstico é representado
principalmente pelo sistema fluviocarste do Rio Peruaçu. Trechos subterrâneos
desse rio, ao longo do cânion, que abrigam amplas cavernas de dissolução e de
abatimento, hidrologicamente ativas configuram o primeiro grupo de cavernas
definido por Piló (1997a). Para Kohler et al. (1989) essas cavernas representam
testemunhos de um único paleoconduto que evoluiu, a partir de abatimentos
sucessivos ao longo do seu curso, para o atual fluviocárste. São elas: Lapa do
Brejal, Arco do André, Sexta Água, Troncos, Cascudos e Janelão.
Um segundo grupo de cavidades são cavernas secas as quais se situam
acima do nível freático e estão diretamente associadas ao vale cárstico (Piló,
1997a). Essas cavernas se localizam (i) em cânions menores perpendiculares à
calha do Rio Peruaçu como a Lapa dos Desenhos; (ii) nos paredões recuados
como a Lapa do Caboclo, Bonita, Índio, Capim Vermelho e Boquete; (iii) em
maciços residuais como a Lapa da Hora; e (iv) inseridas nos paredões do cânion
principal como a Lapa do Carlúcio, Fóssil, Bichos, Abelinhas, Morcegos e
Ossos. Esse grupo de cavidades configura testemunhos do rebaixamento da
drenagem uma vez que compunham antigos canais secundários abandonados e
expostos em função da mudança no nível de base (Piló & Kohler, 1991; Piló,
1997a; Karmann et al, 2003; Piló & Rubbioli, 2003; Simões, 2007).
O terceiro grupo de cavernas definido por Piló (1997a) refere-se àquelas
que não se associam ao sistema do Cânion do Rio Peruaçu. Geralmente inseridas
em fundo de dolinas, essas cavidades se situam no topo do planalto cárstico e
constam da gruta Olhos D´Água e Água D´Olhos bem como dos abismos do
Quintal e da Liasa (Piló, 1997a; Simões, 2007).
36
3.5. PEDOLOGIA
Os tipos de solos encontrados na área do Vale do Rio Peruaçu são
fortemente condicionados pelo material de origem e posição no relevo em que
esses se encontram. Alarsa (2003) agrupou os tipos de solos da área em unidades
associativas relacionadas aos grandes compartimentos geomorfológicos
definidos por Piló (1989) e, posteriormente, por Karmann et al. (2003).
O domínio das áreas aplainadas da chapada desenvolvida, sob a
Formação Urucuia, definida por compartimento de Cimeira (Piló, 1989) ou dos
Gerais predominam os Latossolos Vermelho-Amarelos em associação com
Neossolo Quartzarênico. Pontualmente nas áreas das cabeceiras e topos de
interflúvios das chapadas areníticas são encontrados solos álicos e
freqüentemente distróficos do tipo Latossolos Vermelho em associação com
Neossolo Quartzarênico e Organossolo. A conservação dos solos desse
compartimento é fundamental uma vez que propiciam a ocorrência de veredas as
quais garantem estabilidade do sistema e das formações vegetais de cerrado,
bem como a perenidade do Rio Peruaçu (Moura, 1997; Alarsa, 2003).
No compartimento Carstificado (Piló, 1989; Karmann et al., 2003)
ocorrem Nitossolo Vermelho Eutroférrico, Latossolos Vermelhos, Neossolos
Litólicos, Cambissolos Eutróficos e, ainda, afloramentos de rochas carbonáticas.
A ocorrência de cada tipo de solo depende da declividade do relevo à que este se
associa. Nas áreas de menores aclives e, portanto, menores taxas de erosão
predominam os Nitossolo Vermelho como no caso do Vale Cárstico, enquanto
que em locais de intenso movimento de massa imperam os Neossolos Litólicos
ou mesmo os afloramentos. Os solos desenvolvidos, a partir de material
carbonático, apresentam escassez de alumínio constituindo perfis com elevada
fertilidade natural o que resulta na presença de Formações Florestais Perenifólias
e da Mata Seca.
37
No domínio da Depressão do São Francisco Neossolos Flúvicos ocorrem
contíguos ao leito maior do Rio São Francisco, sendo influenciados pela
hidromorfia e aporte de sedimentos aluviais, enquanto nos terraços dessa
drenagem aparecem Cambissolos. Neossolos Litólicos se associam aos
afloramentos rochosos que pontuam a depressão. Solos desenvolvidos a partir de
material residual intemperizado do Grupo Bambuí ocorrem em depósitos de
tálus e colúvios situados junto à base escarpa das serras carbonáticas e em
depósitos aluvionares com destaque para os Latossolos Vermelhos e Argissolo
Vermelhos-Amarelos Eutróficos.
Para o baixo curso do Rio Peruaçu Piló (1997a) afirma que quatro
grandes grupos de solos encontram-se bem preservados na região: os Latossolos
Vermelho-Amarelo, que ocorrem predominantemente no planalto cárstico; os
Argissolos Vermelho-Amarelo, com maior incidência na Depressão
Sanfranciscana; os Neossolos Litólicos, associados aos relevos com cobertura
móvel restrita; e os Neossolos Flúvicos que ocorrem já nas proximidades do Rio
São Francisco.
3.6. VEGETAÇÃO
O PARNA Cavernas do Peruaçu se localiza em área transicional entre os
domínios morfoclimáticos do cerrado e caatinga (Ab’Saber, 1977). O mapa de
vegetação do Brasil do IBGE (1993), citado por Vianna & Amado (2003), define
para a região a ocorrência de Floresta Estacional Decidual Montana, Floresta
Estacional Semidecidual, Savana Arborizada e Área de Tensão Ecológica entre
Savana Estépica e Floresta Estacional.
Piló (1997a) afirma ser o mosaico florístico do Vale do Peruaçu
complexo por se tratar de área de transição. Vianna & Amado (2003)
acrescentam que as tipologias vegetais seguem as características das estruturas
38
geológicas e pedológicas, o que resulta na ocorrência de diferentes ambientes na
região do Peruaçu.
Segundo Piló (1997a), a vegetação do Vale do Peruaçu é caracterizada
por elementos da caatinga nos afloramentos calcários ou terrenos litólicos e por
três formações florestais: (i) a perenifólia representada pela mata ciliar do Rio
Peruaçu e encontrada em locais de permanente umidade; (ii) a subcaducifólia ou
mata-seca observada em manchas nas áreas mais elevada do planalto e que
apresenta elementos da caatinga arbórea e do cerrado; e (iii) a mata caducifólia
que caracteriza a Depressão Sanfranciscana.
Em estudo desenvolvido para compor o Plano de Manejo do PARNA,
Vianna & Amado (2003) definiram as tipologias que configuram a cobertura
vegetal da região do Vale do Rio Peruaçu. A caracterização é composta por
Formações Florestais, Formação Savânica, Formação Savânica-Estépica,
Formação Rupestre, Comunidades Aluviais e Ambientes antropizados as quais:
Formações Florestais
- Floresta Estacional Decidual (mata seca) - é encontrada em
dois tipos de ambientes, na planície sanfransciscana e nas zonas de lapiás do
relevo cárstico local. Dado as diferenças quanto à estrutura fisionômica e
representatividade das espécies essas foram diferenciadas. A Floresta Estacional
Decidual SanFranciscana encontra-se atualmente representada por poucos
fragmentos e em meio a extensas áreas de pastagens e ambientes secundários na
forma de capoeiras. A Floresta Estacional Decidual do Carste consta da tipologia
vegetal com maior ocorrência na área do Parque sendo observadas extensas
áreas contínuas em bom estado de conservação. Essa tipologia se associa à
escassa presença de solo sobre os afloramentos de rochas carbonáticas.
39
- Floresta Estacional Semidecidual - encontrada compondo a
mata ciliar do Rio São Francisco e na base das escarpas onde se associam às
florestas deciduais, distinguindo pela maior presença de árvores perenifólias.
- Floresta Perenifólia Ribeirinha - é representada por duas
categorias florestais. A primeira delas consta das florestas paludosas que se
encontram a montante do Rio Peruaçu, associadas às veredas. A outra se refere
às matas ciliares dos rios Peruaçu e dos Sonhos onde, apesar da influência da
mata seca, observa-se a predominância de plantas perenifólias. Nos pontos do
Rio Peruaçu onde ocorrem planícies sujeitas a inundações, a densidade do sub-
bosque e o número de espécies são restritos em decorrência das limitações
impostas pelo ritmo das cheias.
Formação Rupestre
- Vegetação Hiperxerófila - desenvolve-se somente sobre os
afloramentos calcários com predomínio de formas arbustivas e herbáceas e
estreita ligação com as matas secas.
Formação Savânica
- Cerrados - predominam no setor superior do Vale do Rio
Peruaçu, sendo encontrados nas porções norte e oeste do PARNA.
Formação Savânica-Estépica
- Carrasco - ocorre na região do Peruaçu entre as formações
mata seca e cerrado, conformando alguns elementos comuns a esses ambientes
que o circundam, mas com diversas espécies próprias as quais muitas são
comuns à caatinga.
40
Comunidades Aluviais
- Veredas - encontradas nas nascentes do Rio Peruaçu.
- Campos Hidromórficos - freqüentes no alto Rio Peruaçu.
- Comunidade Aluvial Sub-arbórea - encontrada na planície
sanfranciscana no entorno da Lagoa Bonita até a foz do Rio Peruaçu.
- Comunidade Aluvial Arbórea - trata da evolução da
comunidade anterior, dado à redução das inundações periódicas.
- Vegetação Aquática de Ambientes Lênticos - vegetação
brejosa encontrada na foz do Rio Peruaçu.
Ambientes Antropizados
- Ambiente Urbano ou Urbanizado
- Agrícola
- Pastagens Cultivadas
- Capoeira
- Ambiente Significativamente Degradado - processos erosivos.
3.7. ENCHENTES NO RIO PERUAÇU
As elevações do nível do Rio Peruaçu são notadas pela população local
e aparecem na história oral contada por moradores da região. Conforme
informações de Labegalini (2008), espeleólogo que conheceu o senhor Silú,
antigo morador do atual Centro de Apoio ao Visitante Silú / Centro de Apoio à
Pesquisa Zé da Hora do PARNA, situado nas proximidades da Lapa do Caboclo,
Silú sempre comentou sobre a grande lagoa do Rio Peruaçu que se formava na
época das chuvas. Apesar das referências orais, pouco foi escrito sobre as
inundações e enchentes do Rio Peruaçu.
No primeiro registro encontrado acerca das cavernas do Peruaçu, datado
de 1917, Alfredo dos Anjos disserta sobre algumas cavernas do vale e relata o
41
represamento das águas do rio, possivelmente, na região das Lapas dos Troncos,
Cascudo e Arco do André. Acompanhando o curso do Rio Peruaçu, a montante
da Gruta do Janelão, o autor descreve um corredor descoberto com
prolongamento de três quilômetros e 50 metros de largura. Ao final desse trecho
superficial do rio Alfredo dos Anjos, seguindo a drenagem em direção a
montante, afirma que
as serras tornam a encontrar-se e formam a belíssima e imensa gruta dos Campos
Elíseos cuja porta chamei Porta dos Deuses e é, talvez, a mais bela de todas. A
gruta dos Campos Elíseos tem uma extensão de 3 kilometros formando uma
magestosa galeria subterrânea que se vai tornando cada vez mais dificil de transitar
até que a agua do rio não deixa mais prosseguir sem grave risco de ser colhido por
alguma sucuriúba. Alem d’esta serra o rio esprasia-se formando uma enorme lagoa
que se estende a alguns quiiôometros e só vai entrando na gruta por uma medida
certa todo o ano visto a sua passagem ser muito estreita e não permitir que passe
maior volume de água. Toda a água que o rio traz na época das chuvas fica ali
reprezada e vai saindo lentamente (Anjos, 1918, p. 25-26).
Posteriormente, em 1998, durante os trabalhos do Grupo Bambuí de
Pesquisas Espeleológicas (GBPE) que iriam compor o Levantamento
Espeleológico da APA Cavernas do Peruaçu - Subsídios para Conservação e
Manejo (Grupo Bambui de Pesquisas Espeleológicas/Fundo Nacional do Meio
Ambiente, 1999) foram observados elementos que apontam para a ocorrência de
enchentes no Rio Peruaçu os quais foram publicados por Rubbioli (1999). Na
Lapa do Brejal constataram-se marcas de antigas enchentes e troncos situados
mais de 30 metros acima do nível atual da drenagem. O autor afirma que o
mesmo fato pôde ser observado no Arco do André. Segundo o artigo, tais
elementos se referem a cheias anteriores à atual ocupação da região uma vez
que, caso tais marcas fossem recentes, várias casas situadas imediatamente antes
do Brejal teriam sido inundadas (Rubbioli, 1999).
Durante os levantamentos paleontológicos do Plano de Manejo, Ferreira
et al. (2003) interpretaram o registro fóssil encontrado na Lapa do Carlúcio
como proveniente de um evento de importação decorrente do represamento das
águas do Rio Peruaçu. Os autores inferiram que o enorme abatimento que gerou
42
o vale próximo à entrada da Lapa do Brejal, ou mesmo sua grande clarabóia,
barrou a drenagem e elevou consideravelmente o nível das águas, as quais
invadiram cavernas locadas em níveis topográficos mais elevados. Segundo
Ferreira et al. (2003), o rebaixamento do nível desse reservatório natural ocorreu
progressivamente até que o rio retornou ao seu leito normal, sem se elevar
novamente até a cota altimétrica referente à entrada da Lapa do Carlúcio.
No mesmo estudo Ferreira et al. (2003) constataram, na Lapa do Brejal,
a ocorrência de um depósito clástico aluvionar estratigraficado refinado,
precipitado em finas camadas. Os autores interpretaram a deposição como
evidencia do represamento cíclico da água do Rio Peruaçu no conduto principal
da cavidade.
Ainda durante os estudos do Plano de Manejo do PNCP, nos trabalhos
espeleológicos do GBPE foi identificada uma possível marca d’água, imprimida
na parede do cânion, imediatamente a montante do grande abatimento do Arco
do André que parecia indicar um episódio de inundação que atingiu grande área
a montante do local (Piló et al., 2005).
Em uma série de estudos de caráter essencialmente franco brasileiro no
âmbito das ciências da terra, empreendidos na bacia do Rio Peruaçu,
vislumbrados pelo pesquisador Joël Rodet apontam a ocorrência de um
barramento natural no Rio Peruaçu conseqüente do abatimento da Dolina dos
Macacos na Gruta do Janelão. Os estudos inferiram, no desmoronamento da rede
subterrânea e conseqüente efeito de barragem do Rio Peruaçu, como
responsáveis pelo desenvolvimento de um polje na Terra Brava e em parte pela
abertura do cânion (Rodet et al., 2003a;b; 2004; 2005; Rodet & Rodet, 2004).
Em 2005, o GBPE apresentou o trabalho Dados Topográficos,
Morfológicos e Orgânicos Evidenciam Grandes Inundações no Cânion do Rio
Peruaçu no workshop Cadastro e Mapeamento de Cavernas. Um perfil
longitudinal entre o Arco do André e a Lapa do Brejal foi elaborado com o
43
objetivo de medir as marcas de atividade hídrica nas paredes e a ocorrência de
troncos e galhos suspensos nas galerias. A marca d’água, encontrada na parede
do cânion a montante do abatimento do Arco do André, durante os
levantamentos do Plano de Manejo, foi medida em 41,5 metros acima do nível
do Rio Peruaçu em julho de 2004. Quanto aos restos orgânicos, troncos e galhos
de árvores identificados no interior do Arco do André foram topografados na
altura de 40,1m acima do curso do rio. Na Lapa do Brejal, os restos vegetais
foram constatados em terraços situados a 28,06m acima da drenagem. O estudo
permitiu evidenciar a ocorrência de uma ou mais enchentes a montante do Arco
do André as quais atingiram ainda a Lapa do Brejal (Piló et al., 2005). O tronco
encontrado na Lapa do Brejal foi datado em anos de 580±80 anos BP (Piló,
2008).
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XIMENES, C. L. Acumulação de ossos em cavernas: algumas considerações.
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52
CAPÍTULO I
CARACTERIZAÇÃO DA ASSEMBLÉIA SUBFÓSSIL DA
LAPA DO CARLÚCIO E SUAS REFERÊNCIAS
PALEOAMBIENTAIS
53
1 INTRODUÇÃO
Ambientes cársticos são favoráveis à preservação de importantes
registros paleoambientais. Depressões fechadas e condutos subterrâneos
funcionam como capturadoras de materiais provenientes do meio externo, sendo
a dinâmica hídrica do sistema em que as cavidades se inserem responsável pelo
aporte e deposição de sedimentos e bioclastos (Kohler, 1995; Ferreira, 2003;
Auler et al., 2005).
Regiões carbonáticas consistem de habitats preferenciais de muitas
espécies de moluscos, dada a existência do carbonato de cálcio (presente nas
rochas) necessário à fabricação das conchas desses organismos. Registros fósseis
de moluscos em cavernas carbonáticas são freqüentes, tendo em vista a
existência, nesses organismos, de partes duras associadas às conchas as quais ou
seus fragmentos são encontrados soltos ou contíguos a depósitos químicos ou
clásticos. O transporte para o meio hipógeo desses organismos pode ter sido
ativo ou passivo.
Em cavernas (especialmente calcárias), registros fósseis ficam a salvo
das intempéries, podendo ser conservados por intervalos de tempo superiores a
vestígios semelhantes dispostos em superfície (Auler et al., 2005). Informações
externas eventualmente aportadas para cavernas podem se conservar e constituir
registros importantes sobre o passado de uma região. Fósseis apontam, por
exemplo, a ocorrência de espécies que, por sua vez, podem indicar os
paleoambientes aos quais elas se associavam (Ferreira, 2003).
A paleoecologia procura reconstruir as variáveis que determinavam os
ambientes pretéritos balizando-se no registro fóssil, em datações e informações
isoladas. Os achados fósseis em cavernas fornecem informações importantes
sobre a história ambiental do passado recente de um lugar, sendo crucial
54
determinar o quanto um resto orgânico é antigo. Auler et al. (2005) destacam
que a taxonomia e a tafonomia dos sedimentos orgânicos de cavernas, aliadas a
datações por radiocarbono e pela série do urânio, fornecem dados importantes
sobre o paleoambiente da superfície estudada.
No Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, o ambiente cárstico de
grande geodiversidade consta de um dos mais importantes sítios espelológicos e
geomorfológicos do Brasil (Piló & Rubbioli, 2003). Em seu médio curso, o Rio
Peruaçu percorre imponente área carbonática, com morfologia marcada por
extenso cânion, onde a drenagem é segmentada pela ocorrência de amplas
cavernas de dissolução e de abatimento (Piló & Kohler, 1991).
Perpendicular ao curso do Rio Peruaçu, à média vertente do cânion se
localiza a Lapa do Carlúcio. Na área afótica dessa cavidade, encontram-se
depósitos orgânicos, constituídos de fósseis e subfósseis, de diversas
morfologias com destaque para a abundância de conchas de moluscos (Ferreira
et al., 2003).
A localização da entrada da Lapa do Carlúcio induz a questionamentos
quanto à dinâmica deposicional do jazigo no interior da caverna. Infere-se que o
evento de importação foi conseqüente do represamento do Rio Peruaçu com
elevação de seu nível d’água para montante resultante de abatimentos em seu
curso (Ferreira et al., 2003).
Em linhas gerais este estudo tem o objetivo de contribuir para o
entendimento da dinâmica deposicional dos fósseis e subfósseis encontrados na
Lapa do Carlúcio, utilizando-se dos mesmos para compreender quais foram os
efeitos da formação de reservatórios no passado da área. Neste sentido buscou-se
inventariar a assembléia fóssil e subfóssil desta caverna e delinear os eventos de
importação e deposição do material. A investigação procurou, ainda, gerar
subsídios para a compreensão do alcance e impactos de novos reservatórios
55
naturais que possam vir a ser formados por eventos naturais (como abatimentos)
em diferentes áreas do cânion.
Para tal, o trabalho teve como objetivos responder às seguintes questões:
1. Qual a distribuição dos registros fósseis e subfósseis no interior da
Lapa do Carlúcio?
2. Quais as idades de alguns fósseis encontrados na caverna?
3. Qual o nível mínimo atingido por um paleoreservatório, indicado a
partir da posição mais elevada dos restos fósseis presentes na caverna?
4. Onde poderia ter ocorrido o barramento do Rio Peruaçu que originou
esse paleoreservatório?
5. No relevo atual qual seria a área atingida por esse paleoreservatório?
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo se insere no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
(PNCP), unidade de conservação criada em 1999, situada nos municípios de
Januária, Itacarambi e São João das Missões, norte do Estado de Minas Gerais.
O PNCP protege 56.649 hectares da região cárstica do médio curso do Rio
Peruaçu. Esse rio representa uma das únicas drenagens perenes afluentes da
margem esquerda do alto-médio curso do Rio São Francisco. A figura 1 mostra a
localização da área de estudo.
Situado em área transicional entre os domínios morfoclimáticos do
cerrado e caatinga (Ab’Saber, 1977), o PNCP apresenta clima tropical com
estação seca (Aw), segundo a classificação de Köppen, ou clima tropical quente,
segundo a classificação de Gaussen. A temperatura média anual é de 24°C e a
56
precipitação média anual de 876,7 mm. O clima é marcado por duas estações
bem definidas sendo que o período chuvoso de novembro a abril corresponde
aos meses mais quentes e a estação seca, de maio a outubro, é bastante severa
(Moura, 1997; Serafini Junior, 2003).
FIGURA 01 Localização da área de estudo, no Parque Nacional Cavernas do
Peruaçu e em Minas Gerais. Modificado de Ibama et al. (2003).
A região do médio curso do Rio Peruaçu apresenta um modelado
cárstico desenvolvido sobre as rochas carbonáticas do Grupo Bambuí de
Pesquisas Espeleológicas (2003). Na área de estudo, esse Grupo é constituído,
da base para o topo, pela Formação Januária/Itacarambi, composta por dolomitos
e calcários e pela Formação Nhandutiba, unidade pelítica formada por margas e
siltitos intercalados por lentes de calcário preto. Essas Formações são
correlacionáveis, respectivamente, às Formações Sete Lagoas e Lagoa do Jacaré
(Karmann et al., 2003).
Inserido no Planalto Cárstico do São Francisco, o modelado cárstico do
médio Rio Peruaçu se situa entre 500 e 750 metros de altitude. O relevo,
57
tipicamente cárstico, é resultante de processos de dissolução e corrosão das
rochas carbonáticas. Um cânion de abatimento de 17 Km abriga a calha
principal do rio cuja drenagem superficial é segmentada por sumidouros e
ressurgências representada por grutas e arcos (Karmann et al., 2003).
A gênese da morfologia atual do denominado vale cárstico se associa ao
processo pretérito de aprofundamento do nível de base do Rio Peruaçu,
aprofundamento que teria causado alterações e descompressões as quais
resultaram em grandes abatimentos sucessivos ao longo do canal (Piló & Kohler,
1991). Brechas de colapso são encontradas embaixo das clarabóias e na entrada
de cavidades situadas no cânion e compreendem fragmentos angulosos de
calcário e couraça laterítica. Tais depósitos referem-se à evolução recente do
sistema cárstico local, sendo resultante dos desmoronamentos que culminaram
na exposição dos condutos subterrâneos e conseqüente abertura do cânion
(Karmann et al., 2003). Conformam cones de dejeção que por vezes sifonam o
Rio Peruaçu. Atualmente, são observados três grandes sifonamentos, sendo eles,
de jusante para montante, o do Arco do André, o da Sexta Água e o do Brejal
conforme indica a figura 2.
58
FIGURA 02 Localização dos três grandes sifonamentos do Rio Peruaçu.
A Lapa do Carlúcio integra a margem esquerda do cânion e se situa à
montante da Lapa do Brejal, o primeiro segmento subterrâneo do Rio Peruaçu.
Perpendicular ao cânion principal, essa caverna se situa à média vertente de
encosta com forte aclive, formada por blocos abatidos, originados do recuo da
parede do cânion (Ferreira et al., 2003). A entrada da cavidade se localiza nas
coordenadas UTM 579.224 e 8.332.151 e se situa a 21,9 metros acima do nível
do Rio Peruaçu medido em julho de 2007. Acima da Lapa do Carlúcio, no
domínio do exocarste, observa-se uma dolina de subsidência.
A figura 3 ilustra o Vale Cárstico, com os trechos subterrâneos do Rio
Peruaçu, e indica a localização da Lapa do Carlúcio, à montante da Lapa do
Brejal.
59
FIGURA 03 Vale cárstico do Rio Peruaçu com destaque para a Lapa do
Carlúcio (Modificado de Rubbioli et al., 2003).
60
A Lapa do Carlúcio apresenta padrão planimétrico retilíneo e geometrias
das seções transversais e longitudinais retangulares, com paredes escalonadas. A
caverna compreende um conduto único cuja projeção horizontal é de 160
metros. Inicialmente, um amplo segmento, controlado por fraturas N330 e N220,
prolonga-se por 100 metros e atinge 20 metros de altura por 40 metros de largura
conforme ilustra a figura 5. O segundo segmento da caverna é mais baixo e
estreito e consta da extensão do conduto principal por mais 60 metros na direção
leste, controlado por fraturas N70, até sua obstrução por sedimentos químicos
(Rubbioli et al., 2003).
A entrada da Lapa do Carlúcio é recoberta por sedimentos
inconsolidados, matacões e blocos rochosos que fazem dessa área a porção mais
elevada da caverna. Da entrada ao piso do primeiro salão ocorre um desnível de
8,7 metros. No segmento inicial da Lapa do Carlúcio predominam sedimentos
lamosos originados da entrada, blocos e matacões abatidos associados,
principalmente, ao ajuste mecânico da cúpula do teto na porção central.
No segundo segmento da caverna, extensão do conduto principal na
direção leste, o piso se situa entre 3,6 e 9,3 metros mais rebaixado que a cota
encontrada para a entrada. Na porção central desse segmento são observadas
duas grandes colunas e uma área onde dominam espeleotemas abatidos. O
segundo segmento é revestido por represas de travertino, algumas contendo
pérolas e conjuntos de colunas, estalactites e estalagmites que integram pisos
estalagmíticos. Destaca-se o controle do alinhamento de depósitos químicos,
particularmente as colunas, por fraturas N30 (Rubbioli et al., 2003).
Nas paredes predominam escorrimentos calcíticos. O calcário está
exposto apenas parcialmente nas paredes norte e sul da caverna. A parcela mais
interior da cavidade apresenta um salão superior pequeno limitado por uma
represa de travertino o qual se mostra bastante ornamentado. Apesar de
apresentar um único conduto, a morfologia da Lapa do Carlúcio é bastante
61
recortada pela abundância de espeleotemas, alguns de considerável tamanho,
como ilustram as figuras 5 e 6. Associados aos depósitos químicos da zona
afótica do segundo segmento da caverna se encontra grande quantidade de
fósseis e subfósseis (Ferreira et al., 2003; Rubbioli et al., 2003). A figura 4
ilustra a topografia da Lapa do Carlúcio com segmentos e feições espeleológicas
e seus perfis longitudinais.
FIGURA 04 Planta topográfica e perfis longitudinais da Lapa do Carlúcio.
Fonte: Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas (2003).
62
FIGURA 05 Zona fótica da Lapa do Carlúcio. Os círculos vermelhos destacam
pessoas situadas nas fotos.
63
FIGURA 06 Zona escura da Lapa do Carlúcio e diversos tipos de espeleotemas
aí localizados.
64
FIGURA 07 Zona escura da Lapa do Carlúcio com localização de diferentes
tipos de espelotemas.
65
À margem direita do Rio Peruaçu, oposta à Lapa do Carlúcio, ocorrem
cavernas que apresentaram interesse secundário neste trabalho. Imediatamente à
montante da Lapa do Brejal observa-se um conjunto de três pequenas cavidades
inseridas na parede do cânion. A Lapa das Abelhinhas consta da cavidade
topograficamente mais rebaixada, com entrada localizada a 7 metros acima do
leito do Rio Peruaçu. Contígua, estão a Lapa dos Ossos, cuja boca se situa a 21
metros e o ponto mais rebaixado a 4 metros acima da drenagem, e a Lapa dos
Morcegos, com entrada a 24 metros e o piso interno a 14 metros acima do Rio
Peruaçu. À montante de Carlúcio, próximo ao Centro de referência Silú,
ocorrem ainda a Lapa do Cabloco, situada a 49 metros acima do leito do rio, e a
Lapa dos Cavalos a 36 metros acima dele. Todas essas medidas foram
registradas em relação ao nível do Rio Peruaçu medido em maio de 2007. A
localização dessas cavernas pode ser observada na figura 08.
FIGURA 08 Localização das cavernas situadas à margem direita do Rio Peruaçu
à montante da Lapa do Brejal (Modificado de Rubbioli et al., 2003).
66
2.2 MÉTODOS
2.2.1 Análise de cavernas à margem direita do rio
Foram visitadas as cavernas: Abelhinhas, Ossos, Morcegos, Caboclo e
Cavalo, localizadas à margem direita do cânion, para verificar a existência de
deposições fósseis e registros de fluxos de inundação semelhantes aos
observados na Lapa do Carlúcio.
As cotas topográficas das cavidades da Lapa do Carlúcio e do leito do
Rio Peruaçu foram medidas com auxílio de altímetro. As medidas encontradas
serviram apenas como base para interpretações de diferenças altimétricas entre
as cavidades e o atual leito do Rio Peruaçu. As cotas obtidas não são de todo
confiáveis dado à impossibilidade da calibração do aparelho decorrente da
destruição do marco do IBGE que existia na estrada próxima ao Fabião para
construção de uma entrada de garagem. Desta forma, o altímetro foi calibrado de
acordo com a altitude fornecida pelo aparelho GPS. A intenção do uso do
altímetro foi, essencialmente, averiguar as diferenças entre as cotas das cavernas
encontradass na margem do rio oposta à Lapa do Carlúcio.
2.2.2 Catalogação dos fósseis e subfósseis
Optou-se por denominar todas as ocorrências por subfósseis uma vez
que muitas delas não apresentavam processos de fossilização visíveis.
A zona afótica da Lapa do Carlúcio foi minuciosamente avaliada sendo
a ocorrência de quaisquer registros subfósseis marcada com fita. De modo a
melhor representar a distribuição espacial do material orgânico encontrado na
Lapa do Carlúcio, a caverna foi setorizada em 14 áreas homogêneas. A divisão
foi feita visualmente separando áreas as quais apresentam morfologia
semelhante conforme mostra o tabela 01 e a figura 09. As áreas foram
individualizadas em campo com o auxilio de barbante.
67
Para cada ocorrência foi preenchida uma ficha de catalogação
previamente criada para tal finalidade. Para cada subfóssil ou sítio encontrado
foi descrito o local de deposição, o grau de incrustação e o tipo de processo de
fossilização envolvido. Um amplo registro fotográfico com escala foi realizado.
TABELA 01 Morfologia das 14 áreas homogêneas definidas para a zona afótica
da Lapa do Carlúcio.
Área Definição morfológica
01
Amplas represas de travertino que drenam para a entrada da caverna e
pequeno conjunto de três colunas.
02
Represas de travertino que drenam para a área 01 e que são limitadas por
colunas.
03 Colunas com microrepresas de travertino na base sobre piso estalagmítico.
04
Represas de travertino que, apesar de contíguas às da área 01, apresentam
menor amplitude, maior declividade e se situam mais internas à cavidade.
05
Escorrimento na parede sudoeste da caverna com microrepresas de travertino
na base.
06
Piso estalagmítico com colunas e estalagmites na porção central e
escorrimentos com microrepresas de travertino nas laterais delimitado por
uma grande represa de travertino e situado em nível elevado da caverna.
07
Represas de travertino com pequeno conjunto de colunas e escorrimentos
associado a piso estalagmítico.
08
Represa de travertino com piso estalagmítico, limitando a área com
espeleotemas abatidos, com colunas, estalagmites e estalactites de pequeno
diâmetro individualizadas e escorrimento nas imediações.
09
Escorrimento com uma série de fendas que reveste a parede mais interior da
caverna.
10
Represas de travertino e colunas individualizadas associadas a piso
estalagmítico com espeleotemas abatidos.
11
Seqüência de três colunas revestidas de coralóides entre as quais se encontra
piso estalagmítico com microrepresas de travertino associadas.
12
Aglomerado de colunas de grande porte entre as quais se encontra
microrepresas de travertino e piso estalagmítico na base.
13
Coluna de grande porte revestida por escorrimento liso e por coralóide com
microrepresas de travertino em determinados pontos.
14
Região declivosa coberta com piso estalagmítico com espeleotemas abatidos
e represas de travertino na porção mais elevada.
68
FIGURA 09 Mapa das áreas homogêneas setorizadas na Lapa do Carlúcio.
Não sendo possível individualizar folhas, galhos e troncos que, na
maioria dos casos, encontravam-se associados, optou-se por identificar registros
de vegetais a partir dos seus sítios de deposição. Desta forma, cada ocorrência de
fósseis vegetais não representa necessariamente apenas uma amostra. O mesmo
ocorre para acúmulos de ossos catalogados, também registrados como
ocorrências.
A identificação das conchas de moluscos foi realizada até o nível
taxonômico possível contando com o auxílio da literatura malacológica (Simone,
2006). As conchas de tamanho reduzido, em geral bastante alteradas por
processos de incrustação, foram agrupadas genericamente na categoria
Pulmonata uma vez que não havia como identificá-las taxonomicamente.
69
Algumas conchas puderam ser identificadas como pertencentes à subfamília
Streptaxinae (Streptaxoidea: Streptaxidae).
2.2.3 Topografia
Tendo como referência a planta da Lapa do Carlúcio elaborada pelo
Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas (GBPE) foi realizada uma
topografia de base na caverna (Rubbioli et al., 2003). Nesse mapeamento, bases
fixas foram definidas para balizar a plotagem de registros e aumentar a acurasse
da distribuição espacial dos fósseis e subfósseis. O mapeamento foi feito com o
auxílio de trena, clinômetro e bússola.
Todas as ocorrências fósseis foram mapeadas. As ocorrências situadas
em pontos de maior altura, em cada uma das diferentes áreas homogêneas da
caverna foram topografadas, sendo os demais registros plotados visualmente no
mapa da cavidade e medidos quanto à altura do piso. Todas as amostras
coletadas para datação foram topografadas.
Os dados foram digitalizados, usando os programas OnStation e
CorelDraw, sendo elaborada a representação da caverna contendo a distribuição
de registros fósseis e subfósseis. Com base nos dados de distribuição das
ocorrências fósseis e subfósseis foi avaliada a existência de padrões de
deposição dos registros.
2.2.4 Datação e coleta de amostras
De modo a ter precisão quanto ao evento de importação do material
subfóssil para a Lapa do Carlúcio, foram realizadas datações em amostras,
utilizando os métodos carbono 14 pelo laboratório Beta Analytic (Florida, EUA)
e séries de urânio pela Universidade de Minnesota (EUA). Ambos os métodos
de datação utilizados são radio-isotópicos e baseiam-se na taxa de desintegração
atômica da amostra. As idades encontradas para o método radiocarbono têm
70
como referência o ano de 1950, quando foi descoberto a datação por
14
C, tido
como o ano que regula o antes do presente (AP ou BP before present).
O método
14
C é baseado na desintegração radioativa desse elemento.
Durante a vida, todo ser vivo assimila de forma constante o
14
C do ambiente
havendo equilíbrio entre a quantidade deste elemento encontrado no organismo e
no ambiente. Quando ocorre a morte do organismo, esse equilíbrio é rompido
não sendo mais observada a assimilação do
14
C, mas apenas sua desintegração
radiotiva. A desintegração do
14
C decai em taxa constante definida pela meia
vida, ou seja, pelo tempo necessário para que a atividade do
14
C se reduza à
metade. A datação é dada pelo
14
C residual verificado no organismo sendo
adotada a meia vida de 5.560 ± 30 anos (Pessenda et al., 2005).
Pelo
14
C método convencional a idade é encontrada pela contagem do
decaimento do carbono em meias vidas. Em amostras reduzidas é usado um
Acelerador de partículas acoplado a um Espectrômetro de Massa definida pela
sigla AMS, do inglês Accelerator Mass Spectrometry.
Foram datados por
14
C três amostras, sendo um tronco e duas conchas de
Megalobulimus Miller (1878) (Strophocheiloidea: Megalobulimidae) situados
em locais de deposição e alturas diferenciados no interior da caverna. Em uma
das amostras de concha, dada a baixa quantidade de material disponível, foi
realizado o método espectroscopia de massa atômica definido por AMS. A outra
concha e o tronco foram datados por procedimento radiométrico habitual.
A datação por
14
C em áreas cársticas é complicada uma vez que as
rochas carbonáticas apresentam em sua composição carbono já decaído (morto)
originário da calcita (CaCO
3
). O contato de materiais com a água repleta de
bicarbonato de cálcio acarreta na incorporação de carbono antigo devido ao
chamado efeito da água dura. Sendo o carbono morto muito antigo, pode haver
a tendência de superestimar a idade real da amostra analisada (Auler, 2008). No
caso de conchas o uso do método de datação por
14
C é ainda mais problemática
71
uma vez que, na formação da concha, os moluscos absorvem tanto o carbono
atmosférico (novo) quanto o carbono já decaído da calcita.
A fim de equacionar este problema, o uso da datação por
14
C em
conchas de moluscos deve ser associado a datações adicionais de outros
métodos. No presente estudo foram feitas datações por séries de urânio nas
calcitas que recobriam as duas conchas datadas por método
14
C.
Foram coletadas cinco amostras de Megalobulimus e uma amostra de
tronco, no entanto apenas a amostra de tronco e duas conchas foram enviadas
para datação. As demais amostras de conchas não foram datadas por não ser
possível enviar amostras paralelas de calcita para encontrar a idade mínima da
deposição.
Assim como exposto para o método carbono 14, o método de datação por
séries de urânio baseia-se na taxa de desintegração atômica do elemento. No
caso da datação por séries de urânio, no entanto, a desintegração desse elemento
gera um novo elemento ou ainda elementos de mesmo número atômico e massas
diferentes. A idade da amostra é determinada pela razão de decaimento entre
234
U para
230
Th, desde que a parcela de argila ou detritos insolúveis da amostra
inexista ou que os métodos de correção, especialmente
232
Th-
230
Th possam ser
utilizados (Latham & Schwarcz, 1992).
A aplicação da série do urânio (U) para datação de minerais carbonáticos
só é possível devido à solubilidade do urânio em água que contrasta com a
completa insolubilidade do tório (Th). Dessa forma, os precipitados de calcita,
como as capas calcíticas que revertiam as conchas, apresentam originalmente
quantidades de urânio, mas são virtualmente desprovidos de tório (Latham &
Schwarcz, 1992). Sendo assim o
230
Th presente nos precipitados é fruto do
posterior decaimento radioativo do
234
U e a comparação radioativa entre os
isótopos permite obter a idade dos depósitos.
72
A utilização do método
230
Th/
234
U na datação de minerais carbonáticos já
está bem estabelecida e esse método parece ser o mais indicado na datação
desses materiais, por fornecer uma amplitude temporal elevada com uma
confiabilidade razoável (Richards & Dorale, 2003). A técnica de datação
empregada no presente trabalho fez uso da espectrometria de massa associada a
uma fonte de ionização por plasma, chamado de ICP-MS do inglês Inductively
Coupled Plasma Mass Spectrometry, denominado no Brasil de Espectrometria
de Massa com Plasma Indutivamente Acoplado, ou simplesmente Espectrômetro
Plasma-Massa (Shen et al., 2002). Segundo Shen et al. (2002), tal técnica tornou
possível reduzir o tamanho das amostras, utilizar amostras de maior dureza e
analisar amostras com baixos teores de elementos.
Diante do exposto, percebe-se, quanto à relação entre as técnicas de
datação usadas, que a idade encontrada por
14
C para a concha representa a idade
máxima e para a calcita a idade mínima das importações.
Já a idade encontrada pelo método
14
C para o tronco representa uma
idade mais aproximada do transporte. Tal fato se explica pela assimilação pela
árvore restrita ao carbono atmosférico (novo) e, ainda, pela rápida decomposição
do tronco no caso de ter permanecido no ambiente externo. Vale salientar que o
tronco também está sujeito à contaminação por carbono já decaído dado ao
efeito da água dura.
A contaminação das amostras e, conseqüentemente, as idades
encontradas, pode ocorrer ainda por carbono secundário, ou seja, por carbono
distinto daquele original da amostra. De forma a reduzir a amostra a um único
componente e eliminar o carbono secundário, foi realizado pelo laboratório Beta
Analityc pré-tratamentos. No preparo das amostras de concha, o pré-tratamento
adotado constou da limpeza por ácido (acid etch) enquanto no tronco foi usado
ácido, alcalino e ácido (acid/alkali/acid).
73
As amostras de conchas receberam o pré-tratamento com ácido (Acid
etch) as quais foram primeiramente lavadas em água deionizada, removendo
possíveis sedimentos e detritos orgânicos associados. O material foi então
reduzido a pó e repetidamente submetido a ataques ácidos (HCl etches) para
eliminar carbonato secundário. O número de exposições aos ácidos, as
concentrações e o número de repetições foram definidos pelo laboratório de
acordo com as características específicas da amostra.
O tratamento prévio dado à amostra do tronco é considerado um pré-
tratamento completo. Primeiramente a amostra foi reduzida a pó e dispersa em
água deionizada. Logo após, recebeu lavagens quentes ácidas (HCl) para
eliminar carbonatos e lavagens alcalinas (NaOH) para remover ácidos orgânicos
secundários. Contaminantes mecânicos foram igualmente eliminados nas
lavagens. Concentrações químicas, temperaturas, número de vezes de exposição
e de repetições foram aplicadas pelo laboratório em conformidade com a
especificidade da amostra.
A determinação das amostras a serem coletadas foi feita em campo. Para
tal, foram consideradas a situação deposicional, espacial e topográfica dos
jazigos. Optou-se pela coleta de materiais situados em níveis elevados e
espacialmente distantes.
A datação pela técnica radiométrica tradicional do C
14
requer quantidade
mínima de material, logo o volume das amostras constituiu fator limitante à
coleta. Sendo assim a coleta restringiu-se a amostras de conchas de
Megalobulimus e de troncos de tamanhos maiores.
Outro fator limitante à coleta dizia respeito à incrustação das amostras.
Àquelas incrustadas pela calcita freqüentemente resultam em dados cronológicos
inconsistentes, já que as análises radiométricas são, via de regra,
irreversivelmente influenciadas por relações isotópicas diversas dos elementos.
É difícil mensurar a influência radiométrica de camadas de calcita secundária
74
sobre os materiais orgânicos, como conchas e troncos, logo é fundamental a
seleção de amostras livres (ainda que do ponto de vista macroscópico) da
influência deste mineral.
As coletas foram feitas com auxílio de talhadeira, ponteira e martelo,
sendo cada uma das amostras identificada e armazenada em recipientes
individualizados. As amostras foram inventariadas e o local de deposição
topografado e fotografado com escala.
No laboratório do Centro de Pesquisa Professor Manuel Teixeira da
Costa do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais
(CPMTC-IGC-UFMG), com auxílio de esmeril, foram individualizadas porções
de calcita que recobriam as amostras de duas conchas coletadas. Tais amostras
foram enviadas para o laboratório da Universidade de Minnesota para serem
datadas por séries de urânio.
2.2.5 Barramento
A inferência do local em que se deu o eixo do barramento baseou-se em
referências bibliográficas e na análise do perfil topográfico longitudinal
elaborado por Piló et al. (2005).
Para a projeção do reservatório no relevo atual foram usadas bases
digitais do Rio Peruaçu e curvas de nível da área, com eqüidistância de 10
metros, de Simões (2007). Na elaboração de tal base, o autor utilizou as
ortofotocartas da Ruralminas (1990), citado por Simões (2007) de números
217803, 217805, 217813, 217814, 217815, 217824, 217825, 217835, em escala
de 1:10.000, com resolução espacial 1.3 metros e curvas de nível com 10 metros
de eqüidistância.
Não sendo possível plotar a cota de 19,6 metros acima do Rio Peruaçu,
dado à disponibilidade apenas de curvas de nível de 10 metros de eqüidistância,
foi feito um arredondamento sendo, portanto, utilizado a cota de 20 metros. A
75
projeção do barramento e cálculo da área afetada foram realizados no programa
MapInfo 6.5. Os aplicativos de software ArcMap 9.1, GPS TrackMaker PRO e
GPS TrackMaker deram suporte ao trabalho.
3 RESULTADOS
3.1 LAPA DO CARLÚCIO E DESNÍVEIS DE INTERESSE
À exceção da entrada da Lapa do Carlúcio, nenhum outro contato
relevante do meio externo com o meio endógeno foi observado na cavidade ou
em seu entorno.
Segundo as medidas encontradas para cavernas situadas na margem
direita do Rio Peruaçu (oposta à Lapa do Carlúcio), apenas a boca da Lapa das
Abelhinhas estaria em nível abaixo da cota de inundação. O interior das
cavernas de Morcegos e Ossos (figura 10) teria igualmente níveis abaixo da
medida encontrada para a Lapa do Carlúcio e, conseqüentemente, para a
inundação. Apenas na porção mais interior da Lapa das Abelhinhas, contudo,
foi encontrado um pequeno sítio de deposição com ocorrência concentrada de
conchas, as quais apresentam processos de fossilização semelhantes aos
observados na Lapa do Carlúcio, como mostra a figura 11. O local de deposição
representa o ponto de maior elevação da cavidade, situado a cerca de 7 metros
de altura acima da cota da entrada. Também na Lapa das Abelhinhas constatou-
se a ocorrência de paleopisos cuja morfologia de sua face inferior sugere que
revestiam depósitos inconsolidados.
76
FIGURA 10 A) Entrada da Lapa dos Morcegos; B) Entrada da Lapa dos Ossos e
C) seu salão inferior.
77
FIGURA 11 A) Salão principal da Lapa das Abelhinhas, com destaque para o
paleopiso em primeiro plano, e B) sua porção mais interior; C) D)
E) e F) retratam conchas de moluscos incrustadas encontradas nesse
setor.
78
3.2 ASSEMBLÉIA SUBFÓSSIL
A assembléia subfóssil encontrada no interior da Lapa do Carlúcio
possui ossos e restos vegetais, mas é composta principalmente por conchas de
moluscos terrestres das famílias Megalobulimidae e Bulimulidae.
A assembléia se associa a pisos estalagmíticos e a espeleotemas
localizados na porção afótica da caverna. O carbonato presente na água de
percolação garantiu a preservação de peças sendo que grande parte dos registros
apresenta algum grau de incrustação. Muitas amostras, no entanto, não
apresentavam sinais aparentes de processos de fossilização enquanto outras
sofreram desidratação.
Não foram constatados subfósseis associados a depósitos clásticos. Em
nenhum dos subfósseis foi observado o preenchimento das cavidades internas
por sedimentos. Tampouco foram observados desgastes ou corrosões alusivos ao
transporte.
Encontrou-se o total de 1.479 ocorrências de subfósseis na Lapa do
Carlúcio. A grande maioria dos registros encontrados são conchas as quais
somam 1.399 ocorrências inventariadas nessa caverna. Um total de 990 conchas
pertence a moluscos do gênero Drymaeus Albers (1850) (Bulimuloidea:
Bulimulidae). 238 conchas pertencem genericamente à Ordem Pulmonata e 171
conchas pertencem ao gênero Megalobulimus Miller (1878) (Strophocheiloidea:
Megalobulimidae). A figura 12 mostra algumas conchas catalogadas
pertencentes aos gêneros Drymaeus e Megalobulimus e genericamente
classificados como da ordem Pulmonata. À exceção de alguns poucos registros,
todos os Drymaeus e Megalobulimus encontrados apresentavam praticamente o
mesmo tamanho de concha.
Foram observadas 20 ocorrências de ossos, sendo que uma delas consta
do esqueleto quase completo de um passeriforme. Os ossos encontrados
pertencem a animais de pequeno porte, principalmente, de roedores e aves,
79
sendo também constatada a ocorrência de ossos de quirópteros e anuros. De
mamíferos de médio porte apenas ossos aparentemente pertencentes a uma anta
(Tapirus americanus) e a um veado mateiro (Mazama sp.) foram encontrados na
caverna. A figura 13 ilustra alguns dos ossos descritos.
Dentre as ocorrências vegetais, incluindo folhas, troncos e galhos, foram
catalogados 57 sítios de deposição. Identificou-se um nível de deposição de
restos vegetais que circundava uma coluna, o qual parece aludir a um registro de
marca d’água. Alguns desses sítios são apresentados na figura 14. Um tronco de
maior tamanho cuja localização se destacava foi coletado para datação e não se
encontrava incrustado, apenas desidratado.
Foi catalogada a presença de 4 carvões presos por calcita em coluna ou
escorrimento, mas exibindo face que permitiu a identificação. Constatou-se,
ainda, a ocorrência de um coquinho incrustado, localizado em escorrimento na
base de coluna, e de um sabugo de milho incrustado encontrado preso a
escorrimento situado na porção mais interior da caverna e em nível elevado. Tais
subfósseis estão representados na figura 15.
De modo geral a assembléia subfóssil da Lapa do Carlúcio se apresenta
íntegra. No entanto, foram observadas conchas com sinais de pisoteio. Segundo
relato de moradores locais, muitas conchas já foram retiradas e levadas por
visitantes.
80
FIGURA 12 As imagens A) B) e C) retratam conchas incrustadas do gênero
Drymaeus; D) e E) ilustram conchas do gênero Megalobulimus; F)
representa concha da subfamília Streptaxinae, englobada neste
trabalho na ordem Pulmonata; G) apresenta conchas muito
incrustadas genericamente classificadas como pertencentes à ordem
Pulmonata.
81
FIGURA 13 A) esqueleto desarticulado de um passeriforme; B) epífise distal de
um fêmur de Mazama sp. (veado mateiro); C) úmero e D) ulna de
Tapirus americanus (anta).
82
FIGURA 14 As imagens A) e B) ilustram folhas encontradas associadas à
espeleotemas do tipo colunas; C) ilustra a deposição de vegetais
que circunda uma coluna e parece aludir a uma marca d’água; D)
representa um sítio de deposição vegetal; E) e F) compreendem
troncos incrustados.
83
FIGURA 15 A), B), C) e D) retratam os carvões encontrados na Lapa do
Carlúcio; E) ilustra o coquinho e F) o sabugo de milho.
84
3.3 ESPELEOTEMAS E SÍTIOS DE DEPOSIÇÃO DE SUBFÓSSEIS
As áreas de maior acúmulo de subfósseis ocupam os locais mais
interiores da caverna. O maior aglomerado é observado em uma seqüência de
três colunas revestidas de coralóides, entre as quais se encontra piso
estalagmítico, com micro-represas de travertino, associadas às bases das colunas,
definidas por área 11. No piso dessa área se localizam amostras de conchas com
sinais de pisoteio. Uma das amostras de concha datada (F-06) encontrava-se
nesse sítio.
Uma área, delimitada por uma grande represa de travertino, situada em
nível elevado da caverna, igualmente se destaca pelo acúmulo de e subfósseis.
Esse sítio, definido como área 06, apresenta piso estalgmítico, com colunas e
estalagmites na porção central, escorrimentos nas laterais e micro-represas de
travertino no piso. Nessa área verificou-se elevada diversidade de tipos de
materiais, sendo observado, além de conchas, troncos, galho, folhas, carvão,
ossos e um sabugo de milho. As amostras de tronco (F-03) e de uma concha (F-
02) datadas foram coletadas nessa área 06.
A figura 16 mostra a disposição espacial dos subfósseis encontrados na
zona afótica da Lapa do Carlúcio enquanto a figura 17 exibe a localização das
amostras coletadas para a datação. A figura 18 ilustra conchas pisoteadas
localizadas na área 11.
85
FIGURA 16 Localização espacial dos subfósseis encontrados na zona afótica da Lapa do Carlúcio.
86
FIGURA 17 Localização das amostras de subfósseis coletadas e datadas.
FIGURA 18 A) e B) retratam conchas subfósseis pisoteadas encontradas na área
11 da Lapa do Carlúcio.
87
A topografia dos subfósseis mostra que estes ocorrem até a altura de
19,6 metros acima do nível do Rio Peruaçu medido em julho de 2007, sendo o
registro mais alto pertencente a uma concha do gênero Drymaeus (figura 19).
Outras conchas do mesmo gênero foram topografadas às alturas de 17,4 metros e
17,7 metros. Além disso, outras três amostras foram mapeadas na cota de 19,2
metros acima do leito do rio. A figura 20 ilustra a topografia desses subfósseis
em relação ao Rio Peruaçu no perfil longitudinal da caverna.
Conchas do gênero Megalobulimus foram registradas a 16,5 metros,
16,6 metros, 17,5 metros e 19,3 metros acima da drenagem atual (figura 20). As
conchas desse gênero, coletadas para datação estavam locadas a 14,4 metros (F-
02) e 19,3 metros (F-06) acima do Rio Peruaçu conforme ilustra a figura 21.
A quase totalidade dos ossos se encontrava localizada no piso
estalagmítico ou em represas de travertino. Já o material vegetal encontrava-se
disperso em várias áreas da caverna, sendo os sítios de deposição associados a
escorrimentos, pisos estalagmíticos e especialmente colunas.
Uma folha situada em cota elevada foi topografada à altura de 19,1
metros acima do nível do Rio Peruaçu (figura 20). Foi possível identificar um
nível de deposição de restos vegetais que circundava uma coluna, os quais
parecem aludir a um registro de marca d’água, na altura de 16,9 metros acima do
leito do rio (figura 19). O tronco inserido em reentrância no escorrimento,
coletado para datação (F-03), encontrava-se à altura de 19,2 metros acima do
nível da drenagem (figura 21).
A figura 19 mostra o perfil longitudinal dos segmentos da Lapa do
Carlúcio com o nível de deposição máximo registrado, considerado nível
mínimo atingido por um paleoreservatório, bem como a cota de alcance
referente à marca d’água. Em seqüência, a figura 20 ilustra os diferentes níveis
de deposição topografados no interior da Lapa do Carlúcio e a figura 21 retrata
as cotas das amostras datadas.
88
FIGURA 19 Ilustração dos níveis de deposição mais elevado encontrado e da marca d’água.
89
FIGURA 20 Plotagem de diversos níveis encontrados na topografia dos subfósseis.
90
FIGURA 21 Cotas encontradas para as amostras de subfósseis coletadas e datadas.
91
Mil e uma conchas se encontravam presas ou encaixadas, enquanto 397
estavam soltas. Os subfósseis de outros tipos também se situavam basicamente
presos ou encaixados. Os registros se associavam à diferentes tipos de
espeleotemas, como mostra a figura 22, entretanto a grande maioria destes se
situava em colunas ou próxima à base destas estando também amplamente
locadas na base das paredes da cavidade, as quais em grande parte conformavam
escorrimentos. Nas áreas essencialmente compostas por represas de travertino o
número de subfósseis encontrados é menor.
O tipo de incrustação variou de acordo com o espeleotema ao qual o
subfóssil se associava como retrata a figura 23. Em colunas a incrustação
observada conformava superfície lisa. Os subfósseis presentes no interior de
represas de travertino apresentavam, no geral, maior nível de incrustação, sendo
a superfície da estrutura rugosa. As amostras inseridas nas bordas de represas ou
em micro-represas de travertino se apresentavam lisas.
92
FIGURA 22 A) representa conchas subfósseis localizadas em colunas e B)
situadas na base; C) ilustra peças encontradas em piso
estalagmítico; E) em represa de travertino; D) em escorrimento e F)
associada à base da parede da caverna.
93
FIGURA 23 Incrustação com superfície: lisa associada à A) e B) colunas, C)
micro-represas de travertino, D) escorrimentos e E) borda de
represas de travertino; rugosa referente à F) e G) represas de
travertino; e mista H) com face superior lisa situada na borda da
represa de travertino e inferior rugosa locada dentro desta.
94
3.4 DATAÇÃO
As idades encontradas por datação pelo método
14
C foram de: (i) 1.630
+/- 50 anos BP para uma amostra de tronco (F-03); (ii) 3.050 +/- 50 anos BP
para uma concha de Megalobulimus (F-02); e (iii) 9.380 +/- 40 anos BP para
outra concha de Megalobulimus (F-06). As idades das calcitas que revestiam as
conchas, determinadas por séries de urânio, corresponderam a 1.758,5 +/- 430,5
anos BP para a concha (F-02); e a 8.108,5 +/- 49,0 anos BP para a concha (F-
06). As idades encontradas por ambos os métodos foram sintetizadas no quadro
abaixo (Tabela 02) para melhor visualização. Os sítios de deposição das
amostras coletadas são ilustrados pela figura 24.
TABELA 02 Idades corrigidas encontradas para as amostras datadas pelos
métodos
14
C e Urânio-Thório.
Amostra
Idade
14
C (anos BP)
Idade U Th
F02 3.260 ± 50,0 1.758,5 ± 430,5
F03 1.610 ± 50,0 -- --
F06 9.650 ± 40,0 8.108,5 ± 49,0
95
FIGURA 24 Sítio de deposição das amostras coletadas de A) e B) concha de
Megalobulimus (F-06); C) e D) de outra concha de Megalobulimus
(F-02); e E) e F) de tronco (F-03).
96
3.5 - BARRRAMENTO
Segundo o perfil topográfico longitudinal elaborado por Piló et al.
(2005), o cone de dejeção da Lapa do Brejal apresenta altura suficiente para
promover inundação que alcance o interior da Lapa do Carlúcio, conforme
mostra a figura 25.
A figura 26 ilustra a ocorrência de um barramento, com eixo na Lapa do
Brejal, que alcançasse a altura de 20 metros, usada como arredondamento da
altura de 19,6 metros encontrada para a máxima deposição de subfósseis e
considerada o nível mínimo atingido por um paleoreservatório. Neste caso a área
total atingida seria correspondente a 230,8 hectares e a alteração do nível do rio
seria sentida em até 10,64 quilômetros à montante do local do barramento.
FIGURA 25: Perfil topográfico do Vale do Rio Peruaçu à montante da Lapa do
Brejal com a projeção do alcance de possível represamento da
drenagem ocasionada pelo cone de dejeção da Lapa do Brejal
(Modificado de Piló et al., 2005).
97
FIGURA 26 Projeção da inundação com alcance de 20 metros acima do leito do rio Peruaçu e eixo do
barramento localizado na Lapa do Brejal.
98
4 DISCUSSÃO
O uso de depósitos presentes em cavernas carbonáticas tem contribuído
sobremaneira para pesquisas paleoambientais, ora pelo uso de depósitos
químicos na investigação climática, ora pelo uso de depósitos clásticos na
pesquisa hidrológica e morfodinâmica. Quanto aos depósitos orgânicos, a
maioria dos estudos paleontológicos, realizados em cavernas brasileiras,
restringiu-se ao simples inventário sem que fossem abordados os processos e
condições de transporte e preservação do registro fóssil. Apenas recentemente
depósitos orgânicos têm sido usados na análise paleoambiental, no entanto, os
estudos empreendidos se limitam à dinâmica morfoclimática pleistocênica
(Cartelle, 1995; Auler et al., 2006).
Buscou-se com o presente trabalho ocupar uma lacuna na pesquisa
ambiental e ecológica até então inexplorada. Contribuições oriundas de dados
paleontológicos, geocronológicos e geográficos são usados na reconstrução de
um ambiente fluvial cárstico, colapsível e cíclico. Salienta-se que, por
compreender um estudo inédito, muitas análises contidas nesta discussão se
baseiam em observações ad hoc.
Apesar de moluscos serem freqüentemente encontrados em cavernas
carbonáticas, inventários desses registros são escassos e, praticamente, inexistem
estudos tafonômicos acerca desses depósitos. Em Minas Gerais inventários
paleontológicos empreendidos na APA Carste de Lagoa Santa por Cartelle et al.
(1998) e na Província Cárstica Arcos-Pains-Doresópolis por Ferreira (2003)
evidenciaram a ocorrência de fósseis de moluscos em cavernas. O trabalho de
Baptista & Morato (2003) compreende, no entanto, o único que aborda
especificamente a incidência de moluscos em cavernas e infere quanto à
tafonomia dos depósitos. Os autores descrevem horizontes de mortandade de
99
moluscos do gênero Megalobulimus em cavidades de Arcos e Pedro Leopoldo,
afirmam a ocorrência de transporte ativo desses organismos para essas cavernas
e sugerem que, em épocas de seca, moluscos se refugiam nesses ambientes em
função da alta umidade apresentada, podendo vir a morrer se as fontes secarem
(Baptista & Morato, 2003). Ferreira (com. pessoal) afirma que observações
bioespeleológicas não corroboram com a ocorrência dessas migrações.
Compondo o Plano de Manejo do PNCP, foi realizado o inventário
paleontológico em algumas das cavidades do PARNA. Ferreira et al. (2003)
descrevem a assembléia de moluscos fósseis da Lapa do Carlúcio e apresentam
uma hipótese para a ocorrência do registro. Os autores interpretam a deposição
como conseqüência de um represamento do Rio Peruaçu desencadeado pelo
abatimento encontrado na entrada da Lapa do Brejal.
A Lapa do Carlúcio apresenta uma única via relevante de comunicação
com o meio externo a qual possibilitaria a entrada dos materiais encontrados.
Dada a ocorrência de restos vegetais no jazigo, entende-se que o transporte do
material biológico para o interior da caverna foi passivo. Apesar de haver relato
de entrada ativa de moluscos em cavernas, a quantidade de conchas encontradas,
a heterogeneidade dos sítios de deposição e sua associação com outros tipos de
subfósseis excluem tal possibilidade enquanto fator principal no transporte.
Em vista da morfologia meandrante e recortada da Lapa do Carlúcio o
transporte do material não poderia apresentar outro agente senão a água. Cartelle
(1994) defende que a ação de enxurradas, enchentes ou de rios que atravessam
cavernas é o fato mais comum no aporte de organismos para o interior desses
sistemas. Vale ressaltar que, na presença de água, o transporte de conchas é
facilitado por sua flutuabilidade. Tal condição decorre da presença de grande
cavidade interna nas conchas, em geral expostas pela deterioração das partes
orgânicas dos moluscos.
100
A ocorrência de grandes elevações do nível do Rio Peruaçu já foi
relatada por diversos autores (Anjos, 1918; Rubbioli, 1999; Ferreira et al., 2003;
Rodet et al., 2003a;b; 2004; 2005; Rodet & Rodet, 2004; Piló et al., 2005). O
represamento das águas do Rio Peruaçu foi interpretado por Ferreira et al.
(2003) como o evento de importação do registro subfóssil encontrado na Lapa
do Carlúcio.
Os estudos de Piló et al. (2005) evidenciaram a ocorrência de uma ou
mais enchentes ao longo do Rio Peruaçu a partir de dados topográficos,
morfológicos e orgânicos. Na gruta Arco do André uma marca d’água foi
medida em 41,5 metros acima do nível do Rio Peruaçu (julho de 2004) e troncos
e galhos de árvores foram identificados e topografados na altura de 40,1m acima
do rio (Piló et al., 2005). Na Lapa do Brejal restos vegetais foram registrados em
terraços situados a 28,06m acima da drenagem, sendo um tronco datado por
carbono 14 em 580 +/- 80B.P. (Piló, 2008).
Piló et al. (2005) traçaram um perfil topográfico longitudinal entre a lapa
Arco do André e a Lapa do Brejal, onde se observa que a cota de inundação
encontrada pelo estudo não alcançou a Lapa do Carlúcio, apesar de sua entrada
se situar a 21,9 metros acima do rio. Tal fato pode ser explicado pela diferença
morfológica do Vale do Rio Peruaçu nos trechos à jusante e à montante da Lapa
do Brejal.
No trecho do cânion situado à jusante da Lapa do Brejal o Rio Peruaçu
percorre vale encaixado onde o cânion é estreito, apresentando 50 metros de
largura sendo limitado por paredões abruptos situados bem próximos ao leito do
rio. A montante da Lapa do Brejal o Rio Peruaçu corre em área de vale aberto
com fundo colmatado restrito por vertentes declivosas originadas do recuo da
escarpa do cânion (Piló & Kohler, 1991). Corroborando com o exposto, entende-
se que a bacia de armazenamento à montante da Lapa do Brejal é
101
expressivamente maior que à jusante dessa caverna, sendo necessário, portanto,
volume muito maior de água para alcançar o mesmo nível topográfico.
No presente estudo foram topografados, na Lapa do Carlúcio, subfósseis
a alturas de até 19,6 metros acima do nível do Rio Peruaçu medido em julho de
2007. Essa altura máxima encontrada para a deposição é considerada o nível
mínimo atingido por um paleoreservatório uma vez que as conchas não
necessariamente são carreadas à superfície da água. E, ainda que fossem a
ocorrência de subfósseis, pode estar associada à sua retenção durante o
esvaziamento da cavidade.
Em vista da morfologia do vale nesse trecho, o volume de água
represada necessária para alcançar a cota encontrada foi muito expressivo, o que
certamente indica que uma área bastante extensa deve ter sido igualmente
atingida pelas águas.
Acredita-se que incasões de porções do teto das cavernas, que
culminaram na exposição de trechos subterrâneos do Rio Peruaçu, promoveram
o represamento deste curso d’água. O cone de dejeção da Lapa do Brejal
compreende o testemunho de colapso na calha do Rio Peruaçu situado mais
próximo da Lapa do Carlúcio. Rubbioli (1999) destaca que esse depósito sifona
o Rio Peruaçu por 200 metros e apresenta 50 metros de espessura. A
proximidade e a magnitude dessa brecha de colapso sugerem que o abatimento
da Lapa do Brejal representa um dos importantes acidentes topográficos que
levou ao represamento pretérito do Rio Peruaçu. Essa constatação corrobora
com o exposto anteriormente pelo estudo de Ferreira et al. (2003) que atribuiu
esse colapso a responsabilidade pelo barramento e conseqüente transporte de
materiais para a Lapa do Carlúcio.
A entrada da Lapa do Carlúcio consiste da porção mais elevada dessa
caverna, o piso do interior da cavidade se situa entre 3 e 9 metros abaixo da cota
da entrada. O desnível encontrado, provavelmente, proporcionou a formação de
102
lagos endógenos que perduraram até que a água confinada encontrasse passagem
entre fraturas. O nível de deposição de restos vegetais que circunda uma coluna
e parece aludir a um registro de marca d’água se localiza 6 metros abaixo da
altura da entrada. Tais restos são possivelmente testemunho da ocorrência de um
lago confinado no interior da Lapa do Carlúcio.
Apesar de apresentarem salões posicionados em cotas altimétricas
inferiores à cota de inundação do paleoreservatório as Lapas dos Ossos e dos
Morcegos não apresentam jazigos semelhantes aos observados na Lapa do
Carlúcio. Nessas cavernas ou a deposição não ocorreu ou não encontrou meios
de se fossilizar. Por situarem adjuntas à entrada da Lapa do Brejal, com entradas
locadas em nível topográfico superior ao da cota de inundação, é possível que a
água tenha invadido os salões interiores rebaixados dessas cavidades por
percolação e não procedente do meio externo (pelas entradas). Tal fato não
permitiria o transporte de materiais para o interior das cavernas corroborando
com o observado no local.
Ao contrário do observado nas Lapas dos Ossos e dos Morcegos, a Lapa
das Abelhinhas apresenta a entrada situada abaixo da cota de inundação e apenas
nessa caverna foi constatada a ocorrência de subfósseis. O pequeno jazigo, cujo
transporte teve necessariamente que ser feito pela entrada da caverna, está
restrito à zona mais elevada e interior da cavidade. Acredita-se que, nesse ponto,
dado à elevação, os subfósseis foram conservados enquanto que nas demais
porções da caverna o material tenha sido retirado no momento de esvaziamento
de um dos paleoreservatórios do Rio Peruaçu. Infere-se, ainda, que a remoção do
material inconsolidado, cujos paleopisos da Lapa das Abelhinhas revestiam,
pode ter sido decorrente de um dos represamentos da drenagem. Tal pressuposto
baseia-se na grande quantidade de água necessária para ocorrer essa retirada.
Para que o barramento do Rio Peruaçu tenha ocorrido, é necessário que
os colapsos do teto tenham se sucedido de forma imediata, de modo que o cone
103
de dejeção resultante tenha sido formado por materiais de tamanhos diversos.
Assim, os sedimentos de granulometrias menores, bem como a matéria orgânica
que recobria as porções exocársticas (superiores) dos trechos que
desmoronaram, puderam colmatar os blocos de maior tamanho, os quais
garantiam a estruturação do barramento.
Características do jazigo da Lapa do Carlúcio apontam para uma baixa
energia de transporte, primeiramente dado à quase total ausência de ossos de
animais de médio e grande porte o que contrapõe à grande abundância no
número de conchas encontradas. Se por um lado o transporte de ossos pesados
requer elevada energia de transporte, por outro, o transporte de conchas é
facilitado pela capacidade de flutuação quanto à presença de cavidades internas
ocas.
Por outro lado, observa-se que os subfósseis encontrados na Lapa do
Carlúcio não se associam a sedimentos e tampouco possuem preenchimento
clástico, o que afasta a possibilidade de transporte com alta energia desprendida
onde sedimentos iriam ser carreados em conjunto com os subfósseis e,
conseqüentemente, se agregar a eles.
Não sendo constatado desgaste alusivo ao transporte, entende-se que a
distância percorrida pelos materiais até o interior da caverna tenha sido curta. A
presumível pequena distância de importação dos restos, associada à baixa
energia de transporte, sugere uma elevação gradual do nível do rio. O aumento
gradual do nível do Rio Peruaçu corrobora com a hipótese levantada de que a
água alcançou as Lapas dos Ossos e dos Morcegos por percolação.
Os rebaixamentos do nível da água do Rio Peruaçu, provavelmente,
também ocorreram de forma gradual. Na estrutura do barramento, a água
certamente atuou inicialmente nos sedimentos de menor granulometria, o que
levou à progressiva ampliação dos espaços entre blocos com conseqüente
aumento da passagem do fluxo. A pressão exercida pela coluna d’água sobre o
104
barramento acentuou a ação erosiva da drenagem. Logo, a reestruturação do
leito do rio evolui de modo que ovel d’água vai sendo gradativamente
rebaixando até que restabeleça seu nível, passando a fluir sifonado sob blocos.
Machado & Kotzian (2004) afirmam que o ápice da concha de mosluscos tende
a ser orientada conforme o sentido de paleocorrentes. Na Lapa do Carlúcio
nenhum tipo de padrão foi verificado o que corrobora com o suposto
rebaixamento gradual sem fluxo preferencial estabelecido.
O rebaixamento gradual do nível d’água barrada por colapsos no Cânion
do Rio Peruaçu foi anteriormente constatado por Rodet & Rodet (2004). Esses
autores atestaram a presença de depósito lacustre na região da depressão da
Fazenda Terra Brava pela ocorrência de um pacote de argila amarela de até 5m
de espessura verificado durante escavações arqueológicas a céu aberto na área.
Acredita-se que, durante o Pleistoceno, o escoamento das águas deste setor do
cânion foi fechado pelo abatimento da Dolina dos Macacos, na Gruta do Janelão
(Rodet et al., 2003a; 2005).
A retirada mecânica de blocos de maior tamanho requer elevado poder
erosivo, maior do que aquele observado no Rio Peruaçu, restrito em fluxo e em
declive. Acredita-se que blocos maiores podem ser removidos apenas pela ação
de intemperismo (químico e físico) das águas do Peruaçu, o que demanda grande
espaço de tempo. Dessa forma, as diferentes áreas sifonadas do Rio Peruaçu são
testemunhos de colapsos e enchentes (decorrentes destes colapsos) que
ocorreram no rio. Além disso, tais cones de dejeção são responsáveis pela
elevação periódica do rio em épocas de cheia.
Entende-se, portanto, que dois tipos de ocorrências alteram o nível das
águas do Rio Peruaçu. Uma dela se dá de forma eventual enquanto o outro
ocorre periodicamente. O primeiro é conseqüência direta de grandes colapsos do
teto e paredes do cânion, os quais produzem dejetos que barram com densidade a
passagem das águas, sendo observado o represamento do rio e a ampla elevação
105
do nível da drenagem em direção à montante. O segundo tipo de alteração do
nível da água do Rio Peruaçu resulta da dificuldade (e não impedimento) da
passagem do fluxo pelas áreas onde o rio se encontra sifonado, sendo observada
uma oscilação do nível d’água de muito menor amplitude durante as épocas de
cheia.
Ferreira et al. (2003) constataram, na Lapa do Brejal, a ocorrência de
jazigo fossilífero associado a depósito clástico aluvionar estratigraficado o que
evidencia o represamento cíclico da água do Rio Peruaçu. A assembléia
subfóssil da Lapa do Carlúcio não apresenta estratigrafia deposicional o que
dificulta a interpretação do registro e impede o uso de datações indiretas.
Os registros encontrados na Lapa do Carlúcio não caracterizam o
transporte por enchentes sazonais. Ferreira et al. (2003) afirmam que caso as
águas provenientes de enchentes invadissem periodicamente a caverna,
certamente iriam interferir na dinâmica de fossilização dos materiais. Por outro
lado destaca-se que a morfologia aplainada do vale à montante de Brejal
demanda expressivo volume de água para se elevar o nível do rio à altura da
entrada da Lapa do Carlúcio, o que não poderia ser alcançado por meras cheias
estacionais.
Na Lapa do Carlúcio a grande parte dos subfósseis se encontra aderida
ou encaixada em fraturas ou fissuras presentes na rocha ou espeleotemas. Tal
condição provavelmente resultou do lento transporte dos restos quando do
esvaziamento do lago que se formou no interior da caverna.
A grande maioria dos subfósseis associava-se às colunas ou situavam-se
próximos à base desses espeleotemas. As colunas da Lapa do Carlúcio possuem
muitas reentrâncias, sendo muitas delas revertidas por espeleotemas do tipo
coralóide. Assim sendo, tais formações compreendem armadilhas capazes de
capturar quaisquer materiais que porventura transpassem suas imediações. Por
outro lado, a considerável quantidade de subfósseis, observada junto à base das
106
colunas e das paredes da cavidade, pode ser resultado da decantação de
elementos que, ao encontrarem esses obstáculos, perderam seu equilíbrio
estático.
As maiores aglomerações de subfósseis se situam em locais bem
interiores na caverna, em áreas repletas de depósitos químicos. O carbonato
presente na água de percolação atinge as peças de modos diferenciados, sendo o
tipo de incrustação condicionado ao tipo de espeleotema ao qual o material se
associa.
Os subfósseis encontrados no interior de represas de travertino
apresentam altos níveis de incrustação, sendo sua superfície repleta de
aglomerados de cristais, que dão à peça um aspecto rugoso. Tal morfologia
resulta do crescimento dos cristais em uma condição de submersão, total ou
parcial, na qual as águas carbonatadas não fluem em única direção.
A maioria das amostras que se apresentaram incrustadas apresentam
superfícies lisas. Essas amostras encontravam-se associadas às bordas de
represas de travertinos, colunas, estalagmites e escorrimentos. Nesses casos, a
incrustação resultou do escorrimento (com certo fluxo) das águas de percolação
por sobre as peças, levando a uma incrustação cujo aspecto final era liso.
A grande maioria das ocorrências de subfósseis na caverna compreendia
conchas do molusco Drymaeus sp. (Bulimuloidea, Bulimulidae), o que pode
refletir a grande abundância de organismos deste gênero no passado da área. À
exceção de algumas poucas amostras, todas as conchas de Drymaeus e
Megalobulimus encontradas apresentavam praticamente o mesmo tamanho, o
que indica a ocorrência pretérita de um transporte seletivo, provavelmente de
conchas já abandonadas pelos indivíduos adultos. Não foi possível delinear a
causa da abundância de conchas na assembléia subfóssil encontrada na Lapa do
Carlúcio, possivelmente parte delas já se encontravam nas imediações, na
107
entrada ou mesmo no interior da caverna e foram levadas para as porções mais
internas da cavidade pelas enchentes.
A idade de 3.050 +/- 50 anos BP determinada para a concha F-02
representa sua idade máxima, enquanto a de 1.758,5 +/- 430,5 anos BP a idade
mínima para a importação desse material. Da mesma forma, a idade de 9.380 +/-
40 anos BP da concha F-06 e de 8.108,5 +/- 49,0 anos BP da calcita associada
definem as idades máxima e mínima do evento. Já a idade de 1.630 +/- 50 anos
BP, encontrada para o tronco (F-03), representa melhor a idade do seu
transporte, já que a assimilação de carbono pela árvore é restrita ao carbono
atmosférico (novo) e por ser a decomposição do tronco em ambiente externo
acelerada. Salienta-se que no tronco também pode ter ocorrido incorporação de
carbono decaído devido ao contado do material com água repleta de bicarbonato
de cálcio, o chamado efeito da água dura, entretanto, o nível de contaminação é
consideravelmente menor que àquele das conchas.
As idades encontradas para as amostras aludem à ocorrência de dois ou
três eventos de importação de materiais para a Lapa do Carlúcio. Dado o elevado
nível de contaminação e conseqüente erro de estimativa da idade encontrada
para a amostra de calcita da concha F-02, não foi possível afirmar, com certeza,
se este subfóssil foi ou não transportado pelo mesmo evento que carreou o
tronco F-03.
A constatação da ocorrência de no mínimo duas grandes enchentes do
Rio Peruaçu difere do proposto por Ferreira et al. (2003). Esses autores
afirmaram que todos os materiais foram depositados na Lapa do Carlúcio em um
evento de importação isolado e único. Na ocasião não foram datados subfósseis
que pudessem afirmar ou contradizer tal hipótese como agora é apresentado.
O Vale do Rio Peruaçu se insere em área de transição entre os biomas
Cerrado e Caatinga, em que a precipitação dificilmente conseguiria alcançar
níveis tão elevados que culminassem em inundações que pudessem alcançar o
108
interior da Lapa do Carlúcio sem que a ocorrência fosse registrada em estudos
paleoclimáticos. Tais estudos indicam que as últimas grandes mudanças
climáticas ocorreram no final do Pleistoceno e início do Holoceno. Por outro
lado, é evidente a vulnerabilidade do Vale do Rio Peruaçu a processos de
incasão.
Possivelmente mais de um evento culminou na configuração da atual
entrada de montante da Lapa do Brejal e na abertura de sua clarabóia. É
provável que a individualização do arco que ocorre na entrada da caverna,
separando-a da clarabóia, seja testemunho de pelo menos dois eventos de
abatimento do teto. Visto que os grandes clastos, gerados pelos abatimentos, são
removidos de forma extremamente lenta, distintos colapsos sucedidos em
seqüência espacial podem resultar na associação de cones de dejeção, o que
potencializa a capacidade de retenção das águas.
A presença de um sabugo de milho encontrado no interior da Lapa do
Carlúcio confirma o transporte de material desde o Vale do Rio Peruaçu, uma
vez que apenas esta porção do relevo poderia ter sido, no passado, utilizada para
agricultura dado à ocorrência de um ponto de água permanente (Rodet & Rodet,
2004). A presença de coquinho e carvões foi igualmente constatada no interior
da Lapa do Carlúcio, mas não se pode afirmar a associação direta entre esses
restos e as populações humanas que habitaram o vale no passado. Vale destacar,
no entanto, que coquinho (Syagrus oleracea) e carvão foram constatados em
sítios arqueológicos das Lapas do Boquete, da Hora e do Caboclo por Freitas
(2001; 2004).
A ocorrência de milho no Vale do Peruaçu foi anteriormente observada
nos sítios arqueológicos das Lapas do Boquete, da Hora e do Caboclo. Tais
milhos se encontravam acondicionados em cestas denominadas silos e foram
estudados por Freitas (2001). Coquinhos (Syagrus oleracea) e carvão foram
também encontrados nos silos com maior abundância sendo, portanto, usados
109
pelo autor para a datação indireta por C
14
do milho. A datação indireta do milho
apresentou idades que variaram de 620+/-60 anos a 990+/-60 anos B.P. (Freitas,
2001) e idades entre 570+/-60 anos e 1010+/-80 B.P. (Freitas, 2004).
As idades encontradas para o transporte da assembléia subfóssil de
Carlúcio superam em cerca de 640 +/- 110 anos BP as idades indiretas das
amostras arqueológicas de milho encontradas por Freitas (2001) e em cerca de
620 +/- 130 anos BP as idades indiretas determinadas por Freitas (2004). Em
vista da discrepância entre idades, infere-se que (i) ou a idade do milho
encontrado na Lapa do Carlúcio é distinta daquelas definidas para os episódios
de importação dos demais materiais, o que reflete na ocorrência de um terceiro
ou quarto evento mais recente, (ii) ou a amostra do sabugo de milho verificado
na Lapa do Carlúcio realmente apresenta idade superior àquelas encontradas por
Freitas (2001; 2004) o que sugere uma ampliação da escala de tempo de cultivo
do milho no Vale do Peruaçu. Baseado em achados arqueológicos de milho,
Prous (1986), citado por Freitas (2001) acredita que este tenha sido sido
cultivado em Minas Gerais pelo menos desde 4.500 anos B.P. Os espécimes de
milhos mais antigos encontrados na região norte e nordeste de Minas Gerais
foram constatados por Bird et al. (1991), citados por Freitas (2001) em
horizontes cronológicos entre 4.000 e 1.000 anos B.P.
Por fim, vale ressaltar que a assembléia subfóssil da Lapa do Carlúcio
consiste em um patrimônio paleontológico que apresenta grande valor enquanto
testemunho paleoambiental. Apesar de se encontrar bem preservada, foram
relatadas, por moradores locais, retirada de materiais por visitantes, sendo ainda
possível identificar conchas com sinais de pisoteio. De modo a se resguardar a
fragilidade da assembléia, o trânsito de pessoas deveria ser vetado, mesmo em se
tratando de espeleólogos, nas áreas onde está a maior concentração de subfósseis
da caverna. Salienta-se que impactos de quaisquer naturezas no jazigo são
irreversíveis.
110
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115
CAPÍTULO II
POSSIBILIDADES DE NOVOS BARRAMENTOS NO
CÂNION DO RIO PERUAÇU E SEUS PROVÁVEIS
IMPACTOS AMBIENTAIS
116
1 INTRODUÇÃO
Presente na história oral contada por moradores da região do Parque
Nacional Cavernas do Peruaçu, as elevações do nível do Rio Peruaçu têm sido
abordada por diversos autores (Anjos, 1918; Rubbioli, 1999a; Ferreira et al.,
2003; Rodet et al., 2003a;b; 2004; 2005; Rodet & Rodet, 2004; Piló et al., 2005).
Dois tipos de ocorrências alteram o nível do Rio Peruaçu. O primeiro
tipo é conseqüência direta de grandes colapsos do teto e paredes do cânion cujos
dejetos barram blocos com densidade a drenagem resultando na ampla elevação
do nível do rio em direção à montante. Esses fenômenos ocorrem de forma
eventual e consistem do objeto deste estudo. O segundo tipo deriva da
dificuldade (e não impedimento) da passagem do fluxo do rio por certos trechos.
Tal dificuldade pode decorrer de processos de incasão ou ainda ser devido ao
encaixe e estreitamento do vale em alguns pontos. Neste tipo a oscilação do
nível d’água ocorre de forma periódica e apresenta uma amplitude
consideravelmente menor que a do primeiro (ver capítulo I).
Alguns colapsos observados ao longo do cânion marcam a evolução
morfogenética recente do sistema cárstico do Rio Peruaçu. Alterações e
descompressões com conseqüentes abatimentos sucessivos ao longo do canal
resultam do aprofundamento pretérito do nível de base do Rio Peruaçu. O
processo culminou na exposição dos condutos subterrâneos e na abertura do vale
cárstico que hoje configura um cânion de abatimento de 17 quilômetros de
comprimento com drenagem superficial segmentada pela ocorrência de amplas
cavernas e arcos (Piló & Kohler, 1991; Piló, 1997a; Karmann et al., 2003).
Em diversos pontos desse cânion ocorrem brechas de colapso,
decorrentes de abatimentos. Tais depósitos, constituídos essencialmente por
fragmentos angulosos de calcário e couraça laterítica, ocorrem sob clarabóias e
117
junto às entradas de cavidades situadas no vale cárstico (Karmann et al., 2003).
A ocorrência de brechas de colapso por vezes oculta todo o curso do Rio
Peruaçu com destaque para os sifonamentos da Lapa do Brejal, da Sexta Água e
do Arco do André.
A partir do inventário, topografia e datação de subfósseis encontrados na
Lapa do Carlúcio, constatou-se a ocorrência de pelo menos duas grandes
enchentes holocênicas no curso do Rio Peruaçu (ver capítulo I). Foram
registradas, naquela caverna, um total de 1.479 ocorrências de subfósseis
associados às alturas de até 19,6 metros acima do atual nível do Rio Peruaçu.
Tais registros são surpreendentes, tendo em vista o fato de que seu transporte
somente poderia ter sido realizado mediante uma expressiva elevação do rio que,
por sua vez, demandaria um enorme volume de água capaz de inundar todo o
amplo vale presente no trecho em que essa caverna se insere. Aparentemente, os
possíveis agentes dos eventos de inundações que atingiram a Lapa do Carlúcio
foram os processos de incasão ocorridos na Lapa do Brejal. A projeção de uma
enchente no relevo atual à montante da Lapa do Brejal, que alcançasse cota de
no mínimo 19,6 metros acima do nível atual do rio, atingiria uma área de cerca
de 230,8 hectares.
Colapsos são comuns em áreas cársticas e recorrentes no Vale do Rio
Peruaçu. Esta propensão natural a abatimentos tem sido ultimamente agravada
pela ocorrência de tremores de terra na região.
Frente à constatação de enchentes pretéritas ao longo do Rio Peruaçu e à
possibilidade de novos eventos de abatimentos no vale cárstico, o presente
estudo objetivou compreender as conseqüências ecológicas e ambientais da
ocorrência de novos barramentos naturais no Vale do Rio Peruaçu.
Especificamente pretendeu-se (i) prever possibilidades de novos barramentos;
(ii) estimar a perda de áreas naturais e antropizadas decorrentes de inundações
com o alcance de no mínimo de 19,6 metros acima do Rio Peruaçu, conforme
118
constatado para a Lapa do Carlúcio; (iii) prever impactos sob áreas naturais e
antropizadas decorrentes das enchentes naturais.
Estudos referentes à paleoecologia e paleoambiente do Quaternário
continuamente fornecem informações essenciais para análises contemporâneas
acerca de ecossistemas e problemas ambientais (Huntley, 1996). Por abranger
amplas escalas de tempo, a investigação paleoambiental contribui para o
entendimento de numerosas questões que transcendem a observação ou
experimentação científica. Neste sentido, o estudo e reconstituição
paleoambiental gera subsídios à previsão de possíveis alterações futuras
(Carvalho, 2004).
2 METODOLOGIA
2.1 ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo conforma o médio curso do Rio Peruaçu, denominado
vale cárstico e se situa no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, unidade de
conservação estabelecida em 1999, que se localiza nos municípios de Januária,
Itacarambi e São João das Missões, porção norte do estado de Minas Gerais.
A área se localiza em ambiente transicional entre os domínios
morfoclimáticos do cerrado e caatinga (Ab’Saber, 1977). Segundo a
classificação de Köppen, o clima é tropical com estação seca (Aw), ou clima
tropical quente conforme a categorização de Gaussen. Ocorrem duas estações
bem definidas com temperatura média anual de 24°C e precipitação média anual
de 876,7 mm (Moura, 1997; Serafini Junior, 2003).
Na região do Vale do Rio Peruaçu ocorrem rochas granodioríticas e
granito-gnáissicas Pré-Cambrianas sobre as quais repousam seqüências
119
carbonáticas Neoproterozóicas do Grupo Bambuí. Devido a um hiato erosivo,
diretamente sobre o Grupo Bambuí assentam rochas siliciclásticas de idade
Cretácea da Formação Urucuia. Recobrindo essas unidades ocorrem ainda
coberturas Cenozóicas indiferenciadas (Lopes, 1981; Campos et al., 1991;
Karmann et al., 2003; Simões, 2007).
Segundo Piló (1997a), a vegetação do Vale do Peruaçu é caracterizada
por elementos da caatinga nos afloramentos calcários ou terrenos litólicos e por
três formações florestais: (i) a perenifólia representada pela mata ciliar do Rio
Peruaçu e encontrada em locais de permanente umidade; (ii) a subcaducifólia ou
mata-seca observada em manchas nas áreas mais elevadas do planalto e que
apresenta elementos da caatinga arbórea e do cerrado; e (iii) a mata caducifólia
que caracteriza a Depressão Sanfranciscana. Vianna & Amado (2003) acreditam
que seis formações configuram a cobertura vegetal da região, sendo elas as
formações florestais, rupestres, savânica, savânica-estépica, de comunidades
aluviais e de ambientes antropizados.
O médio curso do Rio Peruaçu se insere no Planalto Cárstico do São
Francisco, entre as altitudes de 500 a 750 metros e é marcado pela morfologia
tipicamente cárstica. Ao longo do Vale do Rio Peruaçu se desenvolveu o
principal sistema de cavernas do Parque Nacional. Um cânion de abatimento de
17 Km abriga a calha principal dessa drenagem que se apresenta segmentada em
seis pontos pela ocorrência de arcos e cavernas de dissolução e de abatimento,
integrantes do ambiente de circulação subterrânea (Piló, 1989; 1997b; Piló &
Kohler, 1991; Piló & Rubbioli, 2003).
A Lapa do Brejal representa o primeiro segmento subterrâneo do Rio
Peruaçu. Situada nas coordenadas UTM 579.638m e 8.332.210m, a cavidade
apresenta 1.420 metros de desenvolvimento, largura variando entre 20 e 60
metros e altura média de 30 metros. Sua entrada à montante consta de um arco,
com 100 metros de altura e 30 de largura, que se prolonga por 100 metros até
120
uma grande clarabóia. Desde a montante da entrada o leito do Rio Peruaçu é
sifonado por um cone de dejeção com cerca de 50 metros de espessura,
testemunho do processo de incasão do teto e paredes da cavidade. Após 200
metros o Rio Peruaçu ressurge imediatamente depois da clarabóia contígua ao
arco da entrada (Rubbioli, 1999a).
À montante da Lapa do Brejal o Rio Peruaçu corre em área de vale
aberto e com fundo colmatado limitado por vertentes inclinadas constituídas por
depósitos originados do recuo da escarpa do cânion. Já à jusante da Lapa do
Brejal ocorre um vale encaixado onde o cânion se estreita, apresentando cerca de
50 m de largura e é limitado por paredões abruptos, de 150 metros de
profundidade, situados bem próximos do leito do rio (Piló & Kohler, 1991; Piló,
1997a).
O segundo trecho subterrâneo da calha principal do Rio Peruaçu consta
do sistema constituído pela Gruta da Sexta Água e as seguintes galerias fósseis
deste rio: Gruta da Onça e Túnel do Vento. A Gruta da Sexta Água apresenta
300 metros de desenvolvimento e 41 metros de desnível e corresponde ao
segundo grande sifão do Rio Peruaçu (Redespeleo Brasil, 2008).
Com extensão de pouco mais de 100 metros o Arco do André representa
a terceira caverna na calha do Peruaçu e se situa nas coordenadas UTM 582.193
e 8.331.071. Seu arco atinge 100 metros de altura e 55 metros de largura sendo
uma das mais amplas galerias encontradas ao longo do vale. A exemplo dos
sifonamentos das Lapas do Brejal e da Sexta Água, o Rio Peruaçu some poucos
metros à montante do Arco do André diante de um compacto abatimento, vindo
a ressurgir apenas na Lapa dos Cascudos, a mais de 400 metros à jusante
(Rubbioli, 1999b).
O quarto e quinto trecho subterrâneo do Rio Peruaçu compreende as
Lapas dos Cascudos e dos Troncos com, respectivamente, 220 e 180 metros de
desenvolvimento. Suas galerias de dimensões modestas, com 30 metros de
121
largura por 15 metros de altura, sugerem desvios no leito original do Rio
Peruaçu. Entre as Lapas dos Cascudos e dos Troncos o Rio Peruaçu corre
superficialmente por cerca de 150 metros (Rubbioli, 1999b).
Após deixar a Lapas dos Troncos o Rio Peruaçu corre superficial por
quase dois quilômetros até a Gruta do Janelão, seu sexto e último trecho
subterrâneo. A Gruta do Janelão se localiza nas coordenadas UTM 581.581 e
8.328.773 e representa uma das maiores cavernas do país, tanto em extensão,
com 4.740 metros de projeção, como em desnível, com 176 metros de altura. O
rio adentra na caverna por uma galeria estreita que logo adquire grandes
dimensões, com 100 metros de altura e largura variando entre 50 a mais de 100
metros. A caverna pode ser dividida em duas porções sendo a primeira parte
iluminada pela ocorrência de três amplas clarabóias e o trecho de jusante que
corresponde a uma zona afótica. O Rio Peruaçu percorre toda a extensão da
galeria principal da caverna. A figura 01 localiza as cavernas inseridas no vale
cárstico do Rio Peruaçu e no entorno.
122
FIGURA 01 Cavernas situadas no Cânion do Rio Peruaçu e nas áreas adjacentes
(Modificado de Rubbioli et al., 2003).
123
2.2 MÉTODOS
Áreas potenciais à ocorrência de novos processos de abatimento, com
conseqüente barramento do rio em direção à montante, foram definidas a partir
da análise da estrutura atual do cânion e da morfologia dos seis segmentos
subterrâneos do rio Peruaçu.
Após a definição dos locais potenciais à ocorrência de futuros
barramentos, foram projetados reservatórios usando as bases digitais do Rio
Peruaçu e das curvas de nível com eqüidistância de 10 metros da área a partir de
Simões (2007). Para a elaboração de tais bases, esse autor utilizou as
ortofotocartas da Ruralminas (1990), citado por Simões (2007) de números
217803, 217805, 217813, 217814, 217815, 217824, 217825, 217835, em escala
de 1:10.000, com resolução espacial 1.3 metros e curvas de nível com 10 metros
de eqüidistância.
De modo a balizar a projeção de enchentes no modelado atual, foi
utilizada a cota de 19,6 metros acima do Rio Peruaçu retirada das observações
dos registros fósseis e sub-fósseis presentes na Lapa do Carlúcio (ver Capítulo
I). Uma vez que não foi possível plotar a cota de 19,6 metros, em função da
disponibilidade de apenas curvas de nível de 10 metros de eqüidistância, foi feita
uma aproximação sendo, portanto, utilizada para a projeção dos reservatórios, a
cota de 20 metros acima do Rio Peruaçu.
Bases cartográficas relativas à fitogeografia, ao uso do solo e à
infraestrutura da unidade de conservação foram sobrepostas às projeções dos
barramentos. Tais bases cartográficas foram elaboradas durante a execução do
plano de manejo do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu (Ibama et al., 2003).
Essas bases foram produzidas com informações sensoriais de duas imagens
Landsat ETM+ da WRS WRS (Worldwide Reference System) 219/70, dos
períodos de seca e chuva, e uma imagem SPOT-5, sendo ainda realizada a
checagem de campo (Ibama et al., 2003).
124
Os aplicativos de software utilizados foram ArcMap 9.1, GPS
TrackMaker PRO, GPS TrackMaker e MapInfo 6.5. O cálculo de cada tipologia,
uso e infraestrutura afetada, bem como a elaboração dos mapas finais foram
realizados no programa MapInfo 6.5.
3 RESULTADOS
3.1 ÁREAS POTENCIAIS À OCORRÊNCIA DE ABATIMENTOS
Em nenhum outro sistema morfogenético os colapsos de rocha são tão
significantes como no carste. Processos de dissolução, corrosão ou transporte
reestruturam continuamente a morfologia superficial e subterrânea do sistema
alterando as condições de equilíbrio. A resistência mecânica define a capacidade
de suportar esforços externos sem que haja o colapso que ocorre de modo a
restabelecer o estado de equilíbrio modificado. Quanto maior a dimensão de um
vazio, maior a resistência mecânica requerida para sustentá-lo (Jennings, 1985;
Oliveira & Brito, 1998).
Dentre as áreas representadas pelas cavernas situadas na calha do Rio
Peruaçu, três delas apresentam maior relevância quanto às suas dimensões. De
montante para jusante, a primeira delas compreende a Lapa do Brejal, a segunda
consta do Arco do André e a terceira corresponde à Gruta do Janelão.
Corroborando com o exposto, infere-se que tais cavernas são as mais propícias à
ocorrência de grandes abatimentos.
3.2 INUNDAÇÃO COM BARRAMENTO NA LAPA DO BREJAL
No caso de ocorrência de um barramento na Lapa do Brejal que
alcançasse a altura de 20 metros, conforme verificado anteriormente, a área total
125
inundada seria correspondente a 230,8 hectares. Desta área 64,9% seriam de
vegetação primária (149,7 ha), 22,1% de área antropizada (50,9 ha) e 13,1% de
vegetação secundária (30,2 ha) conforme mostra a figura 02.
A análise da área atingida por um suposto barramento na Lapa do Brejal,
segundo os dados de fitogeografia (Ibama et al., 2003) indica que a maior perda
seria relativa à formação Savana Arborizada Fechada, que domina 39,1% da
área (o correspondente a 90,24ha). Essa formação é encontrada ao longo do
curso do Rio Peruaçu. A segunda tipologia mais afetada seria o ambiente
antropizado, que domina 23,1% da área (53,2 ha).
A formação Floresta Estacional seria amplamente afetada pelo possível
barramento do Rio Peruaçu na porção à montante da Lapa do Brejal. Sua
tipologia decidual, associada aos afloramentos de rochas carbonáticas, ocorre em
14,2% da área (32,71ha), enquanto sua vegetação secundária domina 12 % da
área alagada (27,79 ha).
Em 25,49 hectares (11% da área atingida) domina a Comunidade
Aluvial Arbórea. Essa formação ocorre em áreas de inundações periódicas,
observadas ao longo do Rio Peruaçu. A tipologia menos atingida seria a
Vegetação Secundária de Savana que corresponde a 0,6% da área (1,37 ha). A
figura 03 mostra a projeção desse barramento sobre os domínios florísticos
locais.
Quanto à infra-estrutura atingida pelo suposto barramento da porção à
montante da lapa do Brejal destaca-se que, aproximadamente, 698 metros da
estrada vicinal que liga Fabião I à Várzea Grande, principal via da área do
parque, seriam alagados pelo barramento. Igualmente inundada seria a estrada
secundária que dá acesso à sede rural onde será instalado o Centro Apoio à
Pesquisa (CAP) Zé da Hora e o Centro Apoio aos Visitantes (CAV) Silú e às
diversas cavernas do circuito turístico em 354 metros de seu trecho final. Todo o
CAP Zé da Hora e CAV Silú seriam igualmente atingidos. As trilhas de acesso à
126
Lapas do Cabloco, Cavalos e Carlúcio e demais estruturas de apoio aos
visitantes que integram um roteiro de visitação do parque ainda não foram
demarcadas, mas certamente seriam pelo menos em parte inundadas. A figura 08
mostra as infra-estruturas afetadas.
3.3 INUNDAÇÃO COM BARRAMENTO NO ARCO DO ANDRÉ
Uma possível inundação que atingisse a altura de 20 metros com
barramento no Arco do André iria suprimir apenas vegetação primária,
correspondente a 11,75 ha como ilustra a figura 04. A análise fitogeográfica
demonstra que a inundação, nesse ponto do rio, iria atingir principalmente duas
formações, a Comunidade Aluvial Arbórea que ocupa 5,63 ha (47,9% da área) e
a Floresta Estacional Decidual que domina 5,21ha (44,3% do total). Por fim,
seria atingido 0,91ha de Savana Arborizada Fechada que representa 7,7% da
área inundada. As formações fitogeográficas atingidas são mostradas na figura
05. Nenhuma infra-estrutura seria atingida por esse barramento como pode ser
observado na figura 08.
3.4 INUNDAÇÃO COM BARRAMENTO NA GRUTA DO JANELÃO
Na hipótese de um barramento na Gruta do Janelão que atingisse 20
metros acima do nível atual do Rio Peruaçu, seriam inundados cerca de 28,67
hectares. A vegetação primária que domina o entorno do Rio Peruaçu, seria a
mais atingida, representando 51,9% da área alagada (14,89ha). A área
antropizada seria a segunda maior tipologia afetada, correspondendo a 36,8% do
total (10,56ha). A vegetação secundária que compreende as áreas degradadas da
Fazenda Terra Brava em regeneração seria inundada em 3,22 hectares (11,2% da
área atingida) A figura 06 retrata o uso do solo atingido. Acredita-se, ainda, que
a Lapa dos Troncos seria atingida pelo barramento bem como todo o curso
127
superficial do Rio Peruaçu situado à montante desta caverna e à jusante da Lapa
dos Cascudos.
Quanto à classificação fitogeográfica, destaca-se que 10,5ha de área
antropizada, referente à Fazenda Terra Brava, seriam atingidos, o que representa
36,6% da área de inundação. A formação vegetal mais afetada seria a
Comunidade Aluvial Arbórea, que domina a faixa de preservação permanente
adjacente ao curso do Rio Peruaçu, com 9,41 hectares inundados (o equivalente
a 32,8% do total).
Duas tipologias florestais seriam afetadas. A Floresta Estacional
Decidual ocupa 4,54 hectares (ou 15,8% da área inundada), estando situada na
escarpa oriental do cânion associada aos afloramentos de rochas carbonáticas. Já
a Vegetação Secundária de Floresta Estacional que corresponde à área em
regeneração da Fazenda Terra Brava ocorre em 3,23 hectares (ou 11,3% do total
inundado). As formações de cerrado seriam menos afetadas por ocuparem áreas
mais restritas. De todas, a tipologia Savana Arborizada Fechada seria perdida em
0,85 hectares (ou 3,0% do total), enquanto a Savana Arborizada Aberta seria
atingida em apenas 0,14 hectares (ou 0,5% da área). A figura 07 mostra a
projeção do barramento com eixo na Gruta do Janelão e as tipologias
fitogeográficas afetadas pela conseqüente inundação.
Quanto à infra-estrutura atingida à montante da Gruta do Janelão,
destaca-se que a antiga sede da Fazenda Terra Brava, destinada ao Centro de
Apoio aos Visitantes (CAV) Janelão, seria inundada. Seriam perdidos 626,6
metros da estrada secundária de acesso ao CAV Janelão. A figura 08 ilustra as
possibilidades de barramento e a infra-estrutura atingida.
128
FIGURA 02 Barramento do Rio Peruaçu com eixo na Lapa do Brejal e usos do solo atingidos pela subida do
nível d’á
g
ua em 20 metros.
129
FIGURA 03 Barramento do Rio Peruaçu com eixo na Lapa do Brejal e formações fitogeográficas atingidas
p
ela subida do nível d’á
g
ua em 20 metros.
130
FIGURA 04 Barramento do Rio Peruaçu com eixo no Arco do André e usos do solo atingidos pela subida do
nível d’á
g
ua em 20 metros.
131
FIGURA 05 Barramento do Rio Peruaçu com eixo no Arco do André e formações fitogeográficas atingidas
p
ela subida do nível d’á
g
ua em 20 metros.
132
FIGURA 06 Barramento do Rio Peruaçu com eixo na Gruta do Janelão e usos do solo atingidos pela subida do
nível d’á
g
ua em 20 metros.
133
FIGURA 07 Barramento do Rio Peruaçu com eixo na Gruta do Janelão e formações fitogeográficas atingidas
p
ela subida do nível d’á
g
ua em 20 metros.
134
FIGURA 08 Barramento do Rio Peruaçu com eixo nas Lapas do Brejal, Arco do André e Janelão e infra-
estrutura atin
g
ida
p
ela subida do nível d’á
g
ua em 20 metros.
135
4 DISCUSSÃO
A morfologia do Cânion do Rio Peruaçu é resultado de uma sucessão de
fases de entalhamento vertical provocadas por variações no nível de base. Em
conseqüência ocorre o ajuste mecânico ao novo perfil de equilíbrio através de
movimentação de blocos e de colapsos (Bögli, 1980). Ao longo do canal do Rio
Peruaçu são comuns grandes áreas de abatimentos, que testemunham a evolução
recente do sistema cárstico, com destaque para os sifonamentos das Lapas do
Brejal, da Sexta Água e do Arco do André.
Karmann et al. (2003) acreditam no aprofundamento do nível de base do
Rio Peruaçu como principal desencadeador desses grandes abatimentos ao longo
do vale cárstico. Rodet et al. (2003a; 2005) afirmam que esses colapsos são
conseqüentes do rebaixamento regional do nível de base do Rio São Francisco
em 50 metros.
O médio curso do Rio Peruaçu apresenta direção geral NW/SE o que
sugere um controle estrutural que Piló (1997a) afirma ser conseqüência do
direcionamento de fraturas e falhas resultantes de esforços tectônicos do Ciclo
Brasiliano. Simões (2007), ao mapear os lineamentos da região do Peruaçu,
também descreve a direção NW/SE como um dos trends preferenciais e assinala
ser todo o trecho médio do Rio Peruaçu controlado por lineamentos. Pelo fato
dos colapsos incidirem preferencialmente em linhas de maior fraqueza acredita-
se que todos os trechos subterrâneos do Rio Peruaçu estão susceptíveis em maior
ou menor grau à ocorrência de abatimentos.
Uma vez que a resistência mecânica permite a sustentação de grandes
vazios no interior das cavidades naturais, quanto maior a amplitude de uma
caverna maior será a resistência mecânica requerida para sustentá-la. Neste
sentido, observa-se que as Lapas do Brejal, Arco do André e do Janelão são as
136
mais propícias à ocorrência de grandes abatimentos por apresentarem grandes
dimensões. Merecem destaque os arcos de 100 metros de altura das Lapas do
Brejal e Arco do André, cujas estruturas apresentam-se instáveis, podendo vir a
sofrer colapsos abruptos.
As Grutas da Sexta Água, dos Cascudos e dos Troncos apresentam
dimensões modestas frente às demais cavernas do Cânion do Rio Peruaçu. O
menor entalhamento da calha principal sugere que essas cavidades representam
desvios no leito original do Rio Peruaçu. Em função da menor amplitude, esses
trechos foram descartados como mais favoráveis à ocorrência de grandes
colapsos.
Inundações de grande alcance resultantes do desmoronamento da rede
subterrânea e conseqüente barramento do Rio Peruaçu foram descritas por
diversos estudos referentes a diferentes pontos do cânion. Nas áreas à montante
das Lapas do Brejal, Arco do André e Janelão autores diversos apontaram a
ocorrência de enchentes baseados em evidências morfológicas, topográficas e
orgânicas.
Para a área a montante de Brejal, a ocorrência de inundações foi descrita
por Ferreira et al. (2003) a partir do amplo registro fóssil localizado na Lapa do
Carlúcio. O presente estudo constatou a ocorrência de duas ou três grandes
enchentes à montante da Lapa do Brejal, através de idades encontradas para um
tronco, com 1.630 +/- 50BP, e para duas conchas, cujas idades determinadas
foram de, no mínimo, 1.758,5 +/- 430,5 anos BP e no máximo 3.050 +/- 50 anos
BP para a primeira e de, no mínimo, 8.108,5 +/- 49,0 anos BP e, no máximo,
9.380 +/- 40 anos BP para a segunda.
A ocorrência de uma ou mais inundações à montante do Arco do André
que atingiram a Lapa do Brejal foi evidenciada por Rubbioli (1999a) e Piló et al.
(2005). Rubbioli (1999a) descreveu a ocorrência de marcas de enchentes e de
troncos situados a mais de 30 metros acima do atual leito do Rio Peruaçu na
137
Lapa do Brejal e no Arco do André. Da mesma forma Piló et al. (2005)
encontraram, no Arco do André, uma marca d’água a 41,5 metros acima do nível
do Rio Peruaçu e troncos e galhos de árvores à altura de 40,1 metros acima do
rio. Os mesmos autores encontraram troncos situados a 28,06 metros acima da
drenagem na Lapa do Brejal. O tronco encontrado pelo estudo na Lapa do Brejal
foi datado em 580±80 anos BP (Piló, 2008).
Já na área do Vale do Peruaçu à montante da Gruta do Janelão, Rodet et
al. (2003a; 2005) defendem a ocorrência de um barramento da drenagem
conseqüente do abatimento da Dolina dos Macacos, como responsável pelo
desenvolvimento de um polje na área da Fazenda Terra Brava, à margem direita
do Rio Peruaçu. Além disso, tais autores atribuem a abertura do cânion cárstico,
pelo menos em parte, ao barramento. Rodet & Rodet (2004) atestaram a
ocorrência de um depósito lacustre na depressão da Fazenda Terra Brava, pela
ocorrência de um pacote de argila amarela de até 5m de espessura verificado
durante escavações arqueológicas a céu aberto empreendidas na área.
Tendo em vista as diferenças morfológicas existentes ao longo do vale
cárstico, um represamento que alcançasse a altura de 20 metros acima do nível
do Rio Peruaçu, certamente, formaria reservatórios com áreas diferentes,
dependendo de onde fosse o eixo do barramento. A área à montante da Lapa do
Brejal conforma um vale amplo e aberto, onde, conseqüentemente, o barramento
impactaria uma área muito mais expressiva que nos demais pontos de
barramento, alcançando 230,8 hectares. A segunda área mais impactada, com
28,67 hectares, seria resultante de um abatimento em Janelão. Neste ponto, o
leito do Rio Peruaçu é limitado em sua margem esquerda por um paredão, mas à
margem direita do rio, o vale abre-se em um polje conforme definido por Rodet
et al. (2003a; 2005). O barramento menos notável em termos de área afetada
seria o com eixo situado no Arco do André. O reservatório formado atingiria
138
11,75 hectares, uma vez que neste ponto o vale é encaixado e o cânion estreito
com os paredões situados bastante próximos ao leito do rio.
Em se tratando de um vale cárstico, em que ocorre uma seqüência de
cavernas que segmentam a drenagem superficial, é provável que as inundações
propostas se estendam para o interior das cavidades. No presente estudo, as
bases utilizadas para a projeção das hipóteses de barramentos conformam apenas
o relevo superficial, o que não permite a análise do ambiente hipógeo afetado. É
possível apenas inferir que outras cavidades seriam atingidas.
Quanto à hipótese de barramento com eixo na Gruta do Janelão e (com
cota de 20 metros acima do nível atual do Rio Peruaçu), acredita-se que a Lapa
dos Troncos seria atingida bem como o curso superficial do rio à montante desta
cavidade. É possível que a Lapa dos Cascudos situada imediatamente à montante
deste trecho de drenagem superficial afetada fosse igualmente inundada.
Destaca-se, ainda, que outras cavernas localizadas na zona à montante de
Janelão, mas que não integram a calha do Rio Peruaçu, poderiam ser afetadas
dependendo da situação topográfica em que se encontram.
No caso do barramento no Arco do André, certamente a Lapa do Brejal
seria, em parte, inundada. Tal abordagem foi anteriormente proposta por Piló et
al. (2005). Tais autores projetaram a marca d’água encontrada no Arco do André
(a 41,5 metros acima do leito do Rio Peruaçu) sobre o vale à montante da
caverna, constatando que esse nível de inundação atingiria também a Lapa do
Brejal (Piló et al., 2005).
Em todas as possibilidades de barramento levantadas pelo presente
estudo, observa-se que a inundação atingiria principalmente áreas de vegetação
primária. Tais tipologias compreendem a Comunidade Aluvial Arbórea, a
Floresta Estacional Decidual e a Savana Arborizada Fechada, sendo que na
região de Janelão seria ainda observada a perda de restrita área de Savana
Arborizada Aberta.
139
A Comunidade Aluvial Arbórea ocorre em áreas de inundações
periódicas, sendo observada ao longo do Rio Peruaçu. Tal tipologia é adaptada
às inundações, mas não aos alagamentos. Igualmente encontrada associada ao
curso do Rio Peruaçu ocorre a Savana Arborizada Fechada que, em conjunto
com a Comunidade Aluvial Arbórea, conforma a mata ciliar desse manancial. A
ocorrência de barramentos de grande alcance no Rio Peruaçu implicaria na perda
dos habitats e, ainda, no detrimento da função ecológica das matas ciliares
perenifólias enquanto corredores de migração e fluxo de organismos conforme
destacado por Mascarenhas et al. (2007).
A Floresta Estacional Decidual a qual seria atingida pelas inundações se
associa a afloramentos rochosos, onde há algum acúmulo de solo. Também
chamada de Mata Seca essa tipologia configura uma formação endêmica às
áreas carbonáticas e consta da vegetação com maior ocorrência na área do
parque apesar de sofrer pressões de supressão (Vianna & Amado, 2003).
Quanto à vegetação secundária, não foi constatada na área de inundação
com barramento no Arco do André. Tal fato decorre da não antropização da
região, em vista do seu relevo movimentado e encaixado. Em Brejal foram
verificadas vegetações secundárias de Savana e de Floresta Estacional e em
Janelão apenas dessa segunda formação.
As áreas antropizadas atingidas na região de Brejal são conhecidas como
comunidade do Janelão, Silú e Zé da Hora e se caracterizam pela ocorrência de
pequenas propriedades rurais com uso agrícola do solo. Já na região de Janelão,
a área antropizada afetada por um barramento se relaciona à antiga sede da
Fazenda Terra Brava e ao uso agropecuário pretérito do solo contíguo. A
expressiva área antropizada desses pontos reflete o padrão de uso e ocupação do
solo encontrado ao longo do Rio Peruaçu, onde a escassez de recursos hídricos
restringe as culturas às áreas de vale aberto situadas próximas ao manancial.
140
As regiões à montante das Lapas do Brejal, do Janelão e do Arco do
André integram cinco, dentre os seis roteiros turísticos propostos por Rubbioli et
al. (2003) no Plano de Manejo do PARNA. Apesar de ainda não se encontrarem
em funcionamento, sua implementação obrigatoriamente requer a instalação de
infra-estruturas de apoio como trilhas, escadas, pontes, passarelas, plataformas
de proteção, guarda-corpos, sinalizações e cercas (Moura, 2005). Na ocorrência
de barramentos no Rio Peruaçu, certamente essas estruturas destinadas ao uso
público do Parque Nacional seriam perdidas.
Nas inundações com eixo de barramento na Lapa do Brejal e em
Janelão, a área antropizada atingida seria bastante expressiva com grande perda
de infra-estrutura direcionada ao uso público, pesquisa, controle e gestão da
unidade de conservação. Ambas as sedes rurais que irão comportar os Centros
CAV Silú/ CAP Zé da Hora e CAV Janelão que seriam inundadas representam
edificações de interesse histórico conforme exposto por Moura (2005).
A ocorrência de barramentos, com conseqüente elevação do nível do Rio
Peruaçu em 20 metros, acarretaria não somente na perda de áreas e de infra-
estrutura do parque, mas também na inundação das próprias cavernas, atração
principal dos roteiros de visitação e, ainda, de acessos às cavidades não
inundadas. Todo o acesso ao Cânion do Peruaçu se dá por sua margem direita,
de modo que as cavernas situadas na margem esquerda do rio, mesmo que não
fossem inundadas, seriam isoladas pela elevação do nível d’água.
No caso de um barramento na Lapa do Brejal, apenas a Lapa do Caboclo
poderia continuar sendo visitada, mesmo assim, somente no caso da abertura de
um novo acesso que passasse pela porção mais elevada da vertente. Todas as
demais cavidades pertencentes ao roteiro turístico previsto para a área à sua
montante da Lapa do Brejal não poderiam ser acessadas. Já uma inundação com
barramento no Arco do André impediria a visitação da gruta proposta por um
dos roteiros do Plano de Manejo.
141
A estrada secundária que leva ao CAV Janelão define o acesso ao
principal núcleo de cavernas do parque onde se situam quatro dos roteiros de
visitação estabelecidos no Plano de Manejo do PARNA (Rubbioli et al., 2003).
A ocorrência de uma inundação que submergisse parte deste acesso impediria a
visita à Gruta do Janelão, que compreende a maior expressão do carste do Rio
Peruaçu. A enchente alcançaria, ainda, a Lapa de Troncos, também aberta ao
turismo. No caso da própria inundação não atingir as Lapas do Índio, Bonita e
Boquete, a visita seria prejudicada, tendo em vista a inundação do acesso, sendo
necessária a implantação de uma nova via.
Obviamente, não é possível prever onde e quando ocorrerá um grande
colapso que promova o barramento do Rio Peruaçu, nem mesmo o alcance da
inundação conseqüente. No entanto, salienta-se que a própria evolução
morfogenética do cânion aponta para a ocorrência de novos desabamentos ao
longo da calha do Rio Peruaçu. Rodet et al. (2003a; 2005) afirmam que a última
fase de aprofundamento não se encontra inteiramente realizada, estando ainda
em atividade o ajuste ao novo estado de equilíbrio. Labegalini (1990) descreve a
violenta e franca atividade da evolução do cânion, através da constatação da
queda de um bloco de rocha, com 6 toneladas, que abriu um sulco na encosta do
fundo do cânion e uma clareira na floresta.
A suscetibilidade das cavernas situadas na calha do Rio Peruaçu a
abatimentos é acrescida pela alteração das características mecânicas das
seqüências carbonáticas conforme exposto por Brandt (1980). Segundo esse
autor, as camadas areníticas que recobrem o Grupo Bambuí em alguns pontos
promovem a infiltração de sílica no calcário, principalmente da Formação Lagoa
do Jacaré, tornando-o silicificado e, conseqüentemente, menos elástico (Brandt,
1980).
Por fim vale destacar que a propensão aos processos de abatimentos
pode ser agravada pela ocorrência de tremores de terra ultimamente registrados
142
na região do Vale do Peruaçu. Jennings (1985) afirma que tremores de terra
adicionam temporário fator de stress na estabilidade de cavidades. O epicentro
dos tremores na região se situa na comunidade de Caraíbas, à margem esquerda
do médio curso do Rio Peruaçu, a 6,5 quilômetros da primeira caverna do
cânion, a Lapa do Brejal. Dois desses abalos alcançaram grandes magnitudes,
3,5 e 4,9 pontos escala Richter, respectivamente. O segundo tremor, ocorrido em
dezembro de 2007, foi classificado como o maior já registrado no estado de
Minas Gerais e destruiu quase totalmente a comunidade de Caraíbas. A atividade
sísmica está relacionada à movimentação de falha e concentra-se numa área
alongada de direção aproximadamente NE-SW, com extensão maior que 4
quilômetros (Chimpliganond et al., 2007; França, 2007; França & Barros, 2007).
A hipótese de uma fonte cárstica para os tremores foi descartada. No entanto, as
conseqüências dos abalos na estrutura das cavernas ainda não foram avaliadas.
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