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Isso é reforçado por Jean Baudrillard (2003, p. 130):
Se o signo se considerar como uma articulação do significante e do
significado, é possível definir dois tipos de confusão. Na criança e no
“primitivo” o significante pode eclipsar-se em proveito do significado. [...]
Inversamente, na imagem centrada em si mesma ou na mensagem centrada no
código, o significante torna-se o seu próprio significado, gerando-se confusão
circular entre dois em proveito do significante, dando-se a abolição do
significado e a tautologia do significante.
Baudrillard (2003) ratifica Bourdieu (1991, apud MIRANDA, 2005), analisando
que a representação dos objetos em si migra do sentido utilitário e necessário ao uso para o
sentido da mediação com os outros. É a máxima do ter objetos para substituírem palavras e
impressões. Esse desejo de ter é sempre na máxima velocidade de desqualificar o que se
tem em proveito de novas sensações de prazer. O telefone celular hoje é a convergência de
tudo que em menos de uma década precisaríamos de uma mochila para carregar: jogos,
interatividade, internet, câmera digital, música, notícias, agenda, MP3, MP4, GPS,
televisão, vídeo, e-mail, computador, acessório de moda, grife de luxo, etc. A cada
lançamento, aparecem grupos ávidos para comprar as próximas quinquilharias anexadas à
convergência, sem que isso mude a única intenção de somente falar com o outro. É a
cultura do excesso e do desperdício.
Se evocar Michel Foucault, em Vigiar e Punir (2005, p. 166) esquema de
Panóptico
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, dispositivo disciplinar, no qual a visibilidade é a grande armadilha e trunfo do
poder. O poder do consumo e acesso a ele mantém a sociedade em total disciplina,
tornando os corpos dóceis à inclusão comercial. É a total onipresença e onisciência do
“detento” (termo usado por Foucault) ou consumidores nas luzes do julgamento da
sociedade. Torna-se uma ferramenta disciplinar “limpa”, de funcionamento automático,
sempre alimentado por novas demandas (necessidades).
Segundo os professores Juracy Parente e Edgard Barki
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, em pesquisa ao site
<www.mundodomarketing.com.br>, datado de 2006, sobre as características do
consumidor de baixa renda, ressalta-se o Conservadorismo. Pode-se especular tanto nas
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Panóptico – O panóptico de Berthan é a figura arquitetural dessa composição. O princípio é conhecido: na
periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a
face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da
construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra que dá para o
exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta então colocar o vigia na torre central [...].
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 30. ed. Petrópolis: Vozes, 2005. p. 165-167.
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Fonte: Professores Juracy Parente e Edgard Barki. Site citado.