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Seguindo essa mesma linha de pensamento, Gurgel (1999) nos diz que o
leitor, quando lê, projeta sobre o texto seu conhecimento de mundo, seu
conhecimento textual e linguageiro, além de tecer com o outro, por meio do texto,
sua individualidade. Assim, para ela, “a leitura da palavra é antecedida não só pela
leitura de mundo, mas por certa forma de escrevê-la ou de reescrevê-lo, de
transformá-lo a partir de nossa prática consciente” (1999, p.210).
Conseqüentemente, isso reafirma o fato de que é pela palavra que o ser humano se
reconhece como parte da humanidade, já que não está isolado e que, tem, portanto,
a capacidade de tecer sua própria individualidade a partir do e com o outro.
No processo de interlocução entre leitor/autor, Geraldi (2005) vê o leitor não
como um sujeito passivo, mas como um agente em busca de sentidos, uma vez que,
durante a leitura, há um encontro entre leitor e autor-ausente, cuja presença é
mediada pelo texto e se dá, portanto, por meio da palavra escrita.
Não somente Marcuschi (1999) ressalta que o autor de um texto não pode
prever os resultados da construção de sentidos produzida pelo leitor, como também
Geraldi (2005) afirma que, mesmo que o produtor atribua um determinado
significado ao próprio texto ou imagine que significado seus leitores poderão
construir, ele não será capaz de saber, por si só, o domínio do processo de leitura do
outro, já que a reconstrução e a atribuição de sentido são competências do leitor.
Acreditando nos múltiplos sentidos que um mesmo texto pode ter, Fonseca e
Geraldi (2005) asseguram que essa multiplicidade é conseqüência da mudança das
diferentes condições de produção de leitura. Cada vez que um mesmo texto é lido
com objetivos diferentes resulta em novas leituras e, desse modo, novos sentidos
por elas são produzidos. Em outras palavras, mesmo que o interlocutor/leitor seja o
mesmo, quando se mudam os objetivos de leitura, alteram-se as condições de
produção e, também, o processo.
Os estudos sobre leitura e compreensão abordados neste tópico sinalizam
que a interação leitor-texto-autor é elemento fundamental para a construção do
sentido. Assim sendo, durante o processo de construção de sentido, segundo Koch
(2003b), o leitor jamais deixa de ser participativo e produtor, levando em conta que
em todo texto há incompletudes que precisam ser preenchidas.