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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS E TÉCNICAS NUCLEARES
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMG
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE INFLAMATÓRIA NA DOENÇA DE CROHN
UTILIZANDO LEUCÓCITOS AUTÓLOGOS MARCADOS COM
TECNÉCIO-99m-HEXAMETILPROPILENO AMINA OXIMA
Aluna: Luciene das Graças Mota
Orientador: Prof. Dr. Valbert Nascimento Cardoso
Co-orientador: Prof. Dr. Luiz Gonzaga Vaz Coelho
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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS E TÉCNICAS NUCLEARES
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMG
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE INFLAMATÓRIA NA DOENÇA DE CROHN
UTILIZANDO LEUCÓCITOS AUTÓLOGOS MARCADOS COM
TECNÉCIO-99m-HEXAMETILPROPILENO AMINA OXIMA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências e Técnicas Nucleares da
Escola de Engenharia da Universidade Federal de
Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do
título de Mestre em Ciências e Técnicas Nucleares.
Área de concentração: Aplicações das Radiações
Orientador: Prof. Dr. Valbert Nascimento Cardoso
Co-orientador: Prof. Dr. Luiz Gonzaga Vaz Coelho
Luciene das Graças Mota
Belo Horizonte - MG
Janeiro – 2007
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COLABORADORES
o Prof. Dr. Carlos Jorge Simal Rodrigues - Medicina Nuclear do Hospital Felício
Rocho, Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais;
o Dr. Cristiano Ferrari Siqueira - Clínica ECOGRAF - Núcleo de Diagnóstico
Cardiovascular;
o Dr. Josep Martin-Comin - Centro de Medicina Nuclear do Hospital de Bellvitge,
Barcelona, Espanha;
o Profa. Dra. Maria de Lourdes de Abreu Ferrari - Instituto Alfa de Gastroenterologia
do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais;
o Profa. Ms. Simone Odília Fernandes Diniz - Laboratório de Radioisótopos da
Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais.
À minha mãe, Ivanda:
meu porto seguro,
meu exemplo de força,
de sabedoria,
meu exemplo de vida.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por iluminar e abençoar sempre os meus caminhos;
À minha família, em especial, Helen, Álvaro, Nathália e Leonardo pela paciência nos
dias difíceis e, principalmente, pelo amor, amizade, alegria e apoio que me dispensam
diariamente;
Aos meus amigos de toda a vida, Fabiano, Nara, Mariel e Juliano: obrigada por estarem
sempre ao meu lado, por vibrarem com as minhas conquistas e por fazerem parte da
minha vida! Vocês são muito preciosos!
Ao Prof. Valbert, meu orientador, agradeço imensamente pelos muitos ensinamentos,
amizade, confiança, otimismo, pelos conselhos e grande incentivo diante das
adversidades que surgiram;
Ao meu co-orientador, Dr. Luiz Gonzaga, pelos conhecimentos transmitidos e grande
empenho na realização e divulgação deste trabalho;
Ao Prof. Dr. Carlos Simal, por não medir esforços para ajudar-me com este projeto.
Obrigada pelos ensinamentos, confiança, amizade, disponibilidade, pela convivência de
tantos anos e, principalmente, por acreditar muito neste trabalho!
À Profa. Simone pela importante colaboração, apoio e amizade de sempre;
À Profa. Dra. Maria de Lourdes, pela enorme ajuda com os pacientes e por estar
sempre disponível para atender as minhas dúvidas e necessidades;
Ao Clodomiro, pelo importante auxílio no desenvolvimento deste trabalho;
Ao Dr. Cristiano, pelo fornecimento do Tecnécio-99m;
Ao Dr. Josep Martin-Comin pelo incentivo inicial na realização deste projeto;
À administração do Instituto ALFA de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Minas Gerais por ter propiciado as condições necessárias para
a realização deste trabalho;
Aos médicos do ambulatório de intestino, Dra. Mara de Andrade, Dra. Clarissa de
Carvalho e, especialmente, ao Dr. Eduardo Garcia Vilela pela ajuda com os pacientes e
pelos conhecimentos transmitidos;
A todos os pacientes que participaram deste trabalho, agradeço a confiança,
cordialidade, disponibilidade e, principalmente, a lição de vida que me transmitiram.
Felicidades e saúde a todos vocês!
Aos meus queridos amigos Maira, Danielle, Paulo e Talita: conhecê-los e conviver com
vocês, foi e será sempre um grande prazer! Obrigada pela amizade, confiança e pelos
bons momentos que passamos juntos!
Aos colegas e funcionários do Laboratório de Radioisótopos pela convivência e ajuda
de sempre;
Aos amigos do Laboratório de Farmacotécnica, em especial, Vildete, Mônica, Gilson,
Álvaro, José Geraldo e Guilherme pela amizade, apoio e grande torcida;
Ao Gilmar, motorista da Faculdade de Farmácia que, com muita disposição, paciência e
simpatia, sempre esteve pronto a me ajudar;
Aos meus amigos do Departamento de Engenharia Nuclear, Mário, Danilo, Valeria,
Nayara, Larissa e Paulo: a amizade de vocês é muito especial! Obrigada por tudo!
Aos professores e funcionários do Departamento de Engenharia Nuclear pelos
ensinamentos e por terem me acolhido tão bem!
Aos funcionários do setor de Medicina Nuclear do Hospital Felício Rocho, pela grande
ajuda na execução dos exames cintilográficos;
Ao Prof. Lauro Mello Vieira pela execução das imagens de fotomicrografia;
Ao Prof. Roberto Junqueira pelo auxílio nas análises estatísticas;
Ao Glauber pela importante ajuda com as imagens;
A CAPES e FAPEMIG pela concessão de bolsa e auxílio financeiro.
“Eu não descobri nada
Tudo já estava descoberto (...)
E as coisas que descobri
estavam dentro de mim mesmo.
(Pablo Neruda)
SUMÁRIO
Lista de Abreviaturas................................................................................................
х
Lista de Anexos e Apêndices...................................................................................
хіi
Lista de Figuras........................................................................................................
хііі
Lista de Tabelas.......................................................................................................
хv
RESUMO..................................................................................................................
хvі
ABSTRACT..............................................................................................................
хvііі
1 – INTRODUÇÃO...................................................................................................
20
2 – REVISÃO DA LITERATURA..............................................................................
24
2.1 – Inflamação...................................................................................................
25
2.2 – Doenças inflamatórias do intestino..............................................................
27
2.2.1 – Epidemiologia.................................................................................
27
2.2.2 – Etiopatogenia..................................................................................
29
2.3 – Doença de Crohn........................................................................................
32
2.4 – Radiofármacos............................................................................................
37
2.4.1 – Conceito..........................................................................................
37
2.4.2 – O papel da Medicina Nuclear no diagnóstico dos processos
inflamatórios...................................................................................
38
2.4.3 – Radiofármacos convencionais utilizados em Medicina Nuclear
para o diagnóstico de processos inflamatórios ..............................
40
3 – OBJETIVOS.......................................................................................................
45
3.1 – Objetivo Principal.........................................................................................
46
3.2 – Objetivos Específicos..................................................................................
46
4 – CASUÍSTICA, MATERIAL E MÉTODOS ..........................................................
47
4.1 – Casuística ...................................................................................................
48
SUMÁRIO
4.2 – Material........................................................................................................
49
4.2.1 – Reagentes........................................................................................
49
4.2.2 – Equipamentos..................................................................................
49
4.3 – Métodos.......................................................................................................
50
4.3.1 – Marcação do HMPAO com
99m
Tc e pureza radioquímica
(Teste de lipofilicidade)....................................................................
50
4.3.2 – Marcação de leucócitos com
99m
Tc-HMPAO...................................
51
4.3.3 – Estudo da estabilidade de marcação dos leucócitos autólogos.......
52
4.3.4 – Determinação da viabilidade das células marcadas........................
52
4.3.5 – Imagens cintilográficas planares com
99m
Tc-HMPAO e realização
de SPECT........................................................................................
52
4.3.6 – Análise estatística............................................................................
55
5 – RESULTADOS....................................................................................................
56
5.1 – Pureza radioquímica do complexo lipofílico
99m
Tc- HMPAO........................
57
5.2 – Marcação dos leucócitos autólogos com
99m
Tc-HMPAO.............................
57
5.3 – Estudo da estabilidade de marcação dos leucócitos autólogos com
99m
Tc-HMPAO..............................................................................................
59
5.4 – Viabilidade dos leucócitos marcados com
99m
Tc-HMPAO...........................
59
5.5 – Grau de atividade inflamatória no intestino..................................................
61
5.6 – Imagens cintilográficas obtidas 30 minutos e 2 horas após a injeção
dos leucócitos autólogos marcados com
99m
Tc-HMPAO ............................
63
6 – DISCUSSÃO.......................................................................................................
70
7 – CONCLUSÃO.....................................................................................................
81
8 – PERSPECTIVAS FUTURAS...............................................................................
83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................
85
ANEXOS..............................................................................................................
92
APÊNDICES........................................................................................................ 104
Lista de Abreviaturas
ACD Anticoagulante contendo ácido cítrico, citrato e dextrose.
AINE Antiinflamatórios não-esteroidais
241
Am Amerício-241
°C Graus centígrados
CAAE Certificado de apresentação para apreciação ética
CDAI
Índice de atividade da doença de Crohn
(Crohn’s disease activity index)
CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear
COEP Comitê de ética em pesquisa
cpm Contagem por minuto
DC Doença de Crohn
DII
Doenças inflamatórias do intestino com causa não totalmente
esclarecida
EDTA Ácido etileno diamino tetracético
18
F-FDG Deoxiglicose marcada com Flúor-18
67
Ga Gálio-67
h Horas
3
H Trício
HMPAO Hexametilpropileno amina oxima
IFN-γ
Interferon gama
IgG Imunoglobulina G
IL1 Interleucina 1
IL6 Interleucina 6
IL8 Interleucina 8
IL10 Interleucina 10
111
In Índio-111
IPEN Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares
ISORBE
Sociedade internacional de elementos sanguíneos radiomarcados
(International society of radiolabeled blood element)
keV Kilo-elétron-volt (s)
xi
MBq Megabequerel (10
6
Bequerel)
mCi Milicurie
mg Miligrama (s)
min Minutos
mL Mililitro (s)
mm
3
Milímetros cúbicos
Na
99m
TcO
4
Pertecnetato de sódio
32
P sforo-32
PCR Proteína C reativa
PPL Plasma pobre em leucócitos
RCU Retocolite ulcerativa
RIs
Regiões de interesse
rpm Rotações por minuto
SPECT
Tomografia computadorizada por emissão de
fóton único (Single photon emission computed tomography)
TA Temperatura ambiente
99m
Tc Tecnécio-99m
99m
Tc-HMPAO Hexametilpropileno amina oxima marcada com tecnécio-99m
99m
Tc-HMPAO-
leucócitos
Leucócitos marcados com teccio-99m- hexametilpropileno
amina oxima
99m
TcO
2
Tecnécio-99m hidrolizado
99m
TcO
4
-
Tecnécio-99m livre
TNF Fator de necrose tumoral
VHS Velocidade de hemossedimentação
v.g. Verbi gratia
µL
Microlitros
xii
Lista de Anexos e Apêndices
Anexo A - Índice de atividade inflamatória da doença de Crohn (CDAI – Crohn’s
disease activity index) ……………………………………………………......
93
Anexo B - Classificação de Viena.............................................................................
94
Anexo C - Aprovação pelo COEP.............................................................................
95
Anexo D - Termo de consentimento e participação livre e esclarecido ...................
96
Anexo E - Cartão do paciente para acompanhamento – CDAI................................
99
Anexo F - Protocolo para avaliação da atividade inflamatória da doença de
Crohn........................................................................................................
100
Apêndice A................................................................................................................
105
Apêndice B................................................................................................................
106
Apêndice C................................................................................................................
107
Apêndice D................................................................................................................
108
xiii
Lista de Figuras
Figura 1 -
Regiões de interesse (RIs).............................................................
54
Figura 2 - Percentual de marcação do HMPAO com
99m
Tc............................
57
Figura 3 - Fotomicrografia dos
99m
Tc-HMPAO-leucitos. As setas indicam as
células não-viáveis..........................................................................
60
Figura 4 - Imagens de varredura de corpo inteiro de um indivíduo gido,
nas projeções anterior e posterior, realizadas aos 30 min e
2h após a injeção dos leucócitos radiomarcados........................
63
Figura 5A - Imagens obtidas 30 minutos após a injeção dos
99m
Tc-HMPAO-
leucócitos, nas projeções caudal e anterior ...................................
64
Figura 5B - Imagens obtidas 2 horas após a injão dos
99m
Tc-HMPAO-
leucócitos, nas projeções caudal e anterior....................................
64
Figura 6A - Imagens obtidas 30 minutos após a injeção dos
99m
Tc-HMPAO-
leucitos, nas projeções caudal e anterior. CDAI = 59,3 (remissão),
Ic=5 (inflamação acentuada). A seta indica a região do intestino
acometida pela inflamação.............................................................
65
Figura 6B - Imagens obtidas 2 horas após a injão dos
99m
Tc-HMPAO-
leucitos, nas projeções caudal e anterior. CDAI = 59,3 (remissão),
Ic=5 (inflamação acentuada). A seta indica a região do intestino
acometida pela inflamação.............................................................
65
Figura 7A - Imagens obtidas 30 minutos após a injeção dos
99m
Tc-HMPAO-
leucitos, nas projeções caudal e anterior. CDAI = 47,1 (remissão);
Ic =8 (inflamação acentuada).........................................................
66
Figura 7B - Imagens obtidas 2 horas após a injão dos
99m
Tc-HMPAO-
leucitos, nas projeções caudal e anterior. CDAI = 47,1 (remissão);
Ic =8 (inflamação acentuada).........................................................
66
Figura 8A - Imagens obtidas 30 minutos após a injeção dos
99m
Tc-HMPAO-
leucitos, nas projeções caudal e anterior. CDAI = 56,3 (remissão);
Ic=0 (remissão)...............................................................................
67
Figura 8B - Imagens obtidas 2 horas as a injeção dos
99m
Tc-HMPAO-
leucitos, nas projeções caudal e anterior. CDAI = 56,3 (remissão);
Ic=0 (remissão)...............................................................................
67
Figura 9A - Imagens obtidas 30 minutos após a injeção do complexo
99m
Tc-HMPAO-leucócitos, nas projões caudal e anterior. A
seta indica a região sinalizada com
241
Am (fístula). CDAI = 2
(remissão); Ic=0 (remissão)............................................................
68
xiv
Figura 9B - Imagens obtidas 2 horas as a injeção dos
99m
Tc-HMPAO-
leucitos, nas projeções caudal e anterior. CDAI = 2 (remissão);
Ic=0 (remissão)...............................................................................
68
Figura 10A -
Imagens obtidas 30 minutos após a injeção do complexo
99m
Tc-HMPAO-leucócitos, nas projeções caudal e anterior. As
setas indicam as regiões sinalizadas com
241
Am (fístulas).
CDAI = 262,1 (grau moderado); Ic=5 (inflamação acentuada)............
69
Figura 10B -
Imagens obtidas 2 horas após a injão dos
99m
Tc-HMPAO-
leucócitos, nas projeções caudal e anterior. CDAI = 262,1
(grau moderado); Ic=5 (inflamação acentuada).............................
69
Figura 11 - Região do íleo-terminal (setas) visualizada com exatidão apenas
na análise das imagens em modo “cine”........................................
105
Figura 12 - Captação dos leucócitos radiomarcados na porção superior
esquerda do abdome (setas)..........................................................
106
Figura 13 - Identificão do pool” sangneo na rego uterina de pacientes........
107
Figura 14 - Captação leve e difusa (setas) que, provavelmente, deve-se
ao aumento da permeabilidade intestinal de pacientes com DC ...
108
xv
Lista de Tabelas
Tabela 1 - Rendimento de marcação dos leucócitos com
99m
Tc-HMPAO..............
58
Tabela 2 - Estudo da estabilidade de marcação dos leucócitos em função do
tempo e da temperatura........................................................................
59
Tabela 3 - Viabilidade dos leucócitos marcados com
99m
Tc-HMPAO.....................
60
Tabela 4 - Valores do CDAI e Ic e classificação da atividade inflamatória da DC
pelos dois índices.................................................................................
62
Resumo
xvi
RESUMO
A doença de Crohn (DC) é uma enfermidade inflamatória intestinal crônica, cujo
diagnóstico é realizado, normalmente, por exames de radiologia com contraste,
endoscopia, colonoscopia, histologia e exames laboratoriais. O índice de atividade da
doença de Crohn (CDAI) tem sido usado rotineiramente para avaliar a atividade
inflamatória da DC e baseia-se em sintomas clínicos e exames laboratoriais. O método
dos leucócitos marcados com tecnécio-99m-hexametilpropileno amina oxima (
99m
Tc-
HMPAO) tem sido amplamente utilizado no diagnóstico e monitoramento da DC. O
objetivo deste trabalho foi avaliar a extensão e o grau da atividade inflamatória da DC
pelos índices cintilográfico (Ic) e CDAI. Vinte (20) pacientes (7 homens e 13 mulheres,
com uma média de idade de 38,7 anos) com diagnóstico bem estabelecido de DC e 5
voluntários saudáveis (4 mulheres, com uma média de idade de 23,2 anos) foram
estudados. Em todos os pacientes os valores do CDAI foram determinados uma
semana antes dos estudos cintilográficos. Amostras de sangue (44mL) foram retiradas
em uma seringa contendo 6,0 mL de anticoagulante (ACD) de todos os participantes.
Todo o procedimento de marcação dos leucócitos seguiu o protocolo de consenso
estabelecido pela International society of radiolabeled blood element (ISORBE). O Kit
de HMPAO (Ceretec
®
, Amersham, UK), disponível comercialmente, foi marcado com
tecnécio-99m conforme as instruções do fabricante. A pureza radioquímica foi
determinada pelo método de extração por solvente utilizando salina (0,9%) como fase
aquosa e clorofórmio como fase orgânica. A estabilidade e viabilidade dos leucócitos
marcados foram investigadas após 2 e 3 horas da marcação a 37°C e temperatura
ambiente. Alíquotas de
99m
Tc-HMPAO-leucócitos (273 MBq) foram injetadas na veia
cubital de todos os pacientes e voluntários. As imagens cintilográficas convencionais e
o SPECT (Tomografia computadorizada por emissão de fóton único) foram obtidos por
uma gama-câmara aos 30 minutos e 2 horas após a injeção dos leucócitos marcados.
O valor médio de pureza radioquímica foi de 85,0% ± 9,0 (n=25) e o rendimento médio
de marcação dos leucócitos foi de 55,1% ± 10,0 (n=25). Os resultados de estabilidade
e viabilidade dos leucócitos radiomarcados não mostraram diferenças estatisticamente
significativas nas condições testadas (p>0,05). O valor do Ic obtido com a análise
das imagens cintilográficas foi comparado com o CDAI. O CDAI indicou 16 pacientes
Resumo
xvii
(80%) com doença em remissão. Por outro lado, o Ic mostrou que somente 6 (30%) dos
20 pacientes apresentaram doença inativa. Para os 14 pacientes restantes não houve
correspondência entre a extensão e o grau de atividade inflamatória da DC pelos dois
índices avaliados. Os dados sugerem que a cintilografia convencional e o SPECT
realizados com leucócitos radiomarcados podem ser utilizados como um método
complementar na avaliação e monitoramento da atividade e extensão da DC.
Abstract
xviii
ABSTRACT
Crohn’s disease (CD) is an intestinal inflammatory process, which diagnosis normally is
performed by radiology exams, endoscopy, colonoscopy, histology and laboratory
exams. The Crohn’s disease activity index (CDAI) has been used in the routine to
evaluate the inflammatory activity of this disease; it considers clinical aspects and
laboratory data. The technetium-99m-hexamethylpropylene amine oxime - leucocytes
method has been widely used to diagnosis and monitor of CD. The aim of this work was
to evaluate the extent and degree of activity inflammatory of CD by scintigraphy index
(Ic) and CDAI. 20 patients (7 male, 13 female, mean age 38,7 years) with well-
established CD and 5 healthy volunteers controls (4 female, mean age 23,2 years) were
studied. In all patients CDAI values were determined in the week before the
scintigraphic studies. Blood samples (44mL) were withdrawn in a syringe containing
6,0mL of anticoagulant (ACD) from all participants. The radiolabeling process was
performed in agreement with the established procedure by International Society of
radiolabeled blood element (ISORBE). A commercially available kit for HMPAO
(Ceretec
®
, Amersham Inc., UK) was labeled with technetium-99m according to the
manufacturer’s instructions. Radiochemical purity was determined by method solvent
extraction using 0,9% saline as aqueous phase and chloroform as organic phase. The
stability and viability of the radiolabeled leucocytes were investigated 2 and 3 hours after
the radiolabeling process, at 37°C and room tempera ture.
99m
Tc-HMPAO-leucocytes
(273 MBq) were injected in the cubital vein of all patients and volunteers. The
conventional scintigraphy images and the SPECT (Single photon emission computed
tomography) were obtained in a gamma-camera at 30min and 2h after injection of
radiolabeled leucocytes. The average value of radiochemical purity was 85,0% ± 9,0
(n=25) and labeling yield of leucocytes with technetium-99m-HMPAO was 55,1% ± 10,0
(n=25). The results of stability and viability of radiolabeled leucocytes did not show
significant differences in the investigated conditions (p>0,05). The Ic obtained with the
scintigraphy images was compared with the CDAI. The CDAI indicated 16 patients
(80%) with disease in remission. On the other hand, the Ic showed that only six (30%)
out 20 patients showed inactive disease. In the remaining 14 patients there were no
correspondence between the extent and degree of intestinal activity of CD evaluated by
Abstract
xix
both index. The data suggest that conventional scintigraphy and SPECT obtained with
radiolabeled leucocytes could be used as a complementary method to evaluate and
monitor the activity and extent of CD.
1 INTRODUÇAO
Introdução
21
1 INTRODUÇÃO
As doenças intestinais de natureza inflamatória, na sua concepção mais ampla,
correspondem a qualquer processo inflamatório envolvendo o trato gastrointestinal, seja
ele agudo ou crônico. Assim, é possível classificá-las em doenças inflamatórias
intestinais com causa conhecida (infecções, parasitoses, enterocolite actínica, isquemia
etc.) e doenças inflamatórias intestinais com causa não totalmente esclarecida (DII).
Neste último grupo, 80% a 90% dos casos são diagnosticados como retocolite
ulcerativa (RCU) e doença de Crohn (DC). A RCU é conhecida desde o século XIX e a
DC recebeu este nome por causa da sua descrição, em 1932, pelos médicos
americanos Crohn, Ginzburg e Oppenheimer (DAMIÃO; SIPAHI, 2004). Estas doenças
são caracterizadas por distúrbios que envolvem influências genéticas e imunológicas
sobre o trato gastrointestinal, compartilhando muitas características epidemiológicas,
clínicas e terapêuticas sobrepostas. Ambas são condições crônicas e clinicamente
incuráveis (HANAUER, 1996). O diagnóstico das DII (doenças inflamatórias do intestino
com causa não totalmente esclarecida) baseia-se na associação de aspectos clínicos,
endoscópicos, radiológicos, histológicos e exames bioquímicos, sem que exista um
único exame considerado como padrão ouro” na abordagem diagnóstica (DAMIÃO;
SIPAHI, 2004; FARIA et al., 2006; STANGE et al., 2006).
No final do século passado foram desenvolvidas várias técnicas para o diagnóstico de
infecção e inflamação pelo método cintilográfico. Este é um exame capaz de determinar
a localização e o número de focos infecciosos/inflamatórios. Tendo em vista que a
imagem cintilográfica é baseada em alterações funcionais do tecido (fisiológicas e/ou
bioquímicas), o foco infeccioso/inflamatório pode ser visualizado precocemente, ou seja,
quando as alterações anatômicas ainda não são visíveis (RENNEN et al., 2001). Desta
forma, para alguns autores a cintilografia empregando leucócitos marcados com
tecnécio-99m é considerada como “padrão ouro” no diagnóstico de DC e RCU
(MARTIN-COMIN; PRATS, 1999), idéia não corroborada por outros estudiosos do
assunto (DAMIÃO; SIPAHI, 2004; FARIA et al., 2006; STANGE et al., 2006).
Introdução
22
Este exame propicia ao paciente uma baixa dose de radiação quando comparado à
radiologia com contraste. Ao contrário da colonoscopia, a cintilografia é um exame não
invasivo e que não necessita de nenhum preparo do paciente para a sua realização
(DAVISON et al., 2006).
O emprego de leucócitos radiomarcados é uma técnica diferenciada que explora o
comportamento migratório natural das células brancas do sangue para obter imagens
cintilográficas de processos inflamatórios. Células sangüíneas brancas são isoladas de
uma amostra do sangue total de pacientes e marcadas com o composto lipofílico
tecnécio-99m-hexametilpropileno amina oxima (
99m
Tc-HMPAO). Os leucócitos
radiomarcados são posteriormente injetados nos pacientes e a sua distribuição pelo
organismo é mapeada cintilograficamente (CARDOSO et al., 2002).
O método cintilográfico permite uma visão panorâmica do processo inflamatório em
uma única imagem, propiciando também o diagnóstico de enfermidades inflamatórias
no íleo terminal. A cintilografia pode ser empregada mesmo durante a fase aguda da
doença sem oferecer riscos ao paciente (CARDOSO et al., 2002).
O emprego de leucócitos radiomarcados para gerar imagens de processos inflamatórios
e infecciosos mostrou ter uma sensibilidade superior a 95% (PETERS et al., 1986;
DATZ,1994). Resultados de exames realizados com
99m
Tc-HMPAO-leucócitos em
pacientes com doenças inflamatórias do intestino foram comparados com outras provas
de diagnóstico como parâmetros laboratoriais e clínicos, endoscopia, radiologia e
estudos histológicos. A cintilografia com
99m
Tc mostrou ser melhor para o diagnóstico de
inflamação ativa do intestino do que todas as provas testadas (ARNDT et al., 1997).
Estudos indicam uma excelente correlação entre os locais de fixação dos leucócitos
marcados com as áreas acometidas visualizadas nos exames radiológicos e na
colonoscopia (DATZ, 1996).
Além do diagnóstico, a cintilografia tem sido utilizada para o monitoramento do paciente
com o objetivo de avaliar a eficácia da terapia e a diferenciação entre tecido fibrótico e
Introdução
23
recidiva da doença após a cirurgia (MARTIN-COMIN; PRATS, 1999). Diante do
exposto, pode-se dizer que a cintilografia é uma técnica segura e eficaz, apresentando
uma sensibilidade e especificidade superior a 90% no diagnóstico de doenças
inflamatórias do intestino.
No Brasil, pelo que consta na literatura consultada, não relatos da utilização deste
método para o diagnóstico e o monitoramento de doenças inflamatórias do intestino
(DII). Portanto, o emprego de leucócitos radiomarcados representa uma iniciativa
pioneira na Gastroenterologia no que diz respeito às doenças inflamatórias intestinais.
2 REVISÃO DA LITERATURA
Revisão da Literatura
25
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Inflamação
A inflamação é uma reação dos tecidos vascularizados caracterizada morfologicamente
pela saída de líquido e de células do sangue para o interstício. Embora tenham causas
muito variadas (agentes físicos, químicos e biológicos, fenômenos imunológicos, etc.),
os mecanismos de aparecimento das inflamações são comuns. O agente inflamatório
age sobre os tecidos e induz a liberação de substâncias denominadas mediadores que,
ao agirem nos receptores existentes nas células da microcirculação e nos leucócitos,
produzem alterações hemodinâmicas e exsudação de plasma e de células sangüíneas
para o interstício (BOGLIOLO; PEREIRA, 1994).
A vasodilatação e o aumento da permeabilidade vascular são induzidos para facilitar o
extravasamento de proteínas e células. A expressão de moléculas de adesão nas
células endoteliais e nos leucócitos também é estimulada. Desta maneira, os leucócitos
migram ativamente da circulação para o local da inflamação, aderindo-se ao endotélio
vascular através destas moléculas de adesão ("rolling" e adesão). Subseqüentemente,
eles passam através do endotélio e da membrana basal (diapedese) e migram para o
foco inflamatório (quimiotaxia) - (RENNEN et al., 2001).
A ação do agente inflamatório e/ou das células do exsudato pode produzir lesões nos
tecidos, inclusive necrose. Com o fim desta ação, reduz-se a liberação dos mediadores,
a microcirculação recupera o estado hemodinâmico original e o líquido e as células
exsudadas voltam à circulação sangüínea geralmente pelos vasos linfáticos. Se
necrose, o tecido destruído é fagocitado e logo depois surgem os fenômenos de
cicatrização ou de regeneração, tudo dependendo da extensão da lesão e do órgão
acometido (BOGLIOLO; PEREIRA, 1994).
A inflamação pode ser dividida em aguda ou crônica.
Revisão da Literatura
26
A inflamação aguda é de duração relativamente curta, podendo durar de cinco minutos
a cinco dias (MITCHELL; COTRAN, 2003). A sua resposta é caracterizada por:
o aumento do fluxo sanguíneo no local da inflamação;
o aumento da permeabilidade vascular na área afetada;
o aumento da transudação de proteínas do plasma;
o aumento do influxo de leucócitos.
Na inflamação aguda o infiltrado celular é predominantemente de células
polimorfonucleares (RENNEN et al., 2001).
A inflamação crônica pode ser considerada como uma inflamação de duração
prolongada (semanas, meses ou anos) na qual a inflamação ativa, a injúria do tecido e
a cicatrização procedem simultaneamente (MITCHELL; COTRAN, 2003).
Ao contrário da inflamação aguda, caracterizada por alterações vasculares, edema e
um infiltrado neutrofílico, a inflamação crônica é caracterizada por:
o infiltrado mononuclear (macrófagos, linfócitos e células plasmáticas);
o destruição do tecido, largamente causada pelas células inflamatórias;
o reparação, envolvendo uma nova proliferação de vasos (angiogênese) e
fibrose (MITCHELL; COTRAN, 2003).
A inflamação crônica pode surgir de duas maneiras: pode seguir-se à inflamação
aguda, quando esta não é resolvida, seja pela persistência do agente agressor ou por
alguma interferência com o processo normal de cura. Pode, também, apresentar uma
resposta crônica praticamente desde o início do processo. Na inflamação crônica como
processo primário, normalmente, o agente agressor é de toxicidade menor quando
comparado com o que ocorre na inflamação aguda (ROBBINS et al., 1986).
Revisão da Literatura
27
A leucocitose (aumento no número de leucócitos circulantes) é uma característica das
inflamações agudas e crônicas. Alguns estados inflamatórios levam a um aumento no
número de leucócitos, de até 50.000/mm
3
de sangue. A natureza dos fatores que
promovem a leucocitose não é bem compreendida (ROBBINS et al., 1986).
2.2 Doenças inflamatórias do intestino
O termo "doenças inflamatórias do intestino com causa não totalmente esclarecida"
(DII) engloba, em 99% dos casos, a doença de Crohn (DC) e a retocolite ulcerativa
(RCU) - (CAPDEVILA, 2005). Ambas podem ser definidas como doenças inflamatórias
intestinais de curso crônico, destrutivas, que acometem o intestino grosso (RCU), o
intestino grosso e/ou o delgado e, eventualmente, outros segmentos do tubo digestivo,
como a boca, o esôfago, o estômago e o ânus (DC). Associam-se freqüentemente a
manifestações sistêmicas e, embora de etiologia desconhecida, apresentam condições
clínicas, patológicas e radiológicas próprias de cada uma, embora às vezes muito
semelhantes entre si. O curso clínico é variável, com um quadro de complicações
variadas e com períodos de remissão espontânea interpostos a novos surtos de
atividade (FARIA et al., 2006).
2.2.1 Epidemiologia
A incidência e a prevalência das DII são fortemente influenciadas pela localização
geográfica. Levando-se em conta a incidência, classificam-se os países e regiões do
mundo em: (a) países e regiões com alta incidência de DII (EUA, Inglaterra,
Escandinávia, Itália); (b) incidência intermediária (sul da Europa, África do Sul,
Austrália, Nova Zelândia); (c) baixa incidência (Ásia, América do Sul). No Brasil, a real
incidência das DII ainda é desconhecida, mas certamente é maior nas regiões Sul e
Sudeste (DAMIÃO; SIPAHI, 2004; CAPDEVILA, 2005).
Revisão da Literatura
28
As DII podem acometer indivíduos em qualquer faixa etária, porém incidem mais entre
os 20 e 40 anos de idade. Alguns autores m descrito um segundo pico de incidência,
menos evidente e principalmente na DC, entre os 60 e 80 anos, configurando a
chamada apresentação bimodal (DAMIÃO; SIPAHI, 2004).
Em 1996, Polito et al. observaram que pacientes jovens com DC (< 20 anos) tinham
mais envolvimento do intestino delgado do que pacientes com diagnóstico após os 40
anos. Por outro lado, a freqüência de envolvimento colônico foi mais comum na
população acima de 40 anos.
As DII afetam a ambos os sexos de maneira similar e têm certa relação familiar
(CAPDEVILA, 2005).
As DII são mais comuns entre os brancos do que entre os negros e os de cor amarela,
possuindo maior incidência nas populações urbanas quando comparadas com as
rurais, possivelmente pela maior exposição a antígenos de maneira geral. Os fatores de
risco para as DII incluem fatores genéticos e os ambientais tais como:
o fumo: que oferece menor risco de desenvolver RCU e maior risco de desenvolver
DC sendo responsável por maiores índices de recaída clínica e endoscópica e de
recorrência pós-cirúrgica;
o consumo de antiinflamatórios não-esteroidais, que pode desencadear as DII ou
induzir recaídas nos pacientes já diagnosticados;
o dieta: um alto consumo de carboidratos, açúcar refinado e dieta pobre em frutas têm
sido descritos em pacientes com DII, especialmente na DC;
o infecções: a exposição ao vírus do sarampo (Paramyxovirus) tem sido apontada
como fator de risco para desenvolvimento de DC;
o amamentação: o aleitamento materno reduz o risco de desenvolvimento de RCU e
DC (DAMIÃO; SIPAHI, 2004).
Revisão da Literatura
29
Os fatores exógenos mais freqüentes envolvidos na etiopatogenia da DC são os
agentes infecciosos como o Mycobacterium paratuberculosis e os Paramyxovirus. Mas
até o momento, os estudos ainda não confirmaram esta associação. Dentro dos fatores
psicossociais, estudos que avaliam a função psicológica e física global dos pacientes
com DII mostram uma maior alteração funcional que a média da população. Ainda que
se proponha que os pacientes com DII tenham uma personalidade que os predispõe às
tensões emocionais, esta disfunção emocional pode ser uma conseqüência da
enfermidade (CAPDEVILA, 2005).
2.2.2 Etiopatogenia
A etiologia das DII é desconhecida ainda que provavelmente multifatorial envolvendo
fatores genéticos, fatores luminais, fatores relacionados à barreira intestinal e
alterações na imunorregulação da mucosa intestinal (CAPDEVILA, 2005; DAMIÃO;
SIPAHI, 2004).
Fatores genéticos
A freqüência de história familiar nas DII é variável, mas gira em torno de 10% a 20% e
ocorre, sobretudo entre os parentes de primeiro grau. É verificado o fenômeno da
antecipação genética, isto é, filhos de pacientes com DII desenvolvem a doença mais
precocemente do que seus pais e na mesma época de outros de sua geração. De
modo semelhante, a localização anatômica e aspectos clínicos e evolutivos da DC
costumam ser concordantes entre os membros da família com a doença (DAMIÃO;
SIPAHI, 2004).
Pesquisadores franceses, liderados por Hugot (1996), identificaram um lócus de
susceptibilidade para a DC localizado na região pericentromérica do cromossomo 16.
Esta região passou a ser conhecida como IBD1 (lócus 1 da doença inflamatória
intestinal). Em seguida, grupos independentes identificaram mutações no gene NOD2
Revisão da Literatura
30
(localizado na região IBD1) e que estão presentes em 15% a 20% dos pacientes com
DC. O gene NOD2 é responsável pela codificação de uma proteína também chamada
de NOD2, presente exclusivamente nos monócitos, células de defesa do organismo
pertencentes ao sistema imune inato. A mutação do gene NOD2 mais freqüente foi
aquela em que há geração de uma proteína NOD2 anormal, isenta dos 33 últimos
aminoácidos. Em condições normais, esta proteína NOD2 atua no reconhecimento de
componentes antigênicos bacterianos e desencadeia a resposta imune inata de defesa
contra esses elementos. A presença da proteína NOD2 anormal na DC ocasiona graves
alterações na resposta imunológica aos antígenos bacterianos presentes no lúmen
intestinal. Essas alterações não estão esclarecidas, mas talvez incluam: (a) falência do
sistema imune inato (monócitos) em reconhecer e agir contra os elementos nocivos
bacterianos, maior passagem e estimulação antigênica e conseqüente hiperativação do
sistema imune adaptativo (linfócitos); (b) a proteína NOD2 anormal poderia ser hiper-
responsiva a outros componentes bacterianos; (c) interferência em mecanismos de
apoptose. Portanto, a descoberta da mutação no gene NOD2 na DC representa um
marco na história da etiopatogenia das DII abrindo novas possibilidades para o
diagnóstico, prognóstico e tratamento destas doenças, incluindo-se a correção da
mutação genética (DAMIÃO; SIPAHI, 2004).
Fatores Luminais
São fatores presentes no lúmen intestinal. Os pacientes com DII apresentam alterações
quantitativas e qualitativas da flora bacteriana intestinal. Na DC, as concentrações de
bactérias anaeróbicas Gram-positivas (Streptococcus intermedius, Peptostreptococcus
productus, Coprococcus comes, Eubacterium contornum) e Gram-negativas
(Bacteroides, Fusobacterium) estão aumentadas.
Certos produtos bacterianos que ocorrem em condições normais (LPS =
lipopolissacárides, FMLP = formil-metionil-leucil-fenilalanina), nas DII geram reações
inflamatórias intensas, em conseqüência do aumento de receptores para esses
produtos nos neutrófilos e monócitos dos pacientes.
Revisão da Literatura
31
Em condições normais, a flora bacteriana intestinal é útil e vital para o ser humano. Ao
atuarem sobre substratos alimentares, as bactérias geram ácidos graxos de cadeia
curta (butirato, por exemplo) que propiciarão o metabolismo normal das células
epiteliais colônicas (colonócitos). O organismo tem um eficiente mecanismo de proteção
contra bactérias mais agressivas (patogênicas) e seus produtos, que também são
virulentos. Esta proteção é representada principalmente pela produção de
imunoglobulina A (IgA) secretora, a camada de mucina sobre as células epiteliais e a
própria barreira de células justapostas, firmemente aderidas umas às outras. Assim, as
bactérias e seus produtos antigênicos são excluídos ou neutralizados. Nas DII, além
deste comportamento luminal ser anormal, os mecanismos de proteção não são
suficientemente capazes de impedir ou diminuir a ação bacteriana, caracterizando outro
aspecto da patogenia das DII (DAMIÃO; SIPAHI, 2004).
Fatores relacionados com a barreira intestinal
Defeitos na função de barreira da mucosa intestinal poderiam contribuir para a
penetração contínua e excessiva de antígenos luminais na mucosa intestinal e essa
estimulação antigênica perpetuaria a resposta inflamatória. O aumento da
permeabilidade intestinal é observado na maioria dos pacientes com DC e em cerca de
25% de seus familiares de primeiro grau (FARIA et al., 2006).
Alterações na imunorregulação da mucosa intestinal
Em condições normais, a apresentação antigênica pelas chamadas células
apresentadoras de antígenos (macrófagos, células dendríticas e células epiteliais) é
direcionada, preferencialmente, para a atividade imunossupressora da lâmina própria. A
apresentação de antígenos por células epiteliais isoladas de pacientes com DII ocorre
na direção dos linfócitos T auxiliares (helper, CD4
+
); por outro lado, ativação de
linfócitos T supressores (CD8
+
) pelas células epiteliais de indivíduos normais. A
conseqüência da hiperestimulação de linfócitos CD4
+
é a amplificação e cronificação do
processo inflamatório com a participação de citocinas (IL-1, TNF etc.) e radicais livres
Revisão da Literatura
32
de oxigênio. A transformação da célula epitelial em célula apresentadora de antígeno
(induzida pelo IFN-γ), somada à sua capacidade de secretar citocinas antiinflamatórias
(IL-10, por exemplo) e pró-inflamatórias (IL-6, IL-8, TNF, por exemplo), de expressar
moléculas de adesão (moléculas de adesão intercelular ICAM-1), de liberar
eicosanóides e produzir óxido nítrico, constitui a base do conceito atual de que a célula
epitelial intestinal exerce funções imunorreguladoras (DAMIÃO; SIPAHI, 2004; CARTER
et al., 2006).
2.3 Doença de Crohn
A doença de Crohn (DC) caracteriza-se por inflamação intestinal crônica, de etiologia
desconhecida que pode acometer qualquer segmento do trato digestivo, da boca ao
ânus. Esta inflamação é tipicamente segmentar podendo-se, às vezes, observar vários
segmentos do intestino acometidos separados por áreas aparentemente normais. Outro
aspecto característico da DC é que a reação inflamatória acomete toda a extensão do
intestino e mesentério e, em 50 a 70% dos casos, distingue-se pela existência de
granulomas não caseosos (CRAWFORD; KUMAR, 2003). A presença do granuloma
não caseoso possui grande variação na sua freqüência no material de biópsia cirúrgica
podendo ser observado em até 70% dos casos. No entanto, em amostras de tecido
colhidas por procedimentos endoscópicos a positividade é discreta, em torno de 15%
(FARIA et al., 2006).
A doença manifesta-se freqüentemente por dor abdominal e diarréia, podendo evoluir
com complicações como fístulas, abscessos e obstrução intestinal. Apresenta tendência
a recorrências mesmo após ressecção cirúrgica e pode associar-se a diversas
manifestações extra-intestinais. O tratamento atualmente disponível possibilita o
controle da atividade inflamatória da doença com alívio dos sintomas, mas não
proporciona a cura. Seu diagnóstico baseia-se nas manifestações clínicas, achados
radiológicos, endoscópicos, cirúrgicos e anátomo-patológicos. Entretanto, nenhum
Revisão da Literatura
33
achado patológico é considerado patognomônico da doença (FARIA et al., 2006;
CARTER et al., 2006).
O intestino delgado e o cólon são as regiões mais acometidas. O íleo terminal está
comprometido em 65% dos casos, com o concomitante envolvimento do cólon em
quase metade dos casos. Embora esta doença não seja uma doença comum,
observou-se nos últimos anos um rápido aumento na sua incidência. É ligeiramente
mais freqüente em mulheres e brancos, surgindo geralmente na idade de adulto jovem,
entre a segunda e terceira décadas de vida (CRAWFORD; KUMAR, 2003). Os sinais e
sintomas da DC o conseqüências da inflamação intestinal crônica, de suas
complicações e, dependem da forma de apresentação da doença e de sua localização.
O paciente geralmente apresenta-se com diarréia, não-sanguinolenta com cerca de
cinco a seis evacuações por dia, principalmente quando a doença está confinada ao
íleo (DAMIÃO; SIPAHI, 2004).
Uma vez que a localização mais freqüente é a região íleo-cecal, a apresentação clínica
mais comum consiste em episódios recorrentes de dor abdominal do tipo cólica,
localizada no quadrante inferior direito do abdome e diarréia. Massa inflamatória pode
ser palpada no quadrante inferior direito do abdome, formada por alças intestinais
inflamadas e aderidas, espessamento e inflamação do mesentério. Por vezes, a dor
localiza-se na região periumbilical outras vezes é difusa, em especial quando a doença
acomete todo o cólon. A perda de peso também é comum devido à piora de sintomas
como náuseas, vômitos, plenitude pós-prandial, dor e distensão abdominais
desencadeados pela alimentação, o que contribui para redução da ingestão calórica. A
perda de sangue nas fezes é comum em todas as localizações da DC, embora outras
causas de anemia devam ser consideradas (FARIA et al., 2006).
As complicações envolvem a presença de abscesso e fístulas que são parte de um
mesmo processo patológico, qual seja, a extensão transmural de uma úlcera ou fissura
penetrante. Se esse processo não se comunica com outra estrutura ou com a superfície
cutânea, forma-se um abscesso; se ele atinge a pele ou uma víscera adjacente, origina-
Revisão da Literatura
34
se uma fístula. Nos estágios iniciais da DC, a inflamação transmural, o edema e os
espasmos da parede intestinal produzem sintomas recorrentes de obstrução intestinal
parcial (FARIA et al., 2006). As estenoses podem ser secundárias ao processo
inflamatório, e o reversíveis com o tratamento clínico. No entanto, estenoses
fibróticas irreversíveis podem estar presentes e constituem-se em indicação para o
tratamento cirúrgico (CAPDEVILA, 2005).
As manifestações extra-intestinais incluem úlceras orais, sinais de inflamação articular e
ocular, eritema nodoso e pioderma gangrenoso, dentre outros. Também há maior
incidência de cálculos vesiculares na DC (DAMIÃO; SIPAHI, 2004).
Durante os períodos de atividade inflamatória da DC, o número de leucócitos pode
estar aumentado e a contagem diferencial pode mostrar aumento do número de
neutrófilos. A velocidade de hemossedimentação (VHS) e proteínas plasmáticas de
fase aguda, como a proteína C reativa (PCR), são marcadores sensíveis e inespecíficos
de inflamação (FARIA et al., 2006). Estas provas de atividade inflamatória elevadas
denunciam a atividade da DC (DAMIÃO; SIPAHI, 2004).
Devido às características da DC que pode acometer todo o trato gastrointestinal, desde
a boca até o ânus e região perianal, a avaliação da extensão da doença envolve
exames endoscópicos com biópsias (endoscopia digestiva alta, enteroscopia,
colonoscopia) e exames radiológicos tais como o estudo contrastado do esôfago,
estômago e duodeno, trânsito intestinal e enema opaco, bem como o ultra-som, a
tomografia computadorizada e a ressonância magnética do abdome também podem ser
utilizados (DAMIÃO; SIPAHI, 2004; CARTER et al., 2006).
Em 1981 Segal et al. e Saverymmuttu et al., independentemente, mas
simultaneamente, aplicaram a cintilografia com leucócitos marcados com
111
In-oxima na
investigação das DII. Os resultados foram satisfatórios e nos anos seguintes, vários
grupos confirmaram a grande utilidade deste método no acompanhamento de pacientes
com DII. Atualmente, a cintilografia com leucócitos marcados tem sido utilizada por
Revisão da Literatura
35
algumas unidades de Medicina Nuclear e Gastroenterologia como um dos exames de
rotina de pacientes com suspeita de DII assim como no acompanhamento desses
pacientes (MARTIN-COMIN; PRATS, 1999).
A cintilografia com leucócitos marcados com tecnécio-99m-hexametilpropileno amina
oxima (
99m
Tc-HMPAO) tem demonstrado ser muito útil no diagnóstico da DC, permitindo
estimar de maneira não invasiva a extensão da doença e definir sua atividade. Também
é capaz de diferenciar as estenoses inflamatórias das estenoses fibróticas, além de
permitir a detecção de complicações locais como os abscessos intrabdominais
(CAPDEVILA, 2005).
Vários são os critérios existentes na literatura que visam quantificar o grau de atividade
da doença por meio dos dados clínicos, laboratoriais, endoscópicos e a avaliação da
qualidade de vida do paciente. No entanto, todos possuem as suas limitações e não
existe um único índice considerado como “padrão ouro”. Dentre os mais utilizados na
quantificação da atividade da doença está o CDAI (Índice de atividade da doença de
Crohn - Anexo A), que com base em parâmetros clínicos e laboratoriais, quantifica por
somatório de pontos a atividade da DC. Um valor de CDAI menor do que 150
caracteriza remissão da doença, valores entre 150 e 250 associam-se a atividade
inflamatória leve. A atividade inflamatória moderada é considerada quando os valores
estão entre 250 e 350 e um índice superior a 350 caracteriza atividade grave (BEST et
al., 1976).
Recentemente, foi descrita uma classificação da DC (Classificação de Viena - Anexo B)
que incorpora parâmetros chamados constantes: idade ao diagnóstico (<40 anos, 40
anos), localização da doença (íleo terminal, cólon, íleo-cólon, trato gastrointestinal
superior) e comportamento da doença (não estenosante/não penetrante, estenosante e
penetrante). Essa classificação tem por objetivo padronizar determinados fenótipos da
doença e permitir a alocação dos pacientes em 24 diferentes subgrupos. Atualmente
sua ampla utilização é recomendada (FARIA et al., 2006).
Revisão da Literatura
36
A DC é entidade que permanece até os dias atuais como uma doença tratável, mas
incurável. Assim, a terapêutica da DC, seja do ponto de vista clínico ou cirúrgico, tem
como objetivos: melhorar ou suprimir a atividade inflamatória induzindo a remissão da
doença e consequentemente, melhorando os sintomas; manter a remissão alcançada,
minimizando a curto e a longo prazo as complicações e melhorar a qualidade de vida
dos pacientes (FARIA et al., 2006).
O tratamento medicamentoso para a DC deve ser individualizado e se baseia na
gravidade dos sintomas, no grau de atividade inflamatória, no local do trato
gastrointestinal acometido e no comportamento da doença. Os corticosteróides são
eficazes na redução da atividade da doença induzindo a remissão clínica na maioria
dos pacientes. Entretanto, devido aos seus diversos efeitos colaterais (v.g., inibição do
crescimento em crianças, osteopenia), o uso prolongado de corticosteróides não é
recomendado. No grupo dos derivados salicílicos estão a sulfasalazina e a mesalazina
que são usados na doença leve a moderada (HENDRICKSON et al., 2002).
A terapia com imunomoduladores que inclui drogas como a 6-mercaptopurina,
azatioprina, metotrexato e ciclosporina, dentre outros, está indicada nos pacientes
corticóide-dependentes, corticóide-resistentes, nas formas graves da doença, na
doença penetrante e perianal, bem como, configura-se na terapêutica de escolha para a
manutenção da remissão (HENDRICKSON et al., 2002).
Vários estudos vêm sendo realizados mostrando a eficácia do anticorpo monoclonal
anti-fator de necrose tumoral alfa (anti-TNF-α) no tratamento da DC de padrão
inflamatório, com atividade moderada a grave, com resposta inadequada ao tratamento
convencional (corticosteróides, azatioprina, 6-mercaptopurina, metotrexato). Esta
terapia também é empregada na DC penetrante com o objetivo de reduzir o número de
fístulas ou induzir ao fechamento completo destas. O referido anticorpo também pode
ser empregado em pacientes corticóide-dependentes sem possibilidade de retirada do
corticoesteróide (FARIA et al., 2006).
Revisão da Literatura
37
Devido a inexorável tendência a recorrências pós-cirúrgicas, a cirurgia não é um
procedimento curativo na DC e deve ser reservada ao tratamento das complicações. A
indicação de cirurgia inclui a o resposta ao tratamento medicamentoso, suspeita de
perfuração ou abscessos, obstrução intestinal e hemorragia (HENDRICKSON et al.,
2002).
2.4 Radiofármacos
2.4.1 Conceito
O radiofármaco é um composto radioativo usado no diagnóstico e tratamento de
doenças. Em Medicina Nuclear aproximadamente 95% dos radiofármacos são usados
para diagnóstico, e o restante é utilizado para tratamentos (SAHA, 1998).
Um radiofármaco, normalmente, não apresenta efeito farmacológico por ser utilizado
em concentrações extremamente reduzidas (traços). Para que possam ser injetados em
seres humanos, os radiofármacos devem ser estéreis, livres de pirogênio e devem
seguir todos os procedimentos de controle de qualidade de uma droga convencional
(SAHA, 1998; LAZARUS, 1990).
Um radiofármaco possui dois componentes: o radionuclídeo e o fármaco, de emprego
dependente de suas características. O fármaco é escolhido de acordo com o alvo ou
órgão a ser analisado. Em seguida, o radionuclídeo é adicionado resultando no
radiofármaco. Este é administrado ao paciente e a radiação emitida é detectada por
uma câmara de cintilação a raios gama. Desta forma, a morfologia ou a fisiologia do
órgão pode ser analisada (MILLAR, 1990).
Tendo em vista que os radiofármacos são administrados em humanos e que existem
algumas limitações na detecção da radiação pelos equipamentos disponíveis, os
radiofármacos devem possuir algumas características importantes:
Revisão da Literatura
38
o fácil disponibilidade;
o baixo custo;
o meia-vida física curta resultando em baixa dose de radiação;
o o radionuclídeo utilizado deve ser preferencialmente um emissor de radiação gama
(γ), pois esta causa menos danos aos tecidos quando comparada com as partículas
alfa (α) e beta (β).
o devem ser emissores de radiação γ com energia entre 30 e 300 KeV. Acima ou
abaixo deste valor, não se obtém uma colimação efetiva dos raios γ com os
colimadores comumente utilizados. Entretanto, estão disponíveis colimadores
para energias de 511 Kev utilizados em imagens planares ou PET com
18
F-FDG
(SAHA, 1998).
O radiofármaco ideal deve possuir todas as características para fornecer a máxima
eficácia diagnóstica e proporcionar a menor dose efetiva de radiação ao paciente.
Entretanto, estes critérios são muito restritivos e nenhum radiofármaco é ideal para
todas as situações (SAHA, 1998).
2.4.2 O papel da Medicina Nuclear no diagnóstico de processos inflamatórios
O estudo de processos inflamatórios utilizando procedimentos da Medicina Nuclear
pode ser de grande relevância para a Clínica Médica. Geralmente, o diagnóstico é
baseado apenas na história clínica e no exame físico do paciente, entretanto, muitas
vezes é difícil de ser feito, pois o paciente encontra-se assintomático ou com sintomas
não-específicos. Quando o diagnóstico de processos inflamatórios é feito
precocemente, torna-se possível iniciar um tratamento e evitar uma série de
complicações. Entretanto, antes de iniciar o tratamento o médico deve conhecer a
localização e o grau de atividade do processo inflamatório (CHIANELLI et al., 1997).
Como citado anteriormente, o processo inflamatório é caracterizado por aumento no
fluxo sanguíneo, aumento da permeabilidade vascular e influxo de células do plasma
Revisão da Literatura
39
para o tecido. O radiofármaco usado na imagem de processos inflamatórios acumula-se
no local da lesão devido a estas mudanças fisiológicas que ocorrem no local da
inflamação. Portanto, a imagem cintilográfica não depende de alterações morfológicas e
sim de alterações físico-químicas no tecido acometido. Este fato confere ao método
cintilográfico a capacidade de detectar focos inflamatórios na sua fase inicial, quando as
alterações morfológicas ainda não estão presentes. Além disso, a cintilografia é um
método não invasivo que permite rastrear o corpo inteiro e determinar a extensão do
processo inflamatório (BOERMAN et al., 2001).
Vários radiofármacos têm sido desenvolvidos na última década, cada um com suas
vantagens e limitações. No diagnóstico de inflamações, o acúmulo e a retenção do
radiofármaco no sítio da inflamação podem ocorrer por mecanismos específicos ou não
específicos. Os processos específicos compreendem interações entre o radiofármaco e
o alvo, como peptídeos quimiotáticos ou ligações anticorpo-antígeno (antigranulócitos
MoAb). Entre os radiofármacos específicos para detecção de inflamações, destacam-se
os leucócitos radiomarcados com índio-111 (
111
In) ou tecnécio metaestável (
99m
Tc),
ciprofloxacin radiomarcado e citocinas radiomarcadas. os radiofármacos não
específicos acumulam-se no local da inflamação devido ao aumento do fluxo
sanguíneo, aumento da permeabilidade vascular e ao processo de transudação.
Exemplos de traçadores não-específicos para a detecção de inflamação/infecção
baseados no aumento da permeabilidade vascular estão o citrato de gálio-67,
lipossomas radiomarcados e imunoglobulinas não-específicas radiomarcadas
(CORSTENS; MEER, 1999; RENNEN et al., 2001).
Revisão da Literatura
40
2.4.3 Radiofármacos convencionais utilizados para o diagnóstico de processos
inflamatórios
Citrato de gálio-67
Desde o seu uso pela primeira vez em 1969 no diagnóstico da doença de Hodgkin, o
gálio-67 (
67
Ga) tem sido usado em várias condições patológicas, incluindo inflamações,
infecções e algumas desordens do esqueleto. O mecanismo preciso pelo qual o
67
Ga
acumula-se nos tecidos normais e patológicos não é completamente conhecido.
Entretanto, sabe-se que o
67
Ga por ser um análogo do ferro liga-se a transferrina
circulante na forma iônica e tem acesso às células por meio dos receptores de
transferrina (CHIANELLI et al., 1997).
A fixação fisiológica deste traçador ocorre no fígado, baço, medula óssea e intestinos.
Embora a técnica que utiliza o
67
Ga tenha uma alta sensibilidade e baixo custo, ela
apresenta deficiências que limitam sua aplicação clínica. A especificidade da técnica é
baixa devido à excreção fisiológica tanto pelo trato urinário quanto por via intestinal. As
suas características físicas são desfavoráveis, como uma longa meia-vida física (78 h)
e, também, por apresentar várias emissões de radiação gama com diferentes energias
(93, 184, 296 e 388 keV).
Além disso, segundo Boerman et al. (2001), a obtenção de imagens de maior contraste
órgão alvo/radiação de fundo requer um tempo de espera de 72 horas após a
administração do traçador. Todas estas características desfavoráveis aliadas ao
desenvolvimento de novos radiofármacos têm limitado a indicação clínica da
cintilografia com
67
Ga para certas condições como infecções pulmonares, osteomielite
crônica, linfomas e miocardites (CORSTENS; MEER, 1999; DATZ, 1994).
Revisão da Literatura
41
99m
Tc-Imunoglobulina humana policlonal (
99m
Tc-IgG)
Estudos mostraram que a imunoglobulina G (IgG) radiomarcada acumula-se nos focos
inflamatórios/infecciosos por extravasamento o específico devido a maior
permeabilidade vascular no local. A IgG pode ser marcada com
111
In ou
99m
Tc,
apresentando captação fisiológica no fígado, baço e rins. A desvantagem deste método
é a longa permanência no organismo, apresentando lenta depuração com alta dose de
radiação ao paciente. Além disso, necessita-se de longo tempo entre a administração
do material e a obtenção da imagem (RENNEN et al., 2001; BOERMAN et al., 2001).
Lipossomas radiomarcados
Lipossomas são vesículas lipídicas microscópicas utilizadas como carreadores de
drogas, facilitando uma deposição seletiva no órgão alvo e reduzindo os efeitos tóxicos
de alguns fármacos. São rapidamente capturados pelo sistema mononuclear fagocitário
(SMF) e, quando radiomarcados com
99m
Tc, podem ser utilizados na detecção de focos
inflamatórios/infecciosos (CHIANELLI et al., 1997).
Os lipossomas podem ser modificados com o objetivo de diminuir a captura pelo SMF,
aumentando assim o tempo de circulação o que facilita uma maior deposição dos
mesmos em tumores e focos inflamatórios/infecciosos. O mecanismo de fixação destas
nanoestruturas nos focos inflamatórios e infecciosos não é bem conhecido, mas
provavelmente deve-se à fagocitose por macrófagos. Entretanto, existem relatos na
literatura que mostram que, após a administração dessas nanoestruturas em seres
humanos, alguns efeitos adversos podem ocorrer (sintomas cardiopulmonares que
cessam com a infusão dos lipossomas) limitando o seu uso para procedimentos
diagnósticos (CHIANELLI et al., 1997; CORSTENS; MEER, 1999; BOERMAN et al.,
2001).
Revisão da Literatura
42
Leucócitos radiomarcados
Os primeiros trabalhos empregando leucócitos marcados com isótopos radioativos
foram feitos para determinar experimentalmente a origem da formação celular, sua
cinética, função e o tempo de sobrevivência intravascular. Os traçadores inicialmente
utilizados para marcar células circulantes foram emissores beta (β) como o fósforo-32
(
32
P) e trício (
3
H) que, apesar das desvantagens, puderam contribuir de forma
importante para o conhecimento da cinética dos granulócitos e plaquetas
(ENGRONYAT et al., 2005).
Em 1976, McAfee e Thakur descreveram seus estudos com um quelato lipofílico, a
oxima, que forma um complexo lipofílico com o
111
In capaz de atravessar livremente a
membrana celular. No interior da célula, o complexo
111
In-oxima dissocia-se e o
111
In
liga-se de forma irreversível a componentes citoplasmáticos, não sendo liberado com o
tempo. As células radiomarcadas com
111
In mantêm suas funções fisiológicas e o
marcador permanece estável por tempo suficiente para a realização de imagens
cintilográficas. O
111
In decai por emissão de dois raios gamas de 173 e 247 keV e
possui uma meia-vida física de 67 h, o que permite a aquisição de imagens tardias de
24 a 48 horas (CHIANELLI et al., 1997).
Por outro lado, o
111
In implica em altas doses de radiação para a célula e para o
paciente (SIGNORE et al., 2002). Portanto, com o objetivo de radioproteção, deve-se
empregar uma baixa atividade radioativa (3,7 a 18,5 MBq). Isto faz com que o tempo de
aquisição das imagens seja longo para que se tenha uma imagem de boa qualidade
(ENGRONYAT et al., 2005).
Em 1986, Peters et al. descreveram a marcação de leucócitos com o complexo lipofílico
99m
Tc-HMPAO. O
99m
Tc possui ótimas características físicas para a obtenção de
imagens cintilográficas: seu decaimento é por emissão de fóton gama de 140 keV e sua
meia-vida sica é de 6 horas. Portanto, o estudo com leucócitos marcados com
Revisão da Literatura
43
99m
Tc-HMPAO envolve baixa dose de radiação e permite a aquisição de imagens
cintilográficas de boa qualidade (CHIANELLI et al., 1997).
Devido ao seu caráter lipofílico e a ausência de carga, o complexo
99m
Tc-HMPAO
penetra na membrana celular permanecendo no interior da célula por um determinado
tempo (ENGRONYAT et al., 2005). Entretanto, os leucócitos radiomarcados com
HMPAO não são estáveis porque o complexo
99m
Tc-HMPAO é liberado da célula em
uma proporção de 7% por hora, sendo que o complexo liberado volta para a corrente
sanguínea e é excretado através dos rins e intestino (SIGNORE et al., 2002).
Tanto o
111
In como o
99m
Tc o marcadores indiscriminados: marcam qualquer tipo de
célula. Portanto, é imprescindível utilizar técnicas de separação celular para que se
obtenha uma alta porcentagem de granulócitos para serem marcados. Com o
procedimento de marcação habitual (
111
In e
99m
Tc) alguns poucos granulócitos são
danificados, ao contrário dos linfócitos que são danificados em sua maioria. As células
danificadas são eliminadas rapidamente da circulação depois da sua reinjeção
(ENGRONYAT et al., 2005).
Em 1993, Arndt et al. realizaram um estudo comparativo entre o uso de leucócitos
marcados com
111
In e com
99m
Tc para avaliação das DII. Eles mostraram que a imagem
realizada com
99m
Tc-HMPAO-leucócitos pode substituir a cintilografia com células
marcadas com
111
In para a identificação da presença e localização da atividade
inflamatória em pacientes com DII. O
99m
Tc-HMPAO-leucócitos é superior em relação
ao
111
In-leucócitos, por ser mais sensível na detecção da inflamação, especialmente se
o intestino delgado está envolvido. Possui também outras vantagens como maior
disponibilidade, menor dose de radiação para o paciente e a separação das células é
mais simples sendo feita em menor tempo (ARNDT et al., 1993).
Estudo realizado com 155 pacientes por Datz (1996) mostrou que a sensibilidade dos
leucócitos radiomarcados para a detecção de focos infecciosos agudos foi de 90%,
enquanto que a sensibilidade para processos infecciosos crônicos foi de 86%, não
Revisão da Literatura
44
apresentando, portanto, qualquer diferença com significância estatística entre os grupos
estudados (DATZ, 1996).
A cintilografia com
99m
Tc-HMPAO-leucócitos em pacientes com DII mostrou-se superior
aos índices clínicos e aos parâmetros laboratoriais sendo capaz de demonstrar com
elevada acurácia e em uma única imagem, a existência, a extensão e a gravidade da
atividade inflamatória das doenças inflamatórias intestinais (ARNDT et al., 1997).
Segundo Cardoso et al. (2002), o emprego dos leucócitos marcados com
99m
Tc-HMPAO
para a avaliação das DII apresentou todos os valores de sensibilidade, especificidade,
valor preditivo negativo e acurácia maiores que 87,5%. Mas, segundo o autor, deve-se
levar em consideração que estes valores de sensibilidade e especificidade foram
relativos ao teste realizado em pacientes com grande suspeita de DII. Portanto, o
método de leucócitos radiomarcados não deve ser utilizado isoladamente na maioria
dos casos e sim como um método complementar de diagnóstico em grupos clínicos que
possuam de média a alta prevalência da doença.
3 OBJETIVOS
Objetivos
46
3.1 Objetivo principal
A proposta deste trabalho foi comparar o grau de atividade inflamatória da doença de
Crohn determinado pelo índice de atividade da doença de Crohn (CDAI) e pelo índice
cintilográfico (Ic), utilizando leucócitos autólogos marcados com tecnécio-99m-
hexametilpropileno amina oxima (
99m
Tc-HMPAO-leucócitos).
3.2 Objetivos específicos
o Marcar os leucócitos autólogos com o complexo lipofílico
99m
Tc-HMPAO;
o Avaliar a estabilidade e a viabilidade dos leucócitos radiomarcados;
o Realizar imagens cintilográficas dos pacientes e indivíduos hígidos, utilizando
leucócitos marcados com
99m
Tc-HMPAO;
o Calcular o índice cintilográfico (Ic);
o Estabelecer uma classificação para o grau de atividade inflamatória do intestino por
meio do índice cintilográfico (Ic);
o Avaliar a concordância entre o CDAI e o Ic na quantificação da atividade inflamatória
dos pacientes com doença de Crohn.
4 CASUÍSTICA, MATERIAL E MÉTODOS
Casuística, Material e Métodos
48
4.1 Casuística
Este foi um estudo transversal, com uma amostra intencional aleatória. O projeto foi
aprovado pelo Comitê de ética em pesquisa (COEP) da Universidade Federal de Minas
Gerais com o Certificado de apresentação para apreciação ética (CAAE)
0215.0.203.000-05 (Anexo C).
Os pacientes com diagnóstico prévio de doença de Crohn (DC) foram selecionados
dentre a clientela assistida no ambulatório de intestino do Instituto Alfa de
Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais,
sob a supervisão da Profa. Dra. Maria de Lourdes de Abreu Ferrari. Foram incluídos no
estudo 20 pacientes com DC (07 homens e 13 mulheres, com uma média de idade de
38,7 anos) e 05 voluntários (01 homem e 04 mulheres, com uma média de idade de
23,2 anos).
Os pacientes e os voluntários foram informados sobre todo o procedimento do exame
cintilográfico e os riscos oferecidos por ele. Após a leitura do texto informativo,
solicitou-se que os mesmos assinassem o Termo de consentimento e participação livre
e esclarecido (Anexo D) e somente foram incluídos aqueles pacientes que aceitaram
participar do estudo.
Para os pacientes selecionados foram solicitados os exames de dosagem de PCR
(proteína C reativa), VHS (velocidade de hemossedimentação) e hemograma completo.
Estes receberam também um cartão para acompanhamento (Anexo E) a ser preenchido
durante os sete dias anteriores à realização da cintilografia. O resultado das dosagens
e os dados do cartão foram utilizados no cálculo do CDAI de cada paciente.
No dia da realização do exame, os pacientes compareceram ao setor de Medicina
Nuclear do Hospital Felício Rocho em jejum de 2 horas para a coleta do sangue e
realização das imagens cintilográficas. O sangue coletado foi processado no
Laboratório de radioisótopos da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de
Casuística, Material e Métodos
49
Minas Gerais para a marcação dos leucócitos com o complexo tecnécio-99m-
hexametilpropileno amina oxima (
99m
Tc-HMPAO). No dia do exame, de acordo com o
relato de cada paciente, foi preenchido pela pesquisadora um questionário (Anexo F)
contendo várias informações para o cálculo do CDAI e a classificação da doença.
4.2 Material
4.2.1 Reagentes
o Solução anticoagulante para aférese – ACD (JP Indústria Farmacêutica S.A.
Brasil)
o Expansor plasmático (Haes-Steril 6% - Fresenius Kabi – Brasil)
o Hexametilpropileno amina oxima (HMPAO) - (Ceretec – Amersham Health - U.K.)
o Clorofórmio P.A. - A.C.S. (Synth – Brasil)
o Solução de salina/fluoresceína a 1%
o Solução de EDTA a 2,2%
o Solução de eosina a 1%
o Solução de pertecnetato de sódio, Na
99m
TcO
4
(IPEN/CNEN – SP- Brasil)
4.2.2 Equipamentos
o Calibrador de doses Capintec CRC-15R (Capintec – U.S.A.)
o Estufa de cultura bacteriológica (37°) ECB Línea O lidef CZ
o Centrífuga Excelsa II, modelo 206 MP (Fanem –Brasil)
o Capela de fluxo laminar VECO (Brasil)
o Câmara de cintilação a raios gama Siemens (Germany), modelo Orbiter com
computador de aquisição e processamento de imagens ALFANUCLEAR;
o Câmara de cintilação a raios gama General Eletric Company (Milwaukee Wisconsin,
USA), modelo Millennium MG com estação de processamento XELERIS.
Casuística, Material e Métodos
50
4.3 Métodos
4.3.1 Marcação do HMPAO com
99m
Tc e pureza radioquímica (Teste de
lipofilicidade)
Um frasco com 0.5 mg de hexametilpropileno amina oxima (HMPAO) foi marcado com
uma solução de pertecnetato de sódio (Na
99m
TcO
4)
contendo 1480 MBq (40 mCi) de
atividade. Esta solução foi obtida de uma segunda eluição recente do gerador de
molibdênio-99/tecnécio-99m. A marcação foi realizada dentro de uma capela de fluxo
laminar, localizada em uma sala asséptica classe 10.000.
Após o processo de marcação, a pureza radioquímica do tecnécio-99m-
hexametilpropileno amina oxima (
99m
Tc-HMPAO) foi determinada pelo método de
extração de solvente, consistindo em adicionar uma alíquota de 10 µL da solução de
99m
Tc-HMPAO, recém preparada, em um tubo de ensaio contendo 2 mL de clorofórmio
(fase lipofílica) e 2 mL de solução de salina/fluoresceína a 1% (fase aquosa). O tubo
foi agitado em vórtex por 60 segundos e, em seguida, retiraram-se alíquotas de mesmo
volume das duas fases (lipofílica e aquosa) para a contagem da atividade radioativa. Na
fase lipofílica permanece o complexo lipofílico primário e na fase aquosa as impurezas
radioquímicas como complexos lipofílicos secundários,
99m
TcO
4
-
(forma livre) e
99m
TcO
2
(forma hidrolizada) (BARTHEL et al., 1999).
O cálculo da pureza radioquímica foi determinado com a seguinte equação:
100% x
aquosafasecpmlipofílicafasecpm
lipofílicafasecpm
caRadioquímiPureza
+
=
Casuística, Material e Métodos
51
4.3.2 Marcação de leucócitos com
99m
Tc-HMPAO
O método de marcação de leucócitos com
99m
Tc-HMPAO utilizado foi descrito por
MARTIN-COMIN et al. (2002), seguindo o protocolo de consenso da Sociedade
internacional de elementos sanguíneos radiomarcados (ISORBE International society
of radiolabelled blood elements).
Inicialmente, retirou-se 45mL de sangue venoso dos pacientes (20) e dos indivíduos do
grupo controle (05) em uma seringa de 60 mL contendo 6 mL de anticoagulante ACD.
Alíquotas de 10 mL do sangue colhido foram retiradas, centrifugadas a 2000 x g por
10 minutos para a obtenção do plasma pobre em leucócitos (PPL). Ao sangue
remanescente presente na seringa, aproximadamente 35 mL, adicionou-se 9 mL de
uma solução expansora de plasma (Haes-Steril 6%), deixando a seringa em posição
vertical por 40 a 60 minutos para a obtenção do plasma rico em leucócitos. Em seguida,
o plasma foi centrifugado por 10 minutos e o “pellet” obtido foi redisperso com 0,5 mL
de PPL. Posteriormente adicionou-se a esta preparação 0,7 mL da solução de
99m
Tc-
HMPAO com atividade de 600 MBq. Após este procedimento, adicionou-se a
preparação 4 mL de PPL, redispersando o precipitado. Centrifugou-se o tubo por 5
minutos a 150 x g. Com uma pipeta de Pasteur, retirou-se todo o sobrenadante que
contém o
99m
Tc-HMPAO não ligado e outras impurezas radioquímicas.
O precipitado contendo os leucócitos marcados com
99m
Tc-HMPAO foi redisperso com
4 mL de PPL e, em seguida, realizou-se a contagem da radioatividade presente no
sobrenadante e no precipitado para o cálculo do rendimento de marcação dos
leucócitos:
100dimRe% x
tesobrenadancpmoprecipitadcpm
oprecipitadcpm
marcaçãodeenton
+
=
Casuística, Material e Métodos
52
4.3.3 Estudo da estabilidade de marcação dos leucócitos autólogos
Logo após a marcação dos leucócitos, foram retiradas 04 alíquotas de 0,2 mL do
complexo
99m
Tc-HMPAO-leucócitos. Duas destas alíquotas foram acondicionadas a
37 °C por um período de 2 e 3 horas. As alíquotas r estantes (02) foram deixadas a
temperatura ambiente pelos mesmos tempos. Após este período, 2,0 mL de salina
foram adicionados nas alíquotas para a redispersão do precipitado, em seguida, foram
centrifugadas a 150 x g por 5 minutos. Determinou-se a radioatividade do sobrenadante
e do precipitado para o cálculo do rendimento de marcação, conforme descrito no item
4.3.2.
4.3.4 Determinação da viabilidade das células marcadas
Das amostras de
99m
Tc-HMPAO-leucócitos acondicionadas a 37°C e em temperatura
ambiente, alíquotas foram retiradas para o preparo de esfregaços sanguíneos em
lâmina e lamínula corados com eosina a 1%. Em microscopia ótica com imersão
verificou-se em 100 células o número de células viáveis e não viáveis, conforme método
descrito por Engronyat et al. (2005).
4.3.5 Imagens cintilográficas
Após a injeção intravenosa de aproximadamente 273 MBq (7,4 mCi) dos leucócitos
radiomarcados (
99m
Tc-HMPAO-leucócitos) nos pacientes com doença de Crohn e no
grupo controle, imagens cintilográficas foram obtidas nas projeções anterior e caudal,
nos tempos de 30 minutos e 2 horas após a injeção. A imagem caudal permite
distinguir a captação presente na bexiga de alguma captação que esteja presente no
reto. O tempo para a realização de cada imagem planar foi de, aproximadamente, 10
minutos ou o tempo necessário para adquirir-se 1.000.000 contagens por imagem. Este
Casuística, Material e Métodos
53
procedimento foi adotado de acordo com trabalho descrito por Martin-Comin et al.
(2005).
Foram realizados também os estudos de tomografia computadorizada por emissão de
fóton único (SPECT - Single photon emission computed tomography) após o término de
cada uma das imagens planares nos dois tempos investigados (30 min e 2h)
(BIANCONE et al., 2005). O estudo tomográfico foi adquirido usando os seguintes
parâmetros: matriz de 64 X 64, 360° em órbita circu lar, ângulo de com 20 segundos
por imagem.
A intensidade da atividade radioativa detectada nos intestinos (delgado e grosso) foi
utilizada para avaliar o grau e a extensão do processo inflamatório. Regiões de
interesse (RIs) foram traçadas sobre o fígado, baço, medula óssea (crista ilíaca) e nas
regiões do intestino com acúmulo anormal de leucócitos marcados (Figura 1). Em
seguida, o programa de processamento de cada uma das câmaras de cintilação a raios
gama utilizadas forneceu o número de contagens/área proporcionais à atividade
radioativa e o valor médio da atividade por pixel presente em cada região delimitada. O
abdome foi dividido em cinco regiões: direita, superior, esquerda, inferior e central que
correspondem ao cólon ascendente, cólon transverso, cólon descendente,
sigmóide/reto e intestino delgado, respectivamente.
Casuística, Material e Métodos
54
Figura 1 - Regiões de interesse (RIs).
O índice de atividade ou índice cintilográfico (I
C
) foi calculado em todas as imagens
planares na projeção anterior através da seguinte equação:
Onde:
I
C
= índice cintilográfico
B = número de região com acúmulo anormal de leucócitos marcados;
B =1 uma região acometida
B =2 duas ou três regiões acometidas
B =3 mais de três regiões acometidas
A
i
= representa o grau de atividade radioativa em cada região considerada;
A
i
= 0 nenhuma atividade na região do intestino
A
i
= 1 atividade na região do intestino atividade na medula óssea
A
i
= 2 atividade na região do intestino > medula óssea e fígado
I
C
= Σ A
i
+ B
Casuística, Material e Métodos
55
A
i
= 3 atividade na região do intestino > fígado e < baço
A
i
= 4 atividade na região do intestino baço
Todo paciente com doença de Crohn clinicamente ativa apresenta I
C
> 2.
Valores de I
C
2 caracterizam a doença em remissão (YBERN et al., 1986; CHARRON
et al., 1999).
Foi estabelecido, neste trabalho, um padrão de I
C
para caracterizar a doença de acordo
com o grau de atividade inflamatória:
I
C
2 doença em remissão
I
C
= 3 grau leve de atividade inflamatória
I
C
= 4 grau moderado de atividade inflamatória
I
C
5 grau acentuado de atividade inflamatória
Dos 25 exames cintilográficos realizados com
99m
Tc-HMPAO-leucócitos, os primeiros 17
foram feitos em câmara de cintilação a raios gama Siemens, modelo Orbiter, uma
cabeça, com computador de aquisição e processamento de imagens Alfanuclear. Os 08
exames restantes foram realizados em uma câmara de cintilação a raios gama General
Eletric, modelo Millennium MG, duas cabeças, com estação de processamento Xeleris.
4.3.6 Análise estatística
Os resultados foram expressos pela média ± desvio padrão. Os dados obtidos nos
estudos de estabilidade de marcação e viabilidade de células marcadas foram
analisados pelo teste ANOVA FATOR DUPLO contido no programa estatístico Biostat.
As diferenças foram consideradas com significância estatística para valores de p < 0,05.
5 RESULTADOS
Resultados
57
5 RESULTADOS
5.1 Pureza radioquímica do complexo lipofílico
99m
Tc- HMPAO
Os resultados obtidos mostraram um percentual médio de marcação da ordem de
85,0% ± 9,0 para 25 amostras analisadas (Figura 2).
Figura 2 - Percentual de marcação do HMPAO com
99m
Tc.
5.2 Marcação dos leucócitos autólogos com
99m
Tc-HMPAO
Observa-se pela tabela 1 um valor médio de 55,1% ± 10,0 para o rendimento de
marcação dessas células com o complexo lipofílico tecnécio-99m-hexametilpropileno
amina oxima (
99m
Tc-HMPAO).
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0 5 10 15 20 25 30
n = 25
%Lipofilicidade
Resultados
58
Tabela 1 - Rendimento de marcação dos leucócitos com
99m
Tc-HMPAO.
AMOSTRAS % RENDIMENTO DE MARCAÇÃO
1 56,95
2 43,98
3 60,02
4 40,44
5 47,71
6 41,37
7 68,80
8 55,76
9 73,68
PACIENTES 10
58,73
11 66,12
12 46,27
13 64,10
14 60,04
15 64,03
16 47,77
17 46,87
18 63,95
19 60,02
20 70,46
21 44,46
22 45,08
CONTROLES 23
55,88
24 45,30
25 50,73
MÉDIA ±
±±
± DESVIO PADRÃO 55,0% ±
±±
± 10,0
Resultados
59
5.3 Estudo de estabilidade de marcação dos leucócitos autólogos com
99m
Tc-HMPAO
Os dados da tabela 2 mostram que, tanto o tempo transcorrido após a marcação quanto
a temperatura não interferiu no percentual de marcação dos leucócitos com
99m
Tc-
HMPAO.
Tabela 2 - Estudo da estabilidade de marcação dos leucócitos em função do
tempo e da temperatura.
MARCAÇÃO (%)
TEMPO (h)
37°
°°
°C T. A
2
80,0% ± 8,0 82,0% ± 8,0
3
78,0% ± 8,0 82,0% ± 9,0
Os resultados foram expressos pela média ± desvio padrão (n = 5) para cada
experimento realizado. Os resultados não apresentaram significância
estatística (p = 0,30).
5.4 Viabilidade dos leucócitos marcados com
99m
Tc-HMPAO
Os resultados da tabela 3 mostram que não houve diferença significativa no número de
células viáveis nas condições de temperatura e de tempo investigados.
Resultados
60
Tabela 3 - Viabilidade dos leucócitos marcados com
99m
Tc-HMPAO.
CÉLULAS VIÁVEIS (%)
TEMPO (h)
37°
°°
°C T. A
2
97,0% ± 2,0 97,0% ± 3,0
3
96,0% ± 2,0 93,0% ± 5,0
Os resultados foram expressos pela média ± desvio padrão (n= 5) para cada
experimento realizado. Os resultados não apresentaram significância
estatística (p = 0,19).
A figura 3 ilustra os leucócitos radiomarcados em microscopia de imersão acoplada a
fotomicrografia, 2 e 3 horas após a marcação e acondicionados a 37°C e a temperatura
ambiente.
Figura 3 - Fotomicrografia dos
99m
Tc-HMPAO-leucócitos.
As setas indicam as células não-viáveis.
Resultados
61
5.5 Grau de atividade inflamatória no intestino
Para expressar estes resultados foram feitas as análises descritivas do grau de
atividade inflamatória para cada paciente analisado.
.
Observa-se pela tabela 4 que 06 dos 20 pacientes (30%) apresentaram resultados
congruentes, ou seja, doença em remissão para os dois índices utilizados, CDAI e
índice cintilográfico (I
C
). Observou-se também um caso (Paciente 20) que apresentou
congruência para o grau leve de inflamação, determinado pelos 02 índices. Em 03
pacientes a doença estava em atividade, mas em grau diferente de inflamação. Para os
demais, não se observou concordância de resultados entre o grau de inflamação
determinado pelos índices CDAI e I
C
.
Resultados
62
Tabela 4 - Valores do CDAI e Ic e classificação da atividade inflamatória da DC
pelos dois índices.
PACIENTE
VALOR
DO
CDAI
GRAU DE
ATIVIDADE
INFLAMATÓRIA
PELO CDAI
ÍNDICE
CINTILOGRÁFICO
(I
C
)
GRAU DE
ATIVIDADE
INFLAMATÓRIA
PELO I
C
1 330,0 Moderado 11 Acentuado
2 53,4 Remissão 4 Moderado
3 2,0 Remissão 0 Remissão
4 59,0 Remissão 5 Acentuado
5 126,6 Remissão 0 Remissão
6 56,3 Remissão 0 Remissão
7 52,6 Remissão 2 Remissão
8 - 1,7 Remissão 3 Leve
9 47,1 Remissão 8 Acentuado
10 62,9 Remissão 5 Acentuado
11 146,6 Remissão 3 Leve
12 197,4 Leve 4 Moderado
13 262,1 Moderado 5 Acentuado
14 122,1 Remissão 3 Leve
15 97,5 Remissão 3 Leve
16 126,2 Remissão 3 Leve
17 73,4 Remissão 0 Remissão
18 81,3 Remissão 2 Remissão
19 84,3 Remissão 3 Leve
20 179,9 Leve 2 Leve
Resultados
63
5.6 Imagens cintilográficas obtidas 30 minutos e 2 horas após a injeção dos
leucócitos autólogos marcados com
99m
Tc-HMPAO
A figura 4 mostra as imagens de uma varredura de corpo inteiro de um indivíduo hígido
(controle) nas projeções anterior e posterior aos 30 minutos e 2 horas após a injeção
dos leucócitos marcados com
99m
Tc-HMPAO. Estas imagens mostram a biodistribuição
normal dos leucócitos radiomarcados, podendo-se notar intenso acúmulo no fígado e
baço, discreto acúmulo nos pulmões aos 30 minutos após a injeção e acúmulo na
medula óssea. Por se tratar de um indivíduo sadio não foi evidenciado nenhum acúmulo
anormal ao longo do trato gastrointestinal.
Figura 4 – Imagens de varredura de corpo inteiro de um
indivíduo hígido, nas projeções anterior e posterior,
realizadas aos 30 min e 2h após a injeção dos leucócitos
radiomarcados.
Resultados
64
As figuras 5A e 5B mostram imagens de um voluntário (controle). Observa-se que não
acúmulo de
99m
Tc-HMPAO-leucócitos nos intestinos delgado e grosso. Observa-se
também acúmulo dos
99m
Tc-HMPAO-leucócitos, na projeção anterior, principalmente
pelo fígado, baço, medula óssea e excreção fisiológica pelos rins com visualização da
bexiga.
Figura 5A -
Imagens obtidas 30 minutos após a
injeção dos
99m
Tc-HMPAO-leucócitos, nas
projeções caudal e anterior.
Figura 5B -
Imagens obtidas 2 horas as a injeção
dos
99m
Tc-HMPAO-leucócitos, nas projões caudal
e anterior.
Resultados
65
Observa-se nas figuras 6A e 6B, acúmulo dos leucócitos autólogos marcados com
99m
Tc-HMPAO, projeção anterior, na região do íleo-terminal sugerindo a presença de
processo inflamatório neste local. Pode-se observar, também, um aumento da atividade
radioativa detectada com o decorrer do tempo, salientando melhor a região inflamada.
Na projeção caudal não se observa acúmulo patológico de
99m
Tc-HMPAO-leucócitos,
sugerindo ausência de inflamação no sigmóide e reto.
Figura 6A -
Imagens obtidas 30 minutos após a injeção
dos
99m
Tc-HMPAO-leucócitos, nas projeções caudal e
anterior. CDAI = 59,3 (remissão), Ic=5 (inflamação
acentuada). A seta indica a região do intestino
acometida pela inflamação.
Figura 6B -
Imagens obtidas 2 horas após a injeção
dos
99m
Tc-HMPAO-leucócitos, nas projeções caudal
e anterior. CDAI = 59,3 (remissão), Ic=5 (inflamação
acentuada). A seta indica a região do intestino
acometida pela inflamação.
Resultados
66
As figuras 7A e 7B indicam a presença de focos inflamatórios no íleo-terminal, cólon
descendente, sigmóide e reto, revelados pelo intenso acúmulo dos leucócitos
radiomarcados nestes segmentos. Na projeção caudal é possível visualizar as regiões
de sigmóide e reto acometidas pela inflamação. Neste caso, observa-se também
aumento da atividade radioativa detectada com o decorrer do tempo.
Figura 7A -
Imagens obtidas 30 minutos após a injeção dos
99m
Tc-HMPAO-leucócitos, nas projeções caudal e anterior.
CDAI = 47,1 (remissão); Ic =8 (inflamação acentuada).
Figura 7B -
Imagens obtidas 2 horas após a injeção dos
99m
Tc-HMPAO-leucócitos, nas projeções caudal e anterior.
CDAI = 47,1 (remissão); Ic =8 (inflamação acentuada).
Colon descendente
Íleo-terminal
Sigmóide
Reto
Resultados
67
As figuras 8A e 8B mostram um padrão de imagem compatível com a doença de Crohn
em remissão, pois não se observa acúmulo patológico dos leucócitos marcados com
99m
Tc-HMPAO em nenhum segmento do intestino.
Figura 8A -
Imagens obtidas 30 minutos após a injeção
dos
99m
Tc-HMPAO-leucócitos, nas projeções caudal e
anterior. CDAI = 56,3 (remissão); Ic=0 (remissão).
Figura 8B -
Imagens obtidas 2 horas após a injeção dos
99m
Tc-HMPAO-leucitos, nas projeções caudal e anterior
CDAI = 56,3 (remissão); Ic=0 (remissão).
Resultados
68
Observa-se nas figuras 9A e 9B a presença de leucócitos radiomarcados na região
central do abdome. Durante a realização da imagem planar de 30 minutos foi feita uma
sinalização com sonda de amerício-241 (
241
Am) na região da fístula presente no
abdome do paciente. O estudo tomográfico (SPECT) foi capaz de comprovar que esta
área de fixação vista nas imagens planares, correspondia à fístula enterocutânea do
paciente.
Figura 9A - Imagens obtidas 30 minutos após a injeção do complexo
99m
Tc-HMPAO-leucócitos, nas projeções caudal e anterior. A seta indica a
região sinalizada com
241
Am (fístula). CDAI = 2 (remissão); Ic=0 (remissão).
Figura 9B -
Imagens obtidas 2 horas as a injeção dos
99m
Tc-HMPAO-leucócitos, nas projeções caudal e
anterior. CDAI = 2 (remissão); Ic=0 (remissão).
Resultados
69
A presença de várias fístulas (3) enterocutâneas pode ser notada nas figuras 10A e
10B, onde foram feitas as sinalizações com
241
Am nestas áreas. Nota-se também
acúmulo de
99m
Tc-HMPAO-leucócitos no intestino delgado, principalmente no íleo-
terminal.
Figura 10A - Imagens obtidas 30 minutos após a injeção do complexo
99m
Tc-HMPAO-leucócitos, nas projeções caudal e anterior. As setas indicam
as regiões sinalizadas com
241
Am (fístulas).CDAI = 262,1 (grau moderado);
Ic=5 (inflamação acentuada).
Figura 10B - Imagens obtidas 2 horas após a injeção dos
99m
Tc-HMPAO-leucócitos, nas projeções caudal e anterior.
CDAI = 262,1 (grau moderado); Ic=5 (inflamação acentuada).
6 DISCUSSÃO
Discussão
71
6 DISCUSSÃO
Os leucócitos radiomarcados com tecnécio-99m-hexametilpropileno amina oxima
(
99m
Tc-HMPAO-leucócitos) representam um avanço nos métodos de diagnósticos de
doenças inflamatórias e infecciosas. Estes processos estão associados com um
infiltrado leucocitário, fato este que contribui para o sucesso do método. Dentre as
doenças para as quais o método dos leucócitos marcados pode oferecer uma
importante contribuição estão as doenças inflamatórias do intestino, sepsis pós-
operatórias, intra-abdominais e de tecidos moles, além das osteomielites agudas e
crônicas (PETERS, 1994).
Os bons resultados do uso dos leucócitos marcados para imagens de infecção e
inflamação já foram extensamente demonstrados. Recentemente, novos radiofármacos
marcados com tecnécio-99m (
99m
Tc) têm sido desenvolvidos para melhorar a
especificidade no diagnóstico de processos inflamatórios/infecciosos, entretanto, a
disponibilidade destes novos agentes é limitada e a cintilografia com
99m
Tc-HMPAO-
leucócitos é ainda considerada a melhor técnica disponível na Medicina Nuclear para
imagens de infecção e inflamação (CARDOSO et al., 2002).
A marcação propriamente dita dos leucócitos requer a marcação do complexo lipofílico
HMPAO com o tecnécio-99m. Os resultados obtidos neste trabalho mostraram um
rendimento médio de marcação da ordem de 85%. Isto significa que, aproximadamente,
85% dos átomos de
99m
Tc ligaram-se às moléculas de HMPAO. De acordo com os
dados da literatura, o valor mínimo de pureza radioquímica necessário para se
administrar este fármaco em pacientes é de 80% (BARTHEL et al., 1999). Portanto, os
dados obtidos neste trabalho estão de acordo com os resultados descritos na literatura
para a marcação do complexo lipofílico com
99m
Tc.
Após ter obtido um bom rendimento de marcação do complexo lipofílico com o
99m
Tc
realizou-se a marcação dos leucócitos. Um fator importante para este tipo de marcação
é o número total de leucócitos do paciente. Para que se obtenha uma razoável
Discussão
72
eficiência de marcação destas células e uma boa qualidade das imagens, recomenda-
se um número total de leucócitos de, no mínimo, 5000 leucócitos/mm
3
. Caso contrário,
o rendimento de marcação final pode ficar comprometido recomendando-se nestes
casos retirar-se um volume de sangue maior do que 45 mL para a marcação (ROCA et
al., 1998).
Os dados obtidos evidenciaram para os 25 procedimentos realizados, um rendimento
médio de marcação da ordem de 55,0%. De acordo com Ardnt et al. (1993), o
rendimento médio de marcação dos leucócitos com
99m
Tc-HMPAO é de 46%, enquanto
Cardoso et al. (2002) encontraram um valor médio de 65,5%. Desta forma, constata-se
que o rendimento de marcação obtido neste trabalho está dentro dos parâmetros
descritos na literatura, sugerindo boas práticas de manipulação no preparo deste
agente diagnóstico. Dados da literatura relatam que o complexo
99m
Tc-HMPAO
apresenta rápida decomposição em outros complexos secundários, menos lipofílicos o
que comprometeria a marcação dos leucócitos (BARTHEL et al., 1998). Sabe-se que, a
lipofilicidade é que propicia a penetração do
99m
Tc-HMPAO nos leucócitos,
marcando-os. Portanto, os dados da marcação do HMPAO com tecnécio-99m e do
rendimento dio de marcação (55,0%) dos leucócitos com
99m
Tc-HMPAO sugerem
que o complexo manteve as suas propriedades lipofílicas.
Os resultados obtidos de estabilidade e viabilidade mostraram que os leucócitos
permaneceram viáveis e radiomarcados por um período de até 3 horas após o processo
de marcação. Observou-se também que a temperatura de acondicionamento não
influenciou nos parâmetros avaliados de viabilidade e estabilidade. Portanto, esses
dados estimulam a criação de um centro de marcação de leucócitos na Faculdade de
Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais com posterior utilização dos
mesmos em serviços clínicos.
As imagens cintilográficas de corpo inteiro evidenciaram um acúmulo dos leucócitos
marcados nos pulmões, fígado, baço e medula óssea em um indivíduo hígido. A
detecção da radiação no fígado, baço e medula óssea observada nessas imagens
Discussão
73
confirma que, realmente, os leucócitos estavam marcados, pois isto representa a
captação fisiológica dessas células. Outro aspecto importante que também merece ser
destacado é o fato de a atividade radioativa no fígado diminuir com o decorrer do
tempo, aumentando no baço. Este tipo de comportamento é muito próprio dos estudos
de biodistribuição de leucócitos radiomarcados e encontra respaldo na literatura
(RODDIE et al., 1988; PETERS, 1994; ENGRONYAT et al., 2005). A captação pelos
pulmões mostrou-se homogênea, sugerindo que os leucócitos não sofreram danos
durante o procedimento de marcação, ao contrário do que ocorre na presença de
leucócitos danificados quando a imagem pulmonar apresenta pontos isolados de
aumento da atividade radioativa, mostrando-se bastante heterogênea (MARTIN-
COMIN; PRATS, 1999).
Dos 20 pacientes examinados, sabidamente com doença de Crohn (DC), 16 foram
considerados pelo índice CDAI com doença em remissão representando um percentual
de 80%. Por outro lado, o índice cintilográfico (Ic) mostrou que 06 pacientes
apresentavam a doença em remissão, havendo concordância de resultados entre os
dois índices em 30% dos casos examinados. Portanto, 10 pacientes que foram
considerados com doença em remissão pelo CDAI, 06 apresentaram grau leve, 01 grau
moderado e 03 pacientes apresentaram grau acentuado de atividade inflamatória
avaliados pelo Ic. As imagens cintilográficas baseiam-se em alterações fisiológicas tais
como aumento do fluxo sanguíneo, vasodilatação, permeabilidade aumentada e
extravasamento celular o que confere alta sensibilidade e especificidade para a
detecção da atividade inflamatória do intestino.
Essas características contribuem para que as imagens cintilográficas sejam
reconhecidas como um importante exame de triagem diagnóstica de muitas doenças
inflamatórias. Cardoso et al. (2002) utilizando leucócitos autólogos radiomarcados em
58 pacientes, com doença de Crohn e retocolite ulcerativa (RCU), mostraram que este
método apresenta uma sensibilidade e especificidade de 95,6% e 100%,
respectivamente. Por outro lado, sabe-se que o índice CDAI é bastante subjetivo e que
se baseia em um conjunto de sinais e sintomas clínicos associado ao déficit do
Discussão
74
hematócrito. Portanto, é razoável supor que no caso específico da DC muito embora os
sinais e sintomas ainda estivessem ausentes, os intestinos desses pacientes
apresentassem focos inflamatórios capazes de atrair os leucócitos radiomarcados,
resultando em um índice cintilográfico (Ic) positivo.
As figuras 5A e 5B ilustram um caso típico de CDAI indicando doença em remissão e
imagens cintilográficas com valor de Ic igual a 5 (grau acentuado de inflamação),
mostrando intenso acúmulo de leucócitos radiomarcados na região do íleo-terminal,
sugerindo processo inflamatório ativo neste local. Uma das grandes vantagens da
cintilografia intestinal é a sua capacidade de visualizar toda a extensão dos intestinos
em uma única imagem.
Outro caso que também chama atenção está ilustrado nas figuras 6A e 6B, mostrando
acúmulo patológico de leucócitos radiomarcados no íleo terminal, cólon descendente,
sigmóide e reto resultando em um Ic igual a 8 (grau acentuado de inflamação). Apesar
de apresentar todos estes segmentos comprometidos a doença foi considerada em
remissão pelo CDAI (47,1) e antes da realização da cintilografia sabia-se que, a DC
deste paciente estava localizada apenas na região do íleo-terminal.. Neste caso, o
paciente havia comentado sobre a presença de uma fissura anal, sugerindo a
existência de um processo inflamatório neste local o que foi confirmado, posteriormente,
pelas imagens cintilográficas que mostraram a região do reto acometida.
As figuras 8A e 8B mostram o acúmulo de leucócitos radiomarcados na região central
do abdome. No caso específico, o resultado da imagem planar, na projeção anterior,
poderia sugerir a presença de atividade inflamatória no intestino. Entretanto, quando se
realizaram as imagens tomográficas (SPECT) foi possível constatar que não havia
acometimento de segmentos do intestino e que este acúmulo estava presente na pele
do paciente, coincidindo com a superfície externa de uma fístula presente nesta região
do abdome. Portanto, tratava-se de um paciente em remissão tanto pela Medicina
Nuclear (Ic=0) quanto pelo CDAI que apresentou valor igual a 2. O resultado negativo
obtido com as imagens cintilográficas pode ser explicado pelo fato de que acúmulo de
Discussão
75
leucócitos radiomarcados em regiões que não correspondam aos segmentos
intestinais, como fístulas e abscessos, não devem ser considerados para o cálculo do Ic
(ARNDT et al., 1997).
Pelas figuras 9A e 9B pode-se observar a presença de rias fistulas enterocutâneas e
acúmulo patológico na região do intestino delgado. Este paciente apresentou CDAI de
262,1 pontos caracterizando uma atividade inflamatória moderada. Por outro lado, o
índice cintilográfico (Ic) foi igual a 5 indicando atividade inflamatória acentuada. A
realização do exame cintilográfico ocorreu em março de 2006 e o paciente faleceu em
junho do mesmo ano, devido a complicações no pós-operatório.
Com relação aos pacientes que apresentaram resultados concordantes entre os dois
índices utilizados para avaliar a atividade inflamatória intestinal, as figuras 7A e 7B
mostram um exame de um paciente considerado em remissão pelo CDAI (56,3) e
também pelo Ic (Ic=0). As imagens cintilográficas não mostraram acúmulo patológico
de leucócitos marcados na região intestinal. Cumpre ressaltar que, no momento da
realização da cintilografia, este paciente havia preenchido o protocolo do CDAI não
fazendo qualquer referência sobre sinais e sintomas da doença. Portanto, existiu uma
correspondência entre os dados clínicos e os resultados da cintilografia.
Nos exames realizados, o processamento das imagens de SPECT foi feito em apenas
algumas das cintilografias como, por exemplo, no paciente das figuras 6A e 6B onde o
acometimento do sigmóide e reto foi confirmado após este processamento. Estes
segmentos ficam sobrepostos à bexiga nas projeções anteriores não sendo possível
sua visualização, enquanto o SPECT é capaz de diferenciá-las. Portanto, na maioria
das cintilografias realizadas, uma simples análise das imagens adquiridas em 360°, em
modo “cine” permitiu a identificação de várias lesões que não eram visualizadas nas
imagens planares.
A importância da realização do SPECT foi evidenciada sob vários aspectos. Em um dos
pacientes analisados, as imagens planares não mostraram nenhuma área do intestino
Discussão
76
acometida pela inflamação. Entretanto, através do SPECT e análise em modo “cine” foi
possível visualizar o acometimento de uma porção do íleo-terminal (Figura 11). Em
outros pacientes não foi possível relatar a localização e extensão das lesões
visualizadas baseando-se apenas nas imagens planares (Figura 12). Porém, o SPECT
possibilitou uma melhor percepção da profundidade destas lesões, mostrando sua
provável localização e extensão no interior do abdome.
De acordo com Biancone et al. (2005) um dos maiores problemas existentes quanto ao
uso dos leucócitos marcados para o diagnóstico de DII é a ocorrência de sobreposição
das áreas acometidas com outros órgãos normalmente captantes como o fígado, baço,
medula óssea e bexiga. Os segmentos contemplados nesta condição são o íleo-
terminal, sigmóide e reto, devido à proximidade de localização com esses órgãos. Este
problema pode ser resolvido por meio das imagens de SPECT, pois as imagens
tomográficas reconstruídas tridimensionalmente conseguem distinguir com precisão os
segmentos intestinais dos demais órgãos. Neste estudo, os autores também relataram
que quando se compara com as imagens planares convencionais, o SPECT pode
discriminar melhor entre captação intestinal e captação da medula óssea, contribuindo
para melhor visualização de lesões provocadas pela DC localizadas na pelve. Portanto,
a importância do SPECT para a realização de diagnóstico de alguns casos relatados
neste trabalho está de acordo com dados da literatura (BIANCONE et al., 2005)
Durante a aquisição das imagens cintilográficas observou-se acúmulo leve e difuso na
região ínfero-medial da pelve, próxima à bexiga e que estava presente apenas em
exames de pacientes do sexo feminino (Figura 13). Diante desta observação, passou-
se a considerar a fase do ciclo menstrual de cada paciente. Foi possível observar,
então, que o acúmulo relatado era evidente apenas nas pacientes que estavam no
início do ciclo menstrual. Portanto, sugeriu-se que este acúmulo pode tratar-se de "pool"
sanguíneo, sem significado patológico.
Outra questão levantada durante a aquisição das imagens foi a presença de acúmulo
leve e difuso na região abdominal da maioria dos pacientes investigados (Figura 14).
Discussão
77
De início, a tendência foi considerar este acúmulo como área inflamada no intestino,
entretanto, buscando relatos na literatura verificou-se que muitas vezes este tipo de
acúmulo poderia resultar em casos falso positivos. Martin-Comin et al. (2005)
consideram uma cintilografia positiva somente quando a atividade radioativa presente
na região do intestino for claramente superior à atividade radioativa da medula óssea.
Desta forma, com base nos valores obtidos dos índices cintilográficos (Ic), calculados
por meio das Regiões de interesse (RIs), verificou-se que a atividade presente nestas
regiões era muito menor do que a atividade presente na crista ilíaca, portanto, não
poderiam ser consideradas áreas inflamadas. Outra possibilidade que também foi
considerada para justificar este difuso e discreto acúmulo, observado nas imagens de
30 minutos e 2 horas, foi a excreção dos leucócitos radiomarcados pelo intestino.
Entretanto, relatos na literatura mostram que a excreção de leucócitos pelo intestino
não ocorre antes de 4 horas após a sua reinjeção (RODDIE et al., 1988; MARTIN-
COMIN; PRATS, 1999). Outro fato que corrobora para a ausência de uma excreção
precoce dos leucócitos é a ausência do referido acúmulo no grupo controle (voluntários
hígidos).
Vilela et al. (2005) avaliaram a permeabilidade intestinal de pacientes com DC em
remissão, através da medida da excreção urinária de lactulose e manitol. De acordo
com o autor, pacientes com DC em atividade apresentam importantes alterações na
integridade da mucosa intestinal. Mas a comparação dos resultados do teste de
permeabilidade intestinal de voluntários sadios e pacientes com DC em remissão
mostrou que a função de barreira da mucosa intestinal para a permeação de antígenos
estava aumentada em até 14% em relação aos indivíduos sadios, fato este que pode
explicar a freqüente recorrência da doença nestes pacientes com DC em remissão.
Portanto, a presença do referido acúmulo discreto e difuso visualizado na cintilografia
de alguns pacientes, provavelmente pode ser explicado pela permeabilidade da
membrana intestinal aumentada o que favorece o influxo dos leucócitos radiomarcados
da circulação sanguínea para o intestino.
Discussão
78
Outro aspecto muito importante a ser considerado é o da terapia com
imunossupressores no tratamento da doença crônica ativa e na manutenção de
remissão da DC. A azatioprina e a 6-mercaptopurina são os imunomoduladores mais
estudados e utilizados comumente, possuindo uma ação retardada, sendo necessário
um tempo de uso de 3 a 6 meses para que o sucesso da terapia seja avaliado. Tais
drogas são hoje consideradas os principais agentes capazes de promover remissão
clínica prolongada na DC. Entretanto, são ainda escassos os estudos para definir até
quando se deve manter esta terapêutica depois da obtenção da remissão clínica.
Estudos iniciais sugerem que, após quatro anos de remissão clínica, a suspensão do
imunossupressor deva ser tentada (em decorrência de seus efeitos adversos
potenciais), embora tal conduta se acompanhe de recidiva da doença em
aproximadamente 20% dos casos (CARTER et al., 2004). Neste contexto, a cintilografia
com
99m
Tc-HMPAO-leucócitos por sua capacidade de detectar processo inflamatório
ativo nos intestinos se realizada antes da suspensão dos imunossupressores, e,
também, no período subseqüente a sua suspensão pode representar uma ferramenta
útil para melhor orientar o médico na decisão de suspender ou re-introduzir a
medicação imunossupressora.
Com relação aos índices analisados fazemos algumas considerações. Na realidade, os
dois índices, CDAI e Ic, são totalmente distintos, uma vez que o CDAI baseia-se em
sinais e sintomas clínicos enquanto que o Ic tem como base as alterações fisiológicas e
bioquímicas de um processo inflamatório existente. Portanto, seria mais indicado
comparar o Ic com parâmetros mais fisiológicos e menos subjetivos como, por exemplo,
através do exame histológico dos segmentos acometidos pela doença no intestino
delgado. Na prática médica, entretanto, recentemente tem sido possível estudar,
macro e microscopicamente, in vivo, toda a extensão do intestino delgado
(MONKEMULLER et al., 2006). Certamente, com a introdução da técnica de
enteroscopia por duplo balão será brevemente possível correlacionar os dados obtidos
do Ic com os achados histopatológicos dos tecidos acometidos pela doença. Cumpre
ressaltar que esta metodologia vem sendo pioneiramente instalada no Brasil pelo
Discussão
79
serviço de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Minas Gerais.
Uma questão que também deve ser discutida é a possibilidade de ocorrência de efeitos
radiotóxicos sobre os linfócitos. Em estudo realizado por Liberatore et al. (2003), estes
autores não encontraram relação de causa-efeito entre a marcação dos leucócitos com
99m
Tc-HMPAO e o aparecimento de aberrações cromossômicas nos linfócitos
circulantes dos pacientes, por até 6 meses depois de sua administração. Ainda
segundo esses autores a alta dose de radiação administrada para o linfócito é suficiente
para destruí-lo, impedindo sua proliferação e, portanto, não originando células
mutantes. Os linfócitos destruídos são eliminados da circulação por fagocitose
(ENGRONYAT et al., 2005). Estes mesmos autores relatam que a utilização de
leucócitos marcados não representa qualquer risco para os pacientes, como por
exemplo, o aparecimento de linfomas no decorrer do tempo após a realização dos
exames. Portanto, trata-se de um método seguro que também é indicado para a
utilização em crianças segundo relatos de Engronyat et al. (2005).
Com relação à taxa de exposição à radiação, para a cintilografia com leucócitos
radiomarcados é injetada no paciente uma atividade radioativa média de 273 MBq de
99m
Tc-HMPAO-leucócitos. De acordo com o site RADAR Medical Procedure Radiation
Dose Calculator and Consent Language Generator (STANFORD DOSIMETRY, LLC) a
dose efetiva para um paciente que se submete a um exame cintilográfico utilizando 273
MBq (7,4 mCi) do radiofármaco HMPAO é de 2,546 mSv. Ainda segundo este site, para
doses efetivas menores que 3 mSv o risco é considerado mínimo para o paciente e
doses entre 3 mSv e 50 mSv, o risco é ainda considerado baixo. É importante ressaltar
que a taxa de exposição pela radiação natural que os seres humanos estão expostos é
de aproximadamente 2,431 mSv anuais (UNSCEAR, 2000).
Outro exame radiológico utilizado no diagnóstico de DII, o enema baritado, implica em
uma dose efetiva de 4,059 mSv por exame. Uma das cintilografias mais realizadas nos
centros de Medicina Nuclear, a cintilografia cardíaca utilizando o radiofármaco
Discussão
80
tecnécio-99m-sestamibi, implica em dose dose efetiva de 11,248 mSv considerando-se
as duas etapas do exame (STANFORD DOSIMETRY, LLC). Portanto, a cintilografia
utilizando
99m
Tc-HMPAO-leucócitos expõe o paciente a uma dose de radiação próxima
à exposição natural, sendo considerada baixa quando comparada a outros exames
radiológicos.
Os dados obtidos neste trabalho mostraram que as imagens cintilográficas do intestino
poderão ser bastante úteis na avaliação da atividade inflamatória da doença de Crohn,
na identificação de fístulas, podendo, inclusive, de acordo com o grau de atividade da
doença, contribuir para um melhor esquema terapêutico. Assim, seria importante passar
a considerar a hipótese de incluir o método dos leucócitos radiomarcados na avaliação
dos pacientes com DC.
7 CONCLUSÃO
Conclusão
82
7 CONCLUSÃO
o obteve-se um bom rendimento de marcação (55,0%) dos leucócitos com
99m
Tc,
dentro dos valores preconizados pela ISORBE (Sociedade internacional de
elementos sanguíneos radiomarcados);
o os leucócitos radiomarcados mostraram ser viáveis e estáveis por até 3 horas após
a marcação, independente da temperatura de estocagem;
o a imagem cintilográfica de corpo inteiro evidenciou acúmulo fisiológico dos
99m
Tc-
HMPAO-leucócitos pelo fígado, baço e medula óssea;
o a imagem cintilográfica homogênea obtida nos pulmões mostrou que os leucócitos
não foram danificados durante o processo de marcação;
o pelo índice de atividade da doença de Crohn (CDAI) foram observados 16 pacientes
em remissão, enquanto o índice cintilográfico (Ic) identificou apenas 06 pacientes do
total estudado;
o os resultados do CDAI e Ic foram concordantes para 06 pacientes, correspondendo
a 30% do total investigado;
o as imagens cintilográficas obtidas com leucócitos marcados com tecnécio-99m-
hexametilpropileno amina oxima sugeriram atividade inflamatória nas regiões do íleo
terminal, cólon, sigmóide e reto em pacientes com doença de Crohn;
o fístulas enterocutâneas, em pacientes com doença de Crohn, foram identificadas
pelas imagens cintilográficas obtidas com leucócitos radiomarcados;
o a imagem em modo “cine” e a tomografia por emissão de fóton único (SPECT)
mostraram ser capazes de estimar a extensão das lesões intestinais.
8 PERSPECTIVAS FUTURAS
Perspectivas Futuras
84
8 PERSPECTIVAS FUTURAS
o O método utilizando leucócitos autólogos marcados com tecnécio-99m-
hexametilpropileno amina oxima (
99m
Tc-HMPAO) poderá contribuir para o
diagnóstico diferencial entre estenoses fibrótica e inflamatória, resultando em melhor
conduta terapêutica;
o as imagens cintilográficas do intestino, utilizando leucócitos marcados com
99m
Tc-
HMPAO, poderão contribuir para a decisão entre manter ou suspender a terapia
com imunossupressores;
o o método dos leucócitos marcados com
99m
Tc-HMPAO poderá ser útil no diagnóstico
de outras enfermidades inflamatórias do intestino como, por exemplo, retocolite
ulcerativa assim como contribuir para a localização de abscessos.
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Referências Bibliográficas
86
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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10 ANEXOS
Anexos
93
Anexo A
Índice de atividade inflamatória da doença de Crohn (CDAI - Crohn's disease activity index)
Multiplicado por
Nº de evacuações líquidas na última semana
Dor abdominal (ausente=0; leve=1; moderada=2; grave =3)
Considerar a soma total dos dados individuais da última semana
Estado geral (ótimo=0; bom=1; regular=2; mau=3; péssimo=4)
Considerar a soma total dos dados individuais da última semana
Nº de sintomas/sinais associados. Listar por categorias:
(a) artralgia/artrite; (b) irite/uveíte; (c) eritema nodoso/pioderma
gangrenoso/aftas orais; (d) fissura anal, fístula ou abcesso;
(e) outras fístulas; (f) febre
Consumo de antidiarréico (Não = 0; Sim = 1)
Massa abdominal (ausente = 0; duvidosa = 2; bem definida = 5)
Déficit de hematócrito: homens: 47-Ht; mulheres: 42-Ht (diminuir em vez
de somar caso o Ht do paciente seja maior do que o padrão)
* Peso: % abaixo do esperado (diminuir em vez de somar se o peso do
paciente for maior do que o esperado)
Soma total ( IA da Doença de Crohn) = < 150 = Remissão
150 - 250 = Leve
250 - 350 = Moderada
> 350 = Grave
2
5
7
20
(valor máximo=120)
30
10
6
1
IA = índice de atividade
* Peso esperado ou ideal = Altura (m)
2
x 25,5 = _____ Kg (homens)
Altura (m)
2
x 22,5 = _____ Kg (mulheres)
Anexos
94
Anexo B
Classificação de Viena
CLASSIFICAÇÃO DE Viena (1998) da doença de Crohn
1- Idade do diagnóstico = idade em que o diagnóstico de Doença de Crohn foi feito com base nos dados clínicos +
radiológicos, endoscópicos, patológicos ou cirúrgicos.
( ) A1 < 40 anos
( ) A2 40 anos
2- Localização
L1 Íleo terminal = doença limitada ao íleo terminal (terço inferior do delgado) COM ou SEM envolvimento
cecal.
L2 Cólon = doença colônica, entre o ceco e o reto, SEM envolvimento do intestino delgado ou trato
gastrointestinal (TGI) superior.
L3 Íleocólica = doença no íleo terminal COM ou SEM envolvimento cecal + qualquer localização entre o
ascendente e o reto.
L4 TGI superior = qualquer localização acima do íleo terminal (exceto a boca) COM ou SEM envolvimento
adicional do íleo terminal ou cólon.
3- Comportamento
B1 = Não estenosante, não penetrante = doença inflamatória sem complicações, como
fístulas, abscesso e obstrução.
B2 = Estenosante = estenose demonstrada por radiologia, por endoscopia ou por cirurgia +
dilatação a montante e/ou sinais/sintomas de obstrução ou suboclusão, SEM fístulas.
B3 = Penetrante = fístulas intra-abdominais, fístulas ou úlceras perianais, massas
abdominais, abscessos, em qualquer momento na evolução da doença. Excluir complicações
pós-operatórias (p.ex., abscessos).
4- Outros dados:
Identificação do paciente:
Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino
Etnia ( ) Caucasiana ( ) Negra ( ) Asiática ( ) Outras
Judeu ( ) Sim ( ) Não ( ) Parcialmente
História Familiar ( ) Não ( ) Parentes de primeiro grau ( ) Outros
Manifestações extra-intestinais: ( ) Sim ( ) Não
Anexos
95
Anexo C
Anexos
96
Anexo D
Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas
Laboratório de Radioisótopos e Farmácia Nuclear da Faculdade de Farmácia
Universidade Federal de Minas Gerais
Termo de consentimento e participação livre e esclarecido
Avaliação da atividade inflamatória da doença de Crohn empregando imagens
cintilográficas obtidas com leucócitos autólogos marcados com
99m
Tc-HMPAO.
Consentimento pós-informação
Caro paciente,
Como você sabe, você é portador de doença de Crohn, uma doença caracterizada
por uma inflamação em partes de seu intestino e cuja causa ainda não é conhecida. Na
evolução da doença temos períodos onde a inflamação é mais acentuada, com febre,
perda de peso e alterações da função intestinal como diarréias e cólicas e períodos
onde a inflamação é menor ou ausente, com poucos sintomas clínicos. Com os exames
hoje disponíveis, nem sempre é possível determinar com segurança a extensão do
quadro inflamatório do seu intestino.
Você está sendo convidado(a) a participar de um estudo clínico com a finalidade de
avaliar o estágio de inflamação e as partes do seu intestino que estão afetadas pela
doença. Este estudo envolve a coleta de aproximadamente 2 colheres de sopa de seu
próprio sangue. O sangue coletado será então enviado à Faculdade de Farmácia da
UFMG onde será adicionado um produto radioativo denominado tecnécio, e,
aproximadamente 2h depois, o sangue será novamente infundido em sua veia. A
seguir, faremos uma cintilografia de seu intestino, que é uma espécie de radiografia,
sem necessidade de mais injeções ou qualquer outro tipo de preparo. Com esta técnica
esperamos poder visualizar com mais detalhes todo o seu intestino, permitindo
examinar as áreas que estão afetadas.
O procedimento será realizado no Setor de Medicina Nuclear do Hospital Felício Rocho,
onde o auxiliar de enfermagem fará a coleta do sangue puncionando a veia do seu
braço utilizando materil estéril e descartável. Portanto, é um procedimento totalmente
seguro sendo que a seringa contendo o seu sangue será devidamente identificada na
sua presença. Enquanto o sangue é preparado na Faculdade de Farmácia você
permanecerá no Setor de Medicina Nuclear do Hospital Felício Rocho onde receberá
todo o auxílio necessário para a sua permanência no local.
Após este período, a própria pesquisadora retornará ao Hospital com a seringa
devidamente identificada contendo o seu sangue. Novamente o auxiliar de enfermagem
Anexos
97
puncionará a veia do braço injetando seu sangue de volta para o seu corpo, dando
início à realização da cintilografia.
Como qualquer outro procedimento diagnóstico o emprego de marcadores radioativos
para estudos cintilográficos pode apresentar risco, ainda que pequeno, devido ao uso
da radiação. Assim, mulheres grávidas ou com suspeita de gravidez não poderão
participar do estudo.Você não precisará pagar nada pelas consultas e exames que
serão realizados. O seu transporte para o Setor de Medicina Nuclear do Hospital Felício
Rocho será gratuito, sua alimentação durante o período que lá permanecer estará
garantida e seu retorno para casa também será fornecido.
Sua participação no estudo é voluntária e a sua desistência pode ser feita a qualquer
momento, sem prejuízo na continuação do tratamento clínico vigente no Hospital das
Clínicas da UFMG.
Caso você tenha alguma pergunta a respeito do estudo, ou se alguma coisa acontecer
durante o estudo, vo poderá entrar em contato com o seu médico assistente no
Hospital das Clínicas da UFMG que está cuidando de você ou com o pesquisador Prof.
Dr. Valbert Nascimento Cardoso no telefone (31) 3499 6892 ou com a mestranda
Luciene Mota no telefone (31) 3227 7612. O telefone do Comitê de Ética em Pesquisa
(COEP) é (31) 3499 4592, para qualquer esclarecimento ou reclamações.
Ao assinar este formulário você autoriza o Comitê de Ética da Universidade Federal de
Minas Gerais e autoridades regulatórias do Ministério da Educação e Saúde a consultar
seus registros médicos a fim de conferir os dados coletados pelos pesquisadores
envolvidos.
Todos os registros que o identificam serão mantidos de modo confidencial e sua
identidade será conhecida apenas pelo seu médico e pelo pesquisador responsável,
sendo mantida também de modo confidencial se o estudo for publicado.
A pesquisa a ser realizada pretende contribuir para um melhor diagnóstico e
acompanhamento das doenças inflamatórias do intestino, permitindo uma melhor
conduta sobre o melhor tratamento a ser oferecido aos portadores de doença de
Crohn..
Este estudo seguirá as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo
seres humanos – Resolução número 196/96 e 215/97 do Conselho Nacional de Saúde.
Anexos
98
Eu li e entendi o texto acima, como também a forma como me foi descrito o estudo pelo
meu médico.
1- Com minha assinatura concordo em participar do estudo descrito acima.
Assinatura do paciente ou responsável legal Data:
2- Eu, por meio deste, confirmo que o paciente deu seu livre consentimento em
participar do estudo.
Assinatura do investigador Data:
3- Eu, por meio deste, confirmo que testemunhei o paciente recebendo esta
informação e dando livremente seu consentimento em participar do estudo.
Assinatura da testemunha Data:
Anexos
99
Anexo E
Anexos
100
Anexo F
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
INSTITUTO ALFA DE GASTROENTEROLOGIA – HOSPITAL DAS CLÍNICAS
FACULDADE DE MEDICINA – FACULDADE DE FARMÁCIA
Ambulatório de Intestino
PROTOCOLO :
Avaliação da atividade inflamatória da doença de Crohn empregando imagens cintilográficas
obtidas com leucócitos autólogos marcados com
99m
Tc-HMPAO
IDENTIFICAÇÃO :
NOME : ________________________________________________/ CASO ________
REGISTRO : ___________________________/ DATA :___________________________
RG :_____________________/ CPF: ____________________/ IDADE :______________
SEXO: ( ) F ( ) M / / COR : ( ) LEUCO ( ) FAIO ( ) MELANO
ESCOLARIDADE : ( ) ANALFABETO
( ) FUNDAMENTAL ( ) COMPLETO ( ) INCOMPLETO
( ) MEDIO ( ) COMPLETO ( ) INCOMPLETO
PROFISSÃO______________________________________________________________
DATA DE NASCIMENTO : ____/____/______ NATURALIDADE_________________
NACIONALIDADE___________________/ ASCENDÊNCIA______________________
ENDEREÇO : RUA/AV. _________________________________________ N° : _______
CEP. : ________________________/ TEL : (_____)___________________
IDADE AO DIAGNÓSTICO :________________
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS :
Febre (>37,5) Sim Não
Emagrecimento (= ______ Kg) Sim Não
Náuseas Sim Não
Vômitos Sim Não
Hiporexia Sim Não
Úlceras orais Sim Não
Disfagia Sim Não
Odinofagia Sim Não
Empachamento pós-prandial Sim Não
Dor abdominal Sim Não
Diarréia (> 3 evacuações liq-past/dia) Sim Não
Tenesmo Sim Não
Anexos
101
Constipação (mais de três dias) Sim Não
Astenia Sim Não
Intolerância a leites e derivados Sim Não
Infecção urinária crônica Sim Não
Massa abdominal palpável (plastrão) Sim Não
MANIFESTAÇÕES EXTRA INTESTINAIS :
Artrite Sim Não
Irite Sim Não
Uveíte Sim Não
Ceratoconjuntivite Sim Não
Eritema nodoso Sim Não
Espondilite anquilosante Sim Não
Pericolangite e/ou Colangite esclerosante Sim Não
Amiloidose Sim Não
Pioderma gangrenoso Sim Não
Colelitíase Sim Não
Sacroileíte Sim Não
Nefrolitíase Sim Não
Obstrução uretral Sim Não
COMPLICAÇÕES :
Abscesso perianal Sim Não
Fístula perianal Sim Não
Cirurgia : _________________________________________________________________
Abdômen agudo (provável apendicite) Sim Não
Obstrução intestinal alta Sim Não
Obstrução intestinal baixa Sim Não
Fístula entero-cutânea Sim Não
Outras fístulas :
Abscesso intra-abdominal Sim Não
Cirurgia do TGI devido a DC Sim Não
Anexos
102
EXAMES COMPLEMENTARES :
Hm : _________ Hb : _____________ Htc : _____________
Leu : _________ MGTA : ____________
B : _____ S : _____ Eos : _____ M : _____ L : _____
VHS : _________ PCR : __________
FORMA DE APRESENTAÇÃO DA DOENÇA :
Localização :
L1 (íleo terminal)
L2 (cólon)
L3 (íleo-cólica)
L4 (TGI superior)
Comportamento :
B1 (não estenosante, não penetrante)
B2 (estenosante)
B3 (penetrante)
TERAPÊUTICA :
Esteróides Sim Não ____________________________________
Salicilatos Sim Não ____________________________________
Antibióticos Sim Não ____________________________________
Probióticos Sim Não ____________________________________
Azatioprina Sim Não ____________________________________
Metotrexato Sim Não ____________________________________
Anticitocinas Sim Não ____________________________________
Outras medicações Sim Não ____________________________________
CDAI :
1) Dados do cartão diário :
Soma : Fator : Subtotal
Número de evacuações X 2 = _______
Dor abdominal X 5 = _______
Estado geral X 7 = _______
Anexos
103
2) das 6 manifestações que o paciente apresenta
1 – artrite / artralgia
2 – irite / uveíte
3 – eritema nodoso / pioderma gangrenoso / estomatite aftosa
4 – fissura anal, fístula ou abscesso
5 – outras fístulas
6 – febre acima de 100ºF (37,8ºC)
X 20 = __________ (valor máximo de 120 pontos)
3) Consumo de antidiarréico
não = 0
sim = 1
X 30 = ___________
4) Massa abdominal
nenhuma = 0
questionável = 2
definida = 5
X 10 = ___________
5) Hematócrito (Htc) 
Homens = 47 – (Htc)
Mulheres = 42 – (Htc)
X 6 = ___________
Obs : diminuir em vez de somar se caso o Htc do paciente seja
maior do que o padrão.
6) (Peso corporal (Kg) / Peso padrão (Kg) )- 1 = percentagem abaixo ou acima do peso
(normograma)
percentagem abaixo ou acima do peso (normograma) __________X 1 = __________
Obs : somar (se abaixo do peso) ou subtrair (se acima do peso) pelo sinal para cálculo final
CDAI = 
< 150 - remissão
150 – 250 – leve
250 – 350 – moderado
> 350 – grave
11 APÊNDICES
Apêndices
105
Apêndice A
Através da análise das imagens planares o exame mostrado na figura 11 foi
considerado negativo, pois não foi visualizada nenhuma região do intestino acometida
por inflamação. Por outro lado, a análise destas imagens adquiridas em 360°, em modo
“cine”, constatou que a região do íleo terminal apresentava um leve acúmulo dos
leucócitos radiomarcados, indicado pelas setas.
Figura 11: Região do íleo-terminal (setas)
visualizada com exatidão apenas na análise
das imagens em modo “cine”.
Apêndices
106
Apêndice B
A figura 12 ilustra uma cintilografia com
99m
Tc-HMPAO-leucócitos, projeções caudal e
anterior, aos 30 minutos e 2 horas após a injeção dos leucócitos marcados. A
localização e profundidade da região indicada pelas setas foi de difícil definição
baseando-se apenas nas imagens planares. As imagens tomográficas (SPECT)
permitiram uma adequada avaliação do local de acúmulo anormal.
Figura 12: Captação dos leucócitos radiomarcados
na porção superior esquerda do abdome (setas).
Apêndices
107
Apêndice C
A figura 13 ilustra as cintilografias com
99m
Tc-HMPAO-leucócitos de duas pacientes
diferentes (A e B) aos 30 minutos e 2 horas após a injeção dos leucócitos marcados,
nas projeções caudal e anterior. As setas indicam acúmulo leve e difuso na região
ínfero-medial da pelve, próximo à bexiga, interpretado como decorrente do pool”
sanguíneo do útero.
Figura 13: Identificação dopool” sangneo na rego do útero de pacientes.
A
B
Apêndices
108
Apêndice D
A figura 14 mostra a cintilografia com
99m
Tc-HMPAO-leucócitos aos 30 minutos e 2
horas após a injeção dos leucócitos marcados, nas projeções caudal e anterior. As
setas indicam acúmulo leve e difuso localizado na região de cólon descendente. De
acordo com a literatura, foi interpretado como decorrente do aumento da
permeabilidade intestinal presente em pacientes com DC, o que favorece o influxo de
leucócitos através da membrana do intestino.
Figura 14: Acúmulo leve e difuso (setas) que,
provavelmente, deve-se ao aumento da
permeabilidade intestinal de pacientes com
DC.
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