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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE LETRAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
A PARÁFRASE COMO PROPOSTA LINGÜÍSTICO-
PEDAGÓGICA PARA USO NO ENSINO DE LÍNGUAS
ARAKEN GUEDES BARBOSA
RECIFE - PE
2005
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2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
DEPARTAMENTO DE LETRAS-CAC
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
A PARÁFRASE COMO PROPOSTA LINGÜÍSTICO-PEDAGÓGICA
PARA USO NO ENSINO DE LÍNGUAS
Araken Guedes Barbosa
ORIENTADOR: Prof. Dr. Francisco Cardoso Gomes de Matos
Tese apresentada à Banca Examinadora da
Universidade Federal de Pernambuco, como
exigência para obtenção do título de Doutor em
Lingüística Aplicada ao Ensino de Línguas.
Recife
2005
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3
4
”A paráfrase ao falante de qualquer língua a
liberdade de reestruturar o discurso velho em
novas formas de expressão.”
(Araken Barbosa)
5
A meus pais e minha irmã Olga (in memoriam).
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço a meu orientador, Prof. Dr. Francisco Cardoso Gomes de Matos, por
sua magnanimidade e inestimável contribuição em forma de significativas
sugestões, orientação segura e encorajamento.
Aos Professores do Programa de Pós-Graduação em Letras e Lingüística da
UFPE, pelos conhecimentos que me foram transmitidos.
À Prof
a
Abuêndia Padilha P. Pinto, pelo apoio incondicional.
A todos aqueles que mesmo não tendo seus nomes aqui registrados, de um
modo ou de outro me auxiliaram na concretização desta obra.
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
QUADRO 01.
Tipos de paráfrases – Wenzel
29
QUADRO 02. Tipologia de Longacre
29
QUADRO 03. Processo de Tradução de Larson
32
QUADRO 04. Esquema de Reformulação Semântica – Araken
63
QUADRO 05. Estratégias parafrásticas
69
QUADRO 06. Fraseologia eufemística de Fitzgerald
119
QUADRO 07. Paráfrases mais usadas nas obras didáticas analisadas
139
QUADRO 08. Formas de deslocamento do sentido da matriz (BCN)
149
QUADRO 09. Sinonímia e Ambigüidade
153
GRÁFICO 01. Percentual dos professores quanto aos idiomas ensinados
186
GRÁFICO 02. Uso da paráfrase em estratégias de ensino de Língua Estrangeira
186
QUADRO 10. Sugestões do uso da paráfrase no ensino de línguas
201
8
SUMÁRIO
ABSTRACT........................................................................................................11
INTRODUÇÃO..........................................................................................................12
CAPÍTULO 01 ...........................................................................................................16
PARÁFRASE: ORIGENS, CARACTERÍSTICAS E CLASSIFICAÇÃO......................16
1.1. Histórico..........................................................................................................16
1.2. Tipos e gêneros..............................................................................................19
1.3. Usos da paráfrase ..........................................................................................37
CAPÍTULO 02 ...........................................................................................................44
ASPECTOS DA PARÁFRASE..................................................................................44
2.1. Aspecto literário..............................................................................................45
2.2. Aspecto estilístico...........................................................................................49
2.3. Aspecto lexicográfico......................................................................................52
2.4. Aspecto semântico .........................................................................................58
2.5. Aspecto sintático.............................................................................................65
CAPÍTULO 03 ...........................................................................................................71
PARÁFRASE E TRADUÇÃO....................................................................................71
3.1. A Paráfrase no processo tradutório ................................................................71
3.2. Paráfrase – Estrutura semântica ....................................................................77
3.3. Reciprocidade lexical......................................................................................84
3.4. A Paráfrase na tradução bíblica......................................................................86
3.5. Representações mentais: Influência da Língua materna na Língua-alvo .......89
3.6. Influência do sentido genérico de alguns Itens lexicais da língua materna na
língua estrangeira..................................................................................................92
CAPÍTULO 04 ...........................................................................................................96
PARÁFRASE E COGNIÇÃO.....................................................................................96
4.1. Paráfrase: Reconstrução do sentido...............................................................96
4.2. Matrizes conceituais .......................................................................................99
4.3. A base conceitual nuclear partilhada............................................................103
4.4. A base conceitual de Kecskes & Papp .........................................................106
4.5. Paráfrase, espaços mentais e fusão de conceitos........................................108
4.6. Categorização e paráfrase............................................................................112
CAPÍTULO 05 .........................................................................................................114
9
PARÁFRASE E PRAGMÁTICA...............................................................................114
5.1. Um enfoque pragmático centrado na paráfrase............................................114
5.2. Paráfrase como variante pragmática atenuada ............................................118
5.3. O parafrasear de Bazerman .........................................................................121
CAPÍTULO 06 .........................................................................................................130
PARÁFRASE E ENSINO DE LÍNGUAS..................................................................130
6.1. Perspectiva pedagógica................................................................................131
6.2. Paráfrase: Um enfoque combinatório/composicional....................................139
6.3. Fraseologia do parafrasear...........................................................................149
6.4. Paráfrase, sinonímia e ambigüidade ............................................................152
6.5 - Paráfrase e interação social........................................................................160
6.6. Paráfrase e criatividade................................................................................163
CAPÍTULO 07 .........................................................................................................169
A PESQUISA: COMO PROFESSORES PERCEBEM E.........................................169
USAM A PARÁFRASE............................................................................................169
7.1. Instrumento de coleta de dados....................................................................169
7.2. O Questionário..............................................................................................169
7.3. Perfil dos respondentes................................................................................169
7.4. Análise dos dados ........................................................................................170
CAPÍTULO 08 .........................................................................................................188
A EDUCAÇÃO DO APRENDIZ DE LÍNGUA ESTRANGEIRA ................................188
COMO PARAFRASEADOR....................................................................................188
8.1. Sugestões para a aplicação da paráfrase no Ensino de Línguas.................189
8.2. Afinal, por que e como parafrasear?.............................................................201
8.3. Orientação a alunos sobre a produção de paráfrases..................................202
CONCLUSÃO..........................................................................................................205
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................207
ANEXOS .................................................................................................................212
10
RESUMO
A literatura sobre a Lingüística Aplicada ao Ensino de Línguas, particularmente a
referente ao nosso contexto educacional brasileiro, ainda carece de pesquisas, por
isso decidimos demonstrar a relevância da paráfrase como estratégia comunicativa
na prática pedagógica do Inglês como Língua Estrangeira. Nossa experiência em
sala de aula e, também, as idéias de vários teóricos como Lakoff, Fodor, Mondada,
Longacre e outros serviram-nos de fundamentos para esta pesquisa, possibilitando
detalhar informações e reformular conceitos, promovendo assim, a compreensão
dialógica do processo de parafrasear. Recorremos a um questionário aplicado com
professores de línguas estrangeiras da cidade de Recife para verificar os modos de
utilização, forma e freqüência de estratégias parafrásticas empregadas em sala de
aula. Os resultados revelaram que essa prática pedagógica apesar de pouco
difundida e muito menos monitorada, é reconhecida por seus usuários como
proveitosa em diversos aspectos estimulantes do raciocínio lógico-lingüístico e
incentivadora da criatividade. Como subsídio para a monitoração de estratégias
parafrásticas em sala de aula, apresentamos algumas sugestões que possam
contribuir para a melhoria da compreensão e produção de reformulações de
enunciados contextualmente semelhantes.
Palavras chave: Paráfrase, estratégias comunicativas, línguas estrangeiras, prática
pedagógica, criatividade.
\
11
ABSTRACT
The literature on Applied Linguistics in Language Teaching, especially that focusing
on the paraphrasing process in our Brazilian educational context has been
underesearched, so, we have decided to demonstrate the relevance of paraphrasing
as a communicative strategy in the Teaching of English as a Second language. The
work of authors as Lakoff, Fodor, Mondada, Longacre and others, as well as our
pedagogical experience, provided us the grounds for detailing information and
reformulating concepts for improving dialogic comprehension in the paraphrasing
process. We have made use of a questionnaire for foreign languages teachers in the
city of Recife, Pernambuco, Brazil, in order to analyze paraphrasing strategies used
in classrooms. The results showed that this pedagogical practice, in spite of having
little diffusion and not being monitored is recognized by its users as productive in
several aspects by stimulating logic-linguistic reasoning and promoting creativity.
With the purpose of contributing to the monitoring of paraphrasing strategies in
classrooms, we offer some suggestions which may help enhance learners’
comprehension production of contextually similar utterances.
Key words: Paraphrase, communicative strategies, foreign language, pedagogical
practice, creativity.
12
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa teve uma dupla motivação: primeiro, o fato de, na Lingüística
Aplicada ao Ensino de Línguas, ainda, não haver estudos sistemáticos sobre o
parafrasear como uma estratégia comunicativa à disposição dos aprendizes e,
segundo, porque em nosso ensino de língua inglesa, saber orientar alunos como
parafraseadores tem sido um dos maiores desafios a superar.
Nesse sentido, investigamos a potencialidade da paráfrase no processo de
reformulação textual como uma estratégia de grande utilidade em atividades
lingüístico-pedagógicas para a aprendizagem da língua inglesa. O princípio
norteador de nosso trabalho é cognitivo, porém, utilizamos esse conceito sem
compromisso com a teoria gerativa e, além disso, a terminologia que utilizamos
também não está assentada em bases gerativas. Acreditamos que a paráfrase seja
constituída sobre bases conceituais imagéticas que geram os elementos formadores
de sua representação textual. Quando estes elementos são devidamente
conhecidos podem ser monitorados através de estratégias que contribuem para
melhorar o processo de reformulação textual. Esse procedimento possibilita aos que
se envolvem nesse processo mais conforto e, conseqüentemente, uma comunicação
mais satisfatória e mais adequada. Maior prazer na comunicação não significa uma
priorização do hedonismo, mas sim, uma união do útil ao agradável, especialmente,
quando se trata de compreender o que alguém disse ou se fazer compreender por
alguém. Abordamos um universo onde enfocamos, primordialmente, a prática
pedagógica e usos de atividades facilitadoras do processo de ensino/aprendizagem
de línguas e, em nosso caso especial, da língua inglesa. Mas, por envolver a
13
“compreensão” merece um pouco mais de aprofundamento, tendo em vista a grande
relevância desse processo.
Portanto, no primeiro capítulo, traçamos uma perspectiva histórica da
paráfrase e fazemos uma conceituação da mesma, destacando seus aspectos mais
notáveis. Também apresentamos diferentes gêneros parafrásticos, uma tipologia
importante e fazemos um arrazoado de seus usos relacionados com a reconstrução
do sentido na prática pedagógica.
No segundo capítulo, abordamos uma diversidade de aspectos parafrásticos.
Forma e sentido são interpretados através de uma perspectiva cognitiva. Analisamos
as relações entre núcleo semântico e representações conceituais e evidenciamos
importantes aspectos sintáticos da enunciação parafrástica.
No terceiro capítulo, analisamos alguns aspectos do processo tradutório da
paráfrase e a incluímos na tradução do discurso religioso. Estrutura semântica e
reciprocidade lexical, além de representações mentais e influências de uma língua
sobre outra, também são tópicos que fazem parte de algumas seções.
No quarto capítulo, examinamos a reconstrução do sentido como habilidade
para a compreensão e produção textual e as matrizes conceituais como origens da
paráfrase são analisadas em seqüência. Também desenvolvemos o conceito daquilo
que chamaremos Base Conceitual Nuclear Partilhada. Incluímos a idéia de espaços
mentais e o que denominamos “fusão de conceitos” com relação ao blendingde
Fauconnier, além de elaborarmos algumas considerações sobre paráfrase e
categorização.
No quinto capítulo, lidamos com um enfoque pragmático da paráfrase onde
destacamos as múltiplas inteligências e sua relação com processos cognitivos da
aprendizagem de línguas. Examinamos o uso da paráfrase como variante
14
pragmática na emissão de opiniões, sugestões, bem como acrescentamos uma
fraseologia reveladora da praticidade da paráfrase.
O sexto, sétimo e oitavo capítulos, focalizam a dimensão pedagógica, cerne
dessa pesquisa. Assim, apresentamos uma abordagem que trata de aplicações
pedagógicas práticas na reconstrução do sentido, analisamos alguns livros de textos
em busca de estratégias parafrásticas explícitas ou não e expomos um conceito de
paráfrase acompanhado de esquema gráfico. Acrescentamos nessa seqüência uma
fraseologia do parafrasear, as relações entre paráfrase, sinonímia e ambigüidade, a
paráfrase na interação social e finalizamos com paráfrase e criatividade.
O sétimo capítulo é a pesquisa propriamente dita. Nele, expomos o
procedimento analítico com as informações especificas de cada item em particular e
nos detemos mais acuradamente na análise e cotejo de informações pertinentes ao
uso das estratégias parafrásticas que fizeram parte do questionário respondido por
professores de línguas do ensino fundamental, médio e superior da cidade de
Recife. Dois gráficos fazem parte do conjunto de informações contidas no processo
avaliativo.
No oitavo e último capítulo, expomos constatações que ficaram evidenciadas
pela análise de dados e incluímos uma contribuição em forma de sugestão para
aplicar a paráfrase como estratégia pedagógica no ensino de línguas e orientação a
alunos sobre a produção de paráfrases.
Na conclusão, tecemos considerações sobre os resultados dessa pesquisa,
que, sob nosso olhar, parecem ser positivos por possibilitarem amplos recursos que
desenvolvem a compreensão textual no processo de ensino/aprendizagem de
línguas estrangeiras. O renomado lingüista aplicado americano Andrew Cohen, em
comunicação eletrônica pessoal enviada ao Professor Francisco Gomes de Matos
15
em 18/06/02 e partilhada conosco, faz comentários sobre a paráfrase que
contribuem para a fundamentação desta pesquisa, ao mesmo tempo em que ampara
nossa convicção sobre a importância dessa estratégia comunicativa tão
indispensável em nossa prática pedagógica.
Em seu depoimento, aquele notável pesquisador da área de Estratégias de
Aprendizagem / uso de línguas, incluía a paráfrase ao nível de definição e descrição
como um processo comunicativo que inclui a cunhagem de palavras e a
circunlocução. Acrescenta que a habilidade de usar paráfrases sinonímicas, (ou
seja: formulações contextualmente semelhantes) é parte do que o controle de uma
língua inclui. Quanto mais conhecemos uma língua, mais possibilidade temos de
dizer/ler a mesma coisa em modos diferentes, ou reconhecer que alguém diz ou
escreve algo de maneiras diferentes.
É bem provável que o leitor esteja elaborando a seguinte indagação: O que é
mesmo a paráfrase? Quais suas origens? Como parafrasear? Como parafrasear no
processo educativo de línguas?
16
CAPÍTULO 01
PARÁFRASE: ORIGENS, CARACTERÍSTICAS E CLASSIFICAÇÃO
Este capítulo apresenta uma breve perspectiva histórica sobre a paráfrase, com
base em fonte especializada. Em seguida, tratamos da sua conceituação, dos
processos lingüísticos relacionados com a reorganização textual e à prática
pedagógica. Concomitantemente, colocamos em evidência seus importantes
aspectos pragmáticos, lingüísticos e cognitivos, examinando sua natureza sintático-
semântica, capaz de flexibilizar-se oferecendo inúmeras possibilidades de
reformulações estruturais. Uma importante tipologia é apresentada, a fim de ter-se
uma idéia das diferentes realizações da paráfrase, segundo um referencial bastante
sistematizado. Concluindo, apresentamos diferentes gêneros que a paráfrase pode
assumir, ao mesmo tempo em que incentivamos seu uso em atividades
pedagógicas, por tornar possível a liberdade de criação, imprescindível no campo da
reestruturação textual.
1.1. Histórico
A Routledge Enciclopédia of Translation Studies (1998) em um artigo de
Douglas Robinson, atribui a Philo Judaeus em “De Vita Mosis” (20 AC) os primeiros
comentários relacionados à paráfrase:
Desde quando se estuda a paráfrase?
17
Yet who does not know that every language, and Greek especially,
abounds in terms, and that the same thought can be put in many
shapes by changing single words (metaphrazonta) and whole
phrases (paraphrazonta) and suiting the expression to the
occasion?
8
Esses dois termos mencionados por Philo Judaeus metáfrase e paráfrase,
também, foram utilizados por
Quintiliano nos Institutos da Oratória (AD 95?) como
duas abordagens distintas na prática pedagógica da imitação re-elaborando-se
textos clássicos, mudando-se uma palavra de cada vez (metáfrase) ou uma frase de
cada vez (paráfrase).
Ainda, mais tarde, ocuparam-se da paráfrase pedagogos da Renascença e
neoclássicos, além de teóricos da tradução, tais como:
Fausto Sebastiano em: Del modo de lo tradurre duna lingua in altra secondo le
regale mostrate da Cicerone (1556):
9
Lawrence Humphrey em: Interpretatio Linguarum seu de ratione convertendi
et explicandi autores tam sacros quam profanos
(1559):
10
Roger Ascham em: The Schoolmaster (1570):
11
Andreas Schottus em:
Tulianorum Questionum de Instauranda Ciceronis Imitatione (1610):
12
Pierre Daniel Huet em: De Interpretatione (1661):
13
Dezenove anos após Huet, John Dryden torna-se um dos primeiros teóricos a
utilizar a paráfrase em traduções que se fundamentavam apenas em frases. Melhor
8
Mas, quem não sabe que toda língua, especialmente o Grego possui uma terminologia abundante e,
que o mesmo pensamento pode ser reformulado de diversas maneiras permutando-se simples
palavras (metaphrazonta) e frases Inteiras (paraphrazonta) e adequar as expressões à ocasião?
(tradução nossa).
9
“Sobre o modo de se traduzir de uma língua para outra de acordo com as regras indicadas por
Cícero” (tradução nossa).
10
“A interpretação de enunciados sob a luz da razão é capaz de converter e explicar tanto os autores
sacros quanto os profanos” (tradução nossa).
11
O Mestre-Escola
12
“As questões Tulianas, sobre a imitação de Cícero, que devem ser instauradas” (tradução nossa).
13
“Sobre a interpretação” (tradução nossa).
18
dizendo, seu critério de interpretação nuclear levava mais em conta as frases
completas do que as palavras individualmente.
Em um prefácio à sua traduçã
o das Epístolas de Ovídio, com data de 1680, prometia fazer uma redução da
obra em três modalidades diferentes: Começou pela metáfrase ou tradução literal.
Prosseguiu com a paráfrase que denominou “tradução com latitude” onde o autor é
mantido dentro do campo perceptivo do tradutor, de modo que não seja perdido
esse controle. Ainda assim suas palavras não são seguidas tão estritamente quanto
ao sentido: além disso, admite que esse mesmo sentido seja ampliado, mas não
alterado. A terceira forma é a imitação.
Ainda assim suas palavras não são seguidas tão estritamente quanto ao
sentido: além disso, admite que esse mesmo sentido seja ampliado, mas não
alterado. A terceira forma é a imitação. Para Dryden, a metáfrase e a imitação eram
os “dois extremos que deviam ser evitados” e a paráfrase “a linha divisória entre os
dois” - o modo de traduzir que evita os perigos dos dois extremos combinando suas
virtudes de fidelidade ao original (metáfrase) e fluência (imitação). Nisto, ele seguia a
tradição Ortodoxa da Teoria da Tradução desde São Jerônimo (AD 340?- 420) um
dos primeiros doutores da Igreja. Em seguida, teremos alguns comentários de
Dryden a respeito da paráfrase:
But since every language is so full of its own properties, that what is
beautiful in one, is often barbarous, nay sometimes nonsense, in
another, it would be unreasonable to limit a translator to the narrow
compass of his author`s words: `tis enough if he choose out some
expression which does not vitiate the sense. I suppose he may
stretch his chain to such a latitude; but by innovation of thoughts,
19
methinks he breaks it. By this means the spirit of an author may be
transfused, and yet not lost.
14
Após considerarmos os comentários de Dryden a respeito da paráfrase,
ponderamos sobre essa profunda relação existente entre a paráfrase, tradução e
conceitos nucleares que regem a textualidade na construção e reconstrução do
sentido. Os tópicos seguintes tratarão melhor dessa questão.
1.2. Tipos e gêneros
O procedimento mais comum em atividades que envolvam o processo de
ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras ou de língua materna é a seleção de
um conteúdo para discussão e exploração didático-pedagógica. O referido conteúdo,
dividido em temas, chega até os aprendizes em forma de tarefas. Assim, estarão
escolhendo alternativas de interpretação textual (na forma de tarefas) e através
desse processo, estarão invariavelmente empregando a paráfrase de várias formas
diferentes. Essa escolha que o indivíduo faz para representar o núcleo semântico
(ou como preferimos chamar: a base conceitual), utilizando-se de uma estrutura
superficial, dentre várias possibilidades, é a manifestação de uma paráfrase.
A prática pedagógica gira constantemente sobre conteúdos que representam
temas compostos por idéias de autores diversos. Cada idéia que se seleciona e se
14
“Mas desde que toda língua é repleta de suas peculiaridades, o que se considera belo em uma
delas, é freqüentemente bárbaro, algumas vezes tolice em outra, não seria razoável limitar o tradutor
ao âmbito reduzido das palavras do autor: é suficiente que ele escolha algumas expressões que não
corrompam o sentido. Creio que ele deva estender seu âmbito a uma latitude maior; mas, por
inovação de pensamento penso que ele o rompe. Desse modo, o espírito de um autor deve ser
transfundido e mesmo assim não se perder” (tradução nossa).
20
discute, dificilmente será apresentada em sua estrutura original. A própria análise
individual irá demarcar os fatores que imprimem sua marca na escolha de uma
nova e diferente apresentação em termos de estrutura superficial.
Durante nossa experiência pedagógica, temos observado e constatado, cada
vez mais, a importância da paráfrase em situações corriqueiras. Quando acessamos
a memória na tentativa de recordarmos um ou outro fato importante, estamos
trazendo à tona uma seqüência de ações que, ao serem representadas verbal ou
graficamente, irão compor um texto. Se a experiência for de ordem pessoal,
experiência própria, será considerada como uma simples recordação. Mesmo
nossas recordações nunca serão representadas ou expressas em um estilo “clichê”.
Essas representações tomarão formas similares ou equivalentes. Ao acessarmos a
memória para recuperarmos a informação, estaremos representando-a com
estruturas superficiais diferentes. Estaremos produzindo paráfrases novas cada vez
que houver necessidade de apresentar uma informação armazenada em nossa
memória.
A natureza dinâmica do universo que, inexoravelmente, tudo renova, nos
estimula a criar novas estruturas sintáticas quando desejarmos rebuscar na memória
os segmentos de informação que possuem um núcleo semântico ou base conceitual.
Possuímos, armazenados em nossos registros, um banco de dados constituído de
elementos imagéticos estáticos ou dinâmicos que são chamados para desempenhar
um papel momentâneo. O processo cognitivo individual criará para aquela
circunstância, uma resposta de natureza verbal, gráfica ou de outra forma semiótica
que venha a satisfazer as necessidades comunicativas do momento. De um modo
ou de outro, a informação necessariamente assumirá uma forma de comunicação
21
com estrutura superficial fundamentada em um núcleo semântico originado pelas
imagens mentais arquivadas na memória do emissor da comunicação.
Castilho (2003), ao abordar o tema “Construção do Texto por Reativação”,
respalda nossa idéia de reorganização sintático-semântica através de paráfrases
quando diz que mesmo em textos falados (mais perceptível que em textos escritos)
existe uma reconstrução textual onde se toma o léxico principal para jogá-lo
novamente no fluxo do texto. Considera esse processo de reconstrução como um
momento parafrástico (e, portanto, anafórico) do discurso”.
São mencionados pelo autor dois processos de repetição: Palavra por palavra
(repetição) ou por palavras diferentes (Paráfrase).
O referido autor percebe a paráfrase como um termo técnico que abrange ao
menos dois sentidos:
a) Como técnica usada por lexicógrafos para analisar enunciados
ao ser definida uma entrada de dicionário ou ao ser empregada
pelos sintaticistas na comparação de sentenças formalmente
distintas, porém com uma mesma interpretação semântica.
b) Processo definido na Retórica Aristotélica como um mecanismo
de linguagem que possibilita uma produção diversificada do
discurso na situação social. O falante, através da paráfrase,
escolhe um ponto de vista cuja representação conceitual (písteis)
pode traduzir a realidade a nível verbal (lexis). Como exemplos de
modalidades parafrásticas temos: a amplificação, a comparação e a
metáfora. De acordo com Castilho(2003:75, op.cit.), a lingüística
textual retoma o antigo sentido aristotélico da paráfrase,
compreendendo-a na interpretação de Fuchs como: A
transformação progressiva do
mesmo (sentido idêntico) no outro
(sentido diferente). Para redizer a “mesma“ coisa acaba-se por
dizer “outra” coisa, no termo de um processo contínuo de
deformações negligenciáveis imperceptíveis
.
Ou ainda, sob a ótica de Beugrande-Dressler apud Castilho (op. cit.) a paráfrase
pode ser interpretada como “a recorrência do conteúdo com uma mudança de
expressão”.
Bussmann (1996), no Routledge Dictionary of language and Linguistics faz o
seguinte registro a respeito da paráfrase:
22
1 Usada idiomaticamente com o sentido de reformulação textual:
um meio de se explicar, esclarecer ou interpretar intenções
comunicativas originais.
2. Termo heurístico para indicar sinonímia entre sentenças
(lingüística) bem como proposições (lógica). (a) Na concepção da
lógica proposicional a paráfrase é idêntica à implicação bilateral ou
relações de equivalência: a sentença 1 é uma paráfrase de e uma
equivalência da sentença 2 quando S1 (formalmente (S1-
S2) X
(S2
S1)), exemplo: Philip is older than Caroline implica que
Caroline is younger than Philip. (b) Na concepção da gramática
transformacional gerativa, duas sentenças são paráfrases de uma
estrutura profunda se elas possuem o mesmo significado e são
derivadas em diferentes transformações que não mudam o sentido
(exemplo: a voz passiva).
Bussmann (op.cit.), ainda, apresenta uma tipologia que divide a paráfrase em:
Paráfrases sintáticas I’ll give it to them tomorrow vs Tomorrow
I’ll give it to them.
Paráfrases léxicas - Bachelor vs Unmarried man.
Paráfrases Dêiticas Louise lives in N.York vs Louise lives there.
Paráfrases Pragmáticas Please close the window vs It’s cold in
here.
Em seguida, temos uma tipologia parafrástica apresentada na obra de Castilho
(2003). Nos exemplos, a matriz vem assinalada por M e a paráfrase por P.
(1) Paráfrase concretizadora / desconcretizadora
A paráfrase concretizadora, na sua matriz, apresenta de um modo vago o Tópico
conversacional que é focalizado e especificado na paráfrase.
Exemplo: (8) M. Eu noto que MUIto paulista fica um pouco chocado
... com o linguajar carioca ... (...)
P nós ficamos um pouco chocados
com o esse e o erre exagerados ... (D2 SP 333:30-55).
Segundo Castilho:
O efeito de concretização é produzido, quando se substitui o SN quantificado muito
paulista por um pronome pessoal específico, que identifica as interlocutoras como
pessoas que se chocam.
A paráfrase desconcretizadora através de um recurso como um quantificador
universal desfocaliza o Tópico da matriz.
23
Ex: (9) M agora vamos usar um termo que eu uso bastante... P e
que todo mundo usa (ibidem: 8-9)
(2) Paráfrase expansiva / sintetizadora
A) A paráfrase expansiva tem a capacidade de ampliar a informação contida no
segmento matriz.
Ex: (10) nós vimos que existem dois agentes que oferecem moeda
(...)
M os bancos comerciais e o Banco Central ... certo? P o Banco
Central de uma forma mais direta e os bancos comerciais ... através
do mecanismo de multiplicação (EF SP 388:1-5).
a) A paráfrase sintetizadora, ao contrário da anterior, simplifica tudo encerrando o
Tópico. É comum o aparecimento de marcadores do tipo de:
então, em suma,
para encurtar o assunto, em poucas palavras
, além de “verbos introdutores de
opinião”, estudados por Marcuschi (1989).
Ex: (12) M como isso constitui numa pedra no caminho quando é
passado em termos de arte cênica e... no caso ... televisão (...)
P
então isso é uma pedra que vejo no caminho nosso (D2 SP 333:
71-115).
(3) Paráfrase enfatizadora / atenuadora.
a) Não apenas a entoação, como também vários outros recursos da ênfase, como
sinônimos amplificadores e advérbios intensificadores, podem compor esse tipo
de paráfrase.
Exemplo:
(13) bem... M não é que ele falasse alto... P ele estava mesmo
era berrando...
a) A paráfrase atenuadora lança mão de recursos como Advérbios Delimitadores
estudados por Moraes de Castilho (1991).
Exemplo:
(14) M a inflação brasileira é puramente inercial... isto quer dizer
que
P num certo sentido a inflação se alimenta de si mesma
24
(4) Paráfrase epilingüística
Esse tipo de paráfrase, reflete sobre a língua, ao mesmo tempo em que produz
textos sobre a mesma. Para isso, são inerentes a esse tipo de paráfrase as
seguintes motivações:
Explicitação do sentido de uma palavra
(15) M embaixo do calção se costuma utilizar sunga ... eu não sei...
é: ...
P no meu tempo a gente dizia saqueira ... mas hoje é mais
sunga que se diz...(DID SP 6:78-80);
Justificação do uso de uma palavra
(16) M ele pensou... que ele ia::... ficar em face de uma recusa... e
que eu ia... esnoBAR ((ri)
P – agora vamos usar um termo... que eu
uso bastante que todo mundo usa muito (D2 SP 333: 7-9);
Produção de uma escala sinonímica
(17) M eu enfoquei na nas minhas crônicas da Folha ... a pedra
no caminho que é a: ... pronúncia tão diferente .
.. P e mesmo ... a
maneira de falar as singularidades que tem cada região
(D2 SP
333: 66-70).
Longacre (1983), concebe a paráfrase como um artifício elaborativo e retórico.
Para ele, se diz algo apenas uma vez e a paráfrase seria um fenômeno de
estrutura superficial, ou seja: a repetição da estrutura profunda em uma diversidade
de formas equivalentes. Esse autor distingue oito variedades de paráfrase:
Tipo 1 – Paráfrase por Equivalência.
Às vezes, o falante sente que dizer algo apenas uma vez não é suficiente e que
ele precisa dizê-lo duas ou mais vezes de forma diferente. Isso ocorre em oratória,
mas, não fica distante do uso cotidiano do discurso comum. Talvez isso se deva ao
fato de que o emissor da mensagem ache que se assim não o fizer, o receptor não
25
irá entendê-lo; se não o disser em duas ou três maneiras diferentes e o receptor não
compreender na primeira vez, poderá consegui-lo na segunda ou terceira vez. O
exemplo: “Ele capitulou imediatamente” e “Ele rendeu-se ali mesmo” possuem uma
relação sinonímica muito aproximada. Fica difícil afirmar qual das duas formas diz
mais que a outra em termos de conteúdo informacional, mesmo podendo-se dizer
que, imediatamente, refere-se a tempo e ali mesmo refere-se a lugar. Do mesmo
modo;
b) I went home
c) I went to my house
São exemplos que se equivalem e Home e House são considerados sinônimos
aproximados, onde a base equivalente (2
a
base) nem adiciona nem subtrai
informação com relação à primeira.
Tipo 2 – Paráfrase por Antônimo Negado
É uma das variedades que se aproxima bastante da paráfrase simples. Nós
podemos nos perguntar se dois sinônimos envolvem ganho ou perda de conteúdo
informativo, mas, inversamente fica difícil afirmar se, no caso de termos dois
antônimos e negarmos um deles, teremos uma equivalência aproximada.
Exemplifiquemos:
Rico - Não pobre
Baixo – Não alto.
Pode fazer diferença a escolha da estrutura superficial com respeito à
predicação com antônimo negado. Por isso, é aconselhável observarmos a
ordenação da paráfrase na derivação de estruturas superficiais, porque em inglês
White” e “Not black” possuem uma relação como paráfrase de antônimo negado,
26
mas White, Not black” versus “Not black, White” envolvem ordenações lineares
distintas com implicações diferentes para as estruturas superficiais da língua inglesa.
Tipo 3 - Paráfrase com Negação do Grau mais alto
Esse modo de parafrasear é semelhante ao anterior. Embora não apresente
antônimos, contém dois itens lexicais pertencentes a uma escala de graduação. Um
dos itens pertence a um grau mais alto que o outro, que caracteristicamente
aproxima-se do mediano; e o item de grau mais alto é negado. Considere-se os
exemplos:
It´s not hot, but it is warm.
Iit´s warm, but it ´s not hot
Ainda, dentro da concepção de Longacre, um tipo de paráfrase semelhante ao
acima citado que ele chama de “Extremidades Negadas”.
Exemplo:
“Nem está quente nem frio, está morno”.
“Nem é preto nem branco; é apenas cinza”.
“Ela não é bela nem feia; é apenas uma simples garota comum”.
Esse tipo de frase envolve uma escala de gradação com três valores: quente,
morno, frio; preto, cinza, branco; bela, simples-comum, feia.
Tipo 4 - Paráfrase genérico-específica
Esse tipo de paráfrase que Longacre afirma ser muito comum, envolve ganho
de informação no segundo membro. Nessa variedade, um item mais específico (ou
mais de um item) aparece com mais freqüência no segundo membro que no
primeiro. Exemplifiquemos:
“He cooked it, he fried it in vegetable oil”.
27
O termo “fry in vegetable oil” é muito mais específico que “cook”. Além disso, há uma
maior quantidade de informação no termo
“in vegetable oil”.
Tipo 5 - Paráfrase ampliada
O quarto tipo é uma forma de ampliação. É muito parecida com a paráfrase
genérico-específica. Nela, os itens lexicais mais específicos têm maior ocorrência na
segunda base que na primeira. Contudo, repete-se a primeira base em substância
(freqüentemente por meio de sinônimos) e uma frase ou duas são adicionadas, o
que constitui informação extra, como exemplo:
He sang, he sang two songs”.
A segunda base é quem apresenta mais informação, maior carga semântica,
que ele cantou duas canções”. O padrão desse tipo de paráfrase pode variar na
forma. Assim:
He went away, he went away two weeks ago”.
A segunda base incorpora mais informação que a primeira. É comum, nesse
tipo, o acréscimo de advérbios de modo, tempo ou lugar.
Tipo 6 - Paráfrase Específico-Genérica
Aqui ocorre a perda de informação na segunda base quando comparada à
primeira. Assim, temos uma inversão do tipo Genérico-Específico que também não é
muito comum.
Exemplo: “They dug up Assyrian ruins, they did some excavation”
A base mais específica nesse exemplo é “dug up Assyrian ruins”.
28
Tipo 7 - Paráfrase por Contração
Esse modelo é semelhante ao Específico-genérico e ao mesmo tempo, o
contrário da Paráfrase por Ampliação. Existe menos informação na segunda base
que na primeira. Além disso, a perda de informação da segunda base deve-se ao
uso de um termo lexical mais genérico do que na primeira base. A paráfrase por
Contração apresenta, em sua primeira base, certos itens lexicais (freqüentemente,
locuções substantivas) que não se encontram na segunda base. A informação
contida na primeira base é dada, ou repetindo-se o predicado dessa base ou
ocorrendo uma forma sinonímica do mesmo.
Essa espécie de paráfrase despertou a atenção de Sayers (1976) apud
Longacre (op.cit), para a língua Wik-Munkan de Queensland na Austrália. Foram
traduzidos para o Inglês um dos exemplos assim:
“Wait, we´ll bury the fish in the ashes, we´ll hide (it)”, onde a expressão “hide
something” vale como sinônimo para bury” e a informação fish in the ashes é
omitida na segunda base. Em língua portuguesa, também, é possível observarmos
esse tipo de estrutura. Vejamos o exemplo:
Eu não vou ver José, Não vou mesmo!”
Onde a expressão “ver José” é omitida na segunda base.
Tipo 8 - Paráfrase Resumidora / Resumo
Essa forma emprega um item lexical genérico na última base, após uma série
de itens lexicais mais específicos nas bases precedentes.
Ex: “John works at the saw-mill; Jim at the repair shop; and Al at the print-shop—
that´s what they´re all doing”. That e They funcionam como pronomes e doing como
um verbo genérico que se refere às bases precedentes da frase. Enquanto à
29
expressão: “John works at the saw-mill”, o verbo “works” não se repete nem na
segunda nem na terceira base. Longacre acrescenta que em muitas partes do
mundo não se com bons olhos esse tipo de redução e seria muito mais natural e
mais agradável estilisticamente dizer-se algo assim: John works at the saw-mill; Jim
works at the repair shop; and Al works at the print-shop—that´s what they´re all
doing”.
O quadro seguinte resume tipos de paráfrases compostas por três pares de
opostos e um tipo exclusivo:
Quadro 01. Tipos de paráfrases
Concretizadora Desconcretizadora
Expansiva Sintetizadora
Enfatizadora Atenuadora
Epilingüística - - - - - - - - - -
O próximo quadro reúne a tipologia de Longacre:
Quadro 2. Tipologia de Longacre
Paráfrase por equivalência Paráfrase por antônimo negado
Paráfrase por negação do grau mais alto Paráfrase genérico-específica
Paráfrase ampliada Paráfrase Específico-genérica
Paráfrase por contração Paráfrase resumidora
30
Assim, temos resumidas nos quadros acima, essas classificações que em
algumas instâncias são similares ou de alguma forma divergentes.
Longacre (1983), comenta brevemente o papel da paráfrase na estrutura do
parágrafo, afirmando que sob este aspecto ela é mais livre e mais desconexa em
seu desenvolvimento que a estrutura frasal. Acrescenta que essa variedade de
paráfrase é reconhecível tanto no nível paragráfico quanto frasal e que nos vários
tipos de parágrafos elucidativos “a paráfrase é um artifício importante para o
desenvolvimento do parágrafo”. Assim, no início desse tipo de parágrafo, sempre
aparece uma espécie de sentença tópico e, em seguida as frases subseqüentes
desenvolvem o tema da sentença tópico através de várias estratégias parafrásticas.
Embora o referido autor afirme que a paráfrase por Equivalência não seja
desconhecida, é mais comum o emprego dos tipos Genérico-específico e Paráfrase
Ampliada. Ocasionalmente, pode aparecer a Paráfrase por Antônimo Negado nas
estruturas dos parágrafos elucidativos. Para melhor compreensão do que foi
exposto, eis um exemplo desse autor sobre o parágrafo elucidativo:
Before the war there was no peace among the Tagabili
Na seqüência, temos a ampliação do texto em três frases: “There was always
fighting even over tiny matters”. Essa frase aparentemente relaciona-se com a
anterior através de uma paráfrase por Antônimo Negado, ou seja: “no peace e
“fighting even over tiny matters” que estabelecem essa relação. a terceira e
quarta frases parecem relacionar-se com a primeira através de Paráfrase Genérico-
Específica, isto é, onde na primeira frase ocorre no peace among the Tagabili”, a
terceira corresponde a: They would put courses on people at night”, e a quarta
frase: They would capture children”. Presumivelmente, as duas últimas frases
empregam itens lexicais simplesmente específicos, expandindo o sentido de “No
31
peace among the Tagabili que faz parte da sentença tópico. Em suma, nesses
vários exemplos de paráfrase um potencial quase inesgotável para ser explorado
em estratégias monitoradas que façam uso desse riquíssimo processo cognitivo e
recurso pedagógico.
Além de termos visto na tipologia acima uma boa variedade de paráfrases com
seus aspectos específicos, gostaríamos de lembrar a importância dos gêneros
textuais no processo de parafrasear, dessa forma, teremos em seguida um excerto
da pesquisa de Pinto (2004), que nos ajudará a compreender melhor os princípios
que regem a formação de gêneros textuais. Assim, os gêneros parafrásticos serão,
também melhor interpretados.
Fala e escrita, como formas de manifestação da linguagem, são
diversificadas. A preocupação com a delimitação e a nomeação da
fala e da escrita traduzem-se, de acordo com Bronckart (1999), na
noção de gêneros textuais de Bakhtin (1992), que tem sido aplicada
ao conjunto das produções verbais organizadas: as formas escritas
visuais (artigo científico, resumo, notícia, publicidade) e ao conjunto
das formas textuais orais ou normatizadas ou pertencentes a
linguagem ordinária (exposição de acontecimentos vividos,
conversação). Disso resulta, como lembra Bronckart, que qualquer
espécie de texto, considerado como produto concreto da ação da
linguagem, pode ser designado em termos de gêneros e que,
portanto, todo exemplar de texto observável pode ser considerado
como pertencente a um determinado gênero. O autor lembra, ainda
que todo texto é necessariamente composto por tipos de discurso,
ou seja, formas de organização lingüística em número limitado, com
as quais são compostas, em diferentes modalidades, todos os
gêneros textuais. (1999)
A multiplicidade de gêneros textuais e a imprecisão quanto à sua
natureza levam os aprendizes a uma certa dificuldade para lidar
com as habilidades comunicativas da língua em estudo. Daí a
importância de uma classificação baseada em critérios
consistentes. Na verdade, varias possibilidades de classificação
dos gêneros textuais. Bakhtin, por exemplo, classifica-os em
primários (textos orais) e secundários (textos escritos). Bronckart,
por sua vez, subdivide-os de acordo com os mundos discursivos
(implicado e autônomo) do expor e do narrar. Marcuschi (2000)
utiliza uma classificação fundamentada num contínuo tipológico,
que se vai de uma conversa informal até a escrita acadêmica.
Apresentamos abaixo a que será desenvolvida neste trabalho. Tal
classificação foi sugerida pelo Grupo de Genebra (Bronckart, 1999;
Dolz e Schneuwly, 1996
apud Gazotii, 1999:15), que divide os
gêneros textuais a partir dos grupos que:
32
a) relatam experiências e fatos (diários, notícias, etc.);
b) contam histórias (contos de fadas, rimas infantis, romances,
ficção, etc;
c) contestam, questionam (debates, editoriais, queixas, etc);
d) expõem (conferências, apreciação crítica, seminários, artigos,
etc);
e) descrevem (instruções, receitas, regras de jogo, etc).
A lingüista-indigenista-tradutora norte-americana, Mildred L. Larson, em
conferência proferida no Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal
de Pernambuco no ano de 1992, expôs suas idéias a respeito de seu famoso livro
“La Traducion Basada em el Significado”. Naquela ocasião, foi distribuído material
fotocopiado que continha seus Princípios para uma Tradução Eficiente, os quais
priorizavam:
A - Objetivo do Tradutor
- Acurado
- Natural
- Aceitável
B - Processo de Tradução:
Quadro 3. Processo de Tradução de Larson
O esquema acima encerra uma mensagem original que ocorre em uma forma
“x” a qual passa por um processo de descoberta do sentido até chegar ao
Texto
Significado
Tradução
Descobrir o significado
re-expressão do
Língua Fonte
Língua Receptora
33
significado. Então, elabora-se uma nova estrutura para dar suporte ao significado.
Finalmente, tem-se uma nova representação para dar sentido na língua receptora.
No processo de reformulação semântico/sintático são estabelecidas as
possibilidades de representação da estrutura superficial que acreditamos depender
da escolha que o intérprete fará. Assim, o núcleo semântico (estrutura profunda)
oferecerá possibilidade de se fazer representado por diferentes formas (estruturas
superficiais).
Como exemplo, Larson apresentou em conferência mencionada, o seguinte
texto, seguindo-se uma instrução para reescrevê-lo como se fosse para:
1) Um periódico científico.
2) Um relatório legal
3) Um trabalho literário sofisticado
4) Um livro de estórias infantis
5) Um poema
6) Uma balada.
Texto original:
The day was beautiful. It was 10 o´clock. Jane left the house. The
house belonged to Jane. Next Jane drove the car to the post office.
Next Jane took hold of the doorknob. The doorknob was on the
door. The door was part of the post office. The door was locked.
Therefore Jane was frustrated. But Jane was not angry. Rather
Jane was concerned. Jane wondered: Is Mr. Smith sick? Mr. Smith
was the postmaster.
Paráfrase 1 (Periódico científico)
It was ten o´clock on a clear day when Jane left her house to drive
to the post office, where she stopped her car, got out and tried to
open the post office which was locked. When she couldn´t get in,
she was not angry, only concerned about Mr. Smith, the post
master, wondering if he were ill.
34
Paráfrase 2 (Relato jurídico)
At 10:00 a.m. on the day which the atmospheric conditions were
favorable, Jane allegedly left her residence. She entered her vehicle
and drove to the United States Postal Department facility in her
district. The suspect brought her car to a halt and exited the vehicle.
She allegedly attempted to enter said facility through the main point
of entrance. She took hold of the doorknob of the main door which
she claims was locked. She allegedly became emotionally
distraught, although not angry, because of her supposed concern
for Mr. Smith, the postmaster.
Paráfrase 3 (Trabalho científico)
One exquisite day, at the hour of morning coffee, Jane, departing her
domicile, maneuvered her personal vehicle to the most conveniently
located federal postal establishment. There she exited her car and
went to enter the building. Her entrance was hindered and her intent
frustrated by a locked door. However, rather than being choleric, she
was moved by concern for Mr Smith, the postmaster, wondering about
the state of his health.
Paráfrase 4 (Livro de estórias infantis)
It was a pretty day. It was ten o´clock. Jane got into her car. She
drove to the post office. The door was locked! Jane did not like that!
But she did not get angry. She was worried about Mr. Smith. Mr
Smith was the postmaster. She was afraid that he might be sick.
Paráfrase 5 (poema)
At ten o´clock one lovely day
Jane left her house and drove away;
And when she came upon the spot
She parked her car there in the lot
The postal building lay ahead;
Jane wish to enter, but instead
She found that when she tried the door,
Nobody had unlocked the store!
Frustration well described her state;
Still Jane did not become irate,
But with concern she wondered, “Hey!
Might Mr. Smith be sick today?”
Paráfrase 6 (Balada)
The tale is told of Jane of old
Who went to mail a letter
She set out when the clock read ten;
No day could e´re be better.
35
She went not far and parked the car,
The post office to enter
With measured stride, sh´approach´d and tried
The door right in the center.
To her surprise, despite her tries
Full locked stayed the portal.
Frustrated now, she wonders how
´Twould yield to any mortal
If it were me, I´d angry be...
Jane did not have that failing.
But for her turn, asked with concern
If Mr. Smith were ailing.
Essa variedade de gêneros que a paráfrase pode assumir tem despertado
nosso interesse no sentido de incentivar seu uso com maior freqüência em
atividades pedagógicas que possam beneficiar seus usuários aprendizes de línguas
estrangeiras. É possível que sua utilização monitorada contribua para melhorar o
desempenho dos aprendizes na compreensão/produção de estruturas lingüísticas.
Quando participamos do Programa Fulbright no ano 2000, ministramos algumas
aulas de inglês para alunos estrangeiros do English Language Institute na
Universidade George Mason em Fairfax, Virginia, EUA e tivemos a oportunidade de
utilizar atividades monitoradas de paráfrase com bastante sucesso.
Nossa experiência no ensino de línguas tem revelado a necessidade de
estratégias que facilitam o processamento cognitivo dos aprendizes. Esse processo
requer habilidade na leitura, compreensão, análise, seleção de novas estruturas,
vocabulário e integração em um texto ideal, produto final. Acreditamos que os
aprendizes precisam estar confiantes e familiarizados com estratégias monitoráveis
para criarem textos mais simples e mais compreensíveis acessando o núcleo
semântico das estruturas profundas, identificando e selecionando opções sintáticas
que sejam mais adequadas a seus níveis de compreensão. Acreditamos, também,
que aprendizes de língua estrangeira sentir-se-ão muito mais confiantes a partir do
36
momento em que comecem a reproduzir uma frase, oração ou texto reconhecendo e
explorando a paráfrase em suas diversas formas, conseqüentemente atingindo o
objetivo da comunicação.
Uma gramática pode prescindir do conceito de transformação e, também, do
conceito de estrutura subjacente (abstrata). Exemplo: The Cambridge Grammar of
English de Rodney Huddleston e Geoffrey k. Pullum, CUP, 2002. Assim, opta-se por
construções canônicas ou básicas e não canônicas ou derivadas.
A Teoria Transformacional contribui indubitavelmente para o uso da paráfrase
com finalidade didática porque esta se constitui basicamente de transformações.
Para corroborar essa assertiva, o Dicionário de Lingüística de Dubois et alii (1973)
apresenta a transformação como um processo que torna as estruturas profundas
geradas pela base em estruturas de superfície, submetidas, em seguida, ao
componente fonológico e fonético. Para melhor compreensão, transcrevemos a
seguir, na íntegra, essas operações transformadoras:
As transformações, ou componente transformacional da sintaxe de
uma língua, não afetam absolutamente o sentido das frases de
base, as quais recebem somente uma interpretação semântica. As
transformações são operações puramente formais, que interessam
às seqüências geradas pela base. Estas operações, ou
procedimentos transformacionais, são de deslocação ou permuta
(reajuste dos constituintes), substituição (um constituinte é
substituído por outro, chegando a apagá-lo e a colocar em seu
lugar um outro constituinte) e de adição.
As transformações comportam dois aspectos principais: o primeiro
é o de análise estrutural e o segundo o de transformação estrutural.
A análise estrutural consiste em ver se a seqüência gerada pela
base tem uma estrutura que torne possível a aplicação de uma
transformação definida; a transformação estrutural consiste em
diversas modificações e reajustes da estrutura em constituintes
assim analisados.
Complementando a mesma idéia, o Dicionário de Dubois (1973) define essa
transformação como:
...Se duas ou mais construções (ou seqüências de construções)
que contêm as mesmas
n classes aparecessem com as mesmas
37
n-duplas de membros dessas classes, dir-se-ia que as construções
são transformações uma da outra e que cada qual pode derivar da
outra por uma transformação particular. Se tivermos as construções
O carro atropelou o transeunte e O transeunte foi atropelado pelo
carro
, as construções SN1 + V1 SN2 (sintagma nominal seguido de
verbo transitivo e de sintagma nominal) e SN2 + se + Vpart + por
SN1, contém os mesmos grupos tríplices, SN, V, SN, e qualquer
escolha dos membros que encontrarmos na oração, achá-la-emos
nas outras.
O núcleo semântico, ou como trata o dicionário citado, as frases de base, irão
desdobrar-se em novas estruturas com sentido equivalente ou uma outra
interpretação semântica. Esse procedimento transformacional tem como resultante a
paráfrase e isso é confirmado através do exemplo dado com as construções nas
formas ativa e passiva: o carro atropelou o transeunte e o transeunte foi atropelado
pelo carro.
Assim, é possível perceber que a paráfrase apresenta uma diversidade de
opções sintáticas que podem ser analisadas através de uma perspectiva cognitivista
ou mesmo sob diversos outros pontos de vista. Na verdade, o que mais nos
interessa é sua aplicação prática voltada para o desenvolvimento da compreensão e
produção textual no ensino de línguas. Contudo, nunca é demais contemplar
aspectos que enriqueçam nosso cabedal teórico, por isso, ao introduzirmos o
capítulo seguinte, aliaremos esses princípios fundamentais a nossas experiências
pedagógicas.
1.3. Usos da paráfrase
A paráfrase é quase sempre compreendida por pessoas leigas, da maneira que
os dicionários costumam apresentá-la: uma interpretação ou tradução de algo que já
foi dito. Através desta pesquisa, esperamos contribuir para que o leitor possa
ultrapassar os limites dessa acepção, examinando com mais atenção as
38
características multifacetadas desse processo criativo de uso lingüístico que envolve
a interpretação de enunciados em contexto. Incluímos uma visão dos componentes
formadores do seu cerne estrutural constituído de conceitos primários que
desencadeiam a construção de estruturas parafrásticas menos ou mais complexas.
Nesse mister, abordamos a paráfrase através de uma perspectiva que visa
reconhecer o valor de sua aplicação prática ao favorecer a compreensão dos
elementos formadores do sistema sintático-semântico tão necessário na
intercomunicação. A despeito de esforços contínuos e crescentes para se melhorar a
metodologia de ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras, objetivando-se uma
compreensão integrada e uma competência comunicativa, os materiais didáticos
existentes nessa área não parecem ser suficientes. Além disso, com a globalização,
o número crescente de aprendizes de línguas estrangeiras, especialmente de Inglês,
tanto para fins acadêmicos ou comerciais, certamente requer professores mais bem
preparados para essa tarefa.
Portanto, evidencia-se a necessidade de desenvolvimento teórico-prático nessa
área, de modo que soluções efetivas possam ser encontradas para se atingir uma
maior competência na prática de ensino de línguas estrangeiras. Em conseqüência
disso, alguns pontos merecem destaque, a saber:
Competência lingüístico-cultural de aprendizes/professores
Valores culturais envolvidos
Valores sintático-semânticos envolvidos nos textos da língua estrangeira utilizada,
especialmente quanto aos aspectos de coesão e coerência textual através da
Paráfrase.
Nas diversas escolas em que lecionamos como Professor de Língua Inglesa
(isso inclui um bom número delas, inclusive no exterior) o processo de formação de
39
leitores não parece dar muita ênfase ou importância a estratégias que estimulem o
uso criativo de paráfrases. São reduzidas as orientações sobre a variação nos usos
“formal/informal” na linguagem falada ou escrita. Há uma visível carência nas ofertas
de opções sintáticas monitoradas que possam ampliar o universo semântico dos
aprendizes.
O propósito de toda instituição de ensino, invariavelmente, culmina com a
avaliação de seus aprendizes com relação a conteúdos curriculares. O aluno deverá
prestar contas de sua aprendizagem através de exercícios avaliativos, seja de
caráter oral ou escrito. Nossa experiência revela que numa relação direta com a
prática pedagógica, o processo de avaliação é claramente a conseqüência de uma
aplicação prática da paráfrase. A habilidade (seja do elaborador de exames ou do
examinado) em rearticular as estruturas textuais pode indicar seu alto ou baixo grau
de afinidade com o texto. O primeiro, ao elaborar as questões de modo criativo ou
complicado. O segundo, ao tentar interpretar o texto para atingir os propósitos
avaliativos. Assim, avaliador e avaliado navegam no mesmo barco da
intercomunicação rumo ao porto da compreensão mútua.
Com esse espírito de reciprocidade positiva, estamos convictos ao formularmos
a proposição de que a paráfrase é um instrumento indispensável para facilitar o
engajamento cognitivo dos aprendizes de línguas e, em nosso caso particular, no
processo de ensino-aprendizagem de Inglês como língua estrangeira. A propósito,
Gomes de Matos (2002), questiona se asseguramos ao aprendiz o direito de
“receber orientação sobre a variação nos usos do Português falado e escrito,
mediante escalas de graus de formalidade/informalidade”. Variação nos usos de
uma língua é evidência de liberdade de expressão.
40
Henriques (2002), examina o fato de que em nossas escolas não vivenciamos
uma aprendizagem que incentive múltiplas opções lexicais nem a distinção da
linguagem conotativa e denotativa. Esse autor, ainda, observa que “o aluno não
recebe orientação quanto ao uso criativo/ expressivo de gírias, paráfrases”. Tanto as
opções lexicais quanto às formas de linguagem, estão relacionadas diretamente com
a interpretação de textos.
O que se entende por
interpretação de um texto? Aproxima-se de uma tradução
na própria língua? E a paráfrase? Não seria uma estratégia implícita nesse
processo? O processo cognitivo envolve a priori a língua materna do indivíduo. Esta
é necessária, para que uma interação com o mundo se estabeleça, permitindo a
veiculação dos conhecimentos adquiridos. Esses conhecimentos armazenados na
memória individual ou conhecimento enciclopédico são constituídos pelos
conceitos.
A manifestação dos conceitos em textos falados ou escritos em um contínuo
comunicativo dependerá de fatores que regem a textualidade como: contexto,
coesão, coerência, intencionalidade e intertextualidade. Ao estudar textos em uma
língua estrangeira que esteja restrita a poucos elementos culturais que não estejam
diretamente presentes, quais as possíveis influências dela sobre a língua materna
ou vice-versa? E os conceitos? Pelo menos os primários serão transferidos por
serem universais? Estes conceitos primários são conhecidos basicamente como:
entidades, eventos, atributos e relações. (O cap. 2.5 descreve esses conceitos).
Acreditamos que a essência dos conceitos permanece inalterada por ser
independente das múltiplas manifestações lingüísticas existentes. Apenas parecem
adquirir novos rótulos.
O acesso aos conceitos, numa ou noutra língua, nos reporta ao que Kecskes e
Papp (2003), denominam fluência conceitual. É a capacidade de se compreender e
41
usar conhecimentos e habilidades adquiridos através dos canais de ambas as
línguas. Também implica o nível de acesso aos rótulos, ou seja, à memória lexical
das duas línguas. Cabe ao aprendiz a escolha de um rótulo adequado a um dado
conceito usado na língua em que ele está se expressando. Assim, se forem
oferecidas aos aprendizes oportunidades em que possam pôr em prática estratégias
monitoradas, que façam uso da paráfrase, esses alunos poderão ter muito mais
chances de desenvolver sua fluência conceitual.
No processo de leitura de textos em uma língua estrangeira, ou em atividades
comunicativas monitoradas, o aprendiz lança mão do conhecimento de mundo
organizado na memória. Esse conhecimento está diretamente relacionado com
modelos cognitivos envolvidos no processo de comunicação. Os frames propostos
por Minsky (1975), são modelos que representam aquilo que vimos anteriormente
como conceitos primários. Ao serem representados pela linguagem, adotarão formas
diversificadas, dentre as quais as mais utilizadas são as estruturas parafrásticas.
O que possibilita o uso da paráfrase com relativa facilidade é que os frames por
si são previsíveis, por se manifestarem como situações estereotipadas. Por
exemplo: caso alguém deseje comunicar algo sobre uma determinada situação
climática irá certamente fazer uso de conceitos primários relacionados com o tempo.
Quanto à forma a ser utilizada na representação do conceito, isso a própria pessoa é
quem faz a sua escolha. Caso o clima esteja bom e o sol brilhe, é bem possível que
represente sua idéia com frases como: “Que belo dia!” ou “O dia hoje está lindo!” ou
ainda “Que dia mais lindo!” etc.
Ao avaliarmos aprendizes com relação a um conteúdo textual qualquer, o que
desejamos? Que o aprendiz o reproduza na sua forma integral? Que demonstre ter
compreendido as pressuposições dos enunciados? De que forma?
42
Com essas perguntas, esperamos estimular os avaliadores a repensarem sua
prática avaliativa que está vinculada implicitamente ao processo pragmático da
interpretação parafrástica. Reproduzir um conteúdo aleatoriamente, sem intenção,
não faz sentido algum. Obviamente, no processo avaliativo deverá estar presente a
intenção direcionada para a reconstrução do sentido daquilo que se ou que se
ouve.
Ruddell et al (1994), referem-se ao leitor como um construtor do sentido que
interage com o texto. Se assim não fosse, não haveria sentido para o próprio texto.
Por outro lado, Fávero (1985), afirma que o texto pressupõe certos sentidos e
leituras, permitindo inclusões e exclusões, porém não estabelece uma única
possibilidade. A
reconstrução do mesmo implica diferentes perspectivas, relativas à
produção, ou compreensão.
Reconstruir o texto é interagir com ele no sentido de partilhar os elementos que
levam à compreensão da mensagem. Nessa interação, a paráfrase manifesta seu
valor interpretativo possibilitando uma grande redução das possíveis ambigüidades,
além de oferecer contexto para a polissemia.
Fávero (2002), ao esclarecer o termo “competência textual”, afirma que faz
parte da capacidade humana distinguir o que é e o que não é texto, de parafraseá-
lo, resumi-lo, atribuir-lhe um título, produzi-lo a partir de um título, compreendendo-o
enfim. Parece-nos que toda essa gama de habilidades está implícita no processo
que resulta numa paráfrase, porque justifica a compreensão daqueles que recriam
um texto, seja em língua materna ou estrangeira. É possível que a paráfrase ajude
também no desenvolvimento da competência interpretativa e produtiva textual de
usuários do idioma. Para reforçar mais ainda o que expomos, em termos de
43
aplicação prática, oferecemos, na seção seguinte, algumas indicações que possam
ser úteis para os usuários da paráfrase.
44
CAPÍTULO 02
ASPECTOS DA PARÁFRASE
Nesse capítulo, focalizaremos cinco aspectos da paráfrase que não o
pedagógico. Este será objeto dos capítulos 06, 07 e 08. Expomos algumas
perspectivas através das quais a paráfrase pode ser caracterizada de acordo com a
particularidade e abrangência de cada enfoque em discussão. Acrescentamos uma
interpretação semântica de certos aspectos cognitivos da estrutura profunda em
suas bases conceituais que resultam no binômio forma x sentido. Em seguida,
fazemos uma análise interpretativa das relações existentes entre núcleo semântico e
representações conceituais, estrutura profunda e de superfície.
Diversos fatores da situação comunicativa estão inclusos nessa discussão, do
mesmo modo que o conceito de Base Conceitual Nuclear. Adicionamos algumas
sugestões práticas para mostrar como os usuários da paráfrase poderiam tirar
melhor proveito em prol de uma comunicação mais adequada no contexto
pedagógico. Também evidenciamos alguns importantes aspectos sintáticos próprios
da enunciação no processo de reconstrução do sentido.
Destacamos a idéia inovadora da primeira gramática de língua inglesa a utilizar
a paráfrase como teste para que se compreenda melhor alguns pontos
problemáticos no uso dessa língua. Alguns aspectos tradutórios da paráfrase são,
também, discutidos, de uma maneira simples e exemplificados apesar da
complexidade desse tópico que envolve princípios diretamente relacionados com a
comunicação interlingüística. Dado o alcance pluridisciplinar do capítulo, incluímos a
paráfrase na tradução do discurso religioso, estabelecido sobre as bases dialéticas
45
da forma e do sentido. Teoria e prática estão juntas num tópico que trata de
interferência lingüística na aquisição de linguagem com situações rotineiras e
exemplos ilustrativos.
A visão cognitiva de outro tópico destaca a reconstrução do sentido como
habilidade básica para a compreensão/produção textual necessária para o
desenvolvimento lingüístico do aprendiz de línguas. O discurso pedagógico com seu
suporte parafrástico elucidativo está incluído no tópico que aborda as matrizes
conceituais intrínsecas aos aspectos de forma e sentido também presentes no
processo tradutório e nas múltiplas dimensões do processo comunicativo. A
definição de Base Conceitual Nuclear (doravante BCN) e processos cognitivos que
constituem a paráfrase e a relacionam com a criatividade e a intencionalidade no
processo comunicativo são abordados em uma perspectiva conceptual e cognitiva
que também incluem o conceito de espaços mentais na produção de sentido.
As categorizações fazem parte desse capítulo mesclando os conceitos
nucleares com as realizações parafrásticas. Um enfoque pragmático destaca as
múltiplas inteligências no ensino de línguas, enquanto questiona-se a
universalização da paráfrase. Em seqüência, discutimos a paráfrase como variante
pragmática na atenuação de opiniões, sugestões e reações a sugestões alheias,
apresentando uma fraseologia reveladora do parafrasear.
2.1. Aspecto literário
Bergez et alii (1994), no Vocabulaire de Lánalyse Literaire, considera a
paráfrase como:
46
1) Desenvolvimento explicativo de um texto (geralmente através de paráfrases),
como inserção ou não. Nesse caso, trata-se de anotações, notas de rodapé.
Reconhece como pejorativa sua segunda definição de paráfrase como “a
reformulação de um enunciado sob uma forma amplificada e verbosa,
geralmente menos clara que o original”.
2) Ainda é apresentada sob a forma de reescrita de um texto com o propósito de
torná-lo mais legível ou mais acessível, de um modo mais abreviado. Cita um
exemplo de um Salmo parafraseado por Malherbe que recebe o cunho de
Metaphrase para evitar confusão com a definição número 2 conhecida como
pejorativa.
A função da paráfrase, para nós, é o que há de mais importante no processo de
ensino/aprendizagem: explicar, esclarecer propósitos. Apesar de nosso objetivo ser
de natureza pedagógica, registramos diversas circunstâncias onde a paráfrase pode
ser encontrada sem que apresente claramente tal característica fundamental. Em
suma, é através de estratégias parafrásticas para a construção de uma idéia central
ou pensamento-chave que os ouvintes/leitores podem compreendê-lo com o mínimo
de esforço mental. Bergez (1994) apresenta também a paráfrase em forma de nota
explicativa sob a denominação de digressão ou perífrase que possui a função de
exprimir pequenas diferenças ou mesmo o propósito de correção.
Interpretar um texto possibilita uma infinitude de pontos de vista e leituras.
Fazer uma leitura que implique uma pluralidade interdiscursiva significa considerar
perspectivas diversas como a sociológica, cognitiva, histórica, literária, psicológica,
lingüística, psicanalítica, etc.
Desde os tempos mais remotos, quando o ser humano começou a registrar sua
história, passamos a construir aquilo que denomino mega-texto sócio-histórico que
47
em sua evolução inclui essa pluralidade interdiscursiva em sua teia infinita de
informações. Sendo a paráfrase o desenvolvimento explicativo de um texto, isso
possivelmente nos fará apelar para a intertextualidade para otimizar os efeitos
parafrásticos.
Viana (2002), traduz um segmento do artigo de Roland Barthes “Teoria do
Texto”, publicado na Encyclopaedia Universalis:
Todo texto é um intertexto: outros textos estão presentes nele em
níveis variáveis, sob formas mais ou menos reconhecíveis: textos
da cultura anterior e os da cultura presente: todo texto é um tecido
novo de citações passadas. Passam no texto, redistribuídos nele,
pedaços de códigos, fórmulas, modelos rítmicos fragmentos de
linguagens sociais. (...) (Viana, 2002).
Quando o texto vai se tornando obscuro, seu criador, emissor / escritor sente-
se na obrigação de torná-lo claro e inteligível ao receptor / leitor. É então que a
paráfrase estabelece uma ponte para o esclarecimento das metáforas e memórias
enraizadas no terreno da intertextualidade.
Assim, podemos afirmar que nenhum texto pode ser escrito
independentemente do que já foi escrito, trazendo de maneira mais ou menos
visível, incontáveis traços e memórias de uma herança, de uma tradição.
Viana (2002), chega à conclusão de que a interextualidade é um processo
criativo semelhante à reestruturação de textos, no qual um texto reescreve um outro
que o antecede. Para nós, essa sua assertiva vem reforçar a importância da
paráfrase para a leitura, compreensão e produção textual. O referido autor citando,
ainda, Kristeva (1974), em La revolution du langage poétique, comenta que essa
conceituada autora “insiste no fato da intertextualidade não ser apenas uma imitação
ou uma reprodução, mas uma transposição de um ou vários sistemas de signos em
um outro, criando assim uma “dinâmica intertextual”“.
48
Viana (2002) cita também Genette, um moderno teórico que defende a
intertextualidade, não converge seus conceitos com Kristeva e Barthes. Assim,
define intertextualidade de maneira original:
Je definis [l’íntertextualité], pour ma part, de manière sans doute
restrictive, Par une relation de copresénce entre deux ou plusieurs
textes,(...) par la Presénce effective d’un texte dans un autre, sous
sa forme la plus explicite et la plus littérale. C´est la pratique
traditionelle de la citation (avec guillemets, avec ou sans référence
precise) (...).
15
Percebemos um vínculo indelével entre paráfrase e intertextualidade. O
exposto na tradução de Viana vem reforçar nossa idéia de que o processo
parafrástico está mais presente em nossa vida comunicativa do que possamos
imaginar.
Destaca Viana (2002), a presença de autores europeus na poesia romântica
brasileira. Assim, Gonçalves Dias, em sua “Canção do Exílio”, que apresenta uma
epígrafe de Goethe: “Kennst du das land, wo die citronen blühn, Im dunkeln Laub die
Gold – Orangen glühn, Kennst du wohl? – Dahin, dahin! Möchtích... Ziehn”.
Essa mesma epígrafe, tendo sido extraída da balada “Mignon” e traduzida por
Manuel Bandeira, assumiu a seguinte forma:
Conheceis o país onde florescem as laranjeiras?
Ardem na escura fronde os frutos de ouro...
Conhecê-lo? Para lá, para lá quisera eu ir!
Dessa forma, percebemos as influências literárias de autores sobre outros, as
múltiplas relações que ora estão explícitas, ora subjacentes em uma ou outra obra,
15
Em tradução de Viana: Eu defino o intertexto, a meu ver, sem dúvida de maneira restritiva como
uma relação de co-presença entre dois ou mais textos, (...) pela presença efetiva de um texto em
outro. Sob sua forma mais explícita e mais literal. É a prática tradicional da citação (com aspas, com
ou sem referência precisa) (...).
49
perenizando o pensamento humano através da paráfrase, que possibilita a presença
efetiva de um texto em outro.
Viana, na obra citada, aponta os traços marcantes da paráfrase na “Canção do
Exílio” de Gonçalves Dias, quando salienta que sua inspiração teve fonte numa
balada de Goethe, de onde Gonçalves Dias retirou a epígrafe para sua canção.
Analisemos então os versos originais e os parafraseados:
“CANÇÃO DO EXÍLIO“
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida
Nossa vida mais amores
“HINO NACIONAL BRASILEIRO”
Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores
Nossos bosques têm mais vida
Nossa vida em teu seio mais amores
Assim, torna-se claro que através de transposições parafrásticas ou outros
tipos de criação, manteremos sempre uma relação com o mundo na elaboração de
uma memória textual que se renova ao acessarmos ou produzirmos informações.
Tanto criação quanto recriação textual implicam infalivelmente a marca da
individualidade do sujeito na fala. Portanto, essa afirmação nos remete ao tópico
seguinte que discorre sobre a paráfrase e suas relações com a estilística.
2.2. Aspecto estilístico
Andrade e Medeiros (2001), observam que a paráfrase e as formas
parafrásticas são muito utilizadas na vida acadêmica. A tradução livre ou reprodução
50
de um texto é constituída por idéias ou pensamentos do original, expressas por um
vocabulário mais comum, mais usual. Os autores tomam o cuidado de esclarecer
que não se trata de simples substituição lexical sinonímica. Se assim o fosse, a
paráfrase contribuiria muito pouco para o esclarecimento das idéias. Para esses
autores a paráfrase é “uma re-elaboração do texto: portanto, exige compreensão do
conteúdo original”. Acrescentam ainda, noções importantes sobre resumos que
também são considerados formas de paráfrase. O
resumo descritivo e o informativo.
Nas duas formas não se pode alterar o conteúdo e a ordem das idéias. Muda-se
apenas a forma de expressão, reproduzindo-se fielmente o conteúdo. O texto é que
é redigido de outra maneira. Prosseguem os autores, ressaltando que resumir não é
reproduzir ou transcrever frases ou períodos mais significativos; existe a
necessidade de se re-elaborar o texto, porem, com uma nova apresentação do
conteúdo original.
A paráfrase, sob o enfoque estilístico, também pode se apresentar como um
desenvolvimento explicativo. Freqüentemente deparamo-nos com textos cujo nível
de linguagem muito culto ou técnico necessita de uma versão mais simples para que
seus conteúdos possam ser compreendidos melhor e mais divulgados. Obviamente
não podemos proceder da mesma maneira utilizando estratégias similares com
referência a textos poéticos. estaríamos infringindo os limites da criação. Se
assim procedêssemos, estaríamos no terreno da transcriação ou recriação. Algumas
obras apresentam ampliações do texto original sob a forma de comentário
explicativo. A característica principal dessas ampliações é a reprodução do conteúdo
em nível de linguagem mais direta, mais simples, acrescentando sempre
informações mais esclarecedoras, não ampliando o texto original, mas, também
tornando-o menos obscuro. Quando o tema ou a forma de uma obra séria é
51
ridicularizado ou satirizado em forma de composição literária, temos uma paródia.
Quando enfocamos a paráfrase e a paródia sob os aspectos das relações
paradigmáticas e sintagmáticas, vamos encontrar uma interface,
a estilização que
destaca suas identidades sem a descaracterização das mesmas. É uma espécie de
reforço que mais se inclina para os aspectos parafrásticos do que para a paródia,
porque não foge dos traços originais, não trai nem macula a fidelidade do original.
Embora se distancie da origem, continua mantendo um fluxo de identidades e
diferenças na dinâmica do discurso.
Sant‘Anna (apud Andrade e Medeiros 2001), estabelece um paralelo entre
paráfrase, paródia e estilização. Para ele a paráfrase é a reafirmação (com léxico
diferente) conservando o mesmo sentido de uma obra escrita, enquanto a paródia
estabelece um desvio de efeito metalingüístico. O idêntico e o semelhante oferecem
uma base para a paráfrase. O visto, o paradigma conhecido lhe dão sustentação,
enquanto a paródia reestrutura um novo paradigma. Sob o ponto de vista da
intertextualidade Andrade e Medeiros (2001 op. cit.) consideram a paráfrase como a
intertextualidade das semelhanças e a paródia como a intertextualidade das
diferenças. Para os autores, a paráfrase afirma-se pela repetição do que foi dito,
enquanto a paródia mascara o conteúdo original utilizando-se da ambigüidade, da
contradição.
Como vimos, não basta a simples substituição lexical de alguns temos numa
sentença ou texto para obtermos uma paráfrase, entretanto não podemos deixar de
valorizar o léxico com toda sua potencialidade semântica que serve à criatividade do
usuário, por isso o tópico seguinte discorre sobre a questão lexicográfica.
52
2.3. Aspecto lexicográfico
Define-se entrada léxica em Lexicografia segundo Dubois et alii (1973), como
geralmente uma composição caracterizada por um grupo de paráfrases sinônimas,
sendo que cada uma delas corresponde a uma acepção. Existirão tantas acepções
quantas forem as paráfrases sinônimas correspondentes a cada entrada léxica que
não sejam sinônimas entre as mesmas. Distingue-se, por conseguinte, o tratamento
lexicográfico relativo à homonímia e polissemia. Com respeito ao tratamento
lexicográfico homonímico, cada entrada corresponderá a uma única paráfrase; as
palavras não possuem ambigüidade. no tratamento polissêmico, constitui-se
entrada uma palavra gráfica definida por um conjunto de paráfrases que têm traços
comuns.
A prática lexicográfica tem como postulado de base que existe pelo menos uma
expressão (palavra, sintagma ou toda forma de paráfrase) semanticamente
equivalente à unidade estudada. No entanto, esse postulado apresenta um
problema; as definições de dicionário. Elas descrevem a realidade concreta
designada e não o estatuto lingüístico da palavra. Se tomarmos a entrada “maçã”,
ficaremos sabendo apenas sobre o objeto botânico concreto que é essa fruta. Não
saberemos muita coisa sobre as possibilidades lingüísticas do termo. Dessa forma,
consideremos a entrada “banana”, que nos oferece a possibilidade de realizarmos a
expressão:
Ele é mesmo um banana, mas, com o termo anterior, fica difícil
pensarmos em semelhante realização. Creio que jamais alguém formulou algo
O que é mesmo a paráfrase?
53
como: Ele é um maçã! Assim como (em um dado nível) relação com o intertexto,
a paráfrase também tem relação com a metáfora.
Tudo isso nos remete à definição que além de essencial, deverá possuir
critérios bastante claros. Finalmente, o que constitui outra espécie de paráfrase
possível da palavra entrada são os exemplos fornecidos pelos dicionários.
(A)
O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001: 2127), sob diversas
rubricas, nos apresenta a paráfrase, como por exemplo:
Literatura
Interpretação ou tradução em que o autor procura seguir mais o
sentido do texto que a sua letra; metafrase.
Interpretação, explicação ou nova apresentação de um texto
(entrecho, obra, etc.) que visa torná-lo mais inteligível ou que
sugere novo enfoque para seu sentido.
Pedagogia
Uso de paráfrase (acp 1) no estudo de um texto ou no ensino de
composição literária.
Literatura
Versão versejada de um original em prosa, sem preocupação de
perfeita equivalência.
Lingüística
Maneira diferente de dizer algo que foi dito; frase sinônima de outra.
(A)
No dicionário da Associação Internacional de Leitura, The Literacy Dictionary
(1995: 179), encontramos:
“The act or result of restating something spoken or written in another form”.
16
(B)
Num dicionário de terminologia lingüística de Crystal (1980:257), lê-se:
“The process or result of producing alternative versions of a sentence or text
without changing its meaning”.
17
16
“O ato ou resultado de se reafirmar algo falado ou escrito com uma outra forma” (tradução nossa).
17
“O processo ou resultado de se produzir versões alternativas de uma sentença ou texto sem
alteração do significado” (tradução nossa).
54
A esse conceito, adicionamos o seguinte comentário explicativo do referido autor:
A similar notion has long been used in school language classes,
where a student might be asked to paraphrase a passage: here the
new text has to preserve the core meaning of the old, or be a close
approximation to it. The linguistic use of the term usually involves a
stricter sense, requiring that the two texts have the same meaning –
thus, John caught the ball and the ball was caught by John are said
to be syntactic paraphrases of each other.
18
(C)
Em um dicionário da área de Lingüística Aplicada - Longman Dictionary of
Applied Linguistics (1985), encontramos:
PARAPHRASE – An expression of the meaning of a word or phrase
using other words or phrases often in an attempt to make the
meaning easier to understand. For example: to make (someone or
something) appear or feel younger is a paraphrase of the English
verb REJUVENATE. Dictionary definitions often take the form of
paraphrases of the words they are trying to define.
19
(D)
Em uma obra representativa da Tradição lexicográfica francesa - Le Petit
Robert – 1 (1991), lê-se:
PARAPHRASE – N.f. (1525; lat. Paraphrasis, du gr. “phrase à côte”.
(1) Developpement explicatif d’un texte. V. Commentaire,
explication, interprétacion. (2) (1676) Développement verbeux et
diffus. V. Amplification. Une traduction ne doit pas être une
paraphrase. Cette explication de texte n’est q’une paraphrase. Ling.
Phrase synonyme d’une autre (par ex. Jean aime Louise Louise
18
Uma noção semelhante é usada bastante tempo em aulas de línguas nas escolas, onde se
pode pedir que os alunos parafraseiem uma passagem: aqui o texto novo tem que preservar o
sentido do texto dado ou ser uma versão bastante aproximada do mesmo. O uso lingüístico do termo
normalmente envolve um sentido mais estrito exigindo que os dois textos tenham o mesmo sentido –
assim, João apanhou a bola e a bola foi apanhada por João são tomadas como paráfrases sintáticas
recíprocas. (tradução nossa).
19
PARÁFRASE Uma expressão do significado de uma palavra ou frase empregando-se
freqüentemente outras palavras ou frases numa tentativa de tornar o sentido mais fácil de ser
compreendido. Por exemplo: fazer (alguém ou algo) parecer ou sentir-se mais jovem é uma
paráfrase do verbo inglês REJUVENECER. As definições de dicionários sempre apresentam uma
forma de paráfrase para as palavras que tentam definir. (trad. nossa).
55
est aimée de Jean). Expression de plusiers mots synonyme d’un
mot. V. Periphrase.
20
(E)
O dicionário de Lingüística de Dubois et alii (1993: 453), apresenta a paráfrase
como sendo “(1) um enunciado que contém a mesma informação que um outro,
sendo, porém, mais longo. (2)... o desenvolvimento explicativo de uma unidade ou
de um texto”.
No conceito exposto em (1), o leitor possivelmente compreenderá que a
paráfrase invariavelmente será mais longa que o enunciado original. Apesar da
afirmação no item (1) acima, concordamos com Holsel (2003), quando nos concita
de uma forma humorística a sermos menos prolixos para evitarmos a complicação
no trato de problemas menores:
Como simplificar um texto científico
Muitos textos científicos são escritos numa linguagem de difícil
compreensão para o grande público. Torna-se necessário traduzi-
los para torná-los mais acessíveis ou, pelo menos, para uma
difusão mais extensa da profundidade do pensamento científico.
Isto pode ser feito com a aplicação de um método engenhoso que
consiste na reunião de conceitos fragmentados em outros mais
abrangentes que, numa sucessão progressiva de sínteses – ou
estágios reduzem a complexidade do texto original até o nível de
compreensão desejado.
Se estas colocações parecem ainda obscuras ou abstratas o que
mostra que são científicas um exemplo muito simples ilustrará o
método e facultará ao leitor esperto praticá-lo em outros textos. O
exemplo que daremos a seguir é o de um texto altamente
informativo em que são discerníveis elementos de Química, Física,
Botânica, Geometria e outras disciplinas.
Como se verificará, entretanto, essa massa de compreensão pode
ficar mais próxima dos leitores. Ao final do quinto estágio, surgirá,
clara e límpida, a síntese mais refinada daquele texto, antes
incompreensível, que brilhará singela e cristalina, evidenciando a
eficácia de nosso método. (sic)
20
PARÁFRASE N.f.(1525; lat.Paraphrasis, do grego, “frase paralela” (1) Desenvolvimento
explicativo de um texto. V. Comentário, explicação, interpretação. (2) (1676) Desenvolvimento verbal
e difuso. V. Amplificação. Uma tradução nãodeve ser uma paráfrase. Esta explicação de texto não é
mais que uma paráfrase. Ling. Frase sinônima de uma outra (por exemplo: João ama Luisa – Luisa é
amada por João). Expressão de várias palavras sinônimas de uma palavra. V. Perífrase.
56
Texto original (Primeiro estágio)
O dissacarídeo de fórmula C12H2011, obtido através da fervura e
da evaporação de H20 do líquido resultante da prensagem do caule
da Gramímea Saccharus Officinarum, Linneu, isento de qualquer
outro tipo de processamento suplementar que elimine suas
impurezas, quando apresentado sob a forma geométrica de sólidos
de reduzidas dimensões e arestas retilíneas, configurando
pirâmides truncadas de base oblonga e pequena altura, uma vez
submetido a um toque no órgão do paladar de quem se disponha a
um teste organoléptico, impressiona favoravelmente as papilas
gustativas, sugerindo a impressão sensorial equivalente provocada
pelo mesmo dissacarídeo em estado bruto que ocorre no líquido
nutritivo de alta viscosidade, produzindo nos órgãos especiais
existentes na Apis mellífica, Linneu.
No entanto, é possível comprovar experimentalmente que esse
dissacarídeo, no estado físico-químico descrito e apresentado sob
aquela forma geométrica, apresenta considerável resistência a
modificar apreciavelmente suas dimensões quando submetido a
tensões mecânicas de compressão ao longo de seu eixo em
conseqüência da pequena deformidade que lhe é peculiar.
Agora, o texto “trabalhado” para que os leitores possam
compreender tudo:
Segundo estágio
O açúcar quando ainda não submetido à refinação e,
apresentando-se em blocos sólidos de pequenas dimensões e
forma tronco piramidal, tem o sabor deleitável da secreção
alimentar das abelhas, todavia não muda suas proporções quando
sujeito à compressão.
Terceiro estágio
Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor
agradável do mel, Porém não muda de forma quando pressionado.
Quarto estágio
Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é
macio ou flexível.
Quinto estágio
Rapadura é doce, mas não é mole. (sic)
57
Com esse interessante exemplo, Holsel (2003), desenvolve um exercício de
paráfrase, embora não demonstre claramente a intenção de estar utilizando o
processo como tal. Justifica-o como uma necessidade de “traduzir” um texto
científico para facilitar a compreensão do leitor. O mencionado autor tenta explicitar o
processo como “um método engenhoso consistindo na reunião de conceitos
fragmentados que se sucedem numa síntese progressiva ou estágios para reduzirem
a complexidade e se tornarem mais compreensivos”. É possível que Holsel
desconheça o termo “paráfrase” como processo de reestruturação sintático-
semântica porque denomina-o “método” ou “estágio”. Qualquer que seja o
tratamento dado à paráfrase, o que importa é seu uso positivo em prol de uma
melhor compreensão textual. Enfatizamos a necessidade de sua utilização
consciente, nas diversas instâncias de uso lingüístico, ou seja, da utilização de
terminologia científica direcionada com mais adequação para seus usuários.
Crystal (1980: 257), é direto, simples e torna mais inteligível o conceito de
paráfrase como “resultado ou processo de produção de versões alternativas de um
enunciado ou texto sem alterar o sentido”. Chama a atenção para o fato de que a
maioria das teorias semânticas trataria todos esses enunciados como possuindo
uma única representação semântica (embora possam ser diferenciadas através de
enfoque e pressuposições). Uma de nossas metas nesse estudo é conscientizar
professores para que orientem seus alunos quanto a necessidade de se desenvolver
gradual e sistematicamente a habilidade de elaborar paráfrases. Não apenas o
desenvolvimento automático de um processo, mas, a exploraração consciente dos
tipos de relações existentes entre a forma de uma sentença, de um enunciado e
seu sentido. Desse modo, a “maneira” de dizer algo se torna imprescindível para a
compreensão do ouvinte.
É justificável que se use a terminologia científica dentro de uma dada comunidade
lingüística. Se existe uma linguagem restrita, que o seja para seus usuários –
mesmo assim, deve ser usada com moderação. O público em geral merece
58
consideração e respeito lingüísticos e a paráfrase, portanto, deve ser usada
comedida e conscientemente em casos onde se perceba que o público em geral não
seja capaz de compreender a mensagem que se deseje emitir.
Gomes de Matos (2002), sugere, que se deve “Aprender a parafrasear o
pensamento de um(a) autor(a), fazendo substituições lexicais adequadas” ; destaca
o “uso do vocabulário levando em conta o leitor/ouvinte, a situação e o assunto”
além de “parafrasear responsavelmente o pensamento original”. Também, menciona
“deveres” de quem participa de reuniões: (1) Adequar seu português ao grupo para
uma convergência comunicativa mais eficaz. (2) Assegurar ao interlocutor / leitor
seu direito de compreender.
Esse estado de alerta dos falantes no processo comunicativo, aliado à
liberdade de escolha de várias opções lexicais e de enunciados vinculados a uma
estrutura profunda, faz parte do sistema de representação das proposições. Assim,
mais informações a esse respeito serão adicionadas no próximo tópico.
2.4. Aspecto semântico
A estrutura semântica está muito mais aproximada dos conceitos universais do
que a que engloba a fonologia, a gramática e o léxico. Isso se explica porque a
organização semântica encerra tipos de unidades, características distintivas e inter-
relações semânticas estruturais comuns para todas as línguas. Afinal, toda língua
possui componentes de significado suscetíveis de serem classificados como:
entidades - eventos - atributos – relações. Não é possível afirmarmos o mesmo, a
respeito da estrutura superficial. Nem toda língua possui as mesmas classificações
gramaticais. Existem línguas que são constituídas por elementos que outras não
59
possuem. O Chinês, por sua vez, não possui flexão verbal e casos em que não
precisa nem de verbos, Por exemplo, na expressão
: - Nǐ lèi ma? Wŏ hĕn lèi -
Literalmente: “você cansado(a)?- Eu muito cansado(a)”. Já a língua portuguesa e
suas irmãs latinas são riquíssimas flexionalmente. Em se tratando de componentes
de significado, as
Proposições semânticas que podemos postular para todas as
línguas são formadas por
conceitos (agrupamentos de componentes de significado)
relacionados entre si através de uma
BCN (Base Conceitual Nuclear) que pode
encerrar um
evento, uma entidade, um atributo ou uma relação. As entidades são
os seres racionais ou irracionais e coisas em geral (substantivos) os eventos são as
ações (verbos), os atributos as qualidades (adjetivos) e as relações são os dêiticos
e outros referenciais paradigmáticos.
Em uma estrutura profunda também podemos observar relações de seqüência
cronológica. Os exemplos que seguem foram elaborados pelo autor:
a) Paulo encontra com Pedro na Praça
b) Paulo e Pedro conversam
c) Paulo vai embora
d) Pedro vai embora.
Em qualquer língua é possível se codificar essas proposições empregando
estruturas de superfície próprias de cada uma. Em Português poderíamos
representá-las de várias maneiras. Escolhemos as seguintes opções para isso:
a) Paulo encontrou-se com Pedro na praça. Conversaram. Pedro foi embora. Em
seguida, Paulo também se foi.
b) Paulo encontrou-se com Pedro na Praça e conversaram. Logo, Paulo foi embora
e Pedro também.
60
c) Paulo se encontrou com Pedro na Praça. Depois que conversaram, Pedro foi
embora e Paulo foi em seguida.
d) Paulo se encontrou com Pedro na Praça para conversar. Quando a conversa
acabou, Paulo saiu e, logo após Pedro saiu também.
Assim, na estrutura de superfície, as unidades se agrupam numa hierarquia
formada por elementos cada vez maiores. Larson (1989), apresenta essa
organização da seguinte forma:
Os morfemas (raízes e afixos) se unem para formar palavras. As
palavras se juntam para formar frases. As frases se combinam em
torno de um predicado para pra formar cláusulas, as cláusulas
unidas formam orações, as orações se combinam em parágrafos,
os parágrafos em unidades do discurso de vários tipos e todos eles
se unem para formar um texto, ou seja; uma narração, uma carta,
um sermão, ou seja, lá o que for.
Tem tudo a ver. Antes, porém, focalizaremos o cerne da questão: a própria
paráfrase. Nossa intenção é orientar professores para que seus aprendizes de
línguas estrangeiras possam trasladar uma idéia semelhante, um mesmo significado,
de uma língua para outra. Não se trata apenas de transformar frases, mas de
TRANSformá-las. Para que se possa realizar de maneira adequada essa
transmissão de significado, os parafraseadores deverão ter consciência das formas
explícitas e implícitas do significado, além daquelas que previamente mencionamos
e que fazem parte da estrutura profunda. A relevância da paráfrase objetivando uma
maior clareza de expressão pelos emissores e melhor compreensão das mensagens
pelos receptores reporta-nos aos significados:
E o que tudo isso tem a ver com paráfrase?
61
De referência
De organização
De situação
O primeiro (significado de referência) propicia a base da comunicação humana
em termos gerais de conteúdo. Por exemplo:
“Banana” - estamos familiarizados de certo modo com esta palavra e
associamos rapidamente a palavra com essa fruta. Também, nos referimos a
eventos, atribuições ou relações que possamos perceber ou imaginar. Uma
oração gramatical possui significado porque se refere a eventos que ocorreram, que
podem ocorrer ou que está ocorrendo.
O enfoque do significado de referência, por um lado, se concentra na sua
estrutura semântica. Por outro lado, os fragmentos de informação podem ser
combinados em feixes com grande variedade.
Esse processo resulta no que chamamos significado de organização - que
organiza a informação de referência dispersa, de modo que resulte um texto mais
coerente. Identifica-se o significado de organização pela presença de dêiticos,
repetições, anáforas, hiperônimos e outros elementos que formam a estrutura
textual.
Além da referência e da organização a situação desempenha um papel
importante para a compreensão de qualquer texto. Isso nos faz perceber que sem
contexto dificilmente existirá comunicação. Nosso interesse maior é o contexto
pedagógico cuja familiaridade proporciona elementos que possibilitam observar a
eficácia da paráfrase como auxiliar no processo cognitivo envolvendo a busca de
opções sintáticas preenchedoras de lacunas da compreensão.
62
Quando um aprendiz é questionado a respeito do conteúdo de um texto, seja
ele em língua estrangeira ou em língua materna, sua primeira reação é reflexiva.
Desencadeia um processo cognitivo idiossincrático no qual irá rebuscar os
elementos constituintes de sua compreensão para formular uma resposta satisfatória
ao questionador. Esse quadro retrata uma situação muito peculiar para todos os que
lidam com o processo de ensino/aprendizagem de línguas ou disciplinas que
envolvam esse tipo de procedimento. Nosso caso trata de um tópico específico de
Lingüística Aplicada ao ensino de inglês como língua estrangeira, mas pode vir a ser
útil para quem se interesse por esse tipo de problema.
Todo processo de ensino/aprendizagem invariavelmente implica um momento
de avaliação, de verificação. É quando o aprendiz demonstra se compreendeu ou
não o conteúdo do questionamento.
Nesse processo idiossincrático, cada indivíduo ativará sua cognição de modo
específico, em observância a um dado fluxo, cujo esquema assim esboçamos:
63
Quadro 04. Esquema de Reformulação Semântica
Ao ser questionado, o aprendiz rebusca em seus arquivos memória - os
equivalentes componentes nucleares da estrutura semântica daquilo que acredita
ser a resposta. Caso seja um aluno mais reflexivo, selecionará os elementos dentro
de uma classificação conceitual adequada ao seu nível de compreensão. Os
campos semântico e lexical tenderão para uma congruência sólida, conferindo à sua
produção textual coesão e coerência suficientes para sustentar a comunicação. Por
outro lado, caso seja um aprendiz um tanto vagaroso, menos interessado, ou
Núcleo semântico
Base conceitual
idéias
I M A G E N S
Processamento cognitivo
Refo
rmulação semântica
enfoque
Experiência
Representação falada e escrita
64
desinformado, essa determinação dos elementos conceituais resultará em uma
estrutura semântica mal-formada ou mesmo confusa para o próprio aprendiz. Daí
nossa convicção de que a paráfrase é realmente um processo da mais alta
importância para a reestruturação semântica em estratégias pedagógicas que
ofereçam ao usuário de línguas múltiplas opções sintático-semânticas que
preencham as lacunas da compreensão.
Stockwell (1977), apresenta algumas condições relevantes para a interpretação
semântica através de relações parafrásticas. Dentre vários aspectos da maneira
como as estruturas sintáticas se relacionam com o sentido, considera duas relações
diretas entre a sintaxe e o significado: estruturas hierárquicas e rótulos
categoriais. No entanto, dispensa uma atenção especial para uma relação que
considera indireta: as relações hierárquicas e categoriais têm a ver com a maneira
dos ouvintes e falantes usarem a sintaxe para atribuírem significados mesmo para
as estruturas mais básicas que ele denomina “sentenças atômicas de uma língua”.
Esse relacionamento indireto que afirma “não ter nada a ver com a interpretação de
sentenças atômicas, mas, apenas com a interpretação de sentenças complexas – as
que são formadas tanto pela adição de constantes semânticas às sentenças
atômicas ou pela fusão de duas ou mais sentenças atômicas (com ou sem a adição
de constantes)” é o que ele chama de sinonímia ou paráfrase.
As idéias que acabamos de expor não ficariam completas se ficassem isoladas
dos aspectos sintáticos mais abrangentes que expomos no tópico seguinte.
65
2.5. Aspecto sintático
Stockwell (1977), nos lembra que uma simples transação comunicativa humana
traz implicações que merecem considerações profundas. Dificilmente nos damos
conta da ampla gama de artifícios sintáticos empregados numa dessas atividades
em que a linguagem é seu principal veículo. O mínimo de participantes em tal
processo comunicativo é de duas pessoas o falante e o ouvinte. Evidentemente, é
imprescindível incluir nesse processo o escritor e o leitor. A transação completa é o
que chamamos de discurso. É dentro do discurso que vamos encontrar uma
variedade quase ilimitada de objetivos e intenções que os atos de fala podem
caracterizar, tais como afirmações, ordens, promessas, pedidos de informações,
persuasões, novas informações.
Em correlação com esse tipo de objetivos, encontramos, na maioria das
línguas, formas sintáticas especiais como declarativas (formas de se asseverar),
introdutórias (para se apresentar novas informações), interrogativas (para se
perguntar ou pedir informações ou coisas) e imperativas (para se dar ordens às
pessoas). Em outros tipos de objetivos a língua pode não fornecer formas especiais.
Talvez seja necessário incluir nas sentenças uma especificação léxica para tal
objetivo; por exemplo, fazer com que o leitor ou o interlocutor compreenda uma dada
sentença que implique uma promessa, o leitor ou o interlocutor poderá afirmar como
os políticos: “eu prometo que...”, ou também podem, caso haja contexto suficiente,
apenas dizer “eu vou” ou “eu farei” que será interpretado como uma promessa.
Mas, caso a intenção do emissor da mensagem não esteja suficientemente clara, o
66
que fazer? Minha própria compreensão mostra ser bastante evidente e necessária a
introdução da paráfrase para o devido esclarecimento de tais frases. Afirma, ainda,
Stockwell (1977), que os diálogos devem incluir na maioria de seus enunciados dois
tipos de sentido:
1) Substancial
O que é pressuposto a respeito de que ou quem. Também chamado de
conteúdo proposicional pelos estudiosos de lógica e que possui dois aspectos: um
de predicação e outro de referência, correspondendo aproximadamente a locuções
verbais e nominais respectivamente.
2) Intencional
Qual é a relação do aspecto substancial com o emissor, com o receptor e com
o resto do mundo? Ao enunciar o aspecto substancial o emissor pretende o quê?
Informar algo ao ouvinte? Questioná-lo? Ordenar algo?, Adverti-lo? Desculpar-se?
Dar-lhe boas vindas? O que mais? Em se tratando de comunicação oral, caso esses
aspectos não sejam captados, os emissores apelam normalmente para que tipo de
estratégia? A paráfrase tem seu lugar de destaque para realizar o imprescindível
papel de oferecer alternativas sintáticas semanticamente mais esclarecedoras para
melhorar a compreensão da mensagem original.
Assim, enfatizamos que é necessária a reconstrução do sentido naquilo que se
ou se ouve, especialmente em contexto escolar. Tal convicção nos motiva a
exortar aqueles que trabalham e se preocupam com uma comunicação eficaz e
esclarecedora para que ofereçam condições em que seus aprendizes possam
identificar e reproduzir opções semântico-sintáticas cada vez mais compreensíveis e
esclarecedoras seja em língua materna ou língua estrangeira.
67
Acho conveniente partilhar aqui o pensamento de Stockwell (1977), ao dizer: “A
goal of the speaker is to deepen the pool of information and pressupositions that he
shares with the hearer, thereby reducing the burden of communication by eliminating
the need to supply the context”.
21
The Longman Student Grammar of Spoken and Written English (2002: 25), é a
primeira gramática em língua inglesa a apresentar a paráfrase como teste ou
instrumento para solucionar o problema de compreensão de termos constituídos
pela forma “ing” como modificador ou não de substantivos subseqüentes:
Noun + noun adjective + noun
Living standards living creatures
Dancing classes dancing children
Working conditions a working mother
Desde que substantivos e adjetivos podem modificar o substantivo, a única
maneira de se demonstrar a diferença nesse caso é a aplicação de um TESTE DE
PARÁFRASE, ou seja: tentar expressar a mesma idéia de modos diferentes.
Se existe paráfrase onde a forma “ing” apresenta a característica de substantivo, a
construção consiste então de substantivo + substantivo. Se a paráfrase que contiver
uma locução prepositiva for adequada, a construção deve consistir de uma forma
assim:
“ing”-noun + noun: living standards = standards of living.
Dancing classes = classes for dancing.
21
: “A meta de todo orador é aprofundar a base comum de informações e pressuposições
partilhadas com o(s) ouvinte(s) ao reduzir os ruídos da comunicação eliminando a necessidade de
fornecer contextos”.
68
Por outro lado, uma paráfrase com uma cláusula relativa (composta de that, which
ou who) indica que a construção consiste de: Ing-adjective+noun:
Living creatures = creatures which are still living;
Dancing children = children who are dancing.
A citada gramática ainda apresenta à página 323, um exercício sobre o uso da
paráfrase em cláusulas relativas:
“Nominal relative clauses can be paraphrased with a general head
noun+relative clause” “Yes, Burbidge Road. Which is
where Carlos
used to live.
Paraphrase: Which is the place where Carlos used
to live
. What baffles me is how few of them can spell.
Paraphrase
: The thing that baffles me is...”
Segundo Robinett (1973), o uso de paráfrase para se testar sinonímia é
freqüentemente mencionado pelos gramáticos transformacionais. Para essa
lingüista, o processo é muito útil para o ensino de línguas, pelo menos nos estágios
mais avançados do ensino /aprendizagem de línguas estrangeiras. Além disso, a
possibilidade de seu uso para incrementar o vocabulário e praticar variantes
estilísticas lhe parece intrigante.
Eis alguns exemplos fornecidos pela autora:
1. “He apologized for being late.
2. He was apologetic for being late
3. He depends on his father.
4. He is dependent on his father
5. He thanked them for their contribution
6. He was thankful for their contribution”.
Nessas frases, a autora chama a atenção para o uso da preposição que se
mantém tanto na frase original quanto na paráfrase, reforçando assim esse uso em
benefício dos aprendizes. Robinett questiona o último par de frases quanto à
constituição da paráfrase, ou seja: se o sentido continua preservado na frase de
69
número 6, considerando-o como sentido relacionado, porém um tanto diferente.
Como exemplos mais freqüentes, exemplificam a forma de paráfrase na voz passiva.
1. John gave the girl a ring
2. The girl was given a ring by John
3. A ring was given (to) the girl (by John).
A mencionada autora combina a idéia de paráfrase com o conceito de caso
nesses três exemplos e percebe o valor da ênfase, o que as faz estilisticamente
diferentes.
A seguir, apresentamos um quadro que resume as estratégias parafrásticas
analisadas nesta seção.
Quadro 05. Estratégias parafrásticas
Termos constituídos pela forma “ing” como modificador ou não de
substantivos subseqüentes.
Noun + noun adjective + noun
Living standards living creatures
Paráfrase:
Standards of living creatures which are still living
Sinonímia.
He depends on his father = He is dependent on his father
John gave the girl a ring = The girl was given a ring by John.
Cláusula relativa nominal
Yes, Burbidge Road. Which is where he used to live
Paráfrase
Which is the place where he used to live
70
Nosso ponto de vista é que devemos oferecer o maior número possível de
opções semânticas aos aprendizes, no que se relaciona à compreensão de textos e
sua respectiva reestruturação, desde que as bases conceituais sejam preservadas.
A nosso ver, a compreensão textual fundamenta as bases do processo
tradutório. Conseqüentemente, se não houver uma perfeita compreensão textual o
processo tradutório está fadado a entrar em colapso. O capítulo seguinte traz uma
breve análise da paráfrase em uma relação direta com a tradução.
71
CAPÍTULO 03
PARÁFRASE E TRADUÇÃO
3.1. A Paráfrase no processo tradutório
O conceito de tradução é comumente apresentado pelos dicionários como o ato
ou efeito de se traduzir. Lingüisticamente é considerado uma operação ou processo
que consiste na passagem de um enunciado emitido numa língua (fonte) para uma
outra língua (alvo), ambas conhecidas pelo tradutor.
O processo tradutório não é limitado à comunicação entre usuários de
diferentes idiomas. Uma língua materna qualquer pode apresentar expressões que
são desconhecidas ou de baixa freqüência entre seus usuários, motivando uma
necessidade de re-estruturação semântica para que sejam compreendidas.
As variantes lingüísticas e outros fatores que podem levar seus usuários a
representarem suas idéias de várias maneiras compelem-nos a utilizar a paráfrase
como estratégia para a compreensão de enunciados que pareçam incoerentes ou
ininteligíveis.
A multiplicidade de significados de algumas palavras nos leva a um raciocínio
mais apurado a fim de que possamos identificá-las no contexto em que se inserem.
Com freqüência, uma língua que está sendo traduzida exige que a informação seja
bastante explícita para evitar-se a manifestação de incoerência tradutória.
Apesar dos cuidados que se possa tomar para obter entrosamento entre a
coesão e a coerência textuais e ainda que o próprio contexto da frase ou da
passagem como um todo possa ajudar na compreensão, é preciso mais clareza na
exposição de idéias.
72
A multiplicidade de sentidos de certas palavras pode motivar o uso estratégico
da paráfrase. Larson (1975), classifica os significados como:
Primário
O significado que uma palavra possui em primeiro lugar, ou seja: aquilo que ela
sugere fora do contexto para a maioria de seus usuários. Ex.: The
world is old but it
is wonderful. – O mundo é velho, mas é maravilhoso (tradução nossa).
Secundário
Significados secundários são aqueles que as palavras trazem e que se
relacionam entre si e com o significado primário, partilhando a mesma linha de
sentido. Ex.: It belongs to the world of ideas. Pertence ao mundo das idéias.
(tradução nossa).
Figurativo
Sentidos figurativos baseiam-se nas relações associativas com o sentido
primário. Ex.: I have sent him that he may encourage the world. -
Eu o enviei para que ele possa encorajar o mundo. (tradução nossa).
Figuras de linguagem, elementos de natureza retórica podem tornar o processo
tradutório bastante complicado, exigindo o uso da paráfrase.
A metonímia, com suas relações associativas nas quais substituem-se alguns
termos por outros, pode, tanto quanto a sinédoque, constituir desafio para uma
tradução mais precisa.
Exemplo:
The whole city gathered together. (metonímia) – A cidade inteira juntou-se.
My soul magnifies the Lord. (sinédoque) - minha alma exalta o Senhor. (tradução
nossa).
Se houvesse tradução literal poderíamos ter algo assim:
Minha alma amplia o Senhor.
73
Ou, ainda, assim:
Minha alma
aumenta o Senhor.
A
hipérbole deve ser levada em consideração, pois pode induzir ao exagero.
Em muitos casos, não deve ser traduzida literalmente. Vemos claramente a
necessidade de uma reconstrução sintático-semântica, ou seja, a utilização da
paráfrase. A seguir, fazemos uso de mais um exemplo oferecido por Larson (1975):
Exemplo: Matt. 11:18
“For John came neither eating nor drinking...
If translated literally this would not be true. Rather, the idea to be conveyed is that
“John didn’t eat at banquets or drink strong drinks”
Porque João não veio para comer nem beber…
Se traduzido literalmente não teríamos a verdade. Ao invés disso, a idéia que
se deseja transmitir é: “João não participava de banquetes nem tomava bebidas
fortes”. (tradução nossa).
As palavras com sentido grosseiro e ofensivo são, na maioria das vezes,
evitadas pelos tradutores que as substituem por eufemismos.
Quando não existe opção para substituição de certas expressões idiomáticas
que só existam na língua fonte, como então proceder?
Obviamente, a paráfrase poderá ocupar essa lacuna na comunicação.
O campo semântico referente à negação implica uma série de cuidados no que
diz respeito à tradução de certas línguas-alvo que possuam uma sintaxe diferente ou
pouco conhecida de usuários da língua receptora. Eis um exemplo da língua
japonesa.
Hai e Iie.
74
Esses dois termos aparentemente possuem a carga semântica de seus
equivalentes em português para os aprendizes brasileiros de língua japonesa. Não é
bem assim. Quando se responde a perguntas afirmativas, o uso é semelhante ao de
português. Exemplo:
1.Sore wa tsukue desu ka? = Isso é uma mesa/banca?
Hai, soo desu. = Sim, é (isso).
2. Sore mo tsukue desu ka? = Isso também é uma mesa/banca?
Iie, soo dewa arimasen = Não,(isso) não é.
No entanto, ao se responder perguntas negativas o uso é completamente
inverso, chegando a ser desconcertante para os aprendizes. Vejamos os exemplos:
3. Sore mo tsukue dewa arimasen ka? = Isso também não é uma banca?
Hai, soo dewa arimasen = Não, (isso) não é.
Iie, soo desu = Sim, (isso) é.
Entretanto, o observador atento, ao examinanar as frases cuidadosamente,
verá que na frase número 1 a resposta emprega a expressão “hai, soo desuque
literalmente seria “Sim, (assim/isso) é”, ou “É isso” / É assim”. Enquanto na resposta
da frase número 3, a expressão literalmente emprega o termo “hai” = “sim” para uma
resposta que significará um “não “.
Literalmente seria “Sim, assim não é” ou o equivalente: “Sim, não é dessa
forma”. Melhor seria concordarmos com quem faz a pergunta, assim passamos a
compreender o que se questiona. Nossa resposta seria algo assim: “Sim, concordo
com você ! ou “Isso mesmo, não é uma banca, não”. ( Sim, uma banca não é).
A segunda resposta “Iie, soo desu” também gera um pouco de confusão
porque corresponde literalmente a “não, é isso mesmo” ou ainda, utilizando a
75
estratégia adotada com o item anterior, teríamos o sentido de “Não, isso é uma
banca” ou melhor dizendo:
“Não, não é o que você pergunta, trata-se de uma banca, mesmo”.
Soaria como uma sentença matemática. Negativo, eu compreendo que é afirmativo.
Ou ainda, “Não! Não concordo com você. Isso é uma banca mesmo!”.
Frases como essas que possuem significado secundário em algumas
instâncias como no exemplo número 3 em que poderão facilmente ser interpretadas
como se apresentassem o sentido primário. Os alunos que ainda se encontram nos
estágios iniciais de aprendizagem de línguas estrangeiras tendem a interpretar os
itens lexicais em seu sentido primário com uma frequência maior de que em seu
sentido secundário ou mesmo figurado. Portanto, cabe aos facilitadores de sua
aprendizagem a tarefa de monitorar o uso da paráfrase, oferecendo o maior número
possível de opções sintáticas com valor semântico equivalente.
Precisamos considerar também situações comunicativas em que o falante
expressa o contrário daquilo que deseja comunicar. Por exemplo, em um dia
bastante nublado e frio alguém poderá dirigir-se a um amigo do seguinte modo:
“Oba, hoje está perfeito para pegarmos um bronze, não acha?”.
O falante, nesse caso, está expressando exatamente o oposto daquilo que
enunciou. Usou “perfeito” ao invés de “impossível”. Esse tipo de relação entre o
sentido e as formas gramaticais é chamado de ironia.
Nessa concepção, podemos usar uma afirmação, quando na verdade
desejamos exprimir uma expressão negativa. Uma tradução que possa transmitir a
dinâmica e o significado implícitos na base conceitual nuclear do texto original
aproxima-se sensivelmente de uma versão fiel.
76
É possível que o leitor reflita e questione: Como identificamos uma tradução
relativamente fiel ao texto original? Beekman-Callow, (1974: 31/32) afirmam que se
“a tradução comunica o mesmo sentido do original e se a comunicação é tão clara e
idiomática quanto o original pode então ser chamada de tradução fiel”.
Nida (1984), caracteriza a tradução como uma arte. Para ele, essa arte também
é uma ciência e uma habilidade. Como arte, se expressa através da estética, pois
muitos escritores se destacam como artistas da linguagem. Do ponto de vista
científico, traduzir implica princípios diretamente relacionados com a comunicação
interlingüística que abrange investigações e análises complexas. Como habilidade,
as pessoas podem adquirir e desenvolver uma capacidade de realizar melhor um
trabalho de intercomunicação.
Esse autor também compara a paráfrase com a tradução. Considera a natureza
interlingüística da comunicação ainda obscura quando se confronta paráfrase e
tradução. Sustenta que as pessoas acham que a tradução é correta e a paráfrase
não, especialmente quando se trata de textos bíblicos. Mas, todas as boas
traduções são inevitavelmente mais longas que as originais porque devem expressar
não somente aquilo que está no texto-fonte, mas, devem incorporar as categorias
sintáticas que a língua receptora exige. Em um certo sentido, diz Nida (op.cit), que
“todas as boas traduções inevitavelmente envolvem a paráfrase, mas, isso não
significa que qualquer paráfrase seja uma boa tradução
Algumas pessoas podem pensar que a paráfrase seja apenas uma faceta da
comunicação interlingüística, ou seja, existe simplesmente porque duas línguas
podem ser tão diferentes que uma delas tem que fazer concessões para as
diferenças através da paráfrase. Na obra citada, Nida afirma que “a paráfrase existe
em qualquer língua” e por isso será sempre possível se falar essencialmente acerca
77
da mesma circunstância ou evento, de diversas maneiras. Por exemplo, pode-se
falar do fato de que pouca probabilidade de chover através das seguintes
expressões:
A probabilidade de precipitação pluvial aproxima-se de zero.
É provável que não chova mesmo
Há pouca chance que chova.
Podem deixar seus guarda-chuvas em casa hoje.
Assim, compreendemos que Nida (1984 op.cit), postula a condição de
Universal Intralingüístico para a paráfrase, portanto,caberia o seguinte
questionamento:
Será a paráfrase um processo Universal usado para se conferir
maior inteligibilidade às sentenças e textos que foram mal elaborados /
interpretados?
Os aspectos lingüísticos inerentes à comunicação numa análise qualquer
sempre necessitarão de referenciais que os complementem, como é o caso do
processo tradutório que necessariamente irá respaldar-se numa ampla rede de
estruturas semânticas para que seus resultados sejam plenamente satisfatórios. O
tópico a seguir esclarece um pouco essa questão.
3.2. Paráfrase – Estrutura semântica
Se considerarmos a existência de uma relação direta entre a gramática e a
semântica, podemos analisar a estrutura superficial em termos de itens
componenciais. Os eventos são representados por verbos, os participantes por
substantivos e as relações por marcadores específicos. Assim, delineam-se três
formas de superfície que mantém estável o significado original de comunicação.
78
Essas formas superficiais estão estabelecidas basicamente sobre o núcleo
semântico, a estrutura profunda, ou como preferimos chamar, a
Base Conceitual
Nuclear, composta de todos os conceitos, proposições e conjuntos de proposições
que provavelmente possibilitarão a realização de estruturas parafrásicas. Em
seguida, temos uma estrutura profunda representada por vários segmentos que dão
forma à estrutura superficial.
Ontem João foi à cidade. Em seguida João comprou um computador. Depois,
João levou o computador para casa. Então, João mostrou o computador à
Mirella. Por isso, Mirella ficou muito contente.
Aqui, a paráfrase se apresenta como estrutura superficial, possibilitando a
produção de pelo menos três maneiras diferentes de comunicar o significado
pretendido:
a) Ontem João foi à cidade e comprou um computador. Levou-o para casa e
mostrou-o à Mirella que ficou muito contente.
b) João comprou um computador ontem quando foi à cidade. Ao levá-lo para
casa, mostrou-o à Mirella que ficou muito satisfeita.
c) João comprou um computador ontem na cidade. Mirella ficou muito feliz quando
ele o levou para casa e o mostrou a ela.
Ao reformularmos a estrutura sintática, estamos conservando ao mesmo tempo
o núcleo conceitual. Assim, a paráfrase como foi empregada nos exemplos
a, b e c,
apresenta-nos uma transferência de significado, ou seja: o que a mesma põe em
relevo nesse processo é o sentido original das proposições.
Pode acontecer que o emissor / produtor da mensagem encontre dificuldade na
reformulação textual de uma língua estrangeira cuja cultura ofereça conceitos
79
particulares que não lhe sejam familiares. Nesse caso, é aconselhável o uso da
paráfrase porque só assim será possível anular o viés que exista entre a gramática e
a semântica, bem como para esclarecer palavras que ofereçam complexidade
conceitual. A seguir teremos alguns exemplos que explicitam melhor essa idéia.
Larson (1989), menciona a possível necessidade de se traduzir um termo não
existente na língua receptora por meio de um vocábulo genérico acompanhado de
uma frase que especifique os demais componentes de significado: ou seja, através
da paráfrase.
É através da palavra original que se poderá identificar:
componente genérico
componente contrastivo
função da palavra
Em um contexto “x” onde exista uma palavra com significado genérico que
possa ser parafraseada com vocábulos equivalentes na língua receptora, esse item
lexical pode ser modificado de quatro maneiras diferentes:
a) Explicitando-se a forma
b) Explicitando-se a função
c) Explicitando-se a forma e a função.
d) Modificando-se a palavra através de uma comparação com alguma coisa ou
evento que exista na língua receptora.
A palavra com sentido genérico pode muito bem servir de base para a
formação de equivalentes que se adaptem à língua receptora. É possível utilizá-la
quando não se focalizar outros componentes de significado nem na sua função. No
entanto, a paráfrase pode ser de grande valor para deixar transparente o significado
da forma ou função.
80
Beekman & Callow(1974) apud Larson (1975 op. cit.), apresentam exemplos criados
por tradutores para traduzir palavras sem equivalentes na língua receptora através
de:
Modificação mediante especificação de características da forma (palavra genérica
em itálico):
Tesouro - Muitas coisas valiosas (Mazahua, México)
Mar - Água plana (Wantoat, Nova Guiné)
Vinho - Suco de uva fermentado (Hopi, E.U.A)
Farinha - Grão seco moído (Otomi Serrano, Mexico)
Incenso - Aquilo que produz fumaça (Ifugao, Filipinas)
Modificação mediante especificação da função (palavra genérica em Itálico):
Centurião - Homem que comanda 100 soldados
Sinagoga - Casa onde se estudam as doutrinas de Deus (Wantoat, N. Guiné)
Barco - Aquilo com o qual podemos andar sobre a água. (Pame de Chichimeca,
Mexico)
Âncoras - Aquelas coisas que fixam as embarcações (Chol, Mexico)
Timão - Táboa para guiar (a embarcação) [Azteca de Tetelcingo, Mexico]
Simplesmente, transmitir o significado da palavra ou frase original, modificando
a palavra genérica através da forma e função, não é suficiente. Haverá situações
em que será necessário se modificar a palavra genérica tanto em forma quanto em
função.
Os exemplos a seguir também são de Beekman & Callow (1974 op.cit.).
Modificação por especificação tanto da forma quanto da função:
Vela maior - Lona suspensa em uma haste na parte dianteira de uma embarcação
para que o vento a empurre (Azteca de Tetelcingo, Mexico)
81
Vela maior - Lona grande pregada na popa da embarcação ... a lona que recolhe o
vento par que a embarcação siga o caminho. (Chinanteco de Lalana, Mexico).
Essas modificações do termo genérico que até aqui apresentamos são de um
mesmo núcleo semântico, as quais percebemos como paráfrases. Além disso, existe
outra possibilidade de modificação que é a comparação. É necessário que
compreendamos que nem a forma nem a função se fazem explícitas nesse caso. O
que ocorre é uma comparação com algo conhecido, familiar à língua receptora e
para o quel existe um vocábulo.
Modificação mediante uma comparação:
Timão - Coisa semelhante a um remo (Otomí Serrano, México)
Lobo - Animal como um cão feroz (Aguaruna, Peru).
O mais importante em todo o processo de escolha de opções é o uso. A
importância do papel que desempenha a palavra no texto original é prioridade na
escolha da paráfrase. Dependendo do enfoque original que o texto fonte apresente,
dever-se-á incluir, na modificação, a função ou a forma e, se necessário, os dois.
Para que obtenhamos um proveito máximo na elaboração da paráfrase, cuidados
deverão ser tomados para que a modificação sempre esclareça e melhore a
compreensão pelo receptor da comunicação.
Quando produzimos ou compreendemos uma sentença, imediatamente
formam-se imagens mentais das relações existentes entre os eventos ou entidades
que permeiam o universo onde tais imagens estejam situadas. Para que fiquem
melhor caracterizadas, devemos presumir que exista aí uma interpretação semântica
ou significado. Representar oral ou graficamente esse aspecto é caracterizá-lo
como representação semântica. Não deixa de ser uma construção abstrata porque
82
não representa um todo semântico. Sua simplicidade possibilita escolhermos os
aspectos que mais nos interessam, associados às ações, idéias e coisas que são
peculiares às arbitrariedades da língua. Não se caracteriza como uma estrutura
linear, parece mais ser uma estrutura multidimensional onde seus componentes -
entidades e eventos - se agrupem baseados em relações hierárquicas.
No processo de tradução, o que é primordial consiste na mudança das formas.
Lingüisticamente, estas formas (palavras, frases, parágrafos, etc.), também se
denominam estruturas de superfície. São basicamente a parte estrutural da língua.
A paráfrase também obedece a esse princípio de tradução, mesmo sendo utilizada
em uma língua materna. O objetivo do processo é a transmissão do significado que
deverá manter-se sem distorções.
A estrutura de superfície contrasta coma a estrutura profunda, ou seja, a parte
semântica que se constitui de elementos subjacentes. E muito mais essa parte que
serve de base para as traduções e para a reestruturação semântica.
Se atentarmos para uma perspectiva bastante significativa com respeito à
compreensão de estrutura profunda e de superfície, veremos que é aconselhável
distinguir entre aqueles aspectos da língua que o falante tem e que não tem escolha
O primeiro caso (aspectos em que o falante tem escolha) relaciona-se com a
semântica. Como muitos lingüistas distinguem, “o significado só é possível quando o
falante tem a alternativa de dizer algo distinto”. No segundo caso, se encontram os
componentes bem mais automáticos da língua, ou seja: aqueles que entram num
processo mediante o qual as decisões do falante se expressam de um modo
convencional que o possibilitem comunicar-se com outra pessoa.
Queiramos ou não, o significado daquilo que desejamos expressar estará sob
influência da situação de comunicação. Teremos então a inclusão de fatores como a
83
identidade do falante, do receptor, tradições culturais, etc. O falante ou escritor
escolhe o que deseja comunicar, tomando como base os diferentes fatores na
situação comunicativa. Assim que determinar o significado, deverá submeter-se às
restrições das formas gramaticais, lexicais e fonológicas da língua em que efetua a
comunicação do significado escolhido.
Aquilo que consideramos ser a Base Conceitual Nuclear Partilhada (BCNP)
incorpora aspectos semânticos integrantes da estrutura profunda. O falante pode
partir dessa base e fazer então uma escolha. Pode até fazê-la com certa carga
semântica emotiva, ao invés de uma mera comunicação que empregue
elementos mais previsíveis de uma estrutura superficial. Poderá, então, decidir-se
por uma forma e não outra. Ou seja, estará certamente parafraseando.
Em se tratando de um significado que seja fundamentado na emotividade, que
agregue um enfoque especial, temos que refletir mais atentamente sobre os
aspectos forma e significado. Para melhor percebermos esse tipo de escolha
influenciada pelo fator emocional, mencionaremos uma passagem que poderá muito
bem ilustrar essa idéia: Um pai vem insistindo com o filho, durante um bom tempo,
para que o mesmo arrume seu quarto. cansou de reiterar esse pedido. A
comunicação básica é: “Arrume seu quarto, por favor”. À beira da irritação, seu
estado emocional um tanto abalado certamente influirá na escolha da forma de
comunicar-se com o filho.
No entanto, o bom senso orientando-lhe a escolha aponta-lhe uma paráfrase
que não recorre a uma forma imperativa. Ao invés disso, uma interação como
“Quando é mesmo que você vai arrumar o seu quarto?” Temos assim, uma estrutura
superficial com uma forma não rotineira, não esperada na maioria desses casos;
logo, lingüisticamente criativa. O comum, o esperado aqui seria mesmo uma frase
84
com um imperativo. Mesmo assim, sabemos que uma forma interrogativa dessas
contém o mesmo núcleo semântico, a mesma base conceitual que está presente na
proposição inicial. Em suma, compreendemos que o falante examina a situação
antes de fazer a escolha de seu enunciado, o que não deixa de ser a opção por uma
comunicação mais adequada ao contexto imediato. Essa escolha estabelecida em
um fulcro sustentador do conceito nuclear é uma paráfrase, uma opção sintática que
se vincula diretamente ao núcleo semântico.
Esse estado de alerta dos falantes no processo comunicativo, aliado à
liberdade de escolha de várias opções de enunciados vinculados a uma estrutura
profunda, faz parte do sistema de representação das proposições. Assim, mais
informações a esse respeito serão adicionadas no próximo tópico.
3.3. Reciprocidade lexical
A maioria das línguas apresenta uma classe de palavras denominadas
recíprocas. Tomemos como exemplo as palavras dar e receber. Ambas possuem
uma relação recíproca que possibilita a construção de frases com alto grau de
reciprocidade.
Exemplo:
João deu o livro à Maria. <-----> Maria recebeu o livro de João. Nessas duas frases é
bem perceptível a equivalência de significado por haver reciprocidade nos dois
verbos-chave.
As ações que permitem reciprocidade como: dar-receber, aprender-ensinar,
oferece -recusar, perguntar-responder, são ótimas alternativas no processo de
reformulação sintático-semântica, implícito em atividades pedagógicas que desafiam
85
o aprendiz de línguas a estimular sua criatividade construindo paráfrases com esse
tipo de verbos.
Os sinônimos com grande similaridade lexical são relativamente reduzidos e,
mesmo assim, existem nuances de significado além dos contextos de uso que
jamais serão os mesmos. Palavras como:
gordo, gordinho, gordão, rechonchudo,
nos lembram que como falantes de Português do Brasil temos algumas restrições
em seu uso, embora compartilhem uma mesma base conceitual nuclear sinônima.
Ter uma base conceitual sinônima significa que agregam matizes de significados ora
favoráveis, ora desfavoráveis. Isso também quer dizer que a palavra pode possuir
aspectos diversos quanto à sua adequação ao contexto situacional, ou seja, pode
ser apropriada para uma situação e não para uma outra qualquer.
Os termos auxiliar de seviços gerais, empregado(a) de limpeza e servente se
enquadram nos exemplos dados anteriormente como diferentes variantes léxicas
com uma mesma base conceitual. O primeiro termo é bastante comum em editais de
concurso, o segundo é usado em situações informais e o último frequentemente
usado em ambiente escolar.
Com antônimos, também, podemos construir paráfrases com um potencial
contrastivo, dialético. Em atividades que requeiram a reconstrução frasal, quando o
aprendiz esquece momentaneamente um vocábulo que possua antônimo, poder-se-
á fazer uso dele, com a frase na forma negativa.
Para ilustrarmos a idéia sobre a formação de paráfrases com a utilização de
antônimos, apresentamos os seguintes vocábulos que, na maioria das línguas,
expressam conceitos opostos:
Muito – pouco
Abrir – fechar
86
Claro – escuro.
Se dissermos “Essa quantia de dinheiro não é muito”, também poderemos dizer
o mesmo, empregando o antônimo com uma afirmativa: “Esse valor em moeda
corrente é pouco”.
Assim, quando alguém diz: “Esse quarto está escuro”, poderia também ser
expresso como: “Este cômodo não está claro”.
É importante que nas estratégias promotoras do uso da paráfrase com
antônimos ou sinônimos, ou mesmo palavras recíprocas, o facilitador do processo de
ensino /aprendizagem deixe bem claro o desafio aos alunos para descobrirem
equivalências com plena consciência de seus atos, ou seja; que estão optando por
formas similares ou contrastantes, que possuem a mesma base conceitual, na
reconstrução do sentido.
Esses aspectos importantes que as bases conceituais permitem chegar à
superficie das estruturas externas em forma de sinonímia, antonímia e reciprocidade
estão muito presentes nas traduções do discurso religioso. Essa questão
examinaremos no assunto seguinte.
3.4. A Paráfrase na tradução bíblica
Ekdahl (1993), na introdução de seu trabalho, questiona os leitores sobre o
porquê de existirem tantas versões Bíblicas. Para essa autora, todas as versões são
úteis mas, “para o povo em geral é muito mais fácil entender as versões que usam
uma forma mais natural de expressão em português, em vez da forma das línguas
originais”.
87
Para nós, essa forma mais natural que a autora mencionou, nada mais é que a
paráfrase. Ela mesma reserva um capítulo para estudar as
diferenças no
entendimento
dos tradutores a respeito do significado do texto. Menciona diferenças
na forma que representam o mesmo significado. A seguir, apresentamos nove
versões que Ekdahl (op.cit.) exemplifica, para Filipenses 2.5.7.
Versão Corrigida:
De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também
em Cristo Jesus. Que sendo em forma de Deus, não teve por
usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando
a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens...
Versão Atualizada:
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo
Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus não julgou como
usurpação o ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou,
assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de
homens; e, reconhecido em figura humana...
Versão Revisada:
Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo
Jesus, o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser
igual a Deus coisa a que se devia aferrar, mas esvaziou-se a si
mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos
homens...
Versão de Jerusalém:
Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus: Ele tinha a
condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a
que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e
assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E,
achado em figura de homem...
Versão da EditoraVozes
:
Tende em vós os mesmos sentimentos que Cristo Jesus teve: Ele,
subsistindo na condição de Deus, não pretendeu reter para si ser
igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição
de servo por solidarismo com os homens. E, apresentando-se como
simples homem...
Nova versão Internacional
:
Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, o qual, embora
sendo [ rodapé: existindo na forma de] Deus, não considerou que o
ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a
si mesmo, vindo a ser servo [rodapé: assumindo a forma de
escravo], tornando-se semelhante aos homens...
88
Versão Linguagem de hoje:
Tenham entre vocês o mesmo modo de agir que Cristo Jesus tinha:
Ele sempre teve a mesma natureza de Deus, mas não insistiu em
ser igual a Deus. Ao contrário, pela sua própria vontade,
abandonou tudo o que tinha e tomou a natureza de servo. Ele se
tornou semelhante ao ser humano e apareceu na semelhança
humana.
Versão Cartas para hoje:
Possa a atitude de vocês com relação à vida ser a do próprio Jesus
Cristo. Pois Ele que por natureza sempre foi Deus, não se apegou a
seus privilégios como alguém igual a Deus, mas despiu-se de todas
as vantagens, consentindo em ser escravo por natureza e em
nascer como homem. E visto claramente como um ser humano...
Versão Viva:
A atitude de vocês deve ser semelhante àquela que nos foi
mostrada por Jesus Cristo, que, embora Deus, não exigiu nem
tampouco Se apegou a seus direitos como Deus, mas, pôs de lado
seu imenso poder e sua glória, ocultando-se sob a forma de
escravo e tornando-se como os homens [rodapé: “foi feito à
semelhança dos homens].
Ao tratarmos da paráfrase no discurso religioso, vale a pena destacar que
existe uma versão parafraseada da Bíblia, em Inglês, chamada The Living Bible
Paraphrased de autoria de Kenneth N. Taylor. Considerada como uma tradução
thought-for thought publicada por Tyndale House Publishers, Wheaton, Illinois. 1972.
Apesar de todas as Bíblias que conhecemos serem versões dos textos originais, ou
seja, verdadeiras paráfrases, a única com “paraphrased” na capa é a de Tyndale. A
primeira edição explica que a mesma não é uma tradução, mas sim uma paráfrase.
No entanto, a segunda edição nem traz aquela expressão na capa nem a explicação
sobre o referido processo, no prefácio.
Taylor elaborou sua bíblia parafraseada com a finalidade de ajudar seus filhos a
compreenderem melhor a Bíblia. Logo após ter sido publicada, sua versão foi muito
apreciada por jovens e adultos americanos porque era muito mais fácil de ser
entendida.
89
O que depreendemos do fato acima é que a verdadeira finalidade da paráfrase
é tornar as mensagens mais esclarecedoras e compreensíveis sem alterar as idéias
originais. Daí nosso empenho em demonstrar sua eficácia no processo de ensino /
aprendizagem de línguas. Para que isso se realize de uma maneira mais eficaz, a
teoria se torna quase uma necessidade quando a prática se nos apresenta com
situações (mesmo humorísticas), como a que veremos a seguir.
3.5. Representações mentais: Influência da Língua materna na Língua-alvo
É na prática da sala de aula que percebemos os resultados de nosso labor: ali
concretizamos a maneira escolhida para transmitir o saber e, dessa forma,
aprendemos mais do que havíamos previsto. Nessa constante interação passamos a
compreender melhor e a relacionar mais conscientemente a teoria e a prática.
Assim, sentimos a necessidade de bem orientarmos os aprendizes para o fato
de que, devido à complexidade de uma língua, não existe apenas uma
correspondência unilateral entre a mensagem e a forma. Situamos, portanto, a
paráfrase num plano de grande importância para o processo de aquisição de
linguagem. A versatilidade cognitiva ensejada pelo parafrasear leva o aprendiz a
fazer escolhas, a combinar conceitos formando estruturas semânticas capazes de
realizar uma comunicação adequada e satisfatória.
Larson (1989:39), em um texto relacionado à tradução, em que enfatiza o papel
das proposições na construção de textos, afirma que “El traductor tiene que escoger
90
las formas naturales de la lengua receptora para expresar las proposiciones en la
traducción y no traducirlas en forma literal”.
22
A nosso ver, acontece um processo inverso quando o aprendiz de línguas
deseja expressar algo numa língua alvo. Tem que fazer uma escolha dentre as
formas que aquela língua oferece e que ele conheça. Daí seleciona a que lhe
parece mais natural para expressar a proposição que tenha em mente, embora
possa acontecer algo diferente e o aprendiz passe a experimentar a influência da
língua materna através da transferência de seus padrões sintático-semânticos para a
língua alvo. Nesse caso, tem-se um resultado enviesado ou estruturas quase
ininteligíveis. Existe uma fraseologia elaborada para fins humorísticos que retrata
bem o que acabamos de expor. Seguem-se alguns desses exemplos dessa criação
ludolingüística que poderia ser chamada de antiparáfrase, pois as frases não
manifestam equivalência interlingüística:
Tea with me that I book your face
Chá comigo que eu livro sua cara (Deixa – contração - Xa = Chá)
I’m more I.
Eu sou mais eu.
Do you want a good-good?
Você quer um bom-bom?
Not even come that it doesn’t have.
Nem vem que não tem.
Wrote, didn’t eat, the stick ate.
Escreveu, não leu, o pau comeu.
She is full of nine o’clock.
Ela é cheia de nove horas.
Between, my well.
22
“O tradutor tem que escolher as formas mais naturais para expressar as proposições na língua
receptora, e não traduzi-las literalmente” (tradução nossa).
91
Entre, meu bem.
To give one of John the armless.
Dar uma de João sem braços.
Oops, gave zebra
Xii, deu zebra
I will wash the mare.
Eu vou lavar a égua.
Are you thinking here is the house of mother Joan?
Tá pensando que aqui é a casa da mãe Joana?
Go catch little coconuts.
Vá catar coquinhos.
You are by out.
Você tá por fora.
Don’t fill the bag.
Não encha o saco.
Take out the little horse from the rain.
Tire o cavalinho da chuva.
The cow went to the swamp.
A vaca foi pro brejo.
If you run the beast catches, if you stay the beast eats
Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Esses exemplos, apesar de lúdicos são estimulantes de nosso raciocínio, isso
nos motiva, a saber, mais sobre a influência da L1 sobre a L2. O tópico que vem em
seguida nos oferece elementos para essa ponderação.
92
3.6. Influência do sentido genérico de alguns Itens lexicais da língua materna
na língua estrangeira
Nos níveis iniciais do processo de aprendizagem de línguas estrangeiras, o
aprendiz enfrenta dificuldades interpretativas causadas, primordialmente, pela
compreensão restrita, precária da língua alvo que refletem sobre a língua materna.
A assimilação do léxico se realiza em bases reduzidas, expandindo-se aos poucos.
O desenvolvimento do vocabulário parece ser do tipo cumulativo. Gradativamente,
com a exploração do léxico em campos semânticos diversificados, o aprendiz vai
diversificando seu vocabulário.
A exposição constante a situações comunicativas variadas é o que lhe
possibilita compreender novos significados com base nos contextos que configuram
a situação do que é considerado ‘novo’. a experiência, o contato, a imersão no
contexto situacional é que fornece segurança e confiança para lhe dar certeza de
que certas expressões ou frases possuem coerência, funcionalidade e adequação.
Em suma, a identificação lexical, frasal e discursiva na prática de línguas
estrangeiras pelos aprendizes se realiza em termos pragmáticos quando estes
confirmam, através de experiência própria, a eficácia da sua comunicação.
Para maior esclarecimento do que expomos, apresentamos um exemplo
retirado de um artigo em coletânea sobre Ensino de Português a Estrangeiros,
organizado por Henriques (2003):
Uma estrangeira está na praia, se bronzeando quando um brasileiro
chega, com sua camisa, bermuda e chinelos na mão, olha para a
estrangeira e ele inicia o seguinte diálogo:
-Oi! Você poderia dar uma olhadinha pra mim?
A estrangeira apenas olha em direção ao brasileiro. Ele por sua vez
repete a pergunta:
-Você poderia dar uma olhadinha pra mim?
93
A estrangeira continua olhando fixo para ele, que repete a pergunta
pela terceira vez:
-Você poderia dar uma olhadinha pra mim?
A estrangeira tentando parecer brasileira: - Pô, cara! Tô olhando!
- Não, não. Queria que você olhasse minhas coisas, para eu ir à
água um pouquinho.
- Ah! Sim! Desculpa, tá?
-Tudo bem. É que eu estou sozinho e não queria deixar minhas
coisas aqui na areia sem ninguém.
Para falantes nativos do português brasileiro, a expressão que motivou um
ruído na comunicação entre a turista estrangeira e o brasileiro não causaria,
obviamente, problema algum de compreensão. O que supomos é que a estrangeira
tomou o sentido literal da expressão “dar uma olhadinha”. Para ela, o sentido
genérico do verbo “olhar” prevaleceu. Certamente, não conhecia essa variante
conceitual com o significado de “tomar conta”, “cuidar de”, “prestar atenção a algo”.
Possivelmente, ela estaria em um estágio inicial de aprendizagem do português
brasileiro e em seu registro mental existia o sentido de “olhar”, “ver”. após a
explicação do rapaz brasileiro é que a estrangeira compreenderia o emprego da
expressão usada por ele.
Experiências como essa da turista estrangeira, marcam diversos estágios na
aprendizagem direta com uma língua estrangeira. O estágio anterior não continha o
registro da expressão que parecia até então conhecer. Ao se deparar com a
realidade, com uma situação que exigia interação direta no contexto social, a
aprendiz processa cognitivamente a nova função do termo sob uma significativa
restrição, um incômodo vexame, registrando-o indelevelmente. Agora, o núcleo
semântico do verbo “olhar” recebe mais um valor semântico que irá fazer parte de
seus arquivos mentais, permitindo-lhe identificar sentidos distintos em situações
diversas na compreensão ou produção de mensagens.
Onde está a paráfrase em toda essa situação? Desde o momento em que é
dita a frase: “Você poderia dar uma olhadinha pra mim?” Obviamente, a estrangeira
94
não entendera o sentido da mesma porque sua resposta não foi adequada. A
confirmação disso é que o rapaz responde: “Não, não” - essa dupla negativa,
também, vem acompanhada de uma estrutura profunda bem mais complexa do que
aparenta. Uma análise mais extensa irá chegar à conclusão de que a proposição,
implícita ali, encerra, também, um sentido que não foi captado pela estrangeira. Na
realidade, o rapaz quisera mesmo dizer: “Não, eu não estou pedindo para você olhar
para mim, simplesmente”. Completando a explicação, ele reestrutura seu
pensamento, parafraseando a si próprio “Queria que você olhasse minhas coisas,
para eu ir à água um pouquinho”.
A surpresa da estrangeira expressa nas exclamações: Ah! Sim! Também
representa a correção de seu desliza frente às regras sociais. A equivalência dessas
frases bem pode ser expressa assim:
Ah! (não era o que eu havia entendido)
Sim! (agora que seu pedido foi explicado, entendi)
E segue-se a desculpa da moça por ter compreendido mal a situação. Ficou
bem claro o uso de uma paráfrase pelo rapaz, ao dar sua explicação:
Queria que você olhasse minhas coisas.
Em sua explicação está resumida sua proposição contida em: “Você poderia
dar uma olhadinha para mim?”. Assim, temos em termos gerais a seguinte
equivalência:
“-Você poderia dar uma olhadinha para mim? => Você poderia dar uma olhadinha
nas minhas coisas por mim?”
Com efeito, temos a paráfrase da proposição original posta em prática quando
é fornecida a explicação: “Queria que você olhasse minhas coisas para eu ir à água
um pouquinho”.
95
Concluindo, observamos como é muitíssimo comum o emprego da paráfrase
em situações rotineiras de comunicação, mesmo que em suas representações não
fique clara essa estratégia, tão importante para o esclarecimento da comunicação
face-a-face em contextos sócio-culturais. Casos de interferência lingüística que
afetam a compreensão de proposições implícitas exigem um exame mais acurado
de certos aspectos cognitivos. Por isso, o tema que vem em seguida, além de ser
mais esclarecedor, encoraja o uso da paráfrase monitorada no contexto pedagógico,
em estratégias de reconstrução de sentido, visando a uma comunicação mais
eficiente.
96
CAPÍTULO 04
PARÁFRASE E COGNIÇÃO
4.1. Paráfrase: Reconstrução do sentido
O que se tem feito para verificar melhor a compreensão dos aprendizes de
Inglês como Língua Estrangeira (ou mesmo língua materna) com relação a textos
orais ou escritos?
A prática pedagógica no ensino de Ensino de Inglês como Língua Estrangeira
nas escolas brasileiras ainda não demonstra ter incorporado uma comunicação
orientada conscientemente para uma compreensão monitorada do ouvinte/leitor.
Pouco ou mínimo esforço é feito para se oferecer opções sintáticas elucidativas em
contextos lingüísticos diversos ou mesmo em graus variados de instrução.
The Literacy Dictionary - The Vocabulary of Reading and Writing (1995),
apresenta o conceito de compreensão como “a reconstrução do sentido pretendido
de uma comunicação – ou seja: compreendermos corretamente aquilo que lemos ou
ouvimos”. (o grifo é nosso). Que fatores nos levam a acreditar que estamos
compreendendo corretamente aquilo que lemos ou ouvimos? Nesse questionamento
subjaz a crença na necessidade de monitorarmos a compreensão de nossos alunos
com relação aos assuntos pertinentes a cada situação específica de aprendizagem.
É urgente que nos dediquemos à compreensão dos fatos que nos são
relevantes, tanto para nosso desenvolvimento intelectual quanto para nossa
interação sócio-comunicativa.
Em uma nota acrescentada àquele conceito de compreensão, os autores do
citado dicionário destacam o valor do sentido, afirmando que “o significado reside na
97
mensagem aguardando interpretação e que a mensagem recebida seja congruente
com a mensagem enviada”. Ruddel et al (1994 op.cit.), referem-se à compreensão
como: .
Um processo no qual o leitor constrói o sentido interagindo com o
texto através de uma combinação de conhecimento anterior e
experiência prévia; informação disponível no texto; a posição
(tomada) com relação ao texto; e interações sociais imediatas,
lembradas ou antecipadas e comunicações.
Quando somos capazes de reconstruir o sentido pretendido em um texto oral
ou escrito estamos transcriando, ou seja: parafraseando.
A paráfrase torna possível a compreensão de informações que escapam à
apreciação ou percepção habitual. Como estratégia metodológica, implica condições
de adeqüabilidade ao contexto e pressuscritopõe a intencionalidade que permeia
essas condições.
Minha experiência no ensino de Inglês, como língua estrangeira, alertou para a
necessidade de uma habilidade especial na aprendizagem. A habilidade do aprendiz
em reconhecer e produzir a paráfrase, processo extremamente necessário para o
desenvolvimento lingüístico do aprendiz no uso de línguas estrangeiras. Ler ou
escrever textos em língua estrangeira e subseqüentemente parafraseá-los (falando,
lendo, ou escrevendo) pode ser utilizado como uma alternativa muito útil na
avaliação da compreensão. Assim, essa estratégia poderá ser vista através de uma
perspectiva analítico-instrucional que procura privilegiar a paráfrase no processo de
ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras.
Os alunos de línguas estrangeiras deviam ser capazes de produzir paráfrase
nas línguas que estudam, no entanto, carecem de estratégias para atingirem essa
complexa tarefa cognitiva com suficiente competência. O processo requer habilidade
de leitura, compreensão, análise, seleção de novas estruturas e vocabulário, tudo
98
isso integrado na escrita. Normalmente, a paráfrase tem sua origem em sentenças
complexas com sintaxe sofisticada. Daí, a necessidade do aprendiz compreender os
detalhes de certas passagens difíceis. Compreendemos, portanto, a necessidade de
dar assistência aos aprendizes familiarizando-os com estratégias que produzam
frases menos complexas, procurando identificar núcleos semânticos, referenciais,
grupos de palavras, através de exercícios do tipo “cloze” ou de questionar
focalizando aspectos específicos do texto. Além disso, deveremos privilegiar a re-
escrita de passagens dos textos estudados objetivando reconhecer-se e explorar os
sinônimos, bem como a recombinação de frases visando a flexibilidade estrutural.
Ensinar os aprendizes a reproduzir o que ouvem, lêem ou escrevem é uma
habilidade semelhante à sumarização, pois amplia a integração das quatro macro-
habilidades largamente empregadas no ensino de línguas estrangeiras. A inter-
relação entre essas habilidades facilita a integração, percepção e domínio do
processo de paráfrase.
Temos observado em nossas aulas de inglês a estudantes na Universidade
Federal de Pernambuco, que estes se mostram mais confiantes, a partir do
momento em que começam a recontar ou re-escrever um texto, reconhecendo e
explorando a sinonímia e combinando frases para conseguir uma melhor
flexibilidade estrutural e, conseqüentemente, sentir-se mais confortável ao atingir
seus objetivos comunicativos.
Essa reestruturação textual de que falamos, estabelecida em termos de bases
conceituais, estruturas representacionais, categorizações e muitas outras dimensões
lingüísticas estão presentes no assunto contemplado logo em seguida.
99
4.2. Matrizes conceituais
Lakoff (1990), sustenta que nosso pensamento é uma função mental separada
da linguagem e que esta possibilita acesso a certas variedades de pensamentos
mais complexos. Essa concepção é, também, mais um ponto de apoio onde
procuramos sustentar nosso conceito de formação da paráfrase nos discursos
pedagogicamente elucidativos. Acrescentamos, porém, que os pensamentos, além
de serem uma função mental separada da linguagem, também funcionam como
assessores da consciência.
No momento em que nossos interlocutores acusam a falta de clareza num dado
segmento de discurso ou diálogo, é natural que procuremos, conscientemente ou
não, reparar a falha cometida fornecendo-lhes uma estrutura equivalente ou
paráfrase da mesma.
Consideremos a idéia de que, por trás de todo enunciado exista uma base
conceitual em forma de pensamento. Quando nutrimos idéias ou pensamentos
significativos, para que possamos externá-los em interações sociais é natural e
necessário que exista uma negociação entre as partes, para que se possa atingir um
“acordo” ou a compreensão nessas interações.
Para nós, uma das maneiras mais diretas de se chegar a esse acordo entre
dialogantes pode ser a utilização de estratégias que possibilitam a segmentos de
diferentes frases constituírem-se de um mesmo sentido por comparação e
equivalência lexicais.
Nossa visão do discurso pedagógico, com seu suporte parafrástico, encontra
amparo em uma proposta de trabalho apresentada por Orlandi (1983),
questionadora das tipologias discursivas tradicionais. Baseando a análise do
100
discurso no estudo do funcionamento de suas características intrínsecas, a autora
destaca, como fundamentação dos processos de produção de linguagem,
a
paráfrase
“retorno constante a um mesmo espaço dizível” e a polissemia
“deslocamento, ruptura, emergência do diferente, da multiplicidade de sentidos”.
Para complementar o primeiro conceito, aduzimos, que a paráfrase é um artefato
cultural, dinâmico que constantemente se depara com a relatividade da
contextualização para que suas formas se concretizem. Também, registramos duas
modalidades de operações cognitivas que a paráfrase pode implicar em nosso
objetivo de tradução quando se trata da aplicação pedagógica daquele processo de
produção lingüística: a modalidade literal e a modalidade idiomática. A primeira
modalidade caracteriza-se pelo alto grau de exatidão dos espaços mentais de
entrada em termos de direcionalidade: forma da língua alvo (L2) para a língua
materna (L1).
Exemplo:
Paul is here (L2)
Paulo está aqui (L1)
A segunda modalidade tem como finalidade uma congruência aproximada de
espaços mentais em termos de sentido.
Exemplo:
That’s cool! (L2)
Que legal! (L1) - ao invés de: Isso está frio! Ou Isso é frio!
O que é relevante compreender-se em relação à paráfrase no processo
cognitivo de produção de linguagem é sua construção dentro de uma racionalidade
social. A quantidade de informação contida nos espaços mentais de entrada pode
ser variável, contanto que o mínimo de esforço cognitivo seja despendido. Esse é
101
um dos objetivos do emprego da paráfrase, ou mesmo de um símile no processo de
ensino aprendizagem de línguas estrangeiras.
Beekman (1965), possui uma linha de raciocínio bastante estimulante que
contribui para o estudo da paráfrase sob as perspectivas de tradução e
reestruturação textual. Em suas afirmativas aquele autor delineia uma estrutura
parafrástica firmada em um binômio lingüisticamente eqüidistante concluindo que as
traduções se agrupam em torno de duas bases a literal e a idiomática. Elas estão
espalhadas em vários pontos entre esses dois pólos opostos dialeticamente. Ele
reconhece as características de uma tradução literal pela alta transferência da forma
lingüística da língua fonte para a língua receptora.
Por outro lado, é importante lembrar que uma tradução idiomática visa a
uma alta transferência de sentido da língua fonte para a língua receptora.
Ao se transmitir ou transferir o conhecimento, aqui representado pela paráfrase,
compreendemos que, durante esse processo, recebemos estímulos que são lidos
num sistema de entrada (input), reconhecidos num sistema central e em seguida
organizados como representações que criam semiotizações. Embora não desejemos
nos espelhar na complexa Teoria de Fodor sobre Modularidade da Mente (1983), do
ponto de vista cognitivo, concebemos o processamento da paráfrase segundo um
princípio básico idêntico. O pensamento, as idéias ou imagens (que representam a
paráfrase, especialmente em nosso caso) são entendidos como estruturas
representacionais da mente – similares a estruturas computacionais. No processo de
ensino/aprendizagem de L2 nossa realidade é estruturada através do discurso, que
pode assumir uma grande diversidade de formas. Numa perspectiva categorial,
esse discurso pode apresentar várias dimensões:
102
A dimensão transformadora
Que nos possibilita estruturar nosso mundo interior estabelecendo padrões
compatíveis com o mundo exterior. Quando aplicamos estratégias em sala de aula
voltadas para as quatro macro-habilidades lingüísticas, estamos acionando essa
dimensão que invariavelmente torna possível aceitar, concordar, compreender a
informação que nos é transmitida, ou pelo contrário; recusar, discordar ou não
compreender a mesma. Assim, transformamos de um modo ou de outro, os padrões
já existentes de comunicação.
A dimensão contextual
As categorias seriam coisas “delimitadas” e poder-se-ia entender o contexto
que, além de envolver as situações, ajuda a elaborar as próprias categorias. Ungerer
(1996), apresenta-nos o exemplo de uma mulher que adentra um ambiente com um
cachorro nos braços. Que tipo de cachorro? O que é “cachorro”? Seria um cachorro
de brinquedo? Seria um “Chihuahua?” Simplesmente o mundo não está segmentado
como o concebemos. Baseados nesse exemplo de Ungerer, tomamos a cautela
como âncora para não nos deixar levar pelas correntes de insensatez e tentar
parafrasear de qualquer maneira, sem levar em consideração as limitações de
compreensão dos aprendizes.
A dimensão semiótica
Os símbolos, queiramos ou não, envolvem nossas práticas. Apesar disso,
temos limitações porque podemos usar certas palavras em um dado contexto. A
rigor, a verdade é uma propriedade intrínseca dos enunciados e não das coisas. Nós
não produzimos as coisas. Produzimos, sim, o sentido. As coisas não incorporam os
predicados, eles são inerentes. Quando nos referimos à “mesa”, não estamos
103
estabelecendo uma relação direta com “madeira”. Nesse caso, a teoria das relações
não satisfaz plenamente a esse conceito. Os termos relacionados são insuficientes,
extremamente limitados. Isso, mais uma vez, nos chama a atenção para estarmos
atentos ao uso da paráfrase com moderação.
A dimensão praxiológica
Ao representarmos algo, estamos invariavelmente “agindo”. A língua é
dinamismo, uma forma de ação e sua flexibilidade é uma propriedade inerente. Os
enunciados são construções plásticas partilhadas na interação social. Desde que
essa interação se manifesta pedagogicamente nos ambientes escolares sob a
representação de textos, a primazia da compreensão nos incentiva a usar
enunciados que possuam alto grau de ressonância na significação. A compreensão
é um modelo de mundo. É a compatibilização do modelo produzido por nós com um
modelo instituído ou convencionalizado. Isto nos torna co-autores do que
chamaríamos um
mega-texto sócio-histórico.
Para aprofundarmos nossa compreensão sobre essas importantes dimensões
cognitivas que acabamos de examinar, é necessário considerar um fator
imprescindível que a nosso ver é a base de toda realização parafrástica: o cerne das
proposições e dos conceitos primários. O tópico seguinte discorre sobre esse
assunto.
4.3. A base conceitual nuclear partilhada
Conceber a paráfrase como estratégia metodológica implica condições de
adeqüabilidade ao contexto e pressupõe a intencionalidade que permeia essas
condições. Por isso, consideramos relevante fazer uma síntese analítica dos
processos cognitivos constitutivos da paráfrase, originada pela necessidade
104
lingüística de compreender melhor a produção das operações que vinculam os
enunciados aos sujeitos que os produziram, a partir dos traços ambíguos desses
enunciados gerados pela intencionalidade
Marcuschi (2000), baseando-se no princípio de que são os usos que
consubstanciam a língua e não o inverso propõe, que comunicar-se bem não é ser
capaz de moldar-se às regras da língua, mas é utilizá-la com adequação pra
produzir um efeito de sentido pretendido numa dada situação (grifo nosso). Em
conseqüência disso, a intencionalidade torna-se relevante para o uso da língua e
não apenas a competência fonomorfossintática e lexical.
Keenan (1971), sustenta que muitas sentenças exigem que contextos sejam
satisfeitos para seus enunciados serem compreendidos. Essas condições também
são chamadas de pressuposições de sentenças. Quando essas tais condições não
são favoráveis, o enunciado pode não ser compreendido ou até ser mal interpretado.
Com base nessa formulação, abordaremos a paráfrase em uma perspectiva
processual ou cognitiva para definir o que acreditamos ser um de seus elementos
psicológicos constitutivos,
a base conceitual nuclear partilhada.
Nossa experiência de mundo está armazenada na linguagem do cotidiano e
conseqüentemente pode ser integrada, estruturada, reestruturada especialmente no
uso da paráfrase para expressar nossos pensamentos, idéias e sentimentos.
O papel da experiência no ensino de línguas estrangeiras é muito significativo,
pois acreditamos que exista uma espécie de transferência de experiência através da
qual se utiliza uma base conceitual nuclear partilhada (BCNP) até mesmo com
categorias abstratas como emoções. Isso ocorre quando passamos a utilizar
elementos do mundo concreto para formar metáforas através de observações,
associações e impressões.
105
Essa modalidade experiencial é bem apropriada para atividades no ensino de
línguas, porque lança mão de algo pronto, vivenciado, tanto pelo emissor quanto
pelo receptor, do conhecimento que se deseja evidenciar. A transferência de
experiência de conhecimento torna-se mais viável quando os objetivos de ensino
são reconhecidamente essa base conceitual nuclear partilhada, doravante BCNP,
ou seja; que a experiência a se partilhar seja constituída de elementos familiares a
ambos os componentes da interação.
Quando não se consegue organizar as idéias que representam a BCNP, estas,
ao se externarem, podem apresentar dissonâncias que provocam conflitos entre
aquilo que desejamos representar e aquilo que nossos interlocutores tentam
apreender ou decodificar. Essa problemática é uma constante no nosso dia-a-dia e
merece uma atenção especial no contexto pedagógico, onde é preciso rearticular
informações importantes, no momento em que surjam, utilizando a paráfrase em
busca daquilo que consideramos como compreensão. Sem se compreender os
elementos essenciais do texto, não uma assimilação mais ampla que venha a
solidificar a aprendizagem.
A paráfrase funciona como um ponto de acordo na negociação de
interlocutores. Caso não haja clareza na compreensão por um dos participantes de
uma conversa, é bem freqüente o recurso pelo emissor do mesmo pensamento em
forma de paráfrase. Normalmente se busca um raciocínio lógico, objetivo e, o
pensamento subjacente está diretamente relacionado com a seleção e
representações diversas das informações que se deseja expressar. Não parece
existir, sob o ponto de vista da BCNP, um protótipo único para a negociação do
sentido. Nessa troca de informação cada pessoa elabora seu próprio mapeamento
com os elementos constituintes da sua própria realidade interna, bem como da
106
realidade circundante. O universal parece não existir, permanece apenas o
particular. Essas construções, também, podem ser consideradas como
ad hoc,
porque são elaboradas dentro das condições discursivas do momento.
No emprego da paráfrase em atividades pedagógicas, temos percebido uma
tendência para um Minimalismo Lexical. Ex: nomes/verbos (de um verbo se deriva
um nome), havendo muitas possibilidades dessa realização nominal. Isso ocorre
porque nossa memória é capaz de acumular um pequeno conjunto de regras que
podem ser multiplicadoras, geradoras de tens lexicais. Esse processo está presente
desde o início da aprendizagem de uma língua estrangeira, o que nos leva à
proposição fundamental de Lakoff (1990), que procura definir, em Lingüística
Cognitiva, a
generalização, característica dos princípios subjacentes aos aspectos
da linguagem humana, especialmente o semântico, que nos possibilita a adequação
da língua ao que percebemos, experimentamos e compreendemos.
Além de percebermos o papel importante das relações existentes entre sintaxe,
morfologia, fonologia, pragmática, etc., atribuímos mais relevância à paráfrase, por
ser um processo pragmático na comunicação e ao mesmo tempo um recurso
simples com múltiplas possibilidades de aplicação no campo do ensino de línguas.
Ainda assim, sentimos que é preciso mais referencial teórico para que nossa
proposta se consolide com firmeza. Buscamos no artigo seguinte esse apoio e
acreditamos que existe um reflexo bastante positivo.
4.4. A base conceitual de Kecskes & Papp
Kecskes & Papp (2003), estudaram efeitos de uma língua estrangeira sobre
uma língua materna, onde o contexto principal é a sala de aula. Nesse caso, a
107
cultura da língua estudada não está diretamente presente e a influência da segunda
língua é apenas potencial.
O contexto social que determina a relação entre as duas línguas pode ser muito
diverso. São exemplos disso os usos de línguas francas, de pidgins e crioulos,
línguas de imigrantes que estudam novos idiomas em outras comunidades
lingüísticas.
A pesquisa dos autores citados prioriza apenas uma situação bem específica:
quando o objetivo é uma língua estrangeira numa comunidade lingüística
relativamente homogênea e a mesma é ensinada em sala de aula, onde os
aprendizes não têm acesso direto à cultura dessa língua. Esse estudo relevo ao
fato de que a aprendizagem intensiva de uma língua que não seja a materna pode
levar ao surgimento do que chamam Base Conceitual Subjacente Comum (BCSC)
responsável pela operação de dois sistemas lingüísticos.
Se a exposição à língua estrangeira não for suficientemente intensiva, a base
conceitual da língua materna pode permanecer inalterada porque os alunos
aprendem novos rótulos para conceitos existentes. A língua estrangeira
emergente é incorporada ao sistema de classificação existente na primeira língua
e as operações cognitivas se baseiam no sistema conceitual previamente
desenvolvido. Para que ocorram essas operações cognitivas que envolvem
conceituações, os aprendizes certamente estarão lançando mão de alternativas
sintático-semânticas que, na sua essência, são paráfrases. A intenção de se
representar à idéia contida no espaço mental denominado BCNP é que estimula a
formação dos enunciados parafrásticos.
Até aqui, nossa idéia de base conceitual não diverge da apresentada por
Kecskes & Papp (2003), no sentido de que a transferência de L1 para L2 é
108
intrinsecamente conceitual. Entretanto, nosso enfoque propõe compreender-se a
BCNP como fonte geradora de conceitos universais e a subseqüente estruturação
das representações desses conceitos como formações parafrásticas.
Brinton (2000),
em um capítulo sobre semântica lexical, afirma que é possível tratar-se o sentido das
palavras separadamente. Contudo, as palavras não se referem às coisas do mundo
real de uma maneira direta, mas, por meio de conceitos que existem na mente, ou
ainda, sentidos internos à linguagem (significado lingüístico) que se considera como
o significado da palavra e as palavras participam de várias relações semânticas
com outras palavras na língua.
O referido autor apresenta uma tipologia de relacionamentos semânticos
básicos, na qual a paráfrase aparece em primeiro lugar com uma conceituação
relacionada à equivalência. Afirma que uma frase é a paráfrase de outra quando
possui o mesmo sentido dela, como: Felipe adquiriu um automóvel é uma paráfrase
de Felipe comprou um carro.
Como vimos, para que possamos atingir certa fluência conceitual, é necessário
que operemos motivados por nossas intenções e isso nos faz selecionar as relações
semânticas condizentes com o contexto imediato. Tudo isso faz parte do processo de
tradução mental que é constituído de modelos específicos. Processos semelhantes e
idéias similares estão contidos no artigo seguinte.
4.5. Paráfrase, espaços mentais e fusão de conceitos
O processo cognitivo de produção de sentido é altamente complexo. Diante
dessa complexidade, iremos nos ater ao relacionamento da paráfrase com um de
seus aspectos mais importantes: a intencionalidade.
109
Em se tratando do processo de ensino/aprendizagem de línguas,
inelutavelmente a intencionalidade nos fará deparar com a
tradução mental. Trata-
se de uma das formas de se produzir sentido, aqui tomado especificamente no
contexto pedagógico. Neste, são constantes as circunstâncias em que os
professores lançam mão de opções semânticas para a solução de suas questões de
transferência de sentido da L2 para a L1. Assim, os mestres, consciente ou
inconscientemente, fazem uso da linguagem e da imaginação para intervirem na
sociedade.
Fauconnier (1985), ao tratar de estruturas conceituais e linguagem, aborda os
processos de representação e deixa-nos entrever a possibilidade de se intervir na
sociedade através da linguagem e da imaginação. Aproveitamos, portanto, nossa
experiência pedagógica para fazer uma análise da aplicação prática da produção de
sentido em sala de aula, visando a tradução mental que referencia o mundo exterior.
Desde que as línguas não são autônomas, funcionam sempre em contexto -
com as culturas, através das relações humanas - os referidos contextos atuam
significativamente na produção de sentido. Tomando os contextos pedagógicos
significativos para a produção do conhecimento, procuramos, através da paráfrase,
transmitir informações equivalentes processadas nesses mesmos ambientes
contextuais de maneira diferente.
Resolvemos basear-nos, também, na Teoria dos Espaços Mentais de
Fauconnier, porque explica que podemos atuar em interface com os outros,
negociando o sentido através de reestruturações semânticas. O espaço mental é
uma das habilidades humanas de construir o conhecimento. Através de sua hipótese
sócio-cognitiva Fauconnier (1985) tenta explicar como se origina a cognição em
110
sociedade, graças ao uso da linguagem que estabelece fusões de espaços
mentais”.
No processo cognitivo de interação comunicativa estamos sempre
estabelecendo relações entre os vários domínios desse construto social. Existe um
espaço geral (domínio geral) de conhecimentos e em interface com este, temos os
espaços mentais individuais. Uma resultante da interface entre os espaços mentais é
o que Fauconnier chama de “blending” ou fusão de conceitos. O blending é o
elemento que denominamos BCNP, subjacente à formação da paráfrase.
Na tentativa de fazer-se entender, o falante (emissor) busca (seleciona) termos
que existem em seu espaço mental (EM). É possível que esse arquivo especial
faça parte da sua memória de curta duração e que se sobreponha com exatidão aos
enunciados que façam parte do Espaço Mental do interlocutor. Esta seleção de
termos, ou mensagens, tem um resultado mais satisfatório quando se utilizam
recursos ou processos tais como a paráfrase, a metáfora, os símiles, substituições
ou termos equivalentes para a compreensão da mensagem ou do conhecimento
partilhado, que nesse momento se torna a fusão de conceitos.
O que Fauconnier (1985), considera espaços mentais está contido na sua
pressuposição fundamental de que todo significante é sub-determinado, isto é, pode
significar mais do que aparenta. O contexto fornece elementos da especificação. O
referido cognitivista apresenta dois tipos básicos de modelos mentais:
Internalizados: São espaços mentais individuais permanentes sempre disponíveis.
Interacionais: São espaços mentais lingüísticos partilhados na interação
social.
Em nossa ótica, percebemos a paráfrase como uma mescla de elementos que
existem em nossos espaços mentais internalizados, para que se tornem
111
reconhecidos no espaço mental interacional. Havendo reconhecimento, por nossos
interlocutores, desses elementos que se mesclam para formar uma imagem comum
tanto ao emissor quanto ao receptor, teremos então a compreensão da paráfrase.
O espaço mental é basicamente composto por Cognição, Interação e
Linguagem. A projeção desses elementos em um dado contexto apresenta
correspondência entre os espaços de entrada, ou seja, um mapeamento dos
elementos, dando origem a um espaço genérico. O espaço genérico contém os
mesmos elementos que os espaços de entrada. Os espaços mentais que integram
os conteúdos estruturados nos espaços de entrada são projetados após passarem
por uma seleção parcial. Tomam a forma de uma “mescla” de elementos em uma
estrutura emergente.
Essas estruturas mentais concebidas e alteradas por nossa percepção de
mundo integram elementos cognitivos formadores da explicitação de enunciados
comuns a interação comunicativa. Tais elementos são inseparáveis das
categorizações. Essa assertiva está contida no tópico seguinte.
112
4.6. Categorização e paráfrase
O texto, fenômeno dinâmico que nos remete para aquém e além das
informações objetivas, consubstancia-se através das formas categoriais. Possibilita-
nos constantemente participar de sua elaboração através de nossa percepção
racional.
O uso dos segmentos parafrásticos do discurso em uma modalidade
pedagógica requer moderação e cautela para que se evite interferências abusivas
sob o ponto de vista da representação. Mondada (1997), percebe a língua como um
fenômeno social para trabalhar visões de mundo – Visão Sócio-Interacionista. Quem
chega a esse mundo encontra um legado social. O mundo é quem se apropria de
quem chega até ele. Viver no mundo exige interação social e, conseqüentemente, o
uso da linguagem. Para que essa interação ocorra com sucesso é necessário lançar
mão da compatibilidade. As representações têm seu devido valor, no entanto,
importam menos que nossas ações. A observação das interações nos permite
construir categoricamente. Com isso, não estamos somente repetindo aquilo que
foi instituído, também estamos instituindo. Essa visão de mundo e,
conseqüentemente de linguagem, nos traz de volta ao campo prático da metodologia
de ensino de línguas onde a paráfrase precisa ser vista como um instrumento que
possibilita conferir maior inteligibilidade na apreensão do sentido.
Lakoff (1990), afirma que não existe verdadeiramente habilidade
exclusivamente lingüística. As habilidades seriam todas permeadas e mediadas pela
experiência em vários níveis de modo integrado. Assim, cada vez mais percebemos
a consolidação de nossa idéia de que a paráfrase acompanha a nossa experiência
com suas múltiplas representações no campo discursivo, integrando-se ao contexto.
113
Tal como as crianças em fase de desenvolvimento cognitivo, os aprendizes de
línguas estrangeiras em fase inicial possuem desenvolvida
a compreensão até
certo ponto, mas, falta-lhes a
explicitação. Dominam a referência, e não o sentido.
Tendem a atribuir sentido às coisas que não o possuem.
Nossa convicção de que a paráfrase é imprescindível no processo de
ensino/aprendizagem de línguas prende-se ao fato de que através de frases
equivalentes, variantes de um mesmo padrão sintático-parafrástico contextualizado
conseguimos delinear com relativa nitidez o sentido de conceito nuclear ou imagem
mental e inseri-lo no ambiente comum da interação comunicativa. Havendo
congruência nas interfaces entre os espaços mentais (fusão), a resultante será
satisfatória e obviamente o acordo feito entre as partes (emissor/receptor) encerra o
objeto de nossa pretensão a compreensão da mensagem que se deseja partilhar.
Portanto, transmitir ou interpretar idéias implica uma heterogeneidade de processos
cognitivos. Implica também habilidades diferentes. Em conseqüência iremos mais
uma vez chegar na questão de reestruturação textual e isso está bem mais
esclarecido numa visão pragmática composta de tópicos relacionados com esse
tema.
114
CAPÍTULO 05
PARÁFRASE E PRAGMÁTICA
Este capítulo é o menos extenso da pesquisa: reflete o fato desta relação ser
inexplorada na literatura.
5.1. Um enfoque pragmático centrado na paráfrase
As formas de interpretação de idéias e de pensamentos seguem padrões
idiossincráticos cuja relatividade dependerá da ênfase dada por cada pessoa
àquelas formas. Pesquisas recentes sobre a inteligência humana vêm confirmar a
crença generalizada de que não existe uma inteligência única, um padrão para todas
as pessoas. Existe sim, uma multiplicidade delas. Howard Gardner, psicólogo e
pesquisador da Universidade de Harvard, nos EUA, na década de 80 lançou uma
teoria com várias perspectivas diferentes, mas a principal delas sustenta que as
pessoas manifestam habilidades distintas que requerem algum tipo de inteligência,
mas não necessariamente uniforme. Essa heterogeneidade de processos cognitivos,
com conseqüentes realizações múltiplas, é uma expressiva realidade que se
manifesta muito claramente em ambientes de sala de aula, acarretando uma grande
variedade de enfoques diferentes de um mesmo tópico na comunicação.
Smole (1999), sustenta que a comunicação define a situação que sentido à
troca de mensagens, transcende a transmissão de idéias e fatos quando oferece
novas formas de interpretar essas idéias, de pensar e relacionar as informações
recebidas, de modo a construir novos significados. Concordamos com a posição
dessa autora, porque reforça a necessidade de fazermos maior uso consciente da
115
paráfrase com a devida monitoração das estruturas utilizadas nesse processo
esclarecedor que objetiva sempre uma melhor compreensão dos conteúdos textuais
no processo de ensino/aprendizagem.
Recordemos que, segundo a teoria de Gardner (1995), múltiplas
inteligências através das quais as pessoas manifestam as mais distintas habilidades
para realizarem atividades diferentes. Essas inteligências podem ser estimuladas e
se manifestam de forma única em cada indivíduo. Segundo esse autor, elas se
explicitam como:
1. Inteligência Lingüística
2. Inteligência Lógico-Matemática
3. Inteligência Musical
4. Inteligência Espacial
5. Inteligência Corporal Cinestética
6. Inteligência Interpessoal
7. Inteligência intrapessoal.
É importante ressaltar que uma inteligência nunca se manifesta isoladamente
no comportamento humano. Tarefas e funções diferentes envolvem combinações
de inteligências. O desafio a professores de línguas no que concerne às
inteligências múltiplas é reconhecer essas habilidades e suas manifestações e
ajudar os aprendizes usuários de línguas a se desenvolverem como comunicadores
eficazes.
Uma aplicação da Teoria de Múltiplas Inteligências ao ensino de línguas diz
respeito à organização da paráfrase, do ponto de vista informacional. Trata-se da
focalização parte da frase sobre a qual recai a ênfase que distinguirá a informação
pressuposta pelo emissor.
116
A paráfrase deve ser usada com freqüência, particularmente nas atividades
comunicativas em sala de aula para que esse processo se manifeste com uma maior
criatividade em diferentes níveis de compreensão e produção lingüísticas. Na leitura,
à medida que se lê um texto, um parágrafo ou simples frase, o leitor pode atribuir-lhe
diversas formas de interpretação, orientado por sua própria capacidade de
focalização para chegar até o núcleo de sua intenção comunicativa. O parágrafo
abaixo, submetido a cinco usuários de português, originou várias formas de
compreensão, segundo perspectivas diferentes:
“Pedir que os outros pensem com a nossa cabeça seria exigir que o
mundo se adaptasse aos nossos caprichos, quando é nossa
obrigação adaptar-nos com dignidade, ao mundo, dentro da firme
disposição de ajudá-lo” (Xavier,1985).
1
a
versão:
Fazer os outros pensarem do jeito que a gente pensa não seria legal.
O mais correto seria pensar igual a eles para as coisas funcionarem melhor.
2
a
versão:
Querer que as pessoas entendam tudo que a gente está dizendo do nosso jeito
não funciona. Seria na verdade nossa obrigação tentar entender o pensamento das
pessoas pra poder a gente se entender melhor no mundo.
3
a
versão.
É ilusório desejar que os outros possam ter os mesmos pensamentos que nós
mesmos. Querer que todos se subjuguem a nosso modo de pensar, O correto seria
nos adaptarmos ao mundo para melhor nos relacionarmos com ele.
117
4
a
versão:
Nossos caprichos nos fazem querer que o mundo se adapte a nosso modo de
pensar. Nós quem devemos nos adaptar ao mundo com dignidade para ajudá-lo.
5
a
. versão:
Exigir que o mundo se adapte a nossos caprichos é pedir que os outros
pensem com a nossa cabeça. Na verdade, nós é que temos a obrigação de nos
adaptarmos a ele com dignidade para podermos ajudá-lo.
Essas versões objetivam chamar a atenção apenas para a expressão do seu
conteúdo. Não objetivamos fazer uma análise sociolingüística das variantes criadas,
nem estender essa análise para outros campos que não o semântico: pretendemos
dar relevância aos usos da paráfrase, que ocorre com bastante freqüência na
interação cotidiana. Sua utilização é tão freqüente que passa despercebida. É como
a expressão popular da obviedade: “não vemos a floresta por causa das árvores”.
Em seguida, registramos também uma seqüência de expressões em língua
japonesa, todas com o mesmo significado, porém, em níveis sociolingüísticos
diferentes que vão desde o “formal” até o mais “informal” possível. Isso nos faz
refletir a respeito de uma questão provocadora, instigante: “Seria o uso da paráfrase
um recurso universal para otimizar-se a comunicação”?
1. (O Sr.) Aceitaria um cafezinho?
Sumimasen, kohii wa ikaga de
2. (O Sr.) Aceita um cafezinho?
kohii wa ikaga desu ka?
3. Aceita um cafezinho?
Kohii wa ikaga?
118
4. Que tal um cafezinho?
Kohii wa doo?
5. Cafezinho?
Kohii?
Numa perspectiva interlingüística, podemos perceber que em culturas tão
diversas como a cultura brasileira e a japonesa, é comum a utilização da paráfrase
para representar-se um conceito básico como no exemplo dado. Se examinarmos
em outras culturas, outras línguas, possivelmente, também iremos encontrar
situações semelhantes. Temos, portanto, uma forte inclinação para acreditar que
essa evidência torna a paráfrase um processo de reestruturação textual universal.
Por conseguinte, o tema a ser discutido a seguir envolve as características que
acabamos de analisar acrescendo variantes lingüísticas atenuadoras que podem
servir de modelo em estratégias monitoradas.
5.2. Paráfrase como variante pragmática atenuada
Fitzgerald (2002), ao abordar diferenças pragmáticas comenta que os bons
comunicadores em língua inglesa são cautelosos no que diz respeito à expressão de
suas idéias. Não desejam parecerem rudes dando a impressão de que só eles estão
corretos. Essa atitude é necessária principalmente em situações que envolvam
solução de problemas, tanto em ambiente acadêmico quanto em outros que exijam
tomada de decisões.
Em sua vida comunicativa, as pessoas tentam suavizar suas opiniões,
demonstrando certa vacilação, causando impressões hipotéticas ou manifestando
119
certo tom de insegurança. Essa aparente falta de segurança visa obter a opinião
alheia antes que a própria pessoa lance sua opinião. Daí, o cuidado para evitar a
impressão de que estão deixando de dar aos outros a chance de participar da
tomada de decisões.
Causar a impressão de ser muito forte, dogmático ou emocional não é
aconselhável quando se tratar de usuários nativos de língua inglesa. Agir dessa
forma é considerado, por sua cultura, uma falta de princípios éticos. Significa, além
de tudo, “deixar os outros fora”, “dar um gelo”, como se diz na gíria, ou seja, ignorar
a opinião do(s) ouvinte(s). Então, afirmar algo como “precisamos fazer isto” ou “ Nós
temos que fazer aquilo” causa a péssima impressão que apenas EU lidero a
situação, vocês devem apenas obedecer”.
Por isso, é necessário ser cauteloso o suficiente para perceber que as pessoas
sentem-se desejosas de ser livres e também ter vez e voz na hora de se tomar
decisões. Existem várias formas de se atenuar opiniões, sugestões e reações às
sugestões alheias. Fitzgerald (2002), apresenta uma fraseologia do atenuar a
comunicação, que podemos considerar como uma útil ferramenta do parafrasear:
Quadro 06. Fraseologia eufemística de Fitzgerald
NA MODALIZAÇÃO
(Verbos como COULD / WOULD / MIGHT, advérbios como MAYBE / PERHAPS /
PROBABLY)
Não aconselhamos essa forma não
modalizada.
Ao invés disso, sugerimos a forma
modalizada.
The problem is... The problem could be that...
The real problem is… It is possible that the real problem is…
We can do… Maybe we could…
We must do it this way. Perhaps we must do it this way.
We have to do this… This must be successful…
I want to do… I would prefer to do…
That´s too difficult. That would probably be difficult.
120
Ao opinar usando : I think / I´m afraid / quite
Ao invés de: Aconselhamos:
We should do... I think we should do...
That won´t work. In my opinion, that might not work.
That´s wrong! I´m afraid that´s not quite correct.
Ao dar sugestões na forma interrogativa
Evite dizer: É preferível que se diga:
We must give the staff... Could we give the staff more training?
We have to give… Would it be a good idea to give…?
We can give them… What/How about giving them…?
Ao (con)(dis)cordar
No lugar de… Seria melhor…
I partly agree That´s a good argument/suggestion but…
I agree I see your point, but…
I think so, too I partly agree, but…
That´s right Yes, but…
I couldn´t agree more I agree to some extent
You can say that again I’m afraid that I can’t agree with you.
Pesquisas sobre o uso eufemístico da paráfrase também podem ser úteis no
ensino de línguas, tanto intra quanto interculturalmente. Um exemplo:
Português: Os pobres > Os desfavorecidos. Inglês: The poor > The disadvantaged.
121
5.3. O parafrasear de Bazerman
Bazerman (1995), em seu livro: The Informed Writer Using Sources in the
Disciplines. O Escritor Informado O uso de Fontes de Informação nas Disciplinas
(tradução nossa), dedica um capítulo inteiro sobre os usos da paráfrase;
Paraphrasing: the author’s thoughts in your words - Paráfrase: O pensamento do
autor nas palavras do leitor. (tradução nossa)
Bazerman inicia seu capítulo fazendo uma pequena introdução à guisa de
justificativa, que parece revelar um esquema pessoal de utilização do processo de
parafrasear. Sugere ao leitor um pequeno truque (sic), para ajudar a encontrar novas
formas de se expressar o pensamento dos autores, substituindo-se sinônimos e
reorganizando-se as estruturas das frases. Afirma que isso, também, ajuda ao leitor
a transmitir o significado de uma passagem difícil. Possibilita-nos, ao argumentar, a
fazer referência aos pensamentos do autor, enquanto nos mantemos no controle do
enfoque e tom do argumento. Focaliza elementos que constantemente prejudicam a
compreensão discursiva. Afirma ser constante a falta de compreensão na interação
social. Algumas pessoas não entendem nada do que se diz numa conversa, ou
apenas compreendem parte do que foi dito. Outros, captam a idéia geral, mas
perdem os pontos específicos. Esse autor observa que as pessoas que escutam
atentamente e compreendem o que se diz são capazes de fazer comentários mais
relevantes. Quanto mais compreendem, melhor interagem com o outro. Afirma ele,
que ouvir novidades inspira novas idéias aos ouvintes atenciosos. Quanto maior for
a aproximação ao que é dito, melhor a interação de idéias.
122
Assim, novos pensamentos têm maior probabilidade de se originarem nas duas
partes. Bazerman também aborda alguns elementos cruciais no processo
comunicativo tais como os motivos, as crenças e a resistência a pontos de vista.
Quanto aos motivos, expõe a idéia de que é difícil para uma pessoa se concentrar
totalmente no que está sendo comunicado. É mais provável que as pessoas
escutem aquilo que querem escutar. As pessoas só gostam de escutar assuntos que
já conhecem.
A curiosidade e o desejo pelo conhecimento surgem como fortes motivos
humanos. Mas, existe a contrapartida que é a tendência contrária de defesa.
Defender os pontos de vista nos quais se acredita. Daí surge à resistência tanto ao
escutar quanto ao adotar qualquer explicação ou ponto de vista novo. São coisas do
instinto de conservação. Conservar aquilo que se conhece. O instinto de
conservação subjaz em nosso sentido positivo de integridade (inteireza). É a
manutenção do inteiro. Também dão a impressão de nos poupar dos esforços de se
lidar com muitos desafios. As idéias novas parecem ser uma ameaça para o
raciocínio tranqüilo (a paz de espírito) das pessoas.
Bazerman (1995) destaca, na questão da leitura, os truques criados pelo leitor
para evitar o desafio de se confrontar com as idéias de outrem. Menciona alguns
artifícios, como colocar defeitos no conteúdo, apegar-se a idéias que são familiares e
desprezar aquelas que não o são. Menciona as leituras que parecem ser
desafiadoras ou que fazem as pessoas reagirem negativamente. Comentam que as
pessoas evitam as leituras complexas e, muitas vezes ignoram partes que até lhes
seriam de utilidade. Observa ainda que s pessoas esperam que os livros estejam
escritos do jeito que elas querem.
123
Ainda, no processo de leitura, ele observa a questão da interpretação e
comenta que ao lermos uma palavra, podemos até conhecê-la e ao mesmo tempo
interpretá-la mal. Em especial, as abstrações podem assumir diversos sentidos para
pessoas diferentes. Por exemplo: para um debatedor, um ponto de vista é uma
opinião. Para um crítico de arte é o ângulo de onde se observa uma escultura e,
para um romancista é a personagem cujos olhos captam a estória que lemos.
Algumas palavras traduzidas sem muita acuidade, como
verdade, objetividade e
liberdade,
têm sido discutidas durante séculos e parece que cada usuário tem seu
próprio significado. Se desejarmos compreender um determinado escritor, teremos
que compreender a palavra de acordo com a concepção dele.
Bazerman, ainda, com relação à interpretação, afirma que é difícil de se saber
com exatidão o que alguém tenciona dizer, por exemplo, usando o termo feminista,
a menos que se pergunte detalhadamente a respeito das atitudes e crenças da
pessoa em questão. Também destaca a importância do contexto para o qual
devemos prestar toda a atenção, se quisermos compreender melhor o emprego do
léxico. Associando a esse processo de receptividade o reconhecimento do modo de
pensar do escritor, além do conhecimento de seus interesses especiais. Assim, dois
autores podem escrever sobre um tema central, ao mesmo tempo em que se
preocupam com assuntos diferentes e conseqüentemente farão conexões com
coisas e argumentos também diferentes.
Bazerman, com o raciocínio que acabamos de ler, prepara o leitor para uma
discussão mais pragmática sobre o processo de parafrasear. Numa seção
denominada Repensar e Reafirmar, ele aborda um assunto que nós também
exploramos nas seções 1.3, 6.2 e 6.6.
124
Trata-se da questão da verificação de aprendizagem, das avaliações em forma
de questionamento variado, para saber se o aprendiz lembra ou compreende o
conteúdo das lições. Para essa finalidade, o aluno tem que reproduzir alguns
conceitos-chave sem cometer erros grosseiros. A paráfrase, segundo Bazerman, é
parte de um processo abrangente de compreensão e resposta a uma dada
passagem escrita. Antes de se usar ou discutir as idéias de alguém, é necessário
que se compreenda com exatidão essas idéias.
Por isso, um bom parafrasear requer uma atenção concentrada a cada nuance
do significado, de modo que, quando se for referir a essas idéias, ou argumentar
contra as mesmas, se saiba exatamente com o que se está lidando. Na concepção
de Bazerman, a paráfrase serve também como uma forma de anotação que permite
preservar o significado exato dado pelo escritor, nos termos que se compreendeu
melhor. Também pode servir como uma referência ao pensamento de outros
escritores em seus ensaios, de maneira que se possa reproduzir e responder as
idéias dos outros enquanto reproduzimos as nossas.
Outro conceito de paráfrase apresentado por Bazerman (1995) é reformular
com precisão uma passagem com suas próprias palavras ou frases com o objetivo
de esclarecer o sentido. A questão semântica e sua relação com a precisão no uso
das palavras e o sentido da frase inteira é uma de suas preocupações. Além disso,
comenta que para se produzir uma paráfrase acurada é preciso levar em
consideração, tanto o uso exato das palavras, quanto o sentido das frases por
completo. A essa altura de suas formulações, Bazerman começa a preparar o leitor
para o uso do parafrasear. Apresenta duas técnicas para ajudar ao leitor a ganhar
uma compreensão exata do original: a substituição através de sinônimos e a
125
reestruturação de frases. Os exemplos dados por ele baseiam-se no famoso
Gettysburg Address (Discurso de Gettysburg - Presid. Lincoln).
Na seqüência, Bazerman explora tanto a questão lexical quanto semântica,
analisando as estratégias apresentadas anteriormente. Coloca em relevo a
polissemia, chamando a atenção para o uso específico da palavra e sua relação
direta com o contexto. Aproveitamos o ensejo para destacar o termo
Address, dado
no exemplo de Bazerman. Essa palavra enquadra-se naquilo que aquele autor
deseja comunicar. Address, tomado em seu sentido mais comum, significa o
substantivo endereço.
No entanto, o sentido ali empregado é o de discurso. Esse vocábulo, também,
funciona como verbo, por exemplo, nos jogos de golfe é usado com o significado de
mirar, fazer pontaria. Bazerman destaca a especificação do uso das palavras em
contexto e, mui particularmente, a questão de conceito que deve ser relacionado e
apoiado por outros termos do texto original. Isso funciona como reforço para as
idéias. O autor aconselha a verificação do significado no contexto da passagem,
para se ter certeza de que a mesma está devidamente adequada. Um Thesaurus
(dicionário de sinônimos) pode ajudar na verificação, mas, é preciso se fazer uma
seleção inteligente e apropriada. É aconselhável, também, que não se dependa
totalmente de fontes de referência, porque, segundo Bazerman, elas ajudam a
pensar sobre os significados, mas não como fontes de equivalentes absolutos.
A análise de Bazerman prossegue incluindo as frases em sua interpretação
semântica. Adverte o usuário da paráfrase para a maneira como as frases do texto
original estão encadeadas. Insiste para que se dê atenção ao que ele chama de core
meaning que preferimos designar como base conceitual das frases. Destaca a
necessidade de se verificar o relacionamento dessa base com todas as partes das
126
frases. Compreender como todas as partes da frase são organizadas em torno de
sua base conceitual ajuda-nos a evidenciar essa base quando reescrevemos uma
frase. Caso se perca o controle da base conceitual, pode-se terminar escrevendo
coisas sem sentido. Na opinião de Bazerman, a paráfrase também atribui peso aos
conceitos examinados e, quando se reorganiza uma frase, um texto, abalam-se as
relações entre suas partes. Vem então a questão: essas relações estão garantidas?
Certificando-se disso, pergunte a si mesmo se sua paráfrase significa o mesmo que
o texto original. Isso, porque a substituição de sentenças e a reorganização de
frases não garantem a exatidão da paráfrase.
O controle do significado é mais uma vez aqui trazido à tona. Existe a
necessidade de se reconstruir as relações básicas das partes do texto mais
propriamente, do que ler o mesmo como se fosse um amontoado de sentenças a
respeito de um tópico. Para se ganhar controle sobre o significado de uma paráfrase,
Bazerman aconselha a prestar atenção ao ponto onde se sentiu dificuldade, seja na
reestruturação da frase, ou na adequação do original. Pode-se discutir com colegas
ou com professores esses assuntos que causaram dificuldades; assim, aumentar-se-
á a exatidão e o grau de sutilezas da sua compreensão de leitura. Bazerman encerra
essa reflexão com um resumo que organiza os passos para se escrever uma
paráfrase.
O restante do capítulo é dedicado a estratégias pedagógicas que destacam a
paráfrase. Por exemplo, pede ao leitor/aprendiz que identifique possíveis substitutos
para as palavras sublinhadas. Solicita também uma justificativa para a possível
resposta. Na seqüência de exercícios, solicita a identificação de o sentido nuclear,
ou como preferimos chamar: a base conceitual. No mesmo exercício, também pede
127
que sejam reorganizadas as frases, mantendo-se as relações primárias e ênfases
dadas às partes das frases.
É dado relevo ao significado de palavras isoladas e arranjo de frases, os quais
devem ser discutidos em sala de aula. Mais uma vez, ao analisar alguns exemplos
possíveis de paráfrase, Bazerman comenta aspectos já discutidos anteriormente
como um esforço para o uso de suas estratégias. Dessa vez, utiliza o termo conceito
central
para designar o que chamamos de base conceitual. Faz uso de uma
paráfrase resumidora que ele chama de compressão. Retoma a idéia de base
conceitual que, dessa feita, a rotula de
âmago da asserção. Ao comentar aspectos
complexos do discurso, Bazerman declara ter sido o maior desafio descrever com
propriedade as emoções envolvidas. Em especial, destaca o termo inveja em um
dado contexto. Uma das estratégias escolhidas por ele para tentar resolver seu
problema, foi reduzir as frases em unidades menores, a fim de isolar o cerne das
asserções e manejar as conexões de idéias ao mesmo tempo.
O citado autor, ao descrever seu processo pessoal de parafrasear, alega que à
medida que prosseguia, se envolvia em aspectos cada vez mais desafiadores.
Observou detalhes que denominou, por exemplo, sombras de significado que
despertava sua reação a uma análise mais profunda. Assevera que, quando se faz
uma leitura mais acurada através do parafrasear, percebe-se maior sutileza e
relevância naquilo que se lê ou se discute.
A paráfrase possibilita uma resposta mais abrangente aos argumentos de
alguém que se confronta, além de tornar possível muitas descobertas e novas
idéias. Diz Bazerman que uma interação mais próxima com o texto que se faz até
sair fagulhas.
128
Saber quando parafrasear é um dos tópicos finais em que Bazerman comenta
que, quando se parafraseia para fins pessoais, deve-se fazer isso nas passagens
extremamente difíceis. Aconselha a parafrasear na escrita para que o leitor possa
melhor entender sua mensagem. Pode-se utilizar a paráfrase na interpretação de
conceitos complexos e para tornar óbvio e explícito os fatos e idéias que se
encontram nos originais assim como se desejar tomar notas com precisão sobre
aquilo que estiver lendo e quando desejar mencionar as idéias exatas de outro
escritor em suas pesquisas. O autor lembra que não se pode esquecer os devidos
créditos sob a forma de documentação. Quando alguém menos letrado tiver
dificuldades na compreensão de uma tarefa escrita, como jovens cursando o ensino
básico, ou intermediário, o melhor modo de se ajudar é com o parafrasear.
Assim, uma terminologia não familiar deverá ser substituída por termos mais
comuns. Abstrações, terminologia utilizada no campo técnico, ou cientifico, podem
ser explicados através da paráfrase.
Na interpretação de textos é comum haver desacordo entre profissionais da
mesma área. Na literatura, filosofia e religião, os especialistas discordam
freqüentemente quanto a suas interpretações de livros importantes. Somente através
de paráfrase eles poderão tornar suas leituras suficientemente explícitas para que
então se possa compará-las e discuti-las.
Outra área onde é essencial para os profissionais desenvolverem uma
compreensão partilhada de textos importantes é a área jurídica. A maior parte de
livros de direito tenta esclarecer com exatidão o que as leis expressam em particular
e, conseqüentemente, como devem ser aplicadas em circunstâncias específicas.
Bazerman (1995) afirma que se não houvesse acordos sobre o significado das leis,
nosso sistema governamental entraria em colapso. Ambigüidades ou significados
129
não especificados, que não deixam clara a maneira de aplicação a casos
particulares, freqüentemente fazem parte de certas leis escritas na sua forma
original. Concordamos com Bazerman a esse respeito, quando ele complementa
essa idéia, afirmando que em todos os argumentos legais, os tribunais devem
interpretar o significado exato das leis.
Assim, muitas partes das decisões legais são um tipo de paráfrase prolongada,
esclarecendo a função da lei e seu significado. Livros de texto dessa área, por sua
vez, fazem uso dessas decisões e de outros precedentes judiciais com a finalidade
de reafirmar as leis em termos da prática legal atualizada.
É, portanto, inestimável o valor das paráfrases expandidas. Os historiadores
quando desejam mostrar como uma idéia nasceu de outra, precisam reafirmar as
duas, antes de demonstrarem as conexões entre elas. Se um advogado deseja citar
uma interpretação judicial que reforce seu caso, deve reafirmar os pontos
importantes daquela interpretação. Vemos assim, a importância do parafrasear em
todas essas circunstâncias, lembrando sempre que se deve identificar, com clareza,
a fonte de informação original (autor e texto) das idéias parafraseadas.
Bazerman (1995) conclui seu capítulo com exercício e tarefas que utilizam o
parafrasear sob diversos pontos de vista. Fornece alguns modelos para essas
estratégias que valem a pena ser experimentados. Concluímos nossos comentários
sobre o trabalho desse autor, destacando suas idéias de que a paráfrase torna
possível a complementação de nossos pontos de vista, porém, é mais flexível
porque nos possibilita ajustar o material original a nosso fluxo argumentativo.
Podemos, ao mesmo tempo, dar ênfase a pontos que sejam cruciais em nossa
argumentação. Com o parafrasear, nossa voz sempre estará na liderança;
permanece sempre sendo nossa voz.
130
CAPÍTULO 06
PARÁFRASE E ENSINO DE LÍNGUAS
Iniciamos o sexto capítulo com uma perspectiva que possibilita entrever
algumas aplicações práticas da reconstrução do sentido na intercomunicação
pedagógica, oferecendo exemplos de estratégias parafrásticas passíveis de ser
monitoradas.
Alguns processos de reformulação de enunciados são apresentados à guisa de
modelos. Assim, alguns livros de textos foram analisados onde a combinação, a
equivalência, a substituição e outros processos promotores da paráfrase se alternam
nos exemplos disponíveis. Um exame baseado em alguns resultados empíricos
decorrentes de certas situações pedagógicas objetiva explicitar enunciados com
informações obscuras a fim de possibilitar a sua compreensão pelos possíveis
interlocutores.
Expomos ainda nosso conceito de paráfrase acompanhado de um esquema
gráfico e introduzimos uma classificação parafrástica baseada em Hilgert (1996), que
prioriza a articulação tema/rema para essa distribuição. A criatividade também é
tema discutido no tocante às alternâncias de formas, sentidos e usos que a
paráfrase envolve.
Acrescentamos, nessa seqüência, um pequeno roteiro para a produção de
paráfrase, bem como uma fraseologia do parafrasear. A paráfrase conceitual, a
sinonímia as equivalências e as ambigüidades são analisadas e exemplificadas. São
registradas algumas expressões com o propósito de se encorajar a cortesia no
pragmatismo do trato social. Com o último tópico, enfocamos a dinâmica idéia de
reformulação a refletir-se no potencial criativo dos usuários da paráfrase que, muitas
131
vezes inconscientemente, põem em prática estratégias parafrásticas, terminando por
cunharem expressões comuns ao contexto pedagógico potencialmente reveladoras
da criatividade lingüística.
6.1. Perspectiva pedagógica
A pedagogia moderna, especialmente no ensino de línguas estrangeiras,
procura oferecer condições que contextualizem melhor as situações de
sociointeração refletidas nas tarefas escolares e práticas pedagógicas em geral. Por
isso, estamos inclinados a considerar a paráfrase um elemento catalisador poderoso
quando bem direcionado para resolver problemas de compreensão ou reconstrução
de sentido na intercomunicação pedagógica.
É, também nossa convicção que a monitoração da compreensão dos
aprendizes deve ser levada em consideração, haja vista os resultados positivos do
emprego da paráfrase em materiais pedagógicos criados e testados em contexto
brasileiro. Assim, desde 1966 o Instituto de Idiomas Yázigi vem aplicando o conceito
de paráfrase em seus materiais didáticos. Professores desse Instituto são orientados
quanto à necessidade de seus aprendizes desenvolverem um controle sistemático,
gradual da habilidade de parafrasear.
Em outras palavras, devem-se explorar os tipos de relacionamento que existem
entre a forma de uma oração e seu significado. Já nos primeiros estágios, a prática e
o uso de orações sinônimas são incentivadas para que os aprendizes possam
expressar a mesma idéia básica em pelo menos duas maneiras diferentes.
132
Apresentamos, a seguir, alguns exemplos extraídos de material didático do
Instituto Yázigi a fim de mostrar a aplicação do conceito de paráfrase. Fonte:
YÁZIGI ENGLISH PROGRAM 1 (YEP 1) A textbook for beginners, 1974. A técnica
se intitula: EQUIVALENT DIALOGUES “A” and “B” .
Dialogue A
Zip- Hello, I’m Zip.
Nancy- Hello, I’m Nancy. I’m an American.
Zip- Where are you from? Hawaii?
Nancy- Yes, I am. My hometown is Honolulu.
O diálogo acima tem sua forma equivalente na seguinte opção, mais coloquial
e mais simplificada:
Dialogue B
Zip- Hi, I’m Zip.
Nancy- Hi, I’m Nancy, I’m american.
Zip- From Hawaii?
Nancy- Yes, I am. Honolulu is my hometown.
A paráfrase também é explorada sob forma de orações equivalentes no
material daquele Instituto, intitulado Junior Course of Conversational English A
Program for Preadolescents. 2nd stage. 1970. Essa alternativa, além de simples,
familiariza e chama a atenção dos aprendizes para a parte mais importante dessa
estratégia parafrástica que é a focalização nas proposições, nos significados, nas
bases conceituais.
Composition A
The mailman brings two boxes. They are for the children.
In the large box there are pennants and posters. There is a
typical London bus.
Composition B
The mailman brings two boxes for the children.
In the large box there are pennants and posters, and a typical
London bus.
133
As estratégias adotadas pela instituição mencionada visando à melhoria do
contexto de aprendizagem foram, sem dúvida, um avanço para o ensino de línguas
da época. Infelizmente, poucas obras didáticas encontram-se hoje à disposição dos
professores que possam apresentar esse tipo de estratégias de reestruturação
sintático-semântica que preservem o significado básico.
A importância do processo de parafrasear é reconhecida em obra de
Lingüística Aplicada ao Ensino de Português, língua materna. Assim, no livro
Introdução à Semântica -Brincando com a Gramática, Ilari (2001), explora a variação
sintática na criação de alternativas de expressão para um mesmo conteúdo. O autor
apresenta alguns exemplos de operações sintáticas resultantes da paráfrase:
NA FORMAÇÃO DA VOZ PASSIVA:
Cabral descobriu o Brasil
O Brasil foi descoberto por Cabral.
DA NOMINALIZAÇÃO À RELATIVIZAÇÃO
A justiça ordenou a entrega imediata da criança aos pais
A justiça ordenou que a criança fosse entregue imediatamente aos
pais.
NA SUBSTITUIÇÃO DE UMA FORMA VERBAL FINITA POR UMA
FORMA VERBAL INFINITA
Aos trinta anos, ficaria mal eu pedir dinheiro a meu pai
Aos trinta anos, pegaria mal que eu pedisse/se eu pedisse dinheiro
a meu pai.
Aos trinta anos, pegaria mal eu pedir dinheiro a meu pai.
NO ALÇAMENTO DE CERTOS VERBOS
Para a maionese endurecer, é preciso que a vasilha esteja
absolutamente seca.
Para que a maionese endureça, a vasilha precisa estar
absolutamente seca.
NAS MODALIZAÇÕES (na troca de verbos por advérbios e vice-
versa).
(Aparentemente: parecer; possivelmente: poder: necessariamente:
precisar; geralmente: costumar, etc.):
Os ensaios da banda são feitos habitualmente na noite de quarta-
feira.
134
Os ensaios da banda costumam ser feitos na noite de quarta-feira.
Ilari chama nossa atenção para o valioso uso da paráfrase em atividades
pedagógicas enriquecedoras do processo de retextualização, porém, não aprofunda
a questão nem explicita uma tipologia.
Os autores portugueses Avelar e Dias (1995), exploram a paráfrase em um livro
texto de português como língua estrangeira de uma maneira muito simples e
proveitosa. “Por outras palavras” é como apresentam opções sintáticas
diversificadas em exercícios pedagógicos, ou seja, uma maneira sutil de utilizar a
paráfrase. Observemos os seguintes exemplos:
O recepcionista reflectia o marasmo que invadira o hotel passada a
época alta.
= O recepcionista reflectia o marasmo que tinha invadido o hotel
passada a época alta.
Afinal ele servira apenas para tirar o empregado de sua apatia.
= Afinal ele tinha servido apenas para tirar o empregado de sua
apatia.
Mas ele não estava. Também se fora.
= Mas ele não estava. Também se tinha ido embora.
Discreto como a atenção que não recebera.
= Discreto como a atenção que não tinha recebido.
Os referidos autores também apresentam outra forma de reestruturação
semântica baseada no princípio da equivalência. Nos exemplos a seguir, empregam o
pretérito mais que perfeito simples e o pretérito imperfeito no modo conjuntivo.
O funcionário pensara provavelmente que ele seria
uma pessoa paciente.
= O funcionário provavelmente tinha pensado que ele seria uma
pessoa paciente.
= O funcionário talvez tivesse pensado que ele
seria uma pessoa paciente.
Em seguida, são apresentados exemplos que valorizam a substituição de
frases usadas com a conjunção comparativa condicional “como se” no lugar do
pretérito imperfeito do conjuntivo.
135
“Como se fora um cliente sem importância= Como se fosse um cliente sem
importância”.
Ao exemplo anterior, nós acrescemos mais duas opções freqüentes no
português do Brasil:
= Tal e qual um mero cliente.
= Como um cliente qualquer.
Nessa seqüência de exemplos, vamos encontrar uma variante de uso
formal
Com o auxiliar haver ao invés de ter.
“E os sorrisos haviam sido transformados em desatenção = E os sorrisos tinham
sido transformados em desatenção”.
Dando seqüência ao emprego da paráfrase nesses exercícios bem práticos,
encontramos, no volume supracitado, uma tipologia de possível relevância
pedagógica:
ALGUNS PROCESSOS DE REFORMULAÇÃO DE ENUNCIADO
A. É possível modificar
1. O verbo
Ex:...Enquanto os outros clientes eram servidos sofregamente
= eram sofregamente servidos
2. O adjetivo
Ex:...procurando satisfazer os seus mais pequenos caprichos
= procurando satisfazer os seus pequenos caprichos a cidade era
mais confortável e menos hostil
= a cidade era confortável e não era tão hostil.
3. A frase
Ex.:...os empregados, freneticamente procuravam...
= freneticamente, os empregados procuravam...
= os empregados procuravam freneticamente
B. É possível economizar-se frases relativas
Ex.: ... O restaurante, agora repleto, parecia mais
pequeno...
= o restaurante,
que agora estava repleto, parecia mais pequeno.
Frases comparativas
Ex: Dois dias depois, inesperadamente, o hotel
amanheceu outro.
=
como se fosse outro
C. é possível reforçar elementos da frase por
1. repetição
Ex: As raras pessoas que caminham são pessoas possuídas de
uma tristeza amável...
136
= As raras pessoas que caminham, são possuídas de uma tristeza
amável...
2. Pronominalização
Ex: é outra na qual se manifestou e desenvolveu um acidente
monstruoso...
Um cego avança pelo lancil, junto
do qual estão estacionadas
dezenas de automóveis.
3. Requalificação/oposição
Ex: Há outra gente que não é nova gente nem gente nova; é outra,
4. Valorização
Ex: Este é o cliente de todo o ano. = o cliente de
todo o ano é este.
5. Generalização
Ex: Não era a celebração da cortesia, nada disso: era, sim, um
aceno... Estão nisto
Os tempos são ferozes e tornaram as pessoas assim.
6. Gradação
Ex:...um acidente monstruoso: o de rejeitar, anular e excluir os
outros.
7. Exclamação (provocativa)
Ex: ó sua besta, então não vê o que anda a fazer?
Onde é que você está, seu malandro, para eu lhe
partir a cara?
Em um livro de textos, elaborado no Centro de Lingüística Aplicada do Instituto
de Idiomas Yazigi S.C. em S.Paulo em 1978, encontramos uma variedade
surpreendente de diálogos que oscilam entre o uso formal, neutro e informal. Essa
obra expõe claramente esses usos e propõe exercícios que pedem a identificação
dos mesmos pelos alunos, além de práticas que destacam a combinação de frases e
frases equivalentes, na verdade, aspectos variados da paráfrase. Eis alguns desses
exemplos:
O senhor toma café com leite? - Tomo, sim.
A senhora toma café com açúcar? - Sim, tomo.
Toma chá? - Aceito, obrigada
Toma uma caipirinha? - Tomo.
__________batida Sim,obrigado(a)
Combinações oracionais.
Paulo não estuda. Paulo trabalha
José trabalha numa Indústria. Maria trabalha num Banco
137
Pedro mora num apartamento. Paulo mora numa casa
O Prof. João ensina num colégio. A Profa. Maria ensina numa universidade.
De onde são estas encomendas? De São Paulo?
Pedro virá em maio. João virá em maio também.
Não recebi notícias de casa. Pedro também não.
Maria escreveu para mim. José também.
Paulo e eu comemos sobremesa. José e João não comem sobremesa.
Elias é representante de um grupo financeiro. O grupo é Japonês.
Para combinarmos as orações apresentadas, usando nossa criatividade, teremos
uma gama variada de possibilidades que a paráfrase pode nos oferecer. Por
exemplo:
a) Paulo não estuda, só trabalha.
b) Paulo trabalha, mas, não estuda.
c) Paulo apenas trabalha, ele não estuda.
d) Paulo só trabalha, não estuda.
e) Paulo não estuda, porém trabalha.
f) Paulo não estuda, trabalha
g) Paulo não estuda, ele trabalha
h) Paulo não estuda, mas trabalha
Diálogos e frases equivalentes (ainda do livro do Yázigi )
Diálogo ‘A’
-Cafezinho?
-Aceito.
-Cigarro?
-Brigado, não fumo.
Diálogo B
Um cafezinho?
138
-Aceito, sim.
-Aceita um cigarro?
-Não. Obrigado, eu não fumo.
Frases equivalentes
Eu vou a Porto Alegre na próxima semana
Vou a Porto Alegre na próxima semana
Vou ao Japão daqui a dois meses
Daqui a dois meses, vou ao Japão
A gente vai aos Estados Unidos daqui a um mês
Daqui a um mês nós vamos aos Estados Unidos
Maria tem cabelos castanhos
Os cabelos de Maria são castanhos
Não tenho dinheiro para pagar a conta
Estou sem dinheiro para pagar a conta
Essas frases equivalentes, ainda, podem ser parafraseadas, revelando o
grande potencial que as estratégias parafrásticas podem oferecer no processo de
reestruturação textual. Vejamos algumas possibilidades:
a) Na semana que vem eu vou a Porto Alegre.
b) Na próxima semana vou para Porto Alegre.
c) Vou a Porto Alegre na semana que vem.
Obras como essa elaborada pelo Instituto Yázigi oferecem aos aprendizes,
variantes lingüísticas que vão de altamente formal ao informal tão costumeiro e tão
pouco explorado no ensino de línguas estrangeiras. O uso de variantes neutras e
informais está muito presente no nosso dia-a-dia e passa muito despercebido para
dar lugar às formas “gramaticalizadas” e altamente formais que tendem a ocupar as
páginas da maioria das obras didáticas. Em seguida, esboçamos um quadro que
resume as formas de paráfrase mais usadas nos trabalhos que acabamos de
analizar.
139
Quadro 07. Paráfrases mais usadas nas obras didáticas analisadas
Modificando o verbo Modificando o adjetivo
Modificando a frase Modificando a oração
Na pronominalização Na requalificação
Na valorização Na generalização
Na substituição Na gradação
Na exclamação Nas combinações
Nas equivalências
Todas essas variações sintáticas, processos de reformulação de enunciados,
combinações de frases, diálogos e frases equivalentes possuem sua relevância
pedagógica e procuramos no tópico que vem em seguida justificar essa afirmação.
6.2. Paráfrase: Um enfoque combinatório/composicional
È incontestável a necessidade de se explicitar novas terminologias e noções
abstratas em sala de aula detalhando-se ou sintetizando-se a informação para se
assegurar a intercompreensão conversacional entre professor e aluno.
Portanto, reiteramos a importância da paráfrase no campo pedagógico,
contanto que ela seja usada sistemática e monitoradamente. Assim, propiciará
benefícios no processo de ensino/aprendizagem de línguas por contribuir para a
compreensão do que está sendo comunicado.
Que professor não terá se deparado com enunciados do tipo:
Desculpe professor, não entendi!
O (A) senhor (a) podia repetir de outro jeito?
Não compreendemos o que o (a) senhor(a) explicou.
Como foi mesmo que o (a) senhor (a) falou?
140
Desculpe, prof. (a), mas, não ficou claro. Pode repetir?
O (A) Sr.(a) podia explicar de novo?
A explicação pode ter sido feita sem a devida clareza, o que foi enunciado ou
exposto deverá ser repetido, ou melhor, re-explicado. E que forma seria melhor que
a paráfrase para situações semelhantes?
Estamos cada vez mais convictos de que as construções parafrásticas são a solução
mais natural e conveniente para essas situações didático-pedagógicas que
requerem uma re-estruturação sintático-semântica.
Hilgert (1996), examina e valoriza a paráfrase visando à explicitação de enunciados
com informações genéricas ou sucintas que garantem aos interlocutores a
compreensão de enunciados. Sem ela outros objetivos conversacionais seriam
alcançados com dificuldade.
O mencionado autor, em sua contribuição para uma melhor descrição da
organização interativo-textual da língua portuguesa falada, investiga algumas
maneiras de formulação e reformulação textual, dando prioridade à paráfrase, por se
tratar da estratégia que os interlocutores recorrem com maior freqüência. Apesar
dela se manifestar através de um quadro bem amplo, o citado autor dedica-se
apenas às paráfrases que estejam em relação paradigmática com o enunciado que
as origina.
Para Hilgert (1996), A paráfrase (P) é um enunciado reformulador do enunciado
anterior, (enunciado origem ou matriz) com o qual mantém uma relação de
equivalência semântica em graus variados. Portanto, a paráfrase seria o enunciado
(P) na relação (M)--- (P).
141
Em sua pesquisa, Hilgert procura identificar as regularidades que ocorrem nas
interações de textos conversacionais buscando explicitar as estratégias de
construção desses textos. Essas regularidades recebem a seguinte identificação:
Nível semântico
Analisa-se o deslocamento de sentido na passagem da matriz para a paráfrase.
Nível formal
Prioriza-se nesse nível as reformulações léxico-sintáticas que ocorrem na passagem
da matriz para a paráfrase.
Nível funcional
Nessa instância, aponta-se a função genérica, bem como as funções específicas de
cada paráfrase em seu contexto imediato.
Consideramos a paráfrase a reformulação de um enunciado inicial tomado
como uma Base Conceitual Nuclear que possibilita diversas formulações sintáticas
conservando a maioria dos traços semânticos. Assim, temos:
------P1
BCN ----- P2
------ P3
------ Pn
As possíveis realizações de P1, P2, P3...Pn estabelecem com a base
conceitual uma relação de substituibilidade, mantendo quase o mesmo valor
semântico. Simplificando a idéia, ou parafraseando-a, podemos dizer que um
determinado conceito pode assumir formas diversas de expressão mantendo a
quase totalidade de seu sentido original.
142
A pesquisa realizada por Hilgert (1996) permitiu-lhe elaborar uma classificação
da paráfrase que obedece à seguinte ordem:
Paráfrases expandidas (56%)
Paráfrases condensadas (18%)
Paráfrases paralelas (26%)
O percentual atribuído a cada tipo indica o predomínio das ocorrências para as
expandidas, enquanto diminui a freqüência para os outros dois tipos.
Segundo o referido pesquisador, existe a predominância das paráfrases
expandidas, o que parece confirmar que os falantes recorrem a essa estratégia com
o objetivo primordial de garantir a seu interlocutor a compreensão de seus
enunciados. Sem compreender os enunciados, o interlocutor não alcançará outros
objetivos conversacionais. Para chegar-se à compreensão é preciso que se recorra
a explicações, definições, explicitações e especificações. Em outros termos:
paráfrases expandidas.
Para justificar a aplicação prática da paráfrase, Hilgert assevera que os
professores alcançam com muita freqüência seus objetivos através de explicações
definidoras de termos novos, explicitando noções abstratas e detalhamento de
informações através de formulações parafrásticas.
O referido autor admite que a função geral das paráfrases é assegurar a inter-
compreensão conversacional entre os interlocutores e defende a hipótese de que o
parafrasear se desenvolve com predominância no predicado e não no sujeito da
estrutura oracional. Para esse raciocínio, tomou como base a organização
informacional da frase à luz da articulação “TEMA / REMA” considerando que:
Geralmente, na estrutura da oração o tema se concentra no sujeito. O rema
se concentra no predicado.
143
O tema é a informação conhecida. O rema é a informação desconhecida, a
informação nova.
O enunciador concentra obviamente seu empenho na elaboração de uma
estrutura que o enunciatário compreenda.
Esses elementos forneceram-lhe uma base para levantar a hipótese de que o
parafrasear tem a função de “assegurar a compreensão da enunciação” (grifo
nosso) e se manifesta com predominância no predicado dos sintagmas
oracionais.
Desde que o desdobramento do rema possibilita a progressividade textual,
numa perspectiva informacional da frase, a paráfrase é de natureza remática e por
isso está situada no predicado da oração. Isso vem confirmar que a função principal
da paráfrase é garantir ao enunciatário que a informação nova contida na articulação
Tema / Rema seja compreendida.
Outro aspecto importante analisado por Hilgert é o deslocamento de sentido, ou
seja, a transformação, o movimento semântico nas relações parafrásticas. Nesse
processo, manifestam-se dois tipos de transformação: A especificação e a
generalização.
A especificação ocorre quando a mudança vai do geral ao específico. A carga
semântica da frase original ou matriz é maior que a paráfrase resultante.
Os exemplos seguintes são apresentados por Hilgert ( 1996, pp.131-145).
(5)
L1 – e eu terei tempo disponível não que eu
M-deseje::: liberdade
P- deseje eh eh estar assim sem obrigações para com as
crianças...
Mas é que daí eu terei tempo disponível para fazer as coisas extras
Não é?
(Inq. 360, linhas 1230 – 33, p. 167)
144
(7)
não foi ainda... estabelecido... na medida em
M – que as duas coisas são reais...
P – que as duas coisas fazem parte do mundo e têm e passam a
ter
uma existência...
eles ainda não se preocuparam ... com o problema de um se::r ...
representação do outro...
(Inq. 405. 195, p.52).
Esse processo de explicitação de sentido, como no exemplo (5) mostra que o
lexema “liberdade” expressa toda potencialidade semântica do termo que pode ser
usado em diferentes contextos situacionais. Ao parafrasear, uma possibilidade:
estar assim sem obrigações para com as crianças” algo concernente apenas ao
falante em termos de liberdade. O exemplo (7) também obedece ao processo
mencionado.
Como visto na obra de Avelar e Dias (op.cit) a generalização apresenta-se
quando o deslocamento de sentido da matriz para a paráfrase muda de específico
para geral. Nesse caso, o alcance semântico da matriz é menor.
O exemplo seguinte, também é apresentado por Hilgert (op.cit. ):
(10)
vocês se lembram que o tema...pré-iconográfico a imagem é
uma composição de motivos... a que
M – nós vamos... fazer uma leitura em nível PRÈ-iconográfico
P – nós vamos reconhecer as formas...
Então que tipo de formas nós vamos reconhecer?...
(Inq. 405, linhas 129 –134, p.51)
Aqui, percebemos a transformação da mensagem de explícita, detalhada para
uma forma de natureza resumidora ou denominadora.
Sob a perspectiva formal, observamos que Hilgert evidencia duas direções
marcantes tomadas pela paráfrase em termos sintático-lexicais:
Expansão
Condensação
145
Percebe-se que a expressão “muito acomodadas” é substituída por uma
estrutura léxico-sintática bem mais complexa, no entanto , do ponto de vista
semântico bem menos abrangente que a matriz. O contexto situacional tem um
papel preponderante nessas transformações.
Observa-se que o falante sente a necessidade de explicar-se (usa uma
explicação definidora) na sua reestruturação frasal. A paráfrase expansiva possui a
capacidade de explicitar enunciados com informações não muito precisas, genéricas
ou muito sucintas.
Na expansão parafrástica o parafrasear se realiza através de um
enunciado mais complexo léxico-sintaticamente que o da matriz.
Eis mais um de seus exemplos:
(11)
L1 – as mais velhas estão entrando agora na adolescência e...
L2 ( )
M – L1 – mas são muito acomodadas...
P - ainda não começaram assim... aquela fase... chamada de ...
mais difícil de crítica
(Inq. 360, linhas 40 – 45, p. 37).
A condensação parafrástica possui um movimento contrário ao da paráfrase
expansiva. Ou seja: Uma unidade léxico-sintática mais simples se formula a partir da
matriz.
Eis mais um dos exemplos colhidos em Hilgert ( 1996,pp.131-145):
(13)
L2 – é e a/ e ainda agora que estão todos maiores
M – quer dizer cada um já fica mais ou menos responsável por si
L1 – certo
L2 - pelo menos na... a ... ah por si... fisicamente né? [isso
P - já se cuidam
(Inq. D360, linhas 176 – 181, p.140).
No exemplo acima, a matriz não apresenta uma denominação adequada, é
imprecisa e um tanto dispersa. Portanto, a paráfrase tenta corrigir isso condensando
o sentido na expressão “já se cuidam”.
146
Na análise estatística realizada por Hilgert, a paráfrase expandida tem amplo
predomínio sobre as
condensadas e as paralelas. Ainda sob o ponto de vista formal,
aquele autor inclui uma terceira opção parafrástica que é o paralelismo.
Nessa modalidade, podemos perceber que a paráfrase se formula com o
mesmo potencial semântico de suas matrizes, sem perda ou ganho de sentido. Do
ponto de vista formal, diferem dos enunciados originais por algumas variações
lexicais. Mesmo assim, uma tendência para a
especificação do termo ou
expressão parafraseada. Algumas procuram uma melhor adequação lexical, como
nos exemplos de Hilgert ( 1996,pp.131-145 ):
(17)
eu acho que vai
M – mais estudante
P – mais molecadinha
P – rapazes
Sei lá eu não...parece que a gente se sente até mais...assim por
fora.
(Inq. 234, linhas 142 – 146, p. 107)
Em particular, consideramos a paráfrase paralela um dos processos mais
relevantes para o ensino de línguas estrangeiras, por se tratar de uma estratégia
que permeia todo o processo de aprendizagem favorecendo a consolidação e a
diversificação do vocabulário adquirido pelos aprendizes. Eis alguns exemplos
básicos:
1) The program was so boring, I mean, tiresome.
Uma outra forma paralela se estabelece junto à matriz, complementando, ampliando
o leque dos sentidos desta. O exemplo seguinte esclarece esta função:
2) She´s bossy. She´s always telling people what to do.
As paráfrases paralelas favorecem a especificação de referências da matriz
enquanto as demais estabelecem uma adequação vocabular mais eficiente aos
termos da matriz ou oferecem nuanças semânticas àqueles termos.
147
Essas atividades com paráfrases paralelas são de grande utilidade para a
melhoria do processo de ensino-aprendizagem de línguas ao possibilitarem que se
exerça a criatividade para se desenvolver estratégias cada vez mais eficientes.
Fávero(1985), em sua obra sobre Oralidade e Escrita, inclui esta conceituação
de Fuchs sobre paráfrase: “A paráfrase é uma atividade de reformulação pela qual
se restaura, bem ou mal, na totalidade ou em partes, fielmente ou não, o conteúdo
de um texto-fonte, num texto derivado”.
Essa interpretação, a nosso ver, provoca reflexões e levariam a
questionamentos tais como:
(1) Qual o sentido de “restaurar” dado pelo seu autor?
(2) O conteúdo de um texto-fonte “mal restaurado” pode ser aceito como uma
paráfrase genuína?
(3) A restauração “não fiel” de um texto-fonte pode ser considerada como uma
paráfrase?
(4) A restauração “em parte” de um texto-fonte pode ser tomada como uma
paráfrase?
Preferimos esta conceituação de Fávero (1985):
“A paráfrase é, portanto, um enunciado que reformula um anterior e
com o qual mantém uma relação de equivalência semântica
”.
É provável que o conceito de Fávero seja uma paráfrase da síntese teórica
elaborada por Hilgert (1996), tendo em vista que aquela autora exprime a mesma
idéia dada pelo referido autor. A abordagem de Fávero sobre paráfrase é bastante
resumida, por isso, faz questão de nos remeter ao trabalho de Hilgert, para um
estudo mais pormenorizado.
148
Smaltzer (1996), ao tratar de atividades pedagógicas que objetivam melhorar a
escrita, aconselha o uso da paráfrase a seus leitores. Para ele, se alguém deseja
usar a idéia de outrem, deve fazê-lo com suas próprias palavras. Desse modo,
estará dando a entender que claramente compreende a idéia em discussão.
Smaltzer (op.cit), deixa claro em sua sugestão que ao citarmos as idéias de outras
pessoas através da paráfrase, não podemos deixar de mencionar o nome do autor
para evitar o plágio.
A partir de um texto apresentado por Smaltzer (1996), decorre um exercício de
parafrasear frases no qual solicita aos usuários que: “reescrevam a frase com suas
próprias palavras mudando a estrutura original sem usar os termos dados em
itálico”.
Exemplo: (linhas 17-18) “...the parents treat the child in accordance
with his place in the family and soon the child recognizes that
place”
.
“Paraphrase: The child in a family learns his place in the family
from the way that his parents behave with him, which is determined
by that child´s birth order. (28 words)
Revision: The child soon learns his role in the family from his
parent´s behaviour with him which is influenced by the child´s birth
order. (23 words)”
O texto fonte, ou original (matriz) apresenta itens em itálico os quais são
substituídos por termos equivalentes na paráfrase. Na revisão, conserva-se o tópico
principal ou como denominamos, a BCNP, apesar da nova reestruturação sintática.
A tabela que vem em seguida resume as formas de deslocamento do sentido da
matriz (BCN) para a alternativa parafrástica:
149
Quadro 08. Formas de deslocamento do sentido da matriz (BCN)
Especificando Generalizando
Resumindo / condensando Expandindo / ampliando
Equiparando Substituindo
Ao concluir, reiteramos nossa idéia de que a reformulação de enunciados é
imprescindível em situações pedagógicas, para assegurarmos aos alunos a
compreensão de enunciados obscuros nas interações entre docentes e discentes.
Dessa forma, desafiar os aprendizes usuários de paráfrases a fazer uso de seu
potencial criativo torna-se um estímulo a mais nas atividades de reformulação
sintático-semântica. Por conseguinte, estendemos nossas ponderações sobre
criatividade no próximo artigo.
6.3. Fraseologia do parafrasear
Compreendemos a paráfrase como um processo permanente, sempre presente
em nosso cotidiano comunicativo. Atuante e quase imperceptível. Sua ação é
constante porque estamos sempre pensando, “recriando” textos.
Quando lemos algo, refletimos, e essa reflexão nos leva ao pensamento crítico
daquilo que lemos, ou mesmo a questionamentos ou uma apreciação.
Para criticarmos um texto, questioná-lo, de certa forma repassamos em nosso
arquivo mental as imagens que compõem o objeto de nosso pensamento. Estamos
“recriando” o texto a nosso modo. Esse recriar, sem alterar sua base conceitual é
uma forma de parafrasear. Tal processo de re-estruturação textual está fortemente
vinculado à linguagem, que pensamento e linguagem interagem em
150
simultaneidade. Ao ouvirmos nossos interlocutores também estamos analisando,
refletindo suas idéias que são componentes de um texto circunstancial o qual re-
processamos à nossa maneira, ou seja, “parafraseamos” aquilo que ouvimos.
Assim, vamos chegar a uma fraseologia do parafrasear que se concretiza
conversacionalmente através de marcadores como:
Em outras palavras,
Em outros termos,
Isto é:
Dizendo melhor,
Melhor dizendo,
Para melhor dizer,
Ou seja:
O que eu quero dizer é...
O que eu estou falando é...
O que estou querendo dizer é...
O que eu estou dizendo é...
O que eu quis dizer é...
O que eu queria dizer é...
Eu estou dizendo que...
O que eu disse foi...
Eu disse que...
Eu falei que...
O que eu quero dizer com isso é...
Reelaborar pensamentos também faz parte desse processo de análise textual
porque os mesmos fazem parte de frames ou esquemas. Sejam eles armazenados
na memória sem certa ordenação ou mesmo possuindo uma seqüência temporal ou
causal, todos farão parte do mega-texto sócio-histórico, ou seja: a fonte da qual os
151
indivíduos retira suas referências conceituais ou contribuem para incrementá-la ou
aprimorá-la.
Dada a relevância intercultural do parafrasear incluímos o conceito de um mito
da cultura japonesa, chamado Kintaro. Trata-se de uma simpatia ou crendice do
povo japonês segundo a qual todo bebê do sexo masculino deve receber de
presente, ou mesmo obter de outro modo, um bonequinho representando Kintaro
um ícone de garoto saudável, ativo e muito forte que vivia em contato com a
natureza e os animais para que, assim, a criança que guardar em casa esse ícone
de Kintaro, seja também saudável e forte.
Seguem os conceitos referentes ao acima exposto:
a) Mukashi, mukashi aru tokoro ni genki na otoko no ko ga sunde orimashita.
Era uma vez, um menino muito saudável que morava em certo lugar.
b) kintaro no monogatari wa kenkoo ni tsuioku sodatte
iku otokonokotachi o omotte dekita hanashi desu.
A lenda de Kintaro é sobre as crianças que devem crescer com bastante saúde.
c) Mukashi, mukashi, kintaro to iu kodomo ga imashita. Totemo
Tsuioku kenkoo na ko deshita.
Antigamente, existiu um menino chamado Kintaro. Era muito forte e saudável.
d)
Mukashi, mukashi Kintaro to iu kodomo ga imashita.
Sono ko wa totemo tsuioi ko deshita.
Era uma vez um menino que se chamava Kintaro. Esse garoto era muito saudável.
Os conceitos acima, se forem mencionados em qualquer uma das formas: a, b,
c, ou d, para um falante de língua japonesa irão certamente ser compreendidos
tendo em vista estarem dispostos em uma seqüência sintático-semântica
plenamente coesa e coerente. Além do mais, estão representadas em vários
registros que variam em nível de formalidade, sem contar que se trata de um tópico
cultural muitíssimo conhecido no Japão. Vemos, assim, a possível relevância da
152
paráfrase na explicitação de tópicos, mesmo em uma língua ainda pouco estudada
por nós ocidentais.
A forma e o sentido, a sinonímia e as ambigüidades são elementos lingüísticos
que tanto podem ajudar como atrapalhar o desempenho do aprendiz com relação à
sua fluência conceitual. Por isso, o tópico seguinte foi elaborado com bastante
exemplos visando a esclarecer um pouco esse assunto.
6.4. Paráfrase, sinonímia e ambigüidade
Palavras ou frases com o mesmo sentido são denominadas sinônimas.
Exemplo:
Solteira = mulher que não é casada.
A paráfrase geralmente refere-se a uma oração completa que possui em
essência uma equivalência sinonímica.
Stockwell (1977), refere-se às estruturas em que as palavras se mantêm mais
ou menos constantes, mas são permutadas em uma seqüência ou estrutura
hierárquica. Ex: É certo que ela vai partir. = Com certeza ela vai partir.
a ambigüidade é o inverso da sinonímia. A sinonímia, como também a
paráfrase, pode ser interpretada através do esquema proposto por Stockwell (1977):
Forma 1 -------- (significado)-------- Forma 2
A ambigüidade, por sua vez, apresenta-se ao inverso:
Sentido 1------ (Forma)-------- Sentido 2.
Uma outra estrutura do esquema anterior mostra-nos a inversão assim:
153
Quadro 09. Sinonímia e Ambigüidade
Sinonímia Ambigüidade
Sentido: Um Vários
Forma: várias Uma
Desde os anos 70, que se explorava pedagogicamente a ambigüidade no
ensino de inglês. Schmitz (1978), com o propósito de incrementar a criatividade dos
professores de Inglês e ao mesmo tempo ajudar os alunos a serem mais criativos,
sugeria uma seqüência muito relevante no processo de ensino aprendizagem de
línguas: compreender mais, falar mais cuidadosamente e escrever mais claramente.
Além disso, numa perspectiva mais simples, apreciar a aprendizagem com mais
entretenimento. Os exercícios baseados em ambigüidades que ele adotava podem
ser utilizado proveitosamente em classes de iniciantes, intermediários e avançados.
Para ele, a ambigüidade é a propriedade que certas orações possuem de apresentar
vários sentidos ou que possam ser compreendidas de várias maneiras. Em seus
exemplos, destacam-se a princípio itens lexicais que podem ter dois ou mais
significados:
I)
(a) The big bill amazed Fred.
(b) Where is the
ball?
(c) The troops took the port at night.
(d) Look out for the
bat!
154
Esses exemplos classificam-se como ambigüidades lexicais ou semânticas
porque cada uma das palavras em negrito representa dois ou mais sentidos. No
exemplo (a), o temo
“bill” poderá ser interpretado como o “bico” de um pássaro, a
“conta” exagerada em um restaurante ou o valor muito alto de uma cédula monetária
que deixou Fred surpreso. Já no exemplo (b)
“Ball pode significar um evento
dançante ou um objeto esférico para fins lúdicos. Em (c) “Porto” pode muito bem ser
um vinho português ou uma cidade perto de um rio ou do mar. Em (d) Batpoderá
significar um tipo de mamífero noturno, provido de asas que vive em cavernas e voa
à noite, ou um grande bastão usado para atingir a bola nos jogos de baseball ou
cricket.
As
ambigüidades também podem ser sintáticas ou gramaticais.
II)
1) Jeff made his parents iron.
2) Jim likes entertaining women.
3) The testing of teachers is unfair.
4) The turkey is ready to eat.
No exemplo II-1, se a sentença estivesse isolada, seria difícil sabermos se iron
é um verbo ou um substantivo. Se for verbo, fica claro que Jeff fez seus pais
passarem algumas roupas a ferro. Se for substantivo, Jeff fabricou um ferro para
seus pais. Ainda uma terceira opção que não seria aceitável nem natural, mas,
compreensível é que Jeff teria transformado seus pais em ferro.
No exemplo II-2, se “entertaining” for um adjetivo, a mulher é quem entrete ou diverte
Jim. Caso seja um verbo, Jim é quem é o agente – é quem faz a distração.
Em II-3, se testing” for um substantivo, é a política de testagem que é injusta;
ou seja, os meios de testagem ou as provas são injustas. Se esse termo for um
155
verbo, temos a afirmação de que o ato de testar professores é que é injusto por
algum motivo.
No exemplo II-4, caso turkeyseja o objeto do verbo comer, então algumas
pessoas vão comer o peru; e se for o contrário, o peru é o agente, é quem vai comer
algo.
É aconselhável que a ambigüidade seja tratada com cautela para que não seja
vista como sendo um impedimento para a comunicação porque faz parte das línguas
naturais. A maioria das ambigüidades encontradas na comunicação terá uma
solução quase que automática quando o contexto é verbal e a própria
contextualização é quem se encarrega de solucionar o problema. Caso não fique
bem resolvida, recomendamos o uso consciente da paráfrase para essa finalidade.
Logicamente, devemos ser cuidadosos quanto ao uso de certos modificadores
para não causarmos compreensão quando estruturarmos certas orações.
Observemos com atenção as seguintes estruturas:
III)
a) The rider dismounted from the horse with a smile.
b) A young woman carrying a baby and her husband entered the room.
c) Driving along the highway, the sunset glowed in the west.
d) My wife never does the washing when damp.
No exemplo “a” poderemos, a princípio, ficar pensando se quem sorria era o
cavalo ou o cavaleiro.
Na letra “b” a questão é a respeito da jovem mulher carregando o quê? O bebê
ou o bebê e o marido?
No exemplo seguinte; “c”, Quem dirigia? Ou o que dirigia? O pôr do sol poderia
dirigir?
Na letra “d”, quem estava úmido, ou úmida? Quem faz a lavagem e quando?
156
QUE RELAÇÃO HÁ ENTRE PARÁFRASE, AMBIGÜIDADE E ORAÇÕES
EQUIVALENTES?
A ambigüidade pode originar-se de um raciocínio apressado, talvez porque o
usuário deixe de usar as estruturas formais de uma língua, mas não deve ser
simplesmente evitada. É necessário ser melhor observada e explicada caso surjam
em contextos lingüísticos na escola. Nesse momento o uso da paráfrase pode ser
necessário. O lado positivo da ambigüidade consiste na liberdade de identificar e
usá-la intencionalmente para fins lúdicos na apreciação de piadas e trocadilhos que
os textos possam apresentar através dessas peculiares expressões semânticas.
Também em língua portuguesa, inúmeros usos ambíguos poderão desafiar a
compreensão de falantes nativos. Vejamos um exemplo aparentemente simples para
cidadãos olindenses: “Casa Caiada não é uma casa caiada”. Mesmo as pessoas que
não conhecem bem a cidade de Olinda, ou estrangeiros aprendizes de português do
Brasil, encontrarão certa dificuldade na compreensão dessa frase. Carecerá de
paráfrases ou de contextos que contribuam pra o esclarecimento da mesma, como
por exemplo:
Casa Caiada é um bairro de Olinda
Casa Caiada é um setor de uma cidade, não se trata de uma casa pintada com
cal.
Casa caiada é o nome de um subúrbio olindense.
Casa caiada não é simplesmente uma casa pintada com cal.
Casa caiada não é apenas uma residência pintada com cal.
Casa caiada não é uma casa pintada à cal, é o nome dado a um bairro de
Olinda.
157
Em língua inglesa podem ocorrer problemas semelhantes:
“John saw the girl on the corner”.
Quem estava na esquina? John ou a garota?
Obviamente, se quisermos esclarecer o sentido da frase sem deixá-la, com
efeito, de ambigüidade, teremos que parafraseá-la:
“John saw the girl who was on the corner”
“John saw the girl from the corner”.
Em seguida, temos algumas frases também apresentadas por Schmitz (1978,
p.34) que pretendem reparar ou consertar possíveis falhas na comunicação das
orações apresentadas no exemplo III).
IV)
With a smile, the rider dismounted from the horse.
Carrying a baby in her arms, a young woman entered the room with
her husband. While driving along the highway, we saw the sunset
glowing in the west.
My wife never does the washing when the weather is damp.
Quando aparecerem estas formações, os alunos podem ser desafiados a
reescrever as orações evitando ambigüidades. Em outras palavras, estimule-se a
recriação dessas sentenças problemáticas através do uso mais reflexivo da
paráfrase.
É muito mais comum a ocorrência de ambigüidades na escrita em frases
isoladas. Na linguagem falada, entretanto, a entonação, a tonicidade, ajudam a
resolver esse problema semântico. Um tratamento pedagógico adequado pode
ajudar aprendizes de segunda língua a melhorarem sua competência nas
habilidades lingüísticas como compreendedores e produtores textuais.
Como a entonação ainda é considerada um problema crucial na prática de sala
de aula, as sentenças ambíguas podem ajudar no desenvolvimento da percepção da
pronúncia adequada das palavras para facilitar a compreensão de frases, parágrafos
e textos.
Nos exemplos a seguir, se a acentuação não for adequada poderá haver uma
interpretação das frases:
158
V)
a) He is a fine clerk - ( a good one)
b) He is a
fine clerk - (collects fines)
c)Jean is a French
teacher - (teaches French)
d) Jean is a French teacher - ( a teacher from France)
Incentivar os alunos a distinguir e explicitar os sentidos em frases ambíguas
pode ser uma prática pedagógica produtiva, por isso, é aconselhável enfatizar-se
mais o uso de paráfrases para o desenvolvimento de tais mensagens em pequenos
parágrafos, com a finalidade de esclarecimento e maior compreensão das mesmas.
Dada a maior facilidade de se encontrar on-line atualmente textos de revistas
editados em língua estrangeira, é possível obter-se materiais autênticos suficientes
para a prática de sala de aula. Observando os exemplos acima, percebemos que as
expressões entre parênteses equivalem a paráfrases dos mesmos. Assim, dando
relevância ao modelo reproduzido oralmente com a devida tonicidade (das palavras
em negrito) a paráfrase ficará mais evidente.
Eis alguns exemplos humorísticos apresentados por Schmitz (1978, p.35),
extraídos de periódicos americanos:
AUTO HITS PEDESTRIAN WITHOUT A TAIL LIGHT
ACTRESS HAS BABY 3 DAYS AFTER OSCAR.
Esse tipo de material deve ser trabalhado com alunos de pós-intermediário ou
avançados em aulas de conversação ou com propósitos metalingüísticos. É
possível trabalhar-se também esse tipo de frases como atividade lúdica.
VI)
1) Swallow drinks slowly
2) Time flies
3) Swiss watches strike
Esses exemplos podem ser usados para desenvolver tanto a compreensão
quanto a produção, cabendo ao professor decidir a respeito das necessidades de
seus aprendizes. As atividades de escrita possibilitam maior uso da paráfrase para
esclarecer o sentido das ambigüidades. A prática oral por outro lado irá eliminar mais
facilmente a ambigüidade tendo em vista que certos recursos como a pausa, a
acentuação, facilitam o processo de compreensão.
159
A criatividade dos professores é, então, desafiada para o uso de estratégias
que façam uso de atividades orais ou escritas de compreensão, objetivando alcançar
o significado das frases propostas. Evidencia-se, desse modo, a oportunidade de se
desenvolver essas habilidades tão necessárias para o raciocínio lingüístico dos
aprendizes.
Os exemplos acima apresentam construções sintáticas promotoras da
ambigüidade, que desafiam o leitor a respeito do significado, por isso, são
cognitivamente relevantes porque provocam a reflexão pelos aprendizes. Em
seguida, apresentamos paráfrases que esclarecem as três frases apresentadas:
1.The swallow (a type of bird) drinks slowly.
People with a sore throat should swallow their drinks slowly.
2. Time flies so fast when one is on vacation.
Measure the time it takes the flies to breed.
3. Swiss watches strike the hour precisely with a variety of chimes.
The swiss gentleman watches the strike at the factory.
Percebemos, então, que a exploração da ambigüidade em sala de aula pode
contribuir para fazer o trabalho do professor e as tarefas dos alunos muito mais
criativas e agradáveis. Outra possibilidade de uso parafrásico é a de solicitar-se aos
aprendizes a elaboração de orações equivalentes, o que despertará nos mesmos a
prontidão para o uso de paráfrases. A seguir, apresentamos exemplos de orações
equivalentes:
1. As informações são facilmente processadas por computadores.
2. É fácil para os computadores processarem informações.
3. É fácil se processar informações em computadores.
4. É fácil para a informação ser processada em computadores.
5. Os computadores processam a informação com facilidade.
6. A informação é processada em computadores com facilidade.
7. Para os computadores é fácil processar a informação.
8. O processamento de informação em computadores é fácil.
9. Processar informação em computador é fácil
10. Para a informação ser processada em computador é fácil.
11.Facilmente se processam informações por computador.
12.Os computadores processam a informação facilmente.
160
13.Facilmente os computadores processam a informação.
14.Facilmente as informações podem ser processadas por computador.
15.A informação é processada por computadores facilmente.
16.Os computadores facilmente processam a informação
A rigor, neste conjunto de paráfrases, cada variante pressupõe uma intenção
comunicativa específica, i.e., um foco informacional, são paráfrases quase–
sinônimas. Além disso, destaque-se o papel do contexto.
Finalizando esse tópico, julgamos que os exemplos dados foram suficientes
para reforçar a compreensão do leitor sobre o assunto discutido. Ainda assim, por
estarmos tratando de orações equivalentes, cabe-nos acrescer no tópico seguinte
uma fraseologia do tratamento cortês para encorajar esse uso entre os aprendizes,
bem como estimular sua competência interpretativa e produtiva.
6.5 - Paráfrase e interação social
A importância das boas maneiras, do tratamento cortês é indispensável nas
interações sociais. Além disso, as normas sociais exigem que sejamos respeitosos e
mostremos consideração ao nosso próximo. A cortesia é parte integral das
interações sócio-culturais, conseqüentemente é um atributo que esperamos
encontrar em todos os membros de uma comunidade lingüística educada.
Em se tratando de estratégias pedagógicas na aprendizagem de línguas
estrangeiras, existirá a preocupação dos professores em oferecer opções variadas
de expressões de cortesia? Gomes de Matos (1975), destaca alguns exemplos
dados por Bruce L. Liles em uma escala crescente de cortesia:
A) Wait in the outer office
161
B) Wait in the outer office, please.
C) Would you wait in the outer office, please?
D) Would you mind waiting in the outer office?
E) Would you like to wait in the outer office?
Um aspecto importantíssimo na produção oral dessas frases é a entoação ou o
tom de voz. Dependendo do humor do falante e mesmo de expressões faciais e
certas posturas corporais, o sentido prosódico pode ser alterado significativamente
indo do positivo ao negativo.
A competência receptiva e interpretativa de produzir diferentes variantes
sociolingüísticas não deve ser encorajada isoladamente. É preciso desafiar os
aprendizes a produzirem esses padrões de cortesia tanto na forma escrita quanto na
oral, da maneira que mais lhes parecer natural.
Em se tratando de fluência comunicativa, é possível que haja
espontaneidade na expressão oral ou escrita depois que houver uma associação
direta entre conceito nuclear (inerente ao indivíduo) e a estrutura sintática com a
qual a pessoa mais se identifica.
Associamos, portanto, esse tipo de codificação individual com a paráfrase.
Parafrasear é uma forma de escolha sintático-semântica na qual se combinam
componentes de significado para se chegar a um dado conceito. Esclarecer os
aprendizes de línguas sobre atos comunicativos e suas várias formas de expressão
é um modo de prepará-los para que escolham consciente e responsavelmente a
forma de expressão adequada a cada situação específica. Como exemplo,
consideremos a fraseologia seguinte em língua inglesa sobre pedir permissão:
May I...
May I, please.
162
Could I, please...
Can I…
Would it be possible for me to...
I wonder if I could...
I wonder if it would be possible for me to...
Do you think I could...
Do you think I could possibly...
Sorry for disturbing, but can I...
I´m sorry for disturbing you, but could I...
Do you mind if I ask you to...
Would you mind if I ask you whether I could...
Would you mind if I could...
Ao aprofundarmos um pouco mais nossas reflexões a respeito de linguagem,
concluiremos que esta ultrapassa muitos limites conceituais por ser holística e, além
de tudo, dinâmica. Mesmo assim, ao atuarmos pragmaticamente, estaremos
plenamente conscientes dessa complexidade? Referimo-nos aqui diretamente à
prática pedagógica, às atividades relacionadas ao processo de ensino/aprendizagem
de línguas. Porque é comum e muito conveniente para o professor fazer uso de
atividades pedagógicas desassociadas de uma teoria consistente que fundamente
sua crença. Vemos, então, a necessidade de uma mudança com bastante
criatividade para se chegar à transformação desejada. O tópico subseqüente contém
informação a esse respeito.
163
6.6. Paráfrase e criatividade
Encontra-se a paráfrase na base de toda a estrutura comunicativa. As palavras
e frases organizam-se de forma que surja sempre esse ou aquele enunciado visando
a uma comunicação mais adequada. Como o propósito de todo comunicador é fazer-
se compreendido, ele poderá lançar mão do potencial que as estratégias
parafrásticas oferecem aliando sua criatividade a esse processo.
Essas estratégias, porém, não ficam limitadas a uma visão superficial.
Constituem-se de reflexos vívidos da compreensão, plasmando novas formas de se
exprimir a comunicação desejada. Por outro lado, observando-se a comunicação
como sintonia, a paráfrase é o elemento catalisador desse processo. A mente que
se dirige a outra cria imagens para fazer-se notada e compreendida, utilizando-se da
palavra para atingir o objetivo desejado. Caso o interlocutor sintonize com o
pensamento do emissor, o processo parafrástico consolida a correspondência,
otimizando a comunicação. Nesse intercâmbio, quanto mais sustentadas forem as
bases conceituais em regime de permuta constante, mais profunda será a
compreensão dos tópicos comunicativos.
As bases conceituais aqui mencionadas representam em sua maioria seres,
eventos, atributos e relações. Nossos hábitos lingüísticos surgem nesse contexto
como uma cadeia de reflexos mentais acumulados, nos induzindo constantemente a
reproduzir estruturas sintáticas rotineiras. O ambiente social onde ocorrem as
interações argumentativas estimula as experiências lingüísticas análogas entre si, o
que deixa seus participantes ao sabor da correnteza dos hábitos aos quais se
ajustam sem nenhuma resistência.
164
Todos, com naturais exceções, adquirimos o costume de nos apropriar dos
pensamentos alheios através de reflexão automática. Entretanto, não nos damos
conta desse fato e, como resultado, não valorizamos, muitas vezes, os autores de
idéias originais que tomamos como se fossem nossas. Não será lícito, no entanto,
desprezar a rotina construtiva. Compreendemos que será através de uma
monitoração sistemática dos recursos oferecidos pela paráfrase que
desenvolveremos uma consciência mais abrangente de seus resultados tão
favoráveis no que diz respeito à compreensão textual, criatividade, liberdade e
fluência verbal nas interações em sala de aula.
Como fundo ilustrativo dessa nossa compreensão, tomamos o exemplo de um
professor em pleno exercício de sua função durante uma aula expositiva, quando o
mesmo acabava de expor um texto e logo em seguida questionava aos alunos sobre
o autor:
- O que ele quer dizer? – (Aduz em seguida):
- O que ele quer dizer é que... [aqui se inicia a paráfrase]
De um modo geral, as aulas expositivas são elaboradas em bases
parafrásticas, do contrário não haveria necessidade de ministrá-las. Bastaria a leitura
do conteúdo pelos alunos. É exatamente essa exposição, esse explicar, que procura
reproduzir o sentido fiel do conteúdo pedagógico que a paráfrase oferece em suas
multifacetadas formas. Assim, questionamos: quais seriam as maneiras mais óbvias
de verificar se os aprendizes compreenderam o conteúdo das comunicações
transmitidas em sala de aula? Dentre as expressões mais comuns que visam a essa
confirmação, selecionamos as seguintes:
1) Me fale sobre...
2) Como você(s) explicaria(m) esse termo / parágrafo?
165
3) O que quer dizer essa frase / passagem / parágrafo?
4) O que significa...?
5) Você(s) poderia(m) dizer qual é o sentido de...?
6) Alguém pode dizer o que eu acabei de falar?
7) Você(s) poderia(m) dizer com suas palavras o que o autor disse?
8) Então, a partir desse texto é possível concluirmos que...
Para dar sustentação e cultivar a criatividade lingüística no processo
pedagógico é necessário que se sensibilizem os aprendizes, desafiando-os a utilizar
a paráfrase monitoradamente no aprimoramento do processo de reestruturação
sintático-semântica.
Gomes de Matos (1975), assinala a paráfrase como uma das estratégias para o
desenvolvimento da criatividade, do ponto de vista da redação em língua
portuguesa. Acrescenta ainda que a capacidade de parafrasear constitui uma das
estratégias mais produtivas ou criativas para o desenvolvimento redacional do aluno
de ensino médio.
Em resenha publicada pela revista Delta, Gomes de Matos (2004) faz menção
ao termo utilizado pelo lingüista britânico Ronald Carter (2004) Paraphrase
Creativity”. Em comunicação pessoal ao professor Gomes de Matos em 19 de junho
de 2004, aquele lingüista afirma que irá dispensar atenção ao parafrasear criativo
em um artigo seu que em breve será publicado. Carter refere-se à criatividade como
um processo de re-formação e transformação, ou seja: evidencia sobremaneira o
processo parafrástico associado à criatividade.
(Aleinikov, apud Gomes de Matos 2004, p.13) expressa sua opinião como
especialista de renome internacional que lida com a área de criatividade lingüística.
afirmando que:
166
os usuários de uma segunda língua são muitas vezes mais criativos
do que usuários de uma primeira ngua, porque ao esquecerem
palavras e expressões, são desafiados a encontrar uma solução e a
expressar seus pensamentos com o vocabulário e estruturas
gramaticais de que dispõem. Do mesmo que os pobres
demonstram uma capacidade criativa e uma inventividade
impressionante para poder sobreviver e existir, os falantes de
segunda língua fazem o mesmo em sua vida comunicativa.
Parafraseamos Parnes, S.J. (apud Gomes de Matos, 2004) que afirma ser a
criatividade uma coisa bastante decisiva em nossas vidas. Compreender isso
significa entender o potencial infinito que todos nós temos de ser criativos e
inovadores em nossas vidas. Também significa distinguir oportunidades e
possibilidades transformando negatividades em positividades, sempre agindo
construtiva e positivamente.
Carter, R. (2004) discorre sobre os usos criativos da linguagem, quando
afirma que a criatividade lingüística possibilita novas reflexões sobre o mundo, as
pessoas, as coisas e o modo de nos comunicarmos. Isso contribui para nosso
relacionamento e para melhor transmitirmos nossas idéias. Além de tudo, confere
poder aos usuários e aprendizes, revelando também nossa condição de co-
criadores do idioma.
A atividade produtiva de textos, bem como a receptiva, traz em sua essência a
criatividade. É praticamente impossível nos assenhorearmos das nuances que um
autor imprime às suas idéias em forma de texto. O receptor seja ouvinte ou leitor,
também possui o livre arbítrio para dar expansão à sua criatividade à medida que
interpreta um texto. Criatividade e dinamismo são partes de um mesmo processo. A
natureza dinâmica do universo está refletida em qualquer texto, mesmo se tratando
de uns registros momentâneos, lineares, históricos. Gomes de Matos (2002), sente a
necessidade de um reconhecimento explícito da natureza criativa do uso da língua
167
quando afirma que todos os usuários de línguas são criativos e acrescenta que é da
responsabilidade dos professores ajudar os aprendizes a usarem a língua mais
criativamente.
O desafiar aprendizes usuários de línguas estrangeiras a parafrasear (alternar
formas, sentidos e usos) é parte de um processo idealizado por Gomes de Matos
(comunicação pessoal, 2004) como CREASITION, uma fusão de CREATIVITY &
ACQUISITION ou ainda:
creative acquisition. Além disso,o lingüista propõe um novo
conceito
: Creactivities, tradução de CRIatividades. Permitir que os aprendizes
usuários de línguas, ao parafrasearem, possam fazer suas próprias escolhas é um
fator determinante para a consolidação do aprendizado. Larsen Freeman (2003),
afirma que a gramática nos permite escolher a maneira de nos apresentarmos ao
mundo.
Com respeito à natureza dinâmica da língua, Larsen Freeman (2003),
considera impossível a separação das três dimensões lingüísticas – forma, sentido e
uso. Ao mesmo tempo, assevera que, por razões pedagógicas, é possível
concentrar a atenção dos aprendizes em uma delas. Para essa autora, é de suma
importância sermos judiciosos nas nossas escolhas pedagógicas, bem como
seletivos a respeito dos conteúdos que pretendemos apresentar aos alunos. O que
ela chama de Princípio do Desafio é a potencialidade que cada uma das três
dimensões quase sempre possui em termos de desafio a longo prazo para
aprendizes de línguas. Evidentemente, em qualquer segmento de linguagem,
aquelas três dimensões estarão sempre presentes.
Reportamo-nos, ainda, a um exemplo dado pela mencionada autora sobre o
emprego de voz passiva, que considera um desafio na aprendizagem de línguas. Ela
168
coloca o seguinte questionamento: Em que dimensão jaz o desafio de seu
aprendizado a longo prazo?
1. Como dar forma?
2. Como saber seu significado?
3. Como aprender a usar?
Quanto ao item 3, sugerimos uma sensível mudança para: “Como parafrasear?”
Dessa forma, consideramos ser de grande relevância pedagógica explorar-se o
potencial parafrástico de muitos enunciados. Valemo-nos ainda de Larsen Freeman
(2003), para fortalecer nossa convicção:
“All languages have ways to shift the focus in an utterance, and the passive exists to
do just this in English, shifting the focus from the agent of the action to the receiver”.
“Toda língua tem suas maneiras de mudar o enfoque nas elocuções, e a forma
passiva existe exatamente para isso em inglês, mudar o enfoque, do agente da ação
para o paciente” (tradução nossa).
De uma forma ou de outra, o fim último de toda a comunicação é sua
compreensão por parte do receptor. O valor da paráfrase reside em seu potencial
criativo, esclarecedor, tradutor de mensagens. É esse seu papel facilitador que
possibilita o acesso ao âmago das mensagens, imprescindível para a revelação dos
significados. Concordamos plenamente com Ronald Carter (2004), sobre os usos
criativos da linguagem, quando afirma que a criatividade é a matriz de novas
reflexões sobre o mundo e o modo de nos comunicarmos. Confere um enorme poder
aos usuários e aprendizes, revelando também nossa condição de co-criadores do
idioma.
169
CAPÍTULO 07
A PESQUISA: COMO PROFESSORES PERCEBEM E
USAM A PARÁFRASE
Este capítulo dispensa comentários introdutórios pela natureza auto-explicativa
de cada tópico que o compõe.
7.1. Instrumento de coleta de dados
Um questionário (anexo n.01) foi aplicado a professores de diversas línguas
estrangeiras e diferentes níveis de aprendizagem. Nosso objetivo foi colher
informações pertinentes ao uso da paráfrase nas atividades pedagógicas desses
docentes e proporcionar uma reflexão sobre o papel que se atribui ao processo de
parafrasear no contexto educacional.
7.2. O Questionário
Foi elaborado com um número reduzido de perguntas. Apenas três questões
sobre o uso, a freqüência e os prováveis benefícios resultantes do parafrasear na
prática pedagógica dos participantes. Ainda assim, as questões são encadeadas,
pedem justificativas, exigindo conseqüentemente maior reflexão dos respondentes.
7.3. Perfil dos respondentes
Dezessete (17) professores responderam ao questionário, onze (11) do sexo
feminino e seis (06) do sexo masculino. Do total, treze (13) lecionam inglês como
170
língua estrangeira, dois (02) lecionam espanhol, um (01) português como língua
estrangeira e um (01) francês como língua estrangeira. Oito deles pertencem ao
sistema de extensão da UFPE; seis (06) são instrutores de instituição federal do
ensino médio; um (01) de uma escola municipal nível fundamental; um (01) de
uma escola estadual de ensino médio e um (um) proveniente de uma escola
particular de línguas, níveis básico e intermediário.
7.4. Análise dos dados
As informações colhidas foram analisadas sob uma perspectiva qualitativa por
ser nossa pesquisa de natureza interpretativista. Nos parece que não existe um
significado que seja único, mas sim, significados construídos pelos seus usuários.
Assim, estaremos interagindo com os construtores da realidade social, procurando
responder ao seguinte questionamento:
Quem atribui que papel ao processo de parafrasear?
Questão 01.
Aqui introduzimos uma abordagem direta e simples de maneira que desse
confiança aos respondentes. Perguntamos se utilizavam a paráfrase em sua prática
pedagógica e em caso afirmativo, por quê?
Na análise, primeiramente apresentaremos as respostas dos professores e em
seguida faremos breves comentários com relação á natureza das mesmas.
Respostas de a) e b)
Respondente a)
“Porque é uma forma de explicar o que o aluno quer entender sem traduzir.”
171
Respondente b)
“Porque considero que a construção do conhecimento dá-se por meio da paráfrase,
do dizer de outra forma.”
Comentário sobre a) e b)
No raciocínio do respondente a), a paráfrase é tomada como um instrumento
lexicográfico de auxílio à compreensão da língua-alvo sem que se lance mão de
explicações na língua materna. O respondente
b) parece aprofundar mais a questão
quando relaciona a paráfrase à construção do conhecimento. Assim, os termos
“entender sem traduzir” e “construção do conhecimento” convergem para um único e
importantíssimo ponto do processo de ensino/aprendizagem que é a compreensão
do discurso pedagógico.
Respostas de c) e d)
c)
“Porque condições ao professor de avaliar se os alunos entendem o que lêem ou
ouvem e se são capazes de dizer com suas palavras de uma maneira clara e
sintética o que foi lido ou ouvido.
d)
“É uma forma explicativa que serve não apenas para facilitar a melhor compreensão
do termo, da expressão ou da oração por parte dos alunos, mas que também ajuda
o raciocínio e a sua clareza no momento da sua exposição.”
172
Comentário sobre c) e d)
Existe uma convergência nas idéias de c) e d). Ambos percebem a importância e o
valor elucidativo da paráfrase nas questões relacionadas com a compreensão e
produção textual.
Respostas de e), f) e g).
e)
“Porque é uma maneira de explicar o que eu quis dizer sem traduzir.”
f)
“Por ser uma forma de fazer com que os alunos compreendam um tópico através de
outras palavras.”
g)
“Porque trabalhamos muito, em língua estrangeira, com textos referentes a outras
culturas e às vezes temos que utilizar este recurso para adequar determinada
expressão, sem descaracterizar o texto original.”
Comentário sobre e), f) e g)
O raciocínio de e), f) e g) parece revelar traços característicos da paráfrase num
modo complementar quando usam expressões como: “explicar sem traduzir”,
“compreender um tópico através de outras palavras” e “adequar determinada
expressão sem descaracterizar o texto original”.
173
Comentário sobre a, b, c, d, e, f, e g.
Como podemos deduzir de nossas observações, os respondentes a, b, c, d, e, f, e g
demonstraram conhecer a paráfrase em seu aspecto conceitual, sua natureza
esclarecedora e potencialidade pedagógica. Assim, o
respondente a) percebe o
parafrasear como estratégia explicativa que evita a tradução direta. Por outro lado, o
respondente b) considera a paráfrase um recurso edificador do conhecimento
através da reestruturação sintático-semântica. O
respondente c) compreende a
paráfrase como um instrumento de avaliação que concomitantemente habilita os
aprendizes a reformularem seus textos orais e escritos na (inter)ação pedagógica.
Respondente d) - Integra em sua resposta concepções apresentadas pelos
respondentes a) e b) acrescentando os benefícios de clareza na expressão e o
desenvolvimento do raciocínio. Respondente e)- Sua idéia é compatível com a do
informante a). Respondente f) – Sua concepção assemelha-se à do informante
b).Respondente g) Acrescenta uma característica importante; a adequação das
expressões em diferentes culturas sem descaracterizar o texto original.
Até aqui, observamos que os respondentes apesar de apresentarem uma ou outra
característica isolada da paráfrase, limitam seus possíveis benefícios seja por
omissão ou por desconhecimento da abrangência de suas múltiplas possibilidades
de reestruturação textual tratadas neste trabalho.
Respostas de h), i) e J)
h) – “Fornece um embasamento teórico rico para as aulas, além de representar uma
forma mais acessível para que os alunos entrem em contato com vários estudiosos.”
i) “Para dar sustentação àquilo que falo”.
174
j) Porque freqüentemente preciso citar o que alguém disse ou escreveu para dar
mais segurança aos alunos.”
Comentário sobre h), i) e j)
Os respondentes h), i) e j) confundiram o conceito de paráfrase com o de citação. O
respondente h) inclui em sua resposta o termo embasamento teórico bem como
vários estudiosos referindo-se àqueles a quem possivelmente faria citações para dar
suporte teórico a seu discurso. A resposta dada pelo
respondente i) também toma a
paráfrase como uma citação ao usar a expressão dar sustentação àquilo que falo.
Essa constatação é óbvia no exemplo do respondente j) quando o mesmo afirma
que precisa citar o que alguém disse ou escreveu “para dar mais segurança aos
alunos”.
Respostas de k) e l)
k) – “É uma medida útil e necessária para estimular os alunos a comunicarem-se na
língua estudada”.
l) “No ensino de uma língua estrangeira (espanhol) considero que seja
fundamental”.
Comentário sobre k) e l)
As opiniões de k) e l) não refletem resultados substanciais ou efetivos que possam
decorrer da utilização da paráfrase. Apenas declaram que se trata de uma estratégia
fundamental, útil e estimulante para a comunicação e o ensino de línguas.
Respostas de m) e n).,
Respondente m) “Procuramos trabalhar a língua inglesa numa abordagem
comunicativa dentro da qual o aluno faz inferências a partir do contexto.”
175
Respondente n) - “Pelo ensino comunicativo da língua inglesa- evitamos traduzir as
idéias, fazemos com que os alunos entendam, por exemplo; visualizando.”
Comentário sobre m) e n)
Os respondentes m) e n) apenas aludem a um tipo de abordagem comunicativa e
não respondem ao que foi solicitado através da questão.
Respostas de o), p) e q)
o) – “o nível de conhecimento dos alunos não permite”.
p) – “Porque facilita a compreensão”.
q) - (Não respondeu)
Comentário sobre o), p) e q)
Os respondentes o), p) e q) não oferecem respostas relacionadas entre si. o) avalia
“os alunos” generalizando uma incompetência cognitiva definitiva. p) apenas abrevia
a resposta afirmando que “facilita a compreensão”, q) não respondeu.
Comentário sobre k), l), m), n), o), p) e q).
As respostas de k), l), m), n), o), p) e q) são vagas, bastante evasivas e
incompatíveis com o questionamento. A informação dada por k) limita-se ao aspecto
estimulante da paráfrase na comunicação. Em l) apenas a importância dessa
estratégia é destacada, nenhum outro aspecto é percebido pelo respondente. A
resposta de m) não é condizente com a pergunta. O tópico é confundido, desviado
quando o respondente trata da abordagem comunicativa e da inferência ao invés da
paráfrase. Mais uma vez, a abordagem comunicativa é destacada na resposta de n).
Mesmo assim, uma vaga alusão à paráfrase quando o respondente refere-se a
não traduzir as idéias e fazer com que os alunos entendam “visualizando”.
Em hipótese, esse respondente pretendia dizer que em sua prática evitaria uma
tradução literal, oferecendo alternativas diferentes utilizando auxílios visuais para
176
que os aprendizes atingissem a compreensão do assunto. Uma evasiva total é
usada na resposta de
o) quando afirma que o nível de conhecimento dos alunos não
permite.
Nesse caso, a desinformação do respondente no tocante às probabilidades
de reestruturação textual é bem visível e lamentável. Pressupõe um
desconhecimento total por parte dos alunos, desconsiderando o potencial de cada
indivíduo.
Em contrapartida, mesmo sendo evasiva a resposta de
p) ao afirmar apenas que
facilita a compreensão, este respondente acautela-se para não deixar visível seu
desconhecimento a respeito do assunto. O último respondente dessa seqüência, (q)
a exemplo do que ocorre no primeiro quesito, não apresentou resposta alguma.
Questão 02
A segunda questão diz respeito às estratégias parafrásticas, ao modus operandi dos
respondentes. Nesta seqüência, alguns professores demonstram ter conhecimentos
teórico-práticos dessa importante atividade auxiliar, embora nenhum deles tenha
mencionado alguma forma de monitoração. O restante dos respondentes ora são
vagos na informação, ora são evasivos e até desconsideram a pergunta.
Como e com que freqüência a paráfrase é utilizada?
Respostas de a), b), c), d), h), k), e g)
a) Sempre que o aluno não entende uma parte de um texto escrito ou oral, por
exemplo. Ou ainda quando algo é explicado e o aluno não entende.(não referente a
texto), eu explico pela 2
a
, 3
a
, e quantas vezes forem necessárias com outras
palavras.
b) Se pensarmos na paráfrase como uma reelaboração de idéias, uma atualização
do saber, todos os dias. Por meio de discussões, opiniões, interpretação de texto.
177
c) Em geral, sempre que temos uma passagem curta nos livros textos ou em CD
pedimos aos alunos que tentem parafrasear o material em questão, ajudando-os
com perguntas ou comentários pertinentes ao assunto quando surgem dificuldades
na realização do trabalho. Às vezes, fazemos esses exercícios em sala de aula
(verbalmente ou por escrito) ou pedimos que eles sejam feitos em casa.
d) Geralmente durante a aula no contato mais direto com os alunos, mas também
com amigos e colegas como forma de justificar ou explicar alguma coisa que
necessite de maior clareza. Isto também ocorre nas correções de textos e em certas
traduções.
h)- Através de uma linguagem de fácil entendimento; nas atividades de gramática na
maioria das vezes e com grande freqüência.
k) Em qualquer nível, utilizo paráfrases distintas até que os alunos solucionem
uma dúvida. Recorro à tradução apenas se, após tentativas possíveis, a dúvida não
foi completamente dirimida.
q) – Costumo utilizar este recurso com freqüência, em particular durante a exposição
oral para explicar, esclarecer idéias que não foram compreendidas. Também procuro
estimular este hábito nos alunos, que servem de ponte para comunicar aos outros
colegas algo que possa ter sido mal entendido.
Comentário sobre as respostas de a), b), c), d), h), k) e g)
Os respondentes a), b), c), d), h, k) e q) responderam com propriedade a
exemplo do respondente a) que refere-se ao esclarecimento de textos orais e
escritos quando necessário, por meio de outras palavras. Em b) temos uma resposta
que considera a paráfrase como uma reelaboração de idéias ou como acrescenta:
uma atualização do saber feita diariamente através da interação discursiva. Na
178
informação de c) encontramos o cuidado, a cautela no parafrasear textos escritos ou
falados transformando a paráfrase em comentários explicativos ou questões
pertinentes aos tópicos em discussão.
Também é mencionada a tarefa esporádica incluindo paráfrase. d) declara
executar essa estratégia com grande freqüência na interação direta com alunos e
percebe que seu uso ultrapassa a sala de aula no discurso esclarecedor
sociointerativo e também nas traduções e correções de textos.
A resposta de h) é puramente intuitiva, porém contém a paráfrase em sua
aplicação mais prática; “linguagem de fácil entendimento” ao esclarecer pontos
gramaticais. Na resposta de q), esse recurso é empregado para a elucidação de
idéias que não foram apreendidas pelos alunos. O respondente não utiliza nem
parece perceber outras possibilidades proveitosas dessa estratégia. A alegação de
k) é similar à exposição de q). Esse respondente também utiliza para qualquer nível
de aprendizagem esse recurso apenas com a função de dirimir dúvidas, ou seja,
demonstra estar familiarizado apenas com a paráfrase por equivalência.
As respostas de a), b), c), d), h), k) e q) são congruentes no que diz respeito ao
esclarecimento de textos orais e escritos e na reelaboração de idéias quando
encontram dificuldades na interpretação textual ou explanação de tópicos
gramaticais. A paráfrase é aqui percebida e utilizada como instrumento auxiliar no
esclarecimento dos conteúdos pedagógicos bem como nas interações sociais
rotineiras.
Respostas de i), e j)
i) No caso do ensino da língua inglesa não teria uma situação específica e não tão
freqüentemente, mas dependendo do assunto que se discute dizer o que os outros
179
falaram sobre esse mesmo assunto. Por exemplo, se numa aula de conversação
eu vou discutir determinado fato, posso exemplificar com as vozes dos outros para
daí saber se os alunos concordam ou discordam e fazer com que argumentem em
cima daquilo. No caso de um tópico estrutural, posso trazer experiências com
motivos da língua em questão, tornando os exemplos mais vivos e reais dentro do
uso da língua.
j) Nas aulas de inglês instrumental ao comentar um tópico ou o tema do texto,
costumo retomar o que alguém escreveu sobre aquele assunto; em algum momento
cito o autor em outros não.
Comentário sobre as respostas de i) e j)
As respostas de i) e J) são prolixas e sem muita consistência. As seguintes
expressões traduzem a interpretação errônea de “citação” ao invés de paráfrase: i) –
“... posso exemplificar com as vozes dos outros”, j) “em algum momento cito o
autor...”
Respostas de e), m) e p)
e)- Sempre uso durante as aulas. Faço frases usando palavras sinônimas até chegar
no vocabulário que eles conhecem.
m) Sempre que possível explicamos o significado de um termo com palavras
conhecidas ou sinônimos provenientes do latim.
p) Para explicar vocábulos não conhecidos pelos estudantes. É difícil dizer a
freqüência.
Comentário sobre as respostas de e), m) e p)
O respondente e) declara sempre utilizar a paráfrase por sinonímia do mesmo modo
que m) e p) o fazem. Eles parecem reconhecer a paráfrase apenas através de seu
180
aspecto mais genérico que pode ser expresso através de formas: “genérico-
específica”, “por equivalência” e “ampliada”.
Respostas de f), g), l), n) e o)
f) Toda vez que for necessário, visto que a paráfrase é um bom recurso para o
ensino de línguas.
g) Não com tanta freqüência, que geralmente pode-se trabalhar um texto, uma
música, etc., sem parafraseá-lo.
l) Diariamente, no princípio é sempre aterrorizante para o aluno, contudo ao vencer
o desespero inicial eles aceitam e inclusive praticam entre si.
n) – Quase sempre.
o) – (não respondeu).
Comentário sobre as respostas de f), g), l), n) e o)
As declarações dos respondentes f), g), l), n) e o) ou são subterfúgios, ou
infelizmente são desprovidas de conteúdo, portanto, não merecem apreciação.
Ao resumir nossa análise da segunda questão, verificamos que os professores
respondentes usuários da paráfrase, com poucas exceções, utilizam-na em
atividades esporádicas, apenas atendo-se a aspectos isolados da mesma e não
mencionam a monitoração dessa atividade tão vantajosa no auxílio da
aprendizagem de línguas estrangeiras.
Questão 03
Que benefícios acha que podem resultar do uso da paráfrase? Por quê?
Este quesito encerra um duplo questionamento objetivando em primeiro lugar
investigar os benefícios proporcionados pela paráfrase e, em seguida, requer uma
justificativa para seu uso.
181
Respostas de a), b), c) e d)
a)- O aluno tem o que se quer entender contextualizado, além disso o vocabulário
dele pode ser melhorado. (Por quê?) que o professor usa diferentes palavras ou
formas de explicar algo. Também o aluno aprende a fazer uso da paráfrase e ele
mesmo se beneficia e pode ainda explicar a outro aluno.
b) Desenvolvimento da inteligência, da criatividade. (Por quê?) A repetição mera e
simples é uma habilidade da memória, porém, não é o elemento criador, renovador.
Isso é função da inteligência. Portanto, aprender a dizer com outras palavras a
recontar uma história sem, necessariamente, repeti-la fielmente é exercer a
criatividade, o pensar por conta própria, libertar-se da opinião alheia, a
independência.
c)- Benefícios de natureza léxico-estrutural e psicológica. (Por quê?) Ao tentar
parafrasear algo, os alunos estão tendo uma oportunidade de usar o vocabulário e
as estruturas gramaticais estudadas e aperfeiçoar a sua capacidade de síntese
lingüística. Paralelamente, acreditamos que no momento que é dado ao aluno a
oportunidade de “recriar” alguma coisa, mesmo com erros, ou impropriedades, existe
nele uma satisfação de caráter psicológico por estar se fazendo entender num
idioma estrangeiro.
d) Ela pode ajudar na explicação ou re-explicação de algo que não ficou bem
claro, ou na melhor compreensão do interlocutor. (Por quê?) Embora a linguagem
seja o meio universal de comunicação entre os seres humanos, a sua expressão é
muito individual e subjetiva, e nem sempre atinge o interlocutor na precisão e
182
inteireza com que se deseja expô-la, o que às vezes acarreta dúvidas ou más
interpretações do pensamento ou idéia que o falante deseja transmitir ao(s) outro(s).
Comentário sobre as respostas de a), b), c) e d)
As respostas de a), b) e c) convergem para um ponto favorável em comum que
é o desenvolvimento do vocabulário. Na resposta de b), também encontra-se uma
referência ao desenvolvimento da criatividade e à liberdade de criação, que sugerem
independência de opiniões alheias. Na declaração de c), também é mencionada a
satisfação pessoal gerada pela oportunidade de se recriar novas estruturas
lingüísticas que garantam a sustentação dialógica. A resposta de d) inclui um dos
pontos cruciais do processo comunicativo que é a compreensão.
Respostas de e), f) e g)
e) No meu caso ajuda a aumentar o vocabulário como disse, sem precisar
traduzir, porque tento falar ao máximo só em português nasala de aula.
f) Uma adequação ao entendimento do aluno fazendo com que esse compreenda
um dado assunto de outra forma.
g) – Pode ampliar aclarar um texto; pode também estimular a criatividade, nos
alunos, quando desafiados a trabalhar um texto de maneiras diferentes.
Comentário sobre as respostas de e), f) e g)
Nessa seqüência, e), f) e g) mencionam também aspectos positivos proporcionados
pela paráfrase, como o desenvolvimento da inteligência e da criatividade, a redução
do uso do dicionário bem como uma melhor contextualização das mensagens.
183
Respostas de h), i), e j)
h) Confere maior segurança aos alunos e maior crédito ao professor. (Por
quê?) Porque todo um processo de pesquisa anterior aquilo que se parafraseia,
afugentando qualquer possibilidade de “achismo.”.
i) Além de dar veracidade ao que se fala, desperta o interesse dos alunos para
que eles também passem a buscar informações ou ler sobre as pessoas de quem se
fala, suas idéias, tornando a paráfrase parte do seu discurso para que este tenha
mais veracidade;
j) – Mostrar que nosso discurso não surge do nada, estamos sempre embasados em
alguém.” (Por quê?) Porque é uma forma de compartilhar o pensamento de alguém
que está ausente.
Comentário sobre as respostas de h), i) e j)
Essas respostas não estão condizentes com o questionamento. Os
respondentes talvez por distração tenham confundido a paráfrase com citação.
Respostas de k), l) e m)
k) “A facilitação da automatização da língua por parte dos alunos”. (Por quê?)
Acredito que ao amenizar a constância das traduções, o aluno pode, pouco a pouco,
“deslocar” o referencial da comunicação da língua materna para a língua estudada.
l) O alunado adquire a capacidade de raciocinar em outra língua, além de
aumentar o vocabulário.
m) Amplia o conhecimento do aluno do idioma alvo, apresentando sinônimos para
o vocabulário estudado. (Por quê?) Evitar traduções.
184
Comentário sobre as respostas de k), l) e m)
As observações de k), l) e m) privilegiam o desenvolvimento da comunicação,
o aumento do vocabulário e a redução do uso do dicionário nas atividades práticas.
Respostas de n), o), p) e q)
n) Levamos o aluno a deduzir o conceito em inglês, evitando que ele traduza para
o português.
0) – Não respondeu.
p) “Desenvolve o raciocínio e facilita a compreensão.” (Por quê?) O estudante
elabora suas hipóteses, usa o raciocínio e não recorre de imediato ao dicionário da
língua materna.
q) São claros os benefícios, o primeiro deles é não ter que usar a língua mãe para
re-explicar o assunto, ou a palavra em evidência. Um outro benefício é fazer com
que o aluno entenda que é possível “improvisar” na hora de expor uma idéia, mesmo
que ele não saiba ou tenha esquecido o termo em questão, pois, ao fazer isto o
aluno se torna capaz de manter o processo comunicativo em continuidade, o que em
minha opinião estimula uma maior fluência tanto oral como escrita.
Comentário sobre as respostas de n), o), p) e q)
Nas observações de n), p) e q) existem menções a uma melhoria do processo
cognitivo dando-se relevância à inferência e compreensão. Também se menciona o
desenvolvimento de uma possível fluência conceitual e registra-se a diminuição das
traduções em língua materna. o) não respondeu.
185
Comentário cumulativo
Treze dos dezessete informantes comungam de idéias semelhantes sobre os
benefícios que a paráfrase possa proporcionar a seus usuários, (embora nem todos
justifiquem suas concepções). Os respondentes
a), c), l) e m) mencionaram um
ponto favorável em comum: desenvolvimento de vocabulário. Além disso, a resposta
de b) apresenta uma referência à criatividade e à liberdade de criação que sugerem
independência de opiniões alheias. A satisfação pessoal gerada pela oportunidade
de recriar novas estruturas é mencionada na declaração do respondente c).
A criatividade é estimulada, quando os aprendizes são “desafiados” a trabalhar
textos de maneiras diferentes segundo a resposta de g). Na informação de q),
também encontramos uma menção à criatividade, quando afirma que o aluno
compreende que é vantagem fazer uso desse atributo, ou seja: improvisar na hora
de expor idéias. A informação contida nas respostas de a), b), l), p) e d) evidencia
um dos maiores benefícios proporcionados pela paráfrase, que é o desenvolvimento
da compreensão e da produção textual.
Outra característica essencial é o potencial de adequação das mensagens aos
diversos níveis de aprendizagem que é reconhecido pelo participante f) Uma
particularidade não menos importante da paráfrase é a redução do uso do dicionário
é mencionada por p), m), q), k) e e) conseqüentemente favorecendo a ampliação do
vocabulário dos aprendizes. Em contrapartida, os informantes j), i), h) e o) não
apresentaram respostas condizentes com o questionamento por terem confundido
paráfrase com “citação. ”Objetivando oferecer ao leitor uma visão mais concreta dos
resultados de nossa análise, dois gráficos abaixo representados poderão esclarecer
mais a informação.
186
Gráfico 1. Percentual dos professores quanto aos idiomas ensinados.
Respondentes
76%
12%
6%
6%
Inglês
Espanhol
Francês
Português
Gráfico 2. Uso da Paráfrase em estratégias de Ensino de Línguas Estrangeiras
Ao finalizarmos este capítulo, cujo conteúdo é uma reflexão sobre o papel que
se atribui ao processo de parafrasear a partir de diferentes perspectivas pessoais,
nossa atenção converge para os dois gráficos que sintetizam o julgamento que os
professores entrevistados fazem da paráfrase pedagógica.
0
1
2
3
4
5
6
respondentes
1
Respostas
Uso da paráfrase em estratégias de ensino de línguas estrangeiras
Melhoria da comunicação e
aumento do vocabulário
Desenvolvimento da inteligência e
criatividade
Desenvolvimento do raciocínio
Redução do uso do dicionário
Adequação das mensagens ao
contexto
Estímulo à fluência oral e escrita
Confusâo de paráfrase com citação
Ausência de resposta
187
Assim, vemos que características importantes para um bom desempenho
lingüístico como o
desenvolvimento do vocabulário e melhoria da comunicação são
fatores que certamente acarretam a diminuição do número de consultas ao
dicionário. Portanto, compreendemos que o termo
melhorar a compreensão da
maneira concebida pelos respondentes também revela sua importância e implica
uma série de pressupostos favoráveis ao desempenho lingüístico dos aprendizes de
línguas estrangeiras.
A criatividade aqui também é percebida como um recurso precioso no processo
de ensino/aprendizagem de línguas. Os usos criativos da linguagem através do
parafrasear possibilitam novas formas de se compreender o mundo além de conferir
aos seus usuários a sensação de liberdade criativa. O desenvolvimento do
raciocínio, a adequação das mensagens ao contexto, o estímulo à fluência
conceitual em suas formas oral e escrita, tudo isso reflete o potencial criativo
inerente às atividades parafrásticas que promovemos como indispensáveis para o
ensino de línguas.
188
CAPÍTULO 08
A EDUCAÇÃO DO APRENDIZ DE LÍNGUA ESTRANGEIRA
COMO PARAFRASEADOR
O capítulo final compõe-se de constatações com base nas evidências
encontradas na análise dos dados, bem como de uma sugestão para aplicar a
paráfrase no ensino de línguas. Tal estímulo compõe-se de uma extensa lista de
estratégias variadas que certamente irá encorajar aqueles que desejarem fazer uso
da mesma, juntamente com seus aprendizes, em prol de uma melhoria na
compreensão e reestruturação textual no contexto pedagógico.
O que nos motiva a apresentar uma proposta à educação do usuário de língua
estrangeira como parafraseador é que nossa convicção a respeito da importância da
paráfrase como estratégia metodológica cada vez mais se fortalece. Nossas
pressuposições aproximam-se do patamar de certeza, ao constatarmos através das
declarações analisadas, um significativo número de referências positivas a respeito
das operações psicológicas que estimulam o raciocínio dos aprendizes, ao mesmo
tempo em que lhes confere satisfação pessoal, elevando seu nível de
aprendizagem. Essas referências priorizam a melhoria da comunicação e o aumento
do vocabulário, o favorecimento do desenvolvimento da inteligência e da
criatividade. Além disso, os recursos parafrásticos são considerados como valiosos
estimulantes da fluência oral e escrita por conferirem certo sentimento de liberdade
de criação que desencadeia o processo de criatividade lingüística. Os entrevistados
também destacam as estratégias parafrásticas como altamente favoráveis na
adequação das mensagens ao contexto. Outro benefício que merece destaque é o
número reduzido de consultas ao dicionário pelos aprendizes. Assim, concluímos
189
que essa produtiva estratégia pedagógica, se for devidamente utilizada com
monitoração, oferecerá possibilidades de ultrapassar seus limites na reformulação
de arranjos sintático-semânticos no processo de ensino-aprendizagem de línguas.
Por conseguinte, para contribuirmos para o desenvolvimento de atividades
monitoradas fundamentadas na paráfrase, apresentamos a seguir algumas
sugestões:
8.1. Sugestões para a aplicação da paráfrase no Ensino de Línguas
1) Quando no decurso das aulas aparecerem frases ambíguas (em especial aquelas
associadas a problemas de tonicidade). Exemplo:
Exemplo: He is a fine clerk. Jean is a french teacher. (Ele é um
funcionário ótimo, ou; Ele é um fiscal que aplica multas) e (Jean é
um professor de francês, ou: Jean é um professor francês).
2) No emprego de frases equivalentes (mesmo em estágios iniciais)
Exemplo:
“How about a cup of coffee?”
“A cup of coffee?”
“Coffee?”
3) Na modalização, ao se empregar variantes atenuadoras (opinando-se).
Exemplos:
“I think we should” ao invès de “We should”
“In my opinion, this/that won´t …” ao invés de “This/that won´t…
“I´m afraid this/that is not quite correct” ao invés de
“This/that is wrong”.
190
4) Dando-se sugestões na forma interrogativa.
Exemplos:
Ao invés de
: Sugerimos:
We must... Could we...?
We have to… Would it be a good idea to…?
We canWhat/how about…?
5) Optando-se por uma fraseologia mais cortês.
Ao invés de: “Wait here”
wait here please
would/could you wait here, please?
Would you mind waiting here, please?
Would you like to wait here, please?
Outras formas de imperativo podem ser empregadas seguindo-se esse modelo,
desde que sejam adequadas.
6) Utilizando-se uma fraseologia de boas maneiras, ao se pedir permissão.
(Para evitarmos a repetição de exemplos, consulte-se a fraseologia do cap. 6.5
deste trabalho).
7) Na explicação de “noun phrases” (locuções nominais)
A washing machine – A machine used to wash things (composition)
A frying pan – A cooking container used to fry food.(purpose)
A bank manager – A person who manages a bank (specialization).
Garden vegetables – Vegetables that are planted or grown in a garden. (origin)
Algebra text – A text about algebra (content).
Summer conditions – Conditions that occurs during summer time (time)
Corner cupboard – A cupboard that is located in the corner (location)
Insurance companies – Companies for (selling) insurance (institution)
Cat legs – The legs of a cat. (partitive)
191
8) Na explicação de palavras formadas por sufixos:
An analyst – A person who analyses.
An economist – A person who applies the study of economics
Physician – A person who applies the study of medicine.
Boxlike – Something looking like a box.
Catlike – with the characteristics of a cat.
9) No esclarecimento de “phrasal verbs”. (verbos compostos)
To come across – To come into contact.
To get on with someone – To have a good relationship with someone.
To do up (a house, a flat, etc.) – To redecorate, to paint, to restore.
To look for – To try to find
To look after – to take care of.
10) Na compreensão textual – questionamentos.
Texto:
“There are many other arguments for and against television. The
poor quality of its programmes is often criticized. But it is
undoubtedly a great comfort to many lonely elder people. And does it
corrupt or instruct our children? I think we must realize that television
in itself is neither good nor bad. It is the uses to which it is put that
determine its value to society”.
(Cook,J.L. & Mitchell, 1973)
Write “t” for true and “f” for false:
a) There are lots of discussion without agreement in favor of and
against television. ( )
b) People comment unfavorably on the lack of quality of its
programmes. ( )
c) It certainly relieves the suffering of those quite old people who are
sad because of being alone. ( )
192
O potencial de uso parafrástico desta atividade possibilita um grande número
de expressões, dependendo da criatividade de seus usuários.
11) Nas respostas a perguntas coloquiais.
Pergunta 01-
Are you really leaving now?
a) Yes, I am.
b) Of course, I am.
c) Yes, right away!
d) No doubt, I am.
e) Indeed I am.
f) I need to.
g) Yeap!
Pergunta 02)-
Don´t you think I am right?
a) Well, let me think…
b) Let me see…
c) Wait a minute…
d) I don´t want to be rude, but…
12) Em perguntas coloquiais (pedidos):
May I have a sandwich and a coke, please?
Would you please give me a sandwich and a coke?
I´d like to have a sandwich and a coke, please.
Please, give me a sandwich and a coke.
Sandwich and coke, please.
193
Sandwich and coke for me, please.
Sandwich and coke.
13) Na utilização de verbos que exprimem o conceito de solicitação:
Would you please close that door?
Is it possible to close that door?
Could you close that door, please?
Would you mind closing that door?
Will you close that door, please?
Can you close that door?
14) Describing pictures. (Na descrição de ilustrações, figuras)
(Suppose we have a picture of a man working in a garden)
Chamamos a atenção do leitor para o tópico que se deseje dar relevo na
reformulação das estruturas, de modo que se mantenha a base conceitual sem
alteração de sentido.
There is a man working in a garden.
This man is a farmer
This man is a gardener
The gardener is working in a garden
The gardener is in his garden
We can see a man looking after a garden
A man looks after his garden
That man is growing vegetables.
194
15) Em pequenas seqüências de filmes.
Nesta técnica, assiste-se a um pequeno trecho de filme, os diálogos ou outro
conteúdo textual contido no trecho escolhido poderão ser adequados às técnicas
sugeridas como, por exemplo: 02, 03, 04, 05, 06, 09, 11, 12 e 13.
16) No trabalho com letras de músicas.
Observa-se o mesmo procedimento utilizado para a estratégia de compreensão
textual. Item 10.
17) Na prática do “indirect speech” (discurso indireto)
Sugerimos o uso do discurso indireto porque também possibilita várias formas
de parafrasear. Alguns exemplos:
He said “I have lost my umbrella” = He said he had lost his umbrella. = He said he got his
umbrella lost. = He said his umbrella was lost. = He said he didn´t know where his umbrella
was. = He said that his umbrella had gone astray.
“I´ll do it tomorrow”, he promised. = He promised that he would do it the next day. = He
promised he would do it tomorrow. = His promise was to do it tomorrow.
He said “come here, boys”. = He called the boys there. = He asked the boys to go there.
He asked: “when is the next train?” = He inquired about the next train’s schedule.= He
wondered about the next train´s schedule.= He wanted to know when the next train would
leave.
18) Na descrição de “mímicas”.
Dois alunos frente a frente, a certa distância. Um deles com um cartão
contendo uma mensagem escrita. O aluno através de linguagem gestual deverá
fazer-se compreender. O receptor da mensagem deverá traduzir oralmente a
195
comunicação gestual do colega ou também fazê-lo por escrito. (Citamos como
exemplos:
Preciso de algo para comer. Está na hora de ir embora).
19) Com verbos que expressam o conceito de habilidade:
I can speak French
I am able to speak French
I know how to speak French
20) Com verbos que expressam permissão:
You may leave after the test
You can leave after the test.
You are allowed to leave after the test.
You have permission to leave after the test.
21) Com verbos que exprimem possibilidade:
I´ll leave now. You may want to go to bed
I should leave now. You might want to go to bed.
22) Com base no conceito de necessidade:
I must be home by eight. I’m expecting an important phone call.
I have to be home by eight. I’ll receive a phone call.
I´ve got to be home by eight. There will be an important phone call.
23) No conceito de aconselhamento.
I think you should see a doctor.
196
I guess you ought see a physician.
I suppose you had better see a doctor
24) Nas relações de pronomes e antecedentes.
(Este exemplo e os exemplos 25, 26 etc. estão contidos na obra de Crews e
Schor – The Borzoi Handbook for Writers, (1985: 81, 291, 292, 328, 329))
A good song stays with someone, making one feel less alone.
A good song stays with people, making them feel less alone.
A good song stays with you, making you feel less alone
A good song stays with us, making us feel less alone.
25) No uso da subordinação, para destacar sua idéia principal.
The government collects billions of dollars in taxes because it has many
obligations to meet.
The government meets its obligations by collecting billions of dollars in taxes.
26) No uso de conectivos para realçar a idéia principal e especificar a relação entre
essa idéia e o elemento subordinado.
Time-(without subordination)-The earthquake struck, and then everyone panicked.
(with subordination)-Everyone panicked when the earthquake stroke.
Place-(without subordination) - William Penn founded a city of brotherly love. He
chose the juncture of the Delaware and Schuylkill rivers.
(with subordination) - Where the Schuylkill river joins the Delaware, William Penn
founded a city of brotherly love.
197
Cause-(without subordination). She was terrified of large groups, and debating
was not for her.
(with subordination)- Because she was terrified of large groups, she decided
against being a debater.
Concession-(without subordination)He claimed to despise Vermont. He went
there every summer.
(with subordination)-Although he claimed to despise Vermont, he went there every
summer.
Condition-(without subordination)- She probably won´t be able to afford a
waterbed. The market retail prices are just too high.
(with subordination)- Unless she can get a discount, she probably won´t be able to
afford a waterbed.
Exception-(without subordination) - The grass is dangerously dry this year. Of
course I am not referring to watered lawns.
(with subordination)- Except for watered lawns, the grass is dangerously dry this
year
Purpose - (without subordination) - The Raiders moved to Los Angeles. They
hoped to find bigger profits there.
(with subordination) - The Raiders moved to Los Angeles in search of bigger
profits.
Description - (without subordination) The late Edward Steichen showed his
reverence for life in arranging the famous exhibit “The Family of Man” and he was a
pioneer photographer himself
(with subordination)- The late Edward Steichen, himself a pioneer photographer,
showed his reverence for life in arranging the famous exhibit “The Family of Man.”
198
27) Na abstenção da prolixidade, tornando o texto conciso
PROLIXIDADE CONCISÃO
Among all the problems that exist today - Among all current problems
An investment in the form of stocks and bonds. Bonds
At the present time Now
Due to the fact that Because
During the course of During
For the purpose of getting rich To get rich
For the simple reason that because
In a very real sense truly
In spite of the fact that since
In the not too distant future soon
In view of the fact that since
It serves no particular purpose it serves no purpose
Majoring in the field of astronomy majoring in astronomy
My personal preference my preference
On the part of by
Owing to the fact that because
Proceeded to walk walked
Rarely ever rarely
Seldom ever seldom
The present incumbent the incumbent
To the effect that that.
28) Na abstenção de construções redundantes.
REDUNDÂNCIA CONCISÃO
Adequate enough Adequate
Advance planning Planning
Both together both
But yet but
Contributing factor factor
Deliberate lie lie
Equally as far as far
Exact same symptoms same symptoms
Few in number few
199
Final outcome outcome
Free gift gift
Join together join
Large in size large
Past experience experience
Past history history
Refer back refer
Set of twins twins
Share in common share
Shuttle back and forth shuttle
Two different reasons two reasons
29) Na sumarização
Aconselhamos o emprego das estratégias básicas descritas no início deste
trabalho. (cf. Roteiro para produção de uma paráfrase).
30) Em traduções.
As mesmas estratégias utilizadas para a sumarização associadas às técnicas
acima descritas podem ser utilizadas em traduções.
Nossa sugestão para o uso da paráfrase através dos exemplos oferecidos não
deverá limitar-se apenas aos exemplos em si mesmos. É importante exortar-se os
usuários a fazerem o máximo uso de sua criatividade lingüística, ampliando-a e
diversificando-a através de atividades monitoradas. Seus prováveis benefícios
solidificam as bases da compreensão mútua no processo comunicativo que envolve
conceitos universais.
Simons et alii (1993), em seu livro sobre liderança transcultural consideram a
paráfrase como uma segunda habilidade de escrita ensinada com freqüência a
gerentes. A técnica consiste em repetir-se para o interlocutor aquilo que se acabou
de ouvir, mas, com sua própria versão. Isso deixa claro que a mensagem foi
200
recebida, bem como possibilita verificar-se quão bem foi entendida. Parece haver um
tipo de satisfação do interlocutor quando o mesmo percebe que existe congruência
no diálogo.
o interculturalista Kohls (1995), referindo-se ao bom formador intercultural,
diz que ele:
Não domina nem impõe a linguagem, deixa a escolha para os aprendizes,
facilitando e guiando o processo.
Usa a linguagem adequadamente e suas explicações são compreensíveis e
sucintas. Explica os assuntos em mais de uma maneira.
Essa perspectiva de diversidade interdisciplinar apresentada pela paráfrase,
além da possibilidade de reconstrução sintático-semântica, oferece a liberdade de
realização lingüística de seus usuários como participantes do processo
comunicativo. As múltiplas manifestações dos valores interculturais podem ser
valorizadas com o apoio dessa valiosa estratégia comunicativa que é a paráfrase.
Estamos convictos que sua utilização criativa e altamente diversificada pode
contribuir para uma comunicação mais clara, convergente e construtiva.
As informações que apresentamos sobre o uso da paráfrase em estratégias de
ensino de línguas estrangeiras, em termos de representação gráfica, não parecem
alcançar altos índices de percentagem para os leitores familiarizados com esse tipo
de leitura. No entanto, esse fato nos estimula a incentivar, cada vez mais, a prática
do parafrasear de uma maneira consciente, sistemática e monitorada, tendo em vista
seus múltiplos benefícios em prol de uma comunicação mais esclarecedora e
conseqüentemente, eficaz.
A seguir, apresentamos um quadro sintético das sugestões para o uso da
paráfrase no ensino de línguas.
201
Quadro 10. Sugestões do uso da paráfrase no ensino de línguas
01-Frases ambíguas 02-Frases equivalentes 03- Modalização
04-Sugestões na forma
interrogativa
05- Fraseologia cortês
06-Fraseologia de boas
maneiras
7-Explicação de locuções
nominais (noun phrases)
8-Explicação de palavras
formadas por sufixos
9-Esclarecimento de verbos
compostos
10- Compreensão textual
11-Respostas a perguntas
coloquiais
12-Perguntas coloquiais
(pedidos)
13-Verbos com conceitos de
solicitação
14-Descrição de figuras,
ilustrações.
15-Pequenas seqüências de
filmes
16-Letras de músicas 17- Discurso indireto 18-Mímicas
19-Verbos com conceito de
habilidade
20-Verbos que expressam
permissão
21-Verbos que exprimem
possibilidade
22-Conceito de necessidade
23-Conceito de
aconselhamento
24-Pronomes e
antecedentes
25- Subordinação 26-Conectivos 27- Prolixidade
28- Redundância 29- Sumarização. 30-Tradução
8.2. Afinal, por que e como parafrasear?
Gardner (1996), interpreta a paráfrase como uma maneira excelente de nos
certificarmos que compreendemos um texto oral ou escrito. Além disso, exige nossa
concentração no assunto reafirmando as idéias principais e seus detalhes com
nossas próprias palavras.
Ela é um instrumento de auxílio nos estudos para exames em geral.
Assemelha-se a um resumo porque também envolve a reafirmação das idéias de
outrem com suas próprias palavras, ajudando a compreender o que se leu ou
lembrar o que se ouviu.
Parafrasear e resumir são essenciais para incorporar informações de fontes variadas
em trabalhos e pesquisas acadêmicas. Permitem a discussão das idéias de um autor
202
sem citá-lo literalmente nem interromper o fluxo de idéias. E para melhor
compreendermos o que é um resumo, temos a seguir uma breve conceituação a seu
respeito: segundo o The Literacy Dictionary (1995) - Resumo vem a ser um breve
enunciado que contém as idéias centrais de um texto. Percebemos o resumo não
apenas como o ato ou efeito de resumir, mas, como um processo bastante complexo
do qual a paráfrase resumidora seria um tipo específico. Assim, toda forma
parafrástica ou mesmo de resumo que objetive a convergência de estruturas
conceituais que assegurem a compreensão e o estado de alerta para esse núcleo
conceitual e conseqüentes proposições, são de inestimável valor pedagógico.
Em consonância com Gardner (1996), acreditamos que essas razões sejam
suficientemente sugestivas e reveladoras dos princípios mais importantes que
permeiam a paráfrase no processo de comunicação. Compreensão, incorporação de
informações e rearticulação de idéias (próprias ou alheiras) são processos altamente
significativos e inspiradores do ensino/aprendizagem de línguas. Julgamos que
esses elementos gravitam em torno de um núcleo da mais alta importância nesse
processo, que é a compreensão textual em contextos pedagógicos.
8.3. Orientação a alunos sobre a produção de paráfrases
Aprendizes de línguas podem receber orientação como a que sugerimos a
seguir:
Em primeiro lugar, releia-se a passagem original várias vezes para certificar-
se de que houve realmente a compreensão.
203
Sem olhar para o original, reconstitua-se o sentido geral do mesmo. (Se a
passagem for muito longa para memorizar, reformule-se o sentido de frase
em frase ou duas de cada vez).
Em seguida, releia-se a passagem original mais uma vez, certificando-se de
que foram incluídas todas as informações importantes, conservando o mesmo
tom.
Finalmente, revise-se a paráfrase o quanto for necessário. (Por exemplo,
poderão ser adicionados alguns elementos coesivos dentro das sentenças ou
entre elas para que a mesma fique mais clara e mais coerente).
Como alternativa sucinta, pode-se parafrasear uma passagem da seguinte
maneira:
Revise-se cada sentença da passagem original palavra por palavra,
substituindo sinônimos onde for possível. (Certifique-se de que cada sinônimo possa
ser usado no mesmo contexto). Mude-se a ordem das palavras de cada sentença.
Revise-se a paráfrase quando for necessário.
Vale a pena lembrar que a paráfrase deve:
Manter-se fiel ao sentido e ênfase do texto original. (Inclusive todas as idéias
principais e detalhes importantes. Não se deve incluir opiniões, interpretações e
avaliações). Conservar o tom do
original. (Se o tom for irônico, nostálgico,
entusiástico, jocoso, e assim por diante, isso deverá se refletir na paráfrase).
Ser amplamente re-textualizada. (O aprendiz usa suas próprias palavras o
máximo possível. Procura usar sinônimos e equivalentes das expressões do original.
Se desejar conservar as palavras ou termos-chave, coloca-os entre aspas). Variar
gramaticalmente. (Quando possível, varia-se a ordem das palavras e de outros
204
elementos gramaticais. Também pode variar-se a estrutura da sentença: transforme-
se uma sentença longa em uma curta, uma curta numa longa, transformar uma
sentença em duas ou mais ou fazer de duas sentenças uma só).
À luz dessas reflexões e sugestões, cabe fazer um questionamento que
certamente deverá ser levado em consideração por quem se empenha em melhorar
a compreensão e a produção textuais dos aprendizes de línguas estrangeiras:
Até que ponto esses processos que envolvem a paráfrase são explorados
didaticamente em nosso contexto educacional?
205
CONCLUSÃO
Ficou constatado, nas respostas ao questionário, que a paráfrase não é
totalmente desconhecida pelos professores de línguas, embora um percentual muito
baixo, ainda, a confunda com a citação de autores. Através desse registro, também
foi possível verificar-se que um número bem significativo de respondentes percebe a
paráfrase através de uma ótica positiva e norteadora de princípios de aprendizagem
de línguas através da reestruturação sintático-semântica. Assim, podemos afirmar
que essa prática possibilita amplos recursos de aprendizagem da compreensão
textual.
Os resultados positivos que obtemos em nossa prática pedagógica motivaram-
nos a oferecer, através desta pesquisa, subsídios que possibilitem aos leitores
perceber melhor e reconhecer o valor pragmático da paráfrase, ao mesmo tempo em
que melhora a compreensão dos elementos formadores do sistema sintático
semântico que promove a compreensão e a produção de enunciados
contextualizados.
Procuramos, também, articular as informações contidas nesta pesquisa, para
que seja incentivado o uso de estratégias parafrásticas que ofereçam o maior
número possível de opções sintático-semânticas que se relacionam diretamente com
compreensão e produção textuais. Assim, nosso trabalho considera e relaciona
paráfrase e variação de conceitos afins nos usos lingüísticos, diversidade na
produção textual, quase sinonímia léxico-gramatical, equivalência e criatividade
fraseológica de aprendizes / usuários ao parafrasearem.
Nesta pesquisa, consolidamos em toda sua estrutura a idéia de que a paráfrase
é um universal lingüístico indispensável para o esclarecimento de enunciados
206
ininteligíveis nos contextos comunicativos. A pessoa, sendo dotada de um potencial
criativo de imensas proporções, encontra na paráfrase um auxiliar imprescindível
para manifestar os conceitos nucleares que tratamos como base conceitual nuclear
partilhada. Sua natureza criativa aliada à liberdade de criar, torna a comunicação
mais satisfatória. Isso está demonstrado na seqüência dos seis primeiros capítulos
ilustrados com exemplos em várias línguas cujos usuários valem-se da paráfrase
para fins comunicativos. Portanto, ao encerrar esta etapa que marca nosso objetivo
atingido, esperamos ter contribuído um pouco para a formação de professores de
línguas, particularmente no que concerne ao seu papel de parafraseadores e de
orientadores de alunos quando estes parafraseiam.
207
REFERÊNCIAS
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212
ANEXOS
213
Anexo 01
Questionário para a coleta de dados da pesquisa
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE ARTES E COMUNICACAO
PÓS GRADUAÇAO EM LETRAS E LINGÜISTICA
Prezado Professor,
Cumprimentando-o, solicitamos sua valiosa colaboração no sentido de
responder o questionário em anexo que objetiva coletar informações a respeito de
sua prática pedagógica. Trata-se de apenas três perguntas abertas e seu
preenchimento certamente não lhe tomará muito tempo.
O nome dos informantes, bem como das instituições serão mantidos como
confidenciais. Apenas os dados empíricos serão analisados e incluídos em nossa
pesquisa.
Agradecemos antecipadamente sua prestimosa atenção, somos,
Atenciosamente,
ARAKEN GUEDES BARBOSA
Doutorando - UFPE
214
Anexo 01
Questionário para a coleta de dados da pesquisa
QUESTIONÁRIO
1. Usa a paráfrase em sua prática pedagógica?
Sim ( ) Não ( ) .
Por quê? ___________________________________________________________
___________________________________________________________________
2. Em caso afirmativo, como e com que freqüência?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3. Que benefícios você acha que podem resultar do uso de paráfrase?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Justifique.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
215
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