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VERA LUCIA ARANTES FERRAZ
A PARTICIPAÇÃO DO ALUNO NO CURRÍCULO
UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO
UNICID
SÃO PAULO
2008
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VERA LUCIA ARANTES FERRAZ
A PARTICIPAÇÃO DO ALUNO NO CURRÍCULO
Dissertação apresentada como
exigência parcial para a obtenção do
título de Mestre em
Educação junto à Universidade de
São Paulo UNICID sob orientação
do Prof. Dr. Jair Militão da Silva.
UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO
SÃO PAULO
2008
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_________________________________
_________________________________
_________________________________
COMISSÃO JULGADORA
AGRADECIMENTOS
A Deus por permitir-me.
A minha família pelo amor.
Ao meu orientador Professor Doutor Jair
Militão da Silva, que com sua paciência e
tranqüilidade me auxiliou na compreensão do
pensar coletivo.
Aos meus professores e colegas do Programa de
Mestrado por contribuírem para construir-me
sujeito.
À Professora Edileine pela humildade em
compartilhar o conhecimento.
Às amigas Kátia Costa e Carla Merlotti pela
amizade solidária.
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(...) talvez não tenhamos conseguido fazer
o melhor, mas lutamos para que o melhor
fosse feito (...) Não somos o que
deveríamos ser, mas somos o que iremos
ser. Mas graças a Deus, não somos o que
éramos (Martin Luther King).
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Dedico este trabalho a todos que
contribuíram para minha formação e,
também, aos que farão uso deste em prol
do saber coletivo.
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RESUMO
Este trabalho tem por objetivo estudar a participação dos alunos das
terceira séries do Ensino Médio na construção do currículo de uma Escola
Pública Estadual do Estado de São Paulo. Entendendo que o processo de
democratização do currículo tem no aluno seu parceiro principal. Parto da
hipótese de que o aluno não aprende se não participar da construção do
currículo. Os procedimentos metodológicos basearam-se na minha experiência
de professora e coordenadora pedagógica nesta escola e em outras da Rede
Pública, em pesquisa bibliográfica e de campo. A observação e aplicação de
questionário aos alunos, foram utilizadas como coleta de dados. Os resultados
da pesquisa mostram que o aluno não participa da construção do currículo,
mas sim, amplamente no aspecto social da escola. Constatei que uma
grande vontade em participar, mas por não serem solicitados, não o fazem. A
pesquisa indica que a escola, ainda, representa um local de ascensão e que os
conteúdos serão relevantes para a vida, porém como não participação dos
alunos, os conteúdos não o significativos, fato este causador do
desinteresse. No transcorrer do estudo, constato que a participação do aluno e
a utilização de seus saberes é fator preponderante para a viabilização de um
currículo necessário e significativo.
Palavras chaves: participação; currículo; políticas públicas de educação;
cotidiano, Ensino Médio, multiculturalismo.
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ABSTRACT
This work has for objective to study the students' of the third series of the
Medium Teaching participation in the construction of the curriculum of a State
Public School of the State of São Paulo. Understanding that the process of
democratization of the curriculum has in his/her student main partner. Childbirth
of the hypothesis that the student doesn't learn, if it doesn't participate in the
construction of the curriculum. The methodological procedures based on my
teacher experience and pedagogic coordinator in this school and in another of
the Public Net, in bibliographical research and of field. The observation and
questionnaire application to the students, they were used as collection of data.
The results of the research show that the student doesn't participate in the
construction of the curriculum, but, thoroughly in the social aspect of the school.
I verified that there is a great will in participating, but for they be not requested,
they don't make him/it. The research indicates that the school, still, represents
an ascension place and that the contents will be relevant for the life, however as
there is no participation of the students, the contents are not significant, fact this
cause of the indifference. In elapsing of the study, I verify that the student's
participation and the use of yours know is preponderant factor for the
viabilização of a necessary and significant curriculum.
Key words: participation; curriculum; public politics of education; daily, I Teach
Medium, multiculturalismo.
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SUMÁRIO
Introdução...............................................................................................11
1. Trajeria Profissional.......................................................................18
1.1.Referencial Teórico.....................................................................31
2. Participação do Aluno no Currículo..................................................33
2.1. O Lugar de Onde Falo...............................................................34
2.2. Participação e Quão Relevante é sua Ocorrência.....................37
2.3. Reconhecer no Outro o Conhecimento de si Mesmo................45
2.4. Currículo....................................................................................49
2.5. Ciclo Didático........................................................................... .54
2.6. Multiculturalismo....................................................................... 58
2.7. Protagonismo Juvenil...............................................................65
2.8. Sujeito Coletivo.........................................................................69
3. Ensino Médio e Sua Organização..................................................73
3.1. Década de 30...........................................................................74
3.2. Décadas de 40 e 50.................................................................75
3.3.Décadas de 60 e 70.................................................................76
3.4.Década de 80......................................................................... .77
3.5.Década de 90...........................................................................78
3.6.O Novo Ensino Médio............................................................. 80
3.7.Ensino Médio é Educação Básica............................................82
3.8.O ensino Médio como Etapa Final da Educação Básica.........84
3.9 Educação do Futuro.................................................................87
4. Ao Percorrer o Caminho o Encontro com o outro...........................90
4.1. Descrição da Pesquisa.............................................................96
CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................106
BIBLIOGRAFIA..................................................................................111
ANEXO I............................................................................................116
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INTRODUÇAO
O presente trabalho busca compreender a participação que o aluno tem
na produção do currículo.
Utilizo minha experiência profissional auxiliada por Silva, Josso, Charlot,
Tardif, Costa, Bordenave e Pineau, entre outros, para compreensão de minha
própria trajetória como profissional da educação, atuando na rede pública do
estado de São Paulo e como o currículo apreendido foi útil tanto na minha vida
profissional, como na pessoal.
Pretendo com esse trabalho, também, resgatar a minha própria história,
dando significado às minhas experiências e, conseqüentemente, entender o
universo dos alunos.
Confesso que elaborar esta pesquisa custou-me muitas noites sem
dormir, o sabendo por onde começar, buscando nas memórias, significados
para as minhas inquietações. Ser pesquisadora está sendo uma experiência
nova, estava acostumava a ficar na superfície. Quando ingressei no Programa
de Mestrado da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID) começo a entrar
nas profundezas, questionar o óbvio provocou em mim uma insegurança em
achar que tudo que havia vivido tinha sido superficial, recomeçar a busca foi
um processo doloroso, pois me tirou do lugar de conforto.
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Hoje percebo que a busca pela compreensão de nós mesmos é
infinita.
Objeto de pesquisa
O objeto de pesquisa deste trabalho é investigar a participação dos
alunos das 3ªs séries do Ensino médio na construção de currículo.
Problema de Pesquisa
A não participação do aluno no currículo.
Hipótese
Tenho por hipótese que a não participação dos alunos na construção do
currículo causa desinteresse, o que dificulta a aprendizagem e,
conseqüentemente, transforma o espaço escolar num local onde não se
prioriza o currículo “necessário”.
Justificativa
As escolas públicas brasileiras ao longo da história enfrentaram muitos
problemas de ordem estrutural, tanto pela sua organização como pela
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formação
1
das pessoas que compõem o espaço escolar. A fragmentação dos
planos educacionais e a descontinuidade administrativa são fortes indícios para
justificar o baixo rendimento escolar. Ao inserir a escola pesquisada neste
processo, faço um recorte do seu cotidiano e investigo a participação do aluno
na construção do currículo, pois este não acompanha as reais necessidades
dos alunos, como: música, dança, línguas estrangeiras, aulas práticas,
esportivas, etc.
A escola, de maneira geral, não se atualiza, gerando conflitos entre o
conhecimento produzido pelos alunos e o conhecimento que os professores
julgam necessários. Como diz Silva:
Uma mentalidade “naturalista’ que
considera “normal” a realidade tal como
existe, ou seja, que a um juízo de
realidade atribui a características de um
juízo de valor, é uma das causas da
fuga a uma decidida, consciente e
1
Formação esta que deveria se contínua
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responsável escolha de valores”.
Todavia, sempre no trabalho educativo
subsiste uma visão de homem que é
fruto de uma escolha fundada em
valores (SILVA, 2003, p. 62-63).
É necessário dar voz aos alunos para que estes expressem suas reais
necessidades sem medo de julgamentos.
Procedimentos Metodológicos
Essa pesquisa foi de natureza qualitativa. Para Chizzotti, o termo
qualitativo implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que
constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os significados
visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível
(2006:28), de cunho fenomenológico
2
.
Vali-me da pesquisa bibliográfica. Para Chaves, Pesquisa Bibliográfica é
o estudo sistematizado com base em material publicado em livros, revistas,
jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessivo ao público em geral.
Fornece instrumento analítico para qualquer outro tipo de pesquisa, mas
também pode esgotar-se em si mesmo (2003:65).
2
De acordo com o dicionário Oxford de filosofia de Simon Blackburn o termo fenomenologia surgiu no
século XVIII, nas obras de Johann Heinrich Lambert ( 1728-77) e de Kant , para denotar a descrição da
consciência e da experiência , abstraindo de considerações sobre seu conteúdo intencional (1997:146)
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Utilizei, também, pesquisa de campo. Segundo Chaves a Pesquisa de
Campo é investigação empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu o
fenômeno ou que dispõem de elementos para explicá-lo (2003:65),
O tema abordado foi a Participação do aluno na construção do currículo do
Ensino Médio. Utilizei, ainda, coleta de dados por meio de questionário
elaborado com perguntas semi-abertas
3
.
O presente trabalho está organizado em capítulos:
capítulo: apresentação de minha trajetória como aluna e,
posteriormente, como profissional da rede pública no Estado de São Paulo.
Capítulo: Será dedicado ao referencial teórico. Será apresentado o
conceito de participação, currículo e seus desdobramentos na aplicação da
vida do educando.
Capítulo: Procurar-se-á fazer uma abordagem sobre o Ensino Médio
no Brasil utilizando a legislação
4° Capítulo: Apresentará a descrição e análise dos resultados.
Considerações finais: serão retomados os objetivos dos trabalhos,
suas hipóteses e avaliadas se foram todas contempladas, com suas
justificativas e análises.
3
Optei por perguntas semi-abertas para oferecer liberdade de expressão aos entrevistados e , assim, poder
compartilhar suas visões em referencia ao assunto pesquisado
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Acredito que esse trabalho é de grande relevância pessoal, por me fazer
repensar, entender e compreender minha vida profissional e ainda o lugar que
ocupo como sujeito de um processo educativo. Relevância acadêmica, por
esperar contribuir com o campo educacional desenvolvendo um trabalho onde
as pessoas envolvidas, que são parte, e constituem a unidade escolar, terão
voz, portanto, a comunidade acadêmica terá possibilidade de conhecer a leitura
que estas fazem do conceito de participação e currículo e, a partir daí, poderem
até repensar as políticas públicas de educação. Relevância institucional, por
pretender contribuir com a escola, proporcionando aos sujeitos que farão parte
da pesquisa a possibilidade de conhecer os resultados desta, podendo, assim
repensar suas práticas e a própria política da escola. Relevância Social por
desejar contribuir para que os envolvidos na pesquisa, reflitam sobre sua ação
na sociedade e contribuam para influenciar pessoas formando grupos de
referências.
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1.TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
A escola sempre foi um espaço muito importante para mim, cresci
ouvindo que esta seria garantia para o meu sucesso, caberia a eu
aprender o que a escola ensinava. Questionar era para os mal
educados, para os que, com certeza, repetiriam o ano, no meu íntimo
questionava, mas com medo das penalidades, me calava e preferia
seguir o modelo que no meu entendimento, seria correto e reconhecido.
Em casa a recomendação era para tirar boas notas, para que na
reunião de pais e mestres o meu desempenho fosse elogiado perante os
outros. Com o passar do tempo no antigo curso ginasial, comecei a
questionar silenciosamente: Por que tinha de aprender determinadas
coisas que não tinham relação com a minha vida prática? Embora sendo
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muito falante (os professores preferiam os alunos quietos), tinha um bom
relacionamento com os professores.
Entretanto, estes nunca me consultaram para opinar sobre o que
realmente me interessava aprender. Sempre era solicitada a “participar”,
auxiliando na datilografia de atividades: jornais, exercícios, até provas.
Sentia-me importante, mas, comecei a sentir a rejeição dos colegas, que
me enxergavam como bajuladora dos professores, esta rejeição causou-
me um profundo descontentamento, a ponto de ter de optar por não
mais auxiliar os professores.
Nas séries seguintes os questionamentos cresciam, tinha tanta
sede de conhecimento, mas não era de bom tom fazer muitas perguntas,
isto irritava os professores e os colegas achavam que eu queria ser o
centro das atenções.
Foi numa destas indagações que comecei a pensar na
possibilidade de ser professora, queria ensinar de forma diferente, ainda
não tinha clareza como seria, mas queria ser diferente.
Ingressei no magistério, por vontade própria, nesta época
comecei a observar mais detalhadamente os professores, via que estes
tinham boa vontade, hoje entendo que eles reproduziam o conteúdo
produzido por outros. Estavam há muito tempo e anos após anos
ministravam as mesmas aulas que estavam escritas em um caderno ou
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em um livro amarelado pelo tempo, chegavam ao cúmulo de ter de
cancelar aulas ou mudar o foco, pois esqueciam o caderno onde
registravam suas aulas do dia, que mesmo dada anos a fio, ainda não
conseguiam decorá-las. o refletiam nos problemas do cotidiano, não
valorizavam o conhecimento do aluno. Como diz Gómez:
A vida cotidiana de qualquer profissional
prático depende do conhecimento tácito que
mobiliza e elabora durante sua própria ação.
Sob a pressão de múltiplas e simultâneas
solicitação da vida escolar, o professor ativa
seus recursos intelectuais, no mais amplo
sentido da palavra (conceitos, teorias,
crenças, dados, procedimentos, técnicas),
para elaborar um diagnóstico rápido da
situação, desenhar estratégias de
intervenções e prever o futuro dos
acontecimentos (GÓMEZ, 1997, p.102-103).
Hoje percebo que meus professores tiveram sua formação na
época da Ditadura Militar de 1964. Esta ditadura, instalada a partir do
golpe de 31 de março, tinha a seu serviço militares que criaram o
Serviço Nacional de Informações, (SNI), uma rede de espionagem
política. Seus agentes usavam métodos que incluíam escuta telefônica,
violação de correspondência, prisões arbitrárias e a prática de tortura.
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Em novembro de 1965, Castello Branco instituiu o bipartidarismo. De um
lado, a Aliança Renovadora Nacional, Arena, aglutinava os partidários do
governo.
De outro lado, o MDB, Movimento Democrático Brasileiro,
agrupava a "oposição consentida". Os setores oposicionistas mais ativos
intensificaram as atividades clandestinas. Muitos estudantes, intelectuais
e trabalhadores urbanos e do campo acabaram presos. Tornaram-se
freentes os relatos de tortura e de desaparecimento de militantes
políticos. 1964 suprimiram liberdades básicas. O governo do marechal
Castello Branco fechou sindicatos e entidades civis, entre elas a UNE,
União Nacional dos Estudantes. Proibiu as greves e cassou mandatos
de políticos da oposição. Perseguiram intelectuais e profissionais liberais
que se mostravam contrários ao novo regime. Neste clima de medo e
terror havia uma política educacional que procurava legitimar o Golpe
Militar. Muitos dos professores sequer percebiam esta relação,
entretanto, a influência do modelo na formação educacional endureceu-
os, tinham verdadeira obsessão pela disciplina e as poucas concessões
que faziam eram aos alunos “especiais” na aprendizagem e na
obediência.
Ao terminar o magistério, resolvi fazer História, não porque tivesse
um interesse grande por esta disciplina, mas porque esta era a mais
barata e eu como aluna de Escola Pública, que trabalhava de dia para
pagar meus estudos, não tinha muitas opções. Ao ingressar na
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Universidade tive uma surpresa: tinha me acostumado a ser direcionada,
pediam-me e eu fazia, cumpria ordens.
Nesta faculdade os professores tinham como formação omarxismo
4
”,
achavam que o sistema capitalista era opressor, dominador, injusto e que
precisávamos nos despir de toda ideologia consumista, tínhamos de lutar pela
nossa classe e fazer uma revolução.
Fiquei apavorada, tudo era novo, sentia-me roubada, achei que havia
sido vítima de uma lavagem cerebral, deixei de mascar chiclete e tomar coca-
cola, que na minha concepção eram símbolos do imperialismo, os professores
falavam de autores de esquerda, davam a bibliografia e diziam: “Agora é com
vocês”.
Explicação e discussão eram poucas, diziam que deveríamos ser
autônomos e buscar o conhecimento, senti vontade de desistir, me sentia
incapaz. Parecia uma criança freqüentando a escola pela primeira vez, com frio
na barriga e tudo.
Quando me formei, tomei uma decisão, resolvi que meus alunos não
seriam como eu fui, queria ser uma professora diferente, queria que meus
alunos participassem, tivessem voz, mas como?
4
De acordo com o dicionário Oxford de filosofia de Simon Blackburn, em termos teóricos, o marxismo é
a adesão a pelo menos algumas idéias centrais de Marx. Entre elas conta-se, tipicamente a percepção do
mundo social pela categoria de classe, definida pelas relações com os processos econômicos e produtivos;
a crença no desenvolvimento da sociedade além da fase capitalista através de uma revolução do
proletariado; na economia, teoria do valor-trabalho; e, acima de tudo, a rejeição da exploração que é
inerente ao controle privado do processo produtivo. Na prática, o marxismo é um comprometimento com
as classes exploradas e oprimidas, e com a revolução que deverá melhorar sua condição (1997:238).
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Ao entrar na sala de aula como professora, percebi que tudo era muito
parecido com a escola que freqüentei o velho e o novo conviviam, não de
forma harmoniosa, as brigas eram freqüentes.
Interessante que muitos dos que foram meus mestres, estavam ali
comigo.
A sensação era estranhíssima, não concordava com a forma com que os
mesmos tratavam os alunos, mas tinha um profundo respeito por eles, pedia
licença pra tudo, tinha medo de magoá-los, entendi neste momento como é
forte a relação professor-aluno. Mas algo precisava ser feito, não poderia
aceitar que houvesse repetição daquilo que eu abominava e o que era mais
grave, com a minha conivência.
Comecei a lançar projetos inovadores: sica poemas, aulas passeio,
tudo que queria ter feito e não me deixaram.
Neste momento (década de 80) o Brasil passava por mudanças
políticas, a redemocratização, os ventos da mudança estavam soprando, havia
uma efervescência no ar: greve, participação em sindicados, sentia-me sujeito
da história, pois começava a participar de coisas antes proibidas.
Entretanto, embora vivendo estas mudanças, sentia que meus alunos
não tinham o prazer em aprender como eu gostaria que tivessem, tentava
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inovar, mas ainda era eu que determinava o que meus alunos tinham que
aprender, inconscientemente usava como parâmetro a mesma forma de
ensinar. Utilizava minhas experiências para selecionar conteúdos, analisando-
os pela minha ótica.
Achava que realizando meus sonhos estaria realizando o sonho dos
outros. Selecionava meus conteúdos, sem a aprovação dos alunos, acreditava
que estes não tinham maturidade pra me ajudar na escolha dos conteúdos,
acreditava que utilizando apenas a minha prática seria suficiente.
Nas minhas indagações percebo que todos têm alguma coisa a dizer, o
conhecimento não pode ser medido entre bom ou mau, estar aberto ao
conhecimento do outro possibilita uma ampliação do nosso, na escola
convivemos com saberes diversos: pais, alunos, professores, funcionários.
Seria muito interessante se todos sentissem a vontade para expor suas
prioridades, seus anseios, suas angústias.
Percebo que o espaço escolar é rico em memórias, mas não espaço
para resgatá-las, tornando-as significativas, o que faz com que nossa formação
fique fragmentada, concordo com Josso quando diz que:
O que faz a experiência formadora é
uma aprendizagem que articula,
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hierarquicamente: saber-fazer e
conhecimentos, funcionalidade e
significação, técnicas e valores num
espaço tempo que oferece a cada um a
oportunidade de uma presença para si
e para a situação, por meio de uma
mobilização de uma pluralidade de
registros (JOSSO, 2004, p.39).
Acreditava que as mudanças viriam, mas seguindo uma ordem, que
acreditava ser natural, o governo ordenaria o que precisaria ser feito e aos
professores caberia a execução das mesmas. Entretanto, ao possuir mais
tempo de exercício no magistério, começo a dialogar com as minhas práticas e
constato que as poucas atividades de sucesso que tive foram quando ouvi
meus alunos e respeitei seus interesses.
Confesso que ainda sentia insegurança em trabalhar conteúdos
escolhido pelos alunos, achava que estava realizando algo impróprio e o fazia
escondido dos meus superiores, à medida que lemos e nos apropriamos de
referenciais teóricos, saímos da solidão, adquirimos argumentos que nos
auxiliam a sustentar e entender como fomos formados, o conhecimento teórico
nos traz parceiros que antes desconhecíamos e assim perdemos o medo de
inovar.
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No ano de 2003 aceito ser Coordenadora Pedagógica da escola onde
lecionava e mais uma vez teria de enfrentar mudanças. Neste momento
observo que escola não se resume em aluno e professor, é muito mais
ampla. Neste espaço convivemos com várias pessoas: pais, alunos,
professores, funcionários administrativos, serventes, merendeiras e outros.
Para que o ambiente escolar funcione bem todos precisam estar engajados no
mesmo objetivo.
Infelizmente pude constatar que as coisas não são como parecem e o
que eu acreditava funcionar harmonicamente era uma panela de pressão que
vez ou outra tinha exploes, aprender a lidar com elas foi para mim penoso e
ao mesmo tempo gratificante, pois na explanação de cada um, todos tinham
razão e eu me perguntava quem sou eu para interferir neste processo? Como
mediar estas situações de tensão? Como não melindrar o outro? Aos poucos
pude perceber que conviver com as diferenças não é uma tarefa fácil e que
estas podem tornar–se significativas se forem utilizadas como meio de
formação.
Adotei uma postura, nesta nova função: primeiro ouviria e tentaria tirar
das pessoas, que me procuravam para reclamar, as sugestões para melhorar.
Infelizmente, as sugestões nem sempre apareciam, a maioria queria que
houvesse uma resposta pronta para as adversidades.
Ter paciência passou a ser “meu” exercício diário, o se muda
mentalidades do dia para noite, aprendi a não me desesperar quando as coisas
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não saiam conforme o planejado. Adoto uma postura, que no meu entender,
beneficiaria a todos, precisaríamos trabalhar com teoria e prática, nas reuniões
de professores. No início as pessoas rejeitaram, pois não assumiam que não
tinham conhecimento teórico, mas depois as coisas começaram a fluir melhor e
isto de certa forma repercutiu em relacionamento e aprendizagem em sala de
aula, conseguir adesão do grupo foi a tarefa mais difícil, pois se não há adesão
cria-se grupos de rejeição.
Entretanto, o trabalho que foi realizado no ano de 2003, teve que ser
reiniciado no ano de 2004, pois como a maioria dos professores desta escola
não era efetivo, estes escolhiam suas aulas de acordo com sua classificação e,
conseqüentemente, não havia garantia que estes sempre escolhessem a
mesma escola. Recebemos outro grupo neste ano e o trabalho de formação foi
reiniciado, o grupo que recebemos era na sua maioria de recém-formados e a
grande queixa era que a faculdade em nada os habilitou para ministrarem
aulas, diziam que a realidade era bem diferente e não sabiam o que fazer,
queriam aulas prontas, receitas de sucessos.
Reflito neste momento que a Universidade continuava muito parecida
com a que eu tinha cursado, não habilitava o aluno para trabalhar na escola
pública, me vi nestes professores e entendi o que estes estavam passando.
Como diz Pineau:
A formação ao longo da vida, através dos
desafios existenciais, institucionais e
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profissionais, manda para os ares as práticas
e representações relativamente uniformes da
formação, herdadas das épocas iniciais.
Qualquer que seja sua pertinência a estas
épocas, estas práticas e estas visões são
demasiadamente limitadas para entender a
extensão da vida, estas vidas que não são
tranqüilas é que estão em formação
permanente. Se o processo se impõe é
porque as formas vitais nunca estão
completamente nem definitivamente paradas.
Elas estão em evolução ou em involução
permanentes. Em equilíbrio instável entre
momentos e pólos de tensão, expostas a
todos os ventos, ambivalentes, com seus
riscos e seus recursos (PINEAU, 2004 p.161-
162).
Formar bons profissionais é o primeiro passo para garantir um
desempenho, pelo menos, satisfatório. Porém, formação o é um processo
com data para terminar, ela é um processo contínuo e estamos em formação
durante todo o tempo. Mas como poderia ajudar estes profissionais, que
chegavam tão ansiosos e se deparavam com uma realidade tão diversa?
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Mais uma vez o processo de formação teve de ser retomado e os
professores reviveram suas experiências de aluno, colocar-se no lugar do outro
é um exercício diário que não pode ser esquecido. Nas reuniões de formação
discutíamos os conteúdos das diversas disciplinas e tentávamos fazer “pontes”
entre duas ou mais disciplinas, com este exercício os professores se
apropriavam dos conteúdos, sentindo-se mais competentes, a forma que
aplicavam estes conteúdos na sala de aula, também era motivo de discussão,
reclamavam da falta de interesse dos alunos e da falta de compromisso com a
escola, pois estes depredavam o patrimônio com pichações e quebra de
mobiliários.
Tentava entender, o porqde não haver uma mudança significativa, se
estávamos nos esforçando para um ensino de qualidade? Compreendi que
este é um processo lento e que os resultados não aparecem rapidamente e
também não se consegue unanimidade. No ano de 2004 muda-se novamente o
grupo, desta vez a maioria vinha de uma cidade vizinha com características
diferentes das nossas, as escolas desta cidade tinham um perfil diferenciado,
os professores queriam elaborar o mesmo trabalho realizado lá, embora
tivessem boa vontade, o resultado não foi o esperado.
Ao reiniciar o processo de formação, encontro resistência,
comprometendo o processo que tinha começado o bem. O final do ano letivo
foi frustrante, muitas retenções, descontentamento dos professores a respeito
de sua profissão.
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Sentia-me fracassada, parecia que estava andando para trás, quando
pensava que as coisas estavam satisfatórias, tinha um retrocesso. Senti-me
frágil diante dos problemas, percebo que precisava de algo mais que me
fizesse sentir mais forte, resolvo aproveitar o incentivo do Governo Estadual,
intitulado Bolsa Mestrado, que auxilia com uma parcela o pagamento do curso.
Ao ser aprovada para o Mestrado na Universidade Cidade de São Paulo
(UNICID), descubro que durante minha vida profissional e também de
estudante, não fui preparada para ser pesquisadora, foi no Mestrado que
aprendi a ler com reflexão, a checar fontes, a transformar minha prática em
experiência.
Confesso que este processo está sendo penoso, pois diante de tantas
inovações, me sinto perdida sem saber por onde começar, diante do
conhecimento produzido sinto-me uma gota no oceano, não tinha noção da
quantidade e do quanto teria de caminhar nesta busca. Entretanto aprendi que
muitos, tal como eu, estão no mesmo propósito e que não preciso me sentir
inferior, temos o conhecimento disponível cabendo a nós a tarefa da busca que
não tem hora nem local para terminar. Entendo que relacionar com estes
saberes é relacionar com o mundo, buscando no outro o conhecimento de nós.
Como diz Charlot:
Não sujeito do saber e não saber
senão em uma certa relação com o
mundo, que vem a ser ao mesmo
tempo e por isso mesmo, uma relação
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com o saber. Essa relação com o
mundo é também relação consigo
mesmo e relação com os outros
(CHARLOT, 2000, p.63).
1.1 Referenciais teóricos
Ao ingressar no Mestrado, busco respostas para minhas inquietações,
um caminho que me indicasse que era possível minha re-construção como
educadora, muitas perguntas foram respondidas ao longo da pesquisa, muitas
outras surgiram, proporcionando apropriação de conhecimentos e a
“eternidade” da busca.
No Mestrado, percebo a importância dos referenciais teóricos. Na roda
viva da profiso de educadora, ficamos apenas com a prática, pouco a
discutimos, o que não nos proporciona torná-la experiência. Os referenciais
teóricos nos auxiliam a entender o nosso cotidiano, sem desprezar nossa
prática. Percebo que nossa formação inicial não nos capacita para exercer
continuamente o nosso trabalho. Precisamos de conhecimentos, das pessoas
que passaram pela mesma angústia. Compartilhar estes referenciais nos faz
sentir menos só, nos capacita para enfrentar os muitos desafios e
conseqüentemente nos tornar pessoas melhores, com maior tolerância e amor
ao próximo.
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No capítulo 2, procurarei dar uma visão geral do meu local de trabalho.
Discutirei participação e sua importância no processo ensino/aprendizagem.
Em seguida conceituarei currículo e abordarei sua complexidade na escola
pública. Farei, também, uma abordagem sobre o protagonismo juvenil e quão
relevante é sua atuação no ambiente escolar. Finalizarei o capítulo explicando
a importância da construção do Sujeito Coletivo no ambiente escolar.
2 . PARTICIPÃO DO ALUNO NO CURRÍCULO
Tecendo a manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã:
Ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito
E o lance a outro; de um outro galo
Que apanhe o grito que um galo antes
E o lance a outro; e de outros galos
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Que com muitos outros galos se cruzem
Os fios de sol de seus gritos de galo,
Para que a manhã; desde uma tênue teia,
e vá tecendo, entre todos os galos
E se encorpando em tela, entre todos,
Se erguendo tenda, onde entrem todos,
Se entretendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
Que, tecido, se eleva por si: luz balão.
MELO NETO, João Cabral de. A educação
pela pedra. Fronteira, 1996.p.35
2.1 O lugar de onde falo
Para entender o processo de participação da escola que atuo como
professora, é necessário verificar algumas de suas singularidades.
Esta escola situa-se numa cidade a cinqüenta quilômetros de São Paulo.
Sendo uma cidade localizada em área de mananciais e que não possui
indústrias poluentes, a atividade econômica vem do comércio e de pequenas
fábricas, possui características interioranas, sua área territorial é grande, mas a
área urbana é pequena, a área rural é povoada por sitiantes que na sua
maioria vem da capital paulistana, constroem casas confortáveis e empregam
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pessoas com salários mínimos para tomarem conta do tio. Esses caseiros
são pessoas que vem na sua maioria, da periferia de São Paulo, empurrados
pelo desemprego. Existe, também, um número considerável de pessoas que
vieram da região nordestina do Brasil, tentaram a vida nas cidades grandes e
depois de desiludir-se acabaram por ser caseiros, ao verem frustrados seus
sonhos, grande parte destas pessoas acabam voltando para a terra de origem.
Os sitiantes, ao visitarem a cidade aos finais de semana, dobram a
população local. Nas ruas, é comum depararmos nestes finais de semana com
pessoas de carros importados andando paralelamente com charretes e
cavalos. É nos finais de semana que o contraste entre o luxo e a pobreza fica
mais evidente.
A cidade acabou crescendo desordenadamente e o poder público, não
conta de atender todas as demandas necessárias, tendo a cidade
problemas de saneamento básico, saúde, transporte, habitação, desemprego,
etc. A população escolarizada acaba por ter que migrar para outras cidades em
busca de emprego.
A escola onde leciono, embora sendo uma escola central, recebe cerca
de 70% dos alunos da zona rural, filhos dos caseiros, ficando 30% para os
alunos que moram na região central da cidade. A escola funciona em três
períodos. O prédio é antigo e passa por reformas, possuindo históricos de
depredações e pichações.
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Uma parcela considerável dos alunos recebidos da zona rural possui
sérios problemas de aprendizagem, tendo dificuldades nas produções e
interpretações de textos e nas quatro operações. O grupo de professores,
cerca de 60% é oriundo de cidades vizinhas, que não conseguindo aulas
próximas de sua residência, acabam sendo forçados a ministrar aulas nesta
cidade, os 40% restantes residem nesta cidade e estão divididos da seguinte
forma: 20% são efetivos e os outros 20% são professores temporários que
transitam todos os anos por escolas diferentes. Portanto, a escola em questão
possui grande rotatividade de professores. Estes professores, na sua maioria,
possuem apenas a graduação, não possuem casa própria, ministram aulas em
mais de duas escolas, freqüentam os cursos de capacitação oferecidos pelo
Estado, criticam que estes não atendem suas reivindicações. Reclamam
insistentemente dos baixos salários e do acumulo de aulas. Não vêem retorno
do trabalho e ao serem cobrados pelos baixos resultados das avaliações feitas
aos alunos, argumentam que os pais pouco participam da vida escolar dos
filhos, poucos freqüentam as reuniões eo ajudam nos deveres de casa.
Os pais, por sua vez, reclamam que os professores não são enérgicos,
deixam os alunos fazerem o que querem, dão nota para alunos que “não
sabem nada” e vivem chamando-os para falarem mal dos filhos. Justificam que
não sabem a matéria e por isto não podem ajudar os filhos, dizem que os dias
das reuniões são em horário de trabalho e que os patrões não dispensam, e
que muitas vezes não tem dinheiro para a condução.
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Por ser uma escola que recebe a maioria de alunos carentes sedimentou
no imaginário da população local que esta é uma escola que abriga aprendizes
da marginalidade, alunos “fracos” que passaram automaticamente sem
aprendizagem. Mas nem sempre foi assim, houve um tempo que esta escola
tinha fama de competente, formaram-se nela profissionais de respeito que se
orgulhavam de -la freqüentado. A comunidade mais antiga acredita que o
fracasso desta escola se deve ao fato do ingresso indiscriminado de alunos
com históricos de repetência e evasão, alunos que “não querem aprender”.
Diante deste quadro revisitaremos o seu cotidiano em busca de
respostas que nos ajudam compreender a importância da participação do aluno
no currículo.
2.2 Participação e quão relevante é sua ocorrência
Ocorre que a participação não é
somente um instrumento para a
solução de problemas, mas, sobretudo,
uma necessidade fundamental do ser
humano, como o são a comida, o sono
e a saúde
( BORDENAVE, 1994, p.16).
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O ser humano é um ser de relações, necessita participar , quando é
tolhido desta participação, sente-se um ser incompleto. O conceito de
participação não é novo, como esclarece Martins:
Etimologicamente, participar significa
tomar uma parte (do latim "partem
capere"). No entanto, a melhor noção
de participação vem da etimologia
grega, que significa ter conjuntamente
ou ter com outro (metekó). Daí os dois
sentidos básicos da palavra
participação:
Sentido Material (latino) dividir um
todo material entre aqueles que dele
participarão: o todo desaparecerá e
cada sujeito participante terá uma parte
do objeto participado, guardando uma
relação apenas histórica com o antigo
todo;
Sentido Espiritual (grego) ter
parcialmente o que outro possui
integralmente: uma alegria que é plena
no sujeito que obteve uma vitória, é
participada em menor intensidade
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naquele que recebe a comunicação da
vitória e com ela se alegra, sem que a
participação diminua a alegria do
sujeito que obteve a vitória, antes a tem
aumentado (MARTINS,1999).
A participação é tão importante como o comer e o dormir. Para que o ser
humano viva com plenitude, é necessário que este participe. Participamos
mesmo quando acreditamos que não o fazemos, entretanto, quando nos
reportamos à escola a palavra participação assume significados diversos.
Fazer parte, tomar parte ou ter parte não significam a mesma coisa. É possível
fazer parte, sem tomar parte.
Por exemplo: o aluno faz parte da escola, mas não toma parte das
decisões importantes da mesma. Quando o aluno sente-se parte, este tem
responsabilidade, sente-se ativo nas tomadas de decisões. Ajudar a construir o
conhecimento faz com que o aluno sinta-se participante no processo
ensino/aprendizagem, fato este que beneficiará a sociedade, fazendo que o
conhecimento transpasse os muros da unidade escolar. Na década de 80 e 90
do séc. XX o mundo assistiu mudanças no cenário socioeconômico, político,
cultural, ciência e tecnologia, as mudanças tecnológicas favoreceram o
surgimento da era da informação.
Com a Internet a comunicação ganhou velocidade, alunos convivem com
esta tecnologia, querem informações rápidas e a escola continua lenta,
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causando um descompasso entre o que aluno vivencia fora e dentro da escola.
Conviver, muitas vezes, com alunos que sabem mais do que os professores
causam desconforto para aqueles que não querem dividir o “poder”. Utilizar
esta ferramenta como auxilio para a aprendizagem, talvez, seja um desafio
para a educação, proporcionando maior participação.
Com os meios de comunicação de massa a população mundial sentiu-se
mais próxima dos acontecimentos, sem, contudo participar dos mesmos. Com
a queda dos regimes totalitários, cresceu o movimento de participação das
pessoas que querem decidir seu próprio destino. A democracia tornou-se um
valor universal a ser buscado, sendo um estado de participação.
Porém, ao observamos o cotidiano escolar verificamos que todos de
certa forma participaram destas mudanças. Entretanto, esta participação não
corresponde à aprendizagem que os professores preconizam. Para alguns
professores seria mais produtivo se a participação dos alunos fosse passiva:
estes fariam parte, aprenderiam o conteúdo proposto, seriam disciplinados e
tirariam boas notas. Embora muitos alunos prefiram a participação passiva,
existe no cotidiano escolar, grupos de resistência que não aceitam
passivamente e reagem ativamente, demonstrando seu descontentamento com
a indisciplina , não aprendendo os conteúdos propostos e, conseqüentemente,
tirando notas ruins. As inovações tecnológicas seriam uma ferramenta
importante para que alunos e professores tivessem acesso ao conhecimento
produzido pela humanidade, entretanto, percebemos que o computador ainda é
um bem de consumo muito caro para o aluno da Escola Pública, as escolas
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não suprem esta deficiência, pois os computadores que a escola recebe não
são suficientes para suprir a demanda. Além disso, faltam peças de reposição
e técnicos especializados para concertos, grande parte dos professores
também não domina a tecnologia, não tem computador em casa. Esta
deficiência, não suprida pelo Estado, causa uma dicotomia e descompasso
entre a escola e a necessidade emergente da inclusão digital.
A participação nos dias atuais é útil, tanto para aqueles, que acreditam
nela como para aqueles que preferem o mando. É evidente que a participação
beneficia a todos, tanto para aqueles que lutam pela “igualdade”, como para
aqueles que a querem para a manutenção de controle de muitos por alguns.
Com a participação é possível resolver problemas de maneira satisfatória para
as partes interessadas tanto no setor público como no privado, pois ao
fiscalizar, os serviços apresentam melhor qualidade. Como diz Bordenave:
A participação é inerente à natureza
social do homem, tendo acompanhado
sua evolução desde a tribo e o clã dos
tempos primitivos, até as associações,
empresas e partidos políticos de hoje.
Neste sentido, a frustração da
necessidade de participar constitui uma
mutilão do homem social. Tudo
indica que o homem desenvolverá
seu potencial pleno numa sociedade
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que permita e facilite a participação de
todos. O futuro ideal do homem de
dará numa sociedade participativa
(BORDENAVE, 1994, p.17).
Conviver com as diferenças, acreditando que a participação faz parte do
ser humano, facilitaria o relacionamento. Entretanto, no ambiente escolar é
comum atribuir as mudanças oriundas da participação às pessoas
isoladamente e não ao grupo, causando nestas pessoas sentimentos de auto-
suficiência, achando que elas participam e que os outros possuem
participação inferior. As Políticas públicas, normalmente, são formuladas,
considerando a atuação de pessoas isoladas e não do grupo, o que ocasiona
um desenvolvimento participativo não idealizado, causando um desgaste para
o grupo. Como diz Silva:
Formuladores e implementadores ou
destinatários de políticas publicas
geralmente têm, em seu modo de
entender a ação social, a crença de
que as pessoas individualmente
consideradas o fator de sucesso ou
de fracasso das iniciativas, e que a
ação das pessoas depende apenas de
sua boa ou vontade (SILVA, 2000,
p.38).
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Não basta dizer: “faça” para as coisas acontecerem, na educação as
coisas acontecem morosamente. Elas ocorrem e são frutos das pessoas que
participam, de nada adianta planos bem escritos se não são aceitos pelo grupo.
As identidades são formadas quando optamos por valores e objetivos.
Ao optarmos por uma escola democrática, temos que ter claro que todos
devem participar, e não só os dirigentes, professores, acadêmicos e técnicos. A
escola sendo um espaço público deveria nos capacitar para a convivência
participativa na sociedade e propiciar a participação de pais, alunos,
educadores, que irão buscar soluções para os problemas da escola, do bairro,
do Estado, do país e da vida da espécie humana no Planeta.
Para vivenciarmos a democracia, temos que ter tolerância com os
conflitos existentes, estes precisam ser discutidos, analisados pelo coletivo,
respeitando as diferenças. Uma escola pluralista nos ensina a viver em uma
sociedade heterogênea. Como diz Silva:
A democracia, como as outras formas
de governo é um instrumento a serviço
da convivência humana, e como tal,
deve ser considerada. Por si mesma,
não tem o poder de gerar igualdade e
liberdade. É a ativa e presente atuação
de todos os envolvidos que poderá
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garantir qualidade de vida mais
humana e adequado as necessidade
existente no grupo social. Sobretudo, a
democracia não poderá converter-se
em pretexto para que a maioria domine,
mas deverá ser regulada por uma ética
em que cada ser humano seja
considerado um valor absoluto, não
sendo instrumentalizado por objetos de
qualquer natureza (SILVA, 2003, p.17).
Todos devem ter o direito de falar, opinar e participar, tomando decisões.
É participando que se aprende a participar.
Uma escola, onde se prioriza o silêncio e a aceitação, pode parecer aos
olhos dos desavisados como sendo uma escola de boa qualidade, entretanto,
isto no ponto de vista educativo, não é bom. Muitas vezes, colocam-se como
prioridades a disciplina exacerbada, organização, limpeza, em detrimento ao
direito de participação.
Precisamos respeitar a diversidade na escola, pois nela convivemos com
visões de mundo, culturas diferenciadas e não somos donos da verdade.
Respeitar a diversidade, fazendo concessões, é propiciar que todos tenham ao
menos parte dos seus interesses e valores contemplados no espo público da
escola.
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2.3 Reconhecer no outro o conhecimento de si mesmo
“O mais importante e bonito do
mundo é isto;
que as pessoas não estão sempre
iguais, ainda não foram
terminadas, mas que elas o
sempre mudando.
Afinam ou desafinam. Verdade
maior. É o que a vida me ensinou.”
(João Guimarães Rosa, Grande
Sertão: Veredas)
Os seres humanos se reconhecem em outros seres humanos, isto é
uma necessidade humana, pois os seres humanos existem através da vida
social.
Quando temos um pré-conceito sobre alguém, estamos praticando a
exclusão, causando no outro sofrimento e humilhação. Respeitar a diversidade
é reconhecer que todos são iguais em direitos e dignidade. Como diz Silva:
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Educar para a dignidade é desse
modo, educar para que a pessoa
assuma uma identidade que comporte
a noção de seu valor intrínseco e
inalienável, ou seja, que ela perceba
por si própria e que não pode ser
utilizada como valor de troca em
nenhuma situação. O que ajuda nesse
processo educativo é a experiência da
gratuidade, de ser amada e querida
pelo simples fato de existir e não pelo
que pode oferecer de utilidade (SILVA,
2007.p.185).
Ao considerarmos que os seres humanos dependem do
reconhecimento que lhes é dado, estamos reconhecendo que a identidade do
ser humano não é inata ou pré-determinada, isto nos torna mais críticos e
reflexivos sobre a maneira como estamos contribuindo para a formação das
identidades dos nossos alunos. Como diz Silva:
Identidade é a forma pela qual a
pessoa se concebe e, em decorrência,
concebe o mundo em que está. A
identidade revela-se na resposta à
pergunta: Quem sou eu? E orienta os
julgamentos que faço realidade em
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meu relacionamento com esta.. Nesse
sentido, o significado que atribuo às
coisas e às pessoas torna-se o elo
organizador da minha identidade
(SILVA, 2001, p.22).
Conviver com o outro que o vive como eu, que o pensa como eu,
não significa que este deva ter menos recursos, menos oportunidades. Ter
consciência, respeitando as diferenças é reconhecer que todos somos
pertencentes da mesma humanidade.
Como afirma Quintás: o homem é um ser de encontro, nestes encontros
se completam, se unem, buscam caminhos afins, de compreensão e ajuda
mútua. No decorrer da vida se constituem, se relacionam. A proximidade do
encontro é mais que a presença física, como exemplifica Quintás:
Quando encontro de verdade,
superam-se as divisões. Se você e eu
não somos amigos, não criamos
encontros, eu estou aqui e você está
aí, fora de mim, verdade ou não? Mas
se você e eu criamos encontro, você
não está fora de mim nossos corpos,
sim mas nossas pessoas não. Eu não
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estou fora de você, você não está fora
de mim. Seus problemas são meus
problemas, minhas alegrias são suas
alegrias, comunicam-se, isto é
maravilhoso. Quando há encontro, há
uma comunicação. Seria absurdo, por
exemplo, que um centroavante, quando
visse que o goleiro de seu time sofreu
um gol, dissesse: “ah, isto é problema
dele”. Isto o é meu problema: Não
teria entendido o que é uma equipe
uma equipe é justamente um
encontro... quando uma equipe
um encontro (QUINTÁS,1999, p.10).
2.4 Sujeito Coletivo
Nos ambientes escolares, no que se refere à organização, é comum às
pessoas que compõe este espaço realizar apenas os papéis que lhe cabem na
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hierarquia burocrática, não interagindo como um todo no processo educacional.
Como diz Silva:
As estruturas organizacionais
escolares, em sua maioria fundadas na
perspectiva burocrática, levam os
educadores nelas atuantes a não se
perceberem como sujeitos
responsáveis pelo que ocorre, mas
meros executores de papéis
determinados pelo “poder” (SILVA,
2003, p.50).
Cumprir apenas as funções burocráticas torna o grupo com atitudes
impessoais, apenas cumpridores de suas funções. Está no imaginário desta
estrutura burocrática, que o bom funcionário é aquele que apenas executa as
funções do seu cargo. Entretanto, o espaço escolar, é constituído por pessoas
que possuem singularidades, que se relacionam com outras, produzindo
situações de convivências reais e imprevisíveis. Não podemos analisar
pessoas, apenas sob a ótica do cargo que ela ocupa, o relacionamento é
coletivo, precisamos de outros seres humanos para viver, proporcionando
assim uma corrente de ajuda mútua.
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Democratizar a escola é antes de tudo, democratizar as pessoas, que
atuarão neste sistema, transformando-o.
Pensar coletivamente é sentir-se parte de uma mesma humanidade, é
querer que esta usufrua oportunidades que serão comuns a todos.
Do ponto de vista do currículo, é necessário que haja participação dos
alunos neste processo, pois ao democratizar o currículo, estamos entendendo
que todos possuem saberes, mas não basta participação esporádica, como
muitas vezes acontece na escola. É preciso que as pessoas sintam-se sujeitos
da mudança e que pensem coletivamente. Ao estarmos imbuídos neste
processo teremos condições de influenciar pessoas que influenciarão outras e,
assim, sucessivamente. Entender que todos somos aprendizes e que
aprendemos mutuamente, nos faz almejar dias melhores para a educação.
Como diz Perrenoud:
A escola não constrói a partir do zero,
nem o aprendiz não é uma tábula rasa,
uma mente vazia; ele sabe, ao
contrário , “muitas coisas”, questionou-
se e assimilou ou elaborou respostas
que o satisfazem provisoriamente. Por
causa disso, muitas vezes, o ensino
choca-se de frente com as concepções
dos aprendizes (PERRENOUD, 2000,
p.28).
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Formar sujeitos coletivos requer primeiro que o sejamos. Para Silva: Um
sujeito coletivo
5
é um grupo de pessoas que possui uma identidade comum.
Apresentam um mesmo juízo sobre a realidade e percebem-se integrados a um
mesmo “nós ético”, isto é, a um conjunto de comportamentos validados pelo
grupo e que condiciona o agir individual de cada participante do grupo. Os
integrantes do grupo procuram viver em comum-unidade, mesmo que isto não
seja possível espacialmente, uma vez que aquilo que unidade ao grupo é
fundamentalmente, o juízo comum que possuem sobre a realidade. Este
processo, como diz Silva:
Inicia-se pelo encontro de pessoas
condicionadas por circunstâncias que
muitas vezes não podem dominar.
Esse primeiro contato é regido mais
pela afetividade do que por
considerações analíticas de razão:
simpatia, antipatia, apatia ou empatia
são manifestações sempre presentes.
A fase posterior, igualmente importante,
é a do assumir uma tarefa
comum, caracterizada por uma
5
Para maior aprofundamento ler o livro de Jair Militão da Silva, Autonomia da Escola Pública,
Campinas, Papirus, 2006
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avaliação comum da realidade e do
empreendimento que se pretende
realizar. A fase seguinte é demarcadora
do amadurecimento dos componentes
do grupo em relação ao trabalho a ser
feito; é pedido o comprometimento
pessoal e grupal em relação a objetivos
e metas. Superada essa barreira, o
grupo encontra-se mais coeso com a
continuidade das atividades para ser
identificado, quer pelos próprios
componentes quer publicamente. Essa
identidade é que garantirá um
sentimento e um sentido de “nós” que
terá força ética, ou seja, será
condicionadora do comportamento das
pessoas mesmo quando estejam
agindo isoladamente. Com um juízo
comum sobre a realidade, com uma
mesma identidade, com um sentido de
nós ético, o sujeito coletivo apresenta-
se a público e interage com outros
sujeitos. Se o grupo, em suas
vivências, consegue manter a memória
de sua história, estará apto a incidir
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sobre a realidade mais eficazmente,
uma vez que os erros e acertos são
contabilizados e ocorre uma autêntica
experiência de ação, isto é, uma
prática vivida com significado. O grupo
terá mecanismos educativos para
manter a identidade de seus
integrantes e, igualmente, terá
condições de “educar” outras pessoas
para que assumam a mesma
identidade grupal (SILVA, 2003, p.53-
54).
2.5 Protagonismo Juvenil
Etimologicamente o termo protagonismo significa ator principal do teatro
grego, ou aquele que ocupa o lugar principal em um acontecimento.
Quando nos referimos a protagonismo juvenil, estamos falando
especificamente dos jovens adolescentes. Na legislação brasileira (Lei
8069/90), adolescente são as pessoas entre doze e dezoito anos de idade.
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Art. Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze
anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade.
A educação nacional tem por objetivos maiores a formação integral do
educando, a sua preparação para a cidadania e a sua qualificação para o
trabalho. Entretanto, o protagonismo juvenil, está relacionado à preparação
para a cidadania. Como diz Costa:
O protagonismo juvenil é uma forma de
ajudar o adolescente a construir sua
autonomia, através da geração de
espaços e situações propiciadoras da
sua participação criativa, construtiva e
solidária na solução de problemas
reais, na escola, na comunidade e na
vida social mais ampla (COSTA, 2006,
p. 22-23).
É sabido que a adolescência é um período de transição. Os jovens nesta
fase transitam entre educação e trabalho, entre ser adulto ou criança, ser filho
e a possibilidade de gerar filhos. É com grupos sociais de diversas naturezas
que este construirá sua identidade, ampliando sua visão de futuro.
A maioria dos jovens que freqüentam a Escola Publica, são oriundos de
classes populares, e muito cedo ingressam no mercado informal de trabalho
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para ajudar na sua sobrevivência e de seus familiares, têm um compromisso de
permanecer na escola, que será para eles uma das garantia de sucesso. Esses
jovens possuem um vínculo muito forte com seus amigos e colegas. Estão
sempre em grupos, que muitas vezes suprem o vazio que a escola ou a família
deixam na construção da sua identidade e desenvolvimento social e afetivo.
O modelo familiar não é o convencional de classe média: a maioria não
possui um quarto para sua privacidade. Os problemas econômicos são
lembrados todos os dias. Muitas vezes, quem garante o sustento da casa é a
mãe ou um padrasto que na maioria das vezes não se dá com o adolescente.
A escola, apesar da sua precariedade, continua sendo um espaço muito
importante de socialização, para aqueles que conseguem permanecer na
escola. A inclusão nestes grupos expressa sua afetividade, constroem sua
identidade e desenvolvem sua personalidade.
Muitas vezes, alguns destes grupos, desenvolvem condutas consideradas
ilegais para padrões da sociedade. Identifica-se com grupos agressivos, como
uma forma de extravasar seu descontentamento social, participando de:
pichações, destruição de patrimônio público, uso abusivo de álcool e até de
outras drogas. Não podemos ignorar estes jovens, as políticas públicas devem
oferecer respostas a este segmento, priorizando a educação,
profissionalização, cultura, esporte e lazer. Não podemos ter um olhar que os
identifiquem apenas, como problemas, pois eles também são parte de
soluções. As ações de protagonismo juvenil são necessárias, pois representam
uma forma construtiva de participação social e uma oportunidade de atuar
como cidadãos. Como esclarece Costa:
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A juventude atual é produto de um
conjunto de dinamismos histórico-
sociais: A revolução industrial, a
urbanização e a emergência da escola
pública, que difunde a noção de
infância e adolescência como tempos
de preparação das pessoas para a
cidadania e para o trabalho. Todas as
manifestações do fenômeno juvenil
constituem-se a partir da
disponibilidade maior de tempo livre e
do relacionamento intenso com seus
pares, ou seja, os jovens são
resultados do ambiente econômico,
social e cultural do seu tempo e das
relações pessoais que estabelecem
nesta fase da vida (COSTA, 2006,
p.110).
Do ponto de vista do currículo, o aluno precisa ter certa autonomia nos
próprios processos de aprendizagem, precisa ser estimulando a planejar a
construção do seu próprio conhecimento, definindo conteúdos, participando no
desenvolvimento das aulas e também na avaliação.
Os conteúdos curriculares precisam ser integrados, para que o jovem
tenha condição de interferir na realidade por meio de projetos interdisciplinares,
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que interfiram em ões junto à população. Quando contato com a
comunidade, ocorre à socialização, gerando solidariedade. Quando usamos o
que aprendemos na escola, somos estimulados a aprender mais, e assim
desenvolvemos habilidades que serão úteis, no mundo do trabalho. Como diz
Silva: uma proposta curricular para o Ensino Médio, necessariamente, conterá
elementos que identifiquem respostas para as perguntas “quem é o homem?”;
“o que é bom para o homem?”; o que é bom para a sociedade humana em
geral e para a brasileira especificamente?”“; como contextualizar, atingindo o
nível local, as ações de trabalho no Ensino Médio?”
2.6 - Currículo
O currículo como diz Silva: “É o conjunto de experiências que a escola
oferece ao educandoAo escolhermos o conjunto de experiências, o fazemos
acreditando que os conteúdos selecionados serão relevantes à vida dos
alunos. Entretanto, o fazemos pelo que está explícito, não damos voz aos
alunos para desvendar a parte oculta que estes gostariam e precisariam
aprender. Como diz Silva:
Há uma dimensão chamada “clara” e
outra “oculta” no currículo. Uma diz
respeito ao que se vê explicitamente,
enquanto a outra se refere a aspectos
não imediatamente observáveis,
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produzidos por fatores por vezes
aleatórios e não previamente
estipulados. Exemplos da dimensão
“clara” dos currículos são as grades
curriculares, os planos de aula, os
conteúdos e as atividades
programadas. Exemplos da dimensão
“ocultaé o clima humano existente na
escola, as práticas existentes entre os
alunos, a postura da direção, dos
funcionários e docentes em relação aos
alunos, o ambiente físico da escola
(SILVA, 2003, p.23).
Para que haja, efetivamente, aprendizagem, se faz necessário trilharmos
por caminhos que contemplem a situação inicial do aluno, contribuindo com
algo novo, favorecendo a junção do ponto de partida e do ponto de chegada,
sem rompimentos, isto provocará uma mudança, evidenciando a existência de
uma situação educativa. Como esclarece Silva:
Podem ser destacados três elementos
fundamentais que devem estar sempre
presentes em sua situação educativa:
um ponto de partida, um ponto de
chegada, um caminho. No ponto de
partida, estão alocados os
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pressupostos antropológicos e
gnosiológicos, ou seja, a visão que o
educador tem do educando no que se
refere ao que é ser humano e como ele
aprende. No ponto de chegada, estão
os fins e objetivos da educação, ou
seja, aquilo que o educador busca
realizar com o trabalho educativo,
considerando um horizonte de longo
alcance os fins - e outros, de curto
prazo os objetivos. O caminho é o
método. São palavras sinônimas que
indicam os procedimentos utilizados
para que haja mudança de um ponto a
outro (SILVA, 2007, p.184).
A palavra currículo é de origem latina e significa o caminho da vida, o
sentido, a rota de uma pessoa ou grupo de pessoas. Currículo indica
processo, movimento, percurso, como a etimologia da palavra recomenda.
Currículo é o ambiente do conhecimento, assim como, o espaço de
contestação das relações sociais e humanas e também o lugar da gestão, da
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cooperação e participação. O currículo deve ser entendido como componente
central do procedimento da educação institucionalizada.
6
Do ponto de vista etimológico, o termo currículo vem da palavra latina
Scurrere, correr, e refere-se a curso, à carreira, a um percurso que deve ser
realizado. Neste sentido, conforme Sacristán:
“A escolaridade é um percurso para os
alunos/as, e o currículo é seu recheio,
seu conteúdo, o guia de seu progresso
pela escolaridade” (SACRISTÁN,1998,
p. 125).
Inserida no campo pedagógico, o termo passou por diversas definições
ao longo da história da educação. Tradicionalmente o currículo significa uma
relação de matérias/disciplinas com seu corpo de conhecimento organizado. É
evidente que este conhecimento organizado não é neutro, este reflete os
conflitos e os valores dominantes da sociedade. Como diz Sacristán:
O currículo, em seu conteúdo e nas formas
através das quais nos apresenta e se
apresenta aos professores e alunos, é uma
opção historicamente configurada, que se
sedimentou dentro de uma determinada trama
6
Informações retiradas do site: http://pedagogia.brasilescola.com/trabalho-docente/curriculo-movimento-
percurso-e-caminho-da-vida.htm
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cultural, política, social e escolar; está
carregada, portanto, de valores e
pressupostos que é preciso decifrar
(SACRISN, 2000, p.17).
Os alunos que freqüentam a Escola Pública, mais especificamente os do
Ensino Médio, estão à espera de algo que não significa exatamente estudar. É
claro que a escola, ainda, representa uma forma de ascensão à vida social e
profissional. Na escola fazem amigos, brigam por relacionamentos casuísticos,
alimentam-se, namoram, esperam o tempo passar para voltarem para casa. O
espaço escolar destina-se a apreender o conhecimento, entretanto, o
oferece atrativos para que o aluno tenha interesse. As culturas diferenciadas
que deveriam se entrecruzar e proporcionar maior aproveitamento, crescendo
com as divergências, estreitando laços, acaba separando aqueles que
deveriam ser aliados. Como diz Silva:
A diversidade cultural existente entre
alunos e entre estes e os educadores,
longe de ser aproveitada como uma
riqueza torna-se uma ocasião de
choque cultural e de gerações,
produzindo dificuldades de
comunicação e impossibilitando a
criação de vínculos construtivos e co-
responsáveis (SILVA, 2003, p.63).
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A seleção de conteúdos, que os professores oferecem como essenciais
para a vida dos alunos e que são na maioria das vezes retiradas dos livros
didáticos, permanecem durante décadas e, na maioria das vezes, destina-se a
uma clientela que não faz parte da Escola Pública. Ao desconsiderar os
saberes culturais que as camadas mais pobres possuem, acarreta-se a falta de
significado no que é ensinado e não havendo aprendizagem abre-se espaço
para o fracasso escolar. Ao sentirem-se dessa forma, reagem de forma
agressiva: picham e depredam o patrimônio público, respondem com palavras
ásperas, são indisciplinados. Diante deste quadro, a escola, aos olhos da
população fica desacreditada, que mesmo assim ainda acredita em dias
melhores. Como diz Silva:
É com grande sofrimento que a
população que utiliza os serviços da
Escola Pública se forçada a
proclamar sua ineficácia, desejando ao
mesmo tempo em que melhore,
vivendo uma luta entre a desesperança
e o acreditar na possibilidade de
alguma mudança (SILVA, 2003, p.22).
O não aproveitamento do currículo real ocasiona uma aprendizagem
distorcida e sem significados práticos para o aluno. Como diz Moreira:
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Os conteúdos selecionados dificilmente
têm o mesmo significado para cada um
dos indivíduos. A falta de atenção a
essa falta de “representatividade
cultural do currículo escolar repercute,
imediatamente, na desigualdade de
oportunidades e na incapacidade da
cultura da escola para dotar os alunos
de instrumentos que o permitam
compreender melhor o mundo que os
rodeia (MOREIRA, 1999, p. 97).
Os problemas que a sociedade enfrenta causam reflexos na escola. A
busca pelo emprego, a competitividade exacerbada faz com que as pessoas
tornem-se individualistas, esquecem da cooperação e não se sentindo parte do
todo, acabam evitando àquele que representa ameaça a sua competitividade.
Neste século XXI com a globalização, a educação tornou-se polêmica e
complexa. Complexa, pois não basta passar para os alunos conteúdos que
seus pais aprenderam. Polêmica, pois convivemos com inúmeras informações,
que nos possibilita várias visões de mundo, que ao serem confrontados com
nossos conhecimentos possibilitam infindáveis interpretações. Os jovens em
contato com este acúmulo informativo, que não é problematizado pela escola,
caem no desinteresse. Não conseguem relacionar os conteúdos aprendidos
com os problemas cotidianos. Construir um currículo que contemple esta
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tensão, não é fácil, requer um profissional com uma nova postura: que aceite o
outro como parceiro, que use diferentes metodologias, que tenha uma forma de
avaliar diferenciada e, sobretudo, que saiba que sua busca será contínua.
2.7 Ciclo didático
Por ciclo didático entende-se: Planejar, executar e avaliar. Ao selecionar
os conteúdos se planeja o que será relevante para a formação dos alunos, a
execução do que se planejou será adequado convenientemente aos recursos
da unidade escolar. A avaliação terá como propósito, verificar o que foi
aprendido referente ao conteúdo executado. Como diz Silva:
A escola, ao colocar o currículo em
ação, o faz mediante o “ciclo didático” e
as “atividades de apoio”. O ciclo
didático refere-se ás atividades de
ensino-aprendizagem e constam de
planejamento, execução e avaliação. O
planejamento consiste na seleção do
conteúdo; a execução no
desenvolvimento da metodologia que
concretiza a ação de ensino-
aprendizagem; a avaliação verifica se o
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que foi proposto conseguiu ser
atingido... As atividades de apoio
destinam-se a sustentar de forma
positiva os ciclos didáticos, fornecendo
condições adequadas ao seu
cumprimento. Podem ser agrupadas
nas áreas de pessoal, material,
finanças e serviços (SILVA, 2003,
p.24).
Ao iniciar o ano, é comum nas escolas públicas professores e diretores
se reunirem para planejarem como será o ano letivo. Este planejamento
normalmente é elaborado em três dias, consiste nas escolhas dos conteúdos
de cada disciplina, no desenvolvimento metodológico e na forma de avaliar.
Escolhem-se conteúdos que os professores julgam necessário para a vida do
aluno, decide-se neste planejamento, como será a metodologia a se trabalhar o
conteúdo e também como estes serão avaliados.
Os conteúdos são escolhidos quase sempre pelos livros didáticos, o
aluno pouco ou nada opina na escolha, este planejamento é elaborado sem
que muitos professores conheçam as salas que este será utilizado, neste plano
de trabalho consta, também, como serão feitas as avaliações. É bom lembrar
que grande parcela do professorado copia o planejamento de anos anteriores.
Na metade do ano há o replanejamento, para reelaborar aquilo que não
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funcionou, raramente muda-se alguma coisa. Nestes encontros instituídos pelo
estado é comum ouvirmos reclamações do tipo:
- este aluno não vai passar de série;
- este aluno precisa passar de série, porque já foi retido o ano passado;
- Os alunos não se interessam por nada;
- a sala “tal” é muito indisciplinada, não aprende nada. Etc.
Neste plano de ensino estão contidos conteúdos que não serão dados,
pouco será acrescentado e os saberes dos alunos não serão incorporados.
Como diz Fusari:
O plano de ensino deve ser percebido
como um instrumento orientador do
trabalho docente, tendo-se a certeza e
a clareza de que a competência
pedagógico-política do educador
escolar deve ser mais abrangente do
que aquilo que está registrado no seu
plano.
A ação consciente, competente e crítica
do educador é que transforma a
realidade, a partir das reflexões
vivenciadas no planejamento e,
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conseqüentemente, do que foi proposto
no plano de ensino.
Um profissional da Educação bem-
preparado supera eventuais limites do
seu plano de ensino. O inverso, porém,
não ocorre: um bom plano não
transforma, em si, a realidade da sala
de aula, pois ele depende da
competência-compromisso do docente.
Desta forma, planejamento e plano se
complementam e se interpenetram, no
processo ação-reflexão-ação da prática
social docente (FUSARI, 1998, p. 46).
Portanto, o que presenciamos é que a escola vive uma farsa burocrática,
preocupa-se demais em preencher papéis, em fazer anotações, mas não
preocupação com o trabalho que está sendo realizando em sala de aula. Se os
alunos estão dentro da sala com a devida ordem: alunos sentados enfileirados,
professor com a lousa cheia, alunos quietos, eis o retrato de uma escola
funcionado “bem”. Porém, é preocupante o número de alunos que terminam o
Ensino Médio sem saber interpretar, apenas decodificando o código escrito, o
aumento progressivo acaba preocupando tanto os governantes, como os que
ensinam, colocam a culpa na pobreza, na falta de vontade, na indisciplina, no
professor e na sua formação, faz-se o diagnóstico, mas não há o tratamento,
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talvez por não se saber exatamente o que fazer. Este trabalho pretende
contribuir na busca de um caminho, utilizando a formação de sujeitos coletivos,
conforme explicitarei mais adiante.
2.8 Multiculturalismo
No dia-a-dia dos professores, uma parcela destes, sente-se inquietos:
ora buscando, ora se desesperando, ora se alegrando com tentativas
metodológicas que deram certo parcialmente, que possibilitaram incluir com
criatividade os diversos saberes que uma sala de aula proporciona. Não é
simples lidar com as diferenças no cotidiano escolar, pois todos nós temos
olhares diferenciados por valores que incorporamos ao longo de nossa vida.
Valores construídos e captados por nossa condição humana que não dá conta
de compreender e incluir a pluralidade de concepções a respeito da vida.
Segundo Freire:
A multiculturalidade não se constitui na
justaposição de culturas, muito menos
no poder exacerbado de uma sobre as
outras, mas na liberdade conquistada
de mover-se cada cultura no respeito
uma da outra, correndo o risco
livremente de ser diferente, de ser cada
uma “parasi”, somente como se faz
possível crescerem juntas e não da
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experiência da tensão permanente ,
provocada pelo todo poderosismo de
uma sobre as demais (FREIRE, 1992,
p.156).
Quando percebemos que as diferenças, fazem parte da riqueza do
conhecimento humano, entendemos quão importante são: a dúvida, a
incerteza, a busca. Como diz Forquin:
O termo "multiculturalismo" possui,
simultaneamente, um sentido descritivo
e um sentido prescritivo. De um lado,
multiculturalismo designa a situação
objetiva de um país onde existem
grupos de origem étnica ou geográfica
diversa e que não compartilham nem
os mesmos modos de vida nem os
mesmos valores. Mas um ensino pode
estar endereçado a um público
culturalmente plural sem ser, ele
mesmo, multicultural. Ele se torna
multicultural quando desenvolve certas
escolhas pedagógicas que são, ao
mesmo tempo, escolhas éticas ou
políticas. Isto é, se na escolha dos
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conteúdos, dos métodos e dos modos
de organização do ensino, levar em
conta a diversidade dos pertencimentos
e das referências culturais dos grupos
de alunos a que se dirige (FORQUIN,
2000).
É obvio que ninguém possui a verdade absoluta, mas trabalhar com as
diferenças em sala de aula, conviver com o diferente de nós é uma busca
constante que nos desafia a todo o momento. Convém dizer que nós somos
diferentes de nós mesmos, pois a todos os momentos vivenciamos fatos que
nos transformam: alegria, tristeza, amor, desamor, injustiças, violência,
desemprego. Tudo isso faz com que, a cada dia sejamos uma pessoa
diferente. Conhecermo-nos é o nosso maior desafio, pois ao nos conhecermos
entendemos melhor o outro, revendo valores, preconceitos, etc.
Reconhecer sabedoria naquele que aparentemente nada possui é um
exercício que deveria ser realizado diariamente.
Para uma educação multicultural, inclusiva, criativa, critica são
necessárias mudanças na estrutura de poder nas escolas e de nós mesmos,
valorizando o conhecimento historicamente produzido.
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3. ENSINO MÉDIO E SUA ORGANIZAÇÃO
A LDB, em seus artigos 14 e 15, apresenta as seguintes determinações:
Art. 14 - Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do
ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e
conforme os seguintes princípios:
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I. participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto
pedagógico da escola;
II. participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou
equivalentes.
Art. 15 - Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas
de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia
pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas de
direito financeiro público.
Todavia, a organização no espaço escolar não condiz com aplicação da Lei, os
que compõem o espaço escolar o as reconhecem como legítimas, pois não
uma prática de participação nas tomadas de decisões e como não são
legitimado, o que se é a prática da burocracia sem significado. Para
entender este descompasso se faz necessário entender como se organizou o
Ensino Médio no Brasil.
O Ensino Médio ao longo dos anos tem sido alvo de preocupação tantos
dos dirigentes como dos educadores. É evidente que o Ensino Médio, carece
de reformas, não no Brasil, como na América Latina, pois em relação aos
países desenvolvidos, temos uma grande deficiência. No Brasil o Ensino Médio
Apresenta características diferenciadas ao longo do tempo. Historicamente o
Ensino Médio no Brasil organizou-se da seguinte forma:
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3.1 Década de 30
Até o final dos anos 20 a estrutura do ensino no país não estava
organizada com base em um sistema nacional. Cada Estado mantinha os
respectivos sistemas, sem articulação entre si. O ensino secundário
caracterizava-se por preparatório ao ensino superior. Este, privilegiado pelo
sistema, formava os quadros da elite governante. Somente em 1930, na gestão
de Francisco Campos, ministro do recém-criado Ministério da Educação e
Saúde Pública, é que se procurou estruturar o sistema de ensino nacional por
meio de cinco Decretos baixados entre 1931 e 1932. O Decreto que organizou
o ensino secundário foi o de 19.890 (1931), e o que consolidou as
disposições sobre o ensino secundário foi o Decreto de nº 21.241 (1932).
Esses e outros documentos legais foram denominados “Reforma Francisco de
Campos”. Nessa reforma o ensino secundário foi dividido em dois ciclos:
fundamental, com duração de cinco anos. Enquanto o ciclo fundamental tinha
caráter de formação geral, o ciclo complementar pretendia encaminhar o aluno
aos respectivos cursos superiores.
3.2 Décadas de 40 e de 50
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No ano de 1942 iniciaram-se as chamadas Leis Orgânicas do Ensino
(Decreto lei 4244 de 09 de abril de 1942). Até então as várias modalidades
ofertadas para o Ensino técnico e pelo ensino secundário (de caráter
propedêutico) eram totalmente separadas. Não havia nenhuma possibilidade
de passagem de uma modalidade a outra. Assim, o aluno tinha o seu caminho
educacional e profissional fixado a partir do ano do curso imediatamente
posterior ao primário, o que exigia uma tomada de decisão em idade precoce.
Com as novas Leis Orgânicas protagonizadas pela “Reforma Capanema”
(1942- 1946), o ensino secundário foi organizado em dois ciclos: o primeiro
ciclo (ginasial) com duração de quatro séries anuais e o segundo ciclo
(colegial) subdividido em curso clássico e científico, ambos com três séries
anuais. Com a Reforma Capanema, além da ampliação das escolas normais
(formação de professores primários e pré-primários), apareceram as Escolas
Regionais e os Institutos de Educação. As Leis Orgânicas do Ensino
Secundário instituíram, ainda, o ensino técnico industrial, Comercial e Agrícola,
possibilitando o acesso aos cursos do ensino superior nas referidas áreas,
como também preconizavam a educação militar para os alunos do sexo
masculino; a educação religiosa era facultativa.
3.3 As décadas de 60 e 70
Entra em vigor a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(4.024/61), que mantinha, todavia, a estrutura anterior. O ensino secundário foi
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dividido em ciclos: Ginasial, com duração de quatro anos e o ciclo Colegial com
duração de três anos. Este último compreendia o ensino propedêutico, o
magistério e o ensino técnico. Em 1969 o Decreto lei 869/68 incluiu as
disciplinas de Educação Moral e Cívica e OSPB. Em 1971 é editada a Lei
5.692 “Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional” determinando que o
ensino de grau deveria compreender oito séries. Extinguiu-se o exame de
admissão e agrupou-se o ensino primário com as quatro primeiras ries do
anterior ensino médio (ginásio). Para as séries restantes do ciclo colegial criou-
se o nome “Ensino de grau”, com características notadamente
profissionalizantes.
Nas cadas de 60 e 70, considerando o nível de desenvolvimento da
industrialização na América Latina, a política educacional vigente priorizou
como finalidade para o Ensino Médio, a formação de especialistas capazes de
dominar a utilização de maquinárias ou de dirigir processos de produção. Esta
tendência levou o Brasil, na década de 70, a propor a profissionalização
compulsória, estratégia que também visava a diminuir a pressão da demanda
sobre o Ensino Superior.
3.4 Década de 80
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Em 1982, após 11 anos da Lei 5692/71, foi instituída a Lei 7.044/82 que
deu mais flexibilidade à profissionalização no ensino de grau, antes
compulsória. O Conselho Federal de Educação baixa a resolução 06/86 que
reformula o "Núcleo Comum” para os currículos de ensino de 1º e 2º graus nos
seguintes aspectos:
- Inclui História e Geografia nas séries iniciais do 1º grau, anteriormente
ministradas como Estudos Sociais”;
- Extingue "Comunicação e Expressão" como nomenclatura para a disciplina de
Português;
- Desvincula Matemática das "Ciências" que passa a ser designada como
Ciências Físicas e Biológicas, quando referentes ao primeiro grau, e desdobra-
se em Física, Química e Biologia no grau.
- Recomenda a inclusão de Filosofia e torna obrigatório o ensino de uma língua
estrangeira moderna no 2º. Grau.
No Brasil, o Ensino dio foi o que mais se expandiu, considerando
como ponto de partida a década de 80. De 1988 a 1997, o crescimento da
demanda superou 90% das matrículas até, então, existentes. Em apenas um
ano, de 1996 a 1997, as matrículas no Ensino Médio cresceram 11,6%.
3.5 Década de 90
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A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96)
vem conferir uma nova identidade ao Ensino Médio, determinando que Ensino
Médio é Educação Básica. A Constituição de 1988 prenunciava essa
concepção, quando, no inciso II do Art. 208, garantia como dever do Estado “a
progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio”.
Posteriormente, a Emenda Constitucional nº. 14/96 modificou a redação
desse inciso sem alterar o espírito da redação original, inscrevendo no texto
constitucional “a progressiva universalização do ensino médio gratuito”. A
Constituição, portanto, confere a esse nível de ensino o estatuto de direito de
todo cidadão. Em 1996 é estabelecida a Lei 9.394, Nova Lei de Diretrizes e
Bases. O Ensino Médio (antigo grau) passa a fazer parte da Educação
Básica. Seu perfil é definido pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio, em 1998, elaboradas pelo Conselho Nacional de Educação,
considerando-se a proposta encaminhada pelo Ministério da Educação. Essas
Diretrizes têm caráter obrigatório para todas as escolas que ministram o Ensino
Médio. Em 1999, o MEC introduziu, também, os Parâmetros Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), conjunto de orientações e
recomendações como apoio ao trabalho dos professores.
Na década de 90, enfrentamos um desafio de outra ordem. O volume de
informações, produzido em decorrência das novas tecnologias, é
constantemente superado, colocando novos parâmetros para a formação dos
cidadãos. Não se trata de acumular conhecimentos.
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A formação do aluno deve ter como alvo principal a aquisição de
conhecimentos básicos, a preparação científica e a capacidade de utilizar as
diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação.
3.6 O novo ensino médio
O Brasil, como os demais países da América Latina, está empenhado
em promover reformas na área educacional que permitam superar o quadro de
extrema desvantagem em relação aos índices de escolarização e de nível de
conhecimento que apresentam os países desenvolvidos.
Particularmente, no que se refere ao Ensino Médio, dois fatores de
natureza muito diversa, mas que mantêm entre si relações observáveis,
passam a determinar a urgência em se repensar as diretrizes gerais e os
parâmetros curriculares que orientam esse nível de ensino.
Primeiramente, o fator econômico se apresenta e se define pela ruptura
tecnológica característica da chamada terceira revolução técnico-industrial, na
qual os avanços da micro-eletrônica têm um papel preponderante, e, a partir da
década de 80, se acentuam no País.
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A denominada “revolução informáticapromove mudanças radicais na
área do conhecimento, que passa a ocupar um lugar central nos processos de
desenvolvimento, em geral. É possível afirmar que, nas próximas décadas, a
educação se transformar mais rapidamente do que em muitas outras, em
função de uma nova compreensão teórica sobre o papel da escola, estimulada
pela incorporação das novas tecnologias.
As propostas de reforma curricular para o Ensino Médio se pautam nas
constatações sobre as mudanças no conhecimento e seus desdobramentos, no
que se refere à produção e às relações sociais de modo geral.
Nas décadas de 60 e 70, considerando o nível de desenvolvimento da
industrialização na América Latina, a política educacional vigente priorizou
como finalidade para o Ensino dio, a formação de especialistas capazes de
dominar a utilização de maquinárias ou de dirigir processos de produção.
Essa tendência levou o Brasil, na década de 70, a propor a
profissionalização compulsória, estratégia que também visava a diminuir a
pressão da demanda sobre o Ensino Superior.
Na década de 90, enfrentamos um desafio de outra ordem. O volume de
informações, produzido em decorrência das novas tecnologias, é
constantemente superado, colocando novos parâmetros para a formação dos
cidadãos. Não se trata de acumular conhecimentos, a formação do aluno deve
ter como alvo principal a aquisição de conhecimentos básicos, a preparação
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científica e a capacidade de utilizar as diferentes tecnologias relativas às áreas
de atuação.
Propõe-se, no nível do Ensino Médio, a formação geral, em oposição à
formação específica; o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar
informações, analisá-las e selecio-las; a capacidade de aprender, criar,
formular, ao invés do simples exercício de memorização.
São estes os princípios mais gerais que orientam a reformulação curricular do
Ensino Médio e que se expressam na nova Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Lei 9.394/96.
3.7 Ensino Médio é Educação sica
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96)
vem conferir uma nova identidade ao Ensino Médio, determinando que Ensino
Médio é Educação Básica.
A Constituição de 1998 já prenunciava essa concepção, quando ao
inciso II do Art. 208, garantia como dever do Estado “a progressiva extensão da
obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio”. Posteriormente, a Emenda
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Constitucional n° 14/96 modificou a redação desse inciso sem alterar o espírito
da redação original, inscrevendo no texto constitucional “a progressiva
universalização do ensino médio gratuito”. A constituição, portanto, confere a
esse nível de ensino o estatuto de direito de todo cidadão.
A alteração provocada pela Emenda Constitucional merece, entretanto,
um destaque. O Ensino Médio deixa de ser obrigatório para as pessoas, mas a
sua oferta do Estado, numa perspectiva de acesso para todos aqueles que o
desejarem. Por sua vez, a LDB reitera a obrigatoriedade progressiva do Ensino
Médio, sendo esta, portanto, uma diretriz legal, ainda que não mais
constitucional.
A LDB confere caráter de norma legal à condição do Ensino Médio como
parte da Educação Básica, quando, por meio do Art. 21, estabelece:
“Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
I-Educação básica, formada pela educação escolar infantil, ensino fundamental
e ensino médio;
II- Educação superior
Isso significa que o Ensino Médio passa a integrar a etapa do processo
educacional que a Nação considera básica para o exercício da cidadania, base
para o acesso às atividades produtivas, para o prosseguimento dos níveis mais
elevados e complexos de educação e para o desenvolvimento pessoa, referido
à sua intenção com a sociedade e sua plena inserção nela, ou seja, que “tem
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por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum
indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir
no trabalho e em estudos posteriores” (Art. 22, Lei n° 9.394/96).
3.8 O Ensino Médio como etapa final da Educação Básica
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional explicita que o Ensino
Médio é a “etapa final da educação básica” (Art. 36), o que concorre para a
construção de sua identidade. O Ensino Médio passa a ter a características da
terminalidade, o que significa assegurar a todos os cidadãos a oportunidade de
consolidar e aprofundar os conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental;
aprimorar o educando como pessoa humana; possibilitar o prosseguimento de
estudos; garantir a preparação básica para o trabalho e a cidadania; dotar o
educando dos instrumentos que o permitam “continuar aprendendo”, tendo em
vista o desenvolvimento da compreeno dos “fundamentos científicos e
tecnológicos dos processos produtivos” (Art. 35, incisos I a IV).
O Ensino Médio, portanto, é a etapa final de uma educação de caráter
geral, afinada com a contemporaneidade, com a construção de competências
básica, que situem o educando como sujeito produtor de conhecimento e
participante do mundo de trabalho, e com o desenvolvimento da pessoa, como
“sujeito em situação- cidadão.
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Nessa concepção, a Lei 9.394/96 muda no que cerne a identidade
estabelecida para o Ensino Médio contida na referência anterior, a Lei
5.692/71, cujo grau se caracterizava por uma dupla função: preparar para o
prosseguimento de estudos e habilitar para o exercício de uma profissão
técnica.
Na perspectiva da nova Lei, o Ensino Médio, como parte da educação
escolar, “deverá vincular-se ao mundo do trabalho e a prática social” (Art.
inciso 2° da Lei 9.394/96). Essa vinculação é orgânica e deve contaminar
toda a prática educativa escolar.
Em suma, a Lei estabelece uma perspectiva para esse nível de ensino
que integra, numa mesma e única modalidade, finalidades até então
dissociadas, para oferecer, de forma articulada, uma educação equilibrada,
com funções equivalentes para todos os educandos:
. A formação da pessoa, de maneira a desenvolver valores e
competências necessárias na integração de seu projeto individual ao projeto da
sociedade em que se situa;
. O aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a
formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento
crítico;
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. A preparação e orientação básica para a sua integração ao mundo do
trabalho, com as competências que garantam seu aprimoramento profissional e
permitam acompanhar as mudanças que caracterizam a produção no nosso
tempo;
. O desenvolvimento das competências para continuar aprendendo, de
forma autônoma e crítica, em níveis mais complexos de estudos.
3.9 Educação do futuro
Jacques Delors, coordenador do “Relatório para a Unesco da Comissão
Internacional Sobre Educação para o Século XXI”, no livro Educação um
tesouro a descobrir, aponta como principal conseqüência da sociedade do
conhecimento a necessidade de uma aprendizagem ao longo da vida, fundada
em quatro pilares, que se fundamentam no conhecimento e na formação
continuada.
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Aprender a conhecer, combinando
uma cultura geral, suficientemente
vasta, com a possibilidade de trabalhar
em profundidade um pequeno número
de matérias. O que também significa:
aprender a aprender, para beneficiar-se
das oportunidades oferecidas pela
educação ao longo de toda a vida.
Aprender fazer, a fim de adquirir, não
somente uma qualificação profissional,
mas de uma maneira mais ampla,
competências que tornem a pessoa
apta a enfrentar numerosas situações e
a trabalhar em equipe. Mas também a
fazer, no âmbito das diversas
experiências sociais ou de trabalho que
se oferecem aos jovens e
adolescentes, quer espontaneamente,
fruto do contexto local ou nacional,
quer formalmente, graças ao
desenvolvimento do ensino alternado
com o trabalho.
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Aprender a viver juntos
desenvolvendo a compreensão do
outro e a percepção das
interdependências realizar projetos
comuns e preparar-se para gerir
conflitos no respeito pelos valores do
pluralismo, da compreensão mútua e
da paz.
Aprender a ser, para melhor
desenvolver a sua personalidade e
estar à altura de agir com cada vez
maior capacidade de autonomia, de
discernimento e de responsabilidade
pessoal. Para isso, não negligenciar na
educação nenhuma das
potencialidades de cada indiduo:
memória, raciocínio, sentido estético,
capacidades físicas, aptidão para
comunicar-se.
Numa altura em que os sistemas
educativos formais tendem a privilegiar
o acesso ao conhecimento, em
detrimento de outras formas de
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aprendizagem, importa conceber a
educação como um todo. Esta
perspectiva deve, no futuro, inspirar e
orientar as reformas educativas, tanto
em vel da elaboração de programas
como da definição de novas políticas
pedagógicas (DELORS, 2001, p.101-
102).
Perceber que o mundo caminha a passos largos, e que o jovem de hoje
precisa aprender a aprender, nos faz refletir sobre o papel da escola como
instituição que carrega parte da responsabilidade com as futuras gerações. É
perceber que a nossa busca por dias melhores é infinita e que não podemos
“abrir mão” de partilharmos o conhecimento, vendo no outro a continuação de
nós mesmos.
4. AO PERCORRER O CAMINHO, O ENCONTRO COM O OUTRO
Entender como o aluno sua participação no currículo foi de suma
importância para realizar esta pesquisa, pois intuir ou imaginar como se o
processo nos faz ficar apenas no senso comum. Dar voz aos alunos, entender
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o que ele realmente quer, é valorizar saberes que não são incluídos no
currículo.
Os desafios que a profissão de educador apresenta, faz com que
busquemos entender, primeiramente, a nossa formação, nossas bases
teóricas, nossa prática e o quanto precisamos buscar para fundamentar o
nosso processo de formação.
Ouvir a todo momento que a educação enfrenta uma crise identitária,
nos faz refletir que somos parte desta crise. Ao associá-la com a minha
prática, percebo que ao torná-la experiência, revivo momentos de sucessos e
fracassos, pois as vezes que alcancei sucesso foi quando aceitei a
participação dos alunos na construção do currículo.
Reunindo forças busquei o Programa de mestrado na UNICID para
entender o processo em que vivia. Não foi fácil passar minha vida a limpo. As
leituras eram um convite à mudança. Como já disse anteriormente, não é
simples mudar, sair do nosso lugar de conforto, muitas vezes é doloroso e
exaustivo.
Descobrir que ser pesquisadora é uma tarefa para a vida inteira nos faz
sentir que temos de “correr para recuperar o tempo perdido” Não basta, porém,
mudarmos. É preciso contribuir para que outras pessoas mudem e que estas
mudanças perdurem, influenciando pessoas, tornando-as sujeitos, como se
fosse uma reação em cadeia. Neste sentido, a formação de sujeitos coletivos é
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uma tentativa para criarmos na educação pessoas comprometidas e
conscientes no processo de educar. Como diz Silva:
momentos marcantes na
constituição de um sujeito coletivo que
devem ser levados em conta por todos
aqueles que procuram criar e manter
esses grupos sujeitos:
1. Encontro É o momento em que os
futuros participantes do grupo
encontram-se pela primeira vez, nas
mais diversas condições de tempo,
espaço, histórias de vida etc. Esse
momento tem uma dimensão
dominante que é a afetividade, ou
seja, predominam sentimentos de
simpatia, antipatia, empatia. O que
deve ser favorecido, quando se
busca a criação de um sujeito
coletivo, é a prevalência da
simpatia, da descoberta de fatores
favoráveis à unidade que se inicia.
2. Tarefa comum É a ocasião que se
apresenta para as pessoas
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participarem de uma tarefa comum
que justificou inicialmente, o
encontro. É a oportunidade de
exercitarem julgamentos sobre a
realidade de modo a que se
construa uma comum visão de
mundo. É desse modo, o momento,
por excelência, do apelo à
inteligência.
3. Compromisso - das discussões
sobre a tarefa comum surgem
propostas que pedem um
comprometimento dos participantes
em relação às decisões tomadas.
Este é um momento crucial para a
constituição do sujeito coletivo o
momento do compromisso: é aqui
que a pessoa decide se continuará
ou não a caminhada com as demais
que encontrou. O que se pede
nesse momento à pessoa é o
exercício da vontade.
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4. Identidade comum Com um
encontro que provocou sentimentos
de simpatia e, talvez, mesmo de
empatia, com um juízo comum
sobre a realidade, com
compromisso assumido em
conjunto, as pessoas começam a
experimentar uma identidade grupal
que é acrescentada à identidade
pessoal, ou seja, não sou mais
“apenas” eu que ajo, mas o faço em
nome de um grupo que se identifica
por um nome, por um símbolo, por
algo com que se apresentará à
sociedade, ainda que, por vezes, de
forma secreta, mas de total
conhecimento dos participantes do
grupo. Essa identidade, confrontada
com a realidade externa ao grupo,
uma vez consolidada é um dos mais
fortes fatores de coesão grupal e de
manutenção do sujeito coletivo.
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5. Obra comum O sujeito coletivo
tende a procurar realizar uma obra a
que se propôs e, nesse
enfrentamento com a realidade
externa ao grupo poderá encontrar
apoio, desinteresse ou confronto
com outros grupos. Da forma como
acontecerem essas relações dar-se-
á o fortalecimento ou não da
identidade grupal. Poderá ocorrer,
também, a associação com outros
sujeitos coletivos e esta é uma das
formas de surgimento de muitos
movimentos sociais.
6. Memória O sujeito coletivo, para
manter sua identidade, que é o fator
aglutinador das pessoas
participantes, necessita de
momentos de memória. Nesses
momentos de memória as pessoas
lembram as origens do grupo, os
objetivos, as dificuldades, as
vitórias, o que as diferencia e
fortalece em relação a outros
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grupos, ou seja, atualizam a
consciência de quem são e do que
buscam. Estes momentos são
identificados como celebrações e
pode constituir-se por diversas
modalidades, entre as quais, a festa
do dia de nascimento do grupo, a
visita a locais significativos para o
grupo, o exame de documentos que
registram a caminhada do grupo,
etc. São formas destinadas a tornar
presente na memória de todos a
identidade do grupo e de como isso
afeta positivamente a vida de cada
um (SILVA, 2007, p.207-208).
4.1 Descrição da pesquisa
Esta pesquisa pretendeu mostrar os resultados obtidos referente ao
trabalho realizado no ano de 2007, tendo como objeto a participação do aluno
no currículo. Focalizei os alunos da terceira série do Ensino Médio de uma
escola pública do estado de São Paulo. Discuti como o aluno pensa sua
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participação no currículo, confrontando com os referenciais teóricos adquiridos
ao longo da pesquisa.
Conversei com os alunos das ries selecionadas e informei a eles que
faria uma pesquisa para a minha dissertação de mestrado, pedi que não se
identificassem e que fossem os mais sinceros possíveis. o dei nenhuma
informação prévia para captar com maior realismo a percepção do aluno em
relação a sua participação no currículo. Sendo professora efetiva da escola
onde realizei a pesquisa, utilizei minhas aulas de cinqüenta minutos para
aplicar o questionário, participaram 49 alunos de um montante de 115 das três
séries existentes. Elaborei dez perguntas simples e objetivas tendo a intenção
de não causar falhas na interpretação.
1- Como “eu” participo na minha vida escolar?
2- O que é o Grêmio Estudantil e o que ele faz?
3- Você já participou do Grêmio?
4- Você gostaria de participar do Grêmio?
5- O que você faria se participasse do grêmio?
6- Você já participou do Planejamento Escolar?
7- O que é o planejamento Escolar?
8- Você participa da escolha dos conteúdos das disciplinas?
9- Os conteúdos aprendidos na escola têm a ver com sua vida?
10- Sugestões do que eu quero aprender na escola?
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Para responder a pesquisa, a maioria achou melhor fazê-la a lápis.
Indaguei o porquê, me responderam que tinham medo de errar e não poder
apagar depois. Achei este dado curioso, pois mesmo sabendo que não seriam
identificados temiam o erro e a possibilidade de apagar as respostas por o
-las interpretado corretamente. Percebo que a avaliação do professor é
frustrante para o aluno que de antemão se coloca como incapaz e não o
erro como uma tentativa de acerto. Como diz Costa:
...o acerto e o erro m valor positivo,
pois ambos podem ser usados pelo
educador para alimentar e retro
alimentar o processo de aprendizagem,
crescimento e desenvolvimento dos
jovens (COSTA, 2006, p.222).
Ao elaborar a pergunta: Como participo da minha vida escolar?
Pressuponho que a participação está implícita em todos os momentos sociais
do ser humano. Como diz Bordenave: a participação é inerente a natureza
social do homem e visto desta forma, todo ser humano participa”.
Ao responderem a pergunta: Como participo da minha vida escolar?
Percebo que a escola é antes de tudo um lugar de relações, onde o convívio
diário aproxima as pessoas, fazendo com que estas sintam-se pertencentes a
um grupo, como assim demonstram as falas dos alunos:
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- Participo da minha vida escolar, dando muitas risadas;
- Comendo a merenda;
- Bagunçando com a galera do fundão;
- Fazendo lições;
- Conhecendo pessoas novas;
- Me divertindo.
Nota-se que os alunos entendem que a participação está ligada mais ao
ambiente social, um ponto de encontro, demonstram que a escola é um local
onde a alegria está presente e que não separam vida social e escolar.
Nas questões 2, 3, 4 e cinco, refiro-me ao Grêmio Estudantil, por
entender que o mesmo é uma forma instituída e legalmente reconhecida de
participação, o grêmio é o espaço de representação dos alunos na escola,
configurando-se como instrumento destes para a materialização de seus
desejos e expressão de suas reivindicações. Portanto, um espaço de
participação que o currículo da escola deveria contemplar. Percebo que nas
eleições para o grêmio, professores e diretores opinam na formação das
chapas, sutilmente indicando alunos, que no seu modo de ver seriam “bons” e
dessa forma não dariam trabalho nas suas reivindicões, ou seja, acatariam
sem reclamar as sugestões do “mundo adulto”.
As expressões dos alunos, ao se referirem ao grêmio denotam: vontade
em participar, descontentamento com as chapas anteriormente eleitas, querem
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mudanças nas programações sociais da escola, tais como festas, musicais,
campeonatos, etc. Preocupam-se, também, com a indisciplina e limpeza na
escola, querem ajudar a melhorá-la, no entanto, a maioria prevê uma
participação do tipo festivo, querendo atividades de entretenimento.
- Eu promovia mais campeonatos para que a escola não
virasse uma rotina e também o grêmio que tem nesta escola não faz
nada porque eu nem sei se tem grêmio nesta escola.
- O grêmio estudantil um grupo de alunos que são
escolhidos para representar toda uma escola e que tentam buscar
benefícios para a escola.
- Grêmio é uma terceira via da escola para resolver casos
importantes sobre a escola e uma terceira defesa da escola, assim
como o chefão (diretor) tem a mão direita (vice) e o grêmio (conjunto
de alunos) seria uma espada do chefão.
- Quando você faz parte, você fica tão entusiasmado
porque são muitos coisas que passam na sua cabeça, porque você
quer fazer muitas coisas.
- É um grupo de alunos, onde vem atender os pedidos dos
alunos, junto com tipo de elaboração como festividades, peças de
teatro e até limpeza da escola, etc.
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- Faria alguns projetos para a escola um campeonato de
vôlei e tentaria formar uma banda na escola.
Nas minhas observações destaco que os grêmios estudantis não se
vêem e não o vistos como grupos de referência e por esta razão não fazem
história, são repetidamente esquecidos por outros grupos. Ao acreditar que os
grupos se tornam sujeitos coletivos, espontaneamente, corre-se o risco de uma
participação apenas momentânea, sem durabilidade. Como diz Silva:
A transformação de um grupo de
pessoas em um sujeito coletivo atuante
não se dá, entretanto, de forma
espontânea e sem intencionalidade.
necessidade de uma deliberada ação
rumo ao objetivo de constituir-se em
realizadores e interlocutores sociais
(SILVA, 2003. p.52).
Nas perguntas que se referem ao Planejamento escolar, a maioria dos
alunos referem-se a ele como algo que se planeja para ser dado no decorrer do
ano, entretanto, afirmam que não participam da sua elaboração, citam que
apenas professores e diretores o fazem. Nas respostas dos alunos, percebo
que acreditam ser os professores competentes para planejar, implicitamente
não se julgam capazes de participar, percebo que não sabem exatamente o
que os professores planejam, mas acham isto normal, como se a obrigação
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não fossem deles. Ninguém participa daquilo que não compreende, precisa-se
aprender a participar. Como diz Bordenave:
Apesar de a participação ser uma
necessidade básica, o homem não
nasce sabendo participar. A
participação é uma habilidade que se
aprende e se aperfeiçoa. Isto é, as
diversas forças e operações que
constituem a dinâmica da participação
devem ser compreendidas e
dominadas pelas pessoas
(BORDENAVE, 2002, p.46).
Interessante verificar que nem alunos ou professores sentem-se
capazes de elaborar um planejamento, os professores ao planejar, o fazem de
forma aleatória, pressupondo, sem ao menos ouvir o que o aluno quer, os
planejamentos na sua maioria são cópias de outros planejamentos e mesmo
assim ao serem confrontados com o que de fato foi realizado no decorrer do
ano, poderemos constatar, que grande parte do que foi planejado, não foi
utilizado. O currículo que está oculto não é mencionado nem é escrito pelo
grupo de professores, mas ele espresente todos os dias na Escola Pública.
É como se varrêssemos a sujeira para baixo do tapete, sabemos que ela está
lá, mas o tapete a esconde. Como diz Sacristán:
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O currículo é um dos conceitos mais
potentes, estrategicamente falando,
para analisar como a prática se
sustenta e se expressa de uma forma
peculiar dentro de um contexto escolar.
O interesse pelo currículo segue
paralelo com o interesse por conseguir
um conhecimento mais penetrante
sobre a realidade escolar
(SACRISTÁN, 2000, p.30).
Ao serem perguntados sobre a importância dos conteúdos para a sua
vida, a maioria acredita que nem todos o relevantes. Acreditam que o que
aprendem na escola terá utilidade num futuro próximo, relacionam-no com o
emprego, entretanto, referem-se aos conteúdos de forma evasiva, não
mencionam a sua participação e nem à vontade em participar, tratam-no de
forma distante, como se os conteúdos não fizessem parte do currículo da
escola, a não contextualização dos conteúdos proporciona aos alunos uma
visão superficial da realidade escolar. Perceber o currículo como meio de
convergência para sanar os problemas de ordem interdisciplinar, seria muito
útil para todos aqueles que compõem a comunidade escolar. Entender que de
uma forma ou outra estamos interligados e que uma atitude terá reflexo em
outras atitudes. Como diz Sacristán:
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O currículo faz parte, na realidade, de
múltiplos tipos de práticas que não
podem reduzir-se unicamente à prática
pedagógica de ensino; ões que o
de ordem política, administrativa, de
supervisão, de produção de meios, de
criação intelectual, de avaliação, etc., e
que, enquanto são subsistemas em
parte autônomos e em parte
interdependentes, geram forças
diversas que incidem na ação
pedagógica (SACRISTÁN, 2000, p.22).
Ao sugerirem o que gostariam de aprender e o que a escola poderia
proporcionar, os alunos sentem-se à vontade para sugerir e o fazem com
compreensão daquilo que entendem ser necessário para proporcionar prazer
em aprender e que a escola não proporciona.
- Algo mais que ainda não foi ensinado, algo que me
surpreenda que me incentive ainda mais a estudar, a
aprender, que me faça ter curiosidade em descobrir o
significado.
- Quero aprender inglês, pois as aulas são poucas, não dá
para aprender bem, espanhol e francês também seriam
interessantes.
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- Bom além das aulas que nós temos seria bom ter aulas de
músicas, pinturas, capoeira, informática e inglês.
- Gostaria de ter mais aulas de Educação Física, não só
para ficar fora da sala, mas gostaria de aprender a fazer
outro esporte. Ter aulas de informática de outras
línguas, mas não ficar só no básico.
Os alunos, na sua maioria afirmam que o que aprendem na escola será
útil para sua vida, mas não sabem explicar como, não sentem-se protagonistas
do processo de aprendizagem, se vêem apenas como “consumidores” do
saber e não como “produtores”. É preciso dar voz, acreditar que os
adolescentes são capazes de colaborar na construção de uma escola de
qualidade, onde serão abordados temas do seu interesse, a participação é
necessária para o aprendizado, e como foi, dito se aprende a participar,
participando. Como diz Costa:
Os adolescentes, além de portadores
de entusiasmo e de vitalidade para a
ação, são dotados também de
pensamento e de palavra. O propósito
do protagonismo juvenil, enquanto
educação para a participação
democrática, é criar condições para
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que o educando possa exercitar, de
forma criativa e crítica, essas
faculdades na construção gradativa de
sua autonomia. Autonomia essa que
ele será chamado a exercitar de forma
plena no mundo adulto (COSTA, 2006,
p.139).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho apresentado teve como meta buscar entender como o aluno
pensa a sua participação no currículo. Procurou-se buscar conceitos de
participação e como se processa a construção do currículo na Escola Pública.
Vários autores foram pesquisados com a finalidade de esclarecer teoricamente
os temas referidos. Como resultados da pesquisa de campo os alunos
confirmaram a hipótese da não participação no currículo, reforçaram que a não
participação causa desinteresse.
Mostraram-se interessados em aprender coisas que a escola não
proporciona. Entretanto, acreditam que tudo que aprendem será útil à vida, não
sabem como participar, o que esclarece que o aluno não participa porque não é
solicitado e não é educado para isso.
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Durante minha trajetória profissional pude constatar que os professores
pouco participam na construção do currículo, limitando-se a configurá-lo como
escolha dos conteúdos programáticos e estes não são elaborados com o aval
dos alunos, estas escolhas, normalmente são feitas em pequenos grupos.
A escola como um todo não participa democraticamente, acata ordens,
resolve os problemas burocraticamente, esta forma de trabalho esta enraizada.
Como diz Silva:
É preciso ter presente que uma
educação para a submissão e o
participação tem agido por longos anos
em nosso país, criando identidades
passivas e sem iniciativa, matando
quase que por completo a criatividade
humana, que sempre aflora quando
existem condições desencadeadoras
(SILVA, 2003, p.46).
Esta unidade onde a pesquisa foi realizada representa uma amostra do
que acontecem em muitas outras. Entretanto, é possível implantar mudanças,
ouvindo os alunos, que deveriam ser protagonistas do processo educacional,
não eles, mas todos aqueles que fazem parte da comunidade escolar e que
tenham a coragem e a vontade de transformar sonhos em realidade.
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A escola tem o compromisso de contribuir com a formação das futuras
gerações, focando a formação de sujeitos coletivos que possam contribuir de
forma consciente, para a construção de um mundo melhor onde todos tenham
direitos a uma educação de qualidade, cobrando das políticas públicas atitudes
que foram solicitadas junto a participação de todos os seguimentos sociais, na
construção do currículo. Satisfazendo as necessidades emergentes dos alunos
que exercerão influência na sociedade, formando assim, uma reação em
cadeia que afetarão a todos, influenciando e transformando todos em co-
responsáveis pela educação de uma mesma humanidade. Como esclarece
Delors:
Qualquer sociedade humana retira sua
coesão de um conjunto de atividades e
projetos comuns, mas também, de
valores partilhados, que constituem
outros tantos aspectos da vontade de
viver juntos. Com o decorrer do tempo,
estes laços materiais e espirituais
enriquecem-se e tornam-se, na
memória individual e coletiva, uma
herança cultural, no sentido mais lato
do termo, que serve de base aos
sentimentos de pertencer àquela
comunidade, e de solidariedade
(DELORS, 2001, p.51).
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Se quisermos que a estrutura escolar se modifique é importante que
saibamos que o cotidiano escolar é representado por pessoas, que possuem
histórias, que vivem no mesmo planeta, que possuem diversidades, mas que
são iguais em direitos e deveres. Como diz Silva:
Pensar a democratização da escola é
pensar uma ação transformadora a
partir da atuação de sujeitos coletivos
sobre a estrutura organizacional e
sobre as relações sociais
condicionadoras das práticas escolares
(SILVA, 2001, p.52).
Construir uma educação para todos com qualidade e eqüidade
7
é uma
meta a ser buscada diariamente. Longe de esgotar o tema pesquisado, deixo
minha contribuição para todos aqueles que consideram que a participação do
aluno no currículo é de suma importância para que a escola torne-se um
espaço de aprendizagem prazerosa e que o aluno não tenha medo ou
7
eqüidade: o conceito de eqüidade é concebido como o reconhecimento e a efetivação, com
igualdade, dos direitos da população, sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenças que
conformam os diversos segmentos que a compõem. Assim, eqüidade é entendida como possibilidade das
diferenças serem manifestadas e respeitadas, sem discriminação; condição que favoreça o combate das
práticas de subordinação ou de preconceito em relação às diferenças de gênero, políticas, étnicas,
religiosas,
culturais, de minorias etc.
Fonte: Mapa da Exlusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo.
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vergonha de contribuir com o seu saber, na construção de um currículo
necessário.
BIBLIOGRAFIA
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A N E XO I - QUESTIONÁRIOS RESPONDIDOS PELOS ALUNOS
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