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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM –
DOUTORADO
ANDREA GOMES LINARD
AÇÃO INTERATIVA E ORIENTAÇÃO DO AUTO-EXAME DAS
MAMAS DURANTE A CONSULTA GINECOLÓGICA DE
ENFERMAGEM
FORTALEZA – CEARÁ
2005
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ANDREA GOMES LINARD
AÇÃO INTERATIVA E ORIENTAÇÃO DO AUTO-EXAME DAS
MAMAS DURANTE A CONSULTA GINECOLÓGICA DE
ENFERMAGEM
Tese apresentada como requisito parcial à
obtenção do título de Doutor em Enfermagem.
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
da Faculdade de Farmácia, Odontologia e
Enfermagem da Universidade Federal do Ceará.
LINHA DE PESQUISA: Tecnologia em saúde
e educação em enfermagem clínico-cirúrgica
ORIENTADORA:
Profa. Dra. Maria Socorro Pereira Rodrigues
FORTALEZA
2005
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L716a Linard, Andrea Gomes
Ação interativa e orientação do auto-exame das mamas
durante a consulta ginecológica de enfermagem/ Andrea Gomes
Linard. – Fortaleza, 2005.
102 f. : il.
Orientadora: Profa. Dra. Maria Socorro Pereira Rodrigues.
Tese (Doutorado)- Universidade Federal do Ceará. Departa-
mento de Enfermagem.
1. Comunicação persuasiva. 2. Mulheres. 3. Auto-exame.
I. Título.
CDD 610.730699
ANDREA GOMES LINARD
AÇÃO INTERATIVA E ORIENTAÇÃO DO AUTO-EXAME DAS MAMAS
DURANTE A CONSULTA GINECOLÓGICA DE ENFERMAGEM
Tese apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Enfermagem.
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de Farmácia, Odontologia e
Enfermagem da Universidade Federal do Ceará.
Data da Defesa: 18/2/2005
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________
Dra. Maria Socorro Pereira Rodrigues
Universidade Federal do Ceará
Presidente
____________________________________
Dr. Egberto Ribeiro Turato
Universidade Estadual de Campinas
Membro Efetivo
_____________________________________
Dra. Raimunda Magalhães da Silva
Universidade de Fortaleza
Membro Efetivo
_____________________________________
Dra. Ana Fátima Carvalho Fernandes
Universidade Federal do Ceará
Membro Efetivo
_____________________________________
Dra. Almerinda Holanda Gurgel
Universidade Federal do Ceará
Membro Efetivo
_____________________________________
Dra. Thereza Maria Magalhães Moreira
Universidade Estadual do Ceará
Membro Suplente
_____________________________________
Dra. Lucélia Ribeiro de Farias
Universidade de Fortaleza
Membro Suplente
D
EDICATÓRIA
A Deus, por segurar em minhas mãos, nos momentos de
dificuldades e me fazer acreditar que tudo é possível.
A
GRADECIMENTO E SPECIAL
À Vera Zorina, minha mãe, um exemplo de nordestina batalhadora, que
soube, sozinha, alimentar, educar e amar seis filhos, sempre acreditando que
seria capaz.
A
GRADECIMENTOS
Aos meus irmãos: Adriana, Adjane, Lígia, Samuel e Jair, pela torcida e
incentivos.
Ao meu cunhado Alexandre (marido de Adriana), minha linda sobrinha
Thaís e a Rayssa que está a caminho, pelas alegrias somadas.
À Milena Sampaio Castelo que esteve durante essa minha caminhada me
ajudando a descobrir as coisas por si só.
À Profa. Dra. Maria Socorro Pereira Rodrigues, pela dedicação com que
me orientou neste e em tantos outros trabalhos.
Aos membros da banca examinadora: Dr Egberto, Dra Raimunda, Dra Ana
Fátima, Dra Almerinda, Dra Thereza e Dra Lucélia, pela inestimável
colaboração.
Aos professores do doutorado, pelos momentos de crescimento intelectual.
À Profa Dra Maria Júlia Paes da Silva, pelas palavras de incentivo e pelo
contínuo compartilhar de ensinamentos.
Às colegas do curso de doutorado: Ana Kelve Damasceno, Dafne Paiva
Rodrigues, Diva Teixeira, Eugênio Franco, Francisca Ana Martins, Lia
Silveira, Ligia Costa, Albertina Diógenes, Socorro Dias, Teresa Mariotti,
Maristela Chagas e Patrícia Neyva, pela convivência, que ampliou os
horizontes dos relacionamentos interpessoais.
À Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, na
pessoa da Dra Ana Fátima, pelo apoio na realização do estudo.
Aos funcionários do Departamento de Enfermagem, especialmente aos do
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem.
Ao serviço de enfermagem do Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará,
e, em especial, à enfermeira Mônica Dantas, pela acolhida no campo de
coleta de dados.
À Universidade de Fortaleza, nas pessoas do Chanceler Dr Airton Queiroz,
Reitor, Prof. Carlos Alberto Batista, Diretora do Centro de Ciências da
Saúde, Profa Fátima Veras e Coordenadora do Curso de Enfermagem,
Profa Rita de Cássia, pelo aprendizado profissional na rotina acadêmica.
A FUNCAP, por financiar a pesquisa através de uma de bolsa de
doutorado, por meio da Coordenação do Programa de Pós-Graduação do
Departamento de Enfermagem da Faculdade de Farmácia, Odontologia e
Enfermagem, da Universidade Federal do Ceará.
Ao Programa de Incentivo à Pós-Graduação, mantido pela Universidade
de Fortaleza, pela motivação para o aperfeiçoamento docente.
A todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a
realização deste estudo.
Andei por tantos caminhos, fui em busca de luz e respostas para meu
caminhar, todavia não sabia através de que caminhos as encontraria.
Momentos eu sentei, chorei, me vi sozinha e pensando quando e onde
estariam a luz e as respostas desse mourejar. Com o passar dos anos, percebi
que nessa estrada sempre haverá instantes de dúvida, o sofrimento haverá de
me assediar e não saberei onde a luz e as respostas estarão; todavia, sinto em
meu coração que vale a pena continuar navegando, pois não falece em mim a
esperança de que a cada novo amanhecer poderei encontrar as respostas
junto à luz.
Andrea Gomes Linard
Aquele que habita no esconderijo do Altíssismo, à sombra do Onipotente
descansará. Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha
fortaleza, e nele confiarei.
Salmo 90: 1-2
Aprender é descobrir. Mesmo que eu esteja certa na minha interpretação, se
eu confidenciar-lha, a ele, roubo-lhe a oportunidade de desvendá-la por si
só.
Barry Stevens
RESUMO
Diversas causas ameaçam o bem-estar feminino, desencadeadas por eventos
sócioculturais, tecnológicos, profissionais e familiares, influenciando no surgimento
dos mais variados tipos de cânceres e congêneres, com altas incidências de
morbimortalidade. Através da ação interativa junto à cliente, o enfermeiro, poderá
influenciar positivamente para a redução dessas cifras, incentivando mudanças de
comportamentos, em particular, estimulando a adoção do hábito mensal do auto-
exame das mamas (AEM). Propusemos-nos, então, a trabalhar com base na hipótese
de que, a ação interativa estabelecida entre enfermeiro e cliente pode favorecer e
possibilitar a comunicação persuasiva, sua validação e a transmissão de
informações, de forma a despertar na cliente o interesse pela aprendizagem e o
desejo de elucidação de dúvidas. Objetivamos descrever e interpretar os fatores que
podem influenciar na ação interativa do processo de comunicação entre enfermeiro-
cliente e compreender a forma como vem se processando, na prática da enfermagem
a ação interativa entre enfermeiro-cliente. O estudo tem abordagem qualitativa, foi
realizado no Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPCC) nos meses de maio,
junho e julho de 2004. Os dados foram coletados durante os Relacionamentos
Interativos (RIs) entre enfermeiros e clientes, nas consultas de enfermagem
ginecológicas. O instrumento de coleta dos dados utilizado foi observação livre com
o apoio do diário de campo e uso do gravador, conforme autorização obtida. As
enfermeiras, sujeitos deste estudo, foram cognominadas com os nomes de Selene,
Melanipe, Eleutera, Crissa e Electra. Acompanhamos cinco distintos
relacionamentos interativos (RIs) de cada uma das cinco enfermeiras. Para a
organização e análise dos dados, utilizamos do método de análise de conteúdo,
Bardin (1977), Rodrigues e Leopardi (1999). O conteúdo dos diálogos observados
apontou para as cinco seguintes categorias: A comunicação como incentivo para a
formação do hábito do auto-exame das mamas; Orientação da enfermeira
direcionada ao bom êxito da comunicação entre médico e cliente; Cuidado e
tecnologia no auto-exame das mamas; A presença de fatores de risco para o câncer
de mama; A comunicação verbal enfermeira-cliente durante o auto-exame das
mamas. Os resultados mostram que a ação interativa enfermeiro-cliente é, em sua
maioria, permeada por uma comunicação mecanizada e repetitiva, sendo enfatizadas
orientações estereotipadas, não se priorizando o feed-back das informações
fornecidas às clientes, referentes à adoção do hábito mensal do AEM e, nem se
enfatizando as técnicas de expressão, clarificação e de validação da informação,
durante a comunicação. Concluiu-se que os enfermeiros, como formadores de
opinião necessitam trabalhar com maior freqüência elementos da ação interativa
como por exemplo o feed-back. É necessário também haver uma colaboração
documental e mais efetiva das políticas públicas de saúde e de promoção social, no
que tange ao número de clientes a serem atendidas pelo profissional.
Palavras-chaves: comunicação, consulta, enfermagem, ginecológica
ABSTRACT
Several causes threaten women’s well-being, unleashed by socio-cultural,
technological, professional and family events influencing on the appearance of
several types of cancer and similar diseases, with high mortality rates. Through an
interactive action with the client, the nurse can influence significantly on the
reduction of these rates, encouraging changes in their behavior, in particular, the
adoption of the monthly habit of the Breast Self-Exam (BSE). We proposed to work
based on the thesis that the interactive action established between nurse-client can
favor and make possible the persuasive communication, its validation and the
transmission of information, aiming to raise on the client the interest in learning and
the will to solve doubts. We aimed to identify the factors that influence the
interactive action between nurse-patient; describe the way it is being processed, in
the nurse practice, the interactive action between nurse-client, and present based on
Travelbee’s Theory (1979) a paradigm of implementation of the interactive
relationship nurse-client. This study has a qualitative approach, and it was
conducted at Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPCC) during the months
of May, June and July, 2004. Data were collected during the Interactive
Relationships (IRs) nurses-clients, in the gynecological nursing consultations. The
instrument of data collection used was the participative observation with the help of
a field diary and a tape recorder, according to authorization obtained. The nurses,
subjects of this study were nicknamed as Selene, Melanipe, Eleutera, Crissa and
Electra. We followed five different moments in the interactive relationship (IR) of
each of the five nurses. For the organization and analysis of data we used the
analysis of content method, Bardin (1977), Rodrigues and Leopardi (1999). The
content of the dialogues suggested five categories, being them: the communication
as incentive to the habit of the Breast Self-Exam; orientation of the nurse directed to
the success of the communication between doctor and patient; care and technology
in the Breast Self-Exam; presence of risk factors to the breast cancer and the verbal
communication of the nurse in the consultation. The results show that the interactive
action nurse-client is, in the majority, prevailed by a mechanical and repetitive
communication, being emphasized stereotypical orientations, not prioritizing the
feedback of the information provided to the clients referring to the adoption of the
monthly habit of the BSE and that the techniques of expression, clarification and
validation of information are not emphasized, during the communication. It is
necessary a documentary and more effective collaboration of public health policies
and of social promotion, concerning the number of clients to be attended by each
professional.
SUMÁRIO
1
2
2.1
2.2
2.3
3
3.1
3.2
3.3
3.4
3.5
3.6
3.7
4
5
6
INTRODUÇÃO
REFERENCIAL TEÓRICO
Processo de Comunicação
Câncer de Mama
A Teoria da Relação Interpessoal de Joyce Travelbee e sua
contextualização no estudo
PERCURSO METODOLÓGICO
Tipo do estudo
Local da pesquisa
Sujeitos
Instrumentos de coleta de dados
Procedimentos prévios para entrada no campo
Organização e apresentação dos dados
Aspectos éticos
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
APÊNDICES
ANEXO
14
24
25
29
42
47
48
48
49
50
51
51
53
54
85
89
Lista de Diagramas
Elementos do Processo de Comunicação 28
Padrão de Comunicação Interativa segundo Travelbee 46
Estrutura física da sala 56
Lista de Gráficos
Gráfico 1- Taxa bruta de mortalidade para o período de 1979 a 2000
e estimativas para o ano 2003, em mulheres, para algumas
localizações primárias
33
Gráfico 2- Estimativas de mortalidade e incidência do câncer de
mama no Brasil de 2000 a 2003.
33
I
NTRODUÇÃO
1- INTRODUÇÃO
Diversos males demandam, atualmente, ações que devem ser
inteligentemente bem definidas e direcionadas pelas políticas públicas. Eles
vão, desde endemias controláveis a enfermidades ou disfunções de tratamento
complexo, com procedimentos diversos e onerosos, exigindo altos
investimentos físicos e psicológicos para a clientela afetada, atrelam-se a
especialidades específicas.
Na saúde da mulher, no contexto da atenção primária, o bem-estar
feminino vem, atualmente, sendo ameaçado por diversas causas, destacando-
se entre elas, episódios decorrentes dos fatores sócioculturais, tecnológicos,
profissionais e familiares, que podem concorrer para o surgimento dos mais
variados tipos de cânceres. No âmbito da ginecologia, evidenciam-se as
neoplasias cérvico uterino e de mama, com altas cifras de incidência e
mortalidade.
Assim nossa colocação, apoia-se, ainda, em publicação divulgada pelo
Instituto Nacional do Câncer (INCA), Brasil, (2002 e 2003), na qual a
estimativa de incidência de câncer de mama no Brasil para 2002 e 2003 foi,
respectivamente de 36.090 e 41.610 (casos novos) e de 9.115 e 9335 (óbitos).
Tendo em vista, ainda, que a taxa bruta de mortalidade esteve entre
6,14/1000hbt (1980), e 9,31/1000hbt (1997), e já para 2000 foi estimada em
9,78/1000hbt (mortalidade) e em 33,58/1000hbt (casos novos). Nos faz
perceber uma franca ascenção dessas estatísticas e estimativas, o que nos leva
a considerá-las na contramão da evolução tecnológica e científica,
demandando atitudes mais enérgicas de todos e de cada um, particularmente
dos profissionais envolvidos na saúde da comunidade e da necessidade de
uma melhor definição de estratégias políticas por parte do Estado.
A preocupação com a temática em discussão remonta ao ano 1995,
quando ingressei, como bolsista do CNPq, no projeto de pesquisa Saúde da
Mulher no Cotidiano, trabalhando a saúde da mulher em diversos contextos
do ciclo biológico. O referido projeto, desenvolvido por um grupo de
docentes do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará,
juntamente com alunos da graduação e da pós-graduação, envolve a
realização de pesquisas sobre temas relevantes do cotidiano feminino.
Durante cinco anos de atividades científicas naquele projeto,
defrontei-me com questões que envolviam a vida da mulher cearense e
brasileira, que tem passado por grandes mudanças no plano político,
cultural, econômico ou social. Tais mudanças refletem-se na organização
da vida familiar, assim como no contexto do espaço público, o que vem
implicar no desempenho de novos papéis por parte da mulher fazendo com
que, ocasionalmente, a mesma deixe de lado aspectos importantes,
concernentes ao seu autocuidado, visto que ocasionariam no desgaste de
tempo usado em demandas para aumentar a renda familiar e mesmo em
dispersões de fundo psicológico, desencadeadas pelas preocupações do dia-
a-dia, o que poderá estar impedindo ações voltadas para a possível
detecção, em estado precoce, de um nódulo mamário.
No decorrer da década de noventa, percebemos o fato de
continuamente estarmos nos deparando com um acentuado
desconhecimento feminino sobre a detecção precoce do câncer de mama,
seu tratamento e de uma inábil clientela em lidar com a realidade daí
decorrente, ou talvez, a pouca crença por parte das mulheres sobre os reais
transtornos físicos, psicológicos e sociais que isto pode acarretar, tendo a
considerar-se, ainda, possíveis fracassos dos profissionais de saúde em
conseguir maior efetividade na detecção precoce da doença em pessoas já
portadoras. Tais fatos fizeram com que nosso olhar se voltasse para a
relação interativa, que é desenvolvida no processo de comunicação entre
enfermeiro e cliente, durante a consulta ginecológica.
Em um primeiro momento, no ano de 2000, apresentamos uma
dissertação de Mestrado em Enfermagem, que versava sobre Os Efeitos
produzidos no comportamento da mulher na adoção de hábitos do auto-
exame de mamas. O referido trabalho enfatiza a importância das campanhas
veiculadas pela mídia, que é uma das formas mais utilizadas para atingir um
maior número de pessoas em menor espaço de tempo. Também ressalta que
as campanhas se configuram de uma maneira bastante eficiente, em
decorrência do raio de abrangência, para as mais variadas classes econômicas
no Brasil (Linard, 2000). Os resultados da referida pesquisa foram
apresentados sob os títulos: “Mulheres - os efeitos da comunicação na adesão
do auto-exame da mama” (Linard et al, 2000) e “As mulheres construindo
uma opinião sobre câncer de mama a partir dos anúncios no mass media”
(Linard, Almeida e Silva 2001). Nela, busquei analisar o que dessas
campanhas as mulheres captam e memorizam; constatar se as informações
então repassadas promovem o reconhecimento da importância da detecção
precoce do câncer de mama, e identificar, nessa mulher, mudanças de atitudes
que poderiam ter sido motivadas pelas campanhas, preparando, assim, uma
conscientização para a detecção precoce do câncer de mama.
Sabemos que informações veiculadas através dos mass media são
importantes para que ocorra um fluxo de conhecimentos entre as propagandas
institucionais e a população; entretanto, essas são muitas vezes dissociadas do
real objetivo a que se propõem. Ainda nessa linha de pensamento, pode-se
perceber que o padrão de comunicação ou forma habitual de interação entre
indivíduos está, conseqüentemente, inserido nas relações interpessoais entre
enfermeiro-cliente, cujo caráter pode ser decisivo no processo de influência
comportamental, para a adoção de atitudes a esse respeito.
Nessa perspectiva, para desenvolver de forma satisfatória as relações
interpessoais em um contexto interativo de comunicação no atendimento da
clientela, entendemos ser necessário que o profissional tenha competência
interpessoal, o que segundo Moscovici (1985), corresponde à habilidade de
lidar eficazmente em relações interpessoais de forma adequada às
necessidades de cada um e às exigências da situação. Já Stefanelli (1993),
afirma que o enfermeiro precisa desenvolver sua competência interpessoal e
para tanto deve adquirir base teórica sobre comunicação geral e comunicação
interpessoal.
Consideramos a comunicação importante na busca da mudança de
comportamento, cuja mudança, segundo Littlejohn (1988), se origina a partir
de determinadas condições, na pessoa, e de outras que devem ser inseridas na
mensagem. Envolve atitudes, valores e comportamentos inter-relacionados.
Um importante aspecto da comunicação interpessoal é o fato de estabelecer
relações nas quais ocorrerá interação e conseqüente percepção do outro. O ato
comunicacional compreende a fala (expressão verbal), gestos, lugar onde se
dá a inter-relação, o olhar e o escutar. Esses componentes devem ser
explorados com bastante perspicácia pelo comunicador, conforme sejam seus
propósitos, ao comunicar e buscar informações, particularmente ao lidar-se
com questões relativas à saúde da população.
Silva (1998) considera que a comunicação interpessoal ocorre no
contexto da interação face a face, sendo esta a que envolve o enfermeiro-
cliente, na tentativa de compreender o outro comunicador e de ser
compreendido. Na busca de compreensão do outro, desenvolvida pelo
enfermeiro, este deve utilizar, como suporte enfoques educacionais, havendo
nas pesquisas de Stefanelli (1993), o entendimento que o enfermeiro é um
educador e uma de suas ferramentas importantes é a comunicação. Portanto, o
enfermeiro bem poderá treinar-se continuamente para ser um comunicador
por excelência, atuando como agente de mudanças comportamentais nos
aspectos de saúde
Estudo realizado por Linard, Machado e Macedo (2003), no Programa
Saúde da Família do município de Barbalha-Ceará, revelou que as pessoas
precisam ser sensibilizadas para se autocuidarem, e visto ser o enfermeiro um
profissional habilitado para o exercício do papel de educador em saúde, ele
foi identificado por nós como um profissional com potencial influenciador da
mulher no autocuidado. Corroborando essa colocação, Pagliuca, Rodrigues e
Linard (2000), afirmam que o enfermeiro assume papel significativo como
educador em saúde, no exercício do ensino e no estímulo do auto-exame das
mamas (AEM), através de técnicas apropriadas de comunicação, associada a
estratégias de persuasão.
Aliado aos estudos descritos, procuramos aprofundar os conhecimentos
na área da saúde da mulher usando de intervenções que visam contribuir para
a formação do conhecimento, e do desenvolvimento profissional. Concluído o
Mestrado, em abril de 2000 ingressamos como pesquisadora e professora
substituta na Universidade Regional do Cariri-CE, lecionando as disciplinas
Semiologia e Enfermagem no Processo de Cuidar I. Na ocasião, orientamos
um bolsista de iniciação científica do CNPq e outro da FUNCAP, ampliando,
assim, a, experiência profissional em estudos direcionados ao câncer de
mama, sua detecção precoce e atuação do enfermeiro, tendo em vista o
contexto existente na região do Cariri.
Em continuidade a essa caminhada, meses depois ingressei como
professora assistente da Universidade de Fortaleza-CE, assumindo a
disciplina Estágio Supervisionado I, acompanhando alunos do oitavo semestre
do curso de enfermagem, na atuação em atenção primária, no Programa Saúde
da Família. Neste cenário, os alunos atendem à mulher na consulta
ginecológica de enfermagem, detendo-se no exame clínico das mamas,
colheita citológica e conseqüentes orientações de enfermagem, em
conformidade com as necessidades de cada cliente. Posteriormente assumi a
disciplina Enfermagem em Saúde Pública I, a partir da qual se alargou minha
compreensão sobre políticas de saúde brasileira e as deficiências presentes no
Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Formiga, 1999).
Associadas, a esta prática profissional, continuamos acompanhando
pesquisas desenvolvidas no grupo de pesquisa Saúde da Mulher no Cotidiano,
no sentido de compreender com maior profundidade questões fundamentais
de vida da mulher e relativas à ocorrência do câncer de mama. Algumas
destas pesquisas focalizam, por exemplo, situações relacionadas à análise dos
fatores de risco acerca do câncer de mama (Almeida, 1991); a detecção
precoce do câncer de mama por um grupo de mulheres (Fernandes et al,
1998a);
prevenção do câncer de mama: ações para autogestão em saúde com
relação a esse trabalho, buscou-se mapear, através dos postos de saúde
municipais, que ações eram desenvolvidas no tocante ao câncer e exame das
mamas
(Fernandes et al, 1998b); ensinando mulheres da Comunidade do
Dendê, na faixa etária de 50 a 59 anos, a fazerem o auto-exame das mamas, o
referido estudo se reportou a mulheres de uma comunidade carente, que pouca
ou quase nenhuma informação detinham a respeito do câncer de mama
(Linard et al, 2002). Os demais estudos estão em andamento, no sentido de
buscar aprimorar a assistência à mulher na detecção precoce do câncer de
mama, a partir do processo de comunicação entre enfermeiro e cliente.
Retomando o olhar da comunicação, Júnior e Matheus (2000)
afirmam que a comunicação em enfermagem pode ser vista como uma
competência que o enfermeiro deve desenvolver, uma vez que, é uma das
ferramentas a ser utilizada para desenvolver e aperfeiçoar o saber-fazer
profissional. Para tanto, é necessário conhecer a comunicação como
processo, a fim de colaborar com o desenvolvimento de sua qualidade, no
que se incluem os relacionamentos que envolvem a comunicação, a serem
estabelecidos nas relações de trabalho. Silva (2002) considera que enquanto
profissionais de saúde, não podemos esquecer que nossas mensagens são
interpretadas, não apenas pelo que falamos, mas também pelo modo como
nos comportamos (proximidade, postura e contato visual). Dessa forma,
seja por meio de palavras faladas e escritas, seja por meio de gestos,
expressões faciais e corporais, o trabalho na área de saúde exige do
profissional o conhecimento, seja utilizando-se de sons produzidos pelo
aparelho fonador (paraverbal); de linguagem corporal, gestos, movimentos
e expressões (cinésica); compartilhando o espaço físico com simpatia e sem
excessivo distanciamento (proxêmica) e valorizando, no possível, a
capacidade tátil (tacêsica), de forma a desenvolver um manejo adequado da
comunicação interpessoal e de seus fundamentos básicos, visando ao bom
êxito desse trabalho efetivado em prol da saúde da população.
Assim, apesar da comunicação estar presente no dia-a-dia do
enfermeiro, questionamos se realmente este profissional vem procurando
deter uma credibilidade que distinga com caráter qualitativo sua atuação
numa ação interativa? O enfermeiro empenha-se em preparar uma situação
adequada para que ocorra o toque instrumental, ou seja, o contato físico
deliberado necessário para o desempenho de uma tarefa específica como o
exame clínico das mamas? A comunicação verbal e a não-verbal são um
caminho ou meio para um novo modo de olhar, no interagir e no cuidar dos
enfermeiros? Estarão os enfermeiros procurando desenvolver padrão de
comunicação interativo adequado, de forma a estabelecer um
relacionamento interpessoal de qualidade, de comunicação eficaz,
incluindo-se a persuasão, tão importante quando se trata de prevenção?
Com o intuito, portanto, de buscar uma interpretação de significados a
fim de propiciar o estabelecimento de um cuidado de enfermagem mais amplo
e fidedigno, centrado em uma comunicação eficaz é que se desenvolveu esse
estudo.
Para Leitão, Linard e Rodrigues (2000), o cuidado de enfermagem deve
ser entendido como uma ação consciente que produz resultados sobre a
concepção de quem promove o cuidado. Assim uma compreensão mais clara
das questões acima destacadas, muito poderá contribuir para o aumento do
índice de detecção precoce do câncer de mama e conseqüentemente redução
das índices de morbimortalidade. O referido aumento do índice, ao mesmo
tempo em que repercutiria, seria também decorrente da melhoria qualitativa
do ato da interação enfermeiro–cliente, influenciando para reduzir as taxas de
mortalidade, assim como os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) no
atendimento terciário, cuja taxa de economia poderia ser revertido para o
aperfeiçoamento dessa técnica.
Tem-se, então, por objetivo, para esta pesquisa:
1- Descrever e interpretar os fatores que podem influenciar na
ação interativa do processo de comunicação entre enfermeiro-
cliente;
2- Compreender a forma como vem se processando, na
prática da enfermagem a ação interativa entre enfermeiro-cliente;
O propósito é que, a partir dos conceitos de comunicação verbal,
comunicação não-verbal, interação e ação interativa enfermeiro-cliente, se
possam identificar e avaliar os padrões de comunicação do enfermeiro
apresentados durante o desenvolvimento da ação interativa, no momento da
consulta ginecológica. Temos, como pressuposto, que uma ação interativa
adequada deve possibilitar a formação de um elo confiável de comunicação
verbal e não verbal, elo este que posteriormente poderá favorecer a motivação
da mulher na adesão da prática do auto-exame das mamas, visando sempre a
sua saúde no contexto físico, psicosocial e espiritual, a partir de estratégias
preventivas, carreadas por tecnologias simplificadas e por adequadas técnicas
de comunicação.
Desejamos que na consulta de enfermagem a forma de conversação, os
gestos, os sinais faciais, a postura corporal, o aspecto da proxêmica e o toque
instrumental (tacêsica) na relação interativa adotada pelo enfermeiro, poderão
influenciar a mulher de uma maneira mais afetiva, efetiva e pessoal na sua
mudança de comportamento relativa ao AEM.
Trabalha-se, portanto, com base na tese de que, a ação interativa
estabelecida entre enfermeiro-cliente deve visar ao favorecimento de uma
relação de confiança, a fim de possibilitar a comunicação persuasiva, a
validação e a transmissão de informações, de forma a despertar o interesse
pela aprendizagem e o desejo de elucidação de dúvidas.
REFERENCIAL TEÓRICO
2- REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Processo de Comunicação
A comunicação está baseada no consenso espontâneo dos indivíduos,
consenso que significa consentimento, pressupõe a compreensão que a
comunicação exige para que se possam colocar, em comum idéias, imagens e
experiências. O principal objetivo da comunicação é o entendimento entre as
pessoas. É, portanto, intercâmbio de significações, através de símbolos, cuja
unidade fundamental é o ato de falar. É fator fundamental na interação social.
Pressupõe compreensão de idéias, imagens ou experiências, que se desejam
colocar em comum. A finalidade de tudo isso é o entendimento entre as
pessoas. É um elemento singularmente humanizador da cultura, visto ser
veículo de produção, percepção e entendimento de mensagens portadoras das
idéias humanas. As verbalizações sobre o porquê das coisas identificam as
crenças, que são carregadas de significados profundos, sejam profanos ou
sagrados. Ao palmilhar-se esse terreno, toda comunicação e intervenção são
feitas com extremo respeito e sensibilidade, evitando-se quaisquer críticas
negativas (Dance, 1973; Chung, 1996).
Através da comunicação, é possível conhecer-se outra pessoa. Quando
duas ou mais pessoas têm alguma coisa a ser compartilhada, idéias, por
exemplo, é importante que a primeira pessoa esteja certa de que a outra está
tão empenhada em ser honesta, ser sincera no compartilhamento de seus
pensamentos e crenças, quanto a segunda, e que a abertura oferecida para
qualquer das partes não seja utilizada como pretexto para que a outra rejeite
ou descarte qualquer idéia colocada.
A unidade fundamental da comunicação é o ato de falar, e a linguagem
é, portanto, um recurso essencial para se compreender a comunicação (Searle,
1973). A linguagem é resposta a um estímulo interno ou externo, que forma
na mente uma idéia ou uma imagem com o seu símbolo representativo, por
exemplo, um determinado nome traz à mente um certo ser ou um objetivo,
que ao evocarem o sentimento, completar-se-á o processo de comunicação. A
linguagem interpreta a realidade, modela o pensamento e pode ou não gerar
ação. Diz Chung (1996) que ao se experimentar a realidade, deve-se, antes,
conhecer os limites da linguagem. A fala pode ser expressada por meio da
linguagem (oral, escrita, mímica e corporal), sofre a influência dos filtros
mentais, com suas generalizações, eliminação e distorções (Ribeiro, 1993).
A linguagem humana, em particular, no que se refere à linguagem
corporal, é um sistema bastante complexo, considerada um fator importante
na regulação da interação social, (Gahagan, 1976). Envolve estímulo interno,
externo e sentimentos. Exige, em princípio que os símbolos, os sons tenham
significação comum para os dois indivíduos envolvidos no processo de
comunicação. Tais símbolos devem ter significado idêntico para as pessoas
envolvidas na comunicação.
O próprio estado mental que sincroniza o comportamento do indivíduo,
depende da fisiologia e da representação interna da própria pessoa, constitui
um fator importante para o processo de comunicação. Quando existe uma
representação interna negativa, é necessário que seja revestida de
questionamentos e mensagens que motivem a pessoa a manifestar o estado
mental positivo. Para que isso aconteça, a mudança deve acontecer primeiro a
nível do pensamento, visto que um estado mental favorável possibilita a
utilização do pleno potencial do indivíduo, a fim de que aconteça maior
eficiência na comunicação através da adoção e prática de uma nova atitude. A
partir de uma atitude favorável é que poderá acontecer a renovação ou
ressignificação de crenças e dos sentimentos a respeito de si, dos outros e da
vida (Ribeiro, 1993).
Nada é tão importante em um processo de comunicação quanto a
atenção consciente a tudo que esteja acontecendo com o interlocutor. Faz-se
importante evitar prejulgamentos e crenças preconceituosas no início e
durante a comunicação. Todos os comportamentos, mesmo os que nos
pareçam estranhos, têm um significado maior e uma intenção positiva, quando
analisados dentro do contexto e da experiência da pessoa que os apresenta.
Mesmo que a princípio seja complexo para aceitar, é necessário ter a
capacidade de entender essa pessoa (Chung, 1996).
O ser humano tem a capacidade, latente ou manifesta, de compreender-
se a si mesmo e de resolver seus problemas e uma tendência para exercer esta
capacidade. Este exercício requer um contexto de relações humanas positivas,
favoráveis à conservação e à valorização do eu (Rogers e Kinget, 1975)
Littlejohn (1988), refere que a comunicação resulta em mudança e esta
se origina de condições na pessoa e na mensagem evidenciada através de
atitudes, valores e comportamentos, que estão inter-relacionados. Ressalta,
que um importante aspecto da comunicação interpessoal é o fato de se
estabelecerem relações nas quais ocorrerá interação e conseqüente percepção
da mensagem. Assim, a comunicação é importantíssima em um
relacionamento interpessoal, visto que o espaço comunicacional compreende,
além da fala (expressão verbal), também gestos, a influência do lugar onde se
dá a inter-relação, a forma de olhar e de escutar. O enfermeiro se comunica
constantemente com clientes, com diversos profissionais da área de saúde,
com colegas, de tal forma que se pode dizer que a prática de enfermagem é
voltada para as relações interpessoais.
Enquanto profissionais de saúde, não podemos nos esquecer de que
nossas mensagens são interpretadas, não apenas pelo que falamos, mas
também pelo modo como nos comportamos (Silva, 2002).
O processo de comunicação pode ser resumido em: quem diz o quê;
com que intenção; como; em que condição ou contexto; para quem e com que
efeito ou resposta das pessoas às mensagens recebidas (Stefanelli, 1993).
Com base nos elementos do Processo de Comunicação necessários de
existir nas inter-relações entre o enfermeiro e a paciente; visando à efetivação
da proposta da teoria da relação interpessoal apresenta-se, a seguir o diagrama
adaptado de Stefanelli:
Diagrama 1 Elementos do Processo de Comunicação
EMISSSOR
(QUEM)
RECEPTOR
(PARA
QUEM)
CANAL (COMO)
MENSAGEM
(
O
Q
UE
)
RESPOSTA (COM EFEITO
EMOCIONAL, FÍSICO,
COGNITIVO OU UMA
COMBINAÇÃO DOS TRÊS )
1
3
2
4
5
Fonte: STEFANELLI, M.C. Comunicação com o paciente: teoria e
ensino. 2 ed. São Paulo: Robe, 1993.
2.2 Câncer de Mama
Aspectos Fisiopatológicos do Câncer de Mama
As células normais de todo organismo vivo coexistem em perfeita
harmonia citológica, histológica e funcional, harmonia esta orientada no
sentido da manutenção da vida.
É valido ressaltar que os mecanismos que regulam o contato e a
permanência de uma célula ao lado de outra, bem como os de controle do seu
crescimento, ainda constituem uma das áreas menos conhecidas da biologia.
Sabe-se, entretanto, que o contato e a permanência de uma célula junto
à outra são controlados por substâncias intracitoplasmáticas, mas ainda é
pouco compreendido o mecanismo que mantém as células normais agregadas
em tecidos.
Ao que parece, as células se reconhecem umas às outras por processos
de superfície, os quais ditam que células semelhantes permaneçam juntas e
que determinadas células interajam, para executarem determinada função
orgânica.
É notório, também, que o crescimento celular responde às necessidades
específicas do corpo e o aumento da massa celular, a mitose e a duplicação do
ácido desoxirribonucléico são processos cuidadosamente regulados.
Nas células normais, restrições à mitose são impostas por estímulos
reguladores que agem sobre a superfície celular, estímulos estes que podem
resultar tanto do contato com as demais células como da redução na produção
ou disponibilidade de certos fatores de crescimento. Fatores celulares
específicos, como, por exemplo, o aumento da massa celular, parecem ser
essenciais para o crescimento celular, mas poucos deles são realmente
conhecidos.
É certo que fatores de crescimento e hormônios, de alguma forma,
estimulam a divisão celular, entretanto, eles não têm valor nutriente para as
células nem desempenham um papel conhecido no metabolismo.
Presumivelmente, apenas sua capacidade de ligar-se a receptores específicos
de superfície celular os capacita a controlar os processos celulares.
O mecanismo de controle do crescimento celular parece estar na
dependência de fatores estimulantes e inibidores quando, normalmente,
estaria em equilíbrio até o surgimento de um estímulo de crescimento efetivo,
sem ativação do mecanismo inibidor. Tal estímulo ocorre quando, há
exigências especiais como, por exemplo, para reparo de uma alteração
tissular. As células sobreviventes se multiplicam até que o tecido se
recomponha e, a partir daí, quando ficam em íntimo contato umas com as
outras, o processo é paralisado.
Em algumas ocasiões, entretanto, ocorre uma ruptura dos mecanismos
reguladores da multiplicação celular e, sem que seja necessário ao tecido, uma
célula começa a crescer e a dividir-se desordenadamente. Pode resultar
daí um
clone de células descendentes, herdeiras dessa propensão ao
crescimento e divisão anômalos, insensíveis aos mecanismos reguladores
normais, que resulta na formação do que se chama tumor ou neoplasia, que
pode ser benigna ou maligna (carcinogênico).
O organismo humano encontra-se exposto a múltiplos fatores
carcinogênicos, com efeitos aditivos ou multiplicativos. Sabe-se que a
predisposição individual tem um papel decisivo na resposta final, porém não é
possível definir em que grau ela influencia a relação entre a dose e o tempo de
exposição ao carcinógeno e a resposta individual à exposição (Brasil, 2002b).
Com relação ao câncer de mama, não há uma etiologia única e
especifica, mas sim uma série de eventos genéticos, hormonais e
possivelmente ambientais que podem contribuir para o seu desenvolvimento
(Smeltzer e Bare, 2000).
O crescimento desordenado das células, quando detectadas em tempo
hábil, pode ser debelado, através do tratamento do indivíduo, assistido por
medicamentos, com grandes possibilidades de recuperação total ou parcial e
com a administração de fármacos (Linard, 2000).
Pesquisas no cenário do câncer de mama têm tentado identificar grupos
ou subgrupos de mulheres com maior probabilidade de apresentar a doença.
Assim, o aumento do risco para determinado fator, é indicado pela freqüência
em que a doença aparece entre mulheres que apresentam o fator em questão,
dividido pela freqüência da doença naquelas sem o fator, que é o risco
relativo.
Para isso, o estudo dos fatores de risco tem abordado a linha de
alterações histológicas do tecido mamário. Relaciona-se ao fato de que o
aumento no risco para o câncer de mama estaria direcionado com
hiperplasias
1
atípicas. Nesses casos, o risco relativo é de 4,3,
aproximadamente, passando para 10, se houver associação com história
familiar de câncer de mama (Davim et al, 2003).
O câncer, como outras doenças, tem uma história natural que se
caracteriza por um espectro que tem, ao seu início algumas células malignas -
1
Aumento localizado e autolimitado do número de células de um órgão ou tecido. Essas células são
normais na forma e na função. A hiperplasia pode ser fisiológica ou patológica. Na forma
fisiológica, os tecidos são estimulados à proliferação para atender às necessidades normais do
organismo, como ocorre com a glândula mamária durante a gestação. Na forma patológica,
geralmente um estímulo excessivo determina a proliferação, como, por exemplo, a hiperplasia
endometrial estimulada por excesso de estrogênios.
que por razões ainda não esclarecidas não são destruídas pelo sistema de
proteção natural do organismo - e vai até o estágio em que a doença é
clinicamente diagnosticável, através de seus sinais e sintomas. (Leavell e
Clark, 1976)
O estudo das alterações fisiopatológicas agregados aos demais fatores
de risco como: história familiar, nuliparidade, gravidez tardia, menarca
precoce, menopausa tardia e dieta rica em gorduras podem permitir detectar
precocemente lesões neoplásicas iniciais.
Considera-se relevante que o enfermeiro que atua no atendimento
ambulatorial detenha um leque de conhecimentos aprofundados no que
concerne à fisiopatologia do câncer de mama, para que possa, em conjunto
com os demais profissionais da saúde, desenvolver, de forma ativa e integrada
um atendimento de efetiva qualidade.
Perfil Epidemiológico do Câncer de Mama
Certamente, tanto devido ao aumento do número de cânceres de mama
diagnosticados, como devido à melhoria da informação nos atestados de
óbito, de 1979 a 2000, vem sendo registrado um aumento considerável da taxa
de mortalidade por câncer de mama entre mulheres, passando de 5,77/100.000
para 9,74/100.000 (Gráfico 1), correspondendo a uma variação percentual
relativa de +80,3% (Brasil, 2003).
Gráfico 1- Taxa bruta de mortalidade para o período de 1979 a 2000 e
estimativas para o ano 2003, em mulheres, para algumas localizações
primárias (Brasil, 2003).
Gráfico 2- Estimativas de mortalidade e incidência do câncer de mama
no Brasil de 2000 a 2003. INCA/MS
2003
2002
2001
2000
Mortalidade
Incidência
41610
36090
31590
28340
9335
9115
8690
8245
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
45000
Mortalidade Incidência
Em conformidade com o Gráfico 2 percebe-se que ao longo dos últimos
quatros anos a estimativa de casos novos para o câncer de mama no Brasil se
encontra crescente, assumindo um comportamento similar ao número de
óbitos estimados em igual período (Linard e Rodrigues, 2004). Acredita-se
que esse aumento dos números de óbitos e de casos novos esperados para o
ano 2003, na população feminina possa ser decorrente de um maior
aprimoramento do diagnóstico do câncer, e das mudanças no estilo de vida e
na história reprodutiva das mulheres em todo o mundo, em especial nos países
em desenvolvimento, mudando a prevalência de fatores de risco já conhecidos
para o câncer de mama (Paulinelli et al 2003).
No mundo, o câncer de mama, entre as mulheres, apresenta-se como a
segunda neoplasia maligna mais incidente, assim como uma causa relevante
de mortes por câncer (Parkin, Bray e Devesa, 2001).
Não existem medidas práticas específicas de prevenção primária do
câncer de mama aplicáveis à população, embora estudos observacionais
tenham sugerido que a implementação de medidas de prevenção do
tabagismo, do alcoolismo, da obesidade e do sedentarismo venham reduzindo
o risco de câncer de mama.
Avanços tecnológicos têm sido direcionados ao diagnóstico e
tratamento precoces, no sentido de melhorar a sobrevida das pacientes.
Estudos internacionais vêm mostrando um aumento global na sobrevida das
mulheres com câncer de mama, principalmente para os casos em que esta
doença se encontra em estágios clínicos iniciais (Brasil, 2003).
Segundo Parkin, Bray e Devesa (2001), na Europa, a sobrevida
cumulativa é de 91% após 1 ano e de 65% após 5 anos; nos Estados Unidos, a
sobrevida é de 96,8%, no 1º ano. Apesar de ser considerado como um câncer
de relativamente bom prognóstico, se diagnosticado e tratado oportunamente,
as taxas de mortalidade por câncer de mama continuam elevadas no Brasil,
muito provavelmente porque a doença ainda seja diagnosticada em estádios
avançados.
Com base nos dados disponíveis de Registros Hospitalares do Brasil,
60% dos tumores de mama, em média, são diagnosticados em estádio III ou
IV. Investimentos tecnológicos e em recursos humanos no âmbito de um
programa estruturado para detecção precoce desta neoplasia, e a
implementação de um sistema nacional de informações, constituem
estratégias importantes no sentido de reverter este cenário.
Detecção Precoce do Câncer de Mama
A detecção precoce ou screening significa fazer o diagnóstico do
câncer no seu estágio pré-sintomático, ou seja, antes que a pessoa manifeste
algum sintoma relacionado com a doença ou apresente alguma alteração ao
exame físico realizado por um profissional da área da saúde.
Os exames e testes laboratoriais de imagem, utilizados na detecção
precoce de um determinado tipo de câncer, não são suficientemente
esclarecedores para o diagnóstico desse câncer, antes ou são úteis apenas para
selecionarem as pessoas com suspeita de ter esse tipo de câncer, para que
testes mais específicos sejam realizados e seja confirmada ou afastada tal
suspeita. Geralmente, o teste confirmatório é uma biópsia ou exame de um
determinado tecido do corpo (anátomo-patológico).
Vale lembrar que um teste para ser considerado de screening ou
detecção precoce deve ter a capacidade de diagnosticar o câncer, antes que a
pessoa desenvolva sintoma, oferecer pouco risco ou desconforto e ter um
custo acessível. Os exemplos de teste são:
¾ Inspeção (ou exame visual) de alterações de textura
e coloração da pele, mucosa oral, retina, mama e colo uterino é
um exemplo de como se podem buscar alterações sugestivas de
uma lesão pré-maligna.
¾ A palpação também é particularmente útil, fácil de
se fazer e barata para detectar precocemente nódulos de mama,
próstata aumentada ou linfonodos alterados.
¾ Existem outros métodos para a detecção precoce do
câncer, que são testes de imagem como raio-X, ecografias ou
testes laboratoriais, como testes de sangue e urina.
Atuação da Enfermagem no Combate ao Câncer de Mama
Segundo Smeltzer e Bare (2000), apresentamos pontos a seguir como
possíveis de alertar pelo profissional de enfermagem, em seu trabalho ligado
às questões do câncer, em especial, no aspecto da prevenção:
1. Avaliar o próprio nível de conhecimento com relação à
fisiopatologia da doença;
2. Identificar as pessoas com alto risco de desenvolvimento
de câncer;
3. Participar de esforços de prevenção primária e secundária;
4. Avaliar as necessidades do paciente no que se refere aos
cuidados de enfermagem;
5. Avaliar as necessidades de aprendizado, desejos e
capacidades da pessoa;
6. Identificar os problemas de enfermagem apresentados pela
pessoa e sua família;
7. Avaliar e alertar o paciente para as redes de apoio social a
ele disponíveis;
8. Planejar intervenções apropriadas com a pessoa e sua
família;
9. Ajudar a pessoa a identificar suas próprias forças e
limitações;
10. Fortalecer na pessoa a noção de que o câncer é uma
enfermidade crônica com exacerbações agudas, e não uma doença
sinonímia de sofrimento e morte;
11. Oferecer a cooperação para manutenção da saúde
feminina, pelo cuidar em si e pelo trabalho de educador na saúde, na
qual o enfermeiro se engaja no apoio à mulher e sua família, em uma
diversidade de crises físicas, emocionais, sociais, culturais e
espirituais;
Na ação cuidativa, um dos focos da assistência, na busca do diagnóstico
precoce do câncer mamário, é a realização do Exame das Mamas, pelo
enfermeiro, através da palpação minunciosa. Este exame deve estar incluído
no exame físico geral, em pacientes do sexo feminino, esclarecem Smeltzer e
Bare (2000).
Daniel (1981), vincula as atividades de enfermagem a um plano
terapêutico de assistência, o qual se pauta no método científico. É denominado
Plano Terapêutico de Enfermagem. Entre seus elementos específicos, salienta-
se a realização do Exame Físico, como uma de suas etapas. A autora cita, ainda,
no detalhamento das observações e informações importantes no exame físico, a
necessidade de avaliação dos seios e axilas.
Durante a realização do exame das mamas, o enfermeiro deve,
terapeuticamente, comunicar-se com a paciente, aproveitando aquele
momento ímpar para também educá-la quanto à importância da realização
desse exame, sua periodicidade, reavaliação, etc, lembrando-se sempre da
importância de procurar ser convincente.
Assim, pois, o exame das mamas, como etapa do exame físico geral,
deve ser incluído no atendimento das mulheres pelos enfermeiros, por sua
importância no diagnóstico precoce da neoplasia da mama e por compor seus
métodos e técnicas de trabalho. Isto resultaria na assistência de enfermagem
completa e eficaz, em especial, quando se prestam cuidados às pacientes
vinculadas a programas de saúde da mulher.
Ressaltamos que pela necessária realização do exame das mamas das
pacientes, os profissionais enfermeiros devem buscar conhecimentos acerca
da técnica, assim como alertar gestores e administradores para a necessidade
de proporcionar e/ou facilitar oportunidades de treinamentos e atualizações
para os profissionais, de modo a estarem aptos a prestar assistência com
qualidade, reduzindo os transtornos causados ocasionados por um diagnóstico
tardio.
É, igualmente, importante que recursos ambientais, materiais e
equipamentos sejam disponibilizados ao enfermeiro para que ele realize o
exame clínico das mamas, mantendo, no mínimo, o conforto e a privacidade das
pacientes, bem como proporcionando as devidas condições técnicas de
avaliação. Devem ser disponibilizados, para este atendimento, pelo menos, uma
sala com mesa, cadeiras e uma maca ou cama, roupas apropriadas para a
paciente, mobiliário e um biombo. A presença de um espelho e materiais
educativos complementam significativamente esse material.
O trabalho de educação em saúde, visando à detecção precoce da
neoplasia da mama, constitui-se, conforme diversos autores, o foco chave da
assistência de enfermagem no apoio à comunidade feminina.
Vargas e Scain reforçam que
a enfermeira é um profissional perfeitamente capacitado para
desempenhar as funções de educação sanitária junto a grupos e à comunidade,
quer pela natureza de seu trabalho, quer pelo tipo de formação profissional que
ele receba (1983, p.39).
Faz parte da atividade de auxílio às pacientes, realizada pelo
enfermeiro, contribuir para o aumento do conhecimento sobre saúde, doença,
medicamentos e tratamentos específicos, adequados às necessidades
individuais. Em conformidade com Atkinson e Murray (1989), o primeiro
passo no sentido de ajudar pessoas a modificar seus comportamentos, deve ser
uma mudança cognitiva, de modo a torná-las conhecedoras de seus problemas
de saúde, bem como dos riscos acarretados pelo desenvolvimento dos
mesmos.
Smeltzer e Bare, expõem que:
as enfermeiras de todos os serviços têm um papel importante na prevenção
do câncer ao adquirirem o conhecimento e as habilidades necessárias para educar
a comunidade acerca dos comportamentos relacionados com a saúde, fatores de
risco associados ao desenvolvimento do câncer e métodos de rastreamento e
detecção (2000b, v.1, p.235).
Para detecção precoce do câncer mamário, é importante introduzir uma
forma educativa de laborar, abrangendo o ensino do AEM, a orientação quanto
ao controle dos fatores de risco e também a realização dos exames de rotina
(Exame Clínico das Mamas e de Imagem), dentre outros pontos.
Lembra-se, ainda, que grande parte dos nódulos na mama são detectados
pela própria mulher, de forma casual. A enfermagem deve exercer atividades
educativas, de modo a sensibilizar a importância da auto-avaliação contínua,
para que as mulheres possam adotar o AEM como rotina mensal.
Dessa forma, esta ação propicia uma busca sistematizada de
modificações mamárias anormais, com detecção do câncer de mama em
estágios iniciais de desenvolvimento. A assiduidade na realização deste auto-
exame induz a mulher a um melhor conhecimento de suas mamas, facilitando
a identificação prévia de alterações.
A atividade educativa e sensibilizadora, visando à manutenção da
saúde, está intrinsecamente ligada ao trabalho da enfermagem. Seus
profissionais são, constantemente, considerados educadores da saúde, devido
a sua formação, à disposição e dedicação a este tipo de atividade.
Chaves et al (1999), comentando o trabalho de enfermagem junto à
comunidade feminina, afirmam que a primeira atividade do enfermeiro
consiste em ensinar às mulheres a se auto-examinarem e buscarem
anormalidades externas nas suas mamas. Atkinson e Murray (1989)
confirmam, lembrando que, muitas vezes, é responsabilidade do enfermeiro
ensinar às mulheres a técnica adequada do auto-exame das mamas e explicar-
lhes a importância deste. Smeltzer e Bare (2000), apregoam, em sua obra, que
o enfermeiro está em uma posição única para informar e educar todas as
mulheres sobre os benefícios do AEM regular, assim como a importância de
procurar imediatamente um médico quando são encontradas alterações.
Assim, cremos que o papel do ensino do auto-exame das mamas a todas
as pacientes torna-se, indubitavelmente, relevante nos programas de saúde
pública. Afinal, é onde o enfermeiro detém um espaço de trabalho que
propicia esta educação, por executar assistência em diversos programas
ligados à saúde da mulher, os quais possibilitam um acompanhamento
periódico e desenvolvimento de atividades alternativas (grupos, visitas, etc.).
Por outro lado, parece-nos indispensável que os enfermeiros devam
atentar para o fato de que existe controvérsia entre o repasse de informações
via campanhas publicitárias e aquele feito através do ensinamento individual:
o primeiro meio arregimenta uma grande população de mulheres, porém, com
índice de abandono da técnica muito significativo; já o ensino individual,
mesmo não evidenciando resultados numéricos a curto prazo, é significativo
pelo seu grau de persistência (Gomes, 1994). Ainda neste sentido, Smeltzer e
Bare (2000), destacam a importância da iniciativa dos enfermeiros
desenvolverem programas educativos e de aconselhamento, visando à
orientação dos pacientes e das famílias com altas incidências de câncer.
Nesse sentido, uma contribuição fundamental dos enfermeiros no
combate ao câncer de mama, centra-se em sua atividade educativa, ao
salientarem a necessidade das mulheres realizarem os exames de rotina. Para
isto, faz-se importante o conhecimento sobre as indicações e o calendário de
realização.
O enfermeiro deve enfatizar, especialmente nas reuniões de orientação,
a sensibilização da mulher sobre a importância de sua participação na
prevenção do câncer e que ela pode ser facilitadora do diagnóstico precoce.
Deve-se discutir sobre o câncer, elaborando, com as pacientes, conceitos não-
estigmatizantes da doença e possibilidades de cura (Chaves et al, 1999).
Além disto, educando em saúde, será possível permitir a troca de
experiências e saberes, transmitir apoio e conforto, desmitificar idéias e
desfazer saberes incoerentes com a realidade, e, dentre outras realizações,
criar grupos com a finalidade de desenvolver integração e estimular as redes
de apoio psicossocial.
Com isto, o sério problema do câncer de mama que assola a
comunidade feminina, brasileira e mundial, pode, significativamente, ser
minimizado a partir do trabalho integrado e comprometido dos profissionais
de enfermagem de saúde pública, que estão na ponta da cadeia de assistência
intimamente relacionados com a população, e das lideranças governamentais,
responsáveis pela qualidade dos serviços disponíveis à clientela feminina.
2.3 A Teoria da Relação Interpessoal de Joyce Travelbee
*
e sua
contextualização no estudo
*
Joyce Travelbee foi uma enfermeira assistencial da área de psiquiatria, além de docente e escritora. Nasceu
em 1926, terminou seus estudos básicos de enfermagem na Escola do Hospital de Caridade em Nova
Orleans. Obteve seu bacharelado em enfermagem na Universidade de Lowsiana, em 1956, iniciando seu
mestrado no mesmo ano, na Universidade de Yale. Em 1973 matriculou-se no curso de doutorado, na
A teoria de Joyce Travelbee (1979), enfatiza a relação terapêutica entre
enfermeiro e cliente, por ocasião dos cuidados que reforçam a empatia e a
simpatia, particularizando o aspecto emocional.
As pressuposições básicas da teoria envolvem os conceitos de: relação
enfermeiro-cliente, pessoa, ser humano, paciente/cliente e interação
enfermeiro-cliente. Explicitamos o teor dos conceitos a seguir.
Pressuposições básicas
A relação enfermeiro/cliente, considera ser a essência do propósito da
enfermagem;
Pessoa: o ser humano experiencia conflitos e faz escolhas conforme seu
processo de conversão, evolução e mudanças;
Ser humano: indivíduo único e incomparável, ser unitemporal, neste
mundo têm a capacidade de evoluir e mudar todo tempo;
Paciente/cliente: são, na realidade, seres humanos, que necessitam de
cuidados, serviços e assistência de outros seres humanos;
Flórida, mas veio a falecer de forma prematura e inesperada, no mesmo ano. Esta é uma razão que nos leva a
encontrar poucos registros de artigos na literatura, utilizando a teoria. Ö Influências docentes e assistenciais
para o desenvolvimento de sua teoria. Sua experiência durante a formação básica em enfermagem e seus
primeiros trabalhos como assistencial em instituições católicas influenciaram sobremaneira na formulação de
sua teoria. Travelbee considerava que os cuidados de enfermagem que se davam aos pacientes careciam de
compaixão. Travelbee foi membro de várias escolas de enfermagem e teve influência de Ida Orlando, para
escrever a teoria, ressalta-se que influencia também de Vicktor Frankl. Em linhas gerais, Frankl (1992), é
contemporâneo de Sigmund Freud, e criou a logoterapia que lida com o sentido concreto de situações
concretas, nas quais se encontra uma pessoa, por sua vez, também concreta. Em conformidade com Marriner
(1989), Ida Orlando trabalhou em sua teoria a relação recíproca entre paciente e enfermeira, pois ambos são
afetados pelo que o outro diz e faz.
Interação enfermeiro-cliente: significa qualquer contato entre enfermeiro e
enfermo e se caracteriza por um elo em que ambos percebem o interlocutor,
mesmo que de maneira esteriotipada;
As definições dos pressupostos básicos clarificam alguns elementos
necessários para o desenvolvimento de um relacionamento interpessoal de
forma adequada. No desenvolvimento da ação do cuidar no processo de
comunicação é necessário o entendimento e aplicação das definições, uma
vez que trabalhamos com os componentes da teoria tendo em vista o aspecto
do enfermeiro procurar sensibilizar mulheres para a realização do auto-exame
mensal da mama.
A opção, portanto, em trabalhar com a Teoria da Relação Interpessoal
de Joyce Travelbee, deve-se ao fato de que nesta repousam pressuposições
básicas que se alencam aos conceitos de enfermagem (processo interpessoal
que valoriza a comunicação verbal e não verbal, objetivando ajudar um
individuo, família ou comunidade frente à experiências de enfermidade e
sofrimento); enfermeiro (assume, com competência e responsabilidade
profissional, tanto o papel de emissor como de receptor, em um mesmo
processo comunicativo, devendo enviar mensagens que o paciente entenda);
saúde (situação de perfeito bem-estar físico e mental e não apenas a ausência
de doença, conforme Organização Mundial de Saúde); cliente (ser humano
que requer assistência de outro humano que ele acredita ser capaz de ajudá-
lo); comunicação (ato interativo do ser humano, significada pelo envio e
recebimento de mensagens mediante símbolos, palavras -escritas ou faladas-,
signos, gestos e outros meios não verbais); e problema de enfermagem na
comunicação (inclui toda e qualquer falha ou distorção na comunicação entre
enfermeiro e cliente -falência na escuta, falha na percepção-) conforme
Travelbee (1979), Marriner e Garcia (1989).
Enfatiza, ainda, os conceitos de foco, referentes à natureza interpessoal
das relações pessoa a pessoa, buscando ajudar o indivíduo ou família a
enfrentar e compreender a experiência da dor e do sofrimento, pelos quais
passa; relacionamento enfermeiro-cliente, a experiência do encontro entre um
indivíduo (cliente) que necessita dos serviços e um outro que procura ajudá-lo
(o enfermeiro); terapêutica de enfermagem, toda intervenção de enfermagem
e ação interativa no processo de comunicação, em que o enfermeiro procura
ajudar o indivíduo ou família a aceitar e encontrar significado para sua
experiência; ação interativa, a ação recíproca que ocorre entre enfermeiro-
cliente na busca do estabelecimento de um padrão de comunicação que
possibilite ajudar o cliente a resolver seu problema.
Quando se reporta à comunicação, entende-se como a capacidade
humana para o estabelecimento de troca de informações e significados sobre o
mundo e sobre si mesmo. Refere Matheus (2000), que a comunicação em
enfermagem pode ser vista como uma competência que o enfermeiro deve
desenvolver, uma vez que, é uma das ferramentas a ser utilizada para
desenvolver e aperfeiçoar o saber-fazer profissional. Para tanto, conhecer a
comunicação como processo, colabora para a qualidade dos relacionamentos
que deverão ser estabelecidos nas relações de trabalho.
Categorizando como conceitos inter-relacionados, enfatiza Travelbee
que o enfermeiro, para ser capaz de prestar uma assistência adequada ao
paciente, deve, no desenvolvimento do processo de comunicação, utilizar-se
de sua percepção. Entende-se, aqui, por percepção, o movimento interno de
uma pessoa para tomar consciência do mundo que a cerca, decifrando-o de
acordo com suas experiências anteriores.
Assim, essa rede conceitual do processo de comunicação está
subsidiada por um processo de interação ou relação pessoa-pessoa,
enfermeiro-cliente divididos em 5 fases, a seguir identificadas, Travelbee
(1979):
I. Fase do encontro inicial: é o primeiro contato entre o
enfermeiro e o enfermo, quando se produzem as primeiras
impressões;
II. Fase das identidades emergentes, quando os envolvidos no
processo de comunicação expressam sua identidade pessoal, valores
e seus significados;
III. Fase da empatia, que ocorre quando o profissional e o
enfermo expressam o desejo de estabelecer um processo de ajuda
mútua. O enfermeiro mostra-se capaz de interpretar corretamente o
estado psicológico do outro;
IV. Fase da simpatia, momento em que o enfermeiro se coloca
como apoiador, para ajudar à pessoa a enfrentar sua doença e
tratamento;
V. Fase do rapport ou relação de afinidade, caracterizada por
uma eclosão de emoção e pensamentos relacionados ao que o
indivíduo transmite e comunica ao outro.
O contexto conceitual e processual acima descrito permeou a busca de
identificação durante os procedimentos de observação da consulta de
enfermagem ginecológica, em particular no que se relacionava à ação
interativa do cuidar, com enfoque na educação para a saúde sobre auto-exame
da mama.
Conforme padrão de comunicação proposto por Travelbee (1979),
dividido em cinco fases, detectamos como ponto central, dessa teoria a
ação do relacionamento interpessoal que ocorre entre enfermeiro-cliente,
em cada fase. Entendendo que através da comunicação o enfermeiro
realmente pode promover mudanças no comportamento da mulher. Para
um entendimento didático ilustramos, a partir de um diagrama, as fases do
relacionamento interativo.
Diagrama 2
ENFERMEIRO CLIENTE
ENCONTRO INICIAL
IDENTIDADE EMERGENTE RAPPORT
EMPATIA SIMPATIA
Diagrama 2- Padrão de Comunicação Interativa segundo Travelbee (1979)
No desenvolvimento do relacionamento interpessoal é necessário a
utilização de alguns recursos citados por Leopardi (1999), como: circuito ou
método indireto, no qual o enfermeiro deve evitar confrontação direta,
podendo usar parábolas ou o relato de experiências. Já no método direto, o
profissional de saúde promove uma interação de ajuda, formulando questões
pertinentes ou explicando, logicamente, a situação.
PERCURSO METODOLÓGICO
3- PERCURSO METODOLÓGICO
3.1 Tipo do estudo
Utilizamos, no estudo, uma abordagem qualitativa, visto ser esta mais
apropriada à aproximação e ao vislumbrar da interação entre enfermeiro e
cliente, durante o processo de comunicação ocorrido na consulta de
enfermagem ginecológica. A respeito deste tipo de abordagem, Minayo
(1996), esclarece que, na abordagem qualitativa, as hipóteses assumem mais
um papel de guia e de referência no confronto com a realidade empírica.
Corroborando Polit e Hungler (1995), ressaltam que esse tipo de pesquisa
baseia-se na premissa de que os conhecimentos sobre os indivíduos só são
possíveis com a descrição da experiência humana, tal como ela é vivida e tal
como ela é definida pelos atores sociais. Buscamos, portanto, os aspectos do
relacionamento interativo entre enfermeiro e cliente no encaminhamento,
orientações e procedimentos para a detecção precoce do câncer de mama,
durante a assistência de enfermagem desenvolvida. O nosso olhar centrou-se
nos conceitos de Travelbee (1979) e Stefanelli (1993) numa abordagem
interativa.
3.2 Local da pesquisa
O estudo foi desenvolvido no Instituto de Prevenção do Câncer do
Ceará (IPCC), sediado no município de Fortaleza–CE. É uma Unidade de
Referência Estadual que, em seu plexo, desenvolve atendimento ambulatorial
e hospitalar, especializado na prevenção e no tratamento do câncer
ginecológico e de mama, planejamento familiar, e ainda em exames
complementares e tratamentos terapêuticos especializados. A unidade, pode-
se considerar como representativa de um celeiro de informações sobre o
processo de comunicação entre enfermeiro e cliente no momento da consulta
de enfermagem.
3.3 Sujeitos
A população foi constituída por enfermeiras, que realizavam
atendimento ginecológica no IPCC.
Quanto ao tamanho da amostra, Turato (2003) enfatiza que devemos ter
em mente que para o pesquisador qualitativista não cabe raciocinar como um
apriorista no sentido de já definir o número de sujeitos do campo escolhido.
Caminhando na esteira desse pensamento, o tamanho da amostra, ou seja, o
número de enfermeiras para o estudo consideramos como critérios de
inclusão:
1-Atender no IPCC, na realização de consulta de enfermagem
ginecológica;
2-Aceitar voluntariamente participar do estudo;
3-Estar em atividade profissional durante o período da
realização da pesquisa;
De posse desses critérios, os sujeitos desta pesquisa constaram de 5
enfermeiras. Foi estipulado o número de 5 enfermeiras em decorrência das
seguintes variáveis: disponibilidade do profissional em participar do estudo;
este era o número de profissionais que durante o período de coleta de dados
não estava de licença, férias ou ocupando cargo de chefia; saturação dos
achados confirmada após o acompanhamento do atendimento da quinta
profissional e necessidade de elaboração do relatório final da tese para
cumprir os prazos acadêmicos.
3.4 Instrumentos de coleta de dados
A coleta de dados ocorreu nos meses de maio, junho e julho de 2004 e
foram utilizados como instrumentos de coleta de dados a observação livre
(Apêndice I), seguida de um questionamento feito às enfermeiras, focalizando
a comunicação (Apêndice II) e o diário de campo. A opção pela observação
livre como instrumento de coleta atribuiu-se ao fato de estarmos
acompanhando a essência do relacionamento interpessoal enfermeira-cliente
na consulta, a forma como ocorre, o diálogo que naturalmente emerge daquela
circunstância e para tanto era necessário estar presente naquele momento,
registrando, através do gravador, visto ter obtido autorização para tal e o
diário de campo, sempre com o propósito de interferir o mínimo possível no
contexto.
É válido ressaltar que o diário de campo foi utilizado durante o
processo de observação das consultas, ou seja, nos momentos de atendimento
executados pela enfermeira. Dessa forma procurou-se registrar elementos da
relação interpessoal que não são captados pelo gravador.
Nas recomendações de Lakatos e Marconi (2001), a observação livre
consiste em recolher e registrar os fatos da realidade sm que o pesquisador
utilize meios técnicos especiais ou precise fazer perguntas diretas. A
observação deve atender a características que estabelecem um rigor
necessário a pesquisa. Essas características, na concepção de Beck, Gonzales
e Leopardi (2001), referem-se à atenção, precisão, exatidão completa, ordem e
sucessão dos fatos. São aspectos que o pesquisador deverá ter condições de
deter e acompanhar, a fim de ter o conhecimento da situação e dos fatos, em
sua globalidade e com fidedignidade.
Para assegurar a qualidade das observações utilizamos o gravador e o
diário de campo, de modo que foram registrados de cada uma das cinco
enfermeiras cinco momentos distintos do relacionamento interativo (RI)
ocorridos na consulta de enfermagem. A opção por registrar 5 RI de cada
enfermeira teve em vista procurar assim situações de RI entre a enfermeira e
mulheres em ciclos de vida diferenciados. Ao mesmo tempo com que, se
considerou este número, que nos garantia saturação nas atitudes observadas
entre enfermeira e cliente, durante a consulta.
Durante a observação livre e registro no diário de campo foram
acompanhadas desde a entrada na sala de atendimento a enfermeira e sua
cliente: o diálogo oriundo do relacionamento interativo durante as orientações
sobre detecção precoce do câncer de mama, o exame clínico das mamas, a
reação da cliente e a comunicação, incluindo, entre outros, a comunicação
proxêmica e tacêsica. Após os atendimentos acontecidos em cada manhã ou
tarde de atendimento indagamos a cada enfermeira qual o seu conceito de
comunicação.
3.5 Procedimentos prévios para entrada no campo
Inicialmente, foi encaminhado o projeto de tese à direção da unidade,
para explanação do conteúdo e solicitação de autorização para utilizar o IPCC
como cenário de coleta de dados. Após obter autorização da direção, tendo em
mãos o parecer do Comitê de Ética iniciou-se o contato e convite as
enfermeiras para proceder a uma apresentação formal dos objetivos do estudo
e conseguir seu consentimento para desenvolver a pesquisa, por ocasião da
consulta ginecológica.
3.6 Organização e apresentação dos dados
Tomando-se por fundamento os objetivos propostos, de posse das
informações coletadas foi transcrito o conteúdo das observações dos vinte e
cinco relacionamentos interativos (RIs) ocorridas entre enfermeira e cliente,
centradas na detecção precoce do câncer de mama. Para organização e análise
dos dados utilizou-se o método de análise de conteúdo referenciado por
Bardin (1977), Rodrigues e Leopardi (1999). Iniciou-se uma leitura flutuante
do RIs, procurando melhor assimilar o conteúdo dos diálogos. Na fase
seguinte foram realizadas as operações de codificação dos RIs e selecionamos
as unidades de registro. A partir das unidades de registro classificaram-se os
RIs de acordo com suas congruências ou divergências de significação.
Conforme as unidades de registro oriundas dos diálogos foram estabelecidas
cinco categorias assim denominadas:
A comunicação como incentivo para a formação do
hábito do auto-exame das mamas;
Orientação da enfermeira direcionada ao bom êxito
da comunicação entre médico e cliente;
Cuidado e tecnologia no auto-exame das mamas;
A presença de fatores de risco para o câncer de
mama;
A comunicação verbal da enfermeira na consulta de
enfermagem;
A apresentação dos dados e sua análise é iniciada com um subcapítulo
denominado Caracterização dos Sujeitos da Pesquisa, seguido do cenário
físico do ambiente em que foram realizadas as consultas ginecológicas.
Diante do exposto, para o material de análise trabalhamos com base nas
cinco categorias supracitadas, as quais vêm apoiadas em quadros
demonstrativos, onde destacamos ao diálogo observado entre enfermeira e
cliente, durante o RI. Enfim para manter o anonimato atribuíram-se às
enfermeiras informantes nomes de amazonas, assim denominadas: Selene,
Melanipe, Eleutera, Crissa e Electra.
3.7 Aspectos éticos
O Projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética da Universidade de
Fortaleza e buscamos atender aos aspectos contidos na Resolução 196/96 do
Código de Ética do Conselho Nacional de Saúde, sobre pesquisa envolvendo
seres humanos (Brasil, 1996).
Nesse sentido, foi necessário esclarecer as participantes acerca do
estudo, seu objetivo, de forma a torná-las cientes do sigilo conferido às suas
informações, e às suas identidades. A anuência de todas foi documentada pela
assinatura de um termo de consentimento (Apêndice III), sendo que a
participação das enfermeiras foi voluntária e, mesmo após terem assinado o
termo de consentimento livre e esclarecido, poderiam retirar-se do estudo a
qualquer momento que desejassem.
Daí, o respeito pela liberdade e autonomia dos sujeitos, procuramos
preservar a identidade dos sujeitos, no decorrer do trabalho, foi adotada uma
denominação por nomes fictícios, podendo tais nomes ser escolhidos pelas
participantes.
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
4- ANÁLISE DOS DADOS
Neste capítulo, a partir da caracterização dos sujeitos da pesquisa,
procedeu-se à apresentação do perfil de cada profissional, no que envolve
particularidades que evidenciam o seu nível de maturidade.
4.1 Caracterização dos sujeitos da pesquisa
Cada ser humano é único e por sua singularidade apresenta diferentes
maneiras de ser. Quando nos reportamos a profissionais de saúde, devemos
considerar que cada enfermeira é legalmente e por formação capacitada para
realizar a consulta de enfermagem ginecológica. Entretanto é necessário
considerar que a forma de comunicação e de operacionalização da consulta de
cada enfermeira, pode ser diferente. A seguir, discorreu-se um pouco, sobre
cada uma, em particular a fim de distingui-la das demais.
i. Selene é casada, tem 50 anos, 3 filhos, fez especialização e
possui renda de 9 salários mínimos.
ii. Melanipe é divorciada, tem 45 anos, 3 filhos, fez
especialização e possui renda de 8 salários mínimos.
iii. Eleutera é solteira, tem 42 anos, sem filhos, fez mestrado e
possui renda de 10 salários mínimos.
iv. Crissa é casada, tem 48 anos, 2 filhos, fez especialização e
possui renda de 8 salários mínimos.
v. Electra é casada, tem 45 anos, 3 filhos, fez especialização e
possui renda de 8 salários mínimos.
Vemos, portanto, como perfil básico dessas enfermeiras, que suas
idades estão na faixa de 40 a 50 anos; somente uma não tem filhos; todas têm,
pelo menos, título de especialista, 1 tem o mestrado e recebem em uma faixa
de 8 a 10 salários mínimos, o que nos mostra um razoável nível de maturidade
profissional e científica, podendo-se considerá-las como profissionais de
padrão condizente com realização de um competente atendimento à cliente
em consulta ginecológica.
4.2 Cenário físico onde se realizaram as consultas de enfermagem
Na representação gráfica abaixo, mostramos, conforme nossa percepção
e segundo registros do diário de campo, a disposição física, incluindo
mobiliário do ambiente onde a enfermeira processava o atendimento da
cliente em consulta ginecológica.
banheiro
espelho
mesa ginecológica
mesa de espéculos, gases e pinças
cadeira
armário
p
orta
3,60 m
3,60 m
Diagrama 4 - Estrutura física da sala de atendimento à cliente
*
É importante destacar que as salas onde acontecem as consultas de
enfermagem ginecológica são similares em relação ao espaço físico,
distribuição dos móveis e posicionamento das enfermeiras durante o
atendimento. O fluxo de atendimento acontece da seguinte forma: a cliente
chega ao IPCC por volta das três ou quatro horas da madrugada, de maneira
desconfortável aguarda numa fila o início dos trabalhos no SAME, que
acontece por volta das seis e meia da manhã.
Nesse momento é aberto o prontuário, sendo então a cliente
encaminhada à sala onde será atendida, enquanto aguarda ser chamada, a
cliente permanece sentada em banco próximo à porta do consultório, para o
qual foi encaminhada.
A funcionária do SAME se dirige ao consultório e entrega à auxiliar de
enfermagem os prontuários selecionados para serem atendidos pela
enfermeira. De posse dos prontuários, a auxiliar de enfermagem inicia o
preparo do material a ser usado durante o exame de prevenção, assim como os
mapas de lâminas para serem preenchidos.
A enfermeira chama a primeira cliente, em seguida senta-se na cadeira
1 e indica a cadeira 2 para a cliente se sentar. É iniciado pela enfermeira o
*
Diagrama elaborado por Linard (2005)
cadeira 1
mesa
mesa de recolhimento dos
p
rontuários e lâminas
porta de entrada e saída
parede
cadeira 2
inquérito ginecológico, levando em consideração as informações que já
possam existir no prontuário e atual queixa da cliente. Durante esse processo,
acontecem algumas interrupções por parte da auxiliar de enfermagem, que
procura saber o nome da cliente, para adiantar a identificação lâmina, assim
como algum funcionário ou outra cliente também bate à porta e interrompe a
consulta para buscar ou esclarecer algum tipo de informação.
Finalizada a anamnese, a cliente 1 é encaminhada ao banheiro,
orientada a despir-se, vestir uma bata e aguardar ser chamada; enquanto isso,
a enfermeira chama a próxima cliente e repete todo o procedimento de
inquérito ginecológico. Feito isso, a segunda cliente aguarda sentada na
cadeira 2, enquanto a enfermeira se dirige à mesa ginecológica e chama a
cliente 1 para o exame clínico das mamas e colheita citológica. Nessa
oportunidade, a cliente 2 é orientada a ir ao banheiro despir-se, vestir a bata e
aguardar ser chamada. Concomitante a esse momento, a enfermeira está
realizando os exames na paciente 1 e anotando os achados no prontuário. Por
ocasião do término dos exames, a cliente 1 levanta-se da mesa ginecológica e
troca de lugar com a cliente 2 que esta aguardando no banheiro.
Esta dinâmica de atendimento agregada ao volume de clientes
atendidos (em média 16) de 07:30 as 11:00 ou de 13:30 as 17:00 diariamente
na unidade por cada enfermeira e as interrupções que ocasionalmente
acontecem durante a consulta, funcionam como elementos dificultadores para
o estabelecimento de um relacionamento interpessoal eficaz entre enfermeira
e cliente.
O ambiente, a disposição dos móveis, como cadeira 1, cadeira 2 e mesa,
também são elementos que exercem efeitos sobre as pessoas. Silva (2002)
afirma que os ambientes formais provocam maior distância entre
desconhecidos e maior proximidade entre conhecidos, da mesma forma a
disposição da mobília pode demonstrar e afetar o relacionamento das pessoas.
Vejamos os seguintes exemplos:
Fonte: Silva (2002)
Pelos exemplos de disposição da mobília, percebemos que o diagrama 4
retrata o exemplo 3, no qual o profissional da saúde senta-se em frente à
cliente, com uma mesa no meio criando um ambiente competitivo. Silva
(2002) ressalta que situar-se estrategicamente em relação a outra pessoa é um
modo efetivo de obter sua colaboração. Na consulta de enfermagem
X
X
Ex 1 - Conversação
X X
Ex 2 - Cooperação
X
X
Ex 3 - Competição, poder
Ex 4 - Ações separadas
X
X
No ex 1 vemos que um dos elementos está posicionado em um lado da mesa,
enquanto o outro esta no lado subseqüente, facilitando o contato visual e por
conseguinte a conversação.
No ex 2 temos as pessoas lado a lado na mesa, o que facilita a cooperação, mas
reduz parte do contato visual.
No ex 3 ambos os elementos estão em lados opostos da mesa, o que já revela o
sentimento de poder, no qual um pode sobressair em relação ao outro.
No ex 4 as pessoas estão diametralmente opostas, o que dificulta a agregação de
ações.
ginecológica e principalmente no momento em que a enfermeira desenvolve
as orientações sobre auto-exame das mamas a posição ocupada pelo
profissional no espaço físico da sala de atendimento poderá favorecer o
desenvolvimento de um relacionamento interativo produtivo no sentido de
credibilidade na informação recebida e assimilação do conteúdo ora ensinado
a paciente.
Para compreensão das categorias, diante dos achados, procuramos
apresentá-las e analisá-las, conforme a explicitamos a seguir.
4.3 CATEGORIA N
o
1: A comunicação como incentivo para a
formação do hábito do auto-exame das mamas
Na análise desta categoria destaca-se a efetividade potencial da prática
do auto-exame das mamas (AEM), a partir da clara alusão a sua importância
como requisito para o autocuidado no cotidiano feminino. Mediante o
entendimento da mulher sobre a importância do AEM, isto é, do toque nos
seios orientado por método propedêutico, a ser realizado uma vez por mês
após a menstruação e no inicio de cada mês em mulheres menopausadas, o
profissional de saúde conjuga mais esforços no rastreamento do câncer de
mama. A categoria destaca a comunicação verbal e não verbal, na qual devem
emergir relacionamentos interativos entre enfermeira e cliente.
A presente categoria envolve um procedimento de grande importância
denominado AEM, visto propiciar à mulher a oportunidade de conhecer mais
detalhadamente a glândula mamária e perceber com brevidade a existência de
alguma alteração anteriormente não identificada à palpação. Este
procedimento e sua importância devem emergir, naturalmente, durante ou ao
final de uma consulta clínica realizada pela enfermeira, que precisa ter em seu
planejamento de consulta um momento reservado para a realização do exame
clínico das mamas (ECM) e orientação sobre o AEM, durante sua conversa
com a mulher.
Por outro lado o profissional pode organizar sua intervenção
subdividida em alguns diferentes momentos, podendo ser os mesmos:
enfatizar a importância do AEM, destacando a necessidade da cliente
examinar o seio; esclarecer, com minúcias o período ideal do mês para a
realização do mesmo; o posicionamento adequado das mãos direita e esquerda
e do corpo da mulher. O espaço físico da sala de exames onde o
relacionamento interativo acontece estava dividido com a auxiliar de
enfermagem e com a pesquisadora, que em geral, devem evitar interferir
nessa ação e consequentemente no processo de comunicação.
Na busca de compreender o “como acontecem” as atividades realizadas
pela enfermeira durante a consulta ginecológica, considera-se que cada
mulher a ser atendida é única, portanto cada um dos momentos interativos em
que se observa o ECM das mamas, mesmo que esses sigam protocolos de
atendimento similar, era percebido por nós como singular, havendo formas
diferenciadas de ocorrência dos diálogos.
A comunicação que comumente acontece no espaço interativo da
consulta, por ocasião do exame ECM realizado pela enfermeira na cliente, é
concomitante à rápida conversa com a cliente enquanto operacionaliza o
procedimento de ECM, quando enfatiza a importância do auto-exame e o
período adequado para sua execução, que é no primeiro dia, após o término
do período menstrual, quando a mulher ainda tem menstruação, e na primeira
semana de cada mês, quando ela já não mais apresenta o sangramento
menstrual mensal. O profissional de saúde, certamente devido à dinâmica
corrida de atendimento, visto o grande número de mulheres a serem atendidas
isto é, em média, dezesseis mulheres, estabelece uma conversa em tom
neutro, com uso de frases curtas, o que, certamente, desencadeia, por parte da
mulher também, respostas breves, muitas vezes emitidas através de gestos,
como o balançar da cabeça ou o silêncio eloquente.
Observamos que o diálogo acontece após o levantamento das
informações referentes à anamnese ginecológica e antes de ser feita a colheita
citológica de material para a confecção da lâmina para o teste de prevenção
do câncer de colo de uterino ou detecção precoce do mesmo. O seu contexto
mostra que a enfermeira chama a atenção da cliente para os aspectos relativos
à importância da operacionalização do auto-exame no domicílio, o segmento
corporal que a mulher deve examinar, assim como detalhes da periodicidade
dessa realização.
No quadro a seguir, vêm apresentados fragmentos extraídos dos
diálogos estabelecidos entre profissional e cliente observados durante os RI
cujas falas vieram denominar a categoria. Este quadro está organizado em
duas colunas; na primeira estão dispostos questionamentos e/ou comentários
feitos pela enfermeira, e na 2
a
coluna, a fala das clientes.
QUADRO N
o
1 A comunicação como incentivo para a formação do
hábito do auto-exame das mamas
Enfermeira Cliente
Examine a mama todo mês. Tu
mesmo lá na tua casa. (RI n
o
1)
Responde afirmativamente
balançando a cabeça.
É importante a mulher
examinar a mama todo mês. (RI n
o
2)
Silêncio.
É importante examinar a mama
depois que ficar boa da menstruação.
(RI n
o
3)
Silêncio.
Examinar os seios todo mês
você mesmo lá na sua casa. Não tem
mais regra então você procura um dia
do mês para examinar. (RI n
o
4)
Certo!
Examine o seio em pé, deitada,
quando for tomar banho, essa região
(mamária e axilar). (RI n
o
5)
Silêncio.
O auto-exame de mama é
importantíssimo que ele seja feito
mensalmente. (RI n
o
6)
Silêncio.
Identificamos, pelo diálogo apresentado no quadro 1 a ênfase dada pela
enfermeira na orientação do AEM a ser realizado mensalmente, apresentando
como referência para o período a ser realizado o exame, a data da
menstruação ou, na inexistência desta, o início de cada mês. Esta orientação
tem por intenção, certamente estimular a cliente para a mudança de um
comportamento ou confirmação de um comportamento já anteriormente
adotado. É, portanto, importante, que a habilidade da cliente seja checada,
pelo profissional, no sentido de obter o feedback para essa orientação,
garantindo a efetividade de sua comunicação, verificando se ela está
realmente sendo valorizada, a fim de buscar meios para aprimorar a forma de
transmitir mensagens às mulheres. Silva (1989), afirma que o feedback
consiste em solicitar e receber mensagens dos outros em termos verbais e não
verbais, para conhecer o grau de impacto de sua comunicação com o outro. O
feedback constitui uma técnica de comunicação que possibilita ao profissional
aferir de forma imediata o quanto orientações estão sendo absorvidas pela
cliente e no caso de falhas na interpretação dessas orientações oportuniza
complementá-las ou reforçá-las, procurando respeitar sempre o ritmo de
aprendizado de cada individuo.
O espaço do ECM pode ser chamado e percebido de interativo, pois
oportuniza o estabelecimento de um processo de interação, no qual o
profissional pode desenhar um padrão de comunicação que, conforme
Travelbee (1979), permita aos participantes conhecerem-se um ao outro, de
maneira singular/única e assim se estabeleça uma relação de ajuda, ou seja, a
enfermeira possa estabelecer um vínculo de confiança com a cliente,
influenciado-a para uma mudança de comportamento que reflita na adesão e
na prática do auto-exame das mamas.
Portanto, pensar a comunicação interativa como um meio de cuidado
propicia ao profissional desenvolver uma prática assistencial voltada também
para o subjetivo, em vez de uma rigidez de objetividade, uma vez que a
interpretação correta da mensagem, tanto por parte do profissional como do
usuário é o passo inicial para um relacionamento de confiança mútua que
resultará na solução dos problemas da paciente.
Entretanto, pôde-se observar o estabelecimento de uma comunicação
que nos parece ser mecanizada e repetitiva, uma vez que percebe-se serem
priorizadas apenas as orientações e não também a certeza da compreensão das
informações fornecidas às pacientes. É o caso, por exemplo quando a
enfermeira repete:
É importante examinar a mama.
É importante a mulher examinar a mama.
No contexto da comunicação enfermeira x cliente há evidências de uma
forma de expressão, ao mesmo tempo fria, sintética e que não envolve
qualquer componente emocional.
O espaço institucionalizado, onde é processado o modelo de assistência
à saúde recomendado pelo sistema único de saúde e adotado no País, ao longo
das últimas décadas, reflete a política de atendimento preconizada pelo
Ministério da Saúde a ser reproduzida pelos municípios. Consideramos,
portanto, que o referido modelo político é um dos responsáveis pelo tipo de
comunicação verbal que presenciamos durante a consulta, ou seja, uma
comunicação mecanizada, já que se restringe apenas às questões
ginecológicas presentes na ficha de atendimento e que necessariamente são
consolidadas posteriormente, para efeitos quantitativos do número de
atendimentos realizados em prevenção de câncer de colo de útero. É um
modelo que privilegia as ações e não as pessoas, reflete uma preocupação em
cumprir a norma operacional básica de assistência à saúde (NOAS), deixando
em segundo plano o “como” estas atividades estão direcionadas ao ser
humano, a fim de que atinjam um objetivo maior, veiculadas durante o
interagir, o estabelecimento de uma comunicação interativa do profissional
com a cliente.
Stefanelli (1993) considera que cada momento da comunicação é único
e não se repete; por exemplo, a enfermeira que enfatiza a importância do auto-
exame das mamas, há anos, com uma mesma cliente, nunca o faz da mesma
forma, por mais que se esforce; há sempre condições diferentes, tais como o
estado de humor, local, espaço físico, tom de voz e talvez o modo de perceber
os sentimentos da cliente. Ao mesmo tempo em que se concorde com
Stefanelli (1993) alertamos a enfermeira sobre o dever de, inclusive,
aproveitar o ensejo para fazer novos planejamentos, introduzindo itens a mais
nessa orientação, ou reforçando algum que lhe pareça de importância
fundamental para a compreensão de questões mais amplas sobre a
mortalidade feminina no Brasil, ao longo dos últimos anos. A autora refere
que a comunicação já não pode ser considerada apenas como um dos
instrumentos básicos da enfermagem ou do desenvolvimento do
relacionamento terapêutico. Ela tem de ser considerada uma habilidade ou
competência interpessoal a ser adquirida pelo enfermeiro, não importando sua
área de atuação.
O profissional de saúde que busca o aprimoramento da qualidade do
seu cuidado, identifica a necessidade de lapidar sua competência interpessoal,
na medida em que se permite vivenciar continuamente o processo de
relacionamento interativo. A competência interpessoal, de acordo com
Moscovici (1985), deriva da percepção acurada da situação interpessoal, na
qual o profissional se coloca no lugar do outro e da habilidade de resolver
realmente os problemas, buscando vários ângulos da mesma situação. É
importante que ela entenda que sua competência há de ser evidenciada
segundo o resultado das orientações por ela fornecidas. É necessário que ela
procure buscar essa performance, empenhando-se em aprimorar o resultado.
Pode-se observar, que a enfermeira enfatiza ser importante examinar a
mama todo mês, entretanto ela não apresenta justificativas para esta
informação, o que, poderá parecer a qualquer cliente mais perspicaz que, ou
aquele profissional desconhece, com segurança os motivos que justificam a
necessidade da mulher examinar a mama todo mês, ou, por algum motivo,
teme completar a informação. Pode-se até imaginar, nesse pormenor, algum
possível preconceito ou mesmo postura que reforça o preconceito sobre o
câncer, visto que a informação é fornecida de forma incompleta, temerosa,
talvez.
No diálogo interativo entre enfermeira e cliente é importante que a
mensagem transmitida a respeito do auto-exame, seja clara, objetiva
precedida de detalhes sobre como fazê-lo, para que o mesmo fique mais
consistente. Entretanto, a mensagem percebida na interação ocorrida durante
as consultas deixa a desejar, em termos de complementação quanto ao
conteúdo dessa informação, uma devolução, talvez, da forma como é
compreendida pela cliente, associada à demonstração da habilidade para esta
atividade, a operacionalização do AEM. Ao mesmo tempo, percebemos uma
ausência de justificativas concretas sobre o porquê do referido exame deve ser
realizado; será que essa dúvida não pairará também na cabeça da mulher que
recebe a orientação? Fica a dúvida se este aspecto teria alguma importância
para a enfermeira. Em caso negativo, em que nível de concretude estará ela
centrando sua atividade profissional?
Na verdade para quem trabalha em sistemas de atendimento à saúde, é
importante considerar que uma comunicação adequada deve diminuir
conflitos, reduzir mal-entendidos, ter um objetivo definido, informar, oferecer
feedback adequado e captar informações (Silva, 2001). A atuação da
enfermeira é capaz de subsidiar com maior consistência as informações
verbais concernentes ao AEM, aprofundando, com propriedade, a qualidade
das informações e evitando deixar frágeis afirmações, como: é importante a
mulher examinar a mama todo mês, com franca aparência de ausência de
eloqüência, de confiança em algum propósito aí embutido.
4.4 CATEGORIA N
o
2 Orientação da enfermeira direcionada ao
bom êxito da comunicação entre médico e cliente
A categoria ora descrita retrata o modelo de comunicação utilizado pela
enfermeira à cliente, tendo em vista subsidiar uma comunicação eficaz entre a
paciente e o profissional médico, no sentido de que a paciente possa ter sua
solicitação de exame mamográfico atendida pela Unidade Ambulatorial, no
que diz respeito a uma intercomunicação da cliente com o profissional
médico. Vejamos o diálogo estabelecido entre enfermeira x cliente, aqui
sintetizados.
QUADRO N
o
2 Orientação da enfermeira direcionada ao bom êxito
da comunicação entre médico e cliente
Enfermeira Cliente
No dia do resultado você peça
(diz) “doutor eu nunca fiz uma chapa
da mama”. (RI n
o
1)
Eu tinha vontade....
Doutor eu já estou com 46
anos nunca fiz um exame de mama,
peça um pra mim. (RI n
o
2)
Certo.
Mediante o diálogo entre enfermeira x cliente as orientações acontecem
no momento em que a enfermeira percebe que existe a necessidade real da
cliente de realizar a mamografia; essa necessidade é expressa pelo desejo da
paciente e pelas características da história ginecológica. No contexto de
funcionamento das consultas na unidade de saúde é comum a
interdisciplinaridade entre os profissionais de saúde derivando, portanto, a
necessidade de explicar o protocolo utilizado para ser emitido a solicitação de
uma mamografia que deve ser feito pelo profissional médico. Nesse sentindo
a comunicação do médico com a paciente deve acontecer sem ruídos ou falhas
de compreensão, havendo nas falas do quadro o cuidado por parte da
enfermeira ao orientar como deve acontecer a solicitação verbal da paciente
junto ao médico. A enfermeira utiliza aí a função de informação da
comunicação que segundo Stefanelli (1993), consiste no envio de mensagens
ao receptor, de acordo com a necessidade deste, conforme a percepção do
emissor, dependendo de cada situação.
Portanto, impacta chamar a atenção para os profissionais de saúde que
são pessoas determinantes no relacionamento interativo, isto é, devem ser,
imbuídos, efetivamente agentes de transformação dos significados embutidos
na linguagem verbal da mulher a respeito das experiências no cuidado ao
longo de sua saúde mamária. Percebe-se que a informação oferecida pela
enfermeira funciona como ferramenta no processo de autonomia da cliente,
uma vez que, quanto mais informada a cliente estiver, mais opções terá de
escolhas para decidir o que é melhor para si. Ainda nesse contexto, devemos
considerar que as orientações para uma boa comunicação estão intimamente
relacionadas com a otimização do aporte de serviços dos profissionais que a
unidade ambulatorial coloca à disposição do usuário do SUS e em
atendimento ao princípio de integralidade. Segundo a Constituição Federal
(Brasil, 1991), integralidade é o atendimento integral, com prioridade para as
atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais, o que
possibilita a articulação em diversas dimensões ou lógicas das ações e dos
serviços de saúde: promoção, proteção, recuperação, atividades preventivas e
assistenciais.
Nessa esfera, também podemos entender uma dimensão da
integralidade, expressa, exatamente, na capacidade dos profissionais para
responder ao sofrimento manifesto, por exemplo, na ocasião de uma consulta
ginecológica, na qual a enfermeira escuta com atenção o relato de uma cliente
a respeito de um nódulo encontrado. O momentâneo sofrimento que pode
estar sendo expresso pela cliente no exemplo citado resultou da demanda
espontânea que teve espaço para acontecer dentro da oferta relativa das ações
ou procedimentos preventivos em uma unidade de saúde. Para os
profissionais, isso significa incluir no seu cotidiano de trabalho rotinas ou
processos de busca sistemática daquelas necessidades mais silenciosas, posto
que podem estar menos vinculadas à experiência individual do sofrimento.
Para os serviços, isso significa criar dispositivos e adotar processos coletivos
de trabalho que permitam oferecer, para além das ações demandadas pela
própria população a partir de experiências individuais de sofrimento, ações
voltadas para a prevenção ou detecção precoce do câncer de mama.
Por outro lado, a informação deve proporcionar às clientes a
compreensão sobre o que o profissional está lhes propondo, e uma vez
dispondo do conhecimento possam entender a complexidade do que possa
estar lhes ocorrendo, propiciando, assim, um caminho questionador a respeito
do atendimento que lhes é oferecido. É preciso reconhecer que a realidade
atual impõe o desafio de visualizar a comunicação, não apenas como uma
troca de mensagens sem efeitos, mas sim uma comunicação dialógica no
sentindo de incorporar o diálogo interativo como uma experiência única, na
qual a enfermeira busca ajudar o outro a resolver seus problemas a partir de
relação recíproca de confiança.
4.5 CATEGORIA N
o
3 Cuidado e tecnologia no auto-exame das
mamas
A categoria “cuidado e tecnologia no auto-exame das mamas” dá
ênfase à enfermeira na realização de sua atividade básica de enfermagem que
é o cuidar/cuidando. No exercício dessa modalidade de sua atividade,
cuidar/cuidando a enfermeira demonstra, através de palavras e gestos a forma
como a cliente deverá realizar o auto-exame das mamas. Sabe-se que esse
cuidado é, especificamente, de maior importância, tanto para a mulher e sua
família quanto para a sociedade, propriamente dita, uma vez que o AEM, com
toda a naturalidade e simplicidade que o mesmo envolve é uma técnica que
contribui sobremaneira para o rastreamento precoce de tumores de mama,
haja vista já 90% dos cânceres de mama serem detectados pela própria mulher
(Thuler, 2003). Tendo ficado provado, em estudos, que mulheres, ao praticar
o auto-exame mais freqüentemente, aprendem, mais facilmente, a notar
qualquer modificação nas mamas, de um mês para o outro, como também
podem detectar tumores pequenos e um estágio clínico mais favorável ao
tratamento da doença do que aquelas que nunca realizam essa prática (Davim
et al, 2003). Consequentemente, a realização do AEM poderá contribuir
significativamente para elevar o padrão de saúde em mulheres, repercutindo
na saúde da população em geral. A ocorrência do câncer acarreta, via de
regra, repercussões, não só para a saúde física, mas também para alguns
aspectos familiares, psicológicos, sociais e econômicos, uma vez que o câncer
de mama tornou-se um paradigma da doença maligna com todas as suas
repercussões psicossociais (Fernandes, 1997). Revela-se, portanto, a
enfermeira, na relação interativa de compartilhar conhecimento, sensibilidade,
habilidade técnica e espiritualidade, elevando o outro e ajudando-o a crescer.
Sobre esses aspectos foram selecionados, para ilustrar essa categoria,
fragmentos de diálogos entre enfermeiras e clientes, os quais, vêm a seguir
apresentados no quadro n
o
3 e posteriormente discutidos.
QUADRO N
o
3 Cuidado e tecnologia no auto-exame das mamas
Enfermeira Cliente
A senhora vem com essa
mãozinha direita e levanta o braço
esquerdo acima da cabeça (RI n
o
1)
Levanta assim?
Vem lá da axila, vem fazendo o
contorno da região mesmo para
sentir se tem alguma alteração. E no
final a senhora faz uma leve
expressão no mamilo para ver se
existe alguma secreção (RI n
o
2 )
Hum-Hum.
Com a mão direita examina a
mama esquerda e com a mão
esquerda examina a mama direito (RI
n
o
3 )
Silêncio.
Levante o braço e você começa
a palpar aqui dessa região e faz o
seio como se fosse um relógio (RI n
o
4 )
Silêncio.
Vê-se pela fala extraída do diálogo do RI n
o
1 que a enfermeira
comunicou-se com a paciente utilizando termos bastante adequados, uma vez
que mostram características, ao mesmo tempo respeitosos e carinhosos, e
também, devidamente direcionados para o fim desejado, ou seja, ela explicita
os movimentos que devem ser feitos tanto com a mão direita, como com o
braço esquerdo, até que altura o braço deve ser elevado, descendo, portanto a
pormenores quanto à realização do procedimento de cuidado com a saúde
relacionada ao objetivo primário do AEM.
Dentro desse mesmo contexto, a explicitação detalhada é uma ação
necessária, uma vez que no desenvolvimento de suas atividades, a enfermeira
deve, além de demonstrar as etapas propedêuticas do auto-exame das mamas
para as usuárias do sistema único de saúde (SUS), direcionar esforços no
sentido de encaminhar a informação de tal forma que essa informação seja
devidamente acolhida pela paciente, em seu espaço subjetivo, a fim de que
possa haver a necessária assimilação. Será, provavelmente, a partir da forma
como a mensagem é passada ao interlocutor, que este certamente irá realizar o
que estiver explícito em seu conteúdo, que haverá um acolhimento favorável
da informação, associado tanto com a terminologia adotada, quanto com a
clarificação dos termos utilizados pelo profissional, o que poderá garantir o
entendimento da mensagem.
Isso, desde que a comunicação verbal seja facilitada pela utilização de
uma linguagem acessível, evitando-se o uso de jargões e de termos técnicos,
nem sempre compreensíveis à pessoa com quem se fala, essa certamente irá
obter a ressonância desejada. Esses fatores poderão facilitar a comunicação,
especialmente para que aconteça uma efetiva compreensão da mensagem. É
importante que as palavras usadas, sejam claras, de fácil compreensão e
tenham um significado comum, conforme seja o repertório do outro, para ser
reconhecido por ele, e tenha em consideração também, o grau de escolaridade
do mesmo, seu vocabulário, suas expectativas e suas crenças, (Silva, 2002).
Considerados esses aspectos, amplia-se a chance de êxito da enfermeira em
alcançar uma sólida adesão das usuárias do serviço ao hábito de realizar
mensalmente o AEM em domicilio.
É nessa perspectiva que a ação da profissional enfermeira pode
alcançar, inclusive, os diferentes saberes, histórias, modos de ser e de viver,
visto estar ela própria inserida no mesmo contexto cultural, social, histórico e
político, salvo algumas variações, que porém não lhe são estranhas, aos quais
estão, também inseridas as pessoas com as quais ela lida, no cotidiano de sua
prática profissional.
Deste modo, deverá ela, então, tomar em consideração esses aspectos
tendo em vista caminhar no sentindo de construir uma linguagem ao alcance
da cliente, de forma a manter com a mesma uma comunicação de fato, para
que possa motivá-la a intensificar esforços no aprendizado da técnica correta
de detecção precoce de nódulos mamários, através das técnicas de inspeção,
palpação e expressão mamária.
Dentre os achados observados viu-se, pelo diálogo acima apresentado,
que a técnica do AEM foi, com muita simplicidade e propriedade, apresentada
pela enfermeira à cliente sob seus cuidados e orientações. A continuidade
desse processo interativo influenciará, certamente, a população feminina,
conclamando-a a uma mudança comportamental, baseada na adoção de um
hábito simples, sem custos financeiros e que apresenta resultados positivos,
mas, sendo porém, necessário que passe a constituir um novo hábito e crença,
visto que para a geração atual não foi ainda passado de avó para mãe e de mãe
para filha, faz-se necessário haver um forte empenho na repetição desse
ensinamento.
É importante ressaltar que as pesquisas indicam impacto significativo
do AEM na detecção precoce do câncer de mama, registrando-se tumores
primários menores e menor número de linfonodos axilares invadidos pelo
tumor (ou por células neoplásicas) nas mulheres que fazem o exame
regularmente, além de haver também detecção de pequenas mudanças nas
propriedades físicas das mamas, o que têm diminuído a probabilidade de
metástase e aumentando a sobrevida (Monteiro et al, 2003). Referidos
aspectos vêm influenciando também no tratamento subseqüente, que é
indicado em esquemas que produz menor sofrimento para a mulher, visto seu
menor teor de toxicidade.
O contexto dessa tecnologia específica, isto é a demonstração do AEM
para a paciente sempre que necessário deve ser ensinado através de
demonstração prática, inclusive com o auxílio de recursos audiovisuais, a fim
de enriquecer a dinâmica de demonstração, tornado-a mais agradável aos
olhos da cliente, menos cansativa e mais propícia a motivar uma adesão
coletiva, simplificada e a posterior solicitação de feedback dessa técnica, da
melhor forma possível. Linard, Machado e Macedo (2003) enfatizam que a
técnica do AEM, pode contribuir para melhorar a qualidade de vida da mulher
e funcionar como importante meio para auxiliar o diagnóstico precoce do
câncer de mama. Este recurso de detecção do nódulo mamário, pode ser
realizado continuamente nas unidades do Programa de Saúde da Família
(PSF), por ocasião da consulta de prevenção, associada com palestras e
oficinas para a discussão do tema.
Outro aspecto relevante reside no fato de que apenas transmitir/divulgar
a informação não é suficiente para a mudança de comportamento, já que a
prática do AEM depende da decisão da cliente, a partir da compreensão e
interpretação que tem da possibilidade de detecção e de ser responsável pela
própria saúde. Entendo que os profissionais detêm um papel importante neste
processo, devendo atuar junto à clientela, no que concerne a realização
mensal do AEM, prevenção anual e orientar a procura de um profissional de
saúde, caso venha a encontrar alguma anormalidade. E considero ser
responsabilidade de todos, poder público e sociedade o compromisso com a
divulgação e prática do AEM, buscando o controle dessa patologia que atinge
a população feminina. (Linard et al, 2002).
O estudo de Monteiro et al (2003), realizado com 505 mulheres
entrevistadas, revelou que a quase totalidade das entrevistadas (96,0%),
conheciam o AEM, contudo menos de um terço dessas o realizavam
corretamente. Dentre as que não o realizavam (114), o principal motivo era o
desconhecimento da técnica, com 55 mulheres, representando 48,2% do total.
Thuler (2003), destaca que é essencial educar a população e os
profissionais de saúde para o reconhecimento dos sinais e sintomas precoces
do câncer, contribuindo para sua detecção em estágios menos avançados e
aumentando as chances de sucesso do tratamento preconizado.
Por esses aspectos e outros, como pesquisadoras na temática é válido
lembrar que a detecção precoce do câncer de mama por meio do ensino do
auto-exame seja de responsabilidade de todos os que assistem a clientes do
sexo feminino, e não apenas daqueles que atuam em programas específicos
para esse fim. É necessário que os profissionais da saúde e nós pesquisadores
estejamos empenhados nesse exercício a fim de que realmente possamos
contribuir sempre mais para a efetiva e correta prática da técnica do AEM na
população feminina.
4.6 CATEGORIA N
o
4 A presença de fatores de risco para o câncer de
mama
Nesta categoria reporta-mos ao momento do relacionamento interativo
no qual o diálogo da enfermeira x cliente refere-se aos fatores de riscos que
favorecem o surgimento do câncer de mama. Aqui os fatores de riscos devem
ser percebidos e entendidos como elementos rastreadores de um futuro
nódulo, que poderá ser tratado em tempo hábil. Tais ações conjugadas às
atuações dos demais profissionais focalizaram a redução da mortalidade por
esse tipo de neoplasia.
QUADRO N
o
4 A presença de fatores de risco para o câncer de mama
Enfermeira Cliente
Você tem câncer de mama na
família ai é que tem que ter cuidado.
(RI n
o
1)
Certo.
Evitar cigarro, café e
refrigerantes isso evita as alterações
Silêncio.
funcionais benignas da mama. (RI n
o
2)
É tão raro uma mulher que
venha a esse serviço e não tenha
filhos. (RI n
o
3)
Não, eu não tenho filhos e até
gostaria de pesquisar para saber o
motivo.
Onde é o câncer da irmã? (RI
n
o
4)
É no útero, mas ela já foi
operada.
Os fatores de risco são, rotineiramente, questionados pela enfermeira
durante a anamnese e é então que se abre uma oportunidade de estabelecer um
diálogo interativo de cunho educativo, e é possível esclarecer dúvidas e
proporcionar uma porta de comunicação de mão dupla para o relacionamento
interativo atual e os subsequentes. É importante que o profissional de saúde,
nessa ocasião, retire sua máscara branca, mostre-se aberto à conversas,
receptivo às indagações e torne aquele um espaço de aprendizagem. Silva
(2001), afirma que é fundamental insistirmos nas interações, fazermos aquilo
que falamos, ensinarmos aquilo que considerarmos importante,
compartilharmos as informações que consideramos fundamentais praticar
para aperfeiçoar nossas qualidades e habilidades, tanto profissionais como
humanas.
A cada oportunidade em que a enfermeira realiza afirmações e
indagações tais como:
Você tem câncer de mama na família.
Onde é o câncer da irmã?
Está estabelecendo uma comunicação verbal interativa que se bem
sucedida poderá não assustar a paciente, mas sim alertá-la para a necessidade
de cuidado consigo e motivá-la ao retorno à unidade de saúde se acontecer de
encontrar ou perceber algo de diferente na glândula mamária.
A cada nova consulta a enfermeira pode se deparar com um novo
contexto de vida, quando então poder-se-á abrir mais uma oportunidade para
o exercício com responsabilidade, ética e respeito ao próximo do cuidado de
enfermagem interativo.
4.7 CATEGORIA N
o
5 A Comunicação verbal da enfermeira no auto-
exame das mamas
Esta categoria refere-se à comunicação verbal entre enfermeira e
cliente. O contexto em que ocorre esta comunicação e o seu conteúdo é um
fator da maior importância no que tange ao sucesso desejado para uma
determinada situação interativa, em particular, quando a mesma tem caráter
clínico-terapeutico, como é o caso em uma consulta de enfermagem.
Assim pois, ao apresentar e discutir essa categoria pretendemos trazer à
tona aspectos que possam contribuir para o aperfeiçoamento da tecnologia de
comunicação perante uma consulta de enfermagem, ao mesmo tempo em que,
possa mostrar possíveis dissonâncias existentes no processo de comunicação
enfermeira-cliente, de forma a contribuir para que, cada vez mais o
profissional possa aprimorar-se no sentido de melhor lidar com a questão do
processo comunicativo, em situação clínica. A referida categoria emerge de
falas captadas durante os diálogos em relações interativas observadas pelas
pesquisadoras nos diversos momentos de conversação, durante o trabalho de
campo.
Conforme o conteúdo das mesmas, pode-se perceber serem essas da
maior significação, tanto para quem clama por orientação – a cliente, como
para quem aspira em obter êxito e ressonância naquilo que comunica – no
caso, a enfermeira.
Destacamos a seguir, fragmentos dos diálogos, que vêm caracterizar e
portanto compor a presente categoria, e posteriores comentários.
QUADRO N
o
5 A Comunicação verbal da enfermeira no auto-exame das
mamas
Enfermeira Cliente
Já fez mamografia
alguma vez? (RI n
o
1)
Não.
O seu último exame de
prevenção esta com quanto
tempo? (RI n
o
2)
A
gora em maio fez um ano. Eu faço
c
om Dr Ricardo na prevenção.
O que é que a senhora
esta sentindo hoje? (RI n
o
3)
E
u quero fazer a prevenção, porque
e
sse exame da prevenção do seio eu já fiz,
m
as diferente do que faz agora que põem a
m
áquina que aperta o peito. Esse eu ainda
n
ão fiz.
Já te orientaram como
se deve fazer o auto-exame das
mamas? (RI n
o
4)
Uma vez só, mas eu nunca fiz.
Você esta examinando o
seio em casa, fazendo o auto-
exame? (RI n
o
5)
Examino.
Não, nunca fiz.
Ás vezes.
Sempre eu faço isso (o auto-exame) e
n
ão noto nenhum caroço.
Não! Eu fiz a última vez em dezembro.
Todo o mês.
De vez em quando eu faço.
Os fragmentos de diálogos mostrados no quadro n
o
5, conforme pode-se
identificar, apresentam uma forma de comunicação verbal estanque,
direcionada ao procedimento e a inquisição de ordem ginecológica,
relacionados, exclusivamente, à operacionalização da consulta, não h;a
evidências de empenho em dar uma continuidade, em envolver
psicologicamente à cliente, não procuram motivá-la a uma sintonia com o
emissor da mensagem. O uso indiscriminado de perguntas pode induzir a
cliente a ter a idéia de que seu papel é passivo, de que só lhe caberia
responder ao que lhe fosse questionado pela enfermeira, caso esta não lhe
coloque perguntas, deverá ficar calada.
Stefanelli (1993), considera comunicação verbal à linguagem escrita e
falada, aos sons e palavras que usamos para nos comunicar. Potter e Perry
(1999), ressaltam que comunicação verbal envolve palavras ou símbolos
usados para expressar idéias ou sentimentos, incitar respostas ou descrever
inferências. Conforme Silva (2002), a comunicação verbal é aquela associada
às palavras, por meio da linguagem escrita ou falada. Face a tais definições
elaboramos um conceito de comunicação verbal que se desdobra como um
processo interativo de troca de mensagens verbais entre enfermeira (receptor)
e paciente (emissor) com objetivo de ajuda mútua.
Cita a autora, que, ao início de um relacionamento interativo
enfermeira-cliente, devem-se evitar interrogações diretas, frases começadas
por: “por que” e “como”. Estas expressões no início das frases, tornam a
pergunta agressiva, podem levar a paciente a sentir-se interrogada. A autora
recomenda o uso de técnicas como: “ouvir reflexivamente”, isto é,
procurar estimular a paciente a descrever sua situação e experiências. Ao
considerar a interação como um processo, devemos trabalhar conforme os
diferentes momentos do mesmo. Travelbee (1979), sugere que esse
processo pode ser dividido nas seguintes fases: encontro inicial, identidades
emergentes, empatia, simpatia e rapport. No encontro inicial acontece o
primeiro contato entre a enfermeira e a cliente, nas identidades emergentes
as envolvidas no processo de comunicação expressam sua identidade
pessoal, valores e seus significados, a empatia ocorre quando ambas
expressam o desejo de estabelecer um processo de ajuda mútua, em seguida
temos a simpatia onde a enfermeira se coloca como apoiadora, para ajudar
a cliente a enfrentar a situação e a última fase é o rapport caracterizados
pela eclosão de pensamentos relacionados ao que uma pessoa transmite e
comunica à outra.
Assim, os momentos interativos de Travelbee quando adequadamente
utilizados durante a consulta poder-se-ão estarem conjugados a determinadas
técnicas de comunicação, tais como: ouvir reflexivamente, solicitar à cliente
que esclareça termos comuns, repetir a mensagem da paciente e sumarizar o
conteúdo da interação, a fim de fazerem com que a comunicação torne-se
terapêutica e, se possa, dessa forma, atingir o objetivo desejado nessa
comunicação, é necessário perceber o momento certo de questionar a
paciente, para que envolvida por uma sintonia da interação, ela possa, então
falar espontaneamente sobre seus problemas.
Os profissionais de saúde têm o hábito de fazer muitas perguntas aos
pacientes quando desejam obter dados que revelem problemas, como é o caso
dos que a mulher vivencia em seu processo de vida. Entretanto, respostas
obtidas de perguntas indiretas ou mais sutis poderão carrear dados mais
consistentes e úteis que aqueles oriundos de perguntas muito objetivas.
Mesmo sendo importante do ponto de vista clínico, a informação coletada a
partir desse tipo de questionamento, pode vir a servir apenas quando se deseja
material para preenchimento de longos formulários técnicos, não sendo
indicado quando se necessita a construção de uma relação de confiança entre
paciente e profissional, com fins de obter um aproveitamento adequado
daquela comunicação com o intuito de se obterem dados.
Portanto, é necessário que os profissionais procurem ampliar a
compreensão para a importância do uso da comunicação não diretiva, no
âmbito da busca do contexto de vida ora sinalizado, quer seja de forma verbal
ou não verbal, pela cliente, no momento da relação interativa, durante a
consulta.
Retomando os objetivos do estudo apresentamos em forma de diagrama
os fatores que podem influenciar na ação interativa do processo de
comunicação enfermeiro-cliente.
ESPAÇO FÍSICO TEMPO DE CADA
CONSULTA
FEEDBACK
TERMINOLOGIA
SABER OUVIR
Ao longo do estudo identificamos que os elementos: espaço físico,
tempo de cada consulta, feedback da informação, terminologia utilizada no
FATORES
INFLUENCIADORES
DA AÇÃO
INTERATIVA
diálogo e o saber ouvir funcionam como fatores influenciadores do caminhar
da ação interativa. Nas falas de cada categoria e na descrição do cenário das
consultas as variáveis influenciadoras se apresentam em maior ou menor
dimensão revelando que existe uma diferença na qualidade das informações
captadas pela paciente quando se disponibiliza uma escuta atenta por parte do
profissional intercalada com termos técnicos imersos no universo de
compreensão cognitiva da paciente. Outro aspecto importante é a duração da
consulta que deve acontecer em um espaço de tempo adequado oportunizando
o estabelecimento do elo de confiança tão necessário para a motivação que
impulsionará uma mudança de comportamento. No que tange ao feedback da
informação percebemos que existe uma lacuna nas consultas o que vem a
fragilizar a resolutividade do atendimento, uma vez que, deixa em aberto o
processo de validação da informação recebida pela paciente e corre o risco de
cair no esquecimento coletivo. Reportando-nos ao espaço físico é clara a
relação entre privacidade de cada paciente e dimensões físicas da sala de
atendimento (incluindo banheiro e mesa ginecológica), ou seja, quanto menor
as dimensões da sala menor será o espaço destinado a passagem das pessoas
dentro da sala. Nessa linha de raciocínio poderá haver momentos em que a
paciente sentindo-se inibida não revele seus anseios de ordem ginecológica.
Afim de estabelecermos um confronto entre posicionamentos
observados nas enfermeiras e conceitos que estas têm sobre comunicação
realizamos com essas, uma indagação e obtivemos os seguintes resultados:
É o elo de ligação com o paciente, troca de informações
importante, pois o paciente pode perguntar tudo, devemos
escutar, conversar (Selene).
A comunicação é uma disponibilidade para estar com o
outro, compreender e participar (Melanipe).
É a maneira como você se expressa, se comunica e tenta
passar alguma informação para as pessoas (Eleutera).
É você se fazer entender. Se alguém entender o que você
disse você se comunica bem (Crissa).
A comunicação para Selene, Melanipe, Eleutera e Crissa denota o
entendimento que é estar com o outro, a forma da comunicação, a
disponibilidade, o escutar e conversar. Nas falas identificamos o resgate de
elementos da comunicação fundamentais e que devem estar presentes no
espaço do consultório por ocasião das consultas.
Considerando a paciente como a razão do cuidado da enfermagem, se
não procurarmos ouvi-la com sabedoria, pode-se perder a oportunidade de
atingir-se o objetivo de ajudá-la, tendo em vista os objetivos da interação
outrora estabelecidos, e ao mesmo tempo obter-se êxito no processo de
comunicação estabelecido pelo profissional. Por isso, é necessário
desenvolver-se a habilidade de fazer-se uso de perguntas abertas, explorando
as respostas decorrentes das mesmas. Atuando nesta linha a enfermeira
inicialmente poderá deter uma falsa impressão de perda de tempo ao usar
perguntas abertas, no entanto é somente uma questão de treinar a habilidade
no uso dessa tecnologia e logo verá os bons resultados. No geral, ao dialogar
com a cliente, os profissionais da saúde têm o hábito de oferecer informações
com base no que “pensam” ter percebido e entendido do problema, muitas
vezes, até impedindo que a cliente continue o seu discurso, seja por
intimidação ao ser interrompida ou porque ficam desanimadas, desistindo de
continuar a falar já que o profissional não se empenha nesse incentivo. Muitas
vezes, as colocações dos profissionais diante de um “suposto” problema da
cliente podem inclusive ser desnecessárias, pois não condizem com a
realidade imaginadas pelo profissional, não indo portanto, ajudar no real
problema existente. Com isso, a cliente desanima, pois percebe que não teve
oportunidade de ser ouvida e até compreendida.
Para Silva (2002), quando se faz uma pergunta, deve-se esperar para
ouvir a resposta e não oferecer logo em seguida uma alternativa de resposta.
Muitas vezes, interrompe-se a resposta do outro porque pensa-se já ter
entendido todo seu raciocínio, quando nem sempre isso é verdadeiro. Dessa
forma, estar-se-á inibindo a expressão da pessoa e perdendo a oportunidade de
ouvir relatos, muitas vezes de grande importância. Deixa-se de exercer uma
necessária e benéfica influência sobre o comportamento da mulher, a curto,
médio e longo prazo, o que poderia resultar em tomada de decisões no que se
refere à adoção da prática do auto-exame das mamas, como hábito rotineiro e
mensal, ação essa da maior importância para o ser mulher, para o
aperfeiçoamento do processo tecnológico, enquanto AEM e, para a sociedade
como um todo .
CONSIDERAÇÕES FINAIS
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
O RI entre enfermeira e cliente é um fator preponderante para o êxito
do exercício do cuidado de enfermagem. Através do estabelecimento de uma
comunicação com credibilidade por parte dos profissionais de saúde
poderemos estar contribuindo para a redução dos índices de mortalidade por
câncer de mama.
Através deste estudo procurou-se mostrar que a variável espaço físico
onde se desenvolve o processo interativo da consulta de enfermagem
ginecológica, influencia sobremaneira no ato da consulta em si, pois a maior
ou menor privacidade poderá ou não facilitar o entendimento das informações
pertinentes ao AEM.
Viu-se também, a evidente necessidade dos enfermeiros utilizarem com
maior freqüência as técnicas de comunicação divididas nos grupos expressão,
clarificação e validação e, à medida que as utilizam buscarem aprimorar a
forma como a decodificação das informações é feita no intuito de se fazer
entender.
Ainda com relação às técnicas de comunicação, verificamos que a
validação na ação interativa não foi utilizada em nenhum momento, sendo
uma lacuna que deve ser preenchida, uma vez que pedir à cliente para repetir
as orientações recebidas e o enfermeiro sumarizar a interação propiciará a
curto prazo, a adesão feminina aos hábitos de cuidado com o corpo.
A comunicação acontece por meio de palavras, gestos, olhares e
postura do profissional, agregando esses elementos ao ato da interação da
cliente com o enfermeiro terá maiores chances de estabelecer uma relação de
confiança, na qual a paciente possa então se sentir à vontade para expressar as
dúvidas que perduram em seus pensamentos.
Percebe-se que a ação interativa entre enfermeiro e cliente vem
acontecendo com alguns diálogos estanques direcionados especificamente
para a queixa da paciente, deixando de lado aspectos psicológicos que se
reportem ao estado emocional e que podem influenciar sobremaneira na
compreensão das orientações de enfermagem.
Os termos utilizados pelos enfermeiros nas interações devem ser
propícios à medida que se utiliza uma linguagem acessível, não se voltando
para o uso de jargões e nem tão pouco a termos técnicos excessivos ou que
sejam deslocados de uma decodificação acessível ao nível de interpretação da
paciente.
Por ocasião das interações, percebemos a técnica de autocuidado
utilizada pela enfermeira quando ensina e demonstra na própria cliente a
forma correta de realizar o AEM. No uso do toque instrumental ora realizado,
o profissional utiliza a comunicação não verbal para motivar um processo de
aprendizagem que deve ser contínuo e estar presente a cada nova consulta
realizada.
Ressaltamos que a atual política de saúde (SUS), não privilegia
estratégias de comunicação como as enfatizadas neste estudo, tendo em vista
a rigidez na definição de tempo para cada consulta, sendo, portanto necessário
mais e mais descobrir-se estratégias, a partir de idéias criativas de fundo
científico.
Assim, é possível considerar que conforme definida nesta Tese, a ação
interativa estabelecida entre enfermeira-cliente e o favorecimento de uma
relação de confiança que possibilite uma comunicação congruente com as
orientações de enfermagem que possam garantir ensinamento eficaz para a
adoção do hábito mensal do AEM pela mulher que se submete à consulta
ginecológica carece ainda de uma forte colaboração das políticas de saúde e
de promoção social, associada a um maior empenho e conscientização do
próprio profissional enfermeiro.
O mundo dos relacionamentos interpessoais revela o quanto a
comunicação é um elemento fundamental para que a humanidade possa
caminhar de forma harmoniosa, fazendo-se necessário abraçar o desafio de
aprimorar o relacionamento interativo, no cotidiano das atividades
ocupacionais profissionais.
O estudo apresentado é mais um passo no entendimento do processo de
comunicação, sua complexidade e importância, conclamando os
pesquisadores qualitativistas a continuarem com trabalhos que desnudem a
essência do relacionamento interativo e suas múltiplas facetas.
R
EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, A. M. Câncer de mama: análise dos fatores de risco sob a
perspectiva da teoria de Kurt Lewin. Rio de Janeiro, 1991. 67p. Dissertação
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A
PÊNDICES
APÊNDICE
Apêndice I
Roteiro de Observação
1- Diálogo durante a consulta no que se reporte à detecção precoce do câncer
de mama.
2-Termos utilizados.
3-Estrutura física dos consultórios utilizados na consulta de enfermagem.
4-Fluxo de atendimento da cliente na unidade ambulatorial.
Apêndice II
Diário de Campo
1.Perfil das enfermeiras
Faixa etária
( ) 26 |-| 29
( ) 30 |-| 33
( ) 34 |-| 37
( ) 38 |-| 41
( ) 42 |-| 45
( ) 46 |-| 49
( ) >
50
Estado Civil:
( ) solteira
( ) casada
( ) divorciada
( ) separada
( ) viúva
( ) união consensual
( ) outros
Renda:
( )6-8 salários
mínimos
( )8-10 salários
mínimos
( )>10 salários
mínimos
valor do salário
mínimo na época R$
260,00
Formação na Pós-Graduação:
Especialização incompleto ( )
completo ( )
Mestrado incompleto ( )
completo ( )
Doutorado incompleto ( )
completo ( )
Filhos: ( )SIM ( ) NÃO
( ) 1-2
( ) 2-4
( ) + 4
2.Qual o seu conceito de comunicação?
Apêndice III
Termo de Consentimento Informado
Sou aluna do curso de doutorado em enfermagem da UFC e estou
desenvolvendo uma pesquisa sobre A COMUNICAÇÃO NA AÇÃO
INTERATIVA ENFERMEIRA-CLIENTE DURANTE A CONSULTA
GINECOLÓGICA. Deste modo, venho solicitar sua colaboração para
participar da pesquisa deixando-me observar suas consultas de enfermagem
ginecológicas.
Esclareço que:
As informações coletadas nas observações somente serão utilizadas
para os objetivos da pesquisa.
Que a senhora tem a liberdade de desistir a qualquer momento de
participar da pesquisa.
Também esclareço que as informações ficarão em sigilo e que seu
anonimato será preservado.
Em nenhum momento a senhora terá prejuízo nas suas atividades
ocupacionais.
Em caso de maiores esclarecimentos, entrar em contato com a pesquisadora
responsável
Nome: Andrea Gomes Linard
Endereço: Rua Correia lima n
0
250 apto 101-B
TELEFONE:32452570
Gostaria de acrescentar que sua participação será de extrema importância para
esta pesquisa.
Consentimento pós-esclarecimento
Declaro que após convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter
entendido o que me foi explicado, concordo em participar da pesquisa.
Fortaleza,_____ de ______________ de _______
____________________________________
Assinatura da pessoa alvo de observação
____________________________________
Assinatura do pesquisador
ANEXO
Livros Grátis
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Milhares de Livros para Download:
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