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Os prefeitos exerceram pressão também sobre o Governo Federal, como
destacado por Ary Oswaldo Mattos Filho (2007), que faz uma retrospectiva, na qual
aponta o poder dos governadores, mas dos prefeitos também, não somente naquele
momento, mas em outros momentos de reformas:
Então, se você conversa com funcionários federais, aqueles de
carreira, que estão lá ha muito tempo, do primeiro escalão, eles tem
uma lembrança muito ruim da época do presidente Sarney, que foi a
Constituinte de 88, que, em troca de passar o mandato de quatro para
cinco anos, ele perdeu completamente o controle sobre o Congresso e
aí houve a criação dos Fundos de participação, dos Fundos Especiais
e a União foi depenada em favor dos estados e municípios porque os
governadores e fundamentalmente os prefeitos, eles controlam as
bancadas federais. Se você perguntar quem tem mais força, se o
governador ou o prefeito da região ou os prefeitos das regiões das
quais o deputado foi eleito, eu diria os prefeitos. (MATTOS FILHO,
entrevista, 02/05/2007).
Mattos Filho (2007) diferencia o tipo de pressão exercida pelos governadores e aquelas
exercidas pelos prefeitos:
O governador é importante enquanto breque, porque
fundamentalmente a reforma pressupõe mexer no ICMS, que é o
grande imposto arrecadatório dos estados, e aí surgem discussões em
que você vai ter que necessariamente, mudar a repartição do que
existe hoje. Cobra no destino, cobra na origem, tem o sistema de
barquinho, paga na fronteira, não paga, quem controla, quem não
controla, é bom ter guerra fiscal, não é bom ter guerra fiscal, isso é
um problema dos estados. O problema dos prefeitos é outro. Me dê
um aumento da arrecadação que eu aprovo a reforma. E foi o que o
presidente Lula acabou de fazer agora. Deu 1% e os prefeitos vão
correndo agora no congresso para aprovar a prorrogação da CPMF.
(MATTOS FILHO, entrevista, 02/05/2007).
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O dado do entrevistado é comprovado com matéria publicada no jornal Folha de São Paulo, com a
seguinte notícia: “Lula acena com R$1,3 bilhões por ano a mais para municípios”, Folha de São Paulo,
11/05/2007, caderno A5. Diz textualmente a matéria: “Pressionado pela presença de 3.000 prefeitos em
Brasília, o presidente Luiz Ignácio Lula da Silva acenou com mais verbas para os municípios e afirmou
que a reforma tributária que está no Congresso não interessa mais ao Planalto. O que mais agradou aos
prefeitos da 10ª Marcha em Defesa dos Municípios, aberta ontem, foi a decisão de propor à base aliada
que vote, separadamente à proposta de reforma tributária que está parada no Congresso, o aumento do
Fundo de Participação dos Municípios, de 22,5% para 23,5% da arrecadação federal do Imposto de Renda
e do IPI. Com isso, o governo diminui seu orçamento e aumenta o repasse aos municípios”. Ainda, na
mesma matéria: “O aumento do FPM é uma pendência de quatro anos entre governo e prefeitos. O
aumento do FPM foi oferecido pelo governo para atrair o apoio dos prefeitos à reforma, que ficou
paralisada no Congresso por falta de consenso político. A partir daí, cresceu a pressão para desmembrar o
texto e votar apenas o benefício às cidades, o que o governo rejeitava”.