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MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOLOGIA
CURSO DE MESTRADO EM ZOOLOGIA
ESTUDO COMPARATIVO DAS ESPÉCIES DE SAIMIRI VOIGT,
1831 (PRIMATES, CEBIDAE) NA RESERVA MAMIRAUÁ,
AMAZONAS.
FERNANDA POZZAN PAIM
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Zoologia, Curso de Mestrado, do
Museu Paraense Emílio Goeldi e Universidade
Federal do Pará como requisito para obtenção
do grau de mestre em Zoologia.
Orientador: Prof. Dr. Helder Lima de Queiroz
BELÉM-PA
2008
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FERNANDA POZZAN PAIM
ESTUDO COMPARATIVO DAS ESPÉCIES DE SAIMIRI VOIGT,
1831 (PRIMATES, CEBIDAE) NA RESERVA MAMIRAUÁ,
AMAZONAS.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Zoologia, Curso de Mestrado, do
Museu Paraense Emílio Goeldi e Universidade
Federal do Pará como requisito para obtenção
do grau de mestre em Zoologia.
Orientador: Prof. Dr. Helder Lima de Queiroz
BELÉM-PA
2008
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FERNANDA POZZAN PAIM
ESTUDO COMPARATIVO DAS ESPÉCIES DE SAIMIRI VOIGT, 1831
(PRIMATES, CEBIDAE) NA RESERVA MAMIRAUÁ, AMAZONAS.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Zoologia, Curso de
Mestrado do Museu Paraense Emílio Goeldi e Universidade Federal do Pará, como
requisito para obtenção do grau de mestre em Zoologia.
Orientador:
Dr. Helder Lima de Queiroz
Curso de Pós-graduação em Zoologia
Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG)
Membros:
Dr. José de Sousa e Silva Júnior
Departamento de Mastozoologia
Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG)
Dr. Júlio César Bicca-Marques
Departamento de Biodiversidade e Ecologia
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
Dra. Maria Aparecida Lopes
Departamento de Biologia
Universidade Federal do Pará (UFPA)
Belém, maio de 2008.
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iv
AGRADECIMENTOS
Muitas foram as pessoas e instituições que, de alguma forma, contribuíram para a
execução desta pesquisa. A todas elas expresso meu profundo agradecimento.
Ao Dr. Helder Lima de Queiroz, pela orientação, amizade, paciência e confiança que
deposita em mim desde que começamos a trabalhar juntos, no início de 2005.
À Dra. Ana Rita Alves, pela confiança e apoio concedidos a mim desde que cheguei ao
Instituto Mamirauá.
Ao Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), por toda a infra-
estrutura e apoio logístico essenciais para a execução desta pesquisa.
Ao pessoal da Administração do IDSM, especialmente César, Dolly, Maura, Isabel,
Selma, Júnior, Gleyson, Martinelli, César (Cesinha), Joyce, Raiziane, Seu Carlos,
Abedelak, Seu Peter, Greick e Sabá, por todo apoio prestado ao longo desses dois anos.
Ao IDSM, Wildlife Conservation Society (WCS), Betty and Gordon Moore Foundation
e Overbrook Foundation, pelo auxílio financeiro.
Ao Curso de Pós-graduação em Zoologia do MPEG/UFPA por toda a infra-estrutura
disponibilizada para a execução das atividades em Belém.
Ao CNPq pela concessão da bolsa de mestrado.
Ao Cazuza (Dr. José de Sousa e Silva Júnior), pela amizade, pelas conversas, pelos
passeios e caranguejos, e por todas as vezes que atuou como um segundo orientador.
Às secretárias do Programa de Pós-graduação em Zoologia, Dorotéa e Anete, pelo apoio
e por sempre me auxiliarem em todos os momentos.
Ao João Valsecchi, pela amizade e por todo o incentivo para que eu realizasse este
projeto com os macacos-de-cheiro da RDSM.
À Tatiana Vieira e ao Alexandre Hercos, pela amizade e por sempre estarem dispostos a
contribuir com sugestões, idéias e críticas bastante construtivas.
A todos os meus colegas do curso de mestrado, Alex, Ana Patrícia, Andreza, Claudeth,
Cleuton, Dijane, Elaine, Elinete, Fabrício, Gláucia, Jerriane, João Fabrício, João
Roberto, Maya, Paulo Guilherme e Stephenson. Desejo a todos vocês muito sucesso!
Aos macacólogos paraenses, Áderson, Izaura e Eldianne, pelo convívio e amizade, e por
sempre estarem dispostos a darem valiosas contribuições à minha pesquisa.
À Marilene Alves e à Mariane Ferreira da Silva: as “meninas do SIG”, que sempre me
socorreram com a confecção das imagens de distribuição dos “meus macacos”.
v
À Joana Santana, Maria João Pereira e João Tiago Marques, da Universidade de Lisboa,
pela ajuda imprescindível nas análises de vocalização.
À Graciete Rolim, bibliotecária do IDSM, não somente pela amizade, mas também por
ter quebrado inúmeros galhos pra mim. Valeu Graci!
Aos assistentes de campo que trabalharam comigo na Reserva Mamirauá, Sidnei, Jairo,
Maciel, Júlio, Francinei (Preto) e Bernazildo, por tanto me auxiliarem e me ensinarem
sobre a Floresta e os macacos. Sem vocês esse trabalho não existiria!
Aos meus amigos de Belém: Áderson, Cleuton, Elinete, Hermes, Itany, Jerriane
(Raulzito), Juliana, Marco Antônio, Magno, Maya, Marcelo, Rogério (Sal), Stephenson
e Waldima, por tornarem todos os momentos lúdicos mais alegres e divertidos.
Aos meus amigos macaqueiros do IDSM, especialmente Sandro, Carolzinha, Ellen,
Thiago, Teresa, Graciete, Gabriela, Paulo Henrique, Kuka, Dani Ariranha, Maria, Gil,
Tatiana, Alexandre, Rosana, Miriam, Michele, Daíza e Rafael (macaco urbano!), por
todos os maravilhosos momentos que passamos e ainda passaremos juntos.
Aos meus amigos de Tefé: Laura, Ralf, Cris, Márcia, Dona Maria e tantos outros! A
vida com vocês foi muito mais intensa, divertida e alegre! Valeu “merrrrrmo”!
Aos meus ex-orientadores, Dr. Júlio César Bicca-Marques e Dra. Karen Strier, pelas
oportunidades, vivências e experiências proporcionadas a mim.
A todas as gerações do Programa Macacos Urbanos, da UFRGS, por ter sido tão
fundamental para minha formação como pessoa e bióloga.
Aos colegas primatólogos que me enviaram diversos artigos: Rogério Grasseto,
Waldney Pereira e Maíra Benchimol. Valeu mesmo, galera!
A todos os meus amigos de Porto Alegre que sempre me deram muita força e me
recebiam com muita alegria quando voltava pra casa. Em especial à Graziela e à Luiza,
por terem vindo até Tefé!!!!!!! Amo vocês!
Ao Mario, que esteve ao meu lado durante boa parte deste trabalho, me dando forças e
me ajudando a descontrair. Valeu por tudo!
Ao meu irmão Leonardo e minha nonna Luigia, por me apoiarem e por sempre tentarem
entender o porquê resolvi estudar e trabalhar na Amazônia.
Aos meus pais, meu “porto seguro”, Ana Maria e Danilo, por todo o tipo de apoio
concedido a mim desde o dia que saí de Porto Alegre, por acreditarem em mim e por
sempre apoiarem todas as minhas decisões, SEMPRE!
Aos macacos-de-cheiro da Reserva Mamirauá, por terem proporcionado a mim os
momentos mais bonitos e mágicos na Amazônia. TUDO VALEU A PENA!
vi
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS...............................................................................................
viii
LISTA DE TABELAS.............................................................................................. xi
RESUMO...................................................................................................................
xiv
ABSTRACT.............................................................................................................. xv
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................
1
1.1. A VÁRZEA AMAZÔNICA E A DISTRIBUIÇÃO DE PRIMATAS...... 1
1.2. A RESERVA MAMIRAUÁ...................................................................... 3
1.3. OS PRIMATAS DA RESERVA MAMIRAUÁ........................................ 8
1.4. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DO GÊNERO SAIMIRI VOIGT,
1831...................................................................................................................
11
1.5. ECOLOGIA E COMPORTAMENTO DOS MACACOS-DE-CHEIRO.. 14
1.6. COMUNICAÇÃO VOCAL....................................................................... 17
1.7. JUSTIFICATIVAS.....................................................................................
18
2. OBJETIVOS......................................................................................................... 21
2.1. OBJETIVO GERAL................................................................................... 21
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS..................................................................... 21
3. HIPÓTESES..........................................................................................................
22
4. MATERIAIS E MÉTODOS................................................................................ 24
4.1. ÁREA DE ESTUDO................................................................................... 24
4.2. COLETA DE DADOS................................................................................ 26
4.2.1. Distribuição de Saimiri na Reserva Mamirauá.............................
26
4.2.2. Ecologia e Comportamento.............................................................
27
4.2.3. Comunicação vocal.......................................................................... 29
vii
4.3. ANÁLISE DE DADOS............................................................................... 29
4.3.1. Distribuição de Saimiri na Reserva Mamirauá.............................
29
4.3.2. Tamanho da Unidade Social........................................................... 30
4.3.3. Associação com Outros Primatas................................................... 30
4.3.4. Preferência por Hábitat.................................................................. 31
4.3.5. Uso Vertical do Estrato................................................................... 32
4.3.6. Comunicação vocal.......................................................................... 33
5. RESULTADOS..................................................................................................... 35
5.1. DISTRIBUIÇÃO DE SAIMIRI NA RESERVA MAMIRAUÁ.................. 35
5.2. TAMANHO DA UNIDADE SOCIAL....................................................... 40
5.3. ASSOCIAÇÃO COM OUTROS PRIMATAS........................................... 42
5.4. PREFERÊNCIA POR HÁBITAT............................................................... 43
5.5. USO VERTICAL DO ESTRATO...............................................................
44
5.6. COMUNICAÇÃO VOCAL........................................................................ 48
6. DISCUSSÃO......................................................................................................... 56
6.1. DISTRIBUIÇÃO DE SAIMIRI NA RESERVA MAMIRAUÁ.................. 56
6.2. TAMANHO DA UNIDADE SOCIAL....................................................... 59
6.3. ASSOCIAÇÃO COM OUTROS PRIMATAS........................................... 62
6.4. PREFERÊNCIA POR HÁBITAT............................................................... 65
6.5. USO VERTICAL DO ESTRATO...............................................................
68
6.6. COMUNICAÇÃO VOCAL........................................................................ 71
7. CONCLUSÕES.....................................................................................................
75
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 77
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 01: Diferenças entre os arcos superciliares e o pincel caudal entre os
grupos Gótico (A) e Romano (B) (Imagens de Hershkovitz, 1984)............................
3
Figura 02: Distribuição do gênero Saimiri Voigt, 1981 (adaptado de Hershkovitz,
1984)............................................................................................................................ 5
Figura 03: Esquema de uma seção longitudinal da várzea da RDSM, mostrando a
dinâmica de inundação (Fonte: Banco de imagens do Instituto de Desenvolvimento
Sustentável Mamirauá - IDSM)...................................................................................
7
Figura 04 A e B: Restinga alta nas estações da seca (A) e cheia (B) (Fotos: F. P.
Paim)............................................................................................................................
8
Figura 05 A e B: Restinga baixa nas estações da seca (A) e cheia (B) (Foto: F. P.
Paim (A) e L. Sisi (B)).................................................................................................
9
Figura 06 A e B: Chavascal nas estações da seca (A) e cheia (B) (Fotos: F. P.
Paim)............................................................................................................................
9
Figura 07: Indivíduos de Saimiri vanzolinii em atividade alimentar (Fotos: L. C.
Marigo)........................................................................................................................ 11
Figura 08: Distribuição de Saimiri vanzolinii (imagem modificada de Ayres,
1985). .......................................................................................................................... 12
Figura 09: Saimiri sp.1 (A) e Saimiri sp.2 (B) (Fotos: J. Valsecchi (A) e F. P.
Paim (B)). ................................................................................................................... 13
ix
Figura 10: Localização da área da RDS Mamirauá (Fonte: Banco de imagens do
Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM)..................................
23
Figura 11: Curva histórica do nível d’água na RDSM em relação ao nível do mar
(Fonte: Banco de dados do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá
IDSM). ........................................................................................................................
25
Figura 12: Medição do nível d’água durante a estação da cheia, em junho de 2006
(Fotos: L. Sisi). ........................................................................................................... 27
Figura 13: Exemplo de gráfico do poder de espectro de uma sílaba “cackle”,
mostrando os pontos onde foram tomadas as medidas de freqüência inicial (FI),
freqüência final (FF), freqüência máxima (FM) e duração de emissão (T) ................
33
Figura 14: Distribuição das formas de Saimiri na RDSM..........................................
37
Figura 15: Distribuição das formas de Saimiri, representando o esforço amostral
durante a estação seca.................................................................................................. 38
Figura 16: Distribuição das formas de Saimiri, representando o esforço amostral
durante a estação da cheia............................................................................................
39
Figura 17: Tamanho médio de unidade social para as três formas de Saimiri nas
estações da seca e da cheia.......................................................................................... 41
Figura 18: Proporção de associação das espécies de Saimiri com outras espécies
de primatas em ambas as estações. ............................................................................. 42
Figura 19: Esforço amostral em cada fitofisionomia (hábitat) e estação...................
43
Figura 20: Uso vertical do estrato (UVE) médio das três formas de Saimiri nas
estações da seca e da cheia.......................................................................................... 46
x
Figura 21: Uso vertical do estrato (UVE) médio das três formas de Saimiri nos
diferentes hábitats e estações amostrados....................................................................
48
Figura 22: Exemplo de oscilograma (a) e espectograma (b) de Saimiri vanzolinii,
contendo três sílabas da vocalização “cackle”.............................................................
52
Figura 23: Exemplo de oscilograma (a) e espectograma (b) de Saimiri sp.1,
contendo três sílabas da vocalização “cackle”.............................................................
52
Figura 24: Exemplo de oscilograma (a) e espectograma (b) e Saimiri sp.2,
contendo três sílabas da vocalização “cackle”.............................................................
53
Figura 25: Medianas das freqüências finais (FF) das sílabas “cackle” das três
formas de Saimiri. .......................................................................................................
54
Figura 26: Medianas das freqüências máximas (FM) das sílabas cackle” das três
formas de Saimiri ........................................................................................................
54
Figura 27: Médias das durações de emissão (T) da vocalização das sílabas
“cackle” pelas três formas de Saimiri.......................................................................... 55
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 01: Estatística descritiva para tamanho da unidade social das três formas de
Saimiri nas estações da seca e da cheia. N = Tamanho amostral; DP = Desvio
padrão.......................................................................................................................... 40
Tabela 02: Resultados da ANOVA fatorial para tamanho da unidade social das
formas de Saimiri. GL = Graus de liberdade; F = teste de ANOVA; p =
probabilidade (* Diferença significativa)....................................................................
40
Tabela 03: Resultados do teste de Tukey, com comparações interespecíficas e
sazonais para tamanho de unidade social. SV = Saimiri vanzolinii; Ssp.1 = Saimiri
sp.1; Ssp.2 = Saimiri sp.2. (* Diferença significativa)................................................
41
Tabela 04: Resultados do teste de Qui-quadrado para associação de Saimiri com
outros primatas (* Diferença significativa).................................................................
43
Tabela 05: Índices de seleção de hábitat de Saimiri na estação da seca. VA =
Várzea alta; VB = Várzea baixa; CH = Chavascal; pi = proporção de amostragem
de cada hábitat; oi = proporção de amostragem de animais no hábitat; w = índices
de seleção de hábitat; EP = Erro padrão; GL = Graus de liberdade. (* Preferência)..
44
Tabela 06: Índices de seleção de hábitat de Saimiri na estação da cheia. VA =
Várzea alta; VB = Várzea baixa; CH = Chavascal; pi = proporção de amostragem
de cada hábitat; oi = proporção de amostragem de animais no hábitat; w = índices
de seleção de hábitat; EP = Erro padrão; GL = Graus de liberdade. (* Preferência)..
44
Tabela 07: Estatística descritiva para UVE das três formas de Saimiri nas estações
da seca e da cheia. N = Tamanho amostral; DP = Desvio padrão...............................
45
xii
Tabela 08: Resultados da ANOVA fatorial para UVE pelas formas de Saimiri nas
estações da seca e da cheia. GL = Graus de liberdade; F = teste de ANOVA; p =
probabilidade (* Diferença significativa)....................................................................
45
Tabela 09: Resultados do teste de Tukey, com comparações interespecíficas e
sazonais para UVE. SV = Saimiri vanzolinii; Ssp.1 = Saimiri sp.1; Ssp.2 = Saimiri
sp.2. (* Diferença significativa)...................................................................................
45
Tabela 10: Estatística descritiva para UVE das três formas de Saimiri em cada
hábitat e estações amostrados. N = Tamanho amostral; DP = Desvio padrão............
47
Tabela 11: Resultados estatísticos da comparação entre as formas de Saimiri. VA
= Várzea alta; VB = Várzea baixa; CH = Chavascal; N = Tamanho amostral; p =
Probabilidade; GL = Graus de liberdade.....................................................................
47
Tabela 12: Resultados do teste de Tukey, com comparações interespecíficas do
UVE na estação da seca. (* Diferença significativa)...................................................
47
Tabela 13: Valores das medidas de cada sílaba para os indivíduos de Saimiri
vanzolinii analisados (FI = Freqüência inicial; FF = Freqüência final; FM =
Freqüência máxima; T = Duração de emissão da sílaba; kHz = quilohertz; ms =
milisegundos)...............................................................................................................
49
Tabela 14: Valores das medidas de cada sílaba para os indivíduos de Saimiri sp.1
analisados (FI = Freqüência inicial; FF = Freqüência final; FM = Freqüência
máxima; T = Duração de emissão da sílaba; kHz = quilohertz; ms =
milisegundos)...............................................................................................................
50
Tabela 15: Valores das medidas de cada sílaba para os indivíduos de Saimiri sp.2
analisados (FI = Freqüência inicial; FF = Freqüência final; FM = Freqüência
máxima; T = Duração de emissão da sílaba; kHz = quilohertz; ms = milisegundos).
51
xiii
Tabela 16: Resultados das análises estatísticas para freqüência final (FF),
freqüência máxima (FM) e duração de emissão (T). N = Tamanho amostral, p =
Probabilidade e GL = Graus de liberdade (* Diferença significativa: Saimiri sp.2 >
Saimiri sp.1 > Saimiri vanzolinii)................................................................................
53
xiv
RESUMO
ESTUDO COMPARATIVO DAS ESPÉCIES DE SAIMIRI VOIGT, 1831
(PRIMATES, CEBIDAE) NA RESERVA MAMIRAUÁ, AMAZONAS.
Uma das dez espécies de primatas presentes na Reserva Mamirauá (RDSM), Saimiri
vanzolinii, possui alguns limites de sua distribuição ainda indefinidos. Considera-se sua
área de distribuição como uma das menores dentre os primatas neotropicais, com cerca
de 950 Km
2
. Duas outras formas presentes do gênero Saimiri ainda o têm a sua
taxonomia esclarecida. O objetivo principal deste estudo foi determinar características
ecológicas e comportamentais que possam atuar como mecanismos de isolamento
reprodutivo entre as formas de Saimiri na área da RDSM. Foram amostradas diversas
áreas na RDSM, próximas às margens de rios e canais, coincidindo com as bordas da
distribuição de S. vanzolinii. Ao longo do trajeto foram marcadas coordenadas
geográficas no GPS. Em todos os pontos com presença de unidades sociais de Saimiri
foram identificados a localidade, a forma de Saimiri, o número de indivíduos, hábitat,
marca d’água e primatas associados. As vocalizações do tipo “cackle” foram gravadas
oportunamente. Foram percorridos 218 Km, registrando-se 328 unidades sociais do
gênero: 41% de Saimiri vanzolinii, 30% de Saimiri sp.1 e 29% de Saimiri sp.2. Um dos
limites da distribuição (oeste-noroeste) de S. vanzolinii foi confirmado. Além disso,
constatou-se ausência desta espécie em duas áreas consideradas com presença desses
animais. Áreas de simpatria e sintopia também foram localizadas. Saimiri vanzolinii
ocupa uma área com 106 Km
2
a menos do que o conhecido, abrangendo apenas 870
Km
2
, o que confirma a menor área de distribuição de um primata neotropical. Dentre os
resultados mais relevantes que podem determinar o isolamento reprodutivo entre as
formas de Saimiri estão o uso do espaço (seletividade de habitat), o tamanho de unidade
social, uso do estrato vertical e freqüências máximas da vocalização “cackle”. Saimiri
vanzolinii apresenta preferência pelo chavascal nos dois extremos sazonais (seca e
cheia), enquanto Saimiri sp.1 e Saimiri sp.2 apresentam preferência pela várzea baixa. O
tamanho médio de unidade social de Saimiri sp.2, na estação da seca, foi menor que
para as outras formas. Quanto ao uso do estrato vertical, Saimiri vanzolinii ocupou
níveis mais baixos, na estação da seca, do que Saimiri sp.1. Todas as formas ocuparam
estratos mais baixos na estação da cheia. As freqüências máximas da vocalização
“cackle” apresentaram diferenças entre as três formas, sendo Saimiri vanzolinii <
Saimiri sp.1 < Saimiri sp.2. Os resultados apresentados demonstram que a separação
ecológica de Saimiri vanzolinii das outras formas parece ocorrer principalmente através
do uso diferenciado do hábitat. O tamanho médio de unidade social torna Saimiri sp.2
ecologicamente diferente das outras formas. Diferenças entre Saimiri sp.1 e Saimiri sp.2
foram constatadas no tamanho de unidade social, uso vertical e freqüências máximas da
vocalização “cackle”. As áreas onde estão distribuídas as formas de Saimiri na área
focal da RDSM provavelmente apresentam diferenças paleogeográficas entre si, de
modo que oferecem recursos distintos para cada táxon. Estudos de campo envolvendo
aspectos vegetacionais, de geoprocessamento e de ecologia alimentar devem ser
realizados naquela área para que se compreenda que tipos de diferenças podem estar
atuando na distribuição de Saimiri e de outros primatas.
Palavras-chave: distribuição, isolamento reprodutivo, uso de habitat, vocalização.
xv
ABSTRACT
COMPARATIVE STUDY OF THE SAIMIRI SPECIES VOIGT, 1831
(PRIMATES, CEBIDAE) AT MAMIRAUÁ RESERVE, AMAZONAS.
One of the ten primate species found at Mamirauá Reserve (RDSM) is Saimiri
vanzolinii that have the boundaries of distribution hitherto not defined. The distribution
area of S. vanzolinii is considered the smallest among neotropical primates species,
about 950km
2
. Two other forms of Saimiri occur at the region, but their taxonomic
status has not been determined yet. The aim of this study was to establish ecological and
behavioural characteristics that might act as causes for reproductive isolation among the
Saimiri forms at the Mamirauá Reserve area. Several sample areas were surveyed, near
to both river banks and channels that coincide with the boundaries of the geographic
distribution of S. vanzolinii. Geographic coordinates were recorded each five minutes of
the way with a GPS. For each site where a social unit of Saimiri was found some
additional information was registered such as the locality, number of individuals, habitat
type, water marks on the trees, and other primate species associated with the squirrel
monkeys. The “cackle” vocalization was recorded whenever possible. The total distance
surveyed was 218 km, where 328 social units of the genus Saimiri were recorded: 41%
of Saimiri vanzolinii, 30% of Saimiri sp.1 and 29% of Saimiri sp.2. One of the limits of
distribution (western-northwestern) of S. vanzolini was confirmed. This species were
absent from two areas where their presence was previously believed. Sympatric and
syntopic areas were also observed. The area in use by Saimiri vanzolinii was 106 km
2
,
smaller than previously known, occupying only 870 km
2
, it corroborated that hypothesis
that Saimiri vanzolinii have the smallest distribution among the neotropical primate
species. The most important results of this study that might determine the reproductive
isolation among Saimiri forms are the differential habitat use types (habitat selectivity),
size of their social units, discrepancy between use of vertical strata and high
initialisation frequencies for the “cackle” vocalization. Saimiri vanzolinii shows
preference for the “chavascal” habitat on both sazonal extremes (dry and wet seasons),
meanwhile Saimiri sp.1 and Saimiri sp.2 shows preference for the low varzea habitats.
The average size of the social unit Saimiri sp.2, at the dry season was smaller than of
the other forms. In terms of the the vertical strata use, Saimiri vanzolinii occupied lower
levels in the dry season, as Saimiri sp.1. All forms occupied lower strata during the wet
season. The initialization frequencies of “cackle” vocalization showed differences
among the three groups, where Saimiri vanzolinii < Saimiri sp.1 < Saimiri sp.2. The
results suggest that ecological segregation of Saimiri vanzolinii from the other forms
occur mostly by the habitat partitioning. The medium size of the social unit of Saimiri
sp.2 suggests that this species is ecologically different from the other forms. Differences
between Saimiri sp.1 and Saimiri sp.2 were observed on the size of their social units,
vertical use of space and high “cackle” vocalization initialisation frequencies. The areas
where the Saimiri forms are present in the focal Mamirauá Reserve area probably show
different paleogeographic histories, offering distinct resources for each taxon. Field
studies about vegetation aspects, geoprocessing and feeding ecology must be carried out
in the area to allow the understanding of the ecological and behavioural differences that
could act upon the distribution of Saimiri and other primate species.
Keywords: distribution, reproductive isolation, habitat use, vocalization
1
1. INTRODUÇÃO
1.1. A VÁRZEA AMAZÔNICA E A DISTRIBUIÇÃO DE PRIMATAS
A várzea amazônica pode ser considerada como uma planície de deposição do
Holoceno (Klammer, 1984), onde sedimentos originados nos Andes e nas encostas pré-
Andinas são carregados para os rios de água branca, e depositados nas terras baixas,
criando extensas planícies inundáveis (Furch, 1984). Nessas áreas, formou-se um
sistema complexo de lagos, lagoas, restingas, chavascais, paranás e outras formações.
As planícies inundáveis de água branca, ou várzeas, passam por modificações de curto e
longo prazo em função da sedimentação e erosão (Klammer, 1984; Henderson, 1999). O
processo de destruição e reconstrução na várzea é rápido, transformando
constantemente a paisagem ribeirinha, erodindo em alguns lugares e sedimentando em
outros em forma de ferradura. Desta forma, os rios caracterizam-se pela presença
freqüente de meandros e de lagos “oxbow” (Sioli, 1984; Henderson, 1999). O histórico
da formação da várzea provavelmente desempenhou um papel fundamental na
distribuição de espécies de primatas na Amazônia (Klammer, 1984).
Os rios amazônicos podem atuar como limites de distribuição para espécies de
primatas amazônicos com diferentes tamanhos corpóreos. Comunidades de primatas
separadas por rios de água branca, com curso relativamente lento, geralmente
apresentam maior similaridade quando comparadas àquelas separadas por rios velozes
de água preta ou água clara. O padrão de correntes velozes provavelmente dificultaria a
travessia dos primatas para margens opostas. Já os meandros dos rios de água branca
poderiam facilitar essa travessia, através de pontes arbóreas formadas em alguns pontos,
ou pela formação de novas áreas na margem oposta, geradas após a formação dos lagos
2
“oxbow”. Espécies de primatas com tamanho corporal grande têm maior capacidade
para cruzar os rios a nado, conseqüentemente, apresentam maiores distribuições
geográficas. Primatas capazes de colonizar áreas alagadas e terra firme, como os
representantes dos gêneros Cebus, Alouatta e Saimiri, têm uma distribuição maior em
relação às espécies restritas à terra firme. Os rios exercem um importante papel na
dispersão de primatas amazônicos, indicando que diferenças do tamanho da área de
distribuição entre espécies estão relacionadas à habilidade de atravessarem barreiras
ecológicas. A distribuição e a densidade de rios possivelmente relacionam-se com a
fragmentação periódica da floresta, gerando variação na biodiversidade e endemismos.
Áreas com alta densidade de rios apresentam florestas comprimidas, provavelmente
apresentando separação de múltiplas populações (Ayres & Clutton-Brock, 1992).
Algumas teorias tratam da relação entre o tamanho corporal de primatas,
especialmente os neotropicais, e fatores ecológicos, como estrutura de vegetação e
hábitos alimentares (Pastor-Nieto & Williamson, 1998). Espécies menores, como os
calitriquídeos, têm suas distribuições geográficas mais restritas, que não passam por
longos períodos de redução na disponibilidade de recursos alimentares, ao contrário dos
platirríneos maiores (Fleagle, 1988). A maioria das espécies de primatas com menos de
500 g de peso corporal é encontrada na Amazônia, pois é uma região com menor
tendência à sazonalidade, favorecendo a disponibilidade de alimento ao longo de todo o
ano. Esses primatas requerem uma grande quantidade de proteína em suas dietas
(Pastor-Nieto & Williamson, 1998).
O presente trabalho versa sobre os primatas do gênero Saimiri. Dentre os
primatas neotropicais, eles são considerados de médio porte, cujas fêmeas adultas
3
pesam entre 500 e 750 g, enquanto os machos adultos pesam entre 700 e 1100 g
(Middleton & Rosal, 1972).
1.2. A RESERVA MAMIRAUÁ
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM) está localizada
em uma das regiões mais preservadas da Amazônia Legal, mais precisamente entre as
confluências dos rios Solimões, Japurá e Auati-Paraná. Com 1.124.000 ha, está dividida
em duas áreas: focal e subsidiária. A área focal possui 260.000 ha, está dividida em
nove setores políticos e concentra a maior parte das atividades de pesquisa e extensão
do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM). A área subsidiária
abrange 864.000 ha, quase três quartos de toda a reserva, onde se iniciaram os trabalhos
apenas dois anos, e onde pretende-se atingir os mesmos objetivos da área focal.
Praticamente toda a borda da área focal, mas principalmente as áreas próximas ao rio
Solimões e aos centros urbanos, como Tefé, Alvarães e Uarini, são ocupadas por
famílias ribeirinhas. Desde a idéia original de criação da RDSM, é defendido um
sistema de zoneamento baseado em três categorias: zona de assentamento permanente
(onde estão localizadas as comunidades e suas respectivas atividades de manutenção),
zona de uso sustentado (onde os recursos estão disponíveis aos usuários da RDSM,
regulamentados por normas de uso integrado) e zona de preservação total (zona
dedicada à proteção integral da biodiversidade) (Sociedade Civil Mamirauá, 1996).
A área focal da RDSM está totalmente inserida no ecossistema de várzea (Ayres,
1995; Sociedade Civil Mamirauá, 1996). As matas de várzea são florestas situadas em
planícies de inundação, sofrendo influência da flutuação do nível dos rios nos períodos
da cheia e da seca (Pires, 1973). Segundo Queiroz (1995), em função dessa alternância
4
no nível d’água, pode-se distinguir quatro estações: cheia (maio, junho e julho), vazante
(agosto, setembro e outubro), seca (novembro, dezembro e janeiro) e enchente
(fevereiro, março e abril). O pico da cheia ocorre no mês de junho, cujas temperaturas
médias mensais variam de 21
o
a 23
o
C, enquanto o pico da seca ocorre entre os meses de
outubro e novembro, com temperaturas médias mensais variando entre 31
o
e 33
o
C
(Sociedade Civil Mamirauá, 1996).
O nível d’água, provavelmente, é a mudança climática mais importante da região
(Ayres, 1995), cuja variação anual pode chegar a doze metros (Queiroz, 1995). A Figura
01 representa um esquema sobre a dinâmica da inundação na várzea.
Figura 01: Esquema de uma seção longitudinal da várzea da RDSM, mostrando a
dinâmica de inundação (Fonte: Banco de imagens do Instituto de Desenvolvimento
Sustentável Mamirauá - IDSM).
Segundo Ayres (1995), as matas de várzea da RDSM podem ser divididas em
dois tipos:
a) Áreas localizadas entre o Auati-Paraná e o paraná do Aranapu (área subsidiária),
constituindo cerca de 85% de toda a reserva, cujas terras são predominantemente
5
de origem pleistocênica, com mais de 100.000 anos de idade. Essas várzeas não
foram erodidas completamente;
b) Áreas localizadas entre os rios Solimões e Japurá e o paraná do Aranapu (área
focal), predominantemente de origem holocênica, com menos de 5.000 anos de
idade. A várzea do Holoceno está numa elevação mais baixa que a do
Pleistoceno.
Ayres (1995) destacou três hábitats de grande importância para a fauna terrestre:
restinga alta, restinga baixa e chavascal. As restingas altas correspondem aos terrenos
mais altos da várzea, estando sujeitas a uma alagação anual que dura de 2 a 4 meses, a
uma profundidade de 1 a 2,5 m. As restingas altas representam cerca de 12% da várzea
na RDSM, possuindo a maior diversidade de espécies, área basal e número de árvores
por unidade de área. As restingas baixas representam a transição entre a restinga alta e o
chavascal, abrangendo cerca de 85% da várzea da RDSM. A alagação anual dura de 4 a
6 meses, podendo atingir de 2,6 a 5 m de altura. O sub-bosque freqüentemente é limpo e
o solo fica coberto por uma espessa camada de folhas ao secar. O chavascal consiste em
áreas extensas de vegetação baixa, arbustiva e pantanosa, quase impossível de se
transpor durante a seca. O período de inundação dura cerca de 6 a 8 meses, alagando de
6 a 7 m. Áreas de chavascais são comuns entre lagos, canais e rios, normalmente atrás
das faixas de restinga. Pode-se observar algumas árvores emergentes e até mesmo
pequenas ilhas de restinga baixa no interior desse tipo fitofisionômico. As Figuras 02,
03 e 04 apresentam os tipos fitofisionômicos da várzea de acordo com Ayres (1995).
6
Figura 02 A e B: Restinga alta nas estações da seca (A) e cheia (B) (Fotos: F. P. Paim).
Figura 03 A e B: Restinga baixa nas estações da seca (A) e cheia (B) (Foto: F. P. Paim
(A) e L. Sisi (B)).
Figura 04 A e B: Chavascal nas estações da seca (A) e cheia (B) (Fotos: F. P. Paim).
B
B
A
A
B
A
7
Wittmann et al. (2002) utilizaram técnicas de sensoriamento remoto para
analisar os diferentes tipos de floresta de várzea da área focal da RDSM e em uma ilha
de aproximadamente 45 km
2
, localizada a 20 km da cidade de Manaus. Apesar de os
autores concordarem com a classificação das florestas de várzea proposta por Ayres
(1995), a terminologia foi modificada, pois eles consideraram que o termo restinga
aplica-se corretamente apenas à vegetação de ecossistemas costeiros. Assim, os nomes
das fitofisionomias restinga alta e restinga baixa foram adaptados para várzea alta e
várzea baixa, respectivamente. A dinâmica geomorfológica dos rios de água branca da
Amazônia influencia no desenvolvimento e na sucessão natural da várzea baixa, onde a
diversidade de espécies aumenta conforme aumenta a idade das formações. A várzea
alta possui apenas um estágio sucessional, onde a diversidade de espécies é mais alta
que na várzea baixa. O termo chavascal permaneceu como descrito originalmente,
considerando-se que este tipo de vegetação ocorre dentro da várzea baixa, sofrendo
estresse de alagamento durante todo o ano.
Wittmann et al. (2005), pesquisando nas mesmas áreas do estudo anterior,
realizaram inventários florísticos e medidas de sedimentação, concluindo que os
diferentes estágios sucessionais da várzea baixa estão sujeitos a uma alagação anual de
3 a 7 m, onde a riqueza de espécies aumenta significativamente de acordo com o estágio
sucessional, estando esses relacionados com a distância do rio e, conseqüentemente,
com a deposição de sedimentos. As várzeas altas demonstraram baixa sedimentação, em
função do curto período de inundação, bem como do baixo nível de alagamento, cerca
de 3 m, pois sua estrutura diminui a velocidade da água, auxiliando a deposição de
sedimentos finos.
8
1.3. OS PRIMATAS DA RESERVA MAMIRAUÁ
A RDSM apresenta ocorrência de dez espécies de primatas: Alouatta seniculus,
Ateles chamek, Cacajao calvus calvus, Pithecia monachus, Cebuella pygmaea, Aotus
vociferans, Cebus macrocephalus, Saimiri vanzolinii, Saimiri sp.1 e Saimiri sp.2
(Valsecchi, 2005). Apesar desta diversidade ser alta, trabalhos de longo prazo foram
realizados apenas com Cacajao calvus calvus (Ayres, 1986) e Alouatta seniculus
(Queiroz, 1995), sendo necessárias pesquisas mais aprofundadas com outras espécies de
primatas relevantes para a conservação da biodiversidade.
Saimiri vanzolinii (Figura 05), pertencente ao Grupo Romano, foi descrita por
Ayres (1995), sendo o primata neotropical com a menor distribuição geográfica
conhecida. Este autor considerou que a área de distribuição da espécie não ultrapassaria
950 km
2
(Figura 06). A maior porção de sua ocorrência localiza-se na área focal da
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM), limitada pela foz do rio
Japurá (limites norte e leste), rio Solimões (limite sul) e paraná do Jarauá, considerando-
se este, até o momento, como o provável limite oeste de distribuição da espécie. Saimiri
vanzolinii também ocorre em duas ilhas do rio Solimões, Capucho e Tarará, localizadas
entre a RDSM e o município de Tefé (Ayres, 1985).
9
Figura 05: Indivíduos de Saimiri vanzolinii em atividade alimentar (Fotos: L. C.
Marigo).
Figura 06: Distribuição de Saimiri vanzolinii (imagem modificada de Ayres, 1985).
10
Saimiri vanzolinii é considerada pela IUCN (2006) e pela Lista Vermelha da
Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Fonseca et al., 2005) como uma espécie
ameaçada de extinção na categoria vulnerável. Embora essa espécie seja considerada
suscetível à caça, não registros de que a mesma seja caçada na RDSM (Ayres, 1985;
Valsecchi, 2005). De acordo com a IUCN (2006), as principais ameaças à espécie são:
1. Redução no tamanho da população baseada na perda da qualidade do hábitat
(ação antrópica) e riscos de hibridização com outra(s) espécie(s) do mesmo
gênero (ação natural);
2. Uma redução de tamanho da população de 30% (projetada ou suspeitada) nos
próximos dez anos ou em três gerações;
3. Área de ocorrência menor que 20.000 km
2
.
De acordo com Valsecchi (2005), há ocorrência de outras duas espécies de
Saimiri na RDSM (Figura 07 A e B), ambas pertencentes ao Grupo Gótico, mas que
ainda não possuem sua taxonomia esclarecida.
Figura 07: Saimiri sp.1 (A) e Saimiri sp.2 (B) (Fotos: J. Valsecchi (A) e F. P. Paim
(B)).
A
B
11
1.4. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DO GÊNERO SAIMIRI VOIGT, 1831
A taxonomia do gênero Saimiri Voigt, 1831 é bastante controversa, e tem sido
discutida por diversos autores (Hershkovitz,1984; Thorington, 1985; Silva Júnior, 1992;
Costello et al., 1993; Boinski & Croop, 1999; Rylands, 2000; Groves, 2005).
Hershkovitz (1984) considerou que o gênero seria constituído por dois grupos de
espécies, distinguidos por características externas, como formato dos arcos superciliares
e espessura do pincel caudal, comportamento e distribuição geográfica. O Grupo
Romano, ou Grupo de Saimiri boliviensis, seria representado por S. boliviensis (com
duas subespécies), enquanto o Grupo Gótico, ou Grupo de Saimiri sciureus, seria
representado por S. sciureus (com quatro subespécies), S. oerstedii (com duas
subespécies) e S. ustus. A Figura 08 apresenta as diferenças entre os arcos superciliares
e o pincel caudal dos grupos Gótico e Romano.
Figura 08: Diferenças entre os arcos superciliares e o pincel caudal entre os grupos
Gótico (A) e Romano (B) (Imagens de Hershkovitz, 1984).
Thorington (1985) analisou caracteres craniométricos e reconheceu a existência
de apenas duas espécies, S. sciureus (com quatro subespécies) e S. madeirae, levando
em consideração os arcos superciliares apenas em nível subespecífico. Ainda em 1985,
Ayres descreve uma espécie do Grupo Romano, Saimiri vanzolinii, com distribuição
restrita a região da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.
A
B
12
Hershkovitz (1987) reconheceu mais duas subespécies de Saimiri boliviensis (S.
b. jaburuensis e S. b. pluvialis), que eram consideradas como sinônimo de S. b.
boliviensis em Hershkovitz (1984). Neste mesmo trabalho, o autor refere-se a Saimiri
vanzolinii como uma subespécie de Saimiri boliviensis.
Silva Júnior (1992) analisou dados sobre morfologia, morfometria, genética,
bioquímica, cariotipia, imunogenética, ecologia e comportamento, indicando a
existência de uma única espécie (S. sciureus), dividida em sete subespécies.
Costello et al. (1993) averiguaram dados sobre morfologia, distribuição
geográfica, ecologia, comportamento, bioquímica e caracteres crânio-dentários,
reconhecendo apenas duas espécies, S. oerstedii (na América Central) e S. sciureus (na
América do Sul).
Boinski & Croop (1999) avaliaram dados morfológicos, comportamentais e
moleculares, sugerindo a existência de três espécies: S. sciureus, S. boliviensis e S.
oerstedii.
Rylands et al. (2000) realizaram uma revisão crítica da literatura em sistemática
e taxonomia, baseados em Herskovitz (1984) e Groves (in press) e forneceram um
rearranjo taxonômico para o gênero. As espécies listadas foram: S. sciureus (com quatro
subespécies), Saimiri boliviensis (com quatro subespécies), S. oerstedii (com duas
subespécies), S. ustus e S. vanzolinii.
Recentemente, Groves (2005) propôs um novo arranjo taxonômico para o
gênero, sugerindo a existência de cinco espécies: Saimiri boliviensis, S. oerstedii, S.
sciureus, S. ustus e S. vanzolinii.
13
De acordo com Hershkovitz (1984), todas as formas reconhecidas no gênero
Saimiri distribuem-se pelas florestas tropicais da bacia Amazônica e das Guianas,
exceto S. oerstedii, que ocorre apenas na América Central (Figura 09).
Figura 09: Distribuição do gênero Saimiri Voigt, 1981 (Hershkovitz, 1984).
controvérsias sobre a determinação taxonômica das espécies do gênero
Saimiri na Reserva Mamirauá. Hershkovitz (1984) considera que a forma gótica
encontrada na região da RDSM trata-se de Saimiri sciureus macrodon, mas Silva Júnior
(com. pess.) considera que as formas góticas encontradas naquela Reserva representam
dois táxons distintos, por apresentarem diferenças morfológicas quanto à coloração do
pêlo e distribuições geográficas isoladas. Apesar disso, é possível distinguir claramente
as três formas de Saimiri presentes na RDSM. Para tanto, estão sendo consideradas
características morfológicas, bem como as diferentes distribuições geográficas na
14
RDSM. Saimiri vanzolinii é facilmente distinguível, por apresentar arco do tipo
Romano e coloração preta na cabeça e no dorso. Os dois outros táxons de Saimiri
possuem arco do tipo Gótico, e distinguem-se pela coloração do corpo e dos braços.
Saimiri sp.1 apresenta uma coloração acinzentada e os braços alaranjados somente até
os pulsos, enquanto Saimiri sp.2 possui a coloração do corpo castanha e braços
alaranjados até o cotovelo.
1.5. ECOLOGIA E COMPORTAMENTO DOS MACACOS-DE-CHEIRO
Os primatas do gênero Saimiri, conhecidos como macacos-de-cheiro ou
macacos-mãos-de-ouro, pertencem à família Cebidae (Hershkovitz, 1977; Rylands,
2000). São animais arborícolas, pequenos e ágeis (Middleton & Rosal, 1972). São
ativos durante todo o dia, forrageando a maior parte do tempo (Terborgh, 1983).
Indivíduos de S. sciureus, em floresta de terra firme do Pará, dedicam a maior parte de
seu tempo à locomoção, seguida por forrageio, alimentação, descanso e atividades
sociais (Lima et al., 2000). Não há diferença nas técnicas utilizadas por fêmeas e
machos para forrageio (Boinski, 1989a), embora algumas diferenças possam haver entre
fêmeas adultas em diferentes condições reprodutivas (Boinski, 1988). Os macacos-de-
cheiro são onívoros, alimentando-se, basicamente, de frutos e insetos (Mittermeier &
van Roosmalen, 1981; Terborgh, 1983), embora tenham sido avistados consumindo
folhas em ambiente de semi-cativeiro (Ramalho et al., 2005).
O número de fêmeas e machos, adultos e jovens, é mais ou menos equilibrado e
o sistema social é poligâmico, com grupos multi-machos (Terborgh, 1983). O gênero
Saimiri é um grupo de mamíferos que apresenta ampla divergência nos padrões de
dispersão. As fêmeas de Saimiri boliviensis são filopátricas, sendo os machos que
15
realizam a dispersão. Saimiri oerstedii apresenta um padrão contrário, sendo as fêmeas
o sexo dispersante e os machos filopátricos. Ambos os sexos de S. sciureus dispersam
(Boinski et al., 2005).
O tamanho dos grupos sociais das espécies de Saimiri pode mudar
significativamente em diferentes regiões geográficas, de acordo com a variação genética
local e com fatores ecológicos, podendo variar de dez a mais de cem indivíduos
(Baldwin, 1985). Em ambiente semi-natural, grupos grandes dividiram-se quando
fêmeas e seus filhotes seguiram diferentes rotas habituais, voltando a reunir-se depois
de um ano (Baldwin, 1985). Grupos sociais com mais de 100 indivíduos podem
consistir de dois ou mais grupos que sofreram fusão temporária, sendo comum
encontrar dois grupos misturados e utilizando a mesma fonte alimentar, indicando uma
sobreposição clara de área de uso, que pode ultrapassar 250 hectares (Terborgh, 1983).
Boinski (1987) observou a sobreposição de áreas de dois grupos, registrando evento de
proximidade entre eles, mas nenhum tipo de agressão intergrupal. Considera-se que
grupos de Saimiri não demonstram manifestações de territorialidade (Baldwin &
Baldwin, 1981; Terborgh, 1983; Baldwin, 1985).
Saimiri não é considerado um gênero especialista em hábitat, embora a
sazonalidade influencie no uso de diversos tipos de vegetação, utilizando,
preferencialmente, hábitats inundados, como várzea, igapó e mangue (Terborgh, 1983).
Baldwin (1985) considerou que as espécies do gênero podem ser encontradas em
diversos tipos de florestas: tropicais úmidas ou secas, primárias, secundárias e em
fragmentos. De acordo com Boinski (1987), a abundância de alimento, determinada por
fatores sazonais, influencia no uso de diferentes tipos de floresta, tamanho da área de
uso e padrão de atividades.
16
O gênero Saimiri é considerado tolerante, e forma grupos mistos com espécies
de outros gêneros de primatas, como Cebus, Alouatta, Callicebus e Saguinus (Baldwin
& Baldwin, 1981; Terborgh, 1983; Ayres, 1985), embora, em geral, sua área de uso seja
muito maior que a destas espécies associadas (Terborgh, 1983). Essas associações
duram períodos variados, podendo persistir de poucas horas a vários dias. Não há
evidências de que a associação entre Saimiri oerstedii e Cebus capucinus favoreça na
eficiência de forrageamento, considerando-se que as espécies sejam beneficiadas apenas
por comportamentos anti-predadores (Boinski, 1989b). Fleagle & Mittermeier (1981)
descreveram a associação entre Saimiri sciureus e Cebus apella, indicando diferenças
na dieta e no uso do substrato.
A definição clássica de nicho ecológico, e mais aceita, considera-o como um
hiper-volume em um espaço ecológico multidimensional, referindo-se aos limites onde
uma espécie pode viver, crescer e se reproduzir (Hutchinson, 1957). Esse conceito pode
auxiliar na compreensão dos tipos de relações mantidas entre espécies coexistentes,
como as do gênero Saimiri, com ocorrência na Reserva Mamirauá.
A diversidade de espécies coexistentes dentro de uma comunidade é
determinada pela forma com que dividem os recursos entre si. A comunidade que
apresenta a maior divisão de recursos, ou com maior sobreposição de nicho, suportará
mais espécies do que uma com menor sobreposição. A coexistência de espécies difere a
partir das necessidades ecológicas mínimas de cada uma, para que se evite a exclusão
competitiva (Pianka, 1974). Cunha & Vieira (2004) propuseram que o uso do espaço é o
principal fator para compreender a coexistência de espécies dentro de uma comunidade,
particularmente em ambientes complexos como as florestas tropicais.
17
1.6. COMUNICAÇÃO VOCAL
A comunicação é essencial para a sobrevivência dos animais, e cada espécie
apresenta um sistema próprio de comunicação, que se adapta às exigências impostas
pelo ambiente em que vive. O processo evolutivo ao qual a comunicação sonora foi
submetida levou ao desenvolvimento de diversos sinais e sistemas, e espécies não
aparentadas podem, ou não, usar soluções semelhantes a partir de condições diversas.
Cada espécie deve manter uma estrutura sonora (determinada geneticamente)
rigorosamente definida para seu reconhecimento específico. Vocalizações determinadas
geneticamente são reconhecidas por serem estereotipadas. Isto não se deve somente à
necessidade de manter a espécie distinta, mas, sobretudo, ao fenômeno chamado de
contra-seleção, ou seja, o indivíduo que se desvia do padrão não será reconhecido como
membro da espécie e, conseqüentemente, acaba sendo eliminado (Vielliard, 2007).
Parâmetros bioacústicos podem contribuir significativamente para a
compreensão das relações taxonômicas no nível de espécies (Vielliard, 1995). De
acordo com Sick (1979), a voz pode ser considerada como um caráter taxonômico, pois
as manifestações sonoras são tão características quanto os aspectos morfológicos,
anatômicos ou bioquímicos para as diferentes espécies de animais.
Comparações de sinais de comunicação com outros primatas permitem afirmar
que os macacos-de-cheiro possuem uma complexa variedade de sinais vocais, mas, em
contrapartida, apresentam uma baixa variedade de sinais visuais. Este fenômeno está
provavelmente relacionado à evolução das espécies arborícolas, que vivem num estrato
da floresta onde sinais auditivos são mais eficientes que os visuais (Newman, 1985).
A vocalização é amplamente estudada no grupo das aves, abordando-se diversos
temas, como taxonomia, distribuição e comportamento (Sick, 1979; Vielliard, 1995;
18
Zimmer et al., 1997; Isler et al., 1998; Raposo et al., 1998). Estes mesmos temas foram
abordados também para primatas do Velho Mundo, como Macaca cyclops (Hsu, 2005),
Tarsius dianae e T. spectrum (Nietsch & Kopp, 1998), Hylobates agilis (Mitani, 1987),
Pan troglodytes e Pan paniscus (Mitani et al., 1992; Mitani & Gros-Louis, 1995). Entre
os primatas neotropicais, diversos autores estudaram a vocalização de espécies como
Ateles geoffroyi (Ramos-Fernández, 2005), Brachyteles arachnoides hypoxanthus
(Mendes & Ades, 2004), Callithrix kuhlii (Rukstalis et al., 2003) e Cebuella pygmaea
(Snodow & Pola, 1978). Mendes (1997) realizou um estudo comparativo entre as
espécies de Callithrix do grupo jacchus, onde abordou pela primeira vez os padrões
vocais como caracteres comportamentais para esclarecimento taxonômico do gênero.
Embora a vocalização do gênero Saimiri também tenha sido pesquisada por alguns
autores (Ploog, 1982; Boinski & Mitchell, 1992, 1997; Boinski, 1996), estes estudos
concentraram-se apenas nas espécies S. sciureus e S. oertedii. Ainda não foram
abordadas diferenças entre espécies cujas áreas de distribuição sejam adjacentes ou
sobrepostas.
1.7. JUSTIFICATIVAS
O grupo dos mamíferos é um dos mais estudados em termos de biodiversidade, e
os resultados destes estudos vêm subsidiando estratégias conservacionistas. Entretanto,
o conhecimento acerca da riqueza de fauna e padrões de presença e ausência das
espécies e sua distribuição geográfica ainda é deficiente no Brasil (Vivo, 1996).
O Brasil é o país com a maior diversidade de primatas do mundo, possuindo
mais de cem espécies, sendo cinqüenta e nove destas endêmicas (Costa et al., 2005). A
Amazônia é a região da América do Sul mais diversa em espécies de primatas,
19
abrigando quatorze gêneros, dentre dezoito que ocorrem no neotrópico (Silva et al.
2005). A distribuição geográfica de espécies de primatas amazônicos, em sua maioria, é
pouco conhecida e mal delineada, ignorando-se como grupos aparentados se comportam
e se relacionam nas bordas de suas áreas de ocorrência (Silva Júnior, 1998). Hirsch et
al. (2005) ressaltaram que todas as espécies de primatas com dados deficientes se
concentram na Amazônia, sendo estes os que devem receber uma atenção urgente e
serem alvos de estudos mais específicos. De acordo com Silva et al. (2005), um sistema
efetivo de conservação de um bioma exige a compreensão dos processos evolutivos e
ecológicos responsáveis pela geração e manutenção da biodiversidade.
Uma das teorias mais aceitas sobre limites de distribuição de espécies de
primatas é a proposta por Ayres & Clutton-Brock (1992). Esses autores consideram que
os rios de água branca, como os que ocorrem na RDSM, não são muito eficientes para
atuar como limites de distribuição geográfica de primatas, principalmente das espécies
de grande porte e daquelas que ocorrem em matas alagáveis de margens de rios.
Considera-se que essa teoria não é suficiente para explicar a ocorrência e a distribuição
das três formas de Saimiri na área focal da RDSM, pois pequenos canais e paranás
aparentemente atuam como limite de distribuição entre as mesmas. Dessa forma, devem
ser investigados outros fatores que podem atuar como barreiras para a dispersão do
gênero na RDSM.
Os resultados desta dissertação poderão contribuir para a conservação das
espécies do gênero Saimiri, especialmente de S. vanzolinii, cuja área restrita de
distribuição, e possível hibridização com as outras formas do mesmo nero a colocam
na categoria de espécie vulnerável à extinção (Fonseca et al., 2005; IUCN, 2006). Além
disso, espera-se que esta pesquisa possa auxiliar no aperfeiçoamento do sistema de
20
zoneamento da RDSM, de acordo com exigências do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC, 2000).
21
2. OBJETIVOS
2.1. OBJETIVO GERAL
- Determinar características ecológicas e comportamentais que possam atuar como
mecanismos de isolamento reprodutivo entre as formas de Saimiri na área focal da
RDSM.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1) Definir os limites de distribuição geográfica de Saimiri vanzolinii;
2) Determinar a ocorrência e distribuição de unidades sociais mistas formados por
membros das formas presentes de Saimiri na RDSM;
3) Determinar o tamanho médio das unidades sociais das formas de Saimiri, realizando
comparações interespecíficas e sazonais;
4) Determinar a existência de diferenças na preferência por hábitat das espécies de
Saimiri nas diferentes estações do ano;
5) Determinar a existência de diferenças no uso do estrato vertical pelas espécies nos
hábitats e comparar seu uso nas estações do ano;
6) Caracterizar e comparar associações entre as formas de Saimiri com outros primatas
de hábitos diurnos;
7) Analisar parâmetros acústicos da vocalização de alarme (“cackle”) das formas de
Saimiri da área focal da RDSM, realizando comparações interespecíficas.
22
3. HIPÓTESES
1) Limite de distribuição de Saimiri vanzolinii:
H0: Os limites da distribuição geográfica de Saimiri vanzolinii são definidos pela
presença de corpos d’água.
2) Distribuição das formas de Saimiri na RDSM:
H0: A distribuição das formas de Saimiri na RDSM é parapátrica.
3) Tamanho das unidades sociais das formas de Saimiri na RDSM:
H0: As unidades sociais das três formas de Saimiri da RDSM apresentam o mesmo
tamanho nas comparações interespecíficas.
H0: As unidades sociais das três formas de Saimiri da RDSM apresentam o mesmo
tamanho quando comparadas sazonalmente.
4) Uso do hábitat pelas formas de Saimiri:
H0: Não diferenciação interespecífica no uso do hábitat entre as três formas de
Saimiri da RDSM .
H0: Não diferenciação sazonal no uso do hábitat entre as três formas de Saimiri da
RDSM .
5) Uso vertical do estrato pelas formas de Saimiri:
H0: Não diferenciação interespecífica no uso vertical do estrato entre as três formas
de Saimiri da RDSM .
23
H0: Não diferenciação sazonal no uso vertical do estrato entre as três formas de
Saimiri da RDSM .
6) Associação das formas de Saimiri com outras espécies de primatas:
H0: As três formas de Saimiri da RDSM associam-se na mesma proporção a outras
espécies de primatas.
7) Vocalização das formas de Saimiri:
H0: As vocalizações de alarme (“cackle”) das três formas de Saimiri não apresentam
diferenças em seus parâmetros sonoros.
24
4. MATERIAL E MÉTODOS
4.1. ÁREA DE ESTUDO
O estudo foi conduzido na área focal da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Mamirauá (RDSM) (03º08´-02º36´S, 65º45´-67º13´W), limitada pelas
confluências dos rios Solimões, Japurá e pelo paraná do Aranapu. A área focal da
RDSM possui uma área de 260.000 ha e está totalmente inserida no ecossistema de
várzea (Ayres, 1995; Sociedade Civil Mamirauá, 1996) (Figura 10).
Figura 10: Localização da área da RDS Mamirauá (Fonte: Banco de imagens do
Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM).
Área
focal
Área
subsidiária
25
O presente trabalho seguirá a nomenclatura da classificação fitofisionômica
proposta por Wittmann et al. (2002, 2005), por considerá-la mais atualizada. No
entanto, em função dos dados terem sido coletados desde o início com base na
classificação de Ayres (1995), não serão considerados os estágios sucessionais da
várzea baixa descritos por aqueles autores, tratando-se esta como uma unidade
fitofisionômica. Assim, este trabalho considerou três hábitats disponíveis para Saimiri:
várzea alta, várzea baixa e chavascal.
Em função de questões operacionais, o presente trabalho está considerando
apenas duas estações: seca (setembro a novembro) e cheia (maio e junho), levando-se
em consideração a presença ou ausência de água na mata. Verificou-se que as enchentes
de 2005 e 2006 não foram pronunciadas o suficiente para atingirem o nível de
alagamento proposto por Ayres (1995). Durante o período da coleta de dados (setembro
de 2005 a setembro de 2006), as várzeas altas alagaram entre 0 e 3,0 m, mas as várzeas
baixas alagaram entre 0,5 e 6,0 m, e os chavascais entre 1,5 e 6,0 m. Além do nível de
alagamento, foram levados em consideração outros caracteres diagnósticos, como
presença de folhas no solo, características do sub-bosque e quantidade de árvores, da
mesma forma que descreveu Ayres (1995). As maiores variações durante o período de
estudo foram registradas nas várzeas baixas e nos chavascais. Esse fenômeno pode ser
explicado, por exemplo, pela proximidade de algumas várzeas baixas com lagos,
propiciando um maior alagamento. Quanto aos registros de chavascais mais rasos, é
possível que estes estivessem localizados próximos às várzeas. Além disso, essa
variação pode ser explicada pelo diferente perfil topográfico do terreno nas diversas
áreas amostradas. Os valores anormalmente baixos provavelmente refletem as secas
pronunciadas e enchentes fracas nestes dois anos, conforme é observado na Figura 11.
26
30
35
40
45
50
55
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
m
Figura 11: Curva histórica do nível d’água na RDSM em relação ao nível do mar. m =
metros (Fonte: Banco de dados do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá
– IDSM).
4.2. COLETA DE DADOS
4.2.1. Distribuição de Saimiri na Reserva Mamirauá
Durante 88 dias de campo, distribuídos entre os meses de setembro a dezembro
de 2005, janeiro, fevereiro, junho e setembro de 2006 e maio e junho de 2007, foram
amostradas diversas áreas ao longo de ambas as margens de alguns rios e canais da área
de estudo, coincidindo com os limites da distribuição geográfica propostos para Saimiri
vanzolinii (Ayres, 1985). Os percursos foram realizados a uma velocidade média de 1,5
km/h, sempre por duas pessoas. A maioria dos percursos foi realizada fora de trilhas,
exceto quando as mesmas estavam disponíveis. O desenho amostral implicou que
nenhuma área fosse amostrada mais de uma vez. A cada cinco minutos, durante os dias
de amostragem, foram marcadas as coordenadas no GPS, para que se pudesse medir os
27
percursos e o esforço amostral. Além disso, foram identificadas as coordenadas
geográficas de todos os pontos em que foram localizadas unidades sociais de Saimiri.
No protocolo de campo foram registradas informações tais como data, espécie avistada,
localidade, fitofisionomia local (várzea alta, várzea baixa e chavascal), marca d’água da
enchente anterior às amostragens e coordenada geográfica, marcada com auxílio de
GPS. Durante a estação da cheia, os percursos foram realizados em canoa, mas os
demais procedimentos não foram alterados.
4.2.2. Ecologia e Comportamento
Durante as estações da seca (setembro, outubro e novembro de 2005 e setembro
de 2006) e da cheia (junho de 2006 e maio e junho de 2007), diversos dados sobre
ecologia e comportamento foram coletados durante os percursos realizados para a
definição da distribuição de Saimiri na RDSM. Ao detectar a presença de uma unidade
social de Saimiri, foram registradas as mesmas informações mencionadas anteriormente
e seu número de indivíduos. Diversos métodos foram utilizados para a contagem dos
indivíduos, como detecção auditiva, localização de fontes alimentares, observação de
deslocamento e varredura ao redor da unidade social. Além da marca da inundação da
enchente, características como altura de dossel, visibilidade no sub-bosque, presença de
lama e quantidade de folhas no solo foram consideradas para a confirmação da
fitofisionomia local, conforme sugerido por Ayres (1995). Foi realizada uma varredura
instantânea em cada unidade social detectada (adaptado de Altmann, 1974), onde
registrou-se a altura estimada dos primeiros animais avistados, antes da fuga, e uma
estimativa da altura total da árvore em que cada animal se localizava. Todas as
observações dos animais foram realizadas com auxílio de um binóculo 8x25.
28
Durante a estação da cheia, os percursos foram realizados em canoa, adaptando-
se o método para medição do alagamento. Neste período, esta medição e a confirmação
da fitofisionomia local foi feita através da medição do nível d’água, por meio de um
cabo graduado contendo um peso de aproximadamente 3 kg em sua extremidade, sendo
este mergulhado até que tocasse no solo. Esta medição foi feita três vezes, em diferentes
pontos e sem o deslocamento da canoa, a fim de garantir que nenhum obstáculo
impedisse que o peso chegasse ao fundo (Figura 12).
Figura 12: Medição do nível d’água durante a estação da cheia em junho de 2006
(Fotos: L. Sisi).
Indivíduos de outras espécies de primatas diurnos (Cebus macrocephalus,
Alouatta seniculus, Cacajao calvus e Cebuella pymaea) que estivessem localizados
próximos à unidade social de Saimiri, também foram registrados. Os registros de
associação foram realizados de forma instantânea, quando os animais eram avistados em
proximidade durante alimentação ou deslocamento, por exemplo, desconsiderando-se o
tempo de permanência entre as espécies. Unidades sociais mistas das formas de Saimiri
29
não foram incluídas nas análises ecológicas e comportamentais. Considerou-se todos os
agrupamentos de animais encontrados como unidades sociais, em função da incerteza de
tratar-se de um único grupo, parte dele ou ainda de dois grupos que sofreram fusão
temporária.
4.2.3. Comunicação vocal
Foram selecionadas aleatoriamente diversas áreas com ocorrência das espécies
de Saimiri estudadas, onde foi realizada a espera pela passagem dos animais para
gravação das vocalizações. Estas foram gravadas em um gravador digital Panasonic RR-
US450, captadas por um microfone direcional Sennheiser ME 66.
Para a escolha do contexto social, foi considerado o repertório vocal proposto
por Winter et al. (1966). Optou-se pelo registro apenas da vocalização denominada
“cackle”, sendo esta o tipo de vocalização agonística mais comum, emitida em diversas
situações de estresse, como alarme, por exemplo (Newman, 1985). Em cada gravação
foram registradas informações como táxon, localidade e data.
4.3. ANÁLISE DE DADOS
4.3.1. Distribuição de Saimiri na Reserva Mamirauá
Todas as coordenadas marcadas no GPS foram transferidas para o computador
através do programa GPS Trackmaker. O esforço de amostragem foi medido através do
número de quilômetros percorridos por dia, medindo-se a distância percorrida entre as
coordenadas marcadas em cada percurso através do programa ArcView 3.2. Neste
30
mesmo programa, foram destacadas na imagem final apenas as coordenadas com
ocorrência de unidades sociais, distinguindo-as entre as diferentes formas de Saimiri.
4.3.2. Tamanho da Unidade Social
Foram sorteados 22 registros de tamanho de unidade social para cada espécie em
cada estação. Este procedimento foi tomado devido a grande diferença no número de
registros para as espécies entre as estações. Foi realizada a homogeneização dos
tamanhos amostrais em 22 registros, por este número representar o menor esforço
amostral disponível para uma das espécies estudadas em determinada estação, que foi
Saimiri sp.2 na estação da cheia.
A homogeneidade das amostras foi testada através do teste de Cochran.
Diferenças entre os diferentes blocos e tratamentos foram testadas pela ANOVA
fatorial. Para a verificação de onde ocorreram as diferenças intra e interespecíficas e
sazonais, aplicou-se o teste post-hoc de Tukey. Os testes foram conduzidos no programa
STATISTICA 6.0, com nível de significância de 5%.
4.3.3. Associação com Outros Primatas
Comparou-se os registros de associação instantânea entre cada táxon de Saimiri
com Cebus macrocephalus, Alouatta seniculus e Cacajao calvus. Foi considerado o
número total de registros de associação destas espécies com cada táxon de Saimiri. Para
esta análise foi utilizado o teste de Qui-quadrado do pacote estatístico BioEstat 4.0
(Ayres et al., 2005), com nível de significância de 5%.
31
4.3.4. Preferência por Hábitat
A preferência por hábitat de cada forma de Saimiri foi analisada através do
índice de seleção (Krebs, 1999). Este índice é um dos mais recomendados para ser
usado em medidas de preferência por recursos, como alimento e hábitat. As
fitofisionomias várzea alta, várzea baixa e chavascal foram tratadas como hábitats. Foi
calculada a proporção de amostragem para cada tipo de fitofisionomia e a proporção de
registros de cada táxon em cada uma delas nas diferentes estações amostradas. Os
cálculos foram realizados com auxílio do programa Ecological Methodology, Ed.
(Krebs, 1999), de acordo com a seguinte fórmula:
w
i
= o
i
p
i
Onde: w
i
= Índice de seleção de hábitat para espécie i
o
i
= Proporção de registros da espécie i em determinada fitofisionomia
p
i
= Proporção de ocorrência de determinada fitofisionomia
Índices de seleção maiores que 1.0 indicam preferência, enquanto índices
menores que 1.0 indicam ausência de preferência. O erro padrão do índice de seleção foi
calculado por:
S w
i
= (1 – o
i
) + (1 – p
i
)
Uo
i
p
i
M
Onde: S w
i
= Erro padrão do índice de seleção
o
i
= Proporção do hábitat usada pela espécie
p
i
= Proporção do hábitat disponível
U = Número total de observações de uso
M = Número total de observações de disponibilidade
32
4.3.5. Uso Vertical do Estrato
Foram considerados todos os registros de uso vertical do estrato (UVE), para as
três formas nas duas estações. Antes da análise estatística, foi aplicada a seguinte
fórmula nos dados brutos:
UVE = AAn x 100
AAr
Onde: UVE = Uso vertical do estrato
AAn = Altura do animal
AAr = Altura da árvore
As alturas do animal e da árvore referentes à estação da cheia foram analisadas
em relação ao nível de alagamento observado, desconsiderando-se a profundidade
d’água. Primeiramente foi analisado o UVE por espécie e estação, desconsiderando-se
os hábitats. A homogeneidade das amostras foi testada através do teste de Cochran.
Diferenças entre os diferentes blocos e tratamentos foram testadas pela ANOVA
fatorial. Para a verificação de onde ocorreram as diferenças intra e interespecíficas e
sazonais, aplicou-se o teste post-hoc de Tukey. Os testes foram conduzidos no programa
STATISTICA 6.0, com nível de significância de 5%.
Para avaliação de diferenças no UVE pelas formas de Saimiri entre os hábitats e
estações amostrados, foram conduzidos diversos testes, em função do grande número de
variáveis e da diferença do esforço amostral para estas. Para a estação da seca,
inicialmente foram testadas diferenças entre os táxons em cada hábitat. Tanto para a
várzea alta como para a várzea baixa foi aplicada a ANOVA de um critério. Quando
encontradas diferenças significativas, foi aplicado também o teste de Tukey. A
33
homogeneidade dos dados foi previamente testada pelo teste de Cochran. Diferenças no
UVE entre os táxons no hábitat chavascal foram avaliadas através do teste de Kruskal-
Wallis, pois os dados não apresentaram distribuição normal.
Para a estação da cheia, posteriormente também foram testadas diferenças entre
os táxons em cada hábitat. Para a várzea alta foi aplicado o teste de Kruskal-Wallis, em
função dos dados não apresentarem distribuição normal, enquanto para a várzea baixa
foi realizada a ANOVA de um critério com posterior aplicação do teste de Tukey. Para
a realização da ANOVA, a homogeneidade dos dados foi previamente testada através
do teste de Cochran. Para o chavascal, em função de não se ter amostras para Saimiri
sp.1, foi realizado o teste t de Student, comparando-se o UVE apenas entre Saimiri
vanzolinii e Saimiri sp.2. A normalidade dos dados foi previamente avaliada pelo teste
de Kolmogorov-Smirnov. Os testes foram conduzidos no programa STATISTICA 6.0,
com nível de significância de 5%.
4.3.6. Comunicação vocal
Todas as gravações foram transferidas do gravador digital para o computador
através do programa Voice Editing 2.0. As análises dos parâmetros acústicos foram
realizadas no programa Bat Sound 3.31. Selecionaram-se três sílabas por vocalização de
cada forma de Saimiri, levando-se em consideração critérios como nitidez no
espectograma e volume da vocalização emitida pelo animal, e destas sílabas
selecionadas foram tomadas as medidas dos parâmetros de estudo. Estes parâmetros
acústicos utilizados como variáveis em cada sílaba foram os seguintes: freqüência
inicial (FI), freqüência final (FF), freqüência máxima (FM) e duração de emissão (T). A
34
Figura 13 apresenta um exemplo de gráfico do poder de espectro de uma sílaba “cackle”
e as localizações dos pontos de medida.
0 dB
-20 dB
-40 dB
-60 dB
-80 dB
-100 dB
-120 dB
4 kHz
8 kHz
5.272 kHz, -5.9 dB 9474 - 9674 ms
Figura 13: Exemplo de gráfico do poder de espectro de uma sílaba “cackle”, mostrando
os pontos onde foram tomadas as medidas de freqüência inicial (FI), freqüência final
(FF), freqüência máxima (FM) e duração de emissão (T).
Estes parâmetros, entre outros, foram utilizados com freqüência por diversos
autores (Mitani, et al. 1992; Boinski & Mitchell, 1997; Mendes, 1997). As freqüências
máximas e finais foram comparadas entre as formas de Saimiri através do teste de
Kruskal-Wallis. Já a duração de emissão de cada sílaba foi comparada pela ANOVA de
um critério, sendo a homogeneidade das amostras avaliada previamente pelo teste de
Cochran. Não foi aplicado nenhum teste para comparação entre as freqüências iniciais
das vocalizações, visto que todas as sílabas das três formas de Saimiri apresentaram
valores idênticos. Os testes foram conduzidos no programa STATISTICA 6.0, com
nível de significância de 5%.
FM
FI
FF
T
35
5. RESULTADOS
5.1. DISTRIBUIÇÃO DE SAIMIRI NA RESERVA MAMIRAUÁ
Foi percorrido o total de 271 km, sendo 174 nos meses em que o deslocamento
foi realizado a (setembro a fevereiro) e 97 durante os meses em que o mesmo foi
feito em canoa (maio e junho). Um total de 1522 coordenadas geográficas com foi
registrado, das quais 326 com unidades sociais de Saimiri: 134 para avistamentos de
Saimiri vanzolinii, 99 para avistamentos de Saimiri sp.1 e 93 para avistamentos de
Saimiri sp.2. Foram localizadas áreas com ocorrência de peripatria em duas regiões e de
peripatria e sintopia em uma região. A primeira área com peripatria está localizada
próxima ao paraná do Aiu (Saimiri vanzolinii e Saimiri sp.1), enquanto a segunda
localiza-se próxima ao paraná do Jarauá (Saimiri vanzolinii e Saimiri sp.2). A terceira
área está localizada nas proximidades dos paranás do Apara e do Mamirauá, com
peripatria de Saimiri vanzolinii e Saimiri sp.2. Nesta mesma área foi registrada sintopia
destas duas formas, com a observação de sete unidades sociais mistas.
O limite oeste-noroeste de Saimiri vanzolinii, duvidoso desde a descrição da
espécie (Ayres, 1985), foi confirmado, com um acréscimo de 26,5 km
2
à área de
distribuição geográfica da espécie. Por outro lado, duas áreas consideradas com
presença da espécie pelo mesmo autor foram extraídas de sua área de ocorrência, pois
durante os percursos realizados nestas duas áreas não foram encontrados nenhum
indivíduo de Saimiri vanzolinii. Uma dessas áreas está limitada pelo rio Solimões e o
paraná do Cauaçu, enquanto a outra limita-se pelo rio Japurá e o paraná do Apara. Estes
dados demonstram que a distribuição de Saimiri vanzolinii é ainda menor do que o
observado anteriormente por Ayres (1985), ou seja, é de apenas 870 km
2
.
36
A ilha de Nova Colômbia, localizada próximo à foz do paraná do Jarauá, foi
vistoriada em toda sua extensão, não registrando-se nenhum indivíduo de Saimiri
vanzolinii ou de outra forma do mesmo gênero. Da mesma forma proposta por Ayres
(1985), este trabalho o considera a presença de Saimiri vanzolinii na ilha de Nova
Colômbia. Assim como as duas áreas citadas anteriormente com ausência de Saimiri
vanzolinii, esta área também deve ser melhor vistoriada. A ilha Tarará não foi vistoriada
durante os trabalhos de campo, mas considerou-se que ocorrência de Saimiri
vanzolinii, que registro dos pontos de coleta de espécimes desse táxon neste local
(Ayres, 1985), além de relatos de moradores locais sobre a presença desta espécie na
ilha. A imagem final (pontos de seca e cheia) com a distribuição das espécies de Saimiri
na RDSM é apresentada na Figura 14. As Figuras 15 e 16 representam o esforço
amostral nos meses em que se deslocou a (estação de seca) ou em canoa (estação da
cheia), respectivamente.
37
Figura 14:
Distribuição das formas de Saimiri
na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá,
representando os registros de ocorrência obtidos.
38
Figura 15:
Distribuição das formas de Saimiri
na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá,
representando os registros de ocorrência obti
dos durante a estação seca.
39
Figura 16:
Distribuição das formas de Saimiri
na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá,
representando os registros de ocorrência obtidos durante a estação da cheia.
40
5.2. TAMANHO DE UNIDADE SOCIAL
Foi registrado um total de 142 unidades sociais na estação da seca, e de 131 na
estação da cheia. Entretanto, conforme descrito na metodologia, foram sorteados 22
registros para cada forma de Saimiri, em cada estação, totalizando 66 unidades sociais
tanto para a seca como para a cheia. Os dados sobre as três formas de Saimiri estudadas
e a estatística descritiva dos parâmetros analisados sobre as unidades sociais são
apresentados na Tabela 01. Na estação da seca, o tamanho das unidades sociais de
Saimiri sp.2 foi significativamente menor do que as de Saimiri vanzolinii e Saimiri sp.1.
Os resultados da ANOVA e do teste de Tukey são apresentados nas Tabelas 02 e 03,
respectivamente. A Figura 17 apresenta os tamanhos médios de unidade social de cada
táxon em cada estação.
Tabela 01: Estatística descritiva para tamanho da unidade social das três formas de
Saimiri nas estações da seca e da cheia. N = Tamanho amostral; DP = Desvio padrão.
Saimiri
vanzolinii
Saimiri sp.1 Saimiri sp.2
Saimiri
vanzolinii
Saimiri sp.1 Saimiri sp.2
N 22 22 22 22 22 22
Média
25,9 26,8 13,2 21,0 18,7 16,0
DP 12, 42 11,53 10,67 12,58 6,25 10,71
SECA CHEIA
Tabela 02: Resultados da ANOVA fatorial para tamanho da unidade social das formas
de Saimiri. GL = Graus de liberdade; F = teste de ANOVA; p = probabilidade (*
Diferença significativa).
GL F p
Estação
1 3,2258 0,0748
Espécie
2 8,8552
0,000252*
Estação x Espécie
2 2,8727 0,0602
41
Tabela 03: Resultados do teste de Tukey, com comparações interespecíficas e sazonais
para tamanho da unidade social. SV =
Saimiri vanzolinii
; Ssp.1 =
Saimiri
sp.1; Ssp.2 =
Saimiri
sp.2. (* Diferença significativa).
Sv Ssp.1 Ssp.2 Sv Ssp.1 Ssp.2
Sv x
0,9997
0,001697*
0,6597 0,2515 0,0322
Ssp.1 x
0,000552*
0,4764 0,1402 0,0134
Ssp.2
x
0,1793 0,5498 0,9593
Sv x
0,9858 0,6686
Ssp.1 x
0,9621
Ssp.2
x
CHEIASECA
CHEIA
SECA
Figura 17: Tamanho médio e desvio padrão de unidade social para as três formas de
Saimiri
nas estações da seca e da cheia.
Saimiri vanzolinii
Saimiri
sp.1
Saimiri
sp.2
Seca Cheia
5
10
15
20
25
30
35
Tamanho médio
42
5.3. ASSOCIAÇÃO COM OUTROS PRIMATAS
Do total de 272 avistamentos de unidades sociais foram registrados 94 eventos
de associação com outras espécies de primatas. Foram consideradas apenas as
associações com
Cebus macrocephalus, Alouatta seniculus
e
Cacajao calvus,
pois
Cebuella pygmaea
foi registrada em associação apenas uma vez, com
Saimiri
sp.1.
Saimiri vanzolinii
e
Saimiri
sp.1 associaram-se significativamente mais com
Cebus
macrocephalus
do que com às demais espécies de primatas. Por outro lado,
Saimiri
sp.1
associou-se significativamente menos com
Cacajao calvus
.
Saimiri
sp.2 não apresentou
diferença significativa entre as associações. As proporções de associação de
Saimiri
vanzolinii
,
Saimiri
sp.1 e
Saimiri
sp.2. com cada espécie de primata são apresentadas na
Figura 18. A Tabela 04 apresenta os resultados do teste de Qui-quadrado.
57%
27%
16%
60%
35%
5%
58%
21%
21%
Figura 18: Proporção de associação das espécies de
Saimiri
com outras espécies de
primatas em ambas as estações.
Cebus macrocephalus
Cacajao calvus
Alouatta seniculus
Saimiri vanzolinii
Sai
miri
sp.1
Saimiri
sp.2
43
Tabela 04: Resultados do teste de Qui-quadrado para associação de
Saimiri
com outros
primatas. N = Tamanho amostral; x2 = Qui-quadrado; GL = Graus de liberdade; p =
probabilidade. (* Diferença significativa).
Saimiri
vanzolinii
Saimiri
sp.1
Saimiri
sp.2
N 55 20 19
2 14,109 9,100 5,158
GL 2 2 2
p 0,0009* 0,0106* 0,0759
5.4. PREFERÊNCIA POR HÁBITAT
Durante a estação da seca, foram obtidos 197 registros nas várzeas altas, 301 nas
várzeas baixas e 79 nos chavascais. Já na estação da cheia, obteve-se 265 registros nas
várzeas altas, 248 nas várzeas baixas e 90 nos chavascais (Figura 19).
0
50
100
150
200
250
300
350
Várzea alta Várzea baixa Chavascal
N
Seca
Cheia
Figura 19: Esforço amostral em cada fitofisionomia (hábitat) e estação. N = Tamanho
amostral.
Saimiri vanzolinii apresentou preferência pelo chavascal, tanto na estação da
seca como na da cheia. Já Saimiri sp.1 e Saimiri sp.2 apresentaram preferência pelas
várzeas baixas em ambas as estações. Os índices de seleção de hábitat (w), proporção de
44
amostragem de cada hábitat (p
i
), proporção de amostragem de animais no hábitat (o
i
) e
o erro padrão dos índices de seleção (EP) são apresentados nas Tabelas 05 e 06, seca e
cheia, respectivamente.
Tabela 05: Índices de seleção de hábitat de Saimiri spp. na estação da seca. VA =
Várzea alta; VB = Várzea baixa; CH = Chavascal; pi = proporção de amostragem de
cada hábitat; oi = proporção de amostragem de animais no hábitat; w = índices de
seleção de hábitat; EP = Erro padrão; GL = Graus de liberdade. (* Preferência).
VA VB CH VA VB CH VA VB CH
pi
(%)
34 52 14 34 52 14 34 52 14
oi
(%)
48 32 20 29 60 11 12 74 14
w 1,3979 0,6099 1,4940* 0,8368 1,1563* 0,8115 0,3347 1,4240* 1,0434
EP 0,2349 0,1368 0,4708 0,1736 0,1268 0,3014 0,1587 0,1526 0,4456
GL 2 2 2
Saimiri sp.1 Saimiri sp.2
Saimiri vanzolinii
Tabela 06: Índices de seleção de hábitat de Saimiri spp. na estação da cheia. VA =
Várzea alta; VB = Várzea baixa; CH = Chavascal; pi = proporção de amostragem de
cada hábitat; oi = proporção de amostragem de animais no hábitat; w = índices de
seleção de hábitat; EP = Erro padrão; GL = Graus de liberdade. (* Preferência).
VA VB CH VA VB CH VA VB CH
pi
(%)
44 41 15 44 41 15 44 41 15
oi
(%)
47 31 22 40 60 0 32 61 7
w 1,0757 0,7515 1,4618* 0,9102 1,4589* 0* 0,7215 1,4826* 0,4902
EP 0,1610 0,1559 0,3993 0,2078 0,2288 0* 0,1687 0,1988 0,2766
GL 2 2 2
Saimiri sp.1 Saimiri sp.2
Saimiri vanzolinii
5.5. USO VERTICAL DO ESTRATO
Foram obtidos 768 registros de uso vertical do estrato (UVE) na estação da seca
e 462 na estação da cheia. A estatística descritiva para as três formas de Saimiri nas
duas estações amostradas é apresentada na Tabela 07. O UVE de todas as formas de
Saimiri foi significativamente maior na estação da seca do que na cheia. Na estação da
45
seca, Saimiri vanzolinii ocupou proporções significativamente mais baixas do estrato
disponível do que Saimiri sp.1. Os resultados da ANOVA e do teste de Tukey são
apresentados nas Tabelas 08 e 09, respectivamente. A Figura 20 apresenta o UVE
médio de cada táxon em cada estação.
Tabela 07: Estatística descritiva para UVE das três formas de Saimiri nas estações da
seca e da cheia. N = Tamanho amostral; DP = Desvio padrão.
Saimiri
vanzolinii
Saimiri sp.1 Saimiri sp.2
Saimiri
vanzolinii
Saimiri sp.1 Saimiri sp.2
N 192 491 125 191 116 155
nimo (%) 0 0 0 0 36 8
Máximo (%) 100 100 100 100 97 100
Média (%) 76,3 81,7 78,5 68,8 71,5 68,7
DP 15,72 14,41 15,07 17,16 13,29 16,00
SECA CHEIA
Tabela 08: Resultados da ANOVA fatorial para UVE pelas formas de Saimiri nas
estações da seca e da cheia. GL = Graus de liberdade; F = teste de ANOVA; p =
probabilidade (* Diferença significativa).
GL F p
Estação
1 87,53
0,0000*
Espécie
2 6,86
0,0010*
Estação x Espécie
2 0,79 0,4525
Tabela 09: Resultados do teste de Tukey, com comparações interespecíficas e sazonais
para UVE. SV = Saimiri vanzolinii; Ssp.1 = Saimiri sp.1; Ssp.2 = Saimiri sp.2. (*
Diferença significativa).
SV Ssp1 Ssp2 SV Ssp1 Ssp2
SV
x
0,0007*
0,8174
0,0000*
0,0969 0,0001
Ssp1
x
0,3217 0,0000
0,0000*
0,0000
Ssp2
x
0,0000 0,0067
0,0000*
SV
x
0,6613 0,9999
Ssp1
x
0,6697
Ssp2
x
SECA
CHEIA
SECA CHEIA
46
Saimiri vanzolinii
Saimiri
sp.1
Saimiri
sp.2
Seca Cheia
60
65
70
75
80
85
90
UVE (%)
Figura 20: Uso vertical do estrato (UVE) médio das três formas de Saimiri nas estações
da seca e da cheia.
Avaliou-se também o UVE das três formas de Saimiri em cada bitat e
estações amostrados. A estatística descritiva para esta análise é apresentada na Tabela
10. Na estação da seca, encontrou-se diferença significativa entre todas as formas de
Saimiri na várzea baixa, onde o UVE de Saimiri sp.1 > Saimiri sp.2 > Saimiri vanzolinii
(N = 432; GL = 2; F = 16,574; p = 0,0000). Os valores dos resultados dos testes de
ANOVA, Kruskal-Wallis e t de Student (para todos os hábitats e estações) são
apresentados na Tabela 11. Os testes de Tukey para várzea baixa na estação da seca
apresentados nas Tabelas 12. A Figura 21 apresenta os valores médios de UVE dos três
hábitats para cada forma de Saimiri, nas duas estações.
47
Tabela 10: Estatística descritiva para UVE das três formas de Saimiri em cada hábitat e
estações amostrados. N = Tamanho amostral; DP = Desvio padrão; x = Sem registro.
Saimiri
vanzolinii
Saimiri
sp.1
Saimiri
sp.2
Saimiri
vanzolinii
Saimiri
sp.1
Saimiri
sp.2
N
112 123 12 101 42 38
Média
75,7 78,7 83,7 65,7 73,1 71,3
DP
17,37 15,03 10,14 19,05 13,44 13,07
N
49 282 101 60 74 108
Média
72,8 83,8 79 73,9 70,6 68,3
DP
13,70 13,11 13,61 12,39 13,20 16,01
N
31 46 12 30 x 9
Média
83,9 77,1 69,3 68,8 x 62,6
DP
8,98 24,88 25,65 16,86 x 25,42
CHEIA
Várzea alta
Várzea
baixa
Chavascal
SECA
Tabela 11: Resultados estatísticos da comparação entre as formas de Saimiri. VA =
Várzea alta; VB = rzea baixa; CH = Chavascal; N = Tamanho amostral; p =
Probabilidade; GL = Graus de liberdade. (* Diferença significativa).
Estação Hábitat N p GL
VA 247 ANOVA F = 1,162
0,3148
2
VB 432 ANOVA F = 16,574 0,0000* 2
CH 89 Kruskal-Wallis H = 1,1133 0,5731 2
VA 181 Kruskal-Wallis H = 4,1949 0,1228 2
VB 242 ANOVA F = 3,005 0,0514 2
CH 39 teste t de Student t = 0,8821 0,3834 37
Teste
SECA
CHEIA
Tabela 12: Resultados do teste de Tukey, com comparações interespecíficas do UVE na
várzea baixa, estação da seca. (* Diferença significativa).
Saimiri vanzolinii
Saimiri
sp.1
Saimiri
sp.2
Saimiri vanzolinii
x
0,0000* 0,0195*
Saimiri
sp.1
x 0,0052*
Saimiri
sp.2
x
48
Várzea alta
Chavascal
Várzea baixa
Saimiri vanzolinii
Seca Cheia
50
55
60
65
70
75
80
85
90
95
UVE (%)
Saimiri
sp.1
Seca Cheia
Saimiri
sp.2
Seca Cheia
Figura 21: Uso vertical do estrato (UVE) médio das três formas de
Saimiri
nos
diferentes hábitats e estações amostrados.
5.6. COMUNICAÇÃO VOCAL
Foram analisadas 18 sílabas da vocalização “cackle” de
Saimiri vanzolinii
, 27
de
Saimiri
sp.1 e 18 de
Saimiri
sp.2. Os valores das medidas de freqüências iniciais (FI),
freqüências finais (FF) freqüências máximas (FM) e duração de emissão (T) são
apresentados nas Tabelas 13 a 15.
49
Tabela 13: Valores das medidas de cada sílaba para os indivíduos de
Saimiri
vanzolinii
analisados (FI = Freqüência inicial; FF = Freqüência final; FM = Freqüência máxima; T
= Duração de emissão da sílaba; kHz = quilohertz; ms = milisegundos).
Indivíduo Medida Sílaba 1 Sílaba 2 Sílaba 3
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,579 7,937 7,775
FM (kHz) 2,769 2,625 2,840
T (ms) 137 135 181
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,489 7,740 7,830
FM (kHz) 2,590 2,501 3,054
T (ms) 116 111 116
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,704 7,454 7,436
FM (kHz) 1,947 1,892 2,483
T (ms) 179 152 168
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,292 7,454 7,382
FM (kHz) 2,536 1,910 2,501
T (ms) 145 135 150
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,686 7,651 7,508
FM (kHz) 2,179 2,196 3,216
T (ms) 184 187 147
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,399 7,382 7,364
FM (kHz) 2,179 1,142 2,035
T (ms) 158 114 74
Saimiri vanzolinii a
Saimiri vanzolinii b
Saimiri vanzolinii c
Saimiri vanzolinii d
Saimiri vanzolinii e
Saimiri vanzolinii f
50
Tabela 14: Valores das medidas de cada sílaba para os indivíduos de Saimiri sp.1
analisados (FI = Freqüência inicial; FF = Freqüência final; FM = Freqüência máxima; T
= Duração de emissão da sílaba; kHz = quilohertz; ms = milisegundos).
Indivíduo Medida Sílaba 1 Sílaba 2 Sílaba 3
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,471 7,454 7,686
FM (kHz) 2,572 2,339 2,805
T (ms) 153 194 194
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,454 7,561 7,364
FM (kHz) 2,877 4,235 2,680
T (ms) 73 90 74
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,615 7,579 7,668
FM (kHz) 5,165 2,268 5,290
T (ms) 123 129 132
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,579 7,471 7,596
FM (kHz) 2,419 3,231 2,625
T (ms) 99 77 65
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,615 7,579 7,543
FM (kHz) 5.040 4,682 3,073
T (ms) 109 105 87
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,579 7,399 7,651
FM (kHz) 1,947 2,608 2,179
T (ms) 97 188 75
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,454 7,615 7,489
FM (kHz) 2,643 2,877 2,965
T (ms) 86 105 107
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,793 7,686 7,704
FM (kHz) 4,861 5,058 5,004
T (ms) 145 142 142
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,686 7,775 7,722
FM (kHz) 2,393 5,129 4,968
T (ms) 169 133 158
Saimiri sp.1 a
Saimiri sp.1 b
Saimiri sp.1 c
Saimiri sp.1 d
Saimiri sp.1 e
Saimiri sp.1 f
Saimiri sp.1 g
Saimiri sp.1 h
Saimiri sp.1 i
51
Tabela 15: Valores das medidas de cada laba para os indivíduos de Saimiri sp.2
analisados (FI = Freqüência inicial; FF = Freqüência final; FM = Freqüência máxima; T
= Duração de emissão da sílaba; kHz = quilohertz; ms = milisegundos).
Indivíduo Medida Sílaba 1 Sílaba 2 Sílaba 3
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,651 7,579 7,633
FM (kHz) 3,305 3,198 2,054
T (ms) 205 214 183
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,382 7,633 7,436
FM (kHz) 0,801 0,855 2,554
T (ms) 80 88 79
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,651 7,561 7,633
FM (kHz) 3,288 3,198 2,054
T (ms) 155 200 215
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,526 7,633 7,526
FM (kHz) 4,896 4,522 3,109
T (ms) 104 111 104
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,651 7,489 7,526
FM (kHz) 3,645 2,142 4,682
T (ms) 80 100 80
FI (kHz) 0,033 0,033 0,033
FF (kHz) 7,561 7,489 7,758
FM (kHz) 4,896 3,592 3,877
T (ms) 70 74 122
Saimiri sp.2 f
Saimiri sp.2 a
Saimiri sp.2 b
Saimiri sp.2 c
Saimiri sp.2 d
Saimiri sp.2 e
As Figuras 22, 23 e 24 representam exemplos de oscilogramas e espectogramas
da vocalização “cackle” de Saimiri vanzolinii, Saimiri sp.1 e Saimiri sp.2,
respectivamente.
52
Amplitude
Spectrogram, FFT size 512, Hanning window.
10165 ms
500 ms/div
0%
50%
100%
0%
-50%
-100%
4 kHz
8 kHz
Amplitude
Spectrogram, FFT size 512, Hanning window.
10165 ms
500 ms/div
0%
50%
100%
0%
-50%
-100%
4 kHz
8 kHz
Figura 22: Exemplo de oscilograma (a) e espectograma (b) da vocalização “cackle”de
Saimiri vanzolinii, contendo três sílabas.
Amplitude
Spectrogram, FFT size 512, Hanning window.
5 sec
1 sec/div
0%
50%
100%
0%
-50%
-100%
4 kHz
8 kHz
Amplitude
Spectrogram, FFT size 512, Hanning window.
5 sec
1 sec/div
0%
50%
100%
0%
-50%
-100%
4 kHz
8 kHz
Figura 23: Exemplo de oscilograma (a) e espectograma (b) da vocalização “cackle” de
Saimiri sp.1, contendo três sílabas.
a
b
a
b
53
Amplitude
Spectrogram, FFT size 512, Hanning window.
9 sec
1 sec/div
0%
50%
100%
0%
-50%
-100%
4 kHz
8 kHz
Amplitude
Spectrogram, FFT size 512, Hanning window.
9 sec
1 sec/div
0%
50%
100%
0%
-50%
-100%
4 kHz
8 kHz
Figura 24: Exemplo de oscilograma (a) e espectograma (b) da vocalização cackle” e
Saimiri sp.2, contendo três sílabas.
Foram encontradas diferenças significativas apenas nas freqüências máximas
das vocalizações “cackle”, onde a mediana de Saimiri sp.2 > Saimiri sp.1 > Saimiri
vanzolinii. Os resultados dos testes estatísticos são apresentados na Tabela 17. Os
valores das medianas das freqüências finais, medianas das freqüências máximas e
médias das durações de emissão são apresentados nas figuras 25, 26 e 27,
respectivamente.
Tabela 16: Resultados das análises estatísticas para freqüência final (FF), freqüência
máxima (FM) e duração de emissão (T). p = Probabilidade e GL = Graus de liberdade
(* Diferença significativa: Saimiri sp.2 > Saimiri sp.1 > Saimiri vanzolinii).
Parâmetro p GL
FF
Kruskal-Wallis H = 0,747
0,6882
2
FM
Kruskal-Wallis H = 11,590
0,003*
2
T
ANOVA F = 1,779 0,1775 2
Teste
a
b
54
Mediana
25%-75%
Min-Max
Saimiri vanzolinii
Saimiri sp.1
Saimiri sp.2
7.2
7.3
7.4
7.5
7.6
7.7
7.8
7.9
8.0
FF
Figura 25: Medianas das freqüências finais (FF) das sílabas “cackle” das três formas de
Saimiri.
Mediana
25%-75%
Min-Max
Saimiri vanzolinii
Saimiri sp.1
Saimiri sp.2
0
1
2
3
4
5
6
FM
Figura 26: Medianas das freqüências máximas (FM) das sílabas “cackle” das três
formas de Saimiri.
55
Saimiri vanzolinii Saimiri sp.1 Saimiri sp.2
90
100
110
120
130
140
150
160
170
T
Figura 27: Médias das durações de emissão (T) da vocalização das sílabas “cackle”
pelas três formas de Saimiri.
Média
Desvio padrão
56
6. DISCUSSÃO
6.1. DISTRIBUIÇÃO DE SAIMIRI NA RESERVA MAMIRAUÁ
As três formas de Saimiri estudadas nesta pesquisa apresentam diferenças
significativas em alguns contextos ecológicos e comportamentais, o que pode explicar o
isolamento reprodutivo entre as mesmas. No entanto, ainda não é possível afirmar se
Saimiri sp.1 e Saimiri sp.2 são duas espécies distintas ou apenas duas populações de
uma mesma espécie, apesar de apresentarem distribuições disjuntas e características
diferenciadas. Estas características que diferenciam as formas estudadas serão discutidas
mais adiante.
Para a fauna arborícola, nem sempre está claro se a separação ecológica é
mantida por razões fisiológicas ou por exclusão competitiva. Barreiras físicas podem ou
não representar fatores de separação, que alguns primatas podem facilmente
atravessar para outras áreas. A exclusão competitiva supõe que uma espécie impeça, por
meio de algum tipo de competição sutil ou direta, que outra espécie próxima invada seu
hábitat (Goulding, 1997).
Aparentemente não há barreiras para a distribuição geográfica entre as três
formas de Saimiri estudadas nesta pesquisa. Ayres e Clutton-Brock (1992) haviam
afirmado que rios de água branca nem sempre representam barreiras para a dispersão de
espécies de primatas. De acordo como esses autores, os meandros dos rios de água
branca poderiam facilitar essa travessia, através de pontes arbóreas formadas em alguns
pontos ou pela formação de novas áreas na margem oposta, geradas após a formação
dos lagos “oxbows”. Apesar de Saimiri vanzolinii ter sua distribuição limitada por
pequenos canais em algumas áreas (como o paraná do Jarauá e o paraná do Aiucá), estes
57
secam bastante durante o período da seca, o que poderia facilitar a travessia para a
margem oposta. Apesar de não ter sido verificado neste trabalho que as formas de
Saimiri ocupasses a margem oposta àquelas de sua distribuição, há relatos de moradores
locais de que, esporadicamente, alguns indivíduos são encontrados na margem oposta.
Esse comportamento provavelmente está relacionado à busca por alguma fonte
alimentar, mas os indivíduos voltam para suas áreas originais. Wallace et al. (1996)
apontaram um uso sazonal de hábitat, onde espécies de primatas como Chiropotes
albinasus e Saimiri ustus cruzaram o rio Guaporé / Iteñez, entre Brasil e Bolívia durante
poucos meses do ano. De fato, os canais da RDSM parecem não representar barreiras
para a dispersão das formas de Saimiri, então considera-se que o isolamento reprodutivo
entre elas dá-se através de diferenças ecológicas e comportamentais. Assim, pode-se
rejeitar a hipótese nula de que os limites da distribuição geográfica de Saimiri vanzolinii
são definidos pela presença de corpos d’água.
Outro fator importante em relação ao padrão de distribuição de Saimiri na
RDSM pode ser explicado pelo histórico da formação da várzea, que, provavelmente,
desempenhou um papel fundamental na distribuição das espécies. A dinâmica de
sedimentação e erosão da várzea permite modificações de curto e longo prazo, onde são
formados sistemas complexos de lagos, lagoas, restingas, chavascais, paranás e outras
formações (Klammer, 1984). Devido a essa dinâmica de destruição e construção,
populações de primatas podem ter sido isoladas, gerando o processo de especiação.
O tamanho da área de distribuição de Saimiri vanzolinii conhecida até então era
de 950 km
2
, sendo considerada a menor dentre os primatas neotropicais, mas o limite
oeste-noroeste ainda era considerado duvidoso pelo autor da espécie (Ayres, 1985). Esta
pesquisa confirmou este limite, com um acréscimo de 26,5 km
2
.
58
Foram localizadas áreas de peripatria junto ao limite de distribuição esclarecido
neste trabalho. A primeira área está localizada na margem esquerda do paraná do Aiucá
(peripatria entre Saimiri vanzolinii e Saimiri sp.1), enquanto a segunda eslocalizada
na margem direita do paraná do Jarauá (peripatria entre Saimiri vanzolinii e Saimiri
sp.2). Desta forma, pode-se supor que exista também uma área de peripatria de Saimiri
sp.1 e Saimiri sp.2 entre os paranás do Jarauá e Aiucá. Maiores esforços de amostragem
devem ser concentrados nesta região para que se definam os limites de distribuição
entre essas duas formas. Em uma outra área, mais a leste-sudeste da distribuição de
Saimiri vanzolinii, também foi registrada peripatria e sintopia com Saimiri sp.2,
inclusive com a formação de unidades sociais mistas dessa duas formas. Schwindt e
Ayres (2004) haviam considerado a existência de uma espécie congenérica parapátrica,
Saimiri sciureus, mas sem citar a localização geográfica da mesma na RDSM. Há,
portanto, uma separação espacial clara entre Saimiri vanzolinii e as demais formas, uma
vez que os pontos de peripatria e sintopia são muito limitados. Desta forma, hipótese
nula de que a distribuição das formas de Saimiri na RDSM é parapátrica foi aceita.
Aparentemente não há diferenças fitofisionômicas em nenhuma das regiões com
ocorrência de peripatria e sintopia. Desta forma, sugere-se que separações relevantes
nos nichos ocupados pelas formas de Saimiri, que provavelmente evoluíram com o
isolamento reprodutivo. O que poderia explicar a ausência de competição entre as
formas são diferenças ecológicas e comportamentais, que serão discutidas nos itens
seguintes.
Duas áreas consideradas com ocorrência de Saimiri vanzolinii por Ayres (1985)
foram vistoriadas, mas não encontrou-se nenhum indivíduo da espécie. Uma das áreas
está limitada entre o paraná do Cauaçu e o rio Solimões, enquanto a outra limita-se entre
59
o paraná do Apara e o rio Japurá. Na primeira área foi registrada ocorrência apenas do
macaco guariba (Alouatta seniculus), enquanto que a segunda área citada apresentou
ocorrência apenas de Saimiri sp.2. A constatação da presença de uma espécie em uma
área é mais fácil de ser feita do que a constatação da ausência, já que qualquer
casualidade pode determinar que os animais não sejam avistados e registrados. Para
desconsiderar a presença de Saimiri vanzolinii nestas duas áreas, foi levada em
consideração a ausência de pontos de coleta de parátipos por Ayres (1985), relatos de
moradores locais, que apontaram a ausência da espécie nesses mesmos locais, além da
falta de registros durante os percursos realizados nestas áreas. A remoção dessas duas
áreas representa 106 km
2
a menos na distribuição de Saimiri vanzolinii. Entretanto,
julga-se necessário que estas áreas sejam melhor investigadas em pesquisas futuras. A
partir destes resultados obtidos, pode-se supor que Saimiri vanzolinii apresenta, na
verdade, uma área de distribuição com 870,5 km
2
, sugerindo esta como a menor
distribuição geográfica conhecida de um primata neotropical.
6.2. TAMANHO DE UNIDADE SOCIAL
Tamanhos de grupos podem ser usados para comparar modelos ecológicos entre
espécies e entre populações da mesma espécie isoladas geograficamente. No entanto,
uma comparação aplicada a sociedades com fissão-fusão, como o caso do gênero
Saimiri, é algumas vezes limitada pela variação de definições de subgrupos, e a
operacionalização destas definições no campo torna-se bastante controversa.
algumas dificuldades para se quantificar subgrupos no campo, pois riscos de não se
incluir alguns animais na contagem, principalmente em locais onde a visibilidade é
limitada pela vegetação (Chapman, et al., 1993). Esses mesmos autores discutem
60
diversos métodos usados para a contagem de indivíduos de chimpanzés (Pan
troglodytes), como registro por vocalização, contagem em árvores frutíferas ou durante
os momentos de deslocamento dos grupos. Na presente pesquisa, diversos métodos
foram utilizados para a contagem dos indivíduos, como detecção auditiva, localização
de fontes alimentares, observação de deslocamento e varredura ao redor da unidade
social. Desta forma, considera-se que as unidades sociais foram contadas da forma mais
acurada possível.
Os resultados aceitam a hipótese nula, que nenhuma das formas de Saimiri
apresentou diferenças significativas entre os dois extremos sazonais (seca e cheia)
analisados. Apesar de não terem sido encontradas tais diferenças, verifica-se uma
tendência de que Saimiri vanzolinii e Saimiri sp.1 apresentam unidades sociais menores
durante a cheia. De acordo com Ayres (1995), os padrões de produção de folhas, flores
e frutos variam bastante entre as diferentes comunidades florísticas e são respostas ao
clima e à herbivoria. Nas florestas tropicais, os picos de frutificação da comunidade de
plantas são, em grande parte, respostas ao balanço hídrico nos solos. Assim que as
águas descem, a frutificação das árvores termina e as folhas começam a cair. Além
disso, o pico da maturação dos frutos dispersos por animais coincide com os níveis mais
altos d’água. Pires (1997) considera que o pico de frutificação das árvores cujas
sementes são dispersas por mamíferos ocorre simultaneamente com o pico da cheia,
tanto no chavascal, como nas várzeas. A abundância de frutos durante a cheia permite
observar animais como mamíferos e aves alimentando-se avidamente. Esta mesma
autora afirma que Saimiri vanzolinii está entre as espécies de mamíferos que mais
consomem frutos na várzea. Apesar dela não citar as outras formas de Saimiri, supõe-se
que esse mesmo padrão possa ser aplicado a elas. Goulding (1997) também considera
61
que as árvores apresentam um período relativamente intenso de frutificação que
coincide com o início e o pico das cheias anuais.
Assim, sendo a dieta de Saimiri composta em grande parte por frutos
(Mittermeier & van Roosmalen, 1981; Terborgh, 1983), pode-se supor que esses
animais apresentem maior fissão durante o período da cheia, visto a grande
disponibilidade do recurso. Não seria esperado que esse padrão verificado atuasse como
uma estratégia de se evitar competição intra-específica, justamente pela abundância do
recurso. Por outro lado, se na estação da seca os frutos são menos disponíveis, os
macacos-de-cheiro provavelmente utilizam invertebrados como itens principais da dieta.
Como a distribuição deste tipo de recurso não é agregada como a dos frutos, não seria
necessário que os grupos se dividissem tanto.
Saimiri sp.2 apresentou unidades sociais menores tanto na estação da seca como
na da cheia, embora as diferenças significativas com as outras duas formas refiram-se
apenas a estação da seca. Este resultado rejeita a hipótese nula de que as unidades
sociais das três formas de Saimiri da RDSM apresentam o mesmo tamanho nas
comparações interespecíficas. Ainda não se pode afirmar as razões que fazem com que
essa forma apresente o tamanho médio de unidade social diferente ao das demais formas
congenéricas. Pode-se, no entanto, sugerir que os hábitats disponíveis em sua área de
distribuição apresentem características e disponibilidade de recursos diferenciados em
relação aos da distribuição das outras formas. Assim, essas características podem ter
contribuído para que os grupos não se dividissem tanto ou apresentassem tamanhos
muito grandes.
62
6.3. ASSOCIAÇÃO COM OUTROS PRIMATAS
Diversos autores citam associações temporárias entre espécies de Saimiri com
outros primatas, especialmente com os do gênero Cebus (Baldwin & Baldwin, 1981;
Fleagle & Mittermeier, 1981; Terborgh, 1983; Ayres, 1985; Boinski, 1989b).
Mittermeir & Coimbra-Filho (1977) também relatam sobre associação entre Cacajao
melanocephalus e Saimiri sciureus.
Nesse trabalho, verificou-se associação de Saimiri com três espécies de
primatas, sendo desconsiderada Cebuella pygmaea, por apresentar um único registro ao
longo de todo o período da coleta de dados. Os resultados rejeitam a hipótese nula de
que as três formas de Saimiri da RDSM associam-se na mesma proporção a outras
espécies de primatas. Cebus macrocephalus foi a espécie que mais freqüentemente se
associou às três formas de Saimiri, mas de forma significativa apenas com Saimiri
vanzolinii e Saimiri sp.1. O tamanho amostral de registros de associação em Saimiri
sp.1 e Saimiri sp.2 (12 e 11 registros, respectivamente) foi relativamente baixo em
relação a Saimiri vanzolinii (31 registros). Entretanto, não se pode afirmar que Saimiri
sp.2 não apresentou diferenças significativas em função do tamanho amostral, mas
talvez em relação à freqüência de associação com as outras espécies (21% tanto em
Alouatta seniculus como em Cacajao calvus calvus). Cacajao calvus calvus apresentou
associação significativamente menor com Saimiri sp.1, em apenas 5% dos registros,
mas foi encontrado em associação com Saimiri sp.2 em 21% dos casos e em 16% com
Saimiri vanzolinii. Alouatta senciculus não apresentou grandes variações na associação
com nenhuma das formas de Saimiri. Sabe-se que em toda a área focal da RDSM
ocorrência de Cacajao calvus calvus (Ayres, 1986), mas a densidade desta espécie nas
diferentes regiões ainda é desconhecida. Alguns moradores, residentes próximos a área
63
de ocorrência de Saimiri sp.1, relatam que Cacajao calvus calvus “quase não é visto”,
sugerindo a baixa densidade dessa espécie nessa região. Assim, pode-se considerar que
a baixa associação entre Saimiri sp.1 e Cacajao calvus esteja relacionada,
provavelmente, a sua densidade ser realmente baixa nesta área.
Saimiri é considerado um gênero onívoro, alimentando-se, basicamente, de
frutos e invertebrados (Mittermeier & van Roosmalen, 1981; Terborgh, 1983), embora
tenham sido avistados consumindo folhas em condições de semi-cativeiro (Ramalho
et al., 2005). Assim como Saimiri, primatas do gênero Cebus também são considerados
onívoros, embora apresentem preferência por frutos (Fonseca, 1996; Cunha et al.,
2006).
Mittermeier & van Roosmalen (1981) consideram que Saimiri é encontrado mais
freqüentemente em associação com Cebus do que com outros primatas. Boinski (1989b)
considera que não evidências de que a associação entre Saimiri oerstedii e Cebus
capucinus favoreça na eficiência de forrageamento, mas sim no beneficiamento mútuo
através de comportamentos anti-predadores. Fleagle & Mittermeier (1981) indicaram
diferenças na dieta e no uso do substrato na associação entre Saimiri sciureus e Cebus
apella.
Embora a dieta não tenha sido avaliada nesta pesquisa, pode-se considerar que as
formas de Saimiri da RDSM e Cebus macrocephalus se beneficiam com a localização
de fontes alimentares, como foi observado em algumas situações, quando indivíduos
dos dois gêneros foram avistados alimentando-se de frutos na mesma árvore, sem sinais
de agressão interespecífica. Esse beneficiamento mútuo foi observado por Mittermeier
& van Roosmalen (1981), sugerindo que espécies ecologicamente próximas, com
separação de nicho, podem beneficiar-se mutuamente com a localização de fontes
64
alimentares, como árvores frutíferas. Desta forma, as associações entre as formas de
Saimiri estudadas e Cebus macrocephalus parecem favorecer todas as espécies, tanto
com a emissão de chamados de alarme (comportamentos antipredadores), como na
localização de fontes alimentares.
Apesar das espécies do gênero Alouatta serem as mais folívoras dentre os
primatas neotropicais (Milton, 1980; Bicca-Marques & Calegaro-Marques, 1995),
Alouatta seniculus, espécie que ocorre na RDSM, possui uma dieta eqüitativamente
dividida entre folhas e frutos, sendo considerado um folívoro obrigatório, embora
apresente preferência por frutos (Queiroz, 1995). Segundo este mesmo autor, a dieta
dessa espécie é refletida pelas variações sazonais, já que consome mais frutos na
enchente e cheia. o gênero Cacajao é considerado especialista na predação de frutos
imaturos e duros, tendo adaptações no crânio, musculatura cranial, dentição e aparelho
digestório para este tipo de dieta (Kinzey, 1992; Barnett & Brandon-Jones, 1997).
Diferenças na dieta, na estrutura social e no uso do espaço, portanto, aparentemente
demonstram que Alouatta seniculus e Cacajao calvus não apresentam associações
claras com as formas de Saimiri estudadas, sendo encontradas próximas ao acaso, visto
que ocorrem na mesma área. Os resultados demonstram que as associações ocorrem
apenas entre as formas de Saimiri e Cebus macrocephalus, quando ao menos uma das
espécies pode se beneficiar com a presença da outra, seja pela emissão de chamados de
alarme ou pela localização de fontes alimentares.
65
6.4. PREFERÊNCIA POR HÁBITAT
Embora o gênero Saimiri não seja considerado um gênero especialista em hábitat
(Terborgh, 1983; Baldwin, 1985), pode-se considerar que, dependendo da escala em que
o estudo é conduzido, as espécies podem apresentar determinadas preferências. As
formas encontradas na área focal da Reserva Mamirauá selecionaram hábitats
específicos, mas sem distinção entre as estações. Saimiri vanzolinii selecionou os
chavascais em ambas as estações, enquanto Saimiri sp.1 e Saimiri sp.2 selecionaram as
várzeas baixas em ambas as estações. De acordo com os resultados obtidos, rejeita-se
uma das hipóteses nulas, de que não diferenciação interespecífica no uso do hábitat
entre as três formas de Saimiri da RDSM. A outra hipótese, de que não há diferenciação
sazonal no uso do hábitat entre as três formas de Saimiri da RDSM, foi aceita.
Alguns trabalhos tratam sobre características das matas da RDSM. Ayres (1995)
aborda diversos aspectos das várzeas altas e baixas, mas não menciona os chavascais.
Este autor considera que o nível d`água é o fator chave na determinação da composição
de espécies nas comunidades florísticas da várzea, destacando diferenças e semelhanças
entre as várzeas altas e baixas. As comunidades desses dois tipos de várzea diferem em
alguns metros e variam em composição de espécies, área basal e número de árvores por
unidade de espaço, de maneira bastante significativa. Das 174 espécies encontradas, 41
são endêmicas da várzea alta, mas 67 ocorrem apenas na várzea baixa. A proporção de
árvores associadas a cipós na restinga baixa é 17,2% mais alta que na restinga alta. A
comparação entre a produção de frutos entre as várzeas alta e baixa mostra algumas
diferenças. O percentual médio mensal de árvores com frutos na várzea baixa foi de
9,6%, um pouco maior que na várzea alta (de 7,6%).
66
Pires (1997) aborda diversos aspectos sobre estrutura e composição florística,
enfocando diferenças entre as várzeas (mas sem diferí-las entre alta e baixa) e os
chavascais. Esta autora afirma que as várzeas e os chavascais diferenciam-se em seus
aspectos de estrutura e composição florística. A maior concentração de árvores
encontra-se no chavascal, onde existem 83 indivíduos/ha a mais do que na várzea,
embora a riqueza de espécies seja maior neste segundo ambiente, onde 1 ha concentra
22% mais espécies que no primeiro. A altura média das árvores da várzea e do
chavascal praticamente não difere, sendo de 10,6 e 10,5 m, respectivamente. As alturas
máximas chegaram a 30 m na várzea e 25 m no chavascal. Entretanto, a várzea possui
16 espécies com mais de 25 m de altura, enquanto apenas quatro espécies atingem 25 m
de altura no chavascal. uma maior proporção de espécies com frutos na várzea do
que no chavascal em quase todos os meses do ciclo sazonal, o que demonstra maior
diversidade na produção de frutos no primeiro tipo de ambiente. o chavascal é o
hábitat onde maior produtividade de frutos, onde 148 árvores/ha produzem mais de
50.600 frutos /ha. Essa produtividade grande ocorreu em maio e setembro, coincidindo
com a frutificação das espécies que mais caracterizam esse tipo de ambiente. Inga
dumosa (ingá) pode ser dispersada por Saimiri vanzolinii ou ter suas sementes
descartadas debaixo da própria planta. Tanto a densidade relativa/ha como a freqüência
relativa/ha dessa planta são maiores no chavascal do que na restinga.
Queiroz (1995) realizou inventário botânico e fenologia em uma área de
chavascal e em uma de várzea baixa, encontrando fortes diferenças entre esses dois
tipos de hábitats, no que se refere à paisagem, fitoestrutura, composição florística e,
mais sutilmente, na fitossociologia. Quanto à paisagem, a várzea baixa apresentou-se
como um hábitat florestado, com sub-bosque limpo e de fácil acesso. o chavascal
67
mostrou-se um hábitat esparsamente florestado, com menor acessibilidade e com muitos
arbustos. A altura média encontrada para os chavascal foi de 9,9 m, enquanto para a
várzea baixa foi de 11,6 m. O chavascal apresentou 37 espécies de árvores, sendo 12
exclusivas deste hábitat. Das 68 espécies registradas para a várzea baixa, 43 foram
exclusivas deste hábitat. O chavascal apresentou índice de diversidade (Shannon-
Wiener) de 0,68, enquanto o da várzea baixa foi de 1,04. Os índices fenológicos
apresentaram picos de frutificação definidos para cada hábitat. Enquanto a maior
produção de frutos ocorreu em abril no chavascal, esta ocorreu em maio na várzea
baixa.
O presente trabalho demonstrou que nenhuma das formas de Saimiri apresentou
diferenças na seletividade de hábitat entre as estações. O que pode implicar nessa
preferência são os fatores estruturais e de composição florística característicos de cada
ambiente, mas não fatores sazonais. De acordo com Boinski (1987), esses últimos
fatores determinam a abundância de alimento, influenciando no uso de diferentes tipos
de floresta, tamanho da área de uso e padrão de atividades de Saimiri oertedii.
Entretanto, o estudo dessa autora foi realizado na América Central, com condições
diferentes das encontradas no ecossistema de rzea. Nessa pesquisa, aparentemente
não são os fatores sazonais que influenciam no uso do hábitat pelas formas de Saimiri.
O conjunto das características típicas de cada ambiente, como as citadas por
todos aqueles autores (Ayres,1995; Queiroz, 1995; Pires, 1997), pode explicar a
seletividade dos chavascais por Saimiri vanzolinii e das várzeas baixas por Saimiri sp.1
e Saimiri sp.2. Schwindt & Ayres (2004) afirmaram que Saimiri vanzolinii não utiliza o
chavascal, retirando-o da área de distribuição da espécie através de métodos de
geoprocessamento, implicando em uma brusca diminuição no tamanho da distribuição
68
geográfica da espécie. O presente trabalho indica que a espécie não somente usa, como
também apresenta preferência por este tipo de ambiente em ambas as estações
amostradas. Não é possível avaliar se o chavascal oferece recursos alimentares
preferidos por Saimiri vanzolinii, pois sua dieta não foi avaliada neste trabalho, mas
pode-se afirmar que esse hábitat oferece condições necessárias para sua sobrevivência.
Além disso, pode-se sugerir que foi nesse tipo de ambiente que a espécie encontrou
condições de sobrevivência ao longo de seu processo evolutivo, gerando sua especiação.
As outras formas de Saimiri estudadas ocorrem em áreas adjacentes a da distribuição de
Saimiri vanzolinii, e ambas apresentaram preferência pelas várzeas baixas.
A vegetação que cobre as diferentes partes da várzea depende de sua idade,
correnteza, textura dos sedimentos, padrão de sedimentação e período de alagamento
(Junk, 1984). Considera-se necessário que sejam realizados estudos geomorfológicos na
área focal da RDSM para verificar a existência de diferenças entre as áreas de
distribuição das três formas de Saimiri estudadas, podendo elucidar questões sobre seus
padrões de distribuição e, conseqüentemente, uso diferenciado do hábitat.
6.5. USO VERTICAL DO ESTRATO
Os macacos-de-cheiro utilizam todos os níveis de estratos da floresta, embora
apresentem preferência pelo sub-bosque e estratos mais baixos, podendo descer ao chão
ou subir até os níveis mais altos do dossel (Baldwin & Baldwin, 1981; Baldwin, 1985).
Boinski (1989a) verificou que os machos adultos de Saimiri oertedii, na Costa Rica, são
os indivíduos que ocupam os níveis mais altos, entre 8 e 10 m. Provavelmente, pelo fato
dos machos adultos serem maiores que as demais classes sexo-etárias, tornam-se menos
suscetíveis à predação por aves de rapina. Terborgh (1983), por outro lado, encontrou
69
diferenças bem marcantes, quando verificou que 70% das atividades de Saimiri
sciureus, no Peru, ocorrem acima dos 30 m e os machos adultos gastam a maior parte de
seu tempo em níveis mais baixos em relação às demais classes sexo-etárias. O uso do
alto dossel por fêmeas e adultos provavelmente está relacionado à proteção contra
predadores terrestres. De acordo com Lima (2000), um grupo de Saimiri sciureus, no
Parque Ecológico de Gunma, no Estado do Pará, utilizou predominantemente os estratos
baixo (39,9%) e médio (42,5%). Entretanto, esses indivíduos ocupavam mais
freqüentemente áreas de floresta secundária, o que pode explicar a ocupação de estratos
com alturas mais baixas.
Neste trabalho, verificou-se que as três formas de Saimiri ocupam proporções
do estrato mais elevadas na estação da seca e mais baixas na estação da cheia. A
hipótese nula de que não há diferenciação sazonal no uso vertical do estrato entre as três
formas de Saimiri da RDSM foi rejeitada. As alturas ocupadas pelos animais,
provavelmente, relacionam-se com o tipo de alimento disponível em cada estação.
Apesar da dieta não ter sido investigada nesta pesquisa, sabe-se que o período da cheia
apresenta a maior oferta de frutos (Pires, 1997). Por esta razão, considera-se que o uso
significativamente mais baixo do estrato pelas três formas de Saimiri, na estação da
cheia, esteja relacionado ao uso de determinados recursos alimentares que se
encontravam nestes níveis.
Na estação da seca, Saimiri vanzolinii utilizou significativamente estratos mais
baixos em relação a Saimiri sp.1. A hipótese nula de que não diferenciação
interespecífica no uso vertical do estrato entre as três formas de Saimiri da RDSM foi
rejeitada. Esse resultado provavelmente está relacionado ao tipo de hábitat preferido por
Saimiri vanzolinii (o chavascal), que apresenta a altura média das árvores menor que a
70
das várzeas (Queiroz, 1995; Pires, 1997). Além disso, observou-se que a altura das
árvores onde foi registrada ocorrência de Saimiri sp.1 é visivelmente maior que nas
outras áreas amostradas (obs. pess.). Esse também pode ser o motivo pelo qual Saimiri
vanzolinii não diferiu de forma significativa de Saimiri sp.2. e também esta última com
Saimiri sp.1, já que ambas preferem o mesmo tipo de hábitat, as várzeas baixas.
Posteriormente, foram analisados os resultados separados por hábitat, mas
diferenças significativas foram encontradas apenas nas várzeas baixas, estação da seca.
O UVE de Saimiri sp.1 foi superior ao de Saimiri sp.2 , que por sua vez foi superior ao
UVE de Saimiri vanzolinii. Esse resultado também pode ser explicado pela altura
visivelmente maior das árvores na área de ocorrência de Saimiri sp.1 (obs. pess.),
conferindo, portanto, o uso de proporções mais elevadas do estrato.
Os dados deste trabalho demonstraram que as formas de Saimiri com ocorrência
na área focal da RDSM apresentam grande diversidade quanto ao uso do estrato. Muito
embora tenham sido apresentados valores médios quanto ao UVE, todas as formas
utilizaram todos os estratos, do chão (0% do estrato vertical disponível) aos estratos
mais superiores (100% do estrato vertical disponível). Na cheia, somente Saimiri
vanzolinii ocupou esses dois estratos, enquanto Saimiri sp.2 ocupou apenas o estrato
mais alto (Tabela 08). Sabe-se que os macacos-de-cheiro são onívoros (Mittermeier &
van Roosmalen, 1981; Terborgh, 1983). Assim, é bem provável que pesquisas sobre a
dieta do gênero Saimiri na RDSM e a disponibilidade de recursos alimentares possam
elucidar melhor esse padrão de uso dos estratos verticais.
71
6.6. COMUNICAÇÃO VOCAL
Diversos estudos têm abordado a vocalização dos macacos-de-cheiro sob
diferentes condições. Os trabalhos realizados em cativeiro têm se concentrado
principalmente em aspectos neurológicos (Jürgens & Ploog, 1970; rgens, 1979;
Kirzinger & Jürgens, 1982; Lu & Jürgens, 1993; Dujardin & Jürgens, 2005) e
fisiológicos (Smith et al. 1983). Estudos com animais habituados à presença do homem
e de vida livre foram realizados, principalmente, com Saimiri oertedii, na Costa Rica,
por Boinky (1991) e por Boinski & Newmann (1988). A vocalização de Saimiri
vanzolinii e, provavelmente, a das outras formas de Saimiri com ocorrência na RDSM é
abordada pela primeira vez com esta pesquisa.
Como muitos primatas, os macacos-de-cheiro apresentam uma variedade de
sinais vocais, sendo a maioria destes usados para interações com membros de seu grupo.
Esses sinais podem apresentar grande variação na freqüência audível, partindo de 0,1
kHz até 16 kHz, sendo classificados de acordo com detalhes estruturais, ontogenia e
contexto comportamental, podendo haver de 25 a 30 tipos de chamados diferentes que
se agrupam em seis grupos de acordo com características estruturais compartilhadas
(Winter, 1966, Newman, 1985).
Tentou-se realizar a gravação de vocalizações de diversos contextos sociais, mas
da maioria deles não foi possível conseguir uma boa amostragem. Pelo fato desta
pesquisa não ter sido realizada com animais habituados, freqüentemente estes se
encontravam muito distantes do microfone para que a gravação tivesse boa qualidade.
Além disso, vocalizações de diversos contextos sociais não eram emitidas comumente.
O tipo de vocalização agonística mais comum é chamada de “cackle”, sendo
produzido em diversos contextos sociais, expressando, principalmente, algum tipo de
72
incômodo. Uma das situações em que este tipo de vocalização pode ocorrer é na aversão
a outros animais ou na detecção de predadores (Newman, 1985). Dessa forma,
considera-se que as vocalizações gravadas neste trabalho foram emitidas como um sinal
de estresse pela presença dos observadores. Por este motivo, a vocalização “cackle” foi
escolhida para ser analisada e verificada a existência de diferenças nos parâmetros
acústicos entre as formas de Saimiri. Considera-se também, portanto, que este tipo de
vocalização é a mais apropriada para ser analisada em grupos de Saimiri não habituados
à presença humana.
Apesar de apresentar facilidade para ser gravado, o chamado “cackle” possui
estrutura altamente variável, tornando-se difícil de ser analisado. Sua duração é bastante
variável, podendo oscilar entre 10 e 200 ms. Alguns “cackles” apresentam-se obscuros
no espectograma, sendo difícil, conseqüentemente, de se determinar suas freqüências
fundamentais (Newman, 1985).
Winter (1969) analisou dialetos nos macacos-de-cheiro, comparando os grupos
Gótico (representado por Saimiri madeirae juruanus) e Romano (representado por
Saimiri boliviensis nigriceps). O repertório vocal dos dois grupos foi comparado através
de análise espectográfica. Dezoito chamados de macacos-de-cheiro do grupo romano
foram similares aos equivalentes do grupo gótico. Apesar dos padrões básicos de
vocalização dos dois grupos serem os mesmos, algumas diferenças características
puderam ser demonstradas, como variações em determinadas freqüências (curso de
freqüência e freqüência alternada). Entretanto, o autor não incluiu na análise as
vocalizações do grupo “cackle”, o que limita as comparações com os dados do presente
trabalho.
73
Todas as freqüências iniciais das sílabas “cackle” analisadas para as três formas
de Saimiri apresentaram valores idênticos. Considera-se que os valores encontrados
podem representar a freqüência inicial fundamental deste tipo de vocalização do gênero
Saimiri, considerando-se este caráter como um atributo do gênero, que estava
presente em todos os táxons examinados.
Tanto as freqüências finais como a duração de emissão das sílabas não
apresentaram diferenças entre as três formas de Saimiri. Entretanto, foram encontradas
diferenças nas freqüências máximas, onde a mediana deste parâmetro em Saimiri sp.2
foi superior à de Saimiri sp.1, que por sua vez foi superior à de Saimiri vanzolinii.
Desta forma, a hipótese nula de que as vocalizações de alarme (“cackle”) das três
formas de Saimiri não apresentam diferenças em seus parâmetros sonoros foi rejeitada.
Parâmetros bioacústicos podem contribuir significativamente na compreensão
das relações taxonômicas no nível de espécies (Vielliard, 1995). Animais que dependem
de sinais sonoros de comunicação devem manter uma estrutura sonora (determinada
geneticamente) rigorosamente definida, para que seja reconhecida por membros de sua
espécie. Isto deve-se, principalmente, ao fenômeno chamado de contra-seleção, ou seja,
o indivíduo que desviar do padrão acabará sendo eliminado, já que não será reconhecido
como membro da espécie (Vielliard, 2007).
As distribuições das três formas de Saimiri da RDSM são adjacentes, com
pequenas áreas de peripatria. Segundo Newman (1985), fatores como isolamento
geográfico de populações podem ser a causa da variabilidade na estrutura das
vocalizações. Mitani et al. (1999) analisaram o chamado de longa distância de
chimpanzés (Pan troglodytes schweinfutthii) em duas populações no leste na África,
74
concluindo que, apesar da estrutura acústica ser a mesma, as medidas quantitativas deste
chamado diferiram entre as populações, sugerindo variação geográfica.
Apesar desta pesquisa não considerar os rios e canais da RDSM como barreiras
para a dispersão, sabe-se que as freqüências máximas da vocalização “cackle” emitidas
pelos animais de uma margem são diferentes das freqüências máximas dos animais da
margem oposta. Embora o esforço amostral tenha sido baixo e apenas um tipo de
vocalização tenha sido analisada na presente pesquisa, foi possível encontrar diferenças
entre as três formas de Saimiri da RDSM. Vocalizações de outros contextos sociais
devem ser analisadas para que se verifique se mais características que se diferenciam
para estas formas estudadas.
75
7. CONCLUSÕES
Definiu-se o limite oeste-noroeste da distribuição de Saimiri vanzolinii - ainda
duvidoso desde a descrição da espécie por Ayres (1995) - juntamente com um pequeno
acréscimo de 26,5 km
2
nesta área. Por outro lado, 106 km
2
foram extraídos da área de
distribuição, onde não foi registrada a presença da espécie e onde não quaisquer
outras evidências de sua ocorrência. Desta forma, sugere-se que a distribuição
geográfica de Saimiri vanzolinii é ainda menor do que previamente estimado, com
apenas 870,5 km
2
, sendo esta provavelmente a menor dentre os primatas neotropicais.
Localizou-se duas áreas de peripatria junto ao limite de distribuição esclarecido
neste trabalho, uma localizada próxima ao paraná do Aiucá (simpatria entre Saimiri
vanzolinii e Saimiri sp.1), e outra próxima ao paraná do Jarauá (simpatria entre Saimiri
vanzolinii e Saimiri sp.2). Em uma outra área, mais a leste-sudeste da distribuição de
Saimiri vanzolinii, também foi registrada peripatria e sintopia com Saimiri sp.2,
inclusive com a formação de grupos mistos. Desta forma, concluiu-se que e distribuição
de Saimiri vanzolinii é parapátrica, com áreas de peripatria muito restritas.
Os dados desta pesquisa demonstraram que, apesar de alguns rios e canais
atuarem como limites na distribuição de Saimiri vanzolinii, considera-se que essas
barreiras geográficas não são capazes de impedir completamente a dispersão da espécie.
Portanto, o isolamento reprodutivo entre as formas de Saimiri da RDSM pode ser
explicado pela exclusão competitiva, uma vez que as formas observadas apresentam
algumas diferenças ecológicas e comportamentais. Esta conclusão é congruente com o
sugerido por Pianka (1974), de que a coexistência de espécies deve diferir a partir das
necessidades ecológicas mínimas de cada uma.
76
Diversos tópicos foram explorados neste trabalho, encontrando-se diferenças
entre as três formas de Saimiri em todos eles. Saimiri vanzolinii difere-se das demais
formas pelo uso diferenciado do hábitat (apresentando preferência pelos chavascais) e
pela emissão de sílabas da vocalização “cackle” com freqüências máximas mais baixas
em relação às outras duas formas de Saimiri. Diferenças entre Saimiri sp.1 e Saimiri
sp.2 foram registradas quanto ao tamanho de unidade social, uso vertical do estrato e
freqüências máximas emitidas na vocalização “cackle”.
Pode-se considerar que as áreas onde estão distribuídas as formas de Saimiri na
área focal da RDSM provavelmente apresentam diferenças paleogeográficas, de modo
que oferecem recursos (como alimentos, por exemplo) distintos para cada táxon.
Estudos de campo envolvendo aspectos vegetacionais, de geoprocessamento e de
ecologia alimentar devem ser realizados naquela área para que se compreenda que tipos
de diferenças podem estar atuando na distribuição de Saimiri e de outros primatas.
As diferenças ecológicas e comportamentais, assim como os padrões de
distribuição geográfica, foram congruentes com as diferenças morfológicas observadas
entre as três formas de macacos-de-cheiro investigadas no presente estudo, sugerindo
que se tratam de três táxons distintos, embora Saimiri sp.1 e Saimiri sp.2 ainda não
possam ser separados em duas espécies distintas. Estes resultados deverão ser utilizados
como uma fonte de informações fundamental em um estudo específico, visando a
definição taxonômica das formas de Saimiri presentes na RDSM. Além disso, fazem-se
necessários estudos citogenéticos e moleculares das três formas do gênero, de modo que
esclareça a divergência entre elas.
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