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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC/SP
A temática financeira na agenda da política externa do governo Lula: o BNDES e o
modelo de participação e exposição financeira do Brasil na América do Sul.
Rodrigo Maschion Alves
Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais
‘San Tiago Dantas’
UNESP-UNICAMP-PUC/SP
MESTRADO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
SÃO PAULO
2008
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC/SP
A temática financeira na agenda da política externa do governo Lula: o BNDES e o
modelo de participação e exposição financeira do Brasil na América do Sul.
Rodrigo Maschion Alves
Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais
‘San Tiago Dantas’
UNESP-UNICAMP-PUC/SP
MESTRADO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora como exigência parcial
à obtenção de título de Mestre em
Relações Internacionais pela
Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, sob a orientação da
Prof.(a) Dra. Flávia de Campos
Mello.
SÃO PAULO
2008
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Banca Examinadora:
Flávia de Campos Mello. PUC-SP.
Orientadora.
Ricardo Ubiraci Sennes. PUC-SP.
Sebastião Velasco e Cruz.
UNICAMP.
Data: 24/10/08
AGRADECIMENTOS
Agradeço a minha orientadora, Professora Dra Flávia de Campos Mello, pela
profissional e dedicada orientação que resultou nesta tese de mestrado. As suas críticas,
contribuições e orientações foram fundamentais para a execução da difícil tarefa em
abordar um tema contemporâneo como é o objeto desta pesquisa.
Agradeço aos meus colegas da turma de 2006 pelas longas e agradáveis horas de
conversas descontraídas e divertidas. Certamente foram diálogos fundamentais para
arejar as idéias em momentos de dúvidas e angústias.
Registro também os meus sinceros agradecimentos ao Prof. Dr. Ricardo Ubiraci
Sennes pelos longos diálogos, trabalhos e disciplinas que conduzimos juntos na
PUC/SP.
Aos meus irmãos de coração João Marcelo, Alan, Alex e Totti. E aos meus tios
Ary e Altair. Sem a ajuda deles esse trabalho também não seria realizado.
Finalmente sou eternamente grato aos meus pais José e Ermelinda pelo amor
incondicional que sempre me deram. E a minha irmã e meu sobrinho Julinho, pelo
carinho e companheirismo.
RESUMO
Este trabalho é resultado da integração de duas linhas de estudo: os estudos
próprios da Política Externa Brasileira, área inserida no campo das relações
internacionais; e os estudos sobre a economia política do financiamento, com especial
atenção para a caracterização do sistema público de financiamento brasileiro. Ambas as
áreas resguardam uma preocupação central: o desenvolvimento econômico do Brasil.
Esta pesquisa procura mapear duas questões centrais: a articulação entre o BNDES e a
política externa brasileira na América do Sul dentro da agenda da prioridade conferida
para a integração regional pelo governo Lula no período de 2003 a 2007; e o modelo de
participação e exposição financeira do Brasil na região defendido por este governo. O
trabalho procura destacar a evolução da importância da temática financeira na agenda da
Política Externa do governo Lula.
Ao mesmo tempo, a pesquisa verifica que o tema financeiro regional proposto
pelo governo Lula resguarda uma modelagem própria que está de acordo com as
características das condições infra-estruturais da arquitetura financeira nacional. As
conclusões direcionam para a orientação de que o Brasil ainda não é um ator que
resguarde uma condição de liderança no processo de aprofundamento da integração
regional ao introduzir nas discussões das iniciativas os elementos de ordem financeira.
A condição própria da arquitetura financeira do Brasil e a estrutura do BNDES não
possibilitam ao país exercer qualquer tipo de liderança material e política referentes aos
processos de construção dos laços integradores entre os países da América do Sul.
Argumenta-se que a prioridade conferida para a integração regional está condizente com
as orientações das políticas econômicas e industriais estruturadas no âmbito do Estado
brasileiro.
Palavras-chave: integração regional; política externa; financiamento;
internacionalização, investimentos.
ABSTRACT
This work encompasses two different thematic areas: the Brazilian foreign policy
studies, area concentrated on the studies of international relations; and the studies with
focus on the financial political economy, with special attention to Brazil’s public system
characterization. Both areas regard a central concern: Brazil’s economic development.
This research seeks to map two central questions: the articulation between BNDES and
PEB for the period from 2003 to 2007; and the Brazil’s financial model of participation
and exposure in the South-American region defended by this government. This work
manages to highlight the importance of financial theme on Brazil’s foreign policy
agenda during Lula’s administration. At the same time, this work understands that the
regional financial theme proposed by Lula’s government regards a lineage structured in
Brazilian financial condition.
Key-words: regional integration; foreign policy; finance; internationalization;
investments.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 16
CAPÍTULO UM:
A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA E A INTEGRAÇÃO REGIONAL ............. 22
Item 1. Variáveis históricas da política externa brasileira .................................................... 23
Item 1.2. A autonomia: ......................................................................................................... 23
Item 1.3. A diversificação e o universalismo: ...................................................................... 25
Item 1.4. A Independência: .................................................................................................. 25
Item 1.5. O pragmatismo: ..................................................................................................... 26
Item 2. O estudo acadêmico do regionalismo da PEB nos anos noventa ............................. 30
Item 2.1. A problemática da ausência de supranacionalidade institucional na
iniciativa do Mercosul ................................................................................................... 32
Item 2.2. Assimetria e ausência de uma liderança regional: ................................................ 35
Item 2.3. O viés comercial imposto ao Mercosul e a não articulação macroeconômica
entre os membros do bloco ............................................................................................ 36
Item 2.4. O sentido soberano como componente redutor da vulnerabilidade, o
paradigma do desenvolvimento e a ausência de supranacionalidade: costurando o
diagnóstico ..................................................................................................................... 38
Item 2.5. Autonomia pela integração, sentido soberano e a caracterização do Brasil
enquanto ator hegemônico do sistema sul-americano ................................................... 39
Item 2.6. Universalismo: Mercosul e América do Sul ......................................................... 40
Item 2.7. Pragmatismo no regionalismo ............................................................................... 42
Item 2.8. O legado concreto e o momento de redefinição da importância da América do
Sul para a PEB ............................................................................................................... 43
Item 3. O atual regionalismo da política externa brasileira: a América do Sul como
espaço geográfico e físico revitalizado nos anseios do governo Lula ............................... 46
Item 3.1. O novo e o velho regionalismo ............................................................................. 47
Item 3.2. Retomando o diagnóstico sobre o atual regionalismo .......................................... 48
Item 3.3. Síntese do diagnóstico. Revendo a política regional do Brasil ............................. 50
CAPÍTULO DOIS:
NOVAS ESTRATÉGIAS DO FINANCIAMENTO PÚBLICO DAS
EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS PARA A AMÉRICA DO SUL ............................... 56
Item 1. Apresentação dos argumentos .................................................................................. 57
Item 1.1. O BNDES e a Política Externa Brasileira: considerações iniciais ........................ 58
Item 2. O financiamento do desenvolvimento: as condições inerentes da realidade
financeira brasileira e o papel do BNDES ......................................................................... 63
Item 2.1. O sistema público de financiamento das exportações de longo prazo. O papel
do BNDES ............................................................................................................................ 64
Item 3. O BNDES no apoio ao financiamento das exportações: antecedentes; inovações;
e flexibilizações ................................................................................................................. 69
Item 3.1. O ano de 1997: a passagem da FINAMEX para BNDES-Exim e a
intensificação das atividades financiadoras do banco .......................................................... 71
Item 3.2. Anos 2000: medidas restritivas tomadas no âmbito do Banco central do Brasil
quando ao uso do sistema CCR-Aladi .................................................................................. 77
Item 3.3. O aprofundamento das inovações no sistema público de financiamento das
exportações: inovações e flexibilizações quanto ao uso do CCR ........................................ 80
Item 3.4. O CCR renovado e o modelo Knaepen Package ................................................... 86
Item 4. O sistema público de financiamento das exportações de Longo Prazo:
características inerentes ..................................................................................................... 93
Item 5. A importância do setor exportador de serviços de engenharia e construção civil
para países em desenvolvimento ....................................................................................... 96
Item 6. Quadro conclusivo do capítulo ................................................................................. 98
CAPÍTULO TRÊS:
A EVOLUÇÃO DA ARTICULAÇÃO ENTRE A PEB E O BNDES NA
AMÉRICA DO SUL ......................................................................................................... 101
Item 1. Apresentação dos argumentos centrais .................................................................. 102
Item 1. 1 O MERCOSUL e o Bloco Andino na agenda financeira do Brasil .................... 106
Item 2. A Argentina. O prelúdio e a sugestão política dada para os recursos do BNDES:
o não entendimento dos aspectos técnico-financeiros ..................................................... 109
Item 2.1. A reorientação da relação Brasil e Argentina na temática financeira: a demora
na liberação dos recursos do BNDES ................................................................................ 111
Item 2.2. A intensificação das reclamações argentinas e o adensamento da relação
bilateral ............................................................................................................................... 113
Item 2.3. A possibilidade da melhoria na relação Brasil e Argentina; o retrocesso; e a
Comunidade sul-americana de nações (CASA) ................................................................. 116
Item 2.4. Novos embates e a maior redefinição do discurso da diplomacia brasileira ....... 118
Item 2.5. Uma possível interpretação da estratégia diplomática argentina ........................ 122
Item 3. Brasil-Uruguai. Da marginalização para a redefinição de postura ......................... 123
Item 4. Brasil-Paraguai. Um tratamento marginal para o Paraguai .................................... 128
Item 5. A Venezuela: um tratamento diferenciado e a intensificação das relações
bilaterais Brasil-Venezuela .............................................................................................. 131
Item 5.1. A presença econômica crescente na Venezuela e o início de algumas tensões
diplomáticas ....................................................................................................................... 133
Item 5.2. A aliança pragmática........................................................................................... 135
Item 5.3. O gasoduto e a revisão do discurso da diplomacia brasileira .............................. 138
Item 5.4. O Banco do Sul: tensões e contrapropostas ........................................................ 140
Item 6. Brasil-Peru. Relações amistosas; o acordo Mercosul-Peru como prelúdio do
acordo Mercosul-CAN .................................................................................................... 144
Item 7. Brasil-Equador. Relações amistosas; pragmatismo; e horizontes de longo prazo . 148
Item 8. Brasil-Bolívia: do perdão da dívida ao conflito do gás ....................................................... 154
Item 9. Brasil-Colombia: a introdução da Colômbia no palco da articulação .................... 158
Item 10. O Brasil na arena multilateral: As regras do FMI e da OCDE quanto aos
financiamentos públicos para investimentos de longo prazo; e o BID e o BNDES ........ 159
CAPÍTULO QUATRO:
A CAF E O CCR-ALADI: OS NÚMEROS .................................................................. 164
Item 1. A condição estrutural da economia latino-americana: o contexto econômico
financeiro ......................................................................................................................... 165
Item 1.1. A problemática da poupança interna e dos instrumentos de financiamento: a
importância da CAF para a redução da vulnerabilidade das economias regionais ............ 167
Item 1.2. O fenômeno da transmissão: a retomada do argumento do CCR-Aladi ............. 170
Item 1.3. Contornando a problemática da poupança interna: a visão conjunta CAF-
BNDES ............................................................................................................................... 172
Item 1.4. A poupança interna e os mercados de capitais: o argumento das reformas
estruturais de segunda geração ........................................................................................... 173
Item 1.5. O diagnóstico da CAF ......................................................................................... 175
Item. 2. O papel, a visão e a condição da CAF: outro argumento da importância da CAF
para as preferências da PEB e do BNDES na região ....................................................... 178
Item 2.1. A CAF e sua respeitabilidade internacional: qualificando empiricamente as
orientações da diplomacia brasileira .................................................................................. 180
Item 2.2. Os números do Brasil junto à CAF: a crescente participação do país na
instituição ........................................................................................................................... 182
Item 2.3. Detalhando os números, aprofundando os argumentos ..................................... 186
Item 3. Os números do comércio exterior brasileiro no sistema CCR-Aladi ..................... 191
Item 3.1. As contas de débito, crédito e os saldos totais: a compensação multilateral de
créditos ............................................................................................................................... 194
Item 3.2. Comparativo MERCOSUL e Pacto Andino ....................................................... 197
Item 3.3. Quadro conclusivo .............................................................................................. 199
CONCLUSÃO ................................................................................................................... 201
ANEXOS DO CAPÍTULO DOIS ...................................................................................... 208
ANEXOS DO CAPÍTULO QUATRO ............................................................................... 220
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................ 236
LISTA DE GRÁFICOS.
GRÁFICO 1: desembolso anual para a exportação de serviços em relação ao
desembolso total do BNDES ............................................................................................. 74
GRÁFICO 2: desembolso anual do BNDES; apoio por setor ............................................ 74
GRÁFICO 3: a utilização do CCR ...................................................................................... 78
GRÁFICO 4: diferença entre o custo CCR e a taxa de remuneração das reservas ............. 79
GRÁFICO 5: comparativo entre os instrumentos públicos de financiamento de médio e
longo prazo ........................................................................................................................ 82
GRAFICO 6: distribuição geográfica da exposição do FGE .............................................. 88
GRAFICO 7: exposição de risco do FGE de acordo com a classificação da OCDE ......... 89
GRAFICO 8: distribuição da carteira FGE ajustada pelo uso do CCR .............................. 90
GRÁFICO 9: a qualificação do risco de investimento da CAF ........................................ 181
GRÁFICO 10: qualificações latino-americanas de dívidas de longo prazo ..................... 181
GRÁFICO 11: gráfico A ................................................................................................... 194
GRÁFICO 12: gráfico B ................................................................................................... 195
GRÁFICO 13: gráfico C ................................................................................................... 195
GRÁFICO 14: gráfico A1 ................................................................................................. 197
GRÁFICO 15: gráfico B1 ................................................................................................. 197
GRÁFICO 16: gráfico C1 ................................................................................................. 198
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: exportações brasileiras em 2005: categorias econômicas e blocos
destinados em US$ milhões ............................................................................................... 75
TABELA 2: comparativo BNDES e PROEX em US$ milhões .......................................... 82
TABELA 3: exposição geográfica do FGE ......................................................................... 88
TABELA 4: distribuição da carteira do FGE por nível de risco país, de acordo com a
classificação da OCDE ...................................................................................................... 89
TABELA 5: formação bruta de capital .............................................................................. 167
TABELA 6: formação bruta de capital em % do PIB ....................................................... 168
TABELA 7: registros públicos de crédito ......................................................................... 177
TABELA 8: ações de capital ordinária .............................................................................. 183
TABELA 9: ações de capital de garantia .......................................................................... 184
TABELA 10: aprovações de operações por modalidade operativa ................................... 186
TABELA 11: aprovações de operações por modalidade de risco ..................................... 187
TABELA 12: desembolsos por país em US$ milhões ...................................................... 187
TABELA 13: aprovações de operações por país ............................................................... 188
TABELA 14: projetos IIRSA e Brasil ............................................................................... 189
TABELA 15: exportações brasileiras em US$ milhões .................................................... 192
TABELA 16: importações brasileiras em US$ milhões .................................................... 193
TABELA 17: a importância do PIB por classe econômica, a preços correntes de
mercado em milhões de dólares ...................................................................................... 220
TABELA 18: os números do comércio exterior por setor econômico em milhões de
dólares das diversas iniciativas integradoras da região ................................................... 220
TABELA 19: o grau de investimento da CAF .................................................................. 221
TABELA 20: detalhes dos recursos da CAF aprovados para o Brasil .............................. 223
TABELA 21: participação de empresas brasileiras em projetos financiados pela CAF ... 225
TABELA 22: conjunto de tabelas sobre os Débitos, créditos e saldos: ajustados e não
ajustados .......................................................................................................................... 228
TABELA 23: comparativo de Débitos, Créditos e Saldos: MERCOSUL e Pacto Andino234
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ACC _ Adiantamento sobre contrato de câmbio.
ACE _ Adiantamento sobre câmbios entregues.
ALADI _ Associação Latino-Americana de Integração.
BC _ Banco Central.
BCB ou BACEN _ Banco Central do Brasil.
BID _ Banco Interamericano de Desenvolvimento.
BNDES _ Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
BNDESpar _ BNDES participações.
BNDES-Exim _ linha do BNDES responsável pelo financiamento do comércio
exterior.
BICE _ Banco de Inversión y Comércio Exterior de Argentina.
BROU _ Banco da República Oriental do Uruguai.
CAF _ Corporação Andina de Fomento.
CAFTA-RD _ Dominican Republic-Central America Free Trade Agreement.
CAN _ Comunidade Andina de Nações.
CAMEX _ Câmara de Comércio Exterior.
COBAN _ Comissão de Alto Nível Brasil-Venezuela.
COFIG _ Comitê de financiamento e Garantia das Exportações.
CCR _ Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos.
CCR-ALADI _ Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos da ALADI.
FAT _ Fundo de Amparo ao Trabalhador.
FGE _ Fundo de Garantia das Exportações.
FGPC _ Fundo de Garantia Pró-competitividade.
FOCEM _ Fundo de Convergência Estrutural do MERCOSUL.
FONPLATA _ Fondo Financiero para El Desarrollo de La Cuenca Del Plata.
FMI _ Fundo Monetário Internacional.
FINAME _ Linha de Financiamento de Máquinas e Equipamentos (Agência Especial
de Financiamento Industrial).
FINAMEX _ Linha de Financiamento de Máquinas e Equipamentos com pós e pré-
embarque.
JBIC _ Japan Bank of International Cooperation.
LIBOR _ London Interbank Offered Rate.
MERCOSUL _ Mercado Comum do Sul.
MDIC _ Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
MRE _ Ministério das Relações Exteriores.
OCDE _ Organization for Economic Co-operation and development.
PEB _ Política Externa Brasileira.
PROEX _ Programa de Financiamento às Exportações.
PSCI _ Programa de Substituição Competitiva das Exportações.
SBCE _ Seguradora Brasileira de Créditos para Exportações
SCE _ Seguro de Créditos para Exportações.
SGAS _ Subsecretaria Geral para assuntos da América do Sul.
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
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A temática financeira na agenda da política externa do governo Lula: o BNDES e o
modelo de participação e exposição financeira do Brasil na América do Sul.
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‘San Tiago Dantas’
UNESP-UNICAMP-PUC/SP
MESTRADO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
SÃO PAULO
2008
17
INTRODUÇÃO
Este trabalho é resultado da conjugação de duas linhas de estudo: os estudos
próprios da Política Externa Brasileira, área inserida no campo das relações
internacionais; e os estudos sobre a economia política do financiamento, com especial
atenção para a caracterização do sistema público de financiamento do Brasil. Ambas as
áreas resguardam uma preocupação central: o desenvolvimento econômico do Brasil.
Desta integração entre temas surgiu uma pesquisa que se centrou na análise da
trajetória e evolução das ações diplomáticas do governo Lula para o tema financeiro
regional. Inicialmente, a pesquisa procurou extrair quadros analíticos específicos a partir
das formulações e propostas da PEB para o tema financeiro inserido nas iniciativas de
integração regional. Com o decorrer do trabalho, verificamos a imperativa necessidade
de considerarmos os aspectos que chamamos de “infra-estruturais” do Estado brasileiro
que determinam as ações, formulações, implementações, limites e possibilidades das
propostas financeiras do Brasil para a América do Sul. Centramos o BNDES com um
dos componentes fundamentais desta pesquisa de forma a caracterizarmos parte do
quadro que é composto pelas condições “infra-estruturais”; condições estas que
determinam as ações e projeções internacionais do Brasil a partir da plataforma sul-
americana.
Ao examinarmos os estudos sobre a historiografia da PEB e a vertente regional da
mesma, entendemos que a ação internacional do Brasil responde, antes de tudo, aos
determinantes internos do aparelho estatal. Ou seja, os seus objetivos políticos,
econômicos e sociais. Dessa forma, embora não sejam negadas as importâncias dos
exercícios das vontades dos atores políticos do Brasil, tampouco as determinações do
sistema regional e internacional, a pesquisa procura nas raízes dos aspectos “infra-
estruturais” do Brasil o caminho para as respostas levantadas por esta tese.
O capítulo um intitulado “A Política Externa Brasil e a Integração regional”
procura, por meio de uma revisão bibliográfica, compreender e sistematizar as variáveis
históricas da PEB. Essa revisão foi feita recorrendo-se aos artigos de importantes
revistas da área das relações internacionais, assim como a partir da revisão de livros de
autores consagrados no meio acadêmico brasileiro. Por meio de fichamentos,
organizamos um quadro analítico que nos subsidiasse com os elementos centrais para
correlacionar os limites e alcances da PEB nas iniciativas de integração regional;
ademais de extrair os elementos que nos direcionam para o debate entre as variáveis
18
históricas da PEB correlacionadas com o tema do desenvolvimento econômico. O outro
objetivo é aplicar essas variáveis na determinação dos alcances das próprias iniciativas
integradoras das quais o Brasil formou e forma parte. Objetivamos, com essa estratégia
inicial, considerarmos os elementos mais subjacentes da organização econômica,
institucional, política e social do Estado brasileiro que se traduzem no comportamento
da ação internacional do país; e, por adição, nos resultados práticos das iniciativas
empreendidas pela diplomacia brasileira referentes à temática financeira regional.
O capítulo dois “Novas estratégias do financiamento público das exportações
brasileiras” especifica, a partir da área da economia política do financiamento, um dos
aspectos subjacentes da organização econômica do Brasil: no caso, o financeiro. Isso
integra os dois temas da pesquisa e, dessa forma, elabora as primeiras hipóteses
relacionadas ao tema financeiro na política externa brasileira na região. Para expressar a
natureza e os elementos que constituem o universo dos limites e das possibilidades
dessa articulação temática, lançamos mão do conceito “infra-estrutural” que constitui os
enquadramentos que definem parte dos resultados do Brasil na América do Sul.
A metodologia aplicada nesse capítulo consistiu do exame da bibliografia sobre a
economia política do financiamento; sobre a historiografia da economia brasileira; e
sobre temas relacionados às estratégias de política comercial do Brasil. O segundo passo
foi examinar os materiais específicos do BNDES tais como artigos, relatórios, dados e
prospecções dos seus funcionários de carreira. Com esses esforços, procuramos
entender o papel do BNDES no financiamento das exportações nacionais em vista do
referencial da arquitetura financiadora brasileira. Em seguida, por meio de consultas a
literaturas específicas, entendemos os contornos gerais das linhas de financiamento das
exportações de produtos de alto valor agregado e suas conexões com as grandes
empresas brasileiras que atuam na região. Por meio da verificação das discussões
inseridas no âmbito da UNCTAD e dos seus materiais disponíveis, integrados todo o
texto dentro de um quadro que estabelece a relação positiva entre integração regional,
exportação de serviços de engenharia e construção civil e desenvolvimento econômico
para países em vias de crescimento.
O capítulo três “A evolução da articulação entre a PEB e o BNDES na América do
Sul” é a tradução mais substancial da pesquisa. Ele apresenta os resultados de uma
pesquisa documental a partir de fontes de mídia eletrônica e impressa haja vista o
caráter contemporâneo do tema. Duas ordens de problema chamam a atenção do
pesquisador neste capítulo: os temas relativos aos acertos quanto aos seguros e garantias
19
aos recursos do BNDES expostos na região; e a caracterização do modelo de
participação e exposição financeira do Brasil. Ademais as discussões paralelas, no
âmbito multilateral, acerca das contestações quanto às regras da OCDE e FMI
estabelecidas para os financiamentos públicos do desenvolvimento dos países
periféricos e o delineamento dos contornos dos apoios e cenários diplomáticos que
foram sendo constituídos ao longo dos anos.
Não se trata de assuntos diferentes, pois os acertos quanto aos seguros e garantias
entre o Brasil e cada Estado receptor do investimento brasileiro têm implicações
políticas nas relações diplomáticas do âmbito regional. Ademais, a caracterização desses
acertos deixa transparecer aos poucos o modelo de participação e exposição financeira
do Brasil na região. Por serem temas correlacionados, os mesmos representam um
campo privilegiado para se analisar a formulação da PEB; os diversos cenários de
apoios e embates políticos regionais; a evolução e o amadurecimento do discurso
diplomático brasileiro para o tema financeiro integrado na prioridade dada para a
integração regional; as redefinições das coalizões de apoio político para as propostas do
Brasil; e, o mais importante para a tese, as implicações das condições “infra-estruturais”
na definição dos alcances e objetivos almejados pela PEB.
Este capítulo e sua metodologia inicial representaram os primeiros esforços
concretos para a confecção desta tese. Ao depararmos com os cenários complexos que
estavam inseridos os anseios e os atores diplomáticos, decidimos reavaliar a nossa
estratégia e reorientar as abordagens metodológicas e temáticas. Percebemos, em vista
das dificuldades enfrentadas pela diplomacia brasileira no tema financeiro regional, a
necessidade de estudarmos os temas paralelos destacados no capítulo dois para melhor
compreendermos a evolução da PEB e os seus desafios na região sul-americana. Dessa
estratégia surgiu o conceito que intitulamos “infra-estrutural”. Conceito que traça o
universo das condicionantes internas que determinam os alcances, limites e
possibilidades para a ação internacional brasileira na temática financeira regional.
Quais, portanto, são os outros objetivos desse capítulo e que nos remetem de volta
para a consideração das condições “infra-estruturais” do Estado Nacional? A definição
do quadro geral da articulação; os momentos mais importantes; as redefinições da
estratégia internacional brasileira dentro do tema específico da participação e exposição
financeira regional; o modelo brasileiro proposto para a temática financeira regional; o
peso relegado pela diplomacia brasileira no trato específico dado para cada Estado no
que diz respeito às concessões de créditos do banco para investimentos brasileiros em
20
seus respectivos territórios; e os momentos críticos e de redefinições aos apoios
recebidos pelo governo Lula na sua política de prioridade para a integração regional
com a participação do BNDES no processo.
Não se tratou de fazer no capítulo três a reconstituição fiel do período destacado,
haja vista os recursos materiais e documentais limitados e a própria contemporaneidade
do tema. Procuramos sim, identificar os componentes fundamentais das conjecturas e o
sentido da sua transformação mediante um material de mídia impressa e eletrônica. Esse
procedimento pareceu-nos suficiente para esclarecer as hipóteses do trabalho levantadas
nos capítulos dois e três e qualificadas empiricamente no capítulo quatro; capítulo este
que remete a tese de volta para o capítulo um.
O capítulo quatro “A CAF e o CCR-Aladi: os números” é o esforço empírico mais
destacado desta pesquisa. Por meio de processamento de dados da ALADI, da CAF,
CEPAL e Banco Mundial, assim como dos órgãos nacionais como o BCB, Ministérios
da Fazenda, do Orçamento, Planejamento e Gestão e da Indústria e Comércio,
procuramos mapear o quanto foi possível implementar em relação ao que foi formulado.
Aproximamos o máximo possível os números da CAF e do CCR-Aladi para tentarmos
definir se de fato o Brasil estruturou um modelo próprio de participação e exposição
financeira; uma condição cooperativa regional; e ou mesmo uma contribuição efetiva e
substancial para o fomento tanto da integração, quanto do próprio comércio exterior
nacional na região. Outro objetivo desta fase da tese é traçarmos as preferências do país
no trato com os Estados da região dentro da temática financeira a partir dos números
concretos.
O objetivo geral da nossa pesquisa é compreender a ação dos atores diplomáticos
nos limites estabelecidos pelas condições “infra-estruturais”. Dessa forma, transporemos
essa compreensão na explicação do modelo de participação e exposição financeira do
Brasil na região; para o entendimento do estabelecimento dos limites e possibilidades da
articulação BNDES-PEB na América do Sul; e para o exame da formação das coalizões
e embates diplomáticos do Brasil dentro do novo regionalismo bilateral que se
estruturou no século XXI. Em outros termos, trata-se de entender em que condições e
limites operam os executores da PEB e, ao mesmo tempo, como estas condições afetam
os resultados políticos e materiais alcançados.
Trata-se, dessa forma, estudar a PEB tendo-se em mente e perspectiva a
conjugação de conjunturas políticas, econômicas, sociais e institucionais imediatas;
conjunção esta que se correlaciona com o espaço sul-americano e os anseios
21
econômicos do Brasil. O campo regional se caracteriza pela necessária busca de fontes
de financiamento para o desenvolvimento e integração física.
22
CAPÍTULO 1: A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA E A INTEGRAÇÀO
REGIONAL.
23
Item 1. Variáveis históricas da política externa brasileira.
Independência, autonomia, diversificação e o universalismo. Estes conceitos
constituem o universo para a ação diplomática e a política internacional brasileira; todos
são resultantes do transcorrer da evolução histórica da ação internacional do Brasil.
Ação esta sempre em constante harmonia com os preceitos e diretrizes dos cenários
políticos, econômicos e sociais estruturados no seio do Estado brasileiro. Portanto, as
referidas variáveis são a tradução internacional dos preceitos internos do Brasil
circunscritos, dessa forma, na sua Política Externa. Tais conceitos são comumente
diagnosticados em leituras historiográficas acerca da PEB
1
. Eles nunca aparecem
isolados em determinados momentos históricos da PEB; o que ocorre é uma interação
entre todos onde, em determinados contextos, alguns deles ganham maior relevância do
que os outros. Nesse sentido, excluindo e ou incluindo certas alternativas e estreitando
outras, uma análise de determinado período da PEB poderá identificar qual dos
elementos ganha ou perde relevo importância em determinados momentos e contextos
históricos. Cabe acrescentar que, para caracterizar melhor a relevância de cada
elemento, devemos ter em conta o momento histórico determinado e os adensamentos
dos objetivos políticos e econômicos do Brasil tanto no contexto internacional, quanto
no regional. No caso desta pesquisa, o contexto regional será mais destacado.
Item 1.2. A autonomia:
A autonomia é o objetivo último da política externa do Brasil. Com ela, o país
procura consolidar uma ação externa própria e de acordo com os interesses políticos e
econômicos vigentes em um determinado contexto histórico no qual o país esteja
inserido. Nesse sentido, a autonomia objetiva consolidar, também, no plano
internacional, a postura soberana do Brasil em termos territoriais, já que soberania e
território são conceitos que necessariamente caminham juntos em análises de política
externa. A outra vertente da autonomia perseguida pela PEB estrutura-se de acordo com
o modo e o modelo de inserção internacional e de desenvolvimento econômico do país.
A autonomia, segundo Gelson Fonseca, “possibilitou o desenvolvimento de um espaço
nacional”; desenvolvimento este que não exclui possibilidades de engajamentos em
1
A tese de Doutorado de Flavia de Campos Mello, USP 2000, sistematizou e problematizou tais questões.
24
bases internacionais e ou regionais, mas que resguarda alguma margem de manobra
efetiva de atuação e independência em confluência com as complexidades do aparelho
estatal brasileiro (Fonseca Jr., 1998, p. 368). Adiciona-se, sobre esta colaboração, a
argumentação de que a autonomia defende, em termos de “desenvolvimento de um
espaço nacional”, o componente dos interesses econômicos a serem atendidos pela ação
internacional nacional.
As raízes da autonomia, segundo o mesmo autor, remontam da época da atuação
de Rio Branco no estabelecimento pacífico das fronteiras brasileiras. A autonomia, a
exemplo do universalismo, também se traduz no respeito ao direito internacional, na não
intervenção, na autodeterminação dos povos, na democracia, no respeito aos direitos
humanos e na preferência para a discussão das questões internacionais nos foros
multilaterais. Discussões estas que, por sua vez, estabelecem posturas de ordem
econômica e comercial de um país que não possui, para fazer valer os seus objetivos,
aparatos de poder militar e político que os resguarde em uma condição mais destacada e
ofensiva na arena internacional. Portanto, autonomia deve, também, ser interpretada
como elemento estruturante de um Estado sem poderio militar que, ao fazer uso dos
foros multilaterais, procura se esquivar do poder dos países centrais e, dessa forma,
defender minimamente a sua postura por meio de coalizões e blocos amplos de Estados
sob uma mesma orientação.
Esta pesquisa tem, entre outros objetivos, o de sugerir que a autonomia se traduziu
na discussão de aspectos de governança corporativa para o estabelecimento do modelo
de participação e exposição financeira do Brasil na América do Sul. O modelo do
Brasil, como destacaremos, é fortemente defensivo, o que revela o componente
autônomo da ação internacional na defesa de uma caracterização financeira regional
condizente com a sua “infra-estrutura” interna. Os papéis e posturas do BNDES
traduzem parte desse componente “infra-estrutural”. A introdução das questões
financeiras do Brasil na agenda da política externa nacional é um dos componentes da
nova vertente autônoma da PEB; isto tendo em perspectiva a reorientação dos interesses
econômicos nacionais em estreita correlação com a necessidade de desenvolvimento de
um “espaço”, este agora regional, para a economia brasileira.
25
Item 1.3. A diversificação e o universalismo:
São os meios para a execução da ação internacional do Brasil na arena mundial. A
diversificação e o universalismo se traduzem nas relações do Brasil com as grandes
potências e com os países pobres e em desenvolvimento; além do respeito ao direito
internacional, a pluralidade, a democracia e aos direitos humanos. A própria ênfase do
Brasil em levar as grandes discussões dos temas internacionais para a arena das
instituições multilaterais como a ONU, OMC e outras, é fator revelador do caráter
universalista da PEB. O Universalismo pode ser basicamente entendido como a
estratégia para manter sempre “opções abertas” e não excludentes de negociação para a
inserção e o posicionamento internacional do Brasil. As próprias iniciativas de
integração regional respondem a esta lógica da ação externa. A idéia básica do
universalismo seria não excluir possibilidades haja vista a percepção das incertezas
quanto ao futuro do país de acordo com os seus interesses e trajetórias econômicas. No
que concerne à diversificação das parcerias do Brasil _ muitas vezes entendidas como
parcerias estratégicas _ estas se integram, possivelmente, no conceito de pragmatismo,
que será esclarecido logo adiante.
A diversificação, no nosso tema, é verificada no regionalismo em bases bilaterais
e na ampliação da agenda comercial do Brasil com os países do Pacto Andino. O
tratamento diferenciado dado para cada Estado, dentro da agenda financeira, de acordo
com os interesses econômicos e comerciais do Brasil na América do Sul, é outra
tradução do universalismo e da diversificação; subentende-se que sejam resultantes do
componente pragmático das avaliações da PEB em estreita corroboração com os
elementos agora discutidos. Poderemos, também, fazer a leitura, no capítulo três, acerca
do universalismo e da diversificação, na evolução da trajetória da PEB. Será destacada a
transformação do cenário de apoio político dado para o Brasil por cada Estado. Dessa
forma analisaremos como o regionalismo bilateral serviu como saídas para possíveis
embates mais amplos contra um front mais destacado de atores regionais; ou seja,
discutiremos como a PEB manteve as opções abertas em contextos de reveses e tensões
diplomáticas.
Item 1.4. A Independência:
A independência procura consolidar uma postura própria do Brasil perante o
mundo alheia às forças de ordem geopolítica e ou econômica internacionais. Nesse
26
sentido, a independência casa com a autonomia, o universalismo e a diversificação de
forma a blindar o Brasil, na ordem da esfera internacional, dos custos e riscos
conseqüentes dos possíveis alinhamentos automáticos com as potências centrais e ou
esferas regionais. A própria estratégia comumente empregada pela diplomacia do Brasil
em consolidar e discutir as questões políticas e econômicas internacionais no âmbito dos
foros multilaterais traduz esta consideração e problemática de forma elucidativa.
O mesmo vale para o sentido soberano da PEB que, ao mesmo tempo em que
possibilita a adesão aos planos e organismos internacionais no âmbito multilateral, evita
comprometimentos mais acertados no âmbito regional; questão esta a ser discutida
adiante e que qualifica o argumento de o Brasil evitar a supranacionalização das
iniciativas institucionais integradoras no âmbito regional. Segundo San Tiago Dantas, a
“independência é, acima de tudo, aquela posição que não se curva aos interesses de um
bloco nem de outro, (...) podemos um dia estar com um bloco, como estar com outro”
2
.
A independência poderá ser traduzida, também, na recusa ao modelo venezuelano
do banco do Sul. A outra denotação da independência se traduz na tentativa da PEB de
reestruturação de iniciativas institucionais de integração como a ALADI, o
MERCOSUL e a CAF. O modelo de exposição e participação financeira do Brasil na
América do Sul é outra tradução possível para a caracterização da independência da
ação internacional do governo Lula para a temática proposta. Ao qualificarmos o
modelo como fortemente defensivo, estamos tendo em mente a idéia de ser uma
estratégia que evita comprometimentos de ordem legal e material que o país evita para
não comprometer a sua autonomia na condução dos seus planos econômicos nacionais.
Item 1.5. O pragmatismo:
O contexto do surgimento do pragmatismo na PEB direcionado para o entorno sul-
americano deu-se nos anos setenta com a administração de Geisel seguida mais
profundamente por Figueiredo nos anos oitenta (Moura; e Lima, 1982, p. 349). A
redefinição das hegemonias em antigas áreas de influência, o declínio relativo do poder
hegemônico norte americano e o fortalecimento da Europa Ocidental foram os fatores
contextuais que redefiniram as opções e alianças estratégicas do Brasil (Idem). A
emergência de potências intermediárias, a liquidação dos impérios coloniais e o
2
San Tiago Dantas, Perfis Parlamentares, seleção e introdução de Marcílio Marques Moreira, Brasília,
Câmara dos deputados, 1983; citado por Fonseca 1998, p. 327; extraído da tese de Mello 2000, p.31.
27
recrudescimento dos conflitos localizados foram os fatores históricos que contribuíram
para a definição do pragmatismo da PEB; fato esse que conferiu aos países do terceiro
mundo e em desenvolvimento posições mais destacadas para a visão estratégica da PEB
naquele contexto (Idem, p. 350). Por outra parte, os efeitos da escalada da globalização,
a dinamização das correntes de comércio e de capitais, a integração e a centralização do
progresso tecnológico também foram fatores que contribuíram na definição do referido
pragmatismo (Idem).
Adicionalmente, o “pragmatismo responsável de Geisel” seria:
Modelo político e econômico caracterizado pela tentativa de aprofundar um tipo de
capitalismo associado, com o respaldo de um sistema político autoritário. Tal
modelo, operando nas novas condições internacionais, gerou um projeto de
“potência emergente”, que procurou obter melhores condições de desenvolvimento
econômico e acréscimo de poder no plano internacional (Idem, p. 351).
Os autores qualificaram a continuidade do modelo teórico do pragmatismo, que
com a entrada de Figueiredo no poder, permaneceu o mesmo a despeito da mudança no
sistema internacional. Com o agravamento da crise internacional, do sistema político
interno e do modelo econômico que estava sustentando o pragmatismo erigido na era
Geisel
3
, ocorreu a mudança somente na linguagem e no estilo da diplomacia.
Conceitualmente ela passou a ser denominada de universalista (daí a sugestão da relação
estreita entre os conceitos pragmatismo e universalismo). A inovação veio da
incorporação de duas vertentes da inserção internacional do Brasil no plano mundial: as
relações com os países do norte e as relações com os países em desenvolvimento do sul.
A compreensão das relações sul-sul e das relações com países da América latina
explicam-se pelo contexto de protecionismo e inflação internacional dos anos setenta.
Tal condição conferiu às regiões destacadas um posicionamento central para os
3
A estratégia do governo Geisel em política econômica foi adotar um plano de ajuste estrutural,
caracterizado no II PND, que tinha por objetivo remover ou atenuar a restrição externa ao crescimento
através de uma política de substituição de importações e do aumento da capacidade de exportar; mesmo a
despeito do contexto internacional desfavorável a esta iniciativa. Basicamente, a estratégia seria investir
na superação da dependência externa, ampliando a capacidade de produção doméstica de bens de capital e
petróleo. O plano, estruturado para áreas sensíveis como energia, transporte e infra-estrutura, dependia de
financiamentos públicos e privados; o primeiro foi feito através do BNDE, cuja função era financiar o
setor privado por meio de créditos com juros subsidiados. O investimento público foi feito por meio da
contratação de dívidas retidas pelas estatais brasileiras, além de recursos do orçamento (impostos).
28
interesses da PEB de forma a melhor responder as “vantagens comparativas do Brasil”
(Idem, p.351).
Pode-se concluir, portanto, que o pragmatismo nos subsidia com duas variáveis
para se analisar a PEB: considerar as transformações de ordem internacional vigente; e
analisar internamente a política econômica brasileira (Idem). A nossa tese defende o
conceito “infra-estrutural” como sendo o conjunto dos fatores que define os limites e as
possibilidades do modelo de participação e exposição financeira do Brasil e a
articulação BNDES-PEB na América do Sul. A expressão interna do pragmatismo na
ação internacional do governo Lula para a região define-se por este conceito que será
detalhado adiante. Do ponto de vista internacional, as discussões acerca das regras do
FMI e OCDE, em bases multilaterias, representam ou sugerem, para o tema financeiro
na agenda da PEB, o caráter internacional do pragmatismo.
Com esses elementos, o papel da América Latina e do Sul na política externa
brasileira, quando se utiliza o conceito de pragmatismo como suporte analítico, teve
seus primeiros sinais de consideração já na era Geisel; mas ganhou mais vigor na era
Figueiredo (Idem, pp. 359, 360 e 361). Na fase de Geisel a região tinha um viés de
preocupações militares em termos de segurança nacional, de fronteira e de conflitos
políticos com a Argentina; mas isso não impediu que o governo sinalizasse com
inovações ao se abster das conversações acerca do fim das sanções a Cuba e da sua
reincorporarão junto à OEA (Idem). Já no governo Figueiredo, o pragmatismo foi bem
mais acentuado, conferindo para a região um caráter de considerações políticas e
econômicas mais pertinentes aos interesses nacionais. Segundo os autores:
As mudanças sutis de postura para com a região na era Geisel, e a postura
mais acentuada do governo Figueiredo, ensejaram a região destacada como
palco dos interesses do Brasil traduzidos na sua postura pragmática para
com a região. Fato este que marcou o prelúdio dos interesses mais estreitos
e econômicos do Brasil verificados até os dias atuais, e que se traduziram
em possibilidades de convivência política entre regimes políticos, sociais e
econômicos referentes ao continente (idem, p. 360).
29
Com o pragmatismo instaurado no “acervo diplomático permanente”
4
, a ação e a
política internacional do Brasil passaram a considerá-lo como um Estado que não cabe
exclusivamente em nenhum bloco e ou área de influência em virtude das suas
dimensões e complexidades. Nesse sentido, o mesmo definiu que as relações externas
do Brasil, na definição das suas alianças e posturas, se firmam de acordo com os
contextos e interesses nacionais. Associado com os já discutidos elementos do
universalismo e diversificação, as principais características da PEB seriam a
previsibilidade, a continuidade na mudança e o atrelamento da mesma ao projeto de
desenvolvimento econômico e industrial nacional (Lessa, 1998, p. 31).
Como avaliado anteriormente, as escolhas das parcerias estratégicas do Brasil se
estruturam pela compatibilização histórica do Brasil com o universalismo e a
diversificação de forma a selecionar as aproximações nacionais. Este fato abre a
possibilidade para movimentos de adaptação aos nichos de oportunidade e aos
constrangimentos internacionais que se apresentam ocasionalmente (Idem). Como já
destacamos no item anterior, ao analisar o pragmatismo na perspectiva da nossa tese,
devemos partir da definição precisa do entendimento das relações bilaterais, da
relevância econômica de cada Estado para o Brasil e pela caracterização do modelo de
participação e exposição financeira regional preterida pelo governo Lula.
Em vista dos preceitos estabelecidos logo acima, as questões que este capítulo
procura responder, tendo em vista o diagnóstico acadêmico brasileiro com relação à
vertente regional da política externa brasileira dos anos noventa, são: em que sentido o
componente soberano da PEB interferiu no alcance dos processos de integração regional
dos quais o Brasil formou e forma parte, em especial o Mercosul? Qual a relação entre o
universalismo da PEB e o regionalismo da mesma nos anos noventa? Qual o sentido da
definição das parcerias estratégicas do Brasil durante os anos noventa dentro do
processo integrador do Mercosul? Neste mesmo sentido, como se revelou o
pragmatismo na vertente regional da PEB dos anos noventa e as suas conseqüências
para os resultados da integração?
Com estas respostas e análises, iremos definir o cenário possível do novo
regionalismo da era Lula da Silva. Debateremos, por sua vez, o tema da PEB na análise
das possibilidades e limites da atuação do BNDES na América do Sul em articulação
4
Apesar de situarmos a discussão acerca do pragmatismo a partir da era Geisel, isso não significa dizer
que o mesmo surgiu a partir desse período. “As raízes do pragmatismo remontam a época do Império
brasileiro” como atesta Amado L. “Relações Internacionais do Brasil, in: CERVO, Amado L. (org.). O
desafio internacional: a política exterior do Brasil de 1930 a nossos dias. Brasília: EDUNB, 1994, p.359.
30
com as preferências da ação internacional da política externa de Lula da Silva. Para isso,
levaremos em conta as condições “infra-estruturais” do sistema financeiro público
brasileiro que insurgem na definição da ação internacional do Brasil na América do Sul.
Esta estratégia metodológica resulta da percepção de se indicar o caminho da reflexão
por onde perpassa este trabalho, ou seja, trata-se de uma estratégia que integra dois
temas centrais da pesquisa: a PEB e a temática financeira na América do Sul.
Integrando estas duas áreas de pesquisa, sugeriremos as interpretações e orientações
possíveis para se explicar a articulação do BNDES junto à política externa brasileira e o
modelo de participação e exposição financeira do Brasil na América do Sul.
Item 2. O estudo acadêmico do regionalismo da PEB nos anos noventa.
A avaliação quanto ao sucesso, fracasso, alcance e limitação do processo de
integração regional do qual o Brasil formou e forma parte está documentada nos artigos
publicados nas mais importantes revistas da área das relações internacionais e da
política externa brasileira. Mais especificamente, a ação internacional do Brasil no
Mercosul e na América do Sul pode ser muito bem estudada recorrendo-se aos textos
publicados na RBPI, Política Externa, Contexto Internacional entre outras importantes
revistas. Seria exagero retomar e qualificar todo o debate nesta pesquisa, o que a
tornaria muito extensa.
Com isso, promoveremos um pano de fundo para a compreensão mais precisa do
que se examina e argumenta nesta tese condensando duas áreas diferentes de estudo:
relações internacionais e economia política do desenvolvimento e do financiamento.
Além do mais, também demonstraremos as questões que compeliram e instigaram a
realização deste trabalho de análise da política externa. Pesquisa esta que trás a
novidade de considerar o papel e a importância do BNDES, assim como suas condições
estruturais próprias; e que por sua vez é uma instituição tradicionalmente desvinculada
das atribuições em matéria de Política Externa Brasileira.
O contexto histórico específico dos anos noventa; o fim da Guerra Fria e a
prevalência do capitalismo perante o modelo socialista; o receituário do Consenso de
Washington para os processos de reajustes estruturais das economias dos países da
região; e os próprios desafios da PEB na região nos anos noventa representam o
panorama onde se desencadeou o histórico processo de reaproximação política e
comercial entre o Brasil e os países da América do Sul. No geral, a região sul-americana
31
ganhou maior relevo nas considerações para a projeção internacional nacional; isso não
nega a importância que ela teve no passado. A Argentina foi o Estado mais destacado
nessa reaproximação brasileira na América do Sul.
O debate acadêmico em torno do tema do regionalismo da PEB dos anos noventa
identificou que o mesmo foi desencadeado no momento da retomada da democracia nos
países da região, ainda durante a década de oitenta, focando atenção especial nos casos
do Brasil e da Argentina. Deram-se início as conversações de caráter construtivo e
integracionista nas iniciativas dos presidentes Sarney e Alfonsin nos encontros de Foz
do Iguaçu. O tema que cerceava as conversações iniciais que marcou a reaproximação
entre os dois vizinhos girava em torno das discussões para o estabelecimento de
estratégias conjuntas para se negociar a crise da dívida externa que assolava as duas
economias recém redemocratizadas. Portanto, o processo de integração entre Brasil e
Argentina foi desencadeado em meio às percepções comuns dos dois sócios no quesito
“compatibilidades de visões quanto aos anseios políticos e econômicos compartilhados
no contexto específico” (Hurrell, 1995).
Com o fim da Guerra Fria, a primazia do capitalismo sobre o modelo socialista e a
soberania incontestável dos EUA no mundo, prevaleceu o comportamento liberal
econômico para os países em processo de desenvolvimento econômico e industrial. Os
reajustes estruturais, com todas as suas demandas e esforços para sanar o inchaço dos
Estados, somaram-se às orientações para retomar o crescimento de forma sustentável.
No início dos anos noventa chegaram ao poder os governos Collor e Menen no Brasil e
na Argentina, respectivamente; ambos atrelados aos temas dos reajustes estruturais e
reformas liberalizantes capitaneadas pelo Consenso de Washington. O processo de
reaproximação entre os dois Estados se centrou, a partir daquele momento, em temas de
comércio, livre comércio e de União Aduaneira. União esta que marca até hoje o estágio
mais profundo da integração entre o Brasil e os países do MERCOSUL; união muitas
vezes avaliada como incompleta e rasa.
O comprometimento dos dois governos para com a construção da iniciativa
integradora identificada no MERCOSUL limitou-se a acordos políticos e econômicos
menos acertados. Isso foi resultado do caráter nacionalista a ser preservado em virtude
dos projetos autônomos de reajustes estruturais que cada economia implementava
conjunturalmente; e das próprias diferentes estratégias em termos de inserção
internacional de cada Estado. O Mercosul foi, portanto, instrumentalizado por ambos os
países para realizarem, por um lado, os seus projetos de inserção internacional, e, por
32
outro, para posicionarem suas economias na região sul-americana de acordo com os
seus interesses específicos.
Nessa toada, na Argentina, o então assessor internacional Carlos Escudé propôs,
no início dos anos noventa, o conceito de Realismo Periférico a ser impresso na Política
Externa de seu país. Conceito esse que atestava para posturas sempre alinhadas às
preferências da potência hegemônica dos EUA em temas de agenda internacional e de
política econômica. As conhecidas relações carnais foram verificadas, nos primeiros
anos da administração Menen, no envio de tropas argentinas para a primeira guerra do
Golfo e no pleito para um assento argentino na OTAN.
No caso do governo Collor, os processos de abertura e liberalização comercial,
adesão mais declarada aos meios democráticos internacionais, entre outras iniciativas,
sinalizavam para uma reaproximação politicamente acertada com os EUA. A maior
aproximação do Brasil e da Argentina com os EUA esteve, naquele momento, inserida
na perspectiva de auferir ganhos econômicos resultantes de um alinhamento mais
estreito e politicamente mais confiável para com a visão norte-americana. No caso do
Brasil, coube a especificidade de se evitar o isolamento com a grande potência,
associado a uma blindagem no relacionamento com a mesma. Dessa forma, o Brasil
sinalizou uma projeção internacional autônoma, independente e universalista, nos
primeiros momentos da era Collor, sem incorrer no risco do isolamento do maior
mercado consumidor dos produtos brasileiros. A aproximação com a Argentina,
contudo, serviu como ancoragem para essa aproximação, eliminando o risco de
possíveis alinhamentos exclusivos com os EUA, sem se isolar da região sul-americana.
Item 2.1. A problemática da ausência de supranacionalidade institucional na
iniciativa do Mercosul.
O panorama geral do diagnóstico do processo de integração regional dos anos
noventa revelou que o mesmo foi caracterizado como inexpressivo, insuficiente e não
institucionalizado em termos supranacionais; embora não sejam negados os avanços
substancias trás longas décadas de relativa distância política e econômica entre os dois
principais sócios do bloco
5
. De acordo com os autores pesquisados, o déficit
5
Mário Marconini demonstra em seu trabalho números e considerações que comprovam a pertinência do
Mercosul para as economias do Brasil e da Argentina. Os dados apresentados sugerem que, a despeito dos
retrocessos no processo integracionista e de suas deficiências, o mesmo pode ser considerado
33
supranacional do Mercosul é uma das características do bloco no que condiz com a
explicação das suas maiores deficiências e limitações. Muitos dos autores citados a
seguir atestam que a referida não supranacionalidade seria resultado da própria postura
do Brasil e da sua Política Externa que procuraram preservar as características de
autonomia, independência e pragmatismo da ação internacional do país. Além da
própria reserva de manobra para que o país pudesse conduzir sem maiores entraves o
seu processo de modernização e reajuste estrutural econômico
6
.
Dentro de uma perspectiva jurídica acerca do componente supranacional do bloco,
é atestado que o mesmo carece de normas e critérios claros no que diz respeito à
articulação entre os direitos primário e secundário
7
. Utilizando-se do diagnóstico de
Torrent, Ramon (2006, p.37) o Mercosul, com seu trato originário do Tratado de
Assunção, não logrou estabelecer marcos regulatórios próprios do direito secundário.
Segundo o autor, o resultado seria a hipertrofia normativa do bloco: “en el caso del
Mercosul uno que parece adecuado: la proliferación de nuevas normas antes que lãs
anteriores hayan entrado em vigor” (Idem, p.37). Ocorre, portanto, uma sobreposição
do direito primário ao direito secundário que, segundo o autor,
En efecto, un buen numero de piezas de este derecho secundário (incluyendo lãs
normas más relevantes) no son legislación secudária sino normas primarias, es
decir, tratados internacionales que o bien se integran en el tratado de Assunción
como protocolos, o bien son paralelos al mismo que, em ambos los casos, son
parcialmente bem sucedido. O ano de 1997 é histórico para o processo de articulação dos países do
Mercosul, onde o volume de comércio atingiu a casa dos 17 bilhões de dólares (pp. 113-114) “Mercosul:
retrato e agenda”, março de 2001, CEBRI.
6
Todas essas considerações sugerem o forte componente soberano inerente da PEB permeando estas
problemáticas. Tais assertivas, por sua vez, conduzem para uma interpretação possível do tema da não
coordenação macroeconômica entre o Brasil e a Argentina. Para compreensão mais detalhada deste ponto
sugerimos os seguintes trabalhos: Vigevanni, Tullo e Oliveira, Fernandes de. “A política externa
brasileira na era FHC: um exercício de autonomia pela integração”; CEBRI-CINDES (2007) Força
tarefa “O Brasil na América do Sul” Relatório Final. Mimeo. Rio de Janeiro; Torrent, Ramón (2006)
“Uma aproximación a la anatomia del Mercosur real”. In Julio Berlinski, Francisco Pires de Souza et
alli (coord). 15 anos de Mercosul: comércio, economia e inversiones extranjeras; Uruguay: Red
Mercosur. PP. 9 a 73.
7
Segundo Torrent, Ramón (2006) o direito primário é o marco regulatório que normaliza as relações
interestatais dentro de um bloco. Por exemplo: regras fiscais entre Estados são reguladas via direito
primário, onde cada país preserva norma própria; as relações entre os membros do bloco nesta matéria
dão-se por meio de parâmetros legais comuns, o que provoca muita lentidão na resolução dos problemas.
O direito secundário normaliza as relações entre os Estados de um bloco a partir de uma instituição
supranacional. Ou seja, criam-se normas e regras comuns a todos os Estados e, por sua vez, são
internalizadas nas suas regras constitucionais próprias.
34
aprobados siguiendo los mismos procedimientos utilizados por el tratado de
Asunción (Idem, p.36).
Como já apontado, o déficit supranacional do MERCOSUL marca um dos seus
maiores limites e déficits. Nesse sentido, qual é o peso da responsabilidade da própria
política externa brasileira para o quesito, levando-se em conta os elementos traçados até
este momento? Segundo Albuquerque, para o Brasil, o MERCOSUL foi o principal
instrumento para limitar o aumento da dependência econômica com os EUA, sem
isolar-se da região (Albuquerque, 2002, p.33). Já para a Argentina, o bloco foi o
elemento utilizado para aumentar as chances de ganhos materiais a partir de uma maior
interdependência com os EUA, na medida em que incluiria o Brasil como equilibrador
(Idem).
As economias destacadas experimentaram os resultados positivos e negativos de
uma maior interação econômica, industrial e comercial sem precedentes nas suas
histórias econômicas. Mas o bloco não contemplou, principalmente nos anos noventa, as
questões de complementaridade comercial e industrial; integração energética e infra-
estrutural; cooperação cultural e educacional; e integração política e democrática.
Assuntos que demandam institucionalização supranacional mais aprofundada dentro de
um bloco econômico e político para serem normatizados a partir de uma perspectiva
integracionista.
Uma conclusão possível e aceita acerca do déficit supranacional do MERCOSUL
é que o mesmo seria resultado, mirando o peso da responsabilidade sobre a conduta da
PEB e do Estado brasileiro, de um processo de reajustes econômicos e estruturais
autônomos; de inserção própria da economia brasileira no cenário internacional; e dos
componentes soberanos, autônomos, universalistas, independentes e pragmáticos da
mesma. Como uma das conseqüências possivelmente aceitas, o MERCOSUL foi um
instrumento do Brasil para a consecução dos seus próprios fins alheios a uma definição
integracionista mais ampla e pautada em ganhos relativamente comuns a todos os
sócios. Daí a iniciativa ser possivelmente caracterizada como um projeto político do
Brasil, no lugar de um projeto econômico regional mais amplo. Prevaleceram na
conformação do MERCOSUL muitos dos traços de nacionalismo em termos
econômicos, políticos e de cultura e ou identidade internacional da PEB como fatores
limitadores para a sua realização mais integral.
35
Item 2.2. Assimetria e ausência de uma liderança regional:
As assimetrias econômicas muito acentuadas que marcam as diferenças estruturais
entre o Brasil e os países do Mercosul, e mesmo em relação aos países da América do
Sul em geral, é um dos diagnósticos mais aceitos para a caracterização do limite e do
alcance das iniciativas regionais. Enquanto os países pequenos do bloco possuem um
forte componente de dependência comercial com os dois maiores sócios do Bloco, em
especial com o Brasil; estes (BR e AR), já estão, em termos infra-estruturais e
produtivos, muito adiantados. Tal condição lhes confere uma maior diversidade
comercial com outras regiões do globo; já que estas estão, quando comparadas às
economias do Uruguai e Paraguai, mais integradas e diversificadas globalmente. Reside
nesta observação, portanto, a caracterização possível da heterogeneidade das
preferências comerciais e econômicas entre os maiores e os menores sócios da iniciativa
em destaque. Ademais, as assimetrias impactaram negativamente nos relacionamentos
de ordem comercial dentro do bloco haja vista que deram ensejo para a escalada de
medidas comerciais protecionistas (Lima; e Coutinho, 2006)
8
.
Associado a esta percepção, ganhou relevo o tema da ausência de uma liderança
regional capaz de arcar com os custos relacionados à empreitada integracionista.
Durante a primeira fase da administração FHC, o Brasil foi bastante relutante em
exercer uma liderança regional capaz de arcar com os custos construtivos de uma
integração regional (Lima; e Hirst, 2006). Isso decorreu, ainda segundo as autoras, da
necessidade de o país estruturar a sua condição econômica de forma a gerar capacidades
para conduzir esse processo. Tais fatores se deveram, entre outros, as características já
anunciadas com relação à PEB; ademais os próprios desafios com relação à trajetória da
reestruturação macroeconômica brasileira vivida na primeira metade da década passada.
A liderança também foi prejudicada em virtude do risco de o país ser, pelos seus
vizinhos, taxado de ator protagonista na região e ou potência regional por excelência; o
seu tamanho e diferença estrutural contribuiriam para que qualquer traço mais destacado
8
Este diagnóstico está destacado no texto “Integração moderna”, de Maria Regina Soares de Lima e
Marcelo Coutinho; OPSA, número 1, janeiro de 2006. O diagnóstico foi feito em meio a críticas
acentuadas com relação ao “regionalismo aberto” característico dos anos noventa. Os autores são críticos
com relação ao modelo impresso à iniciativa integradora da década de noventa e à relativa ausência do
Estado brasileiro na condução deste processo. Portanto, os autores compartem de uma posição fortemente
crítica ao governo FHC no quesito destacado e são, por sua vez, entusiastas de uma postura mais
interrelacionada entre integração regional e condução política e construtiva efetiva do Estado nestes
processos.
36
de liderança material e ou intelectual viesse a ser classificado como possíveis “atitudes
hegemônicas” do Brasil.
Segundo Lima (2007, pp.6-7), destacando as contribuições de Walter Mattli (the
logic of regional integration, pp. 56-57), salienta que “os sucessos dos processos de
integração não só dependem das vantagens econômicas e comerciais. É necessário a
existência de um “regional paymaster” que conduza o processo em termos materiais e
políticos”. Assimetrias estruturais e ausência de uma liderança regional são temas
passíveis de serem mesclados no diagnóstico referido acerca dos alcances e limitações
das iniciativas de integração das quais a PEB esteve ativa. O risco de o país ser, pelos
vizinhos, traduzido como uma possível potência regional, sempre formou parte das
preocupações das ações brasileiras na região. Preocupações estas que direcionam,
também, para um entendimento possível do momento da era Lula da Silva, tendo sido o
próprio BNDES colocado na arena desta problemática, como será relatado nos próximos
capítulos.
Visto desde esta perspectiva, seria então necessário que o Brasil tivesse, também,
apoio político interno das diferentes camadas da sociedade nacional e dos diferentes
setores econômicos para exercer uma possível liderança regional. Os referidos autores
atestam que tal apoio não foi conferido às iniciativas da PEB na região na década
passada em vista de a região não ser palco de interesses mais imediatos de importantes
setores produtivos e sociais do Brasil. Ao que indicam as conclusões e perspectivas
futuras decorrentes dos objetivos atingidos por esta tese, vislumbra-se uma redefinição
desta perspectiva de ordem social e econômica interna do Brasil para a América do Sul.
Os dados, as condições “infra-estruturais” do aparelho estatal brasileiro e as próprias
diretrizes da ação internacional nacional destacam que a região passará a ser palco mais
destacado dos interesses econômicos e sociais do país; mas ainda em uma perspectiva
de longo prazo, haja vista que definiremos que o Brasil não atingiu as condições
internas suficientes para ser caracterizado como um regional paymaster na América do
Sul.
Item 2.3. O viés comercial imposto ao Mercosul e a não articulação
macroeconômica entre os membros do bloco.
Como já previamente destacado pela literatura apresentada, as motivações que
levaram o Brasil a manter um modelo integrador ao MERCOSUL em contornos
37
comerciais atrelados a uma união aduaneira podem ser entendidas nas próprias
concepções e perspectivas de ação da PEB. Quando focado no contexto histórico e
econômico específico que se faz menção, tais motivações estiveram centradas em
posturas que procuraram preservar os mercados e fortalecer o poder de barganha do
Brasil nas negociações com os países do norte (ALCA; daí a instrumentalização
conferida ao bloco). Dessa forma, preservou-se “um nível de interdependência
económica relativamente bajo” (Veiga; e Rios, 2007, p.6).
Esta opção, porém, ignorava a lógica da integração econômica com o
aproveitamento das economias de escala e de escopo e a conseqüente especialização e
integração das cadeias produtivas. A combinação do déficit de implementação da
agenda de livre-comércio com a falta de coordenação de políticas econômicas em um
modelo de união aduaneira não foi capaz de gerar uma dinâmica positiva das
exportações dos sócios menores para os mercados dos sócios maiores (Força Tarefa
CEBRI, 2007, p.4).
A partir dessas análises surge o tema da redução das vulnerabilidades perseguida
pela PEB. Os termos apresentados de autonomia, independência, universalismo,
pragmatismo e sentido soberano da PEB estiveram articulados para blindar o país, em
termos políticos, econômicos e comerciais, de possíveis entraves aos seus projetos
nacionais. A redução das vulnerabilidades, quando traduzida para o tema da integração
dos anos noventa, esteve pautada por uma lógica econômica e política própria dos anos
do pós-guerra fria. Um modelo de reestruturação macroeconômica, projetos de
privatizações e modernização produtiva, combate à inflação e inserção competitiva da
economia brasileira no cenário mundial foram os objetivos econômicos internos que
prevaleceram com relação à lógica da integração regional. Para o tema deste trabalho, a
redução das vulnerabilidades está traduzida no caráter defensivo do modelo de
participação e exposição financeira do Brasil na América do Sul a ser qualificado.
O viés comercial imposto ao MERCOSUL, portanto, esteve ligado, em termos de
redução das vulnerabilidades, de forma a conferir viabilidade a esses planos nacionais;
qualquer iniciativa mais concertada de integração poderia, por ventura, estabelecer
entraves adicionais aos objetivos destacados, fato que implicaria em custos e
responsabilidades que o Estado brasileiro evitava naquele contexto. A PEB, na sua
vertente regional, teve um peso relativo considerável no estabelecimento da blindagem
conferida aos planos nacionais autônomos do Brasil em relativa harmonia com as
38
orientações de ordem macroeconômicas e de políticas governamentais do Estado
brasileiro.
A redução das vulnerabilidades, traduzidas nos diagnósticos de não
supranacionalidade do bloco e no seu viés comercial, respondeu parcialmente a esse
objetivo maior de política econômica e estrutural. Portanto, uma correlação entre PEB e
planos e perspectivas de desenvolvimento econômico brasileiro, confere um
entendimento para a blindagem dada pela ação internacional de forma a conferir tempo
para o país organizar as suas forças econômicas internas para, depois, empreender
esforços externos de maior envergadura. A integração regional seria um passo seguinte
a partir dessa lógica.
Item 2.4. O sentido soberano como componente redutor da vulnerabilidade, o
paradigma do desenvolvimento e a ausência de supranacionalidade: costurando o
diagnóstico.
Atrelado ao componente soberano da política externa brasileira, temos o
paradigma ainda vigente da mesma relacionada ao desenvolvimento econômico. Tal
questão postula que o desenvolvimento não pode ficar comprometido por posturas
integradoras que, por ventura, impliquem no atraso e ou prejuízo ao desenvolvimento
nacional (Veiga 2007, p.95). Lima e Coutinho (2006, p.13) afirmam que as principais
funções da PEB seriam: reduzir as vulnerabilidades e “abrir espaço” para as políticas de
desenvolvimento nacional. O MERCOSUL institucionalizado em termos supranacionais
poderia ser caracterizado como uma Vulnerabilidade e ou custo material a mais para o
processo de retomada do desenvolvimento econômico e industrial brasileiro no contexto
dos ajustes estruturais macroeconômicos vividos na década de noventa. Portanto, os
objetivos de desenvolvimento nacional antecederam os projetos de integração sub-
regional e regional no quesito prioridades (Idem). Dessa forma, o Brasil não imprimiu
um “enfoque regional” ao modelo de desenvolvimento econômico brasileiro a partir de
uma perspectiva de integração regional ampla (Gonçalves, 2002).
Nas contribuições de Pinheiro (2000, pp. 305-335), o componente muitas vezes
confuso de grocianismo da PEB deve ser comparado com a política implementada
regionalmente. A principal diferenciação residiria nas formas de não supranacionalidade
conferida ao Mercosul, de modo a garantir autonomia frente aos parceiros externos à
região. Ou seja, interesses nacionais próprios seriam obtidos a partir de uma política
39
diferenciada nos âmbitos multilateral e regional. Nesse sentido, a prática da Política
Externa Brasileira estaria traduzida no pragmatismo inerente da mesma; pragmatismo
este atrelado aos objetivos imediatos em termos comerciais e de desenvolvimento
econômico. O grocianismo seria um meio para se atingir um fim prático.
Item 2.5. Autonomia pela integração, sentido soberano e a caracterização do Brasil
enquanto ator hegemônico do sistema sul-americano.
Um dos diagnósticos centrais acerca do não aprofundamento do processo de
integração sub-regional, nesse caso depositando o peso da responsabilidade sobre a
postura brasileira para com o Mercosul, veio da análise de Maria Regina Soares de
Lima, utilizando-se do conceito de autonomia pela integração:
Autonomia. Ou seja, a opção pela “autonomia pela integração” proporcionaria
uma maior aproximação sem alinhamento automático nem opções excludentes.
Manter-se-ia a possibilidade de dissensão quando os interesses brasileiros fossem
ameaçados pela ação dos Estados Unidos que, apesar de detentores de poder
global e regional, teriam cerceado sua capacidade de ação pelo cenário
internacional multipolar em emergência na década de 1990, que abriria novas
possibilidades para uma nova inserção do Brasil (Lima, 1999).
As relações com os EUA e o tema da autonomia pela integração ganham
importância na discussão proposta. Isso se deve tendo em vista a convergência entre os
temas integração regional, PEB, inserção internacional do Brasil e desenvolvimento
autônomo da economia nacional. Tal confluência de temas enseja parte dos resultados
alcançados pelo debate acadêmico referido. Manter boas relações com os EUA e ter
capacidade de organizar o espaço sul-americano forma parte das tarefas da PEB
(Cardoso, 1996). Elementos como opções abertas (Cardoso, 1993-c, p.9) revelam o
componente pragmático e estratégico da parceria com os EUA e a correlação com a
autonomia pela integração. Ambas as opções servem aos interesses brasileiros em caso
de redefinição das orientações nacionais e dos próprios reveses nos contextos político-
diplomáticos. Segundo FHC, a América do Sul deveria ser considerada como “nosso
40
espaço histórico-geográfico” (Cardoso, 1997), nela, “para o Brasil, o Mercosul é o
peão, mas não basta: precisamos dessa integração mais ampla” (Cardoso 2000)
9
.
Outra contribuição analítica é que a “opção sul-americana” do Brasil poderia ser
útil às aspirações brasileiras a um assento permanente no Conselho de Segurança da
ONU. Isso daria ao Brasil o reconhecimento como potência regional (Lima, 1996, p.
152).
Item 2.6. Universalismo: Mercosul e América do Sul.
O Universalismo inerente da PEB pode ser entendido como a estratégia por
manter sempre “opções abertas” e não excludentes de negociação para a inserção e o
posicionamento internacional do Brasil. Esteve retratado, nos anos noventa, nas relações
não excludentes com os países do Sul e Central; nas investidas nos foros multilaterais; e
nas iniciativas de integração regional, em especial no Mercosul. A idéia básica do
universalismo seria não excluir possibilidades haja vista a percepção das incertezas
quanto ao futuro do país e dos seus interesses e trajetórias econômicas desde os pontos
de vistas internos e externos.
A temática em torno do universalismo possibilitou a seguinte constatação:
O universalismo dos anos noventa se expressa primordialmente no regionalismo: é
nesta área que o Brasil encontrou seu principal espaço de reafirmação de
autonomia, na resistência à integração hemisférica, no processo de integração sub-
regional do Mercosul e nas suas novas iniciativas na América do Sul (Mello, 2000,
p. 98).
Remete-se, a partir das conclusões de Mello 2000, que não houve alinhamento
automático nem no âmbito regional, nem no multilateral. Dessa forma, o MERCOSUL
estruturado pela lógica de trade off
10
, angariou, pelo menos até a primeira metade da
9
Todas as citações deste parágrafo foram extraídas das contribuições e análises inseridas no trabalho de
Vigevani, Tullo; e Oliveira, Marcelo. A politica externa brasileira na era FHC: um exercício de
autonomia pela integração. Página 24-26. Revista Interthesis – PPGICH – UFSC, 2003. Desde já
expressamos o nosso agradecimento aos autores pela contribuição e facilidade de acesso a este material.
10
O conceito de Trade Off pode ser entendido como o “oferecimento” do Brasil de seu mercado
consumidor para os produtos originários dos sócios do Mercosul em troca de apoio político para o modelo
de integração proposto pelo Brasil para o Mercosul. Além de apoio para a estratégia de inserção
internacional do Brasil na economia mundial e nos foros multilaterais. Tovias, Alfred (2000) “Regional
Bloks and International Relations: economic grouping or political hegemons?” In Lawron, Thomas,
Rosenau, James and Verdun, Amy. Strange Powers: shaping the parameters of international relations and
international political economy. Ashgate: Aldershot.
41
década passada, apoio político dos sócios do bloco para o seu projeto de inserção
internacional, assumindo, mais uma vez, o entendimento de que o mesmo serviu como
projeto político do Brasil.
Quando combinados os elementos universalismo e autonomia para explicar a
vertente regional da política externa brasileira dos anos noventa, retomamos a
caracterização de a região ser um elemento de articulação política da ação internacional
do país frente ao cenário internacional e seu projeto de inserção econômica global. Nos
dois mandatos de FHC consolidou-se uma política brasileira voltada ao entorno sul-
americano e ao MERCOSUL nas referências da ação externa. Mesmo na era da Política
Externa Independente, de 1961 a 1964, e do Pragmatismo Responsável, de 1974 a 1978,
o entorno geográfico em questão não mereceu uma consideração tão acentuada por parte
da ação internacional brasileira como visto a partir da era FHC e, da mesma forma,
continuada e aprofundada pela administração Lula da Silva.
Segundo Vigevani e Oliveira (2003) citando Pinheiro (1998, p.61), a interpretação
dada ao MERCOSUL possibilitou ao Brasil, sem exclusivismo ou alinhamento, aderir
simultaneamente às normas e regimes internacionais de seu interesse. Isso conferiu ao
Brasil a preservação de uma reserva de autonomia que se objetivava pelo espaço de
manobra regional.
Letícia Pinheiro (2000) parte da afirmação segundo a qual as iniciativas de
integração regional das quais o Brasil fez parte devem ser analisadas sob uma óptica
mais pragmática, evitando entender os processos integracionistas como um TIPO
IDEAL de iniciativa a ser perseguida pelos Estados. A análise de Pinheiro (1998)
11
,
citando Skidmore, postula que:
O aprofundamento da interdependência econômica não é um ato sociologicamente
neutro. Tanto ganhadores quanto perdedores emergirão deste processo. Pode-se
esperar, portanto, que o crescimento da interdependência venha a alterar coalizões
políticas e a agravar algumas cisões, ainda que amenizem outras (Skidmore, 1997).
A autora já assume como seu ponto de vista que a política externa brasileira
esteve construída sobre um “institucionalismo pragmático
12
. Pinheiro salienta que o
componente grociano da PEB esteve sempre presente nas iniciativas brasileiras, mas
11
PINHEIRO, L. (1998). 1997: O Ano que Não Terminou”. Carta Internacional, n. 59, janeiro.
12
Pinheiro, Letícia. “Traídos pelo desejo: um exercício de autonomia pela integração: um ensaio sobre a
teoria e a pratica da politica externa brasileira”. Contexto Internacional 2000.
42
que tal observação não promova uma confusão analítica; a autora assume que as ações
diplomáticas do país sempre privilegiam a satisfação dos interesses próprios de
desenvolvimento e inserção autônoma econômica e política brasileira na arena
internacional.
Vigevani, Tullo e Oliveira, Marcelo (2003), citando as observações de Pinheiro
salientam o seguinte diagnóstico:
Na perspectiva de Pinheiro (2000), a combinação de uma política grociana no
âmbito global, a utilização de uma perspectiva universalista e cooperativa, em
“consonância com os valores que se difundem e se universalizam no plano
internacional” (Cardoso, 2000), deve ser comparada com a política implementada
regionalmente. Nesse último caso, o diferencial de poder parece ter sido utilizado
na perspectiva de evitar formas de supranacionalidade, de modo a garantir
autonomia frente a parceiros externos à região. Haveria a busca da maximização
de benefícios, implicando em políticas diferenciadas, não homogêneas (Idem, p.
26).
A perspectiva de Lampreia (1997, p. 12) da junção da autonomia com o
universalismo na política regional brasileira dos anos noventa, citado em Vigevani e
Oliveira (2003, p. 26) afirmou que embora, por um lado, signifique efetivamente
alguma perda de autonomia, por outro, “o Mercosul aumentou a capacidade de atuar de
modo mais afirmativo e participativo na elaboração de regimes e normas
internacionais de importância essencial para o Brasil”..
Tal avaliação apóia uma das caracterizações de a integração via MERCOSUL, e
as diversas iniciativas brasileiras na América Sul, no geral, serem interpretadas como
elementos instrumentais próprios da política externa brasileira na sua ação de inserção
internacional.
Item 2.7. Pragmatismo no regionalismo.
No que concerne ao pragmatismo, este também se revelou no exame feito a partir
da revisão bibliográfica proposta. A análise do pragmatismo deve ser feita a partir de
considerações com relação às transformações da ordem internacional vigente,
analisando internamente a ordem política e econômica. “A complexidade do aparelho
de Estado brasileiro, a sua estrutura econômica e social não pode ser exclusivamente
43
atendida em um único bloco ou área de influencia” (Amorim, 1994, p.16). Dessa
forma, o pragmatismo pode ser entendido como a estratégia de firmar acordos e alianças
momentâneas e dinâmicas, para preservar as possibilidades de mudanças nas estratégias
do país de acordo com os novos contextos e interesses comerciais, políticos e
econômicos. A previsibilidade, a continuidade na mudança e o atrelamento da PEB ao
projeto de desenvolvimento da economia e indústria nacional, ajudam a entender
algumas das características principais da PEB direcionada ao entorno regional durante
os anos noventa. “As parcerias estratégicas do Brasil, portanto, respeitam a
característica universalista da PEB, o que confere seletividade as suas aproximações”
(Lessa, 2002).
Os interesses e os projetos nacionais do Brasil estiveram circunscritos nos projetos
de integração regional hora por uma postura pró-ativa, hora por uma postura de inflexão
que respeitavam as mudanças na dinâmica dos interesses econômicos e políticos
nacionais. O próprio conceito de “institucionalismo pragmático” de Pinheiro é exemplo
basilar da caracterização pragmática muitas vezes impressa na análise das iniciativas da
ação diplomática brasileira na região; o que também colabora com a explicação da não
institucionalização das iniciativas integradoras.
Item 2.8. O legado concreto e a redefinição da importância da América do Sul para
a PEB.
Nos dois mandatos de FHC, a América do Sul confirmou sua centralidade para a
política externa brasileira: MERCOSUL como um projeto de mercado comum, mesmo
sem alcançar o patamar de união alfandegária. Isso pode ser também entendido como
uma política de continuidades e gradualismos inaugurada na era José Sarney e mantida
até os dias atuais. Foram sinalizados alguns tímidos sinais de coordenação entre os
países; embora os relatos desta seção do trabalho pretendam definir as problemáticas em
torno das dificuldades neste sentido. Ministérios e empresas foram mobilizados, assim
como o projeto de eixos estratégicos da integração e desenvolvimento do Brasil, eixos
esses que representam uma resposta possível de uma tendência que confirma o próprio
adensamento dos interesses econômicos brasileiros na região a ser afirmado adiante. O
governo FHC consolidou o redirecionamento da matriz energética em estrita
coordenação com o espaço sul-americano, dando iniciativa ao projeto IIRSA no ano de
2000. Na contramão dessa tendência, as instituições regionais não se fortaleceram
44
adequadamente; ao contrário, o Mercosul a partir de 1998 e 1999 entrou em
significativa crise decorrente das turbulências financeiras do Brasil e depois da
Argentina na agenda financeira.
As execuções dos projetos energéticos e infra-estruturais teriam de ser feitas a
partir da efetivação de instrumentos reais de ações próprias do campo financeiro. A
Corporação Andina de Fomento, o BNDES, a Aladi e o Fonplata foram instituições
postas na arena das discussões para a política regional mais construtiva, como será
verificado no capítulo três; assim como o revigoramento de instrumentos de
coordenação e cooperação em temas de transparência, garantias, seguros e mecanismos
de pagamentos figurados no CCR-Aladi. A exceção do BNDES, que é uma instituição
brasileira, todas as demais destacadas acima foram, pela diplomacia brasileira,
demandadas e revigoradas, de forma mais destacada no campo discursivo, para
contribuir com a integração e a cooperação financeira. O Brasil sempre foi reticente,
pelo menos para temas financeiros, em instituir novas iniciativas, preferindo, para esta
agenda, o fortalecimento das já existentes no âmbito regional.
O regionalismo na política externa dos anos noventa foi menos complexo do que o
atual: relações mantidas no âmbito minilateral (Mercosul) deram o tom da ação
diplomática brasileira; não ocorreu o aprofundamento do diálogo entre os blocos
regionais da América do Sul, embora tivessem na década passada os seus primeiros
impulsos (Mercosul-CAN); a prática de conversações bilaterais entre os países da região
e os EUA não se fez tão intensa; houve a ausência de temas mais profundos do que os
comerciais, como tráfico de drogas, economia integrada com aspectos de
complementaridade; além dos temas de integração física, cooperação financeira, meio
ambiente e questões sociais.
O novo momento no qual se insere a PEB no limiar do século XXI na América do
Sul revelou-se na metade final do segundo mandato de FHC. O relativo distanciamento
das questões envolvendo o tema da ALCA; o início das investidas bilaterais dos EUA
na região; a guerra contra o terror da administração Bush trás os atentados de 11/09; os
anseios e demandas das sociedades dos países da América do Sul e do próprio Brasil
por desenvolvimento e emprego; e o desapontamento com relação aos benefícios sociais
e econômicos não alcançados trás anos de esforços de reajustes estruturais marcaram o
cenário do prelúdio da vertente regional da Política Externa de Lula da Silva. Tal
cenário está impresso no debate geral que revela a maior importância da integração da
45
América do Sul como fator que poderia contribuir para as satisfações das demandas
nacionais e regionais destacadas.
A iniciativa IIRSA, instigada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso em
Brasília, no ano de 2000, revela uma maior atenção a ser dada, pela PEB, para a
América do Sul. A partir de uma concepção de integração regional mais ampla que a do
conceito de integração sub-regional (minilateral-Mercosul), as diretrizes por onde
passarão possivelmente a política internacional brasileira é por via da América do Sul e
dos planos de integração infra-estrutural. A região retoma maior importância para se
subentender os conceitos de “Reserva de autonomia” e ou “opção aberta” para os
relacionamentos e ações diplomáticas brasileiras; ademais de se compreender a
estratégia de estruturação de um espaço vital de autonomia para a execução da inserção
internacional do Brasil. Estratégia esta central para as conclusões da pesquisa.
Sugerimos a interpretação segundo a qual o componente da não
institucionalização supranacional relativo às iniciativas políticas em temas que
requerem intermediação mais aprofundada como comércio global, cooperação
financeira, coordenação macroeconômica entre outros, revelaram-se similar tanto no
âmbito internacional quanto regional. O diferencial com relação à região esteve
marcado pela resistência à institucionalização supranacional; a autonomia, em parte,
explica esta observação. No caso do nosso trabalho, as resistências por iniciativas
supranacionais ainda estão presentes. Elas são explicadas pela análise dos elementos e
características que compõem as condições “infra-estruturais” do sistema financeiro
brasileiro; pela rigidez legal e atuação técnica do BNDES na avaliação dos projetos;
pela correlação estreita entre os recursos para exportação do banco que beneficia quase
que exclusivamente os interesses econômicos dos setores produtivos brasileiros; e pelo
modelo de participação e exposição financeira do Brasil na região.
Nesse sentido, a continuidade ainda se faz presente na não supranacionalidade das
iniciativas quando se observa a resistência à criação de novas instituições de cooperação
financeira; na revalorização das iniciativas já existentes e consagradas; no embate em
torno do modelo de atuação do banco do sul; na resistência (por parte do Brasil) à
politização do tema financeiro regional; na contemplação das linhas de financiamento
do banco para o benefício dos setores exportadores brasileiros; e na própria
característica do sistema de financiamento público do Brasil fortemente pautado pelas
lógicas financeiras das instituições privadas. Lógica esta de respeito aos marcos de
referência para a real efetivação de garantias e seguros para os créditos de exportações.
46
Contudo, não podemos confundir a atuação do BNDES junto à PEB na América
do Sul como sendo uma articulação que promova uma liderança material do Brasil
capaz de definir as trajetórias e contornos das iniciativas de integração regional futuras;
mas uma articulação que defende, acima de tudo, os preceitos estabelecidos acerca das
variáveis históricas da PEB e os interesses econômicos do Brasil. Em outras palavras,
trata-se de uma política externa fortemente atrelada aos objetivos de políticas públicas
industriais, comerciais e setoriais do Estado brasileiro. Posto assim, também existe a
possibilidade de uma interpretação, em alguns momentos específicos a serem
destacados, de que esta mesma articulação poder ser vista como uma variável que
contribua efetivamente com o processo de integração da América do Sul a despeito das
condicionantes estruturais a serem demonstradas adiante.
Item 3. O atual regionalismo da política externa brasileira: a América do Sul como
espaço geográfico, físico e econômico revitalizado nos anseios do governo Lula.
O debate acadêmico atual parte da análise de que falta reflexão específica para as
seguintes questões, que podem ser respondidas parcialmente pela nossa pesquisa. As
questões enunciadas a seguir foram levantadas pela Força Tarefa CEBRI 2007 “O
Brasil na América do Sul”. Tais questionamentos sintetizam boa parte das preocupações
acadêmicas atuais acerca do tema e também formam parte das indagações gerais
envolvidas neste trabalho:
1. “Quais os objetivos econômicos e políticos do Brasil na América do Sul”?
2. “Quais devem ser as prioridades da agenda brasileira para a região, em
função dos objetivos identificados”?
3. “Como estes objetivos afetam o posicionamento brasileiro diante do tema da
integração regional”?
O momento histórico define-se na constatação de que a entrada da América do Sul
na agenda de prioridades da política externa brasileira é processo historicamente recente
(duas últimas décadas do século XX), de acordo com a Força Tarefa destacada. Ocorreu
em simultâneo com o adensamento da agenda de interesses econômicos brasileiros na
região; e foi incentivada, nos últimos anos, por eventos que são reveladores das intensas
transformações por que vem passando os países da América do Sul (Idem, p.2). O nosso
47
trabalho procura contribuir com a academia da área das relações internacionais
introduzindo novos temas e perspectivas nas agendas de pesquisa da área. Ele procura
integrar na análise da PEB as condições que chamamos de “infra-estruturais” do Brasil
que impactam nos processos de análise da PEB. Condições estas que, de certa forma,
surtem algum efeito no direcionamento das prioridades, das formulações e das
implementações dos anseios da PEB na região; assim como no estabelecimento dos seus
limites, possibilidades e redefinições. A rigor, os temas financeiros.
Item 3.1. O novo e o velho regionalismo.
Podemos sugerir que a PEB de Lula para a América do Sul, nas suas diversas
iniciativas de integração regional, procurou, de maneira geral, ser desvinculada do
modelo comercial dos anos noventa (Veiga; Bouzas; e Rios, 2007). A tentativa que o
discurso diplomático do governo Lula fez seria dar vazão para uma lógica de integração
econômica com o aproveitamento das economias de escala e de escopo e com a
conseqüente especialização das cadeias produtivas. Daí a participação do BNDES e a
criação do programa de substituição competitiva das importações (PSCI), instituído,
segundo o governo federal, para atender os países da América do Sul de forma a “mudar
a geografia do comércio do Brasil”. O PSCI foi uma das manobras políticas do governo
Lula no sentido de demonstrar medidas concretas que viessem a sinalizar para os
esforços do Brasil em reduzir o grande déficit comercial das economias da região com o
país; além de servir de sinalizador para com os demais Estados dos reais
comprometimentos do Brasil para contornar os problemas do passado e solidificar uma
integração mais efetiva com a real participação construtiva brasileira.
Outras novidades nesse sentido estão relevadas nas diversas iniciativas de
participação e exposição financeira e nos arranjos e obras de integração infra-estrutural;
na cooperação do Brasil com a CAF; na criação do FOCEM no âmbito do
MERCOSUL; na demanda da diplomacia brasileira em resgatar as instituições regionais
existentes; e na discussão do banco do Sul. Dentro dessas perspectivas temáticas,
interpreta-se um entendimento do caminho possível da atuação do governo Lula na
procura de apoio político regional para temas financeiros: o governo pode estruturar
com isso uma base de sustentação e apoio político regional para conduzir as discussões,
em âmbito multilateral, dos temas e iniciativas referentes aos instrumentos inovadores
48
de financiamento do desenvolvimento a partir de recursos públicos
13
. Desenha-se, no
limiar do século XXI, um regionalismo que procura compartilhar, entre outras questões,
estratégias conjuntas em temas econômico-financeiros; temas esses mais adensados do
que o período da década de noventa abarcou. Ademais de fazer frente a um sistema
internacional redefinido pelos atentados de 11/09 que promova a inserção internacional
das economias locais no novo sistema.
Sobre este levantamento repousam as seguintes questões: o quanto de autonomia e
pragmatismo está presente na atual PEB? Como estaria estruturado o universalismo da
mesma nesta “nova proposta de regionalismo”? Seria possível identificar as
continuidades e as rupturas neste processo de prioridade da integração regional junto
com a participação do BNDES na mesma?
Item 3.2. Retomando o diagnóstico sobre o atual regionalismo.
A introdução de temas econômicos não comerciais, como integração energética e
infra-estrutural; cooperação financeira; investimentos; e temas sociais e culturais,
formam parte das novas discussões que estudam a problemática da integração entre os
países da América do Sul. Temos a CASA, rebatizada de UNASUR, como exemplo
emblemático nesse sentido. Iniciativa motivada pelo governo brasileiro, a CASA-
UNASUR esteve amparada nos discursos do compartilhamento de aspectos de
identidades, ideologias, culturas e visões comuns próprias dos países sul-americanos. A
iniciativa brasileira procurou dar a caracterização social ao tema da integração nos
novos contextos dos anos 2000
14
.
Como os estudos da política externa brasileira sempre marcaram a continuidade de
certos fatores inerentes da ação internacional do Brasil, segundo Maria Regina Soares
Lima (2007, p.24), a atuação do Brasil na região está, de novo, circunscrita pelo perigo
de ser caracterizada por uma postura hegemônica dura. Por outro lado, estruturar a sua
ação a partir de, também, componentes cognitivos e de sinalizações para com temas
sociais, poderia conferir ao país uma articulação na região mais “amena” (Idem, p.24).
13
Nos capítulos seguintes procuraremos sinalizar para a iniciativa da Política Externa de Lula no
questionamento das regras de investimentos privados em projetos de infra-estrutura a partir de recursos
públicos. Serão contestações feitas sobre as regras estabelecidas pelo FMI e OCDE a partir, também, de
apoios políticos angariados em âmbito regional pela diplomacia brasileira.
14
Soares, Maria Regina. Decisão e indecisões: um balanço da política externa do primeiro mandato do
governo Lula. Maria Regina Soares de Lima. Carta Capital, 27/12/06. Lima e Coutinho. Integração
moderna. OPSA, análise de conjuntura número 1, janeiro de 2006.
49
A esta ação amena, estaria presente, também, a caracterização possível do pragmatismo
tradicional da PEB, a saber: auferir alguns ganhos econômicos e políticos a partir de
iniciativas amparadas no discurso cultural e ideológico como a CASA-UNASUR
exemplifica.
A liderança intelectual pautada nas idéias e conceitos capazes de criar capital
intelectual que gere influência nos participantes das negociações sinaliza para uma
vertente de entendimento da atual política externa brasileira para a região da América
do Sul (Idem, pp. 9, 10 e 11); embora a autora ressalte que no nível regional a liderança
intelectual da Política Externa brasileira se faz mais tímida do que a conduzida no nível
multilateral. Mas isso não invalida que no momento da era Lula, a liderança em termos
cognitivos não esteja mais acentuada do que no passado. “O processo deve preceder a
negociação. As idéias podem se consolidar em instituições, daí elas se tornam reais e
efetivas” (Goldstein e Keohane, 1993). Nesse sentido, ter em conta a dimensão
intelectual que a atual diplomacia tenta imputar na sua ação na região é pertinente para a
nossa reflexão. A liderança intelectual almejada por esta política externa pode estar
possivelmente atrelada à percepção de que uma das dificuldades do Brasil em exercer
liderança seria resultado da caracterização do Brasil como sendo um país que busca
exercer sua influência e hegemonia na América do Sul (Lima; e Hirst, 2006).
Uma vizinhança de crescente pertinência para os interesses brasileiros em temos
comerciais e políticos é uma das verificações mais emblemáticas do atual diagnóstico
acadêmico para a vertente regional da Política Externa do governo Lula
15
. Os interesses
do Brasil na região são maiores, mais densos e significativos do que no passado em
temos econômicos e materiais. Essa constatação ganha maior relevo quando sugerimos
que a passagem da região por profundas mudanças econômicas, políticas e sociais
geraram maiores oportunidades para os negócios comerciais do Brasil. O diagnóstico de
instituições pouco consolidadas na região colabora para a preservação das reticências
quanto ao aumento da cooperação, principalmente financeira, comercial e política,
mantendo, como conseqüência, situações de conflitos e contenciosos comerciais entre as
economias. Os casos das papeleras entre Uruguai e Argentina, e o das geladeiras entre
Brasil e Argentina, remetem-nos para esta observação.
O gargalo da infra-estrutura da América do Sul impede uma maior
complementaridade industrial, comercial e econômica. O adensamento dos interesses do
15
(Lima, OPSA, 2006); (Santana; e Kasahara, junho de 2006); e (Força Tarefa CEBRI, 2007).
50
país na América do Sul está paradoxalmente emperrado pela realidade oposta no que
confere a integração efetiva e física da região. A América do Sul seria então, tendo este
pano de fundo de suporte analítico, um continente dividido em duas partes que não se
comunicam. Tal incomunicabilidade fica agravada por processos de integração muito
diferenciados no quesito horizontes e perspectivas de desenvolvimento; ou seja,
Mercosul e CAN durante anos, resguardaram orientações diferentes no que concerne
aos seus interesses e orientações econômicas em vista das suas estratégias autônomas de
inserções internacionais. Não foi conferida, pelos blocos, pelo menos durante a maior
parte das suas existências, centralidade a uma aproximação entre os mesmos em temas
comerciais e econômicos; horizontes comerciais além do entorno sul-americano sempre
formaram parte das trajetórias das iniciativas destacadas. Os supostos erros do passado
pesam e pesarão muito na trajetória integracionista que, por força das discussões
políticas e sociais, são demandadas no limiar do século XXI para sanar as deficiências e
atrasos econômicos.
A intensificação da inserção das grandes empresas exportadoras brasileiras nos
países da região também é marca notória do momento no qual se processam os diversos
reordenamentos das iniciativas políticas e econômicas regionais dos quais a PEB tem
papel ativo. A América do Sul é um mercado mais integrado nos anseios e objetivos
comerciais das grandes exportadoras multinacionais brasileiras. Estas estão, por sua vez,
amparadas por marcos e sistemas institucionais financeiros erigidos no âmbito do
Estado brasileiro; por outro lado, por força das iniciativas da diplomacia do governo
Lula, estas mesmas empresas passaram a encontrar, em base regional, na Corporação
Andina de Fomento, um possível suporte externo para co-financiar as suas exportações
destinadas aos projetos de integração física. Tais mecanismos, ao mesmo tempo em que
mitigam os riscos aos investimentos brasileiros no imprevisível mercado da região,
possibilitam que as empresas nacionais tenham acesso a fontes regionais de recursos
para financiamento de suas exportações (tema para o último capítulo).
Item 3.3. Síntese do diagnóstico. Revendo a política regional do Brasil.
Uma primeira visão da nova fase da integração direciona para discussões e
iniciativas regionais classificadas como multifacetadas, multilaterais e ou diversificadas.
Esse primeiro direcionamento está amparado nos aspectos do desenvolvimentismo,
atrelado às idéias de integração mais profunda, com mecanismos e processos de
51
integração infra-estrutural, produtiva e financeira. Sustenta a crítica ao modelo
comercial dos anos 90, e está centrada numa perspectiva integracionista mais profunda,
com as discussões acerca da possibilidade de implementação de mecanismos
compensatórios em vista das assimetrias entre os países da região. De modo geral, o
aprofundamento do Brasil na região possibilita a sua maior inserção no cenário
internacional. Essa é a visão do núcleo mais duro dos formuladores da PEB atual, assim
dos setores acadêmicos que apóiam a ação da Política Externa de Lula na região (Força
Tarefa CEBRI 2007, p.11).
Na contramão destas análises encontram-se os críticos que apregoam uma
integração mais seletiva; estes acreditam que o país deva atuar perante uma variada
gama de interesses na região, daí o tratamento específico para cada questão e item
(Idem, p.12). O ressurgimento do bilateralismo nas discussões comerciais do Brasil
também é uma particularidade do momento da era Lula da Silva e simbolizaria, por sua
vez, este tratamento específico perante os interesses econômicos nacionais. A integração
não seria vista como elemento essencial da PEB, o foco deveria ser a inserção do Brasil
na economia mundial; a integração no entorno deveria estar pautada por considerações
de caráter comercial. A nossa tese parte da percepção de que a confluência entre as duas
perspectivas é a alternativa mais adequada para o entendimento da ação diplomática do
governo Lula dentro da agenda financeira regional. Poderemos compreender que
discussões de caráter construtivo, assim como estratégias seletivas para as agendas
comerciais e financeiras, formam o contorno da evolução da trajetória da destacada
política externa.
No que confere as opções e preferências da atual diplomacia brasileira acerca das
iniciativas de integração regional atuais, o caminho para a concretização da prioridade
para a integração conferida pela atual Política Externa, principalmente para o quadro do
tema financeiro, está estruturado na lógica do revigoramento de instituições tradicionais
já consolidadas. A diplomacia da era Lula empreende esforços para o restabelecimento
e fortalecimento de iniciativas de integração como a Aladi, a CAF e o FONPLATA
(Importante para a participação e exposição financeira do Brasil na América do Sul),
além do próprio revigoramento do MERCOSUL. A outra marca da estratégia da ação
diplomática do governo Lula na região está nas resistências para o estabelecimento de
iniciativas inovadoras de caráter financeiro, como é o caso do Banco do Sul.
No caso mais específico da nossa pesquisa, a forma como o Brasil procura
colaborar em temas financeiros está estruturada segundo sua condição infra-estrutural
52
própria que é a soma das atribuições do BNDES dentro da estrutura e arquitetura
financeira nacional. Estamos trabalhando com a hipótese de que o modelo de
participação e exposição financeira, com o BNDES no processo, estrutura-se a partir de
um modelo que tem suas raízes no contexto da lógica financeira e produtiva brasileira;
esse mesmo modelo procura, por conseguinte, respeitar a legislação e as funções
tradicionais da instituição de fomento nacional do país, assim como os interesses
econômicos nacionais.
A ênfase dada para as iniciativas de cooperação financeira a partir de instituições
regionais já existentes estaria justificada, pela diplomacia brasileira, no seguinte sentido:
imputar a participação brasileira na integração regional solidificada pela sua proposta,
sem maiores surpresas para o Estado brasileiro e com graus claros de previsibilidade e
possibilidade de reordenação de acordo com as perspectivas econômicas e políticas do
país. Em outras palavras, tal ênfase estreita-se com o componente de redução das
vulnerabilidades do Brasil perseguido pela PEB. Tal componente identifica o modelo de
participação e exposição financeira que respeita a institucionalidade que o Brasil está
disposto a auferir e conferir para o processo nos marcos de responsabilidade fiscal do
país e na lógica de funcionamento das instituições financeiras brasileiras
16
.
A participação do BNDES na região estará enquadrada numa compreensão _
passível de colaborações adicionais _ estruturada pelos marcos de responsabilidades
para com os seus recursos financeiros. Isso possibilita o traçado de uma sinalização que
pode explicar as razões de alguma tensão entre as iniciativas e os modelos antagônicos
aos do Brasil postulados por outros Estados, em especial Venezuela e Argentina, para o
tema da integração e da colaboração financeira. Nesse sentido, o sucesso do Brasil na
América do Sul depende de liderança política interna capaz de promover a coordenação
interinstitucional, econômica, política e social para a condução da integração aos
moldes do que está sendo formulado. Nesta coordenação estão envolvidas diferentes
instâncias da burocracia do executivo, mas também uma maior participação do
legislativo, da sociedade civil e dos setores produtivos nacionais (Lima, 2007).
A constatação das preferências pela revitalização e aprimoramento de iniciativas
já existentes de integração guarda alguma correlação possível com o quadro interno do
Estado brasileiro; no caso desta tese leva-se em conta o quadro do sistema público de
financiamento das exportações brasileiras. Nossa pesquisa se preocupa com as questões
16
Adiante permearemos esta discussão adicionando um anexo acerca das conclusões dos estudos
econômicos da OCDE Brasil 2005 no quesito “reformas estruturais de segunda geração”
.
53
particulares do BNDES, suas características institucionais, seu quadro interinstitucional
e sua lógica política de funcionamento. Como adição, também forma parte da pesquisa a
rede complexa de considerações de ordem interna das características inerentes do
Estado Brasileiro que se conjuga para definir as possibilidades que se somariam
positivamente nas implementações concretas do que foi formulado. Uma das
dificuldades que o governo encontra, no plano interno, para exercer a sua liderança
efetiva na região pode ser parcialmente compreendida pela falta de coordenação entre os
planos doméstico e regional (Idem). O capítulo dois procurará dar conta da
caracterização de uma pequena parcela das considerações de ordem interna que se
conjuga nas possibilidades e nos limites de coordenação do plano doméstico com o
regional.
A insistência de cooperação a partir dos modelos oferecidos pelo Brasil gera uma
grande dificuldade para o país exercer, segundo ainda a autora em destaque, a efetiva
liderança brasileira na região. A nossa hipótese também partilha dessas premissas, já
que estamos sugerindo que parte da compreensão da participação do BNDES pode ser
feita a partir do entendimento da lógica nacional financeira estruturada no seio do
Estado Brasileiro a partir da realidade política e econômica interna. Sendo assim, quais
são os desafios para o Brasil na América do sul levando-se em conta as
condicionalidades impostas pela lógica do BNDES em especial, e pelo quadro geral da
ordem política e econômica financeira do Brasil no geral?
No plano regional os desafios políticos para o Brasil são: os avanços dos acordos
bilaterais dos EUA trás as novas investidas da administração Bush na região e os
atentados de 11/09 que conferiram para a região, por parte da percepção dos EUA, um
caráter de ator do sistema internacional perdido na década de noventa; a liderança dos
petrodólares de Chávez que implicaram em cálculos diferenciados de interesses entre os
demais países da região quanto às alternativas propostas por Brasil e Venezuela para a
agenda financeira; e a ausência de instituições supranacionais na região, o que acaba
acarretando em problemas e contenciosos de todos os tipos.
As tradicionais assimetrias entre o Brasil e os demais Estados da América do Sul
ainda revestem o país na caracterização de ser um Estado à procura de sua posição
“hegemônica” na América do Sul; agora com a novidade de estar o BNDES inserido
nesta caracterização como será sugerido do capítulo três. Tal perspectiva estaria atrelada
a considerações de que a Argentina estaria nos últimos anos montando um jogo duplo
de interesses e obtenção de benefícios ao manter relações especiais com a Venezuela,
54
principalmente vendendo títulos da sua dívida externa para este país. A esses desafios, o
agravamento da situação do país na América do Sul se torna mais patente a partir das
considerações dos desafios internos descritos especificamente nesta pesquisa; e pelas
condições e condicionalidades impostas pelo BNDES para se articular com a PEB no
duplo trabalho de se implementar as formulações aspiradas pela atual Política Externa e,
ao mesmo tempo, responder a lógica de funcionamento do banco e as suas
responsabilidades para com os setores produtivos nacionais.
O BNDES, no discurso e nas promessas da diplomacia, pode ser caracterizado
como um instrumento que viabiliza a liderança estrutural e material do Brasil na região
por ser uma fonte de recursos materiais (já que toda liderança deve contar com
condições concretas para poder ser efetiva). Do ponto de vista desta instituição pública
de financiamento e da sua própria condição legal na esfera do Estado brasileiro, esta não
se enquadra em uma caracterização de instrumento da PEB; apenas uma das ferramentas
do Estado para fomentar o desenvolvimento nacional, haja vista, como será
demonstrado, que a mesma, a partir do limiar do século XXI, congrega arranjos
institucionais e normativos que ampliam o seu escopo geográfico de atuação.
O que pode ser afirmado, a partir da análise do capítulo dois, é que a defesa dos
interesses econômicos nacionais feitos por seu quadro de financiamento passa
necessariamente pelo financiamento das exportações nacionais para a América do Sul.
Tais considerações iniciais sugerem que a articulação entre o BNDES e a PEB responde
parcialmente à perspectiva da ação da diplomacia do governo Lula; mas, a exemplo da
década de noventa, esquiva-se dos custos e riscos materiais e políticos que tal função
encerra em si, construindo, para tanto, uma modelagem própria.
No geral, o novo regionalismo no qual se insere a PEB do governo Lula está
circunscrito por questões mais complexas e diversificadas, com sobreposição de
interesses e objetivos políticos e econômicos do Brasil (Veiga, 2007, p. 113-114-115).
Dessa maneira, justificam-se as várias iniciativas bilaterais que se processam no
momento pela diplomacia de Lula na região; a exemplo da própria CAN que em 2004
permitiu aos seus membros estabelecer negociações bilaterais com terceiros países
(Idem). Existe, portanto, o componente bilateral que confere um quadro mais denso nas
negociações de todos os tipos e temas, fato que redefine o componente pragmático da
PEB dentro da sua lógica de estabelecimento de parcerias estratégicas.
O Estado nacional retoma, neste novo momento, importância central para a
condução efetiva dos processos integradores dos anos dois mil. Foram parcialmente
55
abandonados os discursos de que as forças econômicas e comerciais sozinhas dariam
conta de conduzir o aprofundamento das iniciativas integradoras. Os Estados são
conclamados, pelas suas sociedades civis que se configuram em cada marco territorial, a
arcar com os custos de uma integração que possa no objetivo mais amplo retomar a rota
de desenvolvimento das economias da região. Do ponto de vista da política comercial
brasileira, o processo de negociação evoluiu de posturas unilaterais para o campo das
negociações bilaterais, multilaterais e regionais; marca notória da inter-relação dos
Estados no novo contexto da integração da América do Sul. Dá-se início ao
regionalismo negociado em bases bilaterais (Veiga 2007, p. 114).
56
CAPÍTULO DOIS: AS NOVAS ESTRATÉGIAS DO FINANCIAMENTO
PÚBLICO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS PARA A AMÉRICA DO SUL.
57
Item 1. Apresentação dos argumentos:
O presente capítulo abordará o tema do financiamento público brasileiro para os
setores exportadores de produtos de alto valor agregado da economia nacional. Mais
especificamente, os setores exportadores de serviços de engenharia e construção civil
atuantes na América do Sul. Para este objetivo, iremos definir as estratégias de
financiamento das exportações nacionais; o papel e os antecedentes do BNDES nesta
tarefa; e os mecanismos criados no banco para este fim. Considera-se, para título de
aviso, que as questões discutidas neste texto estão inseridas nos debates referentes às
estratégias das políticas públicas de governo para os planos e diretrizes na área do
financiamento público das exportações; mais especificamente, para os setores
exportadores de alto valor agregado da economia nacional. Portanto, não se trata, neste
texto específico, de debater questões próprias da Política Externa e sua formulação.
Focaremos as nossas atenções nos debates em torno das políticas de governo dos
anos 90 e 2000 para o tema destacado com o objetivo de demonstrar as questões de
ordem “infra-estruturais” do Estado brasileiro que impactam na formulação,
implementação, limites e possibilidades da PEB na América do Sul. Política externa
esta, entendida por esta pesquisa, articulada com o BNDES, suas orientações e
diretrizes. Sugerimos a hipótese de que o BNDES articula-se na arena da política
externa brasileira do governo Lula a partir da evolução do quadro a ser descrito. Tal
quadro define, ao mesmo tempo, os limites e as possibilidades para que se estabeleça a
destacada articulação e, ademais, o modelo geral de participação e exposição financeira
do Brasil na América do Sul.
O conceito de política pública de financiamento das exportações de setores
produtivos nacionais no exterior é, por esta pesquisa, de acordo com a literatura
especializada no assunto
1
, entendida nos seguintes termos:
a) liberalização das
restrições aos investimentos diretos no exterior – tendo em vista que implicam saída de
divisas (isso foi particularmente relevante no caso de países em desenvolvimento e nas
economias em transição; b) criação de instrumentos internacionais que facilitem e
protejam os investimentos no exterior; c) informação e assistência técnica; d) incentivos
1
Sucupira, Renato; Moreira, M. Mesquita. Export and trade finance: Brazil’s recent expirience. Institute
for international Economics (IEE) www.iee.com. Drummond, Paulo. F. N. Recent export credit
developments. IMF Working Paper WP 97/27. 1997. www.imf.org
. Stephens, Macolm. Export credit
agencies, trade finance, and south east Asia. IMF working paper 175. December 1998. www.imf.org.
Além, Ana Claudia; Cavalcanti, Carlos Eduardo. “O BNDES e o apoio à internacionalização das
empresas brasileiras: algumas reflexões”. Revista do BNDES, Rio de janeiro, v.12, N.24, P. 43-78, Dez
2005.
58
fiscais; e) mecanismos de seguros para os investimentos; e f) financiamento. Conceito
este que forma parte das orientações financeiras adotadas pelas mais respeitadas
entidades financiadoras públicas e privadas, incluindo o próprio BNDES.
Sugerimos que o BNDES parte da lógica das instituições financeiras para se
articular com a PEB, não sendo, portanto, permeável a outras considerações e ou
motivações institucionais e políticas fora da sua alçada e lógica de atuação. O resultado
que se espera da articulação entre o BNDES e a PEB, na era Lula da Silva, estará
restrito e modulado parcialmente por tais elementos a serem descritos, detalhados e
discutidos a seguir. Com esta perspectiva, a pesquisa parte da constatação de que a PEB
na América do Sul, tendo o BNDES como potencial agente material colaborador, estará
limitada política e materialmente pelas diferentes lógicas de trabalho e avaliação de
ambas as instituições _ BNDES e MRE. Enquanto o BNDES parte da lógica das
instituições financeiras; os formuladores da PEB partem da lógica político-diplomática,
cujas dinâmicas e evoluções seguem compassos e trajetórias diferentes; assim como
lógicas de formulação e implementação muitas vezes incongruentes e descompassadas,
mas não necessariamente excludentes.
Item 1.1. O BNDES e a Política Externa Brasileira: considerações iniciais.
Para precisar os argumentos elucidados nesta pesquisa, será dado procedimento a
uma abordagem do papel do Banco na década passada, suas funções, suas mudanças e
suas atribuições fundamentais resultantes das políticas de governo implementadas para
esta instituição desde o início dos anos noventa. A inserção do BNDES nas opções de
política externa do governo Lula da Silva e na América do Sul é resultado de uma série
de mudanças institucionais decorrentes da evolução do cenário econômico e financeiro
brasileiro que se processa mais acentuadamente desde o início dos anos noventa. As
políticas de governo para o tema do financiamento público das exportações traduzem
esta observação.
Como instituição pública a serviço dos interesses comerciais e econômicos
brasileiros, demonstraremos, de forma a angariar subsídios para um quadro conclusivo
mais preciso, que ela atua em consonância com as suas alterações institucionais, regras,
lógicas e ordenamentos próprios da sua alçada e lógica de trabalho. Itens esses
moldados no transcorrer das evoluções e das dinâmicas da própria estrutura econômica
brasileira, das estratégias de financiamento das exportações e da arquitetura financeira
59
nacional a serem descritas a seguir. Adicionalmente, formulamos, também, a sugestão
de que o BNDES responde nos anos dois mil aos anseios e diretrizes da política externa
e da projeção internacional do governo Lula no quadro das prioridades dadas para a
integração regional na América do Sul. A esta observação cabe a ressalva de que o
BNDES atende aos objetivos da ação diplomática na região quando esta instituição
encontrar correspondência adequada entre as suas atribuições tradicionais de agência
financeira das exportações brasileiras junto ao quadro geral dos objetivos e das
diretrizes formuladas pela PEB.
Com essas observações, podemos inicialmente definir os limites e as
possibilidades do quadro da formulação e implementação da política externa que se
mira analisar, além das possibilidades e limites da participação do BNDES na América
do Sul. Dessa forma, percebemos a necessidade de trabalhar um capítulo que procure
identificar as novas estratégias de financiamento público das exportações de longo
prazo; o contorno geral da arquitetura financeira brasileira e a centralidade do BNDES
nesta arquitetura; e as características básicas do sistema público de financiamento das
exportações, expondo os seus avanços e deficiências. Nossa hipótese para analisar a
referida política externa deve levar em conta as atribuições e os contornos do aparelho
do Estado brasileiro e do próprio BNDES que chamamos de “condições infra-
estruturais”. Condições “infra-estruturais” que destacam os quadros, contornos e
características da estrutura pública financiadora do Brasil.
Os objetivos e hipóteses deste capítulo se resumem em demonstrar que o BNDES
tem uma lógica de atuação financeira própria correlacionada com os parâmetros de
atuação típicos de instituições financeiras privadas. Instituições essas que prezam pelas
garantias e seguros aos seus recursos; pela viabilidade e pelo retorno (lucro) dos seus
empréstimos de acordo com os investimentos feitos; e pelo respeito à lógica da
responsabilidade financeira. Para estes objetivos e hipóteses, demonstraremos que a
instituição, ao longo da década de noventa e início dos anos dois mil, adquiriu aspectos
institucionais próprios que a permitiu promover uma exposição mais acentuada dos seus
recursos para empréstimos direcionados ao espaço sul-americano. Dessa forma, também
qualificaremos a afirmação segundo a qual o papel do BNDES na arquitetura financeira
nacional, referente ao tema do financiamento das exportações, beneficia os setores das
grandes empresas exportadoras de produtos de alto valor agregado que necessitam de
financiamentos de Longo Prazo: particularmente os de serviços de engenharia e
60
construção civil. Setor este que está inserido no jogo político e econômico das
iniciativas de integração física da América do Sul.
Na outra ponta da análise, sinalizaremos, com base na literatura especializada, que
o quadro institucional da atividade de promoção das exportações _ do qual o BNDES
forma parte _ apresenta duas características que limitam a articulação mais dinâmica
entre o BNDES e as iniciativas da PEB na América do Sul: a solidez das instituições,
incluindo o próprio BNDES; e a desarmonia interinstitucional entre as agências
brasileiras que promovem a política comercial brasileira
2
. Também debateremos que o
BNDES é uma instituição extremamente importante e poderosa no que concerne a
disponibilidade de recursos para o financiamento das exportações brasileiras. Dessa
forma, salientaremos que não existe, no quadro geral da comparação com os países da
América do Sul, qualquer instituição semelhante que se equipare ao tamanho e
importância do BNDES em termos de recursos materiais para fomentar o
desenvolvimento e as exportações dos seus respectivos países. Ambas as sugestões de
discussão também nos permitem analisar os limites da atuação financeira do BNDES na
região, assim como debater o nevrálgico tema das assimetrias estruturais entre o Brasil e
os países da região (neste caso focando no tema das assimetrias de ordem financeira).
Assimetrias estas, como já discutidas, que postulam entraves sérios para a participação
brasileira nas iniciativas de integração regional
3
.
Algumas questões específicas serão respondidas neste texto. Analisaremos e
demonstraremos as importantes alterações e inovações normativas referentes ao quadro
do financiamento público das exportações brasileiras processadas no ano de 1997 e que
culminaram com a criação do BNDES-Exim. Discutiremos em que sentido o quadro do
financiamento público das exportações, revelado nas linhas de crédito do BNDES,
direciona-se, do ponto de vista geográfico, para maiores exposições na América do Sul.
Debateremos as características básicas do sistema público de financiamento das
exportações com base na literatura especializada sobre o assunto, de forma a situar a
importância do BNDES neste sistema. E sugeriremos as correlações entre as
2
Para análises detalhadas do componente institucional da política de promoção comercial brasileira
consultar os trabalhos de Pedro da Motta Veiga, em especial o texto “A institucionalidade da política de
comércio exterior brasileira” In “Desafios da promoção comercial brasileira” BNDES.
3
A discussão acerca das assimetrias que marcam a estrutura geral do aparelho do Estado Brasileiro no
comparativo com os países da América do Sul está destacada no capítulo um, de acordo com a análise da
academia brasileira. Neste capítulo, procuraremos lançar luz para este tema focando a questão do BNDES
e sua estrutura financiadora. Estrutura esta que marca uma desarmonia infra-estrutural gigantesca com os
países da região e que, de uma forma ou de outra, impacta nos humores do jogo diplomático regional para
o tema financeiro. Humores estes a serem destacados no capítulo quatro.
61
características inerentes do aparelho do Estado brasileiro e o seu alcance e limitação na
PEB. Com isso, demonstraremos que para além da própria opção da “ação diplomática”
por privilegiar o espaço da América do Sul nos marcos da sua ação e projeção
internacional, o quadro do financiamento público das exportações brasileiras conferiu
importância substancial na contemplação dos financiamentos aos exportadores
nacionais para esta região.
As discussões propostas para tais questões nos direcionam para a fundamentação
da afirmação segundo a qual a administração Lula da Silva, ao articular o Banco nas
suas opções formuladas pela ação internacional da política externa brasileira, não
impugnou premissas novas para a instituição BNDES em decorrência dessa orientação.
Argumenta-se que o quadro evolutivo da instituição BNDES segue uma lógica própria
vinculada tão somente à dinâmica das políticas de governo (de alçada econômica e
financeira) adotadas ao longo do período destacado
4
. Portanto, o BNDES não é
totalmente permeável às opções de política internacional formulada pelo setor
diplomático.
A possível articulação do BNDES no quadro das opções da política internacional
brasileira e da projeção econômica internacional do Brasil deve-se as seguintes
afirmações a serem qualificadas no decorrer do texto: o BNDES, nas suas linhas de
financiamento das exportações brasileiras, possui ordenamentos e arranjos institucionais
que o permite prover recursos destinados para as atividades exportadoras nacionais na
América do Sul; os recursos das linhas estão amparados por uma relativa margem de
segurança e de garantias características da lógica política de mitigação dos riscos
4
Uma das grandes atribuições do BNDES nos anos noventa foi à delegação concedida a esta instituição
para coordenar os processos de privatização das estatais brasileiras. Argumenta-se nos estudos e artigos
de Castelar Pinheiro (1999) e Velasco Jr. (1999), ambos destacados na bibliografia, que os sucessos com
as privatizações, em consonância com o plano de reajuste estrutural da economia brasileira, beneficiaram
o banco em vários aspectos. Dentre estes aspectos podemos destacar a melhora substancial na capacidade
financiadora e de desembolsos da instituição. Isso decorre do fato de a mesma ter sido desonerada dos
encargos e prejuízos que assumia de várias estatais das quais ela era sócia; sociedades essas estruturadas
no plano econômico de Geisel conhecido como II PND. O debate acerca da atuação do BNDES nos
processos de privatizações não merece maiores menções dentro deste trabalho, somente sinalizamos para
esta importante observação de forma a identificar uma importante função do banco em consonância com
as suas atribuições para com o Estado e a realidade econômica nacional; além de destacar importante
questão que contribui para uma discussão mais aprofundada sobre a trajetória do BNDES enquanto
agência de financiamento das exportações nacionais. Isso se deve, tendo em perspectiva, que a melhora
na condição financeira e fiscal do banco proporcionou um aumento nas disposições e possibilidades de
financiamento para os setores exportadores nacionais logo da conclusão das privatizações e do
“enxugamento” dos prejuízos do BNDES enquanto sócio de estatais não lucrativas.
Ver BNDES 50 anos,
uma publicação da própria instituição que debate este tema na análise feita sobre o
banco nos anos noventa. Neste trabalho o debate em torno da evolução institucional do BNDES está
diretamente ligado à discussão de que a melhora da capacidade financiadora da instituição esteve atrelada
diretamente com as privatizações e a saída do BNDES enquanto sócio das estatais.
62
aplicadas por uma instituição financeira responsável; o quadro das linhas de
financiamento para exportação do BNDES privilegia as grandes empresas brasileiras
exportadoras de produtos de alto valor agregado atuantes na América do Sul, em
especial as empresas exportadoras de serviços de construção civil e engenharia e
maquinários pesados; e os recursos para empréstimos do BNDES possibilitam
consolidar a presença do setor exportador de serviços de engenharia e construção civil
brasileira na América do Sul em vista da oportunidade que a região oferece para este
setor.
Como não existe espaço nesta pesquisa para a elucidação inovadora com relação à
discussão acerca da macroeconomia brasileira e dos estudos que explicam em maiores
detalhes a arquitetura financeira do Brasil, focaremos nossas atenções nas conclusões de
pesquisas já realizadas sobre os temas. Com isso, levantaremos os elementos que
ajudem numa melhor compreensão acerca da problemática da participação e exposição
financeira proposta pela administração Lula para a América do Sul nas diversas
iniciativas de integração regional. Para o entendimento das características do sistema
financeiro brasileiro, recorremos a autores como Rogério Studart, Carlos Eduardo de
Carvalho, Renato Sucupira, Canuto e Moguillansky
5
. Os autores contribuíram com o
levantando de dados empíricos que explicam as características, alcances, limitações,
deficiências e o quadro estrutural da arquitetura financeira brasileira destacando a
importância dos bancos públicos e de desenvolvimento neste quadro. Os mesmos
pesquisadores são pertinentes por terem identificado que o BNDES é uma agência de
financiamento pública que remedia, parcialmente, as deficiências estruturais da
arquitetura financeira brasileira
6
. Tal quadro é um dos fatores que contribui para
estudarmos as questões que envolvem o banco na política e projeção internacional
brasileira, principalmente quando referida ao espaço geográfico da América do Sul;
além de contribuir para entendermos o alcance e as limitações do BNDES na política
externa do governo Lula nos marcos das discussões sobre a integração regional.
A pesquisa proposta adianta que, para a sua viabilização de execução enquanto
trabalho de mestrado inserido na área de relações internacionais, será necessário o
diálogo com pesquisadores de outras áreas acadêmicas. Isso se deve a constatação de
5
Seus trabalhos estão destacados na bibliografia deste trabalho.
6
Para a análise mais detalhada da característica do sistema bancário e financeiro brasileiro nos anos 90
ver Studart e Carlos Eduardo (2002); Studart (2005); e, em especial, Moguillansky, Studart e Vergara
(2004) que debateram especificamente o papel da banca privada estrangeira nos países da América
Latina.
63
que a pesquisa procura identificar até onde uma instituição tradicionalmente desligada
das funções da ação diplomática consegue se harmonizar com as percepções e objetivos
políticos dos formuladores da política internacional brasileira; assim como os fatores
que implicam em incongruências entre política Externa e política pública de
financiamento. Isso justifica muitas vezes o trabalho fazer menção a pesquisas que
discutem a área de economia política do financiamento; do desenvolvimento; da
estrutura financeira brasileira; da economia em geral; da história; e da própria análise de
política externa brasileira, que é o tema do nosso trabalho (Grifos nossos).
Item 2. O financiamento do desenvolvimento: as condições inerentes da
arquitetura financeira brasileira e o papel do BNDES.
A este quadro analítico no qual inserimos o nosso objeto, assumimos de antemão,
a exemplo de Studart (2005), que o “BNDES cumpriu importante papel enquanto
remediador da desarmonia estrutural existente entre os avanços da estrutura produtiva
brasileira e a inadequada arquitetura financeira que fomentaria tal quadro produtivo”.
É destacado nessa literatura, que o sistema financeiro nacional se caracteriza pelo curto
prazo das suas linhas de crédito, pelas altas taxas de juros, pela elevada volatilidade dos
recursos e pela marginal participação do setor privado no financiamento dos projetos e
das exportações de longo prazo.
Segundo Studart (2005) “Nossa hipótese principal é que a falta de condições de
financiamento do desenvolvimento e excessivos endividamentos externos estão
associados a um desenvolvimento financeiro inadequado para as mudanças estruturais
da economia brasileira”. Sejam esses financiamentos para as exportações brasileiras de
produtos de alto valor agregado, sejam para viabilização da execução da infra-estrutura
nacional e mesmo da infra-estrutura integradora regional _ que liga o Brasil a outros
países da região nos marcos do projeto IIRSA; ou mesmo que permita ao Estado
brasileiro vincular seu projeto de desenvolvimento integrado a uma perspectiva regional
mais ampla. Projeta-se para o Brasil, portanto, a caracterização de um país cujo funding
7
está em desvantagem na comparação com o quadro geral dos seus maiores competidores
7
Funding: expressão comumente empregada por Keynes e seus seguidores para se referirem aos
mecanismos de alocação de poupança em instrumentos de financiamento de longo prazo. Os trabalhos
consultados para esta pesquisa nos revelaram as suas correlações teóricas com figuras como Keynes e
Hyman Minsky. Portanto, o quadro referencial teórico desta explicação também está permeado pela visão
dos autores destacados.
64
internacionais que apresentam, por sua vez, uma arquitetura financeira mais sólida e
competitiva.
As linhas de financiamento do BNDES procuram responder ao gargalo não
contemplado pelo setor privado nas suas demandas por crédito de longo prazo. Linhas
essas referentes ao tema do financiamento das exportações de longo prazo e da infra-
estrutura do espaço nacional e do entorno regional
8
. Sua função é, neste quesito,
conferir condições de competitividade para os setores exportadores de produtos e
serviços de alto valor agregado da economia brasileira, no qual a oferta de
financiamento é uma das condições definidoras da produtividade e da competitividade
do setor. O Brasil, portanto, não conta com uma condição adequada de reestruturação de
passivos, ou funding. “El Estado es agente externo al financiamiento del proceso de
acumulacion capitalista” (Studart 2005, p. 30), haja vista a ausência e ineficiência da
iniciativa privada no segmento de financiamentos.
Os bancos públicos, em especial no caso do Brasil, procuram, por meio de
recursos fiscais e parafiscais, contornarem a deficiência estrutural do funding nacional.
Principalmente por que, o Brasil não conta com um sistema de empréstimos de longo
prazo que conjugue os mercados de valores com os investidores institucionais (bolsas de
valores interligadas com a oferta de crédito produtivo). Tal característica é comum nos
países sul-americanos. Surge desta análise o principal desafio sul-americano em termos
econômicos: financiar o desenvolvimento com recursos públicos e regionais em, muitas
vezes, contextos de volatilidade financeira internacional. É neste ponto específico que
ganham relevância a temática da cooperação financeira regional e a importância dos
bancos de desenvolvimento e agências regionais de crédito (parte do tema do quarto
capítulo).
Item 2.1. O sistema público de financiamento das exportações de longo prazo. O
papel do BNDES.
8
Segundo Malcolm Stephens 1998, p. 5: “Trade finance provides both the means of moving and
transferring payments for goods and services and also some security. Probably the three most common
methods are letters of credit, cash with orders or cash against shipping documents and open account.
Bills of exchange or promissory notes would tend to be used for longer credit or one-off transactions”.
Entende-se, portanto, como operações oficiais de crédito aquelas que têm algum tipo de apoio oficial e
incluem: crédito direto, refinanciamento a bancos, equalização de juros, ajuda financeira, seguro de
crédito à exportação e garantias.
65
A análise da arquitetura financeira brasileira, cuja estrutura geral pode ser
entendida como ineficiente, direcionou os autores destacados para a seguinte questão:
“quais são as conseqüências para o crescimento de uma economia se inexistem
intermediação de longo prazo ou mercados de capitais, através dos quais o funding
pode ser realizado?”
9
Para a questão acima os autores expõem seis respostas:
1. “falta de investimento privado em projetos de Longo prazo; além de ausência
de recursos para as famílias investirem em bens imobiliários”.
2. “Bancos de desenvolvimento suprem a falta de investimentos de LP
dos
mercados privados, principalmente em economias em desenvolvimento que não
possuem um mercado financeiro adequado para esta tarefa” (Grifos nossos).
3. “Alocação dos recursos do Estado para estas tarefas, implicando, muitas
vezes, em redução dos gastos sociais”.
4. “Adicionalmente, os recursos fiscais e parafiscais (fontes últimas de
financiamento público em economias com mercados de títulos de longo prazo
pouco desenvolvidos) têm evidente prociclicalidade, já que se tornaram escassos
em momentos de retração do nível de renda”.
5. “Gastos autônomos decorrentes da falta de mecanismos privados de LP
acarretam em fragilidades financeiras. Isso é decorrente do fato de pequenas e
médias empresas terem que se financiar em mercados de curto prazo com rolagem
das dívidas (gera inadimplência)”.
6. “Esta falha de desenvolvimento institucional tende a gerar uma tendência ao
endividamento externo em momentos de liquidez externa. Isso decorre de que os
custos do endividamento externo são menores do que os custos oferecidos pelo
mercado público doméstico”.
10
Para as nossas reflexões salientamos a respostas 1, 2, 5 e 6 de forma a elucidar o
nosso argumento nesta seção. A resposta 1 colabora com a afirmação geral que percorre
esta pesquisa a respeito da caracterização de a integração regional proposta pelo
governo Lula estar estruturada pela participação do BNDES enquanto provedor material
de recursos. Isso se deve já que o setor privado é reticente em projetos de longo prazo
referentes ao financiamento de grandes obras de infra-estrutura. A resposta número 2
está sintonia com a de número 1, pois sinaliza para a função do banco público e das
9
Moguillansky, Graciela; Studart, Rogério; e Vergara, Sebastian. “Comportamiento Paradójico de la
banca extranjera en América Latina”. Revista de la Cepal 82. 2004.
10
Idem.
66
agências regionais de crédito no quesito exposto acima. A resposta de número 5 nos
permite antecipar a afirmação de que o BNDES, em específico, contempla na sua maior
parte os financiamentos direcionados para as empresas de grande porte e que são, por
sua vez, exportadoras de produtos e serviços de alto valor agregado da economia
brasileira.
A resposta de número 6 procura antecipar uma das questões centrais que
caracteriza o estabelecimento do negócio de financiamento das exportações, que são as
garantias oferecidas para os empréstimos do BNDES referentes aos financiamentos das
exportações brasileiras de serviços de engenharia e construção civil. Neste quesito
repousa um dos temas mais nevrálgicos para o debate da articulação do BNDES na PEB
e a projeção internacional do Brasil: as garantias aos empréstimos do BNDES
oferecidas pelos países da região a partir do sistema CCR-Aladi (um dos temas do
capítulo três). A partir dessa problemática ganha relevo o tema das garantias, da
reestruturação, do revigoramento das instituições regionais tradicionais de integração e
financiamento e da participação do BNDES junto a outras agências de desenvolvimento
(CAF), fundos de desenvolvimento regionais (FOCEM e FONPLATA).
Com o estabelecimento do plano real, em julho de 1994, e o fim do período
inflacionário com a liberalização do setor bancário
11
, esperava-se uma melhora na
disposição do setor privado financeiro referente à sua maior participação em
financiamento de investimentos longo prazo; disposição esta não atingida. Com a
entrada acentuada dos bancos internacionais no Brasil, esperavam-se ganhos
macroeconômicos concernentes à redução da taxa de juros e o correspondente
alargamento do prazo dos financiamentos que, por sua vez, não foram verificados
(Studart e Carvalho 2002, p.3). A liberalização do setor bancário a partir da segunda
metade da década de noventa teve forte relação com os planos de ajustes estruturais
promovidos pela administração FHC, que era contribuir com a estabilidade
macroeconômica brasileira e os ajustes estruturais da economia do país.
A menção às pesquisas de Studart e Carvalho referentes ao processo de abertura
do setor bancário nacional é pertinente para esta pesquisa no seguinte ponto: na
observação da constatação de que as privatizações não implicaram nas melhoras
macroeconômicas esperadas, o que contribuiu para a permanência dos bancos públicos
11
Os anos noventa e os anos oitenta caracterizaram-se pela alta liquidez dos mercados internacionais de
capital. Daí a explicação para a abertura comercial e financeira que configurou o momento pelo qual o
mercado bancário nacional foi liberalizado. Ver Studart, Rogério e Carvalho; Carlos Eduardo e José
Alves Jr, Antonio, IPEA, maio de 2002.
67
na tarefa de cumprir com o papel deixado de lado pelo setor privado nos financiamentos
de longos prazos. Tal observação nos permite sugerir, a título de compreensão, que a
estrutura do financiamento público brasileiro das exportações foi moldada, nos anos
noventa, a partir da condicionante imposta pela ausência do setor privado no mercado
de financiamento das exportações nacionais. Neste sentido, o BNDES assumiu
características próprias na área de financiamento das exportações muito semelhantes as
das instituições financeiras privadas.
Com o plano real, duas importantes inovações se processaram no sistema
financeiro brasileiro: foram cessados os ganhos dos bancos com os spreads bancários
decorrentes do inflacionismo marcante até 1994; e ocorreu o aumento da
competitividade das entidades financeiras privadas, em decorrência da expansão do
setor de varejo. Como resultado dois programas foram criados: o PROER (voltado para
o setor bancário privado); e o PROES (voltado para o setor bancário público na
condução do mesmo na sua saída das atividades bancárias). Adicionalmente, houve o
aumento da participação do setor bancário privado internacional e a redução do setor
público na economia no que concerne quase que exclusivamente ao market share
referente ao mercado de financiamento do consumo e do varejo de curto prazo.
Portanto, o resultado que se esperava com a abertura ao capital externo na almejada
expansão do setor privado em financiamentos de Longo Prazo não foi verificado
(Moguillanky; Studart; e Vergara 2004), (Studart; e Carvalho 2002).
A liberalização da década de noventa, associada à expansão internacional dos
fluxos de capital em busca de mercados de risco postulou, para países com funding
ineficiente, como é o caso do Brasil, uma condição de vulnerabilidade. O perigo que
permeou a relação da política econômica com a comercial esteve articulado e
circunscrito pela vulnerabilidade financeira doméstica surgida nos anos noventa e
presente também nos anos dois mil. Portanto, persiste “a tendência a um excessivo
crescimento do passivo externo, especialmente após uma abertura da conta de capital
externa” (Studart, 2005, p. 346). Duas questões a serem evitadas por esta condição:
“uma expansão da vulnerabilidade financeira doméstica a variações inesperadas da
taxa de câmbio; e um aumento da dependência da economia a oferta de financiamento
externo e, portanto, uma vulnerabilidade a variações abruptas a tal oferta”(Idem)
12
.
12
Essa constatação será retomada em discussão mais ampla no capítulo quatro. Lá destacaremos a
correlação entre a almejada busca por redução das vulnerabilidades pela PEB e o tema dos riscos aos
choques externos de ordem financeira. Isso explica boa parte da tese.
68
A trajetória que explica a modelagem do BNDES em específico, assim como das
demais entidades financeiras estatais brasileiras, no geral, a partir da fase do Real e da
abertura econômica, pode ser resultado da caracterização de que os fluxos de capital
determinam o hiato de recursos para financiamentos; tendo em perspectiva que nas
décadas anteriores foi o hiato de recursos que determinou o endividamento externo
(Studart, 2005, p. 349). Outra explicação para a condição das agências públicas deve-se
aos contornos da primeira fase do plano real, fase esta favorável às importações e que,
dessa forma, determinou a caracterização dos déficits de transações correntes. Nesse
sentido, os investimentos de longo prazo tiveram que ser fomentados pelos bancos
públicos (Idem, p.350).
As pesquisas destacadas sustentam que foi mantido o “curto prazismo” que
caracteriza o quadro financeiro brasileiro. Como conseqüência, os ganhos
macroeconômicos esperados com a abertura do sistema financeiro e bancário nacional
não foram atingidos (prazos longos de financiamento, redução da taxa de juros,
melhoria na qualidade de financiamento que atendesse os setores que demandam
grandes somas de recursos com longos prazos de produção e comercialização). O que de
fato ocorreu foram ganhos substanciais em termos microeconômicos e de eficiência
bancária (qualidade dos serviços, agilidade, competição por clientes no varejo e
recursos para o consumo imediato).
Segundo Studart (2005, p.350), o problema do financiamento do desenvolvimento
no Brasil não é um hiato de recursos. O autor assume que a cada período de crescimento
houve uma expansão da poupança agregada nacional. Trata-se de um problema de
inadequação do sistema financeiro no que tange aos mecanismos de financiamento de
LP; inadequação esta que remonta das origens dos diversos planos de desenvolvimento
do Estado brasileiro centrados em estratégias de endividamento externo. O crescimento
econômico, contudo, é mais acelerado do que o crescimento das instituições e do
sistema financeiro de investimentos de Longo Prazo (Idem). Esta perspectiva está
correlacionada com as orientações teóricas das abordagens Keynesianas; corrente que
assume que a decisão de aumentar a oferta do financiamento depende da decisão dos
banqueiros, não da oferta da poupança doméstica.
Os bancos públicos, em especial o BNDES, assumiram a função de corrigir esse
gargalo financeiro inerente da realidade econômica brasileira. Sobre estas observações e
conclusões, o quadro institucional e normativo do BNDES estruturou-se com
características próprias. Tais características, por sua vez, ajudam na compreensão dos
69
limites e das possibilidades possíveis para a sua articulação do banco nos marcos das
propostas de participação, cooperação e exposição financeira brasileira na América do
Sul; no financiamento dos setores exportadores de serviços nacionais ligados a
construção do projeto IIRSA; na prioridade conferida às iniciativas de integração
regional; e na própria projeção internacional e econômica do Brasil.
Item 3. O BNDES no apoio ao financiamento das exportações: antecedentes,
inovações e flexibilizações.
As atividades de financiamento das exportações brasileiras de produtos de alto
valor agregado nasceram na década de noventa com a instituição da FINAMEX no ano
de 1991
13
. Tal órgão serviu para preencher o gargalo existente entre a demanda por
financiamento das exportações de longo prazo e a ausência do setor privado financiador
desta atividade.
A consulta à literatura especializada sobre o mercado de financiamento para as
exportações constatou que a partir da FINAMEX foram estruturadas duas formas
básicas no que diz respeito às linhas do BNDES para exportações: o financiamento à
produção (pré-embarque) e à comercialização (pós-embarque)
14
. A importância que
cada linha de crédito possui vai depender do setor, mas mercados com funding bem
desenvolvido são essenciais para a viabilização de exportações
15
.
Segundo pesquisas conduzidas por funcionário do BNDES, Catermol (2005, p.6)
16
salientou que
“no primeiro ano de desembolsos (1992) das linhas de exportação do
BNDES foram atendidos oito exportadores em operações no valor total de US$ 32,8
milhões”.
O foco foram operações de financiamento de bens de capital para
13
Também foram criadas as linhas do PROEX, administradas pelo Banco do Brasil. O PROEX
especializou-se na equalização das taxas de juros de forma a permitir melhores condições de
competitividade para os setores exportadores nacionais frente aos setores de países com taxas de juros
mais baixas, e, portanto, mais competitivas. A especificidade do PROEX é que seu mecanismo conta com
recursos do orçamento da União e atua mais no segmento das pequenas e médias empresas. Em
decorrência deste fato, este mecanismo não apresenta a mesma importância do BNDES no que se refere
aos marcos de financiamento das exportações brasileiras destinadas para a execução dos projetos de
integração da infra-estrutura da América do Sul.
14
“BNDES-EXIM, 15 anos de apoio as exportações brasileiras”.
Revista do BNDES, Rio de Janeiro,
vol.12, N.24, P.3-30, Dez 2005. Ver quadro UM, encontrado no anexo desde capítulo acerca da
explicação técnica das linhas de financiamento das exportações.
15
Trabalhos de Drummond (1997), Stephens (1998), Auboin e Meier-Ewert (2003) e Choi e Kim (2003)
são pertinentes para a avaliação da importância dos mecanismos e agências de crédito de acordo com o
país e as condições gerais do mercado internacional.
16
Fabrício Catermol, a época da redação deste texto, era gerente da Área de Comércio Exterior do
BNDES.
70
importadores da América do Sul, que representaram 100% dos destinos em 1992 e
1993. O prelúdio, portanto, das atividades financiadoras do BNDES teve, na região em
destaque, o espaço geográfico escolhido para testar a sua viabilidade e pertinência.
Apenas no terceiro ano do Pós-Embarque ocorreram operações para um país de outro
bloco, no caso, os Estados Unidos, em especial atendendo as demandas da Embraer para
viabilizar as exportações para aquele mercado (Idem).
Em setembro de 1993 foi criada a opção na Linha Pós-Embarque de operações
cursadas no Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR)
17
. Com isso,
deixava-se de ser exigido o aval de um agente financeiro brasileiro com limite para
operar com o BNDES, ficando o risco com o Banco Central do Brasil no caso dos
empréstimos para exportações. No caso dos importadores, o risco recaia sobre os
mesmos.
“Nessas operações, houve ainda a redução da taxa de desconto em troca da
equalização e a eliminação do direito de regresso sobre o exportador” (Iglesias; e Veiga;
2002, 2003, p.6).
Segundo Iglesias e Veiga (2002, 2003) o CCR da ALADI atuava, até 15 de maio
de 2000, como um instrumento de garantia de créditos vinculados à exportação
brasileira para os demais países da Associação. Assim, por exemplo, até 1996, o CCR
era o único mecanismo de garantia aceito pelo BNDES em suas operações de
financiamento à exportação para estes países. Em 1999, mais de 70% das exportações
de bens e serviços financiadas pelo BNDES-Exim pós-embarque eram amparadas pelo
CCR. Em 15 de maio de 2000, a Resolução 2982 do Banco Central retirou as
exportações e importações com financiamentos de prazo superior a um ano do amparo
do mecanismo.
A introdução da Linha Pós-Embarque amparada no CCR gerou resultados rápidos.
Metade das liberações nessa modalidade em 1993 ocorreu no último trimestre daquele
ano. As mudanças na Linha Pós-Embarque foram responsáveis também pelo salto de
desembolsos no ano seguinte e não só na própria linha. O Pré-Embarque cresceu
também pelas operações conjuntas com o Pós-Embarque (Catermol 2005, p.6). Os bens
de capital responderam por
“cerca de 70% a 80% dos desembolsos das exportações do
BNDES”
(Catermol 2005, p.7)
.
É destacado o apoio ao setor de aeronaves, máquinas
industriais e agrícolas, ônibus, caminhões e serviços de engenharia e construção civil.
O autor, funcionário do BNDES, atesta que
“as linhas de financiamento das
exportações estão constituídas de forma a apoiar à ampliação da presença de produtos
17
Vide anexo quadro texto dois: o sistema CCR-Aladi.
71
de maior valor agregado nas exportações brasileiras
(Idem, p.9). Sugere-se, portanto,
que o desenho das linhas de financiamento do BNDES foi estruturado por uma lógica
de política de governo que deliberava o apoio à intensificação da pauta exportadora
nacional de produtos de alto valor agregado. Consolidar a presença comercial brasileira
no mercado sul-americano estruturado por uma margem segura aos seus recursos foi o
objetivo atrelado a esta lógica.
Item 3.1. O ano de 1997: a passagem da FINAMEX para BNDES-Exim e a
intensificação das atividades financiadoras do banco.
No ano de 1997 foram implementadas importantes transformações nas atividades
de financiamento das exportações do BNDES com a extinção da FINAMEX e a criação
do BNDES-Exim
18
. Em decorrência do que foi averiguado, o banco adquiriu
características institucionais próprias que o levaram, num primeiro momento, a se
firmar enquanto agência de financiamento das exportações, e, num segundo momento,
enquanto instituição com ordenamentos próprios que a possibilitou estender linhas de
financiamento para a América do Sul.
O principal objetivo do BNDES-Exim
19
: atuar como banco de importação e
exportação. Suas principais características: prioridade no financiamento das exportações
de alto valor agregado, mas com a flexibilização para contemplar as médias e pequenas
empresas em situações conjunturais especiais (caso da crise financeira de 1999); prazo
de 30 meses para o pagamento das linhas pré-exportáveis, e 12 anos para as pós-
exportáveis; custo do financiamento fixado pela LIBOR (London Interbank offered rate)
mais o spread de risco; pequenas e médias empresas tiveram acesso ao BNDES-Exim
por meio do criado FGPC – fundo de garantia pró-competitividade, também conhecido
como fundo de aval; e o mais importante, e que marca um dos pontos centrais da nossa
argumentação quanto ao quadro evolutivo institucional do BNDES e sua confluência
18
Vide anexo quadro texto três “Disposições Básicas BNDES-Exim”.
19
Outra operação também emblemática (1997-8) foi um financiamento de US$ 1,1 bilhão à American
Eagle, maior empresa de aviação regional no mundo, para a aquisição de aeronaves ERJ-145,
fabricadas pela Embraer. Até aquela data, era a maior operação individual de financiamento na história
do BNDES” (Catermol 2005, p.16). Em 1999, o BNDES-Exim financiou exportações para Cuba de
ônibus fabricados no Brasil pela Mercedes-Benz e pela Busscar. Em 2000 participou com a aplicação de
recursos nos projetos de desenvolvimento dos campos de Barracuda-Caratinga da Petrobrás. Esta
manobra visou financiar a aquisição de equipamentos e serviços nacionais para a construção de dois
navios-plataformas.” BNDES 50 anos
(1999).
72
para com a PEB do governo Lula da Silva, vem da constatação de que o BNDES-Exim
estendeu suas linhas de crédito para bancos de créditos de valores estrangeiros.
O último quesito destacado, desta forma, permitiu a estruturação do processo de
articulação com outras agências de financiamento das exportações para se estabelecer
bases múltiplas de fontes de financiamento
20
. Estas associações procuram viabilizar os
empréstimos para projetos de infra-estrutura em mercados externos aos brasileiros e
considerados de alto risco. Como conseqüência, viabilizou-se maiores montantes de
recursos para exportações de serviços de engenharia e construção civil brasileira para a
América do Sul.
Do ponto de vista das questões envolvendo o tema dos seguros e garantias, foi
criada a Seguradora Brasileira de Créditos para Exportações (SBCE). Empresa
majoritariamente privada, que conta com a participação da estrangeira francesa
COFACE nas suas atividades. A SBCE presta serviços ao Tesouro Nacional no que se
refere à gestão dos riscos políticos e extraordinários dos empréstimos, bem como dos
riscos comerciais de médio e longo prazo. Todo negócio de financiamento das
exportações deve contar com mecanismos de garantias e seguros para os recursos
destinados a esta atividade. A instituição da SBCE veio justamente responder a esta
demanda, e, mais especificamente, atuar como instituição privada a serviço do setor
público. No plano internacional o governo adere ao modelo Knaepen Package da
OCDE
21
no que concerne aos padrões de avaliação de risco, estabelecimento de prêmios
para os seguros e os quadros para a avaliação dos custos de garantias.
Essas inovações marcaram o início da internacionalização das atividades do
BNDES e da sua atuação enquanto agente promotor da internacionalização de
importantes setores da estrutura produtiva brasileira. Os objetivos das associações:
procurar por garantias externas aos seus empréstimos; e encontrar meios de promover a
alavancagem dos recursos nacionais em bases externas a partir do aporte financeiro
brasileiro em entidades como a CAF (Corporação Andina de Fomento). As inovações
20
Ver quadro “histórico das agências de financiamento das exportações”. Atentem para os itens II e III
destacados e referentes à sexta onda de transformações das agências de crédito para as exportações.
21
O modelo Knaepen Package, criado em 1997, estabeleceu as referências de riscos utilizadas pelos
países signatários da OCDE para a concessão de empréstimos financeiros aos setores exportadores de
suas economias. A idéia do agreement é estabelecer referências de seguros e prêmios envolvidos no
negócio do financiamento das exportações de acordo com as orientações da OMC em matéria de
subsídios. A classificação vai de 1 até 7, onde o índice 1 representa o cenário de menor risco e o 7 o de
maior. Além do modelo de qualificação, foram estabelecidos “um sistema de adicionais e descontos
refletindo diferenças de cobertura; e um sistema de revisão, ajustamento e troca de informações para
atualização da avaliação dos riscos”. (Iglesias e Veiga 2000).
73
também denotaram a estratégia inovadora encontrada pelo banco para angariar recursos
em fontes múltiplas de financiamento para viabilizar projetos de longo prazo, como as
exportações de serviços de construção e engenharia civil, destinadas e executadas em
países da América do Sul.
Tais fatores contribuem para a redução da cumulatividade de custos que impacta
no preço do crédito do banco. De acordo com a lógica de avaliação de risco das
entidades bancárias, a América do Sul é considerada um cenário de alto risco. Dessa
forma, a associação, participação e ou divisão de riscos de recursos para financiamentos
para exportações com entidades externas confere ao BNDES uma blindagem maior aos
seus créditos. Isso decorre da apresentação de garantias externas decorrentes dessas
associações, o que minimiza os prejuízos em caso de default ao estabelecer melhores
parâmetros para o risco comercial e político.
Com a introdução das inovações destacadas, o BNDES passou a incorporar na sua
carteira de créditos as exportações não somente bens de capital, mas de serviços de
engenharia e construção civil, assim como outros setores como o químico, couro,
calçados e alimentos. Dessa forma, “as atividades de financiamento das exportações
brasileiras de serviços de engenharia e construção civil, no ano de 1997, apresentaram
um fato inovador. O BNDES autorizou empréstimos para as exportações desses
serviços brasileiros para o projeto da hidrelétrica de Três Gargantas na China”
(Catermol 2005, p.17). Tal atitude inaugurou uma das mais importantes inovações do
BNDES que se articulou nos anos dois mil com as questões envolvendo a ação
diplomática no quadro da América do Sul: a aceitação de garantias externas com limite
de crédito previamente aprovado pelo BNDES.
No que se referem às garantias, as inovações são decorrentes da aceitação do
banco para com ofertas externas as da realidade nacional, o que marca o financiamento
do banco para projetos além das fronteiras brasileiras mediante uma estrutura
mitigadora de riscos estrategicamente estruturada pelo sistema de financiamento público
nacional. Quanto aos seguros, importante avanço se processou: o risco político das
operações de longo prazo (maiores que dois anos) passou a ser coberto pelo Tesouro
Nacional por meio, também, do recém criado Fundo de Garantia à Exportação (FGE),
cujo gestor financeiro é o BNDES.
No geral, o ano 1997 marcou o início do processo nos quais os diversos fatores
que compõem a estrutura garantidora e seguradora dos créditos das exportações estavam
maturados. Como conseqüência, munido de aspectos institucionais mais sólidos, regras
74
mais claras quanto aos seguros e às garantias e possibilidades de alargamento dos
recursos para as linhas de financiamento, o BNDES passou a atuar no front do negócio
do financiamento de setores exportadores. Basicamente os setores exportadores de
produtos de alto valor agregado da economia brasileira, incluindo os de serviços de
engenharia e construção civil como atestam os gráficos abaixo.
Gráfico 1: Desembolso anual para exportação de serviço em relação ao desembolso
total do BNDES.
Fonte: BNDES.
Gráfico 2: Desembolso anual do sistema BNDES; apoio à exportação por setor.
Nota-se que o volume de créditos para o financiamento do setor de construção
civil é sempre menor no comparativo com o total dos desembolsos do banco; haja vista
Desembolso anual para exportação de serviço em relação ao desembolso total do BNDES
0,324
18
15
57
133
191
268
358
369
403
1.210
2.092 2.092
3.076
2.602
3.946
4.006
3.861
5.862
234
255
80
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Milhões
desemboldo do BNDES para exportação de serviços
Desembolso total do BNDES para exportação
Em US$ milhões
Desembolso anual do Sistema BNDES- apoio à exportação por setor
const rão civil
máquinas e equipament os
0
10 0
200
300
400
500
600
700
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
construção civil máquinas e equipamentos
Fonte: BNDES
75
a grande abrangência das linhas de financiamento do BNDES que incluem, na sua maior
parte, financiamentos para programas a serem executados em território nacional em
áreas sociais, ambientais e infra-estruturais. Os anos de 1998-99 marcaram o início de
um processo de expansão dos recursos destinados aos setores de construção civil como
sugerido pelos avanços destacados. O ano de 2002 em diante marcou a retomada do
avanço dos recursos destinados ao setor, logo da piora revelada nos anos da crise
financeira brasileira e argentina, e da retomada mais efetiva dos projetos da IIRSA.
Revela-se nos gráficos a complementaridade com outros setores de exportação, no caso
maquinários e equipamentos pesados.
Na trajetória de diversificação da pauta das exportações brasileiras, novos
mercados foram sendo conquistados de forma a diversificar as parcerias comerciais e
estratégicas do país. O destaque inovador foi a China, que atualmente representa o
terceiro maior mercado de destino de produtos brasileiros, essencialmente as
commodities. O caso que cabe menção e ênfase diz respeito aos países da ALADI
22
.
Como pode ser observado na tabela um, os países do âmbito ALADI passaram a ser o
grupo de Estados de maior destino das exportações de produtos de alto valor agregado
da pauta exportadora nacional. Sugere-se que as diretrizes das ações e projeções da
política internacional brasileira na América do Sul decorrem, também, da constatação
da importância do mercado da região para a economia brasileira; além de uma possível
correlação desse mercado com as características do sistema público de financiamento
das exportações brasileiras. O ano de 2005 foi histórico no que diz respeito à evolução
do quadro exportador brasileiro, já que o conjunto dos países da ALADI se tornou o
maior destino das exportações de alto valor agregado da economia nacional.
Tabela 1: Exportações brasileiras em 2005: categorias econômicas e blocos
destinados em US$ Milhões.
Block.
Consumer
goods.
Capital
goods Fuels
Intermediate
goods
Special
operations
Total.
European
Union. 6,066 2,211 859 17,311 0
26,477
ALADI. 6,281 7,04 919 11,171 0 25,411
USA. 3,747 5,067 1,26 12,641 0
22,715
Asia. 2,422 1,107 1,068 13,948 0
18,545
Africa. 1,916 802 418 2,287 0
5,964
Middle 1,87 309 2 2,103 0
4,284
22
Vide no anexo do capítulo dois a Tabela Brazilian export in 2005: economic categories and destination
blocks in US$ Million.
76
east.
Eastern
Europe. 2,259 106 0 1,224 0
3,859
Other. 1,155 1,385 2,477 3,887 2,179
11,084
Total. 25,986 18,027 7,004 65,113 2,179
118,308
Fonte: MDIC/SECEX.
Em 1998 o BNDES contratou um consórcio de empresas especializadas para a
execução do estudo “Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento”. O estudo teve
o objetivo de contribuir para a elaboração do Plano Plurianual de Investimentos 1996-
99, também denominado “Avança Brasil”. O trabalho identificou oportunidades de
investimentos públicos e privados no montante de US$ 165 bilhões para o período
2000-2007. Os objetivos e as diretrizes que traçaram parte da trajetória do trabalho nos
revelam que a perspectiva de longo prazo foi estabelecida para a ação do Estado
brasileiro referente ao seu plano de desenvolvimento e a sua política comercial. Dentre
as iniciativas contidas no estudo e no próprio plano plurianual 1996-1999, devemos
destacar o debate em torno dos investimentos e ações estruturantes dos eixos nacionais
de integração e desenvolvimento atrelado à iniciativa da integração da infra-estrutura da
América do Sul.
O debate desencadeado em torno dos rumos do desenvolvimento nacional já
apontava para a pertinência da geografia sul-americana para o desenvolvimento do país
dentro de uma política de governo mais ampla. O BNDES, já no fim dos anos noventa,
partilhava do referido entendimento em torno das iniciativas que viriam na
administração Lula e sua Política externa a ganhar maior notoriedade. Neste ponto
repousam duas das nossas hipóteses para este capítulo: as ações do governo Lula no
espaço Sul-americano a partir da prioridade dada para a integração regional estão
enraizadas nas instituições e estruturas de caráter financeiro do escopo do Estado
brasileiro; e nos planos e horizontes para o desenvolvimento nacional referentes às
diretrizes e políticas de governo de ordem pública e internacional.
Esta perspectiva também é compartilhada pelo diagnóstico acadêmico nacional em
recém Força Tarefa 2007 CEBRI que divulgou o relatório final intitulado “O Brasil na
América do Sul”. Percebe-se, no plano da análise acadêmica brasileira, a materialização
do diagnóstico referente às afirmações feitas no que concerne ao direcionamento dos
interesses econômicos brasileiros para a América do Sul; principalmente quando se leva
em conta os setores de maior valor agregado da economia. Foi destacada neste mesmo
77
trabalho a importância dos setores de serviços de engenharia e construção civil
integrados nos rumos das ações da política externa do governo Lula na América do Sul.
Item 3.2. Anos 2000: medidas restritivas tomadas no âmbito do Banco central do
Brasil quando ao uso do sistema CCR-Aladi.
Com a crise financeira do Brasil em 1999, o BCB editou a já destacada resolução
2982 do ano de 2000 que interrompeu as atividades garantidoras dos créditos para
exportações cobertos pelo CCR nacional. Como conseqüência, o período 2000-2002
observou um ligeiro encolhimento nas atividades da linha pós-embarque do BNDES.
Num contexto de reajustes estruturais vividos nos anos noventa e ainda em processo,
destaca-se a linha decrescente que revela o desuso do sistema de créditos recíprocos.
Inclusive o próprio Banco Central do Brasil reduziu significativamente a sua exposição
junto ao CCR
23
ao longo da década passada. Tal redução é revelada tanto em termos
percentuais (comparado ao volume total de transações comerciais no âmbito dos países
da ALADI), quanto quantitativos nos termos do volume financeiro garantido pelo
sistema (quando comparado ao montante de recursos garantidos pelos bancos centrais
dos países do âmbito ALADI).
São sugeridas duas interpretações acerca do convênio nos seus contornos
históricos e que nos ajudam a entender melhor o seu desuso: a maior importância do
sistema para os anos oitenta; e o desuso do mesmo nos anos noventa. Durante os anos
oitenta vigorava a obrigatoriedade das transações comerciais entre os países signatários
da ALADI de serem garantidas no âmbito do mecanismo; isto explica a maior
importância do sistema naquela década. Nos anos noventa ocorreram reduções sensíveis
nos níveis de transações comerciais garantidas dentro do CCR.
Segundo o documento “O Brasil e o CCR” veiculado pelo BCB, o aumento da
integração e o amadurecimento do sistema financeiro na região explicam parte do
desuso do sistema. Outra explicação dada pelo BCB é que o processo de
internacionalização do sistema financeiro na América Latina fez com que grande parte
das transações financeiras se realizasse, cada vez mais, dentro da mesma instituição
financeira, com presença em diversos países da região. Outras explicações se resumem
nas seguintes assertivas: desenvolvimento e aperfeiçoamento dos instrumentos
23
Cada banco central de cada país da ALADI é autônomo para definir o volume que está disposto a cobrir
a partir dos seus próprios recursos.
78
financeiros utilizados no comércio internacional; facilidade de comunicação e obtenção
de informações, propiciando maior conhecimento e seletividade de clientes; acesso mais
fácil, por parte dos países da região, à liquidez internacional; e o fim da obrigatoriedade
de curso das operações intra-regionais no CCR caracterizadas nos anos 80
24
.
O gráfico três demonstra claramente o desuso do sistema CCR nas relações
comerciais entre os países signatários da ALADI. O gráfico destaca a queda substancial
dos níveis de transações dentro do sistema durante os anos noventa. A outra explicação
para essa queda, não declarada pelo BCB, foi a própria recusa da instituição monetária
em garantir pagamentos de investimentos privados com recursos públicos;
principalmente em contextos de reajustes estruturais.
Gráfico 3: a utilização do CCR.
Utilização do CCR
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1
966
1968
1970
1972
1974
19
76
1978
1
980
1982
1984
198
6
1988
19
90
1992
1994
1996
1998
200
0
2002
2
004
Fonte: Informativo CCR-ALADI 2004. Elaboração BACEN (DERIN, DIREC, SUCOV).
O gráfico quatro a seguir demonstra que o custo do CCR torna-se mais alto em
momentos de alta liquidez das reservas internacionais. Nesses contextos, torna-se mais
barato contrair endividamento externo de forma a financiar as garantias, os seguros e os
recursos para exportação e importação, do que contratar tais serviços entre os países da
região e em moeda local. Os anos dois mil são particularmente problemáticos nesse
sentido, haja vista, segundo os dados da CEPAL 2005, que a liquidez internacional é
muito alta. O governo brasileiro, nas suas estratégias de financiamento das exportações
24
BCB: O Brasil e o CCR. Documento encontrado em http://www.bancocentral.gov.br.
79
brasileiras, procura eliminar o componente “endividamento externo” dentro da nova
dinâmica da fase pró-exportações vivida a partir de 2003. Nesse sentido, podemos
verificar a insistência tanto do BNDES, como da diplomacia brasileira, em contratar
garantias aos seus recursos a partir do CCR-ALADI. Outro fator que merece destaque é
que a blindagem aos recursos do BNDES, promovido pelas garantias dentro do sistema
CCR, possibilita a redução da cumulatividade dos custos que insurge sobre os
financiamentos do banco.
Reside neste quesito uma das dificuldades centrais para restaurar o sistema CCR
nas relações comerciais envolvendo a dinâmica da promoção comercial, da política
internacional e da articulação da PEB com o BNDES: a maior propensão ao
endividamento externo, tanto do setor exportador nacional, quanto do importador dos
serviços brasileiros. Em outros termos, existe uma maior propensão a vulnerabilidades
de ordem financeira perante o cenário econômico mundial.
Gráfico 4: diferença entre o custo CCR e a taxa de remuneração das reservas.
Fonte: Informativo CCR-ALADI 2004. Elaboração BACEN (DERIN,DIREC, SUCOV). Fontes do
BACEN: SISBACEN; SICAP/ALADI.
No fim dos anos noventa, portanto, caracterizou-se, no âmbito do comércio entre
os países da ALADI, a reduzida participação do sistema de pagamentos e créditos
recíprocos nas transações comerciais efetuadas intra-regionalmente. O resultado de tais
percepções desencadeou um reposicionamento dos bancos centrais participantes do
Convênio quanto ao CCR, em especial suas garantias aos empréstimos para exportação
e investimentos em diversas áreas. Dentre os resultados que se seguiram e que
-
3,00
6,00
9,00
12,00
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
% a.a
Remunerão das Reservas 2 Custo de Captação 3
Custo CCR 4 Spread 5
80
contribuíram para a redução da importância do CCR na década passada, salientamos os
seguintes pontos:
A própria redução de participação do Convênio no comércio entre os países”; “O
fato de que a função primordial do CCR seria a de atuar como um mecanismo de
compensação de pagamentos internacionais”; “O entendimento de que a assunção
dos riscos decorrentes das garantias do CCR não condiziam com funções de
autoridade monetária”; “A percepção de que não há justificativas para que a
sociedade assumisse os riscos privados inerentes aos agentes do comércio
internacional sem que a eles sejam atribuídos os custos correspondentes
25
(BCB: O
Brasil e o CCR).
A partir, portanto, das constatações salientadas, os bancos centrais conveniados
passaram por um processo de “blindagem” para mitigar os riscos inerentes que o
sistema oferecia. Os movimentos no sentido de readaptar o sistema CCR-ALADI de
forma a oferecer maior segurança aos bancos centrais necessitavam de acordos feitos
com unanimidade entre os consorciados. Tal unanimidade, pressionada pela demanda
que o contexto de reajustes estruturais imputava aos países e pelo aumento da liquidez
internacional, não foi lograda a tempo de forma a redefinir o sistema e reintroduzi-lo
nas relações comercias do âmbito aladiano. O resultado foi a escalada de medidas
unilaterais restritivas e legítimas, de acordo com os princípios do sistema, de redução do
volume financeiro a ser coberto e garantido pelos bancos centrais dos países
conveniados.
O BCB, preocupado com a vulnerabilidade e exposição a riscos não afetos às
atividades de uma instituição monetária, editou em 10/05/2000 a circular 2.982. Com
ela o BCB restringiu há 360 o prazo máximo das operações em cursos no convênio.
Dessa forma, ele estabeleceu a sistemática de recolhimento antecipado para as
importações, excetuadas àquelas até US$100 mil oriundas dos países do MERCOSUL,
Bolívia e Chile (BCB: O Brasil e o CCR).
Item 3.3. O aprofundamento das inovações no sistema público de financiamento
das exportações: inovações e flexibilizações quanto ao uso do CCR.
25
BCB idem.
81
Já no ano 2000 os mecanismos públicos de financiamento das exportações, mais
especificamente o tripé BNDES-Exim, o seguro de crédito as exportações (SCE) e o
sistema de equalização do PROEX, consolidaram-se. Os três mecanismos, contudo,
tiveram as suas atribuições redefinidas a partir do mesmo ano. O BNDES-Exim, entre
os anos de 2000 e 2002, em decorrência da resolução 2982 do BCB (já destacada), era
reticente quanto à viabilização de recursos para as exportações de serviços de
engenharia e construção civil; estes estavam concentrados nas linhas do PROEX.
Com a Resolução CAMEX nº 45, de 23 de dezembro de 2003, considerou-se que
a linha do PROEX poderia incentivar as pequenas e médias empresas, que têm maiores
dificuldades de acesso ao crédito, a expandir suas exportações. Por outro lado, as
grandes empresas que, em geral, demandam maiores volumes de recursos em suas
operações, poderiam ser atendidas pelo BNDES-Exim, que tem menos restrições
orçamentárias em comparação ao PROEX-financiamento. A única exceção ao acesso de
grandes empresas ao PROEX está no atendimento de operações vinculadas a acordos
governamentais. Nessa revisão que o governo promoveu nos programas de
financiamento e garantia, entendeu-se a necessidade de nova abertura para grandes
empresas nas operações de co-financiamento com a CAF
26
. Esse mecanismo permite
que o PROEX financie 85% das exportações brasileiras de bens e serviços, com garantia
e financiamento dos gastos locais e do “down payment” das exportações brasileiras pela
CAF. Além disso, sempre que houver acordos governamentais que não possam ser
viabilizados por financiamentos do BNDES, a CAMEX poderá examinar, caso a caso, a
oferta de financiamento PROEX. A resolução 45 revisou e aprofundou a resolução 33
da CAMEX de 16/12/2002; resolução esta que direcionava para as mesmas orientações
quanto aos arranjos das linhas PROEX e BNDES.
O gráfico cinco e a tabela dois a seguir demonstram claramente as diferenças entre
os três principais mecanismos públicos de financiamento das exportações nacionais. A
escalada do financiamento do sistema BNDES deu-se a partir do ano de 1996-1997. Isso
foi resultado das medidas tomadas no ano de 1997 já debatidas em item anterior. Outra
explicação para esse desnível entre as linhas de crédito públicas dá-se pelo fato de os
recursos do BNDES independerem do orçamento da União; os recursos são oriundos do
FAT. Isso revela o caráter direcionado dos recursos do banco, o que o possibilita
financiar exportações de alto valor agregado que demandam longos períodos de
26
Resolução Bacen nº 3.219, de 30 de junho de 2004.
82
produção e comercialização. A partir do ano de 2004 a linha do BNDES volta a crescer
de forma destacada. Interpreta-se que isso foi resultado das medidas tomadas para a
ampliação do uso do CCR nacional no financiamento exportador para a América do Sul;
da redefinição dos papéis de cada linha de financiamento; e do aumento da presença
comercial brasileira na América do Sul a partir da prioridade conferida para a integração
regional pela PEB.
Gráfico 5: Comparativo entre os instrumentos públicos de financiamento de médio
e longo prazo.
Fonte: BNDES, BB e MDIC.
Tabela 2: Comparativo BNDES e Proex em Milhões de dólares
19941995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
B
NDES 280 378 388 1.1852.0652.1013.0832.6333.9484.00
7
3.861 5.862
Proex-
financiamento 61 38 64 117 182 176 422 411 388 269 447 492
Proex-
equalização 82 86 130 282 531 443 512 477 133 303 427 480
TOTAL 423 502 582 1.5842.7782.7204.0173.5214.4694.579 4.735 6.834
Fonte: Bacen, BB, MDIC e BNDES. Inclui as modalidades Pré-embarque, Pós-embarque e Pré-embarque
especial.
Desembolsos BNDES; PROEX-financiamento; PROEX-equalização
0,00
500,00
1000,00
1500,00
2000,00
2500,00
3000,00
3500,00
4000,00
4500,00
5000,00
5500,00
6000,00
6500,00
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
BNDES PROEX-financiamento PROEX-equalizão
Em US$ milhões
BNDES
PROEX-equalizão PROEX-financiamento
83
Associado a tal redefinição dos papéis de ambos os mecanismos, o BNDES, no
final de 2002, recebeu a incumbência de coordenar o Programa de Apoio a
Investimentos de Empresas Brasileiras de Capital Nacional no Exterior (Veiga; e
Iglesias, 2003, p.16). O objetivo era apoiar a internacionalização das empresas
brasileiras. Este programa, que desencadeou mudanças no estatuto do banco, permitiu
que a linha de financiamento incorporasse o apoio à comercialização, logística, infra-
estrutura de serviços de apoio às exportações, instalação de linhas produtivas no exterior
e até formação de joint ventures (Idem).
O Estatuto do BNDES, em seu artigo 9º, inciso II, prevê que o apoio a
investimentos diretos no exterior beneficiem exclusivamente empresas de capital
nacional. O BNDES, dessa forma, condiciona que o desempenho seja favorável ao
financiamento para investimentos no exterior; fato que obriga um incremento nas
exportações líquidas da empresa em função do projeto apoiado pelo banco. O
incremento deverá ser equivalente ao investimento total do empreendimento no prazo
máximo de seis anos. Tal requisito garante a conformidade do crédito concedido ao
estatuto do BNDES (Alem; e Cavalcanti, 2005, p.71). O decreto nº 4.418, de 11 de
outubro de 2002 no capítulo III “DAS OPERAÇÕES” destaca que poderá também: II -
financiar investimentos realizados por empresas de capital nacional no exterior, sempre
que contribuam para promover exportações.
No tocante aos seguros envolvendo a atividade financiadora das exportações, o
BNDES adquiriu ações da SBCE, tornando-se a única instituição pública com
participação em uma empresa majoritariamente privada. Esta medida permitiu ao banco
incorporar em suas atividades de financiamento o componente da atividade de
seguradora
27
.
Os limites de utilização do FGPC – Fundo de Garantia para a promoção da
competitividade, gerenciado pelo BNDES _ também foram flexibilizados ao longo de
2001. Assim, foram ampliados os percentuais de cobertura do FGPC para as operações
de pré-embarque especial para micro e pequenas empresas. Além disso, eliminou-se o
limite de crédito para a concessão de financiamento pré-embarque especial com
27
A incorporação da atividade de seguradora às suas funções está espelhada no modelo europeu de
financiamento das exportações, onde o componente de seguradora forma parte da estratégia de
financiamento das exportações. Ainda mais num contexto de redefinição das estratégias de financiamento
das exportações, onde não existe a participação mais ativa do setor privado no mercado de seguros e
garantias. O caso brasileiro está estruturado pela participação privada _ ainda inexpressiva _ atrelada a
contratos com o setor público. Ver quadro texto quatro no anexo acerca da lógica dos mecanismos de
seguros das exportações.
84
cobertura do FGPC de 50% e 30% do valor do faturamento anual, respectivamente para
microempresas e para os demais casos (Alem; e Cavalcanti, 2005, p72).
No rumo do estabelecimento das novas estratégias do financiamento das
exportações, foram ampliados os limites máximos de cobertura de risco do seguro de
crédito à exportação, garantidos pelo Fundo de Garantia às Exportações. Em caráter
excepcional, a participação da União poderia chegar a 100% de cobertura. Isso nos
casos de seguro contra risco comercial, político e extraordinário, quando as condições
de mercado relacionadas com a exportação de determinados bens sofrerem súbita
alteração ou forem diretamente afetadas por eventos de natureza internacional fora do
controle do Brasil (Idem, p72). Nesta toada, passemos para uma discussão mais
detalhada dos rumos das estratégias de financiamento das exportações brasileiras e as
inovações e flexibilizações que permitiram ao BNDES, FGE e demais instituições
exporem os seus recursos no financiamento das exportações para a América do Sul.
Findado o período mais acentuado dos efeitos severos das crises financeiras
brasileiras e argentinas de 1999-2002; associado às percepções de esgotamento do
discurso dos benefícios decorrentes dos ajustes estruturais das economias de cada
Estado; e com a elevação da demanda por redução da pobreza e promoção do
desenvolvimento, ocorreu a ascensão de importantes segmentos da esquerda nos países
da região. A integração regional e o comércio entre os países seriam uma das vias para a
melhora nos índices econômicos e sociais. A necessidade de investir em projetos de
interligação infra-estrutural tornou-se mais patente, inclusive no contexto de ausência de
capitais produtivos privados que colaborassem com tal empreitada. Restaram aos
Estados e as suas instituições públicas darem início a um processo de investimentos e
colaboração financeira regional.
No quadro interno das estratégias de financiamento das exportações brasileiras,
revelou-se, no Banco Central do Brasil, um momento de redefinição quanto à sua
exposição junto ao sistema CCR-Aladi. Passou agora a vigorar um mecanismo renovado
e que respeita os limites de exposição que uma entidade monetária está disposta a
aceitar.
Uma das primeiras medidas tomadas pelo Banco Central do Brasil para uma maior
flexibilização quanto ao uso do CCR nacional veio a partir da circular 3.160 de
30/10/2002 regulamentada pela lei destacada no anexo número 10.844 de março de
2004. O BCB voltou a permitir o curso de operações de importação e exportação com
prazo superior a 360 dias, o que revela uma maior disposição em ampliar as garantias de
85
investimentos de longo prazo tanto no Brasil quanto nos demais países da região. Esta
iniciativa visou, acima de tudo, criar reciprocidades para com as exportações brasileiras,
principalmente aquelas inseridas no projeto IIRSA
28
. Dessa forma as exportações
passaram a funcionar dentro de uma sistemática de reembolso não automático, pela qual
o pagamento aos exportadores passou a ser condicionado ao prévio recebimento, pelo
BCB, por ocasião da liquidação das compensações multilaterais quadrimestrais, dos
valores devidos pelos outros bancos centrais (retome o quadro explicativo do CCR).
Tais medidas revisaram aquelas editadas em 10/05/2000 pela a Circular 2.982.
Com essa medida, mantendo os padrões de exposições mínimos a riscos que uma
instituição monetária como o Banco Central do Brasil preza, foram removidos
substanciais entraves ao curso de operações de longo prazo no CCR. Isto permitiu aos
exportadores brasileiros a realização de operações com os países participantes do
Convênio. Operações estas feitas com menores riscos aos recursos financeiros nacionais
públicos que viabilizam tais atividades exportadoras e de empréstimos para projetos de
infra-estrutura em outros Estados nacionais.
Outra estratégia do BCB para mitigar os riscos aos seus recursos foi se articular
com outras instituições, inclusive privadas, de seguros e garantias às exportações. As
garantias do governo passaram, também, a serem prestadas através da seguradora de
créditos às exportações e pelo instituto de resseguros do Brasil (SBCE/IRB) dentro dos
marcos do CCR renovado. Em caso de default de um país dentro do CCR, o seguro de
crédito à exportação (SCE), por meio do FGE, efetuará o pagamento ao exportador a
título de sinistro. Liquidada a dívida com o exportador brasileiro, o Banco Central do
Brasil cobra o montante do Banco Central do país de destino da exportação. O BC do
país importador, caso não liquide o débito com o Banco Central do Brasil, este passa a
exigir o reembolso automático via recursos depositados quadrimestralmente pelos BCs
conveniados do sistema (Banco Central do Brasil, 2005). Portanto, o Banco Central do
Brasil se garante ou cobrando do BC do país receptor do investimento via exportação
brasileira diretamente, ou via fundo quadrimestral, que liquida as dívidas dos devedores
e paga todos os credores ao fim do período delimitado para a quitação dos passivos.
Segue o documento oficial:
28
A iniciativa foi regulamentada pela lei número 10.844 de 04/03/2004. Ver a lei no quadro texto sete do
anexo.
86
No final de 2003, foi anunciado que o seguro de crédito às exportações do Brasil
passaria a ser gerenciado pelo Comitê de Financiamento e Garantia das
Exportações – Cofig, órgão colegiado integrante da Câmara de Comércio Exterior
– Camex, efetivamente criado pelo Decreto nº4.993/2004. Esse Comitê representou
importante simplificação da sistemática existente até 2003, que envolvia diversos
institutos, tais como o Conselho Diretor do Fundo de Garantia às Exportações –
CFGE e o Comitê de Crédito às Exportações – CCEx, órgãos colegiados
integrantes da estrutura do Ministério da Fazenda e presididos pelo Secretário-
Executivo do Ministério da Fazenda. O Cofig, cuja presidência cabe ao Secretário-
Executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
representou, portanto uma importante contribuição do Ministério da Fazenda para
a agilização das políticas de apoio à exportação, em particular o enquadramento
de operações no Fundo de Garantia à Exportação – FGE, criado pela Lei nº
9.818/1999, e no Programa de Financiamento às Exportações – Proex, criado pela
Lei nº 10.184/2001. Como em outros países, o Seguro de Crédito à Exportação, de
que dispõe a Lei 6.704/1979, tem por objetivo segurar as exportações brasileiras
de bens e serviços contra os riscos comerciais, políticos e extraordinários que
possam afetar as transações econômicas e financeiras vinculadas a operações de
crédito à exportação. (Ministério da Fazenda. Tesouro Nacional. Secretaria de
Assuntos internacionais. Os novos rumos na operação do fundo de garantia às
exportações do Brasil – 2003-2005 Novembro 2005).
Item 3.4. O CCR renovado e o modelo Knaepen Package.
Dentre as várias medidas recentes de incentivo à utilização do CCR, o governo
brasileiro aprovou, a partir da resolução 44 da CAMEX de 23/12/2003, a redução da
taxa de prêmio para as operações dentro do CCR para valores equivalentes aqueles
cobrados de países com patamares de baixíssimo risco (categoria 1 na classificação da
OCDE de acordo com o agreement Knaepen Package) e aumentou a cobertura para
100% das exportações de bens e serviços cursados dentro do CCR. Tais medidas
visaram privilegiar os setores exportadores já identificados e, ademais, salientar perante
os países de destino das exportações brasileiras que eles devam fazer o mesmo para com
os seus respectivos CCRs. O objetivo, dentre outros, é gerar um movimento conjunto de
reciprocidades quanto às garantias oferecidas para as exportações brasileiras destinadas
87
aos seus territórios e vice-versa (citado na lei número 10.844 detalhada no anexo do
capítulo).
Tais inovações levadas a cabo pelo Ministério da Fazenda, CAMEX e Banco
Central do Brasil possibilitaram uma maior exposição do fundo de garantias às
exportações (FGE) dentro do cenário sul-americano. Em decorrência do “fator CCR",
foram mitigados os riscos de exposição do FGE quando as operações são cursadas e
garantidas através do sistema de pagamentos. O resultado é que os riscos soberanos de
default calculados segundo o modelo Knaepen Package da OCDE sofrem uma
reavaliação positiva quando referendados aos países signatários do convênio sitiados na
região da América do Sul. Os países com índices tradicionalmente caracterizados em
patamares 6/7 ou 7/7 passaram a serem contemplados pelas linhas públicas de
financiamento do BNDES com riscos reduzidos típicos de países da OCDE. Isto graças
às garantias oferecidas pelo CCR, que permite para o setor exportador brasileiro uma
maior exposição do FGE, com o conseqüente barateamento do custo dos seguros e das
garantias.
Como conseqüência direta, o BNDES passa a oferecer maiores oportunidades de
empréstimos para exportadores brasileiros e ou importadores de serviços brasileiros
destinados e localizados na América do Sul, haja vista, como relatado anteriormente,
que o BNDES é o gestor financeiro do FGE. Em outras palavras, atribuem-se parte dos
custos das garantias dos empréstimos do BNDES aos Estados receptores destes recursos
e investimentos, assim como o ressarcimento referente ao pagamento das exportações
brasileiras. O BNDES, portanto, mitiga os riscos aos seus recursos destinados às suas
atividades de financiamento das exportações brasileiras de serviços de construção civil,
maquinários, produtos de alto valor agregado e empréstimos para a área de infra-
estrutura dos países da região. Dessa forma, ele fomenta ao mesmo tempo os
exportadores nacionais e promove investimentos produtivos nos países da região.
Passemos para a qualificação empírica dos argumentos:
88
Tabela 3: exposição geográfica do FGE.
Fonte: Ministério da fazenda. Secretaria de assuntos internacionais SAIN.
Gráfico seis: distribuição geográfica da exposição do FGE.
Fonte: Idem.
Nos anos de 2002 até 2005, a exposição do FGE na “América Latina” como um
todo saltou de 44% para 70%, associado ao aumento do volume financeiro coberto pelo
fundo de seguros das exportações, que saltou da casa dos US$ 800 milhões para US$ 3
bilhões. Ao mesmo tempo, os volumes cobertos pelo FGE para o mercado norte
americano sofreram uma queda substancial. Sugere-se, a partir dos dados acima, que o
comércio com os países da América do Sul em específico, e América Latina, no geral,
ganhou importância tanto no volume, quanto relativo ao tipo de mercadorias destinadas
para aquela região (alto valor agregado, serviços e manufaturados). Como foi exposto, o
BNDES se beneficia de vários mecanismos e instituições nacionais que o permite
direcionar recursos para financiamentos e investimentos privados nacionais na América
do Sul. É nesse sentido que, como já ressaltado, afirmamos a correlação mais exata da
articulação possível entre o BNDES, a ação diplomática, e a projeção internacional do
Brasil a partir da região.
Os dados também qualificam a afirmação segundo a qual o governo Lula da Silva
não criou premissas inovadoras para a articulação do BNDES nos marcos das suas
89
preferências políticas na América do Sul. A ação diplomática em questão se vale dos
avanços possíveis, tanto nos aspectos institucionais, quanto nos mecanismos de
viabilização de recursos nacionais, para articular o BNDES nas suas posturas e
iniciativas políticas na América do Sul.
Debatendo a relação da exposição FGE por nível de risco país temos:
Tabela 4: Distribuição da Carteira do FGE por nível de risco país, de acordo com
a classificação da OCDE.
Fonte: Idem.
Gráfico sete: exposição de risco do FGE de acordo com a classificação da OCDE.
Fonte: Idem.
A exposição do FGE em países com maior risco tornou-se evidente. Pelos dados
podemos observar que enquanto a participação da carteira de exposição a países de risco
1/7 e 2/7 na exposição total caiu de 54% para 34%, a participação dos países de risco
90
6/7 e 7/7 subiu de 35% para 55%; países estes que são da região sul-americana. As
medidas tomadas geraram um resultado que permitiu ao sistema público financiador do
Brasil expor os seus recursos na região de alto risco; recursos estes que estão, por sua
vez, amparados por mecanismos mitigadores de risco que minimizam os prejuízos e ou
até mesmo os anulam. Isso permite aos exportadores nacionais explorarem o promissor
e arriscado mercado regional sul-americano demandante de serviços infra-estruturais.
Ao ajustar a distribuição da carteira do FGE pelo uso do “CCR nacional
renovado” temos uma depreciação nos níveis de risco do FGE, como atesta o gráfico
oito a seguir. A partir dos dados, podemos observar o que ocorreu com a carteira e a
exposição do FGE ajustada pelo CCR. Tal constatação, tomando por base os dados
empiricamente comprovados, nos possibilita sugerir que a ação e projeção comercial e
política externa do Brasil a partir da América do Sul é um processo histórico recente e
estruturado a partir da arquitetura institucional financeira brasileira. Isso, por sua vez,
demonstra que a retórica e as prioridades conferidas aos processos de integração
regional da América do Sul pelo governo Lula encontra, no seio das instituições e
políticas governamentais do Brasil, desde o inicio dos anos noventa, as suas raízes e
origens históricas. Tais raízes e origens, por suas vezes, estão delineadas nas instituições
de política comercial e financeira do país; assim como nas diretrizes geográficas dadas
para a implementação efetiva dos resultados esperados para os rumos do
desenvolvimento comercial e da projeção política e internacional do país. Segue o
gráfico.
Gráfico oito: distribuição da Carteira FGE ajustada pelo uso do CCR.
Fonte: Idem.
91
Sugerimos que a estratégia da política de promoção comercial, já na era Lula da
Silva, e a própria correspondência com a expansão das atividades financiadoras do
BNDES na América do Sul, são resultantes da reforma implementada no Brasil com
relação ao uso do CCR como instrumento de contra-garantias do FGE na virada dos
anos 2002-2003. Isto resulta, portanto, numa menor exposição do Banco Central do
Brasil contra os riscos que deverá assumir do setor privado nacional; como também na
mitigação de risco dos recursos públicos oriundos do fundo de amparo ao trabalhador
(FAT) que compõem os recursos parafiscais do BNDES. O modelo de garantias de
créditos e incentivos às exportações dinamiza, dessa forma, o comércio com os países
da América do Sul; modelo este resultado das novas estratégias de financiamento das
exportações. Esta dinamização se faz com riscos mínimos para os empréstimos do
BNDES para investimentos de empresas brasileiras em outros países; assim como
empréstimos aos importadores que contratam os serviços das mesmas empresas (buyer’s
credit)
29
.
Devemos ressaltar que, não fossem as medidas de flexibilização quanto ao uso do
CCR pelo Ministério da Fazenda e Banco Central do Brasil, o BNDES e o FGE não
estariam em condições de estender suas atividades financiadoras para as exportações de
serviços de infra-estrutura para países da América do Sul. O modelo de avaliação de
riscos adotado pelo BNDES e FGE, por outro lado, permite a possível articulação de
suas atividades ligadas aos objetivos e percepções das opções políticas do Itamaraty. O
CCR, além de representar um modelo que filtra e mitiga os riscos aos empréstimos do
BNDES, barateia o custo do FGE e dos empréstimos do banco. Com isso, possibilita-se
a redução de custos de operações e de seguros de crédito articulado no plano nacional.
Isto pode significar um cenário de ganhos relativos do banco com as atividades, já que a
sua lucratividade tende a aumentar em decorrência da redução dos custos de operação e
alocação de financiamento.
Nesse sentido, e com tais inovações em prática, o BNDES encontrou, ainda no
nível nacional, reordenamentos institucionais que o permitiu ampliar o seu escopo de
linhas de financiamento das exportações e importações destinadas e vindas da América
do Sul. Tais linhas, por sua vez, estão solidamente asseguradas por uma ampla e
29
As modalidades pré-embarque (suplier credit) e pós-embarque (buyer credit) devem oferecer garantias
para os recursos do BNDES que venham a viabilizar as exportações dos serviços e bens brasileiros
relacionados aos projetos e obras de infra-estrutura da região. Ademais, o país cujo setor privado recebe
os empréstimos do BNDES se compromete em contratar os serviços das multinacionais brasileiras de
engenharia e construção civil. O setor exportador de maquinários, tratores e energia se inserem nos países
da região no vácuo das ações da diplomacia e do BNDES quanto a estas relações expostas.
92
complexa rede financeira mitigadora de riscos sem comparativos nos países da América
do Sul. O Itamaraty, por sua vez, no momento no qual o carro chefe da política externa
brasileira é a prioridade para a integração regional, passou a articular a participação do
BNDES a partir dessa estratégia estruturada no quadro institucional da política de
promoção comercial; nas novas linhas de crédito do BNDES; nos novos ordenamentos
do banco; na lógica da política de mitigação dos riscos dos recursos do banco; e na sua
correspondência para com o setor produtivo nacional consoante às deficiências da
arquitetura financeira brasileira
30
.
A diplomacia brasileira irá empreender esforços no sentido de articular o BNDES
nas suas ações respeitando os seguintes atributos do banco e do quadro do
financiamento público das exportações brasileiras: responder as demandas dos setores
exportadores brasileiros quanto à ampliação das linhas de crédito para o financiamento
das exportações de serviços de engenharia e construção civil e produtos de alto valor
agregado ligados a este setor direcionados para o mercado Sul-americano; atuar em
correspondência com a lógica de redução da cumulatividade que caracterizava os custos
referentes aos seguros e garantias de créditos para operações comerciais destinadas aos
países da região (principalmente a cumulatividade que emperrava as ações do BNDES
na América do Sul); assegurar uma institucionalização mais efetiva e estável das
entidades fomentadoras que viabilizam os financiamentos das exportações brasileiras; e
estabelecer um ambiente saudável e previsível para a execução de negócios entre o
Brasil e os demais Estados do entorno.
Sugerimos que o contorno da participação e exposição financeira do Brasil na
América do Sul, no quadro da prioridade para a integração regional, segue uma lógica
própria e despolitizada; em outros termos, pragmática e técnica. Contorno este
estruturado pelo quadro apresentado e que irá ser parte da razão da demora na liberação
dos créditos do BNDES prometidos pelo governo aos países da região. Tais demoras
também gerarão críticas à funcionalidade deste modelo de participação e exposição
financeira do Brasil; assim como na relativização, por parte dos países vizinhos, acerca
do discurso diplomático brasileiro dado à prioridade para a integração regional. Como
30
Em importante encontro entre o BNDES e a CAF (Corporação Andina de Fomento) no mês de julho de
2003, foi destacado que o BNDES dará maior importância aos projetos que interliguem o Brasil a um ou
mais países. Portanto, parte da estratégia do Banco é beneficiar a integração do Brasil com os demais
Estados de preferência atendendo aos anseios logísticos brasileiros. “A proposta do BNDES é que cada
governo representado no encontro apresente dois projetos no setor de infra-estrutura que beneficiem, de
preferência, mais de uma país, a semelhança do eixo interoceânico _ corredor Puerto Suarez-Santa Cruz
de la Sierra na Bolívia, que permitira a ligação do Brasil com a Bolívia” Gazeta Mercantil, 22/07/03. Um
passo rumo ao Amercosul.
93
conseqüência da solidez e rigidez que este modelo brasileiro encerra em si, a prioridade
para a integração regional pode muitas vezes ficar desgastada perante os atores políticos
regionais. Os limites da cooperação brasileira para com a integração da América do Sul
se definem a partir da solidez das instituições brasileiras, pela rigidez do modelo de
promoção comercial sempre avesso ao risco, e pela morosidade burocrática que
caracteriza o processo de liberação dos recursos do banco.
Este quadro não somente impacta nas ações diplomáticas, mas também na área da
promoção comercial brasileira, já que um determinado dinamismo financeiro resultaria
positivamente nos avanços comerciais nacionais. Não cabe, dessa forma, ao presidente
Lula, tampouco aos formuladores da política externa do Itamaraty, decidirem sobre os
volumes e prazos para a liberação dos recursos; tampouco sobre as regras de avaliações
quanto aos riscos e custos de seguros e garantias, deve-se respeitar a lógica estruturada e
vigente destacada.
Item 4. O sistema público de financiamento das exportações de Longo Prazo:
características inerentes.
Tais mecanismos criados, aprofundados e aperfeiçoados na década de noventa e
início dos anos dois mil permitiram a recomposição do sistema público de
financiamento das exportações; assim como a contemplação, para os exportadores, de
linhas de créditos mais sólidas e amplas. Adquiriu aspectos normativos mais sólidos
referentes às garantias e seguros envolvidos no negócio do financiamento associado a
entidades privadas que atuam a serviço do setor público nesse segmento.
Os resultados atingidos até este momento permitem sustentar que os mecanismos
públicos de financiamento estão fortemente concentrados em um pequeno grupo de
grandes empresas exportadoras, em poucos setores e nos mercados sul-americanos. A
remontagem do sistema público financiador ocorreu em paralelo com a horizontalização
dos instrumentos de crédito. Segundo Veiga (2002, p.27), a apreciação cambial vigente
no período posterior ao Plano Real e as preocupações com a sustentabilidade
macroeconômica do modelo de estabilização certamente contribuíram para essa
extensão dos mecanismos de financiamento público ao conjunto de manufaturados. Os
setores manufaturados passaram a serem alvos de políticas públicas mais destacadas
para mudar a própria característica da pauta de exportação nacional.
94
Outra característica marcante do sistema público de financiamento, mais
especificamente no caso das linhas do BNDES, é que as mesmas são estabelecidas
independentemente das questões orçamentárias da União. Isso confere uma maior
margem de manobra e direcionamento dos recursos do banco para financiamentos das
exportações de setores específicos.
O fato de possuir recursos parafiscais provenientes do fundo de amparo ao
trabalhador (FAT) formado por contribuições do PIS/PASEP, sem a definição prévia
dos seus gastos estabelecidos pelo orçamento da União, confere ao banco a
administração e alocação de boa parte dos “créditos direcionados” da economia
brasileira
31
. O custo do crédito direcionado do BNDES é estabelecido pela TJLP, taxa
de juros de longo prazo, que confere uma condição de juros mais baixa do que as
oferecidas pelo mercado livre; além de ser similar à taxa real Selic. Por esta razão,
sugere-se, também, que o BNDES adquiriu tamanha importância nos marcos do
financiamento público das exportações e na própria articulação posterior com a política
externa brasileira e a projeção econômica e internacional do Brasil a partir da América
do Sul.
Ainda na tônica da caracterização do sistema público de financiamento de Longo
Prazo, identificamos a real funcionalidade do sistema público nacional para fomentar a
exportação dos serviços de engenharia e construção civil para o arriscado mercado sul-
americano. As operações das linhas do BNDES-Exim (na linha pós-embarque mais
especificamente) utilizam o PROEX-Equalização e o CCR como mecanismos de
redução de custos de crédito e de garantias. Ou seja, se trata de um sistema público de
financiamento que interconecta diferentes linhas, mecanismos e estratégias que
procuram minimizar os riscos aos recursos financiadores públicos. É, dessa forma, um
sistema fortemente defensivo, quando se pensa em termos de políticas públicas
correlacionadas com iniciativas de integração regional; e técnico e responsável, quando
31
Créditos direcionados são recursos bancários de origem fiscal ou parafiscal que recebem, por parte do
governo, algum direcionamento alocativo. Direcionamento este que respeita as prioridades definidas pelas
políticas de governo em políticas industriais e comerciais específicas. O BNDES, no caso, administra o
FAT - fundo de amparo ao trabalhador -; os recursos do FAT são de origem parafiscal (arrecadação de
impostos) e são direcionados para as atividades financiadoras do BNDES. Sua função é promover o
desenvolvimento e o emprego. No que se refere ao crédito direcionado proveniente do sistema bancário, o
governo atrai poupança privada através de mecanismos de seguros de créditos ou por equalização de taxas
de juros. Dessa forma, o negócio de seguro de crédito do financiamento das exportações representa parte
da atividade de direcionamento de crédito brasileira. A criação do FGPC, relatada logo acima, foi o marco
institucional inicial criado pelo governo para regularizar tal atividade e, por sua vez, promover uma maior
competitividade no setor de seguros de crédito. Para uma visão crítica sobre o crédito direcionado veja
Arida 2005 “Mecanismos compulsórios e mercado de capitais: propostas de política econômica”.
95
se trata de políticas públicas nacionais de financiamento das exportações. Esse
entendimento é central para o debate acerca da importância da CAF para as preferências
financeiras regionais do governo Lula; será parte do tema do capítulo quatro.
As grandes empresas brasileiras, as conhecidas multinacionais brasileiras,
possuem acesso privilegiado aos mecanismos públicos de financiamento, em especial as
linhas do BNDES; ademais de poderem recorrer aos recursos privados referentes aos
mecanismos ACC/ACE. Segundo os estudos de Blumenschein e Leon (2002, pp.177-
178), o que explica parte desta segmentação no que se refere ao acesso privilegiado das
grandes companhias aos recursos públicos de financiamento pode ser esclarecido pelos
seguintes fatores: as grandes empresas oferecem menores riscos aos créditos públicos, o
que as tornam, com o passar do tempo, clientes preferenciais; a falta de informações e
transparências fiscais que caracterizam a maioria das pequenas empresas gera
dificuldades para que o fundo de aval (FGPC) e a Seguradora Brasileira de Créditos às
Exportações (SBCE) averiguarem os reais parâmetros do custo de créditos para as
mesmas. Como resultado, não se atinge no Brasil a significativa parcela das pequenas e
médias empresas que poderiam, possivelmente, estarem atreladas ao modelo de
participação e exposição financeira do Brasil na América do Sul.
Para as nossas análises, é suficiente interpretar que as características inerentes do
sistema de financiamento brasileiro privilegiam as grandes empresas por oferecerem
maiores garantias e menores riscos; fato que especializou o BNDES nas atividades de
empréstimos para estas companhias no arriscado mercado sul-americano. Dessa forma,
procuramos demonstrar a relação do BNDES com as grandes empresas, com o espaço
Sul-americano e com o setor exportador de serviços de engenharia e construção civil.
Portanto, não se tratou aqui de apresentar conclusões, mas de explicitar os elementos
essenciais do diagnóstico e dos desafios que compõem a elucidação da análise da
formulação e da implementação da política externa que se estuda. Isso para, em seguida,
formular as principais conclusões, análises e levantamentos acerca dos limites e
possibilidades da articulação BNDES e PEB, assim como a elucidação do que foi
implementado em vista do que foi formulado, definindo a trajetória da análise que se
mira realizar nos próximos capítulos.
O modelo de gestão de risco adotado pelo BNDES, nas suas relações diretas e
indiretas com os tomadores dos seus recursos, estabelece uma condição importante
referente à concentração dos créditos para as grandes empresas: a questão da gestão do
risco como fator preponderante para a definição da política pública. O BNDES nas
96
iniciativas referentes à integração regional passa pela gestão e mitigação dos riscos
oferecidos aos seus recursos; a articulação com política internacional ocorrerá mediante
a formação de um aparato adequado de redução dos riscos na esfera interna, revelado
nas diversas instituições e mecanismos erguidos no Brasil para este fim. Na esfera
externa poderemos verificar tal assunção nos esforços da diplomacia brasileira para
resgatar o sistema CCR nas relações comerciais regional e as instituições tradicionais de
integração.
O debate proposto até agora procurou definir esta lógica dentro dos contornos das
novas estratégias de financiamento das exportações brasileiras, expondo os mecanismos
e normativas do BNDES. O processo de articulação entre o BNDES e a PEB deve ser
responsável, barato, lucrativo, transparente e de acordo com as inovações e renovações
do CCR promovidos pelo BACEN e Ministério da Fazenda
32
. Tudo isso associado à
lógica dos mecanismos e estratégias garantidoras dos empréstimos; a solidez das
instituições que compõem o quadro da promoção comercial brasileira; o quadro
financeiro brasileiro; os anseios de importantes setores produtivos destacados; e as
responsabilidades para com os quadros fiscal e monetário nacional. No plano
internacional seguem os esforços diplomáticos para o estabelecimento de mecanismos e
garantias externas aos recursos do BNDES (CCR-Aladi); as associações e
revigoramentos com tradicionais instituições regionais, como a CAF, Fonplata e a
ALADI; e os esforços para o estabelecimento de um ambiente transparente e saudável
para a execução de negócios.
5. A importância do setor exportador de serviços de engenharia e construção civil
para países em desenvolvimento.
32
Para o BACEN, a mesma consideração pode ser revelada, ainda pensando nos ajustes financeiros
levados a cabo pela atual administração federal, em aperfeiçoamentos dos mecanismos e ambientes de
financiamentos. Esses aperfeiçoamentos, por sua vez, resultam em aumento da capacidade do governo em
investir sem pressionar a carga tributária e sem comprometer as metas fiscais estabelecidas. Ver OCDE
Estudos econômicos da OCDE: Brasil 2005
, Editora FVG; e Plano Prurianual 2004-2007 Orientação
estratégica de governo um Brasil para todos: crescimento sustentável, emprego e inclusão social,
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Conclui-se que, também, a viabilidade dos
empréstimos para os projetos de integração infra-estrutural da América do Sul está atrelada à melhora do
cenário de garantias ao investimento, como já exaustivamente revelado. Todos os financiamentos e
empréstimos devem ser feitos através de mecanismos de seguro e de garantias de créditos. O FGE é o
mecanismo de seguro; o CCR o sistema de garantias que barateia o referido seguro. É por este caminho,
estruturado por sólidas instituições de fomento as exportações (COFIG, SBCE, IRB, CAMEX, BACEN e
BNDES), que passa a política externa brasileira e a projeção internacional do Brasil articuladas com o
BNDES.
97
Para fechar parte deste argumento cabe uma breve análise da relevância do setor
de exportação de engenharia e construção civil para os países em desenvolvimento; e
sua relação com os mecanismos públicos de financiamento dentro das iniciativas de
integração regional.
Segundo estudos de Sucupira (2003, p. 30), os produtos de alto valor agregado,
como, por exemplo, os serviços de engenharia e construção civil, devem ser
beneficiados por agências de créditos que lhes cubram financiamentos de longo prazo.
Principalmente quando estes setores são originário de países com arquiteturas
financeiras ineficientes, como é o caso da condição brasileira As imperfeições que
marcam o sistema financeiro brasileiro em particular, e dos países da América do Sul
em geral, impactam negativamente no aparelhamento de instituições de crédito privadas
para financiar as exportações (Idem).
No ano de 2000, a UNCTAD promoveu debates no sentido de encontrar os meios
necessários para a liberalização do setor de exportações de serviços de engenharia e
construção civil; assim como levantar as discussões acerca da importância dos mesmos
para as economias exportadores emergentes. Entre 50% e 70% das oportunidades de
negócio internacional para o setor de construção civil encontravam-se em países em
desenvolvimento (UNCTAD, 2000; e Engineering News Record, 2004). As conclusões
e recomendações da UNCTAD orientavam para que países em desenvolvimento
devessem necessariamente empreender esforços no sentido de promover as exportações
do setor, tanto na esfera local, quanto na arena multilateral das negociações comerciais
internacionais. A idéia seria encontrar mecanismos adequados para o financiamento das
exportações do setor, ampliando a capitação em bases múltiplas, com a associação de
suas agências de créditos das exportações junto de outras agências e corporações
internacionais. Além de definir arranjos de liberalização no nível sub-regional de forma
a se instituir um nível inicial de integração e liberalização do setor para um patamar
mais amplo, concentrando, no médio prazo, esforços no nível regional.
A visão da UNCTAD acerca da pertinência desse setor para o desenvolvimento do
país está descrita na caracterização de que o mesmo serve como um barômetro para
identificar a saúde da economia de um país e a sua correlação com as flutuações cíclicas
da economia. Ou seja, subentende-se que as companhias deixem de investir em
construção e ou exportação dos serviços relacionados a esse setor quando os momentos
econômicos de estagnação estão presentes. O contrário ocorre quando a economia
começa a crescer e os governos passam a investir no setor de forma a estimular a
98
economia ainda mais. O caminho, portanto, sugerido pela UNCTAD para que o setor
beneficie as economias em desenvolvimento resultam das estratégias, regulamentações
e liberalizações desse negócio.
Duas questões afetam os países em desenvolvimento no esforço para
implementarem suas opções e estratégias políticas definidoras da inserção internacional
desse setor de suas economias: a primeira refere-se aos aspectos inerentes da questão
bancária e financeira de suas economias, que já foi debatida por esta pesquisa; a
segunda vem da integração regional como uma via possível de implementação desta
ação.
Respectivamente temos as orientações da UNCTAD:
Regional integration. This may be an option for building national capacities and
niches of specialization. Sub-regional integration agreements among developing
countries could adopt provisions for the mutual recognition of diplomats and the
free movement of professionals, as well as the liberalization of government
procurement practices within the free trade area or customs union. This would be
one element in the greater integration of services into such arrangement among
developing countries as a means of enabling their firms to build up competitive
strengths to compete on world markets (Unctad 2000).
O tema da integração regional, discutido nos marcos multilaterais como o da
UNCTAD, salientou a pertinência da articulação da liberalização do setor via as
diversas iniciativas integradoras. Uma interpretação possível para a análise desta
política externa é que a mesma corresponde com as perspectivas entre o tema do
desenvolvimento, integração regional, comércio de serviços de engenharia e construção
civil e os modelos de participação e exposição financeira.
Item 6. Quadro conclusivo do Capítulo:
A liberalização do setor bancário nacional; as reformas estruturais implementadas
a partir da década de noventa; o fim do inflacionismo brasileiro com o estabelecimento
do Plano Real; a diversificação da pauta exportadora brasileira; as leis de
responsabilidade fiscal (que não foram debatidas neste texto, mas que se subtende sua
pertinência); a evolução do quadro produtivo nacional sempre à frente da evolução do
99
quadro financeiro; e as crises financeiras nacionais e internacionais são elementos que
ajudam a compreender o cenário financeiro nacional erguido na década de noventa e
aprofundado nos anos 2000. Assim como colaboram com a explicação de parte da
configuração das estratégias de financiamento das exportações brasileiras de produtos
de alto valor agregado, o papel do BNDES nesta tarefa e a posição privilegiada das
grandes empresas no acesso aos recursos públicos e privados para financiamento das
suas exportações.
A estrutura pública brasileira de financiamento, além de prover recursos, atua
parcialmente na oferta de garantias e seguros para os recursos de empréstimos
destinados ao negócio do financiamento das exportações. Além de operações de crédito
de longo prazo envolvendo grandes volumes de recursos, os atores públicos e privados
(bancos comerciais, agências de crédito às exportações, seguradoras privadas e
instituições financeiras multilaterais) se articulam em estruturas sofisticadas de
financiamento; isso os permite mitigarem diversos tipos de riscos na atuação referente
ao espaço sul-americano.
Tal fato confere ao Brasil uma condição extremamente sólida no quesito volume
de recursos para financiamentos, mecanismos mitigadores de riscos e instrumentos
seguradores de investimentos. Tal condição, quando comparada com o quadro geral dos
demais países da América do Sul, denota a grande assimetria existente entre o Brasil e
os demais países para o tema do financiamento do desenvolvimento da economia. As
assimetrias que caracterizam o Brasil e os demais Estados do entorno geográfico,
sempre tão caras às ações e projeções internacionais do Brasil a partir do espaço
referido, também encontram o seu lugar nos temas e situações expostas neste capítulo.
As próprias instâncias e instituições que participam da promoção comercial brasileira
conferem substancial solidez ao financiamento público das exportações nacionais, assim
como limites e possibilidades para a participação e exposição financeira em projetos
destacados para a integração infra-estrutural.
O Brasil, portanto, segundo os especialistas citados ao longo do texto, apresenta
uma estrutura de financiamento extremamente sólida e articulada pelo setor público, o
que viabiliza o financiamento das exportações de longo prazo e os projetos de infra-
estrututura física nacional e regional. A ação da diplomacia defronta-se com as
condicionalidades impostas pelo sistema nacional de financiamento descrito neste
capítulo, daí a morosidade e lentidão que caracteriza a liberação dos recursos e a
reavaliação dos discursos da ação diplomática a serem delineadas no próximo capítulo.
100
Por outro lado, esse mesmo quadro estratégico erguido para reduzir os riscos e
exposições das instituições públicas de financiamento das exportações brasileiras
estabelece a condição possível para a articulação política entre o BNDES e a integração
regional na América do Sul. Isso nos permite sugerir que a América do Sul, na agenda
de prioridades da Política Externa Brasileira, é palco de orientações e interesses
historicamente recentes, mas que tomou contornos mais significativos a partir do início
dos anos noventa com o surgimento dos destacados mecanismos de fomento à
internacionalização da economia brasileira. Isto ocorreu em simultâneo com os
adensamentos das agendas dos interesses privados brasileiros na região, e com a
evolução do quadro descrito neste capítulo.
Sugere-se que a prioridade da Política Externa Brasileira da era Lula para a região
é um fenômeno nascido dentro do aparelho do Estado Brasileiro; não necessariamente
exclusivo das concepções formuladas pela diplomacia. Como conseqüência, o modelo
proposto de participação e exposição financeira pelo governo Lula segue uma lógica
própria muitas vezes destoada das expectativas dos demais países sul-americanos. Os
resultados, muitas vezes, são de sérias divergências com os países da região, haja vista
que o conceito de liderança nas relações internacionais está associado à construção de
instituições, regimes ou mecanismos de cooperação diversos proposto por um país líder,
que apresenta tanto condições materiais quanto intelectuais para exercer tal função.
Portanto, não se tratou aqui de apresentar conclusões, mas de explicitar alguns dos
elementos “infra-estruturais” que compõem parte do diagnóstico que deve enfrentar a
Política Externa Brasileira, no âmbito do Estado nacional, para articular o BNDES na
sua agenda e ação internacional. Dessa forma, angariamos subsídios para formularmos
as principais conclusões do trabalho de análise de política externa proposto. Trabalho
este que comparte da premissa de que a análise da política externa de um país deve levar
em conta as questões de ordem interna do Estado, assim como a estrutura da história
para se proceder a uma análise de política internacional eficiente.
208
ANEXOS DO CAPÍTULO DOIS.
209
Quadro texto um: O funcionamento das linhas de crédito às exportações.
O financiamento à comercialização (pós-embarque) pode ser ao vendedor (supplier
credit) ou a comprador (buyer credit). Em uma operação de supplier credit, a empresa
vende a prazo ao importador e leva os títulos decorrentes a uma instituição financeira
que os desconte e fique com os créditos vincendos da operação. Em uma operação
buyer credit, o financiamento ocorre diretamente por um contrato de financiamento
entre a agência de crédito à exportação e o importador”.
“O financiamento à produção fornece recursos em prazos adequados ao ciclo de
produção da empresa que irá exportar. É representado por capital de giro que o
exportador irá utilizar na compra de matéria-prima e mão-de-obra para a produção dos
bens a serem exportados. O financiamento à comercialização permite que a empresa
financie seu importador e receba os recursos antecipadamente. A empresa poderá
competir internacionalmente com prazos de pagamento mais longos sem onerar sua
estrutura financeira. Uma mesma operação pode contar com os dois tipos de
financiamento. Financia-se a produção, na fase pré-embarque, e depois se descontam as
cambiais geradas pela venda do bem a prazo ao importador”.
Fonte: “BNDES-Exim, 15 anos de apoio as exportações brasileiras”. Revista do BNDES, Rio de Janeiro,
vol.12. N.24, DEZ 2005.
Quadro texto dois: o sistema CCR-Aladi
O funcionamento da CCR: O CCR é uma câmara de compensação de crédito e débitos
dos países da ALADI (Associação Latino Americana de Integração) mais a República
Dominicana. A cada quatro meses, os bancos centrais dos países integrantes fazem um
acerto de contas através de um fundo de compensação. Caso alguma empresa deixe de
fazer um pagamento, o BC desse país acerta o débito. Na prática, o CCR funciona como
um seguro dos pagamentos referentes às transações comerciais ou investimentos diretos
de um país no outro (investimentos em exportações de serviços de infra-estrutura, por
exemplo).
Passam pelo sistema apenas operações comerciais ou diretamente vinculadas a
operações comerciais, como os juros por financiamentos ao comércio e as despesas e
comissões bancárias.
O Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos – CCR – da Associação Latino-
Americana de Integração – ALADI – foi firmado em 25/08/1982 pelos países
210
integrantes da ALADI e pela República Dominicana. Participam do Convênio os BCs
da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru,
República Dominicana, Uruguai e Venezuela.
Este convênio substituiu, sem solução de continuidade, o Acordo de Pagamentos e
Créditos Recíprocos dos países da Associação Latino-Americana de Livre Comércio
(ALALC), celebrado em 22/09/1965.
O Convênio de Pagamentos foi concebido, originalmente, com a finalidade de iniciar
“uma formal cooperação multilateral entre os bancos (centrais) da região para se
chegar a etapas sucessivas referentes à integração financeira e monetária mediante a
formação de organismos financeiros que estabeleçam uma cooperação mais avançada”
(conforme http://www.aladi.org/).
A outra faceta do Convenio de créditos recíprocos e que ele, aléwm de garantir
pagamentos referentes ao comércio de mercadorias, articula a garantia dos
investimentos recebidos por um país a partir do seu próprio banco central. Exemplo: o
país receptor de um empréstimo referente ao financiamento do BNDES para operações
de importações brasileiras (buyer´s credit) deverá oferecer, via seu BC, garantias
asseguradas em moeda local para riscos relativos aos recursos __ sejam estes riscos
políticos ou comerciais __ . Em outras palavras, o risco dos empréstimos recebidos por
um país deve ser necessariamente coberto pelo banco central do país receptor dos
empréstimos e dos investimentos. A questão da moeda local é devido aos objetivos de
se evitar qualquer risco cambial decorrente de mudanças repentinas no cenário
econômico financeiro internacional (crises financeiras). Não está excluída a participação
do dólar no sistema; o fato que interessa para a política comercial brasileira é a
possibilidade da transação ser efetuada em moeda local. O sistema de garantias de
créditos recíprocos conta com um histórico favorável por ser declarado um sistema que
presenciou poucos casos de default na sua longa existência (ver histórico de defaults do
CCR em www.bcb.gov). Com o CCR, os Bancos Centrais dos países latino-americanos
permitem que se façam negócios sem usar moeda estrangeira, e cada exportador recebe
em moeda de seu país de origem. Com o mecanismo, os Bancos Centrais assumem o
custo caso algum país beneficiado deixe de fazer a compensação do câmbio.
Os objetivos básicos do Convênio são: estimular as relações financeiras entre os países
da região; facilitar a expansão do comércio recíproco; e sistematizar as consultas mútuas
em matérias monetárias, cambiais e de pagamentos.
211
Adicionalmente, o Convênio destaca que o estabelecimento do mecanismo multilateral
de compensação de pagamentos persegue, entre outros, os seguintes propósitos:
1) facilitar a canalização dos pagamentos e intensificar as relações econômicas entre
seus respectivos países;
2) reduzir os fluxos internacionais de divisas entre os participantes e;
3) estimular as relações entre as instituições financeiras da região;
A estrutura de funcionamento do sistema faz com que os bancos centrais assumam dois
tipos de riscos: No âmbito externo, os bancos centrais detentores de mais créditos do
que débitos no CCR assumem o risco de seus congêneres não efetuarem o pagamento
quadrimestral. Em outras palavras, os bancos centrais credores assumem o risco país
inerente a seus congêneres devedores. No âmbito interno, os bancos centrais
participantes do CCR devem honrar os pagamentos internacionais das operações
cursadas, mesmo que suas instituições financeiras autorizadas não lhes paguem; este é o
denominado risco bancário.
Bens, mercadorias e serviços exportáveis recebem garantias dentro do sistema de
pagamentos e créditos recíprocos.
Quadro texto três: Disposições Básicas
BNDES- exim
Produtos e serviços elegíveis.
Bens de capital;
serviços associados aos bens exportados e sistemas turn key;
produtos manufaturados em geral e alguns produtos intermediários.
Produtos não elegíveis
Não são apoiados pelo programa os seguintes itens: automóveis de passeio e
commodities básicas com participação expressiva na pauta de exportação e/ou
facilidade de financiamento através dos mecanismos privados (celulose, açúcar e
álcool, grãos, suco de laranja e minérios, entre outros)
Modalidades.
Pré-embarque : financiamento à produção, com vinculação a um embarque
específico;
212
Pré-embarque especial: financiamento à produção, sem vinculação a
embarques específicos, mas vinculado a um período pré-determinado de 12
meses para a efetivação da exportação programada;
Pós-embarque: financiamento à comercialização dos bens no exterior, através
de duas modalidades de crédito: supplier´s credit que consiste no
financiamento direto ao exportador através do desconto de títulos
representativos de venda a prazo e buyer’s credit, que consiste no
financiamento ao importador de produtos brasileiros seja diretamente ou
através de repasses a instituições financeiras credenciadas.
Participação máxima do BNDES – até 100% sobre o valor da exportação. Na
modalidade Pré-embarque especial, a base para efeito do cálculo do valor
financiável será o valor das exportações dos últimos 12 meses.
Prazos.
Pré-embarque: até 30 meses, de acordo com o ciclo de produção, incluído o
período de carência;
Pré-embarque especial: 24 meses, em média, para a parcela de exportação
performada, ou seja, correspondente ao cumprimento da performance
preestabelecida, podendo alcançar, no máximo, 30 meses. Nas exportações não
performadas o prazo se reduz para 12 meses;
Pós-embarque: de 181 dias até 12 anos.
Encargos das operação
Custo financeiro: variação cambial acrescida de LIBOR
Spread básico: de 1,0% ao ano, para as operações realizadas por agente
financeiro garantidor, isto é, aquele que assume o risco da operação e de 2,0%
para as realizadas por instituição financeira mandatária, a qual responsável
apenas pela administração e cobrança dos recursos, cabendo ao BNDES o
risco da operação;
Spread do agente: nas operações com instituição financeira garantidora o
spread é negociado entre a instituição financeira credenciada e o cliente.
Outros encargos: cobrados em função das características das operações.
213
obs.: nos financiamentos concedidos dentro da modalidade pré-embarque
especial, o risco da operação será sempre do agente financeiro e o seu custo será
LIBOR acrescida de 1% ao ano e spread do agente. Para a parcela não
performada das exportações, o custo da operação se eleva para LIBOR mais até
20% ao ano acrescido do spread do agente.
Fonte: BNDES. Elaboração: CNI. Extraído do trabalho de Iglesias e Veiga “Aspectos estratégicos da
política comercial brasileira” 2000.
Quadro Histórico das Agências de Financiamento as Exportações
Primeira
Onda
Segunda
Onda
Terceira
Onda
Quarta
Onda
Quinta Onda
Sexta
Onda
1906-1930 1930-1945 1950-1969
1970s 1980s 1990s
Recuperaçã
o
Econômica
p
ós I Guerra
Mundial
(i)
Recuperação
Economia pós
Grande
Depréssão.
(i)
Reconstrução
Econômica pos
II Guerra
Mundial.
Promoção a
competitividad
e das
empresas
nacionais
frente as
estrangeiras.
(i) Apoio a
políticas de
desenvolvimento.
(i)
Reconstrução
Econômica.
(ii)
Financiamento
de atividades
com objetivos
geoestratégico
s
(Ex.: Indústria
de borracha no
Brasil e
Rodovia
Burma-China.
(US Exim
B
ank))
(ii)
Fortalecimento
do Balanço de
Pagamentos e
expansão
econômica de
p
aíses em
desenvolvimen
to.
(ii) Entidades mais
autônomas e
verticalização do
financiamento,
se
g
uros e
g
arantia
a exportação.
(ii) Reforma
de agências
de
financiamento
a exporta
ç
ão,
com parcerias
com
entidades
estran
g
eiras.
(iii) Crise das
agências de
financiamento a
exportação dos
países da OCDE
por causa da crise
financeira em
países em
desenvolvimento.
(iii) Forma
ç
ão
de entidades
de
financiamento
a exportação
regionais.
214
Quadro texto quatro: Seguro de crédito para as exportações
Seguro de Crédito para as exportações no Brasil.
Agente segurador
-Seguradora Brasileira de crédito às exportações (SBCE) – empresa de capital privado
constituída através da sociedade entre a COFACE, empresa francesa especializada na
prestação deste serviço, e cinco seguradoras brasileiras;
- O Fundo de Garantia às Exportações (FGE) foi criado para prover recursos para
garantir a cobertura dos riscos de responsabilidade da União.
- Objetivo: Garantir o recebimento do valor das exportações a crédito, caso ocorra
atraso de pagamento, pelo importador ou pelo país, por prazo igual ou superior a 180
dias.
Beneficiários: Empresas exportadoras de bens e as instituições financeiras.
Produtos Beneficiados: Todos os produtos a serem exportados, sejam eles
industrializados ou básicos.
Tipos de Riscos Cobertos: Comerciais – insolvência do importador de bens e serviços
ou atraso no pagamento da dívida; Políticos e extraordinário – guerras, revoluções,
embargos de importação e exportação, restrições à transferências de divisas eventos da
natureza.
Responsabilidade pelos Riscos-Comerciais - SBCE, com prazo de pagamento de até 2
anos; FGE, nas operações que ultrapassarem este prazo; Políticos e extraordinários -
FGE, independente do prazo da operação de crédito.
Modalidade Operacional: Os riscos cobertos adotam o princípio da globalidade, ou
seja, garante o risco do conjunto das exportações da empresa e não apenas de
operações isoladas.
Percentual de cobertura: Risco comercial - 85% do valor da operação; Riscos político
e extraordinário - 90% do valor da operação.
Montante das Exportações Seguradas: Competirá à empresa exportadora selecionar e
indicar à SBCE qual o montante de crédito e os clientes efetivos e potenciais que
integrarão o conjunto das exportações previstas para o período seguinte de 1 ano, e
que poderão ser garantidas pelo seguro. Cada proposta será analisada pela SBCE de
215
acordo com suas características e peculiaridades, para o estabelecimento de limite de
crédito individuais para cada importador.
Custo de Seguro de Crédito: Definido pela SBCE, com base nos dados e informações
fornecidos pela empresa exportadora, cobrindo o montante aprovado e respectivos
clientes indicados. O custo do seguro fixado incidirá sobre o montante aprovado e
previsto de exportações, mas, caso estas não se concretizem, não haverá devolução do
prêmio (custo) do seguro pago pela empresa exportadora a SBCE.Prazo para
Recebimento de Sinistro: A empresa exportadora receberá o pagamento do valor
integral da cobertura do seguro 150 dias após a data de comunicação da inadimplência
do importador. Caso já tenham decorridos 30 dias da data de vencimento do título
cambial e o exportador entenda que haverá dificuldades em sua liquidação pelo
importador, ele deve informar este fato ao SBCE, para fins de agilizar o pagamento do
seguro.
Fonte: SBCE. Elaboração: CNI. Extraído do trabalho de Iglesia e Veiga 2000 “Aspectos estratégicos da
politica comercial brasileira” (p.75).
Quadro texto cinco
ANEXO II
Glossário de termos referentes aos financiamentos do BNDES
BNDES AUTOMÁTICO: Financiamentos de até R$ 10 milhões para a realização de
projetos de implantação, expansão e modernização, incluída a aquisição de máquinas e
equipamentos novos, de fabricação nacional, credenciados pelo BNDES, e capital de
giro associado, por meio de instituições financeiras credenciadas.
BNDES EXIM: Financiamentos à exportação de bens e serviços: i) Pré-embarque:
financia a produção de bens a serem exportados; ii) Pós-embarque: financia a
comercialização de bens e serviços no exterior, através de refinanciamento ao
exportador, ou através de buyer's credit.
BNDESPAR: Subscrição de valores mobiliários de empresas de capital aberto, em
emissão privada ou pública, ou de empresas com perspectiva de abertura de capital a
curto ou médio prazo, em emissão privada.
FINAME: Financiamentos, sem limite de valor, para aquisição isolada de máquinas e
equipamentos novos, de fabricação nacional, credenciados pelo BNDES, por meio de
instituições financeiras credenciadas.
216
FINEM: Financiamentos de valor superior a R$ 10 milhões para a realização de
projetos de implantação, expansão e modernização, incluída a aquisição de máquinas e
equipamentos novos, de fabricação nacional, credenciados pelo BNDES, e capital de
giro associado, realizados diretamente com o BNDES ou através das instituições
financeiras credenciadas.
FMM: Financiamento a estaleiros brasileiros para a construção e reparo de navios; a
empresas nacionais de navegação para a encomenda de embarcações e equipamentos,
reparos e jumborização (técnica de ampliação de navios - corte transversal vertical do
navio, para inserção de um trecho de casco) junto a construtores navais brasileiros; e à
Marinha do Brasil.
A tramitação de operações obedece a quatro fases:
CONSULTA: apresentação do pedido de financiamento ao BNDES, contendo as
informações básicas sobre o projeto e a empresa.
ENQUADRAMENTO E ANÁLISE: pré-avaliação da viabilidade do projeto e de sua
adequação às políticas operacionais, e encaminhamento do projeto para análise
econômico-financeira pela área responsável.
APROVAÇÃO E CONTRATAÇÃO: Aprovação pela Diretoria do BNDES do
relatório de análise contendo recomendação de financiamento ao projeto, e sua
contratação.
DESEMBOLSO: liberação dos recursos do financiamento, que deve acompanhar a
execução física e financeira do empreendimento.
TJLP: Taxa de Juros de Longo Prazo, fixada trimestralmente pelo Conselho Monetário
Nacional, e calculada pela soma de: i) meta de inflação para os doze meses seguintes ao
primeiro mês de vigência da taxa, ii) prêmio de risco.
217
Quadro texto seis: resolução 44 da CAMEX.
Essa medida reduziu a cumulatividade de custos de garantia que estava prejudicando a
competitividade das exportações brasileiras para os países da ALADI e deu maior
transparência ao conceito do Seguro de Crédito com CCR; Ficou estabelecido que todas
as exportações financiadas pelo PROEX ou BNDES garantidas pelo CCR, serão
classificadas, para efeito de seguro de crédito, como operações do grupo de risco 1,
pagando prêmio correspondente ao prazo de financiamento dessas operações; Essa
decisão teve por fundamento que a garantia efetiva é a autorização de curso no CCR,
dada pelo Banco Central do país importador e que o Seguro de Crédito estaria cobrindo
um risco residual, de uma possível inadimplência de uma compensação quadrimestral
no CCR; A própria Resolução CMN 2.575, de 17.12.1998, iguala o aval de banco de 1ª
linha com o aval de CCR, nas garantias admitidas para os financiamentos de
exportações; O modelo que estava vigente era de manter a classificação original dos
países nos grupos de risco de 1 a 7 (do menor para o maior) e dar um desconto de 80%
no prêmio, conforme tabela das operações só com Seguro de Crédito; Corrigiu-se,
assim, a distorção na avaliação de risco individual, por país do CCR, já que os
pagamentos são feitos através de compensações multilaterais. Resolução CAMEX nº
44, de 23 de dezembro de 2003.
218
Tabela: Histórico do uso do CCR.
Fonte: ALADI.
219
Quadro texto sete
LEI Nº 10.844, DE 4 DE MARÇO DE 2004.
Dispõe sobre os créditos do Banco Central do Brasil contra instituição financeira
credenciada a operar no Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos - CCR, e dá
outras providências.
Faço saber que o Presidente da República adotou a Medida Provisória nº 142, de 2003,
que o Congresso Nacional aprovou, e eu, José Sarney, Presidente da Mesa do Congresso
Nacional, para os efeitos do disposto no art. 62 da Constituição Federal, com a redação
dada pela Emenda Constitucional nº 32, combinado com o art. 12 da Resolução nº 1, de
2002-CN, promulgo a seguinte Lei:
Art. 1º Os créditos do Banco Central do Brasil contra instituição financeira credenciada
a operar no Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos - CCR e relativos a
operações de importação de procedência de países da Associação Latino-Americana de
Integração - ALADI e da República Dominicana não serão alcançados pela decretação
de intervenção na instituição financeira credenciada, declaração de sua liquidação
extrajudicial ou falência.
Parágrafo único. Os valores dos instrumentos de pagamento emitidos ou garantidos,
relativos a operações de importação referidas no caput, não integrarão a massa falida
nem terão seu pagamento obstado pela suspensão da fluência do prazo das obrigações
da instituição sob intervenção.
101
CAPÍTULO TRÊS: A EVOLUÇÃO DA ARTICULAÇÃO ENTRE A PEB E O
BNDES NA AMÉRICA DO SUL.
102
Item 1. Apresentação dos argumentos centrais:
Esta fase da pesquisa tem por objetivo destacar os caminhos, as possibilidades e os
limites da articulação BNDES-PEB na América do Sul; além dos esforços da
diplomacia do governo Lula que deram ensejo para os contornos gerais do modelo de
participação e exposição financeira regional do Brasil. Partiremos da perspectiva da
trajetória e da formulação da ação internacional da diplomacia do governo, assim como
da análise da evolução dos esforços da mesma, para concretizar os dois objetivos
principais destacados. Procuraremos, também, entender a modelagem dos objetivos,
perspectivas e propostas do governo brasileiro para a temática financeira regional
articulando, para este fim, os temas da PEB e das políticas públicas de financiamento
1
.
Foram identificadas duas questões centrais para serem debatidas nesta fase da
análise: os esforços da diplomacia na busca de garantias oferecidas pelo sistema CCR-
Aladi aos investimentos brasileiros realizados na América do Sul; e as negociações e
esforços em torno das iniciativas de reestruturação das tradicionais instituições regionais
de créditos como a Corporação Andina de Fomento (CAF), a ALADI e outras. Ambas
as questões formam parte da explicação para o modelo de participação e exposição
financeira regional do país.
Quanto ao conjunto dos limites e possibilidades para a articulação referida,
assumimos que este se define pelas condições “infra-estruturais” internas do aparelho
do Estado brasileiro para o tema do financiamento público discutidas no capítulo
anterior. Por sua vez, tais condições também contribuem de forma bastante destacada na
modelagem da proposta financeira brasileira na América do Sul; assim como nos
impactos diretos que determinam os limites e possibilidades para a articulação BNDES-
PEB.
Quando nos referirmos, portanto, ao modelo de participação e exposição
financeira brasileira na América do Sul, estaremos tendo em conta a seguinte
1
Como um dos objetivos principais do capítulo é entender os esforços para a estruturação dos
instrumentos que garantem os créditos do BNDES na América do Sul, procuramos dar conta de estudar os
países considerados de risco financeiro
: países que não apresentam parâmetros seguros e previsíveis que
minimizem os riscos aos créditos do BNDES expostos em seus territórios. Com este objetivo, procuramos
integrar a análise dos cenários e evoluções destacados; os apoios e os pesos de cada Estado; e as
intensidades das relações bilaterais entre o Brasil e cada país. Desta forma, o leitor que porventura
perceber a ausência de um tratamento específico dado ao Chile neste texto deverá estar ciente de que se
trata de um país com grau de investimento positivo no cenário internacional; fato que viabiliza os
investimentos do Brasil neste Estado, com ou sem os recursos do BNDES, de forma rápida e dinâmica.
Por este motivo não trabalhamos o Chile, por ser um país que destoa dos demais quando levados em conta
as questões e embates considerados nesta fase da tese.
103
caracterização: é um modelo sustentado por uma política industrial e de
desenvolvimento a partir da melhoria dos recursos institucionais e políticos que
privilegiam um ambiente de negócios saudáveis com instituições fortes e aparatos
regulatórios previsíveis do ponto de vista financeiro; está pautado pela provisão de
infra-estrutura apropriada e transparente para o tema financeiro estabelecida por uma
cooperação entre governos e agências regionais e públicas de crédito; e é uma estratégia
financeira fortemente defensiva. Minimizar danos ou possibilidades de danos tem sido a
tônica das ações externas do país nesse campo. Demonstrar esse quadro, com base nos
esforços da diplomacia e da evolução da mesma, é o objetivo que destaca o fio condutor
para o entendimento deste capítulo.
Como sugerem os resultados alcançados no capítulo anterior, os aspectos mais
específicos que caracterizam a condição “infra-estrutural” nacional para a área
financeira são definidos da seguinte maneira: pela busca de provisão de informação
sobre possibilidades de investimentos; pelos acertos, no plano brasileiro, quanto às
estratégias de captação dos recursos do BNDES para os investimentos nacionais na
América do Sul; pelas disponibilidades de financiamento; e pela provisão de seguros e
garantias mútuos a partir de uma perspectiva cooperativa regional governamental.
Os resultados do capítulo precedente permitiram, também, a identificação de que
boa parte do sucesso para a caracterização e concretização dos investimentos brasileiros
na América do Sul depende da estratégia eficiente da diplomacia. Os acertos quanto aos
acordos de reciprocidade e proteção ao investimento externo brasileiro são
especialmente importantes para a concretização dos investimentos nacionais fomentados
pelos recursos do BNDES. Assim, a definição mais precisa das diferentes relações
bilaterais que se processam entre o Brasil e os países destacados estão orientadas pelos
referidos acertos. A importância econômica específica que cada Estado traduz para os
interesses comerciais dos setores econômicos do Brasil também dita a orientação das
relações bilaterais para o tema financeiro debatido; os números do capítulo seguinte
procurarão qualificar esta afirmação.
No geral, o capítulo parte da percepção, a partir da revisão bibliográfica do
capítulo dois, que a problemática da falta de acesso para o financiamento do
desenvolvimento dos países da região, incluindo também o Brasil, forma o horizonte da
temática, das discussões e das preocupações dos líderes diplomáticos regionais. Os
vários momentos dos relacionamentos diplomáticos e políticos regionais, com os
diversos cenários que caracterizam as aproximações e distanciamentos políticos, estão
104
circunscritos por essa condição regional quanto ao acesso restrito aos créditos. Nesse
sentido, serão abordadas as temáticas formuladas para a referida política externa da
pesquisa; além da caracterização dos cenários de embates e apoios políticos que foram
definidos e redefinidos pela evolução da articulação PEB-BNDES em destaque. O fio
condutor do texto é, por sua vez, o conjunto de fatores, formulações e projeções da
articulação da política externa do Brasil com o BNDES. A análise dos resultados
concretos, ou seja, as implementações efetivas das iniciativas, serão demonstradas no
capítulo seguinte.
Sugere-se, também, para título de análise, que os componentes soberanos,
autônomos, independentes e universais resguardados pela PEB discutidos no capítulo
um poderão, possivelmente, serem entendidos tendo-se em conta os seguintes
elementos: a morosidade na liberação dos recursos do banco; a robustez do BNDES no
que confere as avaliações de riscos aos seus recursos; a lógica privada de atuação
financeira e defensiva praticada pelas entidades brasileiras e públicas de financiamento;
a definição mais clara de que os recursos são liberados quando atendem também aos
interesses de empresas brasileiras atuantes na região; e os acertos, em planificação no
plano nacional, de como seriam alocados os recursos do BNDES para os referidos
investimentos nos países. Todos estes elementos, como atestam as nossas hipóteses,
definem os limites e as possibilidades para a ação financeira da diplomacia na região e,
como tal, representam parte dos elementos da política industrial do Brasil.
Quando objetivamos integrar as variáveis históricas gerais da PEB ao tema desta
pesquisa (temas financeiros), temos por meta qualificar a tese de que as mesmas
traduzem, para o plano externo, as possibilidades e condicionantes estruturadas no plano
interno do aparelho estatal brasileiro. Em outras palavras, a política externa do Brasil e
as suas variáveis representam a tradução internacional dos elementos internos do
aparelho estatal brasileiro; elementos estes que definem os objetivos políticos e
econômicos nacionais da atual política industrial do Brasil. O sentido da política externa
examinada nos anos de 2003 e 2007 é composto de duas variáveis: ampliar e estruturar
alianças, fazendo, para isso, concessões e acenando para certas vantagens econômicas a
partir de possíveis alinhamentos às propostas brasileiras; e estratégicas econômicas,
solidificando uma região como base consumidora de produtos de alto valor agregado da
economia brasileira, fato que adensa os limites e considerações para a tomada de
decisões da ação internacional do governo Lula.
105
Contudo, entendemos que o Brasil não exerce uma liderança material na condução
das iniciativas de integração regional. O entendimento possível para esse fato está na
reticência em evitar obrigações e responsabilidades que impliquem em custos e
vulnerabilidades para os objetivos políticos e econômicos nacionais (o próprio banco do
sul seria um dos exemplos emblemáticos nesse sentido). O tom dado para a prioridade
da integração regional tornou-se cada vez mais pragmático conforme os resultados e os
custos decorrentes do processo foram percebidos pela ação internacional do governo
Lula. Para os países da América do Sul, o Brasil abandonava gradativamente uma
possível posição de um regional paymaster que conduzisse o processo integrador.
Por esses motivos, nossa hipótese é que as propostas, decisões, formulações e
modelos da PEB nesse período responderam de imediato à dinâmica econômica e
política interna da conjuntura nacional. Os principais representantes da diplomacia
brasileira _ Celso Amorim, Samuel Pinheiro Guimarães e Marco Aurélio Garcia _,
salientaram, no prelúdio da era Lula, um discurso politizado no que diz respeito aos
aspectos da articulação do BNDES na região dentro dos parâmetros da Política Externa
nacional. O transcorrer da evolução destacada nos mostrará, porém, uma gradativa
redefinição e reorientação desse discurso para um viés mais responsável, técnico e
pragmático. Para isso, o texto procurará demonstrar a dissonância entre as ações e
expectativas da diplomacia brasileira e a lógica da instituição pública de financiamento
que fora inserida na dinâmica regional; os impactos dessa dissonância na conformação
das relações diplomáticas bilaterais; a redefinição dos apoios regionais aos projetos e
expectativas das propostas do governo brasileiro para a integração regional; e o
surgimento de alternativas e modelagens financeiras que se demonstraram ofensivas e
críticas às propostas do governo Lula.
A outra hipótese é que a participação e exposição financeira do Brasil, tendo o
BNDES como o elemento central, não cruza com a linha ideológica que o discurso da
prioridade conferida para a integração regional concentra em si. Trata-se, portanto, de
entender que é uma estratégia de participação e exposição financeira brasileira na
América do Sul. Portanto, o elemento cooperativo, não caracteriza a participação
financeira nacional na América do Sul; fato que nega uma possível modelagem a partir
de expectativas políticas. Isso não nega, em contrapartida, a importância dada para o
avanço substancial com que o tema financeiro foi inserido nas análises da política
externa brasileira e nos estudos dos seus objetivos; mas entendemos que ainda não é
106
possível que o país assuma posturas cooperativas em temáticas financeiras com os
países do âmbito sul-americano
2
.
Item 1.1. Regionalismo em bases bilaterais: o MERCOSUL e o Bloco Andino na
agenda financeira do Brasil.
Os anúncios e promessas de investimentos brasileiros na região, através das linhas
de crédito do BNDES, inseriram-se na prioridade conferida para a integração regional
da PEB do governo Lula. Os anúncios de investimentos foram, inicialmente, inseridos
nas tentativas de demonstrações de ações concretas que sinalizavam para o real
comprometimento brasileiro com relação a sua liderança material na execução do
processo de construção dos laços integradores.
Nos primeiros anos da política externa destacada (2003-2004), não foram
salientadas críticas ao caráter de viés protagonista da PEB, tampouco ao modelo de
cooperação, participação e exposição financeira que estava sendo desenhado pelo Brasil
como proposta para os investimentos brasileiros na região. Segundo o próprio vice-
presidente do BNDES na época, Darc Costa, o projeto brasileiro para a América do Sul
não visava qualquer iniciativa protagonista por parte do Brasil
3
; “visava sim criar um
pólo coeso e forte na região de forma a contrapor a hegemonia americana”
4
. Ou seja,
pairava nas preocupações iniciais da ação internacional do governo Lula os avanços da
influência norte-americana em vista dos tratados comerciais que se anunciavam com os
países da América Central e do Pacto Andino.
Marco Aurélio Garcia, ainda debatendo o caráter protagonista da PEB, insistia que
não somos um país hegemonista
5
no contexto dos primeiros movimentos da ação
internacional brasileira na região. A meta era desvincular o governo Lula, a sua política
externa e a apresentação do BNDES de uma possível interpretação distorcida que se
assemelhasse a qualquer postura hegemônica.
A diplomacia também procurou ganhar espaço na região ao iniciar fortes
conversações com outros blocos e Estados, como o Peru, Equador e Venezuela. Todas
2
Podemos entender PARTICIPAÇÃO como elemento que resguarda os interesses financeiros e
econômicos dos setores comerciais do Brasil. COOPERAÇÃO seria o elemento material que definiria a
capacidade financeira de um país em expor recursos financeiros de forma a construir uma aliança regional
dentro de uma perspectiva política cooperativa.
3
Folha de São Paulo, Integração tem eixo no continente, 22/07/2003.
4
Idem.
5
O Estado de São Paulo, “Não somos um país hegemonista, diz Garcia”. 29/06/2003.
107
essas aproximações inseriram-se no processo que levou ao acordo de livre-comércio
Mercosul-CAN. As relações com os países do bloco andino, para a temática financeira e
comercial, puderam ser avaliadas como positivas para a explicação da tese proposta.
Poderemos verificar neste e no próximo capítulo, que foi com os países do bloco andino
que o Brasil realizou investimentos substanciais com recursos do BNDES; além de ter a
sua participação e exposição financeira aumentada significativamente na Corporação
Andina de Fomento. Isso foi resultado de acertos concretos nos temas referentes aos
seguros e garantias aos investimentos do Brasil expostos nos respectivos países. Esse
fato qualifica parte dos argumentos da nossa tese de que a maior participação do
BNDES na América do Sul é resultado dos esforços e estratégias da diplomacia para
lograr aspectos e estruturas regulatórias e institucionais sólidas para a consecução dos
interesses comerciais e políticos do Brasil na região.
Do ponto de vista institucional, tanto no Itamaraty quanto no BNDES foram
criados órgãos que procuraram colaborar com esta prioridade para a integração regional.
Algumas alterações nas regras do BNDES foram anunciadas e concretizadas para inserir
o banco em uma gama mais ampla de atividades correlacionadas ao espaço sul-
americano, dentre elas a divisão para a América do Sul dentro do Banco e a instauração
do escritório do BNDES no Uruguai em 2007. Para o Itamaraty instaurou-se a
Subsecretaria Geral para Assuntos da América do Sul.
A diplomacia brasileira deu início a um movimento de críticas e contestações para
as regras do FMI e da OCDE quanto às formas de financiamento para infra-estrutura a
partir de recursos públicos; a busca de apoio político dos países da região para a
contestação no nível multilateral desta questão foi uma das tarefas da PEB no
transcorrer do processo. Os contextos de baixos investimentos externos em projetos de
longo prazo na América do Sul, de baixa ou nula participação do setor privado no
financiamento dos projetos de longo prazo e de falta de liquidez para investimentos de
longo prazo contribuíram para esta correlação de temas de ordem política e financeira.
Durante o ano de 2003, uma das primeiras medidas da política externa do governo
Lula, ao assumir a presidência temporária do grupo do Rio em 22/05/03, foi debater e
coordenar as conversações ao redor dos chamados “mecanismos inovadores de
financiamento” (tema central da cúpula). Dentre as iniciativas estavam: encontrar os
meios de coordenar mecanismos de financiamento da infra-estrutura com metas fiscais
responsáveis e promover o uso racional; e usar de forma eficiente os recursos
financeiros internacionais privados e públicos destinados ao financiamento dos projetos
108
de infra-estrutura e das exportações brasileiras de serviços de engenharia e construção
civil.
Em 2004 alguns projetos começaram a serem conduzidos como resultado da
liberação de parcelas dos recursos do BNDES para os investimentos brasileiros. No
tema das relações bilaterais, inserido na especificidade da articulação BNDES e PEB,
tivemos a possibilidade de identificar alguns contornos que definiram uma relação mais
próxima do Brasil com determinados Estados. O Brasil teve relações mais amistosas
com o Peru, Equador e a Venezuela; embates foram verificados com a Argentina; e o
tratamento marginal foi dado para com o Paraguai e o Uruguai. Destaque para o fato de
que foi justamente com os países do MERCOSUL que o tema da participação e
exposição financeira do Brasil foi mais tenso e crítico; ao passo que os melhores
resultados foram alcançados com a Venezuela. Essa diferenciação será destacada e
qualificada adiante e no próximo capítulo.
Por outro lado, também foi possível destacar que os países do Pacto Andino
(Peru, Equador, Colômbia) estiveram dispostos ao ímã representado pelos Estados
Unidos, com o qual negociaram um acordo de livre comércio. A Colômbia do
presidente Álvaro Uribe representava a principal base política norte-americano na
América do Sul; Uribe tinha notórias divergências com Chávez. Chávez e Lula travaram
nos anos de 2006 e 2007 sucessivos desentendimentos em encontros internacionais,
ambos, aliás, na Comunidade Sul-Americana de Nações. Nas duas vezes, a divergência
se deu pela cobrança do venezuelano de resultados mais concretos quanto ao tema
financiamento, enquanto o brasileiro lhe pedia paciência. Chávez criticou Lula por
tentar promover uma política de investimentos em prol da integração regional em
coordenação com políticas macroeconômicas restritivas quanto ao endividamento
público. O mesmo chegou a acusar Lula de tentar o inconciliável: política de fomento
ao desenvolvimento nacional atrelado ao regional, com política macroeconômica interna
ortodoxa.
O ano de 2006 possibilitou a caracterização mais explícita acerca do desgaste das
estratégias e ações da política externa do governo Lula na região. O apoio dos países às
propostas, iniciativas e modelo de participação financeira do Brasil na região sofreu
considerável revés, haja vista o forte apoio com que fora recebido nos dois primeiros
anos destacados. A crise com a Bolívia, as reclamações e ameaças dos sócios menores
do Mercosul e o avanço de Chávez na região marcaram a guinada acentuada do cenário
político sul-americano e dos próprios desafios da Política Externa de Lula na região a
109
partir do referido ano. Os debates em torno do banco do sul sinalizavam para a
confluência de fatores que promoveram a guinada.
Item 2. A Argentina. O prelúdio e a sugestão política dada para os recursos do
BNDES: o não entendimento dos aspectos técnico-financeiros.
No início do ano de 2003, numa das primeiras investidas da diplomacia brasileira
para o revigoramento do MECOSUL trás as desavenças decorrentes da crise financeira
de 2002, o governo brasileiro anunciou a abertura de uma linha de crédito do BNDES
para a Argentina. Os valores giravam na casa de 1 bilhão de dólares
6
. Na mesma
ocasião, foi dado início as negociações para o relançamento do CCR-Aladi junto à
Argentina. Em reunião realizada no dia 07/05/03 na residência do embaixador argentino
Juan José Uranga, os então Ministros Antonio Palocci (Fazenda no Brasil) e Roberto
Lavagna (economia na Argentina), ressaltaram a idéia do revigoramento do sistema de
garantias nas relações comerciais entre os dois Estados. Os investimentos em projetos
de grande envergadura financeira deveriam ser garantidos por este mecanismo
tradicional de pagamentos entre os Estados signatários da ALADI. Lavagna definiu,
naquele momento, o convênio de pagamentos e créditos recíprocos como “o
instrumento mais concreto, direto e imediato” de que Brasil e a Argentina dispunham
para revigorar a cooperação financeira e comercial entre os dois países
7
. O ex-
presidente do BNDES, o acadêmico e economista da UFRJ Carlos Lessa definiu,
naquele contexto, os CCRs como sendo “uma espécie de embrião de moeda única para
o Mercosul
8
.
A fase em destaque era marcada por um forte entusiasmo devido as eleição do
governo de esquerda de Lula no Brasil e com a quase vitória do também esquerdista
Kirchner na Argentina; além de uma relação diplomática bastante estável e permeada
por boas perspectivas de melhorias. O ainda não eleito Kirchner chegou ao Brasil dez
dias antes da realização do segundo turno das eleições argentinas com posturas oficiais
de chefe de Estado; recebeu, por sua vez, claras demonstrações de apoio do presidente
Lula
9
. A diplomacia brasileira se empenhava na tarefa de reerguer o Mercosul,
procurando dar respostas claras para as críticas feitas com relação ao déficit
6
Valor econômico “BNDES financiará exportações argentinas” 07/05/2003.
7
Folha de São Paulo, 09/05/03. “BNDES prepara relançamento dos CCRs”.
8
Idem.
9
Correio Brasiliense, 09/05/03. “Lula na Campanha de Kirchner”.
110
institucional que marcara o bloco durante os anos noventa. A idéia de moeda única
ressaltada pelos representantes dos dois países ao CCR-Aladi nos direciona para o
destacado cenário de euforia que, com o passar do tempo, logo seria esmorecido. A
euforia era tal que os líderes destacados confundiram o sistema CCR-Aladi com um
possível embrião de moeda única; fato que revela o ainda não entendimento concreto do
que significavam os mecanismos regionais de créditos e pagamentos, além dos
instrumentos que estruturam uma cooperação financeira regional.
O presidente brasileiro, no contexto no qual o BNDES não possuía regras claras
que o permitisse estender financiamentos para as exportações de outros países para o
Brasil, chegou a ordenar a abertura de uma linha de crédito do Banco para as
exportações argentinas
10
. O BNDES era sinalizado, naquele contexto inicial da era Lula,
como uma espécie de instrumento de colaboração material efetiva para com os Estados.
Estados estes atravancados pela insuficiente entrada de capitais estrangeiros que
viessem a lhes fornecer créditos para as suas exportações e investimentos em suas infra-
estruturas.
Na mesma ocasião da visita do ainda presidenciável Nestor Kirchner ao Brasil,
importantes iniciativas do governo brasileiro para a prioridade dada à integração
regional foram anunciadas. Dentre elas a criação da subsecretaria geral para assuntos da
América do Sul (SGAS), chefiada pelo embaixador Luiz Felipe Macedo Soares; e o
anúncio do programa de substituição competitiva das importações (PSCI). Programa
este que visou aumentar o fluxo comercial do Brasil com os demais países das Américas
de forma a privilegiar a importação de manufaturados produzidos na região que antes
eram comprados, pelo Brasil, dos mercados da Ásia e da Europa. A medida também
procurou dar sinais claros do governo brasileiro para com o comprometimento político
da nova administração federal do Brasil em reduzir o déficit comercial dos demais
países com relação à maior economia da região.
No geral, sugerimos que os anúncios de abertura das linhas de crédito do BNDES,
a criação da subsecretaria para assuntos da América do Sul e a instauração do programa
de substituição competitiva das importações foram medidas iniciais de sinalização para
uma nova fase da política externa brasileira na região. O tom dado pela diplomacia
brasileira para os anúncios de aberturas de linhas de crédito do BNDES caracterizavam
10
Istoé Dinheiro, 14/05/03. “O Mercosul é o Caminho”.
111
o Banco como sendo um instrumento efetivo e material da política externa brasileira
para a região; além de instrumento de integração regional.
Segundo Macedo Soares, recém empossado secretário da SGAS, a subsecretaria
formava parte de uma reorganização da política externa brasileira. Destacou a
importância do tema da integração infra-estrutural como estratégia para integrar os
países em um grupo econômico e congregado. Salientou, de forma a assumir as
responsabilidades do Estado brasileiro na condução dos processos de integração
regional, que “temos que dar um empurrão nas economias que estão falhando”.
Destacou para a presença dos capitais do BNDES expostos na CAF e as intenções de
aumentar os referidos aportes de forma a alavancar os recursos para financiamentos a
partir desta plataforma regional. O viés pragmático dado por Macedo Soares para as
apresentações das propostas do governo Lula para a integração e para a participação
financeira na América do Sul resumiu-se na assertiva de que “isso vai em benefício de
todos”
11
.
Item 2.1. A reorientação da relação Brasil e Argentina na temática financeira: a
demora na liberação dos recursos do BNDES.
As assimetrias inerentes que caracterizam as estruturas econômicas, produtivas e
comerciais do Brasil e da Argentina logo se demonstrariam maiores do que o
entusiasmo político que se anunciou. O sistema CCR-Aladi de garantias entre os dois
países sairia de uma percepção que marcara o cenário de euforia, para um dos pontos
nevrálgicos da relação bilateral para o tema da participação e exposição financeira
brasileira na Argentina. A relação bilateral teria de ser feita a partir de diferentes
estratégias e manobras que viriam, inclusive, a acarretarem em acordos de
investimentos brasileiros com recursos do BNDES alternativos aos anseios e
disposições do próprio governo Lula. No transcorrer dos embates comerciais que
marcaram a relação entre os Estados, ocorreram redefinições importantes nas regras do
BNDES quanto ao financiamento de exportações de produtos dos demais países do
MERCOSUL com destino ao Brasil.
Outro ponto de discordância ocorreu devido à demora na real liberação dos
recursos do BNDES para investimentos na Argentina. Como destacado no capítulo
anterior, a condicionante que determina o descompasso que caracteriza a retórica
11
O Globo, 25/05/03. América do Sul: o alvo antes da ALCA.
112
política e a efetividade das ações do Banco e do governo Lula na região é resultado de
posturas institucionais tomadas em diferentes órgãos da administração federal brasileira.
As promessas anunciadas para a Argentina no início do ano de 2003 não foram
cumpridas até meados de outubro do mesmo ano. Isso foi suficiente para que o governo
Kirchner iniciasse reclamações e críticas ao governo Lula. O governo brasileiro, em
meio a discussões normativas de como seriam viabilizados os recursos, destacou a
importância e as condicionalidades que as instituições brasileiras, como o Tesouro
Nacional, imputavam para o processo. As demandas brasileiras por acertos quanto às
garantias aos recursos do BNDES se mostraram centrais para a definição da liberação
dos recursos e das relações diplomáticas.
A questão da capitalização do BNDES, também importante e central para o
entendimento dos meandros institucionais e normativos que definem a liberação dos
recursos do Banco, era a outra temática abordada no plano nacional naquele momento
específico. O maior acionista do BNDES, o Tesouro Nacional, obrigava a instituição a
distribuir os seus lucros como dividendos; condicionante que inviabilizava a
capitalização independente do BNDES. As possibilidades para capitalizações
independentes eram via BNDESpar e via aportes junto às instituições regionais e
internacionais de crédito
12
. Quanto a esta última possibilidade, somente era viável uma
captação a partir dos recursos do BNDES expostos no banco de desenvolvimento
japonês JBIC. Na América do Sul, o banco brasileiro ainda carecia de aportes que o
permitisse captações em bases regionais; fato que revela a irrisória exposição financeira
do BNDES em instituições financeiras sul-americanas.
Indagado se o BNDES poderia ser autorizado a não mais distribuir dividendos ao
Tesouro, Furlan disse que “em última hipótese, o acionista majoritário manda na
companhia. Nós podemos como membros do conselho do banco e da diretoria,
argumentar com o acionista controlador. Mas a última palavra é de quem tem as
ações” (Idem).
Em um contexto de ainda relativa paz diplomática entre os dois parceiros do
MERCOSUL, as dificuldades que se desenhavam não impediram a concretização de
aproximações de caráter político-ideológica. Naquele contexto os dois governos
firmaram o “Consenso de Buenos Aires”, uma espécie de contraponto ao “Consenso de
12
Gazeta Mercantil, 06/10/03. Argentina espera recursos do BNDES.
113
Washington
13
”. Dentre os temas abordados, foram destacados os papéis dos bancos
públicos no financiamento de projetos de infra-estrutura e as discussões referentes às
contestações das regras de financiamentos públicos estabelecidas pelo FMI para
projetos de infra-estrutura. Do documento pode ser destacada a importância dada para o
revigoramento de instituições regionais de crédito e integração; alternativas financeiras
regionais para contornar os movimentos especulativos financeiros internacionais; e a
integração regional como plataforma para inserção internacional dos países sul-
americanos
14
.
Para amenizar as reclamações argentinas com relação à demora na liberação do
dinheiro do BNDES, Lula, em discurso no parlamento argentino, salientou que:
O Brasil cumprirá sua parte nesse projeto com os recursos do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES. Um esforço
suplementar deverá ser feito também para agilizar as trocas comerciais
entre os países do Mercosul e os demais da América do Sul
15
.
A passagem destacada sinaliza para a necessária cobertura argentina com relação
às garantias para os investimentos brasileiros em seu território (CCR-Aladi). As tensões
ao redor da liberação do financiamento do BNDES para a Argentina se intensificaram
ao longo do ano de 2004. Para contornar as tensões, sinalizou-se, contextualmente, uma
possível revisão normativa do BNDES desencadeada pelas questões da agenda
diplomática (adiante).
Item 2.2. A intensificação das reclamações argentinas e o adensamento da relação
bilateral.
Até março de 2004 ainda estavam pendentes entre os dois países acertos quanto ao
mecanismo de garantias para os investimentos brasileiros via recursos do BNDES na
Argentina. O Brasil continuava insistindo no uso e ampliação do CCR; o BC argentino
evitava a responsabilidade em expor com recursos públicos as garantias para os
investimentos privados estrangeiros em sua economia. O então vice-presidente do
13
Contraponto ao Consenso de Washington foi expressão corrente empregada por agências de notícias.
Dentre estas o Correio Brasiliense de 17/10/03, “Lula e Kirchner fecham aliança”.
14
Consenso de Buenos Aires. Encontrado em www2.mre.gov.br.
15
Correio Brasiliense de 17/10/03, “Lula e Kirchner fecham aliança”.
114
BNDES, Darc Costa, e o diretor de comércio exterior, Luiz Eduardo Melim, estiveram
na Argentina negociando a liberação da linha de crédito de US$ 1 bilhão
16
que o Brasil
anunciou em junho de 2003 (até aquela data não havia sido operacionalizada). Mais
uma vez, o que foi formulado até a data da reportagem não foi implementado pelas
razões que este capítulo procura traçar: falta de acordo e acerto para com as garantias de
crédito oferecidas pela Argentina para os recursos do BNDES; aspectos normativos e
institucionais rígidos de avaliação de riscos praticados pelo BNDES; e a forma como
seriam capitaneados, no plano brasileiro, os recursos do BNDES para os
financiamentos.
A Argentina, até a data em destaque, insistia em manter o patamar de cobertura de
garantias em cem mil dólares, o que impedia a liberação dos recursos do BNDES; o
banco brasileiro exigia coberturas na ordem de duzentos milhões de dólares, uma soma
bastante considerável quando comparada à disposição do BC argentino de garantir um
montante de apenas cem mil dólares
17
. Esse cenário de indefinição e de não alocação
material efetiva colaborou para o surgimento das insatisfações argentinas para com as
disposições e reais capacidades do Brasil em fomentar o ideário da integração regional.
Com objetivos de melhorar o relacionamento bilateral e alavancar entendimentos
para o tema financeiro, no dia 15 de abril de 2004 os governos do Brasil e da Argentina
assinaram, em Buenos Aires, o primeiro acordo de integração entre bancos estatais. A
idéia do acordo era consolidar uma estratégia para contornar as insatisfações e as
morosidades na relação mútua financeira; fato esse, por sua vez, inédito na relação
bilateral desde a criação do MERCOSUL. Segundo notícias de O GLOBO de abril de
2004
18
, o entendimento previa a criação e a promoção de linhas de crédito comuns entre
o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e as instituições
argentinas de fomento como o Banco de la Nación Argentina e o Banco de Investimento
e Comércio Exterior (Bice).
As negociações em torno das linhas de crédito comuns entre o Banco brasileiro e
os Bancos argentinos inseriam-se, também, na sinalização da conciliação entre os dois
países na questão dos investimentos envolvendo a construção da integração infra-
estrutural. A trajetória da relação bilateral no tema financeiro não maturou solidamente,
mas representou importantes passos no que confere a uma cooperação financeira dentro
16
Gazeta Mercantil, 14/05/04. CCR argentino limita as parcerias.
17
Idem.
18
O Globo, 07/04/04. Brasil e Argentina firmam acordo e avançam na integração financeira.
115
do bloco, haja vista o caráter irrisório com que o tema fora tratado nas relações entre
Brasil e Argentina dos anos noventa.
Por volta de meados de julho de 2004 as insatisfações argentinas para com a
morosidade no tema da cooperação financeira ficaram ainda mais evidentes por dois
motivos: o acirramento do contencioso dos eletrodomésticos; e a não efetiva liberação
dos recursos do BNDES para financiamento dos investimentos brasileiros na Argentina.
O discurso do assessor internacional da presidência do Brasil, Marco Aurélio Garcia,
feito naquele contexto, limitou-se na tradicional defesa da integração e na necessidade
de melhoria nos instrumentos de fomento e investimentos: “Governo tem de atender
interesses de empresários e também sua estratégia para Mercosul”
19
; sinalizando para
o tema das garantias para os investimentos brasileiros via recursos do BNDES.
A própria orientação das palavras de Marco Aurélio Garcia sugeria uma maior
responsabilidade e cometimento na abordagem do papel a ser possivelmente exercido
pelo BNDES na América do Sul; além de, também, justificar a demora na efetiva
materialização dos investimentos brasileiros nos países. Elementos como o atendimento
dos interesses do empresariado brasileiro foram mais inseridos no vocabulário
diplomático. O viés pragmático começava a ser mais destacado indicando, por sua vez,
a própria conotação nacionalista impressa na política industrial do Brasil representada
pela ação diplomática analisada.
No prelúdio do contencioso comercial e na piora da relação bilateral que cerceava
o tema financeiro, o assessor para assuntos internacionais da presidência da República,
Marco Aurélio Garcia, declarou a necessidade do revigoramento das iniciativas de
cooperação bilaterais já existentes. O traçado possível por onde a diplomacia brasileira
passou a esforçar-se para destacar o modelo de participação e exposição financeira
nacional na América do Sul encontrou, nas instituições regionais tradicionais, o seu
contorno. Para melhorar a cooperação financeira com a Argentina, solucionar o
contencioso comercial e dar prosseguimento para a liberação dos recursos do BNDES,
Garcia salientava: "É óbvio que vamos precisar de uma estrutura financeira para o
Mercosul. Por isso, mecanismos já existentes, como o Fundo Financeiro para o
Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata), precisam ser revisados”. Mecanismo
este que, de concreto, não é muito significativo.
19
Gazeta Mercantil. 16/07/04. Integração no Mercosul.
116
Em meio aos atritos, foi anunciada no BNDES uma mudança em uma das suas
mais sólidas regras institucionais de forma a, possivelmente, “preservar o Mercosul”.
Segundo informou o Globo de setembro de 2004, as autoridades do BNDES salientaram
que, “atualmente, quando uma empresa brasileira solicita crédito do banco de fomento
para comprar bens de capital, o BNDES exige que o chamado índice de nacionalização
do produto seja entre 60% a 90%”. A partir daquele momento, portanto, “confirmou
Lessa, produtos argentinos, uruguaios e paraguaios serão tratados como nacionais”
20
(na linha FINAME).
No início do mês de setembro a situação comercial entre os dois países se agravou.
Declarações de Kirchner de que caso a Petrobrás não fizesse os investimentos em
produção de energia no seu país, ele cessaria a concessão da empresa na Argentina
21
.
Segundo a Folha de São Paulo de setembro de 2004, o governo argentino aumentou as
pressões para que a Petrobrás realizasse investimentos no país. A Petrobrás controlava
50% da TGS (Transportadora de Gás do Sul) e produzia 12% do petróleo e 8% do gás
argentino. O presidente Néstor Kirchner queria que a estatal brasileira ampliasse o
gasoduto San Martín, que une a Terra do Fogo, na Patagônia, a Buenos Aires. A obra,
de US$ 270 milhões, foi anunciada em julho. Ainda segundo a Folha de São Paulo de
07/09/2004, o governo brasileiro queria que o investimento fosse feito a partir dos
empréstimos do BNDES dentro da carteira reservada a projetos de infra-estrutura para
integrar a América do Sul; isso a despeito da possibilidade concreta de a Petrobrás ter
capacidade de financiar por si própria o projeto.
Outro fato inédito que marcou esta articulação do BNDES com a PEB inserida na
relação bilateral Brasil-Argentina foi o anúncio da alteração nas regras da FINAME.
Sugere-se que os anúncios de alterações nas regras da referida linha de financiamento, e
a proposta de instalação de um posto do BNDES na Argentina, estiveram circunscritos
pela temática dos problemas gerados pelos contenciosos comerciais e pela piora na
relação bilateral decorrente do atraso dos investimentos brasileiros.
No dia 24/09/04 a Argentina anunciou a ampliação da cobertura de garantias de
investimentos pelo seu sistema CCR de 100 mil dólares para 200 milhões de dólares. A
demanda brasileira foi aceita mediante intensas batalhas comercias e críticas feitas, por
parte da Argentina, com relação à morosidade do BNDES na liberação dos seus
recursos; ameaças a Petrobrás; e, ainda que paradoxalmente, a partir de avanços na
20
O Globo, 18/09/04. BNDES muda regra para beneficiar o Mercosul.
21
Folha de São Paulo, 07/09/04. Kirchner eleva pressão sobre Petrobrás.
117
cooperação financeira entre os dois países em decorrência das associações entre os
bancos BNDES, BICE e Banco de la Nación Argentina.
Item 2.3. A possibilidade da melhoria na relação Brasil e Argentina; o retrocesso; e
a Comunidade sul-americana de nações (CASA).
As demandas argentinas foram feitas em meio ao projeto do governo de reativar a
indústria daquele país degradada após as ondas recentes de crises macroeconômicas;
além de, conjunturalmente, evitar uma nova crise energética na Argentina
22
. Parte das
demandas girava em torno de críticas feitas ao Brasil por este possuir uma instituição de
fomento como o BNDES que torna a competitividade da indústria brasileira muito
difícil de ser batida. O discurso argentino na época salientava que o Brasil deveria, caso
de fato quisesse privilegiar a integração regional, arcar com parte da tarefa de
reconstrução da indústria argentina prejudicada pela crise financeira de 2001-2002.
A melhoria momentânea nas relações comerciais e políticas entre os dois países
foram possibilitadas pelas alterações nas regras da FINAME; pela ampliação das
garantias argentinas com relação à utilização do seu CCR; e pela solução do
contencioso das geladeiras que pôs fim as cotas argentinas aos produtos brasileiros. A
decisão do BNDES de financiar a construção do gasoduto San Martin foi avaliada como
iniciativa oportuna para se evitar novas crises energéticas no país vizinho e melhorar as
relações diplomáticas. A construção, que estaria a cargo de empresas brasileiras e
argentinas, com participações acionárias equilibradas, teria por meta unir a Patagônia a
Buenos Aires e correr paralela ao já existente gasoduto. Orçado em US$ 285 milhões, o
projeto recebeu do BNDES - que teve como beneficiária a Petrobrás -, U$ 70 milhões
para a compra de tubos e US$ 72 milhões para engenharia e obras civis; o restante será
aportado por outras empresas petrolíferas e pelo Estado argentino.
Mas o fato mais auspicioso que emergiu das negociações, anunciado na Argentina
pelo então presidente do BNDES Carlos Lessa, é que o banco passou a tratar como
"empresas nacionais" as empresas argentinas que lhe solicitassem crédito para
exportações com destino exclusivo para o Brasil (dentro da linha FINAME)
23
. As
exportações argentinas deveriam ser dadas, também, dentro do Programa de
Substituição Competitiva das Importações PSCI. A única restrição, segundo informou
22
Folha de São Paulo, 10/09/04. Brasil estuda regra em favor da Argentina.
23
Folha de São Paulo, 21/09/04. A integração do Mercosul em novo patamar.
118
Lessa, “é que as partes e os componentes têm de ser produzidos por empresas cujo
capital seja controlado por firmas do Mercosul”
24
.
Segundo a Folha de São Paulo de setembro de 2004 “Esta foi a primeira vez que
uma instituição financeira estatal nacional interveio como entidade transnacional no
processo de integração do Mercosul - e é de registrar que uma tal iniciativa coloca
nova ênfase nesse processo”. Sugere-se, a partir das observações destacadas, que
possivelmente houve uma mudança institucional no BNDES pressionada pelas
condições e contextos políticos e comerciais inerentes dos temas da agenda diplomática
do Brasil e da Argentina. Tal observação colabora com uma interpretação plausível de
que o BNDES foi inserido na lógica de política externa; como conseqüência, algumas
possibilidades de entendimentos entre Brasil e Argentina foram estabelecidas. Isso,
mesmo assim, e segundo os contornos da nossa tese e das nossas hipóteses, não nega
que não tivessem ocorrido considerações de ordem pragmática e técnica feitas pelo
BNDES para que tais acertos tivessem sido possibilitados.
Em outubro de 2004
25
foi anunciado o efetivo investimento de US$ 142 milhões
para a construção, pela Petrobrás, do gasoduto San Martin na Argentina com
financiamentos do BNDES. Isso só saiu com a intervenção do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, que pressionou para liberar os recursos do banco
26
.
Em dezembro de 2004, no contexto da recém criada CASA, a Argentina anuncia
os primeiros pedidos de salvaguardas feitos ao Brasil. A diplomacia brasileira julgou os
pedidos inaceitáveis. Como conseqüência da piora na relação bilateral, a Argentina não
participou, naquele momento, do evento de criação da comunidade sul-americana de
nações. Iniciativa esta que fora, por sua vez, provocada e promovida pela ação
diplomática brasileira. O ano de 2005 seria marcado pela intensificação dos conflitos
comerciais entre os dois países, e pelo retrocesso na relação bilateral trás os esforços e
iniciativas empreendidos e destacados.
Item 2.4. Novos embates e a redefinição do discurso da diplomacia brasileira.
No ano de 2005 foi verificada a intensificação dos conflitos comerciais entre o
Brasil e a Argentina no segmento de eletrodomésticos; além da intensificação das
críticas argentinas acerca da real viabilização dos recursos do BNDES para os
24
(Idem).
25
Folha de São Paulo, 06/10/04. Após pressão, Petrobrás investe na Argentina.
26
Idem.
119
investimentos brasileiros em seu território. O governo brasileiro, apesar de ter
flexibilizado as regras das linhas da FINAME, não conseguiu angariar resultados
políticos efetivos no que diz respeito à aproximação entre os dois países na resolução do
contencioso comercial. Ao que tudo indica, o governo argentino classificou a proposta
brasileira como insuficiente
27
, haja vista o potencial do Brasil em cooperar de forma
mais assertiva nos temas do financiamento. A crítica foi feita em meio a considerações
do tamanho e da potencialidade do sistema público financeiro do Brasil; fato que o
credenciaria a cooperar de forma mais ativa com os países sul-americanos. Segundo
Lavagna, o desejo argentino é de "avanço substancial na fixação de mecanismos para
assegurar um intercâmbio equilibrado e a definição de uma política comum de
investimentos"
28
.
Os acertos quanto ao estabelecimento de mecanismos de coordenação
macroeconômica e de criação de fundos de fomento para projetos de industrialização
conjunta e coordenada foi sugerida pela Argentina para que os impasses na área
comercial cessassem. A administração Kirchner demandava que as relações e iniciativas
de integração deveriam ser conduzidas a partir de coordenações amplas e concertadas
com o governo brasileiro e seus instrumentos econômicos. As possibilidades e
viabilidades da liderança regional do Brasil na condução do processo de integração
regional foram postas em xeque pelos países da região em vista da desarmonia entre as
propostas e os resultados efetivos das mesmas.
A despeito da piora nas relações entre os dois países, surgiu o tema da instalação
do escritório do BNDES em Buenos Aires na agenda de discussões bilaterais; assunto
este que não seguiu adiante. Em fins de fevereiro de 2005 a Argentina concretizou
efetivamente a ampliação do seu CCR para a ordem de duzentos milhões de dólares de
forma a cobrir as garantias dos investimentos do Brasil no seu país
29
. Ao mesmo tempo,
os países iniciaram conversações a respeito de alternativas financeiras ao modelo de
garantias para os investimentos e pagamentos estabelecidos pelo sistema CCR-Aladi.
Os objetivos dessas conversações eram encontrar mecanismos mais dinâmicos e
profundos para o tema da participação financeira e que não implicassem em
comprometimento das entidades monetárias em atividades de garantias e seguros de
crédito.
27
Folha de São Paulo, 25/01/05. Brasil negocia salvaguardas com o vizinho.
28
Folha de São Paulo, 25/01/05. País vê vitória em reunião com Brasil.
29
Folha de São Paulo, 25/02/05. BNDES libera US$ 200 milhões para a construção de gasoduto
argentino.
120
A Argentina demandava alternativas financeiras mais profundas que, por sua vez,
não faziam parte da agenda dos interesses do governo brasileiro. Como destacado no
capítulo dois, o restabelecimento do sistema CCR-Aladi nas relações comerciais do
Brasil foi resultado das pressões dos setores exportadores nacionais para ampliar as
linhas de financiamento do BNDES para a região; ademais, este sistema já está, no
Brasil, amparado por uma sólida rede institucional que mitiga os riscos aos recursos do
BNDES e do Banco Central do Brasil. Sugere-se, com isso, que a estrutura erguida no
plano brasileiro é eficiente e viável para a arquitetura financeira pública nacional; a
Argentina demandava uma alternativa a este modelo por não ter, talvez, uma estrutura
tão sólida quanto à brasileira. Uma nova modelagem para esse tema poria maiores
custos para o Brasil, o que tornava desinteressante para o governo Lula a discussão de
alternativas financeiras mais onerosas e custosas.
O resultado esperado pela Argentina com a ampliação do seu CCR era a
concretização dos investimentos da Petrobrás no gasoduto San Martin feitos a partir dos
recursos do BNDES. Guido Mantega, já como novo presidente do BNDES, destacava,
logo do anúncio da aprovação da remessa de dinheiro para o gasoduto argentino, que:
Nossa idéia é aumentar a presença do BNDES na América do Sul, mas
sempre e quando exista atuação de empresas brasileiras. Assim, estaremos
criando empregos no Brasil e dando ajuda direta ao desenvolvimento do
país parceiro
30
.
O mês de abril daquele ano verificou um dos contextos mais tenso na relação
bilateral. A Argentina voltou a ameaçar o Brasil com salvaguardas para produtos
brasileiros. O novo tema de conflito na arena comercial centrou-se no setor de calçados,
onde o governo argentino ameaçou impor cotas e barreiras comerciais. Ciente dos
motivos de queixa por parte dos argentinos, Celso Amorim enfileirou uma série de
medidas que considerava necessárias para satisfazer o parceiro:
Da Argentina, deveríamos comprar mais petróleo, mais trigo, realizar
compras governamentais, fazer investimentos lá, através do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e do setor privado, numa
30
Correio Brasiliense, 06/03/05. BNDES do dinheiro para obra na Argentina.
121
política industrial comum, compatível com as necessidades de expansão do
Mercosul
31
.
As tensões entre os países ficaram evidentes na ocasião da primeira reunião oficial
da CASA de 2005 que discutiria os temas de integração infra-estrutural como forma de
aproximar os países da região. A reunião foi marcada pela ausência dos presidentes
Álvaro Uribe da Colômbia e Kirchner da Argentina. A ausência do presidente argentino
foi explicada, de acordo com os jornais e revistas da época, pela postura crítica do
presidente argentino para com relação ao governo Lula e suas propostas de integração
regional. Para Kirchner a reunião seria mais uma etapa na ampliação da influência
brasileira na região. Fato que, por sua vez, sinalizava para o entendimento, pelo país
vizinho, do temor do caráter protagônico do Brasil na América do Sul. O momento da
primeira reunião da CASA denotava para a necessidade de mais uma revisão, por parte
da diplomacia de Lula, com relação ao seu discurso pró-integração; além da
reformulação no discurso de apresentações do BNDES como um possível e efetivo
mecanismo brasileiro de cooperação financeira e material regional
32
.
O governo Lula passou a anunciar o BNDES de uma forma mais comedida. Os
principais formuladores desta política externa, incluindo o presidente Lula, passaram a
declarar para os países da região, assim como para os meios de comunicação do Brasil,
que a atuação financeira brasileira deveria respeitar a lógica de avaliação de riscos das
entidades públicas nacionais; assim como respeitar os seus trâmites técnico-
burocráticos
33
. O respeito a tais considerações estava pautado na defesa dos interesses
dos setores produtivos e econômicos brasileiros e na preservação dos recursos expostos
pelo BNDES no espaço sul-americano. O tom do discurso deveria substituir a conotação
de cooperação
para a afirmação de uma participação financeira do Brasil na América do
Sul.
Em que sentido entender como as configurações do sistema público brasileiro de
financiamento e suas condições infra-estruturais colaboram na elucidação dos esforços
deste capítulo? As respostas para esta pergunta são possivelmente cinco: na definição
dos freios e contrapesos aos anseios e objetivos políticos da ação internacional do
Brasil; no esclarecimento dos limites e possibilidades para a articulação BNDES-PEB;
31
Correio Brasiliense, 04/05/05. Diálogo a Vista.
32
Correio Brasiliense, 26/09/05. Mais Humilde.
33
Idem.
122
no entendimento de como ocorreram as alterações nas bases de apoio político regionais
aos projetos, propostas e perspectivas da diplomacia do governo Lula para a integração
regional; na ilustração dos contornos que redefiniram o discurso diplomático brasileiro;
e na orientação geral do modelo de participação e exposição financeira do Brasil. O
entendimento gradativo, por parte da diplomacia do governo Lula, de que instâncias
públicas de crédito do Brasil atuam de forma técnica e responsável, pôde colaborar para
estas redefinições e contornos gerais.
O ano de 2005 deu início a um processo de escalada de desentendimentos
regionais. O Brasil e a Argentina _ supostas locomotivas do processo de integração _
cultivaram mais conflitos que intenções comuns. O governo Lula perdeu peso regional,
atrapalhado pela crise interna que, de alguma maneira, deslocou o foco de atenção para
Chávez e o seu nascente modelo de cooperação financeira (Banco do Sul).
Item 2.5. Uma possível interpretação da estratégia diplomática argentina.
O contexto de tensões e embates comerciais entre os dois países no ano de 2006
permaneceu o mesmo. Em meio a estas questões, os problemas referentes à participação
e exposição financeira do Brasil na Argentina permaneceram iguais. Desentendimentos
comerciais no setor automotivo adensaram as tensões diplomáticas entre os sócios do
MERCOSUL. Para remediar as tensões e encontrar pontos comuns de entendimento, os
dois governos assinaram um acordo automotivo transitório que teria vigência de dois
anos
34
.
Quando referendado ao tema desta pesquisa, o ano de 2006 de concreto apresentou
a aprovação de um crédito de US$ 278 milhões do BNDES para elevar a capacidade de
transporte de gás das empresas Transportadora de Gás do Norte (TGN) e
Transportadora de Gás do Sul (TGS), que abastecem Buenos Aires
35
. Inserida nas
tentativas de entendimentos entre os dois governos, a FINAME passou a permitir a
entrada de equipamentos automotivos argentinos com um porcentual ainda mais elevado
de nacionalização; permissão esta também resultante do destacado acordo automotivo
mencionado. Esta medida beneficiou a indústria de autopeças argentina, já que permitiu
que até 60% dos componentes de um produto da indústria automotiva brasileira fossem
fabricados fora do próprio Brasil. Pelas regras anteriores, este limite era de 40%. A
34
O Estado de São Paulo, 27/06/06.
35
Vários veículos jornalísticos anunciaram a concretização desta linha de crédito, inclusive a reportagem
destacada na nota de rodapé acima.
123
FINAME, no entanto, passou a aceitar que até 20% dos componentes que sejam
efetivamente fabricados no bloco sejam considerados nacionais. Assim destacou a Folha
de São Paulo de julho de 2006
36
.
Quando analisado este relacionamento entre o Brasil e a Argentina com as lentes
da temática proposta, sugerimos esta interpretação: o governo Kirchner pressionou o
governo Lula a arcar com as suas promessas de recursos oriundos do BNDES para dar
maior dinamismo à reestruturação industrial do país platino. É possível entender que a
Argentina promoveu uma política de jogo duplo a partir dos contenciosos comerciais
que afetaram as relações comerciais dos dois sócios do bloco. As pressões decorrentes
das críticas feitas às iniciativas do governo Lula quanto ao tema da participação e
exposição financeira do Brasil na América do Sul também estão inseridas neste sentido.
Como adição a esse cenário de análise, a própria aproximação do governo
Kirchner junto ao governo Chávez da Venezuela foi fato que possibilita ilustrar esta
estratégia político-diplomática: o objetivo era extrair ganhos materiais concretos que
beneficiassem a Argentina. Vale destaque para o fato de a Venezuela comprar títulos da
dívida externa argentina ao longo dos anos destacados, além dos anúncios de
investimentos venezuelanos no país platino, principalmente na área energética.
Durante o ano de 2007 a Argentina manteve sua postura crítica para com as
propostas do governo Lula. Destacava os tímidos resultados concretos no sentido de
estruturar mecanismos cooperativos financeiros que implicassem em resultados
materiais estruturantes; principalmente tendo em vista a incipiente alocação dos
recursos do BNDES. As relações entre Brasil e Argentina estiveram circunscritas pelas
compras venezuelanas da dívida externa do país platino. Outra questão que circundou a
relação foi a aproximação do governo argentino junto à proposta financeira de Chávez
do banco do sul. Uma maior aproximação do governo Kirchner junto às propostas para
a criação do banco do sul pode ser entendida como sinalizações de interesses
alternativos para a área financeira diferentes aos das propostas do Brasil. De concreto
ocorreu, no ano de 2007, o aporte de US$ 200 milhões no FOCEM feitos pelo BNDES
de forma a estruturar o fundo de convergência estrutural do MERCOSUL
37
.
Item 3. Brasil-Uruguai. Da marginalização para a redefinição de postura.
36
Folha de São Paulo, 27/07/06. BNDES altera regras para financiar setor automotivo.
37
Agência Brasil. Lula destaca desafios do Mercosul ao abrir reunião no Rio. 20/01/2007
124
Em maio de 2003, o presidente uruguaio Jorge Battle viajou para o Brasil para
conseguir promessas mais concretas de investimentos no seu país
38
. No discurso de
Battle existia a notória necessidade de o seu país retomar o processo de recuperação de
sua economia e indústria. Naquele contexto de anúncio de prioridades para a integração
regional por parte de Lula, Battle alertou que o Brasil tinha condições de liderar o
processo de integração regional a partir da abertura de linhas de crédito do BNDES para
o seu país e os demais Estados da região. O governo brasileiro anunciou que iria liberar
recursos do BNDES para financiamento das exportações do Uruguai para o Brasil
dentro do PSCI. Battle declarou apoio ao pleito brasileiro para um possível assento
permanente no Conselho de segurança da ONU
39
.
Tabaré Vasquez venceu as eleições presidenciais em outubro de 2004. Em uma
das suas primeiras declarações como presidente ele expressou apoio ao presidente Lula
e às iniciativas de integração regional. Tabaré já declarava, num dos seus primeiros
discursos, a necessidade de o Brasil, via BNDES, investir em infra-estrutura elétrica em
seu país e dar, por sua vez, maior atenção aos membros menores do Mercosul. A nova
administração uruguaia demandava que o BNDES financiasse uma linha de transmissão
entre a subestação da futura hidrelétrica de Garabi até a hidrelétrica de Salto, no
Uruguai
40
. A falta de energia seria um dos grandes desafios para o governo de Tabaré
Vasquez.
As relações entre o Brasil e o Uruguai, durante o ano de 2004, no que conferem as
questões debatidas neste trabalho, puderam ser classificadas como pouco intensas. O
Uruguai foi, de certa forma, marginalizado nas questões que envolvem investimentos
brasileiros com recursos do BNDES. Nos anos seguintes o Brasil daria mais atenção a
este país em virtude do possível acordo comercial bilateral que o Uruguai sinalizava
fechar com os EUA.
A posição marginal do Uruguai, conferida pelas atenções da diplomacia brasileira,
implicou na escalada das reclamações do sócio do MERCOSUL. Em 2005, o Brasil
contabilizou um superávit de US$ 381,1 milhões com relação ao Uruguai. O conflito
das papeleras entre Uruguai e Argentina, assim como a possível assinatura do acordo
comercial com os EUA, poria o Uruguai novamente sob as atenções da ação
internacional brasileira dentro do tema da agenda financeira.
38
Correio brasiliense: Uruguai quer mais investimentos do Brasil, 12/05/2003.
39
Valor econômico, 15/05/03. BNDES financia exportação uruguaia.
40
Folha de São Paulo, Brasil deve se o primeiro destino de Tabaré.
125
Após proclamar durante meses sua insatisfação para com a falta de benefícios
dentro do bloco regional, o presidente Tabare Vázquez, em visita a Brasília, no mês de
março de 2006, conseguiu do governo brasileiro o compromisso para uma série de
investimentos em energia. Conseguiu um aporte de US$ 80 milhões (cerca de R$ 180
milhões) em projetos da Petrobrás no Uruguai e também obteve apoio do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a construção de uma
ponte sobre o limítrofe Rio Jaguarão e de um terminal no porto de Nova Palmira
41
.
Os embates com o Uruguai, principalmente em decorrência da possibilidade do
país firmar acordo de livre comércio com os EUA, representaram emblematicamente
esta insatisfação com relação à desatenção brasileira para com os sócios menores do
Mercosul. “O Brasil tem consciência de suas responsabilidades no seio do Mercosul.
Como maior economia do bloco, estamos decididos a promover políticas concretas de
distribuição equilibrada dos benefícios resultantes da integração regional”, disse
Lula
42
.
Dentre as sinalizações do governo brasileiro para uma melhora nas relações do
Brasil com o Uruguai no âmbito do Mercosul, Lula citou ações que visavam o equilíbrio
do bloco tais como: a criação do Fundo de Convergência Estrutural do MERCOSUL
(FOCEM), as negociações para o fim da dupla cobrança da Tarifa Externa Comum
(TEC) e a estratégia para atrair investimentos brasileiros para os sócios menores
(Uruguai e Paraguai).
Celso Amorim, acompanhado do então vice-presidente do BNDES, pediu ao
presidente Tabaré Vázquez um "crédito de confiança" do país vizinho ao Mercosul.
Nas palavras de Amorim "New deal" e "ação afirmativa" foram expressões repetidas
para definir a missão brasileira. O objetivo declarado da viagem de Amorim foi trazer
aos uruguaios sinais de que poderiam obter vantagens concretas como sócios plenos do
bloco tais como: financiamento produtivo, maior acesso ao mercado brasileiro e
cooperação técnica na área de energética. A missão do Chanceler brasileiro foi feita em
meio a críticas do presidente uruguaio dizendo que o Mercosul como está “não serve”
aos sócios menores; além da ameaça que o possível acordo comercial com os EUA
postulava para as manobras da diplomacia brasileira na região. Assim destacou a Folha
de São Paulo de junho de 2006
43
.
41
Correio Brasiliense, 17/03/06. Petrobrás investira R$180 milhões no Uruguai.
42
Idem.
43
Folha de São Paulo, 24/06/06. Brasil pede ao Uruguai um crédito para o Mercosul.
126
Está sugerido desta situação que a política de participação financeira com
investimentos brasileiros na região foi insatisfatória para o Uruguai. As discordâncias
do ponto de vista das relações desgastadas dentro do MERCOSUL pressionaram o
Brasil a assumir certas posturas mais destacadas para com os sócios menores do bloco.
Os anúncios e promessas de créditos do BNDES para investimentos no Uruguai
sugerem o início de uma reformulação de postura do governo Lula para com o país.
Outro fator que provocou essa reorientação inicial deu-se, também, em virtude da
possibilidade do estabelecimento do acordo Uruguai-EUA. Este cenário indica que o
Banco, a partir dos seus recursos, passou a ser integrado nas questões próprias da
política externa do governo Lula.
A morosidade na liberação dos créditos do BNDES, como caracterizamos, atua
negativamente na desarmonia entre as questões próprias, anseios e preocupações da
política externa brasileira na região. Contornar esta problemática foi um dos grandes
desafios da Política Externa do governo Lula na América do Sul para o tema destacado.
Na cúpula dos presidentes do MERCOSUL, realizada na cidade de Córdoba em 2006,
as críticas do Uruguai foram intensificadas quando referidas à participação e exposição
financeira brasileira. Dessa pressão política, Lula sugeriu que fossem revistas algumas
regras do BNDES para que pudessem ser dinamizados os investimentos privados
brasileiros naqueles países
44
.
Apesar de os impactos políticos terem afetado os anseios e as demandas do
presidente brasileiro para que novas regras fossem alteradas no BNDES, nenhuma
iniciativa concreta foi observada até aquele ano. Outro fator que determinou o contorno
da destacada desarmonia é o pequeno peso econômico do Uruguai para os interesses
econômicos e comerciais dos setores produtivos do Brasil.
As atenções do governo brasileiro para com o Uruguai foram reavaliadas no ano
de 2007. A razão principal para esta redefinição de postura decorreu da necessidade de
atender os calculos de ordem político-diplomáticas que se estruturavam
contextualmente. Ainda pairava o risco de o Uruguai associar-se com os EUA em um
possível acorco comercial bilateral. No campo das temáticas financeiras, o presidente
Lula, em visita ao Uruguai em fevereiro de 2007, destacou a retomada das atividades do
Banco do Brasil no país e a associação do BNDES com o banco de desenvolvimento
uruguaio BROU
45
. A cooperação com o BROU inseriu-se no modelo típico das
44
O Globo, 20/07/06. Paraguai e Uruguai: insatisfação com o Mercosul.
45
Valor Econômico. BB volta ao país e BNDES abre linhas de crédito. 26/02/2007.
127
associações entre o BNDES e os seus agentes financeiros repassadores (bancos
privados) no Brasil; ou seja, o BNDES repassa os seus recursos para o BROU e este,
por sua vez, recebe um spread do banco brasileiro de forma a arcar com os custos de
garantias e seguros. Este modelo de associação representa uma outra faceta da estrutura
participativa e expositiva financeira do Brasil. No geral, os anúncios de recursos do
BNDES para o Uruguai giraram na casa de US$ 240 milhões (Idem). De significativo,
foi verificada a associação BNDES-BROU, que também tinha por objetivo a defesa dos
interesses comerciais do Brasil no Uruguai.
A abertura das operações do BNDES no Uruguai ocorreu no dia 18 de dezembro
de 2007. A efetiva operação do escritório do BNDES no país foi, também, averiguada
como medida para fomentar os investimentos brasileiros em projetos de infra-estrutura.
A medida adotou a estratégia, angariada e levantada pelo presidente Lula, de instalar no
sócio menor do bloco o referido escritório com objetivos de demonstrar ações esfetivas
por parte do governo brasileiro para amenizar as assimetrias estruturais dos países do
Mercosul
46
.
A iniciativa que concretizou a instalação do escritório do BNDES implicou na
mudança do estatudo social do banco. Um dos fatores que definem o ano de 2007 como
marco final para a pesquisa é justamente esta medida tomada no banco. Tal fato
decorreu da verificação das novas atribuições dadas ao sistema BNDES para o tema
financeiro regional. Seguem as novas atribuições do BNDES no artigo nono do seu
estatudo:
Art. 9º O BNDES poderá também: II – financiar a aquisição de ativos e
investimentos realizados por empresas de capital nacional no exterior, desde que
contribuam para o desenvolvimento econômico e social do País; V – efetuar
aplicações não reembolsáveis, destinadas especificamente a apoiar projetos,
investimentos de caráter social, nas áreas de geração de emprego e renda, serviços
urbanos, saúde, educação e desportos, justiça, alimentação, habitação, meio
ambiente, recursos hídricos, desenvolvimento rural e outras vinculadas ao
desenvolvimento regional e social, bem como projetos de natureza cultural,
observadas as normas regulamentares expedidas pela Diretoria; VI – contratar
estudos técnicos e prestar apoio técnico e financeiro, inclusive não reembolsável,
para a estruturação de projetos que promovam o desenvolvimento econômico e
46
Valor Econômico. BNDES negocia com Fazenda aporte de R$ 30 bilhões. 19/12/2007.
128
social do País ou sua integração à América Latina
47
; VII – realizar, como entidade
integrante do sistema financeiro nacional, quaisquer outras operações no mercado
financeiro ou de capitais, em conformidade com as normas e diretrizes do Conselho
Monetário Nacional (BNDES, Legislação básica do sistema BNDES, p. 24).
Item 4. Brasil-Paraguai. Um tratamento marginal para o Paraguai.
O presidente Nicanor Duarte Frutos visitou o Brasil em 29/05/03; período de
muitas visitas de presidentes dos países da América do Sul ao Brasil. Lula anunciou
aberturas de linhas de crédito do BNDES para o Paraguai, mas, como contrapartida,
exigiu que o Paraguai se empenhasse na luta contra a pirataria e o contrabando
48
.
No mês de outubro de 2003, o presidente paraguaio fez nova visita oficial que
resultou em acertos sobre a segunda ponte sobre o Rio Paraná, além de projetos de
construção e reformas de rodovias paraguaias. Foi salientado, por parte do governo
brasileiro, que as relações que se processavam com o Paraguai estiveram inseridas na
almejada concretização da via que ligaria o Brasil ao Pacífico. A outra vertente da
assinatura dos projetos, que contaram com a promessa de financiamento pelo BNDES,
esteve inserida no contexto de busca de apoio político, por parte da diplomacia
brasileira, para unir o MERCOSUL em torno das discussões da ALCA; além do pleito
brasileiro para o Conselho de Segurança da ONU. Nicanor Duarte Frutos salientou
positivamente para a política de Lula para a integração regional, além de ter enfatizado
o apoio ao ingresso do Brasil no CS.
Nicanor Duarte Frutos fez questão de destacar a postura do presidente brasileiro
diante do MERCOSUL: ‘‘nenhum bloco econômico se move eminentemente por
critérios econômicos. Não temos apenas um presidente amigo. Temos também um
presidente que está impulsionando a humanização das relações internacionais’’
49
. Essa
era a tônica inicial paraguaia para o apoio ao presidente brasileiro no ano de 2003.
Em dezembro de 2004, no contexto da cúpula do MERCOSUL realizada em Belo
Horizonte, Brasil e Paraguai assinaram contratos de investimentos brasileiros nas áreas
de álcool e infra-estrutura rodoviária. A idéia seria ampliar o comércio e transferir
tecnologia brasileira de destilo de álcool para o Paraguai. Os temas do combate ao
47
Fonte: Legislação Básica do Sistema BNDES. Itens II, V, VI e VII dados pelo Decreto nº 6.322, de 21
de dezembro de 2007.
48
Correio brasiliense. Brasil condiciona ajuda ao Paraguai 29/05/2003.
49
Correio Brasiliense, 15/10/03. Nova ponte unirá Brasil e Paraguai.
129
contrabando e à pirataria estavam inseridos na arena de discussões dos dois países. Após
o Paraguai ter anunciado manobras efetivas de combate nestas questões, ocorreram as
melhorias no tema da cooperação, participação e exposição financeira brasileira naquele
país
50
. Ademais as poucas e parcas relações para estes assuntos, o Paraguai, no ano em
destaque, não foi palco de maiores interesses e atenções da diplomacia de Lula.
O ano de 2005, por sua vez, foi marcado pelo afloramento das tensões com o
Paraguai em vários pontos. De uma condição de proximidade entre os dois países nos
dois primeiros anos destacados, o Paraguai ocupou uma condição de ponto nevrálgico
para a diplomacia brasileira. Dentre as questões mais emblemáticas temos: as
insatisfações paraguaias com relação ao Brasil, decorrentes da relutância e da lentidão
brasileira em liberar os recursos do BNDES; a tensão com relação à segunda ponte da
amizade, obra que teria o financiamento do BNDES
51
e que não saiu do papel; e o
avanço da presença americana com a visita de Donald Rumsfeld ao Paraguai.
Naquele contexto, o presidente paraguaio Duarte Frutos anunciou que iria propor a
revisão do tratado para fornecimento da energia gerada pela usina de Itaipú. As críticas
foram feitas em tons de que o acordo fora assinado por “traidores da pátria”, e o Brasil
estaria espoliando o Paraguai ao pagar “apenas” US$ 270 milhões anuais pela energia.
No sentido de apaziguar as críticas paraguaias, o governo anunciou que o FOCEM,
criado em 2005, no âmbito do MERCOSUL, um fundo para financiar projetos de infra-
estrutura e investimentos industriais com o objetivo de aumentar as exportações
paraguaias, seria posto a serviço dos sócios menores do bloco. O fundo teria US$ 100
milhões, 70% dos quais sairiam do Orçamento brasileiro a fundo perdido. Brasília
recebeu informações, atribuídas ao vice-presidente paraguaio, Luis Castiglioni, de que o
Paraguai não estaria disposto a aceitar “migalhas” do Brasil
52
.
No mês de agosto de 2005, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald
Rumsfeld, fez uma visita surpresa ao Paraguai. Aproveitou o palanque oferecido por
Duarte Frutos para criticar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Em seguida,
vazaram para a imprensa que os EUA teriam oferecido cerca de US$ 400 milhões para
projetos de cooperação militar com o Paraguai
53
. Tal questão colocou a diplomacia
brasileira em alerta, haja vista o perigo que o avanço norte-americano na região poderia
implicar para o jogo político e diplomático regional.
50
O Globo, 27/08/04. Paraguai receberá verba do Brasil para combater a pirataria.
51
Correio Brasiliense, 05/09/05. O fator Paraguai.
52
Idem.
53
Idem.
130
Sugere-se, como pode ser observado pela trajetória da análise desta política
externa, que o apoio aos planos e as diretrizes para a integração regional carreados pela
diplomacia brasileira sofreu mudanças e reavaliações por parte dos Estados da região
em destaque. O Paraguai formou, a partir do ano de 2005, parte do coro que alardeava
fortes críticas e insatisfações para com a morosidade na real liberação dos recursos do
BNDES para os investimentos brasileiros nas suas economias. Também iniciou críticas
e questionamentos a real capacidade e vontade do Brasil de arcar com os custos que o
projeto de prioridade para a integração regional implicaria.
Segundo a Gazeta Mercantil de junho de 2006
54
, Amorim visitou o Paraguai e o
Uruguai em período que antecedeu o encontro de cúpula do MERCOSUL daquele ano.
Tal encontro visou amenizar os descontentamentos dos sócios menores do bloco com
relação ao descaso dos sócios maiores. Amorim fez esta visita no contexto do avanço
político de Chávez de compras de títulos e fornecimentos de créditos aos países da
região. O governo paraguaio manteve o tom de reclamações feitas ao governo brasileiro
em virtude da condição marginal com que o Paraguai foi relegado dentro do
MERCOSUL.
Para os desafios da Política Externa de Lula, o Paraguai, no ano de 2006, juntou-se
à Argentina no que confere ao estreitamento mais próximo para com as orientações da
Venezuela na temática financeira. É possível, dessa forma, destacar a complexidade do
imbróglio referente aos temas da cooperação, participação e exposição financeira
brasileira: críticas à retórica do governo Lula na sua declarada política de prioridade da
integração regional, o próprio avanço de Hugo Chávez na região e os pesos
diferenciados dados para cada relação bilateral.
As relações do Brasil com o Paraguai se mantiveram nas limitadas ações e
correlações financeiras. No início do ano de 2007, uma tímida doação de vinte milhões
de reais caracterizou a participação, cooperação e exposição financeira do Brasil no
Paraguai
55
. No geral, somente foram verificadas promessas para a execução de obras de
transmissão elétrica no Paraguai com recursos do BNDES a serem executadas por
empresas brasileiras. Mas nada de concreto foi verificado. Foram mantidos os atritos
dos dois países no tema do pagamento dos excedentes da usina de Itaipú. O Paraguai, a
exemplo do Uruguai, não era palco de interesses substanciais dos setores econômicos do
54
Gazeta Mercantil, 23/06/06. Amorim em ofensiva por união no Mercosul.
55
Estado de São Paulo. Brasil doa R$ 20 milhões ao Paraguai, 09/01/2007.
131
Brasil, fato que caracteriza, possivelmente, para a relativa marginalização com que
ambos foram tratados.
Item 5. A Venezuela: um tratamento diferenciado e a intensificação das relações
bilaterais Brasil-Venezuela.
Em abril de 2003 Brasil e Venezuela assinaram a “ata de Recife”; dentre as várias
questões discutidas, as mais importantes foram com relação ao avanço do projeto IIRSA
e os investimentos privados brasileiros feitos a partir das linhas de crédito para
exportações do BNDES. Projetos direcionados para a área de energia e petróleo, a
serem executados na Venezuela, foram o foco das iniciativas. Foram firmados contratos
com a Petrobrás e a PDVSA para a cooperação energética. Ademais, a comissão de alto
nível Brasil-Venezuela (COBAN) foi reativada para intensificar as relações bilaterais.
A acentuada aproximação com a Venezuela pôde ser explicada, conjunturalmente,
em decorrência de possíveis afinidades ideológicas; mas o fato mais importante foi a
pertinência econômica da Venezuela para os interesses comerciais do Brasil. Interesses
esses que, de fato, resultaram em números expressivos para o comércio bilateral cursado
dentro do sistema CCR-Aladi. No mês de agosto de 2003 o governo brasileiro anunciou,
em Caracas, a abertura de uma linha de crédito de US$ 1 bilhão do BNDES para
financiar projetos de exportação de bens de serviço e de capital para a Venezuela
56
.
Segundo o Ministro Luiz Fernando Furlan (Ministro do MDIC na época), que
integrou a comitiva de Lula à Venezuela, “o Ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda)
determinou ao Banco Central a revisão dos CCR (Convênios de Créditos Recíprocos)
para cobrir eventuais faltas de garantias
57
; estratégia empreendida no âmbito do
Ministério da Fazenda para fazer valer os contornos políticos e econômicos que se
desenhavam entre os dois países. Vale destaque para a aceitação rápida por parte da
Venezuela em ampliar o seu próprio CCR como ferramenta garantidora dos
investimentos brasileiros. O acerto deu-se depois de algumas reticências por parte do
BNDES com relação à proposta venezuelana de garantir os recursos do banco brasileiro
com o oferecimento de petróleo venezuelano
58
. Como resultado desses primeiros
movimentos, o governo da Venezuela disponibilizou 200 milhões de dólares a serem
cobertos pelo seu BC para garantias aos investimentos em seu território.
56
Folha de São Paulo, BNDES anuncia crédito de R$ 1 bi 27/08/2003.
57
Acarretou na já destacada resolução CAMEX nº 44, de 23 de dezembro de 2003.
58
Folha de São Paulo. Venezuela não recebe crédito de US$ 1 bilhão 28/10/2003.
132
O cenário político no qual foram feitos os anúncios do crédito deu-se no contexto
da elaboração do futuro referendo que iria confirmar a permanência de Chávez no
poder. Referendo sugerido e apoiado pelo Brasil numa clara demonstração de apoio a
Chávez inserido em uma situação política tensa na Venezuela.
A diretoria do BNDES aprovou, em ação concreta, naquele ano, os primeiros
empréstimos do banco estatal de fomento a projetos de integração física na América do
Sul a serem executados em um território estrangeiro pela iniciativa privada brasileira.
Tratou-se do projeto da hidrelétrica El Vultuosa, com capacidade de 514 MW. Os
valores totais anunciados pelos jornais da época revelaram o montante de US$ 155
milhões para o fornecimento de equipamentos e serviços pela Alstom do Brasil. O
projeto previa ainda a modernização das usinas hidrelétricas General José Antonio Paez
(80 MW), no montante de US$ 7,5 milhões, e de San Agaton (300 MW), no valor total
de US$ 12,5 milhões
59
. O pacote de financiamentos às hidrelétricas venezuelanas esteve
inserido no acordo-quadro firmado entre os governos Lula e Chávez, concedendo linha
de crédito brasileira de até US$ 1 bilhão para negócios com a Venezuela. A rápida
viabilização dos recursos do BNDES para os investimentos brasileiros na Venezuela foi
explicada pela rápida aceitação venezuelana em garantir os investimentos a partir da
ampliação do seu CCR para a ordem de US$ 200 milhões de dólares por projeto.
As relações com a Venezuela foram marcadas por fortes movimentos de
aproximação política, financeira e comercial. Fatores esses que confeririam à
Venezuela, no final de 2007, a condição de maior parceiro comercial do Brasil dentro da
lógica de cobertura dos investimentos feitos pelo sistema CCR-Aladi. Esse resultado foi
possível já que a Venezuela, apesar do tom crítico a ser denotado para o Brasil como
iremos destacar, se comprometeu em colaborar com as propostas e demandas do modelo
brasileiro de participação e exposição financeira.
Outro investimento concreto brasileiro naquele país foi feito pela Odebrecht. A
Odebrecht assinou um contrato de US$ 137 milhões para construir uma represa de
irrigação na região oeste da Venezuela. “O projeto que será financiado, em parte, pelo
BNDES. E há negociações para que o Brasil financie a construção de uma nova usina
de açúcar na Venezuela
60
.
Sugere-se que a explicação para a aceitação rápida do governo venezuelano em
cobrir as garantias dos investimentos brasileiros a partir do seu BC deve-se ao caráter
59
Gazeta Mercantil. 03/12/03. “Recursos para usinas na Venezuela e Equador”.
60
Gazeta Mercantil, 27/08/03. Brasil abre credito de 1 bilhão de dólares para a Venezuela.
133
institucional e político do Estado venezuelano para os temas monetários, fiscais e
financeiros. O governo Chávez não atua economicamente dentro de parâmetros de
responsabilidade fiscal, tampouco depende de uma boa avaliação por parte das empresas
de rating internacionais para que a sua economia tenha acesso a crédito no mercado
internacional de forma mais barata. Nesse sentido, em decorrência da própria linha
política de seu governo, as decisões de ordem político-econômica não respeitam
instâncias tão complexas e economicamente imbricadas quanto às de países como
Brasil. Em outras palavras, o banco central da Venezuela pode ser posto a serviço dos
interesses econômicos e políticos de Chávez de forma a garantir com os seus recursos
investimentos privados estrangeiros (brasileiros) em seu território; isso, tendo-se em
conta o cenário de euforia com que eram vistas as propostas e perspectivas de
relançamento das iniciativas de integração regional.
Todos esses projetos foram cursados no CCR com garantias para riscos comerciais
e políticos. Foram os primeiros projetos de financiamento a usufruírem das novas
condições do CCR. Condições sem restrições de limites de prazo e valor, e classificados
como risco nível 1, o mais baixo do ranking da Seguradora de Crédito à Exportação,
como explicado no capítulo anterior
61
, anunciadas pelo governo na sua relação com a
Venezuela.
Relações amistosas; entendimentos rápidos acerca do mecanismo CCR-Aladi para
a viabilização dos recursos do BNDES; concretização de investimentos brasileiros já no
ano de 2003; restabelecimento da COBAN; e apoio brasileira para o referendo que
manteve Chávez no poder foi o conjunto de fatores que deu o tom da relação bilateral.
De fato, o ano de 2003 revelou importantes fatores que contribuiriam de forma positiva
para os resultados materiais concretos que serão verificados no próximo capítulo. Tais
resultados são suficientes para afirmar que a Venezuela representou em termos
comerciais o maior parceiro individual do Brasil dentro do CCR-Aladi. Ademais, foi o
país que melhor atendeu as demandas que o modelo de participação e exposição
financeira do Brasil na região encerra em si.
Item 5.1. A presença econômica crescente na Venezuela e o início de algumas
tensões diplomáticas.
61
Resolução 44 da CAMEX.
134
Em abril de 2004 o BNDES aprovou dois financiamentos no valor de US$ 194,6
milhões para o governo da Venezuela. Os recursos destinaram-se aos projetos de
irrigação de El Dilúvio-Palmar, em Maracaibo, no Noroeste do país, e para a linha 3 do
Metrô de Caracas. Os empreendimentos envolveram, até a data da confecção deste
trabalho, a exportação de bens e serviços pela Construtora Norberto Odebrecht S/A
(CNO), responsável pela obra
62
. O BNDES esperou a confirmação por parte da
Venezuela da utilização do sistema CCR como forma de garantir os recursos do banco
logo da insistência venezuelana em garantir os empréstimos para os investimentos com
o oferecimento de petróleo. Foi acordado que na eventualidade de o governo de Hugo
Chávez ficar inadimplente no CCR, o BNDES estaria coberto pelo Fundo de Garantia à
Exportação (FGE), que é formado por recursos do Tesouro Nacional
63
.
O FGE, que dá cobertura contra riscos políticos (acima de dois anos), é operado
pela Seguradora Brasileira de Crédito à Exportação (SBCE). Portanto, como destacado
no capítulo “novas estratégias de financiamento público das exportações brasileiras”, o
governo brasileiro, a partir dos seus mecanismos garantidores dos recursos públicos,
ficou blindado financeiramente no que diz respeito às garantias com os seus recursos na
Venezuela.
Tal fato colabora com a afirmação geral da tese de que o modelo brasileiro de
participação e exposição financeira na América do Sul está estruturado pela lógica
nacional de financiamento. Por adição, essa lógica está amparada por marcos de
reduções de riscos dos créditos nacionais expostos além fronteira. Essa constatação
revela o viés pragmático e técnico do modelo proposto pelo governo brasileiro dentro
das iniciativas de integração regional. Nesse sentido, o formato da lógica conferida para
a liberação dos recursos do BNDES resulta da condição “infra-estrutural”, institucional,
legal e financeira do país. Como conseqüência direta, esse formato define os limites e as
possibilidades para a participação do BNDES na PEB; assim como reforça melhor o
entendimento do modelo de participação e exposição financeira do Brasil na região.
Uma das projeções gerais que esta análise de política externa observou é com
relação às recorrentes reclamações dos países devido à demora na real alocação dos
recursos do banco para os investimentos privados brasileiros nos seus territórios. Com
relação à Venezuela não foi diferente; isso apesar dos volumosos investimentos
brasileiros conduzidos no país. Em meados de junho de 2004 autoridades venezuelanas
62
Valor econômico, 07/04/04. BNDES aprova verba para Odebrecht na Venezuela.
63
Idem.
135
começaram a questionar a validade das promessas de recursos anunciados, revelando,
inclusive, desconfianças com relação às promessas que foram classificadas como
vazias
64
. A despeito do início das reclamações venezuelanas, o ano de 2004 se
caracterizou por profundas aproximações comerciais e diplomáticas. Recursos do
BNDES foram de fato alocados como resultado de uma aproximação política e
coordenada entre os dois países. Conversações intensas acerca da colaboração e
intercâmbio energético marcaram essas aproximações no contexto da crise política
venezuelana de 2004 e da intermediação brasileira no referendo que manteve Chávez no
poder.
No contexto da cúpula do grupo do Rio, em novembro de 2004, Brasil e
Venezuela anunciaram planos para criação de um novo fundo para o comércio bilateral.
O fundo deveria ser constituído com recursos do BNDES, de bancos venezuelanos e da
Corporação Andina de Fomento (CAF), mas não avançou concretamente (O Globo,
04/11/04). O fundo, como anunciado, poderia ter, inicialmente, US$ 300 milhões e
financiar operações comerciais até o teto de US$ 1 bilhão. O fundo pretendia dar novo
impulso para o comércio bilateral, já que o patamar máximo de créditos garantidos
pelos dois países a partir do sistema CCR já estava esgotado (atingiu o pico de 200
milhões de dólares por projeto). Esgotados os limites de coberturas do sistema CCR
para cada projeto, ficou patente a necessidade de proceder novas conversações acerca de
um novo mecanismo para estruturar mais fundos de investimentos e de garantias.
65
O
tema das discussões do fundo bilateral girou em torno das garantias, segundo Carlos
Lessa “O grande problema do comércio não é quem financia, é quem garante aquele
que financia"
66
. Destacou conjunturalmente.
O ano de 2004, assim sendo, foi marcado pela aproximação política e comercial;
pelas discussões e planos de cooperação energética; pela intermediação brasileira no
referendo que manteve Chávez no poder; pela discussão de novos fundos conjuntos de
cooperação financeira para investimentos mútuos; e pela presença sempre crescente de
empresas brasileiras em território venezuelano. Indícios de reclamações venezuelanas
foram anunciados e tornaram-se mais intensos nos anos seguintes.
Item 5.2. A aliança pragmática.
64
Folha de São Paulo, 22/06/04. Painel S/A.
65
O Globo, 04/11/04. Brasil e Venezuela discutem pacote comercial. Folha de São Paulo, 04/11/04.
Fundo Brasil-Venezuela deve existir, diz Lessa.
66
Idem.
136
O ano de 2005 verificou uma relação bilateral intensa e amistosa com avanços
substanciais na área comercial e nas propostas mais aprofundadas de cooperação
financeira. O apoio político que Lula recebeu de Chávez no contexto do escândalo do
mensalão ilustrou algumas dessas aproximações para a tônica da relação entre os dois
países.
Em fevereiro de 2005 os presidentes Chávez e Lula assinaram em Caracas uma
série de acordos - que os diplomatas chamaram de "aliança pragmática" - em áreas
prioritárias das suas economias - infra-estrutura, mineração, siderurgia,
telecomunicações, comércio, ciência e tecnologia, desenvolvimento agrário, entre
outras
67
. Com a 8.ª Reunião da Comissão Binacional de Alto Nível Brasil-Venezuela,
realizada no Itamaraty, objetivou-se finalizar os projetos assinados e acertar um acordo
para evitar a bi-tributação de pessoas físicas e jurídicas que atuam economicamente nos
dois países. Desta reunião importantes decisões foram tomadas de forma a viabilizar
projetos entre a PDVSA e a Petrobrás no nordeste brasileiro; projetos estes estruturados
para a construção de uma usina de refino de petróleo. A obra estava estimada em dois
bilhões de dólares
68
e teve início efetivo de sua construção no ano de 2007.
Conjunturalmente, os debates em torno do financiamento da obra estavam
centrados nas restrições impostas pelos acordos da Basiléia; os acordos limitavam que
os montantes dos recursos dos bancos aplicados a uma obra não poderiam superar 25%
do patrimônio líquido da instituição (Idem). Segundo o jornal Gazeta Mercantil
(15/02/05), o BNDES não interpretou esta condicionante como fator que impedisse o
projeto; em última instância, os recursos poderiam ser oferecidos a uma terceira
instituição financeira que entrasse no projeto e dividisse os riscos.
Do 1 bilhão de dólares anunciado pelo BNDES nas linhas de créditos para
investimentos privados brasileiros naquele país, o banco desembolsou até essa fase
cerca de US$ 219 milhões em empréstimos (21,9%) para financiar as exportações de
serviços brasileiros de engenharia e construção destinados para os projetos nas áreas de
infra-estrutura e energia
69
. Dentre as afirmações que justificavam a suposta lentidão na
remessa dos recursos, o fato de os projetos serem de longo prazo implicava em uma
alocação gradativa dos recursos conforme as construções das instalações e plantas
ocorriam.
67
O Estado de São Paulo, 11/02/05. Lula e Chávez acertarão aliança pragmática.
68
Gazeta Mercantil, 15/02/05. BNDES não vê obstáculos para participar do projeto.
69
Folha de São Paulo, 12/02/05. BNDES libera 22% dos recursos para a Venezuela.
137
De concreto três projetos foram contemplados até aquele momento: a ampliação
da linha 3 do metrô de Caracas (US$ 78 milhões), a usina hidrelétrica de La Vultosa
(US$ 121 milhões) e a compra de 22 colheitadeiras produzidas no Brasil (US$ 19,9
milhões)
70
. Todos esses projetos foram financiados com recursos do BNDES dentro da
iniciativa do PSCI (Idem). A Venezuela, conforme se intensificavam as relações
comerciais, ampliou o seu CCR para viabilizar a entrada de mais investimentos
brasileiros, fato que resultou na ampliação dos créditos do Brasil na Venezuela
(exportações brasileiras para a Venezuela).
O Itamaraty, ainda em fevereiro de 2005, discutiu questões importantes acerca da
cooperação no âmbito do Programa de substituição competitiva das importações
(PSCI). Foram firmados contratos para a compra de aviões comercias e de guerra da
Embraer por parte da Venezuela. O acordo comercial resultaria na aquisição pela
Venezuela de 12 caças de treinamento de combate, os AMX-T, e 24 Super Tucanos,
ambos produzidos pela Embraer, e alguns helicópteros da FAB. Com a decisão política
de Chávez de comprar os aviões do Brasil, os países discutiram o financiamento da
operação -US$ 300 milhões (R$ 786 milhões) para os AMX-T e, numa primeira fase,
US$ 170 milhões (R$ 445,4 milhões) para os Super Tucano. As fontes de mídia
anunciaram que a operação seria financiada via BNDES, embora acertos para garantias
ainda não estivessem definidos. Outra opção de financiamento seria por meio do
Bandes, uma espécie de BNDES venezuelano, ou uma composição entre as duas
instituições
71
.
Ao que tudo indica, de acordo com o material pesquisado, vários dos projetos e
acordos feitos sob o manto da aliança pragmática ficaram engavetados por falta de
entendimento com relação ao formato dos mecanismos de garantias envolvidos nas
transações financeiras. Esse fato inviabilizou a compra dos aviões, assim como a
construção da anunciada ponte sobre o Rio Orinoco. Além do projeto de recuperação de
aviões Tucano da FAV
72
; a exportação de 225 vagões ferroviários; a venda de radares
70
Idem.
71
Folha de São Paulo, 14/02/05. Venezuela quer aviões militares do Brasil.
72
Os jornais pesquisados da época salientavam que os acordos e contratos referentes às vendas dos aviões
e helicópteros brasileiros para a Venezuela estavam, também, sendo prejudicados pelas pressões dos
EUA. Os norte-americanos alegavam que componentes dos aviões tinham tecnologia americana em
virtude dos acordos tecnológicos entre o Brasil e os EUA. Não seria permitido, portanto, que a venda
dos equipamentos para o país de Chávez fossem concretizadas em vista do acordo com o Brasil.
138
para o sistema de vigilância aérea venezuelano; e a exportação de bens e de serviços
para o projeto de abastecimento de água El Pilar
73
.
Em meio à crise política enfrentada por Lula em agosto de 2005 decorrentes dos
escândalos do Mensalão, Chávez chegou ao Brasil para expressar apoio ao presidente
brasileiro. Fez questão de identificar o seu gesto como demonstração de agradecimento
com relação à intermediação brasileira no caso do referendo de 2004 que o garantiu no
poder. Levou adiante conversações acerca da construção de uma refinaria em
Pernambuco. Na ocasião daquela visita, a oposição de Lula criticou o gesto de Chávez
alegando que era fato inoportuno e politicamente orientado
74
. Em 30 de Setembro de
2005, no Estado de Pernambuco, foi anunciada a decisão final, com a presença dos
presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, da Venezuela, para dar início
para os projetos da construção de refinaria no complexo do porto de Suape
75
.
Durante o ano de 2005 não foram verificadas críticas acentuadas, por parte do
governo venezuelano, com relação ao modelo de participação e exposição financeira
proposto pelo Brasil. Tampouco foi questionada a iniciativa diplomática de Lula no que
diz respeito a sua declarada política de prioridade para a integração regional.
Aprofundaram-se efetivamente os laços comerciais; fato que conferiu à Venezuela a
condição de maior parceira comercial do Brasil e, ao mesmo tempo, o maior receptor de
investimentos brasileiros via recursos do BNDES e outras fontes cursados no âmbito do
CCR-Aladi. Esse cenário de calmaria iria sofrer significativa mudança no ano de 2006.
Chávez se juntaria a Kirchner para questionar a referida postura do Brasil para com a
integração regional e o tema financeiro.
As críticas se centraram no ataque à capacidade material e política do Brasil de
liderar o processo de construção dos laços integradores a partir das questões de ordem
financeira. Chávez promoveu uma política de destaque para uma possível posição de
líder regional, propondo, para isso, cooperação financeira mais agressiva e
politicamente orientada. Ademais, deu início a novas conversações acerca de bancos
regionais de créditos alternativos aos já existentes e em operação, como a própria CAF.
Tal postura colocou mais pressão para a redefinição do discurso diplomático brasileiro
para esta temática; assim como pôs a Venezuela na condição de um dos novos desafios
da Política Externa de Lula na América do Sul.
73
O Estado de São Paulo, 15/02/05. Falta de financiamento deixa negócios na gaveta.
74
Correio Brasiliense, 11/08/05. Chávez vem dar apoio.
75
Gazeta Mercantil, 30/09/05. Para corrigir o desequilíbrio regional.
139
Item 5.3. O gasoduto e a revisão do discurso da diplomacia brasileira.
Apesar do posicionamento de Chávez mais acentuado na América do Sul, e a
despeito de suas críticas ao modelo de cooperação financeira proposto pelo Brasil, as
relações comerciais bilaterais se intensificaram. Em janeiro de 2006 os presidentes dos
dois Estados deram início nas conversações acerca do que seria o projeto do gasoduto
do Sul
76
. Projeto este anunciado e proposto pela iniciativa de Hugo Chávez a partir da
idéia de que uma obra infra-estrutural de grande porte estabeleceria laços integradores
mais sólidos e, portanto, mais custosos de serem rompidos. Uma integração infra-
estrutural nesses parâmetros intensificaria as interdependências entre os Estados da
região, fato que relegaria à integração regional uma condição sempre constante de
interdependências de ordem comercial e infra-estrutural.
No tocante à intensificação das relações comerciais bilaterais, os países retomaram
as negociações acerca da venda de petroleiros brasileiros para a PDVSA. A PDVSA
encomendaria 36 navios de grande porte a estaleiros brasileiros
77
. De acordo com os
jornais da época, as obras consumiram investimentos estimados em US$ 3 bilhões,
segundo o Sinaval (Sindicato Nacional da Indústria Naval e Offshore), entidade que
reúne os estaleiros.
Para conseguir a encomenda, o governo brasileiro se comprometeu a financiar a
construção dos navios com recursos do BNDES. O banco, de acordo com o Sinaval,
concederia o empréstimo diretamente ao comprador dos navios (no formato da linha
buyer’s credit). No caso a PDV Marina, braço logístico da PDVSA, seria a beneficiária
do crédito do banco. Dentro do acordo devemos salientar a promessa de transferência de
tecnologia para a Venezuela na área de construção naval
78
; e a atuação do BNDES
como fomentador dos empréstimos diretos ao comprador venezuelano (não ao
exportador brasileiro) de produtos de alto valor agregado da estrutura produtiva do
Brasil
79
.
Na contramão da intensificação comercial bilateral, surge a crítica ao modelo
financeiro de investimentos mútuos do Brasil. O avanço de Chávez na América do Sul
76
Correio Brasiliense, 20/01/06. Presidentes discutem gasoduto. “O traçado para o gasoduto desceria do
Caribe até as cidades venezuelanas de Puerto Ordaz e Santa Elena de Uairén, na fronteira com o Brasil;
deste local seguiria para Manaus, onde se dividiria em dois ramos: um até o Nordeste brasileiro (Recife)
e outro até Brasília, de onde desviaria para o Rio de Janeiro e prosseguiria até o Uruguai e a Argentina.
77
Folha de São Paulo, 09/03/06. Venezuela quer navios da Petrobras.
78
Idem.
79
Idem.
140
deu-se, entre as razões já destacadas, também pela vantagem do governo venezuelano
em alocar dinheiro para as iniciativas políticas por ele estimuladas e referentes ou não
aos processos de integração infra-estrutural. A maior autonomia do Estado venezuelano
em oferecer ajuda a países como Cuba, Bolívia, Argentina e Paraguai, sendo que dos
dois últimos comprou títulos das suas dívidas externas em troca de apoio político, o
promoveria a um palanque político regional mais destacado
80
. Dessa forma, de acordo
com as análises veiculadas pela mídia, e que se concatenaram com posteriores análises
acadêmicas destacadas na Força Tarefa CEBRI 2007, um dos novos desafios da Política
Externa do governo Lula na América do Sul foi o avanço da influência política de
Chávez na região. Em determinados contextos, Chávez chegou a questionar a vontade e
a capacidade política e econômica do Brasil na condução do processo de integração
regional
81
.
Sugere-se que, a exemplo do que ocorreu na relação bilateral com a Argentina, o
revés no apoio político conferido por Chávez às propostas regionais do governo Lula
implicaram na revisão do discurso diplomático e na própria apresentação do BNDES
como elemento material efetivo e colaborador para a integração. Em entrevista a Folha
de São Paulo, em 05/07/06, sobre as reclamações acerca da demora na liberação dos
recursos do BNDES e do avanço de Chávez na região, Lula respondeu: "O Brasil não
promete. O Brasil fala das coisas que pode fazer, embasado nas legalidades existentes
no nosso país”; disse, comparando com os empréstimos feitos pelo BNDES, até para
obras na própria Venezuela
82
.
O modelo brasileiro de participação e exposição financeira, portanto, já dava
sinais de incompatibilidade com os anseios políticos e econômicos dos demais países da
região que eram, por sua vez, politicamente mais orientados. O modelo de Hugo
Chávez, em comparação, poderia ser apresentado como mais sedutor do que o
brasileiro, haja vista a rápida alocação de recursos que seu governo poderia por ventura
promover. A declaração de Lula acerca das “legalidades existentes em nosso país”
revela a reformulação do seu discurso pró-integração com a participação do BNDES.
Fica mais claro o peso dos condicionamentos internos brasileiros para a definição das
possibilidades e limites da participação do BNDES na PEB.
80
O Globo, 07/05/06. Dinheiro como arma diplomática de Chávez.
81
Folha de São Paulo, 30/04/06. Lula perde liderança do eixo sul-americano para Chávez.
82
Folha de São Paulo, 05/07/06. Venezuela vai comprar títulos do Paraguai.
141
Item 5.4. O Banco do Sul: tensões e contrapropostas.
As relações entre o Brasil e a Venezuela, para o tema da nossa pesquisa, tornaram-
se mais tensas em vista das propostas de Chávez para a criação do Banco do Sul.
Sugere-se que a formulação venezuelana para o Banco do Sul procurou contrapor as
iniciativas e propostas financeiras do Brasil para a região de forma a estruturar um
modelo politicamente mais dinâmico e orientado. As iniciativas e propostas brasileiras
eram, por sua vez, interpretadas regionalmente como muito técnicas e pragmáticas.
Apesar do acirramento das discussões para este tema, o comércio bilateral atingiu cerca
de dois bilhões e meio de dólares no acumulado 2003-2007 dentro do sistema CCR
(capítulo 4).
Algumas tensões foram verificadas em vista do fechamento da emissora RCTV
Venezuelana. O Congresso brasileiro emitiu críticas severas às atitudes de Chávez.
Como resposta, o governo de Caracas emitiu declarações ofensivas ao Congresso
brasileiro. A situação de fato não se agravou a ponto de desestruturar as relações
diplomáticas e as discussões para o tema financeiro sul-americano.
A proposta brasileira era estruturar uma iniciativa que conciliasse o Banco do Sul
aos moldes das gestões de boa governança corporativa a exemplo das entidades
multilaterais de crédito (incluindo, também, o BNDES). Segundo o ex-ministro do
Ministério do desenvolvimento, indústria e comércio exterior Luiz Fernando Furlan,
“Eu ficaria feliz se os organismos atuais, o BNDES e a CAF, pudessem atuar de forma
mais agressiva no âmbito da região”
83
, sugerindo para o revigoramento das instituições
regionais de crédito. A perspectiva do então Ministro da Fazenda Guido Mantega é que
“nossa proposta é de atuação conjunta do BNDES com o Banco de La Nación, da
Argentina, e com o Banco de Desenvolvimento da Venezuela”(Idem).
O modelo brasileiro para o Banco do Sul entrava em choque com as propostas do
presidente Chávez da Venezuela. A proposta da Venezuela era estrutura uma iniciativa
com recursos provenientes das reservas internacionais das economias locais para
estruturar o seu funding. Os sinais políticos de Chávez direcionavam para objetivos
estruturantes de uma instituição financeira regional que fizesse frente ao FMI e, por sua
vez, afastasse os países da região da esfera de Washington no tema financeiro. Portanto,
83
Correio Braziliense. Brasil rejeita idéia de banco do Sul 19/01/2007.
142
a proposta venezuelana estava amparada por uma postura política a ser impressa na
cooperação financeira regional.
Até início do ano de 2007 a idéia do governo brasileiro era aportar, a partir do
BNDES, cerca de 200 milhões de dólares para que o Brasil alavancasse a sua
participação na CAF e, dessa forma, estruturasse uma alternativa ao Banco do Sul
84
. Foi
possível constatar, por outro lado, que foi por meio do orçamento da União, gerido pelo
Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão, que o referido aporte se efetivou no
final de 2007. Este fato elevou a categoria do Brasil de sócio acionista de série C para
série A junto à esta instituição
85
.
Sugere-se, com base na evolução do estudo destacado, que o banco do Sul foi a
iniciativa do governo venezuelano para demandar posturas politicamente mais
orientadas para o tema financeiro regional. Ao mesmo tempo, procurou dar sinais mais
claros para o governo brasileiro acerca de um possível esgotamento das propostas do
Brasil para o tema que, segundo se entende nesta pesquisa, estaria estruturado por
marcos pragmáticos e técnicos alheios aos anseios políticos regionais. No contexto dos
desentendimentos entre os dois países para os acertos quanto ao Banco do Sul, o
Ministro Guido Mantega destacou, em tom de crítica, que:
O Brasil não vai aderir a nada. O Brasil não é um país que adere. O Brasil
participa, elabora junto ou não. Vou conversar com Lula. Tinha deixado muito
claro em Washington [na reunião do FMI na semana passada] que o Brasil ou
participa dentro de condições de igualdade e de um projeto que nos interessa,
calcado em princípios bancários, legítimos, modernos, ou então a gente não
participa (Valor Econômico, 19/01/2007).
Até meados de 2007 o governo cogitava sobre a possobilidade de aportar recursos
do BNDES na CAF; além de reestruturar o própria FONPLATA. Existe, de fato,
segundo os resultados do capítulo quatro, uma maior exposição brasileira de recursos
financeiros brasileiros na CAF; os dados comprovam que é na Era Lula da Silva que tais
84
Valor Econômico. Brasil rejeita criação do Banco do Sul 19/01/2007.
85
Pela resolução 3.219 do BACEN de 30 de junho de 2004, o Proex-equalização estava incluído na CAF
oferecendo as equalizações das taxas de juros. O objetivo era, com isso, conferir aos exportadores
nacionais créditos para exportações com reduzidos níveis de riscos, já que a CAF paga os exportadores à
vista. Dessa forma, tanto o BNDES, quanto o próprio Banco do Brasil, co-financiariam as exportações
nacionais com a CAF. Este fato explica uma das particularidades centrais para o entendimento do modelo
de participação e exposição financeira do Brasil na região e o revigoramento das instituições regionais de
crédito já existentes.
143
números foram alcançados. Tudo indica que, a despeito dos longos processos de
maturação das discussões acerca da temática financeira regional, o governo Lula, desde
meados de 2004, promoveu a ampliação dos aportes financeiros do Brasil junto à CAF.
Isso foi resultado da estratégia finaceira regional do Brasil, articulada pelas orientações
do MRE, BNDES e Ministerios da Fazenda e do Planejamento Orçamento e Gestão.
Estruturar saídas e plataformas regionais de créditos para as empresas brasileiras
atuantes na América do Sul definiu esta estratégia. Os aportes, contudo, não foram
feitos com os recursos do BNDES, mas com recursos do Orçamento da União.
A indefinição, no plano interno brasileiro, quanto à possibilidade ou não de o
BNDES aportar recursos na CAF redefiniu a postura do governo para as discussões do
Banco do Sul
86
. O governo brasileiro e sua diplomacia entraram mais abertamente nas
negociações do banco
87
. O resultado que se esperava com essa reorientação foi uma
maior interpelação da diplomacia brasileira na definição do modelo do Banco do Sul.
Em meio as polêmicas e contradições, o banco do sul foi fundado no final de
2007. O governo brasileiro conseguiu definir suas posturas dentro da instituição. Foi
preservada a cautela e a modelagem que o Brasil estaria disposto a conceder para entrar
na iniciativa. Segundo o secretário para assuntos internacionais do Ministério da
Fazenda Luiz Eduardo Melin, “cada país terá a liberdade interna de definir (de onde
virão os recursos dos aportes)”; e destacou que “nunca foi cogitado o uso das nossas
reservas internacionais, que, no Brasil, obedecem a uma legislação bastante específica
e clara quanto à sua destinação”
88
. No concerto acerca do banco, o governo brasileiro
manteve sustentada uma iniciativa aos moldes do BNDES, onde os recursos seriam, por
sua vez, aportados livremente por cada Estado e, desta forma, fomentariam as empresas
da região
89
.
Do ponto de vista do jogo político diplomático, o ano de 2007 se caracterizou pelo
esmorecimento das propostas de prioridades para a integração regional por parte do
governo Lula. O apoio geral para as iniciativas do governo brasileiro foi reduzido e, por
sua vez, abriu espaço para as críticas e iniciativas de Hugo Chávez no tema financeiro.
O Banco do Sul foi o palco central das discussões durante o ano de 2007 e, com isso, o
ponto de tensão entre o Brasil e a Venezuela.
86
O Estado de São Paulo. Aporte no Banco do Sul surpreende Miguel Jorge 06/05/2007.
87
Valor Econômico. Governo agora quer Banco do Sul 28/05/2007.
88
Correio Braziliense. Banco do Sul será lançado 09/12/2007.
89
O Globo. Banco do Sul será fundado hoje, em meio a polêmicas 09/12/2007.
144
De concreto, o Brasil conseguiu, por meio da sua diplomacia, inserir elementos
que subscrevessem alguns aspectos ao banco do sul que correspondessem com os
interesses e as legislações do país. Dentre esses aspectos, a liberdade para aportar
recursos fora do âmbito das reservas internacionais; acertos quanto às discussões para a
impressão ao banco do sul de aspectos de boa governança corporativa; e planos de
discussões acerca do peso de cada Estado nas votações da instituição de acordo com o
tamanho de cada economia e aporte financeiro. O formato geral do banco do sul ainda
não estava concretizado até o final do ano de 2007; o fator relevante é que sua iniciativa
e discussão nos possibilitam a interpretação possível de ser uma resposta política da
Venezuela acerca da necessidade de imprimir um viés político para o tema financeiro
regional.
Item 6. Brasil-Peru. Relações amistosas; e o acordo Mercosul-Peru como prelúdio
do acordo Mercosul-CAN.
Em abril de 2003, Brasil e Peru assinaram um acordo para a construção da ponte
Assiz Brasil-Inapari no âmbito do projeto IIRSA. Projeto inaugurado por FHC em 2000
e paralisado, mas que foi retomado no governo Lula. Em abril daquele ano, Lula
assinou acordo de expansão dos eixos do Amazonas, transoceânico central e
interoceânico do sul, também no âmbito do projeto IIRSA. Vale destaque para a
assinatura do acordo de livre comércio entre Peru e Mercosul. Segundo Darc Costa,
então vice-presidente do BNDES na época, o Brasil visava dar início a um processo que
levaria a região ao status de “quarto pólo de comércio no mundo”. Celso Amorim
destacou que:
Buscamos uma América do Sul politicamente estável, socialmente justa e
economicamente próspera, não só por solidariedade, mas também por interesse,
porque o bem-estar e o progresso de nossos vizinhos fomentam nosso próprio bem-
estar e progresso
90
.
No dia 25/08/03 foi ratificado o acordo entre o Mercosul e o Peru
91
. O acordo
procurou fortalecer o bloco nas negociações com grandes economias como os Estados
90
Folha de São Paulo, 28/04/03. Acordo quer tornar região 4º pólo mundial.
91
Folha de São Folha de São Paulo, 28/04/03. Acordo quer tornar região 4º pólo mundial.
Paulo, 25/08/03. Peru acerta acordo de livre comércio com Brasil.
145
Unidos, na Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), tema ainda em pauta de
discussão nos primeiros anos da administração Lula. Além das relações com a União
Européia e nas discussões no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Sugere-se a percepção de um cenário de “corrida contra o tempo”
92
por parte da
diplomacia brasileira naquele específico contexto onde o Brasil procurava consolidar
uma posição mais sólida na América do sul. O objetivo seria, em seguida, ter base
política sustentadora para fazer frente às questões de ordem comercial, política e de
investimentos discutidas na arena multilateral. Aliado a essa estratégia, temos também a
indicação de uma política de busca de apoio em bases regionais para discutir os
referidos temas quanto às regras de investimentos públicos estabelecidas pelo FMI e
OCDE.
Regras essas que emperravam as ações para os investimentos brasileiros na
região a partir dos recursos do BNDES e que, por sua vez, poderiam ser caracterizados
como políticas verticais de apoio e subsídios aos exportadores do Brasil.
A adesão do Peru ao MERCOSUL exigiu intensas e prolongadas negociações
diplomáticas conduzidas pelo Itamaraty
93
. As dificuldades transpostas pelos diplomatas
brasileiros não se resumiram ao esforço de convencimento das autoridades peruanas a
respeito das vantagens econômicas e políticas propiciadas pela associação do país ao
bloco do Cone Sul. O Peru tinha restrições quanto à Zona Franca de Manaus e temia a
competitividade da produção agrícola do Mercosul. Da mesma forma, Uruguai e
Paraguai resistiam à entrada do novo associado, alegando conflito de interesses de
ordem comercial e econômica
94
.
No mês de novembro de 2003 o Mercosul negociou acordo com a comunidade
andina poucos dias antes de a mesma vir a firmar acordo comercial bilateral com os
EUA. Teoricamente, o acordo sairia no dia 17 de dezembro do ano de 2003 entre o
Mercosul e a CAN. Interpreta-se que a diplomacia brasileira tentou posicionar o
Mercosul em uma condição mais próxima com os países da CAN tendo-se em conta as
investidas norte-americanas no bloco andino. O acordo assinado com o Peru inseriu-se
nesta estratégia de aproximação e teve, para facilitar as negociações, a promessa de
investimentos com recursos do BNDES. Como resultado direto da aproximação,
constatou-se uma melhora nas relações bilaterais entre os dois países incentivadas pelas
promessas de recursos e investimentos brasileiros a partir do capital do BNDES. Como
92
Gazeta Mercantil, 26/11/03 Andinos e a corrida contra o tempo.
93
Globo, 25/08/03. Acordo une Peru ao Mercosul.
94
Idem.
146
um dos fatores causais diretos, a referida aproximação Brasil-Peru, e as promessas de
investimentos do Brasil no mesmo país, delineou o horizonte para a conformação do
acordo Mercosul-CAN.
De antemão, sugere-se uma possível interpretação da importância das promessas
de investimentos via BNDES para os países do bloco andino e a relativa aproximação
do Brasil com os mesmos. Como verificaremos no próximo capítulo, a própria
participação e exposição financeira do Brasil na região estiveram orientadas por
aumentos constantes do aporte financeiro nacional na Corporação Andina de Fomento
(CAF)
95
. A centralidade da CAF para este fenômeno revela uma das características do
modelo brasileiro perseguido para a temática financeira regional; características estas
tema, também, do próximo capítulo.
As relações amistosas com o Peru se mantiveram constantes, intensas e amistosas
no ano de 2004. Resultados práticos em temas relativos aos investimentos brasileiros
foram alcançados e estabelecidos. O Peru continuou expressando apoio político sólido
para as propostas do Brasil no tema da integração regional; assim como entendimentos
concertados no que conferem as discussões a respeito da agenda do financiamento
público para os projetos de infra-estrutura discutidos no âmbito da OCDE e do FMI.
Na relação bilateral que se verificou no ano de 2005, o Peru, ao contrário da
crescente tendência de críticas ao governo Lula, formou parte da ala que apoiava e
propagava o modelo de atuação do governo brasileiro na região. O então presidente
peruano Alejandro Toledo fez discurso de apoio ao presidente Lula no momento mais
delicado dos escândalos políticos resultantes das denúncias de mensalão. O discurso
ocorreu durante o lançamento do início das obras de pavimentação da rodovia
Interoceânica, no km 13 da estrada
96
. A obra, cujo valor total é de US$ 814 milhões,
passou a ser financiada em US$ 417 milhões pelo governo brasileiro através do Proex-
equalização e BNDES; a CAF participou ativamente como co-financiadora. O projeto
previa a pavimentação de cinco trechos de um total de 2.586 km, que irá da fronteira do
Brasil, pelo Acre, até o oceano Pacífico, passando pelo Departamento de Madre de
Dios, no sul peruano, até a cidade litorânea de Urcos. As relações estáveis com o Peru
foram, inclusive, reveladas na primeira reunião oficial da CASA; reunião marcada pelo
esvaziamento conferido pela Argentina, mas apoiada pelo governo peruano.
95
Gazeta Mercantil, Andinos e corrida contra o tempo 26/11/2003.
96
Folha de São Paulo, 09/09/05. Toledo diz para Lula ter “coragem”.
147
As eleições presidências no Peru e a retomada das atividades do Sendero
Luminoso no país marcaram o ano de 2006 no cenário interno político daquele Estado.
Segundo a mídia impressa relatou, as empresas brasileiras e o BNDES não deixaram de
fazer investimentos no país como conseqüência das suas turbulências políticas internas.
Dois grandes grupos brasileiros fizeram investimentos expressivos no Peru, onde
crescia a candidatura nacionalista de esquerda de Ollanta Humala à sucessão do
presidente Alejandro Toledo, em abril daquele ano. A Votorantim Metais investiu cerca
de US$ 210 milhões na compra da refinaria de zinco Cajamarquilla, e a AmBev
inaugurou, em 2005, uma fábrica de cerveja nas proximidades de Lima. Ambos os
investimentos foram feitos sem a participação do capital do BNDES; foram recursos
alocados pelas próprias empresas a partir dos seus próprios patrimônios e de suas
estratégias financeiras.
Analistas do Observatório Político Sul-Americano (OPSA), entrevistados pelo
jornal O GLOBO de janeiro de 2006, quando questionados sobre os impactos possíveis
das atividades do Sendero Luminoso no processo de integração do Brasil com o Peru,
salientaram que provavelmente não teriam força para interromper o processo
97
. De
acordo com o diretor da Odebrecht para a área de relações institucionais Roberto Dias,
“A integração acaba funcionando como um guarda-chuva que minimiza o risco político
localizado”
98
. A Odebrecht concluiu três projetos no Peru — entre os quais a
construção de uma hidrelétrica em Arequipa.
As informações destacadas nos dois parágrafos acima não expressem relações
causais diretas com o tema da pesquisa proposto. Elas objetivam sinalizar para o
entendimento possível da relação entre os temas das questões políticas internas de cada
país da região e os impactos desses nos interesses dos setores produtivos e econômicos
brasileiros. Na nova geografia comercial que se desenha para as grandes empresas
brasileiras atuantes na região sul-americana, ficam cada vez mais evidentes os impactos
decorrentes de uma maior exposição das suas atividades comerciais nesses territórios.
Isso seria resultado de eventos de ordem política e social que se desencadeiam em cada
Estado.
Considerações de caráter politicamente sensível como eleições presidenciais,
movimentos políticos contestatórios e temas ligados ao terrorismo passaram a formar
97
O Globo, 29/01/06. Eleições no Peru são o próximo teste de fogo das empresas brasileiras. No caso o
entrevistado do OPSA foi o pesquisador Marcelo Vasconcelos Coutinho.
98
Idem.
148
parte das considerações e análises das empresas brasileiras e das agências públicas de
financiamento do Brasil. Tal fenômeno pode ser entendido como resultado de uma
natural e necessária exposição das suas atividades comerciais em bases internacionais;
fenômeno típico de economias em desenvolvimento em fase de internacionalização das
suas atividades produtivas (Goldstein; e Hernandez, 2007; Sauvant, 2007; Shaw,
Timothy; e Goldstein, 2007).
Durante o ano de 2007 as relações políticas, diplomáticas e comerciais com o Peru
permaneceram estáveis e promissoras. Nenhum revés foi verificado no apoio político
dado, por parte do Peru, para as iniciativas do governo Lula em temas de integração
regional. No geral, apesar de qualificarmos a relação bilateral Brasil-Peru como estável,
amistosa e concertada, o fato é que, a exemplo dos demais países do bloco andino
(Equador e Colômbia), o Peru esteve muito mais propenso ao ímã representado pelos
EUA. País com o qual o Pacto Andino firmou acordo de livre comércio. Isso decorre,
evidentemente, da possibilidade mais concreta em termos de retornos comerciais e
econômicos que os EUA representam para o Peru. Do ponto de vista da relação
bilateral, o Peru foi central para a elucidação do caráter estratégico do modelo de
participação e exposição financeira do Brasil. O crescimento da participação do Brasil
na CAF responde as necessidades de co-financiamento para projetos executados nos
países do bloco andino, incluindo o Peru (ver adiante o anexo do capítulo cinco).
Item 7. Brasil-Equador. Relações amistosas; pragmatismo; e horizontes de longo
prazo.
O mês de maio de 2003 foi marcado pela assinatura do acordo bilateral Brasil-
Equador, enquanto o governo brasileiro aguardava a finalização das negociações do
acordo com a comunidade andina (CAN). Foram acertados acordos para a prorrogação
do prazo da concessão de crédito do BNDES para a construção da hidrelétrica de São
Francisco no Equador; acordo assinado ainda na administração FHC e que foi retomado
no governo Lula. O presidente brasileiro acrescentou que o ‘‘O BNDES vai aprofundar
o exame de outros dois projetos prioritários para milhões de equatorianos: o de um
grande sistema de canais de irrigação e o de estações de tratamento de água
potável’’
99
.
99
Correio Brasiliense, 28/05/03. Brasil quer acordo com Equador.
149
Anunciado no mês de maio de 2003, os recursos somente foram aprovados em
dezembro daquele mesmo ano com relação à hidrelétrica São Francisco. Tratou-se de
projeto no valor de US$ 250 milhões, com financiamentos do BNDES-Exim. Os
recursos do banco foram garantidos dentro do sistema CCR-Aladi, com a cobertura
direta do BC equatoriano em caso de não pagamento ao exportador brasileiro
100
. Esses
acertos destacam a rápida aceitação equatoriana com relação as demanda por garantias
aos recursos brasileiros expostos para os investimentos acordados.
Logo da assinatura da prorrogação do acordo com o Equador, o presidente Luiz
Gutierrez anunciou apoio incondicional a candidatura brasileira ao posto de membro
permanente do Conselho de segurança da ONU. Os primeiros movimentos da
diplomacia brasileira na América do Sul foram marcados pela tentativa de o Brasil
angariar apoio político regional para a sua candidatura ao assento permanente no CS da
ONU. Sugere-se que, embora não oficialmente declarado nos materiais pesquisados, o
movimento brasileiro de estreitamento dos laços com os países da região, cercado por
promessas de investimentos brasileiros, inseriu-se na estratégia de angariar, também,
base política de apoio para o fim destacado.
Da mesma forma como ocorreu com o Peru, a aproximação com o Equador esteve
circunscrita pela tentativa de intensificação de laços estratégicos com os países do bloco
andino mediante os avanços do acordo comercial entre o Pacto Andino e os EUA. Outro
aspecto da articulação BNDES-PEB na América do Sul está e esteve inserido na
estratégia de introduzir as empresas brasileiras, tidas como multinacionais brasileiras,
naqueles mercados de forma a posicionar os setores econômicos nacionais em países
onde o avanço comercial dos EUA já era mais destacado. Outra possível sinalização que
se desenhava para o entendimento da ação internacional do Brasil com os países do
bloco andino foi a perspectiva de longo prazo para se estabelecer um acesso direto do
Brasil, através dos países andinos, para o pacífico; o pacífico é, por sua vez, a saída
brasileira para o mercado consumidor asiático.
Em 24/08/04, Lula Chegou ao Equador sob forte onda de apoio e entusiasmo
oriunda dos dirigentes equatorianos. Anunciou a liberalização, por parte do BNDES, de
créditos para investimentos em infra-estrutura e refino de petróleo. A visita terminou
com as conclusões definitivas do acordo de livre comércio entre o Mercosul e o bloco
100
Gazeta Mercantil, 01/12/03. BNDES decide hoje verba para o Equador. Gazeta Mercantil. 03/12/03.
Recursos para usinas na Venezuela e Equador.
150
andino
101
. Também foi anunciada a liberação, por parte do BNDES, dos créditos para
financiamento de dois aeroportos, rodovias e para a hidrelétrica de São Francisco já em
andamento
102
. O orçamento da hidrelétrica foi avaliado em US$ 243 milhões. O
Equador aceitou garantir os créditos através da ampliação do seu CCR; demanda esta
feita pelo BNDES para a aprovação dos créditos. O único ponto de discordância do
Equador com relação à política externa de Lula foi devido à tentativa brasileira de criar
o Clube Amigos de Cuba. O Equador e o Uruguai refutaram a iniciativa brasileira.
Em fins de setembro, o BNDES declarou que estava em estudos a criação de um
novo instrumento de garantia para empréstimos direcionados para investimentos
brasileiros na região. Tratava-se de um fundo de aval, no valor de US$ 500 milhões, a
ser montado com recursos dos países interessados nos financiamentos feitos pelo Brasil
(BNDES) para garantir os recursos empregados na infra-estrutura física. Deveria ser
chamado Fundo da Organização do Tratado da Cooperação Amazônica, mas não logrou
avanços e foi deixado de lado.
As relações entre o Brasil e o Equador puderam ser consideradas como bastante
produtivas do ponto de vista da participação e exposição financeira anunciada e
proposta pelo governo Lula. Seguido dos anúncios da liberação dos recursos do
BNDES, o então governo equatoriano destacou apoio às iniciativas da Política Externa
de Lula na região. As relações amistosas com o Equador são também explicadas por
acertos rápidos quanto ao tema das garantias equatorianas para os recursos do BNDES.
Seguido desses acertos, foram efetivadas as liberações dos recursos do banco para os
investimentos em infra-estrutura e refino de petróleo, o adensamento da participação de
certos setores econômicos brasileiros no país e o acordo MERCOSUL-CAN.
No ano de 2005 ficou mais destacada a presença econômica brasileira no país. Os
investimentos brasileiros no Equador tinham fortes correlações comerciais que se
somavam aos interesses políticos de aprofundamento da integração regional proposto
pelo governo Lula
103
. Segundo dados divulgados na Folha de São Paulo de 25/04/05
“Empresas brasileiras tem fortes interesses no Equador” e que, por sua vez, foram
fornecidos pela embaixada brasileira no Equador, o Brasil aportou, nos últimos dez
101
Gazeta Mercantil, 26/08/06. Lula assina acordos de cooperação com Equador.
102
O Estado de São Paulo, 24/08/04. Presidente vai ao Equador anunciar investimentos.Interessado em
consolidar sua liderança na América do Sul, Lula quer diminuir o imenso abismo comercial que separa o
Brasil do Equador. No ano passado, por exemplo, o Brasil vendeu US$ 355 milhões para o Equador. Na
pauta de exportações, itens como veículos, tratores, caldeiras e máquinas. Em contrapartida, só comprou
US$ 19 milhões dos equatorianos - 75% deste valor refere-se a importações em petróleo e seus
derivados”.
103
Folha de São Paulo, 25/04/05. Empresas brasileiras têm fortes interesses no Equador.
151
anos, investimentos na ordem de 1,5 bilhões de dólares no país destacado. O setor
responsável pela maior parte desta cifra é o de infra-estrutura física, capitaneado pelas
construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez. A primeira trata-se da empresa brasileira
com maior presença no Equador, segundo o embaixador Sérgio Florêncio
104
.
Vários investimentos brasileiros naquele país foram anunciados: a cargo da
Andrade Gutierrez a construção da hidrelétrica São Francisco, cuja conclusão está
prevista para 2007 e de onde virão 12% da oferta energética equatoriana, dos US$ 303
milhões que custaria a obra, US$ 243 milhões viriam do BNDES; a empresa também
está envolvida na construção do aeroporto de Tena (US$ 60 milhões, sendo que US$ 50
milhões vêm do BNDES) e da autopista Guayaquil, o projeto, de US$ 350 milhões, está
em processo de adjudicação (concessão) e ligará a maior cidade do país à capital.
Devemos salientar que a maior parte dos anúncios de investimentos feitos com
recursos do BNDES, naquela época, não foi de fato concretizada até o período referido.
De todos os projetos, o que estava mais perto de se concretizar era o empréstimo de R$
50 milhões destinado à construção do aeroporto de Tena, a 140 km de Quito. Naquele
contexto, por causa da instabilidade política no Equador, o BNDES resolveu retardar a
assinatura do contrato do financiamento
105
. Passado o tumulto, as relações comerciais
foram retomadas.
O Brasil tem um superávit comercial histórico com o Equador. Os anúncios dos
investimentos vieram seguidos das demandas do Equador em incluir alguns produtos
equatorianos na pauta de importações brasileiras a partir do PSCI. O governo brasileiro
procurava atender as demandas equatorianas, já que parte da crítica ao Brasil vinha do
fato de o país ter superávits comerciais históricos com o Equador. Amorim chegou a
classificar a relação comercial com o Equador como “vergonhosa”, haja vista a
gigantesca diferença favorável ao Brasil na balança comercial bilateral. Segundo os
dados que iremos trabalhar no próximo capítulo, a balança comercial entre os dois
países apresentou uma ligeira melhora, embora não significativa. Esse fato pode
sinalizar para alguma concretização efetiva em termos de resultados materiais
perseguidos por manobras de ordem político-diplomáticas.
Após pressões do então ministro da economia equatoriana Rafael Correa,
delineando críticas a já mencionada desarmonia na balança comercial entre os dois
104
Idem.
105
Folha de São Paulo, 26/04/04. BNDES tem pedidos de R$532,9 milhões no Equador.
152
Estados, o banco brasileiro anunciou abertura de financiamento para o Equador
106
. O
BNDES aprovou em 03/06/2005 financiamento de até US$ 61,6 milhões para a Tame
Línea Aérea del Ecuador com desconto de títulos de crédito sem direito de regresso. O
objetivo da operação era de exportar três aviões fabricados pela Embraer, dois deles do
modelo EMB-170 e um do EMB-190. A dívida da Tame foi garantida com notas
promissórias do principal e juros, no âmbito do CCR, ou seja, a partir do banco central
equatoriano
107
. Seguido do anúncio da linha de financiamento dos aviões da
EMBRAER, o BNDES aprovou a linha de 50 milhões de dólares para a construção do
aeroporto de Tena, na província de Napo. Obra esta a cargo da construtora Odebrecht
108
.
Dentro desta trajetória da Política Externa do governo Lula, as fontes de apoio ao
governo brasileiro foram bastante variadas e sofreram redefinições ao longo do período
analisado. Por parte do governo equatoriano, até aquele momento, o Brasil tinha forte
apoio político, haja vista as aprovações das linhas de crédito do BNDES e os
conseqüentes investimentos brasileiros naquele país; além da caracterização dos
esforços empreendidos pelo governo Lula para tentar minimizar o desequilíbrio na
balança comercial entre as duas economias. Isso não quer dizer que tais fatores foram
significativos para conclusões acerca do apoio prestado pelo governo equatoriano ao
brasileiro. Sugere-se que eles compõem parte de um quadro de aproximações
significativas e, por conseqüência, merecedores de menção.
Dentro dos interesses mais amplos da diplomacia brasileira, não somente vale
destaque para a importância comercial e econômica do Equador. O viés político
acentuado foi vital, haja vista o desenho que ia tomando o acordo do MERCOSUL com
a CAN; além das aproximações dos EUA com o bloco andino. Sugerimos, para a
interpretação da relação bilateral com o Equador, a caracterização de uma estreita
relação política e econômica entre os anseios e diretrizes políticas dos formuladores
desta PEB; os interesses econômicos e comerciais dos setores exportadores de serviços
de engenharia e construção civil do Brasil; e a perspectiva própria de longo prazo da
estratégia comercial diplomática frente aos avanços comerciais norte-americanos.
Entendemos que essa estratégia procura extrair ganhos políticos e econômicos a partir
de um processo de relações diplomáticas e comerciais de longo prazo; além do
106
O Estado de São Paulo, 10/05/05. Equador quer US$ 250 milhões do BNDES.
107
Folha de São Paulo, 04/06/05. BNDES financia aviões Embraer para Equador
108
O Globo, 06/07/05. BNDES: linha de US$ 50 milhões para o Equador.
153
entendimento do caráter pragmático da política externa do governo Lula para o tema da
pesquisa, entendendo a formação das parcerias estratégicas já discutidas.
Tais asserções possibilitariam uma interpretação possível que nos remete a uma
identificação desta ação internacional de acordo com os pilares tradicionais
identificados pela historiografia da política externa brasileira, a saber: pragmatismo,
autonomia, diversificação, independência, universalismo, sentido soberano, busca de
redução de vulnerabilidades e desenvolvimento econômico. A evolução da destacada
Política Externa atesta que as mudanças são dadas na continuidade, não implicando em
manobras bruscas com relação ao seu contorno tradicional; os desenvolvimentos
econômicos, comerciais e industriais sempre estiveram inseridos nos contornos das
ações diplomáticas brasileiras, o que não difere desta fase analisada para este tema
específico. A novidade, mais uma vez, está na introdução de uma instituição
tradicionalmente desligada das manobras diplomáticas no sentido de adensar as
parcerias estratégicas do Brasil; parcerias estas que procuram defender uma parcela dos
interesses econômicos e comerciais dos setores produtivos nacionais.
Em dezembro de 2006 Rafael Correa fez sua primeira visita oficial ao Brasil como
presidente eleito
109
. Apoiou os ideais de integração, mas não deixou de tocar em pontos
sensíveis da relação entre o Brasil e seu país: o grande déficit comercial com o Brasil.
Correa deixou claro que as diferenças podem ser contornadas com investimentos
brasileiros via BNDES. Os pontos e demandas do presidente equatoriano foram: Eixo
multimodal Manta-Manaus, envolvendo a construção de estradas e hidrovias que liguem
o porto de Manta ao de Manaus, possibilitando maior escoamento de produtos entre os
oceanos Pacífico e Atlântico. No setor de energia, a prioridade seria conseguir
financiamento externo para a construção de uma refinaria de petróleo pesado; o novo
governo equatoriano estava interessado na produção do biodiesel como fonte alternativa
de energia e geração de emprego. A produção de etanol começaria a ser desenvolvida de
maneira experimental. No setor de conexão aérea, seria criar vôos comerciais e de
transporte de carga diretos entre Equador e o Brasil.
Do ponto de vista das relações diplomáticas, essas foram caracterizadas como
estáveis, mas com fortes demandas equatorianas para com o Brasil. Interpreta-se, apesar
das mudanças no apoio regional dado à integração proposta pela Política Externa do
governo Lula, que a relação bilateral analisada não esteve desgastada como em outros
109
Correio Brasiliense, 09/12/06. Equador pede comércio Justo.
154
casos já analisados. Existiu de fato uma demanda para com a ajuda brasileira na área
financeira e de investimentos; esta, por sua vez, foi atendida em vários pontos, mas
sempre em conformidade com as legalidades e interesses econômicos do Brasil.
Em tons de cordialidades e expressões de apoio ao governo Lula e suas ações na
região, Rafael Correa sugeriu que “o déficit comercial do Equador com o Brasil pode
ser compensado com investimentos em infra-estrutura e melhores preferências para
produtos equatorianos”, disse, sugerindo as linhas de crédito do BNDES
110
. Em
entrevista à Folha de São Paulo, Corrêa disse que o Brasil pode dar "uma grande ajuda"
para o Equador e destacou: "Falamos de integração e da infra-estrutura necessária
para isso. Não pode haver integração sem desenvolvimento, sem estradas e pontes
unindo os países"
111
.
As atividades empresariais brasileiras no Equador se mantiveram intensas durante
o ano de 2007. Como destacado, o país recebeu importantes investimentos do Brasil,
com recursos do BNDES, para desenvolver atividades de infra-estrutura. Algumas
denúncias de corrupção envolvendo o pagamento de propinas feito pelas construtoras
brasileiras a funcionários públicos equatorianos, e indícios de calotes das dívidas
equatorianas com relação aos seus credores, marcaram algumas tensões durante 2007.
Algumas orientações de ordem político-diplomáticas foram redefinidas: o governo
Correa passou a orientar-se, em temas financeiros mais de acordo com as propostas do
presidente Hugo Chávez da Venezuela. Correa formou parte da ala que via no Banco do
Sul uma alternativa politicamente mais concertada para dinamizar a cooperação
financeira regional entre os países da América do Sul.
Antes da chegada de Rafael Correa à presidência do Equador, este país também
esteve mais propenso às esferas comerciais e políticas representadas pelo ímã norte-
americano. Apoio e relações estáveis entre Brasil e Equador deram o tom para os
assuntos diplomáticos dentro da temática financeira. Acertos quanto ao mecanismo
CCR de garantia permitiram que o Brasil realizasse investimentos expressivos no país
com recursos do BNDES consolidando, dessa forma, parte da presença do setor de
construção civil naquele mercado. Com a chegada de Correa à presidência, o cenário
sofreu mudanças: Correa esteve mais alinhado às perspectivas de Chávez que incluía
desde críticas aos EUA à estruturação do Banco do Sul, mas não demonstrou oposições
110
Correio Brasiliense, 09/12/06. Equador pede comércio Justo.
111
Folha de São Paulo, 09/12/06. Brasil e Equador estudam implantar corredor de US$ 2,5 Bi.
155
consideráveis ao modelo de participação e exposição financeira do Brasil na América do
Sul.
Item 8. Brasil-Bolívia: do perdão da dívida ao conflito do gás.
No dia 23/10/03 o governo brasileiro perdoou quase toda a dívida pública da
Bolívia com o Brasil de US$ 52 milhões sem exigir contrapartida; e anunciou
investimentos de US$ 780 milhões naquele país, a maioria proveniente dos recursos
emprestados pelo BNDES
112
. Além disso, o governo brasileiro aumentou a importação
de gás natural da Bolívia de 11 milhões para 18 milhões de metros cúbicos diários.
Foram medidas declaradas para ajudar a Bolívia a superar a crise social deflagrada
naquele momento, disse o embaixador brasileiro em La Paz, Antonino Lisboa Mena
Gonçalves
113
. O acordo procurou dar continuidade para as conversações feitas em abril,
no contexto das insatisfações com o recém deposto presidente Sanchez de Losada.
O tema do acesso ao pacífico, que passa pela Bolívia, formava parte dos anseios
da diplomacia brasileira com relação a este vizinho. Um passo importante foi dado com
a assinatura, em outubro daquele ano, de um protocolo de intenções entre o Ministério
dos Transportes e a Brasil Ferrovias, Companhia Vale do Rio Doce, Rio Tinto Brasil,
Cargill, Grupo Odebrecht e Empresa Ferroviária Oriental da Bolívia. Esse documento
previa investimentos na recuperação da malha da Novoeste, ferrovia de 1.300
quilômetros controlada pela Brasil Ferrovias e que liga o porto de Santos a Corumbá, na
fronteira do Mato Grosso do Sul com a Bolívia
114
.
Em setembro de 2004 o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou a Bolívia para
dar apoio político ao presidente boliviano Carlos Mesa, que tentava se legitimar no
poder e mudar as regras do jogo no setor energético. Durante a visita, Lula concretizou
o perdão da dívida de US$ 52 milhões da Bolívia com o Brasil, acertada em 2003; abriu
uma linha de crédito no valor de US$ 600 milhões do BNDES para financiar projetos de
infra-estrutura no país vizinho; e fechou um acordo que dispensa o uso de passaporte
nos deslocamentos entre os dois países
115
.
A visita e as promessas de Lula se inseriram no contexto de demandas, por parte
do governo brasileiro, para que os referidos acordos passassem, necessariamente, pelo
112
Correio brasiliense. Carlos Mesa recebe chanceler brasileiro 27/10/03.
113
Correio Brasiliense, 23/10/03. Bolívia: Brasil adota medidas de apoio.
114
Gazeta Mercantil, 25/11/03. A sonhada rota para o pacífico.
115
O Estado de São Paulo, 09/07/04. Presidente vai à Bolívia e perdoa dívida.
156
comprometimento boliviano de assegurar a ampliação do fornecimento de gás natural
ao Brasil. Além de levar apoio político para o presidente Meza no contexto do tumulto
político vivido pela Bolívia na época. Delineia-se que a relação entre diplomacia e os
investimentos brasileiros na Bolívia passou pela questão do gás natural e pelos
entendimentos acerca dos acordos de fornecimento e preço do produto. Esse cenário
mudaria com a entrada de Evo Morales no poder. No ano de 2005 não foram verificadas
novidades significativas com relação à Bolívia dentro da temática proposta.
Em maio de 2006 ocorreu a visita de Amorim à Bolívia no contexto da crise
provocada pela nacionalização das instalações de extração de gás natural da Petrobrás.
Amorim visitou a Bolívia após ter criticado severamente a decisão do governo boliviano
e, como conseqüência, ter suspendido todo o programa de financiamento do BNDES
para aquele país
116
. O contexto da relação bilateral era de instabilidade política e de
descrédito com relação às promessas e propostas da diplomacia brasileira referentes aos
temas de financiamentos do BNDES para investimentos privados brasileiros em
projetos de integração regional. Em meio às conversações, o governo brasileiro tentou
uma reaproximação com o governo Morales sugerindo reduzir as tarifas de importação
de bens bolivianos e usar o BNDES para reforçar investimentos em infra-estrutura na
Bolívia
117
. O ano de 2006 já dava sinais mais claros de desgaste para com o apoio
regional à política de prioridade da integração regional do governo Lula; além do
próprio descrédito com relação às efetivas liberações dos recursos do BNDES para os
prometidos investimentos brasileiros.
Com a visita de Amorim, o governo de Evo Morales preparou, ainda que
curiosamente fosse, uma série de pedidos ao Brasil. La Paz sinalizou para a necessidade
de financiamento dos bancos oficiais brasileiros ao seu projeto de adquirir mais de uma
centena de tratores agrícolas fabricados no Brasil. Igualmente pretendeu ver reabilitada
a linha de crédito de US$ 600 milhões do BNDES para obras de infra-estrutura na
Bolívia, suspensas em virtude da crise do gás
118
. Evo Morales procurou obter pelo
menos uma parcela desses créditos para a construção de uma rodovia que conectaria a
Bolívia à via interoceânica que atravessará o Acre e o Peru. O governo boliviano
assumiu publicamente, mesmo depois de nacionalizar as instalações da Petrobrás, que
precisava do Brasil para poder se desenvolver. O presidente Morales declarou a real
116
O Estado de São Paulo, 21/05/06. Amorim vai à Bolívia em busca de reparação.
117
O Globo, 18/05/06. Celso Amorim vai a Lá Paz para conversar pessoalmente com o governo boliviano
118
O Estado de São Paulo, 21/05/06. Amorim vai à Bolívia em busca de reparação.
157
responsabilidade do Brasil para com os países da região na construção da integração
regional em tom de cobrança; esse tom foi destacado haja vista a consideração de o
Brasil ser a maior economia da região (Idem).
Evo Morales ainda emitiu sinais claros à embaixada brasileira em La Paz de que
queria ver aplicados os acordos de cooperação técnica em áreas como saúde, educação e
agricultura. Acordos esses firmados por uma missão conduzida pelo secretário-geral do
Itamaraty, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, ocorrida na véspera do anúncio
da nacionalização e da ocupação militar das refinarias da Petrobrás na Bolívia. Essa
missão havia sido ignorada por Evo Morales.
Donos de um parque industrial primário, os bolivianos manifestaram interesse em
adquirir 300 tratores, 50 colheitadeiras e implementos agrícolas produzidos por
empresas brasileiras. O montante de recursos envolvidos — que sairiam do BNDES —
girava entre US$ 25 milhões e US$ 30 milhões
119
. O caráter político no envolvimento
do BNDES nas questões referentes à política externa do governo Lula está fortemente
sugerido nessas análises feitas sobre a relação Brasil-Bolívia. Os anúncios de
financiamentos para a Bolívia foram feitos mediante a negativa do Banco de que os
recursos não são decorrentes das pressões da nacionalização das instalações da
Petrobrás. Além das máquinas agrícolas, os bolivianos também queriam que o BNDES
financiasse a construção de uma estrada que ligaria La Paz ao Norte do país. A rodovia
teria uma extensão de 800 Km e custaria cerca de US$ 600 milhões.
Construtoras brasileiras na época manifestaram interesse em atuar nesta
empreitada. Negociações e acertos diplomáticos feitos sob o manto de promessas de
investimentos privados brasileiros com recursos do BNDES marcaram parte da relação
entre os dois países durante o ano da crise do gás. Dois dias depois dos anúncios de
estudos de investimentos do BNDES no país, o governo boliviano anunciou a correção
dos preços do gás, exigindo a revisão de US$ 4,3 para US$ 5,0
120
. Isso indicou a
disposição do governo Morales em rever os contratos a despeito de promessas não
concretizadas de investimentos brasileiros em seu país.
Em novembro de 2006, em decorrência do acirramento das conversações acerca
do preço do gás, o governo brasileiro reagiu. A crise do gás e as poucas vantagens
econômicas levaram o governo Lula a desconsiderar o vizinho como parceiro no
complexo do Rio Madeira, principal eixo da Iniciativa para Integração Regional Sul-
119
O Globo, 21/07/06. Lula quer recuperar influência no Mercosul.
120
O Globo, 13/07/06. Bolívia propõe ao Brasil gás a US$5.
158
Americana (IIRSA)
121
. O megaprojeto, respeitando à lógica da interiorização do
desenvolvimento, previa tornar o rio navegável com a construção de quatro usinas e as
respectivas eclusas
122
. Da evolução na relação bilateral destacada, pode-se sugerir uma
revisão por parte do governo brasileiro quanto às considerações acerca da importância
econômica que a Bolívia oferecia para o Brasil. Em outros termos, o Itamaraty passou,
em vistas das relutâncias e inflexibilidades do governo Morales, a considerar os custos
dos investimentos nacionais na Bolívia maiores que os retornos econômicos auferidos
pelo processo. Dessa interpretação, cabe destaque para a postura pragmática e flexível
da PEB no relacionamento com determinados Estados, ou seja: quando os retornos se
tornam menores que os custos materiais e políticos, a parceria estratégica pode sofrer
uma reavaliação, mesmo que temporariamente.
Do ponto de vista das relações políticas e diplomáticas, o contexto do ano de 2007
foi de acertos quanto à problemática do gás. Para a temática financeira, poucos avanços
foram verificados: acertos para o financiamento do BNDES para 30 tratores fabricados
pelo Brasil representaram o zênite da relação
123
. No final do ano de 2007 o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva aportou com um pacote de medidas a serem acertadas com o
presidente da Bolívia, que foram para além do anúncio de investimentos pela Petrobrás
na prospecção de poços de gás natural. As discussões incluíram a efetivação das
promessas feitas a Morales no início desse ano, quando o líder boliviano esteve no
Brasil. São exemplos a construção de uma ponte internacional ligando as cidades de
Guajará-Mirim (RO) e Guayaramerin, no Departamento de Beni; a construção de um
sistema rodoviário dando à Bolívia acesso ao Pacífico, via Peru; e a instalação de uma
usina de biodiesel no país vizinho (ver tabela no anexo do capítulo quatro).
No geral, a crise do gás marcou a relação bilateral entre os dois países. A temática
financeira e a concretização dos investimentos brasileiros na Bolívia ficaram prejudicas
pelo desentendimento ocorrido logo da mudança política interna boliviana com a
ascenção de Morales. Os interesses comerciais e econômicos do Brasil na Bolívia foram
e são de especial atenção para as orientações e perspectivas do desenvolvimento do
Brasil. Um país com abundantes recursos naturais e que forma fronteira com o Brasil
atrai significativamente as atenções de certas empresas brasileiras; como é o caso da
121
Correio Brasiliense, 19/11/06. Integração adiada: troco em Morales.
122
Segundo o Correio Brasiliense de 19/11/06, Dilma Roussef, já como ministra da Casa Civil,
“costumava ter sobre a mesa o estudo que o BNDES elaborou em 2003, com a Corporação Andina de
Fomento (CAF), listando benefícios socioeconômicos e políticos, além de custos. A ministra chegou a
apresentar pessoalmente o projeto ao então presidente da Bolívia, Gonzalo Sánchez de Lozada”.
123
Valor Econômico. Agrados à Bolívia, Uruguai e Paraguai. 08/01/2007.
159
Petrobrás que está na Bolívia desde antes da entrada de Lula no poder. Ao contrário de
outros países do bloco andino, a Bolívia, principalmente após a entrada de Morales no
poder, sempre configurou-se mais cercadamente aos planos e perspectivas de Hugo
Chávez. Formou, inclusive, o coro de críticas ao avanço dos EUA na região e a própria
crítica ao modelo de participação e exposição financeira do Brasil na América do Sul.
Item 9. Brasil-Colombia: a introdução da Colômbia no palco da articulação.
Em fevereiro do ano de 2004 foram iniciadas as conversações com a Colômbia
para a construção de projetos de infra-estrutura a serem financiados pelo BNDES. O ano
de 2003 não observou nenhuma iniciativa desse tipo por parte da diplomacia brasileira
para com aquele país. O BNDES abriu conversações com a Colômbia para estabelecer
acordo para financiar projetos de infra-estrutura. Segundo o diretor de exportações do
banco, Luiz Eduardo Melin, as negociações com a Colômbia seguiriam o mesmo
modelo adotado pelo banco com outros países, como Venezuela, Bolívia, Paraguai e
Argentina. Ou seja, um modelo de negociação específica e bilateral, com procura por
instrumentos garantidores dos recursos do BNDES expostos em cada Estado
124
.
A estratégia, segundo Melin, é firmar acordos-quadro onde sejam fixadas as
condições gerais do entendimento entre o BNDES e o país onde serão realizados os
investimentos. Segundo declarações do diretor do BNDES ao Valor econômico de
16/04/04 “existe um lapso "normal" de tempo entre a decisão política do Estado
brasileiro de financiar projetos nestes países e a viabilização das operações bancárias
para os projetos”
125
.
As condições gerais para o financiamento do BNDES em projetos de infra-
estrutura nos países da região acarretam na já destacada diferença de tempo entre a
viabilização dos recursos e os anseios políticos envolvidos nas negociações
diplomáticas. Seria necessário, para as perspectivas gerais dos Estados da região, que
fosse conferido um viés político para o tema da cooperação, exposição e participação
financeira do Brasil em cada país; não um viés econômico, financeiro e pragmático
segundo a proposta do Brasil e do próprio banco. Nos demais anos abordados pela
pesquisa nenhum fato de peso foi verificado entre os dois países.
124
Valor econômico, 16/02/04. Colômbia e o próximo país na rota dos acordos.
125
Idem.
160
Item 10. O Brasil na arena multilateral: As regras do FMI e da OCDE quanto aos
financiamentos públicos para investimentos de longo prazo; e o BID e o BNDES.
No campo multilateral, a ação diplomática deu-se em meio a um movimento de
contestação das regras sobre investimentos públicos estabelecidas pelo FMI e pela
OCDE. O governo brasileiro sinalizava para a necessidade de revisão das regras do FMI
com relação aos gastos públicos e o endividamento dos Estados quando esses se lançam
em projetos de fomento do desenvolvimento e de financiamento das exportações de
cada economia
126
. O governo negociava com o Banco Mundial (Bird) e o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) mudanças nos critérios de contabilização de
gastos com investimentos públicos em infra-estrutura: “objetivo brasileiro é de que
obras de manutenção passem a ser consideradas como gastos de custeio”
127
.
No encontro BNDES-CAF de 2003, que deu início aos debates ao redor dos
projetos a serem financiados pelo BNDES, a diplomacia brasileira retomou as
conversações acerca da contestação das regras do FMI que vinculam investimentos em
Infra-estrutura como gastos de curto prazo. A idéia era angariar margem de manobra
para que os Estados pusessem em prática os projetos de integração física da América do
Sul sem as condicionalidades impostas pelas regras e metas de superávit primário. Além
de empreender em esforços para que os acordos da Basiléia sobre investimentos
públicos a partir de bancos de fomento e de desenvolvimento fossem revistos e ou
relaxados para países em vias de desenvolvimento.
No contexto da reunião CAF-BNDES de 2003, a Gazeta Mercantil de 17/08/03
veiculou a informação de que ao contrário do que ocorre nos países da OCDE, não se
computa gastos em infra-estrutura como investimentos de longo prazo, mas despesas de
curto prazo que afetam o balanço de pagamentos dos países em desenvolvimento. Os
gastos são computados de uma só vez, e não de acordo com o andamento do projeto,
como ocorre com os países da OCDE, onde se faz os cálculos de forma mais diluída, ao
longo de cada ano do projeto. Com esta prática de computação dos gastos, os
investimentos em infra-estrutura dos países sul-americanos ficam comprometidos,
atravancados e insuficientes
128
. Tais pontos foram enfatizados e criticados pelo então
presidente do BNDES, Carlos Lessa, e pelo presidente da CAF, Henrique Garcia.
126
Gazeta Mercantil, 17/08/03. Governo negocia com Bird e BID novas regras para investimentos.
127
Idem.
128
Gazeta Mercantil, 07/08/03. BNDES negocia mais 1 bilhão de dólares.
161
Os compromissos com a austeridade fiscal, nos limites traçados no acordo com o
Fundo Monetário Internacional, impuseram tais entraves sobre a política financiadora
dos países da região. Pode-se sugerir que tal condicionalidade impactou e impacta
negativamente na articulação própria do BNDES na PEB para a América do Sul; nos
processos de integração física da América do Sul; na definição da modelagem da
participação e exposição financeira regional do Brasil; e mesmo na estratégia de
financiamento das exportações brasileiras para a região. Os mesmos se mostraram, por
sua vez, como fatores parciais de entrave para os projetos anunciados nos repetidos
encontros de Estado do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva
129
.
A ação internacional do Brasil no ano de 2004 começou com a participação
brasileira na Cúpula das Américas, realizada em janeiro de 2004 na cidade de
Monterrey, México
130
. Foi adotada a declaração de Nuevo Leon, que objetivava, entre
outras questões, a busca por compromissos negociados e acordados no quadro
multilateral mais amplo da meta do milênio da cúpula de Monterrey. Cúpula que tratou
sobre financiamento do desenvolvimento e da declaração de Johanesburgo.
Lula defendeu o papel do Estado no financiamento do desenvolvimento e dos
projetos de infra-estrutura que possam integrar os povos e a própria nação. O encontro
de cúpula teve como tema central a promoção do desenvolvimento via investimentos
com a participação ativa do Estado e dos recursos públicos _ o papel do BNDES nesta
função foi destacado pela comitiva brasileira. A cúpula de Monterrey debateu a
necessidade de se atingir alguns pontos principais da rodada do Milênio como e
principalmente o projeto de redução da pobreza. Dentro da retórica da política externa
de Lula, na sua vertente da integração regional, estavam inseridos os temas da
promoção do desenvolvimento, redução da pobreza, aumento do fluxo de comércio com
os países da América Latina e a integração infra-estrutural. Todos esses temas foram
levados para a arena internacional mais ampla de forma a, também, colaborar no
processo de contestação das regras sobre os investimentos públicos dos países em
desenvolvimento e a sua correlação com a integração infra-estrutural.
O BNDES firmou, em setembro de 2005, a captação de 3 bilhões de dólares junto
ao BID para promover a sua alavancagem financeira em bases internacionais. A idéia
era ampliar a capacidade do BNDES de angariar recursos para investimentos em
129
Valor Econômico, Política externa esbarra nos cofres públicos 28/05/2003.
130
Gazeta Mercantil, 14/01/07. Lula defende autonomia para traçar políticas.
162
exportação de serviços brasileiros destinada para a América do Sul
131
. Esta captação
decorreu da estratégia de se criar uma linha de financiamento para internacionalização
de empresas brasileiras dentro do BNDES sem o uso dos recursos do FAT. Disso
resultaria uma maior liberdade de ação do banco, livrando-se, inclusive, de sérios
trâmites burocráticos com o tesouro nacional (maior acionista do BNDES); além de
aliviar as pressões de demanda sobre as linhas de crédito do banco. Nesse sentido,
temos uma demonstração de mais uma inovação estratégica e institucional do banco no
contexto recente de internacionalização da economia brasileira para dinamizar ainda
mais a inserção internacional da economia e seus respectivos segmentos produtivos.
O BNDES, em novembro de 2005, negociava o aumentou do seu aporte junto à
CAF, de 100 para 300 milhões de dólares; o aumento do aporte daria direito ao Brasil
de utilizar ate 2,4 Bilhões de dólares da CAF para investimentos em infra-estrutura.
Uma das vantagens da associação, segundo seus defensores, é combinar as
especialidades dos organismos
132
. Deve ser destacado que uma das manobras de maior
importância da política externa do governo Lula, no âmbito regional, é o aumento da
participação brasileira na corporação andina de fomento. Tais questões acerca das
razões da associação do BNDES junto à CAF e demais entidades regionais de fomento
merecerão discussão mais específica em um capítulo à parte. Isso haja vista a
importância do tema para a explicação da tese proposta e sua conclusão geral.
A partir do capítulo 4, teremos condições, com base no material oficial da CAF, de
mapear o processo de alavancagem financeira brasileira na referida instituição; isso nos
permite estabelecer uma aproximação mais exata com relação aos números reais da
participação e exposição financeira do Brasil. Isso decorre do fato de que as
informações que a mídia anuncia muitas vezes não refletem a realidade mais próxima,
apenas expectativas gerais. O que de fato é possível ser afirmado é que o processo de
alavancagem junto a esta instituição veio ocorrendo de forma substancial e
estrategicamente orientada de forma a criar bases internacionais de captação financeira
do Brasil na arena regional. Como verificaremos, os recursos foram aportados a partir
do orçamento da União.
131
Folha de São Paulo, 14/09/05. BNDES deve captar US$3 bilhões no BID. O BNDES de fato captou
este montante financeiro junto ao BID. O jornal Gazeta Mercantil, de 14/09/05 confirmou a captação.
“Banco assina contrato de US$ 3 bilhões com o BID”.
132
Correio Brasiliense, 28/09/05. A semente do livre-comércio. O Globo, 04/10/05. Brasil poderá ter
créditos de US$2,4 BI na CAF.
163
As relações com o BID também foram integradas na temática da pesquisa
proposta.
Em 04 de abril de 2006, o BNDES assinou um "protocolo de entendimento"
para estudar uma possível linha de crédito de US$ 1,5 bilhão para a infra-
estrutura brasileira. A idéia seria colaborar com o atual governo em
arranjos e acordos institucionais de forma a alavancar a instituição BNDES
com mais recursos para investimentos na infra-estrutura nacional
133
.
Após o término da reunião com o BID, em abril de 2006, a instituição anunciou a
ampliação da cobertura de investimentos do setor privado brasileiro para linhas de
crédito do BNDES destinadas para pequenas e médias empresas brasileiras atuantes na
América Latina
134
. Em declarações dadas pelo presidente Lula antes da reunião do
Mercosul realizada em abril de 2006 em Belo Horizonte, destacou:
Desde sua criação, no ano de 1959, o BID tem contribuído para aproximar
os setores públicos e empresariais de nosso continente na busca de soluções
criativas para o financiamento do desenvolvimento econômico e social. Nas
conversas que tenho tido com o novo presidente do BID, Luis Alberto
Moreno, coincidimos quanto à importância que os temas de infra-estrutura
devem assumir nas atividades do Banco. Tenho a certeza de que a reunião
de Belo Horizonte confirmará nossa união de propósitos e abrirá novas
perspectivas para realizar o pleno potencial de integração solidária de
nosso continente
135
.
Na mesma ocasião, o presidente brasileiro destacou a continuação das
conversações com relação aos temas controversos de regras de financiamento da OCDE
e FMI, e a importância para o revigoramento das instituições tradicionais de crédito da
América do Sul. Esta postura do governo brasileiro, defendida pela diplomacia nacional,
também forma parte da estratégia encontrada para a viabilização dos investimentos do
Brasil na região ao possibilitar às empresas brasileiras acesso a créditos regionais mais
baratos e rápidos do que os oferecidos pelo BNDES; além de aliviar a pressão de
demanda sobre as linhas do banco, haja vista a possibilidade de co-financiamento entre
o BNDES, o PROEX-Equalização e a CAF.
133
Gazeta Mercantil, 04/04/06. América latina em busca o prestigio perdido
134
Idem.
135
O Estado de São Paulo, 03/04/06. Os alicerces da integração regional.
164
CAPÍTULO QUATRO: A CORPORAÇÃO ANDINA DE FOMENTO E O CCR-
ALADI: OS NÚMEROS.
165
Item 1. A condição estrutural da economia latino-americana: o contexto econômico
financeiro.
O cenário econômico global logo dos atentados de 11/09, sinalizava para uma
recessão de grandes proporções: Japão, Europa e EUA enfrentavam juntos um período
de desaceleração econômica. Tal fato foi bastante particular na história da evolução da
economia mundial, haja vista que as três grandes potências econômicas enfrentavam
juntas uma fase de recessão. As quedas dos principais mercados de ações estavam sendo
contornadas por reduções constantes nas taxas de juros dos países centrais; os níveis de
desemprego atingiram patamares preocupantes. Nesse sentido, os impactos nos níveis
de consumo dos produtos primários foram negativos; os países exportadores latino-
americanos
1
amargaram uma queda significativa nos seus recursos oriundos das
exportações primárias
2
.
O impacto da recessão sobre a região da América Latina no geral, e da América do
Sul em específico, deu-se em decorrência da deterioração dos termos de trocas dos
recursos obtidos com as vendas das commodities para o mercado dos EUA. Mercado
esse que concentra os destinos dos produtos exportáveis e primários dos países da
região. Desde esta perspectiva, uma região que apresenta uma forte dependência para
com o mercado norte americano e uma destacada especialização econômica em
produtos de baixo valor agregado atesta, por analogia, para a sua vulnerabilidade
econômica frente às crises financeiras internacionais; crises que acarretam fortes reveses
nos cursos do desenvolvimento e do crescimento econômico dos países
3
.
A região como um todo apresenta uma forte vulnerabilidade frente a choques
externos na área comercial (termos de troca), haja vista a dependência em exportações
de produtos primários para, principalmente, os EUA (Jaramillo, 2002, p.40)
4
. Os
componentes externos de fluxos de capital e dos termos de intercâmbio colaboram com
a referida vulnerabilidade, mirando que a especialização seria um dos fatores chaves
para entendimento da questão (Idem). Ao adicionar a percepção de que a região
1
Os termos América Latina e Latino americano serão empregados neste capítulo em virtude de a
documentação pesquisada sobre a CAF se referir aos países da região nestes termos.
2
Vide o anexo para a verificação dos dados CEPAL 2006 acerca da importância do PIB por classe
econômica.
3
Vide o anexo Os números do comércio exterior por setor econômico em milhões de dólares das diversas
iniciativas integradoras da região.
4
Destaca que os impactos nos termos de intercâmbio dos países da região são ainda maiores nos
momentos das aberturas comerciais mais agressivas dos anos noventa. Portanto, adicionado às
constatações acerca da problemática da vulnerabilidade comercial dos países, o cenário dos anos noventa
postulou um viés a mais no que concerne ao enfraquecimento da arquitetura econômica latino-americana.
166
apresenta um mercado de capitais restrito e ineficiente, torna-se ainda mais patente a
caracterização da referida vulnerabilidade, haja vista que as economias latinas não
possuem saídas regionais e ou locais para terem acessos a créditos em momentos de
escassez financeira. As alternativas possíveis a longos prazos seriam investir na
diversificação da pauta de exportações para que em momentos de falta de liquidez de
capital as economias locais tenham condições de formar recursos para as suas
poupanças internas de forma a financiar o desenvolvimento.
É tradicional na literatura sobre desenvolvimento econômico a importância dada
ao acesso dos países em desenvolvimento aos mercados de capitais. Como sugere a
teoria dos dois hiatos de Chenery e Bruno (1962) esse estrangulamento se daria, de um
lado, por falta de poupança interna e, de outro, por falta de acesso ao mercado de
divisas. Nos dois casos, o resultado é a baixa taxa de investimento e, portanto, de
crescimento (Chenery e Bruno, 1962). Bacha ampliou esse modelo sugerindo um
terceiro hiato, o hiato fiscal. Essa discussão remete deforma mais ampla às discussões
cepalinas, na qual estrangulamentos derivados do perfil da inserção comercial dos
países de periferia atuariam como restrições estruturais a que essas economias
rompessem com o ciclo do subdesenvolvimento (Bacha, 1990).
Kletzer e Bardham postularam que o desenvolvimento financeiro de um país, ao
facilitar a ampliação de escala e a implementação de projetos empresariais de elevado
retorno, constitui vantagem comparativa para a indústria, no caso do seu trabalho
destacando a manufatureira. Tal relação decorre de várias razões. Primeiro, ao gerar
impactos sobre a estrutura da balança comercial, o desenvolvimento do sistema
financeiro realça a importância desse setor para o desenvolvimento econômico, além de
efeitos positivos sobre o crescimento econômico. Isso reforça, portanto, a prioridade que
reformas do setor financeiro teriam na agenda dos formuladores de políticas públicas.
Segundo, os serviços financeiros podem ser interpretados como parte da tecnologia de
produção ou como determinante do nível de capital físico de uma economia. Por fim,
uma possível associação entre desenvolvimento financeiro e comércio internacional tem
implicações sobre a implementação de políticas econômicas, pois, de um lado, reformas
do setor financeiro podem ter implicações para a balança comercial, se o nível de
desenvolvimento desse setor é determinante de vantagens comparativas para os países e,
por outro lado, efeitos de reformas do comércio exterior sobre o nível e estrutura da
balança comercial podem depender do grau de desenvolvimento do sistema financeira
(Kletzer e Bardham, 1987).
167
Item 1.1. A problemática da poupança interna e dos instrumentos de
financiamento: a importância da CAF para a redução da vulnerabilidade das
economias regionais.
Articulando as observações próprias de que tratam esta tese, podemos relacionar
os impactos no crescimento econômico da região com os níveis de risco-país próprios
das análises das empresas de rating internacionais. Como conseqüências causais diretas,
a partir da forma como os estudos próprios da área de economia política do
financiamento atestam, a poupança interna fica limitada quando um país apresenta um
nível de risco financeiro elevado. Por sua vez, os montantes e os custos de empréstimos
(créditos) para financiamentos privados diversos encarecem resultando no impacto
negativo nos níveis de financiamento do próprio desenvolvimento dos países, incluindo
créditos para exportações, infra-estrutura, desenvolvimento social e econômico.
Vejamos os resultados na tabela 5 e 6 acerca da formação bruta de capital:
Tabela 5: Formação Bruta de capital.
Financiamento da formação bruta de capital a preços correntes da América Latina. Milhões de
dólares.
1995 2000
2002
2003 2004 2005
1. Poupança
interna.
347 535.2 400 213.9
334 951.3
365 887.3 464 405.4 569 064.1
2. Renda
liquida de
fatores.
-40 733.6 -53 716.2
-52 570.2
-57 769.7 -67 103.2 -76 622.7
3.
Transferências
liquidas.
15 273.9 20 668.9
28 531.8
34 892.4 41 486.8 49 230.6
4. Poupança
nacional Bruta.
322 075.5 367 166.7
310 912.9
343 010.1 438 789.0 541 672.1
5. Poupança
externa.
37 769.3
47 000.5
13 988.6
-9 004.3 -20 774.5 -35 873.2
6. Investimento
interno bruto:
4+5.
359 844.8 414 167.2
324 901.5
334 005.7 418 014.4 505 798.9
Fonte: CEPAL 2006, p. 142
5
.
5
Anuário Estatístico de América Latina e Caribe 2006, p. 104. Dados selecionados e organizados pelo
autor.
168
Tabela 6: Formação bruta de capital em % do PIB.
Porcentagem do PIB.
1995 2000
2002
2003 2004 2005
1. Poupança interna
20.9 20.6
20.1
21.2 23.4 23.6
2. Renda liquida de fatores
-2.4 -2.8
-3.2
-3.3 -3.4 -3.2
3. Transferências liquidas
0.9 1.1
1.7
2.0 2.1 2.0
4. Poupança nacional Bruta
19.3 18.9
18.7
19.8 22.1 22.5
5. Poupança externa
2.3 2.4
0.8
-0.5 -1.0 -1.5
6. Investimento interno bruto: 4+5.
21.6 21.3
19.5
19.3 21.0 21.0
Fonte: Idem.
Destaca-se a redução nos níveis de renda líquida de fatores, de poupança nacional
bruta e poupança externa (2, 4 e 5) entre os anos 2000 e 2002. Como conseqüência, o
investimento bruto (4 + 5) caiu de 21.3 para 19.5 entre 2000 e 2002. Os anos destacados
representam o período mais agudo das crises financeiras do Brasil e da Argentina.
Como pode ser averiguado pelo restante dos dados, somente nos anos seguintes é que os
índices retomaram patamares de crescimento significativos. Assim, o argumento que se
procurar estruturar é o da correlação estreita entre parâmetros de avaliação de riscos
praticados por empresas de rating, formação bruta de capital e contextos de crises de
ordem financeira. Mais adiante o quadro argumentativo a este respeito ficará completo e
a sua correlação com o componente de redução das vulnerabilidades externas frente aos
choques financeiros internacionais estará mais claro.
Os antecedentes dos países da região nos anos noventa atestam que os mesmos são
caracterizados por um baixo nível de poupança interna, quando comparados com os
países de Ásia. No geral, a poupança interna é de 19% do PIB, ao passo que nos países
da Ásia este índice gira em torno de 32%
6
. Além da própria volatilidade dos fluxos de
capital característicos dos países da região quando comparados aos de outras áreas
econômicas. Esses fatores postulam enclaves adicionais para o tema da cooperação,
exposição e participação financeira que fomentaria os investimentos privados e públicos
a serem executados dentro das iniciativas integradoras que fazemos referência.
Como conseqüência da propensão às vulnerabilidades externas caracterizadas por
crises de ordem financeira internacional, pode ser sugerida a seguinte compreensão:
poupança interna e crescimento econômico são variáveis importantes para os países em
vias de desenvolvimento, fato esse que explica a necessária correlação entre
6
IMF, World Economic Outlook, Statistical Appendix. Washington, D.C. Vols. 1997-2002.
169
investimento e poupança total, que é a soma da interna com a externa; e uma escassez
de fluxos de capital, em momentos de choques externos e de crises financeiras, afeta
ainda mais a vulnerabilidade estrutural da economia regional. A incapacidade de
financiar suas economias e os planos de desenvolvimento nos mercados financeiros
externos se torna mais patente. Dessa relação resulta, dentre outros fatores, o
crescimento do risco que oferece uma economia com escassez de liquidez para os
mercados financeiros internacionais; ocorre, com isso, a diminuição dos investimentos
produtivos e direcionados para os desenvolvimentos econômicos dos países. Esse
fenômeno atesta para a caracterização da volatilidade dos investimentos de longo prazo
nos países latinos (Manzano, Osmael, 2002)
7
.
Em termos teóricos, são várias as premissas que dão suporte para uma correlação
positiva entre desenvolvimento econômico e desenvolvimento dos meios e mecanismos
de financiamento. Com efeito, o desenvolvimento do sistema financeiro estimula o
crescimento econômico (Darrat, 1999). Tal estímulo baseia-se no funcionamento
satisfatório das instituições que o compõem e promovem a eficiência econômica geral; a
geração e expansão de liquidez; a mobilização de poupança interna para financiamentos
de longo prazo; a intensificação do processo de acumulação de capital; a transferência
de recursos de setores tradicionais sem crescimento para setores mais modernos
indutores de crescimento; e o impulso às respostas de empresários competentes nos
setores modernos da economia. Assim, mercados financeiros eficientes seriam
condutores da oferta de serviços financeiros, dinamizando o setor real da economia
(Idem).
Na mesma linha, o desenvolvimento do sistema financeiro estimula o crescimento
da economia, porque os intermediários que o integram: oferecem proteção,
diversificação ou arranjos de combinação do risco enfrentado pelos agentes
econômicos; alocam recursos mais eficientemente; monitoram e direcionam o controle
empresarial; mobilizam poupanças; e facilitam a troca de bens e serviços em uma
economia de mercado. Em síntese, o sistema financeiro facilita a alocação de recursos
temporal e espacialmente, contribuindo, assim, para estimular a atividade econômica
(Levine, 1997)
8
.
7
Segundo o autor destacado, a região é um espaço onde os investimentos produtivos sofrem constantes
reveses; hora aumentam os fluxos investimento, hora ocorre uma escassez acentuada. Esse fato é
resultado, ademais dos fatores já destacados, da própria condição política e social instável que marca dos
países latino americanos.
8
Para uma visão alternativa consultem J. Lee (1996) e B. Lee (2001).
170
A questão para este momento da tese é, com base nos resultados já alcançados, a
seguinte: quem deve financiar o desenvolvimento? Com base na literatura, estamos
assumindo que restam aos Estados, em momentos de escassez de créditos, financiarem
as suas economias por meio de ajuda das agências de crédito regional e dos bancos
regionais e nacionais de desenvolvimento. A perspectiva da cooperação, participação e
exposição financeira regional pode ser uma alternativa, dentre outras, para que as
economias dos países do entorno regional se financiem em momentos críticos do
cenário financeiro internacional. Essa observação direciona para o entendimento da
importância e relevância das agências de crédito regionais como CAF, e dos bancos de
desenvolvimento como o BNDES. Este capítulo retoma o entendimento discutido no
capítulo anterior acerca da importância dada pela diplomacia e pelo BNDES para a
participação e a exposição financeira brasileira junto a esta instituição.
Sugere-se que, para além das questões de ordens financeiras próprias referentes ao
tema da credibilidade da CAF na arena financeira internacional, temos uma correlação
positiva com o componente de redução de vulnerabilidade internacional buscada pela
diplomacia brasileira. Ou seja, buscar em bases regionais estratégias que permitam uma
maior exposição e participação financeira na América do Sul que reduza as
vulnerabilidades brasileiras frente aos choques financeiros internacionais; que definam
um parâmetro regional seguro de garantias e recursos para as empresas brasileiras terem
acesso a créditos em base regional; e que diminuam as pressões de demanda sobre as
linhas de exportação do BNDES, já que a CAF entra como co-financiadora do projeto
junto com o PROEX-Equalização
9
. Portanto, resume-se que seria, também, uma
manobra estatal de forma a driblar a deficiência estrutural da arquitetura financeira de
um país a partir de uma estratégia externa à realidade nacional; fato que contornaria a
relutância da banca privada nacional na expansão da oferta de créditos.
Item 1.2. O fenômeno da transmissão: a retomada do argumento do CCR-Aladi.
Os países com baixo nível de desenvolvimento financeiro doméstico passam a
acirrar uma competição interna por acesso aos recursos internacionais em momentos de
9
Resolução 45 da CAMEX. Relembrem que no capítulo dois chamamos a atenção para a retomada deste
assunto neste capítulo. Uma das inovações com a resolução 45 foi justamente integrar o sistema
financiador público com a iniciativa CAF. No item quatro do capítulo dois destacamos que uma das
características do sistema público brasileiro era justamente a integração entre o BNDES-Exim, PROEX e
CCR nacional. Este item que não pode passar despercebido.
171
escassez de créditos internacionais. Desse fato resulta mais endividamento externo e,
portanto, mais vulnerabilidade e desequilíbrio monetário. A condição estrutural de
vulnerabilidade aos choques internacionais acarreta, de acordo com esta análise e com
base nos estudos da economia política do financiamento encontrados na bibliografia, em
um fenômeno típico dos países da região que se denomina transmissão
10
. Ou seja,
transmite-se para a esfera interna, por meio de um endividamento externo em momentos
de escassez de fluxos de capital, as conseqüências negativas dos eventos e crises
internacionais. Mais uma vez, o desenvolvimento e os investimentos em projetos de
infra-estrutura integradora ficam debilitados e limitados. Os casos das crises financeiras
argentina e brasileira são exemplos emblemáticos nesse sentido que, inclusive,
acarretaram em problemas de ordem político-diplomáticas.
Nos capítulos dois e três, foi discutida a opção da PEB em resgatar o uso do CCR-
Aladi nas relações comerciais. Dentre as motivações destacadas, uma delas está
relacionada com a possibilidade de as transações comerciais serem realizadas,
garantidas e pagas em moeda local sem a intermediação de moedas estrangeiras. Com
isso, os Estados garantem os pagamentos a partir dos seus recursos locais sem
necessidade de acesso a créditos internacionais o que evita, desta forma, mais
endividamento externo das economias locais, incluindo a brasileira. Procura-se, por
meio desta alternativa, evitar situações de transmissão concernentes aos endividamentos
externos.
A participação e exposição financeira brasileira na América do Sul é um modelo
de atuação reforçado na era Lula e que evita os reveses do sistema financeiro
internacional
11
; fato que, de certa forma, guarda alguma analogia com o tema da
blindagem para com o fenômeno da transmissão. No geral, o argumento que se levanta é
que a busca da redução das vulnerabilidades da economia brasileira com relação aos
choques internacionais está atrelada aos seguintes fatores correlacionados à temática da
tese: a redução dos custos das exposições e participação financeira brasileira no plano
regional a partir de uma maior coordenação com instituições sólidas como a CAF; a
necessidade de se evitar a transmissão; os aportes constantes dos recursos financeiros
brasileiros na CAF; e a não utilização dos recursos internacionais para a cobertura dos
10
Manzano, Osmael, 2002. In: “Temas críticos para América Latina”, analisa em detalhes a
problemática da transmissão para as economias internas dos efeitos negativos dos choques internacionais.
11
Definimos no gráfico quatro do capítulo dois que os custos do CCR-ALADI atualmente são maiores do
que os recursos oferecidos pelo mercado internacional de créditos em dólares americanos. Isso postula
uma das maiores dificuldades da PEB em resgatar o sistema nas relações comerciais do Brasil na região.
172
créditos e das garantias dos investimentos brasileiros na América do Sul possibilitada
pelo uso do CCR-Aladi. Essa correlação define, também, parte da hipótese que
assumimos de ser o modelo brasileiro financeiro destacado como fortemente defensivo.
Item 1.3. Contornando a problemática da poupança interna: a visão conjunta
CAF-BNDES.
Os dois tipos de poupança interna de um país ou região econômica são: as
poupanças privadas e as públicas. No segmento das poupanças privadas, contam para a
determinação dos seus aumentos os níveis de incerteza de uma economia; as taxas de
retorno dos créditos concedidos; as características dos sistemas de pensão; as políticas
fiscais; as características econômicas da população; os níveis de ingresso e distribuição
de renda; e a eficiência das instituições e burocracias estatais (Estudo econômico
OCDE-Brasil 2005, 2005). Para a poupança pública, o crescimento e o desenvolvimento
econômico são os efeitos mais diretos para o aumento da mesma.
Os manuais básicos de macroeconomia e economia política do financiamento
atestam que as estratégias para aumentar a poupança interna são: a estabilidade
macroeconômica e a política tributária eficiente. Uma política macroeconômica
eficiente remete para a noção de equilíbrio dos setores interno e externo da economia.
Os setores externos seriam, por sua vez, as balanças de pagamentos equilibradas, e as
contas correntes de capitais em harmonia estrutural. O equilíbrio interno deve respeitar
a lógica adequada entre demanda e oferta para preservar os níveis ideais de inflação.
Ademais, o equilíbrio das contas fiscais deve ser feito fundamentado em políticas de
ordem monetária, fiscal e cambial responsáveis com a estabilidade inflacionária.
No tocante à política tributária, em momentos de crescimento econômico, poderia
ser posta em prática uma política de redução de impostos; em momentos de retração
uma política de imposição de maiores impostos. Restam aos Estados da região,
portanto, aprofundarem as reformas estruturais de primeira geração e, ademais, dar
maior dinamismo às chamadas reformas estruturais de segunda geração, que tratam da
eficiência institucional do Estado
12
. Essa é a visão lógica da CAF para que se
12
Nesta pesquisa foi sistematicamente enfatizado o trabalho Estudos econômicos da OCDE - Brasil 2005.
FGV Editora. Rio de Janeiro, 2005. O trabalho atesta, no seu contorno geral, que o Brasil avançou muito
no que diz respeito às chamadas reformas estruturais de segunda geração. A despeito do debate e embate
político ideológico que existe com relação a este tema, o fato é que o país implementou estratégias que
procuram definir uma condução responsável para as suas instituições nacionais. O BNDES, por sua vez,
173
desenvolvam os mercados de capitais da região
13
. Portanto, essa discussão teórica e
analítica inicial é justificada em vista das percepções que se faz para analisar a
importância da CAF para a PEB e o BNDES; e mesmo a importância da Corporação
Andina para o tema do financiamento da integração infra-estrutural. Os objetivos
últimos seriam: desenvolver o sistema financeiro dos países e suas capacidades de
financiamento dos seus projetos de desenvolvimento; desenvolver um mercado de
capitais regional eficiente e alheio aos choques externos; possibilitar o financiamento
dos projetos de integração regional sem recorrer a endividamentos externos onerosos
em termos de juros; financiar as economias locais sem comprometimentos sérios para
com as responsabilidades fiscais e monetárias; criar um mercado de crédito regional em
moeda local; evitar a transmissão; e, ademais, ter acesso a créditos junto às instituições
multilaterais de forma barata a partir de uma base regional respeitada.
Em termos de políticas macroeconômicas, os governos da região devem atuar de
forma a evitar o que se corresponde às chamadas volatilidades de crédito das economias
(Manzano, Osmael, 2002, pp. 76, 77 e 78). Ou seja, ser líquido, confiável e solvente em
todos os contextos econômicos e internacionais instáveis. Por sua vez, os objetivos em
política fiscal é que tenham a mesma lógica dos mercados internacionais: ser solvente,
de forma que em tempos difíceis seja possível ter acesso aos mercados internacionais;
ser líquida e estar preparada para possíveis crises de acesso em momentos de
rolamentos de dívidas. Manter superávits em momentos de bonança, de forma a gerar
liquidez evitando contrair dívida de curto prazo. Melhorar os termos de supervisão
bancária é outra estratégia para evitar a transmissão. Além da própria liberalização dos
sistemas bancários (Idem, pp. 76 e 77).
Item 1.4. A poupança interna e os mercados de capitais: o argumento das reformas
estruturais de segunda geração.
também está inserido nesta lógica impressa pelas políticas de governo do Brasil desde a constituição de
1988. Assim, a própria PEB, dentro dos seus marcos e variáveis históricas definidos no capítulo um,
estaria, de certa forma, em correspondência com estas dinâmicas próprias do plano interno brasileiro. Para
as nossas conclusões, a articulação BNDES-PEB na região pode ser entendida levando-se em conta tais
considerações.
13
O documento utilizado para o argumento é o livro “temas críticos para la America Latina”, publicado
e financiado pela instituição no ano de 2002. O texto apresentado pelo destacado presidente da CAF
dentro desta coletânea é “Desafios de América Latina en el nuevo escenario mundial”. Neste material
estão contidas as características da instituição e a sua postura em vista da problemática geral dos países
latino-americanos para os temas de financiamento e de desenvolvimento econômico.
174
Como observado, a poupança interna dos países da região é menor que o PIB, isso
acarreta em sérios problemas para o financiamento do desenvolvimento e da cooperação
financeira. Em vista do que já foi debatido, o grande desafio dos países das Américas
seria conduzir uma política macroeconômica (fiscal e monetária) de longo prazo que
resulte na redução das destacadas vulnerabilidades aos choques internacionais.
Desde esta perspectiva, deben desarrollar un mercado de capitales con una
institucionalidad transparente y, que por su vez, que se integre a los mercados
internacionales. Con esto, debe se mejorar el ahorro interno de las economías, así
como los mercados de capitales internos” ( Xavier e Uquillas, 2002, p.90).
Na região da América do Sul em específico, não podemos afirmar a existência de
mercados de valores desenvolvidos. A exceção do Brasil, que apesar de ter um mercado
de valores expressivo, o mesmo não comparte de uma função de financiador de projetos
de longo prazo, a exemplo do próprio sistema financeiro privado brasileiro. Os bancos
públicos e de desenvolvimento passam a financiar os projetos e financiamentos que
demandam grandes somas de capitais e longos ciclos de produção e comercialização.
Os benefícios auferidos com um melhor desenvolvimento do mercado de valores
seriam: a redução dos custos dos créditos, com conseqüentes aumentos dos
investimentos públicos e privados; a canalização da poupança interna para os projetos
de investimentos; e a conseqüente melhora da liquidez dos países. Os projetos de
desenvolvimento se beneficiariam desse resultado esperado, o que aumentariam as
possibilidades de competitividade de setores econômicos exportadores que não sejam os
tradicionais setores de produtos primários. Enfim, reduziria a vulnerabilidade da
economia da região frente aos choques externos. Assim procuramos argumentar ao
apresentar algumas contribuições teóricas sobre economia política do financiamento ao
longo deste texto e, ademais, mirando sobre as conclusões do capítulo dois.
A região destacada, caso tivesse um mercado de capitais eficiente, poderia ser
beneficiária de uma maior integração financeira no nível internacional. As reduções de
custos de créditos se processariam ainda mais, gerando maior eficiência e liquidez; além
das inovações de produtos e serviços financeiros com a flexibilização do capital. O
último estágio esperado seria, a exemplo dos países centrais, a criação da cultura dos
investimentos institucionais, com grandes grupos associados a planos privados de
previdência. Caberia um maior esforço de transparência e eficiência institucional para
175
dar vazão a este processo. Essa é a visão da CAF destacada no trabalho “temas críticos
para la America Latina 2002”; além do trabalho “Estudos econômicos OCDE-Brasil
2005”, que sugere o mesmo receituário para o Brasil.
Ainda de acordo com os estudos econômicos OCDE Brasil 2005, é necessário dar
vazão para os avanços substanciais nas estratégias de reestruturação típicas de reformas
de segunda geração. O próprio BNDES é ator central nesse processo e, por sua vez,
postula uma definição precisa para a sua articulação junto da PEB na América do Sul
que seria por definição: a estratégia de inserção internacional do Brasil via América do
Sul (projeto político da PEB), em meio a um processo avançado de ordem interna de
reestruturação de segunda geração (política interna do governo brasileiro; eficiência
institucional do aparelho estatal). Esse fato também explica a importância da CAF e dos
aportes financeiros do Brasil junto desta instituição, a saber: uma exposição responsável
e de acordo com a lógica das estratégias de transparência, eficiência, previsibilidade e
garantias típicas da nova fase institucional e financeira do Brasil.
É a partir dessa ótica que destacamos o argumento de que a PEB do governo Lula,
articulada com o BNDES _ subentendendo o modelo próprio de participação e
exposição financeira regional _ é um processo estruturado no seio do Estado brasileiro a
partir de políticas responsáveis para com os recursos do banco. A maior participação do
Brasil na CAF também é entendida como estratégia para aumentar o financiamento das
exportações brasileiras para a região; tal estratégia está estruturada em marcos
regulatórios previsíveis, institucionalidade transparente, mecanismos de informação e
transparências eficientes e práticas administrativas típicas de políticas de boa
governança. Dessa forma, enquanto na década de noventa as trajetórias de
reestruturação de primeira geração definiram os limites e os alcances da vertente
regional da PEB; nos anos dois mil são as referidas estratégias de segunda geração que
definem parte das regras do jogo.
As ondas de reformas de segunda geração colaboram, porém não exclusivamente,
nas possibilidades e nos alcances dos sucessos da Política Externa nacional no âmbito
regional integrada com o tema financeiro. Ambas as fases compartem a continuidade de
salvaguardar a autonomia
do Estado brasileiro em virtude da lógica de desenvolvimento
econômico e institucional que está sendo impressa no âmbito interno. Neste ponto
integramos os esforços empreendidos no capítulo anterior para mapear as propostas e a
evolução da destacada da PEB nos temas financeiros.
176
Item 1.5. O diagnóstico da CAF.
A situação estrutural dos países da região nos termos da sua arquitetura financeira
é de que persistem sérias debilidades. Essas, por sua vez, condicionam o crescimento
atual e potencial das economias da região em patamares tímidos de desenvolvimento,
emprego e bem-estar (Garcia, 2007, p.4)
14
. O presidente da CAF ainda destaca que os
avanços e reformas no sistema financeiro não conseguiram superar os obstáculos que
mantém restringido o crédito ao setor produtivo (Idem, p.4). Acertos nos campos
regulatórios e institucionais devem ser feitos de forma a dar maior fluidez para o
crédito. É destacada a ineficiência dos sistemas bancários nacionais, que estão pouco
desenvolvidos e expostos em atividades de insolvência e de risco (Idem, p.3).
Ainda segundo o seu diagnóstico, os avanços no campo fiscal não se traduziram
em práticas de manejo que contribuam para o fortalecimento do mercado de títulos
públicos para garantir a sustentabilidade dos déficits fiscais nos médio e longo prazo. As
conseqüências não são negativas somente para o caráter fiscal, mas também dificultam
o crescimento do mercado doméstico de capitais e o surgimento de mecanismos e
instrumentos diversos adaptados às necessidades das empresas (Idem). Os riscos e as
percepções internacionais negativas acerca das políticas monetárias e fiscais dos países da
região acabam por incidir negativamente nas políticas de financiamento do desenvolvimento.
Nos parágrafos destacados acima, as questões referentes às problemáticas próprias
das deficiências e assimetrias de informação impactam nas preocupações dos setores
fornecedores de crédito. Questões estas muito importantes para a consolidação de um
mercado financeiro e de valores eficiente no entorno dos países sul-americanos e
latinos. Portanto, persistem na região os problemas de informação que implicam no
caráter conservador da banca de crédito internacional e mesmo regional para a
concessão dos recursos para investimentos locais (Castilla; e Hidalgo, 2007, pp. 19, 20).
Como causalidade direta, os setores produtivos da região sofrem com a escassez de
recursos em vista da característica estrutural do sistema financeiro regional (Idem).
Mecanismos de clearing regional, de transparência ou mesmo de registros de
créditos, incorporados com leis estatais que protejam os credores, garantiriam para os
países da região maiores investimentos e manejos de crédito. O resultado seria o
14
Luiz Henrique Garcia, à época da confecção deste trabalho, era presidente da CAF, Corporação
Andina de Fomento. Ele expressa os seus diagnósticos e análises no documento “Desafíos financieros y
macroeconómicos en América Latina”. Editores, Luís Miguel Castilla y Osmel Manzano, Junio de 2007.
177
crescimento econômico tão demandado pelos governos e sociedades locais no limiar do
século XXI; ademais de promover o desenvolvimento dos núcleos de base de
relacionamento entre cliente e banco. Esta relação promoveria, como atesta a literatura
acerca da política de crédito utilizada nesta tese, uma cultura e identidade mais próxima
entre os atores no sentido de solidificar bases mais concretas para o alargamento da
concessão financeira regional. De fato o processo não se verifica na América do Sul,
resultando negativamente nos colaterales da região. Segue uma análise sobre os
registros de crédito na região.
Tabela 7: Registros públicos de crédito.
Existe
RPC?
Ano de
operação
Cobertura
RPC. Divida
por 1000
habitantes.
Índice
RPC
Existem
escritórios
oficiais de
credito?
Cobertura
privada/1000
hab.
América latina. 53,2 50 196,6
Argentina Sim 1991 149 61 Sim 475
Bolívia Sim 1998 55 58 Sim 134
Brasil Sim 1997 44 50 Sim 439
Chile Não 1977 209 45 Sim 227
Colômbia Sim _ _ _ Sim 187
Costa Rica Sim 1996 7 44 Sim 55
Rep. Dominicana Sim 1994 n.d 42 Sim 423
Equador Sim 1997 82 55 Não _
El Salvador Não 1996 130 50 Sim 128
Guatemala Sim _ _ _ Sim 35
Haiti Sim 1980 1 59 Não _
Honduras Não 1998 45 42 Não _
México Não _ _ _ Sim 382
Nicarágua Sim 1994 50 45 Não _
Panamá Não _ _ _ Sim 302
Paraguai Sim 1995 n.d n.d Sim n.d
Peru Sim 1983 92 54 Sim 185
Uruguai Sim 1982 49 57 Sim 479
Venezuela Sim 1975 97 46 Não _
Leste asiático 12,9 63 107,8
OCDE 43,2 58 443,5
Fonte. Banco Mundial 2003, Doing Business database.
Apesar dos indicadores positivos acerca dos registros públicos financeiros dos
países da região, comparáveis aos índices do leste asiático e dos países da OCDE, duas
explicações alertam para o cuidado com os dados apresentados pela tabela. A primeira
explicação deve-se ao fato de que nos países desenvolvidos as atividades privadas
178
superaram as públicas no tema dos depósitos financeiros, fato que aproxima os números
dos países centrais aos dos países latinos. A segunda questão atesta que a média dos
registros dos países destacados na quarta coluna demonstra que os mesmos ainda estão
em desvantagem com relação aos membros da OCDE: no geral, o quadro direciona para
severidade da situação dos países locais para o tema do acesso ao financiamento; a falta
da cultura mais estrita entre cliente e credor; os problemas com relação às deficiências
para a transparência e divulgação de informações financeiras; e a ausência da
colateralidade.
Com base nos estudos econômicos OCDE Brasil-2005, podemos sinalizar para
avanços substanciais brasileiros nesses aspectos. O BNDES está estruturado sob uma
lógica de independência e responsabilidade, daí a sua grande capacidade financiadora e
sustentável sem precedentes na região. O tema das assimetrias entre o Brasil e os países
sul-americanos, assunto historicamente oneroso para as iniciativas brasileiras de
integração regional, definiu-se, na era Lula da Silva, pela maior percepção regional
acerca do tamanho da estrutura pública de financiamento do Brasil; ademais da própria
lógica de manejo dos recursos que a mesma estrutura emprega. Essa sugestão possibilita
estender o debate das assimetrias estruturais para o tema dos avanços institucionais e
financeiros brasileiros. Tais avanços, por sua vez, impactam definitivamente na
projeção e nos resultados esperados pela PEB, pelo BNDES e pelos setores
exportadores nacionais na América do Sul. A cronologia feita procurou mapear o
quadro geral do tema e sinalizar, também, para essa sugestão analítica.
O papel do Estado é central para a concessão de financiamento para os projetos e
investimentos destinados aos planos de desenvolvimento social. A importância dos
bancos de desenvolvimento e agências regionais de crédito se torna patente. A visão da
CAF é que o Estado poderia apoiar os setores que apresentam maiores limitações de
financiamento através de incentivos a instituições bancárias, sendo esses setores
compostos de pequenas, médias ou grandes empresas. Mecanismos de informações,
transparência e de seguros e garantias definiriam o quadro mais previsível para a
evolução da cultura financiadora na América do Sul. Em vista da condição geral dos
Estados e da arquitetura financeira regional, não seria possível, de antemão, esperar que
as forças do mercado sozinhas estruturassem essas condições.
Item. 2. O papel, a visão e a condição da CAF: outro argumento da importância da
CAF para as preferências da PEB e do BNDES na região.
179
Neste item formularemos uma correlação de fatores para diagnosticar as
preferências do governo brasileiro, da diplomacia brasileira e do BNDES nas relações
preferenciais com a CAF. Recorreremos, para a identificação das propostas e dos
valores da instituição, aos pontos de vista declarados pelo seu presidente Luis Henrique
Garcia. O documento utilizado para este fim é o livro “temas críticos para la America
Latina”, publicado e financiado pela instituição no ano de 2002. O texto apresentado
pelo referido presidente encontra-se na coletânea “Desafios de América Latina en el
nuevo escenario mundial”; neste material estão contidas as características da instituição
e a sua postura em vista da problemática geral dos países latino-americanos para os
temas de financiamento e de desenvolvimento econômico.
A CAF atesta que as reformas de segunda geração devem e procuram agregar os
componentes de eficiência institucional do Estado na trajetória rumo à transparência e
eficiência das agências de créditos (estatais e regionais). Ademais, ela sinaliza para que
o tema das políticas macroeconômicas seja levado mais adiante de forma a contornar o
quadro de vulnerabilidade econômica da região a partir das estratégias de reestruturação
e eficiência dos Estados e suas agências de crédito. A preocupação da CAF por acesso
aos mercados de créditos internacionais mais baratos e a manutenção da sua
respeitabilidade internacional é uma política declarada da instituição, como os dados a
serem apresentados adiante qualificam. A agenda proposta e apresentada pelo
presidente da CAF salienta que o aumento do crédito para o financiamento do
desenvolvimento dos países deve ser feito em meio a uma política institucional de
responsabilidade e estabilidade fiscal e inflacionária
15
.
A partir dessa perspectiva, a idéia de integração regional deve ser seguida “en
términos institucionales, de coordinación macroeconomía, de temas financieros y
productivos e infraestructurales” (Idem, p.19). Orientações estas que se assemelham as
preferências dos discursos diplomáticos e das orientações do governo Brasileiro e do
BNDES destacadas no capítulo anterior para explicar o modelo de participação e
exposição financeira do Brasil na América do Sul. Luis Enrique Garcia ainda destaca
que, a partir do fortalecimento das iniciativas de integração regional, os países devem
construir uma plataforma de negociação para os temas referentes às agendas
internacionais como: o protecionismo comercial dos países da OCDE e o
aprofundamento das agendas de desenvolvimento econômico dos países atrasados.
15
Veja o texto completo acerca das sugestões e visões da CAF e do seu Presidente para os argumentos
levantados. Quadro texto 1 no anexo.
180
Em vista do diagnóstico apresentado para as economias locais, apesar dos avanços
em termos institucionais e de caráter financeiro, faz-se necessário, de acordo com a
CAF e a modelagem dada para o tema financeiro regional pelo Brasil, uma articulação
financeira regional mais intensa a partir das orientações destacadas. Em resumo, as
instituições públicas e regionais de crédito, como o BNDES e a CAF, cumprem,
respectivamente, papéis centrais no adensamento do processo que são: prover os
recursos financeiros demandados em contextos de falta de liquidez; e ajudar as
economias a se blindarem dos choques externos e dos endividamentos externos.
A correlação positiva para com as preferências das iniciativas do Brasil com a
CAF respeita as seguintes prerrogativas: a lógica da mitigação dos riscos aos créditos
ofertados na América do Sul; os aportes financeiros do Brasil junto a uma instituição
sólida; a despolitização do tema da cooperação financeira para a América do Sul; as
questões de ordem fiscais e monetárias responsáveis e estáveis; a correlação com o
desenvolvimento do mercado regional de crédito; e os benefícios que a CAF desfruta
em termos de credibilidade internacional frente às agências de crédito multilaterais, o
que torna os custos dos créditos externos menos onerosos. Também sinaliza para a
intenção do Brasil de buscar crédito internacional mais barato a partir, também, da
plataforma CAF; fato que sugere, apesar da condição primária do processo, a ascensão
da América do Sul nos interesses do Brasil em obter créditos em base regional fora da
esfera de Washington e do próprio plano nacional (em vista da sua condição deficitária).
Item 2.1. A CAF e sua respeitabilidade internacional: qualificando empiricamente
as orientações da diplomacia brasileira.
Os dados a serem apresentados nos gráficos nove e dez representam as avaliações
de risco que as maiores agências de rating concederam para a agência de crédito
referida. Mesmo no ápice das crises financeiras do Brasil e da Argentina, assim como
no contexto dos impactos dessas crises na região, a instituição manteve uma positiva
qualificação quanto aos seus riscos possíveis. Tendo em vista a vulnerabilidade geral
dos países da região frente às crises financeiras, a CAF manteve sua condição de
privilégio preservada, configurando-se, dessa forma, como um escudo frente aos reveses
internacionais. Essa constatação está de acordo com os seus princípios fundamentais de
blindagem financeira para que os países associados tenham acesso aos créditos
internacionais em contextos adversos do cenário internacional.
181
Gráfico 9: a qualificação do risco de investimento da CAF.
Fonte: CAF
16
.
Gráfico 10: qualificações latino-americanas de dívidas de Longo Prazo.
Fonte: CAF
16
Corporación Andina de Fomento (CAF) (2006), “Los retos para aumentar el acceso al crédito y los
servicios bancarios”. Presentación hecha por el Presidente Ejecutivo de la CAF, Enrique García, en el
Encuentro Iberoamericano: La extensión del crédito y los servicios financieros. Madrid, junio
15.
182
Os níveis de riscos da CAF atestam para uma condição de privilégio igual ao do
Chile, país tradicionalmente considerado com um dos exemplos a serem seguido pelos
Estados da região referente aos processos de aprofundamento das reformas de caráter
estrutural. Isto de acordo com a Moody’s investors Service, no seu relatório GLOBAL
CREDIT REASERCH, Credit Opinion: CAF, de novembro de 2007
17
.
Os dados apresentados e as avaliações de opinião da Moody’s apresentados no
anexo acerca dos níveis de risco da CAF encontrados no referido documento atestam
que a instituição goza de um privilégio internacional consideravelmente favorável nos
dias atuais. As ações de valores da instituição apresentam níveis e indicadores de
qualidade considerados bons; possui um status de credor preferencial; uma capacidade
de administrar responsavelmente políticas conservadoras de riscos aos seus créditos;
uma base regional sólida e com respeitável nível de rendimento; possibilita ter acesso
amplo a mercados de créditos internacionais mesmo em períodos de crises
internacionais; e conta com um grupo de administradores responsáveis e tecnicamente
bem preparados
18
.
Item 2.2. Os números do Brasil junto à CAF: a crescente participação do país na
instituição.
Segundo a Corporação Andina de Fomento, o Brasil ocupa oficialmente a
condição de sócio acionista série A, ou seja, sócio que desfruta da mesma condição dos
Estados fundadores da instituição. Esse resultado foi alcançado em 18 de dezembro de
2007
19
depois de longos anos de intensos esforços da diplomacia e do governo brasileiro
para angariar essa posição. Até meados de 2008 tramitava no Congresso brasileiro o
processo de integração do acordo aos moldes das leis nacionais.
Como podemos destacar da tabela que trata das ações de capital ordinário, o
número de ações ordinárias de série C do Brasil junto à CAF saltou de 4.813 em 2001,
para 12.520 em 2007. O total em monto/milhares de dólares saltou de 24.065 em 2001,
17
Vide anexo dos indicadores e siglas utilizados pela Moody’s para a classificação do grau de
investimento da CAF.
18
“The Corporation is treated as a preferred creditor by its member countries and thus enjoys privileges
including: a) exemption from taxes; b) immunity from expropriation; c) free convertibility and
transferability of assets; d) exemption from any restriction on assets; and e) exemption from public sector
debt restructurings and moratoria. CAF counts seventeen countries as shareholders as well as fifteen
private sector banks from the region, which is unusual for a multilateral development bank (MDB) as
traditionally only sovereigns are members. Moody’s. “Analysis CAF: Rating Rationale and Outlook”.
Venezuela, maio de 2007.
19
Vide anexo quadro texto número 2: A passagem do Brasil para sócio acionista de categoria A.
183
para 62.600 em 2007. A análise da tabela de ações de capital de garantia apresenta um
salto no número de ações de 644 em 2001, para 2.301 no ano de 2004; estagnando neste
patamar. Em termos de monto/milhares de dólares, os números são 322 em 2001, para
11.510 em 2004; estancando neste patamar. Tais dados confirmam a hipótese levantada
no capítulo anterior acerca dos esforços do governo brasileiro (Ministério do
Orçamento, Planejamentos e Gestão e Ministério da Fazenda) e da diplomacia em
privilegiar as instituições regionais financeiras já existentes e consolidadas. O resultado
destaca o caminho da participação e exposição financeira do Brasil na América do Sul e
qualifica melhor o entendimento da articulação BNDES-PEB. Seguem as tabelas oito e
nove:
Tabela 8: ações de capital ordinária.
Condição acionária quitada em 31/12/01.
Número de ações. Monto/Milhares de dólares.
Total
Serie C Serie C
Brasil 4,813 24,065 24.065
Condição acionaria quitada em 31/12/02.
Número de ações. Monto/Milhares de dólares.
Total.
Serie C Serie C
Brasil. 5,635 21,175 28,175
Condição acionária quitada em 31/12/03.
Número de ações Monto/Milhares de dólares.
Total.
Serie C Serie C
Brasil 5.869 29.345 29.345
Condição acionária quitada em 31/12/04.
Número de ações. Monto/Milhares de dólares.
Serie C. Serie C. Total.
Brasil. 8.496 42.480 42.480
Condição acionária quitada em 31/12/05.
Número de ações. Monto/Milhares de dólares.
Total.
Serie C. Serie C.
Brasil. 11.297 56.485 56.485
Condição acionária quitada em 31/12/06.
Número de ações. Monto/Milhares de dólares.
Série C. Série C. Total.
Brasil. 11.924 59.620 59.620
Condição acionária quitada em 31/12/07.
Número de ações. Monto/Milhares de dólares.
184
Série C. Série C. Total.
Brasil. 12.520 62.600 62.600
Fonte: CAF, informes anuais 2001 até 2007. Dados selecionados e organizados pelo autor.
Tabela 9: ações de capital de garantia.
Condição acionaria de capital subscrito não pago e de capital de garantia em 31/12/01.
mero de ações. Montos/Milhares de dólares. Garantias.
Serie C Serie C Serie C Monto
Brasil 644 322 0 0
Condição acionária de capital subscrito não pago e de capital de garantia em 31/12/02.
mero de ações. Monto/Milhares de dólares. Garantias
Serie C Serie C Monto
Serie
C
Brasil. 800 4000 0
Condição acionária de capital subscrito não pago e de capital de garantia em 31/12/03.
Número de ações. Monto/Milhares de dólares. Garantias
Serie C Serie C Serie C Total
Brasil Dados não fornecidos pela CAF.
Condição acionária de capital subscrito não pago e de capital de garantia em 31/12/04.
Número de ações. Monto/Milhares de dólares. Garantias
Serie C. Serie C. Monto
Serie
C.
Brasil. 2.302 11.510 0 0
Condição acionária de capital subscrito não pago e de capital de garantia em 31/12/05.
Numero de ações. Monto/Milhares de dólares. Garantias
Série C. Série C. Monto.
Série
C.
Brasil. 0 0 0 0
Condição acionária de capital subscrito não pago e de capital de garantia em 31/12/06.
mero de ações. Monto/Milhares de dólares. Garantias.
Série C. Série C. Série C. Monto
Brasil. 0 0
00
Condição acionária de capital subscrito não pago e de capital de garantia em 31/12/07.
mero de ações. Monto/Milhares de dólares. Garantias.
Série C. Série C. Série C. Monto
Brasil. 0 0 0 0
Fonte: CAF, informes anuais 2001 até 2007. Dados selecionados e organizados pelo autor.
Com vistas nos dados, o argumento que merece menção vem do fato de o Brasil, a
partir dos recursos do orçamento da União, ter aumentado significativamente os seus
185
aportes financeiros junto à CAF na era Lula da Silva (ações de capital de garantia e
ações de capital ordinário). Os argumentos feitos até esta fase do capítulo atestam para a
importância que a administração Lula e sua política externa e econômica deram para a
participação e exposição financeira regional a partir, também, dessa instituição; fato que
nos permite sustentar e qualificar o argumento de que é na era Lula da Silva que esse
fenômeno se verificou mais intensamente. Parte das possibilidades e limites da
cooperação, participação e exposição financeira do BNDES na América do Sul pode ser
respondida pela averiguação dos dados apresentados no anexo. Diga-se parte, pois os
dados representam uma parcela, não o todo.
A passagem de membro sócio acionista de categoria C para membro sócio
acionista de categoria A, é a caracterização de um modelo de exposição e participação
financeira próprio de uma estratégia internacional que busca: reduzir as vulnerabilidades
do Brasil frente aos choques internacionais; cooperar regionalmente em bases
despolitizadas, previsíveis e responsáveis; integrar-se a uma instituição de respeito
financeiro internacional considerável, o que reduz os custos dos créditos e dos seguros e
garantias para os investimentos nacionais na região; respeitar as lógicas de atuação e
responsabilidades do próprio BNDES; e, de uma forma bastante clara, resgatar e
remontar as instituições regionais de integração consolidadas ao longo da história de
forma a se estruturar alternativas de co-financiamento para projetos que envolvam os
setores exportadores nacionais em atividades comerciais na América do Sul.
Como se beneficia o BNDES a partir da elevação do Brasil à categoria de sócio
acionista série A? Isso responde a uma estratégia conjunta de financiar as empresas
brasileiras exportadoras de serviços de engenharia e construção civil atuantes na
América do Sul. O co-financiamento divide os custos e os recursos destinados a estas
empresas; além dos riscos; dos montos de créditos; e das garantias dos investimentos. E,
principalmente para o BNDES, alivia as pressões de demanda sobre as suas linhas de
créditos para exportação. Relembremos, ademais, que no item quatro do capítulo dois
discutimos que uma das características do sistema público brasileiro de financiamento é
a correspondência entre o BNDES-Exim, Proex-equalização e CCR. Adiciona-se a essa
nota o fato de que foi com a resolução 45 da CAMEX que o Proex-equalização passou a
associar-se com a CAF em acordos governamentais de financiamento de exportações,
principalmente para obras de infra-estrutura física.
186
Item 2.3. Detalhando os números, aprofundando os argumentos.
A título de qualificação acerca dos dados apresentados e, como adição, para uma
maior aproximação da análise da importância do Brasil na Corporação Andina de
Fomento, faz-se necessário apresentar os dados gerais da instituição no que se referem
aos recursos que ela aprovou para o Brasil nos últimos anos. Dados estes que
possibilitam a comparação geral dos recursos da CAF para cada país em perspectivas
com aqueles aprovados para o Brasil. Com isso, qualificaremos o argumento da própria
pertinência da CAF para o fornecimento de crédito aos países destacados em meio as
suas condições estruturais de ordem financeira.
Segundo dados relativos às aprovações de operações por modalidade operativa, os
números confirmam a crescente importância da CAF para a concessão de empréstimos
de longo prazo. Os dados para os empréstimos de longo prazo demonstram o
crescimento vertiginoso do número de aprovações que saltou de 1.920 em 2002, para
4.360 em 2006, com uma ligeira queda para 3.618 em 2007. Estes empréstimos estão
envolvidos nos planos de desenvolvimento e integração infra-estrutural regional.
Tabela 10: aprovações de operações por modalidade operativa.
2002 2003 2004 2005 2006 2007
2002-
07
Empréstimos de longo prazo. 1.920 2.202 2.682 3.049 4.360 3.618 17.831
Empréstimos de médio prazo. 625 218 62 876 952 46 2.779
Empréstimos de curto prazo. 745 884 758 822 209 2.943 6.361
Informe anual CAF 2007, p. 28.
Ao examinar as aprovações de operações por modalidade de risco, podemos
identificar a função da CAF em aprovar recursos onde os riscos políticos são
consideráveis do ponto de vista dos retornos. Os riscos soberanos estão relacionados aos
empréstimos concedidos para Estados que assumem os pagamentos dos mesmos; assim
como os custos envolvidos nos seus seguros e garantias dos financiamentos. Os riscos
soberanos estão, também, ligados a riscos políticos, fato que explica a forte relação da
instituição com os planos econômicos e sociais de governo dos Estados membros. Em
2002 o número de aprovações por modalidade de risco soberano foi de 2.385. No ano de
187
2006 as aprovações foram de 3.791, com ligeira queda para 2.984 em 2007. Neste
sentido, a CAF tem a função de financiar Estados em condições de alto risco soberano.
Tabela 11: aprovações de operações por modalidade por risco.
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2002-07
Risco soberano. 2.385 2.166 2.330 2.473 3.791 2.984 13.745
Risco não soberano. 905 1.137 1.172 2.273 1.730 3.622 9.935
CAF, informe anual 2007, p.28.
Com base nos dados apresentados, está confirmada a crescente importância da
instituição para o tema da participação e exposição financeira do Brasil na América do
Sul; ademais a sua função de credora de Estados com grau de investimento considerado
de risco. Nesta toada, como destacado no capítulo três, a instituição revela uma das suas
condições estratégicas para a trajetória brasileira referente aos temas da articulação do
BNDES e PEB na América do Sul; ou seja, cooperar com instituições financeiras
regionais e sólidas que foram, por sua vez, consolidadas sobre o estandarte de uma
trajetória e experiência regional de longo prazo.
Os números dos desembolsos por país em US$ milhões revelam o salto dos
créditos da instituição para o Brasil. “Los desembolsos (para o Brasil) ascienden a USD
1.220 millones, (8,5% del total de los recursos desembolsados durante el período), lo
que representa un promedio anual de USD 244 millones” (CAF, informe anual 2007,
p.71). Os resultados indicam e qualificam a afirmação acerca do crescimento da
participação do Brasil junto à CAF. A condição brasileira nesta instituição, em termos
de volumes de créditos recebidos, somente fica atrás da condição dos países do Pacto
Andino.
Tabela 12: desembolsos por país em US$ milhões.
2003 2004 2005 2006 2007 2003/07
Argentina 0 0 34 64 333 431
Bolívia 345 233 198 175 197 1.148
Brasil 88 16 105 132 879 1.220
Colombia 324 533 688 653 968 3.166
Equador 358 297 340 504 1.416 2.916
Peru 265 464 255 483 1.730 3.198
Uruguai 9 6 4 11 62 90
Venezuela 337 309 208 845 127 1.827
Outros 47 31 28 55 132 293
Fonte: Informe anual CAF 2007, P. 29.
188
Os resultados das aprovações de operações por país completam as observações
feitas a partir dos dados da tabela doze acima. Os dados também direcionam para o salto
significativo: “en los últimos cinco años (2003-2007) la CAF ha aprobado operaciones
para Brasil por USD 3.207 millones, lo cual representa un promedio de USD 641
millones por año, equivalentes a 14% del total aprobado en dicho período”(Idem). O
salto no número de aprovações para o Brasil foi de 260 em 2002, para 1.518 no ano de
2007; fato que acarretou na passagem do Brasil para sócio acionista de categoria A.
Tabela 13: aprovação de operações por país.
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2002-07
Bolívia. 503 619 499 523 397 275 2.816
Colômbia. 750 617 922 1.237 1.001 1.213 5.740
Equador. 407 438 338 815 1.024 1.089 4.111
Peru. 498 633 604 417 941 1.180 4.273
Venezuela. 762 535 821 627 842 816 4.403
Argentina. 0 175 60 257 580 204 1.276
Brasil. 260 245 170 695 579 1.518 3.467
Costa Rica. 0 30 63 2 25 128 248
México. 2 2 2 4 10 0 20
Panama. 0 0 1 80 53 0 134
Paraguai. 0 0 11 11 3 0 25
Uruguai. 100 0 0 70 20 115 305
Outros. 9 9 13 7 46 69 153
Total. 3.290 3.303 3.503 4.746 5.521 6.607 26.970
Fonte: Informe anual CAF 2007, p. 26.
No anexo temos a tabela que detalha os recursos aprovados para o Brasil de
acordo com o cliente e o destino
. É importante ter em vista que os dados organizados
naquela tabela destacam outras facetas da maior participação do BNDES junto à CAF
que não somente atividades de comércio exterior. Atividades relacionadas a projetos de
urbanização de municípios brasileiros também formam parte da agenda cooperativa
entre o Brasil e a CAF. Da mesma forma, os números apresentados destacam a
crescente importância do Brasil junto à instituição principalmente a partir do ano de
2004, mesmo sem ter atingido a condição de sócio de categoria A até fins de 2007. O
189
Brasil absorve a maior parte dos recursos da corporação logo depois dos Estados
fundadores.
A estratégia financeira do Brasil na CAF procura responder a quatro importantes
fatores que se somam na qualificação da tese: a busca por recursos financeiros externos
mais baratos, que possibilita ao BNDES alocar, a partir da sua plataforma interna, mais
créditos para os setores exportadores nacionais sem recorrer aos recursos do FAT (fato
que por sua vez torna o BNDES mais autônomo com relação ao Tesouro Nacional);
dentro desta tônica, a busca por estratégias participativas e expositivas com a CAF de
forma a dividir os custos de financiamentos para as empresas brasileiras que atuam nas
iniciativas da IIRSA; a concordância com uma estratégia de exposição e participação
financeira regional do Brasil para beneficiar os bancos privados brasileiros que são os
agentes financeiros mediadores do BNDES e que, por sua vez, também participam no
financiamento de parte do comércio exterior brasileiro; e atender as demandas dos
municípios brasileiros que se beneficiam dos recursos da CAF a partir do programa
PRAM da CAF (Programa de apoio aos governos municipais).
A CAF, nessa trajetória, aprovou várias linhas de financiamento para a iniciativa
IIRSA que integra o Brasil com os outros países da região. A tabela quatorze ilustra os
números e aproxima os resultados perseguidos pelo trabalho. Assim, confirma-se a
hipótese dos esforços empreendidos pelo governo Lula, Tesouro Nacional e Ministério
do Orçamento, Planejamento e Gestão em aportar na instituição de forma a possibilitar
o financiamento das exportadoras em bases financeiras externas as da realidade
brasileira.
Tabela 14: projetos IIRSA e Brasil.
Eixo do Escudo Quayanés.
Aporte CAF US$ MM Total
Brasil: interconexão viária Brasil-Venezuela 86 168
Brasil: interconexão elétrica Brasil-Venezuela. 86 210
Eixo Amazônico.
Brasil: projeto viário no Estado de Rondônia 35 89,2
Interoceânico central
Brasil/Bolívia: gasoduto 215 2,055
Eixo Mercosul-Chile
Argentina/Brasil: centro fronteiriço Paso de los Libres-Uruguaina. 10 10
Brasil: programa de integração regional do Estado de Santa Catarina 32,6 65,5
Uruguai: Construção de vias de ligação com Argentina e Brasil 25 136,5
190
Eixo Perú, Brasil, Bolívia.
Bolívia: Rodovia Guayaramirin-Ribalta 42 45,5
Fonte: Informe anual CAF 2007.
Como destacamos anteriormente, a participação e a exposição financeira referida
não significam que o BNDES injeta dinheiro na CAF de forma a aumentar o aporte do
Brasil na instituição; é por meio do orçamento da União, gerido pelo Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, que tal aporte foi e é feito. A participação e
exposição são dadas na divisão dos custos de financiamento para as exportações
direcionadas para as empresas brasileiras. Ou seja, o BNDES aloca parte dos seus
recursos que são, por conseguinte, somados aos recursos alocados pela CAF para o
financiamento das exportadoras nacionais. Cada instituição gere, administra e aloca os
recursos de acordo com as suas próprias estruturas, regras, orçamentos e ordenamentos.
O fato que merece menção e destaque vem dos esforços mútuos do Brasil e do BNDES
em cooperar, a partir dos aportes do Brasil na CAF, com essa instituição de forma a
financiar as exportadoras destacadas ao longo da tese
20
. Temos no anexo a tabela que
desmembra os números da participação de empresas brasileiras em projetos financiados
pela CAF. Por ser uma tabela muito grande resolvemos, por razões metodológicas,
deixá-la no anexo. O exame da mesma finaliza os esforços deste item.
Discutimos no capítulo três que as melhores relações do ponto de vista bilateral
diplomático foram verificadas com os países do Pacto Andino quando delimitado para o
tema da tese. Também assumimos que foi com estes países que, do ponto de vista
financeiro e comercial, as relações foram mais intensas e produtivas. O que explica tais
fatos? A própria correlação positiva do Brasil junto à CAF, situação que permitiu
melhores parâmetros para o estabelecimento de bases institucionais preferenciais às
expectativas do governo brasileiro para empreender iniciativas participativas e
expositivas de ordem financeira. A outra explicação para a questão vem do fato de
serem os países do Pacto Andino os fundadores da CAF e, portanto, economias que
experimentaram iniciativas cooperativas de ordem financeira de mais longo prazo. Os
membros do MERCOSUL não possuem uma iniciativa que se equivalha às atribuições e
alcances da Corporação Andina de Fomento.
20
Vide quadro texto 5 para o entendimento da importância da função mediadora dos bancos privados
brasileiros em atividades de comércio exterior que contam com recursos do BNDES. Tal verificação é
central para o entendimento da importância da CAF para o BNDES.
191
Item 3. Os números do comércio exterior brasileiro no sistema CCR-Aladi.
Nesta fase destacaremos os números do comércio exterior brasileiro cursado
dentro do sistema CCR-Aladi. O objetivo é aproximar os dados que sinalizam para o
quadro mais real dos recursos nacionais e do BNDES expostos na América do Sul para
financiar as exportações brasileiras. Isso deve ser dito já que os números do CCR-Aladi
brasileiro concentram outros dados e recursos para comércio exterior que não somente
os pagamentos dos financiamentos do comércio financiado pelo BNDES. Desta
maneira, tomamos o cuidado para não afirmar que são os números exclusivos dos
recursos do BNDES expostos no CCR. O fato mais auspicioso para as novas análises é
que os números sinalizam substancialmente para a crescente importância do uso do
CCR nas relações comerciais do Brasil em vista do aumento dos recursos do BNDES
destinados para o financiamento das exportações nacionais. Dito de outra forma, não foi
possível encontrar dados que refletissem os recursos exclusivos do BNDES integrados
no CCR brasileiro em vista da ausência do material desta forma organizado; tivemos
que trabalhar com os dados gerais fornecidos pela ALADI e que congregam os números
gerais, inclusive os do BNDES. Trata-se, portanto, de uma aproximação.
A análise dos dados demonstra a condição mais aproximada dos recursos do
BNDES expostos no financiamento do comércio exterior nacional na América do Sul.
Com isso sinalizaremos para os resultados iniciais da projeção internacional brasileira,
assim como os números concretos do que foi de fato implementado em vista do que foi
formulado pela diplomacia brasileira. Nesse sentido, trata-se de sinalizar e demonstrar
os resultados alcançados pela articulação PEB-BNDES, e os números gerais da
participação e exposição financeira do Brasil na América do Sul. Neste sentido, esta
fase da pesquisa indica alguns resultados alcançados pela prioridade conferida para a
integração da América do Sul.
Os números das exportações brasileiras cursadas no CCR-Aladi nos possibilitam
identificar que nos anos 2003, 2004 e 2005 ocorreu a tendência positiva em retomar o
sistema de garantias e pagamentos no comércio exterior brasileiro com os países
signatários da ALADI. Números estes que reforçam a tese levantada acerca da
pertinência do sistema de garantias e pagamentos para a viabilização das aprovações dos
empréstimos do BNDES para as obras de infra-estrutura física integradora na América
do Sul. Reforça-se que este fenômeno é também resultado das ações e esforços
concretos da diplomacia do governo Lula em restaurar o sistema e a própria instituição
192
ALADI; ademais das iniciativas já discutidas no capítulo dois acerca das renovações
quanto ao uso do CCR. Tais ações e esforços se inseriram nas estratégias de dar
prosseguimento para a sua política de prioridade para a integração regional e sedimentar
as bases para a participação e exposição financeira na região.
Tabela 15: exportações brasileiras em US$ milhões.
Anos
CCR -
Exportações e
demais
Créditos
Exportações
para Países do
CCR (ALADI
- Cuba + Rep.
Dom.)
Exportações -
Participação
CCR /
Comércio
(2) (3)
Exportações
Totais do
Brasil
Exportações -
Participação
CCR/
Comércio
Total (2) (3)
1980 2.134 3.475 61,42% 20.134 10,60%
1981 2.442 4.232 57,71% 23.295 10,48%
1982 1.654 2.879 57,46% 20.181 8,20%
1983 1.964 2.079 94,46% 21.903 8,97%
1984 1.974 2.851 69,25% 27.007 7,31%
1985 2.208 2.258 97,81% 25.639 8,61%
1986 2.065 2.552 80,92% 22.349 9,24%
1987 2.459 3.008 81,76% 26.224 9,38%
1988 3.963 3.758 105,44% 33.790 11,73%
1989 3.813 3.546 107,52% 34.383 11,09%
1990 2.714 3.223 84,20% 31.414 8,64%
1991 3.277 4.966 65,98% 31.620 10,36%
1992 5.034 7.658 65,74% 35.793 14,07%
1993 4.016 9.206 43,62% 38.555 10,42%
1994 3.324 9.810 33,88% 43.545 7,63%
1995 2.870 10.042 28,58% 46.506 6,17%
1996 2.271 11.001 20,64% 47.747 4,76%
1997 1.856 13.675 13,57% 52.994 3,50%
1998 1.448 13.468 10,75% 51.140 2,83%
1999 987 10.632 9,29% 48.011 2,06%
2000 876 12.939 6,77% 55.086 1,59%
2001 674 12.245 5,50% 58.223 1,16%
2002 495 10.002 4,95% 60.362 0,82%
2003 382 13.077 2,92% 73.084 0,52%
2004 660 19.835 3,33% 96.475 0,68%
2005
(1) 792 16.211 4,89% 86.719 0,91%
Total 56.353 208.627 27,01% ######## 5,07%
Fonte: Sicap/ALADI; Bacen (Derin/Direc); MDIC/SECEX/DECEX; Minifaz/SRF. Elaboração BACEN.
Os números das importações brasileiras em US$ milhões indicam a tendência
decrescente de importações brasileiras dentro do sistema CCR. Dessa forma, ficou
mantida a condição superavitária comercial do Brasil com relação aos países da região
193
dentro, também, da esfera do CCR-Aladi. Isso, por outra perspectiva, revela o forte
investimento brasileiro nos países do entorno com as exportações de serviços e produtos
de alto valor agregado; tais exportações são traduções de investimentos produtivos do
Brasil nos respectivos territórios dos países importadores. Contudo, os dados não
permitem sustentar que o Brasil fez compras significativas dentro do sistema com
relação à produção dos demais países; mas sim, investimentos produtivos substanciais
que, segundo os líderes diplomáticos destacados, “foram em benefício de todos”.
Tabela 16: Importações brasileiras em US$ milhões.
Anos
CCR -
Importações e
demais
Débitos
Importações
de Países do
CCR (ALADI
- Cuba + Rep.
Dom.)
Importações -
Participação
CCR /
Comércio
(2) (3)
Importações
Totais do
Brasil
Importações -
Participação
CCR /
Comércio
Total (2) (3)
1980 2.686 2.675 100,41% 22.937 11,71%
1981 2.884 3.137 91,93% 22.091 13,06%
1982 2.924 3.286 88,96% 19.395 15,07%
1983 2.154 2.204 97,74% 15.429 13,96%
1984 2.275 2.140 106,30% 13.907 16,36%
1985 1.912 1.614 118,47% 13.167 14,52%
1986 1.957 1.823 107,33% 14.042 13,94%
1987 1.926 1.774 108,57% 15.050 12,80%
1988 2.264 1.857 121,92% 14.603 15,50%
1989 4.095 3.335 122,80% 18.257 22,43%
1990 4.088 3.577 114,29% 20.661 19,79%
1991 3.981 3.678 108,25% 21.041 18,92%
1992 3.905 3.694 105,71% 20.554 19,00%
1993 4.604 4.757 96,79% 25.256 18,23%
1994 4.586 6.329 72,45% 33.079 13,86%
1995 5.551 9.975 55,65% 49.972 11,11%
1996 3.942 11.647 33,84% 53.346 7,39%
1997 4.187 13.028 32,14% 59.837 7,00%
1998 2.744 12.361 22,20% 59.837 4,59%
1999 2.026 9.447 21,45% 49.222 4,12%
2000 1.393 11.641 11,97% 55.783 2,50%
2001 334 10.010 3,34% 55.581 0,60%
2002 79 8.213 0,97% 47.232 0,17%
2003 43 8.165 0,52% 48.260 0,09%
2004 29 9.978 0,29% 62.782 0,05%
2005
(1) 25 7.352 0,34% 54.056 0,05%
Total 66.593 157.698 42,23% 885.378
7,52%
Fonte: Sicap/ALADI; Bacen (Derin/Direc); MDIC/SECEX/DECEX; Minifaz/SRF. Elaboração BACEN.
194
Item 3.1. As contas de débito, crédito e os saldos totais: a compensação multilateral
de créditos.
Quando nos referirmos às contas de débito do Brasil, estamos destacando as
importações (compras regionais do Brasil); os créditos representam as exportações
(vendas regionais do Brasil); e os saldos é a diferença entre as compras e as vendas. No
geral, os dados que serão expostos em gráficos e que, por sua vez, estarão destacados
em tabelas no anexo do capítulo, representam a contabilidade “compensação
multilateral de saldos” do sistema CCR-Aladi. A contabilidade é feita a partir da
averiguação dos débitos, créditos e saldos em dólares de cada país. Quando
adicionarmos para cada débito, crédito e saldo as variáveis pagamentos antecipados,
transferências multilaterais e compensações, teremos os saldos multilaterais ajustados,
ou seja, os dados reais e concretos dos números dos países junto ao CCR-Aladi nas suas
relações comerciais com o Brasil. Os gráficos a seguir representam os referidos dados
reais descritos nas tabelas encontradas no anexo.
Gráfico 11: gráfico A.
Débitos Brasil (US$) ajustados por pagamentos antecipados,
transferências multilaterais e compensações: Argentina,
Venezuela e Total.
0,00
20.000.000,00
40.000.000,00
60.000.000,00
80.000.000,00
100.000.000,00
120.000.000,00
140.000.000,00
D
é
b
i
tos
/2
002
bitos
/2
003
bitos
/2
004
D
é
b
i
tos
/2
005
bi
t
os
/20
0
6
/
bitos
/2
007
Argentina
Venezuela
Total
Fonte: Secretaria geral da ALADI: Convênio de pagamentos e créditos recíprocos 2002 a 2007.
Elaborado pelo autor com base da organização e compilação dos dados de 2002 a 2007.
195
Gráfico 12: gráfico B.
Créditos Brasil (US$) ajustados por pagamentos antecipados,
transferências multilaterais e compensações: Argentina,
Venezuela e Total.
-
500.000.000,00
1.000.000.000,00
1.500.000.000,00
2.000.000.000,00
2.500.000.000,00
3.000.000.000,00
3.500.000.000,00
Cré
d
i
t
os/
200
2
C
dit
os
/200
3
Créditos/200
4
C
dito
s
/200
5
Créditos/
2
0
0
6
C
dit
os/
200
7
Argentina
Venezuela
Total
Fonte: Idem.
Gráfico 13: gráfico C.
Saldo Brasil (US$) ajustado por pagamentos antecipados, transferências
antecipadas e compensações: Agentina, Venezuela e Total.
0,00
500.000.000,00
1.000.000.000,00
1.500.000.000,00
2.000.000.000,00
2.500.000.000,00
3.000.000.000,00
3.500.000.000,00
Saldos/2002 Saldos/2003 Saldos/2004 Saldos/2005 Saldos/2006 Saldos/2007
Argentina
Venezuela
Total
Fonte: Idem
No gráfico A, que representa a conta de débitos (dívidas; importações), o Brasil
sempre apresentou uma posição bastante confortável com relação aos países no que
concerne ao comércio cursado dentro do sistema: índices de débito maiores do que os de
crédito. Na curva Total de débitos (amarela) o Brasil atingiu um patamar irrisório de
196
apenas cento e vinte milhões de dólares acumulados em débitos desde 2002 até 2007.
Tanto a Argentina quanto a Venezuela representaram índices de endividamento tímidos
para o Brasil; fato que posicionou a balança comercial brasileira sempre em condição
superavitária dentro do sistema. Em outros termos, o Brasil importou poucos dos países.
No gráfico B que representa a conta de créditos (superávit; exportações) o Brasil,
desde 2002, deu um salto gigantesco favorável na sua condição comercial dentro do
sistema. De patamares gerais de cerca de quinhentos milhões de dólares em 2002 (curva
amarela) o Brasil atingiu no final de 2007 um total de cerca de três bilhões de dólares, a
maior parte representada pelo comércio bilateral com a Venezuela (curva rosa) que gira
em torno de dois bilhões e meio de dólares. A argentina manteve patamares tímidos
atingindo no máximo cem milhões de dólares; fato este bastante sugestivo quando
retomamos as análises feitas no capítulo anterior acerca da reticência argentina em
ampliar o seu CCR para receber os investimentos do Brasil via recursos do BNDES. Em
outros termos, o comércio bilateral Brasil-Argentina dentro do CCR foi pequeno, ao
passo que com a Venezuela foi gigantesco. Portanto, o Brasil vendeu muito.
No gráfico C que representa a conta dos saldos, a tendência da relação Venezuela,
Argentina e Total é similar ao gráfico dos créditos. Confirma-se, assim, a condição
superavitária do Brasil, o aumento da importância do sistema CCR nas relações
comerciais regionais do Brasil na era Lula da Silva e os contornos pelos quais os
investimentos externos brasileiros nos projetos de integração regional com recursos do
BNDES foram feitos. Portanto, as medidas tomadas em 2002-2003 pelo Banco Central
do Brasil quanto às inovações acerca do uso do sistema CCR surtiram os efeitos
esperados: fomentaram as exportações para a América do Sul no contexto do
adensamento dos interesses econômicos do Brasil na região; e permitiram ao BNDES
expor mais acentuadamente os seus recursos nos financiamentos para as empresas
exportadoras do Brasil que atuam na América do Sul. Confirma-se a hipótese que é com
base nas condições “infra-estruturais” do Estado brasileiro que se estabeleceu os limites
e possibilidades para a articulação BNDES-PEB e a caracterização do modelo de
participação e exposição financeiro regional do Brasil.
197
Item 3.2. Comparativo MERCOSUL e Pacto Andino.
Gráfico 14: gráfico A1.
Débitos Brasil (US$) ajustados por pagamentos antecipados,
transferências multilaterais e compensações: Mercosul e Pacto
Andino (excluído a Venezuela).
0,00
10.000.000,00
20.000.000,00
30.000.000,00
40.000.000,00
50.000.000,00
60.000.000,00
70.000.000,00
80.000.000,00
90.000.000,00
b
ito/2
0
0
2
b
it
o
/2
003
D
é
bito/2
0
0
4
D
é
bito/2
0
0
5
b
ito/2
0
0
6
b
i
to
/2
007
Mercosul
Pacto Andino
Fonte: Secretaria geral da ALADI: Convênio de pagamentos e créditos recíprocos 2002 a 2007.
Elaborado pelo autor com base da organização e compilação dos dados de 2002 a 2007.
Gráfico 15: gráfico B1.
Créditos Brasil (US$) ajustados por pagamentos antecipados,
transferências multilaterais e compensações: Mercosul e Pacto
Andino (excldo a Venezuela).
0,00
50.000.000,00
100.000.000,00
150.000.000,00
200.000.000,00
250.000.000,00
300.000.000,00
Cr
é
d
it
o/
2
0
0
2
Crédito/2003
Crédito
/
2004
C
r
é
d
ito
/
2
0
05
Créd
it
o/20
0
6
Crédito/2007
Mercosul
Pacto Andino
Fonte: Idem.
198
Gráfico 16: gráfico C1.
Saldos Brasil (US$) ajustados por pagamentos antecipados,
transferências multilaterais e compensações: Mercosul e Pacto
Andino (excldo a Venezuela).
0,00
50.000.000,00
100.000.000,00
150.000.000,00
200.000.000,00
250.000.000,00
300.000.000,00
Sald
o
/2
0
0
2
Saldo/2003
Sa
ld
o/
2
004
Sald
o
/2
0
0
5
Saldo/2006
Sa
ld
o/2007
Mercosul
Pacto Andino
Fonte: Idem.
Os gráficos que representam o comércio do Brasil com os países do MERCOSUL
e com o Pacto Andino (excluindo a Venezuela) nos permitem sustentar o argumento de
que o Brasil viu seus interesses econômicos e comerciais serem melhores atendidos nas
relações com o bloco andino.
O gráfico A1 demonstra a tendência de queda dos débitos do Brasil com os países
do MERCOSUL; fato que revela, a exemplo do gráfico A, o caráter superavitário do
comércio exterior brasileiro dentro do sistema. A queda foi de cerca de US$ 77 milhões
em 2002, para cerca de US$ 22 milhões em 2007. Um encolhimento bastante
significativo; fato que revela a pouca entrada de produtos do MERCOSUL no mercado
brasileiro a partir do mecanismo comercial do CCR
21
.
O gráfico B1 demonstra o argumento acerca da maior importância dos países do
Pacto Andino para o comércio exterior brasileiro a partir do CCR. Desde 2002 até 2007
os países do Pacto representaram o maior volume de créditos do Brasil no CCR (linha
rosa). Fato que revela o maior volume de exportações do Brasil para aquele bloco
quando comparado com o MERCOSUL. A discrepância mais acentuada revelada no
gráfico está no ano de 2006; neste ano o volume de crédito do Brasil para com os países
do Pacto Andino deu um salto para a casa dos US$ 272 milhões. No ano de 2007 os
21
Vide as tabelas “Comparativo de Débitos, Créditos e Saldos: MERCOSUL e Pacto Andino”. Os dados
das tabelas deram origem para os gráficos expostos no texto.
199
números se aproximaram: para o Pacto Andino o Crédito Brasil ficou na casa dos US$
183 milhões; para o MERCOSUL ficou na ordem de US$ 169 milhões. O gráfico C1
destaca a tendência geral confirmada no gráfico B1.
Item 3.3. Quadro conclusivo do capítulo.
O contorno geral da trajetória da PEB em articulação com o BNDES destacou, no
capítulo quatro, a fácil aceitação por parte do governo Chávez com relação à ampliação
do CCR de seu país. O objetivo foi dinamizar o comércio bilateral com o Brasil de
forma a estruturar as iniciativas de integração física. A própria retomada do uso do
sistema CCR nas relações comerciais dos Estados da região é, segundo a secretaria geral
da ALADI
22
, resultado da ampliação, por parte da Venezuela, do uso que ela faz do
sistema no seu comércio, principalmente na ampliação da sua conta de débito.
Esse fato sugere, portanto, a delineação mais próxima de considerações de
políticas internacionais inseridas no contexto da trajetória da análise feita. É patente,
com vista nos dados e na trajetória cronológica da PEB, a verificação dos diferentes
caminhos e perspectivas que foram dados pelo Brasil para os rumos da possível
exposição dos recursos do BNDES na América do Sul, assim como os rumos da
participação financeira regional do país. O Brasil postulou uma estratégia e modelo
próprio que encontrava aceitação ou não dependendo do país e da condição política e
econômica interna de cada um. Isso revela, também, o terreno multifacetado percorrido
pelos objetos temáticos da pesquisa: vários cenários com diferentes condições
econômicas e políticas estruturais que, na maioria das vezes, não se encaixaram nas
orientações, perspectivas e condições infra-estruturais da política e economia do Estado
brasileiro. O tratamento diferenciado que o Brasil deu para cada país, no que concerne
aos investimentos nacionais a partir de recursos do BNDES, está sugerido nas
considerações dos interesses econômicos e comerciais que cada país pode proporcionar
para o Brasil e seus setores econômicos.
O Brasil, em vista da sua condição técnica e de postura pragmática, não arca com
as responsabilidades de um regional paymaster que assuma ações concretas de
liderança com gastos e custos políticos e materiais para o fomento da integração. Dessa
forma, a abordagem empírica dada à confecção deste trabalho procurou sinalizar para o
22
ALADI/SEC/di 2092.2 de 24 de marzo de 2008, p. 1.
200
fato de que o país não possui condições plenas de desenvolvimento legal, econômico,
institucional e político que o credencie para tal empreitada. A conclusão é que a
prioridade dada para a integração regional, a participação e exposição financeira do
Brasil e a articulação BNDES-PEB, responderam a uma política interna própria de
desenvolvimentos econômico e industrial. A integração regional, com o adensamento da
sua agenda a partir da entrada dos temas financeiros nos seus debates, ainda carece de
uma postura pró-ativa na condução do seu aprofundamento.
Por parte do Brasil, ainda se vislumbra um estágio primário e exploratório acerca
das viabilidades de se integrar a agenda financiadora do país dentro das propostas da
política externa nacional para a região; agenda esta, entendida por este trabalho, como
defensiva. No longo prazo, as diplomacias brasileiras e suas respectivas políticas
externas podem, possivelmente, estruturar as suas ações em iniciativas integradoras com
temas financeiros a partir do esteio das possibilidades dos interesses comerciais e
econômicos do próprio Brasil na região. Num futuro de longo prazo, o processo pode
vir a ser desencadeado de forma mais dinâmica e, talvez, politicamente orientado para
interesses sociais e ambientais; no imediato prazo, levando-se o exemplo do Brasil,
ainda persistirá a lógica da defesa dos interesses mais imediatos em termos econômicos
e comerciais delimitados e possibilitados pelas condições “infra-estruturais” nacionais.
220
ANEXOS DO CAPÍTULO QUATRO.
221
Tabela 17: a importância do PIB por classe econômica, a preços correntes de
mercado em milhões de dólares.
1995 2000
2002
Mineração. US$ 42 624.4 US$ 70 297.5
US$ 64 114.1
Agricultura, caca, pesca e silvicultura US$125 756.8 US$115 168.1
US$ 103 379.4
Fonte: CEPAL 2006
1
.
Tabela 18: os números do comércio exterior por setor econômico em milhões de
dólares das diversas iniciativas integradoras da região.
Agricultura,
silvicultura, pesca
e caca.
1995 2000
2002
2003 2004 2005
Mercosul, Bolivia
e Chile.
13 026.5 14 735.3
15 810.6
19 856.1 23 506.6 25 456.9
MCCA
3 906.7 4 013.3
2 847.1
3 192.9 3 518.9 3 935.7
CAN
5 947.5 4 823.6
4 790.4
5 097.6 5 777.6 7 246.8
ALADI
23 466.4 24 237.7
24 767.8
30 033.5 35 023.2 38 541.6
Total
27 442.4 28 251.0
27 614.9
33 226.4 38 542.1 42 477.3
Mineracao
1995 2000
2002
2003 2004 2005
Mercosur,
Bolivia y Chile
7 579.6 10 562.3
11 278.2
13 615.9 20 007.5 28 658.0
MCCA
46.0 228.6
208.3
249.8 270.2 342.7
CAN
14 002.4 26 862.0
25 943.4
29 011.5 32 041.5 52 466.9
ALADI
29 276.1 52 454.6
50 189.0
59 240.4 73 265.1 109 035.0
Total
29 322.1 52 683.2
50 397.3
59 490.2 73 535.3 109 378.0
Bebidas,
alimentos e
tabaco.
1995 2000
2002
2003 2004 2005
Mercosur,
Bolivia y Chile
17 937.4 17 063.5
20 546.6
25 091.8 31 594.8 36 571.7
MCCA
1 045.2 1 393.1
1 586.5
1 732.0 1 997.9 2 317.9
CAN
2 516.6 2 997.7
3 240.0
3 427.2 4 039.6 4 738.5
ALADI
22 149.1 23 252.2
27 443.8
32 290.1 39 869.5 46 662.2
Total
23 194.3 24 645.3
29 030.3
34 022.1 41 867.4 48 980.1
Bens de consumo
não duraveis.
1995 2000
2002
2003 2004 2005
Mercosul. Bolivia
e Chile
7 323.6 7 125.3
6 823.2
7 520.2 8 898.3 9 349.3
MCCA
590.7 1 012.2
965.1
996.3 1 109.0 1 155.1
CAN
2 582.1 2 429.8
2 405.5
2 714.2 3 462.2 4 015.9
ALADI
17 338.3 27 579.3
26 208.3
26 385.1 29 540.2 31 000.5
Total
17 929.0 28 591.5
27 173.4
27 381.4 30 649.2 32 155.6
Fonte: CEPAL 2006
2
1
Anuário Estatístico de América Latina e Caribe 2006, p. 104. Dados selecionados e organizados pelo
autor.
2
Idem, pp.218, 219, 220 e 221. Dados selecionados e organizados pelo autor da pesquisa. Os dados em
negrito chamam a atenção para os períodos mais recentes de crises financeiras internacionais.
222
Quadro texto 1.
Otra forma de cumplir con este rol de acciones que promuevan el desarrollo, es añadir
el componente externo para acceso al crédito internacional. Cuatro fuentes de crédito
externo: “recursos bilaterales de gobiernos, organismos multilaterales, mercados
financieros y de capital privado e inversión extranjera directa. El acceso en dichas
fuentes depende en alto grado de la calidad de las políticas económicas vigentes, de la
continuidad de las reglas del juego, la percepción sobre el riesgo y las transparencia de
la institucionalidad. Sin lugar a dudas, es critico el papel de los organismos
multilaterales de financiamiento, que deben jugar un rol menos paternalista e
impositivo y mas bien aplicar el concepto de colaboración en agendas propias y que, en
tanto muestran coherencia en su concepción y consistencia en su ejecución, sean
respetadas y apoyadas al margen de las preferencias ideológicas que pudieran existir
(p.19).
Tabela 19: o grau de investimento da CAF.
Category Moody's Rating
Outlook Stable
Issuer Rating A1
Senior Unsecured A1
Commercial Paper P-1
Other Short Term P-1
Fonte: Moody’s
3
Key Indicators in US million dollars.
2001 2002 2003 2004 2005 2006
Return on Average Equity 6.52 6.55 6.11 8.03 9.39 9.25
Return on Average Assets 1.78 1.77 1.65 2.26 2.97 3.22
Net Interest Margin 2.17 2.63 2.29 2.39 3.09 3.62
Risk-Asset Coverage Ratio (%) [1][2] 37.1 37.2 39.1 42.1 46.8 48.1
Net Loans (end of prd., US$ Mil) 5,278 5,866 6,387 6,922 7,128 7,849
Liquid Assets (end of prd., US$ Mil) 1,219 1,374 1,658 1,727 1,788 1,931
Fonte: Moody’s 2007.
3
Analistas da Moody’s responsáveis por esta avaliação: Steven A. Hess/New York; Mary
O'Donnell/New York; Pierre Cailleteau/London; Guido Cipriani/New York. A qualificação A1 refere aos
riscos oferecidos pela CAF aos recursos destinados a empréstimos para investimentos de longo prazo: o
nível A1 atesta que a instituição apresenta uma classificação positiva acima da média e, por sua vez,
apresenta de níveis de riscos baixos. Acima desta classificação existem os níveis Aa e Aaa típicos de
instituições dos países da OCDE e do próprio BID. A classificação P1 refere-se aos riscos oferecidos para
os recursos de curto prazo; é o nível mais alto de classificação da Moody’s e atesta que a instituição
apresenta uma grande capacidade de alocar recursos para sanar suas dívidas de curto prazo.
223
Quadro texto 2: A passagem do Brasil para sócio acionista de categoria A.
“Con la presencia del presidente de la República Federativa de Brasil, Luiz Inácio
Lula da Silva, el presidente ejecutivo de la CAF, Enrique García, y el Ministro de
Planificación, Presupuesto y Gestión de Brasil, Paulo Bernardo Silva, firmaron un
convenio a través del cual este país se convertirá en accionista de la Serie A de la
Corporación. Mediante esta firma se formalizó la suscripción de acciones de capital
ordinario de la CAF por un total de USD 467 millones, los cuales, sumados a la actual
participación accionaria de Brasil de USD 132,3 millones, elevarán el patrimonio
suscrito de este país a USD 599,3 millones. Adicionalmente, se acordó que Brasil
aporte USD 126 millones al capital de garantía de la CAF. (CAF, informe anual 2007,
p.71)”.
Também devemos destacar que o processo de redefinição da importância da CAF para
as preferências financeiras regionais do Brasil vem são resultantes, também, da
resolução Bacen nº 3.219, de 30 de junho de 2004. Por esta resolução o PROEX-
Equalização foi inserido na CAF de forma a: participar da concorrência oferecendo
equalização reduzindo, dessa forma, o custo de captação para o país financiado e
tornando sua proposta mais competitiva em relação aos concorrentes de países
desenvolvidos.Como essas operações são pagas à vista, diretamente pela CAF, o Brasil
poderá se beneficiar de milhões de dólares em exportações, sem assumir riscos de
inadimplência dos países financiados.
Quadro texto 3: explicação técnica para o formato das ações da CAF.
Segundo a CAF (relatório anual 2007, p.168) as ações de série A são subscritas
pelos governos e instituições públicas, semi-púplicas e de direito privado com finalidade
social dos países fundadores da instituição. As ações de série A têm um valor nominal
de US$1.200. As ações de série B são subscritas pelos governos e instituições públicas,
semi-públicas e bancos comerciais dos Estados fundadores. O valor nominal das ações
de série B é de US$5. As ações de série C são subscritas por pessoa jurídicas ou físicas
pertencentes a países que não sejam necessariamente provenientes dos fundadores da
instituição. O valor nominal das ações é de US$5. Segundo a CAF, os aportes do Brasil
na instituição foram feitos por meio dos recursos do orçamento da União; o Brasil, na
era Lula da Silva, está representado pelo Ministério do orçamento, planejamento e
gestão na figura do Ministro Paulo Bernardo Silva
224
Tabela 20: detalhes dos recursos da CAF aprovados para o Brasil.
Brasil: detalhes das aprovações anuais/US$Milhões.
200
7 Cliente Destino Total
Município de Florianópolis Reestruturação do sistema Viário 11.872
Município de Fortaleza Drenagem urbana 45.100
Estado do Pará Infra-estrutura viária para o desenvolvimento 85.000
Município de Canoas (PRAM) Recuperação ambiental e desenvolvimento urbano 15.077
Município de Feira de Santana
(PRAM) Integração urbana 11.737
Município de Sorocaba Integração Social 42.790
Município de Ananindedua Programa de desenvolvimento urbano 15.000
República do Brasil Programa de manejo de águas do DF 60.095
BNDES Empréstimos para capital de trabalho e comércio 150.000
Bradesco Empréstimos para capital de trabalho e comércio 200.000
Empresa brasileira de
telecomunicações
Emprestimo corporativo; financiamento de
investimentos 31.000
Banco Itaú Empréstimos para capital de trabalho e comércio 100.000
Banco Itaú-BBA Empréstimos para capital de trabalho e comércio 100.000
Banco ABN-AMRO Empréstimos para capital de trabalho e comércio 25.000
Banco BIC Empréstimos para capital de trabalho e comércio 20.000
Banco do Brasil Empréstimos para capital de trabalho e comércio 200.000
Banco Safra Empréstimos para capital de trabalho e comércio 50.000
Banco Santander-Banespa Empréstimos para capital de trabalho e comércio 125.000
Banco Votorantim, S.A Empréstimos para capital de trabalho e comércio 50.000
HSBC Bank Empréstimos para capital de trabalho e comércio 50.000
Unibanco Empréstimos para capital de trabalho e comércio 200.000
Outros Cooperação Técnica 10
Total
######
#
2006 Cliente Destino Total
Vários municípios brasileiros PRAM 200.000
Empresa brasileira de
telecomunicações Plano de investimentos trama A 34.000
Empresa brasileira de
telecomunicações Plano de investimentos trama B 66.000
Estado de Santa Catarina Programa de integração regional fase 1 32.600
Estado de Rondonia Desenvolvimento viário fase 2 21.428
Município de São José do Rio
Preto Infra-estrutura Urbana e drenagem 18.000
Unibanco Empréstimos para capital de trabalho e comércio 100.000
Bradesco Empréstimos para capital de trabalho e comércio 100.000
Banco ABN-AMRO Empréstimos para capital de trabalho e comércio Xxx
Banco Santander-Banespa Garantias 7.000
Vários Cooperação Técnica 45
Total 579.073
225
2005 Cliente Destino Total
Centrais elétricas brasileiras Geração de energia e trasnmissão tramo B 75.000
Centrais elétricas brasileiras Geração de energia e trasnmissão tramo A 25.000
Votorantim Participações
Financiamento do plano de investimentos da
companhia Trama A 320.000
Votorantim Participações
Financiamento do plano de investimentos da
companhia Trama B 80.000
Unibanco Empréstimo para capital de trabalho e comércio 50.000
Banco Itaú Empréstimo para capital de trabalho e comércio 25.000
Banco Itaú-BBA Empréstimo para capital de trabalho e comércio 25.000
Bradesco Empréstimo para capital de trabalho e comércio 50.000
Banco ABN AMRO Real Empréstimo para capital de trabalho e comércio 25.000
Vários cooperação técnica 10.000
2004 Cliente Destino Total
Vários clients Empréstimos para capital de trabalho e comércio 170.000
Vários beneficiaries Cooperação técnica 76
Total 170.076
2003 Cliente Destino Total
Unibanco
Programa do financiamento do comércio exterior
trama B 75.000
Unibanco
Programa do financiamento do comércio exterior
trama A 25.000
Vários Beneficiários Cooperação técnica 10
Vários Clientes Empréstimo para capital de trabalho e comércio 110.000
Total 260
Fonte: CAF; Dirección de secretaria y comunicaciones corporativas, [email protected]om. Vice Presidência
de comunicaciones de países.
Quadro texto 4: resumo informativo.
“Durante 2007, la CAF aprobó operaciones por USD 1.518 millones, lo que representa
23% del total, al tiempo que los desembolsos ascendieron a USD 879 millones (15% del
total). Al cierre del ejercicio, la cartera totalizó USD 807 millones, equivalente a 8,4%
de la cartera total ese año.
Durante el año, la Corporación aprobó USD 1.270 millones a los sectores productivos
a través del financiamiento de líneas de crédito para comercio exterior, capital de
trabajo y proyectos de inversión de las empresas en sectores de alto valor agregado.
Adicionalmente, dirigió más de USD 200 millones para proyectos de desarrollo urbano
y social. En particular, destinó USD 85 millones para la ejecución del Programa Vial
del estado de Pará, USD 60 millones para el manejo de aguas e infraestructura de
drenaje del Distrito Federal así como para varios proyectos en otros municipios. Estas
operaciones contribuyen con la mejora en la conectividad de carreteras secundarias y
facilitan el acceso de la población a servicios básicos” (Informe anual CAF 2007, p.67)
226
Quadro texto 5: nota explicativa.
Os bancos destacados na tabela acima são as instituições financeiras que repassam
os recursos do BNDES em atividades de financiamento do comércio exterior brasileiro.
Esta atividade tem por objetivo fazer com que os bancos privados assumam os custos
das garantias dos créditos do BNDES e, em troca, o BNDES confere para eles um
spread. É nesse sentido que afirmamos a correlação entre o BNDES e a CAF na
participação e exposição financeira do Brasil na América do Sul. Os empréstimos para
capital de trabalho e comércio basicamente são entendidos, segundo a própria CAF
(Informe anual 2007, pp. 71,72) como operações de comércio exterior e financiamento
de setores produtivos exportadores. Uma mirada geral nos dados, principalmente do ano
de 2007, destaca que a maioria dos recursos da CAF para o Brasil foi direcionada para
os bancos brasileiros de forma a financiar o comércio exterior do Brasil dentro desta
estratégia mediadora.
Tabela 21: participação de empresas brasileiras em projetos financiados pela CAF.
Projeto CAF Ajudicação
Páis/Setor
Custo
total/Milhoe
s de US$
Monto/Milhõe
s de US$ Empréstimo/nome Empresa Objeto Ano
Monto/Milhõe
s de US$
9.073,56 2,771,645
Bolívia 5.238,72 420.706
Transport
e 25.000 25.000
Corr. Integ Beni-La
Paz Perú
Constructora
Gueirós Galvão
Obras
civiles 1999 30.996
Transport
e 38.021 24.200
Carr. La marmore.
Desemp. Yamp
Constructora
Gueirós Galvão
Obras
civiles 1997 31.516
Transport
e 35.800 25.000
III Prog. Cof. Proy.
Red Vial
Constructora
Gueirós Galvão
Obras
civiles 1997 21.328
Transporte 25.000
III Prog. Cof. Proy.
Red Vial
Constructora
Gueirós Galvão
Obras
civiles 2000 2.772
Transport
e 142.600 75.800
Carretera Tarija-
Bermejo
Constructora
Gueirós Galvão
Obras
civiles 2001 69.872
Transport
e 372.200 100.000
Corr.Integ. Santa
Cruz-Pto Suá
Consórcio ARG-
COPESA-IÇA
Obras
civiles 2002 69.996
Transporte 100.000
Corr.Integ. Santa
Cruz-Pto Suá
Corsocio
TYPSA-
CONNAL
Obras
civiles 2002 3.468
Transport
e 142.900 100.000
Programa de apoyo
al sector de
transporte
ASOC.ACC
ECOPLAN-
NORONHA
Obras
civiles 2004 0
Transport
e 372.200 190.000
Corredores de
integración del Sur
Constructora
Gueirós Galvão
Obras
civiles 2003 180.000
Transporte 190.000
Corredores de
integración del Sur
ASOC.ACC
ECOPLAN-
NORONHA
Obras
civiles 2004 10.758
Brasil 2.055.000 81.050
Gás 2.055.000 80.000
Gasoduto Brasil-
Bolívia
Camargo Correa
S/A Gasoducto 1997 25.440
227
Gás 80.000
Gasoduto Brasil-
Bolívia
COEST.
Constructora S/A Gasoducto 1997 29.554
Gás 80.000
Gasoduto Brasil-
Bolívia
Azevedo y
Travassos
engenharia S/A Gasoducto 1998 354
Gás 80.000
Gasoduto Brasil-
Bolívia
Consórcio
Tenenge/DAIP Gasoducto 1996 2.798
Gás 80.000
Gasoduto Brasil-
Bolívia
Mendes Junior
trading
engenharia S/A Gasoducto 1998 624
Gás 80.000
Gasoduto Brasil-
Bolívia
Consórcio
Conducto Gasoducto 1997 22.277
Colômbia 600.000 60.160
Energia 600.000 75.000
Programa de
crédito
multipropósito
Norberto
Odebrecht
Generación
elétrica 1998 30.080
Energia 75.000
Programa de
crédito
multipropósito
SAE SADEMIL
S/A
Generación
elétrica 1998 30.080
Ecuador 883.320 538.652
Agua 168.880 41.200
Sistema de agua
Penin-Santa Helena
Norberto
Odebrecht
Obras
civiles 1997 28.016
Agua 258.400 50.000
Sistema trasvassis
Província de
Manabí
Norberto
Odebrecht
Obras
civiles 1998 139.639
Agua 25.000 25.000
Reab. Trasvase
Daule Peripá
Norberto
Odebrecht
Obras
civiles 1998 139.639
Agua 68.540 25.000
Obras Infra.
Peninsula Slo. Elan
Norberto
Odebrecht
Obras
civiles 1997 46.607
Agua 80.600 55.300
Trasvase Rio Daule
Sta Helena
Norberto
Odebrecht
Construcció
n 1996 37.600
Transport
e 164.000 131.000
Programa Vial de
integración
Andrade
Gutierrez
Construcció
n 1994 63.223
Transport
e 102.300 55.960 Puente Raf.Mende
Andrade
Gutierrez
Obras
civiles N.D 74.063
Agua 50.000
Sist. Trasvase
Provincia de
Manabí
Fundação
Universidade
Federal de
Maringá
Obras
civiles N.D 9
Agua 50.000
Sist. Trasvase
Provincia de
Manabí
Felipe Takahasho
Ventura
Obras
civiles N.D 15
Agua 50.000
Sist. Trasvase
Provincia de
Manabí
P.C.E. Projetos e
consultoria de
engenharia
Obras
civiles N.D 40
Agua 15.600 13.300
Trasvase Rio
Daule-Peripa
Norberto
Odebrecht
Obras
civiles 1997 9.800
Peru 3.333.115 1.352.884
Transport
e 300.000 48.800
Prog. Rehab. Y
Mant. De Carr.
Norberto
Odebrecht
Obras
Civiles 1993 16.011
Agua 134.000 76.000
Proy. Chavimochic
Etapa II
Norberto
Odebrecht
Obras
Civiles 1994 49.400
Transport
e 73.000 50.000
Rehab. Corr.Rioja-
Tarapoto
Gueiroz Galvão
S/A
Obras
Civiles 2000 37.536
Transporte 48.800
Prog. Rehab. Y
Mant. De Carr.
Andrade
Gutierrez
Obras
Civiles
1993
-94 24.153
Agua 17.100
Prog. Obras
Amb.Compl.
Chavim
Norberto
Odebrecht
Obras
Civiles 1997 12.354
Agua 17.000
Rehab. Obras. Proy.
Chavimochic
Norberto
Odebrecht
Obras
Civiles 1999 10.187
Transporte 172.000
Prog. Desarrollo del
Sector de transporte Camargo Correa
Obras
Civiles 2004 20.249
Agua 127.000 Proyecto Olmos
Norberto
Odebrecht
Obras
Civiles 2005 242.500
Transport
e 1.752.600 361.000
Corredor Vial
Amazonas Norte
Andrade
Gutierrez
Obras
Civiles 2005 101.600
Transporte 361.000 Corredor Vial Norberto Obras 2005 126.492
228
Amazonas Norte Odebrecht Civiles
Transport
e 1.073.515 200.000
Corredor Vial
Interoceanico del
Sur tramos 2 e 3
Norberto
Odebrecht
Obras
Civiles 2005 498.400
Transporte 200.000
Corredor Vial
Interoceanico del
Sur tramos 2 e 3
Andrade
Gutierrez
Obras
Civiles 2005 71.476
Transporte 200.000
Corredor Vial
Interoceanico del
Sur tramos 2 e 3
Gueiroz Galvão
S/A
Obras
Civiles 2005 71.262
Transporte 200.000
Corredor Vial
Interoceanico del
Sur tramos 2 e 3 Camargo Correa
Obras
Civiles 2005 71.262
Venezuel
a 1.073.400 318.194
Transport
e 689.700 45.000 Metro Línea 4
Noberto
Odebrecht
Obras
civiles 2001 160.679
Transport
e 363.700 100.000
Metro Los Teques
(I)
Noberto
Odebrecht
Obras
civiles 2003 140.575
Agua 50.000
Progr. Rehab.
Acueducto Metrop.
(II) Sulzer Bombas
Compras de
equipos 1999 10.730
Energia 50.000
Línea Transm
Yaracuy Cuatric
COENSA
ANSALDO
Compras de
equipos 1995 6.210
Fonte: CAF; Dirección de secretaria y comunicaciones corporativas, [email protected]om. Vice Presidência
de comunicaciones de países.
229
Tabela 22: conjunto de dados sobre os Débitos, créditos e saldos: ajustados e não
ajustados.
Não ajustados.
Débitos, Créditos e Saldos Brasil de compensação do ano de 2002 (em dólares)
Páis Débito Crédito Saldo
Argentina 43.033.531,23 119.150.132,95 76.116.601,72
Bolívia 851.241,85 851.241,85
Colombia 499.297,05 499.297,05
Chile 2.816.257,44 13.702.874,20 10.886.616,76
Equador 3.857.094,62 3.857.094,62
México 3.003.486,72 3.003.486,72
Paraguai 4.359.040,74 6.664.782,39 2.305.741,65
Perú 17.340,99 10.615.585,46 10.598.244,47
Uruguai 29.675.922,49 35.480.646,55 5.804.724,06
Venezuela 1.012.502,47 1.012.502,47
Rep. Dominicana 8.821.455,08 8.821.455,08
Total 79.902.065,89 204.881.410,34 124.979.344,45
Secretaria geral da ALADI: Convênio de pagamentos e créditos recíprocos 2002 a 2007. Elaborado pelo
autor com base da organização e compilação dos dados de 2002 a 2007.
Ajustados.
Débitos, Créditos e Saldos Brasil por país (em US$ dólares) ajustados por pagamentos
antecipados, transferências multilaterias e compensação em 2002.
País Débitos Créditos Saldos
Argentina 43.033.504,23 119.150.132,95 76.116.628,72
Bolívia 28.779.242,40 28.779.242,40
Colombia 15.183.035,06 15.183.035,06
Chile 2.816.257,44 66.052.875,20 63.236.617,76
Equador 97.061.475,16 97.061.475,16
México 8.964.486,72 8.964.486,72
Paraguai 4.359.049,74 15.511.782,39 11.152.732,65
Perú 17.340,99 62.055.585,46 62.038.244,47
Uruguai 29.675.922,49 43.720.846,55 14.044.924,06
Venezuela 19.900.502,57 19.900.502,57
Rep. Dominicana 18.935.874,60 18.935.874,60
Total 79.902.074,89 495.315.839,06 415.413.764,17
Fonte: Idem.
230
Não Ajustados.
Saldo Brasil de compensação do ano de 2003 (em dólares)
País Débitos Créditos Saldos
Argentina 24.943.940,08 80.294.109,09 55.350.169,01
Bolívia 1.456.395,43 1.456.395,43
Colombia 1.179.925,37 1.179.925,37
Chile 1.879.464,21 10.099.369,57 8.219.905,36
Equador 4.325.680,50 4.325.680,50
México 2.693.019,11 2.693.019,11
Paraguai 1.798.570,02 2.909.619,12 1.111.049,10
Perú 9.130,82 5.993.402,04 5.984.271,22
Uruguai 14.170.729,48 19.327.083,58 5.156.354
Venezuela 8.885.255,15 8.885.255,15
Rep. Dominicana 11.769.910,78 11.769.910,78
Total 42.801.834,61 148.933.769,74 106.131.935,13
Fonte: Idem.
Ajustados
Débitos, Créditos e Saldos Brasil por país (em US$ dólares) ajustados por pagamentos
antecipados, transferências multilaterias e compensação em 2003.
País Débitos Créditos Saldos
Argentina 24.943.940,08 60.455.109,09 25.511.169,01
Bolívia 21.363.464,60 21.363.464,60
Colombia 9.804.925,37 9.804.925,37
Chile 1.879.464,21 56.649.369,57 54.769.905,36
Equador 87.073.316,50 87.073.316,50
México 5.364.019,11 5.364.019,11
Paraguai 1.798.570,02 14.103.519,12 12.304.949,10
Perú 9.130,82 56.916.407,67 56.907.276,85
Uruguai 14.170.729,48 23.327.083,58 9.156.354,10
Venezuela 11.111.255,15 11.111.255,15
Rep.Dominicana 16.875.573,68 16.875.573,68
Total 42.801.834,61 363.044.043,44 310.242.208,83
231
Não ajustados.
Débitos, Créditos e Saldos Brasil de compensação do ano de 2004 (em dólares)
País Débito Crédito Saldo
Argentina 10.281.174,85 28.768.709,16 18.487.534,31
Bolívia 24.392,14 1.933.752,97 1.909.360,83
Colombia 193.228,61 452.916,18 259.687,57
Chile 9.330.243,56 17.599.750,67 8.269.507,11
Equador 2.179.483,35 2.179.483,35
México 1.309.484,92 1.309.484,92
Paraguai 86.458,35 3.691.281,81 3.604.823,46
Perú 591.287,12 8.363.826,50 7.772.539,38
Uruguai 8.936.365,15 13.572.696,64 4.636.331,49
Venezuela 1.375,84 31.646.136,86 31.644.761,02
Rep. Dominicana 8.536.271,26 8.536.271,26
Total 29.444.525,62 118.054.310,32 88.609.784,70
Fonte: Idem.
Ajustados.
Débitos, Créditos e Saldos Brasil por país (em US$ dólares) ajustados por pagamentos
antecipados, transferências multilaterias e compensação em 2004.
País Débito Crédito Saldo
Argentina 10.281.174,85 92.568.709,16 82.287.534,31
Bolívia 24.392,14 19.401.462,62 19.377.071,48
Colombia 193.228,61 7.337.916,18 7.144.687,57
Chile 9.330.243,56 76.299.750,67 66.969.507,11
Equador 89.941.865,82 89.941.865,82
México 1.390.484,92 1.390.484,92
Paraguai 86.485,35 15.858.701,32 15.772.215,97
Perú 591.287,12 57.778.826,50 57.187.539,38
Uruguai 8.936.365,15 28.707.696,64 19.771.331,49
Venezuela 1.375,84 252.441.136,86 252.439.761,02
Rep. Dominicana 18.883.775,36 18.883.775,36
Total 29.444.552,62 660.610.326,05 631.165.774,43
Fonte: Idem.
232
Não ajustados.
Débitos, Créditos e Saldos Brasil de compensação do ano de 2005 (em dólares)
País Débito Crédito Saldo
Argentina 12.537.397,37 25.811.770,31 13.274.372,94
Bolívia 1.395.985,03 1.395.985,03
Colombia 1.146.914,77 3.307.827,71 2.160.912,94
Chile 24.685.538,39 31.577.478,23 6.891.939,84
Equador 81.484,37 8.160.407,13 8.078.922,76
México 601.348,07 601.348,07
Paraguai 631.359,34 3.467.963,68 2.836.604,34
Perú 866.602,39 10.305.652,27 9.439.049,88
Uruguai 3.358.458,44 6.908.596,18 3.550.137,74
Venezuela 32.507,52 116.198.613,20 116.166.105,68
Rep.Dominicana 5.673.452,48 5.673.452,48
Total 43.340.262,59 213.409.094,29 170.068.831,70
Fonte: Idem.
Ajustados.
Débitos, Créditos e Saldos Brasil por país (em US$ dólares) ajustados por pagamentos
antecipados, transferências multilaterias e compensação em 2005.
País Débito Crédito Saldo
Argentina 12.537.397,37 92.261.770,31 79.724.372,94
Bolívia 15.872.829,72 15.872.829,72
Colombia 1.146.914,77 11.113.840,20 9.966.925,43
Chile 24.685.538,39 79.127.478,23 54.441.939,84
Equador 81.484,37 92.708.223,13 92.626.738,76
México 601.348,07 601.348,07
Paraguai 631.359,34 39.108.283,03 38.476.923,69
Perú 866.602,06 75.260.652,27 74.394.050,21
Uruguai 3.358.458,44 39.555.818,75 36.197.360,31
Venezuela 32.507,52 797.221.855,41 797.189.347,89
Rep. Dominicana 21.201.783,95 21.201.783,95
Total 43.340.262,26 1.264.033.883,07 1.220.693.620,81
Fonte: Idem.
233
Não Ajustados.
Débitos, Créditos e Saldos Brasil de compensação do ano de 2006 (em dólares)
País Débito Crédito Saldo
Argentina 12.585.131,83 18.832.906,43 6.247.774,60
Bolívia 87.089,37 663.353,22 587.263,85
Colombia 506.333,99 1.842.211,44 1.335.877,45
Chile 52.026.730,77 37.972.512,91 -14.054.217,86
Equador 138.981,22 6.810.889,28 6.671.908,06
México 34.985,33 34.985,33
Paraguai 1.407.800,62 1.332.197,00 -75.603,62
Perú 586.041,65 44.874.564,65 44.288.523,00
Uruguai 1.973.252,73 4.215.385,62 2.242.132,89
Venezuela 8.234,81 205.215.577,40 205.207.342,59
Rep. Dominicana 2.568.995,84 2.568.995,84
Total 69.319.596,99 324.363.579,12 255.054.982,13
Fonte: Idem.
Ajustados.
Débitos, Créditos e Saldos Brasil por país (em US$ dólares) ajustados por pagamentos
antecipados, transferências multilaterias e compensação em 2006.
País Débito Crédito Saldo
Argentina 12.585.131,83 98.782.906,43 86.187.774,60
Bolívia 87.089,37 14.092.351,09 14.005.261,72
Colombia 506.334,60 13.448.211,44 12.941.876,84
Chile 52.026.730,77 47.423.516,11 -4.603.214,66
Equador 138.981,22 101.816.966,28 101.677.985,06
México 34.985,33 34.985,33
Paraguai 1.407.800,62 36.804.677,10 35.396.876,48
Perú 586.642,03 143.478.543,14 142.891.901,11
Uruguai 1.973.252,73 31.207.395,62 29.234.142,89
Venezuela 8.179,03 1.586.191.590,95 1.586.183.411,92
Rep. Dominicana 35.023.625,29 35.023.625,29
Total 69.320.142,20 2.108.304.768,78 2.038.974.626,58
Fonte: Idem
234
Não ajustados.
Déditos, Créditos e Saldos Brasil de compensação do ano de 2007 (em dólares)
País Débito Crédito Saldo
Argentina 16.296.810,06 20.836.163,49 4.539.353,43
Bolívia 10.843,14 931.301,74 920.458,60
Colombia 199.514,25 772.493,94 572.979,69
Chile 98.846.933,91 28.518.529,79 -70.328.404,12
Equador 166.380,55 9.518.892,78 9.352.512,23
México 2.785.888,98 2.785.888,98
Paraguai 105.353,64 1.640.837,48 1.535.483,94
Perú 1.666.560,06 2.997.298,33 1.330.738,27
Uruguai 6.679.979,50 10.047.770,70 3.367.791,20
Venezuela 8.131,64 222.944.736,03 222.936.604,39
Rep. Dominicana 3.782.957,27 3.782.957,27
Total 123.980.506,75 304.776.870,53 180.796.363,88
Fonte: Idem.
Ajustados.
Débitos, Créditos e Saldos Brasil por país (em US$ dólares) ajustados por pagamentos
antecipados, transferências multilaterias e compensação em 2007.
País Débito Crédito Saldo
Argentina 16.296.810,06 107.640.163,49 91.343.353,43
Bolívia 10.843,14 21.609.532,00 21.598.688,86
Colombia 199.514,25 16.780.493,94 16.580.679,69
Chile 98.846.933,91 28.543.176,73 -70.303.757,18
Equador 166.380,55 97.044.506,98 96.878.126,43
México 2.785.888,98 2.785.888,98
Paraguai 105.353,64 24.774.857,15 24.669.503,51
Perú 1.666.560,06 47.858.561,73 46.192.001,67
Uruguai 6.679.979,50 36.586.770,70 29.906.791,20
Venezuela 8.131,66 2.568.150.735,81 2.568.142.604,15
Rep. Dominicana 44.291.022,59 44.291.022,59
Total 123.980.506,77 2.996.065.710,10 2.872.084.903,33
Fonte: Idem
235
Tabela 23: comparativo de Débitos, Créditos e Saldos: MERCOSUL e Pacto
Andino.
Débitos.
Débitos Brasil (US$) ajustados por pagamentos antecipados, transferências multilaterais e
compensações: Mercosul e Pacto Andino (excluído a Venezuela).
Déb/2002 Déb/2003 Déb/2004 Déb/2005 Déb/2006 Déb/2007
Mercosul
77.068.476
,46
40.913.239
,58
19.304.025
,35
16.527.215
,15
15.966.185
,28
23.082.143
,20
Pacto
Andino 17.340,99 9.130,82 808.907,87
2.095.011,
20
1.180.066,
00
2.043.298,
00
Créditos.
Créditos Brasil (US$) ajustados por pagamentos antecipados, transferências multilaterais e
compensações: Mercosul e Pacto Andino (excluído a Venezuela).
Créd/2002 Créd/2003 Créd/2004 Créd/2005 Créd/2006 Créd/2007
Mercosul
178.382.76
1,89
97.885.711,
79
137.135.10
7,12
170.925.87
2,09
166.773.20
8,48
169.001.79
1,34
Pacto
Andino
203.079.34
5,08
175.158.11
4,14
174.460.08
1,12
194.955.54
5,32
272.836.07
1,95
183.293.09
4,65
Saldos.
Saldos Brasil (US$) ajustados por pagamentos antecipados, transferências multilaterais e
compensações: Mercosul e Pacto Andino (excluído a Venezuela)
Saldo/2002 Saldo/2003 Saldo/2004 Saldo/2005 Saldo/2006 Saldo/2007
Mercosul
101.314.28
5,43
46.972.472,
21
117.831.08
1,77
154.398.65
6,94
150.818.79
3,97
145.919.64
8,14
Pacto
Andino
203.061.99
7,09
175.148.98
3,32
173.651.16
4,25
192.860.54
4,12
271.517.02
4,73
181.249.49
6,65
201
CONCLUSÃO
202
Para um país em processo de expansão econômica, como é o Brasil no limiar do
século XXI, iniciou-se uma reorientação econômica atrelada à internacionalização de
importantes segmentos produtivos da economia nacional. A questão financeira é crucial
para assegurar uma projeção internacional, inicialmente a partir da América do Sul, que
permita ao país pôr em marcha seus programas de governo, manter os parâmetros de
responsabilidade fiscal e monetária e definir uma posição sólida no comércio
internacional. O prelúdio dos processos de internacionalização da economia brasileira
tem implicações que vão além de uma dimensão econômica passível de ser analisada;
trata-se de um fenômeno que se alastra nos compromissos de ordem internacional e
regional; assim como na capacidade interna e externa do país. O tema financeiro e suas
condicionantes infra-estruturais representaram o primeiro teste posto em ação pela
dinâmica diplomática nacional.
Esta é uma das razões para termos elucidado o debate em torno das garantias e
seguros aos recursos do BNDES e a caracterização do modelo de participação e
exposição financeira do Brasil na América do Sul. Destacamos que tais temáticas têm
implicações políticas regionais diplomáticas; assim como implicações políticas internas
quanto às estratégias e metodologias para a liberação dos recursos do BNDES
direcionados aos investimentos nacionais nas economias locais. Contudo, os mentores
da diplomacia analisada, embora entoassem o discurso cooperativo identificado na
prioridade para a integração regional, privilegiavam o equilíbrio financeiro e o acesso
aos mercados regionais para produtos de alto valor agregado da economia nacional
Internamente, a falta de acertos quanto às discussões em torno das captações dos
recursos do banco e a própria condicionante das regras de financiamento e avaliações
dos riscos empregadas pelo BNDES, desfaziam as consecuções mais rápidas dos
anseios e diretrizes que os discursos da prioridade na integração concentravam em si.
Ao mesmo tempo, colaborava para o processo, no plano regional, o levantamento de
críticas ao modelo de participação e exposição financeira do Brasil e ao próprio discurso
político do governo Lula de prioridade para a integração regional.
Ainda no plano interno, o grupo dos exportadores de serviços de engenharia e
construção civil resguardou uma posição privilegiada no acesso aos créditos do BNDES
para financiamentos das exportações. Dessa forma, foi o setor que mais se expandiu na
América do Sul e que se integrou mais ativamente na iniciativa IIRSA. Nesse sentido,
integrou-se em bloco numa relação mais estreita com as preferências da ação e projeção
regional e internacional do governo Lula.
203
A política industrial empreendida pelo Estado brasileiro e pelas linhas de
financiamento às exportações do Brasil, na medida em que se congregaram numa
estratégia de política externa, chocava-se, no plano regional, com os anseios e
expectativas cooperativas esperados pelos países do entorno. A questão é que a
prioridade dada pela política externa do governo Lula estava mais vinculada a um plano
industrial econômico do Brasil, do que a uma resultante ideológica e ou cooperativa a
partir de parâmetros de liderança material.
O Estado brasileiro, que no século XXI, incorporou à arena de decisões e
formulações em Política Externa, novas instâncias da sua própria infra-estrutura, pôs em
marcha uma ação internacional muito mais imbricada e correlacionada com novas
diretrizes institucionais e econômicas. No médio e no longo prazo, a arquitetura pública
e privada financeira do país deverá se reorganizar de forma a atender aos novos
horizontes da projeção política e econômica internacional do Brasil. A região sul-
americana é e foi o palco inicial dessas experiências prévias. Iniciativas de participação
e exposição financeira em bases regionais como a CAF, FONPLATA e FOCEM são
indícios ainda prematuros desse processo. Em termos cooperativos, a associação do
BNDES com o BICE, Banco de La Nación Argentina e o BROU do Uruguai também
direcionam para esse entendimento.
Por outro lado, o país logrou extrair ganhos relativamente importantes com o
processo; embora não seja negado que destoam muito da dimensão pretendida pelo
discurso diplomático. Em outros termos, apesar de não podermos caracterizar o BNDES
como instrumento ou braço da PEB na América do Sul, os seus recursos expostos
resultaram na expansão comercial do país na região. Estas considerações questionam o
viés ideológico atribuído à articulação PEB-BNDES e a caracteriza mais como um
elemento de ordem pragmática da destacada política externa. O fato que contou mais
substancialmente para o estabelecimento do processo e seus contornos foi uma
definição do interesse nacional vinculado aos anseios por desenvolvimento econômico
correspondidos em parte na América do Sul.
Em verdade, a implementação possível que se alcançou não foi resultado
exclusivo das vontades políticas dos atores diplomáticos; mas efeitos imediatos das
possibilidades conferidas pelos elementos de ordem “infra-estrutural” destacados. Da
parte do Estado brasileiro, a integração regional, focada nos temas financeiros, não
recebeu um montante de recursos suficientes que pudessem caracterizar uma guinada
substancial das propostas da PEB para as iniciativas na região; fato que não nega, para
204
os anos 2003-2007, o avanço no tema trás a sua ausência absoluta nos anos noventa. O
resultado que se alcançou beneficiou sim os exportadores brasileiros e, ademais,
estabeleceu possibilidades positivas de participação e exposição financeira nacional trás
os limites traçados pelos marcos infra-estruturais. Os problemas correlacionados com as
ineficiências da arquitetura financeira nacional; a rigidez nos critérios de avaliações de
riscos do BNDES; os compromissos para com as metas fiscais e monetárias; e os
avanços, empreendidos nas instituições públicas do Brasil, dentro das chamadas
reformas estruturais de segunda geração, definiram os resultados alcançados. Desse
modo, as determinantes estruturais delimitavam os limites para os anseios e objetivos,
mesmo os mais destacados, ao tempo que criavam algumas possibilidades presentes e
futuras.
O projeto de prioridade para a integração regional, subordinado a um prévio papel
ativo do Estado brasileiro, previa uma condução em termos materiais financeiros que
acarretasse em benefícios regionais amplos. Mas, ao que tudo indica, as fontes de
recursos do Brasil, o modelo de participação e exposição financeira e a própria
caracterização da ação internacional brasileira sinalizam para a busca dos seguintes
objetivos: consolidação da região como mercado para certos setores da economia
brasileira; bases regionais de acesso a créditos para os exportadores brasileiros;
estruturação de uma modelagem financeira regional propícia aos condicionantes do
Brasil; e inserção internacional brasileira a partir da América do Sul.
Essa condução do Brasil nos processos analisados corresponde à própria posição
que o país vem adquirindo em termos econômicos: uma economia em expansão
internacional associada à maturidade institucional alcançada com os esforços
empreendidos nos processos de reajustes estruturais desde o início dos anos noventa.
Dessa forma, conforme se desenhava a necessidade para uma nova atenção a ser
conferida aos processos e iniciativas de integração regional, os interesses e objetivos
imediatos do Estado brasileiro se coadunavam aos seus objetivos estratégicos de longo
prazo.
O período que procuramos analisar referente às ações da diplomacia de Lula
(2003-2007) ilustra a evolução do movimento e dos esforços para implementar esses
objetivos estratégicos. Além de destacar e revelar a própria condicionante dos fatores
“infra-estruturais” que definem e modelam esses objetivos.
Os esforços em torno dos acertos quanto aos seguros e garantias aos recursos do
BNDES constituíram o primeiro objetivo básico da ação diplomática; objetivo este
205
traçado pela própria modelagem dos padrões de avaliação de risco empregados pelo
BNDES. Para alcançar tais objetivos, usaram de negociações políticas variadas e em
bases bilaterais. Os embates no tema se verificaram, para alguns Estados, anos depois,
no sentido de definir o modelo de participação e exposição financeira do Brasil. No
entanto, como vimos, esses embates e ou acertos encontravam uma definição no próprio
interesse comercial nacional, e, para isso, aparentemente não prevaleceram diretrizes de
ordem ideológicas que surtissem em impactos diretos no processo.
O mesmo se verifica nos esforços por restabelecer as instituições tradicionais e
institucionais de integração. Os Ministérios do Brasil destacados na tese estipularam e
definiram, por meio das medidas, resoluções e iniciativas por eles tomadas, que a
participação e exposição financeira do Brasil deveriam ser dadas a partir das instituições
tradicionais de integração regional em vista das questões envolvendo os parâmetros de
riscos a serem considerados. Dessa forma, a passagem do Brasil de sócio acionista série
C para série A junto à CAF representa, por um lado, o próprio modelo do Brasil; e por
outro, a própria definição das condições “infra-estruturais” estabelecendo parte das
regras do jogo. O mesmo vale para o restabelecimento do uso do sistema CCR-Aladi no
comércio exterior do Brasil com os Estados destacados.
A prioridade dada para a integração regional ajustou-se, portanto, à coincidência e
causalidade de interesses de certos setores econômicos e também de certos arranjos
institucionais financeiros do Brasil. Ao mesmo tempo, legitimou-se, para fins internos e
externos, uma política pública e externa que defendia a clássica correlação internacional
do Brasil ao objetivo de desenvolvimento econômico. Para fins concretos, é nesse
sentido que entendemos o peso dos fatores de ordem interna que definem as
formulações e redefinições das formulações da PEB para a América do Sul, e os
resultados efetivos, ou seja, as implementações.
A pesquisa, contudo, reconheceu que, para explicar o tema escolhido, deveríamos
ter em conta as limitações e as possibilidades de decisões dos condutores da política
externa da era Lula da Silva. Eles agiram dentro de um campo restrito, mas que permitiu
alguma manobra de ordem política. Ao levar em conta a duplicidade entre as
considerações próprias da ordem “infra-estrutural” do Estado brasileiro, e as
conjunturas de ordem política diplomáticas, não teria sido possível entender o tema de
forma minimamente aceitável.
A tese comportou dois temas aparentemente pouco trabalhados em conjunto: a
explicação das conjunturas diplomáticas; e as de ordem financeira ou “infra-estrutural”
206
do Estado brasileiro. A integração dos dois temas nos permitiu entender que a ação
internacional do Brasil, na sua prioridade dada para a integração regional adensada pelo
tema financeiro, possui as suas raízes nas considerações imediatas inerentes do âmbito
nacional brasileiro.
207
“Tantos espectros se apinham no ar,
Como e para onde escapar?
Antes vem e sorri a manhã racional,
Depois tece a noite seu sonho infernal.
Ao voltarmos alegres dos campos arados
Grasna uma ave. Que disse ao grasnar?
Desgraça, sugere a superstição:
Tem forma e se mostra e traz maldição.
Com medo ouvimos a porta estalar,
Estamos sozinhos; ninguém vai entrar...
Quem está aí?
Inquietação: A pergunta exige o sim!
Fausto: E tu, quem és?
Inquietação: Estou aqui.
Fausto: Afasta-te!
Inquietação: Estou no meu lugar.
Se no ouvido em mim se fechar,
No coração o medo vai medrar;
A cada hora muda a hora do meu ser
E assim exerço meu despótico poder.”
1
1
“Fausto”. Ghoethe.
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