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discriminatório dentro das escolas e, consequentemente, fora dela. Como também, enquanto
objetivos de ensino e conteúdo, não pode ficar restrita a uma disciplina ou série específica:
Ler, escrever e falar em público é tarefa ontológica, intrínseca, eterna da
escola, de todos nós educadores. Tratam-se de tarefas fundamentais para
“prepará-los para a vida”, bem mais importantes, creio eu, do que “prepará-
los para o mercado de trabalho”, mercado este cada vez mais inexistente. Se
os alunos dizem, ao ver um mapa; “isso é geografia”, ao fazer uma conta;
“ué é aula de matemática!?”, ou estranham quando pedimos para escreverem
sobre o que falamos como se “isso fosse aula de português”, é porque eles
simplesmente estão reproduzindo uma construção ideológica/científica que
nós construímos ao longo dos anos escolares. Aliás, eles são a nossa cara.
(KAERCHER, 2006, p.77-78)
O trabalho com a leitura em sala de aula, além de extrapolar os limites disciplinares,
deve extrapolar, também, as concepções redutoras sobre o processo de leitura que tem sido
incorporado no discurso de alguns professores – despertar o gosto pela leitura. Essa visão tem
sido veiculada pelos discursos oficiais de leiturização em “que a palavra leitura não sai do
universo literário [...] A partir da concepção leitura=literatura e literatura=narrativa, abre-se o
espaço para o discurso do prazer de ler, como possibilidade de gostar de ouvir (ou de contar)
histórias.” (SANTANA, 2005, p.1).
Aqui, a posição não é ignorar a importância do prazer de ler, ou ser contra as políticas
de leiturização no Brasil
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, mas refletir sobre a sua concretização nos espaços escolares:
O chamado “prazer da leitura”, tão proclamado nos discursos e nas
propagandas oficiais dos governos, permanece fora das salas de aula, como
uma meta inatingível nos contextos escolares. E torna-se uma meta
inatingível em decorrência de concepções redutoras de leitura, presentes no
imaginário dos professores. Além disso, as atmosferas controladoras e
quantitativistas da educação escolarizada brasileira também levam as
crianças ao desprazer, ao desgosto, à desleitura. Na escola tudo tem que ser
medido, quantificado, repetidos pelos toques das didáticas cartilhescas,
deixando pouco ou nenhum tempo ou espaço para a alegria, criatividade,
fantasia e imaginação. Daí também a didatização da literatura – esta arte, na
escola, infelizmente, perde a sua natureza de fruição para se transformar em
objeto de dissecação e de estudo (vocabulário, gramática, escolas literárias,
vida de autores etc.). (SILVA, 2003, p.19-20)
Ressalta-se que essas políticas, refletem de certa forma, a posição dos teóricos da área
no sentido de democratização do livro às crianças, jovens e adultos que não tinham acesso a
esse tipo de material impresso – o livro de literatura. Essas políticas são sementes que foram
plantadas em terra fértil, que têm germinado e que aos poucos têm se desenvolvido, mas,
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Por políticas de leiturização estou considerando os programas de distribuição de livros como o PNBE –
Programa Nacional de Biblioteca Escolar e o PNLD – Plano Nacional de Livro Didático.