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Universidade Federal de Goiás
Faculdade de Artes Visuais
Mestrado em Cultura Visual
A TRANSPARÊNCIA E O PROCESSO DE CRIAÇÃO EM GRAVURA
PRODUÇÕES EXPERIMENTAIS
Alana Morais Abreu e Silva
Goiânia–Goiás
2008
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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(GPT/BC/UFG)
Silva, Alana Morais Abreu e.
S586t A transparência e o processo de criação em gravura
[manus-
crito]: produções experimentais) / Alana Morais Abreu e
Silva.-
2008.
128 f. : il.
Orientador: Prof. Dr. José César Teatini Clímaco.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Goiás,
Faculdade de Artes Visuais, 2008.
Bibliografia: f. 101- 126.
Inclui lista de ilustrações.
Anexos.
1. Arte [gravura] – Trabalho em plástico 2. Artes visuais –
Processo de criação 3. Arte por computador 4. Gravura – Com-
putação gráfica I. Clímaco, José César Teatini II. Universidade
Federal de Goiás. Faculdade de Artes Visuais III. Titulo.
CDU: 76.023.4:004
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Universidade Federal de Goiás
Faculdade de Artes Visuais
Mestrado em Cultura visual
A TRANSPARÊNCIA E O PROCESSO DE CRIAÇÃO EM GRAVURA
PRODUÇÕES EXPERIMENTAIS
Alana Morais Abreu e Silva
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Faculdade de Artes
Visuais da Universidade Federal de Goiás,
como exigência parcial para obtenção do
título de MESTRE EM CULTURA VISUAL ,
sob orientação do Prof. Dr. José Cèsar
Teatini Clímaco.
Goiânia – Goiás
2008
9
Termo de Ciência e de Autorização para Publicação de Teses e Dissertações
Eletrônicas (TEDE) na Biblioteca Digital da UFG
Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo à Universidade Federal de Goiás UFG a
disponibilizar gratuitamente através da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações BDTD/UFG, sem
ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o documento conforme
permissões assinaladas abaixo, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação
da produção científica brasileira, a partir desta data.
1. Identificação do material bibliográfico: [ x] Dissertação [ ] Tese
2. Identificação da Tese ou Dissertação
Autor(a): Alana Morais Abreu e Silva
Afiliação:
Título: A TRANSPARÊNCIA E O PROCESSO DE CRIAÇÃO – Produções experimentais
Palavras-chave: Gravura, transparência, imaterial
Título em outra língua: Transparency and immaterial -engraving
Palavras-chave em outra língua: Engraving, transparency, immaterial
Área de concentração: Produção artística na contemporaneidade –poéticas visuais
Número de páginas: 131 Data defesa: 31/03/08
Programa de Pós-Graduação: Cultura Visual
Orientador(a): José César Teatini Clímaco
Co-orientador(a):
E-mail:
Agência de fomento: Coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível
superior
Sigla: CAPES
País: Brasil UF: Go CNPJ:
3. Informações de acesso ao documento:
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__________________________________ Data: _____ / _____ / _____
Assinatura do(a) autor(a)
1
Em caso de restrição, esta poderá ser mantida por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste prazo
suscita justificativa junto à coordenação do curso. Todo resumo e metadados ficarão sempre disponibilizados.
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Universidade Federal de Goiás
Faculdade de Artes Visuais
Mestrado em Cultura Visual
A TRANSPARÊNCIA E O PROCESSO DE CRIAÇÃO EM GRAVURA
PRODUÇÕES EXPERIMENTAIS
Alana Morais Abreu e Silva
Dissertação defendida em 31 de março de 2008
Orientador Prof. Dr. José Cèsar Teatini Clímaco
Presidente da Banca
Profª. Drª. Beatriz Basile da Silva Rauscher (UFU)
Membro externo
Profª. Drª. Irene Tourinho (FAV/ UFG)
Membro Interno
Profª. Drª Eliane Nardin (UFU)
Suplente membro externo
Profª. Drª Edna de Jesus Goya (FAV/ UFG)
Suplente membro interno
Para pit, tim, lé e flor
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu orientador, José César Clímaco, pela confiança e serenidade no
controle desta pesquisa.
Aos meus colegas e professores do curso de Mestrado em Cultura Visual pelas
significativas contribuições.
À Darci Costa pela aula de correção.
À minha mãe, pela ajuda com as crianças.
Ao amigo e mecenas Malaquias.
À Helena, pelo inglês.
À todos aos quais possa valer esta pesquisa.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES/ EXPOSIÇÃO
Ilustração 1 – Plotter adesivado transparente – matriz em plástico transparente
digitalizado – estudos. Ano 2008 1,20 x 30 cm ----------------------------------pg.10
Ilustração 2 – Objeto em plástico transparente recortado – estudos. ano 2006
60x 1,20 cm--------------------------------------------------------------------------------pg. 11
Ilustração 3- Bip tico – objeto em plástico transparente/ colagem – estudos.
Ano 2008-40x1,30 cm-------------------------------------------------------------------pg. 12
Ilustração 4 – detalhe bip tico---------------------------------------------------------pg. 13
Ilustração 5- Objeto em plástico transparente recortado/ sobreposições –
Estudos. Ano 2008 -80 x1,00cm------------------------------------------------------pg. 14
Ilustração 6 –detalhes – estudos/ pg. 14-------------------------------------------pg. 15
Ilustração 7 –Objeto em plástico transparente/ recortes e transposições. Série
Culturas. Ano 2006. 1,00x 1,50cm----------------------------------------------------pg. 16
Ilustração 8- detalhe/ objeto em plástico/ série culturas /pg. 16--------------pg. 17
Ilustração 9 –Objeto em plástico transparente e acrílico- técnica de extração.
“então, antes do pensamento...”. Ano 2008 .30 x20 cm--------------------------pg. 18
Ilustração 10 –Objeto em plástico transparente e acrílico – técnica de extração.
“então, antes do pensamento II...”Ano 2008. 15 x 10 cm ------------------------pg. 19
Ilustração 11-Gravura impressa/ matriz em plástico transparente. Estudos .
Ano 2007 . 96 x 32 cm --------------------------------------------------------------------pg. 20
Ilustração 12 –Gravura impressa/ matriz em plástico transparente. Estudos.
Ano 2007. 96 x 32 cm-----------------------------------------------------------------------pg. 21
Ilustração 13 –Gravura impressa a seco/ matriz em plástico transparente. Estudos.
Ano 2006. 66 x 47 cm -----------------------------------------------------------------------pg. 22
Ilustração 14 –Gravura impressa a seco/ matriz em plástico transparente. Série
culturas. Ano 2006. 66 x 47 cm -----------------------------------------------------------pg. 23
Ilustração 15- Gravura impressa/ matriz em plástico transparente.série culturas.
Ano 2006. 97 x 61 cm------------------------------------------------------------------------pg. 24
Ilustração 16 – imagem da exposição---------------------------------------------------pg. 25
Ilustração 17 –imagem da exposição----------------------------------------------------pg. 26
Ilustração 18 –imagem da exposição----------------------------------------------------pg. 27
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 Pagina do diário de artista com anotações ----------------------------20
Ilustração 2 Detalhe de um trabalho: Filigranas transparentes 1-----------------27
Ilustração 3 Detalhe de um trabalho: Filigranas transparentes 2-----------------28
Ilustração 4 Trabalho em plástico: Ipê---------------------------------------------------29
Ilustração 5 Gravura com técnica da lixa: Estudos do cerrado--------------------31
Ilustração 6 Gravura com técnica em colagem: Estudos do cerrado------------34
Ilustração 7 Gravura com técnica em colagem: Estudos do cerrado------------35
Ilustração 8 Gravura com técnica em extração: Estudos --------------------------38
Ilustração 9 Gravura com técnica em extração: Estudos---------------------------39
Ilustração 10 Trabalho em ateliê com método tradicional de impressão--------47
Ilustração 11 Objeto/matriz confeccionado com a técnica de extração----------50
Ilustração 12 Objeto/matriz confeccionado com a técnica de extração----------51
Ilustração 13 Objeto/matriz confeccionado com a técnica de colagem-----------52
Ilustração 14 Gravura digital-----------------------------------------------------------------55
Ilustração 15 Gravura digital-----------------------------------------------------------------58
Ilustração 16 Gravura digital-----------------------------------------------------------------60
Ilustração 17 Gravura digital em movimento---------------------------------------------62
Ilustração 18 Imagem do salto no vazio/ Yves Klein-----------------------------------68
Ilustração 19 Página de diário de artista com anotações-----------------------------71
Ilustração 20 Gravura a seco impressa em método tradicional---------------------73
Ilustração 21 Imagem do trabalho In Absentia ------------------------------------------79
Ilustração 22 Página de diário de artista com anotações ----------------------------83
Ilustração 23 Página de diário de artista com anotações-----------------------------85
Ilustração 24 Página de diário de artista com anotações-----------------------------87
Ilustração 25 Gravura a seco impressa em método tradicional---------------------91
Ilustração 26 Gravura digital -----------------------------------------------------------------92
Ilustração 27 Gravura digital------------------------------------------------------------------96
Ilustração 28 Página de diário de artista com anotações-----------------------------100
RESUMO
Esta pesquisa compreende tecnicamente a produção,
digitalização/entitamento e impressão de objetos/matrizes confeccionados em plástico
polietileno transparente. Este suporte proporciona um estudo reflexivo e poético
acerca dos diferentes processos de construção da obra, pontuando sua relação com
as tecnologias tradicionais e digitais, e o pensamento poético acerca dos limites da
matéria. Inicialmente o presente estudo concentrou-se na produção em ateliê de
gravura, em que foi exercida uma liberdade técnica e conceitual no processo de
criação.As variações de matrizes permitiram, posteriormente, concentrar a produção
em duas técnicas opostas: uma consiste na extração de material(plástico), e a outra,
em colagem de material. Com o desenvolvimento destas duas técnicas destacadas, o
processo experimental afunilou-se, produzindo reflexões poéticas, pesquisas
conceituais e maior volume de produção.A técnica e o conceito de gravura
orquestraram os fazeres, os processos e as reflexões que abrangeram desde a
confecção de objetos/matrizes até suas impressões ou propostas finais.Como trajeto
poético, foi questionada a transparência do objeto/ matriz ser imaterial, ausente, bem
como o seu comportamento nas etapas do processo de produção, impressão e
reflexão.Esta investigação apóia-se no trabalho da artista Regina Silveira, nos
momentos em que discute a imaterialidade, sob a vertente dos conceitos e modos de
fazer e entender a gravura.Por tratar-se de um trabalho construído na linha de
poéticas visuais, o diário de artista apresenta-se como membro do pensamento e
construção da obra, portanto, como documento ao qual se recorre referendando o
processo de criação.
Esta pesquisa apresenta como eixo técnico e conceitual a gravura, que promove a
reflexão sobre o transparente como presença de uma representação ausente.
Palavras-chaves: gravura, transparência, imaterial.
ABSTRACT
This research includes technically the production, scanning / tinge and printing
of objects / matrices made in transparent plastic polyethylene. This support provides a
reflective study and poetic about the different processes of construction of the work,
scoring its relationship with traditional and digital technologies, and poetic thinking
about the limits of the field. Initially this study focused on the production in the
engraving workshop, which was held in a freedom technical and conceptual in the
process of creation. The variations of matrices allowed then concentrate production in
two opposite techniques: one is the extraction of material (plastic), and the other in
collage of material. With the development of these two techniques deployed, the
process experimental restricted itself, producing poetic reflections, conceptual
searches and increased volume of production. The technique and the concept of
engraving developed the work, the processes and considerations involving the
manufacture of objects from / matrices until your impressions or final proposals. As
path poetic, was questioned the transparency of the object / matrix being immaterial,
missing, and their behaviour in steps of the production process, printing and reflection.
This supports research on the work of artist Regina Silveira, in times that discusses the
immaterial being, under the aspect of the concepts and ways of doing and understand
the engraving. So its work built on the line of poetic visual, the daily the artist is a
member of thinking and construction of the work, so as to the document which it uses
referring to the process of creation.
This research presents technical and conceptual axis as the engraving, which
promotes reflection on the presence of transparent as a representation missing.
Keywords: engraving, transparency, immaterial.
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES---------------------------------------------------------------------------- 6
RESUMO------------------------------------------------------------------------------------------------- 7
ABSTRACT------------------------------------------------------------------------------------------------8
INTRODUÇÃO------------------------------------------------------------------------------------------10
PRODUÇÃO E IMPRESSÃO:UM PROCESSO DE INCLUSÃO NA GRAVURA---- 16
O MATERIAL-PLÁSTICO POLIETILENO TRANSPARENTE------------------------------ 18
A VARIAÇÃO DA MATRIZ( SELEÇÃO DE PROCEDIMENTOS)------------------------- 23
COSTURA----------------------------------------------------------------------------------------------- 25
LIXA------------------------------------------------------------------------------------------------------- 30
COLAGEM---------------------------------------------------------------------------------------------- 32
EXTRAÇÃO--------------------------------------------------------------------------------------------- 36
A GRAVURA-------------------------------------------------------------------------------------------- 40
MÉTODOS TRADICIONAIS DE IMPRESSÃO( PRENSA E TINTA)-------------------- 45
A ESCOLHA DAS MATRIZES--------------------------------------------------------------------- 48
MÉTODOS TECNOLÓGICOS DE IMPRESSÃO(SCANNER E IMPRESSORA)----- 54
DA REPRESENTAÇÃO DA MATERIALIDADE:O TRANSPARENTE
COMO PRESENÇA DE UMA REPRESENTAÇÃO AUSENTE---------------------------- 65
A AUSÊNCIA NO PROJETO DE REGINA SILVEIRA-------------------------------------- 77
SOBRE OS OPOSTOS----------------------------------------------------------------------------- 82
O MANUAL E O TECNOLÓGICO----------------------------------------------------------------- 88
ADIÇÃO E SUBTRAÇÃO---------------------------------------------------------------------------- 89
O TUDO E O NADA----------------------------------------------------------------------------------- 89
A SOBREPOSIÇÃO DE PLANOS VISIVEIS-------------------------------------------------- 94
CONSIDERAÇÕES FINAIS------------------------------------------------------------------------ 97
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS------------------------------------------------------------- 101
ANEXO 1------------------------------------------------------------------------------------------------ 104
ANEXO 2------------------------------------------------------------------------------------------------ 105
30
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa ocorre na área de poéticas visuais do Mestrado em Cultura
Visual da Universidade Federal de Goiás(UFG) e se torna possível pela sobreposição
alternada de fazeres e reflexões, em um inquietante deslocamento do objeto
manufaturado entre os modos tradicionais de produção e as novas possibilidades
tecnológicas de abordagem, entre o fazer do objeto, o seu entendimento como matriz
e a sua aplicabilidade ao processo de gravura. Este é o cerne desta investigação que
organiza-se com base na gravura, procurando no seu conceito e modos de produção
elementos de expansão e subversão. O recorte que lançado sobre o trânsito desse
objeto molda o olhar sobre as reflexões propostas. A trajetória da pesquisa teve início
na construção do objeto/matriz, feito em plástico polietileno transparente e que é
submetido ao modo tradicional de produção em gravura (prensa e tinta) e também
exposto às possibilidades tecnológicas de apreensão e impressão de imagens
(scanner e impressora).
A reflexão que embasa esta pesquisa decorre do pensamento acerca da
perspectiva visível (planos sobrepostos) e o comportamento do objeto/matriz ante os
diferentes modos de fazer e seus resultados. O trajeto da criação é mencionado
(muitas vezes de forma subjetiva) no diário de artista, e exposto no corpo da
dissertação de forma a proporcionar uma aproximação da poética que move o
presente estudo.
Em um primeiro momento, explicito as tentativas e descobertas ante as
possibilidades do material, que foram desenvolvidas durante um semestre como aluna
especial da cadeira Produção Artística na Contemporaneidade cuja proposta
direcionava-se para a investigação de técnicas, materiais e processos na produção de
poéticas visuais. Descobri ao fim daquele semestre que o trabalho desenvolvido em
ateliê não tinha se esgotado, e que a matéria-prima (plástico) dava suporte para
enfrentar outras discussões relativas à gravura, à tecnologia e à poética.
A análise de relação que o objeto/matriz mantém com os modos de fazer
(tradicional e tecnológico), sugerem a existência de uma nova realidade como
possibilidade de transferência de dados com base em um objeto manufaturado – como
31
acontece na gravura tradicional, temos uma matriz em que é gravada uma
mensagem,cujos dados são transferidos, sob a forma de impressão, para outro
suporte. Aquele momento da pesquisa apresentou diferenças, semelhanças,
conquistas e perdas entre as matrizes e as impressões, ocasião em que questionei a
presença da matéria como objeto artístico durante os vários processos percorridos nas
etapas relacionadas. Proponho a idéia de imaterialidade como não presença visual ,
imaterialidade poética de uma ausência presencial, de uma potencialidade física que
existe mas para significar nada, para induzir visual e perceptivelmente ao nulo, para
ser transposta, uma fisicalidade que está arquivada na memória como não existência,
traduzida na característica transparente do objeto/matriz, em momentos da
digitalização e ainda, na transferência de dados da matriz para outro suporte,
estabelecendo nestas questões uma comunicação, dentre outros, em especial, com o
trabalho da artista Regina Silveira.
No decorrer da pesquisa, constatei que as seleções ou os recortes
estabelecidos nos objetos/matrizes e nas gravuras impressas promoveram um olhar
que levava ao diálogo entre os opostos. A consideração de opostos está presente
também no cerne da pesquisa (tradicional e tecnológico). Apesar de apresentarem-se
de diferentes maneiras, as tecnologias e sobretudo os resultados obtidos com e
mediante o objeto/ matriz não são contraditórios, e sim, contrários, ou seja, um
processo e seu resultado não eliminam nem subjugam o outro. Grande parte da
construção poética desta pesquisa apóia-se na idéia de opostos.
Idealizou-se a desmaterialização do objeto/matriz manufaturado, não como
processo, mas como inserção e diálogo entre os modos de fazer e pensar a poética do
real e do imaterial. A idéia de imaterialidade e de opostos contracenam nesta pesquisa
de forma tangencial, o conceito de opostos se dá mediante a trajetória do objeto/matriz
e das gravuras impressas e é usado para um entendimento amplo da pesquisa, e a
idéia de imaterialidade entra em cena para tratar de uma situação mais focada do
objeto/ matriz, e nas gravuras impressas, suas características, seu comportamento,
suas possibilidades técnico-poéticas e tal reflexão tem como suporte o modo de fazer
e de pensar da gravura.
32
Amparada nos trabalhos de Regina Silveira e também Mira Schendel
proponho uma ampliação da concepção crítica da conceituação da gravura. A idéia
defendida também pelo orientador desta pesquisa, Professor Doutor José César
Teatini Clímaco,a respeito da liberdade de investigação das técnicas, materiais e
processos nos modos de fazer e pensar gravura. A tese de doutorado do orientador
consiste em uma investigação técnica das possibilidades de usar diversos tipos de
plástico como matriz de gravura, ao passo que nos trabalhos de Regina Silveira a
presença é marcada pela ausência (in Absentia),e esta pesquisa propõe que a
ausência
2
pode denotar presença. Mira Schendele suas monotipias que trata de
gravura sem incisão e sem reprodução.
A aproximação e o alargamento desta pesquisa em relação ao conceito de gravura dá-
se à medida que sugere novos modos de fazer, questionando os limites de
caracterização das linguagens. Como técnica, a gravura transita entre os modos de
fazer da escultura, do desenho e da pintura, tornando-se fonte inesgotável de
referência.Este estudo,porém não pretende discutir os princípios da gravura, não trata
da história da gravura, e tampouco de suas técnicas. Apesar de abordar esses
assuntos, de forma referencial, não busca aprofundar essas discussões mas se atém
a gravura como o eixo para pensar o processo criativo. A gravura e seus modos de
fazer são “a pedra no lago”, onde se origina toda a discussão e proposta deste estudo.
Esta pesquisa acontece e se permite evoluir em virtude da licença poética
utilizada durante o processo de criação, e que exige um constante movimento de
aproximação e distanciamento da produção em ateliê e da produção teórica, ambas
entrelaçadas e independentes, e permeadas por instantes que considero vácuos, em
que não acontece nem produção nem reflexão, apenas uma suspensão apreensiva de
tudo que foi absorvido e expelido.
É também importante, nesta investigação, a discussão que confronta o
objeto artístico manufaturado com a possibilidade de seu processamento tecnológico,
2
O entendimento de ausência nesta pesquisa refere-se ao objeto/ matriz confeccionado em plástico polietileno
transparente. A capacidade vazada presente no plástico transparente, a qual se considera nula,pela ausência de
algo, no caso de opacidade, característica de um objeto constituído, presente, real, e também considerado o nada,
significa a sua não–existência,, pois esse objeto deixa-se transcender pela luz e pelo olhar, portanto não existe.
Porém, esta configuração de nulo e nada delineia uma estrutura presente, que possibilita o toque, que tem textura e
está presente.
33
que abre portas para novos entendimentos e apreensões, o que permite o
entendimento de que esse confronto é, na verdade, uma possibilidade sem fim para os
modos artísticos, e um desafio aos teóricos para encontrar palavras e conceitos que
abarquem esses encontros.
As referências históricas tornam-se fragmentadas, tocando os limites da
proposta que envolve o cubismo, em que a fragmentação racional da visão,
freqüentemente geométrica e bidimensional, se sobrepõe, dando visibilidade para
planos diferentes, e também os limites da arte digital (arte tecnológica), onde fica
evidente que a simbiose que acontece nesta pesquisa não é entre o homem e a
máquina, e sim entre o objeto artístico e a máquina.
O tratamento dado ao objeto/matriz confeccionado em plástico transparente
supõe que ele cumpra todas as etapas da gravura: a produção da matriz, entitamento
e impressão, isso nos dois modos de fazer (tradicional e tecnológico), uma vez que ao
ser trabalhado com a tecnologia digital, o objeto/matriz se finalize como obra sob a
forma de plotter (adesivo plástico), e sob a forma de impressão tradicional em preto e
branco (papel), permitindo que o olhar se volte para a presença ou não da
sobreposição de planos visíveis,
O fluxo que acontece entre o pensar e o anotar, o fazer e o imprimir, o ler e
o escrever compõe-se como procedimento metodológico. Em alguns momentos,
chego a perceber como se dá esse processo de concepção da criação, como construo
o que faço, mas esse entendimento se esvaece quando é necessário o uso de
palavras. No decorrer das leituras, percebi que estava tratando com memórias
pessoais. Aceitar essas influências facilitou a construção dessa poética. Como
elemento que ocupa um espaço nesta pesquisa, a memória é tratada na primeira
pessoa do singular.
Portanto, constituem referência do meu processo criativo os desenhos, fotografias,
recortes e anotações destacadas na dissertação e que se encontram no diário que me
acompanha desde o início desta pesquisa.
Ao tratar dos opostos presentes em todo processo criativo de construção da
obra que provocam rebatimentos todo o tempo de um lado para o outro, como se a
escolha de um caminho anulasse o outro. A consciência de que poderia tratar as duas
34
coisas como formas opostas foi ocorrendo gradativamente, conforme produzia e
refletia. E também parava, no chamado vácuo. A construção poética da presente
pesquisa foi possível pela consciência da minha presença transitória nesse vácuo,
e pelo respeito e entendimento que a orientação desta dissertação teve acerca da
importância daqueles momentos. Esse vácuo proporcionou distanciamento e clareza
no andamento da pesquisa.
Os opostos estão presentes neste trabalho na construção e presença do
conceito de gravura (manual e tecnológico), na elaboração e seleção dos
objetos/matrizes (adição e subtração), na relação entre o objeto/matriz e o processo
de impressão (o tudo e o nada).
Ao final abordo, agora com considerações poéticas, a idéia que deu início
esta pesquisa: a sobreposição de planos visíveis e o seu percurso.
A análise das obras não se dá no resultado, que nesta pesquisa é a
impressão, mas no caminho percorrido durante a construção, deslocamento e
mutação de sua representação, o que ela abarca ou ignora moldam sua estrutura em
permanente construção.
Várias são as inquietações que pertencem ao mundo privado da minha
criação, e dentre elas destaco a que motivou inicialmente a minha seleção de
procedimentos e materiais, a que deu inicio à pesquisa, que é a sobreposição de
planos visíveis. De posse dessa inquietação iniciei o trabalho com o plástico
transparente. No decorrer da pesquisa e do trabalho em ateliê, percebi que aquilo que
estava desenvolvendo dialogava com outras inquietações que surgiram no decorrer do
processo, entre elas, defendemos a aplicabilidade e o alargamento do conceito de
gravura em métodos que vão além dos institucionalizados. Ainda em relação ao
entendimento da gravura, foi discutida a transparência do objeto/ matriz como
imaterialidade, cuja idéia de imaterialidade foi levada para o fazer da gravura, por
ocasião da transmissão de dados da matriz para a impressão. Com um olhar poético
sobre estas questões, ficou evidente que se tratava de opostos, e que muito das
minhas escolhas encontravam referência na memória.
35
Todo esse percurso promoveu uma ampliação das idéias, um entendimento
de trânsito do fazer e refletir artísticos, e uma imensa vontade de continuar
experimentando.
36
37
Produção e impressão: um processo de inclusão na gravura
O processo é a explicação da tendência.
Cecília Salles
Desde os anos da Faculdade de Artes, acompanha-me a idéia de que em
um trabalho pictórico a possibilidade da existência de vários planos sobrepostos
formariam, caso separados, um espaço tridimensional.
Na minha percepção, um objeto bidimensional possui planos sobrepostos
que compõem a estrutura e aparência apresentada. São camadas de tintas em uma
pintura, linhas sobre o papel num desenho ou imagens sobrepostas em uma collage.
Ao desfazer estas sobreposições (camadas) dando densidade a cada uma e
alinhando-as novamente, surgiu um objeto tridimensional espesso. Porém, como
observar a primeira camada juntamente com a última se elas se encontravam
alinhadas?
Esta percepção imaginária encontra raízes no movimento cubista, em que
as figuras são quebradas em planos e reorganizadas sem a utilização da perspectiva
tradicional. Nas telas cubistas, o espectador tem a possibilidade de percepção de
várias ocorrências ao mesmo tempo. Minha vontade era expandir as possibilidades
tridimensionais em trabalhos bidimensionais.
Várias tentativas foram feitas de modo a tentar descobrir uma forma de
representar uma perspectiva fragmentada e seqüenciada. Durante meu processo de
criação, fui percebendo que para encontrar o que procurava expressar, eu teria que
dispor de uma ferramenta que levasse minha imaginação a uma percepção mais clara
do objeto que procurava e do que eu queria comunicar.
A simultaneidade do movimento cubista, em que uma imagem é mostrada
de vários pontos de vista no plano, transforma-se, neste processo de criação, em uma
profundidade tridimensional, em uma hipótese questionável de sobreposição de planos
visíveis, não como estudo de perspectiva simultânea, mas como uma possibilidade de
representação da tridimensionalidade.
38
Quando estava envolvida com essas questões, me deparei com a
ferramenta que se adequava ao processo de investigação na qual eu me dedicava: o
plástico polietileno transparente, várias foram as experimentações realizadas com
esse material, em sua maioria, satisfatória. Em todas as tentativas, eu buscava
interiormente uma forma de representar uma sobreposição de planos visíveis.
Quando voltei para a universidade como aluna especial do curso de
Mestrado em Cultura Visual na cadeira Produção Artística na Contemporaneidade
(2005) foi proposta pelo Professor José Cèsar Teatini Clímaco, titular da cadeira, a
gravura, e com ela, a possibilidade de usar o trabalho que eu já vinha desenvolvendo
com o plástico como matriz. Quando comecei a refletir sobre a minha produção, o
trabalho começou a ganhar traços de pesquisa.
Em razão da liberdade concedida na criação no interior do ateliê, foi
possível submeter o plástico a várias tentativas e possibilidades diferentes. O
processo como pesquisa orquestrado pelo orientador lançou a oportunidade de
subversão e alargamento das regras e dos modos de fazer gravura. Este caminho
abarca situações que reivindicaram a aproximação dos trabalhos à gravura. Este
trabalho propõem uma investigação acerca do suporte ( matriz) e dos modos de
entitamento e impressão. Trabalha no limite da linguagem, ultrapassando os limites
impostos pelo conceito de gravura. Este caminho de liberdade em relação às normas
da gravura tradicional estabeleceu uma relação de aproximação com o trabalho de
outros artistas gravadores, entre eles destaco Mira Schendel, Beatriz Rauscher,
Regina Silveira e José César Clímaco( Zé César)
Mira não trabalha com incisão- ato intrínseco à gravura- nem concede à
matriz desenvolvida a possibilidade de repetição. Entre os anos 64 e 66, Schendel
produz 2000 desenhos diferentes, utilizando-se da técnica de monotipia (A monotipia
se difere de outras técnicas de gravura porque não possibilita tiragem/ cópias- um
único exemplar)Estas imagens construídas em uma placa de vidro com tinta e talco,
são absorvidas por um fino papel japonês, onde a imagem fica impressa dos dois
lados, permitindo uma profundidade do olhar em relação aos planos, um olhar que
perpassa a obra, e que estende o entendimento da técnica para além do conceito.
39
Beatriz Rauscher desenvolveu uma pesquisa em xero/ xilogravura. A artista
pesquisadora se valia das possibilidades de reprodução xerográfica a partir de uma
matriz de xilogravura, sua intenção se dividia entre tornar a impressão um processo
mais criativo, sem que este fosse privado da multiexemplaridade.
César absorve e transmite também em suas gravuras toda a dinâmica
com a qual conduz o ateliê da FAV. Liberdade na criação e experimentação das
matrizes e foco na poética.
Regina Silveira se vale dos meios de fazer gravura em suas pesquisas com
materiais inusitados e perspectivas distorcidas. A artista trata em sua poética–
destacando os trabalhos para esta pesquisa - de ausências denotando presenças, seu
foco é político, mas o que nos interessa é que ela trata a matéria ( que não está
presente)como presença que pode ser transposta pelo olhar, como uma fisicalidade
não existente, nula.
A gravura no início da pesquisa apresentou-me uma ótica, uma
possibilidade em relação à sobreposição de planos visíveis que eu ainda não tinha
percebido: o relevo.
As reflexões que desenvolvi até aquele momento, como aluna especial,
ainda estavam muito voltadas para a questão da sobreposição dos planos visíveis. A
satisfação em ver na gravura impressa os mesmos contornos que tinha construído no
objeto/matriz me levava a pensar em muitas possibilidades.Queria discutir sobre o
relevo que havia conseguido na impressão. Sobre as possibilidades que a gravura
podia me oferecer para solucionar a questão dos planos visíveis.A minha preocupação
no inicio era quase totalmente técnica.Meus questionamentos referiam-se ao
bidimensional, ao tridimensional. Concluímos, eu e meu orientador que a tensão entre
o campo da escultura e da pintura tem o intuito de representar o espaço real ilusório
por meio de planos sobrepostos.
Essa discussão levou-me ao relevo, conseguido na construção da matriz
em plástico transparente, em que a visibilidade dos planos deixa de ser ilusória, e no
processo seguinte, os modos da gravura, em que a fronteira entre as práticas
pictóricas e os espaços tridimensionais iniciaram um encontro.
40
O material: plástico polietileno transparente
Aparentemente de menor importância, uma característica valiosa de alguns deles é,
Sem dúvida, a transparência.
José Cèsar Clímaco, ao referir-se a plásticos como matriz de gravura.
Sempre tive interesse pelo plástico. Todos eles. Gosto do cheiro e da
maleabilidade, da possibilidade de reter água e ser consumido pelo fogo, de flutuar no
ar e demorar séculos para desintegrar-se na terra.
As reflexões e as leituras levaram-me a discernir que esta matéria (o
plástico) sempre esteve muito presente em minha vida. Tratava-se de um material
doméstico, sempre requisitado para as mais variadas funções.
Poderia resumi-lo como um protetor, sempre guardando, embalando, protegendo.
Minha avó dispunha-o sobre o forro bordado na mesa. Minha mãe colocava sobre os
livros na estante. Era possível ver tudo através dele. Presença ausente, ele estava lá,
resguardando preciosidades do tempo, do Pó, da mão suja, fisicalidade nula
visualmente, porém, uma existência presente sem intenção de ser percebida. Presente
para ser transposta pelo olhar, com aspecto físico para não ser codificada pelos
sentidos, para permitir o talhe e a presença nobre do bordado, como também a
escolha do livro.
Esse convívio com o plástico estava guardado em minha memória. E fui me
lembrar de que ele sempre esteve perto no decorrer desta dissertação.
Interesso-me pelas inúmeras aplicabilidades e funcionalidades do plástico.
Dentre as características que mais me agradam e que me levaram a trabalhar com o
plástico polietileno estão a transparência, a maleabilidade e a falta de textura.
Acerca do interesse provocado pelo material, Cecília Salles(2006), observa:
A relação do artista com sua matéria-prima – palavra, tinta, etc..- é
estabelecida na tensão entre suas propriedades e sua potencialidade.
Esse embate reverte em conhecimento da matéria, que envolve uma
aprendizagem de sua história, de seus limites e suas possibilidades.
(p.60)
41
Esta relação com a matéria prima de que fala Cecília, estava arquivada na
minha memória como presença nula. E se transformou num suporte ideal para a
construção de um pensamento que se baseia na sobreposição de planos visíveis.
Poeticamente, o plástico é como um suporte nulo, ideal para a construção de um
pensamento que se baseia na sobreposição de planos visíveis.
Submeti o material aos mais variados métodos de transformação: Queimei-o, levei-o
ao forno, joguei água quente sobre ele, furei-o, dobrei-o... Eu estava descobrindo
possibilidades, queria transgredir os métodos existentes de tratá-lo
Sinto como se tivesse sido uma queda de braço com a matéria, uma luta
insana, uma expurgação sem sentido, ou talvez só uma brincadeira.
Eu ainda não tinha percebido que com essa matéria eu poderia construir um
objeto com planos sobrepostos visíveis.
Quando esgotei todas os ensaios aos quais queria submeter o plástico,
pude observá-lo.E então se instaurou um novo interesse, e novas possibilidades.
A artista Fayga Ostrower (1977) constrói um pensamento acerca das
possibilidades da matéria:
Cada materialidade abrange, de início, certas possibilidades de ação e
outras tantas impossibilidades. Se as vemos como limitadoras para o
curso criador, devem ser reconhecidas também como orientadoras, pois
dentro das delimitações, através delas, é que surgem questões para se
prosseguir um trabalho e mesmo para ampliá-lo em direções novas. (p
32)
As impossibilidades de trabalhos com o plástico eu havia
experimentado durante a chamada “ luta insana” com a matéria. Restava agora, diante
da minha insistência em lidar com esta materialidade, deixa-lo me mostrar novas
direções.
42
Ilustração 1
Página de diário de artista - 2006
43
Quando, no ateliê, iniciei a pesquisa com o plástico usado como matriz de
gravura, entendi que, como matéria, ele já sugeria alguma informação, e a que mais
me chamou atenção foi o entendimento que passei a ter de que esse material era
nulo/ nada que encontrava raízes nos meus arquivos de memória.
Com o desenvolvimento das novas possibilidades, relatadas como variação
da matriz, percebi a possibilidade de realizar uma sobreposição de planos visíveis.
Tomar o plástico como nulo/nada, foi o princípio poético, em que me baseei
para construir e refletir sobre as possibilidades visuais nessa matéria.
O diário de artista que me acompanhou durante a pesquisa foi construído
para dar suporte à minha maneira de criar ( ex. ilustração 1). Em meio as folhas que
mandei encadernar,juntaram-se plásticos do tamanho A4. Sempre mantive do lado
caderno, além de caneta, estilete e uma tesoura. Recortar o plástico, quando surgia
um pensamento, é para mim, uma forma de arquivamento do meu processo criativo.
Consigo, dessa forma, construir uma seqüência - que considero lógica-
para a pesquisa em andamento. Acerca dos registros, Salles (2006) observa:
O desenho de criação, na especificidade das artes visuais, age como
campo de investigação, ou seja, são registros da experimentação:
Hipóteses visuais são levantadas e vão sendo testadas e deixam
transparecer a natureza indutiva da criação.Possibilidades de obras são
testadas em esboços que são parte de um pensamento visual.(p.114)
Com o início da pesquisa, passei a entender que o caminho não era a
modificação do plástico, submetendo-o a transformações sem sentido. Não era assim
que eu conseguiria um resultado satisfatório. Entendi que deveria usá-lo como suporte
para desenvolver uma linguagem, mas eu sabia que, agindo dessa forma, eu
continuaria a levá-lo ao limite.
Com o trabalho intenso que se realizava no ateliê de gravura, as trocas
eram muitas. Pude observar como eram feitas xilogravuras, gravuras em metal,
serigrafias, e até gravuras utilizando-se outros materiais na construção das matrizes.
Submeter o plástico transformado em objeto/matriz para impressão naquele
local proporcionou comparações. Observações ricas. Reflexões.A respeito da
utilização do plástico como matriz, o Prof. José Cèsar (2004) comenta:
44
Alguns artistas destacaram-se na utilização do plástico em busca de
materiais novos para a gravura, ainda que somente à procura de um
novo suporte para os processos tradicionais de gravação e impressão.
Ou seja, eles trabalharam os plásticos com os procedimentos e
utensílios empregados na gravura calcográfica ou xilográfica, pouco se
aprofundando nas possibilidades específicas que o novo material
poderia oferecer. (p.14)
Minhas preocupações aumentaram: Estava extraindo o que de singular
existia nessa matéria como matriz de gravura? A que outros processos mais eu
poderia submetê-la? O que diferencia o plástico polietileno como matriz de gravura?
São perguntas até certo ponto de ordem técnica no tocante ao modo de fazer e aos
resultados da gravura, no entanto era importante naquele momento questionar a
relevância do plástico para o meu objetivo, que ainda continuava a ser a sobreposição
de planos visíveis.
E exatamente porque o meu objetivo, como aluna especial, era esse, e os
resultados obtidos na matriz e na gravura eram bastante satisfatórios, decidi insistir em
extrair mais dessa matéria, e de mim mesma.
45
A Variação da Matriz
( Seleção de Procedimentos)
A busca de um material que possibilitasse uma sobreposição de planos
visíveis propiciou-me o reencontro com o plástico transparente.Trabalhar esse material
de diversas maneiras conduziu-me ao universo da gravura, no qual eu conseguia dar
continuidade técnica a minha inquietação.
A proposta de submeter o objeto construído em matriz, e esta às mais
variadas formas de imprimir uma mensagem/ imagem levou-me a muitas experiências.
Outros materiais com características transparentes também foram usados durante o
processo de tentativas , dentre eles, o papel contact ( plástico aderente) e o nylon.
Dentre os procedimentos já experimentados na construção da matriz, como
o uso de materiais diferentes, porém transparentes, e de técnicas com pouco resultado
no plástico, como a composição de desenhos feitos com linha transparente e
construídos por meio de uma máquina de costura, optei por fazer um recorte nas
tentativas de construções de matrizes.
Usei como critério de seleção as matrizes que mais se aproximam da
intenção de sobreposição de planos visíveis,e que se tornaram suporte para a reflexão
desta pesquisa. Dessa seleção, houve tentativas interessantes, porém aplicadas
somente ao plástico como objeto, não como uma matriz. Dentre as técnicas
escolhidas, figuram as matrizes que proporcionam a união dessas duas possibilidades
de expressão, em conjunto e em separado.
Com relação às quatro propostas apresentadas como variações, duas
foram selecionadas para dar continuidade à pesquisa. Elas têm características
opostas, porém, satisfazem a busca pela sobreposição de planos visíveis na matriz e
na gravura impressa.Uma lida com a colagem de papel contact e a outra é a extração
do plástico (como um molde vazado) que irei explicitar mais adiante.
Essa seleção deu-se especialmente pelo resultado na gravura. Como
objeto, o trabalho no plástico polietileno transparente propicia uma visão dos planos.
Pode-se perceber o primeiro plano, o último, e até além do constituído. Ao
experimentar a gravura, entendi que essa técnica poderia levar o trabalho a extrapolar
46
as experiências realizadas com planos visíveis, a experiência da impressão foi
reveladora.
47
Costura
Não há percepção que não seja impregnada de lembranças,
não há lembrança s que não sejam modificadas por novas impressões.
Cecília Salles
O processo que me levou a encontrar esta forma de expressão, eu acredito,
está muito relacionado às minhas lembranças em relação ao lugar do ‘ plástico”. Como
já foi dito, sua fisicalidade nula sobre o forro bordado na mesa deixava transparecer as
cores, o desenho, o “ponto”, toda a beleza do trabalho da artesã, toda a construção de
seu pensamento , assim como os títulos dos livros que ele protegia do pó. se
enquadra no que já foi dito. Logo após submeter o plástico às mais variadas formas de
experiências, pude observá-lo em suas potencialidades. E o que eu posso chamar de
minha primeira criação com o uso do plástico eu a realizei com a costura.
O processo de criação desse objeto/matriz deu-se antes do trabalho em
ateliê como aluna especial. E a construção com o plástico transparente e a linha de
nylon, foi uma atitude movida pela intenção de construir um objeto com a visibilidade
dos planos sobrepostos.
Depois de iniciado os estudos no curso de Mestrado em Cultura Visual, e
aprofundado minhas leituras acerca dos processos de criação, compreendi que a
forma como estava tratando o plástico no momento da costura estava associada à
minha memória.
Em meu círculo social e familiar, desde a infância, convivo com artesões,
escritores e costureiras. Com a orientação do ditado popular: o saber não ocupa lugar,
absorvi um pouco de cada habilidade que presenciava.
Sempre gostei de escrever, e aprendi também os segredos da costura, do
bordado, das tramas do crochê e tricô, um pouco sobre entalhe, pinturas sobre tecido,
madeira.
Percebi que, ao lidar com o plástico, repetia os movimentos de um bordado, talvez
aquele mesmo bordado que ficava embaixo do plástico, sobre a mesa.
48
O entendimento dessa possibilidade surgiu com as reflexões acerca do
que fora produzido durante a pesquisa. No tocante a associações, Fayga Ostrower
(1977)observa que:
Provindo de áreas inconscientes de nosso ser, ou talvez pré-
conscientes, as associações compõem a essência de nosso mundo
imaginativo. São correspondências, conjeturas evocadas à base de
semelhanças, ressonâncias íntimas em cada um de nós com
experiências anteriores e com todo um sentimento de vida.(p.20)
Ao terminar cada objeto bordado, eu me perguntava, no íntimo, o que
estava por debaixo do plástico. Era uma pergunta surda, muda. Ininteligível, pelo
menos naquele momento. Dentro do baú das minhas memórias, eu sempre lidei com o
plástico sobre o bordado. Através do plástico, eu via o bordado.E, agora, uma vez que
o bordado estava no plástico, o que eu ia ver? Ao iniciar o processo de criação no
ateliê de gravura, levei comigo a experiência desse objeto, que sob orientação se
transformou em matriz para gravura.
Porém, após algumas tentativas, pude perceber que sua construção ou
evolução se encerrava como objeto. Fiz várias tentativas de impressão tradicional com
essa matriz, e não encontrei satisfação nos resultados.A idéia de planos visíveis era
indiciada só na matriz como bordado com nylon transparente. Na gravura impressa,
tudo se perdia.
Minha relação com o bordado no plástico encerrava-se como objeto. E por
isso o me acompanharia no decorrer da pesquisa. Meu interesse naquele momento
revelava-se pelas escolhas que estava fazendo, e eu me interessava pelas
possibilidades do plástico. E pela da gravura, não pelo bordado. Salles (2006)
assinala:
não podemos limitar a criação a essas transformações geradas pela
relação memória e imaginação, sem levarmos em conta, por exemplo, a
relação dessas inovações com a matéria–prima na qual são fabricadas.
(p.72)
Por isso decidi que a técnica designada como costura, que trabalhava com
fios de nylon, em sua trama como um bordado, fica registrada como processo de
criação, mas não me acompanhou durante o restante da pesquisa.( ilustração 2, 3 e
4)
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Ilustração 2 – Filigranas transparentes 1- 2004
Detalhe de um trabalho em plástico polietileno transparente
e nylon, com técnica de costura; 30x 40cm
50
Ilustração 3 – Filigranas transparentes 2- 2004
Detalhe de um trabalho em plástico polietileno transparente
e nylon, com técnica de costura; 60x 50cm
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Ilustração 4 – Ipê- 2005
trabalho em plástico polietileno transparente e nylon, com
técnica de costura; 1 x 60cm
52
Lixa
é impossível discutir percepção divorciada da memória.
Cecília Salles
Submeti o plástico transparente, tão aparentemente delicado e sutil, ao
vaivém da lixa de parede, que provoca vários vincos a cada arrancada, vincos que
depois de entintados e impressos lembram um desenho feito com lápis de ponta fina,
tão delicados eram os traços.
O plástico usado na gravura( ilustração 5) era um pouco mais grosso que
os outros. Consegui provocar vincos com a lixa , formando uma textura muito fina,
porém perceptível ao tato.
Essa técnica foi concebida somente como matriz. Como objeto, ela o me
convencia para ser utilizada na busca pela sobreposição dos planos. A sutileza do que
ficava gravado na superfície do plástico com a lixa era tanta, que podia perceber o
que estava delineado colocando o plástico diante de uma parede clara com reflexo de
luz. A luz perpassava o plástico e projetava as linhas que a lixa tinha carcomido na
parede.
Como matriz essa técnica trouxe-me uma satisfação grande em relação ao
produto final: a gravura. Segundo observações do professor José César Clímaco ela
muito se assemelha a uma gravura em metal, se submetida ao processo tradicional de
impressão, porque a sutileza de seus traços, provocados pela lixa, são
interpretados em contato direto com a tinta, o papel e a prensa. Ao ser submetida ao
scanner o consegue ler as ranhuras, ou seja, essa matriz não oferece um resultado
visível, de qualidade, quando submetida à digitalização; em contrapartida, seu
resultado com prensa e tinta é mais recompensador, porque tona visível a imagem
gravada.Essa matriz não consegue suportar uma tiragem de mais de seis gravações,
porque os vincos desaparecem.
Dentre tantos impedimentos, essa técnica também não vai me acompanhar
durante a pesquisa, e fica também registrada como um processo de experimentação.
53
Ilustração 5 – Estudo do cerrado - 2005
Matriz em plástico e lixa – gravura impressa – 60x 70 cm
54
Colagem
A harmonia invisível é mais forte que a visível.
Heráclito
O objeto/ matriz exprime claramente a intenção e a possibilidade que
motivaram esta pesquisa: a sobreposição de planos visíveis. Na busca de outros
materiais transparentes com a intenção de estender o estudo, experimentei cola de
isopor, fita isolante transparente ( durex )e fita para papel contact transparente. A
primeira experiência unindo o papel contact ao plástico transformou-se em matriz de
gravura.
Várias formas foram recortadas no papel contact, e eu sentia como se
estivesse desenhando com a tesoura, como se destacasse, eu construí imagens à
partir do recorte destas imagens do todo. No desenho você inscreve uma imagem em
um suporte, neste caso eu destacava a imagem do suporte, mas a sensação era de
que estava desenhando. Depois que consegui uma boa quantidade, comecei a colar
no plástico, uma sobre a outra.
Ao fazer os recortes eu não pensava na possibilidade de sobreposição das
peças, mas em construir um objeto/matriz em que pudesse reunir vários elementos
transparentes. Acredito que pensava mais em um objeto do que em uma matriz.No
momento da composição, comecei pela colagem do papel contact, e os outros objetos
ficaram de fora.Percebi, ao final, que havia me aproximado daquilo que buscava.
A outra grande surpresa ficou por conta da gravura. Submetida ao processo
tradicional (prensa e tinta) em ateliê pelo Professor José César Clímaco – cabe
esclarecer que essa tentativa era apresentada ao professor em meio a tantas outras, e
fora pinçada por ele, que me sugeriu que aquele material poderia se transformar em
uma matriz de gravura.
De pronto aceite, ficou a cargo do professor transformar o primeiro objeto/
matriz feito com colagem de papel contact em gravura. Levei um choque com o
resultado.A sobreposição de planos visíveis presente na matriz ficou sutilmente
impressa na gravura.
55
Naquele momento tive a certeza de que os meios de produção da gravura
iriam permanecer nessa busca ( ilustração 6 e 7) e que os trabalhos em plástico
restritos a objetos (costura, lixa) não iriam me acompanhar nesta pesquisa. Ficariam
arquivados.Não restringir a busca pela sobreposição visível dos planos às conquistas
com o plástico, aceitando-o como um caminho a gravura, deve-se muito à inquietante,
sutil e íntima pergunta que me fazia: o que vou ver para além do plástico? O que há de
meu após essa proteção? O que vou ver após o plástico? Se nas minhas lembranças
eu visualizava os bordados e livros, agora eu avistava gravuras, criadas a partir desta
proteção, o plástico.
Avistar a gravura foi uma sensação, naquele momento, muito melhor do que
a produção do objeto em plástico.
Cabe mencionar também que o trabalho de construção desse objeto/matriz
requer uma facilidade de abstração do olhar durante a montagem. Sobrepor imagens
transparentes acaba por causar uma espécie de confusão visual. Em dado momento,
é como se perdesse o controle da sobreposição, sem condições de contar as camadas
e até mesmo de entender a imagem que estava construindo.Até mesmo depois de
pronto, os trabalhos feitos com colagem de papel contact são de difícil percepção
visual, por causa da sobreposição de transparências.
Essa sensação de descontrole favoreceu, no primeiro momento, a criação.
É como se nada houvesse e tudo fosse permitido, rasgar, recortar, costurar, remendar.
Trabalhava sobre uma mesa de granito preto, e às vezes, levanto o objeto, esticando-
o na tentativa de uma visualização maior da composição. E eu mesma tenho a
sensação de que estava atuando em uma mímica, sem estar segurando nada, sem
nada ver, então tudo é permitido.
Ver a construção inicial em transparência impressa no papel,como gravura
mantendo as características essenciais à pesquisa, foi motivador, sendo esse um
processo de criação que vai me acompanhar até o final desta pesquisa.
56
Ilustração 6 – Estudo do cerrado - 2005
Matriz em papel contact – gravura impressa – 30x 40 cm
57
Ilustração 7– Estudo do cerrado - 2005
Matriz em papel contact – gravura impressa – 30x 40 cm
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Extração (vazado)
nada em cima do invisível é a mais sutil obra desse mundo,
e acaso o outro.
Machado de Assis
Oposta ao trabalho de colagem em concepção, idealizada para ser matriz, e
sujeita à manipulação, porque em vez de acrescentar um novo material, retira, essa
matriz também trouxe resultados muito satisfatórios.
No primeiro momento, ela foi construída para ser entintada.De a cordo com
minha percepção eu obteria o resultado oposto ao conseguido pela matriz de colagem.
Portanto, tratava-se de um modo diferente de perceber a sobreposição de planos
visíveis.
As primeiras experiências foram feitas com um plano somente, sem
sobreposição.A tentativa de recortar o plástico e transformá-lo em matriz surgiu da
idéia de molde vazado, usado por artesões para pinturas em tecidos, e muito comum
nas gavetas da minha infância.
Trabalhar com essa forma (molde vazado) recupera parte de meus arquivos
de memória. Durante minhas reflexões, ainda me pergunto: “Até que ponto esta
memória me leva a trabalhar assim?” A esse respeito, encontrei um acalento nas
palavras de Cecília Salles(2001)
A obra de arte carrega as marcas singulares do projeto poético que a
direciona, mas também faz parte da grande cadeia que é a arte –
quando discute o aspecto comunicativo do ato criador sob o ponto de
vista de suas relações culturais e históricas. ela traz também, sob o
mesmo conceito os questionamentos que o artista faz sobre o seu
fazer pelas
medidas impostas pelo seu contexto. (p.43)
Ao questionar sobre as minhas formas de fazer, os aspectos culturais se
tornaram presentes de maneira à direcionar escolhas das formas com as quais eu
manipulava o plástico.
A nova leitura do molde vazado apareceu depois da decepção de que
um plano vazado sozinho não funciona na gravura.Diferentemente do que acontecia
nas minhas lembranças, onde havia aprendido que um único plano de molde vazado
é suficiente para seguir o contorno de uma imagem A decisão de justapor vários
59
planos com várias imagens diferentes e entintar também foi frustrante. A confusão
visual que provoca a gravura proveniente dessa matriz distanciava o objeto da
pesquisa.
Foi então que cheguei à gravura a seco (prensa sobre papel úmido, sem
tinta). Os planos sobrepostos e vazados transformavam-se em relevo sem a
interferência da tinta, o que provocava uma percepção completamente diferente da
matriz.
Começamos a trabalhar com um plástico e papel um pouco mais espesso
para conseguir um resultado com maior densidade, sem rasgar o papel.
Os resultados passaram a ser mais satisfatórios. Eu conseguia criar mais pensando
nos modos de fazer dessa matriz, imaginava composições, recortes entrelaçados,
superfícies destacadas.Tudo era feito sem tinta, um sobre o outro, e extrapolando
todas as informações a respeito de como usar um molde vazado.
As preocupações referentes a esta etapa da pesquisa e experimentação
nos aproximam do trabalho de Arthur Luiz Piza, principalmente as gravuras realizadas
nas décadas de 60 e 70, na medida de como trabalhamos o material empregado e sua
elaboração sobre o suporte- justaposição em posições diversas.
Piza trabalha com geometrias e abstrações suaves, alguns de seus
trabalhos em gravura induzem à ilusão de volume e levam para uma tactibilidade da
obra. Michel Nuridsany comenta sobre esta tactibilidade dos trabalhos de Piza no
catálogo e livro lançado pela editora Cosac e Naify em sua homenagem.
Piza é reconhecido como gravador. De fato, é um especialista da
gravura, gênero no qual ganhou todos os concursos e premiações de
que tenha participado, incluindo Veneza.Piza aprofundou, assim, o
que há de mais intenso em seu ser, particularmente o relevo, usando a
incisão direta e recusando a sedução fácil dos ácidos.(Pg. 19)
Este relevo ao qual se refere Nuridsany eu também busquei nas impressões a seco
que realizei com esta matriz.
Eu agora considerava essa matriz para a gravura e em como conseguir
uma sobreposição de planos cada vez mais nítida, tanto na matriz como na
60
gravura.Esta é a outra proposta de objeto/ matriz que vai me acompanhar até o final
da pesquisa ( ilustração 8 e 9).
61
Ilustração 8– Estudo - 2005
Matriz em Extração– gravura impressa – 30x 40 cm
62
Ilustração 9– Estudo - 2005
Matriz em Extração– gravura impressa a seco – 30x 40 cm
63
A gravura
eu entendo o fazer da gravura já como uma das definições da poética do artista.
Seu caráter programático, tecnicamente falando, já esboça,a meu ver,
uma manifestação poética, uma conduta que permeia as opções do artista.
Nancy de Melo
É necessário que a pesquisa reserve um espaço para expressar o meu
entendimento acerca de gravura.O que é a gravura? É o ato ou efeito de gravar, ou
seja: esculpir, entalhar, incidir, abrir, fixar, fazer corroer para posterior impressão,
utilizando-se de placas de metal, pranchas de madeira, pedra ou qualquer outro
material como matriz, na qual a imagem será construída e possibilitará várias
reproduções (impressões). Então deve-se, ou conceituar gravura como todo e
qualquer material que pode ser manipulado a fim de conseguir impressão?
Ao discutir o deslocamento ou até mesmo a adaptação do conceito de
gravura, esbarro em muitas teorias que têm a finalidade de definir o que é gravura.
Para os conservadores, é gravura se tiver uma matriz manipulada manualmente,
entintada, para ter contato direto com o papel, com o objetivo de reproduzir uma
mensagem.
Outros intensificam sua restrição, discutindo até mesmo a matéria da
matriz, portanto é gravura se for gravado em madeira, em pedra ou chapas de
cobre, zinco ou latão.Há quem relacione a técnica a entendimentos mais subjetivos e
passiveis de discussão quando se trata de uma obra de arte, estabelecendo um
vínculo da gravura com qualidades gráficas.
Considerar a gravura tendo como ponto de partida somente a matéria
significa mortifica-la. Elucidar essa discussão especificando os suportes e categorias
tradicionais impõe limites diante das possibilidades tecnológicas e industriais passíveis
de exploração. No entanto, é preciso estabelecer parâmetros na identificação e
aceitação de trabalhos como gravura, e também suscitar alguns questionamentos
diante da abrangência e desdobramentos do termo.
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Estabelecer uma relação de produto artístico com a gravura implica que esse produto
tenha uma matriz que possibilite ou possibilitou sua impressão.Sérgio Penna (2007)
gravurista e designer gráfico, entende como gravura
quando se está diante de uma impressão sobre um suporte físico,
havendo ou não incisões ou talhos na produção daquela imagem
gráfica, sendo possível ou não sua reprodução, pode-se considerá-la
uma gravura.(p.11)
A respeito do conceito de gravura, o Professor José César Clímaco também
tem uma posição que abarca e dá suporte a esta pesquisa:
Para mim, tudo o que pode ser impresso pode ser gravura. Em tudo, ou
quase tudo, eu vejo uma gravura, ou uma perspectiva de uma gravura,
ou, o que define melhor o que eu quero dizer, tudo eu vejo sob a
perspectiva de uma gravura, ou sob a perspectiva de um gravador.(
comunicação realizada na ANPAP, 2005,Goiânia)
Todas estas reflexões e interlocuções são importantes para a aproximação
e entendimento desse meio de produção.A discussão relativa a matéria da matriz, ou
como ela é tratada, torna-se uma limitação, caso seja levada em consideração, para
grupos de pesquisa, artistas e professores de arte.
A experimentação é vital para a arte. Mas até que ponto um objeto que
permite impressão pode ser considerado matriz de gravura? Caso se considere matriz
para gravura qualquer objeto passível para reprodução, um negativo de fotografia
passa a ser considerado matriz. Limitar um pouco essa aceitação e considerar matriz
de gravura o objeto manipulado manualmente( qualquer que seja o material) e que
aceite ser entintado (qualquer que seja a tinta) o negativo fotográfico fica de fora dessa
abrangência.
Porém, em lugar do negativo fotográfico entra o desenho no computador.
Imagens criadas com o uso de recursos amplos do computador, e que possam ser
reproduzidas, já são tratadas como gravura, ou melhor, infogravuras, gravuras digitais.
Esses trabalhos não se referem a uma matriz manipulada manualmente e que pode
ser entintada, pelo menos não nos padrões tradicionais, mas caso se considere que o
ato de criar um desenho no computador, mesmo que os comandos para a realização
deste desenho sejam simplesmente a de digitação ou manipulação do mouse com
destreza, essa forma criada passa a ser um trabalho de criatividade manual, e mais,
as cores que esse trabalho podem ter surgem de uma paleta pré-existente na central
65
do computador, e que serão selecionadas e distribuídas pelo artista, e que pode ser
entendido como uma forma de entintagem. Sergio Penna iniciou sua pesquisa com
monotipias, que eram, na seqüência, digitalizadas e modificadas no computador. Em
sua dissertação de mestrado (2007) o artista pesquisador declara que o seu trabalho
se conceitualiza como uma gravura digital.
Ao estabelecer uma conexão da gravura com a fotografia, se ela como arte
não estiver aberta às novas tecnologias (digital, por exemplo), será considerada
criação aquela imagem captada por um equipamento totalmente manual, e depois de
captada a imagem seria revelada pelo próprio artista, utilizando os quidos próprios
em uma sala escura. E, no entanto, não é isso que acontece. Os salões e galerias
mostram cada vez mais fotografias digitais manipuladas no computador, e, depois,
impressas. E são consideradas fotografias artísticas.
A infogravura surgiu com a informática e é um procedimento que cria
imagens mediante o uso do computador, utilizando de imagens fotográficas ou
desenhos vetoriais, ou ambos, que depois podem ser impressos em plotter, lazer,
papel, enfim,vários suportes.
É interessante observar como, de certa forma, as subdivisões da gravura
estão relacionadas à matriz: xilo-madeira, lito-pedra, serigrafia-nylon, gravura em
metal-cobre, zinco ou latão, infogravura-computação. Diante das articulações das
novas formas plásticas, e da inserção sobretudo da tecnologia, que se levar em
conta que, para ser inserido no contexto de gravura e suas ramificações, é preciso que
o trabalho comece com uma matriz, entendendo, é claro, matriz de uma forma mais
abrangente.
Nesta pesquisa, as mesmas matrizes de plástico que serão submetidas à
prensa e tinta também serão à digitalização. O scanner transforma imagens lidas em
sinais digitais que podem ser entendidos pelo computador. Usando suas células
fotossensíveis, transformam a imagem em um conjunto de pontos, cada um com uma
cor, ou seja, um bitmap.
A gravura sempre esteve muito ligada à evolução tecnológica, uma vez que
se situa entre o fazer manual e a reprodução mecânica. Para uma aproximação do
66
conceito de gravura deve-se primeiramente produzir uma matriz, e que depois é
preciso submetê-la à um processo de impressão.
As características de cada impressão está intimamente ligada ao feitio da
matriz.Cada incisão será lembrada, todas as interferências (sejam elas feitas com
ácido, colagem ou limpeza) serão expostas no produto final. Tanto no processo
manual como no processo de impressão digital, afinal, a escolha da intensidade de cor
e resolução em pixels, por exemplo, é uma interferência na impressão.
É bom lembrar que a impressão digital não substitui as técnicas tradicionais
de impressão da gravura. Vários resultados conseguidos na técnica artesanal ficam
chapados quando submetidos à tecnologia, mas, se utilizada pode encorajar novas
formas de pensar e criar uma sinergia entre os velhos e os novos processos.
Essa reflexão acerca do conceito e modos de fazer da gravura (parte do
capítulo foi apresentado e defendido no 15º Encontro Nacional da ANPAP- associação
Nacional dos Pesquisadores em Artes Plásticas) fez que eu questionasse o que agora,
para mim, estava por detrás do plástico. Era necessário esse questionamento, pois eu
estava conseguindo resultados surpreendentes utilizando técnicas de gravura,
estava pensando e criando como uma gravadora, começando a projetar novos vôos.
Era preciso refletir, e questionar.
Este texto figura ao final do primeiro capitulo com a intenção de oferecer
suporte para as mudanças, escolhas e inserções que figuram no segundo e terceiro
capítulos.
67
68
Métodos tradicionais de impressão
(prensa e tinta)
Dentre as experiências relatadas com o plástico polietileno transparente no
primeiro capítulo, duas nos acompanharam no decorrer desta pesquisa. Sua escolha
aconteceu com base no resultado obtido quando foram submetidas aos dois métodos
expostos de gravura, e também pela construção de sua matriz, que compõe a busca
desta pesquisa.
Meu conhecimento de gravura era muito limitado. Durante o curso de
graduação, interessava-me mais pela construção de objetos e pela cerâmica (minha
formação é na linha de escultura). Como aluna especial, o que mais me encantou no
ateliê de gravura ministrado pelo Professor José César Clímaco, era a liberdade de
criação, de utilização de novos materiais com modos de fazer tradicional, a
Investigação de novas técnicas a partir de materiais tradicionais, atmosfera que me
encorajou a seguir em frente com a gravura, e com a pesquisa.
Quando se mencionam métodos tradicionais de impressão de gravura não
quer dizer que eles já se encontram ultrapassados – como fica claro no decorrer deste
trabalho. Dependendo do resultado que se procura, eles são insubstituíveis.Trata-se
de uma terminologia que auxilia a diferenciação dos métodos de impressão relatados
nesta pesquisa. Por tradicional entendem-se, portanto os métodos mais usados,
discorridos nos livros que tratam do tema, e com técnica difundida ( ilustração 10).
As matrizes selecionadas para a construção da pesquisa foram designadas
de “colagem” e de “extração”.
O motivo da escolha destas matrizes para a pesquisa, deu-se porque tanto
na matriz como na gravura realizada com esses objetos/matrizes surgiu uma
aproximação maior com a idéia que motivou esta pesquisa: a sobreposição de planos
visíveis.
Os objetos/matrizes dessas duas construções (colagem e extração) foram
submetidos no ateliê a várias formas de impressão e entitamento. No entanto, não vou
me ater a descrevê-las. Os resultados tidos como satisfatórios e que apresentem uma
69
maior nitidez da imagem ou dos planos, valorizando a composição constituem a
prioridade no momento. As tentativas não-satisfatórias foram descartadas.
Portanto, ao lidar com a matriz de colagem, usei tinta para gravura em
metal, diluída em óleo de linhaça, aplicada com espátula, impressa em papel
previamente úmido.Para imprimir com a matriz de extração utilizei a técnica de gravura
a seco, sem tinta, em que o papel previamente umedecido é passado na prensa junto
com a matriz.
A respeito da forma de lidar com a matéria e os seus possíveis resultados,
Salles (2006) observa que
Lidar com a matéria prima está diretamente relacionado a técnicas.
uma série de manuais que se dedicam á apresentação dessas técnicas,
em algumas áreas de modo mais abundante, com desenho, gravura,
fotografia, pintura. No entanto, sabemos que a busca do artista se apóia
no espaço pessoal que encontra para lidar com essa espécie de
gramática básica; seguindo na analogia lingüística, o artista, ao longo de
seu processo, procura a construção de uma sintaxe pessoal, a partir do
diálogo com a tradição e seus contemporâneos. (p.85)
O caráter processual da obra e as suas escolhas, revelam percursos e
opções. Nesta pesquisa procurei construir imagens visuais, portanto, refere-se às
técnicas específicas de produção dessas imagens. Escolher uma técnica em
detrimento de outra pode dizer muito do processo de criação do artista.
Por outro lado, no caso desta pesquisa, não vou me ater à discussão
acerca da gravura, porque todas as técnicas que envolvem este conceito estavam
sendo experimentadas pela primeira vez. Suas escolhas foram feitas com base em
resolução de imagem e metas cumpridas (sobreposição de planos visíveis).
70
Ilustração 10
Trabalho em ateliê – método tradicional de impressão
71
A escolha das matrizes
Trabalhei nessa pesquisa com dois objetos/matrizes diferentes e opostos
em sua estrutura, um com adição e o outro com subtração( colagem e extração) de
material no/ do plástico, obtendo assim, de dois objetos/matrizes, quatro resultados
diferentes, porque contabilizo também os resultados obtidos com os métodos
tecnológicos de impressão ( ilustração 10, 11 e 12).
É importante esclarecer que a escolha das matrizes se deu pelo resultado
obtido com a impressão tradicional, quando ainda não se considerava a possibilidade
de digitalizar os objetos/matrizes e ainda não se tinha desenvolvido uma percepção
maior do andamento do processo de criação, a ponto de escolher esses objetos/
matrizes porque também eram opostos.
A escolha desses objetos/ matrizes para o desenvolvimento da pesquisa
devem-se à intuição à sua força como objeto e ao seu resultado nos métodos
tradicionais de impressão.
Com foi dito, a gravura representa também para realização desta
pesquisa uma possibilidade poética do que está por detrás do plástico, uma
continuação do processo de criação, que suporte técnico, conceitual e poético,
transformando o meu olhar para a pesquisa em um processo de conscientização.
Porém, o objeto plástico, mesmo o transformado também em matrizes de
gravura tem, para mim, um fim em si mesmo, uma face interna que comunica.
A escolha desses dois objetos/matrizes deve-se também a essa face
interna que comunica,que sugere uma percepção do caminho que estou trilhando,e
que informa de onde estou vindo.
Os resultados obtidos com essas matrizes, no processo tradicional de
impressão, também me estimulou nessas escolhas. Dito de outra forma, uma
sucessão, uma sobreposição de características alimentaram o olhar, o espírito,
promovendo uma vontade de continuar por esse caminho, o que me levou à escolha
desstes dois objetos matrizes.
No momento desta escolha, questões como perspectiva e relevo, que
caracterizavam o trabalho, chamavam muito a minha atenção. Por outro lado, eu
72
começava a ter uma aproximação maior do sentido da poética pois estava
freqüentando regularmente as aulas do curso de mestrado. As muitas, diferentes e
densas informações que chegavam a todo momento fertilizavam novos interesses e
possibilitavam novos olhares para a obra.
Mas muita coisa eu não queria continuar carregando, não queria mais
questionar.As características de perspectiva e relevo fazem parte da estrutura da obra.
São ganhos técnicos que me aproximaram daquilo que eu estava procurando naquele
momento: a sobreposição de planos visíveis.
Atualmente, porém não vejo mais sentido em tratar dessas questões na
estrutura da pesquisa. Em uma seleção quase natural, baseada nos interesses que
vão se formando ao redor da obra, optei por não esmiuçar acerca da característica de
perspectiva e de relevo, por constituírem ganhos de ordem técnica, além do que o
interesse maior da pesquisa diz respeito ao processo de criação e a poética.
73
Ilustração 11 - 2007
objeto/ matriz confeccionado com a técnica de extração
74
Ilustração 12
Objeto/ matriz confeccionado com a técnica de extração
75
Ilustração 12
objeto/ matriz confeccionado com a técnica de colagem
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77
Métodos tecnológicos de impressão
(scanner e impressora)
Uma ferramenta, mais do que uma extensão do
corpo é a virtualização de uma ação
Mc Luhan e Leroi- Gourhan
O desenvolvimento da pesquisa com o plástico utilizando técnicas
tradicionais da gravura foram muito satisfatórias, o objeto/ matriz confeccionado em
plástico transparente, no entanto sugeria mais ações, reflexões acerca do conceito de
gravura, a participação em seminários, congressos, encontros e as conversas no
ateliê,possibilitaram perceber que era possível avançar.
Em dado momento da pesquisa, a matéria ganhou força e explorá-la de
modo a continuar procurando novos meios para expressar a idéia de planos
sobrepostos sob o método da gravura foi inevitável.
Naquela época eu estava digitalizando fotografias antigas para que eu e
meu irmão pudéssemos poupá-las da ação do tempo, gravando-as em um CD.
Estava lidando muito com o scanner, e, ao mesmo tempo, produzindo meus
objetos/ matrizes. Em algum momento, senti vontade de experimentar a digitalização
do trabalho em plástico. Provavelmente em razão da proximidade com o
equipamento. Acerca da escolha de métodos de produção, Ostrower (1977) assinala:
Cada matéria pode ser desdobrada de múltiplas maneiras, encerra
múltiplas possibilidades de indagação. Embora seja o indivíduo que age,
escolhe e define as propostas e ainda as elabora e as configura de um
modo determinado, trata-se também, talvez antes de tudo, de uma
questão cultural. Não a ação do indivíduo é condicionada pelo meio
social com também as possíveis formas a serem criadas tem que vir ao
encontro de conhecimentos existentes, de possíveis técnicas ou
tecnologias, respondendo a necessidades sociais e a aspirações
culturais. (OSTROWER,1977. PG.40)
Estas possíveis formas a serem criadas, relacionadas à possíveis
tecnologias de que Fayga nos fala, condiz com o próximo passo desta pesquisa. A
proximidade com o equipamento e a simultaneidade das ações ( digitalizar fotografias
e manipular matrizes) me levaram à desdobramentos plásticos e conceituais.
78
Visualizar um objeto transparente na tela do computador e, em seguida,
conseguir uma impressão desencadearam em mim uma série de outros
questionamentos. A aproximação deste ato com o conceito de gravura foi quase
automático, e percebi que estava lidando com duas coisas distintas, porém, muito
próximas ( ilustração 14).
79
Ilustração 14
Gravura digital – 2006
21 x 30 cm
80
Comecei a buscar nas leituras e nas reflexões acalento para o processo de
conscientização que estava vivenciando.
Busquei referências no filósofo Pierre Levy, que trata de tecnologia,
virtualidade e cultura, li textos e livros sobre novas mídias e arte, refleti e escrevi sobre
o que estava pensando.
De novo, vi-me no vácuo. Vácuo como ausência de atrito e de peso. Como
ausência de conflito. Estava tudo no vácuo, e eu também. Simplesmente suspensa,
tentava me esvaziar-me mais e mais, para então poder compreender os rumos que o
objeto/ matriz estava tomando.
Percebi que estava usando o computador de modo tradicional. Não subverti
esta tecnologia. Submeti meu objeto/matriz ao que a quina me oferecia de mais
simples e banal: digitalizar e imprimir uma imagem.Dei-me conta, porém, que não era
uma imagem. Era um objeto transparente, não era para ser interpretado pela máquina.
O scanner (tecnologia utilizada na pesquisa para digitalizar o objeto/matriz e
transportar a imagem para o computador) é um equipamento desenvolvido para leitura
de documentos ou imagens com característica opaca e em repouso para que se possa
sem interferência ler o que em sua superfície (tal qual uma máquina de xerox).
Estabeleci um diálogo poético do processo de leitura do scanner sobre a imagem,
usando a luz com o processo de entitamento da gravura tradicional.
Foi interessante observar o comportamento das matrizes de plástico
transparente quando entintadas pelo scanner. Como disse, a primeira impressão é
que o scanner não era capaz de captar uma imagem nítida, considerando que a matriz
é transparente, portanto a célula fotossensível não teria imagem para ler.
Acontece exatamente o contrário: o plástico (ou qualquer outra imagem)
quando está sendo digitalizado, é submetido à luz, e reflete essa luz( ilustração 15)
Então, o scanner consegue não somente entender a imagem no/ do plástico, como
também entinta a matriz com reflexos de cores emitidos por ele mesmo. Acerca dos
raios/luz, Luciano Guimarães (2000) comenta:
Pois os raios, para falar propriamente, não são coloridos. Neles nada
mais do que um certo poder e disposição para excitar a sensação
desta ou daquela cor. Pois, assim como o som em um sino, ou corda
musical, ou outro corpo sonoro, não passa de um movimento
vibracional[...], nos raios elas nada mais são do que suas disposições
81
para propagar este ou aquele movimento até o sensório, e no sensório
elas são as percepções desses movimentos sob as formas de cores.
(p.15)
Entender esse processo como uma extensão do conceito de gravura
(conforme explicitado no capítulo 1) foi o próximo passo. Daí, passei a designá-lo
como gravura digital. A aproximação de diferentes tecnologias com o conceito de
gravura é o mote de investigação de vários artistas à muito tempo. Sérgio Penna,
mestre em Cultura Visual desenvolveu sua poética à partir de monotipias que são
digitalizadas e manipuladas no computador para depois serem impressas.A
constatação de que eu conseguiria manter a visão dos planos sobrepostos também
me animou a refletir mais sobre o que estava construindo.
O fato de submeter uma mesma matéria ao modo de fazer tradicional e, na
seqüência, ao tecnológico, não degenerou a qualidade que, havia me motivado a
trabalhar com o plástico transparente.
A respeito da simbiose nas linguagens, Salles (2000) declara:
Percebemos, nessas últimas décadas, uma ampliação das obras que
não limitam sua materialização a uma determinada linguagem: os
chamados espetáculos midiáticos. Assistimos nos palcos, por exemplo,
a espetáculos nos quais a dramaturgia, dança, vídeo e música se
combinam, dando origem a obras consideradas híbridas. Poderíamos
destacar esta indeterminação de limites uma, entre tantas e difusas, das
características da poética contemporânea, que revelam um intenso inter-
relacionamento de linguagens (p.157).
Além do hibridismo assinalado por Salles, percebemos que hoje qualquer
descrição de produção de arte que não espaço ao tecnológico está incompleta” (
RUSH -2006, pg. 162). O importante é desvincular o tecnológico das novas formas de
reprodução. Temos à mão uma nova ferramenta de produção, portanto, o uso destas
novas tecnologias –xerox, computador, scanner, off-set –não podem estar limitadas ao
seu uso de reprodução.
82
Ilustração 15
Gravura digital – 2006
21 x 30 cm
83
Naquele momento, percebi que me distanciava da avaliação técnica nesta
pesquisa. Eu observava tudo em perspectiva entrelaçada. O volume de informação e
depossibilidades havia aumentado muito, mas a impressão que eu tinha era de que
tudo estava com uma visibilidade sobreposta.
Ao referir-se à a interação de meios, a artista e pesquisadora Beatriz
Rauscher (1993) que também desenvolveu uma pesquisa com xerografia onde se
valia das possibilidades de reprodução na criação de suas gravuras, desenvolvendo a
impressão xerográfica de uma xilogravura, tornando o processo de impressão criativo,
destaca as observações de McLuhan e de Júlio Plaza, as quais transcrevo:
À exceção da luz, diz McLuhan, todos os meios andam aos pares, um
atuando como “conteúdo” do outro, e diz ainda:”nenhum meio tem
existência ou significação por si só, estando na dependência da
constante inter- relação com os outros meios”. O fato de inter-
relacionarem determina a nova geração de meios.
É da interpenetração de um meio em outro que nascem os novos
meios, os meios híbridos (...)
Júlio Plaza põe, de forma muito clara, o conceito de McLuhan em uma
visão dos nossos dias:
No movimento constante de superposição de tecnologias sobre
tecnologias, temos vários efeitos, sendo um deles a hibridação de
meios, códigos e linguagens que se justapõe e combinam, produzindo a
intermídia e a multimídia.O emprego de suportes do presente implica
uma consciência desse presente, pois ninguém está a salvo das
influencias sobre a percepção que esses mesmos suportes e meios
tecnológicos nos impõem (p.142).
O objeto/matriz digitalizado apontava a possibilidade de interação por meio
da Internet, impreso em vários suportes diferentes, com base em uma mesma
matriz, obter infinitas outras com uso de computação gráfica,ou seja, era preciso, de
novo, fazer escolhas.
Naquele momento, optei por trabalhar com a digitalização fiel da matriz,
sem modificá-la por meio de nenhum programa, também escolhi não seguir pelo
caminho da interatividade digital, por ora. Restringi as impressões a dois modos:
Plotter adesivado em plástico transparente recortado e papel.Os trabalhos finalizados
em papel agradam-me mais, pelo imediatismo que provocam, muito similares aos da
prensa, e também pelo resultado em cor cinza (ilustração 16).
84
Ilustração 16
Gravura digital – 2006
21 x 30 cm
85
Inevitável foi, lá no fundo, permanecer a pergunta: “E a sobreposição de
planos visíveis?Ela aconteceu?”
A resposta é sim, mas sem textura, sem relevo, uma perspectiva chapada.
Interessante mesmo foi perceber que se eu mudasse de lado e virasse um
pouco a matriz, pronto: uma gravura digital diferente!Como nos modos de fazer
tradicional.
Essas brincadeiras experimentais ajudaram-me muito a ver o modo de fazer
tradicional de forma diferente, e isso foi um ganho.
Quando chegava ao ateliê para fazer uma impressão tradicional, tinha
experimentado a matriz no scanner. E muitas vezes tinha feito modificações por causa
dessas experimentações. Ia imprimir nos modos tradicionais muito mais envolvida com
o objeto/matriz, traçava diálogos, fazia reflexões, ia e vinha.Via tudo ao contrário,
como uma gravadora.Tirava e punha o plástico quando e onde eu queria, sobre o que
achava certo.
Ultrapassei alguns limites impostos pela tecnologia com a qual eu lidava.
Submeti o objeto/matriz a um movimento sobre o scanner aberto ( ilustração 17). Eu
entendia que a máquina era programada para apreender uma imagem opaca e
estática. E eu apresentava para ela uma imagem translúcida e em movimento. Era
uma intenção de subverter a tecnologia às minhas intenções de transgressão.Trata-se
de um registro de percurso, um acaso a que me permiti. Ostrower (1999) ressalta a
importância da liberdade de expressão do artista:
Pois usar determinadas técnicas , como demonstração de tecnologia,
criando formas isentas de sentimento e afetos, equivaleria a produzir
uma espécie de catálogo ilustrado de desempenho técnico da máquina.
Mesmo que certos efeitos visuais possam ser excitantes num primeiro
momento(...) nas obras de arte, a técnica é absorvida integralmente pela
expressividade, a própria técnica transformando-se em forma
expressiva. ( p 194)
86
Ilustração 17
Gravura digital em movimento – 2007
21 x 30 cm
87
Naquele momento da minha pesquisa, eu comecei a me questionar por que
considerava tanto o plástico, se, na verdade, eu nunca quis que ele existisse.
Ele nunca tinha me impedido de ver o bordado sobre a mesa ou escolher o
livro na estante. Ele nunca existiu para mim seja como barreira, seja como matéria. Eu
sempre transpus sua presença. O meu olhar sempre alcançou aquilo que ele
protegia.Afinal, comecei a questionar o que significava para mim aquela matéria por
que estava trabalhando tão insistentemente com ela.
88
89
Da representação da Materialidade: O transparente como presença de uma
representação ausente
A idéia de ausência a que o plástico transparente me remetia, levou-me a
vários questionamentos. Comecei apreendendo sua estrutura como nada/ nulo.Por
sua capacidade vazada, eu o considerava nulo, pela ausência de algo, no caso de
opacidade, característica de um objeto constituído, presente, real, e também
oconsiderava nada, que significa a não-existência, tendo em vista que esse objeto se
deixa transcender pela luz e pelo olhar, portanto, não existe.
Ao me aproximar dos estudos acerca da virtualização da arte( arte mail,
webarte, realidade virtual, ciberespaço) na tentativa de buscar um entendimento maior,
mais abrangente para o meu trabalho com gravuras digitais, me aproximei do que o
filósofo Pierre Levy ( 1996) afirma: o virtual não é a ausência, é a não-
presença.”.Diante dessas reflexões, comecei a olhar para os modos de fazer gravura
como a virtualização de uma imagem. Se ela acontece somente na matriz, se ainda
não se efetuou a impressão, a gravura é virtual. A não-presença de uma imagem que
foi pensada para este fim. A este respeito, o filósofo observa:
O virtual tende a atualizar-se, sem ter passado no entanto à
concretização efetiva ou formal. A árvore está virtualmente na semente.
Em termos rigorosamente filosóficos o virtual não se opõe ao real, mas
ao atual: virtualidade e atualidade são apenas duas maneiras de ser
diferentes (p.18)
O mesmo filósofo atenta ainda para um outro ponto: o virtual não é o
possível:
o possívelestá todo constituído, mas permanece no limbo. O possível
se realizará sem que nada mude em sua determinação nem em sua
natureza. É um real fantasmático, latente. O possível é exatamente
como o real: só lhe falta a existência (p. 18)
Concebendo a gravura digital proposta por esta pesquisa, imaginei o
momento que ela perpassa pelo scanner, antes mesmo de chegar à tela do
computador, e é claro, antes de ser impressa. No trânsito entre o scanner e a tela, a
90
tela passa a ser o suporte (antes do papel da impressora) da imagem. Acerca do
momento em que a imagem se transporta, Arlindo Machado (Doc. Eletr. 1)observa:
Como acontece com nossas imagens mentais, aquelas que brotam do
imaginário, as imagens eletrônicas são fantasmas de luz que habitam
um mundo sem gravidade e que podem se invocadas por alguma
máquina de “leitura”, atualizadora de suas potencialidades visíveis.
Estas questões que surgiram em relação aos procedimentos da gravura
ajudaram muito a minha aproximação do objeto artístico, que já era considerado
nulo/nada, portanto, poeticamente, não-matéria, sem presença.
O questionamento sobre a aproximação do conceito de imaterialidade ao
objeto/ matriz transparente, possibilita alargar e subverter esse conceito, além de
emparelhá-lo ao da virtualidade da gravura.
As questões relacionadas à matéria na obra de arte, pode-se dizer, nasceu
com Aristóteles. A arte necessita sempre da matéria. Para o filósofo, a criação nascia
na alma e desenvolvia-se no contato com o material. Aristóteles foi o primeiro a falar
dos processos de criação. A guerra entre o espírito do artista e a matéria promove o
surgimento da arte, ou seja, a arte começa com a experiência de se sentir a matéria.
Esse é o desafio do artista. E com esse pensamento também enfrento a matéria
escolhida: o plástico polietileno transparente.
O plástico existia na minha memória como uma limitação, uma matéria para
proteger forros e livros, basicamente. Mas a característica transparente tornou-se a
ausência de limitações, apresentou soluções para um questionamento: a possibilidade
de sobreposições de planos visíveis. No ateliê de gravura, essa característica foi
absorvida positivamente, propiciando diferentes modos de manuseio da matéria. Essa
característica de transparência permite o resultado de digitalização como um processo
interessante dentro do caminho da obra.
No entanto, busco entender não os questionamentos acerca dos limites e problemas
da arte estarem relacionados à matéria, mas a aproximação da maneira e da forma
como alguns artistas entendem e lidam com as possibilidades da matéria, e o
entendimento que eles têm de imaterialidade faz parte do meu interesse na construção
desta pesquisa.
91
Um exemplo a ser citado é o de Yves Klein, que se utilizou dIversas vezes
das energias da natureza, como fogo e água, no questionamento do valor material das
a artes, assinalando sua fugacidade. Sua busca pela imaterialidade na arte o fazia
interferir o mínimo na obra, pelo menos manualmente. A foto do salto no vazio foi uma
montagem, mas ele queria abraçar o nada, lançar-se sobre o espaço vazio, deixar de
ser artista,para ser arte ( ilustração 18).
92
Ilustração 18
Salto no vazio – Yves Klein
93
Amélia Toledo, artista brasileira, trabalha com materiais transparentes,
entendendo que esses materiais trarão experiências lúdicas e efêmeras, próximas
poeticamente da idéia de imaterial.
A ausência de referências e interferências de representações, subvertendo
a matéria ao nada e convidando o espectador à experiência do vácuo, transbordando
de ausência, seria uma arte imaterial? Por onde passa o conceito de imaterialidade na
obra de arte? Esse conceito pode ser apreendido por um processo de criação?
Ao refletir sobre as variações da imaterialidade na obra de arte, comecei a
relacionar possibilidades: a imaterialidade pode ser o vazio, na relação com o espaço.
A imaterialidade pode relacionar-se com a finitude de uma obra, concebida para esse
fim. Pode ser a interface de instalações interativas. Pode ser compreendida em obras
que trabalham com luz. Para muitos artistas, importa o conceito da obra. O discurso
que se faz sobre a arte é incorporado a ela.
A questão da materialidade acompanha as discussões acerca da obra de
arte desde sempre. Com Duchamp, essa discussão tomou novos rumos. Na década
de 1960, por meio de idéias veiculadas pelo grupo Fluxus, as questões acerca da
materialidade da obra ganharam novos contornos, e a obra passou a ser considerada
por essa corrente como um suporte para as reflexões do artista. E situações como a
performance, a deo-arte e a tele-presença passaram a construir uma metáfora da
imaterialidade na obra de arte.
Não desejamos relacionar as questões da imaterialidade com a tecnologia,
mas até que ponto a idéia de imaterialidade poderia se justapor à pesquisa em
questão? Não imagino a questão limitada a uma co-relação com a matéria (plástico),
tampouco à busca originária desta pesquisa, que é a sobreposição de planos visíveis
– que denotariam uma irrealidade material. Tampouco ela surgiu em decorrência
especificamente das reflexões acerca das gravuras digitais.
Um olhar sobre o percurso, possibilita desvelar que a intenção de discernir
essa obra como imaterial relaciona-se ao processo de criação que envolve a pesquisa,
94
na atualidade da memória,nas questões relacionadas á ausência,com a cor, a textura,
a opacidade, no sentimento de não–presença da matéria transparente, na visualidade
que não captamos durante a transmissão da imagem na gravura.
Nesse embate subjetivo, a idéia de imaterialidade transforma-se em
metáfora do processo de criação. As questões que esse conceito suscita surgem
como alma, como anima delicada, como aquilo que não se vê.Talvez sejam espectros
de uma realidade que ainda vivencio.
Diante das possibilidades e contrária à estética da saturação, optei pela
transparência e seu caráter silencioso de ausência para refletir também sobre a
matéria. No nada em que me encontrava como criadora, antes de definir formas,
estruturas, dinâmicas, influências, questionava o que estava fazendo, e como me
comunicar tratando de inexistências ( ilustração 19).
95
Ilustração 19
Página de diário de artista
96
A essência de uma dissertação em poéticas visuais submete um objetos
não-literário a uma análise literária. Muitas vezes, a singularidade da criação nunca é
integralmente registrada. Ela é da natureza do sensível, e escapa à natureza do
registro gráfico e literário.
O entendimento poético que é lançado sobre o processo de criação desta
pesquisa é da imaterialidade. As definições propostas de nada e nulo, a transparência,
a visualidade não-captada, ajudaram a aproximação do conceito de imaterial. A obra é
matéria, mas a materialidade pode não ser um fato meramente físico.
97
Ilustração 20
Gravura a seco – método tradicional -2006
66 x 47 cm
98
Arthur C. Danto, em seu livro depois do fim da arte sinaliza que a arte vai se
converter em filosofia, ou seja, ele proclama que haverá uma transformação do próprio
corpo da arte, em que a arte se transforma em uma projeção de si mesma, em uma
abstração, em uma subjetividade, em uma imaterialidade.
A existência da obra para além de sua materialidade contraria o fetichismo
do objeto artístico. Acerca da afirmação de que o futuro da arte está na imaterialidade,
Regina Silveira (2007)observa:
O fato é que a Arte não perdeu seu caráter de fisicalidade,
materialidade, inclusive para muitas manifestações de Arte e tecnologia.
Não sei se a imaterialidade vai ter essa predominância dentro de 20
anos. Não consigo imaginar que caminhos seriam esses que levariam a
arte a se transformar em completamente imaterial, pura luz, puro
conceito, não–matéria. De qualquer maneira, a imaterialidade se
intensificou, deixando tudo mais acessível e aumentando em muito
nossa capacidade de agir.( Doc. Eletrônico nº 2)
Maria Bonomi (2002), em entrevista concedida à revista E, disse:
Eu estou nesse caminho. Agora eu acho que gravura é imaterial. Mas o
produto permanece.(Doc. Eletr.nº3)
No decorrer das reflexões e leituras, pude perceber que no tangente
arepresentação do ausente, o processo de criação desta pesquisa se aproximava de
algumas propostas da artista Regina Silveira.
O recorte proposto na obra da artista engrossa o caldo da discussão sobre
as possibilidades de representação da materialidade na arte, e me ajuda a
compreender o desenrolar do meu processo, perceber escolhas, a visualizar minha
representação.
Manipular ausências, retorcer vazios, recortar o nada, sobrepor
inexistências. Na mímica em que atuo quando construo uma obra, flui o pensamento
sobre os caminhos e as possibilidades na criação artística. Sem especificidade, a não
ser a relação com a falta, com o nulo, percebo que alguns contornos, sombras,
espectros levam a supor caminhos, interesses. Diante desses caminhos, percebo um
no qual vou trilhando: o interesse em submeter esse vazio às possibilidades de
materialização diversas.
99
Ao deslocar o objeto/matriz do seu contexto imaterial para as possibilidades
materiais de impressão, eu também me desloco do ambiente livre de criação em que
eu me encontrava para me submeter à matéria impressa e sua linguagem, ou seja, a
gravura em seu estado final como obra.a respeito deste produto vou tentar refletir mais
profundamente no capítulo cinco.
100
101
A ausência no projeto de Regina Silveira
A materialidade pode ser um exercício de pura negação.
Carlo Basualdo
Regina Silveira acredita na arte como projeto a ser realizado, como idéia a
ser executada, levando o artista ao fundo do que procura, seja essa procura, inclusive,
a exploração de uma matéria. A artista, entre outras habilidades, é uma gravadora,
aberta aos hibridismos que a técnica sugere, portanto, avessa à mentalidade que
percebe nas contaminações das técnicas da gravura, algo impuro. Sua posição
também facilita a aproximação desta pesquisa com o seu trabalho. Acerca dos
hibridismos na gravura, Moraes (1995) revela:
A gravura deve estar aberta a interações com as imagens técnicas e
eletrônicas. A gravura tem mostrado internacionalmente esta vocação.
Ela vem se transformando dentro do pressuposto de que um meio não
substitui o outro. Todos eles convivem, influenciando-se mutuamente.
(p.91)
Outro destaque que faço na obra de Regina Silveira é sua investigação
acerca da representação de um objeto ausente.
Por todas essas características, destaco o projeto In Absentia, que teve
início em 1983. Construída em um espaço de 10 x 20m na Bienal de São Paulo,
Silveira apresentou as silhuetas monumentais de Bottlerack” e “Bicycle Whell” de
Marcel Duchamp. Constituem-se de sombras fictícias que partem de bases de
escultura vazias e que se distorce, desafiando a percepção do espectador conforme
os pontos de distancia do olhar em um jogo de geometria do absurdo (ilustração 21).
O espectador era convidado a ver o que não existe na obra. Júlio Plaza comenta:
ambientes artísticos acrescidos da participação do espectador
contribuem para o desaparecimento e desmaterialização da obra de arte
substituída pela situação perceptiva: a percepção como re- criação.
(PLAZA apud TAVARES, 2003.PG.14)
Neste projeto, a obra é a sombra, é a ausência denotando presença. Angélica de
Moraes ( 1995) observa sobre Regina Silveira
ela imita não a medida ordenada do espaço ou a presença de coisas
reais, mas o ilogismo, a irrealidade e o distanciamento (p.225).
102
A presença dos objetos, como na releitura dos trabalhos de Marcel Duchamp, é
marcada pela sua ausência. Nas palavras da própria artista, trata-se de “uma situação
insólita, na qual uma sombra projetada existe sem seu parceiro inseparável, o
elemento real gerador da projeção”(Moraes.1995.p.226). Sabemos que se trata de
“Bottlerack” e Bicycle whell” de Duchamp exatamente porque não estão presentes,
apenas suas sombras os revela. O confronto é direto, a sensação de que algo está
faltando, de um vazio, traz o estranhamento.
103
Ilustração 21
In Absentia – Regina Silveira
Látex sobre piso de cimento e painéis de madeira
104
Regina Silveira esclarece:
Ausência é outro conceito e tema recorrente em meu trabalho, durante
as duas últimas cadas. Histórica e filosoficamente a ausência sempre
esteve ligada às sombras projetadas (Doc. Eletrônico nº 4)
A forma como Regina trabalha a representação da materialidade, ou seja,
pela ausência do objeto, aproxima esta pesquisa do seu projeto. Regina Silveira
posiciona-se favorável à hibridação na gravura, e quando o tema se estende para a
arte em geral, a artista e professora tem uma posição que ampara este trajeto:
Parece que a hibridação veio para ficar. O que ela deixa claro, na própria
mistura, é que a poética é o principal, e não os meios. Tudo interage, mas o
principal é a poética, é o que o artistas diz e como opera a linguagem. ( Doc.
Eletrônico nº2)
Voltando o olhar para o processo de criação, pode-se perceber que houve
hibridações em quase todas as fases, e que a poética da imaterialidade esteve
presente no processo, ora travestida de uma característica transparente, ora indicando
a não-presença do objeto, ora permeada de memórias.
Ao materializar pensamentos, sobrepondo idéias, visualizando antigas e
novas possibilidades de fazer e pensar, percebo que o trajeto percorrido pela obra,
muitas vezes, escapou ao meu comando. Eu não conseguia vê-la como parte de mim,
e sim fragmentada e exposta em outras propostas poéticas, e em outros discursos,
compondo, mesmo que furtivamente, uma rede de identidades.
Naquela situação percebi que Regina Silveira e seu projeto In Absentia
estavam ao lado desta pesquisa.
105
106
Sobre os opostos
toda obra contém em si mesmo a sua dimensão teórica.
Sandra Rey
A essência do processo criativo é a inquietação. Várias foram as situações
durante esta pesquisa, em que pude mergulhar em situações turbulentas, e, em
outras, saltar no vazio, quase desacordada. São situações extremas, que me levaram
a acreditar que “a rédea estava solta.” Mas tratava-se de descobertas.
Descortinamentos. Os interesses e olhares vão mudando ao longo da pesquisa,
ampliando possibilidades, e estreitando interesses.
Identificar que estava lidando em muitos momentos, com situações
contrárias, não contraditórias, surgiu da observação metódica das escolhas e do
trajeto da pesquisa. Produzir uma pesquisa na linha de poéticas tornou-se um
constante questionamento, uma luta interna entre a razão e o ímpeto, e uma luta
externa com a matéria. Durante a criação surgiram indícios de que não se tratava de
uma luta e sim de conexões, que indicavam um caminho: A pesquisa estava lidando
com opostos.
Nos vários momentos em que me encontrei transitoriamente no vácuo,
cercada de ausência de atrito e conflitos, obtive o distanciamento necessário para
visualizar que estava permeando entre as situações que não se anulavam, não eram
verdadeiras nem falsas. Apenas situações opostas . Estas ocorrências aconteciam,
eram concretizadas no decorrer das escolhas e acasos da pesquisa, e detectadas
somente depois que o trabalho já estava avançado.
Apresento uma cópia de anotações no diário, em que é traçado um
rascunho de um sumário desta pesquisa, em que surgem vestígios de que se trata de
situações opostas ( ilustração 22).
107
Ilustração 22
Página de diário de artista
108
As situações opostas de tradicional e tecnológico, adição e subtração, o
tudo e o nada, a obra presente e a imaterialidade, são apresentadas como um fato
observado no trabalho, e possibilitam uma aproximação do processo de criação. Não
será feita uma análise formal da obra. Toda reflexão acerca da obra pauta-se na sua
trajetória poética, em que se constata que as escolhas permitiram construir situações
opostas no percurso, o que foi ao mesmo tempo intrigante e satisfatório, perturbador e
entorpecedor. A produção poético-teórico-conceitual esbarra, então, em um outro
possível caminho.
O que aconteceu durante o processo que desencadeou asituação entre
opostos? Ao refletir e ler sobre situações da obra em processo, encontrei em uma
observação da artista Fayga Ostrower (1977), um indicativo do que poderia ter
ocorrido:
Todo perceber e fazer do indivíduo refletirá seu ordenar íntimo. O que
ele faça e comunique, corresponderá a um modo particular de ser que
não existia antes, nem existirá outro idêntico. As coisas aparentemente
mais simples correspondem, na verdade, a um processo fundamental de
dar forma aos fenômenos a partir de ordenações interiores
específicas.(p.26)
109
Ilustração 23
Página de diário de artista
110
O trânsito entre as situações opostas gerou uma tensão que provocou
novos questionamentos. Em primeiro olhar, mais distraído, ocorreu a suposição de se
tratar de um avanço entre modos de fazer, entre técnicas, mas, posteriormente,
concluí que não se tratava de avanço, com o objetivo de melhora, de superação,
porque os modos de fazer tradicionais, suas propostas técnicas e muito menos a
densidade poética que oderia apurar trabalhando exclusivamente com eles – os
meios tradicionais, (sem equiparação com qualquer outro modo de fazer, ou com
qualquer outra técnica ou matéria) eram passiveis de superação. Eles têm o seu lugar
e provocam questionamentos que podem levar também a um amadurecimento
artístico.
A situação de opostos, porém estava ali, cada vez agigantando-se mais.
Comecei a discernir opostos em rios momentos da produção, e então era
necessário refletir.
Observando o trajeto percorrido, verifiquei que estava em constante estado
de subversão. A idéia inicial de sobreposição de planos visíveis era uma tentativa de
subversão à ordem plástica, táctil, e visual em que vive. Retirei o plástico que estava
sobre os forros e livros. Picotei-o e acumulei novos elementos a ele. O plástico, que na
minha memória existia para proteger da sujeira informações visuais, agora estava todo
coberto de tinta, gerando novas informações visuais. Consideradas gravuras. Para tal,
tive que expandir o seu conceito, subverter, e subverti de novo quando mudei os
modos de gerar informações visuais. E continuo considerando-as gravura.
Essa constante subversão surge de limites não respeitados na memória.
E para seguir adiante, tornou-se necessário abarcar o novo, que por conseguinte, era
oposto.
Entre dúvidas e certezas, continuaram os questionamentos:” Então eu faço
assim?”
Na ilustração 24, um momento de dúvida registrado no diário. A folha foi
rasgada para mostrar o desenho que minha filha de cinco anos fizera na outra
página.Ela me desenhou pequena, ao lado de um livro gigante. Ela subverteu a ordem
de não bulir em meus livros, não resistiu à folha branca e desenhou.
111
Ilustração 24
Página de diário de artista
112
O manual e o tecnológico
A gravura sempre esteve muito ligada à evolução tecnológica, uma vez que
está entre o fazer manual da matriz e a reprodução mecânica como impressão dela.
Dentro das possibilidades da gravura, optei por trabalhar as características que
envolvem a confecção da matriz e sua impressão, ou seja, não questionando sua
possibilidade de reprodução ou de similaridades das cópias. A gravura pode ser
entendida como um trabalho que se inicia com a matriz que possibilita uma impressão.
Os modos de fazer gravura, e a gravura, tornaram-se uma ferramenta de exploração,
superação e criação no/do plástico. Diana Domingues (2003) observa:
As ferramentas ajudam a definir um meio no qual os usuários podem
criar um trabalho. Nesse contexto, a noção de que deveria haver uma
ferramenta abrangente, completa, coerente e puramente técnica é muito
questionável. Dentro de cada prática criativa as pessoas se certificarão
de que estão usando uma variedade de objetos como ferramentas, e
ferramentas simples (um lápis, por exemplo) criam muitas vezes um
meio rico em que idéias expressivas podem ser concretizadas. (p.186)
No decorrer da pesquisa, ocorreu o desenrolar de um trabalho com o
objeto/ matriz usando as ferramentas tradicionais, e na seqüência, o encontro quase
casual com as ferramentas tecnológicas. O desenrolar do pensamento poético, acerca
desses dois modos de produção opostos, foi possível porque tanto o modo
tradicional como o modo tecnológico, apresentam resultados próximos compatíveis
com os que eram buscados no início: a sobreposição de planos visíveis. Em outras
palavras, apesar de se encontrarem em situações opostas, os resultados promoviam
uma singularidade.
Outra questão que permitiu trabalhar com esses opostos foi que a metáfora
da imaterialidade encontrou espaço para acontecer nos dois modos.
113
Adição e subtração
Outro recorte no processo criativo que me levou à situação de opostos se
encontra na escolha dos objetos/matrizes confeccionados em plástico, um leva adição
de material (colagem) e o outro retira material (extração). O objeto/matriz feito em
colagem, aconteceu de uma seleção de materiais transparentes, e o objeto/matriz
construído sob a forma de extração foi criado para ser uma matriz. E foi pensado com
base no primeiro (colagem) na intenção de ser seu oposto, e mesmo assim assegurar
a característica de sobreposição de planos visíveis, tanto nos modos de fazer
tradicionais como nos modos de fazer tecnológicos.
Esses opostos no objeto/matriz surgiram de uma imersão na técnica
tradicional. Durante a pesquisa, eles descolaram do suporte retangular, criaram formas
que valorizavam suas características de adição e subtração. Abriram-se agora
caminhos para um trabalho que une a técnica usada nas duas matrizes.
O Tudo e o nada
Entre as grandes coisas que são encontradas entre nós, a existência do NADA é maior
Leonardo da Vinci
O trabalho com um objeto transparente propicia o acúmulo de
possibilidades e interpretações conectadas entre si. E, em uma apreensão mais
poética do processo que envolve este objeto, foram delimitados o tudo e o nada, com
base na percepção de que estava lidando com opostos.
A capacidade vazada presente no objeto/matriz, apreendida poeticamente
como imaterial, nula, nada, ausente, pela sua possibilidade de transcendência do
114
olhar, é privada de cor, de opacidade. Possui sua expressão no relevo, na
sobreposição de imagens transparentes, com contornos sutis que se emaranham e
confundem o olhar que consegue perceber essa sobreposição. Pede-se acuidade no
olhar para perceber a imagem, sem garantias de sucesso. Trata-se de um nada virtual,
que se torna tudo quando é gravura.
Na apreensão poética, quando gravura impressa, o nada do objeto/ matriz
passa a ser tudo por que a imagem passa a habitar outra matéria (papel- impresso ou
gravado) que tem opacidade, que transforma o nada da transparência imaterial, em
tudo de uma imagem perceptível e constituída, com ou sem cor, mas com relevo e
perspectivas que promovem a visualização de planos visíveis(ilustração 25 e26).
Quando se conjuga tudo/nada, é quase sempre: tudo ou nada. São opostos
muito extremos. Antes tudo do que nada? É uma situação limite de escolha.Tudo é
confuso quando nada compreendo. dependência. O tudo e o nada. Ligados pelos
pêndulos da balança poética, encontra-se equilíbrio entre os opostos. Não se anulam,
não se corrompem, propõem, vão além, tentam. O que os olhos podem ver? Um
pouco de tudo...quase nada.
115
Ilustração 25
Gravura a seco - modo tradicional - matriz extração – 2007
66 x 47 cm
116
Ilustração 26
Gravura digital - modo tecnológico - matriz colagem – 2007
21 x 30 cm
117
118
A sobreposição de planos visíveis
Mesmo que você fuja de mim, por labirintos e
alçapões, saiba que os poetas como os cegos, podem ver na escuridão.
Edu Lobo e Chico Buarque – Choro bandido.
Ao visualizar a trajetória da pesquisa, percebo que havia um objetivo inicial,
uma idéia, um motivo, a sobreposição de planos visíveis. Os Conceitos alicerçaram-se
e a poética iluminou o caminho a ser trilhado. A todo momento, no decorrer desta
trajetória, voltava o olhar para o estopim, para o motivo da busca, e sempre consegui
avistá-lo.
No primeiro olhar, a idéia de sobreposição de planos visíveis estava lá, no
inicio da pesquisa, como motivo que me acompanhou durante a pesquisa em
tentativas seqüenciais, sendo adaptadas de formas variadas, e muitas vezes perdidas
entre as possibilidades de apreensão.
A grosso modo, a intenção de sobreposição de planos visíveis era plástica,
visual. perceptiva. E somente dessa forma eu percebia que poderia expressar esse
intento.
Eu procurava uma visualidade plástica para uma proposição recorrente,
uma possibilidade visual, uma alternativa de transposição da realidade, uma
alternativa plástica, um motivo. E acreditava que alcançado meu objetivo, partiria para
outras conquistas. Percebi que o que tentava materializar não era o que eu não
conseguia ver – o se consegue visualizar os planos sobrepostos de um objeto
regularmente – mas, eu tentava materializar o meu modo de criar.
Com a inquietação, e durante quase todo o percurso, motivada por ela, fui
sobrepondo considerações, reflexões, fazeres, buscas, incertezas. E a cada avanço,
aumentava o peso da bagagem. Uma informação sobrepunha-se às outras que ainda
eram consideradas, e a todo tempo, era possível retomar. Então sobrepunham-se
considerações vazias com algumas referenciadas, e refletia, considerava, Analisava,
119
Apagava tudo, rasgava, começava de novo, anotava. Formava-se uma sobreposição
de informações em que todas se tornavam visíveis e era possível se concluir a obra.
Sobrepus idéias para materializar pensamentos, visualizando antigas e
novas possibilidades de fazer e pensar.
A idéia de sobreposição de planos visíveis propiciou minha aproximação
com a matéria transparente, o que levou a questionamentos poéticos acerca do objeto/
matriz, apreendido como imaterial. Imaterial como o pensamento, como as idéias.
120
Ilustração 27 – Passos caídos - 2007
Gravura digital
21 x 30cm
121
Considerações Finais
o processo de criação contribui para o processo de auto-conhecimento.
Sérgio Penna
Ao refletir acerca do objeto desta pesquisa, percebo que uma intenção
camuflada foi a de mostrar os caminhos percorridos pelo pensamento quando
absorve-se na obra. A criação percorre uma rede de possibilidades costurada pela
memória e pela vontade de subversão. Aliada às possibilidades oferecidas pela
proximidade de novos produtos ou tecnologias, a criação torna-se um processo de
sobreposições que se imortaliza no pensamento, e se concretiza na obra.
Avizinhar-se desse pensamento é tarefa cansativa, pois, incansável, ele
trafega pela rede de possibilidades velozmente, e desdenha as metas atingidas.
Identificar o combustível desse pensamento é quase impossível. Podem ser viagens,
conversas, filmes, livros, imagens...
O foco mantido na idéia de sobreposição de planos visíveis auxiliou a
seleção dos pensamentos que interessavam à proposta inicial desta pesquisa, e por
conseqüência, ao processo de criação. Quando busquei, durante o percurso,
referências relativas a esse foco, não foi com a intenção de coordenar um processo de
criação, nem justificar um trajeto ou obra, mas promover a seleção dos pensamentos
que me interessavam naquele momento. Não que os outros foram descartados,
apenas eles não compõem esta pesquisa, isto é, o processo de criação que trata da
idéia de sobreposição de planos visíveis.
O projeto poético apoiou-se em várias questões à medida que a obra
caminhava. A apreensão do plástico como imaterial estava ligado à idéia de sua
presença ser nada/nulo, e a idéia de nada, de não– presença, tem raízes na memória
visual de cada pessoa.
122
Tratei de questões opostas. Foi um acontecimento percebido no processo
de criação, um trajeto que começou com objetos/matrizes, passou pelas técnicas
opostas usadas para desenvolver um pensamento, e com objetos, chegou até a
poética do tudo e do nada.
De grande auxílio neste estudo foi a elaboração do diário de ateliê. Quando comecei a
refletir a respeito do processo de criação, percebi as dúvidas e as tormentas que me
acompanharam durante a construção desta pesquisa. Metodologicamente, o diário é
uma referência, e me ajudou na construção da poética, oferecendo pistas preciosas
acerca de por onde andava o pensamento.
As reflexões relativas à gravura não se limitam às técnicas tradicionais e
tecnológicas apresentadas nesta pesquisa. A gravura possibilitou todo o processo, até
mesmo as reflexões poéticas (anexo 1). Os modos de fazer gravura ajudaram a
transpor o plástico, ver além de sua imatéria. A gravura propiciou a visualização do
processo para além da moldagem do plástico. Tudo girou em torno dos modos de
fazer, de compreender e das possibilidades que a gravura oferece. As reflexões e os
fazeres em gravura foram o eixo desta pesquisa em poéticas da criação, e ajudaram a
moldar o pensamento acerca da obra. Contribuíram para essas reflexões e modos de
entender gravura o trabalho da artista Regina Silveira, a posição e a visão
contemporânea do Prof. José César Clímaco, a pesquisa dos colegas mestrandos na
disciplina “Processos Contemporâneos de Produção de Imagens Visuais”, as trocas de
experiências no ateliê, a pesquisa da Profa. Beatriz Rauscher, em xero/xilogravuras,
as apresentações em seminários e congressos que possibilitaram a discussão do
tema, quando foram apresentados artigos que tratavam dos rumos da pesquisa em
gravura.
Outra grande contribuição para desenvolvimento das reflexões desta
investigação foi a exposição do grupo de gravura que advém do mestrado, na Galeria
Marina Potrich, em Goiânia-Goiás.Com base na mesma fonte (gravura), pôde-se
observar, na exposição, os vários caminhos tomados pelos integrantes no decorrer de
suas pesquisas, momento em que a troca com outros artistas fortaleceu a
compreensão dos conceitos desenvolvidos. A percepção acerca de algumas
123
características e conceitos da obra, era apreendida também por outras pessoas, e
essa constatação foi muito gratificante.
Com a sobreposição de planos visíveis, e a matéria escolhida, pode-se
avaliar que os modos opostos de fazer gravura (tradicional e tecnológico) não se
anulam nem tencionam. Não se trata de uma evolução porque utilizei modos
tradicionais e depois passeia usar uma tecnologia mais avançada para imprimir
imagens. Trata-se de modos diferentes de conquistar um mesmo objetivo, e os dois
modos são satisfatórios naquilo a que se propõem. Os resultados têm características
diferentes, originárias de seus modos de fabricação, mas são igualadas pela poética
que transita entre esses modos.
A obra constitui-se também das influências recebidas pelo artista no
decorrer de sua vida, e não só durante o percurso de execução/ criação da obra.Os
modos de produção não se anulam, nem os opostos, e os conceitos podem ser
estendidos e contaminados. O processo de criação e a obra guardam segredos que
nem mesmo o artista consegue, às vezes, perceber. E o mais importante: A obra é o
processo.
124
Ilustração 28
Página de diário de artista
125
Referências Bibliográficas
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Arte e vida no século XXI tecnologia, ciência e criatividade. São Paulo: Editora
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Ed. Horizonte,2006.
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2005.Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Artes
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MORAES, Sérgio Penna de. Gravuras com uso de computação gráfica: Um
processo pessoal de criação, auto-conhecimento e transformação,2007
Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Artes Visuais
– FAV, Goiânia.
PEREIRA, Nancy de Melo Batista. A gravura como poética atual e alguns
paradigmas de uma velha tecnologia: Uma produção de gravura em metal,2006
Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Artes Visuais
– FAV, Goiânia.
Catálogos:
FONTANA, Lúcio. A ótica do invisível – Catálogo de exposição, Centro Cultural
Banco do Brasil, São Paulo . 2002
SILVEIRA,Regina. Claraluz Catálogo de exposição, Centro Cultural Banco do Brasil
. São Paulo, 2003
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em:< www.itaucultural.org.com.br >. Acesso em março. 2006
2) Entrevista concedida em Nov. de 2007 entre perspectivas e projeções - Regina
Silveira- Por Mário Aurélio Fiochi. Disponível em :
< www.itaucultural.org.com.br/index.cfm?cd_pagina=2720&cd_materia=252 >. Acesso
em Jan. 2008
127
3)Entrevista concedida em Jun. de 2002 à revista E do Serviço social de Comércio de
São Paulo (Sescsp), sobre sua convivência com Clarisse Lispector.Disponível em:
<http://www.sescsp.org.com.br/sesc/revistas_sesc/> acesso em Jan. 2008
4) SILVEIRA, Regina.Armadilhas do espaço, Disponível em:
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Bibliografia
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ZAMBONI, Sílvio.A pesquisa em arte – um paralelo entre arte e ciência. Campinas,
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129
Anexo 1
Plástico
Gravura
Procedimentos
Tecnológico
Planos
sobrepostos
Procedimentos
Tradicionais
Fazeres
Reflexões
130
Anexo 2
Ilustrações gravadas
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