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TEREZINHA DE MATTOS
Componentes espaciais, sociais e culturais em
fotografias de Cuiabá (MT), na década de 1920:
subsídios para a leitura documental de imagens
Marília
2008
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TEREZINHA DE MATTOS
Componentes espaciais, sociais e culturais em
fotografias de Cuiabá (MT), na década de 1920:
subsídios para a leitura documental de imagens.
Dissertação
apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Informação
da
Faculdade de Filosofia e Ciências da
Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho
UNESP,
Campus
de Marília,
com vistas à obtenção do título de mestre em
Ciência da Informação.
Orientador:
Prof. Dr. Sidney Barbosa
Linha de pesquisa: Organiz
ação da Informação
Marília
2008
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Mattos, Terezinha de.
Componentes espaciais, sociais e
culturais em fotografias de Cuiabá (MT)
na década de 1920
: subsídios para
a
leitura documental de imagens /
Terezi
nha de Mattos.
2008.
1
58
f. : il.
Diss
ertação (Mestrado em Ciência da
Informação)
Faculdade de Filosofia e
Ciências,
Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho,
Marilia,
2008.
Orientador: Prof. Dr. Sidney Barbosa.
1.
Imagens fotográficas. 2. Memória. 3.
Análise documen
tal. 4. Cu
iabá (MT). 5. Conteúdo
informacional
. 6. Organização da informação. I.
Título.
Componentes espaciais, sociais e culturais em
fotografias de Cuiabá (MT), na década de 1920:
subsídios para a leitura documental de imagens.
Dissertação
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência
da Informação
da
Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
UNESP,
Campus
de
Marília, com vistas à obtenção do título de mestre em Ciência da
Informação.
Marília,
18
de
setembro
de 2008.
BANCA EXAMINADORA
--------------------------------------------------------
Prof. Dr. Sidney Barbosa (UNESP), Presidente
---------------------------------------------------------
Profa. Dra. Zélia Lopes da Silva
-----------------------------------------------------------
Profa. Dra. Telma Campanha de
Carvalho Madio
AGRADECIMENTOS
Às colegas e amigas do CEFET-
MT
Dálete e Mônica pelos
paciente
s e incansáveis auxílios
na informática; Amarília, Gláucia, Ivone, Lina Márcia, Lúcia Rosa e Socorro professoras do
Curso de Secretariado, do qual faço parte, pelo incentivo e por terem concordado com meu
afastamento
para a realização do
mestrado
. Muito especialmente Amarília e Ivone
pelas
muitas acolhidas nos momentos difíceis. À Tetê Pinheiro pela maravilhosa leitura de uma
das fotografias.
Ao prof. Henrique do Carmo Barros, Diretor do CEFET-
MT
, que não mediu esforços para
viabilizar meu afastamento para a realização do mestrado.
Ao amigo Rosemar, sempre de prontidão com seus textos e livros salvadores e à Suzi, amiga
querida,
pela amizade sincera e pelo ombro amigo
nos momentos de
tristeza e aflição.
À
Luz
ia,
cujo apoio foi fundamental para a conclusão deste trabalho e ao Mauro pelas várias
leituras
e sugestões.
À
Aldinar
, vizinha e amiga
maranhense
em Marília, sempre de bem com a vida,
cujo
companheirismo e solidarieda
de
muito
me
animaram e ao
André
,
meu querido amigo
Marilense
cujas palavras me incentivaram e me alimentaram espiritualmente.
Às professoras Dras. Zélia Lopes da Silva e Helen de Castro Silva, componentes da Banca de
Qualificação, pelas relevantes sugestõ
es ao trabalho.
Às professoras
Dras.
Telma Campanha de Carvalho Madio e
Zélia Lopes da Silva
e por terem
aceitado compor a banca para defesa do trabalho.
Ao
meu amor Paulo Márcio, com quem partilhei muitas angústias e muitas alegrias
nesta
caminhada.
Finalmente à Lucia, amiga
querida
de muitos anos e ao Sidney
,
orientador deste trabalho
:
Ela
,
por ter plantado a sementezinha de incentivo. Ele, por tê-la regado e
adubado
com o seu
conhecimento e apoio.
Quem poderia guiar-
me?
Desde o primeiro passo, o da classificação
preciso classificar, agrupar, se quisermos
constituir um
corpus),
a fotografia esquiva
-
se.
(
Barthes
, 1984, p
. 12
).
RESUMO
O objetivo desta pesquisa é o de analisar imagens fotográficas da cidade de Cuiabá (MT) da
década de 1920.
Procedemos
essa
análise com o propósito de se efetuar a leitura, a
identificação e a representa
ção
, por meio da elaboração de resumo e da geração de
descritores, para permitir a recuperação dos conteúdos informacionais, referentes ao contexto
sócio
-histórico e cultural da cidade, subjacentes nas imagens. Pro
cedemos
à análise de vinte
fotografias
, agrupadas em seus núcleos temáticos que abra
nge
m os monumentos
arquitetônicos, os espaços públicos e privados, os retratos de família, os meios de transportes,
o vestuário e o lazer. Dentre os resultados alcançados estão, além das discussões teóricas
propiciadas pela revisão bibliográfica, a apresentação das análises demonstrando as
possibilidades
de procedimento, tanto em relação à elaboração de textos-resumos a partir de
leituras das imagens, quanto à apresentação de descritores denotativos e conotativos que
repres
entam o conteúdo imagético. Visamos, com isso, contribuir com a preservação da
memória social local, bem como com a área da Ciência da Informação, mais especificamente
com o tratamento da informação, na medida em que se
realiza
uma abordagem e uma
proposição
de procedimentos metodológicos capazes de colaborar com o tratamento
informacional de acervos fotográficos.
Palavras
-
chave:
Imagens fotográficas. Memória. Análise documental. Cuiabá (MT).
Conteúdo informacional.
Organização da informação.
ABSTRACT
The aim of this research is to analyse photographs from the city of Cuiabá in the 1920´s.
The
proposal of this analysis is based on readings, identifying and representing, by means of
summarizing and describing so that informative content related to the socio-historical and
cultural context of the city can be recuperated using underlying images. The analysis was
carried out using twenty photographs grouped into different thematic sets which range from
the architectural monuments, public and private spaces, family portraits, means of
transport
ation
, fashion and leisure.
Among
the results obtained, and theoretical discussions
provided by the bibliography, are analyses which show the possibilities of procedure both in
relation to summarized texts from readings of the images, as well as denotative and
connotative descriptions which represent the content of the images. Taking this into account,
this work can contribute to the conservation of local social memories, as well as Information
Science
, more specifically dealing with information in terms of carrying out an approach
and
a proposal of methodological procedures, which can help with dealing with information and
photograph collections
.
Key words: Photographs, Memory, Documental analysis, Cuiabá (M
T),
informative content,
Organisation of information.
LISTA DAS
FOTOGRAFIAS
Fotografia 1
Construção da Igreja do Bom Despacho..........................................
55
Fotografia 2
Vista das casas cuiabanas .................................................................
60
Fotografia 3
Chafariz do
Mundeo
...........................................................................
65
Fotografia 4
Chafariz do Mundéu restaurado......................................................
66
Fotografia 5
Antigo Liceu Cuiabano...................................
...................................
70
Fotografia 6
Praça da República, década de 1920................................................
76
Fotografia 7
Vista da região central da cidade de Cuiabá...................................
80
Fotografia 8
Repa
rtições públicas municipais.......................................................
84
Fotografia 9
A elite cuiabana em dia de f
esta
.....................
.............
......................
90
Fotografia 10 Festa do Senhor Divino.........................
.............................................
96
Fotografia 11
Os
capinhas
nas touradas..............................................................
10
1
Fotografia 12
Barcos ancorados no Rio Cuiabá......................................................
108
Fotografia 13
Automóvel no Largo do
Mundeo
.......................................................
11
3
Fotografia 14
Transporte de cana de açúcar...........................................................
11
8
Fotografia 15
A criança...................
..........................................................................
12
4
Fotografia 16
Família Rodrigues..............................................................................
12
8
Fotografia 17
Mãe e Filhos na Praça Alencastro...............
.....................................
13
3
Fotografia 18
A moda dos anos de 1920..................................................................
13
8
Fotografia 19
Elegância em 1927.........................................................................
.....
14
2
Fotografia 20
Elegância e sensualidade no Cais do Porto......................................
14
6
LISTA DOS
QUADROS
Quadro 1
-
Elementos descritivos da fotografia 1.........................................................
55
Quadro 2
-
Descritores denotativos e conotativos de conteúdo da fotografia 1.........
56
Quadro 3
-
Elementos descritivos
da fotografia 2.........................................................
60
Quadro 4
-
Descritores denotativos e conotativos de conteúdo da fotografia 2.........
61
Quadro 5
-
Elementos descritivos da fotografia 3.........................................
................
65
Quadro 6
-
Elementos descritivos da fotografia 4.........................................................
66
Quadro 7
-
Descritores denotativos e conotativos de conteúdo das fotografias 3 e 4
67
Quadro 8
-
Elementos descritivos da fo
tografia 5........................................................
.
70
Quadro 9
-
Descritores denotativos e conotativos de conteúdo da fotografia 5........
.
71
Quadro 10
-
Elementos descritivos da fotografia 6.............................................
..........
.
76
Quadro 11
-
Descritores denotativos e conotativos de conteúdo da fotografia 6.......
..
77
Quadro 12
-
Elementos descritivos da fotografia 7.......................................................
..
80
Quadro 13
-
Descritores denotativos e
conotativos de conteúdo da fotografia 7....
.
....
81
Quadro 14
-
Elementos descritivos da fotografia 8.......................................................
..
84
Quadro 15
-
Descritores denotativos e conotativos de conteúdo da fotografia 8.......
..
85
Q
uadro 16
-
Elementos descritivos da fotografia 9......................................................
..
90
Quadro 17
-
Descritores denotativos e conotativos de conteúdo da fotografia 9......
..
92
Quadro 18
-
Elementos descritivos da fotografia 10.......
.............................................
..
96
Quadro 19
-
Descritores denotativos e conotativos de conteúdo da fotografia 10....
..
98
Quadro 20
-
Elementos descritivos da fotografia 11...................................................
.
..
10
1
Quadr
o 21
-
Descritores denotativos e conotativos de conteúdo da fotografia 11...
.
..
10
2
Quadro 22
-
Elementos descritivos da fotografia 12..................................................
.
..
10
8
Quadro 23
-
Descritores denotativos e conotativos de conteúdo
da fotografia 12...
..
11
0
Quadro 24
-
Elementos descritivos da fotografia 13..................................................
.
..
11
3
Quadro 25
-
Descritores denotativos e conotativos de conteúdo da fotografia 13...
..
11
4
Quadro 26
-
Elementos descritiv
os da fotografia 14..................................................
.
..
11
8
Quadro 27
-
Descritores denotativos e conotativos de conteúdo da fotografia 14..
.
..
12
0
Quadro 28
-
Elementos descritivos da fotografia 15.......................................
..........
.
..
.
12
4
Quadro 29
-
Descritores denotativos e conotativos de conteúdo da fotografia 15..
.
..
12
5
Quadro 30
-
Elementos descritivos da fotografia 16..................................................
...
12
8
Quadro 31
-
Descritores denotativos e
conotativos de conteúdo da fotografia 16..
...
1
29
Quadro 32
-
Elementos descritivos da fotografia 17.................................................
.
..
.
13
3
Quadro 33
-
Descritores denotativos e conotativos de conteúdo da fotografia 17..
...
13
4
Quadro
34
-
Elementos descritivos da fotografia 18..................................................
..
13
8
Quadro 35
-
Descritores denotativos e conotativos de conteúdo da fotografia 18..
...
1
39
Quadro 36
-
Elementos descritivos da fotografia 19................
.................................
...
14
2
Quadro 37
-
Descritores denotativos e conotativos de conteúdo da fotografia 19..
..
14
3
Quadro 38
-
Elementos descritivos da fotografia 20.................................................
...
14
6
Quadro 39
-
Descri
tores denotativos e conotativos de conteúdo da fotografia 20..
...
14
7
SUMÁRIO
1
1.1
1.2
1.3
1.4
INTRODUÇÃO............................................................................................
Objetivos.......................................................................................................
Relevância da
pesquisa................................................................................
Percurso metodológico................................................................................
Estrutura geral da dissertação
..................................
.................................
12
13
14
18
22
2 O ESTUDO DA IMAGEM E O CAMPO DA CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO..........................................................................................
23
2.1
Imagem e informação.................................................................................
23
2.2
Algumas particularidades no estudo da imagem..............
..
..
....................
28
2.3
A leitura da imagem e de seu contexto......................................................
32
3
3.1
3.2
3.3
A CIDADE DE CUIABÁ DA DÉCADA DE 1920 NO CONTEXTO
HISTÓRICO BRASILEIRO....
................................................................
.
O processo de mudança no Brasil..............................................................
O Estado de Mato Gr
osso no contexto de mudanças modernizadoras..
..
O cenário de fotografia em Cuiabá na década de 1920............................
37
37
39
42
4
ANÁLISE DO
CORPUS
IMAGÉTICO........
..
..........................................
49
4.1
4.1.1
4.1.1.1
4.1.1.1.1
4.1.1.1.2
4.1.1.1.3
4.1.1.1.4
4.1.
1
.2
4.1.
1.2.1
4.1.
1.2.2
4.1.1.2.3
4.1.1.2.4
4.1.1.3
4.1.
1.3.1
4.1.1.3.2
4.1.1
.
3.3
4.
1.1.3.4
4.
1.1.3.5
4.1.1.4
4.1.1
.4.1
4.
1
.1.
4.2
4.
1
.1.
4.3
4.
1.1.4.4
4.1.1.5
4
.1
.2
4.1.2.
1
4.1.2.1.1
4.
1
.2.
1.2
4.1.2.
1.
3
4.1.2.1.4
4.1.2.2
4.
1.2.2.1
As
pectos da vida pública ..........
....................
.................................
Os monumentos e as edificações
......................................................
A
construção da Igreja do Bom Despacho em cena.................................
Descrição da fotografia 1..............................................................................
R
esumo da
Fotografia 1: A
construção da Igreja do Bom Despacho...........
Descritores de conteúdo da fotografia 1
.......................................................
Bibliografia.......
.................................
...........................................................
Vista das casas cuiabanas...........................................................................
Descrição da fotografia 2.....................................
.....
.
...................................
Resumo da
Fotografia 2: Vista da região central de Cuiabá........................
Descritores de conteúdo da fotografia 2.......................................................
Bibliografia
.........................
..........................................................................
O chafariz do
M
undeo.
.........................
.
.....................................................
Descrição da fotografia 3
....................
.........
.........................
......................
Descrição da fotografia 4 ............................................................................
Resumo da
Fotografia 3 e 4: Chafariz do
Mundeo
......................................
Descritores de conteúdo das fotografias 3 e 4
.....................
........................
Bibliografia .................................................................................................
Antigo Liceu Cuiabano.............................................................................
Descrição da fotografia 5............................................................................
Resumo da
Fotografia 5: antigo Liceu Cuiabano................................
.
.......
Descritores de conteúdo da fotografia 5.............................
.................
.
.......
Bibliografia
.................................................................................................
Co
mentário sobre as fotografias
Monumentos
e edificações
...................
.
Os
espaço
s
público
s
.......................
............................
.............
...........
....
A Praça da República..............................................................................
..
Descrição da fotografia 6.........................................................................
.....
Resumo da fotografia 6: Praça da República.............................................
..
Descritores de conteúdo da fotografia 6...
...............................................
.....
Bibliografia...................................................
..
............................................
..
Vista da região central da cidade de Cuiabá.........................................
....
Descrição da fotografia 7...........................................................................
...
51
51
52
55
56
56
57
58
60
61
61
62
63
65
66
67
67
67
68
70
71
71
72
72
73
73
76
77
77
78
79
80
4.1.2.2.2
4.1.2.2.3
4.1.2.2.4
4.1.2.
3
4.1.2.
3.1
4.1.2.
3.2
4.1.2.3
.3
4.1.2.
3.4
4.1.2.
4
4.1.3
4.1.3.1
4.1.3.1.1
4.1.3.1.2
4.1.3.1.3
4.1.3.1.4
4.1.3.
2
4
.1.3.2.1
4.
1.3
.2.2
4.
1.3.2.
3
4.1.3.2.4
4.1.3.3
4.
1
.3.
3.
1
4.
1
.3.
3.
2
4.
1
.3.3.3
4.1.3.3.4
4.1
.
3.
4
4.1.
4
4.1.4.1
4.1.4.1.1
4.1.4.1.2
4.1.4.1.3
4.1.4.1.4
4.1.4.2
4.1.4.2.1
4.1.4.2.2
4.1.4.2.3
4.1.4.2.4
4.
1.
4.3
4.1.4.3.1
4.1.4.3.
2
4.1.4.3.3
4.1.4.3.4
4.1.4.4
4.
2
4.
2
.1
4.2.1.1
4.2.1.1.1
4.
2
.1.
1.2
4.2.1.1.3
4.2.1.1.4
Resumo da
Fotogr
afia 7: Vista da região central da cidade de Cuiabá.......
...
Descritores de conteúdo da fotografia 7.
........................................................
Bibliografia
...........................................................
..........................
................
As repartições públicas...................................
..........
...................................
Descrição da fotografia 8..............................
..
...............................................
Resumo da
Fotografia 8: Repart
ições públicas municipais............
.
..............
Descritores de conteúdo da fotografia 8...
.....................................................
Bibliografia..............................................
................................................
.....
Comentários sobre as fotografias
os espaços públicos.....
..............
............
Lazer.
.......................
...............
.............................
.
...................
A elite cuiabana em dia de festa...............................
.
........
.........................
Descrição da fotografia
9
......................................................
........................
Resumo da
Fotografia
9
: A elite cuiabana em dia de festa.
..
........................
Descritores de conteúdo da fotografia
9
...
.........................
..
..........................
Bibliografia ...................................................................................................
Festa do Senhor Divino...................................................................
............
Descrição da fotografia
10
.............................................................................
Resumo da
Fotografia 1
0
: Festa do Senhor Divino..............
..........
...............
Descritores de conteúdo da fotografia 1
0
............
..........................................
Bibliografia
....................................................................................................
Os
capinhas
nas touradas............................
....
............................................
Descrição da fotografia
11
.............................................................................
Resumo da Fotografia
11
: Os capinhas nas touradas.....................................
Descritores de conteúdo da fotografia
11
........................
..............................
Bibliografia
....................................................................................................
Comentário sobre as fotografias de
lazer
...................................................
Meios de transporte.
....................................................................
Os barcos no Rio Cuiabá..............................................................................
Descrição da fotografia 12...........................................................
...................
Resumo da
Fotografia 12: Barcos ancorados no Rio Cuiabá..............
....
.......
Descritores de conteúdo da fotografia 12.......................................................
Bibliografia
...............................................
......................................................
Automóvel no
Largo do Mundeo
..........
.......
.................................................
Descrição da fotografia 13..............................................................................
R
esumo da
Fotografia 13: automóvel no Largo do Mundéu..........................
Descritores de conteúdo da fotografia 13.......................................................
Bibliografia
.....................................................................
................................
Transporte de cana-
de
-
açúcar.....................................................................
Descrição da fotografia 14..............................................................................
Resumo da
Fotografia
14: transporte de cana
-
de
-
açúcar................................
Descritores de conteúdo da fotografia 14.......................................................
Bibliografia
..................................................................................
...................
Comentário sobre as fotografias de
meios de transporte
...........................
Aspectos da vida privada
Retratos de família.........
......
........................................................
Crianças
..............................
.............................
..............................................
Descrição da fotografia
15
..............................................................................
Resumo da
Fotografia
15
: Garotinha sentada.................................
...............
Descritores de conteúdo da fotografia
15
.......................................................
Bibliografia
......................................................................................................
81
81
81
82
84
85
85
86
86
87
87
90
91
92
92
93
96
97
98
98
99
101
102
102
103
103
104
104
108
109
110
110
111
113
114
114
115
116
118
119
120
120
120
121
122
122
124
125
125
125
4.2.1.2
4.2.1.2.1
4.2.1.2.2
4.2.1.2.3
4.2.1.
2.4
4.2.1.3
4.2.1.
3.1
4.2.1.3.2
4.2.1.3.3
4.2.1.3.4
4.2.1.4
4.2.2
4.2.2.1
4.2.2.1.1
4.2.2.1.2
4.2.2.1.3
4.2.2.1.4
4.2.2.2
4.2.2.2.1
4.2.2.2.2
4.2.2.2.3
4.2.2.2.4
4.2.2.3
4.2.2.3.1
4.2.2.3.2
4.2.2.3.3
4.2.2.3.4
4.2.2.4
5
Família Rodrigues............
.............................................................................
Descrição da fotografia
16
..............................................................................
Resumo da
Fotografia 1
6: Família Rodrigues......................
..........................
Descritores de conteúdo da fotografia 1
6
..................................
....
.................
Bibliografia
.....................................................................................................
Mãe e filhos na Praça Alenca
stro................................................................
Descrição da fotografia 1
7
..............................................................................
Resumo da
Fotografia 1
7
: Mãe e filhos na Praça Alencastro.........................
Descritores de conteúdo da fotografia 1
7
........................
....
............................
Bibliografia
......................................................................................................
Comentário sobre as fotografias
retratos de
família
..........................
......
..
Vestuário
..................................................................................................
...
A moda dos anos 1920................................................................................
..
Descrição da fotografia 1
8
..............................................................................
Resumo da
Fotografia 1
8: A moda dos anos de 1920..............................
......
Descritores de conteúdo da fotografia 1
8
....................
.
....
..............................
Bibliografia
.....................................................................................................
Elegância em 1927.......................................................................................
Descri
ção da fotografia 1
9
.............................................................................
Resumo da
Fotografia 1
9: Elegância em 1927...............................
................
Descritores de conteúdo da fotografia 1
9
............................
................
.
..........
Bibliografia
.....................................................................................................
Elegância e sensualidade no
Cais do Porto
...............................................
.
Descrição da fotografia
20
.............................................................................
Resumo da
Fotografia
20
: Elegância e sensualidade no Cais do Porto......
.
..
Descritores de conteúdo da fotografia
20
.....................................
...
...............
Bibl
iografia
.....................................................................................................
Comentário sobre as fotografias
vestuário
..............................
............
.......
CONSIDERAÇÕES FINAIS
...................................
...................................
REFERÊNCIAS
..........................................................................................
126
128
129
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146
14
7
147
148
148
149
154
1 INTRODUÇÃO
A imagem não revela somente aquilo que de
fato é, mas também tudo aquilo que falta.
Lacan
Presencia
-se, atualmente, em diferentes campos do saber, uma explosão de
discursos disseminados por meio de todo tipo de registros imagéticos. V
alorizados
cientificamente, esses passaram a ocupar, ao lado de textos literários e depoimentos orais,
lugar de destaque nas pesquisas e nas reflexões.
Nessas condições, tais registros vêm se constituindo em valiosos instrumentos de
pesquisa e estudo nos mais diversos campos do conhecimento como a arte, a sociologia, a
ciência da informação, a lingüística, a literatura e a história, dentre outros tantos. Isso se deve
ao fato de as imagens apresentarem importantes evidências históricas, uma vez que estão
ca
rregadas de sentidos e significados que podem se apresentar de forma denotativa e
conotativa, portanto, passíveis de fornecerem elementos que suscitem análises e
interpretações de seus conteúdos informacionais.
Agustín Lacruz (2006), por exemplo, em sua publicação intitulada
Análisis
documental de contenido del retrato pictórico alude ao fato de a imagem, como documento
visual, conter informações tanto do sujeito retratado como da sociedade em que ele está
inserido (p.
79).
Reforçando essa idéia, Frehse (20
05), entende que:
A fotografia constitui, além de relevante instrumento de pesquisa,
documento e veículo de representações privilegiado para a compreensão da
vida social. Como imagem que é, vale para a fotografia o que vale para a
imagem de maneira geral: esta fornece indicações sobre a realidade que
retrata e sobre o olhar daquele que a produziu. Isso para não falar dos
aspectos ligados à sua produção, sua circulação e seu consumo, e das
interações sociais que, envolvidas em cada um desses processos, o
essenciais produtoras de sentido (p. 185).
A partir dessa valorização do registro imagético, no âmbito da Ciência da
Informação, intensificaram-se os estudos a fim de se aprofundar as pesquisas teórico-
13
metodológicas que atribuem importância ao texto visual, de cunho histórico e informacional
relevantes, como forma de comunicação e como fonte de informação.
Nessa perspectiva, a Ciência da Informação, área eminentemente interdisciplinar,
ao interagir com outros campos do conhecimento, abre-se a novos paradigmas e abordagens,
inclusive na medida em que procura enfatizar aspectos pouco explorados no que se refere ao
tratamento da informação de registros imagéticos. Partindo
-
se desse pressuposto, a Ciência da
Informação discute com outras ciências que possuem fundamentos teóricos importantes
(FUJITA, CERVANTES, 2005) evidenciando-se, dessa forma, como uma ciência mediadora
de informações e conhecimentos.
1.1 Objetivos
Com base nesses aspectos, o objetivo geral deste trabalho de mestrado no âmbito
do Programa em Ciência da Informação
na linha da Organização da Informação da FFC da
UNESP, C
ampus
de Marília
é o de analisar imagens fotográficas da cidade de Cuiabá (MT)
da década de 1920, com o propósito de identificar, representar e recuperar conteúdos
info
rmacionais do contexto sócio-histórico e cultural daquela cidade, subjacentes nessas
imagens. Dessa forma, visa
mos
contribuir com a preservação da memória social local, bem
como
com a área da Ciência da Informação, mais especificamente com o tratamento da
informação,
na medida em que se propõe uma abordagem informacional de acervos
fotográficos
.
Para que seja possível atingir essa meta, julgou-se necessário estabelecer alguns
obj
etivos específicos que permearão todo o desenvolvimento do presente trabalho. Q
uais
sejam:
a) Selecionar e caracterizar um conjunto de fotografias de Cuiabá da década de
1920
, que possa fornecer elementos referentes aos componentes espaciais,
sociais e culturais da época em questão;
b) interpretar as imagens fotográficas, com a int
enção de recuperar informações do
contexto histórico e sociocultural em que foram geradas, registradas e
divulgadas;
c) identificar elementos que possam contribuir para análise, interpretação,
representação e recuperação de conteúdos que melhor caracterizem as imag
ens
selecionadas;
14
d) desenvolver procedimentos capazes de colaborar metodologicamente com a
Ciência da Informação no que se refere à abordagem da fotografia como objeto
para tratamento da informação.
Para que possa
mos
alcançar tais objetivos a busca por um referencial teórico e
metodológico consistente, necessário para dar suporte à pesquisa, foi de fundamental
importância nesse percurso. Nesse sentido, procur
amos
por meio de uma ampla leitura dos
autores pertinentes aos assuntos explorados, selecionar aqueles nos quais
identificamos
contribuições teóricas mais adequadas aos propósitos desta jornada investigativa.
No campo da Ciência da Informação é oportuno citar as importantes contribuições
teóricas de autores como Smit (1989 e 1996) e Boccato e Fujita (2006) com relação à
organização da informação de imagens.
Lembramos também
de
Fujita, Nardi e Santos (1998)
e Fujita, Nardi e Fagundes (2003) com relação à análise documental e representação do
conhecimento de modo geral, cujas produções científicas vêm enriquecendo sobremaneira
esse campo do conhecimento. Cabe enfatizar, entretanto, que além dessas pesquisadoras,
busc
amos
também o suporte teórico de importantes autores que vêm se dedicando aos estudos
dos registros imagéticos. Tais estudos ref
erem
-se notadamente às diferentes possibilidades de
leitur
a, de análise e de interpretações do conteúdo informacional desse tipo de documen
to.
Dentre esses autores podemos citar Benjamin (1987), Barthes (1984), Manguel (2001), Burke
(2004) e Kossoy (2007),
dentre outros.
1.2 Relevância da pesquisa
Julgamos
necessário ressaltar que é possível encontrar em nossas unidades de
informação
inúmeras imagens fotográficas guardadas, porém não organizadas.
S
ão fotografias
acondicionadas sem nenhum tratamento adequado, seja do ponto de vista físico
organizacional, seja do conceitual ou de conteúdo. Esse cenário dificulta os processos de
busca e de recuperação de seus conteúdos pelos interessados. Por outro lado, s
abemos
da
dificuldade que se apresenta também, ao profissional da área da Ciência da Informação,
quando esse se depara com um
desses
conjunto
s de fotografias a ser
em
organizado
s
.
É
verdade que às vezes, constituem-se acervos formados por coleções fotográficas importantes,
guardados e conservados
adequadamen
te
. Porém, tais acervos apresentam-se sem nenhum
tratamento técnico. Isso ocorre em qualquer organização informacional, incluindo os acervos
15
institucionais, os de centros de pesquisa, os de arquivos públicos, os de bibliotecas e até
mesmo acervos de coleções particulares. Trata-se, geralmente, de uma parte pertencente a um
conjunto documental maior, composto por livros, jornais e revistas e outros que atraem
preferencialmente
a atenção e os cuidados por terem precedência na instituição e cuja
finalidade é a
tendida em primeiro lugar, conforme ressalta Agustín Lacruz (2006):
Sin embargo, la mayoría de los sistemas de almacenamiento y
procesamiento de información documental que las sociedades humanas han
creado a lo largo de su historia han potenciado la comunicación lingüística
más lógica, conceptual y abstracta
en detrimento de la icónica
mucho
más expresiva, emocional y concreta
(p. 17).
Isso a
co
ntece
em função do fato de, comumente, não se priorizar esse tipo de
documento,
ou seja, o documento ima
gético,
fazendo com que fiquem para serem tratados
numa outra ocasião . Vale lembrar que essa falta de prioridade no tratamento da informação
imagética, deve-se também ao fato de que as fotografias, em particular, com o passar do
tempo, tornam-se de difícil identificação, pois nem todas possuem sequer uma legenda
informativa pormenorizando sua localização no tempo e no espaço. No entanto, as
conseqüências da demora na organização dessa documentação, isto é, o não atendimento
imediato coloca em risco a própria integridade física em relação à conservação dos acervos
imagéticos
, para além dos riscos dos seus conteúdos
.
A importância dos registros imagéticos, do ponto de vista da história local, faz-
se
notar
também
pelo fato de que os registros textuais são encontrados com muito mais
freqüência quando comparados aos imagéticos. Nesse contexto, no que se tem pesquisado
sobre a história cultural da cidade de Cuiabá, historiadores e pesquisadores, de modo geral,
têm se preocupado em registrar os acontecimentos culturais e as produções literárias dessa
capital mato-grossense, desde a sua fundação, em 1719. Como exemplo disso é pertinente
citar a publicação de Rubens de Mendonça intitulada Aspectos da Literatura Matogrossense
(1980),
abordando pontos importantes das produções literárias do Estado, a de Lenine de
Campos Póvoas cuja pesquisa trouxe relevante contribuição com o livro História da Cultura
Matogrossense
(1982). Mais recentemente Yasmin Jamil Nadaf pesquisou os folhetins nos
jornais de Mato Grosso que resultou na obra, Rodapé das miscelâneas (2002) constituindo-
se
em um marco para os estudos culturais daquele Estado.
Devemos
observar, entretanto, que tais estudos constituem-se produções de
registros notadamente escritos da história do Estado e de sua capital.
No entanto,
encontramos
três importantes publicações que evidenciam as imagens como relevantes registros da
16
memória social local. São elas, o Álbum Gráphico de Matto Grosso publicado em 1914,
Um
olhar para a Cuiabá de Cláudio e Raimundo Bastos (1920-
1930)
, de autoria de Maria de
Lourdes Figueiredo Bastos da Silva Ramos publicado em 2002 e Cuiabá: de vila à metrópole
nascente
organizado pela historiadora Elizabeth Madureira Siqueira e seus colaboradores,
publicado em 2006. Ela é também a autora do excelente
livro
História de Mato Grosso: da
ancestralidade aos dias atuais
, de 2002.
Dessa forma, fica nítida a importância de se trazer também ao conhecimento da
comunidade o valor histórico dos registros imagéticos e sua relação com o desenvolvimento
cultural da cidade. Isto
acontece
porque a recuperação da memória cultural e social de uma
comunidade
, no nosso entendimento, se faz não somente por meio de registros de mensagens
escritas, mas, principalmente, dos imagéticos, dentre outros tipos.
Nessa perspectiva,
segundo Costa (2008):
As mensagens imagéticas de natureza e finalidades distintas permeiam
intensivamente o cotidiano das pessoas e indicam a importância que m os
discursos icônicos, como meio de transmissão de informação e cultura, e,
portanto, se ins
erem no contexto da sociedade da informação (p.
21).
Dentre essas mensagens imagéticas inclui-se a da imagem fotográfica, no nosso
caso, imagens fotográficas da cidade de Cuiabá, referentes à década de 1920. Percebe
mos
que, embora haja preocupação com a guarda e a conservação de obras de arte como a da
pintura e a da escultura, o cuidado com os registros e com a preservação de acervos
fotográficos é recente na história daquela cidade. É digno de louvor as iniciativas
desenvolvidas nesse sentido. A salvaguarda desses documentos pode ser considerada uma
questão fundamental em qualquer organização que veicule a informação, com repercussão na
comunidade. Devemos considerar, também, o fato de os dois tipos de documentação
registro escrito e registro visual
não serem excludentes, senão complementares, conforme
esclarece Agustín Lacruz (2006):
La situación ideal debería reconocer que el icónico y el lingüístico son, en
realidad dos tipos de pensamiento y dos formas de comunicación
complementarias y mútuamente
interdependient
es, perfectamente
compatibles en los actuales entornos multimedia de nuestros sistemas de
información (p.
18).
Nessa mesma linha de raciocínio, a argumentação de Joly (2003), estabelecendo a
relação entre imagem e texto, em Introdução à análise da imagem, vem ao encontro das
observações de Agustín Lacruz, no que se refere à interdependência entre linguagem verbal e
linguagem visual. Referindo-se aos seus diferentes sentidos, a autora procura demonstrar
17
como as imagens, portadoras de expressão e comunicação, veiculam suas mensagens. Ao
fazer uma análise metodológica de mensagens imagéticas, a autora alude à questão da
indivisibilidade entre a imagem e as palavras quando constata que a linguagem verbal
complementa a imagem (p. 116). E, enfatiz
a:
[...] é injusto achar que a imagem exclui a linguagem verbal, em primeiro
lugar porque a segunda quase sempre acompanha a primeira, na forma de
comentários, escritos ou orais, títulos, legendas, artigos de imprensa, bulas,
didascálias,
slogans,
convers
as, quase ao infinito (p. 116).
Nessa perspectiva, a preservação do documento imagético torna-se tão importante
quanto à dos outros registros documentais, conforme enfatiza Kossoy (2007): Qualquer que
seja a imagem, nela existe um inventário de informações acerca do tema principal (que é o
motivo da foto) e do seu entorno; trata
-se de informações explícitas e implícitas [...] (p.
50).
A respeito especificamente de fotografias, o mesmo autor esclarece:
Fotografia é memória enquanto registro da aparência dos cenários,
personagens, objetos, fatos; documentando vivos ou mortos, é sempre
memória daquele preciso tema, num dado instante de sua
existência/ocorrência (p. 131).
Podemos afirmar, então, que em se tratando de memória, as imagens fotográficas
estã
o carregadas de conteúdos informacionais que podem trazer importantes contribuições
para o conhecimento de um contexto cultural, político e social em determinado momento da
história e que, devido a isso, merecem tornar
-
se objeto de cuidados e de estudos.
A linha de pesquisa a que este trabalho está vinculado procura enfatizar, de modo
geral, o desenvolvimento de referenciais teóricos e metodológicos de análise, síntese,
condensação e representação do conteúdo informacional e para os produtos deles
decorren
tes
1
. Em particular, a linha também acolhe os estudos cujos desdobramentos possam
significar alguma contribuição para o aperfeiçoamento de instrumentais voltados para a
organização do conhecimento.
Nessa ótica, a fotografia como qualquer outro tipo de documentação, requer um
sistema de organização. Entretanto, dada a sua especificidade, exige procedimentos de análise
diferenciados que dêem conta da organização de seu conteúdo. Dessa forma, para atingir o
s
objetivos propostos, selecionamos, de um acervo que
considera
mos
significativo, um
conjunto de fotografias da cidade de Cuiabá da década de 1920, as quais indicam serem
1
Ementa da linha de pesquisa apresentada no
folder
do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação
elaborado para subsidiar o processo seletivo para ingresso aos cursos de mestrado e de doutorado do ano de
2007.
18
apropriadas e se apresentam como desafios a serem vencidos por meio da proposição de
procedimentos metodológicos de leitura, análise e representação de seus conteúdos
.
Partiremos
do pressuposto de que esse conjunto de fotografias, pelo seu aspecto estético e
conteúdo sugestivo, é adequado para o alcance dos objetivos propostos neste trabalho,
construindo
para tanto, um percurso metodológico.
1
.3 Percurso metodológico
De acordo com as abordagens e as reflexões expostas, busc
amos
delinear um
percurso metodológico ou, pelo menos, uma justificativa para o fato de ser a análise
documental de fotografias algo mais complexo do que se supõe inicialmente. Os aspectos
metodológicos enquadram
-
se numa abordagem de pesquisa qualitativa que leva em conta uma
reflexão sobre o conteúdo da imagem fotográfica.
Schaeffer
(1996)
menciona
que
uma obra
fotográfica
,
quando
bem
-
sucedida
,
não se limita
fundamental
mente
ao
fato de
fazer ver.
Com
freqüência, ela também nos faz pensar . Entretanto, a opção por determinada metodologia de
trabalho, implica em que se leve em conta
também,
a possibilidade de diferentes perspectivas
de abordagem do tema proposto para análise, a fim de enriquecer as leituras dos objetos
pertencentes ao
corpus
escolhido. Há, também, que se considerar a necessidade de que se faça
uma avaliação de suas vantagens e limitações e de uma compreensão de seu uso em
diferentes situações sociais, distintos tipos de informações e diferentes problemas sociais
(BAUER, GASKELL, ALLUM, 2004, p. 18).
Dentre as diversas possibilidades de percurso que foram
visualizad
as
, procuramos
apoiar
-nos em autores cujas produções pudessem servir de pontos de orientação no sentido de
enfocar as fotografias, dentro do contexto de investigação,
tr
açados para se atingir os
objetivos propostos neste trabalho. Entretanto, vale ressaltar que dentre as distintas
abordagens visualizadas
para
es
ta pesquisa ancor
amo
-
nos
, finalmente, nas proposições da
pesquisadora Agustín Lacruz (2006) cuja proposta de trabalho tem se efetivado em relação a
retratos pictóricos a
ssoci
ad
os aos procedimentos recomendados por Costa (2008)
e,
igualmente naqueles propostos
por Pinto Molina
et al.
(200
2
).
Em Agustín Lacruz (2006), embora a autora tenha trabalhado com documento
pictórico, foram encontradas as bases filosóficas que motivaram inicialmente o delineamento
da pesquisa e muito contribuíram para o seu
baliza
mento inicial. Da mesma forma que os
estudos de Agustín Lacruz (2006) forneceram as bases filosóficas do nosso trajeto
19
metodológico, a pesquisa de Costa (2008), dedicada à explicitação de procedimentos para a
análise, resumo e seleção de descritores representativos do conteúdo de imagens pub
licitárias,
serviu
-nos de base e de orientação para a realização das análises das fotografias, no seu
aspecto prático.
Os estudos de Pinto Molina et al. (2002), direcionados para as técnicas e
procedimentos voltados para a organização de documentos digitais e multimídia em geral,
possibilitaram
a
apreen
são
dos aspectos conceituais relativos aos procedimentos de análises
das fotografias. Esses procedimentos forneceram
também
as bases teóricas para a elaboração
de sínteses, por meio de resumos, e de seleção de descritores denotativos e conotativos que
podem se prestar aos processos de indexação de assuntos.
No que tange à adoção de procedimentos metodológicos direcionados ao
tratamento documental de imagens,
entendemos
relevante levar em consideração a cautela de
Smit
(1996)
quando enfatiza que:
A proposição de uma metodologia de análise da fotografia supõe um
entendimento da essência desta, daquilo que a caracteriza, das razões pelas
quais é produzida e, sobretudo, das condições em que será utilizada. Em
outras palavras, torna-se necessário compreender a imagem fotográfica,
enquanto informação a ser tratada e recuperada (p. 29).
Dessa forma, p
ara
orientar nosso procedimento metodológico,
selecionamos
primeiramente vinte fotografias agrupadas em
do
is
grand
es grupos
temáticos
, quais sejam:
Aspectos da vida pública e Aspectos da vida privada. Esses foram a priori considerados por
nós reveladores
potenciais
de aspectos relativos aos componentes espaciais,
culturais,
históricos, sociais e comportamentais da cidade de Cuiabá na década de 1920.
Esses
grupo
s
foram
por sua vez, subdivididos em sub-temas os quais classificamos da seguinte forma:
Em
as
pectos da vida pública, onde
estabelecemos:
1)
monumentos e edificações,
que
compreendem, a construção da Igreja do Bom Despacho, vistas das casas cuiabanas, o
chafariz do
Mundeo
em dois momentos, originalmente e restaurado
e o Liceu Cuiabano;
2) Os
espaços públicos
aprese
n
tan
do as imagens da Praça da República, vista da região central de
Cuiabá e as repartições públicas;
3)
O
lazer
, contendo as fotografias estampando a atuação
dos capinhas nas touradas, a elite cuiabana em dia de festa e a festa do Senhor Divino
e,
finalmente
finalmente
, 4) O
transporte
, compreendendo as imagens dos barcos no rio Cuiabá,
o automóvel no Largo do Mundeo e o transporte de cana-
de
-açúcar. Em aspectos da vida
privada
, subdividimos em: 1) Retrato de família, que contêm as imagens classificadas como
20
família Rodrigues,
a criança e mãe e filhos e, 2) V
estuário
contendo a moda dos anos de 1920,
el
egância em 1927 e elegância e sensualidade no cais do Porto
.
Após o estabelecimento dessa divisão e
respectivas
subdivisões
,
que é sempre de
difícil determinação, uma vez que cada fotografia, em princípio, pode ser classificada em
múltiplos grupos dependendo do ponto de vista do selecionador, procedemos à análise
,
primeiramente, em nível denotativo ou literal, em que a conjunção dos objetos na cena é
natural, ou dado, porque ele não requer tradução, não precisa de decodificação (PENN 2004,
p. 325). Ou seja, foram ressaltados os aspectos aparentes, facilmente visíveis nas imagens,
desde uma primeira abordagem. Para tanto, servimo-nos das informações fornecidas pelas
legendas, informações textuais explicativas a respeito das imagens, bem como qualquer outro
tipo de informações exteriores ao texto fotográfico capaz de contribuir com o processo de
leitura da imagem nesse primeiro nível.
De início, b
uscamos
contextualizar tais imagens num nível interno a elas próprias,
enquanto registro de um momento imobilizado no tempo e no espaço, o real no estado
passado: a um só tempo, o passado e o real (BARTHES, 1984 p. 124). Em seguida,
procuramos
inserir tais fotografias nas situações locais (Cuiabá),
levando
-se em consideração
a influência que tais situações recebiam dos grandes centros brasileiros, da região e, até
mesmo, do cenário internacional.
Num segundo momento, com a intenção de atingir o nível conotativo, procu
ramos
realizar as interpretações dos registros imagéticos, abordando questões relacionadas, à
postur
a, à moda, aos costumes e aos valores, por exemplo, que vigoravam então. Essas
questões tornaram-se mais claras por meio do levantamento feito das informações
relacionadas ao contexto histórico e sociocultural das fotografias. São aspectos capazes de
forne
cer elementos além das margens das fotografias tomadas e guardadas. Esses elementos
dizem respeito aos componentes espaciais, sociais e culturais da época em que as imagens
foram geradas, registradas e divulgadas, embora tais dados não estejam diretamente
visíveis
nas imagens. Vale lembrar que a abordagem de tais questões apóia-se no argumento
consagrado
de que: A interpretação exige uma leitura tanto das presenças quanto das
ausências de um registro visual, [...] (LOIZOS: 2004, p. 148).
A finalidade desses procedimentos interpretativos é o de apreender dessas
fotografias alguns dos sentidos e significados que, conforme esclarece Walter Benjamin
(1987), pode se encontrar na [...] pequena centelha do acaso [...] com a qual a realidade
chamuscou a imagem [.
..] (p. 94). Entretanto, dada à questão da ambigüidade e
da
polissemia
pertinentes a toda imagem, cada observador possui, naturalmente, o seu ponto de vista, o que
21
interfere
grandemente
nesse processo de interpretação, não estando a presente análise fora
dessa lei. Justamente por esse aspecto, Carnicel (2002), afirma: considerando a ambigüidade
do sentido da foto, cada pessoa a sob diferentes ângulos. [...] as imagens não são
exatamente o que se vê, o que se pensa que é real
são tão polissêmicas quanto as palavras
(p. 43).
Tais procedimentos serviram de baliza para o processo de identificação dos
elementos que contribuem para a análise, a interpretação e a representação para
a
posterior
recuperação de conteúdos. Tais análises e interpretações foram realizadas a partir do processo
de leitura que possibilitou melhor caracterizar as imagens selecionadas e é com e
ss
as
interpretações
que iremos apresentar, no final da dissertação, os resultados do presente
trabalho.
Faz
-se, no entanto, necessário esclarecer que, no que concerne à filosofia e linhas
gerais
, a
representação
aqui elaborada compreendeu a elaboração de resumo e a apresentação
de descritores que representam tanto os aspectos denotativos quanto os
aspectos
conotativos
sugeridos em cada uma das ima
gens analisadas.
Dessa maneira
,
pretendemos de alguma forma, contribuir, por meio de um
exercício de análise e de representação documental com os fundamentos da Ciência da
Informação, notadamente no que se refere ao tratamento da informação no âmbito da
Or
ganização da Informação. Ao realizar essa tarefa, prop
usemos
, por modesto que seja, um
conjunto de procedimentos capazes de orientar minimamente o cientista da informação na
abordagem
de uma massa documental envolvendo imagens fotográficas.
Cabe ressaltar que apesar de ao final do trabalho termos nos dado conta de que
teria sido melhor apresentar a contextualização de cada conjunto de uma vez e de maneira
mais ampla, optamos por manter a proposta inicial que era a de contextualizar cada fotografia,
na medida em que essa era apresenta
da
. Porém, estamos conscientes de que, para aplicações
futuras, realmente seria mais produtiva a elaboração de uma contextualização geral capaz de
dar conta de todo grupo de fotografias, de um golpe de vista e não a cada a
bordagem
fotográfica
.
22
1.4 Estrutura geral da
dissertação
Com base no percurso estabelecido e conforme o que foi exposto resolvemos
apresentar os resultados da pesquisa, estruturando-se a dissertação em cinco seções,
delineadas da seguinte forma:
Um
a introdução, na qual oferece
mos
uma visão geral do desenvolvimento da
pesquisa,
com seus objetivos em função da escolha das fotografias e das
abordagens teórico
-
metodológicas que
serão
seguidas.
Um
a seção 2, em que abordamos o posicionamento da Ciência da Informação
face aos estudos da imagem, especialmente aos da fotografia
destacando
-a do
universo dos registros imagéticos como, por exemplo, dos pictóricos, dos de
desenhos e dos cartazes.
Enfatizamos
, também,
nessa seção,
a contribuição que
um estudo do tipo que se está empreendendo poderá trazer para a área da
análise documental.
Um
a seção 3, constituída principalmente por uma exposição do contexto
histórico em que se situava a cidade de Cuiabá à época dos registros
fotográficos analisados. Nessa parte,
apresenta
mos
a relação dos arquivos que
dispõem de fotografias e aos quais ti
ve
mos
acesso durante a realização da
pesquisa.
Um
a seção 4, em que realizamos a análise e a interpretação do conjunto
imagético selecionado, à luz das abordagens teóricas e meto
dológicas
adotadas.
Na seção 5, apresenta
mos
noss
as
con
siderações finais com base nos
resultados
obtidos.
Por último,
relacionam
os
as referências
bibliográficas
decorrentes das citações
utilizadas ao longo do trabalho.
23
2
O ESTUDO DA
IMAGEM
E O CAMPO
DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
A natureza que fala à Câmara não é a mesma
que fala ao olhar.
Walter Benjamin
(p. 94)
A palavra imagem vem do latim
imago
e quer dizer s
emelhança
,
representação
ou
retrato
e dada sua polissemia, pressupõe uma abrangente possibilida
de
de análise
.
Em se tratando de um vasto tema para pesquisa e discussões, o interesse pelo
estudo da imagem, de modo geral, tem se tornado crescente por pesquisadores de
diversas
áreas do conhecimento.
Dent
ro da área da Ciência da Informação, igualmente, visualiza-se a possibilidade
de
pesquisa
, uma vez que, carregadas de sentidos e significações, as imagens, assim como as
histórias,
nos informam (
MAN
GUEL,
2006, p. 21). Dessa forma, percebe-se que o
docume
nto imagético pode conter grandes e valiosos conteúdos para profissionais de
diferentes áreas do conhecimento, tal como definiram e esclareceram Benjamin (1987),
Manguel (2001) e Agustín Lacruz (2006), dentre outros autores.
Conseqüentemente,
visualizamos
também a possibilidade de análise, interpretação, representação e recuperação,
com vistas à organização da informação, dos prováveis conteúdos
informacionais
subjacentes
nos registros
imag
éticos, para disponibilizá
-
los aos usuários.
2.1 Imagem e informa
ção
A Ciência da Informação, reconhecendo a capacidade informa
tiva
dos documentos
imagéticos
, vem buscando o desenvolvimento de estudos a fim de que também as imagens
sejam submetidas a um processo de sistematização documental adequado. A esse respeito,
Boccato e Fujita (2006) argumentam:
O documento fotográfico tem o seu papel definido como produtor de
informações e, nesse sentido, merece uma atenção especial na realização de
uma análise documental que possibilite uma representatividade adequada de
seu
conteúdo e uma satisfatória recuperação de informação (p. 2).
24
Nesse universo, conforme salientado por autores como Burke (2004), Manguel
(2006) e Agustín Lacruz (2006), a iconologia
engloba
registros que vão desde a imagem
pictórica rupestres, a imagens de cartazes, de desenhos, de escultura, de arquitetura,
imagens
audiovisu
ais, artísticas, de fotografias, até as virtuais, dentre outras. Tais imagens,
potencialmente, constituem-se em importantes fontes geradoras de sentido e
de
significados.
Entretanto, a análise de tais registros demanda diferentes abordagens
teóricas
, uma vez que,
conforme salientado, necessidade de se ater às especificidades de forma e conteúdo de
cada
um desses
segmento
s imagéticos
.
Dessa forma, devido a questões relacionadas
a
possíveis diferenças nas abordagens
dessas imagens e a fim de ajustar adequadamente o nosso foco de estudo, esta pesquisa
limit
ar
-
se
-
á
ao registro de imagens fotográficas, mais precisamente a um conjunto de
fotografias de uma determinada época e lugar. Dessa maneira, considera
mos
que a análise de
imagens fotográficas, em virtude da força expressiva, encerra um tipo de registro, cujo
mistério se acha circunscrito, no espaço e no tempo [...]
(KOSSOY: 2007 p. 60).
Vale lembrar também que, do ponto de vista da Ciência da Informação, a análise e
a representação da imagem de forma geral, não se baliza unicamente por seu conteúdo
informacional, mas também por sua expressão fotográfica (SMIT: 1996 p. 29). Entretanto,
alguns estudos privilegiam a abordagem do conteúdo imagético para efeito de representação.
A respeito da representação, Smit (1996) destaca que além de haver uma diversidade de
abordagens da imagem fotográfica, estas têm uma história, uma linha evolutiva que facilita
sua
sistematização [...] (p. 2
9).
Dessa forma, o estudo da imagem na perspectiva da existência de uma linguagem
visual para efeito de
representação
e recuperação de seus conteúdos informacionais, é
matéria de estudo por pesquisadores interessados no assunto, levando-se em considera
ção
inclusive, aspectos referentes à representação simbólica de conteúdos desse tipo de
documento
.
Nessa perspectiva, Agustín Lacruz (
2006
)
enfatiza que:
De la misma manera que el lenguaje verbal conforma la representación
simbólica de los objetos dentro de la comunicación verbal, la imagen
artística es la forma simbólica de las ideas dentro de la comunicación visual
(p.
80).
Deve
-se considerar, também, o fato de os dois tipos de documentação
textual e
imagético
que refletem o pensamento lingüístico e o pensamento icônico, não serem
25
excludentes, senão que complementares, interdependentes e compatíveis no contexto dos
atuais sistemas de informação, conforme esclarece Agustín Lacruz (2006).
Entretanto, cabe ressaltar que existem estudos referentes à com
unicação visual que
buscam
privilegiar diferentes aspectos da imagem. Esses estudos, geralmente, enfocam as
imagens no que se referem aos seus aspectos técnicos relacionados ao processo de produção e
reprodução
. No âmbito da Ciência da informação, os focos
de estudo também se diversificam.
Nesse sentido,
Manini
(2002) ressalta que o levantamento de descritores ou de palavras-
chave deve ser feito com
base em dados concretos da imagem (p. 19), isto é,
deve
-se focar
nos aspectos denotativos, sem levar em con
sideração
as possibilidades
conotativa
s. Outros
estudos, no entanto, enfatizam o fato de que se deve direcionar os esforços para estudos que
privilegiem o conteúdo da imagem, de forma que
tai
s
conteúdo
s venham a ser
complementado
s
pelos aspectos mais objet
ivos e concretos da imagem.
Propondo uma discussão a respeito dos procedimentos para representar os
conteúdos dos registros imagéticos, dado seu forte caráter
infor
macional, Boccato e Fujita
(2006) abordam a questão do acesso à informação pelo usuário. De acordo com essas autoras:
Para que o usuário possa realmente acessar e utilizar a informação, isto é, a imagem
fotográfica, esta deverá ser tratada tecnicamente em nível descritivo, isto é, tratamento
documental do suporte material (p. 5). Nesse caso, l
evam
-se em conta elementos como
o
autor da fotografia,
o
título,
a
data,
o
local e
a
cor,
dentre outros elementos, quando estão
disponíveis,
naturalmente
.
Esses elementos são considerados importantes para a descrição
física da fotografia , posto que se co
nstituem
indícios auxiliares na contextualização da
imagem e na elaboração da legenda (p. 5). Visa-
se
, com isso, a facilitação do acesso à
informação
ao usuário que dela necessita. Trata-se de informação fornecida pelo registro
imagético, uma vez que, conforme enfatizam Boccato e Fujita (2006
):
O objetivo do profissional da informação é representar o conteúdo da
imagem fotográfica para torná-la acessível - socialização do conhecimento -
ao usuário, e este tem por objetivo procurar informações que atendam as
suas necessidades de investigação, entre outras finalidades. Portanto, esse
processo requer um sincronismo entre o olhar do profissional da
informação e o olhar do usuário. Nesse sentido, o desafio do tratamento
técnico da imagem fotográfica, especialmente da representação do seu
conteúdo, merece toda atenção dos estudiosos, pesquisadores e profissionais
que atuam com esse documento (p.
15).
Entretanto, vale lembrar também que nem sempre será possível atender com à
s
necessidades informativas requeridas pelo usuário
,
conforme esclarece, com muita
propriedade,
Pinto Molina (2001):
26
Pero no siempre existe una correlación precisa entre necesidades y
demandas, pues no todas las necesidades se transforman en demandas, y
tampoco éstas reflejan plenamente las necesidades reales de los usuarios (p.
108).
Retomando a discussão a respeito da denotação e da conotação, constatamos que
Moreiro González (1994) segue nessa mesma linha de pensamento quando aborda a questão
do sentido denotativo, bem como dos senti
dos
conotativo
s
po
ssíveis
de
serem
extrai
dos
das
imagens, em virtude do seu caráter polissêmico. O autor estabelece as relações de oposição
que caracterizam a leitura de imagens em sentido denotativo, bem como a leitura em sentido
conotativo. Com relação à denotação, enfatizando os aspectos técnicos aos quais o
documentalista se atêm, constata:
El documentalista debe describir lo que la imagen cuenta. Para hacerlo
dispone de las técnicas comunes en el análisis de texto: el resumen y los
descriptores. Com apoyo en el tesauro para denominar los conceptos si es
que el sistema está informatizado (p. 309).
Quanto à conotação, em se tratando de leitura de sentidos e significações
sugeridos, ressalta os aspectos subjetivos apreendidos no texto imagético e que diz
em respeito
à experiência pessoal do leitor. A esse respeito Barthes (1990) argumenta que a conotação é
produzida por uma modificação do próprio real, isto é, da mensagem denotada (p. 15). Smit
(1987) corrobora
essa opinião sobre
a questão dos sentidos d
enotativo e conotativo, admitindo
a dificuldade em se distinguir esses dois aspectos
um do outro
. Nessa perspectiva, discorrendo
sobre tais questões na análise da imagem
, a autora
enfatiza:
A grande dificuldade na análise da imagem consiste nesta separação entre a
denotação (o que a imagem mostra) e a conotação (o que a sociedade
e o
bibliotecário
vêm, ou querem ver, na imagem), sabendo ainda que muitas
vezes a legenda ou o contexto já nos desviam, subrepticiamente, para a
conotação (
p.
108)
.
Moreiro
González (1994),
aludindo à questão das técnicas de análise, no que tange
à denotação e à conotação, faz as seguintes considerações:
Sometemos esta actividad a un proceso normalizado, como en el caso de la
descripción morfológica o catalogación que se sirve de los datos aportados
por las fases que han compuesto el proceso hasta aqui. También
transcodificamos el contenido, tanto denotativo como conotativo, a la
terminologia y al texto, para establecer desde éstos la recuperación y la
explicación de la
s imá
genes (p. 305).
27
Cabe ressaltar que o tratamento técnico da imagem comumente contempla os
aspectos relativos ao sentido literal ou denotativo desses registros imagéticos. As
considerações de Moreiro González, de certo modo, complementam as argumentações de
Boccato e Fujita (2006), quando as autoras abordam a questão do sentido denotativo:
No âmbito da Ciência da Informação, a análise documental é um processo
instrumental, ou seja, compreender-
se
o texto imagético e identificar-
se
-
á
uma ou mais palavras que passarão a significar o conteúdo do mesmo.
Assim, a análise documental é compreensiva e não interpretativa, é uma
leitura profissional do documento que está sendo tratado no seu aspecto
temático (p. 16).
Entretanto, deve-se ressalvar que, como apontou Moreiro González (1994), os
conteúdos conotativos são, por excelência,
interpretativos.
C
oloca
ndo
também em discussão
os sentidos conotativo e denotativo da imagem
,
Penn (2004) declara que a leitura de um
texto imagético implica em um processo interpretativo (p.
324
), que carece de
procedimentos metodológicos específicos
ou pré
-
determinados
.
Diante de tal discussão, é possível perceber a complexidade que se apresenta no
que se refere à leitura
profissional de imagens. Todavia, devemos
direcionar
os
esforços
para estudos que privilegiem o conteúdo da imagem, de forma a que se complementem
os
aspectos cnicos, uma vez que está clara a idéia de que na maioria das vezes, a descrição de
um registro fotográfico não se traduz facilmente, por isso, de acordo com Smit (1989): A
descrição de uma imagem nunca é completa (p. 102). Isso se verifica mesmo enfatizando e
ressaltando
-se verbalmente determinado detalhe de uma imagem, posto que sempre haverá
algo a se perguntar sobre ela, algo que a pessoa que descreve desconhece, esqueceu ou que
lhe passou despercebido (MANINI: 2002 p. 18).
Por outro lado, deve-se ressaltar que, face ao caráter polissêmico e ambíguo,
apresentado por esse tipo de documento, necessidade de se levar em conta suas
especificidades
de forma e
de
conteúdo, bem como a possibilidade de os conteúdos
informacionais
apresentarem
-
se
tanto de forma visível como também de forma
oculta
.
Esse
caráter
polissêmico
possibilita observar as presenças e as ausências de elementos que indicam
os diferentes sentidos e significados sugeridos pela imagem, o que não inviabiliza a leitura
desses documentos. Ao contrário, tornam-na instigante ao pesquisador, na medida em que
essa observação pode sugerir diversas análises e interpretações de seus conteúdos
informacionais, tanto por parte do especialista da Ciência da Informação quanto em relação
àquele a quem a informação está sendo disponibilizada. Nesse sentido, Kossoy e Carneiro
(2002) constatam: São múltiplas, também, as leituras que as imagens fotográfi
cas
28
proporcionam e é nisso que reside o desafio quando de sua interpretação (p. 173). Não
obstante essa multiplicidade
de
interpretaç
ões
, o documentalista precisa ter claro a que
público deverá se dirigir quando se procede
sua
análise
, a fim de não despender seu esforço
realizando uma pesquisa que não redunde em utilidade a alguém.
Por outro lado, Penn (2004) enfatiza que: Teoricamente, o processo de análise
nunca se exaure e, por conseguinte, nunca está completa. Isto é, é sempre possível descobrir
uma n
ova maneira de ler uma imagem, ou um novo léxico, ou sistema referente, para aplicar à
imagem (p. 331). Dessa forma, entendemos que,
conforme
Com relação à interpretação,
Kossoy (2007) ressalta que detalhes aparentemente insignificantes não podem ser
des
considerados (p. 41). Nessa mesma linha de raciocínio, Burke (2004) ao enfocar a
questão da leitura de imagens, fala sobre a importância de pequenos detalhes (p. 77) que
muitas vezes passam despercebidos, conforme exemplificado a seguir:
[...] o homem usando cartola algumas vezes é interpretado como um burguês
por causa do chapéu. De fato, cartolas eram usadas por alguns franceses da
classe trabalhadora da época. De qualquer forma, um exame mais detalhado
de sua vestimenta, especialmente o cinto e as calças, revela tratar-se de um
trabalhador manual [...] (BURKE, 2004, p. 77).
Portanto, a observação dos detalhes permite enriquecer os conteúdos
informacionais suscitados, possibilitando a recuperação de possíveis
status
ou trajetórias de
atores sociais, bem como do contexto histórico, cultural, político e social de uma determinada
época e lugar. Esse trabalho de interpretação colabora com os propósitos da preservação da
memória social e cultural, levando-se em consideração inclusive, os aspectos metafórico
s
e
simbólicos da imagem.
2.2 Algumas particularidades
no estudo da imagem
Conforme
foi
salientado, os registros imagéticos vêm sendo objetos de estudos
e, portanto, merecendo destaque em diferentes campos do saber. Da mesma forma,
suas
particulari
dades ou especificidades m despertando o interesse de distintos
pesquisadores.
Em sua pesquisa, Parker (2001) constata que: ao nos depararmos com a foto entramos em
um universo cuja temporalidade é diferenciada, um tempo congelado, no qual literalmente
mergulhamos (p. 44) .
29
Em relação ao aspecto da temporalidade, Kossoy (2007)
argumenta
a respeito da
necessidade de se voltar o olhar para o passado com o intuito de captar-lhe a visão de mundo,
as convicções e as motivações que levaram à produção de uma imagem. Entendemos que tais
aspectos são fundamentais para a posterior análise para não corrermos o risco de vê-
las
somente com o instrumental contemporâneo. Ne
sse sentido, o autor enfatiza
que:
[...] o significado das imagens reside exatamente nesse seu passado, isto é,
em sua história própria, nas finalidades que motivaram sua existência, em
suas condições de produção, nos fatos que marcam sua trajetória ao longo do
tempo, assim como na história do autor, seja ele um fotógrafo consagrado ou
um anônimo itinerante, suas visões de mundo, suas convicções, suas
motivações (p. 52).
De acordo com essa ótica, deve-se ressaltar que diferentes práticas vêm sendo
visualizadas e adotadas com vistas à análise de imagens de modo geral e da imagem
fotográfica, em particu
lar, além do que mostra em sua superfície (Kossoy: 2007, p. 60). São
abordagens teórico-metodológicas propostas como meios possíveis para se interpretar
as
particularidades que se apresentam como
conteúdos informacionais dos registros imagéticos.
Refleti
ndo sobre a utilização de uma metodologia para se abordar o conteúdo de
fotografias no contexto da pesquisa em educação, Parker (2001) trabalha com a possibilidade
de se investir em
atividades
com imagens fotográficas de forma a ultrapassar a mera
ilustra
ção dos textos e projetos (p. 40). Com isso, a pesquisadora pretende buscar a
reconstrução dos fatos, lugares e pessoas que representam a historicidade e o cotidiano dos
habitantes da cidade (p. 41), de tal forma a se reconstituir aspectos da memória e da história
por meio da capacidade de se visualizar as particularidades apresentadas pela imagem.
Nessa prática, a autora alude à questão do desafio, no sentido
de
se
educar/forjar
olhos de ver para podermos utilizar esse suporte em nossas atividades pedagógicas, de forma
a compor discursos que possibilitem ampliar as formas de apreensão do nosso cotidiano (p.
56).
Nesse sentido, vale lembrar a pesquisadora Mauad (1996) quando
esta
enfatiza que é a
competência de quem olha que fornece significados à imag
em (p. 81).
Nessa interação do leitor com o texto imagético, na condição de
co
-produtor e
leitor, Carnicel (2002) procura por aquele algo a mais, o que esalém daquilo que salta aos
olhos e que se comunica com o leitor de forma instantânea, imediata
. Reforçando essa idéia,
o autor argumenta:
[...] o que procuro é ir além dessa comunicação instantânea e do imediatismo
da fotografia. Pretendo analisar o significado dessas imagens no contexto
social que as determinou e assim ampliar a gama de informações que elas
30
podem proporcionar e as interpretações que podem permitir. Almejo tornar
visível o invisível (p. 43).
Ainda com relação às particularidades apresentadas pela imagem fotográfica, o
filósofo
Walter Benjamin, em ensaio intitulado Pequena história da fotografia (1987), além
de fazer uma reflexão sobre a história e os efeitos da invenção da fotografia, destaca
também
o fato de
ss
a oferecer a possibilidade de se visualizar o algo mais. Aquilo que não foi captado
pelas lentes do fotógrafo mas que, mesmo assim está presente e deve ser levado em conta.
Assim ele menciona:
Apesar de toda a perícia do fotógrafo e de tudo que existe de planejado em
seu comportamento, o observador sente a necessidade irresistível de
procurar nessa imagem a pequena centelha do acaso, do aqui e agora, com a
qual a realidade chamuscou a imagem, de procurar o lugar imperceptível
em
que o futuro se aninha ainda hoje em minutos únicos, muito extintos, e
com tanta eloqüência que podemos descobri
-
lo, ol
hando para trás. (
p. 94).
Com essas mesmas preocupações e, partindo de observações feitas em fotografias
pessoais, Roland Barthes, em seu livro A câmara clara (1984), analisa a ligação existente
entre a imagem fotográfica e seu referente. A respeito dos detalhes subjacentes nessas
imagens, ele se coloca como um observador atento, procurando minuciosamente o que passa
despercebido pela maioria das pessoas. Barthes deseja saber por que traço essencial ela [a
fotografia] se distinguia da comunidade das imagens (p. 12). O autor expõe, em sua análise,
sua emoção e subjetividade sem, entretanto, deixar de ser preciso e claro em um texto que se
estabelece
conforme ressalta Lima (2004, p. 01), em seu estudo Câmera clara, um diálogo
com Barthes
entre a escrita acadêmica, precisa e analítica, e a literária, emocional e
metafórica .
Complementando
suas
idéia
s, o autor propõe a busca (1984) do que denomina
punctum
, aquilo que chama a atenção do leitor, aquilo que o atrai e fere (p. 66), isto é, o
detalhe carregado de sentidos quanto à temática central da fotografia, mesmo colocado
imageticamente em posição secundária
:
Assim o detalhe que me interessa não é, ou pelo menos não é,
rigorosamente, intencional, e provavelmente não é preciso que o seja; ele se
encontra no campo da coisa fotografada como um suplemento ao mesmo
tempo inevitável e gracioso; ele não atesta obrigatoriamente a arte do
fotógrafo; ele diz apenas ou que o fotógrafo se encontrava lá, ou, de maneira
mais simplista ainda, que ele não podia não fotografar o objeto parcial ao
mesmo tempo que o objeto total [...] (p.
76).
31
Esse
suplemento inevitável e gracioso a que Barthes (1984) se refere, parece
estabelecer um diálogo com o conceito de
aura
, de que trata Benjamin (1998) que a
defin
e
como
sendo
uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: a aparição
única de uma coisa distante, por mais próxima que ela esteja (p. 101). A propósito do
conceito de
aura
, julgamos interessante a definição e o comentário apresentados por Aumond
(2006) quando diz:
A palavra aura designa a auréola luminosa mais ou menos sobrenatural
que supostamente emana de certas pessoas ou de certos objetos. A metáfora
é portanto clara: se a obra de arte tem uma aura, é porque irradia, emite
vibrações particulares, não pode ser vis
ta como objeto comum (p. 300).
Outro aspecto particular da imagem se explicita no
estudo
sociológico de Pierre
Bourdieu sobre a influência que a fotografia exerce no meio social. Em um ensaio intitulado
O camponês e a fotografia
(1965),
o autor analisa o efeito das fotografias em uma
comunidade francesa, bem como as relações sociais estabelecidas tanto no interior da família
como entre o grupo envolvido nos eventos sociais fotografados. Segundo o autor, [...] a
fotografia surge, desde o início, como o acompanhamento necessário das grandes cerimônias
da vida familiar e coletiva. (p. 32). A fotografia assume, nesse meio, papel agregador no
sentido de se "eternizar e solenizar estes momentos intensos da vida social, em que o grupo
reafirma a sua unidade (p.
32).
Se por um lado a fotografia tem esse poder de eternizar os momentos da vida
social, por outro é preciso admitir que ela apresenta também algumas fragilidades. A
o tomar a
fotografia como portadora de mensagens capazes de salvaguardar informações históricas de
uma comunidade, Leite (1998) ressalta que deve se considerar
sua
natureza frágil, ao afirmar
que:
O fato de a fotografia ser um objeto perecível, sujeito a adulteração por
fungos ou retoques, uso indevido ou envelhecimento, não reduz o seu valor
documental; antes, amplia a necessidade de verificar as maneiras de
selecionar, curar, recuperar e decodificar as informações que séries
compostas de imagens
podem fornecer ou sugerir (
p.
39).
A esse respeito, Boris Kossoy (
2007
), ao discutir a memória fotográfica, chama a
atenção para o que ele denomina de memória finita (p. 133), uma vez que a conservação
dessa
espécie
de documento, ao que parece, tem sido negligenciada pelas instituições
responsáveis por esse tipo de trabalho. O autor afirma que as imagens fotográficas,
produzidas pelas mais diferentes tecnologias, estão sujeitas à deterioração, em função da
32
natureza do meio onde se acha registrada a informação e das condições de sua conservação
(2007, p. 134).
Por tudo isso, reafirmamos nosso
inte
resse em realizar leituras de fotografias
neste trabalho, qual seja o de enfatizar os conteúdos informacionais relacionados aos aspectos
históricos, culturais e sociais evidentes e ocultos das imagens fotográficas selecionadas, da
cidade de Cuiabá n
a déca
da de 1920
.
2.3 A leitura da
imag
em e de seu contexto
Complementando a
s
discussões sobre os procedimentos de análise de imagens e,
considerando seu potencial informativo, bem como as suas especificidades, é preciso ater-
se
também ao processo de lei
tura
de imagens em seu contexto de produção.
Refletindo sobre as diferentes concepções de leitura, Orlandi (2001, p. 7) observa
que, por seu caráter polissêmico, a leitura em geral varia desde uma concepção mais ampla
a
uma concepção mais restrita. A respeito da relação entre as variáveis autor-
texto
-contexto, a
autora chama a atenção para a complexidade da dinâmica da produção do sentido,
ressaltando
que [...] a leitura pode ser um processo bastante complexo e que envolve muito mais do que
habilidades que se
resolvem no imediatismo da ação de ler
.
No caso da imagem fotográfica, o processo de leitura torna-se ainda mais
complexo posto que, além de levar em conta sua especificidade e característica é preciso levar
em consideração os componentes do seu contexto de produção. Da mesma forma que é
necessário saber ler o que o texto diz e o que ele não diz , (ORLANDI, 2001, p. 11)
,
para a
leitura da imagem é necessário saber identificar os aspectos evidentes e ocultos que lhe
atribuem significado. Tais aspectos comumente podem ser identificados a partir do
entendimento contextual da imagem.
Dessa forma, questões concernentes ao texto escrito, podem ser verificadas
da
mesma forma
como acontece com relação ao texto imagético, conforme atesta Penn (2004
):
O sentido é gerado na interação do leitor com o material. O sentido que o leitor vai dar irá
variar de acordo com os conhecimentos a ele (a) acessíveis, através da experiência e da
proeminência cultural (p. 324). Ou do entendimento do contexto em que a imagem fo
i
registrada.
Diante de tais argumentações a respeito da leitura imagética, é importante que se
ressalte que a leitura é tomada aqui como uma atividade interativa altamente complexa de
33
produção de sentidos
1
(KOCH e ELIAS 2006, P. 11). Devido a isso é que se evidencia a
interação dialógica, entre autor, texto e leitor, vistos como Atores/construtores sociais [...]
(KOCH e ELIAS 2006, p. 10), isto é: o sentido do texto é construído pelo leitor que, para
isso, apresenta-se com toda a sua gama de valores e conhecimentos prévios
adquiridos
.
Dessa
forma, as mesmas autoras, evidenciam que: a leitura de um texto exige do leitor bem mais
que conhecimento de código lingüístico, uma vez que o
texto
não é simples produto da
codificação de um emissor a ser decodifi
cado por um receptor passivo (2006, p. 11).
Nessa perspectiva cabe enfatizar que, seja leitura de texto escrito, seja leitura de
texto imagético como é o caso desta pesquisa, o leitor participa e interfere com seu
conhecimento prévio, suas crenças e seus valores construídos nas relações sociais do meio em
que está inserido. De qualquer forma, dada à questão da ambigüidade e
da
polissemia
pertinentes a toda imagem, cada observador possui, naturalmente, o seu ponto de vista.
Justamente por esse aspecto, Carnicel (2002), afirma: Considerando a ambigüidade do
sentido da foto, cada pessoa a vê sob diferentes ângulos. [...] as imagens não são exatamente o
que se vê, o que se pensa que é real
são tão polissêmicas quanto as palavras (p. 43).
Dessa
ma
neira
, am
plia
-se ao leitor do texto a possibilidade de apreensão dos
sentidos e significações que dizem respeito aos seus aspectos subjetivos. Tal capacidade de
apreensão, de acordo com Moreiro González (1994), diz respeito à experiência pessoal de
cada leitor,
ou
seja, deve-se considerar como fundamental, o fato de o leitor trazer consigo
uma bagagem de conhecimentos prévios, suas experiências acumuladas ao longo do tempo,
bem como os conhecimentos contextuais adquiridos
a posteriori.
Vale ressaltar que o nível de
domínio
do
assunto determina o grau de dificuldade
encontrada pelo leitor no ato da leitura. Neste, influenciam o contexto, a forma como o texto
está organizado, bem como seu conteúdo. O entendimento se faz na medida em que o leitor,
interagindo com o texto, esteja inserido no contexto da leitura. Nessa perspectiva, ao interagir
com o texto, no ato da leitura, o leitor aciona e coloca em prática seus esquemas variados,
desde conhecimento de vocabulário, conhecimento de estrutura textual, conhecimento do
as
sunto, até conhecimento de mundo (FUJITA, 1998, p. 14), semelhantemente ao que ocorre
com a leitura da imagem. Fujita (1998)
leva
o assunto mais longe com o propósito de se
destacar o sentido assumido pela leitura para fins profissionais, ou seja, a realização de
leitura
s
para análise documental e tratamento da informação em Ciência da Informação.
1
Todos os grifos nas citações de Koch e Elias (2006, págs. 10 e 11) são das próprias autoras.
34
Assim, para efeito deste estudo de imagens fotográficas, levando-se em
consideração o seu contexto histórico de produção, recuper
aremos
o raciocínio que
Agustín
Lacruz (2006) propôs em semelhante estudo voltado aos propósitos da imagem pictórica.
Dessa forma, leva-se em consideração as particularidades da imagem fotográfica para um
estudo dessa natureza. Tomando-se como base Agustín Lacruz (2006), a seqüência do
processo de análise e representação estabelecido por essa autora, compreende os seguintes
procedimentos: um texto introdutório contextualizando a imagem; a apresentação da imagem
propriamente
dita
; uma descrição contendo
os
elementos que objetivam a catalogação da
imagem; uma breve descrição resultante da análise de conteúdo da imagem; a identificação
dos elementos da imagem; um texto interpretativo a partir da observação imagética à luz do
entendimento do contexto em que ela foi criada; uma representação documental por meio de
elaboração de resumo e
de
um quadro contendo os descritores
.
Para efeito de operacionalização da análise e representação de imagens
fotográficas pertencentes à década de 1920 da cidade de Cuiabá,
optamos
por adotar os
procedimentos sugeridos por Costa (2008) fundamentados diretamente em Agustín Lacruz
(2006),
porém adaptados aos objetivos propostos pela primeira para a análise documental de
cartazes. Trata-se, assim, de modalização ou de uma adequação desses procedimentos de
análise de imagem pictórica para outros tipos de imagens. Nessa adequação,
Cost
a sugere
uma simplificação que compreende os seguintes passos: a apresentação da imagem em
análise, acompanhada de título e subtítulo se houver, fonte e data; um texto apresentando o
con
texto sócio-histórico em que a imagem
foi
produzida; uma síntese, em forma de resumo,
sobre o conteúdo apresentado pela imagem; os descritores denotativos e conotativos capazes
de representar o conteúdo de cada imagem; uma breve análise das particularidade
s
evidenciadas durante o processo de análise e representação de cada uma das imagens e, ao
final, a bibliografia que serviu de apoio
à
s análises.
Dessa forma, com base nessas autoras, e considerando que no caso de nossa
pesquisa, optamos por analisar as fotografias em conjuntos temáticos,
convencionamos
apresentar
noss
o
trabalho
da seguinte maneira: primeiramente apresentar o título atribuído ao
conjunto das fotografias, um texto de contextualização de cada uma das fotografias,
apresentação da fotografia pr
opriamente
dita
, acompanhada de seu título, fonte e data, quando
identificada; em seguida, a apresentação de um quadro contendo os elementos descritivos de
cada imagem capaz de contribuir para o trabalho de catalogação da imagem; seguido, por sua
vez,
do resumo e dos descritores
tanto
dos aspectos denotativos quanto dos
aspectos
conotativos, referentes ao conteúdo da fotografia. Ao final de cada conjunto temático,
35
apresentaremos ainda um breve comentário sobre certas particularidades ou unidades de
sentido
que o conjunto de fotografias
estudado
apresentou, dentro de cada uma das temáticas.
Os elementos descritivos compreendem o autor da fotografia, quando identificado,
o título, encontrado ou atribuído pela pesquisadora, o nome da cidade onde a imagem foi
c
aptada,
a
data em que se realizou a fotografia, ou seja, a data ou período, exatos ou
estimados
, de sua produção
e
as
notas contendo informações complementares, quando
possível.
Nos estudos de Pinto Molina et al. (2002), direcionados para as técnicas e
pr
ocedimentos voltados para a organização de documentos digitais e multimídia em geral, foi
possível apreender os aspectos conceituais relativos aos procedimentos de análises das
fotografias. Esses procedimentos forneceram as bases teórica e conceitual para que se
procedesse a elaboração de sínteses, apresentadas em forma de resumos. O resumo
compreende a síntese textual referente ao conteúdo apreendido por meio do processo da
leitura da fotografia efetuada por nós e de seu contexto sócio-histórico. A seleção de
descritores, denotativos e conotativos que possam se prestar a futuros procedimentos de
indexação de assuntos, conforme ressalta Pinto Molina et al.
(200
2), apresenta-
se
em quadros
antecedidos pela imagem e pelo seu resumo.
Consideramos
importan
te salientar que os estudos mencionados em relação à
análise documental e tratamento da informação referem
-
se ao documento numa perspectiva de
leitura cnica que visam à recuperação e representação de registros escritos. Entretanto,
autores que vêm se dedican
do ao estudo de imagens, chamam a atenção
para o valor da leitura
de um registro imagético, bem como para as diferentes possibilidades de interpretação do
conteúdo informacional desse tipo de documento. V
isa
mos com isso, sua recuperação e,
conseqüentemente
, a
preservação da memória
ligada aos conteúdos da fotografia estudada
.
Nesse sentido,
Agustín
Lacruz (2006) coloca em discussão a importância de se
valorizar o sentido subjacente do discurso implícito e explícito de um registro imagético, uma
vez que se trata de um documento cujo conteúdo pode ser susceptible de ser organizado,
estructurado y verbalizado (p. 19). Por seu lado, Burke (2004) ressalta o valor das imagens
como forma importante de evidência histórica (p. 17). Nessa ótica, entendendo a imag
em
como registro de valor histórico e cultural, enfatizamos a importância do seu valor
documental, cujos
sentidos
evidentes e ocultos
e significados estejam nela subjacentes
.
Conseqüentemente,
como vimos, o documento imagético apresenta um conteúdo
inf
ormacional passível de leitura , representação e recuperação no âmbito da organização da
informação
e esse será o nosso objetivo neste trabalho
.
36
Referindo
-se, igualmente, à análise de registro imagético, Smit (1987) lembra o
fato de a imagem ser portadora de grande mero de detalhes e informações menos
evidentes (p. 103). Boccato e Fujita (2008) reforçam tal afirmativa ao ressaltar que:
A
imagem possui características próprias que dificultam sua classificação de forma eficiente. A
imagem fotográfica é
ambígua permitindo inúmeras interpretações de seu sentido aos olhos de
quem a vê, a contempla, a sente e a analisa (p. 12).
Entretanto, torna-se importante lembrar que, para que a análise do conteúdo
imagético seja satisfatória, há necessidade de que se
busque um equilíbrio entre esses aspectos
contraditórios
no momento da abordagem dos aspectos a serem evidenciados a fim de se
evitar tanto a omissão quanto o excesso de detalhes ou mesmo o descompromisso com o que
o documento fotográfico suporta
na anális
e de registros imagéticos.
Em pesquisa de fundo histórico-sociológico da memória familiar Campos
(1999) aborda também a questão
concorda
do
com a existência do caráter ambíguo que a
imagem fotográfica encerra, constatando que a fotografia se constitui de duas formas de
representação opostas e complementares (p. 77), posto que encerraria, ao mesmo tempo, em
primeiro lugar, uma representação analógica do real e, em segundo lugar, uma representação
oculta, dissimulada, que se obteria através de uma leitura mais atenta, ao mesmo tempo que
mais subjetiva (p. 77).
É importante ressaltar,
finalmente
, que a tentativa de leitura
a
que
nos
prop
us
e
mos
nesta pesquisa, será aplicada especificamente
em
im
agens fotográficas conforme
foi
mencionado e como será de
mon
strado
na seção quatro deste trabalho, segundo um
percurso metodológico estabelecido de antemão
.
Empreendemos
esta pesquisa
propondo
-
nos
a uma reflexão crítica do objeto de estudo em análise, evitando-se, dessa forma, a banalização
no tratamento do assunto. Ou seja, que se invocar e atentar para o rigor metodológico com
que se deve desenvolver esse tipo de investigação. Para tanto, faze
mos
a seguir
uma
apresentação da cidade de Cuiabá no contexto histórico da década de 1920, momento em que
foram produzid
as as fotografias analisadas.
37
3 A
CIDADE DE CUIABÁ DA
DÉCADA DE 1920 NO CONTEXTO
HISTÓRICO
BRASILEIRO
Toda fotografia tem atrás de si uma história
(p. 29)
.
Boris Kossoy
Nesta sessão,
realizamos
um levantamento da cidade de Cuiabá inserida n
o
contexto histórico brasileiro, bem como do contexto em que a cidade se situava à época dos
registros fotográficos analisados
década de 1920
.
Para tanto, acreditamos que seja pertinente
e necessário fazer um rápido retrospecto das transformações pelas quais passou o país com o
final do Império e a construção das bases em que se fundamentou a construção do Brasil
República, após sua proclamação em 15 de novembro de 1889 e nas primeiras décadas do
século XX
.
3.1 O processo de mudança
no Brasil
A emancipação do Brasil, após a Independência em 1822, representou um marco
importante na vida política e social do país. A partir desse momento, os habitantes da então
colônia deixam de ser colonos e assumem a condição de cidadãos brasileiros. Entretanto, o
comando do país
continu
ava sob o controle das elites formadas pelos fazendeiros,
comerciantes e homens de negócio ligados à economia de importação e exportação e
interessados na manutenção das estruturas tradicionais de produção cujas bases eram o
sistema de trabalho escravo e a grande propriedade (COSTA, 2007, p. 11). Tal situação
motivou o aparecimento de distintos movimentos, isto é, conflitos que ocorriam tanto nas
esferas política e econômica, quanto na social e
na
cultural. Esses movimentos, de certa
forma, trouxeram suas contribuições ao cenário social e político uma vez que começaram a
ser lançadas as bases para a construção de um Brasil que se pretendia, pelo menos no
discurso,
moderno e democrático (SIQUEIRA, 2002). Nesse caminhar, medidas importantes
foram tomadas e concretizadas como, p
or exemplo, a instalação da rede ferroviária em 1852
38
(COSTA, 2007 p. 253), que m
uito
contribuíram no sentido de se impulsionar o país em
direção aos novos rumos que começavam a ser delineados com vistas
a
sua modernização.
O processo de
modernização
, po
r volta de 1850, foi impulsionado pela expansão
da produção do café, em virtude da demanda pelo mercado internacional, (COSTA, 2007)
ocorrida principalmente nas regiões do Estado de São Paulo assinalando a ascensão cafeeira
na produç
ão e na exportação, am
pliando o mercado de trabalho e as trocas internas (SODRÉ,
1976, p. 67). A esse respeito, Frehse (2005) enfatiza:
Foi esse o momento em que a ferrovia encheu os ares da cidade com os seus
primeiros apitos, que anunciavam a chegada de mercadorias, de rel
ações
sociais e de passageiros até então nunca vistos nessas paragens planaltinas
eminentemente rurais. Nesse contexto, de incorporação de São Paulo à
lógica de expansão do capitalismo internacional moderno por meio do café,
as ruas [...] foram alcançadas por fortes mudanças sociais e culturais ligadas
à difusão da modernidade na cidade (p. 189).
Essa expansão beneficiou o aparecimento das primeiras indústrias, ajudando a
impulsionar o desenvolvimento do comércio externo. É preciso ressaltar que foi um pro
cesso
contraditório, face à existência de uma sociedade escravocrata em oposição declarada a essas
pretensões desenvolvimentistas.
Após a Proclamação da República, uma nova ordem política e social comandada
pela elite militar dominaria a situação. A partir
dess
e
momento
, rompendo com as antigas
práticas estabelecidas até então, o país passou por sensíveis mudanças nas instâncias política,
social e cultural. Dentro dessa nova ordem, São Paulo e Rio de Janeiro ditavam as tendências
fundamentadas
no
modelo europeu considerado então, o único tipo de desenvolvimento
levado em consideração (NEEDELL: 1993, p. 54). Todavia, apesar da expansão cafeeira
paulista, a capital do Rio de Janeiro consegue manter-se como principal pólo agregador das
áreas administrativa, c
omercial
,
financeira e industrial da República (NEEDELL: 1993).
As mudanças que se efetivavam nos grandes centros, colocam em evidência as
reformas articuladas
tanto no plano físico quanto no plano educacional e cultural
inspiradas, conforme salientado, em modelo europeu, mais especificamente
nos
mo
l
de
s
france
s
es
. Muitas das reformas referidas refletiram-
se
em outras províncias, que almejavam
equiparar
-
se
com as capitais mais desenvolvidas. Essas mudanças começaram a ser efetivadas
com a transformação dessas províncias em Estados e com o funcionamento mais efetivo de
uma federação
.
39
3.2 O Estado de Mato Grosso no
contexto de mudanças
modernizadoras
Nesse contexto de grandes transformações, o Estado de Mato Grosso, cuja capital
Cuiabá
1
havia sido elevada à categoria de cidade em 17 de setembro de 1818, desenvolvia-
se
nos planos econômico, político, social e cultural por via fluvial (SILVA 2004). Isso significa
dizer que, tendo o rio como principal meio de transporte a região enfrentava o problema do
isolamento das regiões mais desenvolvidas. Dessa forma, seu desenvolvimento ocorria de
forma lenta em relação aos grandes centros. Entretanto, mesmo enfrentando tal dificuldade,
conforme ia recebendo as notícias, a cidade fazia coro com aqueles que almejavam e lutavam
pelos ideais republicanos. Os líderes desse movimento eram as pessoas da classe privilegiada
economicamente, classe essa que ganhou espaço e acabou por se consolidar com a
independência do Brasil, conforme
afirmam
Borges e Castro (2008):
No
século XIX, com a Independência do Brasil, houve espaço para o
estabelecimento e solidificação de uma elite mato-grossense, principalmente
nos anos de 1840. Era ela composta por grandes proprietários de terra, entre
eles fazendeiros e donos de engenhos lo
calizados no Pantanal (p. 380).
De acordo com Póvoas (1996), os que exerciam a liderança naquela região eram
[...] figuras destacadas do meio social mato-grossense [...] (p.84). A dinâmica das relações
de poder, que se alternava
não sem que houvesse a ocorrência de grandes conflitos
entre
um grupo político e outro, era estabelecida por meio do poder
sócio
-econômico. A distância
social entre os detentores desse poder econômico e os menos favorecidos era grande. Esse
distanciamento deixava grande
parte
da população sob o domínio da elite econômica regional
,
que comandava e decidia os destinos políticos da província, conforme constata Amâncio
(2008):
Em Mato Grosso o conflito pelo poder político era disputado por duas
oligarquias dominadas por coronéis: [...]. Esses grupos se revezavam na
administração do estado e mantinham um conflito constante que resultava
em verdadeiras guerras, com emboscadas, golpes e até chacinas [...] (p. 78).
Os que não pertenciam à elite
apenas
assistiam aos acontecimentos ou
eram
indiferentes a eles, uma vez que se tratava de maioria analfabeta: no
topo
da escala social, as
elites dirigentes; no
centro
, uma rala camada média; e, na
base
, uma massa populacional que
1
A cidade de Cuiabá foi fundada em oito de abril de 1719 e inicialmente foi chamada de Arraial de Forquilha.
Elevada à condição de vila em de janeiro de 1727, com o nome de Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá,
pertencia até então à província de São Paulo. A fama das riquezas descobertas nessa vila teve uma grande
repercussão, fazendo com que para lá aportassem muitas expedições, aventureiros e pessoas em busca de
melhores dias.
40
sequer era alfabetizada, que vivia num universo cultural diferenciado, [...]
2
(SIQUEIRA,
2002, p. 87).
Entretanto, o ideal de modernidade pretendida pelos que comandavam o país e que
também
chegou ao Mato Grosso, incluía a melhoria da educação e
a
formação cultural. Estas,
de responsabilidade das instituições formais do país davam acesso, até então, a uma pequena
parcela privilegiada da elite e da pequen
a burguesia, inclusive a rural, c
onforme destaca Sodré
(1976):
Os estudantes que, no Brasil, como,
aliás
, por toda a parte, vinham da elite
da sociedade, - do patriciado rural, ou daquela pequena burguesia que
procurava ascender às camadas superiores
dirigiam
-se às aulas e aos
ginásios, e daí às escolas das profissões liberais, e especialmente às duas
faculdades de direito (p. 42).
No que se refere ao acesso à c
ultu
ra e à educação, Needell (1993) vai na mesma
direção e
reforça:
Em geral, apenas as famílias de posses e posição tinham acesso à educação
secundária no Segundo Reinado (1840-89) e na República Velha (1889-
1930
). Com o passar do tempo, um número crescente de filhos de
negociantes, burocratas do escalão inferior e profissionais liberais
conseguiram acesso aos colégios, mas a maioria dos nascidos fora do círculo
das elites eram iletrados ou autodidatas (p. 74).
Tal situação não era diferente em Mato G
ros
so.
A segregação estabelecida p
el
o
s
privilégios
concedidos à elite, marcava uma estrutura social rígida e ampliava a distância
entre a cultura da classe privilegi
ada
e a das classes populares. Dessa forma, havia
necessidade de se estender essa formação cultural à educação do povo. A situação dos
assuntos educacionais exigia uma tomada de posição com relação às precárias condições da
prática do ensino.
Nesse sentido, a Proclamação da República deu novo impulso à instrução pública,
uma vez que com a nova concepção de educação, houve um rápido desenvolvimento na
organização do ensino público brasileiro. A reformulação educacional almejada pelos ideais
da modernidade baseava-se em um modelo de escola européia, cuja renovação pedagógica
preconizava um ensino obrigatório, laico e gratuito. Nessa medida, a escola foi apresentada
como detentora do papel central, traduzindo um movimento que repercutiu em todas as
instâncias da sociedade (REIS, 2006, p. 13)
mesmo que não tenha atingido seus objetivos em
vista da dem
ocratização do ensino para todos
.
2
G
rifos da autora
41
A partir de então, novas orientações com vistas ao desenvolvimento do país
começavam a ser exigidas e delineadas, por meio da cultura e da educação, de acordo com os
interesses da própria demanda capitalista. A esse respeito, Sodré (1976), tece o seguinte
comentário:
Novas relações de produção, relações capitalistas de produção em
desenvolvimento cada vez mais acelerado geram novas e crescentes
exigências culturais, em quantidade e em qualidade. Atinge-se, no Brasil, a
etapa de desenvolvimento capitalista em que os produtos da cultura se
transformam em mercadorias (p. 64
-
5).
É importante re
lembrar
que a grande maioria da população de Mato Grosso era
analfabeta, à época da Proclamação da República. Esse fato se traduzia e
m
retardamento
ao
progresso e à ordem que se pretendia estabelecer. De acordo com Reis (2006) [...] a figura do
analfabeto marcava a inaptidão do país, revestindo-se como freio ao progresso. Erradicar o
analfabetismo era uma prioridade nos projetos de ref
orma educacional [...] (p.13).
Dessa forma, depositou
-
se na educação escolar a responsabilidade pela instauração
de uma nova ordem, com
uma sociedade culta e letrada
, na medida em que a instrução pública
se constituía em instrumento do governo para transmissão das normas e valores
regulamentares da população. Conforme Xavier (2007), a administração política da
província de Mato Grosso via na Instrução Pública um dos grandes meios de propagação do
ideário de construção do Estado
-Nação (p. 25).
As recentes investigações produzidas por pesquisadores do Estado
dão
-nos notícia
de que Mato Grosso figurava, dentro desse contexto social, como uma província tentando se
equiparar com os grandes centros, uma vez que se dispôs à reorganização do setor
educacional
.
A província, tanto no que se refere ao seu desenvolvimento econômico quanto
cultural e educacional, era classificada como atrasada pelas autoridades que se respaldavam
em medidas tidas como modelares. Medidas essas que precisavam ser imitadas pelos
respons
áveis pela modernização da instrução pública do Estado. É nesse sentido o
Relatório
da Diretoria da Instrução Pública que se propunha a dar conta da melhoria do setor
educacional, conforme constatado por (RONDON, 1905
apud
AMÂNCIO, 2008):
Não devemos adaptar o plano de ensino ao nosso meio actual, que é
reconhecidamente atrazado; o nosso procedimento deve ser no sentido
contrário; devemos procurar modificar esse meio, esforçando-nos por imitar
os passos de outros Estados em que o progresso dia á dia vae g
anhando
terreno; [...] (p. 82).
42
Nessa perspectiva, a reorganização do ensino estabelece-se como um marco no
processo de modernização do Estado que procurava estar em sintonia com os grandes centros
urbanos, conforme
ressalta R
eis (2006):
De forma semelhante ao que ocorreu em alguns Estados brasileiros, Mato
Grosso, após 1910, viu-se envolto por uma onda de modernização, incluindo
debates, projetos e realizações, que buscavam reformular a escola e, por
conseguinte, o ensino em seus diferentes níveis (p. 2
0).
Dessa forma, a implantação e a difusão do ensino no estado trouxeram novas
perspectivas de melhoria à população. Vale ressaltar, entretanto, que a instrução pública, cujo
propósito era o estabelecimento de uma ordem social, buscava o desenvolvimento do estado
sem, entretanto, deixar de manter a distância entre as classes sociais, conforme ressalta Xavier
(2007):
[...] a instrução primária, em especial o ensino da leitura e da escrita,
tornava
-se importante para difundir os preceitos expressos na legi
slação,
que, por sua vez, estava aliada à doutrinação cristã da população para formar
uma sociedade harmoniosa e ordeira, sem, contudo, deixar de determinar a
diferenciação da heterogênica escala social da época (p. 25).
3.
3
O cenário da fotografia em Cu
iabá na década de 1920
A década de 1920 no Estado de Mato Grosso foi marcada pelas inúmeras
transformações que
haviam
ocorrido em todo país. Àquela época as notícias ainda chegavam,
em sua maioria, por via fluvial. Entretanto, após a implantação da naveg
ação
a vapor
houve
uma significativa aceleração do desenvolvimento do Estado, conforme salientam Borges e
Castro (2008): Com a utilização do barco a vapor, o comércio ganhou velocidade,
diminuindo o tempo de realização das viagens para trinta dias, as quais, anteriormente,
duravam aproximadamente quatro meses (p. 381).
Vale ressaltar que antes do barco a vapor, a comunicação era estabelecida por
caminhos terrestres precários, de difícil acesso ou via fluvial com embarcações de pequeno
porte (SIQUEIRA, 2002). O comentário de Póvoas (1996) vem ao encontro dessas
informações quando relata:
Encontrava
-se Dom Pedro II a bordo do vapor
Alagoas
que o conduzia ao
exílio, já em águas européias, quando a 02 de dezembro ocorreu o seu
aniversário natalício. Cuiabá, onde ainda se ignorava a instauração do novo
43
regime, comemorou, com grandes festas o aniversário do Imperador [...] A
notícia da Proclamação da República chegou a Cuiabá na madrugada de
09 de dezembro, pelo paquete Coxipó
[...] (p. 85).
Aliada à nave
gação, a inauguração da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil
NOD,
a partir de 1914, prestou também grande contribuição no sentido de se dinamizar o
desenvolvimento da capital, uma vez que se tornou um meio de transporte complementar à
via fluvial (SILVA:
2004).
Entretanto, em Cuiabá, o tempo transcorria em outro compasso
(RAMOS: 2002, p.
42)
devido a vários fatores que a marcavam como uma cidade
provinciana, de poucos recursos e pouco conforto
.
Nesse sentido, o advento da imagem fotográfica naquela região não foi diferente.
No
final do século XIX a invenção dos equipamentos fotográficos portáteis, já começava a ser
lançada e divulgada no Brasil, propiciando a difusão
d
a prática fotográfica.
A possibilidade de
se registrar os acontecimentos de forma mais
aperfeiçoada do que por meio do desenho, já era
também
uma realidade no Brasil e já se fazia presente no âmbito cultural dos grandes centros.
Entretanto, a novidade começou a se fazer presente em Cuiabá no início do século XX,
pelas mãos de viajantes q
ue chegavam à cidade, munidos do equipamento fotográfico.
Vale lembrar que a produção dos primeiros daguerreótipos em nosso país
aconteceu no Rio de janeiro e data de 1840 (ANDRADE, 2003, p. 114). De acordo com
Andrade (2003), Dom Pedro II foi a primeira
pessoa a produzir uma imagem de fotografia em
nosso país. A esse respeito, o autor registra:
em 17 de janeiro de 1840 o abade francês Louis Compte, capelão
do
L Orientale,
navio
-escola franco-belga que dava a volta ao mundo e
chegara a pouco da Europa, produziu os primeiros daguerreótipos de nosso
país, todos na região central da cidade do Rio de Janeiro. Apresentado ao
novíssimo processo, D. Pedro II
à época, com apenas 14 anos e às vésperas
da antecipação da sua maioridade
interessou
-se de imedia
to,
providenciando logo a aquisição de um equipamento para seu próprio uso e
melhor compreensão do processo e tornando-se assim o primeiro cidadão
brasileiro a tirar uma fotografia.
Sabe
-se que existem, em Cuiabá, registros da cidade por meio de desenhos e de
pinturas que datam do século XVIII,
conforme ressalta Conte (
2006)
:
Assim, desde o século XVIII, Cuiabá acumulou vistas através das quais
pode
-se observar o seu desenvolvimento urbano, primeiro pelos desenhos e
pinturas e, a partir do século XX, com fotografias. As primeiras duas vistas
datam do período 1771
-
1780 (p. 190
-
191).
44
Tais registros pictóricos trouxeram grande contribuição para a historiografia da
cidade, na medida em que se tornaram importantes fontes de pesquisa para a linguagem e a
histór
ia
visual da cidade. Entretanto, essas imagens, cujos autores faziam parte das diversas
expedições
3
que passaram pela cidade, encontram-se dispersas e a maioria delas pertence
hoje
a instituições localizadas em Portugal (Conte, 2006). Há notícias também a respeito de
documentos iconográficos existentes em outros países como, por exemplo, na Rússia
guardados em dependências da Academia das Ciências de São Petersburgo (MOURA,
1984, p. 13). Esses documentos foram produzidos por desenhistas-
pintores
4
componen
tes da
Expedição Langsdorff que passou por Mato Grosso entre os anos de 1826-1827. A esse
respeito pode
-
se constatar em Moura (1984):
A Expedição percorreu vastas regiões do interior do Brasil
São Paulo,
Minas Gerais, Mato Grosso (norte e sul), Rondônia, Amazonas, Pará [...].
Durante a viagem, o material coletado e os desenhos e pinturas eram
despachados para a Academia de Ciências de São Petersburgo (p. 12).
registro também a respeito de um aventureiro italiano
Bartolomé Bossi
que
em visita a cidade de Cuiabá em 1863 havia trazido consigo um sextante e uma máquina
fotográfica, instrumentos com os quais pretendia revelar ao mundo a realidade que observaria
[...] (SIQUEIRA, 2002, p. 141). Entretanto, dessa visita foram encontrados registros
icon
ográficos produzidos por meio de desenhos. Não se tem notícia de imagens fotográficas
produzidas por esse visitante, que devem ter se perdido.
Não obstante os extravios e a dispersão das imagens, os registros e arquivos do
Estado mostram as constantes tentativas no sentido de se promover e preservar a cultura da
cidade. Tal fato pode ser constatado por meio de iniciativas de diferentes ordens de pessoas e
instituições empenhadas em dar continuidade à valorização cultural da Capital. Devido a esse
empenho,
é possível visualizar a primeira fotografia estampando a cidade em sua plenitude,
publicada no
Álbum Graphico de Matto Grosso
em 1914. Embora tenha sido reproduzida sem
data, sabe-se que a referida imagem fora captada antes de 1913, conforme podemos consta
tar
em Conte (2006) que a respeito desse fato afirma: Como 1914 é o ano da edição do Álbum
3
registro de cientistas e cronistas que passaram por Mato Grosso integrando expedições como a expedição
austríaca comandada por Johann Natterer, a alemã de Karl von den Steinen que esteve por duas ocasiões em
Mato Grosso, além de outras
(SIQUEIRA, 2002).
4
Esses desenhistas-pintores eram os franceses Aimé Adrien Taunay e Hércules Florence contratados por
Langsdorff no Rio de Janeiro (MOURA, 1984).
45
gráfico, a foto é, obviamente, um pouco mais antiga, que o Palácio da Instrução
5
,
inaugurado em 1913, se encontrava em fase de construção (p. 198).
Por essa época, a cidade abrigou vários fotógrafos entre profissionais e amadores
que se instalaram naquela região. Dentre eles destacamos os irmãos Cláudio e Raimundo
Bastos ambos nascidos na capital. O primeiro, fotógrafo amador, herda do irmão o
equipamento fotográfico. Esse fotógrafo costumava registrar as imagens da cidade quando a
visitava, por ocasião das férias, nas cadas de 1930 a 1940 (Ramos, 2002). A respeito desse
fotógrafo, Costa e Silva (2002) informa: Com a mesma sensibilidade do irmão, com o
mesmo amor à terra natal, suas lentes vêem o povo nas ruas, os acontecimentos marcantes, as
festas, as touradas, as chegadas e as partidas dos viajantes, os primeiros aviões, as lanchas no
porto, os políticos e os governantes (p. 10).
Ramos (2002), complementand
o
ess
a
s informações
, observa:
Com a máquina fotográfica a tiracolo, ele aprisiona imagens tal qual turista;
mas um turista sensível e caprichoso; um turista muito especial, pois volta os
olhos para o seu chão e a sua gente, a quem visitava durante as férias com a
família. [...] Fotografa a família reunida; amigos, depois da missa; os filhos;
a cidade..., o tempo... (p. 25).
Raimundo Bastos (1897-19..), irmão mais novo de Cláudio (1895-19..),
interessou
-se pela arte fotográfica, antes do irmão, logo que o instrumento fotográfico
começou a se fazer presente na cidade:
[...] entusiasmado com a fotografia que em Cuiabá dava os seus primeiros
passos, vendo chegar um e outro viajante munido de máquina fotográfica,
não hesita em comprar também o seu equipamento. Inicia então um
meticuloso e interessante trabalho, na primeira década do século XX,
fotografando inicialmente seus familiares e as ruas de sua cidade natal
(COSTA e SILVA: 2002, p. 9).
Inicialmente, Raimundo Bastos fotografou na qualidade de amador, to
rnando
-
se
profissional na década de 1920. Nesse período produziu imagens das mais diversas temáticas:
Pessoas, momentos, fatos sociais da cuiabanidade foram retratados pelo sensível poeta das
lentes (COSTA e SILVA: 2002, p. 9). Na década de 1930, o fotógrafo abandona a fotografia,
deixando o equipamento para o irmão, conforme já ressaltado (Ramos, 20
02)
.
A esse respeito, Costa e Silva (2002) enfatiza: Nos anos 30, traumatizado com a
morte de uma filha [em 1933, aos oito anos], deixa Raimundo Bastos a fo
tografia
5
Referência ao prédio da Instrução Pública que pode ser visualizado na fotografia, ao lad
o esquerdo da Catedral,
localizados no centro da cidade e que hoje abriga a Biblioteca do Estado de Mato Grosso.
46
profissional. Então o seu esplêndido acervo, composto de máquinas, tripés, álbuns e negativos
em placas de vidro, passa às mãos de seu irmão Cláudio Bastos (p. 9).
Entretanto, com o passar do tempo, as imagens fotográficas registradas na década
de 1910, por falta de uma melhor conservação e mudanças dos detentores do acervo, foram
danificadas, conforme constata Costa e Silva (2002):
Deterioram
-se as fotos, quebram-se os negativos em vidro, estragam-se as
máquinas, perdem-se um sem número de álbuns. Das primeiras fotos, da
década de 10, nada se salvou. Extraviou-se para sempre um precioso
testemunho visual daquela Cuiabá tranqüila e pacata vista por Raimundo e
Cláudio Bastos (p. 10).
Recentemente, movida por questões afetivas e visando à preservação da
documentação fotográfica inédita , bem como a salvaguarda da memória da cidade, a
escritora Maria de Lourdes Figueiredo Bastos da Silva Ramos, filha de Cláudio Bastos e
proprietária do acervo herdado do tio Raimundo Bastos e do pai, propõe-se a
despretensiosamente resgatar retalhos de uma
Cuiabá
que se foi, que se perde na neblina do
tempo (2002, p. 20). Dessa forma, decide pela publicação, em 2002, do livro intitulado
Um
olhar para a Cuiabá de Cláudio e Raimundo Bastos (1920
1930).
Nesse livro, a autora faz uma abordagem da memória visual da cidade de Cuiabá
da primeira metade do culo XX, por meio dos registros fotográficos vistos pelas lentes dos
irmãos Cláudio e Raimundo Bastos. Segundo Costa e Silva (2002), esses fotógrafos
Captaram com as suas lentes a alma cuiabana, em sensíveis imagens onde,
as paisagens, as ruas, os flagrantes eram miscigenados sempre com a
presença viva do povo de Cuiabá. Tipos interessantes e inesquecíveis, gente
simples, transeuntes, familiares e pessoas da sociedade, foram ali registrados
para sempre. O modo de viver, de vestir, de passear, de se divertir. Um
tempo, uma época e uma gente que foram flagrados pelas câmeras dos
fotógrafos (p. 10).
A maioria desses registros são fotografias inéditas, conforme ressaltado, cujas
imagens oferecem a possibilidade de expressão, comunicação, diálogo e interação com o
contexto sócio-cultural da época em que foram registradas. Buscando reproduzir
suas
memórias e evocando as
saudades
por meio das imagens, sem se preocupar em interpretá-
las,
a autora traz em seu livro assuntos referentes ao folclore, às festas religiosas e à educação,
destacando ainda aspectos referentes à cidade, aos costumes e à moda que vestia a elite
cuiabana daquele período. Além dos comentários da autora, a
lguma
s fotografias apresentam
uma legenda, seja localizando-as no tempo e no espaço, seja informando a respeito dos atores
retratados.
47
Trata
-se de fotografias que não permite a compreensão de como se
compunham determinados locais das cidades em alguns períodos (CARVALHO e WOLFF,
1998, p. 160) como também, apresentam importantes evidências históricas passíveis de
fornecerem elementos que suscitam análises e interpretações de seus conteúdos
informacionais, oferecendo possibilidades de respostas ou novos questionamentos para além
do que foi registrado. Dessa forma, selecionamos do livro citado,
dez
das
vinte
imagens que
compõem este trabalho e que serão objeto de análise na seção seguinte.
Além dos irmãos Cláudio e Raimundo Bastos, a cidade de Cuiabá
abrigo
u
outros
importantes fotógrafos, profissionais e amadores que trouxeram suas contribuições à
sociedade, ao registrarem, igualmente, imagens que ficaram para a história. Entretanto, não se
tem nenhum registro a respeito dessas personalidades cujas marcas foram deixadas por meio
dessas fotografias, publicadas com a sigla ANI (autor não identificado), como é o caso
daquelas que foram utilizadas nesta pesquisa.
Dada a relevância histórica das imagens desses fotógrafos,
muitas
fotografias
encontram
-se à disposição de pesquisadores no Arquivo Público de Mato Grosso e, mais
recentemente, no MISC (Museu da Imagem e do Som de Cuiabá). Outras foram publicadas
em livros como o
Álbum Graphico de Matto Grosso
. Publicado em 1914, esse é um dos livros
que pode ser considerado como uma importante fonte de consulta ao pesquisador. O mais
recente, intitulado Cuiabá: de vila à metrópole nascente, de autoria da historiadora
da
Universidade Federal de Mato Grosso, Elizabeth Madureira Siqueira e colaboradores, foi
publicado
em 2006.
Devemos
ressaltar, entretanto, que muitas fotografias encontram-se ainda
guardadas, conforme foi relatado, em órgãos públicos da cidade, sem nenhuma
organização, o que, muitas vezes, dificulta o acesso aos usuários interessados nesse tipo de
d
ocumento.
Por isso, a publicação do livro Cuiabá: de vila à metrópole nascente surge como
um importante referencial que vem suprir uma lacuna no que tange à publicação de imagens
que registram as transformações sofridas pela capital ao longo dos anos.
Por
outro lado, essa publicação veio contribuir com o campo da pesquisa ao trazer
à lume registros que se apresentam como marcas culturais de um período da história da
cidade, revelando hábitos e costumes de um passado retidos em determinado tempo e espaço.
A
esse respeito, Andrade enfatiza (1990):
É indiscutível a importância da fotografia como marca cultural de uma época
não pelo passado ao qual ela nos remete, mas também, e principalmente,
48
pelo passado que ela traz à tona. Um passado que revela, através do olhar
fotográfico, um tempo e um espaço que fazem sentido (p. 19).
A constatação de Kossoy (1989) corrobora a informação quando enfatiza: A
imagem fotográfica é o que resta do acontecido, fragmento congelado de uma realidade
passada, informação maior de vida e morte, além de ser o produto final que caracteriza a
intromissão de um ser fotógrafo num instante dos tempos (p. 22). Diante de tais
argumentações
cabe
-
nos
esclarece
r que do livro
Cuiabá: de vila à metrópole nascente
foram
retiradas as outras dez fotografias componentes do
corpus
selecionado para análise neste
estudo.
Cabe esclarecer também que grande parte das imagens aqui reproduzidas foram
publicadas em outros meios de comunicação e se tornaram, portanto, bastante conhecidas da
comunidade
mato
-
grossense
, de modo geral
.
A respeito das fotografias selecionadas, cabe relatar que não foi dado destaque às
pessoas das classes populares nas imagens, seja como personagens das fotografias seja como
objeto de análise deste estudo. Tal como constata Frehse (2005), tais pessoas, na maioria dos
contextos,
aparecem em situações em que são requisitadas
apenas
como mão
-
de
-
obra, ou seja,
em lugares marcados pela permanência regular eminentemente dos setores pouco
remediados da população (FREHSE 2005, p. 19
9)
e não como personagens centrais, de
destaque e, portanto, como objeto focais das fotografias. No caso do presente estudo, sobre os
anos 1920 em Mato Grosso, a maioria das fotografias vêm estampando componentes da elite
cuiabana
, seja nos momentos de lazer nas festas religiosas ou profanas ou no seio familiar,
quando as famílias se faziam retratar para a posteridade. Tal fato é evidente, uma vez que a
fotografia constituía-se em empreendimento para poucos, dado o preço dos equipamentos e
sua raridade (FREHSE 2005, p. 199) também, em Cuiabá n
aquele
período.
Não se trata,
pois, de uma opção ideológica do pesquisador, seletiva e excludente, enaltecedora de uma
classe social com relação às outras, mas de uma realidade ligada ao contexto daquele local,
naquel
e tempo e
ao objeto de estudo do qual
o pesquisador n
ão pode s
e
esquivar
.
49
4
ANÁLISE
DO
CORPUS
IMAGÉTICO
Essencialmente, toda imagem nada mais é do que
uma pincelada de cor, de naco de pedra, um
efeito de luz na retina, que dispara a ilusão da
descoberta ou da recordação.
Manguel
Após a realização das investigações e reflexões em torno de vinte fotografias e de
haver retirado delas as informações que
foram
visualiza
das
, acredita
mos
ter delineado um
procedimento que possa ser tomado, senão como um exemplo, pelo menos como uma
indicação de como proceder diante de um conjunto de foto
grafias
não abordado
anteriormente.
Dessa forma, apresentamos, em seguida, o resultado da análise e da interpretação
do conjunto imagético selecionado, referente à cidade de Cuiabá, na
década
de 1920, à luz da
abordagem
teórica adotada. Entretanto, julga
mos
necessário esclarecer que não se trata de
uma receita pronta e que servirá para todos os casos. Trata-se de uma sugestão, um
encaminhamento, uma indicação que poderá ser útil para um início de trabalho dessa
natureza.
Tudo dependerá das condiçõe
s físicas do acervo fotográfico, da conservação em que
se apresenta, dos dados externos esclarecedores da situação geral dessa massa documental,
bem como do local onde estão depositadas e em que serão indexadas tais fotografias.
Vale relembrar, também que,
nesta
pesquisa, trabalharemos com fotografias que
podem ser encontradas no Arquivo Público do Estado de Mato Grosso e no Museu da
Imagem e do Som
de Mato Grosso
.
D
ez dessas fotografias são de autores que, embora tenham
deixado suas marcas por meio dessas imagens, nunca foram identificados. Contudo, é
necessário esclarecer que tais fotografias se encontram reproduzidas e publicadas no livro
Um olhar para a Cuiabá de Cláudio e Raimundo Bastos (1920
1930)
, publicado em
2002,
conforme fora anteriormente c
itado
e,
também
,
no livro
Cuiabá, de vila a metrópole nascente
,
publicado em 2006. Este, de autoria
de
Elizabeth Madureira Siqueira e outros autores. Ou
seja, para a realização da presente pesquisa, servimo-
nos
somente de fontes imagéticas
secundárias.
50
Na
análise das vinte fotografias, julgamos ter seguido as seguintes seqüências de
procedimentos que foram norteadores da pesquisa e que consideramos relevantes para o
alcance dos objetivos propostos.
Assim,
as fotografias foram sep
aradas
uma
a uma
e
destacad
as do conjunto
para
efeito de análise sem perder de vista
, no entanto,
o
grupo
ao qual ela é pertencente. Buscamos,
em seguida, observar
todas
as anotações encontradas ao lado ou no verso de cada fotografia.
Na seqüência procedemos à
análise
do conteúdo
de
cada uma das fotografias, num primeiro
plano. Ou seja, seus dados denotativos que compreendem
pose
ou
instantâneo, pessoas,
objetos, o que aparece no entorno do que foi fotografado bem como os detalhes como
bolsas,
chapéus, meias, ias, dentre outros, das pessoas fotografadas e, ainda, a composição do
espaço, no momento em que a fotografia fora capturada. Abordamos também os
aspectos
relacionados a questões subjetivas como as de hierarquia, classes sociais, as afetivas que
permeiam as
relações entre os at
ores fotografados.
Ao final
desses procedimentos, destacamos
as observações que
se sobressaíram
nas fotografias e que foram consideradas
relevantes para a
análise
.
A seguir apresentamos a análise das vinte fotografias selecionadas, como
mencionado, agrupadas em do
is
grandes
conjuntos temáticos conforme foi mencionado na
introdução deste trabalho.
51
4.
1
Aspectos da vida pública
Pela análise deste conjunto de fotografias percebemos que, embora Cuiabá nos
anos de 1920 estivesse nos limites do avanço capitalista e do seu desenvolvimento no país,
havia uma preocupação não com a construção e preservação dos edifícios, das praças, das
ruas que começariam a receber os primeiros automóveis, com os monumentos como
chafarizes capazes de significar e de valorizar a cidade, como também com os meios de
transportes que estabeleciam a comunicação da cidade com outras regiões e, ainda, com o
lazer que movimentava a população da cidade en
volvendo
pessoas das várias classes sociais
em torno de eventos de grandes proporções, como era o caso das touradas e da festa do
Senhor Divino.
Conforme foi ressaltado, à época em que a cidade dependia apenas do meio de
transporte fluvial, seu crescimento dava-se a passos lentos, embora procurasse manter-
se
sempre em sintonia com o que havia de mais moderno tanto na Capital Federal
Rio de
janeiro
quanto na Europa. Com a inserção de modernos meios de transportes motorizados e
movidos à gasolina, a cidade começa a entrar em uma nova era de progresso. A intensidade de
mudança pela qual passa a cidade permite-nos supor uma movimentação maior de diferentes
tipos de pessoas vindas de outros locais do país. Dessa forma, a cidade passa a receber em
menor espaço de tempo as influências da modernidade das regiões consideradas mais
adiantadas, tanto no que se refere a questões políticas e econômicas quanto a questões sociais
e cultura
is
. Dessa forma, tudo circula mais rápido e as fotografias, de certo modo, registram
esse movimento
.
4.1.1
Os monumentos e as edificações
Neste
conjunto
inserimos monumentos e
as
edificações
da década de 1920
que
consideramos,
dentre outros que não figuram neste trabalho, de grande relevância como
patrimônio histórico da capital. São construções levadas a efeito
,
em uma época em que o
desejo de acompanhar o que havia de mais moderno nas grandes capitais, fazia com que a
longínqua
cidade
de Cuiabá investisse na modificação urbana da cidade. Dessa forma,
reunimos neste conjunto: a construção da Igreja do Bom Despach
o,
vista das casas cuiabanas,
52
o chafariz do
mundeo
em dois momentos
originalmente e restaurado
e o antigo Liceu
Cuiabano.
4.1.1.1
A
constr
ução da Igreja do Bom Despacho em cena
Visualizada na Fotografia 1, a igreja do Bom Despacho tornou-se um dos ícones
da cidade de Cuiabá e está localizada no chamado Morro do Seminário. Este é assim
conhecido por abrigar ao lado da igreja, o Seminário Episcopal da Conceição
inaugurado
em 1882. A respeito do seminário, Siqueira et al (2006) enfatiza: O Seminário Episcopal da
Conceição é de grande significação para a história da educação em Mato Grosso, pois foi ali
instalado o primeiro curso de ensino secundário em território mato-grossense (p. 148).
Ressaltamos que essas instituições foram construídas no alto de um morro, fato que garantiu
relevante destaque a essas edificações
, tanto no aspecto físico, como no simbólico
.
A igreja, em construção, substitui a pequena capela anteriormente construída no
local na primeira metade do século XIX e demolida em 1918 (SIQUEIRA et al,
2006)
para
dar lugar a que se visualiza na fotografia. Tem-se a impressão de que a construção da igreja
nova simboliza o desejo de mudança no sentido de colocar a cidade em sintonia com a capital
francesa. Essa impressão deve-se ao fato de a Igreja do Bom Despacho, ser uma réplica da
Notre Dame de Paris idealizada pelo frei Ambrósio Daydè
1
, franciscano de nacionalidade
francesa. Nessas condições, a fotografia representa o presente no registro do novo, daquilo
que representasse transformação (CARVALHO e WOLFF, 1998, p. 164).
Nessa fotografia, cujo autor não fora identificado, observamos que a igreja
está
na altura do portal, prestes a iniciar a cobertura. Acompanha a fotografia a informação de que
se trata de uma imagem da
década de 20 do século XX
na
qual figura no centro frei Ambrósio
Daydé
(SIQUEIRA et al,
2006)
. Podemos observar a presença de sete outras pessoas, sendo
que
uma de
las
, um padre (ou freira), não foi identificada. Os seis outros são, provavelmente,
operários da construção. Quatro deles estão no nível do chão, os outros dois no alto da
construção.
É possível deduzir que, dentre os profissionais presentes, um deles possa ser
externo à construção, uma vez que ele está sobre uma carroça com rodas de madeira, puxada
por três cavalos, meio de transporte de materiais para construção.
A
impressão
que se tem é a
1
Missionário franciscano da Ordem terceira Regular, que veio para o Brasil e depois para Mato Grosso, em
setembro de 1904, em companhia de outros missionários, por solicitação do Bispo Dom Carlos Luiz D Amour.
Foi o inspirador e o supervisor da construção da Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho. (PÓVOAS:
1994
,
p. 170
-
171).
53
de que essas pessoas posam para o fotógrafo. Essa dedução deve-
se
ao fato de os dois ao alto
e o primeiro à esquerda assumirem a posição de sentido no momento da captura da imagem.
Essa era a postura tradicional à época, para se posar para fotografia. Percebemos nessa pose
conforme destaca Bourdieu (2006
),
a preocupação
dos
fotografados
com a importância de se
apresentar aos outros a imagem de si o mais honrosa possível: a postura fixa, rígida, que tem
na posição de sentido dos soldados a expressão máxima dessa intenção inconsciente (p.38).
Esse comentário vem ao encontro da constatação de Fraya Frehse (2005) que, ao analisar esse
tipo de pose, comenta: Corpos empertigados em postura quase soldadesca desprovidos de
gestos expansivos, eram a regra (p. 191).
A esse respeito, Bourdieu
(
2006)
acrescenta:
[...]
confro
ntado com um olhar que fixa e imobiliza aparências, adotar a mais
digna das atitudes, a mais sóbria e a mais cerimonial, colocar-se de forma
rígida e imóvel, com os pés juntos, os braços estendidos, como um soldado
em sentido, é reduzir o risco de parecer desajeitado e inconveniente, é
apresentar aos outros uma imagem controlada, preparada, aprimorada de si
(p. 38).
É notório também que os dois senhores à esquerda, os dois ao alto e o situado ao
lado do carrinho-
de
-mão, estão olhando diretamente para a câmera. Há uma ausência de
instrumentos de trabalho, com exceção de um carrinho-
de
-mão e um instrumento que
parece
se
r utilizado para coar areia. Os trabalhadores são do sexo masculino, pois se trata de um
trabalho
exclusivo dos homens. Observamos que todos usam chapéu, menos as duas figuras
eclesiásticas.
O padre está tratando diretamente com um provável profissional de engenharia,
arquitetura ou mestre de obras, uma vez que ambos seguram nas mãos um artefato de papel
grande, possivelmente um projeto técnico, demonstrando que a construção fora realizada com
planejamento. Esse registro supõe o cuidado com que se elaboravam as construções religiosas
na década de 1920 na cidade de Cuiabá. Tem-se um profissional especializado que se
distingue dos outros pela vestimenta e pela atitude, bem como pela companhia, posto que está
conversando com o padre e se posta, igualmente, no centro da fotografia. Talvez se trate do
arquitet
o León Joseph Mounier
2
responsável pela projeção da igreja. É possível p
ercebe
r
ainda monturos de pedras, areia e andaimes de madeiras rústicas e improvisadas. As pedras,
conhecidas como pedras canga , típicas da região, são porosas e eram utilizadas nas
construções refinadas de Cuiabá. Finalmente, nota-se que a arquitetura possui um estilo
2
Arquiteto francês responsável também pela projeção da Igreja de Nuestra Señora de la Encarnación, em
Assunção, à época de sua passagem pelo Paraguai (PÓVOAS, 1994, p. 291).
54
marcado. Pode-se afirmar isso tanto pelas ogivas góticas visíveis na foto, como pelas
informações que se têm a respeito da intenção de se fazer uma réplica da Notre Dame de
Paris, o que demonstra que, àquela época, as obras eram marcadamente inspiradas no modelo
europeu.
É possível perceber, pela análise da foto, o esmero, o cuidado, a atenção à
inspiração de base na construção da igreja Nossa Senhora do Bom Despacho, uma vez que o
padre supervisiona pessoalmente com sua cultura e com seus conhecimentos a obra, até
porque se tratava de uma obra de grande relevância para a capital à época de sua construção.
Essa fotografia demonstração do lugar de destaque à religiosidade
sobretudo ao
catolicismo
praticada e valorizada na cidade. Religiosidade essa
presente desde que a cidade
se tornara vila, posto que recebera o nome de Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá .
Essa igreja, apesar de ter sido, juntamente com o Seminário Episcopal da Conceição e o
Chafariz do Mundéu, uma das primeiras instituições a serem tombadas na capital,
(SIQUEIRA, 2002), foi relegada ao abandono e esquecimento por anos, permanecendo
por
longo tempo com suas paredes rachadas, vidros e teto quebrados. Atualmente, devido ao
programa de recuperação do patrimônio público pelo Governo do Estado, a igreja encontra-
se
restaurada e novamente utilizada pela sociedade.
55
Fotografia 1
- C
onstrução da Igreja do Bom Despacho
Fonte: Siqueira
et al
(2006, p
. 145)
4.1.1.
1.1
Descrição da fotografia 1
Elementos descritivos
Au
tor
Não identificado
Título
A construção da Igreja do Bom Despacho em cena.
Local
Cuiabá (MT)
Data
Década de 1920
Notas
Legenda: Construção da Igreja do Bom Despacho; ao centro, o frei
Ambrósio Daydé. Década de 20 do século XX (Siqueira
et al
2006, p 1
45).
Quadro 1
-
Elementos descritivos da fotografia 1
56
4.1.1.1.2
R
esumo da
Fotografia 1: a
construção da Igreja do Bom Despacho
Fotografia de autor não identificado estampando a construção da Igreja de Nossa
Senhora do Bom Despacho, mais conhecida como Igreja do Bom Despacho e que se
tornou um dos ícones da cidade de Cuiabá. O início de sua construção data de 1918 em
substituição à primeira capela erguida no início do século XIX. Igreja abrigada no
Morro do Seminário onde se localiza também, o Seminário Episcopal da Conceição,
inaugurado em 1882. Outra instituição de grande relevância para a população, uma vez
que após sua construção inaugurou-se, nesse local, o primeiro curso de ensino
secundário no Estado de Mato-Grosso. Ambas as
instituições,
consideradas patrimôni
o
histórico da cidade, foram as primeiras a receber a atenção do Governo do
Estado
no que
se refere à
preservação
, ou seja, foram tombadas logo após a promulgação da Lei que
instituiu o devido tombamento. A imagem apresentada, retratada na cada de 20 do
século XX, estampa a
igreja em fase de construção
na altura do portal, prestes a iniciar a
cobertura. A imagem compõe-se de nove pessoas: Ao centro, frei Ambrósio Daydé
acompanhado por um senhor. Talvez seja o arquiteto León Joseph Mounier responsável
pela projeção dessa e da Igreja de Nuestra Senõra de la Encarnación, em Assunção no
Paraguai;u
ma figura de preto que pode estar saindo ou entrando na igreja que pelo tipo
de vestimenta que apresenta, trata de um padre (ou freira) não ident
ificado;
os outros
seis são, provavelmente, operários da construção. Quatro estão no nível do chão e dois
no alto dela. Tem
-
se a impressão de que essas pessoas posam para o fotógrafo, posto que
os dois senhores ao alto e o primeiro à esquerda assumem a pos
ição
soldadesca
de
sentido
, típica da época, no momento da captura da imagem. Além disso, olham
diretamente para a câmera. O segundo à esquerda, além de olhar para a câmera, coloca
as mãos na cintura. Os trabalhadores são do sexo masculino, posto se tratar de um
trabalho exclusivo dos homens. Notamos monturos de pedras, areia e andaimes de
madeiras rústicas e improvisadas, além de um carrinho-
de
-mão e um outro instrumento
que parece ser utilizado para coar areia. As pedras, conhecidas como pedras canga ,
p
orosas
, são típicas da região e eram utilizadas como fundamento nas construções
refinadas de Cuiabá assim como em
calçamento de ruas. O
estilo marcado da arquitetur
a
é visível
,
tanto pelas as ogivas góticas como pelas informações sobre a intenção de se
con
struir uma réplica da Notre Dame de Paris, demonstrando a inspiração em modelos
europeus.
Relegada ao abandono e esquecimento por anos, permanecendo com suas
paredes rachadas, vidros e teto quebrados,
essa
obra encontra
-
se atualmente restaurada.
4.1.1.1.3
Descritores de conteúdo da fotografia 1
Descritores
Denotativos
Conotativos
Igreja do Bom Despacho. Seminário
Episcopal da Conceição. Instituições
religiosas.
Valoriz
ação do catolicismo. Idealização da
espiritualidade.
Frei Ambrósio Daydé. León Jo
seph Mounier.
Homens adultos Trabalhadores. Cavalos.
Símbolo de mudança.
Prédio em construção. Andaimes. Pedras-
canga. Carrinho
-
de
-
mão.
Valorização. Patrimônio público.
Desenvolvimento. Relações sociais.
Hierarquia. Modernização.
Qua
dro 2
- D
escritores
denotativos e conotativos de conteúdo da fotografia 1
57
4.1.1.
1.4
Bibliografia
BOURDIEU, Pierre. O camponês e a fotografia.
In:
Revista de sociologia e política
.
Tradução Fábia Berlatto e Bruna Gisi. Curitiba N. 26, jun.2006.
P. 31
-
39.
FREHSE, Fraya. Antropologia do encontro e do desencontro: fotógrafos e fotografados nas
ruas de São Paulo (1880-1910). In: MARTINS, José de Souza et al
(orgs.).
O imaginário e o
poético nas Ciências Sociais.
São Paulo: Ed. USC, 2005.
PÓVOAS, Lenine de Campos
.
História da cultura matogrossense
.
2. ed. São Paulo:
Resenha, 1994.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso. Da ancestralidade aos dias
atuais.
Cuiabá: Entrelinhas, 2002
.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. Bairro do Porto. In: SIQUEIRA, Elizabeth Madurei
ra,
et
al.
(Org
.).
Cuiabá:
de vila a metrópole. Mato Grosso: Arquivo Público de Mato Grosso,
2006.
58
4.1.1.2
Vista das casas cuiabanas
A
fo
tografia 2 é outra imagem considera
da
interessante
como registro
arquitetônico por
apresenta
r um conjunto de casas do
ano
de 1930. Essa foto
grafia
, de autor
não identificado, oferece um interessante panorama, cuja vista fora capturada a partir do
Morro da Luz. Nesse local é possível ter uma visão privilegiada da região central da cidade,
nas imediações da Avenida, hoje denominada Tenente Coronel Duarte . Àquela época,
essa
avenida era chamada de Prainha. Ela era assim
denomin
ada devido ao fato de abrigar em seu
centro um pequeno riacho (Córrego da Prainha),
considerado
o cordão umbilical
que
alimentou de ouro o então nascente Arraial do Cuiabá (CONTE, 2006, p. 26). Esse c
órrego
,
cuja nascente localiza-se na Avenida Miguel Sutil, desaguava no Rio Cuiabá. A nascente, nos
dias atuais, encontra-se tomada pela área urbana (CONTE, 2006). Ainda hoje, apesar de não
estar registrado em nenhuma placa, a avenida ainda é conhecida pela população pelo nome de
Prainha. A legenda que acompanha a imagem informa que se trata de telhados das casas
cuiaban
a
s
retratados no a
no
de 1930, vis
ualizados
do Morro da Luz
(SIQUEIRA
et al
2006
).
Além dos telhados do casario, é possível localizar, ao fundo, a imagem do prédio do
Palácio
da Instrução, à esquerda. À direita, vê-se a Catedral metropolitana conservando ainda seu
antigo modelo, demolido em 1968 para dar luga
r à
construção do modelo atual.
Observamos algumas árvores na área urbana, mas uma grande quantidade da
vegetação que ainda se fazia presente e visualizada além do Palácio e da Catedral, como que
envolvendo a cidade. Isso leva a supor que Cuiabá ainda era uma cidade pequena, possuindo
muito verde, ruas estreitas e sem asfaltos. Atualmente, essas áreas estão hoje totalmente
urbanizadas. A esse respeito, Ramos (2002) atesta o seguinte: A avalanche de progresso
transforma
-lhe a fisionomia. As grandes avenidas e o asfalto substituem as ruas estreitas e
tortas, os becos, a pedra cristal, a canga, a piçarra. [...] A
Cuiabá
do passado é engolida pela
modernidade, que lhe acrescenta traços de megalópole (p. 72).
Os telhados são todos de telhas francesas, de argila, provavelmente vermelhas,
porém com pouca inclinação, o que pressupõe dificuldade para escoamento das águas de
chuva em uma cidade que tem alto índice pluvial. É impressionante a amplitude dos telhados,
o que leva a pressupor tratar-se de grandes casas, provavelmente casas de pessoas
economicamente mais favorecidas e que moravam na cidade.
Por se tratar de uma cidade de clima tropical, esses telhados podem significar
também proteção contra as altas temperaturas, denotando, nesse caso, uma preocupação co
m
o conforto térmico. Em toda arquitetura percebemos uma boa quantidade de janelas de
59
grandes dimensões, o que sugere também conforto térmico. Nos quintais, nota-se a presença
de árvores e jardins, o que
nos
leva a crer na importância que tinham os quintais nas casas
àquela época.
que se destacar que a cidade é conhecida como Cidade Verde dada a grande
quantidade
,
ainda, não só de densa mata como também de plantações existentes na cidade: O
verde ainda predomina. Morros cobertos de vegetação, mangueiras e palmeiras (RAMOS,
2002, p. 76). Do lado direito da casa que ocupa lugar central, em primeiro plano,
é
po
ssível
ver uma abertura que se assemelha a um portão através do qual é possível visualizar a figura
de duas pessoas bem próximas uma da outra dando a impressão de estarem conversando na
rua. Pela imagem estampada, tem-se a impressão que as construções apresentam-se de forma
um tanto quanto desordenadas, uma vez que é perceptível certa irregularidade no alinhamento
das residências. Tal fato pressupõe que foram construídas sem um planejamento prévio, mas
sim segundo a ordem das necessidades de ampliação do espaço urbano, que iam se
apresentando
.
60
Fotografia 2
-
Vista das c
asas cuiabanas
.
Fon
te: Siqueira
et al.
(2006, p. 91).
4.1.1.2.1
Descrição da fotografia 2
Elementos descritivos
Autor
Não identificado
Título
Vista das casas cuiabanas
Local
Cuiabá (MT)
Data
1930
Notas
Telhados cuiabanos do ano de 1930, vistos do Morro da Luz.
Qu
adro 3
-
Elementos descritivos da fotografia 2
61
4.1.1.2.2
Resumo da
Fotografia 2
: v
ista da região central de Cuiabá
Fotografia de autor não identificado estampando o panorama de um conjunto de
telhados das casas cuiabanas, retratado no ano
de 1930 e localizado na região central
da cidade. Vista capturada a partir do Morro da Luz, local estratégico que apresenta
um
visão privilegiada de boa parte da
região
central da cidade. O Morro da Luz,
atualmente denominado Parque Antônio Pires de Campos, também encontra-se entre
os bens que foram tombados como patrimônio histórico municipal. O trecho
retratado na imagem, do alto do morro, localiza-
se
nas imediações da Avenida
Tenente Coronel Duarte , à época e ainda hoje, chamada popularmente de Prainh
a:
no centro dela corria um pequeno riacho que desaguava no Rio Cuiabá. A nascente,
localizada na Avenida Miguel Sutil, atualmente encontra-se tomada pela área
urbana. Ao fundo, o Palácio da Instrução à esquerda e, à direita, a catedral
metropolitana
antes
de sua demolição em 1968
que
d
eu
lugar à construção do
modelo atual. algumas árvores na área urbana, hoje totalmente urbaniza
da,
mas
uma grande quantidade da mata logo em seguida, levando a supor que Cuiabá ainda
era uma cidade pequena, possuindo ruas estreitas e sem asfaltos. Os telhados são
amplos pressupondo tratar-
se
de grandes casas, de pessoas economicamente mais
favorecidas da região. As telhas francesas são de argila, provavelmente vermelhas.
Por se tratar de uma cidade de clima tropical, esses telhados podem significar
também proteção contra as altas temperaturas,
sugerindo
preocupação
, assim como
as amplas janelas, com o conforto térmico. Nos quintais, jardins e árvores,
provavelmente frutíferas, como ainda existem em muitas residências. A cidade é
conhecida como Cidade Verde dada a grande quantidade não da mata como
também de plantações existentes na cidade. Do lado direito da casa que ocupa lugar
central, em primeiro plano, percebe-se uma abertura semelhante a um portão através
do qual vi
sualiza
m-se as
figura
s de duas pessoas próximas uma da outra, que
parecem estar conversando na rua. A irregularidade no alinhamento das residências
sugere construção sem um planejamento prévio.
4.1.1.2.3
Descritores de conteúdo da fotografia 2
Descrito
res
Denotativos
Conotativos
Telhados. Casas grandes. Palácio da
Instrução. Igreja matriz.
Cidade Verde. Clima tropical. Conforto
térmico. Ideal de urbanização.
Desalinhamento.
Árvores. Quintais. Residências. Janelas
amplas.
Vista panorâmica da cidade. S
implicidade.
Quadro 4
- D
escritores denotativos e conotativos de conteúdo da fotografia 2
62
4.1.1.2.4
Bibliografia
CONTE, Cláudio. Prainha: da Igreja do Rosário à Praça Ipiranga. In: SIQUEIRA, Elizabeth
Madureira,
et al.
(Org
.).
Cuiabá:
de vila
a metrópole.
Mato Grosso: Arquivo Público de Mato
Grosso, 2006.
P. 26
-
39.
RAMOS, Maria de Lourdes Bastos da Silva. Um olhar para a Cuiabá de Cláudio e
Raimundo Bastos (1920
1930).
Cuiabá: Buriti, 2002.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. Bairro do Porto. In: SIQUEIRA, Elizabeth Madureira,
et
al.
(Org
.).
Cuiabá:
de vila a metrópole. Mato Grosso: Arquivo Público de Mato Grosso,
2006.
63
4.1.1.3
O chafariz do
mundeo
Na Fotografia 3, cujo autor não fora identificado, visualizamos
o
Chafariz do
Mund
eo
3
que se constitui em um monumento cuja construção data do século XIX.
Esse
monumento está situado
no
antigo
largo do mundeo
,
hoje
conhecido como Praça Bispo Dom
José.
Atualmente, esse chafariz que era alimentado pelas águas de uma nascente existente no
terreno da Santa Casa da Misericórdia , (SIQUEIRA et al, 2006 p. 35) encontra-
se
desativado.
À época de sua construção, levada a efeito pelo engenheiro militar Francisco
Nunes da Cunha, o chafariz foi de grande valia
tanto
para a população daquele bairro
como
para a circunvizinha, uma vez que supria as necessidades com relação ao abastecimento de
água
daquela região
(MENDONÇA, s/d p.39).
Na fotografia em análise, capturada provavelmente entre a década de 1920 a
1930,
verifica
-se o precário estado de conservação do monumento, restaurado recentemente após a
desativação do terminal de ônibus que funcionava na praça denominada Praça Bispo Dom
José. Ao fundo, visualizamos as antigas residências circundadas pela mata. Essas habitações
encontra
m-se hoje totalmente modificadas, embora seja possível identificar vestígios da ma
ta
por meio de algumas árvores que ainda permanecem no local. As casas que circundam a praça
seguem o mesmo padrão citado anteriormente, o que pressupõe que sejam casas de pe
ssoas de
elevado nível social.
Nota
-se que ainda não havia o calçamento da praça e que a rua não era
asfaltada, conforme se pode ver na fotograf
ia mais recente que se encontra estampada a
baixo.
D
esta
camos
, porém, que ao lado dessas casas de classes mais ab
astadas,
visualiza
-
se
uma porção de pequenas casas, o que nos permite supor que sejam, provavelmente, de
pessoas de menor poder aquisitivo. Essa suposição deve-
se
tanto ao tamanho delas
quanto
pelas aberturas de janelas e portas que são pequenas e também pela maneira um tanto quanto
desordenad
a em que essas casas foram construídas, lembrando o que, na modernidade, iria se
chamar favela . Observamos, no entanto, que ainda não é o caso, uma vez que elas estão
próximas às construções de maior porte e apresent
am certa dignidade.
Considerado um patrimônio histórico, esse monumento foi um dos registros
arquitetônicos que mereceu, recentemente, a atenção da administração pública local, no que se
3
Largo do Mundeo - era o nome pelo qual o bairro era conhecido popularmente naquela época. A palavra
Largo deve-se ao fato de o local em frente às casas ser desprovido de outras moradias, possuindo apenas uma
larga extensão de terra: um trecho largo . Por analogia o local ficou conhecido como Largo do Mundeo .
Quanto à grafia da palavra, vale esclarecer que atualmente a palavra aparece conforme grafia constante do
dicionário, ou seja, Mundéu . Entretanto, preferimos mantê-la, na fotografia da época, conforme era grafada
anteriormente.
64
refere à sua valorização e preservação. No ano de 2006, com o início da recuperação dos
monumentos históricos do Estado, o chafariz foi totalmente restaurado como se pode notar
pel
a Fotografia 4 mencionada. Publicada no livro Cuiabá de Vila a Metrópole
(2006)
,
a
imagem (p. 18)
4
apresenta uma legenda cuja inscrição diz o seguinte: Chafariz do Mundéu,
na Praça Bispo Dom José, depois da restauração em 2006, com a desativação do terminal de
ônibus da Bispo (p. 19).
Podemos
observar nessa fotografia o calçamento promovido ao redor do
monumento em questão, bem como o melhoramento do ponto de vista da modernidade, ou
seja, o local foi beneficiado com a colocação de lixeiras, gramas e bancos que deram um ar
gracioso à praça. É possível deduzir, ao
se
observar a fotografia ao fundo, que a praça está
localizada em uma rua central
da cidade, cuja movimentação pode ser visualizada por meio da
quantidade de carros estacionados em frente às pequenas lojas do comércio existentes
atualmente.
Parece
interessante chamar a atenção para o fato de persistir ainda, algum vestígio
do que fora o
local na década de 1920. Ou seja, apesar do crescimento e conseqüente aumento
do mero de construções, restam algumas árvores nas imediações do centro da cidade e que
podem ser visualizadas
por trás das casas constantes d
a imagem.
4
Imagem de autoria de Franco Venâncio do Banco de Imagens C&C
C
arrión & Carracedo Editores
Associados.
65
F
otografia 3
-
Chafariz do
Mundeo
Fonte: Siqueira (2006, p. 35)
4.1.1.3.1 Descrição da fotografia 3
Elementos descritivos
Autor
Não identificado
Título
Chafariz do
Mundeo
Local
Cuiabá (MT)
Data
Década de 1920
Notas
Legenda: Chafariz do Mundeo, no largo do mesmo nome, atual Praça
Bispo Dom José. Este chafariz, hoje desativado, era alimentado pelas
águas de uma nascente existente no terreno da Santa Cada da Misericórdia
(Siqueira
et al
2006, p 35).
Quadro 5
-
Elementos descritivos da fotografia 3
66
Fo
tografia 4
-
O Chafariz do Mundéu restaurado
Fonte: Siqueira
et al.
(2006, p. 18)
4.1.1.3.2 Descrição da fotografia
4
Elementos descritivos
Autor
Franco Venâncio
Título
Chafariz do Mundéu
Local
Cuiabá (MT)
Data
2006
Notas
Legenda: Chafariz do Mundéu, na Praça Bispo Dom José, depois da
restauração em 2006, com a desativação do terminal de ônibus da Bispo
(p. 19).
Quadro 6
-
Elementos descritivos da fotografia 4
67
4.1.1.
3.
3
Resumo da
Fotografia 3 e 4: Chafariz do Mundeo
F
oto
grafia de autor não identificado estampando
o
Chafariz do
Mundeo
construído em
1871
pelo engenheiro militar Francisco Nunes da Cunha e tombado como patrimônio
histórico pela Portaria Estadual 32 de 1979. A água que chegava nesse
chafariz
e que vinha
de uma nascente localizada no terreno da Santa Casa da Misericórdia, supria as
necessidades de abastecimento da população do Largo do
Mundeo
, e adjacências.
A
tual
mente o local é denominado de Praça Bispo Dom José e o chafariz
encontra
-
se
desativado
, embora guarde todas as suas características anteriores
.
Na fotografia,
provavelmente
d
a década de 1920 a
1930, o estado
de conservação
precário
do monumento
denota seu estado de abandono. Ao fundo,
as
antigas residências que eram circundadas
pela vegetação
encontram
-se hoje totalmente modificadas, embora persistam vestígios da
ma
ta por meio de algumas árvores que permanecem até hoje no local. Ainda não havia o
calçamento da praça e a rua não era as
faltada, conforme
fotografia
s mais recentes. Ao lado
das casas maiores, provavelmente das
cl
asses mais abastadas, uma porção de pequenas
casas
visivelmente abaixo daquele vel,
permit
indo
supor que sejam
moradias
de pessoas
de menor poder aquisitivo. Esse chafariz foi restaurado recentemente, no ano de 2006, em
virtude d
o
programa de recuperação dos monumentos históricos do Estado, co
nf
o
rme
se
pode notar na Fotografia 4 republicada abaixo. O
bserva
-
se
nessa o calçamento ao redor do
chafariz e o melhoramento do ponto de vista da modernidade: lixeiras, gramas e bancos
que deram um ar graci
oso
e confortável à praça.
Ness
a fotografia
4,
ao fundo,
percebe
-
se
que a praça está localizada em uma rua central da cidade, cuja movimentação pode ser
visualizada por meio da quantidade de carros estacionados em frente às lojas do comércio
existentes atu
almente.
Durante certo tempo essa praça foi utilizada como terminal de
ônibus urbanos, desativado. Apesar do crescimento e conseqüente aumento do número
de construções, restam
na praça,
algumas árvores nas imediações do centro da cidade e que
podem ser
visualizadas
por trás das casas constantes d
a imagem.
4.1.1.
3.
4
Descritores de conteúdo das fotografias 3 e 4
Descritores
Denotativos
Conotativos
Largo do Mundeo. Chafariz danificado.
Monumento histórico.
Volta ao passado. Crescimento desordenado.
Abandono. Decadência. Patrimônio público.
Tombamento.
Casas grandes. Casas pequenas. Vegetação.
Praça. Jardim. Bancos. Lixeiras. Chafariz
restaurado.
Bem estar físico. Bem estar material. Conforto.
Natureza. Preservação. Bem
-
estar social.
Quadro 7
- D
es
critores denotativos e conotativos de conteúdo das fotografias 3 e 4
4.1.1.
3.
5
Bibliografia
MENDONÇA, Rubens. Roteiro Histórico e sentimental da Villa Real do Bom Jesús de Cuiabá.
2.
ed. Cuiabá, s/d.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. Bairro do Porto. In: SIQUEIRA, Elizabeth Madureira, et al.
(Org.).
Cuiabá:
de vila a metrópole. Mato Grosso: Arquivo Público de Mato Grosso, 2006.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso. Da ancestralidade aos dias atuais.
Cuiabá: Entrelinhas, 2002.
68
4.1.1.4
An
tigo Liceu Cuiabano
O Liceu cuiabano, aqui representado por uma tomada da lateral e parte da f
rente
do colégio, conforme mostrado na Fotografia 5, a seguir, é uma instituição tradicional em que
se formou grande parte das personalidades cuiabanas e mato-
gr
ossenses. Criado em 1879 e
instalado em 1880, na Rua 13 de Junho
,
é considerado um marco na história do ensino do
Estado. Na imagem fotográfica, de autor não identificado, visualiza-se uma construção
simples, porém, ostentando certa imponência por se tratar, para a época, de um dos primeiros
grandes centros de formação educacional de Mato Grosso, na medida em que se tratava de
uma escola num lugar tão distante dos grandes centros como era a Cuiabá desse período. Tal
imponência pode ser constatada ao
se
obse
rvar a dimensão das janelas bem como a utilização
de vidros que as completam.
Observando
-se atentamente a imagem, é possível perceber na primeira janela da
parte frontal, a figura de uma pessoa com os braços cruzados e apoiados na janela e, ao lado
dos trilhos passando pela rua, dois transeuntes. Nota-se também, apesar de a rua não estar
asfaltada, uma preocupação com o prédio, a julgar pela calçada construída com cimento e
pedras em todo seu entorno. Ao lado da construção vê-se claramente os trilhos do bo
nde,
marca de progresso e desenvolvimento da Cuiabá dos anos de 1920. É o testemunho de
alguma industrialização que ocorria na cidade.
É possível fazer, ainda, uma observação no que se refere à proximidade das janelas
das salas de aula com a rua, posto que o Liceu estava instalado num lugar central da cidade.
Tal fato possibilitava ouvir e ver a movimentação das pessoas que passavam por aquele local
e que poderia chamar a atenção dos estudantes, tirando-lhes a concentração e atrapalhando a
aula. Entretanto, esse mesmo aspecto denota que, por se tratar de uma cidade pequena, essa
movimentação ainda era insignificante, o que não provocava muito barulho a ponto de
perturbar a aula. Podemos deduzir, da análise da foto, a preocupação do poder público em
alojar o ensino médio, que à época era considerado de altíssima qualidade, em local central e
com as melhores instalações e lugar que se tinha na época. Até porque
tratava
-
se
de um
ensino de acesso às elites, cujas residências, evidentemente, concentravam- se no centro da
cidade.
Acompanha a imagem um pequeno texto que traz a seguinte informação:
Com a fachada principal debruçada sobre a Praça da República, e sua lateral
esquerda para a Rua 13 de Junho, destaca-se o Liceu Cuiabano, criado pela
Lei 536, de 03/12/1879. A foto nos mostra a primeira década do século
XX, quando da existência de posteamentos de ferro implantados no
perímetro urbano de Cuiabá, pelo General Rondon no grande projeto das
69
linhas estratégicas de Mato Grosso. Nesse prédio funcionou a mara
Municipal e a Residência dos Ouvidores. Hoje, no local, situa-se o prédio
dos Correios
(
Siqueira
et al.
2006, p. 134)
.
Abaixo da fotografia lê-se, ainda: Antigo Liceu Cuiabano (hoje Correios)
(Siqueira
et al.
2006, p. 134).
A escola funciona atualmente em um prédio maior à Rua Getúlio Vargas, próximo
ao centro da cidade. Embora tenha perdido um pouco do seu prestígio, é considerada
ainda
hoje uma escola de qualidade razoável, comparando
-
se às demais escolas públicas da capital.
70
Fotografia 5
-
Antigo
Liceu Cuiabano
Fonte: Siqueira
et al.
(2006, p. 134)
4.1.1.4 .1
Descrição da fotografia 5
Elementos descritivos
Autor
Não identificado
Título
Antigo Liceu Cuiabano
Local
Cuiabá (MT)
Data
Primeira década do século XX
Not
as
Legenda: Antigo Liceu Cuiabano, hoje Correios
(Siqueira
et al
2006, p 134).
Quadro 8
-
Elementos descritivos da fotografia 5
71
4.1.1.4
.2
Resumo da
Fotografia 5: Antigo Liceu Cuiabano
F
oto
grafia de autor não identificado estampando o
antigo
colégio
Liceu
Cuiabano,
capturado
, conforme fotografia 5, em sua lateral e
na
parte da frente. Trata-se de uma
instituição pública tradicional de ensino secundário rígido e conservador nos moldes
franceses. Essa instituição
marco
u uma época na história do ensino do
Estado,
em que se
formou grande parte das personalidades cuiabanas e mato-grossenses. Criado em 1879
,
pela lei 536 de três de dezembro de 1879, foi instalado em 1880, na Rua 13 de Ju
nho
onde atualmente funcionam as agências dos Correios. A
ima
gem
estampa
uma construção
simples, porém, ostentando certa imponência por se tratar, para a época, de um dos
primeiros grandes centros de formação educacional de Mato Grosso, na medida em que se
tratava de uma escola num lugar tão distante como era a Cuiabá desse período. Tal
imponência pode ser constatada ao
observa
rmos
a dimensão das janelas bem como a
utilização de vidros que as completam
.
Percebemos na primeira janela da parte frontal, a
figura de uma pessoa com os braços cruzados e apoiados na janela. Ao lado da construção
observamos
os trilhos do bonde, marca de progresso e desenvolvimento da Cuiabá dos
anos de 1920, testemunho de alguma industrialização que ocorria na cidade. Ladeando os
trilhos,
passando
pela rua, dois transeuntes. Apesar de a rua não estar asfaltada,
percebemos
a preocupação com o prédio, a julgar pela calçada construída com cimento e
pedras em todo seu entorno. Preocupação do poder público
também,
em alojar o ensino
médio, que à época era considerado de altíssima qualidade, em local central e com as
melhores instalações e lugar que se tinha na época. T
ratava
-se de um ensino de acesso às
elites, cujas residências, evidentemente, se concentravam no centro da cidade. A escola
funciona atualmente em um prédio maior, à Rua Getúlio Vargas, próximo ao centro da
cidade.
À época de sua restauração, levada a efeito em 1999, foi rebatizado com o nome de
Liceu Cuiabano Maria de Arruda Müller, homenageando essa professora cuiabana,
personalidade ilustre que se destacou no meio cultural da capital, prestando relevantes
serviços à educação mato-
grossense.
Embor
a tenha perdido um pouco do status e
prestígio
que gozava anteriormente, é considerada ainda hoje uma escola de qualidade razoável,
comparando
-
se às demais escolas públicas da capital.
4.1
.1.4.3
Descritores de conteúdo da fotografia 5
Descritores
Denotativos
Conotativos
Liceu Cuiabano. Centro cultural. Centro de
formação das classes altas.
Valores positivos. Valorização cultural.
Prestígio educacional. Educação elitista.
Valorização da
cultura religiosa.
Centro educacional de formação. Monumento
arquitetônico.
Idealização da educação. Inspiração européia.
Modernização.
Edificação escolar. Escola pública.
Institucionalização do conhecimento.
Idealização das bases educacionais.
Escola
inspirada em modelos nacional (Rio de
Janeiro) e internacional (França).
Imitação nacional e internacional.
Modernização. Supervalorização.
Quadro 9
- D
escritores denotativ
os e conotativos de conteúdo da fotografia
5
72
4.1.1.4.4
Bibliografia
SIQUEIRA,
Elizabeth Madureira. Bairro do Porto. In: SIQUEIRA, Elizabeth Madureira,
et
al.
(Org
.).
Cuiabá:
de vila a metrópole. Mato Grosso: Arquivo Público de Mato Grosso,
2006.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso. Da ancestralidade aos dias
at
uais.
Cuiabá: Entrelinhas, 2002
.
4.1.1.5 Comentário sobre as
fotografias
M
onumentos e edificações
Os monumentos e as edificações aqui reunidos são representativos de uma época
em que a cidade de Cuiabá se desenvolvia e se modernizava. Transformando-
se
urbanisticamente, as características físicas da cidade iam se modificando de acordo com os
ideais de modernização estabelecidos pelas capitais mais desenvolvidas que, por sua vez,
inspiravam
-se em parâmetros europeus. Vale ressaltar que o impacto da transformação da
cidade traz consigo a desqualificação da cultura da sociedade invadida, como inferior,
atrasada, antiga e uma sobrevalorização da cultura capitalista que se impõe como sendo
superior, progressista e moderna (BRANDÃO, 1997 p. 269).
O advento da fotografia tornou possível registrar a cidade em seus mais diversos
aspectos, permitindo, dessa forma, a circulação e propagação dos bens culturais que
constitu
em
a
história e a memória da cidade. Nesse sentido, a fotografia integra-
se
de forma
ativa na construção da imagem pretendida para a capital, não pela difusão de seu novo
desenho urbano e de sua arquitetura, mas também por permitir a seleção de partes da cidade
consideradas aptas à representação da metrópole moderna (LIMA, 1998 p. 78).
Dessa
forma, ao se registrar o
novo
, revela
-
se o desejo de uma sociedade de se colocar na vanguarda
dos avanços tecnológicos mais modernos preconizados
à época
.
73
4.1.2
Os espaços públicos
A
s
fotografias reuni
das
sob o título espaços públicos são representativas de uma
época em que a cidade de Cuiabá se desenvolvia e se modernizava. Dessa forma, na
organização urbanística da cidade de Cuiabá dos anos vinte do século XX, reproduzem-se as
hierarquizações e as organizações administrativas calcadas no modelo do estado,
existentes
nos grandes centros. Dentre os espaços públicos que consideramos importantes como
patrimônio histórico, tomamos pa
ra
aná
lise
as imagens
ref
erentes aos espaços
compreendidos
pela Praça da República, vista da região central da cidade de Cuiabá e pelas repartições
públicas municipais.
4.1.2.1
A Praça da República
Os espaços público e privado constituem
-
se lugares de memória de uma sociedade,
uma vez que apresentam resquícios do que se produziu e vivenciou por meio das gerações.
Um exemplo disso pode ser percebido na Praça da República, por meio da fotografia 6,
abaixo,
de autor não identificado. Localizada
no centro da cidade,
estampa a segui
nte
legenda:
Praça da República e, ao fundo, o Thesouro do Estado e o Palácio da Instrução, 1920
(Siqueira
et al.
2006, p. 103).
Essa praça era conhecida anteriormente como Largo da Matriz ou Praça da Sé e foi
construída no início do século XX. Sua construção seguia o ideal de modernidade inspirado
na
art noveau
européia
(SIQUEIRA
et al, 2006 p. 82) rompendo, dessa forma, com o estilo
colonial que predominava, até então, no Estado.
Na imagem estampada, é possível visualizar a praça ostentando, ainda, as
palmeiras imperiais que a ornamentavam, posto que tais árvores eram uma marca da cidade,
confirmando o (pré)conceito de que se tratava de cidade das palmeiras imperiais . Os
canteiros construídos em formas geométricas, à moda dos jardins franceses, devid
amente
plantados e bem cuidados, dão um aspecto arejado à praça demonstrando o cuidado que havia
com a coisa pública na década de 1920, pelo menos no que se refere à urbanização da cidade e
conservação do jardim.
Parece
interessante ressaltar a quase inexistência de bancos no interior da praça. É
possível visualizar um ou outro na parte superior à direita. Talvez isso demonstre uma
74
tentativa de fusão entre arquitetura e funcionalidade, posto que as muretas
algumas mais
altas
poderiam ser utilizadas c
omo assento.
Percebemos
que a cidade de Cuiabá àquela época, apesar da distância que a
separava dos grandes centros, utilizava, não nas construções dos prédios, como também
nas construções dos canteiros, o modelo inspirado no estilo europeu. Isto dava à
longínqua
cidade provinciana a sensação de capital de grande porte, em sintonia com as cidades de
vanguarda do país.
Nota
-se também a contribuição da eletricidade em Cuiabá, cuja necessidade
começou a ser reclamada à época da administração de Mato-
Grosso
por Francisco José
Cardoso Júnior, em 1871, conforme pode-
se
constatar em seu relatório de 20 de agosto de
1871,
apud
Siqueira (2002):
A absoluta falta de iluminação nas praças e ruas das diversas cidades e vilas
da Província é um mal bastante considerável. Este mal muito mais sensível
se torna nesta Capital, não somente por sua maior população e civilização,
como porque pela estreiteza de suas ruas, em geral mal calçadas, e muitas
sem revestimento algum em seus pavimentos, formados pela superfície
natur
al do terreno não pouco acidentado em que assentam bastante difícil e
mesmo perigoso se torna, à noite, o trânsito público (p. 131).
Dessa forma, a iluminação a gás
foi
instalada
na cidade
em
1879. Entretanto, à
medida que a cidade crescia e se modernizav
a, as exigências aumentavam e
, embora houvesse
projeto para instalação da luz elétrica desde dezembro de 1885 (SIQUEIRA, 2002), esse
benefício só foi concretizado em 1919 quando os postes de iluminação a gás foram
s
ubstituídos pelos modernos postes de ener
gia elétrica
(RAMOS, 2002).
A imagem estampa ao fundo, o prédio em que funcionava o Tesouro do Estado
hoje Museu Histórico do Estado
e o Palácio da Instrução, local projetado especialmente para
abrigar a Escola Normal e a Escola Modelo de Cuiabá, por ocasião da reforma do ensino
público instituída em 1910. Atualmente, nesse local, funciona a biblioteca pública estadual
Estevão de Mendonça
1
.
1
Estevão de Mendonça - uma das personalidades de maior conceito no cenário político e educacional do seu tempo em Mato
Grosso. Destacou-se como professor e pesquisador no campo da História e da Geografia. Autor de livros além de inúmeros
artigos para revistas e jornais de Mato Grosso. artigos de sua autoria também em o Almanaque Popular
do Rio Grande
do Sul e na revista Seleta
do Rio de Janeiro. Foi correspondente epistolar do jornal Estado de São Paulo entre os anos de
1918 a 1919. (PÓVOAS, 1977). Foi um dos sócios fundadores do Centro Mato-grossense de Letras, atualmente Academia
Mato
-grossense de Letras, do Instituto Histórico de Mato Grosso, sócio efetivo da Associação Literária Cuiabana, participou
da fundação de vários jornais e revistas da capital. Foi sócio correspondente do Instituto Histórico de São Paulo, da
Sociedade de Geografia de Lisboa, do Instituto Histórico de Sergipe, do Instituto Histórico de Alagoas, da Sociedade de
Geografia do Rio de Jan
eiro, do Instituto Histórico Paraense e do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (PÓVOAS, 1977).
75
A construção do Palácio da Instrução ocupava posição de destaque no centro da
praça, tanto pelo importante papel social que assumia à época da reforma educacional, como
também e principalmente, por ostentar uma estrutura moderna, inspirada no modelo
neoclássico europeu que começava a se fazer presente nas construções de Cuiabá. Esse estilo
contrapunha
-se ao padrão arquitetônico colonial predominante até então, que foi pouco a
pouco sendo substituído por exigência da modernidade. Percebe
-
se nitidamente que, apesar da
pretensão de grande centro, trata-se de uma cidade pequena, com poucas pessoas, ainda
guardando certa harmonia e tranqüilidade, com ritmo compatível com uma cidade interiorana,
como era o caso então.
76
Fotografia 6
-
Pra
ça da República, década de 1920
F
onte: Siqueira
et al.
(2006, p. 103)
4.1.2.1.1
Descrição da fotog
rafia 6
Elementos descritivos
Autor
Não identificado
Título
Praça da República
Local
Cuiabá (MT)
Data
1920
Notas
Legenda: Praça da República e, ao fundo, o Thesouro do estado
e o Palácio da Instrução. 1920.
Quadro 10
-
Elementos descritivos da foto
grafia
6
77
4.1.2.1.2
Resumo da
fotografia 6:
Praça da República
Fotograf
ia de autor não identificado
estampa
ndo
a
Praça da República, c
o
nstruída no
início do século XX e localizada no centro da cidade. C
onhecida
anteriormente
como
Largo da Matriz
ou Praça da Sé
, sua construção seguia o ideal de modernidade
inspirado na art noveau
européia,
o que rompia com o estilo colonial predomina
nte
então, no Estado. Na imagem estampada,
visualiza
-
se
que
a praça ostenta ainda, as
palmeiras imperiais que a ornamentavam, marca da cidade, denominada, por isso, de
cidade das palmeiras imperiais . Essas árvores já não existem mais. Os canteiros
construídos em formas geométricas, à moda dos jardins franceses, plantados e bem
cuidados, dão um aspecto arejado à praça
de
notando o cuidado com a coisa pública
na década de 1920, pelo menos no que se refere à urbanização da cidade e
co
nservação do jardim.
A
inspira
ção
no estilo europeu dava à longínqua cidade,
provinciana, a sensação de capital de grande porte, em sintonia com as cidades de
vanguarda do país. Observamos a quase inexistência de bancos no interior da praça,
enquanto que ao fundo na parte superior à direita, um ou outro. Talvez seja
uma
tentativa de fusão entre arquitetura e funcionalidade, uma vez que as mur
etas
algumas mais altas
poderiam ser utilizadas como assento. Nota-se também a
contribu
ição da eletricidade em Cuiabá:
os postes de iluminação a gás
, instalados em
1879
foram substituídos pelos modernos postes de energia elétrica em 1919
.
O
bservamos
ao
fundo, o prédio do Tesouro do Estado
hoje Museu Histórico do
Estado
e o Palácio da Instrução
atual
biblioteca pública estadual Estevão de
Mendonça
projetado especialmente para abrigar a Escola Normal e a Escola
Modelo de Cuiabá, por ocasião da reforma do ensino público instituída em 1910. A
construção do Palácio da Instrução ocupava posição de destaque no centro da pra
ça,
tanto pelo importante papel social que assumia à época da reforma educacional,
como também e principalmente, por ostentar uma estrutura moderna, inspirada no
modelo neoclássico europeu que começava a se fazer presente nas construções
da
cidade.
Esse estilo contrapunha
-
se ao padrão arquitetônico colonial predominante até
então que foi, pouco a pouco, sendo substituído por exigê
nci
a da modernidade.
Percebemos
que, apesar da pretensão de grande centro, trata-se de uma cidade
pequena, com poucas pessoas, ainda guardando certa harmonia e tranqüilidade, com
ritmo compatível com uma cidade interiorana, como era o caso então.
4.1.2.1
.3
Descritores de conteúdo da fotografia 6
Descritores
Denotativos
Conotativos
Praça
.
.
Palácio da Instrução.
Va
lores e ideais republicanos.
Museu Histórico
. Escola. Escola
. Biblioteca
.
Ideali
zação da cultura. Valorização do
saber.
Jardim. Homens. Mulheres. Palmeiras. Postes
de energia elétrica.
Preservação da memória. H
istóri
a.
Modernidade. Valores estéticos. Educação.
Conhecimento.
Quadro 11
- Descritores denotativ
os e conotativos de conteúdo da fotografia
6
78
4.1.2.1.
4
Bibliografia
PÓVOAS, L
enine
de Campos
.
História da cultura
mato
-
grossense
.
2 ed. o Paulo:
Resenha, 1994.
RAMOS, Maria de Lourdes Bastos da Silva. Um olhar para a Cuiabá de Cláudio e
Raimundo Bastos (1920
1930).
Cuiabá: Buriti, 2002.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira.
História
de Mato Grosso. Da ancestralidade aos dias
atuais.
Cuiabá: Entrelinhas, 2002
.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. Bairro do Porto. In: SIQUEIRA, Elizabeth Madureira,
et
al.
(Org
.).
Cuiabá:
de vila a metrópole. Mato Grosso: Arquivo Público de Mato Grosso,
2006
.
79
4.1.
2.2 Vista da região central da cidade de Cuiabá
Na
Fotografia 7, a seguir, visualizamos a imagem da cidade de Cuiabá, capturada
na década de 1930. É perceptível que a imagem fora capturada pelo fotógrafo Cláudio
Bas
tos
de um local alto, provavelmente do Morro da Luz . O
bserva
mos
, na parte central da cidade
que, embora já contando com várias habitações, a presença ostensiva do verde ainda é
marcante, o que reforça nossa hipótese de que se trata de uma cidade interiorana, apesar do
crescimento notável nessa região. A presença forte da vegetação também reforça a
característica que rendeu à cidade o título de cidade verde . Entretanto, as construções que
começam a se fazer presentes na cidade denotam claramente a aspiração pelo que era
considerado novo e moderno.
Ao fundo, pode-se identificar, à direita, a antiga Catedral com duas torres. Essa
igreja,
demolida em 1968 sofreu várias modificações antes da sua demolição. Primeiramente
construída de pau-a-pique e coberta de palha, tempos depois ganhou paredes de tijolos e uma
torre, mais tarde ganhou toques barrocos e duas torres (RAMOS, 2002, p. 63). Após sua
demolição, deu lugar à igreja que existe hoje. À esquerda, o Palácio da Instrução,
construído
em 1910 por um grupo de engenheiros vindos do Rio de janeiro (RAMOS, 2002). Esse
palácio abrigou a Escola Normal (magistério) e o Grupo Escolar (primeiro nível do ensino
fundamental) (RAMOS, 2002, p. 66). Percebem-se as instituições
totalmente envolvid
as
pelo
verde, denotando a conquista do espaço da floresta pelos prédios, que pouco a pouco iam
sendo construídos, inclusive os imponentes. Percebemos o esforço de implantação de uma
metrópole no seio de um espaço adverso, mas natural.
Conforme já observado anteriormente, os telhados são de telhas francesas, de
argila, provavelmente vermelhas, como ainda é possível encontrar. As ruas apresentam
traçado retilíneo e as casas, a julgar pelo porte e localização, pertencem à elite cuiabana.
como que um contraste entre dois
posicionamentos
:
de um lado a floresta que ainda persiste e,
de outro, o esforço humano para conquistar o espaço da floresta almejando a construção de
uma cidade de grande porte, conforme se verá acontecer futuramente.
80
Fotografia 7
-
Vista da
r
egião central da cidade de Cuiabá
Fonte: Ramos (2002, p. 63)
4.
1
.2.
2.
1 Descrição da fotografia 7
Elementos descritivos
Autor
Cláudio Bastos
Título
Vista da região central da cidade de Cuiabá
Local
Cuiabá (MT)
Data
Década de 1930
Notas
Vista da cidade de Cuiabá na década de 30 capturada do morro
da luz (Ramos, 2002, p. 63).
Quadro 12
-
Elementos descritivos da fotografia
7
81
4.
1.2.2.2
Resumo da
Fotografia 7: vista da região central da cidade de Cuiabá
Fotografia
de autoria do fotógrafo Cláudio Bastos
estampando
a imagem da cidade de
Cuiabá,
capturada na década de 1930. I
magem
tomada
pelo
fotógrafo de um local alto
,
provavelmente o Morro da Luz . O
bserva
mos
, na parte central da cidade que, embora
contando com várias habitações, a presença ostensiva do verde ainda marcante, reforça
a
hipótese de que se trata de uma cidade interiorana, apesar do crescimento notável nessa
região. A presença forte da vegetação também reforça a característica que rendeu à cidade
o título de cidade verde . Ao fundo, podemos identificar, à direita, a antiga Catedral
.
Esta, inicialmente construída de pau-a-pique, posteriormente ganhou uma torre. Em 1968
ostentava as duas torres quando foi
demoli
da para dar lugar à que existe hoje. À
esquerda, o Palácio da Instrução cuja construção em 1910 abrigou a Escola Normal,
antigo magistério e o Grupo Escolar, antigo primeiro vel do ensino fundamental.
Percebemos que essas instituições totalmente envolvidas pelo verde, denotam a conquista
do espaço da floresta pelos prédios, que pouco a pouco iam sendo construídos, inclusive
os imponentes. Os telhados são de telhas francesas, de argila, provavelmente vermelhas,
como ainda é possível encontrar. As ruas apresentam traçado retilíneo e as casas, a julgar
pelo porte e lo
calização, pertencem à elite cuiabana. Há como que um contraste entre dois
posicionamentos
:
de um lado a floresta que ainda persiste e, de outro, o esforço humano
para conquistar o espaço da floresta almejando a construção de uma cidade de grande
porte, co
nforme se verá acontecer futuramente.
4.
1
.2.
2.
3 Descritores de conteúdo
da fotografia
7
Descritores
Denotativos
Conotativos
Casas cuiabanas. Região central. Floresta.
Catedral antiga. Palácio da Instrução.
Modernização. Inspiração em estilo europeu.
Idealização da cidade. Valorização urbana.
Mudança. Educação.
Quadro 13
- Descritores denotativ
os e conotativos de conteúdo da fotografia
7
4.1.2.2.4
Bibliografia
RAMOS, Maria de Lourdes Bastos da Silva. Um olhar para a Cuiabá de Cláudio e
Raimundo Ba
stos (1920
1930).
Cuiabá: Buriti, 2002.
82
4.1.
2.3 As repartições públicas
A Fotografia 8, visualizada a seguir, retirada do livro Cuiabá de vila à metrópole
nascente
(2006),
demonstra bem a situação dos espaços públicos na década de 1920
época
em que a fotografia foi
registrada
, no título da obra em que a fotografia está inserida.
Portanto,
nos primórdios da cidade pode-se observar primeiramente as construções
neoclássicas
caracterizadas pelas janelas com venezianas, os balaústres no alto
das
construções e os frontispícios que as encimam.
O neoclássico é marcado também, pelas linhas retas tanto de portas e janelas,
sobretudo das frentes das construções, como se nota na fotografia. Percebemos ainda, na
fotografia,
sem identificação de autor, a iluminação elétrica, implantada em 1919 (RAMOS,
2002),
com luminárias em vidro e, no alto dos postes, fios que podem ser tanto de transmissão
como dos primeiros fios telefônicos. Por fim, ressal
tamos
que se trata de rua cujas pedras
foram cuidadosamente colocadas e que entre elas e os prédios, a presença da
calçada
. O
verde, embora aqui reduzido, está uma vez mais presente.
Percebemos
nesta imagem a presença, em primeiro plano, de três homens e três
meninos, a julgar pelo porte físico das pessoas que figuram nessa imagem. Todos estão em pé
e de frente para a câmera. É possível observar uma forma contrastante na vestimenta d
ess
as
pessoas
. Os homens estão bem vestidos, usando terno, gravata borboleta, e estão bem
calçados.
Dois deles usam chapéu.
Entret
anto, é perceptível que entre os meninos, um deles,
embora de calça curta, usa traje mais refinado contrastando com o do outro, um pouco mais à
frente,
com vestimenta mais simples, inclusive descalço, dando a impressão de ser um
serviçal
.
O garoto, mais atrás, usa um uniforme que se assemelha a uma farda militar, com
quepe na cabeça e carrega consigo do lado esquerdo um objeto semelhante a um caderno.
Talvez seja um estudante vestindo
uniforme
da escola Liceu Cuiabano (RAMOS 2002),
conforme se adotava àquel
a
época.
Em segundo plano, pode-se perceber, também, a figura de um adulto encostado na
porta e, um pouco mais à frente, um menino e uma menina, esta encostada no poste. Mais ao
fundo, a imagem de uma mulher, que
apenas
passa pelo local, além de outras pessoas mais
atrás.
Observando
-se atentamente essa fotografia, podemos deduzir que as pessoas em
primeiro e segundo plano estão com os olhares atentos
dirigidos
para alguma coisa fora do
alcance da objetiva. Talvez estivessem apenas observando a movimentação do fotógrafo com
sua câmera no momento da captura da imagem, ou não. Tem-se a impressão até que o menino
83
que está descalço coloca-se em posição de sentido e o de calças curtas coloca as mãos
nos
bolsos, como se
ambos
estivessem posando para a fotografia.
Observamos ao longo da calçada algumas árvores, semelhantes a palmeiras,
pequenas ainda, protegidas por um gradeado em volta delas. Pela sombra das árvores
projetada
s no chão, é possível perceber que era um dia ensolarado, mesmo assim todos em
primeiro pl
ano e a senhora ao fundo, usam
roupa de manga longa.
Percebe
-
se
que a rua está bem limpa, o que confere um ar arejado ao local
e denota
o cuidado que havia com a limpeza, a julgar pela imagem
.
84
Fotografia 8
-
Repar
tições públicas municipais
Fonte: Siqueira
et al
(2006, p. 74
-
75)
4.1.2.3.1
Descrição da fotografia 8
Elementos descritivos
Autor
Autor não identificado
Título
Repartições públicas municipais
Local
Cuiabá (MT)
Data
Década de 1920
Notas
Legenda:
Intendência Municipal ao fundo, e as demais
repartições municipais. Década de 1920.
Quadro 14
-
Elementos descritivos da fotografia
8
85
4.1.2.3.2
Resumo da
Fotografia 8: repartições públicas municipais
Fotografia de autor o identificado estampando as repartições públicas municipais de
Cuiabá na década de 1920. Trata-se de construções neoclássicas caracterizadas pelas
janelas com venezianas, os balaústres no alto das construções e os frontispícios que as
encimam.
O neoclássico é marcado também, pelas linhas retas tanto de portas e janelas,
sobretudo das frentes das construções, como se nota na fotografia. É perceptível a
iluminação elétrica presente na cidade desde 1919, quando substituiu a iluminação a gás
instalada em 1879. Notam-se as luminárias em vidro e, no alto dos postes, fios que podem
ser tanto de transmissão como dos primeiros fios telefônicos. A rua é de pedras,
cuidadosamente colocadas, havendo entre elas e os prédios, a presença da calçada. As
construções, em maior quantidade, aos poucos vão reduzindo o espaço verde, aqui em
pequena quantidade. Nessa imagem, em primeiro plano, figuram três homens e três
meninos, a julgar pelo porte físico das pessoas. É possível observar uma forma contrastante
na vestimenta delas. Os homens estão bem vestidos e bem calçados usando terno e gravata
borboleta. Dois deles usam chapéu. Entretanto, percebemos que entre os meninos, apenas
um deles, embora de calça curta, usa traje mais refinado contrastando com o do menino,
mais à frente, com vestimenta mais simples, inclusive, descalço, dando a impressão de ser
um serviçal. O garoto mais atrás, carregando um objeto que parece um caderno, usa um
uniforme semelhante a farda militar, com quepe na cabeça. Talvez se trate de uniforme da
escola Liceu Cuiabano
co
nforme era adotado àquela época. Em segundo plano, pode-
se
perceber, também, a figura de um adulto encostado na porta e um pouco mais à frente, um
menininho de calças curtas e uma menina de saia, encostada no poste. Mais ao fundo, a
imagem de uma mulher
qu
e
apenas
passa pelo local além de outras pessoas mais atrás. É
possível perceber que as pessoas em primeiro e segundo plano estão com os olhares
atentos dirigidos para alguma coisa. Talvez apenas observando a movimentação do
fotógrafo com sua câmera no momento da captura da imagem. Tem-se a impressão até que
o menino descalço coloca-se em posição de sentido e o de calças curtas e mangas longas
coloca as mãos nos bolsos, como se estivessem posando para a fotografia. Pela sombra
projetada no chão, é possível perceber que se tratava de um dia ensolarado, mesmo assim
todos em primeiro plano e a senhora ao fundo, usavam roupa de mangas longas.
Observamos que a rua está bem limpa, conferindo um ar arejado ao local. As pequenas
árvores plantadas na calçada, protegidas por um gradeado, reforçam a impressão que se
tem com o cuidado denotado pela imagem
da cidade
.
4.1.2.3.3
Descritores de conteúdo
da fotografia 8
Descritores
Denotativos
Conotativos
Prédio da coletoria. Repartições públicas.
Construções neoclássi
cas.
Modelo administrativo. Recolhimento de impostos.
Inspiração neoclássica.
Poste de luz elétrica. Rua calçada. Rua limpa.
Árvores.
Urbanização da cidade. Melhoria física da cidade.
Avanço da urbanização. Redução do espaço verde.
Desvalorização da natur
eza. Dia ensolarado.
Homens. Meninos. Senhora. Menina.
Imitação de modelos europeus.
Quadro 15
- D
escritores denotativ
os e conotativos de conteúdo da fotografia
8
86
4.1.2.3.4
Bibliografia
RAMOS, Maria de Lourdes Bastos da Silva. Um olhar para a Cuiabá de Cláudio e
Raimundo Bastos (1920
1930).
Cuiabá: Buriti, 2002.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. Bairro do Porto. In: SIQUEIRA, Elizabeth Madureira,
et
al.
(Org
.).
Cuiabá:
de vila a metrópole. Mato Grosso: Arquivo Público de Mato Grosso,
2006.
4.1.2.4
Co
mentários sobre as fotografias
os espaços públicos
O que impressiona nesse conjunto é que a cidade começa a tomar ares de cidade
civilizada no meio dos sertões de mato grosso. Podemos ver agora a catedral, o palácio da
instrução, as repartições públicas, a calçada, o asfalto, certo ordenamento nas construções e,
sobretudo, u ma imposição da área construída sobre a área verde da floresta. E no interior
deste espaço urbano o cuidado com o conjunto arquitetônico, a iluminação pública, o
calçamento das ruas e os desenhos dos jardins. Finalmente, destaca-se o estilo arquitetônico
dos prédios que lembra algo do neoclássico, com janelas ornadas com vidros e gelosias, sinal
de inspiração dos modelos das grandes capitais. Esses fatores remetem, porém, para uma
ati
tude de afirmação identitária coletiva.
87
4.
1.3
Lazer
Nos espaços de lazer da elite cuiabana são registrados os momentos em que a
classe dominante se reunia para se articular social e politicamente. As touradas e as festas
religiosas de modo geral desempenharam papel importante em Cuiabá àquela época, uma vez
que eram eventos abertos à participação de pessoas de todas as classes sociais.
Nest
e conjunto
foram analisadas as seguintes fotografias: a elite cuiabana em dia de festa, festa do Senhor
Divino e os capinhas nas touradas.
4.1.3.1
A elite
cuiabana em dia de festa
Observamos nessa imagem fotográfica homens e mulheres da elite cuiabana
no
bar do curro
1
(RAMOS, 2002, p. 126). Este de evidente condição simples e rústica,
inclusive, na decoração especial para a festa das touradas
.
É interessante perceber que mesmo
em situação de descontração há a preocupação com a postura com que os retratados se
posicionam para ser
em
fotografados, afinal: Assumir a postura correta é uma forma de
respeitar a si próprio e de exigir respeito (BOURDIEU: 2006, p. 38).
Trata
-se de um
estabelecimento comercial voltado ao lazer onde se bebia e (talvez) se comia. Poderia ser
também um comércio misto e possuir outra modalidade de oferta de mercadorias nos fundos
(armazém, tecidos ou utensílios). Existe um paralelo evidente entre esse bar
Bar
Antediluviano - e os cafés, confeitarias e bares do Rio de Janeiro ou das capitais européias.
De toda maneira, é evidente que se trata de um local em que se comparece para consumir algo
e vivenciar situações sociais de lazer e de comu
nicação
, principalmente na época das
tourada
s, evento que reunia grande número de pessoas em Cuiabá, e no qual foi registrada a
imagem
obj
e
to de análise
.
Chama
-
nos
a atenção
nest
a fotografia, a segregação existente no fato de as
mulheres não se sentarem à mesa junto com os homens, ou seja, homens e mulheres
1
Curro era o local onde, de acordo com Ramos (2002), se realizava o
footing
depois das touradas (p. 118).
Como substantivo comum significa cercado junto à praça de touros, onde esses permanecem antes e depois de
corridos (Houaiss, 2001). No caso da Cuiabá de 1920, esse bar era provavelmente um espaço social distinto
,
devido à importância que as touradas tinham naquela sociedade.
88
conservavam cada qual seu espaço num mesmo ambiente público. Essa separação entre os
sexos é um resquício do comportamento herdado desde as sociedades primitivas (Souza,
1987, p. 55)
,
as
pecto
que
vem se modificando com o passar dos anos, entretanto:
[...] estamos a cada passo, nas relações sociais, presenciando a reminiscência
dessa época de isolamento da mulher, que se manifesta nas atitudes tolhidas,
na falta de naturalidade no trato dos homens e principalmente no hábito,
arraigado em certos ambientes mais tradicionais, de se estabelecerem como
por encanto, nas reuniões, dois círculos de cadeiras
o lado dos homens e o
lado das mulheres (SOUZA,
1987, p. 58).
Tal separação denota claramente
,
a distinção nas relações e a demarcação dos
papéis sociais exercidos pelos segmentos: Como se a intenção fosse a de manifestar que o
verdadeiro objeto da fotografia não são os indivíduos, mas as relações entre eles
(BOURDIEU,
2006, p
. 34).
Nesse sentido, ressaltamos a postura assumida pelos homens presentes à mesa, no
registro fotográfico. Entendemos que esses dominam a paisagem e se destacam em
pelo
menos dois aspectos:
p
rimeiro, por estarem em maior número; segundo, pelo fato de a po
stura
assumida por eles parecer demarcar e testemunhar uma posição hierárquica superior
estabelecida.
Esses cavalheiros deixam a impressão de que são os detentores do poder tanto
familiar quanto regional. Essa superioridade pode ser denotada, também, ao se observar
as
pess
oas em segundo plano que se colocam em e atrás. Trata-se de homens das classes
populares, a julgar pelo tipo de roupa que estão trajando, ou seja, vestimenta visivelmente
mais simples, comparando-se aos membros da mesa. A esse respeito, pode
mos
constata
r em
Souza o seguinte
(1987):
Um contraste não menos nítido que o da oposição dos sexos é
fornecido pela oposição das classes numa determinada sociedade, a
qual tende a se revelar através de certos sinais exteriores como a
vestimenta, as maneiras, a linguagem, chegando mesmo a refletir-
se
no modo pelo qual as pessoas se distribuem no espaço geográfico (p.
111).
Ainda com relação à superioridade masculina, julgamos interessante ressaltar a
legenda que acompanha a fotografia, que parece
atesta
r e confirmar esse fato, uma vez que
apresenta um informativo referente apenas aos homens, destacando o nome
somente
de um
deles, conforme pode
mos
ler
:
Em um dos bares do curro, homens refrescam-se. No centro, de
calça branca, óculos e c
hapéu, Ataíde Rocha, o Rochinha
[...]
.
(RAMOS 2002, p. 126).
89
Pode
mos
inferir também que a intenção principal das lentes do fotógrafo
Raimundo Bastos fosse capturar principalmente a imagem da pessoa cujo nome fora
apresentado na legenda. É claramente perceptível a direção dos olhares dos homens, ou seja,
todos se voltam para a câmera, fazendo supor que se tratava de uma pose,
à
exceção do
senhor
anunciado na legenda que parece estar lendo algo sem atentar para o fotógrafo. um outro
personagem, também no primeiro plano, cuja cadeira en
contra
-se voltada para a direita, que
parece observar alguma coisa fora do alcance da objetiva.
Entre as mulheres, apenas duas delas, ao fundo, olham para a câmera. Inclusive a
jovem à esquerda, de boina, demonstra ter aproveitado o momento para se colocar de forma
graciosa, como se posasse para ser fotografada. Dos que se sentam à mesa, todos usam
chapéu, terno e gravata. Observa
mos
que alguns homens portam sapatos brancos e ternos
claros
o que estava na moda em 1924. O primeiro senhor sentado à esquerda, de paletó
escuro, calças e sapatos claros, ao que tudo indica, veste-se de acordo com a moda em voga
naquele momento. De acordo com Ramos (2002) [...] a última moda na década de 20: calças
de flanela de lã branca (inglesa), paletó escuro, meias e sapatos brancos (p.127).
De oito mulheres presentes, apenas as três em último plano portam chapéu. As
quatro mulheres do primeiro plano distinguem-se das outras e dos homens por se
apresentarem, comparativamente a outras fotografias analisadas, vestidas de maneira mais
simples, sem adereços ou chapéus. Não apresentam decotes nos vestidos, mas os cortes dos
cabelos seguem a moda constatada em outras fotografias. Esse fato pressupõe que o bar
poderia acolher, eventualmente, pessoas de classes sociais populares.
que se registrar, finalmente, a presença na fotografia de duas pessoas negras,
uma, vestida de maneira razoavelmente adaptada à classe alta. Trata-se do primeiro senhor,
que se coloca em à esquerda, imediatamente atrás daquele sentado. O senhor negro u
sa
chapéu
, blazer escuro sobre camisa branca e calça escura. A
outra
é
uma mulher bem vestida,
como as outras, mas
apresenta
ndo uma roupa de tecido estampado, em oposição a todas as
outras mulheres presentes no ambiente, vestidas com tecidos lisos
.
Ficamos
em dúvida sobre
o significado tanto da presença dessas duas personagens, como de suas indumentárias.
Acrescentamos também, nesse sentido, a presença de um retrato pendurado na parede dos
fundos do bar, com imagem feminina em destaque, o que não se afina com o texto e nem com
o contexto da reunião.
90
F
otografi
a
9 -
A elite cuiabana em dia de festa
Fonte:
Ramos
(2002, p. 126).
4
.1.3.
1
.1
Descrição da fotografia
9
Elementos descritivos
Autor
Raimundo Bastos
Título
A elite cuiabana em dia de festa
Loca
l
Cuiabá (MT)
Data
11 de junho de 1924
Notas
Legenda: Bar do curro , 1924
.
Quadro 16
-
Elementos descritivos da fotografia
9
91
4.1.3.1.
2
Resumo da
Fotografia
9
:
A elite cuiabana em dia de festa
F
oto
grafia de autoria de Raimundo Bastos estam
pando
a elite cuiabana no espaço de lazer.
Re
gistra
-se um dos
momento
s
em
que a classe dominante se reúne para se articular social e
politicamente
em um evento de grande repercussão na cidade e que contava com grande
número de pessoas. Trata-se das touradas, ocasião que reunia pessoas de todas as classes
sociais. Era uma das oportunidades em que a classe social abastada se fazia fotografar para a
posteridade.
Observamos
a postura com que os retratados se posicionam para serem
fotografados: olhando em direção à câmera. Notamos a segregação entre homens e
mulheres
: resquício de um comportamento de épocas primitivas. Cada qual
conservava
seu
espaço num mesmo ambiente público,
denota
ndo
distinção das relações e dos papéis sociais
exercido
s pelos segmentos separadamente. Os
homens
à mesa dominam a paisagem e se
destacam, em dois aspectos: por estarem em maior mero e pela postura assumida que
parece
demarcar e testemunhar uma posição hierárquica superior, tácita. Deixam
a
impressão de que detêm o poder tanto familiar quanto regional. Essa superioridade pode ser
denotada, observando-
se
as pessoas, em segundo plano, em e atrás. São homens das
classes populares, a julgar pelo tipo de roupa que estão trajando: vestimenta mais simples,
comparando
-se aos membros das
mesa
s. A
lege
nda que acompanha a fotografia parece
atesta
r e confirmar a superioridade ao registrar a
pres
ença
deles
, destacando o nome apenas
de um: o ator principal do registro fotográfico. Notamos os olhares dos homens
volta
dos
para a câmera, fazendo supor que se tratava de uma pose, à exceção do
senhor
de terno
e
chapéu branco na mesa à direita, que parece estar lendo algo sem atentar para o fotógrafo.
Um outro personagem, também no primeiro plano, cuja cadeira encontra-se voltada para a
direita,
atenta
para
alguma coisa fora do alcance da objetiva. Entre as mulheres, apenas
duas
, ao fundo, olham para a câmera. Inclusive a jovem à esquerda, de boina, parece
ter
aproveitado o momento coloca
ndo
-
se
de forma graciosa, como se posasse
intencionalmente
para ser fotografada. Dos que se sentam à mesa, todos usam chapéu, terno e gravata.
Observam
os
alguns usa
ndo
sapatos brancos e ternos claros, na moda em 1924: calças de
flanela de branca (inglesa), paletó escuro, meias e sapatos brancos. Das oito mulheres
pres
entes, apenas as três em último plano portam chapéu. As quatro mulheres do primeiro
plano distinguem
-
se
por se apresentarem
vestidas de maneira mais simples, sem ade
reços ou
chapéus e sem decotes nos vestidos.
Pressupomos
que o bar poderia acolher, eventua
lmente,
pessoas de classes sociais intermediárias ou populares. Pode-
se
pressupor também que
fossem
pessoas
não afeitas a todas as imposições da moda. R
egistra
mos
a presença na
fotografia de duas pessoas negras, uma
delas
vestida de maneira razoavelmente adaptada à
classe alta. Trata-se do primeiro senhor, que se coloca em à esquerda, imediatamente
atrás daquele que está
sentado.
Esse
senhor negro usa chapéu,
paletó
escuro sobre camisa
branca e calça escura, bem no padrão da elite. A
outra
,
uma mulher
be
m vestida, apresenta
uma roupa de tecido estampado, em oposição
às
outras mulheres.
92
4.1.3.1
.3 Descritores de conteúdo da fotografia
9
Descritores
Denotativos
Conotativos
Pessoas sentadas. Pessoas em pé. Homens
brancos. Homem negro. Ternos e sa
patos
brancos. Ternos escuros. Chapéus. Gravatas.
Imitação dos centros urbanos. Elite
provinciana. Vida social da província.
Classe abastada. Classe popular. Touradas.
Mulheres sentadas. Mulheres brancas. Mulher
negra. Boina. Moça jovem. Mesas. Cadeiras.
Estabelecimento comercial.
Classes abastadas e classes populares.
Impermeabilização social. Ostentação.
Demonstração de poder econômico.
Reunião social
. Bar do curro
.
Quadro 17
- Descritores denotativ
os e conotativos de conteúdo da fotografia
9
4.1.
3.1.4
Bibliografia
BOURDIEU, Pierre. O camponês e a fotografia.
In:
Revista de sociologia e política
.
Tradução Fábia Berlatto e Bruna Gisi. Curitiba N. 26, jun.2006.
P. 31
-
39.
HOUAISS, Antonio.
Dicionário da língua portuguesa. Rio de janeiro: Objetiva,
2001.
RAMOS, Maria de Lourdes Bastos da Silva. Um olhar para a Cuiabá de Cláudio e
Raimundo Bastos (1920
1930).
Cuiabá: Buriti, 2002.
SOUZA, Gilda Melo de. O espírito das roupas. A moda no século XIX. São Paulo:
Companhia das Letras, 1993.
93
4.1.3.2
Festa do Senhor Divino
A Festa do
Divino
Espírito Santo, tradicional evento religioso de Cuiabá e,
popularmente conhecida como Festa do Senhor Divino, reúne até os dias atuais grande
número de fiéis tanto das classes dominantes quanto das populares. Essa é uma festa de
grande
importância para a sociedade cuiabana, católica ou não. Tal evento caracteriza-se pela
saída, alguns dias antes da realização da festa, dos denominados
festeiros
, acompanhados por
populares devotos. Os principais
feste
iros
eram
e ainda são denominados de
imperador
e
imperatriz
(RAMOS, 2002). Assim, nos dias que antecedem a festa, esses
festeiros
saem
várias vezes em procissão pelas ruas da cidade, ao som de diferentes hinos
religiosos
executados pela banda de música conforme se nessa foto ou por pequenos grupos de fiéis
que contribuem com seus instrumentos pessoais. Esta imagem
compõe
-se por uma comitiva
que, de acordo com a legenda
, reúne um grupo prestes a sair para a Procissão, uma das partes
do festejo (RAMOS, 2
002
, p. 112). Do momento em que saem em procissão até a chegada à
igreja, o séqüito é acompanhado pelo espocar de muitos fogos, anunciando com a música e
com os foguetes, a realização das tarefas dos coletores.
O dinheiro angariado será inv
estido na
organi
zação da festa. Carregam a bandeira do santo , a coroa e outros pertences sagrados
que fazem parte do ritual
:
o cetro, as bandejas e as sacolas. Todos esses objetos, à exceção das
sacolas, são enfeitados com fitas coloridas. A música e os fogos servem como um sinal para
que as famílias católicas abram suas casas para receber, em suas residências, a bandeira e os
seus acompanhantes. Nesse momento, a banda colo
ca
-se em frente à residência e faz
sua
apresentação musical. Os moradores da casa,
compungidos,
bei
jam a imagem do santo
estampada, fazendo suas orações. Ao mesmo tempo,
amarram
como
esmola ou donativo ao
santo, uma nota em dinheiro em uma das fitas que enfeitam a bandeira ou depositam moedas
dentro da cesta. Os mais velhos se emocionam. As mães colocam as crianças sob a bandeira
pedindo a benção e a proteção ao Senhor Divino para seus filhos e para toda família.
Uma
pessoa da família pode também levar a bandeira a outros cômodos da casa, a fim de que o
recinto também usufrua das bênçãos do santo.
É
interessante notar que, no momento em que a bandeira dá entrada à residência, o
patriarca da família
, em sinal de respeito ao santo, curva
-
se
, retira
o chapéu da cabeça, coloca
-
o
à altura do peito, ajoelha
-
se e
, em uma atitude de humildade, deixa
-
se cobrir
com a bandeira
ao som do hino do santo.
94
Após esse ritual religioso, os músicos podem tocar um ritmo típico da região
o
rasqueado
e quem quiser pode convidar alguém para dançar aquela peça musical, em uma
indicação de que a visita naquela casa terminou. Ao final deste ritual pode ser oferecida aos
acompanhantes
, pelos donos da casa, uma mesa de iguarias denominada chá com bolo . Na
saída, cabe ao dono da casa acompanhar o séquito até a casa vizinha entregando a bandeira ao
proprietário dessa, não sem
antes benzer
-
se e beijar o santo estampado na bandeira.
Nes
sa fotografia, de um lado, os festeiros posam segurando a bandeira do santo e,
do outro, a banda de música composta, ao que parece, por profissionais da polícia militar de
Cuia
bá.
A respeito dessa
festa, Ramos (2002), enfatiza:
Bandeira, com a figura do Espírito Santo feito pombinha, presa ao
mastro de cuja ponta pendiam fitas coloridas, imperador e imperatriz
percorriam várias casas a tirar esmolas. Essa comitiva, o bando, fazia
-
se acompanhar de instrumentos musicais, entre os quais o tambor se
destacava
(RAMOS, 2002 p. 112).
Os
festeiros
levam também, cestas, contendo um pequeno pão bento, denominado
Pão do Senhor Divino : pequenino e redondo, era distribuído às pessoas, aos fiéis. Todos
des
ejavam obter um, pois simbolizava fartura e prosperidade, conforme antiga crença
(RAMOS, 2002 p. 112). Vale lembrar que esse ritual ainda ocorre na cidade conquistando
fiéis que muitas vezes deixam seus afazeres par
a acompanhar tal
procissão.
Nesta imagem também é perceptível a posição de sentido assumida por alguns
homens, bem como a atitude
tradicional
da maioria dos presentes, de olhar direto para a
câmera (sobretudo os homens). Embora a posição de sentido seja uma pose característica da
época
para se fazer fotografar (FREHSE, 2005;
BOURDIEU
, 2006), é, também, uma pose
que faz parte do ritual dos profissionais da polícia militar. que se notar que a maioria das
pessoas presentes na imagem fotográfica, pertence à classe dominante. Isso pode ser
percebid
o pelas vestimentas de homens, mulheres e crianças capturados pelas lentes do
fotógrafo. Julgamos importante destacar que a preparação dessa festa, desde àquela época a
os dias atuais, fica sob a responsabilidade de pessoas da elite cuiabana. Tais pessoas são
também os festeiros responsáveis pela realização do evento. Dessa forma, à classe subalterna
cabe a participação como acompanhantes da esmola e também a participação no dia da
festividade
,
aberta ao público em geral.
Reencontramos nas mulheres os mesmos elementos de moda presentes em outras
fotografias aqui analisadas (vestidos, jóias, bolsinhas e chapéus). Os uniformes da banda
denotam simplicidade, com cinturões, bonés e, sobretudo, botas de cano longo. As casas ao
95
fundo confirmam as características arquitetônicas anteriormente levantadas, quais sejam:
estilo colonial, telhas portuguesas, construção em alvenaria, portas e janelas amplas, bem
como o uso do vidro nas janelas.
96
Fotografia
10
-
Festa do Senhor Divino
Fonte:
Ramos (2002, p. 112).
4.1.3.2.1
Descrição da fotografia 1
0
Elementos descritivos
Autor
Autor não identificado
Título
Festa do Senhor Divino
Local
Cuiabá (MT)
Data
Década de 1920
Notas
Legenda:
Quadro 18
-
Elementos descritivos da fotografia
10
97
4.1.3.2
.2
R
esumo da
Fotografia
10:
f
esta do Senhor Divino
Fotografia de autor não identificado estampando a Festa do Espírito Santo, tradicional
evento religioso de Cuiabá de grande importância para a sociedade cuiabana, católica ou
não. Popularmente conhecida como Festa do Senhor Divino, perdura até hoje reunindo
grande número de fiéis de d
istint
as classes so
ci
ais.
Caracteriza
-se pela saída dos
festeiros
em
pr
ocissão,
dos quais se destacam o
imperador
e a
imperatriz
que
saem
meses antes da
fes
ta e várias vezes pelas ruas da cidade,
com
suas roupas dominicais, ao som de música
religiosa tocada pela banda de música ou por pequenos grupos de fiéis, arrecadando
esmolas para sua realização. Acompanha
m
o pedido de
esmola
os populares devotos, so
b o
espocar de fogos. Do dinheiro angariado: uma parte será encaminhada à Igreja e outra
investida na organização da festa.
Os fiéis c
arregam a bandeira do santo , a coroa e outros
pertences sagrados que fazem parte do ritual como o cetro, as bandejas e as sacolas. Esses
objetos, à exceção das sacolas, são enfeitados com fitas coloridas. Os festeiros l
evam
também cestas com pequenos pãezinhos bentos que são distribuídos aos fiéis. Esses pães,
pão do Senhor Divino , são
símbolo
s de fartura e de prosperidade
.
A
música e os fogos
servem como um sinal para que as famílias católicas abram suas casas para receber o santo
e seus acompanhantes. A banda coloca-se em frente da residência e faz sua apresentação
musical. Os moradores da casa, compungidos, beijam a bandeira, fazem orações e
amarram, como esmola ao santo, uma nota em dinheiro numa das fitas que enfeitam a
bandeira ou depositam moedas dentro da cesta. As mães colocam as crianças sob a
bandeira pedindo benção e proteção ao Senhor Divino para seus filhos e para toda família.
Ao final, em algumas residências os donos da casa
oferecem
aos acompanhantes, uma
mesa de iguarias denominada chá com bolo . Na saída, o dono da casa acompanha o
séqüito até a casa vizinha, entregando a bandeira ao proprietário dessa, benzen
do
-se e
beija
ndo
o santo estampado na bandeira. Nesta fotografia, de um lado, os festeiros posam
segurando a bandeira do santo e, do outro, a banda de música composta, ao que parece, por
profissionais da polícia militar de Cuiabá. Na fotografia, é p
erce
ptí
vel
a posição de sentido
assumida por alguns homens da banda
,
numa
pose característica da época, mas, também,
que faz parte do ritual dos profissionais da polícia militar. Percebemos também
a
atitude
tradicional
da maioria dos presentes, de olhar direto para a mera. Notamos
pelas
vestimentas de homens, mulheres e cri
anças
que a maioria d
os
presentes na
imagem,
pertence à classe dominante
. Destacamos que a preparação e a realização dessa festa, desde
àquela época até os dias atuais, fica sob a responsabilidade da elite cuiabana, cujos
membros são também
os
festeiros. Às classes populares cabe a participação como
acompanhantes da esmola, e nos dias da festividade, aberta ao público em geral.
Reencontramos nas mulheres os mesmos elementos de moda presentes em
outras
fotografias
analisadas
. O
uniforme
da banda denota simplicidade. As casas ao fundo
confirmam as características arquitetônicas anter
iormente levantadas
: estilo colonial, telhas
portuguesas, construção em alvenaria, portas e janelas amplas, bem como o uso do vidro
nas janelas.
98
4.1.3.2
.3 Descritores de conteúdo da fotografia 1
0
Descritores
Denotativos
Conotativos
Bandeira do Divino. Coroa do Divino. Cetros.
Coletores de esmolas. Imperador. Imperatriz.
Igreja.
Procissão.
R
eligiosidade.
Fé católica. Missa. Emoção.
Elitização da festa.
Movimento religioso
Homens
. Mulheres. Crianças. Banda de
músic
a. Instrumentos musicais
.
Roupas de
festa.
Valores religiosos. Mistura de classes.
Idealização da sociedade religiosa. Músic
a
religiosa. Comportamentos sociais.
Vestimentas dominicais.
Quadro 19
- D
escritores denotativos e conotativos de conteúdo da fotografia 1
0
4.1.3.2.4
Bibliografia
BOURDIEU, Pierre. O camponês e a fotografia.
In:
Revista de sociologia e política
.
Tradução Fábia Berlatto
e Bruna Gisi. Curitiba N. 26, jun.2006.
P. 31
-
39.
FREHSE, Fraya. Antropologia do encontro e do desencontro: fotógrafos e fotografados nas
ruas de São Paulo (1880-1910). In: MARTINS, José de Souza et al
(or
g
.).
O imaginário e o
poético nas Ciências Sociais
.
São Paulo: Ed. USC, 2005.
RAMOS, Maria de Lourdes Bastos da Silva. Um olhar para a Cuiabá de Cláudio e
Raimundo Bastos (1920
1930).
Cuiabá: Buriti, 2002.
99
4.1.3.3
Os
capinhas
nas touradas
Após a festa do Senhor Divino Cuiabá se prepara para a realização das
touradas
que aconteciam após a realização da festa. Ambas eram atividades de lazer de grandes
proporções que movimentavam a cidade toda e que mais atraiam o povo cuiabano à época.
Ramos (2002), registra: No encerramento da festa do Senhor Divino, Cuiabá vai em peso às
touradas (p. 123). Estas eram realizadas no chamado Campo d Ourique e, assim como a festa
religiosa, esse era outro acontecimento que movimentava a cidade, uma vez que havia toda
uma preparação de arquibancadas decoradas no local de realização da festa. Nessa
oportunidade, as famílias abastadas providenciavam seus palanques ou camarotes
(MENDONÇA, s/d) de onde podiam assistir ao espetáculo confortavelmente.
A esse respeito, Ramos (2002) faz a seguinte observação: Interessante a
decoração das arquibancadas, então chamadas de camarotes, ornamentadas com colchas e
toalhas bordadas, além de tecidos aos metros. Algumas famílias chegavam ao requinte de
enfeitá
-los com festões e guirlandas de flores [...] (p. 114). Apesar da preocupação com a
decoração, o camarote de melhor localização cabia ao Imperador do Senhor Divino
(MENDONÇA, s/d p. 63).
Nesta fotografia, visualiza
mos
os capinhas em ação. Capinhas eram os
homens que enfrentavam o touro, a e descalços, conforme pode
mos
constatar nessa
fotografia. O enfrentamento ocorria no momento em que o touro deixava o toureador no chão
ou sem movimento, a fim de socorrê-lo. [...] o touro levava a melhor, ao deixar o toureador
no chão ou sem movimento [...] (RAMOS, 2002, p. 117). Consta que os capinhas usavam
blusa vermelha, calça branca e chapéu preto com fita vermelha, (RAMOS, 2002, p. 117),
supostamente para chamar a atenção dos animais. Esses ajudantes atuavam na arena
descalços. A respeito das atuações desses, Me
ndonça (s/d p. 63) esclarece:
Como honraria e com o devido consentimento do toureador, os capinhas,
usavam também, o ferrão. Porém, geralmente êles faziam sortes com
garrocha e uma bandeira vermelha . [...] Os capinhas usavam blusa
vermelha e calça branca, chapéu apenas com uma fita vermelha e andavam
descalço.
Em primeiro plano, é pos
sível
visualizar, observando a atuação dos
capinhas
,
alguns homens sentados no chão. Estes, denominados máscaras, tinham por função colaborar
no enfrentamento do touro, quando esse cansado era entregue a eles pelo toureador que
acabara de fazer sua ap
resentação
.
Os
máscaras,
segundo Ramos (2002), Usam trajes
100
variados e têm o rosto encoberto, salvo olhos, nariz e boca (p. 118). É interessante
ressaltar
que as touradas realizadas em Cuiabá seguiam a tradição das realizadas em Portugal, nas
quais os touros, diferentemente das touradas espanholas, não eram sacrificados ao final do
evento, como acontece até hoje na Espanha, mas entregues aos máscaras que após acalmá-
los, o
s conduziam de volta ao cercado de onde os tinham tirado.
Ao fundo, pode
mos
perceber um cercado de caibros roliços onde a população, em
geral, se aglomerava para assistir à apresentação, com maior segurança. Percebemos nesse
fato a segregação das classes populares que podiam assistir o evento em e aglomerando-
se
nos caibros enquanto a elite se deleitava em seus devidos camarotes. A fotografia, de autoria
de Raimundo Bastos, privilegia o interior da arena, focalizando em primeiro lugar seus atores
e
regis
trando de forma ocasional o público.
Conforme Mendonça (s/d p. 63), os registros apontam que a última tourada
realizada em Cuiabá teve lugar no segundo Governo do Dr. Mário Correa da Costa, em
1936, por ocasião das festas de São Benedito . As razões dessa decisão permanecem
desconhecidas e merecem um estudo a parte. O local onde esse importante evento ocorria
Campo d Ourique
atualmente é denominado Praça Moreira Cabral , local em que se situa
o Centro Geodésico da América Latina e onde funcionou por várias décadas, a Assembléia
Legislativa de Mato Grosso. Atualmente, funciona a Câmara dos vereadores da Cidade de
Cuiabá.
101
Fotografia
11
-
Os capinhas nas touradas
Fonte: Ramos (2002, p. 1
17
).
4.
1
.3.
3.
1 Descrição da fotografia
11
Elementos descritivos
Autor
Autor não identificado
Título
Os capinhas nas touradas
Local
Cuiabá (MT)
Data
Década de 1920
Notas
Legenda:
Quadro 20
-
Elementos descritivos da fotografia
11
102
4.1.3.3.2
Resumo da
Fotografia 1
1
: Festa d
o Senhor Divino
Fotografia de autoria de Raimundo Bastos estampando a atuação dos denominados
capinhas
nas touradas realizadas em Cuiabá, da década de 1920. Estas eram uma das
atividades de lazer que mais atraiam o povo cuiabano à época e eram realizadas após a
festa do Senhor Divino, no chamado Campo d Ourique. E
ra
, também,
outro
acontecimento que movimentava a cidade,
posto
que havia toda uma preparação de
arquibancadas decoradas no local de sua realização. As famílias abastadas
providenciavam seus palanques ou camarotes
para
assistir ao espetáculo
confortavelmente.
A
decoração das arquibancad
as
camarotes
eram
ornamentadas com
colchas,
toalhas bordadas, além dos tecidos estendidos aos metros. Algumas famílias
os
enfeitavam
com festões
e guirlandas de f
lores. O
camarote de melhor localização cabia ao
Imperador do Senhor Divino , o festeiro-
mor. N
a fotografia, visualizamos
os capinhas
em ação. H
omens
que
enfrentavam o touro, a e descalços, conforme c
onstata
mos
na
fotografia
. O enfrentamento ocorria pa
ra
socorr
er o toureador no momento em que o
touro
o
deixava no chão ou sem movimento. Consta que os capinhas usavam blusa
vermelha, calça branca e chapéu preto com fita vermelha, supostamente para chamar a
atenção dos animais. Em primeiro plano,
notamo
s, observando a atuação dos capinhas
,
os
denominados
máscaras,
cuja
função
era
colaborar no enfrentamento do touro, quando
esse cansado era entregue a eles pelo toureador que acabara de fazer sua apresentação.
Os
máscaras
usavam trajes variados e traziam o rosto encoberto, salvo olhos, nariz e
boca.
As touradas realizadas em Cuiabá seguiam a tradição daquelas realizadas em
Portugal, nas quais os touros, diferentemente das touradas espanholas, não eram
sacrificados no final do evento, mas entregues aos máscaras que, após acalmá-los, os
conduziam de volta ao cercado de onde os tinham tirado. Ao fundo, percebe
mos
um
cercado de caibros roliços onde a população em geral
se
aglomerava para assistir à
apresentação, com maior segurança. A fotografia privilegia o interior da arena,
focalizando em primeiro lugar seus atores e registrando somente de forma ocasional o
público. Os registros apontam que a última tourada realizada em Cuiabá ocorreu no
Governo do Dr. Mário Correa da Costa, em 1936, por ocasião das fes
tas de São Benedito.
O local onde esse importante evento ocorria
Campo d Ourique
atualmente é
denominado Praça Moreira Cabral , espaço em que se situa o Centro Geodésico da
América Latina e onde funcionou por várias décadas, a Assembléia Legislativa de Mato
Grosso. Atualmente, aí foi instalada a Câmara dos vereadores da Cidade de Cuiabá.
4.1.3.3
.3 Descritores de conteúdo da fotografia
11
Descritores
Denotativos
Conotativos
Touradas em Cuiabá. Atuação dos
capinhas
nas touradas. Elite nos camarotes
. Povo em
cerca de caibros. Registro dos máscaras.
Tradição portuguesa, em pleno Mato Grosso.
Segregação social. hierarquização das funções.
Quadro 21
- Descritores denotativ
os e conotativos de conteúdo da fotografia
11
103
4.1.3.3.4
Bibliografia
MEND
ONÇA, Rubens
de
.
Roteiro Histórico e sentimental da Villa Real do Bom Jesús de
Cuiabá.
2. ed. Cuiabá, s/d.
RAMOS, Maria de Lourdes Bastos da Silva. Um olhar para a Cuiabá de Cláudio e
Raimundo Bastos (1920
1930).
Cuiabá: Buriti, 2002.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso. Da ancestralidade aos dias
atuais.
Cuiabá: Entrelinhas, 2002
.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. Bairro do Porto. In: SIQUEIRA, Elizabeth Madureira,
et
al.
(Org
.).
Cuiabá:
de vila a metrópole. Mato Grosso: Arquivo Público de Mato Grosso,
2006.
4.
1.3.4
Comentário sobre
as
fotografias
de lazer
Como se de constatar nesse grupo de fotografias, as atividades de lazer não
existiam na Cuiabá da década de 1920 como desempenhavam um papel importante, seja
pelas atividades de lazer propriamente ditas, seja pela
possibilidade
de uma convivência
mínima entre a elite cuiabana e as classes populares, visível na fotografia, para
alivia
r
as
tensões sociais e permitir uma convivência relativamente pacífica de pessoas vivendo em
níveis sociais marcados por interesses
muito
opostos
. As fotografias,
aqui
contextualizadas e
resumidas, trazem uma contribuição para a compreensão dos anos de 1920 no interior do
Brasil. Elas contribuem também com a metodologia da Ciência da Informação, e
specialmente
à referente à Análise de Conteúdo de imagens e constituem-se exemplos de disponibilização
da informação para o público usuário
, sobretudo o historiador e o cientista social
.
104
4.1.4
T
ransporte
O Rio Cuiabá representou importante meio de locomoção para a Capital por onde
trafegavam as embarcações que ligavam a cidade a outras partes do país e do continente. Por
seu intermédio, pessoas e mercadorias eram transportadas
constantem
ente.
Com o passar dos
tempos outros meios de transportes como o bonde à tração animal, posteriormente os
automóveis e ônibus
(SIQUEIRA, 2002)
foram aos poucos substituindo o rio.
O conjunto de fotografias aqui selecionado engloba os registros imagéticos
referentes a barcos no Rio Cuiabá, automóvel no Largo do
Mundeo
e transporte de cana-
de
-
açúcar.
4.1.4.1
Os barcos no Rio Cuiabá
Pela tomada apresentada abaixo, de autor não identificado, pode-se deduzir que
se
trata de um instantâneo. Ou seja, os indivíduos capturados pelas lentes do fotógrafo
movimentam
-se sem que se perceba neles gestos e posturas que na imagem fotográfica
configuram gestos indiciais de algum tipo de reação desses mesmos indivíduos à presença
física do fotógrafo e da Câmera diante deles, no momento da tomada (FREHSE, 2005, p
.
191).
É possível visualizar, em primeiro plano, duas carroças e, em seguida, a
embarcação carregada com as mercadorias que, a julgar pela movimentação dos
trabalhadores
à beira da calçada, acabara de chegar. Observando a palavra
PAGE
e a sigla SNBP inscritas
na parte de cima do primeiro barco, supomos que tais mercadorias tenham vindo de terras
estrangeiras, uma vez que se trata de companhia comprovadamente
multinacional
1
.
M
ercadorias
dos mais variados tipos
eram
tanto importadas quanto exportadas, passando pelo
Rio do Prata
Paraguai (RAMOS, 2002). Entretanto, de acordo com os registros históricos, a
navegação pelo rio Paraguai havia sido interrompida no período de 1865 a 1870 em virtude da
Guerra da Tríplice Aliança, que uniu o Brasil, o Uruguai e a Argentina contra o Paraguai
(SIQUEIRA, 2002). Esse fato prejudicou sobremaneira a então província de Mato Grosso que
1
De acordo com o sítio www.senado.gov.br/legislação/listapublicações.action SNBP significa: Serviço de
Navegação da Bacia do Prata
antiga autarquia vinculada ao Ministério da Viação e Obras Públicas, extinta em
1967 e transformada no mesmo ano em Sociedade por ações denominada Serviço de navegação da Bacia do
Prata S/A.
105
se comunicava com os grandes centros por esse meio e que atravessava sérias dificuldades
nessa área,
principalmente pela falta de comunicação com o Rio de Janeiro que, àquela época,
era a Capital Imperial. Com o fim da guerra, retoma-se o intenso movimento comercial. A
esse respeito
Siqueira (2002)
ressalta
o seguinte:
Uma vez liberada a navegação pelo rio Paraguai, após o término da Guerra
da tríplice Aliança contra o Paraguai, a Província de Mato Grosso abria-
se
para o capital internacional, integrando-se ao grande comércio. As
mercadorias importadas pelas casas comerciais mato-grossenses vinham,
prin
cipalmente, da Europa e eram diversificadas: tecidos, adornos pessoais
(chapéus, luvas, leques, meias, sapatos), adornos de casa (abajoures, lustres,
espelhos, baixelas, mobiliários, instrumentos musicais, principalmente
pianos), alimentos (bacalhau, azeitona, bebidas
especialmente vinho
português e espanhol, cerveja, licores, champagne , biscoito, chocolate,
trigo, temperos secos, chás), máquinas a vapor, ferramentas, remédios e
outros produtos) (p. 102).
Ao término do conflito, retorna também o movimento de pessoas, muitas
elegantemente vestidas, viajantes que vão e que vêm das mais diversas localidades:
O viajante desembarcava elegantemente trajado, vestindo a última moda
lançada no Rio de Janeiro. Os homens abusavam dos ternos de linho,
Palm
Beach
e tropical. As mulheres caprichavam nos chapéus (de uso
praticamente obrigatório) ao chegarem da capital da República.
Ninguém
desembarcava sem apresentar novo visual: sapatos, bolsa, corte de cabelo,
todas as últimas tendências da moda [...] (RAMOS, 2002,
p. 60).
Tem
-se a impressão de que as mercadorias das embarcações constantes da
fotografia
serão transportadas pelas carroças que estão sendo postadas a beira do rio, o que
denota a seqüência de transporte que vai primeiro do fluvial para o terrestre. A e
sse respeito, a
legenda que acompanha a fotografia, informa: Barcos ancorados no rio Cuiabá e rampa do
Porto Geral. Em primeiro plano, as carroças aguardam as mercadorias que seriam conduzidas
às Casas Comerciais. Década de 1920 (SIQUEIRA
et al
, 2006 p.
159).
No que se refere ao transporte fluvial, é preciso ressaltar sua importância nesse
contexto geográfico. Registros históricos mostram que até o início do século XX, conforme já
mencionado, não havia estradas que ligassem Cuiabá aos grandes centros. De acordo com
Ramos (2002): Inexistentes as rodovias, andar por Mato grosso significava navegar e
navegar (p. 33). O que havia eram as picadas abertas precariamente por meio de tropas e
tropeiros que transportavam as mercadorias para a população mato-
gross
ense, encarecendo o
custo dessas para os comerciantes dessa região (SIQUEIRA, 2002).
Segundo Ramos (2002): Difícil o caminho por terra, mais longo e penoso, as
formosas águas do Cuiabá são a melhor alternativa, a opção ideal, a melhor estrada (p. 36).
106
Nesse sentido, o porto que representava a principal porta de entrada desde a fundação da
cidade em 1719 (RAMOS, 2002, p. 56) e que se tornou nome do bairro próximo ao rio,
constitui-se em um dos pontos mais antigos de Cuiabá (SIQUEIRA et al, 2006, p. 15
5).
Além disso, transformou-se em local privilegiado, uma vez que nessas imediações foram
instaladas as primeiras pensões e hotéis para
receb
er
os viajantes que chegavam à cidade
(SIQUEIRA
et al
, 2006).
Por outro lado, a distância imposta por esses
fatore
s foi determinante na
história
dessa cidade, na medida em que o isolamento a que fora submetida permitiu, por exemplo,
que o falar cuiabano conservasse características lingüísticas próprias do século XVII. Ainda
nos dias de hoje é possível constatar, por exemplo, marcas de um vocabulário considerado
arcaico
no resto do país bem como no português europeu contemporâneo, mas ainda
p
resentes
no falar cuiabano atual.
No
que se refere a aspectos fonéticos, podem ser observados traços
reveladores da mestiçagem lingüística que se operou entre índios, negros, brancos e o
espanhol falado nas fronteiras. Prova dessa característica é o grupo de pesquisa existente na
USP que se desloca até o município de Cuiabá à procura de vestígios da língua padrão,
falada
em São P
au
lo pelos bandeirantes e
que povoaram Mato Grosso no século XVIII.
Quanto às pessoas presentes na fotografia, podemos perceber três mulheres a beira
do cais, uma criança,
ao
que parece, uma menina, debruçada sobre a mureta do cais e, ainda,
uma mulher que
parece se
aproximar das outras que observam a chegada da embarcação, bem
como a movimentação que ocorre lá embaixo. A mureta de pedras que se visualiza na
fotografia, foi construída por autorização de Augusto Leverger, o Barão de Melgaço no século
XIX (SIQ
UEIRA
et al
, 2006).
Em relação aos homens, pode-se perceber, na área destinada ao desembarque das
mercadorias, que a maioria dos presentes na
foto
grafia
, usa chapéu. Esse acessório era
largamente utilizado à época na capital, tanto pelos homens de todas as classes sociais quanto
pelas mulheres
como acessório da moda
, conforme exposto
.
Entretanto, é possível observar também que, enquanto os homens se protegem com
chapéu, em primeiro plano destaca-se um menino descalço, sem esse acessório, empurrando a
pesa
da roda da carroça. Percebe-se que é um menino negro. O fato de esse menino estar
descalço, com a camisa rasgada à altura do ombro e empurrando uma carroça pesada sozinho,
suger
e
que se trata de uma criança cuja carência o obrigava a se submeter a trabalho
s pesados,
situação devida aos pouco mais de trinta anos da abolição da escravatura. Esse fato reforça a
imagem de exclusão da época, que povoava diferentes contextos brasileiros e que dura até os
107
dias atu
ais.
À esquerda, é possível ver uma criança branca, sem camisa, igualmente sem
chapéu, montada num cavalo, porém, numa atitude totalmente oposta a do menino negro.
Visualizamos
ao fundo uma outra
embarcação
que
faz supor que seja apropriada
para transporte de pessoas posto que se encontra com uma cobertura indicando ser proteção
contra a luz do sol. Talvez uma embarcação que possuía bancos para passageiros e cobertura
de lona (RAMOS, 2002, p. 34) apropriada para
navegação doméstica
.
Da análise da fotografia, é possível constatar que o Porto de Cuiabá era, portanto,
nos anos de 1920, fundamental para o transporte de mercadorias e de passageiros na região.
De acordo com Siqueira et al (2006):
Quando os navios aportavam, a população se apinhava no cais do
Porto, seja para recepcionar os filhos, parentes e visitantes, mas
também para receber a correspondência acondicionada em malotes.
Era uma ocasião de alegria e de esperança por boas novas, embaladas
pelo som da boa música orquestrada por uma banda. Momento de
Festa (p. 157).
Corroborando tal informação,
as observações de Ramos (2002), atestam:
Por esse porto entraram todos. E tudo: ricas alfaias, prata, cobre,
louça, porcelana, vidro, cristal, opalina, biscuit, cerâmica; os mais
dignos representantes do fino comércio europeu, o melhor mobiliário,
cômoda
s marchetadas de
Castela,
oratórios artísticos, imagens sacras,
admiráveis pianos alemães, mármores; [...] (p. 57).
Isso denota uma pujança econômico-financeira e de circulação de riquezas maior
do que se supunha, numa parte do país que é, de certa forma, periférica nas análises,
quer
econômicas quer sociológicas, do Brasil.
Percebemos
, dessa forma, que o capitalismo da
primeira metade do século XX, estendia seus tentáculos para muito além do litoral e das
regiões nordeste e sudeste, na medida em que estimulava a entrada do capital internacional
e
de mercadoria finas para a província. Esses fatores foram determinantes para a entrada de
imigrantes
, pessoas de diversas camadas sociais
que, atraídos pelo favorecimento do comércio
que se expandia, aportaram nessa região
cujo porto ocupava posição de destaque
constituindo família e permanecendo no local
,
mantendo
importantes
negócios.
Ramos (2002), tece o seguinte comentário a respeito das pessoas que aportaram
pelo cais do porto: Gente de várias camadas sociais, de inúmeros afazeres, de diversa pele,
de distinta cultura, letrados portugueses do
Minho
, graduados, analfabetos, todos
deslumbrados com a riqueza desmedida das alegres minas do
Cuiabá
(p. 56).
108
Fotografia 12
- Barcos ancorados no Rio Cuia
Fonte: Siqueira
et al,
(2006, p. 159).
4.1.4.
1
.1
-
Descrição da fotografia 12
Elementos descritivos
Autor
Autor não identificado
Título
Barcos ancorados no Rio Cuiabá
Local
Cuiabá (MT)
Data
Década de 1920
Notas
Legenda: Barcos ancorados no rio Cuiabá e rampa do
Porto Geral. Em primeiro plano, as carroças aguardam
as mercadorias que seriam conduzidas às Casas
Comerciais. Década de 1920.
Quadro 22
-
Elementos descritivos da fotografia
12
109
4.1.4.1
.2
Resumo da
Fotografia 12: barcos ancorad
os no Rio Cuiabá
F
oto
grafia de autor não identificado estampando os barcos ancorados no Cais do Porto do
Rio Cuiabá
:
importante meio de locomoção para a Capital por onde trafegavam as
embarcações que ligavam a cidade a outras partes do país e do continente, passando pelo
Rio do Prata. Pessoas e mercadorias eram transportadas
constantemente.
Pela tomada
deduz
-
se
que se trata de um instantâneo: os indivíduos fot
ografados
moviment
am
-se sem
que se perceba neles gestos e posturas indicativas de pose. Em primeiro plano,
destac
am
-
se
duas carroças e, em seguida, a embarcação carregada com mercadorias que, julgando-
se
pela movimentação dos trabalhadores, acabara de chegar. Pela palavra
PAGE
e a sigla
SNBP
(Serviço de Navegação da Bacia do Prata),
pode
-se supor que as mercadorias
tenham vindo de terras estrangeiras, uma vez que se trata de companhia
multinacional
.
Tem
-se a impressão de que as mercadorias serão transportadas pelas carroças a beira do
rio,
como era costume naquela época,
denota
ndo
a seqüência de transporte que vai
primeiro do fluvial para o terrestre. O transporte fluvial era importa
nte
nesse contexto
geográfico
, posto que até o início do século XX, não havia estradas que ligassem Cuiabá
aos grandes centros. Havia picadas, abertas precariamente por meio de tropas e tropeiros,
que transportavam as mercadorias para a população mato-grossense, encarecendo o custo
dessas
. Em relação às pessoas presentes na fotografia,
percebe
m-
se
três mulheres a beira
do cais, uma
menina,
ao que
parece,
debruçada sobre a mureta e, ainda, uma mulher que
parece se aproximar das outras que observam a chegada das
embarcaç
ões.
Quanto aos
homens,
nota
-
se
que a maioria usa chapéu, acessório largamente utilizado à época na
capital, tanto pelos homens em função do sol, quanto pelas mul
heres
como acessório da
moda.
Observa
-
se
que, enquanto os homens se protegem com chapéu, em primeiro plano
destaca
-se um menino descalço,
sem
esse acessório
empurrando a pesada r
oda da carroça.
Ele
é negro, suger
indo
se tratar de uma criança cuja carência o obrigava a se submeter a
trabalhos pesados
.
À esquerda, uma criança branca, sem camisa, igualmente sem chapéu,
montada num cavalo, porém, numa atitude totalmente oposta a do menino negro.
A
embarcação ao fundo faz supor que seja apropriada para navegação doméstica que
transportava pessoas, posto que se encontra com uma cobertura indicando ser proteção
contra
o sol. Constata
-
se que o Porto de Cuiabá era, nos anos de 1920, fundamental
para o
transporte de mercadorias e de passageiros na região.
Denota
ndo
pujança econômico-
financeira e circulação de riquezas maior do que se supunha numa parte do país
considerada
periférica nas análises econômicas e sociológicas do Brasil. Percebe-
se
que o
capitalismo da primeira metade do século XX estendia seus tentáculos para muito além
do litoral e das regiões nordeste e sudeste.
110
4.1.4.1
.3 Descritores de conteúdo da fotografia 12
Descritores
Denotativos
Conotativos
Rio Cuiabá. Porto Geral. Cais.
Homens.
Mulheres. Menina. Menino negro. Menino
branco. Cais do Porto. Porto. Chapéu. Cavalo.
Trabalhadores do Porto.
Movimentação de pessoas. Movimento d
e
mercadorias. Desenvolvimento. Comunicação
nacional. Comunicação internacional.
Barcos ancorados e carros-
de
-boi. Barcos a
vapor. Multinacional.
Inserção do capitali
smo.
Progresso
.
Trabalhos
pesados.
Transporte fluvial. Transporte
terrestre.
Trabalhadores do porto. Importação e
exportação de mercadorias. Transporte de
mercadorias. Transporte de pessoas.
Desejo de mudança. Circulação de riquezas.
Crescimento econômic
o-
financeiro.
Quadro 23
- Descritores denotativ
os e conotativos de conteúdo da fotografia
12
4.1.4.1.4
Bibliografia
FREHSE, Fraya. Antropologia do encontro e do desencontro: fotógrafos e fotografados nas
ruas de São Paulo (1880-1910). In: MARTINS, José de Souza et al
(Org
.).
O imaginário e o
poético nas Ciências Sociais.
São Paulo: Ed. USC, 2005.
RAMOS, Maria de Lourdes Bastos da Silva. Um olhar para a Cuiabá de Cláudio e
Raimundo Bastos (1920
1930).
Cuiabá: Buriti, 2002.
SIQUEIRA, Elizabeth Madu
reira.
História de Mato Grosso. Da ancestralidade aos dias
atuais.
Cuiabá: Entrelinhas, 2002
.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. Bairro do Porto. In: SIQUEIRA, Elizabeth Madureira,
et
al.
(Org
.).
Cuiabá:
de vila a metrópole. Mato Grosso: Arquivo Público de Mato Grosso,
2006.
111
4.1.4.
2 Automóvel no
Largo do Mundeo
Observa-
se
, pela fotografia 13, a seguir, uma tomada do
antigo
Largo do Mundeo
,
atual
mente denominado Praça Bispo Dom José (SIQUEIRA et al
2006
), no mesmo trecho
em que está situado o chafariz, já mencionado anteriormente. O principal e mais comum
meio
de transporte dentro da cidade à época era o cavalo. Entretanto, a fotografia mostra que então
começava a circular pelas ruas veículos de quatro rodas: os automóveis movidos à
gasolina
.
Nesse sentido, vale lembrar que o primeiro meio de transporte motorizado a circular em
Cuiabá era originário da Suíça. Tratava-se de um caminhão Órion, adquirido por Artur
Borges, no ano de 1911
(SIQUEIRA, 2002, p. 176). O
primeiro carro de passeio a c
ircular
na
cidade
foi um Fiat, Tipo 52, vindo direto da Itália, de propriedade do então Governador do
Estado, Dom Francisco de Aquino Corrêa
(CORRÊA,
1998 apud
SIQUEIRA, 2002).
Ressalta
mos
, porém, que esse meio de transporte era considerado, ainda, objeto
de
luxo, conseqüentemente, de propriedade de poucos privilegiados da elite cuiabana. Dessa
forma, sua presença chamava a atenção das pessoas que, conforme se observa
,
saíam à porta
de suas residências
,
ao que parece,
para olhar a novidade.
É p
o
ssível
perc
eber que a rua, ainda
sem calçamento, era bem diferente do que viria a se tornar mais tarde, conforme pode se
comparar com a fotografia 4, analisada. Entretanto, com a chegada dos primeiros veículos,
havia a necessidade de pavimentação e, conseqüentemente, o melhoramento
das
principais
ruas por onde circulariam importantes meios de transporte
conforme
ressalt
a Siqueira (2002):
Com os automóveis, impôs-se a necessidade de pavimentação das ruas principais de Cuiabá,
condizente com o novo tipo de transport
e (p. 177).
Dessa forma, algumas ruas foram pavimentadas e receberam o calçamento com
pedra cristal de quartzo (SIQUEIRA, 2002, p. 77). Corrêa (1998) apud Siqueira
(2002)
,
corrobora a afirmativa e acrescenta: [...] foram calçadas com pedra cristal, porém o melhor
serviço foi feito pelo processo macadame, que consistia em compactar pedras de cor
ferruginosa, que em Cuiabá se chamava de pedra-canga , formando uma pista sólida por
onde o carro passaria (p. 177). O veículo da foto
grafia
em questão transportava seis pessoas
em seu interior, além do motorista, enquanto era seguido por dois cavaleiros logo atrás.
Avista
-se nessa imagem, ao alto, à esquerda, o Seminário Episcopal da Conceição
e, à direita, a Igreja do Bom Despacho já construída. que se notar, igualmente, a grande
cruz em destaque ao alto do seminário. Rodeadas pela mata, as instituições ganham um
interessante aspecto bucólico. Esse aspecto
sugere
, não obstante a informação constante da
legenda,
que a intenção primeira das lentes do
fotógra
fo
infelizmente não identificado
112
fosse destacar o despontar da Igreja do Bom Despacho, como se ela estivesse surgindo da
natureza em direção ao céu. Esse efeito resistiu ao tempo e pode ser percebido ainda hoje,
apesar de o local ter adquirido outras
construções, inclusive prédios,
e perdido grande parte do
trecho da floresta
que circundava essa região
.
As casas do Largo do
Mundeo
também resistiram ao tempo e estão presentes no
local até os dias de hoje. Essas casas conservam a antiga estrutura geminada e, embora
tenham sofrido reformas, mantêm as mesmas características do estilo colonial. Essas
residências foram transformadas em pequenas lojas que movimentam o comércio da cidade
em um local totalmente asfaltado e considerado, nos dias de hoje, importante parte do
centro histórico da cidade. As questões referentes à manutenção do patrimônio histórico são
capítulos à parte a merecer mais atenção dos poderes públicos, uma vez que essa situação
ocorre em todo o país.
113
Fotog
rafia 13
- Automóvel no Largo do Mundeo
Fonte: Siqueira
et al.
(2006, p. 33).
4.
1.
4.
2.1 Descrição da fotografia 13
Elementos descritivos
Autor
Não identificado
Título
Automóvel no Largo do Mundeo
Local
Cuiabá (MT)
Data
Década de 1930
Notas
Lar
go do Mundeo em frente ao chafariz, atual Praça
Bispo Dom José.
Quadro 24
-
Elementos descritivos da fotografia
13
114
4.1.4.2.2
Resumo da
Fotografia 13: automóvel no largo do Mundeo
F
oto
grafia de autor não identificado estampando a imagem do antigo Largo do Mundeo
na década de 1930, atual Praça Bispo Dom José. Nesse mesmo trecho
situa
-
se
o chafariz,
conforme se percebe à direita, já mencionado anteriormente. O meio de transporte mais
comum dentro da cidade à época era o cavalo ou a charrete. No início do século XX
começava a circular pelas ruas veículos de quatro rodas, os automóveis movidos à
gasolina
. Ressaltamos
que
era um meio de transporte considerado, ainda, objeto de luxo,
conseqüentemente, de propriedade de poucos privilegiados da elite cuiabana. Assim,
sua
presença chamava a atenção das pessoas que, conforme se observa, saíam à porta de suas
residência
s, ao que tudo indica, para olhar a novidade. P
ercebe
-
se
que a rua, ainda sem
calçamento, era bem diferente do que viria a se tornar mais tarde. O veículo
constante
da
foto
grafia
transportava seis pessoas, além do motorista, enquanto era seguido por dois
cavaleiros.
Avista
-se nessa imagem, ao alto, à esquerda, o Seminário Episcopal da
Conceição
e, à direita, a Igreja do Bom Despacho construída. N
ot
e-
se
, a grande cruz
em destaque ao alto do seminário. Rodeadas pela mata, à época ainda densa, as
instituições ganham aspecto bucólico. D
eduz
-
se
que a intenção primeira das lentes do
fotógrafo, não identificado, fosse destacar o despontar da Igreja do Bom Despacho, como
se ela estivesse surgindo da natureza em direção ao céu. Esse efeito resistiu ao tempo e
pode ser percebido ainda hoje, apesar de o local ter adquirido outras construções,
inclusive prédios e perdido
grande parte do trecho da
ma
ta. As casas do Largo do Mundéu
também resistiram ao tempo e estão presentes no local até os dias de hoje. Ela
s
conserva
m a antiga estrutura geminada, embora tenham sofrido reformas. Entretanto
,
mantêm as mesmas características do estilo colonial. Essas residências foram
transformadas em pequenas lojas que movimentam o comércio da cidade em um local
totalmente asfaltado e considerado, nos dias de hoje, importante parte do centro histórico
da cidade.
4.1.4.2.
3 Descritores de conteúdo da fotografia 13
Descritores
Denotativos
Conotativos
Largo do Mundeo . Praça Bispo Dom José.
Chafariz. Pessoas. Casas do largo do
mundéu. Centro comercial. Lojas.
Aspecto provinciano. Avanço tecnológico.
Inserção de capital estrangeiro.
Privilégios
da elite. Luxo. Modernização da cidade.
Estilo colonial. Movimentação comercial.
Novidade.
Cavalos.
Cavaleiros.
Automóvel à gasolina.
Pavimentação das ruas. Asfalto. Calçamento
das ruas. Seminário Episcopal. Morro do
seminário. Igreja do Bom Despacho.
Floresta.
Símbolo de progresso. Valores religiosos.
Enaltecimento de valores tradicionais.
Enaltecimento de valores conservadores.
Aspecto bucólico. Presença do verde.
Natureza.
Quadro 25
- Descritores denotativ
os e conotativos de conteúdo da fotografia
13
115
4.1.4.2.4
Biblio
grafia
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso. Da ancestralidade aos dias
atuais.
Cuiabá: Entrelinhas, 2002
.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. Bairro do Porto. In: SIQUEIRA, Elizabeth Madureira,
et
al.
(Org
.).
Cuiabá:
de vila a metrópole.
Ma
to Grosso: Arquivo Público de Mato Grosso,
2006.
116
4.1.4.
3
T
ransporte de cana
-
de
-
açúcar
A fotografia a seguir, de autoria de Cláudio Bastos e retirada do livro
Um olhar
para a Cuiabá de Cláudio e Raimundo Bastos (192
0
1940),
estampa
o
que aparenta ser uma
barcaça, atracada à beira rio, que puxa duas espécies de
containers
aquáticos utilizados à
época.
O fato de a barcaça ter uma chaminé faz supor que ela impulsiona os dois
containers
. Nota-se que esses têm janelas ou respiradouros, o que dificulta ainda mais a
identificação do tipo de barcos. O caminhão que se na fotografia é semelhante ao Ford
bigode que, embora tenha motor, se assemelha mais a uma carroça. É provável que a cana
esteja chegando nesse tipo de transporte para ser levada via fluvial para outra localidade,
porém, a produção de açúcar dos anos de 1920 na região não se constitui no objeto de estudo
deste trabalho.
Percebe
-se que dos presentes na foto, todos portam chapéus, com exceção de um:
(seria dele o chapéu que aparece no chão em primeiro plano?). O fato de todos portarem
chapéus pode ser indício da necessidade de proteção contra o sol em uma região de clima
quente. Pode se tratar de um acessório da moda, presente também em outras regiões do país.
Segundo o Almanaque do pensamento de 1960, podia ser também, simplesmente indício de
elegância e distinção , tal como ocorria, nos séculos passados, com a cartola, que cobriu, em
todos os tempos as cabeças mais ilustres e é uma espécie de uniforme de gala [...]
(Almanaque do Pensamento, 1960 p. 95).
É possível visualizar pela fotografia, a distinção de classe estabelecida entre os
senhores,
os supostos patrões e os empregados, trabalhadores, seja por meio da postura, da
indumentária ou do modelo dos seu
s
chapéus,
bem como do tipo dos calçados.
Observamos
que os patrões, usando terno e gravata, apenas observam o carregamento feito pelos
trabalhadores, enquanto estes se vestem de forma mais simples, com roupas apropriadas para
o tipo de atividade que empreendem e movimentam-se para realizar o trabalho de
abastecimento dos barcos que transportarão a cana
-
de
-
açúcar.
Os trabalhadores usam camisa de mangas compridas o que denota tratar-se de um
ambiente tropical, uma vez que fazem uso desse detalhe para se proteger do sol. A esse
respeito, Mendonça, em seu livro Roteiro Histórico e sentimental (s/d,) registra o fato de em
Cuiabá o sol e o calor abrasador (p. 15) produzirem um calor insuportável (s/d, p. 15). É
impressionante constatar que
os,
supostamente,
patrões usam gravata nessas condições de
clima a que
se
est
á
referindo.
117
Observamos,
em primeiro plano, um chapéu que a primeira vista, parece pertencer
ao senhor à direita, única figura sem esse acessório. Pode pertencer também ao fotógrafo que
no momento de se posicionar, abaixando-se para a tomada, pode tê-lo derrubado. Tem-se a
impressão de que os dois homens à esquerda bem como os dois à direita, observam o
acessório que, parece,
foi carregado pelo vento no instante
da
captur
a d
a imagem.
A cana aqui
pro
duzida é do tipo miúda e fina e não do tipo caiana, grossa e longa, o que pode significar
uma preocupação com a qualidade para a finalidade
da produção do açúcar.
Observa-se, ainda, sobre um dos
containers
, um conjunto de um material que
lembra um cordoam
ento.
Percebe
-se, apesar do desmatamento em função da colheita da cana,
a presença reiterada da natureza, o que permite reforçar a tese de que se trata de uma cidade
em que a floresta ainda se encontra bastante presente. Aliás, ainda hoje grande presenç
a
dela nos bairros mais afastados do centro.
118
Fotografia 14
-
Transporte
de cana
-
de
-
açúcar
Fonte: Ramos (2002, p. 41).
4.1.4.
3.1
Descrição da fotografia 14
Elementos descritivos
Autor
Cláudio Bastos
Título
Transporte da
cana
-
de
-
açúcar
Local
Cuiabá (MT)
Data
Década de 1920
Notas
Legenda: Transporte da cana
-
de
-
açúcar, década de 20.
Quadro 26
-
Elementos descritivos da fotografia
14
119
4.1.4.3
.2
Resumo da
Fotografia 14: transporte de cana
-
de
-
açúcar
Fotograf
ia de autoria do fotógrafo Cláudio Bastos estampando a imagem de um
meio de transporte que aparenta ser uma barcaça, atracada à beira rio e puxando
duas espécies de
containers
aquáticos utilizados à época. O fato de a barcaça ter
uma chaminé faz supor que ela impulsiona os dois
containers
. Nota-se que esses
têm janelas ou respiradouros, o que dificulta ainda mais a identificação do tipo de
barcos. O
veículo
que se na fotografia é semelhante ao Ford bigode que,
embora tenha motor à gasolina, assemelha-se mais a uma carroça. P
rov
a
vel
mente
a
cana esteja chegando via fluvial para ser levada para outra localidade, por meio do
transporte terrestre. Deduz-se tal fato ao observar a direção para a qual está voltado
o senhor que carrega um feixe de cana nas mãos. A impressão que se tem é que ele
está fazendo o carregamento para o caminhão. Percebe-se que dos presentes na
foto, apenas um deles não porta chapéu: O fato de todos portarem chapéu pode ser
indício da necessidade de proteção contra o sol em uma região de clima quente ou
pode se tratar de um acessório da moda, generalizado em outras regiões do país.
Pode ser considerado um indício de elegância e distinção como ocorria, nos séculos
passados, com a cartola, um item de gala, como se fosse parte da indumentária das
pessoas mais ilustres.
Percebe
-se a distinção de classes estabelecida entre os
senhores, os supostos patrões e os empregados, trabalhadores, seja por meio da
postura, da indumentária ou
pel
o modelo dos seus
chapéus,
bem como
pel
os
diferentes
tipo
s
do
s calçados.
Observa
-se que os patrões, usando terno e gravata,
apenas observam sem intervir nas ações
à exceção de um deles que carrega um
feixe de cana nos braços
o carregamento feito pelos trabalhadores. Estes vestem-
se de forma mais simples, com roupas apropriadas para o tipo de atividade que
empreendem e movimentam-se para realizar o trabalho de abastecimento do
veículo
que transportará a cana-
de
-açúcar. Os trabalhadores usam camisa de
mangas compridas, denotando tratar-se de ambiente tropical, uma vez que fazem
uso desse detalhe para se proteger do sol. Constata-se que os patrões usam terno e
gravata nessas mesmas condições de clima a que
se
est
á
referindo. Observa-se em
primeiro plano um chapéu que, a primeira vista, parece pertencer ao senhor à
di
reita, única figura sem esse acessório. Porém, pode pertencer também ao
fotógrafo que no momento de se posicionar, abaixando-se para a tomada, o teria
derrubado. Tem-se a impressão de que os dois homens à esquerda bem como os
dois à direita, observam o ace
ssório que,
ao que
parece, foi carregado pelo vento no
instante em que se capturou a imagem. Talvez estivessem simplesmente
observando a movimentação do fotógrafo para a tomada da fotografia. Percebe-
se,
apesar do desmatamento necessário à plantação da cana, a presença reiterada da
natureza, o que permite reforçar a tese de que Cuiabá ainda é uma cidade em que a
mata densa se encontra bastante presente.
120
4.1.
4.3.3 Descritores de conteúdo da fotografia 14
Descritores
Denotativos
Conotativos
Carre
gamento de cana-
de
-açúcar. Mata
densa. Barcaça com chaminé. Chapéu.
Vitalidade econômica. Recursos tecnológicos
de transporte. Desmatamento. Clima tropical.
Natureza.
Barco. Automóvel à gasolina.
Containers
aquáticos. Homens. Trabalhadores.
Transporte flu
vial.
Inclemência do sol. Elegância.
Valores
sociais. Distinção social. Simplicidade.
Desenvolvimento lento. Pujança econômica.
Símbolo de modernidade.
Quadro 27
- Descritores denotativ
os e conotativos de conteúdo da fotografia
14
4.1.
4.3.4 Bibliografi
a
Almanaque do pensamento
. A cartola na moda e na arte.
São Paulo: 1961.
MENDONÇA, Rubens
de
. Roteiro Histórico e sentimental da Villa Real do Bom Jesús de
Cuiabá.
2. ed. Cuiabá, s/d.
RAMOS, Maria de Lourdes Bastos da Silva. Um olhar para a Cuiabá de Cláudio e
Raimundo Bastos (1920
1930).
Cuiabá: Buriti, 2002.
4.
1.
4.4 Comentário sobre as fotografias de
meios de transporte
Neste grupo de fotografias, a Cuiabá que tinha no rio e no lombo do cavalo, os
principais meios de transporte e de comunicação, começa a conviver também com o veículo
movido à gasolina. Eram os primeiros sinais da industrialização que começava a chegar na
cidade
. Essa grande conquista certamente contribuiria para diminuir a distância entre a
província e os grandes centros, dando à cidade maiores e melhores
oportunidades
de se
colocar em sintonia com as grandes capitais.
121
4 2 Aspectos da vida privada
N
a análise d
este tópico
percebemos que a influência dos chamados grandes centros
urbanos
que se refletia na cidade de Cuiabá da década de 1920, dava-
se
não em relação ao
seu desenvolvimento físico e material como também no comportamento da sociedade de
maneira geral. O desejo de se manter em sintonia com o que havia de mais moderno e recente
tanto na Capital Federal
Rio de janeiro
quanto na Europa, era perceptível também na
moda que vestia a sociedade daquela época. Havia a necessidade de se registrar as
transformações que se processavam em todos os setores da sociedade, tanto no que se refere
ao aspecto físico urbano, isto é, aspecto público
da
ci
dade
quanto
em relação ao aspecto
privado, ou seja, das pessoas, no seio
familiar.
Assim
, as fotografias capturadas naquela
ocasião refletem bem o contexto de mudança que operava na sociedade mato-
grossense,
mudanças essas absorvidas principalmente pela sociedade da capital Cuiabá.
Dessa forma, procuramos enfocar neste conjunto de fotografias, as s
ituações
familiares
dessa época, em ocasiões consideradas importantes e especiais para serem
eternizados por meio da imagem, seja em casa, no jardim ou
nas
festas.
As fotografias
reunidas neste
grupo
estampam as famílias ou membros dessas em momentos da vida íntima
como em uma reunião dos seus componentes numa pose para a posteridade ou na captura da
imagem das crianças,
especial
mente produzidas para a ocasião. Compõem também este tópico
as roupas que vestia a sociedade cuiabana naque
la época.
Verifica
-se aqui a valorização do que havia de mais moderno no que se refere à
indumentária para as ocasiões especiais como as registradas nas touradas, na missa e festas
religiosas, por exemplo. Entretanto, vale ressaltar que a valorização desses aspectos diz
respeito a situações comuns a famílias da elite cuiabana, uma vez que a elas era possível
usufruir tais privilégios, conforme já se ressaltou anteriormente.
122
4.
2.1
Retratos de família
Englobam este conjunto, um dos menores que resultaram da nossa divisão
as
fotografias de uma criança, isto é, uma garotinha sentada em um banco e trajada à altura da
sua classe social. Chama-nos a atenção nessa imagem, o domínio da situação em que a
garotinha
foi coloca. Ou seja, é uma pequena adulta (BURKE, 2004) consciente do
importante papel que representava naquele momento; da família Rodrigues, tradicional
família de professores que conquistou o respeito e a consideração da sociedade cuiabana por
meio do conhecimento e da cultura de seus membros
.
A outra é a
fotografia
que
estampa a
figura de uma senhora que, embora não haja nenhuma informação a respeito, consideramos
que
trata
r-
se
de uma mãe que posa possivelmente com seus cinco filhos no jardim da Praça
Alencastro, sem a figura paterna. Todos ele
gantemente v
estidos, de acordo com os ditame
s da
moda em voga à época. Apesar da quantidade, julgamos que essas imagens são bem
representativas das famílias da elite cuiabana daquele momento.
4.2.1.1 Crianças
Na Fotografia
15
, uma garotinha de aproximadamente cinco anos, elegantemente
vestida, de acordo com a moda da época, posa para Raimundo Bastos,
fotógrafo
muito
conhecido pelos retratos que fez da elite cuiabana. A fotografada não nomeada nem no verso
da fotografia nem na legenda de onde foi tirada, segura na mão direita uma pequena bolsinha
enquanto a mão esquerda, enfeitada por uma pulseirinha, segura a ponta do vestido
numa
atitude totalmente artificial e decoradora
.
Atrás dela percebe-se uma sombrinha, recostada na
banqueta. Essa, em que a garota está sentada, é trabalhada, estilo art nouveau, em voga nos
anos de 1920. Apesar da pouca idade, ela mantém uma postura ereta, com um leve sorriso e
os pés entrelaçados, demonstrando um domínio da situação e consciência do contexto
fotográfico em que foi
colocada
.
Percebe
-se que a imagem fora capturada no interior de uma residência,
provavelmente em um lugar da sala devidamente preparado para o registro da imagem
conforme era moda à época e como o fotógrafo Raimundo Bastos costumava fazer, ou seja ele
fot
ografava as crianças sempre sentadas em um ambiente devidamente preparado para a
ocasião
: Às vezes seguram flores, outras uma boneca. Enfeitadas, sérias, olhos bem abertos,
fitam quem as distrai
(RAMOS, 2002, p. 155). Pode se tratar também de um ateliê
123
f
otográfico.
Desse fato pode-se depreender que em Cuiabá estava em voga o o hábito do
retoque confirme ressaltou Benjamin (as fotografias 1998 p. 97) disseminado pelos
fotógrafos
em outros centros.
No livro Um olhar para a Cuiabá de Cláudio e Raimundo Bastos (1920
1940),
de onde a imagem foi retirada, a legenda informando o seguinte: A mãozinha direita
segura a pochette, a esquerda brinca com a fita do vestido. Ereta e compenetrada, tem os
pezinhos cruzados. O biombo floral com ares orientais é parte da composição da década de
20. Fotografia de Raimundo Bastos (RAMOS, 2002, p.158). Os sapatos, o chapeuzinho de
crochê e o vestidinho de corte refinado não deixam dúvida quanto à classe social a que a
jovenzinha pertence. Reforça esta hipótese o tapete, provavelmente importado, em harmonia
com o biombo florido, de estilo oriental, igualmente estrangeiro.
Essa personagem, assim fotografada, demonstra os valores estéticos, denunciados
pelo mobiliário e pela sua vestimenta. Por outro lado, deixa entrever a rigidez com que as
crianças da classe dominante eram tratadas para ir assumindo o seu papel na hierarquia da
Cuiabá dos anos de 1920. Tem-se nessa imagem uma verdadeira jóia dos costumes e dos
procedimentos da elite cuiabana da época, com referência a seus valores e à educação que
dava aos seus filhos.
124
Fotografia 15
-
Criança
Fonte: Ramos
.
(2002, p. 158)
4.2.1
.1.1
Descrição da fotografia
15
Elementos descritivos
Aut
or
Raimundo Bastos
Título
Garotinha sentada
Local
Cuiabá (MT)
Data
Década de 1920
Notas
Legenda: A mãozinha direita segura a pochette, a esquerda
brinca com a fita do vestido. Ereta e compenetrada, tem os
pezinhos cruzados. O biombo floral com ares orientais é
parte da composição da década de 20.
Quadro 28
-
Ele
mentos descritivos da fotografia
15
125
4.2.1.1.2
Resumo da
Fotografia 15: g
arotinha sentada
Fotografia de autoria de Raimundo Bastos estampando a imagem de uma garotinha de
aproximadamente cinco anos, não nomeada nem no verso da fotografia nem na legenda
de onde foi tirada. Elegantemente vestida, de acordo com a moda da época, a garota posa
para o fotógrafo segurando na mão direita uma pequena bolsinha enquanto a mão
esquerda, enfeitada com uma pulseirinha, segura a ponta do vestido numa atitude
totalmente
artificial e decoradora. Raimundo Bastos, fotógrafo pertencente à elite, era
muito conhecido pelos retratos que fez dessa classe, embora tenha fotografado variadas
temáticas. Fotografou especialmente as crianças. Atrás da garota, percebe-se uma
sombrinha,
recostada na banqueta em que ela está sentada. A banqueta é trabalhada, estilo
art nouveau, em voga nos anos de 1920. Apesar da pouca idade, a fotografada,
compenetrada, mantém uma postura ereta, olhando diretamente para a câmera do
fotógrafo, com um leve sorriso e os pés entrelaçados, demonstrando um domínio da
situação
e consciência do contexto fotográfico em que foi colocada. Percebe-se que a
imagem fora capturada no interior de uma residência, provavelmente em um lugar da sala
devidamente preparado para o registro da imagem, como o fotógrafo Raimundo Bastos
costumava fazer, uma vez que estava em voga a composição de cenários artificiais. Pode
se tratar também de um ateliê fotográfico. Exibindo sapatos e meias, um chapeuzinho de
crochê deixando entrever a
franja e o vestidinho de corte refinado, a jovenzinha não deixa
dúvidas quanto à classe social a que pertence. Reforça esta hipótese o tapete,
provavelmente importado, em harmonia com o biombo florido de estilo oriental,
igualmente estrangeiro. Essa perso
nagem
, assim fotografada, demonstra os valores
estéticos, desnudados pelo mobiliário e pela vestimenta. Por outro lado, deixa entrever a
rigidez com
qu
e as crianças da classe dominante eram tratadas para ir assumindo o seu
papel na hierarquia da Cuiabá dos anos de 1920. Uma verdadeira jóia dos costumes e dos
procedimentos da elite cuiabana da época com referência a
os
costumes,
valores e à
educação que dava aos seus filhos.
4.2.1.1
.3 Descritores de conteúdo
da fotografia 15
Descritores
Denotativos
Conot
ativos
Garotinha sentada. Mobiliário moderno.
Roupa infantil em 1920.
Valorização dos detalhes. Burguesia. Elite
cuiabana. Estilo oriental. Estilo
art nouveau
Moda infantil dos anos de 1920 e postura
rígida diante da ação fotográfica.
Eurocentrismo. Valorização estrangeira.
Modernidade.
Quadro 29
- Descritores denotativ
os e conotativos de conteúdo da fotografia
15
4.2.1
.1.4
Bibliografia
BENJAMIN, Walter. Pequena história da fotografia. In: Magia e técnica, arte e política:
ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução Sergio Paulo Rouanet. São Paulo:
Brasiliense, 1987.
RAMOS, Maria de Lourdes Bastos da Silva. Um olhar para a Cuiabá de Cláudio e
Raimundo Bastos (1920
1930).
Cuiabá: Buriti, 2002.
126
4.2.1.2 F
amília Rodrigues
A fotografia 16, a seguir, de autor não identificado, estampa uma tradicional
família que, embora não tivesse um nível financeiro elevado, fazia parte da elite cuiabana
,
gozando
de elevado respeito e consideração por se tratar de uma família de professores.
Trata
-
se da família Rodrigues, uma das mais representativas do bairro do Porto
1
de Cuiabá. Ao
centro, a figura da matriarca, senhora Benedicta Rodrigues que tem ao lado esquerdo seu
filho, professor Firmo José Rodrigues e à direita sua nora, senhora Maria Rita Descham
ps
Rodrigues. Em seus netos, filhos do casal, conforme informa a legenda que acompanha a
fotografia:
Família Rodrigues, uma das mais tradicionais e representativas da região do
Porto de Cuiabá. Ao centro, a matriarca Benedicta Rodrigues, ao lado
esquer
do seu filho Firmo José Rodrigues, à direita sua nora Maria Rita
Deschamps Rodrigues, e, em pé seus netos, filhos do casal (1920/1930)
(SIQUEIRA
et al.
2006, p. 156).
Ressalta
-s
e,
nesse conjunto, a figura
de
Dunga Rodrigues, a primeira moça à
direita, famosa professora de francês e de piano da cidade. Figura de destaque da elite
cuiabana, Dunga mantinha um conservatório de música por onde passou grande parte das
moças da alta sociedade de Cuiabá.
Descrevendo
-se denotativamente os atores presentes na
image
m verifica
-
se
que há um total de nove pessoas: seis mulheres, dois homens e um menino
de aproximadamente sete anos. Observa-se que as três pessoas mais velhas, duas mulheres e
um homem, estão sentadas. Atrás dessas e em pé, os mais jovens, ou seja, quatro
mulheres,
um homem jovem e, ainda, o menino. Percebe-se que, embora diante de uma casinha simples,
todos estão adequadamente vestidos para serem fotografados. Tais atitudes demonstram a
intenção de se solenizar e materializar a imagem que o grupo pretendia apresentar de si
próprio (BOURDIEU, 2006, p. 31). Nesse mesmo sentido, Burke (2004) argumenta que os
retratos registram não tanto a realidade social, mas ilusões sociais, não a vida comum, mas
performances
especiais (p. 34-5), daquilo que se deseja que seja visto e lembrado. Parece
que é just
a
mente o caso
dessas fotografias de Cuiabá.
Nota
-
se
que se trata de uma família patriarcalmente instituída a julgar pela figura
do patriarca sentado à frente. Entretanto, há que se ressaltar
a figura da matriarca,
cuja postura
sutilmente se impõe entre o casal, (de)marcando sua presença. Sua postura altiva e imponente
bem como a expressão do seu rosto demonstram que se trata de uma mulher firme e segura.
1
O bairro do Porto é assim denominado por tratar de uma área próxima
ao Rio Cuiabá
127
Ressalta
-
se
, ainda, a posição assumida pela matriarca, dentre as pessoas sentadas, posto que é
a única que se coloca sem cruzar os braços e as pernas. Observando-se a postura das outras
figuras que se colocam atrás das personagens sentadas, percebe-se que as duas moças ao
centro, estendem as mãos em direção à matriarca. É possível inferir que se trata de uma
família que não se preocupa em ostentar, a julgar pelo fato de se postarem em frente de uma
casinha simples. Entretanto, as pessoas estão bem vestidas e bem calçadas, demonstrando,
além das razões apresentadas por Bourdieu e por Burke, bom gosto e o cuidado que havia em
um momento considerado importante para a família, posto que se tratava de um retrato para
guardar como recordação daquele instante único, apropriado para reforçar a integração do
grupo familial, reafirmando o sentimento que tem de si e de sua unidade (LEITE, 2001, p.
87).
Destaca
-se também a figura da criança que devidamente trajada para a ocasião, coloca-
se
de forma empertigada, em posição de sentido e olhando diretamente para a câmera, como era
c
ostume à
época, conforme já verificado
a
nteriormente
.
Pode
-se observar também na fotografia, a figura do militar que à época ocupava
posição de destaque na sociedade. Entretanto, apesar da deferência concedida a esses oficiais
bem como a distinção da figura do patriarca de terno e gravata, suas presenças acabam por ser
ofuscadas, diante da imponência da matriarca da família que consegue a
tra
ir toda atenção
do
observador da fotografia sobre si. Observa-se ainda que, embora trajando roupas simples, as
quatro
mulheres jovens vestem-se com apuro e bom gosto. Esse bom gosto fica denotado,
inclusive, pelo estilo dos sapatos que calçam duas das moças.
Trata
-se de uma fotografia
exemplar no sentido de se registrar um conjunto familiar que é, ao mesmo tempo,
paradigm
ático e singular. Para se chegar a esse resultado é preciso registrar o quanto foi
importante o fato de se dispor de um conjunto valoroso de informações externas à fotografia.
Essas foram fundamentais na medida em que forneceram condições para se estruturar a
análise aqui apresentada.
128
Fotografia 16
F
amília
Rodrigues
Fonte: Siqueira
et al
. (2006, p. 156).
4.2.1.2.1
Descrição da fotografia 16
Elementos descritivos
Autor
Autor não identificado
Título
Família Rodrigues
Local
Cuiabá (MT)
Da
ta
Década de 1920
Notas
Legenda: Família Rodrigues. Tradicional família do
Porto
Firmo, esposa, mãe e filhos.
Quadro 30
-
Elementos descritivos da fotografia
16
129
4.2.1.2.2
Resumo da
Fotografia 16: Família Rodrigues
Fotografia de autor não identificado estampando a imagem de tradicional família do bairro
do Porto de Cuiabá. Embora não tivesse um nível financeiro elevado, essa fazia parte da
elite cuiabana. Trata da família do professor Firmo José Rodrigues, que gozava de elevado
respeito e c
onsideração por se tratar de uma família de professores. Destaca
-
se desse grupo
a figura da matriarca, senhora Benedita Rodrigues ao centro da foto e ladeada pelo filho
mencionado e pela nora, senhora Maria Rita Deschamps Rodrigues. Destaca-se também a
pesquisadora Maria Benedita Deschamps Rodrigues, mais conhecida como Dunga
Rodrigues, a primeira moça à direita, famosa professora de português, francês e de piano.
Essa professora mantinha um conservatório de música por onde passou grande parte das
moças
da
elite
de Cuiabá, sem, no entanto, ter jamais assumido uma atitude de pretensa
superioridade
. Foi uma figura que se destacou como pianista além de compositora,
tornando
-se personalidade de elevada consideração no Estado. A imagem apresenta um
total de no
ve pessoas: seis mulheres, dois homens e um menino de aproximadamente cinco
anos. As três pessoas mais velhas, duas mulheres e um homem, estão sentadas. Atrás
dessas e em pé, os mais jovens, ou seja, quatro mulheres, um homem jovem em traje de
militar e, ainda, o menino. Este, devidamente vestido para a ocasião, coloca-se de forma
empertigada, em posição de sentido e olhando diretamente para a câmera, como era
costume à época. Observamos que esses atores, embora adequadamente vestidos para
serem fotografados posam diante de uma casa relativamente simples, o que nos leva a
supor que se trata de uma família que não se preocupava em ostentar. A figura do patriarca
nos faz supor que se trata de uma família patriarcalmente instituída. Entretanto, na
fotografia sobressai a figura da matriarca, cuja postura sutilmente se impõe entre o casal,
(de)marcando sua presença. Tanto a postura altiva e imponente, bem como a expressão do
seu rosto, demonstram tratar-se de uma mulher firme e segura. Ressaltamos, ainda, sua
posi
ção em relação às outras pessoas sentadas: é a única que se coloca sem cruzar os
braços e as pernas. As pessoas, principalmente as quatro mulheres jovens, vestem-se com
apuro e bom gosto. Esse bom gosto fica denotado, inclusive, pelo estilo dos sapatos que
calçam duas das moças, demonstrando o cuidado em um momento considerado
socialmente importante para a família, posto que se tratava de um retrato para guardar
como recordação daquele instante único. Observamos também, a figura do militar que à
época ocupava posição de destaque na sociedade. Entretanto, apesar da deferência
concedida a esses oficiais bem como a distinção da figura do patriarca de terno e gravata,
suas presenças acabam
sendo
ofuscadas, diante da imponência da matriarca da família que
consegu
e atrair toda atenção do observador sobre si.
4.2.1.2.
3 Descritores de conteúdo da fotografia 16
Descritores
Denotativos
Conotativos
Família patriarcal. Família de professores.
Reunião familiar. Fotografia em família.
Família matriarcal.
Organização
familiar. Patriarcalismo.
Imponência. Firmeza. Segurança.
Determinação. Valorização da mulher.
Família tradicional de professores. Professora
de francês. Professora de piano.
Valores culturais. Elite cultural. Valorização
da memória. Valorização da cultu
ra.
Valorização da educação.
Quadro 31
- Descritores denotativ
os e conotativos de conteúdo da fotografia
16
130
4.2.1.2.4
Bibliografia
BOURDIEU, Pierre. O camponês e a fotografia.
In:
Revista de sociologia e política
.
Tradução Fábia Berlatto e Bruna Gis
i. Curitiba N. 26, jun.2006.
P. 31
-
39.
FREHSE, Fraya. Antropologia do encontro e do desencontro: fotógrafos e fotografados nas
ruas de São Paulo (1880-1910). In: MARTINS, José de Souza et al
(orgs.).
O imaginário e o
poético nas Ciências Sociais.
São Pau
lo: Ed. USC, 2005.
RAMOS, Maria de Lourdes Bastos da Silva. Um olhar para a Cuiabá de Cláudio e
Raimundo Bastos (1920
1930).
Cuiabá: Buriti, 2002.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso. Da ancestralidade aos dias
atuais.
Cuiabá: Entrel
inhas, 2002
.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. Bairro do Porto. In: SIQUEIRA, Elizabeth Madureira,
et
al.
(Org
.).
Cuiabá:
de vila a metrópole. Mato Grosso: Arquivo Público de Mato Grosso,
2006.
131
4.2.1.3
Mãe e filhos na Praça Alen
castro
A distinta senhora, como pode ser visualizado na fotografia 17 a seguir, de autoria
de Raimundo Bastos, provavelmente mãe das cinco crianças presentes na fotografia, posa
com seus filhos no jardim denominado
Praça
Alencastro
e situado no centro da cidade de
Cuiabá, ao lado da Igreja matriz e que existe até hoje.
Essa praça, cuja construção data do século XIX, era um dos centros de atração
onde a sociedade cuiabana encontrava os mais agradáveis entretenimentos. Era o local onde
aconteciam as apresentações teatrais da época (SIQUEIRA, 2006 p. 73). Conforme registra
Ramos (2002), a Praça Alencastro foi o ponto alto de reunião da sociedade, que desfilava sua
elegância nas noites enluaradas (p.78). A mesma autora recorda ainda, que: As moças
casadour
as não faltavam às retretas de domingo [...] (p. 82), ocasião em que aproveitavam
para desfilar as impecáveis roupas dominicais dando voltas no jardim.
Nessa perspectiva, é interessante ressaltar que a praça era o local considerado
propício para os registros fotográficos, principalmente após a missa de domingo. As famílias
aproveitavam para posar diante das câmeras
,
eternizando aquele momento singular como
memória, ao mesmo tempo em que o transformava em importante fonte de documentação do
contexto em questão. É possível perceber que o jardim era um espaço bem tratado, arejado e
devidamente cuidado. Ao fundo, podemos perceber que a praça possuía ainda o antigo gradil
que a circundava, no início do século XX e que desapareceu depois.
Nesta fotografia, datada de 1920, observa-se que todos os retratados concentram o
olhar em direção à câmera fotográfica, como se obedecendo ao princípio da frontalidade e
adotando a postura mais convencional, se procurasse assumir tanto quanto possível o controle
da objetivação
da sua própria imagem (BOURDIEU: 2006, p. 38). A mãe, em pé, usa colar e
no braço esquerdo uma pulseira e um leque, também na mão esquerda, marcas exteriores de
classe. A estampa do seu vestido quase se confunde com a paisagem do jardim, formando um
conj
unto interessante denotando uma preocupação com estampas que representam a natureza.
As crianças, bem vestidas e sentadas no banco da praça, cruzam, todas elas, as pernas e fazem
pose para o registro fotográfico. A garota do centro, adolescente, exibe traje e postura de
adulta, leva
ndo
-
se
em consideração o modelo do vestido, mais comprido do que os das irmãs
e a pose diferenciada das outras duas crianças, ou seja, pernas cruzadas e postura ereta, como
convinha a moças de família da época.
Os adereços usados por ela, estão de acordo com os da suposta mãe: o colar, o
leque na mão direita e a pulseira. Entretanto, o toque de jovialidade da adolescente manifesta-
132
se pelos braceletes, bem como pelo modelo do penteado usado por ela, bem diferente do da
mãe.
As outras duas garotas, embora com toque infantil no penteado de uma delas e
no
tipo de vestimenta que trajam, também posam como pequenas adultas se for observada
a
postura adotada no momento da captura da imagem. Em relação aos meninos, pode-se
observar que ambos usam roupas
com camisas de mangas longas
e chapéus parecidos,
botas e meias escuras. Esses também se portam como dois jovens cavalheiros
adultos
, com as
pernas cruzadas e olhar direto para a mera.
Do que foi observado é possível inferir que as
cria
nças, embora posem de forma graciosa e infantil, apresentavam-se como adultos em
miniatura (BURKE: 2004, p. 129)
levando
-
se
em consideração o traje que usavam, bem
como a postura que adotavam na pose.
Trata
-se de uma família da elite, sem a presença
pate
rna, cujas postura e vestimenta
comunicam
uma idéia de felicidade, de união e de
elegância, características da classe dominante
d
a época
.
Observa-se
que, embora se tratando
de uma cidade de clima tropical quente e seco,
as pessoas costumam usar meias, botas e outras roupas quentes,
suger
indo
uma tentativa de se
vestir segundo os ditames do estilo europeu, embora
fosse
época de verão. Tal contradição
reforça a hipótese da predominância de um eurocentrismo conforme constatado em várias
fotografias de Cuiabá n
aquela década.
Enfim, é uma fotografia provavelmente comum para as
pessoas que na época possuíam os recursos para se permitirem essas despesas e que, em que
pese a presença de um fato excepcional em seu registro, transmite uma marca de
comportamento de elegância e de postura de uma classe que, na época tinha pretensões de
refinamento e de demonstração de poder econômico.
133
Fotografia 17
-
Mãe e filhos na Praça Alencastro
Fonte: Ramos (2002, p. 84)
4.2.1
.3.1
Descrição da fotografia 17
Element
os descritivos
Autor
Raimundo Bastos
Título
Mãe e filhos na Praça Alencastro
Local
Cuiabá (MT)
Data
Década de 1920
Notas
Legenda: Jardim Alencastro, anos 20.
Quadro 32
-
Elementos descritivos da fotografia
17
134
4.2.1.3.
2
Resumo da
Foto
grafia 17: Mãe e filhos na Praça Alencastro
F
oto
grafia de autoria de Raimundo Bastos estampando distinta senhora,
acompanhada
de quatro crianças e uma adolescente em fotografia datada de 1920 . Supõe
-
se que seja a
mãe
com seus cinco filhos sendo fotografados no jardim
Alencastro
do século XIX
situado
no centro da cidade de Cuiabá, ao lado da Igreja
da
matriz
. Ambos
existe
ntes
até
hoje.
O jardim era um dos centros de atração onde a sociedade cuiabana encontrava
agradáveis entretenimentos como as retretas e
ap
resentações
de
teatr
o. Consta que as
moças aproveitavam para se apresentar elegantemente vestidas, principalmente aos
domingos após a missa, exibindo impecáveis
roupas dominicais
,
dando voltas no jardim.
A praça era um local considerado propício para registros fotográficos. As famílias
aproveitavam para posar diante das câmeras
,
eternizando aquele momento singular,
transforma
ndo
-o, ao mesmo tempo, em importante fonte de documentação e memória.
P
ercebe
-
se
que o jardim era um espaço bem tratado, arejado e d
evid
amente cuidado. Ao
fundo,
antigo gradil que então circundava a praça. Os retratados fazem pose e
concentram o olhar em direção à câmera fotográfica. A mãe, em pé, usa colar e no braço
esquerdo uma pulseira, tendo à mão
um
leque, marcas exteriores de cl
asse
. A estampa
do seu vestido quase se confunde com a paisagem do jardim. As crianças, bem vestidas
e sentadas no banco da praça, cruzam, todas elas, as pernas e fazem pose para o registro
fotográfico. A garota do centro, adolescente, exibe traje e postura de adulta, leva
ndo
-
se
em
consideração o modelo do vestido, mais comprido e a pose diferenciada das outras
duas crianças, ou seja,
pernas cruzadas e postura ereta.
Os adereços usados por ela, estão
de acordo com os da que se
sup
õe
-se ser a mãe: o colar, o leque na mão direita e a
pulseira.
O toque de jovialidade
manifesta
-se pelos braceletes e pelo modelo do
penteado usado por ela, b
astante
diferente do da mãe. As outras duas garotas, embora
com toque infantil no penteado de uma delas e no tipo de vestimenta que trajam,
também posam como pequenas adultas se levarmos em consideração a postura adotada
no momento da captura da imagem. Em relação aos meninos,
ambos usam roupas
com
camisas de mangas longas
e chapéus parecidos, botas e meias escuras. Esses ta
mbém
se portam como dois jovens cavalheiros
adultos
, pernas cruzadas e olhar direto para a
câmera.
Infere
-
se
que as crianças, embora posem de forma graciosa e infantil
,
pretendiam apresentar-se como
adult
as
leva
ndo
-
se
em consideração o traje que usavam,
be
m como a postura que adotavam na pose. Embora se trate de uma cidade de clima
tropical quente e seco, as pessoas costuma
va
m usar meias, botas e outras roupas
quentes, suger
indo
uma tentativa de se vestir segundo os ditames do estilo europeu,
embora se tratasse de época de verão. Tal contradição reforça a hipótese da
predominância de um eurocentrismo conforme constatado em várias
outras
fotog
rafias
de Cuiabá naquela década.
4.2.1.3.
3 Descritores de conteúdo da fotografia 17
Descritores
Denotativos
Conot
ativos
Praça Alencastro. Jardim Alencastro. Mulher.
Crianças. Meninas. Meninos. Roupas
dominicais. Família matriarcal.
Jovialidade. Poder econômico. Privilégio.
Bem
-estar. Felicidade. Eurocentrismo.
Elegância. Idealização. Memória.
Quadro 33
- D
escrito
res denotativ
os e conotativos de conteúdo da fotografia
17
135
4.2.1.3.4
Bibliografia
RAMOS, Maria de Lourdes Bastos da Silva. Um olhar para a Cuiabá de Cláudio e
Raimundo Bastos (1920
1930).
Cuiabá: Buriti, 2002.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira.
História
de Mato Grosso. Da ancestralidade aos dias
atuais.
Cuiabá: Entrelinhas, 2002
.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. Bairro do Porto. In: SIQUEIRA, Elizabeth Madureira,
et
al.
(Org
.).
Cuiabá:
de vila a metrópole. Mato Grosso: Arquivo Público de Mato Grosso,
2006
.
4.2.1.4
Comentário sobre
as
fotografias
retratos de família
No rico e instigante conjunto de fotografia de família pôde-se verificar que a
maioria delas refere-se a famílias de classe dominante, até porque à época somente essas
famílias tinham acesso ao registro fotográfico. Apenas, eventualmente, personagens das
classes populares foram capturados pelas lentes dos fotógrafos. Trata-se, pois, nos anos de
1920 do registro fotográfico de personagens de uma classe social: a elite. As fotografias
demonstra
m uma preocupação com o vestuário, com a postura física, com a rigidez dos
gestos, enfim com detalhes comuns observados nas poses de uma classe social que é local e
mesmo internacional.
136
4.2.2
Vestuário
As touradas em Cuiabá eram consideradas, juntamente com as festas do Divino e
as eleições, acontecimentos importantes na sociedade cuiabana da época. Esses eventos, que
misturavam as diferentes classes sociais da cidade, constituíam ocasiões importantes e
propícias para se posar para fotografia e para que as pessoas se apresentassem
elegantemente
vestidas
, tanto uns quanto outros. Evidentemente que a fotografia e as roupas mais elaboradas
eram privilégios das classes abastadas, afinal a moda corresponde ao desejo de distinção
social (SOUZA, 1987, p. 47).
Dentro do grupo intitulado aspectos da vida privada, analisamos um conjunto de
imagens denominado de
vestuário
que se compõe das fotografias: a moda nos anos 1920,
elegância em 1927 e elegâ
ncia e sensualidade no Cais do Porto.
4.2.2.
1
A moda dos anos 1920
Na fotografia
abaixo
, quatro moças
elegantemente vestidas
posam para o fotógrafo
Raimundo Bastos, acompanhadas de um, igualmente, elegante senhor confirmando a regra
segundo a qual a
fo
tografia e as roupas mais elaboradas eram privilégios das classes
abastadas.
Na imagem que se observa, a legenda informa ser esta fotografia uma Lembrança
das Touradas, 1924 (RAMOS 2002, p. 127).
Percebe
mos
que era moda para as mulheres, o uso de meias compridas, sapatos do
tipo boneca, bem como vestidos compridos, com babados ou sobrepostos. O uso de meias de
algodão grosso destoa do clima quente e confirma a tendência eurocêntrica na moda. As
meias do cavalheiro parecem ser, também, do mesmo algodão. Os leques eram acessórios
comuns, embora fossem considerados não apenas elegantes em ocasiões como essas, mas,
provavelmente úteis para amenizar o calor típico dessa região. Nesse sentido, os vestidos são
todos de tecidos leves e bem decotados para a época
,
embora os modelos passem a impressão
de se tratar de roupas pesadas. O senhor
1
, que se coloca ao lado das moças, também se veste
de forma elegante usando terno claro, gravata, chapéu e bengala. Esta poderia ser uma
necessidade médica, mas é provável que se
ja somente um detalhe de distinção
, à época.
1
Trata
-se do professor Firmo Rodrigues que posa com sua filha Dunga Rodrigues, a primeira ao seu lado,
acompanhada das amigas. Ambos já foram mencionados na fotografia 11.
137
Observando
-se atentamente, nota
mos
que na mão da
primeira
moça à direita,
uma pequenina bolsa, do tipo porta-moedas, que complementa a elegância dela. Todas têm
relógios de pulso. Uma delas usa pulseira e todas, com exceção de uma, usam correntinhas
provavelmente de ouro. As jóias eram um acessório razoavelmente comum, até mesmo entre
as pessoas das classes mais baixas, uma vez que a região de Cuiabá ainda produzia boa
quantidade de ouro à época. Pode
mos
obse
rvar também o tipo de penteado semelhante entre
elas, valorizando o cabelo curto, com franja, típico da moda feminina dos anos de 1920 na
Europa. Percebe
mos
mais uma vez, conforme verificado anteriormente, a inspiração em
modelos europeus. É possível deduzir por essas características apontadas que se trata na
fotografia de pessoas da elite cuiabana. Além disso, conforme comentado anteriormente, era
privilégio da classe dominante poder se fazer fotografar para guardar como recordação.
Cr
ianças, elegantemente vestidas e, em segundo plano, três senhores de terno,
gravata e chapéu, também integram a fotografia. Entretanto, ao que parece, essas
pessoas
foram capturadas ao acaso. Tem
os
a impressão
de
que não se deram conta do momento.
Mesmo assim, percebe
mos
que a produção caracteriza um conjunto aristocrático de pessoas
presentes nas touradas. No entanto, o chão de terra batida, as casinhas simples ao fundo e um
cachorro
no primeiro plano, denotam o caráter popular da festa. Era moda também
permanecer sérios e tensos ao serem fotografados (Fraye, 2006), embora seja possível
perceber certa pose por parte do cavalheiro portando a bengala. As crianças presentes na
fotografia constituem uma exceção nesse aspecto, uma vez que apresentam-se de forma
descontraída, posto que, temos a impressão de que
elas
também
foram captadas sem que
houvesse intenção por parte do fotógrafo.
138
Fotografia 1
8 - A moda dos anos de 1920
Fonte: Ramos (2002, p. 127).
4.2.2.1.1
Descrição da fotografia 1
8
Elementos descritivos
Autor
Raimundo Bastos
Título
A moda dos anos de 1920
Local
Cuiabá (MT)
Data
11 de junho de 1924
Notas
Legenda: Lembrança das Touradas, 1924
Quadro 34
-
Elementos descritivos da fotografia
18
139
4.2.2.1.2
Resumo da
Fotografia 1
8
: A moda
dos anos de 1920
Fotografia de autoria do fotógrafo Raimundo Bastos estampando cinco pessoas
representativas da elite cuiabana nas touradas que aconteciam em Cuiabá. As touradas
,
as festas do Divino e as eleições, eram acontecimentos dos mais importantes
na
soc
iedade cuiabana da época. Tais eventos misturavam diferentes classes sociais e
constituíam
-
se
ocasiões especiais e propícias para tomada
de
fotografia e para que as
pessoas se apresentassem elegantemente vestidas. Tanto os das classes abastadas
quan
to os das populares. A fotografia e as roupas mais elaboradas eram privilégios das
classes abastadas. Na fotografia, quatro moças e um senhor, todos vestidos de acordo
com a moda da época, posam para o fotógrafo
.
Era moda para as mulheres as
meias
comprida
s, sapatos do tipo boneca (baixo e de bico arredondado) e
vestidos
compridos, com babados ou sobrepostos. O uso de meias de algodão grosso destoa do
clima quente e confirma a tendência eurocêntrica na moda. As meias do cavalheiro
parecem ser, também, de algodão. Os leques eram acessórios comuns, porém chiques.
Considerados não apenas elegantes em ocasiões como essas, mas, também, úteis para
amenizar o calor típico dessa região.
Os
vestidos
parecem ser todos de tecidos leves e
bem decotados para a época, embora os modelos passem a impressão de se tratar de
roupas pesadas. O senhor, que se coloca ao lado das moças, também se veste de forma
elegante usando terno claro, gravata, chapéu e bengala. Esta poderia ser uma
necessidade médica, mas é provável que seja
também um detalhe de distinção, à época.
Nota
mos
na mão da primeira moça à direita, uma pequenina bolsa, do tipo porta-
moedas, que complementa a elegância dela. Todas usam relógios de pulso. Uma delas
usa pulseira e todas, com exceção de uma, usam correntinhas provavelmente de ouro.
As jóias eram um acessório razoavelmente comum, até entre as pessoas das classes
populares, uma vez que a região era, ainda, produtora de ouro à época. Notamos o tipo
de penteado semelhante entre elas, valorizando o cabelo curto, com franja, típico da
moda feminina dos anos de 1920 na Europa. Deduz
imos
por essas características
apontadas que trata de pessoas da elite cuiabana. Além disso, era privilégio da classe
dominante o fazer-se fotografar para guardar como recordação.
Três
crianças em
segundo plano estão, do mesmo modo, elegantemente vestidas. Essas também integram
a fotografia caracterizando um conjunto aristocrático de pessoas presentes nas
touradas. Temos
a
impressão que foram capturadas ao acaso uma vez que parecem
desc
ontraídas e alheias à ocorrência da fotografia. O chão de terra batida, as casinhas
simples ao fundo e um cachorro no primeiro plano, denotam o caráter popular da festa.
Era moda também permanecer sérios e tensos ao serem fotografados, embora seja
possível
perceber certa pose por parte do cavalheiro portando a bengala.
4.2.2.1.3
Descritores de conteúdo da fotografia 1
8
Descritores
Denotativos
Conotativos
Touradas. Homem adulto. Mulheres jovens.
Vestidos com babados. Vestidos
sobrepostos. Jóias. Porta-moeda. Relógio.
Leques. Bengala. Chapéu. Cabelos curtos.
Meias compridas. Sapatos tipo boneca .
Terno branco. Ouro. Casinhas.
Eurocentrismo. Marcas de poder econômico.
Elegância. Distinção social. Classe burguesa.
Classe dominante. Festa elitista. Festa
po
pular. Classes populares. Mescla de
classes sociais. Clima tropical. Moda
masculina. Moda feminina. Descontração.
Aristocracia. Simplicidade.
Quadro 35
- Descritores denotativ
os e conotativos de conteúdo da fotografia
18
140
4.2.2.1.4
Bibliografia
RAMOS,
Maria de Lourdes Bastos da Silva. Um olhar para a Cuiabá de Cláudio e
Raimundo Bastos (1920
1930).
Cuiabá: Buriti, 2002.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso. Da ancestralidade aos dias
atuais.
Cuiabá: Entrelinhas, 2002
.
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. Bairro do Porto. In: SIQUEIRA, Elizabeth Madureira,
et
al.
(Org
.).
Cuiabá:
de vila a metrópole. Mato Grosso: Arquivo Público de Mato Grosso,
2006.
4.2.2.2
Elegância em 1927
Na fotografia abaixo, observa
mos
uma jovem trajando um modelo de vestido reto
cujos detalhes
bordado na parte frontal e as pontas franzidas em ambos os lado da roupa
dão o toque de elegância ao traje bem como à modelo . Essa elegância é complementada
pelo colar de pérolas, pelos cabelos curtos e pela tiara, aparentando ser de seda,
envolvendo
sua fronte e ainda pelo sapato de salto médio, do tipo boneca e meias compridas de algodão,
muito em voga na década de 1920. Os detalhes do cenário foram artificialmente preparados
para serem fotografados, conforme era costume à época. Ele é composto por uma mesinha
metálica, trabalhada e que se estende sobre um tripé. Há uma espécie de vaso imitando
candelabro sobre a mesa, com flores artificiais, sustentadas pelas mãos da moça. Atrás dela é
possível observar outro vaso de flores, perto de uma janela aberta. Inferimos que a
composição do cenário, que inclui um gradil de ferro do tipo inglês, fora organizada de forma
a estabelecer uma harmonia entre o ambiente e a jovem fotografada. Essa harmonia fica bem
marcada por meio
da estrutura cilíndrica
, conforme alude
Souza
(
1987, p. 35), formada pela
jovem em meio ao cenário que, parece ter sido propositadamente elaborado. Inferimos que
esse cenário tenha sido organizado,
provavelmen
te, em um ateliê fotográfico. Porém, pode te
r
sido, também, no interior de uma residência, conforme o fotógrafo Raimundo Bastos
costumava fazer.
A lege
nda que acompanha a fotografia
traz alguma
informação a respeito da jovem
senhora que posa para
o
fotógrafo
. Essa havia chegado recentemente de Paris trazendo nas
dobras do seu vestido, nitidamente capturadas pelas lentes do fotógrafo, o toque de charme
denunciando que esse havia chegado por meio de malote, o que era considerado chique na
época (RAMOS, 2002 p. 149). É perceptível também, nessa fotografia, o estilo europeu que
141
se destaca tanto no modelo do vestuário usado pela jovem, quanto nos detalhes dos elementos
que compõem a cena. De todas as fotografias de moda esta parece ser a que registra,
de
maneira mais contundente
,
a influência européia na
Cuiabá da década de 1920.
142
Fotografia 1
9 -
Elegância em 1927
Fonte: Ramos (2002, p. 149).
4.2.2.2.1
Descrição da fotografia
19
Elementos descritivos
Autor
Raimundo Bastos
Título
Elegância em 1927
Loc
al
Cuiabá (MT)
Data
1927
Notas
Legenda: A gaúcha Dalila frota de Matos, senhora
Leônidas de Matos. Sua simpatia e elegância (em todos os
sentidos) tornaram-na figura destacada na velha cidade de
Cuiabá.
Quadro 36
-
Elementos descritivos da fotografia
19
143
4.2.2.2.2
Resumo da
Fotografia 19
: Elegância em 1927
Fotografia de autoria de Raimundo Bastos estampando a imagem de uma jovem de frente
e em pé,
trajando um modelo de vestido reto cujos detalhes
bordado na parte frontal e as
pontas franzidas em ambos os lados da roupa
dão o toque de elegância tanto ao traje
quanto à modelo e à fotografia. Essa e
legância
é
complementada pelo colar de pérolas,
pelos cabelos curtos e pela tiara de seda envolvendo sua fronte, pelo sapato de salto
médio, do tipo boneca e meias compridas de algodão, muito em voga na década de
1920. Os detalhes do cenário foram artificialmente preparados para serem fotografados,
conforme
a moda naquela à época, ou seja, a colocação de vasos com flores, tapetes e
outros adereços apropriados para compor um ambiente fotográfico. Ele é composto por
uma mesinha metálica, trabalhada que se estende sobre um tripé. uma espécie de vaso
imitando candelabro sobre a mesa, com flores artificiais, sustentadas pelas mãos da moça.
Atrás dela outro vaso de flores, perto de uma janela aberta. Inferimos que a tomada tenha
sido feita no interior de uma residência ou talvez em um ateliê fotográfico. A
composição
do cenário, que inclui um gradil de ferro do tipo inglês, fora organizada e
produzida
de
forma a estabelecer uma harmonia entre o ambiente e a jovem fotografada. Essa
consonância estética fica bem marcada por meio da estrutura cilíndrica, formada pela
jovem em meio ao cenário. informação sobre a jovem senhora
que
havia chegado
recenteme
nte de Paris trazendo nas dobras do seu vestido, a prova charmosa dessa
importação. Essas não repassadas a ferro, eram consideradas um toque chique na época.
O vestido havia chegado recentemente da França via malote.
4.2.2.2
.
3
D
escritores de conteúdo da
fotografia 1
9
Descritores
Denotativos
Conotativos
Jovem senhora. Vestido francês. Sapato
tipo boneca . Meias de algodão. Colar
de pérolas. Tiara de seda. Cabelo curto.
Ateliê fotográfico. Paris. Mesinha
metálica. Vaso de flores.
Poderio econômico-
fina
nceiro. Elite
cuiabana. Harmonia estética. Produção
estética. Charme importado. Toque
charmoso. Classe burguesa. Classe
dominante. Eurocentrismo.
Enaltecimento do importado.
Artificialidade. Posição social.
Quadro 37
- Descritores denotativ
os e conotativ
os de conteúdo da fotografia
19
4.2.2.2.4
Bibliografia
RAMOS, Maria de Lourdes Bastos da Silva. Um olhar para a Cuiabá de Cláudio e
Raimundo Bastos (1920
1930).
Cuiabá: Buriti, 2002.
BENJAMIN, Walter. Pequena história da fotografia. In: Magia e técnica, arte e política:
ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução Sergio Paulo Rouanet. São Paulo:
Brasiliense, 1987.
144
4.2.2.3
Elegância e sensualidade no Cais do Porto
Essa fotografia se distingue de todas as outras aqui analisadas pela esp
ontaneidade
registrada nas atitudes dos jovens fotografados. Trata-se, provavelmente, de instantâneo
capturado pelas lentes do fotógrafo, de forma natural, uma vez que os rapazes se apresentam
em atitude não-ensaiada e sem olhar para a câmera, como era háb
ito. Sabemos
que, na década
de 1920, os instantâneos o ocorriam com muita freqüência porque a própria condição
técnica de realização de uma fotografia não permitia a surpresa, uma vez que fazer uma
fotografia demandava algum tempo para preparação ou mo
ntag
em do equipamento. Porém,
supõe-se que o fotógrafo poderia encontrar meios para contornar essa limitação técnica. Ele
poderia, por exemplo, permanecer durante longo tempo realizando tomadas de outros aspectos
do cenário de maneira a distrair as pessoas e, repentinamente, sem adverti-las capturar-lhes a
atitude. A prova disso é o fato de que um deles de costas para a câmera e os dois outros
com olhares para outras direções. Todos apresentam atitudes corporais relaxadas. Essa não é
uma atitude corrente, normalmente observada naqueles que posavam para fotografias da
época. Embora tenha se posicionado de acordo com a constatação de Benjamin (1998): [...]
de pé, pernas entrecruzadas em posição de descanso, como convinha, recostado num pilar
polido (p. 98
).
O primeiro à direita, de terno escuro tem o olhar perdido no horizonte. Os dois
outros podem estar conversando descontraidamente. Talvez estivessem esperando pel
a
embarcação para uma provável
travessia
.
Pode
mos
perceber a elegância dos cavalheiros,
repr
esentada pelos ternos, gravatas e chapéus que trajam, como também pela postura
descontraída com a qual foram flagrados.
A respeito dessa imagem, chama
a
atenção
a postura espontânea dos rapazes
que
transmite certa sensualidade revelada pela fotografia. Essa sensualidade é captada pelo
operator
(BARTHES 1984), cujo gesto essencial , conforme o mesmo autor, é o de
surpreender
alguma coisa ou alguém (pelo pequeno orifício da câmara) e que esse gesto é,
portanto, perfeito quando se realiza sem que o sujeito fotografado tenha conhecimento dele
(p.54). Nessa perspectiva, entendemos que tal fato possibilita ainda e, de acordo com
Barthes
(1984),
revelar aquilo que estava tão bem oculto, que o próprio ator dele estava ignorante ou
inconsciente (p. 54) .
A
legenda que acompanha a imagem chama a atenção para a elegância na
travessia do Rio Cuiabá, em 18 de junho de 1924. Notamos a diversidade de modelos de
chapéu (RAMOS, 2002 p.35), acessório comum naquela região conforme sobejamente
145
comentado. Os modelos aos quais a autora se refere,
parece
trata
r-se de: um do tipo Santos
Dumont (com as abas abaixadas) e dois do tipo cartola (mais altos e com as abas
engomadas), confirmando a postura estética da época. Finalmente, nota
mos
na imagem
fotográfica, que nos anos de 1920 (1924) a moda masculina preconizava ternos em tecidos de
algodão ou linho, camisas brancas e calças mais apertadas junto ao corpo, do que em outras
épocas.
Dos três rapazes presentes na fotografia, um é branco, um é negro e o outro não é
poss
ív
el constatar a cor. A propósito do negro presente na imag
em
, vale ressaltar que, como
vimos anteriormente, essa era uma situação rara nas fotos da classe dominante do período
.
Conforme constatou De
lamônica (2005
), o negro era mostrado nas fotografias, na
maioria das
vezes, como uma figura secundária, sempre em posição subalterna, tal qual acontecia no
processo
geral
de modernização que se evidenciava naquele momento no Brasil.
Entretanto, conforme observa Souza (1987): Com o abrandamento das
demarcações
sociais, o alforriado pode, através da vestimenta, identificar-se ao aristocrata
[...] (p.124). Esse fato, embora raramente
constatado
, também já ocorria na cidade de Cuia
dos anos de 1920, conforme pu
demos verificar nessa fotografia.
146
Fotografia 20
-
Elegância
e sensualidade no Cais do Porto
Fonte: Ramos (2002, p. 35).
4.2.2.3.1
Descrição da fotografia 20
Elementos descritivos
Autor
Raimundo Bastos
Título
Elegância e sensualidade no Cais do Porto
Local
Cuiabá (MT)
Data
18 de
junho de 1924
Notas
Legenda: Elegância na travessia do Rio Cuiabá, em 18 de
junho de 1924. Note
-
se a diversidade de modelos de chapéu.
Quadro 38
-
Elementos descritivos da fotografia
20
147
4.2.2.3.2
Resumo da
Fotografia
20
: Elegância e sensualidade no
Cais do Porto
F
oto
grafia de autoria de Raimundo Bastos estampando três rapazes bem vestidos no
Cais do Porto. Essa fotografia se distingue das outras aqui analisadas pela
aparente
espontaneidade registrada nas atitudes dos jovens fotografados. Trata-
se
,
p
rovavelmente,
de instantâneo capturado pelas lentes do fotógrafo, de forma n
atural. Os
rapazes apresentam-
se
em atitude
não
-ensaiada e sem olhar para a câmera, como era
hábito
. Na década de 1920, a condição técnica para realização de uma fotografia não
per
mitia a surpresa. A fotografia demandava algum tempo para preparação ou
montagem do equipamento. Supomos que o fotógrafo encontrasse meios para contornar
essa limitação técnica. Notamos
que
um dos rapazes está de costas para a câmera
,
os
dois outros com olhares para outras direções. Todos apresentam expressões corporais
relaxadas, o que não era
atitude
usual
, normalmente observada naqueles que posavam
para fotografias da época. O primeiro à direita, de terno escuro e chapéu tipo cartola,
compõe interessante estrutura cilíndrica. Em atitude de descanso, com as mãos para
trás,
tem o olhar perdido no horizonte. Os dois outros podem estar conversando
descontraidamente.
Podiam estar esperando pela embarcação para provável travessia do
Rio Cuiabá, como era comum naquela época. P
ercebe
mos
a elegância dos cavalheiros,
representada pelos ternos, gravatas e chapéus que trajam, como pela postura
descontraída com a qual foram flagrados. Postura
que
transmite certa sensualidade
revelada pela fotografia. Ressaltamos a
di
versidade de modelos de chapéu que parece
trata
r-se de: um do tipo Santos Dumont (com as abas abaixadas) e dois do tipo cartola
(mais altos e com as abas engomadas), confirmando a postura estética da época.
N
ota
mos
, que nos anos de 1920 (1924) a moda masculina preconizava ternos em
tecidos de algodão ou linho, camisas brancas e calças mais apertadas junto ao corpo, do
que em outras épocas. Dos três rapazes presentes na fotografia, um é branco, um é
negro e o outro não é possível constatar a cor. A
propósi
to do negro
ressalt
amos
que
essa era uma situação rara nas fotos da classe dominante do período, uma vez que
o
negro
, libertado da escravidão apenas trinta e poucos anos, era mostrado, na maioria
das vezes, como uma figura secundária, sempre em posição subalterna, tal qual
acontecia no processo de modernização da sociedade que se evidenciava naquele
momento no Brasil.
4.2.2.3.3
Descritores de conteúdo da fotografia
20
Descr
itores
Denotativos
Conotativos
Cais do Porto. Rio Cuiabá. Homens jovens.
Ra
paz negro. Terno de algodão. Terno de
linho. Rapaz de costas. Chapéu Santos
Dumont . Cartola. Gravata. Calças
apertadas.
Descontração. Elegância. Sensualidade.
Classe abastada. Vestimenta da moda. Clima
tropical. Influência européia. Posição social.
Moda
masculina. Modernização social.
Calor. Civilidade.
Quadro 39
- Descritores denotativ
os e conotativos de conteúdo da fotografia
20
148
4.2.2.3.4
Bibliografia
DELAMÔNICA, Adiléia Benedita. Nas bordas da modernização: as vivências negras no
bairro do Ca
ixão
Cuiabá/MT
1914
-
1945.
2005
. 313 f. Tese (Doutorado em História e
sociedade
)-
UNESP Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2005.
RAMOS, Maria de Lourdes Bastos da Silva. Um olhar para a Cuiabá de Cláudio e
Raimundo Bastos (1920
1930).
Cuiabá:
Buriti, 2002.
4.2.2.4
Comentário sobre as fotografias
vestuári
o
Neste conjunto de fotografias verificamos também que se trata de pessoas da
classe dominante. A preocupação com a postura, com a roupa, com os acessórios, demonstra
o cuidado para se apresentar da melhor forma possível e de acordo com a moda européia. A
esse respeito, julgamos interessante ressaltar o comentário de um cônsul belga (
apud
Siqueira,
2002), componente de uma das expedições que esteve em Mato Grosso, na primeira metade
do século XIX. Ao registrar suas impressões sobre a cidade e sobre as pessoas, o cônsul
destaca:
É ridículo de se ver a quarenta graus à sombra, passear enluvado, vestido de
rendigote (sic) negro, a cabeça coberta por um chapéu [...] e cachecol no
pescoço, os passantes que este calor de fornalha incomoda. [...] E que dizer
das toaletes sobrecarregadas e extravagantes das damas que estão vestidas a
europeus e dos sofrimentos que assim elas se impõem (p. 142).
Percebemos dessa forma que, não obstante a distância que separava a então
província de Mato Grosso dos grandes centros, homens e mulheres procuravam se espelhar no
que se considerava civilizado, desenvolvido e moderno não só na Capital Federal como
também na Europa.
149
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreender melhor uma obra não significa decifrá
-
la: os seus caminhos são infindos
.
Osman Lins
Apresentamos
a seguir, algumas considerações a que
chegamos
com base nos
resultados da pesquisa.
Como acontece com toda démarche
investigativa,
e
sses resultados não
são definitivos, nem significativos a ponto de mudar algo na história da cidade de Cuiabá, ou
nos fundamentos da Ciência da Informação. No entanto, tais resultados podem ser t
omados
como uma contribuição
pequena que s
eja
para um melhor entendimento de uma época e
de um local dados, no caso, a Cuiabá da década de 1920. No entanto, salienta
mos
que a
proposta de trabalho aqui sugerida teve a pretensão de se constituir mais numa contribuição
dentro da área da Ciência da
Informação
, na perspectiva da Organização da Informação e da
representação de
conteúdos
fotográficos
.
No
decorrer do trabalho, observamos que os registros imagéticos oferecem uma
ampla possibilidade de leitura dos seus sentidos aparentes e ocultos,
demons
trando, assim, o
caráter polissêmico de que estão carregados
.
Dessa maneira, as imagens colocam-
se,
permanentemente
, diante dos seus possíveis leitores de forma desafiadora, exigindo-
lhes
novas e originais leituras e interpretações. No entanto, do ponto de vista do tratamento
organizacional da imagem fotográfica é preciso encontrar formas de
olhá
-las, apreendê-las e
representá
-las para que possam ser
encontradas
,
compreendidas
e utilizadas pelos possí
veis
usuários de bibliotecas e
centros de informação.
De
um lado, sabe-se que com o passar do tempo, as imagens fotográficas
apresentam
-se com suas pistas informativas nebulosas, tornando-se progressivamente de
difícil decifração. Por outro lado,
a
própria
visão do leitor sobre o mesmo objeto
vai
se
ndo
alterada
na medida em que sua vivência, conhecimento e cultura também se alteram, no
dinamismo da vida. Dessa forma, foi possível inferir que a fotografia oferece a possibilidade
de se visualizar e interpretar o passado, bem como observar as mudanças provocadas pe
las
transformações ocorridas no tempo e no espaço, além de, com isso, desenvolver alguma
150
contribuição com a Ciência da Informação, notadamente no que se refere à análise
documental
de imagens e mais precisamente, de fotografias
.
No que se refere à análise propriamente dita, aqui
real
i
za
da, observando-se, por
exemplo, a arquitetura, fortes indícios de que a Cuiabá dos anos de 1920 era uma cidade
interiorana
, porém, afinada com o momento nacional e principalmente com a situação
internacional eurocêntrica. Demonstra esse pensamento, alguma imponência nas construções
de casarões e nos chafarizes bem elaborados, dos quais alguns sobrevivem até hoje como
peças arquitetônicas e a organização urbana, com jardins bem cuidados e projetados. Apesar
de não terem sido sempre muito bem cuidados no decorrer do tempo, eles se c
onstituem,
atualmente,
em testemunhos do patrimônio histórico da cidade
, do seu passado
.
Pelas análises das fotografias realizadas e agora disponibilizadas para os usuários
de bibliotecas e dos arquivos nessas duas dezenas de fotografias, podemos afirmar que a
Cuiabá dos anos de 1920 é uma cidade que está sendo edificada. Para tanto, ela tem pessoas
que se vestem, que se comportam, que usam tanto o lazer como o trabalho e que vivem num
espaço afastado das
grandes
capita
is do país,
mas
que
, ao mesmo tempo, esse conjunto de
pessoas está ideologicamente, afetiva e idealm
ente ligado
a tudo que
vem
da Capital Federal e
seus modismos: roupas, arquitetura, comportamento etc, fundados nos modelos
internacio
nais, sobretudo nos da França. Há, portanto, uma inspiração externa,
mas
que
resulta numa construção efetiva de uma sociedade que é, ao mesmo tempo ligada a esses
determinadores externos e que se impõem também como uma singularidade da sociedade que
tem
ta
mbém
suas características próprias. Trata
-
se, portanto, de um processo
que é, ao mesmo
tempo,
incluidor
e
excluidor
de valores que são intrínsecos e extrínsecos. Uma contradição
que é local e geral no mundo ocidental daquela época. De toda maneira, de tudo isso resulta
que Cuiabá nos anos de 1920 olha para o seu passado, constrói seu presente e mira o futuro
,
baseando
-se e integrando-se em tudo o que acontece no resto do país comercial, institucional
,
política
e soc
ialmente.
É possível perceber, por exemplo, que sua arquitetura dividiu-se em duas
tendências: de um lado, respeitam-se as condições climáticas locais com janelas grandes,
varandas,
espaços abertos, distribuição gratuita de água para as pessoas, como deve ser em um
país tropical. Essa tendência ma
rca também as roupas, o mobiliário e os comportamentos.
Por outro lado, em outra tendência verificada nas análises, há uma busca de
imitação e de
reprodução dos modelos europeus e da Capital da República
em vários aspectos,
tal como acontecia com a sociedade brasileira em geral, na primeira metade do século XX,
151
nos termos determinados pelo capitalismo internacional, em expansão
e alguma euforia
após o
término da Primeira Guerra Mundial.
Nesse sentido, é possível perceber também, que as temáticas não são es
tanques,
isto é, elas apresentam alguns aspectos que são recorrentes nas fotografias apresentadas e que
vão construindo um panorama bem representativo de parte da sociedade cuiabana nos anos de
1920. P
ercebe
-se que há um entrecruzamento de características comuns, uma vez que a
tendência à europeização está presente na maioria dos grupos de fotografias analisadas. Tal
fato é evidente tanto nas fotografias que se referem ao espaço público, em cujos canteiros é
notória a forte inspiração ao estilo de jardinagem europeu, como também nas relacionadas ao
vestuário, em que
igualmente
fica evidente a inspiração ao mesmo modelo. Nesse quesito,
chama a atenção o fato de homens e mulheres da elite se apresentarem sempre de acordo com
a última tendência da moda. Outro fator que também chama a atenção, no que se refere à
vestimenta, é o uso do chapéu que se repete na maioria das fotografias, principalmente entre
os homens. Esse aspecto ultrapassa as limitações da classe social dominante para estender-
se
aos trabalhadores e pessoas simples como se viu em algumas das fotografias dos
conjuntos
,
como nas imagens da construção da Igreja do Bom Despacho e na do transporte de cana-
de
-
açúcar, por exemplo. Parece
-nos que o fator climático está ligado diretamente a esse aspecto.
Ap
esar de a floresta estar por perto e, literalmente cercá-la, e de a cidade ser
pequena, trata
-se de uma capital cuja inspiração estética vem de longe. Nesse sentido, tenta-
se
conciliar,
imitando nas vestimentas o que for possível e fazendo as concessões ju
lgadas
convenientes, mesmo que sejam desconfortáveis com referência ao clima tropical da cidade
de Cuiabá
.
Nestas reflexões sobre o estudo das imagens e sua relação com o campo da
Ciência da Informação, parece-nos que é necessário encerrá-las com aquilo q
ue
consideramos
ser o exemplo mais adequado para aplicação das teorias das imagens num contexto da área em
questão. Ao final
dessa
trajetória analítica, após uma revisão de proposições teóricas
e
metodológicas para
se
a
bordar
conteúdos de
imagens fotográfi
cas, é possível concluir que:
As imagens, na qualidade de textos visuais, estão plenas de sentidos e
significados e apresentam conteúdos de
alto
valor documental e, portanto,
são passíveis de análise, representação e recuperação;
A imagem, dessa forma, não pode ser esquecida, mas deve ser, ao
contrário, valorizada como documento e considerada pela importância que
ela tem na atualidade e no passado;
152
A análise de conteúdos de registros imagéticos situa-se em um campo de
abordagem interdisciplinar, cujas área
s
Ciência da Informação, História
da Arte, História da Leitura, Antropologia, psicologia, Sociologia e
História
fornecem
ferramentas teórico-
metodológicas
adequadas
para
a
abordagem do assunto;
A inter-relação entre linguagem visual e linguagem verbal fornece as
bases para admitir-se uma complementaridade entre o conteúdo imagético
e o conteúdo textual;
A metodologia utilizada apresenta-
se
mais
como
uma proposta de análise
de conteúdo de registros imagéticos, ampliando-se as possibilidades no
emprego
de
técnicas e procedimentos de análise disponíveis,
enriquecendo, dessa forma, o estatuto científico do campo da Ciência da
Informação.
Ao organizar e apresentar essas considerações, percebemos que os principais
resultados
obtidos estão na direção de se
co
nstituí
rem
em subsídios para se elaborar um
método para se proceder a análise documental de imagens
fotográficas
.
No entanto, é preciso
deixar claro que os ganhos com a pesquisa vão além das possibilidades de se
aplicar
um
método prático para análise de imagens. O estudo
de
fotografia
s da cidade de Cuiabá
da
década de 1920 trouxe à luz uma série de dados e informações que serão disponibilizados para
a sociedade cuiabana e demais públicos interessados na sua história cultural e
social.
Antes de finalizar
o
relato dessas constatações, é de interesse
registrar
, para futuras
pesquisas, que
ao
se
analisar
as
fotografias de um período longínquo de nossa época, como foi
o caso
aqui
, despertou-nos uma curiosidade e um sentimento
em
relação ao tempo em que as
pessoa
s expostas nessas fotografias existiram e os fatos sugeridos nas imagens aconteceram.
A maioria dessas pessoas que aparecem nas fotografias, provavelmente, não vive mais.
Essa afirmativa reside no fato de se
leva
r
em conta a passagem de mais de setenta
anos entre a
captura das imagens e a época atual. Tal fato impressiona na medida em que
marca
,
subjetivamente, a consciência da fugacidade da vida dos indivíduos e das situações
dos
acontecimentos
.
Assim, as análises pautam-se pela busca do
punctum
tempora
l
barthesiano
que
,
incontestavelmente
,
está
em toda foto histórica e porque nela sempre um
esmagamento do t
empo
. Isso nos tocou no percurso que realizamos e nos fez refletir sobre a
duração da nossa presença no mundo.
Dessa forma, na condição de cuiabana que acabou de realizar esta pesquisa,
sentimos
uma emoção provocada pela volta
do
olhar para a cidade de Cuiados anos 1920,
153
é
poca,
sobre a qual ainda se guardam muitos segredos. Há
poucas descobertas feitas a respeito
dos fatos e dos locais históricos no tempo e no espaço da capital mato-
grossense.
Diante
dessas considerações, não pode
mos
deixar de registrar o fato de
que
para além dos
encantamentos e emoções provocadas na
relação
pesquisadora/objeto pesquisado, percebemos
que se deixa, a partir de agora, algumas portas
abertas
pela pesquisa aqui iniciada. Assim
,
descortina
-se um terreno fértil para futuros
trabalhos
que possam acolher pessoas interessadas
numa reflexão sobre as questões atinentes à fotografia histórica em geral e em particular pelos
de
safios que se apresentam à
transposição
de conteúdos
da
s
image
ns
para
as
palavras
.
Particularmente, destacamos o que se refere ao rico acervo fotográfico que se acumulou ao
longo do tempo na cidade de Cuiabá e que permanece guardado à espera de um tratamen
to
atencioso e de uma organização
adequada.
154
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