costumes das famílias oitocentistas
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. Tais conteúdos estão expressos nas teses
empreendidas por eles, as quais sugerem que a medicina – como saber científico
historicamente construído - refletiu em seu bojo as mudanças em curso na configuração
familiar e como tal contribuiu significativamente para reorganizar os novos papéis e as
novas funções dos membros da família moderna.
Por volta da década de 20, esse ideal buscado já demandava saberes a ações
instituídas e amplamente divulgadas pela medicina e pela pedagogia moderna. No III
Congresso Brasileiro de Hygiene, realizado em 1926, a família era elencada pelo médico
Ulysses Pernambuco como a primeira encarregada de formar hábitos higiênicos na criança.
Afirma ele:
os bons ou os máos habitos adquirem-se ou perdem-se pela educação. Ha
habitos que duram tanto quanto a vida, outros que são modificados pelas
condições especiaes da existencia, transformam-se e tomam até direcções
contrarias. Como obrigar a creança a adquirir habitos sadios? Em
primeiro logar educando os adultos. A creança é grande imitadora. Em
uma familia imbuida de preceitos hygienicos os bons habitos formam-se
naturalmente, sem esforço nas creanças (1926, p.889).
Porém, havia situações que, segundo ele, o meio familiar falhava em ser o formador
dos bons hábitos e ao contrário, se colocava como “o grande gerador de máos habitos, de
praticas condemnadas pela hygiene”. E acrescentava “a escola tem de ser a grande
modificadora da actividade automática da creança e nisto ella não se afasta da sua
finalidade educativa“ (p.889).
Outro importante evento, o I Congresso Nacional de Educação, realizado em 1927,
através de seus Anais, ilustra a consolidação dos princípios educacionais da época e
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Entre as muitas referências de estudos citados por Costa (2004) alguns deles são: ALMEIDA, P.J de.
Algumas considerações higiênicas das habitações. Tese. Fac. de Medicina do Rio de Janeiro, 1845. EBOLI,
T. Dissertação sobre a higiene, os prejuízos que causam uma má amamentação. Tese, Fac. de Medicina do
Rio de Janeiro, 1880. UBATUBA, M.P.S. Algumas considerações sobre a educação física. Tese, Fac. de
Medicina do Rio de Janeiro, 1845. COUTINHO, J.L. Cartas sobre a educação de Cora. Bahia, Typografia
de Carlos Ponggeti, 1849. BARROS, J. F.M.de Considerações gerais sobre a mulher e sua diferença do
homem, e sobre o regime que deve seguir no estado de prenhez. Tese. Fac. de Medicina do Rio de Janeiro,
1845. BARBOSA, A.A.S. Higiene da primeira infância. Tese, Fac. de Medicina de Rio de Janeiro, 1882.
ARMONDE, A. F.N. Da educação física, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro e de sua
influência sobre a saúde. Tese. Fac. de Medicina do Rio de Janeiro, 1847. MAFRA, J. J. O. Esboço de uma
higiene de colégio, aplicável aos nossos: regras principais, tendentes à conservação da saúde, e ao
desenvolvimento das forças físicas e intelectuais, segundo as quais se devem reger os nossos colégios. Tese.
Fac. de Medicina do Rio de Janeiro, 1885. ROSÁRIO, A. J. do. Dissertação sobre a influência dos alimentos
e bebidas sobre a moral do homem. Tese, Fac. de Medicina do Rio de Janeiro, 1839. CAMILLO, A.D.A. O
onanismo na mulher; sua influência sobre o físico e o moral. Tese, Fac. de Medicina de Rio de Janeiro, 1886.
VASCONCELOS, C.R.de. Higiene escolar, suas aplicações à cidade do Rio de Janeiro. Tese de concurso,
Rio de Janeiro, 1888.