Download PDF
ads:
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ii
Ministério da Saúde
Fundação Oswaldo Cruz
Instituto Oswaldo Cruz
Curso de Pós-Graduação em Biologia Parasitária
ESTUDO DA INTERAÇÃO DE MONÓCITOS HUMANOS E VÍRUS DENGUE
SOROTIPO 2: VIAS DE ATIVAÇÃO E MECANISMOS DE APOPTOSE
por
AMANDA TORRENTES DE CARVALHO
Dissertação submetida ao Curso de Pós-
graduação em Biologia Parasitária da
Fundação Oswaldo Cruz, visando à
obtenção do grau de Mestre em Ciências.
Orientadora: Dr
a
Claire Fernandes Kubelka
Rio de Janeiro
Maio 2008
ads:
iii
Ministério da Saúde
Fundação Oswaldo Cruz
Instituto Oswaldo Cruz
Curso de Pós-Graduação em Biologia Parasitária
ESTUDO DA INTERAÇÃO DE MONÓCITOS HUMANOS E VÍRUS DENGUE
SOROTIPO 2: VIAS DE ATIVAÇÃO E MECANISMOS DE APOPTOSE
por
AMANDA TORRENTES DE CARVALHO
Orientadora: Dr
a
Claire Fernandes Kubelka (IFIOCRUZ)
Banca Examinadora Dr
a
Andrea Henriques Pons (FIOCRUZ)
Dr
a
Andrea Cheble de Oliveira - Revisora (UFRJ)
Dr
a
Luzia Maria Oliveira Pinto (FIOCRUZ)
Suplentes: Dr
a
Roberta Olmo Pinheiro (FIOCRUZ)
Dr
a
Landi Veivi Guillermo Costilla (UFRJ)
Rio de Janeiro
Maio de 2008
iv
Dedico esse trabalho a meus Pais,
Frank e Regina, e minha Irmã Carolina,
que sempre me apoiaram e acreditaram
no meu potencial. Amo muito vocês!
v
“Pensamentos tornam-se ações, ações
tornam-se hábitos, hábitos tornam-se
caráter, e nosso caráter torna-se nosso
destino."
Autor Desconhecido
vi
AGRADECIMENTOS
A Deus, por sempre estar ao meu lado, me guiando nas horas difíceis e iluminando meu
caminho.
À minha família, que constitui a parte mais importante da minha vida, por sempre
estarem ao meu lado nas conquistas e fracassos. Agradeço por tudo que fizeram e fazem por
mim e por sempre acreditarem em mim. Amo muito vocês!
Ao meu noivo Ricardo, por todo amor e carinho que tive e, especialmente, pelo
companheirismo, pela compreensão e dedicação em todos os momentos, principalmente nos
momentos mais difíceis.
À minha orientadora, Dr
a
Claire Fernandes Kubelka, por me aceitar no Laboratório de
Imunologia Viral, pela orientação, competência, incentivo, paciência e confiança no meu
trabalho.
À Mariana Gandini, amiga, por seus conselhos, sua ajuda, suas risadas, seu entusiasmo.
Apesar de nossas diferenças e semelhanças, você sempre me apoiou, e muitas vezes, me
compreendeu nas horas difíceis.
À Dr
a
Elzinandes, mais conhecida como Naide, minha co-orientadora de coração,
agradeço pela paciência, pela amizade, por seus conselhos, pelas horas no citômetro, os
lanches na quadra, as caronas e conversas.
À família do Laboratório de Imunologia Viral, por me aceitar, pelo companheirismo,
amizade e ensinamentos. Em especial: Sônia e Luzia, pelos estímulos e conselhos valiosos;
Alessandro, Cynthia, Maryrose, Lucianas e Lidiane, pelos ficolls, cálculos, conversas e
risadas. Agradeço por todos os momentos, bons e difíceis, que todos vocês estiveram ao meu
lado, me apoiando, alegrando e incentivando.
À Dr
a
Andrea Henriques Pons, pelo uso dos aparelhos de citometria e as dicas valiosas.
À Dr
a
Andréa Cheble de Oliveira e Daniel Sanches, do Laboratório de Termodinâmica
de Proteínas e Estruturas virais Gregorio Weber, UFRJ, pela colaboração, fornecimento de
material usado nesse projeto e uso do aparelho de Microscopia Confocal.
Aos integrantes da banca, pela gentileza de aceitarem o convite.
Ao CNPq e à FIOCRUZ, pelo apoio científico e financeiro.
A todos aqueles que, de forma direta ou indireta, contribuíram para a realização deste
trabalho.
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1: Mapa de distribuição dos sorotipos do DENV no Brasil
Figura 1.2: Organização do genoma de Flavivírus, com suas proteínas resultantes e a
localização dos principais alvos da resposta imune.
Figura 1.3: A estrutura do DENV.
Figura 1.4: Esquema representativo das principais subpopulações monocíticas em humanos.
Figura 1.5: Esquema ilustrativo das vias de sinalização e principais fatores envolvidos na
apoptose, desde a membrana plasmática, mitocôndria, núcleo, RE e lisossomos.
Figura 4.1: Estabelecimento das regiões de monócitos derivados do sangue periférico
humano, com ênfase nas características morfológicas e fenotípicas.
Figura 4.2: Cinética de infecção de monócitos humanos pelo DENV-2.
Figura 4.3: Caracterização de monócitos humanos infectados ou não com DENV-2.
Figura 4.4: Detecção do Ag viral DENV-2 em monócitos por citometria de fluxo.
Figura 4.5: Detecção de Ag DENV em monócitos humanos após infecção in vitro com
DENV-2 por imunofluorescência através de microscopia confocal.
Figura 4.6: Caracterização fenotípica da expressão de CD16 em monócitos infectados por
DENV-2.
Figura 4.7: Efeito da infecção por DENV-2 na expressão da molécula CD16 em monócitos
humanos.
Figura 4.8: Detecção de morte celular programada em monócitos humanos infectados por
DENV-2.
ix
Figura 4.9: Detecção de fosfatidilserina extracelular e perda da integridade de membrana em
monócitos infectados por DENV-2.
Figura 4.10: Caracterização fenotípica de monócitos humanos expressando o receptor de
morte Fas durante a infecção por DENV-2.
Figura 4.11: Detecção de receptor de morte Fas em monócitos humanos infectados por
DENV-2.
Figura 4.12: Detecção da expressão da oncoproteína Bcl-2 em monócitos CD14+ infectados
por vírus DENV-2.
Figura 4.13: Expressão de Bcl-2 em monócitos CD14+ infectados por DENV-2.
Figura 4.14: DENV-2 promove decréscimo no potencial de membrana mitocondrial de
monócitos humanos.
Figura 4.15: Detecção da alteração no potencial de membrana mitocondrial de monócitos
humanos infectados por DENV-2 através de imunofluorescência.
Figura 6.1: Hipótese das vias de sinalização envolvidas na indução de morte e ativação
celulares na infecção de monócitos pelo vírus Dengue.
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 1.1: Visão geral das mudanças celulares provocadas pelos principais mecanismos de
morte celular e função de cada um, com destaque no sistema imunológico.
Tabela 4.1: Detecção de lulas Anexina-V
+
sob diferentes condições de tratamento em
cultura: lulas tratadas com meio de cultura (Controle), células tratadas com vírus inativado
(Inativado) e lulas infectadas com DENV-2 cepa 16681 (Infeccioso). Relação entre os
valores percentuais obtidos da análise por citometria de fluxo. ** P<0,01
Tabela 4.2: Detecção de lulas Fas
+
sob diferentes condições de tratamento em cultura:
células tratadas com meio de cultura (Controle), células tratadas com vírus inativado
(Inativado) e células infectadas com DENV2 cepa 16681 (Infeccioso). Valores percentuais
obtidos da análise por citometria de fluxo. ** P<0,01
xi
ABREVIATURAS
AA – Ácido Aracdônico
Ac - Anticorpo
ADE - Facilitação dependente de anticorpo (do inglês antibody-dependent enhancement)
AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
AIF – Fator indutor de apoptose (do inglês Apoptosis inducer factor)
Ag - Antígeno
Apaf-1 - fator de ativação de apoptose 1
APC - Aloficocianina
APC - Célula apresentadora de antígeno (do inglês antigen-presenting cell)
ATP - Adenosine-5'-triphosphate
BSA – Albumina de Soro Bovino
BRF A – Brefeldina A
CCR - Receptor de quimiocina motivo CC
CIVD - Canais Iônicos Voltagem-Dependentes
CPE – Efeito Citopático
CXCR – Receptor de quimiocina motivo CXC
DCs – Célula(s) dendrítica(s) (do inglês dendritic cells)
CTLs – Linfócitos T citotóxicos (do inglês cytotoxic T lymphocytes)
DC-SIGN - Ligante de molécula de adesão intercelular o integrina específica de DC (do
inglês DC-specific ICAM-grabbing nonintegrin)
DENV - Vírus Dengue
DENV-1,2,3 ou 4 – Vírus Dengue sorotipo 1,2,3 ou 4
DIC – Contraste Interferencial Diiferencial
DIOC6(3) - 3,38-dihexiloxadicarbocyanine
DMSO – Dimetilsulfóxido
DNA - Ácido desoxirribonucléico (do inglês Deoxyribonucleic acid)
ELISA - Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay
FACs - Análise multi-paramétrica de partículas em suspensão (do inglês Fluorescence
Activated-cell Sorting)
FADD - Fas Associated protein with Death Domain
Fc - Fragmento cristalizado
FcγR - Receptor para porção Fc de anticorpos classe γ (G)
FD - Febre do Dengue
FHD - Febre Hemorrágica do Dengue
FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz
FITC - Fluoresceína
FSC - Forward Scatter cytometric
HIV - Vírus da Imunodeficiência Humana
GM-CSF - Fator Estimulador de Colônia Granulócito Macrófago
HbsAg – Antígeno de superfície do vírus da Hepatite B
HCV – Vírus da Hepatite C
HEPES – Solução tampão
HTLV - Vírus T-linfotrópicos humanos tipo I
HLA - Antígeno leucocitário humano (do inglês human leukocyte antigen)
IAPs – Proteínas Inibidoras de Apoptose
IFN - Interferon
Ig – Imunoglobulina
IgG – Imunoglobulina G
IL - Interleucina
iNOS - óxido nítrico sintetase induzida
LPS – Lipopolissacarídeo
MAPKs - proteínas kinases ativadas por mitógenos
MIF - fator inibidor de macrófago (do inglês Macrophage Factor)
MIF - Intensidade média de fluorescência do inglês (Mean Fluorescence Intensity)
MIP-1α - Macrophage inflammatory protein 1 α
MHC - Complexo de histocompatibilidade principal (do inglês Major Histocompatibility
Complex)
MS – Ministério da Saúde
NK - Célula Natural Killer
NF-κB - Fator de transcrição nuclear κB (Nuclear factor-κB)
NO – Óxido nítrico (Nitric Oxide)
OMS - Organização Mundial da Saúde
ORF- Open Reading Frame
PAF – Fator de Ativação Plaquetária
PBMCs - lulas mononucleares do sangue periférico (do inglês Peripheral Blood
Mononuclear Cells)
PBS - Phosphate-Buffered Saline
PE - Ficoeritrina
xiii
pH – Potencial Hidrogênico
PI – Iodeto de Propídeo
PI3K - Phosphoinositide-3 kinase
PLA2 - Phospholipase A2
Proteína C - Proteína do capsídeo
Proteína E - Proteína do envelope
Proteína M - Proteína de membrana
Pr M - Proteína M na forma precursora
Proteína NS - Proteína não estrutural (do inglês nonstructural)
PRR - Receptores de reconhecimento de padrões moleculares (do inglês Pattern Recognition
Receptors)
RANTES – CCL5 – Quimiocina com motivo CC
RE – Retículo Endoplasmático
RIP - Receptor-Interating Protein
RNA - Ácido ribonucléico (do inglês Ribonucleic Acid)
ROS – Espécies reativas de oxigêncio (do inglês Reactive oxygen species)
SCD - Síndrome do Choque do Dengue
SFB - Soro Fetal Bovino
SSC - Side Scatter Cytometric
sTNFRI – forma solúvel do TNFRI
sTNFRII – forma solúvel do TNFRII
SVS – Secretaria de Vigilância em Saúde
TCID
50
- 50% tissue culture infectious dose
Th - do inglês T helper
TLR - Receptor Toll-like
TMP - Transição da Permeabilidade Mitocondrial
TNF - Fator de necrose tumoral (do inglês Tumor Necrosis Factor)
TNFRI, TNFp55 ou receptor de TF tipo I
TNFRII TNFp75 ou receptor de TF tipo II
TRAF - TNF Receptor Associated Factor family of proteins
TRAIL – Indutor de apoptose relacionado ao TNF (TNF Related Apoptosis-Inducing)
TRAPP - Domínio de Morte Associado ao TNFR1
∆Ψm – Potencial de membrana mitocondrial
xiv
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 1
1.1 Histórico da doença e suas características epidemiológicas.............................. 2
1.1.1 Dengue nas Américas e no Brasil.................................................................... 4
1.2 O vírus: Características estruturais, vetor e ciclo de vida................................... 6
1.3 Manifestações clínicas............................................................................................. 10
1.3.1 Manifestações brandas..................................................................................... 11
1.3.2 Manifestações graves ....................................................................................... 11
1.4 Respostas imunológica durante a infecção pelo DENV....................................... 13
1.4.1 Teoria da Facilitação Dependente de Anticorpo (ADE)............................... 13
1.4.2 Teoria da virulência viral................................................................................ 13
1.4.3 Teoria da Gravidade por Polimorfismo genético.......................................... 14
1.4.4 Teoria do Pecado Original............................................................................... 14
1.4.5 Teoria do Mimetismo molecular..................................................................... 15
1.4.6 Teoria da interação multifatorial.................................................................... 15
1.5 A imunopatogenia do vírus Dengue....................................................................... 16
1.5.1 Células–alvo e suas alterações frente à infecção............................................ 16
1.5.2 Respostas imunológicas ao vírus Dengue: Citocinas e mediadores
Químicos..................................................................................................................... 19
1.6 Os monócitos/macrófagos e a Doença.................................................................. 23
1.6.1 Heterogeneidade fenotípica e funcional dos macrófagos.............................. 23
1.6.2 As subpopulações de monócitos...................................................................... 24
1.6.3 O papel dos monócitos/macrófagos na Dengue..............................................27
1.7 Morte celular........................................................................................................... 29
1.7.1 A apoptose......................................................................................................... 30
xv
1.7.1.1 Características morfológicas e bioquímicas.......................................... 32
1.7.1.2 Vias de sinalização da Apoptose............................................................. 32
1.7.1.3 Via extrínseca........................................................................................... 33
1.7.1.4 Via intrínseca........................................................................................... 33
1.7.1.5 As proteínas Kinases (MAPKs) e seu papel na apoptose..................... 37
1.8 A apoptose na infecção pelo Dengue...................................................................... 39
2. OBJETIVO.................................................................................................................... 42
2.1 Objetivo Geral......................................................................................................... 43
2.2 Objetivos específicos................................................................................................ 43
3. METODOLOGIA.......................................................................................................... 44
3.1 Cepa viral................................................................................................................. 45
3.2 Cultivo de células C6/36 e produção de massa viral............................................ 45
3.3 Titulação e diluição do estoque viral..................................................................... 46
3.4 Obtenção de leucócitos mononucleares do sangue periférico.............................. 47
3.5 Isolamento e cultura de monócitos do sangue periférico..................................... 47
3.6 Infecção dos monócitos com DENV-2.................................................................... 48
3.7 Cinéticas de infecção............................................................................................... 48
3.8 Imunofluorescência em cultura de monócitos infectados com DENV-2............ 48
3.8.1 Detecção do vírus em monócitos infectados................................................... 49
3.8.2 Detecção de alteração no ∆ψm em monócitos infectados............................. 49
3.9 Análise por Citometria de Fluxo............................................................................ 50
3.9.1 Marcação Extracelular.................................................................................... 50
3.9.1.1 Detecção de marcadores de superfície característicos dos
monócitos............................................................................................................. 50
3.9.1.2 Marcação para o receptor de morte FAS (CD95)................................ 50
3.9.2 Marcação intracelular...................................................................................... 51
xvi
3.9.2.1 Detecção de antígenos DENV-2 em monócitos infectados................... 51
3.9.2.2 Detecção de apoptose em monócitos infectados utilizando
Anexina-V/PI........................................................................................................ 51
3.9.2.3 Detecção de molécula anti-apoptótica Bcl-2 em monócitos
infectados............................................................................................................. 52
3.9.2.4 Avaliação do ∆ψm em monócitos infectados........................................ 52
3.10 Estatística............................................................................................................... 52
3.11 Soluções.................................................................................................................. 53
3.12 Meios de cultura e Reagentes............................................................................... 54
3.13 Anticorpos.............................................................................................................. 55
4. RESULTADOS.............................................................................................................. 56
4.1 Infecção in vitro de monócitos periféricos humanos por DENV-2...................... 57
4.1.1 Identificação da população de monócitos utilizando características
Morfológicas e fenotípicas........................................................................................ 57
4.1.2 Cinética de infecção in vitro pelo DENV-2 em monócitos humanos............ 60
4.1.3 Detecção de Ag DENV em monócitos humanos infectados por DENV-2
Através de microscopia confocal.............................................................................. 64
4.2 Modulação na expressão de CD16 em células CD14
+
durante a infecção....... 66
4.3 Alterações morfológicas e fenotípicas envolvidas na morte celular
programada de monócitos frente à infecção por DENV-2........................................... 69
4.3.1 Aspectos membranares envolvidas na morte de monócitos após infecção
por DENV................................................................................................................ 69
4.3.2 Detecção da expressão de receptor Fas em monócitos infectados por
DENV-2.................................................................................................................... 74
4.3.3 Expressão diferencial da oncoproteína Bcl-2 em monócitos
humanos infectados por DENV-2........................................................................... 78
xvii
4.3.4 A infecção de monócitos humanos por DENV-2 induz alterações
no ∆ψm..................................................................................................................... 81
5. DISCUSSÃO.................................................................................................................. 85
6. CONCLUSÃO................................................................................................................ 97
7. PERSPECTIVAS........................................................................................................... 101
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................ 104
9. ANEXO........................................................................................................................... 120
xviii
RESUMO
Os monócitos/macrófagos representam alvos importantes da replicação do vírus
Dengue (DENV), com a produção de mediadores inflamatórios e disseminação viral na fase
inicial da doença. A apoptose é um processo ativo de autodestruição celular geneticamente
regulado, no qual é ativada uma cadeia enzimática complexa podendo ocorrer durante
processos celulares desencadeados por várias infecções virais. Uma vez que os mecanismos
de apoptose em células-alvo infectadas por DENV ainda não estão totalmente esclarecidos,
torna-se de extrema relevância desenvolver este conhecimento. Neste estudo, investigamos a
interação vírus-célula utilizando como modelo a infecção de monócitos humanos primários
com vírus DENV-2 (16681), enfatizando os mecanismos de apoptose. Uma cinética de
infecção demonstrou, por citometria de fluxo, um pico de detecção viral no segundo dia, onde
60% de células CD14
+
são DENV-2
+
, sendo que a presença de vírus no citoplasma das células
foi demonstrada por microscopia confocal. Um aumento significativo (P<0,01) na expressão
da molécula de ativação CD16 foi detectado em monócitos CD14
+
na presença de DENV-2,
em comparação ao controle e ao vírus inativado por calor. Como esperado, foi observada
influência da infecção viral na indução de morte celular programada em monócitos humanos,
devido ao aumento significativo (P<0,05) na expressão de fosfatidilserina, confirmada pela
marcação com Anexina-V em células infectadas, em comparação ao controle e ao vírus
inativado. Monócitos apresentaram um aumento significativo (P<0,05) na expressão de Fas
(receptor de morte celular programada) 2 dias após infecção, comparado com o controle e o
vírus inativado. Entretanto, não houve alteração aparente na expressão da proteína anti-
apoptótica Bcl-2 em culturas infectadas avaliadas durante 5 dias. Monócitos infectados
apresentaram, em resultados preliminares, uma alteração no potencial de membrana
mitocondrial, medida pela intensidade de fluorescência (MIF) com marcação pelo
fluorocromo DIOC6 (MIF=28; controle MIF=68 e inativado MIF=60). Esses resultados
sugerem o papel da via intrínseca mitocondrial na indução de apoptose de monócitos
infectados. Em conclusão, nossos dados suportam a hipótese de que o vírus modula fatores
extrínsecos e intrínsecos envolvidos na apoptose em modelo de infecção in vitro de monócitos
humanos por DENV-2 e que podem estar interferindo nos mecanismos de morte dessas
células.
xix
ABSTRACT
The monocytes/macrophages are important targets for Dengue viral (DENV)
replication which induces production of inflammatory mediators, and are sources of viral
dissemination in the initial phase of the disease. Apoptosis is an active process of cellular
autodestruction genetically regulated, in which a complex enzymatic pathway is activated.
Apoptosis may occur during cellular processes trigged by many viral infections. As apoptotic
mechanisms in Dengue infected target-cells are not yet totally understood, advances in this
field are extremely necessary. In this work, we investigated virus-cell interaction using a
model of primary monocyte infection with DENV-2, strain 16681, aiming the study of
apoptotic mechanisms. It was investigated, by flow citometry, an infection kinetics, which
DENV antigen positive cells peaked at the second day. ¨Detection of DENV-2 antigen
occurred in 60% of CD14 positive cells and was visualized in the cytoplasm of infected cells
by confocal microscopy. The expression of the activation marker CD16 was significantly
enhanced (p<0,01) in CD14
+
monocyte infected cultures, when compared with control and
heat-inactivated virus. Anexin-V
+
Pi
-
staining was higher (P<0,05) in DENV infected cells, as
compared to control and heat-inactivated virus, indicating fosfatidilserine externalization.
These results indicate a possible viral interference with programmed cell death induction in
human monocytes. A significant expression (P<0,05) of Fas (programmed cell death receptor)
was detected at the second day of infection, when compared with control and heat-inactivated
virus. However, there was no detectable changes in the expression of the anti-apoptotic
protein Bcl-2 on infected cultures at different points of infection (up to five days). Infected
monocytes presented, in preliminary results, a dysfunction in mitochondrial potential
membrane, when cells were stained with DIOC6. Analysis was performed using
Mean
Fluorescence Intensity (MIF) values (
DENV-2 MIF=28; control MIF=68 e heat inactivated
virus MIF=60). These results suggest an important role of mitochondrial intrinsic pathway in
DENV-2-induced apoptosis of infected human monocytes. Our data support virus modulation
of extrinsic and intrinsic apoptotic factors at the in vitro model of human monocyte DENV-2
infection.
1. INTRODUÇÃO
2
Conhecida como a arbovirose (doença causada por artrópode) mais importante no
mundo atualmente, a Dengue é responsável por cerca de 50-100 milhões de casos febris
anualmente, incluindo mais de 0,5% de casos de Febre Hemorrágica do Dengue (FHD) e
Síndrome do Choque (SCD) - manifestações graves da doença, com uma taxa de fatalidade de
cerca de 20% (Pang, Cardosa et al., 2007). Hoje, a Dengue é considerada endêmica em mais
de 100 países, com mais de dois milhões de pessoas em risco de adquirir a infecção ao longo
das regiões tropicais e subtropicais (Organização Mundial da Saúde - OMS). Considerada
uma doença febril aguda e de evolução benigna na forma clássica, e grave quando se
apresenta geralmente na forma hemorrágica e de choque, a Dengue constitui um sério
problema de saúde pública no mundo, especialmente nos países tropicais, como o Brasil, onde
as condições e o meio ambiente favorecem o desenvolvimento e a proliferação do principal
mosquito vetor (Gibbons e Vaughn, 2002). A Dengue também impõe uma carga considerável
nas finanças e infra-estrutura dos sistemas de saúde em países em desenvolvimento
considerados epidêmicos, como o Brasil. Por causa da escala de problemas, existe um esforço
grande na geração de uma vacina para o controle eficiente da doença. Portanto, se faz
necessário o conhecimento dos mecanismos imunopatológicos envolvidos na resposta à
infecção para se compreender melhor a patogenia das formas graves da doença e, dessa
forma, desenvolver terapias mais eficazes e seguras para a população em risco.
1.1 Histórico da doença e suas características epidemiológicas
Muito se tem discutido sobre a origem do vírus Dengue (DENV). Alguns autores
especulam que o vírus tenha se originado na África, espalhando-se pelo mundo através do
tráfego de escravos. Outros acreditam que as viroses tenham surgido de ciclos florestais
envolvendo pequenos primatas e mosquitos vetores. Provavelmente o surgimento das
infecções humanas pelo DENV se deu com a derrubada das florestas e o desenvolvimento de
povoados, fazendo com que seu vetor se movesse da floresta para o ambiente rural. Adaptado
ao ambiente peridoméstico, o mosquito encontrou condições favoráveis para seu
desenvolvimento e, consequentemente, a disseminação do vírus. A expansão do comércio
internacional foi responsável pela introdução do vírus na África e nas Américas, durante os
séculos XVII, XVIII e XIX, principalmente nas cidades portuárias onde o vetor infectado
vinha nos porões de navios (Gubler, 1997).
3
No final do século 18, e ao longo do século 19 e início do século 20, a maioria das
epidemias de dengue ocorreu nas Américas, sul da Europa, norte da África, Mediterrâneo,
Ásia, Austrália, Índia, Oceania, regiões sul e central do Pacífico, e no Caribe. O aumento na
frequência de casos relatados coincidiu com o período em que o mosquito Aedes aegypti,
principal vetor, disseminando-se da África e todos os trópicos, através do tráfego de escravos
e quando o fluxo de pessoas entre os continentes tornou-se mais constante. O mosquito
adaptou-se muito bem ao ambiente urbano, vivendo próximo à população e se reproduzindo
eficientemente (WHO/CDS/CSR/ISR/2000.1). Nos meados e final do século 20, vários
fatores ecológicos desencadearam um aumento dramático nos casos de Febre do dengue (FD),
e o surgimento da forma mais grave, a Febre Hemorrágica do dengue (FHD) da doença como
um grande problema de saúde pública nas Américas e na Ásia. A urbanização desenfreada
resultou num aumento da população vivendo em áreas de alta densidade, com sistemas de
abastecimento e esgoto inadequados. Essas áreas promoveram condições ideais para o
crescimento do Aedes aegypti (WHO/CDS/CSR/ISR/2000.1).
Cabe destacar que dois eventos específicos importantes contribuíram para a
disseminação da Dengue no sudoeste asiático e nas Américas. Primeiro, as atividades
relacionadas à Segunda Guerra Mundial e o período pós-guerra foram particularmente
relacionados ao aumento da FD e FHD no sudoeste da Ásia. Os suprimentos de água e redes
de abastecimento foram destruídos durante a guerra, resultando em condições mais favoráveis
de crescimento do mosquito vetor. Segundo, o movimento de tropas, a maioria susceptível a
doença por curtos períodos de tempo, expondo o vírus a novos hospedeiros susceptíveis,
aumentou a disseminação da doença. O contínuo fluxo dessas pessoas para outras áreas
facilitou a circulação dos sorotipos virais por toda a região, tornando-a hiper-endêmica
(circulação de mais de um sorotipo ao mesmo tempo). Durante o pós-guerra, milhões de
pessoas susceptíveis de áreas pobres hiper-endêmicas para a Dengue se deslocavam para as
grandes cidades, promovendo um fluxo contínuo de pessoas susceptíveis e o aumento dos
casos (WHO/CDS/CSR/ISR/2000.1).
4
1.1.1 Dengue nas Américas e no Brasil
Nas Américas, a FD surgiu ainda durante a Segunda Guerra Mundial e evidências
apontam uma endemia pelo DENV-2 na região do Caribe, porém, a primeira epidemia
americana foi registrada em 1963 (Gubler, 1997). Uma provável explicação para o longo
período sem registros da doença foram os grandes programas de erradicação do mosquito
contra a Febre Amarela, os quais tiveram conseqüências importantes para a Dengue. Porém,
com a descontinuidade do programa no início de 1970, ocorreu uma reinfestação nas
Américas com o Aedes aegypti que, combinado com a rápida urbanização e o aumento de
viagens e comércio, tiveram importantes conseqüências no aumento da incidência (Gubler,
1997). A emergência de FD/FHD como um problema de saúde pública vem sendo o fator
mais dramático nas Américas. Epidemias com uma alta freqüência de gravidade continuam a
se expandir geograficamente na América do Sul. A OMS estima uma incidência 30 vezes
maior nos últimos 50 anos e, até o presente, a distribuição global do mosquito vetor é
comparável ao do vetor da malária (Navarro-Sanchez, Despres et al., 2005).
Após uma ausência no Brasil por mais de 60 anos, os primeiros casos de Dengue
iniciaram durante os anos 80, se disseminando por todo o país e tornando-se endêmica durante
os anos 90, com maior freqüência no verão (Azeredo, Zagne et al., 2001). Com seus 165
milhões de habitantes, o país esamplamente exposto aos surtos da doença que ocorrem nos
últimos 16 anos, iniciados no Rio de Janeiro e se disseminando por todas as regiões do país
As atividades de controle do vetor ainda não são totalmente capazes de controlar a
transmissão da Dengue. Nos últimos 5 anos, o Brasil vem contando com 70% dos casos
relatados de FD nas Américas. Dois padrões de epidemia para o dengue foram observados:
epidemias localizadas (1986-1993), e uma circulação endêmica e epidêmica do vírus por todo
o país (1994-2002) (Siqueira, Martelli et al., 2005). Atualmente, os sorotipos DENV-1, 2 e 3
em quase todos os estados. Em quatro estados, detectou-se a circulação simultânea dos
sorotipos DENV-1, 2 e 3; em seis estados a circulação simultânea dos sorotipos DENV-2 e 3;
em oito estados a circulação exclusiva do sorotipo DENV-3; e em um estado, a circulação do
sorotipo DENV2 (Figura 1.1) (SVS-Ms, 2007). Viagens aéreas proporcionam que indivíduos
infectados disseminem o vírus. Esses fatores podem mudar uma região, antes o-endêmica,
para hipoendêmica (um sorotipo presente) ou até mesmo hiper-endêmica (múltiplos sorotipos
presentes). Em função da contínua circulação de três sorotipos do vírus, o número de casos de
FHD e a taxa de letalidade vêm aumentando no país. no ano de 2007, a Secretaria de
Vigilância em Saúde (Svs-Ms) / Ministério da Saúde registrou mais de 559 mil casos
suspeitos com mais de 1500 confirmados de FHD e 158 óbitos (SVS-Ms, 2007).
5
Na tentativa de compreender a reemergência da Dengue, é necessário considerar ainda
que o diagnóstico precoce de casos da doença não tem sido regra, pois, com freqüência, é
confundida com outras doenças, principalmente rubéola ou viroses indeterminadas. Quando o
diagnóstico é feito, o vírus está infectando grande número de pessoas e atingindo áreas
geográficas extensas, dificultando o controle da epidemia.
Figura 1.1: Mapa de distribuição dos sorotipos do DENV no Brasil (Extraído de SVS-MS, 2007)
Apesar do aumento do impacto na saúde e economia, ainda não existe uma terapia
específica para infecção causada pelo vírus dengue (DENV) e o tratamento depende,
essencialmente, dos procedimentos dicos sintomáticos. Não se encontra disponível uma
vacina eficaz para uso preventivo, apesar de todos os esforços de pesquisa para a sua
produção e desenvolvimento. Aliado a esse fator, a falta de um modelo animal adequado para
o estudo da doença dificulta, em parte, a busca de um tratamento eficaz contra a infecção
(Gibbons e Vaughn, 2002). Enquanto o se puder contar com essa medida de controle, o
único elo vulnerável da cadeia epidemiológica é o vetor. Além disso, poucos programas de
controle o efetivos contra os mosquitos. Dessa forma, o desenvolvimento de uma vacina
eficaz depende fundamentalmente do conhecimento dos mecanismos envolvidos em resposta
à infecção, bem como dos mecanismos de patogênese da infecção (Schatzmayr, 2003).
6
1.2 O vírus: Características estruturais, vetor e ciclo de vida
O DENV pertence ao gênero Flavivirus, família Flaviviridae, um grupo pequeno de
vírus envelopados e com nucleocapsídeo icosaédrico, que infectam vertebrados e
frequentemente causam infecções graves e algumas vezes fatais, em humanos (Zhang,
Chipman et al., 2003). Ele é responsável pelas maiores taxas de doença e mortalidade dentre
os membros desse gênero (Mukhopadhyay, Kuhn et al., 2005).
O viron apresenta um genoma RNA de fita simples positiva de aproximadamente 10-
11 kb. Uma característica importante dos flavivírus é a presença de uma fase aberta de leitura
(ORF- Open Reading Frame) de mais ou menos 10.000 pares de bases, que começa no
resíduo metionina e codifica uma poliproteína que é processada por proteases virais e
celulares em proteínas estruturais e o estruturais. É o caso do DENV, cujo genoma é
sintetizado em um polipeptídeo, que é clivado por proteases virais e do hospedeiro em 10
proteínas. A ordem de codificação do ORF do DENV é: 5`-C-prM-E-NS1-NS2A-NS2B-NS3-
NS4B-NS5-3` (Figura 1.2) (Rothman, 2004). As principais proteínas codificadas incluem
três proteínas estruturais: proteína do capsídeo C (nucleocapsídeo), proteína associada à
membrana M, sintetizada na sua forma precursora (prM), e proteína do envelope E; e sete
proteínas não-estruturais (NS) (Figura 1.3) (Fink, Gu et al., 2006). A proteína do capsídeo é
constituída de 120 aminoácidos que, envolvendo o genoma viral, forma o nucleocapsídeo. A
prM, de 165 aminoácidos, e a proteína E, de 495 aminoácidos, são glicoproteínas. Além disso,
a proteína E contém sítio(s) de ligação ao receptor e um peptídeo de fusão (Mukhopadhyay,
Kuhn et al., 2005).
Figura 1.2: Organização do genoma de Flavivírus, com suas proteínas resultantes e a localização dos
principais alvos da resposta imune. A intensidade das respostas humoral e adaptativa a proteínas virais
individuais estão indicadas abaixo (Rothman, 2004).
Anticorpo
Células T
7
Figura 1.3: A estrutura do DENV. (A) Esquema ilustrativo da estrutura do DENV, representando a proteína
associada à membrana M, proteína do envelope E, genoma viral (RNA) e a proteína C do nucleocapsídeo,
mostrando uma conformação icosaédrica. (B) Ilustração computadorizada da estrutura tridimensional do DENV.
Os dímeros da proteína E estão representados em azul, vermelho e amarelo, com as regiões de fusão em verde,
formando uma concha protetora que recobre toda a partícula. (B) (Kuhn, Zhang et al., 2002).
A transmissão do DENV se faz pela picada dos mosquitos Aedes aegypti, no ciclo
homem vetor homem. Biologicamente, o vírus é altamente adaptado aos seus mosquitos
hospedeiros, sendo mantido na natureza através de transmissão vertical em espécies de
mosquitos responsáveis por ciclos florestais. Todos esses vetores pertencem ao gênero Aedes.
Dois fatores principais regulam a população desses vetores: o clima e a disponibilidade de
sítios artificiais para o desenvolvimento larvar (Gubler, 1997). Após um repasto de sangue
infectado, o mosquito está apto a transmitir o vírus, depois de 8 a 12 dias de incubação
extrínseca. A transmissão mecânica também é possível, quando o repasto é interrompido e o
mosquito, imediatamente, se alimenta num hospedeiro susceptível próximo. Não
transmissão por contato direto de um doente ou de suas secreções com uma pessoa sadia, nem
de fontes de água e alimento. O mosquito é considerado um eficiente vetor por rias razões:
ele se alimenta preferencialmente de sangue humano; vive nas proximidades humanas; se
alimenta diariamente; sua mordida é quase imperceptível; e, por ser um mosquito bastante
ativo, qualquer movimento interrompe sua alimentação e, assim, várias pessoas podem ser
mordidas em um curto período de tempo em um único repasto sanguíneo. Ao contrário de
outros mosquitos, o Aedes aegypti faz mais de um repasto sanguíneo durante seu ciclo
gonotrópico isto é, antes da oviposição. Em muitas áreas, as epidemias de Dengue ocorrem
durante as estações chuvosas, favorecendo a abundância de mosquitos e um período de
incubação extrínseco mais curto (Gubler, 1997).
A B
8
Durante a infecção, o DENV liga-se a receptores específicos e entra na lula por
endocitose mediada por receptor. Dentre os vários candidatos sugeridos como receptores
primários para o vírus, incluímos as moléculas DC-SIGN (dendritic cell-specific intercellular
adhesion molecule 3-grabbing non-integrin), GRP78/BiP (proteína reguladora de glicose 78)
e moléculas associadas ao CD14 (Chen, Wang et al., 1999; Navarro-Sanchez, Altmeyer et al.,
2003). Recentemente vem se demonstrando a importância do receptor de manose na infecção
de macrófagos por DENV (Miller, deWet, et al., 2008). A interação mais bem caracterizada
se faz com o DC-SIGN, presente em DCs, podendo mediar ai infecção dos 4 sorotipos. Sua
expressão ectópica confere permissividade à infecção sobre aquelas células geralmente não
permissivas (Clyde, Kyle et al., 2006). Alternativamente, o vírus se liga a anticorpos (Acs)
subneutralizantes, de uma infecção prévia, e é endocitado via receptores Fc de monócitos, por
exemplo. Ele é internalizado em compartimentos endossomais, onde o pH ácido promove
mudanças conformacionais na proteína E. Esta sofre uma trimerização irreversível para expor
seu peptídeo de fusão, permitindo a fusão do envelope com a membrana endossomal e
liberação do genoma no citoplasma. Este é traduzido em uma única poliproteína, processada
por proteases virais e do hospedeiro, formando o complexo de replicação viral na membrana
do retículo endoplasmático (RE). Os genomas recém sintetizados são empacotados pelas
proteínas estruturais formando o nucleocapsídeo que é envolto pelo envelope lipídico
contendo glicoproteínas de membrana, formando partículas virais. As partículas virais
imaturas são transportadas através da rede trans-Golgi, sofrendo glicosilações e clivagens por
proteases do hospedeiro. Ao término da via de secreção, as partículas são, então, secretadas
como maduras por exocitose (Mukhopadhyay, Kuhn et al., 2005).
As viroses de Dengue circulam na natureza na forma de 4 tipos sorologicamente
distintos: DENV-1, 2, 3 e 4. Tais sorotipos exibem cerca de 65-70% de seqüências homólogas
(Green e Rothman, 2006). A especificidade sorológica parece ser uma característica marcante,
porém isolados marcados temporária e geograficamente podem ser distinguíveis ao nível de
nucleotídeos, aminoácidos ou antigeinicidade (Bielefeldt-Ohmann, 1997). Diferenças
estruturais específicas entre genótipos diferentes do DENV-2 afetam a patogenia do Dengue
(Diamond, Edgil et al., 2000). A infecção secundária ocorre após a inoculação com um
sorotipo diferente. Neste caso, o vírus entra nas células através de um receptor primário, mas
também pode formar imuno-complexos com Acs não-neutralizantes pré-existentes. E
interagirir com receptores alternativos resultando no aumento da infecção dependente de Ac
(Halstead, 1988). A ligação destes Acs ao vírus, por epítopos não-neutralizantes, pode
aumentar a captação viral por linhagens monocíticas através de interações com receptores de
Imunoglobulina (Ig) de membrana (Halstead, 1988; Rothman, 2004).
9
Com relação ao papel das proteínas estruturais e não estruturais, muitos estudos vêm
mostrando a importáncia dessas proteínas no ciclo de vida do DENV. Acredita-se que a prM
possa proteger a proteína E de sua reorganização estrutural induzida pelo pH e uma
conseqüente fusão prematura durante a secreção da partícula viral. Como citado, a entrada
do vírus na célula parece ocorrer por endocitose mediada por receptores e sua replicação está
associada com a indução viral de estruturas de membrana dentro do citoplasma da célula
infectada (Navarro-Sanchez, Despres et al., 2005). Acredita-se que os domínios responsáveis
pela neutralização, fusão e interações com receptores virais estejam associados com a proteína
do envelope. A glicoproteína E é o principal componente da superfície externa do vírus e é o
alvo dominante das respostas humorais contra DENV. A proteína é glicosilada de forma
diferente de acordo com o sorotipo e as células nas quais o vírus está se propagando. Sua
glicosilação tem sido associada com a ligação ao receptor celular e fusão endossomal (Clyde,
Kyle et al., 2006). Os Acs contra E mostram graus variáveis de reatividade cruzada entre os
diferentes sorotipos.
A proteína NS3 parece interagir com proteínas que se ligam a receptores nucleares,
modulando o tráfego intracelular RE/Golgi, tendo um importante papel na distribuição celular
e indução de algumas estruturas membranares observadas durante a infecção pelos flavivírus
(Clyde, Kyle et al., 2006). A NS5 serve como uma polimerase dependente de RNA viral, bem
como uma metiltransferase, ambas envolvidas na replicação viral. Ela também parece induzir
IL-8 que, como veremos adiante, tem um importante papel na imunopatogenia da doença
(Clyde, Kyle et al., 2006). A glicoproteína NS1 é expressa sob 3 formas: residente no RE,
ancorada à membrana na superfície de células infectadas e também secretada na circulação
através de multímeros solúveis. Esta molécula é glicosilada em 2 sítios, ambos tendo um
importante papel na replicação viral em células de mosquito (Clyde, Kyle et al., 2006). Além
disso, a NS1 é outro alvo para Acs contra o DENV. Acs contra NS1 podem levar à lise
mediada por complemento de células infectadas por DENV in vitro (Rothman, 2004). Alguns
estudos sugerem que os níveis de NS1 secretadas estariam associados com os níveis de
viremia em infecções secundárias com DENV-2, sendo esta usada como diagnóstico (Green e
Rothman, 2006). As demais proteínas não estruturais ainda não foram bem caracterizadas.
Sabe-se que a NS4B e, em uma menor extensão, a NS2A e NS4A, são capazes de bloquear a
transdução de sinal mediada por interferon. A NS4A, sozinha, é um potente inibidor de INF-β
e γ, importantes mediadores antivirais (Clyde, Kyle et al., 2006).
10
1.3 Manifestações clínicas
A infecção por DENV causa uma doença cujo espectro inclui desde infecções
inaparentes até quadros de hemorragia e choque, podendo evoluir para o êxito letal. A
infecção pode também se apresentar sob a forma de uma febre indiferenciada, com ou sem a
presença de exantema. Em humanos, cada um dos 4 sorotipos vem sendo associado as
manifestações brandas e graves. A susceptibilidade é universal e a imunidade é permanente
para um mesmo sorotipo (homóloga). Dessa forma, a infecção com um desses sorotipos é
vista a produzir uma imunidade duradoura contra o sorotipo em questão, porém, a imunidade
cruzada (heteróloga) para outros sorotipos, é temporária (Halstead, 1988). De acordo com a
OMS, as doenças causadas por DENV o classificadas em categorias distintas: a Dengue
branda (FD), a Febre Hemorrágica do Dengue (FHD) e a Síndrome do Choque por Dengue
(SCD). Embora seja viável para alguns propósitos, a classificação de FD e FHD/SCD pode
ser insatisfatória para a caracterização das manifestações clínicas. No Brasil, as formas graves
frequentemente não se enquadram nessa classificação (Neves-Souza, Azeredo et al., 2005).
Como muitas outras doenças, as várias manifestações do dengue podem ser vistas
como uma continuidade a partir de reações brandas até as graves, sendo determinadas por
fatores tais como virulência do vírus, idade do hospedeiro, características nutricionais,
genéticas e imunológicas, e co-infecções. Esta visão é corroborada por variações no quadro
clínico e patológico entre casos de dengue, bem como as mudanças em grupos afetados entre
as epidemias. Notavelmente, essas variações independem do(s) sorotipo(s) envolvido(s). No
Brasil, adultos o internados quando apresentam hipotensão ou plaquetopenia excessiva,
considerados sinais de alerta. A FHD/SCD constitui uma das principais causas de
hospitalização e óbito entre a população infantil em países asiáticos que apresentam caráter
endêmico-epidêmico, onde existe a circulação dos 4 sorotipos. A infecção com um deles não
promove uma imunidade protetora cruzada, portanto, pessoas vivendo em áreas endêmicas
podem ter as 4 infecções durante suas vidas. Embora a minoria das infecções virais lidere, em
último caso, a manifestação grave da doença, isso se torna relevante se levarmos em conta que
cerca de 50-100 milhões de infecções por dengue ocorrem anualmente, com uma resultante de
mais ou menos 500.000 casos de FHD. 90% desses casos graves ocorrem em infecções
secundárias, enquanto 10% acontecem em infecções primárias, geralmente em infantes. Vem
sendo postulado que, nesses indivíduos, a transmissão vertical de Acs sub-neutralizantes
esteja envolvida na ADE e, consequentemente, na susceptibilidade à forma grave da doença
(Green e Rothman, 2006).
11
1.3.1 Manifestações brandas
Muitos indivíduos infectados são assintomáticos ou desenvolvem uma doença branda,
conhecida como FD. O quadro clínico é muito variável. Seus sinais e sintomas incluem febre
alta, mialgia, dores retro-orbitais, nas articulações, náuseas, vômito, exantema, prurido
cutâneo e perda de apetite com 3-7 dias de infecção. A hepatomegalia dolorosa pode ocorrer,
ocasionalmente, desde o aparecimento da febre. Também uma leucopenia branda e
trombocitopenia menos freqüente, sendo mais discreta do que na FHD (WHO, 1997). Menos
freqüente, mas o rara, são as manifestações hemorrágicas tais como petéquia, sangramento
gengival, gastro-intestinal e hipermenorréia. Os títulos virais sanguíneos desaparecem, em
média, após 5 dias, correlacionando com o desaparecimento da febre. A grande maioria das
infecções, especialmente em crianças de 15 anos, o assintomáticas ou ligeiramente
sintomáticas. Estudos populacionais vêm mostrando um aumento na idade do paciente
asiático assim como infecções repetidas (Rigau-Perez, Clark et al., 1998). Ao contrário, no
Brasil há um aumento na gravidade, principamente na população infantil.
Um teste clássico, de torniquete (prova do laço) positivo, pode ser observado em cerca
de 1/3 dos pacientes com FD. As manifestações clínicas apenas o são precisas para
distinguir a FD de outras doenças febris, tais como Sarampo, Leptospirose, Tifóide ou
Malária. Se os sintomas iniciam-se com mais de 2 semanas após o paciente ter saído de uma
área endêmica, ou se a febre durar mais do que 2 semanas, a dengue pode ser efetivamente
descartada. A FD é uma doença bastante debilitante, contudo seu prognóstico na maioria dos
casos é favorável. A recuperação pode ser associada com cansaço e depressão prolongados,
principalmente em adultos (WHO, 1997).
1.3.2 Manifestações graves
A manifestação grave da infecção pelo DENV pode ser caracterizada pela
permeabilidade vascular aguda acompanhada por anormalidades na homeostasia vascular.
Seus sintomas iniciais são semelhantes aos da FD, evoluindo rapidamente para manifestações
hemorrágicas de gravidade variável. Porém, o que distingue a gravidade o é a presença de
hemorragia e sim um aumento na permeabilidade vascular levando, ao extravasamento do
plasma através das junções epiteliais.
12
A FD começa, normalmente, com um rápido aumento de temperatura e outros
sintomas. Em casos benignos, após o desaparecimento da febre, todos os sintomas
desaparecem. nos graves, após o desaparecimento da febre, o estado do paciente se agrava
rapidamente. As manifestações clínicas incluem, além do extravasamento plasmático,
tendência a sangramento, com comprometimento do fígado com uma elevação branda de
transaminases séricas. O extravasamento capilar evolui ao longo de horas, próximo ao final do
período febril, quando os sintomas clássicos da FD se resolvem. Tal fenômeno fisiopatológico
decorre da liberação de substâncias que aumentam a permeabilidade vascular, em
conseqüência da ativação dos fagócitos mononucleares infectados. Efusões pleurais, ascites e
hemoconcentração são indícios de perda do volume intravascular. Tais fatores promovem,
rapidamente, a progressão do choque. As manifestações hemorrágicas resultam em um teste
torniquete positivo para sangramento espontâneo do nariz ou trato gastro-intestinal. A
hemoconcentração e a trombocitopenia pronunciada, seguidas de falência circulatória, são
duas características principais da FHD/SCD, de acordo com a Organização Mundial de Saúde
(OMS), e que podem levar o paciente ao óbito em 12-14 horas se não receberem ressuscitação
fluídica intravascular (Malavige, Fernando et al., 2004). Três sistemas orgânicos
(hematológico, vascular e hepático) estão envolvidos. A disfunção desses 3 sistemas induzida
pela infecção, ambas direta ou indiretamente, evoluem para as manifestações graves (Lei, Yeh
et al., 2001).
Os quatro sinais de alarme para impedir que o choque aconteça são: dores abdominais
intensas e mantidas, uma pida mudança da febre para uma hipotermia com sudorese e
prostração seguida de hipotensão. O desenvolvimento de qualquer um desses sinais é
indicativo para admissão hospitalar e tratamento para prevenção do choque. Dessa forma,
alterações laboratoriais decorrentes (trombocitopenia e hemoconcentração) são utilizadas para
diferenciar a FD da FHD em seus graus mais benignos. Ocorrendo hemoconcentração e
plaquetopenia, o paciente será considerado como acometido de FHD/SCD, definidos de
acordo com o grau de gravidade da OMS (WHO, 1997). Por não existir uma terapia antiviral
para o tratamento de pacientes com Dengue, a reposição de fluídos e eletrólitos é eficaz se
aplicada precocemente e, nos casos mais graves, deverá ser administrada via parenteral sendo
fundamentais na redução da taxa de mortalidade.
13
1.4 Resposta imunológica durante a infecção pelo DENV
Hoje, muito se tem aprendido sobre a estrutura e biologia do DENV, receptores virais
e suas interações com células do hospedeiro, a virulência intrínseca de determinadas cepas
virais, o efeito da infecção na imunidade inata, e o papel de outros fatores virais e do
hospedeiro (Pang, Cardosa et al., 2007). Apesar de todo esse conhecimento, a evolução para o
quadro clínico grave o esbem esclarecida, sendo que várias hipóteses o propostas para
tentar explicar a patogênese do Dengue (Rothman, 2004).
1.4.1 Teoria da Facilitação Dependente de Anticorpo (ADE)
Halstead propôs a teoria da ADE como um mecanismo que pode estar contribuindo
para a gravidade da Dengue. O primeiro indício de uma base imunológica para a FHD foi a
partir de estudos epidemiológicos realizados na Tailândia nos anos 60 e 70, cuja ocorrência de
FHD em 85% das crianças que haviam tido infecção secundária com um sorotipo diferente da
primeira infecção (Halstead e O'rourke, 1977). A ADE contribuiria para o aumento da
replicação viral em macrófagos via Acs heterólogos. Em infecções secundárias com o vírus de
sorotipo diferente daquele que causou a infecção primária, os Acs que reagem cruzadamente
com este novo sorotipo, falham em neutralizá-lo. Dessa forma, ocorre um aumento no número
de monócitos infectados quando os complexos Ag-Acs são captados por essas células via
receptores Fcγ I (CD64) e II (CD32), resultando no aumento da infecção dependente de Ac
(Diamond, Edgil et al., 2000); (Halstead, 1988). Esta endocitose poderia resultar na ativação
de linfócitos T CD4 e CD8 citotóxicos por reatividade-cruzada. A liberação rápida de
citocinas causada pela ativação dessas células e pela lise de monócitos infectados, mediada
por linfócitos, pode resultar no extravasamento plasmático e hemorragias que ocorre na FHD.
1.4.2 Teoria da virulência viral
Tal teoria relaciona o aparecimento de FHD à virulência da cepa infectante, de modo
que as formas mais graves sejam resultantes de cepas extremamente virulentas. Essa teoria é
diferente dos mecanismos de facilitação dependente de Acs, provocada pela segunda infecção,
e explica que a gravidade da doença se deve às variações genéticas e antigênicas em
diferentes cepas infectantes. O mais provável é que, em ambos os mecanismos, as
características virais e reações exacerbadas provocada pela segunda infecção estejam
envolvidos e desempenhem papéis importantes (Leitmeyer, Vaughn et al., 1999).
14
1.4.3 Teoria da Gravidade por Polimorfismo genético
É muito provável que fatores individuais, como os polimorfismos de genes
relacionados com o sistema imunológico, determinem o curso da infecção por dengue e sua
gravidade (Quírico-Santos, Kubelka et al., 2006). Nas Flaviviroses, incluindo Dengue, o
aumento na expressão de moléculas do sistema antigênico leucocitário humano
(HLA) de
classe I e II em células infectadas e o nível de resposta imunológica contra epítopos virais
podem também ser responsáveis pela imunopatologia da infecção (Polizel, Bueno et al.,
2004). Sakuntabnai e colaboradores mostraram através de estudos com pacientes tailandeses
com Dengue, uma variação no gene promotor que codifica para o receptor viral DC-SING em
células dendríticas (DCs), associado com um decréscimo na sua expressão e, possivelmente,
uma diminuição na susceptibilidade do hospedeiro (Sakuntabhai, Turbpaiboon et al., 2005).
Outro trabalho vem demonstrando efeitos opostos dos alelos HLA de classe I, incluindo um
papel protetor do HLA A33 e um patogênico para o HLA A24 em vietnamitas com Dengue
(Green e Rothman, 2006). Também Polizel e colaboradores mostraram uma alta freqüência de
antígenos HLA-DQ1 entre pacientes com FD na população branca de brasileiros na região sul
do país (Polizel, Bueno et al., 2004). Além desses resultados, Fernandez-Mestre e
colaboradores mostraram o papel do alelo TNF-308A, aumentado significativamente nos
pacientes com Dengue e, consequentemente, níveis elevados de Fator de Necrose Tumoral α
(TNF-α), provavelmente relacionados com a permeabilidade vascular e hemorragia nesses
pacientes (Fernandez-Mestre, Gendzekhadze et al., 2004).
1.4.4 Teoria do Pecado Original
Existe uma forte evidência in vivo da ativação de células T CD4 e CD8 durante a
infecção por Dengue sendo que, tal ativação seria mais intensa em pacientes graves do que
aqueles com a forma branda da doença (Mentor e Kurane, 1997). Sugere-se que a doença
possa ser causada pela ativação dessas células. O nível de citocinas como TNF-α, assim como
a magnitude das respostas via células T, estariam correlacionados com a gravidade da doença.
Seguindo a replicação viral via ADE em monócitos e macrófagos, antígenos virais são
apresentados e reconhecidos por moléculas na superfície de linfócitos. Esta replicação é
acompanhada por uma ativação de linfócitos T que, durante a infecção primária, se expandem
e apresentam uma maior afinidade pelos epítopos presentes no sorotipo infectante,
ocasionando a formação de células de memória para este sorotipo. Entretanto, na infecção
secundária por outro sorotipo, as células de memória sensibilizadas durante uma infecção
15
prévia, seriam ativadas e se expandiriam mais rapidamente que as células virgens específicas
para o sorotipo infectante. Os clones de células de memória teriam menor afinidade ao
sorotipo presente e, consequentemente, não exerceriam suas funções efetoras em eliminar o
vírus. Porém, teriam alta capacidade em produzir mediadores inflamatórios e poderiam, de
fato, promover a imunopatologia do dengue (Mongkolsapaya, Dejnirattisai et al., 2003). A
liberação de citocinas pró-inflamatórias por essas células, como Interferon γ (IFN-γ) e TNF-α,
podem agir diretamente sobre o endotélio vascular e resultar no extravasamento de plasma,
característico das infecções graves (Pang, Cardosa et al., 2007).
1.4.5 Teoria do Mimetismo molecular
O mimetismo molecular propõe que a patogênese da Febre do Dengue seja resultado
de uma reação autoimune. O desenvolvimento de Acs de reatividade-cruzada ao
plasminogênio (devido a uma similaridade em 20 aminoácidos da glicoproteína do envelope
viral e uma família de fatores da coagulação) poderia ter uma relação com a hemorragia na
FHD. O aumento da destruição de plaquetas ou a diminuição na sua produção poderia resultar
na trombocitopenia (Rothman, 2004).
1.4.6 Teoria da interação multifatorial
Outros fatores, além da reatividade cruzada, cepa viral, genética e mimetismo, também
são considerados para o entendimento da patogênese da dengue. Fatores epidemiológicos,
bem como a intensidade de transmissão viral e a circulação simultânea dos sorotipos, vêm
sendo considerados como fatores de risco. Alguns autores acreditam que os riscos para o
desenvolvimento da gravidade são resultantes multifatoriais. Apesar da alta incidência de
infecções secundárias em áreas endêmicas, apenas um pequeno percentual progride para a
FHD. Portanto, o ambiente, o hospedeiro e fatores virais também estariam contribuindo na
progressão da doença. Podemos considerar que uma associação de teorias estariam envolvidas
na susceptibilidade à gravidade da doença (Malavige, Fernando et al., 2004).
16
1.5 A imunopatogenia do vírus Dengue
A formação de uma rápida defesa do hospedeiro pode ser um fator limitante para o
alastramento da infecção pelo DENV. Uma das várias questões envolvendo a patogenia da
Dengue é identificar as células que desempenham um papel crucial na imunidade inata ao
vírus, no início da infecção. Com a reinfecção por um sorotipo diferente, é provável que a
propensão à gravidade da doença esteja relacionada a uma série de fatores imunopatológicos,
incluindo altos níveis de Acs e linfócitos T de reatividade cruzada e, consequentemente, um
aumento na replicação viral, na fase inicial da doença. Essa condição é acompanhada por uma
cascata de ativação de células T de memória e uma intensa produção de citocinas e outros
mediadores químicos. Esses componentes são liberados, principalmente, por células T,
monócitos/macrófagos, lulas dendríticas (DCs) e células endoteliais, promovendo a
permeabilidade vascular (Pang, Cardosa et al., 2007).
1.5.1 Células–alvo e suas alterações frente à infecção
A infecção de células do hospedeiro pelo DENV processa-se pela ligação inicial a
fatores de interação do vírus e receptores celulares. As células-alvo da infecção são
predominantemente do sistema retículo endotelial (baço, fígado, medula óssea). O DENV foi
isolado e detectado em vários órgãos como fígado, baço, pulmão e cérebro (Bunyaratvej,
Butthep et al., 1997; Jessie, Fong et al., 2004). Os fagócitos mononucleares são considerados
os principais alvos para a replicação viral. Monócitos/macrófagos apresentam Ags em
amostras patológicas de pacientes com FHD (Neves-Souza, Azeredo et al., 2005). Outros
tipos celulares, incluindo células epiteliais, endoteliais e fibroblastos, suportam a replicação
viral mesmo na ausência de Acs antivirais (Diamond, Roberts et al., 2000). Diamond e
colaboradores demonstraram infecções Ac-dependente e Ac-independente de múltiplas
linhagens celulares utilizando isolados de DENV-2 obtidos de pacientes (Diamond, Edgil et
al., 2000). Linfócitos B, monócitos, hepatócitos e DCs são descritos como alvos potenciais do
DENV. O vírus também é capaz de induzir apoptose em diversos tipos celulares em cultura.
Estudos demonstram a indução de apoptose em células endoteliais infectadas, com a produção
de citocinas como IL-8 e RANTES, quimiocinas envolvidas no processo inflamatório
(Avirutnam, Malasit et al., 1998).
17
Na circulação periférica de um indivíduo saudável existem mais linfócitos T CD4 do
que T CD8. Alguns trabalhos mostram que, em pacientes com Dengue, a taxa CD4/CD8
inverte-se durante a infecção aguda, voltando ao normal após 15 dias. Além disso, a
porcentagem de células mononucleares da periferia (PBMC) é maior nos dias 6-7, caindo para
níveis abaixo daqueles observados após o período de convalescencia. uma ativação
primária de PBMCs confirmada pela expressão do marcador de ativação precoce CD69,
mantido em linfócitos bem como em monócitos, sendo expresso mais extensivamente em
células T CD8 do que em T CD4. Essa aparência atípica de linfocitose, bem como de células
TCD4/CD8, sugere que uma ativação imune aberrante deve ocorrer durante a infecção por
DENV. As lulas T efetoras reativas a DENV produzem predominantemente altos níveis de
IFN-γ, TNF-α / ß e quimiocinas, incluindo proteína 1 inibidora de macrófago (MIP-1), após a
interação com células apresentadoras de antígenos (APCs) (Rothman, 2004). Estudos feitos
por Azeredo e colaboradores mostraram que, em pacientes brasileiros com Dengue, muitos
apresentaram leucopenia durante a fase aguda da doença que poderia ser resultante da
supressão de linfócitos, pois apresentavam marcadores de superfície CD2, CD4 e CD8 com
freqüência reduzida dentre os leucócitos mononucleares (Azeredo, Zagne et al., 2001). Ao
invés da ativação de células T, anergia ou imunossupressão precoce poderia estar ocorrendo,
de acordo com resultados prévios de outros autores. Tal supressão pode ser devida ambos a
uma modulação direta de células infectadas por vírus ou por produção de citocinas que
deprimem a regulação hematopoiética (Azeredo, Zagne et al., 2001).
As células endoteliais também representam importantes sítios de infecção viral. In
vitro, alguns estudos vêm demonstrando que linhagens de células endoteliais humanas
produtivamente infectadas com DENV podem produzir mediadores pró-inflamatórios (IL-6,
IL-8 e RANTES, reguladas sob ativação de linfócitos T), alterar a expressão de moléculas de
adesão do tipo I e a estrutura do citoesqueleto de actina, e aumentar a permeabilidade de
pequenas moléculas. Outros estudos, de soro de pacientes com infecção aguda induziram a
ativação e apoptose de células endoteliais cultivadas. Tal processo pode ser parcialmente
revertido com o uso de Acs monoclonais anti-TNF-α, sugerindo que, durante a doença,
mediadores inflamatórios podem ser responsáveis pela indução de extravasamento plasmático
(Green e Rothman, 2006)
As lulas Natural Killer (NK), que compreendem outra população efetora do sistema
imune inato, também têm um importante papel na infecção pelo dengue. Elas podem
promover o clearence de células infectadas através da citotoxicidade direta ou por uma
citotoxicidade mediada por Ac-célula (Azeredo, De Oliveira-Pinto et al., 2006; Green e
Rothman, 2006).
18
Após a picada do mosquito infetado, acredita-se que a replicação viral ocorra
inicialmente nas DCs. Vários estudos vêm sugerindo que uma lectina do tipo C, CD209/DC-
SIGN, possa se ligar à proteína E e, provavelmente, servir como um co-receptor para a
entrada viral (Tassaneetrithep, Burgess et al., 2003; Green e Rothman, 2006). A habilidade
dessas células em “atrair” os vírus e direcionar a resposta imune adaptativa direta ou
indiretamente, vem tendo um grande impacto na qualidade, quantidade e duração da resposta
imune. As DCs podem também produzir IFN-γ e TNF-α, tendo um importante papel no
estabelecimento de uma resposta imunológica primária. Como já visto, elas podem ser alvos
precoces do vírus DENV durante a resposta imune inata, amplificando a imunidade celular
que pode ser modulada pela presença ou ausência de IFN no ambiente adjacente às DCs
infectadas (Libraty, Pichyangkul et al., 2001). Sabe-se que os receptores do tipo Toll (TLRs),
importantes devido a suas especificidades a padrões moleculares conservados compartilhados
por uma gama de patógenos, também são ativados durante a infecção viral. Sua expressão
diferencial em DCs capacitam-nas a discriminar entre diferentes estímulos. Esses ligantes
exercem uma função na ativação de diferentes vias, quer para a produção de citocinas pró-
inflamatórias que, aparentemente, exercem os mecanismos patológicos, quer para a produção
de IFNs inibidores da replicação viral. Dessa forma, eles podem interferir num importante
papel das DCs em modular o perfil de respostas Th1/Th2 frente a infecções (Agrawal,
Agrawal et al., 2003). Neves-Souza e colaboradores descreveram a indução do TLR-2 em
monócitos humanos nas infecções por dengue (Neves-Souza, Azeredo et al., 2005).
Os monócitos/macrófagos, principais alvos do DENV, são responsáveis pela
disseminação do vírus após sua entrada inicial via picada do mosquito vetor. As células da
linhagem monocítica são fundamentais para o propósito de exacerbar a infecciosidade
dependente de Acs como base do início da FHD/SCD. Pelo fato de pacientes com FHD/SCD
apresentarem evidências de infecção prévia com um sorotipo diferente, foi proposto que tal
infectividade aumentada estaria relacionada à ligação do complexo Ag-Ac heterólogo a
receptores Fc em monócitos e macrófagos, resultando numa produção exacerbada de vírus e
supostamente a uma maior gravidade da doença (Pryor, Carr et al., 2001). Além disso, sabe-se
que DCs derivadas de monócitos humanos podem ser infectadas pelo DENV e ter um papel
extremamente importante na modulação das respostas imunológicas. Considerando que
monócitos/macrófagos são células fagocíticas metabolicamente ativas, com componentes
lisossomais capazes de eliminar microorganismos, a interação do DENV com tais células
pode também resultar em efeitos deletérios para ambos os vírus e células, como veremos
adiante.
19
1.5.2 Respostas imunológicas ao vírus Dengue: Citocinas e mediadores químicos
Os principais mecanismos pelos quais a infecção por DENV causa doença são bastante
controversos. Embora a resposta pareça operar em ambas a imunidade protetora e patológica
ao DENV, uma consideração imunológica principal é a natureza heteróloga da infecção
secundária e sua influência na gravidade da doença.
Uma resposta secundária a um sorotipo diferente resulta em interações de menor
avidez entre Acs pré-existentes e o novo sorotipo, facilitando a infecciosidade viral. Por outro
lado, o efeito de seqüências epítopos virais diferentes reconhecidos por receptores de células
T leva a uma gama de respostas efetoras, induzindo diferentes sinais de ativação em linfócitos
T antígeno-específicos e, portanto, modulando as funções efetoras de células T CD4 e CD8.
Esses epítopos variantes agonistas parciais de células T, em geral, têm um maior efeito na
resposta proliferativa do que na citotoxidade celular. Alguns agonistas parciais de células T
falham em induzir a produção de citocinas, enquanto outros induzem o perfil de resposta
alterado de citocinas. Além disso, a infecção secundária com um sorotipo diferente de DENV
pode modular a expansão de populações de células T de memória pré-existentes de menor
avidez ao sorotipo em questão, se sobrepondo à expansão de populações de T naive, que têm
maior avidez. Todos os mecanismos citados acima podem influenciar na gravidade da doença,
pois causam uma alteração na hierarquia das respostas de células T, prejudicando os
mecanismos de clearence viral e, ao mesmo tempo, promovendo uma tempestade de citocinas
de padrão alterado, exacerbando a inflamação, aumentando a inflamação tecidual e
contribuindo para a doença. Esses efeitos combinados, que participam na ativação do
endotélio e no aumento da permeabilidade vascular, estariam relacionados com a
sintomatologia da FHD (Rothman, 2004).
Como mencionado, as células mononucleares fagocíticas o os principais alvos
durante uma infecção aguda por DENV. Quando ativadas, estas células produzem uma gama
de mediadores pró-inflamatórios. Muitos estudos acompanhando pacientes com a infecção
aguda vêm mostrando níveis séricos / plasmáticos aumentados de numerosos mediadores
solúveis, alguns desses mais elevados em indivíduos com FHD comparados com aqueles com
a forma branda (Green e Rothman, 2006). Em alguns casos, por exemplo, um aumento inicial
de mediadores imunes estaria associado ao subseqüente extravasamento de plasma. A cascata
de eventos gerados devido à desregulação da resposta Th1 pode, assim, contribuir para os
múltiplos aspectos da patogenia da FD (Chakravarti e Kumaria, 2006).
20
Para muitas viroses, um passo inicial no estabelecimento da infecção é a evasão da
resposta imune inata antiviral promovida pelo sistema de IFN celular. O tipo I de IFNs é
induzido por infecções virais e inclui IFN-α (leucócitos, DCs) e IFN- β (fibroblastos). Eles
exibem múltiplas propriedades biológicas, incluindo respostas antiproliferativas, efeitos
antivirais e imunomoduladores (Navarro-Sanchez, Despres et al., 2005). O Tipo II de IFNs, o
IFN-γ, é secretado por linfócitos T ativados e células NK, tendo um efeito antiviral direto
através da indução de moléculas efetoras como óxido nítrico (NO) via DCs e monócitos e,
indiretamente através de uma apresentação aumentada de Ags e a indução de apoptose
(Diamond, Roberts et al., 2000). Alguns trabalhos mostram que o pré-tratamento com IFN-α e
γ ou IFN-β e γ inibe a replicação do DENV (Fink, Gu et al., 2006). Porém, as respostas
normais do INF podem ser diretamente inibidas pelo DENV. Por exemplo, a expressão da
NS4b em linhagens de lulas endoteliais mostrou reduzir a expressão do gene para IFN-β
((Fink, Gu et al., 2006). Controversamente, a citocina pode promover a replicação viral e a
inflamação. Diamond e colaboradores demonstraram que o INF-γ inibe a infecção por vírus
Dengue, porém seu efeito é variável, pois, ao mesmo tempo que inibe uma infecção
independente de Acs ele aumenta a infecção dependente de Acs em monócitos,
presumivelmente por aumentar a expressão de receptores Fc γ (Diamond, Roberts et al.,
2000); (Pang, Cardosa et al., 2007). Adicionalmente, a presença de IFN-γ aumentaria a
expressão de moléculas do complexo de histocompatibilidade principal de classe II (MHC-II),
ativando a capacidade dos monócitos em produzir mediadores pró-inflamatórios.
Possivelmente, esses mecanismos estariam correlacionados com a gravidade da infecção.
Mentor e Kurane demonstraram que linfócitos T de indivíduos com uma infecção prévia pelo
DENV produziam IFN-γ, interleucina-2 (IL-2), interleucina 4 (IL-4) e TNF-β após uma
estimulação antigência com um sorotipo heterólogo do Dengue (Mentor e Kurane, 1997). Em
resposta aos Ags do Dengue, as lulas T CD4 produzem TNF-α e IFN-γ. A ativação de
células T CD8 e NK, observadas em crianças com FHD, o fontes potenciais de IFN-γ. Um
aumento de IFN-γ pode liderar com uma maior ativação de lulas T e, consequentemente,
um aumento de TNF-α e IFN-γ. Os níveis de IFN-γ são observados em períodos precoces
durante o curso da doença, o que poderia ter um importante papel no processo de inflamação
aguda (Azeredo, Zagne et al., 2001). O vírus poderia estar induzindo à liberação de outras
citocinas como TNF-α, IL-6 e IL-1, tardiamente, contribuindo na patogenia do choque
endotóxico, que compartilha várias características com FHD/SCD.
21
A IL-10 é produzida por monócitos e linfócitos T sendo uma potente citocina anti-
inflamatória e quimiocina. Ela também promove uma linfopenia transiente e um decréscimo
na proliferação de PBMCs. Isso poderia explicar a depressão linfoproliferativa presente em
pacientes estudados por Azeredo e colaboradores (Azeredo, Zagne et al., 2001). Níveis
elevados de IL-10 têm sido detectados em pacientes com FD e FHD, sendo freqüentemente
associados a gravidade da doença (Green, Pichyangkul et al., 1999; Perez, Garcia et al.,
2004). Foi proposto que a IL-10 possui papel imunomodulador, sendo capaz de inibir a
função apresentadora de DCs com DENV (Palmer, Sun et al., 2005). Dessa forma, a geração
de citocinas anti-inflamatórias estaria ocorrendo na tentativa de balancear a inflamação
(Azeredo, Zagne et al., 2001; Nguyen, Lei et al., 2004). Em relação ao fenômeno de ADE, a
ligação do Ac ao receptor Fc nos monócitos estimulados, induz a produção precoce de IL-10,
resultando na produção de sinais supressores de citocinas. (Suhrbier e La Linn, 2003).
A expressão de IL-8 pode ser modulada pelo DENV através da NS5. Sua função,
dentre outras, é promover o recrutamento de eosinófilos, neutrófilos e células T naive para a
superfície do endotélio, além de aumentar a expressão de moléculas de adesão e, dessa forma,
promover o extravasamento de monócitos e plasma. Essa atividade quimiotática em
neutrófilos foi demonstrada pela sua degranulação em pacientes com FD e FHD/SCD, com
um aumento de elastase, um produto da degranulação, bem como níveis elevados de IL-8 em
pacientes com SCD (Juffrie, Van Der Meer et al., 2000). Monócitos/macrófagos também são
importantes fontes de IL-8 durante a infecção pelo DENV (Bosch, Xhaja et al., 2002).
Considerada uma citocina pró-inflamatória multifatorial, o TNF-α tem um importante
papel nas respostas imunológicas. Dentre outras funções, ele regula as respostas imunes,
hematopoiese e morfogênese, e também vem sendo relacionando aos processos tumorais,
soque ptico, replicação viral, reabsorção óssea, artrite reumatóide, diabete, infarto do
miocárdio e imunodeficiências adquiridas. O TNF também induz a produção de espécies
reativas de oxigênio intermediárias que resultam na apoptose da célula. As citocinas da
superfamília do TNF medeiam seus efeitos através da ativação de fatores de transcrição,
incluindo o fator de transcrição NF-KappaB (NF-κB), culminando na apoptose e/ou
proliferação celular (Chaturvedi, Nagar et al., 2006; Chaturvedi, 2006). O TNF-α está dentre
as primeiras citocinas detectadas no soro de pacientes com FHD. Um aumento significativo
na expressão do alelo TNF-308A, que predispõe geneticamente a expressão de altos níveis de
TNF, é observado entre os pacientes com FHD (Chaturvedi, 2006). Níveis de TNF, IL-10 e
do receptor TNF do tipo II solúvel (TNFRIIs) foram significativamente maiores em pacientes
com FHD 2 dias após a desfervecência, período em que o extravasamento de plasma e o
choque acontecem tipicamente (Green e Rothman, 2006). Azeredo e colaboradores, estudando
22
pacientes brasileiros durante as epidemias de dengue de 1998, mostraram uma correlação de
citocinas, como TNF, IL-6 e IL-1, e níveis solúveis de TNFRp55 e Rp75, com a gravidade da
doença (Azeredo, Zagne et al., 2001). O TNF-α também produz um efeito direto nas células
vasculares, aumentando a permeabilidade vascular induzindo-as a produzirem citocinas e
mediadores inflamatórios, como o próprio TNF-α e IL-1, IL-6, IL-8 e PAF ((Tracey e
Cerami, 1992b; 1992a), contribuindo para a disfunção endotelial nos casos graves da dengue
(Anderson, Wang et al., 1997).
Durante a infecção secundária, as células T tornam-se ativadas devido às interações
com monócitos infectados e DCs. As DCs, como já descrito acima, têm uma enorme
plasticidade funcional, interagindo com outras células do sistema imunológico inato e
adaptativo, sendo responsáveis pelo direcionamento das respostas de linfócitos Th1 ou Th2
(Agrawal, Agrawal et al., 2003). A infecção de DCs pelo DENV estimula a sua própria
maturação e produção de citocinas. Estas interagem com células T levando à sua proliferação,
ativação e produção de citocinas. INF-γ, IL-2 e TNF- α, citocinas pró-inflmatórias, estão
aumentadas durante os primeiros dias de infecção, enquanto IL-4 e IL-10, citocinas de perfil
Th2, aparecem ao final da infecção, tendo um papel controlador das respostas Th1 (Neves-
Souza, Azeredo et al., 2005). Embora a elevação de ambos os perfis de citocinas do tipo I
(Th1) e II (Th2) seja detectada nas formas graves, o tempo de sua produção parece ser um
importante fator. De fato, citocinas pró-inflamatórias e componentes anti-inflamatórios vêm
sendo detectados em pacientes com infecção por DENV (Rothman, 2004), ocorrendo uma
indução inicial de citocinas de perfil Th1 associadas com a doença mais grave e, fatores anti-
inflamatórios, elevados nos estágios mais tardios da doença (fase de desfervescência). Entre
eles, estão associados à gravidade: IL-1Ra, TGF-β1 e IL-10, presentes em pacientes
brasileiros estudados por Azeredo e colaboradores (Azeredo, Zagne et al., 2001). Além desses
mediadores químicos imunes, marcadores de ativação circulantes, como CD8 solúvel,
receptores de IL-2 solúveis e receptores de TNF (TNF rp55 e Rp75), foram associados com a
gravidade da doença (Bethell, Flobbe et al., 1998; Azeredo, Zagne et al., 2001). Tais
características correlacionam-se com a freqüência aumentada de células T ativadas em
infecções secundárias por Dengue, também gerando uma desregulação da resposta ao DV.
Alternativamente, monócitos infectados seriam ativados induzindo a síntese de citocinas,
ácido aracdônico, NO (Nitric Oxide), entre outros fatores inflamatórios (Fink, Gu et al.,
2006).
23
As citocinas poderiam ser liberadas diretamente de monócitos/macrófagos infectados
ou após interações entre células do sistema imune, ou ambos. É sabido que as citocinas
podem induzir a liberação e a produção de outras citocinas que interagem de forma complexa,
promovendo uma exacerbação nos níveis de citocinas e outros mediadores químicos.
Citocinas também podem ter efeitos sinérgicos, por exemplo, TNF-α, IFN-γ e IL-1 que,
juntas, podem ter um grande efeito sobre a permeabilidade vascular, comparado com a ação
de cada uma, sozinha. Também, moléculas do sistema complemento teriam um importante
papel na patogenia do dengue. A ativação do complemento, que está associada aos níveis
elevados de NS1 secretada, ocorre num período próximo ao extravasamento de plasma (Green
e Rothman, 2006). Todos esses resultados, em conjunto, suportam o importante papel do
sistema imune na gravidade da Dengue. O desenvolvimento de estudos sobre o papel das
citocinas na Dengue e nas imunoterapias contribui para o aprimoramento no tratamento da
doença e prevenção de sua forma grave.
1.6 Os monócitos/macrófagos e a Doença
1.6.1 Heterogeneidade fenotípica e funcional dos macrófagos
Os monócitos/macrófagos representam uma subpopulação dos leucócitos
mononucleares, com função fagocítica e secretória, importantes tanto na imunidade inata
como na adquirida. Eles se originam na medula óssea a partir de um progenitor mielóide
comum. Após sua maturação, os monócitos caem na corrente sanguínea, onde circulam por
aproximadamente 72 horas antes de migrarem para os tecidos e reabastecer a população de
macrófagos teciduais ou se diferenciarem em DCs (Skrzeczynska-Moncznik, Bzowska et al.,
2008). A heterogeneidade e plasticidade são características marcantes dessas lulas, que
constituem cerca de 5 10% dos leucócitos de sangue periférico em humanos (Gordon e
Taylor, 2005). Vários fatores, incluindo metabólitos teciduais, citocinas, quimiocinas e
mediadores inflamatórios, podem influenciar na diferenciação de macrófagos no tecido. Uma
vez nos tecidos, essas células adquirem propriedades funcionais e morfológicas distintas. Elas
constituem um sistema de vigilância, que protege o hospedeiro contra agentes externos,
incluindo organismos infecciosos. Os monócitos/macrófagos têm um importante papel de
induzir, amplificar, mas também limitar a inflamação, participando na produção, mobilização,
ativação e regulação de diversas células do sistema imunológico.
24
Em resposta a citocinas e produtos microbianos, fagócitos mononucleares expressam
propriedades fenotípicas funcionais especializadas e polarizadas. O efeito de citocinas e
outros estímulos extrínsecos determinam o fenótipo de maturação de monócitos. Um
reconhecimento microbiano direto pode engatilhar as vias do TLR, mas também podem
resultar numa expressão aumentada de Ags via receptores específicos (Tacke e Randolph,
2006). Acompanhando a nomenclatura Th1/Th2, muitos autores referem-se a macrófagos
polarizados como sendo células M1 e M2. Macrófagos M1, classicamente ativados, vêm
sendo incluídos como aqueles induzidos por INF-γ apenas ou por outras citocinas, como
TNF-α e GM-CSF, ou por estímulos microbianos (como LPS). Esse tipo de ativação pode
potencializar a função de receptores envolvidos na imunidade inata como os TLRs. Citocinas
como IL-4 e IL-13 m sendo incluídas o apenas como inibidoras de ativação de
macrófagos, mas também por induzir uma forma alternativa de ativação dessas células. M2 é
um nome genérico para as várias formas de ativação de macrófagos, que não a sua forma
clássica M1. Os macrófagos pertencentes à nomenclatura M2 são ativados por exposição a IL-
4 ou IL-13, imunocomplexos, IL-10 e hormônios (Mantovani, Sica et al., 2007).
Em geral, os macrófagos M1 apresentam um fenótipo IL-12
high
IL-23
high
IL-10
low
. Eles
são produtores eficientes de moléculas efetoras, como espécies reativas de oxigênio e
citocinas inflamatórias (IL-1β, TNF-α e IL-6), e participam como indutores e efetores em
respostas Th1. Os macrófagos M1 também medeiam resistência contra parasitas intracelulares
e tumores. Ao contrário, as várias formas de macrófagos M2 compartilham um fenótipo IL-
12
low
IL-23
low
IL-10
high
e possuem uma capacidade variável de produzir citocinas inflamatórias
dependendo do sinal utilizado para ativação. Em geral, essas células participam em respostas
Th2, promovem morte e encapsulação de parasitas, apresentam um elevado crescimento
celular, estão presentes em tumores estabelecidos e promovem progressão tumoral, reparo
tecidual e remodelagem, e têm funções imunomoduladoras (Mantovani, Sica et al., 2007).
1.6.2 As subpopulações de monócitos
Nos tecidos, os monócitos, agora denominados macrófagos, diferenciam-se em células
fenotípica e funcionalmente distintas, incluindo macrófagos alveolares, osteoclastos ou
células de microglia. Eles abastecem as populações de macrófagos de DCs teciduais enquanto
outros se diferenciam em macrófagos com funções de clearence de patógenos e na resolução
da inflamação local. Embora a heterogeneidade desses macrófagos teciduais seja bem
estabelecida, a heterogeneidade de monócitos foi claramente demonstrada apenas
recentemente. Por mais de 20 anos, vem sendo reconhecido que existem dois tipos distintos
25
de populações de monócitos no sangue periférico de humanos (Mobley, Leininger et al.,
2007). Estes foram inicialmente identificados pela expressão elevada de CD14, uma molécula
que faz parte do receptor para lipopolissacarídeos microbianos. Entretanto, a identificação da
expressão diferencial de marcadores antigênicos mostrou a grande heterogeneidade dessas
células. Esses subtipos diferem em muitos aspectos, incluindo a expressão de moléculas de
adesão, receptores de quimiocinas (CCR e CXCR) e de CD16, um receptor de baixa afinidade
para IgG (FcγRIII). A análise da expressão diferencial de genes nessas subpopulações sugere
que esses subtipos tenham diferenças funcionais bastante distintas na resposta imune inata,
com maior atividade. Essas células apresentam uma grande atividade estimulatória e migração
(Mobley, Leininger et al., 2007).
Em geral, a expressão diferencial de CD14 e CD16 permitiu classificar os monócitos
em dois subtipos: as células CD14
high
CD16
-
e as células CD14
+
CD16
+
. As células
CD14
high
CD16
-
foram descritas originalmente como monócitos clássicos” devido ao fato
delas representarem 90-95% da população monocítica total em um indivíduo saudável. Essas
células também expressam CCR2, um receptor envolvido no recrutamento de monócitos em
sítios inflamados, CD62L (L-selectina/molécula de adesão) e CD64 (FcγRI). Portanto,
monócitos com esse padrão de expressão de proteínas, embora sejam responsáveis pelo
abastecimento de macrófagos e DCs residentes em tecidos, eles também estão envolvidos na
remoção de células mortas ou debris, mas são equipados para defesa contra patógenos
(Figura 1.4) (Tacke e Randolph, 2006; Mobley, Leininger et al., 2007).
Passlick e colaboradores foram os primeiros a descreverem uma população de
monócitos expressando CD16 no sangue periférico de humanos (Passlick, Flieger et al.,
1989). Em um adulto saudável, essa subpopulação consiste de 5-10% do total de monócitos
no sangue (Strauss-Ayali, Conrad et al., 2007). poucos anos atrás, foi descoberto que o
subtipo de células CD14
low
CD16
+
produz mais citocinas inflamatórias e sua prevalência
permanece mais elevada no sangue em várias doenças inflamatórias crônicas e agudas. Por
esta razão, essas células foram classificadas como “pró-inflamatórias”. A subpopulação de
monócitos CD16
+
produz baixos níveis de IL-10 em resposta ao agonista de TLR-4 e grande
quantidade de TNF-α e IL-6 em resposta a agonistas de TLR-4 e 2 (Belge, Dayyani et al.,
2002; Mobley, Leininger et al., 2007). Interessantemente, enquanto alguns autores sugerem
que essas células sejam pro-inflamatórias por natureza, outros vêm demonstrando, in vitro,
que o TNF-α também desempenha um importante papel na diferenciação de células
CD14
+
CD16
-
em monócitos CD14
low
CD16
+
, acompanhando a exposição a Ags bacterianos
(Figura 1.4) (Skinner, Macisaac et al., 2005; Skrzeczynska-Moncznik, Bzowska et al., 2008).
26
Figura 1.4: Esquema representativo das principais subpopulações monocíticas em humanos. Monócitos
humanos são esquematizados, mostrando suas principais características funcionais e fenotípicas. HSC
Hematopoietic Stem Cell / CNP committed myeloid progenitor / CCR, CXCR receptores de quimiocinas /
CD62(L) - /l lectina/ GMP – granulocyte/macrophage progenitor / DCs células dendríticas / M1macrófagos
Th1 / M2 – macrófagos Th2 / Estímulos / produtos (Adaptado de Gordon e Taylor, 2005; Mantovani, Sica
et al., 2007; Skrzeczynska-Moncznik, Bzowska et al., 2008).
O padrão diferencial de expressão de genes codificando moléculas de adesão,
determinados receptores de quimiocinas, fatores de diferenciação e proteínas defensinas
implica que a subpopulação de monócitos CD16
+
, bem como sua progênie de macrófagos,
sirvam como sentinelas nos tecidos periféricos, sendo capazes de matar diretamente
microorganismos invasores (Mobley, Leininger et al., 2007). Essas células carecem de CCR2,
porém expressam outros receptores de quimiocina, como CCR5, e têm altos níveis de MHC-II
e CD32 (FcγRII). Esse padrão diferencial de expressão de receptores e moléculas pode ter
conseqüências funcionais importantes para essas células, resultando não apenas diferenças nos
padrões de migração e estimulação, mas também conferindo uma susceptibilidade diferencial
a infecções. Organismos como os vírus HIV e do Oeste do Nilo, que podem explorar esses
tipos de receptores para estabelecer as infecções, infectam, portanto, de maneira preferencial,
subpopulações específicas de monócitos (Strauss-Ayali, Conrad et al., 2007).
27
Recentemente, vem se demonstrando a presença de um padrão diferencial de
populações de monócitos CD16
+
. Uma população intermediária que tem um fenótipo
CD14
high
CD16
+
diferencia-se in vitro e provavelmente é o subtipo de monócitos CD16
+
que
expressa CCR5, considerado um mediador potencial de tráfego nesta subpopulação (Tacke e
Randolph, 2006). Essas células também diferem por sua alta capacidade fagocítica comparado
aos subtipos CD14
low
CD16
+
, embora seja semelhante à população de monócitos clássicos.
Skrzeczynska-Moncznik e colaboradores demonstraram que, sob estimulação com LPS,
monócitos CD14
high
CD16
+
produziam mais IL-10, avaliando proteína e RNAm, em
comparação às demais subpopulações de monócitos, mostrando um padrão funcional
diferencial com propriedades “anti-inflamatórias” (Figura 1.4) (Skrzeczynska-Moncznik,
Bzowska et al., 2008).
1.6.3 O papel dos monócitos/macrófagos na Dengue
O primeiro evento a ser considerado durante a ativação macrofágica é o tipo de ligante
presente no microambiente. As células da linhagem monocítica são importantes elementos da
defesa imunológica que fagocitam materiais externos e que são usados para o reconhecimento
de uma grande variedade de receptores de superfície, sinalização intracelular e mudanças
complexas na ativação e repressão de genes. As funções celulares induzidas em monócitos
incluem adesão e migração alteradas, secreção de vários fatores, processamento e
apresentação do Ag a células T, e ativação de funções efetoras, incluindo a produção de uma
gama de citocinas como TNF-α, IL-1β, IL-12 e IL-6. A expressão de citocinas por estas
células é eficientemente desencadeada por estímulos de produtos bacterianos, como
lipopolissacarídeos (LPS) ou Pam3Cys (Belge, Dayyani et al., 2002). Ambas as moléculas
ligam-se ao CD14 na superfície celular com LPS agindo via co-receptor TLR-4, enquanto a
Pam3Cys age via co-receptor TLR-2. A ligação desses complexos de receptores resulta na
ativação de cascatas de transdução de sinal, que culmina com a ativação de NF-kB, expressão
de moléculas co-estimulatórias e expressão de citocinas, como IFN-α e β, TNF-α, e
mediadores inflamatórios, como NO. O TNF é a citocina mestre que regula as respostas
imunológicas por agir em outras células levando ao aumento da proliferação, expressão de
receptores e migração celular. Adicionalmente, o TNF-α regula a produção de outras citocinas
(Belge, Dayyani et al., 2002).
28
A via clássica de ativação dos monócitos/macrófagos é bastante estudada requerendo
dois sinais necessários: o primeiro é obrigatoriamente o IFN-γ, que prepara a célula para ser
ativada pelo segundo sinal, proveniente do patógeno (como LPS e proteínas virais) e citocinas
(como o TNF-α). A ativação também pode acontecer via ligantes para TLRs (com o LPS,
ácido lipoteicóico ou peptídeoglicanas) ou via IL-4 ou IL-13. Como citado, mudanças
ocorridas nessas células ativadas incluem a produção de mediadores inflamatórios como NO e
moléculas co-estimulatórias (Gordon & Taylor, 2005). Essas modificações aumentam a
habilidade dessas células em processar e apresentar os Ags e de matar patógenos. Durante
esse processo, uma grande quantidade de IL-12 também é produzida, ativando células T de
perfil Th1 a produzirem INF-γ, numa retroalimentação positiva (Gordon, 2003; Mosser,
2003). A ativação de células Th2 foi descoberta pelo estudo da ligação de complexos imunes
aos receptores Fc na superfície de monócitos/macrófagos. Observou-se que essa ligação
causava um efeito de parada imediata na produção de IL-12 e a secreção de grande quantidade
de IL-10. Apesar da produção de IL-10, essas células continuavam produzindo citocinas pró-
inflamatórias como IL-1, IL-6 e TNF. O papel da IL-10 nestas células parece ser de controle
da resposta, bem como a indução do perfil Th2 por células T (Anderson, Gerber et al., 2002).
Chen e Wang mostraram que citocinas como a IL-12, MIP-1α, RANTES, IL-1β, TNF-
α e INF-α, desempenham um importante papel na patogenia da infecção por DENV. Tais
mediadores m como função iniciar respostas Th1 e ativar células NK e linfócitos T
citotóxicos (CTLs) (Chen e Wang, 2002). Após a infecção de monócitos/macrófagos humanos
pelo DENV, citocinas e quimiocinas são liberadas em quantidades, cinéticas e durações
distintas. Como resultado, tais mediadores estariam atuando aumentando a permeabilidade
vascular e a resposta inflamatória local. Esse fenômeno estaria contribuindo para a
proliferação, ativação e manutenção de células efetoras como NK, CTLs e Th1, modificando
as respostas imunológicas do hospedeiro na infecção viral. Portanto, durante a infecção pelo
DENV, a proteção ou a patogenia é determinada pela interface da imunidade inata e
adaptativa controlada por citocinas inatas produzidas como conseqüência da interação do
vírus Dengue com seus principais alvos celulares, monócitos/macrófagos humanos. Espina e
colaboradores demonstraram que o DENV-2 pode ser eficientemente fagocitado por
monócitos/macrófagos humanos, mostrando seu papel no clearence viral (Espina, Valero et
al., 2003). Porém, uma pequena proporção delas permite a replicação viral e é fonte de
disseminação de citocinas na circulação. Reis e colaboradores caracterizaram, em um modelo
de infecção in vitro de monócitos por DENV-2, o papel de múltiplas citocinas como TNF-α,
INF-α, IL-6 e IL-10, produzidas na infecção. Quando as células infectadas eram tratadas com
dexametasona, um glicocorticóide usado para o tratamento de patologias originadas por
29
inflamação e autoimunidade, modulando um decréscimo na freqüência de monócitos
infectados, bem como na inibição da produção de citocinas. Tais resultados reforçam a busca
de substâncias como novos terápicos para o controle da doença. Tal controle estaria
envolvendo a modulação de citocinas que teriam um importante papel na replicação do vírus
((Reis, Valente et al., 2008). Com mencionado, a IL-8 também influencia na gravidade da
Dengue. Bosch e colaboradores demonstraram que, dentre as citocinas pró-inflamatórias
produzidas por monócitos humanos infectados com DENV-2, a IL-8 foi a principal citocina
secretada (Bosch, Xhaja et al., 2002). Sua expressão está relacionada com a ativação do fator
de transcrição NF-B. Interessantemente, in vitro, células endoteliais infectadas por DENV-2
também produzem IL-8 mediada pela ativação de NF-B, ativam o complemento e podem
sofrer apoptose. Uma das funções da IL-8 é promover o extravasamento capilar e, portanto,
modular a patogenia da FHD/SCD.
De acordo com a idéia de que a Dengue é uma doença aguda e de curta duração, e que
os IFN-α/γ são moléculas que induzem mecanismos de defesa antiviral, é esperado que a
replicação do DENV seja amplamente inibida em fagócitos mononucleares. Sabe-se que o NO
é produzido por monócitos ativados via IFN-γ. A via de ativação de NO é catalizada pelo
óxido nítrico sintase (NOS). Estudos em nosso laboratório mostram que monócitos isolados
de pacientes com infecção por DENV-1 se encontram ativados e expressam a enzima NOS
tipo II (iNOS) resultando na produção de NO. O bloqueio da iNOS aumenta a produção viral
identificando, assim, o papel antiviral do NO bem como um gerador de NO bloqueando a
replicação viral de DENV (Neves-Souza, Azeredo et al., 2005). Embora tenha um papel
benéfico na infecção por DENV, o NO poderia também desempenhar um papel na gravidade
da FHD provavelmente quando produzido em altas concentrações, por afetar o tônus vascular
e contribuir para a SCD (Liao, Lin et al., 2001). Alternativamente, células que interagem com
os Ags virais tornam-se provavelmente ativadas e morrem por apoptose induzida pelo vírus.
1.7 Morte Celular
A morte celular é um evento essencial tanto na vida normal dos organismos quanto
nos processos patofisiológicos que desencadeiam a doença (Lemasters, 2005). A
nomenclatura clássica distingue três principais formas de morte celular: apoptose (tipo I), a
autofagia (tipo II) e a necrose (tipo III). A apoptose compreende um processo controlado de
morte celular. Ele é orquestrado por uma cascata de eventos bioquímicos, liderando com
mudanças morfológicas e finalmente morte celular. A autofagia também é um processo
programado pelo qual células digerem parte de seu próprio material citosólico, de forma a
30
prolongar a sobrevivência celular. Ela ocorre sob condições de carência de nutrientes ou
remodelamento da estrutura intracelular para diferenciação celular. Quando essas condições
persistem a célula morre. Embora o fenótipo de células apoptóticas e autofágicas seja muito
semelhante, os eventos moleculares envolvidos em ambos os processos diferem
consideravelmente (Tabela 1.1). Finalmente, a necrose é a morte celular acidental em tecidos
ou órgãos. Ela evolui por uma conseqüente interrupção dos processos celulares. Inflamação,
câncer, lesões teciduais ou infecções podem originá-la (Bruchhaus, Roeder et al., 2007).
1.7.1 A apoptose
A apoptose aparentemente é compartilhada por todos os organismos multicelulares,
sendo um mecanismo pelo qual as células com DNA danificado podem ser eliminadas sem
prejuízo. Tal processo ativo de autodestruição celular com fatores morfológicos e bioquímicos
distintos, geneticamente regulados, culmina na ativação de uma cadeia enzimática complexa
de sistemas de sinalização intracelular, que levam à destruição de componentes essenciais à
sobrevivência das células. Ela ocorre em resposta a uma variedade de sinais e de estímulos,
tanto internos como extracelulares, incluindo deficiência de fatores de crescimento,
hormônios, citocinas, células suicidas, ativação de receptores de morte e proteases endógenas,
pela interação via granzima B/perforinas utilizadas por células do sistema imune ou ainda por
agentes virais, químicos ou físicos. Sua indução pode estar mais ou menos desregulada em
determinadas situações patológicas levando, por exemplo, ao aparecimento de cânceres,
quando defeituoso, ou ao desenvolvimento de doenças neurodegenerativas ou AIDS, quando
excessiva (Lemasters, 2005).
31
Tipo de morte
celular Características Principais eventos Função geral Papel no sistema imune
Diminuição celular; Via intrínseca (citocromo c, Seleção negativa de linfócitos T;
Condensação da cromatina; Apaf1, caspase 9); Desenvolvimento embriônico; Maturação celular;
Apoptose
Degradação proteolítica; Morte celular induzida
Corpúsculos membranares; Via extrínsica (receptores de Homeostasia celular em adulto; por ativação (ou Ag);
Dependência energética; morte, FADD, caspase 8/10); Mecanismo de morte
Sem resposta inflamatória; por citotoxicidade;
Geneticamente programada; RE
Geneticamente programada; Genes Autofágicos (Beclin 1); Balanço no deficit de energia? Defesa imune contra
Engatilhada por deprivação
de nutrientes; Via da PI3K; Programa distinto de suicídio? patógenos intracelulares;
Autofagia
Vacúolos autofágicos de
membrana dupla; Regulador Tor positivo e negativo; Apresentação de Ag via MHC II;
Degradação de proteína lisossomal;
Sem resposta inflamatória;
Morte celular passiva devido Intermediários reativos de oxigênio; Possivelmente programada quando
a depleção catastrófica de ATP; Proteases lisossomais; a apoptose ou autofagia falham; Indução de resposta inflamatória;
Necrose
Perda da integridade e
ruptura celular; Morte acidental.
Causa inflamação;
Tabela 1.1: Visão geral das mudanças celulares provocadas pelos principais mecanismos de morte celular e função de cada um, com destaque no sistema imunológico
(Adaptado de Feig e Peter, 2007).
32
1.7.1.1 Características morfológicas e bioquímicas da apoptose
A vel celular, a apoptose é caracterizada pela compactação e marginação da
cromatina nuclear e, posteriormente, citoplasmática, com formação dos corpos apoptóticos
contendo organelas íntegras. Esses corpos são fagocitados pelas células ao redor e degradados
no interior dos lisossomos. Como é sabido, as células hematopoiéticas normais possuem
uma disposição assimétrica dos fosfolipídios de membrana, como a fosfatidilcolina e
esfingomielina, localizando-se preferencialmente na sua posição externa, e a
fosfatidiletanolamida e a fosfatidilserina na sua porção interna. Com a evolução do processo
apoptótico ou autofágico, ocorre a perda dessa assimetria e a exposição da fosfatidilserina na
superfície externa da célula, que na apoptose, é seguida da quebra das alças de DNA, porém,
sem a ruptura da integridade de membrana (Vermes, Haanen et al., 1995; Merchant,
Gonchoroff et al., 2001). A nível bioquímico, o que ocorre, inicialmente, independente do
estímulo desencadeador, é a clivagem do DNA de dupla hélice nas regiões de ligação dos
nucleossomos. Com isso, há a produção de múltiplas cadeias de pares de bases. Este processo
de clivagem é feito por endonucleases endógenas e estreitamente controlada por vários genes,
como a família dos genes bcl-2 e a família dos genes ativadores de endonucleases (Vaux,
Haecker et al., 1994).
1.7.1.2 Vias de sinalização da Apoptose
O programa de apoptose pode ser engatilhado por duas vias. Embora ambas possam
funcionar independentemente, existem muitas convergências, o que permite a amplificação do
sinal de morte. A forma pela qual a célula responde à morte pode ser através do ambiente (via
extrínseca/receptores de morte) ou por sinais internos, que induzem a ativação do programa
apoptócio (via intrínseca/via mitocondrial). Independente de como ela é iniciada, a apoptose
resulta na ativação de uma classe específica de cisteína-proteases, as caspases, de extrema
importância, pois clivam proteínas celulares que culminam na desestruturação celular. As
caspases são divididas em dois grupos, aquelas denominadas iniciadoras (caspases 2, 9 e 10),
envolvidas nos eventos iniciais reguladores da apoptose, e as efetoras (3, 6 e7), que são
proteoliticamente ativadas em uma cascata conduzindo à desintegração celular. Dessa forma,
a amplificação do sinal pela cascata de caspases assegura uma ativação completa do programa
de morte celular (Feig e Peter, 2007).
33
1.7.1.3 Via extrínseca
O principal evento pelo qual se origina a apoptose consiste na transdução de um sinal
através de receptores de morte.
A via extrínseca é ativada quando TNF-α, Fas ligante ou
TRAIL, ligam-se a seus respectivos receptores, que fazem parte da família dos receptores
TNF (TNFR)/TNF: TNFR1, TRAIL-R1/2 e Fas (CD95/APO-1). Quando estimulados, eles
são recrutados para a superfície por exocitose de endomembranas. A forma mais simples de
sinalização conduz à trimerização dos receptores pelos seus respectivos ligantes. Como esses
receptores o apresentam uma atividade enzimática intrínseca, proteínas adaptadoras
associadas, como FADD (domínio de morte associado ao Fas) ou TRAPP (domínio de morte
associado ao TNFR1) ativam a cascata enzimática levando à degradação da célula (Lemasters,
2005). No entanto, outras proteínas adaptadoras poderiam ser também recrutadas, como as
TRAFs (fator associado ao TNFR) ou RIP (Receptor-Interating Protein), que teriam
propriedades anti-apoptóticas (Hsu, Shu et al., 1996). Seguindo a trimerização dos receptores
e o recrutamento das proteínas adaptadoras, cisteína-proteases inativas, também conhecidas
como pró-caspases 8 e 10, são também recrutadas e, conseqüentemente ativadas, resultando
na clivagem proteolítica. Quando clivadas, essas caspases são liberadas no citosol, onde
participam no orquestramento do processo apoptótico: a ativação da caspase-3. Quando
ativada, essa caspase promove a ativação de proteínas importantes que induzem danos ao
DNA (Feig e Peter, 2007).
1.7.1.4 Via intrínseca
Os mecanismos moleculares envolvidas na ativação da via intrínseca para a apoptose
ainda o estão totalmente esclarecidos. Ela é induzida por toxinas ou estresse causado por
carência de fatores de crescimento, instabilidade genômica, privação de energia, infecção
viral, drogas ou UV (Feig e Peter, 2007). A família dos genes bcl-2 representa um fator chave
na via de apoptose. Ela codifica duas classes de proteínas: aquelas com atividade anti-
apoptótica (por exemplo, Bcl-2 e Bcl-xl) e as com atividade pró-apoptótica (por exemplo,
Bak, Bid e Bax). A característica mais marcante dos membros dessa família é a habilidade de
formar heterodímeros, sugerindo uma competição neutralizante entre eles. Funcionalmente,
essas proteínas têm a capacidade de se associarem às membranas. Elas também carregam um
domínio C-terminal hidrofóbico, que é essencial para suas funções de membrana, como
permeabilização. Outro componente importante da maquinaria de morte celular, como
citado, é o sistema proteolítico envolvendo as caspases (Lemasters, 2005).
34
A passagem de elétrons ao longo da cadeia respiratória na mitocôndria libera energia
suficiente. O transporte de elétrons gera um gradiente de voltagem por toda extensão da
membrana interna mitocondrial (∆Ψm). A energia liberada é usada para bombear os prótons
(H
+
) para fora da membrana interna mitocondrial, criando um gradiente eletroquímico que é
positivo e ácido do lado de fora (no espaço intermembranar) e negativo e alcalino do lado de
dentro (matriz mitocondrial). Sabe-se que a mitocôndria desempenha um papel central em
uma ampla variedade de sinais apoptóticos, em diversos tipos celulares. Alterações no
potencial de membrana externa mitocondrial (∆ψm) e a produção de espécies reativas de
oxigênio vêm sendo relacionadas com os eventos iniciais que envolvem todo o sistema
apoptótico. Quando sinais de morte alcançam a mitocôndria, levam ao colapso do ∆ψm, bem
como a uma transição da permeabilidade mitocondrial (TPM). Ao mesmo tempo, a água do
espaço entre membranas passa para a matriz mitocondrial, levando à ruptura da organela e
conseqüente liberação de proteínas pró-apoptóticas para o citoplasma (Loeffler e Kroemer,
2000; Gupta, 2003).
Os diferentes sinais indutores de apoptose são detectados pela mitocôndria, fazendo
com que ocorra um desacoplamento da cadeia respiratória e conseqüente liberação de
citocromo c e proteínas ativadoras da apoptose para o citosol. A alteração no ∆ψm promove
mudanças nas membranas interna e externa mitocondrial, que estariam envolvidas na abertura
de canais iônicos voltagem-dependentes (CIVD) e, conseqüentemente, a liberação desses
mediadores de seu espaço intermembranar e que amplificam a cascata apoptótica. Além disso,
a membrana mitocondrial é local de muitos dos membros da família Bcl-2 e seu papel ativo
na indução/inibição no programa mitocondrial de apoptose implicam que eles sejam parte do
mecanismo efetor de morte baseado nesta organela (Gross, 2001; Dejean, Martinez-Caballero
et al., 2006). Elas poderiam interagir na abertura desses canais e promover a permeabilização
da membrana externa mitocondrial (Schwarz et al., 2007). Além da liberação de moléculas
pela mitocôndria, a indução da TPM leva à perda da homeostasia celular, interrompendo a
síntese de ATP e aumentando a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) (Kroemer e
Reed, 2000). O aumento nos níveis de ROS leva à oxidação de lipídios, proteínas e ácidos
nucléicos, aumentando o colapso do ∆ψm (Green e Kroemer, 2004). A resposta da
mitocôndria ao dano oxidativo é uma via importante no início da apoptose. Além disso, é
sabido que as ROS induzem a ativação das caspases 9 e 3 (Gottlieb, Vander Heiden et al.,
2000; Gottlieb, 2001). Foi descrita a participação, na via mitocondrial, de uma flavoproteína
conhecida por Fator Indutor de Apoptose (AIF). A AIF migra da mitocôndria para o núcleo
após um estímulo de apoptose e induz a condensação da cromatina e fragmentação do DNA
em fragmentos de 50 kb, independente da ativação das caspases (Broker, Kruyt et al., 2005).
35
De acordo com a via extrínseca, seguindo a trimerização dos receptores de morte e o
recrutamento das proteínas adaptadoras, pró-caspases são também recrutadas e,
consequentemente, ativadas, implicando na clivagem proteolítica. A caspase 8, iniciadora,
ativa a caspase 3 levando à desintegração celular. A caspase 8 também cliva uma proteína
citosólica, a p22 Bid, no seu fragmento carboxi-terminal (Bidt). Essa tem um importante
papel, pois interconecta tanto a via extrínseca quanto a intrínseca. Quando clivada, o
fragmento Bidt é translocado para a mitocôndria e engatilha a ativação dos membros da
família Bcl-2 Bad e Bax e, conseqüente a liberação do citocromo c, um importante fator pró-
apoptótico. A função da Bidt em promover a liberação do citocromo c estaria relacionada à
sua habilidade de formar canais em membranas artificiais (Figura 1.5). Porém, como citado
anteriormente, outros fatores estariam envolvidos na abertura de CIVDs ou poros na
membrana mitocondrial. Na via extrínseca, a permeablização da membrana mitocondrial
serve como uma alça amplificadora da ativação de caspases efetoras (Schwarz, Andrade-
Navarro et al., 2007; Maniati, Potter et al., 2008).
A função do citocromo c consiste em modular a ativação do fator Apaf-1 (fator 1
ativador de protease apoptótica) para ativar a pro-caspase 9 em um complexo conhecido como
apoptossomo. Consequentemente, a caspase 3 é ativada numa cascata dependente de ATP.
Proteínas com funções pró-apoptóticas também são liberadas por esses canais, como a
Smac/DIABLO, que bloqueia IAPs, proteínas inibidoras de apoptose que inibem a caspase 9
(Lemasters, 2005). O oncogene p53 também é um importante regulador, tanto no ciclo celular
como na apoptose. O sinal que promove sua ativação consiste em dano ao DNA. Sua ativação
leva à indução de genes e expressão de proteínas pro-apoptóticas (PUMA, NOXA, Mcl-1),
que, quando translocadas para a mitocôndria, interagem inibindo proteínas anti-apoptóticas e
estimulando a via apoptótica mitocondrial. Como mencionado, a mitocôndria desempenha um
papel central em uma ampla variedade de sinais apoptóticos, tendo sua resposta bastante
regulada por proteínas da família do gene Bcl-2. Ela não está envolvida na liberação de
vários mediadores que promovem a amplificação da cascata apoptótica, como também
proteínas com atividade anti-apoptótica. Tais proteínas, ao se fixarem no citocromo c, o
impedem de modular a ativação da cascata enzimática (Figura 1.5) (Yang, Liu et al., 1997).
O proto-oncogene Bcl-2 foi o primeiro membro da família Bcl-2 a ser descoberto. O
gene codifica uma proteína, Bcl-2, que inibe a apoptose. Embora a Bcl-2 seja integrada à
membrana interna mitocondrial, existem múltiplos sítios intracelulares para sua expressão,
incluindo RE, envelope nuclear de vários tecidos com exceção de tecido muscular e hepático
(Eguchi, Ewert et al., 1992; Chleq-Deschamps, Lebrun et al., 1993; De Jong, Prins et al.,
1994). Todas as células hematopoiéticas e linfóides contêm a proteína Bcl-2, além de muitas
36
células epiteliais (Carson e Ribeiro, 1993). Sua função de proteger a célula da morte celular
vem sido demonstrada em rios modelos experimentais. A expressão inapropriada do Bcl-2
lidera com o crescimento neoplásico numa taxa menor do que outros oncogenes induzidos.
Além do papel das proteínas da família Bcl-2 inibidoras de caspases, vários outros
mecanismos regulatórios existem para inibir a morte celular. Dentre esses, podemos citar o
papel das IAPS. Os receptores de morte também estimulam, através de proteínas adaptadoras,
sinais anti-apoptóticos. Quando ativado por essa via anti-apoptótica, fatores de transcrição são
translocados para o núcleo e ativam a expressão de genes, incluindo as IAPs, iNOS e outros
fatores de sobrevivência.Outra via inibitória da apoptose compreende a via da PI3 kinase
inibindo a proteína pro-apoptótica Bad (Figura 1.5) (Lemasters, 2005).
O principal regulador das decisões de vida ou morte celular é o fator de transcrição
NF-κB. Uma variedade de mecanismos existe para modular sua atividade e, portanto, afetar o
destino da célula. Sinais como citocinas pró-inflamatórias, incluindo TNF-α, produtos
microbianos como LPS e infecções virais, ativam sua função de ligação em regiões
promotoras de genes. Essa ligação leva à codificação de uma variedade de fatores importantes
envolvidos na adesão celular, controle do crescimento celular, funções imunológicas e
controle apoptótico (Karin e Lin, 2002). Um dos estímulos para a ativação de NF-κB
geralmente compreende o estresse oxidativo. Com isso, radicais oxidativos podem causar
danos à membrana mitocondrial e, finalmente desencadear a morte celular. Um dos genes-
alvo para a ação do NF-κB é o gene p53 (Tan, Yu et al., 2003). Ao contrário de seu papel
antiviral em promover a produção de uma série de citocinas inflamatórias, uma grande
variedade de vírus são capazes de ativar NF-κB em células infectadas (Liao, Lin et al., 2001).
O RE também é uma importante fonte de sinais pró-apoptóticos. Suas principais
funções incluem a síntese de proteínas e o armazenamento para uma pida mobilização de
cálcio. Estresse oxidativo e outras perturbações celulares podem inibir a retenção e ativar as
vias de liberação de cálcio do RE para o citosol. O acúmulo de cálcio no citosol é captado
pela mitocôndria. Isso induz a uma permeabilidade mitocondrial dependente da abertura de
canais de cálcio levando a liberação de cálcio via RE também ativa a Fosfolipase A2 (PLA2)
e a formação de ácido aracdônico, outro indutor da permeabilidade mitocondrial. A depleção
de cálcio pelo RE altera também os mecanismos envolvidos no enovelamento e montagem de
proteínas recém-formadas no lúmen de suas cisternas. Inibidores de glicosilação, toxinas e a
síntese de proteínas mutantes podem também gerar um “stress” no RE. Essas disfunções na
organela promovem a ativação de certas proteínas que estariam sendo inibidas por chaperonas
dependentes de lcio. Essas proteínas ativas iniciam, então, as vias de sinalização
apoptóticas, associando-se a fatores ativadores de caspases e quinases (Figura 1.5).
37
Os lisossomos estão envolvidos no processo de morte celular associado à autofagia.
Durante a autofagia, elementos ao redor do RE e porções do citoplasma são
compartimentalizadas em vacúolos de dupla-fita denominados autofagossomos. Estes se
fundem com os lisossomos para formar os autolisossomos. Desta forma, constituintes
celulares são removidos e digeridos. Algumas evidências sugerem que a autofagia possa
desencadear a apoptose, em certas circunstâncias. Enzimas provenientes de
lisossomos/autolissosomos como catepsinas e outras hidrolases, podem promover a
permeabilização mitocondrial e a ativação de caspases (Gozuacik e Kimchi, 2004; Boya,
Gonzalez-Polo et al., 2005). A permeabilização lisossomal também estaria correlacionada a
apoptose dependente de receptores estimulados por TNF-α. O sinal desencadeado por esta
citocina promove a permeabilização lissosomal em decorrência da clivagem da proteína Bit
por uma via dependente de caspase 8. Dessa forma, a liberação fatores lisossomais
contribuem para a ativação da via mitocondrial apoptótica (Figura 1.5) (Stoka, Turk et al.,
2001; Bidere, Lorenzo et al., 2003).
1.7.1.5 As proteínas quinases (MAPKs) e seu papel na apoptose
MAPKs e fosfatase são enzimas responsáveis por determinar o estágio de fosforilação
de certas proteínas e, assim, o sinal a ser transduzido por elas. As vias de sinalização
envolvendo as MAPKs desempenham um importante papel na transdução de sinal,
modulando muitos eventos celulares incluindo ativação celular, respostas imunes e apoptose
(Schaeffer e Weber, 1999; Ludwig, Pleschka et al., 2006). A via da JNK regula a expressão
de IFN-β, tendo um importante papel como mediador de respostas antivivais (Ludwig,
Pleschka et al., 2006). A ativação da JNK também modula a apoptose. A depleção de cálcio
do RE promove a ativação da quinase IRE1 que, quando ativada, promove a ativação da
caspase 12 e a JNK. A caspase 12 ativa a caspase 3 e a JNK junto com outra proteína, ativa a
via mitocondrial de morte celular (Figura 1.5) (Lemasters, 2005). A MAPK p38 também é
induzida principalmente por um ambiente de estresse e por citocinas e estímulos pró-
inflamatórios, tais como LPS, IL-1, RANTES, IL-18, TGF-β e TNF-α, incluindo infecções
virais, sugerindo seu papel controlador de respostas inflamatórias (Lee, Cheung et al., 2005).
Também modelos experimentais transgênicos vêm evidenciando as funções da MAPK p38 no
mecanismo de apoptose em células-alvo (Ashwell, 2006; Schito, Demidov et al., 2006). A
ativação da via da ERK geralmente funciona para proteger a célula de uma variedade de
estresses celulares. Suas principais funções compreendem promover a diferenciação e
proliferação celular. Alguns trabalhos vêm mostrando que o fator inibidor de macrófago
38
(MIF) induz ERK1/2 via geração de AA em cultura (Sawatzky, Willoughby et al., 2006). O
ácido aracdônico (AA) é um importante indutor de abertura de poros na membrana externa
mitocondrial na via apoptótica mitocondrial (Figura 1.5). Portanto, a via da ERK pode ser
responsável, parcialmente, pele proliferação ou morte celular. A fludarabina, um análogo
denucleosídeo, foi originalmente desenvolvido para o tratamento de enfermidades
hematológicas. Vem sido demonstrado que a exposição de linhagem de célula humana
monocítica a fludarabina estaria associada com a apoptose. Calloti e colaboradores mostraram
que esse composto induz a via da em células monocíticas de pacientes com leucemia
linfocítica crônica, que corresponde o principal alvo terapêutico da fludarabina (Fernandez-
Calotti, Gamberale et al., 2006).
Figura 1.5: Esquema ilustrativo das vias de sinalização e principais fatores envolvidos na apoptose, desde
a membrana plasmática, mitocôndria, núcleo, RE e lisossomos (Lemasters, 2005).
39
1.8 A apoptose na infecção pelo DENV
A apoptose é um fator regulatório do sistema imune, fundamental na resposta imune
inata à infecção viral. Ela pode ser dependente do Ag e iniciada por sinais através de
receptores de morte, como CD95 (Fas), ou ocorrer por negligência, quando receptores Ag-
específicos o o estimulados. Interferir no mecanismo de apoptose, inibindo-a ou
estimulando-a, pode representar uma estratégia viral eficaz para escapar do sistema
imunológico e garantir sua sobrevivência e replicação ou facilitar disseminação do patógeno
no organismo. Por outro lado, a apoptose pode representar um mecanismo de resposta do
hospedeiro apropriado para limitar a replicação viral (Myint et al, 2006). De fato, diversos
trabalhos têm demonstrado que uma variedade de proteínas virais é capaz de interferir nas
vias apoptóticas, seja por homologia estrutural ou por mimetismo funcional com os fatores
que intervém ao nível da transdução de sinais pró ou anti-apoptóticos. Além disso,
moduladores inflamatórios induzidos pelos patógenos podem também interferir nos
mecanismos de morte celular (Barber, 2001).
A desregulação da apoptose é vista como um fator na depleção de linfócitos T CD4
em infecção por HIV na anergia associada a infecções por sarampo e zoster varicela em
infantes, e em hepatócitos em hepatites virais (Myint et al, 2006). A apoptose vem sendo
descrita em várias infecções por Flavivírus. Mais do que isso, ela vem sendo responsável por
um mecanismo citopatológico em resposta à infecção por DENV in vitro e in vivo em vários
tipos celulares (Catteau, Kalinina et al., 2003). A infecção in vitro de células neuroblásticas,
Kuppfer, endoteliais, hepatócitos e linfócitos pode induzir apoptose. Citocinas secretadas por
linfócitos T também induzem apoptose de células infectadas, sugerindo um mecanismo de
controle da viremia, embora na patogenia da FHD/SCD isso não esteja totalmente esclarecido.
Lamonta e colaboradores (Limonta, Capo et al., 2007) demonstraram ocorrer apoptose em
diferentes tecidos de casos fatais de FHD/SCD. Estudos testando uma cepa neurovirulenta
mutante do vírus DENV-1 (FGA/89) mostraram a capacidade desta em induzir apoptose em
neurônios corticais e em regiões do hipocampo de camundongo neonato. Também foi
observada apoptose em linhagens delulas neuronais de murinos e humanos, indiando que a
replicação do DENV induz apoptose sugerindo um fenômeno similar na FHD/SCD (Despres
et al.,1998; Courageot et al., 2003). Matsuda e colaboradores mostraram que a apoptose
induzida por DENV-2 em linhagens de células humanas de hepatoma (HepG2) foi dependente
de Apo2L/TRAIL, sugerindo que a infecção possa causar um ambiente de citocinas no tecido
hepático e contribuir para a indução da apoptose em células não infectadas (Matsuda,
Almasan et al., 2005).
40
A produção intracelular de proteínas virais é considerada essencial para a indução de
apoptose pelo DENV. As proteínas M e NS3 vêm mostrando possuir atividade pro-apoptótica
(Courageot, Catteau et al., 2003). Além disso, alguns estudos demonstram a apoptose
mediada por mecanismos imunes em células endoteliais que poderiam estar relacionados com
o extravasamento de plasma na FHD/SCD (Lin, Lei et al., 2002; Cardier, Marino et al.,
2005); (Lin, Lei et al., 2002; Courageot, Catteau et al., 2003). Anticorpos específicos para a
NS1 em células endoteliais infectadas resultam na ativação celular e conseqüente inflamação
por um mecanismo de mimetismo molecular. Adicionalmente, o papel de proteínas virais do
Dengue na indução da apoptose em células–alvo vem sendo sugerido por Catteau e
colaboradores (Catteau, Roue et al., 2003). Tal estudo mostrou propriedades pró-apoptóticas
de resíduos de aminoácidos da proteína M viral (ApoptoM), provocando disfunção
mitocondrial e ativação de caspase em linhagens de células epiteliais HeLa infectadas com
DENV-2. A apoptose mediada por Fas/FasL é uma importante via para ativação da morte
celular dependente de Ag. A via do Fas/FasL também é induzida em infecções por DENV,
com o envolvimento de clones de linfócitos T específicos para a NS3. Durante a infecção
aguda, a maioria das células T específicas para NS3 do DENV expressam o receptor Fas e
têm baixos níveis de Bcl-2. O grande percentual de células apoptóticas sugere que exista uma
alta taxa proliferativa balanceada por apoptose em massa de linfócitos T durante a fase aguda
da Dengue (Mongkolsapaya, Dejnirattisai et al., 2003). Myint e colaboradores mostraram
níveis elevados de CD95 solúvel (CD95s) em sujeitos com FHD, comparados com aqueles
com FD, refletindo o elevado grau de ativação dessas células e subseqüente apoptose mediada
por Fas nos indivíduos graves ((Myint, Endy et al., 2006). Além desses, outro trabalho vem
demonstrando o papel da proteína C na apoptose de hepatócitos infectados por DENV. Nesse
estudo, os autores demonstraram que a proteína do vírus interage com a proteína Daxx,
associada ao domínio de morte do receptor Fas. A estimulação do receptor Fas causa a
translocação da Daxx do núcleo para o citoplasma, onde interage com um fator que promove
a ativação da JNK (Limjindaporn, Netsawang et al., 2007).
Tem sido considerado que a ação do NO em células-alvo infectadas pelo vírus pode
envolver mecanismos apoptóticos Lin e colaboradores mostraram que Acs de camundongos
anti-NS1 do DENV induzem apoptose de lulas endoteliais, via expressão de iNOS e
produção de NO (Lin, Lei et al., 2002). Os possíveis mecanismos envolvidos na produção de
NO estariam também relacionados ao aumento da regulação de p53 e da proteína pró-
apoptótica Bax e uma baixa regulação de Bcl-2 e Bcl-xl. O aumento na regulação de proteínas
pró-apoptóticas levaria à ativação da via das caspases, culminando na apoptose dessas células
e a disfunção endotelial.
41
Os mecanismos intrínsecos que modulam apoptose em infecções virais vêm sendo
extensamente estudados. Alguns trabalhos mostram o papel de MAPKs na indução ou
inibição da apoptose em células infectadas por diferentes sorotipos do DENV. Liao e
colaboradores demonstraram que o salicilato, uma droga anti-inflamatória, não apenas inibe a
replicação do DENV-2 em cultivo celular, mas também previne a apoptose dessas células em
parte, por inibir a ativação da MAPK p38 (Liao, Lin et al., 2001). Também foi observado que
o DENV-2 pode desencadear apoptose neuronal através da ativação da fosfolipase (PLA2),
geração de anion superóxido, liberação de citocromo c, ativação da caspase 3 e ativação de
NF-κB (Jan, Chen et al., 2000). Espina e colaboradores mostraram que, não uma efetiva
atividade fagocítica de partículas virais de DENV-2, mas que essas células infectadas também
sofrem apoptose e, interessantemente, a presença do vírus é crucial para desencadear esse
processo. Além disso, um aumento na expressão de TNF-α, um indutor da apoptose em
diferentes tipos celulares (Jaeschke, Farhood et al., 2000; Niwa, Hara et al., 2000; Liao, Lin et
al., 2001; Espina, Valero et al., 2003)
Embora ainda não esteja esclarecido como o efeito da infecção pelo DENV modula
esse processo, os resultados citados acima sugerem a importância do conhecimento das vias
de sinalização desencadeadas por células infectadas por DENV que, eventualmente lideram
com a apoptose. Dessa forma, contribuição desses estudos leva a uma melhor compreensão
dos mecanismos envolvidos na patogenia da doença. O DENV pode induzir apoptose de
forma a disseminar a progênie viral a células vizinhas através da fagocitose de corpos
apoptóticos, num processo mimetizando a resposta imune ou, inibir a morte celular e garantir
sua sobrevivência e replicação. Uma vez que monócitos/macrófagos representam um dos
principais alvos da infecção por DENV e têm um papel essencial na gravidade da doença,
seria de extrema relevância conhecer os processos que modulam os efeitos da interação entre
o vírus e essas células, enfatizando as vias de sinalização envolvidas nos mecanismos de
morte celular.
42
2. OBJETIVO
43
2.1 Objetivo Geral
Estudar a interação vírus-célula hospedeira utilizando como modelo a infecção in vitro
de monócitos humanos primários com vírus DENV-2, com ênfase especial nos mecanismos
de ativaçãoc e apoptose.
2.2 Objetivos específicos
1. Determinar as taxas de infecção por citometria de fluxo e a presença do antígeno por
microscopia confocal em monócitos humanos infectados com DENV-2;
2. Avaliar a expressão de moléculas de ativação (CD16) em monócitos humanos
infectados com DENV-2;
3. Detectar por citometria a taxa de apoptose e algumas vias relacionadas em monócitos
infectados, utilizando diversos marcadores;
Apoptose precoce: Exposição de fosfatidilserina (Anexina-V
+
PI
-
)
Detecção de receptor de morte Fas
Detecção de proteína anti-apoptótica Bcl-2
4. Determinar a ativação da apoptose pela via mitocondrial de apoptose em monócitos
infectados, medindo-se o ∆ψm por FACS e microscopia confocal.
44
3. METODOLOGIA
45
3.1 Cepa viral
A cepa DENV-2 padrão internacional de origem asiática (16681), fornecida pelo Dr.
Scott Halstead do Instituto Militar de Pesquisa Walter Reed, Maryland/EUA, foi utilizada nos
ensaios de infecção. O lote 13, passagem 2 em células LLC MK2 (célula epitelial de rim de
macaco Rhesus), foi crescido em lulas do clone C6/36 originadas de glândula salivar de
mosquito A. albopictus. O vírus foi inicialmente ativado em tubos de ensaios contendo
monocamada de células C6/36. A cultura foi mantida a 28
o
C, com observação diária de 7 a 10
dias para verificação do efeito citopático (CPE). Quando observado mais de 50% de CPE na
cultura, o sobrenadante foi recolhido, aliquotado e, posteriormente, congelado a -70 ºC. A
presença do vírus nas células foi detectada por imunofluorescência indireta.
3.2 Cultivo de células C6/36 e produção de massa viral
Células C6/36 de mosquito A. albopictus foram cultivadas em garrafas de 150 cm²
com 50 mL de meio Leibovitz (L-15) suplementado com 2 mL de bicarbonato de sódio (7,5%
p/v); L-glutamina 1%; fungizona 0,4%; penicilina-estreptomicina 1%; aminoácidos não-
essenciais 0,5%; triptose fosfato 10%; e SFB 10%. As culturas foram incubadas em estufa a
28°C aa formação da monocamada completa. Em seguida, foram utilizadas para produção
de massa e titulação viral. O isolamento e produção do estoque viral foi realizado em garrafas
de cultura celular de 150 cm
3
, utilizando clones de células C6/36 com 5 mL de meio L-15
suplementado sem SFB. Foram adicionados 3 mL de inóculo do vírus diluído 1/10 em meio
L-15. Após 90 min de adsorção em estufa 28°C, o inóculo viral foi retirado e o sobrenadante
centrifugado e aliquotado. À cultura foi adicionado 50 mL de meio L-15 suplementado com
2% de SFB, 40 µL de BM-Cyclin 1 e 20 µL de BM-Cyclin 2 (ação anti-micoplasma). As
garrafas foram mantidas a 28ºC por um período de 5 a 10 dias, com observação diária para
verificação da presença de efeito citopático (CPE). Quando observado mais de 50% de CPE
na cultura, o sobrenadante foi recolhido, centrifugado a 1200 RPM por 10 min (Beckman GS-
15R), aliquotado e armazenado a -70°C para posterior titulação. A presença do vírus nas
células foi detectada por imunofluorescência indireta por observação em microscópio de
fluorescência utilizando filtro para fluoresceína (FITC). A massa viral de DENV-2 (16681)
utilizada nos experimentos com monócitos foi obtida na sexta passagem celular em células
C6/36 e recuperada no nono dia após infecção.
46
3.3 Titulação e diluição do estoque viral
Para a titulação viral do DENV-2, foram utilizadas microplacas de 96 poços contendo
camada confluente de células C6/36. A cultura foi mantida por um período de 7 a 10 dias em
estufa a 28ºC, com observação diária para verificação da presença de efeito CPE. Quando
observado mais de 50% de CPE na cultura, parte do sobrenadante foi descartado e a cultura
celular, com cada diluição do vírus, ressuspendida e depositada em lâminas fixadas com
acetona por 5 min. Estas foram marcadas com anticorpo primário anti-dengue 1/100 e
secundário anti-IgG de camundongo marcado com FITC 1/50. A leitura das lâminas foi feita
em microscópio óptico de fluorescência. Para o cálculo do tulo viral, foi utilizada a fórmula
de Reed e Munch (1938) e, segundo os cálculos, o titulo viral foi de 1,37x10
-8
TCID
50
/ mL.
TCID
50
(do inglês 50% tissue culture infectious dose).
Diluição # poços
positivos
# poços
negativos
Total positivo Total negativo Razão %
10
-1
10
-2
10
-3
10
-4
10
-5
10
-6
10
-7
10
-8
10
-9
10
-10
10
-11
Fórmula de Reed & Müench:
(nº % imediatamente acima de 50%) – (% abaixo 50%)____________ = 50 – (% imediatamente abaixo 50%)
dose imediatamente acima de 50% – dose imediatamente abaixo 50% X – dose imediatamente abaixo 50%
A diluição do estoque viral de 1/5 mostrou-se adequada para a infecção de culturas de
monócitos humanos, pois, obteve infecção de pelo menos 50% dos monócitos humanos
durante os ensaios (TCID
50).
47
3.4 Obtenção de leucócitos mononucleares do sangue periférico
As células mononucleares do sangue periférico (PBMCs) foram obtidas de doadores
saudáveis do Banco de sangue HEMOCENTRO no Hospital Universitário Clementino
Fraga, UFRJ. As bolsas de fase leucocitária “Buffy coat” continham, em dia, 50 mL de
volume celular e foram doadas após confirmação de testes sorológicos negativos para VDRL
(Sífilis) e Chagas (hemaglutinação/ELISA), Hepatites HbsAg , anti-HCV, anti-HIV 1 e 2 e
anti-HTLV-1 e 2 (ELISA). A liberação para o uso das bolsas foi obtida mediante confirmação
de sorologia negativa.
3.5 Isolamento e cultura de monócitos do sangue periférico
Os PBMCs, obtidos a partir de bolsas de Fase Leucocitária Buff Coat, foram diluídos
1:2 em meio RPMI 1640 suplementado com 1% de L-glutamina (5 mL), 1% de antibiótico
penicilina-estreptomicina (5 mL) e 20 mM de HEPES, totalizando um volume final de 100
mL. O volume de 1/4 do sangue diluído (aproximadamente 25 mL) foi cuidadosamente
adicionado sobre 15 mL de Ficoll-Paque em tubo do tipo Falcon estéril de 50 mL. Em
seguida, o gradiente foi centrifugado a 1500 rpm durante 30 min. à temperatura ambiente.
Após centrifugação, o anel de leucócitos, que se forma na interface entre o meio RPMI 1640 e
o Ficoll, foi recuperado e submetido a três lavagens, adicionando 20 mL de meio RPMI com
posterior centrifugação a 1500 rpm por 10 min a 20
o
C. Após as lavagens os leucócitos totais
foram ressuspendidos 1/10 em meio RPMI sem SFB e, em seguida, acondicionados em
garrafas plásticas de cultura de 150 cm
3
e incubados em estufa a 37
o
C / 5% CO
2
por 90 min.
Após esse período, o sobrenadante foi descartado e foram realizadas mais duas lavagens
consecutivas com meio a 8 ºC para a retirada de células não-aderentes. A população aderente,
rica em monócitos, foi recuperada com o auxílio de um raspador e meio RPMI 1640 contendo
10% de SFB, centrifugadas a 1500 rpm por 10 min. Uma alíquota de suspensão celular foi
diluída (1:10) em Azul de Tripan (0,2%) para verificar a viabilidade e concentração celular
após a aderência. A concentração celular foi ajustada para 2,5 x 10
5
ls/poço (câmaras
Labtech em lâminas) e para 1 x10
6
células por poço (em placas de 24 poços). A suspensão
celular, 1 mL por poço, foi distribuída em placas de 24 poços, e em seguida incubada numa
estufa com 5% de CO
2
à 37 ºC por 24 horas. Para minas Labtech, à suspensão celular foi
adicionado 300 uL por poço.
48
3.6 Infecção dos monócitos com DENV-2
Após 24 horas de infecção em culturas ricas em monócitos, o sobrenadante das placas
foi retirado e adicionado 300 µL do DENV-2 em placa de 24 e 50 µL em lâminas Labtech,
diluído em meio RPMI sem SFB. As placas foram incubadas a 37
o
C / 5% CO
2
por duas
horas. Após adsorção, o inóculo foi descartado e os poços completo com meio RPMI
completo com 2% SFB (1 mL / poço da placa de 24 e 300 µL/poço de Labtech), deixando-se
incubar por períodos que variaram de 0 e 120 horas. Após cada tempo, as células foram
recuperadas e utilizadas para os diferentes ensaios. Para o controle negativo, foram utilizados
vírus inativado por calor, mantendo-se por 30 min em Banho Maria” a uma temperatura de
56 °C. Para controle positivo da apoptose foi utilizada Brefeldina A (BRF A) nas
concentrações de 0,5/1/10 µg/mL, obtidos a partir de uma alíquota estoque na concentração
de 5 mg/mL.
3.7 Cinética de infecção
Para o estabelecimento do melhor dia de infecção com DENV-2, as células infectadas
foram incubadas por um período de 5 dias. Diariamente as lulas foram recuperadas por
raspagem e foi realizada a marcação intracelular do antígeno viral, avaliando-se
quantitativamente por citometria de fluxo (FACS) (FACSCalibur BD/FIOCRUZ - Pavilhão
Carlos Chagas). A análise dos resultados foi feita pelo programa FlowJo (FreeStar Co.)ou
Summit (Dako).
3.8 Imunofluorescência em cultura de monócitos infectados com DENV-2
Para a avaliação qualitativa da morfologia dos monócitos foi utilizada a microscopia
confocal de fluorescência (UFRJ - Instituto de Bioquímica Médica / FIOCRUZ Pavilhão
Gomes de Faria). Os fluróforos utilizados foram: Alexa flúor 488 (Excitação: 488
nm/Emissão: 519 nm Fluorescência verde); DAPI (4',6-Diamidino-2-Phenylindole)
(Excitação: 358 nm/ Emissão: 461 nm Fluorescência azul); DIOC
6
(excitação: 488
nm/Emissão: 540 nm Fluorescência verde) e Hoescht 33342 (Emissão: 346 nm/ Emissão:
460 nm – Fluorescência azul). Para a visualização nuclear utilizou-se DAPI
e Hoescht 33342.
O DAPI é um fluorocromo permeável a membrana plasmática, altamente específico e sensível
para marcar DNA de dupla fita. Semelhante, o Hoechst 33342 é permeável a célula, ligando-
se ao DNA celular, inserindo-se preferencialmente entre os pares de bases A-T.
49
3.8.1 Detecção do vírus em monócitos infectados
Para análise da imunofluorescência, a cultura de monócitos foi feita no sistema de
cultivo em câmaras sobre lâminas (Labtech). As células foram diretamente fixadas em 100 µL
de paraformaldeído 2% contendo Triton 0,2%. Em seguida, foi adicionado 100 µL de PBS-
BSA contendo 0,15% saponina e as lâminas foram incubadas por 10 min. Após, adicionou-se
100 µL de solução de bloqueio (PBS 1x pH 7.4, BSA 1%, azida 0,1% e 2,5% de plasma
humano inativado), incubando-se por 30 min/4ºC. Foi adicionado 20 µL de anticorpo
primário anti-Dengue diluído 1/100 em PBS-BSA contendo 0,15% saponina, incubando por
60 min/4ºC. Em seguida, adicionou-se o anticorpo secundário anti-mouse IgG-Alexa 488®,
diluído 1/400 em PBS-BSA contendo 0,15% saponina, por 30 min/4ºC. Ao término dessa
etapa, as lâminas foram lavadas por duas vezes, incubando-se por 5 min em PBS-BSA e, ao
final, retirando-se o sobrenadante. Adicionou-se 50 µL de DAPI, (1,2 µL de DAPI para 1 ml
de tampão). As células foram encubadas com esse corante por 5 min. a temperatura ambiente.
Em seguida, o corante foi retirado e as lâminas lavadas com água destilada. Elas foram,
posteriormente, desmontadas, rinsadas em água destilada e deixadas secando à temperatura
ambiente. As lâminas foram montadas em glicerol (Merck-EUA) e lamínula, seladas com
esmalte e observadas por microscopia confocal.
3.8.2 Detecção de alteração no ∆ψm em monócitos infectados
Para análise da imunofluorescência, a cultura de monócitos foi feita no sistema de
cultivo em câmaras sobre lâminas (Labtech). Após 48 horas de infecção, retirou-se o
sobrenadante da cultura. As células foram lavadas com PBS 1x duas vezes seguindo
incubação por 5 min à temperatura ambiente. Após retirar o sobrenadante, foram adicionados
40 µL do marcador nuclear Hoescht 33342 em uma concentração de 10 µg/mL por 30 min. As
lâminas foram, então, lavadas com PBS 1x e foi retirado o sobranadante. Em seguida, foram
adicionados 40 µL do marcador fluorescente de ∆ψm, 3,38-dihexiloxadicarbocyanine
(DIOC
6
) a 20 nM. Para a marcação nuclear foi utilizado fluorocromo Hoechst 33342. As
lâminas foram encubadas no escuro a temperatura ambiente por 25 min. Após o período de
incubação, elas foram lavadas com PBS 1x duas vezes com período de incubação de 5 min.
Após retirar o sobrenadante, as lâminas foram desmontadas, mantidas úmidas e montadas em
lamínula, selando com esmalte e observadas por microscopia confocal.
50
3.9 Análise por Citometria de Fluxo
A técnica FACS foi utilizada para se avaliar quantitativamente os diferentes dados
obtidos nessa dissertação, de forma rápida e precisa. O modelo usado foi o FACSCalibur BD.
Nesse estudo, os Acs com fluorocromo utilizados para a marcação extra e/ou intracelular
foram selecionados de forma as fluorescências emitidas fossem detectadas pelo mesmo
aparelho. Os flurocromos utilizados nessa dissertação foram: Alexa Flúor 488 (Excitação: 488
nm/Emissão: 519 nm Fluorescência verde) lido no FL-1; FITC (Excitação: 490-495
nm/Emissão: 520 nm Fluorescência verde) lido no FL-1; R-PE (Excitação: 480-565
nm/Emissão: 578 nm Fluorescência laranja) lido no FL-2; PE-Cy5 (Excitação: 480-565-650
nm/Emissão: 670 nm Fluorescência vermelha) lido no FL-3; APC, Alexa Flúor 647
(Excitação: 650 nm/Emissão: 660 nm – Fluorescência amarela) lido no FL-4.
3.9.1 Marcação extracelular
3.9.1.1 Detecção de marcadores de superfície característicos dos monócitos
Após recuperar as células infectadas por raspagem em temperatura fria e transferi-las
para tubos do tipo eppendorf, elas foram centrifugadas a 1200 RPM por 7 min (Beckman GS-
15R), lavadas em solução de lavagem e novamente centrifugadas, desprezando, ao final, o
sobrenadante. Após, as lulas foram bloqueadas com 50 µL de solução de bloqueio por 30
min/4ºC para impedir marcações inespecíficas via receptores Fc. As células foram, em
seguida, lavadas com solução de lavagem e centrifugadas a 1200 RPM por 7 min. Após
desprezar o sobrenadante, o pellet foi ressuspendido em 20µL de anticorpos específicos
diluídos em solução de lavagem. Todos foram incubados por 30 min a 4ºC. Seguindo outra
lavagem, as células foram ressuspensas em 300 µL de paraformaldeído 2% e transferidas para
tubos de citometria. A análise dos resultados foi feita pelo programa FlowJo ou Summit.
3.9.1.2 Marcação para o receptor de morte FAS (CD95)
O procedimento para obtenção de células, lavagem e marcação foi semelhante ao item
3.9.1.1. Foi feita marcação extracelular direta com o anticorpo de camundongo anti-CD95
FITC humano diluído 1/4 e seu respectivo isotipo IgG1-FITC diluído também 1/4. A análise
dos resultados foi feita pelo programa FlowJo e Summit.
51
3.9.2 Marcação intracelular
3.9.2.1 Detecção de antígenos DENV-2 em monócitos infectados
Após dois dias de cultivo nas diferentes condições experimentais (controle, inoculação
com vírus inativado e vírus infeccioso), as células foram recuperadas por raspagem,
transferidas para tubos do tipo eppendorf e centrifugadas a 1200 RPM por 7 min. Em seguida,
o sobrenadante foi descartado e a suspensão lavada 2x com PBS-BSA e centrifugada a 1200
RPM por 7 min. Após a lavagem e desprezado o sobrenadante, as células foram fixadas com
paraformaldeído 2%, incubando-se por 20 min/4 ºC. Foi adicionado igual volume de
saponina, uma solução permeabilizante, às células que foram homogeneizadas e lavadas.
O
sobrenadante foi descartado e adicionado solução de permeabilização, seguida incubação de
10 min a 4
o
C. As células foram lavadas. Para impedir ligações inespecíficas, foi adicionada
solução de bloqueio, seguindo incubação por 30 min a 4
o
C. Após centrifugação e desprezo do
sobrenadante, as células foram ressuspendidas em 20 µL de anticorpo primário monoclonal
anti-DENV-2 diluído 1/100 em PBS-BSA e incubadas por 60 min/4ºC. O anticorpo
secundário de camundongo anti-IgG Alexa 488® diluído 1/400 foi adicionado após esse
período e incubado por 30 min a 4 °C. As células foram lavadas e fixadas com
paraformaldeído 2% em volume de 300 µL e transferidas para os tubos de citometria para
posterior aquisição no FACScalibur. A análise dos resultados foi feita pelo programa FlowJo
e Summit.
3.9.2.2 Detecção de apoptose em monócitos infectados utilizando Anexina-V/PI
Os monócitos infectados e não-infectados (controle e inativado), bem como aqueles
tratados com BRF A (controle positivo para apoptose) foram recuperados após raspagem em
temperatura fria, transferidos para os tubos do tipo eppendorf e lavados duas vezes com PBS1
x seguindo centrifugação com 1200 RPM por 7 min. Em seguida, foram descartados os
sobrenadantes e as lulas foram ressuspensas em 100 uL (para 10
6
células/mL) de solução
tampão de ligação. Foram adicionados 5 µL de Anexina-V (conjugada a Alexa Flúor 488) e 5
µL de Iodeto de Propídio (PI), a cada 100 µL de suspensão celular. As células foram, então,
incubadas por 15 min a 4ºC, protegidas da luz. Após o período de incubação, adicionou-se
400 µL de Binding Buffer1x (Apoptosis detection Kit I # 556547 – BD Pharmingen
TM
),
homogeneizando as amostras. A leitura no citômetro FACScalibur foi feita 30min depois. A
análise dos resultados foi feita pelo programa FlowJo e Summit.
52
3.9.2.3 Detecção da molécula anti-apoptótica Bcl-2 em monócitos infectados
Após o procedimento inicial de recuperação, lavagem, fixação e bloqueio conforme o
item 3.10.1, as lulas foram ressuspensas em 20 µL do anticorpo de camundongo anti-
humano BCL-2 PE e seu respectivo isotipo IgG2a-PE, ambos diluídos 1/50, de acordo com as
instruções do fabricante. Ao final da etapa de incubação e seguindo os procedimentos de
lavagem, as células foram novamente fixadas em paraformaldeído 2% e transferidas para
tubos de citometria para posterior aquisição em FACScalibur. A análise dos resultados foi
feita pelo programa FlowJo e Summit.
3.9.2.4 Avaliação de ∆ψm em monócitos infectados
O procedimento de obtenção e lavagem dos monócitos cultivados por 48 horas foi
feito de acordo com o item 3.9.2. Para o ensaio de marcação, foi utilizado DIOC
6
na
concentração estoque de 2 µM (diluído em DMSO). As células foram ressuspensas em 1 µL
de reagente diluído 10.000 vezes (concentração final de 20 nM) e incubadas por 15 min a 4ºC,
protegidas da luz. Após o período de incubação, adicionou-se 300 uL de solução Binding
Buffer 1x (Apoptosis detection Kit I # 556547 BD Pharmingen
TM
), homogeneizando as
amostras e mantendo-as em temperatura fria. A leitura no citômetro FACScalibur foi feita
imediatamente. A análise dos resultados foi feita pelo programa FlowJo e Summit.
3.10 Estatística
Todos os resultados obtidos foram analisados no programa Prism 4 (GraphPad
Software, San Diego, CA, USA). A partir do teste KS de normalidade foram empregados os
testes estatísticos descritos a seguir. O teste one way-Anova foi utlizado para comparar mais
de duas variáveis. Ele foi aplicado para se determinar a significância de todos os aspectos
abordados durante a infecção in vitro. O teste Tukey's Multiple Comparison foi utilizado para
comparar significância das variáveis entre si. Valores de p<0,05 foram considerados
significativos.
53
3.11 Soluções
PBS (Tampão fosfato) pH 7.4 (10x)
Cloreto de sódio......................................................... 80 g
Cloreto de potássio..................................................... 2 g
Fosfato dibásico de sódio........................................... 28,98 g
Fosfato monobásico de potássio................................ 2 g
Água destilada q.s.p. ................................................. 1000 mL
Bicarbonato de sódio
Bicarbonato de Sódio ............................................... 7,5 g
Água destilada q.s.p. ................................................ 100 mL
Solução de azul de trypan 2%
Azul de trypan .......................................................... 2 g
PBS q.s.p. ................................................................. 100 mL
Soluções para Citometria de Fluxo
Solução de Lavagem I – BSA 1% Azida 0,1% PBS 1x
Azida Sódica........................................................... 0,1 g
BSA ........................................................................ 1 g
PBS q.s.p. ............................................................... 100 mL
Solução de bloqueio I – BSA 1% Azida 0,1% Plasma autólogo 5% PBS 1x
Azida sódica............................................................. 0,1 g
BSA ......................................................................... 1 g
Plasma autólogo ...................................................... 5 mL
PBS q.s.p. ................................................................ 100 mL
O plasma autólogo deve ser inativado a 56°C por 30 min.
54
Solução de permeabilização – BSA 1% Azida 0,1% Saponina 0,15% PBS 1x
Azida sódica ........................................................... 0,1 g
BSA ........................................................................ 1 g
Saponina ................................................................. 0,15 g
PBS q.s.p. ............................................................... 100 mL
Solução de fixação – Paraformaldeído 2% PBS 1x
Paraformaldeído ..................................................... 2 g
PBS q.s.p. ............................................................... 100 mL
3.12 – Meios de Cultura e Reagentes
Meio L15 (Leibovitz) #41300-070 – Gibco
Meio RPMI 1640 #11876-093 – Gibco
Albumina Bovina (BSA) #A-8022 – Sigma
Aminoácidos não essenciais #11140-050 – Gibco
Annexin V-FITC Apoptosis detection Kit I # 556547 – BD Pharmingen
TM
Azul de Trypan – Sigma
Bicarbonato de Sódio P.A. #302 – ISOFAR
Brefeldina A # B7651 - Sigma
DAPI # D1306 – Molecular Probes
3,3'-dihexyloxacarbocyanine iodide DIOC
6
(3) # D273 – Molecular Probes
Ficoll-Paque™ Plus #17-1440-03 – Amersham Biosciences AB
Glicerol – Merck-EUA
HEPES #15630-080 – Gibco
Hoechst 33342 - Molecular Probes Inc.
L-Glutamina #21051-024 – GibcoBRL
Paraformaldeído #P6148-500G – Sigma
Penicilina-Estreptomicina #15140-122 – Gibco
Saponina #S-7900 – Sigma
Soro Fetal Bovino #10270-106 – Gibco
Triptose Fosfato #T8782 – Sigma
Triton X-100 # 036k00851 - Sigma
Tween 20™ (Polyoxythylene Sorbitan Monolaurate) #P-1379 – Sigma
55
3.13– Anticorpos
Anticorpo anti-Dengue complexo feito em camundongo (1/100) # MAB8705–Chemicon
International;
Alexa Flúor 647 # A-20186 – Molecular Probes;
Anticorpo anti-humano CD14-RPE feito em camundongo (1/50) # NHCD1404 – Caltag;
Anticorpo anti-humano CD14–PE / Cyc5.5 feito em camundongo (1/50) # 9561-16
Southern Biotech;
Anticorpo anti-humano CD16–FITC feito em camundongo(1/50) # F701 – Dako Cytomation;
Anticorpo anti-humano CD16-PE feito em camundongo (1/50) # PNIM1238 – IOTest;
Anticorpo anti-humano CD95-FITC feito em camundongo (1/4) # 9730-02 Southern
Bioteck;
Anticorpo anti-humano Bcl-2-RPE feito em camundongo (1/50) - Caltag;
Anticorpo anti-humano phosphoERK1/2-Alexa647 feito em camundongo (1/5) # 612593
BD Pharmingen;
Anticorpo anti-humano phosphop38MAPK-Alexa488 feito em camundongo (1/5) # 612594–
BD Pharmingem;
Anticorpo anti-IgG de camundongo (F(ab’)
2
) – RPE (1/50) # R0480 – Dako Cytomation;
Anticorpo IgG1–RPE feito em camundongo (1/50) # NG104 – Caltag;
Anticorpo IgG1–PE/Cyc5.5 feito em camundongo (1/50) # 012012-16 – Southern Biotech;
Anticorpo IgG1–FITC feito em camundongo (1/50) # X0927 – Dako Cytomation;
Anticorpo IgG1–PE feito em camundongo (1/50) # PNIM0670 – IOTest;
Anticorpo IgG1–FITC feito em camundongo (1/4) # X0927 – Dako Cytomation;
Anticorpo IgG2a–RPE feito em camundongo (1/50) # NG2a04 – Caltag;
Anticorpo IgG1-Alexa 647 feito em camundongo (1/5) # 5577823 - BD Pharmingem;
Anticorpo IgG1-Alexa 488 feito em camundongo (1/5) # 557782 - BD Pharmingem;
Anticorpo monoclonal Ig-Alexa488 feito em galinha (1/400)#A-21200-Molecular Probes.
56
4. RESULTADOS
57
4.1 Infecção in vitro de monócitos periféricos humanos por DENV-2
4.1.1 Identificação da população de monócitos utilizando características
morfológicas e fenotípicas:
Com o intuito de selecionar quantitativamente os monócitos humanos sob diferentes
condições fenotípicas, com ênfase nos mecanismos abordados nessa dissertação, foi utlizada a
técnica de citometria de fluxo (FACS). Essa técnica mostrou-se eficaz e sensível. Ela
proporciona a capacidade de gerar, em uma única operação, o maior número de dados
diferentes com rapidez e precisão a partir de uma única amostra. Os monócitos humanos
foram obtidos a partir de aderência de PBMCs do sangue periférico de doadores saudáveis,
como descrito previamente na seção de Metodologia. A citometria permitiu avaliar os ensaios
para determinação quantitativa de monócitos infectados por DENV e seus controles, sob
diversos parâmetros incluindo fatores morfológicos, fenotípicos e funcionais, em diferentes
cinéticas de infecção.
Antes de dar continuidade a avaliação de todos os ensaios que necessitavam da
utilização da técnica de citometria, foi padronizada uma região celular específica,
individualizando-a, para a melhor análise da subpopulação em questão: os monócitos.
A região celular de monócitos foi criada, traçada em circulo, inicialmente, em um
gráfico de dot plot, que mostra a população total celular contida na amostra analisada na
forma de eventos (Figura 4.1A). A subpopulação foi separada de acordo com suas
características morfológicas, utilizando os parâmetros de tamanho (FSC, do inglês Forward
Scatter) e CD14 (SSC, do inglês Side Scatter). Na Figura 4.1 B, a análise por FACS das
células aderentes recuperadas por raspagem demonstra que cerca de 58,14% da população são
monócitos, de acordo com sua morfologia.
A região R2, ilustrada na Figura 4.1 B, caracterizada pela região morfológica (FSC x
SSC) de monócitos, pode ser confirmada utilizando uma análise fenotípica da mesma
amostra, ou de outras, provenientes do mesmo doador, quando marcada com um Ac
específico para uma molécula que seja característica da subpopulação em questão. Os
monócitos ex vivo (células aderentes), no 1
, 2
, 3
, 4
, ou 5
dia de cultura, foram
caracterizados através da imunofenotipagem utilizando Ac monoclonal para receptor de
superfície celular específico, o CD14. Portanto, a seleção da região positiva para CD14 é
estabelecida e caracterizada por uma cor, através de ferramentas fornecidas pelo programa de
software Summit. Podemos, então, sobrepor à região fenotípica selecionada no gráfico de dot
plot (FSC x CD14), representado pela Figura 1.4A, para outro gráfico com parâmetros
58
morfológicos (FSC x SSC), representado pela Figura 1.4B. Essa ferramenta, chamada
retrogate, ajuda a comprovar que as duas regiões, morfológica e fenotípica, selecionam
praticamente os mesmos eventos celulares. As células CD14 positivas representaram cerca de
52,36 % do total, na região estabelecida R1 (Figura 4.1A).
É interessante ressaltar que, para cada condição experimental adotada, ou seja, culturas
tratadas com meio apenas (controle), tratadas com BRF A, com vírus inativado ou vírus
infeccioso, a morfologia das células pareceu variar, tanto de forma sutil quanto drástica. Isso
se deve ao fato de que, durante os procedimentos de obtenção, tratamento e marcação para
posterior análise dos monócitos, as células sofreram diferentes condições de privação de
nutrientes ou ocorrência de estímulos, proporcionando a ativação ou morte celular.
59
Figura 4.1: Estabelecimento das regiões de monócitos derivados do sangue periférico humano, com ênfase
nas características morfológicas e fenotípicas. A: Dot plot (eixo x, FSC e eixo y, CD14-Cy5) da análise por
citometria de monócitos enriquecidos pela aderência de PBMCs. A R1 representa a região lógica de monócitos
marcados com Ac monoclonal CD14-Cy5. B: Dot plot (eixo x, FSC e eixo y, SSC) representativo ilustrando
região R2 estabelecida de acordo com a morfologia de monócitos humanos. A R2 em vermelho é resultado de
uma retrogate da R1. Valores representam o percentual de eventos celulares delimitados em cada região: R1-
52,36% e R2-58,14%.
A
B
R1
R2
60
4.1.2 Cinética de infecção in vitro pelo DENV-2 em monócitos humanos:
Os monócitos foram infectados por DENV-2, cepa padrão 16681, para avaliação da
capacidade replicativa do vírus medida pela taxa de detecção de Ags virais entre as células,
por diferentes cinéticas de infecção. A caracterização da infectividade foi realizada pela
determinação do percentual de células Ag
+
por citometria de fluxo, comparando-se vírus
inativado.
A diluição do DENV infeccioso ideal para infecção foi pré-estabelecida por estudos
feitos por Reis e colaboradores em nosso laboratório. A diluição 1/5 do DENV-2 título 1,37 x
10
-8
TCID
50
/mL, foi usada nos procedimentos de infecção. A taxa de detecção antigênica
usando a diluição 1/5 mostrou ser ideal e foi a utilizada em todos os ensaios ao longo dessa
dissertação. Foram considerados apenas aqueles doadores com taxa de infecção superior a
10%.
Os monócitos infectados foram avaliados em diferentes cinéticas, para
estabelecimento do pico máximo de detecção de células DENV2 positivas. A cinética de
infecção foi realizada por um período de 5 dias, na qual as células foram recuperadas
diariamente e submetidas ao procedimento de marcação intracelular do Ag viral com Ac anti-
Dengue complexo e Ac secundário Alexa 488. A detecção foi feita FACS utilizando filtro de
detecção do fluorocromo FL-1. Como controle de marcação em cultura de células infectadas
com DENV-2, foi utilizado o Ac isotipo IgG2a de camundongo. Como ilustrado na Figura 4.
2, durante as primeiras 14 horas do primeiro dia após infecção, já foram detectados Ags virais
permanecendo presentes em todos os dias analisados. O aumento se manteve até o segundo
dia com pico ximo de células DENV-2 positivas. No terceiro dia ocorreu uma queda
brusca que se manteve até o quinto dia (Figura 4.2).
Os monócitos cultivados 2 dias após infecção foram recuperados e marcados
extracelularmente com AC monoclonal anti-humano CD14 feito em camundongo e, em
seguida, intracelularmente com anti-DENV, para a seleção da região lógica de monócitos e
determinação de células DENV
+
. A Figura 4.3 ilustra os contour plots das células CD14
+
DENV
+
, do total de monócitos CD14
+
, nas condições controle (0%), inativado (0,52%) e
infeccioso (33,03%). A detecção do Ag nas culturas com vírus infeccioso foi estatisticamente
significativa (**P < 0,001), quando comparado às culturas com vírus inativado e meio de
cultura apenas. Interessantemente, avaliando-se monócitos humanos de 12 doadores com
DENV-2 no segundo dia após infecção, demonstra-se uma variação na taxa de infecção, entre
18,7% e 58,29%. Figura 4.4.
61
Figura 4.2: Cinética de infecção de monócitos humanos pelo DENV-2. Cerca de 1 x 10
6
lulas aderentes por
mL foram infectadas com DENV-2 cepa 16681. Durante os tempos de 0, 14, 24, 48, 72 e 120 horas após
infecção, as células foram recuperadas por raspagem e marcadas com Ac anti-complexo Dengue ou com seu
respectivo isotipo anti-IgG2a de camundongo. Foi utilizado Ac secundário Alexa 488, detectado no filtro FL-1.
Os monócitos foram analisados por citometria e o percentual de células infectadas está demonstrado no gráfico.
Células tratadas apenas com meio ou com vírus inativado foram usados como controles negativos da detecção
antigênica. O gráfico representa média do percentual±Desvio Padrão (DP) de monócitos obrtidos de 13 doadores
e cultivados sob condições controle, inativado e vírus infeccioso durante uma cinética de 5 dias. O eixo x
representa os intervalos de tempo (em horas) e o eixo y o percentual de células DENV-2
+
.
0 14 24 48 72 120
0
1
2
Inativado
Infeccioso
Controle
10
30
50
Tempo (horas)
% Células Ag-DENV-2+
62
Figura 4.3: Caracterização de monócitos humanos infectados ou não com DENV-2. Monócitos foram
tratados com meio de cultura apenas (A), vírus inativado (B) ou vírus infeccioso (C). As células foram
recuperadas e marcadas extracelularmente com Ac anti-CD14 PE e em seguida, intracelularmente com anticorpo
anti-dengue conjugado com Alexa fluor 647. O percentual de células CD14+, infectadas ou não, foi estabelecido
através da seleção de uma região, de acordo com a Figura 4.1. Os valores representados à direita do gráfico de
contour plot na porção superior do quadrante, correspondem ao percentual de monócitos CD14
+
DENV
+
em
relação ao total de células CD14
+
. O eixo y representa, em escala logarítmica, os eventos celulares marcados com
fluorescência APC (Aloficocianina), detectado no filtro FL4-H, correspondendo à marcação para DENV. O eixo
x representa, em escala logarítmica, os eventos celulares marcados com fluorescência PE (Ficoeritrina),
detectados no filtro FL2-H, correspondendo a marcação para CD14. Os dados são representativos de 1 em 4
experimentos individuais.
CD14 PE
DENV APC
Controle DENV-2 Inativado
DENV
-
2
Infeccioso
A B
C
2 dias
63
Figura 4.4: Detecção do Ag viral DENV-2 em monócitos por citometria de fluxo. Monócitos humanos
obtidos de PBMCS de doadores saudáveis foram cultivados e cerca de 1 x 10
6
células tradas com meio de cultura
(controle), rus inativado ou infectadas com DENV-2. As células foram recuperadas após 2 dias e marcadas
com Ac anti-DENV para detecção de monócitos DENV-2-Ag
+
. Foi utilizado Ac secundário Alexa 488,
detectado no filtro FL-1. Análise foi feita por FACS. O gráfico representa a média ± DP da análise de 12
doadores. Para avaliação de significância nas taxas de células DENV-2-Ag
+
,sob diferentes condições de
tratamento na cultura, foi utilizado o teste “one way-Anova”, que compara mais de duas variáveis. O teste
Tukey's Multiple Comparison foi utilizado para comparar significância das variáveis entre si. **P> 0,001
controle Inativado Infeccioso
0
10
20
30
40
50
60
% Células Ag-DENV-2+
2 dias após infecção
**
**
64
4.1.3 Detecção de Ag DENV em monócitos humanos infectados por DENV-2 através de
microscopia confocal
Para análise qualitativa da presença de Ag viral DENV-2, culturas ricas em monócitos
humanos foram submetidas ao ensaio de microscopia confocal. PBMCs do sangue periférico
humano foram obtidos de acordo com o procedimento detalhado na seção de Metodologia.
Após a obtenção de população rica em monócitos, cerca de 2,5 x 10
5
células aderentes foram
distribuídas em câmaras de cultivo em minas (marca LabTech) e tratadas com meio apenas,
vírus inativado ou DENV infeccioso. Após dois dias de infecção, as amostras foram fixadas,
marcadas com Ac primário anti-DENV e Ac secundário Alexa Flúor 488, cobertas com
glicerol e visualizadas e registradas em microscopia confocal para observação do aspecto das
culturas. O DAPI, um marcador de ácido nucléico, foi utilizado como corante de núcleo,
correspondente a fluorescência azul. A marcação pelo DEN-2 foi detectada utilizando o
fluorocromo Alexa 488, correspondente a fluorescência verde. Para a vizualização de células
não-marcadas com qualquer um dos fluorocormos, foi utilizada a ferramenta de contraste
interferencial diferencial (Sciortino, Perri et al.).
Como ilustrado na Figura 4.5 B, observa-se a presença de partículas de DENV-2 no
citoplasma das células infectadas, representadas pela fluorescência verde, comparando-se com
células tratadas com vírus inativado (A) (Figura 4.5 B).
65
Figura 4.5: Detecção de Ag DENV em monócitos humanos após infecção in vitro com DENV-2 por
imunofluorescência através de microscopia confocal. Monócitos recuperados do sangue periférico humano
(1x10
6
células/mL) foram incubados por 2 dias com vírus inativado (A) ou DENV-2 16681 (B). Células foram
marcadas com Acs para Ag-DENV-2 e anti-mouse IgG-Alexa 488. A marcação nuclear foi feita utilizando
DAPI. A marcação do Ag viral é representada pela fluorescência verde e a marcação nuclear pela fluorescência
azul. A figura 4.5B1 representa um campo em maior escala de duas células marcadas com fluorescência verde,
indicando presença de Ags virais. As imagens foram realizadas utilizando o microscópio de fluorescência de
excitação por dois fótons (Two-photon excitation LSM meta 510) e a lente objetiva usada foi a Plan-
Apochromat 63x/1,4 Oil DIC M27. Os dados são representativos de 1 em 3 experimentos individuais.
10 µm 10 µm
10 µm
B1
A1 B1
DAPI
+
DAPI
-
DENV-2 Inativado
(A)
DENV-2 Infeccioso
(B)
20 µm
10 µm
66
4.2 Modulação na expressão de CD16 em células CD14
+
durante a infecção
Com o intuito de avaliar uma possível modulação na expressão da molécula CD16
(receptor Fcγ III) no modelo de infecção in vitro de monócitos humanos infectados por
DENV-2, as populações de monócitos cultivados com meio apenas, vírus inativado e vírus
infeccioso, foram recuperadas 1 e 2 dias após a infecção e identificadas de acordo com a
expressão de CD14 e CD16, utilizando Acs monoclonais específicos para cada molécula. A
quantificação das células foi feita utilizando FACS. Como demonstrado na Figura 4.6, logo
no primeiro dia após a infecção, do total de células CD14
+
infectadas, cerca de 14,35%
expressavam CD16, comparando-se com as células sob condições controle (3,05%) e
inativado (5,14%). Embora o ensaio tenha sido realizado com apenas células de dois
doadores, os gráficos ilustrativos de contour plot das condições controle, inativado e
infeccioso de um deles (Figura 4.6 A, B e C) bem como a análise da média ± DP dos
resultados dos dois doadores agrupada (Figura 7 A), demonstram uma tendência ao aumento
na expressão da molécula de ativação CD16 em monócitos humanos infectados com DENV-2
no primeiro dia após infecção, correlacionando-se com as taxas de infecção elevadas 24
horas (Figura 4.2).
Considerando que o segundo dia representou o pico de maior infectividade, pelo
elevado percentual de monócitos DENV
+
(Figura 4.2), foi de interesse confirmar se a
presença do vírus estaria correlacionada com o aumento na expressão de CD16. A avaliação
por FACS de células CD14
+
, ilustrada pelo contour plot de um de cinco doadores, mostrou
um aumento significativo (**P < 0,05) no percentual de células CD14
+
CD16
+
nas culturas
infectadas pelo DENV-2 (24,81%), em comparação aos seus respectivos controles tratados
com meio (3,53%) ou com vírus inativado (3,84%) (Figura 4.6 D, E e F). O gráfico B da
Figura 4.7 mostra os dados da média ± DP
de cinco doadores, nas diferentes condições de
tratamento. Esses resultados, em conjunto, sugerem que o vírus DENV-2 e/ou outros fatores
modulados pela infecção estariam influenciando na ativação de monócitos humanos,
confirmada pelo aumento na expressão de CD16.
67
Figura 4.6: Caracterização fenotípica da expressão de CD16 em monócitos infectados por DENV-2. Monócitos enriquecidos a partir do sangue periférico humano foram
plaqueados e cultivados. Cerca de 1x10
6
céls/mL foram incubadas com meio de cultura (controle), vírus inativado (inativado) ou infectadas com vírus DENV-2 cepa 16681
(infeccioso) e recuperadas 1 (A,B e C) e 2 (D, E e F) dias após infecção. As células foram marcadas extracelularmente com Ac anti-CD14-Cy5; anti CD16-PE ou anti CD16-FITC e
seu respectivo isotipo IgG1-PE ou IgG1-FITC, para avaliação quantitativa da expressão da molécula CD16, por FACS. Os monócitos foram selecionados em uma região morfológica
ou lógica e os gráficos contour plot estabelecidos. Os gráficos em menor escala representam os contour plots do tamanho (FSC) vs a marcação com o isotipo do CD16 (FL1-H: IgG1
FITC / FL2-H: IgG1 PE). De acordo com a posição dos quadrantes nos gráficos-isotipo foram estabelecidos os quadrantes nos gráficos contour plots maiores, que representam as
diferentes condições de tratamento nas culturas: Controle (A e D), vírus DENV-2 inativado (B e E) e vírus DENV-2 infeccioso (C e F). A porção superior à direita do quadrante, em
todos os gráficos, corresponde ao percentual de monócitos CD14+CD16+. Os dados obtidos 1 dia após infecção são representativos de um de dois experimentos independentes. Os
dados obtidos 2 dias após infecção são representativos de um de seis experimentos independentes.
Controle Inativado
Infeccioso
2 dias
CD14 Cy5
CD16 PE/CD16 FITC
1 dia
A
B
C
D
E
F
CD14 Cy5
CD14 Cy5
CD14 Cy5
CD14 Cy5
CD14 Cy5
CD14 Cy5
IgG-FITC IgG-FITC IgG-FITC
IgG-PE IgG-PE IgG-PE
68
Figura 4.7: Efeito da infecção por DENV-2 na expressão da molécula CD16 em monócitos humanos. A
expressão de CD16 em monócitos CD14+ infectados e seus respectivos controles negativos (controle e
inativado), 1 e 2 dias após infecção, é representada nos gráficos cujos valores foram obtidos pelas médias ± DP
de dois (A) e seis (B) doadores. Para avaliação de significância nas taxas de células CD14
+
CD16
+
no segundo
dia de infecção,, foi utilizado o teste one way-Anova, que compara mais de duas variáveis. O teste Tukey's
Multiple Comparison foi utilizado para comparar significância das variáveis entre si. ** P> 0,01
Controle Inativado Infeccioso
0
10
20
30
2 dias
% células CD14 + CD16 +
**
*
*
Controle Inativado Infeccioso
0
10
20
30
1 dia
% células CD14 + CD16 +
A B
69
4.3 Alterações morfológicas e fenotípicas envolvidas na morte celular programada de
monócitos frente à infecção por DENV-2
4.3.1 Aspectos membranares envolvidos na morte de monócitos após infecção por
DENV-2
Um dos métodos mais utilizados para detecção de células mortas compreende a
citometria de fluxo, utilizando marcadores específicos. Um desses marcadores é a Anexina-V
FITC, cuja fluorescência emite comprimentos de onda absorvidos pelo FL-1 do citômetro. A
Anexina-V é usada para identificar tanto células apoptóticas como autofágicas nos primeiros
estágios do processo de morte, como também nas fases tardias que precedem a perda da
integridade de membrana, onde a célula pode estar em apoptose tardia acompanhada de
necrose ou em necrose. Portanto, os ensaios são geralmente feitos utilizando Anexina-V e um
marcador vital impermeável à membrana, os iodetos de propídio (PI), cuja fluorescência,
emitida numa faixa de comprimento de onda absorvida no filtro FL-2 do citômetro. Os dois
marcadores são utilizados em conjunto para se diferenciar as células em morte celular
programada (Anexina-V
+
PI
-
) daquelas em apoptose tardia seguida de necrose (Anexina
+
PI
+
)
e células necróticas (Anexina
PI
-
).
A fim de demonstrar que o DENV estaria induzindo apoptose de monócitos humanos
cultivados, a detecção de fosfatidilserina na membrana citoplasmática das células cultivadas
sob diferentes condições de tratamento foi realizada pela marcação com Anexina-V-FITC
associada à incorporação de PI. Como controle positivo da reação, foi utilizado nos ensaios de
cultura o tratamento com BRF A, um metabólito fúngico muito usado em processos celulares
que envolvem tráfego intracelular. A BRF A inibe reversivelmente a translocação de
proteínas, bloqueando a via secretória do RE para o Golgi e a perda eventual do aparato
morfológico do Golgi. Quando usada em determinadas concentrações, sob um período
prolongado, ela pode induzir ativação de caspases e a fragmentação do DNA associadas com
apoptose (Shao, Shimizu et al., 1996; Guo, Tittle et al., 1998). Dessa forma, a BRF A foi
utilizada na concentração de 1 µg/mL no tratamento dos monócitos. Neste sistema, os
monócitos foram infectados com DENV-2 e a morte celular programada foi avaliada dois dias
após, concomitante com o pico máximo de infecção.
70
Na Figura 4.8, os contour plots representam as células de culturas controle positivo
(A), controle negativo (B), vírus inativado (C) e vírus infeccioso (D), dois dias após infecção.
Não houve diferença significante entre células infectadas e não-infectadas com relação ao
percentual de células em apoptose seguida de necrose (Anexina-V
+
PI
+
/Figura 4.9 B) e
necróticas (PI
+
/Figura 4.9 C). A presença de células Anexina-V
+
em culturas controle e com
vírus inativado mostra que a morte celular ocorre sem interferência do vírus, sugerindo que
fatores técnicos, como o uso de meio e a não troca deste por um período de 48 horas bem
como o procedimento de raspagem durante a obtenção de monócitos, estaria gerando algum
tipo de estresse, induzindo a morte nessas condições. Houve um aumento importante no
percentual de células infectadas Anexina-V
+
(55,13%) comparando com o controle (37,06%)
e inativado (37,99%). O controle positivo revela um percentual semelhante de células em
morte programada em comparação ao infeccioso (54,15%). Como podemos observar nos
gráficos das médias ± DP
de cinco doadores (Figura 4.9 A), esse aumento foi significativo
(*P < 0,05). Interessantemente, se analisarmos os resultados dos cinco doadores
separadamente, podemos distinguir um perfil bastante variável com relação ao percentual de
células Anexina-V
+
entre as diferentes condições de cultivo, com uma tendência ao aumento
na condição infeccioso (Tabela 4.1). Essa variabilidade sugere que fatores genéticos do
hospedeiro estariam influenciando na susceptibilidade à infecção.
71
Figura 4.8: Detecção de morte celular programada em monócitos humanos infectados por DENV-2. Os
monócitos humanos foram obtidos de PBMCs de doadores saudáveis. 1x10
6
ls/mL foram infectadas por
DENV-2 cepa 16681 e avaliadas 2 dias após a infecção, juntamente com seus respectivos controles negativos:
controle e inativado. As células foram duplamente marcadas com Anexina-V – indicador de morte programada, e
PI - indicador de necrose, com exclusão de PI para análise de células possivelmente apoptóticas. Como controle
positivo, foi utilizado a Brefeldina A (BRF A). A quantificação das células apoptóticas foi realizada por FACs,
utilizando região morfológica de monócitos. Os contour plots são representativos das diferentes condições de
tratamento: A Controle + BRF A; B Controle; C Inativado e D – Infeccioso. O quadrante superior à direita
corresponde às células Anexina-V
+
, com seu respectivo percentual celular. Os dados o representativos de um
entre cinco experimentos.
PI
Anexina-V-FITC
Controle
Inativado
BRF A
Infeccioso
72
Figura 4.9: Detecção de fosfatidilserina extracelular e perda de integridade de membrana em monócitos
infectados por DENV-2. As análises obtidas por FACs da exposição de fosfatidilserina em lulas
possivelmente apoptóticas, representadas pela marcação simples com Anexina-V (A); lulas em necrose duplo
positivas para Anexina-V e PI (B) e células mortas marcadas apenas com PI (C), e seus respectivos controles
negativos, são mostradas. A análise foi feita 2 dias após infecção sendo representada nos gráficos os valores
obtidos da média ± DP de cinco doadores. Para avaliação de significância nas taxas de células, sob diferentes
condições de tratamento na cultura (controle, inativado e infeccioso), foi utilizado o teste one way-Anova, que
compara mais de duas variáveis. O teste Tukey's Multiple Comparison foi utilizado para comparar significância
das variáveis entre si. ** P< 0,01
Brefeldina Controle Inativado Infeccioso
0
10
20
30
40
50
60
2 dias após infecção
% células Anexina +
**
**
Controle Inativado Infeccioso
0
5
10
15
20
2 dias após infecção
% lulas Anexina+ PI+
Controle Inativado Infeccioso
0
5
10
15
20
2 dias após infecção
% células PI +
A B
C
73
Tabela 4.1: Detecção de células Anexina-V
+
sob diferentes condições de tratamento em cultura: células tratadas
com meio de cultura (Controle), células tratadas com vírus inativado (Inativado) e células infectadas com
DENV-2 cepa 16681 (Infeccioso). Relação entre os valores percentuais obtidos da análise por citometria de
fluxo. ** P<0,01
Monócitos Anexina-V+ (%)
Doador Controle Inativado Infeccioso **
1 34 34 47
2 38 38 55
3 34 33 48
4 30 30 39
5 16 7 26
74
4.3.2 Detecção da expressão de receptor Fas em monócitos infectados por DENV-2
Dentre os receptores de superfície celular, o receptor Fas (CD95), um membro da
família de receptores de morte TNF, exerce um papel crucial em desencadear a sinalização
apoptótica e a maquinaria efetora. Sob estimulação com um agonista anti-Fas ou seu ligante
natural, o FasL, várias proteínas com funções distintas, como proteínas adaptadoras
citosólicas, são recrutadas para o domínio citoplasmático do Fas, ligando-se à caspase
iniciadora, Caspase 8. Subseqüentemente, a clivagem dessa caspase leva a um processo
altamente regulado, desencadeando a ativação de caspases efetoras que eventualmente
lideram com a apoptose. se sabe que esse mecanismo extrínsico apoptótico é sensibilizado
em algumas infecções virais (Servet-Delprat, Vidalain et al., 2000; Wang, Gregori et al.,
2004; Limjindaporn, Netsawang et al., 2007).
Com o intuito de investigar se os monócitos humanos infectados por DENV-2 in vitro
seriam sensibilizados pela apoptose mediada por Fas, as culturas de células foram infectadas e
analisadas quantitativamente por FACS 1 e 2 dias após infecção, utilizando um Ac de
camundongo específico para o receptor Fas humano. Inicialmente, analisando os resultados
obtidos de células de dois doadores, 1 dia após infecção, podemos sugerir uma modulação da
expressão de Fas, visto que um leve aumento no percentual de células Fas+ quando as
culturas são infectadas pelo DENV-2 (21,43% - Figura 4.10 C), em comparação ao controle
(7,89% - Figura 4.10 A) e inativado (6,69% - Figura 10 B; Figura 4.11 A). Para confirmar
nossos resultados, analisamos o percentual de células infectadas Fas
+
dois dias após infecção.
Como esperado, um aumento significativo no percentual de monócitos Fas
+
após infecção
por DENV-2 (34,60% - Figura 4.10 F) em comparação ao controle (8,82% - Figura 4.10 D)
e vírus inativado (8,07% Figura 10 E). A análise da média ± DP dos resultados de 5 doadores,
confirma os resultados significantes (Figura 4.11 B). Interessantemente, e assim como
observado nos resultados de Anexina-V, cada doador apresentou um perfil diferente de
expressão da molécula de morte, embora, em todos os casos, as células infectadas
apresentavam um percentual elevado de expressão desse receptor de morte (Tabela 4.2).
75
Figura 4.10: Caracterização fenotípica de monócitos humanos expressando o receptor de morte Fas durante a infecção por DENV-2. Monócitos obtidos de PBMCs foram
plaqueados e cultivados. Cerca de 1x10
6
céls/mL foram incubadas com meio de cultura, vírus inativado ou infectadas com vírus DENV-2 cepa 16681, e recuperadas 1 (A,B e C) e 2
(D, E e F) dias após infecção. As células foram marcadas extracelularmente com Ac anti Fas-FITC e seu respectivo isotipo IgG1 FITC, para avaliação quantitativa da expressão do
receptor Fas, por FACs. Os monócitos foram selecionados em uma região morfológica de monócitos e os gráficos dot plot estabelecidos. Os gráficos em menor escala representam os
contour plots do tamanho (FSC) x marcação com o isotipo de Fas (FL1-H: IgG1 FITC). De acordo com a posição dos quadrantes nos gráficos-isotipo foram estabelecidos os
quadrantes nos gráficos contour plots maiores, que representam as diferentes condições de tratamento nas culturas: Controle (A e D), vírus inativado (B e E) e vírus infeccioso (C e
F). A porção superior do quadrante em todos os gráficos corresponde ao percentual de monócitos Fas
+
. Os dados obtidos 1 dia após infecção são representativos de um de dois
experimentos independentes. Os dados obtidos 2 dias após infecção são representativos de um de quatro experimentos independentes.
A
B
C
D
E
F
Controle Inativado
Infeccioso
FSC - Tamanho
Fas-FITC
FSC FSC FSC
FSC
FSC FSC
IgG-FITC
IgG-FITC
IgG-FITC IgG-FITC
IgG-FITC
IgG-FITC
76
Figura 4.11: Detecção de receptor de morte Fas em monócitos humanos infectados por DENV-2. As
análises obtidas por citometria da expressão de Fas em monócitos infectados e seus respectivos controles
negativos (controle e inativado), 1 e 2 dias após infecção, o representadas nos gráficos dos valores obtidos da
média ± DP de dois (A) e seis (B) doadores. Para avaliação de significância nas taxas de células Fas
+
, sob
diferentes condições de tratamento na cultura, foi utilizado o teste one way-Anova, que compara mais de duas
variáveis. O teste Tukey's Multiple Comparison foi utilizado para comparar significância das variáveis entre si.
** P> 0,01
Controle Inativado Infeccioso
0
10
20
30
40
50
2 dias após infeão
% monócitos Fas+
**
**
Controle Inativado Infeccioso
0
10
20
30
40
50
1 dia após infecção
% monócitos Fas+
A B
77
Tabela 4.2: Detecção de células Fas
+
sob diferentes condições de tratamento em cultura: células tratadas com
meio de cultura (Controle), células tratadas com vírus inativado (Inativado) e células infectadas com DENV-2
cepa 16681 (Infeccioso). Valores percentuais obtidos da análise por citometria de fluxo. ** P<0,01
Monócitos Fas+ (%)
Doador Controle Inativado Infeccioso **
1 3 6 39
2 5 4 16
3 13 12 32
4 7 8 35
5 15 15 61
6 0 0 25
78
4.3.3 Expressão diferencial da oncoproteína Bcl-2 em monócitos humanos
infectados por DENV-2
Em mamíferos, o proto-oncogene Bcl-2 funciona como um importante repressor da
morte celular programada em vários tipos celulares. O gene codifica para uma oncoproteína
localizada na membrana de mitocôndrias, RE e membranas perinucleares, estando envolvida
no processo de controle da morte celular programada. Dado ao fato de que monócitos
humanos infectados in vitro por DENV-2 estariam mais susceptíveis à morte e o papel da
proteína Bcl-2 na inibição da apoptose, nós avaliamos este controle protéico na sobrevivência
de monócitos infectados via proteína Bcl-2.
Utilizando o ensaio de marcação intracelular com Ac de camundongo anti Bcl-2-PE
humano e posterior análise quantitativa por FACS, foi determinado o percentual de células
CD14
+
Bcl-2
+
em uma cinética de 0 a 120 horas, após a infecção com o vírus infeccioso, em
comparação ao controle e vírus inativado. O intuito desse ensaio foi estimar se a expressão da
proteína Bcl-2 estaria sendo modulada pela infecção viral. Como controle positivo, foi
utilizada BRF A na concentração de 1 µg/mL. Ao contrário do esperado, como representado
nos contour plots representaivos de um de oito doadores diferentes, 2 dias após a infecção, os
monócitos infectados ainda sim expressavam a proteína anti- apoptótica (54,21%) em níveis
semelhantes aos detectados nas condições controle (52,80%) e inativado (54,94%) (Figura
4.12 A, B, C e D). O perfil permanece semelhante quando analisamos os dados
imediatamente (0 hora) e 14, 24, 72 e 120 horas após infecção. A Figura 4.13 A e B ilustra o
contour plots de células Bcl-2
+
DENV
+
nas condições de cultura com vírus inativado e vírus
infeccioso. A Figura 4.13 C representa o gráfico da média ± DP
dos resultados Bcl-2
+
da
cinética de até 5 dias após infecção e a Figura 4.13 D representa o gráfico da média ± DP dos
resultados Bcl-2
+
DENV
+
nas quatro condições avaliadas: controle positivo (BRF A),
controle, vírus inativado e vírus infeccioso.
79
Figura 4.12: Detecção da expressão da oncoproteína Bcl-2 em monócitos CD14
+
infectados por DENV-2.
Monócitos enriquecidos a partir do sangue de indívíduos saudáveis foram plaqueados e cultivados. Cerca de
1x106 céls/mL foram incubadas com meio de cultura, vírus inativado ou infectadas com vírus DENV-2 cepa
16681. As células foram mantidas durante 0 a 48 horas após infecção para posterior análise da influência do
vírus na expressão intracelular da proteína pró-apoptótica Bcl-2. Para controle positivo, foi utilizada Brefeldina
A (BRF A). A avaliação foi realizada por FACs em cada ponto da cinética por região lógica de monócitos,
seguindo a marcação com anti-CD14 Cy5. As células duplamente marcadas com anti-CD14Cy5 + Bcl-2 PE, 48
horas após infecção, são representados pelos contour plots sob diferentes condições: A células tratadas com BRF
A (A); controle (B); tratadas com vírus inativado (C) e com vírus DENV-2 (D). Os gráficos em menor escala
representam os dot plots da marcação para CD14 (FL3-H: CD14 cyc) x marcação com o isotipo de Bcl-2 (FL2-
H: IgG2 PE). De acordo com a posição dos quadrantes nos gráficos-isotipo foram estabelecidos os quadrantes
nos gráficos contour plots maiores representados pelas marcações para CD14 (FL3-H: CD14 cy5) x marcação
com o Bcl-2 (FL2-H: Bcl-2 PE). Os resultados são representativos de 1 entre 4 experimentos.
CD14 Cy5
Bcl-2 PE
Controle BRF A
Inativado Infeccioso
A B
C D
CD14 Cy5
CD14 Cy5 CD14 Cy5
CD14 Cy5
IgG-PE IgG-PE
IgG-PE IgG-PE
2 dias
80
Figura 4.13: Expressão de Bcl-2 em monócitos CD14
+
infectados por DENV-2. Os gráficos de contour plot
A e B representam monócitos que foram selecionados em uma região morfológica por citometria sendo que, os
gráficos em menor escala representam os dot plots do tamanho (FSC) x marcação com o isotipo de Bcl-2 (FL2-
H: IgG PE). De acordo com a posição dos quadrantes nos gráficos-isotipo foram estabelecidos os quadrantes nos
gráficos dot plots maiores, que representam as diferentes condições de tratamento nas culturas: inativado (A) e
infeccioso (B). A porção superior à direita do quadrante em todos os gráficos corresponde ao percentual de
monócitos Bcl-2
+
DENV
+
. C representa o gráfico da média percentual ± DP de células expressando Bcl-2 sob as
diferentes condições de tratamento, controle, inativado e infeccioso, numa cinética de 0 a 48 horas após a
infecção. O gráfico D representa a dia do percentual ± DP das células duplo positivas para DENV-2 e Bcl-2,
também sob as diferentes condições citadas. Os gráficos de contour plot são representativos de 1 entre 4
experimentos.
0 14 24 48
0
25
50
75
100
Controle
Inativado
Infeccioso
Tempo (Hs)
% Células Bcl-2+
0 14 24 48
0
10
20
30
40
50
Controle
Inativado
Infeccioso
Tempo (Hs)
% Células DENV-Ag + Bcl-2+
Bcl-2 PE
DENV Alexa 488
A B
C D
Inativado Infeccioso
FSC
FSC
Iso DENV - IgG488 FSC
Iso Bcl-2 - IgG PE
FSC
Iso Bcl-2 - IgG PE
Iso DENV - IgG488
2 dias
81
4.3.4 A infecção de monócitos humanos por DENV-2 induz alterações no
Ψ
ΨΨ
Ψm
O teste de potencial de membrana mitocondrial (∆Ψ
m
) foi realizado utilizando-se
DIOC
6
e o marcador nuclear Hoechst 33342. O teste baseia-se na determinação de processos
biológicos referentes à indução de ativação da via mitocondrial apotótica. O decréscimo ou
perda do ∆Ψm corresponde a um dos primeiros eventos da apoptose. Interações entre
proteínas promotoras e inibidoras da família Bcl-2, localizadas na membrana mitocondrial e
associadas umas às outras, parecem desempenhar um papel importante no controle do ∆Ψm e
outras funções associadas aos eventos envolvidos na apoptose. Em adição a sua capacidade
direta de formar poros, essas proteínas podem afetar indiretamente o ∆Ψm, por regular a
função poros dependentes de voltagem, envolvidos na permeabilidade mitocondrial. Em
baixos níveis de condutância, a abertura transiente desses poros, combinada com a contínua
atividade respiratória mitocondrial, mantêm o Ψm estável. A indução de uma alta
condutância dos poros leva a um colapso irreversível do potencial culminando na ruptura da
membrana interna e externa mitocondrial (perda da integridade de membrana mitocondrial).
Interessantemente, a abertura desses poros é facilitada por proteínas pró-apoptóticas ou
prejudicada por proteínas anti-apoptóticas (Bedner, Li et al., 1999).
Vários tipos de fluorocromos catiônicos lipofílicos, permeáveis à membrana, podem
servir como marcadores de ∆Ψm em citometria de fluxo e imunofluorecência. Eles são
atraídos por membranas hiperpolarizadas, mais especificadamente, por membranas carregadas
positivamente, como é o caso da membrana mitocondrial interna. O DiOC
6
(3) é um dos mais
frequentemente utilizados e sua especificidade é amplamente aumentada quando utilizado em
baixas concentrações (10-40 nM), apresentando uma alta especificidade pela membrana
mitocondrial. Quando as lulas viáveis o incubadas na sua presença, os marcadores
acumulam-se na membrana mitocondrial, sendo que a extensão de sua captação, medida por
intensidade de fluorecência celular, é considerada reflexo do ∆Ψm. Quando á uma
despolarização da membrana mitocondrial interna durante a apoptose, ocorre uma alteração
na sua polaridade devido à abertura de canais ou poros e conseqüente fluxo de moléculas. A
abertura desses canais, juntamente com rupturas nas membranas, gera um colapso no
gradiente eletroquímico. O marcador, então, perde sua capacidade de interajir e não mais se
acumula na membrana. Com isso a fluorescência vai decaindo. O DIOC
6
(3) foi utilizado para
detectar as mudanças no ∆Ψm no modelo de infecção in vitro de monócitos humanos por
DENV-2. A análise das imagens fluorescentes foi realizada utilizando-se microscopia
confocal e a medida da intensidade de fluorescência, por FACS. Como mostrado previamente,
o vírus facilita a indução da apoptose de monócitos humanos. Assim, este poderia exercer
82
seus efeitos citotóxicos por ativar a via mitocondrial apoptótica. Portanto, determinamos se a
presença do vírus estaria induzindo alterações do ∆Ψm.
A análise da medida de intensidade de fluorescência (MIF), realizada a partir da média
dos valores obtidos por FACS, sugere que o vírus possa interferir na via apoptótica
mitocondrial. De acordo com a Figura 4.14, podemos observar, pelos gráficos representativos
do histograma de células tratadas com meio apenas (Figura 4.14 A-controle), expostas a vírus
inativado (Figura 4.14 B-inativado) ou infectadas com DENV-2 (Figura 4.14 C-infeccioso),
que, embora o percentual de células DIOC
6
+
seja semellhante, uma diminuição drástica no
MIF na condição infeccioso (28,40), em comparação aos seus respectivos controle (67,67) e
inativado (60,02) (Figura 4.14 D).
De acordo com as imagens fornecidas peã microscopia confocal podemos observar um
maior número de células marcadas com fluorescência verde, correspondendo ao DiOC6 (3),
no citosol ou ao redor dos núcleos, corados em azul, tanto na condição controle quanto no
inativado. Interessantemente, nas células infectadas (infeccioso), a marcação de ∆Ψm é
menos intensa ou nula e, quando presente, encontra-se sobreposta à coloração azul nuclear,
diferente do visto no controle e vírus inativado (Figura 4.15). Também podemos observar
células não marcadas, tanto no controle, quanto no vírus inativado, o que pode ser reflexo de
que estas também estariam em morte celular programada causada por outros fatores que não o
vírus.
Estes resultados são preliminares, pois foram obtidos de um único doador para cada
uma das metodologias, mas são bastante sugestivos por complementar as outras análises
anteriores.
83
Figura 4.14: DENV-2 promove decréscimo no potencial de membrana mitocondrial de monócitos
humanos. Monócitos aderentes, obtidos de PBMCs de doadores saudáveis, foram cultivados com meio de
cultura apenas, incubados com vírus inativado ou infeccioso por 2 dias à temperatura de 37
C e CO
2
. 1 x 10
6
céls/mL foram recuperadas e incubadas com 1 µL de DIOC
6
a 20nM, por 15 min e, em seguida, avaliadas por
FACs para análise do percentual de células DIOC6
+
. O histograma A representa o percentual de células DIOC
6
+
na condição controle, B na condição inativado e C na condição infeccioso. O histograma D representa a
associação dos 3 histogramas citados com os respectivos valores do MIF (mean intensity fluorescence) de cada
condição. A fluorescência foi captada usando filtro apropriado para emissão verde.
Infeccioso Inativado Controle
Controle
Inativado
Infeccioso
A B C
D
2 dias
84
Figura 4.15: Detecção da alteração no potencial de membrana mitocondrial de monócitos humanos
infectados por DENV-2 através de imunofluorescência. Monócitos aderentes obtidos de PBMCs de doadores
saudáveis foram cultivados com meio de cultura apenas em minas do tipo LabTech. 2,5 x 10
5
céls/mL foram
incubadas com vírus inativado ou infeccioso por 2 dias à temperatura de 37
C, em estufa de 5% CO
2
. Aslulas
foram tratadas com 1 µL de DIOC
6
a 20nM, por 15 min em temperatura ambiente e em seguida, avaliadas por
microscopia confocal. A marcação nuclear foi feita utilizando Hoescht, na fluorescência azul. e a marcação do
DIOC
6
é representada pela fluorescência verde. Os dados são representativos de um experimento preliminar.
As
imagens foram realizadas utilizando o microscópio de fluorescência de excitação por dois fótons (Two-photon
excitation LSM meta 510) e a lente objetiva usada foi a EC plan-Neofluoar 40x/1,30 Oil DIC M27.
Controle Inativado
Infeccioso
85
5. DISCUSSÃO
86
As formas graves da Dengue m se tornando um dos principais problemas de saúde
pública (Figueiredo, 2003). Dado o fato de que a intensidade de replicação do DENV durante
o início da infecção possa determinar as manifestações clínicas, é importante o entendimento
do impacto da infecção na imunidade inata do hospedeiro (Navarro-Sanchez, Despres et al.,
2005).
A montagem eficaz de uma defesa inata do hospedeiro pode ser um fator limitante no
decorrer da infecção pelo Dengue no organismo. Um das questões mais importantes na
patogenia é identificar as células-alvo que tenham um papel principal na imunidade inata
antiviral ao DENV, nas primeiras horas da infecção. Os monócitos/macrófagos e DCs são os
principais alvos do DENV, tanto in vitro como in vivo e, portanto, a interação do vírus com
essas células é de extrema relevância (Halstead e O'rourke, 1977; Halstead, 1988; Wu,
Grouard-Vogel et al., 2000; Neves-Souza, Azeredo et al., 2005). Vários estudos m
demonstrando a importância dessas lulas na produção de citocinas e quimiocinas, bem
como na ativação de vias de sinalização e expressão de moléculas de superfície, modulando a
interface entre a imunidade inata e adaptativa e, consequentemente, determinando a proteção
ou patogenia frente à infecção (Frankenberger, Sternsdorf et al., 1996; Bosch, Xhaja et al.,
2002; Strauss-Ayali, Conrad et al., 2007). Diferenciados ou o, os monócitos humanos o
fisiologicamente competentes em um contexto de infecção viral. No decorrer da infecção, 2
desafios são impostos ao sistema imune do hospedeiro: primeiro, eliminar o vírus e células
infectadas e, segundo, modular a resposta imunológica adaptativa ativada pelo vírus. A
habilidade da resposta imunológica do hospedeiro em superar esses dois obstáculos é
diretamente refletida na gravidade clínica da doença.
A apoptose é um processo ativo de autodestruição celular envolvendo fatores
extrínsecos e intrínsecos, geneticamente regulado, que ativam uma cadeia enzimática
complexa. Tais fatores compreendem receptores, como Fas e seus ligantes, proteínas
reguladoras da família Bcl-2, enzimas e fatores de transcrição. se sabe que o DENV pode
interferir nesse processo através da regulação desses e outros fatores em diferentes tipos
celulares (Bunyaratvej, Butthep et al., 1997; Jessie, Fong et al., 2004). A apoptose representa
um mecanismo potencialmente importante em modular as respostas imunológicas, podendo
servir como uma estratégia de disseminação da progênie viral a células vizinhas, através da
fagocitose de corpos apoptóticos, mimetizando uma resposta. A replicação do DENV parece
ser essencial para induzir a atividade fagocítica bem como a apoptose de monócitos humanos
(Espina, Valero et al., 2003; Neves-Souza, Azeredo et al., 2005). Como os mecanismos de
apoptose em lulas-alvo infectadas por DENV ainda não estão totalmente esclarecidos, é de
extrema relevância seu conhecimento. Neste estudo, buscamos investigar a interação vírus-
87
célula utilizando como modelo a infecção de monócitos humanos primários in vitro com vírus
DENV-2 (16681), enfatizando os mecanismos extrínsecos e intrínsecos envolvidos na
apoptose dessas células.
A manutenção de monócitos humanos em sistemas de cultura, e sua susceptibilidade à
infecção, utilizando cepas virais capazes de replicar in vitro, são ferramentas importantes
utilizadas para a reprodutibilidade experimental in vitro. Com a ausência de um modelo
animal que repoduza fielmente a patologia da dengue, utilizam-se ensaios alternativos
bastante válidos para se compreender os mecanismos envolvidos na imunopatogenia desta
infecção (Sydow, Santiago et al., 2000; Chen e Wang, 2002). O genótipo americano do
DENV-2 é descrito como o virulento e com uma habilidade reduzida de crescimento em
culturas celulares e de mosquitos. Esses dados são baseados em estudos epidemiológicos em
regiões geográficas onde outros genótipos não circulam. Porém, alguns autores sugerem que,
o aumento da gravidade em países latino-americanos poderia estar associado à introdução de
um genótipo asiático do DENV, substituindo o genótipo autóctone local (Salas, Tovar et al.,
1998; Cologna e Rico-Hesse, 2003; Miagostovich, Cerqueira et al., 2003; Cologna,
Armstrong et al., 2005). Em contraste, o genótipo asiático do DENV-2 mostra-se mais rápido
e eficaz em ser transmitido pelo mosquito vetor e está associado às manifestações graves da
doença (Cologna e Rico-Hesse, 2003; Halstead, 2007). O DENV-2, cepa asiática 16681, é
capaz de se replicar em culturas primárias de monócitos humanos do sangue periférico
(Halstead e O'rourke, 1977; Chen e Wang, 2002; Cologna e Rico-Hesse, 2003) e se mostrou
reprodutível em nosso modelo de infecção in vitro, tanto nos ensaios de crescimento de massa
viral e titulação, como também em infecções usando monócitos de doadores brasileiros.
Sendo assim, o modelo foi adotado para a realização dos ensaios nessa dissertação (Sydow,
Santiago et al., 2000; Neves-Souza, Azeredo et al., 2005).
Nossos primeiros experimentos foram feitos com o intuito de se averiguar em que
ponto da cinética de infecção apresentou-se o maior pico de replicação viral. Dessa forma, o
pico de infecção ocorreu no segundo dia, embora uma replicação precoce já possa ser
detectada 14 horas após a infecção. Esses resultados se assemelham com os vistos na
literatura utilizando a cepa DENV-2 16681 e outras quimeras de genótipo asiático e
americano. Interessantemente, não só a cepa, mas também a dose do inoculo, pode influenciar
no percentual de células DENV
+
ao longo da cinética (Cologna e Rico-Hesse, 2003).
88
A maioria dos doadores de monócitos testados em nossos experimentos apresentava
alguma susceptibilidade para a infecção viral, devido a uma variabilidade na taxa de infecção
entre diferentes doadores. Esses resultados se refletem, provavelmente, na genética de cada
um. É bem documentado que a carga viral e, dessa forma, a massa de células infectadas, é um
dos fatores que estariam envolvidos na gravidade clínica em infecções por dengue (Libraty,
Endy et al., 2002). Qualquer um dos mecanismos envolvidos na resposta imunológica frente à
infecção está sob controle genético do hospedeiro: a habilidade de reconhecer e processar Ags
e produzir Acs, as respostas celulares, os receptores envolvidos direta e indiretamente com o
DENV, ou os parâmetros de eficiência replicativa em células infectadas. Uma série de
variações genéticas individuais está associada com a gravidade da doença (Quírico-Santos,
Kubelka et al., 2006). O polimorfismo nos genes HLA de classe I e II, receptores Fc, para
vitaminas D e A, para citocinas, assim como a freqüência de alelos envolvidos na síntese de
mediadores pró-inflamatórios, em diferentes populações incluindo brasileiros, estão
intimamente relacionados com a incidência da doença tanto na sua forma branda como nas
graves (Halstead, 2002; Loke, Bethell et al., 2002; Polizel, Bueno et al., 2004; Sierra, Alegre
et al., 2007). Também diferenças étnicas / raciais e a susceptibilidade à FHD são
documentadas (Kouri, Guzman et al., 1987; Pelaez, Guzman et al., 2004). Em virtude do
Brasil ter uma população bastante miscigenada isso também explicaria a grande variabilidade
genética populacional influenciando na susceptibilidade à Dengue (Quírico-Santos, Kubelka
et al., 2006).
Os monócitos desempenham um importante papel em diversas doenças inflamatórias.
Essas células são caracterizadas por diferentes subpopulações, cada qual exercendo sua
função frente a uma infecção (Chen e Wang, 2002; Gordon e Taylor, 2005; Mantovani, Sica
et al., 2007). Funcionalmente, os monócitos CD14
+
CD16
+
são considerados maduros, pois
são conhecidos por se expandirem durante infecções e respostas inflamatórias,
particularmente durante sepsis e HIV (Fingerle, Pforte et al., 1993) . Em infecções por HIV,
essas células parecem desempenhar um importante papel na interação com consequente
ativação de linfócitos T bem como sua susceptibilidade à infecção (Ancuta, Autissier, et al.,
2006). Alguns trabalhos também vêm demonstrando que monócitos CD16
+
são mais
permissivos a infecção pelo HIV in vivo devido a maior capacidade de reconhecimento dessas
células pelo vírus via interação com receptores específicos, como CCR5 e subsequente
replicação viral, além de representarem importantes reservatórios virais, mesmo em pacientes
recebendo terapia antiretroviral (Ancuta, Kunstman, et al., 2005; Ellery, Tippett, et al., 2007).
A expressão de moléculas envolvidas com apresentação de Ags e migração, bem como sua
capacidade de produzir citocinas como TNF, e pouca ou nenhuma citocina anti-inflamatória,
89
caracterizam essas células com sendo pro-inflamatórias (Frankenberger, Sternsdorf et al.,
1996). Com o intuito de se avaliar os mecanismos de ativação de monócitos humanos
infectados por DENV-2, estudamos o papel da infecção na modulação da expressão de CD16
em monócitos CD14+. Pela primeira vez demonstramos que células CD14+ CD16+
encontram-se elevadas durante o pico de infecção. Também em nosso laboratório, Azeredo e
colaboradores demonstraram que monócitos CD14
+
CD16
+
estariam aumentados em pacientes
brasileiros infectados por DENV na fase aguda da doença (Azeredo, Oliveira-Pinto et al.,
2007). Esses resultados sugerem que a replicação viral seja importante para a regulação da
expressão dessa molécula. Os monócitos CD14
+
CD16
+
“ativados” representam apenas 10%
do total de células CD14+ no sangue e encontram-se elevados em uma variedade de
condições patológicas (Gordon e Taylor, 2005; Strauss-Ayali, Conrad et al., 2007).
Interessantemente, enquanto alguns autores sugerem que essas células sejam pro-
inflamatórias por natureza, outros vêm demonstrando, in vitro, que o TNF-α também
desempenha um importante papel na expressão dessa molécula, acompanhando a exposição a
Ags bacterianos (Skinner, Macisaac et al., 2005; Skrzeczynska-Moncznik, Bzowska et al.,
2008). O aumento da expressão de CD16 em macrófagos também foi demonstrado em
artrite reumatóide, correlacionando com o elevado nível de TNF-α. Resultados obtidos em
nosso laboratório (Anexo I) demonstram altos níveis de TNF-α no sobrenadante de culturas
de monócitos infectadas 2 dias após infecção, consistente com dados também obtidos
utilizando o plasma de pacientes brasileiros (Pinto, Oliveira et al., 1999; Azeredo, Zagne et
al., 2001; Reis, Valente et al., 2008). Podemos sugerir que essa subpopulação CD16+ exerça
um importante papel na indução de respostas pró-inflamatórias frente à infecção pelo DENV.
A modulação do Ag de superfície HLA-DR é vista em vários estudos envolvendo
reações inflamatórias agudas como choque séptico (Ono, Tsujimoto et al., 2004; Antoniades,
Berry et al., 2006). As principais funções dos monócitos compreendem a fagocitose,
apresentação de Ags e produção de citocinas, todas mediadas por certas moléculas de
superfície, como CD14 e HLA-DR. Em outras palavras, o HLA-DR permite a apresentação
de Ag às células T e é crucial para a iniciação das respostas imunes celulares. Monócitos
CD14
+
CD16
+
expressam maior intensidade de HLA-DR, sendo mais eficazes como APCs.
Porém, um estudo recente mostrou que a expressão desses Ags está reduzida em pacientes
com sepsis ((Tsujimoto, Ono et al., 2006). Estudos feitos por Azeredo e colaboradores
também mostram uma diminuição na expressão dessa molécula em monócitos de pacientes
com a forma grave da Dengue (Azeredo, Oiliveira-Pinto et al., 2007). Esses resultados são
concordantes com os observados em pacientes com sepsis, especialmente naqueles com
choque séptico (Ono, Tsujimoto et al., 2004). Seria de interesse avaliar e comparar se essa
90
subpopulação CD16
+
estaria mais elevada ou não durante as manifestações brandas e graves
da dengue de forma a sugerir um possível papel dessas células na gravidade da doença.
A morte celular, tanto programada quanto necrótica, é um mecanismo frequentemente
dominante durante os processos patológicos. A morte celular programada é um processo
regulatório fundamental do sistema imunológico. Na resposta imune a infecções virais, a
apoptose pode ocorrer como um mecanismo patogênico direto de disseminação viral e escape
do sistema imune ou pode representar uma resposta apropriada do hospedeiro para limitar a
replicação viral. Ela pode ser Ag-dependente e iniciada via sinalização por receptores de
morte, ou pode ocorrer por negligência quando receptores Ag-específicos não são estimulados
ou quando fatores de sobrevivência solúveis são privados do microambiente celular, um
fenômeno conhecido como autofagia. A modulação da morte celular programada desempenha
um papel muito importante em várias patogenias relacionadas a doenças infecciosas virais,
como AIDS e sarampo (Oyaizu e Pahwa, 1995; Marianneau, Cardona et al., 1997; Avirutnan,
Malasit et al., 1998); (Servet-Delprat, Vidalain et al., 2000).
Os monócitos/macrófagos são os principais alvos do DENV. Juntamente com DCs,
essas células são responsáveis pela disseminação do vírus após a entrada inicial via picada do
mosquito vetor. Vários estudos m mostrando que fatores solúveis liberados por
monócitos/macrófagos infectados por DENV exercem influência predominante nas
propriedades biológicas de células endoteliais e em populações celulares mielóides (Shaio,
Cheng et al., 1995; Anderson, Wang et al., 1997), sugerindo que a interação do DENV com
essas células pode desempenhar um papel na patogenia do dengue. Pelo fato de
monócitos/macrófagos serem lulas fagocíticas ativas, com componentes lisossomais
citoplasmáticos capazes de eliminar microorganismos, a interação do DENV com essas
células pode também resultar em efeitos deletérios para ambos os vírus e células. Espina e
colaboradores demonstraram qualitativamente, utilizando microscopia eletrônica, que o vírus
DENV-2 é eficientemente fagocitado por monócitos humanos e degradados, sugerindo que a
fagocitose seja um mecanismo de clearence viral. Porém, nesse mesmo estudo, foi visto que
monócitos humanos infectados sofriam apoptose. Entretanto, embora estes estudos tenham
demonstrado evidências de apoptose em monócitos infectados por Dengue in vitro, estas não
são muito claras. O trabalho não descreve réplicas do experimento e os gráficos de citometria
não estão muito claros (Espina, Valero et al., 2003). Com o intuito de se estudar melhor esse
fenômeno, investigamos o possível dano celular induzido pelo DENV-2 cepa 16681 em
monócitos de indivíduos brasileiros saudáveis, num modelo de infecção in vitro, inicialmente,
conduziu os experimentos utilizando metodologias mais quantitativas e sensíveis para a
detecção das fases iniciais de morte celular programada.
91
A marcação celular com Anexina-V-FITC e o corante de exclusão, PI, avaliada através
de citometria de fluxo é uma das técnicas mais utilizadas para quantificar células em morte
celular programada. Usando esse método, podemos distinguir 3 populações celulares
diferentes: as células viáveis (duplo negativa), as em processo de morte celular programada
(Anexina-V
+
) e as em necrose ou mortas (PI
+
e Anexina-V
+
PI
+
), baseadas na exposição de
fosfatidilserina sobre a membrana plasmática, graças à fixação da Anexina-V. Seguindo a
optimização da infecção dos monócitos pelo DENV-2, nós detectamos, de forma
esclarecedora, a morte celular programada, mostrando que o vírus é capaz de induzir apoptose
de forma marcante 2 dias após infecção. Em virtude de o segundo dia representar o ponto de
maior produção de citocina pró-inflamatória TNF-α, também um importante indutor de
apoptose, podemos sugerir que o processo de maturação e produção de citocinas por essas
células ativariam vias envolvidas na apoptose. Observamos também que monócitos cultivados
na ausência de vírus infeccioso também morrem. Podemos sugerir que o tipo de morte
induzida nessas células seja diferente do que observamos em monócitos infectados, mesmo
ambos tendo características morfológicas semelhantes, como a exposição de fosfatidilserina.
Um tipo de morte celular programada, que muitos autores caracterizam como o-apoptótica,
mas que também apresenta características muito semelhantes a apoptose é a autofagia. Esse
mecanismo é desencadeado por estímulos de estresse ambiental, como carência de nutrientes,
danos induzidos por citocinas e condições de hipoxia. Nesses casos, as células consomem
parte de seus componentes internos de forma a sobreviver a essas condições. Quando a essa
condição permance por longos períodos, a morte é desencadeada, com ou sem a ativação de
caspases ou pela via Fas/FasL (Perlman, Pagliari et al., 2001; Lemasters, 2005; Yu, Chow et
al., 2006). A autofagia pode explicar o porquê de monócitos cultivados apenas em presença
de meio ou tratados com vírus inativado apresentem taxas consideráveis de morte celular
programada. A ausência da troca do meio de cultura por 2 dias e os procedimentos de
raspagem para obtenção dessas células seriam considerados como formas de estresse celular.
Estudos recentes vêm demonstrando morte celular espontânea de monócitos humanos
cultivados em meio enriquecido de SFB (Yu, Chow et al., 2006). Nesses estudos, cerca de
34% de monócitos cultivados por 48 horas, em presença de meio apenas, sofriam morte
celular programada, avaliada pela marcação com Anexina-V e PI. Esses resultados
corroboram com os dados que obtivemos em nossos experimentos.
92
Vários estudos documentam que a infecção pelo DENV pode induzir apoptose em
diferentes tipos celulares in vitro e in vivo, e que esses dados estariam correlacionados com a
gravidade da doença (Mongkolsapaya, Dejnirattisai et al., 2003; Myint, Endy et al., 2006;
Limonta, Capo et al., 2007). É sabido que uma proporção da população de monócitos pode
suportar à replicação viral do DENV-2 e que, portanto, células infectadas podem ser fontes de
disseminação viral após a diferenciação e liberação do vírus e citocinas para a corrente
sanguínea (O'sullivan e Killen, 1994). A replicação viral em células-alvo e/ou a exposição a
proteínas virais e mediadores inflamatórios poderiam desencadear a apoptose de células
infectadas, garantindo, em parte, a disseminação da progêne viral. Mostramos neste trabalho
que o percentual de monócitos apoptóticos é elevado em cultura infectada, em comparação a
células tratadas com meio apenas ou com vírus inativado, o que sugere a presença do vírus
para desencadear a morte celular. A apoptose pode representar uma estratégia viral para
escapar do sistema imune e garantir sua disseminação no organismo. No sistema de co-cultura
DC e linfócitos T, DCs infectadas por vírus do sarampo aumentam a expressão de Fas,
tornando-se mais susceptíveis à apoptose mediada pelo sistema Fas/FasL. Este processo
parece facilitar a liberação do vírus no sobrenadante da co-cultura, facilitando a infecção de
células vizinhas, além de induzir simultaneamente a maturação de DCs não infectadas. Além
disso, o estudo também especula o possível papel da apoptose de DCs mediada por Fas/FasL,
contribuindo para a infecção de fagócitos vizinhos, embora ainda não se saiba de fato que
fagócitos possam ser infectados por corpúsculos apoptóticos de células infectadas contendo
vírus (Servet-Delprat, Vidalain et al., 2000). Contraditoriamente, a apoptose pode ter um
efeito oposto e deletério para as progênies virais e representar uma tentativa do hospedeiro em
conter a infecção. Células apoptóticas ou corpúsculos apoptóticos infectados podem ser
digeridos por fagócitos vizinhos. Considerando que a fagocitose de células mortas é essencial
para prevenir uma resposta inflamatória desregulada e por iniciar respostas imunes
específicas, a apoptose pode ser reflexo de uma tentativa do sistema imune do hospedeiro em
conter a infecção. Interessantemente, monócitos infectados podem produzir uma série de
mediadores inflamatórios, incluindo o TNF-α. Essa citocina poderia acelerar a apoptose
induzida pelo vírus, concomitante com a redução da progênie viral. A lise prematura de
células infectadas por DENV pode ter um papel significativo na supressão da multiplicação
viral, concomitante com as taxas de infecção reduzidas observadas 72 e 120 horas após a
infecção. A aceleração da apoptose pode ajudar macrófagos a reconhecer e remover células
infectadas.
93
A via extrínseca de ativação da apoptose envolve uma série de receptores da família
TNF. O receptor Fas compreende um deles. Alguns trabalhos mostram seu envolvimento em
patogenias, incluindo infecções virais como Sarampo, Hepatite B e Dengue (Servet-Delprat,
Vidalain et al., 2000; Wang, Gregori et al., 2004; Limjindaporn, Netsawang et al., 2007). Um
estudo recente demonstrou que a presença da proteína do capsídeo do vírus Dengue é
fundamental na indução de apoptose de células HepG2 em uma via dependente de Fas
(Limjindaporn, Netsawang et al., 2007). A via de sinalização Fas/FasL pode representar um
mecanismo mais complexo, envolvendo ativação de kinases, fatores de transcrição e a
regulação de fatores pro-apoptóticos, como o citocromo C. Alguns estudos mostram que a
indução de Fas promove ativação de kinases e fatores de transcrição (Liu et al., 2006).
Investigações demonstraram que a ativação do NF-κB, num contexto de infecção por vírus
influenza, modula alguns fatores pró-apoptóticos como Fas e, consequentemente, a apoptose e
propagação do vírus (Wurzer, Ehrhardt et al., 2004). Li e colaboradores demonstraram que o
IFN-γ, produzido inicialmente, induziu um aumento na expressão de CD95 em uma linhagem
de células endoteliais microvasculares (Li, Zou et al., 2002). se sabe que DCs derivadas de
monócitos, quando infectadas com o vírus do sarampo, aumentam expressão de Fas e são
mais susceptíveis à apoptose quando co-cultivadas na presença de linfócitos T (Servet-
Delprat, Vidalain et al., 2000). Embora seja de extrema relevância na ativação da via
extrínseca apoptótica, o receptor Fas também parece induzir respostas inflamatórias em
diferentes tipos celulares, via produção de citocinas. A sinalização via Fas induz a produção
de IL-8, TNF-α e IL-1β em monócitos e macrófagos teciduais humanos, modulando respostas
pró-inflamatórias por uma via dependente de caspases (Park, Thomsen et al,. 2003).
Em virtude de se confirmar se monócitos infectados por DENV-2 in vitro estariam
entrando em apoptose na presença do vírus, foi avaliada a influência do receptor Fas na morte
dessas células. Pela primeira vez demonstramos que a expressão de Fas é significativa,
concomitante com o pico de infecção viral, comprovando a influência da via extrínseca
apoptótica na indução de morte celular programada no nosso modelo de infecção de
monócitos com DENV. Este processo leva à liberação do vírus no sobrenadante da cultura,
facilitando a infecção de células vizinhas, além de induzir simultaneamente a maturação de
monócitos. Embora nossos resultados mostrem que a presença do vírus e/ou proteínas virais
possa induzir apoptose de monócitos por uma via dependente de Fas/FasL, eles não
descartam a participação do receptor TNF-α/TNFR, citocinas e/ou outros mecanismos
envolvidos na gravidade da doença. Azeredo e colaboradores demonstraram elevados níveis
solúveis de TNF-α, bem como os receptores TNFRI e II no plasma de pacientes brasileiros
infectados por Dengue (Azeredo, Zagne et al., 2001). Evidências sugerem o papel dessa
94
citocina como um indutor da apoptose em neutrófilos e células parenquimais via receptor e
ativação de NF-kB. (Jaeschke, Farhood et al., 2000; Niwa, Hara et al., 2000; Liao, Lin et al.,
2001; Espina, Valero et al., 2003). Interessantemente, a variabilidade conferida aos diferentes
valores percentuais de células Fas
+
em cada doador analisado pode também ser reflexo de
fatores genéticos individuais influenciando na susceptibilidade à infecção in vitro por DENV
e, conseqüentemente, ao padrão diferencial de expressão do receptor.
O produto citoplasmático do proto-oncogene Bcl-2 tem sido extensamente estudado e
participa no prolongamento da sobrevivência celular, por inibir a apoptose. A proteína Bcl-2 e
o Ag Fas m efeitos opostos na apoptose. Portanto, a expressão diferencial dessas moléculas
pode resultar em uma desregulação do processo apoptótico em certas patologias, como
doenças neoplásicas e virais (Boudet, Lecoeur et al., 1996; Molica, Mannella et al., 1996).
Em nosso projeto, ao contrário do esperado, não ocorreram alterações significativas com
relação à expressão de Bcl-2 em monócitos infectados por DENV-2. Isso abre margem para
especularmos que outras proteínas anti-apoptóticas, como Bcl-xL, estariam sendo reguladas
negativamente durante a infecção. A mitocôndria é uma organela fundamental na apoptose,
regulando o processo através de proteínas da família Bcl-2. Proteínas pró-apoptóticas
induzem a morte celular via permeabilização da membrana mitocondrial e conseqüente
liberação de moléculas envolvidas em vias dependentes ou independentes de caspases. Ao
contrário, proteínas antiapoptóticas garantem a sobrevivência celular, em parte por inibir a
permeabilização da membrana mitocondrial. Essa inibição pode ser feita pelo aumento na
expressão de Bcl-2 e Bcl-xL, porém, parece que ambas as proteínas, e o conseqüente balanço
entre a expressão delas, desempenham funções distintas na morte celular. Um estudo mostrou
que a estimulação da expressão de Bcl-2 aumentou a morte celular, o que estaria associado
com uma diminuição na regulação de Bcl-xL em lulas tumorais (Arriola, Rodriguez-Lopez
et al., 1999). Além da troca na funcionalidade dessas proteínas em certas situações, o Bcl-xL
parece ter um papel mais eficaz em inibir as sinalizações envolvidas com os eventos iniciais
da via de apoptose induzida por TNF ou por ligantes associados à proteína adaptadora do
receptor Fas, em células tumorais (Keogh, Walczak et al., 2000). Proteínas virais envolvidas
na infecção pelo HIV modulam a sobrevivência de linhagens celulares precursoras de
macrófagos, através da indução na expressão de Bcl-xL (Choi e Smithgall, 2004). Em outro
estudo, foi demonstrado que linfócitos B também representam alvos importantes na infecção
por HIV e que anormalidades podem ocorrer em termos de ativação e apoptose dessas células,
concomitante com a elevada viremia plasmática. (Ho, Moir et al., 2006). Os resultados
obtidos em nosso trabalho sugerem que a indução da apoptose possa envolver tanto por uma
associação entre as vias extrínseca e intrínseca, quanto individualmente. Nossos dados
95
corroboram a hipótese de que, no modelo de infecção por DENV-2, o vírus e/ou mediadores
inflamatórios produzidos em decorrência da infecção, promovam a indução da apoptose em
monócitos humanos, modulada por uma diminuição na expressão de uma proteína anti-
apoptótica, por uma via dependente ou independente de Fas/FasL. Podemos especular que
mecanismos distintos estariam associados à apoptose de monócitos frente à infecção, em
conseqüência do grau de ativação dessas células. Porém, ambas podem convergir, ao final e
contribuir para alterações funcionais vitais de monócitos frente à infecção por Dengue.
Os vírus desenvolveram estratégias para driblar as respostas celulares e assegurar seu
sucesso durante a infecção. Muitas dessas estratégias envolvem alterações no metabolismo
energético. A modulação das funções mitocondriais compreende uma dessas. Essa resposta
envolve o mecanismo de apoptose que inclui, em grande parte, alterações na integridade dessa
organela. Um experimento preliminar feito por nós mostrou que monócitos humanos
infectados por DENV-2 apresentam uma disfunção mitocondrial caracterizada por alterações
no ψm. Alguns artigos vêm demonstrando que proteínas associadas ao vírus podem
desencadear a apoptose em diferentes tipos celulares e sua expressão intracelular provocar
disfunções mitocondriais, com a ativação da via dependente de caspases (Catteau, Roue et al.,
2003). Recentemente, demonstrou-se, em um modelo de infecção in vitro, que uma disfunção
bioenergética e mitocondrial em células hepáticas humanas envolve vírus DENV-2. Tal
disfunção foi conseqüência de um decréscimo no ∆ψm, alterando propriedades respiratórias e
a morfologia dessa organela (El-Bacha, Midlej et al., 2007). Nossos resultados, embora
preliminares, sugerem uma diminuição no ∆ψm de monócitos infectados. Se isso for
confirmado, poderemos dizer que a disfunção mitocondrial seja decorrente da influência viral.
O fluorocromo DiOC
6
(3), em baixas concentrações, é amplamente utilizado para
visualizar a estrutura membranar mitocondrial, pois se acumula na célula de acordo com a
hiperpolarização da membrana (Bedner, Li et al., 1999). O ∆ψm é dependente do
balanceamento de prótons no espaço intermembranar e na matriz mitocondrial. Mudanças no
tráfego desses íons podem levar à despolarização e conseqüente abertura de canais ou poros,
que permitem o fluxo de moléculas para o citoplasma, desencadeando a ativação da via final
de indução da morte celular programada. Interessantemente, apesar de observarmos uma leve
queda na fluorescência de monócitos infectados, usando microscopia confocal, a maioria
deles apresentava marcações dentro do núcleo, diferentemente do visto na condição controle e
inativado. A condensação da cromatina é um evento morfológico descrito na morte celular
programada em vários animais e plantas. A habilidade de se formar massas de cromatina
requer uma desestruturação nuclear interna. A fragmentação nuclear é típica da apoptose,
ocorrendo concomitante com a degradação do DNA. Yamanda e colaboradores
96
demonstraram, em estudos com uma espécie de planta, a presença de pequenas massas de
DNA fragmentado envoltas por membrana nuclear durante a morte celular programada. De
forma interessante, cada estrutura dessas apresentou fluorescência lipofílica por DIOC
6
(Yamada, Ichimura et al., 2006). Quando o marcador é usado em concentrações relativamente
altas, ele pode se acumular em outros domínios lipídicos, como RE, microtúbulos e envelope
nuclear (Gregori, Denis et al., 2002). Sugerir que isso possa estar acontecendo em nosso
modelo de infecção é ainda especulação. Mas, se nossos resultados forem confirmados, essas
mudanças morfológicas nucleares estariam ocorrendo em monócitos humanos infectados e
poderíamos associá-las a morte dessas células. Porém, os resultados preliminares não
descartam o possível papel da mitocôndria na apoptose de monócitos.
A abordagem desses estudos, frente ao modelo de infecção desenvolvido em nosso
laboratório, contribui para um melhor entendimento do papel da apoptose, bem como expande
nossos conhecimentos sobre os diferentes mecanismos envolvidos na patogenia e gravidade
da Dengue.
97
6. CONCLUSÃO
98
O modelo adotado nesse estudo de infecção in vitro de monócitos periféricos humanos
por vírus DENV-2, assim como as metodologias utilizadas para comprovar ou hipotetizar
nossas especulações, reconstitui de forma reprodutível a infecção, e contribui para a
compreensão dos eventos que ocorrem nas células do hospedeiro frente à infecção pelo vírus
e, possivelmente dos processos que desencadeiam a morte celular. De acordo com os nossos
resultados, podemos concluir que:
Com a cinética de infecção de monócitos humanos por vírus DENV-2, estabeleceu-se
o pico máximo de detecção de células DENV
+
no segundo dia após infecção. Portanto,
esse estudo serviu como uma forma de estipularmos o período de maior infecciosidade
viral e, assim, obtermos os melhores resultados, sob diferentes abordagens, cuja
influência da presença viral fosse significativa.
Observamos que as taxas de infecção viral variavam muito de um doador de leucócitos
para outro, em conseqüência da susceptibilidade de cada um à infecção. No entanto, a
infecção ocorreu na maioria deles, confirmando-se um modelo adequado por
reproduzir a infecção do vírus e a variação, que deve ocorrer na natureza devido às
variabilidades genéticas do hospedeiro.
Mostramos que, no pico de infecção pelo DENV-2, os monócitos são mais
estimulados e ativados pelo aumento significativo de células CD14
+
expressando a
molécula CD16, em culturas infectadas. A maturação e expansão dessas lulas
ocorrem durante a exposição ao vírus infeccioso.
Confirmamos que, de fato, a infecção viral do DENV-2 é importante para induzir
mudanças morfológicas em monócitos humanos, que estariam associadas à etapa
inicial da via apoptótica nessas células. A externalização precoce de fosfatidilserina,
um marcador morte de celular programada, foi detectada pela Anexina-V, com
exclusão de PI.
Pela primeira vez mostramos que, num modelo de infecção in vitro, a presença do
DENV-2 foi capaz de desencadear apoptose dependente de Fas em monócitos
humanos. O aumento de monócitos Fas
+
em culturas infectadas demonstra que o vírus
modula a via extrínseca apoptótica na indução de morte celular.
99
Curiosamente, não observamos nenhuma alteração significativa na expressão da
proteína anti-apoptótica Bcl-2 em monócitos infectados. Em virtude da família das
proteínas Bcl-2 comportarem uma gama de moléculas anti-apoptóticas, podemos
sugerir que a modulação de outra(s) proteínas(s) estaria sendo influenciada na
presença do DENV-2 .
Monócitos humanos infectados por DENV-2 apresentaram, em um experimento
preliminar, uma disfunção mitocondrial caracterizada por alterações no ψm. Essas
alterações na integridade da organela podem estar envolvidas na apoptose e indicam
que poderá ser confirmado um papel da mitocôndria e conseqüentemente, da via
intrínseca apoptótica, na indução de morte celular de monócitos infectados.
De acordo com os dados obtidos nessa dissertação, e em outros trabalhos de
relevância, desenvolvemos um esquema ilustrativo das possíveis vias de sinalização
envolvidas na indução de morte e ativação celulares na infecção de monócitos humanos pelo
vírus Dengue (Figura 6.1) (Diamond, Roberts et al., 2000; Grandvaux, TenOever et al., 2002;
Neves- Zouza, 2005; Seth, Sun et al., 2006; Azeredo, Oiliveira-Pinto et al., 2007; Reis, 2007).
100
Figura 6.1: Hipótese das vias de sinalização envolvidas na indução de morte e ativação celulares na
infecção de monócitos pelo vírus Dengue. Após inoculação do vírus DENV pelo mosquito Aedes aegypti na
pele do hospedeiro humano, (1.) o vírus infectaria uma das principais células-alvo, os monócitos circulantes, via
co-receptores como TLR-2 (CD14-TLR2 ) ou ainda, por um outro receptor celular ainda desconhecido. O
reconhecimento e/ou endocitose viral mediada por esses receptores levaria à ativação de fatores de transcrição
responsáveis tanto pela indução da secreção de citocinas quanto pela secreção de outros mediadores envolvidos
no clearance viral e na sobrevivência e/ou morte da célula infectada. Dentre os fatores de transcrição, (2.) o
complexo IκB-NF-κB é dissociado, permitindo a translocação do NF-κB ao núcleo e consequentemente, (3.)
indução da expressão de citocinas pró-inflamatórias, como o TNF-α. (4.) A interação do TNF-a com seu receptor
transmembranar, particularmente o TNFR1, induz o recrutamento de uma outra série de proteínas sinalizadoras
citoplasmáticas que levam inicialmente a (5.) ativação da caspase-8 (6.). Numa seqüência de eventos bem
ordenada, a caspase-8 induz ativação da caspase efetora 3 (7.), envolvida na inibição e/ou ativação de
constituintes citoplasmáticos responsáveis pela manutenção da sobrevivência da célula (8.). Na infecção é
também possível observar o aumento da expressão do receptor Fas, que ao interagir com seu ligante FasL,
expresso numa célula vizinha, é capaz de desencadear a cascata de sinalização da apoptose semelhante à via
TNF/TNFR (9.). A infecção também seria capaz de ativar a via intrínseca de morte celular na qual a mitocôndria
tem papel crucial. De fato, vários trabalhos m demonstrado que a alteração da permeabilidade da membrana
mitocondrial promove uma disfunção da organela e (10.) secreção de proteínas pró-apoptóticas capazes de ativar
a caspase 9 que, em seguida, ativar a caspase 3 (11.). A alteração da permeabilidade e do potencial da membrana
mitocondrial leva à secreção de radicais livres (12.) que, por exemplo, contribuiriam ao processo de morte
celular ao induzirem a exposição da fosfatidilserina na membrana externa da célula apoptótica, facilitando, desta
forma, o reconhecimento dessas últimas por células fagocíticas (13.). A ativação da morte celular poderia ser
acompanhada por eventos de ativação dos monócitos, uma vez que tem sido observado (14.) o aumento da
expressão de CD16 (FCγIII), característico de monócitos com capacidade altamente pró-inflamatória. Por outro
lado, a infecção pelo vírus Dengue induziria (15.) o fator de transcrição IRF3 envolvido no aumento da indução
de citocinas anti-virais como IFN-α (16.). A via efetora dos IFNs tipo I induziriam a expressão de genes anti-
virais envolvidos na inibição da replicação viral (17.). Desta forma, existiria uma complexa interação vírus vs
hospedeiro que, provavelmente envolvidos na patogenia, estariam contribuindo para a gravidade e evolução da
doença.
Proteína viral
T
T
L
L
R
R
-
-
2
2
DENV
D
D
E
E
N
N
V
V
-
-
R
R
1
7
11
T
T
N
N
F
F
-
-
α
αα
α
α
αα
α
3
4
T
T
N
N
F
F
R
R
5
C
C
a
a
s
s
p
p
a
a
s
s
e
e
8
8
C
C
a
a
s
s
p
p
a
a
s
s
e
e
3
3
6
C
C
D
D
1
1
4
4
I
I
-
-
κ
κκ
κ
κ
κκ
κ
B
B
2
N
N
F
F
-
-
κ
κκ
κ
κ
κκ
κ
B
B
N
N
F
F
-
-
κ
κκ
κ
κ
κκ
κ
B
B
I
I
F
F
N
N
-
-
α
αα
α
α
αα
α
16
I
I
R
R
F
F
-
-
3
3
I
I
F
F
N
N
-
-
α
αα
α
α
αα
α
R
R
x
17
9
C
C
a
a
s
s
p
p
a
a
s
s
e
e
9
9
A
A
P
P
A
A
F
F
-
-
1
1
I
I
A
A
P
P
S
S
x
C
C
i
i
t
t
o
o
c
c
r
r
o
o
m
m
o
o
c
c
S
S
m
m
a
a
c
c
10
10
R
R
O
O
S
S
12
13
P
S
P
C
P
S
P
C
Célula
Célula
Citoplasma
Citoplasma
C
C
D
D
1
1
6
6
Ac anti-DENV
14
I
I
R
R
F
F
-
-
3
3
15
?
15
?
F
F
a
a
s
s
8
F
F
a
a
s
s
L
L
RNA viral
Bcl-xL Bak
101
7. PERSPECTIVAS
102
Os estudos em modelos de infecção in vitro para o vírus Dengue representam formas
reprodutíveis de estímulos para que possamos compreender melhor os aspectos envolvidos na
imunopatologia da infecção in vivo e, consequentemente, da gravidade da doença.
Adicionalmente, estes modelos fornecem ferramentas cruciais para que possamos ter uma
abordagem mais detalhada, destrinchando as vias que modulam a morte celular e suas
implicações na FHD/SCD. Os resultados obtidos neste trabalho são importantes para a
compreensão dos aspectos que modulam a imunopatogenia da infecção. Porém, mais estudos
deverão ser desenvolvidos para aperfeiçoarmos e validarmos nossos resultados. Ainda resta
esclarecer a relevância do grau de ativação dos monócitos frente à infecção viral e a
conseqüência disso no estabelecimento de uma resposta imune antiviral eficiente. Para isto,
outros marcadores fenotípicos de ativação devem ser levados em consideração, como o papel
dos TLRs, abordados em nosso laboratório por Neves-Souza e colaboradores. A proporção
de ativação celular e sua relação com a susceptibilidade ou resistência à infecção pelo DENV
devem ser levadas em consideração. Poderão ainda ser realizadas análises da produção de
citocinas, como IL-10 e TNF-α, importantes indicadores de diferentes subpopulações
monocíticas, e suas conseqüências funcionais para o estabelecimento da infecção. Apesar de o
modelo adotado ser reprodutível e utilizado em diversos ensaios, variáveis técnicas
influenciaram na nossa abordagem de estudo. Portanto, pretendemos aperfeiçoar esse modelo
de infecção de forma a eliminar ou reduzir qualquer tipo de “estresse” físico ou químico que
possa influenciar nos nossos resultados. O uso de sistemas de cultura utilizando placas de
teflon representa uma alternativa para limitar a aderência de monócitos e, assim, reduzir o
estresse celular conferido em virtude das raspagens para obtenção das células. Também é
preciso um estudo mais intenso sobre o possível papel das vias intrínsecas e extrínsecas
apoptóticas. Portanto, a pesquisa de moléculas-chaves, incluindo outros receptores de morte
como TNFR, MAPKs, caspases e fatores de transcrição, possivelmente estimuladas no
decorrer da infecção, seria de extrema relevância para a elucidação não apenas das vias
envolvidas na ativação dessas lulas, mas também na indução de apoptose de monócitos
humanos. Por fim, é crucial a realização de experimentos para que possamos confirmar que
monócitos infectados, ou não, tornam-se mais susceptíveis a apoptose e se esta é uma forma
de estratégia adotada pelo DENV para burlar as defesas inatas do hospedeiro, garantindo sua
sobrevivência e disseminação. Para isso, o uso de inibidores apoptóticos, como inibidores de
caspases e Acs anti-TNF, e a utilização da técnica de TUNEL são importantes ferramentas
para que possamos correlacionar as taxas de infecção por DENV-2 com a apoptose.
103
Desta forma, poderemos expandir nossos conhecimentos de forma a incorporá-los
como intervenções estratégicas de prevenção e terapia para controle da Dengue e,
futuramente, suas aplicações na clínica.
104
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
105
Agrawal, S., A. Agrawal, et al. Cutting edge: different Toll-like receptor agonists instruct
dendritic cells to induce distinct Th responses via differential modulation of extracellular
signal-regulated kinase-mitogen-activated protein kinase and c-Fos. J Immunol
, v.171, n.10,
Nov 15, p.4984-9. 2003.
Amirayan-Chevillard, N., H. Tissot-Dupont, et al. Impact of highly active anti-retroviral
therapy (HAART) on cytokine production and monocyte subsets in HIV-infected patients.
Clin Exp Immunol
, v.120, n.1, Apr, p.107-12. 2000.
An, H., Y. Yu, et al. Involvement of ERK, p38 and NF-kappaB signal transduction in
regulation of TLR2, TLR4 and TLR9 gene expression induced by lipopolysaccharide in
mouse dendritic cells. Immunology
, v.106, n.1, May, p.38-45. 2002.
Ancuta, P., P. Autissier, et al. CD16+ monocyte-derived macrophages activate resting T cells
for HIV infection by producing CCR3 and CCR4 ligands. J Immunol, v.176, n.10, May 15,
p.5760-71. 2006.
Ancuta, P., K. J. Kunstman, et al. CD16+ monocytes exposed to HIV promote highly efficient
viral replication upon differentiation into macrophages and interaction with T cells. Virology
,
v.344, n.2, Jan 20, p.267-76. 2006.
Anderson, C. F., J. S. Gerber, et al. Modulating macrophage function with IgG immune
complexes. J Endotoxin Res
, v.8, n.6, p.477-81. 2002.
Anderson, R., S. Wang, et al. Activation of endothelial cells via antibody-enhanced dengue
virus infection of peripheral blood monocytes. J Virol, v.71, n.6, Jun, p.4226-32. 1997.
Antoniades, C. G., P. A. Berry, et al. Reduced monocyte HLA-DR expression: a novel
biomarker of disease severity and outcome in acetaminophen-induced acute liver failure.
Hepatology
, v.44, n.1, Jul, p.34-43. 2006.
Arriola, E. L., A. M. Rodriguez-Lopez, et al. Bcl-2 overexpression results in reciprocal
downregulation of Bcl-X(L) and sensitizes human testicular germ cell tumours to
chemotherapy-induced apoptosis. Oncogene
, v.18, n.7, Feb 18, p.1457-64. 1999.
Ashwell, J. D. The many paths to p38 mitogen-activated protein kinase activation in the
immune system. Nat Rev Immunol, v.6, n.7, Jul, p.532-40. 2006.
Avirutnan, P., P. Malasit, et al. Dengue virus infection of human endothelial cells leads to
chemokine production, complement activation, and apoptosis. J Immunol
, v.161, n.11, Dec 1,
p.6338-46. 1998.
106
Azeredo, E., Oliveira-Pinto, L. M. d.,et al. Monocyte activation is achieved during acute
Dengue Fever - detected by increased CD14+CD16+ - and desactivation in severe patients
by decreased HLA-DR+ subsets. (manuscrito em preparação). International Congress of
Immunology, Rio de Janeiro, Brazil. Aug 21-25, Pp416=13th 2007
Poster2375
Azeredo, E. L., L. M. De Oliveira-Pinto, et al. NK cells, displaying early activation,
cytotoxicity and adhesion molecules, are associated with mild dengue disease. Clin Exp
Immunol, v.143, n.2, Feb, p.345-56. 2006.
Azeredo, Elzinandes Leal de. Resposta imune inata e adaptativa em pacientes com febre do
Dengue: status dos monócitos, células NK e linfócitos T. Rio de Janeiro, 2005. Tese de
Doutorado (Doutor em Ciências-Imunologia Viral)-Instituto Oswaldo Cruz, Fundação
Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2005
Azeredo, E. L., S. M. Zagne, et al. Characterisation of lymphocyte response and cytokine
patterns in patients with dengue fever. Immunobiology
, v.204, n.4, Dec, p.494-507. 2001.
Barber, G. N. Host defense, viruses and apoptosis. Cell Death Differ
, v.8, n.2, Feb, p.113-26.
2001.
Bedner, E., X. Li, et al. Analysis of apoptosis by laser scanning cytometry. Cytometry, v.35,
n.3, Mar 1, p.181-95. 1999.
Belge, K. U., F. Dayyani, et al. The proinflammatory CD14+CD16+DR++ monocytes are a
major source of TNF. J Immunol
, v.168, n.7, Apr 1, p.3536-42. 2002.
Bergsmedh, A., J. Ehnfors, et al. DNase II and the Chk2 DNA damage pathway form a
genetic barrier blocking replication of horizontally transferred DNA. Mol Cancer Res
, v.4,
n.3, Mar, p.187-95. 2006.
Bethell, D. B., K. Flobbe, et al. Pathophysiologic and prognostic role of cytokines in dengue
hemorrhagic fever. J Infect Dis
, v.177, n.3, Mar, p.778-82. 1998.
Bidere, N., H. K. Lorenzo, et al. Cathepsin D triggers Bax activation, resulting in selective
apoptosis-inducing factor (AIF) relocation in T lymphocytes entering the early commitment
phase to apoptosis. J Biol Chem
, v.278, n.33, Aug 15, p.31401-11. 2003.
Bielefeldt-Ohmann, H. Pathogenesis of dengue virus diseases: missing pieces in the jigsaw.
Trends Microbiol, v.5, n.10, Oct, p.409-13. 1997.
Bosch, I., K. Xhaja, et al. Increased production of interleukin-8 in primary human monocytes
and in human epithelial and endothelial cell lines after dengue virus challenge. J Virol
, v.76,
n.11, Jun, p.5588-97. 2002.
107
Boudet, F., H. Lecoeur, et al. Apoptosis associated with ex vivo down-regulation of Bcl-2 and
up-regulation of Fas in potential cytotoxic CD8+ T lymphocytes during HIV infection. J
Immunol, v.156, n.6, Mar 15, p.2282-93. 1996.
Boya, P., R. A. Gonzalez-Polo, et al. Inhibition of macroautophagy triggers apoptosis. Mol
Cell Biol, v.25, n.3, Feb, p.1025-40. 2005.
Broker, L. E., F. A. Kruyt, et al. Cell death independent of caspases: a review. Clin Cancer
Res, v.11, n.9, May 1, p.3155-62. 2005.
Bruchhaus, I., T. Roeder, et al. Protozoan parasites: programmed cell death as a mechanism
of parasitism. Trends Parasitol, v.23, n.8, Aug, p.376-83. 2007.
Bunyaratvej, A., P. Butthep, et al. Dengue viruses induce cell proliferation and morphological
changes of endothelial cells. Southeast Asian J Trop Med Public Health
, v.28 Suppl 3, p.32-7.
1997.
Cardier, J. E., E. Marino, et al. Proinflammatory factors present in sera from patients with
acute dengue infection induce activation and apoptosis of human microvascular endothelial
cells: possible role of TNF-alpha in endothelial cell damage in dengue. Cytokine
, v.30, n.6,
Jun 21, p.359-65. 2005.
Carson, D. A. e J. M. Ribeiro. Apoptosis and disease. Lancet
, v.341, n.8855, May 15, p.1251-
4. 1993.
Catteau, A., O. Kalinina, et al. Dengue virus M protein contains a proapoptotic sequence
referred to as ApoptoM. J Gen Virol
, v.84, n.Pt 10, Oct, p.2781-93. 2003.
Catteau, A., G. Roue, et al. Expression of dengue ApoptoM sequence results in disruption of
mitochondrial potential and caspase activation. Biochimie, v.85, n.8, Aug, p.789-93. 2003.
Cerqueira, Denise Irene Soeiro. Infecção dos vírus DEN-1 e DEN-2 e indução de apoptose em
cultura de células dendríticas humanas. Rio de Janeiro, 2003. Dissertação de mestrado
(Mestre em Ciência-Imunologia Viral)-Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz,
Riode Janeiro, 2003.
Chakravarti, A. e R. Kumaria. Circulating levels of tumour necrosis factor-alpha & interferon-
gamma in patients with dengue & dengue haemorrhagic fever during an outbreak. Indian J
Med Res, v.123, n.1, Jan, p.25-30. 2006.
Chaturvedi, U., R. Nagar, et al. Dengue and dengue haemorrhagic fever: implications of host
genetics. FEMS Immunol Med Microbiol, v.47, n.2, Jul, p.155-66. 2006.
Chaturvedi, U. C. Tumour necrosis factor & dengue. Indian J Med Res
, v.123, n.1, Jan, p.11-
4. 2006.
108
Chen, Y. C. e S. Y. Wang. Activation of terminally differentiated human
monocytes/macrophages by dengue virus: productive infection, hierarchical production of
innate cytokines and chemokines, and the synergistic effect of lipopolysaccharide. J Virol
,
v.76, n.19, Oct, p.9877-87. 2002.
Chen, Y. C., S. Y. Wang, et al. Bacterial lipopolysaccharide inhibits dengue virus infection of
primary human monocytes/macrophages by blockade of virus entry via a CD14-dependent
mechanism. J Virol
, v.73, n.4, Apr, p.2650-7. 1999.
Chleq-Deschamps, C. M., D. P. Lebrun, et al. Topographical dissociation of BCL-2
messenger RNA and protein expression in human lymphoid tissues. Blood, v.81, n.2, Jan 15,
p.293-8. 1993.
Choi, H. J. e T. E. Smithgall. HIV-1 Nef promotes survival of TF-1 macrophages by inducing
Bcl-XL expression in an extracellular signal-regulated kinase-dependent manner. J Biol
Chem, v.279, n.49, Dec 3, p.51688-96. 2004.
Clyde, K., J. L. Kyle, et al. Recent advances in deciphering viral and host determinants of
dengue virus replication and pathogenesis. J Virol
, v.80, n.23, Dec, p.11418-31. 2006.
Cologna, R. e R. Rico-Hesse. American genotype structures decrease dengue virus output
from human monocytes and dendritic cells. J Virol, v.77, n.7, Apr, p.3929-38. 2003.
Cologna, R., P. M. Armstrong, et al. Selection for virulent dengue viruses occurs in humans
and mosquitoes. J Virol
, v.79, n.2, Jan, p.853-9. 2005.
Courageot, M. P., A. Catteau, et al. Mechanisms of dengue virus-induced cell death. Adv
Virus Res, v.60, p.157-86. 2003.
De Jong, D., F. A. Prins, et al. Subcellular localization of the bcl-2 protein in malignant and
normal lymphoid cells. Cancer Res, v.54, n.1, Jan 1, p.256-60. 1994.
Dejean, L. M., S. Martinez-Caballero, et al. Regulation of the mitochondrial apoptosis-
induced channel, MAC, by BCL-2 family proteins. Biochim Biophys Acta
, v.1762, n.2, Feb,
p.191-201. 2006.
Despres, P., M. P. Frenkiel, et al. Apoptosis in the mouse central nervous system in response
to infection with mouse-neurovirulent dengue viruses. J Virol
, v.72, n.1, Jan, p.823-9. 1998.
Diamond, M. S., D. Edgil, et al. Infection of human cells by dengue virus is modulated by
different cell types and viral strains. J Virol, v.74, n.17, Sep, p.7814-23. 2000.
Diamond, M. S., T. G. Roberts, et al. Modulation of Dengue virus infection in human cells by
alpha, beta, and gamma interferons. J Virol
, v.74, n.11, Jun, p.4957-66. 2000.
109
Eguchi, Y., D. L. Ewert, et al. Isolation and characterization of the chicken bcl-2 gene:
expression in a variety of tissues including lymphoid and neuronal organs in adult and
embryo. Nucleic Acids Res
, v.20, n.16, Aug 25, p.4187-92. 1992.
El-Bacha, T., V. Midlej, et al. Mitochondrial and bioenergetic dysfunction in human hepatic
cells infected with dengue 2 virus. Biochim Biophys Acta
, v.1772, n.10, Oct, p.1158-66.
2007.
Ellery, P. J., E. Tippett, et al. The CD16+ monocyte subset is more permissive to infection
and preferentially harbors HIV-1 in vivo. J Immunol, v.178, n.10, May 15, p.6581-9. 2007.
Espina, L. M., N. J. Valero, et al. Increased apoptosis and expression of tumor necrosis factor-
alpha caused by infection of cultured human monocytes with dengue virus. Am J Trop Med
Hyg, v.68, n.1, Jan, p.48-53. 2003.
Feig, C. e M. E. Peter. How apoptosis got the immune system in shape. Eur J Immunol
, v.37
Suppl 1, Nov, p.S61-70. 2007.
Fernandez-Calotti, P., R. Gamberale, et al. Fludarabine induces pro-inflammatory activation
of human monocytic cells through a MAPK/ERK pathway. Int Immunopharmacol
, v.6, n.5,
May, p.715-23. 2006.
Fernandez-Mestre, M. T., K. Gendzekhadze, et al. TNF-alpha-308A allele, a possible severity
risk factor of hemorrhagic manifestation in dengue fever patients. Tissue Antigens
, v.64, n.4,
Oct, p.469-72. 2004.
Figueiredo, L. T. M. Dengue in Brazil: Past, Present and Future Perspective. Vírus Research
Unit of the School of Medicine of Ribeirão Preto, University of São Paulo. 2003
Fingerle, G., A. Pforte, et al. The novel subset of CD14+/CD16+ blood monocytes is
expanded in sepsis patients. Blood, v.82, n.10, Nov 15, p.3170-6. 1993.
Fink, J., F. Gu, et al. Role of T cells, cytokines and antibody in dengue fever and dengue
haemorrhagic fever. Rev Med Virol
, v.16, n.4, Jul-Aug, p.263-75. 2006.
Frankenberger, M., T. Sternsdorf, et al. Differential cytokine expression in human blood
monocyte subpopulations: a polymerase chain reaction analysis. Blood
, v.87, n.1, Jan 1,
p.373-7. 1996.
Gasparini, G., M. Barbareschi, et al. Expression of bcl-2 protein predicts efficacy of adjuvant
treatments in operable node-positive breast cancer. Clin Cancer Res, v.1, n.2, Feb, p.189-98.
1995.
Gibbons, R. V. e D. W. Vaughn. Dengue: an escalating problem. Bmj
, v.324, n.7353, Jun 29,
p.1563-6. 2002.
110
Gordon, S. Alternative activation of macrophages. Nat Rev Immunol, v.3, n.1, Jan, p.23-35.
2003.
Gordon, S. e P. R. Taylor. Monocyte and macrophage heterogeneity. Nat Rev Immunol
, v.5,
n.12, Dec, p.953-64. 2005.
Gottlieb, E., M. G. Vander Heiden, et al. Bcl-x(L) prevents the initial decrease in
mitochondrial membrane potential and subsequent reactive oxygen species production during
tumor necrosis factor alpha-induced apoptosis. Mol Cell Biol
, v.20, n.15, Aug, p.5680-9.
2000.
Gottlieb, R. A. Mitochondria and apoptosis. Biol Signals Recept, v.10, n.3-4, May-Aug,
p.147-61. 2001.
Gozuacik, D. e A. Kimchi. Autophagy as a cell death and tumor suppressor mechanism.
Oncogene
, v.23, n.16, Apr 12, p.2891-906. 2004.
Grandvaux, N., B. tenOver, et al. The interferon antiviral response: from viral invasion to
evasion. Current Opinion in Infeccious Deseases
, v.15, p.259-67. 2002
Green, D. R. e G. Kroemer. The pathophysiology of mitochondrial cell death. Science
, v.305,
n.5684, Jul 30, p.626-9. 2004.
Green, S., S. Pichyangkul, et al. Early CD69 expression on peripheral blood lymphocytes
from children with dengue hemorrhagic fever. J Infect Dis
, v.180, n.5, Nov, p.1429-35. 1999.
Green, S. e A. Rothman. Immunopathological mechanisms in dengue and dengue
hemorrhagic fever. Curr Opin Infect Dis
, v.19, n.5, Oct, p.429-36. 2006.
Gregori, G., M. Denis, et al. A flow cytometric approach to assess phytoplankton respiration.
Methods Cell Sci, v.24, n.1-3, p.99-106. 2002.
Gross, A. BCL-2 proteins: regulators of the mitochondrial apoptotic program. IUBMB Life
,
v.52, n.3-5, Sep-Nov, p.231-6. 2001.
Gubbler, DJ. Dengue and dengue hemorrhagic fever: its history and ressurgence as global
public health problem. In: DJ. Gubbler e G. Kuno (ed.): New York: CAB International 1997,
1-22;
Guo, H., T. V. Tittle, et al. Brefeldin A-mediated apoptosis requires the activation of caspases
and is inhibited by Bcl-2. Exp Cell Res
, v.245, n.1, Nov 25, p.57-68. 1998.
Gupta, S. Molecular signaling in death receptor and mitochondrial pathways of apoptosis
(Review). Int J Oncol
, v.22, n.1, Jan, p.15-20. 2003.
Halstead, S. B. e E. J. O'rourke. Dengue viruses and mononuclear phagocytes. I. Infection
enhancement by non-neutralizing antibody. J Exp Med
, v.146, n.1, Jul 1, p.201-17. 1977.
111
Halstead, S. B. Pathogenesis of dengue: challenges to molecular biology. Science, v.239,
n.4839, Jan 29, p.476-81. 1988.
Halstead, S. B. e N. J. Marchette. Biologic properties of dengue viruses following serial
passage in primary dog kidney cells: studies at the University of Hawaii. Am J Trop Med
Hyg, v.69, n.6 Suppl, Dec, p.5-11. 2003.
______. Dengue. Curr Opin Infect Dis
, v.15, n.5, Oct, p.471-6. 2002.
______. Dengue. Lancet
, v.370, n.9599, Nov 10, p.1644-52. 2007.
Ho, J., S. Moir, et al. Two overrepresented B cell populations in HIV-infected individuals
undergo apoptosis by different mechanisms. Proc Natl Acad Sci U S A
, v.103, n.51, Dec 19,
p.19436-41. 2006.
Ho, Y. P., I. S. Sheen, et al. A strong association between down-regulation of HLA-DR
expression and the late mortality in patients with severe acute pancreatitis. Am J
Gastroenterol, v.101, n.5, May, p.1117-24. 2006.
Hsu, H., J. Huang, et al. TNF-dependent recruitment of the protein kinase RIP to the TNF
receptor-1 signaling complex. Immunity, v.4, n.4, Apr, p.387-96. 1996.
Jaeschke, H., A. Farhood, et al. Protection against TNF-induced liver parenchymal cell
apoptosis during endotoxemia by a novel caspase inhibitor in mice. Toxicol Appl Pharmacol
,
v.169, n.1, Nov 15, p.77-83. 2000.
Jan, J. T., B. H. Chen, et al. Potential dengue virus-triggered apoptotic pathway in human
neuroblastoma cells: arachidonic acid, superoxide anion, and NF-kappaB are sequentially
involved. J Virol
, v.74, n.18, Sep, p.8680-91. 2000.
Jessie, K., M. Y. Fong, et al. Localization of dengue virus in naturally infected human tissues,
by immunohistochemistry and in situ hybridization. J Infect Dis, v.189, n.8, Apr 15, p.1411-8.
2004.
Juffrie, M., G. M. Van Der Meer, et al. Inflammatory mediators in dengue virus infection in
children: interleukin-8 and its relationship to neutrophil degranulation. Infect Immun
, v.68,
n.2, Feb, p.702-7. 2000.
Karin, M. e A. Lin. NF-kappaB at the crossroads of life and death. Nat Immunol
, v.3, n.3,
Mar, p.221-7. 2002.
Keogh, S. A., H. Walczak, et al. Failure of Bcl-2 to block cytochrome c redistribution during
TRAIL-induced apoptosis. FEBS Lett, v.471, n.1, Apr 7, p.93-8. 2000.
Kouri, G. P., M. G. Guzman, et al. Why dengue haemorrhagic fever in Cuba? 2. An integral
analysis. Trans R Soc Trop Med Hyg
, v.81, n.5, p.821-3. 1987.
112
Kroemer, G. e J. C. Reed. Mitochondrial control of cell death. Nat Med, v.6, n.5, May, p.513-
9. 2000.
Kuhn, R. J., W. Zhang, et al. Structure of dengue virus: implications for flavivirus
organization, maturation, and fusion. Cell
, v.108, n.5, Mar 8, p.717-25. 2002.
Kurane, I., B. L. Innis, et al. Human T cell responses to dengue virus antigens. Proliferative
responses and interferon gamma production. J Clin Invest
, v.83, n.2, Feb, p.506-13. 1989.
Lee, D. C., C. Y. Cheung, et al. p38 mitogen-activated protein kinase-dependent
hyperinduction of tumor necrosis factor alpha expression in response to avian influenza virus
H5N1. J Virol, v.79, n.16, Aug, p.10147-54. 2005.
Lee, N., C. K. Wong, et al. Hypercytokinemia and hyperactivation of phospho-p38 mitogen-
activated protein kinase in severe human influenza A virus infection. Clin Infect Dis
, v.45,
n.6, Sep 15, p.723-31. 2007.
Lei, H. Y., T. M. Yeh, et al. Immunopathogenesis of dengue virus infection. J Biomed Sci
,
v.8, n.5, Sep, p.377-88. 2001.
Leitmeyer, K. C., D. W. Vaughn, et al. Dengue virus structural differences that correlate with
pathogenesis. J Virol
, v.73, n.6, Jun, p.4738-47. 1999.
Lemasters, J. J. Dying a thousand deaths: redundant pathways from different organelles to
apoptosis and necrosis. Gastroenterology
, v.129, n.1, Jul, p.351-60. 2005.
Li, A. X., P. Zou, et al. [Study on expression and function of fas ligand in human myeloid
leukemia cells]. Zhongguo Shi Yan Xue Ye Xue Za Zhi
, v.10, n.3, Jun, p.183-6. 2002.
Liao, C. L., Y. L. Lin, et al. Salicylates inhibit flavivirus replication independently of
blocking nuclear factor kappa B activation. J Virol, v.75, n.17, Sep, p.7828-39. 2001.
Libraty, D. H., T. P. Endy, et al. Differing influences of virus burden and immune activation
on disease severity in secondary dengue-3 virus infections. J Infect Dis
, v.185, n.9, May 1,
p.1213-21. 2002.
Libraty, D. H., S. Pichyangkul, et al. Human dendritic cells are activated by dengue virus
infection: enhancement by gamma interferon and implications for disease pathogenesis. J
Virol, v.75, n.8, Apr, p.3501-8. 2001.
Limjindaporn, T., J. Netsawang, et al. Sensitization to Fas-mediated apoptosis by dengue
virus capsid protein. Biochem Biophys Res Commun, v.362, n.2, Oct 19, p.334-9. 2007.
Limonta, D., V. Capo, et al. Apoptosis in tissues from fatal dengue shock syndrome. J Clin
Virol, v.40, n.1, Sep, p.50-4. 2007.
113
Lin, C. F., H. Y. Lei, et al. Endothelial cell apoptosis induced by antibodies against dengue
virus nonstructural protein 1 via production of nitric oxide. J Immunol
, v.169, n.2, Jul 15,
p.657-64. 2002.
Liu, Y. Q., Z. Q. Mu, et al. Fas/FasL signaling allows extracelluar-signal regulated kinase to
regulate cytochrome c release in oridonin-induced apoptotic U937 cells. Biol Pharm Bull
,
v.29, n.9, Sep, p.1873-9. 2006.
Loeffler, M. e G. Kroemer. The mitochondrion in cell death control: certainties and incognita.
Exp Cell Res, v.256, n.1, Apr 10, p.19-26. 2000.
Loke, H., D. Bethell, et al. Susceptibility to dengue hemorrhagic fever in vietnam: evidence
of an association with variation in the vitamin d receptor and Fc gamma receptor IIa genes.
Am J Trop Med Hyg
, v.67, n.1, Jul, p.102-6. 2002.
Ludwig, S., S. Pleschka, et al. Ringing the alarm bells: signalling and apoptosis in influenza
virus infected cells. Cell Microbiol
, v.8, n.3, Mar, p.375-86. 2006.
Malavige, G. N., S. Fernando, et al. Dengue viral infections. Postgrad Med J
, v.80, n.948,
Oct, p.588-601. 2004.
Maniati, E., P. Potter, et al. Control of apoptosis in autoimmunity. J Pathol, v.214, n.2, Jan,
p.190-8. 2008.
Mantovani, A., A. Sica, et al. New vistas on macrophage differentiation and activation. Eur J
Immunol, v.37, n.1, Jan, p.14-6. 2007.
Marianneau, P., A. Cardona, et al. Dengue virus replication in human hepatoma cells activates
NF-kappaB which in turn induces apoptotic cell death. J Virol
, v.71, n.4, Apr, p.3244-9. 1997.
Marianneau, P., M. Flamand, et al. Induction of programmed cell death (apoptosis) by dengue
virus in vitro and in vivo. Acta Cient Venez, v.49 Suppl 1, p.13-7. 1998.
Matsuda, T., A. Almasan, et al. Dengue virus-induced apoptosis in hepatic cells is partly
mediated by Apo2 ligand/tumour necrosis factor-related apoptosis-inducing ligand. J Gen
Virol, v.86, n.Pt 4, Apr, p.1055-65. 2005.
Mentor, N. A. e I. Kurane. Dengue virus infection of human T lymphocytes. Acta Virol
, v.41,
n.3, Jun, p.175-6. 1997.
Merchant, S. H., N. J. Gonchoroff, et al. Apoptotic index by Annexin V flow cytometry:
adjunct to morphologic and cytogenetic diagnosis of myelodysplastic syndromes. Cytometry
,
v.46, n.1, Feb 15, p.28-32. 2001.
Miagostovich, M. P., P. C. Sequeira, et al. Molecular typing of dengue virus type 2 in Brazil.
Rev Inst Med Trop Sao Paulo
, v.45, n.1, Jan-Feb, p.17-21. 2003.
114
Miller, J. L., B. J. Dewet, et al. The mannose receptor mediates dengue virus infection of
macrophages. PLoS Pathog
, v.4, n.2, Feb 8, p.e17. 2008.
Mobley, J. L., M. Leininger, et al. Genetic evidence of a functional monocyte dichotomy.
Inflammation
, v.30, n.6, Dec, p.189-97. 2007.
Molica, S., A. Mannella, et al. Differential expression of BCL-2 oncoprotein and Fas antigen
on normal peripheral blood and leukemic bone marrow cells. A flow cytometric analysis.
Haematologica
, v.81, n.4, Jul-Aug, p.302-9. 1996.
Mongkolsapaya, J., W. Dejnirattisai, et al. Original antigenic sin and apoptosis in the
pathogenesis of dengue hemorrhagic fever. Nat Med, v.9, n.7, Jul, p.921-7. 2003.
Mosquera, J. A., J. P. Hernandez, et al. Ultrastructural studies on dengue virus type 2
infection of cultured human monocytes. Virol J
, v.2, p.26. 2005.
Mosser, D. M. The many faces of macrophage activation. J Leukoc Biol
, v.73, n.2, Feb,
p.209-12. 2003.
Mukhopadhyay, S., R. J. Kuhn, et al. A structural perspective of the flavivirus life cycle. Nat
Rev Microbiol, v.3, n.1, Jan, p.13-22. 2005.
Myint, K. S., T. P. Endy, et al. Cellular immune activation in children with acute dengue virus
infections is modulated by apoptosis. J Infect Dis
, v.194, n.5, Sep 1, p.600-7. 2006.
Navarro-Sanchez, E., R. Altmeyer, et al. Dendritic-cell-specific ICAM3-grabbing non-
integrin is essential for the productive infection of human dendritic cells by mosquito-cell-
derived dengue viruses. EMBO Rep
, v.4, n.7, Jul, p.723-8. 2003.
Navarro-Sanchez, E., P. Despres, et al. Innate immune responses to dengue virus. Arch Med
Res, v.36, n.5, Sep-Oct, p.425-35. 2005.
Neves-Souza, P. C., E. L. Azeredo, et al. Inducible nitric oxide synthase (iNOS) expression in
monocytes during acute Dengue Fever in patients and during in vitro infection. BMC Infect
Dis, v.5, p.64. 2005.
Neves-Souza, Patrícia Cristina. Infecção de monócitos humanos por DENV-2: Expressão de
TLR-2, óxido trico sintase e fator tecidual. Rio de Janeiro, 2005. Dissertação de Mestrado
(Mestre em Ciências -Imunologia) -Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de
Janeiro, 2005.
Nguyen, T. H., H. Y. Lei, et al. Dengue hemorrhagic fever in infants: a study of clinical and
cytokine profiles. J Infect Dis
, v.189, n.2, Jan 15, p.221-32. 2004.
115
Niwa, M., A. Hara, et al. Nuclear factor-kappaB activates dual inhibition sites in the
regulation of tumor necrosis factor-alpha-induced neutrophil apoptosis. Eur J Pharmacol
,
v.407, n.3, Nov 3, p.211-9. 2000.
O'sullivan, M. A. e H. M. Killen. The differentiation state of monocytic cells affects their
susceptibility to infection and the effects of infection by dengue virus. J Gen Virol
, v.75 (Pt
9), Sep, p.2387-92. 1994.
Ono, S., H. Tsujimoto, et al. Modulation of human leukocyte antigen-DR on monocytes and
CD16 on granulocytes in patients with septic shock using hemoperfusion with polymyxin B-
immobilized fiber. Am J Surg
, v.188, n.2, Aug, p.150-6. 2004.
Oyaizu, N. e S. Pahwa. Role of apoptosis in HIV disease pathogenesis. J Clin Immunol
, v.15,
n.5, Sep, p.217-31. 1995.
Palmer, D. R., P. Sun, et al. Differential effects of dengue virus on infected and bystander
dendritic cells. J Virol
, v.79, n.4, Feb, p.2432-9. 2005.
Pang, T., M. J. Cardosa, et al. Of cascades and perfect storms: the immunopathogenesis of
dengue haemorrhagic fever-dengue shock syndrome (DHF/DSS). Immunol Cell Biol, v.85,
n.1, Jan, p.43-5. 2007.
Park, D. R., A. R. Thomsen, et al. Fas (CD95) induces proinflammatory cytokine responses
by human monocytes and monocyte-derived macrophages. J Immunol
, v.170, n.12, Jun 15,
p.6209-16. 2003.
Passlick, B., D. Flieger, et al. Identification and characterization of a novel monocyte
subpopulation in human peripheral blood. Blood
, v.74, n.7, Nov 15, p.2527-34. 1989.
Pelaez, O., M. G. Guzman, et al. Dengue 3 epidemic, Havana, 2001. Emerg Infect Dis
, v.10,
n.4, Apr, p.719-22. 2004.
Perez, A. B., G. Garcia, et al. IL-10 levels in Dengue patients: some findings from the
exceptional epidemiological conditions in Cuba. J Med Virol
, v.73, n.2, Jun, p.230-4. 2004.
Perlman, H., L. J. Pagliari, et al. The Fas-FasL death receptor and PI3K pathways
independently regulate monocyte homeostasis. Eur J Immunol
, v.31, n.8, Aug, p.2421-30.
2001.
Pinto, L. M., S. A. Oliveira, et al. Increased pro-inflammatory cytokines (TNF-alpha and IL-
6) and anti-inflammatory compounds (sTNFRp55 and sTNFRp75) in Brazilian patients
during exanthematic dengue fever. Mem Inst Oswaldo Cruz
, v.94, n.3, May-Jun, p.387-94.
1999.
Polizel, J. R., D. Bueno, et al. Association of human leukocyte antigen DQ1 and dengue fever
in a white Southern Brazilian population. Mem Inst Oswaldo Cruz
, v.99, n.6, Oct, p.559-62.
2004.
116
Pryor, M. J., J. M. Carr, et al. Replication of dengue virus type 2 in human monocyte-derived
macrophages: comparisons of isolates and recombinant viruses with substitutions at amino
acid 390 in the envelope glycoprotein. Am J Trop Med Hyg
, v.65, n.5, Nov, p.427-34. 2001.
Quirico-Santos TF, Kubelka CF, Lannes Vieira J, Da Cruz AM, Moraes MO. Tropical
infectious deseases. In: Koen Vandenbroeck. (Org.). Cytokine Gene Polymorphisms in
Multifactorial Conditions. Boca Raton, FL 33487, USA: CRC LLC Press, 2006, v.28, p. 413-
29.
Reed, L. J. R.; Müench, N. A. Simple method of estimating fifty percent end-point. Amer J
Hgy: v. 27, p. 493-97, 1938.
Reis, S. R., A. L. Sampaio, et al. An in vitro model for dengue virus infection that exhibits
human monocyte infection, multiple cytokine production and dexamethasone
immunomodulation. Mem Inst Oswaldo Cruz
, v.102, n.8, Dec, p.983-90. 2007.
Reis, S. R., L. M. Valente, et al. Immunomodulating and antiviral activities of Uncaria
tomentosa on human monocytes infected with Dengue Virus-2. Int Immunopharmacol
, v.8,
n.3, Mar, p.468-76. 2008.
Rigau-Perez, J. G., G. G. Clark, et al. Dengue and dengue haemorrhagic fever. Lancet, v.352,
n.9132, Sep 19, p.971-7. 1998.
Rothman, A. L. Dengue: defining protective versus pathologic immunity. J Clin Invest
, v.113,
n.7, Apr, p.946-51. 2004.
Sakuntabhai, A., C. Turbpaiboon, et al. A variant in the CD209 promoter is associated with
severity of dengue disease. Nat Genet
, v.37, n.5, May, p.507-13. 2005.
Salas, R. A., D. Tovar, et al. [Serotypes and genotypes of dengue virus circulating in
Venezuela, 1990-1997]. Acta Cient Venez, v.49 Suppl 1, p.33-7. 1998.
Salaun, B., P. Romero, et al. Toll-like receptors' two-edged sword: when immunity meets
apoptosis. Eur J Immunol
, v.37, n.12, Dec, p.3311-8. 2007.
Sawatzky, D. A., D. A. Willoughby, et al. The involvement of the apoptosis-modulating
proteins ERK 1/2, Bcl-xL and Bax in the resolution of acute inflammation in vivo. Am J
Pathol, v.168, n.1, Jan, p.33-41. 2006.
Schaeffer, H. J. e M. J. Weber. Mitogen-activated protein kinases: specific messages from
ubiquitous messengers. Mol Cell Biol, v.19, n.4, Apr, p.2435-44. 1999.
Schatzmayr, H. G. [New perspectives in viral vaccines]. Hist Cienc Saude Manguinhos
, v.10,
n.Suppl 2, p.655-69. 2003.
Schito, M. L., O. N. Demidov, et al. Wip1 phosphatase-deficient mice exhibit defective T cell
maturation due to sustained p53 activation. J Immunol
, v.176, n.8, Apr 15, p.4818-25. 2006.
117
Schwarz, M., M. A. Andrade-Navarro, et al. Mitochondrial carriers and pores: key regulators
of the mitochondrial apoptotic program? Apoptosis
, v.12, n.5, May, p.869-76. 2007.
Sciortino, M. T., D. Perri, et al. Role of Bcl-2 expression for productive herpes simplex virus
2 replication. Virology
, v.356, n.1-2, Dec 5-20, p.136-46. 2006.
Servet-Delprat, C., P. O. Vidalain, et al. Consequences of Fas-mediated human dendritic cell
apoptosis induced by measles virus. J Virol
, v.74, n.9, May, p.4387-93. 2000.
Shaio, M. F., S. N. Cheng, et al. Cytotoxic factors released by dengue virus-infected human
blood monocytes. J Med Virol, v.46, n.3, Jul, p.216-23. 1995.
Shao, R. G., T. Shimizu, et al. Brefeldin A is a potent inducer of apoptosis in human cancer
cells independently of p53. Exp Cell Res
, v.227, n.2, Sep 15, p.190-6. 1996.
Sierra, B., R. Alegre, et al. HLA-A, -B, -C, and -DRB1 allele frequencies in Cuban
individuals with antecedents of dengue 2 disease: advantages of the Cuban population for
HLA studies of dengue virus infection. Hum Immunol
, v.68, n.6, Jun, p.531-40. 2007.
Siqueira, J. B., Jr., C. M. Martelli, et al. Dengue and dengue hemorrhagic fever, Brazil, 1981-
2002. Emerg Infect Dis, v.11, n.1, Jan, p.48-53. 2005.
Skinner, N. A., C. M. Macisaac, et al. Regulation of Toll-like receptor (TLR)2 and TLR4 on
CD14dimCD16+ monocytes in response to sepsis-related antigens. Clin Exp Immunol
, v.141,
n.2, Aug, p.270-8. 2005.
Skrzeczynska-Moncznik, J., M. Bzowska, et al. Peripheral blood CD14high CD16+
monocytes are main producers of IL-10. Scand J Immunol
, v.67, n.2, Feb, p.152-9. 2008.
Stoka, V., B. Turk, et al. Lysosomal protease pathways to apoptosis. Cleavage of bid, not pro-
caspases, is the most likely route. J Biol Chem, v.276, n.5, Feb 2, p.3149-57. 2001.
Strauss-Ayali, D., S. M. Conrad, et al. Monocyte subpopulations and their differentiation
patterns during infection. J Leukoc Biol
, v.82, n.2, Aug, p.244-52. 2007.
Suhrbier, A. e M. La Linn. Suppression of antiviral responses by antibody-dependent
enhancement of macrophage infection. Trends Immunol
, v.24, n.4, Apr, p.165-8. 2003.
Svs-Ms. Secretaria de Vigilância em Saúde-Dengue - Boletim de Janeiro a Dezembro/ 2007.
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/boletim_dengue_010208.pdf
Sydow, F. F., M. A. Santiago, et al. Comparison of dengue infection in human mononuclear
leukocytes with mosquito C6/36 and mammalian Vero cells using flow cytometry to detect
virus antigen. Mem Inst Oswaldo Cruz
, v.95, n.4, Jul-Aug, p.483-9. 2000.
Tacke, F. e G. J. Randolph. Migratory fate and differentiation of blood monocyte subsets.
Immunobiology
, v.211, n.6-8, p.609-18. 2006.
118
Tan, Y., R. Yu, et al. Betulinic acid-induced programmed cell death in human melanoma cells
involves mitogen-activated protein kinase activation. Clin Cancer Res
, v.9, n.7, Jul, p.2866-
75. 2003.
Tassaneetrithep, B., T. H. Burgess, et al. DC-SIGN (CD209) mediates dengue virus infection
of human dendritic cells. J Exp Med
, v.197, n.7, Apr 7, p.823-9. 2003.
Tracey, K. J. e A. Cerami. Pleiotropic effects of TNF in infection and neoplasia: beneficial,
inflammatory, catabolic, or injurious. Immunol Ser
, v.56, p.431-52. 1992a.
______. Tumor necrosis factor in metabolism of disease: hormonal actions versus local tissue
effects. Nouv Rev Fr Hematol, v.34 Suppl, p.S37-42. 1992b.
Tsujimoto, H., S. Ono, et al. Differential toll-like receptor expression after ex vivo
lipopolysaccharide exposure in patients with sepsis and following surgical stress. Clin
Immunol, v.119, n.2, May, p.180-7. 2006.
Vaux, D. L., G. Haecker, et al. An evolutionary perspective on apoptosis. Cell
, v.76, n.5, Mar
11, p.777-9. 1994.
Vermes, I., C. Haanen, et al. A novel assay for apoptosis. Flow cytometric detection of
phosphatidylserine expression on early apoptotic cells using fluorescein labelled Annexin V. J
Immunol Methods, v.184, n.1, Jul 17, p.39-51. 1995.
Wang, J. H., Y. J. Zhou, et al. Roles of mitogen-activated protein kinase pathways during
Escherichia coli-induced apoptosis in U937 cells. Apoptosis
, v.12, n.2, Feb, p.375-85. 2007.
Wang, W. H., G. Gregori, et al. Sustained activation of p38 mitogen-activated protein kinase
and c-Jun N-terminal kinase pathways by hepatitis B virus X protein mediates apoptosis via
induction of Fas/FasL and tumor necrosis factor (TNF) receptor 1/TNF-alpha expression. Mol
Cell Biol, v.24, n.23, Dec, p.10352-65. 2004.
WHO. World health organization. Dengue Net global surveillance of dengue and dengue
hemorrhagic fever (DHF).2006
http://www.who.int/csr/disease/dengue/DengueNetFlyer2006.pdf
WHO.World health organization. Dengue/ Dengue heemorrhagic fever. 2007
http://www.who.int/csr/disease/dengue/en/index.html
Wu, S. J., G. Grouard-Vogel, et al. Human skin Langerhans cells are targets of dengue virus
infection. Nat Med
, v.6, n.7, Jul, p.816-20. 2000.
Wurzer, W. J., C. Ehrhardt, et al. NF-kappaB-dependent induction of tumor necrosis factor-
related apoptosis-inducing ligand (TRAIL) and Fas/FasL is crucial for efficient influenza
virus propagation. J Biol Chem
, v.279, n.30, Jul 23, p.30931-7. 2004.
119
Yamada, T., K. Ichimura, et al. DNA degradation and nuclear degeneration during
programmed cell death in petals of Antirrhinum, Argyranthemum, and Petunia. J Exp Bot
,
v.57, n.14, p.3543-52. 2006.
Yang, J., X. Liu, et al. Prevention of apoptosis by Bcl-2: release of cytochrome c from
mitochondria blocked. Science
, v.275, n.5303, Feb 21, p.1129-32. 1997.
Yu, Q., E. M. Chow, et al. CEACAM1 (CD66a) promotes human monocyte survival via a
phosphatidylinositol 3-kinase- and AKT-dependent pathway. J Biol Chem
, v.281, n.51, Dec
22, p.39179-93. 2006.
Zhang, W., P. R. Chipman, et al. Visualization of membrane protein domains by cryo-
electron microscopy of dengue virus. Nat Struct Biol
, v.10, n.11, Nov, p.907-12. 2003.
120
9. ANEXO
121
ANEXO I
1 2
0
250
500
750
1000
MOCK
Inativado
Infeccioso
Tempo (dias)
Concentração (Pg/mL)
Cinética de produção de citocina pró-inflamatória TNFpor monócitos humanos infectados in vitro por
DENV-2 (16681). (Reis, Gandini et al., 2006).
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo