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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - MESTRADO
SELMA RODRIGUES ALVES MONTEFUSCO
Diagnósticos de Enfermagem Identificados em Famílias em
Situação de Acompanhamento Hospitalar Utilizando o
Modelo Calgary
GOIÂNIA 2007
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SELMA RODRIGUES ALVES MONTEFUSCO
Diagnósticos de Enfermagem Identificados em Famílias em
Situação de Acompanhamento Hospitalar Utilizando o Modelo
Calgary
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação da Universidade
Federal de Goiás, para obtenção do título de
Mestre em Enfermagem.
Área de Concentração: Cuidado de
Enfermagem
Orientadora: Professora Dra. Maria Márcia
Bachion
GOIANIA, 2007
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDOS E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
FICHA CATALOGRÁFICA
CIP. Brasil. Catalogação - na - Fonte
Biblioteca Zilda Levergger Barbosa
M774d Montefusco, Selma Rodrigues Alves.
Diagnóstico de enfermagem identificados em famílias em situação de acompanhamento
hospitalar utilizando o modelo Calgary / Selma Rodrigues Alves Montefusco. – Goiânia,
2007.
129 f. : il.
Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Goiás. Faculdade de Enfermagem,
2007.
“Orientação: Prof.ª Dra. Maria Márcia Bachion”.
1. Enfermagem. 2. Enfermagem familiar. 3. Diagnóstico de enfermagem. 4. Modelo
Calgary. II. Título.
CDD: 610.73
FOLHA DE APROVAÇÃO
Selma Rodrigues Alves Montefusco
Diagnósticos de enfermagem
identificados em famílias em
situação de acompanhamento
hospitalar utilizando o modelo
Calgary
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação da Universidade
Federal de Goiás, para obtenção do título de
Mestre em Enfermagem.
Área de Concentração: Cuidado de
Enfermagem
Orientadora: Professora Dra. Maria Márcia
Bachion
Aprovada em:
Banca Examinadora
Prof. Dra Maria Márcia Bachion
Universidade Federal de Goiás/Faculdade de Enfermagem
Assinatura
Prof. Dra .Sônia Silva Marcon
Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá
Assinatura
Prof. Dra. Lourdes Maria Silva Andraus.
Universidade Federal de Goiás/Faculdade de Enfermagem
Assinatura
Este estudo está inserido na linha de pesquisa
Fundamentação teórica filosófica e
metodológica do processo de cuidar em
enfermagem. Foi desenvolvido junto ao
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Saúde
Integral da Faculdade de Enfermagem da
Universidade Federal de Goiás e contou com
apoio do CNPq.
DEDICATÓRIA
À minha família – Marcelo, Nicolas e Rhanna, pelo apoio incondicional que sempre
ofereceram às minhas escolhas, pelo incentivo em meu caminho, por compartilharem os
momentos difíceis e por saborearem comigo as conquistas. Vocês são minha razão de existir,
meu tesouro.
Aos meus queridos pais Frederico e Ana por me proporcionarem um (con) viver saudável, com
amor, carinho e amizade.
Aos meus queridos irmãos, Feliciano, Telma, Eliane, Eliene, Elizete e Frank pelo amor e
carinho.
À minha família que me adotou de coração D. Rosa, minha amada sogra, Rosana, Jaqueline,
Saulo, Fernando, Orlando e suas respectivas esposas e filhas.
AGRADECIMENTO ESPECIAL
À professora Dra. Maria Márcia Bachion, minha sábia e gentil mestra.
"Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis."
Bertold Brecht
AGRADECIMENTOS
Á DEUS a quem confio incondicionalmente minha vida.
À professora Dra. Adélia Yaeko Nakatani, por sua disponibilidade e prontidão nos
ensinamentos valiosos no direcionamento deste estudo.
Às professoras Dras. Elizabeth Esperidião e Lourdes
Maria Andraus, por terem aceitado gentilmente participar do exame de qualificação, seus
olhares possibilitaram enriquecer e aprofundar este estudo.
À profa. Dra. Celma Martins Guimarães por me mostrar os primeiros passos da pesquisa
ainda na graduação.
À Universidade Federal de Goiás e a Faculdade de Enfermagem pela oportunidade de
aprimorar meus conhecimentos.
Ao Programa de Pós-graduação da Faculdade de Enfermagem, na pessoa da
Professora Doutora Denize Bouttelet Munari, pelo acolhimento e competência na condução
do processo de formação acadêmica.
Aos secretários de Pós-Graduação - Célia e Gabriel pela atenção e carinho dispensado.
Aos Amigos da FEN - UFG pelo convívio.
Às amigas para todos os momentos, Carla Natalina e Ângela Lima.
Aos colegas do mestrado FEN/UFG de todas as turmas que de alguma forma contribuíram
com minha formação como pessoa e profissional.
À Dayane Xavier, querida amiga pela ajuda sempre nos momentos difíceis. Andressa,
Queiliene pela disposição e pronta ajuda.
Às famílias que fizeram parte deste estudo pelas valiosas informações sem as quais seria
impossível a realização do mesmo.
Ao CNPq, pelo financiamento desta pesquisa, através da bolsa de auxílio de mestrado. Que
perdure suas atividades e fomentos para novos pesquisadores, possibilitando o crescimento
da pesquisa no Brasil.
A todos que contribuíram e me incentivaram a buscar na avenida principal da vida, os
anseios e sonhos, certos de que, para quem tem coragem a vida é pequena... Principalmente
para nos conscientizar que a vida não é para ser ensinada, mas para ser aprendida.
Muito Obrigada a todos!!!!
“Eu quase nada sei. Mas desconfio de muita coisa...”.
Guimarães Rosa – Grande Sertão Veredas
“Na família nada se perde, nada se cria, tudo se transforma” Osório
RESUMO
MONTEFUSCO, S. R. A. Diagnósticos de enfermagem identificados em famílias em
situação de acompanhamento hospitalar utilizando o modelo Calgary. 2007.
129f.Dissertação (mestrado) – Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Goiás,
Goiânia, 2006.
A família assume um significado especial para o bem-estar e a saúde de seus membros, desta
forma, os enfermeiros devem considerar a família dos pacientes como parte integrante da
unidade de cuidado. No contexto da internação hospitalar de adultos este aspecto tem sido
pouco valorizado. Frente ao exposto, emerge a necessidade de avaliar e intervir junto à
família das pessoas durante o processo de hospitalização, independente de qual seja sua
alteração de saúde. Este estudo tem o objetivo de analisar o perfil de diagnósticos de
enfermagem identificados junto a famílias em situação de acompanhamento de pessoas
hospitalizadas para tratamento e doenças crônicas não-transmissíveis, utilizando o Modelo
Calgary de Avaliação. Este estudo descritivo foi realizado na clínica médica de um hospital
escola da região centro-oeste, durante o período de janeiro a junho de 2006. Foram incluídas
12 famílias que estavam acompanhando pacientes no período de coleta de dados, que
concordaram em participar mediante assinatura do termo de consentimento livre e
esclarecido. A pessoa internada e seus familiares foram tomados como unidade participante
da pesquisa. Os mesmos foram entrevistados nas enfermarias, de uma a três vezes, conforme
necessário. Os encontros foram gravados e a entrevistas transcritas. O processo diagnóstico
foi realizado pelo pesquisador e validado por um perito. A declaração diagnóstica foi
realizada com base na Taxonomia II da North American Nursing Diagnosis Association,
versão 2005-2006. Os achados foram discutidos focalizando os títulos diagnósticos, fatores
relacionados e características definidoras à luz do Modelo Calgary de Avaliação. Foram
encontradas 12 categorias diagnósticas, sendo nove reais e três de risco, totalizando 49
diagnósticos de enfermagem. Não foram detectados diagnósticos de bem-estar. O número de
diagnósticos variou de dois a sete, sendo a média de diagnósticos por família foi quatro.
Foram identificados por ordem de freqüência com os seguintes diagnósticos: tensão devido ao
papel de cuidador (100%), comunicação verbal prejudicada (75%), manutenção do lar
prejudicada (66%), processos familiares interrompidos (66%), interação social prejudicada
(25%), paternidade prejudicada (16,6%) e risco para interação social prejudicada (16,6%).
Com ocorrência menor que 10% foram identificados: enfrentamento familiar incapacitado,
paternidade e maternidade prejudicada, risco para infecção e processos familiares
disfuncionais: alcoolismo. Embora não esteja incluído na Taxonomia da North American
Nursing Diagnosis Association, foi identificado risco para infestação em uma família. Este
perfil denota problemas de desenvolvimento e funcionamento das famílias participantes do
estudo, sendo alguns deles anterior ao processo de hospitalização e outros agravados ou
causados pela situação de internação. Os enfermeiros precisam estar atentos às famílias que
estão sob os seus cuidados, cabendo-lhes desenvolver estratégias compartilhadas com toda a
equipe multidisciplinar para proteger as famílias em relação a estas ocorrências, para evitar
que o adoecimento de um familiar leve a maiores abalos na estrutura e funcionamento das
famílias. Fazer a avaliação das famílias permite identificar as suas forças e fragilidades,
permitindo uma intervenção mais acurada por parte dos profissionais.
Palavras-chaves: enfermagem, família, diagnóstico de enfermagem, enfermagem familiar.
ABSTRACT
MONTEFUSCO, S. R. Identified disgnostic of nursing in families in situation of hospital
accompaniment using the Calgary model. 2007. 129f. Dissertação (mestrado) - Faculdade
de Enfermagem, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2006.
Family is a natural group that, through the times, has developed interaction standards, that
they constitute the familiar structure, that, in turn, governs the functioning of its members,
delineating its gamma of behaviors and facilitating its interaction. In accordance with Wright;
Leahey (2002) the nursing has the commitment to include the families in the cares of health.
Many evidences exist that the family assumes one meaning special for well-being and the
health of its members, thus the nurses must consider the family of the patients as integrant
part of the unit of care. Front to the displayed one, immerges the necessity to evaluate and to
intervine together to the family of the people during the process of hospitalization,
independent of which is its alteration of health. We know that an evaluation model does not
exist that contemplates all the phenomena of the family. However, the Wrights; Leahey
(2002) cite the necessity of the adoption of a clear conceptual structure, or map of the family.
This encourages the synthesis of data, in order to be identified to the forces and the problems
of the family, constituting a plan of useful and systemize treatment. The Calgary model
involves evaluation (MCAF) and Intervention (MCIF) in the Family and constitutes the
multidimensional one structure that possesss three main categories: structural, of development
and functionary. These subcategories allow that the evaluation of each family is
differentiated. Nor all the subcategories need to be evaluated in a first meeting with the family
and some never will need to be evaluated. This study the June of 2006 through descriptive
study has the objective to analyze the disgnostic profile of nursing identified in families of
patients interned in the medical clinic of a hospital school during the period of January. They
had been enclosed families who were following patient in the period for collection of data that
had agreed to participating by means of signature of the term of free and clarified assent. The
patient and its familiar ones had been taken as participant unit of the research. The findings
had been argued focusing the disgnostic headings, related factors and characteristic defining
to the light of the Model Calgary de Evaluation and Intervention 12 disgnostic of nursing,
being 75% Reals and 25% of risk had been found. They had not been detected disgnostic of
well-being the disgnostic average for family was of four, being that we had a family with 07
(seven) disgnostic ones and one with 02 (two). The ones that had gotten greater frequency had
been: Tension Due to the Paper of Cuidador, gift in 100% of the families; in second, Harmed,
present Verbal Communication in 75%, and together in third, Interrupted Maintenance of the
Harmed Home and Familiar Processes, gifts in 66% of the families. The nurses need to be
intent to the families who are on its cares, fitting to them to develop strategies shared with all
the team to multidiscipline to protect the families in relation to these occurrences, to prevent
that the adoecimento of a familiar one has taken the abalos greaters in the structure and
functioning of the families. To make the evaluation of the families allows to identify to the
difficulties for which these families passes, allowing a acurada intervention more on the part
of the professionals.
Word-keys: nursing, family, diagnosis of nursing, familiar nursing.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Diagrama ramificado do Modelo Calgary de Avaliação de Famílias................
35
Figura 2 Símbolos utilizados no genograma e ecomapa..................................................
38
Figura 3 Genograma da família Rubi............................................................................... 63
Figura 4 Ecomapa da família Rubi................................................................................... 63
Figura 5 Genograma da família Topázio.......................................................................... 76
Figura 6 Ecomapa da família Topázio.............................................................................. 77
LISTA DE TABELAS
Tabela 1
Diagnósticos de enfermagem identificados nas famílias (N=12) e as
categorias de avaliação do Modelo Calgary de Avaliação e Intervenção.
Goiânia (GO), 2006.............................................................................................
85
Tabela 2
Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias
com o diagnóstico de enfermagem tensão do papel de cuidador (N =12).
Goiânia (GO). 2006
.................................................................................................
87
Tabela 3
Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias
com o diagnóstico de enfermagem comunicação verbal da família
prejudicada (N=9). Goiânia (GO). 2006..............................................................
91
Tabela 4
Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias
com o diagnóstico de enfermagem processos familiares interrompidos N =
8). Goiânia (GO). 2006...........................................................................................
93
Tabela 5
Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias
com o diagnóstico de enfermagem manutenção do lar prejudicada (N=
8). Goiânia (GO). 2006..........................................................................................
95
Tabela 6
Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias
com o diagnóstico de enfermagem interação social prejudicada (N = 03).
Goiânia (GO). 2006.................................................................................................
97
Tabela 7
Fatores de risco identificados nas famílias com o diagnóstico de enfermagem
risco para interação social prejudicada (N = 2). Goiânia (GO).
2006..........................................................................................................................
99
Tabela 8
Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias
com o diagnóstico de enfermagem processos familiares disfuncionais:
alcoolismo (n=01). Goiânia (GO). 2006.............................................................
100
Tabela 9
Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias
com o diagnóstico de enfermagem enfrentamento familiar incapacitado
(n=1). Goiânia (GO). 2006.
...................................................................................
102
Tabela 10
Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias
com o diagnóstico de enfermagem paternidade e maternidade prejudicada
(N=1). Goiânia (GO). 2006....................................................................................
105
Tabela 11
Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias
com o diagnóstico de enfermagem paternidade prejudicada (N = 2).
Goiânia (GO). 2006.............................................................................................
106
Tabela 12
Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias
com o diagnóstico de enfermagem risco para infecção (N = 01). Goiânia
(GO). 2006...............................................................................................................
107
Tabela 13
Fatores relacionados identificadas nas famílias com o diagnóstico de
enfermagem risco para infestação (N=1). Goiânia (GO). 2006.........................
108
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Diagnóstico da NANDA (2006) com convergência 100% com categorias
do Modelo Calgary de Avaliação...................................................................
45
Quadro 2 Diagnósticos de Enfermagem NANDA (2006) não adaptáveis a famílias
sem convergência com o Modelo Calgary de Avaliação................................
47
Quadro 3 Processo diagnóstico - fase de síntese - realizado junto à família Rubi, com
respectivos diagnósticos da NANDA. Goiânia, 2006.....................................
64
Quadro 4 Processo diagnóstico - fase de síntese - realizado junto à família Topázio,
com respectivos diagnósticos da NANDA. Goiânia, 2006.............................
78
Quadro 5 Distribuição dos 12 diagnósticos de enfermagem identificados nas famílias
(N=12), de acordo com os domínios da NANDA. 2006..............................
84
LISTA DE ANEXOS
ANEXO A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.................................................. 125
ANEXO B Instrumento de Coleta para Avaliação de Família............................................
128
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
Lista de Figuras
Lista de Tabelas
Lista de Quadros
Lista de Anexos
1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................................
19
2 OBJETIVOS...................................................................................................................
28
3 MARCOS TEORICOS..................................................................................................
29
3.1 FAMÍLIA.................................................................................................................
29
3.2 MODELO CALGARY DE AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO EM
FAMÍLIA..................................................................................................................
33
3.3 DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM DA NORTH AMERICAN NURSING
DIAGNOSIS ASSOCIATION E PROCESSO DIAGNÓSTICO........................ 40
4 PERCURSO METODOLÓGICO................................................................................
48
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................... 55
6 CONCLUSÕES...............................................................................................................
110
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................
113
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................
118
ANEXOS.............................................................................................................................
124
19
1 INTRODUÇÃO
“O amor não é verdadeiro se não é
colocado em movimento ...é este
movimento que muda o mundo”
(Alberto Piatti)
Família é um grupo natural que, através dos tempos, tem desenvolvido padrões de
interação, que constituem a estrutura familiar, que, por sua vez, governa o funcionamento dos
seus membros, delineando sua gama de comportamentos e facilitando sua interação. Nesse
contexto, todo ser humano se vê como uma unidade e, enquanto unidade sabe que influi sobre
o comportamento dos outros indivíduos e é influenciado por estes (MINUCHIN;
FISHAMAN, 1990; LUTZ; DALMOLIN, 2003).
Para Oliveira (1991), se todos os membros da família estão em equilíbrio, pode-se
dizer que há uma harmonia da unidade familiar, mas se um de seus componentes estiver em
desequilíbrio, os demais procurarão inúmeros recursos para que a família conquiste o
equilíbrio dinâmico.
A doença significa uma ameaça à integridade tanto pessoal quanto familiar.
Quando um dos membros da família adoece, os demais se apresentam preocupados e tensos.
O termo doença crônica
a
é definido por Silva et al (2002) como doenças que têm
uma ou mais das seguintes características: são permanentes, deixam incapacidade residual,
são causadas por alteração patológica não reversível, requerem treinamento especial do
paciente para reabilitação, pode-se requerer um longo período de supervisão, observação ou
cuidado.
A pessoa que apresenta doença crônica enfrenta alterações no seu estilo de vida
provocadas pela alteração de saúde em si e pela recorrência de internações hospitalares. Este
a
O termo doença crônico-degenerativa está caindo em desuso, sendo substituído por doença crônica não
transmissível no contexto do Sistema Único de Saúde, da Organização Mundial de Saúde e da literatura mais
recente. No presente estudo a terminologia será utilizada conforme a citação original de cada autor.
20
fato é compartilhado pela família que o acompanha no seu dia a dia, inclusive nos períodos
das internações.
O processo de doença crônica é contínuo, ou seja, passa a estar sempre presente
na experiência da família e varia de intensidade, dependendo do número de crises ocorridas e
da gravidade do quadro clínico. Possui dimensão biológica, psicológica, social, cultural e
espiritual. Dentro do contexto de convivência com a doença crônica, existe a necessidade de
interação entre os profissionais de saúde e a família, com o objetivo de auxiliar os familiares a
desenvolver estratégias que os levem a conviver bem com a doença. A doença crônica não se
limita ao doente e aos seus órgãos afetados, mas atinge toda a família. Altera a vida social, as
atividades, os sentimentos e as relações pessoais e profissionais tanto do doente quanto de
seus familiares (CANHESTRO, 1996).
O enfermeiro, segundo Shimizu e Guitierrez (1997), vem se preocupando em
aprimorar a assistência aos pacientes com doenças crônico-degenerativas. Entretanto, na
prática, essa meta não é facilmente atingida, principalmente para pacientes em estágio
avançado da doença ou em fase terminal, internados em uma instituição hospitalar. Neste
processo os familiares são também envolvidos. A relação familiar torna-se mais complexa,
gerando sentimentos conflitantes durante a hospitalização. Conflitos esses expressos à equipe
multidisciplinar e, particularmente ao enfermeiro, que muitas vezes não se sente preparado
para lidar com estas situações.
Em nossa realidade, em um hospital escola, na unidade de clínica médica o
atendimento à família não foi ainda priorizado. Os pacientes internados no setor apresentam
doenças crônicas e quando possuem mais de 60 anos ou dependendo da avaliação da
enfermeira (no caso de terem menos de 60 anos), têm liberação para a permanência de
acompanhante. Verificamos que algumas famílias dentro de sua dinâmica fazem revezamento
dos cuidadores e em outros casos permanece apenas um cuidador durante toda a internação.
21
Quando acontece o revezamento dos cuidadores, em alguns casos, não há comunicação entre
os mesmos a respeito dos acontecimentos e intercorrências no período do cuidado. Essas
pessoas têm sido acionadas como auxiliares ou responsáveis nos cuidados de higiene,
alimentação e conforto do paciente.
Não é comum neste ambiente, a família ser abordada como unidade de cuidado.
Geralmente o cuidado de enfermagem volta-se apenas, ou quase que totalmente, para a pessoa
adoecida que está hospitalizada. Os enfermeiros desta instituição ainda não abordam a família
como um grupo de pessoas que necessita de uma intervenção, seja por dificuldades de
relacionamentos surgidos, por exemplo, em função da doença, ou, simplesmente, por estarem
sofrendo com o surgimento da doença em um de seus integrantes.
Este fenômeno também é comum em outros locais. Segundo Chesla (1996) o
cuidado à família é particularmente deficiente em ambientes hospitalares. O enfermeiro não
tem assumido o atendimento às famílias dos pacientes em contexto de internação hospitalar, e
continua a não priorizar a família, sem levar em conta os seus problemas e necessidades.
A preocupação com a assistência à família e o cuidado à ela direcionada, segundo
Carraro (2001), remonta historicamente na enfermagem do século XIX, quando Florence
Nightingale escrevia cartas para os familiares dos soldados feridos na guerra informando-os
sobre seu estado.
O processo de cuidar da família pode ser entendido como uma metodologia de
ação baseada em um referencial teórico, isto é, o enfermeiro tem de ser competente em
acessar e intervir com as famílias num relacionamento cooperativo - profissional/família,
tendo como base uma fundamentação teórica. Para tanto, deve aliar os conhecimentos
científico e tecnológico às habilidades de observação, comunicação e intuição.
22
As estratégias devem ser no sentido não só de conhecer o impacto da doença
sobre a família, mas também de investigar como as interações entre os seus membros
influenciam no desenvolvimento do processo de saúde e doença.
Segundo Leboeuf (2000), nos encontros terapêuticos, enfermeiros e família estão
envolvidos em um mundo de símbolos e significados, negociando saberes e interpretações
sobre suas experiências de estar saudável/doente. A compreensão dos papéis desempenhados
por cada um durante esta experiência é fundamental para que o cuidado de enfermagem, entre
outros cuidados, seja significante e eficaz para a saúde da família.
A enfermagem tem o compromisso de incluir as famílias nos cuidados de saúde.
Existem muitas evidências de que a família dá um significado especial para o bem-estar e a
saúde de seus membros, bem como a influência sobre a doença dos mesmos. Essa influência
sobre a doença, obriga os (as) enfermeiros (as) a considerarem o cuidado centrado na família
como parte integrante da prática de enfermagem. O enfoque dominante da avaliação de
enfermagem e intervenção na família deve ser a reciprocidade entre saúde, doença e a família,
e entre paciente, família e enfermeira (WRIGHT; LEAHEY, 2002).
Sabemos que não existe um modelo de avaliação que contemple todos os
fenômenos da família. Contudo, Wright e Leahey (2002) citam a necessidade da adoção de
uma estrutura conceitual clara, ou mapa da família. Isto encoraja a síntese de dados, a fim de
serem identificadas às forças e os problemas da família, constituindo um plano de tratamento
útil e sistematizado.
O modelo Calgary envolve avaliação (MCAF) e intervenção (MCIF) na Família e
constitui uma estrutura multidimensional que possui três categorias principais: estrutural, de
desenvolvimento e funcional. Estas subcategorias permitem que a avaliação de cada família
seja diferenciada. Nem todas as subcategorias precisam ser avaliadas em uma primeira
reunião com a família e algumas nunca precisarão ser avaliadas. O modelo baseia-se em um
23
fundamento teórico que envolve sistemas, cibernética, comunicação e mudança (WRIGHT;
LEAHEY, 2002).
No MCAF cada membro da família é visto como uma unidade de um sistema,
sendo focalizada a interação entre seus membros e não apenas cada indivíduo separadamente.
Cada membro é um subsistema em um sistema. A teoria dos sistemas diz respeito
principalmente ao deslocamento de nosso foco das partes para o todo, enquanto a cibernética
muda o foco da substância para a forma. Para Watzlawick
b
(1984 apud WRIGHT; LEAHEY,
2002), os sistemas familiares podem ser vistos como circuitos de feedback, onde o
comportamento de uma pessoa afeta e é afetado pelo comportamento de outra pessoa.
Na teoria da comunicação existe uma preocupação com a maneira pela quais os
indivíduos interagem uns com os outros. O comportamento só é relevante e significativo
quando considera o contexto imediato. Continuando no mesmo raciocínio, as autoras relatam
que a comunicação não verbal é parte integrante da linguagem, devido principalmente às
discrepâncias entre as comunicações analógica e digital.
A mudança é uma alteração na estrutura da família que ocorre como compensação
das perturbações com a finalidade de manter a estrutura. Wright e Leahey (2002) referem que
uma mudança é vista como comportamento e, portanto, devem ser exploradas as diferenças
entre os padrões de interação familiar.
Um dos principais problemas para avaliação das famílias está em se fazer com que
as mesmas se apresentem para a assistência como uma unidade familiar, com problemas de
saúde e doenças, dificuldades ou sofrimentos específicos. Porque, muitas vezes, se pensa que
a doença é algo isolado em um determinado membro. Se isolarmos esse membro toda a
avaliação familiar pode estar comprometida.
b
WATZLAWICK, P. The invented reality: contributions to constructivism. New York: WW. Norton, 1984
24
O Modelo Calgary de Avaliação e Intervenção possui etapas que expressam o
Processo de Enfermagem, sendo que a etapa de avaliação no modelo de Calgary corresponde
às fases de coleta de dados e identificação dos diagnósticos, e a etapa de intervenção que
corresponde às fases de planejamento da assistência, implementação e avaliação. Portanto, o
referido modelo contempla todas as fases do Processo de Enfermagem (NAKATANI, 2000).
Carrol-Johnson (1990) refere que após avaliar a família gera-se uma lista de
forças e problemas que equivalem aos diagnósticos. Quando listamos as forças da família
podemos perceber que, mesmo em face de grandes problemas reais ou potenciais de saúde,
cada família é capaz de gerir suas próprias forças.
Após ter sido completada a avaliação familiar é realizado o plano de intervenção,
que deve considerar as ações necessárias para produzir as mudanças desejadas. Nesse
sentido, o MCIF “é uma estrutura organizadora para conceptualizar a intersecção entre um
domínio particular do funcionamento familiar e a intervenção específica proposta pela
enfermeira” (WRIGHT; LEAHEY, 2002 p.151).
Ao nos referirmos às intervenções de enfermagem, devemos nos lembrar que as
mesmas englobam o comportamento da enfermeira e a resposta da família. A família não deve
ser vista apenas como aquela que deve cumprir as determinações dos profissionais de saúde.
Deve-se reconhecer que ela, com freqüência, assume a responsabilidade pela saúde de seus
membros e, portanto, deve ser ouvida em suas dúvidas; sua opinião deve ser considerada,
sabendo-se que ela precisa de respaldo para prestar o cuidado de forma a atender às
necessidades do familiar enfermo.
O objetivo de uma intervenção de enfermagem é efetuar a mudança. Portanto,
intervenções eficientes são aquelas para as quais os pacientes e as famílias são receptivos
devido ao “ajuste”, ou entrosamento, entre a intervenção proposta pela enfermeira e a
25
estrutura biopsicossocial e espiritual dos membros da família (WRIGHT; LEVAC, 1992
apud, WRIGHT; LEAHEY, 2002).
Segundo Tranquitelli (1986, p.3) “cabe aos enfermeiros manter o vínculo família-
paciente, informando-a dos resultados obtidos e da perspectiva de recuperação de seu familiar
internado, assim como prepará-la para desempenhar posteriormente algumas tarefas”.
Parece haver algum tipo de dificuldade em se estabelecer relações entre
enfermeiro e família, em lidar com as emoções. Contudo, acreditamos que isso nem sempre é
algo consciente, indicando que é necessário investigar o que pode estar interferindo para que o
relacionamento família-enfermeiro seja efetivo, de forma a embasar condutas que possam
minimizar o problema (BARBOSA, 2001).
A família sente necessidade de saber o que está ocorrendo com o seu familiar que
se encontra doente, pretende ajudá-lo em sua recuperação, quer saber como está sendo
assistido, quer ajudar em suas necessidades e, sobretudo, deseja apoiá-lo emocionalmente
(SOBRAL, 1987). Para que sua contribuição seja efetiva, o enfermeiro deve prover o
paciente e família de um suporte emocional (BARBOSA, 2001).
Wright e Leahey (2002) sugerem que a falta de intervenção junto às famílias está
relacionada à ausência de enfermeiras educadoras que sejam habilitadas para trabalhar com
famílias, relacionando essa escassez ao momento de crise de identificação e descrição das
intervenções na família.
O modelo Calgary de Avaliação e Intervenção possui elementos suficientes para
instrumentalizar os profissionais que lidam com famílias de pacientes internados.
Acreditamos que a sistematização da assistência de enfermagem junto à unidade familiar
permite a individualização de cada membro, sem deixar de percebê-los como unidade,
conseqüentemente a humanização da assistência, que é o estímulo para desenvolver o projeto
26
ora proposto, e dessa forma contribuir para a ciência da enfermagem, pois a literatura sobre
esse tema, em nosso idioma, é escassa.
Realizando a revisão da literatura indexada na biblioteca virtual de saúde (BVS),
utilizando os termos, enfermagem e família, concordamos com Chesla (1996) de que a
literatura de cuidados da família está voltada à abordagem de familiares dos pacientes bebês e
crianças, doentes mentais ou quando o estado do individuo é crítico (internação em unidade
de terapia intensiva). A abordagem da família pelo profissional é menos evidente nas fases
agudas da doença de um paciente, ou quando apresenta recuperação lenta (doenças crônicas
não-transmissíveis).
Vários autores afirmam que os enfermeiros não se sentem preparados
suficientemente para assistir aos familiares dos pacientes, uma vez que isto pode levar ao
envolvimento com situações mais intensas de problemas de relacionamento interpessoal,
problemas sociais, que podem gerar sentimentos de ansiedade e angústia nos profissionais.
Por outro lado, quando não atendida em suas necessidades, a família pode experimentar
tensão, gerando um círculo de sofrimento psíquico (OLIVEIRA, 1991).
Felisbino (1990) ressalta que a falta de esclarecimento, aliada à sua impotência
para resolver seus problemas, leva muitas vezes, clientes e familiares, à ansiedade, ao
estresse, ao medo e à depressão.
O lidar com pacientes internados na clínica médica e suas famílias nos fizeram
perceber a importância que a família tem sobre a recuperação de seus membros. A aplicação
do modelo Calgary de Avaliação e Intervenção em Famílias nos fez perceber o potencial deste
instrumento, bem como a imensa contribuição nas políticas de atenção à família, quando
aplicado de forma sistematizada, socializando o conhecimento produzido e incrementando a
almejada qualidade da assistência.
27
Devido a esses fatores citados anteriormente, identificamos a necessidade de
avaliar e intervir junto à família das pessoas no processo de hospitalização, independente de
qual seja sua alteração de saúde.
No presente estudo focalizaremos a avaliação de famílias de pacientes durante o
processo de hospitalização para tratamento de doenças crônicas não-transmissíveis, mediante
utilização da taxonomia de diagnósticos de enfermagem da North American Nursing
Diagnosis Association - NANDA (2006).
Identificar o perfil de diagnósticos das famílias dessa clientela enquanto estão
hospitalizadas contribuirá para criar subsídios para os profissionais se prepararem para
desenvolver assistência, tanto para o paciente quanto para as suas famílias. Além disso, os
resultados desta pesquisa podem subsidiar novas pesquisas e o ensino na área, favorecendo a
integralidade e resolubilidade do cuidado, atendendo aos pressupostos do Sistema Único de
Saúde.
28
2 OBJETIVOS
Propusemos este estudo com os objetivos de:
-identificar diagnósticos de enfermagem da North American Nursing Diagnosis Association
(2006) em famílias em situação de acompanhamento de pessoas hospitalizadas para
tratamento de doenças crônicas não transmissíveis, mediante abordagem baseada no Modelo
Calgary de Avaliação;
- analisar o perfil de diagnósticos de enfermagem identificados junto às famílias em situação
de acompanhamento de pessoas hospitalizadas para tratamento de doenças crônicas não
transmissíveis.
29
3 MARCOS TEORICOS
3.1 FAMÍLIA
Conceituar família é uma das tarefas mais difíceis, pois se corre o risco de excluir
formas diferenciadas de organização familiar. Família é conceituada desde a forma mais
tradicional, ou seja, considerando-a apenas composta do casal e seus filhos, incluindo, às
vezes avós, tios e primos, até como uma forma mais atual ou adequada à realidade, como a
união de homossexuais.
Penna (1992), considera a família como uma unidade dinâmica constituída por
pessoas que se percebem, convivem como família em um espaço de tempo, unidos por laços
consangüíneos, laços de afetividade, de interesse e/ou doação, estruturada e organizada, com
direitos e responsabilidades, vivendo em um determinado ambiente e influenciada
socioeconômica e culturalmente.
Para Osório (1997), a família pode apresentar-se de três formas básicas: a nuclear
(conjugal), a extensa (consangüínea) e a abrangente, sendo a família nuclear constituída por
pai-mãe-filhos; a extensa, composta por outros membros que tenham quaisquer parentescos e
a abrangente que inclui não parentes que coabitem sob o mesmo teto.
Na prática profissional têm-se deparado com novas organizações familiares onde
não é o laço de consangüinidade que dá o sentido de família. Daí, concordarmos com Wright
e Leahey (2002) que dizem que família é quem seus membros consideram como tal.
Para Rice (2001), a definição de família está relacionada ao tipo de relacionamento
estabelecido entre seus membros. A família, para ela, é um grupo de pessoas que vivem juntas
30
ou em contato íntimo, cuidam umas das outras e proporcionam cuidado, apoio, criação e
orientação para seus membros dependentes, uns aos outros.
A família, enquanto célula vital para a saúde humana, é o contexto dentro do qual
evolui a saúde do indivíduo. Ela influencia de maneira significativa as crenças de seus
membros, suas atitudes e seus comportamentos relativos à saúde e à doença. Hábitos como
alimentação, o uso de álcool e tabaco, a prática de exercícios físicos e a maneira de lidar com
situações de estresse se desenvolvem dentro do contexto familiar (DUHAMEL, 1995).
Portanto, incluir a família como objeto da intervenção de enfermagem é
atualmente uma exigência e um desafio. Diversos autores questionam se a enfermagem está
preparada para enfrentar este desafio, porém, preparada ou não, os profissionais da atualidade
são colocados cada vez mais em situações de interação com a família (HARTRICK et al.,
1993).
Na abordagem sistêmica a família é definida como um grupo de indivíduos
vinculados por uma ligação emotiva profunda e por um sentimento de pertença ao grupo, isto
é, que se identificam como parte daquele grupo (WRIGHT, WATSON, BELL, 1990).
O contexto atual de assistência de enfermagem caracteriza-se por mudanças
profundas na maneira de pensar e praticar o cuidado à saúde, devendo colocar a comunidade e
a família no centro do nosso enfoque. A criação do Programa de Saúde da Família e sua
transformação em estratégia, a redução do tempo de internação, o incentivo para tratamentos
ambulatoriais e para uma rede de suporte mais ampla e flexível na assistência a pessoas com
doenças crônicas, são exemplos de mudanças que têm exigido a inclusão da família no plano
de cuidados.
Apesar de vários estudos indicarem que o cuidado à saúde na família existe desde
os tempos pré-históricos, se fosse feita uma retrospectiva na história iria se perceber que, com
a criação e com a supervalorização dos hospitais, o tratamento das doenças e o cuidado ao
31
cliente passaram a ser desenvolvidos dentro desses centros e, com isso, a família foi afastada
de tudo o que envolvia tratamento, recuperação e cura do cliente (WRIGHT; LEAHEY,
2002).
No decorrer dos séculos XVIII e XIX, durante a Repressão e a Segunda Guerra
Mundial, houve uma transição do cuidado, que deixou de ser executado nas casas dos doentes,
com a participação da família, e passou a ser institucionalizado, quando foram criados
hospitais militares com o objetivo de preservação da vida do soldado em benefício dos
interesses financeiros, excluindo a família de qualquer evento importante fosse ele nascimento
ou morte (GEOVANINI, 1995; CENTA; ELSEN, 1999; WRIGHT; LEAHEY, 2002).
Desde Florence Nightingale a enfermagem reconhece a família como objeto de
sua intervenção, no entanto, na maioria das vezes o foco da atenção da enfermagem tem sido
o indivíduo, exceto, no contexto hospitalar, em algumas especialidades tais como a pediatria e
a terapia intensiva. No campo da saúde coletiva, a grande ênfase programática tomou corpo
no final dos anos de 1990, ampliando-se enquanto política de atenção à saúde.
Atualmente, é enfatizada nas políticas públicas a criação de estratégias para que as
famílias voltem a participar do cuidado de saúde, com a visão de que esta, como um todo, é
maior do que a soma das suas partes. Esse chamamento está sendo feito com maior
conhecimento, respeito e colaboração do que em qualquer outra época da história da
enfermagem. Essas mudanças são decorrentes da especificidade da agregação familiar, pois
sua dinâmica de vida própria é afetada pelo processo de desenvolvimento socioeconômico e
social (KALOUSTIAN, 2000).
No Brasil, podemos perceber que existem poucos estudos realizados na área de
avaliação e intervenção em família, no entanto, recentemente, o tema tem sido mais abordado,
propiciando, reflexão e abertura de novos caminhos capazes de orientar práticas em saúde
32
voltadas ao atendimento da família enquanto unidade de cuidado (ELSEN; MARCON;
SILVA, 2004).
Porém, apesar da contribuição cada vez maior das pesquisas em enfermagem na
família, ainda permanece uma lacuna significativa entre a teoria, a pesquisa e a verdadeira
prática clínica. Pesquisas mostram que a abordagem centrada na família continua sendo a
expressão de um ideal e não uma prática prevalente (WRIGHT; LEAHEY, 2002).
Resgatar a história da enfermagem de famílias é uma tarefa desafiadora uma vez
que na revisão dos periódicos brasileiros e nas bases de dados dos centros de pesquisa
verifica-se a presença de estudos envolvendo o atendimento de enfermagem, mas não se
encontra a história do desenvolvimento do atendimento de enfermagem no contexto de
família no mundo e no Brasil.
Como afirmam Marcon et al. (1998, p. 380), é “praticamente impossível assistir
ao indivíduo (doente ou sadio) de forma completa quando não se considera pelo menos o seu
contexto mais próximo, que é a família à qual ele pertence”.
Duhamel (1995) sugere que as enfermeiras que se propõem a ajudar famílias com
alguma problemática de saúde, devem convidar e estimular a participação do maior número
possível de pessoas da família. É importante recolher a percepção de cada membro quanto ao
funcionamento da família, pois são elas que influenciarão os comportamentos de cada um,
assim como o funcionamento de todo o sistema familiar. A saúde familiar depende dessas
percepções e deste funcionamento.
A família, segundo Lacerda (1996), passa a ter maior significado quando ocorrem
modificações nas condições de vida de um de seus membros, como ocorre quando um deles
adoece. Uma vez que, na maioria das vezes, é o familiar quem proporciona cuidado ao doente,
esse cuidador necessitará de assistência tanto quanto aquele que está sob seus cuidados.
33
Ângelo (1999) ressalta que são muitas as dificuldades existentes no caminho
daqueles enfermeiros que se dispõem a abrir-se para a família. Muitas vezes, esta é uma
jornada solitária que compreende experiências e visões de mundo nem sempre partilhada por
outras pessoas.
Uma silenciosa revolução está ocorrendo no cenário da enfermagem, influenciada
por iniciativas solitárias a princípio, de cuidar da família, norteadas pelo pressuposto de que
nenhuma família consegue existir sem algum tipo de apoio, pelos conceitos sobre família que
têm sido desenvolvidos, e agora, por uma emergente política pública destinada à saúde da
família.
Durante anos, a enfermagem vem direcionando sua prática com famílias para
ações basicamente de orientação e de busca de informações. A família fica, neste sentido,
restrita a ser receptáculo e fonte de informações. As ações de apoio oferecidas são tímidas e
pouco efetivas, porque não apreendem e não consideram a experiência da família, e, muitas
vezes, assume natureza prescritiva, guiada pelo bom-senso, emoção e/ou intuição, sem uma
fundamentação mais segura.
3.2 MODELO CALGARY DE AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO EM FAMÍLIA
O Modelo Calgary de Avaliação da Família implica a necessidade de conhecer as
perspectivas dos familiares e é orientado pela abordagem sistêmica. Segundo Wright e Leahey
(2002) esse Modelo é uma estrutura multidimensional que possui três categorias principais
que são a estrutural, de desenvolvimento e funcional.
Cada categoria contém várias subcategorias. A estrutural envolve estrutura
interna (composição da família, gênero, orientação sexual, ordem de nascimento, subsistemas,
34
limites), estrutura externa (família extensa e sistemas mais amplos), contexto (etnia, raça,
classe social, religião e espiritualidade, ambiente).
A categoria de desenvolvimento envolve estágios, tarefas e vínculos.
A categoria funcional se divide em duas subcategorias, que são a instrumental
(atividades de vida diária) e a expressiva (comunicação emocional, comunicação verbal,
comunicação não-verbal, comunicação circular, solução de problemas, papeis, influência e
poder, crenças, alianças e uniões) (figura 1).
Para avaliar uma família é preciso que a enfermeira examine a estrutura da
mesma, quem faz parte dela, qual é o vínculo afetivo entre seus membros em comparação
com os indivíduos de fora, e qual é o seu contexto. A composição da família é definida como
um grupo de indivíduos ligados por fortes vínculos emocionais, com o sentido de posse e a
inclinação a participar das vidas uns dos outros. Wright e Leahey (2002) referem que é
preciso que as enfermeiras encontrem uma definição de família que ultrapasse as limitações
tradicionais de membro restrito, utilizando critérios como a consangüinidade, adoção e
matrimônio. A subcategoria gênero é segundo as autoras um construto básico, sendo
considerado um princípio fundamental de todos os sistemas familiares, por ser um conjunto
de crenças sobre as expectativas de conduta e experiência femininas e masculinas. Essas
crenças foram desenvolvidas por influência religiosa, cultural e familiar.
O sexo desempenha um papel importante no cuidado de saúde da família,
especialmente nas crianças. As diferenças nos papéis dos pais em cuidar de seu filho doente
podem ser fontes significativas de estresse na família. Na subcategoria orientação sexual
inclui gays, lésbicas, orientações hetero e bissexuais. Muitas vezes a discriminação, falta de
conhecimento, estereotipia e insensibilidade quanto à orientação sexual não têm sido
abordadas de modo a trazer uma reflexão crítica tanto para a família quanto para os
enfermeiros que trabalham com famílias. A subcategoria ordem de nascimento é importante
35
para a avaliação da família, em relação à idade e ao sexo. O momento do nascimento na
história da família, as características da criança, o “programa” idealizado pela família para
essa criança, e as atitudes paternas e tendências referentes às diferenças de sexo são fatores
que influenciam no grupo de irmãos. Quando um indivíduo é influenciado pelo ambiente, seus
relacionamentos com colegas, amigos e cônjuges, em geral, também são afetados.
Modelo Calgary de Avaliação de Família
Avaliação da família
Estrutural
Desenvolvimento
Funcional
interna
externa
contexto
Estágio
s
Tarefas
Vínculos
Instrumental – Atividades de vida diária
Expressiva
Comunicação emocional,
verbal, não-verbal, circular.
Solução de problemas, papeis
influência e poder, crenças,
alianças e uniões
Família extensa
sistemas mais amplos
Etnia, raça, classe social, religião e
espiritualidade, ambiente
Composição familiar
gênero
orientação sexual
ordem de nascimento
subsistema
limites
Figura 1 - Diagrama ramificado do MCAF (WRIGHT; LEAHEY – 2002 p.).
Subsistemas é uma subcategoria que é utilizada para caracterizar o nível de
diferenciação do sistema familiar. Cada pessoa na família pertence a vários subsistemas
diferentes. Em cada um deles, essa pessoa tem um diferente nível de poder e utiliza diferentes
36
habilidades. Wright e Leahey (2002) referem que em suas experiências perceberam a
importância de considerar a presença ou não na família de limites claros entre as gerações.
Limites se referem às regras para definir quem e como participa na família. Os sistemas e
subsistemas familiares têm limites que podem ser mais ou menos delimitados. Eles podem ser
difusos, rígidos ou permeáveis. Os limites tendem a mudar com o tempo, podendo se tornar
ambíguos durante o processo de reorganização após a chegada ou perda de um membro.
A categoria estrutura externa se refere à família extensa que é a família de origem
e a família de procriação, bem como a atual geração e membros da família adotiva. As autoras
entendem que os múltiplos vínculos de lealdade dos membros da família extensa podem ser
invisíveis, mas, é força muito influente na estrutura familiar. Podendo haver inclusive grandes
distâncias geográficas. Os sistemas mais amplos referem-se às instituições sociais mais
amplas e pessoas com as quais a família tem contato significativo, incluindo rede de
computadores como e-mails, salas de bate-papo e grupos de discussão.
O contexto da família é explicado como a situação total ou as informações básicas
relevantes aos ou dos mesmos. Cada família está inserida em um ou vários sistemas mais
amplos que a vizinhança, classe, religião, região, país. O contexto inclui cinco subcategorias
que são a raça, etnia, classe social, religião e espiritualidade e ambiente.
Para facilitar o agrupamento das informações relativas à estrutura familiar Wright
e Leahey (2002) utilizam o genograma e o ecomapa.
Genograma é definido pelas autoras como uma árvore familiar representando a
estrutura familiar interna. Segue os gráficos convencionais da genealogia e da genética.
Normalmente é inserido até três gerações. Os membros da família são colocados em série
horizontais que significa linhagem de geração. Os filhos são denotados por linhas verticais e
classificados da esquerda para a direita começando do mais velho. Cada membro da família é
37
representado, com respectivo nome e idade. Se um membro da família morreu, o ano da morte
também deve ser indicado.
Os principais símbolos utilizados no genograma e no ecomapa são mostrados na
figura 2. Os dados obtidos no genograma podem ser utilizados para perceber o contexto da
família, suas estruturas internas e externas. Outro instrumento que auxilia nesse discernimento
é o ecomapa que tem como objetivo representar os relacionamentos dos membros da família
com os sistemas mais amplos. Hartman
c
(1978 apud WRIGHT; LEAHEY, 2002) explica:
“O ecomapa representa uma visão geral da situação da família; retrata as relações
importantes de educação ou aquelas oprimidas por conflitos entre a família e o
mundo. Demonstra o fluxo ou a falta de recursos e as privações. Este procedimento
de mapeamento delineia a natureza das interfaces e pontos de intermediação, pontes
a construir e recursos a serem buscados e mobilizados para os conflitos”. (p.91)
Para montagem do ecomapa coloca-se o genograma da família em um circulo
central. Os círculos menores externos representam pessoas, órgãos ou instituições no contexto
familiar. São desenhadas linhas entre a família e o círculo externo para indicar a natureza dos
vínculos afetivos existentes. Linhas retas indicam fortes vínculos, linhas pontilhadas vínculos
tênues e linhas cortadas relações estressantes. As setas podem ser desenhadas ao longo das
linhas para indicar o fluxo de energia e os recursos. Acreditamos que o genograma e o
ecomapa possam ser utilizados em todos os ambientes de cuidados de saúde onde se pretenda
ter uma visão ampla do indivíduo no contexto de sua família.
c
HARTMANN, A. Diagrammatic assessment of family relationships. Social Casework, 59, 1978, p. 465-476
38
Figura 2 - Símbolos utilizados no genograma e ecomapa (WRIGHT; LEAHEY - 2002, p.98)
O conhecimento da estrutura da família não é suficiente para se fazer uma
avaliação familiar é preciso entender como se dá o desenvolvimento do ciclo vital de cada
família. Existe distinção entre desenvolvimento da família e ciclo vital da família. O
desenvolvimento é modelado por eventos previsíveis e imprevisíveis, como doenças, mortes,
catástrofes, tendências sociais, marcas que diferem uma família de qualquer outra. O ciclo
vital da família refere-se a trajetória típica que a maioria das famílias percorre. Os eventos
típicos do ciclo vital estão relacionados a entradas e saídas dos membros da família. O curso
do ciclo vital das famílias evolui em seqüências geralmente previsíveis, de estágios, mesmo
com variações culturais e étnicas. As tarefas, vínculos se darão de modos diferenciados
dependendo do estágio de desenvolvimento em que se encontra a família, tal como jovens
solteiros, casal com filhos pequenos, família com adolescentes, famílias no final da vida, e
assim por diante.
A avaliação funcional se refere ao comportamento intrafamiliar. Essa avaliação se
subdivide em instrumental e expressiva. O aspecto instrumental da família é avaliado a partir
das atividades rotineiras da vida diária (AVDs) como alimentar-se, dormir, preparar refeições,
39
aplicar medicações, mudar de roupa, entre outros. Quando se tem um membro adoecido na
família às atividades de vida diárias são em geral mais númerosas e mais freqüentes.
Com relação ao funcionamento expressivo das famílias podemos perceber que se
uma família estiver com problemas instrumentais quase sempre existirão questões
expressivas. Essa categoria se subdivide em nove subcategorias: comunicação emocional –
refere-se à amplitude e tipos de emoções e/ou sensações expressas ou demonstradas;
comunicação verbal – relacionamento expresso pelo conteúdo verbal; comunicação não-
verbal – focaliza-se nas mensagens paraverbais (sons guturais, choro, gaguejos.) e não verbais
(posturas corporal, contato ocular, toque, gestos, movimentos faciais, proximidade ou
distancias entre os membros da família) transmitidas pelos membros da família; comunicação
circular – refere-se à comunicação recíproca entre pessoas que se influenciam mutuamente;
solução de problemas – capacidade da família de dar solução eficaz aos próprios problemas;
papéis – padrões estabelecidos de comportamentos dos membros da família. Os papeis não
são estáticos, desenvolveram-se por meio de interações com outros indivíduos; influencia e
poder – métodos para afetar os comportamentos dos outros membros da família. A influência
psicológica ou poder referem-se ao uso da comunicação e sentimentos para influenciar o
comportamento; crenças – atitudes fundamentais, premissas, valores pressupostos adotados
pelos indivíduos e famílias. As crenças e os comportamentos estão ligados de maneira
intricada, cada escolha feita pela família desenvolve-se a partir de suas crenças/alianças e
uniões – refere-se a orientação, equilíbrio e intensidade dos relacionamentos entre os
membros da família ou entre famílias e enfermeiras.
Os padrões de interação são os principais impulsos dessa categoria. Não podemos
nos esquecer que mesmo que as famílias sejam compostas por indivíduos o foco é menor
sobre este e maior sobre a interação entre todos os membros da família.
40
As subcategorias que serão avaliadas em cada família dependem de cada
enfermeiro, pois a escolha ocorre em função do julgamento de que dados serão relevantes e
apropriados para o momento daquele grupo familiar.
O modelo baseia-se em um fundamento teórico que envolve sistemas,
cibernéticas, comunicação e mudança. Wright e Leahey (2002) citam alguns critérios para
indicação de avaliação da família, como a família está vivenciando um sofrimento físico e/ou
emocional, espiritual causado por crise familiar como doença aguda, lesão ou óbito. A família
define o problema como uma questão familiar e existe motivação para a sua avaliação. As
autoras citam como exemplo de indicação de necessidade de avaliação de família a presença
de doença crônica na família, membro da família que está para ser hospitalizado para
tratamento psiquiátrico, e de uma criança que está para ser hospitalizada.
A avaliação da família não dispensa o cuidado individualizado de cada membro.
Devem-se fazer as avaliações de indivíduos e de todo o sistema familiar de maneira
simultânea segundo as autoras do Modelo Calgary.
3.3 DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM DA NORTH AMERICAN NURSING
DIAGNOSIS ASSOCIATION E PROCESSO DIAGNÓSTICO
O Processo de Enfermagem é reconhecido pela Organização Pan-Americana de
Saúde (OPAS) como um método que possibilita a organização, execução e resgate do cuidado
de enfermagem. Além disso, seus componentes fornecem dados para o registro de
enfermagem e permitem avaliar o cuidado prestado ao cliente de forma individualizada (PAN
AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 2001).
Este método tem passado por diferentes fases em sua evolução, que de acordo
com Carvalho e Garcia (2002) estão marcadas por contínuo aprimoramento caracterizando
41
três gerações relacionadas com o contexto histórico social dos Estados Unidos da América do
Norte (EUA), onde teve início o pensamento teórico-científico da Enfermagem a primeira
geração (1950-60) focalizava a solução de problemas, a segunda geração (1970-90) foi
marcada pelo raciocínio clínico e diagnóstico de enfermagem e a terceira geração que surgiu
no bojo do movimento denominado de levantamentos e responsabilizações que suscitou a
Enfermagem a necessidade de desenvolver taxonomias próprias, com a finalidade de
descrever e padronizar a linguagem para declarar e registrar a prática de enfermagem.
O processo de enfermagem por ter origem nas práticas da enfermagem, possui
fases interdependentes e complementares e quando realizadas concomitantemente resultam
em intervenções satisfatórias para o paciente. Estas fases compreendem a coleta de dados, o
diagnóstico, planejamento, implementação e evolução (CHRISTENSEN; GRIFFITH-
KENNEY, 1995; BACHION, 2002; NAKATANI, 2002).
Entre estas etapas, optamos no presente estudo, por dedicar-nos ao diagnóstico de
enfermagem, por perceber a importância de sua utilização na assistência para a tomada de
decisão.
O desenvolvimento de um sistema de classificação para os diagnósticos de
enfermagem, de forma científica e confiável, tem se mostrado ser um processo lento e difícil.
A Associação Norte Americana dos Diagnósticos de Enfermagem (NANDA)
desenvolveu um sistema de classificação dos diagnósticos que propõe a uniformização dos
rótulos de problemas encontrados nos pacientes pelos enfermeiros. No âmbito dessa
organização, diagnóstico de enfermagem são julgamentos clínicos das respostas humanas de
indivíduos, famílias e comunidades a problemas de saúde reais ou potenciais e processos
vitais (NORTH AMERICAN NURSING DIAGNOSIS ASSOCIATION_ NANDA, 2006).
42
A taxonomia II da NANDA é multiaxial e possui sete eixos, 13 domínios, 46
classes e 172 diagnósticos, o que dá flexibilidade à nomenclatura, permitindo a realização de
acréscimos e modificações. (NANDA, 2006).
Para aperfeiçoar continuamente esse sistema de classificação, que está em franca
evolução, tem sido realizados esforço e empenho de enfermeiras clínicas e de pesquisadoras
de enfermagem.
A linguagem dos diagnósticos de enfermagem é um poderoso veículo que requer
pensamento crítico, analítico e acurado para comunicar a experiência da enfermagem com o
cliente durante sua prática clínica. Permite também, uma linguagem rica para os diagnósticos
de enfermagem devido à possibilidade de inúmeras combinações entre seus eixos (NANDA,
2006).
Os diagnósticos de enfermagem são classificados em três tipos que variam de
acordo com as respostas do indivíduo, família e comunidade, aos processos de vida e
problemas de saúde reais ou potenciais, são eles:
- de bem estar - respostas humanas a níveis de bem-estar;
- de risco - as respostas humanas que têm possibilidade para se instalar frente aos processos
vitais ou patológicos, sendo sustentado por fatores de risco que mantém diferentes graus de
vulnerabilidade.
- real ou vigente - respostas humanas aos processos vitais presentes ou patológicos, os quais
são sustentados pela presença das características definidoras ou sinais e sintomas.
O diagnóstico de enfermagem é constituído por uma declaração que possui três
componentes essenciais:
– título diagnóstico, que estabelece o nome para o diagnóstico, constituindo a declaração de
um termo ou frase concisa, sendo que pode ou não apresentar descritores adicionados;
43
– características definidoras, que constituem inferências observáveis que validam um
diagnóstico real ou de bem estar;
– fatores relacionados, que representam algum tipo de relacionamento associado, etiológico,
contribuinte ou estimulador do problema que caracteriza o diagnóstico de enfermagem.
Os fatores de risco, que são componentes específicos dos diagnósticos de
enfermagem de risco, os quais não possuem características definidoras e sim fatores de risco,
que são definidos como fatores ambientais e/ou elementos biofisiológicos que aumentam a
vulnerabilidade do indivíduo, família, comunidade e /ou populações a um evento insalubre.
A taxonomia II apresenta sete eixos:
1- conceito diagnóstico
2- tempo (agudo, crônico, intermitente, continuo).
3- sujeito do diagnóstico (individuo, família, comunidade).
4- idade (de feto a adulto idoso)
5- estado de saúde (bem-estar, risco e real).
6- descritor (limita ou especifica o significado do conceito)
7- topologia
Para realizar uma afirmação diagnóstica o profissional utiliza o raciocínio clinico,
o qual por sua vez pode assumir diferentes percursos (GORDON, 1994; HELLAND;
RISNER, 1995).
Segundo Helland e Risner (1995) a análise e a síntese são processos de
pensamentos utilizados para interpretar os dados obtidos do cliente e identificar os
diagnósticos de enfermagem. Essa proposta para o processo de raciocínio diagnóstico
compreende as seguintes etapas:
a) fase de análise - compreende a categorização de dados e a identificação de dados
divergentes ou lacunas. A categorização compreende a obtenção organizada das informações
44
relevantes para avaliar o estado de saúde da pessoa/família/comunidade atendida, com base
em categorias gerais, baseadas em modelos conceituais ou teorias de enfermagem. No
decorrer desse levantamento podem ser identificados lacunas ou dados divergentes que devem
ser esclarecidos.
b) fase de síntese – inicia-se com o agrupamento dos dados em padrões adotados, seguindo-se
da comparação destes com normas, teorias, modelos da literatura, para subsidiar a inferência
ou rolagem de hipótese e finalmente a especificação de fatores causais ou coadjuvantes
presentes na inferência encontrada.
Taxonomia de diagnósticos da NANDA e o Modelo Calgary de Avaliação de Família
A NANDA 2006 possui 172 diagnósticos sendo que em sete deles é mencionada
especificamente a família como sujeito do diagnóstico (Quadro 1). Outros oito diagnósticos
não mencionam especificamente a família, mas representam a descrição de respostas humanas
que são produzidas no contexto das relações familiares, tais como conflito no desempenho de
pai/mãe, paternidade ou maternidade prejudicada, entre outros.
Em nossa percepção, todos eles possuem convergência com o Modelo Calgary de
Avaliação, especialmente com as categorias desenvolvimental e funcional. Para estes
diagnósticos não percebemos relação com a categoria estrutural.
Muitos diagnósticos previstos para descrever respostas humanas de indivíduos na
NANDA (2006) poderiam ser adaptados para descrever respostas de famílias, tais como risco
de religiosidade prejudicada, estilo de vida sedentário, medo, isolamento social, risco de
infecção, comportamento de busca de saúde, nutrição alterada: menos que as necessidades
corporais, comunicação verbal prejudicada. Diagnósticos dessa natureza podem ter
congruência com as categorias do Modelo Calgary de Avaliação.
45
Quadro 1 - Diagnóstico da NANDA (2006) com convergência 100% com categorias
do Modelo Calgary de Avaliação.
Diagnósticos de Enfermagem da NANDA convergentes com o Modelo Calgary de Avaliação de Família
Processos familiares interrompidos
Disposição para processos familiares melhorados
Processos familiares disfuncionais: alcoolismo
Risco de vínculos pais/filhos prejudicados
Enfrentamento familiar incapacitado
Enfrentamento familiar comprometido
Disposição para enfrentamento familiar aumentado
Controle familiar ineficaz do regime terapêutico
Manutenção do lar prejudicada
Tensão do papel de cuidador
Risco de tensão do papel de cuidador
Paternidade ou maternidade prejudicada
Risco para paternidade ou maternidade prejudicada
Disposição para paternidade ou maternidade melhorada
Conflito no desempenho do papel de mãe/mãe
Para utilização de diagnósticos como estes, para descrever adequadamente
respostas humanas de famílias, é necessária a inclusão clara do sujeito do diagnóstico (eixo 3)
no rótulo da categoria, bem como a adequação dos fatores relacionados, características
definidoras ou fatores de risco pertinentes.
A NANDA (2006) traz ainda diagnósticos de enfermagem que também podem ser
aplicados à família, desde que se mude o eixo 3, referente ao sujeito do diagnóstico, além de
desenvolver/adaptar fatores relacionados/características definidoras ou fatores de risco,
conforme for o caso, mas, no entanto, parecem não apresentar congruência com o Modelo
Calgary. Entre eles podemos citar percepção sensorial perturbada, campo de energia
perturbado, risco de resposta alérgica ao látex, confusão aguda, confusão crônica.
A NANDA (2006) apresenta diagnósticos de enfermagem que indicam outros
sujeitos para o eixo 3, que não a família. Trata-se de diagnósticos nos quais está especificado
no título sujeitos como comunidade ou indivíduo. Esses diagnósticos podem ser adaptados à
família, da mesma forma que os anteriores, inserindo-se a família como sujeito e adequando-
46
se os fatores de risco ou fatores relacionados/características definidoras, conforme a
pertinência para cada caso. Entre os diagnósticos desse tipo citamos controle comunitário
ineficaz do regime terapêutico, padrão ineficaz de alimentação do lactente, enfrentamento
comunitário ineficaz, disposição para enfrentamento aumentado (individuo), disposição para
enfrentamento comunitário aumentado, comportamento infantil desorganizado, risco de
síndrome de morte súbita da criança.
Identificamos na NANDA (2006) diagnósticos que não parecem adaptáveis à
família e não conseguimos vislumbrar sua relação com as categorias de avaliação do Modelo
Calgary (Quadro 2).
Atender famílias, como já afirmamos anteriormente, requer a utilização de marcos
teóricos que permitam ao profissional compreender este grupo como unidade de cuidado, bem
como sua dinâmica e modo de existência. Por outro lado, é necessário comunicar a outros
profissionais da própria categoria e de outras áreas da saúde os fenômenos de interesse
identificados e que demandam intervenções. Assim, é oportuno o esforço de tentar vislumbrar
as possibilidades de aplicação de taxonomias de classificação de diagnósticos existentes.
Destacamos que esta compreensão pode não ser compartilhada por outros
estudiosos, contudo, no âmbito do presente estudo, faremos esse caminho, propondo ajustes
que julgarmos necessários, na perspectiva de contribuir para o refinamento desta taxonomia
na perspectiva do atendimento às famílias.
Esperamos despertar o interesse de outros pesquisadores no sentido de realizar
estudos para identificar, classificar e validar respostas humanas no contexto de famílias, a
partir da NANDA (2006), além de aprofundar a análise da convergência destes diagnósticos
com o Modelo Calgary de Avaliação (WRIGTH; LEAHEY, 2002).
47
Quadro 2 - Diagnósticos de Enfermagem NANDA (2006) não adaptáveis a famílias sem
convergência com o Modelo Calgary de Avaliação.
Diagnóstico de Enfermagem da NANDA
Deglutição prejudicada
Retenção urinaria
Incontinência urinaria total
Incontinência urinaria funcional
Incontinência urinaria de esforço
Incontinência urinaria de urgência
Incontinência urinaria reflexa
Risco de Incontinência urinaria de urgência
Incontinência intestinal
Troca de gases prejudicada
Mobilidade no leito prejudicada
Mobilidade com cadeiras de rodas prejudicadas
Capacidade de transferência prejudicada
Recuperação cirúrgica retardada
Débito cardíaco diminuído
Ventilação espontânea prejudicada
Resposta disfuncional ao desmame ventilatório
Perfussão tissular ineficaz
Déficit no autocuidado para vestir-se/arrumar-se
Déficit no autocuidado para higiene intima
Negligencia unilateral
Síndrome da interpretação ambiental prejudicada
Memória prejudicada
Distúrbio de identidade pessoal
Distúrbio da imagem corporal
Síndrome de trauma de estupro
Disreflexia autonômica
Risco de disreflexia autonômica
Capacidade adaptativa intracraniana diminuída
Risco de lesão perioperatória por posicionamento
Risco de aspiração
Risco de disfunção neuromuscular periférica
Risco de automutilação
Automutilação
Risco de violência direcionada a si mesmo
48
4 PERCURSO METODOLÓGICO
“Ninguém é tão grande que não
possa aprender e nem tão pequeno que
não possa ensinar.”.
(Pindora)
Trata-se de um estudo descritivo que foi desenvolvido junto a 12 famílias em
situação de acompanhamento de pessoas internadas em enfermarias do setor de clinica
médica, em um Hospital Escola de Goiânia/GO, durante o período de janeiro a junho de 2006.
Cenário da Pesquisa
Essa clínica possui 68 leitos distribuídos em 13 enfermarias de 01 a 06 leitos. A
clientela é atendida para diagnóstico médico, tratamento e reabilitação em várias
especialidades como gastroenterologia, pneumologia, nefrologia, hematologia, cardiologia,
endocrinologia, reumatologia, neurologia e clínica geral.
Os familiares acompanhantes comumente encontrados são do sexo feminino que
habitualmente auxiliam na higiene do paciente e locomoção dos mesmos. A solicitação e
liberação para a permanência de acompanhante são feitas à enfermeira do período, que julga a
necessidade do paciente. No caso de pacientes com menos de 16 anos ou mais de 60 anos, os
acompanhantes são assegurados, de acordo com a legislação em vigor.
Os profissionais que prestam atendimento em saúde na clínica médica englobam
médicos (residentes e contratados, além de docentes da Faculdade de Medicina),
nutricionistas, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos,
além de alunos de enfermagem, medicina, nutrição e fisioterapia, acompanhados pelos
respectivos docentes supervisores.
O procedimento de internação segue geralmente a seguinte seqüência:
- Internações agendadas previamente:
49
O paciente pode comparecer ao setor de internação de domingo a sexta-feira,
acompanhado por um ou mais membros da família, é avaliado pelo médico plantonista no
Pronto Socorro que o encaminha para a unidade de sua especialidade.
- Internações de emergência:
O paciente comparece ao ambulatório para consulta e é identificada uma situação
que requer internação imediata, desta forma, é encaminhado à enfermaria pertinente, podendo
chegar só ou acompanhado.
Em ambos os casos, ao chegar à enfermaria, são recebidos por um auxiliar ou
técnico de enfermagem que verifica os sinais vitais. No caso da pessoa ter comparecido ao
setor desacompanhado, se o paciente for idoso ou necessitar de acompanhante, a enfermeira
se encarrega de avisar aos familiares.
Os acompanhantes são liberados para ficarem na unidade, embora o local não
possua acomodação para os mesmos. Assim, é comum observarmos acompanhantes dormindo
em bancos ou cadeiras, usando o mesmo banheiro e fazendo as refeições junto com os
pacientes, trocando ou compartilhando a dieta. A unidade possui um telefone público no qual
podem fazer ligações, porém, o telefone é programado para não receber chamada.
A maioria dos acompanhantes familiares auxilia também os outros pacientes,
quando percebem que estes precisam de ajuda para as atividades de vida diária.
Sujeitos da pesquisa
Participaram como sujeitos no presente estudo 12 famílias que estavam
vivenciando o processo de hospitalização de um de seus membros para tratamento de doença
crônica degenerativa não-transmissível.
Critério de inclusão
Foram incluídas famílias que estavam vivenciando o processo de hospitalização
de um dos membros para tratamento de doença crônica degenerativa não-transmissível, em
50
uma instituição de saúde da região centro-oeste, que concordam em participar mediante
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A).
Critério de exclusão
Foram excluídas do estudo as famílias de pacientes que receberam alta antes do
término da coleta de dados ou que retiraram o consentimento ou que a pessoa índice (pessoa
internada) foi a óbito antes do término da coleta de dados.
Este último critério foi adotado em função de que a ocorrência de óbito acrescenta
às famílias um elemento que a torna diferente das demais. Ela não lida mais apenas com a
hospitalização em virtude de doença crônica, mas sim, com a morte de um de seus membros.
Atendimento aos princípios ético-legais
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Conselho Diretor da FEN/UFG, bem
como pela chefia de enfermagem do setor de Clínica Médica, Diretoria de Enfermagem e
Diretoria Geral, além do Comitê de Ética em Pesquisa do hospital onde foi realizado o estudo.
A participação das famílias (pacientes e seus familiares acompanhantes) foi
voluntária, sendo garantido o direito de recusa ou retirada do consentimento para participar,
sem prejuízo do atendimento à saúde oferecido pela instituição.
Procedimento para obtenção do consentimento para participar da pesquisa
Comparecemos ao campo de estudo e identificamos os pacientes que estavam
acompanhados por familiares e nos certificamos que não havia previsão de alta para as
próximas 24hs.
Informamos ao paciente e familiar sobre os objetivos do trabalho, com intenção de
obter seu consentimento para participar da pesquisa, mediante assinatura do Termo de
51
Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A) a que nos referimos anteriormente, por meio
do qual o paciente e seu familiar foram informados que poderiam desistir de sua participação
a qualquer momento do desenvolvimento do trabalho, estando livres de qualquer forma de
constrangimento e coerção.
Coleta de dados
Para coleta de dados foram realizadas entrevistas gravadas e observações
múltiplas, mediante aplicação de um roteiro sistematizado, elaborador a partir do modelo
Calgary de Avaliação (Anexo B).
O número de encontros para a coleta de dados dependeu de cada caso. O paciente
e seus acompanhantes foram tomados como unidade, configurando-se em “famílias”
participante da pesquisa.
As entrevistas foram realizadas na própria enfermaria onde se encontravam o
paciente e seu acompanhante-familiar, juntamente com outros pacientes, este fato fez com que
algumas famílias se sentissem perturbadas pela falta de privacidade, que não pode ser
completamente contornada. Tanto o pesquisador como o paciente e seus familiares adotaram
baixo volume de voz durante o procedimento de coleta de dados. O período escolhido para
abordagem dos pacientes e seus familiares foi o vespertino, por ser mais calmo, com menor
número de pessoas circulantes e com menos procedimentos (exames, medicamentos,
banhos...) em relação ao matutino.
De acordo com Wright e Leahey (2002) a entrevista de famílias pode ser realizada
na instituição hospitalar apesar das desvantagens que ela oferece em relação ao ambiente “não
natural” para a família, falta de espaço e privacidade. Apesar dessas dificuldades, tendo em
vista o pressuposto de que a enfermagem no cenário de estudo precisa desenvolver abordagem
de famílias, este espaço foi tomado como ambiente para coleta de dados.
52
A decisão sobre quem estaria presente na primeira entrevista e nas subseqüentes
foi determinada mutuamente pelos membros da família e pela enfermeira, não sendo
necessário a priori, que todos os membros estivessem presentes. A enfermeira é capaz de
elaborar hipóteses, avaliar o sistema familiar a partir do individuo, do casal, de uma unidade
pai-filho(a), mãe-filho(a), sogro(a)-nora, enfim qualquer combinação de pessoas que se
comunicam em torno de problemas de saúde compartilhados (WRIGHT; LEAHEY, 2002).
Para as entrevistas, a pesquisadora foi preparada para o uso de categorias verbais
facilitadoras da comunicação, conforme proposta de Bachion et al. (1998).
As entrevistas foram gravadas com auxílio de um mini-gravador, com a permissão
dos participantes. As fitas gravadas foram utilizadas apenas para os propósitos deste estudo,
permanecendo arquivadas sob responsabilidade da pesquisadora, e serão destruídas após 05
anos, de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
As falas transcritas serviram de base para o preenchimento do roteiro de coletas de
dados.
As entrevistas tiveram duração de 30 a 120 minutos, com uma média de 50
minutos. Deparamos com o cansaço do familiar e a estranheza e desconfiança para falar a
respeito de suas dificuldades.
Avaliar famílias segundo Wright e Leahey (2002) ainda não é um processo fácil
por não ser uma prática comum em nossa realidade fazer com que as famílias se apresentem
para a assistência como unidade familiar com problemas específicos da família. Geralmente a
doença é tratada como algo isolado, em determinado membro da família. Os familiares não
estão acostumados a serem abordados pelos profissionais de saúde para avaliação no contexto
de internação hospitalar de um dos seus membros para tratamento.
53
Processamento e Análise dos dados coletados
O Modelo Calgary de Avaliação e Intervenção junto a famílias não adota um
sistema de classificação para os diagnósticos de enfermagem, o que, acreditamos, pode
dificultar a comunicação e a comparação de resultados com outros estudos.
Na IX Conferência North American Nursing Diagnosis Association (NANDA)
Diagnóstico de Enfermagem foi definido como:
Um julgamento clínico sobre as respostas do individuo, da família ou da
comunidade a problemas de saúde/processos vitais reais ou potenciais. O
diagnóstico de enfermagem proporciona a base para a seleção de intervenções de
enfermagem para atingir resultados pelos quais a enfermeira é responsável
(aprovado na 9ª Conferência, 1990). (North American Nursing Diagnosis
Association - NANDA, 2006, p.296).
Desta forma, acreditamos que esta taxonomia é coerente com o Modelo Calgary,
uma vez que nele também está previsto o julgamento clínico das respostas das famílias aos
problemas reais e potenciais e aos processos vitais. Para identificação dos diagnósticos de
enfermagem presentes na situação, foi utilizado o processo diagnóstico (HELLAND; RISNER
1995) e para a sua rotulação foi adotada a taxonomia II da NANDA (2006).
No decorrer da realização deste estudo, percebemos que alguns fenômenos não
estavam adequadamente descritos na taxonomia da NANDA (2006), desta forma, foram
realizadas algumas modificações que estão assinaladas em itálico. Trata-se de palavras ou
expressões acrescentadas à categoria diagnóstica, fatores de risco, fatores relacionados e/ou
categorias definidoras, que contribuem para o refinamento da taxonomia em sua
aplicabilidade a família como unidade de cuidado.
Todo esse material (o registro da coleta de dados, o processo de análise e síntese
dos dados, a inferência diagnostica segundo a NANDA) foi apreciado por um juiz, com
experiência em pesquisa na área de diagnósticos de enfermagem e o Modelo Calgary de
54
Avaliação de Famílias. Os pontos de divergências entre o juiz e o pesquisador, foram
resolvidos por consenso.
Embora a pesquisa junto aos sujeitos se encerrasse com a identificação dos
diagnósticos de enfermagem, assumimos o compromisso social de atender as necessidades
dos participantes no âmbito de nossas possibilidades e encaminhamos os mesmos para
atendimentos pela equipe de saúde da instituição onde foi feita a pesquisa.
Apresentação e Análise dos resultados
Os diagnósticos de enfermagem foram analisados quanto à sua distribuição
(freqüência simples). A discussão desses achados foi feita focalizando os títulos diagnósticos,
seus fatores relacionados e características definidoras à luz do Modelo Calgary de Avaliação e
Intervenção (WRIGHT; LEAHEY, 2002) e da literatura cientifica na área de famílias.
55
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
“Se procurar bem acabará encontrando não a
explicação (duvidosa) da vida, mas a poesia
(inexplicável) da vida”. (Carlos Drummond de
Andrade)
Apresentaremos, inicialmente, a caracterização 12 das famílias que participaram
do estudo em relação a sua estrutura e estágio de desenvolvimento. A seguir serão
apresentados dois casos, contendo a coleta de dados que retrata as famílias, os respectivos
genogramas e ecomapas, o processo diagnóstico e diagnósticos da NANDA (2006)
identificados. Posteriormente, apresentaremos os dados consolidados, detendo-nos ao perfil
de diagnósticos identificados.
Para preservar a identidade dos participantes, os nomes verdadeiros dos
indivíduos e sobrenomes das famílias foram trocados por nomes fictícios.
5.1 Caracterização das famílias
- Estrutura
As famílias que participaram do estudo eram compostas em média de três pessoas,
haviam famílias que eram compostas por várias gerações, morando na mesma residência
avós, filhos, netos e bisnetos. 80% das famílias eram advindas de casamentos anteriores.
As famílias eram provenientes de Goiânia (05), interior de Goiás (03) e outros
estados (04).
56
A escolaridade observada nessas famílias reproduz o mapa geral da escolaridade
em Goiás mostrado pela pesquisa IBGE (2000). Quase metade dos idosos era analfabeta e os
demais apresentavam ensino fundamental incompleto. A segunda geração isto é, os filhos
adultos apresentavam ensino médio completo e menos de 10% de membros dessas famílias
estavam cursando o ensino superior.
Pelos relatos, coexistiam nas famílias a aposentadoria, o desemprego, o emprego
formal e informal. Em apenas uma família todos os membros estavam desempregados, sendo
necessário o suporte de uma instituição religiosa para provisão de alimentos. Entre os
aposentados e os que trabalhavam, a renda individual era de um salário mínimo.
Essas famílias pouco se relacionam com outros sistemas sendo a família extensa e
a igreja os únicos vínculos externos a família.
- Desenvolvimento
De acordo com os relatos, o ciclo de desenvolvimento das famílias nem sempre
segue um curso favorável ao crescimento e desenvolvimento, em especial, a formação de
vínculos, como veremos a seguir. Devido à sua estrutura, as famílias participantes desse
estudo não podem ser classificadas em apenas um estágio de desenvolvimento, dentro das
categorias propostas pelo Modelo Calgary de Avaliação de Família. Percebe-se assim que as
classificações tanto para os estágios de desenvolvimento quanto de estrutura familiar citadas
por Wright e Leahey (2002) não conseguem descrever adequadamente as novas configurações
que as famílias encontradas têm assumido atualmente.
-Funcional
Entre as famílias participantes, o membro que estava hospitalizado era, na maioria
das vezes, idoso (08), vindo a seguir adultos entre 18 e 30 anos (03) e uma adolescente, com
57
16 anos. Os familiares acompanhantes eram todos do sexo feminino, sendo que em dez
famílias não havia revezamento de cuidadores.
Os membros das famílias não costumam conversar sobre sentimentos entre si.
Percebemos que as famílias que apresentam mais diagnósticos de enfermagem são unidades
que já apresentavam dificuldades anteriores ao adoecimento.
A partir da coleta dos dados, utilizando o genograma e ecomapa, fizemos um
“retrato” dessas famílias. Wright e Leahey (2002) referem que não existe um modelo de
avaliação que explique todos os fenômenos da família, no entanto, a adoção de uma estrutura
conceitual encoraja a síntese dos dados. A visualização destes mapas permite a identificação
de forças e problemas da família, constituindo um plano de tratamento útil esquematizado.
“Quando não existe uma estrutura conceptual, é extremamente difícil para a enfermeira
agrupar dados díspares ou examinar os relacionamentos entre variáveis múltiplas que
apresentam impacto sobre a família” (WRIGHT; LEAHEY, 2002 p.16).
Apresentaremos a avaliação integral de duas famílias que participaram do estudo e
posteriormente o perfil de diagnósticos encontrados no conjunto das 12 famílias.
5.2 Descrição de dois casos utilizando-se o Modelo Calgary de Avaliação
Família 1 - Rubi
Avaliação Estrutural
A composição da família de D. Alba (pessoa índice) é referida pela nora, Lúcia,
como composta por seis pessoas, sendo elas D. Alba, três filhos e dois netos. As pessoas que
moram na casa de D. Alba são quatro: pessoa índice (mulher de 79 anos), sua filha Maria (46
anos), o neto de 27 anos, que trabalha como serrador, e a neta de 16 anos, que é estudante.
58
São filhos de Maria, um de cada companheiro, sendo que a mesma permanece solteira. As
informações da filha foram fornecidas pela nora Lucia, a filha Maria e o filho Eurico.
A nora (Lúcia), de 40 anos, casada com o Eurico (40 anos, filho de D. Alba), não
possui filhos, é a acompanhante durante esta internação. Refere ser diarista, mas no momento
está desempregada, o que lhe propicia ficar com D. Alba no hospital. É a informante, pois D.
Alba encontra-se torporosa e a filha Maria apresenta dificuldade em falar sobre a saúde da
mãe. Luciano e Maria são gêmeos e têm 46 anos, o outro irmão morreu de “coração” tinha
45. Maria refere que é diarista e tem um pit dog que funciona no período noturno, mas que no
momento não está funcionando. Lúcia refere que a cunhada não tem aberto o pit dog nos
últimos meses. Informa que seu marido, Eurico, era caminhoneiro e que agora é motorista de
ônibus. Relata que o Luciano também é caminhoneiro e o cunhado que morreu, era
aposentado. D. Alba mora junto com a filha desde que ficou viúva, antes morava em Minas
Novas - Goiás. Diz que há mais de 40 anos D. Alba é viúva. Lúcia relata que Eurico a ajudou
a comprar a casa onde D. Alba mora e onde é o pit dog. Maria relata que o marido de D. Alba
bebia muito e teve “derrame e morreu”.
Lúcia informa que o seu esposo Eurico foi o último dos filhos a sair de casa, antes
morava com a mãe, a irmã e os sobrinhos.
Relata que as tarefas domésticas eram desempenhadas pela D. Alba (internada há
30 dias), como cozinhar, limpar a casa e ainda ajudava a filha (Maria) no pit dog. Maria
atualmente tem desempenhado as tarefas domésticas, contudo, queixa cansaço e dificuldade
em fazê-las, pois trabalha de diarista e ainda cuida da casa. Lúcia refere que a casa da
cunhada está sempre suja por que tem três cachorros que permanecem dentro do domicilio,
inclusive subindo nas camas, refere ser este o motivo da piora do estado de saúde de D. Alba,
contribuindo para infecção das feridas que a mesma apresenta nas pernas. Comumente existe
presença de urina e fezes dos cachorros no interior da casa, que exala odor desagradável.
59
Relata que foi a sogra que acostumou Maria dessa maneira. Refere ainda que as despesas de
casa eram feitas pela D. Alba que é aposentada, mas que os dois filhos às vezes ajudavam nas
despesas. Lúcia relata que a cunhada pouco ajuda nas despesas mesmo sendo diarista e tendo
um pit dog. Refere que a Maria também pede ajuda financeira ao irmão Eurico que sempre
que pode ajuda. Maria refere que está com dificuldades financeiras, pois não tem aberto o pit
dog e nem recebido à aposentadoria da mãe o que dificulta à aquisição de dispositivos que a
mãe tem precisado, tais como fraldas descartáveis. Lúcia diz que o esposo possuía um
convênio de saúde no qual a mãe era sua dependente, mas que agora já não possui mais. Lúcia
relata que a ajuda que ela dá a sogra não é financeiramente, mas que colabora nas tarefas
domésticas e levá-la ao médico quando ela tem algum problema de saúde. Refere que sempre
acompanhou D. Alba ao hospital em suas consultas e na hemodiálise, a qual ela começou a
fazer antes da atual internação. Refere que ficar junto da sogra é o mínimo que ela pode fazer
por uma pessoa que “já sofreu tanto” e principalmente devido ao fato de não saber “o que lhe
reserva o amanhã”. Lúcia e Maria relatam que não foram comunicadas a respeito da alta da D.
Alba da UTI, e que estão com dificuldades para acompanhá-la.
Relata que D. Alba sempre procura ajuda do filho Eurico quando está em
dificuldades financeiras ou para se locomover. Relata ainda que existem muitas brigas na
família e com isso muitas divisões, relata ainda que o seu marido Eurico não gosta de coisa
errada e a irmã Maria gosta de coisa errada o que motiva os desentendimentos sendo que o
Eurico geralmente recebe o apoio do irmão. Relata que o Eurico e a irmã não se dão muito
bem. Lúcia relata que como a cunhada não tem a quem recorrer busca ajuda em sua pessoa.
Refere que a cunhada Maria não consegue se entender com ninguém, pois briga com todo
mundo. Relata ainda que quando D. Alba percebe situações de conflito entre os filhos lhes dá
conselhos que não resolve muito. Lúcia relata que D. Alba não gosta de sair de casa não indo
nem mesmo na casa dos filhos. Refere que quem mais conversa em sua família é a cunhada
60
“ela fala é isso e isso”. Diz que quem percebeu que D. Alba estava doente foi à sogra mesmo,
solicitou ao filho Eurico que a levasse ao CAIS.
Lúcia diz que quando está cansada, desgastada e triste fala com Deus, com a mãe,
a vizinha e o marido, e quando está feliz, fala com Deus e o marido. Informa que a sogra não
tem parente aqui, só sobrinhos em Minas Gerais e São Paulo. Refere que em Goiânia ela só
tem os filhos, mas os sobrinhos mantêm contato por telefone com a família. Relata que se
alguém precisasse de D. Alba com certeza ela ajudaria, mas que a cunhada é diferente, gosta
de receber ajuda, mas não gosta de ajudar ninguém. Refere que a cunhada (Maria) não gosta
de cuidar da mãe e que percebe que a mesma “parece ter nojo da mãe”. Refere ainda que este
comportamento já existia antes mesmo da internação, relembra episódio no qual a sogra
estava doente, não conseguia se movimentar, nem mesmo para ir ao banheiro, e, ficou todo o
tempo sem tomar banho, porque a sua filha não se dispôs a fazê-lo, referindo ter o “estômago
fraco”, e que D. Alba só tomou banho quando ela (Lúcia) chegou. Diz que a cunhada está
mais interessada na aposentadoria da sogra e que já tentou em ocasião anterior colocar a mãe
no asilo. Informa que D. Alba passou por muitos momentos difíceis com a filha, mas não
contava aos outros filhos por medo que eles a machucassem.
A vizinha que estava visitando D. Alba no hospital relata ter o costume de visitar
a casa de D. Alba, conversam um pouco e ela vai embora. Mas refere que a visita não é
retribuída pela D. Alba. A nora, Lúcia, refere que D. Alba não gosta de sair de casa nem
mesmo para a igreja, principalmente, devido à dificuldade de locomoção. Lúcia afirma que D.
Alba só vai à igreja quando o Eurico (filho) a busca de carro. E que a crença é um recurso
porque os ajuda a olhar para frente e confiar para isso tem lido a bíblia ela e o esposo. Informa
que D. Alba raramente ia ao posto de saúde se consultar, mas que o agente de saúde sempre
os visitava e que o médico e enfermeiro só vão quando é agendada uma visita.
61
Lúcia define saúde como “é alimentar bem e ser saudável é alimentar bem comer
o que a gente gosta e não o que a gente não gosta”. Diz que neste momento não tem nada de
positivo na família e que a situação financeira influencia na família principalmente porque
dificulta a aquisição de objetos necessários para melhorar de uma doença “vamos supor se ela
voltar pra casa agora ela vai precisar de um balão de oxigênio! Como a gente vai comprar?
Vai atrás do governo pra ele ajudar a comprar? Não tem dinheiro”.
Lúcia e Maria dizem não conhecer nenhuma associação que D. Alba pudesse
participar, mas referem que se conhecessem a levariam desde que não fosse muito difícil o
acesso, pois precisaria que o Eurico a levasse. Dizem que D. Alba gosta de ficar “quietinha”
e durante o dia faz café e “cata arroz”. Lúcia diz que seu Eurico é a pessoa mais próxima da
pessoa índice e que ela conta tudo a ele. Refere que a doença da sogra piorou depois que o
cunhado morreu, pois segundo ela a sogra ficou depressiva.
Avaliação Desenvolvimental
Lúcia relata que tem passado 24 horas cuidando da D. Alba no ambiente
hospitalar, o que refere ser cansativo “ambiente de hospital cansa muito.” Relata que gostaria
que outras pessoas a ajudassem, pois precisa descansar e cuidar de sua casa. Contudo, afirma
que se empenhará em ficar, enquanto estiver agüentando, pois acha que a sogra, que sempre
cuidou, merece um cuidado especial nesse período que acha ser os seus últimos dias de vida.
Relata que o fato de ficar todo o tempo no hospital não é confortável “queria que todos
cooperassem, minha cunhada e minha sobrinha. Dizem que não dão conta de ficar aqui no
hospital.” Diz que os outros membros da família não têm força de vontade. “Nós somos forte
mesmo, agüentamos tudo coração pneumonia e dor na perna, as costas toda roxa, parece que
levou uma surra, tem que estar preparada.” Relata que devido ao fato de D. Alba não estar em
seu estado normal fica mais difícil lidar com ela, pois a mesma arranca a sonda nasogástrica, a
62
roupa, chuta... Diz que anteriormente D. Alba fazia de tudo, capinava e lavava a roupa, e que
mesmo doente, ela lavava a roupa dela.
Avaliação Funcional
Na família a comunicação acontece com dificuldade. Lúcia refere que a cunhada é
“uma pessoa muito complicada” referindo que a mesma não se relaciona bem com ninguém,
até mesmo com os irmãos. D. Alba, segundo a nora e a vizinha (D. Maria recém chegada para
a visita) é uma pessoa extremamente calada que não gosta de falar de seus problemas com
ninguém. Refere que a cunhada tem mais facilidade para conversar sobre o que pensa,
expondo seus sentimentos e que os outros são mais reservados. O que percebe como mais
positivo neste momento é o fato de receberem atenção das pessoas no hospital principalmente
do psicólogo e o que tem de ruim é a família, desunião. Diz que é importante a presença do
familiar (filhos) no hospital porque “se a mãe fica com o filho nove meses na barriga porque
que quando precisa o filho não pode ficar?” Lúcia refere que D. Alba lhe chama pelo nome da
Maria e fica extremamente nervosa ao achar que é a filha que está ali, em momentos de
lucidez em que percebe ser a nora parece ficar mais tranqüila. Diz que só de falar no nome da
filha a D. Alba entra em depressão. Desabafa “acho que como filha ela não deveria falar
certas coisas pra mãe, penso que a Maria ta correndo atrás do dinheiro da mãe”.
Estes dados podem ser representados no genograma (figura 3) e ecomapa (figura
4). A partir dessas informações realizamos o processo diagnóstico (Quadro 5).
63
Figura 3 - Genograma da família Rubi
Figura 4 - Ecomapa da família Rubi
+- 1966
AVC HAS/ DM2/IRC
Luciano
Maria
Eurico
+ -
1966
AVC
HAS/ DM2/IRC
Luciano
Maria
Eurico
Alba
Lúcia
Alba
Igreja
Lúcia
64
Quadro 3 – Processo diagnóstico - fase de síntese - realizado junto à família Rubi, com respectivos diagnósticos da NANDA. Goiânia, 2006.
Agrupamento Comparação Inferência Relações Diagnóstico de Enfermagem
1- Estrutura de papéis:
Família composta por quatro pessoas; pessoa
índice (mulher de 79 anos), sua filha Maria
(46 anos), o neto 27 anos e a neta de 16 anos
(filhos de Maria, um de cada companheiro, a
mesma permanece solteira).
Pessoa índice: D. Alba, mulher de 79 anos,
teve quatro filhos: Maria e Luciano (gêmeos
de 46 anos), Eurico, de 45 anos e Marcelo que
faleceu aos 38 anos. Atualmente é viúva, o
esposo faleceu a mais de 40 anos devido
AVC. Admitida no Pronto Socorro com
lesões infectadas em membros inferiores que
evoluiu para septicemia, com agravamento da
Insuficiência renal e Pneumonia hospitalar,
sendo transferida para UTI. Após alta da UTI
foi encaminhada para a clínica médica.
Durante a internação D.Alba está confusa,
contida no leito, com sonda nasogástrica e
bastante edemaciada.
Nora - Lúcia – mulher 40 anos, casada com o
Eurico (filho de D. Alba), sem filhos. Refere
ser diarista, mas no momento está
desempregada o que lhe propicia ficar com D.
Alba no hospital. Relata que tem passado 24
horas cuidando da mesma no ambiente
hospitalar, o que refere ser cansativo
“ambiente de hospital cansa muito.”.
ELSEN, I. Cuidado
Familial: uma proposta
inicial de sistematização
conceitual. In: ELSEN, I;
MARCON, S S; SILVA,
M R S (org) O viver em
família e sua interface
com a saúde e a doença.
p. 43 - 63. Maringá:
EDUEM, 2004 p.19-28
MOTTA M. G. C O
entrelaçar de mundos:
família e hospital. In:
ELSEN, I; MARCON, S
S; SILVA, M R S (ORG)
O viver em família e sua
interface com a saúde e a
doença. p. 43 - 63.
Maringá: EDUEM, 2004
p.153-167
Estresse do
cuidador
Falta de revezamento de
cuidadores e rede de apoio.
1 - Tensão devida ao papel
de cuidador relacionado a
responsabilidades referentes
ás 24 horas de cuidado,
gravidade da doença,
aumento da necessidade de
cuidados, imprevisibilidade
do curso da doença, estado
mental do idoso que inibe a
conversação, história de
disfunção familiar, ambiente
físico inadequado para o
cuidado, falta de apoio,
cuidador é mulher
evidenciado por apreensão
em relação ao futuro no que
diz respeito à saúde do
receptor dos cuidados. Falta
de tempo para atender às
necessidades pessoais,
conflito familiar.
Continua...
65
Continuação - Quadro 3- Processo diagnóstico - fase de síntese - realizado junto à família Rubi, com respectivos diagnósticos da NANDA.
Goiânia, 2006.
Agrupamento Comparação Inferência Relações Diagnóstico de Enfermagem
Relata que gostaria que outras pessoas a
ajudassem, pois precisa descansar e cuidar de
sua casa. Afirma que se empenhará em ficar,
enquanto agüentar acha que a sogra, que
sempre cuidou dos demais merece um
cuidado especial nesse período, que “podem
ser os seus últimos dias de vida”. Refere que
a cunhada (Maria, filha de D. Alba) não
gosta de cuidar da mãe e que percebe que a
mesma “parece ter nojo da mãe”. Refere
ainda que este comportamento já existia
antes mesmo da internação, relembra
episódio no qual a sogra estava doente, não
conseguia se movimentar, nem mesmo para
ir ao banheiro, e, ficou todo o tempo sem
tomar banho, porque a sua filha não se
dispôs a fazê-lo, referindo ter o “estomago
fraco”, e que D. Alba só tomou banho
quando ela (Lúcia) chegou. Fala que sempre
acompanhou D. Alba ao hospital em suas
consultas e na hemodiálise, a qual ela iniciou
antes da atual internação. Acha que ficar
junto da sogra é o mínimo que pode fazer por
uma pessoa que “já sofreu tanto” e
principalmente devido ao fato de não saber
“o que lhe reserva o amanhã”. Lúcia e Maria
relatam que não foram comunicadas a
respeito da alta da D. Alba da UTI, e que
estão com dificuldades para acompanhá-la.
FELÍCIO J L. As famílias
de pacientes com doenças
crônicas e graves:
funcionamentos mais
característicos. Rev. O
mundo da saúde, v.27,
n.3, p.426-31, 2003
FRANCO M C; JORGE M
S B. Sofrimento do
familiar frente à
hospitalização. IN:
ELSEN, I; MARCON, S
S; SILVA, M R S (org) O
viver em família e sua
interface com a saúde e a
doença. p. 43 - 63.
Maringá: EDUEM, 2004
p.169-181
Maternidade
prejudicada
Falta de modelo de
cuidar/ser cuidado
2-Enfrentamento familiar
incapacitado relacionado a pessoa
significativa com sentimentos
cronicamente não-expressos de
hostilidade, estilos de enfrentamento
dissonantes para lidar com tarefas
adaptativas, por parte da pessoa
significativa evidenciado por
agitação, rejeição, relacionamentos
negligentes com outros membros da
família, cuidado do cliente negligente
quanto às necessidades humanas
básicas e tratamento da doença,
abandono.
Continua...
66
Continuação - Quadro 3 – Processo diagnóstico - fase de síntese - realizado junto à família Rubi, com respectivos diagnósticos da NANDA.
Goiânia, 2006.
Agrupamento Comparação Inferência Relações Diagnóstico de Enfermagem
Filha da pessoa índice: Maria 46 anos,
solteira refere ter dois filhos um rapaz de 27
anos e uma moça de 16 anos, relata que os
filhos são de pais diferentes, visto que nunca
teve um companheiro fixo. Maria refere que
não tem condições de permanecer junto da
mãe e se Lúcia não ficar, ela deixará a mãe
só. Relata dificuldade para cuidar da mãe
devido ao fato de ser diarista e que fica
muito cansada com seu trabalho; afirma
ainda ter labirintite, o que lhe dificulta ficar
com a mãe no hospital. Solicita a minha
ajuda para intervir no sentido de deixar o
filho (de 27 anos) ou o irmão (Eurico,
marido de Lúcia) ficar no período noturno
com a paciente (o hospital não permite
acompanhantes de outro sexo que o do
paciente). Com a nossa intervenção foi
liberado o acompanhante do sexo oposto no
período noturno. Lúcia fala que Maria está
preocupada só em receber a aposentadoria da
mãe, inclusive em ocasião anterior já tentou
colocar D. Alba em instituição asilar. Lúcia
relata que Maria gosta de receber ajuda, mas
não gosta de ajudar ninguém. Lúcia refere
que ela lhe chama pelo nome da Maria e fica
extremamente nervosa ao achar que é a filha
que está ali, em momentos de lucidez em que
percebe ser a nora parece ficar mais
tranqüila.
SIMONTON, S. M. A
família e a cura – Método
Simonton para famílias
que enfrentam uma
doença. São Paulo:
Summus, 1990.
Continua...
67
Continuação - Quadro 3 – Processo diagnóstico - fase de síntese - realizado junto à família Rubi, com respectivos diagnósticos da NANDA.
Goiânia, 2006.
Agrupamento Comparação Inferência Relações Diagnóstico de Enfermagem
2- Manutenção do Lar
Lúcia relata que as tarefas domésticas eram
desempenhadas pela D. Alba (internada há 30
dias no HC), como cozinhar, limpar a casa e
ainda ajudava a filha (Maria) no pit dog. Maria
atualmente tem desempenhado as tarefas
domésticas, contudo, queixa cansaço e
dificuldade em fazê-las, pois trabalha de diarista
e ainda cuida da casa. Lúcia refere que a casa da
cunhada está sempre suja por que tem três
cachorros que permanecem dentro do domicilio,
inclusive subindo nas camas, refere ser este o
motivo da piora do estado de saúde de D. Alba,
contribuindo para infecção das feridas que a
mesma apresenta nas pernas. Comumente existe
presença de urina e fezes dos cachorros no
interior da casa, que exala odor desagradável.
Relata que foi a sogra que acostumou Maria
dessa maneira. Fala ainda que as despesas
domésticas eram feitas pela D. Alba, que é
aposentada, mas que os dois filhos (Eurico e
Luciano) às vezes ajudavam nas despesas
principalmente medicamentos para D. Alba.
Refere que Maria também pede ajuda financeira
ao irmão Eurico, que sempre que pode ajuda.
Maria refere que está em dificuldades
financeiras, pois não tem aberto o pit dog e nem
recebido à aposentadoria da mãe o que dificulta à
aquisição de dispositivos que a mãe tem
precisado, tais como fraldas descartáveis.
MINUCHIN, Salvador
– Famílias:
Funcionamento e
Tratamento. Porto
Alegre: Artes
Médicas, 1990. p. 25-
69
ALTHOFF, C R
Delineando uma
abordagem teórica
sobre o processo de
conviver em família.
In: ELSEN, I;
MARCON, S S;
SILVA, M R S (org)
O viver em família e
sua interface com a
saúde e a doença. 2.
ed. Maringá: EDUEM,
2004 p.29-41
Organização do
lar insuficiente
Incapacidade dos membros de
manter um ambiente seguro
Contexto de adversidade na
condição de saúde de membro
significativo.
3- Manutenção do lar
prejudicada relacionada à
doença de membro da
família, organização familiar
insuficiente, finanças
insuficientes evidenciado por
membros da família pedem
ajuda para a manutenção da
casa, odores ofensivos.
Continua...
68
Continuação - Quadro 3 – Processo diagnóstico - fase de síntese - realizado junto à família Rubi, com respectivos diagnósticos da NANDA.
Goiânia, 2006.
Agrupamento Comparação Inferência Relações Diagnóstico de Enfermagem
Comunicação
Na família a comunicação acontece
com dificuldade. Lúcia refere que a
cunhada é “uma pessoa muito
complicada” referindo que a mesma
não se relaciona bem com ninguém,
até mesmo com os irmãos. D. Alba,
segundo a nora e a vizinha (D.
Maria recém chegada para a visita) é
uma pessoa extremamente calada
que não gosta de falar de seus
problemas com ninguém. Lúcia
afirma que D. Alba não gosta de
contar seus problemas aos filhos,
devido ter medo que eles agridam a
filha Maria. Lúcia refere que Maria,
por sua vez, mantém conversas com
os irmãos quando precisa de algo,
mas não se dispõe a ouvir quando os
outros precisam.
BRASIL, Manual de
vigilância epidemiológica
Ministério da Saúde 2001.
LITTLEJOHN, S. W.
Teorias de comunicação
em pequeno grupo -
Fundamentos teóricos da
comunicação humana,
Rio de Janeiro, Zahar
editores, 1988.
ALTHOFF, C R
Delineando uma
abordagem teórica sobre o
processo de conviver em
família. In: ELSEN, I;
MARCON, S S; SILVA,
M R S (org) O viver em
família e sua interface com
a saúde e a doença. p. 43 -
63. Maringá: EDUEM,
2004 p.29-41
Risco para infecção e
infestação
Padrão de comunicação
que não atende as
necessidades
interpessoais.
Exposição ambiental
aumentada (convívio com
urina e fezes de animais no
interior do domicilio).
Ambiente sócio-cultural que
não favorece o
desenvolvimento de
habilidades interpessoais.
4-Risco para infecção
relacionado à exposição
ambiental aumentada
5- Risco para infestação
relacionado à exposição
ambiental aumentada.
6-Comunicação verbal da
família prejudicada
relacionada a barreiras
psicológicas (falta de
estímulo), evidenciado por
dificuldade para atingir o
padrão esperado de
comunicação interpessoal no
contexto da família.
Continua...
69
Continuação - Quadro 3 – Processo diagnóstico - fase de síntese - realizado junto à família Rubi, com respectivos diagnósticos da NANDA.
Goiânia, 2006.
Agrupamento Comparação Inferência Relações Diagnóstico de Enfermagem
Socialização:
Os moradores no domicilio
da pessoa índice não têm
costume de se relacionar com
outras pessoas fora da esfera
familiar. A vizinha que
estava visitando D. Alba no
hospital relata ter o costume
de visitar a casa de D. Alba,
conversam um pouco e ela
vai embora. Mas refere que a
visita não é retribuída pela D.
Alba. A nora, Lúcia, refere
que D. Alba não gosta de sair
de casa nem mesmo para a
igreja, principalmente devido
à dificuldade de locomoção.
Lúcia afirma que D. Alba só
vai à igreja quando o Eurico
(filho) a busca de carro.
WRIGHT, LM; LEAHEY,
M. Enfermeiras e Famílias –
Um guia para avaliação e
intervenção na família. São
Paulo: Rooca, 2002. Cap.3
Modelo Calgary de
Avaliação da Família
Risco para interação social
inadequada
Padrão restrito de
desenvolvimento da
socialização.
6-Risco para interação
social prejudicada
relacionado à mobilidade
física limitada (membros da
família), interação escassa
com pessoas do mesmo
grupo etário.
70
Família 2 – Topázio
Avaliação Estrutural
A família referida pela pessoa índice é composta dela, Janaína, mulher de 26 anos
portadora de cardiopatia, a irmã Kátia, de 24 anos que está como acompanhante durante toda
a internação e o irmão Jason de 23 anos. Kátia relata que o pai faleceu há nove anos, devido
seqüela de AVC. Afirma que a mãe os abandonou quando tinham 6, 4 e 3 anos
respectivamente, após o AVC do pai, há 20 anos atrás. Informa lembrar-se de vários episódios
em que o pai chegava alcoolizado em casa e batia na mãe, antes de ser acometido pelo AVC.
O casal teve quatro filhos, sendo que o caçula morreu aos dois anos de idade por afogamento,
durante uma inundação decorrente de um grande temporal. Na ocasião o pai estava sozinho,
sequelado de AVC, com os dois filhos menores e conseguiu salvar apenas um deles. Em
virtude da incapacidade do pai em cuidar dos filhos devido ao AVC e da saída da mãe do
domicilio, as crianças foram encaminhadas separadamente para diferentes tios. Refere-se ao
pai com carinho, falando que ele era “maravilhoso”. Viam o pai durante as férias escolares,
duas vezes por ano. Janaina pondera que a atitude da mãe foi porque ela não se importava
com eles. Refere que a saída da mãe de casa se deu quando o pai teve o primeiro episódio de
AVC. Kátia relata que ela morava em Brasília, e que os outros dois moravam na mesma
cidade, mas em casas diferentes. Refere que quando fez quinze anos conseguiu seu primeiro
emprego e fez a proposta para os irmãos de irem morar juntos, o que aceitaram. Kátia relata
que ficaram separados durante 10 anos e que já tem 10 anos que moram juntos. Janaina e
Kátia referem que a mãe tem outra vida, morando no interior com outro esposo, mas refere
que a mãe não tem outros filhos. Referem que consideram como se não tivessem mãe. “Ela
tem outra vida, eu, Janaina e um irmão, essa é nossa família”.
71
Kátia refere que um amigo morou com eles durante uns três anos, mas que agora
não está mais morando. Referem que o convidaram porque ele também não tinha família e
que era um conhecido da época da adolescência.
Janaina relembra que o pai batia na mãe referindo se lembrar que eles brigavam
muito. Relata que a mãe é “uma pessoa muito ruim pra mim”. Relata que o tio avisou para a
mãe dela que ela iria fazer uma cirurgia e a mãe avisou que não podia deixar o marido dela
sozinho. Relata que a lembrança que guarda da mãe é o gosto de sua comida. Refere acreditar
que o motivo da saída da mãe de casa se deu devido ao pai ter tido “derrame”.
Kátia refere que sua tia (irmã do pai) a criou como uma filha porque tinha perdido
uma filha na época. Refere que “ela transferiu o amor da filha pra mim”, mas que só hoje tem
essa percepção. Relata que a idéia que tem de mãe é da tia, relata sentir-se grata à tia e ao
esposo dela. Refere que durante esse período sentia muita falta dos seus irmãos. Com relação
ao pai refere a ele como “um excelente pai”. Janaina refere que a tia que a criou, a tratava
muito bem, mas que sentia muita saudade da mãe, pois “era muito apegada a ela, chorei muito
quando ela foi embora”.
Janaina diz que foi casada uma vez, sendo que a relação durou três anos, a qual
teve como fruto um filho, atualmente com sete anos, que mora com o pai. Relata ter uma filha
de dois anos, fruto de namoro breve. A criança foi morar com os pais do ex-namorado de
Janaína devido a complicações cardiovasculares no puerpério. Ela tem contato com os filhos
regularmente, sempre solicitando aos cuidadores das crianças que as levem até ela, conversam
por telefone frequentemente. Relata que sempre vê os filhos. Refere que não se dá muito bem
com a mulher do pai de sua filha “é muito chata acho que porque eu sou nova e ela é velha”.
Refere ter pouco contato com o pai de sua filha referindo que quando precisa resolver algum
problema com relação à filha recorre aos avós da filha, pois são eles que cuidam dela.
72
Kátia refere ser auxiliar de laboratório e que trabalhava em uma farmácia de
manipulação, mas que no momento está desempregada, pois teve que optar em trabalhar ou
cuidar da irmã e ela optou por ficar com a irmã referindo ser essa uma obrigação sua. Está
recebendo seguro-desemprego, referindo ser muito pouco e não cobrir as despesas
domésticas. Refere que sua tia que criou a Janaina tem ajudado um pouco, mas refere não se
sentir a vontade para pedir ajuda porque pensa ser esta uma obrigação sua como irmã e não da
tia que já é idosa e que tem os seus afazeres.
Kátia também refere que possuem um circulo de amizade “muito boa” que sempre
que podem lhes dão apoio, esses amigos segundo ela são as pessoas da vizinhança, onde
moram há mais de seis anos. Diz que os vizinhos se preocupam com elas, designando-as
carinhosamente por “as meninas”. Refere que recebem ajuda do tio (único irmão do pai) que
criou o seu irmão e que as despesas de casa normalmente são dividas entre ela e o irmão,
necessitando de cobrança de sua parte para que o irmão ajude financeiramente, referindo que
a despesa maior ficava para ela. Kátia diz ser uma pessoa preocupada e que lhe incomoda o
fato de não saber o que vai acontecer com a sua vida no “mês que vem e ano que vem”. Deste
modo muitas vezes se sobrecarrega arcando com as despesas de casa sozinha. No momento
que está desempregada está recebendo ajuda do tio que faz compras de mantimentos para eles
e financeira do namorado que paga o aluguel e contas de água e luz. Refere ter dificuldades
para aceitar ajuda principalmente do namorado que refere conhecer desde a época do
falecimento do pai.
Janaina relata que as atividades de casa sempre foram desempenhadas por ela que
preferia ficar em casa e cuidar da casa, lavar, passar e cozinhar, inclusive do irmão. Janaina
refere que nunca trabalhou fora de casa, desempenhando todas as tarefas domésticas refere
que gosta de fazê-las não se sentindo sobrecarregada por isso. No momento as tarefas
domésticas estão sendo deixadas de lado porque Kátia tem permanecido todo o seu tempo no
73
hospital com a irmã. Kátia refere que às vezes consegue ir rapidamente a casa e “dar uma
arrumada rápida” relata dificuldade em manter a casa arrumada principalmente porque o
irmão não colabora no sentido de manter a limpeza do local. O irmão faz as refeições no seu
trabalho.
Janaina refere que antes da internação tinha tentado trabalhar fora de casa em uma
panificadora, mas que não conseguiu ficar no emprego muito tempo devido a episódios de
“aceleração do coração”.
Janaina e Kátia concordam que quem tem mais facilidade para resolver os
problemas da família é a Kátia. Relatam que o irmão pouco conversa com elas, ainda que
“nunca sei quando meu irmão ta apaixonado”. Refere que o diálogo acontece mais fácil entre
ela e a Janaina, mas que não costumam falar sobre sentimentos entre si. Kátia refere que
conversa mais com o seu namorado. Janaina relata que prefere conversar com uma amiga, a
qual tem liberdade de falar sobre seus problemas. Janaina e Kátia referem que o irmão pouco
conversa em casa, mas que o mesmo possui amigos do seu trabalho. Referem que no
momento o irmão não tem namorada. Janaina refere-se como alguém que não gosta muito de
conversar. Kátia refere que o irmão conversa um pouco com a Janaina referindo ser porque a
Janaina faz tudo para lhe agradar. Diz, ainda, que quando acontecem desentendimentos em
sua família, geralmente, ela e Janaina se juntam.
Avaliação Desenvolvimental
Kátia refere estar ficando 24h com a irmã no hospital referindo não ter mais
ninguém que fique em seu lugar e que ela confie “eu não dividiria o tempo pra ficar com ela
com ninguém, fico preocupada” Refere que só dividiria com alguém que confiasse.
Kátia relata que a época de sua vida que relembra com saudade é a época em que
morava com seu pai, pois o mesmo era muito atencioso “me dava atenção, batia papo, contava
74
historias”, entre 10 e 12 anos. Outra época que gosta de lembrar foi quando começou a
trabalhar, pois “o pessoal do meu trabalho todos gostavam de mim, acabaram se envolvendo
por saber da minha história e me adotaram”. Diz que a morte do pai e do irmão foram
situações que mais lhe trouxeram tristeza, “minha família foi desmontada”. Refere que a sua
perspectiva de vida é que sua família seja reconstruída “porque morrer eu não posso mais.
Agora é montar com o que restou, agora só é nos três”. Kátia diz que quando tem dúvidas
sobre saúde, costuma perguntar à mãe de uma amiga que é enfermeira. Diz que sua vida
mudou com a doença. Janaina relata sentir falta de sua filha.
Dizem-se satisfeitas com o atendimento de saúde que estão recebendo e que “se
percebe que tem uma atenção voltada, a gente fica sabendo o que está acontecendo, eles
esclarecem as dúvidas. Já estamos até amigos das pessoas que trabalham aqui.” Refere que
está cansada, não tem dormido a noite devido ao desconforto das acomodações (dispõe de
uma cadeira comum para passar a noite) relatando a necessidade de procurar ajuda
psicológica após a alta da irmã, pois se sente emocionalmente abalada, pelo sofrimento que
presenciou por parte da irmã e pelos demais pacientes da enfermaria e a freqüência de óbitos
que acompanhou. Sente falta de sair para passear com o namorado, que tem vindo à área
externa do hospital, onde Kátia desce para encontrá-lo durante alguns minutos no final da
tarde.
Kátia refere que toda pessoa precisa de um familiar acompanhando-o na
internação “é importante pra reabilitar, fica triste”. Diz que no caso de sua família que é
pequena quando tem alguém doente há uma mobilização de todos os membros. Informa que
possuem outros irmãos de outros casamentos de seu pai, oito filhos do primeiro casamento,
seis do segundo casamento, mas que não tem contato com eles, apenas com um irmão que
informa ser “ele é bem legal, não fala mal de ninguém. Ele é um cara que gostaria de vê-lo
com mais freqüência.”.
75
Kátia informa ter tido medo de se tornar uma pessoa ruim, uma criminosa por que
foi criada sem mãe e pai. Diz que permanece muito tempo pensando sobre essas coisas e que
fica com medo de ficar com problemas mentais. Refere que se suas condições financeiras
fossem melhores faria terapia psicológica. Principalmente neste momento em que se
classifica como “muito fragilizada com a situação.” Relata saber que a irmã está bem agora,
mas que tudo lhe é novo, difícil, principalmente quando vê pacientes da mesma enfermaria
que sua irmã ir a óbito.
Quanto à escolaridade, Janaina refere ter cursado até a 7ª serie porque estava
grávida e o irmão parou os estudos na 8ª série.
Kátia informa não participarem de nenhuma associação. Define saúde como: “é
tudo para mim, por exemplo, como é que você tem vida social doente? Como é que você tem
paz doente? Uma vida profissional doente? Não tem como. Saúde é primordial é tudo... pra
mim Janaina é tudo. E ser saudável é não ter nem um problema físico, nem emocional,
cardíaco, é chegar em casa e não ter nenhum problema pra dormir”.
Janaina e Kátia dizem que a situação financeira influencia na saúde referindo que
se tivessem melhores condições financeiras o tratamento de Janaina seria melhor “em um
hospital particular, não teria os incômodos que existem aqui. Relata não ter como reclamar,
pois lhe falta conforto como acompanhante, ficando sentada em cadeira dura “fico sentada
nessa cadeira dura aqui, um horror”. Tem dia que almoço tem dia que não...”.
Kátia refere que freqüentava a igreja Fonte da Vida, mas na época que estava
fazendo o curso técnico de enfermagem e deixou de ir por falta de tempo. Janaina refere-se
como católica carismática e o irmão raramente vai à igreja católica. Diz que a fé é importante
e que tanto ela, quanto Janaina tem lido mais a bíblia e “tenho deixado de ouvir o forró eu
gosto de forrozinho estamos ouvindo orações por interseção”.
76
Avaliação Funcional
Refere que, após entrevista anterior com a pesquisadora, procurou o irmão para
conversar sobre a convivência dos mesmos dizendo-lhe sobre a importância da união e
responsabilidade se dispondo a ter um comportamento melhor. Relatando que normalmente
grita, fala mal e que a Janaina fica brava e não conversa com ninguém, é o mais calmo só se
alterando em situações extremas, mas que normalmente é “brincalhão”.
Diz que a doença de Janaina os fez aproximar mais, principalmente ela e Janaina:
“não tinha vida sem a Janaina, às vezes nos envolvemos com outras pessoas e nos
esquecemos das pessoas mais importantes”. Refere que quando Janaina foi para a cirurgia ela
permaneceu na porta do centro cirúrgico chorando. Janaina diz que antes da cirurgia pensou
em sua irmã e em seus filhos e ficou com medo de morrer. Janaina refere ter medo de se
movimentar relatando que sua vida não será mais a mesma.
Estes dados podem ser representados no genograma (figura 5) e ecomapa (figura
6).
1
º
C
2
º
C
C
CC
1996
AVC
Janaina
26a
IC desde 7a
Janailde
24a
desempregada
Janailton
23
vendedor
Cleriston
3a
A
bandonou os filhos
pequenos
Figura 5 - Genograma da família Topázio
77
Figura 6 - Ecomapa da família Topázio
A partir dessas informações realizamos o processo diagnóstico (Quadro 6).
Janaina
26a
IC desde 7a
Janailde
24a
desempregada
Janailton
23
vendedor
Tio
Irmão do Pai
Emprego
Amigos
Irmãos
e 2
º
casamento
Amigas
Namorado
Tia que criou
Av ó s da sua
filha
Tia que criou
Amigas
78
Quadro 4 - Processo diagnóstico - fase de síntese - realizado junto à família Topázio, com respectivos diagnósticos da NANDA. Goiânia, 2006.
Agrupamento Comparação Inferência Relações Diagnóstico de Enfermagem
Estrutura de papéis:
Família composta por Janaina, (pessoa índice, sexo
feminino, 26 anos), sua irmã Kátia (24 anos) e o irmão
Jason (23 anos) que moram na mesma casa.
Pessoa índice: Janaina, mulher de 26 anos, está solteira,
mas foi casada uma vez, sendo que a relação durou três
anos, a qual teve como fruto um filho, atualmente com
sete anos, que mora com o pai. Relata ter uma filha de
dois anos, fruto de namoro breve. A criança foi morar
com os pais do ex-namorado devido a Janaina ter
apresentado complicações cardiovasculares no
puerpério. Ela tem contato com os filhos regularmente,
sempre solicitando aos cuidadores das crianças que as
levem até ela, conversam por telefone frequentemente.
A paciente refere não possuir pais, apesar de a mãe
estar viva. Afirma que a mãe os abandou quando
tinham 6, 4 e 3 anos respectivamente, após o AVC do
pai, há 20 anos atrás. Informa lembrar-se de vários
episódios em que o pai chegava alcoolizado em casa e
batia na mãe, antes de ser acometido pelo AVC. O casal
teve quatro filhos, sendo que o caçula morreu aos dois
anos de idade por afogamento, durante uma inundação
decorrente de um grande temporal, no qual o pai estava
sozinho, sequelado de AVC, com os dois filhos
menores e conseguiu salvar apenas um deles. Em
virtude da incapacidade do pai em cuidar dos filhos
devido ao AVC e da saída da mãe do domicilio, as
crianças foram encaminhadas separadamente para
diferentes tios. Refere-se ao pai com carinho, falando
que ele era “maravilhoso”. Viam o pai durante as
SIMONTON, S.
M. A família e a
cura – Método
Simonton para
famílias que
enfrentam uma
doença. São
Paulo: Summus,
1990.
SOUZA, A I J.
Cuidando de
famílias:
identificando
ações de cuidado
e não-cuidado nos
familiares. In:
ELSEN, I;
MARCON, S S;
SILVA, M R S
(org) O viver em
família e sua
interface com a
saúde e a doença.
p. 43 - 63.
Maringá: EDUEM
, 2004 p.313-325
Família desestruturada
Alteração do estado de
saúde de membro da
família
1- Processos familiares
interrompidos relacionados
alteração do estado de saúde
de um membro da família
evidenciado por mudanças nas
tarefas designadas, na
participação na resolução de
problemas, na participação na
tomada de decisões.
2- Paternidade e
maternidade prejudicadas
relacionadas a conflito
matrimonial, falta de valor da
maternidade, arranjos
impróprios para o cuidado da
criança, presença de estresse,
incapacidade dos pais de
colocar as necessidades da
criança a frente das suas
próprias evidenciado por
déficit de interação pais-
filhos, falta de vinculo com a
criança, abandono (por parte
da mãe).
Continua...
79
Continuação Quadro 4 - Processo diagnóstico - fase de síntese - realizado junto à família Topázio, com respectivos diagnósticos da NANDA. Goiânia,
2006.
Agrupamento Comparação Inferência Relações Diagnóstico de Enfermagem
férias escolares, duas vezes por ano. O pai faleceu há 10
anos como conseqüência de novo AVC. Ao completar 14
anos, Kátia conseguiu arrumar emprego e teve condições de
montar a sua própria casa e convidar os irmãos para morar
com ela (nessa época o pai ainda era vivo e morava
sozinho). Janaina e Kátia relatam indiferença com relação à
mãe que nunca os procurou em nenhum momento, mesmo
agora, na ocasião da cirurgia cardíaca de Janaina, ao ser
avisada não manteve nenhum tipo de contato com os filhos.
Janaina refere que nunca trabalhou fora de casa,
desempenhando todas as tarefas domésticas refere que gosta
de fazê-las não se sentindo sobrecarregada por isso. Na
atual internação está acompanhada da irmã Kátia.
Janaina refere ter medo de se movimentar relatando que sua
vida não será mais a mesma.
Irmã da pessoa índice: Kátia, mulher, 24 anos, solteira.
Permanece como única acompanhante da irmã há um mês.
Informa que abandonou o emprego de auxiliar de
laboratório para ficar com a irmã no hospital, sente que é
sua obrigação. Embora haja outros cuidadores potenciais na
família extensa, Kátia acredita é ela quem melhor cuida da
irmã, não confia no momento em ninguém para substituí-la.
Com relação à saúde de Janaina, Kátia relata medo de que a
irmã morra, referindo que não consegue ver sua vida sem
sua irmã “ela é a minha vida”.
Refere que está cansada, não tem dormido a noite devido
ao desconforto das acomodações (dispõe de uma cadeira
comum para passar a noite) relatando a necessidade de
procurar ajuda psicológica após alta da irmã, pois se sente
emocionalmente abalada,
ELSEN I.
Cuidado
familial: Uma
proposta inicial
de
sistematização
conceitual. In:
ELSEN, I;
MARCON, S S;
SILVA, M R S
(org) O viver
em família e sua
interface com a
saúde e a
doença. p. 43 -
63. Maringá:
EDUEM, 2004
p.19-28
Estresse do
cuidador
A intensidade do tempo
dedicado ao cuidado, falta de
revezamento de cuidadores
3 - Tensão devida ao papel
de cuidador relacionado
responsabilidades referentes às
24 horas de cuidado, ambiente
físico inadequado para o
cuidado, falta de apoio
(adequado), cuidador é mulher
evidenciado por sono
perturbado, frustração por
falta de tempo para atender às
necessidades pessoais,
insatisfação com o nível das
atividades de lazer.
Continua....
80
Continuação Quadro 4 - Processo diagnóstico - fase de síntese - realizado junto à família Topázio, com respectivos diagnósticos da NANDA. Goiânia,
2006.
Agrupamento Comparação Inferência Relações Diagnóstico de Enfermagem
pelo sofrimento que presenciou por parte da irmã e pelos
demais pacientes da enfermaria e a freqüência de óbitos que
acompanhou. Sente falta de sair para passear com o namorado,
que tem vindo a área externa do hospital, onde Kátia desce para
encontrá-lo durante alguns minutos no final da tarde. No
momento, enquanto Janaina está internada nos períodos de
visita, Kátia se desloca rapidamente ao domicilio para cuidar
das tarefas domésticas. Não gosta deste tipo de atividades, mas
conforma-se em executá-las frente à necessidade. Manifesta
insatisfação frente à falta de colaboração do irmão nesse
sentido.
Irmão da pessoa índice: Jason 23 anos, solteiro vendedor em
loja de som automotivo. Janaina e Kátia referem que o mesmo
pouco conversa com as duas é “mais na dele”. Referem que o
irmão tem mais contato com os amigos do trabalho do que com
elas. Na internação de Janaina, as irmãs referem que Jason
pouco tem vindo visitá-la alegando que nada pode fazer. Kátia
refere que o irmão não ajuda espontaneamente nas despesas
domésticas, precisa que a mesma cobre dele. Refere também
que ele não ajuda em nada nas tarefas domésticas, e ainda
desarruma o que estava arrumado. Janaina refere que ela sempre
cuidou das roupas do irmão, de sua alimentação, da arrumação
de seus objetos, relatando não se importar com isso.
ALTHOFF. C R.
Delineando uma
abordagem
teórica sobre o
processo de
conviver em
família. In:
ELSEN, I;
MARCON, S S;
SILVA, M R S
(org) O viver em
família e sua
interface com a
saúde e a doença.
p. 43 - 63.
Maringá:
EDUEM, 2004
p.29-41
Continua...
81
Continuação Quadro 4 - Processo diagnóstico - fase de síntese - realizado junto à família Topázio, com respectivos diagnósticos da NANDA. Goiânia,
2006.
Agrupamento Comparação Inferência Relações Diagnóstico de Enfermagem
2- Manutenção do Lar
Kátia relata que as tarefas domésticas eram
desempenhadas pela Janaina (internada há 30 dias no
HC), como cozinhar, limpar a casa. No momento Kátia
que acompanha Janaina é quem está responsável pelas
tarefas domésticas.
Refere que recebem ajuda do tio (único irmão do pai)
que criou o seu
irmão e que as despesas de casa
normalmente são feitas por ela com do irmão,
necessitando de cobrança de sua parte para que o irmão
ajude financeiramente, referindo que a despensa maior
ficava para ela. Refere ser uma pessoa preocupada e
que lhe incomoda o fato de não saber o que vai
acontecer com a sua vida no “mês que vem e ano que
vem”. Deste modo
muitas vezes se sobrecarrega
arcando com as despesas de casa sozinha. Relata que
precisou largar o emprego de auxiliar de laboratório
para cuidar da irmã e está recebendo seguro-
desemprego, referindo ser muito pouco e não cobrir as
despesas domésticas. No momento que está
desempregada está recebendo ajuda do tio que faz
compras de mantimentos para eles e do namorado que
paga o aluguel e contas de água e luz. Refere ter
dificuldades para aceitar ajuda principalmente do
namorado que refere conhecer desde a época do
falecimento do pai, mas que namoram há um ano.
SOUZA. A I J. Cuidando de
famílias: identificando ações
de cuidado e não-cuidado
nos familiares.
In: ELSEN, I; MARCON, S
S; SILVA, M R S (org) O
viver em família e sua
interface com a saúde e a
doença. p. 43 - 63. Maringá:
EDUEM, 2004 p.313-325
SILVA, LF et al. Doença
crônica: o enfrentamento
pela família. Acta Paulista
Enf. , São Paulo, v.15, n.1,
p. 40-47, 2002.
RIBEIRO, R R N. A família
enfrentando a doença grave
da criança.
In: ELSEN, I; MARCON, S
S; SILVA, M R S (org) O
viver em família e sua
interface com a saúde e a
doença. p. 43 - 63. Maringá:
EDUEM, 2004 p.183 -197
Dificuldade de
manter o lar
Adoecimento de um
membro da família,
recursos insuficientes
(finanças).
4- Manutenção do lar
prejudicada relacionada à
doença de membro da família,
organização familiar
insuficiente, finanças
insuficientes evidenciado por
membros da família
expressam dificuldade para
manter a sua casa de forma
confortável, descrevem crise
financeira, pedem ajuda para a
manutenção da casa, membros
da família sobrecarregados.
Continua...
82
Continuação Quadro 4 - Processo diagnóstico - fase de síntese - realizado junto à família Topázio, com respectivos diagnósticos da NANDA. Goiânia,
2006.
Agrupamento Comparação Inferência Relações Diagnóstico de Enfermagem
Comunicação
Na família a comunicação acontece com dificuldade
principalmente com relação à expressão de
sentimentos. Kátia refere que o seu irmão pouco
conversa com elas. Refere que o dialogo acontece mais
fácil entre ela e a Janaina, mas que não costumam falar
sobre sentimentos entre si. Kátia refere que conversa
mais com o seu namorado. Janaina relata que prefere
conversar com uma amiga, a qual tem liberdade de falar
sobre seus problemas. Janaina e Kátia referem que o
irmão pouco conversa em casa, mas que o mesmo
possui amigos do seu trabalho. Referem que no
momento o irmão não tem namorada. Janaina refere
que em sua família quem tem comunicação clara é a
Kátia, referindo-se como alguém que não gosta muito
de conversar. Kátia refere que o irmão conversa um
pouco com a Janaina referindo ser porque a Janaina faz
tudo para lhe agradar.
LITTLEJOHN, S.
W. Teorias de
comunicação em
pequeno grupo -
Fundamentos
teóricos da
comunicação
humana, Rio de
Janeiro, Zahar
editores, 1988.
ALTHOFF, C R
Delineando uma
abordagem teórica
sobre o processo
de conviver em
família. In:
ELSEN, I;
MARCON, S S;
SILVA, M R S
(org) O viver em
família e sua
interface com a
saúde e a doença.
p. 43 - 63.
Maringá:
EDUEM, 2004
p.29-41
Padrão de
comunicação que
não atende as
necessidades
interpessoais.
Falta de oportunidade para
estabelecimento de vínculos no
processo de crescimento e
desenvolvimento.
5-Comunicação verbal da
família prejudicada
relacionada a barreiras
psicológicas (falta de
estímulo), evidenciado por
dificuldade para atingir o
padrão esperado de
comunicação interpessoal no
contexto da família.
Continua...
83
Continuação Quadro 4 - Processo diagnóstico - fase de síntese - realizado junto à família Topázio, com respectivos diagnósticos da NANDA. Goiânia,
2006.
Agrupamento Comparação Inferência Relações Diagnóstico de Enfermagem
Socialização:
É uma família de três irmãos que voltaram a viver
juntos nos últimos dez anos depois de uma
separação também de dez anos. Todos os membros
referem que possuem uma rede de amigos bem
grande incluindo os vizinhos. Acreditam que isto
decorre do fato de morarem há mais de seis anos no
mesmo local. Kátia refere que os vizinhos se
preocupam com elas, designando-as
carinhosamente por “as meninas”. Os mesmos
ajudam como podem e, sendo Kátia, só não se
dedicam mais “pois cada um tem suas obrigações”.
Kátia geralmente gosta de sair com o namorado,
Janaina, quando está bem, gosta de freqüentar
boates, Jason gosta de sair com os amigos.
WRIGHT, LM;
LEAHEY, M.
Enfermeiras e
Famílias – Um guia
para avaliação e
intervenção na família.
São Paulo: Rooca,
2002. (Cap.3).
ELSEN I. Cuidado
familial: Uma
proposta inicial de
sistematização
conceitual. In:
ELSEN, I; MARCON,
S S; SILVA, M R S
(org) O viver em
família e sua interface
com a saúde e a
doença. p. 43 - 63.
Maringá: EDUEM,
2004 p.19-28
Processo de
socialização da
família
satisfatório
84
5.3 Diagnósticos de Enfermagem identificados nas famílias em situação de
acompanhamento hospitalar
Foram encontradas, nas 12 (doze) famílias incluídas no estudo, 12 (doze)
categorias diagnósticas diferentes, destacando-se o domínio psicossocial, em especial a classe
de papeis/relacionamentos (Quadro 7). Esse domínio está relacionado à categoria denominada
funcional do Modelo Calgary. Podemos observar que também foram identificados
diagnósticos do domínio fisiológico e ambiental, embora a maioria dos diagnósticos destes
domínios seja identificado na NANDA como fenômenos que aparecem comumente em
indivíduos ou comunidades.
Quadro 5 – Distribuição dos 12 diagnósticos de enfermagem identificados nas famílias
(N=12), de acordo com os domínios da NANDA. 2006.
Domínios Classe Diagnósticos de Enfermagem
Domínio Psicossocial
Papéis/relacionamentos Tensão do papel de cuidador
Processos familiares disfuncionais:
alcoolismo
Paternidade prejudicada
Risco para interação social prejudicada
Paternidade e maternidade prejudicada
Processos familiares interrompidos
Interação social prejudicada
Comunicação Comunicação verbal da família
prejudicada
Enfrentamento Enfrentamento familiar incapacitado
Domínio Fisiológico
Física Risco para infecção da família
Risco para infestação da família
Domínio Ambiental
Controle de riscos Manutenção do lar prejudicada
85
Na tabela 1 podemos observar que três famílias apresentam fragilidades nos
vínculos com a família extensa e sistemas mais amplos, resultando no diagnóstico de
interação social prejudicada. Outras duas famílias experimentarão interações insuficientes se
os fatores de risco não forem minimizados ou resolvidos. Na categoria de desenvolvimento
foi observada a presença de quatro diagnósticos e na funcional seis diagnósticos.
Tabela 1 – Diagnósticos de enfermagem identificados nas famílias (N =12) e as categorias de
avaliação do Modelo Calgary de Avaliação e Intervenção. Goiânia (GO), 2006.
DE (Título) F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 F8 F9 F10 F11 F12 Total %
ESTRUTURAL
Interação social prejudicada x x x 03 25
Risco para interação social
prejudicada
x x 02 16,6
DESENVOLVIMENTO
05
Processos familiares interrompidos x x x x x x x x 08 66
Paternidade prejudicada x x 02 16,6
Paternidade e maternidade
prejudicada
x 01 8,3
Processos familiares disfuncionais:
Alcoolismo
x 01 8,3
FUNCIONAL
07
Tensão do papel de cuidador x x x x x x x x x x x x 12 100
Comunicação verbal da família
prejudicada
x x x x x x x x x 09 75
Manutenção do lar prejudicado x x x x x x x x 08 66
Enfrentamento familiar incapacitado x 01 8,3
Risco para infecção x 01 8,3
Risco para infestação x 01 8,3
Total
04 03 04 04 07 06 05 04 02 03 04 03 49
86
Obteve-se a média de 4,1 diagnósticos por família, sendo que uma família obteve
07 (sete) diagnósticos, e outra 02 (dois). Dos diagnósticos identificados, 75% são
classificados como diagnóstico real, mostrando o quanto essas famílias estão vulneráveis.
Embora a família sofra imensamente com o adoecimento de um de seus membros,
é esperado dela que tenha forças estruturais para conter-se e apoiar o familiar doente. Felício
(2003) afirma que a maioria das famílias acaba respondendo bem a essa nova contingência,
mas observam-se reações familiares não cooperativas, referindo que na maioria das famílias
que assim reagem, provavelmente, já eram gravemente deterioradas antes do adoecimento
orgânico do familiar. Percebe-se nessa visão, que o adoecimento pode acirrar dificuldades
relacionais que já estavam sendo fracamente contornadas. Para Henckemaier (2004) a
internação hospitalar afeta a organização e a vida cotidiana da família em maior ou menor
grau, exigindo da enfermagem sensibilidade para identificar quando seus membros requerem
cuidados.
No presente estudo os DE mais freqüentes foram: Tensão devido ao papel de
cuidador (100% das famílias); Comunicação verbal prejudicada, presente em 75% das
famílias, Manutenção do lar prejudicada e Processos familiares interrompidos, presentes em
66% das famílias.
Cada diagnóstico de enfermagem encontrado foi analisado detalhadamente, sendo
considerado os fatores relacionados, fatores de risco e características definidoras.
Para o diagnóstico de Tensão do papel de cuidador, que é definido pela NANDA
(2006) como “dificuldade para desempenhar o papel de cuidador da família” (p.174)
conforme pode ser visto na Tabela 2, dos 44 fatores relacionados para o DE, foram
encontrados 15 nas famílias participantes, sendo os mais freqüentes: Responsabilidades
referentes às 24 horas de cuidado (100%); Cuidador é mulher (100%); falta de apoio
(adequado) para 83,3%; Ambiente físico inadequado para o cuidado em 83,3% dos casos;
87
Imprevisibilidade da situação de cuidados (50%) e Imprevisibilidade do curso da doença
(50%).
Tabela 2 – Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias com
o diagnóstico de enfermagem tensão do papel de cuidador (n =12). Goiânia (GO).
2006
Fator relacionado N % Característica definidora n %
Cuidador é mulher
d
12 100 Sono perturbado 08 66,6
Responsabilidades
referentes às 24 horas de
cuidado
12 100 Frustração por falta de tempo para
atender as necessidades pessoais
06 50
Falta de apoio (adequado) 10 83,3 Mudanças nas atividades de lazer 02 16,6
Ambiente físico inadequado
para o cuidado
10 83,3 Preocupação com relação aos
membros da família
02 16,6
Imprevisibilidade da
situação de cuidados
06 50 Falta de tempo para atender as
necessidades pessoais
02 16,6
Aumento da necessidade de
cuidados/dependência,
05 41,6 Conflito familiar 02 16,6
Recreação insuficiente 03 25 Insatisfação com o nível das
atividades de lazer
02 16,6
Gravidade da doença 03 25 Estresse 02 16,6
Recursos familiares
insuficientes
02 16,6 Apreensão em relação ao futuro no
que diz respeito à saúde do receptor
dos cuidados
01 8,3
Recursos financeiros
insuficientes,
02 16,6 Agitação 01 8,3
Falta de conhecimentos
sobre os recursos da
comunidade
02 16,6 Rejeição 01 8,3
Afastamento da vida social 01 8,3
Alta hospitalar de membro
da família para casa com
necessidades significativas
de cuidados
02 16,6 Hipertensão 01 8,3
Cronicidade da doença 02
Historia de disfunção
familiar
02 Sentimento de depressão 01 8,3
Estado mental do idoso que
inibe a conversação
01 Preocupação com a rotina de
cuidados
01 8,3
88
A maioria das mulheres que participou desta pesquisa e que se configurava em
cuidadoras dos familiares hospitalizados reclamava da pouca ajuda dos demais membros da
família e dos amigos. Isabel, da família Jaspe, que é composta de dois membros, refere ser a
única pessoa a cuidar do marido, desde que o mesmo teve AVC.
Por outro lado, este fato parece estar relacionado também a relutância do cuidador
em solicitar ou aceitar ajuda. Kátia da família Topázio, que é composta por três irmãos, refere
estar ficando 24h com a irmã no hospital e que não tem uma pessoa de sua confiança para
ficar em seu lugar “eu não dividiria o tempo pra ficar com ela com ninguém, fico
preocupada”. Bocchi e Ângela (2006) referem que isso parece ser um enigma quando os
cuidadores parecem ser resistentes até mesmo em aceitarem o auxilio de outras pessoas para o
cuidado.
Essa atitude pode estar relacionada a várias causas como medo de que esse ato
represente sinal de fracasso ou inadequação; medo e ansiedade em abandonar o paciente em
casa, sem atendimento, tornando-se susceptível ao agravamento da doença; medo que a
pessoa morra ou ainda a super proteção e excessos de cuidados, na tentativa de minimizar
sentimentos de culpa pelas ações ou negligências.
Grandi (1998) cita que é a mulher, geralmente, o principal cuidador, por estar
associada historicamente à responsabilidade pelos cuidados na família. Cereser (2004), em
seus estudos, descreve que de forma unânime a mulher desempenha o papel de cuidadora em
sua família. A mulher cuida do marido, filhos e outros familiares, principalmente em
situações de doenças. Torna-se difícil determinar ou diferenciar quais são as ações da mãe
das de dona de casa. Essas funções são caracterizadas como femininas, estão muito
interligadas. Esses cuidados que são desenvolvidos pelas mulheres se constitui um
d
Categorias diagnósticas, fatores relacionados, características definidoras ou fatores de risco em itálico
referem-se a acréscimos realizados na proposta original da NANDA (2006), no âmbito do presente estudo
89
aprendizado adquirido pela imposição sócio-cultural, que não é questionada pelas mulheres
ou pelas famílias, sendo simplesmente desempenhadas. Como esse papel não foi escolhido
pelas mulheres, mas sim aprendido e aceito, ele é fonte de sofrimento, desprazer e
conformismo, o que prejudica a ação de cuidado.
O acompanhante, durante sua permanência no hospital, desenvolve uma série de
sentimentos e experiências que envolvem expectativas, ansiedade, preocupações, incertezas e
receios. A decisão de acompanhar um familiar que se hospitaliza constitui motivo de grande
expectativa em torno da situação, principalmente em relação ao ambiente hospitalar. Alguns
autores (FRANCO; JORGE, MOTTA, 2004) referem ao ambiente hospitalar (enfermarias)
como um local sem condições de alojamento adequado, tendo o familiar que se acomodar em
cadeiras simples, sem nenhuma condição de conforto para o descanso após longas jornadas de
atividades de cuidado. A submissão a essas condições também está condicionada à noção de
que o cuidado com a pessoa adoecida, independente da idade, é de responsabilidade da
família. Nesse sentido as autoras declaram que (FRANCO; JORGE, MOTTA, 2004) a
questão afetiva e a constatação de que a assistência oferecida é precária, levam o
acompanhante a colaborar com a equipe e com o paciente no sentido da execução dos
cuidados relativos à higiene individual, alimentação, exercícios e repouso, além da promoção
de seu conforto e bem-estar. Dessa maneira a família deve ser mantida como foco das
atenções, recebendo o apoio necessário para que se mantenha saudável, e ao mesmo tempo
colaborar no processo de cuidar do membro adoecido.
Os cuidadores possuem atribuições nas 24 horas de sua permanência junto a
pessoas hospitalizadas, muitas vezes em situação de imprevisibilidade do curso da doença e
imprevisibilidade da situação de cuidado. Na família Diamante que é composta de dois
membros a cuidadora que é a esposa da pessoa índice refere estar cansada, pois é a única
cuidadora do esposo. Diz que após o adoecimento do esposo (AVC) passou a tomar conta
90
dele 24hs por dia, pois o mesmo é totalmente dependente para as AVDs. Refere ter
necessidade de fazer suas “coisas”. Relata não poder sair sem se preocupar com o esposo e os
cuidados com ele (medicações, alimentação, banho, entre outros).
O cuidador é o membro da família que fica mais exposto ao cansaço e estresse,
pois ele precisa se preocupar com o membro adoecido e consigo mesmo. Diante percebemos
que dar atenção para esse cuidador é papel fundamental da enfermagem.
Conforme pode ser visto na Tabela 3, o diagnóstico de Comunicação verbal da
família prejudicada, definido pela NANDA (2006) como “habilidade diminuída, retardada ou
ausente para receber, processar, transmitir e usar um sistema de símbolos” (p. 54) foi
encontrado em nove famílias. Dos 18 fatores relacionados, foram encontrados 05 nas famílias
participantes, sendo mais freqüente as barreiras psicológicas (falta de estímulo), e
característica definidora de maior prevalência, com 88,8%, foi a dificuldade para atingir o
padrão esperado de comunicação interpessoal no contexto da família. Esta característica foi
acrescentada em função de depoimentos como os de Kátia, da família Topázio. Esta
participante nos revela que na sua família (três irmãos apenas) a comunicação acontece com
dificuldade principalmente com relação à expressão de sentimentos. Kátia refere que o seu
irmão pouco conversa com ela e a irmã (Janaina). Refere que o diálogo acontece mais fácil
entre ela e a Janaina, mas que não costumam falar sobre sentimentos entre si. Kátia refere que
conversa mais com o seu namorado. Janaina (pessoa em situação de internação hospitalar)
relata que prefere conversar com uma amiga, a qual tem liberdade de falar sobre seus
problemas. Janaina e Kátia referem que o irmão pouco conversa em casa, mas que o mesmo
possui amigos do seu trabalho.
91
Tabela 3 – Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias com o
diagnóstico de enfermagem comunicação verbal da família prejudicada (n= 9).
Goiânia (GO). 2006.
Fator relacionado n % Característica definidora n %
Barreiras psicológicas
(falta de estímulo)
08 88,8 Dificuldade para expressar verbalmente
os pensamentos
01 11,1
Condições emocionais 01 11,1 Dificuldade para compreender e manter o
padrão usual de comunicação
01 11,1
Diferenças relacionadas à
idade de
desenvolvimento
01 11,1 Dificuldade para atingir o padrão
esperado de comunicação interpessoal no
contexto da família.
08 88,8
Defeito anatômico
(auditivo)
01 11,1
Barreiras culturais e
psicológicas
01 11,1
Pode-se caracterizar um grupo familiar como um “todo dinâmico” conforme
Littlejohn (1988) onde uma mudança no estado de qualquer subparte modifica o estado de
todas as outras. As relações familiares decorrem da interação entre seus membros. Essa
interação é regida por regras que ditam seus comportamentos comunicativos.
Nas famílias participantes deste estudo, com diagnóstico de comunicação verbal
da família prejudicada, as interações acontecem de forma superficial, principalmente devido à
falta de comunicação efetiva, decorrente da falta de fluidez e transparência das mesmas.
Percebemos que mesmo nas famílias onde seus membros referem relacionarem-se bem,
existem alguns assuntos que não são discutidos, ou são colocados na dependência de surgir
um momento propício, o que muitas vezes não acontece, e os assuntos ficam sem resolução.
Por outro lado, a comunicação pressupõe reciprocidade e em algumas famílias
isso não ocorre como mostram os dados colhidos na família Rubi: Lúcia (nora de D.Alba, que
está hospitalizada) refere que Maria (filha de D.Alba), mantém conversas com os irmãos
quando precisa de algo, mas não se dispõe a ouvir quando os outros precisam.
92
Wright e Leahey (2002) referem que as famílias geralmente expressam um amplo
espectro de emoções e sentimentos que vão de felicidade a tristeza e raiva ao passo que a
família com dificuldades, como o adoecimento crônico de um membro, sempre discutem e
raramente demonstram afeição. Littlejohn (1988) afirma que para sobreviverem, os grupos
precisam propiciar um ótimo nível de satisfação a seus membros. Pensando deste modo,
quanto mais coesa for à família, mais ela conseguirá ter uma comunicação eficaz e com isso
coordenar seus recursos para cuidar do membro adoecido.
Estabelecer a comunicação entre os membros das famílias é a estratégia que deve
buscar aproximar as pessoas. Conversar em família é algo imprescindível nas relações
familiares. É o elo que fortalece ou enfraquece as famílias principalmente nos momentos de
adoecimento.
O diagnóstico de enfermagem Processos familiares interrompidos, que é definido
pela NANDA (2006), como “mudança nos relacionamentos e/ou no funcionamento da
família” (p.120), foi identificado em 8 famílias, conforme mostrado na Tabela 4.
Dos 08 fatores relacionados foram encontrados 03, sendo o mais freqüente, o de
alteração do estado de saúde de um membro da família, 87,5%; seguido de troca dos papéis na
família, 62,5%. As características definidoras que mais apareceram foram mudanças na
participação na resolução de problemas 87,5%, mudança na participação na tomada de
decisão e mudanças nas tarefas designadas 62,5%.
Na família Jaspe que é composta de três membros (paciente, esposa e filha) após o
adoecimento da pessoa índice sua esposa refere que os papeis em sua família mudaram, pois
estão mais próximos. Informa que tem permanecido 24hs por dia cuidando do esposo, e que a
filha Márcia tem lhe ajudado, ficando também com o pai, principalmente no período noturno.
Diz que anteriormente a filha ajudava menos, pois estava trabalhando, mas agora que está
93
desempregada está ficando um período maior no hospital e assim ela pode descansar um
pouco e tentar organizar a casa.
Tabela 4 - Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias
com o diagnóstico de enfermagem processos familiares interrompidos (n = 8).
Goiânia (GO). 2006
Fator relacionado n % Característica definidora n %
Alteração do estado
de saúde de um
membro da família
07 87,5 Mudanças na participação na
resolução de problemas
07 87,5
Troca dos papeis na
família
05 62,5 Mudanças nas tarefas designadas 05 62,5
Modificação nas
finanças da família
01 12,5 Mudança na participação na
tomada de decisão
05 62,5
Mudanças nos padrões de
comunicação
03 37,5
Mudanças no apoio mútuo 02 25
Mudanças nas alianças de poder 02 25
Mudanças na disponibilidade para
apoio emocional
02 25
Mudanças nas tarefas designadas 02 25
Expressão de conflito entre a
família
01 12,5
Mudança na disponibilidade para
resposta afetiva e intimidade
01 12,5
Em todas as famílias, independente da sociedade, cada membro da família ocupa
determinada posição, sendo orientado por papéis. Stanhope (1999) refere que estes papéis não
são mais do que as expectativas de comportamento, de direitos e obrigações que estão
associados a uma dada posição na família ou grupo social. Aos papéis atribuídos é ideal que
exista flexibilidade assim como a possibilidade de troca ocasional desses papéis, por exemplo,
quando um dos membros não possa desempenhar o seu papel, outro membro da família
assumirá a posição.
94
Wright e Leahey (2002) referem que a mudança em um membro afeta todos na
família. A família é capaz de gerar um equilíbrio entre a mudança e a estabilidade como se
estivesse em constante alteração. Essa família é capaz de, com a mudança de papéis,
reorganizar-se ou reequilibrar-se de modo diferente do anterior. Normalmente, a família e
seus membros individuais precisam ser auxiliados no sentido de deslocar de uma perspectiva
linear da situação para uma visão de maior interação, mais recíproca, mais sistêmica.
Para conviver a família procuram estabelecer formas de poder e papeis que podem
e devem ser mutáveis. Dessa forma a família pode compartilhar decisões e estratégias no
sentido de preservar a unidade familiar.
Manutenção do lar prejudicada foi identificado em 8 famílias (Tabela 5). Este
diagnóstico é definido pela NANDA (2006) como “incapacidade de manter de forma
independente um ambiente imediato seguro e que promova o crescimento” (p.147). Dos 08
fatores relacionados presentes na NANDA foram identificados 05, sendo os mais freqüentes a
doença de membro da família, 100%; organização do lar insuficiente, 75%; finanças
insuficientes, 62,5%; e as características definidoras mais significativas foram Membros da
família expressam dificuldade para manter a sua casa de forma confortável 62,5%; Membros
da família pedem ajuda para a manutenção da casa, 62,5%; Membro da família
sobrecarregado (filha), 62,5%; e Descrição de crise financeira, 37,5%.
A manutenção do lar prejudicada está relacionada principalmente a doença do
membro da família, que nos participantes resultou em processo de hospitalização. Neste
contexto os outros membros da família precisam rever os papéis, fazendo com isso um
rearranjo para resolver as suas necessidades, focando principalmente o cuidado ao membro
adoecido. Em situações como essa a cuidadora deixa em um plano secundário os cuidados
com a casa e com os demais membros da família, o que pode comprometer a manutenção do
lar.
95
Tabela 5 - Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias
com o diagnóstico de enfermagem manutenção do lar prejudicada (n= 8).
Goiânia (GO). 2006
Fator relacionado f % Característica definidora f %
Doença de membros
da família
08 100 Membros da família expressam
dificuldade para manter a sua casa de
forma confortável
05 62,5
Organização familiar
insuficiente
06 75 Membro da família sobrecarregado
(filha)
05 62,5
Finanças insuficientes 05 62,5 Membros da família pedem ajuda para a
manutenção da casa
05 62,5
Sistema de apoio
inadequado
03 37,5 Descrição de crise financeira 03 37,5
Falta de ajudantes necessários 02 25
Referencia a ambiente desordenado 01 12,5
Falta de recursos
materiais
01 12,5 Odores ofensivos 01 12,5
Em nosso estudo, percebemos que em todas as famílias o cuidado é prestado pelas
mulheres, que deixam de realizar as tarefas domésticas no período de acompanhamento
hospitalar. Percebemos esse fato de modo evidente na família Esmeralda que é composta de
três membros (pessoa índice, sua filha- 29 anos, e sua mãe -82 anos) afirma que sua família já
esteve em situação financeira melhor, com isso tinham condição de manter pessoas para
ajudar nas tarefas domésticas, as quais atualmente são desempenhadas por ela. Na internação
do pai, não estão sendo realizadas por ninguém. Relata que trabalhava de secretaria em uma
empresa, mas a avó ficou doente e não aceitou o cuidado de mais ninguém, sendo necessário
sair do trabalho para cuidar da avó.
Goldner (1988 apud WRIGHT; LEAHEY, 2002) refere que o gênero é um
princípio fundamental de todos os sistemas familiares, levando-se em conta que as tarefas
domésticas e de cuidado são desempenhados na maioria das vezes pela figura feminina. As
diferenças e sobrecarga de papéis podem ser fontes significativas de estresse familiar,
verificando ainda uma participação tensa em famílias onde o doente crônico se tornou um
membro indesejável, dominador e poderoso. É visível que as mulheres – esposas, mães e
filhas nestas famílias – são as responsáveis pela proteção diária, 24 h por dia.
96
Outra dificuldade dos cuidadores na atenção aos pacientes e na manutenção do lar
é a falta de dinheiro necessário para os gastos com remédios, alimentação específica e outros
materiais para a manutenção da saúde da pessoa adoecida, exigindo adaptações no orçamento
familiar e na alocação dos recursos financeiros.
Quando falamos de doenças crônicas não transmissíveis, essa realidade representa
despesas contínuas passando a fazer parte do orçamento familiar. Essa situação complica
quando a pessoa doente é a provedora da família ou o cuidador principal. As famílias
estudadas sobreviviam com um salário mínimo, em grande parte advindo de aposentadoria. A
família Diamante, que é composta de duas pessoas, sendo a pessoa índice o membro da
família responsável pela manutenção do mesmo, após o seu adoecimento com insuficiência
renal crônica, hipertensão e diabetes, precisou aposentar, o que não modificou seus
rendimentos, mas aumentaram os gastos com medicamentos.
Para Bertolucci (2002) as doenças crônicas fazem com que se multipliquem os
custos diretos com medicação e internações para a pessoa afetada, e os indiretos com os dias
de trabalho perdidos pelo cuidador e o tratamento dos danos à saúde, produzidos por períodos
de estresse e trabalho cansativo.
As mudanças no estilo de vida provocadas pela presença de uma doença muitas
vezes estão associadas a alterações estruturais na dinâmica familiar. Como refere Silva et al
(2002), arcar com despesas relacionadas ao tratamento medicamentoso, exames laboratoriais,
deslocamento para unidades de saúde, entre outros, representa alterações orçamentárias para
mais, pois a maioria dos brasileiros não possui recursos financeiros para cobri-las.
Além dos problemas relacionados ao cotidiano do cuidar as famílias de pessoas
com doenças crônicas não transmissíveis enfrentam as dificuldades financeiras, perdas
familiares. Por isso, acreditamos que não apenas as dificuldades financeiras que limitam o
97
cuidado, mas uma gama de situações que precisam ser avaliadas pela enfermeira que assiste
essa família.
O diagnóstico de Enfermagem de Interação social prejudicada, que é definido pela
NANDA (2006) como “quantidade insuficiente ou excessiva ou qualidade ineficaz de troca
social” (p. 143) foi identificado em três famílias. Do total de 09 fatores relacionados foram
identificados 05 conforme mostra a Tabela 6, o fator relacionado mais significativo foi o de
ausência de pessoas do mesmo grupo etário, e Mobilidade física limitada, ambos com 66,6%
de freqüência, e a característica definidora mais proeminente foi o Relato familiar de mudança
no padrão de interação, também com 66,6% de incidência.
Tabela 6 - Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias
com o diagnóstico de enfermagem interação social prejudicada (n = 03).
Goiânia (GO). 2006.
Fator relacionado n % Característica definidora n %
Mobilidade física limitada 02 66,6 Relato familiar de mudança no
padrão de interação
02 66,6
Ausência de pessoas do
mesmo grupo etário
02 66,6 Interação insuficiente com
pessoas do mesmo grupo etário
01 33,3
Barreira de comunicação
(surdez)
01 33,3
Isolamento terapêutico 01 33,3
Processos de pensamento
alterados
01 33,3
A família atual, segundo Velho (1989), que aparentemente se apresenta como
nuclear, na verdade está inserida em uma rede de relações entre as mais diversas formas de
família, num complexo sistema de interdependência, que é de suma importância para a
sobrevivência e equilíbrio da mesma, mesmo que esta rede pareça invisível. Essa rede é
definida pela autora como a família extensa, amigos e vizinhos, podendo se revelar fortemente
atuante em praticamente todos os momentos da vida, mas se torna primordial nos momentos
de crise. Percebemos que essa rede se torna mais tênue à medida que a família do doente
crônico necessita usá-la por muito tempo.
98
A interação social prejudicada ocorre como resultado do perfil sócio-econômico
precário. As famílias referem sentir falta de contato com outras pessoas, como em atividades
comunitárias, confraternizações ou reuniões familiares, principalmente quando o núcleo
familiar é extenso. Às vezes a instituição religiosa é o único cenário para atividade de
integração social.
Em nosso estudo percebemos a família Jaspe com um numero reduzido de
membros (03) que relacionam apenas com os membros de sua igreja. D. Isabel diz que não
possuem muitos parentes e que os poucos que têm são bem afastados, tendo apenas uma
cunhada do esposo (o marido dela era irmão do Sr. Pedro) é a mais próxima, mas também não
é tão assim, pois ela já é idosa e tem dificuldade para ir visitá-los. Refere que os seus parentes
também não mantêm contato, apesar de morarem na mesma cidade e em cidades vizinhas.
Referem que as visitas que receberam inicialmente eram somente das pessoas da igreja,
“agora que começaram aparecer os parentes”.
Por outro lado, os cuidadores de pessoas com doenças crônicas vivenciam
mudanças no estilo de vida que reduzem, modificam e geram insatisfação na vida social dos
mesmos, principalmente devido às necessidades de internações recorrentes e a ida para casa
com considerável carga de cuidados. Na família Ônix a pessoa índice é cuidada pela neta em
casa que mora na casa ao lado. A mesma dorme com ela também e tem controlado as suas
medicações. “Eu estava pedindo minha sobrinha para controlar os remédios da minha mãe,
estava dando certinho”. Como não convivemos o tempo todo, fica mais difícil pra eu controlar
a dieta dela, pra ela lembrar.
Bocchi (2005) relata que alguns fatores são limitantes à vida social do cuidador,
como a sobrecarga de atividades, cuidados ao membro adoecido e tarefas de casa. Nas
relações familiares podem ocorrer o aumento dos conflitos ou maior aproximação entre os
membros. Os laços com a família nuclear são mantidos e até reforçados nessas situações, mas
99
pudemos perceber que, raramente, a família extensa se envolve nos cuidados, principalmente
por ser característica da doença crônica, o prolongar dos sintomas e inúmeras internações,
fazendo com que a família vivencie a redução de visitas, amigos e familiares.
O diagnóstico de Risco para interação social prejudicada, não consta na NANDA
(2006) como diagnóstico de enfermagem, mas o incluímos porque acreditamos que as duas
famílias reduzidas e adoecidas possuem risco de apresentarem “quantidade insuficiente ou
excessiva ou de qualidade ineficaz de troca social”, principalmente por apresentarem fatores
de risco que podem ser vistos na tabela 7, ou seja: Mobilidade física limitada (de um ou mais
membros da família, que ficam predominantemente em casa, devido à precariedade da
situação de saúde ou dificuldade de acesso), identificada em uma das famílias, interação
escassa com pessoas do mesmo grupo etário; ausência de pessoas do mesmo grupo etário
disponíveis.
Tabela 7 - Fatores de risco identificados nas famílias com o diagnóstico de enfermagem risco
para interação social prejudicada (n = 2). Goiânia (GO). 2006.
Fator relacionado n %
Mobilidade física limitada (membros da família) 01 50
Interação escassa com pessoas do mesmo grupo etário 01 50
Ausência de pessoas do mesmo grupo etário disponíveis 01 50
Na família Esmeralda (três membros) onde foi identificado esse diagnóstico de
risco de interação social prejudicada até um ano atrás todos os membros da família
participaram de atividades religiosas, do grupo do centro espírita que recolhiam alimento e
roupas para os pobres. Vera (82 anos ) fez parte de um grupo de amigos ferroviários
aposentados e pensionistas, onde as reuniões eram na casa dos amigos. Os mesmos morreram
ao longo do tempo e o grupo se desfez. Relatam união com os vizinhos; moram no mesmo
lugar há 21 anos. Amanda (29 anos) informa que a avó recebe apoio espiritual de freiras
católicas (instituição vizinha) que vão a sua casa. Há um ano não participam mais das
100
atividades comunitárias, devido à ocorrência concomitante do ingresso de Amanda na
faculdade, dificuldade de Vera se locomover, que resultou no afastamento também de João
destas atividades. Amanda teme ser obrigada a ter que decidir entre continuar a faculdade e
cuidar do pai. Durante a internação do pai, Amanda deixou de ir à faculdade e tem passado
todo o seu tempo entre cuidar do pai e da avó. Relata ainda que gostaria de ter liberdade de
tempo para não fazer nada, tempo pra curtir... “É o que mais gostaria de fazer... tempo pra sair
à noite... sair com meus amigos, tempo pra ficar de pernas pro ar, tenho saudade...”.
Esse isolamento da família pode fazer com que os problemas pareçam maiores do
que realmente são por isso é necessária à rede de apoio que pode ser oferecida pela família
extensa ou vizinhos.
O diagnóstico de enfermagem de Processos familiares disfuncionais: alcoolismo é
definido pela NANDA (2006) como “as funções psicossociais, espirituais e fisiológicas da
unidade familiar estão cronicamente desorganizadas, levando ao conflito, à negação de
problemas, à resistência a mudanças, à resolução ineficaz de problemas e a uma série de crises
autoperpetuadas” (p.117). Foi encontrado em uma família (Tabela 8).
Tabela 8 - Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias
com o diagnóstico de enfermagem processos familiares disfuncionais:
alcoolismo (n= 01). Goiânia (GO). 2006.
Fator relacionado n % Característica definidora n %
Abuso de álcool 01 100 Dinâmica familiar alterada 01 100
Desordem nos papéis familiares 01 100
Negação da família (mãe) 01 100
Obrigações negligenciadas 01 100
Habilidade ineficaz para
resolução de problemas
01 100
Abuso de álcool 01 100
Comunicação prejudicada 01 100
Dificuldade nos relacionamentos
íntimos
01 100
Falha em cumprir tarefas do
desenvolvimento atual
01 100
vergonha 01 100
101
Dos 07 fatores relacionados existentes para este diagnóstico, foi detectado um,
como mostra a tabela 8. Esse diagnóstico foi percebido em uma família, sendo que o fator
relacionado percebido foi abuso de álcool, e as características definidoras presentes foram:
dinâmica familiar alterada, desordem nos papéis familiares, negação da família (mãe),
obrigações negligenciadas, habilidade ineficaz para resolução de problemas, abuso de álcool,
comunicação prejudicada, dificuldade nos relacionamentos íntimos, falha em cumprir tarefas
do desenvolvimento atual e vergonha.
O diagnóstico de enfermagem de processos familiares disfuncionais: alcoolismo
foi identificado na família Safira que é composta de duas pessoas (pessoa índice, D. Luiza e
seu filho) onde as despesas domésticas são feitas pela pessoa índice com o dinheiro da
aposentadoria e o filho não lhe ajuda financeiramente, pois gasta o dinheiro com bebida
alcoólica. A nora da pessoa índice refere que o cunhado não tem trabalhado devido aos
problemas com o álcool e que quando trabalha gasta todo o dinheiro com bebidas alcoólicas.
D. Luiza aparenta não gostar de falar sobre filho e diz que dá conselhos ao mesmo, pois ele é
“pessoa boa tinha dinheiro no banco, mas acabou com tudo com a bebida”. Refere que quando
está passando mal o filho se preocupa com ela, o que a filha Rosana não concorda, dizendo
que o mesmo vai dormir ou beber mesmo vendo a mãe passar mal e que o mesmo é agressivo
com ela quando está bêbado. D. Luiza diz que se precisar bater no filho ela bate e que às
vezes tem feito isso. Informa que as pessoas do seu bairro gostam do seu filho e que ele não é
agressivo. Relata que o filho já esteve noivo, mas que não se casou devido à “bebedeira”, e
que tem dificuldade em manter relacionamentos, o que a preocupa.
Sabemos que o alcoolismo é uma doença que atinge não apenas o individuo, mas
a família como um todo, sendo assim, não existe apenas um ser que precisa de cuidados, mas
uma família. Silva (2004) diz que a pessoa que bebe não existe isoladamente, mas concretiza
sua existência nas relações que estabelece com o mundo e com os outros seres a sua volta. As
102
manifestações desta doença extrapolam os limites do indivíduo e estendem muito além da
esfera individual, atingindo todo o contexto em que vive sua família. O relacionamento social
é outra área de tensão desta família, pois os familiares frequentemente assumem certo
isolamento, movidos pelo desejo de proteção do familiar ou por vergonha do estigma que
cerca a doença. A pessoa que bebe e sua família têm muitos prejuízos como o afastamento dos
amigos, perda do emprego, assim como o distanciamento ou mesmo abandono da família.
O alcoolismo é um fator estressante para o relacionamento familiar. A família
fortalecida poderá ser um suporte para o alcoolísta.
O diagnóstico de enfermagem de enfrentamento familiar incapacitado (Tabela 9) é
definido pela NANDA (2006) como “comportamento de pessoa significativa (membro da
família ou outra pessoa fundamental) que inabilita as suas próprias capacidades e as
capacidades do cliente para realizar eficazmente tarefas essenciais para a adaptação de
qualquer uma dessas pessoas ao desafio da doença” (p.101-2). Foi encontrado em uma
família.
Tabela 9 - Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias com o
diagnóstico de enfermagem enfrentamento familiar incapacitado (n=1).
Goiânia (GO). 2006.
Fator relacionado n % Característica definidora n %
Pessoa significativa com
sentimento cronicamente
não-expressos de
hostilidades
01 100 Agitação 01 100
Estilos de enfrentamento
dissonantes para lidar com
tarefas adaptativas por parte
da pessoa significativa
01 100 Abandono 01 100
Rejeição 01 100
Relacionamentos negligentes com
outros membros da família
01 100
Cuidado do cliente negligente quanto
às necessidades humanas básicas e
tratamento da doença
01 100
103
Dos quatro fatores relacionados existentes foram identificados dois que são:
pessoa significativa com sentimentos cronicamente não-expressos de hostilidades, estilos de
enfrentamento dissonantes para lidar com tarefas adaptativas por parte da pessoa significativa;
acompanhado das seguintes características definidoras: agitação, abandono, rejeição,
relacionamentos negligentes com outros membros da família, cuidado negligente quanto às
necessidades humanas e de tratamento da doença.
Na família Rubi identificamos o enfrentamento familiar incapacitado no que se
refere a postura da filha da pessoa índice onde sua cunhada (Maria) diz que a mesma não
gosta de cuidar da mãe e que percebe “parece que ela tem nojo da mãe”. Refere ainda que este
comportamento já existia antes mesmo da internação, relembra episódio no qual a sogra
estava doente, não conseguia se movimentar, nem mesmo para ir ao banheiro, e, ficou todo o
tempo sem tomar banho, porque a sua filha não se dispôs a fazê-lo, referindo ter o “estômago
fraco”, e que D. Alba só tomou banho quando ela (Lúcia) chegou. Diz que a cunhada está
mais interessada na aposentadoria da sogra e que já tentou em ocasião anterior colocar a mãe
no asilo. Informa que D. Alba passou por muitos momentos difíceis com a filha, mas não
contava aos outros filhos por medo que eles a machucassem.
Em nosso estudo percebemos que em algumas famílias principalmente quando o
membro adoecido é uma pessoa idosa existe uma dificuldade de se encontrar cuidores.
Felício (2003) relata que quando a família é de idosos existe o problema do vácuo
de cuidadores, pois os adultos da família podem estar envolvidos com a construção de suas
próprias vidas que se “esquecem” do papel de cuidador. Este fato configura-se uma perda
relacional, não apenas para os idosos, mas também para o adulto que perde a oportunidade de
despedir-se de seus pais retribuindo o que lhe foi dado quando criança.
Em algumas famílias observamos a retomada de ciúmes infantis em acirradas
disputas entre os irmãos, que deveriam ser todos eles, cuidadores dos pais (em revezamento
104
ou distribuição de tarefas). Na família Ônix (composta de 02 membros) os filhos da pessoa
índice ao tentar cuidar da mesma pouco se comunicam. Suleita vê-se como a pessoa que tem
mais facilidade para se expressar “eu falo o que tem que falar, não gosto de falar do que não
sei”. Relata que em sua família na maioria das vezes as pessoas falam e não conseguem
chegar a uma conclusão ou um consenso. “Chego e falo sem rodeios de uma vez só, eles
aceitam na frente se não concordam falam pelas costas”. Pondera que a dificuldade de
comunicação da família pode ser porque não foram criados juntos porque quando
completavam dez anos os pais lhes davam para que fossem criados por outras famílias, devido
às dificuldades financeiras.
A NANDA (2006) apresenta em sua taxonomia o diagnóstico de paternidade ou
maternidade prejudicada, definido como “incapacidade do cuidador primário de criar, manter
ou reaver um ambiente que promova o ótimo crescimento e desenvolvimento da criança”
(p.101-2). Entre as famílias estudadas, identificamos a presença de paternidade e maternidade
prejudicada (1 família), além de paternidade prejudicada (2 famílias). Por se tratar de
circunstâncias distintas, estes diagnósticos serão apresentados separadamente.
Destacamos que na NANDA o diagnóstico de paternidade ou maternidade
prejudicada parece focalizar famílias em estágio de desenvolvimento com filhos pequenos,
contudo, é preciso refiná-lo para que expresse mais claramente estas condições em famílias
que estão na fase de filhos adolescentes e adultos.
O diagnóstico de paternidade e maternidade prejudicada (Tabela 10) foi
identificado em uma família. Dos 62 fatores relacionados existentes foram identificados cinco
que são: conflitos matrimonial, falta de valor da maternidade, arranjos impróprios para o
cuidado da criança, presença de estresse, incapacidade dos pais de colocar as necessidades da
criança a frente das suas próprias. As características definidoras identificadas foram déficit de
interação pais-filhos, falta de vínculos com as crianças, e abandono (por parte da mãe).
105
Na família Topázio (composta de 3 irmãos) a pessoa índice relata ter dois filhos
de pais distintos que moram com os pais. Refere não possuir pais, apesar de a mãe estar viva.
Afirma que a mãe os abandou quando tinham 6, 4 e 3 anos respectivamente, após o AVC do
pai, há 20 anos atrás. Informa lembrar-se de vários episódios em que o pai chegava
alcoolizado em casa e batia na mãe, antes de ser acometido pelo AVC. O casal teve quatro
filhos, sendo que o caçula morreu aos dois anos de idade por afogamento, durante uma
inundação decorrente de um grande temporal, no qual o pai estava sozinho, sequelado de
AVC, com os dois filhos menores e conseguiu salvar apenas um deles. Em virtude da
incapacidade do pai em cuidar dos filhos devido ao AVC e da saída da mãe do domicilio, as
crianças foram encaminhadas separadamente para diferentes tios. Mesmo que esses eventos
tenham acontecido quando os filhos eram pequenos percebemos que nessa família ainda
persiste a presença do diagnóstico de enfermagem.
Tabela 10 - Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias com o
diagnóstico de enfermagem paternidade e maternidade prejudicada (n=1).
Goiânia (GO). 2006.
Fator relacionado n % Característica definidora n %
Conflito matrimonial 01 100 Déficit de interação pais-filhos 01 100
Falta de valor da maternidade 01 100 Falta de vínculos com a criança 01 100
Arranjos impróprios para o cuidado
da criança
01 100 Abandono (por parte da mãe) 01 100
Presença de estresse 01 100
Incapacidade dos pais de colocar as
necessidades da criança a frente das
suas próprias
01 100
Motta (2004) refere que o amor de mãe/pai é que oferece à criança condições para
desenvolver o seu potencial humano, manifestar a sua maneira própria de ser. Os pais são os
arquitetos na formação emocional dos filhos, por meio da comunicação de afeto, do cuidado
amoroso e da expressão de sentimentos de segurança e confiança. Na família em que
106
percebemos a presença desse diagnóstico, seus membros não eram crianças, mas traziam as
conseqüências dessa negligência.
Mesmo que este diagnóstico se refira a criança percebemos que quando o
individuo se torna adulto, muitas vezes continua mantendo o diagnóstico.
O diagnóstico de enfermagem de paternidade prejudicada (Tabela 11) foi
identificado em duas famílias.
Tabela 11 - Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias com o
diagnóstico de enfermagem paternidade prejudicada (n = 2). Goiânia (GO).
2006.
Fator relacionado n % Característica definidora n %
Conflito matrimonial 01 50 Declarações para satisfazer as
necessidades de um filho
01 50
Falta de valor da paternidade 01 50 Verbalização de frustração. 01 50
Arranjos impróprios para o
cuidado da criança
01 50 Déficit de interação pai-filha 01 50
Presença de estresse 01 50 Falta de vínculo com a criança 01 50
Incapacidade do pai de colocar
as necessidades da criança a
frente das suas próprias
01 50 Abandono (por parte do pai) 01 50
Mudança na unidade familiar 01 50
Falta de coesão da família 01 50
Separação prolongada do pai 01 50
Historia de doença mental
(microcefalia)
01 50
Dos 62 fatores relacionados existentes foram identificados nove: conflito
matrimonial, falta de valor da paternidade, arranjos impróprios para o cuidado da criança,
presença de estresse, incapacidade do pai de colocar as necessidades da criança a frente das
suas próprias, mudança na unidade familiar, falta de coesão da família, separação prolongada
do pai, história de doença mental. As características definidoras identificadas foram
declarações para satisfazer as necessidades de um filho, verbalização de frustração, déficit de
interação pai-filha, falta de vínculo com a criança, abandono (por parte do pai).
Existe na família um compromisso e um vínculo entre os seus membros e as
funções de cuidado da unidade consistem em proteção, alimentação e socialização
107
(ANGELO; BOUSSO, 2001). Elsen (2004) cita que a família se realiza quando propicia
condições adequadas de vida e com isso favorece o desenvolvimento das potencialidades de
cada membro, principalmente através de criação e manutenção de um ambiente físico e
simbólico favorável às trocas necessárias para o crescimento.
Quando o pai ou a mãe apresenta dificuldade para manter um adequado nível de
crescimento e desenvolvimento dos seus filhos estes compromissos podem não ser cumpridos,
além de não serem estabelecidos o vínculo afetivo e a adequada socialização. Isto pode
comprometer não só as famílias atuais como a geração de famílias futuras.
Foi identificado risco de infecção em uma das famílias. O diagnóstico de risco
para infecção é definido pela NANDA (2006) como “estar em risco aumentado de ser
invadido por organismos patogênicos” (p.137). Dos 13 fatores de risco propostos pela
NANDA foi verificado apenas um, que é a exposição ambiental aumentada.
Tabela 12 - Fatores relacionados e características definidoras identificadas nas famílias com o
diagnóstico de enfermagem risco para infecção (n = 01). Goiânia (GO). 2006.
Fator relacionado n %
Exposição ambiental aumentada 01 100
O diagnóstico de risco para infestação (tabela 12) não faz parte dos diagnósticos
descritos pela NANDA (2006), mas uma família apresentou esse risco e resolvemos incluí-lo
enquanto diagnóstico.
Acreditamos que a exposição ambiental da família estava aumentada de acordo
com o relato de familiares de presença de animais (cão) que permaneciam no mesmo
ambiente que pessoas enfermas no lar havendo presença de urina e fezes dos cachorros no
interior da casa, que exalava odor desagradável, o que, segundo os familiares propiciou o
adoecimento e agravamento de um de seus membros. Estes fatores podem levar tanto a
infecções como a infestações.
108
Tabela 13 - Fatores relacionados identificadas nas famílias com o diagnóstico de
enfermagem risco para infestação (n = 1). Goiânia (GO). 2006.
Fator relacionado n %
Exposição ambiental aumentada 01 100
Elsen (2004) considera o domicílio como produtor de saúde, pois nele recursos
internos da família se somam aos externos, objetivando manter e restaurar a saúde de seus
membros. É responsável pela proteção de seus membros incluindo a higiene pessoal,
salubridade e adequação da habitação, alimentação, vestuário adequado e prevenção de
acidentes no domicilio.
Essas famílias se mostraram vulneráveis devido à exposição ambiental a
patógenos. Esses diagnósticos são mais freqüentes em famílias com pouca informação
educacional e ambiental.
O Modelo Calgary de Avaliação da Família (MCAF) nos proporciona a
visualização das forças e problemas que a família enfrenta. Essas forças e problemas
correspondem aos diagnósticos de enfermagem de bem – estar, reais e de risco. Nas famílias
estudadas em sua maioria só conseguimos perceber o quanto estavam vulneráveis, sendo que
não tivemos nenhum diagnóstico de bem-estar. Provavelmente esses achados se devam ao
momento em que as famílias se encontravam muitas com doenças recém – descobertas.
As famílias normalmente conseguem vencer os obstáculos e disponibilizar
recursos possíveis, e os papéis reorganizam-se de forma a tentar enfrentar a situação,
mostrando o perfil flexível que as caracteriza, emergindo a solidariedade entre os membros de
uma mesma família e entre as famílias da comunidade. Nem sempre esses laços afetivos
surgem espontaneamente, talvez essas famílias precisem de tempo para se reorganizar e de
ajuda dos profissionais para facilitar o aparecimento ou fortalecimento das forças.
109
As famílias com esse perfil de diagnósticos de enfermagem são famílias
vulneráveis. A doença é um elemento antropológico que desarticula a existência do ser
doente, e de seu universo familiar emergem muitos sentimentos e percepções, entre eles a
possibilidade de morte sempre presente, geradora de muito estresse e ansiedade. As famílias
nesse momento existencial reorganizam-se e reforçam sua função protetora. Portanto a família
também precisa ser cuidada como pudemos perceber pelo perfil de diagnósticos identificados.
Acreditamos que o Modelo Calgary de Avaliação de Família é um instrumento
que possui um grande potencial como mapa conceitual para o atendimento de famílias, pois
possibilita como pôde ser visto no presente estudo o agrupamento de informações de uma
família. Esse agrupamento permite aos profissionais identificarem as necessidades das
famílias e realizarem as devidas intervenções de modo mais acertado.
110
6 CONCLUSÕES
"O que os homens realmente querem não são conhecimentos, mas certezas..."
Bertrand Russel
A família é uma unidade complexa com as mais diferentes necessidades,
interesses, contradições e com forte influência nos comportamentos de saúde. Por isso há
necessidade de aprofundar os conhecimentos sobre a unidade familiar, de elaboração ou
adaptação de metodologia viável para realizar a avaliação da participação da família na
atenção aos seus membros.
Mediante abordagem fundamentada no Modelo Calgary de
Avaliação de Família neste estudo foram encontrados 12 (doze) categorias de diagnósticos de
enfermagem, sendo 75% (setenta e cinco por cento) reais e 25% (vinte e cinco por cento) de
risco. Não foram detectados diagnósticos de bem-estar.
Como o modelo adotado privilegia o enfoque da família como unidade de cuidado
justifica-se o número reduzido deste conjunto de diagnósticos identificados.
Houve predomínio de diagnósticos da NANDA do domínio Psicossocial,
sobressaindo as classes: comunicação, enfrentamento e papéis/relacionamentos.
O diagnóstico de Tensão do papel de cuidador esteve presente nas 12 (doze)
famílias estudadas, o diagnóstico de Comunicação verbal familiar prejudicada em 9 (nove)
famílias, e os diagnósticos Processos Familiares interrompidos e Manutenção do lar
prejudicada em 8 (oito) famílias, respectivamente.
Percebemos ainda que alguns fenômenos identificados eram vigentes nas famílias,
independente do processo de adoecimento e internação, tal como a paternidade alterada (1
família).
111
Além disso, as interações sociais no contexto da estrutura externa das famílias
revelam um panorama de poucas redes de apoio e vínculo com as instituições e com as
pessoas que existem próximas aos remanescentes do núcleo familiar.
O perfil de diagnósticos identificados revela uma situação de fragilidade e
vulnerabilidade das famílias participantes do estudo, uma vez que as mesmas ainda não
conseguiram adaptar-se às demandas do processo de adoecimento e internação hospitalar de
um de seus membros, além do próprio processo de estar em situação de acompanhamento
destas pessoas.
Nesse contexto, as instituições de saúde precisam estar sensíveis e desenvolver
mecanismos de intervenções multiprofissionais para potencializar as forças da família como
um todo. Mesmo estando frágeis, essas famílias, poderiam encontrar o seu equilíbrio, como
num móbile, de acordo com a teoria dos sistemas de Bertalanffy, onde a mudança de um
membro afeta a todos e não apenas o individuo (WRIGHT; LEAHEY, 2002). O que acontece
nas situações de adoecimento é que a família pode levar mais tempo para encontrar o
equilíbrio, o que pode gerar desgaste e situações não saudáveis para seus membros.
O papel do enfermeiro é apenas facilitar o “ajuste” ou adaptação da família ao
momento que está passando. Para Wright e Leahey (2002) o enfermeiro não é o responsável
pela adaptação ou ajuste, mas sim pela criação de um contexto para que a mudança aconteça.
O conhecimento do contexto socioeconômico e cultural das famílias pode facilitar a
assistência prestada às mesmas.
Dessa forma os enfermeiros precisam estar atentos às famílias que estão sob os
seus cuidados. Fazer a avaliação das famílias permite identificar as dificuldades pelas quais
elas passam, permitindo uma intervenção mais efetiva por parte dos profissionais.
Até o momento, as instituições hospitalares oferecem muito pouco em termos de
apoio e orientação ao familiar que acompanha seu membro adoecido, embora se reconheça à
112
importância da presença do familiar no processo de recuperação. Os enfermeiros dessas
instituições têm a oportunidade de estar em contato com as famílias em um momento de crise,
e os conteúdos que emergem desse momento existencial mostram que há muitas
possibilidades para a prática terapêutica, educativa e de pesquisa. É inegável que a
enfermagem tem crescido na análise de seu próprio modelo de cuidado, a qual tem lhe
permitido redescobrir-se e encontrar formas cada vez melhores de trabalhar com as famílias.
Apesar de não ser objetivo deste estudo, é importante salientar que a NANDA se
mostrou um sistema de classificação útil para rotulação de respostas humanas das famílias,
contudo, ainda necessita refinamento. Foram identificados dois novos diagnósticos nas
famílias, ou seja, risco para interação social prejudicada e risco de infestação da família.
Nesse sentido sugerimos estudos futuros para sua validação.
113
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Não basta saber é preciso aplicar; não basta querer, é
preciso saber.” Goethe.
Desenvolver esta proposta e trabalhar com famílias, além de ter sido um grande
desafio, proporcionou-nos a sensação de uma luz intensa que mostrava um rumo de
assistência direcionada pelo modelo Calgary. É bem verdade que é preciso se fazer muito,
mas a interação que aconteceu com as famílias pesquisadas, foi muito gratificante. Foi uma
experiência nova para nós como profissionais, pois passamos por um processo de mudança
significativa, desde o nosso pensar até a forma de assistir.
Para que este trabalho acontecesse, houve a necessidade de superar desafios. O
primeiro foi conseguir conversar com essas famílias no ambiente hospitalar, pois elas
(famílias) têm dificuldades de se apresentarem como um todo, uma unidade. Existiu um
estranhamento por parte das pessoas abordadas, uma dificuldade de compreender o
significado para seu bem estar e saúde do paciente internado, da abordagem da estrutura
familiar, seu desenvolvimento e funcionamento.
Na maior parte das vezes encontramos apenas um familiar que acompanhava o
membro adoecido. Conversar com estas famílias nem sempre foi fácil, principalmente porque,
como não fazíamos parte do quadro de profissionais que estava atendendo o paciente,
procuramos abordar as famílias (acompanhante e paciente internado) em momentos de
tranqüilidade para ambos. Ao ser abordado pela manhã, o acompanhante estava envolvido nos
cuidados, o paciente por sua vez, estava necessitando de cuidados, sendo avaliado e atendido
pelos profissionais de saúde; pela tarde o familiar em situação de acompanhante reclamava de
sono, cansaço e indisposição. Este fato se dava por ser ele o único cuidador durante toda a
internação.
114
O outro desafio foi perceber não apenas o indivíduo, mas sim a família, sem
desvincular seus integrantes, o que é um vício pessoal e da maioria dos profissionais. Ao se
fazer os agrupamentos e diagnósticos de enfermagem, a tendência novamente era de se
colocar as lentes do individual e não da família. Este caminho foi percorrido diversas vezes
até nos acostumarmos com a abordagem de família.
A experiência com a aplicação do Processo de Enfermagem em famílias de
pessoas internadas, ou mesmo na comunidade, precisa ser ampliada, permitindo o
fortalecimento de conceitos próprios da enfermagem, tais como cuidado com a família e
cuidador. Com esse trabalho, pretendemos contribuir para uma nova perspectiva de
compreensão e ação junto às famílias que enfrentam o adoecimento de um membro.
Para que o enfermeiro consiga um modelo mais participativo e humanizado de
assistência, torna-se necessário que este desenvolva uma postura de simplicidade e humildade
junto às famílias, pois a interação vai se consolidando nos pequenos gestos, no olhar
receptivo, no tom de voz, no toque, na disposição para “estar com”. Acreditamos que é nessa
atmosfera que poderemos enriquecer e fortificar o paciente e sua família.
Trabalhar com famílias nos fez perceber o quanto ela influencia no bem estar de
pessoas com doenças crônicas não transmissíveis em situação de internação hospitalar e fora
dela. Ela é fundamental para a recuperação, pois dá apoio, sofre, compreende e dá esperança
para o paciente enfrentar a doença.
Quando compreendemos o ser humano numa perspectiva mais ampla é fácil
concluir que a família é parte da assistência de enfermagem. Pensando dessa maneira talvez o
enfermeiro contribua para que ocorram as transformações desejadas no processo de
atendimento da saúde/doença.
O ensino de enfermagem tem grande responsabilidade pela maneira como os
estudantes e, conseqüentemente, os enfermeiros pensam a família. A valorização do ensino
115
que privilegia a abordagem de enfermagem também voltada para a família pode permitir aos
profissionais reverem seus recursos, potencialidades, suas fraquezas e posturas no que tange a
temática, favorecendo a multiplicação dos saberes e transformação do fazer no âmbito do
cuidado à saúde das pessoas.
Estar sensibilizado nesse contexto é ser capaz de reconhecer a família como um
fenômeno complexo que demanda apoio em tempos de dificuldades, sobretudo na situação de
doença.
Segundo Green (1997), um componente básico da formação para prover cuidado
de enfermagem que atenda às experiências da família na doença, é a habilidade de “pensar
família”. Poucos enfermeiros espontaneamente pensam sobre o funcionamento da família,
sobre as experiências destas na situação de doença e mesmo sobre o cuidado das mesmas,
apesar de estarem rotineiramente em contato com famílias que enfrentam dificuldades, tanto
em hospitais como em assistência domiciliar e em outros contextos de assistência. Isto ocorre
simplesmente porque não foram formados com a habilidade de “pensar família”.
Para que a enfermagem aprenda a “pensar família”, o ensino nessa temática deve
iniciar na graduação, como parte essencial da formação do enfermeiro e não como algo
opcional, propiciando uma prática avançada de enfermagem junto às famílias, reconhecendo-a
como unidade de cuidado, compreendendo, avaliando e considerando como foco de atenção
as interações familiares e as experiências de saúde e doença.
Realizar um estudo baseado no Modelo Calgary de Avaliação significa perceber a
família como um sistema, cujos subsistemas estão em constante interação entre si, com a rede
de pessoas e serviços significativos, possibilitando nessa interação um constante movimento e
transformação do sistema familiar como um todo, em busca de um novo equilíbrio.
Os enfermeiros que trabalham com famílias precisam utilizar a Taxonomia da
NANDA em famílias para que, possam propor adaptações e refinamentos necessários à
116
mesma para que esta possa conter classificações, descrição e validação de condições que
requerem intervenções de enfermagem junto à família, ou seja, que descreva as respostas das
famílias aos problemas reais ou potenciais de saúde e aos processos do ciclo vital. É
importante que a enfermagem utilize uma nomenclatura que seja única, melhorando a sua
comunicação e documentação.
Foi realizado esforço no sentido de relacionar a taxonomia da NANDA ao Modelo
Calgary de Avaliação, outros estudos poderão contribuir para o refinamento, aprimoramento e
adaptação da taxonomia II da NANDA no contexto do atendimento de famílias. Essa
utilização integrada é útil, pois Modelo Calgary não tem uma padronização para a rotulação
dos fenômenos identificados, que requerem intervenção de enfermagem.
Este estudo fornece contribuições para os enfermeiros que atuam com famílias em
qualquer ambiente, principalmente em relação à política de humanização do atendimento em
saúde. Os familiares que participaram deste estudo apontaram a necessidade de acomodações
confortáveis para que eles possam ficar com seus entes e ajudarem nos cuidados; serem
informados a respeito da doença e tratamento de seus familiares, de modo mais sistematizado,
numa prática dialógica dos profissionais. Relataram que no geral recebem informações da
equipe, mas perceberam que existem lacunas nas informações oferecidas. Acreditamos que
isso acontece porque a família ainda não é vista como foco de cuidado.
Possuímos muitos conhecimentos consistentes acerca da importância do trabalho
com a família, das repercussões da situação de doença para a família, de como a família afeta
a saúde do indivíduo, de como crises de saúde são eventos críticos para a vida familiar.
Parecem, no entanto, não serem ainda suficientes para transformar a prática.
É necessário que o enfermeiro se permita aproximar dos familiares, para ouvi-los,
conhecê-los, apoiá-los e explorar seus recursos e dificuldades, trocar saberes e ajudá-los para
117
que, a partir da satisfação de suas necessidades, eles possam desempenhar e legitimar seu
papel de apoio e cuidador de seus membros.
É necessário investir em pesquisas que ajudem a compreender a dinâmica das
interações familiares na saúde e na doença, além de estudos de avaliação de intervenções em
famílias.
A compreensão sobre famílias que alcançamos no presente estudo despertou em
nós outras indagações, que provocaram inquietação e desejo de continuar pesquisando nessa
temática.
118
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Pela falta de um sapato perde-se o cavalo.
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124
ANEXOS
125
ANEXO A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Meu nome é Selma, sou enfermeira, estou realizando uma pesquisa
científica para estudar os tipos de diagnósticos de enfermagem identificados em famílias
de pessoas internadas no HC para tratamento de doenças no setor de Clínica Médica. É
uma abordagem um pouco diferente, porque busco atender a família como um todo, e
não só o paciente.
Você / o(a) senhor(a) está sendo convidado(a) a participar como voluntário(a),
isto quer dizer que existe liberdade para escolher se deseja ou não participar, sem risco
de mudar o atendimento da pessoa que você está acompanhando, caso não queira
participar do estudo. Você não vai pagar e nem receber qualquer valor em dinheiro.
Você terá direito à indenização em caso de danos decorrentes de sua participação nesta
pesquisa. O fato de você participar ou não da pesquisa não vai interferir no tratamento
nem na duração da internação da pessoa que você está acompanhando.
A seguir você receberá informações importantes para que possa pensar e decidir
sobre participar ou não deste estudo. Em caso de dúvida você pode procurar o Comitê
de Ética em Pesquisa do Hospital das Clinicas da Universidade Federal de Goiás pelo
telefone 3521-1075 ou 3521-1076, em ligações a cobrar. Vamos entregar este
documento ao final de nossa conversa, para que você possa pensar e amanhã passarei
aqui para conversar novamente. Caso aceite participar, você deve assinar no local
indicado, onde constará seu nome. Uma cópia deste documento, com a sua assinatura
ficará guardada comigo que sou a pesquisadora responsável. O motivo deste
procedimento é garantir que só faremos na pesquisa o que foi combinado.
INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:
Título do Projeto: Análise do perfil de diagnósticos de enfermagem identificados junto à
famílias de pessoas hospitalizadas para tratamento de doenças crônico-degenerativas
utilizando o modelo Calgary de avaliação
Pesquisador Responsável: Selma Rodrigues Alves Montefusco
Telefone para contato: (062)3 225-6916
Pesquisadores participantes: Orientadora: Dra. Maria Márcia Bachion
Telefones para contato: 3209-6183 (Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal
de Goiás)
O objetivo desta pesquisa, como já disse, é de estudar os diagnósticos de
enfermagem identificados em famílias de pacientes internados na clinica médica. Para
isso, serão realizadas entrevistas dos familiares que estão acompanhando os pacientes
internados na clínica. Estas entrevistas serão gravadas com um mini gravador. Também
serão realizadas observações de como estão passando, os problemas que estão
ocorrendo. Para isso utilizarei um roteiro, no qual constam itens nos quais tenho que
prestar mais atenção. O número de encontros entre nós dependerá de cada caso. Serão
incluídos aqueles familiares que estiverem acompanhando pacientes no período de
janeiro a junho de 2006 e que concordarem em participar.
Acredito que os familiares não correm riscos ao participar da pesquisa, mas
se porventura ocorrer alguma queixa ou desconforto emocional que as pesquisadoras
(eu e minha professora) não consigam auxiliar, comprometemo-nos a fazer os
encaminhados para os serviços e profissionais competentes, da unidade. Se porventura
ocorrerem danos decorrentes de sua participação na pesquisa, o cliente (família) poderá
requerer direito à indenização.
126
Embora a pesquisa termine com a identificação dos diagnósticos de
enfermagem, assumimos o compromisso de atender as famílias dos participantes dentro
de nossas possibilidades e encaminhar os casos que não conseguirmos atender para os
serviços competentes.
Você e sua família podem ou não se beneficiar diretamente da pesquisa
neste momento. Um benefício possível é ter uma visão melhor da sua própria família,
ao fornecer as informações durante a pesquisa. Outro benefício possível é ter à sua
disposição, no período de realização da pesquisa, um enfermeiro (pesquisador) que
poderá ajudá-lo(a) enfrentar a situação de estar acompanhando um paciente internado.
Esse profissional poderá ajudar também na identificação de recursos de apoio social
necessários no contexto.
É garantido que os dados que você informar serão mantidos em anonimato e só
serão compartilhados com os profissionais de saúde que atendem o paciente que você
acompanha atualmente se você permitir.
Os resultados da pesquisa serão divulgados em congressos e outros eventos
científicos deste tipo. A pesquisa será publicada em forma de dissertação de mestrado e
artigos que serão publicados em revistas científicas da área da saúde.
Você tem o direito de retirar o consentimento a qualquer tempo sem qualquer
prejuízo da continuidade do tratamento atualmente prestado pela instituição.
Selma Rodrigues Alves Montefusco
Maria Márcia Bachion
Goiânia, em ________________________ de 2006
127
CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO (Termo de
esclarecimento em anexo)
Eu,
____________________________________________________________________,
RG/ CPF/ _____________________________, abaixo assinado, concordo em participar
do estudo Análise do perfil de diagnósticos de enfermagem identificados junto á
famílias de pessoas hospitalizadas para tratamento de doenças crônico-degenerativas
utilizando o modelo Calgary de avaliação, como sujeito. Fui devidamente informado e
esclarecido pela pesquisadora Selma Rodrigues Alves Montefusco sobre a pesquisa, os
procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes
de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a
qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade ou interrupção da
assistência prestada atualmente pelo serviço à pessoa que estou acompanhando e que
posso vir a ter direito à indenização em caso de danos decorrentes da minha
participação. Foi-me assegurado que os dados que fornecerei serão mantidos sob sigilo,
podendo ser liberados aos profissionais que cuidam do paciente que estou
acompanhando apenas se eu permitir. Foi-me garantido que nos resultados da pesquisa a
minha identidade será mantida anônima, inclusive nas apresentações da pesquisa em
congressos e na sua publicação.
Local e data
_______________________________________________________________
Assinatura do sujeito : ____________________________________
Presenciamos a solicitação de consentimento, esclarecimentos sobre a pesquisa e aceite
do sujeito em participar.
Testemunhas (não ligadas à equipe de pesquisadores):
Nome: _________________________________
Assinatura: _____________________________
Nome: _________________________________
Assinatura: _____________________________
Observações complementares
128
ANEXO B – Instrumento de Coleta para Avaliação de Família
Instrumento de coleta para avaliação de família - Adaptado de Enfermeiras e famílias-
WRIGHT, L. M.; LEAHEY 2002.
ESTRUTURAL
Estrutura interna
1 – Pode me dizer quem faz parte da família?
2 – Alguém mais vive com vocês? (avôs, netos, sobrinhos...)
3- Alguém mudou recentemente? Saiu ou chegou/
4- Alguém vive com vocês que não é parente?
5 - Quantos filhos vocês tem?
6- Quem é o mais velho?
7- Quantos anos ele(ela) tem? Qual é o próximo depois dele(a)?
8- Ocorreu algum aborto?
9 - Vocês planejaram o nascimento dos filhos?
10- Como foi o comportamento do pai (mãe) após o nascimento dos filhos? Mudou?
11– Como são divididas as tarefas em casa? Existem coisas que são feitas geralmente
pelos homens e outras geralmente pelas mulheres?
12 - O fato de você fazer essas coisas lhe incomoda? Gostaria que alguém lhe ajudasse
em algo?
13 – Quem tem mais influência (poder) perante os filhos? Quem eles obedecem mais?
14 – Quando eles estão com problemas a quem eles recorrem?
15- Você observa divisão de grupos na família em situação de conflito ou problemas?
16 – Qual efeito que eles causam sobre o nível de estresse familiar?
17 – Quem se reúne para falar sobre a doença do ---------?
18 – Existe alguém com quem você possa conversar ao se sentir desgastada(o) devido a
---
19 – Quem você procuraria se sentisse feliz?
20 – Quem você procuraria se sentisse triste?
Estrutura externa
1. Você ainda possue pais vivos? E seu marido/esposa?
2. Onde moram?
3. Com que freqüência tem contato com eles?
4. Vocês têm irmãos e irmãs? Fale sobre eles.
5. Existe algum membro de sua família que você vê raramente? Fale sobre essa
pessoa.
6. Qual de seus parentes é o mais próximo a você? Fale-me sobre ele.
7. Quem telefona para quem? Com que freqüência?
8. A quem você pede ajuda quando surgem problemas em sua família?
9. Que tipo de ajuda você pede?
10. Você estaria disponível se eles precisassem de você?
11. Quais os profissionais da instituição estão envolvidos com sua família?
12. Com quais instituições sua família interage? (igreja, escola, creche).
13. O que significa saúde para vocês?
129
14. O que você considera saudável? Como aprendeu isso?
15. O que lhe parece mais positivo neste momento de sua vida em família?
16. Sua situação financeira influencia de algum modo nas condições de saúde de
sua família? De que forma?
17. Você participa de uma igreja, templo ou sinagoga?
18. De alguma forma suas crenças influenciam seu comportamento em relação à
família? E em relação à saúde? São um recurso para você? E para os outros
membros da família?
19. Seu modo de ser em relação à sua família é influenciado pela sua religião? De
que modo?
20. Conhece associações/serviços comunitários onde você mora? Quais recursos
comunitários sua família utiliza?
21. Existe algum serviço/recurso comunitário que você gostaria de conhecer?
DESENVOLVIMENTO
1. De que maneira o diagnóstico de ---------- influencia sua ligação com seu(sua)
companheira?
2. Quantas horas/dia você gasta tomando conta de seu(sua) esposo(a), irmã(o)? E
os demais membros da família, quanto tempo dedicam?
3. Este é um equilíbrio confortável para ambos?
4. Quando você relembra sua vida, quais aspectos você mais gosta?
5. O que o fez se sentir mais feliz?
6. Quais você lamenta?
7. Qual é a sua expectativa em relação ao futuro de sua família? filhos(as)?
FUNCIONAL
1. Quem na família, geralmente inicia as conversas sobre sentimentos? Quem tem
mais facilidade de falar sobre sentimentos?
2. Quando seu esposo(a) está feliz de que maneira ele(a) expressa isso?
3. Quando seu esposo(a) está com raiva de que maneira ele(a) expressa isso?
4. Quando seu esposo(a) está triste de que maneira ele(a) expressa isso?
5. Quem se comunica de forma mais clara e direta?
6. Quais maneiras vocês encontraram para manter boas conversações diretas?
Solução de problemas
1. Quem foi o primeiro a notar o problema?
2. È essa pessoa que normalmente nota estas coisas?
3. Quem vocês procuram quando sentem a necessidade de conversar sobre
problemas de saúde?
4. Quando falam sobre as condições de saúde de-------, que efeito isto provoca em
você?
5. Até que ponto você acha que sua família controla a doença-------? Em que
medida a doença afeta sua família?
6. O que você considera como o item mais positivo/útil oferecido pelos
profissionais de saúde, no sentido de ajudá-los a enfrentar o sofrimento
decorrente de(a)-----------------? Qual é o menos proveitoso?
7. Qual impacto a doença de --------------------causou no sentido de aproximar ou
afastar mais os membros da família?
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