a pura gratuidade; cada qual pode fazer o que quiser, sendo incapaz do ponto de vista,
de condenar os pontos de vista e os atos alheios (1987, p. 03).
Apesar desses desmerecimentos, o pensamento existencialista
25
foi se elaborando
como filosofia e clareando seus conceitos com divergências e divisões. Entre os vários
pensadores da existência humana encontramos divergências quanto ao termo existencialismo.
Muitos não admitem serem chamados de existencialistas para evitar cair numa concepção
doutrinária sobre a existência. A palavra existencialismo, composta pelo termo existencial e
pelo sufixo ismo, sugere tratar-se de uma doutrina do existencial ou da existência.
Historicamente, surgiu o termo latino essentia, que deriva do verbo esse, o ser é anterior à
existência. Com o verbo esse, os pensadores buscavam aquilo que é, no esforço de atingir a
essência das coisas. Posteriormente surgiu o termo existentia, derivada de existire, que quer
dizer sair de uma casa, relacionando o existir com o movimento para fora. Eis a razão pela
qual Gabriel Marcel quer designar o termo em referência a Sócrates: conheça-te a ti mesmo, e
a Platão
26
: sair de si, do mundo das sombras, para se perceber na relação com o outro
(MARCEL, 1953, p. 9).
27
O sufixo “ismo” (do grego ismós) designa ser uma doutrina de escola ou sistema, com
conceitos bem definidos, abstratos ou objetivados de uma realidade.
O repúdio mais veemente partiu de Heidegger. Inconformado com a insistência de
muitos classificá-lo de existencialista, preocupou-se em fixar as diferenças que o
separam do existencialismo propriamente dito. (...) escreveu um opúsculo, Carta sobre
o Humanismo, no qual deixa claro que seu intento desde a publicação de sua obra mais
famosa, Ser e o Tempo (1927), foi o de elaborar uma analítica existencial
28
(PENHA,
s/d. p. 33).
25
Sem pretensões de definir começo ou término desta filosofia, são comumente citados como representantes
deste pensamento, entre outros, o nome de Söeren Kierkegaard (1813-55), Friederich Nietzsche (1844-1900),
Gabriel Marcel (1889-1973), Martin Heidegger (1889-1969), Jean Paul Sartre (1905-80), Karl Jaspers (1889-
1969), Simone de Beauvoir (1908-86), Maurice Merleau-Ponty (1908-61), Albert Camus (1913-60), Luis Lavelle
(1883-1951), René le Senne (1882-1954), Peter Wust (1884-1940), Romano Guardini (1885-1968), Nicolau
Berdiaev (1874-1948), Leon Chestov (1886-1938) e Nicolau Abbagnano (1901 ) (ZILLES, 1995, p. 13). Outras
fontes destacam ainda: Martin Buber (1878-1965), de origem judaica, Jean Wahl, Unamuno, Franz Kafka, La
Berthonniêre, Blondel, Bergson, Peguy, Landsberg, Scheler, K. Barth, Berdiaeff, Chestov, Sloviev ( MOUNIER,
1963, p. 07).
26
Compreende-se Sócrates pelo método da maiêutica (para parir idéias); Platão em referência à Alegoria da
Caverna (Mito).
27
Marcel no Prefácio de El Misterio del Ser, tradução de Maria Eugenia Valentié
28
O propósito de Heidegger é elaborar uma teoria do Ser, embora indefinível, o Ser é o que faz o mundo com que
o mundo seja. (PENHA, p. 32-47).