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O caminho percorrido para a escolha da escola e os primeiros contatos com essa foram
importantes para delinear a viabilidade da pesquisa e as opções metodológicas. Assim, o processo
da pesquisa foi sendo construído no próprio decorrer dela. Queria tomar a questão do brincar,
“com o cotidiano”
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, como possibilidade, numa condição de pertencimento, responsabilidade e
renovação, em relação aos contextos de sujeitos contemporâneos, como “praticantes ordinários”
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(CERTEAU, 1994). Por isso, a aceitação e o envolvimento com este trabalho tinham de serem
consensuais com os tais praticantes, neste caso: nós, as crianças, as professoras, as funcionárias
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,
a pesquisadora, os vizinhos e os pais.
Para tanto, vali-me de uma investigação colaborativa. Tal forma de pesquisa reverencia a
ruptura de barreiras metodológicas, para se caminhar numa direção participativa. Este método de
investigação é apontado no campo da educação pela Profª Belmira Oliveira BUENO (1998), bem
como de outros autores (CATANI, 1998), a qual propõe que se estabeleça uma relação mais
orgânica entre as atividades de pesquisa e o ensino realizado nas escolas. A leitura do trabalho
desta autora, no Projeto de Educação Continuada do Grupo de Estudos “Docência, Memória e
Gênero”, da FEUSP, foi bastante elucidativa para a definição da abordagem metodológica
desenvolvida, pois, num primeiro momento, acreditava que seria uma pesquisa etnográfica com
crianças.
Com as leituras que realizei, percebi que a pesquisa colaborativa e o estudo com o
cotidiano se aproximavam da forma como se constituiu minha investigação, no Projeto de
Mestrado. Busquei, então, amparo teórico especialmente em trabalhos desenvolvidos pelo grupo
de Nilda Alves e Carlos Eduardo Ferraço. Percebi que, na vida cotidiana da escola infantil
estudada, pesquisadora e “praticantes ordinários”, ou seja, crianças, professoras, família, enfim,
a comunidade escolar
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, compartilhavam a história, o conhecimento e a experiência, assim como
trabalhavam e estudavam juntas. Com base nisto, razão parece assistir a Bueno: “seria um
trabalho construído em parceria, com propostas que partiriam tanto delas (professoras) como de
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Na expressão “com os cotidianos”, trata-se da condição de pertencimento, autoria e responsabilidade dos sujeitos
encarnados por esses estudos (FERRAÇO, 2004, p. 81).
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Com “praticantes ordinários”, CERTEAU aponta para as pessoas que vivenciam e experiências comuns, agentes
sociais, animadores, formadores, gente do campo, nos lugares mais diversos, os regulares (1996, p. 25; 1995, p. 40).
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Nesta pesquisa será usada a referência sempre no feminino, para professoras e funcionárias, pois na escola se
encontram, na sua totalidade, mulheres trabalhando nestas funções.
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Para fins desta pesquisa, este termo – comunidade escolar – designa, de forma abrangente, todos aqueles que de
uma forma ou outra constituem a escola (vizinhos, funcionários, colaboradores com a escola, assim como pais,
professores e as crianças).